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JEAN CARLO FAUSTINO; RAFAEL MARIN DA SILVA GARCIA


A série Cornélio Pires: análise da forma musical das suas modas-de-viola
DEBATES | UNIRIO, n. 16, p.63-89, jun. 2016.
E

A Série Cornélio Pires: B


análise da forma musical das suas modas-de-viola A
____________________________________________
Jean Carlo Faustino T
King’s College London
E
Rafael Marin da Silva Garcia
PPGMUS - Escola de Música / Universidade Federal de Minas Gerais
S

Resumo: O objetivo deste artigo é o de realizar uma análise da forma musical 16


das primeiras modas-de-viola da história do disco no Brasil: aquelas gravadas
pela Columbia sob o selo Cornélio Pires nos anos 1929 e 1930. A análise será
feita com base num modelo estrutural que separa as partes geralmente
presentes em uma moda-de-viola, aqui denominada de partes fixas, daquelas
circunstanciais, mais flexíveis na estrutura das modas-de-viola e,
consequentemente, sujeitas aos estilos dos compositores e aqui denominada
de partes móveis ou opcionais. O conteúdo do presente artigo corresponde,
portanto, a um exercício de análise das modas-de-viola da série Cornélio Pires
com base neste modelo teórico gerando, de um lado, a compreensão das
particularidades dessas modas-de-viola e, de outro, uma revisão crítica deste
modelo teórico.

Palavras-chave: Forma musical, Teoria musical, Moda-de-viola, Música


caipira. Cornélio Pires.
____________________________________________

Cornélio Pires Label: analysis of musical form of its modas-de-viola

Abstract: The purpose of this article is to carry out an analysis of the musical
form of the first modas-de-viola of the history in Brazil: those recorded by
Columbia Records under the label Cornélio Pires in the years 1929 and 1930.
The analysis will be based on a structural model that separates the parties
usually always present in a moda-de-viola (the fixed parts) those
circumstantial of this genre music and, consequently, resulting of the
intentions and styles of composers (the optional parts). Therefore, the content
of this article corresponds to a screening of analysis with modas-de-viola based
on this theoretical model generating, on the one hand, understanding the
particularities of these songs and, on the other hand, a critical review of this
theoretical model in question.

Keywords: Musical Form. Moda-de-viola. Theory. Música caipira. Cornélio


Pires.

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Introdução quebra ou superação dessas


convenções e regras de composição,
Este artigo faz parte de uma um compositor de blues, jazz,
reflexão mais ampla sobre os flamenco, tango, etc., sabe que
aspectos “universais” das modas- precisa seguir ao menos uma parte
de-viola. Uma reflexão que essencial das convenções de cada
originalmente dizia respeito ao gênero se quiser que sua
conteúdo propriamente literário das composição seja reconhecida e
narrativas deste gênero musical e aceita pelo público como parte
que, com o desdobramento da integrante daquele universo
pesquisa, acabou convergindo para cultural.
a questão das convenções ou Da mesma forma,
padrões musicais presentes em seu acreditamos que um compositor de
processo de composição, o que modas-de-viola, seja no início do
levou à seguinte questão: o que século passado ou atualmente, ao
haveria de “universal” no processo compor uma nova música sabe que
de composição das modas-de-viola? deve se “submeter” às convenções
Quais seriam as convenções específicas deste gênero musical.
composicionais existentes no que No que diz respeito à temática, o
diz respeito à estrutura e à forma compositor tem conhecimento, por
deste gênero musical? exemplo, de que na letra da moda-
Nosso interesse conjectural de-viola geralmente se desenvolve
na busca pelas convenções uma narrativa de um fato ligado à
existentes no processo de realidade do camponês ou do
composição das modas-de-viola se boiadeiro. Da mesma forma, o
deu devido à observância de que compositor tem conhecimento de
aparentemente tais convenções que o enredo da moda-de-viola
existem também em gêneros deve essencialmente contar uma
musicais de outras culturas – a história, não podendo se restringir à
exemplo da música denominada simples enunciação de sentimentos
erudita –, o que pressupõe que todo ou impressões como as que são
processo de composição é calcado enunciadas em uma Toada ou em
em um material musical “limitado” uma Guarânia, por exemplo.
culturalmente e, mais do que isso, Também a exposição da narrativa
fornecido por pares que entre si deve ser feita, a princípio, a partir
compartilham de determinados de estrofes de mesmo tamanho,
aspectos sonoros e/ou musicais de com uso de rimas e um desenho
sua própria cultura, sejam eles melódico que se repete ao longo de
melódicos, ritmos, harmônicos, todas as estrofes da moda-de-viola
formais, estruturais etc. Ainda que o e que geralmente não usa refrão. E
“desenvolvimento” de um gênero se quiser quebrar a cadência e a
musical implique justamente na métrica dessas estrofes, o

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compositor sabe que existem não mais do que um, que


recursos específicos para isto, como geralmente canta a mesma melodia
o levante (que chama a atenção do em um intervalo que
ouvinte para a história a ser tradicionalmente é de terças ou
contada), o baixão (que prepara o sextas paralelas em relação à voz
ouvinte para o desfecho da principal, havendo, no entanto,
narrativa) e a declamação (que espaços para pequenas variações ao
suspende por um instante o canto longo da cantoria.
para inserir uma fala do Também é de conhecimento
personagem ou do narrador). do violeiro cantador que ele pode
O compositor sabe também enfeitar a introdução de uma moda-
que o canto, bem como a narrativa, de-viola com um recortado de viola,
se constitui como parte essencial de caracterizado por uma forma
uma moda-de-viola, e que todos os harmônica e ritmada de tocar a
demais elementos lhes são viola ou por um solo de viola
subservientes, inclusive o próprio tradicionalmente chamado de
tempo da música, que se torna ponteado. Da mesma forma sabe o
refém da grande quantidade de violeiro cantador que a convenção é
suspensões melódicas (que nas que este ponteado aconteça, a
transcrições podem ser observadas princípio, no início e não no meio ou
pelo grande número de fermatas no fim do canto, uma vez que o
em algumas músicas), permitindo espaço entre as estrofes cantadas
que o violeiro cantador imprima geralmente é reservado para outra
ênfase ou dramaticidade para parte instrumental, que deve ser
determinado ponto da narrativa. breve e não ponteada, composta de
Também é de conhecimento dos um conjunto específico de acordes
intérpretes de modas-de-viola a não chamado recortado. O recortado,
utilização de outros instrumentos por sua vez, também deve vir antes
para acompanhamento senão da de cada estrofe a ser cantada e ao
viola caipira, que inclusive adjetiva final da última, conferindo assim
o nome deste gênero musical. Da unidade estética à moda-de-viola.
mesma forma o violeiro da dupla É preciso ainda esclarecer
que irá interpretar uma moda-de- que esta dimensão do processo
viola sabe que a viola deve composicional diz respeito à parte
acompanhar o canto com um técnica-instrumental de uma moda-
ponteado que geralmente repete a de-viola, ou seja, à estrutura
melodia cantada, embora este musical propriamente dita. No
acompanhamento possa ser entanto, há ainda o aspecto criativo
suspenso, resumindo-se a um canto no que diz respeito à forma textual,
à capela. Da mesma forma é ou seja, à escolha de palavras que
compartilhado pelos violeiros rimem sem, no entanto, prejudicar
cantadores o fato de que uma a compreensão e a cadência da
moda-de-viola não se canta só, história que é narrada, de forma
sendo preciso um companheiro, e que faça sentido para o ouvinte. O

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que procuramos sustentar aqui é convenções no processo de


que todo este conhecimento faz composição das moda-de-viola foi
parte de um repertório de apresentada a um público formado
convenções que os modistas e os por especialistas no estudo da
violeiros cantadores adquirem música popular latino-americana no
geralmente de modo bastante Latin American Music Seminar,
“informal”, no sentido de que não realizado em Londres. Na ocasião
existe uma escola institucionalizada foram apresentados alguns
para seu ensino, mas o apreendem resultados da pesquisa sobre os
no melhor estilo mestre-aprendiz, aspectos “universais” da moda-de-
ou de forma autodidata a partir da viola, a qual vinha sendo
convivência com obras já desenvolvida por Jean Faustino
consagradas do cancioneiro caipira. enquanto pesquisador visitante
Assim, é justamente esta forma associado do King´s College, sendo
específica de transmissão do que o conteúdo da apresentação foi
conhecimento e das convenções centrado num modelo estrutural que
utilizadas no processo de mostrava os elementos que
composição das modas-de-viola geralmente estão presentes numa
que, ao que tudo indica, vigorou ao composição de moda-de-viola e
longo da história das modas-de- aqueles que apenas eventualmente
viola que passaram a ser gravadas fazem parte dela. O modelo em
no início do século XX, sendo que questão (ver Figura 1) foi elaborado
quando ouvimos vários dos com base na pesquisa de mestrado
registros feitos neste período por de Rafael Marin articulada com as
violeiros tradicionais de regiões reflexões de outros autores que
caipiras, a sensação que temos é refletiram sobre o mesmo tema. Ao
que elas seguem uma mesma todo foram consultados mais de
estrutura musical e textual, bem cinquenta trabalhos acadêmicos em
como uma mesma orientação busca dessas reflexões e o resultado
estética. E sem dúvida um dos foi que, em sua maioria, todas as
aspectos que certamente contribuiu reflexões que antecederam ou
para esta legitimação foi o seguiram a pesquisa de mestrado
reconhecimento desta estrutura por de Rafael Marin se encaixavam, em
parte do público, que era capaz de linhas gerais, no modelo estrutural
distinguir claramente o que era uma pensado pelo autor.
moda-de-viola do que não era.
Em novembro de 2015 uma
primeira sistematização dessas

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Figura 1. Elementos constitutivos de uma moda-de-viola

Como se pode ver, a figura obrigatoriamente presente em toda


indica que o primeiro elemento composição de moda-de-viola.
musical que normalmente se ouve Com o fim da parte
numa interpretação de uma moda- instrumental de uma moda-de-viola
de-viola é o ponteio ou ponteado, o segue-se finalmente sua parte
qual se destaca por ser uma espécie cantada, que talvez seja a mais
de solo mais melódico que importante, tendo em vista que é
harmônico e que serve, conforme se através deste canto recitativo que
deduz pela sua posição, como surge a narrativa de uma história,
“prelúdio” da moda-de-viola. No não raro, com um conteúdo que
entanto, como indicado pela traz valores morais ou uma intenção
legenda da figura em questão, ele é pedagógica para questões práticas
um elemento opcional, não estando, da vida. Enquanto acontece o canto,
portanto, presente em toda moda- o único acompanhamento é o da
de-viola. viola caipira, que geralmente repete
Após o ponteado da viola, a melodia em dueto através do
que é essencialmente instrumental, ponteado das cordas e nunca na
segue-se outra parte que é também forma de recortado. No entanto,
instrumental e que Rafael Marin mesmo este acompanhamento
chamou de repique ou recortado. melódico da viola é algo opcional, já
Diferentemente do ponteio, este é que algumas modas são cantadas à
mais vertical do que horizontal e se capela, reservando a atuação da
destaca pelo uso de acordes e de viola basicamente para o recortado
ritmos específicos na mão direita, entre as estrofes.
sendo um dos elementos

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A Figura 1 também aponta a um dos principais objetivos deste


existência de outros quatro artigo.
elementos que eventualmente
podem aparecer em uma moda-de- As modas-de-viola da Série
viola: o levante, o baixão, a catira e Cornélio Pires
a declamação. Como o próprio
nome sugere, a declamação As modas-de-viola da Série
corresponde a um trecho não Cornélio Pires têm este nome em
cantado que é inserido no meio da decorrência da iniciativa inédita e
moda-de-viola ou mesmo antes de financeiramente independente de
seu início. A catira corresponde a Cornélio Pires em realizar a
um ritmo específico que era a base gravação dos primeiros discos de
de uma dança típica de origem música caipira em 1929. A história é
folclórica que se utiliza do uso de bastante conhecida e de certa forma
palmas e sapateados. Já o levante e até mesmo um pouco mitológica.
o baixão correspondem a estrofes Como o propósito deste artigo
de tamanhos menores que as reside no estudo das formas dessas
normais, cujas funções são, modas-de-viola e não pro-
respectivamente, a de chamar a priamente na revisitação desta
atenção do ouvinte par ao início história, já bastante conhecida e
narrativa ou para seu desfecho. contada por vários autores, basta
Rafael Marin chegou a este modelo aqui mencionar que em decorrência
estrutural em sua pesquisa de de um empreendi-mento de
mestrado (GARCIA, 2011) a partir Cornélio Pires, que era um misto de
da análise de algumas modas-de- humorista e difusor da cultura
viola grava-das entre 1930 e 2005, caipira no início do século XX, tem-
tendo sido este mesmo modelo se que, entre maio de 1929 e
validado por Jean Carlo Faustino no setembro de 1930, foram gravados
referido congresso de música latino- os primeiros discos da chamada
americana a partir de uma pesquisa Série Cornélio Pires que traziam,
complementar, na qual o modelo foi para o grande público, não só o
confrontado com as modas-de-viola gênero moda-de-viola como
gravadas pela dupla Tião Carreiro & também outros tipos de músicas
Pardinho, cuja obra havia sido relativos à cultura caipira.
objeto de análise no doutoramento Foi graças a este
deste autor. O que ainda não havia empreendimento singular que a
sido feito, sendo este o objetivo moda-de-viola se inseriu no que
principal deste artigo, era a Walter Benjamin (ou seus
confrontação deste modelo intérpretes) chamou de “era da
estrutural com as primeiras modas- reprodutibilidade técnica”, e que
de-viola gravadas no Brasil: as conferiu um novo lugar social para
modas-de-viola da chamada série este gênero musical e fazendo com
Cornélio Pires, lançadas entre 1929 que ele chegasse até os dias de
e 1930. Realizar esta confrontação é hoje. Mas encontrar algumas dessas

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gravações feitas ainda em disco de danças regionais como o Cururu e a


78 rotações no início do século XX Cana-verde. As dez faixas que
não é tarefa das mais fáceis. Até correspondem ao conteúdo dos
2011, por exemplo, algumas delas outros cinco discos correspondiam
poderiam ser ouvidas no site do praticamente a anedotas contadas
Instituto Moreira Salles1 a partir de pelo próprio Cornélio Pires, que já
digitalizações feitas do acervo do era famoso na época pelos seus
famoso pesquisador da música espetáculos humorísticos, e pela
popular brasileira José Tinhorão Turma Caipira que ele ajudou a
Ramos. Porém, graças ao trabalho formar.
do professor Pedro Macerani, que à As primeiras gravações de
frente do Instituto Cultural Cornélio moda-de-viola surgiram apenas na
Pires reuniu todo este acervo e segunda leva de discos lançados em
organizou sua recuperação e outubro daquele ano, ou seja, cinco
tratamento digital, desde 2012 a meses após o empreendimento
audição não somente dessas inicial de Cornélio Pires. Composto
músicas como de todo conteúdo dos por cinco discos com uma faixa de
discos da série em questão (com cada lado, esta segunda leva da
exceção da moda-de-viola Vancê é série trazia a gravação de quatro
um Pancadão2) passou também a modas-de-viola: Jorginho do Sertão,
ser também viabilizada e distribuída interpretada pela dupla Mariano &
na forma de uma caixa com quatro Caçula; Moda do Peão, cuja
CDs como resultado de um projeto interpretação é assinada pela Turma
apoiado pela Secretaria do Estado Caipira Cornélio Pires; Mecê Diz que
de São Paulo. E foi com base nestes Vai Casá e Triste abandonado,
CDs que a presente análise foi ambas interpretadas pela dupla Zico
realizada. Dias & Sorocabinha.
É importante mencionar que
a primeira coisa que uma primeira
audição desses discos revela é que
os primeiros seis discos que foram
gravados sob o selo Cornélio Pires,
cujo sucesso de vendas
surpreendeu o diretor da gravadora
Columbia a ponto de convencê-lo a
investir neste tipo de música,
continham apenas duas músicas:
um samba paulista e o áudio de

1
http://www.ims.com.br
2
Apesar desta moda não constar na coleção de
discos em questão, Pedro Macerani forneceu, aos Figura 2. Capa da Caixa de CDs
autores deste artigo, o fonograma obtido
contendo as gravações de Cornélio
posteriormente ao fechamento da primeira
edição da caixa de CDs. Pires.

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Essas foram, portanto, as Mariano & Caçula. E na série de


primeiras modas-de-viola gravadas cinco discos lançados no mês
na história da fonografia brasileira, seguinte, em julho de 1930, o
todas no ano de 1929. Porém, em gênero moda-de-viola ganha
janeiro de 1930 outros cinco discos predominância novamente, estando
da série Cornélio Pires seriam presente em praticamente todos os
lançados. Eles traziam as seguintes discos desta edição com exceção de
modas-de-viola: Moda da um dedicado a anedotas e
Revolução, Nitinho Soares, O Bonde declamações. As oito novas modas
Camarão e Sô Caboclo Brasileiro. A deste conjunto são: O Zeppelin, O
primeira dessas modas tem a Submarino, Moda do Rio Tietê,
interpretação feita pelo próprio Coração Amaguado, Campo
Cornélio Pires e Arlindo Santana. Já Fermozo, Moda da Mariquinha, O
as demais foram interpretadas pela Leilão das Moças e Jardim Florido.
dupla Mariano & Caçula. Todas elas foram interpretadas por
Apenas dois meses depois da edição Cornélio Pires e João Negrão com
anterior, uma nova série de seis exceção de Coração Amaguado e
discos é lançada em abril de 1930. Campo Fermozo, que foram
E com ela, novas modas-de-viola interpretadas por Antônio Godoy e
são trazidas a público: A Briga dos sua mulher.
Véio, interpretada pela dupla
No mês seguinte, em agosto
Mariano & Caçula; Triste
de 1930, uma nova série de quatro
Apartamento e Nas Asas de um
discos é lançada. Nesses, porém,
Beija-flô, interpretadas por Antônio
apenas uma moda-de-viola se fazia
Godoy e sua mulher; Situação
presente: Boiada Cuiabana,
Encrencada e Escoiêno Noiva,
interpretada por uma dupla
interpretadas por uma dupla
nomeada como Os Parceiros.
nomeada como Caipirada
Porém. Nos discos lançados no mês
Barretense. Dessas, merece
subsequente, em setembro de
destaque a moda Triste
1930, a moda-de-viola volta a ser
Apartamento, que é apresentada
destaque a partir de quatro novas
por Cornélio Pires como “moda-de-
gravações: O Jogo do Bicho, Futebol
viola no estilo mineiro”, sendo o
da Bicharada, O Meu Burro Saudoso
único exemplar desta categoria na
e Será os Impossível, todas
série Cornélio Pires embora,
interpretadas pela dupla Mariano &
estruturalmente, ela seja
Caçula.
semelhante às modas-de-viola em
geral. Na série de cinco discos
Dois meses após esta série, lançada no mês seguinte, em
em junho de 1930, são lançados outubro de 1930, não consta
mais quatro discos nos quais se nenhuma moda-de-viola. Porém, na
encontrava mais uma moda-de- série de novembro de 1930 (a
viola nova: Bigode Raspado, última sob o selo Cornélio Pires)
interpretada novamente pela dupla estão presentes: O Meu Viva Eu

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Quero Dá e Se os Revortoso Raspado. E após este conjunto de


Perdesse, ambas interpretadas pela discos, chegava ao fim a Série
dupla Mariano & Caçula; Vou me Cornélio Pires que, apesar de ter
Casá com Cinco Muié e Vancê é um durado menos de dois anos, deixou
Pancadão, cujos intérpretes foram sua contribuição para a história da
apontados coletivamente como moda-de-viola na indústria dos
Turma Caipira Cornélio Pires. Além discos no Brasil, sendo essas modas
dessas, pela primeira vez na o objeto de análise a que nos
discografia em questão, quatro dedicaremos a partir do próximo
modas gravadas anteriormente tópico.
foram relançadas combinadas em
dois discos específicos que
continham as modas-de-viola Triste
Abandonado, Mecê Diz que Vai
Casá, Moda da Revolução e Bigode

Figura 3. selo da série Cornélio Pires de 19293

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Foto cedida por Pedro Macerani

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As modas de 1929

Em 1929 apenas quatro Ajudai meu companheiro


modas-de-viola foram gravadas sob (ai, ai, ai, ai…),
o selo Cornélio Pires: Jorginho do no meio desse salão (ai,
Sertão, Moda do Peão, Mecê Diz ai, ai, ai…)
Que Vai Casá e Triste Abandonado, <recortado>
todas lançadas em outubro de
1929. Jorginho de Sertão, talvez a Que nóis dois cantando
mais famosa de todas por ter sido a junto,
primeira, surgiu num disco que faz chorar dois coração…
tinha do outro lado algumas <recortado>
imitações feitas por Arlindo Santana
sob o título Como Cantam Algumas O Jorginho do Sertão,
Aves. Após uma fala inicial de rapazinho inteligente
Cornélio Pires, que a apresenta Numa carpa de café,
como “moda-de-viola paulista, ele enjeitou três
folclore paulista”, a moda tem início casamentos
com um recortado de viola caipira <recortado>
que dura apenas quatro segundos,
cujo desenho rítmico e harmônico Em seguida, a moda-de-viola
irá se repetir também entre as segue o modelo padrão de estrofes
estrofes. acompanhadas do recortado da
viola até que, na penúltima estrofe,
Antes, porém, de iniciar o
ocorre um fenômeno análogo a este
canto da primeira estrofe desta
que havia ocorrido com a primeira
narrativa de fundo cômico sobre o
estrofe: ela é quebrada ao meio por
Jorginho do Sertão, há outra estrofe
um recorte de viola e seu tamanho
que atua como uma espécie de
acaba sendo a metade das demais
prelúdio. E diferentemente das
estrofes. E, não por coincidência,
demais estrofes desta música, esta
seu conteúdo antecipa o desfecho
primeira terá a inserção do
final da narrativa quando o Jorginho
recortado da viola bem no meio
pega seu cavalo e vai embora se
como se quebrasse ao meio o
livrando da armadilha do patrão. E a
tamanho das estrofes normais.
este elemento que quebra a
Além disso, esta primeira estrofe
cadência normal da narrativa
não fala da história do Jorginho do
anunciando seu desfecho dá-se o
Sertão, mas é um pedido de ajuda
nome de baixão, grifado na citação
de um dos cantadores ao
a seguir:
companheiro de dupla enquanto o
lembra do potencial e desejado
efeito da moda-de-viola que irão
cantar. A esta introdução cantada,
em negrito na citação a seguir, dá-
se o nome de levante.

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Na hora da despedida (ai, escravizado, a melancolia


ai, ai, ai…) profunda do africano no
<recortado> cativeiro e a saudade
É que a moreninha chora enorme do português,
(ai, ai, ai, ai…) saudoso da sua Pátria
<recortado> distante. Criado, formado
nesse meio, o nosso
Jorge pegou seu cavalo caipira, a sua música é
Encilhou na mesma hora, sempre dolente, é sempre
Veio dizer prá morenada: melancólica, é sempre
“Ai, adeus que já vou me terna. Eis a Moda do
embora” Peão.
<recortado>
Concluída esta introdução
ouve-se então um breve recortado
Em suma, a moda-de-viola
de viola que dura cerca apenas de
que é considerada como a primeira
três segundos até iniciar a parte
da história do disco (título este um
cantada com a primeira estrofe, e
pouco contestável, já que ela fazia
seguindo uma das convenções mais
parte de uma mesma série de
elementares da moda-de-viola, a
discos que continham outras três
cada estrofe o recortado da viola se
modas lançadas no mesmo
repete até o final da interpretação.
período), continha já os seguintes
Mas, diferente-mente da moda
elementos do modelo estrutural
anterior, nesta não há nem o
apresentado na introdução deste
levante e nem o baixão. Portanto,
artigo: recortado, levante, estrofes
ela seria representativa de um dos
e baixão. Outra moda-de-viola
modelos mais elementares de
gravada neste mesmo ano
moda-de-viola, composta apenas
chamava-se Moda do Peão, e nela a
pelo recortado da viola e as estrofes
apresentação de Cornélio Pires é
de tamanho fixo, se não fosse por
mais demorada que na anterior.
um detalhe: ao final de cada estrofe
Antes dela começar, Cornélio Pires
há uma frase que sempre se repete
diz:
“Oi, vida é a minha”, algo incomum
nas modas-de-viola que seriam
gravadas nos anos posteriores a
“Moda do Peão”: Moda-
estas primeiras gravações de 1929
de-viola cantada por dois
e 1930. Na figura a seguir, pode-se
genuínos caipiras
visualizar a linha melódica da
paulistas. Este é o canto
primeira estrofe desta moda que se
popular do caipira paulista
repetirá com certa regularidade nas
em que se percebe bem a
demais estrofes:
tristeza do índio

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Figura 4. Transcriçãomusical da Moda do Peão

A próxima moda-de-viola Mecé diz que vai casá,


deste conjunto de discos lançados largue mão desta locura
em 1929 chama-se Mecê Diz Que Casar com muié
Vai Casá, e a exemplo da moda-de- ciumenta,
viola Jorginho do Sertão ela pra servir da sua injúria
também possui um fundo cômico <recortado>
em torno do assunto do casamento.
A apresentação que Cornélio Pires No que diz respeito à
faz é praticamente igual à moda-de- introdução instrumental que
viola Jorginho do Sertão, antecede a parte cantada, esta
apresentando-a apenas como moda-de-viola é mais elaborada do
“moda-de-viola, regionalismo que as que foram tratadas até aqui,
paulista”, ao que se segue a moda começando com um recortado
com sua parte instrumental. E seguido por um ponteio que por sua
assim como na moda-de-viola vez é seguido por um breve
Jorginho do Sertão, esta também recortado abrindo, assim, a parte
possui um levante, cujo conteúdo cantada. Se comparada com o
igualmente correspondendo a um modelo teórico em questão, esta
pedido de ajuda ao companheiro de moda-de-viola possui os seguintes
dupla para a cantoria. elementos: recortado e ponteado na
sua parte instrumental e o levante e
as estrofes na parte cantada. No
Ajudai meu Zico Dias (ai), entanto, na sua introdução
que eu também te instrumental, acontece algo que
ajudarei (ai) parece incomum nas modas-de-
<recortado> viola até então observadas: o
recortado que normalmente se

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segue ao ponteado, nesta moda


aparece tanto antes quanto depois Note-se, no entanto, que este
dele. levante é diferente daqueles
tratados até aqui, pois seu conteúdo
Já a quarta e última moda-
poético está mais próximo ao
de-viola que completa este conjunto
conteúdo de um baixão, visto que
de obras de 1929 chama-se Triste
ao invés de convidar o companheiro
Abandonado. Depois de uma breve
de dupla para ajuda na cantoria ele
apresentação de Cornélio Pires se
faz parte da temática lírica da
referindo a ela como “moda-de-viola
narrativa. Talvez isso se dê porque
caipira paulista, série regional”, tem
aqui a narrativa é não é de fatos
início a parte instrumental antes de
propriamente, mas sim de eventos
dar início à parte cantada. Esta
que se seguem na alma do
parte instrumental é relativamente
protagonista que sofre pela paixão
simples, não possuindo, por
da moreninha. E assim como ocorre
exemplo, o ponteado presente na
na moda-de-viola Jorginho do
moda-de-viola Mecê Diz que Vai
Sertão, na penúltima estrofe a
Casá. E na parte textual, nota-se a
métrica das estrofes novamente se
presença tanto do levante quanto
quebra, surgindo assim uma
do baixão, que se dá sobretudo pela
pequena estrofe de tamanho igual
quebra da métrica do tamanho da
ao levante anterior. Segundo o
estrofe e, neste caso, também da
entendimento de José Carlos
rima. Na citação a seguir, o levante
Zamboni, que afirma que a função
está em negrito:
do baixão é a de chamar a atenção
Levantei de madrugada, dos ouvintes para o desfecho da
fui passear no seu jardim narrativa (ZAMBONI, 1987, p. 72).
<recortado> E é isto é justamente o que
Eu fui dar um beijo na acontece no final da letra desta
rosa antes do cuitelo vim moda-de-viola.
<recortado>

Eu vivo no mundo, triste Morena, minha morena,


abandonado não me faça mais assim
Meus amor me despreza, <recortado>
eu vivo desprezado Neste seu olhar sereno,
Ai, quem véve amando, ai peço pra judiar de mim
véve enganado <recortado>
Espera firmeza e encontra
as farsidades Esta minha vida, eu tenho
Ai, ai, moreninha, dos comparado,
meus agrado É que nem um canarinho
Por vosso respeito eu vivo que canta fechado
apaixonado Preso na gaiola sem ser o
<recortado> culpado

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Véve sofrendo sem ser Essas são as quatro primeiras


condenado modas-de-viola da história do disco
Também vivo cantando no Brasil, e confrontando suas
Modinha inventada estruturas com o modelo teórico
Que é pra disfarçar o meu apresentado, o resultado seria o
triste passado seguinte:
<recortado>

Figura 5. Estrutura das modas-de-viola gravadas em 1929.

De 1929 para 1930 o número Neste conjunto de modas-de-


de modas-de-viola na Série Cornélio viola há tanto aquelas que têm uma
Pires cresceu consideravelmente, estrutura relativamente simples
indo de quatro para vinte e sete, com apenas um recortado em sua
como veremos a seguir. introdução instrumental quanto
modas-de-viola mais sofisticadas,
As modas-de-viola do primeiro
contendo ponteio, levante, baixão e
semestre de 1930
declamação. As modas-de-viola
Das vinte e sete novas aparentemente mais simples em
modas-de-viola que foram gravadas sua estrutura são Moda da
em 1930 sob o selo Cornélio Pires, Revolução, Triste Apartamento,
dez foram lançadas no primeiro Situação Encrencada e Bigode
semestre, mais especificamente no Raspado. Porém, por trás desta
conjunto de discos lançados nos aparente simplicidade se oculta
meses de janeiro, abril e junho. As algumas sofisticações e
modas-de-viola que formam este particularidades que, inclusive,
conjunto são Moda da Revolução, rompem com o modelo teórico
Nitinho Soares, O Bonde Camarão, apresentado. A moda-de-viola
Sô Caboclo Brasileiro, A Briga dos Bigode Raspado, por exemplo,
Véio, Triste Apartamento, Nas Asa apesar de possuir apenas e um
de um Beija-flô, Situação recortado na introdução, tem sua
Encrencada, Escoiêno Noiva e melodia alterada durante sua
Bigode Raspado. execução. E isto, vale mencionar,
foge às convenções de composição
das modas-de-viola que tendem a

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manter a mesma linha melódica ao Primeiro verso que eu


longo dos versos. canto, ai...
No meio deste salão, ai-
Outra dessas modas-de-viola
ai...
aparentemente simples é Situação
Encrencada, que tem na introdução
E na moda-de-viola Nas
instrumental apenas um breve
Asa de um Beija-flô o
recortado. No entanto, na parte
levante diz:
cantada há uma espécie de pequeno
refrão no final das estrofes ímpares.
Lá no bairro adonde eu
E isto também parece fugir às
moro ai-ai
convenções das modas-de-viola que
Quando vai chegando a
se caracterizam justamente por não
tarde ai-ai-ai
possuir refrão. Já as modas-de-viola
Triste Aparta-mento e Moda da
Esta última moda-de-viola
Revolução possuem formas
também apresenta um baixão,
relativamente simples, contendo
como se verá em detalhes logo mais
apenas um breve recortado
adiante. Outras modas-de-viola
introdutório. Mas há outras modas-
deste conjunto que também
de-viola deste conjunto que
parecem possuir o baixão são
possuem uma introdução mais
Nitinho Soares e Escoiêno Noiva
elaborada, como é o caso de
(embora esta última seja
Niltinho Soares, O Bonde Camarão e
interrompida pela voz do Cornélio
Sô Caboclo Brasileiro. Todas elas
Pires faz com que os intérpretes
possuem um ponteado além do
substituam a moda-de-viola por
recortado na parte que antecede o
outro gênero antes do final). Destas
canto. Mas, diferentemente do
três modas a mais instigante é Nas
modelo teórico apresentado, nestas
Asa de um Beijja-flô, pois traz uma
modas-de-viola o ponteado vem
estrutura que é única dentre todas
após o recortado. E isto acontece
as modas-de-viola gravadas sob o
em todas essas três modas-de-viola
selo Cornélio Pires, e talvez até na
mencionadas.
história do gênero.
Por último há aquelas modas- Como pode ser visto na
de-viola que possuem levante ou transcrição a seguir, a parte
baixão dentre suas estrofes, como é cantada desta moda tem início com
o caso de A Briga dos Véio, Nas Asa uma estrofe cuja brevidade
de um Beija-flô, Niltinho Soares e assemelha-se ao de um levante e
Escoiêno Noiva. Dessas, as que talvez assim pudesse ser
contêm levante são A Briga dos Véio interpretado como tal, embora
e Nas Asas de um Beija-flô. O diferentemente do levante
levante da primeira dessas moda- convencional, este já parece
de-viola diz: adentrar na narrativa da história. O
problema, no paradigma das
convenções de composição das

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modas-de-viola, é que logo após a


segunda estrofe há uma nova Primeira vez que eu te vi,
estrofe quebrada como se fosse um o teu jeito me agradô
segundo levante. E como se não É que nosso amor, meu
bastasse esta quebra de convenção, bem, bem pouco tempo
a segunda e quarta estrofes são aturô
praticamente iguais, algo que Foi por agrado de outro
também não é usual numa moda- que agora me desprezô
de-viola. O teu sembrante mimoso,
no meu sentido ficô

Lá no bairro adonde eu E chora por teu respeito.


moro ai-ai Vê já de que jeito eu tô
quando vai chegando a Te amei e inda te amo.
tarde ai-ai-ai Será firme, ainda eu sô
Na hora da despedida,
Faço a minha despedida nossos olhos se encontrô
com grande penas e dor Meu coração que te ama
Vou-me embora pro inda não desenganô
sertão, nas asa de um
beija-flor Foi só ir naquela tarde,
vou chorando e vou ai-ai-ai
sentindo cumprindo tanto Cercada de resplendor,
rigor ai-ai-ai
todo prazer desta terra
pra mim não tem mais Foi só ir naquela tarde,
valor cercada de resplendor
E ter a sela de muda com
Se eu chego meu coração um brilho da tua flor
chora ai-ai Se um de nós desapartar
Se um dia eu vórto, eu será o distin' em seu
tenho saudade ai-ai favor
Eu sei que eu não te
Faço a minha despedida mereço tento eu pra seu
com grande penas e dor amor
Vou-me embora pro Como se pode ver, após o
sertão nas asa de um levante inicial tem início a primeira
beija-flor estrofe. Porém, ao final desta
vou chorando e vou primeira estrofe há o que poderia
sentindo cumprindo tanto ser interpretado como um novo
rigor levante e a primeira estrofe se
todo prazer desta terra repete. Além disso, há na penúltima
pra mim não tem mais estrofe o que a princípio seria um
valor baixão, embora seu conteúdo não

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pareça cumprir a função de Esquematicamente, em


preparar o ouvinte para o desfecho relação ao modelo teórico
da narrativa. Outra possibilidade apresentado, têm-se a seguinte
seria compreender os dois primeiros situação nestas modas-de-viola
levantes apenas como uma gravadas no primeiro semestre de
irregularidade no tamanho das 1930:
estrofes eliminando, assim, os
levantes e deixando apenas o
baixão como artifício poético-
musical nesta moda.

Figura 6. Estrutura das modas gravadas no primeiro semestre de 1930.

As modas-de-viola do segundo modas repetidas restam dezesseis


semestre de 1930 modas-de-viola que seriam aqui
objeto de análise, não fosse o fato
No segundo semestre de
da moda-de-viola Será os
1930 os discos da Série Cornélio
Impossível ter sua execução
Pires trouxeram mais vinte novas
interrompida logo no início quando
modas-de-viola, sendo quatro delas
se ouve a voz de Cornélio Pires
relançamentos de gravações
reclamando, num diálogo com os
realizadas anteriormente pelo
violeiros cantadores, que eles só
mesmo selo. Excluindo essas quatro
sabiam tocar moda-de-viola. A

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dupla então abandona a levantes situados na primeira e


interpretação substituindo-a por terceira estrofe e um baixão na
uma modinha acompanhada ao penúltima estrofe. Além desta
violão em resposta ao desafio feito estrutura atípica, as estrofes que se
com aparente bom humor. seguem aos dois levantes e ao
baixão praticamente repetem seu
O curioso é que esta não é a
conteúdo no seu primeiro verso
única vez que a execução de uma
gerando um resultado sui generis
moda-de-viola recebe esta
quando comparado com as demais
intervenção de Cornélio Pires,
modas-de-viola da Série Cornélio
levando os violeiros cantadores a
Pires.
mudarem o gênero musical no meio
da gravação. Outra ocasião em que Já a moda-de-viola Vancê é
isto ocorre é em Escoiêno Noiva, Um Pancadão apresenta um levante
muito embora a intervenção nesta com versos que se repetem duas
aconteça já no final de sua vezes antes do início da primeira
execução, permitindo nossa análise estrofe. Além disso, após o baixão
aqui, diferentemente da moda-de- que anuncia o desfecho desta
viola Será os Impossível, cuja moda-de-viola, a última estrofe é
interrupção logo no início não nos idêntica à primeira, anulando o que
deixou nada que pudesse ser seria propriamente o desfecho da
analisado do ponto de vista narrativa, que neste caso poderia
estrutural. ser entendida como uma “meta-
narrativa”, visto que ela é
Voltando às outras quinze
basicamente composta de elogios a
modas-de-viola deste segundo
uma moça de quem o protagonista
semestre de 1930, temos que a
encontra-se enamorado. Na
maioria delas possui uma forma
transcrição das primeiras estrofes
musical mínima composta de uma
desta moda-de-viola pode-se notar
introdução, um recortado e uma
o caso raro da repetição dos versos
parte cantada em estrofes que
num levante que, inclusive, parece
seguem as convenções de
ser duplo:
composição já mencionadas aqui.
Nesta situação encontram-se as Ai, eu vou dá a despedida
modas-de-viola O Zeppelin, O por cima de um pé de
Submarino, Moda do Rio Tietê, amora
Coração Amaguado, O Leilão das Ai, eu vou dá a despedida
Moças e Boiada Cuiabana. Isso não por cima de um pé de
significa que todas as modas-de- amora
viola deste conjunto sigam as <recortado>
convenções básicas na composição
das estrofes, como é o caso de Ai, eu canto mais esta
Campo Fermozo, cuja estrutura moda, eu me despeço e
lembra a de Nas Asa de um Beijja- vou s´embora
flô, com o que parece ser dois

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Ai, eu canto mais esta cantadores davam para a habilidade


moda, eu me despeço e técnica no instrumento.
vou s´embora
A catira também está
<recortado>
presente em Vou Me Casá Com
Cinco Muié, algo muito interessante
Que moça bonita, vancê é
para se refletir sobre as origens
um pancadão
desta particularidade, tendo em
Bem feita de corpo e linda
vista que a dupla que se notabilizou
de feição
pela inclusão da catira na moda-de-
Dentinho lascado, tornado
viola (ou da moda-de-viola na
de peão
catira) foi Vieira & Vieirinha, que
Beicinho vermelho de
surgiriam no meio a indústria do
rosa e botão
disco apenas duas décadas depois
desta época. Com base nesta moda-
No que diz respeito à parte
de-viola de 1930 pode-se, portanto,
textual deste conjunto de obras do
inferir que o que a dupla fez foi
segundo semestre de 1930, temos
resgatar uma tradição que já era
que o levante se faz presente em
praticada no gênero antes mesmo
Jardim Florido, Se os Revortoso
das primeiras gravações. E por fim
Perdesse e Vou Me Casá com Cinco
vale mencionar a Moda da
Muié, enquanto o baixão se faz
Mariquinha que, apesar de seguir as
presente em O Submarino, O Leilão
convenções de composição da
das Moças e Boiada Cuiabana. Já
moda-de-viola em sua estrutura
acerca da parte instrumental, temos
mínima, possui uma interpretação
o ponteado presente em um número
única dentre as demais aqui
significativo de obras: O Jogo do
analisadas que lembra em seu canto
Bicho, Futebol da Bicharada, O Meu
a embolada.
Burro Saudoso, Se os Revortoso
Perdesse, Vou Me Casá Com Cinco Resumindo este conjunto
Muié e O Meu Viva Eu Quero Dá. formado pelas modas-de-viola
Nesta última moda-de-viola o gravadas no segundo semestre de
ponteado é bastante longo se 1930, temos que esquematicamente
comparado às demais músicas do elas utilizam os seguintes elementos
período, demonstrando a presentes no modelo teórico
importância que os violeiros apresentado:

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Figura 7. Estrutura das modas gravadas no segundo semestre de 1930.

Considerações Finais - a repetição das estrofes, como


observado nas modas-de-viola Se
Sabemos que um modelo
os Revortoso Perdesse, Nas Asa de
teórico não precisa (e nem deve)
um Beija-flô e Vancê é um
dar conta de toda a realidade
Pancadão;
estudada que, aliás, sempre será
maior e mais complexa. No entanto, - o uso de repetição de frase que
um modelo teórico tal como foi aqui lembra um refrão, como observado
utilizado é útil justamente para nas modas-de-viola Situação
destacar as particularidades do que Encrencada e Campo Fermozo;
está sendo estudado (WEBER,
- o uso de dois levantes, como nas
2003). Assim, a contraposição
modas-de-viola Nas Asa de um
dessas primeiras modas-de-viola da
Beija-flô e Vancê é um Pancadão;
Série Cornélio Pires com a
impressão que até então se tinha - e a mudança de andamento e de
sobre seus elementos propiciou a desenho melódico do canto, como
compreensão de alguns aspectos observado na moda-de-viola Bigode
novos: Raspado.

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Porém, a contraposição das esta seja também uma convenção,


modas-de-viola com o modelo já que o oposto ocorre em O Meu
teórico adotado também confirmou Viva Eu Quero Dá, O Futebol da
a presença de seus elementos Bicharada e Meu Burro Saudoso.
constitutivos: Assim, uma das mudanças no
modelo teórico é que o ponteio e o
- a presença de uma parte
recortado devem ser colocados lado
instrumental introdutória, composta
a lado e não um após o outro, já
por diferentes elementos como o
que não existe necessariamente
ponteio, o recortado ou mesmo a
uma ordem de aparição. A ressalva,
catira;
no entanto, é que o recortado está
- e a presença de uma parte necessariamente em toda moda-de-
cantada que se compõem de viola, enquanto que o ponteado
estrofes com métricas e rimas continua sendo um elemento
específicas, além do uso ocasional eventualmente presente.
de elementos como o levante, o
Outra mudança diz respeito
baixão e a declamação.
ao repique que, no modelo em
questão, era um elemento
obrigatório da introdução
Mas se o objeto de estudo instrumental sendo às vezes
por um lado reforça nosso modelo idêntico ao recortado que é, por sua
de análise, por outro sugere vez, executado também entre uma
algumas mudanças, e embora estas estrofe e outra. Embora Rafael
mudanças tenham que ser Marin esclareça, numa nota de
ratificadas por novas análises de rodapé (GARCIA, 2011, p. 160) que
outras modas-de-viola, parece repique é sinônimo de recortado, a
inevitável que a ordem do interpretação do modelo havia
surgimento de alguns dos mantido uma distinção com um fim
elementos da introdução didático de destacar que este toque
instrumental seja revista. Até o batido e vertical feito no início de
presente momento, o modelo dizia uma moda-de-viola às vezes é mais
que o ponteado era o primeiro trabalhado, desenvolvido e
elemento de uma moda-de-viola demorado na introdução do que
sendo seguido pelo recortado. Com entre as estrofes. Porém, no
base no que foi apresentado, o decorrer da elaboração deste artigo
ponteado não vem necessariamente e da consequente revisão do modelo
antes do recortado, pois como foi estrutural em questão, chegou-se à
destacado na análise das modas-de- conclusão que esta distinção mais
viola Mecê Diz Que Vai Casá, atrapalhava do que esclarecia.
Niltinho Soares, O Bonde Camarão, Assim, como se pode ver na figura a
Sô Caboclo Brasileiro, O Jogo do seguir, o modelo adotará, a partir
Bicho e Se os Revortoso Perdesse o de agora, o mesmo nome para
recortado pode vir antes do ponteio. esses dois momentos instrumentais
No entanto, isto não significa que de uma moda-de-viola.

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Consequentemente, as mesmo tempo interessante. E este


Figuras 5, 6 e 7 deste artigo, que aspecto diz respeito ao fato de
apresentam o resumo esquemático algumas dessas modas serem
das modas aqui analisadas, interpretadas por uma voz
deveriam ser atualizadas para masculina e outra feminina como
retirar a coluna referente ao em: Coração Amaguado, Triste
repique. Uma atualização cujo Apartamento, Nas Asa de um Beija-
quadro geral pode ser verificado na flô e Campo Fermozo. Trata-se de
Figura 8 a seguir, assim como uma um detalhe surpreendente, uma vez
pequena correção referente ao que a maioria das duplas caipiras
ponteio que estamos mudando para que se tornaram famosas na
ponteado para deixar, assim, interpretação de modas-de-viola era
coerente ao recortado. Mas, para formada por homens. Trata-se,
além do modelo teórico com o qual portanto, de um aspecto que
trabalhamos, deve-se ressaltar um também merece atenção em
aspecto presente em algumas das análises futuras.
modas-de-viola analisadas que nos
parece ser muito particular e ao

Figura 8. Atualização do modelo teórico dos elementos de uma moda-de-viola.

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Figura 9: As modas-de-viola da série Cornélio Pires e seus elementos musicais.

E por fim, merece destaque a questões que haverão de ser


riqueza do presente objeto de retomadas num futuro próximo,
análise, que vale a pena ser agora que os primeiros passos já
revisitado sob outras perspectivas, foram dados.
como a do conteúdo das suas
Referências
narrativas, algo que não pode ser
aqui realizado devido à ênfase do ALMAN, Taizi Caroline e Silva. O
presente artigo na questão da forma Poema narrativo na canção caipira.
musical e também devido ao espaço 1990. 137p. Dissertação (Mestrado
para o desenvol-vimento dessas em Letras) – Programa de Pós-

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graduação em Letras, Universidade literatura e história da cultura.


Federal de Mato Grosso do Sul, Três Tradução Sergio Paulo Rouanet. 1
Lagoas, 1990. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. –
(Obras Escolhidas; v.1).
ALVES, Emiliano Rivello. Cornélio
Pires e Monteiro Lobato: da BENJAMIN, Walter. Rua de mão
esperança à melancolia – o debate única. Tradução Rubens Rodrigues
sobre o progresso. 2012. 303p. Torres Filho e José Carlos Martins
(Tese em Sociologia) – Barbosa. São Paulo: Brasiliense,
Departamento de Sociologia, 1987. – (Obras Escolhidas; v.2)
Universidade de Brasília, Brasília,
BERNADELI, Maria Madalena. A
2012.
expressividade caipira em Vieira e
AMARAL, Amadeu. Tradições Vieirinha. 1991. 217p. Dissertação
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recitativo caipira. 2011. 335p. Coordenador: Florestan Fernandes.
Dissertação (Mestrado em Música) – 7. ed. Editora Ática. São Paulo.
Instituto de Artes. Universidade
Estadual Paulista, São Paulo, 2011.
Agradecimentos
LIMA, Rossini Tavares de. Moda de
viola: poesia de circunstância. São Gostaríamos de agradecer ao
Paulo: Secretaria do Estado da professor Pedro Macerani, do
Cultura, 1997. Instituto Cultural Cornélio, pelos
esclarecimentos adicionais
MIDDLETON, Richard. Studying
relacionados ao conteúdo do projeto
Popular Music. Open University
aqui mencionado (a caixa de quatro
Press, 1990.
CD´s com as músicas da série
REILY, Ana Suzel. Música Sertaneja Cornélio Pires) que fundamentou a
and Migrant Identity: The Stylistic presente análise.
Development of a Brazilian Genre.

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