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O ALVO DA
INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
Já aprendemos que o intérprete deve ser piedoso, diligente e que deve crer que
as Escrituras são divinamente inspiradas. Mesmo assim, tudo isso ainda não é
suficiente se não procurarmos um único sentido na Bíblia – o sentido pretendido pelo
autor. Nesta lição, examinaremos a história da interpretação e veremos as
consequências negativas das interpretações que desconsideram esta regra básica.
Quando você terminar esta lição, deverá ser capaz de: Objetivos da Lição
A fim de estar livre para navegar os sete mares, você deve tornar-se
escravo da bússola.
Figura 3.1
Na realidade, não foi o interesse aos pormenores que levou esses intérpretes a
errar, mas sim a crença de que um texto pudesse ter múltiplas interpretações. Embora
qualquer texto narrativo ou de doutrina possa ensinar, de modo incidental, múltiplas
verdades, estas são secundárias no tema primário da história ou instrução. Nada há de
errado em reconhecer estas verdades secundárias, mas o intérprete nunca deve
exagerar uma verdade de menor importância em detrimento a verdade principal.
Assim o fazer, na melhor das hipóteses, diluiria o propósito da narrativa; obscureceria
a mensagem divinamente ordenada. Esta é exatamente a acusação que Cristo fez
contra os intérpretes de seu tempo que perderam de vista a mensagem principal
porque ressaltavam demasiadamente as minúcias:
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Ai de vós, escribas e farizeus, hipócritas! Pois que dais o dízimo da
hortelã, do endro e do caminho e desprezais o mais importante da
lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer essas coisas e
não omitir aquelas. (Mt 23.23)
Finalmente, essa tradição oral foi registrada por escrito e recebeu o título de
Midrashim ou Midrash. Era composta de duas partes: a primeira parte incluía os
comentários sobre a lei, chamados Hallacá, e a segunda parte continha as
ponderações mais práticas e homiléticas sobre as Escrituras em geral, com o nome de
Hagadá.
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Porque, deixando o mandamento de Deus, retendes a tradição
dos homens, como o lavar dos jarros e dos copos, e fazeis
muitas outras coisas semelhantes a estas. 9E dizia-lhes: Bem
invalidais o mandamento de Deus para guardades a vossa
tradição. (Mc 7.8 e 9)
Embora a sabedoria dos séculos possa agir como salvaguarda contra exageros
na interpretação (e só um tolo arrogante desconsideraria a sabedoria de eminentes
cristãos nas gerações passadas), todo cristão é responsável pelo seu próprio estudo das
Escrituras. Os comentários nunca poderão substituir o esforço do estudo pessoal, nem
a Bíblia deve ser lida debaixo do farol artificial do preconceito teológico. Nenhuma
autoridade poderá substituir a autoridade das Escrituras.
Com essa intenção em mente, ele aproveitou um método usado pelos filósofos
gregos. Quando estes viam que os mitos da história grega não se coadunavam com o
pensamento contemporâneo, atribuíam a eles um novo sentido alegórico. E assim, as
histórias passaram a ser apreciadas, não pelo seu conteúdo histórico, mas pelas
mensagens filosóficas escondidas por detrás do significado literal.
O Método Alegórico
Figura 3.2
Esse tipo de interpretação deixava a Bíblia exposta a dois perigos. Um era que a
engenhosidade substituiria a mensagem divina. Por exemplo: Clemente alegou que os três
dias de viagem de Abraão até Moriá (Gn 22.1-4) eram, respectivamente: o dia da fé pela
vista, o dia do desejo da sua alma e, finalmente, o dia do entendimento espiritual.
Agostinho foi um dos alegoristas mais famosos. Infelizmente, achava que cada
texto da Bíblia podia ter quatro níveis de interpretação. Por exemplo: uma referência
ao mar podia ser, simultaneamente, uma aglomeração de água, as Escrituras, a era
presente, o coração humano ou mesmo o batismo. Uma referência a Jerusalém podia
ensinar algo sobre a cidade propriamente dita, a Igreja, a alma e a Jerusalém celestial;
tudo ao mesmo tempo.
5. Liste dois perigos que a igreja medieval enfrentava por causa da interpretação alegórica?
7. Falamos do efeito que a experiência acima da Bíblia tem tido sobre a geração
seguinte no decurso da história. Você vê algum paralelo na igreja moderna?
Registre dois deles em seu caderno.
Essa norma, por sua vez, deixou a interpretação tão subjetiva que parecia
necessário controlar a interpretação pessoal. À medida que suprimiu-se a interpretação
pessoal, foi perdida a vitalidade que resulta do estudo da Palavra de Deus pelos crentes
individuais e, também, foi prejudicado o ensino bíblico dos púlpitos. Tomás de Aquino
sujeitou desavergonhadamente as Escrituras à autoridade da tradição. Alegava que a
igreja era a depositária das Escrituras. Por isso, a igreja possui a tradição verdadeira
(tanto a oral quanto a escrita) de modo que nenhum trecho possa ser interpretado de
modo conflitante com as doutrinas católicas romanas. Hugo de Saint Victor reflete essa
falsa hermenêutica quando escreve:
Teoria da acomodação
No século XIX tornou-se popular acreditar que todas as coisas estavam em uma
condição constante de evolução. Esta idéia não era apenas aplicada à
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10. A idéia básica de crítica das fontes documentárias é que
a) o escritor bíblico era a origem primária do livro que escrevia e que Deus não o inspirou.
b) muitos livros da Bíblia evoluiram à medida que o escritor bíblico os copiava de
outras fontes documentárias múltiplas.
c) para compreendermos a origem da religião verdadeira, devemos olhar para nossa
própria experiência e não somente para a Bíblia.
d) a Bíblia, a origem de nossa fé, é tida como o produto da criatividade do autor original.
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12. Quando Bultmann falava em desmitologizar a Bíblia, referia-se ao método de
interpretação em que o intérprete precisava
a) crer que a Bíblia não continha mitos, antes dele poder interpretá-la corretamente.
b) alegorizar a Bíblia para compreender como a verdade bíblica se encaixava em sua cultura.
c) reconhecer os mitos ensinados na sociedade a fim de não deixar que estes
afetassem a interpretação da Bíblia.
d) descobrir um significado pessoal por detrás dos mitos que existiam em derredor
da verdade ensinada na Bíblia.
Dizer que um texto bíblico tem uma única interpretação não dá a entender que
os princípios eternos e as aplicações atuais de um texto não possam ser numerosos.
Nem dá a entender que há apenas uma maneira de pregar determinado texto. Por
certo, cada cultura e geração irá pregá-lo com ênfases variadas e abordagens diferentes.
Mas certamente queremos dizer que o significado do texto precisa estar fundamentado
no significado pretendido pelo autor original. Assim como o tronco de uma árvore é a
origem dos muitos galhos e os galhos são a origem das folhas, assim também o
significado único e original de um texto pode produzir muitos princípios que, por sua
vez, podem ser aplicados de muitas maneiras à nossa vida individual.
Embora pudesse ser mais detalhada, essa explicação serve como exemplo para
descobrir o significado pretendido pelo autor. A partir daí, poderemos descobrir vários
princípios que o texto ensina, mas só mencionaremos dois deles. Primeiro: o texto
ensina que o papel da igreja ao disciplinar não é castigar, mas restaurar. Segundo:
observamos que uma atitude inflexível para com a disciplina fornece ao Diabo uma
oportunidade de retomar para si os crentes fracos.
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13. As declarações a seguir são tiradas de um estudo de 1Co 5. Associe cada
declaração à escolha que a identifica apropriadamente.
____ a) Qualquer membro que cometer o 1. Interpretação (resumo da intenção
pecado da fornicação deve ser do autor)
excluido durante pelo menos seis 2. Princípio (verdade universal e externa)
meses, e somente restaurado após 3. Aplicação (princípio aplicado indivi-
comprovação de arrependimento. dualmente)
__4 b) O pastor tem o direito de tirar a 4. Irrelevante (verdade não achada no
salvação de qualquer membro da texto)
igreja que cai em pecado.
____ c) O fornicador impenitente da igreja de
Corinto (1Co 5.11) devia ser
removido da igreja para promover o
seu arrependimento e purificar a igreja.
Tendo em mente essa tendência, a igreja precisa reasseverar que o único alvo
válido da interpretação bíblica é descobrir o sentido original do autor. Só esta pode ser
a base para declarar princípios que aplicam as Escrituras à nossa vida de modo
apropriado. Nunca deveremos nos esquecer do seguinte: quando deliberadamente
desconsideramos o significado pretendido pelo escritor original, fazemos do intérprete
a derradeira autoridade. O resultado é confusão em massa, e surgem tantas
interpretações quantos são os intérpretes.
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14. Nesta lição, ressaltamos a necessidade de procurar um significado único de um
texto das Escrituras por meio do método histórico-gramatical. Explique
resumidamente qual é o significado de cada uma das sentenças abaixo:
a) o significado único das Escrituras:
b) o método histórico-gramatical:
1. A erudição judaica antiga atentava aos pormenores dos textos bíblicos, mas não
interpretava corretamente. Seu erro era
a) dar exagerada atenção aos pormenores.
b) tratar os pormenores como se não tivessem relacionamento com o pensamento inteiro.
c) não aplicar à vida diária deles.
d) fazer estudos eruditos, mas não devocionais.
2. O erro central dos pais da igreja e dos pietistas da pós-Reforma era que ambos
a) enfatizavam demasiadamente o contexto histórico e desconsideravam os
pormenores.
b) desconsideravam o fato de que o alvo da interpretação é o significado original
pretendido pelo autor.
c) não creram que a Bíblia é verdadeiramente um livro divinamente inspirado.
d) confiavam nas tradições dos homens mais do que no ensino das Escrituras.
3. A procura por uma única interpretação para cada texto bíblico estudado significa que
a) a intenção original do autor é a fonte para todos os princípios e aplicações válidos.
b) há, na realidade, um só sermão que é válido para cada texto das Escrituras.
c) nunca é certo ensinar verdades secundárias que estão fora da lição principal de um texto.
d) isso limita o poder do Espírito Santo para inspirar na mente do intérprete novas
verdades.
4. Usar o dogma eclesiástico oficial como gabarito para a interpretação da Bíblia irá
a) manter as grandes verdades da igreja no decurso dos tempos.
b) resultar na falta de equilíbrio e de vitalidade que a interpretação particular dá a
cada nova geração.
c) proteger a igreja enquanto ela ensinar a sã doutrina.
d) a), b) e c) estão corretas.
e) apenas a) e b) estão corretas.
13-18
13-18. Associe o tipo de interpretação (direita) às filosofias e alvos (esquerda).
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13. Regras da gramática e do contexto a. Acrescentar um significado
para descobrir o sentido pretendido mais espiritual
pelo autor. b. Restringir a interpretação a
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____ 14. Limita a interpretação a fim de um significado oficial
salvaguardar a igreja dos exageros. c. Achar um significado mais
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____ 15. Faz do AT um documento cristão racional
por meio da alegorização. d. Identificar o significado
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____ 16. Torna as Escrituras compatíveis com original do autor
a filosofia grega.
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____ 17. Usa a lei oral para interpretar as
Escrituras do AT.
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____ 18. Tornar a Bíblia mais razoável por
meio de remover os seus mitos.
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19. Resuma o fundamental erro de interpretação no decurso das eras.
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20. Explique por que se pode dizer que há uma só interpretação de qualquer texto
bíblico, mas que o mesmo texto pode dar origem a milhares de sermões distintos
entre si.
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21. Defenda a idéia de que o primeiro alvo de cada intérprete da Bíblia deve ser
descobrir a intenção do autor original.
8) b) e c) estão corretas. 13
13. a) 3
b) 4
1. c) considerar que os pormenores continham c) 1
verdades que não se relacionavam com o d) 2
pensamento inteiro. e) 2
9) a) comunicava verdades espirituais aos leitores 6. Os dois desconsideravam o fato de que o alvo
empregando mitos.. primário da interpretação é descobrir o significado
original do autor. Esse significado é a base de todos
2. b) procurar um significado oculto que não era o os ensinos tirados de um texto das Escrituras.
pretendido pelo autor.
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14. a) A Bíblia não tem níveis diferentes de
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10. b) está correta. significados mais espirituais. Somente o significado
na mente do escritor inspirado é válido. Isso não
significa, porém, que o texto não possa ter muitos
3. d) está correta.
princípios eternos e aplicações destes princípios,
a) está errada porque os livros feitos por homens provenientes daquele significado único.
podem edificar, assim como sermões pregados por
b) A única maneira de descobrir o verdadeiro
homens; b) está errada porque o estudo da Bíblia é
significado de um texto bíblico é ver o que ele diz
uma fonte de transformação em si mesma; c) está
(grámatica), estudado no pano de fundo de quando
errada porque o estudo pessoal da Bíblia é
e por que a mensagem foi dada (histórica).
necessário para a transformação da vida pessoal.