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dinâmica e promissora, abrangente e eclética, a área

de Turismo surge como um verdadeiro manancial de


oportunidades profissionais, exigindo de seus
estudantes uma ampla gama de conhecimentos
técnicos dinâmica e promissora, abrangente e eclética,
a área de Turismo surge como um verdadeiro
manancial de oportunidades profissionais, exigindo de
seus estudantes uma ampla gama de conhecimentos
técnicos dinâmica e promissora, abrangente e eclética,
a área de Turismo surge como um verdadeiro
manancial de oportunidades profissionais, exigindo de
seus estudantes uma ampla gama de conhecimentos
técnicos dinâmica e promissora, abrangente e eclética,
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manancial de oportunidades profissionais, exigindo de
seus estudantes uma ampla gama de conhecimentos
técnicos dinâmica e promissora, abrangente e eclética,
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manancial de oportunidades profissionais, exigindo de
seus estudantes uma ampla gama de conhecimentos
técnicos dinâmica e promissora, abrangente e eclética,
a área de Turismo surge como um verdadeiro
manancial de oportunidades profissionais, exigindo de
seus estudantes uma ampla gama de conhecimentos
técnicos dinâmica e promissora, abrangente e eclética,
a área de Turismo surge como um verdadeiro
manancial de oportunidades profissionais, exigindo de
seus estudantes uma ampla gama de conhecimentos
técnicos dinâmica e promissora, abrangente e eclética,
a área de Turismo surge como um verdadeiro
manancial de oportunidades profissionais, exigindo de
seus estudantes uma ampla gama de conhecimentos
técnicos e generalis- tas. E como estar por dentro de
tantos assuntos quando o tempo é curto e, muitas
vezes, o dinheiro também?
A necessidade estava ali, e do espírito inovador do
amigo Marcos Mendonça, da MJ Livros - um
apaixonado por livros e por turismo - nasceu a idéia
pela qual lhe somos profundamente gratos: publicar
uma coleção de títulos que tivesse por objetivo fixar
conceitos e esclarecer dúvidas sobre os principais
tópicos da área de uma forma rápida, mas eficiente.
Sucinta, mas interessante. Simples, mas conclusiva.
Nós demos asas a essa idéia e agora ela levanta vôo
com a Coleção ABC do Turismo. Em volumes
compactos, linguagem fácil e visual atraente, os
estudantes de Turismo e Hotelaria encontrarão
conteúdos de alta qualidade e informações atualizadas
em textos elementares escritos por alguns dos mais
conceituados profissionais do segmento. Não há nada
igual no mercado.
Agora é com você, leitor. O conhecimento está
aqui, pronto para ser absorvido com clareza,
objetividade e, por que não dizer, com muito prazer.

Editora Aleph
INTRODUÇÃO

H oje é quase impossível conhecer algum turista


que, viajando pela França,
Espanha, México ou Estados Unidos, não tenha
Inglaterra,

visitado os principais museus desses países, como o


Museu do Louvre, o Museu Britânico, o Museu do
Prado, o Museu Nacional de Antropologia da Cidade
do México ou o Museu de Arte Moderna de Nova York,
respectivamente.
As estatísticas de visitação desses museus indicam
que tais instituições vêm sendo procuradas por uma
legião cada vez maior de turistas, ávidos por conhecer
as distintas manifestações culturais e artísticas de
povos com os quais não mantêm contato, ou cujos
acervos sugerem nlguma “viagem” pelo imaginário de
seus visitantes.
No Brasil, a busca pela visitação de instituições
mu- seológicas também vem crescendo, não só por
parte do turista nacional, mas também por parte do
turista estrangeiro, que procura roteiros e programas
que fujam do tradicional trinômio “praia, sol e
floresta”, tão difundido pelas agências internacionais
como sendo o “típico” de nosso país. Isso nos obriga a
pensar em procedimentos e estratégias para uma
melhor exploração do potencial dos acervos
museológicos do Brasil também para esse público, que
busca conhecer nossa história, nossas origens mais
longínquas, nossos hábitos, nossa produção artística,
enfim, o patrimônio cultural que, nas mais distintas
áreas do saber, está salvaguardado nos museus de
norte a sul do país.
Obviamente, ainda há um longo caminho a ser
percorrido, não só pelos planejadores do turismo, mas
também pelos especialistas que trabalham nos
museus, uma vez que essa relação ainda é muito
incipiente — na verdade, arrisco-me a dizer que está
“engatinhando”, mas somente dessa maneira
poderemos colher frutos realmente mais efetivos.
Este livro, ainda que modesto, pretende traçar um
panorama das possíveis relações entre essas áreas.
Assim, no Capítulo 1, apresento a evolução da
instituição museu numa perspectiva histórica, no
sentido de demonstrar a verdadeira saga que os
museus percorreram para se transformar efetivamente
em instituições públicas a partir do final do século
XVIII até as mudanças mais efetivas ocorridas no
século passado. Esse percurso é essencial, 11 111.1 vez que
a intenção desta publicação é justamente ck“
monstrar o acesso e a possível relação entre o turismo
t‘ o universo museológico.
No segundo capítulo discuto a relação entre o
segmento do turismo e o mundo dos museus, levando
em consideração o impacto causado pelo turismo na
economia mundial e o importante papel que os
museus podem e devem desempenhar nessa frutífera
e desejável associação. Ainda nesse capítulo são
lançadas algumas perspectivas de reflexão no sentido
de tornar essa relação muito mais profícua do que ela
é no momento.
No terceiro e último capítulo busco focar uma
análise que tome como estudo de caso a realidade
museo- lógica brasileira, bem como as perspectivas de
uma aproximação com o universo do turismo, tendo
em vista o enorme potencial que se apresenta, mas
que ainda está adormecido.
Minha intenção com esta obra não é disponibilizar
modelos prontos e acabados de outras realidades para
pensar a realidade brasileira, mas apresentar uma
reflexão que, sem dúvida, já demonstra um maior
amadurecimento de nossas instituições museológicas
na esperada aproximação com o segmento do turismo.
Boa viagem, leitor!!!
1. DE CASA DAS MUSAS A
INSTITUIÇÃO PÚBLICA: o longo
itinerário dos museus

A ntes de analisar a relação entre os museus e o


turismo, é necessário traçar um panorama
histórico a respeito da origem de uma instituição que
assumiu, em diversos contextos, características e
papéis diferenciados. Isso é fundamental, pois muitas
das coleções que os turistas atualmente visitam em
museus europeus, norte- americanos e latino-
americanos nos remetem à própria história da
formação dessas coleções, e nos orientam
sobremaneira no sentido de contribuir para o
entendimento da natureza de uma instituição aberta
aos diferentes perfis de públicos e que, cada vez mais,
se apropriam de seus espaços expositivos e de suas
atividades.
A origem do termo museu remonta à palavra grega
mouseion, ou casa das musas, que na Antiguidade
clássica era o local dedicado, sobretudo, ao saber e ao
deleite da filosofia. As musas, na mitologia grega,
eram as nove filhas que Zeus, a maior divindade do
panteão religioso grego, gerara com Mnemosine, deusa
da memória. As musas possuíam criatividade e grande
memória, além de serem dançarinas, poetisas e
narradoras que ajudavam os homens a esquecer a
ansiedade e a tristeza cotidianas. Nesse sentido, as
obras de arte expostas no mouseion tinham mais a
intenção de agradar às divindades que propriamente
serem abertas à contemplação e admiração de
possíveis visitantes.
Vemos, então, que na própria origem do termo, o
museu já trazia implícita uma forte relação entre as
questões inerentes ao poder e à memória, e que mais
tarde, conforme avançarmos na abordagem histórica,
serão ainda mais explicitadas.
O primeiro grande mouseion de que se tem notícia
existiu em Alexandria, no Egito, por volta do século n
antes de Cristo. Esse mouseion buscava reunir todo o
conhecimento humano em diversas áreas do saber,
como filosofia, medicina, história, astronomia,
mitologia, zoologia etc. Seus principais objetos
relacionavam-se com as obras de arte e estátuas,
instrumentos cirúrgicos, pedras preciosas e minérios
trazidos de lugares bem distantes. Dispunham
também de biblioteca, anfiteatro, salas de trabalho,
refeitório e jardins.
Concordamos com Suano1 quando afirma que a
formação de coleções é provavelmente tão antiga
quanto o homem, contudo, sempre guardou
significados diversos, dependendo do contexto em que
se inseria. Por isso a coleção retrata, ao mesmo tempo,
a realidade e a história de uma parte do mundo onde
foi formada, e também a daquele homem ou sociedade
que a coletou e transformou em “coleção”.
Como se pode perceber, os museus estão
intimamente relacionados ao ato de colecionar,
portanto, com coleções que podem ser tanto de origem
religiosa como profana. Essa prática do colecionismo
muitas vezes foi movida pela busca do objeto raro que
completaria uma série, e esteve voltada tanto para
obras-primas como para objetos mais simples, ou
mesmo para aqueles considerados exóticos.
As coleções da Roma Antiga, por exemplo, tinham
por finalidade demonstrar o poderio e a força dos
romanos ao conquistar seus territórios dominados.

1 SUANO, Marlene. O que é museu? São Paulo: Brasiliense, 1986.


(Col. Primeiros Passos).
Muitas vezes, durante o desfile dos conquistadores, os
objetos tomados dos vencidos eram exibidos à
população.
Na Idade Média, a Igreja passou a ser a principal
receptora de doações, e também a formar verdadeiros
tesouros, como o famoso “tesouro de São Pedro”.
Como grande força política da época, a Igreja usava
seus tesouros para estabelecer alianças e pactos
políticos, e também para financiar guerras contra os
inimigos do Estado papal. No fim da Idade Média já se
fazia sentir a força dos tesouros privados,
especialmente nas cidades italianas.
O que fica evidente é que para os detentores das
coleções, esses objetos refletiam o poder econômico e
político de então, e eram conhecidos apenas por
pessoas pertencentes à elite local de determinadas
épocas, portanto, o acesso a essas coleções era
totalmente restrito: “Com o Renascimento, os
humanistas reúnem coleções profanas para as quais,
pela primeira vez, construir-se-á um invólucro.
Organizadas em pequenos espaços privados,
destinam-se ao estudo, meditação ou contemplação”.2
Um exemplo disso são os famosos gabinetes de
curiosidades, que reúnem objetos ou obras raras,
animais, armas, camafeus, objetos exóticos trazidos
por exploradores, monstros fabricados por charlatões
(a Hidra de sete cabeças do gabinete de Carlos IX
ofertada pela República de Veneza), fósseis, minérios,
múmias, retratos de homens célebres etc. São
famosos os gabinetes de curiosidades dos
Schatzkammers germânicos e o de Francisco I em
Fontainebleau. O primeiro reunia objetos raros,
espécimes de história natural e também de outras
naturezas, como camafeus, ourivesaria, gemas,
miniaturas, marfins esculpidos etc., enquanto o
segundo continha mais coleções de quadros e
esculturas.
É bom que seja mencionado que as galerias de arte
encomendadas pelos monarcas, príncipes e papas
para suas residências acabaram dando origem aos
museus de belas-artes, enquanto os gabinetes de

2 GIRAUDY, D. & BOUILHET, H. O museu e a vida. Rio de


Janeiro: Fundação Nacional Pró-Memória, 1990. p. 23.
curiosidades originariam os museus de história
natural, e os gabinetes de antiguidades, os museus de
arqueologia.
De maneira geral, podemos afirmar que as grandes
coleções da época renascentista (formadas entre os
séculos xiv e xvi na Europa) é que nos dão as pistas
para entender as origens da instituição museológica
nos dias atuais. A grande questão ainda a ser
discutida é a sua disponibilização para o grande
público, ou de maneira geral, para os visitantes,
inclusive, obviamente, os turistas, sobre os quais
falaremos no segundo capítulo.
0 MUSEU COMO INSTITUIÇÃO PÚBLICA
O primeiro museu público europeu de que se tem
notícia é o Ashmolean Museum, de Oxford, na
Inglaterra, e sua inauguração data de 1683, por conta
de uma doação da coleção de John Tradeskin a Elias
Ashmole, com a condição específica de que este a
transformasse em um museu da Universidade de
Oxford. Mesmo assim, o acesso a esse espaço
museológico continuou bastante restrito, pois somente
especialistas e estudantes universitários podiam
visitá-lo.
Em 1750, parte da coleção real francesa foi aberta
ao público no Palácio de Luxemburgo, em Paris, dois
dias por semana, além dos dias já dedicados à
visitação de artistas e estudantes. Em 1755, as
galerias do Palácio de Potsdam, na Prússia, eram
abertas ao público, e o mesmo ocorreu na Rússia de
Catarina n, quando as coleções alojadas no Palácio
Hermitage (atual São Petersburgo) foram abertas à
visitação, contanto que as pessoas comparecessem
devidamente trajadas.
Na verdade, foi somente após a Revolução
Francesa de 1789 que se teve acesso definitivo às
grandes coleções, tornando-as, portanto, públicas e
passíveis de serem visitadas em diferentes museus.
Com a ascensão da burguesia na Europa após a
Revolução Francesa, uma nova concepção foi
incorporada ao universo museal: a noção de
patrimônio, pela qual os museus dos príncipes e dos
reis passaram a ser museus das nações. A partir daí,
as instituições museológicas refletiram, até hoje, seus
padrões políticos, estéticos e de organização, trazendo
para dentro delas os seus valores e as suas
concepções de mundo. í

A filosofia iluminista apostava na questão


educacional como a grande alavanca para levar as
“luzes” aos povos que ainda viviam na “ignorância”,
fruto dos entraves e do autoritarismo da nobreza e do
absolutismo. Nesse sentido, portanto, os museus
passaram a exercer também um papel importante na
questão do ensino - além de estarem em consonância
com o projeto da burguesia de se estabelecer como
classe dirigente.
Um exemplo disso foi o fato de as assembléias
revolucionárias francesas proporem, em 1792, a
criação de quatro museus com objetivos
explicitamente políticos e a serviço da nova classe no
poder. O primeiro foi o famoso Museu do Louvre,
inaugurado em 1793 e disponível ao público três dias
em cada dez, a fim de educar a nação francesa acerca
dos valores do classicismo greco-romano e da herança
contemporânea francesa, e cujas coleções foram
enriquecidas com peças originárias das igrejas
saqueadas pelos revolucionários franceses e, mais
tarde, pelos butins trazidos por Napoleão, inclusive do
Egito. O segundo foi o Museu dos Monumentos,
destinado a reconstruir o passado grandioso da
França revolucionária e que privilegiava a tradição
neoclássica em detrimento do patrimônio medieval; os
demais, o Museu de História Natural e o Museu de
Artes e Ofícios, estavam voltados para o pensamento
científico.
É nesse contexto que devemos entender também a
criação dos demais museus europeus, como o
Belvedere, de Viena (1783), o Museu do Prado, em
Madri (1819), o Altes Museum, em Berlim (1810), o
Museu do Hermitage, em São Petersburgo (1852),
além do Museu Britânico, que já havia sido fundado
em 1753 com coleções de grande importância artística
e científica. Aliás, este último apresentava em seu
regulamento de 1808 uma série de dificuldades de
acesso para os visitantes, como o alto pagamento das
entradas e os horários bastante restritos à maioria da
população trabalhadora inglesa.
Há que se ressaltar, portanto, que mesmo que
esses museus europeus tenham sido constituídos
como instituições públicas, é notória a diferença de
concepção que existia entre essas instituições e o que
hoje consideramos instituições a serviço do público,
como veremos mais tarde, especialmente naqueles
museus que serão criados na segunda metade do
século xx não só na Europa, mas também na América
Latina e nos Estados Unidos.
Aliás, nos Estados Unidos, os primeiros museus
foram constituídos de maneira diferenciada dos
europeus, pois já nasceram como instituições voltadas
para o público, aos quais qualquer pessoa tinha
acesso mediante um pequeno pagamento. Assim
foram criados os Museus Peale, da Filadélfia (1782), o
Museu de Charleston, *

na Carolina do Sul (1748), considerado o mais antigo


do país, e o Museu de Salem (1799), transformado
posteriormente, no século xix, no Museu Peabody, da
Universidade de Harvard.
Até hoje, no que diz respeito aos museus norte-
americanos, prevalece a parceria entre o setor público
e o privado, com maior ênfase para este último, a
partir da atuação das importantes e famosas
Sociedades de Amigos de Museus. Dessa maneira é
que foi criado em Nova York, em 1872, uma das
principais instituições museológicas do mundo
contemporâneo, o Museu Metropolitano de Nova York,
mais conhecido como Metropolitan, e que reúne quase
cinco mil anos de história da arte (desde a pré-história
até a arte moderna).
Em relação à América Latina e ao Brasil,
especificamente, a influência que recebemos dos
museus europeus ainda no século xix foi bastante
predominante.
Não poderia ser de outra forma, pois foi no
contexto de surgimento/afirmação das nações
recentemente tornadas independentes de suas
metrópoles que foram criados, durante o século xix, os
museus nacionais dos principais países latino-
americanos, dentre os quais o Museu de História
Natural de Buenos Aires e o Museu Nacional de
Bogotá, ambos abertos em 1823, e o Museu Nacional
Mexicano, fundado em 1825, numa concepção
bastante influenciada pelas elites criollas, ou seja,
pelos filhos de espanhóis nascidos na América.
No Brasil, os mais antigos museus foram os da
Escola Nacional de Belas-Artes do Rio de Janeiro (que
surgiu em 1815 como Escola Real de Ciências, Artes e
Ofícios) e o Museu Nacional do Rio de Janeiro, criado
em 1818 como Museu Real, ambas iniciativas de D.
João vi.
Para o acervo da Escola Real, D. João vi doou os
quadros que trouxera de Portugal quando da invasão
das tropas napoleônicas em 1808. Já o Museu Real,
mais tarde Museu Nacional, teve por núcleo inicial
uma pequena coleção de história natural, conhecida
até hoje como “Casa dos Pássaros”.
Outros museus também foram criados ainda no
final do século xix: Museu do Exército (1864), Museu
da Marinha (1868), Museu Paraense Emilio Goeldi
(1866), Museu Paranaense (em 1876, primeiramente
como instituição privada; mais tarde, em 1883,
tornado público), Museu Paulista (em 1892, mais
conhecido como Museu do Ipiranga) e ligado à
Universidade de São Paulo a partir de 1963, e
finalmente o Museu do Instituto Histórico e Geográfico
da Bahia, criado em 1894 com o próprio Instituto.
Apesar de esses museus terem sido criados no
século xix, é necessário que seja dito que a maioria
dos museus brasileiros foi criada no século xx, e
sempre como iniciativas oficiais, principalmente a
partir dos anos 1930 e 1940. A tônica desses museus
esteve ligada, em grande parte, à questão do
nacionalismo e da exaltação dos feitos de grandes
heróis ou da exuberante fauna e flora brasileiras.
O panorama foi se modificando no decorrer do
século xx, tanto na Europa como nos Estados Unidos,
e também na América Latina, como veremos a seguir.

OS MUSEUS NO SÉCULO XX
O longo processo vivido pelos museus para se
tornarem instituições públicas caracterizou essa
história durante o século xix, bem como o crescimento
vertiginoso de tal instituição na Europa, nos Estados
Unidos e também no Brasil.
No século xx, o grande desafio colocado para o
mundo museológico foi o de tornar suas coleções e
suas propostas cada vez mais acessíveis para os
visitantes de qualquer proveniência, faixa etária e
segmento social.
Esse desafio se tornou uma meta a ser alcançada
principalmente após o fim da Segunda Guerra
Mundial (1939- 1945), quando se iniciou um processo
intenso de questionamento a respeito da função social
de uma instituição considerada até então estática e
distanciada de uma sociedade em constante ebulição.
A partir dos anos 1960, especialmente na Europa,
com os movimentos contestatórios e de reivindicação
acerca da democratização da cultura, os museus
iniciaram movimentos em direção a uma atuação mais
incisiva, com escolas, comunidades do entorno,
populações carentes e rurais, chegando inclusive a
novos formatos, como os “museu-bus” ou “museu-
trem”.
A intenção era romper o muro do isolamento dos
museus com a sociedade e torná-los mais
participativos e interativos para a população que os
sustentava.
Foi nesse clima que a França realizou uma grande
pesquisa sistemática a respeito do público dos
museus de arte europeus, publicada em 1969 por
Pierre Bourdieu e A. Darbel sob o título L’amour de
Vart. Como conseqüência disso, surgiria cinco anos
mais tarde o Centro Nacional de Arte e Cultura
Pompidou, situado no coração da velha Paris e mais
conhecido como Beaubourg, considerado a grande
instituição cultural do amanhã e que custou aos
cofres públicos mais de 1 bilhão de francos.
Na França, em Portugal e no Canadá surgiriam,
também nesse contexto de crítica ao museu
3
tradicional, os famosos ecomuseus, especialmente na
década de 1970. Um de seus principais criadores e
idealizadores, Hugues de Varine Bohan, assim o
definiu em 1976:

O ecomuseu é uma instituição que administra,


estuda, explora, com' fins científicos,

3 Museus tradicionais são os que desenvolvem seu trabalho a


partir de um acervo constituído historicamente, e cujas ações estão
voltadas para um público-alvo em um cenário reconhecido por esses
visitantes. A maior parte dos museus contemporâneos enquaclin-Nf
nessa categoria.
educativos e, em geral, culturais, o patrimônio
global de uma determinada comunidade,
compreendendo a totalidade do ambiente
natural e cultural dessa comunidade. Por essa
razão, o ecomuseu é um instrumento de
participação popular no planejamento do
território e no desenvolvimento comunitário.
Para tanto, o ecomuseu emprega todos os
recursos e métodos de que dispõe para fazer
com que essa comunidade apreenda, analise,
critique e domine de maneira livre e
responsável os problemas que se apresentam a
ela com todos os domínios da vida. O
ecomuseu utiliza essencialmente a linguagem
do objeto, do quadro real da vida cotidiana, das
situações concretas. Ele é, antes de tudo, um
fator almejado de mudanças.4

A partir dessa definição são dois os pilares em que


se fundamentam os ecomuseus: o desenvolvimento
das comunidades e a pedagogia que se apóia em um
patrimônio e em agentes que pertencem a essa mesma
comunidade. Os ecomuseus nascem, portanto, da
participação da comunidade, que deve ser a entidade

4 O ecomuseu. Ciências e Letras (Revista da Faculdade Porto- Alegrense


de Educação, Ciências e Letras), n° 27, jan./jun. 2000, p. 62.
mais representativa na defesa de seus interesses e de
seu patrimônio global.
Os ecomuseus caracterizaram-se pela efetiva
contribuição para a preservação de tradições e
costumes de uma comunidade pela valorização in loco,
não pela retirada de certos objetos importantes de seu
contexto de uso para o local privilegiado das vitrines
do museu.
O ecomuseu significa um roteiro que visa
retraçar ;i trajetória de um determinado período da
história daquela comunidade, integrando-a ao seu
significado no presente.
Nos Estados Unidos também temos uma
importante experiência de museus intimamente
envolvidos com comunidades, como nos chamados
museus de vizinhança (neighborhood museums).
Há uma experiência famosa ocorrida em Anacostia,
Washington, que se configurou como uma real
possibilidade de inserção social de um museu na sua
comunidade de entorno. \
Em função de um grave problema causado pela
infestação de ratos numa comunidade pobre dessa
cidade, que estava relacionado à falta de condições
sanitárias adequadas, o que, por sua vez, gerava
doenças principalmente em crianças, o museu propôs,
em sua primeira exposição, exibir as medidas
adequadas a serem utilizadas no combate a tal praga.
A exposição, feita pelas próprias crianças da
comunidade, circulou pelo país e acabou chamando a
atenção das autoridades, que passaram a investir na
melhoria das condições sanitárias daquele bairro.
Hoje esse museu é um modelo em trabalhos
comunitários e uma grande referência para a
museologia norte- americana, que já realizou outras
exposições com temas bem inseridos na realidade da
comunidade a que pertence, como o problema da Aids,
do racismo etc.
Em se tratando de trabalhos museológicos
comunitários na América Latina, não podemos deixar
de falar do México.
Desde a década de 1970 existia, no México, um
projeto desenvolvido com as escolas, denominado
museus escolares. Tratava-se de um recurso de
aprendizagem que incluía a participação não só de
professores e alunos, mas também de pais e
familiares, que se utilizavam do acervo material da
própria comunidade no trabalho educativo e de
ensino.
Além disso houve uma experiência de exposições
itinerantes, que eram levadas a bairros pobres da
capital mexicana e que tratavam de temas relevantes
para a comunidade ali envolvida. Nesse caso, havia o
apoio oficial por parte do Estado representado pelo
órgão gestor do patrimônio nacional, denominado
Instituto Nacional de Antropologia e História - INAH.

Essas duas experiências mexicanas levaram à


criação do “Programa de Museus Comunitários” em
1983, e se tornaram um modelo para outros países
latino-americanos.
Os museus comunitários mexicanos inovaram em
termos da metodologia empregada, pois para a criação
de cada museu, a própria comunidade definia o local,
o tema
da exposição, o acervo a ser coletado e pesquisado, o
mobiliário expositivo, e como seria o cotidiano do trabalho
museológico após sua implantação. Um processo bastante
sério de avaliação de todas as atividades ocorridas e dos
problemas existentes também integra essa metodologia, que
se desenvolve até os dias atuais. Tal experiência, inclusive,
se alastrou por todo o país e teve o apoio decisivo da
Coordenação Nacional de Museus e Exposições, recebendo
diversos prêmios nacionais e internacionais.
Finalmente, há que se destacar as experiências
comunitárias que ocorreram também na África,
especialmente na Nigéria, onde propostas museológicas de
participação também foram adotadas e acabaram sendo de
extrema importância para o processo de constituição do
Estado nacional.
Neste capítulo apresentei um panorama histórico relativo
à evolução dos museus no mundo ocidental e suas
respectivas transformações, tão fundamentais, para a
conquista do caráter público dessa instituição.
Sem isso jamais poderíamos ter em mente o longo
caminho percorrido pelos museus no sentido de se tornarem
públicos e acessíveis aos mais distintos segmentos.
Nos últimos trinta anos há uma categoria especial de
visitantes que busca apropriar-se de seus espaços maci-
çamente. Refiro-me aos turistas, tanto os nacionais
como os internacionais.
É sobre a relação entre os museus e a atividade
turística que discutiremos no próximo capítulo.
2. MUSEUS E TURISMO:
uma relação possível

O público de hoje está ávido por qualidade, e o museu


pode proporcioná-la. O monumento mais visitado do
mundo não é nem a Torre Eiffel nem o Taj Mahal, mas o
Centro Georges Pompidou, com oito milhões de visitantes
por ano. Um bom museu é uma coisa pela qual o público
está disposto a pagar.

Patrícia Aburdene e John Naisbitt.


Megatendências, 2000. p. 56.

A ntes de iniciar uma abordagem mais específica


sobre a relação entre os museus e o turismo, é
necessário apontar algumas questões fundamentais
na atividade turística em si, para em seguida analisar
essa associação propriamente dita.
No século xx, os fluxos migratórios intensificaram-se
para distintas regiões do globo, movidos por razões tle
ordem econômica, social, política ou cultural. Ao
considerarmos o turismo um fenômeno social
contemporâneo, nota-se que essa atividade provocou
repercussões em quase todos os países e comunidades.
Do ponto de vista antropológico, o turismo é
considerado uma atividade transcultural vinculada aos
mecanismos sociais de consumo próprios de um mundo
globalizado, e que vem experimentando um
desenvolvimento extraordinário, especialmente a partir do
século passado.
Pelas cifras econômicas que medem os recursos que o
turismo gera, alguns autores chegam, inclusive, a defini-lo
como a atividade industrial número 1 atualmente, detendo
aproximadamente 6% do conjunto dos Produtos Nacionais
Brutos (pnb) do mundo. Tais dados chegam a apontar que a
atividade turística caminha a um ritmo mais rápido que os
demais setores da economia mundial na atualidade.
Os Estados Unidos continuam sendo o país que ocupa o
primeiro lugar em gastos efetuados pelos seus visitantes.
Estes são provenientes sobretudo de países europeus, que
por sua vez acabam sendo o destino da maior parte dos
turistas em nível mundial. Aliás, quando falamos em lugares
de destino, há que se chamar a atenção para o fato de que,
dentre os países latino-ame-
ricanos, somente o México ocupa atualmente o posto
do sétimo país mais visitado do mundo, antecedido
por Fran ça, Espanha, Estados Unidos, Itália, Reino
Unido e China. Enquanto isso, o Brasil, com toda a
sua potencialidade em todos os segmentos, e que
ultrapassa o circuito sol e praia, continua amargando
a 30a posição, apesar de ter havido um incremento
bastante grande de turistas no país nos últimos três
anos.
É óbvio que toda essa movimentação de pessoas e
de capitais acaba tendo um impacto fortíssimo
também no mundo da cúltura - e dessa maneira
toma-se um assunto bastante controvertido.
Para alguns autores, o turismo é um meio de
obtenção de divisas que leva progresso e
desenvolvimento econômico aos países ricos em
atrativos patrimoniais, pois abre postos de trabalho,
promove a conservação de monumentos, sítios e
paisagens, ao mesmo tempo que fomenta sua
identidade e promove sua imagem em nível
internacional. Já para outros, o turismo oferece igual
número de desvantagens e benefícios.
Alguns autores afirmam que, ao atrair a atenção
para o patrimônio natural ou cultural, o turismo
promove sua conservação e valorização. Há também
uma idéia român tica que está muito em voga na
atualidade, proveniente dos séculos XVIII e xix: de que
o turismo gera e promovo a harmonia entre os povos,
sendo inclusive assumida pela UNESCO, quando afirma que
“o turismo promove um diálogo mais rico entre as
5
culturas”.
Aliás, a própria UNESCO realizou uma reunião em
sua sede em Paris em 1998, denominada “Cultura,
Turismo e Desenvolvimento - Desafios para o Século
xxi”, na qual declarou que “por ser uma das principais
motivações para o movimento das pessoas, e pelo fato
de que qualquer forma de turismo produz um efeito
cultural tanto no visitante como no anfitrião, o
turismo não poderia existir sem a cultura”. Nesse

5 La unesco y el turismo cultural, 1998, p. 10.


contexto, portanto, não é de estranhar que um
número cada vez maior de turistas busque a prática
do chamado turismo cultural.
Nesse sentido, poderíamos traçar a frutífera e
fundamental aproximação entre os museus e o
turismo cultural partindo da própria definição do que
se compreende por museu segundo o Conselho
Internacional de Museus - icom:6
Museu é uma instituição permanente sem fins
lucrativos, a serviço da sociedade e de seu
desenvolvimento, aberta ao público, que
adquire, conserva, pesquisa, comunica e expõe
testemunhos materiais do homem e de seu
meio, para fins de estudo, educação e lazer.

O importante na definição dos limites de tal


reflexão são quatro pontos:

• A questão da pesquisa que o museu realiza com


base em um acervo constituído de diferentes
maneiras, segundo a tipologia de cada

6 Criado em 1946 por Chauncey J. Hamlim, o icom tem como uma


de suas principais metas a promoção e o desenvolvimento dos museus,
bem como da profissão museal em nível internacional. Associado à unesco

como uma organização não-governamental (ong), possui status consultivo


no Conselho Econômico e Social da onu. Seus
instituição (artes, história, arqueologia,
etnologia, zoologia etc.).
• O papel social do museu, portanto, com inserção
na sociedade no sentido de contribuir para a
melhoria da qualidade de vida das pessoas.

principais objetivos estão voltados a responder pelos problemas e


necessidades dos profissionais dos museus, e conta atualmente com
cerca de quinze mil membros distribuídos em mais de 139 países em
todo o mundo. Os encontros do icom ocorrem a cada três anos e seus
associados, além de receberem publicações especializadas, podem, por
meio da carteirinha de membro, conhecer qualquer museu do mundo
gratuitamente.

• O papel educativo que o museu desempenha


com a finalidade de contribuir para o despertar
da consciência do indivíduo em relação ao
patrimônio do qual é herdeiro e do seu potencial
em termos de ensino e aprendizagem.
• O caráter de instituição aberta ao público, por
isso, de ser um espaço que atenda às
necessidades das distintas categorias que
buscam essa instituição. Nesse sentido está
implícito algo mais que uma instituição aberta
ao público, mas a serviço deste.
Alguns autores europeus, especialmente os
vinculados à sociologia, colocam a questão da
visitação dos museus como um hábito relacionado à
sociedade do ócio. Dessa maneira, os museus
serviriam aos distintos públicos nos momentos em
que estes não estivessem vinculados ao mundo do
trabalho, e que por conta da diminuição da jornada de
40 horas semanais (especialmente na Europa), teriam
tempo para visitar essas instituições.
Segundo Hemández (1994), a diversificação e a
multiplicação dos museus não se devem ao fato de
que estes se dirigem ao público para atraí-lo apenas
com o intuito de aumentar suas receitas, mas que o
público comparece aos museus por causa de
motivações profundas, nas quais existe a vontade de
conhecer os vestígios de uma sociedade em mudança,
revalorizando questões como a identidade e o
conhecimento de outras culturas. É possível,
portanto, imaginar o impacto que uma experiência
dessas pode ter para um turista que deseja conhecer
os valores e a cultura de sociedades diferentes das
suas, e a importância que o museu passa a ter nessa
relação, seja o turista internacional, seja nacional.
Dessa forma, o museu é algo mais que um
mercado de tempo livre, posto que trata de preservar
traços da memória da humanidade para que as
gerações presentes e futuras possam deleitar-se com o
gozo e o aprendizado de sua contemplação. Está clara,
portanto, a idéia de que o museu se apresenta como
um lugar de convivência que abre suas portas para
que toda e qualquer categoria de público possa
usufruir um espaço não só de lazer, mas
fundamentalmente de reflexão a respeito da memória
histórica e de um simbolismo transcendente.
É desnecessário ressaltar a ansiedade de um
turista que se desloca para a Europa ou América do
Norte e, sem dúvida, faz questão de visitar os grandes
museus cies ses continentes, como o Museu do Prado
ou o Rein;i Sofia, na Espanha; o Louvre e o Museu
D’Orsay, na Fran«,.i, British Museum em Londres; a
Galeria Ufiz/.i n.i Ii.iIm ■ Museu Van Gogh em
Amsterdã; o Museu de Ai 11 ; Mm. !• .
na ou o Metropolitan em Nova York; os Museus da
Smithsonian Institution em Washington,7 e o Museu
das Civilizações no Canadá.
É possível até que esse turista não consiga

7. 3. Os principais museus da Smithsonian são o Museu Nacional de


História Americana, o Museu Nacional de História Natural, o Museu
Nacional Aeroespacial, a Galeria Nacional de Arte, o Zoológico e outros
museus.
observar as maravilhas dessas coleções
detalhadamente, porém, tais instituições são
consideradas referências obrigatórias quando os
países acima citados são visitados. Não conhecê-las
significaria que ficou faltando algo de muito
importante naquela viagem, uma lacuna imperdoável.
Todos os museus nomeados acima contam com
uma estrutura consolidada do ponto de vista de suas
instalações, com um trabalho reconhecido de
musealização e com estratégias de marketing bem
dinâmicas, capazes de difundir ainda mais essas
instituições, que apresentam visitação maciça por
parte de turistas nacionais e estrangeiros. Só para ter
uma noção dessa visitação, “os museus franceses
recebem todos os anos cerca de 70 milhões de
visitantes. Em 1997, segundo o Muséostat, os 1.200
museus oficiais franceses receberam 65 mi-
lhões de pessoas, entre as quais 22 milhões de
turistns estrangeiros”.8
As razões disso podem ser encontradas no fato de
que os museus mais visitados, tanto na Europa como
nos Estados Unidos, contam com exposições que são

8 O museu mais visitado da França é o Louvre, com cercii de 3,5


milhões de pessoas, seguido de Versalhes, com 2,7 milhões de visitantes,
e do Museu d’Orsay, com 2,3 milhões. Dados colhidos em La France dês
musées, n2 42, jan. 2001.
constantemente renovadas, bem como com recursos
humanos especializados no atendimento de diferentes
segmentos de público (turistas, terceira idade,
crianças, portadores de necessidades especiais etc.),
além de ocuparem espaços consagrados
historicamente e inseridos na paisagem dessas
cidades.,
Há que se ressaltar, também, o fato de esses
museus possuírem em suas instalações bibliotecas de
fácil acesso, livrarias, lojas com vendas de souvenires
de todos os tipos e gostos, restaurantes e cafeterias
que contribuem enormemente para que essas
instituições sejam referências culturais e de lazer para
os turistas.
Em se tratando da América Latina, os museus
também se multiplicaram como nunca nos últimos
quarenta anos.
Diferentemente dos países já citados (França,
Estados Unidos, Espanha e Inglaterra), que desde
muito tempo já reconheceram o potencial turístico dos
museus, a devida atenção aos museus latino-
americanos é muito mais recente.
O impacto trazido pela construção e inauguração
do Museu Nacional de Antropologia na Cidade do
México em 1964 não só pela sua monumentalidade,
mas especialmente pela participação de culturas
indígenas na sua concepção museográfica,9 acabou
trazendo um grande número de inquietações e
questionamentos a respeito da função social e
educacional dessa instituição.
Independentemente do fato de que os museus
arqueológicos, etnológicos e históricos do México
estejam inseridos no processo de conformação de um
projeto de identidade nacional forjado pelo Estado
Nacional a partir dos anos 1940, esses museus
atualmente são verdadeiras catedrais de peregrinação
tanto por parte da própria população mexicana como
por parte dos turistas.10
Aliás, como já dito anteriormente, o México é o pais
latino-americano que mais recebe turistas no mundo.
Existem museus de diversos tipos, como os museus
nacionais, regionais (localizados nas capitais dos
estados), locais, de sítios, comunitários e a céu aberto,
muito bem concebidos do ponto de vista museográfico
e conceituai.
Não há como realizar uma viagem a esse país sem
deixar de conhecer as zonas arqueológicas abertas à

9 Museografia se refere à concepção e montagem das exposições


que são visitadas pelo público dos museus.
10 Os museus mais visitados desse país são o Museu Nacional de
História e o Museu Nacional de Antropologia, ambos situados na Cidade
do México e visitados por aproximadamente quatro milhões de pessoas
por ano, um fenômeno singular em se tratando de um país latino-
americano.
visitação, como Teotihuacán, Tula, Chichén-Itzá,
11
Tulum, Uxmal, Palenque e outras, além dos Museus
de Antropologia, de História, do Templo Maior, de
Culturas Populares, de Arte Contemporânea, o Museu
de Ciências e Artes da Universidade Nacional
Autônoma do México e muitos outros.
Ainda em relação aos museus latino-americanos, é
preciso salientar que outro desafio enfrentado foi o de
tornar acessíveis suas coleções museológicas para um
espectro maior de público, não apenas de uma elite
econômica. O reconhecimento da importância do
papel educativo12 dos museus acabou trazendo inúmeras
discussões que estão ampliando a importância da
atuação dessas instituições não só perante o público
escolar, mas também para outros segmentos de
visitantes.
Apesar de todo esse processo de discussões, ainda
persiste, no senso comum, especialmente no Brasil, 13
uma visão que identifica os museus como “locais de

11 Quase sempre essas zonas arqueológicas possuem um mu seu


de sítio para expor os objetos encontrados nas escavações af ren lizadas
e são visitadas por legiões de estrangeiros todos os anos.
12 A respeito do potencial educativo dos museus há uma imensa
produção bibliográfica, inclusive brasileira, de muito boa qualidade.
13 Sobre os museus brasileiros discutirei alguns aspectos no
Capítulo 3.
coisas velhas”, onde ainda encontram-se exposições
herméticas que não contribuem para o entendimento de
suas mensagens.
Ao mesmo tempo, fruto da sociedade globalizada em
que vivemos, surgem os “novos mecenas culturais” e as
chamadas “megaexposições”, que utilizam os museus
tradicionais como simples “entrepostos de objetos”, e que
acabam reunindo multidões em suas exposições,
inclusive de turistas nacionais e estrangeiros.
Nesse contexto, qual deve ser o papel dos museus
como preservadores e comunicadores de um patrimônio
que pertence a todos? Como ampliar e dar acesso a
novos públicos (e não apenas o escolar) que ainda hoje
estão fora do universo museológico? De que maneira
aproximar e estabelecer uma relação profícua entre
referências patrimoniais, museus e o segmento do
turismo, uma vez que esse público também vem se
apropriando do universo museológico de maneira tão
significativa?
Em um encontro14 realizado em 2000 em Lima (Peru)
e em La Paz (Bolívia), foram sugeridas diversas ações no
sentido de favorecer a relação entre os museus e o
turismo cultural, portanto, gostaria de discutir a

14 Museos, patrimonioy turismo cultural (Trujillo, La Paz: icom ), 21-


27 de mayo de 2000.
proposição de algumas delas.
Em primeiro lugar, devemos reconhecer que o museu
pode converter-se em instrumento para fortalecer e
problematizar as identidades e a integração das
comunidades, promovendo a tolerância, o respeito mútuo
e a aceitação da diversidade cultural.
A partir dessa premissa, o museu deve participar,
com suas comunidades e operadoras de turismo, do
planejamento e definição de objetivos, conteúdos, gestão
e formas de promoção, buscando integrar-se aos
circuitos do turismo cultural. Obviamente, tal
aproximação deve sempre levar em conta o saudável
aproveitamento do potencial dessas instituições na
perspectiva de uma atuação que venha ao encontro do
principal papel já referido do museu: a questão da
preservação de suas referências patrimoniais.
É necessário que para isso os profissionais dos
museus estejam abertos a um diálogo profícuo com os
profissionais do turismo, a fim de definir conjuntamente
soluções que respeitem tanto o patrimônio como as
comunidades, e que satisfaçam ao mesmo tempo os
turistas. Trata-se de um grande desafio, mas que deve
ser enfrentado tendo em vista algumas experiências já
desenvolvidas com sucesso não só em alguns países
europeus e nos Estados Unidos, mas também no México,
na Costa Rica e na Argentina.
Outra proposição colocada nesse encontro diz
respeito à criação e implementação de cursos e
programas de formação e treinamento de pessoal em
todos os níveis de ensino. Isso possibilitaria formar
profissionais multidisciplinares, capacitados para
trabalhar na coordenação e no desenvolvimento de
planos, programas, projetos turísticos e patrimoniais.
Sem dúvida, o papel das universidades oferecendo
cursos e programas acadêmicos deveria incluir o turismo
e o patrimônio como temas fundamentais de pesquisa e
reflexão. Isso é fundamental no processo de criação de
pessoal qualificado para atuar nessa área.
Outro princípio sugerido foi que os planejadores do
turismo, ao lado do pessoal especializado dos museus,
devem avaliar o impacto dos visitantes e regular o uso
turístico dos museus. Isso permitiria o uso adequado do
patrimônio em exposição e contribuiria efetivamente para
sua preservação.
Finalmente, o último princípio prevê a necessidade de
haver uma relação harmônica entre os museus e o
turismo cultural, no sentido de atender a todos os
aspectos constitutivos do museu, como infra-estrutura,
qualidade da coleção, sistemas de informação e
comunicação, atividades educativas e de exposição,
funcionários e relação com o entorno.
Assim, é desejável que desde já tais proposições
sejam colocadas em prática e possam efetivamente
promover uma relação saudável e desejável entre os dois
campos de atuação.
Com certeza, todos os segmentos envolvidos sairão
beneficiados, sobretudo o visitante, que desejará retomar
ao mundo dos museus, ampliando, dessa maneira, os
referenciais a respeito da cultura e da realidade
apresentadas.

3. OS MUSEUS E 0
TURISMO NO BRASIL

N o Brasil, a cultura e o turismo foram equivocada-


mente considerados dois mundos distintos, e isso
porque, do ponto de vista histórico, os homens de cultura
manifestaram sempre uma certa reticência perante os
temas do comércio e do dinheiro, como se fossem
realidades estranhas entre si. De modo geral, o mundo
da preservação patrimonial - onde estão inseridos os
museus - foi sempre percebido como uma função do
Estado, e o turismo como objeto exclusivo da iniciativa
privada. Até pouco tempo atrás, os museus acolhiam o
público escolar com grande simpatia, e com freqüência
apenas toleravam a presença de grupos de turistas em
seus espaços.
Atualmente, os museus brasileiros estão voltando,
ainda que timidamente, sua atenção também para esse
pú blico, ou seja, os turistas, e estão passando a pensar
cm estratégias de ação voltadas para a conquista de mais
esse segmento, tão importante e que poderá se tornar um
fenômeno de massas como já pode ser visto em outros
países, conforme discutido no capítulo anterior.
Segundo a museóloga da Universidade de São Paulo
Maria Cristina Oliveira Bruno, “existe uma idéia de que a
museologia deve atender também a essa demanda
proveniente do turismo. Esse é um caminho para se ligar
os museus ao desenvolvimento econômico. No caso
brasileiro, é um dos caminhos mais concretos que temos,
embora, na minha opinião, seja um trabalho bastante
tímido, se compararmos com os outros países. Existe
essa consciência de que, pelo menos, esse pode ser um
caminho. Existe uma prática ainda que tímida”. 15

15 BRUNO, Maria Cristina O. In: DELLA MÔNICA, Laura. Museu:


potencialidade turística. São Paulo, 1998. p. 20. Tese (Doutorado) -
Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo.
Em um artigo publicado em 1994, o professor do
curso de turismo da Universidade de São Paulo, Mario
Jorge Pires, previa que os museus deveriam perder o
preconceito e se abrir de uma vez ao marketing, sob pena
de desaparecerem do cenário cultural brasileiro. Além
disso, deveriam se integrar ao roteiro turístico,
desenvolvendo um conceito de “excelência em museus
por meio de uma administração que leve em conta a
existência de monitores bem treinados, biblioteca
atualizada e funcionando com eficiência, banheiros e
bebedouros higiênicos, estacionamento e dependências
com segurança, livraria e loja de souvenires bem
equipadas, lanchonete, cafeteria ou restaurante
integrados à atmosfera do lugar, entre outros itens”.16
Dois anos depois, esse mesmo autor alertava que não
adiantava apenas o marketing para resolver o problema
da pouca visitação nos museus brasileiros se estes não
estivessem abertos para a sua própria remodelação, num
processo de mudanças que deveria ocorrer também de
dentro para fora.17
Como já vimos no capítulo anterior, na segunda

16 PIRES, Mario Jorge. Marketing em museus: ainda o


preconceito. Revista Propaganda, ano 38, ns 492, jan. 1994, p. 60.
17 PIRES, Mario Jorge. Por que os museus brasileiros são pouco
visitados. In: Turismo e lazer: prospecções da fantasia de ir e vir. São
Paulo: Edicon, 1996.
metade do século xx, os museus também passaram a
operar mudanças no interior de suas próprias
instituições, em um movimento que buscava assumir
uma nova função social e educacional.
No caso brasileiro, algumas propostas, mesmo que
incipientes, vêm sendo implementadas pensando em
conquistar novos públicos e, em especial, o turista. É o
que nos diz o trabalho de Bazanelli em relação ao seu
estudo de caso voltado para o município de Itu (SP) :

O museu pode representar um papel importante na


construção do projeto turístico; ele tem como uma de
suas funções preservar o patrimônio para garantir uma
análise do desenvolvimento e qualidade de vida das
pessoas. Na cidade de Itu, que está dando seus
primeiros passos no Programa Nacional de Museus e
Turismo, os museus podem agir como elo de ligação
[sic] entre as várias partes envolvidas; dando suporte
para a educação patrimonial e ambiental; oferecendo
cursos de conscientização do valor do patrimônio;
auxiliando na capacitação dos promotores e receptores.
Podem ainda elaborar projetos em parceria com a
secretaria de turismo, visando a melhor preparação do
entorno para a visita do público; organização da infra-
estrutura e criação de programas de difusão
permanentes. O museu, como canal de comunicação
privilegiado que é, tem a capacidade de despertar a
conscientização e a auto-estima na população local.18

O que fica patente nesses trabalhos e reflexões é que


a parceria entre museus e turismo é inevitável e
desejável. Portanto, considero de suma importância
apresentar, no âmbito da realidade brasileira, algumas
instituições que vêm realizando um sério trabalho no
âmbito museológico e que poderão perfeitamente estar
abertas à visitação do turista, uma vez que este também
se coloca como público em potencial. Não se pode
esquecer que o turismo cultural já é considerado no
Brasil a terceira opção de viagem dos turistas
internacionais, depois da consagrada e tradicional opção
praia e sol e do ecoturismo.
Para tanto selecionei alguns museus de algumas das
capitais brasileiras que apresentam um enorme potencial
a ser explorado pelo público do turismo, quer nacional,
quer internacional, e que são apresentados como
sugestões de instituições a serem mais bem exploradas,
sem que se tenha a pretensão de esgotar o potencial das
que não foram citadas explicitamente.

18 BAZANELLI, Claudia Gobbi. Museologia e turismo: as


possibilidades de parceria em uma proposta integrada para a cidade de
Itu, sp. Curso de especialização em Museologia. mae/usp, 2002. p. 44.
MUSEUS EM SÃO PAULO:
UMA NOVA REALIDADE

Atualmente, a maior cidade brasileira recebe por


volta de sete milhões de turistas por ano, e busca chegar
aos quinze milhões em 2010. Ocorrem nessa cidade por
volta de noventa mil eventos por ano, que concentram
aproximadamente 40% do faturamento de todos os
eventos que acontecem no Brasil. Apesar disso, não se
compreende perpetuar uma situação na qual 76% das
pessoas que visitam a cidade o fazem a negócios, e
poucas são as que ficam mais de três dias, pois a cidade
está mal preparada em termos de infra-estrutura
turística para os que desejam aproveitar melhor as
opções culturais da cidade. Segundo notícia publicada
no jornal O Estado de S. Paulo em maio de 2001, a cidade
de São Paulo perderia com isso mais de 100 milhões de
reais por mês e, conseqüentemente, grandes
oportunidades de criação de novos empregos.
Nos últimos anos, os museus de São Paulo
dinamizaram suas atividades de forma extraordinária, e
como resultado ampliaram significativamente a visitação,
transformando-se em referência nacional e em
instituições culturais com grande prestígio.
Alguns desses museus organizaram exposições que
atraíram multidões, incorporando um novo público às
suas programações.
A existência de museus de arte em São Paulo é
recente, e apesar de a Pinacoteca do Estado ter surgido
no início do século passado, foram o Museu de Arte de
São Paulo - MASP e o Museu de Arte Moderna - MAM, ambos
criados no final da década de 1940, que trouxeram as
artes plásticas para o cotidiano cultural da cidade.
A Pinacoteca do Estado, inaugurada em 1905, é o
primeiro museu artístico de São Paulo. Originalmente
criada pelo famoso arquiteto Ramos de Azevedo para
sediar o Liceu de Artes e Ofícios, o edifício de estilo neo-
renascentista passou por uma série de reformas na
década de 1990, a fim de recuperar as instalações
danificadas e readequar-se às funções próprias de um
museu moderno. Assinado pelo arquiteto Paulo Mendes
da Rocha, o projeto resultou na mudança do eixo da
edificação, cuja entrada se volta agora para a Estação da
Luz, além de uma completa recuperação de suas
estruturas, especialmente pisos e coberturas, e de sua
infra-estrutura de instalações hidráulicas e elétricas.
Dessa forma, uma edificação de cem anos foi sendo
readequada e rseequi pada para abrigar um museu de
artes plásticas que conta hoje com um acervo de cerca de
cinco mil obras, predominantemente centradas na arte
brasileira do século xix. Num momento em que se
envidam enormes esforços para recuperar o antigo centro
histórico da cidade, degradado pelo seu desordenado
processo de crescimento, mais uma vez a Pinacoteca do
Estado volta a representar um marco no cenário urbano
paulista, integrando a imponente edificação que a abriga
ao novo entorno marcado pela recuperação da Estação
da Luz, da Estação Júlio Prestes e do prédio do antigo
DOPS, hoje transformado em mais um espaço artístico que
também pertence à Pinacoteca do Estado. Atualmente, ao
lado do público escolar e espontâneo, os turistas já
possuem um lugar de destaque dentre as categorias dos
que mais visitam esse espaço. Não se poderia deixar de
citar as salas dedicadas às temáticas das paisagens, de
retrato e auto-retrato, dos modernistas e das doações
recentes de esculturas de Rodin e Bourdelle, dentre
outros.
O Museu de Arte de São Paulo - MASP é o mais
importante museu internacional da América Latina,
reunindo mais de quatro mil obras, incluindo Rafael, Van
Gogh, Picassso, Monet e outros. Além disso, caracteriza-
se pelas importantes exposições temporárias que busca
trazer de outros países, e que acabam se tornando
referência para o público brasileiro - “Monet”, “Miró”, e a
não menos importante “Brasil dos Viajantes”, só para
lembrar algumas delas. Aliado a tudo isso, possui uma
localização espetacular, bem servida por redes de
transporte, possuindo também livraria, loja e
restaurante, que também funciona como um dos pontos
de encontro da cidade.
O Museu de Arte Moderna - MAM, localizado em uma
das áreas verdes mais visitadas em São Paulo, o Parque
do Ibirapuera, transformou-se nos últimos anos em um
dos mais dinâmicos da cidade, adotando um consistente
projeto de curadorias, envolvendo questões da arte
brasileira e das novas expressões da arte contemporânea
internacional. Além de mais bem equipado e com
exposições significativas, o MAM soube atrair de forma
permanente patrocinadores que têm garantido qualidade
e continuidade às suas atividades.
O Museu de Arte Contemporânea da USP - MAC/USP

possui um dos acervos mais expressivos do país, com um


significativo conjunto de obras cedidas por Francisco Ma-
tarazzo Sobrinho. A coleção foi enriquecida por meio de
doações, principalmente de arte brasileira do século XX.

Esse museu tem desenvolvido atividades de pesquisa em


arte brasileira e em arte-educação que o destacam no
universo das artes plásticas no país. Possui atualmente
duas sedes: na Cidade Universitária e no Parque do
Ibirapuera. A partir de 2001 sua sede na Cidade
Universitária passou a abrir também aos fins de semana,
aumentando significativamente a freqüência do público,
até mesmo de turistas nacionais e estrangeiros.
Finalmente, no campo dos museus de arte, merece
destaque o Museu Lasar Segall, único museu que faz
parte da ação direta do Ministério da Cultura em São
Paulo por ser uma unidade do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional - IPHAN. Esse museu foi
criado pelos herdeiros e pela esposa do artista, Genny
Klabin Segall, a partir da doação da residência do casal,
de importante coleção de obras e da extraordinária
biblioteca. Somaram-se a esse patrimônio atividades
criativas, como a abertura de ateliês de gravura,
fotografia e redação. Ao longo dos anos, esse museu
desenvolveu uma prática museológica inovadora, sob a
direção de Maurício Segall, envolvendo o público numa
reflexão mais profunda e abrangente da obra e do
período em que viveu o pintor. O museu incorporou os
moradores do bairro às suas atividades, inaugurando
uma prática até então inédita em nossas instituições
culturais. Nos últimos anos, inclusive, o Museu Lasar
Segall tem organizado importantes mostras do artista no
exterior.
Já em relação aos museus de ciências humanas, a
cidade possui uma grande referência, que é o Museu
Paulista da USP, mais conhecido como Museu do Ipiranga,
inaugurado em 1895. Esse museu, originalmente cons
truído para ser um monumento à Independência do país,
a partir de 1989 definiu-se como um museu histórico. E
atualmente o museu mais visitado de São Paulo (por
volta de 320 mil visitantes/ano). Apresenta também
diversas exposições relacionadas à história de São Paulo
e há seis anos recebeu toda a coleção de negativos de
Militão, um dos maiores fotógrafos da cidade durante o
final do século xix e início do xx. Sempre próximo ao
feriado de 7 de setembro, o'museu transforma-se numa
verdadeira catedral de peregrinos que buscam “o
verdadeiro sentido da identidade nacional”. Atualmente
essa instituição está em busca de oferecer melhores e
mais dinâmicos recursos de mídia para dinamizar suas
exposições permanentes.
Há que se ressaltar também os demais museus da
Universidade de São Paulo, localizados no campus da
cidade universitária e que estão envolvidos em um
grande esforço para diversificar seu público visitante.
Um exemplo disso é o Museu de Arqueologia e
Etnologia, com mais de 120 mil artefatos relacionados às
culturas indígenas (extintas e atuais), africanas e afro-
brasileiras, bem como às sociedades do Mediterrâneo e
Médio Oriente na Antiguidade. Esse museu, pouco
conhecido do grande público paulistano e dos turistas, é
uma referência na cidade em relação ao público escolar, pois
é a única instituição em São Paulo com um acervo dessa
natureza. Eis, portanto, uma instituição que pode despertar
grande interesse, principalmente por parte dos turistas
estrangeiros, e que necessita de um trabalho de especialistas
em marketing no sentido de divulgar seu grande potencial.
Apesar disso, o setor educativo existente nessa instituição
abre também aos profissionais do turismo (especialmente
das agências que trabalham no segmento do turismo escolar)
a possibilidade de que estes participem do programa de
treinamento dirigido ao aproveitamento de suas exposições
museológicas. Com isso, essa instituição assume o papel de
estar aberta aos distintos públicos que buscam seu espaço de
produção e veiculação de conhecimentos, e também cria
uma via de mão dupla para os interesses dessas agências
turísticas. Enfim, uma experiência desenvolvida há anos e
cujos resultados vêm sendo reconhecidamente bem-
sucedidos.
Além dessa instituição, temos na USP o Museu de Zoologia,19
o Museu do Instituto Oceanográfico, o Mu-
seu de Anatomia Humana e o Museu do Instituto de
Geociências, todos buscando ocupar um espaço mais
definitivo na cidade de São Paulo, pois passaram a abrir

19 Essa instituição vem passando por modificações muito


importantes no que diz respeito à sua política de extroversão museológica,
e já se tomou uma referência na cidade de São Paulo.
sistematicamente seus espaços também aos fins de
semana, criando assim mais um circuito cultural de
grande importância e ainda pouco conhecido da
população, inclusive da paulistana.

MUSEUS DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO


Na pesquisa realizada por Quintela 20, cujo objetivo
s
&

era discutir a questão do turismo cultural na cidade do


Rio de Janeiro fora dos limites das belezas naturais e do
Carnaval, que tantos turistas atraem para a cidade, ficou
constatado que, das empresas que oferecem roteiros
turísticos na cidade, nenhuma delas, nem mesmo as que
ofereciam programas qualificados como “históricos”,
incluía uma visita a qualquer museu da cidade. O único
contemplado foi o Museu Imperial (um dos mais visitados
do país), mesmo assim, quando o turista decide fazer um
passeio opcional à cidade vizinha de Petrópolis, onde está
localizado.
Isso é, na verdade, uma contradição, pois a cidade do
Rio de Janeiro, que já foi inclusive capital federal, possui
excelentes museus, e tenho certeza de que muitos deles
poderão tornar-se pólos de atração turística.
Dentre estes destacaria o Museu Nacional, vinculado

20 QUINTELA, Maria Alcina. Museus, cultura popular e turismo


cultural na cidade do Rio de Janeiro: algumas reflexões, 2003.
à Universidade Federal do Rio de Janeiro e um dos mais
visitados do país. Bastante conhecido pelo fato de ainda
possuir um acervo eclético, muitos o procuram para ver
as múmias egípcias (originárias da coleção de D. Pedro
li), as urnas indígenas, os peixes, o elefante empalhado, o
esqueleto de um dinossauro, um meteorito etc. Trata- se
de uma instituição-referência em termos de pesquisa em
diversas áreas do conhecimento, como arqueologia,
etnologia, zoologia etc.
Com excelente localização na Quinta da Boa Vista, é
muito visitado principalmente pela população de menor
poder aquisitivo e por escolas.
Ainda carece de um estudo voltado para o perfil de
seus visitantes por parte do setor de museologia dessa
instituição, a fim de estabelecer uma política mais
agressiva em relação ao turista que visita a cidade.
Porém, já iniciou reformas a fim de adaptar uma nova
estrutura a um museu que realiza pesquisa de ponta no
país, e que recebe uma visitação bastante expressiva
todos os anos.
O Museu da República, localizado na rua do Catete,
no antigo palácio presidencial, faz parte de um belíssimo
jardim de 24 mil metros quadrados, um verdadeiro oásis
de vegetação, lagos, playground, brinquedoteca etc. Ao
redor do museu localiza-se também uma cinemateca,
além de restaurante, cafeteria, galeria de arte, sala de
fotografia, livraria, teatro e biblioteca, que sem dúvida
vem dinamizando e aumentando em muito o público
visitante. Atualmente, o museu vem realizando uma
pesquisa a respeito do perfil de seus visitantes, que vai
apontar novos caminhos e estratégias no sentido de
ampliar ainda mais os serviços oferecidos, indo ao
encontro das expectativas de um público que hoje gira
em torno dos 180 mil visitantes/ano.
O Museu Histórico Nacional, criado em 1922, é um
dos mais importantes museus do Brasil, reunindo um
acervo de mais de 287 mil itens, dentre os quais a maior
coleção de numismática da América Latina. O conjunto
arquitetônico que abriga o museu desenvolveu-se a
partir do Forte de Santiago, na Ponta do Calabouço, um
dos pontos estratégicos para a defesa da cidade do Rio de
Janeiro. O público visitante dessa instituição gira em
torno de 150 mil pessoas por ano.
O Museu Nacional de Belas-Artes foi inaugurado cm
1938 no prédio onde funcionava a Escola Naciomíl ilt>
Belas-Artes, na avenida Rio Branco, no centro do Rio de
Janeiro. O acervo do museu teve origem na pequena
coleção de quadros trazidos ao Brasil por Joachim
Lebreton (1760-1819), chefe da Missão Artística
Francesa, que aqui chegou em 1816. Hoje, o museu
abriga quinze mil peças, de pinturas a mobiliário, sendo
a instituição brasileira que possui a maior e melhor
coleção de arte nacional do século xix: Vitor Meirelles,
Pedro Américo, Almeida Júnior, Rodolfo Amoedo,
Zeferino da Costa, Rodolfo Bernardelli e Eliseu Visconti
estão presentes no acervo. A arte brasileira do século xx
também está representada nessa coleção, que conta com
obras de Portinari, Djanira, Tarsila do Amaral, Di
Cavalcanti, Goeldi, Cícero Dias, Segall, Amílcar de
Castro, Iberê Camargo, Rubens Gerchman, Jorge Guinle
Filho e Waltércio Caldas, entre muitos outros. O acervo
abriga também obras de Louis- Eugène Boudin (1824-
1898), oito paisagens do holandês Frans Post, além de
pinturas de mestres italianos e franceses, como Tiepolo,
Taunay e Debret. Nomes como Annibale Carracci (1560-
1609), Honorè Daumieri (1808-1879), Jacques Callot
(1590-1635), William Tumer (1775-1851) e Pablo Picasso
(1881-1973) também constam da coleção. Recebe
anualmente cerca de 220 mil visitantes.
Outra instituição que vale a pena conhecer e que, sem
dúvida, seria uma atração para os turistas, é o Museu do
Folclore Edson Carneiro, criado em 1968 pclíi Campanha
de Defesa do Folclore Brasileiro, cujo nome homenageia o
folclorista baiano e que está ligado à Fundação Nacional
da Arte e ao Ministério da Cultura. Desde 1984 o museu
encontra-se instalado no sobrado n° 181 da rua do
Catete, numa área de ótima localização em termos de
acesso por metrô e ônibus. Em suas exposições não
existem vitrines, o que por um lado facilita a relação com
o público e exige, por outro, uma constante presença do
corpo de vigias da instituição. De acordo com dados do
próprio museu, apenas 5% dos visitantes são
estrangeiros, o que nos leva a pensar na necessidade de
uma política mais agressiva para chegar a esse
segmento, dada a especificidade de sua temática
expositiva, voltada para aspectos da cultura popular de
nosso país.

MUSEUS DE OUTRAS CIDADES

Quanto a museus de outras capitais brasileiras,


valeria a pena citar o Museu Paraense Emílio Goeldi, no
Pará, que possui um dos mais importantes acervos do
país, especialmente nas áreas de arqueologia, etnologia,
geologia e zoologia. Fundado em 1866, é um dos museus
mais antigos do Brasil, e possui uma especificidade em
termos de acervo fundamental para atrair turistas: a
cultura da fauna, da fio-
ra e da diversidade cultural indígena da Amazônia.
Possui inclusive um parque zoobotânico, com animais
típicos da floresta tropical, fator de grande atração para
os visitantes.
Em Minas Gerais, destacaria o Museu da
Inconfidência em Ouro Preto, cujo prédio do século XVIII

abrigou o antigo Palácio Municipal. Esse museu possui


um acervo que inclui obras de Aleijadinho, objetos
relacionados aos inconfidentes, além de uma localização
excelente: no centro histórico da primeira cidade do
Brasil a ser declarada Patrimônio Cultural da
Humanidade.
Um importante trabalho que vem sendo desenvolvido
no país e que pode gerar uma relação bastante forte
entre museus e turismo é o que vem sendo realizado pela
Fundação Museu do Homem Americano, em São
Raimundo Nonato, no Piauí. Nesse local, sob
coordenação da arqueóloga Niéde Guidon, há uma
relação entre a pesquisa arqueológica, museu de sítio, 21
museu ao ar livre e produção de peças artesanais de
cerâmica. Além disso, o visitante pode conhecer os mais
de quatrocentos sítios arqueológicos encontrados na
área, permitindo a visita in loco das jazidas arqueológicas.
“O projeto foi concebido também como um pólo de
atração turística, visando não só divulgar o patrimônio
existente, mas desenvolver uma economia auto-
sustentável numa área onde são poucas as

21 Museu de sítio refere-se aos museus situados em sítios


arqueológicos, históricos ou naturais e que podem ser conhecidos in loco
pelo público.
possibilidades de trabalho.”22 Por meio desse projeto é
visível a interação proposta entre museus/patrimônio
natural e cultural/turismo e comunidade de entorno, em
uma idéia bastante promissora e singular em se tratando
de nosso país.
Em outros estados brasileiros poderia citar outros
museus que também possuem um potencial muito
grande em termos deexploração pela atividade turística:
Museu Arqueológico do Sambaqui, em Joinville (sc);
Museu Câmara Cascudo, em Natal (RN); Museu do Homem
do Nordeste, em Recife (PE); Museu de Arte Sacra de
Salvador (BA); Museu das Missões, em Santo Ângelo (RS), e
Museu de Antropologia da Universidade Federal de
Goiás, em Goiânia.
A seguir, uma tabela23 com uma seleção de museus
brasileiros com potencial turístico que foram escolhidos
tendo em vista a qualidade de suas exposições:
Instituição Tipo Localização
MASP de Arte São Paulo (sp)

MAC/USP de Arte São Paulo (sp)

Pinacoteca do Estado de Arte São Paulo (sp)

Fundação Maria Luiza e de Arte São Paulo (sp)

Oscar Americano

22 CAVALCANTE, Denise Gomes. Turismo e museus: um potencial


a explorar. IN: FUNARI, Pedro Paulo; PINSKY, Jaime (Orgs.). Turismo e
patrimônio cultural. São Paulo: Contexto, 2001.
23 De acordo com GOMES, Denise Cavalcante. Idem, p. HO H.
Museu Lasar Segall de Arte São Paulo (sp)
Museu Paulista Histórico São Paulo (sp)

Museu da Casa Brasileira Histórico São Paulo (sp)

Museu de Arqueologia e Antropológico São Paulo (sp)

Etnologia da USP

Museu da Chácara do Céu de Arte Rio de Janeiro (rj)

Museu Nacional de de Arte Rio de Janeiro (rj)

Belas-Artes
Museu de Arte Moderna de Arte Rio de Janeiro (rj)

Museu da Vida (fiocruz) de Ciência Rio de Janeiro (rj)

Museu de Astronomia de Ciência Rio de Janeiro (rj)

Museu Nacional de Ciência Rio de Janeiro (rj)

Casa de Rui Barbosa Histórico Rio de Janeiro (rj)

Museu da República Histórico Rio de Janeiro (rj)

Museu Paraense Emilio de Ciência Belém (pa)

Goeldi
Museu de Arte (Pampulha) de Arte Belo Horizonte (mg)

Museu de História Natural Arqueológico Belo Horizonte (mg)

da UFMG

Museu do Imigrante Histórico Bento Gonçalves (rs)

Museu Portinari de Arte Brodósqui (sp)

Museu do Barro e da de Arte Caruaru (pe)

Cerâmica

Instituição Tipo Localização


Museu Municipal Histórico Caxias do Sul (RS)

Museu Paranaense Arqueológico Curitiba (pr)


Museu de Arte Sacra dos de Arte Embu (sp)
Jesuítas
Museu de Antropologia Arqueológico Florianópolis (sc)
Palácio Cruz e Souza Histórico Florianópolis (sc)
Museu Antropológico da UFG Antropológico Goiânia (GO)
Casa de Cora Coralina Histórico Goiás (go)
Museu Professor Hugo Daros Histórico Gramado (rs)
Museu Histórico e Histórico Iguape (SP)
Arqueológico %
Museu de Marajó Arqueológico Ilha de Marajó (PA)
Museu Republicano Histórico Itu (SP)
Museu Nacional da Histórico Joinville (sc)
Imigração e Colonização
Museu Arqueológico do Arqueológico Joinville (sc)
Sambaqui
Museu do Padre Cícero Histórico Juazeiro do Norte (CE
Museu Mariano Procópio Histórico Juiz de Fora (mg)
Museu Arqueológico e de Arqueológico Lagoa Santa (mg)
Mineralogia
Museu do Imigrante Histórico Lauro Muller (sc)
Museu Histórico Histórico Macapá (ap)
Museu de Ciências Naturais de Ciência Manaus (am)
da Amazônia
Museu Amazônico Arqueológico Manaus (AM)
Museu do índio Antropológico Manaus (AM)
Museu de Arte Sacra de Arte Marechnl l)r<>doni (ai.

Instituição Tipo Localização


Museu Arquidiocesano de Arte Mariana (mg)

Museu Histórico Municipal Histórico Mossoró (rn)

Museu Câmara Cascudo Antropológico Natal (rn)

Museu de Arte de Arte Niterói (rj)

Contemporânea
Museu de Arqueologia de Arqueológico Niterói (rj)

Itaipu
Museu de Arte Sacra de Arte Olinda (pe)

Museu da Inconfidência Histórico Ouro Preto (mg)

Casa dos Contos Histórico Ouro Preto (mg)

Museu de Mineralogia de Ciência Ouro Preto (mg)

Casa de Graciliano Ramos Histórico Palmeira dos índios


(al)
Museu do Sertão de Arte Petrolina (pe)

Centro Regional de Arqueológico Piraju (sp)

Pesquisas Arqueológicas
Mário Neme
Museu das Lavras de Ouro ao Ar Livre Pirinópolis (go)

Museu de Arte do Rio de Arte Porto Alegre (rs)

Grande do Sul
Museu Júlio de Castilhos Histórico Porto Alegre (rs)

Museu Ferroviário Histórico Porto Velho (ro)

Museu do Homem do de Ciência Recife (pe)

Nordeste
Fundação Gilberto Freyre Histórico Recife (pe)

Museu do Ouro Histórico Sabará (mg)

Museu Carlos Costa Pinto de Arte Salvador (ba)

Museu de Arte da Bahia de Arte Salvador (ba)

Museu de Arte Sacra de Arte Salvador (ba)

Instituição Tipo Localização


M useu de Arqueologia e Arqueológico Salvador (ba)

Etnologia da UFBA
Museu Histórico e Cultural de Ciência Santa Maria (rs)
Vicente Pallotti
Casa do Anhanguera Histórico Santana do Pamaíba
(s*0
Museu do Centro de Antropológico Santarém (pa)
Preservação de Arte
Indígena
Centro Cultural João Fona Arqueológico Santarém (pa)
Museu das Missões de Sítio Santo Ângelo (rs)
Museu do Mar % de Ciência Santos (sp)
Museu de Arte Sacra de Arte Santos (sp)
Museu Nacional do Mar de Ciência
São Francisco do Sul
(sc)
Museu Regional Histórico São João dei Rey (MG)
Museu de Arte Sacra de Arte São João dei Rey (MG)
Casa Euclideana Histórico
São José do Rio Pardo
(sp)
Museu Visconde de São Histórico São Leopoldo (rs)
Leopoldo
Museu de Arte Sacra de Arte São Luis (ma)
Museu Paleontológico e Arqueológico São Pedro do Sul
Arqueológico Walter Ilha (RS)

Praça do Sambaqui ao Ar Livre Saquarema (rj)


Museu do Homem de Sítio São Raimundo
Americano Arqueológico Nonato (PI)
Parque Nacional da Serra ao Ar Livre São Raimundo
da Capivara Nonato (PI)

Instituição Tipo Localização


Museu Arqueológico do Rio Arqueológico Taquara (rs)

Grande do Sul
Museu Histórico e Histórico Taubaté (sp)

Pedagógico — Sítio do
Pica-pau Amarelo
Museu do Cangaço Histórico Triunfo (pe)

Museu do Vinho Histórico Videira (sc)


Museu do Solar Monjardim Histórico Vitória (es)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A relação entre museus e turismo em nosso país


ainda é bastante incipiente e caminha lentamente.
Apesar disso, como foi possível demonstrar,
iniciativas bem-sucedidas vêm sendo desenvolvidas e
devem ter continuidade, além da atenção e incentivo por
parte dos setores envolvidos.
O Brasil vem recebendo um número crescente de
turistas nos últimos anos que não vêm apenas em busca
da famosa associação sol e praia. Essa mentalidade
começa a mudar e os bens patrimoniais também
passaram a ser alvo de atenção e referência por parte de
turistas nacionais e estrangeiros, mesmo que ainda
timidamente.
Ainda não podemos comparar nossa realidade com <1
européia e a norte-americana, mas considero que o pn
norama brasileiro será modificado e teremos agradáveis
surpresas, mesmo que a longo prazo.
Finalmente, gostaria de apontar algumas perspectivas
para que essa aproximação entre museus e turismo
possa se fazer de maneira mais profícua.
Considero que deva existir uma parceria efetiva entre
essas instituições, os serviços turísticos e a mídia, que
também possam pensar em trabalhar o potencial de tais
instituições para o turista, não só o estrangeiro, mas
também o nacional.
Seria muito interessante que os museus se
relacionassem estreitamente com os operadores de
turismo que oferecem serviços de transporte, alojamento
e ação cultural a fim de propiciarem determinados tipos
de circuitos programados aos mais distintos museus de
São Paulo e também fora da cidade.24
Para tanto, as instituições museológicas deveriam
pensar em incluir em sua programação educacional
possibilidades de formação para os operadores turísticos,
por meio de cursos especialmente voltados para ess;i
clientela, que atuariam como agentes multiplicadores
para os turistas nacionais e estrangeiros, como já vem

24 A Universidade de São Paulo editou um Guia de museus


brasileiros bastante completo, por meio do Centro de Preservação
Cultural da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária. Além disso,
os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo vêm dando um
enfoque especial ao mundo dos museus, por intermédio da veiculação de
informações mais detalhadas a respeito das exposições que essas
instituições oferecem.
ocorrendo, por exemplo, no Museu de Arqueologia e
Etnologia da USP - MAE/USP, que abre espaço em suas
atividades para as agências que operam no setor de
turismo que trabalham com estudo do meio e
programações culturais.
Ao mesmo tempo, os cursos de formação em nível de
graduação e pós-graduação começam a sensibilizar-se
para essa queStão, incluindo programas voltados para o
aproveitamento turístico do potencial das instituições
museológicas com disciplinas específicas que visam à
exploração de tais questões.
Urge, portanto, redefinir a política dos museus sem
renunciar à ética e ao projeto cultural, que são próprios
dessas instituições, estando abertos à evolução das
regras de funcionamento dos museus em relação ao
mundo do mercado, propiciando aproximações e
parcerias com a iniciativa privada.
Dessa maneira estariam oferecendo melhores servi
ços, acolhendo de maneira correta e responsável o pú
blico, bem como atendendo às exigências mínimas dos
que visitam tais espaços e que devem, sem sombra de
dúvida, retornar quando assim o desejar.
BIBLIOGRAFIA COMENTADA

A bibliografia a respeito do tema museus e turismo


bastante escassa. Mesmo em nível internacional,
há poucos trabalhos dedicados a essa problemática.
é

A museologia como área de conhecimento e de


formação é recente em nosso país. Existem dois cursos
em nível de graduação oferecidos pela UNIRIO e pela UFBA,

bem como alguns cursos de especialização que


começaram a surgir nos últimos três ou quatro anos,
como o de especialização do Museu de Arqueologia e
Etnologia da Universidade de São Paulo e de outras
cidades.
O que é museu? (Editora Brasiliense, 1986), de Mar-
lene Suano, professora do Departamento de História da
USP, é uma obra voltada para um público leigo interessado
no tema e que dá uma visão panorâmica e inicial so bre a
instituição museu. Nesse livro, a autora disso ria acerca
da origem dos museus, sua evolução histórica de.s de o
surgimento do mouseion na Grécia Antiga, até as
modalidades mais contemporâneas dessa instituição, e
propõe algumas reflexões a respeito da formação do
profissional de museus e suas carências e perspectivas.
Nessa mesma linha existe o trabalho traduzido para o
português intitulado O museu e a vida, dos franceses
Danièle Giraudy e Henri Bouilhet, publicado pela editora
da UFMG com apoio do antigo SPHAN/Pró-Memória.
Existem trabalhos publicados sobre o universo
museo- lógico em várias áreas do conhecimento (história,
sociologia, antropologia, comunicação, museologia e
turismo) que discutem diversos aspectos dessa área, mas
são raros os que se debruçaram especificamente sobre a
relação entre o universo dos museus e o campo do
turismo.
Especificamente sobre esse tema, o primeiro artigo a
ser publicado foi o do professor Mario Jorge Pires, da
Escola de Comunicações e Artes da USP, em 1994.
Intitulado “Marketing em museus: ainda o preconceito” e
publicado na revista Propaganda (ano 38, n2 492), se
propôs a discutir a importância do marketing nos
museus e a sua necessária utilização no universo
museológico, visando dinamizar essas instituições. Dois
anos mais tarde, o mesmo autor publicava outro artigo,
denominado “Por que os museus brasileiros são pouco
visitados”, alertando para as mudanças que os museus
deveriam proceder no interior de suas instituições caso
quisessem ampliar o número de visitantes e sobreviver
como entidades públicas. Esse artigo foi publicado no
livro Turismo e lazer: prospecçÕes da fantasia do ir e vir
(Edicon), cuja organização foi realizada pelo professor da
ECA/USP Tupã Gomes Correa.
No universo acadêmico foram produzidas algumas
teses, como as da professora Laura Delia Mônica
(doutorado), intitulada Museu, potencialidade turística: um
estudo de embarcações, defendida na ECA/USP em 1998 e
não publicada, e a de Sidney Pereira de Oliveira
(mestrado), A gestão de museus frente à prática do lazer e
do turismo cultural: o Museu da Polícia Militar em São Paulo,
defendida na UNIBERO em 2001 e também não publicada.
Nessa mesma instituição foi realizada em 2001 uma
‘Jornada de Turismo, Meio Ambiente e Patrimônio
Cultural”, em cujos anais há um artigo de minha autoria,
“Museus e turismo numa sociedade em mudanças: perfil,
perspectivas e potencialidades”, que discute alguns
aspectos dessa relação nos dias atuais. Também de
minha autoria há um artigo denominado “Museus,
turismo e lazer: uma realidade possível”, publicado na
revistei eletrônica da UNISANTOS, Patrimônio: Lazer e Turismo
(nu I, maio de 2004). No âmbito do curso de
especialização tio MAE/USP há uma monografia denominada
Museolo^ia <•
patrimônio: as possibilidades de parceria em uma proposta
integrada para a cidade de Itu, de Claudia Gobbi Bazanelli,
apresentada em 2002 e que também não foi publicada.
Há um artigo publicado em 2001 pela Editora Contexto
de Denise Maria Cavalcanti Gomes intitulado “Turismo e
museus: um potencial a explorar”, que faz parte da obra
Turismo e patrimônio cultural, organizada por Pedro Paulo
Funari e Jaime Pinsky, e que pretende apresentar algumas
reflexões em torno dessa temática.
Há também um volume dedicado a tal problemática da
museóloga da usp, professora Maria Cristina Oliveira Bruno,
denominado Museologia e turismo: os caminhos para a
educação patrimonial, editado em 1998 pelo Centro
Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza.
Finalmente, existe em língua espanhola e não editada no
Brasil uma publicação do Conselho Internacional de Museus
- icom intitulada Museos, patrimonio y turismo cultural, que
reúne os artigos dos participantes desse evento que ocorreu
nas cidades de Lima (Peru) e La Paz (Bolívia) em 2000.
SOBRE O AUTOR

Camilo de Mello Vasconcellos é doutor em História


Social pela usp e educador do Museu de Arqueologia e
Etnologia da usp. Nessa instituição, onde atua há dezoito
anos, desempenhou as funções de chefe do Setor Educativo
e diretor do Serviço Técnico de Musealização no período de
1995 a 2001. Atualmente exerce o cargo de vice-chefe da
Divisão de Difusão Cultural do mae/usp.
Foi também bolsista da vitae, por meio da qual estagiou
em diversas instituições museológicas mexicanas. Em 2001
participou, com trabalhos apresentados, do xx Congresso do
Conselho Internacional de Museus, em Barcelona.
É professor do curso de turismo das Faculdades
Integradas Rio Branco desde fevereiro de 2002 e também do
Curso de Especialização Cidade, História: meio ambiente,
lazer e turismo, da unisantos.
Em 2005 apresentou um seminário temático no âmbito
do Curso de Especialização em Museologia do Museu de
Arqueologia e Etnologia da usp. Possui diversos artigos
publicados a respeito do tema museu e educação.

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