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As orientações para o bom ministro

1 Timóteo 4.6-16

Introdução
1.Paulo já ensinou sobre diversos assuntos e agora faz um resumo de orientações para
Timóteo ser um bom ministro. São doze ensinos, tais como os que seguem.

1.O bom ministro expõe o ensino (v.6)


2.O bom ministro rejeita o falso ensino (v.7)
3.O bom ministro se exercita na piedade (v.7-8)
4.O bom ministro aceita a Palavra fiel (v.9)
5.O bom ministro luta pela Palavra fiel (v.10)
6.O bom ministro ordena e ensina (v.11)
7.O bom ministro não despreza a sua mocidade e se torna o padrão dos fiéis (v.12)
8.O bom ministro se aplica à leitura, à exortação e ao ensino (v.13)
9.O bom ministro não negligencia o dom concedido por Deus e testemunhado por outros
líderes (v.14)
10.O bom ministro medita no seu ministério para que o seu progresso se manifeste aos outros
(v.15)
11.O bom ministro cuida de si mesmo e da doutrina (v.16)
12.O bom ministro persevera (v.16)

2.É bem detalhado o ensino acima, mas podemos resumi-lo em duas orientações. A primeira é
a orientação
para o ministro cuidar do ensino e a segunda cuidar de si mesmo.

Um obreiro deve seguir as orientações de Paulo para Timóteo


As orientações para o bom ministro

I.Cuidar do ensino (v.6-11)


1.O bom ministro expõe o ensino, mas toma o cuidado de se alimentar. O bom ministro
(diakonos, servo) não pode negar o bom ensino aos irmãos e deve, também, adverti-los contra
os falsos ensinos (v.6).

2.O obreiro deve rejeitar, ou seja, não dar importância religiosa a certos assuntos, no caso, a
essas fábulas. As fábulas não são necessariamente blasfemas ou ímpias em seu caráter, mas
não têm valor para o ensino da Palavra de Deus. Muitas fábulas eram histórias mentirosas
sobre anjos, Deus e outros assuntos, os quais eram tratados sem base bíblica, mas que os
falsos mestres usavam como se tivessem valor escriturístico (v.7).

3.As senhoras em idade avançada devem ser respeitadas e honradas, ainda que algumas
sejam caducas. O sentido não é quanto às mulheres de idade avançada, mas diz respeito às
idéias indignas de confiança. Paulo usa uma expressão para transmitir a idéia de "pouca
credibilidade". Não significa que as fábulas eram contadas por velhas, pelo contrário eram
narradas por pessoas muito conscientes do que estavam fazendo, porém, o servo de Deus não
deve dar credibilidade a esses ensinos falsos (v.7).

4.Exercitar é o mesmo que treinar, disciplinar o corpo ou a mente (Hb 5.14). Esse treino deve
ser na “piedade”, que é o temor a Deus, a vida cristã propriamente dita (v.7).

5.O bom ministro deve treinar para alcançar vitórias sobre o velho homem. O exercício é
estudar a Palavra e praticar com a ajuda do "treinador", o Espírito Santo. Alguns se exercitam
no mal (2 Pe 2.14). Treino em ginásio de esportes nunca é fácil. Assim, também, treinar-se na
piedade requer sacrifícios (v.7).

6.Quando Paulo diz que o exercício físico "para pouco é proveitoso", ele não está dizendo que
o exercício físico não tem nenhum valor, mas que não tem nenhum valor no que se refere a
benefícios para a eternidade (v.8).

7.O exercício físico para esta vida é muito bom. Se o exercício físico é bom, o exercício na vida
cristã é muito melhor, pois resulta em benefícios espirituais para a eternidade, que é a
"promessa da vida que agora é da que há de ser" (v.8).

8.Fiel é a palavra que Paulo está proferindo sobre o bom ministro. Ouvimos tanta mentira que
seria muito proveitoso atentarmos para estes ensinos, pois há muitos maus obreiros
introduzindo ensinos errados. A palavra fiel é o motivo da luta e Deus é nossa esperança. A
luta é contra as heresias e o pecado de modo geral, o qual se reflete na falta de piedade, e
também, para que outros conheçam o Salvador (v.9-10).

9.Para lutar é preciso ter um objetivo em vista. Obreiros que trabalham, tendo como único alvo
os resultados de seu trabalho, ficam frustrados, pois pregam e pessoas não se convertem,
ensinam os crentes e muitos não crescem e lutam para serem honestos e sofrem injustiça.
Todo obreiro tem que mirar o alvo certo que é o Deus vivo e Nele esperar. O bom ministro
receberá galardão do seu trabalho e não dos resultados obtidos (1 Co 3.8-9) (v.10).

10.Jesus Cristo é o Salvador de todos os homens. Isto não significa que Ele levará ao Céu
pessoas que não se arrependerem de seus pecados e não crêem Nele, mas que Ele pode
aceitar todos os que querem ser salvos crendo na Salvação proposta por Ele, ou seja, crendo
na expiação feita na cruz. Isto está ao alcance de todos os que ouvem e não apenas para um
grupo selecionado (1 Jo 2.2) (v.10).

11.Timóteo tinha de ordenar, mas a situação dele não era tão simples para cumprir a exigência
de Paulo. Timóteo devia ter mais ou menos 35 anos. No Império Romano, homem maduro era
considerado de 40 anos para cima. Timóteo tinha de corrigir homens de 50-60 anos ou mais,
isso era um obstáculo cultural a ser transposto. Sabemos que entre os judeus, um homem a
partir de 30 anos já tinha autoridade para isto (v.11).

12.Timóteo era tímido, conforme as evidências de 1 Co 16.10-11. É possível que alguém


quisesse tirar vantagem desses aspectos da vida de Timóteo. Há muitos obreiros que ensinam,
porém, não tem coragem de ordenar. Se o nosso ensino pode ser discutido, escolhido ou
rejeitado como mais uma opção filosófica, então, já não somos profetas de Deus e passamos a
ser filósofos e “formadores de opinião”. O “assim diz o Senhor” é substituído pelo “veja se eu
não tenho razão...” ou “eu penso assim” (v.11)

13.Esta orientação diz respeito ao ensino. O bom ministro precisa ensinar sempre e com
autoridade. A autoridade vem de um cuidado por sua própria vida, como veremos a seguir.

II.Cuidar de si mesmo (v.12-16)


1.Por ter Timóteo que lutar contra um fator irreversível durante pelo menos uns 10 anos (até
ficar "maduro" para a sociedade), deve tornar-se padrão, a fim de ser aceito, se não pela
concepção de maturidade, pelo menos pelo caráter de um bom obreiro. Os mais jovens
precisam de maior demonstração de um andar digno, pois a pouca idade e a falta de visão
correta dos valores reais de um bom obreiro, por parte de alguns, tornam-se um obstáculo para
ser reconhecido. Não ser reconhecido como um obreiro sério é prejuízo irreparável para a obra
(v.12).
2.Independente se Paulo estava se referindo à leitura pública ou particular, é importante que
todo obreiro leia. Sabemos que naqueles dias os crentes não possuíam cada qual a sua Bíblia
particular, daí a importância do ministro (pastor) ler as Escrituras para todo o povo. Também
era costume nas sinagogas a leitura pública. Logo se percebe quando um obreiro lê bastante
ou pouco. A leitura freqüente dá autoridade para toda pessoa em qualquer setor (v.13).

São necessários 25 carneiros para se fazer 200 páginas da Bíblia de pergaminho. Portanto,
para se fazer 1200 páginas, o tamanho da Bíblia toda, são necessários 150 carneiros {Berean,
nr.46, 14/11/03}

3.O obreiro, também, deve exortar o povo. A palavra exortar tem duplo sentido. Um deles é
mostrar o caminho certo da vida cristã e o outro é consolar. O obreiro deve ler, exortar e
ensinar. Parece que toda a base disto é a leitura. O obreiro que pensa que é suficiente para
consolar e ensinar sem estudar já é um fracasso, pois ninguém é uma ilha, isolado em suas
idéias. Não existe doutrina sem exposição do ensino e não existe ensino sem estudo da
Palavra de Deus. Para exortar precisa cuidar de sua própria vida, senão o resultado será a
hipocrisia (v.13).

4.Mesmo que Timóteo ouça Paulo e leia, exorte e ensine, ele não pode dispensar a ajuda
pessoal de Paulo. Todo obreiro precisa de ajuda de seus líderes e todo líder tem a obrigação
de acompanhar o crescimento dos seus discípulos. Percebe-se a intenção de Paulo na
expressão “até que eu vá” (v.13).

5.O "Dom" é a capacidade dada pelo Espírito Santo para exercer uma determinada tarefa. É
difícil dizer se aqui tem algo relacionado a poderes miraculosos. Em alguma igreja impuseram
as mãos em Timóteo à semelhança da igreja de Antioquia da Síria, que fez o mesmo com
Saulo e Barnabé (At 13.1-3). O dom não era responsabilidade do presbitério, mas era
concedido por Deus para o obreiro ("em ti") (v.14).

6.Alguns pensam que a imposição feita a Timóteo foi em Listra (At 16.1-3). Outros pensam que
foi em Éfeso, onde Timóteo recebeu o ofício de superintendente. Não é preciso estabelecer
aqui o ensino de que os dons espirituais são concedidos desta forma. Mas aqui, talvez, refira-
se simplesmente à bênção da igreja, ou seja, a igreja, por mãos do presbitério concordando
com o obreiro para a tarefa a que está sendo enviado. De qualquer forma, o obreiro precisa ter
a confirmação de Deus e dos irmãos para o ministério e jamais trair a confiança daqueles que
investem em seu ministério (v.14).

7.As profecias devem ser as declarações proferidas por outros obreiros a respeito daquele que
está sendo investido da autoridade de Deus. Um obreiro deve começar o ministério com uma
quantidade de testemunhas para não ocorrer o erro de ser uma criação própria de algum
obreiro presunçoso (v.14).

8.Meditar significa “pensar seriamente” (meletao, atentar cuidadosamente). O obreiro que não
pensa seriamente nesses assuntos jamais conseguirá concentrar sua atenção no ministério,
pois o exercício do ministério depende de uma mente direcionada e isto só é possível através
da reflexão cristã (v.15).

9.Não apenas pensar esporadicamente, como que para refazer a estratégia de ministério, mas
ocupar a mente com os princípios ministeriais. Pelas orientações de Paulo para Timóteo,
podemos usar uma hipérbole e dizer que o bom obreiro quando não está estudando está
pensando (v.15).

10.O bom ministro progride e todos vêem. "Progresso" é um termo militar que significa "ir
adiante” (prokope, avanço) como faz o pioneiro. Como aquele soldado que vai adiante da tropa
derrubando obstáculos para outros seguirem. Timóteo devia abrir caminho para os crentes
crescerem. Com este termo em mente, podemos fazer algumas considerações (v.15).

Se o obreiro não está abrindo caminho para seus discípulos eles nunca chegarão onde Deus
quer.
Abrir o caminho causa alguns arranhões para o pioneiro, no caso, o obreiro.
Ao abrir o caminho muitos que estão atrás criticarão e, às vezes, darão boas sugestões.
Se o obreiro abrir o caminho para lugar errado, todos os seus seguidores estarão perdidos.
O obreiro nunca deve arrancar todos os obstáculos, mas deixar uns poucos para os
seguidores.
Seria tolice que o pioneiro, ao invés de tirar os obstáculos colocasse outros mais.

11.Se Timóteo meditar nas ordens de Paulo e ser diligente (dedicado), todos verão que ele é
um padrão, apesar de ser jovem. O obreiro não está sozinho em seu ministério no que diz
respeito à prestação de contas. Mesmo não oficialmente, o obreiro presta contas aos seus
discípulos, à igreja e à sociedade de modo geral. Não é possível um obreiro achar que está
crescendo e ninguém perceber, pelo contrário, o seu crescimento fica evidente a todos (v.15).

12.”Tem cuidado” é a tradução de “epekho” que significa “prestar atenção, aplicar”. O obreiro
que não aplica para si mesmos essas verdades torna-se como o fariseu que diz “faça o que eu
falo, mas não faça o que eu faço”. O bom ministro cuida de si mesmo e da doutrina por causa
do rebanho (v.16).

13.Portanto, é possível um obreiro ser totalmente íntegro em sua moral, mas não ser um bom
obreiro porque não é esforçado no ensino, ou seja, tem cuidado de si mesmo, mas não da
doutrina. Por outro lado há o obreiro que é um erudito na doutrina, porém, seu caráter não é
perfeito (v.16).

14.Talvez não seja tão difícil começar nessas virtudes e doutrina, mas certamente será difícil
continuar. Mesmo com as dificuldades o obreiro deve permanecer. Aqui não se trata de
permanecer em um lugar, mas continuar no cuidado próprio e da doutrina. Isto o obreiro deve
fazer onde estiver (veja a importância da palavra “continuar ou perseverar” em outros textos: At
6.4, 26.22, Rm 2.7, 2 Tm 3.14, Tt 1.9) (v.16).

15.É evidente que Paulo não está falando de salvação no sentido soteriológico que estamos
acostumados a entender. Ser salvo aqui significa, em termos bem populares “fazer valer a
pena o ministério”. Ser salvo de um ministério inútil e dos erros (heresias). Não é por acaso que
existem obreiros que são bênção e outros prejuízo para o reino de Deus. A aplicação desses
princípios fará de nossos ministérios uma fonte de vida para os sedentos (v.16).

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