Penny Jordan - Retrato de Um Pecado (Sabrina Esp Ferias 03.2)

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RETRATO DE UM PECADO

Desire Never Changes


Penny Jordan

Sabrina Especial edição de Férias nº 3.2

Chase tirou o envelope do bolso e o passou a Chris, com um sorriso


irônico. “Antes de fugir de mim, querida, pense no que aconteceria à
carreira política de seu pai, se a imprensa publicasse isto...”
Aterrorizada, ela examinou aquelas fotos que a mostravam nua,
sem poder acreditar que Chase as guardara por tanto tempo. Como num
sonho, viu-se de novo na praia deserta, os dois se amando com loucura...
Como era possível que o único homem que amara reaparecesse
ameaçando destruir-lhe a vida com uma chantagem?

Digitalização e revisão: Nell


Copyright: Penny Jordan
Título original: Desire Never Changes
Publicado originalmente em 1986 pela Mills & Boon Ltd., Londres, Inglaterra

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Copyright para a língua portuguesa: 1986


Editora Nova Cultural — São Paulo — Caixa Postal 2372

Esta obra foi composta na Artestilo Compositora Gráfica Ltda.


e impressa na Divisão Gráfica da Editora Abril S.A.

Foto da capa: Keystone


CAPÍTULO I

— Esse é o meu vôo. Tenho que ir — disse Christine a seu pai, erguendo-
se na ponta dos pés e beijando-o no rosto. — Papai, pare de se preocupar, por
favor. Eu amo Andrew e ele me ama. Tudo vai dar certo.
Apesar de impaciente com a preocupação do pai, Chris tentava acalmá-lo.
Ela era um tipo bem céltico, com os cabelos muito pretos e os olhos que
mudavam de cinzento-escuro para violeta, dependendo de seu humor. Nesse dia,
estavam violeta, excitados, e seu pai a observava surpreso com sua rápida
transição de menina para mulher. Fazia apenas três meses que terminara o
colégio e voltara para casa, na Escócia, falando sobre o noivado com Andrew,
mas ele achava que Chris, aos dezoito anos, ainda não sabia nada sobre a vida.
— Mas quando eu nasci mamãe tinha apenas dezenove anos! —
contestara Chris, resoluta como a mãe havia sido.
O rosto de seu pai ficara sombrio com essa menção. Fazia dez anos que a
esposa havia morrido, levando consigo o bebê irmão de Chris. Sir Duncan
MacDonald jamais se casara de novo. Ele fora apenas um pequeno fazendeiro
até se casar com Catriona Sefton, e agora era um homem riquíssimo,
proprietário dos poços de petróleo Sefton, no Mar do Norte. Suas preocupações
eram as de um pai rico por sua filha única.
Ele suspirou e olhou para o rosto delicado de Chris, brilhando de
excitação. Seis meses antes, no Natal, ele estivera no Oriente Médio, a negócios.
A filha, não podendo ir para casa, aceitara o convite de uma colega para passar
as festas com sua família em Jersey, onde conhecera Andrew Hollister... e se
apaixonara perdidamente.
Duncan MacDonald ainda não conhecera seu futuro genro. Andrew era
administrador de hotéis na ilha de Jersey, havia se correspondido com Christine
e ela passara a Páscoa com ele, retornando com o pequeno anel de brilhante que
agora usava.
Ela queria casar-se rapidamente, mas seu pai conseguira fazê-la esperar
ao menos até completar dezenove anos. Chris concordara porque o estimava
muito, mas achava que ele não aprovava totalmente o noivado. Por outro lado,
ela sabia o que sentia por Andrew e estava certa de que seu amor era para
sempre. Seu pai havia se esquecido de como era ter dezoito anos e estar tão
apaixonado que cada minuto de separação era uma agonia insuportável. Chris
olhou para o anel que brilhava em seu dedo e lembrou-se de quando Andrew o
colocara ali, com um beijo carinhoso.
O colégio interno a havia mantido mais inocente que a maioria das
garotas de sua idade; os únicos rapazes que conhecia eram irmãos de amigas ou
alunos de uma escola vizinha. Andrew tinha vinte e quatro anos, e deixara Chris
estonteada com seu charme. O sorriso caloroso e o toque suave de seus dedos na
pele de Chris prometiam prazeres insuspeitados, mas ele tinha experiência
suficiente para saber que ela ainda não estava pronta para as intimidades dos
amantes.
— Vamos esperar até nos casarmos — ele havia sussurrado na Páscoa,
quando seus beijos apaixonados tinham assustado Chris.
Andrew havia contado a Chris todos os seus planos para o futuro,
abrindo-se para ela de um modo que a fez sentir-se muito madura. Ele queria ter
seu próprio hotel de luxo, de preferência numa ilha do Caribe, mas confessou
que tinha um longo caminho a percorrer antes disso. Era subgerente numa
cadeia de hotéis em Jersey havia dezoito meses, e esperava uma promoção.
Era isso o que preocupava Chris, pois teria que esperar nove meses até o
casamento, e Andrew poderia ser mandado para longe dela.
— Imagine! Nós poderíamos começar nossa vida em Barbados! — ele
havia dito a Chris, e, apesar de ela ter ficado emocionada com suas palavras,
também sentira uma certa tristeza ao pensar que teria de separar-se do pai.
Quando Chris voltara do colégio, seu pai havia sugerido que ela poderia
ajudá-lo em seus negócios. Na posição de presidente da Petróleo Sefton, ele
precisava receber clientes, visitar outros países produtores de petróleo e
acompanhar visitantes. Depois de um mês de apreensão, Chris descobriu que até
gostava de seu novo papel de anfitriã, e que parecia ter aptidão para isso. O pai
tinha uma bela e espaçosa casa em Aberdeen, e contava com uma ótima
governanta e cozinheira, que apreciara muito o auxílio de Chris.
Agora, despedindo-se da filha no aeroporto, Duncan MacDonald
imaginava o que ela diria se soubesse que mandara fazer investigações sobre o
homem pelo qual estava apaixonada. Andrew escondia que não possuía
dinheiro, a não ser o salário, mas houvera uma época em que Duncan estivera
na mesma posição, e não poderia usar isso como argumento contra ninguém.

Viajando confortavelmente no avião que a levaria até Andrew, Chris


tinha pensamentos bem mais despreocupados que os de seu pai. Pensava apenas
em seu futuro dourado. Claro que Andrew ficaria tão desapontado quanto ela
ficara ao saber que não poderiam casar-se logo. Ele havia insistido para que
Chris convencesse o pai, mas entenderia que não fora assim tão fácil. Aliás, essa
era uma das qualidades mais admiráveis em Andrew: ele era tão compreensivo,
tão interessado nos pontos de vista dos outros! Querido Andrew... Chris fechou
os olhos e reclinou-se na cadeira, visualizando-o, seu corpo tremendo na
antecipação do reencontro. Amava tudo nele, desde o cabelo claro e anelado até
o corpo forte e bem torneado. Ele não era muito alto, mas ela tampouco, isso
não importava. Chris sentia uma certa insegurança por não ser muito bonita,
nem loira ou curvilínea; faltava-lhe aquela autoconfiança que outras amigas de
Andrew possuíam. Mas era a ela que ele amava, seus longos cabelos negros, seu
corpo esguio e sua pele clara, não as garotas bronzeadas que vira no hotel, na
Páscoa.
— O problema é que você não se valoriza — dissera-lhe a amiga de
colégio que a apresentara a Andrew.
Desde que o conhecera, Chris sentia-se mais segura, mas faltava-lhe
muito para ser tão desembaraçada como, por exemplo, Judith Barnes, a
recepcionista no hotel de Andrew.
Judith era alta e loira, com cabelos cheios que desciam em cascata sobre
os ombros; usava maquilagem perfeita e roupas muito elegantes. Era o tipo de
garota para quem os homens olham com interesse, e Chris sentira desde o início
que Judith a desprezava, apesar de não saber por quê. Quando Chris tentara falar
sobre isso com Andrew, ele simplesmente rira, dizendo:
— Judith é uma mulher, gatinha. O tipo de mulher que só tem um
interesse na vida: homens.
O vôo para a ilha de Jersey era curto, e logo o avião pousava sob o sol
quente de julho. Andrew havia prometido encontrá-la no aeroporto, mas não
estava lá quando Chris retirou sua bagagem. Estava pensando se deveria
apanhar um táxi, quando um carro aproximou-se velozmente, freou e dele
desceu Judith Barnes, muito glamourosa em suas bermudas brancas
combinando com um bustiê mínimo, que lhe mostrava as curvas e o bronzeado
perfeito. Parecia impaciente ao dirigir-se a Chris, que sentiu um aperto no
coração.
— Olhe, não há carregadores aqui. A única maneira de essas malas
chegarem ao hotel é você colocá-las no porta-malas do carro. Já fiz minha parte
vindo apanhá-la, e foi só porque Drew me pediu. — A loira lançou um olhar
irritado para a bagagem e depois mediu Chris dos pés à cabeça. — Trouxe seu
armário inteiro para impressioná-lo? Ninguém lhe disse que o melhor é usar o
que a natureza lhe deu? Mas no seu caso ela foi um pouco mesquinha...
Chris sentiu os músculos tensos de raiva, mas tentou acalmar- se e
colocou as malas no carro. Foi um percurso desagradável até o hotel, por uma
estrada estreita e sinuosa, Judith dirigindo velozmente para amedrontar Chris.
Ao fazer a curva para entrar no Hermitage Hotel, deu uma risada irônica.
— Pobre menininha assustada! Como vai conseguir segurar Drew, se tem
medo até da velocidade?
Chris não respondeu, pois não poderia fazê-lo sem demonstrar o ódio que
a invadira. Lembrou-se dos conselhos de seu pai, sobre o defeito da família:
dizer coisas nos momentos de raiva e depois pagar um preço alto por isso.
“Sempre conte até dez, pensando na repercussão do que você vai dizer.” Chris
concentrou-se na imagem de Andrew, negando a Judith o prazer de saber que a
havia atingido.
O pátio do hotel estava cheio de carros, um sinal de que os negócios iam
bem. O Hermitage era um hotel pequeno, mas dos mais prestigiados na ilha, por
possuir muitos hectares de terra e três pequenas praias particulares. Enquanto
seguia Judith para a entrada principal, Chris ouviu sons de risadas e de água,
vindos da piscina. Entraram no saguão.
Judith passou para trás do balcão da recepção e entregou-lhe uma chave,
dizendo que o carregador levaria as malas para o quarto. Chris havia insistido
em pagar por todas as despesas e estava contente por seu pai ter-lhe dado um
cheque generoso, pois seu quarto era dos mais caros. Apesar disso, Judith
insistia em tratá-la com aquele irritante ar de desprezo.
— Se puder dizer-me onde encontrar Andrew, gostaria de informá-lo de
que cheguei. — Encarou Judith, decidida a não se deixar intimidar.
— Ele deve estar tomando café, e os hóspedes não podem entrar nas áreas
de serviço. Não se preocupe, mandarei avisá-lo.
Chris percebeu que não adiantaria discutir e caminhou para o elevador.
Havia outro hóspede esperando, um homem alto, vestido apenas com short
desbotado, muito bronzeado, e ela não pôde evitar admirar-lhe os músculos
perfeitos. Ao levantar a cabeça, deparou com uns olhos verdes e frios que
percorriam seu corpo de modo claramente sensual, fazendo-a corar.
O elevador chegou e o estranho esperou que ela entrasse na frente.
Quando a porta se fechou, ela sentiu-se embaraçada com aquela
intimidade forçada. “Que bobagem”, pensou, “um homem tão atraente, tão
másculo, não precisa atacar mulheres em elevadores para satisfazer-se
sexualmente.” Se não houvesse olhado para ele de modo tão insistente,
provavelmente nem a teria notado. Mas alguma coisa lhe dizia que era o tipo de
homem que sempre reagiria a uma presença feminina, percebendo-a
imediatamente. Era o tipo de homem que atraía as mulheres do mundo.
Possuidor de grande experiência sexual, refinado, aquele homem não devia estar
acostumado a receber um não das mulheres...
Chris afastou-se mais, como se se sentisse ameaçada, apesar de ele não
ter-se movido. Os olhos cor de jade novamente a perscrutaram, o rosto
masculino e ossudo demonstrando estar se divertindo com a sua reação.
Quando o elevador parou em seu andar, Chris deu um ligeiro suspiro de
alívio, mas, quando saiu, o estranho a seguiu. O corredor parecia interminável à
frente dela, e as pernas tremiam, mal conseguindo sustentá-la. Estava tão ciente
da presença dele que quase podia sentir o calor daquele corpo às suas costas,
envolvendo-a numa nuvem sensual, quase sufocando-a. Chris encontrou o
quarto, mas ao tentar abri-lo deixou cair a chave. O homem parou atrás dela,
apanhou a chave e abriu a porta com facilidade. Depois encarou-a, em silêncio.
Tremendo, Chris sentiu as mãos dele afastarem-lhe o cabelo que caía
sobre o rosto e acariciarem-lhe suavemente o pescoço, fazendo-a quase dar um
salto. Os olhos dele eram tão verdes que quase poderia se afogar neles, sua boca
dura e masculina curvava-se com arrogância, enquanto o polegar descia para o
local onde a pulsação a traía.
— O que está fazendo? — ela perguntou com uma voz que pretendera ser
fria e cortante, mas que saiu rouca e ofegante.
— Estou apenas vendo se você enxugou bem atrás da orelha, garotinha.
Quem deixou você sair sozinha?
Para alívio de Chris, apesar da resposta irônica, ele retirou a mão. Mas a
pele continuava quente no local que ele tocara, como se estivesse queimando.
Só conseguiu relaxar quando entrou no quarto e trancou a porta, atirando-se na
cama e deixando os tremores que havia controlado até então percorrerem todo o
corpo.
Andrew não acreditara quando ela lhe contara que ainda era virgem e
depois parecera ter ficado ligeiramente aborrecido. Ao vê-la magoada com essa
reação, acabara lhe dizendo que o sexo era mais divertido quando as pessoas
tinham alguma experiência. Depois tomara-a nos braços, pedindo-lhe para não
se preocupar com isso. Chris estava meio decepcionada pois sempre havia
pensado que o homem que amasse ficaria contente por ela ser virgem, e não
consideraria isso um empecilho. A atitude de Andrew a desconcertara. Agora, o
mesmo mal-estar a invadia, ao lembrar-se daquele homem de olhos verdes e
cabelos negros que a chamara de "garotinha". Oh, droga! Por que não era como
Judith Barnes?
Inquieta, Chris levantou-se e caminhou até a janela, de onde podia ver os
jardins do hotel, as quadras de tênis e a piscina, depois a vegetação rasteira e o
barranco que terminava na praia de mar azul indescritível. Após algum tempo
ali, admirando o cenário, ela ligou para a recepção e pediu chá, perguntando a
que horas suas malas seriam entregues. A moça que atendeu parecia simpática,
dizendo-lhe que mandaria subi-las imediatamente. Chris aproveitou para
perguntar se ela sabia por onde andava Andrew. Houve uma breve pausa, e a
voz da garota parecia haver mudado, quando disse que talvez ele estivesse em
seu escritório.
Chris agradeceu e desligou, pensando que Andrew havia prometido tirar
alguns dias de folga quando ela viesse a Jersey, para que pudessem estar a sós e
conversar sobre seus planos. Sentiu uma vontade súbita de estar com ele, de que
a tomasse nos braços e a beijasse, afastando-lhe todas as dúvidas e medos,
apagando a imagem do estranho que a havia feito sentir-se tão... desajeitada e
inexperiente.
Quando as malas chegaram, escolheu uma saia e uma camiseta de
algodão em tons de verde, tomou uma ducha e vestiu-se, sentindo-se mais à
vontade, mas ainda em dúvida se deveria esperar por Andrew no quarto ou sair
a passeio pelos jardins. Tomava o chá quando ouviu batidas na porta e sua
dúvida foi solucionada, era a voz familiar de Andrew:
— Sou eu, querida. Abra.
— Andrew! — Chris atirou-se nos braços dele, erguendo o rosto corado
de excitação para que ele a beijasse.
— Deixe-me entrar. Estou em horário de serviço. — Andrew riu, olhando
desconfiado para o corredor.
— Pensei que iria me esperar no aeroporto... — Chris reclamou quando
estavam dentro do quarto. Tentou abraçá-lo novamente, mas Andrew se afastou.
— Ah, querida, não me aborreça. — A voz dele soou impaciente, e não
carinhosa como de costume.
Lágrimas afloraram aos olhos de Chris, que não conseguiu retê-las.
Estava se comportando como uma criança, o que havia de errado com ele?
— Ah, meu bem, desculpe. — Andrew tomou-lhe as mãos no mesmo
instante. — É que estou tão cansado, tenho feito horas extras para podermos
ficar uns dias juntos. Perdoe-me por não ter ido buscá-la.
Chris chegou mais perto dele. Andrew envolveu-lhe os ombros com as
mãos e curvou-se, beijando-lhe levemente o canto da boca, mas ainda assim
mantendo-a afastada. Claro, ele estava cansado, e não tinha vontade de fazer
amor, pensou Chris desapontada. Sem querer, lembrou-se do desconhecido do
elevador. Duvidava que aquele homem deixasse escapar uma oportunidade de
acariciar a mulher que amasse, de mostrar-lhe que... Aborrecida com o rumo de
seus pensamentos, sorriu para Andrew, lembrando-se de que tinha afirmado
para o pai que era uma mulher adulta.
— Tudo bem, querido, eu entendo. Vamos conversar melhor no jantar, à
noite — disse com a voz suave.
— Chris, desculpe-me, mas não posso jantar com você hoje. Tenho uma
reunião com o gerente, que não posso adiar. Olhe, por que você não manda
servir o jantar aqui em seu quarto e dorme cedo, para descansar da viagem?
Amanhã poderemos conversar, fazer planos...
Chris não se deu o trabalho de dizer-lhe que não se cansara com o vôo de
uma hora. Com um beijinho em seu rosto, Andrew despediu-se, deixando-a
vazia, sem saber o que fazer depois daquele encontro desanimador. Olhou
durante um bom tempo para os jardins, fixamente, e depois para o relógio. Era
cedo, e no verão as tardes eram longas. Não tinha vontade de ficar no quarto e
decidiu sair para um passeio, na tentativa de afastar a sensação miserável que a
invadira. Nada a convencia de que Andrew não poderia ter dado um jeito de
fazer-lhe companhia naquela primeira noite...
Ao sair do hotel, Chris percebeu que era a única pessoa ali, a não ser por
um nadador que dava fortes braçadas na piscina, perturbando a superfície azul e
macia da água. Os cabelos negros surgiram apenas por um instante, o suficiente
para ela reconhecer o homem que havia encontrado no elevador. Hesitou, mas
acabou se afastando. Não queria chamar a atenção dele pela segunda vez nesse
dia.
Foi caminhar pelo outro lado, pensando em Andrew. Como ele havia
conseguido controlar-se tanto ao encontrá-la? Tão diferente dela, que sentira o
corpo latejar com aquele tormento indefinível que havia sentido na Páscoa.
Queria casar-se com ele logo, pensou, e não dali a nove meses. Era tempo
demais, e nesse intervalo só o veria novamente no Natal, quando Andrew
passaria um mês de férias em Aberdeen e encontraria sir Duncan pela primeira
vez.
Andrew havia concordado com o ponto de vista do pai de Chris, de que
afinal eles teriam a vida toda para estarem juntos, e não havia necessidade de
apressarem as coisas. Mas Chris sentira uma certa falta de entusiasmo em sir
Duncan em relação a Andrew, nada específico, mas uma tensão em sua voz. O
que seria? Por que aquela antipatia inesperada contra seu noivo?
Passou mais de uma hora caminhando, e decidiu voltar quando percebeu
que o belo céu do entardecer começava a ficar sombrio. Ao entrar no hotel, viu
que Judith estava novamente de serviço na recepção, conversando com o
estranho do elevador. Agora ele estava mais vestido, com uma camisa branca
aberta no peito e calças pretas justas, que atraíram o olhar de Chris para suas
coxas potentes. Ele se moveu um pouco, flexionando o corpo como um felino,
sentindo prazer naquilo. Judith o observava com admiração, inclinando-se sobre
o balcão de modo que a abertura da blusa revelasse os seios. Ele terminou de
falar e afastou-se, ao mesmo tempo que Chris se aproximava.
— Isso é o que eu chamo de homem! — Judith comentou. — Mas acho
que você não compreende o que quero dizer. Um homem desses a faria correr
dez quilômetros, não é, meu bem?
Chris sentiu-se corar àquela observação maldosa. Estendeu o braço para
receber a chave do quarto, e perguntou, tentando esconder a perturbação:
— Ele está hospedado aqui?
— Ele é Chase Lorimer, o fotógrafo. Está aqui há três semanas, a
trabalho. Se é que fotografar modelos em biquíni é trabalho... — Judith deu uma
risadinha. — Se estivesse me fotografando, não teria muita dificuldade em me
convencer a tirar a roupa e cair em seus braços. Que homem! Dizem por aí que
ele é muito experiente. Por que está interessada? Tem alguma esperança? Ele é
cortejado pelas garotas mais lindas desde que chegou, e mesmo agora que sua
namorada voltou para Londres, não tem demonstrado interesse por nenhuma
outra. — Judith olhou com desprezo para Chris, medindo-a de alto a baixo. —
Você não preenche os requisitos, Chris, falta-lhe muita coisa. E nenhuma garota
que tenha preservado sua virgindade por tanto tempo poderia satisfazer um
homem na cama.
— Andrew me quer — disse Chris secamente.
— É mesmo? Tem certeza disso, Chris? Não percebi no seu noivinho
nenhuma ansiedade em te ver...
Chris correu para o elevador, ouvindo atrás de si a gargalhada de
desprezo de Judith e sentindo cada uma daquelas palavras mordendo-a por
dentro, despertando todos os seus medos secretos, como se a outra houvesse
adivinhado tudo. Tentou acalmar-se enquanto se dirigia para o quarto: é claro
que Andrew não a beijara com fervor por medo de não conseguir controlar o
próprio desejo. Ele agia assim por respeitá-la, era tolice esperar que a
arrebatasse para a cama, dizendo-lhe que não podia resistir ao encanto de seu
corpo, que seu amor por ela era tão grande que precisava possuí-la.
Totalmente confusa com seus sentimentos, Chris entrou no quarto e
trancou a porta antes de ir até a pequena varanda, tentando afastar aquela
sensação de solidão e dó de si mesma que a invadira. Pensou no pai e no que
estaria fazendo àquela hora. Como seria bom se ele se casasse de novo... Muitas
vezes havia tentado abordar esse assunto, mas sir Duncan sempre afirmava que
tinha amado muito a mulher para colocar alguém em seu lugar. Quando
conhecera Andrew, ela havia dito ao pai que ele não compreendia o modo como
ela se sentia.
— Compreendo muito bem, meu amor. Posso me lembrar de como é
quando a gente se apaixona, e como as garotas de dezoito anos são impetuosas.
Sua mãe tinha essa idade quando a conheci, e, se eu não me controlasse, você
teria nascido mais cedo... Há coisas que não mudam, e uma delas é o desejo, a
paixão entre homem e mulher. É por isso que me preocupo com você. Do jeito
que as coisas são hoje, não me surpreenderia se me tornasse avô de repente.
Chris havia corado violentamente. Será que seu pai pensava que ela e
Andrew já eram amantes? Pelo que pudera entender sobre o relacionamento
dele com sua mãe, parecia claro que os dois não haviam esperado o casamento
para consumar seu amor.
De volta ao presente, Chris decidiu que precisava falar com Andrew. Não
naquela noite, pois a tal reunião com o gerente do hotel devia mesmo ser
importante, mas na manhã seguinte, antes que ele começasse a trabalhar. Sabia
onde ficava o quarto dele, e apesar daquela ala ser proibida para hóspedes
conseguiria esgueirar-se até lá.
No íntimo, Chris alimentava a esperança secreta de que, agindo dessa
maneira, seria capaz de precipitar a situação que Andrew havia evitado até
então. Vendo-a aparecer em seu quarto, talvez esquecesse o bom senso e se
lembrasse mais do amor. O sangue de Chris fervia, seu corpo ansiando por estar
perto de Andrew, sensações apenas meio compreendidas corriam em suas veias.
Andrew! O nome dele estava nos lábios de Chris quando o sono
finalmente a envolveu, mas, curiosamente, nos sonhos ela não viu a figura
aloirada do noivo, mas a de um homem moreno. Um homem que tinha por ela o
mesmo desprezo de Judith, que zombava, chamando-a de criança boba, mesmo
que os olhos verdes lhe dissessem que não achavam nada infantis as curvas
graciosas do corpo... E o pior era sentir que desejava aquele homem, como
nunca desejara alguém, nem mesmo Andrew.
— Não... — Chris murmurou em meio ao sono, agitando-se sob as
cobertas, tentando escapar dos sonhos e da ameaça que eles representavam.

CAPÍTULO II

Chris acordou bem cedo para colocar em prática seu plano. Sabia que
Andrew começava a trabalhar às sete e tomava o café da manhã mais tarde,
depois de iniciar a rotina. Eram quinze para as seis quando ela saiu do quarto,
preferindo usar as escadas por saber que não haveria outros hospedes ali àquela
hora. Passando pela porta do terceiro andar, daria bem em frente à escada que
levava aos quartos dos funcionários.
Encontrou a porta do quarto de Andrew entreaberta. Empurrando-a
vagarosamente, Chris entrou na ponta dos pés, reparando no aposento espaçoso.
Um dos lados servia como sala de estar e de trabalho, contendo livros, o
aparelho de som e o de TV, e uma mesa retrátil. O outro, que Chris não podia
ver do hall onde se encontrava, era o espaço da cama de casal.
Ela já ia avançar até lá quando inesperadamente ouviu alguém falar.
Sentiu-se gelar ao reconhecer a voz de Judith, um pouco rouca e preguiçosa,
como se tivesse acabado de acordar.
— Humm, querido, você foi um amor.
Certa de ter interrompido uma cena íntima, Chris tentou sair sem ser
notada, mas o pior estava para acontecer. Antes de chegar à porta, a voz da loira
tornou a chegar-lhe aos ouvidos.
— Vai pensar em mim enquanto estiver fazendo amor com a bonequinha
de luxo?
— Talvez. — Chris reconheceu a voz de Andrew cheia de satisfação,
repleta de prazer, muito diferente do tom com que falava com ela. — Mas vou
pensar no dinheiro do "papai” e no futuro que ele vai proporcionar a nós dois.
Isto é, se eu conseguir fazer amor com ela.
— Bem, acho que você vai ter que dar esse passo logo, meu amor, ou ela
poderá desconfiar. Ela pode ser virgem, mas não é tão inocente que não saiba o
que está perdendo.
Houve um ruído de movimentação na cama, e depois Chris tornou a ouvir
a voz de Andrew, estranhamente rouca:
— Meu Deus, não sei se vou conseguir fazer amor com ela, Ju. Ela não
me excita nem um pouco. Não tem a menor idéia do que fazer para atrair um
homem. Se eu não soubesse sobre o dinheiro do pai, não teria nem olhado para
ela. Nenhum homem de verdade poderia desejá-la...
Uma dor aguda percorreu o corpo de Chris. Ela queria chorar, correr para
a cama de Andrew e agredi-los com unhas e dentes. Então... nenhum homem de
verdade a desejaria? Ouvir isso a tinha magoado mais do que saber do plano
visando o dinheiro de seu pai. Sim, ela havia sido vítima de um plano medonho.
Andrew continuava falando:
— Primeiro teremos um hotel em Barbados, ou em qualquer outra ilha do
Caribe, financiado pelo pai, e assim que ela perceber que eu não a quero, será
fácil convencê-la a pedir o divórcio.
— Mas o pai dela vai consentir?
— Ora, Ju. O hotel estará em meu nome, é claro, e, se o “papai” quiser
dificultar as coisas, basta ameaçá-lo com o escândalo. Já pensou nas manchetes?
“Filha do magnata do petróleo não excita o marido”... Não teremos nenhum
problema. Gosto de mulheres que sabem agradar a um homem. Aliás, acho que
nosso amigo Lorimer tem o mesmo gosto, não é? — A voz de Andrew soou um
tanto contrariada.
Chris sentia ondas de agonia atravessarem seu corpo. Deveria afastar-se
antes que eles percebessem sua presença, mas o orgulho não lhe permitia, sua
herança céltica dizia-lhe para ficar e escutar tudo o que eles tinham a dizer,
suportar todos os golpes. Ali ficou, portanto, sentindo uma torrente de dor, mas
com a cabeça erguida, o orgulho dos MacDonald impedindo-a de gritar.
— Ciumento... — Judith respondia, provocadora. — Ele estava apenas
batendo um papo comigo.
— Batendo papo? Vai me dizer que não a convidou para sair?
— Desta vez, não.
— E se a convidasse? — Andrew mostrava-se cada vez mais enciumado.
— Ah, querido, você não pode querer que eu passe todo o meu tempo
livre sozinha, enquanto você se diverte com a Miss Petróleo. Sou uma mulher
moderna: não tenho vocação para freira.
Chris sentia-se doente, não podia suportar mais. E iria provar a ambos
que estavam errados, que ela podia atrair fisicamente um homem e que era tão
mulher quanto Judith. Reuniu toda a sua coragem e irrompeu no quarto,
arrancando o anel de brilhante do dedo e atirando-o na cama. Ficou ali parada,
diante de duas pessoas completamente aturdidas. Judith não parecia tão bela à
luz da manhã, antes de maquilar-se. Em poucos anos já estaria meio passada,
pensou Chris com uma alegria vingativa. Mas não estava realmente preocupada
com o futuro, e sim com o presente.
— Chris! — a voz de Andrew soou alarmada, mas ela ignorou-o.
— Não diga nada! Já ouvi o suficiente. Pode dedicar-se à sua amiguinha,
isto é, se ela ainda o quiser, agora que eu não vou mais fornecer-lhe dinheiro
para o resto de suas vidas. Tinham planejado tudo, não é? Mas esqueceram-se
de um pequeno detalhe: não sou tão burra quanto você supunha, Andrew.
Andrew ficou muito pálido enquanto ela falava, mas Judith estava a ponto
de explodir de ódio. Era óbvio que a loira pensara ter uma vida luxuosa às
custas de Chris e agora se desesperava por ver todo o plano desmoronar.
Chris sentia-se mortificada: o que haveria de errado com ela? Seria
menos feminina e desejável do que as outras mulheres? “Não!”, pensou
revoltada, correndo para a porta. O sangue gritava por vingança, por um
bálsamo que lhe aliviasse o orgulho ferido. Ela havia amado e provado o
amargor da traição, isso não aconteceria de novo. Mas primeiro precisava
realizar o que havia prometido a si mesma.
Não parou para analisar os fatos. Se parasse, seria envolvida pela dor que
já a atingira no quarto de Andrew. Seu primeiro impulso, de deixar o hotel e
tomar o primeiro avião, perdeu-se com a necessidade de provar que os
comentários cruéis que ouvira estavam errados. Encontraria um homem que a
desejasse, antes de voltar para casa.
Descendo para o saguão, viu que Judith se preparava para assumir a
recepção do hotel. Uma garota que não conhecia estava falando com um dos
hóspedes, cujos ombros largos se inclinavam para ela. Chris sentiu o coração
acelerar-se ao reconhecer aquele perfil másculo: Chase Lorimer. Um homem
que não pensaria duas vezes antes de tomar o que queria da vida, um homem
que poderia ensinar-lhe em uma lição muito mais sobre o jogo do amor do que
ela poderia aprender em mil encontros desastrados com rapazes de sua idade.
Chris parou a uma dezena de passos do balcão, e pôde ouvi-lo perguntar à moça
onde ficava uma certa praia.
— Desculpe, Sr. Lorimer. não sei, mas vou me informar — disse a
recepcionista, olhando para Judith, que estava muito entretida conversando com
Andrew.
Num impulso, Chris aproximou-se.
— Eu sei onde fica essa praia.
Chris viu Andrew ter um sobressalto, ao reconhecer-lhe a voz. Chase
Lorimer havia se virado e a estava observando com aquele mesmo olhar
indolente da véspera.
— Eu estava planejando passar lá essa manhã... Talvez possamos ir
juntos. Tem um carro?
— Sim. É muito longe?
— Não, não. Estaremos lá em meia hora — ela respondeu, nervosa.
Chase não parecia surpreso, provavelmente estava acostumado a situações
inesperadas.
— Você não se importa de sairmos mais tarde? Vou nadar um pouco e a
encontrarei aqui em uma hora. Está bem?
Pelo canto dos olhos Chris pôde ver a expressão espantada de Andrew e
Judith, que ouviam a conversa. Manteve-se impassível, sentindo um novo ânimo
invadi-la. Parecia que os fatos a estavam ajudando.
Dirigia-se ao elevador para subir a seu quarto, quando Judith a alcançou e
segurou-lhe o braço.
— Não vai dar certo, você sabe. Pode ter forçado Chase Lorimer a aceitar
sua companhia por algumas horas, mas ele nunca a levará para a cama, não
quando descobrir a verdade sobre você. Homens como ele não gostam de
virgens, queridinha.
Chris desvencilhou-se com um safanão e apertou o botão do elevador,
controlando-se para não esbofetear Judith. Mas a loira continuou, ácida:
— Dizem que cada vez que ele faz amor com uma mulher, tira uma
fotografia para sua coleção particular. Mas duvido que tenha interesse numa
sonsa como você. E de qualquer modo, nada disso faz diferença para Andrew e
é a mim que ele ama.
Chris não aguentou mais. Encarou Judith com os olhos fuzilando de raiva
e explodiu:
— É mesmo? Engraçado, eu tive a impressão de que o grande amor dele
era o dinheiro. E não me importo mais com o que aquele canalha pensa a meu
respeito. Na verdade, o fato de ver vocês dois juntos tornou as coisas muito
mais fáceis para mim, acho que percebi que estava enganada sobre Andrew no
momento em que...
— Pôs os olhos em Chase Lorimer? — Judith escarneceu. — Sendo tão
inocente, você até que sabe reconhecer o que é bom, mas Chase não vai se
interessar pelo dinheiro do papai, ele é o herdeiro de um tio muito rico.
— Você parece saber tudo sobre ele. Tinha algum plano para Chase
também?
A porta do elevador se abriu e Chris entrou rapidamente, deixando Judith
do lado de fora. Apertou o botão de seu andar e apoiou-se na parede metálica,
tentando recompor-se. As pernas estavam bambas, a respiração ofegante. Nunca
havia participado de uma briga dessas, e sentia um gosto amargo na boca.
Então Chase Lorimer fotografava as mulheres com quem fazia amor?
Chris sentiu um calafrio. Uma voz interna lhe dizia que não era tarde para voltar
atrás, mas isso significaria admitir que todos os insultos que Andrew e Judith
lhe haviam dirigido eram a realidade, que ela não possuía os dotes de uma
mulher de verdade. Não, não ia desistir agora, estava disposta a provar que eles
estavam errados.
Em seu quarto. Chris mexeu em suas roupas até encontrar o que estava
procurando: um biquíni que havia comprado no Sul da França no verão anterior.
Experimentou-o em frente ao espelho, forçando-se a aceitar a visão de seu corpo
quase nu. A isca para Chase Lorimer tinha que ser tentadora, já que era um
homem habituado à companhia de mulheres lindas. Sim. estava perfeito.
Aqueles triângulos listrados em vermelho e azul- marinho eram tão pequenos
que quase não se faziam necessários.
Enquanto arrumava a sacola de praia, colocando toalhas, bronzeador, um
livro e outras coisas. Chris recusava-se a escutar sua consciência, pensava
apenas que esta seria uma chance única. Ela não podia falhar. Chase era um
homem que precisava de mulheres, fora isso o que vira em seus olhos no dia
anterior, quando ele a estudara cuidadosamente.
Vestiu um conjunto de short e blusa rosa, colocou uma saia de abotoar na
sacola e olhou o relógio: ainda tinha quinze minutos, o tempo necessário para
tomar um café na lanchonete do hotel.

Chris pediu café e torradas, tentando dominar seus nervos, que ficavam
tensos à medida que o tempo corria. O relógio marcava oito horas e alguns
minutos, e Chase não aparecera. Ela começou a suar, sentindo que ficaria
doente, imaginando a cara de triunfo de Judith. De onde estava sentada, podia
ver todo o movimento do saguão do hotel.
Às oito e dez, deu-se por vencida. Sem dúvida, ele não tivera a intenção
de sair com ela, havia concordado apenas por educação. Com um suspiro de
desânimo, pegou na sacola o espelhinho de maquilagem para ver como estava a
aparência. Deu uma olhada rápida para o saguão para certificar-se de que ao
menos Judith não estava ali para testemunhar sua humilhação, apesar de que ela
ficaria sabendo através de Andrew, e os dois ririam juntos do seu fracasso.
Distraída em sua tristeza, Chris não ouviu os passos que se aproximavam.
Levou um susto quando sentiu o contato de dedos frios no braço; virou-se muito
pálida, encontrando o rosto impassível de Chase Lorimer.
— Então é aqui seu esconderijo? Esqueceu-se de nosso encontro?
Ele vestia uma calça branca justa e uma camiseta azul turquesa que
deixava os olhos ainda mais claros. Um relógio de ouro brilhava no pulso, e
Chris teve a súbita impressão de um homem que, apesar de toda a sofisticação
da vida moderna, era tão pirata quanto os antigos habitantes daquela ilha.
— Eu... eu havia me esquecido. Não o vi no saguão.
— Saí para pôr gasolina no carro, por isso me atrasei alguns minutos. Isto
é seu? — ele pegara a sacola e esperava que ela o acompanhasse. Chris
compreendeu que agora era tarde demais para escutar a voz da razão.
— Sim, obrigada.
— Espero que tenha trazido bastante protetor solar — ele a preveniu. —
Ouvi falar que essa praia não tem nem um barzinho onde se esconder.
O aviso teria um outro sentido? Talvez a sugestão de que ele se
arrependera e preferiria passar o dia sozinho? Chris lembrava-se que a trilha que
descia até a praia era estreita e perigosa em alguns lugares. Havia estado lá com
Andrew; apesar de ter sido um dia agradável, voltara desapontada com o
namorado, que não havia tentado nem beijá-la. Aquela praia pequenina era um
lugar idílico: escondida, a salvo de olhares curiosos, longe da estrada e de casas.
Caminharam para o estacionamento e Chase parou ao lado de um Porsche
conversível.
— Vai usar seu chapéu ou quer que o coloque no porta-malas?
— Guarde-o, por favor — murmurou Chris, estendendo-lhe o chapéu, e
recolhendo rapidamente os dedos como se os tivesse queimado, quando tocaram
os dele. Havia sido um contato rapidíssimo, mas ela tinha se retraído como...
“uma virgem apavorada”, puniu-se mentalmente. Como esperava fazer amor
com ele, se tremia ao menor contato físico?
— Mandei o hotel preparar um lanche para nós. Imagino que você queira
passar o dia todo lá, não? Não há condução para aquela parte da ilha, por isso é
bom aproveitar o carro...
Oferecendo-se para ser sua guia, Chris também aceitara passar com ele o
tempo que ele quisesse.
— Estou totalmente em suas mãos — respondeu, segurando a respiração
e olhando para outro lado ao ver que ele caminhava em sua direção. Mas Chase
passou a seu lado e lhe abriu a porta do carro, gentil.
Chris entrou com as pernas tremendo, pensando se algum dia poderia
sentir-se completamente à vontade na companhia de homens como Chase
Lorimer. Se seria capaz de flertar e provocá-los do modo como parecia tão
natural para garotas como Judith.
— Não sei se vou demorar ou não — disse Chase, sentando-se diante do
volante e colocando os óculos escuros. — Tudo depende do tempo que eu levar
para fazer as fotos que desejo. Quero tirar umas fotos de paisagem para usar no
estúdio, no caso de o trabalho que já fiz não ter dado certo. Está pronta?
Chris assentiu, dando-lhe instruções sobre o caminho a tomar, enquanto o
carro se afastava do hotel. Mal saíram e ela percebeu que seu cabelo não parava
por causa do vento. Tinha que segurá-lo a todo instante para que não entrasse
nos olhos. Não havia trazido uma fita ou um lenço.
— Deixe o cabelo solto — Chase pediu. — Essa cor é natural?
— Sim. — Chris sentiu as faces vermelhas.
— Não precisa ficar brava, a maioria das modelos tinge os cabelos. E
depois, não é comum encontrar essa cor preta quase azulada em alguém de pele
tão clara. Eu diria que você é céltica. Irlandesa?
— Escocesa — ela corrigiu. Este homem conhecia muito o sexo
feminino, pensou, um pouco apreensiva. Em que havia se metido? Por que não
seguira o conselho de seu pai, de não se deixar levar por impulsos? Agora
estava sentada com este estranho num carro que os levaria a uma praia deserta,
onde provavelmente a seduziria...
Mas o que estava acontecendo com ela? Não iria recuar agora. “Covarde,
covarde”, dizia lhe uma voz interna. “Você não tem fibra para terminar o que
começou.” Mas Chris gritava mentalmente: “Sim, tenho! Vou até o fim!”
— Está tão séria! Em que está pensando? Arrependeu-se de ter vindo?
— Não...
— Não parece muito segura. Não se preocupe, seja o que for que tenham
lhe dito sobre mim, não sou um estuprador. Não preciso disso. E já que essa
hipótese está afastada, que tal conversarmos? Que está fazendo aqui sozinha?
— Eu... eu pretendia vir com meu namorado, mas... mas tivemos uma
briga e...
— ...e agora está procurando um substituto. Bem, por que não? Estranho,
pela sua expressão hoje de manhã, pensei que a casa tinha caído sobre você.
Parecia uma gatinha perdida e apavorada que alguém houvesse chutado com
força — Chase deu-lhe um sorriso, mas Chris não correspondeu.
— Ficou com pena de mim? Então foi por isso que...
— ... a deixei me convidar? — ele completou, rindo. — Não foi bem isso.
Não sou nenhum altruísta. Se você fosse uma chata, confesso que não teria sido
simpático nem aceitado seu convite. Acho que devia ter imaginado que o
problema era um homem. Quantos anos você tem?
— Dezoito — Chris nem pensou em mentir, mas intimidou-se quando o
viu apertar os dedos no volante e murmurar:
— Meu Deus! Tão jovem... Eu tenho vinte e oito, é quase uma geração de
diferença. Não vai me dizer que prefere homens mais velhos?
— Só os que se parecem com meu pai — Chris respondeu no mesmo
tom, com uma expressão divertida. Não ia deixar de dar o troco às ironias de
Chase.
Houve um momento de silêncio, e depois os dois caíram na risada.
— Está bem, gatinha, não vou mais provocá-la. Parece que teremos um
dia esclarecedor, não?
— Como assim?
— Não havia pensado que aos dezoito anos alguém pudesse ter
experimentado todos os prazeres que a vida tem para oferecer, mas parece que
estava errado, uma garota como você não ficaria sem um mestre. Esse ar de
inocência já deve ter atraído muitos apaixonados, não? Quantos amantes já
teve?
— Vire aqui — Chris interrompeu. A conversa havia tomado um rumo
que ela não esperava, mas até que era bom Chase convencer-se de que ela
possuía muita experiência sexual. Mas por quanto tempo conseguiria iludi-lo?
Certamente ele descobriria a verdade no minuto em que a tocasse.
Estavam rodando por uma estrada estreita e vazia, como uma passadeira
que se fundia com o céu no horizonte. Chris ficou aliviada quando chegaram ao
pequeno estacionamento no topo do penhasco. Havia acertado o caminho, e
podia ver o portãozinho que indicava a trilha por onde deveriam descer até a
praia.
— O caminho é muito íngreme? — perguntou Chase ao descer do carro.
— Muito.
— Humm. Então é melhor eu fazer duas viagens. Não quero arriscar-me a
estragar minha câmera, mas pelo menos sei que estaremos a sós, já que a praia é
tão inacessível. Imagino que não será um daqueles lugares cheios de crianças,
não é?
— Não se preocupe. Apenas mocinhas acompanhando senhores mais
velhos vêm aqui — ela respondeu.
— Já vi que tem senso de humor! Hum-hum, as coisas estão melhorando.
Pode levar suas coisas, ou...
— Posso levá-las.
— Ah, sim. Esquecia-me de que você é o produto de uma nova geração,
uma garota que provavelmente defende a liberação feminina com unhas e
dentes. Só por curiosidade, o que seus pais pensam do seu modo de vida?
— Minha mãe está morta — disse Chris rapidamente. — E meu pai...
— É um ex-hippie dos anos 60 que aprova o amor-livre e educou sua
filha de acordo com seus pontos de vista. Bem, quem sou eu para reclamar? —
Chase encolheu os ombros e foi até o porta-malas do carro. — Aqui estão suas
coisas. Pode começar a descer, se quiser. Vou juntar minhas coisas. Que lindo
dia! — Ele espreguiçou-se com os mesmos movimentos sensuais que ela notara
no dia anterior. — Precisa tomar cuidado com sua pele, garota. Queimaduras
graves poderiam comprometer seu estilo.
Sem dizer nada, Chris apanhou a sacola da mão de Chase e dirigiu-se
para a trilha na encosta. O tempo quente havia ressecado o caminho, e ela
levantava nuvens de poeira e pedrinhas à medida que descia. Diversas vezes
precisou agarrar-se em tufos de capim para não cair, e quando finalmente
chegou a praia deu um suspiro de alívio.
Era uma enseada muito bonita, protegida de três lados por escarpas, tendo
à frente um mar incrivelmente azul. Não havia ninguém à vista, a areia estava
macia e sem marcas, dourada, recebendo as suaves carícias da maré. Chris tirou
as sandálias e enterrou com prazer os dedos na areia morna, sentindo a tensão
esvair-se enquanto respirava aquele ar límpido e fresco. Mas logo ficou
novamente tensa, ao ouvir sons atrás dela. Era Chase, que colocava diversos
equipamentos sobre uma lona.
— Hummm. O lugar é todo nosso, hein? — ele comentou, voltando para
o caminho. — Não vou demorar. Por que não fica à vontade? Tenho certeza de
que uma mulher liberada como você deve sentir-se mais em casa nas praias de
nudistas da França do que nos balneários familiares de Jersey, mas aqui
ninguém verá se você tirar a roupa. Posso até fazer o mesmo.
Chris deu-lhe as costas e pôs-se a caminhar pela borda da água,
observando as pequenas ondas rolando na areia. Será que ele falava sério?,
pensou apreensiva. Como iria agir, se Chase insistisse para que tirassem as
roupas?
Quando ele voltou da segunda viagem, Chris sentia-se mais nervosa,
arrependendo-se amargamente de ter vindo. Porém alguma coisa mais forte que
o medo, mais forte que sua relutância natural em experimentar o desconhecido,
a impelia a continuar. Pressentia ser aquele um momento preciso de sua vida,
único, que poderia tornar-se maravilhoso se não o estragasse com bobagens.
Decidida, ela voltou, pisando sobre as próprias pegadas ao longo da praia,
parando a alguns metros do equipamento de Chase. Ele estava de costas,
abrindo uma sacola de onde tirou uma toalha. Deixou-a cair na areia, e olhou
para seu relógio.
— O ângulo do sol ainda não está bom. Só vou poder fotografar daqui a
umas duas horas. Vamos nadar?
— Ainda não. Quero tomar sol primeiro.
Ele começou a tirar a camiseta enquanto Chris o olhava, quase
hipnotizada, só desviando o olhar quando apareceu o tufo de cabelos negros em
seu peito. Uma estranha sensação de fraqueza invadiu-a e ela gemeu, tomada
por uma visão de como seria sentir o corpo de Chase de encontro ao seu, afagar
aqueles pelos escuros, apertar os seios nus contra a pele quente daquele peito
forte. Fechou os olhos, e, ao abri-los, verificou que Chase havia tirado também a
calça e estava parado na sua frente, estudando-a, vestido com um pequeno
calção de banho branco que contrastava vivamente com a pele morena. O corpo
dele era perfeito, os músculos perfeitos dando ao mesmo tempo a idéia de força
e leveza.
De repente ele correu até a água e mergulhou, nadando para longe. Só
então Chris conseguiu mover-se, as mãos tremendo enquanto tirava a roupa,
revelando o minúsculo biquíni que trazia por baixo.
Havia terminado de espalhar bronzeador por todo o corpo quando Chase
voltou do banho, aproximando-se com a água escorrendo dos cabelos.
Ao notar o biquíni diminuto, os olhos verdes se estreitaram, numa clara
demonstração de surpresa e desejo. Uma gota de água caiu do braço dele entre
os seios de Chris, fazendo-a encolher-se. Com um sorriso, Chase abaixou-se
devagar, tocando-lhe a pele com a ponta dos dedos, acariciando a curva suave
que o biquíni mal escondia. Foi só um instante, mas o suficiente para que Chris
se visse tomada por mil emoções: seu corpo estava quente e frio ao mesmo
tempo, tenso e febril.
— Está tremendo. — Chase ergueu a cabeça e franziu a testa.
— F... foi apenas a água fria — ela mentiu, sabendo que estava
abandonando a última chance de recuar e dizer a Chase a verdade. — Senti um
calafrio.
— Está toda arrepiada. — Chase tocou a pele macia do braço de Chris,
aumentando-lhe a sensação de atordoamento.
— Por que não tira o biquíni? Não há ninguém para olhar, apenas eu. —
Com a mão livre, puxou os cordões do sutiã, desamarrando-os.
— Não... eu... não quero me queimar — Chris protestou, mas ele não a
ouviu.
Os olhos verdes fixaram os dela, enquanto as mãos quentes afastavam os
pequenos triângulos de tecido e enchiam-se com a maciez dos seios firmes. Os
dedos de Chase faziam-na vibrar, o toque íntimo roubava-lhe a respiração e seu
coração batia furiosamente. Sem deixar de olhá-la, Chase largou um seio, e
alcançou o bronzeador.
— Ponha um pouco em minha mão — disse com suavidade.
O pânico invadiu Chris, fazendo-a sentir um impulso para afastar a mão
dele e cobrir-se.
— Para quê?
— Para que você não se queime, gatinha.
Chris umedeceu os lábios com um rápido movimento da língua, e
admirou-se ao ver como os olhos de Chase se fixava em sua boca. Continuou
pensando em recuar, pois não havia imaginado todas essas intimidades. Queria
que ele a amasse, mas... Perturbada por essas emoções conflitantes, colocou o
creme na mão de Chase, observando como que hipnotizada o modo como ele o
espalhava em seus seios, com gestos lânguidos que exploravam e moldavam
suas formas, em círculos, até que ela não tinha mais consciência de nada além
do toque experiente daqueles dedos.
— Não admira que tantos homens a tenham achado irresistível — disse
Chase maravilhado, não mais olhando para o rosto de Chris, mas para os seios,
que continuava massageando. Seu polegar roçou levemente um bico ereto. —
Isto excitaria um santo, quanto mais um homem comum. Tinha pensado em
tomar sol, mas talvez seja melhor dar outro mergulho.
Chase ajoelhou-se ao lado dela e baixou a cabeça. Ao primeiro toque da
língua dele num dos mamilos, Chris ficou envergonhada, ao sentir uma onda de
prazer percorrê-la e manifestar-se abertamente. Isto era algo que ela não havia
esperado. Queria perder a virgindade, mas nunca sonhara que fosse sentir-se
assim, desejando agarrar a cabeça morena e segurá-la contra o peito, saboreando
o prazer que era quase dor. Quase sem perceber, soltou um gemido rouco,
arqueando o corpo para que ele não interrompesse aquele doce tormento.
— Mais tarde — murmurou Chase, afastando-se dela. — Tenho trabalho
a fazer, lembra-se?
Rubra e excitada, Chris pôde apenas olhar para ele, arrasada com o que
estava lhe acontecendo. Ela havia desejado Andrew, claro, mas fora algo tépido,
uma emoção insignificante, comparada com o que tinha acabado de
experimentar.
O sol quente a aqueceu quando Chase se afastou, mas, em vez de cobrir
os seios, Chris admitiu para si mesma que queria ser olhada por ele, desejada,
tocada e beijada até sentir aquele prazer intenso, que fazia seu corpo tremer.
— Não olhe para mim desse jeito, gatinha. — Chase riu. — Parece até
que acabou de descobrir a magia do sexo e quer aprender mais, muito mais.
“Sim, é isso mesmo", ela pensou em dizer, mas se conteve a tempo.
Admitir que era virgem provavelmente só faria Chase recuar desgostoso, como
acontecera com Andrew. No íntimo, não queria mais que Chase simplesmente a
possuísse, livrando-a da virgindade. Ela o desejava realmente, aquele homem
mexia com suas emoções.
Enquanto Chase remexia no equipamento. Chris esticou-se sedutoramente
sobre a toalha, sabendo com um profundo instinto feminino que os olhos dele
seriam atraídos pelas curvas de seus seios, ainda túmidos com as carícias que
haviam recebido.
— Está me tentando, não é? Eu sei qual o remédio para isso. —
Inesperadamente Chase arrebatou-a nos braços, correndo para o mar e entrando
até que a água lhe atingisse o peito.
Chris gritou em protesto quando ele a soltou, chocada com o impacto da
água fria. Mas logo se refez, nadando com agilidade. Havia aprendido a nadar
muito cedo, e estava habituada à água fria do Mar do Norte.
Chase perseguiu-a, agarrando-lhe o tornozelo e puxando-a para baixo da
superfície. Depois, segurando-lhe a cintura, a fez emergir e a abraçou com
força, tocando-lhe a boca com a língua.
— Humm. Está salgadinha...
— Você também — respondeu Chris tomando coragem para
corresponder àquelas carícias. Trocaram um beijo longo, até que ela se
desvencilhou e nadou de volta para a praia. Chase não a seguiu, e Chris pôde
sentir a pulsação voltar ao normal.
Ele retornou para a praia cinco minutos depois, e deitou-se a seu lado na
toalha, para secar-se ao sol, mas não fez qualquer gesto para tocá-la. Sentindo-
se sonolenta, depois de todo o exercício e a tensão por que passara naquela
manhã, Chris virou-se de bruços, apoiando o rosto sobre os braços. Sentia-se
relaxar aos poucos. Fechou os olhos, e percebeu duas mãos firmes movendo-se
em suas costas, dando-lhe uma deliciosa sensação de abandono, uma vontade de
esticar-se e não pensar em mais nada...

Vendo que ela adormecera, Chase Lorimer cessou a massagem e pôs-se a


estudar aquele corpo delicado estendido ao seu lado.
Muito, muito atraente. Quase tinha perdido o controle, há pouco...
Quando a vira pela primeira vez, no elevador, tivera a impressão de estar
diante de uma criança, tímida e nervosa. Como se enganara! Já devia estar
acostumado: não seria a primeira garota a atraí-lo pensando em fazer carreira
como modelo. Uma sombra de desprezo escureceu-lhe os olhos, sua expressão
tornou-se fria. Engraçado, desta vez isso o estava magoando.
Dando de ombros, levantou-se, dizendo a si próprio com ironia que
estava se fazendo de bobo, deixando-se envolver; mas Chase sabia que a
desejava, contra qualquer lógica ou bom senso. Ele a queria. Mas antes de
possuí-la deixaria tudo claro, explicar-lhe-ia que fazer amor com ele não
significava de modo algum tornar-se uma modelo famosa.
Lançou-lhe mais um olhar e franziu a testa. Deitada como estava, a
cabeça repousando nas mãos, parecia mesmo uma criança, inocente e pura. Fez
um trejeito. Estava se tornando muito sentimental, e isso não era bom. A vida
com Laura havia lhe ensinado a desconfiar das mulheres. Pensara estar
apaixonado, e que ela também estivesse, mas tudo o que Laura queria era usá-
lo. Ela rira quando ele lhe propusera casamento. Tinha sido um golpe doloroso
para um rapaz de vinte e dois anos, mas o jogo havia virado, agora ela era cada
vez menos requisitada como modelo e necessitava de todos os truques que um
fotógrafo poderia usar para preservar sua aparência jovem, uma pessoa de trinta
anos cujo rosto demonstrava o modo como vivera e amara, se se pudesse
chamar de amor aos raros encontros sexuais que ela se permitia. Agora Laura
queria casar-se, principalmente por saber da fortuna que ele herdaria do tio. Mas
Chase não tinha mais vinte e dois anos. Estava mais velho e mais sábio, tivera
muitas Lauras em sua vida para decepcioná-lo.
Ao observar Chris novamente, seus olhos ficaram sombreados pela
tristeza e pelo desprezo. E ali estava outra. Uma Laura em potencial,
suficientemente jovem para ainda possuir o frescor e a ilusão de inocência, mas
na realidade... Chase pegou seu equipamento e caminhou para o final da praia, e
logo absorveu-se no trabalho, olhando apenas uma vez para a garota que
dormia.
CAPÍTULO III

Foi o tilintar de uma garrafa batendo num copo que despertou Chris de
seu sono. Sentia os olhos enevoados, incertos. O sol lhe queimava os ombros, e
pela sua posição, viu que tinha dormido bastante.
— Então acordou... Que bom, pensei que teria de lanchar sozinho. Está
com fome?
Havia uma cesta de piquenique aberta sobre uma toalha ao lado de Chase,
e Chris espiou o que continha, tentando dominar a agitação que a perturbava.
Estaria completamente louca?, pensava, aturdida. Tinha realmente alimentado a
intenção de seduzir aquele estranho moreno e arrogante, incitando-o a fazer
amor com ela? Chase estendeu o braço e tocou-lhe o ombro, fazendo-a dar um
pulo.
— Não está ardendo? Eu passei bastante creme em suas costas, mas você
ficou dormindo umas duas horas — disse, deixando os dedos absorverem o
calor da pele macia.
— Estou bem. Só que quando acordei não me lembrei de onde estava.
— Ou com quem estava — ele completou, malicioso. — Mas deve estar
acostumada a isso. Por favor, prepare os pratos, enquanto sirvo o vinho.
Havia salada de galinha, pão crocante, salmão e queijo. Em outro canto
da cesta, Chris viu pêssegos e uvas, e sentiu-se faminta. Passou um prato a
Chase.
— Quer mais vinho?
Chris olhou para o copo, surpresa por já tê-lo esvaziado.
— Por favor. — Além de estar com sede, esperava que o álcool a
deixasse mais relaxada.
Comeram em silêncio, mas Chris esteve o tempo todo dando olhadelas
furtivas para o rosto inescrutável de Chase. Seus olhos desciam
involuntariamente por aquele peito largo com sua bela penugem negra e, mais
abaixo, quase hipnotizados, por aquele caminho escuro que ia pelo ventre dele.
— Você está olhando para mim como se fosse o primeiro homem que
visse na vida, e isso está mexendo com os meus nervos — disse Chase enquanto
enchia o copo de Chris pela terceira vez.
— Não estava olhando para você, estava pensando... — ela mentiu,
virando o rosto para que ele não a visse corar.
— Pensando em me tocar em vez de apenas olhar, não é? Ora, não
precisa ficar zangada, isso é um elogio para mim. Ou um homem precisa
primeiro lhe dizer como está louco por você para depois ser aceito?
— Não... eu não te quero — Chris titubeou.
— Não? — Por um segundo Chris teve a impressão de ver uma expressão
amarga nos olhos dele, mas Chase logo se dominou, falando com um tom
divertido enquanto lhe alcançava o rosto, acariciando-o. De repente, ele
inclinou-se e beijou-a nos lábios.
Uma sensação estonteante a dominou e Chris agarrou automaticamente o
braço de Chase para não cair. Os músculos dele se retesaram e novamente
relaxaram, enquanto sua língua acariciava as linhas da boca morna e sedenta.
Envolvida pela onda de prazer que quase a fazia flutuar, ela não deu
atenção ao sinal de alarme que zumbia em seu íntimo. Sentia-se um pouco tonta
pelo vinho e, quando Chase a empurrou gentilmente sobre a toalha, Chris
murmurou um fraco protesto, mas continuou presa ao braço dele: toda vez que
tentava abrir os olhos, o mundo girava desconfortavelmente. Sim, era muito
mais agradável simplesmente relaxar e desfrutar do suave passeio das mãos de
Chase sobre seu corpo. Quando ele removeu a parte superior do biquíni, ainda
quis murmurar algo, mas a boca de Chase a silenciou.
— Vamos, querida, não me rejeite. Quero sentir toda a doçura de seus
lábios — disse ele.
Mas Chris manteve a boca apertada, dominada pelas dúvidas, lembrando-
se de haver jurado nunca mais ser alvo de zombaria de ninguém por sua
inexperiência. Então Chase deu uma pequena mordida em seu lábio inferior e,
quando ela soltou uma exclamação de dor, a língua dele conseguiu penetrar
onde desejava.
Ondas de excitação ressurgiram dentro de Chris, seus sentidos totalmente
tomados pela sedução daquela boca em contato com a sua. Algo selvagem e
pagão parecia ter possuído seu corpo, que reagia às carícias de Chase como se a
própria força da vida fluísse do ponto onde aquela boca lhe roçava a pele.
— Você me faz sentir coisas que nenhuma outra mulher me provocou.
Quero que seja minha, Chris. Quero possuí-la de tal maneira que você passe a
fazer parte de mim para sempre — ele murmurou com a voz rouca.
Chris abriu os olhos com esforço, mergulhando naqueles olhos verdes
escurecidos pelo desejo.
— Oh, Chase...
— Diga que me quer também, Chris. Diga que sente o mesmo desejo —
ele tornou a baixar a cabeça, tocando com a língua os bicos rosados dos seios.
Acariciou-os longamente, com as mãos e com os lábios, fazendo Chris quase
explodir de prazer.
Depois, os beijos dele percorreram-lhe o corpo inteiro, ávidos, como se
cada pedacinho da pele macia e acetinada não pudesse deixar de ser provado.
Louca de desejo, Chris retorcia o corpo, saindo do torpor que o vinho lhe
deixara. Gemia baixinho, achando que morreria ante aquelas sensações
desconhecidas e violentas, morreria, se não pudesse fundir seu corpo ao de
Chase, se não conseguisse também dar-lhe tamanha felicidade.
— Chris, você é uma feiticeira, sabia? — Chase sorriu, enquanto sua mão
lhe acariciava o quadril, encontrando os cordões do biquíni e tentando afrouxá-
los. — Chris, eu te quero tanto. Ajude-me... Toque-me... — Com delicadeza, ele
lhe alcançou uma das mãos e a beijou, antes de colocá-la no próprio quadril. —
Por que está me atormentando tanto? Mostre seu amor... Não vê como estou
louco para ser tocado por você?
Ela tremeu, percebendo o calor da pele nua sob os dedos, os músculos
rijos e bem-feitos. Chase moveu-se, fazendo-a encostar-se aos pelos do peito e
das coxas, o que lhe aumentou o prazer. Como se estivesse à beira de um
abismo, Chris fechou os olhos e deixou que seus dedos explorassem o
desconhecido corpo, percorrendo o estômago e seguindo a trilha de cabelos
negros que se perdia no calção justo, sentindo-lhe as batidas ritmadas do
coração acompanharem a respiração rápida.
— Então, você também sente! Você me deseja tanto quanto eu a desejo,
garota. Pare de me torturar. Chris. Deixe-me entrar em você, quero sentir-me lá
dentro. — O corpo de Chase vibrou e ele a puxou para perto de si, deixando-a
perceber a intensidade de sua excitação.
Com um choque, Chris despertou para o que fazia: estava nua nos braços
de um estranho, porque queria perder sua virgindade; mas ele pensava que...
Sentiu um arrepio, forçando-se a encarar Chase. Ele pensava que não queria
tocá-lo apenas por provocação! A masculinidade daquele corpo a excitava e
alarmava ao mesmo tempo. No íntimo, Chris sabia que era este o homem que
ela queria para seu primeiro amante. Uma atração irresistível a fazia despertar
para uma feminilidade que nunca havia sentido com Andrew.
— Chris — a voz de Chase soou áspera, seu rosto subitamente
assustador, desconhecido. — O que há com você, afinal?
— Mas você ainda não me fotografou — ela se ouviu dizendo, para
ganhar tempo. Viu a expressão chocada de Chase e tentou explicar. — Pensei
que você sempre fotografasse as mulheres com quem faz amor.
— Então eu estava certo, é nisso que está interessada! — Ele se afastou
bruscamente, furioso. — Eu devia ter adivinhado... Bem, você não tem corpo
para ser modelo. Por que se deu tanto trabalho? Para sair nas páginas centrais de
alguma revista para homens? Desculpe desapontá-la...
Antes que Chris pudesse dizer qualquer coisa, Chase tornou a prendê-la
com o peso do corpo, beijando-a até quase enlouquecê-la. Estava tão dominada
pelo prazer que quase não percebeu quando ele se levantou e dirigiu-se para o
local onde estava o equipamento fotográfico.
— Agora você está pronta para essas fotos! Quando saírem nas revistas,
todos os homens que comprarem poderão pensar que a estão amando, que são
eles que lhe provocam esse olhar turvo de paixão e excitação. É isso que você
quer, não é? — Chase falava de modo quase selvagem, fazendo-a perceber o
quanto estava furioso.
Chris permaneceu imóvel, conseguindo apenas titubear enquanto o flash
espoucava. Chase aproximou-se mais, abaixando-se, e ela o olhou com ódio
quando ele esfregou-lhe com o dedo o lábio inferior, fazendo-a demonstrar o
desejo que sentia.
— Assim, ótimo! — E a câmera disparava.
— Por favor, não! Você não está entendendo! — Como Chase podia
pensar que ela queria ser fotografada assim? Por que não percebia que tudo fora
um plano para ganhar tempo enquanto reunia coragem? Tudo o que Chris queria
era que ele a acariciasse, relaxando-a para que pudesse fazer amor, mas...
— Por favor, Chase, você não entendeu...
Ele pôs o equipamento de lado, na sacola, e voltou-se para ela com o
rosto vermelho de raiva.
— Entendi muito bem. Você se convidou para vir comigo pensando em
fazer amor como pagamento por essas fotos, não é? Bem, você já as conseguiu,
agora é hora de me compensar. Não vou esperar mais!
— Mas você está tão furioso, como pode... — Chris quase disse “me
querer ainda”, mas percebeu que estava sendo ingênua.
— Ah, você vai ver como eu posso, e não ficará desapontada. — Chase
deitou-se ao lado dela, segurando-lhe os pulsos frágeis acima da cabeça, com
um riso rouco na garganta.
Chris recusou-se a fechar os olhos, o que apagaria a visão daquele sorriso
triunfante e do brilho nos olhos verdes. Chase moveu-se lentamente para cima
do corpo desprotegido.
— Será o pagamento por meu trabalho — disse devagar. — E não precisa
fingir que nunca usou seu corpo desta maneira. Tem muita prática, não é,
mocinha? Esperou até que o pobre rapaz estivesse tão maluco por você que
fosse capaz de fazer tudo o que lhe pedisse... Bem, você também fez promessas
e agora terá que cumpri-las.
Ele abaixou-se com facilidade sobre o corpo de Chris, e com seu joelho
forte neutralizou todos os esforços que ela fazia para impedi-lo de avançar.
Aquele peso maciço deixava-a sem respiração, e Chris lutou para afastar
o pânico. Rápido, Chase removeu o calção de banho e tornou a colar-se ao
corpo dela. Não havia mais carinho nem paciência, tudo se tornara instinto puro,
como se ele quisesse puni-la pelo desejo que lhe despertara. Sem poder fazer
nada, horrorizada, Chris fechou os olhos que já se encontravam turvos de
lágrimas.
— Droga! — ele exclamou de repente. — Você queria as fotos, Chris.
Agora faça amor comigo!
Anestesiada com o pânico, Chris pôde apenas olhar cegamente para ele e
sussurrar tão baixo que se admirou de ser ouvida.
— Não, por favor... não posso... Não quero as fotos, não foi por isso que
eu vim...
— Então o que você queria? — Intrigado, ele se afastou, ainda a fitando
com raiva.
— Queria que você fizesse amor comigo...
— Queria mesmo? — Chase ergueu as sobrancelhas de modo irônico. —
Bem, você tem uma maneira estranha de demonstrar isso.
— Queria que você me amasse porque ainda sou virgem — Chris admitiu
de uma vez, sentindo-se tão miserável que nem conseguiu inventar outra
explicação. Não podia olhar para ele, não suportaria ver-lhe o rosto, então rolou
para o lado, dando-lhe as costas. — Nunca quis as fotos, eu só...
— Eu devia ter imaginado! — Chase explodiu. — Quer dizer que era
tudo fingimento?
Com o rosto enterrado nos braços, Chris sentia-se rubra de humilhação.
— Eu sei que não consigo agradar a um homem, mas tinha pensado que...
— Virou-se um pouco e lançou um olhar assustado para Chase. Ele se mantinha
imóvel, uma expressão indecifrável no rosto. — Chase, por favor, você faria
amor comigo?
— Chris — disse ele depois de um longo silêncio. Ela sentiu-lhe o calor
da respiração na têmpora e os dedos que lhe acariciavam as costas. — Chris,
não é o momento certo. Vamos esquecer o que aconteceu, está bem?
Sim, ela podia entender muito bem: ele a estava rejeitando. Queria-a
enquanto pensava que era experiente, mas agora que sabia a verdade, não a
desejava mais.
— Não posso acreditar que você simplesmente acordou esta manhã e
resolveu que queria perder a virgindade, e comigo. Precisamos conversar sobre
isso... — ele concluiu.
— E o que há para conversar? Você não me quer; ninguém me deseja.
Andrew tinha razão, eu não tenho nenhum atrativo... — Chris estava quase
chorando.
— Andrew? — Chase interrompeu.
— Sim, Andrew. O homem de quem eu estava noiva até hoje de manhã,
quando o encontrei na cama com outra mulher. Alguém com a experiência que
eu não possuo, que o excita de um modo que nunca serei capaz. Ele é igual a
você, percebe?
— E foi por causa dele que você se aproximou de mim esta manhã? —
Havia uma expressão incrédula no rosto de Chase. — Queria que eu fizesse
amor com você por causa desse tal de Andrew? Meu Deus, não vê que é
perigoso agir assim? Eu quase a violentei agora há pouco! Fez-me acreditar que
era experiente, que... Diabos, Chris! Acho que você é louca!
Aquelas palavras duras atingiram Chris como um banho de água fria. Ela
percebeu que havia tomado uma atitude no calor da raiva e quase tinha feito
algo que não poderia assumir quando recuperasse a razão. Sentiu-se mal,
envergonhada, morrendo de vontade de sumir dali. Mas o principal era o
sentimento de rejeição, pior do que experimentara com Andrew. Chase não a
queria. Não ia fazer amor com ela!
— Olhe, nós precisamos conversar sobre tudo isso. Vamos voltar para o
hotel, e mais tarde nos encontraremos para jantar.
— Não — ela protestou. — Nunca mais quero vê-lo, não entende?
— Ah, sim, posso entender melhor do que você pensa. — Chase perdeu a
paciência. — Você queria apenas me usar, não é? Não se importa nem um
pouco com os meus sentimentos. Parece-me uma completa inversão de valores,
e de um tipo que não aprecio. Posso perguntar-lhe por que me escolheu?
— Porque... achei que tinha muita experiência — Chris admitiu.
— Ah! Ótimo! — A voz dele soou amarga. — A mocinha precisava de
um professor...
Um silêncio constrangedor caiu sobre os dois. Chris, sem saber o que
dizer, apoiou os braços nos joelhos e ficou olhando a imensidão do mar.
— Vista-se, vamos voltar para o hotel — ele disse afinal, enquanto
colocava as próprias roupas, com gestos nervosos.
Chris deu um suspiro e também se vestiu. Nunca em sua vida havia
passado por tanta humilhação; fora pior que encontrar Andrew na cama com
Judith. Quando Chase se virou e sem querer encostou nela, percebeu que lhe
provocava um estremecimento.
— Como é que pretendia fazer amor comigo, se quando a toco se retrai
dessa maneira?
— Eu queria apenas acabar depressa com isso. Eu...
— Você me usou — Chase falou entre dentes, agarrando o pulso de Chris
e quase fazendo-a perder o equilíbrio. Estava furioso, e ela não podia
compreender por quê. Ela é que havia sido humilhada, rejeitada, afastada no
mesmo instante em que ele soubera a verdade. — Fazendo experiências, como
uma adolescente boba! Aliás, é isso mesmo que você é. Uma adolescente boba!
— Chase soltou-a, terminou de ajeitar suas coisas na sacola e rumou para a
trilha sem dizer mais nada.
Ficaram em silêncio durante todo o percurso para o hotel. Judith estava
na recepção quando entraram, e o orgulho fez com que Chris a olhasse com
frieza, erguendo a cabeça.
— São quatro horas. Encontrarei você aqui às oito — disse Chase
olhando para o relógio. Quando ela abriu a boca para protestar, acrescentou
secamente: — Se não aparecer, irei buscá-la em seu quarto. Quero ouvir a
história toda esta noite. Meu Deus, seus pais devem ser loucos para deixá-la
fazer o que quer! Talvez alguém devesse ter uma conversinha com eles...
— Você não faria isso! — Chris, arregalou os olhos, apavorada.
— Não? Bem se vê que não me conhece, menina. Oito horas! E lembre-
se, se não estiver aqui, irei buscá-la. — Chase empurrou-a para o elevador e
nem esperou as portas se fecharem para se afastar.
Quando entrou em seu quarto, Chris sentiu um alívio enorme por se ver
finalmente a sós. Despiu-se e entrou no chuveiro, deixando a água fria escorrer
pelo corpo e refrescar a pele queimada e dolorida. Enquanto se ensaboava, não
pôde evitar a lembrança do que sentira quando Chase lhe beijara os seios, das
mãos fortes acariciando cada pedacinho de seu corpo... Afastou depressa essa
imagem, dizendo a si mesma que ele a desprezara ao saber que era virgem.
Rejeitara-a da mesma forma que Andrew.
Sentia uma dor angustiante, queria chorar e gritar, mas as emoções
pareciam bloqueadas em seu íntimo. Jamais alguém teria de novo a chance de
humilhá-la dessa forma, nem que para isso tivesse que permanecer virgem para
o resto da vida!, prometeu. Afinal, tinha amor-próprio; não podia destruir-se só
porque um idiota qualquer a tratara mal. Quanto a jantar com ele... Chris
lembrou-se da ameaça que Chase fizera de conversar com seu pai e tremeu.
Ainda bem que não lhe havia dito seu sobrenome.
Enrolou-se numa toalha e dirigiu-se até o telefone, ligando para a
recepção. Felizmente não foi Judith quem atendeu. A recepcionista ouviu o que
ela disse e pediu-lhe para esperar.
Um minuto, dois, três... Chris sentia a ansiedade aumentar, tornando-se
quase insuportável.
— Sim, tudo bem, Srta. MacDonald — disse a garota finalmente. — Há
um lugar no vôo desta noite. Sai às seis e trinta, vai ter que correr um pouco.
Vou chamar um táxi. Avise-me quando estiver pronta.
Chris agradeceu e desligou com uma sensação de alívio. Isso queria dizer
que, às oito horas, quando Chase Lorimer a procurasse no saguão, ela estaria em
sua casa em Aberdeen, a salvo. Imaginou Chase voltando para Londres e
contando detalhadamente aos amigos a experiência, rindo dela, escarnecendo de
sua inocência. E todos se divertiriam, toda aquela gente sofisticada que ele
devia conhecer.
Uma sensação estranha a invadiu, um misto de tristeza e revolta; uma
impressão de perda irreparável, de que sua vida mudara e nunca mais seria a
mesma. Era como que a confirmação daqueles pressentimentos, que a haviam
alertado para não se envolver com Chase Lorimer. Mas não fora realmente
envolvimento; afinal, Chase a desprezara.

Embora não o soubesse, quando Chris desceu do avião em Aberdeen,


havia feito a dolorosa transição da adolescência para a idade adulta. Aprendera
com aquele homem de cabelos negros e olhos verdes a sentir o desejo, a
urgência da paixão, mas também experimentara o gosto amargo da rejeição;
descobrira a fragilidade dos sonhos diante da irreparável dureza da vida.
Não se preocupou por ser Chase e não Andrew a lhe ocupar o
pensamento. Andrew amava outra pessoa, seu comportamento era de certa
forma compreensível. Mas Chase a desejara, demonstrara um interesse enorme,
até que ela lhe dissera que ainda era virgem. Então ele se afastara, furioso,
humilhando-a como se fosse alguma criminosa. Não, jamais poderia perdoá-lo
por isso.

CAPÍTULO IV

— Que importante, hein? — Chris brincou com o pai, debruçando-se


sobre o seu ombro para observar a notícia no jornal: “Sir Duncan MacDonald,
embaixador britânico no Qatar”.
— Ainda não é oficial — advertiu-a sir Duncan, fechando o jornal e
colocando-o de lado, enquanto beijava o rosto da filha. Parecia-lhe que há um
minuto ela era uma criança, adorável, muito bonita, mas ainda uma criança, e de
repente transformara-se numa mulher admirável, vagamente misteriosa.
Suspirou enquanto Chris se sentava e começava a tomar o café da manhã.
Aquela mudança tinha se iniciado desde que ela retornara de Jersey, há cinco
anos... Ainda se lembrava de como a filha havia chegado, contando que rompera
o noivado e que não queria mais falar no assunto. Não podia negar que ficara
satisfeito, pois não o aprovara desde o começo, mas sempre se perguntava o que
teria ocorrido realmente... Bem, fosse o que fosse, já devia estar esquecido. A
vida deles tornara-se agitada e Chris certamente não tivera muito tempo para
remoer o passado.
Três anos antes, a Petróleo Sefton havia inaugurado seu quartel-general
em Londres. Sir Duncan e Chris tinham se mudado para lá e ela se encarregara
de administrar com muita eficiência a nova casa. A companhia crescera bastante
e aos poucos o nome MacDonald passara a ser reconhecido no mercado
internacional como de magnatas do petróleo.
Havia sido idéia do primeiro-ministro indicá-lo como embaixador para
aquele conturbado país do Oriente Médio. Apesar de a notícia ainda não ser
oficial, muitos jornais traziam nas colunas de finanças ou nas sociais fotos de sir
Duncan, e às vezes de Chris, que deveria exercer as funções de anfitriã na
embaixada.
Christine MacDonald, como seu pai, possuía um caráter irrepreensível,
diziam os jornais, o que era importantíssimo numa missão delicada como a de
sir Duncan. O Qatar era um país muçulmano, onde as mulheres obedeciam a um
código de comportamento severo, o que tornava importante que a filha do
embaixador fosse conhecida por sua conduta impecável. Isso havia sido
explicado a sir Duncan em sua primeira entrevista no Ministério do Exterior, e
ele o havia comunicado a Chris. Existia uma razoável resistência de certos
setores quanto à sua indicação, e ele estava aliviado por saber que ao menos
nesse particular não tinha com que se preocupar.
— Os homens muçulmanos certamente não seguem um código tão rígido
quanto o que impõem às suas mulheres, mas lá as coisas são assim. Se você
preferir não me acompanhar, minha filha, não ficarei aborrecido.
— Mesmo que eu ficasse aqui, se meu comportamento não fosse
exemplar, isso prejudicaria sua carreira — respondera Chris.
— Certamente. Duvido que eu fosse o escolhido se houvesse qualquer
fato em minha vida que ofendesse a moral vigente no Qatar.
— É tão sério assim? — Chris ficara em silêncio, pensando ironicamente
no passado.
Fazia cinco anos que sofrera aquela decepção em Jersey, e ela se
mantivera fiel à promessa de que nenhum homem a rejeitaria de novo. Qualquer
rapaz com quem saísse e que tentasse ultrapassar a barreira invisível que criara a
seu redor era imediatamente posto de lado. Ela havia estabelecido como regra
nunca sair mais de duas vezes por mês com o mesmo acompanhante e por isso
era conhecida como uma pessoa fria e distante. É claro que alguns haviam
tentado ir mais longe, mas Chris sempre pensava que estavam interessados na
fortuna de seu pai.
Será que queria mesmo deixar a Inglaterra? Gostava de ajudar o pai, de
estar sempre ao lado dele nas recepções, mas o entusiasmo pela novidade havia
diminuído desde que se mudaram para Londres. Os compromissos sociais a
ocupavam bastante, mas por dentro se aborrecia, então começara um curso de
informática, e agora fazia programação de computadores para várias
companhias. Recebia por isso uma boa remuneração, que lhe permitiria viver
independente do pai, se quisesse. Sir Duncan não a estava pressionando para
viajar com ele, ao contrário, deixava claro que Chris poderia escolher o que
julgasse melhor para seu futuro.
— Você é quem decide, filha. Se quiser ficar, tudo bem. Mas, se for,
quem sabe não encontramos um xeque que a queira? Se ele me oferecer uma
dúzia de poços de petróleo, até posso pensar no assunto...
— Deixe de gracinhas, pai. Você sabe que não quero saber de homens.
O sexo masculino não a atraía, era como se suas emoções estivessem
congeladas desde o dia em que fora à praia com Chase Lorimer. Agora não era
mais tão inocente: havia beijado alguns rapazes, o que fora agradável, mas não
excitante, e parecia que eles haviam pensado o mesmo, pois não tentaram ir
adiante. Chris não lamentava que fosse assim. No íntimo, sempre se dizia que
era melhor ser considerada fria e intratável do que sofrer a humilhação de ser
rejeitada.
No entanto, só ela sabia das longas noites em que jazia desperta, face a
face com suas inseguranças. Era uma mulher de verdade em todos os sentidos,
menos no essencial. Um dos rapazes com quem saíra descrevera-a como uma
estátua animada, e Chris admitia que era verdade. Não possuía o fogo interior
capaz de atrair ou reter um homem, e receando ser descoberta preferia manter-se
totalmente indiferente, como Cinderela esperando pelo beijo que a despertaria
do sono.
Depois do café, Chris foi para seu escritório terminar um programa que
havia começado. A sala ficava numa das alas da mansão e era toda decorada em
suaves tons de amarelo e azul. A mesa do computador localizava-se numa
salinha contígua, e enquanto ela se dirigia para lá, o telefone tocou.
— Aqui é Stan Fellows, do jornal World. É a Srta. MacDonald? Poderia
nos dar umas duas palavrinhas sobre sua mudança para Qatar?
Não era o primeiro repórter que telefonava, e Chris havia decidido
responder às perguntas deles de uma forma educada mas não comprometedora,
por isso explicou com paciência que a nomeação de sir Duncan ainda não era
oficial e que, portanto, não podia fazer qualquer comentário.
— E sobre o fato de Clinton Towers ter dito que uma temporada no
deserto talvez pudesse descongelá-la?
Chris esforçou-se para não ser agressiva. Clinton Towers candidatara-se a
uma diretoria da Petróleo Sefton alguns meses antes, e convidara Chris para
sair, na esperança de ter maiores chances. Mas ela, já acostumada a reconhecer
as pessoas que pretendiam usá-la, não tinha pensado duas vezes em recusar.
Quando Clinton Towers começou a espalhar a notícia de que seria o genro de sir
Duncan, Chris entrou em ação. Revelou aos jornalistas que não pretendia ficar
noiva, e que não tinha a menor intenção de se casar com um simples técnico em
petróleo. Clinton veio vê-la e, na discussão que se seguiu, Chris teve certeza das
intenções dele. Não o encontrara mais depois disso, presumindo que o caso
estivesse encerrado, mas agora percebia que havia se enganado. Não existia
ninguém mais vingativo que um homem cujo orgulho fosse ferido, ela pensou
com um suspiro, enquanto respondia calmamente ao jornalista:
— O Sr. Towers tem todo o direito de expressar suas opiniões, se assim o
desejar.
Percebendo que não conseguiria arrancar nada dela, o repórter se
despediu. Chris desligou e encaminhou-se para seu equipamento. Ficaria feliz
quando seu pai fosse oficialmente nomeado, pois começava a perceber o quanto
era difícil manter a imprensa afastada. O problema era que a nomeação
constituía um assunto delicado, tanto para o Qatar quanto para o Ministério do
Exterior. Os inimigos estavam prontos para atacar sir Duncan a qualquer
deslize; o menor fato que pudesse justificar o afastamento dele do cargo seria
usado sem nenhum escrúpulo.
Preocupada, Chris começou a trabalhar, mas como não conseguia se
concentrar acabou voltando para o escritório, onde serviu-se de uma xícara de
chá da garrafa térmica. A secretária já havia trazido a correspondência e Chris
deu uma espiada, abrindo rapidamente os envelopes. A maioria das cartas
relacionava-se com seu trabalho. Além de um extrato bancário cujo saldo era
bastante agradável, encontrou um cartão-postal de uma amiga em férias, e
finalmente um envelope pardo, endereçado numa caligrafia rápida, que ela não
reconheceu.
Curiosa, Chris retirou o papel caro e grosso e desdobrou-o. Seus olhos
caíram imediatamente na assinatura ao pé da folha. Foi como se houvesse
recebido um soco: a respiração ficou presa na garganta, e seu coração disparou
diante daquelas letras negras e fortes. Chase Lorimer. O que ele poderia querer
dela?!
Naqueles cinco anos, muitas vezes deparara com o nome dele nos jornais
e a princípio sentia-se quase doente de vergonha e humilhação quando isso
acontecia. Dois anos antes havia lido que ele estava abandonando o mundo da
moda para ser um dos diretores de uma cadeia de televisão. Fotos de Chase
continuaram a aparecer na imprensa, sempre acompanhado de alguma bela
mulher e, aos poucos, ela foi aprendendo a controlar as emoções ante às
referências que encontrava sobre a carreira ou a vida particular daquele homem
que praticamente lhe mudara o destino. Só que nunca imaginara receber uma
carta, como agora. O que seria?
Um pouco trêmula, leu rapidamente a folha, cada vez mais surpresa. Ele
queria vê-la. Mas por quê? Agora, depois de tanto tempo?
Logo que retornara de Jersey, costumava assustar-se toda vez que o
telefone ou a campainha da porta soavam, temerosa de que Chase aparecesse e
revelasse a seu pai o que havia acontecido naquela praia deserta. Acalmara-se
com o tempo, concluindo que fora um episódio tão insignificante para ele que
não se daria ao trabalho de procurar sir Duncan. No entanto, agora tinha nas
mãos aquela mensagem curta, pedindo... não, ordenando-lhe que fosse à casa
dele. “Dia 23, às seis horas em ponto...”, dizia a nota. Mas não era isso que a
atemorizava tanto, e sim o parágrafo seguinte, onde se lia: “Se não vier, irei
procurá-la em sua casa”.
Havia mesmo um tom de ameaça naquelas palavras? Não estaria sendo
vítima de sua própria imaginação? Confusa, Chris olhou o calendário. Aquele
era o dia 23! Ele queria vê-la naquela noite! Céus, o que faria?
Tinha duas alternativas: podia simplesmente não ir, que era o que
desejava fazer, ou então vê-lo aparecer em sua casa. Seu pai ficaria intrigado e
acabaria fazendo perguntas... Ela nunca mencionara ter conhecido Chase
Lorimer em Jersey. Aliás, pouco dissera a respeito do rompimento do noivado
com Andrew. Se Chase e sir Duncan se encontrassem, seria uma catástrofe...
Não, Chase Lorimer não estava brincando quando ameaçara vir procurá-
la. Ele seria capaz de tudo... Chris começou a andar de um lado para o outro, até
que uma batida na porta assustou-a. Era a governanta, trazendo-lhe o almoço.
— Meu Deus, que cara preocupada! Algo está errado?
A Sra. McLeod trabalhava com eles desde Aberdeen. Era uma amiga para
Chris, a única com quem podia fazer confidências ou desabafar nos momentos
de tristeza. Mas nem para ela Chris ousara falar sobre Chase Lorimer. Por isso,
desviou os olhos, tentando disfarçar.
— Não é nada, apenas mau humor.
A Sra. McLeod ergueu as sobrancelhas, descrente.
— Você e seu pai jantarão em casa?
— Ahn... sim. Quer dizer, tenho que sair no fim da tarde, mas não
demorarei muito. — Apenas quando as palavras saíram de sua boca é que Chris
percebeu que havia tomado a decisão de ir ao encontro de Chase.
O resto do dia foi terrível. Nem o trabalho, que normalmente a ajudava a
esquecer os problemas, conseguiu distraí-la ou fazê-la deixar de pensar em
Chase Lorimer. Sentia arrepios, revendo imagens de que preferia não se
lembrar. Os dois naquela praia deserta, trocando carícias loucas, o desejo quase
explodindo e então... Não, era impossível que aquilo tivesse acontecido. Mas
infelizmente, sim, era verdade. O pesadelo fora real e agora Chase reaparecia,
para fazê-la reviver tudo, para destruir o equilíbrio emocional que conquistara a
duras penas...
Chris levantou-se e começou de novo a caminhar de um lado para o
outro, nervosa, olhando-se no espelho de quando em quando. Seu cabelo escuro,
que normalmente usava preso, estava solto, os olhos, em geral tranquilos,
mostravam um brilho incomum, denunciando a tempestade de emoções que a
perturbava.
Naqueles cinco anos seu corpo tornara-se mais elegante e sensual, mas
ela sempre fazia questão de usar roupas sóbrias, que pouco evidenciassem as
curvas acentuadas. Como agora: vestia uma blusa de seda lilás, de gola alta e
mangas longas, combinando com uma saia preta. Às vezes o pai a incitava a
usar roupas menos sérias, mas Chris sempre se recusava.
Às quatro horas subiu para seu quarto e revolveu o guarda- roupa,
buscando o que vestir. Finalmente escolheu um costume preto e uma blusa
branca, escovou bem os cabelos e prendeu-os num coque frouxo. Admirou-se ao
espelho e secretamente cumprimentou-se pelo efeito final. Sim, estava com uma
aparência tranquila e discreta. Ninguém que a visse assim se lembraria da jovem
de dezoito anos que suplicara para ser amada.
— Vai sair? — perguntou seu pai ao vê-la. — Não me havia dito nada.
— Um compromisso inesperado — disse Chris vagamente, para que seu
pai pensasse que era assunto de trabalho. — Mas devo voltar cedo, em tempo
para o jantar.
— Humm. Mas não sei se eu virei jantar. Recebi um chamado do
primeiro-ministro esta tarde para um encontro urgente. Parece que o ministério
ainda está contra mim. Vou me encontrar com o embaixador do Qatar, o xeque
Najur Ben Zayad. Ele é um muçulmano convicto e um homem poderoso em seu
país.
— Ah, sim, eu me lembro de ter lido sobre ele recentemente, quando foi
nomeado embaixador em Londres. Não havia certos comentários sobre uma de
suas filhas?
— Sim, a garota queria frequentar uma universidade no Ocidente. Na
época, o xeque tinha um posto nos Estados Unidos e achava que a filha estava
sofrendo a influência de amigos americanos. Acho que nosso encontro será uma
espécie de avaliação pessoal. — Sir Duncan fez um trejeito e Chris caminhou
até ele, sorrindo com carinho.
— Você quer muito esse posto, não é? — perguntou com suavidade.
O pai suspirou.
— Devo admitir que ficaria muito desapontado se não o conseguisse. Já
fiz tudo o que podia pela Petróleo Sefton. Ela funciona perfeitamente bem sem
mim agora, e eu apreciava mais o tempo em que tínhamos que dar duro. Este
posto de embaixador será um novo desafio. Sou bastante idealista e acho que
poderia fazer algo pelas relações entre a Inglaterra e o Qatar.
— Não se preocupe, querido. Tenho certeza de que o xeque adorará você.
— Chris jogou-lhe um beijo e saiu.
O endereço que Chase Lorimer havia dado não ficava muito longe. Chris
preferiu dirigir ela mesma o Mercedes esporte que comprara com seu próprio
dinheiro, e do qual tinha muito orgulho. Para sua surpresa, Chase não vivia num
bloco de apartamentos, como havia suposto, mas num conjunto de casas
agradáveis, com vista para o rio. Após encontrar a casa, estacionou o carro, e
exatamente às seis horas subiu calmamente os degraus que levavam à porta de
madeira entalhada. Bateu decididamente com a aldrava de bronze. A porta
abriu-se e ela sentiu-se subitamente tomada de medo.
— Na hora exata! — disse uma voz de homem, que a fez estremecer.
Quando Chase tocou-lhe o braço, Chris percebeu como estava tensa.
— Olhe, não tenho muito tempo. Pode me dizer o que quer?
— Acho que eu desejava saber se você continuava tão linda quanto nas
fotografias. Quer tomar um drinque?
Chris olhou friamente para o rosto de Chase, rezando para não deixar
transparecer a perturbação que o reencontro lhe causava. Nada havia mudado
nele: os olhos verdes ainda brilhavam, expressivos, a pele continuava bronzeada
e a boca mantinha o sorriso irônico de que ela se lembrava tão bem. Só as
roupas eram diferentes: um terno elegante e uma camisa branca impecável
substituíam os jeans e a camiseta descontraída que ele costumava usar em
Jersey. Estudando-o disfarçadamente, Chris sentia o pulso latejar. Este homem
era perigoso, mais do que cinco anos atrás... Nesse instante, Chase olhou para o
relógio de pulso.
— Já perdemos cinco minutos do nosso valioso tempo. Claro que apreciei
a inspeção que fez de mim... Eu também a estive examinando. Você parece uma
pessoa muito controlada, tranquila. — Ele voltou a passear demoradamente os
olhos pelo corpo de Chris, com um sorriso entre irônico e incrédulo.
— Se é um elogio, obrigada. — Chris levantou a cabeça em desafio. —
Olhe, eu não sei por que você queria me ver...
— Cada coisa a seu tempo. Primeiro, um drinque...
Não teve alternativa senão entrar na elegante sala de estar. A combinação
de tons azuis, bege e um pouco de rosa era muito bonita. Surpreendentemente os
móveis eram tradicionais. Ela havia pensado que Chase Lorimer seria o
proprietário de um apartamento moderno, decorado com móveis arrojados, mas
aquele lugar quase aconchegante mostrava que errara.
— Você combina com este ambiente — disse Chase, enquanto abria um
armário disfarçado na parede.
— Quer me dizer o que deseja? — retrucou Chris asperamente.
— Ah, quero que você se sinta à vontade aqui, Chris. Afinal, esta é a casa
que vai ser... seu lar. Pelo menos quando não estivermos no campo. Também
tenho uma casa de campo, sabe?
— O quê? — Chris julgou não ter ouvido direito. Encarou-o, confusa.
— Quero que se case comigo, Chris — continuou Chase calmamente,
servindo-lhe bebidas.
— Casar com você? Está louco? Não pretendo casar-me com ninguém,
muito menos com você!
— Por que muito menos eu? Porque uma vez me pediu para fazer amor
com você e eu recusei? Ajudaria se eu lhe disser que me arrependi muito desse
erro? Mas você me havia deixado desconcertado, entende, Chris?... Eu não
sabia o que fazer...
— Não quero falar sobre o assunto! Esta sua... proposta... É alguma
espécie de brincadeira?
— De modo algum, não é brincadeira, não. — Chase aproximou-se,
oferecendo-lhe um copo de cristal com xerez, antes de sentar-se em frente a ela
com o rosto muito sério.
— Bem, você fez sua proposta e eu recusei; agora vou embora — disse
Chris secamente, colocando seu copo na mesinha e erguendo-se. — Você não é
o primeiro homem a querer se casar com a filha de sir Duncan MacDonald e
com a Petróleo Sefton. E acho que não será o último. Mas pelo menos os outros
tinham mais tato.
— Como Clinton Towers? — perguntou Chase, nem um pouco
perturbado com a explosão de Chris. — Não precisa se preocupar com isso; não
estou interessado na Petróleo Sefton, nem no fato de você ser filha de sir
Duncan MacDonald. É claro que isso traz algumas vantagens...
— Sendo uma delas a fortuna de meu pai, suponho — ela ironizou.
Chase havia conseguido colocar-se entre ela e a porta, na qual se
encostara com uma negligência estudada, mas que deixava claro que seria tolo,
se não humilhante, tentar passar por ele.
— Meu Deus, como você dá pouco valor a si mesma! Posso lhe garantir
que meus motivos para querer casar-me com você não têm nada a ver com a
fortuna de seu pai.
— Não?
— Não. Na verdade, agora sou um homem muito rico ou pelo menos o
serei assim que preencher as exigências do testamento de meu tio.
— E quais são elas? — perguntou Chris. arrependendo-se no mesmo
instante. Que lhe interessava isso? Tudo o que queria era escapar daquela sala e
da presença envolvente de Chase, antes que se esquecesse que não tinha mais
dezoito anos.
— Devo casar-me no prazo de três meses após a morte dele. Você vê,
meu tio era um homem que acreditava na vida familiar.
— Então precisa tanto de uma noiva que resolveu escolher a mim? —
Chris caçoou.
— Está novamente demonstrando pouco amor-próprio. Por que acha
impossível eu querer exatamente você e nenhuma outra?
— Do mesmo modo que me queria cinco anos atrás? — Chris não podia
falar sem revelar em sua voz a amargura que a torturava. Insegura, voltou até a
mesinha e apanhou o copo de xerez, mas o largou depressa porque os dedos
tremiam. — Isto já foi longe demais. Não sei qual jogo estúpido você pensa que
está jogando, Chase, mas realmente tenho que ir.
Ele ainda bloqueava a saída, com os braços cruzados, olhando-a com uma
expressão indecifrável.
— Não é jogo, Chris. Pretendo mesmo me casar com você.
— Quer dizer que depois de cinco anos descobriu que está loucamente
apaixonado por uma mulher com a qual nem sequer conseguiu fazer amor? Não
acredito.
— É, eu não pensei que você fosse acreditar. Por que fugiu naquela noite,
Chris?
— Não acha que já havíamos dito tudo um ao outro?
— Então porque eu não a satisfiz, você saiu e procurou outra pessoa? —
o tom da voz de Chase era macio, perigoso.
— E se eu tivesse feito isso? — O orgulho a fez levantar a cabeça e
enfrentá-lo com seus olhos violeta, que mostravam um misto de raiva e dor.
— Pelo jeito, descobriu logo que o sexo pelo sexo só pode ser um
destruidor de almas. Isso se tudo o que se lê e se ouve falar de você for verdade.
A imprensa tem lhe dado muito espaço ultimamente, Chris, desde que seu pai
foi indicado para embaixador. E parece que os padrões morais inacatáveis da
filha de sir Duncan têm-no auxiliado bastante.
— E então? — Ela sentia que a armadilha se fechava, mas não entendia
exatamente o que estava acontecendo.
— Então, se não concordar em se casar comigo, eu poderia... poderia ser
forçado a revelar à imprensa o quanto está enganada sobre você. Estou certo de
que acreditarão em mim, principalmente quando virem as fotografias.
Chris ficou pálida, com a súbita sensação de que as paredes giravam ao
seu redor.
— Isto é chantagem — murmurou, sem poder acreditar no que ouvia.
— Alguns poderiam chamar assim, mas eu prefiro considerar como uma
tática. Eu quero que seja minha esposa, Chris, e estou pronto a utilizar todos os
meios de que disponho para que isso aconteça.
— Mas por quê?
— Por quê? — Chase riu. — A eterna dúvida das mulheres... Conheço
algumas garotas que ficariam loucas de felicidade com uma proposta dessa e
aceitariam sem hesitar.
Chris não aguentou. Com os olhos fuzilando de raiva, encarou Chase,
sem se importar com mais nada.
— Você é muito arrogante, mesmo! Então acha que pode reaparecer
assim sem mais nem menos na minha vida, fazendo exigências absurdas e ainda
supondo que eu ficaria feliz em aceitar? Seu idiota! Saia da frente, quero ir
embora!
— Se eu fosse você, pensaria melhor...
— Saia da frente, seu chantagista! Daqui vou direto à polícia.
— É mesmo? A imprensa vai adorar a novidade...
Chris estremeceu, perdendo imediatamente o ímpeto. Por instantes, havia
se esquecido de quem era, da situação de sir Duncan, do que um escândalo
significaria para a carreira dele como embaixador. Havia se esquecido das
fotos... Seria verdade? Chase realmente guardara aquelas malditas fotos, durante
tantos anos?
Desanimada, caminhou até o sofá e sentou, morrendo de vontade de
fechar os olhos e convencer-se de que vivia um pesadelo. Ele continuava a
observá-la, imóvel.
— Afinal, por que eu? — Chris acabou perguntando num fio de voz. —
Não entendo... Há cinco anos, você ficou furioso comigo, não fez questão
nenhuma de esconder o quanto me desprezava! Qual é a vantagem de se ligar a
mim, agora?
Chase aproximou-se dela, observando com atenção o rosto contraído.
Pareceu querer fazer-lhe um carinho, mas se conteve a tempo. Sentou-se do
outro lado do sofá e suspirou.
— Porque você, minha querida, é a única mulher que eu conheço que
concordaria em se casar comigo nas minhas condições. Isto é, em doze meses,
quando as cláusulas do testamento de meu tio forem satisfeitas e eu tiver
herdado tudo, você alegremente desaparecerá da minha vida, pois tenho os
meios para garantir isso.
— As fotos... — Chris murmurou com a garganta terrivelmente seca, seus
olhos quase negros pela dor.
— As fotos — concordou Chase. Tirou um envelope do bolso do paletó e
mostrou-lhe. — Ei-las. Estas são apenas algumas, mas servirão para convencê-
la. Eu tenho os negativos, e...
Ela não escutava. Estava olhando fixamente para a mão dele, horrorizada.
— Não vai conferir? Eu poderia estar blefando...
— Não quero vê-las — a voz de Chris saiu com esforço.
— Acho que deveria ver. — Chase abriu o envelope, devagar, retirando
uma porção de fotografias brilhantes. As cores borravam-se e dançavam diante
dos olhos de Chris.
— Não... — ela protestou, fechando os olhos e cerrando os dedos com
força.
— Sim... — disse Chase implacável. Sentou-se mais perto dela, fazendo-
a sentir o calor que emanava de seu corpo. Sua determinação era algo quase
palpável naquela situação estranha.
Dedos frios agarraram os de Chris, e uma voz irônica sussurrou em seu
ouvido:
— Por que tanta relutância? Foi você quem quis que eu as tirasse.
— Porque eu estava assustada. Queria apenas ganhar tempo... Queria que
você parasse...
— De acariciá-la? Mas dez minutos antes você estava suplicando para
que eu a possuísse! Ah, Chris, não tem idéia de como me senti aquela noite ao
descer e saber que você havia partido. Fiquei quase louco de preocupação,
porque imaginava como estaria se sentindo. Ninguém sabia nada sobre você...
Seu endereço... Tudo o que havia na ficha do hotel era seu nome.
— Muito simpático — disse Chris com a voz gelada. — Mas não acredito
em uma só palavra do que está dizendo. Se se preocupa tanto comigo, por que
está me chantageando?
— Já lhe disse. Preciso de uma esposa, e um casamento definitivo não faz
parte dos meus planos. Tampouco quero ter que pagar uma alta quantia para me
livrar de uma esposa que não desejo. As leis sobre divórcio exigiriam que eu
pagasse metade do que herdar, e aí não poderia manter a enorme casa de meu
tio.
— Então teve a brilhante idéia de me chantagear, achando que pode se
livrar de mim no momento que quiser? Estou surpresa de não querer extorquir-
me dinheiro também. — Chris apertou os lábios com desprezo.
— A maioria dos homens se contentaria apenas com você, Chris,
principalmente se a tivessem visto como eu vi.
— Você é desprezível! Não posso acreditar que esteja levando isto a
sério.
— Acredite. Quero receber minha herança. A mansão do meu tio foi o
único lar que conheci. Meu pai era do exército, então minha mãe, minha irmã e
eu viajávamos com ele por onde ia. Mas ele e minha mãe morreram num
atentado a bomba em Chipre. Eu estava no colégio interno, na época. Meu tio
praticamente nos criou. Apesar de nunca ter-se casado, no fim da vida se
arrependeu disso, e quis ter certeza de que eu formaria uma família.
— Você não tem vergonha de trair a memória dele? De obter sua herança
por meio de uma mentira?
— Ninguém pode decidir como devo conduzir minha vida, Chris. — A
voz de Chase endureceu. — No entanto, quem sabe se não gostarei tanto de
estar casado com você que me converterei?
— E o que o faz pensar que eu quero? Não tenho intenção de casar-me
com você ou com qualquer outro homem.
— Por quê? Não quer se limitar a um só homem? — A voz de Chase era
suave, mas o brilho perigoso reapareceu nos olhos verdes. — Você não tem
escolha. A não ser que queira ver seu pai perder a embaixada, quando estas
fotos forem publicadas.
Chris sabia que ele estava dizendo a verdade. Abaixou a cabeça para
evitar os olhos penetrantes de Chase, e deu com as fotografias. Uma em
particular brilhava diante dela e prendeu-lhe a atenção, fazendo seu coração
disparar de medo. Todo o seu corpo reagia à visão da própria nudez, daquela
expressão morna e sensual dos próprios olhos. Seu rosto era claramente visível e
possuía uma expressão chocante, como que pedindo para fazer amor. Ninguém
poderia duvidar de como havia terminado aquela sessão fotográfica. A não ser
Chase e ela mesma, é claro.
— Preciso de tempo para pensar — disse confusa, forçando-se a olhar
para ele.
— Você tem vinte e quatro horas. Se não concordar, estas fotos irão para
a imprensa.
— Por favor... — As palavras tremiam nos lábios de Chris, relembrando-
a de como suplicara àquele homem cinco anos antes. Ergueu-se, incerta,
notando que desta vez ele não impedia seu caminho para a porta.
— Vinte e quatro horas, Chris — ele a lembrou, antes que abrisse a porta.
— E desta vez não tente fugir.
“Fugir como, se não há para onde?”, perguntava-se Chris desesperada,
enquanto dirigia para casa. Fazia menos de duas horas que tinha saído, mas
nesse tempo o curso de sua vida fora completamente alterado. Todo o seu bom
senso e lógica queriam recusar a proposta de Chase Lorimer, mas se o fizesse
ele cumpriria a ameaça e sir Duncan perderia o posto que tanto almejava.

Quase não tocou no jantar, e, para disfarçar, disse que estava com muita
dor de cabeça. Lembrou-se de que seu pai havia dito que não viria jantar.
— Não tinha um encontro com o primeiro-ministro?
— A reunião terminou mais cedo do que eu esperava. — Sir Duncan deu
um sorriso satisfeito. — E saiba que estou muito aliviado, querida. O xeque foi
muito simpático, chegou a dizer que você poderia ter uma boa influência sobre a
filha dele. Acho que foram as reportagens sobre a sua excelente conduta que o
convenceram. Chris, o que você tem, filha? Não está se sentindo bem?
Chris tinha acabado de derrubar o copo de vinho, e agora olhava
fixamente para a toalha manchada. Vendo o pai levantar-se, assustado,
apressou-se em acalmá-lo.
— É essa terrível dor de cabeça, papai. Acho que vou deitar-me um
pouco, não se preocupe.
Ao chegar ao quarto, Chris atirou-se à cama como estava, sem ao menos
vestir a camisola. Sentia-se exausta, com a cabeça latejando, o coração apertado
de angústia. Procurava desesperadamente uma maneira de escapar, mas não
havia saída. Como poderia decepcionar o pai? Mas, se não o fizesse, teria que
ficar um ano casada com um homem que temia e desprezava, o único homem
que sabia a verdade sobre ela, que sabia de seu fracasso como mulher.
Chase perguntara se ela havia encontrado outro homem, e ela não negara.
Nunca o deixaria descobrir a verdade. Não poderia suportar a humilhação de ele
saber que ainda era virgem, que nunca havia encontrado alguém que a fizesse
esquecer o trauma que vivera em Jersey.
De manhã, pálida e com olheiras, Chris tinha chegado a uma decisão.
Sem dúvida Chase não se surpreenderia com o seu consentimento, pensou
amargamente enquanto lhe escrevia uma carta. Todo o tempo devia saber que
ela acabaria cedendo. Mas agora lhe avisava que o casamento teria que ser
apenas no papel. Desse modo, pelo menos era ela quem o rejeitava, deixando
claro que não queria nenhuma intimidade com ele.
Entregou pessoalmente a carta, correndo para o carro assim que a viu
sumir na caixa do correio. Dera a resposta que ele desejava; o próximo passo
seria de Chase. O que iria acontecer? E como ela daria a notícia ao pai?
Sir Duncan havia estado de ótimo humor durante o café da manhã,
sugerindo que tivessem um jantar de comemoração aquela noite.
— Vou telefonar para Peter e Moira e convidá-los para jantar conosco.
Que tal?
Peter Ferris era o diretor-geral da Petróleo Sefton e o padrinho de Chris.
— Está bem, papai. Vou avisar a Sra. McLeod.
— Vista uma roupa bem chique, pode ser sua última oportunidade. No
Qatar terá que usar roupas orientais — acrescentara sir Duncan bem-humorado.
À noite, no entanto, Chris vestiu-se sem entusiasmo, escolhendo uma
roupa cuja cor combinava com seu estado de espírito. Era um vestido preto, com
um discreto decote canoa na frente, mas que atrás abria-se num “V” que ia até a
cintura, com mangas justas e a saia bem rodada. Ficava muito pálida vestida de
negro. Penteou os cabelos para trás, num coque, e colocou um conjunto de
brincos e pulseira de brilhantes.
— Muito bem, seguiu meu conselho — aplaudiu sir Duncan quando ela
desceu as escadas. — É o vestido que eu lhe comprei para seu aniversário, não
é? — Ele parecia tão contente que Chris sentiu-se culpada, por estar tão
deprimida.
A campainha soou quando eles estavam no hall e sir Duncan franziu a
testa, olhando para o relógio.
— Chegaram cedo, ainda são sete e pouco. — Caminhou para a porta, e
Chris, de pé atrás dele, sentiu-se gelar quando viu entrar Chase Lorimer.
— Boa noite, senhor — ele cumprimentou tranquilamente. — Querida,
sem reclamações; eu sei que não queria que eu fizesse isto, mas não conseguiria
ficar afastado de você nem uma semana, imagine seis meses!
Chris abriu a boca, cada vez mais pálida, sem saber como enfrentar o pai,
que se virava para ela com a expressão aturdida.
— Christine... — ele começou, mas Chase não o deixou continuar.
— Chris prometeu casar-se comigo, sir Duncan — disse com um sorriso.
— Sei que ela ainda não lhe contou nada, mas decidimos isso quando soubemos
que o senhor seria nomeado embaixador. Eu tinha concordado em retardar
nosso noivado por seis meses, pois ela achava que deveria acompanhá-lo pelo
menos no começo, mas acho que o senhor compreenderá quando lhe disser que
não suporto a idéia de me afastar dela. Quero casar-me com sua filha, sir
Duncan, e antes de o senhor partir para o Qatar.
— Chris... isto é verdade? — Mais do que surpreso, sir Duncan parecia
tremendamente magoado.
Chris lançou um olhar fulminante para Chase. Como ele se atrevia a falar
daquele jeito tão seguro de si, mentindo para o pai dela? Teve vontade de negar
tudo, de desmascará-lo, mas sua garganta apertou-se quando se lembrou das
ameaças de escândalo.
— Ah, meu bem, por que não me disse nada? — sir Duncan abraçou-a
gentilmente. — Deve pensar que sou um monstro para colocar minhas
conveniências na frente de sua felicidade. Claro que não deve vir comigo!
— Eu sabia que o senhor entenderia, sir Duncan. — O olhar de Chase
brilhava de satisfação. — E não deve culpar Chris por não ter-lhe dito nada. —
Ele avançou e tomou a mão dela antes que Chris pudesse escapar. Levou-a até
os lábios e beijou-a. — Desculpe-me, querida. Sei que havíamos feito um
acordo, mas, quando pensei melhor, concluí que não podia deixá-la partir. Eu
me apaixonei por Chris há cinco anos, em Jersey, mas ela fugiu antes que eu
pudesse lhe dizer — Chase virou-se para sir Duncan —, e depois nos
encontramos por acaso, vários meses atrás.
— E dessa vez ela não fugiu — o pai de Chris concluiu com um sorriso.
— Desta vez não a deixei fugir — corrigiu Chase. — Por que não vai nos
servir uns drinques, meu amor, enquanto tento convencer seu pai de que sou
capaz de tomar conta de você?
— Chase, estamos esperando convidados para o jantar. Devem estar
chegando... — Chris começou a dizer, muito tensa. Quando lhe enviara a carta
havia esperado tudo menos isto. Sem dúvida esta era a maneira que ele
encontrara de tornar impossível, para ela, mudar de idéia. E a julgar pelas
reações de seu pai, apesar de aturdido, estava bastante satisfeito.
— São os padrinhos de Chris — sir Duncan contou a Chase. — Fique
para jantar conosco. Estou certo de que eles ficarão surpresos com essa
novidade. Chris, você devia ter me contado — continuou em tom reprovador. —
Por que não vem até meu escritório, ahn...
— Chase. Chase Lorimer.
— É claro — Chris ouviu seu pai dizer enquanto conduzia o convidado
para o corredor que levava ao seu santuário particular. — Você está na
Televisão Oeste, não está? Por sinal, fez um belo trabalho, modificou toda a
programação em seis meses.
Antes de entrar no gabinete de sir Duncan, no entanto, Chase voltou até
onde ela estava e a beijou rapidamente nos lábios.
— Não demoro, querida — disse alto, sem se importar com o olhar
furioso de Chris.
— Pensa que foi muito esperto em aparecer desse jeito, não é? — ela
sussurrou entre os dentes.
— É que eu estava com saudades, meu bem. — Ele riu, malicioso. —
Fazia muito tempo que não nos víamos.
— Quase vinte e quatro horas — retrucou, ácida.
— Mil quatrocentos e quarenta minutos. Eu contei cada um deles —
acrescentou Chase com um suspiro teatral.

CAPÍTULO V

— E agora, acho que chegou o momento de eu fazer uma participação


muito importante.
Em sua cadeira, no lado oposto ao de Chase e vizinha a seu pai, Chris
brincava nervosamente com o pé da taça de champanhe, sabendo que o
momento chegara.
Ela havia percebido os olhares disfarçados que Peter e Moira trocavam
desde que haviam chegado, e não teve dificuldade em saber que o motivo era a
presença inesperada de Chase.

— Então, quando é o casamento? — perguntou Moira excitada, assim


que todos se dirigiram à sala de estar, onde tomariam o café. Chris sentou-se no
sofá, aceitando a xícara que a Sra. McLeod lhe estendia.
— Bem, eu...
— O mais breve possível — soou a voz de Chase logo atrás. — Não
quero dar-lhe nenhuma chance de mudar de idéia.
Chris quase derramou o café no esforço de se controlar. Não havia notado
a aproximação dele e insultou-o mentalmente, como havia feito durante toda a
noite.
— Ora, você conseguiu mantê-lo em segredo! Não tinha a menor idéia de
que houvesse algum namorado firme — comentou Moira quando Chase se
afastou para falar com o pai de Chris.
— Eu... quer dizer, nós nos conhecemos há pouco tempo — titubeou
Chris. Nunca soubera mentir muito bem e detestava a posição em que se
encontrava naquele momento. Percebia os olhares confusos e um tanto
magoados que seu pai lhe dirigia de tempos em tempos. Por que diabos havia
Chase aparecido naquela noite? Ela preferiria ter falado com o pai à sua
maneira.
— Não acho que se deva esperar muito, quando há amor — aconselhou
Moira. — Eu soube disso no instante em que conheci Peter. Acho que seu noivo
está bastante impaciente para ficar a sós com você — completou com um
sorriso cúmplice.
Ela foi juntar-se a sir Duncan e Peter, e Chase sentou-se ao lado de Chris.
Era um sofá pequeno, e ela encolheu-se quando sentiu o corpo morno de Chase
roçar o seu.
— Devemos parecer apaixonados, lembra-se? — ele murmurou-lhe no
ouvido.
Ela o olhou com raiva.
— Já que está aqui, quero deixar uma coisa bem clara desde o começo.
Quero sua confirmação de que nosso casamento será apenas no papel.
Houve um instante de silêncio durante o qual Chris não teve coragem de
olhar para Chase, e então, para seu desespero, ele riu.
— Ah, eu tenho certeza de que poderei me conter, mas... e você,
conseguirá?
Os olhos de Chris espelharam sua fúria, mas ele apertou-lhe a mão com
força, impedindo-a de dizer algo. Peter e Moira estavam se preparando para
partir, e Chris foi até a porta com seu pai para despedir-se deles.
— Estou tão feliz por você! Ele é o tipo de homem de que você precisa,
Chris. Não se esqueça de me avisar a data do casamento — disse Moira, ao
beijá-la no rosto.
Enquanto sir Duncan fechava a porta, Chase ficou na sala de estar, mas
Chris hesitou em dizer qualquer coisa ao pai, pois receava demonstrar a raiva
que sentia. Surpreendeu-se ao ouvi-lo comentar com um sorriso:
— Moira tem razão. Ele é o homem certo para você, meu bem. Como
todas as mulheres MacDonald, você precisa de alguém forte ao seu lado.
— Alguém que me dê uma surra por dia e duas no domingo? — Chris
retrucou, irônica.
Sir Duncan sorriu.
— Não. Você precisa de um homem que possa respeitar, que tenha
caráter. Se escolhesse um homem fraco, mais cedo ou mais tarde começaria a
desprezá-lo.
Um homem que pudesse respeitar! Se ele soubesse... Chris tinha vontade
de rir e chorar ao mesmo tempo.
— Gostei dele, mas assim mesmo você me pegou de surpresa, querida.
Devia ter-me dito... Tive a impressão de que ele a está pressionando um pouco...
Você deseja mesmo esse casamento, filha?
— Sim — Chris mentiu, sem coragem de encarar o pai.
— Então vamos voltar para a sala, antes que ele pense que estou tentando
convencê-la a mudar de idéia. Não se preocupe com o fato de não ir para o
Qatar. Já estão providenciando um secretário particular para mim.
Chase continuava sentado no sofá e Chris não teve outra alternativa senão
sentar-se a seu lado, enquanto sir Duncan lhes servia um último drinque.
— A vocês dois — brindou, erguendo o copo. — Espero que encontrem
tanta felicidade no casamento quanto eu encontrei no meu. — Ele terminou sua
bebida e colocou o copo numa mesinha baixa. — E agora acho que vou me
deitar. Estou certo de que vocês têm muito a conversar.
Chase levantou-se e os dois apertaram as mãos. Vendo-o assim, ninguém
imaginaria os meios que aquele homem empregara para forçá-la a aceitar o
casamento. Parecia um noivo apaixonado, até mesmo no modo como olhava de
sir Duncan para Chris. Ela deveria se lembrar, no futuro, que seu marido era um
excelente ator.
— Gostaria de mais uma bebida antes de ir embora? — perguntou Chris
de má vontade, quando o pai deixou a sala. No mesmo instante a atmosfera
tornou-se carregada.
— Sempre uma anfitriã gentil — ironizou Chase. — Não, não quero outra
bebida. Só fiquei porque era o que seu pai esperava que eu fizesse. Sem dúvida
ele pensa que agora estaremos nos braços um do outro, usufruindo de nossa
privacidade, apesar de você não convencer muito no papel de mulher
apaixonada.
— Talvez porque eu não esteja tão satisfeita quanto você obviamente está
— disse Chris afastando-se até a janela que dava para o jardim escuro.
Foi alertada da proximidade dele pela respiração quente que lhe atingiu a
nuca. Todo o seu corpo enrijeceu-se de apreensão. Não havia escutado Chase
aproximar-se, e queria que se fosse.
— Então terá que aprender a amar, não é?
— Não se for você o professor.
— Ah, é? Lembro-me de um tempo em que você estava bem ansiosa para
usufruir da minha... experiência.
Chris sentiu o rosto pegar fogo.
— Você insiste em me lembrar isso, não é? Adora jogar na minha cara.
Parece que você sente tanto prazer com isso quanto sentiu ao me rejeitar pela
primeira vez.
— Você é quem está dizendo... — Chase parecia aborrecido, quase
indiferente, e Chris virou-se para encará-lo, mas vacilou ao ver como ele estava
próximo. O medo a manteve imóvel, trêmula e respirando
descompassadamente, enquanto ele a admirava.
— Por favor, vá embora, já ficamos bastante tempo aqui para convencer
meu pai de que...
— Que a estou amando? Não foi para isso que eu fiquei — Chase
interrompeu. — Fiquei para lhe dar isto. — Tirou do bolso uma caixinha de
couro, abriu-a e retirou dela um belíssimo anel de safiras e brilhantes. — Dê-me
sua mão.
Chris quase escondeu as mãos nas costas. Parecia-lhe um sacrilégio
permitir que ele pusesse o anel em seu dedo, uma traição a tudo em que havia
acreditado e desejado. Mas, antes que pudesse reagir, ele já lhe colocava a jóia
no anular.
— Serviu... — Chris murmurou, mais para si mesma do que para ele, e
assustou-se ao ouvir a risada de Chase, calorosa e agradável.
Com delicadeza, ele virou-lhe a palma da mão, depositando nela um beijo
cálido, quase terno. Chris viu os cílios escuros que sombreavam os olhos dele, e
retraiu-se. Não podia deixar que o desejo a dominasse, não agora!
— O que foi, querida? — Chase levantou os olhos, sorrindo.
— Eu odeio o que está me forçando a fazer! Eu o odeio!
— Mas há algum tempo queria que eu fizesse amor com você. Não era a
mim que você queria, não é, Chris? Qualquer homem servia. — Chase riu com
satisfação ao ver que suas palavras haviam atingido o alvo. — Sim, minha
querida, lembre-se disso quando tiver vontade de mostrar o quanto me despreza.
O homem que a desvirginou sabia o que representava? Um homem qualquer...?
— Saia daqui! Saia já desta casa, seu... seu...
Chris não se lembrava de jamais haver estado assim tão furiosa. Podia
sentir a raiva fervendo dentro de si, como uma nuvem vermelha e quente, tão
enorme que não a deixou perceber que Chase saía. Só o notou ao ouvir o ruído
da porta se fechando. Chris olhou para a mão, detestando as pedras, que
cintilavam. Estava comprometida agora, e presa numa armadilha, tudo porque
uma vez fora tola a ponto de confiar nele...

Para surpresa e irritação de Chris, Chase optou por um casamento


religioso e, apesar de terem concordado em convidar um número pequeno de
pessoas, a lista crescera até cinquenta convidados. Contrataram um bufê, e Chris
teve que cuidar dos detalhes da decoração, o que a manteve bem ocupada.
Apesar disso, não parou um segundo de pensar, apavorada, que àquela hora, no
dia seguinte, seria a esposa de Chase Lorimer.
O vestido estava pronto, cuidadosamente pendurado em seu quarto. O
cabeleireiro viria de manhã cedo. O bolo já havia chegado, e a Sra. McLeod se
ocupava com a louça e os talheres. Sir Duncan estava muito entusiasmado,
dizendo que daria a Chris uma festa da qual ela jamais se esqueceria. Como ele
poderia saber que era algo que sua filha desejaria esquecer por completo? Tudo
aquilo era uma farsa ridícula, e Chris não conseguia se conformar com o fato de
que era uma das personagens centrais. Parecia que estava fazendo todos aqueles
preparativos para outra pessoa, que não seria ela quem usaria aquele vestido
branco e caminharia pela nave da igreja ao encontro de Chase Lorimer.

A manhã do casamento raiou clara e ensolarada. Chris parecia arrastar-se


pela casa, como num sonho, cercada de pessoas que falavam com ela o tempo
todo. Tinha que esforçar-se para se mostrar feliz e excitada, e ao mesmo tempo
para reprimir a vontade que sentia de gritar: “Eu não o amo; eu o odeio e não
quero me casar com ele!”
A Sra. McLeod e Moira ajudaram-na a vestir-se, mas Chris nem percebeu
como estava bonita no modelo vaporoso de tule branco. Foi para a igreja com o
pai, sem ver nada além das vidraças do carro. Suas mãos estavam geladas, mas
o resto do corpo parecia queimar, consumido por um calor que a deixava tonta e
incapaz de concentrar-se. Tudo lhe parecia distante, como se estivesse
enclausurada numa outra dimensão.
O interior da igreja parecia frio comparado ao calor da rua e do carro, e a
caminhada até o altar durou uma eternidade, mas finalmente terminou. Agora o
padre entoava solenemente as palavras da cerimônia. Chris respondia com uma
voz desprovida de qualquer emoção, aturdida pelo desejo e pela descrença de
que aquilo realmente estivesse acontecendo.
Chase tomou-lhe a mão para colocar a aliança e finalmente tudo acabou.
Pouco depois estavam do lado de fora, os flashes das câmeras espoucando de
todos os lados, fazendo Chris sentir-se nua e vulnerável, agora intensamente
cônscia do que ocorrera em torno: os convidados sorridentes, a agitação dos
repórteres e a presença marcante de Chase, respondendo bem-humorado às
piadas que alguns faziam.
Uma mulher alta e morena, que parecera vagamente familiar a Chris,
destacou-se de um grupo e veio na direção deles.
— Minha irmã Helena — apresentou-a Chase.
— Creio que a razão de nunca termos sido apresentadas é que Chase não
queria assustá-la — Helena gracejou, sorrindo para Chris. Ela possuía as
mesmas feições de Chase, porém mais suaves, e seus olhos eram azuis em vez
de verdes. — Ele já lhe contou?
— Me contou? — Sem entender, Chris virou-se para Chase, à espera de
uma explicação. Helena continuava sorrindo, divertida.
— Dê uma olhada ali — a irmã de Chase apontou na direção do grupo
com o qual estivera antes.
Chris continuou confusa sem saber o que procurar, até que arregalou os
olhos ao ver quatro crianças de rostos idênticos, todos muito parecidos com
Chase e Helena. Eram dois pares de gêmeos.
— É hereditário! — explicou Helena. — Nossos pais foram avisados e
pararam no primeiro par de gêmeos. John e eu pensamos que pudéssemos
contrariar o destino e acabamos com dois pares. Chase costumava dizer que
queria tentar trigêmeos...
— Vocês dois são gêmeos?
— Então você não lhe havia contado! — Helena olhou para o irmão com
desaprovação. — Não queria que ela ficasse com medo, não é? Tem havido
gêmeos em nossa família há cinco gerações. Fico imaginando o que você terá:
um par de idênticos ou um casalzinho...
— Não acha que está sendo indelicada, mana? Afinal, acabamos de nos
casar. — Chase passou o braço pela cintura de Chris, que tentou afastar-se,
incomodada pela intensa masculinidade dele.
— Indelicada? — Helena riu. — Quando é que isso o preocupou? E
quando vocês virão nos visitar? As crianças sentem sua falta...
— Quando voltarmos de nossa lua-de-mel.
— E quando se mudarão para Barnewell?
— Logo que tudo estiver pronto.
— Ele já a levou para conhecer a casa? — Helena perguntou a Chris. —
Tio Charles tornou-se uma espécie de recluso ao envelhecer. Eu costumava ir
vê-lo, mas ele não gostava de visitas. A casa é ótima, muito confortável, mas os
móveis... Felizmente Chase está bem rico para deixar tudo em ordem. Você
trabalha?
— Faço programas para computador. — Chris percebeu a expressão
zombadora de Chase, e Helena riu.
— O que foi, garotão? Não gosta da idéia de uma esposa independente?
Não se aborreça, Chris, mas ele é o mais terrível dos machistas. Você não
imagina como era machão, em criança, e tudo porque é dez minutos mais velho
que eu. Não o deixe mandar em você. Como todos os homens, deve esperar uma
esposa submissa, daquelas que só faltam dizer “sim, senhor”.
Até então, Chris não havia sentido a menor curiosidade sobre a família de
Chase. Foi uma espécie de choque descobrir que ele tinha esse outro lado. Que
era adorado pelos gêmeos de Helena, os quatro garotos crivando-o de perguntas
até que os pais os afastaram.
Inesperadamente ele se virou para Chris:
— Querida, você está com uma expressão tão sonhadora. Ficou animada
com a idéia de ter um par de meninas tão impossíveis quanto minha irmã?
Ela quase precisou morder a língua para não dar uma resposta
atravessada. Percebendo, Chase afastou-se para conversar com John, seu
cunhado, deixando Chris e Helena a sós.
— Falando sério, sou muito amiga de meu irmão — Helena contou.
— Não ficou surpresa com o casamento?
— Para ser sincera, não. — Helena encarou a cunhada, sorridente. —
Quando soube que era você... Deixe-me explicar, senão vai entender mal. Chase
teve um acesso de febre quando voltou de Jersey, há cinco anos. É algo que
sempre acontece quando trabalha demais. Ele estava morando conosco, e eu
desfiz suas malas. Então vi as fotos, e adivinhei quais foram os sentimentos dele
por você. Nós nunca falamos sobre isso, mas, sabe, gêmeos não precisam falar
sobre certas coisas...
Então Helena pensava que Chase a amava! Chris abriu a boca para dizer
o motivo pelo qual estava se casando com o querido irmão de Helena, e como
ele a havia obrigado a isso, mas calou-se, impelida por um tipo de emoção que
não compreendia. Só tinha consciência de que não podia destruir a ilusão
daquela mulher tão simpática.
Dez minutos mais tarde, quando Chase voltou para o seu lado, Chris
havia se arrependido amargamente de não ter dito nada.
Foram todos para a mansão de sir Duncan e a festa transcorreu animada.
Quando finalmente terminaram os discursos e o bolo foi servido, Chris
perguntou a Chase, antes de subir para trocar de roupa:
— Para onde vamos?
— É surpresa, mas tomei a Sra. McLeod como confidente, e ela preparou
a mala para você.
Chegando ao quarto, Chris viu que era verdade. Sua mala estava pronta, e
havia um lindo costume de linho sobre a cama, cor de pêssego, que lhe realçaria
o negro azulado do cabelo. Moira ajudou-a a vestir-se. Quando estava
terminando de retocar a maquilagem, Chase bateu à porta e entrou.
Seus olhos encontraram-se no espelho. Chris sentiu-se enrubescer e viu
sua mão tremer ligeiramente.
— Vou descer sua mala. Você tem cinco minutos, hein?
— Se não, o que acontecerá? Vai viajar sem mim?
Moira riu, sem notar o olhar gelado que os recém-casados trocaram.
Ao descer, receberam os cumprimentos de todos. Chris abraçou e beijou
o pai, que partiria para o Qatar no fim do mês. Pela primeira vez se deu conta de
que estava deixando seu lar; de que iria morar na casa de um homem que era
praticamente um estranho para ela. Um homem que odiava e desprezava, que a
havia metido nessa farsa para realizar seus próprios objetivos.
Chase ajudou-a a entrar no carro, um Mercedes prateado. Rodaram
muitos quilômetros até que ela reconheceu o caminho: estavam chegando no
Aeroporto de Heathrow. Chase estacionou e a fez descer, dizendo que havia
combinado com alguém para ir buscar o carro.
O saguão de embarque estava lotado, e Chris, esgotada, apenas seguia
Chase, notando o modo como as pessoas abriam caminho para ele passar. A
garota no balcão de passagens dirigiu-lhe um sorriso esfuziante, e Chris sentiu
uma contração dolorosa no estômago. Pôs-se a olhar distraidamente para o
painel indicativo de vôos, sem se importar realmente com o lugar para onde
estavam indo. Mas de repente uma idéia atravessou-lhe a mente, como um raio.
— Jersey! — exclamou, virando-se para Chase, acusadoramente. —
Vamos para Jersey?
— Por que não? Achei que seria romântico...
Chris enfiou as unhas nas palmas das mãos para não gritar. Ele havia
escolhido Jersey, mas não por motivos românticos, e sim para demonstrar seu
domínio sobre ela, para atormentá-la com o passado, com sua ilusão de ser uma
mulher desejável. Inclusive a maneira como havia concordado em que o
casamento ficasse apenas no papel provava que ele não a desejava...
Embarcaram em silêncio, e Chase ofereceu a Chris a poltrona do lado da
janela. Ela fechou os olhos durante a decolagem e não pôde deixar de agarrar a
mão dele. Quando já estavam no ar e seu medo tinha passado, desvencilhou-se
depressa, morta de vergonha.
— Ah, então você tem algumas reações humanas! Estava pensando que
havia me casado com um robô.
— Você se casou com alguém de quem pode livrar-se em doze meses,
apenas para receber sua herança. E para isso me chantageou — lembrou-lhe
Chris.
— É isso mesmo. E, se você for boazinha, talvez eu a recompense com
um simpático cheque no dia do nosso divórcio.
— A única recompensa que quero são aqueles negativos...
— Ah, é mesmo, os negativos... — Ele sorriu com ironia. — Você mudou
tanto! Está tão fria que quase não a reconheço. O que aconteceu?
— Você deve saber — ela respondeu com raiva. Como ele se atrevia a
perguntar aquilo?
— Devo saber? Ah, você quer dizer que não poderia manter aquele ar
inocente depois de todas as experiências que teve? Mas assim mesmo conseguiu
convencer todos aqueles colunistas sociais de que é tão pura como a neve.
Como o fez?
Para alívio de Chris, a comissária passou oferecendo bebidas, e logo
depois disso ouviram a comunicação de que estariam aterrissando em breve.
Chase havia alugado um carro, que os aguardava no aeroporto. Chris
continuava sentindo aquela tensão indefinível enquanto se dirigiam para o hotel.
— Onde vamos nos hospedar? — ela perguntou temendo ouvir a
resposta.
— Onde você acha? Só que desta vez ficaremos no mesmo quarto —
respondeu Chase com um olhar irônico.
— No Hermitage? Você teve a coragem?
— Claro! Não é romântico? Talvez devamos voltar àquela praia e...
— Pare! — gritou Chris, com o rosto pálido de angústia.
— O que há? Não gosta de lembrar como nos conhecemos? Ou é alguma
outra coisa? A quantos homens teve que suplicar que lhe fizessem amor até
encontrar um que concordasse?
Se Chase tivesse batido nela, não a teria feito sofrer tanto. Chris virou-se
para o outro lado, os olhos turvos de dor.
— Cafajeste! — Trêmula de ódio, ela agarrou o trinco da porta, pensando
apenas em escapar.
Chase freou o carro violentamente e parou no acostamento, com o rosto
branco de ódio. Segurou-lhe os ombros e sacudiu-a.
— Está louca? Que diabos está querendo fazer? Matar-se?
— Por que se incomodar com isso? Acho que seria a solução perfeita
para todos os seus problemas, não teria nem que esperar doze meses para se
livrar de mim!
— Isto é loucura — murmurou Chase, relaxando a pressão dos ombros de
Chris, enquanto estudava de perto o rosto vermelho e alterado. — Não podemos
continuar nos agredindo desse modo.
— Não podemos? É um pouco tarde para se lembrar desse detalhe, não
acha?
— Ah, Chris, você não... — Chase se interrompeu, angustiado. — Sugiro
que façamos uma trégua. Estamos em nossa lua-de-mel, lembra-se?
— Está bem... — concordou Chris, finalmente. — Concordo, vamos fazer
uma trégua. O hotel já sabe... quero dizer...
— Se sabem que estamos em viagem de núpcias? Não. Reservei uma
suíte para nós, com dois quartos, assim você estará a salvo.
Chris tornou a se acomodar no banco, pensativa. O Hotel Hermitage...
Será que Andrew ainda trabalhava lá? Era estranho como naqueles cinco anos
ela havia se lembrado tantas vezes de Chase, mas raramente de Andrew, que
chegara a ser seu noivo. Fora Chase quem vira naqueles terríveis pesadelos em
que se agarrava a ele, pedindo para fazerem amor. E ele a empurrava e se
afastava...
— O que é, agora?
— Nada. — Chris ergueu os olhos e viu que Chase se inclinava para ela,
com uma clara intenção que a encheu de pânico e a fez tentar esquivar-se, mas
era tarde. Dedos firmes seguravam-lhe o queixo, mantendo-a prisioneira,
fazendo-a sentir o hálito quente em sua pele. Era impossível afastar seu olhar do
dele.
A boca de Chase roçou a dela, calma e firmemente, registrando-lhe o
tremor traiçoeiro dos lábios. Ela se enrijeceu e afastou-se.
— Por que fez isso, Chase? Havíamos combinado...
— Por quê? — Ele acariciou a curva indefesa dos lábios sedutores. —
Talvez tenha sido porque você parecia tão... faminta.
Ele não poderia ter dito algo mais acertado para trazer Chris de volta à
terra. Novamente seu corpo ficou duro contra o encosto do assento, e seus olhos
revelavam amargura.
— Se eu estou, não é da fome que você pode satisfazer. Não quero que
me toque. Chase Lorimer, não quero que me beije, e...
A boca de Chase fechou-se sobre a dela com uma intensidade
devastadora, forçando-a a silenciar. Quando ela finalmente conseguiu libertar a
cabeça, seus sentidos flutuavam. Seus olhos violeta brilhavam com uma fúria
impotente.
— Apenas pensei que devíamos selar nosso pacto, antes que as
hostilidades se reiniciassem — ele murmurou com a voz macia. — E, se você
tentar me agredir, tomada por esse temperamento orgulhoso dos MacDonald,
prometo que se arrependerá.
— Nenhum homem de verdade bate numa mulher — respondeu Chris
com desdém.
— Eu não falei em bater em você. E tome cuidado ao questionar minha
masculinidade, Chris, ou poderei esquecer o acordo sobre a consumação do
nosso casamento.
A ideia de ser possuída por ele a fez tremer. Chris virou o rosto para fora,
aliviada por ouvi-lo dar partida no motor. No fundo de sua consciência,
suspeitava que ele havia provocado deliberadamente a sua raiva, para ter uma
desculpa para... fazer amor? Dificilmente... Para ter outra oportunidade de
humilhá-la? Não, tampouco. Esses pensamentos tornavam-se muito
complicados para ela decifrar, no estado de exaustão em que se encontrava.
Tudo o que queria naquele momento era tomar um banho e cair na cama. Como
seria bom se, ao acordar, descobrisse que Chase Lorimer e seu casamento
haviam sido simplesmente pesadelos...
CAPÍTULO VI

O saguão do hotel havia sido redecorado desde sua última estada ali, e
Chris achou-o muito agradável, com seus móveis de cana-da-índia e paredes
verdes e brancas. Não conhecia nenhuma das garotas na recepção, o que lhe deu
certo alívio. Andrew e Judith certamente haviam sido transferidos para outro
lugar. Chris outrora havia desejado que eles a vissem com Chase, mas agora...
Chase a observava com curiosidade, as sobrancelhas unidas no meio da
testa.
— Chris... Está reavivando a memória? Imagino que tenha lembranças
agradáveis... Foi com ele que perdeu sua virgindade? — perguntou-lhe no
elevador, pegando-a de surpresa.
— Não quero falar sobre isso. — Chris não queria contar a Chase que não
vira mais Andrew depois do ocorrido na praia.
— Por quê? Não me diga que ainda sente uma paixão adolescente por
ele...
— E se eu sentisse? Não dizem que uma mulher sempre se lembra de seu
primeiro amante? Que ele sempre tem um lugar especial no coração dela?
Ao dizer isso, Chris pensou mais uma vez que Chase era o homem que
estivera mais próximo de ser seu amante, e que era dele que sempre se
lembrava, não de Andrew. Era Chase quem provocava aqueles sonhos febris e
torturantes que de vez em quando a assaltavam.
— Pare de pensar nele — a ordem ríspida cortou-lhe o devaneio.
O elevador parou diante de um andar do hotel que ela ainda não conhecia.
Havia três portas no hall quadrado, e em cada uma delas, uma placa. Chase
abriu a porta onde se lia “Suíte Versalhes”.
Entraram numa sala de estar elegante, com grandes janelas francesas, e
uma vista para o mar que fez Chris suspirar de prazer. As janelas se abriam para
um pequeno terraço com uma mesinha e quatro cadeiras. Havia duas outras
portas que levavam aos quartos.
— Creio que os dois quartos são iguais, mas pode escolher o seu — disse
Chase. — Quer tomar um drinque?
Ele caminhou até o pequeno bar e pegou os copos, enquanto Chris
hesitava, olhando para as portas dos quartos e para aquele homem alto e moreno
que agora era seu marido.
— Não, obrigada — acabou respondendo com frieza, abrindo a porta
mais próxima. — Estou muito cansada. Foi um dia longo. Tudo o que quero é
tomar um banho e descansar.
— Claro. Eu entendo perfeitamente — disse Chase com um sorriso.
Pegou seu copo e dirigiu-se para as portas do terraço, abrindo-as. O sol poente
tingiu seu perfil marcante e o cabelo negro agitou-se com a brisa.
Por um momento Chris lembrou-se de como era tocar aquele cabelo
macio. Podia quase sentir-lhe o aroma... Tremeu, tentando dissipar a sensação
de vazio que a acometia. Mas ficou parada junto à porta do quarto,
experimentando uma fraqueza estranha, desejando que de alguma forma as
coisas tivessem sido diferentes, que... Não! A negação explodiu no seu íntimo,
dando-lhe forças para afastar-se dali.
O quarto era tão bonito quanto a sala de estar, em tons de pêssego e
ferrugem. A cama de casal parecia zombar dela, e Chris desviou o olhar. A
janela também dava para o mar e para o terraço. Outra porta abria para o
banheiro, o qual continha uma banheira redonda, suficientemente grande para
duas pessoas. As imagens eróticas que lhe vieram à mente fizeram-na corar.
Chris teve que fazer um esforço considerável para tomar banho naquela
banheira convidativa, e ao mesmo tempo afastar a idéia do corpo de Chase,
moreno e musculoso, suas mãos tocando-lhe a pele... Sentiu uma ansiedade que
conhecia bem e saiu rapidamente da água, enrolando-se numa toalha grande e
macia.
Alguém havia trazido sua bagagem, mas a suíte estava silenciosa. Chase
devia ter saído, mas isso, em vez de alegrá-la, provocou-lhe uma estranha
sensação de abandono. O que estaria acontecendo com ela? Estava se
comportando como uma tola...
Depois de meia hora ele ainda não tinha voltado. Chris, embora cansada,
sabia que não conseguiria dormir. Vestiu-se rapidamente com um jeans e uma
camiseta, e saiu do apartamento sem se olhar no espelho, com os cabelos soltos
sobre os ombros, os olhos atormentados de emoção.
Havia bastante gente no saguão. Era fim de tarde e os hóspedes
retornavam da praia, a fim de se prepararem para o jantar. Chris deu uma
espiada no bar mas não viu sinal de Chase. Mas por que o estava procurando, se
não queria estar em sua companhia? Furiosa consigo mesma por não conseguir
se controlar, encaminhou-se para a porta principal, quase colidindo com alguém
que vinha em sentido contrário. Mãos masculinas a agarraram pelos ombros, e
Chris ouviu pronunciarem seu nome. Olhou para cima, espantada.
— Andrew! Meu Deus, não pensei que você estivesse aqui!
— Não? — Um sorriso divertido curvou os lábios que Chris tanto
admirara em outros tempos. Via-se a passagem dos anos no rosto dele, mais do
que em Chase, o que lhe causou uma certa satisfação. Os cabelos de Andrew
estavam ralos e, apesar de ele estar bastante bronzeado, seu corpo havia se
avolumado; ganhara um pouco de barriga. — Então, o que está fazendo por
aqui, Chris?
Ela demorou alguns segundos para perceber que Andrew pensava que
estivesse ali por causa dele. Isso a deixou apenas surpresa, e não embaraçada
como teria ficado tempos atrás.
— Estou em férias — respondeu, calma. Era mesmo este o homem a
quem pensara dedicar sua vida? Olhou para aquele rosto presunçoso e
mentalmente agradeceu a Judith Barnes por tê-la salvo do pior.
— Está sozinha?
— Não... Estou aqui com meu marido — Sentiu um prazer enorme ao ver
a expressão do rosto de Andrew.
— Então se casou... — Ele tomou-lhe a mão e examinou seus anéis. —
Se eu não tivesse sido tão idiota, você estaria casada comigo.
— Talvez. — Chris sorriu, irônica. — Embora muitas garotas não se
casem com o primeiro homem por quem se apaixonam.
— Eu nunca me perdoei por tê-la magoado daquela maneira.
— Teria sido muito pior se eu descobrisse sobre Judith depois de termos
nos casado. Por falar nisso, que aconteceu com ela? Vocês dois conseguiram
chegar até o Caribe ou não acharam ninguém tão fácil de enganar quanto eu
era?
— Foi tudo um erro — Andrew murmurou.
Chris olhou para alguém que entrava no saguão, e seu coração disparou
ao ver que era Chase, caminhando em sua direção. Retirou rapidamente a mão
que Andrew ainda segurava.
— Então você está aí, querida. — Chase segurou Chris pela cintura,
afastando-a de Andrew. — Não vai nos apresentar?
Chris apresentou-os, notando a maneira como se estudavam mutuamente,
ambos desconfiados. Andrew falou primeiro:
— Fico feliz por você ter encontrado um marido. Sempre me odiei por tê-
la magoado daquele modo. Chris e eu já estivemos noivos — explicou a Chase,
deixando Chris sem respiração. Andrew estava querendo causar problemas
propositalmente. Olhou para o rosto sombrio e impassível do marido. Não
demonstrava qualquer reação, mas Chase compreendia o que estava
acontecendo.
— Sim, creio que ela havia me contado sobre isso. Chris o encontrou na
cama com uma garota, não foi?
Andrew ficou vermelho, e olhou com raiva para Chase. Chris colocou-se
entre os dois e apertou o braço do marido.
— Pensei que você ia descansar — ele disse abruptamente.
— Não consegui dormir... Não sabia onde você havia ido.
— Então veio me procurar? — Chase deu-lhe um sorriso tão sedutor que
quase fez Chris perder o fôlego. — Se eu soubesse que sentiria minha falta,
nunca teria saído do quarto. — Seu olhar era quase uma carícia, e Andrew
desculpou-se e se afastou. Quando já estava longe, Chase continuou: — Então é
esse... Por isso você ficou tão chocada quando lhe disse que ficaríamos neste
hotel. Você sabia que ele ainda estava aqui?
— Não, não sabia.
— Mas esperava que estivesse? — Chase apertou os dedos no braço dela.
— Bem, vamos deixar uma coisa clara. Não pense em continuar com ele do
ponto em que parou. Não importa qual tenha sido seu estilo de vida antes,
enquanto estiver casada comigo, não haverá amantes.
— Andrew e eu nunca fomos amantes!
— Mas você o provocou, Chris, eu me lembro de tudo o que me contou.
Não é agora que você vai realizar as fantasias da sua adolescência. Se precisar
de um amante...
— Não preciso — Chris interrompeu-o, libertando o braço da mão de
Chase e correndo para o elevador. Ele seguiu-a, mas havia outras pessoas e por
isso não pôde dizer mais nada.
No entanto, o que já dissera ecoava nos ouvidos de Chris, torturando-a.
Mas que lhe importava o que ele pensasse? Não era melhor ele acreditar que
havia tido muitas experiências amorosas do que descobrir a verdade? Que desde
que a rejeitara ela ficara traumatizada, incapaz de relacionar-se com quem quer
que fosse? Que cada vez que um namorado a beijava, ela se lembrava dos beijos
de Chase, de suas carícias, e do modo como recuara, deixando-a cheia de
desejo?
Entraram no quarto num pesado silêncio. Chris abriu as portas do terraço
e saiu, sem coragem de encarar Chase, mas tampouco querendo ir para o quarto.
— Eu falei sério, Chris. Qualquer tentativa de reatar seu caso com
Andrew e eu...
— Você o quê? — Chris virou-se para Chase com os olhos brilhantes de
dor, com lágrimas contidas. — Estou cansada de suas ameaças, Chase. Você
não passa de um valentão...
Ela passou por ele antes que pudesse falar e trancou-se no quarto,
apoiando-se contra a porta, tremendo. Por que havia falado com ele daquele
jeito? Haviam combinado uma trégua, e ela quase o provocara a... Será que não
aprenderia a lição? Chase a havia rejeitado, ela não podia sentir-se atraída por
alguém tão cruel! Mas bem no fundo sabia que estava mentindo. A verdade
tinha que ser encarada: sim, ela o desejava. Só que morria de medo de que a
situação evoluísse de novo para um ponto em que não pudesse mais recuar. A
última coisa que esperava era viver momentos tão angustiantes como aqueles
que conhecera há cinco anos, numa praia deserta...

O dia estava lindo. Mas nem o céu azul nem o sol radiante podiam
compensar a solidão que Chris sentia enquanto tomava café no terraço do
apartamento. Ao acordar, Chase já havia saído e agora não sabia o que fazer
durante todo o dia. Se o carro alugado ainda estivesse lá, poderia dar um
passeio. Que lua-de-mel!
Estava escovando o cabelo quando ouviu baterem à porta. Pensando que
fosse a camareira, disse: “Entre!”, mas deparou-se com Andrew.
— Vi que seu marido foi jogar golfe, então pensei em convidá-la para um
passeio. É meu dia de folga.
Chris pensou em recusar, lembrando-se das ameaças de Chase, mas
subitamente uma fagulha de ousadia acendeu-se.
— Está bem, vou com você. Me dê cinco minutos para me arrumar.
— Traga o maiô — disse Andrew, admirando-lhe a silhueta esguia
quando ela saiu do quarto, com uma blusa branca e jeans apertados. Cinco anos
atrás ele a achava muito magra, mas agora estava muito elegante, e a blusa lhe
ressaltava os seios.
Chris sentiu-se um pouco apreensiva, mas assim mesmo decidiu ir em
frente. Podia enfrentar Andrew muito bem. Já não havia feito isso com dúzias
de homens naqueles cinco anos?
— Tudo pronto? Meu carro está no estacionamento dos funcionários. Eu
a apanharei na frente do hotel, está bem?
Ele queria que alguém os visse juntos, pensou Chris, mas concordou com
a sugestão. Havia aprendido muito nesses cinco anos, inclusive a enxergar as
verdadeiras intenções das pessoas.
Andrew possuía um pequeno carro esporte vermelho. Chris entrou e
colocou a bolsa no chão, ao seu lado, mas esbarrou no porta-luvas e este abriu-
se, revelando um estojo de maquilagem e um lenço de cabeça.
— São de Judith — disse Andrew sem graça. — Nós nos casamos logo
depois que você foi embora. Foi o pior erro que já cometi, mas ela estava
grávida e disse que a criança era minha.
Andrew não havia mudado, pensou Chris. Continuava procurando alguém
para responsabilizar pelos próprios erros. Sentia pena de Judith, apesar de tudo.
Podia compreendê-la, ela amara Andrew e vira Chris como uma ameaça. Eles se
mereciam. Quantas hóspedes Andrew não teria cortejado naquele tempo?
Andrew dirigiu até uma praia pequena e tranquila e, enquanto estacionava
o carro, Chris desceu até a areia, estendeu a toalha e tirou os jeans. Por baixo,
usava um biquíni, e quando Andrew chegou ela estava passando bronzeador nas
pernas.
— Eu poderia ter feito isso para você — ele comentou admirando as
linhas esguias de Chris. — A praia é bem escondida e podemos ficar à vontade.
Por que não tira a parte de cima do biquíni?
— Minha pele é muito delicada. Talvez mais tarde, quando estiver
habituado ao sol — Chris respondeu com um sorriso.
Será que Andrew pensava que ela ainda era tão inocente quanto o fora
aos dezoito anos? Naquela época, teria se sentido feliz em pensar que ele a
achava atraente, mas agora achava-o óbvio demais, lembrando-se que tudo o
que ele queria era o dinheiro de seu pai. Nunca a desejara realmente.
Voltaram no fim da tarde. Andrew insistiu em acompanhar Chris até o
quarto, e ela consentiu, divertindo-se com as tentativas dele para reconquistar-
lhe a confiança.
Quando abriu a porta, a primeira coisa que percebeu foi que Chase estava
de volta, e a segunda foi que havia alguém com ele. Ficou gelada ao reconhecer
Judith, Ela havia engordado, mas ainda estava bonita. Seus olhos azuis e frios
soltaram chispas em direção a Chris e Andrew.
— Agora vai acreditar em mim — ela disse com raiva para Chase quando
Andrew fechou a porta atrás de si. — Eu lhe disse o que estava acontecendo. Eu
sabia disso desde o momento em que a vi chegar. Ela ainda gosta de Andrew.
— Ora, Judith... — Andrew interrompeu-a, aproximando- se da mulher.
— Chris é uma velha amiga, não há nada entre nós.
Chase cortou-o com frieza, caminhando para a porta e abrindo-a:
— Se vocês querem discutir, sugiro que o façam lá fora.
Andrew olhou para Chris com a expressão ao mesmo tempo satisfeita e
arrependida. Ele estava apreciando aquela cena, e Judith também, à sua maneira.
— Você não perde tempo — Chase disse, furioso, assim que ficaram a
sós.
— Chase, por favor, você não está entendendo. Eu não sabia que Andrew
e Judith estavam casados. Só soube hoje de manhã.
— Mas assim mesmo saiu com ele.
— E por que não deveria? Não sou sua propriedade, Chase. Eu não pedi
para me casar com você, fui chantageada. E se eu quiser sair com Andrew...
— Quer dizer, ir para a cama com ele? — Chase mostrava-se tão
agressivo que ela recuou. — Eu a preveni, Chris, talvez eu mesmo deva
satisfazê-la. Pelo menos assim não destruirá nenhum casamento.
— Chase, não. — Chris afastou-se ainda mais, alarmada. — Nós
combinamos que este casamento seria apenas no papel. Não pode... — Abafou
um grito quando os dedos de Chase apertaram seu braço. Ele a puxou para o
quarto, atirando-a na cama e deitando-se em seguida. Chris mantinha os braços
diante do corpo, tentando empurrá-lo.
— Isto não tem nada a ver com nosso casamento, Chris — disse Chase
entre os dentes, enquanto lhe alcançava a camiseta. — É algo que eu devia ter
feito há cinco anos.
— Naquela época eu o procurei porque...
— Porque queria alguém que tomasse o lugar do seu noivo. — Com um
gesto brusco, ele arrancou a camiseta, machucando a pele delicada de Chris,
deixando-a mais exposta do que jamais se sentira. Ela tentou sentar-se e cobrir
os seios com os braços, mas ele os prendeu com firmeza. — Quantos homens já
usou, tentando esquecer Andrew? Devia me agradecer, Chris, pois vou fazê-la
esquecer-se dele. Vai gritar o meu nome quando gozar. O meu! — Sua boca
encobriu a dela, sem lhe dar oportunidade de responder, abrandando-lhe a
resistência com uma força assustadora.
Emoções confusas explodiam dentro de Chris. Queria lutar contra ele,
reagir friamente como havia feito com outros homens, mas seu corpo era mais
veemente que a razão, reconhecendo as carícias de Chase e deliciando-se. Um
gemido desprendeu-se de seus lábios quando ele libertou-lhe a boca. Chris
lutava debilmente para soltar-se, percebendo que seus movimentos provocavam-
no ainda mais.
— Pensei que eu tivesse muita experiência, mas você me faz sentir coisas
que não conhecia — Chase murmurou. A língua dele descreveu uma linha de
fogo pelo pescoço de Chris, enquanto lhe segurava o seio, acariciando-lhe os
mamilos, intensamente excitados e rosados.
— Você é linda... — Ele inclinou a cabeça e soltou-lhe os punhos, mas
ela já não reagia.
Vendo aqueles cabelos negros em contato com seus seios, Chris sentiu o
corpo vibrar. Agarrou os ombros de Chase com volúpia, enquanto ele, com a
língua, rodeava um dos bicos dos seios. Febrilmente, desabotoou a camisa dele,
deslizando a mão pela pele quente e úmida, tremendo.
— Tire-a — Chase murmurou. — Quero sentir seu corpo contra o meu.
A pele de Chase continuava bronzeada, como ela se lembrava, num
contraste erótico com a sua, muito pálida. O coração batia loucamente e, quando
ele lhe passou um braço pela cintura e sua boca fechou-se sobre o seio túrgido,
não pôde fazer nada a não ser suspirar de prazer. A mão dele acariciou- lhe o
quadril e ficou ali, queimando-a através do jeans. Incapaz de resistir à tentação,
Chris emaranhou os dedos no cabelo espesso da nuca de Chase, fazendo-o
estremecer.
— Chris... Se você reage assim com todos os homens que a tocam, deve
deixá-los loucos. É claro que Andrew a quer de volta!
Essas palavras atingiram Chris como bofetadas e a realidade intrometeu-
se no mundo de sonho e prazer em que ela se perdera.
— Chase, por favor, não temos que fazer isso...
Ele riu, procurando o fecho da calça de Chris e baixando-o.
— Mas você quer tanto quanto eu. Seu corpo está latejando. — Chase
deslizou a mão pela calcinha de Chris, como a mostrar-lhe que o que dizia era
verdade.
Uma sensação desconhecida a assolava, intensificando o desejo,
deixando-a quase sem forças. Assim mesmo tentou mover- se, mas os dedos de
Chase permaneciam possessivamente na parte mais íntima de seu corpo.
— Você quer que eu faça isso. — Os olhos verdes pareciam queimá-la
quando ele abaixou a cabeça, reencontrando o seio e acariciando o mamilo com
a língua. A mão dele moveu-se e Chris ofegou, lutando com o sentimento que a
invadiu, de que queria mais, muito mais.
— Vamos, Chris, não finja. — A voz de Chase estava rouca, de modo
que ela não reconheceu. — Você não tem mais dezoito anos, pode ver que eu a
quero tanto quanto você me quer. Sinta isto. — Ele apanhou-lhe a mão e
conduziu-a para seu corpo, obrigando-a a tocar seu sexo latejante.
A mente de Chris gritava em protesto, chocada; ela não possuía
experiência para satisfazer Chase, mas uma vez mais seu corpo dominou a
mente.
— Chris, toque-me... ame-me.
Beijos ardentes continuaram a percorrer o corpo de Chris, deixando-a
quase sem fôlego. De repente, Chase levantou-se e tirou o resto das roupas. Ela
fez força para olhar do outro lado, mas a curiosidade acabou vencendo.
Fascinada, admirou aquele corpo perfeito, de músculos perfeitos, que parecia
ainda mais bonito na penumbra do quarto. Incapaz de refrear-se, acariciou-lhe
as coxas firmes. Num segundo, estavam de novo um nos braços do outro,
beijando-se com paixão.
— Chris — ele murmurou quase sem respiração. — Como eu te desejo...
Uma onda de felicidade inundou-a. Chase realmente a desejava. Não a
outra mulher. A ela. Fechou os olhos, entregando-se àquele momento que se
mostrava muito mais intenso do que todas as fantasias que pudesse ter tido.
Como sonhara com isso! Estar nos braços de Chase, conhecer o prazer do amor,
sentir-se como... como se realmente ele estivesse apaixonado por ela.
— Tire o jeans — Chase pediu baixinho, mas logo completou: — Não.
Eu tiro.
Ela estremeceu ao sentir o roçar daqueles lábios quentes em sua coxa,
quando ele a despiu.
— Você é tão maravilhosa — Chase murmurou com a voz rouca. — Sua
reação é... como se nenhum homem a tivesse tocado antes.
Ela teve um sobressalto, ao lembrar-se das consequências de irem até o
fim naquele rodamoinho de emoções. Quis reagir, escapar antes que fosse tarde,
mas os beijos dele a aprisionavam, tornando impossível qualquer raciocínio.
— Chris, toque-me. Ou está querendo me deixar louco? — Chase mordeu
delicadamente o seio firme e ela se deixou dominar pela paixão da descoberta.
As carícias foram se tornando mais e mais urgentes, um procurando o
outro com avidez, até que Chase colou seu corpo ao dela, incapaz de esperar
mais pela consumação do prazer.
A consciência de que ele a desejava venceu todas as barreiras. Com um
murmúrio Chris arqueou o corpo, querendo ajudá-lo, querendo também que o
momento do êxtase não se adiasse.
— Você me enlouquece... Você me faz esquecer até meu nome, Chris. —
Com habilidade, ele lhe tirou a calcinha, tornando a acariciar-lhe o corpo
inteiro, com um brilho estranho nos olhos verdes. — Posso sentir o quanto me
deseja também, mas quero ouvi-la dizer isso. Diga... — Inclinou-se para ela,
beijando-lhe os lábios entreabertos.
Chris estava por demais excitada para resistir. Como que hipnotizada,
murmurou:
— Eu o desejo...
— Diga: “Chase, eu o desejo”. Diga, Chris.
— Eu o desejo, Chase — ela repetiu, atormentada pelo prazer que a
língua dele, em seus lábios, lhe despertava.
— Agora, beije-me.
Chris apertou os lábios e roçou os dele.
— Assim não — Chase protestou. — Assim... — Seus dentes
mordiscaram o lábio inferior de Chris, sua língua entrando na boca doce e
úmida, ate que ela correspondeu com um gemido quase desesperado.
— Não posso esperar mais, eu a desejo tanto!
Chase deslizou u mão por entre as coxas macias, afastando-as, e em
seguida estendeu-se sobre ela.
Ao sentir aquelas coxas duras pressionando as suas, Chris entrou em
pânico. Ainda era virgem! Não poderia suportar a humilhação de Chase
descobrir tudo. Como iria explicar que se sentira tão magoada que fugira de
todos os outros homens?
— Não... — gemeu, enrijecendo o corpo e tentando afastá-lo.
— Não? — Chase repetiu, incrédulo. — Ah, você não vai fazer esse
joguinho comigo. Não vai me tratar do modo como tratou seus outros homens.
— Antes que ela conseguisse entender, sentiu-se presa. Ele a segurava pelos
braços, sem lhe dar chance de se mexer.
— Chase, por favor, você não compreende...
— Ah, sim, eu compreendo muito bem. Já se divertiu e agora quer voltar
atrás — ele retrucou, furioso. — Mas desta vez não permitirei que me faça de
bobo.
A força daquele corpo era algo que Chris não podia evitar. Um protesto
estrangulou-se em sua garganta quando sentiu o mundo explodir numa dor
terrível.
— Chris... — Chase chamou-a, sem poder acreditar. Ela tentava não
chorar. — Relaxe. Eu não... — ele murmurou e continuou a mover o corpo
ritmadamente contra o dela.
Chris sentia tremores, e uma sensação de dor que clamava por alívio,
mesmo depois que Chase havia terminado e estava sentado na beira da cama,
com as costas voltadas para ela.
— Chris...
— Eu não quero falar sobre isso — a voz dela soou aguda, cheia de
vergonha e angústia.
— Por que não me disse que ainda era virgem?
— Por que deveria? Nosso casamento deveria ter sido meramente formal,
lembre-se.
— Está bem, então vou fazer outra pergunta. Por que ainda era virgem?
— Por quê? Como pode me perguntar isso depois de...
— Está bem, não precisa dizer mais nada. Eu devia ter adivinhado
quando a vi com Andrew esta tarde. Você ainda o ama, não é?
Por um momento Chris ficou demasiadamente atônita para poder
responder. Queria negar, gritar toda a verdade, mas a voz continuou presa na
garganta. Olhou para aquelas costas morenas e fortes, pensando que sempre
quisera fazer amor com Chase. Não Andrew, nem qualquer outro homem, mas
Chase.
Mas como confessar isso a ele. Como dizer-lhe que estava loucamente
apaixonada?
Chase não acreditaria... e seria bem capaz de rejeitá-la de novo.

CAPÍTULO VII

Chris estudava seu reflexo no espelho, enquanto maquilava-se com a mão


trêmula. Chase não poderia ter sido mais claro, pensou. Aqueles momentos de
loucura terminaram com a saída intempestiva dele, depois de lançar-lhe um
olhar de ódio. O marido fora dormir no outro quarto, deixando evidente o
quanto estava arrependido. Quando Chris acordou na manhã seguinte, ele já
havia saído. Ela mal conseguiu tocar no café da manhã. Parecia anestesiada,
como se estivesse numa outra dimensão.
Estava terminando de vestir-se quando ouviu passos na sala. Saiu do
quarto esforçando-se para que sua expressão não a traísse. Chase tinha acabado
de sentar-se e parecia absorto lendo o jornal, mas o abaixou quando ela se
aproximou. Os olhos dele se demoraram na silhueta elegante de Chris, e depois
pararam em seu rosto. Será que a maquilagem não havia disfarçado as sombras
escuras sob os olhos?
— Não vou perguntar se você dormiu bem — Chase falou afinal. —
Creio que nenhum de nós dormiu direito. Chris, quando nos casamos não pensei
que...
Antes que Chase acabasse, Chris começou a falar impulsivamente. Não
suportaria ouvi-lo bater na mesma tecla mais uma vez.
— Chase, por favor, não quero falar sobre isso. Sinto muito que você
tenha tido que suportar... Sei como deve estar aborrecido com o que aconteceu.
Mas agora está acabado, e não quero mais falar no assunto.
— Acabado? Quer dizer que não acontecerá de novo? — Os dois se
olharam em silêncio, até que Chase sorriu. — Não responde? Então quer dizer
que você não tem certeza. Tudo bem, não precisa ficar desse jeito. Tentarei
ajudá-la, afastando a tentação do seu caminho. Vamos voltar para Londres no
vôo desta tarde. — Chase viu que ela titubeou, e tornou a rir. — Se alguém
perguntar, diremos que me chamaram do estúdio, o que não é totalmente
mentira. Estamos negociando a compra de um seriado, e isso está causando
problemas.
Iam para casa! Chris olhou-o paralisada, o rosto muito branco. Que
tentação era essa de que ele havia falado? Será que pensava que ela possuía tão
pouco orgulho que se atiraria sobre ele, pedindo que fizessem amor? Sufocou
um suspiro de desgosto e ergueu o queixo. Se era isso o que Chase pensava, ia
lhe provar o contrário.
— Não se importa? Não vai pedir para ficarmos, para que você possa
reaquecer velhas amizades?
— De que adiantaria? Se eu me negasse a voltar, certamente você me
chantagearia outra vez.
— Mas não precisei usar de chantagem para ter você na minha cama, não
é, Chris?
Chris estava a meio caminho de seu quarto, mas parou e voltou-se para
Chase, tentando ficar calma.
— O que houve, Chris? Cansou-se de se guardar para um homem que
casou com outra?
— Não acho que você mereça alguma resposta... — disse ela com
amargura.
Uma sombra pareceu descer sobre as feições de Chase tornando-as duras.
Chris entrou no quarto com a cabeça erguida e só depois de trancar a porta deu
vazão ao desespero. Sentia-se prisioneira daquele homem que a odiava e que, no
entanto, daria tudo para que a amasse...

— Bem, Sra. McLeod, isso parece ser tudo. — Chris observou as caixas e
malas que enchiam o quarto, e deu um longo suspiro.
Desde que voltara de Jersey, havia passado mais tempo na casa de seu pai
do que na de Chase. Usara como desculpa a partida iminente de sir Duncan, e
ficara aliviada ao perceber que Chase desejava tão pouco a sua companhia
quanto ela a dele. Ele trabalhava muito na televisão, voltando para casa tarde da
noite. Chris geralmente jantava só, e voltava ao escritório para estudar os
numerosos contratos que tinha em vista, antes de ir para a cama. Os dois
continuavam dormindo em quartos separados.
— Esse seu marido deve ser um homem paciente — disse a Sra. McLeod.
— Você passa todos os dias aqui, desde que voltou de Jersey.
— Chase compreende que preciso ajudar papai a arrumar a bagagem. —
Chris forçou um sorriso,
Como iria preencher seus dias depois que o pai tivesse viajado? E, pior
ainda, como conseguiria dormir sem ter se cansado fisicamente durante o dia?
Já havia passado algumas noites acordada, ouvindo os menores ruídos vindos do
quarto do marido, lembrando-se das mãos dele sobre o seu corpo, do prazer
quase selvagem que as carícias desencadeavam nela.
Naquela noite iriam jantar com sir Duncan num restaurante recém-
inaugurado. Seria uma festa de despedida, dissera o pai. “Que festa!”, pensou
Chris desesperada, desejando não ir a lugar nenhum. Seria terrível...
— Não vá se atrasar — disse a Sra. McLeod. — Está trabalhando muito.
Perdeu alguns quilos depois que se casou. Geralmente acontece o contrário...
Chris escapuliu antes que ela lhe perguntasse alguma coisa difícil de
responder, e dirigiu o carro lentamente até sua casa. Ao chegar, notou o
automóvel de Chase estacionado na garagem. Não era comum Chase voltar para
casa tão cedo... O que teria acontecido?
Quando entrou na sala de estar, não aparentava o turbilhão que sentia por
dentro. Chase estava se servindo de uma bebida e olhou-a com curiosidade.
— Chegou cedo.
Como era banal e sem sentido a conversa entre eles, pensou Chris.
Pareciam dois estranhos... No entanto, não podia sequer olhar para Chase sem
que o desejo a invadisse, torturando-a. Ansiava pelos beijos, pelas carícias
ardentes daquelas mãos fortes... Ah, como gostaria de poder demonstrar o
quanto o amava! Mas não era mais possível. Não havia meios de vencer aquela
barreira que os mantinha tão distantes, como se fossem dois inimigos.
Olhou com tristeza para o marido, reparando como estava bonito com o
terno elegante e a camisa branca, impecável. Chase tirou o paletó e jogou-o
displicentemente sobre uma cadeira e esse gesto simples a fez estremecer,
lembrando-se da outra vez, no quarto do hotel em Jersey, quando ele se despira
às pressas, louco para fazer amor com ela...
— Chris, acorde! — a voz de Chase interrompeu-lhe o sonho. — Pare de
pensar nele, isso não faz bem.
— Como?
— Se você tivesse visto sua expressão... Parecia uma mulher pensando no
amante — disse Chase com ironia. Viu-a enrubescer e acrescentou com raiva.
— Cheguei cedo porque vamos jantar com seu pai. Não vai se aprontar?
Chase não havia nem lhe oferecido uma bebida, ela pensou com amargura
ao deixar a sala. Será que todos os casamentos seriam como o seu? Como era
triste aquela sensação de vazio...
A primeira coisa que viu ao entrar no quarto foi a caixa sobre a cama.
Franzindo a testa, caminhou até lá, percebendo o nome de uma loja elegante
impresso no pacote. Era uma loja cara demais, mesmo para ela. Com
curiosidade, Chris retirou a tampa e procurou entre o papel de seda pelo
conteúdo.
Ficou sem respiração e completamente atônita diante do vestido que
encontrou. Era um modelo em jersey de seda azul-safira que ela nunca teria
escolhido para si mesma.
— Por que não o experimenta?
Chris virou-se rapidamente, olhando espantada para a porta que
comunicava o seu quarto com o do marido. Desde que haviam chegado à casa,
ela a mantinha trancada e guardava a chave, sem nunca pensar que Chase
também possuísse uma.
— Eu não encomendei esta roupa, deve haver algum engano. — Chris
atirou o vestido sobre a cama, num gesto de desdém.
— Não há nenhum engano. — Com poucos passos, Chase aproximou-se
e o apanhou. — Vista-o, Chris. Quero ver se serve.
— Você o comprou?
— Não fique tão chocada. É comum que um homem compre roupas para
sua esposa.
— Não o vestirei. Eu não gosto dele.
— Mas eu gosto, Chris.
— Não preciso de um vestido novo. Tenho vários que ainda servem.
— São todos muito sérios. Poderiam servir para a filha de sir Duncan,
mas não para minha mulher.
— Então sugiro que você procure outra mulher — revidou Chris, furiosa.
— Já disse que não vou usar este vestido!
— Ah, vai sim — Chase falou suavemente. — Nem que eu mesmo tenha
de vesti-lo em você.
Havia lágrimas nos olhos de Chris quando ela se virou para o outro lado.
O que ele estava tentando fazer? Humilhá-la com aquela demonstração de
força?
Sem arriscar-se a olhar novamente para ele, Chris apanhou o vestido e
tirou uma calcinha da gaveta. Quando se virou, Chase estava encostado no
batente da porta de comunicação, com os braços cruzados no peito, à espera.
Chris bateu com força a porta do banheiro e trancou-a, olhando derrotada
para o vestido azul-safira. A maioria das mulheres adoraria estar em seu lugar e,
amando Chase como ela o amava, faria tudo para virar a situação a seu favor,
aproveitando-se daquela intimidade inesperada. Mas ela não era assim. Não
podia tomar a iniciativa. Não podia permitir que Chase suspeitasse como se
sentia. E se ele a rejeitasse de novo?
Tomou um banho rápido, enxugou-se e, enquanto deslizava o tecido
sedoso pelo corpo, tentou não se olhar no espelho, mas era inevitável. O jersey
caía sedutoramente sobre suas formas, as mangas longas e o decote alto
contrastavam com o profundo decote das costas. A saia reta ajustava-se às suas
pernas, e o bordado na frente brilhava a cada movimento.
Chase estava de novo apoiado na porta entre os quartos, mas agora
vestindo um roupão atoalhado, seu cabelo ainda molhado do banho. O roupão
entreaberto revelava-lhe o peito másculo. Chris teve que lutar contra o impulso
de ir até lá e acariciar aquele corpo perfeito. Estava tão absorta em afastar a
tentação de sua mente que só percebeu que ele a estivera observando quando
Chase falou:
— Ficou bem, mas você vai precisar usar isto com o vestido. — Passou-
lhe um par de meias de seda cor de pérola. — E isto...
Chris não tinha visto a pequena caixa de veludo e surpreendeu-se quando
ele a abriu, exibindo o brilho intenso de diamantes.
— Venha aqui.
Chris parou a alguns metros dele, enrijecendo-se quando Chase agarrou-
lhe o pulso e a puxou para mais perto. Com delicadeza, o marido lhe afastou os
cabelos e prendeu-lhe nas orelhas um belíssimo par de brincos em safira e
diamantes.
— Chase, eu... — A garganta de Chris doía com o pranto reprimido, mas
ela não compreendia por que tinha vontade de chorar. Deu um passo atrás,
ansiosa por manter distância dele. Tão perto assim não poderia controlar seus
impulsos. — Obrigada — acabou dizendo quando pôde recuperar o fôlego. — É
claro que eu os devolverei quando... quando nosso casamento terminar.
Por algum motivo essas palavras enraiveceram Chase. Seus olhos
endureceram, tornando-se ameaçadores.
— Está bem, Chris. Você já deixou bem claro que não quer nada de mim.
Mas um homem tem seu orgulho. Se eu lhe permitisse sair com um daqueles
seus vestidos horríveis, duvido que alguém acreditasse em nosso casamento.
Uma mulher que ama seu marido gosta de vestir-se para agradá-lo, para
provocá-lo, não para esfriá-lo. Mas você não é uma mulher, Chris, é uma
criança que guarda suas emoções e reações porque...
Com as pernas trôpegas, Chris disparou para o banheiro, engolindo as
lágrimas até chegar ali. Enxugando-as nervosamente com as costas das mãos,
tentou concentrar-se na maquilagem. Então Chase achava-a deselegante, não é?
Com raiva, apanhou uma sombra azul-escura e aplicou-a com pinceladas firmes.
Com um toque de blush realçou as maçãs do rosto, depois escureceu e realçou
os cílios, e passou um batom rosa-escuro. Olhou-se no espelho por alguns
instantes, surpreendendo-se com a transformação. Sua aparência normalmente
fresca e tranquila dera lugar à imagem de uma mulher que mal reconhecia.
Para deixar os brincos bem à mostra, Chris puxou o cabelo para cima,
numa nuvem macia e escura de cachos. Finalmente pronta, voltou para o quarto
e calçou sapatos de salto alto. Algumas mechas do cabelo haviam escapado e as
estava ajeitando quando Chase entrou. Ela prendeu a respiração quando seus
olhares se encontraram no espelho.
— Deixe-as soltas — ele disse com suavidade, afastando-lhe a mão do
cabelo. — Eu gosto assim...
— Mas fica tão... desleixado.
— Não. Apenas feminino, convidativo. Como se houvéssemos passado a
tarde na cama e você tivesse se aprontado às pressas. — Ele viu-a corar e riu
com tristeza. — Já sei que a idéia de fazer amor comigo encheu-a de desgosto,
mas não quero que os outros saibam disso. Estarei lá embaixo daqui a cinco
minutos.
Chase saiu antes que Chris pudesse dizer qualquer coisa. Nunca lhe havia
ocorrido que ele pudesse ser vulnerável, não podia relacionar essa fraqueza
humana com o homem que conhecia. Quem seria o verdadeiro Chase?
Quando desceu a escada, ele estava se servindo de outro drinque e sorriu
contrafeito ao ver que era observado.
— Não precisa se preocupar, minha linda esposa, não vou ficar bêbado e
envergonhá-la. Que pena que Andrew não possa vê-la agora! Como ele se
arrependeria de ter-se casado com Judith. Ou ele já se arrependeu?
— Todo mundo tem o direito de errar uma vez — Chris respondeu sem
pensar.
— Errar uma vez? É isso o que você acha? Bem, vamos deixar uma coisa
bem clara agora mesmo: enquanto estiver casada comigo, não irá perdoá-lo por
esse erro, entendeu?
— Você pode mentir e trapacear para conseguir o que quer da vida,
Chase — Chris respondeu com frieza. — Mas eu, não.
A noite foi tão desagradável quanto Chris havia imaginado, apesar de ela
esconder corajosamente seus sentimentos do pai. Eles haviam sido conduzidos a
uma mesa discreta, e a decoração do restaurante adaptava-se melhor a casais
enamorados do que a jantares formais.
Chris sentia-se miserável, enquanto Chase e sir Duncan conversavam
animados. Comportavam-se como se tivessem se esquecido de que havia uma
terceira pessoa presente.
— E você, Chris? — perguntou sir Duncan de repente, parecendo
lembrar-se de que ela estava ali. — Quais são seus planos para o futuro?
Continuará a programar computadores ou Chase tem outras idéias? — Sir
Duncan piscou os olhos e Chris compreendeu que ele estava pensando nos netos
que desejava.
— Chris deve trabalhar enquanto quiser — respondeu Chase
prontamente, surpreendendo-a. — Já vi muitas mulheres inteligentes tornarem-
se esposas aborrecidas e frustradas, por colocarem seu talento em segundo
plano. Não quero que isso aconteça com Chris. Jamais me perdoaria se a visse
abrir mão da carreira por minha causa.
— Humm. É um ponto de vista raro. No meu tempo, quando uma mulher
se casava, sua carreira era o marido e os filhos.
— Porque não tinham escolha — Chris interferiu. — Hoje as mulheres
podem fazer uma opção.
— Nem todas — interrompeu Chase. — Há mulheres para as quais nada
mudou: sempre tiveram que trabalhar, e acho que a maioria delas gostaria de
deixar a fábrica ou o escritório para ficar em casa. Hoje em dia, a oportunidade
de trabalhar é, para muitas mulheres, mais uma necessidade do que uma
escolha.
— O que você acha disso, Chris? — perguntou sir Duncan, provocando-
a.
— Acho que muito do que Chase disse é verdade. Deve ser doloroso para
uma mulher com um filho pequeno ter que sair para trabalhar. Acho que,
quando se fala sobre o direito das mulheres ao trabalho, esquece-se de que para
ambos os sexos há salários baixos, que não permitem uma vida digna. Claro que
para as mulheres é pior, por causa das crianças.
— Acho que esta conversa está ficando muito significativa — apartou sir
Duncan. — Será que estão pensando em me dar netos?
— Quem sabe, sir Duncan? — respondeu Chase, sem o menor embaraço
pela pergunta do sogro.
Mas por que deveria ficar embaraçado?, pensou Chris. Não havia a menor
chance de terem um filho... O marido só dizia aquilo para esconder a situação
dos dois.
Quando estavam terminando a refeição, o conjunto começou a tocar, e
casais encheram a pista de dança. A música era muito romântica, e a visão dos
corpos entrelaçados, perdidos em seus próprios mundos, aguçou a sensação de
angústia em Chris.
— Por que vocês não dançam? — sugeriu sir Duncan. Chris
imediatamente objetou, mas o pai insistiu: — Ignore-a, Chase, ela está apenas
sendo educada, para não me deixar aqui sozinho. Eu vi o modo como ela olhou
para os casais que estão dançando.
Chris percebeu que estava muito corada e não conseguiu dizer nada
quando Chase se levantou, pegando-lhe o cotovelo e guiando-a pela penumbra
até a pista. Mesmo na luz fraca, Chris podia ver a raiva contida nos olhos
verdes, e recuou quando ele a puxou para os seus braços.
— Seu pai está nos olhando. Quer que ele adivinhe a verdade? — ele
sussurrou. Como Chris não respondesse, deslizou- lhe a mão pelas costas,
pressionando-lhe o corpo tenso contra o seu, forçando-a a moldar-se até poder
sentir os músculos dele.
— Somos recém-casados, e estamos muito apaixonados — continuou
com ironia, enquanto a acariciava, devagar.
Ela ergueu a cabeça, deparando-se com aqueles olhos verdes que
brilhavam, intensos. Era impossível disfarçar a emoção, todo o seu corpo
tremia, incontrolável. Tentou dizer a Chase que parasse de atormentá-la, mas
tudo desapareceu no calor de um beijo doce e inesperado. Não houve tempo
para atitudes evasivas ou resistência. Seus lábios abriram-se em muda
submissão, seus sentidos responderam com volúpia e ela esqueceu-se de que
estavam no meio de uma pista de dança, que seu pai os estava observando, que
Chase não a amava. Abandonou-se completamente às carícias do marido,
adorando a força daquelas mãos que a tocavam suavemente.
Chris só acordou daquele doce enlevo quando Chase afastou-se um pouco
e sorriu.
— Não lhe disse que resistir à tentação não seria tão fácil como você
pensava?
Por um momento, ela ficou demasiado aturdida para responder. Seu corpo
ainda ansiava pela pressão quente do dele; seus lábios úmidos e ardentes ainda
clamavam pelo bálsamo do beijo de Chase. Lutou contra as emoções e
finalmente conseguiu encontrar a voz:
— Gostaria de voltar para nossa mesa. Estou cansada.
Voltaram para a mesa em silêncio, para alívio de Chris. Seu pai os
aguardava com um sorriso.
— Eu costumava levar sua mãe para dançar. Ela era leve como uma
pluma. Bem, não sei o que acham, mas estou pronto para ir dormir.
Chris não olhou para Chase, mas por sorte ele concordou com sir Duncan,
erguendo-se lentamente e novamente tomando o braço da esposa, num gesto de
proteção e domínio.

Sozinha em seu quarto, Chris ficou parada diante do espelho, enquanto


retirava os brincos e a maquilagem, tentando não se lembrar da suave carícia
dos dedos de Chase em sua nuca. Com um leve tremor, foi para o chuveiro,
querendo não pensar em como terminaria a noite se eles estivessem se amando.
Chase não a teria deixado no hall, dizendo que tinha trabalho a fazer; teriam
subido juntos a escada, e entrado num quarto que compartilhassem. Chase teria
deslizado o vestido azul-safira sobre seu corpo sem perguntar nada, e ela...
Perturbada com a direção incontrolável de seus pensamentos, enxugou-se
com força e correu para o quarto. Era um ambiente delicioso, feminino, sempre
havia lhe agradado muito, mas agora notava que era o quarto de uma mulher,
não o de um casal.
Ainda não havia dormido quando ouviu Chase subir. Enfiou a cabeça sob
as cobertas para não ouvi-lo mover-se no quarto vizinho, para não atormentar-se
por saber que ele estava ali e que apenas uma parede os separava.

CAPÍTULO VIII

Chris havia ido até o aeroporto despedir-se do pai e voltara correndo para
terminar um programa de computador que havia prometido a um cliente.
Chase oferecera-se para acompanhá-la, mas recusara polidamente
sabendo que a dupla emoção, de tê-lo por perto, mais a partida do pai, seria
demais para seu frágil equilíbrio emocional. Pensou ter visto uma certa tristeza
nos olhos de Chase, mas logo se deparou com o olhar frio e distante a que já
estava se habituando.
O telefone tocou quando entrava no hall. Atendeu-o depressa, um pouco
apreensiva.
— Chris?
Ficou tensa ao som da voz de Chase, mas forçou-se a se acalmar.
— Chris, é você? — ele perguntou novamente.
— Sim, sou eu, Chase. Acabo de chegar do aeroporto. O que você quer?
Pensou que eu houvesse decidido romper nosso... acordo e tivesse viajado com
meu pai?
— É que eu saí tão apressado esta manhã... — Pelo tom de voz, Chris
percebeu que ele estava com alguém. — Deixei uns papéis de que preciso em
minha mesa. Será que você não poderia vir até o estúdio e trazê-los? Eu a
convidaria para almoçar, mas infelizmente já tenho um compromisso.
Chris concordou e Chase explicou onde estava. Depois de encontrá-lo, ela
ligou para seu cliente para saber se poderia adiar a entrega do programa.
— Não há problema. Só estou surpreso, Chris, pois isso não combina
muito com o seu estilo de trabalho. É sempre tão pontual. O que há, está
namorando firme?
Um pouco sem graça. Chris contou que havia se casado.
— Puxa, foi tudo muito depressa, não é? Esse seu marido deve tê-la
apanhado num momento de fraqueza, ou estou errado?
Conversaram mais um pouco, e Chris gentilmente recusou um convite
para jantar com ele e a mulher.
— Já entendi. Ainda estão em lua-de-mel! Eu sei como são essas coisas...
Ela entrou no carro pensando que essa farsa de casamento a estava
obrigando a mentir constantemente. Chase a usava com um terrível sangue-frio,
e no entanto isso não conseguia destruir o amor que sentia por ele. Que espécie
de mulher era ela, afinal? Devia impedir-se de sofrer por um homem que não a
queria, que fora capaz de chantageá-la da maneira mais sórdida e no entanto...
estava louca por Chase, amava-o tanto que seria capaz de qualquer coisa para
ser correspondida. Mas não havia o que fazer, essa era a triste verdade.
Quando terminasse o prazo, ele a deixaria para sempre...
O estúdio de televisão ficava num prédio de escritórios muito elegante.
Um recepcionista uniformizado veio na direção de Chris assim que ela entrou e
encaminhou-a ao balcão de atendimento.
Percebeu a curiosidade no rosto bem maquilado da garota que a atendeu,
quando deu seu nome e hesitou, insegura. Se não soubesse que Chase a estava
esperando, poderia até pensar que a recepcionista ficara alarmada com sua
presença.
Pela primeira vez Chris pensou que Chase poderia continuar se
relacionando com outras mulheres, apesar de casado. Ele nunca havia fingido
que levava uma vida de monge, e existira mesmo grande quantidade de
comentários nos jornais sobre seus casos. O mais recente havia sido com a atriz
Clancy Williams, mas terminara quando esta se casara com outro homem. Isso
fora um ano antes e, apesar de Chase sempre aparecer em fotografias ao lado de
mulheres lindas, até onde Chris soubesse, não havia nenhuma na vida dele,
atualmente. Além dela, é claro.
Fez um muxoxo, ao pensar nisso. Certamente estava muito longe do
padrão de mulher para Chase, mas afinal não fora escolhida por sua beleza ou
sensualidade. Uma dor fina e cortante atravessou-lhe o coração e ela demorou
vários segundos para perceber do que se tratava. Então era isso o ciúme, esta
emoção violenta e repentina, que a deixava fraca e vulnerável.
A recepcionista estava ao telefone, de costas para Chris. Murmurou algo
e virou-se, olhando-a de modo incerto. Nesse momento Chris pôde ouvir
perfeitamente a voz do outro lado da linha:
— Tem certeza de que ela disse Sra. Lorimer? Ele está com Clancy
agora, e parecem em plena reconciliação. Não posso interrompê-los.
A recepcionista virou-se rapidamente, enrubescendo, e Chris fingiu não
ter escutado.
Clancy Williams estava com Chase? E há poucos instantes ela se
lembrava da relação turbulenta dos dois... era até irônico. Talvez a atriz tivesse
deixado o marido...
Não adiantava torturar-se daquela maneira. Decidida, Chris dirigiu-se à
recepcionista:
— Olhe, meu marido pediu-me que trouxesse alguns documentos para
ele. Se eu não puder vê-lo, deixarei os papéis com sua secretária.
A garota indicou como chegar ao escritório, acompanhando-a até um
pequeno elevador escondido atrás das plantas. Em vez de números, tinha apenas
a indicação “Escritório do Diretor-Geral”. O elevador subiu depressa, abrindo-
se num corredor acarpetado que terminava num salão elegante, decorado com
móveis de couro bem masculinos.
Uma moreninha atraente, de uns vinte anos, muito bem vestida e
maquilada, lhe sorriu, solícita.
— Sra. Lorimer? Seu marido me avisou de que a senhora viria, mas no
momento ele está muito ocupado, infelizmente.
— Eu só vim trazer uns papéis que ele pediu... Acho que posso deixá-los
com você.
— Sim, é claro, mas o Sr. Lorimer sabe que a senhora está aqui... — Ela
mordeu os lábios, indecisa quanto ao que fazer. Era claro que relutava em
interromper Chase, mas tampouco queria ofender Chris, impedindo-a de ver o
marido.
Para facilitar as coisas, e sem vontade nenhuma de ver Chase junto com
Clancy Williams, Chris entregou-lhe o envelope e virou-se para sair. No mesmo
instante Chase abriu a porta que comunicava sua sala com a da secretária. Ele
estava com a mão no ombro de uma mulher alta e elegante, que arregalou os
olhos ao ver Chris.
— Sr. Lorimer...
— Chase...
A secretária e Clancy Williams falaram ao mesmo tempo.
— Sua esposa... — hesitou a secretária.
— Esta é sua esposa, Chase? — perguntou Clancy divertida, mas olhando
para Chris com hostilidade. — Meu Deus, onde você a encontrou? Não é
mesmo o seu tipo, querido...
Chris sentiu um frio na espinha. Chase não fez menção de vir para o seu
lado, pelo contrário: olhava para a outra mulher com benevolência, enquanto a
esposa recebera apenas um olhar irritado.
É claro que olhava para Clancy, pensou Chris, sentindo-se miserável. Ela
era linda.
— Eu não pude acreditar quando me disseram que Chase havia se casado
— continuou Clancy. A secretária havia diplomaticamente desaparecido. — Eu
teria mandado um presente, se soubesse. Vi uns pijamas de seda lindinhos em
Los Angeles, mas ora, eu sei que Chase não usa pijamas...
Chris reparou no sorriso que aparecia nos cantos da boca de Chase, e o
olhar que trocou com Clancy. O ciúme e o ódio queimavam dentro dela, poderia
matar os dois, lenta e dolorosamente.
— Você deve tê-lo apanhado num momento de fraqueza, queridinha. Ou
você fez isso só para se vingar de mim, meu bem? — Clancy virou-se para
Chase. — Foi bobagem sua, Chase. Por falar nisso, preciso ir ver meu advogado
amanhã, você pode vir comigo? Sabe como sou desajeitada para tratar de
negócios...
Sentindo-se totalmente indefesa, Chris fervia de raiva. Como Chase podia
suportar aquela vozinha e aquele fingimento todo? E ele parecia estar adorando!
— Espero que meu divórcio não demore muito para ser homologado.
Tudo é tão traumatizante, ainda mais sabendo que você está casado...
— Podemos continuar... amigos.
— Amigos? — Clancy fez beicinho. — Não era em amizade que eu
estava pensando quando vim vê-lo esta manhã, querido, mas podemos discutir
isso melhor durante o almoço.
“Então o compromisso para o almoço era com Clancy Williams!”, pensou
Chris arrasada. Devia ter adivinhado. Podia até imaginar os dois, sozinhos em
algum lugar... Estava claro que Chase não resistiria à tentação de fazer amor
com a antiga amante.
— Vou acompanhar Chris até o elevador, Clancy — Chase murmurou
para a atriz. — Espere-me aqui.
A outra mulher olhou para Chris com complacência e suspirou como se
estivesse com pena.
Chase esperou que estivessem afastados para falar.
— Obrigado por ter trazido os papéis — disse casualmente.
Essa atitude de desprezo deixou Chris mais ofendida.
— Foi uma pena eu ter chegado naquele momento. Acho que interrompi
um reencontro emocionante.
Por um instante Chris pensou ver uma satisfação intensa no rosto de
Chase, que desapareceu rapidamente, sendo substituída por uma fria
tranqüilidade.
— Clancy e eu somos velhos amigos. Ela veio a Londres para falarmos
de sua participação na nossa próxima novela.
— E para lhe dizer que está se divorciando? — Por mais que tentasse,
Chris não conseguia esconder a profunda amargura na voz. — Você teria se
casado comigo, Chase, se soubesse disso antes?
— Bem, eu não sabia, não é? — Ele fez um muxoxo, evitando responder.
— Além disso, não há comparação entre o nosso relacionamento e o meu com
Clancy...
Chris ficou pálida.
— É.... é claro que não. — Esforçou-se para conter as lágrimas que
ameaçavam rolar. — Eu sou apenas sua mulher, enquanto ela é...
— Clancy e eu nos conhecemos há muito tempo — Chase interrompeu.
— Ela está passando por uma fase difícil, e como amigo eu quero ajudá-la como
puder.
Havia algo que Chris precisava saber.
— E ela... sabe a verdade sobre nosso casamento? — perguntou, odiando
a si mesma por sentir o rosto ficar corado e quente.
Chase a olhou pensativo.
— Não vou dizer nada a ela. De qualquer modo, acho que não vai querer
discutir nosso casamento. Temos outras coisas para conversar.
Chris bem imaginava o que seriam essas coisas. O olhar que Clancy
Williams lhe dirigira no escritório deixara claro que não toleraria a presença de
outra mulher na vida de Chase. Eles se desejavam... talvez até se amassem.
Ela entrou no elevador sem olhar para trás, rezando para que Chase não
tivesse percebido o quanto estava perturbada. Devia voltar para casa e trabalhar
no programa, mas sua mente recusava-se a isso, concentrada no marido. Estava
ficando obcecada por ele, pensou com tristeza, ainda tremendo sob o efeito
daquele ciúme insuportável. Nunca havia pensado que pudesse ter emoções tão
poderosas, e assustava-a descobrir essas profundezas desconhecidas de sua
personalidade.
Estava estacionando em frente à casa, quando um táxi se aproximou,
vindo da direção oposta. Um homem alto e alourado desceu dele, e Chris
reconheceu-o imediatamente.
— Andrew...
Ele virou-se ao som de sua voz, seu rosto iluminando-se de satisfação.
— Chris...
Antes que pudesse impedi-lo, ele agarrara suas mãos e a estava puxando
em sua direção.
— Chris...
— Andrew, o que está fazendo aqui? — Ela estava completamente
atônita.
— Não adivinha? Meu Deus, Chris, não consegui mais tirar você da
cabeça! Tinha uns dias de folga, então vim para cá. Disse a Judith que precisava
viajar um pouco para espairecer, ela não se importou. Ah, minha querida
menina...
— Não sou sua querida menina! Nem sua querida qualquer coisa... —
Chris retrucou, impaciente. — Andrew...
— Vamos conversar — ele suplicou. — Por favor, Chris. Vim até aqui só
para vê-la... para falar com você. Venha almoçar comigo.
— Como soube nosso endereço? — perguntou Chris enquanto Andrew a
empurrava para o táxi.
— Pelo registro do hotel. Não pude mais tirá-la da cabeça... Por que você
partiu daquela maneira?
— Chase precisou voltar — Chris respondeu distraidamente, ainda
surpresa de que Andrew houvesse vindo a Londres só para vê-la. Mas isso a
deixava completamente indiferente. Sentia, sim, uma certa repulsa pelo fato de
Andrew abandonar sua família com tanta facilidade. Ou estaria mentindo para
ela? Andrew era um oportunista, ela reconhecia, até mesmo pela maneira como
a empurrara para dentro do táxi enquanto ela se distraíra. A maneira como a
tratava havia lhe deixado uma certa desconfiança de todos os homens.
— Andrew, isto é ridículo. Você é casado — disse finalmente.
— E você também — ele revidou com arrogância. — Mas isso não nos
impede de encontrarmos a felicidade juntos. Ah, minha querida Chris, se
soubesse como esteve sempre em meus pensamentos...
— Eu, ou o dinheiro de meu pai? Realmente, Andrew, você não pensa
que ainda sou aquela bobinha de dezoito anos!
— Sei que você é, senão por que teria se casado com um homem como
Chase Lorimer? Sei tudo sobre ele, Chris, tudo sobre suas mulheres... lindas
mulheres...
— Com quem eu não poderia competir, não é? Obrigada, Andrew. —
Chris inclinou-se para frente e deu ordens ao motorista para levá-la de volta.
Pobre Judith, pensava ironicamente quando o carro parou diante de sua
casa. A vida não deveria ser fácil para ela, casada com um homem como
Andrew. Sem dúvida, aquele imbecil perseguiria todas as hóspedes mais ricas
do hotel. Desceu às pressas do automóvel, mas, para seu desgosto, viu Andrew
fazer o mesmo.
— Andrew, não temos mais nada a nos dizer — ela falou, assustando-se
ao ver o carro de Chase que se aproximava pela rua. Por que Chase estava vindo
para casa? Ele nunca vinha durante o dia... E a atriz, onde estava? Emoções
conflitantes de dor e prazer se misturavam em sua mente. No momento em que
o carro de Chase parava, Andrew abraçou Chris e a beijou na boca. Depois,
disse com paixão:
— Pode ser que não me queira agora, Chris, mas sei que já me desejou.
O beijo a deixou completamente fria. Andrew soltou-a, percebendo que
não havia reação, e entrou novamente no táxi. Vendo-o afastar-se, Chris pensou
que provavelmente nunca o veria de novo, o que lhe dava uma sensação de
alívio. Nesse instante Chase alcançou-a.
— Não foi muito cavalheiro, deixando-a sozinha na calçada para
enfrentar a ira do marido — zombou, olhando-a com uma expressão de ódio.
Chris ficou tensa, as explicações tremiam em seus lábios, mas foram
reprimidas. Por que deveria explicar-se para Chase? Especialmente agora que
sabia de seu envolvimento com Clancy...
— Quando ele chegou? — Chase insistiu, olhando para o táxi que se
afastava.
— Há pouco tempo. — Chris desviou o rosto.
Chase apertou-lhe o braço com força, fazendo-a encará-lo.
— E onde o parzinho estava planejando ir, quando infelizmente eu
apareci para interrompê-los?
Chris ia negar a acusação, mas subitamente mudou de idéia.
— Ora, Chase, vá para o inferno!
— Para um motel, imagino — ele continuou, imperturbável. — Se
prestasse atenção no que lhe digo e pensasse menos em seu amante, poderia
estar com ele, agora. Você levou-me os papéis errados, por isso vim para casa.
— E seu encontro?
— Eu o cancelei, por isso não pense que poderá escapulir para seu
amante no instante em que eu virar as costas.
— Andrew não é meu amante — Chris explodiu, quando Chase a
empurrou para o hall.
— Não — ele concordou. — Estive pensando nisso.
Chris estava subindo as escadas e parou, alertada por algo na voz de
Chase que indicava um perigo que ela não podia ver, mas que instintivamente
sabia que estava ali.
— Por que ele não é seu amante, Chris? Afinal, você mesma admite que o
ama, e ele obviamente a deseja. Poderia ter voltado para ele a qualquer
momento nesses cinco anos. Mas não o procurou, nem a qualquer outro homem.
Ele estava bem atrás de Chris, na escada, e ela não tinha alternativa senão
continuar subindo. Alcançou o quarto e voltou-se para fechar a porta, mas o
marido já havia entrado.
— Por quê, Chris? — ele insistia. — Por quê?
— Por quê? — Chris tremia com a emoção. — Como poderia dar-me a
um homem, depois que você me rejeitou daquele modo? — gritou. — Como
poderia dar ao homem que eu amasse algo que você me fez saber que não valia
nada? — Uma vez que começara, Chris não conseguia parar, palavras e
emoções que sufocara durante anos jorraram de dentro dela. A dor no seu
íntimo não poderia mais ser contida. — Eu queria que me amasse, Chase, mas
você me rejeitou. Fazia amor com centenas de mulheres, mas me rejeitou...
— E por isso você continuou virgem?
— Sim — ela sussurrou corajosamente. — Como poderia dar a Andrew o
que você desprezou?
Chris sentia-se como em um sonho, nada era real. A emoção violenta que
provocara sua explosão havia passado, deixando no lugar uma espécie de
letargia, um desejo de estar só.
— Chris, temos que conversar.
— Não temos nada para conversar, Chase.
— Pelo contrário. Temos muita coisa para discutir. — Havia uma rigidez,
uma raiva escurecendo-lhe os olhos, que o fazia parecer mais estranho que
nunca. — Se é verdade que não deixava ninguém tocá-la por
causa do passado... É verdade, Chris? Você se manteve virgem por minha
causa?
— Sim.
— E mesmo amando Andrew, nunca mais o procurou?
— E arriscar-me a ser rejeitada, humilhada como você me humilhou?
— Chris...
— Não me toque... não se aproxime! Vá embora!
Chris ouviu a porta fechar-se suavemente, enquanto se atirava à cama,
tremendo. Encolheu-se, desesperada, sem saber que demônio a havia obrigado a
dizer aquelas coisas. Não podia negar que fora mais uma necessidade de
verbalizar sua dor do que o desejo de que Chase acreditasse que amava Andrew.
Mas não tivera a intenção de confessar tanto, deixando-o saber que sua rejeição
a havia atingido na essência de sua feminilidade, quase destruindo-a.
Ao ouvir o carro de Chase, correu até a janela e espiou para fora. Pensou
tê-lo visto olhar para cima antes de partir, mas não teve certeza.
A tarde arrastou-se, e às oito horas Chase ainda não havia chegado. Chris
não conseguiu jantar, e às dez horas foi para a cama, imaginando se ele estaria
com Clancy. Claro que deveria estar... Chase não era homem de recusar as
oportunidades que a vida lhe apresentava.

Chris acordou meio tonta, sem saber o que havia perturbado seu sono.
Ainda estava escuro lá fora, e a brisa movia suavemente as cortinas da janela.
Um pequeno ruído assustou-a, e seus olhos perscrutaram a escuridão. Algo
moveu-se nas sombras, deixando-a amedrontada, mas, quando o vulto se
aproximou, reconheceu Chase. O som que a acordara fora da porta de
comunicação entre os quartos.
— Chase, que está fazendo aqui? — A pergunta perdeu-se, enquanto ele
se inclinava sobre a cama e puxava as cobertas. Estava vestido com um roupão,
que atirou sobre uma cadeira antes de deslizar seu corpo esguio para o lado dela.
— Chase? Por que...
— Sim, eu entendi tudo o que você disse — ele falou calmamente. —
Estou tentando consertar um erro que cometi há cinco anos. — Ele a abraçou,
devagar. — Você disse que eu a rejeitei, Chris, e que por causa disso nunca
pôde se entregar a outro homem.
Chris sentiu a tensão que havia no corpo dele, e seu pensamento inicial,
de que ele viera para ridicularizá-la, evaporou-se com as carícias meigas, que
nada tinham de agressividade.
— Esta noite, se houver alguma rejeição, será de sua parte.
Chris tremia, e sabia que ele devia estar percebendo.
— Chase, não. Isso foi há cinco anos...
— E depois nenhum homem a tocou.
— Sim, você, quando estivemos em Jersey pela segunda vez.
— Esqueça aquilo, Chris. — O braço de Chase ainda a prendia e com a
outra mão ele lhe acariciava o rosto. — Você e eu vamos voltar ao passado...
Feche os olhos e esqueça o resto.
— Não posso... Não é possível...
Sem ouvi-la, Chase começou a beijá-la, primeiro no rosto, depois no
pescoço, nos seios, no ventre... Chris percebia-o como que através de uma
névoa de indecisão, demasiadamente lânguida para poder evitá-lo. De alguma
forma estranha, parecia que Chase havia conseguido transportá-la de volta no
tempo. Toda amargura e sofrimento foram esquecidos quando os lábios dele lhe
acenderam a chama do desejo, fazendo-a tremer, como se fosse realmente
aquela garota de dezoito anos.
Nos braços dele sentia-se protegida, deslizando lentamente para um lugar
seguro, onde seu corpo podia relaxar e partir para a exploração dos sentidos. Ele
tornou a beijá-la na boca, com ternura, mas também com paixão.
Chase estava deitado com o corpo todo em contato no dela, mas Chris
não estava alarmada, nem assustada. Seu coração batia apressado, na
antecipação do prazer que finalmente a libertaria dos fantasmas do passado.
Ele se afastou um pouco, acariciando-lhe o rosto, afastando-lhe o cabelo
da testa, tentando ver a expressão de seus olhos. Depois, passou o dedo pelo
contorno dos lábios, suavemente, até que Chris não conseguiu evitar um suspiro
antes de tocá-lo com a língua. A respiração de Chase acelerou-se e os dois se
lançaram outra vez num abraço, beijando-se com urgência.
— Não queremos isto entre nós, não é? — Chase pegou as alças de cetim
da camisola de Chris. Ela sentiu que não podia protestar, desejava que aquele
olhar de fogo devorasse cada centímetro de seu corpo, mas ainda assim quis
impedi-lo.
— Chase, isto é errado...
— Não, Chris. Isto é o que nós queríamos durante todos esses anos...
Ela lutava para abafar as reações que o toque e as palavras de Chase lhe
provocavam, tentando lembrar-se por que não deveria sentir-se daquela
maneira. Não podia ser daquela forma, com aquele homem, mas ele a estava
subjugando totalmente. Sentia a pele arder sob as carícias de Chase. Quando ele
envolveu-lhe os seios com as mãos, sua última resistência esvaiu-se.
— Sim — ele murmurou com a voz rouca. — Meu Deus, Chris, sim. Esta
noite vou amá-la como deveria ter feito há cinco anos...
Chris abandonou-se aos beijos apaixonados, na doce tempestade da
paixão. Movia as mãos avidamente sobre o corpo do marido, modelando-lhe os
ombros, descendo-as pelas costas, tentando fazê-lo sentir o mesmo prazer que
experimentava.
Os dois estavam respirando sofregamente. Seus corpos possuíam uma
umidade e um odor especiais, e ela imaginou se Chase acharia o perfume
suavemente feminino de sua pele tão excitante quanto ela achava o dele tão
viril.
Os lábios de Chris, libertando-se dos de Chase, aventuraram-se pelo peito
forte, não encontrando resistência. Quando Chase rolou, ficando de costas na
cama, Chris soluçou de prazer ao sentir o corpo dele sob o seu.
— Chris...
Ela estremeceu ao sentir-se conduzida para aquele momento mágico em
que duas pessoas se unem e se tornam uma só.
— Não tenha medo. Não vou machucá-la, nem rejeitá-la. Você é tão
linda, sabia? Tão infinitamente desejável... Deixe-me mostrar-lhe quanto. Deixe
meu corpo dizer-lhe todas as coisas impossíveis de se colocar em palavras.
Chase moveu-se e o contato com as coxas musculosas fizeram-na dobrar-
se para trás de prazer, com um desejo que quase a deixava tonta. Sem poder
mais se controlar, abandonou-se àquele delicioso jogo de carícias, deixando que
ele a tocasse, deixando que as mãos de Chase percorressem cada curva de seu
corpo.
— Agora, Chris... agora... Deixe-me entrar em você, faça-me sentir
completo.
Chris obedeceu, maravilhando-se com a vulnerabilidade de Chase, que
gemia de prazer e a beijava, levando-a consigo numa poderosa onda de
excitação, para muito além da compreensão humana, para um lugar onde as
palavras eram completamente desnecessárias. O êxtase os fez gritar ao mesmo
tempo e o mundo explodiu em sensações maravilhosas.

Chris achou que devia ter dormido nos braços de Chase, pois a próxima
coisa que percebeu foi que estava acordando, aninhada deliciosamente contra o
corpo quente, a cabeça pousada no peito largo e as pernas ainda sensualmente
entrelaçadas às dele.
Uma luz suave filtrava-se pelas cortinas, anunciando que a manhã se
aproximava. A princípio, sentiu-se totalmente desorientada, mas aos poucos
lembrou-se de tudo.
— E então, mocinha. Ainda se sente indesejável?
Chase estava acordado! Chris tentou afastar-se, mas estava segura pelo
braço que ele lhe passara ao redor.
— Chase, você não devia ter feito isso.
— Não? — Ele a soltou bruscamente, parecendo surpreso e magoado. —
Por que não sou Andrew? Mas fui eu que a rejeitei, deixando-a traumatizada.
— Então agora estou livre? — Chris não pôde evitar o tom irônico. A
idéia de que ele agira movido pela piedade era insuportável. — Devo agradecer?
Você deve estar se sentindo um herói!
— Chris, eu...
— Andrew vai apreciar muito a experiência que ganhei com você.
A expressão de Chase modificou-se, endurecendo-se.
— Ele não terá oportunidade. Vamos para Barnwell no fim da semana. A
casa ainda não está pronta, mas minha irmã ofereceu-se para nos hospedar
enquanto isso.
— Barnwell? Você nunca falou nada sobre mudarmos de Londres. —
Chris estava chocada, porque nunca imaginara viver intimamente com Chase
numa cidadezinha de interior, onde não teria nenhum conhecido além dele e de
sua família.
— Não fazia parte de nosso trato que, casando-se comigo, você poderia
se relacionar com Andrew — Chase continuou. — Seu pai contou que você é
ótima dona-de-casa, agora seus talentos serão úteis.
— Quer dizer que você precisa de uma empregada, não de uma esposa!
— Chris estava cada vez mais irritada. — Para isso não precisava me obrigar a
casar, não acha?
— Não. Há outros aspectos que também me interessam. — Chase
bocejou e espreguiçou-se. Era dia claro e ele lançou um olhar à janela. — Só há
duas razões, para se acordar mais cedo. A primeira é ter um encontro de
negócios urgente e a segunda... — Seu olhar demorou-se sobre os lábios macios
de Chris, e depois desceu por suas curvas sedutoras.
Chris sustentou-lhe o olhar, ainda furiosa com o que acabara de ouvir.
Seria tão bom, pensou, que em vez de se agredirem como dois inimigos,
pudessem desfrutar a doce intimidade de marido e mulher... Se Chase a amasse,
tudo seria tão diferente.
Mas ele não a amava, essa era a verdade a que devia se acostumar. E não
podia se esquecer de Clancy Williams.
— Preciso levantar. — A voz de Chris soou incerta, como se quisesse que
ele discutisse, implorando que ficasse. Sentindo raiva de si mesma, acrescentou
rapidamente: — Tenho trabalho a fazer. Deveria tê-lo entregado ontem, mas
adiei... — “Para levar os papéis para você no estúdio”, ia dizer, mas Chase
antecipou-se:
— Para ficar com Andrew!
— Eu nem sabia que Andrew estava em Londres.
— Não? — Chase afastou as cobertas, sem se preocupar com sua nudez.
Chris não conseguiu afastar os olhos daqueles músculos. Se estivessem
casados de verdade, ou fossem amantes de verdade, poderia tocá-lo, pedir-lhe
que ficasse e que fizessem amor novamente.
Ouviu a porta do banheiro fechar-se e tentou se acalmar. O futuro lhe
parecia negro... Seria obrigada a viver em Barnwell, longe dos amigos e, ainda
por cima, suportando aquela situação absurda, aquela farsa de casamento! Tinha
vontade de cobrir a cabeça e fechar os olhos, até se convencer de que tudo não
passava de um pesadelo. Mas não foi o que fez. Levantou-se depressa e se
vestiu, pensando que a última coisa que desejava era que Chase saísse do
banheiro e a encontrasse ainda na cama, como se o esperasse.

— Chris, querida, espero não estar ligando numa hora inconveniente... —


Chris reconheceu a voz da cunhada, e adivinhou que Helena estaria ligando por
causa da mudança para Barnwell. — Vocês podem ficar conosco, Chase já lhe
disse? Nossos dois mais velhos estão em férias na França, por isso, temos
espaço de sobra.
— Sim... Mas espero que a casa fique pronta logo, não queremos
incomodar você, Helena.
— Ah, querida, será um prazer. Ainda vai demorar um pouco para aquele
casarão tornar-se de novo habitável. Estamos providenciando a religação da
água e da eletricidade, e também já arranjei uma pessoa para fazer a limpeza,
mas é tudo muito antiquado, e a cozinha é a mesma há uns cinquenta anos. —
Helena fez uma pausa para tomar fôlego, mas continuou antes que Chris
pudesse dizer qualquer coisa. — Espero que você não se incomode com o
tamanho, é uma construção enorme, e acho que vai dar um trabalhão redecorar
todos os cômodos. Posso ajudá-la no que for preciso, mas, de qualquer modo,
terá que voar constantemente entre Barnwell e Londres, pois na cidadezinha não
poderá encontrar tecidos e papéis de parede adequados.
Helena era como o vento de outono, agradável e extenuante, pensou Chris
quando a cunhada finalmente desligou.
Se a redecoração da residência fosse mesmo demorar tanto, pelo menos
serviria para ajudá-la a suportar os meses que ainda precisava ficar com Chase.
Ia encarar a tarefa como se fosse um trabalho para o qual houvesse sido
contratada, decidiu. Assim talvez não tivesse que encontrar-se muito com o
marido para que noites como a que passara não se repetissem...
Apertou as pálpebras, tentando afastar a lembrança daquela noite. Chase
olhando-a quase com carinho... Chase acariciando-a como se quisesse lhe dar
prazer, e depois a explosão apaixonada, um nos braços do outro, se amando...
Mas não tinha sido um verdadeiro ato de amor. Fora uma espécie de reparação
realizada por um homem a quem ela nunca creditara sensibilidade suficiente
para isso. Sim, fora um momento incrível; no entanto, tudo se perdera naquela
discussão estúpida pela manhã. Mais uma vez ela o deixara pensar que tinha
alguma expectativa em relação a Andrew. Mas o que mais podia fazer para se
defender? Se revelasse a Chase seus verdadeiros sentimentos, o marido acabaria
por usá-los contra ela mesma, e isso não poderia suportar...

Chase chegou em casa tarde aquela noite. Chris havia jantado sozinha e
terminado seu trabalho e estava folheando uma revista quando o viu entrar.
— Desculpe por estar tão atrasado. Tive um imprevisto, mas já resolvi
tudo durante o jantar.
— Um imprevisto chamado Clancy? — Chris perguntou antes que
pudesse se controlar.
Chase pareceu mais divertido do que incomodado com o comentário.
— Realmente, jantei com Clancy. Ela é uma ótima companhia. —
Observou-a com atenção, mas Chris conseguiu aparentar indiferença.
— Deve ser... — Ela colocou a revista de lado e levantou-se. — Estou
cansada, vou para a cama.
Chase retirou o paletó e virou-se para ela, afrouxando o nó da gravata.
Desabotoou os botões superiores da camisa e espreguiçou-se. Por um longo
instante seus olhares se encontraram, e Chris teve certeza de que ele estava se
lembrando da noite anterior.
— Não é por causa disso que estou cansada — Chris disse com raiva, e
mordeu o lábio ao ver como ele sorria.
— Por causa de quê?
— Estive trabalhando num programa difícil hoje — ela se apressou em
falar. — Me deixou cansada demais para ficar aqui decifrando suas indiretas,
Chase.
— Ah, sei. — Continuaram a se olhar, em silêncio, até que ele perguntou:
— Helena telefonou?
— Sim. Ela vai me ajudar na decoração da casa.
— Humm. Cuidado com o ritmo dela, senão você fica louca. Minha irmã
é dessas mulheres que fazem mil coisas ao mesmo tempo...
O telefone tocou e Chris apanhou-o automaticamente. Reconheceu de
imediato a voz perguntando por Chase.
— É para você. — Atirou o fone para ele e virou-se, quase tremendo.
Ouviu Chase dizer:
— Pode ser que esteja no carro. Vou dar uma espiada. — Houve um
breve silêncio, enquanto ele escutava. Seus olhos pousaram em Chris. — Não,
não... se eu o encontrar, irei até aí entregá-lo. Você não interrompeu nada
importante. — Desligou. — Era Clancy. Perdeu um brinco e acha que pode
estar no carro.
Chris não disse nada. Sentia-se doente de ciúmes.
Já era madrugada quando escutou Chase chegar, e prendeu a respiração
ao ouvi-lo no outro quarto. Percebeu o barulho do chuveiro e depois silêncio.
Ele e Clancy teriam feito amor? Teria sido como... na noite anterior? Imagens
dos dois juntos queimavam-na por dentro, como ácido, impedindo-a de dormir.
Rolou na cama até o dia raiar e só então foi vencida pelo cansaço.
Quando acordou, eram mais de dez horas da manhã, e estava sozinha na
casa.

CAPÍTULO IX

Afinal, não seria assim tão terrível mudar-se para Barnwell. Helena
mandara a Chris fotografias e medidas dos aposentos da casa, e ela verificou
como eram espaçosos, ao estilo vitoriano. Antes mesmo de visitar pessoalmente
o lugar, pôs-se a imaginar as salas elegantes decoradas em tons pastéis, talvez
alguns tecidos com estampa japonesa... No entanto, teria que consultar Chase,
afinal ele iria morar lá, e não ela.
Quando falou com o marido, Chase deu de ombros com indiferença,
pedindo-lhe que decidisse sozinha.
— Tenho que lucrar alguma coisa nesse casamento — concluiu.
— Já lucrou... a fortuna de seu tio. E foi você quem quis este casamento,
não eu. Lembre-se de que me chantageou.
— Com as fotos que você quis que eu tirasse. Andrew sabe sobre elas?
— É claro que não!
Chase sorriu, amargurado.
— É, não seria muito romântico contar-lhe... E sobre o fato de termos
dormido juntos? Ele sabe que você tinha esse trauma de não poder fazer amor?
Foi salva de ter de responder pela campainha do telefone e, enquanto o
marido atendia, subiu as escadas para continuar a embalar as coisas. Chase
estava ocupadíssimo com a compra de um seriado americano, e todo o trabalho
da mudança ficara por conta de Chris. Quando perguntara o que ele pretendia
fazer com a casa de Londres, ouvira surpresa que não a venderia, pois durante a
semana precisaria de um lugar para dormir.
— Tente não parecer tão feliz — Chase observara seco, interpretando
erroneamente a reação de Chris. — Eu pensei que pelo menos pudéssemos
conviver pacificamente, mas parece que me enganei, não é?
— Se esperava uma amante ocasional, além do pretexto para receber sua
herança, enganou-se, sim!
Essa conversa tinha ocorrido há dois dias e agora, colocando as roupas na
mala, ela pensava com tristeza que Chase certamente ficaria a maior parte do
tempo com Clancy enquanto ela precisaria enfrentar a solidão em Barnwell.
— Chris, você está bem? — Chase entrou no quarto, interrompendo-lhe o
devaneio. — Está tão pálida.
— Claro que estou bem! Recebi uma carta de meu pai esta manhã, ele
está gostando de morar no Qatar.
— Não precisa desconversar. Se quiser continuar na sua torre de marfim,
chorando o amor perdido, não vou impedi-la. Agora sei que não sirvo para
príncipe da Bela Adormecida.
— Chase, você sabe muito bem porque eu...
— Sim, eu sei. Você não conseguiu superar o maldito trauma de cinco
anos atrás e vai continuar jogando isso na minha cara! — Chris pensou ter
distinguido na voz dele um tom de desespero, mas convenceu-se de que sua
imaginação estava agitada demais. — Eu tenho que ir embora, para poder
terminar tudo até amanhã. Vamos para Barnwell ao meio-dia. Precisa de alguma
ajuda?
— Não. Está tudo pronto. Falta apenas arrumar as suas coisas.

— Estamos quase chegando.


Era o primeiro comentário que Chase fazia desde que haviam deixado a
rodovia, meia hora antes. O conforto do carro fizera Chris cochilar um pouco, e
agora ela notava pela primeira vez o quanto era bonita aquela região campestre,
de colinas arredondadas e campos cultivados.
— Lá está Barnwell.
Chase parou o carro numa elevação, de onde se avistava um amontoado
de casas que devia ser o povoado. Nas imediações, havia algumas residências
luxuosas e, seguindo a direção que ele indicava, Chris viu a casa onde iam
morar.
Era certamente da época vitoriana, mas onde Chris esperava uma casa
austera, patriarcal, encontrava uma construção marcada pelo tempo, com hera e
rosas amarelas subindo pelas paredes.
— É linda!
— Sim — concordou Chase. — Sempre tive um carinho especial por esta
casa, talvez por ter sido o único lar permanente que Helena e eu tivemos quando
crianças. É um lugar muito especial para mim.
Esta confissão tranquila comoveu Chris. Imaginou Chase pequeno,
sentindo falta dos pais e apegando-se à segurança daquela casa. “Pare de
desculpá-lo”, advertiu a si mesma, quando percebeu que estava achando
compreensível que ele quisesse tanto aquela herança.
— Vamos vê-la, então? — Surpreendeu-se tanto quanto Chase ao ouvir-
se dizer isto. Haviam combinado que iriam diretamente para a casa de Helena,
mas algo na expressão dele ao olhar para aquele lugar tinha lhe tocado o
coração.
Sem dizer nada, ele pôs o carro em movimento, e logo estavam passando
pelos portões abertos e por uma alameda cercada de azaléias, que levava até a
porta principal.
— É tão tranquilo aqui — Chris murmurou.
— Não quando Helena e seu bando aparecem. — Chase riu. — Acho que
eu e ela fomos tão danados quanto meus sobrinhos. Nosso tio já era bem idoso
naquela época, mas tinha uma paciência incrível com a gente, talvez por ter sido
professor... — Havia tanto amor e afeição na voz dele que Chris o olhou com
surpresa. Onde estavam a raiva e o ressentimento? Chase não ficara satisfeito
com a maneira como o tio dispusera da herança, e apesar disso falava sobre ele
com um carinho imenso.
— Foi ele quem me iniciou na fotografia — Chase continuou. — Era um
de seus hobbies. Nossos pais estavam vivos então, mas sempre passávamos
alguns feriados com meu tio. Ele era... alguém que eu tive o privilégio de
conhecer. Alguém que enriqueceu minha vida e... — Os olhos dele encheram-se
de lágrimas e Chris, sem pensar, tocou-lhe o braço, comovida.
— Pensei que você o odiasse, pelo modo como ele lhe dificultou a
herança...
— Ele estava muito velho quando morreu, e os velhos fazem coisas
estranhas. Quer entrar?
Chris queria muito conhecer a casa, mas percebeu que Chase estava
muito abalado. Seria melhor que viesse ali sozinho, sem testemunhas para sua
emoção.
— Não... voltaremos mais tarde. Helena deve estar preocupada conosco.
A casa de Helena ficava do outro lado do vilarejo, e, apesar de ser bem
menor que a de Chase, era muito simpática. Os gêmeos menores, Ben e Robin,
vieram correndo recebê-los, seguidos por um velho cão malhado.
— Mamãe queimou o almoço — anunciou Ben. — Era lasanha, mas
agora vai ser salada.
— Benjamin Bailey, seu traidor — Helena gritou, saindo da casa a tempo
de ouvir o comentário. — Se não tivesse falado, eles não teriam sabido de nada.
— Sim, teriam — Robin apoiava o irmão. — Porque está cheirando
queimado, e salada não queima.
— Devo ser a pior cozinheira do mundo — Helena se lamentou depois de
cumprimentá-los. — Graças a Deus que existe comida congelada. O problema é
que eu começo com a melhor das intenções, mas depois sempre me distraio com
alguma coisa. Não reparem na bagunça. — Levou-os para uma sala espaçosa,
onde os garotos haviam decidido desmontar uma bicicleta.
— Quanto tempo vocês vão ficar? — perguntou Robin, encarando Chris.
— Depende...
— Humm. Bem, espero que não tenhamos que ficar limpos todo o tempo
em que estiverem aqui. Mamãe disse que você não gostava de meninos
barulhentos e sujos...
— Ah, não sei... — Chris tentou esconder um sorriso.
— Viu? Eu lhe falei — disse Ben, triunfante. — Ela é casada com o tio
Chase, então deve gostar dele, e ele fica sujo... muito sujo, como da última vez
que tentou engraxar minha bicicleta.
— Sim, mas você deixou a lata de óleo bem no meu pé, de propósito...
Helena, dê um jeito nessas pestes!
— Humm. Espere até ter os seus, depois fale comigo.
— Você vai ter um bebê? — Robin olhou para Chris com interesse. — A
Sra. Hargreaves vai, mas ela está muito gorda, sabe? Como Suzy quando teve
sua ninhada...
— Robin! — Helena interrompeu-o — Já chega. Agora subam e lavem-se
para o almoço. Não, é melhor se lavarem aqui mesmo, assim eu posso vigiá-los.
Chris, deixe-me mostrar o quarto de vocês.
Rodeando a bicicleta desmontada, Chris seguiu-a, deixando Chase com
os meninos. Era esta liberdade que lhe faltara quando menina, pensou, e era isto
que daria a seus filhos. Chris podia imaginá-los, crianças com o cabelo escuro
de Chase, incansáveis e levados...
— Este é o quarto de hóspedes — Helena abriu uma porta, revelando um
espaço bonito, decorado em azul e amarelo-claro. — E o banheiro é ali. Íamos
acomodá-los no quarto dos gêmeos, porque é maior, mas John lembrou-me que
vocês são recém-casados, e que o quarto dos gêmeos só tem camas de solteiro.
— Sorriu, maliciosa. Chris ficou vermelha e Helena achou muita graça. — Está
casada com meu irmão e ainda fica vermelha! Não acredito! — O telefone
começou a tocar lá embaixo. — Ah, deixe-me atender, pois Robin e Ben não
sabem dar recados. Vou mandar Chase subir com as malas, e depois vamos
almoçar, está bem?
Quando Helena saiu, Chris foi até a cama de casal e distraidamente alisou
as cobertas. Podia ouvir a voz de Chase misturada aos risos das crianças. Uma
cama de casal... Nunca havia pensado em compartilhar um quarto com Chase,
muito menos uma cama. Mas que podia fazer? Helena estranharia se pedissem
para ficar em quartos separados.
Subitamente Chris apegou-se à ilusão de que eram um casal apaixonado,
que não podia ser separado. Além disso, não ficariam ali por muito tempo.
Chase ainda estava envolvido com o assunto do seriado, e tinha que voltar a
Londres no domingo. E ele queria mais os seus serviços como decoradora do
que como esposa. Ouviu-o subir as escadas e ficou observando a paisagem da
janela. Ele entrou com as malas e depois aproximou-se dela.
— Então, nenhum comentário? — disse, erguendo as sobrancelhas.
— Helena não sabe as circunstâncias reais de nosso casamento, e eu não
quis aborrecê-la.
— Mas você não queria dormir comigo na mesma cama, não é?
Chase saiu antes que Chris pudesse responder, deixando-a intrigada com
a tristeza que percebera naquelas palavras. Por que ele estaria triste? Era ele
quem não queria o seu amor...
O almoço transcorreu quase em silêncio, a não ser pelas várias
interrupções do telefone e admoestações de Helena para os gêmeos. Depois da
refeição, Chase sugeriu que fossem ver a casa. Os gêmeos pediram para ir junto
e, apesar de ele ser contra, Chris percebeu que apreciou quando ela o convenceu
a concordar..
Ao chegarem, os meninos saíram correndo pelos arredores, enquanto
Chris e Chase entraram na casa. Como Helena a avisara, Chris reparou que os
móveis estavam bastante estragados. Começaram pelo sótão, onde Chase tivera
seu antigo laboratório fotográfico.
A cozinha era mesmo um tanto assustadora, como Helena a havia
prevenido, mas Chris ficou louca para restaurar os antigos armários. O espaço
era grande, podendo ser transformado numa deliciosa copa-cozinha. Ela adorou
o piso de cerâmica vermelha.
A sala de visitas tinha janelas em três lados, e recebia bastante sol. Chris
imaginou decorá-la em tons de amarelo e azul suaves. A sala de estar tinha
painéis de madeira escura trabalhada, e armários envidraçados dos dois lados da
lareira de mármore. Do outro lado do hall ficava a sala de jantar, bem grande, e
havia outra sala que Chase lhe disse ter sido o escritório do tio. Chris
visualizou-a decorada em cores bem masculinas, um refúgio para Chase escapar
da agitação do trabalho.
— Deve precisar de muita imaginação para visualizar como vai ficar —
Chase comentou enquanto subiam as escadas.
O problema de Chris era que ela podia facilmente ver o que deveria ser
feito, e estava não somente redecorando mentalmente a casa, mas também
dotando-a de uma família: a família deles.
Havia seis quartos grandes e um enorme e antiquado banheiro, mais
alguns pequenos aposentos que poderiam ser transformados em novos
banheiros. Apenas três dos quartos estavam mobiliados, como as salas no andar
inferior.
— Acha que pode fazer alguma coisa? — Chase perguntou enquanto
retornavam ao pavimento inferior. Chris havia acabado de imaginar os dois
dividindo a enorme cama que o quarto principal exigia.
— Tudo depende de quanto você pretende gastar.
Chase disse uma quantia que fez Chris erguer as sobrancelhas.
— Já recebi parte da herança assim que nos casamos, por isso não precisa
economizar. Esta casa significa muito para mim.
— Mas você não pode ter sua casa aqui e trabalhar em Londres — Chris
ponderou.
— Estou pensando em dedicar-me menos à televisão, atuando mais como
consultor. Tenho alguns investimentos, mais a herança. E esta casa precisa de
uma família.
— Mas você não tem uma família...
Chase ergueu as sobrancelhas.
— Mas tenho uma esposa, e isso geralmente é um bom começo.
Os gêmeos apareceram correndo, antes que Chris pudesse responder, e os
quatro saíram a explorar o jardim. Seria necessário uma boa manutenção, e
Chase mostrou-lhe onde pensava construir uma estufa para plantas e uma
piscina.
Quando voltaram, John Bailey havia chegado, e um aroma apetitoso saía
da cozinha.
— Vamos jantar cedo — disse Helena. — Espero que não se importe,
Chris. E não será um jantar sofisticado como você está habituada.
“Se ela soubesse dos jantares solitários que tenho tido ultimamente”,
Chris pensou, abafando um suspiro.
O jantar de Helena estava delicioso, e Chris bebeu um pouco mais que de
costume, sentindo-se à vontade e respondendo às brincadeiras de John, rindo
com as piadas incansáveis dos gêmeos.
Quando terminaram, Chase mandou as duas mulheres sentarem na sala de
estar e convidou John a ajudá-lo a lavar a louça. Apesar de Helena contar coisas
interessantes, Chris sentia suas pálpebras fecharem-se.
— Desculpe, acho que estou quase dormindo.
— Não se preocupe, foi um dia cansativo para você. Eu sempre fico
assim quando viajo, ou quando estou grávida. Por que não sobe para o quarto?
Avisarei Chase quando ele terminar. Provavelmente ele a fez andar quilômetros
lá no casarão...
Chris teve que fazer um esforço para se preparar para dormir. Abriu sua
mala e retirou a camisola e a sacola de toalete. A mala de Chase estava numa
cadeira ao lado da cama. Será que deveria abri-la para ele?
Bocejando, foi para o banheiro. Foi uma bênção afundar-se na banheira
quente e perfumada, e Chris abandonou-se a esse prazer. No dia seguinte
começaria a planejar definitivamente a reforma da casa. Já tinha uma boa idéia
do que queria fazer... Perdida em pensamentos, mal ouviu o ruído da porta do
banheiro sendo aberta.
— Não vai dormir aí, vai? — brincou Chase, observando o brilho que a
água conferia à pele de Chris. Ela enrijeceu-se, combatendo o instinto de cobrir
o corpo nu.
— Que está fazendo aqui? — Era algo estúpido de dizer, e o sorriso de
Chase parecia demonstrar que tinha a mesma opinião.
— Este quarto também é meu, e estou tão cansado quanto você. Sugiro
que saia do banho, a não ser que queira minha companhia. — Enquanto falava,
Chase apanhou uma toalha felpuda e entregou-a a Chris. Ela queria pedir-lhe
que saísse, mas nas circunstâncias achou que seria infantil. Ele já havia visto
tudo o que havia para se ver, pensou, e ficou mais à vontade. Levantou-se
lentamente e saiu da banheira, alcançando a toalha e passando por Chase.
— Não serei usada como uma substituta para Clancy Williams, Chase —
disse com insegurança, sabendo que o fazia mais para reafirmar-se do que por
realmente pensar que ele pudesse querê-la.
— Nem poderia ser — ele afirmou com ironia. — Clancy é uma mulher
experiente, e não uma criança tímida e assustada.
Chris estava completamente sem graça ao entrar no quarto. Com poucas
palavras, Chase a havia lembrado de como era inábil. Deitou-se tensa, e
aguardou que ele voltasse do banho. Quando Chase apareceu, esperou que ele
abrisse a mala para apanhar o pijama, mas constatou com surpresa que o marido
simplesmente tirava o roupão e o jogava sobre a cadeira. Chris engoliu em seco.
— Você não... trouxe nada para vestir?
— Não se preocupe, Chris, você está segura. Durma e sonhe com
Andrew, se é o que a excita. É uma pena que ele não me excite também, não é?
— Sem dizer mais nada, Chase deslizou para a cama e virou-se para o outro
lado.

Passaram quatro dias com Helena e John. Cada noite Chris ia para a cama
rezando para que ocorresse um milagre e Chase a tomasse nos braços,
murmurando palavras de amor, mas é claro que nada disso aconteceu.
Quando tentava dizer-lhe alguma coisa sobre a casa, ele encolhia os
ombros e afirmava:
— Deixo tudo por sua conta.
— Mas preciso ir a Londres comprar tecidos e papel de parede — Chris
insistiu da última vez.
— Então venha comigo amanhã.
— Pensei que quisesse que eu ficasse aqui, longe da tentação de Andrew
— Chris ironizou.
— Talvez eu não possa resistir à tentação de ter você em minha cama —
respondeu Chase.
Chris mordeu com força o lábio. Ambos sabiam como era fácil para ele
evitar aquela tentação, ao contrário dela. Naquela manhã, ao acordar, ela havia
percebido que se aconchegara a ele no sono, seu corpo instintivamente
procurando o calor e a segurança. Felizmente tinha acordado primeiro, o que era
raro, e conseguiu afastar-se antes que ele percebesse.
Finalmente Chris e Chase voltaram juntos para Londres. Ao entrar na
casa, Chris pensou que não desejava voltar a dormir solitária em sua cama.
Chase foi direto ao seu escritório e pôs-se a telefonar. Ela examinou uma pilha
de correspondências, e uma hora depois, quando saiu para uma grande loja de
decorações, o marido ainda continuava ao telefone.
Ela voltou para casa muitas horas mais tarde, sentindo-se satisfeita com o
que comprara. Entrou em casa e não viu sinal de Chase. Foi para a cozinha e
preparou uma omelete, que comeu assistindo à televisão. Num intervalo da
novela houve uma notícia extraordinária: ocorrera uma rebelião no Qatar e,
apesar de ainda não terem muitos detalhes, sabia-se que a embaixada britânica e
o palácio real tinham sido atingidos. Chris correu para o telefone e ligou para o
Ministério do Exterior. Não obteve resposta, mas alguém devia saber o que
estava acontecendo. Chase! Se ele estivesse ali... Ligou para o estúdio e
perguntou por ele.
— Chris?
— Chase! — Quase chorando, ela lhe contou sobre as notícias. — Chase,
meu pai...
— Verei o que posso descobrir — ele prometeu. — Tente não entrar em
pânico.
Chris desligou o telefone e ele tocou imediatamente. Era Helena ansiosa
por notícias do pai de Chris.
Em seguida, umas dez pessoas telefonaram para saber de sir Duncan.
Chris estava a ponto de gritar quando ouviu a porta da frente bater.
— Chris? — Com alívio, ela reconheceu a voz de Chase. Ele estava
despenteado, e parecia cansado. — Vim assim que pude. Teve alguma notícia?
— Nada. — Ela queria parecer calma, mas sua voz tremia. Mais do que
tudo, desejava ser abraçada por Chase, compartilhar com ele a sua dor, mas não
tinha esse direito.
Chase apanhou o fone e discou.
— Por que não vai para a cama? — sugeriu. — Vou fazer umas ligações,
usar meus contatos para saber alguma coisa, mas pode demorar muito. Você
parece exausta.
— Você também. E além disso, eu não conseguiria dormir.
As horas que se seguiram pareceram um pesadelo. Os telefonemas eram
seguidos de silêncios pesados. Cada vez que a campainha soava. Chris sentia o
coração acelerar-se, mas as perguntas de Chase não obtinham respostas.
— O problema é que as informações não estão saindo de Qatar — disse
ele. — Até o Ministério do Exterior só sabe que houve uma revolta.
Chase havia contatado as fontes certas, sem dúvida. Sua eficiência era
reconfortante, mas seu carinho teria sido melhor. Às duas da manhã, ele disse
com firmeza:
— Você vai para a cama. Ainda quero tentar um ou dois contatos.
Algumas estações americanas têm correspondentes no Oriente Médio, podem
saber alguma coisa, mas não adianta você ficar acordada.
— Eu não poderia dormir.
— Tome isto. — Chase serviu uma grande dose de conhaque e observou-
a beber.
Sabendo que ele estava certo e que não poderia fazer nada, Chris subiu as
escadas, despiu-se rapidamente e entrou no chuveiro. Duas horas mais tarde,
ainda estava acordada, os ouvidos aguçados para o telefone. Sabendo que não
conseguiria dormir, saiu da cama e estendeu a mão para apanhar o roupão, mas,
em vez do seu, pegou o de Chase, atoalhado. Ele conservava o leve odor do
corpo masculino, e Chris apanhou-se vestindo-o, adorando o conforto que lhe
deu.
Quando desceu as escadas, Chase ainda estava sentado junto ao aparelho.
Havia aberto a camisa, e seu rosto parecia marcado de cansaço. O telefone soou
e ele o pegou. Olhou para Chris e ficou tenso, e então concentrou-se totalmente
na pessoa que falava do outro lado, enquanto ela se agarrava incerta ao espaldar
de uma cadeira.
— Não fique assim — ele falou ao terminar. — Seu pai está são e salvo.
Parece que não estava na capital quando houve o golpe; soube do acontecido e
escapou para a Arábia Saudita. — Chase viu que lágrimas silenciosas escorriam
pelo rosto de Chris. — Ora, venha cá, está tudo bem, Chris... tudo bem...
Chris viu-se nos braços dele, onde mais desejava estar, e estes se
fecharam ao seu redor. Começou a tremer, sentindo o cheiro almiscarado da
pele de Chase, entregando-se ao alívio e ao prazer que se misturavam com um
afrodisíaco perigoso.
— Não posso acreditar que ele está a salvo. Ele é tudo o que eu tenho...
— Além de mim.
Chris sabia que Chase estava apenas tentando confortá-la, mas mesmo
assim seu coração disparou.
— Você deve estar cansado — murmurou no pescoço de Chase.
— Humm. E preciso de um banho, mas vai ser difícil...
— É?
Os dois falavam em murmúrios. O telefone soou novamente e Chase
atendeu. Era a confirmação do Ministério sobre o paradeiro de sir Ducan. Chase
manteve-a rodeada pelo braço enquanto falava.
— Vamos deixar que os outros descubram os detalhes do que aconteceu.
Eu tenho que tomar um banho, e vou precisar do meu roupão. Você não gosta
que eu ande nu por aí, lembra-se? Você não está usando nada por baixo, está?
Ela não estava. Sentira muito calor depois de tomar o banho e o
conhaque, e não vestira a camisola.
— Vamos... Temos que tentar dormir um pouco, logo vai amanhecer. —
Chase curvou-se e ergueu-a nos braços. — Você está quase dormindo em pé.
No quarto, Chase afastou as cobertas da cama e fez Chris deitar-se. Ela
viu-o desaparecer pela porta de comunicação sentindo uma dor no coração.
Ainda estava vestindo o roupão de Chase e aconchegou-se nele, sentindo-se
confortada. Estava quase dormindo quando o marido voltou, com uma toalha
enrolada na cintura, seu corpo dourado brilhando na luz do quarto, os pelos
escuros do peito ainda úmidos
— Vim buscar meu roupão.
— Não. — Chris agarrou-se em protesto ao tecido macio, pronunciando a
recusa sem se dar conta. — Não, não o tire de mim. Ele tem o seu cheiro —
disse infantilmente, sem perceber bem o que fazia devido ao cansaço e ao
conhaque. Sonolenta, pensou estar sonhando ao ouvir Chase responder:
— Se é o meu cheiro que você quer, tenho algo muito melhor. — Ele a
fez afastar-se um pouco e removeu-lhe o roupão.
Com um suspiro de prazer, Chris aninhou-se nos braços de Chase, que se
deitara ao seu lado. Dormiu quase em seguida, achando uma pena que aquela
sensação deliciosa fosse apenas um sonho...

CAPÍTULO X

Chris acordou aos poucos, sabendo que havia algo estranho, mas sem
saber o quê, até perceber que o peso agradável sobre seu corpo era o braço de
Chase, que lhe envolvia o seio com a mão.
— Chase?
Chris não estava certa do motivo por que o chamara, em vez de afastar-se
dele. Envergonhou-se com algumas lembranças de como se comportava e mais
ainda ao se dar conta de que estava nua. O disputado roupão estava no chão, ao
lado da cama, e ela estremeceu ao recordar de como havia insistido em mantê-
lo, e pior, dizendo a Chase o motivo.
— Hum...
Ele não estava dormindo! Pelo contrário, observava-a com uma expressão
estranha, quase com... ternura. Chris fez um movimento brusco e com isso a
coberta escorregou, revelando a curva suave de um seio, docemente encoberto
pela mão de Chase.
— Você parecia uma garotinha, dormindo... — A mão dele começou a
acariciar-lhe a pele, lentamente, provocativa. — Nem sei como consegui me
controlar.
Não houve tempo para que Chris erguesse suas barreiras. O prazer
inebriante da boca de Chase na sua a havia demolido. O peito másculo
pressionava-lhe os seios, as mãos ardentes moldavam-lhe o corpo, enquanto ela
cedia à invasão de sua língua.
— Chris, Chris, não sei por que você está fazendo isto, não sei o que está
acontecendo comigo — ele murmurou contra a sua boca, antes de beijá-la mais
uma vez, fazendo-a vibrar de emoção.
Nunca haviam feito amor dessa maneira, com tanta ternura.
Encantada, Chris deixou-se levar pelo prazer, sem pensar em nada, a não
ser naquelas carícias apaixonadas que a deixavam tonta de felicidade. Chase a
fez conhecer o êxtase, depois foi a vez dele de perder-se nos braços de Chris.
— Agora eu sei como os pássaros se sentem — disse Chris sonhadora, no
momento de enlevo após o amor.
— Do que está falando, meu bem?
— Sobre voar... — Os olhos dela se fecharam, enquanto ouvia a risada de
Chase soando no quarto.
Quando despertou estava só. Olhou para o relógio e alarmou-se: era hora
do almoço!
Tomou um banho rápido e desceu as escadas. Onde estava Chase?
Encontrou um bilhete na sala de jantar: "Tive que ir até o estúdio. Mas à noite
vamos sair para comemorar”. Não falava sobre o que iriam comemorar, mas
Chris sentiu-se inundada de felicidade ao lembrar-se do que acontecera de
manhã cedo. Chase teria adivinhado o que sentia por ele? Isso já não lhe parecia
tão terrível agora. Estava até cantarolando quando foi para a cozinha preparar
café.
Estava terminando, quando a campainha tocou. Chris foi atender, e ficou
pasma ao encontrar Clancy Williams parada na sua frente. Por algumas horas
maravilhosas ela havia se esquecido da existência daquela mulher.
— Eu estava passando por aqui e pensei em avisá-la de que Chase vai
chegar tarde hoje à noite, isto é, se chegar. Nós vamos jantar fora.
— Ah, sim, ele telefonou avisando que chegaria tarde — Chris mentiu,
mas por dentro queria chorar. Toda aquela euforia da manhã acabara de ser
destruída.
— Se eu não tivesse ido para os Estados Unidos, ele nunca teria se casado
com você. Ele me ama — Clancy afirmou descaradamente.
— Mas você foi, e ele se casou — Chris retrucou com frieza. — E agora,
com licença. — Fechou a porta sem ao menos esperar que Clancy lhe desse as
costas e foi até a sala, onde se afundou numa poltrona, desesperada. Não podia
ser verdade! Aquela mulher não tinha o direito de vir estragar-lhe as esperanças.
Nesse momento o telefone tocou, assustando-a.
— Chris? — Ela ficou gelada ao ouvir a voz de Chase. — Sinto muito,
mas tenho que cancelar nossa comemoração...
Chris queria gritar e insultá-lo, dizer que sabia muito bem por que estava
cancelando o jantar, mas em vez disso ouviu-se respondendo com calma:
— Ah, está bem. Na verdade, acho que vou até Barnwell. Ligaram-me
hoje de manhã dizendo que o decorador está pronto para começar. Quero
mostrar-lhe exatamente o que deve ser feito.
— Quando voltará? — A voz de Chase parecia impaciente.
— Não estou bem certa. Talvez demore alguns dias.
— Chris... — Ela ouviu alguém chamá-lo e Chase praguejar. — Olhe,
tenho que desligar. Estou no meio de um negócio difícil, por isso tive que
cancelar nosso jantar.
— Não se preocupe com isso. Eu entendo perfeitamente.
Como ele se atrevia a mentir-lhe, quando já sabia de toda a verdade?
Como ousava acariciá-la com tanto carinho, se na verdade pensava em Clancy
Williams?
Já que havia dito que iria a Barnwell, Chris decidiu partir imediatamente.
O trabalho a ajudaria a afastar Chase da cabeça.

Fazia dois dias que Chris estava na casa, ajudando o decorador, quando
Helena apareceu.
— Chase pediu-me para conferir se você ainda estava aqui. Ele tem
telefonado e ninguém atende. Por que não disse que vinha para cá? Podia ter
ficado conosco, em vez de dormir sozinha numa casa tão grande.
Chris não havia atendido o telefone de propósito.
— Tenho estado tão cansada que durmo assim que me deito — mentiu.
— Teve mais notícias de seu pai?
— Sim, falei com ele antes de vir. Está na Arábia Saudita, e parece que o
levante foi dominado. Chase foi maravilhoso comigo.
— Hum. Sei o que quer dizer. Ele consegue ser muito forte, apesar de ter
seus momentos de vulnerabilidade. Chase ficou arrasado quando nosso tio
morreu, apesar de já estarmos esperando isso havia meses. Eram muito íntimos,
por isso ele deixou tudo para Chase. É claro que antes já havia lhe passado a
maior parte de seus negócios. Foi então que Chase decidiu deixar de ser
fotógrafo, mas não queria apenas usufruir o dinheiro do tio Charles, por isso
investiu na televisão. — Helena riu, sentando-se ao lado de Chris. — Eu
costumava dizer que ele seria outro tio Charles, e que teria de deixar tudo para
meus filhos, porque não teria os seus próprios. Acho que fui alcoviteira, pois
havia visto suas fotos e sabia que você era alguém especial na vida do meu
irmão. Chase raramente fazia aquele tipo de fotos... No começo fiquei surpresa
com o casamento, e pensei que talvez você quisesse dar o golpe do baú,
concordando em casar-se com ele só quando soube da herança. Mas assim que a
conheci...
— Eu não sabia nada sobre a herança — disse Chris.
— É, ele não fala muito nisso. Tio Charles era muito rico e, mesmo tendo
passado grande parte de sua fortuna para Chase muitos anos atrás, para evitar os
impostos, ainda havia uma grande soma para Chase receber após a morte dele.
Isso vai servir para a reforma da casa... Como vão os trabalhos?
— Muito bem. — Chris orgulhou-se por ter conseguido acalmar-se.
Estava tonta com o desenrolar de seus pensamentos. Chase lhe havia dito que
tinha de casar-se para receber a herança, mas, a menos que Helena não soubesse
de nada, parecia que ele havia mentido. Mas por quê? Por que obrigá-la a casar
sob chantagem?
— Você deve estar ansiosa para poder mudar-se com Chase para cá. Será
maravilhoso, especialmente se você me der algumas sobrinhas. Sabe, você está
com uma cara diferente...
Chris ia abrir a boca para negar, mas subitamente calou-se.
— Já pensou nisso? Não posso esperar para ver a cara de meu irmão
quando ele souber.
Mas Chris estava pensando com tristeza que não lhe diria nada. Talvez
estivesse esperando um filho dele, mas ainda não havia nenhuma certeza.
Durante a tarde, acompanhou o encanador pela casa e não teve tempo de
pensar na conversa que havia tido com Helena. Foi para a cama cedo, tremendo
um pouco ao pensar que Helena estivera certa. A casa era grande demais, sua
cama de solteiro parecia solitária e desconfortável. Teve um sono agitado,
despertando várias vezes com o relógio da igreja, e só de madrugada conseguiu
relaxar.
Despertou repentinamente, assustada com alguma coisa indefinível. Não
ouvia nenhum som na escuridão que a cercava, mas um sexto sentido a avisara
de que não estava sozinha na casa. Pensou desesperadamente no telefone, tão
longe, no andar inferior. Sufocou um soluço de terror e afundou-se sob as
cobertas ao ouvir claramente passos abafados na escada. Eles pararam do lado
de fora de sua porta, e finalmente esta foi aberta.
— Chris, está aí?
— Chase!
Uma terrível sensação de fraqueza a dominou, e ela pensou que fosse
desmaiar. O quarto ficou ainda mais escuro e a voz de Chase, chamando seu
nome, tornou-se cada vez mais distante.

— Está melhorando.
Chris abriu os olhos devagar, notando uma lenta pulsação nas costas. Aos
poucos, percebeu que a pulsação era o coração de Chase, que a segurava contra
o peito.
— Eu desmaiei? — perguntou incrédula.
— Isso mesmo. Nunca fui tão mal recebido em minha vida!
— Mas o que está fazendo aqui?
— Tínhamos um encontro, lembra-se? Ou não viu meu recado?
— Vi seu recado, mas depois você telefonou... Que aconteceu? Ela lhe
disse que não queria dividi-lo comigo? É por isso que está aqui, para dizer-me
que o jogo terminou?
— Ela?
— Não finja que não sabe do que estou falando! — Chris gritou. —
Clancy Williams, ela esteve em casa para me dizer que vocês iam jantar juntos,
e que eu não o esperasse à noite.
— E você acreditou? Depois de tudo o que havia acontecido naquela
manhã?
Chris tentou parecer indiferente:
— Sim, você fez amor comigo... Mas não fui a primeira...
— E eu não sou Andrew, é claro. Mesmo que seu corpo reaja ao meu
como se tivesse sido criado para mim — Chase falou com tristeza. — Chris, eu
não dirigi até aqui no meio da noite para discutir com você...
— Então para que veio?
— Por isto.
Não havia meios de Chris poder livrar-se da posse daquele beijo. Era
impossível resistir. Seu próprio desejo misturou-se ao de Chase, vencendo a
batalha.
— Se queria beijar, me surpreende que não tenha procurado Clancy —
disse quando Chase libertou-a, tremendo.
— Ela não beija como eu gosto. Sabe, sou muito exigente, e aprendi a
gostar destes beijos especiais há muito tempo.
— Chase, pare de jogar. Eu não sei as regras.
— Jogar? Que tipo de jogo?
— Tais como me dizer que tinha de casar-se para receber a herança de
seu tio.
— Ah, minha querida irmã esteve lhe contando coisas, não é?
— Você mentiu para mim. Mas... por quê? Por que me chantageou?...
Teve todo esse trabalho... Por quê, Chase?
— Então você realmente não sabe por quê? — Chase deu uma risada
rouca. — Chris, você não tem idéia do que me fez cinco anos atrás? Meu Deus,
foi como um soco no estômago! Você me havia feito sentir o que nunca senti
com outra mulher! Eu a queria e você parecia querer-me. Sei que você era muito
jovem... Mas desde que a vi no elevador não consegui tirá-la da cabeça, e depois
você chega e me convida para sair... e então o que aconteceu?
— Chase, não estou entendendo!
— Não? É simples. Eu caí das nuvens. Soube o que queria de mim, ou
pensei que soubesse, pois você não era a primeira. Todo fotógrafo encontra
mulheres interessadas em se projetar através dele. Quando me pediu para
fotografá-la, eu quis estrangulá-la, apesar de esperar que isso fosse acontecer.
Você era muito jovem, mas parecia experiente, até que me contou a verdade.
Ah, Chris, não era a mim que queria... Não, você desejava se entregar a
qualquer um, ao primeiro que aparecesse... Não imagina o ódio que me
provocou! Tive vontade de matá-la!
— Então se vingou. Rejeitou-me, assim como Andrew havia feito. Você
me fez duvidar de minha própria sexualidade, Chase.
— Eu não era o que você pensava, Chris — Chase falou com suavidade.
— Quando fugiu, eu tentei encontrá-la. Percebi que estava aborrecida e queria
vê-la, explicar-lhe por que eu havia parado, por que não pude fazer amor você.
— E por que não pôde? — Chris perguntou com amargura. — No
começo parecia me desejar...
— Ah, sim, como eu a desejava! Esse era o problema. Eu não queria ser
simplesmente o sujeito que havia tirado sua virgindade, meu orgulho estava
ferido. Depois, quando tentei descobrir quem você era e onde vivia, nada
consegui. Judith estava na recepção quando indaguei, e fingiu não se lembrar.
Chegou a procurar no livro de registro, mas disse que você não havia assinado.
— Mas por que ela fez isso?
— Quem sabe? Talvez porque tenha percebido que Andrew não estava
totalmente imune a você... Quando cheguei em casa, revelei as fotografias.
Depois quis destruí-las, mas todas as vezes que tentava não conseguia. Helena
encontrou uma delas em minha carteira... Eu a carregava bem perto do meu
coração. Ficava pensando em você me torturando, imaginando com quem
estaria...
— E como foi isso?
— O que você acha? — disse Chase irritado, afastando-se de Chris e
levantando-se. Caminhou até a janela e ficou ali, nervoso. — Eu já não era um
garoto, Chris; sabia a profundidade de meus sentimentos. Parece absurdo dizer
isso, mas me apaixonei por você à primeira vista. Lutei contra isso, dizendo a
mim mesmo que você não passava de outra garota bonita e interesseira, que
devia tirá-la da cabeça. Mas fiquei realmente ferido quando você me pediu para
fotografá-la, e depois me contou a verdade! Entende agora por que não pude
fazer amor com você naquele dia? E por que não resisti à tentação de fazê-lo no
dia em que me contou porque não havia amado mais ninguém?
— Chase...
— A primeira vez que a amei eu estava com raiva; pensava que você
tivesse estado com Andrew. Não conseguia acreditar quando descobri que ainda
era virgem. Você disse que era porque ainda o amava. Isso era verdade, Chris?
— Não — ela confessou baixinho. — Não, Chase, eu menti para você.
— Por quê?
— Porque eu te amava, mesmo não querendo admiti-lo. Na primeira vez
em que você me tocou depois do nosso casamento, soube que não era incapaz
de sentir desejo e exatamente por que não fora capaz de reagir a mais ninguém.
Pensava que você era o culpado pela minha incapacidade de reação, por me
haver rejeitado, mas isso não era verdade. Se você tivesse me amado na
primeira vez em que nos encontramos, o resultado teria sido o mesmo.
— Ah, não, não teria — Chase exclamou, voltando para perto dela. — Se
eu tivesse feito amor com você naquela época, estaríamos casados há muito
tempo. Eu não teria precisado chantageá-la. Chris, não pude acreditar quando vi
sua foto nos jornais. Quando soube quem você era, procurei saber tudo sobre a
sua vida, então comecei a arquitetar meus planos. Idealizei tudo, inclusive o
testamento falso. Eu a queria tanto que dessa vez não deixaria nada se interpor
em nosso caminho!
— Nem mesmo Clancy Williams? Não pode fingir que não existe nada
entre vocês dois. Eu vi o modo como ela o quer.
— Viu, não é? Foi tudo parte do meu plano diabólico. Eu sabia
exatamente o que Clancy faria, pois a conheço bem. A razão pela qual ela me
deseja agora é que eu não estou disponível; ela não suporta ser frustrada. Eu
percebia que você sentia atração por mim, e pensei que, se conseguisse deixá-la
com ciúmes, poderia ser a fagulha decisiva... atrás do ciúme poderia vir o amor.
— Humm. Só que você inverteu as etapas. O amor já existia.
— E você não ama Andrew?
— Não. Creio que nunca o amei, mas morria de medo de que você
descobrisse como eu me sentia, então deixei-o acreditar que eu amava Andrew.
Quando você nos viu juntos, eu realmente não sabia que ele estava em Londres.
— Pode me perdoar por tê-la chantageado, e por tê-la forçado a dormir
comigo?
— Acho que posso perdoá-lo por isso... Mas não sei se o perdoarei por
todas as noites que me fez dormir sozinha.
— Era a única forma de manter minhas mãos longe de você — admitiu
Chase com um suspiro. — Dormir com você na casa de Helena foi um
sofrimento, a separação era o único meio de eu não enlouquecer. Mas aquelas
noites... Acordar com você em meus braços era um inferno. Você só escapou
por que eu tinha medo de que os gêmeos entrassem no quarto.
Chris sorriu.
— Tem certeza de que me ama? — Chase perguntou em voz baixa, e
Chris pôde sentir o leve tremor de seus dedos quando ele tocou-lhe o rosto, os
lábios, e depois o pescoço.
— Devo lhe dizer... ou mostrar? — Chris murmurou suavemente. Então
beijou o rosto de Chase, ouvindo um suspiro, e continuou beijando-o
carinhosamente.
— Os dois — Chase pediu com a voz rouca. — Estou tão faminto por
você, Chris; preciso de toda a segurança que puder me dar. Você ainda não
disse que me ama. — Abraçou-a e deitaram-se na cama.
— Eu te amo, Chase, de todas as formas que existem. Na noite em que
procurou saber sobre meu pai, eu queria tanto dizer-lhe isso...
— Naquela noite eu ia voltar para casa e dizer-lhe tudo o que eu havia
feito, não podia esperar mais... Queria você ao meu lado como minha esposa de
verdade. Eu sabia que havia chances de dar certo.
— Quando você ligou, pensei que fosse passar a noite com Clancy.
Queria esquartejá-lo!
— Que sanguinária!... Eu estava jantando com Clancy e com seu
empresário, e os produtores americanos, e mais uma dúzia de pessoas, acertando
os detalhes da novela. O problema de Clancy é que ela está acostumada a fazer
o papel de mulher fatal, e não percebe que na vida real não é tão irresistível.
Pelo menos na minha opinião...
— Você é à prova de fogo — Chris brincou.
— Quer testar? — Os lábios de Chase beijaram-lhe atrás da orelha, e
Chris abandonou-se à maravilhosa sensação que a invadia.
— Desta vez temos todo o tempo do mundo — disse Chase baixinho. —
E nada de insegurança.
— Então por que tenho a impressão de que você é um homem tão
apressado? — Chris provocou-o, ofegante, quando percebeu, sem qualquer
vergonha, que seu corpo ansiava por ser possuído.
— Eu estou apressado?

Mais tarde fizeram amor novamente. Chase queixou-se do tamanho da


cama.
— Sabe qual é o problema com você? — Chris falou. — Não tem espírito
de aventura.
— Ah, então é isso? — A risada quente e máscula encheu os ouvidos de
Chris. — Bem, então vamos ver quem tem espírito de aventura. — Com uma
habilidade surpreendente, Chase tocou-a e acariciou-a intimamente, deixando
aturdida com suas próprias reações. Sabendo como ela se sentia, Chase
envolveu-a em seus braços, murmurando palavras de amor.
Quando acordou, de manhã, Chris ficou olhando para Chase, embevecida,
até que ele também despertasse.
— Ainda me ama?
— Mais do que nunca — Chris assegurou-lhe. — E o amarei duas vezes
mais se...
Ela ia dizer “se você fizer um chá”, mas ao levantar a cabeça do
travesseiro sentiu uma náusea forte que a obrigou a correr para o banheiro,
seguida por Chase.
— Chris... o que há de errado? Você está bem?
Ele estava ansioso, pálido, observando-lhe o rosto.
— Você já foi tio quatro vezes, e ainda não conhece o enjôo de gravidez?
— Com um sorriso, Chris observou a alegria estampar-se no rosto de Chase.
— Um bebê... Você está grávida? — Ele aproximou-se e a tomou nos
braços, espalmando a mão sobre o ventre ainda reto.
— Um bebê? — Chris ergueu as sobrancelhas. — Tem certeza? Acho
que devíamos nos preparar para dois...
Uma hora depois, enquanto tomavam café na cozinha, Chase havia
recuperado a calma.
— Está realmente feliz com tudo isto, Chris? Marido... filhos... Seis
meses atrás...
— Seis meses atrás tudo o que eu tinha na vida eram meu pai e um
computador — Chris cortou, rindo. — Agora... Chase, eu te amo. — Ela
ergueu-se e abraçou-o.
— Humm. Você acha que os garotos vão reclamar se eu a levar para a
cama de novo?
— Acho que não, mas Helena está chegando. — Chase soltou-a no
momento em que Helena entrava.
— Chase! Você não me disse que ele viria para cá, Chris!
— Ela não sabia. — Chase sorriu para a irmã. — De repente eu decidi
que não podia ficar sem minha mulher, e agora vou levá-la de volta para
Londres. Chris precisa de alguém que tome conta dela. Está trabalhando demais.
— Está mesmo — Helena concordou com um sorriso. — E imagino que
esse “tomar conta dela” signifique que...
— Não interessa o que significa — Chase interrompeu antes que Chris
começasse a protestar contra seu comportamento “machista”.
Em vez de saírem para jantar, como haviam planejado, comeram
tranquilamente em casa. Chris preparou o jantar, e depois aninhou-se no sofá,
com a cabeça no colo de Chase, e ficaram conversando. Logo a conversa deu
lugar a silêncios lânguidos e pequenos murmúrios de prazer.
— Ah, Chris, mal posso acreditar que finalmente você é minha — ele
disse antes de se amarem mais uma vez.

— Então, embaixador, o que o senhor acha de suas netas? — Chris sorriu


ao perceber o tom de orgulho na voz de Chase. As gêmeas estavam com três
meses, e eram quase idênticas. Haviam sido batizadas naquela manhã. Agora
estavam nos braços do pai, agitando os bracinhos e sorrindo.
A casa em Barnwell transformara-se num verdadeiro lar, pensou Chris
com prazer; tinha até as peças da bicicleta de Ben espalhadas na lavandeira.
Chase se propusera a consertá-la havia seis semanas, e ainda estava ali.
— Por que está tão pensativa? — murmurou Chase, aproximando-se.
Ele havia assistido ao nascimento das gêmeas, e isso os aproximara ainda
mais.
— Eu estava pensando em quanto tempo você vai levar para se
aperfeiçoar em mecânica de bicicletas — Chris falou sonhadora. — Porque no
futuro...
Chase ficou pálido.
— Você não está...
— Ainda não — Chris sorriu. — Você bem que tem tentado...
— O que vocês dois estão falando, tão baixinho? — perguntou Ben,
curioso. — Vocês estão sempre falando baixo, se abraçando, se beijando... É
chato...
— Helena, venha cá e leve sua pestinha embora! — Chase virou-se para
Chris e acrescentou: — Na verdade, gostaria que ela levasse a turma toda.
Quero ficar sozinho com minha esposa.
Roçou os lábios de Chris com os seus, num beijo que era um resumo de
tudo o que já haviam partilhado, e de tudo o que estava por vir. Era um milagre
que tivessem se encontrado, e mais ainda que tivessem se reencontrado.
— Eu te amo, Chase Lorimer — Chris murmurou. — Mas neste
momento temos convidados.
— Será que eles vão reparar se formos para o quarto por uns instantes?

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