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A CEIA DO SENHOR

A ceia do senhor é uma ordenança de Jesus Cristo para seus discípulos e ao longo da
tradição cristã protestante tem sido classificada juntamente com o batismo como um
sacramento. Um sacramento pode ser simplesmente definido como um sinal exterior visível
de uma graça interior invisível.

No caso da ceia os sinais exteriores visíveis correspondem ao pão e ao vinho. Já a graça


invisível associada a esses elementos é receber os benefícios do sacrifício de Cristo (I
Coríntios 10:16), é alimentar-se espiritualmente de Cristo (I Coríntios 11:24) e ter comunhão
com o povo de Deus (I Coríntios 10:17).

1. A instituição da ceia e seus significados espirituais

Jesus instituiu a ceia no episódio conhecido como “a Última Ceia” na noite em que foi traído
(I Coríntios 11:23). Ele estabeleceu a ceia como uma ordenança que deveria ser praticada
continuamente pelos seus discípulos.

a. O significado redentor

Há fundamento suficiente na narrativa dos evangelhos para afirmar que a Última Ceia se
tratou de uma tradicional refeição de Páscoa, a festa judaica que celebra a redenção dos
Israelitas do cativeiro egípcio.

Jesus, porém, deu à refeição pascal um novo significado. Quando Jesus afirmou “isto é o
meu corpo...este é o cálice da nova aliança...fazei isto em memória de mim” (Lucas 22:19)
referiu-se ao seu corpo e seu sangue como um meio para uma nova páscoa, um novo êxodo
e o estabelecimento de uma nova aliança. Um paralelo claro pode ser traçado: no primeiro
êxodo a libertação foi geopolítica, e o cordeiro pascal foi um animal. No novo êxodo a
libertação é espiritual, e o cordeiro é Jesus, o Cristo de Deus. O êxodo que a Ceia do Senhor
nos remete não se refere a uma libertação geopolítica, com foi o primeiro, e sim a uma
libertação espiritual. Somos libertos do pecado, da morte e das trevas, através do sacrifício
do verdadeiro cordeiro pascal – Cristo.

Da mesma forma que os judeus deveriam repetir sempre a refeição pascal, confessando sua
dependência desse ato histórico de redenção e apropriando-se de seus benefícios (Êxodo
12:14; 13:9), a igreja, na celebração repetida da ceia do Senhor, dá testemunho do grande
ato histórico da redenção em que se fundamenta (I Coríntios 11:24-26) – a cruz - e prova de
novo, pela fé os benefício desse sacrifício.

A páscoa levava os judeus a reviverem o êxodo 1, já a Ceia do Senhor nos leva a reviver o
calvário e assim a termos um encontro poderoso com nosso salvador.

b. O significado escatológico

1
Na refeição pascal acreditava-se que os acontecimentos passados voltavam a vida no presente; segundo a
Mishanah “em cada geração o homem deve considerar-se como se ele mesmo tivesse saído do Egito”. (MILNE,
Bruce. Estudando as doutrinas da bíblia. P.243).
Além disso, é bíblico afirmar que a celebração da Ceia do Senhor tem um aspecto
escatológico, isto é, nos leva a pensar na cruz, mas também na consumação do plano
redentor de Deus. Jesus, no contexto da ceia afirmou que somente voltaria a beber do fruto
da videira com os discípulos no reino vindouro (Mateus 26:29; Marcos 14:25).

No evangelho de Lucas a referência escatológica aparece também na Ceia do Senhor,


quando Jesus destina os discípulos a comer e beber “à minha mesa no meu reino” (Lucas
22:29). O apóstolo Paulo acrescenta que a ceia deveria ser celebrada “até que ele venha’ (I
Coríntios 11:26).

Assim fica claro que no pensamento de Jesus e no ensino apostólico a ceia aponta para o
grande banquete escatológico e assim é a antecipação dessa comunhão perfeita e plena que
gozaremos com Cristo em seu Reino.

c. O significado comunitário

A Ceia do Senhor além de ser um lembrete do sacrifício de cristo em nosso favor e um


testemunho de seu reino futuro, também fala da unidade e do amor que deve existir entre
os crentes em Cristo.

Na ceia comemos do mesmo pão, bebemos do mesmo vinho, tomamos parte no mesmo
sacrifício (a cruz) e testemunhamos da mesma esperança, logo a ceia anuncia que o corpo
de Cristo é um corpo (cf. I Coríntios 10:17)

Por essa razão o apóstolo Paulo repreende os cristãos de Corinto que se alvoroçavam em
tomar a ceia sem demonstrar preocupação com a participação dos demais na mesma (cf. I
Coríntios 11:17-34).

2. A presença de Cristo na ceia

Segundo a tradição católica romana, os elementos pão e vinho, quando devidamente


consagrados pelo sacerdote transformam-se no corpo e no sangue de Cristo. Essa crença
ficou historicamente conhecida como transubstanciação e fundamenta-se principalmente
na interpretação literal da frase de Jesus “isto é o meu sangue”. Essa compreensão levou a
igreja romana a acreditar que o sacramento da ceia tem um poder intrínseco a ele, de modo
que qualquer indivíduo que dele tomar receberá seus benefícios.2

Os teólogos da reforma protestante contestaram a transubstanciação, vendo nessa crença


uma superstição que não encontra eco nas Escrituras. Jesus falava em aramaico e o que ele
disse, de acordo com o uso do aramaico, foi “este pão meu corpo partido por vocês”. Não
devemos, portanto, construir teologias sobre o verbo “ser” (é) que teria sido omitido, e sua
presença foi inferida pelos tradutores, já que a ausência do verbo não faria sentido no
português.
Os reformadores defenderam que todas as vezes que a ceia é ministrada, a mensagem da
ceia deve ser proclamada, pois os benefícios da eucaristia somente são recebidos por
2
TILLICH, Paul. História do pensamento Cristão. São Paulo, ASTE, 2000. P. 217
aqueles que abordam o pão e o vinho com fé genuína em Cristo e não porque os elementos
eucarísticos estão envolvidos por um poder especial.

Podemos concluir o seguinte sobre a presença de Cristo na ceia: presença real, sim!
corpórea não! A presença de Cristo de maneira corpórea nos elementos da ceia não é
apenas infundada como também é desnecessária pois temos o Espírito Santo, e é ele que na
celebração da ceia nos conduz a uma experiência singular com Cristo.

Usando o Sol como ilustração, Calvino afirmou que assim como o Sol transmite para a terra
seu calor por meio de seus raios, Cristo comunica sua carne e seu sangue a nós por meio do
seu Espírito3. Pelo Espírito, na ceia, Cristo nos alimenta dele mesmo.

3. Os benefícios da Ceia

Devemos manter uma posição equilibrada sobre a eficácia do rito da eia. Não podemos
pender para o extremo romano, que atribui aos elementos eucarísticos uma natureza quase
“mágica”, tampouco cair no erro de subestimar o potencial que existe na celebração da ceia
tratando-a como um mero simbolismo.

Na ceia tempos a oportunidade de nutrir a nossa alma com Jesus. Nos alimentamos
espiritualmente de Cristo pelo Espírito Santo e assim recebemos vida em nosso ser pois “ se
vocês não comerem a carne do Filho do homem e não beberem o seu sangue, não terão
vida em si mesmos” (João 6:53).

Quando celebrar a ceia receba vida, renovo e alimento para sua fé.

4. A ministração da Ceia do Senhor

a. O ministrante
A ceia pode ser ministrada por qualquer crente em Cristo Jesus, pois fomos feitos
sacerdócio real (I Pedro 2:9) por Ele. Assim não há pessoas especiais a quem cabe a
celebração da ceia.

Você pode celebrar a ceia em família, como casal, visitando amigos ou no grupo de
crescimento.

b. Os elementos

Não é preciso usar pão e vinho para manter a integridade da ceia. Mas não é coerente fazer
o uso de batata frita e refrigerante, pois não nos remetem ao simbolismo do corpo e do
sangue. A utilização de um suco de uva e um pão é suficiente.

c. A periodicidade

3
CALVINO, Institutas da Religião Cristã. VOL IV. P.18.
A ceia costuma ser celebrada em comunidade uma vez ao mês, mas não há uma orientação
bíblica restrita sobre isso. O importante é não deixar a celebração da ceia tornar-se um
ritual feito de maneira ordinária, sem o devido peso que esse momento deve ter.

5. Orientação para o grupo de crescimento

Ao celebrar a ceia no grupo de crescimento atente para as seguintes diretrizes:

 Separe previamente o pão (qualquer pão) e o suco de uva;


 Sirva os elementos em porções pequenas;
 Ler a passagem do evangelho referente a última ceia, pode ajudar os participantes a
se conectarem melhor com o momento da ceia;
 Explique brevemente o significado da ceia – cuidado para não se estender;
 Explique que ninguém é obrigado a participar desse momento, mas todos os que
creem na mensagem da ceia são incentivados a participar;
 Tenha cuidado com brincadeiras, distrações e banalidades que possam desvirtuar a
seriedade e sacralidade desse momento. Reverência e contemplação devem ser a
tônica desse momento;
 Comam dos elementos juntos e ao final agradeçam por Jesus e por aquilo que Deus
tem feito em nossa igreja local (visitantes, novos decididos, generosidade,
voluntários e etc.). Não esqueça de ao agradecer também invocar a benção divina
sobre todos aqueles que fazem essa casa chamada CCVIDEIRA florescer.

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