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LINGUAGENS, CÓDIGOS

E SUAS TECNOLOGIAS
Frente: Português I
EAD – MEDICINA
Professor(a): Ângelo Sampaio

AULA 07

Assunto: Narrativa Curta

APÓLOGO
Resumo Teórico É regido pelas mesmas características da fábula. Seu diferencial
são as personagens, em forma de objetos, posicionados em espaços
variados.
Obs: No apólogo, a moral aparece diluída na história.
A DIVISÃO DE UMA NARRATIVA
• Introdução (10% do texto) – trata de apresentar a trama para
o leitor, delimitando o espaço, pontificando o tempo e revela
a protagonista. É a Situação Inicial da história.
• Desenvolvimento (80% do texto) – delimita o ritmo da trama.
É nesse espaço que se apresenta ao leitor:
 Quebra da situação inicial (acontecimento que rompe a
apresentação da narrativa para dar espaço ao andamento
da história).
 Problemática (Toda narrativa possui uma. É algo a ser
resolvido, geralmente próximo ao fim da trama). Um apólogo, de Machado de Assis, narra uma conversa entre
 Clímax (É o ponto alto da narrativa; é o acontecimento mais uma agulha e um novelo de lã
esperado e o mais importante. Antecede o desfecho).
• Conclusão (10% do texto) – É o desfecho da trama. Nas narrativas, CRÔNICA
tendem a ser surpreendentes, de modo a fidelizarem seus
leitores. • Narrativa curta, na literatura e no jornalismo.
• Produzida essencialmente para ser veiculada na imprensa
CONTO DE FADAS (Jornal o u Revista).
• Sua função é agradar aos leitores dentro de um espaço sempre
É uma narrativa em prosa, de curta extensão, tendo evoluído igual e com a mesma localização.
para uma escrita, de fato, para crianças, obedecendo a alguns • Aproximação entre escritor e leitor.
preceitos, quanto aos seus elementos. Destaque para os Irmãos Grimm, • Efemeridade.
Perrault e Andersen.
• Personagens: a protagonista é, em geral, uma princesa; os
antagonistas, bruxas ou magos; os coadjuvantes são seres
encantados. Exercícios
• Tempo: é cronológico, pontificado com a expressão inicial “Era
uma vez” e conclui-se, em geral, com “... e foram felizes para
sempre”. 01. (Enem/2015)
• Espaço: florestas, castelos, salões reais, dentre outros lugares O PERU DE NATAL
que relembrem a era medieval.
O nosso primeiro Natal de família, depois da morte de meu
pai acontecida cinco meses antes, foi de consequências decisivas
FÁBULA para a felicidade familiar. Nós sempre fôramos familiarmente
felizes, nesse sentido muito abstrato da felicidade: gente honesta,
É uma narrativa em prosa, de curta extensão, escrita para o
sem crimes, lar sem brigas internas nem graves dificuldades
público adulto e não para crianças, ao contrário do que muitos pensam. econômicas. Mas, devido principalmente à natureza cinzenta de
Antecedem os Contos Maravilhosos, tendo, inclusive, inspirado e se meu pai, ser desprovido de qualquer lirismo, duma exemplaridade
confundido com alguns deles. Sua origem foi no oriente e difundida incapaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele
por Esopo e La Fontaine. aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicidades materiais,
• Personagens: são animais que agem, pensam, falam e portam-se um vinho bom, uma estação de águas, aquisição de geladeira,
como seres humanos. coisas assim. Meu pai fora de um bom errado, quase dramático,
• Tempo: cronológico, com uma moral expressa na última linha, o puro-sangue dos desmancha-prazeres.
a transmitir um ensinamento para o leitor. ANDRADE, M. In: MORICONI, I. Os cem melhores contos brasileiros do século.
• Espaço: em geral, são florestas, onde vivem os animais. São Paulo: Objetiva, 2000 (fragmento).

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No fragmento do conto de Mário de Andrade, o tom confessional E outro:


do narrador em primeira pessoa revela uma concepção das — Amigo, tenho aqui esta mulher, este papagaio, esta
relações humanas marcada por sogra e algumas baratas. Tome nota dos seus nomes, se quiser.
A) distanciamento de estados de espírito acentuado pelo papel Querendo levar todos, é favor... (...)
das gerações. E outro:
B) relevância dos festejos religiosos em família na sociedade moderna.
— Dois, cidadão, somos dois. Naturalmente o sr. não a vê.
C) preocupação econômica em uma sociedade urbana em crise.
D) consumo de bens materiais por parte de jovens, adultos e idosos. Mas ela está aqui, está, está! A sua saudade jamais sairá de meu
E) pesar e reação de luto diante da morte de um familiar querido. quarto e de meu peito!
BRAGA, Rubem. Para gostar de ler. v. 3. São Paulo: Ática, 1998. p. 32-3. (Fragmento)
02. (Enem/2005)
O fragmento anterior, em que há referência a um fato sócio-
histórico — o recenseamento —, apresenta característica marcante
do gênero crônica ao
A) expressar o tema de forma abstrata, evocando imagens e
buscando apresentar a ideia de uma coisa por meio de outra.
B) manter-se fiel aos acontecimentos, retratando os personagens
em um só tempo e um só espaço.
C) contar história centrada na solução de um enigma, construindo
os personagens psicologicamente e revelando-os pouco a
pouco.
D) evocar, de maneira satírica, a vida na cidade, visando transmitir
ensinamentos práticos do cotidiano, para manter as pessoas
informadas.
E) valer-se de tema do cotidiano como ponto de partida para a
construção de texto que recebe tratamento estético.

04. (PUC-Camp/2017)

CRONISTA SEM ASSUNTO

Difícil é ser cronista regular de algum periódico. Uma crônica


por semana, havendo ou não assunto... É buscar na cabeça uma
luzinha, uma palavra que possa acender toda uma frase, um parágrafo,
uma página inteira – mas qual? 1Onde o ímã que atraía uma boa
limalha? 2Onde a farinha que proverá o pão substancioso? O relógio
está correndo e o assunto não vem. Cronos, cronologia, crônica,
tempo, tempo, tempo... Que tal falar da falta de assunto? Mas isso já
aconteceu umas três vezes... Há cronista que abre a Bíblia em busca
As tiras ironizam uma célebre fábula e a conduta dos governantes. de um grande tema: os mandamentos, um faraó, o Egito antigo,
Tendo como referência o estado atual dos países periféricos, pode-se as pragas, as pirâmides erguidas pelo trabalho escravo? Mas como
afirmar que nessas histórias está contida a seguinte ideia: atualizar o interesse em tudo isso? O leitor de jornal ou de revista anda
A) Crítica à precária situação dos trabalhadores ativos e aposentados. com mais pressa do que nunca, 3e, aliás, está munido de um celular
B) Necessidade de atualização crítica de clássicos da literatura. que lhe coloca o mundo nas mãos a qualquer momento.
C) Menosprezo governamental com relação a questões Sim, a Internet! O Google! É a salvação. 4Lá vai o cronista caçar
ecologicamente corretas. assunto no computador. Mas aí o problema fica sendo o excesso:
D) Exigência da inserção adequada da mulher no mercado de ele digita, por exemplo, “Liberdade”, e 5lá vem a estátua nova-
trabalho. iorquina com seu facho de luz saudando os navegantes, ou o bairro
E) Aprofundamento do problema social do desemprego e do do imigrante japonês em São Paulo, 6ou a letra de um hino cívico,
subemprego. ou um tratado filosófico, até mesmo o “Libertas quae sera tamen*”
dos inconfidentes mineiros... Tenta-se outro tema geral: “Política”.
03. (Enem/2008) Aí mesmo é que não para mais: vêm coisas desde a polis grega até um
poema de Drummond, salta-se da política econômica para a financeira,
São Paulo vai se recensear. O governo quer saber chega-se à política de preservação de bens naturais, à política ecológica,
quantas pessoas governa. A indagação atingirá a fauna e a flora à partidária, à política imperialista, à política do velho Maquiavel, ufa.
domesticadas. Bois, mulheres e algodoeiros serão reduzidos a Que tal então a gastronomia, mais na moda do que nunca?
números e invertidos em estatísticas. O homem do censo entrará 7
O velho bifinho da tia ou o saudoso picadinho da vovó, receitas
pelos bangalôs, pelas pensões, pelas casas de barro e de cimento domésticas guardadas no segredo das bocas, viraram nomes
armado, pelo sobradinho e pelo apartamento, pelo cortiço e pelo estrangeiros, sob molhos complicados, de apelido francês. Nesse ramo
hotel, perguntando: da alimentação há também que considerar o que sejam produtos
— Quantos são aqui? transgênicos, orgânicos, as ameaças do glúten, do sódio, da química
Pergunta triste, de resto. Um homem dirá: nociva de tantos fertilizantes. Tudo muito sofisticado e atingindo altos
— Aqui havia mulheres e criancinhas. Agora, felizmente, níveis de audiência nos programas de TV: já seremos um país povoado
só há pulgas e ratos. por cozinheiros, quer dizer, por chefs de cuisine?**

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Temas palpitantes, certamente de interesse público, estão no 05. (UFJF-Pism 1/2017)


campo da educação: há, por exemplo, quem veja nos livros de História uma
Texto I
orientação ideológica conduzida pelos autores; 8há quem defenda uma
A TELEVISÃO
neutralidade absoluta diante de fatos que seriam indiscutíveis. 9Que sentido
Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Tony Belloto.
mesmo tiveram a abolição da escravatura e a proclamação da República?
E o suicídio de Getúlio Vargas? E os acontecimentos de 1964? Já a literatura A televisão
Me deixou burro
e a redação andam questionadas como itens de vestibular: mas sob
Muito burro demais
quais argumentos o desempenho linguístico e a arte literária seriam Oh! Oh! Oh!
dispensáveis numa formação escolar de verdade? Agora todas coisas
Enfim, 10o cronista que se dizia sem assunto de repente fica Que eu penso
aflito por ter de escolher um no infinito cardápio digital de assuntos. Me parecem iguais
Que esperará ler seu leitor? 11Amenidades? Alguma informação Oh! Oh! Oh!
científica? A quadratura do círculo encontrada pelo futebol alemão?
A situação do cinema e do teatro nacionais, dependentes de financiamento O sorvete me deixou gripado
por incentivos fiscais? Os megatons da última banda de rock que visitou o Pelo resto da vida
E agora toda noite
Brasil? O ativismo político das ruas? Uma viagem fantasiosa pelo interior
Quando deito
de um buraco negro, esse mistério maior tocado pela Física? A posição É boa noite, querida
do Reino Unido diante da União Europeia?
12
Houve época em que bastava ao cronista ser poético: Oh! Cride, fala pra mãe
o reencontro com a primeira namoradinha, uma tarde chuvosa, um Que eu nunca li num livro
passeio pela infância distante, um amor machucado, 13tudo podia virar Que o espirro
uma valsa melancólica ou um tango arrebatador. Mas hoje parece que Fosse um vírus sem cura
estamos todos mais exigentes e utilitaristas, e os jovens cronistas dos Vê se me entende
Pelo menos uma vez
jornais abordam criticamente os rumores contemporâneos, valem-se do
Criatura!
vocabulário ligado a novos comportamentos, ou despejam um humor Oh! Cride, fala pra mãe!
ácido em seus leitores, 14num tempo sem nostalgia e sem utopias. A mãe diz pra eu fazer
É bom lembrar que o papel em que se imprimem livros, Alguma coisa
jornais e revistas está sob ameaça como suporte de comunicação. Mas eu não faço nada
15
O mesmo ocorre com o material das fitas, dos CDs e DVDs: Oh! Oh! Oh!
o mundo digital armazena tudo e propaga tudo instantaneamente. A luz do sol me incomoda
Já surgem incontáveis blogs de cronistas, onde os autores discutem Então deixa
on-line com seus leitores aspectos da matéria tratada em seus textos. A cortina fechada
A interatividade tornou-se praticamente uma regra: há mesmo quem Oh! Oh! Oh!
diga que a própria noção de autor, ou de autoria, já caducou, em
função da multiplicidade de vozes que se podem afirmar num mesmo É que a televisão
espaço textual. Num plano cósmico: quem é o autor do Universo? Me deixou burro
Deus? O Big Bang? A Física é que explica tudo ou deixemos tudo Muito burro demais
com o criacionismo? E agora eu vivo
Enquanto não chega seu apocalipse profissional, o cronista de Dentro dessa jaula
periódico ainda tem emprego, o que não é pouco, em tempo de crise. Junto dos animais
Pois então que arrume assunto, e um bom assunto, para não perder
seus leitores. Como não dá para ser sempre um Machado de Assis, Oh! Cride, fala pra mãe
um Rubem Braga, um Luis Fernando Veríssimo, há que se contentar Que tudo que a antena captar
com um mínimo de estilo e uma boa escolha de tema. A variedade Meu coração captura
da vida há de conduzi-lo por um bom caminho; é função do cronista Vê se me entende
encontrar algum por onde possa transitar acompanhado de muitos Pelo menos uma vez
e, de preferência, bons leitores. Criatura!
Teobaldo Astúrias, inédito. Oh! Cride, fala pra mãe!
*Liberdade ainda que tardia.
Titãs. Televisão. Lp. Gravadora WEA, 1985.
**chefes de cozinha.
Texto II
Na frase “A variedade da vida há de conduzi-lo por um bom O mito ou “Alegoria” da caverna é uma das passagens
caminho; é função do cronista encontrar algum por onde possa mais clássicas da história da Filosofia, sendo parte constituinte
transitar acompanhado de muitos e, de preferência, bons leitores”, do livro VI de A República, no qual Platão discute sobre teoria
fica ressaltado o seguinte aspecto essencial do gênero literário de do conhecimento, linguagem e educação na formação do
que se está tratando: Estado ideal. A narrativa expressa dramaticamente a imagem de
A) Intenção moralizante da narrativa, de modo a garantir a boa prisioneiros que desde o nascimento são acorrentados no interior
formação do leitor/cidadão. de uma caverna de modo que olhem somente para uma parede
B) Exploração de um tema de interesse geral colhido entre iluminada por uma fogueira. Essa ilumina um palco onde estátuas
experiências da vida comum. dos seres como homem, planta, animais etc. são manipuladas,
C) Multiplicação dos mais variados estilos num mesmo texto como que representando o cotidiano desses seres. No entanto,
pedagógico. as sombras das estátuas são projetadas na parede, sendo a única
D) Investimento no caráter experimental e de vanguarda da imagem que aqueles prisioneiros conseguem enxergar. Com o
linguagem literária. correr do tempo, os homens dão nomes a essas sombras (tal como
E) Submissão do texto à realidade de alguma política a ser tomada nós damos às coisas) e também à regularidade de aparições destas.
como paradigma. Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/filosofia/mito-caverna-platao.htm>.
Acesso em: 18 out. 2016.

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A passagem do texto I que melhor se articula com a ideia central 07. (Uerj/2016)
do “mito da caverna” é:
A) “A televisão A EDUCAÇÃO PELA SEDA
Me deixou burro
Muito burro demais”. Vestidos muito justos são vulgares. Revelar formas é vulgar.
Toda revelação é de uma vulgaridade abominável.
B) “Que eu nunca li num livro
Os conceitos a vestiram como uma segunda pele, e pode-se
Que o espirro
adivinhar a norma que lhe rege a vida ao primeiro olhar.
Fosse um vírus sem cura”.
Rosa Amanda Strausz
C) “A mãe diz pra eu fazer Mínimo múltiplo comum: contos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990.
Alguma coisa
Mas eu não faço nada”. A narrativa condensada do texto sugere uma crítica relacionada
D) “A luz do sol me incomoda à educação, tema anunciado no título.
Então deixa
A cortina fechada”. Essa crítica dirige-se principalmente à seguinte característica geral
da vida social:
E) “Oh! Cride, fala pra mãe
A) Problemas frequentes vividos na infância.
Que tudo que a antena captar
B) Julgamentos superficiais produzidos por preconceitos.
Meu coração captura”.
C) Dificuldades previsíveis criadas pelas individualidades.
D) Desigualdades acentuadas encontradas na juventude.
06. (Unicamp/2016)

(...) plantai batatas, ó geração de vapor e de pó de 08. (FGV-RJ/2016) Leia o texto a seguir para responder à questão a
pedra, *macadamizar estradas, fazei caminhos de ferro, construí seguir.
passarolas de Ícaro, para andar a qual mais depressa, estas horas
contadas de uma vida toda material, maçuda e grossa como Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo
tendes feito esta que Deus nos deu tão diferente do que a que algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e
hoje vivemos. Andai, ganha-pães, andai: reduzi tudo a cifras, todas viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem,
as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, alcançou o emprego de que o vemos empossado, e que exercia,
comprai, vendei, agiotai. – No fim de tudo isto, o que lucrou a como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo
navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria da hortaliça, quitandeira
espécie humana? Que há mais umas poucas dúzias de homens
das praças de Lisboa, saloia rechonchuda e bonitota. O Leonardo,
ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal-
se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar -apessoado, e sobretudo era maganão. Ao sair do Tejo, estando a
à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava
à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma
absoluta, para produzir um rico? valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo,
sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de
*Macadamizar: pavimentar. disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto
uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto
GARRET, Almeida. Viagens na minha terra. São Paulo: Ateliê Editorial, 2012. p. 77. do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de
pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco
Formou Deus o homem, e o pôs num paraíso de delícias; mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos
tornou a formá-lo a sociedade, e o pôs num inferno de tolices. e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.
ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um Sargento de Milícias.
GARRET, Almeida. Viagens na minha terra. São Paulo: Ateliê Editorial, 2012. p.190.

No excerto, narram-se as circunstâncias em que travaram


Vários discursos organizam a estrutura narrativa do romance conhecimento Leonardo (Pataca) e Maria (da hortaliça), a bordo
Viagens na minha terra, de Almeida Garrett. Isso permite afirmar do navio que, procedente de Portugal, iria desembarcá-los no Rio
que a visão de mundo dessa narrativa de Janeiro.
A) compartilha exclusivamente dos valores éticos dos ricos e é Considere as seguintes afirmações referentes ao excerto:
demagógica com a miséria social, marca inconfundível do I. A narrativa é isenta de traços idealizantes, seja no que se refere
romance de Garrett. às personagens, seja no que se refere a suas relações amorosas;
B) relativiza posições dogmáticas sobre a vida social, cultural e II. O ângulo de representação privilegiado pelo romancista é o da
política, permitindo vários ângulos de observação. comicidade e do humor;
C) denuncia as condições sociais injustas dos pobres da sociedade, III. A vivacidade da cena figurada no excerto deve-se à presença
o que indica o caráter panfletário do romance de Garrett. de um narrador-personagem, que participa da ação.
D) divide o mundo entre ricos e pobres e não leva em
Está correto o que se afirma em
consideração que uma vida justa depende da riqueza
A) I, somente. B) I e II, somente.
produzida na sociedade.
C) III, somente. D) II e III, somente.
E) I, II e III.

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09. (UEL/2016) Leia a crônica abaixo e responda à questão a seguir. É adequado o seguinte comentário sobre o que se tem no trecho
transcrito:
O DESAPARECIDO A) No segmento “Tiago é militante, ele não; só tomou parte
Tarde fria, e então eu me sinto um daqueles velhos poetas de em manifestações estudantis, coisas inócuas”, o leitor toma
antigamente que sentiam frio na alma quando a tarde estava fria, conhecimento da explicação por meio da voz da própria
e então eu sinto uma saudade muito grande, uma saudade de noivo, personagem.
e penso em ti devagar, bem devagar, com um bem-querer tão certo e B) Uma frase como “É o pai que, apavorado, o sacode
limpo, tão fundo e bom que parece que estou te embalando dentro violentamente” evidencia a presença de um narrador
de mim. onisciente, pois, por exemplo, um narrador-personagem, que
Ah, que vontade de escrever bobagens bem meigas, bobagens testemunha os fatos, não teria como ter indícios da sensação
para todo mundo me achar ridículo e talvez alguém pensar que na do pai.
verdade estou aproveitando uma crônica muito antiga num dia sem C) No relato, observam-se tanto a evocação de momentos
assunto, uma crônica de rapaz; e, entretanto, eu hoje não me sinto anteriores (por exemplo, “Prenderam o Tiago”), quanto
rapaz, apenas um menino, com o amor teimoso de um menino, antecipações de eventos posteriores àquele em que o pai
o amor burro e comprido de um menino lírico. Olho-me ao espelho e acorda Leo.
percebo que estou envelhecendo rápida e definitivamente; com esses D) A intensa sequência de frases curtas, que poderia ser tomada
cabelos brancos parece que não vou morrer, apenas minha imagem como recurso para sugerir a rapidez dos acontecimentos, perde
vai-se apagando, vou ficando menos nítido, estou parecendo um desses esse valor expressivo, pois convive com frases longas, em que,
clichês sempre feitos com fotografias antigas que os jornais publicam por exemplo, há indícios de serenidade de espírito (Espera voltar
de um desaparecido que a família procura em vão. breve, tão logo se desfaçam os temores e as apreensões).
Sim, eu sou um desaparecido cuja esmaecida, inútil foto E) A narrativa apresenta dois únicos espaços em que se dão
se publica num canto de uma página interior de jornal, eu sou o as ações relatadas: o quarto de Leo – não mencionado
irreconhecível, irrecuperável desaparecido que não aparecerá mais
diretamente, mas composto por dados do contexto − e o
nunca, mas só tu sabes que em alguma distante esquina de uma não
“precário hotel do Quartier Latin”.
lembrada cidade estará de pé um homem perplexo, pensando em ti,
pensando teimosamente, docemente em ti, meu amor.
11. (UFSC/2015) Os jornais da manhã noticiavam em grandes
BRAGA, R. 200 crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: Record, 2013. p. 465. manchetes o atentado. Os estudantes haviam entrado em uma
greve de “protesto contra o banditismo. Nossa alma está coberta
A respeito de expressões presentes na crônica, considere as
de 4o próbrio. Uma cova se abriu e o povo não esquecerá”.
afirmativas a seguir.
A repercussão do atentado no Congresso fora enorme.
I. Em “saudade de noivo”, identifica-se um desejo autêntico e
As galerias da Câmara dos Deputados e do Senado estavam lotadas
intenso, muito distante da indiferença;
quando foram abertos os trabalhos nas duas casas do Legislativo.
II. O “irrecuperável desaparecido” é a representação da
inconsistência do amor e da saudade expressa no início da Conforme os congressistas da oposição, “corria sangue nas ruas da
crônica; capital e não havia mais tranquilidade nos lares”. Representantes
III. A imagem de “um menino lírico” entra em desacordo com o de todos os partidos políticos haviam feito discursos condenando o
sentimento de imortalidade e com a inclinação dessa crônica atentado. O deputado Armando Falcão 1apresentara um projeto de
para a narrativa; amparo à viúva do major Vaz. Respondendo às afirmativas de Lacerda,
IV. A expressão “menos nítido” indica a angústia com a passagem publicadas nos jornais, de que as “fontes do crime estão no Palácio
do tempo e seus efeitos sobre a própria identidade. do Catete, Lutero Vargas é um dos mandantes do crime”, o líder
do governo na Câmara, deputado Gustavo Capanema, 2ocupara
a tribuna para classificar de infundadas as acusações ao filho do
Assinale a alternativa correta.
presidente da República. A multidão que ocupava as galerias 3vaiara
A) Somente as afirmativas I e II são corretas.
Capanema estrepitosamente.
B) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
C) Somente as afirmativas III e IV são corretas. FONSECA, Rubem. Agosto. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 74.
D) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
E) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. Com base na variedade padrão escrita da língua portuguesa, na
leitura do texto, no livro Agosto, de Rubem Fonseca, publicado
10. (PUC-Camp/2016) Para responder à questão a seguir, considere pela primeira vez em 1990, e no contexto histórico ao qual a obra
o texto abaixo, linhas iniciais do conto “Atualidades francesas”. remete, é correto afirmar que
No meio da noite é acordado bruscamente. É o pai que, 01. Rubem Fonseca faz um trabalho de recriação ficcional de
apavorado, o sacode violentamente. personagens históricas. São de sua autoria os pseudônimos
–– Prenderam o Tiago, Leo! Você tem de fugir. “Anjo Negro” e “Corvo”, empregados para designar,
Atarantado, senta na cama e começa a explicar: Tiago é
respectivamente, Gregório Fortunato e Lacerda.
militante, ele não; só tomou parte em manifestações estudantis,
coisas inócuas; o pai, porém, não quer saber de nada; já telefonou 02. na obra, a polêmica influência de Lacerda sobre a população
a um amigo, já falou com o advogado, já decidiu: o filho tem de fica evidente em termos e expressões tais quais “lacerdismo”
sair do país. Imediatamente. Leo não discute. Arruma depressa ou “lacerdistas doentes”, que se referem, respectivamente,
suas coisas. De madrugada embarca no Colossus, com destino às atitudes de quem apoiava Lacerda e aos adeptos de
à França. Em Paris, aloja-se num precário hotel do Quartier Lacerda que contraíram problemas de saúde após os
Latin. Espera voltar breve, tão logo se desfaçam os temores e as protestos contra o governo.
apreensões. Mas não voltará breve. Seis anos se passarão; o pai
04. o narrador que mais ganha voz em Agosto é Getúlio Vargas,
morrerá e logo depois a mãe; sem parentes, sem amigos, ele já
não terá motivos para retornar. tendo em vista que o ex-presidente é a personagem central
da trama de Rubem Fonseca.
SCLIAR, Moacyr. Contos reunidos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 50

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08. Agosto é uma obra composta por uma sucessão de narrativas calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da
curtas que se desenrolam em núcleos distintos. Tais narrações outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou
tanto se desenvolvem paralelamente no tempo e no espaço pronta. Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu
quanto dão lugar a digressões e avanços. e decidiu. Um adeus para a gente. Nem falou outras palavras,
16. Mattos, o comissário responsável pelo suposto atentado a
não pegou matula e trouxa, não fez alguma recomendação.
Lacerda, incorpora o investigador de romance policial por
Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu
excelência. Rubem Fonseca destaca-se nesse gênero com
textos nos quais são recorrentes as investigações policiais, somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: –– “Cê vai,
os crimes e a brutalidade das personagens. ocê fique, você nunca volte!” Nosso pai suspendeu a resposta.
32. os verbos “apresentara” (ref. 1), “ocupara” (ref. 2) e Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns
“vaiara” (ref. 3) têm como variantes as formas compostas passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo
pelos verbos auxiliares ter e haver. Assim, sem que houvesse daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: – “Pai,
mudança de sentido, poderíamos substituí-los por tinha/ o senhor me leva junto, nessa sua canoa?” Ele só retomou a olhar
havia apresentado, tinha/havia ocupado e tinha/havia vaiado. em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás.
64. considerando o sentido da palavra “opróbrio” (ref. 4), ela
Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber.
está empregada adequadamente na frase: “Nas ruas, as
Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa
multidões comemoravam.
saiu se indo – a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida
12. (Enem/2015) Primeiro surgiu o homem nu de cabeça baixa. longa. Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte.
Deus veio num raio. Então apareceram os bichos que comiam os Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços
homens. E se fez o fogo, as especiarias, a roupa, a espada e o do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não
dever. Em seguida se criou a filosofia, que explicava como não fazer saltar, nunca mais.”
o que não devia ser feito. Então surgiram os números racionais ROSA, João Guimarães. “A terceira margem do rio”. In: Primeiras Estórias.
e a História, organizando os eventos sem sentido. A fome desde Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.
sempre, das coisas e das pessoas. Foram inventados o calmante
e o estimulante. E alguém apagou a luz. E cada um se vira como Analise as afirmativas a seguir:
pode, arrancando as cascas das feridas que alcança. I. No fragmento do conto “A terceira margem do rio”, o leitor
BONASSI, F. 15 cenas do descobrimento de Brasis. In: MORICONI, I. (Org.). pode perceber que a linguagem utilizada pelo narrador tem
Os cem melhores contos do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
especificidades que dão à narrativa um ritmo próprio e uma
A narrativa enxuta e dinâmica de Fernando Bonassi configura um originalidade quando comparada a outros textos produzidos
painel evolutivo da história da humanidade. Nele, a projeção do na mesma época, no Brasil;
olhar contemporâneo manifesta uma percepção que II. O narrador, um menino que presencia a partida do pai, também
A) recorre à tradição bíblica como fonte de inspiração para a
presencia a discordância da mãe em relação à atitude paterna.
humanidade.
B) desconstrói o discurso da filosofia a fim de questionar o Em muitos momentos do conto, a linguagem do sertanejo, com
conceito de dever. seus trejeitos e modos, é enunciada pelo autor, confirmando
C) resgata a metodologia da história para denunciar as atitudes seu estilo que merece sempre destaque;
irracionais. III. Os irmãos do narrador, mesmo diante da decisão do pai de
D) transita entre o humor e a ironia para celebrar o caos da vida ir embora, não esboçam qualquer reação. Eles sabem que
cotidiana. o pai não voltará, mas não se importam. Essa declaração é
E) satiriza a matemática e a medicina para desmistificar o saber confirmada pelo narrador do conto “A terceira margem do rio”,
científico. no momento em que ele diz: “Sem alegria nem cuidado, nosso
pai encalcou o chapéu e decidiu. Um adeus para a gente”;
13. (UPE/2015)
IV. O pai do narrador, embora diante das contrariedades da esposa:
A TERCEIRA MARGEM DO RIO “Nossa mãe jurou muito contra a ideia”, não mudava de ideia:
“Nosso pai nada não dizia”. Em razão da qualidade narrativa,
Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo;
da história, do enredo, da boa psicologia das personagens,
e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam
o conto de Guimarães Rosa permite muitas interpretações,
as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação.
muitas impressões sobre a atitude do pai do narrador.
Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio
V. A decisão do pai do narrador de sair de casa foi motivada pelo
nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto.
fato de não suportar mais a convivência com aquela família
Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente
repleta de problemas, vivenciando muitos desafios a serem
– minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso
vencidos. Isso fica evidenciado na hora em que o narrador diz:
pai mandou fazer para si uma canoa. Era a sério. Encomendou a
“Ele só retomou a olhar em mim, e me botou a bênção, com
canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha
gesto me mandando para trás.”
da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda
fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever Está correto
durar na água por uns 20 ou 30 anos. Nossa mãe jurou muito A) I, II e III
contra a ideia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia B) I, II e IV
propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. C) I, III e IV
Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de D) II, III e IV
nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, E) III, IV e V

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Módulo de Estudo

14. (Unisc/2015) Leia atentamente o trecho a seguir, retirado da obra Resoluções


12 Netto perde sua alma, de Tabajara Ruas.
“Netto ficou olhando a umidade no forro, os reflexos 01. O tom confessional do narrador em primeira pessoa revela uma
da água. O sargento ficou olhando as mãos. Três fantasmas de concepção das relações humanas marcada por distanciamento de
noivas flutuavam no ar. estados de espírito acentuado pelo papel das gerações, uma vez
Netto se mexeu com esforço, sentou na cama. Os pés que o filho tinha uma visão de vida mais amena que o pai.
brancos e finos surgiram do camisolão e ficaram pendurados,
rentes ao chão. Resposta: A
Netto agarrou dois grandes travesseiros e estendeu-os
para o sargento. 02. As tiras aludem à célebre fábula da cigarra e da formiga visando a
–– Vamos cumprir nossa obrigação. criticar a precária situação dos trabalhadores ativos e aposentados.
O sargento Caldeira apanhou os travesseiros, apertou-os
contra o peito. Netto estava cada vez mais pálido. Resposta: A
–– Eu não tenho força para mais nada, sargento, estou
imprestável. 03. O gênero crônica caracteriza-se por valer-se de temas do cotidiano,
–– Vosmecê pode agarrar as pernas dele, general. tratando-os, geralmente com humor.
Deram a volta na cama e aproximaram-se do enorme
vulto do major Ramírez. As sombras dos dois homens ocuparam Resposta: E
as paredes brancas. A chuva aumentou nesse momento. Ficaram
olhando o major Ramírez respirar.” 04. No início do último parágrafo, o autor aconselha o cronista, escritor
que se dedica a comentar de forma subjetiva e criativa os fatos
RUAS, Tabajara. Netto perde sua alma. 2. ed. Porto Alegre:
Mercado Aberto, 1995. p. 149-150. do cotidiano, a desenvolver um tema que chame a atenção dos
leitores (“Pois então que arrume assunto, e um bom assunto, para
A partir da interpretação do trecho apresentado, assinale a não perder seus leitores”, “uma boa escolha de tema”).
alternativa incorreta.
Resposta: B
A) Trata-se de uma narrativa em primeira pessoa, na qual o general
Netto relata seus últimos momentos de vida em um hospital.
B) Pode-se dizer que a forma lenta e detalhada como a narrativa 05. O texto sobre o Mito da Caverna destaca que “as sombras das
é construída contribui para dar tensão ao episódio. estátuas são projetadas na parede, sendo a única imagem que
C) Os elementos espaciais e a descrição do ambiente são aqueles prisioneiros conseguem enxergar”; a mesma ideia é
determinantes para dar o clima à cena apresentada. encontrada na alternativa D, uma vez que o telespectador prefere
D) Os diálogos revelam que Netto e Caldeira possuem uma amizade “virar as costas” à realidade, deixar a cortina fechada em relação
que diminui o distanciamento imposto pela hierarquia militar. ao mundo real, para continuar a assistir à televisão.
E) No trecho, observa-se o uso do discurso direto.
Resposta: D
15. (FGV-RJ/2015)
06. Em Viagens na minha terra, Almeida Garrett mistura estilos
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo e gêneros, utiliza linguagem clássica e popular, jornalística e
princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu dramática no desenvolvimento da narrativa que tem como núcleo
nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar central a viagem de Lisboa a Santarém. Paralelamente, o narrador
pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente tece uma série de reflexões a respeito de questões que tinham
método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, grande importância naquele momento da História de Portugal.
mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda Assim, é correta a opção B, pois o romance permite uma visão de
é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que mundo ampla, desconstruindo alguns conceitos considerados, à
também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo: época, incontestáveis.
diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do Resposta: B
mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns
sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de 07. A repetição do termo “vulgar” enfatiza a condenação social
trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. à mulher que não se rege pelos princípios de uma sociedade
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. moralista, nem condiciona o seu comportamento a parâmetros
conservadores, estabelecidos culturalmente. Assim, é correta
Ao configurar as Memórias póstumas de Brás Cubas como a opção B, pois a crítica da narrativa incide sobre julgamentos
narrativa em primeira pessoa, conforme se verifica no trecho, superficiais produzidos por preconceitos.
Machado de Assis
A) deu um passo decisivo em direção ao Realismo, adotando os Resposta: B
procedimentos mais típicos dessa escola.
B) visa a criticar o subjetivismo romântico e os excessos 08.
sentimentalistas em que este incorrera. I. Verdadeira. Memórias de um Sargento de Milícias é
C) deu a palavra ao proprietário escravista e rentista brasileiro do considerado excêntrico em relação ao Romantismo por se
Oitocentos, para que ele próprio exibisse sua desfaçatez. afastar de características como a idealização. No trecho
D) parodia as Memórias de um sargento de milícias, retomando apresentado, o casal, após trocar uma série de beliscões e
o registro narrativo que as caracterizava. pisadelas “levaram o resto do dia de namoro cerrado”. Pouco
E) confere confiabilidade aos juízos do narrador, uma vez que tempo depois, “estavam os dois amantes tão extremosos e
este conhece os acontecimentos de que participou. familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos”.
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Módulo de Estudo

II. Verdadeira. A descrição caricatural das personagens 12. Fernando Bonassi, ironicamente, faz uma retrospectiva da História
(“Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma da Humanidade, através de um relato com períodos curtos, em
certa Maria da hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, sequência desordenada. Na verdade, os eventos mencionados não
saloia rechonchuda e bonitota. O Leonardo, fazendo-se-lhe respeitam a cronologia histórica, nem respeitam ordenamento
justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal-apessoado, de causa e consequência, o que permite inferir que sua intenção
e sobretudo era maganão”) e a informalidade conferem ao é registrar com humor o caos da vida cotidiana, como se afirma
texto o teor cômico e bem-humorado.
em D.
III. Falso. O narrador, apesar da linguagem coloquial, apresenta-se
em 3ª pessoa, como se nota em “Sua história tem pouca coisa
de notável. Fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria; Resposta: D
aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil.”
13. As proposições III e V são incorretas, pois
Resposta: B III. não há referência à reação dos irmãos do menino, nem ao
motivo que levou o pai a ir embora de casa.
09. As proposições II e III são falsas, pois V. a decisão do pai deve-se à busca do desconhecido dentro de si
II. a expressão “irrecuperável desaparecido” remete ao tempo mesmo e encontra no isolamento a única maneira de entender
passado do narrador, à meninice e juventude que não podem o incompreensível da vida.
ser recuperadas;
III. a imagem de “um menino lírico” enfatiza a sensação
Como as demais são verdadeiras, é correta apenas B.
angustiante do narrador ao perceber a passagem do tempo
e, por extensão, a sua condição de mortal; tampouco sugere
que a crônica possa ser considerada narrativa. Resposta: B

Como as demais são verdadeiras, é correta a opção B. 14. O trecho revela claramente que a narrativa é em terceira pessoa.
Resposta: B Exemplo: “Netto ficou olhando a umidade no forro, os reflexos
da água”.
10.
A) Incorreta. A explicação é dada pelo narrador em 3ª pessoa. Resposta: A
B) Incorreta. Um narrador-observador poderia facilmente
perceber o pavor de um pai que, preocupado com a prisão de 15. Brás Cubas, protagonista e narrador da obra, pertencia à elite
um filho, tenta preservar a liberdade de seu outro filho. carioca do século XIX. Nunca trabalhou (era rentista, ou seja, vivia
C) Correta. Como é próprio a um conto, de forma breve o de renda) e possuía escravos. Durante a leitura, não é difícil para o
narrador busca informações passadas para justificar a ação leitor perceber a falta de caráter e as incoerências de discurso do
presente; ao término do trecho, no entanto, ele adianta fatos personagem: por exemplo, ao encontrar um amigo de infância,
posteriores à viagem, como se percebe pelo uso de verbos Quincas Borba, na mendicância, Brás Cubas faz apologia ao
conjugados no futuro do presente do Indicativo: “Mas não
trabalho, de maneira moralista. Tal atitude é extremamente cínica,
voltará breve. Seis anos se passarão; o pai morrerá e logo depois
a mãe; sem parentes, sem amigos, ele já não terá motivos para uma vez que ele, como afirma no último capítulo da obra, teve
retornar”. a “boa fortuna de não comprar o pão com o suor do seu rosto”.
D) Incorreta. As frases curtas remetem a ações rápidas, como a
dos preparativos para uma viagem urgente; as frases longas, Resposta: C
no entanto, não indicam serenidade, uma vez que o narrador
menciona inclusive mortes (“Seis anos se passarão; o pai
morrerá e logo depois a mãe; sem parentes, sem amigos, ele
já não terá motivos para retornar”).
E) Incorreta. O trecho sugere outros dois espaços: o navio
(mesmo que indiretamente) e a capital francesa.

Resposta: C

11. Os itens 01, 02, 04, 16 e 64 são incorretos, pois


01. os pseudônimos “Anjo Negro” e “Corvo”, empregados para
designar, respectivamente, Gregório Fortunato e Lacerda,
foram criados pela própria imprensa da época de Getúlio;
02. o termo “lacerdismo” reproduz o tipo de governo,
pensamento ou ação política de Carlos Lacerda (1914-1977),
ex-governador do antigo Estado da Guanabara;
04. o comissário Mattos, “alter ego” do autor Rubem Fonseca,
é o principal personagem da obra e que relata, em terceira
pessoa, diversos acontecimentos durante a crise que levaria
Getúlio ao suicídio, provocada pela tentativa de assassinato
de Carlos Lacerda;
16. o comissário Mattos não foi o responsável pelo atentado a
Lacerda;
64. o termo “opróbrio” significa, no contexto, injúria, infâmia.

Assim, são corretos apenas 08 e 32.

Resposta: 08 + 32 = 40 SUPERVISOR/DIRETOR: Marcelo Pena – AUTOR: Ângelo Sampaio


DIG.: Renan Oliveira – REV.: Tatielly

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