Durante um século e meio, depois de 1500 (1500-1650), uma combinação de reinos, ducados e províncias espalhados por todo o continente, governados por membros espanhóis e austríacos da família Habsburgo, ameaçou tornar-se a influência política e religiosa predominante na Europa. Histórico das guerras: As lutas que perturbaram a paz na Europa nos cem anos anteriores a 1500 foram localizadas, os choques entre os vários Estados italianos e a rivalidade entre as coroas francesa e inglesa e as guerras dos cavaleiros teutônicos contra lituanos e poloneses foram exemplos disso. A partir do final do século XVI, as disputas se dão entre cinco ou seis Estados maiores e outros menores. O histórico das guerras podem ser marcados por três características: A Reforma: O advento da Reforma Protestante, liderada por Martinho Lutero (1483-1546). A alegação de que a liberdade da punição de Deus sobre o pecado poderia ser comprada, confrontou um vendedor de indulgências. Lutero viu este tráfico de indulgências como um abuso que poderia confundir as pessoas, deixando de lado a confissão e o arrependimento verdadeiros. Sua recusa em retirar seus escritos a pedido do Papa Leão X em 1520 e do Imperador Carlos V na Dieta de Worms em 1521 resultou em sua excomunhão pelo Papa e a condenação como um fora- da-lei pelo imperador do Sacro Império Romano. Lutero ensinava que a salvação não se consegue com boas ações, mas é um livre presente de Deus, recebida apenas pela graça, através da fé em Jesus como único redentor do pecador. Sua teologia desafiou a autoridade papal na Igreja Católica Romana. Habsburgos: A criação de uma combinação dinástica, a dos Habsburgos, que formou uma rede de territórios que se estendiam de Gibraltar à Hungria e da Sicília a Amsterdão, superando tudo o que já se vira na Europa, em tamanho. A Casa de Habsburgo se constituiu pelas ramificações de uma família nobre da Europa foi uma das mais importantes e influentes entre os séculos XIII e XX. Foi a dinastia soberana de vários Estados e territórios. Entre os seus principais domínios estavam o Sacro Império Romano Germânico (962-1806), onde imperou de 1273 até seu desmembramento em 1806, como consequência das Guerras Napoleônicas (1799-1815); e o Império Austro-Húngaro, que governou desde a sua fundação em 1867 até sua dissolução em 1918, pelo Tratado de Saint- Germain-en-Laye, como consequência da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Por ter sido elevada a realeza em 1273, é denominada a "família imperial" do Sacro Império Romano Germânico (962-1806); e por ter sido a soberana da Áustria desde1278 até 1918, tendo inclusive sido a única governante do Império Áustro-Húngaro (1867-1918), é denominada como a "família imperial austríaca". Reunia nele as heranças das casas de Áustria, Borgonha, Aragão, Castela e as imensas terras espanholas no Novo Mundo. A Reforma Protestante e a invasão turca da Europa Oriental obrigaram os dois ramos dos Habsburgos a juntar forças para preservar o catolicismo europeu durante toda a Contrarreforma e a guerra dos Trinta Anos (1618-1648). O combate aos turcos marcaria por mais de dois séculos o destino da dinastia Habsburgo, entre 1453 (queda de Constantinopla, atual Istambul) e 1718 (Tratado de Passarowitz, fim da guerra austro-turca). As possessões dos Habsburgos não formaram, porém, um conjunto unido, apesar da criação de um governo central comum a todos os territórios, com um conselho áulico, um conselho secreto e um conselho de guerra. Disputas de família trouxeram muitas instabilidades aos domínios. O Império Otomano: O Império Otomano foi um estado que existiu entre 1281 e 1923 e que no seu auge compreendia a Anatólia (Turquia), o Médio Oriente, parte do norte da África e do sudeste europeu. Nos séculos XVI e XVII, o império otomano constava entre as principais potências políticas europeias e em vários países europeus foi sentido o receio dos avanços nos Balcãs. No seu clímax, compreendia uma área de 11.955.000 km². Em 1453, após a captura da cidade de Constantinopla (atual Istambul) esta tornou-se sua capital. Em fins do século XVI, o império mostrava os primeiros sinais de excessiva extensão estratégica, com exército e marinha com elevados custos, impossíveis de serem supridos a contento. A excessiva centralização despótica e uma burocracia ineficiente e uma excessiva ortodoxia para com o comércio em seus domínios. Tarifas excessivas levaram estabelecimentos à falência e despovoaram cidades. Com a crise econômica, o saque por parte do exército, que já existia, atingiu níveis alarmantes. Nessa atividade, foram seguidos dos funcionários civis. Em 1517 dá-se a Reforma Protestante e o território do Sacro-Império adere ao movimento (em especial a Saxónia, sendo o seu príncipe um dos príncipes eleitores). Carlos V (coroado em 1519 imperador no Sacro Império (era rei de Espanha e neto do imperador antes). É eleito por 4 príncipes (eleitores do Império- Brandemburgo, Saxónia, Boémia, Palatinado) e 3 associados à Igreja. Império Otomano crente no islamismo, estando a Europa “habituada” já a lidar com isto. A Europa Ocidental já tinha as fronteiras praticamente definidas, mas não a Europa Central e Oriental. No século XVI a Polónia é uma grande potência. Descontinuidade territorial é frequente) consegue apaziguar os conflitos que existem (império católico e príncipes protestantes) celebrando em 1555 a Paz de Ausburgo, onde se define o princípio “cujus region, ejus religio”, ou seja, cada príncipe fixava a religião do seu território, escolhendo entre o luteranismo e o catolicismo. Se os habitantes desse território não quisessem essa religião, deveriam ir para um território onde vigorasse a sua religião. Se não o fizerem, têm de praticar o culto de forma privada. Portanto, é fácil perceber que existia uma mera tolerância religiosa e não uma liberdade religiosa, até porque o calvinismo já existia e não era aceite como possível religião. Na segunda metade do século XVI, muitos dos príncipes eleitores adotam o calvinismo, e, portanto, a paz de Ausburgo acaba por não resolver os conflitos de forma eficaz. O território dos Países baixos segue o protestantismo, o que geraria um conflito, visto que eram território da Coroa Espanhola (Carlos V- Casa de Habsburgo), católica e aliada do Sacro-Império. Os Países Baixos iniciam um movimento de rebelião contra a coroa espanhola e em 1581, 7 províncias do Norte declaram a sua independência (as outras mantinham-se espanholas), criando-se a República das Províncias Unidas. Esta só vai ser reconhecida por Espanha em 1648, após o fim da guerra dos 80 anos, que dura entre 1568 e 1648. Neste conflito, no início, os espanhóis apercebem-se que a luta seria vencida pelas Províncias, visto que se desenvolvem muito rápido a nível marítimo e económico, assinando em 1609 um período de tréguas por 12 anos (até 1621). Nesse período de paz, preparam-se para retomar a guerra, formando alianças: Católicos vs. Protestantes. Em 1608 e 1609 criam-se duas alianças: Liga Católica dominada pelo Duque da Baviera e a Liga da União Protestante/Evangélica, com o apoio de vários príncipes protestantes (Frederico V, eleitor do Palatinado) e de outras potências protestantes. Concílio de Constança: apesar do seu objetivo não ser esse, tratou também de direito das gentes, reafirmando uma doutrina importante, que foi por alguns membros da igreja absorvida. Reconhecia a personalidade jurídica aos infiéis, isto é, as regras que os cristãos tinham durante a guerra com outros cristãos tinham de ser aplicadas também na guerra contra os infiéis. Isto não era uma inovação, pois no século XII discutia-se se os cristãos estavam obrigados a seguir as regras de guerra sobretudo na guerra do médio oriente e a tese aceite foi a de que mesmo contra pagãos tinham de seguir as regras do direito das gentes, pois eles também estavam inseridos pelo Direito Natural (São Tomás de Aquino vai, no século XIII, responder afirmativamente). Motivo em concreto para a explosão da guerra dos 30 anos: Defenestração de Praga. Tudo começa com a questão de sucessão da coroa imperial, pois o Imperador não tinha filhos, preparando que seria eleito para Rei da Boémia Fernando II de Áustria. Este era católico e tem como finalidade eliminar o protestantismo do império. A Boémia era um território maioritariamente calvinista, e, portanto, em Praga (capital da Boémia) os mensageiros/diplomatas de Fernando II foram mandados da janela pela nobreza da Boémia. Este ato de traição e provocação pretendia mostrar que não queriam Fernando II como rei (já tinha sido eleito). Convidam, por isso, Frederico V (príncipe do Palatinado) para ser rei da Boémia, o que leva ao acionamento das duas Ligas: Fernando II chama os espanhóis e Frederico V chama os ingleses, franceses huguenotes e holandeses. Logo, inicialmente a guerra dos 30 anos tem uma dimensão não só interna. Em 1619 Frederico V eleito Rei da Boémia e Fernando II é eleito Imperador por unanimidade (nessa altura era Fernando II, o rei da Boémia). Em 1635 França católica entra na guerra oficialmente, pois já anteriormente tinha apoiado a Suécia (que entra em 1930). A entrada de França ao lado dos Protestantes é decisiva para a derrota do Império. Esta entrada expressa a disputa política-hegemónica que motivou também a guerra. A Dinamarca entra na guerra em 1625, mas em 1629 é derrotada. Religião e Poder: Era quase impossível separar o poder político das ordens religiosas nesses anos. Disputas religiosas – não havia separação entre Igreja e Estado – fatalmente se traduziam em disputas territoriais e contendas pelo poder político. O principal objetivo das dinastias francesas, em especial os Bourbons (1555-1889), na Europa era romper o poder dos Habsburgos em inúmeros conflitos de maior ou menor intensidade. No século XVI, apenas a Inglaterra, França, Escandinávia, Polônia, Moscóvia e as terras sob controle otomano não faziam parte dos domínios dos Habsburgos. Guerra implicava condições materiais crescentes para mantê-las. Se pensarmos que os Habsburgos se envolveram em cerca de 140 anos de guerras entre os séculos XVI e XVII, fica claro um dos motivos de sua decadência. O objetivo principal dos Habsburgos era a tentativa de impor um sistema hegemônico da cristandade, o que traria estabilidade e previsibilidade ao sistema europeu. Em 1618, a revolta dos Estados protestantes da Boêmia (atuais repúblicas Tcheca e Eslováquia) contra o governante católico Fernando II (Habsburgo) foi o episódio deflagrador de uma guerra que se estenderia por três décadas. A Guerra dos 30 anos A Guerra dos Trinta Anos consistiu-se num grande conflito multidimensional – entre variadas guerras localizadas ou de maior ou menor dimensão - travado pelos Habsburgos da Áustria e da Espanha contra sucessivas coalizões de Estados inimigos de 1618 até a Paz de Vestfália, em 1648. A escala, o número de homens envolvidos e os custos de um conflito armado no século XVI eram muito maiores do que no século anterior. Os embates ocorreram especialmente na Alemanha, nos quais rivalidades entre católicos e protestantes e assuntos constitucionais germânicos foram gradualmente transformados em uma luta europeia. Apesar de as disputas religiosas serem a causa direta do conflito, ele envolveu um grande esforço político da Suécia e da França para procurar diminuir a força da dinastia dos Habsburgos, que governavam a Áustria. A guerra causou sérios problemas econômicos e demográficos na Europa Central. A Guerra dos Trinta Anos envolveu os principais países da Europa – além de expedições holandesas que atacaram, em além-mar, Brasil, Angola e Ceilão (Sri-Lanka) – transformando-se naquilo que alguns historiadores chama de primeira guerra global. A Paz de Vestefália (ver pdf) A Paz de Vestfália (região alemã) designa uma série de tratados que encerrou a Guerra dos Trinta Anos e também reconheceu oficialmente as Províncias Unidas e a Confederação Suíça. O Tratado Hispano-Holandês, que pôs fim à Guerra dos Oitenta Anos, foi assinado no dia 30 de janeiro de 1648 (em Münster), após quatro anos de negociações. Em 24 de outubro do mesmo ano foi assinado o tratado de paz entre o Sacro Império Romano-Germânico, os outros príncipes alemães, a França e a Suécia. Os tratados concluídos nessas duas cidades da Westfália foram depois reunidos no Ato Geral de Vestfália em Münster em 24 de Outubro de 1648 O Tratado dos Pirineus, de 1659, o qual deu fim à guerra entre França e Espanha, também costuma ser considerado parte da Paz de Vestfália. A essência da solução de Vestfália foi o reconhecimento do equilíbrio religioso dentro do Sacro Império Romano (império Habsburgo), apesar dos sinais evidentes de sua decadência. Cerca de um quarto da população europeia vivia sob seus domínios. A ideia da constituição de um sistema político mundial, ou europeu, era fundado da noção de equilíbrio de poder, direito exercido pelos Estados e não acima deles. Constituiu-se assim uma nova ordem anárquica, com uma reorganização dos espaços políticos destinados a permitir a liberdade de comércio. A Paz de Vestfália inaugurou o moderno sistema internacional, ao acatar noções e princípios tais como o de soberania estatal e o de Estado nação. Os resultados do tratado foram muito abrangentes. Dentre outras consequências, os Países Baixos ficaram independentes da Espanha, terminando-se com a Guerra dos Oitenta Anos; a Suécia ficou com a Pomerânia, Wismar, Bremen e Werden. O poder dos Sacro-Imperadores foi irreparavelmente abalado e os governantes dos estados germânicos voltaram a gozar da prerrogativa de determinar a religião oficial dos seus territórios. O tratado deu reconhecimento legal aos calvinistas. Três grandes potências emergiram: a Suécia, as Províncias Unidas e a França. O poderio da Suécia foi, contudo, de pouca duração.