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Ergonomia

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Origem e Evolução da Ergonomia

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Cristhiane Eliza dos Santos

Revisão Textual:
Prof. Esp. Márcia Ota
Origem e Evolução da Ergonomia

Fonte: iStock/Getty Images


Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:
• Introdução ao Tema
• Leitura Obrigatória
• Material Complementar

Objetivos
• Apresentar e discutir a origem e evolução dos conceitos de ergonomia até os dias de
hoje, bem como os conceitos de antropometria, fisiologia e biomecânica

Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o
último momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material
trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.

Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo,
você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou
alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”.

No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões


de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e
auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns
de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além
de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço
de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE
Origem e Evolução da Ergonomia

Introdução ao Tema
Antes de darmos início aos nossos estudos, é de grande importância contextualizarmos
a ergonomia, bem como seus elementos: antropometria, biomecânica e fisiologia.

Há, nos dias de hoje, uma série de definições para a ergonomia. Entretanto, nesse
contexto, recomenda-se considerar que a ergonomia deve ser a interação mais harmônica
possível entre homem, sistema e ambiente.

Desse modo, entendemos que não seria adequado considerar isoladamente


a ergonomia do trabalho, nem tão pouco seria adequado, nesse cenário, deixar de
considerar o trabalhador.

Retomando a definição proposta, é importante compreender que, nesse contexto, a


interação deve ser entre homem (trabalhador), sistema (método de trabalho, tanto para
manufatura quanto para prestação de serviços) e ambiente (meio ambiente, em que o
trabalhador está exposto na situação do trabalho e os riscos, aos quais está exposto:
riscos físicos, mecânicos, químicos, biológicos e, claro, ergonômicos).

Para tanto, será “pano de fundo” de toda a nossa abordagem a aplicação da ergonomia
não apenas para saúde e segurança do trabalhador, mas também como finalidade
principal, a aplicação da ergonomia como “vetor” de eficiência nas organizações. Não
uma “eficiência” movida pela premiação monetária, ou ainda, movida pela coerção na
relação de subordinação tipo “quem pode manda… E quem tem juízo obedece”. Mas sim,
a busca da eficiência sustentável, que está apoiada no reconhecimento do trabalhador
como “ser humano” e não como “meio de produção”, conforme “propalado em verso
e prosa” no período “pós-revolução industrial”.

Nesse sentido, a motivação é o “combustível” para eficiência e a ergonomia é o meio


de obtenção da tão procurada e ansiada “eficiência sustentável”.

Cabe ressaltar que, em muitos fóruns, a questão da sustentabilidade é meramente um


modismo. Sem dúvida, é uma visão. Visão essa que não compartilhamos.

Assim como a ergonomia e tantos outros assuntos, a sustentabilidade também possui


várias definições. E, mais uma vez, propomos o uso de uma definição de sustentabilidade
que vem ao encontro das nossas discussões: sustentabilidade é coexistência. Digo,
sustentabilidade é existir ao mesmo tempo que outros elementos sem, com isso, haver a
“canibalização” de um em detrimento ao outro.

Vamos esclarecer: uma empresa, para existir, deve ter lucro; razão de ser de qualquer
organização que não seja filantrópica, do terceiro setor. Temos a sustentabilidade
econômica ou financeira. A sociedade, eu e você, precisamos de água para sobreviver.
E a água é só um expoente da equação da vida e sem o qual não sobrevivemos,
todavia, também precisamos considerar o ar, sem o qual também não há vida. Temos
a sustentabilidade ambiental. A vida moderna, tanto nas organizações como na vida
cotidiana, tornou-se dependente da energia, seja elétrica, fóssil ou de qualquer outra
natureza. Há pesquisas que indicam que cada um de nós, nos dias de hoje, com a

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energia que consome para sua rotina, teria, em média, de 200 a 300 escravos para
gerar essa mesma energia necessária ao seu conforto e/ou necessidades. Temos a
sustentabilidade energética.

Para que haja vida próspera na dita sociedade civilizada, é necessário que haja um
equilíbrio entre os recursos energéticos, econômicos, alimentícios, tecnológicos, etc.
Esse é o conceito de sustentabilidade supracitado, em que o grande desafio é a busca
pelo equilíbrio. É a busca da capacidade de existir ao mesmo tempo. A coexistência dos
recursos, em que só faz sentido se houver a vida propondo a interação mais harmônica
possível entre homem, sistema e ambiente.

Podemos afirmar que, sob uma perspectiva mais ampla, tanto a definição de ergonomia
como a de sustentabilidade trazem consigo um tom subjetivo pela sua grandeza. De fato,
é um “macrovisão” absolutamente abrangente. Todavia, nos traz à luz a discussão e uma
profunda reflexão sobre o papel de cada um de nós em um mundo sustentável, tanto
na “macrovisão” subjetiva e quase holística como no desdobramento ou “detalhamento
operacional” da aplicação desses conceitos.

Assim sendo, a “microvisão” bem mais objetiva e de aplicação imediata nos permite
planejar e “operacionalizar” em um contexto muito menor e bem mais perto de cada
um nós, transcendendo o campo das possibilidades para “realidades”, transformando
o questionamento subjetivo e holístico para algo de aplicação objetiva e imediata com
a seguinte pergunta: O que posso fazer para viver melhor no trabalho e na vida? A
resposta dessa pergunta nos permite a presentar, então, todo o conteúdo que será
discutido a seguir.

Além disso, é importante salientar que o conteúdo dessa unidade está dividido da
seguinte maneira:

7 - Fisiologia
6 - Biomecânica
5 - Antropometria
4 - Evolução da
3 - Objetivos da ergonomia

2 - Origem da ergonomia

1 - Definição da ergonomia
ergonomia

Bons estudos!

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UNIDADE
Origem e Evolução da Ergonomia

Leitura Obrigatória
O conceito de ergonomia é relativamente antigo; todavia, só ganhou popularidade a
partir da Segunda Guerra Mundial. Os armamentos eram “desenvolvidos”, pela primeira
vez na história, olhando para o usuário final a fim de “otimizar” a utilização de uma
maneira geral. Na verdade, procurando “enxergar” a interação entre produto e usuário
para melhorar a assertividade nessa interação entre produto e usuário. Então, surge a
ideia de aplicação da ergonomia como meio de busca pela eficiência nas operações.
Nesse caso, especificamente, procurando fazer com que o armamento “se adaptasse”
ao soldado. Com isso, aumentando a assertividade de uso. Assim, usando melhor o
recurso para ter maiores e melhores resultados.

Dado o sucesso dessa iniciativa, no pós-guerra, a ergonomia teve seus conceitos e


aplicações popularizadas como “vetor” de eficiência nas organizações.

Importante destacar que a ergonomia traz em seu bojo um viés de sustentabilidade.

Há muitas definições sobre sustentabilidade. Nesse fórum, entende-se que a mais


adequada seria a COEXISTÊNCIA. Sustentabilidade é coexistência, existir ao mesmo
tempo. Um “elemento” existindo, ao mesmo tempo que outro “elemento”, sem, com
isso, um prejudicar ou comprometer o outro. Por exemplo, a organização, para existir,
tem que ter lucros. Porém, esses lucros não devem ser obtidos comprometendo à saúde
e segurança do trabalhador.

Para a composição desse cenário, é importante trazer à luz outros elementos, tais
como: a antropometria. O que é antropometria, quem usa e para que serve? Biomecânica.
O que é, quem usa e para que serve? E guardamos ainda os mesmos questionamentos
para fisiologia.

Assim sendo, além dos títulos indicados no plano de ensino, pode tornar sua
experiência mais rica, a leitura de outros títulos a esses assuntos relacionados. Por isso,
explore a bibliografia obrigatória proposta na unidade estrutural. Afinal, é recomendável
que você, enquanto aluno, amplie seus estudos com pontos de vista de autores diversos.

Para tanto, recomendamos que explore o acervo digital


disponível na Biblioteca Virtual Universitária. Então,
siga os seguintes passos:
Após entrar em sua “área do aluno”, disponível em:
https://siaa.cruzeirodosul.edu/alunos/novo_login.jsp,
no menu à esquerda da tela, clique em “E-books –
Bib. Virtual Universitária”. No topo da tela que abrirá,
haverá um campo de busca para autor, título, assunto,
etc. Então, digite “ergonomia” e clique na capa que
aparecer como resultado. Desse modo, terá a seguinte
interface de leitura:

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Note a seta ao lado direito da tela para avançar página a página, assim como perceba
que os ícones no rodapé da tela correspondem a determinadas funções, entre as quais:
ampliar a visualização (zoom), marcar a obra como favorita, imprimir trechos que
escolher e pular para um número específico de página.

Definição e evolução da ergonomia


Definição da ergonomia
O conceito de ergonomia está relacionado com a concepção do trabalho e remonta
a história do homem na Terra:

A primeira definição de trabalho conhecida está nas Sagradas Escrituras em Gênesis


3: 17 b, 19:
“Disse, pois, o Senhor Deus ao ser humano: maldita é a terra por tua causa; em fadiga
comerás dela todos os dias da tua vida. Do suor do rosto comerás teu pão, até que
tornes a terra; pois dela foste tomado; pois és pó, e ao pó tornarás. ”

É conclusivo que a ideia de trabalho está relacionada com a noção geral de sofrimento
e pena. (Bíblia, 1995).

Há muitas definições sobre ergonomia. Vamos apresentar algumas delas.

Primeira definição de ergonomia proposta pelo IEA diz que a ergonomia é o estudo
científico da relação entre o homem e seus meios, métodos e ambientes de trabalho.
Seu objetivo é elaborar, com a colaboração de diversas disciplinas científicas que a
compõem, um corpo de conhecimentos que, numa perspectiva de aplicação, deve ter
como finalidade uma melhor adaptação ao homem dos meios tecnológicos de produção
e dos ambientes do trabalho e da vida.

A segunda definição de ergonomia proposta pelo IEA em 2000, bem mais recente,
dá conta de que a ergonomia (ou fatores humanos) é a disciplina científica que visa à
compreensão fundamental das interações entre os seres humanos e outros componentes
de um sistema, e a profissão que aplica princípios teóricos, dados e métodos com o
objetivo de otimizar o bemestar das pessoas e o desempenho global dos sistemas. Segundo
Falzon (2009), ainda na segunda definição proposta pelo IEA em 2000, esclarece-se
que a palavra Ergonomia deriva do grego Ergon [trabalho] e nomos [normas, regras,
leis]. Trata-se de uma disciplina orientada para uma abordagem sistêmica de todos os
aspectos da atividade humana.

Assim, ilustramos a premissa de que além de ser uma disciplina “nova”, em especial
no Brasil, o conceito vem sendo continuamente revisto buscando uma “ampliação
conceitual de escopo”. Nesse contexto, torna-se importante destacar que, com o passar
do tempo, a “ergonomia” “aumenta de tamanho”. Quanto mais a sociedade demanda
de sustentabilidade de meios e recursos, mais atual a disciplina de torna e, ainda, a
amplitude de aplicação se multiplica.

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UNIDADE
Origem e Evolução da Ergonomia

Os profissionais que praticam a ergonomia, os ergonomistas, contribuem para


planificação, concepção e avaliação das tarefas, empregos, produtos, organizações,
meios ambientes e sistemas, tendo em vista torná-los compatíveis com as necessidades,
capacidades e limites das pessoas.

Note que, conforme apontado anteriormente, é evidente a ampliação do escopo da


ergonomia. Se compararmos, atentamente, as duas definições do IEA, observaremos
que há uma evolução significativa na percepção do conceito de trabalho e de quem
o executa vindo ao encontro com a “Escola das relações humanas” e em oposição à
“Escola da Administração Científica de Taylor”, especificamente, no reconhecimento da
força de trabalhador (homem) como ser humano.

Além disso, é possível também constatar uma “preocupação” no sentido de adequar,


harmonicamente, a interação da força de trabalho humano com os sistemas, de maneira
que a especificação do trabalho laboral não venha prejudicar à saúde do homem e nem
tão pouco venha a comprometer sua força de trabalho futura.

Ainda na segunda definição do IEA, o universo da ergonomia é dividido em


três dimensões:
· Ergonomia física: está relacionada com as características da anatomia
humana, antropometria, fisiologia e biomecânica e sua relação à atividade
física. Os tópicos relevantes incluem o estudo da postura no trabalho, manuseio
de materiais, movimentos repetitivos, distúrbios musculoesqueléticos
relacionados ao trabalho, projeto de posto de trabalho, segurança e saúde.
· Ergonomia cognitiva: refere-se aos processos mentais, tais como:
percepção, memória, raciocínio e resposta motora, conforme afetem as
interações entre seres humanos e outros elementos de um sistema. Os
tópicos relevantes incluem o estudo da carga mental de trabalho, tomada de
decisão, desempenho especializado, interação homem computador, stress
e treinamento, conforme esses se relacionem a projetos envolvendo seres
humanos e sistemas.
· Ergonomia organizacional: refere-se à otimização dos sistemas sociotécnicos,
incluindo suas estruturas organizacionais, políticas e processos. Os tópicos
relevantes incluem comunicações, gerenciamento de recursos de tripulações
(CRM - domínio aeronáutico), projeto de trabalho, organização temporal
do trabalho, trabalho em grupo, projeto participativo, novos paradigmas
do trabalho, trabalho cooperativo, cultura organizacional, organizações em
rede, teletrabalho e gestão da qualidade.

Para “dar conta” da amplitude dessa dimensão e poder intervir nas atividades do
trabalho, é preciso que se reconheça que a aplicação da ergonomia e seus elementos
DEVEM ser multidisciplinares e que não apenas os ergonomistas, mas todos os
profissionais envolvidos nas questões relacionadas à saúde, segurança do trabalhador
e eficiência nos processos tenham uma abordagem multidisciplinar de todo o campo
de ação da disciplina, tanto em seus aspectos físicos e cognitivos, como sociais,
organizacionais, ambientais, etc. Contudo, pode-se dizer que ergonomia está apoiada
em três pilares fundamentais:

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De um lado, o objetivo centrado nas organizações e sua busca incansável pela
eficiência, produtividade, confiabilidade, qualidade, durabilidade, etc. a fim de serem
mais competitivas, reduzindo custos. De outro, o objetivo centrado no ser humano,
considerando-se segurança, saúde, conforto, facilidade de uso, motivação, etc. E, ainda,
um terceiro pilar que representa a “macro-organização” trazida, cada vez mais forte
e atual, com o conceito da sustentabilidade de meios e recursos. A referida “macro-
organização” olha a sociedade, as mudanças de atitudes, hábitos e costumes que a
tecnologia nos traz e, com isso, a “popularização” da ideia de escassez de recursos.

Sob o enfoque de projeto do trabalho, a ergonomia é definida por Barnes (2008) como
o meio de encontrar a mais eficiente combinação entre homem e máquinas, equipamentos
e materiais no ambiente de trabalho e cita que o objetivo da ergonomia é a adaptação das
tarefas ao ambiente de trabalho às características sensoriais, perceptivas, mentais e físicas
das pessoas e, como resultado, obtém-se, então, melhores projetos de equipamentos,
sistemas homem-máquina, de produtos de consumo, métodos e ambiente de trabalho.
Um exemplo que “ilustra” perfeitamente a definição de Barnes é, exatamente, a aplicação
da ergonomia na Segunda Guerra Mundial, conforme citado anteriormente.

No Brasil, contamos com a ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia, que


é uma associação sem fins lucrativos que tem como finalidade o estudo, a prática e a
divulgação das interações das pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente,
considerando as suas necessidades, habilidades e limitações.

Origem da Ergonomia
A ergonomia surgiu em meados da Segunda Guerra Mundial em virtude da
complexidade de manuseio de armamento e dispositivos de ataque. Todo planejamento/
investimento feito no desenvolvimento de materiais bélicos não seria inútil, se o
“operador” (soldado) não soubesse como fazê-lo. E, ainda, frente aos horrores da
guerra, muitos soldados desenvolviam doenças psiquiátricas. Com isso, para amenizar
o impacto, tanto de manuseio como da saúde mental dos soldados e procurar “manter
a produtividade”, grupos multidisciplinares foram mobilizados para entrarem como
“suporte” no cenário da guerra.

A curiosidade nesse cenário é que não se considera apenas a ergonomia física que,
hoje em dia “populariza” essa disciplina; no universo da ergonomia, também se leva em
conta as questões psicoemocionais que não são “males” físicos, mas psíquicos.

É interessante, ainda, chamar atenção ao fato que a visão do trabalhador dessa


época era, em sua maioria, de que era um meio de produção. O trabalhador não era,
popularmente, aos olhos dos “donos de fábrica” visto como “homem”. Assim sendo,
“um meio de produção”, tal qual um dispositivo ou uma ferramenta, não deveria ter
“males” desenvolvidos pelo homem como “doenças psiquiátricas”.

Esse foi um avanço importante na definição ou redefinição do conceito de ergonomia.


O trabalhador ou, no caso, soldado, é um homem e como tal deve ser considerado. Há
limites, tanto físicos como psicoemocionais que, para o bom resultado das tarefas, deve
ser identificado e considerado.

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UNIDADE
Origem e Evolução da Ergonomia

Mais especificamente, a ergonomia nasceu em 12 de junho de 1949, data em que se


reuniu, pela primeira vez na Inglaterra, um grupo de cientistas e pesquisadores motivados
em discutir essa “nova disciplina” interessada em discutir e formalizar esse novo campo
de pesquisa multidisciplinar da ciência que propunha uma interação harmônica entre
homens e sistemas.

Todavia, já em meados de 1857 um polonês, Wojciech Jastrzebowski já havia


publicado um artigo sob o título “Ensaios de ergonomia ou ciência do trabalho, baseada
nas leis objetivas da ciência sobre a natureza”. Essa publicação, em essência, propunha
o estudo dos movimentos do corpo humano e sua aplicação no “trabalho”.

Entretanto, a ergonomia só veio adquirir status de disciplina mais organizada na


primeira metade de 1950 com a fundação da Ergonomics Research Society, na
Inglaterra, no pós-guerra. Os membros dessa organização, muitos deles pesquisadores,
disseminavam seus conhecimentos e propunham a aplicação da ergonomia na indústria
e não somente na área militar como era difundido até então.

Objetivos da Ergonomia
Conforme citado anteriormente, o objetivo da ergonomia é estudar a interação entre
o homem e os sistemas, considerando fatores físicos e psicológicos a fim de obter ganhos
em eficiência para os sistemas (empresas), bem como a manutenção da saúde por parte
dos colaboradores, procurando reduzir a fadiga, estresse, erros e acidentes e, ao mesmo
tempo, ser eficiente, tornando a organização competitiva. Nesse cenário, a eficiência
produtiva, bem como a motivação, é consequência direta da assertividade dessas ações.

Para o “exercício e aplicação da ergonomia”, conforme discutido até agora, é preciso


deixar claro que não é o empenho de apenas um colaborador, ou ainda, a contribuição
de uma área específica de conhecimento que vai obter resultados esperados. É preciso
contar com grupo multidisciplinar composto por representantes de várias áreas da
organização, tais como: médico do trabalho, psicólogos dos recursos humanos, técnicos
da segurança do trabalho, representantes da operação, engenheiros da produção,
engenheiros do desenvolvimento do produto ou serviço e do processo, profissionais
da manutenção e demais áreas que possa se fazer necessário. E, ainda, além do grupo
multidisciplinar, é preciso ter o conhecimento de que, se necessário, profissionais de
outros campos de conhecimento devem ser convidados a participar dos projetos de
ergonomia tais como: Psicologia, Anatomia e Fisiologia, Organização do Trabalho,
Design e Métodos de Avaliação, Tecnologia da informação, entre outros.

Evolução da Ergonomia
Discorrendo sobre a ergonomia, é imprescindível citar as definições, a origem, mas,
para um completo entendimento da aplicação da ergonomia nos dias de hoje, não
podemos deixar passar despercebido os precursores da ergonomia.

Vamos a eles!

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Já foi mencionado, nessa seção, que identificamos nas escrituras da Bíblia a noção
de trabalho “penoso” dedicado ao homem para a sua sobrevivência, trazendo consigo a
ideia de que “ter que trabalhar” seria a “recompensa” pelo pecado. Vimos também que
a noção de ergonomia acompanha a necessidade de trabalho que o homem tem a partir
da sua necessidade mais básica, que é caçar para comer. Ainda na pré-história, quando
o homem era nômade, precisava caçar para comer e quando a comida começava a faltar
em uma determinada região, os homens migravam para outra. E, quando saiam para a
caça, procuravam uma pedra que melhor se encaixasse a sua mão a fim de usá-la como
arma e auxiliar na caçada. Nota-se que desde a pré-história, ainda que intuitivamente, o
homem procura por dispositivos que o auxiliem no trabalho.

É importante chamar a atenção para o fato que de que o homem, desde os primórdios
da história, procura meios que auxiliem nas suas necessidades mais básicas, nesse caso,
na adaptação de “meios ou ferramentas” que potencializem seus resultados... A pedra
em forma de arma “facilitaria” sua tarefa de subsistência que era caçar para comer.

Essa ideia também esteve presente na era da produção artesanal que antecedeu
a Revolução Industrial, onde os artesãos procuravam adaptar as tarefas às
necessidades humanas.

A Inglaterra foi “arrastada” para a Revolução Industrial a partir da formação de uma


classe burguesa ávida por consumir bens, pelo êxodo dos ingleses do campo para a
cidade e, ainda, o domínio da tecnologia da máquina a vapor.

Essa união de fatores promoveu a Revolução Industrial na Inglaterra, evento esse


que mudou a face do mundo. A onda da “produção de bens” em escala industrial (larga
escala) invadiu a Europa rapidamente por uma questão de proximidade geográfica e
subsequentemente, a América.

As primeiras fábricas que surgiram nesse cenário eram sujas, escuras, barulhentas e
perigosas; era o ambiente de trabalho de milhares de pessoas. As fábricas dessa época
em nada parecem com o ambiente industrial nos moldes que conhecemos hoje em dia.

Naquela época, o trabalho era realizado por homens, mulheres e crianças que tinham
jornadas de trabalho de até 18 horas por dia e, constantemente, submetidos a castigos
físicos, sem férias, sem indenizações de qualquer espécie e o pagamento pelo trabalho
era feito diariamente.

No final do século XVIII e início do século XIX, surge, nos Estados Unidos da América,
um simples operário que revolucionaria a maneira de se produzir bens industrialmente (em
larga escala), seu nome é Frederick Winslow Taylor. Ele estudou e tornou-se Engenheiro
Mecânico e, no ambiente que conhecia, foi de simples operário a gerente industrial,
promovendo estudos sistêmicos acerca de como organizar a produção e melhorar a
sua eficiência. Esses estudos transformaram-se em publicações que preconizavam uma
maneira sistêmica, científica de analisar o trabalho, buscando redução de movimentos
e aumento da eficiência. A essa “maneira científica” de “organizar o trabalho” deu-se o
nome de Administração Científica ou Taylorismo.

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UNIDADE
Origem e Evolução da Ergonomia

Na Europa, mais especificamente na Alemanha e França e países escandinavos,


em meados de 1900, surgiram estudos sobre a fisiologia humana voltada ao trabalho
(fisiologia do trabalho) e gastos energéticos na tentativa de migrar os conhecimentos
sobre fisiologia desenvolvidos em laboratório para ambientes extremos, tais como: minas
de carvão, fundições e outras situações, onde a energia gasta para realizar o trabalho
humano era máxima e o ambiente extremante agressivo à saúde humana.

Ao redor do mundo, muitos esforços foram mobilizados para realização de estudos


relacionados sobre os movimentos do corpo, como: fadiga muscular, fadiga psicológica,
aptidão física, postura no trabalho, desenvolvimento de mobiliário, iluminação, ventilação,
temperatura, ruído, umidade, vibração, etc.

Todos esses conhecimentos que foram acerca da combinação harmônica entre homens
e sistemas acumulados em todas as partes do planeta foram de grande valor na ocasião
da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) com a finalidade de desenvolver projetos e
promover a construção de materiais bélicos sofisticados, tais como: submarinos, tanques,
radares, navios, aviões, sistemas contra incêndio, etc. Além do alto custo de cada um
desses produtos, o operador (soldado) no manuseio dessas “máquinas” era exposto a
condições de extrema fadiga física e psicológica. Assim, estudos foram promovidos por
equipes multidisciplinares a fim de melhorar a adaptação do homem ao sistema, ou seja,
do soldado às máquinas bélicas no campo de batalha.

A ergonomia do pós-guerra, em tempos de paz, era frequentemente ridicularizada


por sua “falta de credibilidade” que perdurou até o Departamento de Defesa dos EUA
desenvolver pesquisas em Universidades e Centros de Pesquisa Especializados.

A fim de tornar mais consistente “essa viagem no tempo” acerca da evolução da


ergonomia, é importante aprofundar o conhecimento sobre a organização do trabalho e a
Administração Científica do Trabalho que propiciou grandes contribuições para essa matéria.
Para tanto, apresentamos, resumidamente, a “Administração Científica do Trabalho”.
Conforme citado, o ícone da Administração Científica é o Engenheiro americano,
Frederick Winslow Taylor (1856 – 1915). Taylor começou sua vida profissional
como simples funcionário de uma empresa metalúrgica americana e chegou, como
engenheiro mecânico, ao nível do que se conhece de estrutura organizacional nos dias
de hoje, a diretoria industrial tendo passado também pelo nível gerencial. Pelo fato de
iniciar sua vida profissional como simples operário, nessa função, teve a oportunidade
de vivenciar o que a sociologia do trabalho chama de código de trabalho. Código de
trabalho é quando os funcionários de um determinado setor de uma empresa definem
regras próprias quanto ao ritmo de trabalho e, muitas vezes, regras próprias para o
método de trabalho também. Por isso, mais tarde, Taylor definiu os funcionários como
“indolentes”; oportunamente retornaremos a essa afirmação.

Ao receber sua primeira promoção, Taylor, como qualquer líder, inclusive nos dias de
hoje, passou a ser cobrado por resultados. Como era conhecedor de como o trabalho
era realizado em sua empresa, sabia que era vital para seu sucesso profissional organizar
a parte feia, suja e desorganizada da empresa chamada de produção.

Precisamos relembrar que o advento da “Revolução Industrial” ainda era novo para
sociedade no mundo inteiro. Não tinha tido tempo para o “simples trabalhador” ter
frequentado uma escola para APRENDER o ofício do trabalho “confinado” na indústria...
O modelo de trabalho que havia sido herdado por gerações era o trabalho artesanal.

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Como não havia nenhum histórico anterior relacionado a estudos específicos sobre
organização da produção ou eficiência do processo produtivo, Taylor pode realizar, sem
nenhum tipo de cobrança ou expectativa, seus experimentos acerca do que imaginava
ser uma empresa organizada e eficiente. Fez muitos testes tipo tentativa e erro. O
resultado desses testes e observações fez com que publicasse sua teoria de organização
do trabalho conhecido como “Princípios da Administração Científica” que consistia
primeiramente na divisão do trabalho.

A Administração Científica do Trabalho pregava que, para se obter ganhos de eficiência


na produção de todo trabalho a ser realizado, esse “trabalho todo” deveria ser dividido
em tarefas simples e repetitivas e que o funcionário deveria ser treinado nas suas
tarefas seguindo rigorosamente a “prescrição da tarefa”. Naquela época, o funcionário
recebia por dia e não tinha um vínculo formal de trabalho na forma de “emprego”
como conhecemos hoje. Antes de seu método, não existia nenhuma recomendação
da sequência de atividades que deveriam ser feitas ou como essas atividades deveriam
ser feitas. Cada um fazia, mais ou menos, o que queria da forma que queria e com a
“carga de trabalho” que achava justa pelo seu ganho diário, ou seja, um funcionário
que trabalhava muito ganhava o “mesmo dinheiro” que um funcionário que trabalhava
pouco; logo, a realização do trabalho era nivelada por baixo. E Taylor sabia disso, sabia
que havia uma boa parcela de ineficiência aceita pelo formato de trabalho da época.
Foi nesse cenário que, ao dividir o trabalho, impôs uma sequência de trabalho, posto
a posto de trabalho. Definiu que, em cada posto de trabalho as tarefas deveriam ser
feitas de maneira simples e repetitivas. Foi uma maneira inteligente de definir um fluxo
contínuo de produção além de tentar garantir que o trabalho fosse feito, sempre, da
mesma maneira e, como consequência distribuiu a carga de trabalho uniformemente
entre os operários em cada um dos seus postos der trabalho.

Na prescrição da tarefa dos postos de trabalho, procurava pensar na tarefa e rever os


movimentos de maneira a eliminar os movimentos desnecessários a fim de economizar
tempo e energia. A fim de tornar o trabalho mais eficiente e menos exaustivo ao
operário, começou-se a medir o trabalho no tempo, o que mais tarde e, até os dias de
hoje, seria chamado de “cronoanálise”. Além de dividir o trabalho, passou a definir
a sequência e fazer a prescrição da tarefa, também foi definido um ritmo de trabalho
na produção com as esteiras móveis. A esteira móvel a que nos referimos, nesse
momento, não é a esteira móvel de Ford que foi a precursora da produção em massa.
A esteira móvel de Ford veio mais tarde. A “esteira móvel de Taylor” foi, de acordo
com o contexto apresentado, um elemento para aumentar a quantidade e qualidade
produzida como meio de consolidação do seu modelo de análise científica do trabalho.

Além de todas as preocupações de relativas à organização da fábrica bem como


sua eficiência, preocupou-se também em organizar o espaço fabril ordenando os
elementos; máquinas, ferramentas, dispositivos e até o próprio trabalhador de
maneira eficiente na fábrica.

Taylor foi muito criticado em sua obra, pois se afirmava que ele rebaixava o homem a
condição de animal. Dizia que o estudo do método de trabalho deveria ser executado
por uma parte da empresa composta por pessoas que deveriam ser estudadas e
devidamente preparadas para isso. Não deveria, jamais, ser dado ao simples funcionário
a autonomia de decidir o que, como e quando fazer. Afirmava-se, que Taylor definia
o simples funcionário como “acéfalo”, ou, pouco dotado de inteligência e incapaz de
tomar decisões racionais; dizia também que o trabalho deveria ter um método definido
com ritmo a fim de “impedir” que funcionário “burlasse intencionalmente” os índices
de eficiência esperados, hoje em dia poderíamos dizer que não era desejado que o
simples funcionário “encostasse o corpo”, e, com essa situação, afirmava-se que Taylor
havia rotulado o simples funcionário de indolente, ou se preferir, vagabundo.

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UNIDADE
Origem e Evolução da Ergonomia

Será que a intenção de Taylor era realmente “rebaixar o trabalhador a uma condição de
animal”? OU Será que Taylor, conhecedor da falta de qualificação do “trabalho confinado”
dentro da fábrica e, sabendo que, frente ao ritmo frenético de produção que se propunha
não haveria tempo nem meios de garantir a criação de competências necessárias ao simples
trabalhador, optou, em seu modelo de “trabalho confinado”, qualificar não a fábrica toda,
mas um grupo pequeno de profissionais dedicados à definição do método de trabalho e a
definição dos níveis de produtividade esperados?

Taylor, para “motivar” seus funcionários, oferecia prêmios para ganhos em produtividade;
quem produzisse mais, ganhava mais. Surge aí a ideia de remuneração variável, ou
conforme conhecemos nos dias de hoje, participação nos lucros e resultados.

Todavia, nem sempre os princípios de Taylor eram devidamente empregados.


Frequentemente, o tempo definido para execução da tarefa e, muitas vezes o próprio
método eram definidos por quem sequer conhecia a fábrica e, impossíveis de serem
cumpridos. Os funcionários sentiam-se oprimidos pela gerência da fábrica e, reagiam
descumprindo as normas (prescrição da tarefa) e danificando, intencionalmente, os
equipamentos além de não se sentirem minimamente comprometidos com a qualidade.

Curiosidade: você se lembra da “reengenharia” dos americanos Michael Hammer e James


Champy? Reengenharia é um modelo de reestruturação da empresa criado em meados
dos anos 1990 para atender às necessidades de mercado. Consiste em utilizar um número
menor de colaboradores, porém, mais qualificados. Todavia, assim como os princípios da
Administração Científica de Taylor, a reengenharia também foi gerenciada, eventualmente,
por profissionais de reputação duvidosa e o modelo foi utilizado “como desculpa” para
justificar demissão em massa. Em muitos fóruns, a reengenharia é criticada e mal vista
justamente por ser vista como a “foice do desemprego sem critério”. O conceito do modelo
é muito interessante e poderia ter sido, talvez, uma releitura para a definição de eficiência.

Por se sentir vítimas de um ambiente absolutamente coercitivo, houve reclamações


generalizadas por todo país (EUA), envolvendo inclusive os sindicatos. O
descontentamento era tão grande que Taylor foi chamado a se explicar no Congresso
Nacional Americano sob o argumento de que, nesse “novo método de trabalho”,
trabalhava-se mais (produzia-se mais) e ganhava-se a mesma quantidade em dinheiro
além de ser coercitivo.

Taylor defendeu-se dizendo que, na Administração Científica, o trabalhador não


trabalhava mais, trabalhava melhor. Como havia uma grande preocupação com a
economia de energia do trabalhador através da racionalização dos movimentos, ele
trabalhava menos, produzia mais e ainda tinha prêmio relativo ao seu desempenho.

Segundo a física, toda ação requer uma reação e como reação à Administração
Científica de Taylor, ou Taylorismo, surge a Escola das Relações Humanas onde seu
ícone é Elton Mayo.
Anteriormente a “Escola das Relações Humanas” a noção de trabalho era relacionada
à pena bem como na Bíblia. E a imagem de operário era relacionada a quem não tem
vontade, direitos ou, sequer, dores.

Em meados da década de 1920, Mayo promoveu uma pesquisa que revolucionou a


relação homem x trabalho na empresa Western Electric em Hawtorne, EUA.

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Mayo pretendia estudar os efeitos da iluminação na eficiência da fábrica. Separou um
grupo de trabalhadores da produção e colocou-os num ambiente isolado da produção.
Nesse espaço, não havia a presença do “capataz”, encarregado ou supervisor de
produção nos dias de hoje. Muitas vezes, o capataz era coercitivo a ponto de castigar
fisicamente o operário.

Mayo forneceu iluminação adequada e a produção aumentou. Em um segundo


momento, Mayo reduziu a iluminação e a produção continuou a subir. Esse foi
chamado o efeito Hawtorne, em que Mayo concluiu que a eficiência na produção
não era explicada ou justificada apenas fatores físicos, havia o componente humano
que deveria ser identificado, reconhecido e valorizado. Os operários escolhidos para
esse estudo receberam atenção especial e, ao saberem que estavam sendo filmados,
sentiram-se valorizados.

Ao contrário da proposta de Taylor, em que o operário era analisado isoladamente,


Mayo propôs, a partir do efeito Hawtorne, a humanização da produção, criando
incentivos morais e psicológicos. Afinal, posto que o trabalho é um meio de vida
e não de morte, não precisa ser “penoso”. A partir do efeito Hawtorne, surge um
novo campo de pesquisa conhecido como sociologia industrial e, com ela, os grupos
autônomos com tarefas mais integradas nos moldes da organização do trabalho como
conhecemos nos dias de hoje.

Conforme já citado anteriormente, o conceito de ergonomia vem sendo ampliado dia


após dia. Quanto maior o conhecimento das pessoas, em geral, sobre o que vem a ser
ergonomia e suas respectivas aplicações, não só o conceito fundamental se consolida,
como também se aperfeiçoa, de acordo com a resposta da sociedade.

No Brasil, não há cursos de graduação que formem ergonomistas; todavia, há uma


grande variedade de cursos de pós-graduação nessa área para os mais diversos profissionais
que vão desde a engenharia até disciplinas ligadas à saúde, psicologia e sociologia.

A maioria das empresas que aplica a ergonomia não tem uma área composta de
ergonomistas, mas possui um grupo de profissionais ligados, direta ou indiretamente, à
execução do trabalho e suas derivações.

Na organização moderna, em um ambiente cada vez mais competitivo, não é raro as


empresas “incorporarem” a preocupação com a ergonomia e segurança do trabalho até
porque existem normas brasileiras que regulamentam a relação empregador x empregado.

A fim de aplicar devidamente ergonomia em toda sua amplitude, muitas empresas


criam e mantêm o “COMITÊ DE ERGONOMIA”, que é um grupo de profissionais
multidisciplinar a fim de “garantir” que, nessa organização, as interações entre homens
e sistemas acontecem harmonicamente. Esse grupo deve-se reunir periodicamente e
planejar a aplicação de ações imediatas, além de planejar eventos futuros, guardando a
premissa de “Melhoria Contínua”.

De acordo com IIda (2005), há profissionais ligados à saúde do trabalhador, à


organização do trabalho, ao projeto de máquinas e equipamentos, trazendo consigo
sua contribuição em conhecimentos úteis que devem ser considerados na solução de
problemas ergonômicos, dentre os quais destacam-se:

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UNIDADE
Origem e Evolução da Ergonomia

Médicos do trabalho: podem ajudar na identificação dos locais que provocam


acidentes ou doenças ocupacionais a realizar acompanhamentos de saúde e, ainda,
criar um dossiê de “histórico de dor” por setor. Essa prática vai servir para orientar
o “Comitê de ergonomia” na revisão de processos de trabalho atuais e no projeto de
novos processos de trabalho.

Engenheiros de projeto: contribuem nos aspectos técnicos, procurando adequar


máquinas e ambiente de trabalho.

Engenheiros de produção: procuram distribuir o trabalho sem sobrecarga,


estabelecendo um fluxo racional de materiais e postos de trabalho; devem estudar os
métodos de trabalho, tempos e postos de trabalho.

Engenheiros de segurança e manutenção: identificam áreas, máquinas e processos


de trabalho que podem oferecer risco ao trabalhador.

Desenhistas industriais: ajudam na adaptação de máquinas e equipamentos, projeto


do posto de trabalho e sistemas de comunicação.

Psicólogos: são comumente envolvidos na análise dos processos cognitivos,


relacionamentos humanos, seleção e treinamento de pessoal e podem dar sua
contribuição no estabelecimento de novos métodos.

Enfermeiros e fisioterapeutas: devem procurar agir preventivamente no histórico


de dor e lesões ocupacionais. Quando a prevenção não tiver sido possível, atuam na
recuperação desses trabalhadores.

Programadores de produção: podem contribuir definindo, na medida do possível,


um fluxo contínuo de produção e evitando trabalhos noturnos.

Administradores: podem atuar na elaboração de cargos e salários mais justos,


melhorando a autoestima do trabalhador.

Compradores: devem ser conhecedores dos princípios de ergonomia a fim de


procurarem adquirir máquinas, equipamentos e materiais mais limpos, seguros,
confortáveis e menos tóxicos.

Quando não existe um grupo multidisciplinar, que aqui chamamos de “Comitê


de ergonomia”, apoiado incondicionalmente pela alta administração ou quando a
organização dá os primeiros passos dentro do universo da ergonomia, muitas vezes, a
ergonomia é aplicada de acordo com a ocasião que é feita e, segundo IIda (2005) apud
Wisner (1987), como “ergonomia de ocasião” é classificada em concepção, correção,
conscientização e participação.

Ergonomia de concepção: quando a abordagem ergonômica nasce com a ideia


inicial sobre uma máquina, equipamento, mobiliário e processo de fabricação e/ou
prestação de serviços. O projetista já pensa na aplicação final de seu produto e/ou
serviço dentro dos preceitos da ergonomia.

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Ergonomia de correção: quando o problema já existe, seja histórico de dor física ou
alguma patologia psíquica desenvolvida pela natureza do trabalho feito, é necessária a
mobilização de profissionais capacitados nessas áreas específicas a fim de corrigir esse
histórico já existente.

Ergonomia de conscientização: ainda que a empresa forneça EPI’s (equipamentos


de proteção individual), ainda que haja palestras de integração quando o trabalhador inicia
seu trabalho na empresa, ainda que a empresa disponibilize equipamentos ergonômicos
para os funcionários e os engenheiros e fisioterapeutas promovam treinamentos sobre
os movimentos corretos em novos processos, o trabalhador PRECISA entender que
toda essa mobilização de recursos é para ele, todavia, depende dele o trabalho correto.
É preciso preparar devidamente o trabalhador por meio de palestras de informação
e conscientização da sua própria responsabilidade para manutenção da sua própria
saúde e motivação no ambiente de trabalho. Altos investimentos são feitos por parte
das organizações e, sem a devida participação do trabalhador, todos esses esforços, bem
como os investimentos mobilizados por parte da empresa de NADA valem. A dor vai
existir, o assédio moral vai existir, o afastamento e o aumento nos custos, bem como
a perda de eficiência vai persistir. Por mais que seja oneroso “parar” a operação para
palestras, ainda é bem mais barato do que perder os investimentos de energia, tempo e
dinheiro para “aplicar devidamente a ergonomia”.

Ergonomia de participação: é quando o trabalhador ou usuário participa do processo


de desenvolvimento de máquinas, equipamentos, mobiliário e processo de fabricação e/
ou prestação de serviços. A ergonomia de participação é efetiva quando o trabalhador
ou usuário já possui conhecimentos prévios sobre o que vem a ser ergonomia.

Traçando um paralelo entre o conceito de ergonomia e o conceito de qualidade,


igualmente atuais em constante ampliação de escopo, sabemos que, quando o conceito
de qualidade invade toda organização, podemos entender que a organização ampliou o
escopo de tal forma que tomou, invadiu toda organização. Para essa situação, é possível
afirmar que a empresa chegou ao estágio de qualidade total.

A “Qualidade Total” está relacionada ao grau de maturidade organizacional que a


empresa possui. Quando uma organização é capaz de definir objetivos claros voltados a
qualidade, disseminar e gerir esses objetivos em todos os níveis hierárquicos e em todos
os colaboradores, é possível afirmar que o “conceito” de qualidade total “invadiu” toda
a organização.

Da mesma maneira, quando o conceito de ergonomia é construído e consolidado em


toda a organização, é possível afirmar que a macroergonomia foi atingida pela empresa.

Sempre onde há trabalho humano, em qualquer segmento de mercado, inclusive


em nossa vida cotidiana, deve haver ergonomia. No ato de um estudante levar uma
mochila para escola, deve haver ergonomia de correção na ou conscientização sobre
como carregar a mochila, as duas alças devem ser usadas, uma em cada ombro. Caso
seja possível, as mochilas com rodinhas devem ser escolhidas.

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UNIDADE
Origem e Evolução da Ergonomia

Antropometria
Segundo Iida (2005) a origem da antropometria remonta-se à Antiguidade, pois
egípcios e gregos já observavam e estudavam a relação das diversas partes do corpo.
O reconhecimento dos biótipos remonta-se aos tempos bíblicos e os nomes de muitas
unidades de medida utilizadas, hoje em dia, são derivados de segmentos do corpo. A
antropometria trata das medidas do corpo humano. Aparentemente, medir as pessoas
seria uma tarefa fácil, bastando, para isso, ter uma régua, trena e balança. Entretanto, isso
não é tão simples assim, quando se pretende obter medidas representativas e confiáveis
de uma população composta de indivíduos dos mais variados tipos e dimensões.

Uma das muitas aplicações das medidas antropométricas na ergonomia é relacionada


com o dimensionamento do espaço de trabalho, desenvolvimento de mobiliário, definições
dos espaços internos dos automóveis, ferramentas e dispositivos, além de melhor
definição do “tamanho humano” relacionados a roupas e equipamentos, principalmente
com os avanços tecnológicos associados às coordenadas tridimensionais da engenharia
e da biomecânica. Com isso, amplia-se a possibilidade do uso da tecnologia supracitada
em procedimentos diagnósticos e construções de próteses ortopédicas, por exemplo.

A antropometria divide-se em:


· Antropometria estática: Refere-se a medidas gerais de segmentos corporais
com o indivíduo em posição estática (parado).
· Antropometria dinâmica: Refere-se a pequenos movimentos realizados por
segmentos corporais nos três planos de secções anatômicas.
· Antropometria funcional: Refere-se à análise dos movimentos específicos
de uma atividade considerando os três planos de secção e delimitações
anatômicas em um posto de trabalho.

Biomecânica
A biomecânica é o estudo da mecânica dos organismos vivos. É parte da biofísica.

Mas o que é biofísica?

A biofísica é uma ciência interdisciplinar que aplica as teorias/métodos da física para


resolver questões de biologia e busca enxergar o ser vivo como um corpo, que ocupando
lugar no espaço e transformando energia, existe num meio ambiente que interage com
este ser. Importante notar que aspectos elétricos, gravitacionais, magnéticos e mesmo
nucleares estão na fundamentação de vários fenômenos biológicos e, portanto, podem
ser tratados pelos conhecimentos das ciências físicas. Além disso, é estudada por
algumas ciências da saúde e biológicas, como: Biologia, Biotecnologia, Enfermagem,
Fonoaudiologia, Medicina, Odontologia e principalmente na Biomedicina, Engenharia
Biomédica, Fisioterapia e Terapia Ocupacional.

Em resumo: biofísica é o estudo da matéria, espaço, energia e tempo que ocorrem


nos Sistemas Biológicos.

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A Biomecânica externa estuda as forças físicas que agem sobre os corpos enquanto a
biomecânica interna estuda a mecânica e os aspectos físicos e biofísicos das articulações,
dos ossos e dos tecidos histológicos do corpo.

A Biomecânica, além de ser, atualmente, uma ciência com laboratórios específicos e


diversos níveis de pesquisas, nas Universidades, é também uma especialidade e uma disciplina
oferecida pelos Cursos superiores de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional.

As referências iniciais relativas à análise dos aspectos biomecânicos dos movimentos


corporais – humanos e animais – remontam à antiguidade clássica e pertencem a
Aristóteles, que registrou as primeiras observações sobre o ato de caminhar do Homem e
dos animais, como consequência da ação dos membros inferiores e patas contra o solo.

O meticuloso estudo dos movimentos do corpo, biomecânica, tem apresentado


resultados surpreendentes no esporte de alto desempenho. Em decorrência, grupos de
profissionais multidisciplinares estudam os movimentos dos atletas com todos os recursos
que a tecnologia permite e desenvolve, a partir de necessidades específicas e personalizadas,
um programa de treinamento dedicado “àquele atleta”. São fisioterapeutas, ortopedistas,
professores de educação física, especialistas em condicionamento físico, nutricionistas e
fisiologistas. Assim, o esporte de alto rendimento, para tornar o atleta competitivo em
âmbito mundial, mobiliza muitos recursos e grandes quantias em dinheiro.

As observações de Aristóteles, que aparecem na História como as primeiras


explicações para o gesto de deambulação (passeio, movimento) humana, foram
ratificadas quase dois mil anos depois pela Terceira Lei de Newton. Mas a história, ainda,
haveria que caminhar muito para transportar impressões observacionais subjetivas em
quantificação do gesto, que só foi iniciada a partir da invenção da fotografia.

Essa invenção representou o surgimento de uma nova possibilidade metodológica para as


pesquisas sobre aspectos do movimento corporal e deu origem a um ramo da Biomecânica
conhecido como cinemetria, que propicia o congelamento dos movimentos, o registro e,
consequentemente, a quantificação geométrica por meio dos instantâneos – ou fotograma –
possibilitando sua descrição precisa. Até os dias atuais, esse tipo de aplicação da fotografia
à biomecânica consiste num dos principais meios de obtenção de informações sobre a
geometria do movimento e é denominada Fotogrametria não Cartográfica.

Fisiologia
A fisiologia (do grego physis = natureza, função ou funcionamento; e logos =
palavra ou estudo) é o ramo da biologia que estuda as múltiplas funções mecânicas,
físicas e bioquímicas nos seres vivos. De uma forma mais sintética, a fisiologia estuda
o funcionamento do organismo. Além disso, é estudada em diversas áreas, inclusive
da saúde como Biomedicina, Educação física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia,
Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, psicologia,
Terapia Ocupacional, dentre outras biológicas.

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UNIDADE
Origem e Evolução da Ergonomia

A fisiologia dos dias de hoje, biologia grega do passado, socorre-se dos conhecimentos
proporcionados pela física para explicar como decorrem essas funções vitais segundo
os princípios físicos. Efetivamente, os conceitos da Biologia são indissociáveis da Física
(ainda que aqui se fale de Física num sentido mais lato, incluindo a b química). Para quem
estuda a fisiologia integrada é importante o domínio da anatofisiologia.

A fisiologia é dividida, classicamente, em: fisiologia vegetal e fisiologia animal.

O campo de estudos da fisiologia animal estende os métodos e ferramentas de


estudo da fisiologia humana para espécies não humanas. Além disso, a fisiologia vegetal
emprega técnicas de ambos os campos citados anteriormente. Seu escopo e temas
são tão diversos quanto à diversidade da vida que existe no planeta. Por isso, pesquisas
em fisiologia animal tendem a concentrar-se no entendimento de como as funções
fisiológicas mudaram ao longo da história evolutiva dos animais.

Outros campos de estudo importantes têm surgido na fisiologia, tais como: a pesquisa
em bioquímica, biofísica, biologia molecular, biomecânica e farmacologia.

A fisiologia tem várias subdivisões independentes:


· A eletrofisiologia ocupa-se dos fluxos de elétrons no funcionamento dos
nervos e músculos e do desenvolvimento de instrumentos para a sua medida.
· A neurofisiologia estuda a fisiologia do sistema nervoso.
· A fisiologia celular ou biologia celular trata do funcionamento das células
individuais.
· A ecofisiologia tenta compreender como os aspectos fisiológicos afetam a
ecologia dos seres vivos e vice-versa.
· A fisiologia do exercício estuda os efeitos do exercício físico no organismo,
em especial no homem.

Alguns aspectos do funcionamento dos animais estudados pela fisiologia:


· Respiração;
· Circulação;
· Reprodução;
· Digestão;
· Cardiovação (sistema circulatório).

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Leitura
Bases Biomecânicas do Movimento Humano
É importante, além da ergonomia, considerar também os elementos que a compõem, tais
como: biomecânica, fisiologia e antropometria.
Atento(a) a esses aspectos, sugerimos, como leitura complementar, material relativo ao
estudo do movimento e biomecânica.
Para acessar esta obra, acesse o link abaixo.
Disponível em: https://goo.gl/cEZamh

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UNIDADE
Origem e Evolução da Ergonomia

Referências
Sites acessados:

[1] http://www.abergo.org.br - Acessado em maio de 2016.

Barnes, R. M. Estudo de movimentos e de tempos: projeto e medida do trabalho. São


Paulo. Editora Blucher, 1977.

Iida, I. Ergonomia, projeto e produção. São Paulo. Editora Blucher, 2005.

Ergo e Ação – Engenharia de Produção da Universidade Federal de São Carlos: http://


www.simucad.dep.ufscar.br/ptbergoacao.htm

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