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Atividade 4
FRONTEIRAS
Assessoria: Vagner AUGUSTO da Silva
Parte 1
DESENVOLVIMENTO DE REPERTÓRIO
Esta atividade aborda discutir o tema “fronteiras”, numa discussão interdisciplinar com a Geografia.
Há três pontos centrais a serem explorados: a importância das fronteiras territoriais, o caso do continente
africano e os “muros” do mundo moderno.
Em relação ao primeiro ponto, pode-se abordar um pouco a relação entre Estado e Nação, mostrando
que, quando nações diferentes habitam o mesmo território, não são raros movimentos separatistas. É o que
discutimos nas duas primeiras questões, a partir dos exemplos da Espanha, da Bélgica e do Reino Unido
(com atenção ao caso de Québec). Mais do que responder a essas questões, o mais importante é estimular
os alunos a perceber que o mundo da globalização não desfez as particularidades regionais, de maneira que,
embora haja uma tendência a pensar que o mundo tende à padronização de comportamentos e valores, mui-
tos grupos que continuam lutando para ter direito a um Estado e à manutenção de sua identidade cultural.
Sobre a África, assuntos dos dois exercícios seguintes, podemos citar a frase de Ryszard Kapuscinski em
Ébano, minha vida na África (São Paulo: Companhia das Letras, p. 3): “Apenas por comodidade simplifica-
mos e dizemos ‘África’. Na verdade, a não ser pela denominação geográfica, a África não existe.”
Com efeito, a África é um continente que tem grande complexidade étnica, com milhares de nações.
Assim, do ponto de vista geográfico, existe um continente denominado “África”, no entanto, do ponto
vista humano, não existe uma unidade entre esses povos, já que apresentam grandes diferenças culturais.
As fronteiras entre os países africanos, estabelecidas pela partilha do continente feita pelos colonizadores
europeus, nunca respeitou essa diversidade, o que é gênese de muitos os conflitos africanos atuais.
Para encerrar, podemos falar sobre os “muros” do mundo moderno, que podem ou não existir con-
cretamente. É comum que os países desenvolvidos construam essas barreiras físicas ou simplesmente
implementam leis que dificultam a entrada de imigrantes, controlando a livre circulação de pessoas. Além
disso, as ações de grupos xenófobos são recorrentes nos países receptores de imigrantes, demonstrando
como parcela dessas sociedades não querem uma maior integração com essa população estrangeira. Essa
é a base teórica para as três últimas questões.
Manual do Professor I
Parte 2
PRODUÇÃO TEXTUAL
A proposta da Fuvest forneceu, para a reflexão do candidato, um verbete de dicionário (adaptado do
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, que registra quatro definições para o vocábulo “fronteira”), um
comentário sobre a mobilidade das fronteiras geográficas e os variados sentidos que o termo assume no
mundo contemporâneo (sugerindo que a discussão enfocasse esses sentidos — literais e não-literais — sob
uma mesma abordagem: a relativa mobilidade das fronteiras “psicológicas”, “de pensamento”, “da ciên-
cia”, “da linguagem”) e uma foto alterada digitalmente, extraída da Wikipédia, representando a fronteira
entre Bélgica e Holanda na forma de uma mera sinalização visual no chão (assim, a sugestão de que a pas-
sagem de um lugar para outro depende apenas do esforço de caminhar pela calçada figurativiza a perda
do significado de fronteira como uma barreira entre dois países).
A Banca solicitou que o candidato se valesse de uma ou duas das ideias sugeridas, para redigir a sua
dissertação. Não houve, portanto, um direcionamento do desenvolvimento textual, como nos anos ante-
riores. Ao contrário, o tema era bastante amplo e o candidato teve liberdade para abordar perspectivas
diferentes. Por isso, a tarefa mais importante seria escolher uma ou duas ideias relacionadas a fronteira
para delimitar a reflexão. Na verdade, ao mencionar a questão da “contínua mobilidade”, a Banca colocou
em evidência o fenômeno recente de flexibilização e relativização das fronteiras. A menção ao ponto de
vista geográfico poderia servir de paradigma, pois é a ponta mais evidente dessa característica do mundo
moderno. Afinal, paralelamente ao fenômeno da globalização, que envolveu a abertura de fronteiras entre
países de determinados blocos, observou-se o recrudescimento do patriotismo, dos ódios nacionais, da
defesa da cultura regional. O candidato, assim, foi encorajado a refletir sobre os limites da flexibilização
de fronteiras quaisquer que fossem. Deve-se lembrar que a fronteira sempre serviu como forma de orga-
nização do pensamento e da ação humana. É importante para o homem perceber onde começa e onde
termina seu espaço, suas ideias, seus conceitos. Sem limites, ele fica inseguro diante da realidade. Essa nova
situação impõe à humanidade um desafio inédito: até que ponto conseguiremos viver sem limites? Até
onde podemos alargar as fronteiras econômicas, sociais, de pensamento, geográficas? Considerando tais
questões, podem-se apontar alguns exemplos de flexibilização de fronteiras em outras áreas da realidade
humana, como sugeria a proposta:
• No comportamento: os limites entre sexos e comportamentos sexuais. Hoje nota-se a relativa des-
caracterização de comportamentos antes considerados masculinos ou femininos. Criou-se até mes-
mo o termo metrossexual, que sinaliza essa ambiguidade. Tal falta de limites vem induzindo a uma
redefinição das identidades sexuais e de gênero.
• Na ciência: novas áreas da ciência, como a biotecnologia, por exemplo, caracterizam-se pela trans-
disciplinaridade, pois exigem conhecimentos que extrapolam os limites entre as várias áreas do sa-
ber. Além disso, a questão ética exige que os cientistas incluam em suas funções uma preocupação
humana e social.
• Na geopolítica: o fim da guerra fria trouxe como consequência o fim da fronteira entre dois blocos
políticos, com a aparente hegemonia dos EUA. Recentemente, a força econômica dos emergentes
fez com que as fronteiras geopolíticas fossem rediscutidas, num momento em que é difícil perceber
os limites do poder econômico-político das nações.
• Na ideologia: a ausência dos blocos antagônicos trouxe consigo a redefinição de direita e esquerda.
Formou-se o conceito de terceira via, em que ideias de direitos sociais são compatibilizadas com a
defesa do liberalismo.
II Manual do Professor
Atividade 5
Parte 1
DESENVOLVIMENTO DE REPERTÓRIO
Essa atividade busca mostrar, por meio de representações artísticas, diferentes concepções existen-
tes sobre a noção de “mulher ideal”. Considerando a atualidade do tema e o calor que debates sobre
gênero podem provocar, recomendamos que, de um lado, os alunos sejam encorajados a contribuir e,
de outro, o professor esteja amparado pela meta do PNUD (mencionada no material do aluno): promo-
ver “a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres”. Isso porque, ao suscitarmos esse tipo de
debate, não é surpreendente que surjam piadas e gracejos de cunho machista, o que, para o bem da
atividade, deve ser mais discutido do que estimulado.
Para facilitar essa dinâmica, optamos por inter-relacionar mais os fragmentos literários entre si do
que com os vídeos. Assim, para propiciar a fluência entre os textos, o primeiro vídeo, sobre a idealiza-
ção romântica, é base apenas para o exercício 1; o segundo, que destaca a complexidade realista, é
ponto de partida para os exercícios 2 a 7; fechando a atividade, o terceiro vídeo menciona mulheres e
personagens femininas do Modernismo, sendo base para a questão 8.
Ainda que tratemos de valores marcadamente presentes nas literaturas do Romantismo, do Rea-
lismo e do Modernismo, respectivamente, é importante discutir com os alunos, à medida que os exer-
cícios forem sendo feitos, se estamos diante de visões de mundo superadas ou não. Os vídeos devem
funcionar, portanto, mais como um ponto de partida do que como ponto de chegada, pois reflexões
sugeridas nas gravações e nos exercícios, somadas, acabam apontando para o tema da dissertação:
“liberdade sexual e violência contra a mulher”.
Parte 2
PRODUÇÃO TEXTUAL
Os fragmentos selecionados para compor a coletânea dão sequência à discussão suscitada pelos exer-
cícios, pois cada um a seu modo explora quais são os valores que nossa sociedade costumeiramente vincula
à figura da mulher. Esses valores, conforme os mesmos excertos apontam, estão muitas vezes na base das
limitações impostas à liberdade sexual feminina, tema central nesta produção.
O texto da feminista Simone de Beauvoir, escrito em 1949, denuncia uma realidade em que a passivi-
dade é condição necessária para a jovem aguardar, pacientemente, o momento de desempenhar as fun-
ções de esposa e mãe. Tendo isso em mente, o professor pode apontar semelhanças entre as ideias desse
fragmento e a caracterização de uma série de heroínas do Romantismo (como a personagem Linda, do
romance Til, tal como vimos no exercício 1). Cabe ainda considerar o quanto, na atualidade, são frequentes
as cobranças para que a mulher tenha um companheiro fixo, com quem possa constituir uma família.
Atividade 6
RAÇA E RACISMO
Parte 1
DESENVOLVIMENTO DE REPERTÓRIO
Esta atividade busca contribuir para o aprofundamento da percepção sobre questões de ordem racial
e para o desenvolvimento da capacidade de debater com mais consistência temas relacionados ao racismo
no Brasil.
No percurso proposto, recomendamos começar com a abordagem da Biologia sobre o conceito de
“raça”. A ideia é deixar claro já no início da atividade por que, no campo das Ciências da Natureza, não é
adequado utilizar o termo “raça” ao fazer referência a populações humanas. Para dar suporte a essa refle-
xão, indicamos começar assistindo ao vídeo 1 e, na sequência, resolver o primeiro exercício.
Feita essa introdução, o segundo passo é abordar, em perspectiva histórica, o surgimento de teorias ra-
cialistas, utilizadas com vistas a legitimar o imperialismo europeu sobre outros continentes e, posteriormen-
te, para tentar justificar as violações cometidas pela Alemanha nazista. A sugestão para essa abordagem é
recorrer ao segundo vídeo e, em seguida, aos exercícios 2 a 5.
A terceira parte da atividade volta-se mais para o contexto brasileiro. Considerando as formulações da
Biologia e o histórico do discurso racista, passamos a analisar os efeitos disso na cultura nacional. O vídeo
3 e os exercícios 6 a 8 foram elaborados para estimular essa reflexão, abrindo caminho para a proposta de
redação.
IV Manual do Professor
Parte 2
PRODUÇÃO TEXTUAL
Na redação, buscamos delimitar um tema bastante específico, para que os alunos desenvolvam a
habilidade de selecionar as informações mais pertinentes. Como se trata da violência policial contra a
população negra, tendo o conceito “racismo estrutural” (no texto 1 da coletânea) como pano de fundo,
é esperado que se discutam possíveis relações entre a a construção histórica da mentalidade racista e o
estado de coisas vigente (como sugerem o texto 2 e o texto 3).
Manual do Professor V
Redação
Interdisciplinaridade: repertório e argumentação
Atividade 4
FRONTEIRAS
Resumo da atividade
Gilberto Gil, na canção “Parabolicamará”, discutia se o mundo era pequeno, se o mundo era grande,
se as tecnologias da informação diminuíram ou não as distâncias entre as pessoas.
De fato, com a globalização, que se consolidou no final do século passado, houve a impressão de
que nos tornaríamos a “aldeia global” de que falava o sociólogo canadense Marshall McLuhan. Seria um
mundo unido pelos meios comunicação, em que as informações circulariam em alta velocidade, do sul da
América do Sul ao norte do Ártico, abolindo fronteiras entre países, entre culturas, entre visões de mundo.
Mas a realidade insiste em ser mais complexa do que prevíamos. Se, de um lado, não existem obstá-
culos para o capital financeiro, de outro, há cada vez mais “muros” que se erguem entre grupos sociais
distintos. É isso o que discutiremos nesta atividade.
Parte 1
DESENVOLVIMENTO DE REPERTÓRIO
1. (GV-Direito / Adaptada) O grande paradoxo da União Europeia, erguida sobre o conceito da
soberania compartilhada, é que ela reduz os riscos para regiões que buscam tornar-se inde-
pendentes. […] “Todo o desenvolvimento da integração europeia reduziu os riscos da secessão,
porque as entidades que emergem sabem que não precisarão ser plenamente autônomas e in-
dependentes”, observou Mark Leonard, diretor do Conselho Europeu de Relações Exteriores.
“Elas sabem que terão acesso a um mercado de 500 milhões de pessoas e a algumas das prote-
ções da UE.”
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/
1168096-crise-reanima-separatismo-na-europa.shtml
Considerando o texto e seus conhecimentos sobre o assunto, é correto afirmar que a Europa está livre
do separatismo? Justifique sua resposta com exemplos.
FRONTEIRAS 1
Não. Na Espanha, por exemplo, o ETA (Euskadi Ta Askatasuna — PÁTRIA BASCA E
LIBERDADE), reivindica – ainda que, atualmente, de modo pacífico – a independência do
País Basco, localizado na região norte da Espanha. Também existem movimentos separa-
tistas na Catalunha. Na Bélgica, as diferenças culturais entre flamengos e valões geraram
violentos conflitos desde meados do século XX. Nos últimos anos, ampliou-se a crise polí-
tica no país, devido ao fortalecimento do nacionalismo flamengo, buscando legalmente a
divisão da Bélgica. Ainda seria possível citar o Reino Unido, composto por Inglaterra, País
de Gales, Escócia e Irlanda do Norte. Em 2014, houve um plebiscito sobre a independência
da Escócia, quando a maioria da população foi contrária à medida. Vale destacar que o
antigo movimento separatista localizado na Irlanda do Norte, o IRA (Exército Republicano
Irlandês), anunciou o abandono da luta armada em 2005.
2 FRONTEIRAS
3. Com base no texto, cite o principal motivo desencadeador da descolonização africana nas décadas de
1950 e 1960.
4. A partir do texto e dos mapas, explique a relação entre os atuais conflitos étnicos e políticos presentes
em alguns países africanos e o processo de formação dos seus Estados Nacionais.
5. (Fuvest / Adaptada)
O mapa acima representa a distribuição, pelo mundo, das principais barreiras entre países. Identifique
a barreira 2 e analise criticamente os problemas fronteiriços correspondentes, considerando os países
envolvidos.
FRONTEIRAS 3
6. (FGV / Adaptada) Um companheiro morto, 6 horas enclausurado dentro de um caminhão sob
o sol do deserto e mais 8 dias preso em cadeias americanas sem falar inglês. Esse é o saldo da
desastrada jornada de um grupo de 29 imigrantes brasileiros rumo ao sonho americano, com
escala na fronteira mexicana.
(Folha de S.Paulo, 16.07.2004)
O depoimento do brasileiro deportado para o Brasil e seus conhecimentos sobre as migrações interna-
cionais permitem afirmar que
a) a maior parte dos países da União Europeia e mesmo o Japão têm dado mostras de que a imigração
é fundamental para a renovação da mão de obra, pois já se deram conta de que suas populações
tendem ao envelhecimento, fatos que não ocorrem nos Estados Unidos.
b) apesar do número crescente de imigrantes oriundos dos países pobres nas décadas finais do século
XX, há forte tendência de que, à medida que o processo de globalização for se aprofundando, os
atuais países de emigração não forneçam mais mão de obra.
c) nos países ricos, há grandes debates em relação aos casos de intolerância contra minorias, discrimi-
nação racial e/ou religiosa, são cada vez mais frequentes as discussões sobre a imigração, que deve
ser mais estimulada em futuro próximo.
d) as oportunidades de trabalho buscadas pelos imigrantes dos países pobres tendem a se reduzir à
medida que o surgimento de novos polos econômicos no Sul passem a representar um atrativo ca-
paz de mudar os atuais fluxos migratórios, surgidos no pós-Guerra.
➔ e) embora um grande grupo de países se manifeste no sentido de que a migração seja tratada como
um assunto de destaque no âmbito das Nações Unidas, as nações ricas têm controles cada vez mais
rígidos em relação à imigração, incluindo a xenofobia.
7. O cartaz a seguir é de uma propaganda política capitaneada pelo Partido do Povo Suíço, que se vincula
aos valores da extrema-direita europeia.
4 FRONTEIRAS
Explique a relação entre o slogan “Por mais segurança” e a imagem do cartaz, considerando a ideologia
do partido.
O cartaz tem um forte caráter xenófobo, destacando ovelhas brancas que expulsam
uma ovelha negra da bandeira do país. Assim, o Partido do Povo Suíço aproxima-se dos
ideais da extrema-direita europeia, que acusam os imigrantes, sem fundamentos plausí-
veis, de serem responsáveis pela falta de postos de trabalho e de aumentarem a violência
urbana. Com isso, há um recrudescimento dos sentimentos de intolerância.
Parte 2
PRODUÇÃO TEXTUAL
(Fuvest)
fronteira
substantivo feminino
1
parte extrema de uma área, região etc., a parte limítrofe de um espaço em relação a outro.
Ex.: Havia patrulhas em toda a f.
2
o marco, a raia, a linha divisória entre duas áreas, regiões, estados, países etc.
Ex.: O rio servia de f. entre as duas fazendas.
3
Derivação: por extensão de sentido. o fim, o termo, o limite, especialmente do espaço.
Ex.: Para a ciência, o céu não tem f.
4
Derivação: sentido figurado. o limite, o fim de algo de cunho abstrato.
Ex.: Havia chegado à f. da decência.
Fonte: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Adaptado.
FRONTEIRAS 5
As fronteiras geográficas são passíveis de contínua mobilidade, dependendo dos movimentos sociais e
políticos de um ou mais grupos de pessoas.
Além do significado geográfico, físico, o termo “fronteira” é utilizado também em sentido figurado,
especialmente, quando se refere a diferentes campos do conhecimento. Assim, existem fronteiras psicoló-
gicas, fronteiras do pensamento, da ciência, da linguagem etc.
Com base nas ideias sugeridas acima, escolha uma ou até duas delas, como tema, e redija uma disser-
tação em prosa, utilizando informações e argumentos que deem consistência a seu ponto de vista.
Procure seguir estas instruções:
✓ Lembre-se de que a situação de produção de seu texto requer o uso da modalidade escrita culta da
língua portuguesa.
✓ Dê um título para sua redação, que deverá ter entre 20 e 30 linhas.
6 FRONTEIRAS
Redação
Interdisciplinaridade: repertório e argumentação
Atividade 5
Resumo da atividade
O PNUD, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, assumiu a tarefa de trabalhar para que
se atinjam os “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio” (ODM). Trata-se de um conjunto de oito metas,
firmadas por 189 nações no ano 2000, com vistas a combater grandes males presentes nas diversas socie-
dades. Tudo correndo bem, até o ano de 2015 tais objetivos estariam todos cumpridos.
Tendo em mente esse conjunto de objetivos, esta atividade de repertório e argumentação destaca o
terceiro deles:
No caso do Brasil, uma série de dados revela que ainda não atingimos essa desejável igualdade, o que
acaba por limitar a autonomia das brasileiras. Estes são alguns exemplos:
✓M
ulheres têm um rendimento médio mensal 27,1% menor do que o dos homens – de acordo
com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), publicada pelo IBGE em
2014;
✓A
proximadamente uma em cada cinco brasileiras reconhece já ter sido vítima de violência do-
méstica ou familiar provocada por um homem – segundo pesquisa publicada em 2013 pelo
DataSenado;
✓A
proximadamente 13% das vagas na Câmara dos Deputados e no Senado são ocupadas por mulhe-
res, embora elas sejam por volta de 52% do eleitorado.
Esse cenário resulta obviamente de uma longa história, na qual a participação da mulher na sociedade
foi bastante tolhida e limitada.
Para refletir sobre essa realidade, convidamos você a analisar em seguida uma série de fragmentos
de textos literários. Antes, é fundamental esclarecer: a meta não é fazer um julgamento moral sobre os
autores, o que não seria sequer justo levando em conta que lidaremos com pequenos excertos de textos
ficcionais. Buscaremos sim identificar valores subjacentes à construção de certas personagens femininas e,
com isso, levantar elementos que ajudem a entender alguns “ideais de mulher” que circulam em nosso
universo cultural.
Feito isso, é natural nos depararmos com a seguinte pergunta: a representação da mulher na literatura
reflete a desigualdade entre os gêneros, que ainda persiste? Nesse tema, a arte imita a vida?
DESENVOLVIMENTO DE REPERTÓRIO
1. Leia a seguir a descrição da personagem Linda, do Romance Til, para responder ao que se pede:
Tinha a beleza de Linda um doce alumbre de melancolia, que não era tristeza, pois coavam-
se através dos inefáveis1 contentamentos de sua alma; era sim matiz, que lhe aveludava a graça,
e influía-lhe um mavioso2 enlevo. Irmã das flores que vivem nos recessos da floresta, onde se
coalham em sombra luminosa os raios filtrados pelo crivo das folhas, respira essa beleza o per-
fume casto3 da violeta e da baunilha.
ALENCAR, José de.
Til. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2012, p. 95.
1
Inefável: encantador, indescritível.
2
Mavioso: terno, afetuoso.
3
Casto: puro, inocente.
a) ao conferir caráter positivo à melancolia de Linda, o narrador remete a um discurso que enaltece a
passividade como característica feminina. Você concorda com essa afirmação? Justifique.
Considerando que a personagem é tratada como “irmã das flores”, podemos con-
cluir que o valor da “castidade” não é atribuído exclusivamente à violeta e à baunilha,
mas também à Linda. Com isso, reforça-se a ideia de que pureza e ingenuidade são
qualidades desejáveis nas figuras femininas.
Nessa cena, a personagem Madame de Oriol se torna o centro das atenções. Tendo isso em mente,
a) indique o que lhe confere posição de destaque;
Madame de Oriol chama a atenção dos demais graças a seu “lindo peito”, realça-
do pela orquídea que nele pusera e pelo proposital e provocante gesto de aumentar
o decote.
A qualidade que faz a mulher despertar o interesse dos demais sobre ela estão vin-
culadas a seu corpo. Desse modo, manifesta-se um discurso segundo o qual a mulher é
uma espécie de objeto do desejo masculino, tendo seu valor associado especificamente
ao prazer sexual.
A passagem é esta: “– Madame Colombe, 16, Rua do Helder, quarto andar, porta à
esquerda”. Nela, a personagem não responde apenas com o nome, mas com a indica-
ção de uma “porta” em que poderia receber o recém-conhecido.
A afirmação de que Rita Baiana era “feita toda de pecado”, “com muito de serpente e muito de mu-
lher”, remete a outra importante narrativa do mundo ocidental. Considerando isso,
a) diga de que narrativa se trata. Justifique.
5. No fragmento, Brás Cubas responde de modo agressivo à polidez com que Marcela lhe oferece um re-
fresco – o que se nota em “minha resposta foi dar com a mão no copo e na salva [= bandeja]”. Tendo
isso em conta, comente por que a postura comedida da moça despertou a rudeza do protagonista.
Brás Cubas, aflito com a possível separação do casal, esperava que Marcela de-
monstrasse semelhante preocupação e aceitasse, inclusive, ir-se com ele para Portugal.
Ao contrário disso, a jovem se manteve impassível, indiferente, revelando não estar
apaixonada por ele e, assim, despertando a sua ira.
Brás Cubas chega a humilhar-se, beijando os pés de Marcela e pedindo entre lá-
grimas que ela não o abandone, pois o rapaz mantém os mesmos sentimentos que o
fizeram relacionar-se com a moça ao longo de “quinze meses”. Marcela, porém, por
perceber o fim das condições que haviam permitido a Brás Cubas gastar “onze contos
de reis” com ela, tornara-se indiferente às súplicas do rapaz.
7. Em uma das acepções presentes no Dicionário eletrônico Houaiss, machismo significa “comportamento
que tende a negar à mulher a extensão de prerrogativas ou direitos do homem”. Com base nessa defi-
nição, pode-se apontar algum grau de machismo no comportamento de Brás Cubas? Justifique.
Sim. Uma vez tomada a decisão de não enfrentar o pai e ir estudar na Europa, Brás
Cubas esperava que Marcela simplesmente o acompanhasse, abrindo mão da vida que le-
vava no Brasil. Com sua reação agressiva, de quem não suportou ser contrariado, o prota-
gonista revela não reconhecer em Marcela o direito de tomar decisões sobre seu destino,
como se isso fosse prerrogativa apenas dele.
8. O fragmento seguinte é parte do romance Vidas secas. No excerto, narra-se a família migra fugindo da
seca:
Pouco a pouco uma vida nova, ainda confusa, se foi esboçando. Acomodar-se-iam num sítio
pequeno, o que parecia difícil a Fabiano, criado solto no mato. Cultivariam um pedaço de terra.
Mudar-se-iam depois para uma cidade, e os meninos frequentariam escolas, seriam diferentes
deles. Sinha Vitória esquentava-se. Fabiano ria, tinha desejo de esfregar as mãos agarradas à
boca do saco e à coronha da espingarda de pederneira.
Não sentia a espingarda, o saco, as pedras miúdas que lhe entravam nas alpercatas, o chei-
ro de carniças que empestavam o caminho. As palavras de Sinha Vitória encantavam-no. Iriam
para diante, alcançariam uma terra desconhecida. Fabiano estava contente e acreditava nessa
terra, porque não sabia como ela era nem onde era. Repetia docilmente as palavras de Sinha
Vitória, as palavras que Sinha Vitória murmurava porque tinha confiança nele. E andavam para
o sul, metidos naquele sonho.
Graciliano Ramos, Vidas secas. 31ª ed., São Paulo: Martins, 1973, p. 172.
b) é possível afirmar que Sinha Vitória é passiva e submissa, sujeita às ordens do marido. Concorda
com essa afirmação? Justifique.
Parte 2
PRODUÇÃO TEXTUAL
TEXTO 1
Durante toda a infância foi a menina reprimida e mutilada; entretanto, percebia-se como um
indivíduo autônomo; em suas relações com os pais, os amigos, em seus estudos e jogos, descobria-
se no presente como uma transcendência: nada fazia senão sonhar sua futura passividade. Uma
vez púbere, o futuro não somente se aproxima, instala-se em seu corpo, torna-se a realidade mais
concreta. Conserva o caráter fatal que sempre teve; enquanto o adolescente se encaminha ativa-
mente para a idade adulta, a jovem aguarda o início desse período novo, imprevisível, cuja trama
já se acha traçada e para o qual o tempo a arrasta. Já desligada de seu passado de criança, o pre-
sente só se lhe apresenta como uma transição; ela não descobre nele nenhum fim válido, mas tão
somente ocupações. De uma maneira mais ou menos velada, sua juventude consome-se na espera.
Ela aguarda o Homem.
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. Trad.: MILLIET, Sérgio.
São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1967 [1949].
TEXTO 3
Segundo pesquisa Instituto Avon/ Data Popular, um número considerável de jovens brasileiros
do sexo masculino (entre 16 e 24 anos) acha inaceitável que uma mulher:
Saia com amigos(as) Use roupas justas
Fique bêbada
sem o marido e decotadas
Instituto Avon/Data
Popular – Percepções dos
homens sobre a violência
doméstica contra a
mulher, 2014
TEXTO 4
A revelação de que a maioria dos brasileiros concorda que o comportamento da mulher pode
motivar o estupro comprova que a cultura machista está impregnada nos homens e nas mulheres
da sociedade brasileira, segundo a socióloga Nina Madsen, integrante do Colegiado de Gestão do
Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea). A pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômi-
ca Aplicada (Ipea) mostrou que 58,5% dos entrevistados concordaram totalmente ou parcialmente
com a frase “Se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”.
“Cultura machista está impregnada na sociedade brasileira, diz socióloga”. EBC Agência Brasil, 28/03/2014
PROPOSIÇÃO
A liberdade sexual pode ser entendida como o direito de expressar e exercer a própria sexua-
lidade de forma livre, de escolher com quem se relacionar, ou mesmo optar por não se relacionar,
bem como decidir quando e como se expressar sexualmente. Esse direito, porém, pode ser limitado
pela intolerância, que gera exclusão, sofrimento e violência.
Com base neste comentário e levando em consideração os textos desta prova, escreva uma redação
de gênero dissertativo, em prosa, que respeite à norma culta da Língua Portuguesa, sobre o tema:
LIBERDADE SEXUAL E VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
Atividade 6
RAÇA E RACISMO
Resumo da atividade
O termo raça não existe no vocabulário especializado das Ciências da Natureza para classificar seres
vivos. O mais próximo disso em Biologia é o conceito de subespécie, aplicado a populações que, embora
pertençam à mesma espécie, manifestam diferenças genéticas significativas. Na espécie humana, porém,
não existem subespécies. Entre brancos e negros, negros e índios, índios e asiáticos, enfim, entre quaisquer
agrupamentos humanos não há diferenças relevantes para justificar essa subclassificação.
Na verdade, existe um número muito maior de diferenças genéticas entre dois indivíduos humanos
da mesma “raça”, do que genes que diferenciem duas “raças” humanas (um negro africano e um branco
escandinavo se distinguem por diferenças genéticas que representam menos de 0,005% do genoma).
Seria ingênuo, no entanto, pensar que essa semelhança biológica se reflete em um real estado de
igualdade entre os diferentes grupos humanos. Principalmente as populações negras ainda sofrem conse-
quências de uma mentalidade que, há séculos, já pregava a existência de uma “raça superior”, que seria
a “raça branca”.
Nesta atividade, analisaremos o surgimento de teorias supostamente científicas que tentavam justificar
a exploração do branco europeu sobre os demais grupos, o pensamento racista que deu respaldo a tais
teorias e também os efeitos disso que ainda hoje persistem, principalmente sobre as populações negras.
Parte 1
DESENVOLVIMENTO DE REPERTÓRIO
1. Leia o seguinte fragmento de um texto de divulgação científica:
A inexistência das raças biológicas ganhou força com as recentes pesquisas genéticas. Os
geneticistas descobriram que a constituição genética de todos os indivíduos é semelhante o
suficiente para que a pequena porcentagem de genes que se distinguem (que inclui a aparên-
cia física, a cor da pele etc.) não justifique a classificação da sociedade em raças. Essa pequena
RAÇA E RACISMO 15
quantidade de genes diferentes está geralmente ligada à adaptação do indivíduo aos diferentes meio
ambientes.
SPINELLI, Kelly Cristina. “Raças humanas não existem como entidade biológica, diz geneticista”. Disponível em:
http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/redacao/2013/02/05/racas-
humanas-nao-existem-comoentidades-biologicas-diz-geneticista.htm
Segundo o fragmento, a divisão das populações em raças seria possível caso a por-
centagem de genes que as distingue fosse elevada.
O termo “raça” pode ser aplicado aos casos em que um conjunto de indivíduos
de determinada espécie assume características semelhantes por causa de intervenções
humanas (como ocorre com as raças de cachorros), não por meio da seleção natural.
Sendo assim, caso houvesse diferenças genéticas expressivas entre populações huma-
nas, isso não justificaria afirmar a existência de diferentes raças.
2. Leia o seguinte fragmento do artigo O DNA do racismo para responder ao que se pede:
Vejamos a rigidez da classificação da humanidade feita pelo naturalista sueco Carl Linnaeus (1707-1778)
na edição de 1767 do seu Systema Naturae (“Sistema da natureza”). Ele apresentou, pela primeira vez
na esfera científica, uma divisão taxonômica da espécie humana. Linnaeus distinguiu quatro raças prin-
cipais (além de uma quinta, mitológica, que não levaremos em consideração) e qualificou-as de acordo
com o que ele considerava suas características principais:
• Homo sapiens europaeus: Branco, sério, forte
• Homo sapiens asiaticus: Amarelo, melancólico, avaro
• Homo sapiens afer: Negro, impassível, preguiçoso
• Homo sapiens americanus: Vermelho, mal-humorado, violento
Observe o leitor que as raças de Linnaeus continham traços peculiares fixos (...).
PENA, Sergio Danilo. “O DNA do racismo”. Disponível em:
http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/deriva-genetica/o-dna-do-racismo/
Publicado em 11/07/2008 | Atualizado em 11/12/2009. Adaptado.
16 RAÇA E RACISMO
a) por que o enunciador considera “rígida” a classificação proposta por Carl Linnaeus?
Existem duas respostas possíveis. O aluno pode dizer que não são mais atuais, pois
as Ciências da Natureza não respaldam conclusões como as deles. No entanto, também
é possível apontar a atualidade das ideias, já que certos preconceitos mencionados pe-
lo autor (sobretudo contra negros e asiáticos) seguem sendo propagados, mesmo com
todo avanço científico. Nesta questão, é interessante destacar aos alunos a importância
da argumentação na justificativa de respostas dissertativas.
Tal como Linnaeus, Voltaire relaciona rigidamente cor da pele e outros atributos
do indivíduo. No entanto, ao se referir à população negra (o Homo sapiens afer), Lin-
naeus destaca como característica principal sua suposta indisposição para o trabalho
(“impassível, preguiçoso”); Voltaire, falando sobre a mesma população, afirma que ela
não teria a mesma capacidade de raciocínio que a das pessoas brancas (“a sua com-
preensão, mesmo que não seja de natureza diferente da nossa, é pelo menos muito
inferior”).
b) considerando que os dois autores são contemporâneos, relacione a semelhança entre suas ideias e
a Europa do século XVIII.
RAÇA E RACISMO 17
INSTRUÇÃO: Leia o excerto do artigo Negro, Raça e Racismo: qual a definição? e responda às questões
4 e 5:
(...) é no pensamento do francês Joseph-Arthur de Gobineau (1816-1882) que se encontra a fun-
dação do racismo como ideologia. Com sua obra Ensaio sobre a Desigualdade das Raças Humanas
(1853-1855), ele lançou as bases teóricas do racismo apoiadas no tripé da existência de várias raças,
das diferenças entre as raças como fatores essenciais do processo histórico-social e da afirmação
da existência de uma raça superior.
Baseado nesse tripé, mais tarde, no início do século XX, o britânico Houston Stewart Cham-
berlain (1825-1927) difundiu na Alemanha o mito da superioridade racial dos arianos. Após o final
da Primeira Guerra Mundial (1918), Alfred Rosenberg (1893-1946), reinterpretou essas teorias espe-
cialmente em uma obra intitulada Mito do Século 20. Rosenberg elaborou a doutrina da superiori-
dade germânica e deu um toque pseudocientífico à política racista praticada por Adolf Hitler com a
perseguição a grupos que passaram a ser considerados inferiores, ou seja, eslavos, judeus, ciganos
e homossexuais.
FEITOSA, Elisa Geralda. “Negro, Raça e Racismo: qual a definição?”.
Disponível em: http://www.educacional.com.br/upload/blogSite/5052/5052247/8984/Racismo.doc
4. Embora a busca por teorizações científicas sobre o conceito de raça lhe seja anterior, Gobineau é tratado
no fragmento como o fundador do “racismo como ideologia”. Comparando suas ideias com as de Carl
Linnaeus, explique o que confere maior complexidade ao pensamento do teórico francês.
Em seu livro Systema Naturae, Linnaeus apresenta uma taxonomia, tratando as dife-
rentes populações como raças e apontados peculiaridades de cada uma delas. Gobineau,
além de aceitar a diferença entre as raças, ele relaciona isso ao processo histórico-social
da humanidade e à existência de uma raça superior. Desse modo, para além de uma teoria
científica, Gobineau fundamenta um conjunto de ideias, uma ideologia.
5. Com base no fragmento, pode-se afirmar que a doutrina da superioridade germânica elaborada por
Rosenberg originou a política racista praticada por Adolf Hitler? Explique.
Não. Segundo o excerto, a doutrina de Rosenberg foi utilizada na busca por legiti-
mar as ações discriminatórias do Estado nazista. Tais ações, portanto, não surgem como
resultado da teorização sobre raças, que é apenas explorada como justificativa para as
práticas implementadas por Adolf Hitler.
18 RAÇA E RACISMO
Escreva um breve comentário, endereçado ao enunciador do fragmento acima, explicando se você,
tendo em mente a realidade brasileira, concorda ou não com a afirmação de que classificar raças é uma
tarefa “sedutora para o público em geral”.
Texto 1
Nu, orelha cortada com faca, marcas de espancamento no corpo, amarrado pelo pescoço em
um poste na Avenida Rui Barbosa, no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro. Assim foi encontrado
um adolescente negro, “acusado” de praticar furtos na zona sul carioca.
BELCHIOR, Douglas. “Menino negro é espancado e amarrado nu em poste na zona sul do Rio”.
Blog Negro Belchior. Disponível em:
http://negrobelchior.cartacapital.com.br/menino-negro-e-espancado-e-amarrado-nu-em-poste-na-zona-sul-do-rio/
Texto 2
Dia 2 de fevereiro, dia de Iemanjá. Enquanto o samba acontecia na Pedra do Sal, a poucos qui-
lômetros dali, no bairro do Flamengo, puseram um negro nu preso pelo pescoço num pelourinho
improvisado. Ele estava assaltando pessoas (ou foi o que disse quem publicou a foto). Pra servir de
exemplo aos pretos ladrões. Recentemente, um caso semelhante aconteceu na praia.
Blog Controversias. “O racismo e seus tentáculos no século XXI”. Disponível em: https://controvesias.wordpress.
com/2014/02/03/o-racismo-e-seus-tentaculos-no-seculo-xxi/
a) explique o uso das aspas no vocábulo acusado (segundo período do texto 1);
As aspas indicam que o termo não está em sua acepção mais precisa, uma vez que
não houve uma acusação formal, que levasse a um julgamento no nível das instituições
oficiais de justiça.
RAÇA E RACISMO 19
b) relacione o modo como o episódio é abordado no texto 2 às teorias racialistas.
O enunciador considera que ser negro foi um fator decisivo para que o garoto
fosse espancado e exposto. Desse modo, o procedimentos dos ditos “justiceiros” é to-
mado como resultando de uma mentalidade segundo a qual existem raças superiores
e inferiores.
a) destaque três personalidades do poema acima e indique a área de atuação na qual cada uma é
referência;
20 RAÇA E RACISMO
b) explique como a definição de “magia negra” é utilizada no combate ao preconceito.
O termo “magia negra”, via de regra, assume conotação pejorativa, sendo utiliza-
do para nomear práticas religiosas que teriam como fim provocar o mal ao semelhante.
No poema, Sérgio Vaz dá outro significado à expressão, explorando o valor positivo do
termo “magia” para designar grandes obras realizadas por pessoas negras.
Parte 2
PRODUÇÃO TEXTUAL
A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao
longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo na modalidade escrita formal da língua
portuguesa sobre o tema “Violência policial e racismo no Brasil”, apresentando proposta de intervenção,
que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos
e fatos para defesa de seu ponto de vista.
TEXTO 1
Racismo institucional pode ser definido como o fracasso coletivo das instituições em promover
um serviço profissional e adequado às pessoas por causa da sua cor.
(...) O racismo institucional não se expressa em atos manifestos, explícitos ou declarados de dis-
criminação, mas atua de forma difusa no funcionamento cotidiano de instituições e organizações,
que operam de forma diferenciada, do ponto de vista racial, na distribuição de serviços, benefícios
e oportunidades aos diferentes segmentos da população.
“Segurança pública e racismo institucional”, IPEA 2013, adaptado.
TEXTO 2
A política de segurança pública do Brasil foi e ainda é baseada em decisões políticas cujos re-
sultados sobre determinada população revelam-se racistas. O advogado Tiago Vinícius André dos
Santos explica que esta “discriminação indireta” é reflexo da formação dos aparatos de segurança
pública do País, comprometidos pelo seu passado escravista e de repressão a manifestações de
resistência e cultura negra. É preciso considerar, ainda, a questão da criminalização da pobreza,
bem como a influência de teorias que afirmavam a necessidade de controle social diferenciado
para pessoas negras em razão de suposta “natural impulsividade para o cometimento de crimes”.
“Há uma ligação íntima entre os envolvidos na criminalidade comum e os marginalizados de nossa
sociedade excludente; e entre aqueles a quem se destina a violência policial no Brasil de hoje e a
população negra do final do século 19 e início do século 20”, relata.
ROMÃO, Bruna. “Racismo institucional estrutura sistema de segurança pública”.
Agência USP de notícias. 23/05/2013, adaptado.
RAÇA E RACISMO 21
TEXTO 3
Quando você for convidado pra subir no adro da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos
E outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
Gilberto Gil e Caetano Veloso. “Haiti”. Tropicália 2, 1993
22 RAÇA E RACISMO