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Dicionário dt* mit&ca/dií«gado pcf L Borne 10. E. Caruana. M R. Dc-I Gênio. N. Suífí. - São Pauto :
PaukíS : Eüções LoyJa. 2Í-C3 (Dicionários)

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ISBN 45-15-0? 49?-6 (L r.yív.i;

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v Dn-cnanos : Mítica Crisiiansmo 248 2203 2
W Shca : Doorános : Cnsüansmc 248 220?

Título oririginal
Dicionário dt MtsUca õ 1998 Ljbfena
Ediirice Vaticana - 00120 Città dei Vaticano
ISBN 88-209-2482-X

Direção editorial
Paulo BazagUa

Coordenação de tradução
Luis Miguel
Duarte Honöno
Dalbosco

Tradução
Bcnõni Lemos José
Maria de Almeida Silva
Debetto Cabral Reis
Ubenai Lacerda Fieuri

Editoração
PAULUS

Impressão e acabamento
PAULUS

PAULUS 2003-Rua Francisco Cruz, 229 • 0411


Z-091 Sao Paulo (Brás;!) Fax (11) 5579-3627 •
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A
ABANDONO »tentações no deserto e do mistério de seu
batismo no Jordão á sua gloriosa
L O termo a. pode ter dois significados: um transfiguração, da oração com suor cie
ativo e outro passivo. Real ou aparente mente sangue no Getsémani ao glorioso mistério de
a alma -> pode ser abandonada por Deus ou sua morte na cruz.
abandonar-se a Deus. 1 A grandeza desse a. é tal que Ioda a expe-
Permanecendo no âmbito da mística, de- riência antiga vê nele seu significado pleno,
ter-nos-emos no significado propriamente cie modo que os mistérios da antiga — alian-
passivo de a. ça são sinal do mistério do Salvador: "Ele é
aquele que em Abel foi morto e que em Isaac
II. Na experiência mística. O verbo lati -no teve os pés atados. Ele andou corno peregri -
derelitiquere, do qual provém a palavra —» no em Jacó e foi vendido em José. Arriscou-
"derrelição", indica, na experiência mística se nas águas em Moisés e degolado no cor -
de uma alma já avançada no caminho da deiro. Foi perseguido em Davi e injuriado no s
perfeição, o a. total do homem da parte de profetas. Ele é aquele que se encarnou no
Deus. Aparentemente, Deus abandona o seio da -> Virgem, que foi suspenso na cruz.
homem, que ele mesmo chamou para per- e sepultado, e que, ressurgindo dos mortos,
correr o caminho espiritual da —> fé, dei- subiu às alturas dos céus. Ele é o cordeiro
xando nele um sentimento de > solidão, de — quê não abre a boca, o cordeiro sacrificado;
> aridez, de --> desolação. Na verdade, o ho- ele nasceu de Maria, cordeiro sem mancha.
mem não é abandonado por Deus. O que se Foi tomado do rebanho, conduzido á morte,
dá é que Deus o põe á prova, abaudonan -do- imolado à tarde e sepultado â noite. Na cruz
o à experiência dolorosa de quem sente que o não lhe foi quebrado nenhum osso, e sob a
- » Pai o entregou á morte. Deus, por assim terra não esteve sujeito à decomposição. Ele
dizer, volta atrás em relação às suas ressuscitou dos mortos e fez a humanidade
promessas e rejeita o amor que ele mesmo ressurgir das profundezas do sepulcro". 2
suscitou, li essa a forma mais dura da > pu- Caracterizado pelo Cristo da paixão, todo
rificação interior, a qual passa por alguns a, é, pois, experimentado na vida interior do
graus: primeiro o homem sente que Deus se crente como dom do Pai. Os grandes místi cos
afastou e permanece em silêncio, ausente e descreveram sob diversas formas a expe -
como que esquecido de seu amor; depois, riência da desolação interior: —> santa
nota o -> deserto, sem luze sem consolação, Teresa de Avila tala de luta ascética, própria
e percebe que esse deserto é o ca stigo por do caminho da perfeição, a qual passa por
sua culpa, que Deus, suma justiça, pune a várias etapas e —> graus de oração, como de
enormidade de seu -.» pecado, c que esse cas- um esforço para conduzir o homem a Deus, e
tigo é para sempre. da vida mística, na qual a vida cristã atinge
Mas Deus não leva ninguém à experiência sua plenitude, COIMO aquela que "torna
da morte a não ser para construir a vida. A evidente a verdadeira dimensão cristã da
experiência dou. se resolve na última purifi- vida escondida na nova criatura, a qual
cação do caminho da - > perleição, isto é, na desenvolve e laz emergir as relações que
íntima comunhão com —> Cristo Salvador, ligam a vida de cada
fazendo brotar na alma o ato de abandono cristão à da —> Igreja e encurta as
perfeito, o qual a introduz na piena partici - distâncias entre a vida presente, na fé e na —
pação na —> redenção de Cristo. »graça, e a vida celeste". São João da Cruz
Essa —* experiência, como todas as expe- ensina que
riências da vida cristã, se tunda no evange- "para que uma alma chegue ao estado de per -
lho, isto é, nos ensinamentos e nas ações do feiçái), geralmente deve passar antes por
Senhor. Ele é o modelo de todo a., desde a duas formas principais de - > noite,
manjedoura de Belém e da fuga para o Egito chamadas pelos espirituais purificações da
à sua vida oculta em Nazaré, das —
ocasião em que Deus instrui
em segredo a alma na Material com
perleição do direitos
amor, semautorais
que eia
ta laça ecoisa alguma e sem que entenda
a
alma; nós as chamamos noite, porque, tanto
numa como na outra, a alma caminha como
que de noite, no escuro". 4 "Essa noite escura
é um influxo de Deus na alma, o qual a
purifica de sua imperfeição e ignorância
habitual, natural e es-pir

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ABANDONO - ABNEGAÇÃO 1981; J.P. de Caussade. L'abbandono alla divina
provvidenza, Cinizello Balsamo 1990; L.
o que é essa contemplação!" 5 São Francisco Chardon, La croix de Jesus, Paris 1937; A.
de Sales insiste na —> imitação de Jesus Dagnino, La vita interiore, Roma 1960; F. Di
Bernardo, Passion (Mystique de la), in DSAM XII,
como procura da perfeição: o maior amor 312-338; C. Gennaro, s.v., in DES I, 4-7; G.
consiste em entregar-se inteiramente a Deus Jacqucmet. Abandon a Dieu, in Cath I, 3-7; A.M.
como Cristo, que, na cruz, fez a "entrega Lan/., s.v., in ECI, 21-24; H. Martin,
total de si ao Pai" em perfeito abandono, Dereliction, in DSAM III. 504-517; P. Pourrat.
s .u, in DSAM I. 2-49; F. Varillon, La souffrance
tendo passado pela experiência da
de Dieu, Paris 1975.
"desolação". 6
A base de tudo é a fé na infinita e amorosa D. Michelelti
2
sabedoria de Deus, que dá a vida às suas
criaturas. O homem não pode lazer nada
ABNEGAÇÃO
melhor do que aderir completamente à "boa"
vontade do Pai, que tudo dispõe para o nosso
Premissa. Na linguagem comum, a pala vra
bem. "A perfeição consiste em unir de tal
a. encontra fortes resistências. Esquecer-se
modo nossa vontade à de Deus que a sua e a
de si mesmo, não tomar em consideração os
nossa sejam um só e mesmo querer ou não-
gostos c os interesses pessoais, sacrificar-se
querer; e quem fizer isso melhor será o mais
pelos outros são expressões que, na prática
perfeito." 7
cotidiana, não superam os limites da —> "so-
Os preceitos evangélicos de Mt 6,25-34; Lc
lidariedade" ou do "voluntariado". O interes -
11,9-13; 12,22-31; 22,42 e Mt 26.39, que
se pelos outros é assumido muitas vezes
culminam, com a invocação do SI 31,6, na
como realização dos próprios ideais de
oração de Lc 23,46, conduzem ao
filantropia humana. A renúncia do homem a
ensinamento apostólico de IPd 5,6-11 e Rm
todo egoísmo em seus desejos ou o nível de
8,28-30. Da recordação confiante do amor do
superação do esquecimento de si em favor
Pai, que nunca se esquece de seus filhos,
dos outros, se entrou também para a
nascem também e, sob certos aspectos,
linguagem profana, deve sua origem ao
principalmente na experiência dilacerante
vocabulário do ascetismo cristão. O próprio
don., a certeza da fé, a determinação da
uso profano atual do termo vem do
obediência, a invocação da -» esperança e a
evangelho.
luz. da -> caridade. Assim foi com —» Adão, —
> Abraão, Isaac e I. Na espiritualidade cristã as noções de
Jacó, assim também com Moisés, Davi e João a. são numerosas e muito aparentadas entre
Batista, com Maria, Virgem e Mãe; assim com si: renúncia, -» despojamento de si, —> desa-
toda criatura renascida pelo -» batismo, ramo pego, abstinência, —> nudez espiritual, morte
da verdadeira videira, incorporada a Cristo ao —> mundo e a si mesmo, desapropriação,
Senhor no empenho de vida nova (cf. Rm 6,2- —> mortificação, -» humildade, obediência.
5; Gl 3,26-28; Ef 4.20-25), segundo o bene- Obviamente o conceito de a. deve ser mais
plácito do Altíssimo para sempre. precisado para ser distinguido dos mencio -
NOTAS: Deixamos à parte um tratado sobre o
1 nados acima.
mais amplos, articulados aprofundados sobre Uma coisa é a renúncia a tudo o que te -
o a. da alma a Deus entendido cm sentido mos exteriormente, como bens materiais,
ativo como ato ou estado de quem substitui a
amizades e estima, ou mesmo aos bens de
vontade divina nela vontade humana na
determinação da própria vida e nas esco-Ihas nosso corpo, como alegrias sensíveis; outra é
concretas da pmpi ia existência. Ele pode ser a renúncia a nós mesmos, ao que temos de
encontrado no verbete Abandon do DSAN;2 mais íntimo e pessoal e a nós mesmos.
Melitãode Sardes. Homilias sobre a Páscoa 65-67: É célebre uma expressão de —> são
SC 123.95-101. 3 T. Alvarez. Teresa de Jesus, cm
DES II. 1870;4 João cia Cruz, Subida ao monte Gregório Magno: "Lã (em Lc 9,23) está dito
Carmelo, 1,1,1;5 Id.. Noite escura, II, 5,1; 6 Cf. que renunciemos às nossas coisas; aqui (em
Francisco de Sales, Tratado sobre o amor de Lc 14,33) é dito que renunciemos a nós
Deus, DC; Id.. Entretenimentos, II, XII, XV;7 Cf. mesmos. Certamente não é muito difícil para
Vicente de Paulo, Entretiens, xi. 318. o homem renunciarás suas propriedades, mas
BIUL. Z. Alszcghy - M. flick. Sussidio muito difícil para ele é renunciar a si mesmo.
bibliográfico per una teologia delia croce, Roma Com efeito, é muito menor a renúncia do
1975; S. Breton. Le Verbe et la Croix, Paris
homem ao que ele possui do que a renúncia nossos irmãos por causa de Deus; existe tam-
ao que ele é".1 bém uma só c;., a qual nos faz esquecer-nos
Sc quisermos exprimir o conceito de a. de nós mesmos por causa de Deus, e dos ir -
com o termo renúncia, renunciar significará mãos por causa de Deus. Ao lado do funda -
submeter-se ao plano de Deus e não pôr-se no mento existem também limites: não se pode
centro dos próprios interesses. Usado em seu renunciar ao direito aos meios necessários
sentido completo, o conceito a. não é senão o para a própria salvação e santificação. A
que elimina todo equívoco perigoso. Por isso, medida mais ampla da a. é o amor soberano
ela é a disposição da alma que facilita a de Deus.
prática de todas as outras virtudes no que
elas têm de contrário ao amor próprio e ao — III..4. e mística. Até que ponto deve o cris-
> egoísmo. Renúncia, portanto, a tudo, tão renunciar não só aos bens materiais (cl.
também a nós mesmos, pelo tudo, por Deus. 2 Mt 19,2 1). mas também a si mesmo, para ser
obediente até a morte como Cristo? (e t. Lc
II. Na Sagrada Escritura. A doutrina da 9,23 e par.; 22,26ss\; Fl 2,6-11). Os autores
a. tem seu ponto de partida em —» Cristo. A espirituais falam de "graus": do desapego do
sua apresentação nos é oferecida pelos evan - pecado mortal até o desapego tias menores
gelhos sinóticos: Mc 8,34; Mt 16,24-2o; Lc imperleições. A a. éo preço que o cristão paga
9,23-25, onde cia c posla no mesmo contexto, é a cruz cotidiana. A graça de Deus lhe é in -
que pode ser assim resumido: confissão de dispensável para praticá-la: é só movido por
Pedro, predição feita por Jesus de sua pai- ela que ele pode ter a certeza de chegar a
xão, anúncio do juízo e na nação da transi essa mela evangélica. Sem a graça, nada lhe
igu-ração no monte. Deve-se notar que a a. é possível: por isso, se quiser evitar o perigo
que torna alguém discípulo de Jesus introduz de ilusão e de desencorajamento nesse
o primeiro nu mistério do —> sofrimento e da caminho tão duro e fatigante, ele não deverá
-> cruz do secundo. As palavras evangélicas tentar precedê-la nem ir além dela.
que exprimem a A. já preparam essa introdu- A ajuda divina não é só um loque con-
ção: renegar a si mesmo, carregar a própria solador, mas também a loiça interior que
cruz, perder a vida. "Carregar a cruz" tem o conduz à perseverança e que é sobretudo cer -
sentido de "caminhar, ir para o suplicio". V: teza interior da vida de união com Deus e de
Lucas acrescenta: todos os dias. A exigência c crescimento constante na > conformidade
a do -> desapego total. No cristão, a cruz. de com Cristo. Isso se dá mediante a escuridão
Cristo, além de sinal de sua glória antecipa da da fé, a verdadeira cruz de "todos os dias"
(cl. Jo 12,26). é a fronteira entre o mundo da que o cristão deve levarsohrc os ombros para
carne e o do espírito. Ela é a sua única ser autentico seguidor de Cristo, o qual, da
justificação e a sua única > sabedoria. Na tu ula de Belém ale o Calvário, viveu coli
vida cotidiana, o homem velho deve ser cru - diariamente sua "condição de servo" obe -
cificado (Rni 6,6) pata ser plenamente liber - diente, imolando-se a sí mesmo.
tado do > pecado. H só Cristo que dispõe do Nessa perspectiva, a a. se torna a liberta-
crente, e se este quiser ser seu discípulo, de - ção da caridade, da ágape. Nela, clilatado o
verá chegar ã renúncia total de si e de seus coração, todo medo será eliminado e os mo -
objetivos predetinidos. Km João (12,24 -36), o mentos críticos, especialmente no começo
tema da renúncia é proposto na parábola do desse caminho, poderão ser superados. A
grão que cai na terra; a novidade consiste no alma estará como que imersa na humildade
seguinte: moirerpara viver ou morrer para de sua pequenez e no poder tia presença de
dar iruto. O próprio Jesus lez. a experiência Deus. Nessa plena verdade das coisas ela
disso na agonia do Getsêmani, porque a pai- porá em prática a fadiga da ti. por amor a
xão foi o termo essencial tia missão que ele Cristo, pela prática tio bem e pelo gosto
aceitou para a glória do Pai. Seguir a Jesus proveniente das virtudes, na paz e na alegria
na renúncia a si mesmo significa participar interior.
de seu destino, de suas provações e de sua
paixão, e estar tiisponivel não só paia o sacri - NOTAS: 1 Cf. Gregório Magno, Horn. in Evang.
fício dos bens temporais, mas lambem da 32, n.
1: 7£ J. ! 233; 'Cf. J. Guibeii, iY<> I Í >mpnvisv t-t din
própria pessoa. trine
O fundamento último da a. é a --> caridade de Vabnegation, in Dsam, I, 102-104.
para com Deus e o próximo (cl. Rm 15,1-3;
ICor 10,32-11.1; 13,15; Fl 2,4; 2,21). Existe BIBI..: J. Bchem-Würthwein, Metaneo, Metanoia,
in GLST VII, I 106-1195: Ci. Beriram. Strepho.
uma só caridade, e ela nos faz amar a Deus e in GLNT XII. 77-138; J. de Guibert. s.u. in
DSA.U 1. 67-110; C. Di Santc, La conversione: akedah, o "vínculo" de Isaac, segundo a
verso una pcrsoneditii rinnovaia. Hm nu 1985. J. tradição judaica, ou o sacrifício de Isaac.
Dupont, Studi sugH Ani degti Apostoli, Roma
1971. 717-814; K. Ralmer, Conversione, in Depois de tudo o que aconteceu - o
Sacramenntm Mimdi, II, direção de K. Rahner, oferecimento de Eliézer e o de Ismael, c o
Brescia 1974, 622-632; A. To saio, Per una nascimento inesperado de Isaac -. Deus põe
revhiotw dcyjt studt sulla metanoia A. â prova (cf. 22,1), ordenando-Ihe que
neotestamentaria, in RivBib 25 11975), 3-46. sacrifique Isaac sobre uma montanha, na
terra de Morta (lugar desconhecido). A nar -
C. Mor and hi
ração é feita com grande precisão literária e
com grande tensão, especialmente no diálo go
entre pai e filho durante a viagem. No úl timo
momento, a mão de A. ê detida pelo anjo do
Senhor: "Aiiora sei que temes a Deus (22,12).
Essa é uma exemplificação do temor de Deus.
ABRAÃO A. sacrificou um cordeiro, preso pelos chifres
a um arbusto. Essa cena estupenda foi
I. A história de A. O ciclo da história de 4. aproveitada na arte e na literatura (S.
no livro do Gênesis é dos mais significativos Kierkegaard, Temor e tremor, 1843), mas
de Unia a Kserilura. tanto que na oração nenhum comentário se mostrou à altura dela.
eucarística ele é venerado como "nosso pai na Os termos habituais - obediência e fé - não
lc . conseguem mostrar a reação íntima de A.
ABRAÃO diante da ordem de Deus. Conliando nele,
apesar das aparências contrárias, A., com
Essa recordação é motivada pela sua exis- seu comportamento, torna possível ao Senhor
tência, elevada a modelo da vida de lc, por - voltar atrás em relação ao que linha ordena -
tanto, de comunhão mística com o Deus de do. O comentário da carta aos Hebreus (11,19)
nossos pais. Diversos episódios-chave da 4
vida de A., narrados no Gênesis e em outras
passagens do AT e tio NT, podem ser é muito distanciado e um tanto racionalista:
recordados como reveladores de sua "Mas ele dizia: Deus é capa/, também de res -
religiosidade. O mais importante deles é o do suscitar os mortos. Por isso, recuperou seu
oferecimento, (eito por Deus, de uma terra e filho, como um símbolo". Depois de todas as
de uma família (12,1-3). Esse desafio é promessas feitas e renovadas (cf. cap. 12) e
anunciado em Gn 12,1-3 e selado com um depois das pr< ipostas de A. de contribuir
pacto (17,1-21), em conformidade com a para o cumprimento da promessa divina por
tradição sacerdotal (veja outra versão em meio de Eliézer e Ismael, a "prova" de A.
15,1-19). deixa todos sem palavra. A "residência"
As probabilidades de bom êxito são efetiva de A. na Palestina é sancionada com a
exíguas para A,, mas a promessa de Deus, aquisição da terra cm Macpela, na qual Sara
especialmente a de uma família, c foi sepultada. A promessa de terra está
constantemente repetida. As dificuldades são apenas nos albores. No início A. dera com
determinadas por algumas circunstâncias, magnanimidade a Ló a possibilidade de
indicadas mais vezes: A. é velho, e Sara, escolher onde residir, e Ló escolhera a região
estéril (cf. 11,30; 15,2; 16,1; 17,17; 18,1 1). das cidades da planície (Sodoma e Gomorra).
O próprio A. pede a Deus que reconheça seu Ló não merece muita atenção, mas há um
servo Eliézer como o íilho da promessa, mas episódio taseinante em conexão com a
o Senhor não aceita (cl. 15,4-6). De Agar, destruição dessas cidades: o diálogo entre o
escrava egípcia de Saia, nasce Ismael, e A. Senhor e A. (cl. 18,16-33). O Senhor decide
pede que a promessa se cumpra por meio não esconder de
dele (cf. 17,1 8), mas Deus rejeita Abraão, que se tornará "uma nação grande e
novamente. A promessa se cumprirá em poderosa" (v. 1 8,1 8), o que tem a intenção
Isaac. A. e Sara "riem" todas as vezes que de fazer, A. desafia "o juiz de todo o criado
Isaac ó mencionado (cf. 17,17; 18,13-15; para fazer o que é reto". Pergunta se o poder
"disse Sara: 'Deus me (.leu motivo de riso, de intercessão de cinqüenta justos em
lodos os que o souberem rirão comigo' ", Sodoma é suficiente para preservar a
21,6). Finalmente, com o nascimento de comunidade da destruição. A discussão
Isaac, parece que a promessa cumprir-se-á. continua até que o
Ern todo caso, caminhamos na direção da Senhor promete, que "não a destruirá por
causa de dez justos" (v. 32). A. c lielmcntc
descrito nos episódios da "esposa-irrnã" tende-se, cada vez mais, a separar Deus da
(narrados duas vezes, 12,10-20; 26,6-1 1), pessoa humana. No século XX podemos, ao
nos quais, para se proteger, faz pensar que contrário, encontrar novos absolutos em
Sara c sua irmã. Isso significava pôr em muitas ideologias; a oniseíêneia sugere que,
perigo a vida da mulher por meio da qual se agora não sabemos tudo, um dia podere -
devia realizar-se a promessa, ruas A. não mos sabê-lo; a onipotência sustenta que, por
demonstrou nenhum sinal de compunção. A meio da ciência e da tecnologia, quase tudo é
providência de Deus a possível; a auto-realização e a libertação se
protegeria. tornaram novas normas morais em substitui -
ção de todas as outras. Se, na realidade, se
II. A., modelo de —> união mística com toma Deus em consideração, muitas vezes é
Deus. A. se tornou conhecido por sua —> jus- do ponto de vista da Nova Era, isto é, da divi-
tiça, graças ao que são Paulo diz dele: "A. nização na qual tudo é Deus/deuses. Na
creu em Deus, e isso lhe foi levado em conta Nova lira a figura chave do cristianismo não ê
de justiça" (Gn 15,6; Rm 4,1-25; Gl 3.6-9). No mais —> Jesus, o Filho de Deus encarnado,
pensamento de Paulo, A. é justo diante de mas um "Cristo" cósmico, não mais radicado
Deus por causa de sua té, não por causa da na história. Essas posições extremas diticil -
lei ou da circuncisão. A. ouve a —> Palavra át mente se encontram em estado puro. mas
Deus c confia na promessa do Senhor. Por estão sulílmente presentes —> na psicologia,
isso Paulo considera a fé de A. como arquéti- na —> politica e até na —> espiritualidade.
po e modelo da fé cristã (cf. Rm 4,19), A pro - Muitas vezes nos deparamos com > ateus
messa feita a A. é válida não só para os que militantes, porém mais vezes ainda com o
descendem biologicamente dele (os hebreus), agnos-ticismo e com atitudes indiferentes em
mas também para todos os que participam de relação a Deus. Quatro velhas heresias
sua fé, hebreus e gentios (cf. Rm 4,14). A. apareceram novamente hoje. em vestes
teve fé "esperando contra toda a esperança, e modernas e freqüentemente mascaradas por
tornou-se assim pai de muitos povos..." (Rm linguagem pseudopsicológiea; são elas:
4,18), portanto, nosso "pai na fé". messalianismo, pelagianisnio, —> quietisino
Na figura de A. Paulo vê, por isso, os fun- e —.• gnost ieismo. Não concernem, porem, às
damentos de sua teologia da justificação, rea- grandes religiões do mundo. 1 Deus c absoluto
lidado obtida gratuitamente pela fé. Isso sig - em todas as morfologias do divino: deus-céu,
nifica que na relação existencial com Deus mãe-lerra, senhor dos animais. Nem a pessoa
tudo é graça, à qual se adere pela lé. A obe - religiosa {homo religiosas) reduz o a. de Deus.
diência de A. passou a ser a norma última de Todas as religiões abraâmicas confessam um
ioda vida que tende á perleição da caridade, a Deus absoluto: judeus e cristãos dizem que
única realidade que permite ao homem entrar há um só Deus, nosso Senhor (cl. Ex 20,1-
na comunhão mística com o Deus de Jesus 11), e os muçulmanos reconhecem só Alá
Cristo. (Alcorão 2,225), cujos noventa e nove nomes
revelados falam de absolutez. A teologia
BtiuD. Barsotti, s.u, inD£S I, 10-12; PM,
cristã clássica confessa Deus como Criador
Bogaert, Abraham dam la liihle et datis la
tradiiion juive, Bruxelles 1982; A. Gonzalez, supremo, fim último da humanidade. -1
Abramo padre dti credenti, FrancavÜla al maré A doutrina de Lutero (t 1546) sobre a /Pa-
\C\\) \9bV; H. Man-iifiiot, s.v., in l)H I, 74-H2; lavra de Deus e a —> lé, e a doutrina de
K. \lartin-Achanl, Acttux-lite d'Abrahamt Calvino (t 1564) sobre a glória e a
Neuchãtel 1969; L. Pimus.u, in DBS l, 8-28;
M. Viller, s.v., in DSAM \, l 10; S. Virgulin, supremacia de Deus são, a seu modo, alii
5.V., ín NDB, 3-10. inações incisivas do a., também não sendo
eles certamente amigos da escolástica. A
R. E. Muq)hy tradição mística cristã não c independente da
teologia; ambas baseiam-se na > revelação
divina. 3

II. Os místicos cristãos de todos os tem pos


deram importante contribuição tanto à
expressão do a. quanto à possibilidade de
ABSOLUTO DE DEUS encontrá-lo. Enganar-se-ia quem tentasse
compreendei os místicos tia era patrística
I, Breve excurso histórico. Antes do sem tomar em consideração o lato de que
Iluminismo, o a. não era tido em grande con- todos, de algum modo, estavam em diálogo
sideração. Todavia, do século XVIII em dian te
com o platonismo ou sob sua influência. O
platonismo dos místicos cristãos loi mediado
por —> Plotino, e, com mais precisão, era
chamado neoplatonismo. Os três princípios
supremos são o Uno, a Inteligência (nous) e a
Alma (psvclté), correlatos da einançáo e do
retorno {prôndos/epistrofe). Para os filósofos e
para as pessoas religiosas, a ascensão para o
Uno, corno nas linéadas, c entrar no íntimo. 4
O resultado é a possibilidade do - > êxtase.
Mas é principalmente a indiferença do Uno
em relação aos esforços humanos tenden tes ã
unidade que diferencia o neoplatonismo, da
mística cristã. ■ A idéia de caminho dentro
da pessoa para encontrar o a. leni necessida-
de de muita > purificação antes de poder tor -
nar-se parte integrante da tradição mística
cristã. —> Origenes mostra imediatamente
uma diferença em relação ao neoplatonismo,
porque para ele a pessoa humana responde à
graça de Deus pelo —» batismo. 6 Depois fala
de ascensão cm três fases, ou seja, a fase
purificante, a iluminante e a unitiva, carac-
terizadas respectivamente pelos livros dos
Provérbios, cio llclesiustes e do > Cântico dos
cânticos. Essa ascensão se torna representa-
tiva do ensinamento da —> virtude (ethiké), da
--> contemplação natural de uni mundo
transcendente e da contemplação da Pala vra,
entendida como Escritura e como * En-
carnação. O pomo culminante da contempla-
ABSOLUTO DK DEUS ACÍDIA 11

çào é puro dom da > graça divina. O pensa - mas que nem no céu será plenamente
mento místico de Orígenes é caracterizado compreendido. 10 Uma das riquezas de
por constante análise do —* amor, seja como algumas —> teologias da libertação é sentido
desejo Uras), seja como dom [ágape). Alem dis- novo do a. de Deus que se manifesta entre as
so, Oi ígenes foi o primeiro a ver um es- pessoas, em particular entre os pobres, 11 em
ponsalfcio místico dos -> sentidos no Cântico sintonia com a redescoberta e com a repre-
dos Cânticos: a —> alma é a esposa da Palavra sentaçào da tradição mística cristã. A posi ção
eterna. O Cântico dos cânticos foi, para os fu- do homem diante do a. constitui o princípio e
turos místicos, fonte constante de inspiração o fundamento plenamente descri tf», se bem
e de argumentação. Com Orígenes o parado xo que brevemente, pelos Exercícios Es*
da transcendência e da imanência já estava piritiuiis de > santo Inácio de Loyola: "O
em ato: o Deus absoluto, queé infinito em homem foi criado para louvar, amare servir só
toda a sua majestade, em seu poder e em sua a Deus, nosso Senhor, e assim salvar-se" (n.
beleza, pode ser procurado e encontrado pela 23). O a. é a verdade correlativa ao criado.
criatura/' Ele é ainda o fundamento de todas as afir-
Deus é oculto, mas se revelou em Jesus mações a respeito de Deus também no caso
Cristo e se revela, de modo singular, a todos cm que lais afirmações apolatieas ou
os que o procuram, confiando nele amorosa- catafáticas sejam inadequadas.
mente. 8 O conl iccimento último de Deus é o
de uma Trindade de Pessoas, o único que NOTAS: 1 L.E. Sullivan, Supre-me Beings, in
Encylo-
aprofunda o sentido de absolutez. Esse pedia of Religion, New York-Loncircs 19S7, 166-
conhecimento não é, pois, fruto de 181: 2 Cf. Tomás de Aquino, STIi I, qq. I -26; 3
compreensão, mas de amor. -> São Joãt > da J. Fin-
Cru/, em seu Cântico espiritual, mostra a inter- kenzelle, // problema di Dio. li mimo capitolo delia
relaçüo entre o amor e o conhecimento, ou teologia Cristiana, Mi ião 1986; * Cf. STh I, q. 6,
aa.
seja, o conhecimento comunicado na 8-9; y A. Louth. The thigins ofthe Christian Mvsti-
contemplação faz nascer o amor, o qual, por cal Tradicion: From Plato to Denys, Oxford 1981;
sua vez, é causa da i nfusão O.
do mais prolundo conhecimento. Clement, Sources, Paris 1982 Tl:e Hoots of
Mas» para aproximar-se de Deus, é Christian \1\siicism, Londres U.U. von
Balthasar, Origenes, Geist und Feuer. Ein
necessária purificação mais profunda. Em —> Aufbau aus seunen Werken, Salzburg 1954 2 ; 7
Platão e em toda a tradição mística existe a Ch.-A. Bernard, Le Dien des mystiques, Paris
convicção de que só os puros podem 1994; 8 Cf. KL Rahner, Ober die Verborgenheit
experimentar o a.9 Gottes, in Id., Schriften zur Theologie, XII,
No Ocidente, uma das mais conhecidas Zürich-Einsiedeln-Köln 1975, 285-305; 9
H.D. Egan, / mistici e la mística. Cidade do
explicações é a de são João da Cruz em seu Vaticano 1995; W. Triísch, Infroduzione afia
díptico: A subida do monte Carmelo c A noite mística; Fontiedocumenti. Cidade do Vaticano
escura da alma. No Oriente, a tradição lala de 1995: ".S/V; I, q. 12, a. 7; K. Rahncr, Fragen
progressão do ascetismo positivo e negativo zur Unbegrieflichkeit Gottes nach Thomas von
Aquin, in Id., Schriften zur Theologie, XII, Zurich-
(praxis) até chegar ao desapego/sobrie-
EinsicdcIn-Köln 1975, 306-319; " G Gutierrez,
dade.'indiferença (apdtheia)eà contemplação // Dio delia vita. Brescia 1992.
(iheoria). Mas a história de todo místico é a de
contínua e profunda purificação, muitas Bise: H.U. von Balthasar, La verità è sinfónica,
vezes passando pela -> doença, pelas contra- Milão Pv74; U.Jltuttu netirammentt». Milãu t l >72;
F. D'Agostino,5 .u, in NDS, 85-96; i 1. de I nlxic,
dições externas ou por outras manifestações //mis-tero dei soprannaturale, Bolonha 1967; X.
da -* cruz, até que tudo o que ê —> egoísmo Pikaza, Experiência religiosa y cristianesimo,
ou impureza seja abolido. As imagens do ca- Salamanca 1981,467$$.; J.J. Sanchez Bemal,
minho, como nas obras de Boaventura Iti- s.w. in Aa.Vv., Dicionário teológico: O Deus cristão.
São Paulo, Paulus. 1998. C. Yannaras,
nerário da mente para Deus e da ascensão, como
Ignoranza e amoscenza di Dio, Milão 1973.
na Vida de Moisés, de —> Gregório de Nissa ou
na —> Devo tio moderna ou ainda na Ascensão ( \ 0'Donmll
espiritual, de G, Zerbolt (t 1398), são expressão
do a. que os homens se esforçam para atingir,

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ABSOLUTO DK DEUS ACÍDIA 12

ACÍDIA
L Noção. Comumente considerada um dos
sete pecados capitais, 1 a a. é vista pelos auto-
res espirituais como tédio e desânimo que
tomam conta da alma, tornando-a incapaz de
cumprir seus deveres, para os quais ela deve-
ria estar pronta. 2 Trata-se de uma espécie de
laslio pelo espiritual por causa tios esforços
físicos necessários para o cumprimento ale-
gre dos deveres da vida cristã. É a indolên

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7 ACÍDIA

cia para as coisas do espírito, a iné rcia em te, e o monge deverá combatê-la lodos os
opor-se ao peso das coisas terrenas e em ele- dias. 16
var-se ao divino. 4 Já na literatura paga a a. Mas também na espiritualidade ocidental
tem uma longa história. Etimologicamente existe uma literatura, graças a -> Gregório
ela nào provém do latino acidas, mas do grego Magno, que fala dela primeiramente como de
a-kedos, ou acudia, com o significado de não- uma tentação, depois como de um —» vício e,
cuidado, negligencia, indolência. Nos autores enfim, como de um vício tentador. Isso por -
pagãos (em Cícero, 5 por exemplo) ela pode que o coração, perdido o bem da alegria inte -
signilicar também tristeza e tédio/' rior, procura as consolações externas. 1 Pare-
ce que são Gregório identifica a a. com a
II. Na tradição eclcsial. Nos LÀÀesse termo tristeza, por causa dessa falta de alegria inte -
aparece várias vezes com o sentido geral de rior. 18 Em totlo caso, foi graças ã tradição
descuido e indiferença (cf. Sl 1 1S,2S; Belo pastoral gregoriana que ãa. foi tirada de seu
29,5; Is 61,3).' Mas ele é usado também para contexto tradicional, de vicio próprio de nu
significar certa indolência nas relações com tuges, e passou a ser vista como um mal-
Deus (Eclo 2,12). H 0 Pastor de Herrnas aplica-o estar interior (possível em todos) que se inani
no sentido de nerdígéneia em fazer o bem e lesta como indolência no desempenho dos
praticar a religião. l * Apesar de suas possíveis deveres religiosos. 19 —> Tomás de Aquino
origens estóicas, lu a psicologia da > tentação conhece a tradição de Cassiano e a de
recebeu ampla atenção dos - > Padres do de- Gregório, e prefere identificara a. com a
serto do século IV, os quais a discutiram no tristeza. Ele a define conn> "o tédit) para
contexto de outros pensamentos maus, como trabalha!' bem e corno a tristeza produzida
o daemon meridiamis ("demônio meridiano") (cf. pelas coisas espirituais" . fcü Praticamente o
Sl 9(),6). u homem acidioso, em vez de encontrar alegria
Parece que foi Evágrio Pôntico, cm 383, o nas coisas espirituais, encontra tristeza e
primeiro a descrever a a.,12 apoiando-se mais desgosto, que entorpecem a alma e tornam a
na experiência. A solidão do eremitério no vida espiritual deprimida e indolente. Para
deserto, o corpo abatido pelo —> jejum e a são Tomás, a a. se opõe à alegria da caridade
mente latigada por longas orações eram li dos e da bondade, e isso pode torná-la matéria de
como latores que podiam causai o tédio ou a pecado grave. 21 Afl. é chamada pecado capital
atividade exterior febril, coisas que eram porque gera outros pecados: malícia, rancor,
chamadas a. Na lista das oito tentações prin- pusilanimidade, desespero, torpor para os
cipais do monge, o lugar da a. é entre a preceitos, más distrações. 22
tristeza e a vanglória. No Ocidente, foi —>
João Cassiano quem descreveu as III. A, e vida espiritual. A maioria dos
características da a., definindo-a como uma comentadores permaneceu fiel à síntese
—> ansiedade ou um tédio do coração* * que tomisia, mas houve na literatura uma tendên -
torna o homem sedentário e inapto para cia que confundia a a. com um de seus efeitos
qualquer trabalho dentro dos muros do externos, isto é, com a preguiça. Alguns,
mosteiro, e ocioso e vazio (Xira os exercícios apoiando-se em —> são João da Cruz, 23
espirituais, de modo que o monge acidioso tentaram "batizar" a a.t tornando-a uma
nunca está satisfeito com suas ocupações espécie de pecado próprio de uma elite
nem com seu mosteiro; além disso, seus espiritual, tratando-se, na verdade, de uma
deveres o cansam, e seus tra- H LI II IOS lhe dificuldade espiritual bastante comum 24 e
causam enfadi *: por isso ele gost:i que pode ter vá rias formas.
ria de mudar de lugar e de ocupação. 14 Antío- A prática da vida espiritual já é bastante
co de São Sabás (início do sée.VIl) acrescenta difícil. Sc, ao estresse da vida cristã se acres -
à descrição de Cassiano que a a. torna o cem arem as muitas formas de evasão que o
monge incapaz de interessar-se por qualquer —> mundo oferece, procurando preencher o
coisa, menos pelas refeições, que espera com "mercado" do tempo livre com o mundo da
grande impaciência, e que o faz perder seu informática, da televisão etc, talvez se possa
tempo cm conversas inúteis, folhear livros rever todo esse discurso numa chave total -
que deveria estudar e não dar atenção aos mente nova, mas sempre com as mesmas ca -
sábios conselhos que o mesmo livro contém. ' s racterísticas oferecidas pela história.
Por isso, segundo a espiritualidade orien tal,
a a. é a eterna companheira do monge NOTAS: Prescindimos aqui da discussão sobre
1

os pecados capitais, considerados sete no


solitário, a qual não o deixará antes da mor - Ocidente, mas oito no Oriente, cf. S. Nilo, De
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neto vitiis: PG 79, 1145; 2 Cf. C. Bardy. s.u, in
DSAM I, 166-169; 3 U. Voll, s.u, in New Catholic
Encyclopedia I, Washington 1967, 83ss.; 4 B.
líãring, La Legge di Cristo I, Brescia 1957. 386;
5 Cícero, Ad Atticum, 12,45,

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ACÍDIA - ACOUIIMKNTO 8
l; ft B. Honings.s.u, in DES I, Roma 1975. 14;' 7 Palavra" (Jo 1,1). Assim, o homem só pode
O. Hardv, a.c. 166; s B. Honinus, u.c., 15; ser —> escuta: "Ouve, Israel". Em suma,
Pastor do Hennas, In Visão, III. 11, 3; 10 U.
Voll. U.C., 83; 11 (bid.; 12 Evágrio Pôntico, De diante de Deus, o homem só pode ser
octo vitiosis cogitaiionibus: PG 40, 1274; '* João resposta e a.
Cassiano, De spirítu acediae. Conferente, 10, in Será diferente a relação com os irmãos?
Id.. De coeno-horiuni institutionilms. 1*1,, 49, Certamente, ao menos em parte. A relação
359-369 o 203. 611; ,4 /frid., 36.5-367; cf. B. interpessoal é quase sempre um "dar -rece-
Honings,a.c., 15eG. Hardy. a.c,, 167; 15
Antíoco de São Sabás, Homilia 26: PG 89, 1 ber'\ Todavia, sábio não é o que fala, mas o
51 3-1516; : " S. João Clímaco, Escada do para- que ouve, como diz toda a tradição oriental.
íso, doura H XIII: PG 88. 860; 17 S. Gregório Sábio não é o que impõe aos outros seu "eu",
Mapno. Comentário sobre Jó, in Moralia 31.4?: mas o que aceita e acolhe o outro como dom
PL 76; ' R B. Monings, £i.í'., 15. Alguns pousam
irrepetível.
lambem que s. Gregório teima omitido
totalmente i\a. do seu elenco de pecados Para exprimir o processo de a. o grego
principais, inserindo em seu lugar a tristeza, emprena o verbo cliorco, que significa "dar
cf. U. Voll a.c. 83. Todavia, diversos suces- lugar", "receber", "acolher", "alcançar". É
sores de s. Gregório preferem lalar de a., p. uma derivação verbal de choros ou chora, que
ex.: Hugo de São Vítor, De sacra ment is t 11,
13,1: PI. 1 76, 525; 19 Cf. p. ex.: Rábano significa "espaço livre", "terra livre". No uso
Mauro, Dû ecclesiastica disciplina: PL 112. iníransitivo, esse ver lio toma o significado de
1251-1253; Jonas tie Orleães, De institutoue "chegarão arrependimento" (cl. 2Pd 3,9), que
laica li: PL, 102, 24 5-246; Akuíno, Liber de corresponde ao significado de decidir-se a
virjutdms, c. 32; PL, 101, 635; S. Antonino, uma ação e executá-la. No uso transitivo, tem
Summa theologiaemoralts, 2: PL 10,933-938; 20
S. Tomás de Aquino. STli I, 63, 2 ad 2; 21 Ibid. o significado de capacidade, por exemplo, de
MI, 35, 2; etc.; 2 f Ibid. MI, 35, 4. 2, 3. Veja recipientes paia água Icf. Jo 2.6), de um es-
também s. Gregório Magno, Moralia. 31. 87: paço determinado (cl. Mc 2,2) ou do universo
PL 76, 621. Cassiano enumerava: preguiça, inteiro (cf. Jo 21,25). Às vezes tem também o
sonolência, moléstia, inquietude, distração
signil içado de compreensão, de ensinamento
mental, instabilidade da mento e do eoi po.
loquacidade, c u i iosidade: Col la ti ones 5, 16. e talvez também de prática desse ensinamen -
PL, 49. 634. Veja tb. a exposição de s. to (cf. Mi 19,11).
Isidoro, In Deuteronomium^yL S3, 366; : S. Para exprimir melhor essa idéia, o grego
João da Cruz, A noite escura I, 7; 24 U. Voll, a.c. emprega dois verbos, lainhano edechomaL O
84.
primeiro exprime o aspecto ativo da iniciati-
BIBL.: G. Bardv, s.v., in DSAAf I. 166-169; M. va; o segundo, o aspecto passivo ou a recep -
Cano, Victory over Self, m Cross and Crown, tividade. Em última análise, os dois verbos
8(1956). 149-I.i3; 1. Colosio, Cow K^MV I exprimem aspectos complementares entre si;
accidie, in /W.W 2 (1958), 2-2S7; Id.. /softs aqui, entre fé ativa e passiva em relação a
midell'acadia, in /fc/rf., 495-511; K
Cimninnham, 'flic Christian Lite, Ouhuqoe Deus ou ã —> Palavra.
1959, 242, 185; A. Lipari, 5.v., in /)/-\S I, 15- Mas a. não equivale a passividade. Acolhei-
17; J. Mac Avov, Endurcissement, in receber são verbos ativos. E não só no plano
DSAMIV/1,642-652. IL Martin. Debout spirituel, gramatical. Quando os amigos de Betânia
in /ASIA/ III, 99-104; T. Spidlik. spirituality
receberam Jesus, Marta estava "atareiada"
deU'Oriente eristiano, Ci-nisello Balsamo 1995.
238-239. (Lc 10,38.1, porque sua casa estava em lesta,
e chegou a receber uma censura do Mestre.
M. Aira rd A boa sorte de Betânia é a sorte de cada
um na vida. Exprime-o bem uma imagem do
—> Apocalipse: "Estou a poria e bato; se al -
guém abrir a porta, entrarei em sua casa e
cearei com ele" ÇAp 3,20). E o Mestre que
toma a iniciativa de virá porta do coração
humano. Ele "bate" com as moções
ACOLHIMENTO interiores. Não é, porém, de seu estilo
arrombar a porta.
I. \"a Escritura. Toda a história bíblica Na Escritura encontram-se vários modelos
mostra que a iniciativa do encontro com de a.: Natanael, que reconheceu o Messias
Deus parte sempre dele, "Não o procurarias logo que o encontrou e o acolheu (cf. Jo 1,48-
se antes ele não te tivesse procurado", 50); Lídia, cujo coração o Senhor abriu, para
escreve santo Agostinho. "No princípio era a que aderisse às palavras de > Paulo e que
logo o recebeu em sua casa (cf. At 1 6,14-15);
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os discípulos da Igreja primitiva, que tem fronteiras, nem medidas, nem
acolheram a Palavra com grande entusiasmo obstáculos.
(cf. At 17,11). A resposta do homem a Deus-amor signi-
E como a Palavra de Deus é "um espelho", fica acolher a mensagem muda que se des -
da escuta nasce a —> conversão, como atesta prende da criação e transformá-la em louvor
a história da - » santidade. Nesse espelho consciente. Nas criaturas e na criação res -
não se vêem só as maravilhas de Deus, mas plandece a glória do Criador.
também as manchas do rosto interior. O
evangelho é a novidade radical que incita à II. Um exemplo insuperável, os anawim.
renovação da vida. O filào de ouro de I idelidade dos anawini
Disse alguém que o verso mais belo cia Di- atravessa toda a Bíblia e, de certo modo,
vina comédia é o seguinte; En la .soa volun-tade resgata todas as infidelidades de Israel. Eles
è nosíra pacc] ("Na sua vontade está a nossa são a encarnação mais luminosa do a,
paz"). Essa vontade está escrita no co ração e Quem são eles? São um grupo de israelitas
na história de todas as pessoas. Há um fiéis, designados com o termo "resto de Is-
momento de graça na vida de cada um no rael": "Lm povo pobre e humilde... procura rá
qual todas as peças do mosaico se combinam refúgio no nome do Senhor o resto de Is-rael"
harmoniosamente, e então o projeto divino (SI 3,12). São homens que não têm nada, e o
aparece com clareza. A resposta requer o a., sabem. Não podem contar com ninguém. E
porque só Deus "sabe o que está no co ração não tendo nada a esperar do mundo, espe ram
do homem" (Rui 8,29). "Conhecias, Senhor, tudo de Deus. Apresentam-se a ele com as
até o lund*» de meu ser" (Sl 1 39,14). mãos vazias, aberta ao dom. Fazem-se a. Os
Ele conhece o homem desde o seio de sua poderosos os olham de cima para baixo,
mãe e lhe confia uma tarefa, em cuja execu - compadecendo-se deles. Deus abaixa para
ção estão a plena realização da pessoa e a eles seu olhar e os enche de seus bens. Le -
certeza de percorrer um caminho de alegria. vanta-os cio pó e os declara "bem-aventura-
O "sim* é o monossílabo mais importante: dos", isto é, felizes! (cf. Mt 5,1-12).
pronunciado com plenitude, ele é a porta da —» Maria é a encarnação mais luminosa
santidade. desse "resto de Israel". Seu Ma^niÜcaí é o
"Tua palavra é lâmpada para os meus pés" cântico insuperável dessa pobre/a: o Pode -
(Sl 118,105), diz tranqüilamente o salmista. roso olha para a humildade cie sua serva e
Isso não é fácil, porque o coração do homem ele, só ele, faz nela grandes coisas (cf. Le
muitas vezes é inclinado para o mal, e o mal 1,46-55). São Bento condensa tudo isso
se refugia nas trevas. E isso que João expri - numa frase; Operanlen: in se Dominion
me sinteticamente no Prólogo de seu evarige- magnificam: "L< uivam o Senhor, que faz neles
lho: "Vinha ao mundo a luz verdadeira, grandes coisas" (Prol. 30).
aquela que ilumina todo homem... Veio para
o que era seu. e os seus não o receberam" (Jo III. A. medida do cristão Não se pode dizei -
1,9.11). Por causa disso a história da salva - que o a. seja atitude fácil. Todas as vezes que
ção é dramática, e o nó do drama está no alguém se oferece ou pede para entrai' na
contraste entre a luz e as trevas, a luz da vida de outra pessoa (isto é, quando há uma
Palavra e as trevas da recusa. "Mas a todos condensação de presença), tudo se abala na
que o receberam deu o poder de se tornarem existência. Vcrilica-se um despertar de
filhos de Deus" (Jo 1,12). O que está em jogo interesse. Os mecanismos de reação que
é decisivo. O vértice do a. está no amor a desencadeiam essa situação podem ser dois: o
Deus, que é — t amor, como diz João (cf. Jo primeiro, negativo, é o da defesa instintiva.
4,8). Se alguém se decide a amar, antes Ioda novidade, de alguma lorma, é ameaça. É
mesmo disso o amor de Deus já se difunde melhor quieta non movere ("não mover as coisas
em seu coração. Essa linguagem éde Paulo, o que estão em repouso"). Pode ser alguém que
qual afirma que. mediante o —> Espírito pede muito. E então se dá o fechamento com
Santo, o amor de Deus vem habitar no o "não". Foi o que tez o jovem rico, que "saiu
homem. Ama-se "como que com o coração de triste' (Ml 19,22).
Deus", segundo uma expressão tomisla já A segunda atitude - positiva - é a do as-
citada. Ü amor cristão não é só um —» sentimento tervoroso. A pessoa percebe ente
sentimento proveniente do coração humano, aquele que está vindo pode ser muito impor -
mas lambem uni dum divino que, acolhido, tante. Se ele conlunde as cartas da vida é só
permite amar de modo divino; por isso, ele é para combiná-las melhor. E então a pessoa
um "mandamento novo* (Jo 13,34) que nã o

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se decide por ele. O coração se abre ao Se- minha alma que me apraz encontrá-lo, por-
nhor da vida e é transformado nele. que ele nunca me abandona". 2 Ela volta mui-
Mas, como ele é "outro", melhor, o "Todo - tas vezes a esse "pequeno canto de si mes -
Outro", ele se torna desafio para os hábitos ma", a essa "cela que queres ver construída
cio homem velho. É necessário então mudar em meu coração". Pode-se, pois, dizer que o
e converter-se para um encontro vivo. que coração do homem é uni pequeno céu. Porque
seja também a. Trata-se cie Pessoa a "os céus não podem te conter, mas o co tação
encontrar e receber, a qual se torna a do homem pode", repete a tradição do
novidade de cada dia, se se conserva viva a Carmelo. E a razão é simples: Deus é Espíri -
capacidade de admiração e se se vence o to. E o coração do homem é espaço espiri tual.
"hábito coisitieante" que transforma em Assim Isabel exclama: "Parece-me que
"coisas mortas" as realidades mais vivas da encontrei meu céu na leria, porque o céu é
vida. Como a aceitação da cruz é a condição Deus, e Deus está na minha alma. No dia em
essencial para alguém seeuir o Senhor, que compreendi isso. tudo se iluminou em
acolher o outro sem reserva é sinal de mim". 3 Isso a transformou em laudemgloriae
fidelidade ao mandamento novo do amor ("louvor da glória"), permitiu-lhe entrar na
fraterno sem fronteiras. A. não só do vida íntima de Deus e ser levada à misteriosa
companheiro, tio familiar ou do amigo, mas relação "com seus Três": "Beatitude infinita,
também do estrangeiro, do distante, do po- imensidão na qual me perco".
bre, do que não pode retribuir. A. que convide Mais que preocupada com o que devia fa -
ã renúncia, à disponibilidade, ã gratuidade, zer por Deus, era atenta e acolhedora para
porque vê no hospede, no estrangeiro, no po- com o que Deus fez e queria fazer por ela. O
bre principalmente o divino Estrangeiro, que destaque não é posto no esforço humano,
não tem uma pedra na qual repousar a mas na acolhida tio dom. Recordando-se
cabeça (cf. Mt 8,20). É sempre Cristo que no sempre todo o empenho que isso exige.
faminto, no sedento, no peregrino, no sem- Em apoio a essa verdade vivida pelos
roupa. no doente, no preso... bate à porta do místicos, há uma expressão significativa na
cristão e pede hospitalidade e ajuda (cl. Mt liturgia renovada, a qual, na memória de —>
2?,3S 3h). santa Gertrudes, implora: "7c itt nobis
Mas o fi'. e a escuta se manifestam c nos ptaesentetn ct operantem laetanler experiamur",
interpelam também em outras situações: na isto é, que
atenção ao outro, na capacidade de diálogo, "alegremente sintamos a ti presente e agindo
no dar lugar ao outro. Essa é uma atitude, em nós". A mesma santa Gertrudes escreve:
uma disposição de fundo que sabe acolher "Quiseste conceder-me a inestimável familia-
sem desconfiança nem suspeita, mas com ridade de lua amizade, abriudo-ine, de vários
atenção e amor, com escuta e respeito ao modos, o nobilíssimo escrínio da divindade
outro. que c teu cotação divino c olcrecendo-me
nele, em grande abundância, todos os tesou -
IV. A. interior: o mistério da graça. O ros de alegria". Deus entra no coração do
aspecto talvez mais fascinante e mais miste - homem, eo homem entra no coração de Deus.
rioso do a. é o denominado "inabitação". A
graça não é somente "alguma coisa" que V. A. dos irmãos: hospitalidade. Não se
Deus dá ao homem; ela é também o próprio pode receber Deus e deixar os irmãos do lado
mislé-tio de Deus no homem. O homem de loia. O cristão arde de —> caridade por
nunca poderia imaginar essa realidade Cristo, e sabe encontrá-lo e ac< ilhê-lo na
inefável, se Jesus não a tivesse revelado: "Sc pessoa concreta dos pobres e dos que sofrem.
alguém me ama. guardará minha palavra, c Essas duas faces da caridade são insepará -
meu Pai o amará, e a ele viremos e nele veis como o côncavo c o convexo. Na —> En-
estabeleceremos morada" (Jo 14,23). Não se carnação Cristo assumiu não só a humani-
trata de visita passageira, nem de hóspede dade gerada no seio de Maria, mas também,
por um dia. mas de morada permanente. de alguma forma, todo ser humano, c che gou
Na vida moderna, quem compreendeu a dizer expressamente: "Aquele que receber
melhor essa verdade e fez dela o centro de uma destas crianças por causa do meu nome
sua vida foi —> Isabel da Trindade, carmelita a mim recebe" (Mc 9,37).
de Dijon (na França). Seus escritos são uma A esse respeito, baste-nos citar quatro ex-
esplêndida sinfonia na qtial essa é a nota do- periências emblemáticas. A primeira é a do
minante. Eis algumas passagens: "É tão bela apóstolo Paulo, que, escrevendo a Filemon,
a presença de Deus! ti lá no fundo, no cé u de diz: "Recebe Onésimo como se fosse a mim

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mesmo" (Fm 17). A segunda é da Regra de são I9S<>; H.J.M. Nouwen, Hospitality, in Monastic
Bento, que, no decorrer dos séculos, fundou studies, I ü (1974), 1-48; C. Spicq, Agape dans
le Nouveau Testament. 3 vo II., Paris 1958-1959;
milhares de hospedarias em toda a Europa: P. Viard. tfospitalitè. in US AM VII, 808-831; C.
"No modo de saudar se mostre suma -» hu- Zanetti. Phuimismudell'amon' nella
mildade a todos os hóspedes que chegam ou relacione (li ser\'i,'io, Milão ]*H>n,
partem: inclinada a cabeça ou prostrado por
terra lodo o corpo, adore-se neles Cristo que Al A. Ma grass i
se acolhe. Os pobres e os peregrinos sejam
acolhidos com particular cuidado e atenção,
porque especialmente neles se acolhe Cristo"
(cap. 53). O texto latino é ainda mais incisi -
vo: "in ipsis magis Christus siiscipitur".
No liláo Iranciseano, basta lembrarmos
ADÃO
que —> Francisco começou sua vida nova de -
pois que, vencendo a repugnância inicial, Premissa. O nome 'adam deriva de ada-mah,
beijou as chagas purulentas de um leproso. "terra". Referido ao primeiro homem no livro
11
ilo Gênesis, adam é, ao mesmo tempo, nome
Mais próxima de nós, na época moderna, genérico, que indica a humanidade
AC0l.HIMIi.NTO- ADÃO
é a experiência do padre Pevriguère, discípu -
lo de —> Charles de Foucauld e. como ele, (cf. Gn 1-2), e nome próprio do primeiro ho-
também contemplativo. Ele passava horas mem (de Gn 3,17 em diante).
diante do Santíssimo Sacramento em
adoração. Mas, o povo, sabendo de sua
I. A primeira narração da criação (cf. Gn
competência como enfermeiro, começou a
1,1-2,3). A primeira narração da criação, de
pedir que ele cuidasse dos doentes, e ele
traços babilónicos, foi escrita pela escola sa-
aceitou. Depois escreveu a um amigo tia
cerdotal (P) durante ou pouco depois do exí -
Europa: "Como é real, como é terrivelmente
lio na Babilónia (sécs. VI-V a.C). Para P, a
real o Cristo nos membros desses moncosos,
criação c como um palácio preparado por
que me sujam a barba com o muco de seus
Deus para entronizar nele A DAM, ou seja, a
narizes". Em suma, para falarmos com —>
humanidade, como rei. 'Adam aparece na cria-
sào Vicente de Paulo, ele tinha consciência
ção como criatura toda especial, como o ápi -
de que "deixava o Senhor pelo Senhor".
ce de toda a criação. A sua criação loi prece -
A história da santidade é toda semeada de
dida de deliberação de Deus: "Façamos o
experiências como essas. Talvez a mais es -
homem ã nossa imagem, como nossa seme -
plêndida perlo de nós seja a do bem aventu-
lhança, e que cies dominem sobre os peixes
rado Luís Orione, apóstolo da caridade, o
do mar, as aves do céu, os animais domésti-
qual, para a sua Congregação, tez referência
cos, todas as feras e todos os répteis que ras-
â Regra de são Bento, de cunho claramente
tejam sobre a terra" (1,26). Discutiu-se mui-
contemplativo. E quis ter "eremitas" como
to sobre o significado do termo "imagem de
amparo dos que se empenhavam no serviço
Deus" aplicado a adam. Do contexto parece
aos irmãos. O encontro com os outros deve
que ele implica a superioridade de 'adam so-
superar os estreitos limites da pura cortesia
bre o resto da criação, superioridade que o
e da convivência civil, a fim de não esvaziar -
situa cm relação especial com o Criador. Dis -
se. A categoria social fundamental é a
so decorre o encargo primári« > dado a ele por
relação "eu-tu". Ora, o "tu" do outro é o "tu"
Deus: reger a criação cm nome dele, como
divino. Todo tu humano é imagem do tu
seu representante.
divino. Conseqüentemente, o caminho para
A relação entre 'adam e o reino animal é
os outros coincide com o caminho para Deus.
pacifica. Eles não se agridem um ao out ro
E essa a natureza do a., atitude típica da ex-
porque a cada um loi determinado o própr io
periência mística.
alimento (1,29). Foi só depois do dilúvio, cau-
N OTAS : Par. Hl, 85, 1 letteru 62. in li Elisabetta
1 sado pela violência humana (6,5), que Deus,
delia Trinilà, Opere, Ciniselo Bálsamo 1993, paia manter sob controle essa violência, per -
215; 3 Irttera 122, 27l). mitiu à humanidade comer peixes, aves, ani -
BIBI.: Aa.Vv, Cultura dcWacctnilienza, Rom.» mais e a erva, que antes era destinada aos
1983; CJ . Agresti, Elogio delia gratuita. Roma animais (9,1 -7).
I9H0: A P Fruta/, Qspitalítã, in D ÉS II, 1792- Outra consideração importante é que,
1793: I. Gioia, Accoglienza delia straniero, Roma nessa primeira narração da criação, o ter mo
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'adam inclui os dois sexos, porque no v. 27 é 2. O pecado de adam (Gn 3,1-24). Sobre esse
dito que "Deus criou 'adam à sua imagem, à fundo idílico aparece outro elemento, a
imagem de Deus ele o criou, homem e mulher serpente, que seduz a mulher e, por meio
ele os criou". Portanto, homem e mulher têm dela, induz o homem a transgredir o man-
a mesma dignidade e são perfeitamente damento de Deus. O homem e a mulher es-
iguais diante do Criador e diante da criação, tavam cegos pelo desejo de comer' da árvo re
que ambos têm a missão de reeer. proibida, tanto que ela se tornou aos olhos
deles uma árvore como todas as ou tras, "boa
I I . A segunda narração da criação (Gn ao apetite e formosa à vista" (3,6; cf. 2,9).
2,4-3,24), de traços cananeus, é atribuída ao Assim transgrediram o mandamento de Deus.
javisla, o qual, segundo o parecei' mais As conseqüências foram desastrosas.
difundido, escreveu sua história da salva ção Em primeiro lugar, a relação com Deus,
na época de Davi e Salomão (sécs. X-IX a.C). que antes devia ser íntima e amigável, tor -
A narração é feita em modo de díplico. A nou-se toda marcada pelo medo e por lorle
primeira parte (2,4-2.5) nos descreve a sentimento de indignidade (3,8). Além dis so,
situação de 'adam antes do pecado e nos de- deteriorou-se também a perfeita comunhão
lineia a iinacem ideal da humanidade se - que existia antes entre o homem e a mulher,
gundo o projeto originário de Deus. A A. lança sobre a mulher a responsabilidade
segunda parte (3,1-24), narrando a história pelo acontecido (3,12) e dá uni 12
ADÃO
nome a ela como já fizera corn os animais
do pecado do primeiro casal e as conseqüên - (3,20; cf. 2,19-20). Na mentalidade bíblica,
cias dele, descreve-nos a realidade da hu- isso é sinal de autoridade e de superioridade.
manidade pecadora como a experimentamos Também a relação de 'adam com o resto da
diariamente. criação ficou viciada em conseqüência do
pecado (3,17-19).
/. Adam no jardim do Hde.il (Gn 2,4-25). Deus não esquece, contudo, sua criatu ra,
Segundo a narração javista, a finalidade da que lhe desobedecera. Ws lindo A, e Eva com
criação de 'adam era que ele trabalhasse a roupas de pele (3,2 1), Deus mostra que
leira, a qual, sem seu trabalho, permanece ria ainda se inter essa por eles e que, apesar do
um deserto (2,5-6,15). Talvez seja essa a —> pecado, 'adam ainda conserva certa digni-
melhor explicação do domínio sobre a cria ção dade.
dado por Deus à humanidade: reger a criação
signilica desenvolvê-la segundo o projeto de Conclusão. A., enquanto representante da
Deus. Certamente também aqui, como já na humanidade, indica-nos nossa vocação fun-
primeira narração, Deus criou tudo para damental de membros da família humana.
'adam, a lim de que 'adam pudesse viver Criados à imagem de Deus, o homem e a
contente. Mas aqui sobressai mais a mulher são chamados a viver em comunhão
reciprocidade entre 'adam e o resto da cria- com o Criador, entre si e com o resto da cria -
ção: foram feitos um para o outro. Essa ínti - ção, que devem reger e desenvolver como seus
ma relação entre 'adam e a criação aparece representantes e colaboradores. Essa subli me
também no fato de que 'adam foi tirado da vocação e sempre ameaçada pelo pecado, que
terra, 'adamah (2,7), como os animais e as nos faz perder de vista nossa condição de
aves (2,19). criaturas, tornando-nos, em lugar de Deus,
Não obstante, 'adam é superior ao resto da donos absolutos de nossa vida, e também dos
criação, tanto que não se encontra nenhuma outros e da criação, instrumental!■
criatura que possa estar diante dele como zando-os segundo nosso capricho.
igual e que satisfaça a necessidade mais ínti- —> Cristo, fazendo-se homem e oferecen-
ma e inata de seu coração, a de viver em do-sc como vítima pela nossa salvação, elevou
relação pessoal com outro ser (2,18-20). Esse a vocação originária da humanidade.
vazio pode ser preenchido somente por um Configurando-se a ele, novo Adão, o homem
ser formado de seu próprio corpo, isto é, encontra sua completude na doação a Deus e
igual a ele, de sua própria natureza, diríamos aos irmãos, e é chamado a tornar-se par-
nós. Esse é outro modo de reforçar a idéia, já ticipante da natureza divina (cf. 2Pd 1,4) e a
expressa na primeira narração, de que. no ser uma só coisa com os irmãos (cf. Jo 17,22-
projeto de Deus, o homem e a mulher têm a 23).
mesma dignidade e são perfeitamente iguais e
complementares. Bi HL.: G. Barbaglio, Uomo, in NDTB, 1590-
1609; J. Ban; The Image of God in die Book of
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Genesis. A Study in Terminology, in Bulletin of the G. Froggio
John R viands University Library of Manchester, 51
(1968-69), 11-26; Id., Man and Nature. Tlxe II. Na pessoa humana, a a. não só es lá
Ecological Controversy and the Old Testament, in ligada ao instinto de sobrevivência e a alguns
Ibid. 53 (1972-73). 20-22: I) Rarsntti, y.v., in mecanismos de defesa, o que se verifica nos
DES I , IS-20; f. Bianchi, Adamo e la storia della animais e vegetais, mas também é muito
salvezza, in Aa.Vv., L'uomo nella Bibbia, Milão
mais
1975, 209-223; Id., Prometeo, Orfeo, Adamo.
Tematiche religiose sul destino, il male, la salvezza, complexa, e poderia explicar-nos por que a
Roma 1976; M. Gilbert, Sovez feconds et nossa raça (a não sei" que se autodestrua I
multiplier in NRTIi 96 (1974), 729-742; A.J. \n ide
Hauscr. Genesis 2-3; The Ttieme of Intimacy and superar qualquer seleção e vencer qualquer
Alienation, in Art and Meaning: Rhethoric in
Biblical Literature (org. D.Y.A. Climes. D.M. luta pela sobrevivência.
Gun, A.V. Mauser), Sheffield 1982, 20-36; F. A ;, humana não é, pois. sõ questão de
Í

Maass," 'Adam", in GLNT I. 161-186; I. tísico adaptado e de inteligência superior,


Onings, s.v., in DSAM I, 187-195; A. Soggin, mas também de ideal de vida. De lalo, nos
Testi chiave per Vantropologia dell'AT, in Aa.Vv., camp< >s de extermínio, alguns, mesmo
Vantropologia bíblica, Nápoles 1981, 45-70; A.
Stolz, Teologia delia mística, Brescia 1940; W, sendo de constituição robusta, morriam, ao
Vogels, Litre humain appartien au sol. Gen 2,4h- passo que outros, muito mais traços,
3,24, in NRTh 105 (1983), 515-534; C sobreviviam. Estes haviam desenvolvido forte
Weslermann, s.v., in DTA I, 36-49. espírito de a. porque tinham uma tareia a
cumprir em sua vida, tareia entendida como
A. Vella
13 missa*» que constituía (> objetivo de sua
existência e o sentido de sua vida.
ADAPTAÇÃO A a. exige grande equilíbrio paia não cai r
em excessos que, em vez de favorecerem a
I. Termo usado em biologia e nas ciências realização do próprio projeto de vida, lhe tra-
humanas (sociologia, psicologia), tio zem obstáculos.
signiiica-do bastante amplo. Em geral, tanto ADAPTAÇÃO ADIVINHAÇÃO
na biologia como nas disciplinas sociais, o nu
o termo*:, se pretende definir o estado de Com efeito, nem sempre os limites socio-
equilíbirio (a ausência de conflito e o culturais permitem a uma pessoa ser plena -
processo através do qual í) equilíbrio se mente como gostaria, e muitas vezes ela é ex -
instaura) que um sujeito ou um organismo cessivamente rígida, motivo pelo qual não
estabelece com seu ambiente. Todavia, a realiza nem uma parle mínima de seus pro-
diversidade entre as várias ciências diz jetos. De ponto de vista evolutivo e psico-
respeito ao conceito de ambiente. A biologia dinàmico. talvez seja mais exato dizer que
leni em vista o ambiente orgânico no qual uma pessoa, mais que "sereia mesma", "tor-
está inserido o sujeito ou o organis mo. A a., na-se ela mesma" ou "torna-se o que é".
nesse sentido, se realiza através da
"lilosénese" ou através de uma série de niodi - III. Um bom exemplo de a. pode vir-nos da
li cações e evoluções orgânicas que permitam vida tios mártires, que tinham bastante
a uma espécie sua sobrevivência e seu desen - clareza sobre o que não ceder, nem diante da
volvimento em condições cada vez melhores. violência e da morte, e sobre o que poderiam
O conceito detí. em sociologia se refere, chegar a um acordo, a lim de realizarem me -
portanto, de um lado, às transiormações que lhor o que era considerado mais importante.
se verilicam nos grupos e nas organizações Os santos em muitíssimas coisas são
sociais para serem mais adequados às condi - extremamente simples e muito mais pessoas
ções macrossociais e assim garantirem a so - comuns
brevivência social; por outro lado, tem-se em do que poderíamos imaginar, mas segura -
mira o processo de adequação individual às mente tiveram a coragem cie decidir em sua
normas sociais. Nesse sentido, o conceito de consciência quais pérolas vender baiato e
a. se liga ao de normalidade. qual pérola conservar como a mais preciosa e
Na psicanálise freudiana, a a. é entendida excluir de qualquer venda fácil.
em seu aspecto imra-individual e inlerindivi- Na base da/í. há unia clara
dual. Com esse termo se entende, ]x>r isso, i hierarquização: o homem de Deus tem idéias
> pn J cesso mediante o qual as pressões claras sobre o valor a escolher, sabe que não
libidiuais encontram compromisso com as poderá conseguir todos os valores e que não
proibições e as normas que provêm do mundo poderá ser perfeito. Ele está sempre voltado
real. para uma única direção: para sua plena

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realização em Deus como projeto de vida que e, mais ainda, aquele desejo doentio que pode
escolheu e como opção fundamental em sua levara tal conhecimento. Ao contrário, c pre -
existência terrena. ciso alimentar a confiança na providencia de
Deus e a ele submeter-se, através de —»
BIBL.: S. Bonino - G, Saglione, Agressività e abandono humilde e filial em suas mãos.
adda-iamento, Turim 1978; L. Cian, Cammitto
verso la maturitàelamioma, Lcunutnn 1982; lí. NOTAS: 1 R. Garrigou-Lagrange, Dieu. Son
Ilartnianii. Psicologia deWio problema existence et sa nature, Paris 1^ 1 ll 401 ; : R.
deWadattamemo, Turim 1973; G.G. Pcscnti, Amadou teve uma experiência incorriam. Foi
s.v., in DES I, 20-21. secretário do Instituto ML1-tapsíquicu
Internacional de Paris ediivior da "Revue de
-4. Pacciolía Para-psvchologic"; 3 K. Amadou, ixiparapsycho-
logie. Paris 1954, 260.

BIBL.: A. Alvarez de Linera, Adivinación y


psicologia, in Revista Espanola de Teologia, 9
(1949), 489-525; R. Amadou, la
parapsychologie. Paris 1954; E Klein, Peut-on
connaître l'avenir?. Genebra 1969,21; V, Mar-
ADIVINHAÇÃO cozzi,Fenomeniparanormalli t-donimistici,
Cinisello Balsamo !990% S7-SV; VV.
Sehamoni, Wunder under Tatsachen IV. Naumam,
I. O termo. A a. é a predição de fatos futu- Würzburg 19763, 2S2 28S; I. Rodriguez, s.v.,
ros. Em italiano, o termo ("divinazione") su- in DES I, 817-818.
gere que esse conhecimento só pode vir' de
Deus. Na realidade, porém, devemos distin - V. Marco:zi
guir algumas formas de a. cujo conhecimen-
to não procede de Deus.

II. A. como profecia. Somente uma lor-


ma de predição vem de Deus: a —* profecia
em sentido estrito. Ela é a predição certa e
determinada - ou seja, nos detalhes - de
ADOÇÃO DIVINA
acon-
Premissa. A -> experiência mística caie os
tecimenios futuros e livres. Assim entendida.
cristãos lazem de sua filiação divina se fun da
a profecia é própria e exclusiva de Deus. De
e se enraíza na experiência mística de > Je-
falo, 0 impossível que uma mente finita como
sus, de relações íntimas com o -> Pai.
a nossa, embora iluminada, possa conhecer
I. Abba, meu Pai e vosso Pai. Essa expe-
com certeza um fato que ainda não existe,
riência mística de Cristo pode ser descoberta
nem cm si, porque futuro, nem em sua cau -
no termo Abba, pronunciado com tanto ar-
sa, porque livre, a qual, portanto, pode agir e
dor filial na oração do (ielsêmani. Ahha\ Ó
pode não agir, ou agir de uru modo ou de
Pai! Tudo é possível para li: afasta de mim
outro. Deus, eterno e onisciente, pode conhe -
este cálice; porém, não o que eu quero, mas
cer até o futuro livre. "Deus vê a infinita
o
multidão dos possíveis em sua essência". 1 O
que tu queres" (Mc 14,36).
homem pode fazer, no máximo, previsões
Chamando o Pai de modo mais familiar,
certas, baseando-se em latos ou fenômenos
Jesus ousa pedir-lhe o afastamento do cáli-
necessários. Estas não são profecias em
ce, embora afirme logo sua disposição de
sentido estrito. Devemos desconliar dos que
cumprir a vontade paterna. A palavra ara -
dizem conhecer com certeza o futuro livre: os
maica Ahlxi é cilada somente nesse texto
adivinhos profissionais, i >s astrólogt >s, os
evangélico, mas é habitualmente empregada
quiroman-tes, os feiticeiros, os praticantes
por Jesus em sua oração. Tendo o sentido de
da magia.
"papai", ela implica uma atitude
O conhecido parapsicólogo Amadou* ob-
essencialmente filial, numa relação íntima
serva que toda as "predições" paia norma is
sem reserva. E mostra a consciência que
são "previsões que se baseiam em um
Jesus tinha de sua filiação divina. Essa
conhecimento maior que a pessoa tem de si
consciência não cessou de desenvolver -se em
mesma, das próprias tendências ou das dos
contatos místicos com o Pai
outros, não só através do conhecimento
Mesmo revelando a filiação divina, que lhe
normal, mas também do telepático". A Na vida
pertence a título único, Jesus dá a com-
cristã ou na experiência mística é preciso
preender sua intenção de tornar os discípulos
evitar qualquer desejo de conhecer o futuro
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participâmes de suas relações filiais com o
Pai. Várias vezes ele designa esse Pai como
"vosso Pai", "vosso Pai que está nos céus", "o
Pai deles", "o teu Pai". 2 Quando os ensina a
orar, recomenda que comecem, como ele, com
a palavra "Pai", Abba (Le 11,2).
Ressuscitado, Jesus anuncia a Maria Ma-
dalena, na mensagem destinada aos discípu -
los: "Subo a meu Pai e vosso Pai" (Jo 20.17J.
Ele toma o cuidado de distinguir os dois vín-
culos de filiação: o que caracteriza "meu Pai"
e o outro, "vosso Pai". Mas exprime também
sua união: em virtude mais particularmente
do drama redentor, que se consuma na res -
surreição, seu Pai se tornou nosso Pai, moli -
vo pelo qual ag.orn nossa filiação divina esta
implicada na sua.

II. Gerado para dar aos crentes o po-


der de se tornarem filhos de Deus. Nar -
rando a mensagem do Ressuscitado, o evan -
gelista João compreende bem seu alcance,
uma vez que já no Prólogo de seu evange -
lho sublinhara essa pai licipação na f iliação
divina como escopo da encarnação: "A lo-
dos que o receberam deu o poder de se tor-
narem filhos de Deus: aos que crêem em
seu nome, ele, que não foi gerado nem do
sam-ue, nem de uma vontade da carne, nem
de vontade do homem, mas de Deus'' (Jo
1,12-13)/
O nascimento virginal de Jesus é expres-
são de sua filiação divina; sendo plenamente
Filho de Deus também em sua natureza hu

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15 ,\norAO niviVN

mana, comunica aos homens a qualidade de conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos
filhos de Deus, com iodo o podei que essa de Deus" (Rm 8,14).
filiação significa. .4. é, pois, expressão que deve ser precisa -
No AT Deus revelou a Israel seu amor pa - da. A nossa filiação divina é profundamente
terno: "Israel é meu filho primogénito" (Ex real como filiação participante da filiação
4,22). Essa afirmação assume valor novo com única do Filho encarnado.
a Encarnação: a grande novidade é que o Fi -
lho, em sua natureza humana, como primo- IV. Primeira experiência mística. Paulo
gênito da humanidade, ê gerado pelo Pai por não só nos faz descobrir melhor o grandioso
meio do —> Espírito Santo. plano do Pai na origem da adoção filial, como
O Prólogo ile João põe em evidência a su- também nos transmite a experiência vivida
perioridade do dom divino no Pilho, o qual pelos primeiros cristãos.
vem "cheio de graça e de verdade'. "I)c sua Depois de dizer que "enviou Deus o seu
plenitude lodos nós recebemos maça sobre Filho, nascido de mulher... a fim de que rece-
graça" (lo 1,14.16). bêssemos a adoção filial", afirma: "E porque
Dando-nos o poder de nos tornarmos li sois filhos, enviou Deus aos nossos corações
lhos de Deus, ele faz a graça ser copiosa cm o Espírito do seu Filho, que clama: Abba, Pai!"
nós. E. essa graça é verdade, porque a ((Jl 4,4-6).
filiação divina, que nos ê oferecida, é Esse é o testemunho da experiência místi -
plenamente verdadeira, como participação na ca fundamental, experiência que - segundo a
filiação do Filho unigénito, Somos filhos no constatação de Paulo - é a demonstração da
Filho. filiação divina própria da vida cristã. Essa
filiação divina não só é objeto de fé, mas é
III. Predestinação para a «. —> São Paulo também sentida e vivida na exclamação Abba,
chama nossa atenção para a iniciativa do Pai que vem do Espírito Santo. O Espirito faz os
na instauração dessa filiação divina. Ida é cristãos dizerem a palavra do Filho, aquela
descrita de modo mais particular no hino da que Jesus não cessava de repetir em suas
carta aos Hfcsios: "Bendito seja o Deus e Pai de orações: Abba.
nosso Senhor Jesus Cristo, que nos Na carta aos Romanos, Paulo acena ainda
abençoou com toda a sorte de bênçãos espi - para essa experiência cheia de signifi cado,
rituais nos céus, em Cristo... Ele nos predes - sublinhando que a consciência cia filiação
tinou para sermos seus filhos adotivos por afasta o medo diante de Deus. "Não
Jesus Cristo, conforme o beneplácito de sua recebestes um espírito de escravos, para re-
vontade" (1,3-6). cair no temor, mas recebestes um espírito de
Tudo provêm do "beneplácito" (endoida) tio filhos adotivos, pelo qual clamamos: Abha\
Pai, isto ê, de amor gratuito, anterior à Pai! ü próprio Espírito se une ao nosso
criação, porque ele "nos escolheu antes da espírito para testemunhar que somos fi lhos
criação do mundo". de Deus" (Km 8.15-16).
A vontade de Deus ê soberana, mas ê es- Para os cristãos não se trata somente de
sencialmente vontade paterna, do Pai de repetir a palavra Abba, que caracterizou a
Cristo. A sua bondade se manifesta na revelação da filiação divina de Jesus. Trata-
abundância das bênçãos espirituais. se também de entrar no mistério dessa fi-
O Pai nos predestinou para a adoção filial liação divina c de reproduzir em si, em sua
em Cristo. A adoção indica a diferença entre vida, a experiência de comunhão filial com o
a filiação de Cristo e a nossa. Pai. a qual deu um sentido superior a toda a
Na sociedade civil grega, a adoção tinha vida terrena do Cristo. A exclamação Abba.
um significado jurídico. Mas esse significa do que o Espírito Santo faz brotar para desen -
foi superado: não se trata mais somente de volvei' as disposições filiais de Jesus, expri -
título externo de filho e herdeiro. Essa me o contato místico com o Pai, o impulso de
filiação comporta transformação interior: "O uma alma maravilhada diante do amol do Pai.
Pai nos predestinou a sermos conformes à Com efeito, é Cri Mo que, por meio de seu
imagem de seu Filho, a fim de ser ele o Espírito, nos abre "o acesso ao Pai" (Ef 2,18).
primogênito entre muitos irmãos" (Km 8,29).
Ele nos concede a participação na vida divi na V. Doutrina da divinização e perspecti-
de Cristo por meio do Espírito. O papel do va filial. A dt iLilrina enunciada por — > são
Espírito Santo consiste em elevar-nos ao es- João
tado de f ilfios no Filho: "Todos os que são e são Paulo é a origem da teologia tia divi -
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ADIVINHAÇÃO ADOÇÃO DIVINA 24
nização, a qual se desenvolveu na época pa - Figlio, in DTB, 350-354; P. van Imschoot, Figlio di
trística, especialmente entre os ■■> Padres Dio. Figliolanzja
divina, in DR. 367-369: II.M Ogcr, Thcohde du
gre-
l'adoption, in NRTh 84 (1962), 495-516; A. Royo
gos. Baste-nos citar —> santo Ireneu: "O Marin, Somos hijos de Dios, Madri 1977; M. Ruiz
Verbo Azúcar, Dios és Padre, Madri 1968.
ADOÇÃO DIVINA ADORAÇÃO
J . Calo!
de Deus se fez homem, e o Filho de Deus se 16
tez filho do homem; para que o homem, uni -
do ao Verbo, recebesse a adoção e se tornasse ADORAÇÃO
filho de Deus../'.'* E, no pleno
desenvolvimento dessa doutrina, —> são I. O termo a. exprime respeito, reconheci-
Cirilo de Alexandria escreve: "Como o Verbo de mento, submissão, veneração, temor reveren -
Deus habita em nós por meio do Espírito, ciai para com uma pessoa ou uma realidade
somos elevados à dignidade da adoção filial, considerada superior à pessí >a adi >i ante.
tendo em nós o próprio Filho, ao qual fomos Muitas vezes, mas não sempre, esse termo é
tornados conformes, pela participação em usado paia designar a atitude fundamental
seu Espírito e, subindo a nível igual de da criatura para com seu Criador, sendo
liberdade, ousamos dizer 'Abba, Pai"'.5 reservado, por isso, espontaneamente para as
É importante voltarmos constantemente à relações do homem para com Deus. Como acon-
doutrina da Escritura, a fim de apreciarmos tece frequentemente, também neste caso essa
melhor o quadro no qual se realiza essa di- palavra deriva etimologicamente de um gesto
vinização. E o quadro das relações filiais com o concreto, exteriorizado, o qual mostra a rela-
Pai. A experiência mística primitiva teve em ção: o ad os ("aos lábios") dos romanos se reteria
Jesus e nos primeiros cristãos uma caracte- ao gesto secular de levar os dedos aos lábios e,
rísitica essencialmente liiial, a qual se expri - com os mesmos dedos, mandar uma sauda-
mia na palavra Abba. ção ou um beijo à pessoa venerada. Gestos de a.
Essa perspectiva filial foi suficientemen te são muito diversificados nas várias cultu ras;
mantida e desenvolvida na tradição mística? eles podem ser ajoelhar-se, prostrar-se» inclinar
Pode-se suscitar essa pergunta, especialmente a cabeça, beijar o chão, ou até fazer danças
porque muitas vezes as experiências místicas rituais, sacrifícios propiciatórios etc.
são expressas em termos de conta tos mais A parte exterior era sempre executada em
com Deus do que com o Pai. Não parece que a função de outra, mais importante, a interior.
figura do Pai tenha recebido toda a atenção Fundamentalmente a a. é o ato pelo qual a
que merece. Ela não foi reconhecida em todo pessoa toda, corpo e alma, reconhece sua de-
o valor de seu papel paterno. Dcsejar-se-ia que pendência total de Deus. Diante da
a experiência da filiação divina pusesse mais imensidão, da grandeza e da santidade
em evidência o rosto daquele que Cristo nos incomparável de Deus, a criatura humana só
ensinou a chamar de "Pai". pode manifestar sua pequenez, e seu
reconhecimento por todos os benefícios
NOTAS: 1 Cf. J. Jeremias, Théologie du Nouveau recebidos de seu Criador. Das raízes do ser
Testament, Paris 1973, 82; W. Marchei, Abba Père! humano surge a necessidade de reconhecer,
La prière du Christ et des chrétiens, Roma 1963.
132-138;2 "O vosso Pai"; Mt 6.3.15: 10 ,20.29; valorizar e usar bem todos os dons recebidos,
23,9; Le 6,36; 12,30.32; Jo 8,42; 10,17; "O vosso oferecendo-os de modo integral a Deus e
Pai que está nos céus": Mt 5,16 .45.48; demonstrando-lhe reverência c amor.
6,1.14.26.32; 7,11; Mc 11,25; Lc 11,13; "O Pai Aa. se inclui na categoria do culto denomi-
deles": Ml 13,43; "O teu Pai": Mt 6.4.6.18;3 A nado latria, isto é, do culto que compete só a
respeito do singular no v. 13 como versão
autêntica: ci. J. Galot, Etre né de Dieu, Jean Deus, e a nenhum outro ser, como é confirma-
1,13, Roma 1969; Egli non fit generato dai sangui do no primeiro mandamento do decálogo. Esse
(Gv 1,13), in Asprenas, 27 ( 1980). 153-160; culto é especificamente diferente da veneração
Maternità verginale di Maria e paternità divina, in prestada a outros, como, por exemplo, aos
CivCat 139 (1988)3,209-222; R. Robert, La leçon
santos, a qual comumente é chamada diãia. A
christologique en Jean 1,13, in RevTltom 87 (1937);
4 Ireneu, Adv. Haer III, 19,1: SC 211,374; 5 Cirilo veneração particular à —> Virgem Maria se
de Alexandria, Thesaurus 33: PG 75, 569cd. chama hiperdulia. A —> eucaristia é ato de
culto divino que perpetua o sacrifício perene
BIBL.: Ch. Baumgartner, Grâce. I. Sens du mot;
II, Mystère de la filiation divine, in DSAM VI, 701- de —> Cristo ao —> Pai em favor dos homens.
726; I. Blinder. Fk'Jiolanzfl, in DTB, 538-551 ; A. Quando a eucaristia é celebrada em honra de
De Sutlcr - M. Caprioli, s. v., in DES 1, 32-35; G. algum santo, é sempre ao Pai que são
Gennari, Figli di Dio, in NDS, 655-674: R Grelot. oferecidos toda honra e todo o amor por meio
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de Cristo, o qual, também em seus membros, rante a celebração eucarísitica, não se omita
fez dom perene de si a Deus e continua a o "Santo" como conclusão do Prefáci o, no
fazê-lo na liturgia celeste. qual são indicadas as razões particulares do
A a. é, pois, reservada a Deus e, para os louvor e da a. O canto do "Santo" tem a in-
seguidores de Cristo, às três Pessoas da San- tenção de unificar toda a assembléia num ato
tíssima Trindade. Essa a. se estende à pessoa de de reconhecimento a Deus. A doxolocia
Jesus Cristo e também à sua natureza hu - maior, de encerramento da oração eucarís-
mana. A Igreja tem reivindicado constante- tica, tem justamente a finalidade de reeonhe
mente esta verdade: uma vez que a natureza cer a gloriosa obra da —> redenção e santifi-
17 cação, a qual só pode ser apreciada quando o
fiel é tomado de admiração, de humilde re -
humanado Jesus existe pela subsistê ncia ADORAÇÃO
eterna do Verbo, segunda Pessoa da
Santíssima Trindade, na admirável e união conhecimento e de a. mística. Os diversos
chamada hi-pos tática, esta requer que a espaços de —> silêncio previstos pela liturgia
mesma a. seja prestada á natureza divina e à completam a intensa rt. devida a Deus por si
humana de Cristo. Kste é um dos mesmo e pelos abundantes benefícios conce-
argumentos mais válidos da Igreja para didos.
reafirmara imutável divindade da pessoa do A liturgia das floras é bastante rica de ele-
Verbo encarnado: se a humanidade de Jesus mentos que conduzem à<;. ou que fazem sur -
não tosse hipostaticamente unida ao Verbo, gir nos participantes sentimentos que estão
seríamos idólatras quando adorássemos o na base dela. O salmo invitatório, que procu -
Menino Jesus no presépio ou Jesus cui- ra dar o tom a todo o oficio, é explícito no
cificado. Por outro lado, a Igreja sempre in - apelo à a. —> Santa Maria Madalena de Pazzi
sistiu que a a. latréutica (osse estendida a caía em profunda a. quando se cantava o
todos os estados da vida humana de Jesus, à "Glória ao Pai" no fim dos salmos. > Santa
sua presença real sobas espécies Teresa Margarida Redi era arrebatada durante
eucarísticas e até à sua cruz. a proclamação litúrgica "Deus é amor". Hoje
a liturgia das horas tem como finalidade
II. Na liturgia. A a. c parte essencial da -> principal estender aos momentos de nossa
liturgia. A assembléia dos fiéis não se reúne jornada o hino de bênção, de louvor e de a. a
só para receber a abundância dos benefícios Deus, que enche toda a nossa vida.
divinos (movimento descendente), mas
também para olerecer a Deus o culto c o III. Na vida cristã. Na vida dos santos nota-
amor devidos a ele (movimento ascendente). se um aprolundarnento do sentido dart,
Eni nenhum momento os lieis podem dar correspondente à sua ascensão espiritual.
testemunho mais evidente de sua pertença a Quanto mais o homem se aproxima do Senhor
Cristo do que quando estão reunidos em e quanto mais intensa se torna sua relação
torno da mesa do Senhor: por Cristo, com com ele tanto mais radical, viva e necessária
Cristo, em Cristo, na unidade do ■■> Espirito se torna sua necessidade de a. Quanto mais
Santo eles oferecem o sacrifício da nova —> alguém aprecia a.s maravilhas do Senht »r em
aliança, sacrifício no qual estão contidas toda sua vida intratrinitária, em sua perfeição,
a honra e toda a ufória devidas a Deus. Eles nas missões divinas em nosso favor, em sua
são ajudados a entrar nesse espírito por meio intervenção na criação, em sua providência e
de orações, cantos, gestos e funções que subli- na salvação oferecida a nos, tanto mais sente
nham a oferta de cada um e de toda a assem - a necessidade de adi irar aquele que tanto
bléia, feita com coração contrito e humilde, nos amou e tantos benefícios nos concedeu.
confessando a própria pequenez, mas com o Para oferecermos um só exemplo de vida
mesmo coração exultando de alegria, reverên- santa permeada do sentimento de adoração,
cia, devoção, gratidão e dom de si pelo ines- baste-nos citar a bem-aventurada — > Isabel
timável dom que Deus concede em seu Filho da Trindade. Em sua célebre elevação à
e, nele, o dom de todas as outras coisas. Trindade, ela exprime o sentimento autenti -
Uma vez que os .« salmos testemunham camente católico da a. Confirmam-no já as
essa realidade, muitas vezes são usados na primeiras palavras: "Meu Deus, Trindade que
liturgia. No Glória, a assembléia exulta, ape- adoro". Para Isabel, Deus Trindade não era
sar de sua indignidade: em Cristo e por ele, problema, porque as três Pessoas divinas es-
ela dá graças a Deus por sua imensa glória. tão perenemente inseridas nas vicissitudes
Para encarnar a atitude de a., a Igreja sabia- históricas da humanidade. Diante de seus
mente recomenda que. quando se canta du - "Três' ela nutria, primeiro, sentimentos de a.t
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ADIVINHAÇÃO ADOÇÃO DIVINA 26
depois, de reparação e de petição. Conhecei"
Deus em espírito e verdade significa adorá-lo,
louvá-lo e honrá-lo pelo que ele é em si
mesmo. A sua bondade pode ser mais apre -
ciada quando é vista refletida nas criaturas:
"Parece-me que a a. pode set definida como AFABILIDADE
êxtase do amor. Do amor suscitado pela bele-
za, pela força e pela grandeza imensa" de I. Noção. Esse termo indica um modo de
Deus.1 Jesus é o primeiro que adora em espírito lalar e agir muito agradável ao interlocutor,
e verdade; é ele que nos ensina a autênti ca a. que se sente bem acolhido. A a. é qualidade
A a. não é um ato estudado, formalista, aplicada a quem se comporta com o próximo
diante do mistério, mas a atitude que proce de de modo sereno, cortês e agradável. Sua a. é
espontaneamente da apreciação da "rnui -Io proverbial, diz-se de uma pessoa que, mediante
grande" ágape ("amor") dc Deus por nós. a escuta paciente dos problemas do outro,
Mesmo no -» sofrimento atroz, a imensa ágape consegue manter diálogo aberto e cordial. À
de Deus torna a alma ainda mais con victa da capacidade natural de inspirar confiança cor-
necessiade da a. O reino de Deus está dentro responde uma serie de conselhos que dão no-
de nós. Ele é expressão do grande amor de vamente paz e coragem a quem pede ajuda.
Deus para conosco. A vocação cristã A n. é parte integrante da -> justiça porque
consiste, portanto, em agradecer, louvar e dá ao próximo o respeito devido e trata a
adorar esse amor tão gratuito e fiel. todos, em qualquer situação, com suma deli-
A a. é valor constante na ascensão para a cadeza. Difere, porém, da justiça porque não
—» perfeição cristã. Ela sublinha o falo fun- é obrigação de lei nem efeito de pura grati -
damental de que toda realidade autêntica é dão. Segundo —> santo Tomás,1' a a. é atitude
dom gratuito do alio. Expressa com diver sas de abertura para com o próximo, especial -
nuanças, segundo as diversas abordagens da mente para com os que se sentem "margina-
santidade, a Í*. é também uma característica lizados", esquecidos ou desprezados pela so-
comum que torna evidente uma via au têntica ciedade na qual vivem. Assim, toda pessoa,
do —> seguimento de Cristo. Os beneditinos a sem distinção de raça ou de religião, é aco -
encarnam na celebração litúrgica; os lhida com sincera alegria e amada pelo que é
franciscanos dão voz de a. a todas as criaturas (cr. GS 24), e se torna sujeito de amizade re-
de Deus; os dominicanos exercem a a. tanto ciproca.
nos ofícios divinos como no obséquio da mente
humana; os jesuítas adoram procurando dar II. Fundamento das relações sociais. A
glória a Deus em todas as coisas; a escola a. reforça os vínculos de fraternidade e —» so-
francesa adora identificando-se com os lidariedade, os quais constituem as normas
estados de alma de Jesus. Essas nuanças principais da convivência humana. Assim,
realçam a riqueza da «.cristã, que se realiza cada pessoa não só goza de dignidade inalie-
numa pessoa extasiada com a imensa nável, mas também experimenta, da parte dc
bondade c grandeza dc Deus, dons que ele lodos, sentimentos de compreensão, de gran -
oferece aos seus amigos com gesto dc amor de estima e de amor fraterno. Como resposta
demasiadamente grande para ser apreciado a uma exigência do coração humano, a a. re-
devidamente e ao qual a pessoa responde com nova a regra de ouro das relações sociais:
gestos c com atitudes interiores de reconhe - que cada um fale e se comporte com os outros
cimento, louvor, submissão e amor reve - como gostaria de ser tratado (cf. Mt7,12). Os
renciai. Em última análise, a Igreja exprime, pobres, os marginalizados e os refugiados
pelai/., o recôndito desejo de intimida de com merecem dose extraordinária àea. Aquele que
o Salvador que caracteriza sua vida mais tem profundo interesse e sincera solidarieda -
verdadeira. 2 de com os problemas dos outros sabe apreciar
a pessoa pelo que ela é, e não só pela
NOTAS: 1Ultimo ritiro. 8o giorno;2 Cf. Pio XII,
sinceridade das manifestações da consciên cia
Me-diatorDei, n. 109.
ou pelas qualidades humanas. Além disso, é
BIBL.: D.P. Auvray, Ladoration, Paris 1973; G. de bem pouca utilidade uma compaixão
Bove, s.v, in DTE, 17-18; I. Hausherr, Adorer le (como chorar com alguém seus infortúnios)
Père en esprit ei en verité, Paris 1967; A. Molicn, que não inclua remédio eficaz. A a. é ajuda
s.v, in DSAM I, 210-222; R. Moretti, s.v., in DES
I. 28-32; B. Neunheuser, s.v.. in NCEI. 141-142. positiva porque se baseia, à parte a eficácia
do amor de Deus, na confiança na pessoa,
R. Aí. Valabek capaz de renovação interior c de solução dos

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problemas que surgem a cada passo. Portan - suas -> paixões. Para combater os inimigos
to, a ai ilude de passividade e o espírito de externos e internos, em particular o egoísmo,
adulação, ou, pior ainda, a conivência com a é necessário que se exercite na mansidão.
situação sol rida não são coerentes com a Também quando alguém julga ter razão, se se
torça renovadora desta virtude. deixa levar pelo desprezo ao outro, com
ímpetos de ira, mostra soberba refinada. A
III. Virtude cristã. Quem sabe ouvir be- virtude da a. adquire-se à luz. de Cristo,
nevolamente o próximo que está diante de si manso e humilde de coração. A conversão do
põe em prática o mandamento novo do amor, coração é fruto de convicção livre, graças à
síntese de Iodas, as leis: >amor infinito, que força persuasiva do amor.
tem Finto do Espírito, a a. é sinal do amor mi-
sua fonte no próprio Deus, manifestado cla- sericordioso de Deus para com o homem,
19 portanto, também do homem para com os
AFABILIDADE - AFONSO MARIA DE L1GÓRIO
ramentc na vida e no ensinamento de -> Cris- Isamo)
to. Ele, "perfeito Deus e perlei lo homem" (GS
22,38), sempre se comportou corn suma deli- outros. Por isso a a. pode desenvolver-se so-
cadeza com os mais necessitados. Como mé- mente em quem vive enraizado no coração de
dico das almas, declarou ter vindo para sal - Deus. Com efeito, os místicos são os que
var os pecadores (cl. Lc 15,1-2) e para curar os manifestam sua atualização como reflexo de
doentes (cf. Mt 14,14). Certamente ele se vida impregnada do Deus de amor e voltada
comovia diante das misérias humanas (cl. Mc para ele.
1,41), mas ofereceu remédio na a.: "Sou manso
e humilde de coração" (Mt 11,29),
NOTAS: 1Sth IMI, q. 114, a. 2c; 2 Cf. João Paulo
II, //prehitero uomo delia carita, in l.'Osservatore
No diálogo com Nicodemos (cl. Jo 3,1 -21), Romano, 8 julho 1993, 4.
no encontro com Zaqueu (cf. l.c 19,1-10) e no
colóquio com a samaritana (cf. Jo 4,7-42), ele BIBL.: E. Bortone, 5.V., in DF.S I. 35-36;
não só ouviu pacientemente as dúvidas sobre Francisco de Sales, Trattemmenti spirítuali, 4;
a fé ou os problemas pessoais como também L.M. Mendizabal, !M direzieme spirituale. Teoria e
pratica, Bolonha 1990, 77-S 5; H.-D Noble, lionté.
pós o interlocutor ã vontade. Com i ri ASA Al I, 1860 1868; Tomás de Aquino,
efeito, ele se aproximou de cada um tom sim- STh. II-II. q. 114. aa.l c 2.
plicidade, infundiu confiança já na saudação
e facilitou a abertura do coração; quando in- /:. Dc Cea
terveio nos respectivos colóquios, procurou
esclarecer alguns aspectos, sem censurai' as
manifestações sinceras, ainda que ás vezes
fossem um pouco embaraçosas. Enfim, sua
palavra iluminava a situação existencial e
provocava a —> conversão sincera da pessoa, a
qual, por sua vez, se tornava discípula e AFONSO MARIA DE LIGO RIO
amiga.
A a. é alo de mortificação interior. Como
(santo)
virtude, ela exige atitude serena, Iruto da
Vida e obras. A, nasceu em Nápoles, em
luta contra a vontade de domínio sobre os
1696, e morreu em Pagani em 1787. E cha-
outros. Enraizada na > humildade sincera e
mado "doutor da oração" porque a > or açã< >
alimentada pelo amor fraterno, a a. autêntica
constitui a característica fundamental de sua
é finto do —> Espírito Santo, que conhece,
vida e o tema dominante de sua doutrina.
inove e transforma o coração humano.
Aprendeu-a do exemplo e do ensinamento de
Aa. é necessária, além disso, nas relações
sua mãe, aprofundou-a no oratório dos Fi-
sociais e convém principalmente aos que têm
lipinos de Nápoles, que freqüentou nos anos
encargos sociais ou função de guia. Ela é
da adolescência, viveu-a intensamente como
exigida principalmente tios presbíteros e dos
advogado na adoração eucarística cotidiana e
que têm responsabilidades pastorais na Igre -
elevou-a ao plano litúrgico quando, em 1726,
ja, 2 dos superiores de comunidades religio sas
aos trinta anos, foi ordenado sacerdote. Em
e dos diretores espirituais.
1732, fundou a Congregação do Santíssimo
Redentor, programou a oração para ocasiões
IV. A aquisição pessoal da a. lodo cristão,
precisas e freqüentes do dia, anunciou-a com
chamado á —> santidade em seu estado e em
paixão nas numerosas missões que pregou no
sua profissão (cf. LG 39-42), deve dominar
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ADIVINHAÇÃO ADOÇÃO DIVINA 28
reino de Nápoles e ensinou-a com insistência Senhor, à qual estava irresistivelmente preso,
cm seus livros; bispo da diocese de Santa tornando-a objeto contínuo de sua me-
Ágata dos Godos, de I 7ó2 a 1775, deu a ela ditação, durante a qual às vezes era arreba-
um caráter pastoral e universal, e, nos tado em êxtase: "Inflamado o nosso santo de
últimos anos dc vida até a morte, em l"de tal devoção a Jesus crucificado, esse amor
agosto de 1787, tornou-se ele mesmo oração. não só o faz estremecer na cadeira..., mas
também chega a elevá-lo no ar e a mantê-lo
II. A experiência mística. .4. marcou sua suspenso diante do Crucificado"." A. de-
vida de oração numa linha de constante monstrou a autenticidade de seu amor a
desenvolvimento, praticando-a em todos os Deus pela observância perfeita dos manda-
aspectos. Manteve relação de —> amizade mentos, pela fidelidade total ã vocação cris tã
profunda, de > confiança absoluta, de > e religiosa e principalmente pela conformidade
abandono filial a Deus, "conversava com a vontade de Deus; escreve: "Toda a
continuamente com ele e lhe era familiar".1 Ele nossa perfeição consiste em amarmos nosso
exprime assim sua experiência: "Se quereis amabílíssimo Deus. Mas a perfeição do amor a
comprazcr ;io seu coração amoroso, Deus consiste em unirmos nossa vontade à
cntretende-vos sua santíssima vontade...; procuremos não só
com cie com a maior confiança e ternura conformar-nos a ela, mas também aderirmos a
possíveis". 2 Nesse clima chegou à união tudo que Deus dispõe. A —> conformidade
mais íntima e à — > experiência mística, que inclui que unamos nossa vontade ã vontade
se manifestava às vezes por —> êxtases e ar- de Deus. Mas a uniformidade exige mais; que
rebatamentos. 1 façamos da nossa vontade e da vontade de
Essa união íntima com Deus era fruto do Deus uma só vontade, de modo que não
—> amor (o antor causa o êxtase) e se abria queiramos .senão o que
num amor maior; "E o amor que liga a alma Deus quer e que só a vontade de Deus seja a
a Deus; mas a fornalha na qual se acende a nossa. Essa é a suprema perfeição". 9
chama do divino amor é a oração". 1 Existe,
portanto, uma espécie de dialética entre a III. A doutrina. A. viveu pessoalmente
oração e o amor. Alonso amava Jesus apai- verdadeira experiência mística, mas era re-
xonadamente; por isso se desapegou de tudo servado quando se tratava de ensiná-la e
e se doou totalmente a ele.5 Seu amor tinha propô-la aos outros. Em seus escritos insiste
autêntico caráter místico, "reverente, forte, no esforço ascético c na atividade pessoal e
obediente, puro, ardente, inebriante, unitivo, recomenda a prática na concretude da vida.
suspirante". 6 O santo bispo manifestava a mas desaconselha o desejo ou a pretensão de
emoção de sua alma em lodos os escritos nos atingir as chamadas etapas místicas. Essa
quais o amor é o tema recorrente; não há uma posição se explica à luz de seu tempo,
só página na qual ele não esteja presente quando, depois da condenação do —»quielismo e
como declaração, ou como promessa, ou como de alguns escritores, como -> fenelon, -> Mme.
prece, ou como impulso, ou como apelo. Ele o Guyon eoCard. Pei rucei (t 1517), havia
exprime com acentos diferenciados, segundo suspeita difusa em relação à mística. Isso
o mistério da fé contemplado; é amor feito de levou o santo a valorizar as ca* pacidades
ternura diante da realidade da encarnação, o humanas e a preferir à doutrina
qual atinge um ponto da —* passividade a união ativa, na qual o
altamente poético na canção Ta scendi dalle homem, agindo com a ajuda da —> graça co-
stelle ("Tu desces das estrelas"). É amor mum, se eleva asceticamente ate a perfeita
adorante e recolhido, ardente e unitivo na conformidade com a vontade de Deus, até a
meditação sobre a -» eucaristia, vivida em seus verdadeira união da alma com Deus. Mas um
três aspectos; de sacrifício, de comunhão e escritor de interesses vastos como A. não podia
de presença. Ele exclama: "Não te bastou, omitir o problema místico com suas im-
Senhor meu, morrer por mim; quiseste ainda plicações; por isso, embora em geral acene a
instituir este mande sacramento para dar -le ele fugazmente, faz uma exposição dele bas-
todo a mim e assim le unires, de coração a tante detalhada no livro Prática do confessor.10
coração, à criatura tão ingrata como eu".7 A. Ele estabelece inicialmente a diferença en tre
sentia o maior amor na celebração da missa, —> meditação e contemplação: na pri meira se
durante a qual se esquecia de tudo e procura Deus, na segunda se contempla sem
mergulhava em Deus, motivo pelo qual às fadiga Deus já encontrado; nela "Deus age, e a
vezes era necessário sacudi-lo para que alma patiíur ou "recebe" os dons que lhe são
voltasse à realidade presente. Distinguia-se infundidos pela graça". 1 ' Mas antes da
ainda por singular devoção à paixão do
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contemplação há algumas etapas
preparatórias, como a oração de re -
colhimento e a —> aridez sobrenatural, que é
de dois tipos: sensível e espiritual. Nesta,
mediante sacrifícios inefáveis, adquirem -se o
—» desapego absoluto de todas as coisas, o
conhecimento da própria miséria e grande
respeito para com Deus.' : A aridez dura até
que a alma, purificada profundamente, esteja
disposta para a contemplação. Também na
contemplação se passa por fases: primeiro o
recolhimento espiritual, depois a oração de
repouso, enfim se alcança o vértice da
contemplação, que é a união, a qual pode ser
ativa ou passiva, segundo a intensidade

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21 AFONSO MARIA DL L1GORÍO (santo) - AGILIDADE

da ação dc Deus no homem. Na união passiva, Ruponi, Sum' Alfonso de Liguori, maestro delia vita
Deus invade a alma, toma posse dela to- cri s tia na, in Aa.Vv., Le grandi scuole di
spiritualità Cristiana, Roma 1986, ò21-651; Tb.
talmente e mantém presas a si todas as facul- Rev-Mermet, // Santo dei secolo dei lumi. Alfonso
dades sensíveis e espirituais; mas essa união de'Liguori. Roma 1983; V. Ricci, s.v., in DUS I,
é de breve duração, ao passo que a união ativa 64-69; A.M. Tann oi a, Delta vita cd I st it ut o del
pode ser muito longa. A. não esconde sua ven.
preterêiicía pela união ativa, a qual produz a Servo di Dio A.M. de 'Liguori, 3 voll., Napoli 1798-
1802; G. Velocci, Sant' Alfonso de' Liguori. Un
perfeita uniformidade com a vontade de Deus: maestro delia vita Cristiana, Cinisello Halsamo
a santidade. 1994.
NOTAS; Modo de conversar continuamente e fami-
1
G. Velocci
liarmente com Deus: é título de um opúsculo de
santo Afonso; : Afonso de Ligo rio. Dissertações
teo~ lógico-m ora is sohre a vida eterna, Mon/a
1831, 179; 1 "A frequência de suas
contemplações, a fervor das suas aspirações,
o alongamento do lern pu que nelas emprega
demonstram muito que o Senhor lhe revela os
mistérios de sua sabedoria, atira a sí doce-
mente o seu espírito e o rd orça na unção AGILIDADE
suavíssima da caridade eterna substancial...
Quando se põe a orar, lui na-se logo extático I. Noção. Fenômeno físico excepcional pelo
tão grande é a veemência cum que o seu
espírito imerge na contemplação tias coisas qual um corpo aparece transportado de um
divinas ' (C. Berruli, O espirito de S. A. M. de lugar paia outro, instantaneamente ou quase,
Ligório, Prato 1896, 308);J Alonso de Ligório, lora do espaço. Esse tipo de movimento é
Prática da confessor, Frigetilo 1987, 179; s conatural a um sei* puramente espiritual,
"Quem ama verdadeira me ate Jesus Cristo como o anjo, uma vez que um ser puramente
perde o aleto a todos os bens da leiTa e procura
despojar-se de tudo para estar unido a Jesus espiritual é localizável através de sua Iunção;
Cristo. Para Jesus são lodos os seus desejos, onde ele está presente, dá-se esse fenômeno.
pensa sempre em Jesus, suspira sempre por Embora esse tipo de movimento seja fisica-
Jesus e somente a Jesus, em lodo tempo, em mente impossível para um ser material, al-
lodo lugar, em toda ocasião procura agradar.
guns teólogos atribuem coniumenie ti dom da
Mas paia chegai a isso Ja/-se necessário
lender' continuamente a esvaziar o coração a. a um corpo glorificado, e fenômenos desse
de lodo afeto que não é para Deus", escreve tipo são mencionados na Sagrada Fs-critura
santo A ton so em Prática de amar Jesus Cristo. (cf. Dn 14,33-39; At 8,39-40) e na vida de
Obras ascéticas. I. Roma 1933, 141 142; alguns santos, como, por exemplo, nas de —>
*Ibid., 38; 7 Afonso de Ligório, Aios para a santa
comunhão, cm: Ohms ascética*. IV. Roma 1939.
são Filipe Neri, santo António de Fádua e são
399; * C. Bei ruti. O espirito.,., o .e.. 144; s Afonso Pedro de Alcântara.
de Ligório, Conformidade à vontade de Deu*, em:
Obras ascéticas, 1, 286; 1,1 Altui-su de Linórío. II. Explicação do fenômeno. Esses leiió-
Práticas do coiifessor, 177-206; " /hid., 183; 12 rnenos não devem ser confundidos com os
Ibid.. 187.
teleciné ticos, que dizem respeito ao movimento
BIBI.: A. Raziclich.La spiritualité dis. AlfonsoMa- de um objeto material sem auxílio de meio
ria de' Liguori. Studio stortco -tcologico, in Spici- externo e segundo a vontade da pessoa agen-
leniam //istoricum C.SS.R., 31 (1983), todo o te. Existem muitos casos de telecinesia na
número; (i. Caccialore, Sant'Alfonso e il
hagiogralia. Por exemplo, em várias ocasiões
giansenismo, Florença 1944; Id., I M spiritualità
di Sam' Al fan-so, in Aii.V'v. I A ' senate cattoliche di a Hóstia consagrada foi vista sair da ãmbula
spiritualità, Milão 1944, 279-327; L. Calm, ou da patena como se estivesse em seu poder
Alphonse de* Liguori. deslocar-se do recipiente até a boca do co-
Doctrine spirituelle, II, Mulhouse 1971; VA. mungai! tc. K claro que é fisicamente impos -
Decham, Si Alphorns considéré dans sa vie, ses
vérins et sa doctrine spirituelle, Malines 1840: R. sível para um corpo deslocar-se de um lugar
Ganigou-Lagramie, hi spiritualité de St. Atnhonse para outro lora do espaço. C) lenómeno da a.
de'Liguori, in VSpS b (1927), 189-210; C. se verifica por uma causa preternatural ou
Men/e, s.v., in RS I, 837-859; L Kanncngicrser, sobrenatural.
s.v., in DTC I, 906-920; K. Keusch, I M dattiinü Se o fenômeno da a. for causado por poder
spirituale di Saut' Al/ouso, Milão 1931; A.
L'Arcu. Saut' Alfonso arnica del popolo. Ruma diabólico, essa a. será instantânea só apa-
1982; G. Liévin. Alphonse de' Liguori, in DSAM I, rentemente. Um corpo não pode deslocar-se de
385-389; Id., La route vers Dieu. Jalons d 'une um lugar paia outro lora do espaç o entre os
spiritualité alphonsienne, Frihurgo-Paris 1963; dois lugares, mas o movimento pode ser tão
A. Palmieri, s.v., in DIIGE II, 715-735; S.
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veloz que escape ao olho humano. Se maniqueísmo- o que já começara em Roma -,
acontecer isso, e o transporte parecer real - superou o ceticismo em relação à pesquisa e se
mente instantâneo, tratar-se-á certamente de converteu ao cristianismo da Igreja ca tólica,
obra de anjo bom, como aconteceu com conversão que amadurecera durante o
Habacuc (et- Dn 14,33-39), ou de intervenção semestre transcorrido em Cassiciaco, na casa de
divina, como no caso do diácono Filipe (cf. At Verecundo. Alegando motivos de saúde, o
8,39-40), motivo pelo qual o corpo pode passar jovem retórico deixou o ensino. Voltou a Mi-
através do espaço com a velocidade da luz ou lão somente para inscrever-se, com o nome de
da eletricidade. Como em todos os autênticos Agostinho, entre os batizandos da Páscoa
fenômenos místicos extraordinários, a a. deve seguinte e para receber o batismo das mãos tio
ser considerada uma grada grátis ilüia ("graça bispo Ambrósio (vigília pascal de 24 de abril
dada de graça"); segundo alguns teólogos, ela de 3S7). Logo depois partiu para a Africa, mas
é antecipação da a. dos corpos glorificados, deteve-se por um ano em Ostia, á espera de
sinal da santidade da pessoa. oportunidade para embarcar. Nesse ínterim
faleceu Mônica, sua mãe. Era o ano de 388, e
Bini..: V. Marc<i/.*/i, Fenotnem panmonfuái e dono A., com a idade de 33 anos, voltou para
mistici, Milão 1990, 73; I. Rodriguez, s.v, in DI:S
Tagaste, onde permaneceu até 391. Lá, com
1,46; A. ROYO Marin, Teologia delia perfezione
Cristiana, Roma, 19656, 1109-1 til. alguns amigos e o filho Adeodato, viveu sua
primeira experiência cristã, á maneira de
J. Atunann filósofo cristão - que depois se foi transfigu-
rando em monge -, dedicando-se ao estudo das
Sagradas Escrituras e inserindo -se mais
ativamente na realidade da Igreja africana.
Em 391 foi chamado por Valério, bispo de
Hipona, para trabalharia como presbítero. A
nova situação influenci* >u pn fundamente
AGOSTINHO (santo) seu diálogo com a vida, fazendo amadurecer
nele especialmente a estima pelos valores
I. Vida e obras. A vida e os escritos de cristãos
Aurélio Agostinho formam uma só coisa com tias pessoas comuns. Depois A. se tornou bis-
sua herança espiritual, transmitida por três po, e o foi por 35 anos, primeiro como auxiliar,
fontes principais: as Confissões (autobiografia entre 395 e 396, e depois de 397 (data da da
de A., dos anos 397-401); as Retractationes morte de Valério) como titular. Deixou
(revisão de suas obras, tios anos 420-427); L- então seu mosteiro de leitios, "os sei vos de
a Vida de Agostinho, com o famoso Indiculitm ou Deus", que construíra em Hipona, e, para
pequeno índice de seus escritos (registra poder oferecer mais hospitalidade, especial-
1.030 obras), escrita pelo amigo e discípulo mente aos bispos que passavam pela cidade,
Possídio, entre 431 e 439, com o uso de re- mudou-se para a residência episcopal e a
cordações pessoais c de escritos conservados transformou em mosteiro de clérigos. O tempo
na biblioteca de Hipona. depois de 396 foi o da maior atividade de A.
Aurélio A. nasceu em 354, em Ta gaste (a land» c<min bispo quanto ctmio escritor. A
aluai Souk-Ahkras, na Argélia), na Numídia esse período pertencem, enire outras obras,
da África proconsular; o pai. Patrício, era suas famosas Confissões. Os outros escritos,
"curial" (recebedor de impostos) e pagão; a divididos geralmente em três blocos mais
mãe, Mónica (i .387), era cristã. Ele começou importantes, ligam-se a três fatores principais:
seu curriculum escolar em Tagaste, continuou em à sua conversão (em particular os Diálogos de
Madaurus c terminou, com a retórica, cm Cassiciaco e as Confissões); ao ministério
Cartago. Passou cinco anos na Itália (384- presbiteral e episcopal na Igreja de Hipona
388), os quais mudaram sua vida. Em Roma (tempo das controvérsias maníquéia - esta
fora precedido pelo amigo Alípio (cf. Conf. começada já antes de sua conversão -donatista
6,8,13). Na ex-capital do Império começou a e pelagiana), ligado estreitamente ao
ensinar retórica (cf. ibid. 5,12,22), conti- ininisiério da pregação (Tratado sobre João,
nuando a freqüentar os maníqueus, aos quais Comentários aos salmos, Sermões - mais de
aderira em Cartago (cf. ibid. 5,10,18). Üs quinhentos); e a questões particulares apro-
maniqueus, com o prefeito de Roma, aju- fundadas por ele. Dentre as obras relativas a
daram-no a obter a cadeira do ensino de re- essas últimas, recordemos as principais. A
tórica em Milão (cf. ibid. 5,13,23), onde deu Trindade, na qual .-\. propõe a categoria das
orientação diferente à sua vida. Com efeito, lá relações para falar do mistério trinitário; a
se desencantou definitivamente com o propriedade pessoal do —> Espírito Santo
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como > amor", dom, comunhão, ã diferença diálogo corno método para procurar Deus.
do —> Verbo, que é imagem; a relação entre o Nesse contexto escreve seus famosos Diálogos
mistério trinitário e a vida da -4 graça, baseada (Contra os acadêmicos, sobre a possibilidade da
em ser o homem formado á imagem e procura da verdade; A vida feliz, sobre o objeto
semelhança trinitária, em particular, em sua dos desejos do homem, o qual é Deus como
dimensão espiritual Ele sintetiza essa relação seu sumo bem, portanto, como sua felicidade;
em algumas trilogias, que se tornaram A ordem, sobre o sentido da história humana e
patrimônio comum, mente-conhecimento- a cultura da liberdade, que ela deve promover).
atnor e memária-irueligência-vontade etc. A cidade Depois quis experimentaras tentativas
de Deus (vinte e dois livros escritos entre 413 teóricas eascéticas neoplatónicas para chegara
e 426-427 e publicados com intervalos de Deus. Isso coincide com o abandono, num pri -
tempo) trata da história temporal e eterna da meiro momento, do método dialógico na pro -
humanidade (as duas cidades). "Dois amores cura de Deus, para seguir as forças do indi-
- escreve ele - dão oriizem a duas cidades: a víduo. Nesse sentido, osSolUóquios registram
cidade terrena, cujo amor a si chega ao duas tentativas suas de procura de Deus: por
desprezo de Deus, e a cidade celeste, cujo meio da > virtude (o primeiro livrt >), o que o
amor a Deus chega ao desprezo de si." Da levou ao desencorajamento total, tanto que
doutrina cristã trata da chave de leitura das quis abandonar a pesquisa, e por meio da
Sagradas Escrituras, chave que é o amora razão, o que o encorajou a continuar procu-
Deus e ao próximo. rando (o segundo livro). Essas duas tentativas
frustradas da procura de Deus levaram A. a
II. Herança espiritual. Propor o problema da renuncias mais profundas a fim de continuar
espiritualidade de A. é querer captai' o lillro procurando-o, para atingir talvez aquele
unificador de seus escritos e de sua vivência momento extático diante de Deus, ex-
cristã. Verifica-se que é difícil isolar nele perimentado por -» Plotino. Renuncia primeiro à
alguns aspectos espirituais, perguntan -do-se, caneíra profissional (cursus honorum, carreira
por exemplo, se ele loi místico ou não etc. De das honras); depois, ao matrimônio, escolhendo
nossa parle, percorrendo seus escri tos e sua o celibato. Desposa a continência, como
atividade em ordem histórico-gené-tica, tinham leito alguns soldados, que se tinham
tentaremos reunir as coordenadas que retirado da corte imperial, confor me ele refere
constituem o tecido espiritual de seus escri- no oitavo livro das Confissões. Aquele rapto
tos, os quais são uma das principais chaves extático tão sonhado e procurado não
de leitura de sua obra. Nele devem ser distin- constitui, todavia, um indicador de sua
guidas, em ordem cronológica, ao menos espiritualidade, embora, nas Confissões
duas lases concernentes à sua espiritualida - (9,10,23-26) fale de momento de êxtase tido
de: 1. da conversão à ordenação prcsbiteral em Ostia junto com sua mãe. Mas essa re-
(386-391); 2. da sagração episcopal à morte ferência, no modo da narração, decalca o es-
(397-430). Os cinco anos de presbiterado quema neoplatônico dos sete graus da ati -
(391-395/6) podem ser considerados como de vidade da alma em torno de três objetos que
transição entre os dois períodos. formam a totalidade da vida: o —► corpo, a —
> alma e Deus. As atividades ligadas ao corpo
1. Fase 38o-.191 (da conversão ao presbite- dizem respeito ao conhecimento experimental
rado). As atividades da alma. Nos anos 386-391 tia animação, da sensação e da arte; as
A. amadureceu duas coordenadas uni- ligadas á alma são a virtude (o empenho
ficadoras: a primeira, a respeito de Deus; a moral) e a tranqüilidade ou a posse segura da
segunda, a respeito da autoridade da Igreja virtude; as ligadas a Deus (o ingressas, o
católica, que é digna de fé ern tudo o que aí ingresso) são a —> meditação e a —> contem-
irmã (Deus, Cristo, os evangelhos etc). Nessa plação ou visão intelectual da verdade. Ma is
ótica ele escreve, por exemplo, os costumes da tarde, na caria a Proba sobre a > oração
Igreja católica e os costumes dos mani-quetis. No (/■'/>. 130, a. 413, tempo da polémica
diálogo com o inundo da cultura de então e antipelagiana), lembrando a passagem do
com as contraposições maniquéias entre -> fé êxtase do apóstolo —> Paulo, ele o considera
e razão, A. propõe que sejam considerados Iruto das > virtudes teologais, sem mais detei-
iguais os dois caminhos possíveis de procura sc nas atividades da alma. Em 391 escreve A
da verdade: a auctoritas (autoridade) e a ratio verdadeira religião, e, falando do renascimento
(razão). Quanto ao primado de Deus, ele interior e do progresso espiritual, descreve-a
constituí a incessante procura e paixão de A. ainda segundo o esquema setenário de
durante toda a sua vida. Do ponto de vista atividade da alma, se bem que desta vez faça
metodológico, considera a espiri tualidade do referência ao esquema clássico das sele
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idades do ho mem. A primeira idade, da
infância, se nutre do leite do qual fala o
Apóstolo (cf. ICor 3,2)

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AGOSTINHO (santo) 34

e de exemplos; a segunda idade, a da puber- é feito por Minúcio Félix (í séc. 111) e por
dade, olha para o divino com a razão; a ter- Lactando (t c. de 325). Neste último, o ver-
ceira idade, a da juventude (juventus), leva a dadeiro culto corresponde à —> justiça, que
alma sensitiva a unir-se à —> menle, seja se identifica com a píf ias (piedade). Em A.
submetendo a ela a —> tendência carnal, seja esse culto de instância neoplatônica está pre-
sentindo gosto em vivei honestamente, sente e exprime o verdadeiro culto, o qual é
portanto, sem ser a isso obrigado; a quarta prestado a Deus pela mente tornada santuá -
idade é a do crescimento adulto do —* rio quando, pela procura e pela —> oração,
homem interior, que supera as dificuldades e ela o conhece, O conhecimento passa a ser en-
as perseguições; a quinta idade é a da fase da tão virtude da alma, a qual, exercilando -se
—> paz e da serenidade do espírito, a da > em procurar a Deus, se assemelha a ele, tor-
sabedoria; a sexta idade é a do esquecimento nando o ser piedoso "'desde já divino". A. lira
da vida temporal, vivendo o homem l\ essa espiritualidade dos Ornados filosóficos de
imagem e semelhança de Deus; a sétima Porfírio, citados por ele em A cidade de Deus
idade é a da vida fora do tempo c de qualquer (19,23). Em Cot tira os acadêmicos (2,2,3) e em
idade, isto é, a da felicidade eterna, a qual, O mestre (1,2), o sábio neoplatõnico, que
com a morte física, marca o fim do homem procura a Deus e ora a ele, e, assim fazendo,
velho e dá início á vida eterna do homem o adora tio mais imbuo da mente, é, segundo
novo. O êxtase de A. em Ostia provavelmente A., o homem interior, no qual habita o Espírito
se situa na sexta idade (cl. Conf . 9,10,24). de Deus, Cristo, o mestre interior A ex -
Depois da morte de sua mãe, A. voltou para a pressão bíblica,"Espírito de Deus, Cristo", em
casa paterna e se dedicou, com os amigos, ao A verdadeira religião, toma uma forma arti-
otiitm (ócio) filosófico da procura de Deus, culada, mas ainda é empregada em contexto
numa solidão que tinha algo de monaquismo. neoplatõnico. Com efeito, escreve: "Não saias
Ele apreciava esse gênero de vida e envolveu fora de ti; entra cm ti mesmo, porque a ver-
nele alguns a mi cos. Temen-do ser afastado dade habita no homem interior" (39.72; cf.
dele - como ele mesmo conta - e evitava também 26,48-49 e 41,77). E na obra anti-
visitar cidades cujos bispos tinham falecido. maniquéia. Contra ep. ...fundamenti (36), lê a
Dentro do esquema das atividades da alma que redenção de Cristo nos seguintes termos: "(O
quer subir a Deus, A. programou em Tagaste a Verbo) se fez exterior na carne para chamai*»
vida do otiwn sanctinn (ócio santo) de 38S em nos da exterioridade para a interioridade,
diante. A carta a Nebrídio (Ep. 10) c, por assim porque só ele é o verdadeiro mestre interior,
dizer, a teorização desse modo de vida. Nessa sendo ele mesmo a verdade". A visão do ho -
carta delineia a necessidade de o sábio viver mem espiritual bíhlicn. também no i< icanle
longe do mundo, exerci-tando-se nas virtudes, a
a fim de tornar-se semelhante a Deus, linguagem, se inicia em A. com O sertnão do
situação essa que explica como deificari in otio Senhor na montanha, escrito cm 393. Nele a
("deificar-se no ócio"). A. explica essa atividade ascensão da alma passa também por sete
de prestar a Deus —* culto interior dotado de graus, mas se refere não mais à atividade da
securitas (segurança) e alma segundo o esquema neoplatõnico ou
de tranqidllilas (tranqüilidade), desci eveudo-o segundo o das sete idades do homem exterior,
como —> "adoração de Deus no mais íntimo e sim às —> bem-aventuranças evangélicas e
da mente" (Ep. 10,3). Esse modo de expressar- aos - > dons do Espírito Santo. O primeiro
se, como foi notado (Folliet), traduz a tradição grau da ascensão da alma é o temor do Senhor
cstóico-neoplatônica, em particular de ou a - • humildade, à qual seguem a —>
Porfírio (f cerca de 305), o filósofo neopla- escuta da Sagrada Escritura, o conhecimento
tónieoque lala da mente como templo no qual de si com a oração, a fortaleza, o exercício da
o sábio adora a Deus. —> caridade, a -> purificação do coração até a
Na tradição hermética existe a mesma con- posse tranqüila da sabedoria ou da paz. Na
cepção. De fato, ela liga o culto a Deus ao primeira fase da espiritualidade agostiniana
conhecimento da menle e à piedade. No âm - está presente, por meio do neoplatonismo,
bito cristão latino, o verdadeiro culto a Deus, todo o fascínio grego do espírito, da mente ou
o que lhe é prestado no santuário d o espírito, da alma que procura ou contempla a Deus e
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AGOSTINHO (santo) 35
as coisas além do sensível, iasemio que tem da caridade para com Deus e o próximo
correspondência expe-ricncial nas atividades (sendo esse também o motivo pelo qual se
da alma do cristão na linha do sábio grego. entra no mosteiro); a espiritualidade eclesial
como comunhão entre os balizados não só em
2. Fase 391-430 (do presbiterado à morte). A nível sacramental e das Escrituras divinas
espiritualidade do amor. As obras de passagem comuns, mas lambem em nível de condivisão
para a segunda fase do amadurecimento do cotidiana da herança cristã no viver a
pensamento espiritual de A. são A verdadeira unidade e a paz da Igreja. Do contrário,
religião, de 391. c a Ep. 10 (a Nebrídio), tratar-se-ia só de apropriação de uma parte,
relativas às atividades da alma; O sermão do como no caso de hereges e cismáticos, e a
Senhor na montanha eAf éeas obras, de 393, falta da caridade privaria de eleito salutar
relativas ao Espirito Santo, princípio da vida qualquer realidade cristã. Os próprios mos-
espiritual, A insistência nas atividades da teiros de A. eram estabelecidos não tanto sobre
alma, antes em versão neoplatônica, depois os esforços ascéticos do corpo quanto sobre a
em versão cristã do Espírito Santo como prin- —> ascética continuativa da dilectio (amor) de
cípio que santifica e pacifica a alma, tem Deus e do próximo. A. estende o princípio da
como interlocutores primeiro os maniqueus, caridade até o social; é sua a expressão amor
depois os donatistas. Se os primeiros prati- socialis (amor social), a qual em seus Sermões,
camente anulam as atividades da alma, os no Comentaria aos salmos
segundos no Espírito Santo corno sanlifi- e na Cidade de Deus tem vasta aplicação. Do
cador, excluindo qualquer outra mediação. Na dom da caridade, difundido no coração pelo
polémica com os donatistas, A. reafirma o Espírito Santo, A. compreende aos poucos
dom do Espírito Santo santilicador não co mo todo o alcance na vida do homem remido. De
princípio em si, mas como dom do único fato, sendo princípio de todo bem no ho mem,
mediador, Jesus Cristo, causa e media ção de ela é principio também de seu ser espi ritual.
toda santificação e de vida espiritual. E faz O homem espiritual está, todavia, em
uma aplicação peculiar dessa doutrina à redenção contínua, por isso o Espírito Santo o
administração dos —> sacramentos, que são santifica, mas não ao ponto de eliminar nele,
do Senhor quanto à potestas (poder), compe- durante o tempo da história, Ioda a carna-
lindo àqueles que os administram só o minis- lidade da qual lala o apóstolo Paulo. Nessa
teriam. ótica, Agostiulio, no início de seu episcopado
A., ordenado presbítero em 391, percebe a (397), atribui a afirmação do Apóstolo, a l.jei
inadequação da ação pastoral sacramental éespiritual, mas eu sou carnal (Rm 7,14), não só
dos donatistas, a qual, amparada numa insu- ao homem sujeito à lei mosaica, mas tam bém
ficiente teologia do Espírito Santo, dividiu a ao homem remido pela graça de Cristo.
Igreja africana em donatistas e católicos. A polêmica pelagiana, que levou ao auge,
Começa então a compreender de rnodo di- como fator principal do progresso espiritual,
ferente a Bíblia como fonte da fé e da es- as atividades da alma, até a possibilidade
piritualidade cristã. Identifica a mensagem real de o homem nunca poder pecai", tez A,
essencial dela e adapta a ela sua visão espiri- refletir em prolundidade sobre a concepção
tual, nova em relação à de seus escritos da cristã do homem espiritual. Dedicou a esse
primeira fase (até 391). A, entende a substân- argumento a obra A perfeição da justiça do
cia evangélica da —> revelação bíblica como homem, na qual, ao lado de outras obras do
caridade para com Deus e o próximo. Portanto mesmo período sobre a relação da graça com a
- conclui - ela deve ser procurada na Bíblia liberdade, explicita um conceito fundamental.
como: revelação divina, dom do Espírito Santo O homem espiritual é o homem remido, o
difundido no coração dos crentes, chave qual, não obstante, continua sempre sujeito
hermenêutica das Escrituras, compromisso a à lei da concupiscência, devendo, por isso,
ser vivido em qualquer estado de vida, invocar* todos os dias a ajuda divina e o
também no mosteiro, e substância de todo perdão, segundo o ensinamento da oração do
progresso espiritual. A espiritualidade da pr< Senhor, que pede para todos "perdoa-nos as
>-cura de Deus como atividade progressiva da nossas dívidas" (Ml 6,12). O domínio absoluto
alma é, pois, repensada por ele como amor do espírito sobre a carne se verificará só rui
(caridade) nos três âmbitos da vida do crente: ressurreição, quando o corpo corruptível lor
pessoal, cclesial e social. Assim, une a revestido cia imortalidade. A vida espiritual
espiritualidade pessoal ao exercício constante tem início no iierme de vida divina recebida

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AGOSTINHO (santo) 36
no > bat ismt >; o seu crescimento i nelu i a prestar à humanidade, estabelecendo entre
lula cotidiana contra a concupiscência, em cristãos e nâo-cristãos uma única relação, a de
particular, contra a —> soberba, à qual devem encorajar-se a deixar-se purificar pelo único
conlrapor-se a humildade, a fé, a oração e a Redentor da humanidade, o Senhor cruci-
caridade. Os pecados cometidos por erro, ig- ficado (cf. ibid.). Em relação à cruz do Senhor,
norância e fraqueza ou as imperfeições, que, o homem espiritual "agostiniano" atinge
em O sermão do Senhor na montanha, são cristologicamente a dimensão do Cristo re-
considerados pecados da vida presente, na dentor e eclesiologicamente a da missão da
polémica com os pelagianos são transporta- Igreja de ajudar a humanidade a deixar -se
dos para o outro mundo, necessitando ainda de aproximar pela salvação do Redentor dos
perdão. Dessa realidade nasce o amor pelos homens. Quanto ao filtro espiritual no coti -
defuntos. Segundo o A. da polémica com os diano, a fé e a inteligência espiritual dc Cris -
pelagianos, o homem se move entre o Verbo to se traduzem para o coração humano na
encarnado, alimento e redentor seu e tam bém capacidade de caridade para com Deus e o
de todos os outros homens, e a caridadc. Nessa próximo. Nessa capacidade-dom consiste,
ótica, desenvolve a compreensão do homem segundo A., a vida espiritual com toda sua
espiritual, movido pela caridade, como possibilidade de crescimento. O homem se
educador dos que já crêem, mas ainda não torna espiritual por meio da caridade difun-
estão em condição de transmitir sua fé, para dida no coração [>eIo Espírito Santo, que se
que também eles se tornem "espiri tuais". O torna também categoria epistemológica de
homem espiritual, criando sua dimensão Deus e do homem. De fato, para A., quem
espiritual em constante referencia à conhece Deus c o homem não é quem os es-
caridade, se põe, portanto, a serviço da Igreja tuda, mas quem os ama. Não se p! ide amar o
paia a * evangelização. Nesse âmbito de que se ignora totalmente, mas, quando se ama
caridade evangelizante, A inclui de modo par- aquilo que de algum modo se conhece, graças a
ticular os que escolhem viver em seus mos- esse amor se chega a conhecê-lo melhor e mais
teiros (os "servos de Deus", os "espirituais", à profundamente. O amor tem. pois, força unitiva
disposição da missão evangelizadora da Igreja). e cognitiva por assimilação, e isso a tal ponto
Com efeito, ele fala da spiriíalis dileclio (amor que, para A., iodo homem é seu amor. O
espiritual) deles (Regra 6,43), definin-do-os crescimento espiritual está, portanto,
como spiritalis pulchritudinis a maiores relacionado com a caridade, desde o
(apreciadores da beleza espiritual) (Ibid. nascimento até sua realização.
8,48); aqui spiriíalis não se opõe a material, O homem espiritual, modelado segundo
mas conota aquilo que nasce da caridade. Nos Cristo, traz em si a imagem do homem celeste;
Tratados sobre o evangelho de João (em particular a ele são necessárias, todavia, como ao neófito,
o Tr. 98 e o 120) A. oferece uma síntese de a fé, a —> esperança, a luta e a oração pelo
conjunto relativa ao Verbo encarnado, perdão cotidiano enquanto vive no corpo. O
Redentor dos homens, como filtro espiritual que constitui, portanto, o homem espiritual
na luta cotidiana. Quanto à referência a Cris- não é a ciência, mas a caridade, a qual o
to, o Verbo encarnado é alimento tanto do impele a sair de seu dei fica ri in otio (deificar-sc
homem espiritual como dos que começam a no ócio) c a dedicar-se à missão da Igreja.
crer, qualificados pelo apóstolo Paulo como A. indica uma articulação particular da
"pequenos" (cf. In Jo. Ev. 98,6). No Tratado sobre espiritualidade da caridade na trilogia semân-
o evangelho de João, A., retomando a imagem do tica "coração-misericórdia-amizade". A ex-
Cristo crucificado, reúne sob a —> cru/ todos pressão antropológica "coração", que então
os balizados, os pequenos e os espirituais, conotava o homem concretamente orientado
pondo-os em relação com toda a humanidade. para seu destino, ele a explicita nas categorias
Com efeito, depois que sobem à cruz e passam de liberdade e graça, de misericórdia e amizade.
através do lado aberto do Crucificado, eles se O cor (coração) é o resultado básico do
tornam Igreja e assim são inseridos no encontro entre o livre-arbítrio do homem e a
ministério dc encorajar as gerações futuras a graça de Deus. O termo "misericórdia", por sua
subir também à cru/, a fim de que, vez, pertence â família semântica de cor
purificando-se no coração transpassado do (deurere = "queimar" a miséria); e> oculus cordis
Salvador, se tornem "Igreja". Na Igreja de (olho do coração) se torna a capacidade própria
Cristo há, portanto, os que chegam antes e os do homem espiritual, O oculus cordis tem suas
que chegam depois, mas é comum o serviço a raízes nos recessos do coração, que gera o —>

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AGOSTINHO (santo) 37
desejo, a alma do "ver do coração". Por outro mem. Deus, com sua presença, cm a o cora -
lado, "atingindo a Deus" na proporção do ção contrito e aceita como oferta agradável <
estender-se do desejo, torna-se importante para > coração humilde; quanto ao homem,
o oculus cordis a forma como nutrir tal desejo. "encontra aquele Deus do qual afastar-se é
Evitando intencionalmente enfatizara cair, ao qual dirigir-se é ressurgir, no qual
ascética do corpo, sujeita por si a muitas permanecer é estar firme, ao qual voltaré
ambigüidades, A. insiste nos auxilia (auxílios) renascer, no qual habitaré viver" (Sol. 1,1,3).
comuns a todos, a saber: as Escrituras As duas vias, a de Deus e a do homem, se
divinas, a assembléia do povo de Deus, a encontram em Cristo; por isso, ele é o
celebração dos mistérios, o santo batismo, o caminho, a verdade e a vida do homem. A.
canto dos louvores de Deus, a pregação (cf. In chama, portanto. Deus e Cristo com o nome
Jo. Ev. 9,13; 40,10; In Jo ep, 4,6), propondo de "misericórdia '.
mais uma vez a vida espiritual como bem "Cor, misericórdia, amizade" pertencem a
comum. Sc a misericórdia é o aio inicial uma família semântica cujos termos assu -
necessário para o relacionar-se de Deus com os mem, em A., uma modulação antropológieo-
homens e dos homens entre si, a amizade é espiritual de âmbito sapiência! denso de mis
seu fruto, sua conseqüência necessária para a tério. Cor designa o homem "misericórdia",
vida humana, que é comunicação "amigo", que se situa no nível ético do frui
interpessoal. Sem a amizade, as relações (fruir, go/.ar comunicando-se), e não no do uti
humanas seriam mediadas não pela realidade (o usar, referido às coisas das quais alguém se
das pessoas como elas são, mas pela idéia que serve; aplicá-lo ao ser humano seria quase um
elas fariam umas das outras, baseando-se em delito), depois de se ter libertado dos fan-
fantasmas, como se exprime A. Com efeito, a tasmas humanos criados pela capacidade de
amizade leva os corações a se encontrarem, e abstração do ser racional. Cor é o homem que
ela mesma pertence ã categoria dos bens vive o frui da vida, por ser capaz de a ■nnmi-
comuns ou de todos. Por isso, o ser humano cação com as pessoas, começando por Deus.
deve ser educado para ser capaz de amizade e Amadurecimento progressivo da antropolo gia
deve ser posto em condição de poder usufruir cristã, em relação à platónica, leva A. a
dela, pondo Cristo como seu fundamento, a superar as categorias de homo interiordiomo
Hm de que ela possa ser duradoura. No plano exterior (homem interior-homem exterior),
eclesial-sociológico ele articula sobre o próprias da tradição cristã latina, apoiada no
mesmo fundamento a visão e a edificação das "homem interior, o verdadeiro; e a substituir o
duas cidades (a terrena e a de Deus) homem exterior, o perituro", de proveniência
apoiaudo-as no irinônüo filoniana, pela categoria do homo spiriiniis
lgrcja -.síU'i7///or/-Cidadc de Deus e no respei- (homem espiritual) em relação a uma espi -
to ético daquela ordo amoris (ordem do amor) ritualidade da liberdade sob a graça de Deus.
que dist Lngue o ti ti (usar) (a natureza das Nessa ótica antropológica, o lamuhts-setvits Dei
coisas de serem usadas) do frui (Iruir) ta (fãmulo-servo de Deus) ( o monge) é
natureza ilas pessoas de se comunicarem, considerado, por exemplo, não lauto o "do-
fruindo disso), ü amor é o peso (pondus) que mador da carne" quanto "aquele que ama a
move a alma para onde quer que se mova (cl. beleza espiritual". O fruto dessa vida cristã
Conj. 13,9,10), sendo, portanto, o centro pode ser apreciado, segundo ele, na convivên-
motor da ética. O amor a Deus se idem ifica cia no mosteiro, naquele clima de liberdade e
com o verdadeiro amor a si, do contrário, se de graça que permite viver "não como servo
trataria d( > amora si oposto ao amora Deus. sob a lei ele sublinha com indislarçada
Esses dois amores resumem a história satisfação, por causa de sua proposta monás-
temporal e eterna da humanidade, formando tica -, mas como homens livres sob a graça"
as duas cidades, as quais nascem de dois (Regra 8,48). Essa impostação da vida em
amores diferentes e opostos. A vida ética se comum amadurece progressivamente em A.
resolve, portanto, na ardo amoris. como serviço eclesiai. As passagens estão nas
doamorquecconfonneà lei eterna, a qual Confissões (10.43.70), onde ele usa a intuição
"manda conservara ordem natural e proíbe paulina, "Cristo morreu por todos" (2Cor 5,15).
perturbá-la" {Contra Fattstum 22,27). aplicando-a aos que vivem no mosteiro, com o
O A. crente entrevê que Deus traz em si o sentido de pôr-se à disposição da missão da
segredo do mistério do homem, melhor, que Igreja, deixando seu deiftcari inotio (deificar-se
ele tem sua morada no ror (coração) do ho- no ócio) e a falsa espiritualidade, que

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AGOSTINHO (santo) 38
considera o —> trabalho manual não com- coesa. Para alcançar a perfeição é necessário
patível com seu género de vida. As cartas 48 e fundamentar bem todas as ações humanas.
243 tratam expressamente da estreita relação Segundo A., o princípio que sustem toda a
entre a vida no mosteiro e o serviço eclesiai. vida espiritual só pode ser a —> caridade.
Discurso esse que, em sua reflexão mais Assim, são reafirmadas a natureza da perfei -
madura, sL- desdobra na > amizade de Deus ção cristã e a obrigação de todos os fiéis de
com o homem, entendida como convivência da procurar a —> santidade mediante o exercício
liberdade humana com a graça de Deus. da -> lei do amor.

Uiui... Obras: m 1*1. 32-47, 1 'l .N II. -41 ;M-43; in C


S1.I. diversos volumes e o subsídio Specimina
eines Lexicon Augustinianum (= SLA); in CSEL
diversos volumes c o subsídio Tliesaurus
Augustinianus -Series A.formae de todo o "corpus
augustinianum". Possídio, Atigustini vita (PL
32,33-66), Alba 1955; ed. A.A.R. Bastiansen-C.
Carena, Milão 1975. Estudos: P. Agâessc,
Ecrimre sainte et vie spirituelle. S. Augustin, in
DSAMIV, 155-158; C. Boyer,s.v\, in DSAM I,
1101-1130; F. Cayré, La mystique augustinienne,
ín Aa. Vv., Augustin tis Magister III. Paris 1954,
103-168; N. Cipriani, Luomo spirituale in S.
Agostino e S. Giovanni delia Crocer in Aa. Vv., S.
Giovanni delta Croce Dottore místico, Roma 1992,
131-149; G. Follict, "Deiftcari in otio"t Augustin,
ep 10,2, in Recherches Augustiniennes, 2 (1968),
225-236; Id., "In penetralibus mentis adorare
Deum",
Augustin, ep 10,3, inSacris Erudiri. 33(1992-
1993), 125-133; V. Grocei, Valenza antropológica
delia misericórdia m s. Agostino, in Aa.Vv., Dives
iu misericórdia, Roma 1981, 189-195; Id., La
spiritualiia agostiniana, in Aa. Vv., I A : grandi
scuole delia spiritualità Cristiana, Roma 1984,
159-204 (cm particular pp. 178-181 e 189-
194); Id., Ascética e antropologia nella Regula ad
servos Dei (cc. 3-5) di S. Agostino, Memorial J.
Gribomont, Roma 19tf8, 315-330; Id., II "Cor"
nella spiritualità di S. Agostino, in Aa.Vv.,
Vanttopologia dei maeslri spirituali, Roma 1991,
125-142; M. Schrama, s.v, in IVA/v, 39-41; A.
lYapc (oip.) Sanctus Augustmus vitae spirituali*
niagister, 2 voll., Roma 1959; Id., s.v, in lui
Mística l, 315-360; A. Trapè - C. Sorsoli - L.
Dattrino, s.v., in D ES 1,51-61: F. Thonnard. Irai
té de vie s pi ri me lie à lec(*le de. s. Augustin, Paris
1959; A. Tissot, S. Augusiin maitre de vie
spirituelle, Le Puy 1960; W. Wielarul, Agostino, in
G. Ruhbach J. Sudbrack, Grandi mistici 1.
Bolonha 1987, 65-95.
V. Chassi
defendê-lo dos ataques de muitos opositores
célebres: apesar de seus oitenta e três anos, foi
a Paris para delender a doutrina de seu caro
discípulo.
Sem nunca se esquecer de uma visão espi-
ritual dos problemas do homem, A. tratou
concretamente das questões referentes à di-
mensão ascética e mística da vida cristã. A
tradição conserva como validas as seguintes
obras suas.' LÁber de perfectione vitae spiri-ttialis,
Paradisus arümae e De adlwrcndo Deu.
As duas etapas fundamentais do caminho
espiritual são apresentadas de maneira muito
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AGOSTINHO (sanio) ALBERTO MAGNO (sanlu) 39

conformidade da imperfeição, conformidade da


suficiência, conformidade da perfeição.
ALBERTO MAGNO (santo) Esses termos são aplicados às três categorias
tradicionais de cristãos: principian tes,
I. Vida e obras. Nasceu em Lawingen, em avançados e perfeitos. Segundo nosso autor,
1193, e morreu em Colônia, em 1280. Estudou quem dá os primeiros passos no caminho
na Universidade de Pádua, onde assistiu às espiritual ainda está longe da perfeição, mas
aulas de Jordão da Saxônia (t 1237), discí - demonstra adesão material à causa divina:
pulo e sucessor de são Domingos (t 1221), e "Querer o que sei que Deus quer". A con-
onde se sentiu atraído para a vida religiosa. formidade da suficiência, que consiste no cum-
Dedicou quase toda a sua vida à procura de primento dos mandamentos, é própria dos
uma "síntese pessoal" dos valores culturais e que ia percorreram a etapa tia ascética e man-
espirituais. têm uma adesão habitual à causa divina efi -
A vastidão e a profundidade de suas obras ciente: "Querer o que Deus quer que eu queira".
valeram-lhe o epíteto de 41 Magno". Cultivou O terceiro tipo de conformidade é o da categoria
com muita dedicação e proveito, durante toda a dos perfeitos. Esses fiéis aderem totalmente e
sua vida, todos os campos do saber de seu em todas as situações à vontade de Deus
tempo (filosofia, teologia, mística etc). como causa final: "Ouerer para a glória de
Sua contribuição para as questões místicas Deus tudo o que quero como Deus quer para
teve repercussões importantes nas obras dos sua glória tudo o que quer".
místicos renanos, de modo particular em ->
Eckhart e em --> Tauler. A sua doutrina es- III. Orientações concretas. Quando o cristão
piritual está disseminada em diversas obras: põe todos os pensamentos e ações nas mãos
comentários à Sagrada Escritura, estudos teo- de Deus. digno de ser amado sobre todas as
lógicos e principalmente o comentário inte - coisas, percoire rapidamente os diversos graus
gral sobre os escritos de —» Dionísio Areo- da vida mística. Então a alma se torna mais
pagila Hm sua Opera unmia (38 vol., Paris 1 "passiva" no sentido de que passa a estar mais
$90-1899) merecem citação particular os disponível á ação eficaz, da graça; em outras
seguintes tratados: Sttmma Theologiae, Summa palavras, ela se deixa guiar diretamente por
de creaturis, De praedicabilibus. Como homem de Deus, respondendo livremente às inspirações
fé e de ciência, A. procurou sempre a coerência e às moções do — > Kspírito Santo, causa
e a complementaridade entre as duas fontes principal de nossa santificação.
do saber. Deve ser-lhe reconhecido o mérito de
ter contri buído para a formação do grande 1. —> Oração com —> lágrimas. A obra de
teólogo —> Tomás de Aquino e de ter ajudado transformação humana em Deus até a dedi-
a cação se realiza principalmente por meio da
II. Doutrina mística. A perfeição reque rida oração, colóquio com o Senhor ou diálogo de
de lodos adquire-se pessoalmente pela amor manifestado também por lágrimas. 2 A
observância liei dos mandamentos de Deus e exemplo de são Domingos, este seu filho ora-
da Igreja, especialmente da lei da caridade. va muitas vezes com os olhos cheios de lágri-
Segundo a doutrina dos teólogos da época, mas por causa das faltas pessoais e pela con-
parece claro que algumas categorias de pes versão dos pecadores. Então a contritio
soas (bispos, religiosos, sacerdotes) eram cha- (contrição) e a comptotetio cordis (compunção
mados de modo especial à santidade; A. acres- do coração) são efeito da mortificação, tanto
centa, em concreto, que lodos os estados de em sua função expiatória quanto prin-
vida eclesial requerem uma série de graças cipalmente em sua função perfectiva.
particulares, as quais ajudam o cristão a rea- A oração se torna —» meditação quando
lizar sua missão, comportando perfeição re- "favorece o conhecimento de si, esse conhe-
lativa. 1 Na realidade, o meio mais importan te cimento gera a —> compunção, a compunção
para se tender à perfeição é a procura e o gera a -> devoção, e a devoção aperfeiçoa a
cumprimento da vontade divina, lodos os oração".3 Se a oração, diálogo íntimo e pessoal
cristãos devem corresponder a essa vontade com Deus, requer um ambiente de silên cio,
livremente e de modo coerente, se bem que A. considera a noite como um tempo muito
diferenciado. A. distingue Ires tipos ou graus oportuno para lalar, sem ruídos externos, com
de —> conformidade com a vontade de Deus: quem habita em nosso coração. Fssa exigência
de solidão e de intimidade favore ce um
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AGOSTINHO (sanio) ALBERTO MAGNO (sanlu) 40
autentico "solilóquio": falai diretamente com
Deus ou, melhor, ouvir no íntimo da
consciência a voz divina.
Cristo, o único mediador, torna elicaz a ALEGRIA
oração do homem, porque a sua oração é
comunhão intima como —> Pai, junto ao qual I. Noção. A a. é um dos sentimentos fun-
intercede por toda a humanidade. Ele gostava damentais da alma humana. Ela é experimen -
de retirar-se ã noite ou às montanhas para tada diante tia esperança, na proximidade ou
conversar com o Pai, antes de tomar decisões na posse do que se deseja ou do que se ama.
importantes para o futuro da —> Igreja (cl. Lc Para que esse sentimento surja, o homem deve
ò, 1 2; Mt 9,37-39); cm seu nome as nossas considerar o que deseja como um bem em si
orações são sempre ouvidas. mesmo, ou então, em perspectiva mais comu-
nitária e solidária, um bem para os outros.
2. Os dons do -* intelecto eda sabedoria. Parece A antropologia cristã afirma que foi Deus
lógico que A., homem de vasta ciência e de te quem pôs no homem, no momento da criação,
profunda, tenha experimentado os efeitos dos a capacidade de se alegrar, isto é, procurar e
dois > dons do Espírito Santo relativos ao sentir a a. Por outra pane, tomando como
reto juízo, respectivamente, as verdades relerencial a reflexão tia filosofia grega
adquiridas pela razão e as verdades (Aristóteles), a tradição cristã lilosúlico -teo-
comunicadas pela -> Revelação. É muito pro- lógica, bem como a espiritual {cl. s. Agosti-
vável que ele tenha sido o primeiro autor a nho, Boécio, s. Tomás de Aquino e s. João da
tratar expressamente do dom do intelecto e do
da sabedoria.
Esses auxílios especiais do Espírito Santo
vêm aperfeiçoara fé dos que entraram na via
da — > contemplação. 4 fim particular, a sabe-
doria, lumen calefaciens (luz que aquece) é um
modo de conhecimento dos mistérios cristãos
que não só faz a alma experimentai'
"agradavelmente" seus efeitos, como também
aumenta a caridade.
A doutrina de A. leve tuande influência em
santo Tomás de Aquino. Outro mérito de A,
foi o de ter lançado as bases da mística da in
trovei são, a qual leve em Hckhatl, provável
discípulo seu em Colônia, o principal pro-
motor. Por outro lado, J. Tauler, que depende
da mística alemã, leve importante influência
em —> são João da Cruz, o Doutor místico por
excelência.

MOTAS: 1in /tf Sent. d. 29, a. 8; 2Comnuuli


Convemi ai Salmi 39, 78, 141; J

Deoratiuneáominica. 5S; 4 Cf. In III Sent,, d. 34.


a. 2 ad 1.

ÜIIÍL.: Obras: B. Alberto o Grande, Lunionc con


Dio, Milão s.d.; Albert le Grand, Commentaire
de la "Theologie mystique"de Denys lepseiido-
aréopagite suivi de celui des epitres l-V. Paris
1993; Estudos: D. Abbrescia, s.v. in DES I, 61-
64; G. Mcersseman, Geschichte des Albertismus,
Paris-Roma 1933-1935; P. Ribes Montane,
Haz.ón humana v ctmocimtento dc Dios cn san
Alberto Magno, in Espirito, 30 (1 981), 121-144.

/:. Dc Cea

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ALEGRIA ALEMANHA 41

Cruz) a li nua que no homem, juntamente com realidades irreconciliáveis, são complementares
o amor-ódio, existem quatro outras - > entre si (cf.: Mt 5,11-12; 13,20-21; Jo 16,20-
paixões, ou sentimentos fundamentais: a., —> 22; IPd 1,6-9; 4,12-14). Deve-se, além disso,
esperança, dor e temor. afirmar que não apenas existe uma divina a.
A a. de Deus ou a —> fruitio Dei é uma das humana, que nasce da negação de todas as
metas fundamentais que a fé cristã propõe coisas e de si mesmo por Deus e pelo
para o homem, não somente para o além-vida evangelho, mas também que a«. suprema para
(escatolo»ia), mas também para a vida pre- o cristão surge como conseqüência de ele ter
sente (caminho ascético-místico). Deus é o merecido poder participar plenamente com
supremo bem e a riqueza do homem, por este Cristo em sua morte (por exemplo: do
motivo é nele que o In unem deve sentir e pôr martírio lísico à morte mística), para ser com
sua a., acima de qualquer outro bem. A Sa- ele glorificado. No primeiro caso, a
grada Escritura deixa claro este ensinamento experiência da a. pode vir a ser acompanhada
em repetidas ocasiões (cf. os Salmos e os livros pela da renúncia, negação e sofrimento com
Sapicnciais). Cristo por causa do evangelho. 1 No segundo
Tanto no AT como no NT é possível encontrar caso, o sentimento de a. costuma ser posterior
a a. e o regozijo que, em etapas e momentos somente ao da angústia da tribulação e morte
distintos da história da salvação, provocam a interior. 4 Tudo isto pode e deve ser entendido
experiência da proximidade e da ação salvífica não somente em sentido individual e pessoal,
cie Deus em relação a seu povo. No NT este mas também comunitário e eclesial.5 À luz do
sentimento de a. è ressaltado, de modo que foi dito, pode-se compreender porque, para
particular, no aconlecimento-Cristo, que se a fó cristã, a a. é, como dirá —> s. Paulo, uma
manifesta como Deus conosco, reino de Deus, das características fundamentais (frutos) do —
Messias e Salvador.1 > homem espiritual, daquele homem que
renasceu em Deus pela força do Espírito (cf. Gl
II. Na vida cristã. Pela fé cristã, Jesus, o 5,22-26).
Cristo, não só é o objeto supremo de toda a.
NOTAS: Cf. Os evangelhos da infância e as
verdadeira, mas sobretudo é, em si mesmo, narrativas das aparições do Ressuscitado; além
causa e origem de a. plena para todos os ho- de outras referências à vida da comunidade
mens (cf. GS 45). A Igreja está sempre mani- primitiva em outros textos não-evangé li cos
festando esta fc na sua —> liturgia, e de modo do NT: " Cl. Subida do Monte Carmelo; * Cí.
particular nos tempos do Advento, do Natal e Trechos escolhidos de são Francisco, VIII: como
são Francisco ensinou a frei Leão a alegria
da Páscoa. De outro lado, a partir de uma perfeita;4 Cf. Jão da Cruz, Noite escura e Cântico
perspectiva de esforço élico-espiritual, também espiritual;5 Cf. o testemunho das antas paulinas
no NT os cristãos são convidados, como c GS 1.
conseqüência de sua fé, a viver na expectativa
BIBL.: R Agaéssc,Abnéeationet joie,
de serem sempre alegres c jubilosos no inC/ír9(l*>56), 81-92; H.U. von Baltnasar, La joie
Senhor, mesmo em meio às preocupações e aos et la croix, in Con 39 (1968), 77-87; E. Beyreuther
cansaços desta vida (cl. Fl 4.4-7). Trata se de - G. Finkenrath, s.v., in DC7] 772-783, L.
esforço pessoal porque, de fato, a experiência Borriello, La joie de vivre en chrétien, in Carmet, 44
(1986), 271-283; F. Bussini. s.v. in DSAM VIII, 1
da realidade nos mostra que o homem, por
2 36-1256; J.M. Cabndevilla, Eatiam:
causa de sua aluai condição de pecador, não possdide Falharia?, Módena 1962; J. Galot, //
só não considera Deus como a fonte suprema Cristiano e la jgioia, Roma 198ó; Paulo VI,
de toda a. verdadeira, c comi » um bem em si Exortação apostólica Gaudete in Domi no "de 9 de
mesmo, mas sobretudo, esquecido de Deus, maio 1975; J.M. Perrin. // messaggiodelia do
ia, Roma 1955: G.G. Pesent.ir>\v., in Dizumario
tende a pôr seu coração e sua a. em outros di Spiritualità dei laici. I., Milão 1981. 313-316:
bens criados (cf. a parábola do semeador). Por To irias de Aquino, ST/:. III, eq 2? * 4; ií.
este motivo, místicos como —» João da Cruz Vulk. N .u, in
insistem na necessidade de purificar o coração D7V, 715-722.
de qualquer outra a. que possa dificultar ao
J. D. Gaitan
homem manter pura a própria a. em Deus.2 Ao
contrário do que poderia ser concluído a partir
de uma perspectiva puramente humana, a. e
renúncia evangélica, longe de serem
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ALEGRIA ALEMANHA 42
refletem o pensamento e a mentalidade do
tempo, Ê importante notar que a literatura
ALEMANHA mística da Idade Média alem:» reflete o novo
conceito de — > santidade que brotou da mu-
Prólogo* Foi no século XIX que se começou a dança histórica radical que foi a descoberta
falar da mística alemã (MA). O termo remonta a do indivíduo. Esse conceito abriu o horizonte
Karl Rosenkranz (1831), c inicialmente para uma nova concepção do amor como força
indicava a mística especulativa de —> Eck-hart determinante da existência humana; do amor
e, posteriormente, a literatura espiritual cortês dos trovadores chegou-se ao amor
nórdica do século XIV. Na Alemanha nazista o místico ou esponsal. O Minne (= amor cortês),
conceito sofreu graves deformações (A. Ro- tornado o gerador da história, continuou seu
senberg, 1993), motivo pelo qual os estudiosos caminho na Gnadenvita (= narrativa biográfica
substituíram-no pelo de mística renario- da graça), gênero literário empregado em
flamenga, numa referência à região geográ fica quase Iodas as biogral ias dos místicos do
(centro-norte européia). Este termo ainda hoje norte, escritas em latim e depois em
é usado na literatura ílalo-f rancesa. embora vernáculo, para expor a vida do protagonista a
haja a preocupação de se distinguir a M A da partir de experiências interiores e —> fe-
flamenga. Tal distinção não deve, porém, nômenos extraordinários. Outros gêneros
propiciar o esquecimento de que na Idade literários, usados para exprimir a mística es-
Média não havia conflitos lingüísticos en tre as ponsal são o diálogo, o diário, a carta (verda-
zonas do alio e do baixo Reno e que a deira ou fictícia), a poesia (canto religioso),
integração recíproca dos escritos espirituais algumas vezes também a lenda e a narração
era coisa pretendida pela iniciativa comum de miraculosa. O novo conceito de santidade ou
criar uma literatura em líiuiua vulgar. da mística esponsal daí nascido orientou, de
Hoje volta-se a lalar de M A principalmente certa maneira, as exposições da mística
quando se refere ao grande llorescimento da especulativa alemã. Nos tratados de Eckhart
mística especulativa (Wcsentnysiik) e a letiva e nas pregações de Tauler (e de outros escri-
(Brautmystik) do séc. XIV na Alemanha que, tores da época) encontram-se convites ascéticos
especificamente no âmbito da escola do- (intensificação da penitência, abnegação mais
minicana, forneceu numerosos e significati vos radical, prática da pobreza e da humildade)
expoentes à história da espiritualidade alemã. que têm a finalidade específica de conduzir o
Todavia a A/A çt >tnpi eende um espaço de homem nos caminhos que levam ã -> união
vários séculos, englobando a literatura essencial e existencial com Deus. O homem,
mística escrita em língua latina, a partir do criado à "imagem e semelhança" de Deus (Gn
séc. XII, e incluindo o ressurgimento da mística 1,26) percorre, na fé, o longo caminho das "três
na idade do barroco, marcado pelo es-lorço de vias", para retornar a Deus como criatura
alcançar maior interiorização a lu/ de uma nova. Este caminho, exposto à luz da teologia
consciente imitação dos místicos medievais e de João e de Paulo, mas livre de esquemas
de sua doutrina. Os primeiros estudos sobre a preconcebidos, está longe de qualquer forma de
M A remontam ao romantismo alemão, época idealização ou de mistificação.
em que renascia o interesse pela mística Com a decadência geral da baixa Idade
medieval c manifestavam-se lambem novas Média, fecha-se também a grande estação da
formas visionárias. MA. Instrumentos para a transmissão de seu
A M A medieval insere-se na grande cor- rico patrimônio foram as grandes bibliotecas
rente agostiniana e neoplatônica, com base monásticas e as fortes tendências do séc. XVI
bíblica e concepção histórica da vida que de publicar os escritos antigos. Como principal
tende a unir doutrina c santidade. Todavia, centro do desejo de tornar acessíveis ao mundo
uát > deixou de fornecer contribuição original moderno as antigas temáticas espirituais,
aos conteúdos doutrinais. Basta pensar cm surge na Alemanha a Cartuxa de Colônia.
Eckhart e —> Tauler, nos quais predomina o Ouu-os centros, por exemplo, Basiléia,
esforço de exprimir, com conceitos c termos Estrasburgo c Mogúncia, assumem o mesmo
novos, a mais alta experiência de união com encargo de divulgar a herança espiritual, con-
Deus, e nas vidas dos místicos, muitas vezes frontando-a com a nova cultura e a sensibili-
narradas à luz dos ideais hagiogra! icus me- dade do humanismo, mas sobretudo para
dievais da perfeição cristã. Mas onde se en- enfrentar as novas doutrinas do protestantismo,
contram aspectos originais, eles estão estrei- combatendo-as com as respostas válidas dos
tamente ligados ao tempo c ao ambiente e mestres. A história da M A muito deve ao
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ALEGRIA ALEMANHA 43
incansável trabalho do cartuxo Lourenço Sú-rio
(t 1578), que se dedicou ao relançamento dos
místicos medievais. Suas edições de Tauler, —»
Suso, —> Gertrudes, a Grande, com repetidas
reedições, alimentaram a piedade católica da
Contra-Reforma. Foi importante o trabalho do
abade beneditino João Trilêmio (í 1516) ao
compilar as biografias usando gênero literário
novo, que se impõe, não obstante os
insuficientes critérios metodológicos e os
conhecimentos incertos na matéria.

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AIKM.-WH A 32

No século da Reforma protestante, a AM Henrique de Halle, provavelmente em folhas


não tem representantes de mística vivida, e avulsas, a não ser o último, que foi terminado
escasseiam também os escritos de inspiração no mosteiro de Helfta, para onde se retirara
mística. Verifica-se, porém, certo despertar no em sua velhice. Em sua grandiosa visão da luz
séc. XVII. O novo gênero literário (composição não estão ausentes ecos remotos das visões de
poética, paráfrase, aforismo) sustenta a Hildegarda. Mas a visão está voltada para a
mística da vida cristã como relação de amor, .\íi)inc. para o amolde Deus buscado
sem lenómenos extraordinários, mas na mais apaixonadamente ao longo de um caminho
perseverante —> imitação de Cristo. que mergulha na escuridão interior, tendo
sempre presente a constatação da ausência
I. O primeiro período da MA: séc. XII-XIII. do Amado, e sempre perseverante na kénosis.
Nem todos estão de acordo em enume rar Na sua linguagem poética e em sua forma
entre os místicos Rosvita (Hroswith) de preferida de diálogo reaparece o ideal
Gandersheim (t c. 973), dramaturga e autora cavalheiresco que nela se acentua al raves do
de sete poemetos hãuiotuálicos centra-dos na desejo de possuir o amor, de mergulhar na
contraposição entre o bem e o mal, ou Eva de união esponsal com Deus. Também em
Melk (t 2a metade do séc. XI), com cinco Gertrudes, a Grande, o amor de Deus
pequenos poemas, escritos na língua vulgar, constitui o aspecto fundamental de seus
com ternas narrativos bíblicos. Visio nárias Hxercitia spiritualia (depois de 1289) e
são —> Hildegarda de Bingen e —> Isabel de acompanha suas —> visões e suas —>
Schonau, com obras de interesse cul tural e locuções, recolhidas na obra Legalits divinae
literário. Contudo, ao lado de visões pictatis [Dádiva da divina piedade, 1289-300).
apocalípticas, cosmológicas e simbólicas, Talvez. Gertrudes tenha escrito igualmente o
Hildegarda não se esquece do problema tio l.ibcr specialis gratiac ( O livro da graça especial),
homem e de seu caminho para Deus. Neta, a que narra as visões de -» Matilde de Hacke-born.
mesma concepção do homem, posto como .ser Percebe-se nessas duas monjas uma
entre o mundo material e <> mundo espi- mística esponsal cristocêntrica que conduz à
ritual, conduz à síntese leológieo-salvífica mística trinitária. A história da MA lembra
que estabelece o comportamento ético do ho- ainda as reclusas Jutta de Sangershau-sen (t
mem e, através dele, o relacionamento com 2' metade do séc. XIII) e Wilberg de St.
Deus. Florian (t 1289). A Vita (lat.) de Wilberg é
O fascínio irresistível de —> s. Bernardo, característica da mística esponsal do séc. XIII,
sobretudo em sua obra-prima, Os sermões enquanto que suas experiências refletem o
sobre o Cântico dos ahiticos, que invadiu lambem imenso desejo da —> fruitio Dei com
a Alemanha. Um anónimo compôs os •S7. sensibilidade cada vez maior no gozo dos
Ihidperter Hohe Licd fc. 1160), parálrasc em aspectos emocionais, quase eróticos, da
alemão meio-alto do Cântico bíblico. Na união. O exemplo extremo oferece-o a ex-
interpretação, a aima-esposa é identificada periência mística da beguina Inês Blan -bekin
com a -> Igreja-Maria. Surpreendem a trans- (t 1315), morta como terceira franciscana
parência da linguagem, a harmonia c a doçu - (Anonvmus, Vita c t revcltitioncs ven.
ra da descrição poética da busca da união AM.).
amorosa neste texto que se coloca apenas no Na Vüa B. Christinae Stumbelensis (von
início da mística esponsal. Na rnesma linha Stommeln), dominicana (t 1312), e nas Vidas
pode-se encontrar, em seguida, o poema da monja premonstratense Cristina de Hane
místico Die Tochtcr Syon ( A Filha de Sião) (c. Retteres (f 1292) e da cisterciense
1250), do franciscano Lamprecht de Ratis- Lukardis de überweimar (t 1309} tal desejo se
bona. inflama ao ponto de produzir fenômenos
O séc. XIII foi o primeiro período marca do físicos. Com o séc. XIV, porém, já se prepara a
por um extraordinário tlorescimento da virada em direção à compaixão, em direção ao
mística feminina. Sobressaem três figuras querer compartilhar o sofrimento com
insignes de literatas: a beguina —> Matilde de o Amado > Cristo, típico da piedade tia bai xa
Magdeburgo e as monjas cistercienses de Hell Idade Média, expresso no género literário do
ta, -> Gertrudes, a Grande e —* Matilde de Planetas.
Hackehorri. A obra da beguina de Mag- Entre os monges, a mística esponsal pode-
deburgo Das fliessende IJcltt der CottheiI ( A luz se encontrar no premonstratense Hermano de
que flui da Divindade) contém sete livros de Sleinteld (t 1242/3). Os Hinos marianos
revelações escritas por ordem de seu confessor,
Material com direitos autorais
refletem seu místico esponsalício com Maria,
motivo pelo qual seu nome foi acrescido com

Material com direitos autorais


33 ALEMANHA

o de José. Os escritos dos franciscanos Davi vivida e ensinada à luz do amor cavalheires co e
de Augusta (f 1271) e de Bertoldo de Ratis - da Minne cortês. Em seus escritos continua o
bona (I 1272) e as numerosas obras ascético- tipo de visão além-túmulo, mas ao mesmo tempo
espirituais do dominicano > Alberto Magno o indivíduo e o seu mundo são vistos com novos
não fazem parte da A/A, ainda que suas di- olhos; a existência do homem é limitada em
gressões sobre a —> contemplação, como co- relação ao tempo (introdução ao Relógio) e propõe
nhecimento sobrenatural, de certa maneira a reflexão sobre a morte. De fato, sobretudo no
tenham preparado a especulação mística de séc. XV, aumenta a literatura sobre a a rs
Eckhart. moriendi, com algum reflexo sobre a iconografia.
Sob a influência da escola mística domi-
II. O grande período da MA, O séc. XIV, nicana, começam a se manifestar, no mundo
chamado também de "a escola mística alemã", leigo, correntes espirituais abertas à mística.
apresenta seus maiores expoentes na tríade Os Amigos de Deus (Gottesfreunde) formam um
dominicana Eckhart, Taulere Suso. O gênio movimento de interiorização, iniciado em
de Eckhart manifestou-se em obras (latim e Estrasburgo, seguido por Tauler, e especial-
alemão) de mística prevalentemente mente por Rulman Merswin (t 1382), comer-
intelectuais (Mesenmystik), fundamentada no ciante e escritor do S!cuu-I'clsctt-Huch (Livro
platonismo e marcada pelo esforço de aguda das nove pedras), que foi erroneamente atri-
penetração do mistério de Deus por meio da t f buído a Suso. Ainda que orientado para a
teologia negationis. A atenção que seu século piedade, com sua espera do Amigo que vem do
dedicou ao homem o impulsionou a ques- céu, Rulman projeta-se no mundo ultra-t erre
tionar metafisicamente o relacionamento no com todo o cenário da Traumvision (visões
entre criatura e Criador e a demonstrar como sonhadas), por exemplo, o Bouch von der
a criatura (o homem), posta diante da inex- geistlichen hiter (Livro da escada espiritual).
primível grandeza de Deus e dele totalmente Amigos de Deus eram também sacerdotes como
dependente, pode realizar-se existencialmente. Henrique de Nórdlingen (séc. XIV). Seu nome
O homem pode "retornar a Deus, sua origem está ligado à intensa troca epistolar com a
eterna, porque existe na alma tensão mística dominicana Margarida Ebner (I
transcendente inata (a 'centelha da alma') 1351), que também deve ser arrolada entre os
que cria relacionamento imediato com o Ser Amigos de Deus. Aceitando o convite de
divino". Neste "retorno" metafísico estabelece- Henrique, ela escreveu, em forma de diá rio,
se a união essencial descrita por Eckhart com suas experiências interiores, denomina das
nova linguagem, muitas vezes não com- impropriamente Revelações. Trata-se, na
preendida, para particularizar a fenomenologia realidade, da participação tia paixão de Cris -
da experiência mística. O pensamento de to, vivida por Margarida até ao extremo do
Eckhart coniinua-o J. Tauler, no sentido de desgaste físico.
uma doutrina de vida (I^bcnslchre). 0 co- E neste grande período da AÍA que se de-
nhecimento metafísico de Deus pressupõe ca- senvolve o género Vitae Sororum, coleções de
minho de introversão, porque é no mais ín- breves biografias de religiosas dominicanas que
timo da —> alma que o homem entra em narram quase que exclusivamente as aventuras
relação com o Ser divino e se reconhece real- místicas de numerosas mulheres carismáticas.
mente "deus" cm Deus, se bem que, como Por*exemplo, em Ade-Ihausen, Ana von
criatura, permaneça sempre distinto. O in - Munzingen (t séc. XIV) escreveu uma Crônica com
fluxo de Tauler toi determinante para a pro- trinta e quatro vidas, em Engeltf h)al, Cristina
dução literária subseqüente (as chamadas Ebnerin (t 1356) compôs o Büchlein von der gena-
Instituições tauleriauas, O livro da pobreza den üherlast i[Opúsculo sobre a graça muito
espiritual, ambas estas obras a ele atribuídas, a grande), com cinqüenta vidas e, já anterior-
Theologia Dcutsch, escrita por volta de 1400 mente, em Unlerlinden, Catarina von Ge-
por anônimo, denominado o Frankfurter). bersweiler (t 133045» havia recolhido, na obra
No terceiro da tríade dominicana. II. Suso, Schxvesternhuch, numerosas vidas. Ou- " tros
a influência de Eckhart, por ele defendida, centros foram Tõss, com Elsbelh Slagel (t c.
manilesta-se nas relativamente poucas pági- 1360) iTõsscr Schwesicmhuch), Kireh-berg, onde foi
nas sobre a mística especulativa. Suso, o "ca - escrita uma Irmegard Vita por Elisabeth (?) (séc.
valeiro da Eterna Sabedoria", é. por natureza, XIV); Katharinenthal com Dies s enhofet ter
mais afetivo e movimenta-se em uma Schwestei 11huclv, Oe tenbach, Weilcr, e outros.
dimensão mais psicológica da mística, que Ao lado das Vitae Sororum
nele é, em grande parte, mística da paixão,
ALEMANHA 34

encontram-se também vidas de mulheres situa além da compreensão mística. Por este
místicas que tiveram revelações, como Luit- motivo foi acusado de panteísmo.
gard von Wittichen (t 1348), Adelheid Lang- No período barroco assiste-se a discreto des-
man (t 1375), Elisabeth von Oyc (t 1340), pertar da MA, católica e protestante. —> An-
acrescidas de relações autobiográficas. Em gelus Silesius, convertido, poeta místico, re-
geral, nos mosteiros femininos era quase nor- toma as temáticas da espiritualidade medieval,
mal o fenômeno da experiência mística, que expondo-as com originalidade por meio de
diminui apenas com o declínio da Idade Média. dísticos e rimas (Viajante querub(nico) sem
O que restou foram numerosas composições desenvolver doutrina própria. Em seu pen-
poéticas, em parte destinadas à dança, ou samento teosófico percebe-se a influência de —>
então ao uso paralitúrgico, razão por que são Jacob Böhme e, através dele, as influências da
musicadas com melodias populares ou cosmosofia de Paracelso (Teofrasto de
inspiradas na melodia gregoriana. Um Hohenheim) (t 1541). Böhme e, antes dele,
anônimo, contemporâneo de Eckhart, compôs Valentim Weigel (t 1588), são os expoentes mais
a música Granum sinapis (Canto do grão de importantes da mística especulativa pro-
mostarda), no início do séc. XIV, que traz um testante. Com João Arndt (t 1601) inicia-se a
convite à total —» abnegação, para entrar no mudança para a nova piedade, o que será cha-
mistério de Deus. mado pietismo, cujo representante místico é —*
Gerhard Tersteegen. Com sua tentativa de
III. A Idade Moderna. A A/A do séc. XV defender experiências místicas vitais do pas-
prossegue a literatura hagiogrãfica, mas com sado para torná-las acessíveis à piedade, surge
menos freqüência, pouca originalidade sem um conceito de MA que não se enquadra mais
inspiração. Nos tratados teológicos podem ser nos esquemas tradicionais. A reação católica
vistas algumas páginas de mística nos bene- faz surgir, na Ordem dos Capuchinhos, novos
ditinos: João de Kastl (t c. 1410), autor de De impulsos de experiências místicas, por
adhaerendo Deo ( A adesão a Deus), Bernardo exemplo, A escada da perfeição, do pregador
deWaging(t 1472), Bernardo Mayer (t 1477), no tirolês —> Tomás de Bergamo e Vida de Cristo, de
abade João Tritêmio, ou no ambiente das Martinho de Cochem (t 1712), que defendem a
cartuxas, com Henrique Egger de Kalkar (t tradicional busca da união com Deus.
1408), Nicolau Kempf de Estrasburgo (t 1497), As opiniões dividem-se ao se definir o ro-
autor de um comentário ao Cântico dos cânticos mantismo como o último período da M A , ainda
e do Büchlein von der Hebe Gottes (Opúsculo sobre que formas de mística visionária se mani-
o amor de Deus), ou então no franciscano João festem em -> Ana Catarina Emmerick,
Brugmann de Kcmpen (t 1473). Não se trata, recolhidas e escritas por Clemente Brentano (t
porém, de experiência mística no sentido da 1842). A época empolgante da Idade Média
MA precedente. O racionalismo e o alemã tem o mérito de ter redescoberto obras e
humanismo estão presentes e impedem o figuras insignes, iluminando seu significado
surgimento de arroubos interiores. Um exemplo para a literatura alemã (primeiras reedições
disso oferece-o o Sep-tililium (Sete tratados sobre a com introduções sintéticas, centro de
vida espiritual), segundo as revelações de Heidelberg, com J. von Görrcs).
Dorotéia de Mon-tau (t 1397), mulher casada, No século XX foi iniciado um estudo crítico
depois enclausurada. A obra foi escrita pelo seu sobre a M A com numerosas publicações.
confessor, João de Marienwcrdcr (t c. 1400),
depois de sua morte. BIBI..: Aa. Vv.. La mystique rhénane, colloque de
Strasbourg 16-19 mai 1962. Paris 1963: G.
No limiar da Idade Moderna o pensamento Franling,s.v.. in WMy. 105-109; L.Gnädinger,
teológico-filosófico de —> Nicolau de Cusa merece Deutsche Mystik, Zürich 1989; A.M. Haas,
ser lembrado, porque se coloca na ira-dição Deutsche Mystik, in R. Ncwald -H. de Boor,
neoplatônica-cckhartiana e porque escreveu a Geschichte der Deutsche Literatur, III/2: Die
obra De docta ignorantia, sua obra-prima, Deutsche Uteraturin Späten Mittelalter, München
1987, 234-305; K. Ruh, Geschichte der abendlän-
depois que tivera profunda iluminação dischen Mystik, II: Frauenmystik und
interior. Para ele, é possível aproximar-se da Franziskanische
Verdade e "tocar" o Infinito por meio de Mystik der Frilhzeit, München 1993; F. Vernet.s.v., in
incomprehensibiliter inquirere intelectual, que se DSAM I, 314-351; D. Wehr, Deutsche Mystik,
Münich
Material com direitos autorai
1988. Para a Idade Média: L. Cognct, deles representa a si mesmo c a ioda a
Introduzioneai comunidade, beneficiária, por meio deles, das
mistici renano-jiamminghi, Ciniscllo Bálsamo 1991;
O. Davies, Neil incontro con Dio. La mística nella tra- hénç;"n JS divinas.
dizione nord-europea, Roma 1991; J. Lewis, Biblio- Uma </. recíproca entre Israel e Deus (Ex
graphie zur deutschen Frauenmystik des 19,5: "Se ouvirdes a minha voz e guardardes a
Mittelaltus, minha ÍÍ., sereis para mim uma propriedade
Berlim 1989; F. Vandenbroucke, La spiritualità dei peculiar entre todos os povos") é ratificada
Medioevo, IV/b, Bologna 1991. Para uma exposição
e no monte Sinai. Trata-se de um acoí d< »
apreciação mais completa: F.-W. Wentzlaff- escrito (cl. Ex 31.IS), diferente da promessa
Eggeocrt, verbal feita a Noé, Abraão e Davi. A sua
Deutsche Mystik zwischen Mittelalter und Neuzeit, estrutura
Berlim 1969\ lormal é semelhante à de outros tratados da
Idade do Bronze Recente e se compõe como
Giovanna delia Croce
35 segue: 1. Identificação tle Deus: E\ 20.2; 2.
Prólogo de caráter histórico: Ex 20.2; 3. Esti-
ALIANÇA AI.IANÇA

pui ação da Ex 20.3-17; 4. Bênçãos e mal-


I. O termo exprime a ligação vinculante dições: Dt28; 5. Ratificação: Ex 24,8; 6. Con-
entre Deus e seu povo e indica um objetivo seqüências de uma possível violação.
essencial da reflexão mística. Ouando o povo de Israel transgrediu o
A experiência contemporânea da relaçã o pacto, foi invocada a punição correspondente.
humana com Deus deve ser enquadrada no A tradição do Dcuteronõmio traça a his tória
contexto da tradição bíblica, na qual apare - das violações dessa as quais começam cm Gn 7
cem dois tipos de a . Na que foi instaurada c culminam cm 2Rs 17, quando o reino do
com Noé, - > Abraão e Davi, Deus escolhe esse Norte foi varrido pelos assírios. A narração do
vínculo, sem que haja responsabilidades mú - Dcuteronõmio explica esses acontecimentos
tuas explícitas do outro contraente. Na a. es- como resultados da inlide-lidade de Israel aos
tipulada no Sinai, o povo de Israel aceita obri- pactos; 2Rs 17,7: "Isso (essa destruição)
gações bom determinadas. aconteceu porque os filhos de Israel pecaram
contra o Senhor seu Deus, que os fizera subir
II. Na Bíblia: a. AT. O termo a. aparece
da terra do Egito, liber-tando-os da opressão do
pela primeira vez em Gn 6,18, cm que Deus
Faraó, rei do Egito. Adoraram outros deuses".
promete a Noé salvá-lo do dilúvio com sua
Os profetas do século VIII a.C, Amós e
Iam ília. Kssa benevolência de Deus para com
Oséias, acusam o povo de violar a a. Essas
Noé (cf. Gn 6,8) é formalizada nau., com a
acusações pressupõem que Israel tenha as-
promessa de que nunca mais um dilúvio ex -
sumido determinadas obrigações, mas não é
terminará o gênero humano. Deus dá início
feita nenhuma referência ha, do Sinai. Amós
assim a uma relação especial com Abraão e
denuncia os que "se estendem sobre vestes
com sua descendência, que será numerosa
penhoradas, ao lado de qualquer* altar" i Am
(Gn 17,4) e terá o domínio sobre aquela terra
2,8). Em Ex 22,25 e Dt 24,12-13 é mencionada
(cf. Gn 15,18).
a lei segundo a qual as vestes recebidas em
Deus estipula um pacto com Davi (cf. 2Sm
penhor não podiam ser conservadas à noite. A
7j e lhe promete tornar eternamente estável
principal acusação feita por Oséias e Amós é a
sua casa (cf. 2Sm 23,5: "A minha casa é es-
de idolatria (cf. Os 4, HM 4; Am 5,26). Amós
tável na presença de Deus: ele fez comigo
invoca as punições cominadas no alo da a. no
eterna a."). Se Davi violar a a. (suas obrigações
caso de infidelidade de Israel (cf. Am 2,13-16).
não são, contudo, explicitadas), será castigado
Isaías e Miquéias exprimem preocupações
(cf. 2Sm 7,14), mas as eventuais transgressões
semelhantes por causa da violação da justiça
não invalidarão a a. (cf. 2Sm 7,15: "Mas a
social, à luz das obrigações que decorrem para
minha proteção não se afastará
Israel da estipulação da A. (cf. Is 1.17; 3,14;
dele.,."). O SI 88(8y) celebra o pacto com
10,1-2; Mq 2,2).
Davi (88,4): "Fiz uma aliança com meu eleito,
Depois da destruição de Jerusalém (586
jurei ao meu servo Davi". O que o.salmista
a.C), o Dêutero-lsafas lembra ao povo a a.
louva é a eternidade desse pacto (cf. SI 104,8-
estipulada no tempo de Davi (Is 55,3: "Farei
10; 110,5.9). Ern cada um desses casos é
convosco uma aliança eterna, assegurando-vos
Deus que, por sua graça, estipula o pacto; à
as graças prometidas a Davi"). No Dêutero e no
pessoa só resta aceitar o oferecimento. A
Trito-Isafas, em Jeremias e em Ezequiel ainda
interação se dá sempre entre Deus e um
vem expresso o conceito de a. "eterna" entre
indivíduo -Noé. Abraão, Davi -, mas cada um
Deus e Israel (cf. Is 55,3; 61,8; Jr 32,40; 50,5; (9,24), oferecendo seu sangue pela —> reden-
Ez 16,60; 37,26) e da possibilidade de sua ção eterna; Cristo é, portanto, o mediador da
renovação. Jeremias, como Oséias, denuncia a nova e eterna a.
idolatria de Israel como crime gravíssimo (cf.
Jr 11.10) contra a a. e ameaça 11 povo com as Conclusão. Um dos eventos místicos centrais
conseqüências de sua violação. No capitulo 31 da história da salvação é a instauração da a.
de Jeremias, o tom muda quando o profeta, entre Deus e o povo de Israel. No âmbi -to dessa
vendo a destruição de Jerusalém, proclama o a. O povo se tomou beneficiário das promessas
advento de uma nova a. (cf. Jr 31,31-34). divinas (cf. Gn 9,15; Ex 2,24; Lv 26,42; Ez
Ezequiel faz eco a ele (cf. Ez 16,60-62; 37,22- 16,60). Os profetas Amós e Oséias indicam que
38). Os autores do NT viram na morte e a experiência humana da injustiça sofrida por
ressurreição de —> Jesus os eventos que Israel comporta a intervenção de Deus em lavor
inauguraram essa nova a. de seu povo por causa da a. O cará ler de
b. NT. -> São Paulo emprega os termos eternidade dela (cf. Gn 9,16;
promessa e a. como sinônimos (cf. Gl 3,17: uma 17,7; 2Sm 23,5; Sl 104,10; Is 55.3; 61,8; Jr
lei promulgada 430 anos depois não invalida 32,40; Ez 16,60) desperta novamente a -> es-
uma a. ratificada por Deus e não anula a perança do povo, que renegara suas responsa-
promessa), Ern Gl 3-4 o apóstolo trata do bilidades e, por isso, sofrera o exílio. Mediante o
problema da inclusão dos gentios na promessa, sangue de Cristo morto e ressuscitado foi
interpretando de modo novo a a. de Deus com instaurada nova e eterna a., à qual os cristãos
Abraão. Na passagen de Gn 12,7, a "tua acedem por meio do - > batismo, Essa a. com
descendência" é referida por ele a Cristo. Deus em Cristo tece a trama de uma relação
Desse modo Paulo mostra que a a. feita com nova e autêntica, a qual leva â —» comunhão
Abraão não loi anulada no Sinai, mas apenas mística de amor com as Pessoas divinas no
suspensa até seu cumprimento em Cristo. âmbito da —> Igreja. A a. com Deus é,
Cristo, novo - > Adão, "descendência" do velho portanto, o fim último da criação; é por esse
Adão, plenif ica a promessa, estendida agora motivo que os místicos de lodos os tempos
aos gentios, os quais, pela lé, são justificados vêem nela a trama daquela realidade deliní -da
e considerados destinatários da a. de Deus com por eles como "matrimônio espiritual",
Abraão.
Bmi..: A. Bonora, vv., iii XDTB. 21-35; W.J.
Fm ICor 1 1,25, Paulo declara que a nova
Dum-brell. Convenam and Creation: a Theotogy
a., inaugurada na cru/ por Cristo, foi renova- uf Old lestanient Cf}i:vi'iumí\, Nashville 1984; <i.
da no ato da distribuição do vinho ("Do mesmo Helewa, SA'., in DES I, 69-98; Id. Atleanza nuova
modo... tomou o cálice, dizendo: Este cálice é uc! Cristo Cesti. in RivVttSp 29 (.1975). 121-137,
a nova a. em meu sangue; todas as vezes que 265-282; 30 (1976), 5-31; D.R. Hiller, Covcnatu:
lhe History of a Bihlical Idea, Bahmioie 1969;
dele beberdes, fazei-o em memória de mim'"). DJ. McCarlhy, treaty and Covenant, Roma
O oferecimento do sangue de Cristo 1978'; EAV. Nicliolsnn, Gvd and His Peopte:
estabeleceu uma nova ligação com Deus, uma Covenuni and Theoíogy in lhe Old Testament,
vez que ele, como diz são Paulo em Rm 3,25, é Oxford 1986.
"instrumento de propiciação", por meio do
qual os cristãos são justificados (Rm 5,9: G. Motrisoti
"Agora, justificados por seu sangue") e
convidados para a nova a. Nos evangelhos
sinóticos Jesus declara, por ocasião da última
ceia, que o santrue derramado por ele é o da
nova a. (cf. Mt 26.2S; Mc 14,24; Lc 22,20). A a.
mosaica foi ratificada pela aspersão do povo
com o sangue espalhado sobre o altar (cf. Ex ALMA
24,6-8). Agora o sangue derramado por Jesus
introduz o povo na nova a. I. A noção. O termo a. (do grego, tinemos,
Esse conceito teológico é esclarecido em Hb "vento"} é riquíssimo de significados, eviden-
8. Com a citação de Jr 31,31-34 o autor ciados pela contínua reflexão st >hre o
demonstra que, de certa forma, a a. mosaica homem, no decurso das culturas hebraica,
era Talha e que, por isso, a renovação se im- grega e ocidental, que aqui nos interessam.
punha. Novamente o strnbolo-chave é o san- Na primeira, a a. (em hebraico, nefesh, ou
gue derramado para a remissão dos —+ peca- seja, alma, vida, pessoa) é vida do homem (cf.
dos, levado pelo sumo sacerdote para o Santo Gn 2,7) e princípio de > sentimentos, afe tos,
dos Santos (cl. Hb 9,7). Cristo, ao contrário, pensamentos e volições; no judaísmo tardio,
não entra em santuário humano, mas no céu aa. sobrevive ao —> corpo depois da morte da
Material com direitos autorais
pessoa (cf. Sb 9,1 5) c ressuscitará com o cor-
po (cf. 2Mc 12) num dia indeterminado, no
fim dos tempos, [tara uma vida perene e feliz
no paraíso ou infeliz no inferno (ei. Mc 12,18-
27), em condições existenciais diferentes das
terrenas,
A a., segundo os gregos, é uma realidade
mais complexa. Segundo —» Platão, ela é es-
truturada em três planos ou partes: a mais
alta é a racional, a qual conhece as idéias ou
formas abstratas e reais das coisas; ela deve
libertar-se das outras duas partes e dominá-las;
a segunda é a irracional concupiscfvel, e
a terceira é a inacional irascivel. Essas úlli
37 ALMA

mas são correlatas de maneira mais vital com o divina que se antecipa c da resposta humana
corpo, a cujo condicionamento estão sujeitas. que acolhe e colabora, aü. pode libertar-se
Aristóteles (t 322 a.C.) considera a a. princípio afetivamente dos bens naturais (sexuais,
único, vital, indispensável ao corpo, com o sensitivos, inlelectivos etc.) e progredir
qual (à semelhança da forma e da matéria, mediante a ajuda dos > sacramentos, da > as-
que compõem a substância de uma realidade) cese e da —> oração até amar a Deus sobre todas
compõe o vivente humano, uno e indivisível. as coisas. Assim a a. é situada no estado de
No composto vivente humano, a ÍÍ. é o vida contemplativa, no qual, por meio de
princípio de todas as funções: racionais, Cristo e sob a direção do —> Espírito Santo,
sensitivas e vegetativas. une-se a Deus. tendo na leira uma vida entre
A teologia cristã ocidental, promovida por o natural e o paradisíaco.
ilustres personalidades, entre as quais —> santo
Agostinho de Ilipona e —> santo Tornas de III, No plano místico. A experiência da a.,
Aquino, mediante terminologias e categorias nupcialmente transformada em Deus, pode
tiradas do platonismo e do arislotelismo, afir- concretizar-se no conhecimento beatificante
ma que a a. é uma realidade dinâmica, ima- das verdades divinas, na embriaguez de amor
terial ou espiritual, imortal, individual, criada pelas Pessoas da Santíssima Trindade e na
por Deus e infundida no ser humano quando dedicação total à causa do reino de Deus na
este é constituído como sistema biológico novo e terra. O estado místico da a. pode também
autônomo, com a disposição de potenciar a aparecer externamente em -> fenômenos de
atividade dela, em desenvolvimento progressivo exceção, como cochilos da pessoa, estado de
de funções vegetativas, sensitivas e racionais. alegria, —> visões, - êxtases, -> levitações
Portanto, na pessoa humana, a CL é fonte de etc.
crescimento biológico, de tendências, de As poucas pessoas que tiveram capacidade,
emoções, de sentimentos, de recordações, de preceito cie obediência e luz do alio paia
afetos, de pensamento, de intuições, de esco- descrever a história de sua a., que vivia a ex-
lhas responsáveis, de volições e de toda expe- periência religiosa em termos excepcional-
riência íenomênica superior Na atuação de seu mente místicos, usaram palavras e frases da
potencial, ela é condicionada pelo corpo, mais linguagem profana, atribuindo a elas signifi -
ou menos perfeito, e sujeita, no contínuo cado diferente. Todos esses escritores místicos
processo vital, â interferência de elementos rejeitam a cultura literária e teológica da
internos e externos nem sempre positivos. tradição católica e, em particular, seguem os
paradigmas da psicologia escolástica. Faltam
II. A teologia católica, atenta às indicações da até agora escritores místicos que usem os
revelação contidas no AT c no NT, afirma que a dados das ciências humanas modernas.
a. de toda pessoa humana é afetada por Nos escritos dos místicos encontram-se
desordem moral (pecado original e indicações detalhadas sobre a a.: há nela uma
consequências de enfraquecimento da psique parte inferior, chamada também sensitiva,
e do corpo) e conturbada por tendências con- sensual ou corpórea, a qual compreende os
fusas para o bem-estar e a sobrevivência. Não órgãos e as potências da vida vegetativa, os
obstante, a a. permanece perfectível e capaz cinco sentidos externos, os quatro sentidos
de receber valores sobrenaturais. Com eleito, internos (sentido comum, fantasia, estima tiva
segundo um plano salvífico eterno de Deus, — e memória) e os —» apetites irascível e
> Cristo, —> Verbo encarnado, pelo - > batis- concupiscível. Há a parte superior, chamada
mo olerece: o perdão dos pecados, a —> liberta- também inteleetiva ou espiritual, a qual con-
ção da servidão satânica, a -> graça santi- tém as faculdades do —* intelecto, da —> von-
ficante, a qual se desdobra ern —> virtudes tade e da -> memória (esta, às vezes, confun-
infusas —> teóloga is e morais, as graças dida com a memória sensitiva). Essas partes
atirais, têm dignidade diferente, influência recípro ca
—> carismas etc, de modo a tornai a pessoa e subordinação da corpórea à espiritual. A
apta para uma relação religiosa renovada com parte inferior influi mais negativamente na
Deus-Tiindade (relação de liliaçáo, de superior, a não ser que o aparelho sensitivo
fraternidade, de esponsal idade). Nessa relação tenha sido purificado por uma forte —* ascese
a pessoa percebe a capacidade de experimentar cristã e subordinado â parte superior tia a .
uma nova aproximação do mistério trinilário, Esta, sob a cooperação da graça divina, influi
uma vez que Deus quer glorificar toda ti* na parte interior, recompondo a unidade
remida por Cristo. Na troca recíproca da graça psíquica de todas as funções e coordenando
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as para a recepção da luz e do amor que Deus
infunde na parte superior. I. Vida e obras. Não sabemos quase nada da
Nesta os místicos identificam um fundo, um vida desse franciscano espanhol, a não ser que
ápice, um centro e uma boca. Esses ter- nasceu em Madri, provavelmente entre 1480 e
AI VIA AI 0\S0 ) ) ] [ MADRI 1485, tomou o hábito na província de Toledo
ou na província de são Tiago da Oh3S
mos indicam a ubicação espiritual do ponto
mais consciente c mais expressivo da expe- serváncia Regular, viveu por alguns anos em
riência amorosa da a. que vive a —» união ín- Salamanca (1529-1533?) e morreu por volta de
tima com Deus. 1535.
À vida contemplativa em geral opõem-se, Seu livro, Arte para servir a Deus (1521),
segundo a tradição ascética, os inimigas da tornou-se um clássico de ressonância européia
tdma: carne, mundo, demônio. O primeiro é a junto com outro, Bspelho de pessoas ilustres
corporeidade da pessoa humana, que o peca- (1524), que é uma aplicação concreta da
do (original e atual) enfraqueceu, seja re- doutrina da Ar/e. Das duas obras existem edi-
duzindo seu potencial, seja desordenando a ções em espanhol, latim, francês, flamengo,
coordenação das necessidades naturais de português, inglês, alemão e italiano. 1 O Espelho
fundo dos instintos, das tendências, dos sen- de pessoas ilustres, quase sempre anexado à arte
timentos, de modo que tudo isso inclina mais nas publicações, é ensaio de espiritualidade
para a satisfação das partes do que para a para leigos pertencentes à nobreza, segundo
perfeição do todo. O mundo, isto é, as reali- a concepção do tempo. Ele apresenta as
dades visíveis que cercam a pessoa, tem, em motivações, úteis principalmente para os
seus valores que aparecem, forte capacidade grandes deste mundo, para se cultivar a vida
de sedução, desviand<»a a. da referência ime- interior, ensina como dirigir a própria família
diata a Deus, autor dessas realidades, e ilu- em sentido cristão, como santificar as
dindo-a, como se fossem a fonte da felicidade preocupações e ocupações, as diversões, o
perene. O terceiro inimigo da a. que está em repouso e os dias de festa, e propõe o exercício
amizade com Deus é o demônio, porque, da —» oração e da —> contemplação, a prática
mediante subtilezas em apresentar-lhe valores das —> virtudes e a utilidade da meditação
carnais e mundanos, pode enfastiar ou sobre a morte.
afrouxar a relação entre ela e Deus e, no pior
dos casos, fazê-la interromper essa relação, 11. Ensinamento espiritual. A finalidade da
induzindo-a ao pecado mortal. Ele é, todavia, arte, que —> Teresa de Avila elogiou muito, 2 é
inimigo de armas fracas para n u . que vive a de fornecer ajuda "para aprender a traduzir em
em amizade com Cristo, que venceu Satanás ato as grandes coisas que a Escritura nos
para si e para seus amigos. ensina; também a vida espiritual tem
necessidade de uma arte". Na primeira parte, A.
Buiu: Aa.Vv. L'anima dcWuomo, Milão 1971; M.
Bergamo, Lanatomia deü anima, Bolonha I99I;B. sustenta que todos são chamados à —>
Dictschc, Der Seelengrund nach den deutschen und santidade, principalmene os religiosos. "A
lateinischen Predigten, in Id., Meister Ecldiart der verdadeira santidade consiste em ser o mesmo
Prediger, Freiburg in Br. 1960. 200-258; A. espírito e o mesmo querer que Deus." É
Gardcil. IM strueture de t a r n e et l'experience necessário, por isso, agir sempre com a in-
mystique, Paris 1927; U. Kern, Gründende Tiefe
und off ene Weite, in Freihurger Zeitschrift für tenção de fazer o que Deus quer e porque
Philosophie und Tlieologie, 27 (1980), 352-382; H. Deus o quer: "Não somente com amor, mas com
Klinisch. Das Wort "Grund" in der Sprache der amor e por amor". Foi assim que —> Cristo fez a
deutschen Mystik des 14 und 15. Jahrunaerts, vontade do -» Pai.
Osnabrück 1929; J. Marechal, Eludes O —> pecado perturbou a harmonia da
surtapsychologiedes mystiques, 2 vol., Paris 1937;
G.G. Pesenti, s.v., in DES'l, 142-146; L. Rcypens, alma. Para reparar o dano causado pelo pe-
Arne (Stmcturesdaprèsles mystiques), in cado e para chegar ao puto amor de Deus
DSAM1,433-469; R. Zavalloni, l£ strutture foram-nos dados vários instrumentos, espe-
antropologiche e l'espe-rienza religiosa dell'uomo, in cialmente a —> vontade, "o mais nobre ins-
La mistica \, 41-72.
trumento da alma".
G. G. Pesenti Na segunda parte, a arte fala de "alguns
exercícios para a reparação do dano da alma",
efeito do pecado. Esses exercícios são: a. a
contrição; b. o ódio a si (o aborrecimento de si,
isto é , a recusa de tudo o que contenha
alguma satisfação egoísta e que não seja "de
Deus ou para Deus"); c. a oração, especialmente
ALONSO DE MADRI
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a oração de súplica como manifestação das (1958), 306-331; 31 (1961), 218-229.645-655; Id.. En
próprias necessidades a Deus; d. a prática das tornoa la biografia de Fray Alonso de Madrid, in
Estúdios Franciscanos, 63 (1962), 335-352; Id.,
virtudes, não num exercício múltiplo das Fray Alonso de Madrid, educador de la voluntad y
várias viritudes, porque o que importa é docior dei puro amor, in Aa.
"aprendê-las todas do livro da vida. que é Je- Vv., Corrientes espirituales en la Espaüa delsigto
sus Cristo, especialmente de sua paixão". XVI, Barcelona 1963, 283-296; J. Goyens, s.v., in
A terceira parle da arte ê mais con- DSAM 1,389-391; E. Pacho, s.v., in DES1,99-100;
M.Tictz, SM, in H'Vfv\ 12.
templativa e tem como tema o amor: o amor a
Deus é a ocupação mais nobre de ioda cria - T Janscti
tura.
A. dedica parágrafos inflamados ao tema
do amor a Deus, distinguindo nele vários
graus. O primeiro grau ê amar a Deus como
benfeitor doce, saboroso e comunicável. Esse
amor é bom, mas não perfeito. Os princi-
piantes devem exercitar-se nele, mas não ALUCINAÇÃO
pensar que a doçura e a suavidade que se
saboreiam na contemplação da bondade de I. Definição. A palavra a. pode ser defini-
Deus sejam o verdadeiro amor: "Esse amor è da como "percepção sem objeto", isto é, como
traço, porque é amor ao amado por interesse e percepção falsa, que tem as características
por doçura própria". Não obstante, ele é físicas da percepção, mas que surge sem
indispensável para que a pessoa se desapegue estimulação sensorial adequada. Essa percep-
das coisas vãs e se disponha para os atos de um ção não é reconhecida como falsa nem em
amor' mais elevado. O verdadeiro amor, como relação a um raciocínio crítico, nem cm rela -
o vemos no evangelho, é ção à evidência.
"uma obra ou um ato que a vontade la/, ou O termo a. vem do latim, hallucinatio, "va-
produz, amando e querendo muito, às vezes gabundagem da mente". No significado cor-
com grande doçura, que Deus seja o que e e rente foi introduzido, cm 1817, por Esqui rol
lenha glória, domínio e soberania sobre lo -dos (autor do tratado Des maladies mentales, de
nós e s< >hre todas as coisas, e por si mesmo; 1837), embora a primeira citação nesse sen-tido
e que tudo o que existe e pode existir o ame e seja atribuída a Fernel (1574). Mas esses
o sirva e lhe dê glória só pela sua bondade e fenômenos psicossensoriais já eram conhecidos
diunidade infinitas". dos gregos e dos latinos, se bem que narrados
O amor ao próxin» > é a manifestação con- de modo elementar.
creta do amor a Deus. Devemos amar o
próximo como o Redentor nos amou. Nin guém II. Descrição do fenômeno. Do ponto de
deve ser excluído de nosso amor, nem os maus, vista descritivo, o primeiro elemento a consi-
porque nosso Pai c Senhor ama a todos. derar é o aspecto da fisicidade" da percep-
O amor a nós deve ser entendido como ção alucinatória. Isso significa que a a. tem
empenho em amarmos tudo o que há de bom características físicas que podem ser sobre-
em nós como dom de Deus, agradecendo-lhe por postas às da percepção normal, as quais, jun-
esses dons. Amar a si mesmo significa empregar to com a estruturação muitas vezes elevada
os dons recebidos para o benefício e o proveito da experiência alucinatória (pensemos, por
próprios, não pondo o eu no centro, mas exemplo, nas —> vozes ou nas visões de pes-
ordenando tudo para a glória de Deus. soas), dão ha. os traços de realidade cuja exis-
A. permanece no caminho da tradição, tência não é possível pôr em dúvida. Essa falsa
apresentando sua doutrina de forma eficaz e experiência não è corrigívcl pela critica e c
penetrante. Seu caráter metódico explica por que vivida como verdade incontestável. É freqüen-
foi apreciado por autores místicos e espirituais te que o conteúdo e o significado da a. se re-
dos séculos XVI e XVII. firam ao próprio paciente.
NOTAS: 1 Arte di setvire a Dio; Specchio deite persone
iltustri, Veneza 1558;2 Teresa de Ávila, Vida 13. III. Formas de a. As a. podem dizer
respeito a vários órgãos sensoriais. As mais
BIBU: Obras: Edição crítica di J.B. Gomis, Místi-
cos franciscanos espanoles, I. Madri 1948, n. comuns são as a. auditivas, representadas
38,83-211. Estudos: I >< maio I >e Monleras, por "vozes", muitas vezes cochichadas ou
Dios, ethombre v et mundo en Alonso de Madrid v sussurradas, mais raramente manifestadas
Diego de Estella, ín Collectanea Franciscana, 27 com voz clara. Em geral os tons são alusivos,
(1957), 233-281,345-384; 28 (1958), Bibliographie ofensivos ou ameaçadores. Só raramente as-
dAlonso de Madrid, in Collectanea Franciscana, 28
sumem conotações "positivas" no sentido de
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guia e conselho à pessoa. No caso das a. vi-
suais, trata-se frequentemente de imagens de
tipo primitivo. Outros tipos dea. são os táteis,

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55 Al 0\S(> ])!■: MAORI \l I ClNAÇÂO

ALIX INAÇÃO

cinestésicas, olf ativas, gustativas cie. Os con- narram visões sobrenaturais ou palavras
teúdos se referem, na sua grande maioria, a divinas ouvidas, porque essas coisas são
temáticas de natureza persecutória, a idéias causadas pela fantasia delas.
de grandeza, a temáticas de culpa ou sexu ais. No campo religioso, as a. podem, mas ra-
Essas características se encontram em muitas ramente, aparecer na forma de cenas celestiais,
doenças psíquicas (esquizofrenia, distúrbios como rostos de santos ou de Deus (a. emotivas),
do humor, uso de substâncias psi -coativas, ou ser representadas por vozes de santos,
distúrbios orgânicos etc). englobadas em delírio místico. Em outros
Asa. podem, todavia, ser observadas também em casos, as a. podem ter uma fenomenologia
distúrbios "não-psieóticos", prevalentemente cinestésica, representada no contexto de um
histéricos, com fenômenos tanto visuais como "delírio de demonopatia interna": os pacientes
auditivos, geralmente bem organizados e percebem que o demónio está se movendo em
freqüentemente de conteúdo fantástico. seu interior, causando percepções de dor. A sua
Em alguns casos podem-se verificar epi- descrição se insere num delírio articulado de
sódios de 'percepção sem objeto", mesmo em culpa e de perseguição do — > demônio ou de
pessoas não afetadas por nenhum distúrbio castigo divino. Quando as a, são olfativas, a
psíquico. Acontecimentos desse tipo podem pessoa poderá ter a percepção de perdîmes ou
dar-se em circunstâncias particulares de pri- de odores nauseabundos; estes, em sua mente,
vação de sono, em situações anormais de fa - serão expressões do inferno. São Irequentes as
diga ou estresse (entre as quais, por exemplo, a. de natureza sexual, nas quais mulheres e
as "a. causadas por susto" durante a guerra ou moças têm a sensação de terem sido
as "a. provocadas por luto", depois da morte violentadas por demónios ou por seus adeptos.
do cônjuge). Todavia, tais a. aparecem geralmente nas
doenças psíquicas mencionadas atrás. A. cm
IV. Distinção entre a. e ilusões. É impor- pessoas não-doentes podem ser observadas
tante distinguir entre a. e ■> ilusões; nestas, principalmente nas sociedades nãt ( -oci-
ao lado de um objeto real externo, verifica-se dentais, em reuniões coletivas, durante ma-
dislorsão da percepção com completamento nifestações particulares de caráter mágico ou
irreal do fenômeno perceptivo, completamen- em algumas celebrações de natureza religiosa.
to devido â experiência subjetiva da pessoa. Mas civilizações ocidentais, a verificação de a.
Tais fenômenos podem aparecer quando o rituais ou de massa deve ser considerada
objeto a ser percebido não está adequadamente simplesmente como excepcional. Às vezes
estruturado ou é falho em alguns pontos. Uma podem verificar-se fenômenos de "ilusões
tipologia particular de ilusões é a relativa às afetivas" (como, por exemplo, quando se vê um
"ilusões holotímicas ou afetivas", que apare- crucifixo na mancha de uma parede).
cem em conexão com ai terações das situações
emocionais de lundo. A base disso é uma RIIÏL.: American Psychiatrie Association,
estmturação emotiva particular, a qual con- Diagnostic a i ul Sti i zi > / j ( a l \ ta > ;ual of
diciona a expectativa perceptiva (por Mental Disorders, Wash i ng -ton 1994*; C.
Andrade - S. Strinath - A.C. Andrade, The
exemplo, Hallucinations in Non-psychotic Suites, in G«-
jovens assustados, ao passarem por um cemi- nadian Journal uf Psychiatry, 34 (1989), 7U4-
tério à noite, podem ver a figura de uma árvo- 706; K. Asaad - B. S lia piro, Hallucinations;
re como uma figura humana ameaçadora). Theore tical and clinn ai Ovvrvie\\\ a i American
Journal o f Psvi hiatry, !43 (1986), 1U8.S-1097;
H . Babkoff- H. C. Siiiget Al., Pcrceptual Distot'iions
V. A. e mística. A a . tem destaque particu- and Hallucinations Reported Dur ira* the Course
lar no âmbito da mística, por causa da neces- ofSleep Deprivation, in Perccptual and Motor Skiti.
sidade de distinguir entre fenômenos de na- 6S Í1989). 7S7-79S: L. Bini -T. Baz/i. Trattiito di
tureza espiritual, como visões. ■-> locuções, psichiatria. Milâo 1971/74**; E. Hoganelli, Corpo
e spirito, Roma I951;G.B. Cassano-A. D'En-
—> revelações, e fenômenos de natureza psi- rieoel Al.. Trunato h aliam > di Psichiatrîa. Milão
copatológica, como as a. 1993; A. Farges, Lespliénoménes mystiques, II.
No Castelo interior (Sextas mansões, 3) —> Paris 1923, 42-107; A. Freedman et Al.. Tra ttûto
santa Teresa de Ávila, escrevendo sobre pessoas di psicf jiairia. Padova 1984; I. Gagey,
de equilíbrio frágil ou de intensa melancolia, fítáiomáiesmystiques, inDSAAÍ XII/1, 1259-1274; M.
Geldcn - D. Ôath-R. Mavou (org. por), Oxford
diz que não se deve acreditar nelas quando
Material com direitos autorais
Texthook of Psychiatry, Oxford 1989; A. Jaffe, típico da piedade e, tomado nesse sentido, o
Apjxiritions, Fantômes, rêves et mythes, Paris 1983; Dr. G. Mara nó n o diagnostica como 'câncer
K. Jaspers, Psicopatologia générale. Il pensiero
sciemifico, Roma 1964; 1. Modai-P. Sirola et AL, da mística", e M. Mir o considera fenômeno
Conversive Hallucination, in Journal ofNervous and autóctone ou próprio da Espanha.
Mental Disease, 168 (1990), 564-565; P. Quercy, Seguindo a historiografia e por dever de
IMS hallucinations. Philosophes e mystiques, Paris clareza, tomá-lo-emos aqui no sentido de
1930; G.C. Rcda, Psichiatria, Turim 1993 2 ; I. desvio das fortes correntes espirituais, ou,
Rodriguez, s.u, inDES 1,98-99; I.M. Sutter. S M , in
A. Porot. Dizionario di psichiatria, Roma 1962, 49- sucintamente, no sentido de heresia mística,
52; J. Tonquedec, Les maladies nerveuses ou fenômeno que, pela sua obscuridade, con-
mentales et les manifestations diaboliques, Paris trasta com a luminosa beleza do misticismo
1938,5-6. genuíno.
II. Os grupos. Seja como for, o fenômeno
G. l \ Paolucci dos ÍÍ. é uma realidade histórica importante.
ALUMBRADOS Podem e devem ser distinguidos seis grupos,
prescindindo-se dos casos isolados que, vez
I. O fenômeno. A palavra a. é de origem
por ou tia, surgem aqui e ali.
espanhola e teve mais difusão do que precisão.
Esses grupos são: I. O do Reino de Toledo (c.
De falo, quase lodos os dicionários e en-
1510-1530), no centro geográfico da Es-
ciclopédias, manuais e obras especializados
panha; coincide com o poderoso despertar da
empregam esse termo, geralmente sem de finir
Espanha mística, é guiado prevalentemente
seu núcleo central e seu contorno, até pondo
por leigos, homens e mulheres, e quanto ao
cm d vívida a existência histórica dos a .
conteúdo doutrinal, é o de maior pureza; 2.
Assim, por exemplo, H. Bremond chegou a
0 de Estremadura (1570-1590), retomada
dizer que eles são uma espécie de "fantasma"
poderosa e híbrida de um renascimento reli-
historiográfico, porque todos falam deles,
gioso promovido por pregadores itinerantes,
mas ninguém procura sabei o que são. R.
de moralidade duvidosa, favorecido pelas
Knox, seguindo Bremond, diz mais ou menos
condições climáticas e demográficas da re-
a mesma coisa. Outros autores, ao contrário,
gião; 3. O da Alta Andaluzia (1575-1590),
ali miam que são um fenômeno importante da
muito próximo do precedente quanto à ori-
Espanha mística, embora,
eem, bastante sensível às instâncias da bru-
historiograiicaincnle falando, sem traços
\aria de Montilla, atingiu desenvolvimento
definidos: "Existe na Espanha uma seita
carismático em Baeza, â sombra da Univer-
misteriosa, cujo nome volta constantemente
sidade, e se difundiu cm Jaén, sob a direçã o
nos textos, a dos iluminados ou a . O próprio
de Gaspar Lucas e Maria Romera; 4. O do
falo da existência dessa seita tem grande
Peru (1570-1580), de tom tipicamente crioulo
importância histórica para compreender a
(cm seu significado exato), de pouca extensão,
alma espanhola". 1
mas de raízes ideológicas muito pro-
E oportuno, por isso, fazer algumas obser-
1 undas, metade angelisla (do anjo de Maria
vações como ponto de partida: 1. A palavra ÍÍ.
Pizarro) e metade hheracionista, porque pro-
equivale, filológica ou semanticamente, a ilu-
pugnava a libertação ou independência em
minados, raiz léxica latina (illuminati); 2. Em
relação ao poder temporal (Espanha) e ao
sua acepção original e em sentido positivo,
poder eclesiástico (Roma), defendendo uma
ela foi usada pelos próprios a.: "O bispo
"nova Igreja", sem rugas de tempo e sem
Ca/alla e sua irmã, Maria de Ca/alla," a apli-
manchas cie corrupção; 5. C) do Mcxix o {\
cavam aos que se reuniam para exercícios de
580-1605), com epicentros em Puebla dos
piedade; em tais assembléias ou reuniões 'Ta
Anjos e Cidade do México, de poucos adeptos,
avam da luz que foi dada a —> são Paulo" e
de trama fraca, mas com suas eslumaiuras de
sustentavam "que todos podiam ser ilumi -
"céus e terra novos' Icf. Ap 21,5), com seu
nados (...), e os que se reuniam para isso se
fervor apocalíptico e com seu milenarismo
chamavam iluminados (= ÍÍ. )";: 3. O povo deu a
inspirado ideologicamente em Joaquim de
esse nome ou palavra e aos que o encar navam
Fiore (t 1202) e praticamente de paixões
sentido negativo, o qual foi assumido pela
muito humanas; e ó. Ü de Sevilha (1605-
Inquisição, para a qual ele passou a equivaler
1630). que foi o mais numeroso e o mais
a heresia mística: "Por causa de nossos —>
folclórico, orquestrado pelo "mestre" João de
pecados, já há entre os homens quem considere
Villapando, ex-carmelita, e pela "madre"
ultraje (...) falar a Deus, porque as pessoas
Catarina de Jesus, oriunda de Bae/a.
chamam dehipôcritas, A. e homens maus aos
Como se vê, trata-se de grupos históricos,
que lalam a Dcu.s";5 4. Conseqüentemente o
não de fanstasmas historiográficos.
nome ou a palavra a. designa uru subproduto
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57 Al 0\S(> ])!■: MAORI \l I ClNAÇÂO
III. A doutrina. Para uma abordagem da impecabilidade - alimentava urna eondula
mensagem mística do alumbiadisnío espa - desenfreada.
nhol há uma fonte primordial: os processos Se bem que a Inquisição, por razões
instruídos pelo Santo Olício. Cirande núme - metodológicas, associasse a heresia dos a. à
ro desses processos está conservado, princi- luterana, e embora tenha pretendido ligarão
palmente no arquivo histórico nacional de erasmismo a ideologia de Pedro Ruiz de
Madri e no arquivo geral da nação, no Méxi - Alcaraz e de Maria de Cazalla, difusores dessa
co. Ex ísiem, além disso, os Editos contra os a., tese, hoje ninguém se deixa influenciar por
que eram Sílahos ou sumários dos presu- essas afirmações. Eles não eram e nem podiam
míveis erros da seita, que os oficiais do San- ser luteranos e muito menos erasmia-nos, dada
to Oficio compilavam meticulosame nte, par- sua escassa bagagem cultural, o que não
tindo dos depoimentos das testemunhas e impede de reconhecer que se tratava de uma
dos próprios réus. São muito ricos de dados heresia radical e de consequências tremendas.
também os Memoriais de finei Alonso de la Fuente O Édito de 1574 tentou circunscrever a
(t 1592), que foi o descobridor do fenômeno pululante seita dos a. da Extremadura. Esse
alumbradista da Extremadura e da Alta édito é breve, e suas cláusulas ou pi oposições,
Andaluzia e que se empenhou em debelá-lo. enraizadas no húmus dos a. toledanos, su-
Considerando-se só os Editos, os principais são põem um florescimento de sinal "sensual",
três: o primeiro é o de 1525, promulgado pelo niiiiiiiuli j-seesse qualilicativi) em sua acepção
inquisidor geral, Dom Alonso Manrique; o ampla, isto é, designativa dos —» sentidos e de
segundo é o de 1 574, promulgado pelo seus mecanismos biológicos ou passionais. A
inquisitor geral, Dom Caspar de Ouiroua.com proposição décima condensa esse édito; se
algumas cláusulas ou acres-cimos posteriores; recorrermos às glosas de Alonso de la Fuente,
esse Edito foi juntado ao Edito geral, que era teremos uma interpretação correta dele.
repetido todos os anos na quaresma, para ser De maior interesse são as variantes dos a.
atualizado ou não ser esquecido; ele foi crioulos, com suas antecipações prematuras
praticamente o texto básico dos Editos que se da -> teologia da libertação e com suas projeções
liam nos distritos de Lima e do México; o milenaristas ou escatológicas, assuntos esses
terceiro é o de 1623, promulgado pelo que vão além dos limites desta vida, hic et
inquisidor geral, Dom Andrés Pacheco, nunc.
diretamente contra os a. de Sevilha, e Quanto ao Édito de 1623, que é o mais
preparado pelos teólogos daquele tribunal com famoso e o mais conhecido, devemos dizer que
base nos processos em curso; à promulgação contém poucas novidades em relação aos
desse E.aito luram juntados os Editos de 1525 precedentes: completa-os - os que o prepararam
e de 1 574. tiveram presentes os éditos de 1525
O Edito de 1525 contém quarenta e oito e de 1574 - e lhes acrescenta grandeza e
proposições, tiradas, em sua maioria, das de- espetacularidade. Ele contém setenta e seis
clarações das testemunhas e dos réus; por proposições, distribuídas em dezessete blocos
esse motivo, algumas têm iormulaçãoou re- ou seções temáticas; 1. oração; 2. obe* diência;
dação obscura ou são repetidas, chegando até 3. confissão; 4. comunhão; 5. —> perfeição; 6. —»
a parecer contraditórias. A minuciosa e amor a Deus; 7. —> união com Deus; 8. ->
laboriosa análise de M. Ortega identificou o luxúria; 9. excomunhão; 10. -»arrebatamentos
autor, a testemunha, o tempo e o lugar de (êxtases); 11. purgatório; 12. água benta; 13.
quase todas as proposições. O núcleo central imagens; 14. reuniões ou conventículos; 15.
do alumbradismo toledano - o mais puro e o matrimônio; 16. -> estigmas ou chagas; 17.
mais herético - se encontra na proposição teólogos ou pregadores. É conjunto
nona, que pode ser dividida em quatro partes dogmático-moral que compreende quase todos
ou teses; 1. "o amor de Deus no homem é os aspectos da vida sociorreligio.su. A
Deus"; 2. é necessário entregar-se ou vastidão da temática é paralela à vastidão do
abandonar-se a esse amor; 3. esse amor manda a. sevilhano, que chegou a contaminar mais
no homem, tornando-o impecável; 4. "chegando- cie cem vilarejos e cidades, e teve milhares de
se a esse estado", não há senão mérito. adeptos. Foi um a, que se difundiu muito
Como se vê, os a. do Reino de Toledo pre- entre o povo simples, o qual, na Andaluzia,
conizavam a —> união entre Deus e o homem apreciava sempre a espetaculosidade ou as
como identidade total e essencial ("é"); a manifestações exteriores. Foi suspeita de a. a
eliminação de toda mediação (de Cristo, da Congregação do Granado, tipicamente sevilhana,
Igreja, dos sacramentos, das estruturas) era que se caracterizou não por exteriorização,
consequência grave, se bem que lógica; e a mas por sigilo, isto é, pelo mistério que a en -
queda de todas as barreiras éticas - a volvia.
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IV. "Auto-de-fé". Os a. logo preocuparam a
Inquisição. Eles tinham doutrina e prática
que, pela extensão e pela intensidade, era pe-
rigosa como epidemia. OsÉditos revelam seu

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43 ALUMBKAlîOS - ALVARCZ IlA l'A/

perfil herético, e a leitura ou a promulgação


Â. Huerga
anual deles responsabiliza os fiéis quanto à
denúncia. O Edito se converteu assim cm ALVAREZ DA PAZ
arma cortante, em estímulos de consciência e
I. Vida e obras. Dieno A. nasceu em Toledo
em detonador eficaz. Depois da lei tuia do
(1 560) e morreu em Potosf (1 620). Entrou
édito, produziam-se as acusações, e, de acor-
na Companhia de Jesus em 1578. Era a época
do com elas, seguiam-se a instrução dos pro-
da célebre intervenção do geral Mercuriano (t
cessos e, se o tribunal julgasse oportuno, a
1580) no caso da oração de silêncio do pe.
detenção dos presumidos a . O processo ter-
Baltazar Alvarez (| l 580). ex-coniessor de —>
minava em absolvição da instância - mais
santa Teresa. Não parece que ele tenha ig-
frequentemente do que alguns pensam ou em
norado as circunstâncias dessa intervenção,
sentença de punição. A sentença era pro -
nem os resultados e nem mesmo a intervenção
nunciada num "aulo-de-fé" privado ou públi-
comedida de Aquaviva (t 1615) cm sua carta de
co, segundo a gravidade dos delitos ou o nú-
1590. O próprio A. parece enquadrar sua vida
mero dos réus.
na tradição de Alonso Ruiz (1 1 599) e de B.
No tocante às sentenças contra os a. t de
Alvarez (t 1580). Estudou em Alcala e, antes de
cem processos conhecidos se deduz que o
ter minar os estudos de teologia, ofereceu-se
rumor loi maior do que os fatos; há um só
para a evangelização da America. Foi ao Peru,
caso-o de frei Francisco da Cruz - em Lima,
onde terminou os estudos e foi ordenado
no qual loi pronunciada unia condenação de
sacerdote, provavelmente por são Turíbio de
entregue ao braço secular (pena capital), e mais
Mogrovejo (t 1606). Ainda jovem sacerdote,
por implicações políticas e de obstina ção do
dedicado à oração e ao —> recolhimento, teve
réu do que por fatídica lógica do processo.
a tentação de entrar na cartuxa. A resposta
Num grande número de processos ioi
do geral, pe. Aquaviva, ao provincial tio Peru a
sentenciado ato privado. Em Llerena, Córdova
esse respeito é significativa pelo modo como
e Sevilha foram celebrados atos públicos, nos
esclarece o caso.1
quais o grupo que mais chamou a atenção loi
Foi nomeado professor de teologia e Sagrada
o dos a., admirados pelo povo
Escritura. Exerceu o cargo de reitor dos colégios
por causa de sua santidade fingida; conde-
de Quito, Cuzco e Lima, foi vice-pro-vincial de
nados a penas relativamente leves - a mais
Tucumã e provincial do Peru. Foi sempre
dura foi a dos de Llerena: a akuins anos de
homem espiritual, interessado no estudo
remos nas galeras de sua Majestade - eclip-
teológico da vida espiritual, e assim reuniu
saram-se com a rapidez do horizonte e, depois
apontamentos e notas que, juntamente com a
de certo tempo, obtiveram indulto
reflexão e a atenção, serviram-lhe para a —>
misericordioso por serem bons penitentes,
direção espiritual e para conselhos a almas
como rezam as folhas dos processos nos quais
eleitas, para a reflexão pessoal, para a oração e
consta esse epílogo.
para a redação de suas obras.
NOTAS: 1 L. Cristiani, L'Église à l'époque du Concile Deixou aos pósteros uma síntese pessoal do
cie Treme, in A. Fliehe-V. Martin, Histoire de ensinamento patrístico e medieval, organizada
l'Eglise, XVII, Paris 1948, 431; 2Proceso de M. de sistematicamente. Alguns comparam sua
Cazalla, .Madri 1975, 209: Pruccso de Pedro Ruiz
de Meara:. ms. Archivîo Nazionak-, Madri: 1 A. síntese doutrinal da espiritualidade à Suma de
Esbarroya, Purif icador de la conciencia, Sevilha —» santo Tomás. Outros preferem comparar sua
1350; reed. A. Huerga, Madri 1973, 300. reflexão e seu estilo ao de Suarez (t 1617), seu
contemporâneo, sobre a filosofia e a teologia.
Bini.: Eulógio de la V'irgen dei Carme!,
É certamente uma obra ampla e tendente a
illumuiisme et Ilumine; Alumbrados espagnols du
X V I siècle, in DSAM VII/2, 1382-1392; A. Huerga, esgotar a matéria. Nisso ele se mostra em
Historia de tos Alumbrados, 5 vol!., Madri 197S- sintonia com a época, se bem que escreva
I994: P. Juan Tours, s.v.. in IV'.V/y, 15-16; H. muito distante do ambiente europeu. Sem ter
I.loca. IM Inquisición espantda y los Alumbrados tido a influência direta das obras de santa
(1500-1667) segtin las actas originales de Madrid
y otros archivos, Salamanca 1980; E. Pacho, s.v., Teresa e de -» são João cia Cruz, ou de outros
in DES I, 100-103; Roman de la Jniinaeulatla. mestres da escola carmelitana, tem em comum
Ei fenómeno de L>s alumbrados y su interprétation, com eles muitas impostações de questões e
in EpliCarm 9 (14>5S). 49-80; Sala Halust, En soluções, se bem que seu estilo seja mais
tttrnntdgritf xi de ahnnbrados teológico queexperiencial. Mas não escrevia sem
de Llerena, in Aa. V'v., Corrientes espi ri tuâtes en
la Espana dclsiido X V I , Barcelona 19(o, 509-523 antes dar-se à oração. Sua erudição era
(con vastíssima, e sua reflexão, equili brada e
Bibl.). realista. Os padres mais citados são;
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> santo Agostinho, > são João Crisóstomo e
—■» são Gregório. Conheceu também --> Dio-

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ALVA RH/ DA PA/ 44

nísio Arcopagita, Clímaco (t c. 650), —> Cas- caminhos para conduzir à perfeição e à
siano, —» sào Bernardo, os Vitorinos, —> Dio- santificação. Às vezes ele dá a contemplação a
nísio canusiano, > Gerson, -> Luís Blois alguns que ainda não são perfeitos para
(Blosius), Kempis (t 1471), —> llerp e -> Tau- ajudá-los a serem mais solícitos na vitória
ler. A sua obra poderia ser comparada ao estilo sobre si mesmos; mas geralmente a contem -
herreriano: ampla, de austera gravidade, plação é dom concedido aos que já adquiriram
sóbria, proporcionada, inspirada. tal paz de espírito e que podem fixar o olhar em
Deus. A causa próxima da contemplação é o
II. Seu ensinamento místico sobre a > con- dom da —» sabedoria.
templação e a vida mística está em sua última O homem pode dispor-se, com a graça or-
obra, Dc inquisitione pacis sive Studio orationis dinária, para o dom da contemplação, supe -
(Da indagação sobre a paz ou da aplicação na rando os impedi mentos a virtude autêntica,
oração). A —> meditação tende à aderindo continuamente ao Senhor com o
contemplação, e esta, na obra de A., é prece- intelecto e o afeto e insistindo assiduamente
dida de ampla exposição da oração alctiva. na oração. Pode pedir e desejar ardentemen te
Nesta distingue três graus: no primeiro ain da que o Senhor lha conceda, mas não deve procurar
se insiste em vários e repetidos afetos na consegui-la por si mesmo, porque ela é dom de
oração; no segundo há um só ato de amor, Deus.
exercido durante algum tempo sem interrup- A. distingue entre contemplação inicial e
ção, com esforço pessoal ajudado pela —> graça contemplação perfeita. O homem já purificado
divina; no terceiro, a pessoa, sem esforço e com dos afetos desordenados, virtuoso e exer-
grande suavidade, permanece num só ato de citado na meditação pode obter a primeira e
amor, que se estende mais longamente. Disso ver humildemente se é admitido a ela, quando,
alguns quiseram ver em sua oração afetiva uma deixados todos os discursos e as considerações,
espécie de "a mtemplação adquirida", posto na presença de —» Cristo ou da
resultado da simplificação à qual se chega, Santíssima Trindade, aplica-se ao amor. A
como hábito adquirido, com a ajuda da graça contemplação perfeita pode ser definida em
ordinária no exercício da oração. Ou sua substância como simples conhecimento
contemplação iniciada como conclusão da de Deus. nascida do dom da sabedoria, a qual
oração. Ele alude também a dons especiais eleva a alma ao seio de Deus e a enche de
ou repentinos concedidos por Deus a alguns admiração e de deleite puríssimo. O homem
espirituais (cf. VI, 320b). pode preparar-se para ela. como dissemos
A. distingue entre saber escolástico e saber antes. Pode notá-la graças aos —> fenômenos
místico, como entre schola intellectus e schola que às vezes a acompanham (êxtases, arre-
affectus (escola do intelecto e escola do afeto). batamentos, aparições, visões etc), os quais
Aquele é adquirido pelo -» intelecto, este tem não devem ser desejados nem pedidos; se se
necessidade da pureza de vida, de desejos, verificam, é necessário que a pessoa seja
suspiros, petições e exercícios de -> virtudes. muito prudente e peça a Deus humildemente
A contemplação é intuição certa, perspicaz e que a conduza pelo caminho normal.
livre de Deus e das coisas celestes, comporia
admiração, traz o amor e procede do amor. Ela III. Os graus da contemplação. Segundo A.,
reside no intelecto e influi na —> vontade. Não os graus da contemplação são quinze, os quais,
pode ser mantida durante muito tempo só com ordenados da menor para a maior perfeição,
os auxílios da graça ordinária, sendo intensidade e plenitude, são: 1. in-tuitio
necessária também a ajuda especial de Deus. veritatis, 2. secessus viriitm animae ad interiora, 3.
As vezes a contemplação é retirada dos que a silentium, A.quies, 5. todo, 6.au-ditio loquelae
receberam; isso é feito por Deus, para maior Dei, 7. somnus spirititalis, 8. ex-tasis, 9. raptus, 10.
proveito deles. Nesse período de tempo, a alma apparitio corporalis, 11. ap-parilio imaginaria, 12.
deve exercitar-se com a graça ordinária nas inspecíio spiritualis, \ 3. divina caligo, 14.
considerações e afetos como se exercitava manifestatio Dei, 15. visio intuitiva Dei ("intuição
quando estava no estado dos que meditam. da verdade", "retirada das forças da alma para
A contemplação não é dom necessário para a o interior", "silêncio", "repouso", "união",
salvação, e não pode ser obtido por justiça, "escuta da fala de Deus", "sono espiritual",
mas pode ser impetrado da misericórdia e li- "êxtase", "rapto", "aparição corporal", "aparição
beralidade divina com gemidos e ações Nem imaginária", "olhar espiritual", "escuridão
lodos, porém, que chegaram à pei leição che- divina", "manifestação de Deus", "visão
gam à perfeita contemplação. Deus tem outros intuitiva de Deus").
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AI.VARRZ DA ]>AZ AMBROSIO DK Mil-AO { s u i x u , } 62
45 Al.VARHZ DA I'AZ

Para ele, a união contemplativa com Deus tendemos. Os santos que, como —> Agostinho,
é dom precioso pelo qual Deus se mostra no —> Bento, —> Inácioe outros, chegaram ao
íntimo da alma, presente nela, olhando -a e décimo quarto grau de contemplação,
amando-a com extrema ternura (cf. VI, 562b). contemplaram Deus por luz sobrenatural e
Por laqueia Dei A. entende as locuções di- por espécie infusa. As análises de A. sobre a
vinas. Nela, Deus, por si mesmo ou por meio possível diversidade dos fenômenos
da criação submetida a ele, forma palavras místicos são pormenorizados, inteligentes e
na alma do contemplativo para instruí-lo a baseadas na realidade ou numa literatura
respeito de alguma coisa atinente ã sua sal- mística seria. A sua posição diante da ne -
vação ou ao proveito do próximo, e o move a cessidade ou não de, no estado de contem-
grande reverência e obediência, ou a outros plação, deixar lodo o sensível e inteligível é
santos atetos. A laqueia pode ser exterior ou pessoal e indefinida. Ele não se inclina a ad-
interior, imaginativa ou intelectual. mitir essa necessidade, porque, segundo ele,
Por sono espiritual ele entende uma espécie t> intelecto humano não depende da imagi-
de êxtase começado, no qual, às vezes, a nação e do "fantasma" (cf. VI, 550b). Deus, que
alma perde o uso dos sentidos externos (mes- é o doador da contemplação, pode exercitar
mo que não plenamente) e se comporta em muito mais eficazmente o intelecto, in-
relação ás coisas sensíveis de modo semelhante troduzindo nele sua luz, e, adormecendo a
a quem começa a dormir. Ou, mais pro- imaginação, induzir nele a verdade que ele
priamente, esse sono é um grau tão veemente contempla. Para sustentar sua teoria, ele alude
de amor que nele a alma não percebe o ao modo de conhecer da alma separada e ao
exercício de seu intelecto, modo de conhecer de certas almas, às quais
Quanto às aparições, A. ensina a não de- Deus concede que atinjam subi unida des
sejá-las nem pedi-las, antes, a temê-las quando espirituais com a cooperação dos —> sentidos e do
vêm. O importante é reverenciar o divino e o -> corpo. Antes (cf. 550a) ele se referira à teoria
santo que pode estar na aparição presente de santo Tomás, segundo a qual Deus concede
(esse ato humano de reverência deve sei" ciência in]usa a algumas almas santas, para
dirigido a Deus). Mas, para não enganar -se, é que possam usá-la sem a cooperação dos
necessário esperar para verse seu eleito é sentidos, ou introduz nelas, quasi per transitam
bom, coutar com a ajuda do diretor espiritual (como que de passagem),
e verificar se tudo está de acordo com a —> espécies infusas,-' talvez mais
Palavra de Deus e se conduz à —» humildade freqüentemente
e à virtude. A. admite um tipo de apa rição do que pensamos nós, inexperientes. Além disso,
corpórea que acontece não porque diante dos A. se refere a Dionísio cartusiano,3 que sustenta
olhos do vidente se forme realidade corpórea, a possibilidade de que Deus eleve o intelecto
mas pela mudança operada na potência humano, com uma luz especial, no uso das
visiva, percebida à semelhança do que deve imagens recebidas dos sentidos, sem que
ser visto (cf. V. I Ü,593a-b). A visão nenhum sentido interior coopere na con-
puramente intelectual não contém »ilu sões. templação.
Mas como não é fácil saber quando não há Resumindo, o que não falta a nenhum
nela algumas mistura de imaginação, todas contemplativo autêntico é o entender com
as aparições devem ser tratadas com simplicidade e sem discurso, é o amar mais,
precaução e submetidas à discrição do diretor que, comumente, é ter o santo afeto do temor
espiritual. Na visio in caligine (visão na ou o desejo das virtudes (cf. VI, 551a).
escuridão) (décimo terceiro grau da contem
[ilação), a pessoa não vê nada, mas tem NOTAS: 1 cf. ARSL Peru, L/u. Gener. 1584-1618,
consciência de que ela é tudo, e de que fora carta
cli- 24 de iVwjvim 1 5S7 ao P. Juan de Alien/.a; : Sth
dela nao existe nada, percebe-a como IM1, q. 17, a. 10; De veritate, q. 13, a. 2 and 9;
verdadeira e a abraça com amor. E como *De mystica theologia, a 8.
olhar e não ver, porque ela percebe como que
BIBL.: Obras: De vita spirituati eiusqueperfections
uma espécie de escuridão e nevoeiro
Lugduni 160S: De exterminatione mali et pro-t;;
encobrindo toda a luz (cf. VI, 606). Quanto à o! u I i i e be mi, La igd 11 n i 1613; / ")e 1r iq: < is
visão clara de Deus, A. adere à opin ião dos — 1111».'<' p a • cis sive studio orationis, Lugduni lot7,
> Padres e à multidão de doutores escolás- colecionadas in Opera lacobi Alvarez de Paz, 6
ticos, segundo os quais deve-se negar que voll., Paris I S75-1 87c Estudos: A. Astrain, A l<i
memorie, de! grau asceta Diego Alvarez de Paz en
seja hábito ser ela concedida ao ser humano, et tercer centena tio de su muerte, in Gre.j> 1
lila é própria da vida eterna, para a qual (1920). 394-424; I. De la Torre Monge, La llamada
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universal a la contenwkiciôn eu Alvarez de Paz. segundo a influência das fontes usadas por
Santander 1959; E. Hernandez, s.v., in DSAM i, ele.
407-409; E. Lopez Azpiiarle, La oración
contemplativa. Evoluciôn y senndo en Alvarez de Segundo a subdivisão por gênero e temas: -
Paz S.L, Granada 1966; T.G. Obras exegélicas: Hexaemeron (Hexamerão), De
O'Callaghan, A/varez de Paz and the Nature of paradiso (Sobre o paraíso), De Cain et Abel (Sobre
Perfect Contemplation, Rmna [950; A. Peltier, Le Caim e Abel), De Noe (Sobre Noé), De Abraham (
P. Louis lidltintint et les grands spirituels de son Sobre Abraão), De Isaac et anima (Sobre Isaac e
temps, I. Paris 1927, 298-339; A. Poulain, s. v.,
inDTCl, 928- a alma), De bano mortis (Sobre o bem da morte).
930. De f uga saeculi (Sobre a fuga das coisas
mundanas), De Jacob et vita beata (Sobre Jacó e a
U. Ruiz, .lunula vida feliz). De Joseph (Sobre José), Depattiarchis
(Sobre os patriarcas), De Ucha et jejumo (Sobre
i iélia eo jejum),
De Nabuthae historia (Sobre a historia de Na-
bote), De Tobia (Sobre Tobias), De interpella-tione
Job et David (Sobre a interpelação de Jó e Davi),
De apologia prophetae David (Sobre a apologia do
AMBROSIO DE MILÃO (santo) profeta Davi), Enarrattones in X I I psahnos
davidicos (Exposição sobre XI I salmos
I. Vida e obras. As fontes principais da davidicos), Expositio psalmii CXV/If (Exposição
vida de Ambrósio são a Vita Ambrosii (Vida de sobre o Salmo 118), Expositio Evangelii seci i » uit
Ambrósio), escrita pelo diácono Paulino, em t m Luca m ( Ex posição sobre o evangelho
422, por sugestão de —> Agostinho, c seu segundo Lucas), Expositio Isaiae prophetae
epistolário. Aurélio A. nasceu em Treveros, em (Exposição sobre o profeta Isaías) (fragmentos em
334 ou 337 (a diferença é devida à dife rente CCL, 14,403-408), Tituli (Títulos) (21) como
interpretação da Ep. 59,4 sobre os movimentos didascálias de episódios do AT e do NT para a
migratórios de então); seu pai, Ambrósio, basílica ambrosiana (de autenticidade
nobre romano, era funcionário tia prefeitura discutida). 1 - Obras ascético-morais De
impei ial das Gálias; sua mãe (de nome offtciis ministrorum (Sobre os ofícios dos
ignorado) quase certamente era da gens Aurélia ministros), De virginibus ad \lar-ccllinam (Sobre
(estirpe Aurélia); ele era o irmão mais novo de as vit gens para Marcelina), De viduis (Sobre
Marcelina c Sátiro. Após o estudo de retórica as viúvas), De virginitate (Sobre a virgindade), De
em Roma (para onde foi antes de 352/354 - institulione virginis et de s. Mariae virginitate
período de consagração de sua irmã perpetua (Sobre a instituição da virgem e sobre
Marcelina como virgem - com a mãe e os a virgindade perpétua de santa Maria),
irmãos, depois da morte prematura do pai), Exhortatio viriginitatis (Exortação à virgindade).
iniciou a carreira (curstts hono-rum) na - Obras teológicas e litúrgicas: De fide ad
prefeitura da Itália, da llíria e da Africa, Gratianum (Sobre a fé para Graciano). De Spiritu
transferindo-se para Sírmio com o irmão Saneio (Sobre o Espírito Santo), De incarnationis
Sátiro. Em 370 A. começou a fazer parte do dominicae sacramento (Sobre o sacramento da
Senado Romano como consularis (consular) e encarnação do Senhor), Explanatio sym-boli ad
recebeu o título de clarissimus (ilustríssimo). initiandos (Explanção sobre o símbolo para os
Em 374, ainda catecúmeno, foi escolhido por iniciandos), Explanatio fidei (Explanação sobre
aclamação popular para bispo de Milão, depois do a fé) (citado por Teodoreto em PG 83, 181-188),
falecimento do bispo ariano Au-xéneio (374). De mysteriis (Sobre os mistérios), De sacramentis
Batizado em 30 de novembro, foi sagrado bispo (Sobre os sacramentos) (autoria discutida), De
em 7 de dezembro de 374 (segundo outros, em poenitentia (Sobre a penitencia), De sacramento
1 " de dezembn > de 373). regenera-tionis sive de phitosophia (Sobre o
Daí em diante A. se dedicou à sua ativi- sacramento da regeneração ou sobre a filosofia)
dade pastoral e ao estudo da -■> Bíblia, de —> (fragmentos). Hinos ( 18; considerados
Fílon, de —> Piotino e dos —> Padres gregos. autênticos: 4)- Discursos: De excessu fratris
Sua atividade de pastor era dominada (Sobre a partida do irmão), De obitu Valentiniani
principalmente pelo problema ariano, o qual (Sobre a morte de Valentiniano), De obitu
incidiu profundamente em sua compreensão de Theodosii (Sobre a morte de Teodósio), Senno
suas relações episcopais com o Império e em contra Au-xentium de basilicis tradendis (Sermão
sua teologia espiritual, que tem acentuada contra Auxêncio sobre a entrega das
dimensão crislológica. basílicas). - Cartas (91; a 23 não é
Os escritos de A. são divididos geralmente considerada autêntica). Três epígrafes em
segundo dois critérios: por gêneros e temas, e dísticos.2
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AI.VARRZ DA ]>AZ AMBROSIO DK Mil-AO { s u i x u , } 64
A subdivisão dos escritos de A. relativa-
mente a influência das tontes abrange dois

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47 AMHKÚSIO OK MILÃO
[s,>:«•<,i

blocos; os escritos iuvenis. que vão até 385/ ambrosiana é testemunha de um an-
3S7, de intluência iiloniana e neoplatônica, e tiarianismo declarado. Com efeito, ele desen -
os escritos da maturidade, posteriores a volve um forte cr istocentrismo relativo à pes -
385/387, de inspiração basiliana. A passagem soa de .» Cristí >: encarnação, uascimenn * vir-
do primeiro para o segundo período se carac- ginal, ênfase na humanidade e divindade e.
teriza por três latores: a abertura de A. para conseqüentemente, na mariologia. em parti-
—* Origenes, a descoberta do valor espiritual do cular no que se refere à virgindade e materni -
—* Cântico dos cânticos e a comparação com o dade. A liturgia conserva sempre, no período de
neoplatonismo. Com a base hermenêutica de sua formação tilo século IV ao século X ) e
três sentidos nas Escrituras (literário, ético e na passagem cultural da fase romano-itálica
espiritual), A. usa a alegoria pata tirar dela para a barbai» i -longobarda, a centralidade do
principal mente o sen lido an tropo lógico ou mistério do Cristo criador e salvador do cos -
moral. Ele não la/ comentário sistemático da mo e do homem, dada a ele por A. Em 4 de
Escritura, e, prescindindo-se do evangelho de abril, sábado santo de 397, A. morreu.
Lucas, em geral comenta fatos e pessoas do AT Ele foi bispo consciente do dever de gerir a
segundo o modelo liloniano de tratar u m Igreja católica como responsável pela reli gião.
argumento, isto é, partindo do mundo Por isso, defendeu-a com todos os meios
bíblico. Os próprios títulos tios trata dos de A. disponívieis contra quem quer que fosse, até
se inspiram principalmente em pessoas da contra o Imperador, Apoiou incondicional -
Sagrada Escritura. mente os príncipes lavoráveis à Igreja e pós os
Para a compreensão de seus escritos e, fundamentos dos direitos que deviam ser
portanto, de sua herança espiritual, deve-se reconhecidos à religião cristã pelas instituições
ter presente também a situação sociopolítica civis. Ao morrer, deu uma famosa resposta, que
na qual ele viveu.* ecoou em Agostinho: "Não vivi no meio de vós de
A atividade pastoral de A. abrangia os ho- modo a envergonhar-me de continuar a viver,
mens eminentes de seu tempo como todo o mas também não temo morrer, porque temos
povo de Deus bern além da área milanesa. um Senhor bom" t Vita Ambrosiit 45).
Caim efeito, ele presenciou a entrada de Pau-
lino (t 431) como bispo em Nola e a criação de II. A herança teológica e ascético-es-
novas sedes episcopais no Noite da Itália, e piritual de A. deveria ser posta, para os es-
participou da escolha de seus bispos (a Ep. tudiosos, no âmbito de três orientações do
63, ã Igreja de Verceilas, é um pequeno trata - século IV: a tendência social da —> ascese evan-
do sobre as escolhas episcopais). Sua diocese gélica, a tendência monástica eudenionfslico-
era o mundo ou o saccnlnm (segundo a individual e a tendência iilosólica de caráter
acepção agostiniana em De civitate Dei [ A ci- natural-inslinliva. 4
dade de Deus 1); por isso se incumbiu de ia/er Na realidade, a espiritualidade anibn israna
a exigência evangélica fermentar no coração faz uma grandesinte.se das idealidades do
de um bispo colega (o caso cie Paulino de seu tempo, desenvolvendo na linha do hom em
Nola, Ep. 58), do Imperador (Teodósio foi sábio a -> sapientia corno fundamento das
convidado a entrar* no lugar público dos pe- virtudes, e a --> caritas como sua plenitude
nitentes, Ep. 51), como também das categorias (plciijtudo). Mas, na visão antropológica de A.,
dos simples cristãos (por exemplo, /:/;. 63, à sendo o homem sempre endividado com Deus,
Igreja de Verceilas). é somente graças à —» humildade que ele pode
A. teve relacionamento particular com o entrar na ação misteriosa de Cristo como
povo de Deus, do qual aproveitava toda a ca- causa de sua salvação, mas não pode confiar
pacidade de reunir-se em assembléia, parti- em suas obras (mérito). A humildade é
cularmente em reuniões litúrgicas. Desenvol- entendida pelo bispo milanês não tanto como
veu notavelmente o teor dessas reuniões, uma virtude entrei nitras virtudes, mas como
criando um conjunto de ritos, lormulários e condição da alma diante de Deus.
hinos denominado liturgia ambrosiana. Foi São três, portanto, os pólos de articulação
ele quem introduziu antiphonae, hynnü ac da espiritualidade ambrosiana: a virtude (en -
vigiliae e o canto litúrgico alternado (Paulino, tre ética e ascética), a caridade e Cristo. 1.
Vita Ambrosii in PI. 14 , 3 1 ) . Graças também ao Para A. existe uma ascese do espírito, radicada no
trabalho de Simpliciano (que sucedeu a A. no próprio espírito, de derivação estóica da ética
bispado) e a Eusébio de Verceilas (449-452) ciceroniana e de influência origeniana quanto ã
lormou-se u m corpus litúrgico que é único na relação entre a alma e o Verbo. Ela abrange o
história do Ocidente cristão. A liturgia silêncio ou a moderação no lalar ícl. Off.
Material com direitos autorais
AI.VARRZ DA ]>AZ AMBROSIO DK Mil-AO { s u i x u , } 66
1,18 ,67). A humildade é a forma de ascese do pensamento cristão no tocante ao dogma, á
espiritual contra a —> soberba, na esteira de moral e ã prática da vida. Alfíu-ruas
Cristo humilde (cl. ibid., 3,5,6). Se para correntes cristãs co tempo atacavam a carne
Cícero (t 43 a.C.) foi mais lácil escrever sobre (caro), lendo-a na ótica do sexo até identificá-
a glória, admirando-a em si mesma e por la com ele. s Consequentemente o prazer sexual
causa do bem que ela impele o homem a fazer, era considerado um mal: a alma poderia
com o cristianismo e principalmente com .4. a perder o domínio de sua parte racional. Nessa
humildade passa a fazer parte, além da esteta ótica A. identifica o instinto sexual com a
tia consciência individual, também da —» serpente do paraíso (cf. Sen 49; Ep. 63,14).
formação pratica da vida. Por isso, o homem Segundo ele, a —> sexualidade não
justo, mesmo em caso de ofensas, ca-fando-se, compreende o homem todo, mas só a parle
conserva a humildade, seguindo o humilde física relativa ao ventre, porque a alma é sem
Senhor (cf. ibid., 1.6,21). A plenitude das sexo (cf. Lc 2,28; Fid. 4,3,28). O que se concede à
virtudes, se não incluir a humildade, que é sexualidade é. portanto, uma concessão ao
capa/ de suprir as virtudes que faltam (cf. ventre, isto é, às necessidades instintivas do
ExpL Ps. 118,20,4), é estéril. Se ela não tem homem. Todavia, por impostação mental e
muito espaço no De of íiciis, tem-no, todavia, prática, A. é levado a avaliar concretamente as
nos comentários aos salmos, especial-mengte ao possibilidades humanas de seguir o evan gelho.
salmo 118, que se inspira no Cântico dos Evitando, por isso, posições radicais, atém-se
cânticos e no evangelho de Lucas, sempre ao possível (cf. ExpL Ps. 118s. 5,18). 3. O
escritos mais afastados cie modelos hlosóli- —> seguimento de Cristo: A. enfatizava não
cos. Deve-se notar ainda que, com Dc of íiciis tanto a procura da virtude em si quanto a
ministrai-um, A., passa da ética estóica para a imitação de Cristo. No último parágrafo do De
cristã. Isso se encontra na definição diferente Isaac, por exemplo, atrás da descrição do
do summutn bonum, na qual ele distingue sumo bem ele faz resplandecer o rosto de Deus
entre vida feliz {osummum bonum imanente do e de Cristo. Unir-se a Deus é a heatitude, é
estoicismo) e a vida eterna (o summum hou volúpias (Isaac 8,78), e a "fonte dessa vida para
um transcendente da fé cristã) (cf. Off . 2,5.18). todos é Cristo" (Ibid., 8,79). Essa
2. Os exercícios de ascese corporal são motivados espiritualidade é possível a todo cristão, porque
em A. pela destinação eterna do homem. Os dias Cristo nasce no coração de cada um, mediado
judaicos de —» jejum (segundas c quintas- pelo processo descendente da encarnação, que,
feiras) são mudados pelos cristãos para do coração de —» Deus Pai chega ao coração da
quartas e sextas-feiras. Para sua —> virgem Maria e ao do crente (ExpL Ps. 118s.
compreensão do jejum A. usa principalmente 6,6; Isaac 4,31). onde é depositada a semente da
duas homilias de Basílio: lu chtiosos { H o r n , divinização do homem (cf. Expl. ps 1 J8s. 12,16).
14) e a Exhortatoria ad sanction baptisma (cf. Falando da Encarnação de Cristo no coração
Horn. 13). do crente, A. explicita a forma que ela assume.
Ele dedica muitos discursos à -> castidade, É a do Servo sofredor, do Cristo da paixão e da
que considera não um privilégio das virgens, morte na cruz, raiz de todas as virtudes do
mas um devei 1 de lodos os fiéis. Para ele, cristão e de seu crescimento espiritual (cf. ibid.
diferente é só o modo de praticar a castidade 6,33; 12,16), participando ele dos sofrimentos-
em cada estado de vida. "A virtude da energia do Crucilicado (cl.
castidade é tríplice: matrimonial, das viúvas e Ex. Lc 7,176-186). "A Igreja - escreve ele -
virginal... cada uma é válida em seu estado. ...depois de ter dado à luz o Verbo e de tê-lo
Nisso está a riqueza da tradição da Igreja: A. semeado no corpo e na alma dos homens por
prega a virgindade, mas não rejeita o matri- meto da fé na cruz e na sepultura do corpo do
mônio" (Vid. 4,23). A virgindade é vista antes Senhor, escolhe por ordem de Deus a so-
de tudo como hábito mental exigido de lo -dos. ciedade do povo mais jovem" (Ibid., 10,134).
"O virgem - escreve ele -, procura, pois. a Assim ele religa toda a relação do crente e da
Deus; antes, procuremo-lo todos nós" (V?rg. Igreja com Cristo á fonte iniciática que c Cris -
15,93). A vida virginal não se limita à conser- to crucificado e sepultado, sublinhando sem -
vação da castidade, mas compreende toda a pre sua estreita interdependência. "Cristo,
lista das obras virtuosas (cf. ibid., 10.54). A sintetiza ele, é a fé que todos tem; a Igreja é,
virgindade da carne (virginitas carnis), só por si, por assim dizer, a norma da justiça, o direito
ainda não é mérito; deve-se acrescentar a ela comum de todos; de lalo, ela ora junto, age
uma mente casta (integritas mentis) (cf. ibid., junto, 4 provada junto" (Off. 1.142). Essa
4,15). A virgindade se tornou possível na terra só explicitação traduz, em teoria espiritual o con
depois da vinda de Cristo (cl., ibid., 1,3,1 1).
No século IV, a castidade era um ponto central
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49 AMBRÓSIO Dli MILÃO (santo)

ceito de iniciação cristã nos mistérios, ã qual istoé, a Igreja é o húmus da alma cristã e não
A. dedica grande parte de sua atividade lite- é nunca uma entidade abstrata, porque vive
rária (cf. De mysteriis, De sacrametitis) e pas- nas almas.
toral. Além disso, o bispo de Milão deve ser A. delineia em De Isaac vcl a n i m a a
considerado, por justo título, o fundador da espiritualidade da alma na relação Verbum-
espiritualidade litúrgica no Ocidente. Com anima. A alma, mais que em sua diferença do
efeito, para ele, os —> sacramentos são a liga- corpus e da mens, é indicada corno sinônimo
ção com a vida cristã, tila consiste no cresci- de homem que crê. Ele fala da alma porque
mento de Cristo no crente, e a vida é a expli- então o progresso espiritual eia pro duzido,
citação do rito celebrado, o qual. por sua vez, em chave platônica (plotiniana/ porlii iana),
dá ao rito litúrgico ou ao sacramento a possi - pela atividade da alma. Aplicando os três
bilidade de crescimento, evitando abortar modos de ler as Escrituras (natural, moral e
Cristo. místico) aos livros de Salomão (Provérbios -
O seguimento do Senhor, segundo A., se sabedoria moral, Eclesiastes = sabedoria natural,
póe fundamentalmente no -> amor como Cântico - sabedoria mística: cf. Ex. Lc. prol 2;
Cristo no evangelho o procurava, A propósi to ExpL Ps. I I S , 1,3; Isaac 4,23), A. indica com
da mulher que ungiu os pés de Jesus com essa divisão contida no Cântico - os graus do
perfume, ele comenta; "O Senhor não procu- conhecimento da alma em seu referir-se
rou o perfume (daquela mulher), mas amou progressivo ao Verbo (cf. Isaac 4,14; 4,27;
seu amor" (cf. Exp. U \ 6,28). Nessa perspec- 8,68). O sensus moralis é o esforço do homem
tiva o bispo de Milão evita ler o seguimento para ser virtuoso; o sensus naturalis é o ->
evangélico como nova lei a observar na linha desapego das coisas terrenas, o abandono dos
da obseivância mosaica. visihilia esensibitia (cf. ibid., 4,11; Expl. Ps. I18 t
Comentando o Sl 118, observa que o sal- 8,18 e 14,38); o "sentido místico" é a
mista acrescenta dilexi (amei) ao custodiei completude no amor (cf. Isaac 4,24-26}; três
(guardei) da lei, paia mostrar que a obser- sensus que correspondem á ascensão da alma
vância não provém do temor, mas da exigência para Deus através da insti-tutio, do processas e
do amor. Em síntese, a herança espiritual da perfectio. Em geral A. distingue no processus
ainbrosiana se inscreve na compreensão do animae quatro graus ascendentes (cf. Ex. I s .
Verbo encarnado segundo a f é nicena, ex- 6,50): o desejo do Verbo, a procura do Verbo, a
plicitada como antiariana no plano teológi co, superação da concupiscência carnal "mediante
como cristológica no plano litúrgico, e, no os esforços da virtude" (Isaac 4,16) e o
plano da vivência na caridade, como sua ple - seguimento de Cristo, quando a alma,
nitude. respirando o perfume da fé (cf. ibid., 4,37),
Na espiritualidade de A. ocupa lugar par- produz frutos de caridade (ci. ibid., 5,47). O
ticular o Cântico dos cânticos. Se. em De Isaac ele Verbo encontrado pela alma põe esta na
delineia uma espiritualidade individual tensão de ajudar outras almas (cf. ibid., 4,11;
inspirada ern Jesus, em Cântico dos cânticos, 6,53). E a pci leição do amor, que
junto com De Isaac, a Expositio psahni I I H e corresponde ao dom de Deus que é o próprio
De virginitate (obras dos anos 387-390), põe em Cristo.
relação Cristo, a Igreja e o cristão. Se a Costuma-se distinguir em A. uma espiri-
equação de Orígenes Verbum-anima levava a tualidade inspirada em Jesus (a espirituali -
uma espiritualidade individual, em A. ela dade ética do seguimento) e uma espirituali -
emerge no binômio Cristo-lgreja. una, ecle- dade inspirada em Cristo, a qual lende para o
sial, sacramental. Com eleito, no aposento Kvrios glorificado/' o que coincide com a
nupcial, Cristo entregou a sua Igreja as cha- distinção feita ern seu tempo por E. Bòm -
ves para que ela possa abrir os tesouros cia mirighaus (Jes11 s Frommigkeit...).
scientiae sacramentaram (cf. ExpL Ps. 11$, Quanto à questão de uma mística ain -
1,16), a fim de encontrar os sacramenta brosiana, deve-se observar que ela não deve
haptismaíis (cf. ibid., 2,29). De fato, a Igreja ser equiparada aos - > fenômenos místicos de
tem dois olhos: um, mais penetrante (acutior), acepção semântica moderna, mas deve ser lida
vê as mística (as coisas místicas); o outro, no âmbito da tradição origeniana do sen tido
menos agudo (dulcior), vê as mora tia (as coisas místico e da união da alma com o Verbo. O
morais) (cf. ibid., 1 1,7 c 16,20). O que nos sentido místico (sensus tnysticns) da Es-
escritos dogmáticos de A. é apresentado como critura consiste em perceber o sentido espi-
fruto cia ação redentora de Cristo, no âmbito ritual da > Palavra de Deus, além do sentido
do Cântico dos cânticos se transforma ern literal e moral, penetrando-se nos secreta
espiritualidade cclesial: Ecclesia vcl anima, mysteriu, por exemplo, no amor de Jesus por
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AMBRÓSIO I)H Ml [.AO Kar.k.) SO
seu povo. Descrevendo a união da alma com o pela controversa questão da estátua da
Verbo, A. fala, todavia, de uma mors myslica Vitória reintroduzida no Senado, de onde foi
todavia removida em 382 e talvez não é estranho
(morte mística) c de vários graus da alma que à recrudescência das leis antipagãs. Sob
ai tuia nesta terra já abandona os vínculos com Valentiniano II, ao qual Agostinho dedica seu dis-
o coipo c foge deles. Mas isso ele o diz em curso oficial, A. faz ocupar pelos fiéis, por ocasião
sentido ético. Ele se exprime nos seguintes da Páscoa de 386, a basílica porciana desejada
lermos: "Foge do corpo, completamente - diz pelo bispo ariano Auxêncio. A corte imperial, que
proclama a liberdade de culto para os arianos,
Cristo à alma - não podes estar junto de mim sc comina a pena de morte a quem a impugne. A.,
antes não emigrares do corpo, porque aquele fechando-se com os fiéis na basílica porciana
que se encontra na carne está distanciado do que é assediada pelas tropas imperiais, força
reino de Deus" (Isaac 5,47). Caro e corpus, mundus Valentiniano II a revogar a provisão. A subversão
dc Tcssalônica de 390 leva A. a abandonar
e terra são para ele realidades não só biológicas
Milão para não se encontrar com Teodósio c
e espaciais, mas também éticas e teológicas. O escreve-lhe uma carta reservada convidando-o à
crente opera o transgressus ex terris (a passagem penitência pública. O Imperador, tendo
da terra para...) por meio da fé e das obras (cf. emanado primeiro em Verona uma lei sobre a
Isaac 5,47; Expl. Ps. 118, 8,18). À meta estóica da condenação a morte a não ser executada antes de
trinta dias da sua publicação, volta a Milão e
luta ética, a imperturbabilidade, correspondem pede. por meio do magisterofficiorum Ruüno, a
em A. a chama do amor. a qual une a alma ao penitência pública, que cumpre no Natal de
Verbo, e a morte mística do morrer ao pecado, a 390. O ano 391 marca, com uma série de leis
qual se traduz no com-moirer com Cristo, emanadas por Teodósio, o iim oficial do
participando-se de sua paixão e de sua morte. paganismo: proibição de todo culto exterior
pagão, fechamento dos teniph is. destruição do
O Esposo divino, na linha do Cântico dos Set apeu de Alexandria, emanação de leis contra
cânticos, não manda, mas atrai, e a alma não os apóstatas da fé cristã. No ano seguinte são
teme, mas anseia. proibidas também as formas privadas do culto
Em A., a ligação da alma com o Verbo é pagão; 4 E. Bickel. Das asketische Ideal bei
claramente referida ã compreensão das Ambrosius, Hieronymus und Augustin, in Neue
Jahrbucher f.d., klass. Altertum, Geschichte u.
Sagradas Escrituras: "Bebe primeiro o Antigo deutsche Literatur und Paedagogie, 19 (1916), 455;
Testamento, para depois beberes o Novo... 11 W. Chubart, Religion und Eros, München 1944;"
Aqueles que beberam no modelo ficaram sa- in K . Baus, Das Gebet z u Christus beim hl.
ciados; aqueles que beberam na verdade fi- Ambrosius, Tréveros 1952, 128ss.
caram inebriados. Uma boa ebriedade, que
B IBL .: Aa.Vv., Cento anni di bibliografia
infundiu alegria e não trouxe nenhuma con- ambrosiana (1874-1974), Milão 1981; G. Bardy,
fusão. Uma boa ebriedade, que fortaleceu o s.u. inDSAAf I, 425-428; K. Baus, Das Gebet zu
passo do espírito sóbrio" (Expl. Ps. 118, 1,33). A. Christus beim Iii. Ambrosius, Tréveros 1952; E.
plasmou a estrutura espiritual da Igreja Bickel. Das asketische Ideal bei Ambrosius,
Hieronymus und Augustin, in Neue Jahrbucher f.d.
milanesa no nível de cada crente e da
Klass, Altertum, Geschichte u. deutsche Literatur
comunidade dos fiéis, chamada então para und Paedagogie, 19(1916), 437-474; Id., Das
novos encargos de guia moral e espiritual da Nachwirken des Origenes in der Christus-
sociedade. Frömmigkeit des hedigen Ambrosius, in Römische
Quartalschrift, 49 (1954), 21-57; c. Bömminghaus,
NOTAS: 1Ed. S. Merke, in Römische Quartalschrift, lesus Frömmigkeit oder Christusfrömmigkeit, in
10 (1986), 185-222; 2 Apresentamos todos os Zeitschrif t fin Askese und Mystik. I (1925).
títulos dos escritos ambrosianos porque têm a 252-2^5; P. Borella, Ii rito ambrosiana, Brescia
presença de duas componentes: o problema 1964; P. Courcelle, Plotin et St. Ambroise, in Revue
ariano e o da vida moral dos cristãos;5 Sob de Philologie, 76 (1950), 29-56; E. Dassmann, La
Valentianiano I prevalece a política da não- sobria ebbrezza dellospirito. La spiritualità
intervenção, portanto uma liberalidade recíproca disant'Ambrogio vescovo di Milano. Milao 1975; V.
entre os vários grupos religiosos. Através dos povos Grossi, La verginitn negli scritti dei Padri. La sintesidi
invasores das instituições romanas, apoiados pelo S. Ambrogio: Gli aspetti cristologicir antropologici,
Imperador do Oriente, o arianismo é veiculado ecclesiali, in Aa.Vv., Celibato per il regno, Milão
no Ocidente. A ação de A. diante da penetração 1977, 131*164; J. Huhn, Das Geheimnis der
do arianismo no Ocidente é contínua e de Jungfrau-Mutter Maria nach dem Kirchensvater
grandes consequências para a futura aceitação Ambrosius, Würzburg 1954; H. Lewy, Sobria
recíproca entre Igreja e Império. Em 379 o ebrietas. Untersuchungen zur geschichte der antiken
imperador Teodósio é conquistado inteiramente Mystik, Giessen 1929; A. Madeo, La dottrim
à causa católica, um dado que leva ao édito spiriiutdc di sunt' Ambrogio. Roma 1941; A.
anti-herético de 22 de abril de 380 e ao édito Parcdi. S. Ambrogio e la sua età, Milão 19333; B.
de Tcssalônica cunctos populos, que estabelece a Parodi, s.v., in BS I. 985-989; C. Sorsoli - L.
religião católica como uma religião pública do Dattrino, s.v., in DES I, 106-109; A.M. Triacca.
Império. A. consegue a restituição aos católicos Ambrosiana (liturgia), in DPCA I, 152-156.
de uma basílica ocupada pelos arianos e faz
sentir sua intervenção junto do Imperador por V. Grossi
ocasião dos Concílios de Aquiléia de 381 e de
Roma de 382 e, sobretudo junto a Graciano,
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51 A MI'.RI CAM SM
d

AMERICANISMO gistério externo, uma vez que existia nova


efusão de graça do Espírito Santo; as virtudes
I. O fenômeno. A conexão com a mística naturais eram mais adaptadas aos tempos
é bastante limitada e marginal, uma vez es- modernos do que as sobrenaturais; as virtudes
clarecidos os vários significados atribuídos ao passivas eram típicas de outros tempos, ao passo
termo ÍI. Eles vão de "heresia" até "lantasma" que as virtudes ativas eram as mais
(produto da fantasia): daí a idéia de que se adequadas; as viritudes passivas vincu ladas à
traia de realidade perigosa, equivalente a des- vida religiosa eram as menos conve-nientes
vio doutrinal da lé cristã, até a opinião que para os tempos modernos; deviam ser
considera tudo "mito". As duas posições ex- encontrados novos meios de promover con-
tremas correspondem historicamente a dois versões à Igreja.
tipos de a.; os dois estão vinculados de algum Todos os principais fautores do a. polítí-co-
modo à figura de Isaías Hecker (t 1888). religioso protestaram, dizendo que ninguém
O a. político-religioso, representado prin- professava as dourinas denunciadas na carta
cipalmente pelos bispos J. Ireland e J. Kaene pontifícia e que, portanto, não tinham
e por seus seguidores na Europa, F. Klein e D. dificuldade cm aceitá-la em sua integridade.
0'Connell, não foi senão um fenômeno de Conseqüentemente os que os atacavam, isto é.
"incuituração"', que consistiu na legítima Maignen, Périès e outros, denunciavam
"ame ri ca n i zação do ca tolicis m o". Hl e uma "heresia fantasma", criação deles mesmos,
cones p< > nd i a ao sentimento de muitos doutrina que nunca existira. Embora os
católicos americanos, que procuravam uma instigadores da intervenção pontifícia insis-
adaptação das expressões religiosas à sua tissem e reafirmassem a existência de "heresia",
idiossincrasia peculiar. Nesse sentido, foi uma tudo se pacificou com a intervenção de Leão XIII.
realidade de ampla extensão e consistência. O veredicto da história reconheceu o "mito e a
Paradigma da corrente foi considerado o realidade".
fundador da Congregação dos Paulistas, I.
Becker. A difusão de sua biografia na Europa, III. A. místico. Os que denunciaram os
na versão francesa com introdução de F. Klein "erros perigosos" do movimento o chamaram de
ua, místico", dando ao adjetivo uma acepção
(189-7), deu
origem ao a. doutrinal, isto é, à elaboração notavelmente distante da que era então usual
teórica dos critérios e dos princípios que ins- no campo teológico. Na realidade, a síntese
piravam a "prática americana". doutrinal do a., tal como eles a organizavam c
ta! come.) aparecia logo na carta de Leão XI11,
II, Os teóricos da síntese, especialmente deixava pouco espaço para a mística como
Ch. Maignen e Périès, chegaram a considerá- experiência interior. Havia apenas uma janela
la uma nova escola teológica cheia de erros, aberta, que era a insistência na presença e na
tendendo para a heresia. Os pontos princi- ação do Espírito Santo. Mas isso não
pais eram: existência de uma aspiração natu - concretizava nem as formas nem as expressões
ral ao bem sobrenatural, ampliação exagera- pessoais dessa ação. A pretensa negação do
da da ação do -> Espírito Santo, distinção sobrenatural e o desci édito das —* virtudes
arbitrária e perigosa entre —> virtudes ativas teologais e passivas deixavam quase sem base
e virtudes passivas, negação da distinção en- qualquer tipo cie -> experiência mística.
tre preceitos e conselhos, com aversão lógica Tradicionalmente esta se apresentava como
pela vida religiosa, e explicação errada da vida algo mais típico da receptividade do que da
espiritual. atividade, ao passo que se afirmava que o a.
A .síntese traçada pelos críticos europeus, pregava o ativismo, valor primário das
principalmente franceses, coincide substan - virtudes ativas.
cialmente com os desvios denunciados por Leão Era exata a identificação de um ponto fun-
XIII na carta ao Ca rd. Gibbons, Testem damental da "prática americana" na exaltação
betievulemiati. 1 Não é condenação concreta, do Espírito Santo e de sua ação nas almas e
mas um alerta diante da soma de opiniões na Igreja. Era aqui qtie ela se ligava de modo
que alguns chamam a " . Os pontos assinala- mais direto e profundo ã figura emblemática
dos como possíveis desvios eram: a Igreja de I. Hecker. Seus escritos uuiobioiuálicos
deveria ser mais indulgente com as outras mostram melhor do que a biografia de W. Elliot
confissões em matéria de doutrina e discipli - a importância que ele atribuía á inspiração
na; era supérflua a existência de guia ou ma- direta do Espírito Santo, como sublinhava bem
F. Klein na versão francesa. Hecker penetra ra
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AMBRÓSIO I)H Ml [.AO Kar.k.) SO
profundamente na realidade da vida cris tã. cada um aceite o outro como ele é, sem
Em sua inquietação na procura da verdade e do pro curai* transformá-lo numa pessoa
caminho seguro para a —> santidade, passou diferente; c. a conf iança: existe a convicção
por intensas experiências íntimas, já recíproca de que aquilo que o outro faz é para
AM V. RICA.N ISMO - A Ml /.ADE o próprio bem; d. o respeito: cada um atribui ao
52
antes de sua passagem definitiva para a Igreja
católica. Na descrição de soa vida interior, ele outro uma boa capacidade de juízo nas pró-
demonstra amplo conhecimento dos grandes prias escolhas; e. a assistência recíproca: nas
místicos da tradição cristã, de seus esquemas necessidades, eles podem contar um com o
e de seu vocabulário, mas a sua mística é outro; f. & compreensão: cada um compreende
inegavelmente uma "mística da ação", não como que por intuição o comportamento do
mística da contemplação. outro; g, a espontaneidade: cada um se sente livre
Se se deve lalar de mística noi*. real, ela de- (Xira sei" o queé nas relações com o amigo.
ve ser situada nessa linha; de lalo, os priinc-ros
movimentos —> "penlecosiais" e •-> "ca- II. Diversas teorias foram formuladas
rismáticos" na América do Norte aparecem para explicar a a. e os mecanismos por meio
historicamente como prolongamento dessa dos quais duas ou mais pessoas se escolhem.
"mística da ação". Nessa perspectiva, I. Hecker é Pensa-se em geral que a a. depende de algu-
seu paradigma e seu líder. Para ele convergem e mas necessidades: em particular da necessi-
nele se confundem a mística como experiência dade de af eto e de pertença descrita por Maslow
e a mística como leadership (liderança). (1 973); da necessidade de segurança, por cau-
NOTA: 1 22. 1.1SM9, cf. AAS 31 (1940), 474-478.
sa da qual os homens, como alguns animais,
se reuniram em grupo para se sentirem mais
BIBL.: O. Confessori, Lamericanismo caltolico in protegidos; da necessidade de aprovação so-
Itália, Roma 19S4; R,E. Curran, Prelude to cial, cuja satisfação leva a um maior desenvol-
"Ameri-canismu**: The New York Accadcniia and
Clerical Radkalism in the tule Nineteenth Centun, vimento da identidade pessoal; da necessida-
in Ckurch History, 47 (1978), 48-65; F. Deshayes, de de certeza: segundo Festinger (19.51).
s.v., in DTC 1. 1043-1049; Vv. Elliot, Tf te Life of mediante o "confronto social" as pessoas po-
Father Hecker, Nova York 1891; J. EIlis, The Life dem observar, pelas reações dos outros, quais
of James Cardinal Gibbons, Archihishop of
são os comportamentos mais adequados, re-
lialtimore (1834-1921), 2 vol., Milunukee 1954; A.
Houtin, I.Américanisme, Paris 1903; Ch. Maignen, duzindo assim a incerteza.
Étades surVaméricanistne. Le Pèrre Hecker est-il un Com referência à escolha das a., as pesquisas
saint?, Paris 1898; T. (Secord, Backman, 1964) mostraram
McAvoy, The Great Crisis in American Catholic que as pessoas tendem a escolher como amigos:
History 1895-1900, Nova York 1957; Id., Ameri-
canismo: mito e realtàt in Con 27 (1967), 130-144: E. 1. aqueles com os quais têm maior pos-
Pacho, v.r.. in DES I. 109 *112; C. de Picnvfeii, sibilidade de interagir; 2. os que denotam as
5.V., in DSAM I, 475-488. características de personalidade que são mais
estimadas segundo as normas e os valores do
E. Pacho grupo social; 3. aqueles com os quais têm
mais semelhanças no tocante às atitudes, ao
status social e aos valores; 4. aqueles pelos
quais se sentem também escolhidas ou, ao
menos, consideradas favoravelmente.

III. Do ponto d e vista psicológico, a a. c


AMIZADE um fenômeno que acompanha o homem por
toda a vida se bem que nas diversas etapas
A. I. Noção. Relação marcada por diversos do ciclo vital assuma características e sieni-
sem imentos e aspectos que se estabelece entre íiçados dilerentes. Ela se manifesta de lormas
duas ou mais pessoas e é diferente do diferentes nos dois sexos Imais profunda e
amor. intima nas mulheres). Ela se inicia na ida-
Segundo Davis (1986), a a., para ser tal e de pré-eseolar, na forma de adesão ao grupo
distinguir-se do que geralmente é chamado de jogos; na pré-adolescência ada pelo
"conhecimento", deve ter os seguintes ele- companheirismo e pelo espírito de "grupo"; na
mentos: a. o prazer: dois amigos se comprazem adolescência se tende a escolher poucos
na companhia recíproca e se sentem bem na amigos, com os quais estabelecer relações mais
maior parte do tempo em que estão juntos, profundas c procurar juntos as primeiras
apesar dos momentos de tensão e de aborre- respostas às perguntas existenciais. Na
cimentos; b. a aceitação: é fundamental que
Material com direitos autorais
juventude, a a. parece ceder o lugar à relação
de casal, começando-se a dar i x a . signilicado
diferente, orientado mais para a oportunidade.
Na idade madura, quando parece que surge
um novo medo da solidão, as pessoas procuram
cercar-se de certo número de amigos

Material com direitos autorais


53 AMI/AO!'.

-em geral bem selecionados - nos quais vêem "nesse amor (Deus) tornou-a (a alma) amável
características, também físicas, semelhantes e agradável a si" p e assim "a torna bela e a
às próprias. exalta, fazendo-a participante da própria
divindade".' Urna vez que é Deus quem ama e
Bun~: K..E. Davies, Amici tia e amare a confronto,
ir» Psicologia contemporânea, 1 3 (1986). I ü-25; L. que nele esse alo é extensivo ao seu ser, "ele
Fes-tínger - H. Kelley, Chanyjng Altitude through não ama nenhum ser menos que a si mesmo...
Social Contacts, Michigan 1951; A. Maslow. portanto, quando Deus ama uma alma, ele,
Motivazione epersonalità, Roma 1973; A. Riva, de certo modo, a põe dentro de si e a toma iyjial
Amu izia, íntegra-zione deWesperienza umana,
a si"* João da Cruz já notara as qualidades do
Milão 1975; P. Secord - F. Backman, Psicologia
sociale, Bolonha 1964. amor de Deus, que ama antes de ser amuo1 o, e
da pessoa amada, que é amada antes de amar,
G. Ftoggio ao escrever; "O único desejo de Deus é o de
exaltar a alma... já que não existe outra coisa
B. Premissa. A a. é uma realidade divina e na qual a possa exaltar senão tornando-a igual
humana mui lo importante. Deus "fala aos ho- a si..."; igualdade deamor.''
mens como a amigos e relaciona-se com eles Que significa essa "igualdade dc amor" ? A
para convidá-los e admiti-los à comunhão con- máxima comunhão de vida e a mais alta
sigo" (DV 2). O viver do homem é um conviver, e personalização e distinção dos protagonistas
a convivência se dá na relação. A pessoa é o que da ÍÍ. João da Cruz explica mais seu pensa-
é sua relação com os outros, na - > acolhida mento; na união translormaiite "os bens de
generosa e na doação desinteressada e total. A Deus se tornam bens da alma esposa, porque
a. é por excelência a amabilidade e a ele os comunica a ela... com graça e em abun-
concordância que assinalam e definem a vida dância";^ assim a alma - a pessoa - "parece
humana. Deus mesmo e possui o que Deus mesmo
No âmbito cristão reinam, todavia, silêncio possui".11 "Ambos são uma só coisa pela trans-
e desconfiança, enquanto rui vida e na lite - formação de amor", "um é o outro".12 Enfim,
ratura dominam reticências em relação à a . com as palavras da teologia escolástica, diz
"As amizades particulares" eram considera das que "são duas naturezas num único espirito e
legiões de - > demônios, que atacavam os amor",13 "Embora cada um (Deus e a pessoa)
cristãos neólitos, especialmente os con- consei-ve o próprio ser, cada um deles parece
sagrados na vida religiosa; era necessário Deus". 1 *
combatê-los "com torça igual. Dizia-se que Essa máxima comunhão de amor e essa
"entre santo e santa erguia-se uma parede de profundíssima personalização do homem
pedra", mas temos também uma herança implicam que ele receba, em sumo grau, a
validíssima, um tesouro escondido em tempos vida, isto é, "os bens" de Deus e, ao mesmo
longínquos ou em nossa história mais recente; tempo, dê tais bens, isto é, seja passivo e ativo
os místicos. Refiro-me a eles e, de modo ou passivamente ativo. "De certo modo a pessoa
particular, a —> Teresa de Jesus e a —> João da é Deus por participação" e, tendo-se
Cruz para propor algumas reflexões sobre a a. tornado 50í»/jr« dc Deus por meio dessa trans-
espiritual. H conhecido de todos que Teresa formação substancial, ela faz, em Deus (no
deliniu a —> oração como "relação de a/', J e mistério intrati initário) e por Deus (por causa
que João da Cruz escreveu; "Deus se comu- da graça da liliaçào recebida) aquilo que (o
nica... com amor tão verdadeiro que não há... próprio Senhor) faz por si nela para si mesmo .1=1
amor de amigo que possa igualar-se a ele'.* Depois o doutor espanhol sublinha com
temeridade e audácia de místico c com
I. Todo amor vem de Deus (cl. Uo 3,17). segurança de teólogo: a alma "dá a Deus o
Sem essa fonte, não há corrente de água que próprio Deus em Deus";1" "dá o que recebe dele",
irrigue nossos campos, nem (erra que ali mente estendendo essa doação para "tora" do
nossas raízes, Para aproximar-se das pessoas, o mistério de Deus, comunidade de pessoas,
místico começa sempre por Deus.3 Por isso ele com esta pincelada genial: "A alma vê... que,
nos oferece a possibilidade e os elementos que como coisa sua, pode dá-lo e comunicá-lo a
caracterizam o amor: a benevolência, a ajuda quem quiser". 17 Partindo dessa realidade,
e a confiança, como diz um grande humanista podemos penetrar agora naa. "espiritual" dos
espanhol. 4 O amor que Deus é e que procede místicos, isto é, de lodos aqueles nos quais a
dele cria a bondade na pessoa amada, graça da liliaçào adotiva atingiu um cres-
tornando-a amável, digna de amor, cheia de cimento notável. Portanto, é da vertente da
amabilidade. "O olhar de Deus é amor","1 filiação adotiva que se deve contemplar, gozar'

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e apresentar a transformação do prota gonista realiza. Amar e ser amado, para os que
da a., já que, seguidor do -> Filho fizeram de Deus a opção da própria vida e o t u
AMIZADE de referência 54

primogénito "por essência", goza "dos mesmos essencial e determinante, significa assumir a
bens",11- como filho adotivo por graça. "graça" de estar em relação, o que para os que,
Basta uma só palavra que se refira direta- em Cristo, crêem no Deus e -4 Pai de Jesus
mente ao ser da pessoa criada e remida*, sirvo- Cristo tem o alicerce, o coroamento e a força
me para isso de uma afirmação precisa e motriz para alcançá-lo.
maravilhosamente rica de João da Cruz: "A Mas é necessário dizer que a opção por
alma pede a igualdade de amor com Deus, Deus será autêntica também na afirmação e no
igualdade que sempre desejou em nível natu- desenvolvimento de tudo o que é humano,
ral e sobrenatural, porque quem ama não pode particularmente na relação de a , com o outro,
estar contente se não sabe amar o quanto é para fins de verdade, na maior harmonia e
amado"/'** e conclui o próprio João da Cru/, aproximação possível: é isso que "define" o
no parágrafo seguinte: "Enquanto a alma não homem novo, primogênito da nova humani-
alinge essa meta não está contente". O motivo é dade: "divino e humano ao mesmo tempo". 21
que não atingiu seu centro, o "centro mais Nada do humano pode ser imolado sobre o
profundo", "ao qual podem chegar seu ser, stta altar do divino, mas toda a pessoa é assumida e
virtude e a torça de sua ação e de seu recriada. :~ Deus não anula, não exige
movimento": 20 "igualdade de amor". 2 1 I-sia sacrifício de coisa alguma; todas as coisas foram
consiste na plena manifestação, no ápice da criadas para ele. Na pessoa "não" falta nada do
verdade de Deus e da verdade da pessoa numa que constitui o homem por natureza, "mas
gravitação de amor recíproca. seus atos incômodos e desordenados", diz João
da Cruz,25devem ser controlados,26 "perdem sua
I I . Aa. espiritual. Ela é comunicação fun - imperfeição natural e se transformam em
damental entre Deus e o homem por meio da divinos". 27
qual este é natural e sobrenaturalmente tor- Isso deve ser sublinhado quando se trata da
nado capaz de recebê-la e de concedê-la a a. entre pessoas, realidade suprema, ma-
qualquer tu, isto é, a Deus e a (outra) pessoa. ximamente reveladora de todo o desenvolvi-
Amar alguém significa amá-lo lambem porque mento pessoal. O que Deus "exige" é "estar no
Deus está nele e porque ele está imerso em centro"como ponto e razão de encontro, graça
Deus e participa de sua vida. Tudo isso abre essa que torna possível e "define" esse encontro.
dois caminhos naturais de acesso, ambos "Entre nós cinco que agora em Cristo nos
essenciais e indissociáveis. Caminho negativo: amamos", escrevia santa Teresa.28 E santo —>
estimular no outro, envolvendo-se com ele nessa Agostinho, nas Confissões: "A verda deira a.
tarefa, a > purificação de "tudo o que não é existe somente entre aqueles que tu (Senhor)
Deus", segundo a conhecida fórmula de João da unes entre si por meio da -> caridade".29
Cruz. Por isso, "aquilo que não é Deus", de um Experiência que Teresa converte em conselho
modo ou de outro, seca as fontes do amor no para todos: "Aconselho a todos que se dedicam
homem e, ao mesmo tempo, impede -t > de à oração... que procurem a. e conversação com
descobrir o bem ou o que é "amável" no outro. pessoas que praticam o mesmo exercício". 0
Caminho positivo: ativar c acompanhai", no Esse conselho nasce de sua experiência no
dinamismo crescente da gratuidade, o campo das relações de a., algumas das quais
desenvolvimento daquilo que é Deus no outro "prejudicavam tudo".31 Um dia Teresa ouviu
e em si mesmo. A esse respeito escreve santa estas palavras: "Não quero mais que converses
Teresa: "É bastante raro que essas grandes com os homens, mas somente com os —>
amizades sejam ordenadas a inflamar-se anjos".32 E esclarece imediatamente o sig-
reciprocamente no amor de Deus...; quando o nificado, acrescentando: "Essas palavras se
amor tende ao serviço de sua Majestade, isso é cumpriram com exatidão, porque desde então
visto claramente (= se muestra) porque a não pude mais ter consolação, a. e amor
vontade, em vez de deixar-se dominar pela —> especial senão com pessoas que eu via que
paixão, procura todos os meios para vencer as amavam c serviam a Deus".33 E assinala o efeito
paixões. Eu gostaria que houvesse muitas dessas rápido, instanlàneo: "O Senhor me ajudou,
amizades nos mosteiros".22 "Servir à Sua dando-me tanta força e —» liberdade que me fez
Majestade" significa desenvolver e afirmar a romper toda ligação".34 Os verdadeiros amigos e
própria vocação; a "primeira" é a de tornar-se "os melhores parentes (são) aqueles que Sua
pessoa; a "segunda" se refere à dimensão Majestade vos enviar", "os que vos amam só por
humana, social e religiosa, na qual a pessoa se Deus";""' amigos na liberdade e pela liberdade.
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É essa a nota característica da a. com o padre
Graciano: "Dá liberdade". 36

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5 j AMI/.ADI: - AMOR

Quando, como educadora de suas irmãs, si ao outro", como diz João da Cruz.43 Mas a
santa Teresa tala do "-> anu >r puro espiritual", dificuldade e a dureza nas pessoas chamadas ã
que "e bom e lícito e que devemos ler uns com a. servem de incentivo para a consecução
os outros"," escreve: "Felizes as almas que são daquilo que pela graça é possível.
objeto do amor delas! Afortunado o dia em NOTAS: 1 Vida 8 ,5;2 Cântico espiritual 27,1 ; 3
que se conheceram 1 O meu Senhor, não me Habitualmente os teólogos expõem esse tema
concederias a graça de encontrar muitas através de movimento ascendente. Assim, p. ex.,
almas capazes de amar-me assim?", e, S. De Guidi. Amore e amicizia. in 1)11. 319-34 ];";
Cí. I*. Lain Kn-tralco, S<.ihre la ami st ml. Madri
dirigindo-se às suas monjas: "Amai também o
19S6, ! 57-171; 1 Cântico espiritual 31,8;r' Ihui.
quanto quiserdes tais pessoas.,.". E prossegue 2;7 thai, 4; s Ibid, 32,0: ■' Ihui, 28 .1; '" Ibid.,
nesse tom, respondendo às upiniòes contrárias: 14.29; " Subida ao Monte Carmelo II, 5.7; I:
"Ad.rnitindo-.se que alguém chegue à —> Cântico espiritual 12,7; 13 IhiJ., 22,3: 14 Ibid.,
perfeição, logo vos dirão que para ele esse 5;15 Chama viva de amor 3.78; k * Ibid.; 17 Ibid.;18
Cântico espiritual 36,5; 39,5-6; 19 Ibid., 38 ,3;
recurso não é necessário, porque lhe basta ter Chania viva de amor I, 1 1 ; '"' Cântico cs piri
Deus. Mas o fato é que para ter Deus é um ma!, 28,1; : J I h id., 4.6-7: 21 Teresa de Avila,
ótimo subsídio freqüentar setis amigos". Castelo interior. Sete moradas, 7.9;24 No final do
E importante que o encontro amigável se Cântico espi* rima! (4(1,1.5-6), <> Doutor místico
realize "no Cristo"; é ele que torna possível a a. oferece uma idéia inspiradora acerca da
participação de trufa a per sonalidade na festa
e o dom que se oferecem mutuamente os da amizade com Deus, também com anüf.os.
amigos e que reciprocamente descobrem como Kla é a ampliação de princípio anho p« >lógico:
motivo determinante de sua a . Assim ensina "Visto que... antes dois elementos [sensitivo e
santa Teresa às suas monjas na relação com o espiritual 1 formam o mesmo sujei lo, ;mihos
confessor: "Religiosas que devem estar ocu- participam do que o outro recebe, cada um à
sua maneira" (Noite escura I, 4 ,2); *s Cântico
padas na oração contínua, para as quais a a. espiritual 20 ,7;26 Ibid., 4 27 Ibid., 3;28 Vida 16 ,7;29
com Deus é o motivo de sua vida, não se ape- Livro IV, c. 4 ,7'30 Vida 7,20; í ; Ibid, 23,5;32 Ibid.,
guem a um confessor que não seja grande ser- 24 ,5;31 Ibid., b; 3- Ibid., 7; ^ s Caminho de
vo de Deus..., sendo como deveria; se vêem que perf eição y,4; "' Ninguém poderá romper essa
amizade (et. Carta de 28 de agosto de 1575).
o confessor não compreende sua linguagem e
Cristo "o mediador de matrimônios" [Carta de 9
não é levado a falar de Deus, não podem alei- de janeiro 1577); 37 Caminho de perfeição 6,1; 38
çoar-se a ele, porque não é como elas".-4 Le- Ibid., (red. Kl Escoriai) 11,4. Sobre as vibrações e
vando ao extremo sua afirmação, acrescenta: niixJulaçõe* humanas do amor cf. M. Herráiz, Sólo
"É impossível continuar amá-la" (a pessoa) "se Dios basta. Madri 1992, 306-340; 39 Caminho de
perfeição 4 ,15; 40 Ibid., 6 ,8; 41 Noite escura 1,4 ,8;42
ela não tiver em si bens celestes e grande Ibid., 1 2, 8;43 Cântico espiritual 26, 14
amor a Deus. Sem isso, repito, não podem
amá-la, mesmo que essa pessoa as obrigue à BiBL.: T. Alvarez5.v., in DES 1,112-117; L. Bordello.
Amore, amicizia e Dio in S. Teresa, in EphCartn 32
lorça cie sacrifícios, morra de amor por elas e (1981), 35-90; S. Galilea, Lamicizia di Dio. I I
reúna em si todas as graças possíveis".'1. cristiattesimo, come amicizia, Cinisello Bálsamo
Expressãoe "sacramento" diva. intratrini- I *S9; 'I". Colli, s.w, in PS, 1-19; N.M. Loss, Amore
lária e da que se dá entre Deus e a pessoa, damicizia nel Nuovo Testamento, in Sal 39 (1977),
meio para o aperfeiçoamento humano e ao 3-55; A. Riva, Amicizia. Integrazione
delVesperienzxi umana, Milão 1975; C. Sclu.it/. -
mesmo tempo finalização do movimento da R. Sarach, 1,'uom.o conte persona, in Mysterium
pessoa para .ser na harmoniosa direção para salmis IV, orgs. J. Feiner c M. Lohrer. Brescia
Deus e para o próximo, a a., como toda pes- 1970, 308-332; G. Vans teen he r-ghe, s.v., in
soa humana, tem necessidade de cuidado, de DSAM1, 500-529; T. Vinas, s.v., in Dicionário Teológico
da vida consagrada, Sao Paulo 1993
ser cultivada generosamente e de uma pro -
funda purificação. O caminho do homem para Ai. Herráiz
Deus é —> "noite escura", diz repetidamente
João da Cruz. É caminho de humanização. O
santo escreve que "a noite escura purifica todos
esses amores".41 E isso porque póe o homem
diante da verdade radical de si mesmo, "aqui
nasce o amor ao próximo",42 amor sem
nenhuma vantagem, o qual tem presente só o AMOR
bem do outro. Amor gratuito, desinteressado,
fruto da noite purificadora. I. "Deus é a." (Uo 4,8): essa afirmação,
Aprender a amar é o mais lento, o mais simples e absoluta, leva logo ao âmago dessa
duro e o mais longo aprendizado, já que se altíssima palavra e também indica uma via
trata de amar com gratuidade, "passando de paru pesquisa e um método para aprofun-
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damento. Se OH . é Deus mesmo, conhecimento oração, Deus-Amor responde, mostrando seu
autêntico do a. só pode nascer da escuta de rosto rnais secreto e oculto, o da fidelida 56
Deus, só pode ser fruto de revelação dele.
AMOR de misericordiosa. Eesse.de lato. o Nome de
Deus, revelado a Moisés na teofania do Sinai:
É necessário, portanto, es lar alento a Deus. "O Senhor desceu na nuvem e ali esteve junto
Corno se manifesta ele? Que coisa diz ele do dele. Ele invocou o nome do Senhor. O Senhor
a . por seu ser e seu agir? A quem abre a -> passou diante dele, e ele exclamou: Senhor,
Bíblia ele se apresenta, em primeiro lugar, Senhor, Deus de compaixão e de piedade, lento
corno aquele que criou e que tem alegria em para a cólera e cheio de a. e fidelidade' "(Ex
contemplar suas criaturas. No princípio é a 34,5-6).
harmonia, como que o diálogo silencioso e Na relação com o povo eleito Deus exige
amoroso entre o olhar do Senhor, que vê a correspondência ao seu a.; é o pacto da aliança,
bondade da obra de suas mãos, e a criação o qual não deve ser traído: "Amarás o Senhor
inteira respondendo ao seu chamado e ale- teu Deus com todo o teu coração, com toda a
grando-sc naquele que a criou {cl. Gn 1; Br tua alma e com todas as tuas torças" (Dt 6,5).
3,32-38; Pr 8,22-36; Jó 38-39; SI 8; 103; Dn 3,52- A Sagrada Escritura multiplica ao infinito
90, passim). as imagens que guiam para o conhecimento
O ci. é a vida e a fonte da vida: é a vida de Deus-Amor. Ele é o pastor que procura
inexaurível. Suas características peculiares suas ovelhas nos despenhadeiros, que enfaixa
são a gratuidade e o dom: ( O bem ê dif usivo de a ferida e cura a doente (cf. Sl 23; Is 40,11; Ez
s i ) o a., por sua nature/a, se difunde, afirma 34,11 -31, passim); é o vinhateiro, que planta
a teologia escolástica, e. ditundindo-se. gera sua vinha com cuidado, que a guarda, a irri -
cm torno de si outro a,: o a. não se contem a ga, a poda e espera ansiosoameme seus frutos
com amar, mas torna outros capazes de (cf. Is 5; 27,2-n; Sl 80; Jo 15,1-8, passim): é o
amar. Ele estabelece com os homens uma rea- mercador que vende todos os seus haveres para
lidade de paz, de benevolência recíproca e de adquirir a pérola preciosa (cl. Mt 13,45ss); é o
comunhão. Todavia, depois "daquele pai que castiga o filho que ele ama, para
misterioso —> pecado de origem" - como diz João corrigi-lo (cf. Pr 23,13); é a mãe que não se
Paulo II na Encíclicia Yeriiatis splendor o esquece de seu til f i o (cf. Is 49,15), porque tem
homem é permanentemente tentado a di rigir o vísceras de misericórdia (cf. Jr 3 1,20);
coração para outro lugar, para longe de Deus; sobretudo c o Esposo apaixonado que procura
è tentado a separar-se do "d. fontnl". A incansavelmente sua esposa. í i á um fio
unidade se rompe, e se inicia a história da condutor que percorre todos os livros bíblicos,
divisai». Junto com o a., que é Vida, e em luta segundo o qual o a. entre o homem e a
obstinada contra ele, aparece a morte. mulher é imagem da relação entre Deus e a
Rompida a —» aliança originária, a criação se humanidade, entre > Cristo e a > Igreja, corno
precipita numa situação dilacerante, trágica. dizendo que, paia compreendermos a
concretude e a ternura desse amor, não temos
I I . Toda a Bíblia, em particular o livro dos imagem mais penetrante do que o a. do
Salmos, é atravessada pelo grilo lancinante do homem para com a mulher. Essas núpcias,
homem, que aspira à vida, mas experimenta que se consumarão na eternidade, começam
continuamente a própria finitude ontológica. longe, naquele momento da história no qual
A imagem de Deus, que ele traz esculpida no Deus, chegada a plenitude dos tempos, no
coração, antes causa de —» alegria, agora é coração da noite, das trevas e da luta. se re-
fonte de instiprimível saudade do bem que ele vela, desce na e< mdiçát > humana e repele
perdeu e que lhe é sempre necessário para sua Palavra de a. ao coração da humanidade,
sentir-se feliz. A realidade concreta na qual o como canta uma belíssima antílona ureuo-
homem se encontra imerso parece falar -lhe só riana do tempo de Natal, Dum médium si-
de sombras fugazes, de vaidades e de leuf ium: enquanto um profundo silêncio en-
coiTuptibitidade: "Para qual vazio criaste os volvia todas as coisas, e a noite estava na
filhos de Adão?" (SI 89,48), interroga o metade de seu curso, lua palavra onipotente
salmista. E pergunta novamente: "Que desceu do céu, de teu trono real... (cf. Sb
ganhas com minha morte, com minha descida 18,14-15). "E o Verbo se fez carne e habitou
à cova? Acaso poderá louvar-te o pó e proclamar entre nós" (Jo 1,14). E Cristo, que "sai como
lua fidelidade no amor?" (Sl 30,10). "Deus um esposo dos aposentos nupciais (Sl 19,6).
esqueceu-se de ter piedade ou fechou as Muito significativamente nas Vésperas da
entranhas com ira?" (Sl 77,10). Impossí vel. Epifania, o canto áoMagniiicat é acompanha-
Melhor, ainda antes que a distância em do de uma antílona que revela o mistério do
relação ao a. se torne no homem —> desejo e —> Natal em chave de manifestação doa. de Deus
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57 AMOR - ASORKAS1 OSAN NA

nas núpcias do Verbo encarnado com a Igreja. 0<7. é esse rio, que, perenemente unido à sua
Por isso, antigamente a festa da Epifania era fonte, corre até os confins da terra, levando
escolhida de preferência para a celebração da vida ao —* deserto. Como canta uma Ode de
profissão monástica e para a consagração das Salomão: "Uni regalo brotou e se tornou tor-
virgens. rente... inundou o universo e o transportou
para o templo. Obstáculos e diques não pu-
III. No nascimento d e Cristo, Deus der- deram detê-lo..." {Ode 6). É essa a missão da
rama sobre o mundo imenso u., que se revela Igreja, peregrina no tempo para a Jerusalém
agora também como autentica "paixão", ou seja, celeste, onde, na comunhão dos santos, o A.
como capacidade de sofrer. Toda a vida de Jesus será tudo em todos. A santidade não é senão a
nào é senão progressiva e crescente plena realização do a. na relação com Deus e
manifestação de a., a qual culmina em sua com o próximo. Por isso, os maiores místicos
paixão, documento autêntico de uma. inequi- são aqueles que, conloi mando-se a Cristo,
vocável, generoso até o derramamento do consumaram-se no a.
sangue; de um a. feito de paciência, de mag-
nanimidade, de absoluta gratuidade e obla - BIUL.: H.U. von Ballha&ar, Soto l a more è credibile.
Turim 1965; \i. Bianchi - L. Manicardi, hi carita
tividade: "Antes da festa da Páscoa, sabendo ncüa Chiesa, Magna no 1990; T. Federici, I A'!
Jesus que chegara a sua hora de passar deste fure bibliclwsidla carita. Roma 197Ü,C. Gennah,\.u,
mundo para o - > Pai, tendo amado os seus in DES l , 117-120: A. Kygien,Eroseagafx;, IM
que estavam no mundo, amou-os até o fim" nozione Cristiana delVamore e k• sue trasfonnaziom,
Bolonha 1971; A. [*cnna. Vamore nella Bibbia,
(Jo 13,1). Por a. Jesus se ofereceu ao Pai; —>
Brescia 1972; G. Quell - E. Staííer, Agapao, in
vítima inocente, expiou voluntariamente o GLNT I, 57-146; C. Spicq, Agapè dans le Nouveau
pecado do mundo: "O castigo que havia de Testumeut, Paris, 1966*.
trazer-nos a paz caiu sobre ele" (Is 53,5). E,
dando sua vida, não só reabriu as portas do Beneditinas da ilha de São Júlio
céu, mas também deu um "mandamento novo":
"Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis
uns aos outros; como eu vos amei, amai-vos
também uns aos outros" {João 13,34). Aquele
mandamento que já compendiava toda a Lei e,
em certo sentido, a fazia ir além de si mesma,
é doado agora ao homem para que, praticando- ANDREASI OSANNA
o, possa reencontrar sua plena felicidade, a
semelhança com Deus. "Jesus pede que nos I. Vida e obras. Nascida em Mãntua a 17
insiramos no movimento de sua doação total, de janeiro de 1449, primogénita do nobre
que imitemos e revivamos o a. daquele que Nicolau Andreasi e de Inês Gonzaga, Osanna
amou até o fim". Todavia, "imitar e reviver o a. veste, aos quinze anos, o hábito das terceiras
de Cristo não é possível ao homem só com suas dominicanas paia secundar sua inclinação
foiças. Ele se torna capaz desse a. somente em ascética natural, conseguindo superar a re-
virtude de um dom recebido. Como o Senhor solução lirme de seu pai, que desejaria vê-la
Jesus recebeu o a. do Pai, assim ele, por sua casada.
vez, o comunica gratuitamente aos dis cípulos" A existência de A. é inteiramente consagra-
(\'S 20-2J). Esse dom é o —> EspíriUi da à contínua e intensa atividade caritativa
Santo. Depois da ressurreição, Jesus apareceu em favor dos pobres e dos necessitados. Sua
aos Doze no cenáculo, "soprou sobre eles e atenção c seus cuidados dirigem -se também
lhes disse: 'Recebei o Espírito Santo' (Jo aos membros da família real Gonzaga. Em
20,22). E somente tornando-se criaturas novas 1478 o marquês Frederico I (t 1484), antes de
no Espírito que é possível responder com a. partir para a guerra contra os suíços pelo
ao a. de Deus, porque é só por meio do Espírito ducado de Milão, confia-lhe a própria mulher
Santo que a > caridade é derrama da no Margarida de Baviera e os lilbos, aos quais ela
coração dos homens (cl. Rm 5,5). São dispensa seus cuidados espirituais e hu -
significativas, a esse respeito, as palavras di- manos, especialmente após a morte da macem
las por Jesus no último dia da lesta das len- 1479. Ocupa-se de negócios públicos jtinto à
das: "Se alguém tem sede, que ele venha a mim marquesa Isabel de Este, regente do Es tado
e que cie beba, aquele que cré em mim; mantuano para o consorte Francisco II ("f 1519),
conforme as palavras da Escritura: De seu seio que em 1498 passou ao serviço de Luís XII, na
jorrarão rios de água viva" (Jo 7,37-38). França.

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A capacidade inata de A. em saber conciliar NOTAS: ' Beatae Osannae Mantuanae de íertio
a vida contemplativa e a vida ativa, assumin - hahi/u Ord. Fratrum praedicatorum vita, Mediolaní
ANDREAS! OSANNA - ÂNGELA DE FOUGNO 1505 58

e reimpressa pelos Bnlandisas in Acta Sanctorum


do como ideal próprio o amor ao próximo
hmni, III, Antuérpia 1701. 673-724;2 Libretto de
naquele superior de Deus. e muilo bem evi- la vita et transito de La beata Osanna de Mantua...
denciada por seus primeiros biógrafos, os Mãntua 1507 c Bolonha 1524, repu hl içada
dominicanos Francisco Silvestri de Ferrara1 e o em ira-dução latina nas Acta Sanctorum, 724-
beneditino Jerônimo Seolari," que dela es- 800.
crevem quando ainda viva.
Tendo aprendido a ler e a escrever mira cula BiUL.: [G. Gabolini - L. Ferretti], I M Beata
Osanna Andreasida Mantova, terziaria domenicana
«sãmente, deixou-nos estas obras: o escrito (1449-1505); A. Magnaguti, La Beata Osanna degli
autobiogràttco Opúsculo da sua própria vida e dos An-dreasi, Pádua 1949; G. Murabito, s.v., in BSI,
dons espirituais que Deus lhe concedeu e urnas 1170-7-1; A.L kciligonda ,5.u, in DizBiogr III, 131-
noventa cartas, metade das quais diri gidas 132.com Bibi.
aos mesmos Gonzaga. Editado desde 1507, o
Opúsculo é inserido na biografia escrita por N. Del Re
Seolari, ao passo que o episto-lário foi
publicado em 1905 pelos dominicanos G.
Bagolini e L. Ferretti como apêndice à biografia
de A. escrita por eles. A caridade ardente, que a
anima permanentemente, dirige-a a aliviar as
misérias materiais e morais dos seus
concidadãos, de sorte que, depois de sua morte ÂNGELA DE FOLIGNO
ocorrida em Mântua em junho de 1505, começa
a ser honrada com culto público, permitido por
I. Traços biográficos. A data de seu nas-
cimento não é conhecida. Casou-se c leve fi-
Leão X em toda a diocese com o breve de 8 de
lhos. Por volta de 1285 deu-se sua conversão a
janeiro de 1515, confirmado depois por Inocêncio
uma autêntica vida cristã, no sacramento da
XII com a bula de 27 de novembro de 1694 e
penitência, na Catedral de Foligno. Depois da
estendido fina h nenlc pelo mesmo pontífice a
morte do marido, iniciou sua experiência de
toda a Ordem dominicana em 19 de janeiro do
penitetite, junto com certa Masazuola.
ano seguinte.
Numa —> peregrinação a Assis, no termo de
II. A experiência mística. Embora favo- uma experiência mística, começou a gritar de
recida por grandes fenômenos místicos A. não amor na entrada da Basílica Superior de são
consegue descrever Deus que experimenta Francisco. Estava presente frei A., seu parente e
durante aqueles momentos sublimes. Atingi da conselheiro, o qual, de volta a Foligno, obrigou-a
—> pela visão de Deus da qual usufrui no seu a revelar-lhe seus segredos. Surgiu assim o
íntimo, ela não quereria retornar mais ao seu Memoriale, ao qual se juntaram, ano após ano,
corpo, para não se separar de tão grande outros documentos; juntos, eles formaram O
beleza. Daí o desejo profundo da união eterna livro da bem-aventurada Ângela de Foligno. Angela
com Deus, deixada por esses raptos e vôos faleceu em 4 de janeiro de 1309. Seu processo
místicos. Nos últimos anos de sua vida A. vê de canonização está em andamento.
em visão o estado da Igreja e pressagia os males
que ameaçam a "pobre Itália". Oferece-se, por II. A experiência m í s t i c a de A., magistra
isso, como —> vítima de expiação e se une ao theologorum, que entrou na Ordem Terceira
sangue preciosíssimo de Jesus, a cujas chagas franciscana por volta de 1291. nos é conhecida
nutre grande devoção. Deus recompensa-a com graças a importantes documentos de um
dons sobrenaturais, como a transfixão do dossiê, que teve boa tradição manus crita e
coração, a coroação de espinhos e os -» estigmas, notável sorte editorial, se bem que, durante
ainda que sem a dilaceração dos tecidos, mas séculos, numa transcrição remanc-jada (nos
bem visíveis sob forma de enturnencimento. A últimos setenta anos M. Faloci-Pulignani, M.-
compensação maior, porém, é a de tomar parte, J. Ferre, P. Doncoeur, L. Thicr e A. Calufetti
através da paixão de Cristo, na obra de —> trabalharam para chegarão texto latino
redenção. A paixão não está somente no centro autêntico, o mais próximo possível da primeira
da medi tacão, mas também da sua vida redação, irremediavelmente perdida; em lodo
espiritual, fazendo-lhe sublimar seus caso, continuam sem solução muitos
numerosos sofrimentos físicos e morais que se problemas, tanto que se pode falar de questão
tornam substancia da sua vida mística. angelana).

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Dessa experiência, que assegura a A. um
lugar de prestígio no movimento penitencial
medieval e na -• historia da mística ociden

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ÂNGELA DF FOLIGNO - ANIQUILAMENTO 80
59 ÂNGELA DE
FOLIC!NO

tal, pode-se tentar unia síntese a partir do I I I . Mística franciscana. Em qual relação
Sujeito que sempre foi sua motivação. com a mensagem evangélica se põe a expe-
Temos assim a experiência t ri ni t ária riência de A., a qual tem suas raízes na tradi-
("Parece-me estar e permanecer no meio ção franciscana? Ao menos aquela que é des-
daquela crita no Memorial, primeira parte do dossiê, está
Trindade que vejo entre tantas trevas", trad. em plena correspondência com o evangelho.
De S. Andreoli, p, 139), e em especial a do Com eleito, no Prólogo se lê: "A experiência
—» Pai ("Depois contempla Deus numas tre vas, dos que são verdadeiramente fiéis prova,
porque ele é bem maior do que se possa confirma c ilustra, em relação ao Verbo da
pensar..", p. 136), a do -» Filho ("Vi e senti que vida. que se fez homem, estas palavras do
Cristo abraçava em mim a alma com aquele evangelho: Se alguém me ama, guardará mi-
braço que tinha sido pregado na nha palavra, e o meu Pai o amará, e a ele vi-
cru/...", p. 102} e a do > Espírito Santo remos e nele estabeleceremos morada (Jo
("Não me é possível avaliar quão granaes luram 14,23). Quem me ama... eu me manifestarei a
a —> alegria e a doçura que senti, sobretudo ele (Jo 14,21b)". O autor do documento, frei A.
quando ele alirmou: Eu sou o Espí rito Santo e comenta: "Deus mesmo faz com que seus tiéis
estou dentro de ti", p. 62). tenham de nu >d* > pleno essa experiência e
Outras experiências místicas fazem refe- desenvolvam a reflexão sobre ela. Também
rência a —> Maria ("Uma vez imprevistamente recentemente isso permitiu que urna de suas
minha alma foi arrebatada... e contem plei a fiéis manifestasse de alguma maneira tal ex-
bem-aventurada Virgem na glória", p. 114), periência e reflexão para devoção dos seus...".
aos anjos ("Então os próprios santíssimos — A chave de leitura da parte principal do
anjos, pioporcionando-me um prazer Livro, sugerida pelo próprio redator, é, pois,
maravilhoso, me disseram: O toda agra dável e evangélica; consequentemente as passagens —
aceita a Deus, cisque o Deuse 1 íomem te foi trinta, condensa-las por Irei A. em vinte e seis
trazido e o tens aqui. Ele te foi dado, também - da primeira fase da experiência de A.,
para que possas mostrá-lo e oferecê-lo aos iniciada com o mal-estar interior pela situação
outros", p. 243) e a —> Francisco de Assis de pecado, desenvolvida na conversão, por volta
("Naquela circunstância foram-me dirigidas de 1285, e levada ao auge com os
estas palavras: Eu sou Francisco, fui mandado acontecimentos místicos excepcionais, devem ser
por Deus. A paz do Altíssimo esteja convosco", lidas como confirmação das promessas
p. 146). de Jesus.
Diga-se também que a experiência mística Parece-nos que se pode dizer a mesma coisa
de A. teve desenvolvimento sitmilicativo e que dos desenvolvimentos da mesma experiência,
de vários modos ela chegou â certeza da —> documentados por textos muito densos da
presença de Deus nela. segunda parte do dossiê, redigidos pelos
A respeito dessa forma de experiência (que discípulos de A.
não foi a mais alta e intensa desde a conver-
te), dep< us lie 1er são até 4 de janeiro de IV. A atualidade da experiência mística e
su des 1 iuadas à i 1309, dia de sua mor- A., realizada em tempos difíceis, marca-os pela
net abi )erado muitas dilicuum- heresia do Espirito de liberdade e por inflamadas
idade do contato místico com Deus, ela afirma: polêmicas entre os franciscanos sobre a —>
"Ainda de muitos outros modos, dos quais não pobreza, é incontestável.
se pode duvidar, a alma compreende que Deus Antes de tudo porque ela se mostra capaz de
está nela. O primeiro é a unção... O outro despertai aquela consciência do chama do
modo., é seu abraço. Não se pode pensar que universal para a —+ comunhão intima com
uma mãe aperte o filho contra o peito ou que Deus, da qual fala o Catecismo da Igreja Católica
uma pessoa deste mundo abrace outra com o (n. 2014); ao longo dos séculos ela se esquecera,
mesmo amor com que Deus abraça mas agora se vem robustecendo, também por
indizivelmenle a alma' (p. 120). Pouco antes A. meio da influenciadas lulgin antes contissóes
mencionara e descrevera outros quatro; dos grandes místicos.
concluindo, porém, seu discurso, "...observou Além disso, essa experiência revela todo (i
que os modos pelos quais a alma compreende seu fascínio de dom admirável de Deus.
que, sem dúvida, Deus está nela são tão independentemente dos esforços ou artifícios
numerosos que de nenhuma maneira humanos, e de prova convincente da
poderíamos indicá-los todos" (p. 122). incessante e surpreendente ação divina no
homem.
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Enfim, associada à doutrina exposta em mática cristã da promoção humana lidada à —
alguns documentos do Livro, posteriores ao > evangelização.
Memorial (redigidos por irei A. e outros), a rica I. O termo na Escritura. O a. é expressão
experiência de A., "verdadeira mestra de vida hiperbólica que designa atos ou estados da
espiritual'' (João Paulo II, 20 de junho de vida espiritual e é principalmente tema
1993), pode contribuir para dar um sabor novo cristológico. O crente se conforma a - > Cristo
ã —> teologia, hoje mais atenta aos à medida que experimenta em sua inte-
testemunhos dos místicos, e estimular a re- rioridade o a. (kénosis) de Cristo, cuja reali-
flexão dos homens de cultura, cm particular, zação histórica foi o evento da —> cruz.
dos interessados nos problemas da linguagem. O significado dvkenós c dcke)iôo se encontra
no NT1 e fora dele. Kenós c kenóo são usados só
BLÍÍI..: Prescindindo do que íoi publicado antes por —> são Paulo. O valor literário do pri meiro
da edição critica do dossier angolano (L. Thier -
A. CaluteUi, I I libro delia beata A. da Foligno, F.d. se encontra na parábola dos vinhateiros (cf. Mc
Colle- 12,3 c par.); sentido mais profundo dele, se
ci s. Bonavcnturae ad Claras Aquas, Grottafei bem que ainda veleroteslarnentário, se acha
rata [RM] 1985), sem com isso subvaloriza-lhes no Magnificai (cf. Lc 1,53). Em sentido cristão
a importância, assinalamos as traduções feitas ele se encontra em Tg 2,20 (cf. Mt 5,3ss.; Lc
com base nesta; il libro delia beata A. da Foligno,
Intr. tracl. e notas di S. Andreoli, Cinisello 6,20ss.; 1 Cor 1,26; 2Cor 6,10; Tg 2,5). Não é o
Bálsamo 19967; Angela of Foligno, Complete uso lingüístico que é cristão, mas o conteúdo
Works, translatcd, with and inlnxluction by P. conceituai do termo. l2 usado por são Paulo
Lachancc, prelaee byR. Guarnieri, Nova York- no negativo, no sentido de inutilidade, para
Mahwah 1993; Le livre d'Angèle de Foligno, tr. J.-F. dizer que seu apostolado não é inútil, nem
Gudct, prés. P. Lachancc et Ih, Matura,
Grenoble 1995; Angela de Foligno, Libro de la vida, tr. vazio, como não o são também a ■-> graça
T.H. Martin, Salamanca 1991 e uma versão divina e o kérigma. O verbo kenóo destaca a
parcial (Angela da Foligno, // libro deWespe- privação de um conteúdo ou de uma posse. No
rienza, org. por G. Pozzi, Milão 1992), baseada passivo, tem o significado de ser reduzido a
no ms 324 de Assis (PG). Para os estudos
nada. Nesse sentido ocorre só em Fl 2,6-1 1:
limitamo-nos a elencar os volumes dc
especialista (P. Lachancc, // percorso spirituate, Cristo se privou voluntariamente do seu modo
di A. da Foligno, tr. it., Milão 1991; A. Calufetti, A. de ser divino c preexistente (v. 6), assumiu o
da Foligno mística modo de ser humano e terreno (v. 7) e tornou-
deW "Ugtübene", Milão 1992; D. Alfonsi, IM ftglia se humilde c obediente até a morte de cru/, (v.
delVestasi, Biografia spirituale delia beata Angela da 8). Isso foi possível não só pela onipotência
Foligno, Pádua 1995; S. Andreoli, Angela da Foligno,
maestra spirtuate, Roma 1996'; L. Radi, Angela da divina, mas também pela "renúncia" livre do
Foligno e lUmbna mística dei secolo XIII, Pádua Verbo de Deus, cujo a. (kénosis) o levou â
1996) e as atas dos encontros internacionais (C. morte na cruz. O Deus de Israel não temeu, do
Schmitt [org.], Vita e spiritualità delia beata A. da ponto de vista bistóri-co-salvíf ico, provocar o
Foligno, Pemgia 1987; E. Mencslò [org.l Angela da grande escândalo da "entrega" do próprio
Foligno terziaria francescana, Spolelo|PG) 1992),
remetendo às nossas bibliografias publicadas Filho à morte, num infinito ato de amor.
por L'italia Francescana 60 (1985), 75-92; 63 São Paulo descreve esse evento usando
(1988), 185-200, e às organizadas pelas duas cadeias de Ires conceitos, que se cor-
revistas especializadas (Bibliografia Storica respondem de modo paralelo: Deus-homem-
Nazionale, Internacional Medieval Bibliography,
morte e Senhor-escravo-cruz, porque o homem
Bibliographia Franciscana, Bibliograf ia UmbraJ.
traz consigo a morte, e O escravo a cruz.* Em
S, Andreoli Cristo o i i . conduz à cruz; paia aquele que crê
nele não há itinerário diferente, ü que lhe é
pedido não é uma cruz cruenta, mas a
eliminação do eu humano, ã medida
que se opõe a Deus, em todos os elementos
irredutíveis à perfeição interior. Trata-se de
esforço, isto é, de tf. ativo, constituído princi-
ANIQUILAMENTO palmente por —* humildade autêntica e pela —
> abnegação de si, que c renúncia perfeita à
Premissa. Aniquilar-se tem geralmente um vontade própria, seja como criatura, seja como
impacto auditivo desagradável também nos pecador. Assim o cristão se torna parti cipante
ambientes religiosos. Mesmo sendo estado de do a. dc Cristo em tudo: no nível dos bens
vida espiritual indispensável para a -> materiais, no da própria sensibilidade e no
perfeição, percebem-se suas dificuldades dos dons espirituais. É só semelhante a. que
intrínsecas, causadas pelos estímulos pro-\ permite avançar no caminho estreito, no qual
enientes da sociedade e também da proble- há lugar só para a renúncia e a cruz. 3

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ÂNGELA DF FOLIGNO - ANIQUILAMENTO 82
61 ANIQUILAMENTO -
ANJOS

II. Na experiência mística. O a. chamado Cântico espiritual H 26,14 e Cântico espiritual A


místico sc compõe de duas fases: a via da 17,1 1; s Cf. Id., Chama viva de amor IV, 16.
purificação ativa e a da purificação passiva. A linn .: W. Beinert (org.), Lessicodi teologia
primeira faz parte da abnegação, que —> são sistemática. Brescia 1990, 435, 439, 510, 569,
João da Cruz chama —> "noite ativa dos 626, 699-701;
sentidos" e que consiste no a. das potências S.N. Bulgakov, UAgnello di Dio. Il mistero dei
ou faculdades da alma em suas operações ou Verbo incarnato, Roma 1990; I. dc Chamai.
atividades. Isso c mais ou menos considerado Oeuvres II, Paris 1875; R. Dacschler, s.v, in
DSAM I, 560-564; Francesco di Sales, Trattato
pelos autores espirituais como preparação deWamor di Dio, I. 9, c. XIII. in id. (org. por F.
para a —> união mística. Marchisann), Turim 1969, 752-755; P.
A purificação passiva é a fase na qual o a. de Guarre, Trèsor spitituel, p. III. disp. 5, Paris
si mesmo tem seu sentido mais forte: é a 1635; A. Oepke, s.v., in CLNT V, 325-334; A.
Terranova, Di "noite t) sc ura" deli anima', tappa
"noite passiva dos sentidos", cujo grau mais
indispensabde deltitinerario místico, in Quaderni di
elementar é o -> "recolhimento infuso", isto é, Avaliou, l.espericnza mística, 23, Rímini 1990, ]
dom de Deus, marcado por progressiva "li- 1-30.
gação" - isto é, "ligar", "frear" - das potências
operativas da —> alma. Cristo, em sua morte C. Morandin
na cruz, obteve o verdadeiro a. também de
sua alma; ele foi deixado pelo —> Pai numa
"aridez íntima"; "meu Deus, meu Deus.
porque me abandonaste?" (Ml 27,46). Foi só
chegando ao máximo de seu a. em todos os
aspectos e atirado quase no nada que Cristo
levou a termo a obra da —> redenção. ANJOS
É só a "noite escura" ou a escuridão na fé
que aniquila as apreensões e os afetos parti- Premissa metodológica. Na reflexão da >
culares da alma: os do —> intelecto, isto é, a psicologia da religião não se pretende ata car
sua luz, os da —> vontade, isto é, os seus ou substituir o que a tradição patrística
afetos, e os da —* memória, ligada como que ensina sobre os a., nem a atitude pessoal de
a conhecimentos naturais e às experiências cada um a respeito desse tema teológico. Tra-
sensitivas e sensíveis. O seu aniquilar-se ou ta-se simplesmente de oferecer uma aborda-
despojar-se de si é necessário, se ela quiser gem interpretativa do ponto de vista da psi -
tornar-se "memória de Deus". cologia dos símbolos.
A alma, em seu a. ou despojamento de si, A realidade e os latos não nos levam ne-
adquire a —> liberdade indispensável não só cessariamente a afirmar uma realidade
em relação a todas as coisas, mas também em metafísica; a evidência dos fatos nunca é tal
relação a si mesma, pelo abandono total a que nos tire a liberdade de crer. Mas alguns
Deus. 4 É esse o caminho que a alma deve afirmam que "a conclusão que os fatos nos
percorrer, se quiser chegai" á —> obrigam a tirar é, portanto, que Deus existe e
contemplação amorosa: aniquilar suas também que seus a, existem...", 1
operações naturais num estado de —> Não se pode aceitar que existam "latos que
passividade e de tranqüilidade, sem fazer obriguem a admitir uma verdade metafísica".
nenhum ato natural, para não criar obs - Nem mil pesquisas poderão tirar com evidên -
táculos ao bens que o Senhor quer comuni- cia científica a liberdade de crer c de não
car-lhe de modo sobrenatural. Esse«. exterior crer. A ciência não pode confirmar nem
e interior, ativo e passivo, põe a alma cm pro- desmentir uma verdade de fé. A racionalidade
fundo sentimento de humildade. 5 É na —> fé científica que - por meio da pesquisa e da
obscura que Deus age livremente e conduz a experimentação - concordasse com uma
alma ã união com ele, à união verdade de fé não aumentaria o valor dessa
transformadora. verdade, e, caso não concordasse, não o
diminuiria. A
NOTAS: A. Oepke, kenós. kertóo, in G7 .iV7" V,
!
fé e a ciência são planos complementares
325-331; li. Tiedtke - H.G. Link. kenós, kenôo, entre si e autônomos, e nenhum deles tem
in DCB, 2030-2032; 1 Cf. F. Lupieri. Di morte di
Croce, Cantrihutiper u nanai isi di I il 2,6-11, in necessidade da confirmação do outro para a
RivlSib 27 (1979) 3-4, 277; 5 Cf, João da Cruz, validade própria: a ciência não tem necessi -
Subida ao Monte Carmelo II, 7,6-7; 4 CL kl., dade das bênçãos da fé para confirmar sua
validade, e a fé não tem necessidade de prova
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científica para confirmar sua credibilidade.
Assim não se pode "demonstrar cientifica-
mente" que Deus e os a. existem; o contrário
também nunca poderá ser demonstrado, e
isso vale para qualquer outro dado metal
ísico.
Isso pode acontecer menos ainda em ca sos
de KPM {Experiências pré-morle). nos quais é
verdade que temos a percepção de "um ser de
luz", mas não se pode dizer que

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ANJOS 62

isso seja prova da existência dos a. Além dis-


I I . O anjo da guarda é uma metal ora?
so, casos nos quais as próprias pessoas que
Neste ponto, a pergunta que requer uma res -
tiveram uma EPM idenliíicam a luz com os a.
posta é: o anjo é metáfora de que? Que coisa
são extremamente raros. Contrariamente ao
a realidade chamada "anjo da guarda" repre-
que se possa arbitrariamente afirmar, "gra ças
sentaria metaforicamente?
às experiências nos confins da morte, a
Para respondermos a essa pergunta pode -
maciça presença dos a. anula qualquer hesi-
mos usar o esquema psicanalítico da estru -
tação teológica",'
tura psíquica de base da pessoa; Id, Ego, Su -
Semelhantes atitudes só podem trazer
perego. Em poucas palavras, o kl representa o
prejuízo tanto às ciências humanas como à —
conjunto das —> paixões, dos instintos, das
> teologia.
necessidades e dos impulsos que querem ser
Numa pesquisa, foi observada uma dife -
sal isfeilos plenamente, imediatamente e sem
rença entre as EPM de 216 pessoas dos Esta-
limites e condições. O Id, para usarmos uma
dos Unidos: 33 viram figuras religiosas; de
metáfora, é como um cavalo a domesticar. O
255 hindus, 107 viram figuras religiosas; en-
Superego é o conjunto das normas familia res,
tre os primeiros, 9 viram a.; entre os segun-
morais, civis e religiosas que limitam o prazer
dos, 17 viram Deva ou Yamdoot. 3
de satisfazer logo c plenamente todas as
Por honestidade científica, devemos acres -
necessidades, instintos e pulsões; ele tam bém
centar que muitas vezes essas "visões de luz"
pode ser representado i ri c t a I o r i c a m e
ou —» "aparições de seres de luz" se dão em
11 1 c como um juiz ou censor interno de cada
pessoas que viveram na proximidade da mor te
um de nós. O Ego é como um cavaleiro que
num contexto obscuro.
deve equilibrar-se entre os caprich* >s
Concluindo esse primeiro aspecto, pode -
irracionais de um cavalo selvagem e a rigidez,
mos reter que os a. (como qualquer outra
também irracional, de regras férreas, cuja
realidade metafísica) não são demonstráveis
transgressão leva à culpa. O Ego é a nossa
cientificamente , e menos ainda mediante as
parte de decisão e prudência; ele procura
EPM. 4
adaptar-se à realidade, concedendo-se
prazeres, levando em conta a realidade e sem
I. -4. e psicanálise. Abandonando a pre- sentir-se culpado, mas também observando
tensão de demonstração científica, tentemos
aquelas normas consideradas adequadas à
uma interpretação psicológica dos a. A vali-
própria realidade, sem se sentir frustrado por
dade dessa interpretação pode ser só espe -
não poder experimentar todo o prazer que
culativa, porque tanto nas intenções como
quereria ao satisfazer todas as suas
nos
necessidades.
resultados nenhuma interpretação pode ter
Que tem que ver com os a. tudo isso? O
como objetivo desestabilizar uma convicção
significado específico do anjo tia guarda po -
pessoal num sistema de crenças religiosas
derá ser esclarecido melhor se levarmos cm
como é o da fé católica.
conta também seu oposto complementar, o
Uma tentativa de interpretação psicoló gica
chamado "diabo/inlm tentador"'. Eslc poderia
pode ser a que parte das premissas psi -
ser considerado como a metáfora do kl e o
canalíticas unidas a algumas considerações
anjo da guarda, como a metáfora da sínte se
pessoais.
entre o Ego e o Superego.
Parte-se dessas últimas: do mecanismo da
Com efeito, o diabozinho tentador é aqui lo
metaforização, isto é, do processo de produção
(melhor, aquela coisa dentro de nós) cujos
de metáforas.
pedidos não são senão a procura da satisfa -
Ao comunicar uma realidade muito com-
ção de uma necessidade, e isso sempre im-
plexa, a pessoa nota uma insuficiência e uma
plica prazer. Muitas vezes para se obter um
inadequação do módulo verbal-literal e, para
prazer é necessário transgredir uma regra, a
tornar mais eficaz e completa a comunicação
qual facilmente pode ser vista como uma li -
dessas experiências praticamente inexprimí -
mitação do prazer, porque reduz a satisfação
veis, recorre ao uso da —» metáfora. Nesse
de uma necessidade
contexto, por metáfora se entende todo
O anjo da guarda é aquele (melhor, aquela
símbolo, ou toda imagem mental expressa em
coisa dentro de nós) que nos indica o que
linguagem figurada. Assim o anjo poderia ser
devemos fazer, isto é, que nos pede que siga -
uma metáfora de uma realidade muito rica e
mos uma norma, e nos faz sentir-nos culpa-
complexa, inexprimível numa linguagem ad
dos se deixarmos de seguir certa norma e ce -
litteram.

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6.3 ANJOS
dermos à satisfação de uma necessidade, ou Na pesquisa esentíí ica não se pode ir além
seja, ao prazer. dessa pergunta, porque não há possibilidade
No esquema psicanalítico, o Ego é aquela de "demonstração racional", como já foi dito
parte de nós que deveria equilibrar-se entre acima, a respeito das EPM: uma realidade
os impulsos do prazer (obtido mediante a metafísica não pode ser demonstrada pela
satisfação das pulsões das necessidades, tias ciência. A especulação e a pesquisa cientifica
paixões e dos instintos) e os ditames interio - podem fornecer elementos que podem ser
rizados das normas ensinadas pelos pais, por subjetivamente interpretados como "indícios",
alguma autoridade e pela sociedade. O lítio mas nem esses pretensos indícios, nem a
deve escolher entre o prazer e o dever, saben - ciência como tal poderão dizer a última
do que há vantagens e desvantagens nas duas palavra sobre uma verdade de fé.
escolhas, portanto, dois problemas: 1, apren-
dera escolher, mas aprender também a acei - III. A. e moral inconsciente. Uma das
tar as conseqüências desagradáveis das pró - originalidades de V. Frankl t<> 1 cuidador da
prias escolhas; 2. aprender a renunciar às logoierapia e da analise existencial) está cm
vantagens da opção não escolhida, ou seja, sua teso da c hamada "moral inconsciente". ?
aprendera tolerar a frustração. O Ego deveria A teoria da moral inconsciente se baseia
chegar a autogerir responsavelmente sua no conceito bidimensional, consciente e in -
liberdade de escolha e a autogerir livremente consciente, não só dos instintos, necessida -
suas responsabilidades de escolha. des e motivações, mas também da consciên -
Esse equilíbrio ideal também é parle do cia moral. Podemos assim lalar de moral
denominado Ego Ideal. Também essa instân- consciente c de moral inconsciente.
cia interna parece ser sintetizada na metáfo ra A consciência moral, enquanto instância
do anjo da guarda, a qual indica a perfei ção de decisão, pertence ao ser humano e se ra -
não só normativa (a indicada pelas regras dica num fundamento inconsciente, no sen-
ditadas pela autoridade), mas também a per - tido de que a consciência, em sua origem,
feição pessoal (isto é, que tipo de pessoa al- imerge no inconsciente. É nesse sentido que
guém quer ser). as grandes decisões são tomadas de modo ir -
Em síntese, pode-se dizer que o Ego, o Ego refletido e inconsciente. Disso decorre que,
Ideal e o Superego são instâncias psíquicas além da consciência da responsabilidade e da
com tres (entre muitas) funções específicas responsabilidade consciente, deve haver
referentes a si mesmos: a. manter-se no ca- alguma coisa como uma responsabilidade in-
minho reto", indicado pelas regras e no rmas; consciente.
b. não se deixar levar pelas pulsões, mas pro - Frankl sustenta que a consciência moral
teger-se contra elas; c. desenvolver a racio - pode ser percebida também, e às vezes de
nalidade e a - t prudência pata ler desenvol- modo mais agudo, durante estados de cons -
vimento correto. ciência diferentes do de vigília vigilante. Ele
Parece que essas (unções do Ego, do Ego acena também ao estado de hipnose e de
Ideal e do Superego têm uma semelhança sono.
isomórfica com as três funções principais do Há outros elementos que levariam a uma
anjo da guarda: a. iluminar (proporcionar a moral inconsciente; um deles é a interpreta -
luz da razão e da prudência); b. guardar ção dos sonhos. "Também a respeito da in -
(manter no caminho reto); c. proteger terpretação dos sonhos continua válido que a
(salvaguardar de tudo o que possa impedir o consciência moral é o modelo mais utilizá vel
desenvolvimento pessoal). para apresentar em si mesma a eficácia do
O anjo da guarda tem a Iunção de ilumi- inconsciente espiritual." 6
nar, guardar e proteger não só dos perigos Como confirmação disso, Frankl traz a
internos (as pulsões), mas também dos peri - análise de alguns sonhos, um dos quais é
gos externos (amizades e ambientes), funções uma advertência que a consciência faz à
essas que são as mesmas (ou quase as mes - pessoa; outro sonho faz ver como o
mas) que as do Ego, do Superego c do Ego inconsciente espiritual se mostra em sua
Ideal. Nesse ponto põe-se um problema epis- função de au-iocensura. É possível que um
temológico: como interpretar essa semelhança problema moral se mostre no sonho com
aparentemente real? O anjo da guarda é uma propostas de solução. De fato, adormecendo
metáfora que exprime de modo sintético uma com um problema na mente, é possível
realidade psíquica subjetiva, ou o Ego, o Su sonhar com a solução ou perceber indicações
perego e o Ego Ideal exprimem de modo úteis para a solução. Se isso pode acontecer
analítico uma realidade metafísica e objeti- com problemas de vários gêneros, é possível
va-externa? que o mesmo aconteça também com
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problemas morais ou para escolhas de vida. A IV, A. e sonhos no evangelho. Antes de
mesma coisa pode acontecer com situações considerar a correlação entre a. e sonhos no
que, à pessoa desperta, parecem inexplicáveis evangelho, é oportuna uma premissa con-
ou muito corn- textual.
ANJOS 64

plexas, mas depois são iluminadas de um Parece que por "anjo do Senhor" se possa
sentido e de um signitiçado coerente num entender em sentido amplo toda manifesta ção
sonho ou logo depois do despertar. ou aparição divina (cl. Kx 3,2). Além disso, o
Aquilo que, na solução dos problemas, se anjo "aparece", mas dos textos sagrados não
chama "intuição" nem sempre é um proces so se deduz claramente e sempre quando se é
cognitivo do tipo lógico-racional. Muitas vezes visto como um objeto fem sentido psicológico)
é um insighl resultante de ou ajudado por perceptível pelos órgãos dos sentidos ou se é
processos e predisposições inconscientes. Por percebido como uma "visão"; por exemplo, no
isso nos sonhos podem ser lidas mensa gens caso de Gedeão (cf. Jz 6,11-12; 22); Elias (cf.
da consciência moral paia a pessoa in teira. IRs 12,5.7).
Podem dar-se sonhos que mostrem perigos O anjo aparece como "guarda e protetor"
morais e situações espirituais que durante o (cf. Ex 23,20; Dt 32,8; 2Mc 10,29-31; SI 91,1
estado de vigília não são percebidos, pelo 1-12; Dn 10,13; Mt 18,10); como "intérprete,
menos não com certa clareza de detalhes. mediador e intercessor" (cf. 1 Cr 21,15-17; Jó
Outras vezes a consciência moral, através 33,23; Ez 40,3; Gl 3,19). O anjo intervém em
dos sonhos, pode impelir a sério exame de relação a uma gravidez: ã futura mãe de
alguma situação, com mais objetividade e Sansão (cf. Jz 13,3), a Zacarias, anuncian do
com uma autocrítica mais séria do que se a maternidade de Isabel (cf. Lc 1,13), a ->
possa lazer em estado despeito, quando é Maria, anunciando sua maternidade (cf. Lc
mais fácil racionalizar os erros. Os sonhos 1,26-38).
podem apresentar problemáticas morais não A função especificamente moral do anjo
aceitas em estado consciente. Nesses casos a (ou o anjo corno metáfora da consciência
moral inconsciente tem todo o direito de sei moral) aparece mais claramente na capaci -
tomada em consideração. dade de distinguir o bem do mal (cf. 2Srn
Mas que tem a ver com os a. tudo isso? 14,17.20), quando confia uma tarefa ou um
Trata-se mais uma vez de tomar em consi- encargo (2Rs 2,3) e quando indica uma ca-
deração o papel e a junção do anjo. Parece minho a seguir (Jó 33,23-24).
novamente que ele seria uma metáfora da Com essa premissa sobre as funções dos a.
moral inconsciente, a qual se exprime de vá - pode-se considerar melhoro aspecto mais
rios modos; um dos modos privilegiados é o específico da função e do significado do anjo
dos sonhos que contêm uma mensagem para nos sonhos mencionados nos evangelhos.
a pessoa em sua globalidade. Os sonhos que Antes de tudo, esse aspecto específico mos-
contêm uma advertência, uma autocensura, tra-o só Mateus, em quatro ocasiões:
uma "iluminação" sobre uma escolha a lazer 1. Mt 1,19-20: "José, seu esposo, sendo
ou sobre um problema a resolver, ou sobre o justo e não querendo denunciá-la
significado a dar a uma situação particular publicamente, resolveu repudiá-la ein
têm uma semelhança ou analogia surpreen - segredo. Enquanto assim decidia, eis que o
dente com as funções do (ou atribuídas ao) anjo do Senhor manifestou-se a ele em sonho,
anjo. dizendo: 'José, filho de Davi, não temas
Para concluir, podemos afirmar sintetica- receber Maria, tua
mente que o anjo representaria uma intuição mulher, pois...' ".
da antiga sabedoria da religiosidade popular: Desperta curiosidade a conexão "enquan to
ele seria uma parte dt i homem que a psicolo assim decidia - manifestou-se em sonho".
gia simplesmente rectiquetou com novos to - Parece que —> José, enquanto pensava numa
mos como "moral inconsciente" ou como sín - solução para seu problema, adormeceu, e
tese do ligo, do Superego e do ligo Ideal. então é o que dissemos acima: o insight
Freud e Frankl disseram alguma coisa nova cognitivo, a iluminação ou o clarão de gênio,
ou analisaram os papéis sintetizados na me - a heureka ou a "descoberta certa" aparecem
táfora do anjo? Alem disso, se o anjo tem I un- como solução de um problema num estado no
ção análoga à do sonho que mostra uma qual as defesas lógico-racionais estão abai-
moral inconsciente, pode haver uma relação xadas e se pode observar o problema de ou tro
entre o anjo e o sonho? ângulo.

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6.3 ANJOS
Neste caso o problema de José era especi - dos sonhos do Faraó, interpretados por José
ficamente moral: seguir a lei ou sua consciên - (cl. Gn 15,12-21; 41.8).
cia? Ele era justo, portanto, seguia a Lei de 3. Mt 2,13: "...Q anjo do Senhor manifes-
Moisés; por coerência com a Lei, deveria/po - Lou-se em sonho a José e lhe disse: 'Levanta -
deria repudiar Maria, e essa decisão teria te, toma o menino e sua mãe e foge para o
sido de acordo com a Lei, mas havia um Egito. Fica lá até que eu te avise, porque I le -
problema: era a coisa melhor também para odes vai procurar o menino para o inata] -' ".
Maria? Também este sonho de José pode ser inter -
Seu dilema moral era justamente este: ele pretado como sonho premonitório. Nesse caso
deveria repudiá-la, mas não queria expô-la à a figura do anjo é posta bem em evidência
censura pública, Já eslava pensando num com o papel, confiado a ele por Deus, de "ilu -
compromisso: repudiá-la em segredo. Parece minar, guardar e proteger". O perigo evitado
que nem esse compromisso moral satisfazia a assegurou a José que ele agira bem em acre -
um homem justo como José, e talvez também ditar no que lhe tinha sido indicado antes
ele pensasse que "o sono é bom con selheiro". pelo anjo, em sonho (que não temesse aceitar
K possível que no ambiente semítico hou- Maria, sua esposa); de fato, toi-lhe assegura-
vesse uni provérbio semelhante, uma vez que da proteção não só no presente, mas também
em muitas culturas há alguma coisa análo ga. no futuro: "...fica lá até que eu te avise...".
José segue as indicações do anjo em sonho, O ato inicial de confiança de José no anjo
se bem que na Escritura haja um conceito que lhe apareceu em sonho foi continuado e
diametralmente oposto: os sonhos são men - deu seus frutos; ele pode, portanto, conti -
tirosos (cl. Dl 13,2-6; Eclo 34,1; Jr 23.25-32). nuar confiando. Com efeito, José não hesita
2. Mt 2,12; "(Os magos) avisados em so - em seguir as outras indicações do anjo:
nho que não voltassem a Herodes, regressa- "Quando Herodes morreu, eis que o anjo do
ram por outro caminho para a sua região". Senhor manifestou-se em sonho a José, no
Neste sonho não é dito explicitamente que Egito, e lhe disse: 'Levanta-te, toma o menino
a indicação veio de um anjo, mas, dado o e sua mãe e vai para a terra de Israel...' " (Mt
contexto, poder-se-ia supor que neste caso 2,19-20).
Mateus tenha subentendido a presença de um Entre Jose e o anjo há agora uma relação
anjo. Este sonho, que previne contra um especial de entendimento recíproco. Notemos
perigo, poderia ser posto em comparação com que as indicações e as mensagens do anjo
o da mulher de Pilatos, e este, por sua vez, não são dirigidas só ás necessidades de José,
poderia ser posto em paralelo com o da mas também á necessidade primária de
mulher de César na vigília dos Idos de março. sobrevivência de todo o núcleo tamiliat. Por
Esses sonhos poderiam ser considerados isso, o papel do anjo não se restringe ás
como "sonhos premonitórios": Pilatos e César necessidades individuais, mas se alarga até
não deram ouvidos ao sonho premonitório das as necessidades da família. Em particular,
respectivas esposas; os magos, ao contrário, parece que o anjo tem a incumbência de
seguiram as indicações do sonho. Lina dife- proteger (crianças, adultos, famílias) nas
rença substancial é que os primeiros se ba - ocasiões mais criticas de seu crescimento. O
seavam em sonho de terceiros (de suas espo - anjo parece intervir para ajudar a resolver
sas); os segundos se baseavam num sonho uma emergência, mas, ao mesmo tempo, não
pessoal, mas não se sabe se essa mensagem interfere na —* liberdade e na
foi sonhada pelos três magos, nem como responsabilidade individual.
Mateus teve conhecimento desse sonho, uma 4. Mi 2,22: "(José) tendo recebido um avi so
vez que os magos voltaram para o Oriente, e em sonho, partiu para a região da Galileia".
Mateus não se deslocou do ambiente judai co. Também aqui não se .sabe bem se houve uma
Quanto ao sonho premonitório, ele moti va intervenção explicita de um anjo no sonho,
muito mais o comportamento ou a decisão da mas se poderia supor que sim, como já vi mos
pessoa que sonha do que o de outros, mesmo cin Mt 2,12, mas, de fato, pata mais um ato
que diretamente interessados. O so nho de confiança no próprio inconsciente do que a
premonitório pode ser tão vivo e claro (ás acolhida de uma diretriz externa.
vezes mais tio que o estado de consciên cia \ Como conclusão desse breve aceno ao pa -
igilante) que constitua uma verdadeira e pel do anjo nos sonhos dos evangelhos para
própria evidência por causa do íorte envol- mostrar sua mútua con elação, podemos afir-
vimento emotivo tia pessoa que sonha. As mar que se poderia entrever uma proximida de
vezes o sonho premonitório não é claro, ten do tie funções com a moral inconsciente. Ce r-
necessidade de ser interpretado, como no :aso tamente é arriscado e perigoso afirmar que se
pode confiar acriticamente nos sonhos e
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seguir suas indicações, mas se poderia apren - ricamente, uma vez que se pode admitir que
der a ter confiança no próprio inconsciente e Deus é livre para criar seres intermediários
a ouvir a voz da consciência moral, a qual pi entre o humano e o divino, inteligentes e es -
>deria fazer-se ouvir também cm algum so- pirituais, m i e colaborem em seu piojeto, pode-
nho: ela poderia ser a dimensão inconsciente se admitir também que ele se sirva de les para
da conciência moral, que é muito mais pro - manifestar -se a um místico.
funda e rica do que a que é contaminada por Muitas vezes os a. estão presentes na vida
racionalismos e mecanismos cie defesa supe - normal dos místicos ou em algumas ocasiões
res! ru lurados no nível consciente. cruciais de sua vida: durante a —> oração, na
Por enquanto não nos é dado saber como impressão dos -> estigmas, na proximidade
ou com qual técnica chegar a ter confiança na de uma aparição da Virgem e em muitas ou -
dimensão inconsciente da consciência moral, tras ocasiões.
mas parece necessária ceita disposição Para darmos alguns exemplos, lemos os
psicológica e de fé. Se anjo e sonho têm urna casos de santa Joana d'Arc (t 1431), que rece-
relação de analogia luncional com a moral beu do arcanjo M igucl o encargo de resgatar
inconsciente, isso não signitica que o valor a pátria. Um anjo preanunciava eventos futu-
teológico do anjo seja diminuído, nem que o ros a santa Rosa de Viterbo (tc. 1252), entre
inconsciente seja divinizado. os quais a morte de Frederico I I (t 1237). —>
São Francisco de Assis recebeu os estig mas
V. .1. e místicos. Do que ficou dito, parece de um querubim alado. Pe. Pio de Pietr alcina
que o anjo (iode ser uma ajuda para o pró prio recebeu os estigmas de um anjo guerreiro.
crescimento, mas muito depende de como se Teresa Neumann teve muitas visões de a.
entende isso. O critério mais impor tante é o Teresa Palmiota (por muitos considera da
da responsbilidade. Se o anjo for entendido mística, falecida em Roma em 1934) con -
de modo tal que desresp* msahilizc a pessoa, versava muitas vezes com seu anjo da gual da,
então ele não tem boa função no processo de numa fenomenologia exlra-sensorial. As
crescimento psicológico e moral. Se a figura aparições de Fátima foram precedidas e pre -
do anjo não prejudica a própria paradas pelas de um anjo. A mesma coisa se
responsabilidade, põe diante das re sponsabi- deu em outras aparições. Há muitos outros
lidades e ajuda a fazer escolhas com mais lu - casos de místicos que falam de aparição de a.
zes, então ele é luncional para o crescimento a eles, c muitos outros fiéis relatam algu ma
edeve ser considerado como positivo, do p< coisa parecida.
>n-to de vista psicológico. Fm numerosos casos - especialmente de
Como dissemos na premissa, não se dese - não-crentes — se fala da visão "de um ser de
ja depreciar a crença nos a., nem se pode luz" que, em ocasiões de perigo ou na proxi -
provar cientificamente sua existência ou o midade da morte, aparece de improviso com a
contrário. Do ponto de vista psicológico, o intenção de ajudar.
mais importante é verificar o "modo" de crer e Em todos esses casos, de místicos e não -
a "função" dessa crença - como de qualquer místicos, de um ponto de vista psicológico,
outra crença - num percurso evolutivo não basta observar a tipologia fenomênica,
pessoal. mas c muito importante destacar a estrutura
Toda crença ou atitude pode ser "sintô- psíquica <la pessoa que diz ter visto um anjo
nica" e "funcional" para o crescimento, se e a função que esse anjo exerceria. E neces -
ajudar a amadurecer uma autogestão res- sário manter' aberta a porta para o absoluto,
ponsável da própria liberdade e a aulodctcr - mas é também oportuno que ninguém seja
minar-sc, escolhendo livremente as próprias impelido a entrar por ela.
responsabilidades. Uma crença, conforme sua Por todos esses motivos, não se pode afir -
modalidade experiencial, pode ser "dis -tônica" mar a priori que se trata sempre de —* aluci-
e "disfuncional", à medida que retarde ou nações ou de processo de metaforização de
bloqueie percurso evolutivo para o processos psíquicos. Cada caso deve ser ana -
amadurecimento da pessoa e do sistema no lisado levando em conta todas as explicações
qual ela vive. possíveis, sendo importante sublinhar que a
O estudo da função c do papel do anjo na experiência de um místico não pode ser in -
vida do místico poderia levantai - informações terpretada só com critérios psicológicos.
muito úteis sobre o perfil de sua personali-
dade. No campo da mística é necessária mui - NOTAS: 1 J. Jovanovic, hiehiesta sidlesistenza
ta prudência antes de fazer um juízo de valor degfian-geli custodi, Casale Monferrato (AL)
1996,95;1 Ibid., 94; 3 Cf. K. Osis - E. Heraldson.
sobre os fenômenos além do normal, em cor - Quello cite videro nellora delia morte, Milão 1979;4
relação com a personalidade do místico. Teo - Cf. A. Pacciolla, EPM. lisperienze pre-morte,
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6.3 ANJOS
Ciniselo Bálsamo 1995; 5 Cf. V. Frankl, Dio
nelVinconscio, Brescia 1980'; A. Pac-ciolla,
Religiosità, spiritualità e morale uiconscia, Pádua
1982, 211-219; 6 Ibid, 48.

BIBI..: P. Dinzelbacher.s.v., in WMy, 137-138; J.


Duhr S .v., m DSAM I, 580-625; A. Marranzini,
Angeli t

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67 ANJOS ANO l .m .KGICO

demovi, in DTI 1, 351-364; M. Mc Ken na, são" (Ibid., 5). O "mistério pascal" de Jesus
AngeÜ, Ciniselo Bálsamo 1997; K. Rahiicr, ou o "mistério dos mistérios", que é a síntese
Angeli, in Id. (org.), Sacramentam mimtli \, de todos os acontecimentos da vida histórica
Brescia, I 974, 11 D-119; J. Ri es - H. Limei,
Anges et demons. Louvai n-Ia-Neuve 19S9; P.L. de Jesus, ocupa o lugar central no mistério
Wilson, I-ngel, Stuttgart 1981. de Cristo.- E celebrado de modo especial uma
vez por semana no dia chamado do Senhor, o
A. Pacciolla domingo," e de mtxlo ainda mais especial uma
vez ao ano, na glande solenidade da Páscoa
(cf. ibid., 102). A celebração do mistério
pascal está, pois, no centro da "memória" que
a Igreja faz de seu Senhor. Édado de fato que
no primeiro período da Igreja a Páscoa era o
único centro da pregação, da celebração e da
vida cristã.
ANO LITÚRGICO O mistério pascal resume, assim, toda a
história da salvação: a que precede a Encar-
I. Natureza, ü Concílio Vaticano 11 afir-
nação e a que segue à ascensão até a vinda
ma que a —> liturgia "c a fonte primeira e in-
definitiva de Cristo; por isso, o mistério pas -
dispensável da qual os lieis podem haurir o
cal, mesmo sendo uno durante o tf., la/,
genuíno espírito cristão" (SC 14). Essa afir -
reviver em cada uma de suas partes
mação tem eco quando o Concílio tala doa.'.
sucessivamente cada um dos mistérios da
"No ciclo anual a Igreja apresenta tt ido o
vida de Jesus. Nenhum desses mistérios é
mis-
independente, mas todos participam do único
tério de Cristo: da —* (Incarnação e do nasci-
mistério. Assim, por exemplo, o nascimento
mento à ascensão, ao dia de pentecostes e ã
do Senhor recebe seu significado salvifico do
expectativa da bem-aventurada esperança
mistério pascal, a Encarnação do Filho de
e do retorno do Senhor" (Ibid., 102). Con-
Deus remete ã paixão eà-> redenção. Todos os
sequentemente o a. é o memorial do mistérh >
mistérios e todos ( is acontecimenu ts da \ ida
do Senhor em toda a sua complexidade e ri -
de Jesus lembrados durante o a. recebem
queza. Na realidade, é o ano do Senhor, o ano
plenitude de significado da Páscoa/
de Cristo, o ano que vive de Cristo, recordan -
do e tornando presente o poder de cada um
dos latos salvíficos tia vida do Senhor, da III. A eucaristia c o centro e a síntese do
Enea inação do Verbo até a última vinda de mistério pascal. Depois de ter afirmado a
instituição divina do sacrifício eucarístico, o
Jesus Juiz. Por isso o a. se apresenta como a
n. 47 da Sacrosanctton Conciliam recorda os
síntese da vida litúrgica e tia espiritualidade
escopos de sua instituição. Primeiro esco po:
da Igreja, a qual entra em contato vivo com o
Jesus quis perpetuar pelos séculos, até sua
mistério do -> Cristo na riqueza das múltiplas
volta, o sacrilicio da cruz: "Nosso Salvador na
celebrações sacramentais e eucoli igicas/ ü
última Ceia... instituiu osacrifícioeucarístico
mistério de Cristo constitui o objeto pri mário,
de seu corpo e de seu sangue, a fim de
mas não o único, da celebração do a. Além de
perpetuar pelos séculos, até sua volta, o sa-
celebrar os mistérios do Cristo, o u. celebra
crifício da cru/....". De falo, Jesus Cristo
também o mistério de Maria, de suas lestas e
"está presente no sacrifício da missa, seja na
de suas memórias (cf. ibid., 103) e as lestas
pessoa do ministro, 'Ele que, tendo -se
dos santos (cf. ibid., 104). A celebração dos
oferecido uma vez na cruz, se oferece ainda a
santos é* subordinada à celebração dos
si mesmo pelo ministério dos sacerdotes', seja
mistérios de Cristo, mas a mesma luz que ilu -
principalmente sob as espécies eucarísticas" í
mina os mistérios de Cristo se reflete na cele -
Ibid., 7). Alem disso, "todas as vezes que esse
bração das festas dos santos, parle integrante
sacrifício é oferecido realiza-se a obra de
do mistério de Cristo, que continua no tempo
nossa redenção" (Ibid., 2). O segundo escopo
(cf. ibid.). 2
da instituição eucarística é sublinhado no
II. O mistério pascal, centro do a. O > mis mesmo número com as palavras "...para
lério pascal éo fundamento doa. O mistério de conliai assim à sua dileta esposa, a —>
Cristo é essencialmente pascal porque seu Igreja, o memorial de sua morte e de sua
centro é a Páscoa de Cristo, ou melhor, o ressurreição". Assim o sacrifício eucarístico é
"mistério pascal tle sua bem-aventurada pai- a viva conii nuação do mistério pascal de
xão, ressurreição da morte e gloriosa ascen - Cristo. 6 Ele é o "banquete pascal, no qual se
recebe Cristo" (Ibid., 47). Instituído por Cristo
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para perpetuar o sacrifício da cruz, o volta à casa do Pai. 9 A celebração dos misté-
sacrifício eucarístico é memorial da morte e rios da vida de Cristo, distribuídos pelo curso
ressurreição, presença sacramental e perene do a. t portanto, presentes e operantes na
daquele sacrifício liturgia (cf. SC 7; 102), contribui para a re-
ANO LITÚRGICO produção da vida de Cristo nos fiéis, Nos si68

e banquete escatológico. A —> eucaristia pro- nais e nos -» símbolos da liturgia, portanto,
clama todo o mistério pascal c Ioda a econo- durante o a.. Cristo se torna presente com o
mia da salvação num só ato, num só sinal.' podei' salvífico de todos e de cada um dos
mistérios que a Igreja comemora e torna atual
IV. A espiritualidade do a.* O primeiro na eucaristia, nos sacramentos, nas festas e
aspecto do a. destacado no n. 102 da Sa- nos tempos litúrgicos. A historia da salvação,
crosancíum Conciliam é o de ser desenvolvi- renovada para a humanidade princi palmente
mento, comemoração e sagrada recordação do nas ações litúrgicas, é um realizar-se nela,
mistério de Cristo no decorrer do ano. Mas o corno movimento aberto c ascensional para a
mesmo número acrescenta o segundo as - plenitude do mistério de Cristo (cl. Ef 4,13-
peclo, quando alirma: "Recordando desse 15). No curso doa., Cristo nasce, é ungi do,
modo os mistérios da redenção, ela (a Igreja) sofre, morre e ressuscita nos membros de seu
alue aos iiéis as fique/as das ações salvíficas —* Corpo místico. Assim o a. se torna como
e dos méritos de seu Senhor, de modo a dá - que a expressão da resposta da —> conversão
los como dádivas a todos os tempos, para que e da fé dada pelos t iéis ao amor imenso de
os Iiéis possam entrar em contato com eles e Deus pelo homem. Em outras palavras, o a. é
ser repletos da graça da salvação". Esse se - itinerário na realidade sacramental que
gundo aspecto indica a abertura das riquezas alimenta a vida cristã e torna os homens ver -
da salvação e a presença redentora do poder dadeiramente filhos de Deus e herdeiros da
de Cristo na celebração, para que o homem vida eterna (cl. Gl 4,6-7). Com > Paulo, o cris-
possa entrar em contato com os aconteci- tão pode afirmar que completa em seu corpo
mentos comemorados e receber as riquezas a paixão de Cristo (cf. Cl 1,24) e que não é
da salvação. Não se trata de simples recor - mais ele que vive, mas é Cristo que vive nele
dação histórica dos acontecimentos do mis - (cf. Gl 2,20). 10
tério de Cristo. Eles são reapresentados e re -
novados cultual e ritualmente. A Igreja os V. Dimensão mística do a. Dos conceitos
revive e se eoniorma a eles, e, portanto, a expostos acima e seguindo o ensinamento do
Cristo. Podemos dizei que o a. é o próprio Concilio Vaticano II, 11 vê-se que o a. é a re-
mistério da salvação revelado cordação sagrada, em determinados dias do
progressivamente ao mundo por Cristo, para ano, da obra salvífica de Cristo. E claro que
que o homem possa entrar em contato com a não se trata só de recordação, mas também
pessoa do Verbo. Todo o a. e cada um de seus de celebração. O domingo, as festas e os ou-
tempos são memorial do mistério de Cristo, tros tempos litúrgicos não são aniversários
isto é. recordação litúrgica de toda a riqueza dos acontecimentos da vida histórica de Je -
de seus aspectos mediante a Palavra sus, mas presença redentora de sua obra sa 1
proclamada, as orações e os ritos, mas v í í i c a. L Pi o XII, na e n c íc I i c a Media í o
também mediante a presen ça mistérica de r l )c i, falando da presença, nas celebrações
Cristo e de seus mistérios. litúrgicas, dos acontecimentos comi)
Os conceitos mencionados acima mostram realidades de salvação, exclui que eles sejam
que o a. é verdadeiramente meio e ocasião "a fria e inerte representação dos latos que
paia imitarmos o Senhor, contemplando os pertencem ao passado". Fie atribui aos
mistérios de sua vida, comemorados e revivi - mistéri< >s de Cristo celebrados durante o a.
dos. A contemplação dos mistérios da vida de permanência quanto ao eleito e enquanto
Jesus no decorrer do a. incita-nos a revi- causa de nossa salvação, "mistérios que são
vermos inteiramente as atitudes e os senti- exemplos ilustres de perfeição cristã e fonte
mentos de fidelidade c obediência do Filho ao de graça divina pelos méritos e pela
-> Pai (cf. Fl 2,5-8; Hb 5,8). Essa confor- intercessão do Redentor, e por» que perduram
mação ou assimilação a Jesus Cristo (cl. Rm em nós com seu efeito, sendo cada um deles,
8,29; Fl 3,10.21), imagem da glória do Pai (cf. no modo consentâneo com a índole própria, a
ICor 11,7; 2Cor4,4; Cl 1,15), começa com os causa de nossa salvação". 13
sacramentos da iniciação cristã, desenvolve- Pode-se dizer que o a. não é só meditação
se mediante a > penitencia e a participação sobre os mistérios da vida de Cristo e partici -
na eucaristia, com o acréscimo de outros sa- pação espiritual neles, o que causaria união
cramentos e sacramentais, e termina com a moral com o Senhor, mas que tem valência
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mais profunda porque produz união mística,
substancial, com o Cristo, sendo o kairós (a
ocasião de graça) para entrarmos em con tato
vivo com o mistério de Cristo, chamado a
transformar nossa vida. Esse é o aspecto

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69 AXO unjküico
mistagógico da liturgia, isto é, a atualização Mistero pastpude, in .YD/., 883-903; S. Marsili,
do mistério na vida do cristão. 1 " 1 Assim Cris- Li liturgia, momento sturico delia salvezza, in
Aa.Vv..Anàmensis t, Turim 1974,96-100; Í% A
to se toma o verdadeiro ano, o dia de todos os centralidade do mistério pascal em toda a
mundos, o Senhor de todos os séculos, a liturgia encontra expressão adequada na
verdadeira luz e vida sem inverno, sem escu - centralidade da eucaristia, scmindo o
ridão, sem ocaso. Cristo, que no céu é a vida ensinamento de santo Tomás (STli III, q. 73, a.
dos santos, dá a todos os fieis, no reflexo 3c) e do Vaticano II (PO 5); cf. também, S.
Marsili. In liturgia..., o.c. 100: "Por esta ra/áo
terreno, místico, de seu dia eterno junto de todos os sacramentos, embora dando cada uni
Deus. —> João da Cruz, em seus escritos, comunicação especial ao mistério total de
lembra ao --> homem espiritual, solícito em Cristo, são de um modo ou de outro
dis-por-se para as graças de —> união vinculados à eucaristia, centro c ápice do
mistério pascal; por isso no a . todo mistério
mística com Deus, que não se detenha na
do Senhor; do nascimento à ascensão-
exterioridade dos ritos e nos aspectos pentecostes-parusia, é celebrado e co-
exteriores do —> culto, mas use-os como municado no mistério pascal da morte do
meios para compreender solicitamente à Senhor (Missa)"; ' Cf. J.-M.R. lillard.
interioridade, para a qual devem conduzir e L'Eucaristia pasaua delia Chiesa. Roma 1961 : ; P.
Visentin, i,'Eucaristia, i n Dicionário de Liturgia,
que devem nutrir e sustentar. 15 O Doutor 1994 São Paulo;* Cl. Aa.Vv, L'anno litúrgico c la
místico convida, portanto, os participantes sua spiritualiià. Roma-Bari 1979; F. Brovelli,
que querem dispor-se para a união mística s.v. in ÜTII, 378-388; H Calati, Vita ciistiana <
que não se percam na exterioridade do culto, orne spiritualiià storica, in RL 61 (1974), 355-37
mas se entreguem à interiorização individual l;J.Castellano,s.v., in DES1,152-161; A. No-
cent. Celebrare Gesü Cristo, I anuo litúrgico, 7
do que há nele de divino e humano. voll., Assiri (PG) 1978; J. Oi dônez Marquez,
Em conclusão, lembremos que a presença Teologia y espiritual idad dei afio litúrgico, Madri
de Cristo e de todos os acontecimentos salví- 1979; J. PineII, 1,'anno litúrgico, proty-
ficos de sua vida histórica nas festas e nos ammazioue ecclesude di mista-gogia, in O
tempos do a. tornam os tempos litúrgicos Theologos. 6 (1975). 15-30;Cf. A Bcrga-mint,
a.c, 70: "A espiritualidade do ano litúrgico...
"períodos de graça e de salvação" (cl. Lc 4,19; necessita ser vivida e alimentada através tios
2Cor 6,2). O mistério de Cristo que se celebra i itos e das orações da celebração mesma e
na li Ungia é o dom da vida escondida em primeiramente através dos textos bíblicos da
Deus nos séculos, a qual ele quis manifestar e liturgia"; ' :i Cl. A. Triacca, Tempo e liturgia, in
Dicionário de Liturgia. São Paulo; h Cf. SC 102-
comunicar aos homens no Filho, morto e res -
111; :: Cf. O. Casei, // mistero dei culto Cristiano.
suscitado, mediante a efusão do -> Espírito. Roma 1960" 1 . 111: "Os mistérios de Cristo têm
Os sacramentos, em particular a eucaris tia, 10 propriamente duplo caráter. Em si eles são
centro de toda comemoração festiva e de supra terrenos, espirituais e divi nos; ao
todas as outras celebrações, santificam e mesmo tempo possuem um reflexo rio devir'
histórico. Com efeito, nos vivemos junto ao
consagram o tempo do a. como lugar de sal- Senhor, no ano litúrgico, a vida dele neste
vação não por nossos méritos, mas pela vir - mundo, o seu nascimento, o seu crescimento,
tude e presença do Filho de Deus, mediante o a sua vida apostólica, os seus ensinamentos e
dom do Espírito Santo, habitualmente pre - as suas lutas, a sua paixão e asna morte...;
sente na Igreja em seus membros. Se a alma, ''MD 140; 1-1 Neste sentido diz-se que a
liturgia é mistagojiia. Para os Padres da Igreja
que é membro vivo da igreja, como diz —> O. a mislagogia é "um ensinamento ordena do
Casei, "percorre verdadeiramente, como um paia fazer compreender aquilo que os
mistério, o ano místico em união com sua sacramentos significam para a vida, mas
mãe. a Igreja, tudo o que está contido no a. se supõe a ilumina-vão da té que jorra dos
tornará nela realidade operante". 1 ' sacramentos mesmos; aquilo que se aprende
na celebração ritual dos sacramentos e aquilo
NOTAS: 1 C. J. Castellano Cerveta, VAnno que se aprende vi vendi J de acordo c< >m (>
litúrgico. Memoriale di Cristo c ndsltigogia delia que os sacramentos significam para a vida",
Cluesa con Maria Madre di Ce só. Roma 1987, 13- J. Pinell, Lanno litúrgico..., a.c, 27; ' s Cf. Subida
28;/Cf. A. Bcr-camini, s.v.. ia XI)!,. 70; P. III, lft Santo Tomás de Aquino afirma da
Jouncl, Sauti {culto dei), in SDL, 1338-1355; 1 eucaristia que "neste sacramento está contido
Cf. A. Adam, LAnno litúrgico, í elebrajoiíe dei todo o mistério da salvação", STli III, q. 83. a.
mistero di Cristo, Leumann 1984, 31-44; S. 40, ad 3; 17 0. Casei, O mistério..., a.c, 119.
Marsili, Anuo litúrgico, in KL. I segni dei ruis-tero
di Cristo. Teologia litúrgica dei saenunenti, Roma BIBL.: Aa.Vv., Lanno litúrgico e la sua spiritualiià.
1987, 359-460, i Cf. J. Lopez Martin, O ano Roma-Bari 1979; Aa.Vv., Lanno litúrgico: Storía.
littir-i*ico. História e teologia, São Paulo, 1992; S, teologia c celebrazionc. Gênova 1988; A. Adam,
Díanich. Per una teologia delia domemea. in Vita Lanno litúrgico, celebra zinnc dei mistem di Cristo.
monástica. 124-125 (1976). 97-116; M. Auge, Turim 1984; A. Mercam mi, Cristo, festa delia
Ui domenica. /V\-f a prituordiale dei Cristiani. Ciucsa. 1,'annt) litúrgico, Cirnsello Bálsamo
Ciniselo Bálsamo 1995, Mí-69; - Ci". R Sorvi. 19K5\ ^2 111; J.M. Bernal, Iniciación alano
Material com direitos autorais
litúrgico, Madi i 1984; K Brovelli. 5.V., in D I I \ , irmãos. Em suas reflexões a razão tem lugar
378-388; R. Cantalainessa, // mistero pasqnale, de relevo, principalmente por refletir sobre os
Milão 1985; A. Carideo, Even-to-celebrazione.
Prospettive sulla liturgia come celebrazionc elegii dados oferecidos pela fé. Em duas pequenas
eventi sah iíici. in RI. í>5 í 197S «, 609-632; O. obras, escritas durante os anos fe lizes
Casei, // mistero dei culto Cristiano. Turim 1966; passados em Bec, o Mouologium e o Proslogion,
J. Castellano Carvera, Lanno litúrgico. Memoriale quis provar só pela razão algumas verdades
di Cristo e mistagogia delia Chiesa con Maria Madre fundamentais da fé, como a existência e a
di Gesü, Roma 1 9 8 7 : l. X Diirwell.
A N O LITÚRGICO - ANSELMO DE AOSTA (santo) natureza de Deus, mas acompanhou 70

L luwatistia, sacramento dei mistero pasquale. essas reflexões com um colóquio direto com
Ritma IVt>9'; J. Lopez Martin, Lanno litúrgico, Deus; assim, nos dois últimos capítulos do
storia e teologia, Cinisello Bálsamo 1987; S. Ma- Prosloyjoji, dedicados à bern-aventurança,
grassi, Cristo teri, oggi, sempre, La pedagogia delia
Chiesa-Madre nellanno litúrgico, Bari 1978; S. compôs algumas orações que estão entre as
Marsili, // tempo litúrgico, attuazione delia storia mais belas escritas por ele. Nelas já encon -
delia salvezza, in RL 57 (1970), 207-235; Id., tramos alguns aspectos fundamentais de sua
Teologia litúrgica, III: Anno litúrgico, Roma 1972; doutrina mística: "Peco-te, Senhor", faze que
B. Neunheuser, // mistero pasquale, ctdmen et
eu te conheça e te ame para alegrar-me em
fons delTanno litúrgico, in RL 62 (1975). 151-
174; M. Rhihetti, Lanno litúrgico iiclh: storia. ti", e p< nico depois: "Progrida aqui em mim o
ricÜa Messa, neiTufficio, Milão 1969 3 . conhecimento de ti c lá se torne pleno; cres ça
teu amor e lá seja pleno; para que minha
/■:*. Caruana alegria aqui seja grande na —> esperança, e
lá seja plena na realidade" (cap. 26).

II. Mas a mística de A. tem expressão ade -


quada especialmente nas Orações ou medita-
ções: são dezenove orações, dirigidas a Deus, a
-* Cristo, à —> Cruz, à —> Virgem, a são João
ANSELMO DE AOSTA (santo) Batista, a são Pedro, a -» são Paulo, a —> são
João Evangelista, a santo Estêvão, a são Ni-
Vida e obras. Nasceu em Aosta, no ano de colau a —> são Bento, a santa Maria Mada-
1033; chegando à idade adulta, tornou-se lena; o orante se dirige diretamente ao santo,
monge em Bec, na Normandia, onde, em mas também a si mesmo, censurando -se por
1078, sucedeu no cargo de abade ao bem causa de seus —> pecados e esperando, por
aventurado Erluíno (t 1078), fundador e pri- meio do santo, ser ouvido pelo Senhor, a< >
meiro abade do mosteiro. Em 1093 foi qual a —> oração é principalmente dirigida. A
chamado para suceder a I.anl ranço de Pa \ ia décima sétima, para os bispos ou os abades, é
t ; Jt)8v>J - seu antigo mestre em Bec - na dirigida ao santo titular da respectiva Igreja,
arquidiocese de Canterbury. Na lnglaten*a, invocando-o como meu advogado; as ditas
recétu-conquistada pelos normandos, A. se últimas são para os amigos e os inimigos, sín -
dedicou a pôr em prática os princípios da tese do ensinamento evangélico. Todas têm a
reforma da > Igreja, solicitada de modo par - forma de monólogo, e nem sempre a pessoa
ticular por Gregório Vil (í 1085), mas encon- que ora é A. Mas as três Meditações têm a for-
trou gtandes obstáetdos no rei Guilherme II. ma de colóquio, com notáveis referências
0 Ruivo (t 1100) e em Henrique I (t 1135); por autobiográficas. A primeira, para suscitar o —
duas vezes escolheu o exílio. Em 1098 > temor de Deus, insiste no estado infeliz do
participou do Concílio de Bari, no qual expôs pecador, "alma estéril", "árvore que não pro-
a doutrina católica sobre o —> Espírito Santo. duz frutos", "madeira seca e inútil", que pode
Em 1 106 pôde voltar para Canterbury e se ser salvo somente confiando na misericórdia
dedicou até a morte (em 21 de abril de de Jesus. Na segunda, uma lamentação pela
1 109) às atividades pastorais de sua Igreja. —> virgindade perdida põe, de um lado, o mal
Apesar de ler passado por muitas provações, cometido... e, do outro, a bondade de Deus, e
especialmente depois de sua nomeação para invoca seu perdão. Na terceira, medita sobre
arcebispo de Canterbury, A. desenvolveu du- a salvação, que vem de Deus: a alma humana
rante toda a sua vida intensa atividade de es - era prisioneira, mas foi remida pela cruz do
critor, deixando numerosas obras, as quais Senhor, era serva e foi libertada, estava mor ta
revelam suas grandes qualidades de teólogo e e foi ressuscitada. Também essa medita ção se
mestre da vida espiritual. Caracterizou-se encerra com uma oração que subi in I ra a
pela capacidade de unir as exigências de for te mudança profunda realizada por Jesus na ->
racionalidade a intenso —> amor a Deus e aos alma humana. E mostra o contraste entre o

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pecado e a —> graça, entre as trevas e a luz, constituição com cai ater de cronicidade e
entre a miséria e a bem-aventurança; o pedi- com uni modo de ser habitual e permanente;
do é o de experimentar por amor o que experi- b. as crises, com manifestações paroxísticas.
mento por conhecimento. Na
Essa visão mística da alma sustentada década de 1950. R. Mav : fez nova proposição
pelo —» amor de Deus se encontra também da problemática psicológica da a .
em outros escritos de A., nos quais prevalece,
porém, a especulação teológica. Em seu ri 71 II. Emotividade, angústia e a. Na neuro-
se de angústia, o estado de a. pode ser pro-
quíssimo epistolário são frequentes as refe- ANSELMO DE AOSTA (santo) - ANSIEDADE
rências a essa doutrina. Por exemplo, ele a
exprime em linguagem simples na Ep. 45, a posto na patologia da emoção, mas não deve
um recluso. "Deus - escreve A. - diz que tem ser contundido com a hiperemotividade:
uni reino, o dos céus, para vender, um reino diante de uni perigo ou de uma ameaça, o
no qual todos são reis. Aquém pergunta hipei -emotivo reage com uma conduta anár-
quanto custa esse reino, tesponde-se que e quica e incoercível, ao passo que o ansioso
vendido ao preço do amor: Deus o vende pode ser capaz de passai* do pânico ao con-
somente a quem ama. Deus não pede senão o trole ou à adaptação, coisa da qual não se
amor; oferece-lhe o amor, e receberás o reino; considerava capaz. Com eleito, muitos heróis,
ama. e o terás. Esse amor deve ser Luandes trabalhadores e muitos dos une la-
alimentado por orações trequentes, colóquios, zem mais do que é seu dever são ansiosos.
pensamentos espirituais e sentimentos de Se, de um lado, é verdade que não se deve
caridade fraterna/' Na conclusão da carta vê- confundir a. com emotividade, do outro, é
se claramente que a mística anselmiana se necessário reconhecer que muitos ansiosos
baseia numa intensa aplicação ascética: têm emotividade hiperexeitãvel; é aqui que
"Quem quiser ter a perleição desse amor, com aparecem os vários distúrbios. A a. e a an-
o qual se compra o reino dos céus, ame o gústia são o resultado de uni conflito entre a
desprezo do mundo, a > pobreza, a fadiga e a pulsão libídica ou agressiva e a realidade ou
obediência, como fazem os santos". as normas morais. Quando esse conflito cria
tensão superior ao limite de tolerância, a pes -
Btui..: Ohras: S. Anselmi Cantuuriensis
arvhiep. Opera omnia, l-ll, ed. ES. Schmitt, soa nota mal-estar interior de intensidade
Stuttgart 1968 (ed. anast.); Estudos: Àa.Vv. variável, porque, de um lado, quer/deve rea-
Anselmo aAosta figura europeu ÍConvejuio di lizar uma necessidade-desejo, do outro, não
stiuli, AoMa WSS .1 Uii o ensaio de B. Ward, mier/nãodeve realizá-la. Não sabendo como
Le "Orazioni e Mediíazioni" di S. Anselmo, 93-102); conciliar essa polaridade sem culpa ou ver -
J. Bainvel, j.u, in DTC I, 1327-1350; B.
Calati, 5.V., in BS II, 1-21; C. Leonardi, Le gonha, seu mal-estar aumenta. Uma breve e
"Meditationes" di S. Anselmo, in Rivista di storia sumária diferença entre a., fobia c angústia
delia filosofia. 48 (1993). 467-475; M. Mâhler, pode partir das considerações seguintes: a
s.u, in DSAM I , 690-696; E. A. Maiter, Anselm a. é causada por medo genérico, sem objeto
and the Tradiction ot the "Song of Songs", in
bem definido, e se manifesta com um mal -
Rivista i!: storia delta filosofia,** (1993), 551-560;
E. Salman, s.v., WMy, 24-25; P. Sciadini, s.u, estar proporcionado à gravidade da ameaça
in DESI. 168-169; S. Vanni Rovighi, que o ansioso acredita iminente; a fobia é
Introduzione ad Anselmo d'Aosta, Bari l l 'S7. um medo desproporcionado, irrazoável e imo-
tivado dc ameaça real, mas relativa ou ima-
G. Picasso ginária; a angústia é medo mais intenso, per -
cebido e denominado de modos diferentes,
segundo as circunstâncias, que podem ser: a
morte, o —> sofrimento, a culpa, as
síndromes
de abandono, de perda e de separação, a exis -
tência como taedium vitae, existencial vacuum
ANSIEDADE e outras. Os distúrbios são descritos, em ler -
mos genéricos, como nervosismo ou, mais
I. Do ponto de vista histórico, a .. era
Í
tecnicamente, como instabilidade emotiva,
considerada no mesmo quadro clínico da hiperestesia sensorial, labilidade no controle
angústia ueurastênica (Bread e I leckel, emotivo (ou seja, sobressalto por causa de
ISSO). Em 1895, Freud propôs a separação pequeno rumor imprevisto, tremor nos mem -
entre neurastenia e certo grupo de sintomas bros ou palpitações, sudoração, calor súbito
sob a designação de "neuroses de angústia" por causa de emoção, ainda que pequena,
com dois elementos fundamentais: a. uma
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tensão psíquica ou do tono muscular) Ou - bios abdominais; 8. despersonalização ou
tros distúrbios são ligados ao sono: dificul - desrealização; 9. parestesia (torpor ou formi-
dade para adormecei, despertar angustiado, gamento); 10. ondas imprevistas de calor ou
fatigado (às vezes hipersonia: refugiar-se no sensação de frio; 11. dor ou mal-estar no tó-
s ouo para fugirá realidade). rax; 12. medo de morrer; 13. medo de enlou -
Outras perturbações sintomatológicas da quecer ou tle fazer alguma coisa sem cont role.
a. procedem do aparelhocárdio-vascular (ace- A a. tem um papel muito importante em todas
leração do ritmo cardíaco e instabilidade da as patologias psicológicas; não existe uma só
pressão arterial), do aparelho respiratório neurose que não tenha algo a ver com o
(espasmos, sensação de opressão no diafrag- controle da a. Do ponto dc vista do diag-
ma), do aparelho neuro-muscular (hiperexci- nóstico, a a. está em correlação com os qua-
tabilidade dos reflexos ósteo-iendíneos, dros clínicos fóbicos (agorafobia, fobia social,
espasmos da musculatura lisa). Outros fobia simples) e com alguns distúrbios parti -
sintomas da a. se manifestam com culares (distúrbio obscssivo-eompulsivo, dis-
perturbações intes-linais (constipação ou túrbio produzido por estresse pós -traumãti-co
diarréia), espasmos gástricos (náusea e ou por" a. generalizada). Sob o aspecto
vômito), na secreção glandular (secura da religioso, podemos considerar sinteticamente
boca ou sialorréia), na micção (oligúria ou os significados desses quadros clínicos com
poliúria). alguma referência á conduta religiosa.
O ansioso administra sua a. de acordo com A agora!obia é o medo de estar em lugares
seu temperamento e com sua personalidade: ou situações dos quais seria difícil sair ou
alguns introvertidos reprimem sua irritabili- nos quais não haveria ajuda disponível, caso
dade; alguns extrovertidos explodem em rea- fosse necessário. Na conduta reliuiosa. essa a.
ções coléricas; os viscerotônicos reagem com agorafóbica poderia ser interpretada como
sensações de inapetência ou de polifagia; e prudência.
assim também nos comportamentos sexual, A fobia social é o medo do juízo dos ou tros
religioso, relaciona), agressivo e outros. Mui - ou de agir cie modo constrangedor- ou
tas vezes a a. é acompanhada de sentimento humilhante; por isso, a pessoa evita falarem
de insegurança, e pode também estar ligada a público, comer ou escrever diante dos ou tros,
um objeto ou uma situação especílica, caso e assim a vida relacional fica muito limitada.
em que se fala de a. flutuante ou livre; ela se Esse tipo de a. poderia ser tomado por
manifesta como espera permanente de catás - modéstia ou reserva.
trofe não bem definida; basta uni minu to de A fobia simples é o medo persistente de um
atraso, um loque de campainha, unia leve dor objeto ou de uma situação. Esse medo
para que a pessoa imagine a iminência de excessivo ou irracional leva a comporta -
alguma coisa inevitável. Um drama do ansio so mentos de evitamento, e o objeto da fobia é,
é o conhecimento que ele tem da irra- por exemplo, t» sexo; então essa a. poderia ser
cionalidade de sua angústia, e sua frustração confundida com a castidade ou com a pu-
por não conseguir' lazer que os outros com- dicícia. O distúrbio obsessívo-compulsivo se
preendam seus temores incoercíveis. A a. está compõe de: a. impulsos, pensamentos e ima -
sempre ligada a imaginação distorcida de gens mentais que interferem na articulação
modo disfuncional, mas não é doença imagi- do comportamento. A pessoa procura igno rar
nária. ou suprimir essas interferências, mas às
vezes o que consegue é o oposto. Por exemplo,
III. Definição e conteúdo. A definição uma pessoa pode ser muito religiosa, e
mais autorizada e mais atualizada de a. é a quanto mais procura eliminar idéias agressi -
do DSM-IV: "Antecipação apreensiva de vas, blasfemas ou eróticas tanto mais elas
dano futuro ou de desgraça futura acompa - aumentam. Essas interferências ficam mais
nhados de disloria ou de sintomas somáticos intensas e freqüentes à medida que aumenta
de tensão". a insegurança de poder administrai' essas
Uma síntese descritiva da a, com a finali- pulsões. Ela tem medo de perder o controle e
dade de favorecer diagnósticos pode ser a que de lazer o caie não quer Às vezes ela não sabe
reúne a sintomatologia em treze pontos, dos se já fez ou não o que não quer lazer; isso
quais quatro bastam paia o diagnóstico do provoca uma a. cada vez maior até o desgaste
pânico: 1. dispnéia ou sensação de sufocação; e a exaustão por causa do sentimento de
2. dispersão, instabilidade ou sensação cie culpa de ter feito pouco ou quase nada. b.
desmaio; 3. palpitações ou taquicardia; 4. tre- Comportamentos repetitivos para acalmar a
mores leves ou grandes abalos; 5. sudoração; a . Trata-se de rituais irracionais, que têm a
6. sensação de asfixia; 7. náusea ou distúr - finalidade de neutralizar ou prevenir aconte -

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cimentos temidos. Essa repetição meticu losa
dc esquemas de comportamento pode chegar a
diminuir mais ou menos fortemente a vida
afetiva, a atividade no trabalho e as rela ções
sociais.
A neurose obsessivo-compulsiva se mani-
festa geralmente de três modos principais:
checkhig, cleaning e doubting. O checking é a
compulsai» para com rolar e verificar ivpeti

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ANSIEDADE 98
73 AN'SI 15. D A
DU

(lamente alguma coisa, a fim de ler certeza, sono e aos comportamentos de evilamento de
por exemplo, de ler fechado portas, janelas, tudo o que possa ser associado ao acon-
torneiras etc. Esse comportamento pode ser tecimento traumático. Tudo isso limita a qua -
acompanhado de uma atitude de suspeita ou lidade de vida da pessoa. O distúrbio por a.
de uma sensação de estar sendo perseguido; generalizada é urna preocupação irracional
mas é em personalidade paranóica que isso com acontecimentos realisticamente impro-
acontece. O cleaning é a tendência exasperada váveis, ou objetivamente proporcionada á
e irracional para a limpe/a e a higiene por possibilidade real ou tipo tie dano temido.
causa do medo de contaminação por germes Trata-se de insegurança quanto à capacida de
ou por outras impurezas. O doubting é a ru- própria de gerir uma emergência ou uni
minação quase constante de dúvidas, pelas ataque de pânico.
quais a pessoa se sente assaltada ou perse- A a. pode ser causada também por algumas
guida; quanto mais ela deseja não lei" tais condições médicas gerais, pode ser induzida
dúvidas tanto mais lhe parece que não pode por alguns remédios e pode assumir
deixar de questionar-se sobre a exatidão do configuração clínica não específica.
que fez. A pessoa não se estima muito, mas
tem pretensões perfeccionistas. Deseja ter IV. Remédios. Para avaliação clínica mais
cem por cento de certeza e quer estar sempre completa, a a. deverá sei - considerada tam-
certa de não perdei o controle de si e da si - bém em outros contextos específicos, como o
tuação. Por exemplo, uma pessoa religiosa po - de uma personalidade histérica, ou de es -
deria ser levada a repetir as mesmas palavras trutura psicótica (esquizofrenia, paranóia,
ou gestos com modalidades e expectativas depressão endógena), nos distúrbios sexuais,
mais mágicas que propriamente religiosas; nas síndromes neurológicas (tumores cere-
isso pode ser acompanhado de grande au- brais, traumas cránio-cerebrais, encefalites,
mento de a - , case» a pessoa seja impossibili- epilepsia). Outros contextos específicos nos
tada de realizar tal rito ou caso não lhe seja quais avaliar a a. são as condições subjetivas
possível agir segundo a modalidade deseja da. pessoais, como a u. em crianças e adolescen-
Parece epie a pessoa não é capaz de omil ir tes, na senescência e na gravidez, nas com-
esses cerimoniais, e, se os omite, sente a. e petições esportivas e escolares. Atualmente a
culpa, e prevê catástrofes iminentes. Também terapia farmacológica da a. vê com esperança
o cleaning é um conceito distorcido de limpeza as pesquisas de neuro-endocrinologia e as
e poderia ser usado por uma pessoa reli idosa relativas aos processos de somatização. Pa -
como simbolismo ineonscien-te, isto é, para rece, porém, que nos casos ordinários o me -
lavar-se ou purificar-se. por meio dessas lhor tratamento da a. seja uma psicoterapia
cerimônias, das culpas pelas quais se sente sustentada por várias técnicas como o bin-
contaminada, a fim de nã< J contaminar-se feedback f o training autõgeno e principalmente a
novamente. hipnose, com o objetivo de que ela se torne
O doubting é típico da pessoa escrupulosa "auto-hipnose", de modo que a pessoa apren-
que, de um modo mais ou menos consciente, da a gerir autonomamente o controle de sua
liga sua insegurança ã morte, ao inferno ou ã a . O que mantém associadas todas essas téc -
salvação. Nesses casos o —> sacramento da nicas (e também algumas menos conhecidas,
confissão tem a função de ansíolílico, podendo como a "meditação profunda", a "meditação
seguir-se um estado de dependência ou crise transcendental" e outras) é a —> sugestão que
de consciência, caso a confissão não seja tern em mira o controle do sistema nervoso
possível. O distúrbio causado poi estresse parassimpático e as várias manifestações
pós-traumático c o mal-estar ou a a. que con- paroxísticas.
tinua ainda depois de já ter passado o acon- Atualmente a a. é diagnosticada por meio
tecimento traumático. A pessoa, mesmo de - de vários reativos como o Rorschach, o TAT
pois do perigo, continua a percebei* ameaça (Thematic Test Analysis) e o Crown-Crisp no
para sua incolumidade e para a dos que lhe contexto da estrutura psíquica geral. O IPAT
são caros. Ela é levada a acionar seus meca - {Initial Paiu Assessment Tend) diagnostica a a.,
nismos de alerta quase constantemente e com mas só em seus traços essenciais (falta de
modalidades exageradas, lendo como resul- autocontrole, instabilidade emotiva, descon-
tado recordações e comportamentos angus - fiança, apreensão e tensão) latentes e mani -
tiantes, recorrentes e invasivos, como se o festos. Outros sinais específicos da u. são. no
acontecimento traumático estivesse pata re - CBA (Certified Hchnviour Analysis): a . de estado
petir-se. Os distúrbios podem estender-se ao (inicial), A . de traço (habitual) ea . de estado
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(final). No MM PI (Inventário Mtdtif ásico Morristown 1976; C. Reycrofi , Angoscia e
Minnesota de Personalidade), além da eslru- nerrosi, Milão 1969; FC. Riehard sc m, Pactor A
na-lysis o f the Test Anxiety Scale and Evidence
ANSIEDADE - ANTÃO ABADE (santo)
Concerning the Components o f the Test Anxiety, i n
./< >u n ml of Consulting and Clinical Psychology, 45
lura psíquica geral, lemos a possibilidade de (1977), 704-705; E. Sanavio, / comportamenti
diagnosticar e quantificar a a . livre, a a . ossessivi elã loroterapia, Florença 1978: R.M.,
somatizada e dois outros indicadore s de ar. a Suinn. The STABS: A Measure of Test Anxiety for
Pui cell e a Mod lio. Behavioral Therapy, in Behaviour Research and
Therapy. 7 (1969), 335-339: S. Trickett - V.
ÍL possível que esses parâmetros dêem Albisetti, L'ansia e la depressions Milão 1997 6 .
indicações diferentes, corno é possível
também que um mesmo remédio ou a mesma A. Pacciolla 74
técnica para o controle da a. dêem resultados
diferentes. ANTÃO ABADE (santo)

Conclusão. Na avaliação e no tratamento I. Vida e obras. É considerado por impor-


da a. é muito importante a experiência clíni ca tante ramo da tradição como o fundador do
do profissinal, obrigado a considerar os anacoretismo e como o "primeiro monge".
fatores orgânicos, psicossubjetivos, socioam- Nascido em 251, com cerca de vinte anos se
bientais, o sistema de crenças moral -religio- consagra à vida ascética numa aldeia, depois
so e a conduta da pessoa, para que as mani - num túmulo e depois em pleno deserto. Num
íeslaçòes ansiosas não sejam tomadas por segundo tempo surge em torno de sua pes-
formas de vida autenticamente religiosa ou, soa um sistema de pequenos mosteiros. Mais
pior ainda, mística. tarde, desloca-se na direção do mar Verme-
lho c se lixa no lugar onde é hoje o mosteiro
NOTA: R. May, 77«; Meaning of Anxiety, Nova
1 dedieado a ele e onde morreu em cerca de
York 1950. 355. É-lhe atribuído um corpus de cartas (PG
40, 977-1000), cujo original se perdeu, trans-
BiBL.: R. Alpert - R.M. Haber, Anxiety in
Academic Achievement Situations, in Journal of mitido em georgiano, latim e, parcialmente,
Abnormal and Social Psychology, 61 (1960), 207- em copio e siríaco; um corpus de vinte cartas
215; P.G. Biagia-rellt M. Fioravanti - R. foi transmitido em árabe. Além disso são -lhe
Lazzari, Struttura fattoriale dello STA/, in Bolle it atribuídas uma carta a Teodoro de Tabenese,
ino di Psicohfgia Ap plicata, 169 (1984), 45-51; urna série de Regras e cerca de vinte sei
H. Brenner, Rilassamemopnn-ressivo e
desensibilizzazione sistemática dell'ansia, Cinisel It ruões.
i Bálsamo 1992 2 ; R.B. Cattell - l.H. Scheier, Parecem autênticos somente o corpus de sete
The Mea-nitig and Measurement of Neuroticism cartas e a carta a Teodoro.
and Anxiety, Nova York 1961; M. Fioravanti -R.
Lazzari, Studio delta udidif à di predict me dei/o II. Na tradição espiritual. De grande va -
S I M , i n Bellet tiu>i lor espiritual é a Vida de. A. escrita por —>
di Psicologia Applicata. 158 (198!), 79-89; VE.
san-
Frankl,
Teoria e terapia delle newest. Brescia 1962; S. to Atanásio (PG 26, 835-978), que pode ser
Freud, considerada como um dos primeiros trata -
Inibizione, sintomo e angoscia, in Id., Opere, dos de —» ascética. Depois que o primeiro
Turim ideal
1978,237-313; J.M. Grossberg-H.K. Wilson. A
Cor- de —> santidade foi o —> martírio, a Vida de A.
relation Comparation of Wolpe-Lang Fear Survey nos apresenta certa substituição do martírio,
Schedule and Tailor Manifest Anxiety, in Behaviour o 'martírio da consciência".
Research and Tlteory, 3 (1965), 125-128; H.J. As características principais desse novo
Hey- tipo de santidade são: l.A é visto como "ho -
sviuk, The Dynamics o f Anxiety and Hysteria.
Lon- mem de Deus", li conseqüência direta da teo-
dres 1957; J.M. Louis, L'angoscia, utile allcata, logia de Atanásio: Deus se fez homem para
Cinisello Bálsamo 1995; FC laicediaetal., eme o homem se laça divino. 2. A divinização
Anx/ervm do homem é a vida "segundo a natureza , mas
Ate Population, in Journal o f Clinical Psy- no sentido cristão, isto é, segundo o estado da
chology, 40 (1984), 356-358; R. May. The
Meaning of Anxiety, Nova York 19^0; P. Pancheri primeira criação. A vida monástica permite
el aL -\usia di Stato e di Tratto in soggetti normali retornarão paraíso. 3. A "natureza" pode ser
e in pazienti con disturbi cardiaci e dermatologici, in expressa por meio de princípios gerais.
CD. Spieiberger et al. r Questionário di Também na vida espiritual começam a ser
autovaluta-ione deltansia di Stato e di Tratto,
formuladas diretrizes de validade geral. 4. O
Florença 1976; G.Í.. Paul - D.A. Berstein,
AHAJITV and Clinical Problems, in J.T. Spence ct retorno a natureza verdadeira, divinizada,
al. (orgs.), Behavioral Approaches to Tlterapy, supõe a luta contra o —> pecado, e as suas
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ANSIEDADE 100
conseqüências e contra o próprio —> diabo. A. cisma do século XV, 2 Essa alienação entre te-
sai vitorioso desse —> combate espiritual. Seu ologia e mística é, ao mesmo tempo, aliena ção
rosto -> irradia ixapatheia, libertação de tudo entre teologia e Escritura como livro da
o que perturba o coração. 5. O homem unido experiência (são Bernardo). A teologia espe-
a Deus purilica também o —> mundo, vence culativa (teologia escolástica) atasta a aten ção
os "demônios do ar"; também o cosmo obedece da reflexão de fé da Escritura em pro veito de
ao homem de Deus (milagres, obedeciam a ele questões, disputas e comentários técnicos,
até os animais selvagens). isto é, da dialética. O modo pelo qual esse
A vida do "homem de Deus" não se conci lia alheamento chegou a unia ruptura pode ser
com a dos "homens do mundo", por isso A. ilustrado pelas declarações sarcásticas do
escolheu como morada a solidão. A Vida autor da Imitação de Cristo sobre os teólogos
descreve quatro fugas: 1. das --■> paixões do escolásticos do século XV: "Para que serve
mundo a recompensa é a apatheia; 2. dos urna ampla e subtil discussão em torno de
maus pensamentos - o prémio é a -> oração coisas obscuras e ocultas ao homem, coisas
contínua; 3. Do relacionamento inútil com os pelas quais, mesmo que as ignoremos, não
homens - segue-se a paternidade espiritual seremos considerados responsáveis no juízo
dos que procuram a Deus; 4. da vanglória final? Que nos importa o problema dos gêne-
causada pela fama dos milagres - como re- ros e das espécies?"
compensa foi revelada a A. a hora de sua Esse distanciamento entre a Escolástica
morte, sinal de predestinação à salvação. especulativa e os mestres da vida espiritual
Traduzida em todas as línguas da antigui - produziu na -» ascese e na —> metódica da
dade cristã, a Vida de A. foi durante muitos oração um voluntarismo de ordem prática,
séculos o manual da vida monástica não ape - desligado da teologia e só longinquamente
nas solitária, mas também cenobflica. inspirado na Escritura,
Nos —> Países Baixos ena-) Alemanha os
BIÜL.: G. Bardy.s.v., in DSAMI,702-708; L. grandes místicos do século XIV, > Ruys- —

Bouyer, Vila di Antonio, Milão 1974; Id., Antonio broek, > Mestre Eckhart e —> Tau ler, tenta
Abate, in L. Dattrino - P. Tamburrino (ortis.),
Í M . spiritiudità dei Padri, 3'H, Bolonha 1986. ram restabelecera unidade entre a teologia e a
25ss; L. Dattrino, // primo monachesino, Roma mística. Com todos os meios que a teo logia
1984, Ifcss; G. Gurittc, latires de S. Antoine. punha á sua disposição procuraram traduzir"
Version georgienne et Iragments captes, Lovaina em lorrna literária o inefável de sua —>
1955; J, Grihoinom, in D I P A , 700-703;
experiência mística. Mas a reação violenta de
Melchiorre di Santa Maria, S A \ , in DES I. 171;
B. Steidle (mii.), Antonius Xlagmts Eremita. > Gerson, chanceler da Universidade de Paris,
Roma 1956. contra a tradução em palavras, projetada por
Ruvsbroek, em seu Die (ihccstelijkc Brulocht,
T. Spidlik da experiência mística da união, mostra que o
conflito entre teologia e mística já era um
dado de lato. 1
Gerson estava convencido de que a terceira
parte do (ihccstelijkc Brulocht "devia ser
desaprovada e rejeitada porque et a comple -
tamente contrária e desviante da sã doutrina
ANTIMISTICISMO dos santos mestres que escreveram sobre a
nossa bem-avenlurança; ela (a terceira par-
I. O fenômeno. Nos primórdios das cor- te..*) não coincide nem com a declaração ex-
rentes anliniíslieas na —> história da mística plicita das Decretais, nas quais se sustenta que
cristã encontra-se um processo de desintegra- nossa betn-aventurança consiste em dois
ção entre - > teologia e > espiriiualidade-rnís- atos: a —> visão e o gozo, portanto, junto com
tica, processo esse que levou a condito e ter - a luz da glória. Se é este. pois, o caso da
minou numa ruptura. 1 plenitude da glória última no além. a saber,
Enquanto para os grandes teólogos do apo - que Deus
geu da escolástica (Tomás de Aquino e Boa - não é nossa visão e clareza essencial..., quan -
ventura) teologia e espiritualidadc-mística to mais tudo isso não será então o caso da
ainda formavam uma unidade existencial, no imperfeita semelhança da bem-aventurança
fim do século XIV nota-se que exercício cada que nos é permitido saborear nesta vida".
vez mais unilateral da dialética na teologia Em sua distinção entre teologia mística
ameaçava produzir alienação entre teologia e prática e teologia mística especulativa {'íheo-
espiritualidade. Slefano Axlers considera a lovja mystica practica e Iheolovja mystica
ruptura entre fé e pensamento como o maior

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spcctdiilivn) o chanceler parisiense acentua a teologia escolástica são obstáculos para a
essa ruptura entre teologia e mística. devoção.
Essa distinção teve como conseqüência J. Huizing afirma: "Em geral os devotos dos
que, enquanto a teologia se enrijeceu em fal ta Países Baixos tinham perdido o contato com o
de feelinii com a experiência de Deus, a li- misticismo febril, em cujos estádios
teratura religiosa perdeu todo feeling com a preparatórios tinha florescido sua forma de
teologia. Se, pois, de um lado. os problemas vida. Assim eles tinham também esconjurado
relativos à ascese eram tratados cada vez em grande parte o perigo de cair em desvios
mais por si mesmos e sem orientação fantasiosos e heréticos. A devolto moderna dos
inspirada na experiência de Deus, do outro, a Países Baixos permaneceu obediente e
literatura religiosa, na ausência de relt exão ortodoxa, e conservou uma moralidade prá tica
crítica, se arriscava a reduzir-se a tratados v< e, naquele tempo, também correta". As
tluntaristas privados do necessário suporte especulações teológicas nas quais os místicos
escriturístico e teológico. renanos e flamengos, Eckhart, Tauler, —> Su-
Cornpi eende-se assim que nus Países Bai- so e Ruysbroek, tinham atingido um ponto
xos, depois de Ruysbroek, a mística especula - culminante não conseguiram inspirá-los e
tiva tenha cedido o lugar a literatura orien - certamente foram lidas pela primeira geração
tada de modo prálico-ascético. O próprio como não-adaptadas e até perigosas para os
centro místico de Groenendael viu em Jau cristãos comuns.
vau Schoonhoven tt 1432J o primeiro Pela metade do séc. XV, o cartusiano
represei)(ante dessa nova orientação. Hm Vicente de Aggsbach (| 1464) constatou que a
particular, para os —> Irmãos da vida teologia mística e a escolástica não tinham
comum, a doutrina de caráter especulativo e mais nada em comum do mesmo modo que a
teológico cie Ruysbroek não tinha mais pintura não tem nada em comum com a
nenhuma atração. A ruptura entre teologia e profissão de sapateiro. De fato, o decreto de
mística continuou a estender-se. Também —* 1559. do Cirande Inquisidor Fernando
G. Gr< )ote, verdadeiro pioneiro d<> despertar Valdês, que proibia não só vários escritos de
espiritual da > Devolto tnoílcrna se encontrou, místicos não-espanhóis, mas também os
como Jan van Schoonhoven, sob escritos de místicos em língua vernácula,
a inlluência do ambiente parisiense, caracle- incluída a tradução da Bíblia, indica a
ri/ado por uma teologia escolástica extrema- extrema conseqüência da ruptura entre a
mente crítica. Todos os seus escritos se res- teologia eclesial e a mística. 5 A ruptura
sentem do tato de ele ter sido ao mesmt > passou logo a antagonismo, e sua virulência
tempo teólogo, canonista, reformador e toi alimentada pelo pânico e pelo medo de
pregador. A sua espiritualidade era concreta e infiltração de idéias e práticas heréticas,
prática; o acento era posto na —> santificação consideradas atentado à unidade religiosa e
própria mediante o exercício das —* virtudes; política da nação.
a —> imitação de Cristo era a porta de toda a O que eslava em questão aqui era um modo
vida espiritual. Ele não era antimístico, mas de entendera espiritualidade. Isso se tornou
era contra toda forma de diletantismo. claro na caça aos hereges piorno vida contra
Enriqueceu sua tradução da ladainha de Bartolomeu Carranza (t 1576), arcebispo de
todos os santos com a invocação seguinte: "De Toledo, por seu confrade Melchior Cano (t
todos os sumos prazeres e sumos 1560). teólogo de Salamanca, baluarte da
conhecimentos, de todos os sentidos Inquisição espanhola. O teólogo Melchior
orgulhosos e sutis na espiritualidade livra - Cano se convertera a um ascetismo rígid< >
nos, Senhor". em reação á infiltração de tendências
Florêncio Radewijns (t 1400), seu colabo- protestantes e de "incertezas" teológicas de
rador mais importante, fundador da pr imeira humanistas e místicos. Ele punha o acento,
confraria dos Irmãos da vida comum e guia de modo unilateral, numa vida virtuosa ativa,
deles depois da morte de Groote cm 1384, ao passo que, em sua própria Ordem,
seguiu as pegadas de seu mestre no tocante à Bartolomeu Carranza, —> Luís de Granada e
sua orientação espiritual. Sua ati tude os chamados "a itUen iplativi >s f ' sustentavam
antimística é caracterizada pelo fato de que, uma espiritualidade mais afetiva, na qual
em seu Tratado devoto, ele fala amplamente tinham maior espaço a —> oração e a —->
das vias da -> purilicação e da iluminação, contemplação. 6 O dogmático Melchior Cano
sem mencionar a via da união. A pu reza do não sentia senão inquietação em relação ao
coração e o amor a Deus devem inspirar todo misticismo e à espiritualidade afetiva. Esse
o agir humano. Em sua visão, o ensinamento teólogo inquisidor de Salamanca, inimigo
puramente teológico, a mística especulativa e jurado dos "espirituais", linha a pretensão de

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ANSIEDADE 102
farejar os hereges à distância como um cão de seguidora ávida de conhecimentos na jovem e
caça fareja a caça. Em seu tratado De locis devota viúva > de La Motte Guvon.
theologicis (li-vro 12, c. 10) ele escreve: "Tais Educada entre as Visitandinas, confiou ela
(isto é, inconscientes) são, em nossos dias, seus t ilhos a outros, a exemplo de ■-> Fran-
todos os que, embora leiam e citem ■> Batista cisca de Chantal, a tini de, aconselhada por
de Crema, —> Henrique Herp, Tauler e outros seu diretor espiritual, dedicar-se completa-
autores, não se dão conta de seus desvios, de mente ã vida de contemplação. Fez propa -
sua espiritualidade e de suas intenções, nem ganda de seu ideal espiritual também me -
mediante o olfato, nem através das pegadas, diante escritos e cânticos devocionais; falou
nem mediante o paladar". Segundo M. Cano. da quietude em Deus e do —# amor a ele,
essas pessoas são, antes de tudo, os jesuítas; puro e desinteressado, o qual, como con dição
eis o que ele escreve numa carta a Venegas, permanente, não pensa nem no prêmio nem
em 28 de março de 1556: "Como tu, também no castigo. A maioria das obras de M.me
eu ouvi di/erque cies (os jesuítas) seguem Guyon foi publicada só depois de sua morte.
João Tauler e Henrique Herp e, no passado, Justamente contra os escritos de M.me
frei Guyon começou a delinear-se na França, no
Batista de Crema. Km Roma, recentemente, a fim do séc. XVII, uma corrente fortemente
doutrina desse último foi condenada, por que antimística. Essa luta contra a mística teve
ele fazia parte dos "iluminados" (ahun* brados) seu ponto mais alto na desagradável contro-
ou "quietistas". Os próprios Tauler e Herp vérsia entre o eclesiástico Bossuet, político e
foram desmascarados em muitos luga res intelectualista, e Fénelon, que defendia a mís-
como homens da sei la dos "iluminados' ou tica com delicadeza de sentimentos.
dos "quietistas". 8 Em 1(->S7, quando Molinos foi condenado
em Roma, o arcebispo de Paris começou a
II. À batalha pela devoção ideal: > Bns-suel suspeitar da piedosa viúva, M.me Guyon, e de
e - ► Fénelon. Além do galicanismo, que loi Lacombe, seu guia espiritual; este foi
uma crise do governo da Igreja na Fran ça, encerrado em reclusão, e M.me Guyon, presa
também a vida religiosa propriamente dita mais de uma vez. Ela foi acusada de
sofreu algumas degenerações, que fizeram quietisrno: passividade exagerada na via
duvidar da ortodoxia de seus seguidores e mística, acentuação exagerada da
puseram em movimento os teólogos mais contemplação e do "puro amor" e subestima
importantes do país. da -> encarnação de Cristo.
O misticismo pouco critico do espanhol -» Mais tarde M.me Guyon encontrou es-
Miguel de Mo]inos teve alguns defensores trénuo delensot no educador do príncipe, o
também na ["rança- Moliuos, muito requisi- luturo arcebispo Fénelon, que provinha da
tado em Roma pelos mosteiros femininos alta nobreza de uma província e fora educa do
como guia espiritual, defendera em seus es - por —> Olier. Dirigiu ele durante muitos anos
critos a comunhão cotidiana c considera ra a o instituto parisiense para moças convertidas,
atitude passiva cia alma como o ideal da --> sendo depois educador de Luís, du que de
devoção, Nessa quietude perlei (a da alma Borgonha; em 1695. para alegria de Bossuet,
diante de Deus, na qual até o desejo de santi - tornou-se arcebispo de Cambrai, que, de 1697
dade .se abranda e deixam de existir a produ- em diante, ano em que foi afastado da corte,
ção de atos e a aspiração própria, a alma não governou de modo exemplar.
cometeria mais pecado, mesmo que externa - Uma comissão de inquérito, presidida por
mente desse a impressão de transgredir os Bossuet, da qual fazia parle também De
mandamentos. Noailles (t 1729), arcebispo de Châlons e em
Essa doutrina recebeu a denominação de — seguida arcebispo e cardeal de Paris, conde -
> quiclismo c como tal bem depressa foi nou, na conferência de Issy (1695), as exal -
combatida pelo jesuíta Segneri (t 1694). Em tações de M.me Guvon em trinta proposições.
16S7 Inocêncio XI (t 16S9} condenou sessenta Ela aceitou esse veredicto com humildade,
e oito proposições que constavam nas cartas e opondo-se, todavia, ao fato de suas convic-
nas conferências de Molinos, o qual foi en - ções terem sido postas no mesmo plano que a
cerrado num mosteiro, onde viveu até a morte, já condenada doutrina de Molinos. M.me
A sua condenação tez surgir na I lália uma Guyon queixou-se do modo como loi tratada:
aversão muito difundida pela mística. "O Monsenhor de Meaux (Bossuet) me atacou
Antes de sua condenação, seus escritos e com a veemência de seus raciocínios,
pensamentosse tinham difundido também na centrados sempre na credibilidade do magis -
França. F. Lacombe ( ! 1715) pensou em tério da Igreja, sobre a qual eu não disse que
divulgá-los na Sabóia, e loeo encontrou uma queria disicutir com ele, em vez de proceder

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pacificamente a um intercâmbio de pensa - imediata: foi ao púlpito e declarou que se
mentos sobre as experiências de uma pessoa submetia ao juízo de Roma; M.me Guyon
.submetida á Igreja". 9 permaneceu reclusa ainda por alguns anos. A
"O que eu teria desejado de \h msenhor de luta estava terminada. Com Bossuet
Meaux - queixou-se ela - é que ele julgasse- prevaleceu o intelectualismo. A "vitória" de
me com seu coração, c não com sua razão. Bossuet teve consequências dúbias para a
Antes de encontrá-lo, eu não linha preparado espiritualidade e lançou sombras de suspeita
nenhuma resposta; toda a minha força sobre a mística. A partir do séc. XVII a invasão
consistia na simples verdade." 1 mística (H. Bremond) cedeu o lugar à
De resto, M.me Guyon acusa Bossuet de "emergente obscuridade"; foi o crepúsculo lios
ter conhecimento mínimo dos escritores mís - místicos (Crcpnsciilc dc.\ iuystiqties, de L.
ticos e escassa experiência espiritual. Cognet). A desconfiança em relação à es -
Aliás, na Fiança existiam outras fontes - piritualidade mística, no séc. XVII, limitou a
além dos escritos de Molinos - das quais se vida espiritual e a teologia espiritual a uma
podia tirar idéias sobro o amor desinteressado técnica ascética da —> meditação, aos bons
(Vamour pur). Sobre o "amor desinteressado" propósitos, ao exame de consciência c aos
escreveu, no começo do século, também o exercícios de devoção controláveis estatisti -
capuchinho Lourenço de Paris ("i 1631), o camente, lila produziu na França o fortaleci -
qual foi mui Lo estimado também por —> mento da corrente anlítnística e levou prati -
Francisco de Sales. Foi só o intelec-tualisla camente ao desaparecimento da literatura
Bossuet, que conhecia bem a tradi ção dos —> mística até depois da metade do séc, XIX.
Padres, mas ao qual a mística era estranha, O séc. XV"!11 solreu o contragolpe da rea-
que publicou uma crítica às obras de Molinos ção provocada pelo quietismo na escassez de
e Lacornbe, incluindo nela algumas obras de escritos e estudos místicos. Nesse século
M.me Guyon. intelectualista, a animação religiosa se
Depois que a doutrina o1 ela foi condenada. tornou escassa também por causa tia reação
Bossuet começou a opor-se a Fénelon. Escreveu contra o quietismo. Os "ambientes místicos"
uma instrução pastoral Sobre os estados de originariamente tais, puseram o acento na
oração e exigiu que o próprio Fénelon a ascese, não se esquecendo, porém, de
aprovasse, rejeitando assim a doutrina de mencionar a mística. Daí procede a distinção
M.me Guyon. Fénelon, que conhecia a místi ca excessiva entre "teol< tuia ascética *' e
melhor do que a > Bíblia - a formação "teologia mística". A partir de então a via
teológica de Bossuet e Fénelon denota pro - ascética e a via mística se afirmaram como
vavelmente diversas lacunas - e tinha encon- duas vias totalmente diferentes. A
trado pensamentos análogos sobre o "amor "contemplação infusa" passou a ser reservada
puro c desinteressado" em —> Catarina de a poucos. Todos os outros estavam excluídos
Génova, respondeu, em 1597, defendendo dela. Lista, pois, aqui o princípio que
aquela corn quem tinha afinidades de espíri - fundamenta a distinção teológica entre via
to, em suas Explicações das máximas dos santos, "comum" e via "extraordinária". Fssa visão loi
nas quais oferecia proteção a M.me Guyon c á difundida especialmente pelo jesuíta >
doutrina tio amor puro c desinte ressado por - Scaramelli corn seu Üireltorio ascético (1753)
Deus. listando o processo pendente em Roma e seu Direttorio místico (1754).
desde 1597, Bossuet, mediante calúnias, Nessa concepção a mística assume cará*
corrupção c pressões políticas, obteve a ter elitista e é posta numa perspectiva de
condenação de Fénelon. O bispo de Meau.x "extraordinariedade" e de "prodígio" e iden -
conseguiu obter, graças a M.me de tificada muitas vezes com —> fenômenos ex-
Maintenon, o apoio do rei contra seu confrade cepcionais, como a —> levitação, o -> êxtase e
de Cambrai. Quando Fénelon decidiu ir a os —> estigmas. Essa abordagem insuficiente
Roma para se defender, foi-lhe negada a mostra sua fraqueza na delesa da mística
permissão para a viagem. Por outro lado, contra a abordagem médico-posi-tivista do fim
Bossuet e seus amigos exigiam agora uma do séc. XIX e começo do séc. XX. Esse último
decisão... A Sorbona devia enviar à Cúria as toma como critério de medida justamente
proposições "suspeitas" de Fénelon. Depois de esses sintomas extraordinários e subdivide o
uma longa pesquisa, não sem pressões do rei caráter dos diversos místicos segundo
Luís XIV (t 1715) e contra a própria con- determinadas síndromes.
vicção, Inocêncio XII (1 1700) emitiu, em No fim do séc. XIX se nota a influência
1699, o Breve Cum alias, condenando vinte e muito forte das demonstrações que Charcot e,
três proposições contidas na obra Explica-íions em suas pegadas, Charnet dão de pacien tes
des maximes des saints. A reação de Fénelon foi histéricos em condições pós-hipnóticas. Um

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ANSIEDADE 104
exemplo dessa tnlluência é a obra do pa dre
Hahn, S. J., que provocou muita discus são e
que incluiu > Teresa de Avila, em todo caso
segundo seus fenômenos orgânicos, na
"grande histeria", se bem que reconheça a ela,
no tocante a sua "fisionomia moral", "as mais
eminentes qualidades de espírito e de coração... ".
-> Paulo de Tarso c Dostoievski (t 1881)
passam a ser epilépticos. —> Francisco de As-
sis se torna afetado de degeneração hereditá-
ria. A teologia da Igreja reage a essa aborda-
gein positivista também de modo positivista,

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79 ANTI MISTICISMO

declarando corno milagres todos os fenôme- Do lado protestante, a mística foi simples -
nos extraordinários e descrevendo todos co mo mente hostilizada com veemência como ele -
exaltações das leis naturais. Desse modo a mento inconciliíivcl com o caráter de revela-
mística foi situada no reino de uma "sobre - ção do cristianismo; foi hostilizada especial -
naturalidade" inumana. mente pelas novas escolas de "teologia evan -
No âmbito teológico, a aguda distinção gélica", a chamada Lttíhcr-vciiüissancii e a
entre teologia mística e ascética se transfor- "teologia dialética . Fm sua crítica e rejeição
mou numa ruptura - e o significado dos ter da mística, essas duas escolas se inspiraram
mos se carrega de controvérsias - na qual os em A. Ritschl {i 1899), neokantiano, que tinha
(autores da teologia ascética tentam mono - retomado a crítica sarcástica de Kant (f 1804)
polizar seu ponto de vista e vice-versa. Até dirigida aos místicos Swedenborg (t 1772) e
depois da retomada do estudo da espiri - Hamman (t 1788). Kant relegara a mística ao
tualidade e da mística, no começo do século campo da superstição e da "charlatanaria".
XX, continuou-se a falar de teologia mística e Ritschl combateu a mística como teoria em
ascética nesse sentido controvertido do ter mo conflito com a doutrina reformada da justif i -
(F. Poulain). cação. Segundo ele, a mística provém do
K necessário sublinhar ainda que a neoplatonismo e pertence á prática monacal
tendência, também de ambientes cristãos, de católica. Em sua opinião, a mística levaria ne -
situar a mística na es lera do "prodigi oso" cessariamente ao —> panteísmo, com conse-
correspondia à orientação do Iluminismo de quente redimensionamento do evangelho e
remeter a mística para o campo do oculto e desvalorização da ética cristã, e ao quie -
do mágico, isto é, do irracional. A mística tismo. 13
caiu na esfera das emoções intensas e da No âmbito da Liither-renaissance foi prin-
experiência genial e excepcional, coisas cipalmente o historiador da Igreja K. Moll que
reservadas a urna elite. combateu a mística como conflitante com a
Esse uso romântico da palavra mística é doutrina da justificação. Em primeiro lugar
muito vivo em ambientes protestantes que negou radicalmente que a reforma de Lutero (f
opõem resistência á mística romântica de 1 546) tivesse acarretado alguma experiência
Schlcícrmacher (t 1834). A aversão que -> mística. A experiência de Lutero não foi a de
Karl Barth e Emil Brunner, por exemplo, um "místico acometido da experiência de
nutrem contra a mística pode ser reduzida, Deus como num atordoamento". 14 Sua con-
em parte, à aversão deles â teologia do cepção da mística foi determinada pelos se -
sentimento de Schlcícrmacher e ao guintes componentes: repressão e negação do
psicologistno decorrente dela. É justamente eu, concepção pauteis la do homem como
esse sentimentalismo que é qualificado de fragmento da Vida Total, portanto, seu ten der
mística por Karl Barth. O que é estranho é para a união com o Infinito e, enfim, a
que as conclusões às quais ele chega são autodeil icação do homem. Esses elementos
aplicadas a toda a mística, também à mística foram tirados da mística do neoplatonismo e
católica. "Em sua opinião, mística é um termo de diversas religiões orientais, corno também
que abrange comple-xivamente e sem da teosofia c da anlroposofia.
distinção; os sulistas, os místicos católicos, Depois dessa qualificação negativa da mís -
os devotos protestantes corno —> Teerstegen, tica, Holl a considera incompatível com a
os crentes e os não-cren-tes sen ti mental doutrina da justif icação e, desse modo, resol -
isias junto com os teólogos do piedoso ve a questão.
sentimento e da necessidade religio sa." 11 A nova reflexão teológica, que pôs em
Mística se acha sob o teimo "Religião". E, movimento a "teologia dialética", incluiu uma
para ele, "religião" é "falta de fé". F.m sua luta ao extremo contra toda "religião subjeti-
opinião, religião e fé são lermos contraditó - va". Isso significou, entre outras coisas, de -
rios. Por isso, em Barth e em seus seguido - claração de guerra à mística. O programa com
res, esse termo tem valência negativa e lem- o qual era necessário vencer a teologia do
bra a idéia de superstição, ou seja, o fim da século XIX dizia: lota com a teologia da ex -
fé. periência de Schleiermacher e volta aos
Sob a influência de Barth e Brunner, a reformadores, á Bíblia e a Paulo. 1 "'Durante o
mística foi tachada de idolatria e posta no período teológico inicial, Karl Barth consi -
mesmo nível da alquimia, do ocultismo e da derava toda forma de experiência religiosa
adivinhação, enfim, como pertencente ao corno impudência inaudita do homem em
domínio da serpente. 12 relação a Deus, o Criador. 1 '*

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ANTIMISTICISMO 106
Barth entendeu a mística como Men- cologisino da mística entrega a Palavra ao
schengcrechtigkcii (justiçado homem), a qual domínio do sujeito religioso. Esse sujeito jul -
devia ser rejeitada por não ser cristã. Ele pre - ga que, partindo de seus estados empíricos de
veniu insistentemente contra essa Mensc/wu- consciência, pode concluir que a Palavra seja
gerechtigkeit: ela "é capaz de tudo, até de a causa deles. Desse modo o subjetivo se
autodestruição e de auto-eliminaçáo, caso torna normativo da Palavra, a qual é assimi -
seja necessário (budismo, mística, pietismo). lada completamente ao estado subjetivo.
Nunca cesse a vigilância diante desse mal - Brunner vê ligação entre o psicologismo de
entendido, que já proveu para deixar fo ra, no Schleiermacher e a cultura do êxtase reliuiu-
VHF

último momento, rnais de uma pessoa que se so, típica da mística de todos os tempos. Aqui
achava justamente diante da porta da justiça não é Deus, mas a alma humana que ocupa o
divina". centro do interesse. Brunner prega o retorno
A religião é caracterizada por Hat th como ã senhoria da Palavra espiritual objetiva. Fora
"uma audaz temeridade do homem", a qual toda a mística e todas as tentativas de natu -
atenta contra Deus. Para ele, o místico era ralização do espírito! Nenhuma hegemonia do
uma manilestação de religião. Em sua espírito subjetivo sobre a Palavra, mas o reino
Kirchlichc Dogtnatik a aversão à mística da Palavra sobre o espírito! Na "segun da
assumiu uma posição relevante. Ele rejeitou a edição, muito modificada" de seu Die Mystik
religião, e com ela também a mística como und das Wort, Brunner escreve: "Hoje a fé
uma de suas gradações, porque "em si mesma cristã não tem mais outro adversário dig no de
contraditória, empreendimento em si respeito; todavia, a mística continuará sendo
impossível". 17 seti adversário até o fim dos tempos". 1 '' E, em
O que foi mostrado por Karl Bat ih em sua outro lugar: "A mística é a forma mais fina e
Rõmerbricf com um "florilégio de expressões mais sublime da dedicação criatural, do
sarcásticas" contra a mística, foi elaborado paganismo... A mística é uma superação
concretamente por Friederich Gogarten em proibida do limite. Ela ultrapassa o confim
sua obra lhe religiõse fintscheidttng (1921). Ele entre a criatura e o Criador, entre o tempo e a
rejeitou a síntese de Heiler entre mística e lé eternidade, entre o eu c o Tu, entre Deus e a
e combateu a mística ao extremo. Mística e alma... A tendência mais profunda da místi ca
revelação histórica se excluem mutuamente, é a autodeificação". 20
segundo Gogarten, porque a mística pretende De lesto, Friedrich Hertel, em seu Das
conduzir o brunem para a eternidade. A reve- theologische Denken Schleiermachers inter-sucht,
lação histórica, ao contrário, pretende "ser a refuta a critica de Karl Barth e de Emil
tetra santa na qual se encontra o Etern o e na Brunner. Aquilo que Schleiermacher chama
qual está fundado o mundo desde que se deu "piedoso sentimento" não está tão distante do
essa revelação...". 18 A imediatez divina existe uso que, na teologia contemporânea, se faz da
só no homem histórico -> Jesus de Nazaré. palavra "autocompreensãoV
Enquanto a revelação histórica vê a -> revela-
ção de Deus no Jesus histórico, o místico pre- NOTAS: 'Cf. Vandenbrouckc, l£ divorce entre théo-
tende lançar, por si mesmo, uma ponte que vá logie et mystique, in NRTh 72 (1950), 372-389; 1
do homem a Deus. Desse modo a mística se Cf. S. Axtcrs, La spiritualité des Pays-Bas,
Lovaina-Paris 1948; 3 Cf. A. Combes, Essai sur
torna religião. Para Gogarten, a peiversào da la critique de Ruvsbroeck par Gerson, 3 voll..
mística consiste em não reconhecer que jus - Paris 1945-1959; 4 Lautunno dei Medioevo, Roma
tamente no conhecimento negativo de Deus 1992, 258; 5 Cf. Cathalogus librorum qui
não se afirma o ser de Deus, mas o ser do prohibemur mandato lllustrissimi et
Reverendissimi D.D. Ferdinandi de Valdês
homem como pecador. A mística procura lan-
Hispalensis Archiepiscopi. ínquisitionis
çar uma ponte entre homem e Deus porque Generalis Hispaniae.... Pinciae 1559; Tres índices
considera o nada como o ser de Deus, com o expurgatoris de la Inde de la Inquisiciôn espanola en
qual é possível ao homem unir-se á medida el siglo XVt, Madri 1952; 6 Cf. E. Colunga. In-
que se anula. A mística, diz Gogarten, infe - tetectuaiistas y místicos en la teologia espanola dei
siglo XVI, in Ciência tomista, 9 (1914), 209-221
lizmente não vê que o nada é justamente e 337-394; 10 (1914-15), 223-244; 'Melchior
aquilo que constitui o ser do homem. Também Cano, Optra. Pádua ! /2t>, 390; " A Caballero,
Emil Brunner, na linha de Barth, se opõe à dmqueuses ilustres. II, Madri 1871,597;9 Vte, t. III,
teologia da experiência de Schleiermacher em \54y° Ibid., 156; 11 J. Peters, Geloof en mystiek,
seu livro Die Mystik und das Wort (1924). Leuvcn 1957, 229; 12 W. Ouwenhcel, //
domínio dei serpente, manuale Cristiano
SeiHindo Brunner, D erro fundamental do stdl'occidtismo e misticismo. Amsterdam 1978; 13
pensamento psicológico é o de reduzira algo Cf. F.-D. Maass, Mystik in Gespräch. Materialien
puramente pessoal o que é a Palavra pessoal zur Mystik-Diskussion in der Katholischen und
de Deus, a revelação viva do —> Pai. O psi- evangelischen Theologie Deutschlands nach dem
ersten Weltkrieg, Würzburg 1972, 169-170; 14 K.
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Holl, Kleine Schriften [Hrsg. Stnqypench!,
Tübir^cn 1966.73; Ocpkc, Kar! Bank und die
Mystik, Leipzig 1928, 6; 16 K. Barth. Der
Rõmerbnef, Zweiter Abdruck der neuen Bearbeitung,
Zürich J923; 1947, 229; 17 Kirchliche Dogmatik,
V

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ANTIMISTICISMO 108
81 ANTIMISTICJSMO - AM INOMIAS
ESPIRITUAIS

2, München 1932, 343; »* F. Gogarten, Die ocultar-se "uma antinomia de fundo, ir-
religiöse Entscheidung, Jena 1921, 63; " Die redutível", entre "os valores da natureza c os
Mv^tik und das Wort. Der Gegensatz zwischen valores &á graça":* 1. totalidade do cristianis-
moderner Hcligions-
außassung und christilichen Glauben dargestellt mo e fraqueza do cristão; 2. evolução e cru-
and der Theologie Shleiermachers, Tübingen 1928, cifixão das forças humanas; 3. transforma ção
3SM, do mundo e fuga do mundo; 4. "con templativo
20 Ibid., 2 e 396; 21 Zürich-Siultgari 1965, 3, 2. na ação"; 5. consciência do valor próprio e
humildade; 6. prudentes como serpentes e
Dun..: remetc-se aus textos citudos nas
simples como pombas (com referência, em
N'otas. particular, à prudência e à abertura de alma
em matéria de aparições). A reflexão conduz â
O, St eggt nk alirmação de uma conciliação pos sível, antes,
necessária entre esses aspectos,
aparentemente aiUinõmicos, mas na realidade
complementares, da vida espiritual. Em 1979
Tullo Goffi testemunha uma extensão do
conceito de antinomia espiritual até in cluir os
contrastes, as oposições e os desequilíbrios
ANTINOMIAS ESPIRITUAIS dos quais a vida é entremeada; ele relê,
assim, nos termos de antinomia espiritual
I. O ternio "antinomia" deriva tio grego toda a vida cristã. A antinomia é interpretada
onti (- "contra") e nomos ( = "lei"). Em senti- como "participação ativa no morrei' e
do geral indica a contradição real ou aparen- ressurgir do Senhor", e as antinomias mais
te entre duas leis ou entre dois princípios. especfliças da lê cristã são individuadas nas
No âmbito tílosólico, a rclerência mais tensões entre realidade terrena e reino de
clássica é às antinomias da razão pura elabo - Deus, história e escalologia, salvação e
radas por Immamiel Kant (v 1804). Ele viu na perdição, amor da carne e —> mortificação, —
manifestação de quatro pares de proposi ções * Palavra de Deus e inauistério, escravidão e
reciprocamente exclusivas e contraditórias a liberdade em Cristo. Antinômicas são tam -
prova da impossibilidade de se pensa rem os bém: a vida da —> Igreja (carisma e institui-
fenômenos como coisas em si: 1. o inundo é ção), a experiência espiritual (natureza egra -
limitado no tempo e no espaço - o mundo é ça), as relações "complementares" entre as
ilimitado no tempo e no espaço; 2. no mundo virtudes morais, os estados de vida (o leigo:
tudo é simples - no mundo tudo é composto; entre lé e política; o sacerdote: entre vida
3. O devir é livre - o devir é necessário; 4. secular e dedicação ap<istólica:o monge: entre
Existe um ser necessário - não existe nada de amadurecimento pessoal humanístico e
necessário. 1 renúncia monástica) c o voluntariado (entre
No início do século XX o termo "an tinomia" iniciativa espiritual e prescrição legal
Ioi usado prevalentemente com rclerência às autoritativa). Quanto á vida mística, ela é
antinomias lógicas c linguísticas que entendida como
designam pares de afirmações contraditórias "iniciação à simplicidade da existência divina
lais que lauto sua afirmação como sua trínitária", e, enquanto caminho de simplifi -
negação impliquem contradição (entre as mais cação, lavorecc, em particular, a superação da
famosas estão a do mentiroso, a de Burali - antinomia existente entre as —> virtudes. 5
Forti [ LS97], a de Cantor [1899], a de Russel
[1902], a de Richard [1905], a de Grellinii III. A experiência mística, em lodo caso.
[1908] e a de Lòwenheim-Skolem [1923]). segundo Jan-Hendrix Walgrave, é muito ca-
racterizada por quatro "antinomias" ou "apo-
II. No âmbito da teologia espiritual o rias" ou "polaridades": entre perfeição huma -
uso do termo "antinomia" ê mais recente. Em
na e —* aniquilamento em Deus; entre saber e
1958 Karl Vladimir Truhlar publicou o livro
não-saber; entre — > contemplação interior e
Àntinomiae vitae spiritualis, no qual, com "no-
atividade missionária externa; entre —> sofri-
vidade de intuição", 2 apresenta a "índole apa-
mento e felicidade. Elas não são, como na
rentemente paradoxal e 'antinómica' da vida
visão kantiana, "paradoxos insolúveis à razão
espiritual". 3 Ele propõe seis "aspectos" da vida
teórica", mas, na perspectiva teológica, ele -
cristã nos quais, como ele observa no prela do
mentos derivados do "caráter profundamen-
para a tradução italiana, de 1967, parece
te mistérico da vida mística". 11
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IV. Avaliações e perspectivas. O uso do
termo no âmbito tia te< >logia espiritual é,
portanto, variado e indeterminado. Ele não
indica contradições reais, sendo aplicado, ás
vezes, de maneira indiferenciada, a Iodos os

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83 ANTONIETA M E O (NÜNNOUNA)

lamente intata. Fechada numa caixa, foi co - —* filiação divina: "Caro Deus Pai, di/.e a Jesus
ligada ao lado do caixão com o corpo. que estou muito contente por recebê -lo; dize-
Esse fenômeno, junto com —> visões e —> lhe também que quando eu escrever a ele, ele
êxtases constatados, e com a predição precisa sentirá em todas as cartinhas que eu lhe
da morte - "permanecerei no hospital dez quero muito" (21.11.1936); "Caro Deus Pai,
dias, menos alguma coisa" - fazem pensar estou muito contente porque amanhã devo
numa intervenção extraordinária de Deus 1 na confessar-me pela primeira vez, e tu perdoa-
vida dessa menina, a qual representa uma me, caro Deus Pai; estou muito contente e te
verdadeira tipologia de —» experiência místi- agradeço" (28.11.1936); "Caro Deus Pai, que
ca. De lato, em 16 de outubro de 1936, A afir- belo nome: Pai; quero dizê-lo com todo o
mou: "Estou vendo Nossa Senhora, não o respeito, vejo que quando o digo, não o digo
quadro", e em janeiro de 1937: "Às vezes vejo com todo o respeito com que deveria dizé -lo.
Jesus" - perguntou-lhe a mãe: "E como o Caro Deus Pai, eu te peço perdão de todos os
vês?" - A . : "Na cruz". Ern março de 1937: pecados que cometi" (4.2.1937); "Caro Deus
"Ontem vi Jesus ressuscitado". Depois Jesus Pai, minha mãe me disse que amanhã vão
não apareceu mais, c A . escreveu: "Caro reunir-se muitas pessoas que querem chamar-
Jesus, desejo muito ver-te e quereria que se sem Deus; que nome leio! Deus é Deus
todos pudessem ver-te; então, sim, que te também daqueles que não o querem; faze que
quereriam mais" (9.4.1937). essas pessoas se convertam e dá-lhes tua
Em 2 de julho de 1937, depois da última graça"; "Caro Jesus, amanhã vou comungar
comunhão, confiou á mãe: Hoje de manhã, em reparação de todos os pecados dos homens
quando comunguei, eu o vi". Num dia de maio que querem chamar-se sem Deus" (6.2.1937).
de 1937, enquanto dita uma de suas 2. A união3 com Jesus: "Caro Jesus, hoje
cartinhas, A. pára como que por encanto; a recebi a nota "com louvor" e espero recebê -la
mãe a sacode, e quando a pequena volta a si, muitas vezes, porque quero ser a primeira da
diz: "Sabes, vi Jesus no canto do quarto". classe, a fim de agradar a ti e também à Mãe -
Em 2 de outubro de 1942, o Centro Nacio- zinha do céu. Quero agradar também á pro-
nal da Juventude Feminina da Ação Católica fessora, porque lhe quero bem, mas quero
Italiana se constitui promotor da causa de mais a ti" (23.1U. 1936); "Caro Jesus, sei que
beatificação. Depois que a —> heroicidade das sofreste muito na cruz, mas serei bem com -
virtudes foi constatada pelo processo dio- portada para que sintas menos dores" (29.
cesano de beatificação, em 1981 a causa pas- 10.1936); "Caro Jesus... quero ser lua lâmpa-
sou para Roma. da; estarei sempre perlo de ti, não em pessoa,
Chegaram-nos 158 Cai tinhas, das quais mas em pensamento, e pensarei sempre
sete autografas, mas muitas outras — não se sempre em li" (6.12.1936). "Caríssimo Jesus-
sabe quantas - se perderam, porque não se Eucaristia, saudações e carícias, caro Jesus,
dava importância a elas. Elas são feitas de e beijos. Não vejo a hora de receber-te em meu
pensamentos soltos e muitas vezes com er ros coração para amar-te mais'' (23.12.1936);
de gramática como os das crianças. Não "Caro Jesus, amanhã, quando estiveres em
obstante, atrás dessas palavras tão simples, meu coração, la/.e de conta que minha alma c
que revelam um diálogo de amor com as Pes - uma maçã. E, como dentro da maçã estão as
soas divinas, atrás da gramática incorreta e sementes, faze que minha alma seja um
do ditado despojado e elementar, entrevê-se, armariozinho, e, como dentro da casca preta
como em filigrana, a intensidade de uru amor das sementes está a semente branca, assim
que é conhecimento expertencial e que, por- faze que dentro do armariozinho esteja a tua
tanto, faz logo pensar nas palavras de Jesus: graça, que será como a semente branca"
"Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, (10.2.1937), e, à mãe, que lhe perguntava se a
porque ocultaste estas coisas aos sábios e professora lhe tinha mostrado e explicado
doutores e as revelaste aos pequeninos" (Mt uma maçã. respondeu: "A professora não me
11,25), O padre —» Garrigou-Lagrange assim disse isso; eu é que pensei"; "Caro Jesus, en-
se expressou a respeito da experiência místi ca sina-me a fazer antes meu devei", para depois
de A.: "O estudo que liz da vida dessa menina lazer sacrifícios" (10.2.1937); "Caro Jesus,
heróica me levou às mesmas conclusões que quero estar sempre em teu coração, quero
as do padre Gemelli e do padre Pierotti". 2 estar sempre contigo" (14.3.1937J; "Caro Je-
sus, quero fazei' o que tu queres, quero aban-
II. A experiência interior que se pode donar-me em tuas mãos, ó Jesus" (30.3.1937);
deduzir dos poucos escritos de A. mostra al- "Caro Jesus, quero íazer-me santa, ajuda-me,
guns traços característicos: 1, A consciência da porque sem lua ajuda, nüo posso lazer nada"
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ANTONIKTA MliO (NK WOl.IN'A) 112
(14.4.1937); "Caro Jesus, dize a Deus Pai que me mandaste essa doença, que é um meio
quero abandonar-me em seus braços e lam- para que eu chegue ao paraíso. Caro Jesus,
bem nos teus para ir segura para o paraíso" dize a Deus Pai que amo muito também a
(25.7.1937). ele... Caro Jesus, dá-me a força necessária
3. A —* inabitaçâo irinitdria:* "Caro Espírito para suportar as dores que te ofereço pelos
Santo, tu, que és o amor do Pai e do Pilho, pecadores... Caro Jesus, dize à Mãezinha do
ilumina meu coração e minha alma e aben - céu que a amo muito e quero estar com ela no
çoa-me, caro Espírito Santo; eu te quero tanto, calvário, porque quero ser tua vitima de amor,
caro Espírito Santo; quando eu for cris mada, caro Jesus" (2.6.1937).
dá-me os teus sete dons" (29.1.1937); "Caro 0 que A. dizia não eram apenas palavras.
Espírito Santo, tu, que és o Espírito de amor, Dois dias antes de morrer, ela disse ao pai:
inflama meu coração de amor por Jesus" "Durante o dia, às vezes ponho a mão na ferida
(4.2.1937); "Caro Espirito Santo, tu, que és o e aperto para sentir mais dor e oícrecc-la a
Amor que une o Pai ao Filho, une -me à Jesus". Em 12 de junho de 1937 ela disse à
Santíssima Trindade" (26.4.1937). mãe: "No paraíso não me divertirei, quero
4. O papel de Nossa Senhora: "Cara Nossa trabalhar pelas almas" - "Sim - respondeu-lhe
Senhora, eu te quero tanto bem, a ti, que és a mãe - comosanta - 'Teresinha, que prometeu
tão boa, a ti, que és a mãe do mundo e de uma chuva de rosas"... A pequena, com um
todos os homens, bon.se maus" í 15.10.1936); olhar vago, acrescentou: "Eu farei cair
"Caro Jesus, eu gostaria de receber-te das uma chuva de lírios".
mãos de lua cara mãezinha, porque assim eu Na hora dolorosa da medicação: "Hoje vou
seria mais digna de receber-te" (25.10.1936); ser missionária na África". "Caro Jesus, eu te
"Cara Mãezinha do céu, eu te quero muito agradeço porque fizeste cessar a guerra com a
bem, e tu dize a Jesus que me perdoe porque Africa; faze cessar também a guerra na
na igreja não estive muito quieta" (8.12.1936); Espanha" (23.8.1936).
"Cara Mãezinha do céu, amanhã ajuda-me a 6. Senso do —> pecado: "Caro Jesus-Euca-
fazer uma boa confissão e faze que todos os ristia, cu te quero tanto, mas hoje eu disse
pecados me venham à mente" (17.3.1937). uma mentira, e queria ser perdoada, e o peço
5 . -> Oração e - - > sofri mono reparador. Em a ti de todo o coração, porque sinto uma grande
fevereiro de 1936 A. não quis tomar as inje- dor" (6.9.1936); "Caro Jesus, faze-me antes
ções de cálcio. A mãe lhe disse: "Foi o médico morrer do que cometer um pecado mortal,
quem o disse, portanto, não se discute", e assim ao menos estarei no paraíso, na glória
acrescentou: "Tu, que amas tanto a Jesus, se dos anjos e dos santos" (8.11.1936); "Caro
pensasses no quanto ele sofreu quando lhe Jesus menino, arrependo-me de todo o coração
fincaram a coroa de espinhos e os cravos, do capricho que tive e te peço perdão de todo o
suportarias essa dor e a oferecerias a ele". coração, e amanhã farei muitos pequenos
Depois disso, a pequena não chorou mais e, sacrifícios para reparar" (9.12. 1936).
para não chorar, ria e cantava, mas seu canto Um dia ela estava sentada perto da mãe e
era forçado. "Caro Jesus, dá-me almas, eu te disse: "Feio, não quero dar-le ouvidos; você
peço, para que as faças boas, c com as minhas quer que eu desobedeça ã min lia mãe, mas
mortificações eu tarei que elas se tornem eu quero ser obediente" -e a mãe: "Que tens?"
boas" (12.11.1936); "Caro Deus Pai, eu sei que - e ela: "O demônio me disse: vai brincar com a
teu Filho sofreu muito, mas dize-lhe que eu, áüua, mas eu quero obedecer-te e assim cau-
para reparar nossos pecados, farei muitos sar prazer a Jesus e à Mãezinha do céu".
sacrifícios" (23.11.1936); "Caro Jesus, cu sei Poderíamos continuar ao infinito as cita -
que te fazem muitas ofensas; eu quero ções desse gênero, mas basta dizer com o
reparar todas essas ofensas... Caro Jesus, se salmista que pela boca das crianças c dos be -
fosses um homem como nós e te fechasses bês Deus afirma seu poder (Si 8,3). São palavras
dentro de uma casa, não ouvirias as ofensas simples, as de A.t as quais repetem com um
que te fazem e assim poderias vir ao meu co- frescor e uma intensidade únicos verda des
ração e permanecer fechado comigo, e eu fa rei evidentes, mas antigas, como a inabitação
por ti muitos sacrifícios e te direi algu mas de Deus, a filiação divina, a ação da > uraça
palavrinhas para te consolar" (10.2. 1937); no coração do homem, a paz unida à inocên -
"Caro Jesus, ofereço todos os meus sacrifícios cia, o —> sotrimento unido à —> esperança,
em reparação dos pecados que os pecadores em
cometerem" (9.4.1937); "Caro Jesus
crucificado, eu te quero muito bem e te amo
muito, eu quero estar n< > Calvário conti go e
sofro com alegria porque sei que estou no
Calvário. Caro Jesus, eu te agradeço p orque
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85 ANTONIETA MHO (NKNNOLINA)

suma, o ■ > amor, que é confiança cm seu Je- tornardes como as crianças, dc modo algum
sus. São, pois, palavras ternas, as de A., entrareis no Reino dos Céus" (Mt 18,3).
vozes de todas as crianças, que atraem a Em Qumra, um membro da comunidade
atenção do Cristo e manifestam o dote essênia celebrou assim o Senhor: "Exultaste
fundamental delas, o da confiança destinada sobre eles como uma mãe sobre seu filho", 5
a tornar-se emblema dos iilhos de Deus. porque "és Pai para todos os teus iilhos lieis".''
Justamente por esse motivo A. se abandona a Ser criança simples e transparente, como no
—> Deus Pai, vendo-o como lonte de amor, da caso de A., é certamente dom de Deus, mas é
qual ela tirava força vital a fim de crescer no também fruto de procura espiritual para che -
amor e esperar, quando o mal a agredia. gar a Deus, o Simples perfeitíssimo. Foi por
O testemunho luminoso de adesão a Deus isso que a transparência interior de A. lhe
dado por A. abrange a breve duração de sua permitiu individuar o nó de ouro que reúne os
vida: do seio de sua mãe para o seio de Deus, fraiznienti JS de uma vida simples e in si mi il
passagem para a vida eterna no paraíso. Todo i-cante muna harmonia maravilhosa, que é a
o ser de A., como se pode intuir de suas pala- última metade urna forte experiência interior.
vras, loi um jogo de amor, uma dança de ale- Esta se inseriu na experiência histórica da co -
gria junto com seu caro Jesus. Nesse divino munhão com Deus pela graça durante a vida
abraço também sua dor se transfigura e se terrena dessa menina normal. A graça divina
torna um caminho de amor: sua alma se aper- peneirou no mais profundo de sua fragilida de
feiçoa sob o abraço do sofrimento, que é como humana para alimentar aquela centelha de
o oivalho primaveril, que ta/ desabrt>char flo- eternidade que é o diálogo de amor entre Deus
res maravilhosas de mil cores. A dor é como Pai e sua amada criatura. Essa semente
um cadinho que purílica das escórias; é uma divina, cultivada pelo —> Espírito divino na
espécie de libertação que preludia alegrias realidade humana dessa menina, mostra tam -
puras. O —> pecado do qual fala .4. é expres- bém a passagem do Filho encarnado para o
são de um gozo imediato, mas Irágil e passa- interior de sua breve mas intensa vida
geiro; o sofrimento é como que sua *-> expia- terrena, passagem explosiva para manifestar
ção, ou seja, a salvação, a I im de poder que ele é o Deus vivo. Por isso a esperança da
chegar ã paz e ã alegria de Deus. Nessa paz qual fala A. está inserida já no presente, isto
do espírito, mesmo no sofrimento dilacerante, é, na comunhão atual de vida com Deus
A. encontrou a totalidade da —* doação de si Trindade de amor. Espetar significa então,
como —> vítima de amor, ou, com suas pala- para A., confiar-se às mãos de Deus. E é isso
vras, como missionária, para a salvação dos que torna
homens, li isso se deu porque Deus mesmo sua vida uma obra-prima de beleza, apesar da
bebeu aquele cálice amargo e o saboreou por modéstia de sua vida exterior. Ser menina
meio de seu amado Filho. Jus tatu ente porque privilegiada por Deus, mais que exaltar sua
—> Cristo desceu à cria lurai idade débil e pureza, quer sublinhar a dimensão de sua
Irágil de A., o sofrimento dela tira o pecado do confiança sem hesitações em seu amado Se-
mundo. O mistério do sofrimento de A. nhor e Deus. O segredo de A, ou, melhor, sua
continua sendo um mistério; ele se acende vocação foi traduzir esta confiança em fideli -
como um clarão e se estende como um in- dade nas coisas pequenas, fa/endi > de sua
cêndio, benéfico para os outros, mas para vida um contínuo ato de amor.
quem o suporia é como beber até o fundo toda
a amarmira do mundo. NOTAS: "[No caso de Antonieta Meo] é evidente
6

Como o sol ou a água, i\ * simplicidade de que interveio a obra de Deus. Somente assim
e\
A. não conheceu clamores, nem percorreu plicam-sc us frases», os brinquedos, os
caminhos sofisticados, nem desesperou, an - comportamentos tio vicia de w Ncnnolin .iM,
tes, loi alegria e esperança ao mesmo tempo, escreve padre Agostinho Gemellí no Prefácio a R
mas sobretudo loi repouso sereno e tranqüilo ï'iernui, ix- L 'Henni' de Sennolina, Milão 1951,
no seio de Deus, Trindade de amor, como uma ti; ~ R. Garriguii-I.a-grange, Lettera alia
Presidente ( 'eturale delia O.P. di A.C/.. 23.lv W5I; :
criança desmamada nos braços de sua mãe, "K manifestamente extraordinária a graça de
paia amar agora e pela eternidade. A força de uma união transformante (...(concedida desde
.1. consistiu justamente em ter conservado a infância a certos santos, na idade de seis ou
esse espírito de —» infância espiritual, sete anos", escreve R. Gamgou-Lacrange em
Perfeição cristã e contemplação, Turim 1933, 2^7;
exaltado pelo salmista (cf. Si 130,2-3). Não foi A A respeito da inabitaçào ninharia em
sem motivo que Jesus escolheu a criança Nenriolnta, assim se exprime A. Dagnino:
como emblema de seu discípulo: "Se não vos "Para os que ainda não criam a respeito tia
praticabilidade aplica hilidade da doutrina
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ANTONIKTA MliO (NK WOl.IN'A) 114
sublime ]de João da Cruz e a respeito da
inabitaçào de Deus na alma]..., apre sentamos
um documento de grande valor leo'ugico-
místico: tiramo-lo de uma caria de uma
menina de

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ANTONIETA MKO (NT.SNOUNA) - ANTÔNIO !)!■ PÁDUA (santo) 86

sois anos [Nennoíina] dirigida à Santíssima —> êxtases e —> visões. Mas é principalmente
Trindade: "Pai!*, escreve, "que talo nome! Quero de seus escritos que transparece seu culto
repe-li-lo: Pai! que belo nome!" i n Ixi vita
Cristiana o ií misturopasqnale, Ciniselo Bálsamo cheio de fé, de ternura e de entusiasmo à —>
1973, 167, nota 4; s I n n i IX. 36: fc Ihiti Eucaristia, ao Menino Jesus, a Jesus
Crucificado, ao Sagrado Coração e á —>
Bi Hi.: G. Bella, s.v., i n BS (Prima Appendice). 903 Virgem Maria.
904; M. Calbucci, Nennoíina; bambina romana. Flo-
rença 1938; L . Ciccone. Un esempio di santità: O desejo do —» martírio, que levou A. a to-
Nennoíina Meo. i n Presenza pastorale, 65 (1995)3, mar um navio para o Marrocos, a vida con -
97-110; A. G. Pia/za, Un hcau li\ briltant, i n Les templativa nos eremitérios de Olivares, Mon-
Annales de Usieux, rnaggiu 1952, 12-17; I*. lcpaolo e Camposampiero, e o zelo ardente
Pierotti, lxy Istterine di Nennoíina, Milão 1951: A. com que se dedicava à pregação pela salvação
Rossi, Antonietta Meo {Nennoíina). Placcncia,
19S6. das almas e em delesa dos oprimidos tes-
temunha em A. uma alma totalmente infla-
L. Botrieüo mada da ■ > caridade divina, li, na hora de
sua morte, seu canto do hino mariano O glo-
riosa Senhora e a exclamação Vejo meu Senhor
são mais uma confirmação da densida de
mística de sua vida. De resto, o modo pelo
qual fala da vida mística em seus escritos faz
pensar que se inspira não só nos autores, mas
ANTONIO DE PÁDUA (santo) também em sua própria experiência de vida.
Em seus escritos sente-se vibrar o místico e
I. Traços biográficos e escritos. Fernando, arder o logo de um desejo, que é o logo do
nascido em Lisboa, em 1 195, da nobre amor ao próximo, com o desejo de arrastá-lo
família tios Bulhões, em 1210 tornou-se para o amor de Deus.
monge entre os cónegos agoslinianos, sendo Seus escritos seguramente autênticos são os
mais tarde ordenado sacerdote, mas em 1 220 Sermões dominicais e os Sermões nas sole-
passou para os Irades menores e tomou o nidades dos santos. Uma edição crítica desses
nome de Antônio. Frustrada a tentativa de \ sermões, com o titulo de Sermões dominicais c
ida missionária no Marrocos, foi para Assis, festivos, foi publicada em Pádua, em
onde assistiu ao capítulo das esteiras (Pente- 1979, por B. Costa, L. Frasson e G. Luisetto,
costes de 1221). Depois de um breve período em três volumes. É duvidosa a atribuição da
de solidão no eremitério de Monlcpaolo (Forli), Exposição sobre os salmos (278 paráfrases e
começou a atividade de pregador, a qual se discussões sobre os 150 salmos).
estendeu a toda a Itália setentrional e ã
França, combatendo energicamente os hereges I I . Teologia mística. Km vão se procuraria
(eátatos, patarinos e albigenses) e me recendo nos Sermões de A. uma exposição sistemática
o título de "martelo dos hereges". de sua doutrina mística; não obstante, é
Futre 1223 e 1224, com a aprovação de > possível encontrar neles dados suficientes
são Francisco, inaugurou o estúdio teoló gico para uma reconstrução orgânica dessa dou -
de Bolonha. Na qualidade de leitor público, trina. Por isso os estudiosos reconhecem ao
ensinou também em Montpellíer, Toulouse e Doutor evangélico também o título de escritor
Puy-Valay (França). Foi guardião em l.itnoges místico.
(França) (1226-1 227) e ministro provincial na Atendendo ao convite de são Francisco, A.
Itália entre 1227 e 1230. Morreu em Areei la, ensinou teologia aos frades, lendo e comen-
na periferia de Pádua, em 13 de junho de tando a —> Bíblia, como era proposta pela —>
1231. Foi canonizado por Gregório IX no ano liturgia, a fim de "consolar e edificar" os frades
seguinte (em 30 de maio de 1 232), e no 'espírito de oração e devoção" e ajudá -los
declarado Doutor universal da Igreja por Pio na pregação aos fiéis; por isso, no espírito de
XII em 16 de janeiro de 194ó. Francisco, fazia uma pregação orientada para
Os biógrafos antigos de A., preocupados a —> "penitência" e para a renovação cia vida
com registrar mais os latos externos de sua cristã.
vida do que as disposições interiores de seu Dentre os vários sentidos espirituais da
espírito, revelam-nos pouca coisa das relações Bíblia, A. se interessava principalmente pelo
místicas de .4. com seu Senhor. Todavia, sonido moral. E a sua totalidade tendente para
mesmo dando precedência às suas atividades a exegese moral tem relação com a tota lidade
de pregador e de taumaturgo, não deixam de que tinha para ele o múnus apostólico e
acenar para sua santidade heróica e para seus
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missionário. A totalidade bíblica dos Sermões caridade. O homem perfeito é o homem ca-
corresponde à totalidade predicante de ridoso... que vive só do f ogo da caridade.
A., o qual, nossc sentido, não podia não ser A perfeição da caridade, por sua vez, de -
franciscano. semboca na —> contemplação como em seu
Em relação ã teologia monástica, A. afirma vértice conatural. Quando A. usa o termo
uma concepção diferente do divino, portanto, "contemplação" em seu .sentido rigoroso para
um modelo diferente de —► santidade: ele indicar o estado místico, entende com ele o
considera a plenitude cristã como reali dade conhecimento simples e amoroso, a —» "sa-
não mais extra-histórica, mas intra-his-tórica. bedoria" ou gustação saborosa de Deus c das
O objeto da consideração bíblica e teológica coisas divinas, produzida por Deus na alma do
de .4. não é mais só Deus (como é a tendência justo.
da cultura monástica), mas também o O objeto da contemplação é o próprio Deus
próximo; Subi para contemplar quão suave e o no mistério da Santíssima Trindade e em suas
Senhor, descei para levantar, para cuidar, porque obras externas e Jesus Cristo em sua santa
dessas coisas o próximo tem necessidade.1 humanidade. A contemplação mística com -
Ü uso que A. faz da Bíblia revela sua origi- preende atos intelectivos e afetivos. Enquanto
nalidade cultural e espiritual: dentro da re- ato da inteligência, ela não é um processo
dução escolástica e clerical, consegue dar voz dialético, mas uma visão repentina, intuição
a novas exigências, a manter um espaço de unitária, simples olhar ou intuição de Deus e
novidade e a cobri-la com seu zelo por Deus e das coisas divinas; e enquanto ato da vonta de,
com sua paixão pelo próximo. Talvez lenha ela é saborosa gustação de Deus e das coisas
sido o primeiro a fazer uma pregação nao- divinas.
rnonáslica tão alta, pregação para a qual a Seguindo —> Ricardo de São Vilor, A. ad-
contemplação consiste em sentir o gosto de mite dois graus principais na contemplação:
Deus, em consolar o próximo e em perder-se elevação da mente que se verifica quando ca-
na —> cruz. Nisso é evidente a influencia de pacidade humana e graça especial concorrem
Francisco de Assis. juntas para lazer que a mente, sem perder
Para A., a leitura moral da Bíblia não é só a totalmente o contato com as coisas presentes,
procura de classil icação dos atos como bons seja transferida para um estado que supera as
ou maus, mas também e principalmente a possibilidades puramente humanas.
formação do —> homem interior. Os termos A alienação da mente é a íorma superior' de
"fornia, informar (dar forma), infoiTna ção" contemplação que se verifica quando, unica-
atravessam com insistência toda a coleção dos mente em virtude da graça divina, o justo
Sermões. perde a atenção das coisas presentes e entra
A forma por excelência que o penitente deve num estado estranho e inacessível á capaci-
assumir é a do —> Cristo; por isso o tema do dade humana: conhecimento e amor que so
Cristo c principalmente da humanidade do mente Deus pode produzir na alma.
Cristo (as suas virtudes) emerge nos Sermões. Embora alirme a gratuidade da contem -
A alma contemplativa é arrebatada pelo plação mística, A. diz. que lodos são chamados
conhecimento da santa humanidade do Cristo, a ela; a sua raridade de lato se deve ao
"urna áurea", na qual ela contempla o "maná despreparo da alma para acolhê-la. A prática
da divindade". Em razão desse conhecimento, das virtudes evangélicas e sobre tudo o amor
a alma se sente inflamada de amor pela pessoa dispõem a pessoa para acolher o dom do
do Cristo. E por movimento convergente que o Senhor. O amor é necessário
penitente assume a forma do Cristo: ele se couro ionte de elevação; a contemplação, por
oferece corno > vítima ao Deus crucificado, e sua vez, leva a seu termo a perfeição moral;
isso marca seu coração com a cruz. 2 Essa mas é a —> graça que completa a trans-
possibilidade de identificação crística é obra formação do homem justo. Da intimidade com
do Espírito de Deus. 5 O cristão é Deus, a alma sai refeita, trazendo ern si os
verdadeiramente outro Cristo, e seu espírito é reflexos da beleza divina. A contemplação
o Espírito de Cristo; assim resplandeça a f ace produz o candor, o aumento das vir tudes e
de nossa alma como o sol, para que o que vemos pela das obras meritórias, a agilidade sempre
f é se esclareça nas obras; e o bem que crescente do espírito e o abandono confiante
distinguimos dentro, pela virtude do discernimento em Deus.
executemos fora, na pureza da ação; e o que O estado de perfeito não se resolve só na
saboreamos na contemplação de Deus se tome ação nem só na contemplação, mas na eonei
ardente de amor ao próximo.4 liação das duas, as quais se influenciam mu-
A essência da —> perfeição cristã é posta tuamente.
por A. no cumprimento dos dois preceitos da
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AVrÔMO DE PA Dl A (sanio) - A\ l O N J U DO líSPlRlTt) SANTO

Antes de -» são João da Cruz, A. fala de urna Portugal. Pedro II, bispo do Congo, nomeação
-> noite da alma, noite não procurada, mas confirmada pela Cúria romana em 14 de
suportada pela alma como preparação para a novembro de 1672. Recebeu a sagração epis-
contemplação. copal em Lisboa, em 8 de janeiro de 1673,
embarcou em 16 de julho do mesmo ano e
NOTAS: Sermones, I. 90; 2 Cf. Ibid, 48, 130, 147,
1
tomou posse da diocese em 11 de dezembro.
154-155;3i&w/.. 328ribid.. 96.
Enfraquecido pelas fadigas da viagem, adoe-
BIBI..: AS Lendas mais antigas tiveiani vái ias ceu e morreu em 12 ou, segundo outros, em
ediçcVs, atualmente podem-se encontrarem 27 de janeiro de 1674.
Ponti agiogra-jiche antoniane, Ir. de V.
A sua produção literária reflete os interes-
Ganibosco, I; Viia prima di S, Antonio o
Assídua; II: Giuliano da Spira: Otjicio ritunco e ses cultivados durante os anos de ensino. Em
v i f a secunda; III: V Í 7 ÍÍ JI*/ Dialogas e lienignitas, 166 l foi publicado em Lião seu Diretório dos
Pádua 1981-1986. Knirc as biografias mais regulares, ao qual se seguiram Consultas várias,
recentes assi nalariw is S. Clasen, Sant 'Antonio, teológicas, jtoidicas e regulares para a instrução
Dottorc evangélico, Pádua I 963; V. Gamboso, I Á I
personalita di v. Antonio di Padova. Pádua 1980; das consciências (Lião, 1671) e o Diretório dos
A . F. Pavancllo, S. Antonio di Padova, Pádua confessores (Lião, 1671). Tomou parte, em
I985 6 ; Estudos: Aa. Vv„ S. Antonio di Padova delesa da tradição da Ordem, na controvérsia
dottore evangélico, Pádua 1946; Aa.Vv, ,S Anuvtio a respeito da paternidade de Elias atribuída
dottore delia Chiesd. Atli delíe settimane ao Carmelo, controvérsia que se agitava
antoniane lenule a Ruma e a Pádua nel 1946.
Città dei Vaticano 1947; Aa.Vv. Le jonti e lã intensamente naqueles anos, e o tez com a
teologia dei sermoni antoniani, Pádua 1982; A. obra Primado ou primazia de Elias, que teve
Blasucci, La teologia misticu di s. duas edições simultâneas, em Lis boa e em
Antonio, in Aa.Vv. -S. Antomo dottore delia Lião, em 1671.
Chiesa, o.c, 195-222; J. rkeriuckk, S. Antonius A obra á qual deve sua lama é o manual de
Patavinas auctnrmvslicus, in Ant 1 (1932).
39-76, 167-200; T. Lombardi, 11 Dottore teologia mística, que começou a escreverem
evangélico, Pádua 1978; L. Meyer, De 1670. por incumbência do Capítulo geral ce -
contemplaiionis m»tione in sermonihus s. Antonii lebrado naquele ano em Pastrana. no âmbito
Patavini, in Ant 6 (1931), 361-380. de uma política tendente a dotar as casas de
estudo cia Ordem de uma série de instrumen-
/?. Barbariza
tos que pudessem servir de textos de relerên -
cia. No fim de 1671 a redação estava ter-
minada e, no início de 1673, a obra estava
pronta para ser impressa, tendo obtido as
necessárias permissões das diversas censuras.
Mas ela foi publicada só em 1676, em Lião,
AXTONIO DO ESPIRITO SAXTO com o título Diretório místico, no qual três
dif icílimas vias, a saber, purificadora, ilumi-
I. Vida e obras. A. nasceu em 20 de junho nativíi e unitiva suo explicadas.
de IMS em Montemor o Velho, diocese de
Coimbra, em Portugal, filho de Jerônimo I I . Doutrina mística. O manual de A. é uma
Soares Carraca e Felipa Gaspar. Vestiu o hábito das principais obras sistemáticas de mística
dos carmelitas descalços no convento de que apareceram na segunda metade do séculí)
Lisboa, em 26 de maio de 1635, e emitiu os XVII. í )s quatro tratados que a c< im põem
votos religiosos em 29 de maio de 1636. Es- desenvolvem as questões relativas à teologia
tudou artes em Figueiró e teologia em mística em geral e às três vias clássicas,
Coimbra. Em 1648 pediu para retirar-se para purificadora, ilurniiiativa e unitiva, que
a solidão de Bussaco, mas foi nomeado pro- correspondem aos graus de principiantes»
fessor de teologia mitral cm Viana do Castelo, adiantados e perlei tos. Suas fontes de inspi-
onde ensinou durante do/e anos. Foi eleito ração são a doutrina de —> Teresa de Jesus e
definidor provincial da província portuguesa e, de -> João da Cruz; usa também os escritos de
ile 1668 a 1670, foi definidor geral da Con - > João de Jesus Maria, de -> Tomás de Jesus
gregação cia Espanha dos carmelitas descal - c de José de Jesus Maria Quiroga (t 1628).
ços. F.in 1670 tornou-se prior do convento de Mostra predileção particular pela Suma de
Lisboa. Em 1672 foi designado pelo rei de Teologia mística, de > Filipe da Santíssima
Matenal com direitos autorais
Trindade, e pelas obras do domini cano Tomás
de Vallgornera (t 1675).
Com Filipe cia Trindade, A. afirma que a —»
meditação tem como termo e fim intrínseco a —
> contemplação, motivo pelo qual os
principiantes não devem limitar-se a meditar,
mas devem aspirar à contemplação so-
brenatural. No campo espiritual, a pessoa
passa da procura inteleetiva à operação quieta
do juízo prático, isto é, ao olhar de fé sim-

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APARIÇÕES - ARATI í Kl 92
A

co. A teologia ensina que as a. podem provir de rético e ético. Num mundo que é cosmo, isto é,
causas naturais, diabólicas ou divinas. universo regido por uma ordem necessária e
Segundo o ensinamento teológico, as tf. pro- impessoal, o homem sábio aceita passivamente
venientes do céu pertencem à categoria das os eventos e encontra sua felicidade/
graças concedidas gratuitamente, as quais, liberdade no domínio voluntário de si mes mo.
portanto, prescindem do estado de graça de reprimindo perturbações e emoções, que o
quem as recebe.y tornariam escravo ou, melhor, que lhe re-
Os três tipos de juízo mencionados são velariam sua escravidão radical. E estultice
sintônícos entre si e se influenciam recipro- agitar-se por coisa que não é susceptível de
camente. mudança e jã está certa corno é. Emoções e
paixões são doenças da alma, desordem da
NoiAs: Subida do Monte Carmelo II, 23,3; 1 Contra
1
qual libertar-se e sarar.
Adimantum: PL -12, 171; 3 Htvmologiatum, 1. 7, c.
8, iv 37s.: PI. 82, 286-287; 4 I. q. 93, o, 4in; II-
II, q. 174, II. Na vida espiritual. Do âmbito da filo -
I, 3m; q. 175,3,4m, ecc;5 De Genesi ad litteram, sofia o termo «. passou para a espiritualidade
1. 12, c. 9 c 10: PL 34. 461; 6 Subiih do Monte.., cristã oriental. No Ocidente ele nunca teve
o.c, muita sorte. No passado ele foi contestado por
II, 21; cl. anclie cap. 21, 24 e 25; lu 2am ad autores como Lactando (t c. 325), -> Jerónimo,
Corin-thios cap. 12, lecl. 1; * Deservorum
Deilvatificatione et beatnrutn canonisatione, III, Agostinho eoutros, eme viam nele uma
Bolonha 1737, c. ult.; ' Ct. Síh 11-11, q. 172; negação da natureza do homem, reduzido â
Bento XIV, De servorum..., o .c, III. c. 53. ímpassabilidade da pedra, ou principalmente
a raiz diabólica da —> soberba, que desemboca
Bim. P. Dinzclbachei; s r, in WMy, 147-148; P no individualismo e na procura de uma or-
(íiove-lii, 1 fenomeni deiparanormale, Cinisello
Bálsamo, 172-1KI; A. Mackerv/ie, Apparizioni gulhosa invulnerabilidade e impecabilidade.
e fantasmi. Ruma 1983; R. Ponnet, Jcs Hoje esse vocábulo é anacrónico, estranho.
njiparitions aujourd bui, Chambray-lès-Tnurs Indubitavelmente ele contrasta com as ten -
1988; J. de Tondqucdec, s.v., iriDSAM I, 801- dências mais específicas tia época contempo-
809. rânea, na qual, de um lado, se sublinha a
unidade ps i co física do homem (valorizando-
G. P. Paolucci se em particular justamente a esfera da emo-
tividade), do outro, no campo teológico c reli -
gioso, se dedica viva atenção ao tema do "so-
frimento" de Deus e, sobretudo, existe, por
experiência, uma aguda intuição do valor re -
dentor do —> sofrimento humano como par-
ticipação na paixão-mot te de - > Cristo. A tf.
APATHEIA é vista não só como desumana, mas também
até como contrária ao cristianismo, fundado na
I. O termo. A. é substantivo grego composto
"loucura da —> cruz" e na "estultice" de um
de alfa privativo e de pathos, que indica tanto
Deus que escolheu salvar o homem per-
o evento suportado (geralmente doloroso) como
correndo o caminho da —> pobreza, do des-
os —> sentimentos que ele provoca na alma. A.
prezo e da humilhação. Em Jesus o cristão en-
significa, portanto, "não sentir", "não ser
contra um Deus feito carne, um homem que
atingido" (ou não deixar-se atingir) pelas
se comove, experimenta compaixão e também
realidades externas. Esse termo é traduzido
indignação e que passou pela tristeza e
por impassibilidade e imperturbabilidade, e
angústia até a agonia no Gel sema ni e ao gri-
assim se torna sinônimo de au-
to dilacerante da sexta-feira santa. Diante da
sência/superação das —> paixões, entendidas
arrasadora realidade da paixão, a tf. perde
como totalidade dos estados de ânimo, numa
toda a sua força. Não obstante, no Oriente
ampla gama que compreende —> ira c com-
cristão esse termo foi acolhido com particular
paixão, medo e desejo. > inveja e —> alegria.
benevolência, e não há —> Padre que não se
Não menos importante do que o significai-
tenha detido nele. Para —» Evágrio, ele é o
lo etimológico éa história desse termo. Ele
centro e o fim da vida espiritual. Todavia, o
pertence ao vocabulário íilosótico, mais pre-
pensamento dos Padres não é unitário. É
cisamente ao da filosofia estóica, na qual
grande, por exemplo, a distância entre a apo-
marca o vértice da —> perfeição, o ideal teo-
logia da a. estóica de —» Gregório de Na/.ian/.o e
a concepção de Teodoreto (t 460), o qual vê na «.
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um dom concedido por Deus ao primeiro —>
Adão e perdido com a queda original. Km todo
caso, pode-se dizer minto sinteticamente que
entre os Padres ela não teve o caráter
voluntarista que linha entre os estóicos. Com
efeito, ela se transformou naquele

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APKCÍO m:\u\o APlíTITü I. O termo a. Do ponto de vista psicológi co,
ÍZ.indica a tendência ou a inclinação natural
mu a criança do místico. Do ponto de vista para desejar e procurar a satisfação própria
humano, a psicoterapia ajuda na recuperação num objeto externo, apreendido confusamente
da confiança numa relação sem a qual não se
peia consciência como agradável
p< >de crescer. A mística é uru pn >cesso de
e correspondendo às necessidades vitais da
crescimento global, fundado na recuperação de
pessoa que sente sua falta. A "escolástica" 96
uma relação de confiança com Deus. Nesse
caso, psicologia e mística se integram numa distinguiu o a. em a. natural, que é a
dinâmica de crescimento como superação. A tendência para a própria completude
confiança inicial mãe-filho poderá ser entitaliva, c em a. elf cito, que é a inclinação
superada psicológica para um bem conhecido. Por si,
mediante coul iauça mais madura ("eu-oulros enquanto inclinações naturais, os a. são
no processo psicoterápico; eu-oiUros-Deus no moralmente indiferentes; podem ser sedes de --
processo místico")- lambem a desconfiança > virtudes, se deixam guiar pela —> vontade, ou
inicial mãe-filho poderá - se bem que com de —> vícios, se precedem ou condicionam as
maior dificuldade - ser superada. A dinâmica escolhas da vontade.
da superação é possível também depois de re-
petidas experiências de confiança e de des- II. Com referência u espiritualidade, o
conliança depois de nossa infância. termo a. está presente na teologia escolástica,
Num contexto psicológico e moral, cres cer mas sobretudo é muito usado por—> são João
significa não só que a pessoa seja ela mesma e da Cm/., que fala de dois tipos der;. O prime i-
se torne ela mesma, mas também que supere a ro, "voluntário", é conotado cm decorrência de
si mesma. Aqui psicologia, moral e mística um componente vicioso e indica uma ten -
não mostram incompatibilidade. dência/inclinação desordenada da —> afeli-
vidade, com a participação da vontade. Con-
NOTAS: 1 A.M. Kulka. Observation and Data on
siste em qualquer inclinação que se oponha á
Moihcr-Inf ant Interaction, in Israel Anuais o j
Psvchiatry, 6 (1968), 70-83; * H.K \ larlow c M.K. lei da razão e da fé e que resista á v ida espiri-
Harlow, Learninz to Jjive, in AmericatiScieníist, M tual e se rebele contra ela (ct. Gl 5,16-20).
(1966), 244-272. M.K Ilarlow e SJ. Suo mi, Sature Nesse sentido, fornia urna categoria moral ne-
o j Uive Simplifica, in American Psycholtwst. 25 gativa. O segundo tipo de a. tem uma conotação
(.1970), 161-168; - J.A. Bowlbv, Si-paration
Ànxiciy, in JuteniuiionalJournal o! Psyàhaanahsis, 41 positiva e indica sobretudo "desejo". Na
(1960), 89-113;4 R. C;incstnui.ftic«> ló^ia x^wralc e primeira acepção, para o místico espanhol, a
dello svilupfki, Bolonha 1993, 554;:> R.A. raiz e o húmus de todos os a. são a —> concu-
Minde,U'Relazioniinterjiersonali. Bolonha piscência da carne, a concupiscência dos olhos
1981: MD. Ainsworth S. Bell - D. Stavtoii,
fi
e a soberba da vida fcí. Uo 2,1 6). 1 Na ótica de
Lattaccamento ma-dre-bambino e lo sviluppo
sociale, Milão 1978. João da Cruz, essas inclinações de sordenadas
provocam como que desintegra* ção da vida do
Bim..: J.A. Bowlbv, Separaiion Anxicix, in homem, porque "são como as sanguessugas
Intcniationl Journal of Psychoanalysis, 41 (1960), que sugam continuamente o sangue das
89-113; Id., Lattaccamento e la perditu, 3 voll., veias",2 atrofiando as relações de amor em três
Turim 1989; M.F. Harlow- M.K.
Harlow,LeamingtoLove, m American Scientist. 54 níveis: com Deus, consigo mesmo e com os
(1966). 244-272; H.K Harlou - SJ. Suomi, outros. Ele enuncia do modo seguinte as três
Nature of Love Simplif ied.iw American direções da desordem afetiva: "E coisa
Psychologist, 25 (1970), 161-168; A.M. Kulka, verdadeiramente digna de compaixão
Observation and Data on M> nher-lnjan t
considerara qual estado reduzem a pobre alma
interaction, in Israel Armais of Psychiatry, 6 (1968),
704)3. os a. que nela vivem: quão desagradável é ela
a si mesma, quão árida com o próximo e quão
.4. Pacciolla preguiçosa para as coisas de Deus". 3
Justamente porque eles prejudicam a par te
vital do homem, privando-o "do espírito de
Deus", e ainda "a cansam, atormentam,
obscurecem, sujam, enfraquecem e ferem",4 a
prática ascética do passado insistiu muito na
vigilância, com método e meios apropria dos,
APETITE para a purificação dos a. Nessa perspectiva,
tiveram muita i nfluência os famosos aforismos
de João da Cruz: "Não ao mais fácil, e sim ao
mais difícil, não ao mais saboroso, e sim ao
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mais insípido; ...não à procura do lado melhor
das coisas criadas, e sim ao lado pior, e desejar
-> nudez, privações e pobreza de tudo o que há
no mundo por amor de—> Jesus Cristo.5 No
fundo, trata-se de não se comprazer em nada só
por satisfação pessoal ou só por prazer, e de não
omitir ato bom só porque causa repugnância
ou enfado. Eni ulti-

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APOCALIPSE 10
4

contato total entre o homem e Deus. O texto Esse contato místico tem sua fórmula:
é insubstituível; "Os alicerces da muralha da parte-se do nível da assembléia litúrgica em
cidade são recamados com todo tipo de pe- momento forte, o domingo, e se realiza num
dras preciosas: o primeiro alicerce c de jaspe, contato com o Espírito, que lera a atingir de
o segundo de safira, o terceiro de calcedõnia, maneira direta Cristo e Detis. O desenvolvi-
o quarto de esmeralda, o quinto de sardóni- mento desse aspecto místico é distribuído
ca, o sexto de cornalina, o sétimo de segundo a estrutura literária do livro: seu
Crisólito, o oitavo de berilo, o nono de ponto de partida é o contato com o Cristo
topázio, o décimo de crisópraso, o décimo ressuscitado da primeira parte (cf. 1,4 -
primeiro de jacinto, o décimo segundo de 3,22); o de chegada é o nível de nupcialidade
ametista. As doze portas sào doze pérolas: da nova Jerusalém (cf. 21,1-8; 21,9-22,5), o
cada uma das portas é feita de uma só qual é atingido gradualmente na segunda
pérola. A praça da cidade é de ouro puro como parte (cf. 4,1 - 22,5). Olhando mais de perlo
um cristal transparente". A abundância e a as modalidades do contato místico, que assim
repetição, segundo a estrutura redundante se realiza, notamos que ele comporta um
do simbolismo, própria deste trecho, notada aspecto cognitivo e um aspecto existencial. O
acima, inculcam repetidamente e lazem aspecto cognitivo é alcançado quando a
apreciar, acima de qualquer formulação experiência mística permite atingir um nível
lógica, a máxima compenetração entre Deus, novo de entendimento com a transcendência,
Cristo-Cordeiro e seu povo. o existencial se verifica quando, no vivo da
Não surpreende, por isso, a ausência de experiência litúrgica que se desenrola,
templo (cf. 21,22), uma vez que Deus e o verifica-se uma translorma-ção no sujeito
Cordeiro desempenham a sua função, inlerpretante. o grupo de escuta. Os dois
estando em comunhão imediata com lodos. A aspectos se entrelaçam, eondicio-nando-se
luz da terra - o sol e a lua - é superada por reciprocamente: a nova experiência cognitiva
essa nova realidade; Deus mesmo ilumina a tende a transformar, e a transfor mação abre
cidade, e a "sua lã/npada é o Cordeiro" para uma nova experiência.
(21,23). A expressão mais sugestiva dessa inter ação
Hnfim, um único fluxo de vida atravessa a progressiva entre as dimensões cognitiva e
cidade: é o "rio de água da vida, brilhante existencial se encontra no "diálogo litúrgico"
como cristal, que sai do trono de Deus e do de conclusão (cl. 22,6-21 ),* r ' nu qual o
Cordeiro" (22,1). Ainda se fala de trono, mas grupo de escuta aparece como a noiva, que
não há mais ninguém sentado nele: o trono - se aproxima do nível da nupcialidade, a qual
o primeiro elemento que João notou no céu se realizará com a presença total de Cristo.
(cf. 4,2) - nessa altura não é mais símbolo dos Entre a meta final da nupcialidade plena e a
impulsos que determinam o desenvolvi mento situação de agora insere-se a vinda, que o A .
da história. Chamado pela primeira vez "trono interpreta como crescimento progressivo dos
de Deus e do Cordeiro" (22,1), ele simboliza o valores, da "novidade" de Cristo na história.
dom do Espírito, que, procedendo do Pai e A Igreja-'noiva" já tem experiência e
do Filho, impregna tudo e todos conhecimento de Cristo; aspirando à vinda
de sua vitalidade. completa, ela se transiorma e se aperfeiçoa,
O grupo de escuta, que já tem comunhão eonieccionando sua veste de esposa (cf. 19,7-
de base com a vida trinitária, e que tem co- 8).
nhecimento disso (1,3-4), H sente ativar-se A vinda de Cristo faz sentir sua capacida -
denlro de si o código de seu "ainda não"/' de de de a I ração: por duas vezes, no diálogo
seu ponto de chegada, nota uma força que o idealizado, ele diz "Vê (idoú), venho em
impele para ele. E realmente o auge da expe- breve!",
riência mística do A. chamando assim a atenção para a vinda que
está cm andamento.
VI. Conclusão. Num olhar de conjunto A Igreja-noiva aceita, e isso a leva a um
para o caminho proposto ao grupo de escuta conhecimento cada vez mais explícito de
nu A., encontramos o aspecto místico - Cristo, que é visto assim como aquele que é
entendido como contato ultraconceitual com a "o Alfa e o Ômega" (22,13), "a brilhante
transcendência e, mais especificamente, com Estrela da manhã" (22,16).
Cristo e com Deus - constantemente Apreciando adequadamente a vinda de
presente. Cristo, a Igreja-noiva, tomando a iniciativa, a

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invoca com o Espírito: "O Espírito e a Esposa
dizem: 'Vem'" (22,17).
Jesus toma conhecimento de tudo isso e
responde, fazendo sua a invocação da Igreja:
"Sim, venho em breve!" (22,20). Estabelece-
ram-se entre Cristo e a Igreja um
entendimento e uma reciprocidade toial que
levarão à nupcialidade plena. 37 A mística do
A., com esse fundo nupcial acertadamente
ressaltado por Feuillet, envolve o cristão todo
e o impe-

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ARIDKZ ESPIRITUAL mesma pobre/a ajuda a servir a Deus "com
justiça, lorlale/a de ânimo e humildade".
tensões e desgostos, responsabilidade, preo- 108
cupações; c. melancolia e tendência para o
desânimo, estados de ânimo que bloqueiam "Não dar muita imp* >rtáncia a isso, nem
o desenvolvimento da psique. consolar-se ou desencorajar-se muito por
l'ara superar espiritualmente essa situa- Ialiarem esses prazeres e ternuras". Não se
ção, a pessoa deve começar por uma atitude perturbe o ânimo: "Será pior se a pessoa
fundamental de aceitação com —> humildade insistir em forçá-lo, porque então o mal dura
e espírito de pobreza. Não se trata de supor- mais longamente".
tar ou de redimir um mal, mas de dar um Depois empregam-se outros remédios: a
passo à trente na vida de té, * amor e > es- ajuda de um livro, da oração vocal, do olhar
perança, sei vi ndo a Deus em —> nudez de silencioso e inerte. 1
espirito e em total aniquilamento. Depois a
pessoa deve agir de modo apropriado, IV. .4. como passagem para a vida teologal.
aplicando meios naturais e sobrenaturais Com seu estilo peculiar na sistematização da
mais adequados: repouso mental e físico, —> experiência espiritual, —> são João da
mudança de atividade, maior fidelidade á Cruz repõe o lema na base de um esquema
própria vocação com suas exigências, -> anlropolôgico-espiritual. Nessa perspectiva, a
ascese etc. a. representa um estado de "transição" do
sentido para o espírito, do sensível para a
III. Oração de a . Na vida de oração en- vida teologal, e implica um gran de passo à
contramos a manifestação mais frequente e frente na qualidade da vida espiritual. Na
dolorosa da a. Na oração se torna mais passagem do fervor para o amor árido e
explícita e exclusiva a atenção religiosa, e cognitivo, a pessoa, habituada aos —>
mais dolorosa e consciente a incapacidade de sentimentos, se encontra vazia e desorientada.
comunicar-se com Deus. Um exercício mental A consciência não está preparada para
intenso põe em maior evidência para a degustar o sabor fino do -» amor teologal. 'Esse
pessoa a esterilidade do espírito. É uma amor algumas vezes não é compreendido nem
experiência prolongada e penosa, pela qual sentido pela pessoa que o experimenta, porque
passam geralmente todas as pessoas que não reside no sentido com ternura, mas na
perseveram fielmente no caminho da oração.
alma cora fortaleza, e é mais veemente, mais
Traz consigo conseqüências penosas e
corajoso do que antes." 4
dificuldades na procura de soluções ou re-
Nessa perspectiva a a. entra como com-
médios.
ponente e se torna elemento que traz a dina -
Uma série de fatores convergentes torna
hoje particularmente freqüente o fenôme no micidade de caráter teologal: amor a Deus, —
daxi. na oração. Entre eles: ritmo frené tico * conformidade a Cristo, —» purificação da
da vida, fadiga devida a impressões energia sensível e rei orço da energia espiri-
constantes e intensas na sensibilidade, cer tual. A —> fortaleza e a —»liberdade que a pes-
ta frieza no âmbito religioso, escassa educa - soa consegue lhe dão a capacidade de agir
ção pastoral para a oração interior, rotina na com a mesma inteireza em qualquer estado
prática da oração por falta de projeto etc. de ânimo, sem < >s o indiciou a men tos aos
-> Santa Teresa, que sofreu longamente quais
essa tortura, dedica atenção particular ao está sujeito quem se move e se motiva por
tema. Suas descrições c sugestões continuam estados de ânimo e por sentimentos passa-
válidas. No capítulo II de Vida, ela deixou geiros. O amadurecimento alcançado se mos-
ampla descrição do fenômeno, de suas possí- tra nas atividades que requerem dedicação
veis causas e de seus remédios. Põe -no de constante, oração, -» sofrimento, convivência
preferência na primeira etapa do caminho de e apostolado.
oração, mas se repete com regularidade nas
fases seguintes. "Que deve lazer quem há N o i .vs-. ' S. Hcrnaidu. Si-.rmom s:d camu o det
muitos dias não seule senão a., desgosto, in- Cnn-tici, 54;2 João da Cruz, Noite escara I, 9,3;3
sipidez e uma extrema repugnância... e nem Teresa de Jesus, Vida 11, passim;4 João da
pode formular um bom pensamento?' Expli- Cruz, Subida do Monte Carmelo I I , 24.9.
cação e remédio: "Sua Majestade quer con-
BIBL.: E. Ancilli. Lbrazioneelesuediflicoltà, in
duzir por esse caminho paia que compreen-
Aa.Vv., La preghiera, II. Roma 1988.65-78; J.
damos melhor o pouco que somos". Essa Aumann, Teologia smrimale. Roma *9S0. 2S9-
291; Y. Bort. me, v.u, in DES I, 201-203; E.
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Boylan, Difficottà nell'orazio-uementale, Milão
1990; R. Daeschler, s.v., in HSAM l , 845-855; J.
de Guibert, Ttiéologiespirituelle, Roma 1952.239-
241; E. Salman, s.v., in WMy. 502-503.

E Ruiz-Salvador

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ASCESF.-ÀSCÉTICA
significados: > mortificação, > penitencia, providenciais dos homens de Deus. E
exercício de -> virtudes para a consecução da necessário principalmente ter presente o fato
—> perfeição, 1 de que a a . , caracterizada pela caridade que
A esse termo ligam-se as palavras o Espirito derrama na alma 6 em estado de
ascética, doutrina relativa à a., ou seja, o graça, imprime uma orientação caritativa a
empenho constante para alcançar unia todo o agir moral, ainda que a pessoa não
perfeição espiritual progressiva; 2 e tenha consciência explícita disso.'
ascetismo, que indica tanto a doutrina como
a prática dos ascetas, ou o estado dos que se II. Na Sagrada Escritura. Desde as pri-
dedicam a exercícios rigorosos de piedade. A meiras páginas do Gênesis, em toda a narra-
a. 3 é, pois, a procura da perfeição. Na ção da criação repete-se que tudo o que
experiência cristã ela tende à adaptação existe é bom em si (cl. 1,31). Segue
sistemática de toda a vida do crente à imediatamente que o dom de Deus das coisas
imagem e semelhança de Deus, inscrita na boas da criação aos homens é uma coisa só
alma no momento da criação; é o esforço com a bênção divina. O —» pecado dos
para harmonizai - a vida com té por meio de primeiros pais não mudou substancialmente
unia morte contínua de > cru/, segundo a esse primeiro dado. Com efeito, as bênçãos
linguagem de —> Paulo. Portanto, ela não ê o dos patriarcas repeliram as da criação (et.
fim último da vida cristã, mas uma mediação CJII 49): serão sempre ligadas ao dom.
instrumental para alcançara união com —> Também a Páscoa, primeira -> aliança
Deus Pai. 4 redentora com o povo de Israel, continha um
Se houve desvios, exageros ou confusões dom: a terra prometida.
na prática da a , loi porque se instaurou, er- Mas, logo que Israel se estabeleceu na ter-
roneamente, uma espécie de identificação ra da promessa, esqueceu-se de seu Deus.
entre a oposição, de origem grega, da alma Mais precisamente, viu-se dramaticamente
ao corpo e a oposição, da qual fala são Paulo, dividido entre o Deus único e seus dons. Da-
da "carne" ao "espírito . qui o pecado iundamental do povo, o qual se
Num passado bastante recente, a teologia, manifestará como verdadeira e própria ido-
com hase nesse dualismo entre corpo e alma, latria. Em outros termos, Israel, desfrutando
apresentou o caminho espiritual em duas das riquezas da terra, se pôs como centro da
etapas: experiência ascética e experiência criação. Nessa procura afanosa por riquezas e
mística. 5 A a., obrigatória para todos, se para assegurar-se futuro tranqüilo, Israel se
concretizava no empenho para a realização esqueceu do Deus de seus pais.
pessoal, com a ajuda da —> graça, em estado Ao mesmo tempo, a satisfação de seus ->
virtuoso, ao passo que a mística designava um apetites insaciáveis arrastou o povo de Israel
dom de excepcional perfeição espiritual, à injustiça.
concedido pelo ■■> Kspírito, e com o qual a Para os —> profetas, o pecado de Israel era,
alma colabora em geral passivamente. antes de tudo. esse complexo de idolatria e
A teologia contemporânea prefere afirmar injustiça. Tudo isso foi expresso por Oséias
que o cristão é, de modos e formas diferentes, na imagem da adúltera aplicada ao povo in-
asceta e místico, virtuoso e espiritual ao fiel (cl. 2,7-10), como que espiritualmente
mesmo tempo, operante por capacidade pró- sufocado pelo gozo dos bens concedidos por
pria e dirigido pelo influxo do Espírito do Deus.
Ressuscitado. De falo, todo cristão, em virtude Nessa situação, Deus mesmo interveio
do batismo e em estado de graça, é para, por algum tempo, privar o homem des-
pneumalizado em germe pela Páscoa da res - ses bens, de modo que ele o reconhecesse
surreição e, portanto, está em comunhão com novamente como o único e verdadeiro Deus e
o Espírito de Cristo. Senhor da vida.
Postos esses princípios, permanece o fato Isaías, por sua vez, ataca os açambar-
inegável de que o cristianismo propõe uma a. cadores de riquezas, porque elas os afastam
que se funda na —> caridade, em virtude da de Deus e os põem contra seus irmãos. Para Je-
qual o cristão renuncia a tudo o que impede remias, os ricos são malditos em suas rique-
de tender à perteição evangélica. zas, ao passo que os pobres são abençoados
Para compreender plenamente o significa- por Deus em sua desolação: reprovados, con -
do da a. cristã é oportuno estudar suas siderados traidores da pátria, presos, os últi-
motivações, que se manifestam mos encontram em Deus segurança e
gradativamente na história do povo de Deus, proteção.
à luz da —> Palavra e das experiências
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A verdade, ainda velada no ensinamento de
Jeremias, se torna muito mais explícita nos
cânticos do Servo sofredor, do Dêutero-Isafas. O
piofeta prevê uru homem sobre cuja cabe ça
se acumularão todas as misérias possíveis,

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ASCESF.-ÀSCÉTICA
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ASCESE-ASCÉTICA Em suma, a ti. representa, por assim
dizer, a procura, ao passo que a mística
pelo Espírito de Cristo. A cooperação do cris - conclui essa procura, verdade essa que pode
tão, além de acolher a ação transformadora ser deduzida 116
do Espírito, tende a lavorecê-la no plano
existencial, para depois testemunhá-la em do símbolo da cru/.. As duas trajetórias dessa
dimensão eclesial. Desse modo o cristão última representam as dimensões do evento
deixa transparecer em toda a sua existência salvífico comunional que se consuma nela.
essa transformação ascétic<>-inística De um lado, está o madeiro fincado na terra,
verificada em seu íntimo, isto é, o lato de se portanto, na história dos homens; do outro
ter verdadeiramente despojado do homem
lado, a outra extremidade do madeiro, di -
velho com suas ações e de se ter revestido do
rigida para o alto, toca idealmente o céu,
homem novo com atos de amor', homem novo
porque sustenta o Crucificado por amor; ele
que se renova sempre, pelo pleno
reúne em si a realidade humana e o infinito
conhecimento, segundo a imagem de seu
Criador (cf.Cl 3,10; 2Cor 5,17). de Deus. A trave transversal da cruz
Nos mais altos vértices da união mística compreende e celebra assim o mistério da
de amor a u. desempenha um papel impor- morte e cia vida. duas faces unidas
tante de vigilância, isto é, de espera com a indissociavelmente, e da<z. e a da mística.
cabeça erguida, espreitando a vinda do Espí -
rito. Essa vigilância é também uma esperan- V. A relação entre a. e psique. A luz do
ça na radiosidade daquela aurora que é vida que licou dito, pode-se delinear a morfologia
divina, também quando a noite da purifica - do asceta: um > homem espiritual que, de
ção envolve a alma e a transforma. E uma um lado, mantém sob controle os elementos
luta contra toda forma de egoísmo, a fim de espirituais e corporais desregulados de sua
que a pessoa possa abandonar-se em total pessoa, e, do outro, por meio do exercício
despojamento á ação divina, atingindo assim ascético, voluntário e equilibrado, tende
a comunhão mística de amor com as Pessoas para o progresso pessoal, isto é, para a
divinas. Em poucas palavras, a vigilância é procura de uma unificação e do absoluto de
celebração do desapego de si e de todas as Deus.
criaturas, celebração da vitória sobre as ten- F.ni poucas palavras, o esforço ascético-
tações, celebração da a . , que se traduz melódico, que tem em mira, por meio da torça
assim em ascensão para Deus. do amor, restabelecer dentro do homem os
Quem está empenhado nas vias do Espíri- laços entre o inundo da carne e do espírito,
to numa profunda \ ida de intimidade di\ entre o homem e os outros homens e en-tre si
ina mesmo e Deus, é sustentado por unia certa
não pode colher o fruto último de seu esforço concepção de homem, 1 - variável segundo as
ascético, porque é graça divina. O Senhor épocas. Por isso, a CL cristã, enquanto
dos dias, como o Esposo do —> Cântico, cos- método, está "a serviço da vida e procurará
tuma esconder de tanto em tanto sua divina conciliar-se com as novas necessidades...".16
presença, em períodos de aparente ausência e Resta o problema de como realizar o equi -
—> aridez desértica do espírito, a fim de que a líbrio entre a vida espiritual em crescimento
esposa, para continuarmos na imagem, se e a psique, que nem sempre se sujeita ao co-
purifique das escórias do egoísmo. A pureza mando do espírito, antes, às vezes reage de
infinita ou santidade do Esposo, justamente forma patológica mais ou menos leve ou gra-
por ser amor, exige esses momentos de puri- ve, Nesses casos de conflito, isto é, quando a
ficação (H.U. von Ballhasar). Mas nesses psique não quer obedecer ao controle da parte
momentos de desconcertante aridez Deus espiritual, a sabedoria da tradição oriental e
revela seu amor. Justamente então ele purifi- ocidental aconselha que se canalize a energia
ca sua amada criatura para conduzi-la, atra- negativa - que se traduz em —> doença, se não
vés da provação interior, â transparência su- for governada - para ações, compromissos e
blime, das trevas à luz. Nesse tempo tão gestos agradáveis, nos quais essa energia é
dilacerante, é oportuno deixar-se guiar pela transformada em positiva, tornando-se,
constância, virtude típica do deserto espiri- portanto, benéfica para o homem espiritual,
tual Só ela é que pode conduzir a criatura empenhado num caminho espiritual sadio e
humana da terra para os cumes altíssimos equilibrado. É nessa luz que é interpretada a
da graça divina, a íim de fazê-la chegar, nos psicologia da a. cristã, entendida não como
últimos tempos, à luz daquele dia sem ocaso. repressão das tendências perniciosas do ho-
mem, mas como esforço metódico, isto é,

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como exercício referente tanto ao desenvol -
vimento das atividades virtuosas quanto á
canalização das tendências desordenadas. 1 '
Segundo J. Marechal, a a. consiste sobretudo
em "se conduzirem positivamente as ativida-
des inferiores para que se ponham em perfei-

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ASSIMILAÇÃO D I V I N A 156
GI 5,16-25). A vida em Cristo comporta uma novo Adão, que opera no Espírito de caridade
dimensão negativa, de aniquilamento dos de- e produz os Irutos do Espírito. Cristo era o
sejos da carne (correção dos --> vícios), e uma sujeito das ações cie Paulo, o qual pensava,
dimensão positiva, de reforço e promoção dos agia, falava e se comportava como Cristo.
frutos do Espírito (prática das virtudes). Cristo era o novo 'eu dele. Havia uma espécie
Aqui a » moral e a — > espiritualidade estão
— de comunicação das propriedades entre Cristo e
estreitamente ligadas. O ritmo da vida Paulo; Paulo vivia em Cristo, e Cris to vivia
espiritual está em contínua tensão entre a em Paulo. Ê o ápice da mística cristocêntrica
lei da carne e a lei do Espírito: é através do paulina: Pois para mim o viver é Cristo, e o
aniquilamento do homem velho que se chega morrei" é lucro" (Fl 1,21). Trata-se de uma
à verdadeira vida em Cristo. Esse "morrer para expressão apaixonada, vinda do coração. Ela é
viver" é o programa ascético-místico daquelas Irases geniais que. extremamente
sintetizado em Colos Penses (Cl 3,1-17). sintetizadas, comunicam o significado e o
Também em Efésios a vida em Cristo comporta valor de toda uma existência. A vida e a
o abandono do homem velho e o "revestir-se morte de Paulo foram marcadas por Cristo, o
do homem novo, criado segundo Deus, na qual vivia c agia nas obras de seu apostolo.
justiça e na santidade da verdade" (El 4,23).
O homem velho faz as obras da carne, isto é, VI. A experiência d e ■> santo Agostinho.
as faltas contra a caridade, contra a A época patrística aproiundou o terna da
temperança e contra a modéstia. A carne divinização cio homem, sobretudo a partir
obscurece a inteligência e a guia para o do fato da união hipostática, isto é, de ter a
falso. O homem novo, o homem interior, Pessoa divina do Verbo assumido a natureza
observa os manda mentos (cf. ICor 7,19), humana. Essa união representa o ponto cul -
vive na caridade (cf. GI 5,6), faz obras boas minante da humanidade em Deus como
(cf. Ef 2,10), reveste-se de Cristo (cf. Gl primícia de toda divinização futura do ho-
3,27). Parece que o apóstolo descreve as duas mem. Mais que uma visão panorâmica da a.
fases de sua vida: o homem velho, Saulo, e o divina na época patrística, damos aqui uma
homem novo, Paulo. Essa pedagogia de síntese desse tema em santo Agostinho. De-
mortificação dos vícios e de promoção dos pois de sua conversão do maniqueísmo ao
hábitos virtuosos tem sua raiz, sua fonte e cristianismo (verão de 386) e depois do ba-
sua força na comunhão com Jesus: "Assim tismo (quaresma de 3S7), também Agostinho
como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, se concentrou inteiramente em Jesus Cristo,
assim nele andai, arraigados nele, sobre ele guia e mestre interior: "Vossa Caridade sabe
edificados" (Cl 2,6). "Que Cristo habite pela lé que nós todos temos um só Mestre, e que,
em vossos corações e que sejais arraigados e sob sua autoridade, nós todos somos
fundados no amor. Assim tereis condições discípulos...; o Mestre de todos é aquele que
para compreender com todos os santos qual é habita em nós todos".1 Escrevendo a
a largura e o comprimento e a altura e a Florentina, jovem religiosa muito tímida, diz:
profundidade, e conhecer o amor de Cristo, "Grava bem na mente que, mesmo que
que excede a todo conhecimento, para que tenhas adquirido por meu intermédio algum
sejais pleniíicados com toda a plenitude de conhecimento salvílico,
Deus" (Ef 3,17-19). Paulo transmite aos seus quem o terá ensinado a ti é aquele que é o
melhores confidentes, os gálatas e os Mestre interior do homem interior e que te
fihpenses, os segredos dessa vida espiritual mostra em teu coração a verdade"/ Ilustran -
de a. a Jesus, com suas famosas fórmulas: "De do o mistério da Páscoa, assim continua: "To-
lato, pela Lei eu morri para a Lei, a fim de dos estamos nele e somos de Cristo, porque
viver para Deus. Fui crucificado com Cristo. de certo modo o Cristo total é a cabeça e o
Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive corpo'. 3 A -* eucaristia é considerada como
em mim. Minha vida presente na carne, eu a uma contínua a. a Cristo. Assim fala Jesus
vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e nas Confissões: "Eu sou o alimento dos adultos.
se entregou a si mesmo por mim" (GI 2,19- Cresce e comerás minha carne, sem que, com
20). A vida ilo apóstolo foi não só imitação de isso, me transformes em (í, como alimento de
Cristo, mas também total identificação com tua carne; mas tu te transformarás em mim";4
ele. Jesus tornou o lugar de Paulo, o qual "Este é o sacrifício dos cristãos: que muitos
aniquilou de tal forma seu homem velho com sejam um só corpo em Cristo". > "Comunhão
seus hábitos viciosos e mortificou e crucificou com Jesus é introdução na vida divina
tanto os pedidos da carne e da lei que trinilária. A especulação agostiniana so bre a
cheuou a viver como verdadeira iinauem do Trindade não é só um aprofundamento
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ASSIMILAÇÃO D I V I N A 157
teórico, mas também um envolvimento de si mesmo a Deus mediante a > oração, a
pessoal c uma tensão mística: é uma procura do coração, que se torna comunhão exis-
de inteligência, de participação, de a. Para ele, tencial com Deus, sopro do Espírito Santo na
as vias para atingir a comunhão trinitária são —> alrna, verificação vital da Palavra de
as da verdade, da justiça e do amor, Na cidade Deus: "Eu durmo, mas meu coração vigia" (Ct
de Deus "há só uma sabedoria, a piedade, a 5,2).
qual presta ao verdadeiro Deus o culto devido e O peregrino russo consegue enfim conviver de
espera como recompensa na sociedade dos tal modo com a oração do coração que a
santos - não só dos homens, mas também dos assimila como que fisicamente: "Depois de
anjos - que Deus seja tudo em todos"." A certo tempo senti, não sei como, que a oração
propósito do amor dc Deus, afirma: "Amas a passava sozinha dos lábios para o coração:
Deus? Que direi: Serás Deus? Não ouso dizê- isto é, o coração, com sua batida regular, se
lo por mim mesmo. Ouçamos as Escrituras: Eu punha de certo modo a escandir por si
direi: vós sois deuses e li-lhos todos do mesmo as palavras da oração"/ A oração se
Altíssimo". 7 torna não ação, esforço, mas estado, conso-
O diálogo agostiniano sobre a Grandeza da lação. Ela passa a ser tão presente e viva que
alma contém uma síntese do itinerário ascé- em alguma manhã é ela que desperta o pere-
tico-místico que leva o cristão à sua gradual grino, que o conforta e o sustenta.
a. a Deus. São sele as atividades próprias da
alma. As três primeiras são naturais e con- VIII. A vida em Cristo de Nicolau Ca-basilas.
sistem em vivificar — > o corpo, em sentir Um dos escritos clássicos da espiritualidade
mediante os —* sentidos e em compreender bizantina é a Vida em Cristo, de Nicolau
as etapas mediante a ciência e a --> arte. As Cabasilas (t c. 1370), que analisa a a. das
outras quatro constituem as etapas espiri - almas a Cristo por meio dos —> sacramentos:
tuais da divinização do homem, o qual deve "A vida em Cristo se inicia e se desenvolve na
combater os vícios, reforçar-se no bem e na existência presente, mas será perfeita
virtude e entrar e habitar no reino da luz. A somente na íutura, quando chegarmos
—> contemplação mística da Trindade exige àquele dia: a existência presente não pode es-
a eliminação dos vícios e o fortalecimento das tabelecer perfeitamente a vida em Cristo na
virtudes. alma do homem, mas não o pode também a
futura, se ela não se iniciar aqui... O
VIL Pluralidade de experiências de a. divina. perfume do Espírito se efunde copiosamente
A mística cristã é fundamentalmente única e e enche tudo, mas não o sente quem não tem
universal, porque é vida filial em Deus o olfa-to... A existência presente é a oficina
Trindade. Todavia, essa experiência é vivida dessa preparação". 10 A vida cristã é uma
em concreto de modo diferente por cada pes- contínua e misteriosa união com Jesus
soa. -■> Cirilo de Jerusalém compara a graça
Cristo: "O Salvador... está sempre e
divina ao orvalho, que é branco sobre o lírio,
totalmente presente nos que vivem nele: ele
vermelho sobre a rosa, purpúreo sobre a violeta
provê todas as suas necessidades, é todo para
e os jacintos, assumindo várias cores se-
eles e não permite que dirijam o olhar para
gundo as diversas espécies de coisas; uni é o
orvalho sobre a palma e outro ainda sobre a qualquer outro objeto, nem que procurem
videira, mas é sempre a mesma água dando alguma coisa fora dele. De fato, não há nada
vida e beleza ao mundo multiforme. 8 Conse- de que os santos tenham necessidade que ele
qüentemente são variadíssimas as experiên- não seja: ele os gera, os faz crescer e os nutre,
cias de a. da alma a Deus vividas na história é luz e respiração, por si plasma neles o olhar,
da Igreja. Essa experiência foi também a li- ilumina-os por meio de si e se oferece à visão
nalidade do - > monaquismo oriental e oci- deles. Ao mesmo tempo nutre e é aumento; é
dental, ambos caracterizados pela tensão para a ele que oferece o
pão tia vida, e o q u e ele oferece é ele mesmo;
—> santidade a ser alcançada mediante o
ele é a vida dos viventes, o perfume de que
gesto ascético radical como premissa pata a
respira e a veste para quem quer vesti-la. E
vivência mística e para a expansão cada vez
ele ainda que nos dá a possibilidade de
maior do Espírito na alma. No —» misticismo
caminhar, ele é a vida e também o lugar do
russo, por exemplo, prevalece o elemento da
repouso e o termo. Nós somos os membros,
total estraneidade ao mundo e da completa
ele a cabeça: é necessário combater? Ele
dedicação à contemplação e ao —> abandono
combate conosco e dá a vitória a quem se
destaca. Vencemos? E ele a coroa. Assim de
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ASSIMILAÇÃO D I V I N A 158
toda parte ele reconduz a si a nossa mente, e nem privá-los do Cristo. Antes, seus
não permite que ela se volte para outra coisa, desígnios falham a tal ponto que, sem sabê-
nem que seja tomada de amor por alguma lo, reveste-os do Cristo muito mais do que
coisa... Do que acabamos de dizei' torna-se antes, justamente com aqueles meios com os
claro que a vida em Cristo não diz respeito quais acreditava despojá-los". 15 O homem
só ao futuro, mas já é presente para os tem uma estrutura intrinsecamente cristi-
santos que vivem e agem nela".11 Essa a. a forme: nascer e viver em Cristo faz. parte de
Cristo opera-a coti-dianarnerite na seu ser e de seu realizar-se. A história da
eucaristia: "Como a boa oliveira enxertada na salvação da humanidade não é. pois, retorno
ao primeiro - > Adão, mas caminho para
oliveira selvagem muda-a completamente em
Cristo, o novo Adão. () homem se realiza
sua própria natureza, de modo que o fruto
quando assume as formas de Cristo, quando
não tem mais as propriedades da oliveira
é inteiramente assimilado a ele.
brava, do mesmo modo também a justiça dos
homens, por si, não é útil para nada, mas
IX. A riqueza da mística ocidental. No
logo que nos unimos a Cristo e recebemos a cristianismo ocidental são numerosíssimas
comunhão de sua carne e de seu sangue, ela as obras profundamente autobiográficas de
pude produzir imediatamente os maiores
grandes santos e místicos que descrevem
bens, como a remissão dos pecados e a herança com inigualável fineza espiritual sou cami -
do reino, bens que são unto da justiça de nho pessoal de pcrleiçaoe comunhão de amor
Cristo. Com eleito, logo que na sagrada mesa com Deus. Citemos, por exemplo, a a. a Cris-
recebemos o corpo de Cristo..., também a nossa to mediador' e "ponte" narrada no Diálogo da
justiça, por eleito da comunhão, se torna Divina Providencia, ditado por —> santa
justiça crisliforme".' 2 Mediante a eucaristia "o Catarina de Sena no outono de 1378; e o
Cristo se derrama em nós e se funde conosco, empenho ascét ico- m ís i ico ce 1 ebi a do
mas mudando-nos é transformando-nos nele nos Exercícios espirituais de ■-> santo Inácio
como uma gota de água deiramada em um de Loyola, elaborados entre 1522 e 154S: ou a
oceano infinito de unguento perfumado. Tais rede redescoberta da interioridade perdida
efeitos pode produz ir esse unguento nos que leila noC.Vi.s-telo interior por —> santa Teresa
o encontram: ele não só os faz, respirar esse de Jesus
perfume, mas também Iranslorma a própria (1577); ou a experiência da união com Deus,
substância deles no perfume desse unguento, descrita no Cântico espiritual (1584) e nos
que para nós foi derramado: 'Somos o bom quase contemporâneos Subida do monte
odor de Cristo' <2Cor 2,I5V\ M Carmelo e Noite escura de —> são João da Cruz;
A eucaristia realiza nossa a. a Cristo: "11 ou a narração da inflamada (/. ã paixão de
aqui que o Cristo nutre o corpo dos que o Cristo apresentada na História de uma alma
cercam e, só por esse sacramento, somos car- de —» santa Teresa do Menino Jesus. Trata-se
ne de sua carne e ossos de seus ossos".14 "Nos- apenas de exemplos dentre os mais conheci-
sos membros são membros de Cristo, são dos, já que no cristianismo são muitíssimos
sagrados e contém, como numa taça, o seu os homens e mulheres de toda idade, classe,
sangue, melhor, são recobertos pelo Salvador condição e raça, que vivem sua a. divina como
todo inteiro, não como revestimo-nos de um um maravilhoso set?redo entre Deus e sua
manto e nem de nossa pele, mas de modo alma, deixando filtrar-se para fora só o per-
ainda mais perfeito, porque essa veste adere lume de sua ■ • humildade e o sabor de suas
aos que a vestem muito mais do que a pele aos virtudes.
ossos. Ossos e pele, mesmo contra nossa von- A partir da experiência concreta dos santos
tade, podem ser-nos arrancadas, mas o Cristo, que viveram essa comunhão íntima com Deus
ninguém pode tirá-lo de nós, nem os homens, Trindade, podem ser deduzidos os seguintes
nem os demônios, "nem o presente nem o critérios para uma primeira síntese
futuro diz. Paulo (Km 8.39) - nem a altura, sistemática a respeito desse tema: 1. a a.
nem a profundeza, nem qualquer outra divina se inicia nos santos pela conversão radi-
criatura", por mais superior que seja a nós cm cal a Cristo, vivida como dom da graça do
poder. O maligno pode tirar a pele dos —> alto; 2. como conseqüência dessa concentra-
mártires de Cristo, pode esfolá-los por ção em Cristo, visto como única referência
intermédio dos tiranos, pode amputar os da existência deles, eles se afastam do mal e
membros, despedaçar os ossos, derramar seus reforçam sua bagagem virtuosa; 3. a união
intestinos, arrancar suas vísceras, mas não com Jesus, que ó comunhão trinitária com o
pode despojar os bem-aventurados dessa veste Pai no Espírito Santo, é vivida concretamente
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ASSIMILAÇÃO D I V I N A 159
no âmbito da comunhão e da sacramen-
ialidade da Igreja; 4. a a. divina não afasta o
cristão do mundo, mas o torna testemunha e
apóstolo; por isso os santos não são só
grandes místicos, mas também missionários
infatigáveis do Kvangclho e inspiradores
coerentes de uma cultura humana e cristã au-
têntica.

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ATANÁSIO D li ALEXANDRIA 12
(sanlo) 4

apologéticos: Discurso Contra os pagãos, com narrações bíblicas. Ele, não os teólogos e
o qual demonstra a inconsistência do paga - suas escolas, é o porta-voz autorizado da
nismo, e A encarnação do Verbo (337), no qual comunidade: a teologia se integra ao
precisa o porquê da encarnação e seus efei - ministério do bispo. A sua cristologia
tos salvíficos; três Discursos contra os arianos anliariana é plenamente integrada em sua
(339-346): são a obra-prima de A., em defesa meditação pessoal, cm particular, da
da divindade do Verbo; quatro Cartas a Escritura. A. era sobretudo homem de ora -
Serapião de Trnuis sobre a divindade do Espirito ção que conhecia a Escritura de memória.
Santo (362); Tratados sobre os sínodos de Era o homem da Bíblia, e se revelava tal
desde as primeiras manifestações; em sua
Rimini e de Sclciuia (362); Carta encíclica aos
primeira Carta festiva, de 328, ele parece
bispos do Egito e da Líbia (356); b. Históricos
imerso no texto bíblico, decidido a
e apologéticos: Apologia contra os arianos
comunicar aos destinatários sua
(350-355); Carta aos bispos do Egito e da Líbia
contemplação. Entrevê-se nisso uma
(356-357); Apologia em defesa da própria fuga] cristologia quase mística, orienta da para a —
Apologia a Constâncio (362); História dos * oração, para a contemplação da Escritura e
arianos endereçada aos monges (358); c. Pas- paia o exercício das > virtudes. Inclui-se
torais e ascéticos: Cartas festivas, endere- nisso a tipologia, a qual orienta as figuras do
çadas a seus fiéis sobre as solenidades AT para Cristo, realização delas. Nessa carta
pascais; estão conservadas quinze (de 329 a deseja oferecer aos fiéis um ensinamento
348) cm tradução siríaca; dentre os diversos místico todo baseado na contemplação
tratados Sobre a virgindade atribuídos a ele é orante, lendo corno referência uma
autêntico provavelmente aquele que ficou cristologia homílética como lugar no qual
incomplc-to, escrito na língua copta, e, celebrar a —> alegria essencial da té com os
enfim, a obra-prima Vida de Antão (362), mais humildes fiéis, sem nenhum aparato
considerado pai da vida monástica; a obra sofisticado. Por' isso queria educar seu
substancialmente de valor histórico, deseja público para compreensão maior da Bíblia. A
oferecer aos monges um documento de Escritura lida e relida nas assembléias
edificação ascética e espiritual. comunitárias ou aprendida decor pelos
monges, oferecia base magnífica para a luta
IL A mística de A. c guiada por sua expo- literária eficaz contra Ário.
sição teológica a respeito da divindade do A cristologia de A. leni seu centro na en-
Verbo e de sua encarnação. carnação do Verbo. Cristo, Deus também,
/. Os fundamentos crisiológicos. A encarnação participante de nossa condição para salvar-
do Verbo, Em A. a vida espiritual e mística é nos, é o Senhor da história e antecipa em
centrada no mistério de —> Cristo. Deus sua história vivida, com a ressurreição, o fim
confiou o "homem ao Filho", "para que, en - da história humana. Ainda que escrita
carnando-se. renovasse Iodas as coisas'' (So- dentro da tradição alexandrina (Clemente e
bre o dito: "Tudo me foi confiado")] por isso o ürígenes), ela é retamente compreensível, se
agir do Verbo encarnado atinge o homem situada na doutrina da -> Igreja de A.
lodo: "A sua paixão é a nossa Fazendo da Encarnação a chave de abóbada
impassibilidade, a sua morte a nossa de sua cristologia, muda a orientação do
imortalidade, (...) o seu sepulcro a nossa pensamento cristão, tanto mais que
ressurreição" {A encarnação, 5). Foi o considerava a --> revelação divina, ligada à
primeiro bispo e mestre na catequese e autor encarnação do Ijjgos, só à luz de sua
de uma síntese teológica centrada na fé na realização atual no seio da Igreja: ele
encarnação do Verbo, obra que pós a serviço substituí o cosmo de Ürígenes pela
da pastoral. Mesmo concebendo uma experiência atual dos crentes. Entende o pa-
cristologia elaborada por ele, "seus pel do h)gos criador dos seres lógicos feitos á
parâmetros são indubitáveis: a Escri tura sua imagem como antecipação da ação salu-
divina e o ensinamento da Igreja, que na > tar do Verbo encarnado. As recordações da
liturgia e na catequese transmitem lodo um encarnação tendem a atualizai', na
corpo de doutrinas que ele nem por um afirmação crente alexandrina, a verdade das
instante pensaria em rejeitar". 2 Não linha narrações evangélicas. A sua preferência
um projeto de escola como - > Ürígenes e pelo Lagos remonta a ürígenes (e a
Ario ( 7 336), mas fundou a verdade de sua Clemente), e a sua preferência pela
mensagem na experiência crente das divindade é antiariana. O Verbo é divino:
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"Essa manifestação divina, nós a adoramos
com razão, porque 6 divina" (A encarnação,
1,1). O Verbo é o autor imediato, partindo do
nada, da primeira criação (cl. Gn 1-3), e
também dos homens, que "fez á sua Imagem,
dando-lhes o poder do seu próprio Verbo";
tornando-se assim "lógicos", eles podiam
permanecer na bem-aventurança

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ATEü-ATElSMO - ATIVIDADE HUMANA
/.. Rt)£liolo
depende da vontade. Esse dado é muito sig - 128
nificativo. A própria natureza aspira a Deus.
Em todo homem, lambem no a., há a vocação ATIVIDADE HUMANA
para Deus. A inteligência e a vontade (o
"coração", diria sanlo Agostinho) aspiram a I, Noção. Por a. se entende lodo homem
Deus, Há, pois, em lodo homem uma incli - que age no tempo e na história e é transfor -
nação que o impele para Deus, ao qual em mado interiormente pela -•> graça divina
qualquer tempo e em qualquer situação pes- Ele,
soal e social em que se encontre, pode ade rir por' sua vez, transforma o —> mundo por
livremente. Voltando-se para o cristianismo, meio
ele encontra a mais maravilhosa resposta e a de sua atividade exterior, no sentido de que
mais luminosa libertação da escravidão completa a criação inteira com > Cristo re -
inieriordo negativo. Trairá nature/a é trair a dentor para a plenitude escatológica.
si mesmo. Tudo depende também da
inteligência, além da vontade. A ignorância II. No ensinamento conciliar. Embora
inculpável não impede que Deus intervenha indubitavelmente o tema ião amplo e ião fun-
com sua —* graça, seoa. (em sentido damental da a , (no qual estão implicadas
privativo) vive retamente, seguindo a lei que muitas noções fundamentais da teologia cris -
Deus inscreveu em sua —» consciência. Deus tã) não estivesse ausente da reflexão teológi -
não abandona ninguém e quer iodos salvos ca e magisteria! da > Igreja, podemos dizer
na dignidade da vontade livre. Mais grave é a que foi o Concílio Vaticano II que elaborou,
situação dos que, mesmo conhecendo > de forma direta e sistemática, o se ntido, o
Jesus Cristo, sua lei e sua —> Igreja, não só valor e a dignidade dessa atividade no âmbi -
a renegam, mas lambem a combalem. Mas a to da concepção cristã da vida e da
possibilidade do retorno a Deus e à fé eslá realidade.
sempre aberta. O Concílio dedicou a esse tema lodo o capí-
tulo lil da primeira parle da Gaudium et
NoiA-S. 'Hoje eMá cm alo urna desci isluiiii/.açào Spes,
progressiva da vida familiar, suciai e cultural.
Não são raros os núcleos- laminares nos quais sob o título significativo de Sobre a atividade
não K C re/a e não sc fala de Deus. No interior da humana no mundo. Uma vez que o mesmo
civili/.ação cristã há jovens e homens que nunca documento conciliar parece referir-se nào só
afrontaram seriamente o problema de Deus e dele à a. em geral (a qual existe desde sempre e é
não ouviram lalar seriamente nem na família nem conatural ao ser humano), mas também a a,
na escola. As escolas do Estado em geral são que tende hoje a controlar o mundo, e que
fortemente laicizadas, o ambiente cultural
permanece ainda sob a influência dominante do podemos considerar como fenômeno quan-
Iluminismo, que no mínimo ê indiferente quando titativo e qualitativamente novo (M. Flick),
não hostil ou pior ainda diante do cristianismo, nós nos referiremos ao Concílio.
como se se tratasse de um mundo de fábulas; - Em primeiro lugar, o texto conciliar toma
Tomás de Aquino, STh I. em consideração um dado fundamental que
q. 60, a. 5.
caracteriza nosso tempo, a saber, o
B i m . : Aa.Vv., Ateísmo contemporâneo, Nápoles desenvolvimento espetacular da ciência c da
1965, 534; Aa.Vv., Ateísmo tentazione th7 mondo, técnica, o qual dotou o ser humano de
risvegho dei Cristiani, Turim 1965. 283; Aa.Vv., capacidade impensável, e isso apenas cio
Dio e laicismo mculen u/, Assis ( PG ) 1974; L. alguns decênios para cá. Isso produziu em
Bojjiolo, Ateis-moepastorale, Milão 1967 (com vários casos certa —* dessacralização, no
Bini..}; A. Del Noce, it problema delt'ateismo, il início positiva, no sentido de que muitas
concetto dell ateísmo e la storm delia filosofia come
problema, Bolonha 1964, XXXI1-375; C. Fabro,
coisas que o homem esperava receber*de
Introduzione all u let sou i '>/(.'-denso, 2.. Roma loiças sobrenaturais, agora as obtêm de si
1971; T. Colli, s.w, in Dicionário de mesmo. O texto conciliar afirma com
espiritualidade, São P a u l o 1989; V. Messori, Í M solenidade o valor positivo do -* trabalho e
stsda delia fede Juori *' dentro la Cisiesu: da a., a sua bondade ontológica radical. Hm
Vattualuà ai una perspettiva Cristiana, Roma conseqüência disso o Concílio afirma que
1993; V. M i a n o , s.v., i n DTI 1, 426-451; G.
ac., tanto individual como coletiva, orientada
Morra, Dio senta Dio, Ateísmo, Secoiarizzazione,
Esperienza religiosa, Bolonha 1970; G . Mura, Una para melhoraras condições de vida do
mistica atea'\ i n Ixi Mística 1. 681-716; Philippe homem na terra, corresponde à vontade do
de la Trinité, Dialogue avec le marxfsme? Criador. Essa afirmação foi confirmada e
Ecclesiam suam et Vatican I I. fails 1955; R. Sei explicada freqüentemente pelo Magistério
üüaiiücs, Atei. miei fratelli, Tui i m 1966.
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pós-conciliar {PP 27 e LE 25, por exemplo). A
bondade radical da a., da qual decorre sua
dignidade, não se limita às grandes obras e
finalidades da humanidade, mas se estende
também ao trabalho e aos afazeres
quotidianos de todo ser humano, o qual, por
meio de sua atividade, sc torna colaborador
da obra criadora de Deus. Por isso ele vê
com amor o progresso

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AURÉOLAS - AUSÊNCIA DE SONO 13
2

Fatos dessa espécie podem ser facilmente às vigílias prolongadas, as quais, às vezes,
observados entre os animais (vaga-lumes e acompanham um estado de doença.-
peixes dotados de órgãos fluorescentes) e A a. é certamente um fenômeno excepcio-
entre os vegetais (algas e alguns tipos de nal, lambem no caminho da vida cristã, não
fungos). Também reações químicas de corpos só por sei' raro, mas também porque toca as
em decomposição podem produzir fenómenos exigências profundas e necessárias do ho -
desse tipo. A luminosidade que se verifica ãs mem, as quais, se não forem satisfeitas, le-
vezes nas sessões espíritas geralmente é fru - vam à morte. Esse fenômeno não se explica
to de fraudes, mas não se exclui que possa por ascetismos ou patologias, nem por auto -
controles psíquicos; a necessidade de sono
ser causada por —> satanás.
pode ser reduzida a um mínimo, mas não
supressa, se bem que, por si, o que é
II. Na experiência mística. As das Í .\
realmente necessário não é dormir, mas
quais falamos aqui se devem á intervenção
repousar.
divina, como no caso de Moisés (cf. Ex
A a. não pode ser explicada nem supondo-
34,28-35) e no de Jesus no labor (cl. Ml
se estado de > êxtase contínuo, o qual não é
17,2ss). De não poucos santos (Gregório Pala
mas, Francisco de Assis, Ângela de Foligno, sinal de loiça, mas de limite e fraqueza de
Catarina de Sena, Inácio de Loyola, Filipe natureza não perfeitamente purificada nem
Neri, Teresa de Avila) existem testemunhos suficientemente forte para suportar o peso
documentados de esplendores que da irrupção divina. No estado de perfeitos os
emanavam da cabeça, e também cio rosto, êxtases cessam. 1
dos olhos e de todo o corpo, geralmente na Julgamos também que esse fenômeno não
forma de a. ou de raios, de cometa e de cruz. deva ser explicado apelando para contínua e
Uma explicação plausível poderia ser que se miraculosa intervenção de Deus. Referir-se a
tratasse de antecipação da luminosidade do ela significaria justificar, mediante interven -
corpo ressuscitado, graças à — > inabitação ção extraordinária, aquela > comunhão com
do Espírito. Antes de nos pronunciarmos, Deus pela qual o homem foi criado homem.
devemos, contudo, averiguar a natureza ci o Com isso se afirmaria implicitamente que
fato e verificar se a pessoa c psi quicamente Deus determinou para a natureza humana
sã, moralmente honesta e sincera e uma finalidade inadequada. 4
espiritualmente atenta aos valores evan -
gélicos. II. Na experiência mística esse lenôme-no
representa a manifestação de vida que
BIBI ..: Cf. Bento XIV, Deservorum Dei bealifictstione
et beutorum C G f W J Ü s u t u v i e , Holtmha 1737, IV, atingiu a perfeita comunhão com Deus, de
1.26; J. Gagey. Pkdfiomèiies mystiifites, i n DSAM modo a sentir seus efeitos benéficos em todo
XII'1 , 1259-1274; H. Thurston, Fenomeni ftsicidel o ser, também no corpo.
misticismo, Alba 1956. Não se trata, portanto, de alguma coisa
que Deus acrescente à natureza humana,
P. Schiavone nem de suspensão de leis naturais. Trata-se
do amadurecimento de vida que, finalmente
ativa suas disposições e aperfeiçoa suas
capacidades naturais, as quais permitem
que Deus se exprima nela segundo seu
projeto original, o qual, um dia será
realizado plenamente em t< idos os salvos.
AUSÊNCIA DE SONO A criatura que experimenta esse fenômeno
não só já chegou à ■ > santidade entendida
I. O termo. Porei, entendemos o fenómeno como união total c perfeita da -> vontade,
que se prolonga por anos sem que a pessoa mas também está unida a Deus com lodo o
tenha diminuído seu vigor físico, psíquico, ser. É esse o motivo que explica, também
moral, espiritual e nem a atividade exigida psicologicamente, por que tais pessoas se
pelo seu estado de vida. 1 tenham tornado "incapazes de pecar". Na
Não nos referimos, portanto à insónia, lase de relação comunional madura com
devida a estados emotivos particulares, que Deus, o místico se encontra no estado de
deixam a pessoa fatigada e atordoada, nem repouso absoluto, de —> passividade mística
completa, de total —> acolhida a Deus até
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nas fibras mais periféricas. Isso permite
entendera vida eterna como vida do homem.
De falo, Deus não criou um homem para o
tempo, e outro (diferente) para a eternidade.
A unidade formada pelo corpo e pelo espí -
rito na pessoa convence-nos da necessidade
de aperfeiçoar os mecanismos psicofísicos

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B
BAKER DAVID AUGUSTINE levar a contemplação pura. Ele conhecia
perfeitamente os místicos ingleses do século
I. Vida c obras. Dum Aueustine B. é um XIV (e também os romanos e espanhóis) e os
dí>s poucos místicos conhecidos do conlur - fez conhecidos das pessoas que dirigia. Pelo
bado período da perseguição dos católicos fim de sua vida, em 1638, B. foi encarregado
ingleses, depois da proteslanti/.ação forçada novamente do ministério pastoral em
no país, na segunda metade tio século XVI. Londres, quando a perseguição estava no
Nasceu em Abergavcnnv, aos 9 de dezembro auge. De falo, dois de seus confrades foram
de 1575. Estudou em Londres e Oxford e se presos e condenados á morte. Mesmo
laureou em leis, tornando-se depois notário ocultando constantemente sua atividade, B.
em sua cidade natal. A morte de seu irmão e foi descoberto pelas autoridades, mas não loi
o falo de ele mesmo ter escapado miraculo- perseguido porque sol ria de um lebre
samente da morte, numa viagem, levaram- maligna, provavelmente a peste, que o levou
nos a passar do --* ateísmo ativo para o à morte quatro dias depois, em 9 de agosto
catolicismo. Convertido, entrou no novicia do de I 641.
na abadia de santa Justina, em Pádua, e se A ele se deve uma biografia de Gertrudes
uniu à Congregação Beneditina inglesa, Morus, sobrinha-neta de Tomás Morus (t I
pouco depois de sua refundação em 1619. 535), monja de Cambrai. As obras
Segundo alguns, B. tinha o dom inato da —> publicadas de B. são poucas, mas de quase
oração mística e, certamente, pouco depois todas restam cópias manuscritas. Depois de
de sua profissão monástica, por graça, e não sua morte. Sereno Cressy, com extratos
por ter aprendido, permanecia absorto em — delas, compilou uma antologia sistemática
> contemplação por cinco ou seis horas ao sobre a oração contemplativa. A obra
dia. Deve ser sublinhado que seu - > estado intitulada Santa Sofia foi publicada em
místico foi posto em dúvida por David Douay, cm 1657. Nas edições recentes o
Knowles, mesmo que muitos não tivessem título latino foi substituído pelo equivalente
aceito esse juízo. Em todo caso, para B. as inglês, ffoly Wistloni. Essa obra foi publicada
graças místicas terminaram ainda antes de várias vezes, também em 1950.
sua ordenação sacerdotal; assim, às
primeiras conso-ladoras alturas místicas II. Ensinamento espiritual. Antes de tudo,
seguiram um período de penosa -> aridez e. devemos sublinhar o pensamento de B. a
depois, uma tibieza que durou cerca de respeito da —> mortificação voluntária e
quinze anos. Durante esse período, B. viveu necessária. Ele dá mais importância ao se*
uma vida simples, mas perigosa, em Londres, gundo tipo de mortificação, isto é, à necessá-
ensinando e exercendo seu ministério em ria; a respeito da mortificação das —>
benefício dos pobres, sob a contínua ameaça paixões, B. reafirma a profunda necessidade
de morte, decretada pelas leis anticatólicas. da oração c do -> amor.
Foi através dessa atividade que conheceu a Examinando a —? humildade beneditina,
literatura contemplativa e, por causa dessa ele a distingue em adquirida e infusa, ou ge-
descoberta, voltou-se a um intenso regime de rada pela experiência contemplativa. Para B.,
oração; nessa ocasião foi designado capelão à "contemplação filosófica natural" segue a
de nobre católico, no condado de Devon. contemplação mística. Por meio dessa con -
Nesse período, B. passava ao menos onze templação, a alma, graças á intervenção do
horas ao dia em oração. Depois assumiu o —* Espírito, na obscuridade da fé, vê Deus
encargo de capelão do mosteiro das monjas como verdade infinita e repousa nele como
beneditinas de Cambrai, às quais ditava no bem infinito, acima das argumentações.
conferências espirituais, que formaram das especulações e cio uso perceptível dos
depois ao menos sessenta tratados sobre a sentidos internos ou das imagens sensíveis.
oração, muitos dos quais de caráter históri - Essa contemplação mística, segundo /?., é
co. B. não favorecia —> meditação ativa ou passiva. A primeira se verifica
estruturada, mas oração afetiva, que podia quando a pessoa se dispõe para ela; na
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segunda se reconhece uma ação especial do
Espírito Santo
na alma, justamente segundo o pensamento
de —> João da Cruz.
A vida de B. foi a de uma pessoa honesta,
generosa e solrcdora. mas parece que teve

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HARÜO LUDOVICO - UARIiLLI 14
ARMIDA 0

exercendo uma atividade: fingere. O que 134 (I9,s3'i2, 369-373; A. Pantoni, S.V., in D1P
equivale ao verbo componere, do qual se í, 1044-1047; G. 373; A. Pantoni, 5.v., inD/P
1, 1044-1047: G. Picasso, s.u, in DES I, 270-
encontrará uma expressão derivada 271; I. Tassi, s.v., in BS11, 778-779.
"composição do lugar". Esta palavra é, às
vezes, seguida pelo uso de um dos sentidos ./. Leclercq
corpóreos ou por uma ação: finge nos videre, BARELLI ARMIDA
finge uudire, finge te Mi sen1 ire. Expressão que
é assemelhada ao próprio ato de meditar: I. Dados bibliográficos. Nasceu em Mi-
niedittue et fingere. Isto é maneira de se lão, cm 1° de dezembro de 1882, de família
tornar presente ao mistério contemplado: abastada, de mentalidade liberal, não hostil
Finge te esse praesentein, de nele participar à Igreja mas afastada das práticas religiosas.
como em uma cena, no decorrei* da qual Em 1909, consagrou-se a Deus de forma pri-
entra-se em conversação com o -» Cristo: vada, e no ano seguinte encontrou o padre
Semper finge quod nomiíiet te nomine tuo. Por
Agostinho Gernelli, lato que se constituiu
este motivo, torna-se freqüente o imperativo
co-
do verbo "dizer": dic, ou o seu equivalente,
mo início de ininterrupta c muUilormc cola -
geralmente associado a uma ação ou que
boração. Com ele organizou a consagração
complementa esta, e que comporta muitas
variedades: striuge, tene, rude, arnplecfcre, dos soldados italianos, durante a Primeir a
sequi, proice te, revertere, Guerra Mundial, ao Sagrado Coração de Je -
piora, recedet associa cum... Às vezes o lalar sus. Em 1918, por incumbência do papa
torna-se um grito: clama. É freqüente o Ben-
exercício dos dois sentidos corpóreos, os que to XV, fundou a Juventude Feminina da
criam imagens: o da visão - imagina videre, Ação
vide contcniplure - e o da audição - attdi. To- Católica em todas as dioceses da Itália. Em
das essas fórmulas são equivalentes a outras 1919, tornou realidade uma forma de consa-
que indicam a mesma atividade mental: co- gração, já há tempo idealizada pelo pad re
gita, ante intellectum repraesentari. E o escopo Gernelli, para os leigos: viver uma consagra-
è sempre o de elevar-se, a pari ir do que ção especial a Deus, sem a vida em comum,
existe de belo na criatura - particularmente permanecendo inseridos nas estruturas da
no Verbo cie Deus encarnado em uma criatu - so-
ra humana - ao conhecimento de Deus e de ciedade para animá-las internamente. Do pe-
suas belezas: ut per pulchritudinem creatu- queno núcleo de franciscanas reunidas em
rarum homo specialiter ad Dei cogniiionem Assis, em 1919, haveria de desenvolver-se o
ascenda:, ...vidchritudo deitatis. Instituto Secular das Missionárias da Reale-
Assim, graças a esse procedimento, za de Nosso Senhor Jesus Cristo.
baseado no uso do imaginário, a Em 1921, padre Gernelli fundou a Univer-
contemplação do mistério do próprio Deus sidade do Sagrado Coração e B. foi sua
torna-se, não somente possível, mas fácil, e cofun-dadorae responsável pelas finanças.
alé agradável e acessível a todos, pois todos Ern 1929, com o beneplácito de Pio XI,
- letrados e iletrados - são dotados da inaugurou a Obra da Realeza de Nosso
mesma capacidade de imaginação, de Senhor Jesus Cristo. Vivenciou a
figuração. Com este ensinamento, B. assume necessidade de difundir a espiritualidade
vim lugar na história das relações entre a cristocêntrica e aprofundada catequese
devoção abstrata e a piedade popular. litúrgica. Confiou a direção do Instituo ao
liiuu Obras: 1.. Barbo, Ft'nua c/aiionis t ; padre Gernelli. Na década de 30, organizou a
maiitaüoms, ia H. Wairijiant, Quehpies pt\ Semana da Jovem, para estudantes e
mioteurs de la méditation mè iht clique au XV * trabalhadoras. Tal iniciativa estendeu-se a
tecle. Hn.izhien 1 (í 1 9, 15-28:1. Tassi, Ualovtco
Barbo {1381-1443), Roma 1952 (edição da quase todas as cidades da Itália, tratando de
Fornia orai:.mis nas pp. 143-152 .1. Estudos: problemas vocacionais ou da preparação
.1.1 ivleivq, Ludovico Barba e storia para ávida familiar, para o trabalho, para os
deWitnma^inarío, in Aa.Vv., Ri forma delia deveres profissionais, civis, sociais, políticos,
C/iiesa, ctdtura e espiritualità nel Quattrocento
veneto, Cesena 1984, 385-399, reimpresso in sempre de acordo com a ótica de um
Aa.Vv., Momenti e figure di storia monástica cristianismo atuante. Em 1945, fez a
italiana. Cesena 1993, 529-542, M. Malilei, campanha para que fosse concedido às
s.v, in DSAM I, 1244-1245: C. Meli inato. Di mulheres o direito ao voto, reivindicando
nfonna nionasiica di Ludovico Barbo, in CivCat
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para elas a igualdade dos direitos civis e
políticos. Em 194S, trabalhou intensamente
pela afirmação das loiças de inspiração
crista no campo político. Em 1949, foi
atingida por grave enfermidade que a pri vou
da voz. Morreu em 15 de agosto de 1952.

II. Experiência espiritual. Uma das ca-


racterísticas mais marcantes da personalida -
de de B. foi a ■> fé profunda, imediata, ope-
rosa, que se expande numa visão teocêntrica
e cristocêntrica do universo, da história e da
vida. A sua originalidade é dada pela —>
ora-
ção contínua na ação, por isso nela tudo era

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H A RT H KA R L 14
4

Somente a divindade de Deus, retamente não seria esta uma boa razão para esquecer
compreendida, engloba sua humanidade e, quanto existe de válido na sua maneira de
posteriormente, revela também a nossa. E fazer teologia. Por exem-pio, conjugando as
esta verdade/descoberta (decisivamente duas analogias de uma forma menos
totalmente diferente: mística?) tornava a opositiva. Também porque, se dentro da
delesa>' crítica barthiana extremamente analogia da lc a analogia do ser não
virulenta, como ele mesmo reconhecia com encontra o seu lugar, a —» revelação que
humildade: às vezes, no debate, comportei- Deus fez de si mesmo não seria mais do que
me de modo "brutalmente desumano" e "perigoso negócio da China" ( como disse
assim "errei, justamente onde linha razão"! Brunner, em urna polêmica com B.).
Ter tudo isso em mente significa pòr-se no
ponto de vista exato para entender B. que, II, Mística barthiana. E assim é chegado o
até ao último momento, apavorava-se com a momento de ressaltar algumas caracterís -
idéia de que "Deus", imperceptivclmente, ticas da "mística" de B., analogicamente en-
ressurgisse nas proximidades da experiência tendida. Lembremos antes de tudo que, ao
religiosa de Schleiermacher ou do pielismo defendera transcendência divina e proclamar
de Zin/endort ou do existencialismo cie —> o "Deus Totalmente Outro", tí. evita tanto o
Kierkcoaard. Por isso B. repete sem se encontrar Deus no puro símbolo da
cansar: o Deus que se revela deve sempre representação - porque a fé não é
permanecer no centro (do homem e da representação conceituai, mas Erlebniss,
história) mas, ao mesmo tempo, permanecer isto é, um contínuo passar do inautêntico
sempre "o totalmente outro" de nossas
(do pecado) para o autêntico (da graça),
categorias. Daí o primado bíblico, ou seja, da
dando ao Dasein zum Tode de Heidegger o
Palavra libertada! Que o homem possa gritar
sentido de decisão por Deus (em Cristo), que
em alta voz que se sente sucumbir sob o
vem do futuro (na té), - como no arroubo
peso de Deus - corno aconteceu com são
Cristóvão - pode, talvez, parecer patético ou espontâneo que, embora emotivamente útil,
interessante, mas teologicamente isso não não se mostra muito adequado ao apelo cio
tem importância. Seria rebaixar a teologia, pacto que Deus (em Cristo) propõe (com
reduzi-la ao papel de monitora da situação certeza realizando suas promessas, mas
humana. muito raramente os nossos
A teologia, de acordo com B., precisa ser desejos). Falando de outra forma, para B.
preservada de uma influência cio demasiado tanto o racionalismo como o irracionalisuio
"Kierkegaardejar". carecem daquela acuidade crítica que os per-
Santo Anselmo lhe mostrara o justo meio. mita colocarem-se no plano da distinção en-
Para o escritor medieval a teologia não é tre forma e conteúdo, linguagem e realidade.
"ciência contemplativa, sem finalidade algu - res et sacramentam, isto é, naquela
ma fora da Igreja". E B. afirma que, para se perspectiva que, somente ela, faz justiça à
tornarem plenamente conscientes disto, os humanidade do homem e à divindade de
verdadeiros teóiogos tiveram também de re- Deus. Sem essa acuidade, tanto a religião
zar. E fizeram-no tanto mais conscientemen- quanto a ética descambam para uma
te quanto mais se deram conta da fragilidade categoria que pode ser caracterizada como de
de seu trabalho, porque, "como teólogos de - gostos e projeções psicológicas. Neste
vemos falar de Deus. Mas nós somos homens sentido, a atitude racionalista, como também
e como tais não podemos falar de Deus". a de falsa mística, provocam os mesmos
Justamente nesta contradição c que devemos danos: o naufrágio do espírito crítico e
procurar n gloria Dei, e também o lugar profético em suaves e consoladoras
onde possa viver o homem que nela satisfações dos instintos reli-
encontrou graça. O caminho de saída não é giosos/existenciais, que fornecem às
fácil, porque a reflexão do crente não se variadas e mais ou menos violências
move exclusivamente de baixo para cima, incônscias os álibis hipócritas da
como também não sobe apenas da evidência benignidade. B, nos oferece, nesse sentido,
natural em direção aos mistérios celestes. um esclarecimento ulterior ao analisar o
Nas origens de qualquer teologia está a "tempo seqüestrado" por Deus. Além do
descida de Deus, que se revelou a si mesmo tempo da criação, desconhecido do homem
aos homens. Partindo deste ponto, B., com pecador - que vive no tempo inautêntico do •
toda a certeza, talvez tenha ido um pouco •> pecado, - existe também o tempo autêntico
além, ao condenar a teologia natural. Mas que Deus reserva para nós, es-tendendo-o da

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criação à parusia através das várias etapas
da revelação e da reconciliação. Para B. a
análise filosófica, tanto a feita por —»
Agostinho como a de Heidegger, não pude ter
outro objetivo que o tempo do homem,
libertado por Deus e que, através das trevas

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BATISMO Páscoa; fundamenta-se na celebração e
expande-se no testemunho da caridade. O
mícias dos que ressuscitaram dos mortos, já valor que importa no mistério cristão é viver
que nele todos os homens morreram e res- a vida que se revelou em 148
suscitaram. Exaustiva contemplação do
acontecimento da cruz permite-nos Cristo, morto e ressuscitado. Esta experiên -
compreender em profundidade o significado cia não é lato estático, mas essencialmente
do/?. — > Paulo recorda-nos esta verdade de dinâmico, pois o dom batismal significa rea-
maneira bastante clica/.: "Pois nele habita lizai', de maneira diuturna, sob a incessante
corporalmente toda a plenitude da divindade ação do Espírito Santo, a transição do
e nele fostes levados á plenitude. Lie é a homem da morte para a vida, e isto se
Cabeça de lodo Principado e de toda realiza na atualização contínua da
Autoridade... Pois morrestes e a vossa vida conversão. A vocação batismal é, de lato,
está escond ida com Cristo cm Deus" (Cl 2.9; acolhimento do dom da conversão, a exem plo
3,3). do modo de vida de Jesus: profunda atenção
Contudo a revelação não pára nesta para com o Pai. seguida pelo abandono das
compreensão do acontecimento batismal. A exigências do homem mergulhado no pecado,
contemplação do Cristo faz-nos mergulhar através da perfeita docilidade à ação do
no mistério do Verbo feito carne, no qual Espírito Santo. A conversão torna-se, em
está a vida. O batizado, de fato, com o gesto Cristo Jesus e no Espírito, ascensão
sacramental afirma que Jesus é o Senhor, e constante ao Calvário, para se tornar,
por isso participa da vida eterna. posteriormente, a assunção à direita do Pai,
Parafraseando as expressões do evangelista reproduzindo o Mestre.
—»João (20,31), assim poderia ser definido o Este itinerário realiza-se na Igreja, com a
mistério batismal: "Este ritual é executado igreja e pela Igreja, pois todo batizado repre -
para que creiais que Jesus é o Cristo, o senta um dom do Espírito ã comunidade
Filho de Deus e cren do tenhais a vida em cristã para que ela reencontre seu frescor e
seu nome". O cristão, por isso, gerado por sua juventude evangélica. Este componente
Deus é chamado para tornar-se filho de ecle-sial constitui elemento particularmente
Deus na aceitação cotidiana do Mestre, para importante para a compreensão do b.
poder atingir a maturidade da fé (cf. Uo 3,1- Um aspecto essencial do dom do batismo
2). é a superação da divisão existente no
homem, por causa do pecado, para crescer'
III. A vida batismal. O />. é acontecimen- na verdadeira comunhão desejada por Jesus:
to que torna o cristão memoria de Jesus, "Eu neles e tu em mim, para que sejam
pois. a partir do momento do encontro perfeitos na unidade e para que o mundo
sacramental ele se torna contemporâneo de reconheça que me enviaste" (Jo 17,23).
Jesus e o próprio Jesus torna-se Semelhante estilo de vida revela-se possí-
contemporâneo dele. A experiência batismal vel no discípulo que, ao acolher a mensa gem
representa contínuo, diuturno e inexaurível pascal da salvação, está consciente de que é
processo de atração que marca o cristão em dom do Pai ao Filho para que este, alraindo-
lodo o seu ser e na globalidade da sua o para si, devolva-o ao Pai, depois de tê-lo
inserção na história hu-rna na. renovado na hora da Páscoa (cf. Jo 17,6), A
O rito batismal assume siunificado mais experiência espiritual do batizado se repro -
profundo do que aquilo que se poderia en - duz em sua consciência profunda de estar
tender. Exprime a unidade de dois compor - nas mãos do Pai para ser moldado pela
tamentos: a obediência pascal de Jesus e a morte-ressurreição do Senhor, através da
ânsia de obedecer dos que ardentemente de - plena docilidade á ação do Espírito Santo.
sejam o encontro sacramental. No b. a Agora ele é filho no Filho e goza da
oblação de Cristo torna-se a obediência do intimidade do Pai. Faz parte deste
discípulo e a oblação do discípulo a expan- acontecimento o inefável processo de
são da obediência de Jesus. Este é o verda - divinização pelo qual o batizado torna-se
deiro sentido da experiência espiritual que participante da natureza divina (cf, 2Pd 1,4),
flui da celebração do Agora o discípulo vive goza de relacionamento vivo com a
somente do que está relacionado com o —> Santíssima Trindade e cresce no contexto da
mistério pascal de Cristo. Toda a sua imortalidade divina, de tal modo que pode
existência é cristã, à medida que vive e perceber a luz interior que o transfor ma, de
assume o mistério crislão que lhe é maneira contínua, e o guia para a ascensão
comunicado pela atualidade perene da da transfiguração plena.

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IV. O desenvolvimento da vida batismal.
A aquisição do conhecimento destes dados
essenciais permite superar leituras
meramente extrínsecas ou parciais do
acontecimento batismal e nos ajuda a
reencontrar as moda-

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B E D A . O Y T ' N U K A V H I . ( S J MU J 15
2

pela salvação dos outros, especialmente dos em diversas tonalidades, o seu pensamen to
pagãos. A sua teologia espiritual apresenta a sobre a contemplação e a mística. Destaca
maturidade cristã como a perfeição do —> na > Igreja na terra pausas de contempla -
amor, culminando na solicitude pastoral e ção, nas quais escuta a voz do Esposo (Cl
na evangelização missionária. 2,8). que a deleita muito. Dc fato. embora no
momento ainda não seja lícito contemplar o
III. Doutrina ascético-espiritual. Falando seu rosto, todavia é possível degustar a
do cristão investido da dignidade do sa - doçura de suas palavras na Escritura. Para
cerdócio comum dos lieis, a —> purificação alguns, por um dom maior (attiore dono) é
do -> pecado aparece a B. como um pré-re- concedido, elevado o olhar da mente pura
quisito para que o cristão possa oferecer para as coisas celestes (ut subleva to nd
ações santas (cf.: I n Ez/con li: CCL 119, 336: caelcstia purae mentis intuiiu), pregustar
ibid.. III: CCL 119, 388; Km 12,1 e SI 50,19). alguma suavidade da vida futura já agora
A —> penitência dos —> pecados cometidos (cf.: I n Carit. Cantic, I: CCL 119, 218). Para
consiste em oferecer sacrifícios agradáveis a B. a vida contemplativa é bela e é também
Deus ( I n Ezram I : CCL 119. 264). Desta
útil para toda a Igreja. Mas é dom reservado
primeira fase de puril icação deve-se passar
aos cristãos mais perfeitos gozar da visão
para a da aquisição das virtudes, mediante a
interior de Cristo, que apare ce a seus
ascese (mortificações e orações) para
espíritos com a velocidade do cervo ou que
coadjuvar a graça do Espírito (cf.: De tab. III:
CCL 119, 126), mas em particular, para a — se deixa entrever per speculum et in aenigmate,
> imitação e o —> seguimento de Cristo corno que através de grade (cf. ibid., I: CCL
morto e ressuscitado (cf. Expl Apac. I: PL 218,220). E situação que deixa a Igreja
93,145-6). Iodo Hei, portanto, é constrangido trepidante, a qual, também não se negando à
a amaro próximo, à semelhança do Filho de labuta da evangelização, contudo pede que
Deus encarnado, que preferiu a misericórdia Cristo se torne presente mais vezes, ao
ao sacrifício. B. salienta o valor novo que menos para os fiéis mais perfeitos (cf. ibid.,
assumem as expressões da —> caridade para II: CCL 119, 228-9). A ação divina é deter-
com o próximo, à medida que Cristo as minante para isto "porque o esforço huma no
assume como dirigidas a si mesmo (cf.: Horn. não produz a contemplação, mas dispòe para
II, 4; CCL 122, 210). Outra expressão do ela" (F. Vernet) O binômio típico de
sacrifício espiritual é a —> oração intensa, Beda,contemplação-açáo, é aprofundado no
compreendida, ã maneira dos Padres, como comentário ao Cântico das cânticos, como
toda ação realizada por amor de Deus: a vid a na passagem onde se recorda que "a santa
inteira é liturgia ininterrupta (cf.: I n Lc. V: Igreja reconhece neste terreno presente duas
CCL 120, 322). A oração estão relacionados a vidas espirituais, uma ativa, outra
intercessão a Cristo, imitado em sua contemplativa" e a Escritura fala ora da
mediação junto ao —> Pai, e o perdão Ira contemplativa (cf. Ct 2,8), ora da ativa (cf.
terno dos pecados leves. K de se notar, além ibid., 2,15), ora de ambas (cf. ibid., 2,16). O
disso, que B. é testemunha na Igreja anglo- Senhor se compraz tanto da ação externa
saxõnica da —> eucaristia e apóstolo da puta, corno da doce contemplação mais
comunhão quotidiana ou freqüente, sobre interior (dulci interius aeternorum
que fala na Caria a Egberto. conteniplatione), ale que chegue o dia da
Observemos ainda que/4. I az sua a verdadeira luz [diesverae lucis), quando então
divisão tradicional dos cristãos em não nos aladigaremos no cumprimento de
"principiantes", alguma boa ação, e nem os mais perfeitos
proficientes" e "perfeitos", visto que estas contemplarão apenas de relance e per
duas últimas categorias diferenciam-se pelo speculum et in enigtnate as coisas celestes,
critério do grau de amor, entendido em sen - mas toda a Igreja, ao mesmo tempo, verá o
tido integral e que B. denomina de —> com- Rei do céu em pessoa em seu esplendor. Não
punção (cl: De tab. III: CCL 119, 131-2). Exis- obstante isto, a Igreja, em interpelação a
tem outras categorias mais perfeitas de Cristo, implora dele que "a doçura da vida
cristãos, isto é, os "virgens", os "mártires" e imortal, que prometes como recompensa a
os "ministros da Palavra". todos os meus membros, concedas a alguns
contemplar ainda no caminho, pelo menos
IV- Doutrina mística. No comentário ao > de longe" ( I n Cant. Cantic, II: CCL 119, 229-
Cântico dos cânticos B. continua a exprimir,
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30). Observemos que tudo o que foi dito por
B. a respeito da ação-contemplação, deve ser
entendido como válido tanto para a Igreja
corno para a alma. Por sua parte, B. não dei-
xa dc fazer ver sua própria —> experiência
espirilual-místiea. Mas Cristo nem sempre
antecipa no presente a visão que promete
aos que chegam à pátria. Como se vê, a
perfeição

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BELARMINO ROBERTO 15
(santo) 6

Sua obra principal é constituída pelas outro grau de perfeição. A este respeito B.
Dis-putationes de controversiis chrisíianae fidei distingue quatro níveis: o primeiro é exclusi -
adversas huius temporis haereticos, comu- vo das Pessoas Divinas: Diligere Deum quan-
mente conhecida como Controvérsias {em 3 tum est diligibilis, idest infinito amare/ O se-
volumes, 1583-1593), obra na qual B. apre- gundo é próprio dos beatos: Diligere Deum
senta urna sununa das questões doutrinais quantton potest ercatura diligere, ita ut semper
surgidas entre católicos c protestantes, acta de Deo cogitet et sitie interrnissione in eiun
escrevendo o texto ilos cursos lecionados no per affectum feraiur, et ne primus quidem tnotus
Colégio Romano de 1576 a 1588. A cupiditatis sentiat contra Deum. O terceiro grau
influência exercida por estes escritos, na é próprio dos homens que se consagram a
cultura protestante ou não, foi notável, tanto Deus: Diligere Deum quantum potest creatura
que em 1600 foi fundado em Heidelberg o mortalis, quae a sc removit omnia divini amoris
Collegium Anti-bcllarminianum, e por meio impedimenta et totant se Dei obsequio
século a obra de B. esteve no centro da consecravit. Hntre estes B. distingue os
atenção dos teólogos não-católicos. bispos, já detentores de certa perfeição -
Contrariamente à obra dogmático-apo- comprometidos com a perseverança nela e
logética, compacta e solidamente organiza da, com o esforço para fazê-la crescer -, dos reli-
nas Controvérsias, a obra ascética de B. está giosos, que ainda tendem ã sua consecução.
espalhada por muitas tratados e opús culos, Enfim, o quarto grau diz respeito a todos os
que remontam aos anos da maturida de, que põem o amor de Deus em primeiro lugar
surgidos da reflexão bíblica, dos estudos e se esforçam para vivê-lo concretamente:
patrísticos e, finalmente, da experiência de Diligere Deum, ita ut nihil aeque, aut magis
toda uma vida dedicada ao sen iço da Igreja. quam Deum diligat, id est nihil admittat
Pertencem a este grupo, entre outras: De conirarium divinac dilectioni. A pertença aos
ascensione mentis in Dewn per scalas rerum dois primeiros níveis é tanto mais definitiva
creaturum (Roma, 1615); De aetenui felicitate quanto sujeita ao crescimento dos dois
sanctorum (Roma, 1616); De septem verbis a níveis inferiores, pois o homem, enquan to
Christo in Cruce prolatts (Antuérpia, 1618); De vive na terra, oscila entre a tensão para
cognitione Dei (póstuma, Lovaina, 1861). Deus e o distanciamento dele, no que se
parece com o movimento das marés.
II, Doutrina espiritual. O pensamento de Concluindo, B. é exemplo daquela que
B. mergulha suas raízes na espiritualidade pode ser definida como a mística do —>
inaciana, seja pelo seu conteúdo, seja por serviço de Deus. Sua atitude contemplativa
sua tornia, uma vez que ele toma como constante, sustentada por profundo
modelo a linguagem sóbria e concreta dos sentimento da —» filiação divina oferecc-lhe
Exercícios de santo Inácio. Objetivos primários aquela —> paz interior e - > liberdade
de seu ensinamento espiritual são o amor de espiritual, próprias dos místicos, até em
Deus e do próximo, concretamente meio às preocupações mais absorventes.
manifestados no serviço de ambos, c a - )
NOTA : As citações
1 são tornadas de O.
virtude, alcançada mediante o autocontrole e
Marchetti, in
o esforço individual, para progredir no perfeikme Cristiana secando ü s. cardinalc Bellar-
caminho do céu. mino, in (irei; I 1 (1930), 317-335.
A —> perfeição cristã consiste - para B.f
corno também para Inácio - na —> caridade Obras: A primeira edição da Opera
Biiii..:
omnia de Belarmino foi a de Colônia (1617-
compreendida no sentido mais amplo do ter -
1620), seguida da de Paris (16 19», Veneza
mo, porque somente ela permite ao homem (1721-1728), Nápoles (1856-1862) c ainda
chegai até Deus. A caridade é. pois, a perfei - Paris (1870-1874). Para nossa cônsul ia servi
ção do homem. Quanto mais este é rico de > mo-nos da em & volumes, org. por C
graça, tanto mais fortemente recebe e re - Giuliano, Nápoles (1856-1862). A bibliografia
tribui o amor divino, progredindo no cami - belar miniana é muito ampla; limitanio -nos a
nho da perfeição, com sentimento que se citar dois repertório bibliográJicos que
tomeeem orientação ampla e concreta na
torna cada vez mais proiundo e intenso, e matéria: A. Maneia, Bibliografia sistemática e
que se manifesta na vida da Igreja, e em com meu tata degli \iudi sulVopera bellanniniana
toda forma de serviço à humanidade. dal J900 al 1990, in Aa.Vv., Roberto Bcilartnina
De acordo com a maior ou menor intensi - arcivt scovo di Capua. teólogo c pastore deliu
dade do alo de caridade, a pessoa sobe paia Riforma caiíoUca, Cápua 1990, 805-872; L.
Poliiar, Bibliographie sur 1'histoire de la
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Conwagnie de J e s u s . J 9 0 I- I9 S 0 , 111. D>s
Personnes, Dictionnahr A/F. Insútutum
Misloricum Societaiis Jesus. Roma 1990,
234 259. Estudos: G. Galeota, s.v., in DSAM
XIII, 713-720; I. Iparraguirre, s.v., in IliS XI,
247-
2 5 9 ; Id .,i .v., mD E S l , 336-337; E. Riatz vou
Frcnlz. Dieaszeitsrhen Sefirrften des R.
Bdlarmino, in Z11/ 7(1926). 113-150.
A7. G. Eornaci

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Ht M - A YI N [I RA N t.A S

pois o que lhe foi dito da parte do Senhor aquele que escuta o Cristo (Ap 1,3; 22,7) e se
será cumprido" (cf. Lc 1,45), exclama Isabel conserva vigilante (cf. Ap 16,15), porque é
diante de -* Maria. Nela Deus está particu- convidado para as núpcias do Cordeiro (cf.
larmente presente em seu Filho feito carne e Ap 19,9) pela ressurreição (cf. Ap 20,6). Ainda
nisto ela acreditou, por isso é feliz. "Porque que tenha de entregar a vida como
viste, creste - diz o ressuscitado a Tomé - testemunho, não pode esmorecer: "Felizes os
Felizes os que não viram e creram" (Jo mortos, os que desde agora morrem no
20,29). Sem a fé torna-se impossível Senhor'" (Ap 14,13).
qualquer discurso sobre a b. O fundamento b. Bem-aventuranças. Com as b. Jesus des-
de toda b. é aceitar Deus e a sua palavra ceu ao centro desta nossa humanidade para
salvífica, por isso, àquela mulher que dar sentido a tudo o que atormenta o homem
chamou bem-aventurada a Mãe de Jesus, e o enche de medo. Para que suas palavras não
este respondeu; "Felizes, antes, os que fossem vãs, ele mesmo assumiu a condição de
ouvem a palavra de Deus e a observam" (Lc —> pobreza, fome, dor, perseguição: é o
11,28). O mesmo que fez Maria na itinerário do aniquilamento e do total "es-
anunciação. A b. c experiência viva e a vaziamento" descrito por -> Paulo (cf. Fl
descoberta da presença ativa, amorosa e 2,4ss). As b. t situadas no início do discurso
salvífica de Deus em Cristo Jesus: "Mas feli - inaugural de Jesus, oferecem, de acordo com
zes os vossos olhos porque vêem, e os vossos Mt 5,3-12, o programa da felicidade cristã.
ouvidos, porque ouvem!" (Mt 13,16). É a 6 . Na recensão de Lucas elas são conjugadas
de Pedro (cf. Mt 16,16-17), é somente a gra- com situações de sofrimento, exaltando, de
ça que beatifica. Mas, ainda mais felizes são tal modo, o valor superior de certas condi -
os que crêem sem terem visto (cf. Jo 20,29), ções devida (cf. Lc 6,2(>-2 P). As oito (ou nove)
os que se confiam a Deus mesmo quando na b. de Mateus são catequese de vida nova no ->
-» aridez da vida e no escuro da fé. A b. é Espírito, que ele descreverá nos capítulos 5-7
alguém sentir a vizinhança de Deus, ajudado (sermão da montanha), página que evidencia,
por ele e amparado nas situações limite da seja as atitudes, seja as disposições
vida humana: é sentir-se, corno ele, útil á interiores requeridas pelo evangelho do Rei-
salvação do mundo. Exige esforço pessoal de no. Lucas, pelo contrário, fala de apenas qua-
—> conversão radical e de mudança de men- lio h. em seu "sermão tia planície" (6,20-47),
talidade para que a b. seja entendida e anunciando a felicidade para os que vivem
aceita. Exige pleno acolhimento da vontade em situações particularmente dolorosas. Je-
de Deus, porque a b. é particularmente sus veie» da parte de Deus para pronunciar
exigente no plano pessoal. Jesus declara solene sim às promessas do AT. As h. consti-
felizes os espectadores das maravilhas tuem o sim pronunciado por Deus em Jesus,
divinas operadas no tempo messiânico (cf. o qual se apresenta como o que leva à plena
Mt 11,2-6; 13,16ss), mas sobretudo os realização a aspiração à lelicidade, o Reino
servos fiéis que, quando o Senhor retornar, dos céus está presente nele. Mais ainda, Je-
serão encontrados vigilantes e empenhados sus quis encarnar as 6. vivendo-as perfeita-
no cumprimento de sua vontade (cf. Lc mente, mostrando-se "manso e humilde de
I2,37ss). Estes, de fato, escutam c vivem a coração" (Ml. 1 l ,29). Com Jesus, os bem-aven-
Palavra, por isso são felizes (cf. Lc 11,28). turados deste mundo não são mais os ricos,
Tal felicidade é atingida e experimentada os bem nutridos, os bajulados, mas os que
pelos discípulos de Cristo que se encontram têm fome e que choram, os pobres e os per-
em estado de pobreza e de aflição (cf. Lc seguidos. Esta subversão de valores é possível
6,20ss) c empenham-se seriamente no pela ação daquele que é a síntese de todos os
caminho da paz, da misericórdia e do amor, valores. As b. pretendem ser o retrato do homem
porque se põem em sintonia com as ideal, para o qual devemos tender, que ainda
exigências fundamentais do reino não foi realizado, mas que nós esperamos
messiânico. As pessoas bem-aventuradas e poder realizar cm sua plenitude; elas são a
felizes, segundo o ensinamento do profeta de carteira de identidade do cidadão do Reino de
Nazaré, são as que vivem as exigências do Deus, assim como o sonha Cristo e como
reino, sinteti zadas na pobreza evangélica e quer que nós o encarnemos, p< >r que o
no amor fraterno. A b., de fato, é a —» visão Reino
de Deus na plenitude da —> caridade. de Deus já está em nosso meio!
Somente quem pôs Jesus no centro de sua fé O espírito das b. pode ser sintetizado em
pode ser verdadeiramente feliz. É esta a frase que Mateus põe no fim do sermão da
promessa do último livro da Bíblia: feliz montanha: "Portanto, deveis ser perfeitos,
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como o vosso -> Pai celeste é perfeito" (Mt advento definitivo do Reino de Deus os po-
5,48). A —> perfeição é coisa que não possuí- bres gozarão verdadeira e plenamente dos
mos, é meta a ser atingida, montanha a ser efeitos da solicitude de Deus, que encherá de
escalada, mas, ao mesmo tempo, é algo de bens os famintos e despedirá os ricos com as
dinâmico, que vai se realizando. Este é o nú- mãos vazias (cl. Lc 1,52-53)- Eis porque o
cleo fundamental das b. Elas são o espelho anúncio da iminência do Reino de Deus só
de atitude evangélica radical, não a descri - pode encher de alegria os pobres: Deus mesmo
ção de comportamento de algumas horas ou está prestes a assumir a tutela deles, tor-
de alguns momentos. São o apelo para a per- nando-os o objeto de sua solicitude real.
manência de estrutura fundamental, e que Aquele que possui espírito de pobre, vive sua
deve tudo abarcar. Com as b. e todo o sermão da total adesão a Cristo com estilo de vida
montanha, Jesus nos convida ao "amor humilde: "Se alguém quiser ser o primeiro,
total", orienta-nos para o "espírito", isto é, a que seja o último e aquele que serve a lodos"
raiz do ser. São elas o eco da -> lei do amor ao (Mc 9.35). Ter espírito de pobre significa ter
próximo e ao inimigo, enquanto irmão em a coragem de desdobrar-se com humildade no
Cristo. Dando "carne" às b., a vida cristã —> serviço, a exemplo de Cristo que não veio
torna-se arrojo evangélico inédito, misteriosa para ser sen ido, mas para servir e que "Por
corrente de radicalidade profética em con- causa de vós se fez pobre /embora/ fosse rico,
tínuo diálogo com a transformação dos tem para vos enriquecer com a sua pobreza" (2Cor
pos e o surgi mento de novos desafios. A vida 8,9). Significa, também, tornar-se sacramento
cristã deve reinventar a contestação evangé - da solicitude L i e Deus, sinal eloqüente de
lica e viver a fé com fidelidade dinâmica e esperança para os que vivem na opressão.
criativa, deve sabei" nanar a lidei idade e as b. Felicidade dos aflitos. De acordo com o
maravilhas do Deus-conosco, sabendo reve- texto de Is 61,1-3, o enviado do Senhor vem
lar Deus" e "dizer a fé" em termos inovadores e também para "curar os quebrantados de co-
significativos, íazendo-se arauto de nova ração... a fim de consolar todos os enlutados
cultura da esperança. As/;, são a transparên- de Sião...". Jesus proclama felizes oi pen-
cia de Deus na vida do místico, que se mani- thountes: aqueles que se afligem. Panthein, de
lesta por sinais imediatamente perceptíveis, fato. significa "afligir-se, condoer-se". Este
como a maturidade humana, > solidarieda de verbo, muitas vezes, está relacionado com
efetiva, compaixão e ternura, fraternidade e klatein (chorar) porque a aflição interna cos-
paz, fé que sabe arriscar. O místico, que vive tuma manifestar-se externamente nas lágri-
em plenitude cada tinia tias /;., manifesta a mas. Em Lc 6,21, pode-se ler: "Bem-aventura-
felicidade possível no aqui e agora, possuída dos vós, que agora chorais, porque haveis de
por quem já vive no coração de Deus e o com- rir" e cm Lc 6,25: "Ai de vós, que agora rides,
promisso construtivo a favor de nova huma- porque conhecereis o luto e as lágrimas!".
nidade. No AT a aflição é causada pela participação
nas desgraças dos outros (cf. Gn 23,2; 50,3).
III. O espírito das b. a. Felicidade dos pobres. No SI 35,13ss, é descrita a solidariedade com a
No texto grego de Mateus 5,3 usa-se o termo enfermidade do outro, solidarieda de expressa
ptochõs: mendigo, miserável, incapaz de pela dor comparada ao luto que se carrega
proveras próprias necessidade, para indicar pela morte da própria mãe. A experiência da
quem espera dos outros os meios de sub- impotência humana diante da necessidade e
sistência e não possuí o necessário. Em he - o desejo de ajudar o próximo sofredor
braico temos dois termos quase semelha nles: conduzem à —> oração, ao pedido de ajuda a
'ütü e Vmmv. O primeiro indica quem cede, Deus, pedido reforçado pela —> penitência e
dobra-se, o homem que se rebaixa, curva-se, pelo —> jejum. No rol das obras de
submete-se: é o oprimido. O segundo, quase misericórdia em Hclo 7,31-36, encontramos
sempre usado no plural, indica pessoas mo- igualmente a participação na dor alheia: "Nâo
destas, humildes, dominadas, mansas, cuj a fujas dos que choram, aproxima-te dos afli-
humilde submissão transforma-se esponta- tos" (cf. Rm 12,15). Também o pecado do pró-
neamente em uma atitude de confiante ape - ximo é motivo de aflição (cf. Esd 10,6; Ne 9,1).
go em Deus. Para o hebraico, portanto, o "po- Pois bem, todos os que sabem afligir-se, par-
bre" é o homem sem de lesa. A primeira b. ticipando da dor do próximo, serão consola-
relembra o oráculo de Is 61,1-3. retomado dos por Deus. Pai de toda consolação. São
também por Lucas na pregação inaugural de Paulo usa freqüentemente o verbo consolare. O
Jesus na sinagoga de Nazaré e apresentado texto mais explícito está em 2Cor 1,1-7:
como resposta aos discípulos do Batista: "os "Deus... e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
pobres são evangelizados" (Mt 11,5). Com o o Pai das misericóridas e Deus de toda conso-
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lação! Ele nos consola cm todas as nossas
tribulações, para que possamos consolar os
que

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H K M - AV F. N 1 L î R A 16
N ÇA S 0

estão em qualquer tribulação, mediante a Mateus a mansidão é um traço par -


consolação que nós mesmos recebemos de ticularmente característico de Jesus e. na
Deus..." Este verbo encontra-se 20 vezes em verdade, nenhuma outra de suas virtudes é
Isaías (40-46) e quase sempre se refere a tão ressaltada. Jesus não é Mestre duro e
JHVVH. Deus é o verdadeiro consolador, este presunçoso, e sim manso e humilde de
é o seu nome: "Eu, eu mesmo sou aquele que coração (Mt 11,29; 21,5). A mansidão de que
te consola" (Is 51,12-13); "Como a uma pessoa fala Mt 5,5 especifica atitude e
que sua mãe consola, assim eu vos con- comportamento muito importantes para as
solarei " (Is 66,13). Em Deus, poder e ternura relações com os outros. Tal mansidão é
"materna" formam um todo único. O cristão caracterizada pelo domínio dos próprios
laz a experiência da consolação divina e é impulsos e das próprias emoções, como
chamado para ser o portador da esperança e também pelo pleno respeito para com a pessoa
da consolação. lambem quando assume si - do outro. E pressuposto essencial para agir
tuações aflitivas, não se deixa abater por justo e sábio. Somente com estas condi ções é
elas, mas translornia-as com a ternura com possível conhecimento sereno e criterioso da
que envolve o próximo. A sua felicidade está vontade de Deus, como também tratamento
na participação da dor alheia, na vivência em respeitoso e cheio de amor para com o
íntima comunhão com seus contemporâ neos, próximo. A mansidão compreende e condi -
sem desconhecer quanto de sofrimento isto ciona as três relações essenciais: consigo
possa acarretar. Deus o chama à soli- mesmo, com Deus e com o próximo. E dis-
dariedade Com a humanidade pecadora, posição interior que não pode ser conseguida
enferma e sofredora, tomando-se o porta-voz somente através do esforço humano; requer
da alegre consolação divina. Experimentan do também prolunda relação filial com Deus.
no quotidiano a consolação de Deus, de ve, d. Felicidade dos justos. Mt 5,6 diz que é
por sua vez, tornar-se consolação. preciso que se tenha fome c sede de —>
c. Felicidade, dos mansos, No SI 37,1 -11 os justiça. No NT estas duas palavras, (mando
mansos são confrontados com as ações e os vêm juntas, exprimem necessidade natural e
sucessos dos maus, contra os quais seriam desejo básico que envolvem e peneiram a
levados a reagir de maneira negativa. Eles, totalidade do homem. As duas palavras, em
contudo, devem evitar quatro coisas: encole- sentido metafórico, podem exprimir forte
rizar-se, invejar, irar-se e desprezar. Com oito desejo de Deus e de sua Palavra: "Minha
imperativos os mansos são chamados a de- alma leni sede de Deus, do Deus vivo" í.Sl
positar sua confiança no Senhor: confia, faz o 42,3); ' Ó Deus, tu és o meu Deus, eu te
bem, habita a terra, busca no Senhor a ale - procuro. .Minha alma tem sede de ti" (SI
gria, manifesta ao Senhor leu próprio cami - 63,2); "Eis que virão dias -oráculo do Senhor
nho, confia nele, permanece em silêncio pe- - em que enviarei fome ao país, não fome de
rante o Senhor, espera nele! Disso resulta que pão, nem sede de água, mas sim de ouvir as
somente um forte e tilobal direcionamento palavras do Senhor" (Am 8,11 ). Justiça indica
para Deus torna possível a mansidão. (.) ho- a atitude c o agir segundo norma reta e válida.
mem que não se direciona para Deus, Deus é chamado "justo" especialmente
sozinho, diante dos malfeitores e das porque, na sua misericórdia, é fiel à sua
injustiças, não conseguirá evitara—* ira e a — vontade salvífica, cumpre suas promessas e
* inveja. O manso sabe dominar as emoções realiza a salvação dos homens.
negativas, como a ira, e evita suas O homem é "justo" à medida que age de acor-
manifestações que, na realidade, provocam do com as normas estabelecidas pela vontade
outras tantas reações opostas e criam divisões. de Deus. "Cumprir a justiça" (Mt 3,15) sig-
Também a correção fraterna exige a mansidão nilica agir perfeitamente, de acordo com a
(cf. 2Cor 10,1 ; Gl 6,1: ITm 2,25). O manso, vontade de Deus. Ab. de Mt 5,10, retomada e
consciente de sua própria —» fraqueza, não se aplicada aos ouvintes de Jesus em Mt 5,11,
sente nem se apresenta como melhor ou fala de "perseguição" não somente por causa da
superior aos outros, e corrige, como igual, justiça, mas "por causa de mim": a "justiça" e
aquele que incidiu em talta, numa atitude Jesus estão estreitamente conexos. A su-
igualitária de irmão para irmão. Segundo Tg perioridade da justiça dos discípulos (cf. Mt
1,19-21, a mansidão parece sera rejeição de 5,20) consiste no seu agir fielmente, não de
"toda impureza e de todo vestígio de malícia", acordo com as normas dos fariseus, mas de
ou seja, a libertação de toda emoção e acordo com as normas de Jesus, o que se torna
tendência obscura e distorcida que perturba causa de perseguição. Fazer a justiça -fazera
a —> escuta da palavra de Deus. Segundo vontade do Pai (cf. Mt7,21)-cumprir estas
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minhas palavras (cf. Mt 7,24), no sermão da
montanha, designam a mesma realidade, isto
é, o agir humano necessário para

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HKN'10 UL AMAM: isunioj - BENTO Dli CAM-IliU) 212
Lando-o com diversas passagens do mesmo 1610, no convento de Santo Honorato,
autor; depois uma Confissão de f é , relativa- peito de Paris.
mente breve e, finalmente, um Tratado sobre Além do Solilóquio, memorial de sua vida
a amizade, no qual o Sermão 3S5 de Agosti- secular, B. escreveu outros livros de mística
nho é citado quase que por inteiro. Dirigindo- que podem ser citados na seguinte ordem: A
se a um jovem religioso chamado Garnier, Regra da perfeição, obra em três partes, escrita
que talvez fosse o meslre-escola de Aniane, por volta de 1593, para uso privado de pou-
B. o encorajou a estudar, porque "não se pode cos leitores e publicada mais tarde, em 1610,
amar aquilo que1 se desconhece". Pretender por incitamento dos superiores. Método e fi-
que um monge não pudesse dedicar-se aos nalidade da oração, impresso em 1614, no
estudos seria lazer o jogo do > diabo. Con- qual se lala da excelência e tias fases cia —>
inação: — > preparação, meditação,
tudo, o único conhecimento verdadeiro de
agradecimento, oferecimento e petição; O
Deus é aquele que provém da fé, e esta deve
cavaleiro cristão, publicado em 1609, que
ser mantida e purificada pela procura incan-
contém dois tratados: a queda do género
sável da —> sabedoria. Amar a Deus por si
humano e a reparação por obra de —> Jesus
mesmo, gratuitamente, é o alvo de todos os Cristo: a > conversão e as — > virtudes do
esforços, movidos pelo único > desejo de ve lo cristão. Prescindindo de outras pequenas
eternamente. obras, pode-se observar que o autor,
BIHI ..: Vida-Obras: M C / t, Scripí. 19S-220; l 'L 103, conhecedor do latim. Irances e inglês, usa
353-3S4; PL 103,423-1420; J. Lcclercq, "Monu- simultaneamente as três línguas, razão por
mcnia fidei" di />'. d'Antane, i n Analecta que os seus livros, sobretudo a Regrada
monástica I, Roma i [ W H (Sn.nl. Anselm. 2 0 ) 21- perfeição, sua obra-prima, tiveram enorme
74. Estudos: G. Andenna e C. Uonetti (org. p o r ) ,
Benedetto di Aniane. Vita e r i j o n n a monástica. dilusão e foram traduzidos para outras
Cinisello Bálsamo 1993; Bergeron, s.v. i n PS A M línguas.
I. 1438-1442; I . Mannocci, 5 .u, inSSII. 1093-1096; Fm sua autobiografia, o Solilóquio, escrita
L. Oligei, s.u, in ECI I . 1262-1263; G. Penco, s.u, ín durante o noviciado, confessa implacavel -
DES I, 344. mente muitos - > pecados, mas recorda tam-
A De Vogüé bém > visões e arrebatamentos imprevistos.
No ocaso de sua vida. como transparece de
seus "escritos' e das testemunhas, gozou de
—> êxtases e iluminações, do dom de pene -
trar os corações e de vários —» dons do Espí-
rito Santo. De lato, foi procurado para a
complicada solução dos êxtases de M. Acarie
BENTO DE CANFIELD (t 1618); foi a ele que se dirigiu o jovem —>
Bérulle, para a assistência espiritual das
1. Traços bibliográficos e escritos. De pessoas por ele dirigidas; a ele foram atribuí -
origem inglesa, nasceu em Canfield (ou Can- das inesperadas conversões e célebres voca-
feld), condado de F.ssex, em 1562. de pais de ções religiosas.
notável nobre/a e religiosamente puritanos, Não se tem notícia de milagres estrepito-
fim Londres freqüentou a Universidade, sem sos nem de eventos celestiais inusitados.
demasiadas preocupações morais. Converteu- Contudo, se não obteve a graça do —> martírio,
se posteriormente ao catolicismo e foi bati - quando voltou ã Inglaterra, teve uma indis -
zado em 1585. Mais tarde mudou-se para a cutível fama de conduta verdadeiramente re-
França e tornou-se irade capuchinho, ini- ligiosa. Ioda dedicada ao serviço de Deus e ao
ciando o noviciado em 1587, como membro bem do próximo. O Martirológio franciscano
da Província de Paris. Ordenou-se sacerdote reconhece-o como "beato", seguindo uma
cm 1593. Depois de três anos voltou para a tradição da ordem.
Inglaterra, onde (oi aprisionado, mas em se -
guida libertado, com a condição de não II. Doutrina mística. O pensamento de B.
pisai* mais em solo inglês. mantém-se nas pegadas da tradição agosii-
Muito estimado por causa da austeridade niano-franciscana, encontrada também em -
de sua vida, gozou também da fama de ótimo >são Boaventura, l'berlinode Casale(f 1328),
orador. Orientador de muitas almas, recebeu —> Ângela de Foligno e —> Henrique Herp. Fie
o cargo de mestre de noviços. Foi guardião de ressaltava dois pontos: a perfeita —> con-
muitos conventos e orientador do capítulo formidade com a vontade de Deus e o > cris -
provincial. M«meu em 21 de novembro de tocentrismo. Tal conformidade revela-se lu-
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minosamente na paixão de Jesus Cristo e
comporta, como resposta do homem, a total
abnegação de si mesmo. A —» alma assim

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HKN'10 UL AMAM: isunioj - BENTO Dli CAM-IliU)
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BERINZAGA ISABEL CRISTINA - BERNARDINO DE SI.NA ísanio) 16
8
tou os jesuítas, que a acolheram, mas bem —> vontade passiva de querer o que ele quer;
depressa se mostraram preocupados por substituição da vontade passiva pela vontade
causa de algumas de suas atitudes inspiradas de Deus, para alcançara > identilicaçáo com
e por causa de programas de vida espiri tual ele e a disponibilidade absoluta de ser como
que pareciam se pôr fora do ordinário. O ele quer.
encontro com o > padre Gagliardi, encar- Um ponto saliente na doutrina de B. é a
regado de dirigi-la, despertou em B. novo insistência sobre aquela forma de liberdade da
ímpeto na vida espiritual, ainda mais que o pessoa escolhida por Deus. Deus não a
jesuíta era confessor interessado nos —> invade nem a identifica consigo, anulando a -
fenômenos místicos. Ele pregou para ela os ™> liberdade da criatura, mas dando-lhe
exercícios espirituais e foi obrigada a anotar comportamento que evoca a própria liberdade
suas próprias experiências interiores. Padre divina.
Gagliardi foi testemunha também de alguns Outro tema vivido de forma característica
de seus —> êxtases. Mas, dentro da Ordem, o por B, foi o da sua consagração às três Pes-
padre suscitou perplexidade por sua atitude soas da Santíssima Trindade, às quais se re-
de reformador, pelo que foi chamado a Roma. ferem os três votos: a —> pobreza de espírito diz
B. seguiu-o, mas tanto suas idéias como as do respeito ao —» Pai, a —> castidade física e
padre Gagliardi luram julgadas perigosas. espiritual é relativa ao ■ > Filho e a > obe-
Havia o risco de ambos acabarem no tribunal diência é relativa ao —> Espírito Santo.
do Santo Ofício. O caminho espiritual proposto porB. pode, de
B. (oi abandonada pela ordem dos jesuí- acordo com ela, ser percorrido por todos,
tas, à qual, porém, continuou ligada por uma xiique a experiência de união com Deus é >em
forma particular de obediência e de vida, e real c comum, ao qual todos "chegam
transleriu-se para Milão, onde tornou-se co- infalivelmente", contanto que o busquem. Ê
nhecida e admirada pelo cardeal Borromeu (f caminho ordinário, que B, expôs de forma
1 584). Foi-lhe confiada a direção dos hos- discursiva, com linguagem essencial, acessí -
pitais c a ajuda aos mosteiros necessitados. vel a Iodos.
A peste de 1576 encoulrou-a empenhada em
profícua ação caritativa. Morreu cm 1624. NOTA: 1 P. Vanzan, Per via di annichilazione. Una
Das anotações às margens dos exercícios mística e la sua guida spirituale nella Milano dei
espirituais nasceu o Breve compêndio acerca da Cinquecento, in CivCat 145 (1995)1, 149-156.
perfeição cristã, publicado anonimamente em
BiBL.: Obras: M. Bcndiscioli (org.), Breve
Brescia, em 161 1, e em Vicéncia, em 1612. compendio di perfeúone Cristiana e "Vita di
Antes de ser publicado na Itália, o livro fora Isabella Berinzaga", Florença 1952; M. Gioia,
publicado na França com o título Abrcgc de Per via di annichilazione. Un testo di Isabella
la perfection chrétiènne (Paris, 1596). O futuro Cristina Berinzaga redatto da Achille (JaJianiiSJ.,
cardeal de —> Bérulle, na época muito jovem, Roma-Brescia 1994. Estudos: M. Marcocchi.
Perlastoria delia spiritualitâ in Itália ira ti
mas já interessado pelo estudo da mís tica, Cinquecento e d Sricenio. i n ScuCat 106 (197tS),
revisou-o e o republicou com o título Brcf 4 1 9 -422; 433-439; G. Pozzi - C. Leonardi (orgs.)
discours de Vabnégation intèrieure (1597). Isabella Cristina Berinzaga, in Scrittrici mistiche
A obra anônima loi apreciada também italiane, Gênova 1988. 392-398; P. Vanzan, Per
pc>r -■■> são Francisco de Sales e por — > via di annichilazione. Una mística e la sua guida
spinuale nella Milano dei Cinquecento, \n CivCat
Surin, e foi traduzida em muitas línguas. 1
145 (1995)1, 149-156.
Qualificado como pertencente ao —>
quietismo, o livro foi posto no índice por dois Aí. Tiraboschi
séculos (1703-1899) e somente há pouco
tempo despertou novamente interesse.

II. O caminho espiritual de />. contém, com jamento realizado por Deus no que já sabe
certeza, traços inacianos, mas possui uma que não vale nada: Deus deixa à alma a sua
originalidade que lhe é própria. Sua
orientação de fundo é "o caminho do —* ani-
quilamento" que compreende três etapas su- BERNARDINO DE SENA (santo)
cessivas: o próprio aniquilamento, conquis-
tado mediante o conhecimento de si mesmo I. Vida e obras. B. nasceu em Massa Ma-
e o conseqüente auto-desprezo; o —> despo- rítima, em 8 de outubro dc 1380, da família

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dos Albizeschi, natura! cie Sena. Ainda
criança ficou órfão de pai e mãe, e foi
mandado para Sena, onde fez seus estudos de
Gramática, Filosofia c Direito, dedicando-se
também

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B K KN A KD O DE CLARAVAL (sanlo) 222
IL Doutrina mística. 1. —> Cristo e a con- perdeu, com o -> pecado, a -> liberdade original
dição humana. B. fala da mística em termos de que lhe teria permitido agir sempre cm —*
experiência c a partir de duas realidades conformidade com a vontade de Deus. Mas
primárias: a. A união com Deus não pode ser graças a Cristo, ele conserva a certeza de que à
senão participação no mistério da morte e da sua "miséria" corresponde a "misericórdia", isto
ressurreição de Cristo; trata-se, como para é, a compaixão de Deus. As —? "tentações"
Jesus, de passar da condição carnal à vida não faltam, constituem, contudo, outras tan-
segundo o —> Espírito. Deus, em Cristo, quis tas ocasiões para renovar o desejo de fideli-
fazei- a experiência do que significa ser ho- dade a Deus. A —» memória conserva a lem-
mem, com as dificuldades e os sofrimentos que brança das culpas passadas, mas estas, uma
tal condição comporta, compreendida a vez perdoadas, não mancham mais.- 4 H. des-
morte aceita por amor. Mas foi inteiramente creve com muito realismo esta "contrariedade",
transformado na glória, mediante a sua res- a contradição interna provada pelo cristão,
surreição. A sua ascensão é o símbolo desta mas é profundamente otimista a respeito da
passagem da carne ao Espírito, Quando, de - possibilidade que o homem possui de li -
pois, ele voltou para junto do Pai, mandou o bertar-se de seu eu espontâneo, até chegar a um
Espírito Santo aos homens, para que também excessus, isto é, um afastar-se de si mesmo
estes possam fazer certa experiência desta em direção a Deus, o que pode apresentar
transformação, b. Ora, esta experiência espi- momentos "breves e raros" de êxtase. Trata-se
ritual deve ser realizada nos seres que estão sempre de integrar o ser humano por inteiro
na carne, isto é, que não só tenham um cor- na vida cristã.
po, mas que estejam em um corpo. Este se 3. O amor universal. A graça de Deus e o
torna mediador entre o mund< >, no qual esforço ascético do ser humano tornam
aqueles existem, e a vida divina que deve se possível esta superação do eu e do próprio
difundir neles. Aquilo que são Paulo chama —> egoísmo. Então o peso de nossa miséria
de -> "concupiscência da carne" não está no -* cessa de nos oprimir, a certeza que temos de
corpo, mas no —> coração. A graça o cura e poder chegar até Deus torna menos difícil o
"pelo espírito, que é bom, a carne é compa- esforço de nossa subida até ele. A nossa cari-
nheira, também ela boa e digna de confiança".1 dade dilata-se ao infinito, atingindo até os
Daí a importância que têm, na experiência que, de acordo com a tendência espontânea de
cristã, os sentidos e, graças às sensações que nossa natureza, deveriam ser dela excluídos,
estes recebem, as imagens que permitem ad- isto é, os nossos inimigos. A caridade nos
quirir certa representação de Deus e de seus compele à "compaixão" ativa para com todos,
mistérios, bem como de poder se manifestar a ela nos faz aceitar todas as dificuldades.
seu respeito. De falo, Deus, fazendo-se ho- Pouco a pouco, o sofrimento cede lugar ao
mem e enviando o Espírito do Cristo ressus- ardor e ao "fervor". O "coração" é purificado e
citado, "desceu até nossa imaginação". 2 As pacificado dc tal maneira que pode
comparações tomadas por empréstimo das contemplar Deus, isto é, olhá-lo sem vê-lo,
realidades deste mundo - por exemplo, o sim- mas já unindo-se a ele como esposa ao seu
bolismo da alimentação e o da união de amor esposo. Sobretudo é realçada a ação do
de que fala o Cântico dos cânticos - permitem Espírito Santo neste trabalho de liheriaçào
evocar todos os aspectos do —> itinerário que nos faz sair de nossos limites para nos
espiritual, que vão da —> humildade ao —> disponibilizarmos a todos e nos unirmos ao
êxtase. Não se trata de fases sucessivas, mas que é o Amor mesmo. A Virgem Maria é o —>
de dados simultâneos que, durante toda a modelo perfeito da união total com Deus, de
nossa existência, caracterizam as diversas quem, graças à ação do Espírito Santo,
atividades que compõem a vida cristã. trouxe em si o Filho encarnado. Em toda a
2. Da humildade ao êxtase. A experiência sua vida realizou a união com Deus mediante
básica é a da "miséria" do ser humano, isto é, sua humildade e sua compaixão para com
dos seus limites e da sua distância com rela - Jesus e para com aqueles nos quais ele vive.
ção a Deus. Disto brota um desejo, ao qual Na sua glória de Rainha-Mãe, ela intercede a
Deus responde mediante sua -* inabitação favor deles. O amor, para lodos, comporta três
permanente e, às vezes, com "visitas" extra- graus que consistem cm amar a si mesmo,
ordinárias. Q ser humano fica dividido entre amar os outros e amar a Deus. ü quarto grau
esta experiência do seu ser limitado e também propicia antecipação excepcional do que será
de sua tendência para o mal e, por outra o amor absolutamente perfeito na bcatitude
parle, da capacidade que possui para receber celeste.
Deus em si. Criado à imagem de Deus. ele
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4. A atualidade permanente desta mensagem.
Tomando consciência, com humildade.

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B K KN A KD O DE CLARAVAL (sanlo)
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BÍBLIA relacionamento inextinguível de confiança
(cf. Is 49,15; Sl 131). Assim, "meu pai e
Os lugares onde se pode encontrar' esta minha mãe me abandonaram, mas Javé me
teofania são três. Antes de tudo a história da acolhe" (Sl 176
salvação, como é atestado pelo Credo de
Israel (cf. Dt 26,6-9; Js 24,1-13; SI 1 36) e 27,10) e a parábola do filho pródigo de l.c 15
pela-> Encarnação cristã que, na "carne" de * são testemunho luminoso disto. O amor di -
Cristo vê a presença suprema e o santuário vino tem também todas as características de
perfeito de Deus (cf. Jo 1,14; 2,19-22; 1 Cor afeto nupcial, como é repetidamente celebra-
6,19). Em seguida existe o espaço que revela a do pela teologia dos profetas, a partir de
presença divinas seja no templo cósmico (cf. Oséias lei. 1 3), perpassando muitas outras
SI 19; 104), seja no templo de Sião (cf. lRs 8), páginas (cf. Is 54; 62,1-5; Jr 2,2; Ez 16) até
onde se pode celebrai' o encontro místico alcançar seu ápice na interpretação tradicio -
entre Deus e o homem. E, finalmente, existe nal do Cântico dos cânticos.
a pala\ ra em sua eficácia, que fecunda o Otitra categoria significativa é a da c omu-
terreno árido da existência humana, fazendo-a nhão e do "perrnarieeer"-"habilar" em Deus e
viver e germinar (cf. Is 55,10-11). O Deus em Cristo (menein-mone), categoria exaltada
conosco (= 'immanu-el) exige porém diálogo sobretudo por João. Bastaria apenas perpas-
livre. Ao bater de Cristo deve seguir a sar os discursos da última ceia (cf. Jo 13,17)
"abertura da porta" e a "escuta da voz". E é ou a primeira caria de João (cf. 1,7; 3,16.
esta a segunda grande afirmação bíblica 4,7,11.16. 20-21) para ver o desabrochar deste
sobre a mística. A irrupção divina na história, símbolo em todas as suas dimensões. Que -
no espaço e na existência humana, deve remos apenas relembrar a comunhão que se
corresponder o caminhar da alma para Deus, à realiza pela fé e pela eucaristia, proposta na
graça deve unir-se a fé, ao —> amor doado pelo célebre pregação de Jesus na sinagoga de
salvador deve correspondera inti midade do Cafarnaum (cl. Jo 6 ) e a sugestiva imagem
homem. Emblemáticas neste senti-d*> são da videira, desenvolvida cm Jo 15, em que é
algumas categorias e - > símbolos. Pcn- insistente o apelo a "permanecer" em Cristo
semos, antes de tudo, sohreodgape. Ainda como o galho deve permanecer ligado ao
urna vez é preciso reforçar que o primado é tronco para viver e produzir fruto. Também
divino: "Não fomos nós que amamos a Deus, mas neste caso o "permanecer" místico é duplo:
foi ele quem nos amou... porque ele nos amou "Permanecei em mim, corno eu em vós...
primeiro" (Uo4,10.19; cf. Ef 2,4; Uo 4,8.16). Aquele que permanece em mim e eu nele,
Mas a este promanar do amor divino deve produz muito fruto, porque, sem mim, nada
misturar-se o amor do fiel, amor que tudo podeis fazer" (Jo 15,4-5).
envolve, projetando-se nas duas direções A imatzem do "permanecer-habitar" con-
radicais do ser, a vertical e a horizontal, duz espontaneamente a outra categoria que
como ensina a admoestação de Cristo sobre o é quase extrema e faz com que "Deus seja tudo
resumo da Escritura no amor de Deus e do em lodos" (ICor 15,28). Aludimos à vida co -
próximo (cl. Mt 22,37; Dt 6,5). "O Senhor mum entre Deus e o fiel. Pensamos na "nova
exige... que tu o ames" (Dt 10,12). mas quer aliança" cantada por Jr 31,31-34 e por Ez
também que "vos ameis uns aos outros, como 36.24-27. em que o próprio espírito de Deus
eu vos é infundido na criatura humana que recebe
amei" (Jo 15,12). É por esla reciprocidade também "coração de carne" que pulsa somente
dt» amor, celebrado por Paulo no estupendo para o seu Senhor. Pensamos na declaração do
"hino à caridade" de ICor 13, que se mede a orante no Sl 319,94: "Eu sou teu. Senhor!" e
autêntica experiência mística, que é tensão nas palavras intensíssimas de Paulo: "Pois
para a própria plenitude c perfeição do amor para mim o viver é Cristo... Eu vivo, mas
divino (cf. Mt 5,48). já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive
A categoria do ágape compreende, pois, em mim... Vossa vida está escondida com
toda a rica simbologia paterna, materna e Cristo em Deus" (Fl 1,21; Gl 2,20; Cl 3,3). Pen-
nupcial que perconv todo o texto bíblico e samos tatu bem na eternidade própria da
que obteve grande repercussão na literatura vida mística, porque esta participa da mesma
mística. Por um lado, a figura paterna de Deus qualidade de Deus. Já no AT, o fiel, vivendo
retorna os motivos da solicitude amorosa e na intimidade com Deus "seu bem, acima do
da educação do filho, mesmo que seja por qual nada existe", eslava convencido de que
meio de provas purificadoras (cf. Dt 8,5; Os "não abandonarás minha alma no Xeol, nem
11,1-4). Por outro lado, a simbologia mater- deixarás que teu fiel veja a cova! Ensinar-me-ás
na exprime a intensidade e a ternura de o caminho da vida, cheio de alegrias em tua

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presença, e delícias à tua direita, perpetua
mente" (cf.: Sl 16,10-12; Sl 73,23-28; Sb 3).
O cristão que participou da paixão de
Cristo (cf. Gl 6,17) condivide com ele a gloria

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BOAVENTURA (santo) - BOllME JACOB \à.,Lamorenella mística bonaventuriana, in
Miscellanea francescana, 95 (1995), 157-163.
precnder, agora é necessário abandoná-las
iodas. De fato, no vértice está o amor que une e .4. Pompei
a iodas transcende" {líexaemeron, 2,29; cf. ISO
30). Conseqüentemente, também os vários e
sucessivos graus ou passagens para esta su- BÕHME JACOB
prema experiência mística são descritos com
I. Vida e obras. B. nasceu em Alt Sei-
termos místicos. Assim, quando faltam ain da
denberg, em 24 de abril de 1575 e morreu em
dois graus ou passos para chegar à suprema
Goerlilz, em 17 de novembro de 1624. Foi o
paz extática, a mente já "se retrai em seu
primeiro grande representante da mística
interior mais profundo para contemplai -
protestante. Sua profissão era a de sapateiro.
Deus entre santos resplendores e ai. com o
Dedicou-se ã ■ > meditação e à > solidão.
que sobre um leito, dormir e repousai;
Como eslorçado autodidata e sustentado por
enquanto o esposo pede que não seja
profundo espírito especulativo, encontrou
despertada enquanto for do seu agrado"
seus pontos de releréncia na Idade Média e
{Itinerarium, 4,8). Então, já no quarto grau, no Renascimento. Sensível ás correntes cria -
que se tornou possível somente por causa da tivas do luteranismo e tio calvinisrno, tentou
graça e das vi iludes teologais concedidas a encontrar uma síntese entre as contradições
todos os cristãos, e por causa da conseqüente de sua época, valorizando a -> experiência
recuperação dos sentidos espirituais, a mística. Sua originalidade consiste em ter
condição alcançada pela alma é descrita com sido o pioneiro de novas orientações. Possuía
imagens, metáforas e termos específicos da regular conhecimento dos grandes filósofos do
mística: "A nossa alma (unida a Cristo, passado, o que lhe permitiu não ficar con-
repleta de todas estas luzes intelectuais, é dicionado a seu próprio pensamento, bem
escolhida como morada da sabedoria divina, como manifestar-se de maneira livre, portan-
tornada filha, esposa e amiga de Deus, to, moderna. Serviu como inspiração a poetas
membro da Cabeça que é Cristo, e filósofos, entre os quais Hegel (t 1831). Teve
sua irmã e co-herdeira. Mais ainda, templo também notável influência sobre o —»
do -* Espírito Santo, fundado sobre a fé, pietismo. Fala-se dele como do primeiro
erigido sobre a esperança, consagrado a Deus filósofo cio luteranismo, como do descobridor
com a santidade da alma e do corpo. Tbdo isto do inconsciente.1 Seu pensamento chamou a
produz aquela caridade perlei La de Cris to atenção tios maiores teólogi >s protestantes, de
que se difunde em nossos corações" (ibid., 4.8- F. I). Schleierniacheralé R. Oito. Este último
9). relembrou sua exposição sobre a experiência
Concluindo, pode-se afirmar que B. iden- mística em si mesma, indescritível, mas ca-
tilica a experiência mística com a situação paz, com uma só gola, de fazer desaparecer o
em que normalmente desemboca toda vida inferno. Quem a conhece pode, verdadeira-
cristã, vivida com crescente fidelidade à graça. mente, dizer que passou da morte para a vida.
Sustenta também o chamado cie lod< > cris- Em 1626 veio à luz seu primeiro livro.
tão à vida mística, qualquer seja o dever ou a Aurora, c B. logo se deparou com a ortodoxia
missão a que Deus o chama. A ra/ão pela luterana que o proibiu de continuai" suas
qual apenas poucos a alcançam reside tão- publicações. Mas em 1619 retomou coragem e,
somente na falta de generosidade e de perfeita .sustentado por amigos, recomeçou a publi-
conversão do coração. car. Em Ib24, foi acolhido favoravelmente em
Dresden. Escreveu umas vinte e cinco obras
B i n i .;
Obras; Opera omnia, 10 vols., Ed. que foram consideradas entre as melhores de
Quaracchi, Florença 1882-1902. Estudos: até seu tempo. Seus escritos foram impressos na
1974 cf. Biblio graphia bonaventuriana, in Aa.Vv, Holanda e, traduzidos para o inglês, obtiveram
S. Bonaventura 1274-1974, V, Grottaferrata 1974
(cf. Ibid., contributi dei vol. IV); A. Blasucci, ampla difusão na Inglaterra, onde se us
Bonaventura di Bagnoregio, in DESI,375-389; J.G. seguidores fundaram até comunidades.- Seu
Bougerol, Itroduzjone a S. Bonaventura, Vicência espiritualismo não o impediu de respeitar a
1988; II.D. Egan,s.v., in lá.f Imis-tici e la mística. comunidade sacramental. No fim de sua vida
Cidade do Vaticano 1995, 270-284; U. Kõpf.s.u, in confessou claramente sua fé evangélica, mas
WMy, 68-69; e. Longpré.s.v., in DSAM I, 1768- não afastou toda suspeita, de taí modo que
1843; A. Pompei, Amore eaesperíenza di dio nelia
retiraram a cruz de sua tumba. Entre suas
mística bonaventuriana, in Di >c!orSt't \:phiats, 33
(1986), 5-27; Id. (org. de),S. Bonaventura maestro obras devem sei lembradas: A natureza de
di vita francescana e di sapienza Cristiana, 3 vols., todas as coisas, Sobre a escolha da graça, O
Rniaa 1976; kl., Bonaventura. grande mistério e O caminho para Cristo.
IIpensarefrancescano, Roma 1994;
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II. A sua experiência mística levou-o a
pôr em destaque o sim e o não em todas as
coisas, orientando sua superação por meio

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BONHOT.I T KR ni KT R iC H
urna realidade que modifica radicalmente da graça". Em abril de 193.S fundou e diriiiiu
seu significado. Por isso B. escreve: "A o seminário clandestino da leccin-lun-dada
finalidade da ética cristã não é a de Bekennende Kirchc, em linkenwalde (no
identificar-se com um princípio kantiano Báltico), onde, juntamente com vinte
universalmente reconhecível, mas de agir, de candidatos a pastor, realiza uma síntese de
acordo com o momento e as circunstâncias, à estudo e de vida, fortemente centrada na
maneira de Cristo, formado em nós fcf. 01 radicalidade evangélica: —> pobre/a, correção
4,19), ou seja, refletindo em nós> como num fraterna, —* oração comum, —> liturgia e a
espelho, a glória do Senhor, de tal modo que santa Ceia. São deste período suas obras
sejamos transformados naquela mesma mais "espirituais" [Vida comum csequela)
imagem (cf. 2Cor 4,3ss) e, como ele, também marcadas pela obediência incondicional â >
nós "existamos para os outros" (pp. 249ss). palavra de Deus. Caso contrário toda
Decorre disto a responsabilidade, também pregação tornar-se-ia vã (ensina no curso de
política, de ouvir corretamente a Palavra. horniléiíca, agora reunido no volume A
Notando-se que B> -como poucos então (entre Palavra pregada). Durante três anos aquela
estes a carmelita E. Stein) não tinha dúvidas "casa fraterna", no Báltico, foi também forja
sobre a natureza pagã do regime na/ista, se ecumênica - outra
bem que Hitler houvesse astuciosamente dimensão de B. â qual só podemos acenar -
disfarçado Ioda a operação tanto com o mas, quando a "Igreja que confessa" loi ofi -
resgate nacional das ofensas sofridas em cialmente reconhecida em Genebra, a inexo -
Versailles (1918), como com o generoso rável máquina da Gestapo atingiu também
repúdio do > ateísmo produzido pela Finkenwalde (que loi fechado cru 2$ de se-
Revolução Russa (1917), ao que. em seguida, tembro de 1938 l e, com a obrigação geral do
acrescentou a perseguição aos judeus. Eni abril serviço militar, a maior parte daqueles semi-
de 1933, de fato. a primeira lei sobre os "não- naristas e pastores foi enviada para o
arianos" expulsou os judeus das repartições (renite. A eventualidade do serviço militar fez
públicas e as Igrejas protestantes, então piorar a tensão interior de B. que, diante da
favoráveis à revolução nacionalista dos impossibilidade de conciliar violência e
nazistas de Hitler, encontravam se evangelho, rejeitou a tradição luterana á
comprometidas pelo grupo lilona/.isia dos qual pertencia e afirmou que, acima da
"Cristãos alemães" (Deutschen Chrísiert) com obediência ao Estado, está a obediência a
uma "Igreja unida do Reich", que adotou tal Deus e â "justiça maior" (Mt 5,20). Esta
lei. Foi então que B. descobriu a importância obediência o impeliu a tornar uma decisão
da "questão judaica" também para os cristãos angustiante e não aprovada por sua Igreja:
e chegou à conclusão de que, diante do entrar na resistência clan-destina ao nazismo.
Estado totalitário, a Igreja não tem somente Para refletir sobre passo tão grave, no verão de
a obrigação de chamá-lo aos seus deveres, 1939 aceitou ir para a Inglaterra - onde se
nem de limitar-se a socorrer as vítimas, pelo encontrou com o secretário geral do Conselho
contrário, deve pôr as coisas em seus devidos Ecumênico, Vissert I loott (que tornará a ver.
eixos se e ã medida que o Estado falha em pela última vez. na Suíça, em 194 I. onde B.
seu dever de tutelar a —> justiça e os direitos organizou os grupos contra o regime) - e
fundamentais da pessoa (biblicamente "ima- depois passou dois meses nos USA, onde os
gem de Deus"). B. entrou, assim, no amigos (entre os quais R. Niebhur) queriam
movimento de oposição ativa e, junto com seu que permanecesse como professor visitante,
colega de Berlim, M. Niemoeller, preparou o para evitaras conseqüências de sua negativa
encontro de Barmen (na região cio Ruhr, em ao serviço militar. Mas a
29-31 de maio de 1934). quando ] 38 sua --> lidelidade a Deus e por isso lambem
pastores e leigos rejeitaram o parágrafo às circunstâncias da terra em que ele o havia
ariano e, basca dos no ensinamento do posto e aos irmãos mais necessitados, - de novo
teólogo suíço K. Burth, romperam os laços **a responsabilidade", no sentido de "ca-
seja com a igreja pacidade de responder" a Deus, que o tez
oficial, seja com o nazismo, e fundaram a "existir para os outros" em Cristo (o "alto preço
"Igreja que confessa", graças â qual foi salva da Graça") - fez com que voltasse â pátria.
a honra, na Alemanha, não só do protestan- Era 25 de julho de 1939. Em 23 de agosto foi
tismo, mas dos cristãos simplesmente. Obvia- estipulado o pacto nazi-soviético. Em I o de
mente, teve de abandonar o ensino universi - setembro Hitler invadiu a Polónia, e dois
tário, começando a experimentar "o alto preço

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BONHOT.I T KR ni KT R i C H KS4
dias depois a França e a Inglaterra
declararam guerra a Alemanha.

II. A mística de fí. A objeção de consciência


até o martírio e o "paradoxo" místico de B.
(compreendida a í a "fé sem religião"), f i -
zeram correr rios de t i n t a depois da guerra.

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187 tornar-se santo e grande prémio está
reservado para quem se torna santo" (ibid.,
a seu lado em Ioda situação, e é chamada de V,209),
Nossa Senhora Auxiliadora. A vida no Oratório BOSCO JOAOÍSiiiUcO
cresceu sob sua proteção, assim como foi
vivida â sombra do Santuário a ela dedi cado. No plano míslico-ascético esta foi a tática
Ao educador, lido como o homem de Deus usada por dom B,: ser alegre (na graça de
por excelência, o Senhor - como que vali- Deus) para cumprir o próprio dever com
dando a missão por ele empreendida - con- constância. Ainda de acordo com o santo
fiará grande número de jovens santos, bispo de Genebra, dom B. traduziu de forma
pequenos videntes que servem como concreta o conceito de "êxtase da vida ou
mensageiros da Virgem Santa, almas oração vital" na prática da —» união com
eucarísticas que ficam extasiadas diante do Deus. mesmo durante o trabalho: tudo para
tabernáculo, como Domingos Savio (f 1857), a maior glória de Deus na reta intenção e
que certa vez ficou durante sete horas em -> mediante o uso contínuo de jaculatórias.
êxtase, em ação de graças pela comunhão Disto resulta o assim chamado —> "trabalho
matinal. No Oratório vivia-se em clima de santificado" que obterá, cm seguida além da
piedade e de graça, pela freqüência dos —» aprovação, também a fórmula idulgenciada
sacramentos e o —* fervor das práticas por Pio XI.
religiosas. A explicação de toda esta Nos escritos dom B. recorre frequente-
abundância de serenidade pode-se encontrar mente às piedosas exortações. De modo sig-
no próprio H., intérprete liei da vontade de nificativo se considerava a si mesmo como o
Deus, dócil à ação do —> Espírito Santo do alfaiate; o jovem, o pano. A intenção é poder
Senhor. Knlrc os dons e os frutos do Espírito fazer uma bela veste para dá la de presente
emergem nele o > dom do conselho e da ao Senhor (ibid., V, 122-4). Dom H. é, de
amabilidade. Dotado do carisma do y fato, o criador da santidade juvenil, mística
discernimento tios espíritos, penetrava os sob medida para o jovem. Repelia: "Tudo eu
corações e as consciências; lacilmente inter - darei para ganhar o coração dos jovens e as
pretava o futuro a favor de quantos pediam sim poder presenteá-los ao Senhor" (ibid-,
sua ação de ministro do Senhor. VII,250). Nos últimos anos estas exortações
Com uma atividade assim ineslancável, ou ensinamentos pareciam assumir conota -
tudo em dom B. se transformava em —> ora- ções singulares de fiel testemunho,
ção. O sobrenatural transparecia em toda fortemente absolvido em Deus, como se vê
sua palavra e de toda sua pessoa. 1 em seu Testamento espiritual ( 1875): y "Jesus
Cristo é o nosso verdadeiro superior, ele será
2. Nos escritos. Dom 13., mais do que escri- sempre nosso Mestre, nosso guia, nosso - >
tor no pleno sentido da palavra, loi inteligen - modelo". "Quando, porque as forças já
te divulgador, "valente servidor da pena" (A. estavam enfraquecidas, o brilho dos —>
Autlray). Tendência, portanto, mais pragmá- sentimentos prevalecia, ao celebrar, ora se
tica do que teórica, disposta a recolher o enternecia visivelmente ern lodo o seu ser,
dado concreto, mais do que a preocupar -se ora parecia corno que invadido por frêmito
com as estruturas ou o planejamento sagrado, sobretudo no momento da
sistemático de programas. Por meio das elevação"/ Fala com a vida: algumas vezes
Lxúturas Católicas e das Vidas, ou traços podia ser surpreendido "sentado no
biográficos de jovens santos, ele se propôs escritório, com o corpo ereto, com as mãos
apresentar a prática cristã da maneira mais postas em atitude de grande doçura, todo
simples e realizável. Nenhum tratado absorvido na consideração das coisas
específico ascético-rníslico, mas, iiispirando- celestes". "Uma vida mística, diríamos com a
se na doutrina de são Francisco de Sales,
autoridade de insignes mestres, de
julga que a ■■-> santidade é condição para
percepção imediata e amorosa do mundo da
todos, de qualquer idade sejam.
fé, em particular da presença eminentemente
Repelia: "Firmcmo-iios nas coisas laceis,
ativa de Deus na alma". 1
mas que elas sejam feitas com perseverança"
Dom B. parecia sempre invadido pelo mis-
{ M B VI,9). "Queroensinar-vos a vos tornardes
santos, e teliz aquele que começa a se entre - tério de Deus: teoria e prática nele se fundi-
gar ao Senhor desde sua infância" (íbid., ram, porque os verdadeiros místicos são pes -
VIIí,941). Nas "Boas noites" aconselhava os soas da prática e da ação. As obras por eles
jovens de modo muito claro: "E vontade de fundadas são vitais e duradouras, desafiam
Deus que nos tornemos santos, é tácil os séculos.

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NOTAS: ' Mons. Tusso ia Positio super vittutibus,
417 par 384; 2Ibid., 912, par. 1; 3 ti. Ceria,
Dou Bosco con Dio, Colle Don Bosco (AT) 1952,
281-2M.
BRU..: Obras: d . Boseo, Memorie dell'oratorio di
s. Francisco di Sales dal 1815 al 1875 (org. de
\i. Ceria), Turim 1946; Cj.H. hemoyne A. A
ma dei F. Ceria,

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BOSCO JUÀU (sjjuo) - BOSSU LT 18
JACQUP.S 8
Memorie biograftche di dou Bosco, 1 9 vuls. S. Defensor intransigente da fé, suas obras
Benig-n< J Canavese I89 S -1939; F . Ccria (org. tiveram grande difusão. Lembremos as mais
de). Epistolaria di Don Bosco, 4 vols. Turim 1955- conhecidas: Discours sur la vie cachée en
1959; Opere edite (rcimpressão anastática ), 37
vols., Roma 1976. Kstu< dos: Aa.Vv., Don Dieu (1692); Instruction sur les états
Bosco uella storia delia cultura povolarc, Turim d'oraison ( 1697); La relation sur le
1987; Aa.Vv, Don Bosco a setvi:jn deli louanitii. quiétisme [ 1698).
Sludi e testimonianzti, Roma 1989; A. II. Ensinamento espiritual. Seu pensa-
Ballestrero, Prete per in yjovani, Turim 1987; G. mento espiritual, mais que de obras específi -
von Brockhusen, s.v.. in IVA-ív, 69, K
cas, decorre de sua correspondência
Dcsramaui, s.v., in DSAM VIII, 291-303; A.
Pedrini, s.v.. in D ES II, 1132-1144; kl., San (Corres-pondance, ed. critica de Lrbain-
Francesco di sales e don Bosco, Roma 1986; hl., Levcsque, ern 15 vols., Paris, 1909-25).
Don Bosco guida spirituale dei giovani. In margine td Embora compromissado ideológica mente
l volume dcWlipistolario {cm edição critica), in com todos os problemas do tempo - "homem
RivAM 6 ! ( 1 9 9 2 ) , 190-208; Id., La 'scientia de todos os talentos e de todas as ciências" -,
crucis"nelpensie.ro e nclla prassipastorale Í/Í s. nunca deixou de dedicar-se ã —* direção
Giovanni Bosco, in Aa.Vv., Ui croce di Cristo única
speranzet, Roma 1996, 551-563. espiritual, que considerava um dos
principais deveres do bispo.
A. Pedrini Sua doutrina espiritual apoia-se em solida
urdidura teológica, no dogma da universal
soberania de Deus com respeito a todas as
criaturas e no ou Iro principio do governo da
Providência divina. Da primeira certeza
dogmática deriva para o homem a necessi -
dade da adesão à vontade de Deus, e da se -
BOSSUET JACQUES gunda, > abandono confiante nas mãos da
Providência. Do homem, que na verdade é
nada, lançado no dinamismo da vida espiri-
L Vida c obras. Nasceu em Dijon, em
tual, exige-se urna força de vontade a toda
1627, de rica família burguesa. Iniciou os
prova, que siga pelos trilhos da voluntas
es-iudos humanísticos na terra natal, com
os jesuítas, e os terminou no Colégio cie
Dei. Aconselhava a freqüência aos -■>
sacramentos e, ele mesmo, com Vicente de
Paris, oncle brilhou no estudo da tilosolia e
Paulo, transcorria muitas horas ouvindo
da teologia. Teve como companheiro —>
confissões, exortando os tiéis ã comunhão
Rance, o futuro reformadot dos trapislas, e
freqüente, isto contra a rigidez do - >
tornou-se amigo de --> são Vicente de Paulo.
janseiüsmo. Na direção espiritual, que
Finto deste encontro, loi, para B., sua
considerava o primeiro dever decorrente da
aproximação do povo e a aquisição de
linguagem sóbria. Sacerdote em 1652 e
cura anitnarurn, desejava que sua pessoa
tosse ultrapassada e, com salto qualitativo
cónego de Metz, começou a pregar e a
de sublimação, los se considerada a própria
combatei o protestantismo. Dedicou-se com
pessoa de > Cristo, cie modo que Deus
entusiasmo ao estudo da teologia, da
pudesse ser visto nele.
Sagrada F.scrilura, dos —> Padres, ern
Alento ã verdade dogmática, da qual de-
particular de > J. Crisóstomo, > ürígenes,
duziu, como de teorema, a concepção da vi da
Tertuliano (t c. 222) e — > são Bernardo.
espiritual, quando passa para a praxis
Posteriormente transferiu-se paia Paris,
encontra quase sempre a mediação do co-
dedicando-se totalmente ã pregação. Fim
medimento e do bom senso. Para a oração,
1669 loi nomeado bispo de Condom e
por exemplo, mais que lixá-la em passos
preceptor do Delfim, o filho de Luís XIV (|
metodológicos, prefere o arroubo, c omo apa-
1715), para o qual redigiu o seu Discours
rece nas Edevatious e nas Mcditations sur
sur l'histoire universelle (1681). Membro da
Academia Francesa em 1671, toi bispo de
1'Evaniiile, Este tipo de oração de admiração
oferece uma abertura na qual o orante con -
Meaux, de I6SI ale sua morte, em 1704, em
templa as verdades divinas, os olhos do es-
Paris. Conselheiro de listado,
pírito, apegados a elas e com elas se sensibi -
fundamentando-se em argumentos híblieo-
lizando. A esta atitude seeuem-se os atos de
teológicos favoreceu a sacrali/ação da
—* adoração, de —> amor, e de todos os
monarquia e sustentou a doutrina do
outros —> sentimentos cristãos com relação
absolutismo de direito divino de Luís XIV.
a Deus. Nestas obras sente-se aflorar, sob
eloqüência envolvente, a alma humilde que
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murmura a oração ern diálogo pessoal com
Deus.
No que concerne à orações extraordiná-
rias -- aquelas que se desenvolvem nas lases
místicas avançadas (cf. Ititnnluction sur les
états d'oraison) - mantêm sempre uma ati-
tude de hostilidade, que deriva do seu dog -
matismo aplicado à —> experiência mística,

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18 ROSSn- T JACOl'P.S - HR A \ DSM A
9 TITO

querendo reencontrar uma medida de coin - França" (Sainle-Beuve), infligiu ã mística o


cidência entre a experiência vivida e o último golpe mortal que se estenderá por lodo
dogma, sem levar em consideração que o que o séc. XVIII, em que predominaram o exercício
foi vivenciado possuí carga psicológica que ascético e o dinamismo apostólico.
não pode ser facilmente reduzida ao
BIBL.: Obras: J.B. Bousset, Opere complete, ir. it.
conhecimento da verdade especulativa. G. B. AlbrÍ7/i, t O vols., Veneza 1736-1757;
A doutrina de B., do ponto de vista ideoló- IstruzJone stteji stall d'orazione, A.M. Bo/zoni
gico, possui solidez férrea, porque é funda- (org.), Turim 1947. Estudos: C. Boyer, Bossuet,
mentada em princípios dogmáticos sem le var Jacques-Be iii^ne, in EC II, 194S-I95I; H,
mui lo em consideração as mediações ou os Bremnnd, Bossuet maitre doraison, in VSpS2S{
impactos psicológicos do dirigido, a caiem, 1930),49-78; Id..Bossuetmaitre doraison, Paris
1V31; P., Dudon, .v.v., in DSAM It, ! 874-1883; J.
de resto, deixa livre o campo nos pormenores Le Fin at. In spirituality de Bossuet, Paris 1972; Id..
práticos. E igualmente tradicional, por que Ouiéíhme. in DSAM Xll /2, 2756-2842; P. Pourrat,
para B. a tradição é a verdade. E sua a Di spiritual ltd chrêtientw. 111. Paris 1930, 513-
máxima Nova, pulchra, jalsa, escrita contra os 514, 548 epassim: M. Tiel/. s.w. in U'A/v, 69-70; P.
protestantes, máxima que pode represen tara Zovatto, La polemica Bossuet-Peaehm. hi-
síntese de seu livro Histohv des variatious des iroduzkme eritieo-hihliografiea, Pádua 1968; Id.,
.v.v., in DES I, 389-391.
Eglises protestantes (1688), no qual a variação
doutrinal da tradição constitui uma espécie P. Zovatto
de auto-refutação. Se a verdade está na
tradição, o erro está na variação. O cristia -
nismo é concebido como depósito objetivo da
verdade, tesouro divino "exterior", deixado
por Deus ao homem que deve conservá-lo na
mais absoluta integridade, mesmo com a
evolução dos tempos.
BRANDSMA TITO
Inspirou-se sobretudo no NT, em são Pau-
I. Vida e obras. O beato Tito Brands ma
lo cm particular, em —> santo Agostinho, e
(no século Anno Sjoerd), nasceu em Oegc-
em santo Tomás, coisa bastante rara no séc.
kloostcr, perlo de Bolsward, na Frísia (Ho -
XVII, quando "predominava a doutrina de
landa), em 12 de fevereiro de 1S81 e morreu
santo Agostinho" (Sainte Beuve). Sua
mártir em Dachati (Alemanha), em 26 de ju-
espiritualidade é também prática, porque
lho de 1942. Tornou-se carmelita em 1898 e,
leva à atividade, seguindo a orientação
terminados os estudos filosóficos e teológi -
dúplice do amor a Deus e ao próximo,
cos, foi ordenado sacerdote em 17 de junho
No que diz respeito à polêmica sobre o ->
de 1905. De 1906 a 1909 estudou filosofia
quielismo que envolve não apenas a —> Sra.
na Gregoriana de Roma, onde se doutorou.
Guyon e o seu direlor-dirigido —> Fénelon,
Tendo retornado para a pátria, empenhou-se
B. não parece possuir a mesma sutileza
a fundo cm sua vida religiosa e no
espiritual de um Fénelon que se coloca do
magistério, nos colégios carmelitas de Oss e
ponto de vista da experiência mística para
Oldenzaal. Na cidadezinha de Oss, onde
penetrar o sutil equilíbrio da doutrina do
construiu em praça pública um monumento
puro amor. Ainda que tenha aceitado o puro
ao Sagrado Coração, desenvolveu intenso
amor, sob o aspecto prático, iJ., quando se
apostolado. Fundou uma revista de devoção
trata de conferir-lhe justificativa doutrinal,
mariana, foi rcdator-chele de um jornal
não consegue encontrar as provas na
local, lundou uma biblioteca pública católica
tradição. Apoiando-se em santo Agostinho,
e um liceu científico, organizou várias
considerado critério ortodoxo de julgamento,
exposições e um congresso missionário. De
polemiza com violência com o mais brando
1923 até sua morte ocupou a cátedra de
Fénelon, bispo de Cambrai.
história da espiritualidade holandesa e de
Estas polêmicas não deixaram de influen -
história da filosofia na Universidade Católica
ciar negativamente as experiências
de Niiiicga, da qual toi também reitor
espirituais elevadas, lançando no descrédito
magnífico.
seus místicos, os quais foram, por sua vez,
Na ampla atividade científica seus
no decurso do século XVII, grandemente
interesses concentraram-se na metafísica
prejudicados pela razão iluminista, que se
moderna, na filosofia pré-cartesiana e na
proclamava autónoma perante o dado
escola de Es-coto Eriúgena, ao passo que no
revelado. A Sorbonne, com seu prestígio,
campo da espiritualidade e da mística suas
la/endo de B. uma espécie de "religião da
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preferências manifestaram-se nos estudos
sobre —> Ruys-broeck, -> Groote, Tomás de
Kérnpis (t 1471) e outros autores cio norte
da F,uropa. Fundou o Instituto para a
mística medieval ho-

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BRIGIDA DA SUKCIA | sarna) - BR OKCKOVF.N EGÍDIO 19
VAN 2

B, como sua esposa, nesta ocasião ela foi


chamada "nora" do Maria (nums) por causa de [. Vida e obras. Jesuíta holandês, nasceu
seu casamento com Cristo. De fato, Maria e em 22 de dezembro de 3 933, em Antuéipia,
Crisio quiseram servir-se dela para revelar e morreu de acidente de trabalho em fábrica
sua vontade aos próprios amigos e ao mundo metalúrgica de Anderlecht (Bruxelas), cm 28
inteiro (cf. VI, 88). ß. sentiu estes de dezembro de 1967. Já teríamos esquecido
movimentos semelhantes aos de um leio tudo a respeito deste padre operário, se ele
também numa época posterior de sua vida não tivesse deixado para nós um Diário, co-
(cf. II, 18,1-8; Ac /ti et Processus canonizationis, meçado em abril de 1958 e continuado até a
81,414, 500). A mesma Palavra divina que, véspera de sua morte trágica. De fato, no pe -
através de Maria se fez carne, manifesta-se ríodo de seus estudos, como nos poucos
mais uma vez ao mundo, agora através de B. anos de sacerdócio, exteriormente nada
(cf. 1,17,1; II, 13,1-3; II, 17,2-3). aparece de extraordinário em /?. a não ser,
As experiências místicas de#. não tiveram talvez ao seu diretor espiritual e ao superior
por finalidade sua ■ > santidade pessoal, religioso, com os quais manteve sempre
mas possuíram escopo profético, para não regular —> discernimento no Espírito, a
dizer político. As visões são dirigidas à —* nenhum confrade tornaram-se conhecidas as
Igreja e ao mundo e contêm, como as maravilhas que Deus operava nele, embora
profecias da -> Bíblia, ensinamentos, chame a
admoestações e apelos de —> conversão. A atenção o fato de que lia, desde o noviciado,
análise das Revelações mostra que elas não só os costumeiros autores espirituais,
tiveram semelhança evidente, seja na mas também —» João da Cruz, os místicos
estrutura como no vocabulário, com os flamengos -> Iladewych e -> Ruysbroeck,
grandes profetas. H evidente que no como também —> Teilhard de Chardin.
momento da inspiração o texto bíblico que B. O Diário se compõe de 26 cadernos dos
quais, após sua morte, apoderou-se o Pe. G.
havia assimilado completamente, forneceu as
fsleets, diretor espiritual e confidente de B.
palavras para exprimir o que só com dilí -
no período em que ele amadurecia a escolha
culdade poderia ter dito.
apostólica come) padre operário. Lendo estas
liiUL.:Obras: Revetatiunes Sanlae Birgittae, páginas, Pe. Neefs descobriu precioso tesou -
Sloccol-ma 1 956. Regula Salvatoris, org. S. H r o e s p i ri tu a 1, s:1 1 va n do-o do esqueci
kl und \975;Ser-mo Angélicas, org. S. Hklurul men to. Na impossibilidade de publicá-lo por
1972; Qutittuor (/raciones, org. S. Hklund 1991;
Acta eí processas canoniza(ionis heatae íhrgiitae,
inteiro, de acordo com as razões expostas no
org. I. ColliVn, Uppsula Collvn 1924-1931. prefácio, - fez uma seleção das passagens
Estudos: j. Berdonces-T.Nvberg , 5 .v.( mais iluminadas e, desta síntese, cm tempo
\ x \ D i P \ . 1572-1578; I.Cecchcui,s.v., in BS recorde, apareceram as edições flamenga,
III. 440-530; ?. Chiminelli, D: mística dei .V' ml. hancesa, alemã, italiana, espanhola,
Sanlii Brigida i i i Svezia. Koma 194S; I*. portuguesa e inglesa, a maioria delas com o
Damiani, Ix i spiritualità di S. Brigida di Svezia.
título Diário da amizade.
Florença 1964; P. Dinzelbacher, s.v., in WMy,
63-65; Giovanna delia Croce, S M , in DES I.
393-394; Ead., / mistici dei Nord, Roma 19SI, II. Experiência mística. Foi assim que o
29ss.; GM. Roschini, La Madonna netla obscuro padre jesuíta tornou-se o "caso B.",
"Rivelazioni di S. Brigida" nel V I cemenuno delia sua imediatamente analisado tanto pelos pas -
morte, Roma 1973; A. Vauchez, Sainte Brigitte de loralistas, preocupados com a nova —> evan-
Suède et Sainte Catherine de Sienne, in Aa.Vv.,
gelização, quanto pelos especialistas em teo-
Temi e problemi delia mística femminite trecentesca,
Todi 1983. 227-248; F. Vernet, s.v., in DSAM I, logia espiritual, ficando ciara para iodos a
1943-1948. importância de sua mensagem. Mensagem
que pode ser vista como que a partir dos dois
A. Piltz focos de uma elipse: a -> mística do amor e a
do -+ serviço. Ou seja, o amor trinitário co mo
fundamento da —> amizade humana, não
fútil - que, reciprocamente, torna-se sua vi-
sibilidade ou transparência - e, desta reci-
procidade, o surgimento impetuoso da úni ca
via eficaz para o testemunho e anúncio de —
BROECKOVEN EGÍDIO VAN > Cristo no mundo pós-cristão, o serviço. Ve-
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book.
jamos brevemente estes dois aspectos, come -
çando pela reciprocidade entre mística e
amizade.
"Minha espiritualidade pode ser definida
com estas palavras", escreveu B. em 29 de
janeiro de 1966, "viver Deus no momento
presente, eternamente novo, no qual o Pai
dirige sua palavra a mim, ao mundo atual,
aqui e agora, nesta situação existencial
concreta.

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CÂNTICO DOS CÂNTICOS 254
medievais, —> Beda, o Venerável, —> Assunção de Maria ao céu. 2 —* Ambrósio
Ruperto de Deutz (t 1129), > Guilherme de teceu boa parte de sua teologia da ->
Saint-Thierry, Pedro Abelardo (t 1142), —> virgindade a partir do diálogo e das atitu des
Bernardo, —> Hildcgarda de Bingen, > dos esposos do Ct.
Matilde de Mag-dehurgo, — > Gertrudes de III. Leitura espiritual do 67. Por isso tudo
Hell ta, > Joào Gerson, apenas para citar os é necessário, como tem sido recomendado
maiores nomes. Foi por algumas orientações hermenêuticas mais
0 caminho adotado também pelos grandes recentes, ter presente não somente o texto
escritores místicos de 1500. Pensamos em: do Ct em si mesmo, mas também esta leitura
1 rei Luís de Leon (f 159 1), no Cântico interminável e secular, que fez com que o
espiritual, obra-prima de -> João da Cru/, em texto básico adquirisse outros sig nificados. A
--> Teresa de Avila com os seus Pensamentos leitura "espiritual" do Ct tem os seus
sobre o Cântico (h/s cã) nicos (ou sobre o amor de fundamentos neste terreno fecundo, embora
Deus). É uma perspectiva que dominou toda a
impreciso. Contudo, é possível re compor
literatura teológica sucessiva e
uma leitura teológico-espiritual genuína,
especialmente a espiritual: —> Francisco de
mesmo sem recorrer aos excessos ale góricos
Sales, —» Maria da Encarnação, > Jean Picn
e firmando-se no conteúdo original
e de Caussade, —> Bossuet, Rosmini e
outros. O modelo adotado é constante, do texto bíblico. Longe de ser puro e simples
também nas variações a que é submetido, e documento histórico sobre as práti cas nup-
pode ser assim simplificado. Os dois ciais ou sobre os cânticos de amor do povo
protagonistas, a mulher e o dàdi (o meu ama- hebraico, o Ct é uma celebração do amor hu-
do), encarnam respectivamente a humanida - mano como o grande símbolo (não apenas
de e Deus, ou então Israel c o Senhor, ou uma metáfora), com seus múltiplos e varia -
também a alma c seu Deus, ou ainda a —> dos significados.
Igreja e —■» Cristo, a —> alma cristã e o —> A.simples análise literal, que também é
Pai/Cristo, como também a humanidade e a fundamento indispensável, é impotente para
divindade na —> Encarnação do Verbo justificar o desenvolvimento interpretativo da
(Bernardo), --> Maria e Ci isto (Ruperto de tradição eclesiástica. A leitura alegóri ca, por
Deulz). A transposição ulegõriea, porém, não si só, mesmo intuindo verdades secretas,
pára nesta ignora a encarnação do texto, reduzindo-o,
identificação de princípio, mas estende -se a muitas vezes, a espectro iluminado por cores
toda a trama, da obra, a todos os símbolos, fantasmagóricas. £ preciso saber ajuntai - as
ás expressões de amor e aos particulares duas interpretações em uma leitura
mais minuciosos. Cria-se, assim, uma simbólica. O amor humano, real e corporal,
constelação espiritual que transfigura, e em que se manifesta no casal, sem perder sua
certos versos, desfigura até tornar característica concreta e pessoal, revela
irreconhecível o sentido literal original.
também o mistério do amor que tende ao
Somente para exemplificar a complexidade
infinito, e, por isso, exprime a realidade
desta operação hermenêutica, lembremos
transcendente e divina. Também a primeira
que a "colina do incenso" (4,6), um símbo lo
carta de João vê no amor humano o
amoroso de enlevação, transforma-se no
Calvário, sobre o qual o cristão se fará genuíno sinal do conhecimento de Deus, que
crucificar, seguindo o seu Mestre e Se nhor, é amor (4,8.16). O amor humano em si (e não
para participar de sua glória (o incen so). A como anêmica metáfora) fala de Deus. Na
introdução da esposa no régio aposento vida terrena, quem ama conhece Deus e o
nupcial (1,4), é o ingresso na Igreja do comunica, exatamente através de seu amor,
batizado que se uniu misticamente a Cristo. revelando-o à humanidade.
Os dois seios da mulher, sobre os quais re -
pousa o amado (1,13), transformam -se no AT NOTAS: 1 Orígencs: PG 131.37; 2 Cf. a
Munificentis-simus Deus de Pio XII.
e NT, ao estudo dos quais se dedica o lie!. O
motivo pelo qual a esposa tem a "pele negra,
B a u . Aa.Vv., s.v. t m D S A M lt. 86-109; L Aluii .su
é porque ela simboliza a alma pecadora" Schõkel, // Cântico dei Cantici, Casale
(1,6). Contudo, desta figura nascerá também Monferrato 1990; D. Barsotii. Meditazione sul
o modelo iconográfico, muito difun dido, de Cântico dei Cantici, Bie.svia 19SÜ; A. Uumiaqui.
"Maria negra". A "coluna de fuma ça que sai /.' Cântico dei Cantici e introduzione ai salmi,
do deserto, exalando perfume de mirra e de Roma 1980; D. Colombo, Cântico dei Cantici,
incenso" é tomada como testemunho da Roma 1985; KL. Murphy, The Song o f Songs,
Mineápolis 1990; G. Nolli, Cântico dei Cantici,
Material com direitos autorais
Turim 1968; G. Ravasi. // Cântico dei Cantici,
Bolonha 1992; S. Sícdl, s.v., in DES I, 410-
414; L. Stadelmann, Love and Politics, Nova
York 1992; R.J. Tournay, Quand Dieu pode aux
hommes le langage de Vamotir, Paris 1982.

(7. Ravasi

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CÂNTICO DOS CÂNTICOS
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CARIONl li AT IS I A [.)!:. CR HM A - CARISMA
Roma 1978; S. Pczzella. s.u, in DizBiogrXK,
115-118.
cl Vittoria di se stesso. Esta c sua obra-prima
sistemática, inspirada c conduzida com cla - L. Bogliolo 200
reza e vigor. Nos particulares segue santo
Tomás de Aquino. Está dividida em nove li- CARISMA
vros. Filosofia divina o meditazione delia
passionede N. S. Gesü Cristo. Em trinta capí- I. O termo grego chárisma deriva da raiz
tulos desenvolve ardentes e apaixonadas me - char, de onde a palavra chairein (alegrar-se),
ditações sobre a paixão de N.S.J.C., de ou chaire (a saudação grega: salve, alegre -se)
caráter ascético e contemplativo. Specchio ccháris (graça). O sufixo ma designa o resul-
interiorc é a última obra da trilogia e devia tado concreto da ação, ou a manifestação da
formar um só corpo com as precedentes. cluíris. Portanto, chárisma significa uma ma-
Specchio interiorc seria o aspecto místico da nifestação da > alegria e > da graça de Deus,
trilogia. I"i nalmente, deve ser citado que se tornam \ isíveis, agem em e através
também o Libro de senlenzie o Del ti notabili. de uma pessoa. Em sentido literal chúrisma
Todas essas obras foram, por muitos anos, o sig-nilica "dom da graça".
texto de leitura espiritual sobre o qual se A doutrina sobre o c. encontra-se sobretu-
formaram gerações de barnabitas e t calinos. do em são Paulo. Em suas cartas, Paulo, de
uma parte, exorta as jovens Igrejas (Tessa -
lõnica) a ver os c. como meta a ser atingida
II. Doutrina espiritual. C. é ainda hoje com coragem, e recomenda-lhes "não extin-
sumamente edificante. Todo o seu ensi - guir o -* Espírito" (ITs 5.19-22) e. de outra
namento está relacionado com a doutrina do parte, modera as comunidades já exuberan -
—> combate espiritual, muito difundida na tes (Corinto), aconselhando-lhes o discer-
espiritualidade do séc. XVI. O homem deve nimento da autenticidade dos dons espiri -
esforçar-se, em contínua batalha, para su - tuais. Paulo atribui ao termo chârisnia, além
perar tudo que seja contrário ao amor. So - do significado geral de dom gratuito da gra ça
mente o amor, de fato, pode levar à prática divina, também aquele específico de dons
da —> imitação de Cristo, portanto, levar a conferidos para a edificação do —> Corpo de
alma a lornar-se disponível para Deus. Em Cristo. Os c\ são vários e multiformes por-
tal disponibilidade a Deus, a -> alma pode que o Espírito os "distribui" (ICor 12.11)
participar dos —> atributos divinos ao ponto como quer. Paulo enumera mais de vinte
de atingir a > união transformai]te. A - > dons espirituais, ou graças, com relação ao
oração contemplativa, experimentada pela termo chárisma. As listas principais
encontram-se em Riu 12 e ICor 12. Começa
alma neste sublime estágio da vida
pelo c. do apostolado, da —> profecia, do
espiritual, deve ser integrada pelo amor e
ensinamento, até ao dom das curas, das
pela ação a favor do próximo, resultando
obras de misericórdia, do ministério.
disto uma vida mista, em que a oração e a
A vasta gama dos c. arrolados por Paulo
contemplação formam dois aspectos da leva a duas considerações. A primeira é que,
mesma imitação de Cristo. dada sua diversidade, é difícil organizá -los
Contudo, C. passou para nossa história de maneira sistemática. As classificações
como o verdadeiro grande mestre da —» as- que foram tentadas pelos exegetas são
cética do combate espiritual, do qual se tor- sempre um pouco arbitrárias (por exemplo, o
nou eco longínquo o célebre livro do leatino c. da palavra e da ação; o c. da palavra, da fé,
L. Scupoli que são Francisco de Sales trará do ministério; c. intelectuais, de oração, de
consigo, como vade-mécum de leitura espiri- atos miraculosos, de serviços à comunidade
tual, por pelo menos dezesseis anos. Por esse etc). Em segundo lugar, a multiplicidade dos
motivo, em última análise, C. continua sen- c. enumerados por Paulo leva à conclusão d e
do, na história da espiritualidade, uma voz que os c. na -> Igreja possuem número inde-
ardentemente paulina pela renovação da finido. São identificados a partir de dois
vida cristã. princípios: o Espírito Santo, que é o doador, e
a Igreja a ser edificada em sua realidade
BIBI..: D. Abbrescia, s.u, in DES I, 290-291; L. concreta de tempo c lugar ("Mas isso tudo 6
Bogliolo, Battísta da Crema, Nuovi studi sopra ta O único e mesmo Espírito que o realiza,
vita, i suai scritti, la sim dottrina, Turim 1952; I. distribuindo a cada um os seus dons,
Colosio, 5.V., in DSAM II, 153-156; M. conforme lhe apraz", ICor 12,11). Se os c.
Peirocchi, Storia delia spirituatità italiana, II,
existem para a edificação da Igreja, devem
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corresponder às necessidades reais da Igreja
universal e das Igrejas particulares.
Contudo, deve-se levar em consideração
que Paulo, embora falando da pluralidade
dos

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CARISMÁTICOS nem sobre outros dons extraordinários, em -
bora enalteçam seu valor para a vida cristã e
da Igreja, o grupo canta e tala com Deus, fa - 204
zendo-se portador do Espírito que formula
cm nós a oração agradável a Deus (cf. Rm apostólica. Contudo, c experiência comum
S.26 27). Os momentos de —»silêncio que aqueles que. com as devidas
ajudam a assimilara mensagem da oração. A disposições, recebem a efusão do Espírito,
espontaneidade Ia/ tt >do o corpo participar recebem também uma espécie de dom da
da oração, sobretudo através do gesto típico oração, do louvor, do —> ministério,
do orante que acompanha a elevação do acompanhado por aquela experiência do
espírito. Ápice da oração em grupo continua Irulo do Espírito, de que tala —> Paulo; "—>
sendo a Eucaristia, celebrada no início ou no amor, -■> alegria. -> paz, longanimidade,
fim da oração espontânea. A oração de lou - benignidade, bondade, - > fidelidade,
vor e de ação de graças, que não exclui ou- mansidão, —> domínio de si" (GI 5,22). O
Espírito, queé por excelência o dom do Pai.
tras modalidades de oração, mas põe em
concede, por sua vez, com liberalidade os
primeiro plano a atitude de quem se dirige a
dons espirituais, ou carismas, que são mais
Deus não somente por causa do que ele pode
úteis para a edificação da Igreja.
dar, mas lambem pelo que ele é. Oração,
Um carisma tradicionalmente apreciado
portanto, centrada em Deus mais do que em pela Renovação carismática é o "falar em
si mesmo. Lugar privilegiado da oração e da línguas" (cf.: At 2,11; 1 Cor 12.10;
renovação da vida é a Sagrada Escritura, 14 .2.1o), sinal da realidade mais profunda
lida, proclamada, comentada e estudada com de forte experiência de Deus que não se
a ajuda de pessoas preparadas na exegese consegue traduzir na linguagem
católica. convencional e exprime, de modo inefável, a
b. A efusão do Espírito. O "batismo no Es- novidade inebriante operada por Cristo. Este
pírilo" (para evitar possíveis ambigüidades "falar em línguas" no giupo pode assumir a
deve-se preferir a expressão "efusão do Espí- forma de "cânticos no Espírito" que se
rito") foi sempre considerado central na ex- fundamentam em harmonia inspirada. Um
periência pentecostal. É experiência forte e ou outro poderia também anunciai uma
nova da presença viva do Espírito na pessoa "profecia", como mensagem de Deus ao
que o implora c pela qual (ou "sobre a qual") grupo, muitas vezes inspirado por uma
reza um grupo de irmãos. É nova força, que passagem da Bíblia que tem por finali dade
"renova" a presença operante do Espírito re- mais exortar e consolar, do que predizer. Às
cebido no batismo, para viver a vida cristã, vezes é feita também uma "oração de cura"
ser testemunha do Evangelho, rogara Deus e física ou psíquica. Ela nasce de uma fé viva
servir os irmãos com novo ânimo. Não é, en- no poder que Deus tem de curar lodos os
tão, "novo" dom do Espírito, já recebido no nossos males. É sabido que lodo carisma
batismo e na —> confirmação, mas é nova está submetido à apreciação d< >
consciência existencial de sua presença, discernimento, que compete á autoridade
liberação das suas potencialidades. O eclesiástica.
momento da oração para a efusão do Paulo VI assim descreveu algumas carac -
Espírito é precedido por um ritual de terísticas positivas do movimento: "O gosto
caleeumenato, nos chamados "seminários da por oração profunda, pessoal e comunitária,
vida no Espírito", nos quais são a volta à —> contemplação e à valorização
aprofundadas as verdades basilares da vida do louvor de Deus, o desejo de doar-se
cristã e as pessoas são ajudadas a se abrirem totalmente, grande disponibilidade aos
à ação renovadora do Espírito e aos seus apelos do Espírito Santo, um contato mais
dons. Somente quando é atingido ra zoável assíduo com a Escritura, grande doação
nível de maturidade espiritual, que leva fraterna, a vontade de dar contribuição
ao abandono completo ao Espírito de Deus, maior ao serviço da Igreja".
é que estas pessoas pedem ao grupo de Tais características fazem com que o mo-
irmãos que rezem "sobre elas", para obterem vimento se insira naquela renovação espiritual
o dom de nova e mais eficaz presença do exigida de lodos os fiéis para viverem união
Espírito. autêntica com Deus.
c. A experiência carismática. Para os Pen-
lecostais o "batismo no Espírito", para ser BIBL.: A. Bamiffo, "// rimiovamento carismático
autêntico, deve ter como sinal o dom de "fa - nella Chiesa cattolica", in CivCat 125 (1974) 2, 22-36;
lar em línguas". Os neopentecoslais mitiga- Id., Riflessioni teologiche std 'Rimiovamento
carismático', in Ibid., 332-346; Id Attualità sul
ram a necessidade de tal relacionamento. Os 'Riminvamcnlu carismático', in Ibid.. 1 2 í i (
católicos não insistem nem sobre este sinal
Matena! com direitos autorais
1975) 4. D. Grasso (org.), Vescovi e
465-480;
Rimiovamento carismático. Documentos
relacionados, em parte traduzidos, e
apresentados por D. Grasso, Roma 1 9 8 0 ; W.J
llütlenweger, The Pcntecostals. The charismatic
Movement in the Churches, Londres 1972; R.
Laurcntín, // movimento carismático nella
Chiesa cattolica. Rischi e axwnire, Brescia 1976; M.

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CASSIANO JOÃO longo exercício na vida cenobítica (cf. Confer.
1,10): duas formas diversas de consagração a
postos os remédios opot'(unos. As conferências 208
dos Padres, {Collationes Patrum) constituem
uma obra de vinte e quatro Conferências, Deus, mas ambas abertas para a contempla-
composta em três etapas, aproximadamente ção (cf. Confer. 19,8 e 9).
de 425 a 428. A intenção de C, porem, era b. A-* ascese. A finalidade a ser conseguida
redigir uma obra unitária, com uma visão de pela vida monástica, antes de tudo por meio
conjunto e completa sobre os "ensinamentos da ascese, c o Reino de Deus. A ele se chega
e preceitos dos anciãos" (Confer. 24,1). A pri- por meio da pureza de coração, que é ao mes-
meira coletânea (1-10) é um verdadeiro mini- mo tempo a condição e a contrapartida do
tratado sobre a perfeição, no qual é indicada completo desenvolvimento em nós da cari-
a linalidade do monge, ou seja, o Reino de dade. C exprime com firmeza, até então des-
Deus, e os meios, ou seja, a pureza de cora- conhecida, a convicção de que as renúncias da
ção, a caridade ea-> contemplação assídua. ascese têm por eleito a caridade (cf. Confer.
Faz-se necessária a virtude da > discrição, 1,6-7).
que se pode obter pela abertura do coração e Para C. a vida monástica progride ao ritmo
docilidade para com os anciãos. A perfeição da de três renúncias sucessivas: a renúncia
renúncia, que é a vida monástica (cl. Confer. ascética, a renuncia aos \ ícios e a renúncia
I, 4,1) comporta três graus, através dos a tudo aquilo que não é de Deus. A primeira
quais se eleva, aos poucos, até a intimidade renúncia, que implica o abandono dos bens
divina. As outras duas séries de conferencias materiais e das comodidades, conduz, com a
são de caráter complementar. Existe conexão -» humildade e a paciência, ao abandono dos
entre as duas obras. Na verdade, as Institui' vícios. Neste contexto a paciência, luta
çõesccnohíticas são apresentadas porC. como assídua contra o que nos perturba, conduz à
introdução à doutrina "mais .sublime", paz. E neste terreno que faz germinar a
exposta nas Conferências cenobüicas sucessivas caridade (e a gnose), que mediante a terceira
(cf. Insí. II, 9,3). Se aquelas ensinam a renúncia, lornar -se -á contemplativa, prepa-
maneira ração para progresso indefinido, porque
necessária para vivei- nas comunidades mo- tendente, agora de maneira livre, à perfeição
násticas, estas últimas insistem mesma do Pai. Temos aqui a prova da posi-
especialmente sobre a "disciplina do homem tividade da renúncia em C , que escreveu: "O
interior" e são próprias para os que desejam momento em que se desdenham como cadu-
levar vida de anacoreta. As instituições, além cas as coisas presentes é também aquele em
disso, contêm somente os primeiros que o olhar do espírito está firmemente lixa -
rudimentos da doutrina. "De acordo com a do nas imutáveis e eternas" {Inst. V, 14). E
distinção, herdada de Evágrio Pôntico, que ainda: "Nós queremos expulsar do nosso co-
ele explana na Confer. 14, a theoria ou ração a concupiscência da carne, a fim de li-
contemplação espiritual, à qual somente se berar o lugar imediatamente para as alegrias
chega com a pureza de coração, é privilégio espirituais" {Confer. 12,5). A contemplação é,
dos que se exercitaram longamente na vida portanto, possibilitada pela ascese, não sem
practica (...). Como purificar-se dos próprios que a contemplação anime a própria eleva ção
vícios c como comportar-se pouco a pouco, do espírito. Mas o método de C. não se reduz
de maneira disponível aos dons divinos mais a examinar impiedosamente a si mesmo, a
elevados, eis a finali dade principal das mortificar-se, a combater-se, o seu método é
Instituições cenobüicas."2 mais positivo do que negativo, é místi co,
mais do que ascético.
II. A espiritualidade, a. A vida monástica. O
pensamento de C. é o prolongamento do III. A mística, a. Oração e contemplação. O
pensamento dos mestres precedentes, momento conclusivo do período de -* pu-
baseado na Escritura, na tradição viva dos rilicação (ou praxis) assinala a passagem ã
Padres do deserto; nele se nota o influxo de -> scientia spiritualis de C. e à theoria ou gnosis de
Basílio, de -> Jerônimo, de Crisóstomo e, em Evágrio, fase caracterizada pela liberdade, por
particular, de Evágrio Pôntico. Os monges parte do monge, que se tornou homem de
devem se esforçar para serem cristãos per- Citação, de conversar com Deus. C. lembra as
feitos, favorecidos por sua situação, no viver palavras do abade Isaac "(...), o ponto
na > união com Deus na -> caridade. Quanto culminante da perfeição do coração cons-
à vida cenobítica e anacorética, ele foi in- titui-o a oração perseverante, ininterrupta, é,
térprete da preferência quase unânime pela em suma, a busca de tranqüilidade imóvel,
anacorese, que, porém, exige primeiro um de pureza perpétua, nos limites consentidos
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pela debilidade humana" {Confer. 9,2). "A tua
doutrina fundiu o fim do monge e o cume da

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20 CASSIANO JOÃO
9

perfeição na 'oração perfeita'" (ibid.. 9,7). A também do próprio Deus. Cumpre notar que
oração perfeita é própria do contemplativo. A a contemplação como estado (ou grau) da
oração, forma da caridade, c, como esta vida espiritual é por ele denominada também
última, o escopo de toda renúncia e ascese: virtus theoretica, scientia
"Se aspiras à oração, renuncia a tudo para (gnosis),tht'oretikc, theoretica, theoria,
ter tudo'' (ibid., 36). b. A oração. Oração ao passo que a contemplação como ato é de -
continua. Ao progresso nas -> virtudes e na signada também como theoria, in tu itu s e
pureza de coração corresponde o progresso obttutus. Ele mostra como é grande a varie-
da oração perfeila, até a união habitual com dade de formas da contemplação de Deus (cf.
Deus. Por trás de tudo transparece a exorta- Confer. 1,15). C , come» —» Gregório de
ção paulina sobre a oração incessante (ct. 1 Nis.su e Evágrio Pònlico, julga que a
Ts 5,17). O objetivo dos monges não é a conti- verdadeira contemplação abranja theoria e
nuidade contraditória nos atos de oração - è praxis. A Escritura nos ensina que a -> gnose
necessário o —> trabalho -, mas também "o deve acompanhar a caridade. Em segundo
estado de oração" [orationis status) lugar, a verdadeira contemplação apreende
(Conjer. 10,4), que produz a situação de diretamente o seu objeto, é intuitiva. Mas a
estabilidade e de paz. A oração contínua visão pertence somente ás almas puras, seja
implica, para o monge, o esforço, e até a luta que se trate de ler o livro da natureza, seja o
contra as distrações e contra o —> demónio da Escritura. E graça de Deus (cf. Confer.
(cf. InstL 2,10). c. Bíblia e oração. Outro 12). A contemplação acontece sob o influxo
aspecto típico da oração monástica em C é divino (cl. ibid., 3,12), c eleito de iluminação
sua vinculação com a Bíblia, na qual o particular do —> Espírito Santo (cl. ibid.,
monge está inteiramente imerso, vivendo 14,9). A alma pura é como pluma leve que
intensa comunhão e diálogo com Deus. A alcança sublimes altitudes quando
oração privilegiada é o saltério, parte estimulada pelo sopro do Espírilo (cf. ibid.,
precípua do ofício canónico do monge. O 8,4). Juntamente com a meditação da
saltério foi a escola de oração do mona-quismo Escritura deve estar também a purificação da
primitivo e toda a vida do monge é salniodia. praxis, pois á primeira o monge não deve
Os latos bíblicos, assimilados pelo monge, renunciar, ainda que tenha atingido a
reproduzem-se, por assim dizer, nele (cf. contemplação. E isto é tanto verdade para C.
Confer. 10,11). Para os monges a —> Icctit que ele não hesita, seguindo as pegadas de
? divina é a fonte primeira da oração. O seu mestre Evágrio, em quase idenlilicar a
monge cotidianamente lê, medita e assimila contemplação" pura (visão infalível e interior
a Bíblia. E claro que, de acordo com a lógica de Deus) e a ciência espiritual (a
da mística dos > Padres, a oração se nutre da compreensão íntima da Escritura) (ibid.,
Escritura. C. penetrou de cheio na forte 14,8). A contemplação chega, igualmente, a
corrente derivada de -> Orígenes, que não estabelecer contato com Deus, não só dos
admitia reconhecer nenhum outro livro a não sentidos, mas também da inteligência, a qual
ser a Bíblia. E de se notar, também, como "sai de si" para se porem contato com Deus. É
em C. à leitura atenta tia Escritura está a mística extática, ou o -> êxtase, que, por um
ligado o elemento luz. Esta transforma a lado, é ignorância (agnosia) ou trevas
alma e a deilica. C. conhece a doutrina da {guôphos), e de outro é "o
iluminação de Paulo (cf. Ef 5,8-9; 2Cor3,18) e, superconhecimento desta ignorância, a
ainda antes desta, a de Jesus (cl. Jo 8,12). d. supcrlununosidade destas trevas".3 Quanto a
A contemplação. C. transpõe para o C, ele muitas vezes recorre a termos
Ocidente o primado do ideal dos comoexcessus mentis, excessus spiritus,
contemplaiivos (thcoretikoi) sobre o dos excessus cordis, embora não explique o
ativos (pr ak tiko i), da contemplação (vita êxtase e nem elabore uma teoria sobre ele.
contemplativa) sobre a ação (vita Pata ele, de ioda maneira, o êxtase é gra ça
acttudis). Para ele a contemplação é o ápice especial, a superação da vida sensitiva,
da perfeição, o bem supremo (Confer. 23,3; caracterizada peia rapidez com que acontece.
1,8). C. foi o primeiro a elaborar no Ocidente É como uma punctura (compunctio) da alma
urna teoria da contemplação para a vida por parte de Deus (Conf er. 9,21). e. O
monástica, mas para ele a coutemplatio lem ápice da contemplação: a oração pura.
diversos significados, entre os quais o Em C. e em outros autores a contemplação é
especilico da visão das coisas divinas e facilmente identificada com a oração.
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Algumas expressões suas comprovam-no: 276; A. Pastorino, / temi spirituali delia vita
"Estar incessantemente ocupado com Deus e monástica in Giovanni Cassiano, in Civiltà Clássica
Cristiana, I í!980), 123-172; c. Tibiletti,
com as coisas celestes" (Confer. 1,8); Giovanni Cassiano. Formazione e dottrina, m A u g
"perseverarem oração incessante" (ibid., 17(1977), 355-380.
9,2). Para ele, a contemplação perfeila
identiiica-se com a oração perfeita, definida O. Pasquato
tanto por C. corno por Evágrio como "oração
pura". As duas realidades estão
estreitamente unidas (cl. Conf er. 9,8;
19,8). Na oração pura "dão-se revelações
CASSIANO JOÃO - CATARINA DE BOLONHA
(santa) CATARINA DE BOLONHA (santa)
sobre os mais santos mistérios, que ate
I. Vida e obras. Nasceu em Bolonha, em 8
agora eram completamente desconhecidos
de setembro de 1413. Educada em Ferrara,
para mim" (ihic!.t 10,10). "O - > feivor intenso,
pôde valer-se, dos onze aos dezenove anos,
observa Columbano, onde isto acontece, é
210
deduzido pela terminologia usada, corno
Togo', flama', 'oração ígnea', que significa da cultura oferecida pela corte dos Estensi.
manifestação viva da caridade." 4 A Isto pode ser demonstrado pela sua intimi -
estupenda Conferência X sobre a oração faz eco dade com Margarida, filha natural de Nicolau
à oração sacerdotal de Jesus, comunicação d'Esté ( f 1496) e pela imensa cultura cristã
aos homens de seu amor, que forma a vida que se manifesta em suas obras, a maior delas
eterna de Deus em si mesmo (cf. Cnv.jer, em latim, chamada Rosariam, que desen-
10,7). Rezar assim é o escopo da volveu em 5.596 versos, sobre os quinze mis-
contemplação: a "oração de logo" térios tio rosário, uma das primeiras vidas
forma conjunto só com a contemplação. E a de Cristo. A segunda. As sete armas espirituais,
"oração de fogo" é, enfim, uma oração acom- que alterna com os preceitos ascéticos, desti-
panhada por —> lágrimas, sinal de intensa e nados às noviças da Observância de São Fran-
inexprimível —> alegria espiritual. cisco, muitas experiências de sua vida de cla-
rissa. A terceira obra, inédita, expõe os Doze
NOTAS: 1Uomini illustri, 62; 2 J.C. Guy, Jean
Cassian, Vie ei doctrine spirituelle, Paris 1961, 10; graus da perfeição, um itinerário para "inician-
3 J. Le-maïtre. Contemplation, in DSAM II, tes, proficieniese perfeitos", flamejante de
1964;4I I mona-chesimodetleorigini, Milão 1990, amor e de lances poéticos, como o Cântico
379-380. bíblico.
BIBL.: Fontes: L. Da Uri no (org.), G. Cassiano, Le Destes escritos e de sua bibliografia escrita
Istitiizioni, \ , V-XII, in ld.. Il primo monachesimo, pela beata Iluminada Bembo (t 1496), con-
Roma 1984: J.C. Guy (org.), Jean Cassien, clui-se que, quanto mais C. avança em idade,
Institutions cénobitiques; SC 109, Paris 1965; O. tanto mais cresce sua —» união com o Senhor.
Lan (org.), G. Cassiano, Conferente spirituali, 3 Na prática da • » obediência, da » humildade
vols., Roma 1965; E. Pichery (org.), Jean
e da —» pobreza soube transformar em
Cassien, Conférences, I-VII: SC 42, Paris 1955;
VH1-XVII: SC 54, Paris 1958; XVIII-XXIV: SC melodia o —» sofrimento e reconduz.ir a ob-
64. Paris 1959. Estudos: L. Bouvcr, La servância conventual á energia c ao rigor das
spiritualità dei Padri ( I I I - V I secola). Monaclwsimo origens. Soube ser educadora "lutando
antico e Padri, nova ed. org. por L. üattrino e P. fortemente contra a própria fragilidade". A
Tamburrino, Bolonha 1986, 247-258; B. Calati, via -> ascética que devem percorrer "os que se
Sapien-za monástica, Saggidi storia, spiritualità e castigam a si mesmos" exige a renúncia às
prohlemi monastici, Roma 1994, 299-314; O.
Chadwick, io/m Cassian, Oxford 19682; L. doçuras c a opção por "carregar a cruz"; "por
Dattrino, Lavoro e ascesi nelle "Institutiones"di isso tanto é o amor como a dor". Mas, já que
Giovanni Cassiano, in S. Felíci (org.), Spiritualità "toda —> virtude torna-se perfeita por meio
dei lavoro nella catechesi dei Padri delIIl-IVsecolo, das que lhe são contrárias" e "o perigo reside
Roma 1986; H.D. Egan, Cassiano, in kl.. / no muito como no pouco", deve-se usar da -»
misticie la mística, Città dei Vaticano 1995, 94- "discrição", "segundo o que disse Antônio de
104; .1 C. Guy, Jean Cassien. Vie et doctrine
spirituelle, Paris 1961 ; J. Leclcrcq, L'unité de la Viena". Morreu em 9 de março de 1463.
prière, in ParL 42 (i960), 277-284; C. Leonardi.
L'esperienza di Dio in Giovanni Cassiano, in Ren II. Doutrina mística. Sua mística tem as
13 (1978), 198-219; S. Marsili, Giovanni características de bemardianas, basta me
Cassiano ed Evagrio Pontico. Dottrina sulla carità e distanciada do pietismo da —> Devo tio moder-
contemplazione, Roma 1936; A. Ménager, La n a , que põe em primeiro plano, ao contrário
doctrine de Jean Cassien, in VieSp 8 (1923), 183-
das teses humanistas, "o desprezo de todas as
212; M. Olphe-Galliard. s.u, in DSAM II, 214-
Material com direitos autorai
coisas terrenas". C. esteve sempre imersa no S. Spano. Pcrunosiudi* > \it santa Catetiiia ila
pensamento de Deus e se esquiva de falar Boloeua. in Studi mediocvali. 2 (1971). 713-759.
sobre suas próprias experiências. Mas não
G. Sgarhi
pôde eximir-se de revelar que contemplou a
Trindade, que penetrou no mistério da —>
Encarnação, como também no da Eucaristia.
Tomaram-se célebres as aparições da —» Virgem,
que coloca em seus braços o Menino, no natal
de 1445. e a visão de —» são Francisco e de
Tomás Becket (t 1170).
Os —> êxtases, as —> profecias e os milagres
CATARINA DE GÊNOVA (santa)
fazem parte da norma dos místicos, aí inclusa
I. Vida e obras. C. nasceu em 1447, em
a —» noite escura, por ela chamada de "fossa da
tristeza que leva à condenação" c as --> Gênova, da nobre família cios Fieschi. Rece-
tentações diabólicas, que duraram cin co beu educação humanista e boa formação re-
anos. De acordo com ela, chega-se à —> per- ligiosa. Aos do/e anos sentiu forte atrativo
feição somente a travessando-se a dor de ler pela oração e pareceu demonstrar grande in-
perdido Deus. De fato, nela muitas vez.es volta clinação para a vida monástica. Os contem-
a lembrança do "Eli, Eli" de Jesus sobre a porâneos diziam que era belíssima, dolada de
cru/. A última das "sete armas" dei ende a forte caráter, mas muito sensível, além de
necessidade do conhecimento e da meditação possuir grande capacidade de inlrospeção.
da Sagrada Escritura. Aos dezesseis anos, em janeiro de 1463, dei -
O Rosarium, prova viva da alta especulação xou-se convencer pela lamília e se casou com
mística da escritora, sem abandonai os Juliano Adorno. Foi um casamento combi-
diversos sentidos bíblicos, alonga-se na ilus- nado para sanar o dissídio político entre os
tração dos aspectos históricos da vida de Je- Fieschi e os Adorno. Juliano era violento, bru-
sus. C. lê os evangelhos com vigilante tal e gastador, e C. passou os primeiros cinco
racionalidade, levando cm consideração os —> anos de vida matrimonial em penosíssima so-
Padres, os santos e os teólogos santos. lidão. Incitaram-na a participar da vida mun-
Conditio, é preciso ressaltar que nela a dana da cidade, para conquistar o afeto do
revelação não se dá em suas formas usuais. A marido, lista etapa acabou, depois de pouco
inspiração não é direta e específica, mas tempo, com um acontecimento que marcou
fortemente intelectualizada. Suas obras estão sua total —> conversão ao Senhor. Em 22 de
cheias de citações dos seus auctores, março de 1473, levada por sua irmã, monja
declaradas ou subentendidas. Uma leitura Limbãnia, para se confessar, teve de interrom-
atenta consegue, porém, demonstrar que em per a confissão porque desmaiou. Depois de
algumas passagens evangélicas houve uma voltar para casa, teve uma -> visão de Cristo
experiência direta. crucificado, que encheu a casa de sangue. No
O verdadeiro motivo que causa maravi lha dia 25 de março, pôde terminara confissão e
é sua capacidade de exegese e sua ex- recebeu a -> Eucaristia.
traordinária competência teológica, além da Iniciou-se, assim, para C. uma ascensão tão
recente descoberta sobre as —> "núpcias es- rápida ao estado de —> união com Deus, que
pirituais", três coisas que dificilmente se en- pareceu queimai- —> etapas, isto é, os pontos
contram juntas em um mesmo autor. Os de parada costumeiros do —> caminho místico.
pontos notáveis são a concepção do homem - Esta ascensão alimentou-se em duas lon-tes,
microcosmo, o —* amor esponsal entre a na- a luta sem trégua contra o amor próprio e
tureza humana e Deus, a grande sinopse da dedicação total aos doentes mais abando -
Encarnação e a doutrina eucarística. C en- nados, como os leprosos e os incuráveis, aos
fim, sustenta a ■> primazia da mulher, na li- desci dados, aos enjeitados e às prostitutas.
nha da —> graça, feminismo teológico, não Foram incessantes sua vida de —> penitência
social. e o ardor da ■> caridade, que consumiram
suas energias impiedosamente.
H:ÜI ,:1. Bembo, Specchin di ii!uminaziont\ Ferrara Em 1479, Juliano Adorno foi tocado pela
1989; R Diotailevi, S M , in EC III, 1142-1143; GD. graça e, juntamente com C , entrou na Ordem
Gordini, s.v., in BS III, 980-982; I. íkvmchx,
Terceira franciscana e, de acordo com ela, fez o
.s.v., in USAM 11, 288-290; A. Matame, s.v., in
DBS I. 477-47S; M. Muccioli, Santa ( 'uterina da voto de castidade, dedicando-se desde então
Bologna, jnislica del Quattrocento, Bolonha 1963; até sua morte, em 1497, ao cuidado dos
kl., La spiriiiudnâ franrescana in santa Caterina sofredores. Durante a terrível peste de 1493, C.
da Bolognü, in Vita Mint »mm, 35 (1964)2,29-.S I; gastou suas forças de maneira heróica com os
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doentes, e contraiu a doença depois de
abraçar uma co-irmã da Ordem Terceira, que
estava à morte. Ficará curada da doença, mas
sua saúde física ficará definitivamente afeta -
da por um mal-estar de origem desconheci-
da, que a consumirá, acabando com qualquer
resíduo de beleza aparente.
Um grupo de admiradores e de colabora -
dores reuniu-se ao redor de C, eram homens
e mulheres, religosos e leigos, nobres e bur -
gueses. Nasceu assim a Companhia do Divi -
no Amor, um dentre os Oratórios" que flo-
resceram na Itália daquele tempo.
Foi a partir destes grupos que surgiu o
Opus Catharinianum, um conjunto de obras
atribuídas a C, mas do qual apenas uma pc-

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CATARINA DE GÊNOVA (santa) - CATARINA DE RICCI (santa) 21
2

quena parte foi provável meu te redigida por e do amor transformante: "Tinha esta santa
ela. () Opus Cnthariuianum c composto por: alma tamanha união com seu Deus que mui-
Livro da vida admirável e doutrina santa da beata tas vezes dizia: se eu como, se bebo. se ando,
Catarina de Cie nova; Tratado sobre o purgatório; se paro, se falo, se calo, se durmo, se acordo,
Dialogo espiritual entre a alma e o corpo, o innor se vejo, se cheiro, se penso, se estou na
próprio, o espírito, a h u m a n i dade e o Senhor igreja, em casa ou fora, se estou doente ou
Deus. sã, se morresse ou não morresse, em qual -
A Vida parece ter sido redigida por Ma- quer hora do decurso de minha vida, que ro
rabotto; o Diálogo leria sítio redigido por C, que tudo seja em Deus e para Deus, e para o
próximo por amor a Deus" (IJ. Bonzi, A 27).
em sua primeira parte; o Tratado sobre o pur-
gatório teria sido composto pela recordação BIBL. Obras: U. b< uizi da Gênova, Edizione
viva das palavras de C . e corresponderia, de critica dei manoscriíti cateriniani, II , Gênova I'yó2;
fato, ao seu pensamento e, de certo modo, (i. De Li-
bero, «S\ Catterina da Gênova: le opere, Cinisello
lambem à sua maneira de se expressar. Bálsamo 1956. Estudos: C. Balduzzi, I I
C. morreu na manha de 14 de setembro de sopranna-turale in santa Caterina da Gênova
1510. Em 16 de maio de 1737 foi canonizada patrona degli ospedali, Údine 1992; U. Bonzi da
por Clemente XII (t 1740). Em 15 de setem- Gênova, Teologia mística di s. Caterina da Gênova,
bro de 1943, Pio XII, com o documento Inter Roma 1960; F. Casolini, s.v., in EC III, l 145-
1148; P. Cassiano Carpancto da Langasco,
gravíssimas, declarou santa Catarina de Gê- Sommersa nella fontana dellamore, S. Caterina
nova "Padroeira dos hospitais da Itália". Fieschi Adorno. La vita e le opere, 2 vols., Gênova
1990; P. Costa, Lesperienza delia purificazione
II. O itinerário espiritual de C. tem como nelle opere di santa Caterina da Gênova, Roma
suporte a idéia especulativa do -> aniquila- 1970; l). Del tio, Caterina da Gênova. Vamore e
ilpurgatório, Milão 1978; G.D. Gordini, s.v., in
mento de si mesmo para permitir a total ocu-
BS III, 984-989; P. Lingua, Caterina degli ospedali,
pação do ser por Deus. Esta vontade inspirou- Milão 1986; M. Petrocchi, Storia delia spiritualità
lhe interiormente o —> despojamento de todas italiana, 1, Roma 1978; 164; G. Pozzi eC.
as propriedades do próprio ser e o es- Leonardí (org.), Scrittrici misiiche italiane, Gênova
quecimento até de seu eu sobrenatural e do 1988, 346-362; A. Romero, s.v., in DHS I, 47S-
que Deus opera. Ela se ofereceu, desta ma- 4.S'.); Umilc Bonzi da Gênova, s.v., in DSAM II,
290-325; Valeriano da Finalmarina. Capoiavori
neira, à justiça reparadora sem descanso e
dei Mistici Francescani: S. Caterina da Gênova.
praticou concretamente atos de —> mortifica- Trattato dei Purgatório, Gênova 1992.
ção e de penitência, que atingiram o limite
do humano. A —> nudez de seu ser e de sua A I . Tiraboschi
vida assumiu a atitude interior da alienação
de si e de toda relação com as coisas, à me-
dida que elas podiam inlluenciá-la. O amor-
próprio, para C., é uma forma de anticristo,
que tende a se apoderar da pessoa,
excluindo a -> presença de Deus. O amor
próprio nutre-se, de fato, com alimentos CATARINA DE RICCI (santa)
terrenos e celestes, e é ladrão tão sutil que
rouba até Deus, para si próprio, sem sentir
I. VId» e obras. Nasceu em Florença, em 23
interiormente nenhum estímulo ou
de abril de 1522 e foi batizada com o nome de
repreensão a respeito disso, como se fosse
Alexandra Lucrécia Rômola. Pertenceu à
coisa sua e sem a qual poderia viver" {Vita,
família aristocrática De' Ricci, facção oposta
21).
aos Albizzi cm determinado período da vida
C , teorizando sua própria experiência de
florentina, onde o esplendo]' e a riqueza se
—> purificação pelo amor divino que sempre
mesclavam às agitações das lutas políticas e
mais veementemente invadia seu caminho
às intrigas das grandes famílias. Órfã de mãe
místico, tira disto uma imagem do purgató-
aos quatro anos, encontrou afeto em sua
rio, em que as almas são atormentadas pelo
madrinha Fiammclta Cattani. Aos sele anos
fato de que o ímpeto ardente com que o amor
loi mandada para o Colégio de S. Piero in
de Deus as invade é. bloqueado pelos resí-
Mon-ticelli, junto de uma tia que era monja
duos do pecado que ainda não foram expur-
beneditina. Foi neste mosteiro que, provavel -
gados
mente, nasceu a inspiração que amadurecerá
Na perspectiva desta —> ascese de purifi-
mais tarde, tornando-se o fulcro de seu
cação C. chegou ao ápice da união com Deus
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caminho espiritual Nutria —» devoção parti- precária c os anos destes trabalhos
cular por Jesus Crucificado e, por .seu amor, exuberantes e numerosos relacionamentos
praticava algumas renúncias no âmbito dos farão multiplicar-se os achaques físicos até á
pequenos prazeres de sua idade. morte, que ocorreu em 2 de fevereiro de
Aos onze anos fez. soa escolha vocacional, 1590.
decidindo-se a entrar no mosteiro de São As obras de C , dividem-se em dois grupos:
Vicente, das dominicanas de Prato, comu - as Cartas e os Êxtases. O epistolado é nume-
nidade recém-surgida, abrigada em constru- roso e dirigido ás mais diversas pessoas. C.
ção de modestas proporções, mas de rígida conforta, aconselha, orienta de maneira di-
observância, seguindo a linha espiritual de versa, de acordo com as necessidades e as
Savonarola. Um tio paterno, frei Timóteo, e perguntas de seus correspondentes e apenas
um tio, irmão de sua madrinha, Ângelo de algumas das Cartas apresentam caráter mais
Diacceto, ajudaram-na a superar a oposição íntimo, correspondendo á experiência de sua
do pai e, em 18 de maio de 1535, recebeu o vida pessoal. Muitas das Cartas não são au-
hábito religioso dominicano, com o nome de tografas, mas ditadas. Os 1'xtuscs foram cu-
C.
idados por diversas religiosas, mas particu-
O primeiro período de sua vida religiosa
larmente pela madre superiora, á qual, por
foi caracterizado por—> recolhimento perma-
obediência, antes de se tornai'priora, era
nente na oração, que foi acompanhado por
obrigada a prestar conta destes seus
estados de -> contemplação que a
lenômenos extraordinários.
mantinham tão absorta e distanciada da
comunidade que foi julgada "insensata".
Depois da profissão, em 1536, este anda- II. O caminho espiritual de C. tem como
mento das coisas pareceu piorar, porque pro- centro —> Jesus Calcificado. Em seus—>
vocou um enfraquecimento de sua v italidade, êxtases ela revive prevalentemente os
tanto física como psíquica. De modo momentos da paixão, participando com o
completamente inesperado, porém, C. revi- cotpo e o espírito dos —> sofrimentos de
gorou-se a partir do dia de aniversário da Cristo. O Crucificado é seu —> modelo
cremação de Savonarola (I 1498), pelo qual supremo, como afirmou sua superiora a seu
ela nutria grande admiração e devoção respeito: Era realmente ligada á —> cruz do
espiritual. Eia o ano de 1540. Foi, contudo, Senhor, de modo que quase não pensava em
um reflorescimento que se inanilestou com ■> outra coisa, quase não respirava outra coisa...
lenômenos místicos quase contínuos, cujo . Sua união á paixão não se limitou ao
caráter extraordinário tornou-se conhecido relacionamento de amor pessoal com Cristo,
fora dos muros do convento, e lambem tora mas [oi, também, --> expiação e impeli ação
da Itália. Virão visitá-la numerosas pessoas, pelos outros, pela salvação das almas.
enlre as mais notáveis do tempo, não sem le- O convento de S. Vicente tornou-se, então,
vantar, com a nuvem poeirenta da curiosida- justamente por este motivo, um centro de
de mundana, a suspeita eclesiástica, sobre - devoção à paixão. As procissões com o Cru-
tudo por causa do retorno ã circulação de cifixo, muitas vezes carregado por ela quando
reminiscências de Savonarola. C, contudo, estava em êxtase, tornaram-se urna tradição
era tão simples e Ião desarmada em sua to- do lugar, mesmo depois de sua morte. Tudo
cante —> humildade, que a autoridade ecle- isto constitui o núcleo central da > ex -
siástica acabou reconhecendo nela os sinais periência mística de C, feita de -> aniquila-
de autenticidade. ção, relação esponsal com o Cristo da cruz,
Em 1552 (?. foi eleita priora e depois de participação em seus sofrimentos, sinalizan-
poucos meses iniciou-se para ela um período do um ~» amor forte e veemente, típico dos
de conslniliva fecundidade a favor da comu- grandes místicos.
nidade, onde, por quarenta e dois anos. de- Bmi .: R. Cai.s.v., inDSAM II, 326-327; G. Di
sempenhará encargos de responsabilidade e Agresti. s.w. in DHS 1. 4SÜ-4S2; Id.. Mediazione
por sele vezes o priorado. A seu redor, no en- mariana, uelVEpistolaria di S. Caterina de' Ricci, in
tanto, vai-se fechando, sempre mais ativo, o R tvAX Í 3
(1958) , 243-255; Id., // dono místico dei cam-
círculo dos seguidores de Savonarola, os "cho- biamento dei cuore in S.C. de' Ricci, in MDom 35
rões ", e disto resultou uma abundante cor- (1959), 33-37; hl.. Santa Caterina de' Ricci.
respondência. Bibtio-fira f ia ragioruita cou appendtce
O olhar de C. foi além dos horizontes do savonaroliana, Florença 1973; C. Massaroiti, Le
claustro e se estendeu ã reforma da Igreja, lettere di s. Caterina de Ricci, profilo spiriinale
objeto de discussões com personalidades letterario, in M D n m 27 (1951), 11-37; 104-125,
137-147; G. Pozzi e C. Leonardi (org.) Scrittrici
como s. Carlos Borromeu 1584) e —» são
mistiche italiane. Génova I9SS, 387-391; R.
Filipe Néri. Sua saúde permanecerá sempre Rístoti, s.w, in D tz Ii i u i i r X X U , 359-3 61; G.
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Scalia, G. Savonarola e S. Caterina de' Ricci, te de seu "lúcido e profundo" conhecimento
Florença 19S5. teológico. 1
Ern uma carta a Raimundo de Cápua (t
Al. íirahüschi 1399), seu confessor, ela explicou que os
CATARINA DE SENA (santa) seus escritos são extravasamento de sua ex-
periência mística: "fDeus] me dera e provi -
I. Vida e obras. Catarina Benincasa, co- denciam dar-mea aptidão para escrever, a fim
nhecida por todos corno Catarina de Sena, de que, descendo da altura, tivesse uni
surgiu na história da Igreja como mulher for- pouco com que desafogar o coração, para não
te e zelosa, apaixonadamente confiante no explodir" (Carta 272). Suas obras teológicas
imenso amor de Deus para com a humanida- versam sobre o —> itinerário cristão em
de, manifestado em -> Jesus Cristo. Nasceu
direção a Deus, desde seus primeiros,
em Sena, em 25 de março de 1347, filha de
tímidos e hesitantes passos até sua última
Lapa di Puccio Piagenli e Jacopo Benincasa.
etapa de união translormante.
Ainda muito jovem consagrou-se a Deus com
Durante toda a sua vida C\ foi destinatá-
o voto de - > virgindade. Mais tarde, ajuntou
ria de extraordinárias manifestações do amor
se às '"Veladas", um grupo de leigas do -
de Deus: -» revelações, -» êxtases, -> visões, - >
minicanas que em Sena consagravam sua
permutas de coração, estigmas, união mís-
vida
tica. Contudo, à medida que recebia graças e
à —> oração e à atividade caritativa. Os
bênçãos especiais, insistia na idéia de que a
primei-
comunhão profunda e genuína com Deus
ros três anos corno "Velada" foram transcorri-
está baseada antes de tudo e essencialmente
dos em vida cie oração solitária. Depois deste
em vida de fc, —» esperança e —» caridade.
período de rei iro, mergulhou no apostolado
Sua relação com Deus revela unia condição
em favor do próximo. Muitas crônicas falam
de grande -> simplicidade. Raimundo de
sobre seu alento cuidado para com os pobres
Cápua conta que o Senhor "falava com C. como
e os encarcerados, e de sua atenção solícita
um amigo para outro amigo do coração"
fiara com os enfermos. Muitas vezes agiu como
[Isgcnda Maior, 1, XI. 1 12). De lato, ela foi a
conciliadora entre países em guerra. Encora-
tal ponto consciente da —> presença de Jesus
jou o papa Gregório XI (t 1378) a deixai'
enquanto orava, que "recitavam junta mente
Avinbãoe retornara Roma, apoiando-o iirme-
os > salmos, passeando sozinhos daqui para
menlc. Da mesma maneira agiu com seu su-
lá, nos corredores, como duas irmãs de
cessor, Urbano VI (t 1389), Quando, em 1378.
religião que recitam juntas o ofício" (jhid.). A
loi eleito um antipapa--Clemente Vil (] 1394)
condição experimentada por C. de união
— ela empregou todas as suas forças na oração
(ransíornianlc - dom gratuito de Deus - ê ao
c na luta para que losse resolvido o cisma
mesmo tempo o resultado de uma sempre
interno da Igreja. Por isto transferiu-se para
maior entrega de sua vontade própria. Em O
Roma, onde morreu em 29 de abril de 1380.
diálogo, Jesus lhe diz: "São um ou iro eu. por-
Antes de expirar, ofereceu sua vida pela —>
que perderam e abnegaram sua vontade pró -
Igreja: "O Deus eterno, recebi' o sacrifício de
pria, revestiram-se, uniram-se e identificaram-
minha vida neste corpo místico que é a santa
se com a minha" {D. 1).
Igreja. Nada tenho a oferecer, a não ser o que
C. foi urna mulher capaz ele amar prol lin-
me deste. Aceita, pois, meu coração, c coloca-
damente. Ela, que descreve Deus como "louco
o sobre a lace desta santa esposa" {Caria 371).
de amor" e como "ébrio de amor", foi, por sua
Foi canonizada em 14o 1 e declarada Doutora
vez, uma pessoa "enlouquecida" e "como que
da Igreja por Paulo VI, cm 1970.
inebriada" em seu amor. Em seus escritos
Os escritos de C. são: O diálogo, As cartas c As
explica que é precisamente do fato de que
orações. O diálogo é sua obra principal. Trata-se
foram feitos à imagem de Deus que os seres
de um compêndio de seu ensinamento
humanos tiram sua capacidade de amar. No
teológico e místico. Temos ainda quase qua-
Diálogo Deus diz: "Sem amor não podeis viver,
trocentas Cartas e vinte seis Orações. Estas
porque fostes feitos por mim por amor" (D. 93)
últimas são enraizadas nas grandes verdades
A razão pela qual C. - ou qualquer um de
da • lê cristã e demonstram claramente sua -
nós - pode amara Deus e as outras pessoas é
> união mística com Deus. Em suas orações a
porque Deus nos amou primeiro. Ela não
teologia transforma-se em doxologia.
cansa de surpreender-se com a profundidade e
II. > Experiência mística. Em sua ho- a imensidão do amor divino. Este amor
milia - no ato de proclamação de C. como manifesta-se sobretudo na criação e na—> re-
Doutora da Igreja - Paulo VI fez menção par- denção. Louvando o amor de Deus na criação,
ela o representa como "o amor inestimável com
ticular ao -» "carisma místico" que foi a fon-
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o qual refletiste em ti mesmo a tua criatura e
te apaixonaste por ela, e por

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21 CATARINA DF. SI:NA
5 (santa)

isto a criaste por amor" ( D . 13). Ela ficou si mesma como "ansiada por grandíssimo
ainda mais abismada pela manifestação tio desejo" ( D . 1). —> Desejo de Deus e da salva-
amor divino na > Encarnação. Novamente ela ção do — > mundo. Seu anseio por Deus é um
reza: "O abismo de caridade! Que coração pode desejo profundo de união com o Único que
ser perdoado por não explodir de amor ao ver pode saciar completamente o coração huma -
a sublimidade descerá tamanha vileza, como no. Era ansiosa porque procurava Alguém que
é a nossa humanidade?" (/). 13). ainda não podia ser possuído perfeitamente.
Tentando sondar o amor redentor de Deus, Somente na vida eterna, na > visão cie Deos,
ela exclama: "Tens necessidade de tua a aspiração estará livre de qualquer
criatura? Sim, parece-me. Porque tens jeito inquietação e a possessão será sen» tédio (D.
de que não poderias viver sem ela" ( D . 153). 41). Seu desejo de Deus é expresso com
O amor de C. para com Deus é o amor de eloqüência nas seguintes palavras: "Vós,
uma filha paia com seu pai alcluoso. Ern Trindade eterna, sois um mar profundo, que
muitos trechos de sua obra vemos que se quanto mais procuro, mais encontro, e
comprazia em dirigir-se a Deus como > "Pai quanto mais encontro, mais vos procuro" ( D ,
eterno" e descrever-se como "diletíssima e 167).
caríssima filhinha" de Deus. Ela se referia Ela ensinou que o desejo é a única coisa
também a Deus do mesmo modo como os infinita que a pessoa humana possui: "O vosso
amidos tratam-se uns aos outros. Adotando desejo é infinito... eu que sou o Deus infinito,
a analogia da —> amizade humana, ela expli- quero ser servido por vós com algo infinito, e
ca a amizade com Deus como relação de ter- outra coisa infinita não tendes a não ser o
nura amorosa "porque o amor transforma-se afeto e o desejo da alma" (D. y2). O desejo
na coisa amada". Observa deliciosamente: dilata o coração, de tal modo que nele se
"As coisas secretas são manilestadas ao encontra espaço para Deus e também para
amigo que se tornou uma coisa só com seu ioda a humanidade.
amigo" ( I X 60). A característica de todos os fsto leva a uma ânsia contínua pela salva -
que são amigos de Deus é experimentarem ção do mundo. C. ora: "Senhor meu, volve os
de modo particular" o amor divino. Eles não olhos de tua misericórdia sobre leu povo e
se contentam com amof puramente sobre o corpo místico da santa Igreja... não
intelectual, "mas o degustam, conhecem, me ausentarei de tua presença, até que veja
provam e percebem como sentimento em sua que fizeste misericórdia" ( I ) . 13).
alma" (/). 61). Este amor, Iruto cia Em sua vida mística C. foi uma cristã cujo
experiência, constitui o coração da olhar esteve fixado solidamente e acima de
experiência mística. O itinerário para Deus é tudo em Jesus Cristo crucifiçado, pelo qual
também uma viagem dentro de si mesmo, no nutriu apaixonado amor. Este é seu núcleo
interior do que C. chama de "a —* cela do central, como lambem a inspiração de ioda
conhecimento de si mesmo", onde a pessoa sua oração e ação.
recebe o conhecimento prático da infinita Ao proclamá-la Doutora da Igreja, Paulo VI
bondade de Deus ( I X 1). chamou-a "Mística do Verbo feito carne,
sobretudo de Jesus crucificado".' Comentan-
III. Na doutrina de ('. acentua-se forte- do a resposta de Jesus a Filipe em Jo 14,9, ela
mente que o amor de Deus e o amor do pró- enfaliza que Jesus Cristo é o único em grau
ximo são inseparáveis. Deus o diz: "Eu vos de nos mostrar quem seja Deus. Quando olha
ordeno que me ameis com aquele amor com para Jesus Cristo, vê em primeiro lugar o
que vos amo. Isto não podeis fazer para co- amor e a misericórdia de Deus. Por causa
migo... Porém, eis que pus o próximo a vosso deste amor e misericórdia, Jesus "correu
lado, para que façais a ele o que não podeis como uru apaixonado" em direção à sua mor-
lazer a mim" ( / X 64). Ela encarnou muito le. C. pôde dizer, consequentemente, que não
bem este pensamento, correspondendo ao foram os cravos, mas o amor "que o pregou
amor infinito e vertiginoso de Deus, vivendo na cruz" (Carta 38).
simultaneamente uma vida de —> serviço ao Certa vez, enquanto estava pedindo a Deus
próximo, caridade e cheia de compaixão. Por que lhe concedesse um coração novo, lez a
esta razão, ficou conhecida corno "mística do experiência mística de Jesus extrair lhe o co-
caminho". ração do corpo e substitui-lo com o próprio.
C- foi, muitas vezes, descrita como mulher Daquele momento em diante ela se sentiu
cheia de desejos. Na verdade, ela se refere a capaz de amara Deus e o próximo com o

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coração mesmo do Cristo (Legenda Major, 11, VI,
179-80). Outra vez. orando diante de um cru-
cifixo na igreja de Santa Cristina, em Pisa,
cm 1375. passou pela experiência de recebei
os estigmas no seu corpo. Esle acontecimento
indica principalmente seu imenso desejo

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CATARINA DE SENA IsaiiUiJ CAUSSADE JEAN PIERRE DE 21
6

de estar associada a Jesus em seu sofrer e lo, Caterina scrivo a voi, Gorle (BG) 1995; T.
na sede de salvação do mundo inteiro Piccari, Caterina da Siena, mística illetterata.
(ihicL. II, VI, 194). Ela mesma, firmando-se Milão 199t.
em Jo 14,6, põe em relevo que não existe
M O'Driscoll
outro modo de se chegar a Deus, a não ser o
caminho de Jesus Cristo. Quando se refere a CAUSSADE JEAN PIERRE DE
Cristo como caminho, usa a imagem de
I, Traços bibliográficos e obras. Nasceu
ponte estendida entre Deus e a humanidade.
em 7 de março de 1675, ern Quercv, sudeste
Explica que a estrada entre o céu e a terra
da França. Em 1693 entrou na Companhia de
havia sido destruída pelo -> pecado e, como
Jesus, e depois de alguns anos de docência
conseqüência, os seres humanos tornaram-se
ern Aurillae e Toulouse, a partir de 1715 ini-
incapazes de alcançai o céu, por isso Deus
ciou urna vida de pregador itinerante. A
deu-lhes uma ponte, Jesus Cristo, para
primeira estada na Lorena, de 1729 a 1731,
oferecer-lhes a condição de alcançá-lo: "Eu,
proporcionou-lhe um contato com as
querendo remediar a tantos vossos males,
visitandinas de Nancy, ãs quais se deve a
dei-vos uma ponte, que é meu Filho" [ D . 21).
conservação de sua volumosa
É necessário que atravessemos esta ponte
correspondência e da melhor parle de seu
para chegarmos ã nossa mela. E uma ponte
pensamento. Depois de permanecer no
prodigiosa, 'porque edificada e recoberta
seminário de Albi, como diretor espiritual,
pela misericórdia" ( D . 27). Os homens
retornou a Lorena. De sua presença
dispõem de locais de recuperação durante a
beneficiaram-se largamente as visiiandinas,
caminhada, os -> sacramentos, e em
que tinham corno superioras de suas comu-
particular a Eucaristia, que oíerece
nidades mulheres inteligentes, cultas e de
0 alimento "para que minhas criaturas ca-
profunda vida interior. Foi neste período que
minhantes e peregrinas, cansadas, não des-
estudou, além de —> Francisco de Sales,
faleçam pelo caminho" (D. 27). C. garante que
também a doutrina de—> Fénelon e de —>
a viagem através desta ponte "é tão agradável
Bossuet, para refutar o —» semiquietismo.
para os que por ela passam, que ioda
Das informações biográlicas dedu/.-se o c
amargura torna-se docee todo peso, por maior
uaclro de uma vida movimentada, em níti -c o
que seja, torna-se leve" ( D , 28). Mediante o
contraste com as aspirações tie descanso
percurso pela Ponte-Cristo nós chegamos ao
profundo de C , mas isto ajuda a compreender
fim do itinerário místico, isto é, Deus, "mar
melhorem que se radica sua vida mística e
pacífico" (D. 27).
como se alimenta, também no meio de dif i-
NOTAS: 1 AAS, 62 ( 1970) 10, 675;2 Ibid. culdades e do exercício de cargos, como o de
superior, o qual recusaria com todo prazer.
BIBL. Obras: // Dialogo, Siena 1995; Le orazioni, Sua vida, provada também pela cegueira, ter-
Roma 1978; Le Lettere, Siena 1913-1922. Epis- minou cm Toulouse, em 1751.
tolario, Roma 1940; Raimondo da Cápua, Não se trata de um teólogo de grande fama,
Legenda Major, Paris 1866; Thomas Antonii Dc
Senis, Libellus de Supplemento, Roma 1974. mas seu testemunho merece divulgação pelo
Estudos: G. Cavallini, La dottrina deWamore in fato de que se trata de um homem que viveu
S. Caterina da Siena, in Divus Thomas, 75 (1972), pessoalmente o que transmitiu através de
369-388; T. Deman, La théologie dans la vie de suas obras, das quais as mais admiráveis são
sainte Catherine de Sietine, in VSpS 2 ( 1935), 1 - os itinerários de espiritualidade e vida mística,
24; C. DUrso, Ilgenio di sa y i ta Caterina, Ruina percorridos pelas pessoas que se beneficiaram
1971: H.D. Egan, Caterina da Siena, in Id., /
de sua direção espiritual, particularmente as
mistici e la mística, Città dcl Vaticano 1995.
394-406: R. Garrignu-l.a^rangc, L'unione visitandinas de Nancy, que foram as primeiras
mística in S. Caterina da Siena, Florença 1938; a fazer circular seus escritos e seus en-
Jd., La charité selon sainte Catherine de Sienne, sinamentos, conservados e transcritos tam -
in VieSp 47 (1936), 29-44; Giovanni Paolo II. bém em pequenas coletâneas por argumento.
Amantíssima Providentia. in AAS 72 Í1980). 569- A primeira obra foi publicada em 1741,
581; M.M. Gorce, s.v.. in DSAM U . 327-348; A. corn o título: Instruction spiriluciles cn jontie de
Grion, La dottrina di santa Caterina da Siena,
Brescia 1962; Id., T\\e Mystical Personality of st. dialogues siir les divers ciais ti'orai sot:, suivant la
Catherine of Siena, in Cross and Crown. 2 {1950) doctrine de M. Bossuet, éveque de Meaux.
5, 266-286; C. Kearns, The Wisdom of st. O contato mais vivo com seu pensamento
Catherine, in 4ng 57(1980), 22-3 243: AS. pode-se obter, porém, através de suas Cartas,
Permisa.no, Mystic escritas em particular para as pessoas por ele
1 i f t h e Absurd: Saint Catherine o f Siena, in espiritualmente dirigidas. Respondendo pon -
Religions UfeReview, 97 (I9S2), 201 -214; V. Peri,
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to por ponto a Iodas as questões, ev dando in-
dicações para o caminho espiritual, C. trans-
formou-as em pequenos tratados, adaptados
às exigências de cada pessoa.
A obra, pela qual é mais conhecido, éLahan-
don à la Providence divine, publicada pela

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CIPRIANO K,m<.) 290
conversão - cie escreveu, em 249, o De habita é a —> imitação de Cristo e não da
virginum. O tralado, mesmo dependendo tio indiferença estóica (apatheià). Durante a per-
De adiu feminarwn deTertuliano, resultou em seguição (257-258) de Valeriano escreveu Ad
escrito notável por seu estilo, e pela informa- Fortunatutn de exhortatione martyrii, coletânea de
ção sobre a prática cristã das "virgens", no passagens bíblicas, distribuídas em doze
séc. III, e a conseqüente cultura da mulher títulos, sobre como encorajar os cristãos nos
promovida na Africa pela —» evangelização momentos de perseguição. Um capítulo á
cristã. Como bispo, escreveu os seguintes parte merece o seu Epistolaria que, organizado
tratados: durante o período da perseguição de talvez pelo próprio bispo de Cartago, é um
Décio: De oratione dominica (250), De Ecclesiae rico conjunto de escritos sobre a vida da
unitate (251), De zelo et livore (251-252), De igreja latina da metade do séc. III.
lapsis (251); os três tratados sobre a ajuda recí-
proca (De mortalitüte, De opere et eleetnosynis, Ad II. Herança espiritual. Extraímos a doutrina
Detnetrianum (252); De bono patientiae (c. 256): espiritual de C. da imagem que faz do cristão
Ad Fortunatum de exhortatione martyrii (257- como homem capaz, de comunhão,
258); Quod idola dii non sint (obra atribuída); o parlicularmenie a eclesial, portanto, corno
Epistotario (oitenta e uma cartas, das quais homem de paz. A explicação dessa exposição
cinqüenta e nove escritas por ele, seis cartas obtém-se particularmente pela concepção de
sinodais escritas em conjunto com outros > Igreja e pela referência à figura do bispo,
bispos, dezesseis endereçadas a ele. O Codex centro da comunhão eclesial. Para ele a Igreja
Taurineusis as contém todas. tem sua raiz no Deus Trindade, é una, e tem
De alguns escritos, que constituem o sua expressão visível no ministério episcopal.
arcabouço de sua ■ > espiritualidade, Sempre desenvolve conjuntamente os dois
queremos apresentar uma informação mais aspectos, tornando-os mais evidentes
ampla. No De lapsis (- os apóstatas) C. propôs quando fala da Eucaristia que é una, portan -
o problema de como recuperar os apóstatas, to, requer um único pastor; da comunhão
linha que dos bispos entre si (a colegialidade exaltada
loi aceita pelos Concílios de Cartago e de Ro - pelo Vaticano II na LG) e com o bispo de
ma, de 251. Na Fp. 54, verdadeira e própria Roma; da Igreja, que vive em constante
carta pastoral a respeito de como ajudar os caminho de
apóstatas a reingressar na comunidade, ele redenção, dedieada. por sua constituição in-
aperfeiçoou o teor do De lapsis e a pro- terna, ã pastoral de reconciliação, em parti -
blemática que lhe estava subentendida. A cular a lavor dos cristãos caídos em (delicia
questão dos kipsi fez com que C. descobrisse a ou crimina) (Ep. 34; 55; 59; 60); da oração
natureza materna da —» Igreja e os funda- "cristã", que só pode existir "no plural". Abor-
mentos teológicos da unidade dos cristãos: a damos o conjunto em três aspectos, que em
—> Eucaristia, o significado da —> oração no C. são interdependentes; a unidade da Igreja,
plural, segundo o ensinamento do Senhor, a a peculiaridade da oração cristã e o minislé -
união dos fiéis com os bispos, garantia da rio da reconciliação na Igreja.
lia- a. A unidade da Igreja e a a mnaduu) eclesial.
dição apostólica. O De ecclesiae unitate foi o lemos um exemplo disto na Ep. 64, na qual C.
primeiro tratado sobre a Igreja, escrito em enuncia o principio teológico da comunhão
latim. No ano de 252 a África proconsular foi eclesial. "Por Cristo a Igreja é lorrnada pelo
provada pela epidemia da peste. C. desdo- povo unido ao seu bispo e pelo rebanho que
brou-se de todas as maneiras em favor dos permanece fiel ao próprio pastor. Deveis, pois
cristãos e dos não cristãos. Nos três tratados, saber, que o bispo encontra-se na Igreja e
que escreveu nesta ocasião ( D e mortalitüte. De que a Igreja está no bispo. Se alguém não
opere et eleetnosynis, Ad Detnetrianum }. ela- permanecer com o bispo, nele não se
borou profunda espiritualidade do cristão encontrará a Igreja.., a Igreja é una em sua
perante as desgraças da vida, e perante a pró- catolicidade e não pode dividir-se em diversas
pria morte. As provações da vida ele as vc partes. A Igreja, sem dúvida, é estreitamente
como chamamento de Deus para socorrer as unida, e seu elo de união consiste na
necessidades do outro. A esmola, perante uma fraternidade que une os bispos entre si...
calamidade comum, torna-se, além do dever de recordamo-nos sempre de vós na concórdia e no
socorrer o próprio semelhante, também amor mútuo. Nós devemos sempre orar por vós
serviço de Deus. No período da controvérsia e vós fazei outro tanto. Amando-nos
sobre o batismo C. escreveu De bono patientiae mutuamente tornamos mais suportáveis as
(c. 256), demonstrando que a paciência cristã
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dificuldades nos momentos de perseguição" (Ep.
60,4).
O bispo de Cartago reforça, sobretudo no De
unitate Ecclesiae catholicae, o relacionamento
entre a Igreja e a Trindade, mediante

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CIPRIANO K,m<.)
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CIRILO DE JERUSALÉM 22
(sAo) 8

bispo em 348, sua eleição episcopal guarda batismo, sobre a crisma, sobre o corpo e o
pontos obscuros. De faio, fora proposto para a sangue de Cristo, sobre a liturgia eucarística.
sé de Jerusalém, provavelmente por Acácio (t II. A —> mistagogia é o ângulo do qual
348), que erroneamente o julgava pertencer à es-
sua ala tiloariana. Mas C. divergia de Acácio tudamos a mística em C. que, como todos os
no terreno doutrinal e sobretudo no jurídico, Padres, por meio da catequese rnistagógica
na questão da autonomia de sua sede valoriza os sinais para introduzir o mistério
perante a de Cesaréia. Depois disto foi depos- celebrado, interpreta os ritos á luz da tipo-
to pelo Concílio de Jerusalém, em 357. Pelo logia bíblica e predispõe ao compromisso
período de mais de vinte anos (357-78), entre cristão c eclesial, expressão da nova vida em
outras muitas vicissitudes, foi exilado por —> Cristo. Por loiça da "disciplina do arcano"
três vezes. Retornando definitivamente para ele explica os ritos apenas para os neófitos.
sua sede, em 378, juntamente com a unidade Valoriza assim o eleito psicológico da surpre-
trouxe também a paz. Participou do Concílio sa e ressalta a eficácia da experiência espiri -
Constantinopolitano I. em 381, e no de 382, tual vivida. Insiste sobre a exigência
no qual os bispos orientais reafirmaram ofi- pastoral
cialmente a ortodoxia e validade da ordena- de fazer com que os neólitos penetrem no
ção episcopal de t\, até então contestada de mistério dos ritos, afastando-os de uma in-
várias maneiras. Morreu em 386, aproxima- terpretação mágica, o que os tomaria "exte-
damente. riores" à sua vida espiritual.
Quanto aos escritos, conservamos dele
vinte e quatro Homilias, correspondentes às III. Simbolismo e mistério. C , como os
célebres vinte e quatro catequeses. A primei - outros Padres da Igreja, linha a pretensão de
ra catequese é introdutória, inserir o simbolismo cristão no quadro do
Protocatechésis. e as dezoito subseqüentes simbolismo "geral" das outras religiões não
{de 2 a 19) são dirigidas aos que, tendo cristãs. Tal simbolismo, que leva a peneirar
passado para a segunda fase do no mistério de Crislo (da mistagogia â místi -
catecurnenalo, os chamados photizómenoi ca), mostra-se sob diversas formas: verbal,
ou illumioaudi, receberiam o batismo na baseado na —> imagem; tipológico, baseado
noite do Sábado Santo. São as catequeses cm fatos ou personagens do AT c do \T, que
(pre-)hatismais. As últimas cinco (de 20 a seriam figuras de Cristo, e ritual, baseado
24), explicam aos neófitos, durante a semana nos gestos corporais. Elemento vivificante do
da Páscoa, o significado dos três sacramentos simbolismo cristão é a fé. O simbolismo é
da iniciação cristã que acabaram de recebei serviço da -> fé e constitui, para C, sinal social
(batismo, crisma. Eucaristia). São as do -> Corpo místico de Cristo porque,
catequeses rnistagógicas . No passado, a mediante tal simbolismo, Crislo manifesta os
autenticidade destas últimas tora seus mistérios, fazendo com que dele
contestada, porque eram atribuídas pelos participem os membros cie seu corpo, tanto
manuscritos ou a C. ou a seu sucessor João II individual como socialmente. A catequese
de Jerusalém (f 417). Recentemente os rnistagógica de C. faz refluir a dimensão
estudiosos propendem, cada vez mais, para doutrinal e a dimensão moral para o presente
atribuí-las a C. A protocatequese e as cate- da —> liturgia, especificamente na celebração
queses batismais loram pregadas no M ar- dos sacramentos tia iniciação cristã. Toda a
tyrium da basílica do Sautu Sepulcro, as catequese de C. desenvolve-se no contexto
catequeses rnistagógicas na cúpula da basí- litúrgico (Protoc. 13-14). Ele justifica para
lica da Anástasis. Do ponto de vista dos os neólitos a catequese rnistagógica no
conteúdos, a protocatequese é do tipo de aco- começo de suas catequeses rnistagógicas.
lhimento; as cinco primeiras das dezoito Enriquecidos pela experiência dos mistérios
catequeses batismais tratam, cada uma res- recebidos na noite de sábado santo, e
pectivamente, das disposições prévias para tornados aptos para serem instruídos, porque
o batismo, da —> conversão, do batismo» das agora já loram batizados, eles estavam nas
dez verdades dogmáticas do Símbolo da lé. melhores das disposições para a catequese
As treze subseqüentes (7-19) constituem uma ( CVÍÍ. M i s f . 1,1). Com lato pastoral ('.
catequese continuada do Símbolo de Jeru- exclama: "Respeita este lugar
salém e as últimas (20-4), rnistagógicas, ver- e deixa-te educar por aquele que está diante
sam por sua vez, cada uma na ordem de de teus olhos" (Protoc. 4).
sucessão, sobre os ritos do batismo, sobre o
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IV. Mística do batismo. O ingresso no
balistério é —> símbolo do paraíso (cf. Protoc.
I 5), é a entrada na Igreja o retorno ao paraí -
so perdido. A decoração do balistério (o Bom
Pastor em jardim), sua forma octogonal (o
número oito é símbolo da ressurreição e da

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CIÚME - CLARA 1)K ASSIS («.ama? 232

—> amor e a fruição de Deus excluem, quan- CLARA DE ASSIS (santa)


do autênticos, qualquer possibilidade de de -
fesa ciumenta, de ressentimento ou de in veja. I. Vida e obras. Clara nasceu em Assis, em
Mas também neste caso pode-se ainda fa- 1193 (ou 1194), em uma nobre família dos
lar de certo c . "objetivo", específico do amor "maiores". O nome, por sua raiz etimológica,
de Deus, conexo ao caráter extremamente símbolo de luminosidade, foi-lhe dado na
exigente deste amor, que exclui qualquer con- lonte batismal pela mãe Ortolana, mulher de
taminação com outras formas de amor que se profunda ---> lé e religiosidade. Ainda
queiram pôr no mesmo plano, fazendo lhe, de menina, aos quatro ou cinco anos, já co -
alguma maneira, uma espécie de concor- nhecia as consequências das violentas lutas
rência. A —> vontade humana pode 1er apenas civis que contrapunham os "maiores" aos
um só fim último, e qualquer outro fim pode ser "menores", isto c, os pobres, de um lado, e do
amado e buscado apenas em vista deste. E a outro os mercadores que com o comércio, na
prova da autenticidade do amor que o busca é pátria e no exterior, haviam se enriquecido.
a renúncia a tudo o que, de qualquer modo, Viveu os temores e as humilhações do exílio,
quando a família loi foiçada a fugir para Pe
significa incompatibilidade e inconeia -
rugia.
bilidade com aquele fim. Isto se torna parti-
Ao retornar para Assis, C, agora adoles-
cularmente evidente quando este processo de-
cente, tom* ai conhecimento dos aventur osos
semboca, por dom divino, na > experiência
e fascinantes feitos do jovem —* Francisco.
mística.
Sua sensibilidade cristã, que já se exprimia
Ao contrário, do mesmo modo que a —» in- pela coerência de vida mediante o testemu -
veja, na qual inevitavelmente vai dar o c . de nho da fé, a > oração, as numerosas obras de
má qualidade moral, porque nascido de amol- caridade, loi tocada pela experiência de
de má qualidade humana, continha a con- Francisco e de seus primeiros companheiros,
vivência humana c muitas vezes é fonte de aos quais, em 1208, ajuntou-se também o
rancores dolorosos e de formas mais ou menos primo Rufino; C. percebeu a "novidade" da-
graves de intolerância, de suspeitas e de quilo tudo, bem como sua radicalidade e con-
agressividade. sistência, e decidiu conhecer Francisco, visi -
As —> virtudes que se opõem a este mau c. laudo às escondidas, na companhia de uma
são a magnanimidade e a longanimidade, isto amiga liei, o jovem que para ela tornou-se
é, a grandeza de mente e de coração que su- como que um eco da voz do Deus que a con-
peram a sede de possessão exclusiva e a mes- vidava, como "Pai das misericórdias", a trans-
quinhez da intolerância. Naturalmente, a con- formar nele sua existência. Ficou irresistivel-
quista destas virtudes pressupõe crescimento mente atraída pelu ideal devida proposto por
no amor verdadeiro e maduro que, em sua Francisco. Ele exortou-a, escreveu Celano, "a
plenitude, em Deus envolve e ama todo irmão, desprezar o mundo, dciiionslrando-lhe com
sem medo de perder, compartilhando o que de linguagem ardente quão estéril é a esperança
Deus e em Deus recebe com desmedida apoiada no —> mundo e como enganadora é sua
aparência". Sussurrou-lhe aos ouvidos do
grandeza.
coração "a doçura das núpcias com —> Cristo",
Por este motivo, estas, virtudes pertencem
por causa das quais vale a pena "conservar
aos Irulos do -> Espírito que infunde no co-
intata a pedra preciosa da castidade virginal
ração dos fiéis a —» caridade sobrenatural. É
para aquele beato esposo que o amor fez
esta que torna o homem capa/ cie um apego encarnar-se entre os homens".
apaixonado ao Deus ciumento, que quer que Convencida, mediante o convite de Fran-
seus filhos se sintam satisfeitos somente com cisco, pelo fascínio da -» aliança esponsal com
ele, já no aqui e agora. Cristo, C. não aceitou os insistentes apelos
da família e de seu ambiente social para que
NOTAS: 1 STh MI, q. 28. a. 4;2 Ibid. fosse esposa e mãe honrada, na segurança da
casa e fugiu, na noite seguinte ao Domingo
BiBL.: P. Adnòs, s.v., in DSAM VIII, 69-78; G.
Delpierre, La gelosia, Roma 1950; D. Lagache, La de Ramos de 1211 (ou 1212), para Santa
jalousie amoureuse, psychologie et psychanalise, II, Maria dos Anjos, onde Francisco a esperava
Taris 1947; N. Lamare, I M jalousie passionelle. Ge- para consagrá-la a Cristo. A decisão
nebra-Paris 1967; S. Naesgaard, Nature et fundamental da —> consagração permaneceu
origine de la jalousie, in Psyché, 32 (1949), 513- irrevogável, mesmo diante das ameaças dos
528; G.G. Pescnti, s.u, in DESU, 1072-1073. parentes. Contudo, na firmeza de sua deci-
são, C. experimentou insatisfação com a res
G. Gatti
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CLÁUDIO DE LA COLOMBI ÈRE (santo) - CLEMENTE DE ALEXANDRIA (santo) confiança na misericórdia
de Deus, fonte de lodo bem, que se manifesta
pétuos, permaneceu em Avinhao como pro- no Coração de Cristo.
fessor de letras c cie retórica (1660-1666). Seus 236
dotes retóricos jã se haviam manifestado
quando, sem ainda ser sacerdote, fora encar- BIUL.: Obras: Oeuvres completes, 6 vols., Grenoblc
1900-191)1, Diário spirimàle. Roma 1991: I I libro
regado da palestra inaugural do curso aca- dell'interiorita. Scritti spirituali. Roma 1992.
dêmico do ano de 1665, e do panegírico para Estudos: F. Baumann, Aszfise und Mystik des
celebrar a canonização de -> são Francisco de seligen P.Cl. de la Colombiêre, in '/AM 4 f 1929), 263-
Sales. Passou cm Paris os anos seguintes, 272; L Cairc, Claude la Colombière, \uChr 29 (1982),
como estudante de teologia e, em 16 de abril 237-250; L. Filosomi, Claudii i la Colombière,
maestro di vira cristiana, Roma 1932; J. Guilton,
de 1669, vigília do Domingo da Paixão, foi or- Claude U i Colombiète. Ma d ri 1991; J.M. Ii'ai tua,
denado sacerdote. Em 2 de fevereiro de 1675 San Claudin de la Colondncrc, Bilbao 1992; A.
fez os votos solenes como religioso da Com- Liujma.s.v., in DES I. 553-555; H. Monier-
panhia de Jesus, e imediatamente foi nomea- Vinard, s.v., in DSAM II/l, 939-943; A. Ravier,
do superior da residência dos jesuítas em Bienheureux Claude la Colombière, Pai is 1982; C.
Testore,5.v„ in BS VII, 1065-1067.
Paray-le-Monial e confessor extraordinário do
mosteiro da Visitação. Neste mosteiro vivia J . Collantes
uma religiosa chamada —» Margarida Maria
Alacoque que, sem o saber, esperava seus con-
selhos e sua —> direção espiritual.
Tornaram-se os dois grandes pilares
escolhidos por Deus para difundir na » Igreja
o culto ao Coração de Jesus. Contudo,
permaneceu pouco tempo em Paray-le- CLEMENTE DE ALEXANDRIA
Monial, porque cm outubro de 1676 foi
(santo)
enviado a Londres, onde grassava a perseguição
contra os católicos. Uma vez que, por causa
I. Vida e obras. Nasceu em Atenas, pelo
de Suas palavras e seu exemplo, alguns ano de 150. Conservou se pagã*) durante cer-
protestantes voltaram para o seio da to tempo e, por sua maneira de falara respei-
Igreja Católica, C. foi encarcerado e depois to dos mistérios pagãos, pode-se deduzir que
expulso da Inglaterra. Morreu em 15 de feve- possuía iniciação no assunto. Depois de vá -
reiro de 1682. rias viagens à procura de mestres mais com-
Quanto a suas obras, as mais imp< u petentes, por volta de 180 encontrou em Ale-
tanles são: Sermões, Retiros e s p i r i tu a i s , xandria Panteno (t c. 200), diretor da escola
Reflexões cristãs, a s dez Cartas espirituais. eatequêtica, mestre semelhante a ele, além
da
II. Doutrina espiritual. Toda a sua dou- —> fé, que andava buscando, com a ajuda da
trina esta ancorada no pensamento inaciano, ciência de seu tempo. Não conhecemos o
com acentuação especial sobre o cumprimento momento de sua —> conversão, nem sabemos
da vontade de Deus, a —» mortificação dos com certeza se foi ordenado presbítero. Logo
sentidos, a —> docilidade, a > fidelidade à igualou-se a Panleno no ministério de ensi-
graça e a —» devoção ao Sagrado Coração. nar e, com a morte deste, sucedeu-lhe na di-
Esta última ocupou grande espaço não ape- reção da escola catequética, até a persegui-
nas em sua piedade pessoal, mas foi por ele ção de Sétimo Severo (t 211), quando foi
difundida através da consagração ao Coração constrangido a fugir. Hm 216 já havia faleci-
de Jesus, com promessa de obtenção de graças do. A "nova filosofia" da escola de Alexandria
extraordinárias. Recomendou a muitas traz à luz, com termos filosóficos, o ideal de
comunidades a comunhão na sexta-feira após vida cristã (M. Mees). Seus principais escri-
a oitava do Santíssimo Sacramento. Escreveu à tos são: Protrético, Pedagogo, Strómala. Des-
sua irmã vísitandina: "Aconselho-vos a co- tes, o último é o mais importante paia o es-
munhão no dia seguinte à oitava do Santíssi- tudo da —> gnose e da mística.
mo Sacramento para reparação das ofensas
cometidas contra —> Jesus Cristo. Esta II. O pensamento. A iniciação no cristia-
prática foi aconselhada por uma pessoa de n i s m o . O primeiro passo é produzir a ruptu-
santidade extraordinária, a qual me ra com os ídolos e os costumes da vida pagã.
assegurou que todos os que oferecerem a Nosso O Protrético (exortação aos pagãos, ao modo
Senhor este sinal de seu amor, tirarão disto das apologias do século II, descreve —» Cristo
grande proveito". C. insiste, além disso, sobre a como o novo Orfeu: "Ele não demora, recém-
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chegado, a despedaçar a amarga escravidão
imposta pela tirania dos demônios" (1,3,2).
Cristo ê perpétuo Oriente, cujo — símbolo C.
vê no dia do Senhor, o domingo, seguinte ao
sábado, no qual Cristo ressuscitou e o oitavo

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C L E M E N T E D E R O M A (santo; 240

A motivação cia carta c atual: a Cristo mediador é, de lato, o eixo da


comunidade de Roma envia este escrito, fruto teologia e da espiritualidade de C: "protetor e
da atividade pastoral de C, à comunidade de socorro de nossa fraqueza" (c. 61,3) e "esplen-
Corinto, viva, mas profundamente dividida dor da majestade de Deus" (c. 36,2) a um tem-
por facções internas, a mesma comunidade a
po, ele chama de volta a ckklcsia de Corinto,
que, anos antes, Paulo dirigira a famosa
aniquila a desobediência que conduz, à morte.
"carta das lágrimas". Ainda fio tempo de C. a
Igreja de Corinto não parecia ter perdido sua Como está dito no c. 62,1, por vontade do Pai
prohle-maticidade. Desta vez trata se de c por obra do Espírito, dando vida ao
controvérsia entre gerações: os jovens mal ordenamento crislocênlrico, prefigurado des-
suportam a autoridade dos anciãos c de a antiguidade.
contestam-na, chegando até a depor os A humildade é o lio condutor da carta. Vi -
próprios presbíteros. O bispo de Roma sente ver a humildade é abrir-se ao mistério de
o dever de intervir, e com sua intervenção Deus, fixar o olhar no^ Pai (c. 19), admirando
funda aquela modalidade de sen iço da Sé de os dons abundantemente concedidos por sua
Pedro, de avocar a si as questões doutrinais e misericórdia, pela vontade providente e por
disciplinares das diversas comunidades sua clemência. O Pai misericordioso e
cristãs, o que encontrará em —» Agostinho beneficente, reforça C, cheio de amor para
uma síntese magistral "Roma Incuta, causa jinita com os que o temem, distribui generosamen-
cs/". A carta, redigida entre 96-98. quando te as suas graças, com doçura e suavidade.
mal havia se acalmado a perseguição de Muitas são as portas abertas, mas somente
Domiciano, não menciona uma vez sequer o Cristo é a porta santa, admoesta C. Cristo tor-
nome de C., embora desde a antigüidade ele nou-se mestre dos humildes, aos quais per-
tenha sido considerado unanimemente o seu tence em primeiro lugar (c. 14), pata fazer-nos
autor. A carta se apresenta com estrutura saborear a —» gnose imortal (c. 36), em que o
orgânica: introdução, uma parte mais geral, termo gnose é usado com o sentido de
de caráter parenétieo-dou-trinal, uma parte verdadeiro conhecimento das coisas de Deus
mais específica, com a in-lenção de apa/.iguar c que indica o caminho cristão como urna
o dissídio em curso, uma parte final, com passagem, operada pelo Salvador, das trevas da
estupenda oração de grande inspiração —■> ignorância para a —» luz do conhecimento
litúrgica. A carta apresenta o au tor como do nome glorioso de Jesus. "Tu abriste os olhos
homem muito consciente de suas do nosso coração!", exclama C. na oração que
responsabilidades pastorais (estamos na encerra a carta (c. 59,1 ). No capítulo 36, que
mesma arena, atirma no c. 7,1) sinceramente é a parte mais propriamente mística da carta,
solicito pela unidade da comunidade cris tã, depois de haver exposto que Cristo é o sumo
pela dou 1 ri na sã e equilibrada, com uma sacerdote da nossa fraqueza e da nossa
espiritualidade essencial, porém rica. oferenda, acrescenta: "Por ele (o Cristo)
A introdução narra a historiados levantamos nossos olhares para as alturas do
coríntios. História de escolha por parte de céu, por ele refletimos, como em espelho, o
Deus, que escreveu seus mandamentos na seu rosto sem defeitos e sublime, por ele foram
generosidade cie seus corações" (c. 2,8). Os abertos os olhos do nosso coração, por ele a
coríntios corresponderam a este chamamento nossa inteligência, incapaz e
com grandeza: na meditação da Palavra de obscurecida, reíiorcsce, voltada para a sua
Deus, conservada no mais proíundo da alma luz, por ele, o Mestre quis fazer-nos saborear da
e na meditação dos sofrimentos da -» cruz, 'gnose imortal' " (c. 36,2).
sempre diante dos olhos (c. 2,1). Estes santos, Mas existe ainda mura dimensão que o
"repletos de santa vontade, no sadio desejo c bispo de Roma sugere como disposição do
de piedade confiante", estenderam as mãos cristão para abrir-se à luz de Deus: os exem-
ao Deus onipotente. O fruto que daí brotou foi plos da caridade fraterna, tirados da vida co-
"a paz profunda e esplêndida'"' tidiana e também daquela Escritura que os
A desobediência à vontade de Deus fez coríntios conhecem muito bem, e que parece
com que a comunidade se dividisse em dis- poderem ser sintetizados no respeito à ordem
córdias, contendas, calúnias e injustiças, com que o mundo foi criado. "Cada um dê
liste é o motivo do amargurado apelo ao graças a Deus, no lugar onde está" (c. 41). A
arrependimento, para restabelecer a obediência ã ordem de Deus, que se reflete
concórdia e a —> humildade obediente pela na criação e na sociedade, é a síntese da
mediação de -> Cristo. vida comunitária cristã. Sejam os santos, pois,
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imitados (c. 45), seja aprofundada a Escritu-
ra, que nos apresenta —» modelos de expe-
riência que não passam, mas que tudo nos
predisponha para a caridade (c. 49).

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COMBATE ESPIRITUAL - COMPUNÇÃO Deus. O uso cristão do termo expressa diver -
244
II, Na experiência ascético-mística.
Santificar-se implica trabalhar contínua e sas atitudes do espírito: sentimento atual e
constantemente. Para hierarquizai; ordenar, passageiro, atitude habitual c permanente,
controlar os bens visíveis de modo que os in- dor pelos próprios pecados ou pelos sol ri men-
visíveis e absolutos sejam postos em primei - tos do mundo.
ro lugar, porque, como lembra Paulo, os visí-
veis nascem, duram apenas um pouco e II. Na Escritura e nos —> Padres. O
acabam, enquanto os invisíveis "permanecem con-
" (cf. 2Cor 4,18). Por este motivo, os autores ceito de c. tem fortes raízes no AT e no NT
espirituais de todas as —> escolas de espi ri i (sobretudo nos salmos, nos livros
uai idade insistiram muito sobre a ne- sapienciais,
cessidade e a função determinante doe, su- em At 2,37), seja como conseqüência da pre-
gerindo "armas" idôneas para conseguir a gação, seja nas conversões provocadas pelo
vitória sobre o homem velho. Alituns insisti- anúncio do ketygma. O tema da c\ inspira os
ram mais sobre a oração, sobre o ~-> trabalho, Padres, em especial Otígenes, mas também
—> sobre o jejum; outros sobre a —> pru- -» Efrém, Crisóstomo, -» Gregório de
dência, sobre a —> humildade, sobre a Nissa, -> João Clímaco, —> Cassiano, Agos-
negação de si mesmo, sobre o > abandono em tinho, -> Gregório Magno. O tema caracteri-
Deus, sobre a —» mortificação em geral. za o monaquismo quase que de maneira ex-
-> João da Cruz propõe, por exemplo, uma clusiva e na plenitude do significado. De fato,
doutrina que se tornou a síntese entre a dou- é própria do monge a "tristeza segundo Deus",
trina tradicional, experiência interior e ele- que pode coexistir com a —»alegria e a —> paz.
mentos psicológicos. Sugere a 1 arnosa —> A c. continua como um filão marcante da
purificação do sentido e do espírito com o espiritualidade nos sécs. XIV e XV (pense-se
exercício das —> virtudes teoloi.*aís, para a na Imitação de Cristo), mas perde interesse
consecução da vitória sobre o —» mundo, so- explícito a partir do séc. XVI, especialmente
bre a carne e sobre o —> demónio/ Somente com o aparecimento de novas —> escolas de
depois de ter atravessado o —> deserto purifi- espiritualidade: inaciana, carmelitana, sa-
cador da —» noite, o homem renovado, ou di- lesiana... Retorna como objeto de reflexão nos
zendo melhor, renascido para a vida nova, autores modernos, entre os quais —> Mar-
pode entrar naquela zona diáfana em que rnion, 1 lausherr, —> J. de Guiher t.
contempla, já gozando, se bem que parcial-
mente, a mística —» comunhão com Deus. III. Na vida espiritual representa atitu-
NOTAS: Cf. Paradiso 8, 142-148;2 Cf. De Maio, 4,
1 de, aliás freqüente nos santos, de dor pelas
2; 3 Radiomcnsagem de Natal, 1956; 4 Cf. próprias ações, que pode até manifestar-se
Fédon, 11; 5 Cf. Noite escura II. 21,3. exteriormente como pranto público pelos
próprios pecados. Em geral, a c. é um senti-
BIBL.: P. Barbagli, Loua, in DCT, 936-944; Id., s.v.,
in Aa.Vv., // messaggio spirituale di Pietro e di Paolo, mento muilo inipi irianle no início de uma
Roma 1967, 229-264; P. Bourguignon - F ver-
Werner, s.v.. in DSAM II, 1136-1142; L. Houver. dadeira metanoia, a ser cultivado como fonte
Introduziam alla \ 'ita spirin tale, Turim 1965; A. de equilíbrio ao longo de todo o processo de
Dagnino, lu vita Cristiana, Cinisello BaKamo
19887, 585-690; B. Ducruet. // combattimento amadurecimento cristão. Ac. é induzida so-
spirituale. Cidade do Vaticano 1995; B. Marchctti- bretudo pela -> meditação da -> Palavra de
Salvatori. s.v., in DES I, 565-569. Deus, como conseqüência de uma -» escuta
sincera, quase que efeito inevitável desta, a
,-\. Dainüno qual penetra "como espada" no coração do
homem, manifcsi.ando-lhe também a sua ver-
dade e a verdade sobre Deus.
BÍBL.: Ch.-A. Bernard, Teologia spirituale,
Cinisello Bálsamo 1982; snccialmenle os cc. X-
XI: O. Clement, // canto delle lacrime. Saggio sul
pentintento, Milão 1983: I.liausherr, Penthos: la
COMPUNÇÃO doe trine de la componction dans VOrient chrétien, Roma
1944; B. Marchctti-Salvatori, s.v., i n D ES I, 573-
I. Deriva do termo latino cottipunctio e a 576; C. Molai i, Mcr.z.i pet lo svihippospiriUudc. in
partir do séc. IV passa a fazer parle da lin- H. Secondin -T. Goffi, Corso di spiritualità, Brescia
guagem cristã para exprimir a dor pungente 1989,466-497; H. Nouwcn, Viaggio spinruale per
Tuomo contemporâneo, Brescia 1980; J. Pegon.s.u,
pelos -> pecados diante da misericórdia de
mDSAM II, 1312-1321; P-R. Rei-ainev. Purtrait
Matena! com direitos autorais
du chrétien, Paris 1963; T. Spidlík,
spiritnel
Manuale fondamentale di spirituaíiiii, Casa Ic-.Vkni
feirai o l A !.) 1993. particularmente 345-360.
M . E. Posada

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CONFORMIDADE, COM A VONTADE- DE D li 25
US 2

mo, fazem com que a convivência humana sem dias prefixados, antes que um só deles
incidentes, grandes ou pequenos, seja existisse. Quão insondáveis, ó Deus, são para
racionalmente inconcebível; por isso, realística mim teus desígnios" (cf. SI 139,16).
e historicamente tornar-se-ia também ir- II. Na experiência cristã. É cristão, pois,
racional quem presumisse conceber uma vida aquele que tem a graça, dada pelo Espírito
sem incidentes; como também seria irracional, Santo, de "crer", isto c, de entregar-se "todo
e até injusto, pôr Deus como a causa dos inteiro" (cf. DV 5) ao "Deus da esperança" (Rm
nossos males. 15,13), em qualquer circunstância na qual
venha a se encontrar; qualquer acontecimento
que lhe sobrevier poderá fazê-lo sofrei*, mas
II. Noção. Feito esse esclarecimento, diz-
não o perturbará profundamente por muito
se cristão aquele que "cré", ou, paia ser mais
tempo, porque teve a graça do Espírito Santo
preciso, aquele que, iluminado pelo —* Espí-
de entrar em comunhão afetivo-filial (cf. 2Tm
rito, "tem a graça" de crer que, sob o invólu-
2,12). Por isso, em face das vicissitudes,
cro, em geral opaco, de cada acontecimento,
provações, aborrecimentos, aflições (cf. At
grande ou pequeno, triste ou alegre - inclusive
5,41; 14,22; lPd 4,12-16), sabe "muito bem
aquele que o homem, enquanto ser "sem
contentar-me em qualquer situação. Sei passar
inteligência e de coração tardo para crer" (cf.
provações e sei viver em abundância. Para
I.c 24,25), isto é, hipnotizado pelo sensível, é
tudo e por tudo estou iniciado..." (Fl 4,11-12).
tentado, como —> Abraão, a chamar de des-
O cristão, em todos os casos, é confiante,
graça, —> casualidade, > inveja, -> ciúme,
otimista e até alegre, porque cré firmemente
calúnia, mal etc. - se esconde um mistério de
que nada pode acontecer "por acaso", que
fé, ou seja, é o sacramento da vontade de Deus
Deus, seu Pai celeste, jamais se distrai, que ele
(cf. Ef 1,9), presente como artífice supremo na
c artista tão especial que é capaz de escrever
vida dos povos e das pessoas. Deus mesmo
certo por linhas tortas, capaz de ajeitar as
saberá expressar, cedo ou tarde, uma sinfonia
coisas que "parecem" estar indo mal. O cristão
afinadíssima, para ele "possibilíssima" e
tem a graça de crer que sc obtiver a graça do
facílima: "Há alguma coisa impossível para o
Espírito Santo de entrar nos planos de Deus,
Senhor?" (Gn 18,14); a sinfonia da —> san-
tudo nele concorrerá milagrosamente para o
tificação individual ou coletiva, rápida ou len-
bem; aliás, para um "bem maior , porque crê
ta, próxima ou distante, mas certamente urna
firmemente que Deus não vai "empatar" com o
sintonia, tão certa como a existência de Deus.
mal, mas vencê-lo com folga (cl. Rm 8,28; 5,3-
Essa, em síntese, é a tese clássica que nos
5). Disso o cristão está muito seguro, não
foi transmitida pelos Pais na fé, com expres-
porque vê c entende tudo, pois c Deus quem vê
sões cheias de ■ > sabedoria e de poesia. Tese
e entende por ele; 1 como verdadeiro
que se assenta sobre o sólido fundamento
protagonista da história (cf. Dt 32,10-12),
destes três pilares: 1. "Deus é": "não
absolutamente nada escapa a ele, Deus, a
temais... não tenhais medo... E ao Senhor
quem nada é impossível {cf. Gn 18,14; Mt
Todo-pode-roso que deveis... o vosso temor..."
10,27; Lc 1,37), tirará sempre vantagem de
(Is 8,12-13); "Se não crerdes, não
tudo; por isso, a confiança, que é otimismo e
permanecereis* (Is 7,9); "na -> tranqüilidade e
alegria, do cristão não repousa no Irágil fun-
na confiança está a vossa força" (Is 30,1 5). 2.
damento da psicologia (cf. Ez 29,6-8), mas no
"Deus sabe": veja-se o discurso sobre a
solidíssirno e indestrutível fundamento da fé
providência, cujas palavras-chave são: "Não
inlusa pelo —> Espírito.
vos preocupeis", porque "o vosso Pai celeste
São duas, pois, as impostações possíveis
sabe..." (cf. Ml 6,25.28. 31.34). 3. "Deus é
que o homem pode dar á sua vida: 1. A da
pai". " O vosso —» Pai celeste" é outra
palavra-chave do discurso sobre a providência prudência humana t que termina em
confusão política e em embustes de todo tipo,
(cf. Mt 6,30.32) e do sermão da montanha (cf.
os quais, por sua vez, acabam em angústias e
5,16.45.48; 7,7-11).
preocupações, em medos e suspeitas, em
Essa tese propõe uma doutrina fundamen-
temores e esperanças, o que o leva a perder o
tal, mas cheia de mistérios e de discussões, de
sono, porque todas as dores e angústias
dificuldades e crises, de luzes e trevas: o mal
repercutem lambem no corpo. 2. A da f é
sempre foi e será o mistério mais nebuloso,
mais discutido: "Os teus olhos, meu Deus", i n f u s a pelo Espírito, que redunda em bem-
estar místico fundamental, leito de —* coragem
exclama o grande salmo da providência, "já me
viam; foram registrados em leu livro todos os e de otimismo, de entrega e de confiança, de
serenidade c de -> alegria, que se sintetizam
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numa profunda —> paz psicofísica, que o
tranquilizam e lhe permitem descansar num
sono reparador e proiundo: o sono de quem
sente" que

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CONSCIÊNCIA - CONSECRATIO MUNDI impedido pela violência das paixões - que
chamam a atenção da alma das coisas inieli-
mas que, na realidade - como afirma um texto 256
anônimo cio séc. XIV . desemboca no "ser
revestido pelo conhecimento de Deus": "Deves gíveis jxiru as sensíveis-e pelos tumultos
desnudar-te, despojar-te e desvestir-te externos. As virtudes morais, porém, impedem
completamente do conhecimento de ti mesmo, a violência das paixões c acalmam o tumulto
para seres revestido, em virtude da graça, do das ocupações externas e, por isso, pertencem,
conhecimento de Deus enquanto tal"; 1 na qualidade de predisposições (dispositive), à
2. Isso não comporta a rejeição de si. mas a vida contemplativa".1'
superação do que aiasta de Deus: "Terás, pois,
NOTAS: 1 Ch.-A.Bernard, Conoscenza e amure neila
dentro de li este único e ardente —» desejo: vita mistica,in La Mística II, 282; 2 A. Gardeil, La
uáo de não ser - seria loucura e desprezo em structure de láme et Vexpérience mystique, II, Paris
relação a Deus -, mas de perder 1927, 91 -92-124;3 C.V. Truhlaj; L'esperienm mística,
completamente o conhecimento e a c. tio teu Roma 1984, 37; ; J.-V. Bainvcl, Introduction ã la
eu";12 "vê que não haja nada que trabalhe na dixième edition, in A. Poulain, Des graces doraison.
Trattede dnvdat'ie mystique. Paris 1922''\ XXXI ; ;
lua -> mente e no teu —> coração, a não ser C.V. Tmhlar, L'esperienza..., o.e., 37; 6 CT. J.-V.
apenas Deus. Procura suprimir o Bainvcl, Note à propôs de la /eure de M. Saudteau.
conhecimento e a c. de todas as coisas que in RAM 4 (1923). 75-76; 7 Cf. Ch.-A. Bernard. I M
estão abaixo de Deus'V A conscience mystique, inStttdia Missiorxalia, 26
(1977). 104-106; 8 Cf. J.V. Bainvel, Nature et
3. Os místicos utilizam com freqüência uma
sumaturel, Paris 1903; c. II. Ii. 5-6;, Id.,
linguagem que parece aludir a urna "perda" ou Introducián..., oc, XXX; " Ct. J. de Guibert, Etudes
a uma "anulação de si" frente à transcendência de théologie mystique, Toulouse 1930, 89;11. de Lubac,
de Deus, ma_s, na realidade, essa experiência Preface, in La mystique et les mystiques, org. por A.
conduz a uma relação mais pmfunda com Ravier, Bruges 1965, 33;11 Lettern di direzione
spirituale. 8, in La rathe delia non-conoscenza e gh
Deus; é isso que aparece, por exemplo -- atra-
altri scritti, org. por A. Gentili, Milão 1981, 361-362;
vés do uso sábio dos advérbios e do reforço n Ibid., 363; 11 La nubedelia iwn-conoscenza, c. 43;14 S.
progressivo dos pronomes pessoais --, neste Bernaido di Chiaravalle, Sul dovere di amare Dio, X,
texto de —» são Bernardo de Claraval "Perder 27, cf. C. Slcreal. Bernardo diClainmix.
de certo modo (quodammodo) a ti mesmo (te), Intelligenzaeamore, Milão 1977;l* Ibid., X, 2 S; cf.
como se ( t a r n q u a n i ) não existisses, e não ler também Säo Joäo da Cruz, Subida da h tonte
Carmelo 2,5; 16 Imitação de Cristo, III, 8.9. 17 S. Tomás
mais a sensação de ti mesmo (ttípsum) e es- de Aquino. STh II II. q. 180, a. 2.
vaziar-te de ti mesmo (temetipsum) e quase
que (pacne) anular-te, c já residir no céu, não é Bim..: Cli. A. Beiniird. Ist t onseivuee spirituelle, in
mais seguir sentimento humano";14 4. Essa RAM 41 (1965), 441-466; Id.. I x conscience mys-
tique, in Studia Missitmaüa. 2i> (1977.j, S7-1 15;
nova e mais profunda relação com Deus permite K. Carpenticr, Conscience, in DSAM II, 1548-1575;
ao místico conquistar c. mais prolunda. ao E. OvJ .nello, .v.r.. in DES I, 648-655: A. Valsecchi.
mesmo tempo de si e de Deus: "Chegar a esse s.v., in DTM, 148-164.
sen li mento é ser deificado. Como pequena
uota dayua, dentro de tzrande quantidade de C Slcreal
vinho, parece perder inteiramente a própria
natureza, ao ponto de assumir o sabor e
a cor do vinho, ... assim nos santos será ne-
cessário que todo sentimento humano, de
maneira inefável (quodam ineffahiíi modo),
derreta-se e penetre fundo na vontade de
Deus"; 1"5 como afirma sinteticamente também CONSECRATIO \1L.\D1
a Imitação de Cristo: "Buscando somente a ti, e
com amor puro, encontrei ao mesmo tempo a I. A noção de c. entrou solenemente na
mim e a ti";16 5. No que se refere, em particular, ü linguagem da Igreja Católica com o Vaticano [
c. moral, Tomás cie Aquino esclarece que a I, quando, definindo a função sacerdotal do
experiência moral predispõe para a vida Icrtio, a ÍAimen Gentium afirma: "Assim tam-
contemplativa, mas não constitui seu elemento bem os leigos, agindo santamente cm toda
essencial: "As — > virtudes morais não parte como adoradores, consagram o mundo a
pertencem essencialmente (essentialiter) à vida Deus" (LG 34). A aceitação da noção, por parle
contemplativa, pois o fim da vida con- do Concílio, não foi pacífica. Teses, ressalvas,
templativa é a consideração da verdade. ... De cautelas confrontaram-se, mas sem possuir
fato, o ato da -» contemplação, cm que es- uma tradição consolidada sobre a qual
sencialmente consisto a vida contemplativa, é pudessem se apoiar. O único testemunho
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histórico do uso da expressão é o identificado
por M.-D. Chenu no martirológio romano
editado pelos bolandistas do séc. XVI, o qual,
no dia 25 de dezembro, registra a data

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rOSSOl AÇÃO ESPIRITUAL IV. Natureza e graça. Na c. dá-se um en-
contro íntimo entre a natureza e a graça.
Senhor", É uni verdadeiro crescimento de 260
amor, que pode assumir ora o aspecto de gra-
tidão, ora de arrependimento, ora de partici- Esse fenômeno, seja em sua substância quanto
pação na paixão de Cristo etc. Obviamente, em seus reflexos psicológicos, põe em cena
crescendo no amor, a pessoa se sente satis- vários elementos que têm a ver com o mundo
feita e consolada cm relação ao que mais da graça, mas de graça que se encarna, toma
importa, ou seja, o amora Deus. conta da psique e até da —> corporeidade.
Inácio não deixa de notar que as três vir- A c. envolve as duas faculdades típicas do
tudes leologais se expandem e crescem quando homem, a inteligência e a —> vontade,
Deus consola; de tato, há um "aumento de naturalmente orientadas para o que é ver-
esperança, fé c caridade, e de toda alegria in- dadeiro e bom; e, a partir delas, verte-se, em
terior, o que estimula e atrai para as coisas geral, para o plano físico, provocando doce
celestes e a salvação da alma. dando-lhe calma sentimento de alegria, de paz, de satisfação.
Isso, segundo todas as experiências dos
e paz em seu Senhor e Redentor".
santos, tem valor enorme, que ainda não foi
suficientemente explorado pela psicologia.
III. A c. será verdadeira se for momento de
Considerada, também, do ponto de vista
crescimento. » Santo Agostinho advertiu, a seu
ontológico, a c\ apresenta-se como a emer-

tempo, que nem todas as c. são verdadeiras e


gência do amor de Deus no intimo da pessoa:
que se pode facilmente pensar que "o que verdadeiro incêndio de caridade, mais clara e
deleita faz bem, quando, na verdade, às vezes apaixonante visão do que é eterno e de como
prejudica". De qualquer forma, louvou muito a Deus é grande em todas as suas
suavidade do pranto concedido por Deus manifestações. E, enfim, conforme o que já
durante a —» oração e as autênticas delícias notamos cm Inácio, verifica-se "certa moção
ou, melhor, "os deleites da lei de Deus", interior, pela qual se inflama de amor pelo seu
contrapostos aos da concupiscência. Senhor c Criador".
"Como é suave o teu Espírito!", é a excla- Em si, a c. não está estreitamente ligada à
mação que, com múltiplas variações de lin- —> virtude: pode ser maior ou menor, inde-
guagem, Padres, doutores e místicos conti- pendentemente do grau de virtude da pessoa,
nuamente retomam para demonstrar que lia o mas visa a premiar a virtude e também a
Deus que prova, mas há também o Deus que desenvolvê-la. Está, porém, profundamente
consola, que se faz próximo, presença quase ligada ã vida da graça por parte do crente: sem
palpável para os que buscam somente a ele. essa vida, jamais ocoiTerá a c. cristã; no
Santo Tomás de Aquiru > tem idéias muito sig- máximo, "certo" prazer pela verdade e pelos
nificativas em matéria de c. Na verdade, ele valores - embora encobertos pelo —> pecado -
não usa propriamente esse termo, mas o mais cultivados por quem vive experiências e
genérico dilectatio, ou seja, alegria ou conten- compreende alguns pontos da sabedoria
tamento infuso, quando aborda o tema ex- humana. A c. está de algum modo ligada à —>
pressamente místico da contemplação. Na devoção, mas não é fruto absolutamente
Summa} o Doutor Angélico recorda que a reconhecido dela: isto é, um grande devoto
contemplação produz dupla alegria: a decor- pode ter ou não ler muitas c , ao passo que
rente do fato mesmo de contemplar a verdade um devoto medíocre poderá recebê-las em
e o amor de Deus; e a específica, que vem do grande quantidade, por causa de um projeto
objeto ou tema contemplado. Ha uma invasão educativo da parte de Deus, que distribui es-
de alegria ao sermos introduzidos na con- sas graças com incomparável e sábia liber-
templação e, mais precisamente, ao vermos dade. Sobre tudo isso é muito clara a doutrina
que Deus ama o homem e o enriquece com a de mestres qualificados como —» Teresa
sua verdade e a sua —> graça; além disso, d e J e s u s ,- I< . da I V l '
expe-rimenta-se esse gáudio certamente por
causa do que Deus comunica ao homem. Como NOTA: ' II I I . q. 180.
se vê, segundo longa tradição, a c. situa-se. no
plano místico e/ou no plano ascético, como BIBL.: Ch.-A. Bernard, Teologia spirituale, Roma
crescimento de amor: comporta sentimento 1982; L.Bou ver, fntroduzione alia vila
spirituale, Roma 1979; C. Gennaro, s.v.. in DES
pacificador de alegria e satislação da pessoa I, 616-617; L. Poullier.s.v., i n D S A M U , 1617-
espiritual, a qual percebe de modo mais vivo e 1634; F. Ruiz Salvador, Cantinas dei espírita:
penetrante a caridade de Deus. compendio de teologia espiritual, Madri 1978.

I I Girardello
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CONTEMPLAÇÃO
Assis, de fato, vê na natureza a inocência das nenhuma operação: apenas acolhe ativamente o
origens, isto é, tal como ela saiu das mãos do Deus que vem.
Criador, antes do pecado original. Em todo
caso, qualquer seja a mediação que leva o IV. O problema tia relação entre vida
espírito humano àc. de Deus, os místicos não contemplativa c ação, posto desde o início do
se detêm na mediação em si mesma, pois ela é cristianismo, e bastante pi >lêniico. Aeosli-
apenas meio para chegar a Deus. nho, a esse propósito, comentando Lucas 1
Na atividade contemplativa dos místicos (Í.3S-42, assim escreve: "As palavras de nosso
podemos distinguir três formas principais de Senhor Jesus Cristo querem nos recordar que
oração contemplativa: 1. A oração litúrgica,
—»
existe um único ponto de checada ao qual
isto é, a oração feita em nome da Igreja. Tal tendemos, em meio à dureza das várias ocu-
pações deste mundo. Para ele tendemos por-
oração, recitada no curso do —»ano litúrgico,
que ainda somos peregrinos, não gente estável;
permite reviver o conjunto do mistério de
estamos a caminho, ainda não chegamos à
Cristo, desdobrado no tempo c nas situações
pátria; vivemos no anseio, não ainda na sa-
pessoais. 2, A oração contemplativa pessoal,
tisfação... Marta e Maria eram duas irmãs, não
ou mais comumente chamada de —> medita- só no piano da natureza, mas também no da
ção, cujo fundamento é a —> lectio divina. 3. religião; ambas honravam a Deus, ambas
A c. mística, isto é, a atividade que permite serviam ao Senhor presente na carne, cm
captar a realidade espiritual mediante opera- pcrleiia harmonia de sentimentos. Marta o
ção simples do espírito humano, ao termo da acolheu como era costume acolher os pere-
atividade meditativa (c. adquirida), e aquela grinos, mas acolheu o Senhor como serva...
que segue à meditação (c. mística, infusa ou Aliás tu, Marta, deve-se dizer sem querer des-
passiva); esta última é um estado espiritual merecer-te, tu, já abençoada pelo teu elogíavel
de —> passividade cm relação à ação de Deus. serviço, como recompensa queres o repouso.
Embora alguns autores, sobretudo da —* Agora estás mergulhada cm múltiplas ativi-
escola dominicana, não aceitem a legitimidade dades, desejas descanso para os corpos mor-
dac. adquirida, é preciso atribuir a esta valor tais, ainda que santos... Lá em cima não ha-
prático, comprovado pela experiência: a alma verá lugar para isso. Haverá o quê, então? 0
pode realizar operação simples, de tipo in- que Maria escolheu: lá seremos alimentados,
tuitivo-afetivo, enquanto, do outro lado, não há não alimentaremos. Por isso é completo e
como negar que Deus pode agir diretamente na perfeito o que Maria escolheu aqui: daquela
alma. Por isso, os autores místicos distinguem rica mesa recolhia as migalhas da palavra do
dois níveis de atividade da alma: um nível Senhor... (o qual) mandará que seus servos
comum, no qual nascem as operações do sentem-se à mesa e passará a servi-los".13
conhecimento racional e discursivo; e um Marta e Maria são exemplo da unidade radical,
superior, no qual Deus age diretamente na na qual não se opõem vida ativa e vida
alma, tornando-se presente mediante modo contemplativa; juntas representam uma vida
simples de conhecimento, de onde nasce a toda tomada pela escuta contemplativa, so-
adesão pela fé. bretudo quando se é chamado ao empe-
A -* presença de Deus na alma é, pois, viva nhamento nas atividades do mundo.
e eficaz, infunde as -» virtudes teologais da fé, A unidade radical da vida espiritual - por-
da esperança e da caridade. O dom da c.# tanto, a unidade entre c. e ação - se encontra,
oferecido pelo Espírito c, de modo particular, como afirma Teresa de Jesus na Sétima ■
pela caridade (cf. Rm 5,5), consiste no fato de Morada, no ápice da vida mística, na união
que o orante antegoza, aqui e agora, Deus teologal em Deus-Trindade-de-amor. Aí não há
presente e operante nele, de modo sobrena- mais distinção entre apostolado e oração, mas a
tural: as formas e os graus dessa tomada de comunhão mística de amor se faz mística
consciência variam muito. Ela consiste numa apostólica,lh porque a vida teologal é vivida em
espécie de interiorização cada vez mais pro- plenitude tanto pelo contemplativo quanto pelo
funda, que leva ao aposento central do castelo apóstolo.
interior - segundo a imagem usada por —> Para o contemplativo, a vida de fé mantém
Teresa de Jesus -, onde se encontra Deus. É principalmente o caráter de obscuridade na
Deus mesmo quem, por meio da sua —> graça, caminhada para Deus; mas na vida apostólica a
atrai a alma para si e a impele para o co- fé se apresenta como nova luz projetada sobre o
nhecimento-adesão. Tal intervenção livre e mundo a ser transformado, e como princípio de
gratuita de Deus a alma a acolhe numa atitude
passiva, no sentido de que ela não exerce
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CONTEMPLAÇÃO 338
ação. Quanto à esperança, segundo João da
Cruz, aparece como

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CONTEMPLAÇÃO
A c. "é notícia geral amorosa", ou seja, é
meditação, exercício "natural", o santo apre- conhecimento e amor, conhecimento de amolou
senta a c. como "a via do espírito". 19 Deixa amor iluminado, mas "genérico", "sem
claro que Deus assume as rédeas da relação: especificação de atos". Diante das fragmen-
Deus é o operário, o agente, o artífice. E quan- tações c da pluralidade dos atos da meditação,
do João da Cru/, quer sublinhar a mudança, a que gera conhecimentos distintos e particulares,
passagem da meditação à c, enfatiza que Deus a. c. move-se no âmbito do conjunto e da
começa a comunicar-se com a alma: "Nessa globalidade, e por isso é "obscura" para a
noite [purificação passiva do sentido], as almas inteligência que trabalha naturalmente com o
começam a entrar [no novo estágio] quando que é distinto, que precisa fragmentar para
Deus as vai tirando do estado de principiantes, conhecei' c comunicar o que sabe.
no qual estão as que meditam na caminhada É conhecimento de fé: transcendendo as
espiritual, e começa a pô-las em estado mais "notícias distintas", o conhecimento "situa-se
cada vez mais na fé".32 Fé e c. às vezes se
avançado, que é o dos contem-
aproximam tanto que dão a impressão de se
plativos .
identificar, porque a c, tal como a fé, é relação
Mudança de protagonista e de canal de
interpessoal, encontro dinâmico com Deus, e
comunicação. Deus ativa as forças, o espírito
por isso aberto àc. já clara e beatífica.
do homem, o conhecimento e o amor, "dire-
tamente", sem a mediação dos sentidos, "so- NOTAS: 1 Cf. Congregação para a domina da fé.
brenaturalmente": na c. "as forças ficam em Alguns aspectos da meditação cristã, Roma 1990;2
repouso, não atuam ativamente, mas só pas- João da Cruz, que faz das virtudes teologais o
sivamente, recebendo o que Deus opera fie- núcleo mais íntimo do seu pensamento, na
las"}1 TVata-se do "conhecimento sobrenatural dupla, indissociável dimensão puriricativa e
unitária, apresentou a oração e toda a sua
próprio da c.",22 informação desprovida de
trajetória como exercício e vida teologais: cf.
acidentes, "sem que a inteligência precise fazer M. Herráiz, La oraciôn, palabra de un maestro.
nada".23 Mais adiante diz que, nessa forma de San Juan de la Cruz, Madri 1991, sobretudo pp.
c. "vê-se a inteligência elevada de forma inédita 11 -13;3 Chama viva de amor, 3,36, na qual "Deus
acima do entendimento natural, sob a ação da luz é o agente e a alma é o paciente";4 Ibid.,
divina".24 Define a c, nesse contexto psicológico 3,32;sCântico
de escritor, como "inteligência serena e espiritual 39,6; 36,5;6 Chama... o.c, 3,78;7 Cântico..
o.c, 32.Ó;3Ibid.,2&A;9Chama...,o.c.,X\6:lQvtda 1,8; 11
tranqüila, sem barulho de vozes". 25 Cf. Caminho deperfeição 18.3;12 Vtda 27,11:13 GIWII-
Poeticamente, a c. é chamada "música nho..., o.c, 2,1;x* Cântico..., o.c.t str. 10;15 Noite escu-
silenciosa", "solidão sonora". O teólogo ra, 8;16 Cf. Cttama..., o.c. 3.36; 17 Vida 11.7; ,H Castelo
contemplativo explica: "É silenciosa em relação interior, V, 2,3-4; 19 Cf. Chama..., o.c, 3,44; Noite...,
aos sentidos e às forças naturais; é solidão o.c, I, 13.15; 10 Ibid., I, 1,1; 21 Subida ao Monte
muito sonora pelas forças espirituais, pois Carmelo II. 12.8; 22 Ibid., I. 15.1; 23 Cântico... o.c,
14,16.14; 24 Ibid., 15.24;25 Ibid., 15,25; 26 Ibid., 26; 27
estando sozinhas c vazias de qualquer forma e Noite..., o.c, II, 5,1;u Ibid., II. 5.1-17.1; * Ibid., II,
compreensão naturais, podem receber o 5,1;i0 Chama..., o.c., 2,34;31 T. Polo. Dire Valtro*
altíssimo conhecimento de Deus". 26 A ação de cite tttttavia parla: il lingtiaggio ferito dei mistici, in
Deus, "a infusão divina", gera, além do REsp 53 (1994), 247-3"! 7 ~Chama..., o.c, 3,48.
conhecimento, o amor. De falo, a c. costuma
BIBI..: Aa.Vv .,5\ K , in DSAM II, 1643-2193; T. Alvarez
ser definida pelo santo como "ciência
- E. Ancilli, s.v., in DES I, 617-625; H.U. yon
amorosa", "amor e sabedoria", "luz divina e Balthasar, Au-delá de Vaction et de la
amor".27 "Ac. é comunicada e infusa na alma contemplaiion, in Vie consacrée, 45 (1973), 65-74;
por amor." 28 É "influência de Deus na alma... Id., La preghiera contemplativa, Milão 1982; Ch.-
que os contemplativos chamam de c. infusa ou A. Bernard, s.v., in NDS, 262-277; J. Bielccki,£a
mística teologia. Nela, Deus secretamente vita contemplativa nel recente magistero delia
instrui a alma sobre a perfeição do amor, sem Chiesa, Roma 1973; M.J., Fernandez Marquez,
Vita e contemplazione, Cini-sello Bálsamo 1993;
que esta faça qualquer coisa nem entenda o Gabriele di S. Maria Mad., La contemplazione
que seja essa e".29 No final do processo, quan- acquisita, Florença 1938; R. Gar-rigou-Lagrange,
do a ação de Deus e a "paixão" do homem Perfezione Cristiana e contemplazione, Turim 1933;
alcançam o grau mais alto de sincronia, o Guglielmo di Saint-Thierry, Coittemplaziotte,
santo escreverá: "A inteligência, que antes Majgnano 1984; E. Gurrutxaga, La
entendia naturalmente, com a força e o vigor da contemplazione 'acquisita", in La Mística II, 169-
190, J. Leclcrcq. Contemplation et vie
sua luz natural e pela via dos sentidos cor-
contemplative dans le passe et le présent, in Vie
porais, agora é movida e informada por outro consacrée, 40-41 (1968-69), 193-226; J. Maritain.
princípio mais alto, pela luz sobrenatural"?0 A c. Azione e contemplazione, Roma 1979; J.
é linguagem de Deus à alma, de puro espírito a Molimann, Contemplazione, mística, martírio, in T.
espírito puro. 31 26S Goffi - B. Secondin (org.), Problemi e prospettive
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di spiritualità, Brescia 1983. 371-388; J.-H.
Nicolas, Contemplazione e vita contemplativa nel
crís-tianesimo. Cidade do Vaticano 1990; G.
Pagliara,

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CÜWKRSAÜ 27
2

mental para o —> seguimento de Cristo. A des- muito evidentes, a de —> Teresa de Lisieux,
crição da c., que Mateus faz, refere-se direta- dotada de pensamento menos brilhante, é
mente aos discípulos. Converter-se quer dizer menos evidente, mas não menos genuína. Seus
seguir -> Cristo. Segui-lo significa tomar a -> pensamentos giram em torno da realização
cruz, ganhar a própria vida perdendo-a (cf. Mc profunda da paternidade de Deus e comportam
8,35). Responder à mensagem de Jesus Cristo o deslocamento de um estado profundo de ->
implica não só mudança interior, mas também angústia para uma confiança firme na
uma mudança de comportamento, com os providencia de Deus. A partir daí, desenvolve o
frutos das boas obras. O evangelho de Mateus ensinamento da sua "pequena via", da —>
infância espiritual, da qual dão testemunho as
desenvolve esse tema no sermão da montanha
palavras de fechamento da sua autobiografia
e na analogia da árvore
espiritual: "Vou a ele com confiança e amor".3
que produz bons frutos (cf. Mt 5-7; 7,16-20).
Discípulo é quem faz a vontade do —> Pai e
III. Dimensões eclesiais da c. Com o —> ba-
permanece unido a Cristo, a verdadeira videira
tismo, os cristãos são libertados do —> pecado
(cf. Ml 7,21-23; Jo 15,1-17). O evangelho de
e tornam-se membros do -» Corpo místico de
Lucas relaciona a c. com a reconciliação que
Cristo, a --> Igreja. O sacramento da —>
Deus estende aos pecadores. É especialmente penitência reconcilia novamente as pessoas
visível nas parábolas do cap. 15, a mais com Deus e com a Igreja, "que feriram pe-
famosa das quais é a do filho pródigo (cf. Lc cando" (LG 11). Ac. contínua encontra a sua
15,11-32). O filho perdido é reencontrado e se fonte e o seu alimento na —> eucaristia, que é
reconcilia com a misericórdia do Pai. A alimento dos que peregrinam na letra. A re-
misericórdia de Deus, como a do filho pródigo, lação estreita que existe entre os atos externos
se estende a todos os que pretendem mudar de de penitência, a c. interior, a —> oração e os
vida, converter-se radicalmente e abraçar a atos de —> caridade, afirma-se em numerosos
vida de discípulo. textos litúrgicos (cf. Paenitemini, 2).
A atitude do cristão na oração éc, pois o ato
Ií. Histórias típicas de c. Uma das mais de rezar inclui a escolha consciente e explícita
claras descrições do processo de c. podemos de Deus como interlocutor. Dado que dele
encontrá-la nas Confissões de —> Agostinho. recebemos tudo o que pedirmos (cf. 1 Jo 3,22),
Nessa obra de louvor ao amor misericordioso a oração que pede o perdão conduz o cristão à
de Deus, Agostinho narra o seu afastamento mais plena participação na vida de Cristo.
gradual do pecado e da cegueira em relação a Pedir perdão é o requisito fundamental tanto
Deus que "o chama... e cujo fulgor dissipa a da liturgia eucarística quanto da oração feita
cegueira". 1 Essa clássica autobiografia no segredo do coração (cf. Mt 5,6).
espiritual fornece, sobretudo, um premente
apelo à necessidade de transformação de todos IV. C. e responsabilidade social. Para os
os aspectos da vida: intelectual, afetivo, moral, cristãos, a c. tem não só dimensão pessoal,
religioso. mas também dimensão social. A vida cristã é
-» B. Pascal experimentou que a c. é um ato pascal, modelada segundo a morte e ressur-
da -> graça de Deus, mas que o papel do reição salvíficas de Cristo, que trouxe a nova
individuo no processo de c. c também impor- vida mediante a morte. É evidente que os cris-
tante. Ele, por isso, estimula a busca de Deus, lãos, que compartilham a missão da Igreja, são
o que pressupõe uma sincera mudança do chamados a trabalhar para realizar uma
coração. Pascal experimentou a c. cm Cristo transformação tanto individual quanto social,
num momento preciso e num lugar que jamais a serviço do Reino de Deus, como declarou o
esqueceria; de fato, conservou um memorial Sínodo mundial dos bispos de 1971: "A ação a
escrito da sua c, ocorrida em 1654, e manteve- favor da —»justiça e a participação na trans-
o costurado à sua roupa até o dia em que veio formação do mundo surgem plenamente como
a falecer. Talvez a parle mais comovente do dimensão constitutiva da pregação do
seu memorial seja esta singela afirmação: Evangelho".* 1 Enfim, ac. c a experiência con-
"Alegria, alegria, alegria, lágrimas de alegria".2 victa por meio da qual todos nós somos cha-
Esse movimento interior rumo ao êxtase de mados pelo Pai a exercer a mesma missão do
alegria, que é uma das características dac. de Cristo: que o mundo possa se encher da sua
Pascal, é uma experiência comum aos cristãos esperança e ser transformado pelo seu amor.
diante da misericórdia e da bondade de Deus.
Enquanto as c. de Agostinho e de Pascal são
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NOTAG: 1 Libro X, 27,38;2 Pensées, Ballimore
1966. 309;3 Story ofa Soul, Washington 1975,259;4
United

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CORAGEM COItf'O maneira geral pode-se dizer que essa atenção
parte da profunda mudança que se operou na
do contrário é inútil o seu sacrifício, e seu condição humana: como oc.éo lugar 276
trabalho se torna peso".1
A mesma convicção encontra-se dissemi- das relações do indivíduo consújo mesmo e
nada por toda a história da —> ascese e da com o seu mundo, torna-se também o âmbito
mística cristãs. Por exemplo, -> Inácio de em que se evidenciam tanto a crise da exis-
Loyola, na quinta nota explicativa para quem tência e dos seus significados quanto a emer-
está iniciando os Exercícios, escreve: "Éde gência de uma diferente consciência de si, a
muita ajuda para quem recebe os exercícios partir da qual a pessoa pode viver, se encon-
ingressar nele com grande c. e com trar, se realizar. O c. apresenta-se, pois, tanto
generosidade cm relação ao seu Criador c como o código do esforço para a compreensão
Senhor, ofere-cendn-lhe inteiramente a —> da vida quanto a imo a epifania de novas
vontade e —» liberdade, para que a divina possibilidades de —> liberdade,
Majestade possa servir-se, segundo a sua A compreensão do c. é, então, uma impor-
santíssima vontade, tanto dele quanto de tudo tante experiência cultural, profundamente
o que possui". correlata ao sistema das relações sociais: dado
que a ideologia eficientista e consumista do
II. Ma experiência mística. Para a difícil nosso modelo social perdeu o indiscutido
caminhada da —> experiência mística, recorde- consenso e provocou a emergência de críticas e
se a sabedoria de —» Teresa de Ávila: "Deus buscas alternativas, até o significado do c.
concede grande lavor à alma ao dar-lhe graça e tornou-se algo obscuro c oscilante. A atenção
c. para tender com todas as forças a esse bem. discreta, em certas épocas, dedicada aos temas
Sc ela pci*severar. Deus, que não nega ajuda a da corporeidade humana é, na minha opinião,
ninguém, aos poucos aumentará nela a c. para mais índice de crise do que de valorização,
que consiga a vitória". 2 A santa está convicta mais a expressão de necessidade do que o
de que a c., junto com a humildade, torna a aparecimento de novas certezas. As
alma agradável a Deus c a faz progredir ambivalências hodiernas a respeito da cor-
rapidamente: "Sua Majestade busca e é muito poreidade espelham essa incerteza, que remete
amiga das almas corajosas, se caminharem as próprias escolhas às questões, fre-
com humildade e não se fiarem em si próprias. qüentemente não-resolvidas, sobre o sentido
Jamais vi uma alma dessas ficar para trás no da vida ou o valor do outro e da convivência
caminho da —» perfeição; como também jamais social. Dessa ambivalência não se escapa a
vi uma alma covarde, ainda que escondida não ser procurando decifrar o dado cultural e,
atrás do véu da humildade, fazer cm muitos para os crentes, interrogando-se sobre o papel
anos a caminhada que essas almas fazem em que aí desempenhou c ainda desempenha a fc
pouquíssimo tempo". 3 cristã.
Nossa cultura abandonou todas as formas
NOTAS: Isacco de Ninive, Ammaestramenti spiri-
1

tuati, 207;2 Teresa de Ávila. Vida 11,4;1 Ibid., de dualismo: em particular, deixou para trás
13,2. tanto o positivismo que pensava o ser humano
como organismo biológico, como máquina,
BIBL.: Ch.-A.Bernard, Force, in DSAM V, 685-694; onde a realidade da consciência era totalmente
R. Fabris, IM. virtù deicoraggiu. La "franchezza
"nella Bibbia, Casale Monferrato 1985; RA secundária, quanto o idealismo, que reduzia a
Gauthier, Magnanimité. L'idéal de la grandeur verdade do homem unicamente à consciência,
dans la philosophie païnne et dans la théologie rebaixando o c. a mero objeto de
chrétienne, Paris 1951 ; T. Goffi, s.v., in DES conhecimento. A atual antropologia considera
1,632-634; J. Picper, Stdla fortezza, Bréscia
1956; C. Spicq. Théologie morale du Nouveau a pessoa como uni todo e vê a origina-1 idade
Testament, Paris 1965. do homem na abertura para o mundo da sua
liberdade inteligente, a xveltofjenheit,
U. Occhialiui abertura mediada justamente pelo c. O c.
humano é um modo particular de ser no
mun-d<), totalmente diferente das coisas que o
circundam, que ignoram a si próprias. Ot\
humano é um c. vivido, habitado por
intencionalidade, lugar original da
manifestação e da comunicação da
CORPO interioridade humana com o que está fora, com
a alteridade. No meu agir e no meu viver, cu
I. Status quaestionis. O interesse pelo a, no sou o meu c. Aí, porém, começam a surgir os
mundo de hoje, é um fato comprovado. De problemas. É correto, mas algo apenas formal,
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indicara particularíssima relação do meu c.
com a minha liberdade; abster-se, porém, de
precisar seus conteúdos

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CORPO MÍSTICO qual os aspectos jurídico e caritativo não per-
manecem extrínsecos um ao outro, mas "se
enquanto a união dos lieis com Cristo, nesse completam e se aperfeiçoam mutuamente
único corpo, é diferente de união física ou (como, em nós, o corpo e a alma) e procedem de
moral; ela pertence ao mistério não só do amor um só e idêntico Salvador" (n. 63). A i
eterno com que o Filho do Pai "já antes do mpostação cristológica e pneumatológica da
inicio tio mundo... nos abraçou" (n. 75). mas encíclica é inegável e, embora nela se afirme
também do seu amor "histórico" por nós, com o que "para definir e descrever" a Igreja de Cristo
qual mantém "presentes e ligados a si lodos os não existe nada "mais nobre, grande e divino"
membros da Igreja, de modo muito mais claro do que a expressão "corpo místico de Cristo" (n.
e afetuoso do que aquele com que uma mãe 13), não se quer atribuir a ela (unção
olha seu filho e o segura no colo, e com que exclusivista. Rea^e se contra os que a haviam
um homem conhece e ama a si mesmo" (n. 76). relegado a "estágio pré-teológico", para dar
Lembradas as imagens da união nupcial e preferência à noção de povo de Deus, cujo
dos ramos e da videira, bem como a tensão de fundamento bíblico e patrístico seria muito
iodo o corpo social para um único fim, o mais fundamentado. Claro, a fórmula "C. de
pontífice enfatiza que essa meta é a santi- Cristo" é capaz de remeter-nos ao mistério da
ficação dos membros do mesmo corpo e en- Igreja sem ceder a misticismos ilusórios, por-
contra a sua fonte no mistério trinitário: "0 que Pio XII advertia que o próprio Paulo, "em -
beneplácito do —> Pai eterno, a amável vonta- bora una entre si com admirável fusão Cristo e
de do nosso Salvador e, especialmente, a ins- o Corpo místico, contrapõe um ao outro como
piração interna e o impulso do Espírito Santo" Esposo e Esposa" (n. 85). Não é possível
(n. 68). Numa sociedade visível como a Igreja exprimir o mistério da I t :ieja sem recorrer a
não faltam vínculos de unidade, ditos múltiplas imagens e analogias, que jamais
"vínculos jurídicos", externos, como a profissão conseguirão esgotá-lo e, embora em certos
da única fé, a participação nos mesmos —» períodos históricos alguma delas possa parecer
sacramentos e a observância das leis da Igreja mais compreensiva e idônea para
sob a autoridade do sucessor de Pedro, indicar a missão da Igreja, cada noção deve
e internos, que derivam da fé, da —> esperança necessariamente ser integrada às demais, sem
e da caridade, com as quais nos unimos ao Pai nenhuma oposição.
da maneira mais estreita (cf. nn. 70-73) e a
Cristo, que "está em nós pelo seu Es-
IV. Os movimentos litúrgico, bíblico e
pírilo que nos foi comunicado e por meio do
patrístico muito contribuíram para o progresso
qual age de tal modo em nós que se deve dizer
da compreensão da Igreja, e acabaram
que toda realidade divina que o Espírito opera
desembocando, em grande parte, na consti-
em nós opera-a lambem Cristo" (n.
tuição Lutnen Genlitnn, que pôs em relevo a
77) . Assim, "todos os dons, as -> virtudes e os
dimensão sacramental e comunional da Igreja,
—> carismas que se encontram de modo emi-
o papel dos —> sacramentos, sobretudo da
nente, abundante e eficaz na Cabeça propa-
eucaristia, na sua edificação, a sua natureza
gam-se para lodos os membros da Igreja e neles
divina c humana, a relação entre carisma e
se aperfeiçoam cada dia, segundo o lugar de
ministérios etc. Os contextos históricos da
cada pessoa no C. de Jesus Cristo" (n.
encíclica Mystici Corporis c da Lionett Gen-tittm
78) . A união desse corpo atinge, nesta terra, o
são muito diferentes: a primeira, numa síntese
seu grau mais alto na eucaristia, "que nos dá o
de elementos bíblicos, teológicos e pastorais,
autor mesmo da graça santificante" (n. 83).
apresentou a doutrina da Igreja como C.
Maria, mãe da Cabeça quanto ao corpo, pela
fixando alguns pontos diante do debate em
sua participação na obra redentora tornou-se,
voga, que continuou também nos anos
"quanto ao espírito, mãe de todos os seus
seguintes. Tal doutrina encontrou acolhida
membros" (n. 108). Esses breves acenos
também nos inícios da década de 1960, tanto
permitem-nos constatar que a Mystici Corporis
que a Comissão doutrinária pre-conciliar
sintetizou uni século de reflexão mariológica e,
elaborou uma apresentação da Igreja como
baseando-se na impôs tacão societária da
realidade viva justamente se utilizando da no-
Igreja, equilibra seus traços com a noção bíblica
ção de C. Retirado esse projelo e com o cres-
e teológica do corpo de Cristo. Contra
cente interesse por outra noção bíblica, a de
tendências misticizantes, contínua a sublinhar
Povo de Deus, deu-se à doutrina do C. um lugar
o caráter social e visível da Igreja, e à
de destaque entre as demais figuras e imagens
concepções de tipo racionalista, sociológico ou
da Igreja (LG 7). Contra certas escolhas
quase que exclusivamente institucionais
arbitrárias, recentemente foi lembrado
contrapõe uma visão equilibrada, na 280

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CRISE ESPIRITUAL - CRISÓSTOMO JOÃO profissional de si próprio. A oposição mani-
(santo) festa-se entre o "proteger" e o "dominar" a 2S4

I. Duas formas de vida. Do ponto de vis- criação (cf. Gn 1). A crise, por isso, não é só
ta prático. p* >dem existir duas fornias de psicológica: trata-se de transformação cultural;
vida: uma "religiosa", ou do crente honesto, e nem deve ser vista só em chave negativa ou
outra "interior", ou dos pensadores, dos Ülóso- destrutiva, pois pode conter "produtividade"
íos, dos artistas. A dilcrença está no lato de inquestionável.
que a primeira implica relação de dependência
do Absoluto transcendente e pessoal, ao passo II. Crise cultural e c. espiritual. A crise
que a segunda se desenvolve autonomamente, cultural costuma atrair também a crise do
na imanência da própria vida psíquica. A vida espírito. Esta última pode ajjra\ar-se quando a
espiritual é a integração dessas duas espiritualidade é entendida como ascensus
dimensões, vistas como complementares: (ascensão) para Deus, e não como descensus
essencialmente interior, a vida espiritual é (descida) do Espírito.3 Só nesta acepção é
também vida do homem diante do seu Deus, possível a —> experiência de Deus pela pessoa
ele participa da vida de Deus, espírito do ho- humana. Essa —» inabitação divina, pelo dom
mem posto na escuta do Espírito de Deus.2 do Espírito, possibilita a experiência interior e
A capacidade de oposição, ínsita na natu- espiritual da passagem do estado de morte
reza humana, leva o ser humano também à para o estado de vida. Não é suficiente a
experiência do — > pecado, da sua oposição a catarse moral ou a —> "purificação" (aridez, a
Deus. Essa experiência não muda a essência tu me dos sent idos, a m >iie do espírito);
do ser humano: somente altera a sua -» san- impõe-se catarse ontológica, ou seja, mudança dc
tidade e a sua relação sobrenatural com Deus. todo o ser humano: —> corpo, —* alma e
A experiência do pecado pode bloquear a re- espírito. É a metanôia evangélica, a mudança
alização do sentimento religioso e favorecer a completa de mentalidade e de todo o ser
queda na dúvida, na desconfiança crítica, no humano. Tal -» conversão de vida põe em prática
desinteresse. Isso ocorre especialmente em o ensinamento de que ninguém pode conhecer
pessoas dotadas de emotividade não-ativa. Dois a Deus se antes não se conhece a si mesmo.
fenômenos entram em ação na c: um A superação da c. ocorre mediante revira-
cultural, ligado ao ambiente dc vida; c outro volta (imprevista ou lenta, traumática ou sere-
ligado à —* liberdade pessoal. Este último, na), pela qual a tensão da alma para a —> per-
numa situação de crise, pode levar à atitude feição, para fazer-se acolher por Deus, cede o
vital do tipo individualista, que põe a pessoa posto para a fé, para a pessoa ser perdoada e
em oposição a Deus e ao próximo. acolhida tal como é.
Deus não pode obrigar o homem a amá-lo, e NOTAS: 1Cf. J. Mac Avov. Crises affectives et vie
o homem pode rejeitar Deus, e a partir daí spiri-tuelte, in DSAM II, 2537-2538;2 Cf. P.
construir a própria vida na afirmação plena de Evdokimov, Le età delia vita spirituale, Bolonha
si mesmo. Por mais que essa posição possa 198l2 , 51;5 Cf.
parecer positiva, implica sempre a não- A. Rizzi, Essere nomo spirituale oggi, in T. Goffi -
B. Secondin (orgs.), Problemi e prospettive di spiri'
aceitação da dependência do Absoluto irans- tualità, Brescia 1983, 172, 185.
ceridente e pessoa!. Concretamente, se trata
da perda da síntese cristã que é criadora de liiBL.:Aa.Vv., hiitiation à la pratique de la théologie.
Paris 1983; Aa.Vv.,[Jesistenza Cristiana, Roma
elemento totalmente novo: o Eu divino falou ao
1990; Ch.-A. Bernard, Teologia spirituale, Cinisello
tu humano; a sua palavra o criou, tornou-o Bálsamo 1989*; P. Evdokimov, Ixi novità delia
consciente à sua imagem e continua a criá-lo e Spirito, Milão 1980; Id., U età delia vita spirituale,
a plenificá-lo, guardando-o na comunhão viva Bolonha 198t;T. Goffi - B. Secondin (orgs.)
com a sua Palavra feito canie. Problemi e prospettive di sp ir itu a lit à , Brescia
A situação histórico-cultural freqüen- 1983; J. Mae Avoy, Crises afíectiveset vie
temente se parece com a de "crise" radical. Dá- spirituelte, in DSAM II, 2537-2538; J. Mourmix,
Senso Cristiano delVuomo, Brescia 1948.
se distorção cultural entre o imenso e
explosivo apetite de liberdade e o também C. Morandin
imenso condicionamento imposto pelos co-
nhecimentos técnicos indispensáveis à vida
moderna. Sob esse aspecto, como cada liber-
dade se realiza em situação, a crise atual pa-
rece ocorrer por dissociação entre a exigência
cultural do indivíduo c a sua preparação
tccnico-cicntífica indispensável à afirmação CRISÓSTOMO JOÃO (santo)
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I. Vida e obras - Nasceu1 entre 344 e 354,
em Antioquia. Freqüenta Melécio (t 381), bispo
de Antioquia, é batizado, em 372, e orde-

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CRISTINA DE MAk k VAI E (santa) - CRISTO- pírito infinito... a necessidade de adorá-lo em
CRISTOCEI espírito e verdade (Jo 4,24); a esperança de
encontrar nele o segredo do amor e da força de
a Adriano IV (t 1159), o inglês Nicolau Bra- nova criação (Rm 8,22; Gl 6,1 5): sim, jus-
kespear, que é, muito provavelmente, iilho de iamenie o que dá a vida. A tal missão de anunciar
um clérigo de St. Albans. o Espírito a Igreja se sente chamada, ao
Não chegaram a nós escritos de C. A relíquia aproximar-se, junto com a família humana, do
mais importante é, provavelmente, o chamado final do segundo milénio d.CW O advento dessa
Albani Psalter da Igreja de S. Godehardskirche, era de destacadas aspirações espirituais e
Hildesheim, que aparentemente lhe pertenceu. místicas não é só fenômeno de desforra do
C de Markvatc prenuncia a idade de ouro inextinguível senso religioso da humanidade,
dos místicos ingleses dos sécs. XIII e XIV. depois do eclipse do sagrado, provocado por
Atravessando, de qualquer forma, o período de uma seculari/ação maciça: ele constitui
transição de L i m a Igreja anglo-saxã para uma sobretudo "sinal" da abertura de grande via
Igreja anglo-normanda, na Inglaterra, C para nova vinda de C, ainda que esse
entali/a o clemente de continuidade no esforço ressurgimento religioso traga consigo problemas
dc muitos, no seio da Igreja anglo-saxã daquela muito característicos. Se num passado recente a
época, para pôr em pratica u m a fecunda vida reflexão cristológica partia do interesse do
eremílica c contemplativa de lipo místico. homem contemporâneo pelos valores históricos,
para apresentar aquela imagem humana de
BIBL.: L.M. Clay, The llennits and Anachorites of Jesus Cristo em que só se reconhecia a
England, Londres 1914. 21-23; R Din/.elbacher,
s.u. in Aa.Vv., Lexicon des Mittelalters, II, possibilidade dc falar de modo sensato de Deus
München-Zürich 1977, 1917; C.H. Talbot, The ao homem secular, hoje podemos dizer que
Lifeof Christina o f Markgate, Oxford 1987; AM. "novo ponto de abordagem" propõe-se para o
Zimmermann, s. v., in BS IV, 339. mistério de "Jesus Cristo" e para o valor
"cristocen tricô" da fé. A forte exigência místico-
A. Ward
experiencial abre "nova fase na
história do homem na terra: o ano dois mil do
nascimento de C.".A Superada a crise do —»
ateísmo, que constituiu num dos principais
desafios à fé do nosso tempo, a "questão
cristológica" propõe-se, hoje, naquele novo
contexto que é o lugar da mística como dimensão
CRISTO - CRISTOCEMTRISMO essencial da vida espiritual do homem e que
poderia ser definida genericamente como
I. A cristologia no lugar da mística:
"experiência do Deus presenie e infinito,
problemas atuais. Com o eclipse do sagrado,
provocada na alma por moção especial do —>
provocado pela chegada da cultura científica
Espírito Santo".5
ctécnico-industrialjáse esperava, desde a dé-
cada de 1960, o advento dc homem totalmente
II. A estrutura de uni discurso teológi-
secularizado, sem motivações religiosas, se-
co cristocêntrico em chave mística. O
renamente ateu. "Isso era o que, mais ou menos,
aspecto mais importante do fenômeno do moder-
todos nós pensávamos, c nos preparamos para
no ressurgimento místico-religioso está na busca
enfrentar tal homem, na Europa e nos EUA.
autêntica dc encontro com o divino, como apelo
Trinta anos depois, esse homem não veio.
à experiência do "Deus vivo", apelo esse que é
Naturalmente, há muita gente que continua a
sentido cada vez mais como busca de Deus não
viver numa tranqüila indiferença por todas as
derivante da iniciativa do homem, mas como o
formas religiosas. Mas o homem europeu e
correlato, no nível da consciência, da vinda da
americano não pode ser definido como ateu ou
sua graça no Espírito: "O problema de Deus já é
simplesmente agnóstico. Não é católico e nem
um modo pelo qual Deus mesmo, que está
cristão, mas se caracteriza por um novo
presenie no homem inlerrogan-te. se revela na
interesse religioso."1 Aliás, a inspiração religiosa
nuxlalidade da consciência. Assim, a pergunta
vai se mostrando cada vez mais emergente,
sem hm que o homen i f uopõe a respeito de
tanto que se fala de era "marcada por altíssima
Deus se encontra, desde sempre, da parte de
compreensão espiritual da Bíblia... e por uma
Deus, respondida naquela resposta infinita que
perfeita Igreja do Espírito".2 A busca de
é ele próprio'? Ora, justamente por esse seu
experiência do divino aparece como fenômeno
caráter, uma "reflexão cristológica espiritual"
de grandes proporções, que testemunha "nova
reclama um discurso leo-
descoberta de Deus em sua transcendente
realidade de EsIKISMU 288

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CRlSTO .CRlSrOCKNTRlSMO evocativo de noite escura, com referência ex-
plícita à luz e obscuridade do mistério da fé".28
paixão e da cruz é momento necessário na via 292
da santidade crista: ele resume, de tato, em si,
lodos os aspectos do mistério i edenlivo, A mística moderna vai superando, de fato,
especialmente evidenciando o aspecto formal qualquer dicotomia entre os mistérios da cruz e
do amor que encontra a sua mais alta expres- da ressurreição de C, que constituem a mesma
são na caminhada da noite, como via de pu- hora da salvação e são a síntese de toda a sua
rificação e de aproximação do mistério divino. vida terrena. Sobretudo a consideração de que,
A importância da via mística da cru/., ao embora a ciar/ revele toda a sua luz de
contrário de diminuir, toi crescendo nos últi- sabedoria e de revelação do mistério trinitário
mos séculos, como testemunha - > Paulo da de Deus a partir da experiência da
Cruz, que fez do tema da cruz o fio condutor ressurreição, é também verdade que a luz da
dos seus sermões, mostrando que a caminha- glória da Páscoa c sempre revelação do amor
da da fé se concretiza na disponibilidade total eterno da cruz. Urna espiritualidade da cru/
à vontade de Deus, e por isso o ápice da não seria possível, p< >r isso, se não tosse
experiência espiritual se resume no "estar vivida na fé no Ressuscitado, o qual. pela força
sozinho" na cruz com C. Assim, retoma a do seu Rspírilo, está em condição de operar a
temática inaciana da indiferença e a temática transformação dos crentes na plena conforma-
salesiana do amor puro, vivendo a experiência ção com o C. Por isso. "qualquer iorma que a
espiritual como uma espécie de "presença na espiritualidade da cruz assuma", o cristão deve
ausência". A espiritualidade da cruz se continuar riscando o C enicil içado, para
desenvolve, depois, na devoção ao "Coração checar a partilhar a fidelidade e a caridade do
ferido" do C, que a partir do séc. XVII (J. Filho encarnado de Deus, (> qual nos amou c
Kudes, Margarida M. Alacoque) chegou na por nós se nu regou a Deus como ojerenda e
metade do séc. XX, através dos documentos sacrifício de agradável odor (Eí 5,2).29
pontifícios de Pio XI, Miserentissimus Re-
NOTAS: 1 G. Danneels, Le Christ ou le Verseau, Lettre
deniptar (1928), e de Pio XII, Haurietis Aquas pastorale de Noel, ia DocCat 23 (1991) 2021,
(1956) - a modelar dois importantes lemas da 117-129; - G. Schivvv, />> spirito delVetà mana,
paixão: o do amor misericordioso que evoca a XcwAiiee cnstuuiesimo, Brescia 1991, 123-
confiança, e o do amor ferido que apela â —> 124;3João Paulo II, Dominutn et vivificantem.
Cana encíclica sobre o Espirito Santo na •*'i<ln da
conversão e à reparação, através do "so-frer- lx*eja e der mundo. 2 \ 4 tbid.. 51; 5 F.. Ancilli,
com" o Salvador. Premessa, in L: Mística I, 12; u II. Võrgrirnler,
Na metade do séc. XX parecia desenvolver- Dottrina teológica su Dio, Brescia 1989, *4U; ' M.
se certo esfriamento da espiritualidade da Sekler, Teologia, Scieuzci, Chiesa. Saggi di teologia
cru/., em prol do mistério da ressurreição fondamentale, Brescia I9S8, 34; '* N. Nissiotis,
La theologie en tant que science et en tant que
como mistério de salvação e como propulsor da daxoloeje, m Irénikon, 33 (1966), 303; ' S. De
fé, que ria esperança projeta o futuro da Piores, Jesus Cristo em Dicionário de
história. A atenção que se volta para a liber- Espiritualidade, Paulus, São Paulo, 1979. 10 A.
tação dos oprimidos de seus sofrimentos ge- Grillmek-r. / mistcri di Cristo nella pietà dei
\tedi\>evo latino e deli época moderna, in 1.
rava certa desateição pelo valor da piedade e Feiner e M. Lohrer (ores.) Mysterium salutts, VI,
da mística da cruz, consideradas formas de Brescia 1971, 27\s.; |: Marino da Milano, U i
incentivar o conformismo com as injustiças e spiri-tualità cristologicii dei Padri cpo^tolia agli inizi
de abandonara luta pela sua remoção. Mas dei monachesinm, in Aa.Vv.. Problerm di storta
hoje podemos afirmar que a redescoberta da delia Chiesa, Milão 1970, 359-507; 12 Isac de
Stella, Ser-mo 2: PL [94. 1694; 11 Ileliandus, Ep.
mística vai repropondo de maneira nova a ad Caherum. PI... 212. 757A; ''' S. Heniardo,Sermo
importância da experiência da "noite joanina" I in Nativitaie, 3: PL 183. 116; ,:' ld., Senno 2 in
como "experiência tipicamente humana e quadragésima: PL 183,172;16 J. Leclercq-F.
cristã. Nossa época viveu momentos dramáticos Vandenbmiu ke-L. Bou-ycr, In spiritualitédu
Moyeti Age, in L. Bouycr (org.) Histoire de la
nos quais o silêncio ou ausência de Deus, a svniinaiilé cltrétienne, II, Paris 1961, 213-215; 17
experiência de calamidades e sofrimentos, as tbid., 382-413; 14 F. Valli, // sangue di Cri > lo
guerras e os próprios holocaustos de tantos ncíTopctti dl Santa Caierina da Sieua, in Studi
seres inocentes, levaram a compreender cíiterittiuni, IX, Siena 19S2; '' Catalina de Siena,
melhor essa expressão, dando-lhe. além disso, //
Libro, (Dialogo delia Divina Prowidenza), Alba (CN)
caráter de experiência coletiva, aplicada à 1975.S7s.;:'7.W.. 1S1 SlhIII, q. 19,a. l.ad Comp.
própria realidade da vida e não só a uma fase Theol, 239-23 STli III, q. 56, a. I, ad 3;24 Ibid. III, □.
da caminhada espiritual...; a essa experiência 52, a. 8c;25 M. Sciarretta, La Croce e la Chiesa nella
João da Cruz deu o nome simbólico e teologia di San Paolo, Roma 1953, 16S,?" L.
Cornei, tntn duzioneai J ti i s tic i renano-
Uamm'mu} i i, Cinisello Bálsamo 1991; 27 B.
Sccondin, La mística dei XX secolo: teorie ed
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esperienze. La presenza di San Giovanni delia Croce, in
Ricerche lèohgiche, 1 (1992), 59-86;28 Giovanni
Paolo II, Maestro en la fe, 14/127 90, n. 14; 29 B.M.
Ahcm, Croce, in NDS, 375.
Brau:C. Andronikof, Dogmaemisiiea nella tradizio-
ne ortodossa, in J.-M. van Cangh (org.) La
mística,

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CULTO - CULTURA sacrifício espiritual de Cristo. É na eucaristia
que se realiza plenamente o c. espiritual 296
Deus, como também o .seu caráter sacerdotal,
quando, através da própria santificação e da oferecido a Deus pelos fiéis, já que nela se
busca contínua da glória de Deus, consagra-se sacramentali/ani os sentimentos de obediência
a si mesmo a Deus, as próprias coisas e o ao Pai que, ã imitação de Cristo, todo cristão
mundo em que vive. Portanto, o cristão vive na deve alimentar em si mesmo.
união invisível com Cristo, cabeça visível do Por esse motivo, S. Marsili afirmará: "No
seu Corpo sacerdotal que é a Igre-ja-Povo de momento em que os homens tomam consciên-
Deus. De fato, " o c . cristão não consiste no cia da própria inserção em Cristo, realizam cru
cumprimento exalo de certas cerimônias, mas si, segundo formas propriamente cultuais
na transformação da própria vida poi" meio tia (adoração, louvor, ação de graças) manifes-
caridade divina". tadas externamente, aquela mesma totalidade
Segundo > Agostinho, a santidade consiste de serviço a Deus que Cristo prestou ao Pai,
na prática das boas obras, pelas quais nos aceitando plenamente a sua vontade, na
unimos a Deus; portanto, no desenvolvimento escuta constante da sua voz e na perene fide-
das virtudes, na adesão a Deus, realizada lidade à sua aliança".10 Assim, podemos afir-
através do sacrifício de nós mesmos, o qual mar que a mística cristã é a expressão doe. a
reveste-se de aspecto fundamentalmente Deus Pai, em Jesus Cristo, pelo Espírito San-
cultual, pois nasce da consagração inicial to, "em espírito e verdade", realizado em e
através da qual nos oferecemos a Deus.^ E. ato através da própria vida, todos os dias.
de c. (cf. Rm 12,1), ou, melhor dizendo,
sacrifício (cf, Rm 15.16; lPd 2,5), até mesmo — NOTAS: 1Cf. J. Chatillon,Devotio, UíDSAM III, 702-
716; * Ci. X. Basuorko, l-.l culto *• *Í la época dei
> liturgia sacrificai (et. Fl 2,17).16 O sacrifício Nnevo Testamento, in Aa.Vv.. ÍM celehración en la
dos cristãos consiste, pois, numa real (ainda Iglesia, I, Salamanca 1985. 53; 1 Cf. D. Bach,
que interior) união com Cristo, até formar com s.v., in Aa.Vv., Dicionário Enciclopédico de la
ele um só corpo.1' Bíblia, Barcelona 1993, 390; 4 Cl". A. Berram
mi. s.v., in Dicionário de liturgia, Paulus, São
O NT usa termos cultuais para indicar a Paulo. 1992; e * Cf. D Bach, a.c, 390-392: * Cf.
comunidade cristã e a vida de caridade, tanto Ibid., 391; s Ihid.. 390; ,J Cf. A. Bergamini. a.c,
dos fiéis quanto tios apóstolos. Paulo identifica 333ss.; 10 Ibid., 11 Ibid.; 12 Cf. S. Marsili, A liturgia,
o c. cristão com a vida cristã: "Eu vos exorto, momento histórico da salvação, t/m Aa.Vv.
Atianmese J, Paulus, São faulo; : ' Cl, Ibid.. 123;
pois, irmãos, pela misericórdia de 1J A. Vanhoye, Cultoanticoe culto nuovo mdV
Deus, que vos ofereçais em vossos corpos, como Epistola aeji librei, in H L S (1978), 661; '"' Cf. S.
hóstia viva, santa, agradável a Deus. Este é o Agostinho, De Civitate Dei, 1 D, 6: PI. 4], 2S3ss; u'
vosso c. espiritual" (Rm 12,1). O único sacrifício Cf. S. Marsili, a.c, 123; " Cf. Ibid., 124; í8 Cf. A
agradável a Deus é a oferta da vida no Espírito Ber-gaminU.c, 333ss.;19 Cf. S. Marsili. o.c, 124;20
Cf. Id., Culto, i n D T I l , 65Iss.
Santo (cf, Rm 15,15-16). !S
Se a vida mística do cristão consiste na BIBL.: Aa.Vv.. Anamnese I , Paulus, São Paulo;
experiência da "unidade-comunhão-presen-ça", G. Barbaglio. s.v, in NDT, 285-298; A. Carideo,
// culto nuovo di cristo e dei Cristiani come azione
isto é, da intimidade inefável com Deus, unida sacerdotale. Linee di riflessione dal Nuovo Testamen-
à prática da caridade, podemos afirmar que to, in RL 3 (1982), 31 1-336; L. Ccrfaux, li
esse seria o modo excelente de oferecer a Deus Cristiano nella teologia paotina, Roma 1969; Y.
o c. em espírito e verdade, isto é, o c. verdadeiro; Congar, Ilmis-tero dei fó/npío, Turim \ 963; O.
mas, no cristão sobressai não só a sua Cullmann, La feyel culto en la Iglesia primitiva.
individualidade de filho de Deus, mas também Madri 1971; E.J. De Smedt, // sacerdozio dei fedeli,
in G. Baraúna (org.), /*; Chiesa dei Vaticano I I ,
a sua pertença ao corpo de Cristo que é a
Florença 1965, 45 \-464; L. Maldonado,
Igreja. Tanto o aspecto cultual como oeclesial, Secolarizzazione delia liturgia, Roma 1972; S.
que são conaturais à santidade cristã, não Marsili. s.v., in DTl I, 651 -666; í. Ruiz Saiva-dor,
ficam em estado latente, intencional, de Caminos deiEsvíritu, Madri 1978; C. Vagaggini, tt
realidade interior, mas desembocam ine- senso teológico delia liturgia, Roma 1965.
vitavelmente na liturgia,19 concretamente na
celebração da —* eucaristia. h\ \ L Amenos
Km virtude da santidade objetiva (sacra-
mental) e da conseqüente santidade moral da
sua vida, o cristão é "sacrifício espiritual" a
Deus, por meio de Cristo e à semelhança de
Cristo, já que o sacrifício de Cristo foi único c
espiritual, e a eucaristia é o sacramento do
CULTURA
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I. O termo, O termo c. 6 tomado, geral-
mente, em duas acepções. 3 A primeira (acep-
ção humanista-iluminista) faz referência à

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CULTURA 3UU
escritos citaram inúmeras vezes os Padres do intérprete ao místico e à sua experiência.
gregos e latinos, os doutores da escolástica, os É preciso haver correspondência ou
fundadores de Ordens monásticas como —> "consonância hermenêutica', assim descrita
são Bento, são Bei nardo de Claraval, —» são por E. Betti: "Abertura mental que permita ao
Francisco de Assis. O tronco da tradição era o intérprete posicionar-se na perspectiva correta,
mesmo, para eles e para a parle da cristandade que favoreça descobertas e a compreensão.
ocidental que permanecera fiel ao papado. Por Trata-se de atitude ao mesmo tempo ética e
esse motivo, a experiência espiritual tios reflexiva, que sob o aspecto negativo pode
protestantes e dos anglicanos cio séc. XVI e caracterizar-se como humildade e abnegação
dos séculos seguintes conserva numerosos de si, como despojamento honesto e decidido
elementos católicos, que nunca procurou
dos próprios preconceitos e hábitos mentais que
renegar. Não é a experiência de outra Igreja,
impediriam a compreensão imprevista; sob o
mas da mesma igreja cristã do Ocidente, cuja
aspecto positivo, caracteriza-se como
unidade foi fracionada".7 O diálogo c a
amplitude de horizontes, o que geraria a
colaboração recíproca entre as dileientes
espiritualidades ocorrem, de per si, no diálogo disposição inata e fraterna pelo objeto de
e na relação de influência mútua entre as interpretação"." "A interpretação - continua
culturas. As espiritualidades, portanto, não só Betti - deve esforçar-se pondo a própria
iteram c, mas se revelam lambem fator de atualidade existencial na mais íntima adesão e
relação entre as c. Unidade profunda e harmonia com a mensagem que provem do
substancial atravessa, de fato, as espi- objelo, de modo que urna e outra vibrem
ritualidades e a experiência mística. Por mais harmonicamente, em uníssono.... Aí. de fato, o
diferenças que possam aparentar, 6 evidente ilado da individualidade, tal como se verifica
que alimentam as diversas c. com os mesmos na personalidade histórica, deve vibrar também
vai ores eva n g é I i c os. na personalidade de quem é chamado a
reconhecê-la, a fim de que o reconhecimento
VI. Princípios hermenêuticos. O trabalho seja possível. Se é verdade que a personalidade
que hoje se nos exige é identificar os ins- se manifesta como a unidade através do modo e
trumentos hermenêuticos capazes de captar, na do grau como certos conteúdos representativos
linguagem cultural e para alem dela. os se unifuam na consciência, então a afinidade
conteúdos da experiência mística, de apro- inata com esse modo e grau da síntese é uma
priar-se deles e reexpi essá-los numa vivência das condições que permitem ao historiador
que será necessariamente a da propila cultu- recriar, a partir de dentro, aquela
ra.8 O primeiro passo é, antes de tudo. identi- personalidade". 10 O intérprete deve, pois, ser
ficar e avaliar crítica e historicamente as lon- capaz de reviver a mesma experiência do
tes, mediante trabalho do tipo heurístico c
místico, de refazer, a partir de dentro, a sua
exegétieo. Passa-se, em seguida, ao trabalho
experiência do Espirito. Só entrando nessa
hermenêutico propriamente dito, que permite
mesma dinâmica é que se p< >de conseguir
distinguir, globalmente, os conteúdos da ex-
conhecer cm profundidade a sua alma e o dom
periência carismática do místico, tal como eles
lhe foram comunicados pelo Espírito, dos que o Espírito lhe concedeu, para expressá-lo
traços espirituais ligados à sua personalidade em outra c. e em outro contexto.
psicológica e afetiva e à sua c. Outro cânon hermenêutico é o da "atuali-
dade do entendimento", como ainda se expressa
Para dar início a esse trabalho 0 preciso
Belli, ou da pré-compreensão, como diria
aplicar o método histórieo-eritico, dirigindo-o a
Gadamer. 11 O diálogo hermenêutico entre a
âmbitos precisos de pesquisa: a reconstrução
pessoa que interpreta e o místico é sempre
da personalidade do místico e do seu ambiente
diálogo contextualizado, que se instaura a
familiar, social, eclesial, cultural (estudos, partir de âmbito histórico-cultural preciso. E a
diretores espirituais, amizades, leituras, partir do hoje, dessa situação cultural, que se
experiências pessoais...). O místico tem entra em diálogo com a experiência mística do
determinada personalidade, que precisa sei* passado. Isso exige o enraizamento pleno na
captada e respeitada em sua individualidade, caminhada da Igreja de hoje. Como o retorno ao
reconhecendo-sc suas marcas, que estão passado se dá sempre em função da adequação
ligadas à nacionalidade, àc.,à educação. ao presente, não pode haver hermenêutica que
Ao lado do método histórico-crítico, a não parta do hoje da Igreja. A ação do Espírito
metodologia da interpretação indica-nos como não cessou com os místicos do passado; ela
necessário momento hermenêutico a adaptação continua ainda hoje a vivificar a Igreja, a guiá-
la paia a \ erdade inteira. E, pois, indispensá
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DAMASCENO JOÃO (santo) - DAVJDK O LOURENÇO 384
crista, imita a bondade divina dc Cristo, o qual 138-165; M. O'Rnurke, Christ the Eikon in
se encarnou para educai-nos à obediência e à John o f Dama seus. in The Creek Orthodox
humildade (cf. Dialéctica 3), ao seguimento que Thvoîogical Review; 15(1970), 175-186; D.H.
Sahas,7o/i« ofDamascus on Islam, Leiden 1972;
leva o homem a ser chamado de Deus (cl. I n fie J.M. Sauget, s.v., in BS VI,
um 1), na plena liberdade que o faz abraçai' a 732-740: A. Siclari, G i o v an n i di Damasco: hi
vontade do Pai até à kenosis, na oração que é f u n - zione delia "dialettica", Penig ia 1978; G. Si
participação na glória de Deus. ma. U s fondaments doctrinaux de la veneration
Dentre os santos, a —> Virgem Maria - vir- de saintes ícones selon S. Jean, in Ortodoxia, 41
gem em espírito, na alma e no corpo (cf. In (1989,), 1 17-140: M. Spinelli, Giovanni
Damasceno; Omelie cristolugiche e martaue,
nativitatem 5) - está acima dc todos. D., ecoando Roma 1980, B. Studer, v.u, in DSAM VIII, 454-
os — > salmos, atribui-lhe amahilíssimos 466; I... Sweeney, John Damascene and the Divine
nomes: monte do Senhor, a resplandecente, In f i n i t y , in The Scholasticism, 35 (1961), 162-
aquela que ultrapassa e supera todas as coli- 170; Id.,39; John Damascene's infinite Sea o f
nas e montanhas pela sua santidade..., é Essence, in texte und Untersuchungen, 81 (1962),
monte de Deus, mais sagrado do que o Sinai, 248-263.
coberta pelo raio luminoso do Santíssimo Es-
pírito..., cidade do Deus vivo, cortada por /.. Dot trino
mansos riachos, toda bela, toda période Deus
(cl. I t t nativitatem 6,9). É ela que inicia o ca-
minho, até mesmo para nós (cf. I n dormido-
nem 11,3), e sintetiza esse caminho de ascese e
de contemplação, encontrando "prazer no ->
jejum, na continência e nos cantos dos salmos;
alegra-se também com a castidade, com a DAVÍDICO LOURENÇO
virgindade e a sabedoria: com elas vive eter-
namente, em paz, abi açaudo-as amavelmente" I. Vida e obras. Castelli no Paolo Lourenço
{ I n ílormitionetn 11,19). Não é um vaso passivo, De David, chamado Davidico, nasceu em 1513
pois participa com (< >do « > seu ser tia i »hra em Castelnovetto (daí o nome de Caste-llino),
de Deus: participa do privilégio dc Cristo, que aldeia da província de Pavia, diocese de
é a vida, e tem em si a força curativa. É ela Verceilas. Filho de De Davi e de Joana, en-
que representa, depois de Cristo, a máxima caminhou-se para os estudos eclesiásticos,
expressão do Tabor. Assim, ascese e mística se formando-se em teologia e em utroque ittre e
fundem. tornando-se sacerdote. Em 1536, ingressa na
Ordem dos barnahilas. Krnbora losse estimado
Now:1 PG 94, 455-458. Cf. G. Gharib, Le icone ma- por Zacarias (t 1 539) e se revelasse zeloso e
riane, Roma 1987, 166; Id., Apparizione delia Ma-
empreendedor, toi demitido dos barnabi-tas
donna a S, Giovanni Damasceno, in Madre di Dio,
8-9(1992), 3-15; em 1547, porque considerado incorrigível, cm
sua conduta gravemente defeituosa. Ele, dc
BIBL.: G. Bentivegna, L'effusion de l'Esprit Saint falo, foi marcado por uma personalidade
chez les Pères grecs, in NRTIi 113(1991), 690-707; desarmoniosa e ambígua. De um lado,
B. Bor-ghini, Canti delia risurrezione, Roma apresenta-se, segundo comentários dos con-
1974; A. Caccflo A. Candelari, Omette stdla
beata Vergine, Roma 1973; C. Chevalier, La temporâneos, como "homem de Deus, espiritual,
mariologie de S. Jean Damascène, Paris 1936; V. padre c predador cristianíssimo", 1 de tal modo
Fazzo, Giovanni Damasceno. Difesa délie immayjni que recebeu, de Júlio III (t 1555) o título de
sacre, Roma 1983; R. de Feraudy, L'icône de le praedicator apostolicus (1550) e se tornou
Transfiguration, Abbaye de Bellcioniaine 1978; comissário da Inquisição junto ao Santo
C. G h en n: fiescu, La doctrine de l'union Ofício. Por outro lado, atrai para si as mais
hvpostatique étiez S. Jean Damascène, in
Onhodoxia, 23 (1971)4, 181-193; M. Gordillo, infamantes acusações de mentira, má
s.u, in EC VI, 547-552; J. Grégoire, La relation administração, hirtos, abuseis, violência, até
éternelle de l'Esprit au Fils d'après les écrits de Jean mesmo sodomia, blasfêmia, simonia, supers-
de Damas, in Revue d'Histoire Ecclésiastique 64 tição. São evidentes, nele, desmesurada am-
(1969), 718-755; \V. Heller, s.u, in WMy, 270- bição e tenaz vontade de aparecer, que se al-
271; M. Jugie, s.v., in DTC VIII, 603-751; H. ternam com o rigorismo ascético e impulsos
Leclere, s.u, in DACL VU, 2186-2.90; J.
místicos. Seu temperamento é ambivalente,
Nasralbh, S. Jean de Damas, son époque, sa vie,
son oeuvre. Haussa 1950; Th. Niko-laou, Die segundo antigos confrades* e como ele próprio
Ik<>ncnvcrchrun^ als Keispiele ostkircidi-cher reconheceu: "Se me agito fora, a vanglória me
Théologie nndi'romnuekeii v.ac'n Johannes von arma ciladas por toda parte; se me retiro, a
Damaskus, in OstkirchlicheStudien, 25 í 1976). indolência me consome". 1 Ambivalência que se
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reflete no plano i ísico, alternando situações
de atividade febril com —> depressão e até
colapsos.
Tendo deixado os barnabitas, a cuja porta
voltam a ha ler várias vezes, começa para D.

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DAMASCENO JOÃO (santo) - DAVJDK O LOURENÇO
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DELHREL MADELEINE 308

preocupada, mas na realidade sua inteligência II. Experiência mística. A chave para en-
se debale em torno dos conceitos de "morte" e tender, na medida do possível, o segredo da
de "absurdo". Nesse período encontra alguns espiritualidade de V/. é a expressão que ela usa
cristãos - militantes e coerentes - que a para indicai a união profunda entre oração e
deixam em crise. Lê —> santo Inácio de Loyola ação: "T action vraiment amoureuse",
e se junta aos escoteiros de sua paróquia. A mergulho de amor divino em cada ação. "Todo
revelação de Deus è, para ela, verdadeiro ato dócil nos leva a receber Deus plenamente, e
"deslumbramento". Gradativamente vai ficando dar Deus plenamente, com grande —>
clara a sua vocação: viver as exigências do liberdade de espírito... Toda ação, por menor
evangelho no -» mundo, numa vida semelhante que seja, é evento importante, no qual
à de todos os outros homens. Algumas amigas recebemos c oferecemos o paraíso... Não im-
unem-se a ela. nascendo pequena comunidade porta o que devemos fazer: passar uma vas-
leiga. Em 1933, elas se transferem para Ivry- soura no chão o L I redigir um texto; falar ou
sur-Seine, vilarejo pobre e descristianizado, calar; costurar uma roupa ou fazer uma con-
importante centro de comunismo de alto nível. ferência; cuidar de um doente ou balei* à
De 1933 a 1946, Aí. engaja-se no serviço social. máquina. Tudo isso não passa de fachada da
Sua casa é aberta a todos. Em setembro de realidade esplêndida: o encontro da alma com
1939, junto com as companheiras, é Deus-..'' ( N A 23).
convocada para a guerra, entregando-se aos O —> silêncio, um silêncio especial, é ca-
serviços sociais. Em 1941, o card. Suhard racterístico do-» itinerário contemplativo de AL;
funda, com a Comissão episcopal francesa, o "Os mosteiros são > lugares de louvor, e locais
seminário da Missão e Aí. é convidada a falar de silêncio, necessário para o louvor. Pelas ruas,
da Mia experiência de Ivrv. em meio à multidão, nós fixamos a.s nossas
Por volta de 1944, .V/. tem uma espécie de almas como grutas de silêncio em que a —>
segunda —* conversão: ficam claras paia ela as Palavra de Deus pode deter-se e repercutir"
relações de —» caridade fraterna entre crentes (/bui. 63-67). Várias vezes M . lala da aluía
e não-erentes, entre marxistas e cristãos, e, de aberta, totalmente aberta, cru disponibilidade,
certa fornia, se ahsolutizam seu empenho no para acolher a Palavra, "o —> Verbo de Deus
anúncio cristão e seu compromisso feito vida humana". "Não se oferece o dnni de
missionário. Aprofunda-se também o seu ca- Deus a não ser pelas mãos da té; nenhum
minho singular de > contemplação de Deus dom de Deus recebe-se senão na vertiginosa
permanecendo nas estradas do mundo. F. profundidade da —> esperança... O Evangelho,
convidada a lalar do seu testemunho nos mais para liberar o seu mistério, não exige um
variados grupos. A.s anotações, minuciosa- cenário nem uma erudição técnica. Exige uma
mente preparadas, das suas intervenções alma prostrada na --♦ adoração e uni coração
constituirão, junto com centenas de cartas, despojado de qualquer confiança no homem"
preciosa documentação sobre o desenvolvimento (//;/(/. 72-80).
do seu pensamento e, sobretudo, da sua Al, corno toda contemplativa, conhece a
caminhada espiritual. oraçào-alegria, mas também a oração-esfor-ço.
Em abril de 1 938 aparece na revista "Re/ar é um trabalho imenso, difícil, que
Etudes Cannclitaines um breve artigo intitulado envolve todo o nosso ser. Estar completamente
Nous autres gens des rues, onde está claramente presente em Deus, ser totalmente receptivos a
presente o núcleo fundamental da espiri- ele, não é algo propriamente repou-sante" (CSE
tualidade de Aí.: a síntese entre —» oração e 156). Aí. fala, com freqüência, da • > cruz, mas
ação. uma ação "plena de amor". adverte contra a --> ascética pela ascética,
Em 1957 vem ã luz um livro que reflete o contra o exercício para sentir-nos fortes; a vida
amadurecimento do seu pensamento em re- com Deus se parece mais com uma "dança",
lação ao marxismo, á missão dos cristãos e à em —> abandono ao seu ritmo { c l NA 81-83).
—» Igreja: Ville marxiste terre de mission (= VM). Falando de .sua conversão. Aí. costumava
Tendo acesso ao copioso material encontrado dizer que ficara "'deslumbrada" com Deus:
depois da sua morte, ocorrida a 13 de outubro termo esse que exprime com precisão toda a
de 1964, os amigos publicam Nous autres, gens sua vida de contemplativa no inundo e para o
des rues (= NA) (1966); La joie de croire (= JC) mundo. Tal contemplação, enraizada na
(1968); Communauté selon l'Évangile ( - CSE) Palavra de Deus, leva à —»imitação de Jesus,
(1973); Ale ide, guide simple pour s i m p l e s exigida lodo dia. em todas as estações do ano;
c h r é t i e n s {= ALC) (1980); Indivisible Amour (= ela nos recorda o que é essencial: o absoluto
IA) (1991). do amor de Deus. o absoluto do amor ao pró
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[3KRRKLIÇÀO DI -:SAPF.GO 31
2

II, Na vida espiritual. Esse estado de d. é


transitório e experimentado em vista da —> II. Alguns pontos seguros. E preciso par-
contemplação, na qual Deus introduz cada tir de alguns pontos seguros para entender a
vez mais profundamente a pessoa para reali - dimensão e o conteúdo do d., a fim de evitar
zar a união de amor. —> Teresa de Avila^ erros opostos, o que é sempre possível
descreve a d. como um suplício, urna acontecer.
tempestade que se abate sobre a alma; esta a. Antes de tudo, a bondade
se sente castigada por" Deus pelos próprios substancial da criação, que permanece
pecados, incapaz de percebei* a verdade, mesmo depois do -> pecado. "E Deus viu
convicta de ter sido rejeitada por Deus. tudo quanto havia feito e achou que estava
Somente a misericórdia divina pode libertá- tudo muito bom" (Gn 1,31 ). Levar a sério a
la dessa angústia. Então, a pessoa conhece criação. O mundo criado é bom em todos os
"com evidencia a própria grande miséria e o seus aspectos, escapando, assim, de
pouco que nós podemos fazer quando Deus qualquer avaliação arbitrária humana; ou
nos abandona". melhor, esse conceito é o fundamento e o
O estado dei, escolhido ou aceito à imi- critério de todas as avaliações, bem como de
tação do de Cristo sobre a cruz, assume, todas as realizações. Todo o mundo criado,
justamente enquanto criação, é conjunto que
além do valor de purilicação cios aletos
forma um todo, ir frente do qual está o
efêmeros, valor redentor para a própria
homem, encarregado de reconduzi-lo a Deus.
pessoa e para a Igreja.
"Porque toda criatura de Deus t* boa e nada
há reprovável, quando se usa com ação de
NOTAS: 1Cf. João da Cruz, Subida do Monte
Carmelo 1.\ 1 , \ 2 ; 2 Chama viva de amor, 1,20; 3 graça. Porque se torna santificado pela
Relação I, 11; Castelo interior, VI, 8-10. palavra de Deus e pela oração" (Tl*m 4,4-5).
b. A realidade do —> pecado:
BIBL.: II. Martins, s.v., DSAM III, 504-517; cf. "Constituído por Deus em estado de justiça ,
também os verbetes: Abandono e Purificação. o homem, contudo, instigado pelo maligno,
desde o início da história abusou da própria
G. G. Peseníi liberdade. Levantou-se contra Deus
desejando utin&ir seu fim lora dele...
Recusando-se muitas vezes a reconhecer
Deus como seu princípio, o homem destruiu
a devida ordem em relação ao fim último e,
ao mesmo (empo. toda a sua harmonia
consigo mesmo, com os outros homens e as
DESAPEGO coisas criadas" (GS 13) O quadro das
relações íntimas entre o homem e o cosmo é
I. D e f i n i ç ã o É a atitude interior de espí- tragicamente perturbado pela reali dade do
rito livre de qualquer ligação enganosa e pecado. É perturbada a orientação do
egoísta com pessoas e coisas. Embora em homem para as coisas, justamente porque
sentido mais amplo o d. possa coincidir - e foi abalada a relação, a finalização do
de fato coincide - com outros termos, como homem para Deus.
—> mortificação, -> renúncia. - > c. O fato da -» Encarnação: "E o Verbo se
despojamento, -> abnegação etc, não deve ser fez carne e armou tenda entre nós" (Jo 1,14).
confundido nem corn a insensibilidade e a A partir do linimento que Deus, em —>
dureza, nem com a indiferença egoísta em Jesus
relação a tudo e a todos, ou com o desprezo Cristo, optou por assumir toda a aventura
das coisas criadas, ou com a la Isa humana, para lazer dele o lugar da salvação,
tranqüilidade de quem curte beatamente a a realidade mundana tornou-se a via através
própria paz e o próprio bem-estar. Seu da qual ele nos visita, fala-nos e salva-nos. É
significado específico é precisamente este; > a lógica da Encarnação. Essa escolha de
liberdade interior em lace das pessoas e das Deus impõe que se reconsidere toda a
coisas. Mas o que significa e comporta essa realidade mundana, com os seus valores, as
liberdade, e quais atitudes e suas contradições, as suas esperanças...,
comportamentos o cristão deve assumir? como realidade já salva.

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d. Novos céus e nova terra: salvos, na —>
esperança {cf. Rui 8,24). Incorporado a
Cristo, morto e ressuscitado em Cristo, leito
templo do > Espírito Santo, o homem é ser jã
salvo. Ao mesmo tempo, caminha para
realizar plenamente a própria salvação, que
se manifestará por complet*) na efetivação
dos novos céus e da nova terra. O cristão
participa da —> eternidade, mas a sua vida
se desenrola no tempo. E essa tensão
dialético-existencial entre o eterno e o
temporário é o tempo do

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DESPOJAMENTO - líUSSIX Ul ARtZAÇAO- 32
RKSSACRAI.tZAÇÂO Ü
B JBL .: Aa.VV, s.w, in PS A M IN, 455-MÏ2; B. onde não só é continuada ÍL reciprocidade
Marche iti-Salvatori. s.v, in DES 111. 2404- entre as áreas do sagrado c do religioso - de
2406; A. Ocpke, Gumnôs, in GLNTl, 773ss.; modo que lodo discurso filosófico a respeito
Id., Duo, in GLNTU, 318ss.
do sagrado só pode ocorrer como herme -
J . Strus nêutica (ou discurso indireto) da experiência
religiosa - mas também a conexão, no âmbi-
to religioso, das inslãricías cósmica e ética
(as duas figuras do "sentido ): mas, notando
que só o primado da ética permite a
imposição do "sentido" como alteridade. E
evidente que esse despertar suscita várias
DESSECULARIZAÇÃO - perplexidades, dados os equívocos que o
RESSACRAUZAÇÃO atravessam, corno Terrin acertadamente
escreve: "Esse revival, longe de suscitar
I. Status quaestionis. Ern pleno terceiro entusiasmos ou, ainda pior, sentimentos de
milênio, no contexto sociocuhural e religio- revanche, deve estimular uma análise
avalíatória que capte o verdadeiro al cance da
so dito —» "pós-moderno", as sociedades
nova situação que somos chamados a viver".
tecnologicamente avançadas ocidentais regis
Mas isso não desmerece o que afirma o card.
iram cada dia mais uma significativa inver -
Danneels sobre as últimas tendências do
são de tendência, se comparadas com as de -
homem pós-secularista: "A Igreja se
mandas da chamada "modernidade", que, preparou para confrontar-se com um homem
segundo as previsões, construiriam oregnum perfeitamente seculari/ado, ateu, completa -
hominis, especialmente através das ideolo - mente mergulhado nas preocupações mate -
gias do liberalismo capitalista e, depois, do riais. Mas o que ela encontra em 1990? Um
marxismo coletivista: ambas englobadas sob homem inquieto, à busca do sentido religio-
a categoria da -> "secularização". Parece, ao so, já não mais tão encantado com os resul-
contrário, cada dia mais evidente que esse tados da ciência c da técnica. Por toda parte
mito eslá naulragando na pseudo-itiet>logi ;i ouvimos o pedido: dêem-me algo diferente do
transversal do pior—> "secularismo": marca- que sai dt> computador". Esclarecedora é
do não só pelo consumismo, mas também também a releitura, hoje, do que escrevia, há
por forte caráter niilista. De modo que, não vinte anos, em pleno triunfo da
por acaso, se fala de "fim da modernidade", secularização, II. Cox, protagonista da
embora seja muito incerto, por ora, o leoiogia correspondente. Já então cie se
advento cif) "pós-moderno" e quais mostrava perplexo em relação à
características so-cioculturais e religiosas interpretação radical (em leoria) da
assumirá. experiênciabonhoellcriana mística (e dra -
mática). Admitia, por isso, que a sua busca
II. No entanto, hoje é significativo o de "uma interpretação não-religiosa do cris-
despertar de crescente interesse pelas for- tianismo, inspirada em -> D. Bonhoeffer, es-
mas espirituais "alternativas", contrapostas tava condenada ao fracasso. (...) Porque uma
ás "tradicionais", representadas pelas gran - teologia que aí fixa o seu interesse está mise-
des religiões e Igrejas. Despertar que decidi - ravelmente falida. Não terá olhos para ver a
damente desmente as previsões pessimistas maioria dos fenómenos que são hoje signifi -
dos que já consideravam irreversível o fim do cativos no plano religioso, e, conseqüente-
sagrado e da religião, por obra cio processo mente, não saberá captá-los nem avaliá-los".
seculai ista. Tese essa que, no âmbito Ern resumo, os anos noventa marcam uma
socioló- confusa mas insistente necessidade de —>
gico, se tornou famosa a partir do best-seller espiritualidade, que, junto com a saudade
de S. S. Acquaviva, L'eclissi dei sacro ne lia das dimensões sacro-mítico-simbólicas,
civilta industria le (Milão, 1975), redimensio- torna-se elemento importante sobre o qual a
nada depois pelo mesmo autor no livro escri - Igreja deverá refletir ao elaborar o que hoje
to com R. Stella, Fine di un'ideologia: la está sendo chamado de "estratégia da nova ->
sccolatizzazione (Roma, 1989). Ma filosofia evangelização". Claro, não faltam riscos, se é
da verdade (como afirma Wilson) que o
religião, por sua vez, é notável o estudo de A. despertar do sagrado é, hoje, a última
Rizzi. // senso e il sacro» Leumann (TO), 1995, manifestação do processo secularizante, e

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que o caráter individualista-fragmentário dos
novos movimentos espirituais confirmaria o
seu cunho "residual", em comparação com o
religioso autêntico; enquanLo isso,
Eerrarotti identifica no retorno do sagrado as
características do surgimento de religiosidade
difusa, mas não institucionalizada, vaga
porque sem dogmas e, na verdade, húmus
ideal para transreligio-

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Dl-VO TIO MODKRNA - DIÁDOCO DK FOTI C Kl A I vândala (486), nasceu a hipótese de que o
santo) bispo de Foticéia morreu na África. D. escreveu
Horasis ("visão de são D., bis324
influência agostiníana, baseada numa --> de-
voção afetiva e na > contemplação da po de Foticéia, no Epiro"), um diálogo com
humanidade de Cristo. Outro nome a recordar Joãí) Batista ocorrido em sonho, que aborda
é o de João Mombaer (t 1501.), que escreveu problemas relativos â —> visão de Deus. bele-
uma obra enciclopédica, o Rosetum za sem forma, no céu. Mas a obra-prima de
esercitiorum spiritualium. I). é o seu Kephalaia praktika ípinscos fkai
A d. acentuava a discrição, a moderação, diakriseos pneuetnaíikcs) Capita coitam de
uma vida regular, baseada em horário racio - perfectione spirituali \et de discretione spiri-
nal que poderia ser seguido por todos. Não tuale), título completado por alguns manus-
apreciava entusiasmos, valorizava os métodos critos, que acrescentam; e o discernimento do
já provados. Por esse motivo, não se in- espírito. Escrito antes do episcopado de D,,
teressava pela mística. Embora não possa ser mostra que a —> espiritualidade está no cen-
considerado precursor do protestantismo, tro do debate eclesial. Uma sua Homilia sobre
nele se pode notar o início de separação entre a Ascensão defende as duas naturezas de —*
- > teologia e espiritualidade, entre —> as- Cristo e apresenta a dedicação como re-
cética e > mística. Nesse sentido, o movimen novação gloriosa do que o —» homem era
■ lo tem abordagem "moderna", comparada desde o início, através da imagem de Deus.
com os esiorços medievais de apresentar toda Uma Catequese transmitida sob o seu nome é
a realidade numa visão e numa síntese atribuída a —> Si meão, o Movo Teólogo, ou a
unitárias. discípulo deste.
NOTA: 1 J. Châtillon, Devotio, in DSAM I I I . 714.
II. Doutrina espiritual. D. discute a > graça
BiBL.: P. Debongnie,
s.w, in DSAM I I I , 727-747; C. em polémica com o messalianismo, seita
Eggcr.s.u, in D/PUI, 456 -40.3; R. Garcia
Villuslada, Rasgos característicos de la "Devotio mística de índole materialista-pragrnática
moderna", in Mamesa, 28(1956). 315-358; A. condenada no Concílio de Éteso dc 431. D.
Hucrca. s.v, in D PS I. 73U-736; E. Persoons. compartilha amplamente o vocabulário do
Recente puimcaties overde Modeme Devotie messalianismo; por exemplo, a insistência
1956-1972, Lcuvcn 1972; G. Picasso,
tJimitazione di Cristo netl evoca delia "Devotio sobre o —> sentimento e sobre o sentido es-
moderna"e rtella sniriuudità delsec. XV in Itália, piritual da alma; mas dele sc alasta, anco -
in Rivista di storia e letteratura religiosa, 4 rando a mística nos —> sacramentos, c não
(1968), 11-32; P. Post, De modeme devotie, apenas na—coração mística. Partindo do fato
Amsterdam 1950. ele que as —> tentações continuam depois do
—* batismo, os messalianos concluem que a
R. M. Valahek
graça coabita com o —> demônio; de lato,
como conseqüência do —> pecado de —> Adão,
em cada alma habita um demônio, que o
batismo não consegue exorcizar, mas só a
oração incessante. Assim como os messalianos
confundem a experiência psicológica cia
DIÁDOCO DE FOTICÉIA (santo) graça com a mística, D. insiste na necessi-
dade do > discernimento espiritual, acon -
I. Vida e obras. D. nasceu no ano 400, selhando a distinção nítida entre as fases
aproximadamente, e morreu por volta de 474 iniciais, inundadas de graça, e as fases avan-
(com certeza, atites de 486). Pouco conhece- çadas, na quais a graça é menos vistosa, mas
mos dele, embora seja um dos maiores mes-tres mais segura.
de espiritualidade do séc. V. Grego, culto e Tiveram influência sobre D. os escritos
bom escritor, é bispo de Foticéia, no antigo antes atribuídos a —> são Macário do Egito
Epiro (hoje, Adonat in Trespontia). Fócio li' mas agora comumente atribuídos a Simeão
895 c.) exalta seu antimonofisismo. Na carta da Mesopotâmia (que atuou entre os anos de
pela qual informa o imperador Leão I (t 461) a 385 e 430'.', autor que muitos acusam de
respeito do linchamento, ocorrido em 457, de messalianismo, mas que outros consideram
são Protério, bispo ortodoxo de Alexandria, próximo dessa corrente apenas por algumas
seu nome aparece entre os signatários, expressões. As Hornilias espirituais pseudo-
podendo até ter sido ele o redator da mesma. maearianas descrevem o coração do homem
A partir do elogio de D. que Vítor de Vita (t como campo de batalha entre Deus e o diabo. A
séc. V) pronuncia na História da perseguição influência de —» Evágrio Pôntico, cujo Tratado

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sobre a oração foi transmitido sob o nome de
são Nilo do Egito, transparece no modo como
D. insiste na índole espiritual da

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DIONÍSIO AREOPAGITA A influência de D. foi muito importante.
Sua Teologia mística torna-se obra fundamen-
mento está na base nào só da idéia da cessa- tal, na qual se inspira toda a mística medie -
ção da atividade noética na união mística, 328
mas lambem da idéia da "redução à unidade"
do espírito humano: como Deus é o uno vai, de -> Boaventura a -> Tomás de Aquino.
absoluto por excelência {também essa é uma Mas sua influência continua ao longo dos
doutrina basilar da teologia do neoplato - séculos: —> João da Cruz se inspirará nele
nismo e de D . ) , quem quer realizar a união quando falar cia noite escura, enquanto que
com ele deve reduzi! as múltiplas faculda des —» Teresa de Avila recuperará dele o tema do
da própria alma a uma unidade perfeita (cf. sofrimento de Deus. Mas a obra que segue
Nomidiv. 1, 4 [1 l2,l2-14]). !A Essa unidade mais de perto a —> teologia negativa
perfeita, realizada pela alma que está a
continua sendo a —> Nuvem do não-
ponto de se unir ao uno, nada mais é que a
conhecimento.
"flor" da alma. 14
A alma que alcançou a união mística com N OTAS : Paia os paralelos neoplalõnicos e
1

o uno não só é ela própria unidade patrióticos cf. S. Lílla i a La Mística 1, 365, nota
semelhante - para D. e o neoplatonismo a 26; 2 Cf. Pioli no, V, 3, 14 I 324,6-7 Hemv-
Scwv/er], Porfírio, In Parm. X, 21-24 liadot,
plena realização do ideal platónico da Proclo, In Parm. VI [vi 5.5.4-5
semelhança com Deus consiste justamente Cousin],Clemenle,Strvni V,71,3[ü. 374,14-
nisso-mas se iden-lilica também com o próprio 15Siahlin], Grcuório cie Nissa, C. Euuoni. 11 |i.
uno, pertence totalmente a ele, peide a 396, 10 -13 Jaeger J. Agostinho, De Trin. 8,2
própria identidade e não vive mais vida [CCSL 270,15 -16]; • Ct. Pann. 142a. 1 -6; 4 "A
respeito do silencie»" que desenvolve um
própria: não existem mais dois "unos" papel preeminente em I o d a a tradição platônica
distintos, mas uma única realidade (cf. TeoL e pai ris ti ca, cf. Nomi div. 1, 3 [ 1 1 1,6] e
Mist. I, 3 [ 144,12-14], Nomi div. IV,3[159,3- Koch. Pseudo - D io ? i v.< ius Areopaeita in seinen
8]).15 Bcziehuugen zuni Neoplatonismus und Mvste-
rianvesen'. Mogúncio 1900, 123-134; J . Krolí.
4. A —> purificação do sensível como con- Die Leher des Hermes Trisme.yj st os [Beitrâge zur
dição preliminar da contemplação das reali- Geschichte der Philosophic des Mittelaltes XII, 3-
dades inteligíveis, a superação do conheci- 4] 335-338, O. Casei, De pluiosophorum
mento destas últimas, pela mente humana, o graecorum silentio mvstico {Religiunsiteschichtlichc
Versuche und Vorareileti XVI, 2], Giessen 1919,
silêncio e a ignorância em que a mente cai
W. Wólker, Kontemplaíion und hlkstãsc bei Ps.-
quando aplica o procedimento negativo até Dionysius Areopagita. Wiesbaden 1958, 146-
suas últimas conseqüências, o abandono de 147; R. Moílhev, in JThS 24 (1973}, 197-202 c
toda atividade noética e, enfim, a obtenção S, Lilla, Helikon. 31-32 (1991 -1992), 31 -3 3. -
da união supra-racional com o uno-bem en- Sobre o texlo dessa passagem
cl. S. Lilla in AS\'PClasse di letlere, serie 111,
contram o seu símbolo escriturístico no epi- 10, 1 (1980). 125-127; Aug 31 (1991), 443-444,
sódio da subida de Moisés ao monte Sinai, cf. Fílon, De post, C 15 fii 4 ,6-*) Cohn-Wendland
que D. descreve e interpreta no terceiro pará - ], Clemente. Strom. V, 71.5 [ii. 374,23]; Basílio,
gralo do primeiro capítulo da Teologia místi- Ep 234,2 (ii. 43,12-13 Coiirtoiiiiel], Gregório
ca, levando em conta Fílon e a tradição de Nissa, De vita Mos. II [86,6-7,15-17
Musurillo], Plotino, VI, 9,4 [312 ,1-31; Porfírio,
patrística anterior.15 Não é necessário fazer, Stmt. 25 [ 15.3-4 Lamber/]. In Pann II, 16 -17,
aqui, análise detalhada dessa seção da Teo- Danmá-seio. De prim, princ. 29.1 [i.84,3
logia mística e fixar-nos nas numerosas Westerink]; 6 Aristóteles, De an. I, 407 b, 17-18.
correspondências que ela apresenta com Ato. B 1000 b 5-6, Plotino, 1.8,1 [121,8],
Porfírio
Fílon, -* Clemente, Orígenes e Gregório de Sent. 25 [15,4-5]. Ad Marc. 19 [287,2 Nauck], In
Nis- Parm. IV, 25-26, Proclo, Teol. plat. I, 3 [15,17-18
sa.16 Limitamo-nos a recordar que a nuvem de S a l t i V N Westerink], Exc. Chald. IV [209.12-16

Ex 20,21 é o -» símbolo da ignorância da des Places]; ' Plotino dedica a este problema
um tratado inteiro, o sexto da euinta
mente humana (cf. TeoL Mt>i. 1,3 [ 144,10- enOada; cf. lb. Proclo, In Parm. Ill [Ov. 33,2], VI
] 2], Ep. I [156,6]); e que a —> luz brilhante [vi. 86,3-4] e Ps.D., TeoL mist. V [149.1-2]; *Enn. V.
que invade essa nuvem é o —> símbolo da 5,6 [348,17-20]; 9De Vita Mos. II [87,1-4]; 10 Cf.
iluminação que na união mística suplanta a Plotino. V, 5,6 [348,19-20], VI. 7,35
ignorância, permitindo uma forma de [277,1*2,279,29-30.43-45]; Porfírio, Sent. 25
[15 ,2], In Parm. II. 17, Proclo, TeoL plat. 1.3 [14,8-
"conhecimento" supra-racional (cf. TeoL 9,16.19-20], I. 25 [111,11-12], Exc. Chald. IV
Mist., Ií [145,1-3], Ep. V [162,1-8]). Essa [209.29]; Damascio. De Prim. Princ 27 [r. 73.8],
iluminação, naturalmente, não deve ser 29' [83,10-11,13];" Passagem que depende de
contundida com a iluminação característica Plotino. VI, 7,35 [258.19-22]; cf. Koch, o.c, 158,
reimp. in Hermes 92 (1964), 219-220 e S. Lilla
do conhecimento puramente intelectual. in La Mística I, 39;12 Cf. Exc. Cliald. IV [2 10, 29]. In
Ale. pr. 247,7-11, Westerink, In Parm. VI [vi. 42,
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6-10], De prim. Princ. 252 [i. 65,5-6]; 13 Cf.
Plotino, V, 5,7 [350,32], VI, 9,11 [326,8-9];
Proclo. Exc. Chald IV [209,11,25-2<>;. 7io!. rial. I,
3 [15.20-2 1.24-26,16.21-24]: Damascio,
Prim. Princ. 27 [73,8], 29' [83,3-6,11 -12,13] e
também Gregório de Nissa, De An. et Res.: PG
46.0 3 b S - 10. c 6-8; 14 Cf. acima, o final do
ponto 2; l5 Cf. Plotino. VI, 9.10[325.15-
18.326,21], VI.9.11 [326,4-6], Gregório de Nissa,
De an. et res.: PG 46*93 c 9-10;,h Cf. a tal
propósito H.Ch. Puech, La Ténèbre mystique chez le
pseudo-Denys I'Areopagite et dans

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IXRKÇÃU ESPIRITUAL 33
2
mo do interlocutor. O fenômeno da escuta plena do projeto salvíiico de Deus, pelas vias
egocêntrica c indicado com a imagem do "ter- do Espirite».
ceiro ouvido", através do qual o pai espiri -
tual ouviria as próprias reações, prestando BIBL.: Aa.Vv., Direzione spirituale e orien lamento
vocazionate, Milão 1996; Aa.Vv., Direzione
atenção meramente superficial e fragmentá - spirituale, Milão 1996; W.A. Barry-WJ. Connolly,
ria à voz do interlocutor. O dirigistno leva o Pratica delia direzione spirituale, Milão 1990;
acompanhador a tomai nas mãos a condução Ch.-A. Bernard. Laiuto spirttuatcpcrsottalc.
do colóquio, negligenciando as exigências, a Rorna 1978; A. Brusco -S. Marinelli,
fniziazione al diahn:o c alia rehiz.iouc dt aiuto, 2
sensibilidade c as disposições cio indivíduo. vols., Verona 1992 e 1994; B. Giordani, //
A atitude dirigista manifesta-se mediante al- coiloquio psicológico rwlla direzione spirituale,
guns tipos de intervenção, como: propor per- Roma 1992; A Gon/.álcz-Alnrdii,
Acompanattdo el crechnientoespiritual. Lima
guntas que dirigem o discurso; expressar o ls<S6;; A. Mercaiali B. Giordani, Li direzione
próprio julgamento sobre o que foi exposto spirituale conte ineontm di aiuto, Btcscia-
pelo interlocutor; propor (ou impor) linhas Knma 1987 2 ; G. RocloVitcz Melgarejo.
de solução partindo da própria mentalidade; Fortnaciôn y direcciôn espiritual, Bogotá 1986;
J.P Schaller, Dirccüon spotneUe et ivtt:ns
desviar uma conversa que o pai espiritual nuniemes. Paris 197*.
sente
como pouco interessante ou capaz de criar li. Giordani
mal-estar e dilícuIdades; tentar consolar ou
animar recorrendo a t rases convencionais pou- B. Aspectos espirituais
co convincentes; contar fatos semelhantes ao
exposto pelo indivíduo. A tendência a julgar L A noção. D. é expressão que se tornou
revela o critério moralista, que divide as pes- comum na Igreja para indicar a ajuda ofere -
soas em duas categorias: as boas e as más. cida por alguém com experiência a um fiel
Procura-se legitimar o julgamento proclaman- que caminha para a plenitude da vida em —
do a vontade de "condenar o pecado, não o »Cristo e no —* Espirito. Não se trata do tra-
pecador", mas e normal que a pessoa sinta balho pastoral voltado paia toda a comuni -
que a condenação c dirigida a ela, piorando dade cristã, mas daquele prestado a um de
ainda mais a imagem negativa que faz de si. seus membros, chamado, junto com os ou-
No nível psicológico, podemos lembrar os tros, a ser perfeito "como o Pai celeste é per-
eleitos benéficos que nascem de uma aceitação feito" (Mi 5,48), embora percorrendo caminho
benévola e de escuta desprovida de de graça e ■> liberdade único, irrepetível,
julgamentos. incomunicável, correspondente àquela rela -
ção de amor pessoal que todo filho da família
de Deus tem com o —> Pai.
V. Como conduzir o encontro. A condu-
ção de um colóqiiH > de ajuda c ao mesmo II. A prática histórica. A história registra
tempo ciência e arte, pois pressupõe tanto o o costume de apelar ao conselho de guias sá-
conhecimento de princípios de psicologia e de bios e práticos, mesmo entre os pagãos ou rias
mcl< idologia das relações interpessoais religiões não-cristãs. A d. caracteriza-se, porém,
quanto disposições particulares c como prática especificamente cristã,
sensibilidades congênitas, embora expressão e fruto da doutrina e da experiên-
aperfeiçoáveis com o exercício. Os princípios cia da comunidade dos que crêem em Cristo.
psicológicos aqui apresentados são tirados da Embora voltada para individuo, a prática da
psicologia hurnanís-tico-existencial;os d. é e deve ser animada pelo espírito da co-
metodológicos inspiram-se na prática da munhão eclesial, seja no plano imediato,
"terapia centrada na pessoa". como apoio cie um irmão a outro irmão, seja
Os momentos que marcam o encontro inspi- no plano histórico, enquanto verdadeiro di -
rado nesse método são: ouvir, responder, res- retor espiritual tira a sua doutrina daquele
ponsabilizar c estimular o empenho patrimônio inestimável de experiência de san-
concreto. tidade criado pelo Espírito ao longo de toda a
Esse discurso, no plano psicológico, abre vida da Igreja.
necessariamente para visão dilcrente, Não se pode falar, em sentido estrito, de
puramente espiritual, e que se insere na fundamentação bíblica dar/.: ela, como
longa tradição eclesial, visando à realização tantas (nitras práticas, nasce e se afirma na
Igreja, onde a semente evangélica cresce,
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desenvolvendo e manifestando todas as suas
virtualidades.
A necessidade de abrir o coração a irmão
(ou irmã) experiente nas vias de Deus, paia
dele receber luz. e consolo, faz-se sentir de
maneira relevante no —> monaquismo antigo
e especil ieamente no egípcio. Os monges
não se consideravam pessoas privilegiadas,
mas simples cristãos que se retiravam do
mundo para encontrar, na solidão, a via
mais segura tia salvação, entendida como
cura tias culcr-midades causadas pelo ■»
pecado e plenitude

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DISCRIÇÃO - 33
DOCILIDAOL. 6

A d. leva a pessoa a ter senso de medida caracteriza-se pela capacidade - conquistada


em tudo: no corpo, para evitar exageros; no após longo tempo de exercício - de deixar-se
pensamento, para não correr o risco de guiar, buscando e acolhendo ensinamen tos
"juízos definitivos"; nas palavras, para não alheios com facilidade habitual: tal pessoa é,
banalizar a palavra ou servir-se dela para te- pois, obediente, compreensiva, pacífica,
rir; nas obras, para não mascarar o próprio mansa, e por isso agradável. O homem dócil é
egoísmo com tachada de honestidade; na fé, como o sábio que procura a sabedoria (cf.
para não investigar arrogantemente os cami- Kclo 0,32-37), como o homem prudente que
nhos de Deus, como que acomodando a ação "com zelo, com Ireqüència c reverencia aplica
aos próprios interesses. o próprio espírito na consideração dos
Até o "despojamento" de Jesus assume a ensinamentos dos mais velhos, sem
toi tua deri. :at£ na fé está na confiança obe- negligenciá-los por preguiça e sem desprezá-
diente de quem se entrega livremente nas los por soberba".1 A d. apresenta-se, pois,
mãos Í le Deus, providenlee bom {cl. Le 12,22- como virtude moral autentica, "disposição
32); ad. nas relações humanas é a capacida - habitual c lirrne paia tazei o bem (CTC
de de saber favorecer o crescimento alheio; 1803). pot que c disponibilidade para se
portanto, de sabei* amar da maneira correta deixar conduzir na busca das "coisas
(cf. lCor 13,1-7). A pessoa discreta conhece o proveitosas" e conformes ao verdadeiro bem.2
valor daquele "silêncio presente" que sabe se
fazer proximidade, respeito, intuição e sin - 1 1 . D, e vida crista. A fé vive-se, funda-
tonia com o coração do outro, compaixão e mentalmente, como obediência ao Deus que
aceitação, perdão e companhia; se queres sc revela (cf. DV 5): há. pois, estreita ligação
entender uma pessoa "não deves ouvir o que entrei, evida cristã. A d. é , de fato, condição
ela diz, e sim o que não diz" (K. Ciibran). necessária para a fé, e a fé é coroamento e
No fundo, ad. é a arte de saber compreen- plenitude para a d. do homem. A d. explicita-
der para podei - amar, e/ou a arte de saber se. antes de tudo, em relação ao —> Hspírilo
amar para poder compreender. Quem e Santo, que transforma o "coração" do homem
discreto sabe prevenir, sabe compreender. e o guia á maneira de Deus, formando ~ >
AoL apresenta-se, assim, como uma forma Cristo nele (cf. (il 4,19), isto é, suscitando
concreta e muito urgente de -> imitação de sentimentos e ações concretas de "caridade, —»
Cristo, "manso e humilde de coração" (Mt alegria, —> paz, longanimidade, afabilidade,
11,29), objetivo para o qual tende o cristão bondade, fidelidade, mansidão, continência"
que quer chegar à perfeição da caridade, isto (Cl 5,22). Diante do Espirito de verdade (cf.
é, ao encontro com o Deus vivo experimenta - Io 16,13-14), a atitude do homem só pode ser
do no dia-a-dia. de -» escuta dócil, abandono, -> conformidade,
" cot ia turalidade" (VS 64), para poder discernir
NOTA: 1 Tomás de Aquino, STÍi, h ; I I I Sent. c, depois, realizar o que é justo e bom
33,2. segundo Deus. Toda a história cristã pode ser
Bini..:K. Assauioli, Aivionia d fila viu:, Roma compreendida como história der/., a partir
1977; A. Cabassut,s.v.. inDSAMIII, 1311-1330; do exemplo e com a graça de Cristo: a história
D. Milella, S.V., in DES 1, 814; A. Storr, da fé começa sempre pelo —* acolhimento
L'integrazione delia personalità, Roma 1 L>69; dócil da -> Palavra de Deus (cf. Jo 1,11-14) e
Tomás de Aquino, STh 11-II. çq. 47-56. se desenrola em clima de autêntica liberdade,
porque só a Verdade de Deus nos torna livres
G. Giuliano (cf. Jo 8,22), livres ao ponto de experimentar
alegria na observância dos mandamentos. A d.
encontra expressão concreta na adesão ao
Magistério ecleslal ici'. CIC
87): este foi posto na Igreja "por mandato
divino e com a garantia da assistência do Es-
DOCILIDADE pirito Santo" (DV 10). a serviço da íé dos cren-
tes, para que a vida deles esteja em conso-
I. O termo. D. expressa o conteúdo do ter- nância com a vontade de Deus. A virtude da d.
encontra em —» Maria de Nazaré concretização
mo latino doei luas, indicando a -> \ irtude
perfeita: "Bis aqui a escrava do Senhor.
de
Aconteça comigo segundo lua palavra" (Lc
quem se submete facilmente, de quem se deixa
1,38). E em Jesus na cruz. O "tudo está
instruir, educar, formar. A pessoa dócil
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consumado" (Jo 19,30) do Senhor crucificado
tornou-se paradigma da adesão perfeita e
doei' ao plano divino de salvação, superação
real da contradição profunda que vê o lio-

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DONS {do Kspirii«> Sumo* matrimônio. O dom do Espírito é alma
também do carisma dom espiritual gratuito
necessário lembrar que o termo carisma (em 340
grego, charisma) significa dom gratuito e está
em relação íntima corn a raiz de que deriva: c (não se traia de tautologia) concedido ao
ha ris = graça. Todavia, no NT carisma pode cren-te para o cumprimento da sua "missão"
designai o conjunto dos d. de graça que pro- de balizado e conlirmado. Tal missão torna-
vêm de Cristo (cl. Rm 5,15ss) e são dados ao se concreta na vocação de cada liei.
liei pelo Espírito para linalidades típicas, e Entre os carismas que arrastam outros
que sempre desemboca na vida eterna (ct. Rm pode-se elencar o da virgindade consagrada e
6,23). Porém, se a terminologia, de um lado, os das diversas formas de viola consagrada;
é sinônima (carisma é dom), por outro é flu- entre os mais vistosos coutam-se os lidados
tuante (nem lodo dom é carisma). Veja-se ao martírio, à —» profecia, à glossolalia, ao
que em Cristo o fiel ê "agraciado" (Ei 1 ,ó:
dom de fazer milagres etc.
charitou) e a ele ê reservado todo tipo de dom
(cf. Rm 8,32: charizo), entre os quais destaca-
II. Na Escritura - Já na Sagrada Escritu-
se em primeiro lugar a caridade (Rm 5,5;
ra se encontram classificações e enumerações
8,15). Diante do lato de que "ioda dádiva boa
de carismas (cf. ICor !2.Ssse28ss; Rm I2,6ss;
e lodo dom perfeito vem do alto, desce do *
El 4,11; lPd 4,1 1). Em geral eles se relacio -
Pai das luzes'' (Tg 1,17), a pessoa humana
nam com a funcionalidade do ministério (cf.
deve abrir-se ao dom (cf. Mc 10,1 5 e par.) e,
Ef 4,12): dos apóstolos, dos profetas, dos dou-
por sua vez, ser capaz de doar-se (cf. Uo 3,16).
tores, dos evangelistas, cios pastores (cf. ICor
De fato, o dom ê recebido para ser
12,28; Ef 4,11). No entanto, são carismas
transmilido (cf. Jo 15; cl". Mt 13,12); na
tam-
memória dos togion de Cristo, há "maior
bém os ligados aos vários tipos de diaconia,
felicidade em dar do que
de serviço, de ensinamento, de exortação, de
em receber" (At 20,35).
obras cie bem, de palavras de sabedoria, de
Para tratar dos d. do Espírito, diferentes
discernimento dos espíritos (cf. ICor 12,Sss).
dos carismas, seria preciso um longo discurso,
A esse propósito, são importantes as análises
que extrapolaria os limites deste verbete.1
dos seguintes textos: Rm 12,3-16; 1 Pd 4,1-
Podemos, porém, estabelecer uma distinçã o
11;
entre dom e carisma, se por carisma enten-
1 Jo 4,1-6. Deles se podem tirar alguns crité-
dermos aqueles d. particulares que o Espírito
rios (cf. ICor 12-14) para comprovar a auten-
distribui aos fiéis de modo que, ao fazerem
ticidade dos carismas (lTs 5,19ss), como: a
experiência deles, põem á disposição de
dimensão cristalógica, relacionada com a
outros os d. que - de certa maneira - se con-
con-
cretizam em ministérios, serviços, operações
fissão de que Jesus é o Senhor (ICor 12,3;
pessoais e eclesiais. Os carismas são d. "ma-
1 Jo 4,1 -6) e vem de Deus (cf. 1 Jo 4,1 ss); a
nifestados" ■■ "epifanizados" -
isso
"concretizados", de forma que, embora
se chega porque se é animado pelo Espírito
permanecendo distintos dos elementos
Santo; ao contrário, o falso profeta é anima-
institucionalizados presentes na "comunidade
do pelo espírito do anticristo (cl. Uo4,3; ICor
eclesial - povo de Deus" (por sua vez, estes
12,3); a dimensãopneumatológicu, ligada aos
também são "impregnados" de Espírito) -,
frutos do Espírito, permite que se comprove
animam grupos de cristãos, fermentam
tanto a autenticidade dos carismas quanto o
gerações e épocas da história da Igreja. Pode-
discernimenl' > tios espíritos (quem age
se convir que existem carismas eclesiais e
segun-
pessoais; ambos evocam -se mutuamente.
do a caridade está em sintonia com o dom do
Paia além das discussões que se desenvol-
Espírito Santo; cf. ICor 1 2.31-14,1); a dimen-
veram no imediato pós-Conolio a respeito da
são eclesial: é a comprovação da autenticida-
antítese "carisma-instituição", hoje se prefere
de dos carismas.
falar de dom do Espírito como alma da
De fato, a ordem de importância tios ca-
instituição ligada aos ministérios institucio-
rismas não é dada pela sua
nais, fruto tio dom, da presença e da ação do
espetaculosidade. mas por sua
Espírito.
funcionalidade para a edificação
Entre os ministérios deve-se elencar, por
da Igreja (cf. ICor 14,2-25), para o bom an-
excelência, o sacramento da ordem, destinado
damento das assembléias {cl. ICor 14,33),
a ensinar, santificar e governar. A ele pode-se,
sob
de certo modo, aproximar o sacramento do
a guia dos apóstolos (cf. ICor 12,28; Ef 4,11),
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III. Nos textos conciliares. Por esse ca-
minho podem ser lidos os textos conciliares
que sublinham que os carismas são a. do Es-
pírito á Igreja (cf. LG 4.7; AG 4,23), adapta-
dos e úteis às várias necessidades da Igreja
(cf. LG 12), e sempre subordinados à ativida-
de dos apóstolos e seus sucessores (cf. LG 7).
De fato, a autoridade eclesiástica julga a
genuinidade dos carismas (cf. LG 12), mas

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E
ECKHART MESTRE dominicana acolhe, mais do que a toniista, o
pensamento neoplatônico: tudo o que existe
I. Vida e obras. £. de Hochheim, dito sim- no espaço e no tempo, tudo o que o homem é
plesmente "Mestre", representa o protótipo e experimenta, existe desde toda a eternida-
do místico. Nasceu por volta de 1260, em de, em toda a sua verdade, em Deus, unido à
Tambach (Alemanha)., perto de Gotha, e sua eterna > sabedoria e vontade. Mas em
mui- Deus-uno não há nenhuma multiplicidade e,
to cedo passou a lazer parte da Ordem domi- por isso, a sua vontade e a sua sabedoria cons-
nicana de Erfurt. Estudou em Colônia e em tituem uma unidade indissolúvel. O homem
Paris. Ao se tornar prior de Erfurt e vigário reencontra, pois, iodo o seu ser e o sentido do
de Turíngia, compõe o Conversas espirituais. seu agir na unidade eterna de Deus. Visto
Ern 1 302 é, por duas vezes, leitor de assim, "a pai tírda eternidade", ele (o
teologia homem) se torna uma coisa só com Deus.
em Paris. Em 1323 vai a Colônia. Em 1326, Esse é ensinamento que atravessa Ioda a
o arcebispo dessa cidade inicia contra ele tradição cristã. E. capta-o, tirando dele
um processo inquisitorial. E. cielende-se com extraordinárias conseqüências,
um escrito de justificação, um texto cie complelando-o com o ensinamento dos —>
gran- Padres da Igreja gregos, e lhe confere o sinal
de importância conservado na Rechtfertig* dislintivo da —> fé cristã: o —» homem é uma
uugsschrigt. Para recorrer diretamente ao coisa só com Deus, mas isso somente por um
Papa, dirige-se a Avinhão. Em 27 de março dom, por uma —> graça, pela vontade criadora
de 1329, aparece a Bulla in agro dominico, de Deus, que é Deus em seu ser mais
que contém 26 teses de £., em parte conside- profundo. Vida e experiência cristã
radas heréticas, em parle perigosas; nesse significam viver e experimentar completa-
meio tempo, ele m< >rrc. mente esse dom divino e, por isso, viver no ser
Mas continua a exercer papel importante, eterno de Deus. O homem, portanto, é "um" com
com suas pregações escritas em alemão e os Deus graças a um dom, não por conquista
tratados, grande parte dos quais publicados pessoal. Por mérito da graça ele é também
com pseudônimo. No início do séc. XIX, com uma coisa só com a mais íntima manifesta-
a redescoberta das pregações alemãs, é con- ção de Deus, com o "nascimento da Palavra do
siderado o representante de um cristianismo Pai", através do qual também a unidade de
germânico, diferente da tradição romana. As Deus não é eliminada, mas acrescida. Nis so
obras em latim, editadas por J. Koch - K. consiste, para £., o cristianismo vivido e
Weiss - H. Fischer (Stuttgart 1936-1978), experimentado: esse é, propriamente, o sig-
compreendem os seguintes títulos: Quaestio- nificado da mística cristã.
nes parisienses, Opus tripartitutn, que deve- É interessante observar que a partir
ria compreender três partes distintas, Collatio dessa abordagem intelectual e dessa
in Libros sentemiaruni. As obras em alemão, experiência seguem, na vida concreta, uma
editadas por J. Quint em 5 volumes atitude bastante ativa c uma valorização do
(Stuttgart 195Sss). estáo recolhidas in Die mundo criado, o qual - sempre por mérito da
Deutschen Werke. graça, não do seu ser - é uma coisa só com
Deus. O segun -do sermão sobre a visita de
II. Doutrina. O que, na "mística intelec- Jesus a Betânia inverte a interpretação do
tual", afirmou "do ponto de vista da—* eter- texto: a operosidade de Marta é que realiza a
nidade" foi interpretado por seus opositores parte melhor, ao passo que Maria permanece a
como "segundo o tempo". O que —» Tauler, meio caminho.
seu discípulo, quer dizer comentando o Mes - E. sublinha a "racionalidade" da mística
tre torna-se claro à luz da h adição cristã; mostra também que as demandas do
escolástica —> panteísmo devem ser integradas em
de -> Alberto Magno, da qual E. foi o repre- sentido teísta, construindo, assim, uma base
sentante mais significativo. Essa tradição para o diálogo inter-rcHuioso com o Oriente.
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B IBL . Obras: E. Bonaiuti, Prediche e trattati,
Bolonha 1 927; G. Faggin, MeisterEckliart: la
nascint eterna, Florença 1953, Vicenza 1996; Id.,
Meister Eckhart: H natale aelVaninia, Vicência
1976; Id., Meister Eckhart: Trattati e prediche,
Milão 1982; A. Hermet, Meister Eckha rt:
Sermoni, Lanei ano 1930; M. Vanniní (org.),
Meister Eckliart: Opere tedesche, Florença 1982;
Id., / sennoni latini, Roma 1989; Id., Antologia,
Florença 1992; Id., Meister Eckhart: la

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I; ÍRI - M , O SÍRIO (santo)
do fronteira, Nisibi está exposta aos ataques II. Doutrina mística. F. não apenas rejeita
dos persas, sobretudo sob o enérgico Shapur lodos os tipos de racionalismo, mas se alas-
II (f 379); cm Poemas de Nisibi, E. relata três ta até do método da teologia filosófica grega,
invasões de Nisibi (338, 346 e 350). De Nisibi que se utiliza de definições. Ele, por sua vez,
teve de fugir quando os romanos, após a gosta do paradoxo c da -> imagem. Mas um
derrota de Juliano, o Apóstata (t 363), aban- poeta vive em comunhão imediata com a
donam a cidade aos persas. Estabelecendo-se realidade, e as poesias de E. mostram alguém
em Edessa, hoje conhecida como Uria, no apaixonado por Deus, que se expressa atra-
sudeste da Turquia, E. torna-se a glória da vés das criaturas, que são seu reflexo. Em
escola chamada "dos persas", para cuja vez de serem arbitrários, os -> símbolos a que
fundação colaborou. A importância que dá ã recorre para explicar a criação e a história da
—> virgindade levou a se pensar que era salvação localizam-se em —> Cristo de um
monge; mas é mais exato dizer que é asceta modo triádico: o símbolo do cordeiro vem do
celibatário, no estilo dos "filhos do pacto" Egito, mas a experiência correspondente
(bnày tiyama). Diácono nos tempos de Nisibi, pode-se encontrar ainda hoje na —> Igreja,
um ano antes de morrer (a 9 de junho de embora o selo dessa realidade espiritual só
373) é ele quem organiza as providencias de se terá no reino dos céus. Assim como a
socorro durante uma carestia. palavra-chave elremiana razâ (mistério)
/:. é exegeta, pregador, teólogo, poeta. Dei- significa símbolo religioso, tipo ve-
xou discursos em que polemiza com Bar- terotestameniário, sacramento, e, no plural,
desane (t 222 c), com Manes ( j 273 c), com —> eucaristia, os hinos de E. revelam-se uma
Marcião (i 250 c.) ( H in o s contra os hereg e s ) , mina de tesouros místicos. Imacem central é
e especialmente com os arianos (Sermões a virgindade, que antecipa o paraíso, o que
sobre a f é ) , além de cartas (são certamente pressupõe longo tirocínio ascético. —> Aora-
autênticas as dirigidas a Públio e a Ipazio). ção de união corn Deus é como urna virgem
Como autor sírio mais fecundo, suas em seu quarto, protegida pelos eunucos do —
obras, que ainda enquanto era vivo loram t i > silêncio e da —> paz interior. Para rezar
adu/adus paia o grego e o armênio, apre- bem não basta o —* jejum de alimento; c
sentam alguns problemas. As edições do séc. preciso também o —> despojamento total e o
XVIII dos sábios maronitas J. S. e S. E. amor ao próximo; nesse sentido, a virgindade
Assemani (6 vols., Roma. 1732-1746), de B. mesma pode ser considerada como jejum e
Mubarak (Benedetti) e outras edições são abstinência da natureza. E, é um dos
incompletas; corn E. Beck lemos uma edição primeiros autores cristãos a formulara idéia
crítica dos escritos sírios autênticos (1955 - espiritual do —> noivado da alma com
1975), mas o trabalho ainda não foi Cristo. Até a idéia de penthos (compunção) é
concluído. Além cios comentários exegéti-cos posta em relevo, por exemplo na necessidade
ao Gênesis e ao Êxodo, aos Atos dos Apóstolos, da —> penitência c das lágrimas. Não podia
à concordância dos quatro evangelhos ou faltar a devoção a —> Maria como Virgem.
Diafcsseron, e um breve comentários às Considerando a eucaristia como
cartas paulinas, conservado só em armênio, prolongamento da —> Encarnação que
temos fragmentos de numerosos outros começa com ela, /;. põe nos lábios de Maria
comentários bíblicos. As obras poéticas di- um dos mais delicados hinos eucarísticos
videm-se em madrase (poemas com estrofe e ( H in o s sobre o nascimento do Senhor, lr\). Se a
responsório, como os Poemas de N is ib i ) e mística traça a caminhada da alma até Deus,
memre (sermões métricos sem estrofes nem é clara a importância de li. para a — >
responsói io). Segundo E. Beck, os escritos espiritualidade em geral, e para a da união
autênticos referentes á espiritualidade são: em particular. É o maior mestre da
1. Hinos sobre a fé; 2. Hinos contra os hereges*, 3. cristandade síria, o mais importante poeta
Poemas nisibenos; 4, Hinos sobre o nascimento entre os —> Padres, cujos hinos são usados
do Senhor; 5. Hinos sobre a virgindade; 6. Hinos até hoje nas várias liturgias sírias; além disso,
sobre a Igreja; 7 . Hinos sobre o Paraíso; 8. influenciou as kontakie ou hinos bizantinos e
Hinos sobre os ázimos; 9. Hinos sobre a o próprio Romano, o Músico (t séc. VI). Sua
crucificação; 10. Hinos sobre o jejum; 11. descrição das realidades escatológicas,
Sermões sobre a fé; 12. Sermão sobre nosso sobretudo do juízo universal, inspirou Dante (t
Senhor; 13. Comentário sobre o Gênesis. À lista 1321), que talvez seja o único poeta-teólogo
de Beck podem-se acrescentar os chamados que possa ser comparado a E. (R. Murray).
Hinos armênios (ou transmitidos em armênio).
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I; ÍRI - M , O SÍRIO (santo) 438
Com a sua mística do lado traspassado de
Cristo (cf. Jo 19,34), E. estabelece
uma ponte com a devoção ocidental do Sa-

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ELIAS KMMHR1CK
- AN A 35
CATARINA 2

Enfim, 0 muito interessante notar que E. é contragosto dela, tornaram ciumentas as co-
figura muito cara aos judeus, aos cristãos e irmãs, que não deixavam de demonstrar sua
aos muçulmanos ainda hoje. Parece que o antipatia. Na capela, às vezes, eia era
aspecto do profeta E. que mais encanta seja o levantada até a altura de uma moldura da
mistério que envolve a sua vida terrena e o porta e descida ilesa.
modo extraordinário como ele conclui sua Aos vinte e quatro anos, estando em ora-
missão profética. ção na igreja de Coesfeld, pediu a graça de
participar dos sofrimentos da coroação de
B IBL . Aa.Vv,, s.v., in NDTB. 45.S-464; Aa.Vv., £7« le espinhos, e loi atendida imediatamente,
prophète, in ÉtCarm 41 (1956); T .I.. Brodic,
Uma queda a tornou inválida pelo resto da
I.uke the Literary huerpreter. Luke-Acís as a
Systematic Re wt ititi}' and Vpdating o f the vida. Isso toi para ela uma tonte de
Elijah-Elishü Sarra tive in I and 2 Kings, Roma sofrimentos muitos estimados, e conseguiu
19S7; L. Bronner, /lie Stones n j h.li\ah and que fossem aumentados, a fim de aliviar ou
lilisha as Polemics against Baal Worship, I.eiden livrar outros doentes. Em 1811 seu convento
19^S^; G. Fuhrer. Elia, Zürieh 1953; R. I.
Gregory, Hh\ah's Siory under Scrutniy; A J. foi supresso pelo governo francês, eela foi
.iterary-entical Analvsis o f ! Kings 17-19. transferida para casa de uma viúva devota, em
Michigan 1983. K. Hearlv, Profeta di fuoco, Dülmcn.
Roma 1993; J. Jeremias, s.v., in GLNT IV, 930- Em 1812, £. recebeu os -> estigmas, que
943; CM. Martini, // Dio vivente. Riflessioni sul foram verilicadi >s por delegados do bispo,
profeta Elia, Casale Montei ralo 1991; M. por simples curiosos e por médicos crentes e
Masson, Elia 1'appello ãl St-lenzio, Bolonha 1993;
li. Menichelli. Huo modif uo -eo. In tiliroeon Elia,
incrédulos. Além da agonia dos estigmas e
Bolonha 1996; R . H . Murphv --C. Peters, s.v.. in dos sofrimentos morais causados pela visão
DSAM IV/1, 564-572; N. Pavon-cellü, // projeta da paixão de Jesus, sofreu por ser acusada
Elia nella liturgia ehtaica, in RivBib 29(1981), de impostura. A sua fraqueza tísica era tal
393-404; H. Pidyano Gunawan,.foHS the \'e\v que por muito tempo não pôde reter nenhum
Elijab accordine, to the Fourth G *spcl. A hygieal alimento, a não ser a hóstia sagrada e ági ia
Consequenee oj John I : 21, Roma 1990; K.
pura.
Pòirot, filie, archetvve du moine, Abbave de
Bellefontaine 1995; F. Spádafora. s.v., in EC Em 181 S, recebeu a visita de Clemente
V/232 2 v3; A. Wiener, Tfie Prophet Elijah in the Brentano, o qual ficou tão impressionado
Developmcnt / JudaL\m. A Depth'Psychological Study, corn seu estado que decidiu ser seu "secretá-
Londres-Boston 1978. rio". Foi ele que registrou suas visões; mas,
para ela, ele foi ocasião de grandes sofrimen -
//. Picharia tos, porque, apesar da exaustão em que ela
M" 1'iKon t f ;i\ a muitas vezes, cie continuava a
pedir que contasse suas visões. £. morreu
entre sofrimentos atrozes em 9 de fevereiro de
1824.
A sua experiência, descrita nos três livros
de sua autoria - A acerba paixão cie nosso
EMMERICK ANA CATARINA Senhor e Salvador Jesus Cristo (1833), Vida da
santa Wfgem Maria (1852) e Vida de nosso
I. Vida e obras. £. nasceu em 8 de setembro Senhor e Salvador Jesus Cristo (3 vol., 1858-
de 1774. em Flamske, diocese ele Münster, 1860) - influenciou a piedade do povo cris-
na Westlália. Seus pais eram camponeses tão, também U >ra da Alemanha,
pobres, mas muito piedosos. Desde pequena especialmente em relação à paixão de Jesus.
teve Irequentes —> visões de nosso Senhor,
da Virgem e dos santos, e conversava com eles II. Experiência mística. Os estudiosos são
com muita familiaridade. Mais tarde demons- célicos a respeito da autenticidade dos —>
trou —> devoção pari icular à Paixão de - fenômenos sobrenaturais de E , embora es-
»Cristo. Via tudo através do sangue de Jesus tejam de acordo a respeito da sinceridade
e, para exemplar de sua vida espiritual, fundada na
assemelhar-se mais ao Salvador liagelado, —> mortificação cno-4 sofrimento, que ela
habituou-se a andar vestida com uma blusa suportou com espírito autenticamente cristão.
vermelha. A sua vida loi sempre marcada por ligação
Em 1802,£. entrou no convento das agosti- original e dolorosa com a sorte das pessoas de
nianas de Agnetenberg. Os dons singulares dos seu tempo. Gostava de dizer: "Nós todos
quais era favorecida e que eram eviden tes, a carregamos também as dores dos outros". Entre
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os dons místicos com os quais loi lavorecida
recordemos o discernimento das relíquias dos
santos, o jejum total e a união com o coração
dos que sofriam.
£. nunca teve a pretensão de atribuir às
suas visões caráter de verdade histórica, mas
elas ajudaram muitas almas a viver as ce

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ENCARNAC10N1SMO
grande mistério da piedade é o fato de que manifestação, mas também a oferta aos
Cristo "se maniiestou na carne" (ITm 3,16). crentes dessa "glória", isto é, dessa vida divi-
Por isso, "nele habita corporalmente toda a na. Em sua oração ao Pai, Jesus afirma: "Eu
plenitude da divindade" (Cl 2,9). Esse fazer- lhes dei a glória que ine deste para que
se homem, por parte do Filho de Deus. essa sejam um, como nós somos um" (Jo 17,22; cf.
sua vinda ao mundo (cf. Jo 3,13.31; 6,62) 2Cor 3,18; Ef 1,18; 3,16; Cl 1,11). Dessa
constitui um verdadeiro e próprio processo de plenitude de glória os crentes recebem "graça
abaixamento e de humilhação, até o ponto sobre graça" (Jo 1,16). O rico e articulado
do aniquilamento da morte: Jesus Cristo, dado bíblico foi aprofundado e precisado na
embora tendo a "condição divina, não consi - teologia patrística da Encarnação (sârkôsis,
derou o ser igual a Deus como algo a que se encarnação; c j i a j u l v ô p c s is ,
apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mes- humanização;oikaiwmia, economia, e os
mo (...). E, achado em figura de homem, hu- correspondentes termos latinos; os mais
milhou-se e loi obediente até a morte, e morte usados foram incamatio, incor-poratio,
de cruz" (Fl 2,6-8; cf. lPd 3,18). O Filho de in h u m an a ti o , as s u mp tio ) , que enfatizou o
Deus fez-se verdadeiramente "em tudo seme- tema sotei iológico e antropológico, expresso
lhante aos irmãos" (Hb 2,17), "provado em com clareza já no símbolo de Nicéia: "Ele, por
tudo como nós, com exceção do pecado" (I Ib nós homens e pela nossa salvação, desceu e se
4,15). O mistério da Encarnação corresponde encarnou, se fez homem". 0 e. revela não só o
ao mistério da "vinda do reino", de que lalam mistério da vida intra-trinitária de Deus, mas
os evangelhos sinóticos (cf., por ex., Mc também o mistério da participação do
4,11), e que se realiza na pessoa de Jesus homem e do cosmo na glória divina e o
Cristo {eh Ml 16,28; Mc 9.1; Mi 19,29; l.c 22, mistério da Igreja como prolongamento na
29; Mt 21,9; Mc 11,9-10). -> Paulo considera a história da vinda do reino (cf, Mt 13,38; 16,1
Encarnação o mistério por excelên- 8-19; 21,43; 22,1-14; Hb 12.28).
cía, o "mistério escondido desde os séculos e Jesus Cristo é. pois, o lugar pessoal efe
desde as gerações, mas agora manifestado aos encontro e de diálogo entre a divindade e a
seus santos" (Cl 1,26; cf. também Ef 1,9; 3,3- humanidade, entre a transcendência c a
5; 6,19), os quais, radicados e fundados na — imanência, entre o eterno e a história, entre
> caridade, possam finalmente compreender o absoluto e o relativo. O Filho de Deus
"qual é a largura e o comprimento e a altura torna-se homem para que o homem possa
e a profundidade" (Ef 3,18) do desíg nio de recuperar a sua dignidade de filho de Deus. A
salvação e de amor de Deus em Cristo: fecun-didadearfextra de Deus tem a sua
"Quando, porém, chegou a plenitude do tem- manifestação livre e gratuita não só na
po, enviou Deus o seu Filho, nascido de mu- criação, mas também na redenção e na missão
lher, nascido sob a Lei, para remir os que es- do Filho, que estende à humanidade inteira e
tavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a ao cosmo a participação na vida divina. A
—> adoção filial" (Gl 4,4). Desse modo, o —> Encarnação é "como que a flor de uma raiz
Pai nos deu "a conhecer o mistério da sua que
vontade, conforme decisão prévia que lhe tem a sua origem no processo irinitário, como
aprouve tomar para levar o tempo à sua ple- que o desenvolvimento de um germe presente
nitude; a de em Cristo recapitular todas as nele. como que o extravasar de urna corrente
coisas, as que estão nos céus e as que estão na copiosíssima, que flutua na produção
terra" (Ef 1,9-10). Trata-se do mistério da trinitária". 1 Com a Encarnação, a natureza
"insondável riqueza de Cl isto" (Ef 3,8), ama- humana foi assumida pela Pessoa divina do
durecido no seio mesmo da comunhão irini- Verbo (a chamada ttuiíio hipnstd tica), parti-
tária. No Verbo encarnado continua a brilhar a cipando assim da comunhão com Deus, pri-
"glória" divina {doxa) t aquele kebôd JHWH, que meiro aqui na terra e, depois, com a ressur-
é o esplendor da grandeza, da força e da reição de Jesus, na vida eterna.
"transcendência" de Deus (cf., por ex„ Ex
14,18; 16,7; Is 60,1; SI 3,4; 19,2; 24,7; 26,8), a II. Encarnação e seu significado para a
"irradiação" da glória do Pai (Hb 1,3). A ma- vida cristã - Mediante a doutrina da En-
nifestação completa dessa glória divina na carnação, o cristianismo sublinhou a digni-
face do Filho (cf. 2Cor 4,6) dá-se com a res- dade eminente da natureza humana, sua
surreição (cf. At 3,13.15; lPd 1,21), quando colaboração ativa na salvação, sua parti -
Jesus Cristo aparece como "o Senhor da glória" cipação na vida divina trinitária, a eficácia
(ICor 2,8). A Encarnação redentora não só é a do seu trabalho na transformação do mundo e
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ENCARNAC10N1SMO 448
no melhoramento da história. No cristianismo
foi constante a atenção aos valores humanos c
terrenos do mundo criado, vistos não em
contraposição mas em harmonia com os

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EPIFANIA F.REMITISMO 452
vida (cf. as intercessões c invocações} e para Aí. Sodi
orar a ele (cf, a oração de conclusão de cada EREMITISMO
uma das Horas).
Uma experiência do mistério cristão - I. O termo. Esse termo designa a idéia e o
dentro do ano litúrgico - que queira ser movimento ascéticos animados pela tensão
completa, isto é, que queira ser um passo a paia a solidão e organizados na Iorma de so-
frente para vida melhor, não pode prescindir lidão individual ou comunitária.
do suporte oferecido também pela Liturgia O termo provém da língua grega, e o con -
das Horas, por causa da singularidade das ceito, da cultura clássica. Ambos têm muitos
riquezas mísiicas que ela contém. signiiicados primitivos e secundários. O
substantivo cremos (ou cremos, feminino,
II. Por uma vida epifanica. A divinização eréme) indica lugar ou situação: deserto,
do fiel, iniciada com a primeira imersão no solidão, isolamento, (especialmenteeremia
mistério trinilário por meio do —> batismo, eeremosúne). Como adjetivo, equivale a
se prolonga no desenrolar cronológico da vida solitário, abandonado, desprovido de,
e se realiza progressivamente à medida que a selvagem, deserto.
experiência do mistério se torna expressão Os verbos (eremázo e eremóo) designam
da vida, a qual tira do mistério celebrado ações de tornar deserto, de desolar, de despo-
toda a sua razão de ser e reduz a ele todas as voar e devastar, de abandonar u deixai*
escolhas. vazio, de privar e espoliar; também de libertar
No decorrer do ano litúrgico, cada celebra- e viver em solidão.
ção pode ser considerada autêntica e., isto é, O vocabulário registra termos compostos,
manifestação do mistério: manifestação que alusivos a situações psicológicas não-estranhas
permeia as varias opções, de tal iorma que à —> ascese, nem à —> mística: amigo da
transforma o cotidiano ern mística perene e solidão, habitante do deserto, freqüentador
progressiva. de desertos, itinerante pelo deserto.
A solenidade da E. dá, a seu modo, realce A literatura espiritual especializada ho-
particular a esse revelar-se de Deus na his- dierna prefere termos antigos, não de uso co-
tória. Mas a celebração "exala" desse mistério mum, como anücorese e anacoreta; também
é, por sua vez, a passagem para uma hesychia, hesychasta, hesychásíico. Os
manifestação ainda mais global durante o primeiros - com o verbo homólogo anachoréo -
ano litúrgico. Por isso, depois da leitura do fo-calizam o retiro e o refúgio, o
evangelho, a Igreja proclama o anúncio do dia da distanciamento e o retorno. Os outros
Páscoa anual, "centro de todo o ano remetem à calma e à pacificação, ao —>
litúrgico", prefigurada em cada domingo, silêncio e ã solidão, ao retiro e ao deserto;
"Páscoa da semana", e cantada em toda sole- identificam o eremita com o monge e
nidade, festa e memória. Assim, enquanto qualificam o que é ascético e o que acalma o
"nos ritmos e nas vicissitudes do tempo, re- espírito.
cordamos e vivemos os mistérios da salvação", Anacorese e hesychia são etapas da ascese,
o fiel é progressivamente guiado e sustentado que é exercício e escolha de vida comprometida.
para fazer de sua vida e. autêntica do O asceta é atleta experimentado, aquele que
mistério celebrado pela liturgia no tem po da vai exercitando-se em dobrar o corpo ao
Igreja. espírito (do verboaskéo: trabalhar, forjar, exer-
BIBL.: M. Auge et Al., Anàmuesis 6: L'anno citar; também adornar, embelezar); asceta é
litúrgico: storia, teologia e celebrazione, Gênova sinônimo de monge, e ascetério Uisketêriou)
1988; A. Bergamini, Natale/Epifania, in NDL, são o mosteiro e a cela do asceta.
919-922; D. Borobio (org.), La celebrazione neila Essa pluralidade léxica encobre versatili-
Chiesa, 3.: Ritmi e tempi delia celebrazione, dade de conceito e profundidade articulada
Leumann 1994; E. Flicoteaux, Fètes de glorie: de inspiração. Esses vocábulos às vezes são
Avent, Noel, Épiphanie, Paris 1951; C. Jean-
sinônimos; outras vezes abrem pouco a pouco
Nesmv, La spiritualità di Natale, Brescia 1964;
J. Lemarié*s.v., in DSAM IV/1. 863-879; Id., La cenários contíguos, na unicidade de perspectiva
manifestazione dei Signore, Cinisello Bálsamo dentro da qual a pessoa humana se
1969; B. Neunheuser, La venura dei Signore: move e se realiza cm toda a sua identidade e
teologia dei tempo di Natale e epifania, in RL 59 em todos os seus componentes humanos. O e. é
(1972), 599-613; A. Nocent, Celcbrare Gesà Cristo. caminho, escandido pela ascese, no itinerário
Lanno litúrgico 2: Natale, Epifania, Assis I9782; da anacorese, que leva para a hesychia. O
M. Sodi - G. Morante, Anno litúrgico: itinerário di
fede e di vita, Leumann 1988. eremita é como o principiante no abandono do
que é mundano, à procura de Deus. O e. é
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adequado à experiência mística de Deus como
-» absoluto. E caminho, não chegada; meio, não
finalidade; provisório, não definitivo.

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EPIFANIA F.REMITISMO
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ESCADA -KSCATOUXiISMO primeiro, escreve G. Frosini: "Percorrendo a
história desse movimento, é táeil ver que com
de violenta, cinco cm —> Bernardino de La- os temas especificamente teológicos se entre -
redo, cm sua Subida de! Moule Sicm, seis em laçaram discussões em torno das ionnas de
Boaventura, em seu Itinerário da mente para vida. tanto individual como eclesial, mais de
D e u s , sete cm sào Bento, ou > Francisco de 364
Assis e seus sete degraus da contemplação, dez
em —* João da^Cruz na Noite escura, ou acordo com a época moderna e mais provei-
vinte e seis em -» Ângela de Foligno - trata-se tosas no plano tio aposlolado (pensemos, por
sempre de subir os degraus das virtudes do exemplo, na espiritualidade do engagement e
Cristo. na superação do conceito de cristandade)".1
O alto dessa e. espiritual, que é o Cristo - Cada um desses dois movimentos se caracteriza
C r is to , nossa e. -, pode ser a humildade, co- pelo modo de entendei' a relação entre
mo em são Bento, o amor supremo, como em • história profana e escatologia em ordem à
■> Ruysbroeck f ou a contemplação perfeita, preparação da parusia.
como em Ricardi i de São Vítor e são João da
Cruz. Em suma, o último degrau é sempre II. Na Igreja primitiva a parusia era con-
Deus ou o Cristo. A e. c meio para siderada como objeto de —> esperança; por
chegarmos até ele, como a cruz é o único isso, se orava para que ela chegasse o
lugar no qual o céu e a terra se unem. Para quanto antes. No NT encontramos traços
chegarem até ele, os cristãos devem estar
desse modo de orar. —> São Paulo escreve aos
unidos ao Cristo, que, em sua ascensão,
coríntios: "Se alguém não ama o Senhor Jesus,
subiu para junto do Pai, de onde voltará
seja anátema" (ICor 16,22). E logo acrescenta
para introduzi-los lá e pô-los ao seu lado.
uma palavra aramaica, inesperada, uma vez
NOTA: 1 Ética nicotnacbea, 1. Ï, c. 5. que escrevia em grego a leitores que falavam a
língua grega: "Marana-íná" ( Senhor nosso,
B IBL .: E. Bertaud - A. Ravez, s.v., in DSAM IV/1, vem). Essa invocação que devia ser conhecida
62-86; G. Clímaco, L'Échelle sainte, Bégrolles-
en-Mauges 1978; G. Penco, Un tema delTascesi dos cristãos de Corinto, procedia provavelmente
monas- da —> liturgia da Igreja-rnãe de Jerusalém;
t ica;lascaladiGiacobbe, in Vita Monástica, do contrário, seria necessário que Paulo a
14(1960), traduzisse. Além disso, essa palavra consta
99-113; R de Surgy, La source de l'échelle d'amour também de outros documentos da piedade
chez saint Jean dela Croix, in RAM 27(1951), 18- cristã primitiva, como a D id a t/ u e : "Venha a
40.
graça, e passe esle mundo ... Marana i h á.
Amém". 2 Palavra semelhante serve de
S. M . Moniain
conclusão ao —> Apocalipse (Ap 22,17.20). A
própria oração dominical, o "pai-nosso", nas
palavras "venha o leu reino", contém a peti -
ção da parusia.
Dois motivos contribuíram para a passagem
cia esperança ao temor com relação à
ESCATOLOGISMO parusia. Em primeiro lugar, uma exegese
muito literal das passagens nas quais Jesus
I. O termo. Com esse termo não queremos fala do fim do mundo, as quais começaram a
indicar aqui - como muitas vezes se faz - a ser vistas não como profecia do triunfo de
interpretação da vida e obra de Jesus pro- Cristo, mas como anúncio de catástrofes cós-
posta por A. Schweizer, segundo o qual o cris- micas. Em segundo lugar, uma evolução da
tianismo (e a Igreja) teria nascido como con- espiritualidade, a qual deixou em segundo
seqüência do retardamento da parusia plano a idéia de Jesus mediador, vendo-o
(Jesus teria sido mero pregador apocalíptico mais como juiz terrível.
e escatológico, convencido da proximidade Em todo caso, nos tempos modernos, re-
iminente da parusia), mas no sem ido de um novou-se o interesse pela parusia junto com a
dos dois vontade de considerá-la de modo positivo.
movimentos teológicos, cada um dos quais Sendo ela vista de novo como desejável, surgiu
com notáveis repercussões também na espiri- a questão de como contribuir para prepará-la.
tualidade, que se opuseram mutuamente, es- Todo teólogo católico deve afirmar que existe
pecialmente na França do primeiro pós-guer- relação entre história profana e vinda do
ra: > encaruacionismo e e . A respeito do Reino. Além disso, deve admitir que o cristão,
com seu trabalho temporal, pode e deve
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desenvolver as —? virtudes especificamente
cristãs. Assim, ao menos por meio do conceito
de "mérito", a história profana é ligada à
preparação do Reino. Tanto o mérito como a ->
oração são valores que pedem o retorno do
Senhor. Negar conexão entre a história

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I--5C0LAS ]>!: KSPIRITUAUDADK carmelita e na Espanha, mas também em li
»da a Igreja. Inúmeros foram seus seguidores,
são. Enfim, a e. J . estimulou a devoção à hu- 368
manidade de Cristo em seus mistérios do
presépio, da cruz e do tabernáculo, e no dentre os quais não podemos esquecer santa
culto à Maria santíssima, defendendo o —* Teresa de Lisieux, a qual, com sua autobio-
privilégio da Imaculada Conceição e grafia, História de unta alma, lançou a fór-
difundindo o toque das ave-marias e a mula da —> "infância espiritual".
recitação da coroa das "sete alegrias". b. Os fundamentos doutrinais. Tendo sim-
a. Os reflexos místicos. A atmosfera mística é plesmente descrito os —> fenômenos místicos
o ambiente vital dos franciscanos, começando próprios, santa Teresa de Ávila e são João da
por são Francisco e santa Clara e indo até são Cruz não especularam sobre eles, nem apela-
Boaventura, o "príncipe dos místicos", a ram para teorias filosófico-teológicas, porque
bem-aventurada —> Angela de Foligno, santa tinham como destinatárias seus discípulos.
—> Catarina de Bolonha, a bem-aventurada — Percebe-se neles ale inconlessado sentimento
> Batista Varano, são Pedro de Alcântara, —» antiintelectualista, embora se esforcem para
Maria Ágreda, são Carlos de Sezze... Todos analizar esciupulosamente as emoções e os
insistem na — > identificação com Cristo e, dons sobrenaturais com os quais loram enri-
por meio dele, na plena —* conformidade com quecidos. Com efeito, partem da doutrina co-
a vontade do Pai, no gesto supremo de amor mum, reafiimada pelo Concílio de Trento con-
e de total abandono ao Sumo Bem. A -» ex- tra os protestantes, sobre o —* pecado, sobre a
periência mística dos carismas prevalece so- responsabilidade do homem e sobre a obrigação
bre a teorização, embora esta não esteja au- da perfeição cristã, sem aludir a desvios
sente, especialmente d<» aprofunda mente» doutrinais específicos de seu tempo.
dos dons do Espírito Santo c das > bem- c. A s práticas específicas. Pelo esquema
aventura nças evangélicas. Mérito inegável organizativo da Ordem, os carmelitas são tidos
da e. /. é ter universalizado a obrigação da como paralelos dos movimentos da baixa
perfeição cristã, indicando-a, mediante a idade Média chamados "mendicantes", tendo
Ordem Terceira - chamada hoje Ordem adotado a fórmula da autoridade
franciscana se-enlar - também às pessoas centralizada
casadas, implicadas nos afazeres seculares. e da "vida mista", pondo de lado o antigo cre-
mitismo de matriz oriental. Nem a reforma
4. A escola carmelita. Embora como "escola" do século XVI interrompeu essa linha, já
os carmelitas se tenham afirmado só na Idade consolidada, mesmo tendo lembrado com vigora
Moderna, no século XVI, suas origens prática do -» silêncio, da solidão, da —> mor-
remontam ao século XII, quando alguns ere- tificação e da —.» oração, indicadas, porém,
mitas se retiraram para o monte Carmelo, onde como meios para apostolado autêntico. Nas
o profeta Elias esteve por algum tempo. No práticas de piedade essa "escola" se apresenta
século XIII (os carmelitas) passando do Oriente bifurcada: de um lado, adaptou-se aos tempos
para o Ocidente, sofreram a inlluèneia das modernos, exaltando cristocentrismo vigo -
duas Ordens recém-funcladas, a dos domini- roso; do outro, manteve ciosamente acentuada
canos e a dos franciscanos, e abandonaram, devoção mariana, procedente da inesquecível
cm parle, o—> cremitismo primitivo, dedican- capela de Nossa Senhora no monte Carmelo,
do-se ao apostolado e à cultura. No século propagando seu escapulário.
XVI, com a reforma iniciada por santa —> d. Os reflexos místicos. Segundo essa esco-
Teresa de la, os meios para se chegar à união com Deus
Avila e continuada por são > João da Cru/, são dois: a oração e a contemplação; por
a e. c\ se afirmou como das mais isso, esses dois elementos são analisados
significativas. detalhadamente em seu desenvolvimento.
ci, San i a Teresa e seus seguidores. O início Com efeito, tanto a oração quanto a
da e. c. foi dado por santa Teresa de Avila e contemplação libertam o homem dos
por são João da Cru/., ambos doutores da impedimentos que o mantém longe de Deus:
Igreja. Empenhados na mesma retorma, es- a primeira, através da —> "noite dos sentidos",
creveram obras valiosíssimas sobre ascética e praticada por meio da mortificação, da
mística, baseando-se em suas experiências penitência e do —» desapego de si e de lodo
pessoais, embora tenham lido autores prece- apetite terreno; a segunda, através da "noite
dentes. Sendo o tempo do Concílio de Trento do Espírito", vivida na -> aridez espiritual e na
(1545-1563) e da Contra-reforma católica, a dúvida sobre a fé. Chega-se assim ao
ação deles foi acolhida universalmente e deu esponsalícto "com Deus" em duas fases: o
irutos copiosos não só no seio da Ordem "noivado" eo-» "matrimônio". É o triunfo do
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amor e da caridade total, nos quais o homem
quase desaparece, reduzido ao nada, e Deus
domina, revelando-se como o todo. Disso
procede a divisa progra-

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e-spanha
sificação, podemos tecer uma síntese com põem à prova a —> linguagem e sua capacida-
referências precisas a tempos e lemas de de expressiva. Como se dá em outros cam-
grande conteúdo místico, os quais, pos, as distorsões ou mistificações da reali-
adequadamente coordenados, aproximam- dade autêntica da relação entre Deus e o
nos do verdadeiro rosto da —> experiência homem provocaram reações úteis. De talo, o
mística. problema dos —> "alum brados" e de seus
As características gerais da desvios espirituais levaram ao
espiritualidade espanhola do século XVI esclarecimento dos termos e da linguagem
podem ser assim indicadas: a. vida mística. 16
espiritual intensa; b. importância dada à
oração mental; c. caráter prático e realista; III. Primeiros expoentes da mística.
d. profundeza teológica e atenção devida aos Existe unanimidade em se considerar como
aspectos psicológicos; e, notável aspecto primeiros livros sistemáticos sobre mística,
literário, uma vez que "todos os nossos no século de ouro, o do sacerdote toledano
grandes místicos são poetas, embora Gomez. Garcia (f c. 1500). Carro de dos vi-
escrevam em prosa"; 1 - são, portanto das?1 e o de Garcia de Cisneros (t c. 1510),
"extraordinários em nossa mística o valor F.xercitütôrio, publicado em Montserrat em
formal da exposição e o valor estético do 1500, embora eles recorram a autores prece-
estilo. Essas qualidades expositivas dentes.
contribuíram para a difusão e vulgarização Garcia de Cisneros lamenta o tato de que
de nossa literatura mística". 13 os religiosos não só não vivem a vida espiritual
como deveriam, mas também não entendem a
II. Ponto-chave. Para oferecermos uma linguagem do mundo do espírito, e até
síntese aceitável que leve á coul igu ração da zombam de quem tenha experiências
mística devemos antes de tudo voltar aos superiores e as manifeste ou procure explica-
protagonistas essenciais do caminho las.1'
espiritual: Deus e o homem. Da inter -relação Fala, como autêntico místico, da —> união
entre am-bi is se compreendem as diferentes com Deus e da ação de Deus, que é o sentido
exposições ou a experiência da divina - > sabedoria ofe-
dos autores e a acentuação mais ou menos recida a todos de maneira puramente gratui -
prolunda que eles põem sobre um ou out r o ta.19 Gomez Gar cia avança nas vias da místi-
elemento, como, por exemplo, sobre a —> ca, lalando de imaginação, — * meditação e
ina-bitação de Deus na —> alma, sobre o —> contemplação, mostrando que nesta última é
recolhimento, sobre o -> silêncio, sobre a - * necessário levar em conta a maravilha, sendo
oração, a procura e o encontro, a responsai ela "um agudo, claro c livre olhar da alma
idade, o amor, a ação apostólica decorrente da suspensa com admiração, em obediência à
—» contemplação e sustentada sabedoria".20 Ele examina também os três
constantemente por ela. movimentos segundo os quais se move a al-
Por outro lado, estão se delineando algu- ma.21 Descreve muito bem as relações amorosas
mas idéias basilares ou, melhor, convicções a entre o Esposo e a alma e explica mag-
respeito da gratuidade dc»místico, de sua — nificamente a pedagogia divina no sentido da
*ine-fabilRlade, de seu alto valor etc. Mesmo —> presença e da ausência. "O Esposo atribui
quando se trata de coisas inefáveis, é e dá toda essa graça a quem quer e quando
necessário tratar delas, a fim de se poder quer; não se a obtém por direito de herança."22
explicar alguma coisa dos gêneros de Devemos recordar ainda —> Alonso de Ma-
expressão, como textos e comparações bíblicas, dri, que. em sua Arte para servir a Deus, es-
por exemplo, a —» escada de Jacó, como creve acertadamente sobre o amor puro, que
muitas semelhanças tiradas da natureza, hoje se prefere chamar gratuito. Ele termina
símbolos, a autoridade dos escritos de -» sua obra formulando a seguinte bem-aven-
Dionísio Areopagita, de outros escritores etc. lurança: "Bem-aventurado quem assim ama;
Vai-se chegando imper-ceptivelrnente à —> porque, vivendo, não é ele que vive, mas é
conclusão de Osuna 11 c de santa —> Teresa, Cristo que vive nele, fazendo-o viver vida divina.
que escreve: "Uma coisa é Ele, amando-se, não ama a si mesmo, mas o
receber de Deus a graça, outra é saber que Altíssimo, por cujo amor deseja todo bem!"23
graça é, e outra ainda é saber dizer em que Esse amor gratuito e puro da criatura, que
consiste ela".15 Essas experiências sublimes, assim responde á gratuidade do amor divino
cujo autor é o —> Espírito Santo, são as que e aos dons de Deus, será amor operante e se
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e-spanha 468
chamará amor nu, o qual age "só pelo amor
amical, porque não tem nenhum interesse
pessoal".24 O amor unitivo se dirige, portanto,
para a contemplação quieta, porque se trata
de operação divina que vai além da razão e do
—> intelecto, "com a qual

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KSI'ANHA Í-SIMRIIO S A N K ) 376
Carmelo III, 2,10; cf. JA'. Rodriguez, Evangelin suscitado, recorda-]\\cs sua palavra, abre
mariano de San Juan de la Cruz, in Ephemer ides seu espírito para a compreensão da morte e
Marinlogicae, 40(1990), 24S-272; ■* M ressurreição dele. 7õ/7?«-Ihes presente o
Andres, Isis místicos..., o.e.. 253-255; P. Sainz
Rodriguez. Antologia, secolo XYII. o.e., 289-297: Mistério de Cristo, principalmente na —>
'* Da produção literária abundantíssima eucaristia, a tim de reconciliados e de pô-
deste escritor bastaria recordar a sua los em comunhão com Deus, para que dêem
Theologia mística, reeditada ultimamente em "muito fruto" (cf. Jo 15.5.8.16)" (cl.
Bruxelas 1993; tú .VI. Andrés. I M S místicos, o.e., Catecismo da Igreja católica 737). Em
227-228. Finalmente na BAC começou-se a outros termos: a Pessoa divina do Espírito
publicação dos escritos deste grande
fundador. Ct. uma seleção dos seus ocupa a centralidade especifica na vida
pensamentos recolhidos pi >r V. Sanchez. do liei, tanto nos inícios de sua —>
Dias se da de balde, Salama rua 19S0, * Jiule se conversão quanto no —> esforço ascético para
nota como a Autora trata dos temas do reco- a —> perfeição e no coroamento da vida,
lhimento intern tr, da união ei mi Deus, da vivida para a glória da santa e indivisível
inahitação da Santíssima Trindade etc.. rl M. Trindade.
And* és. Ixts místicos..., o.e., 344-346;f0 Ibid..
224-225; neste mesmo livro são apresentados Sob a égide do toda atividade da pessoa
textos <le Antonio Sobrino í 1554-1622). humana se muda cm atividade de liei, a lim
franciscano e irmão cie Cecília; 222-223,225- de tender para a > imitação do Cristo (cl.
226;61M. Andrés, Los místicos..., lCoi-4.15; Hl" 5,11; Fí 3,17; ITs 1.6), para
íii:., 3 / 3 -.5 V /. seguí-lo de perto com a própria cruz (cf. Mt
16,24; Mc 8,34; Jo 12.26) e para ser perfeito
I*: BL .: Aa.Vv., s.v., in DSAM IV/2, 1089-1203;
M. Andrés, Historia de ia mística de Ia ISdad de como o Pai (cf. Mt 5.48). 1
Oto e>i Espana y América, Madri Iv94; Id., Ixts E apesar de ser difícil escrever de modo
místicos de la EdaddeOroen Espana v América. adequado sobre o E., não se pode deixar de
Madri 1996; 1. Bchn, Spanische Mys tik, fazê-lo. Tanto mais que o "discurso teológi-
Düsseldorf 1957; L. Bou ver, Spintualità co" em torno do E.t mais que ser uma teolo-
meidema. Isi scuoía spagnola 1550-1650), 6/1, gia do E., deve ser uma teoloízia no E., como
Bolonha 1973; A.L. Cilvcti. Initaducción a la
deveria ser a "realidade" da mística. De lato,
mística espanola. Madri 1970; P. Ji.iiin-Ti .uis,
s.v., in HMJv, 465-466; e. Lorenz, Der Sähe Go tt, c basilar o tratado acerca do "Pneuma sátira-
Freiburg i.Br. 19S5; J.M. Moliner, Historia de la do" e de tudo o que provém dele ao fiel para
literal ura mi si ira de fi s pana. Butv 'os sua mais autêntica vida de crente. 0 que o
1961: H.A. Peers. 77?e Mystics o( Spain, termo e, mais ainda, a essência da mística
Londres 1951; P. Sainz Ri KLJ Itttrodacciôn a la
ÍLUILV.
possui afunda suas raízes no mysterium vivi-
liistoria dela literatura mística en Espana. Madri
I9S4. do pelo fiel até que ele perceba a presença e a
ação do Espírito de Deus nele. A mística é viver,
,/. V. Rodriguez de fé e com lê, a !ê, a esperança e a caridade,
sob o impulso e a égide do IL, que
aperfeiçoa as -» virtudes nos fiéis, infundin-do-
as neles repetida, renovada e irrepetivel-mente
e exigindo deles resposta, a mais ampla
possível, aos -> dons do E.

11. Na Sagrada Escritura. Se recorrermos à


ESPÍRITO SAXTO Sagrada Escritura, encontraremos nela vá -
rias linguagens (antropomórjtca, simbólica,
I. Papel do /:. na vida cristã. A vida au- teológica) que usam o termo "espírito" ( r ã t t
têntica do liei cristão não é possível sem a - pneuma) com níveis semânticos de diferen-
presença ea ação do ti. acolhido pelo mesmo tes espessuras: física (vento), antropológica
liei. Com efeito, é o E. enviado pelo —» Pai (por (respiração - vida - inspiração) e teológica.
meio de Cristo) que, em cada pessoa, clama Obviamente esse último sentido é o que nos
"Abba, Pai" (cl". Gl 4,6). Melhor, "ninguém interessa. Isto c, trata-se do Espírito de
pode dizer "Jesus é Senhor" a não ser no /;." Deus: comunicado ao Messias (cf. Is 11,1-2;
(ICor 12,3). Alem disso, nos lieis a sua 42,1-4; 61,1-3) e, depois, a lodo o povo (cf. Gl
presença silenciosa e operante precede todos 3,1-5), como bem messiânico "puriticador-
os seus atos de —? lè, de —> esperança e de renova-dor" (cf. Ez 36,25-27; Is 4,4-6),
—» caridade. É ele que "prepara as pessoas e "vivificador" (cf. Ez 37,1-14; Is 44,1-4),
í\sprevine com sua -■> graça para atraí-las "inspirador" (cf. G! 3,1-5; Ez 37.14; 39,29);
a Cristo. Ele lhes manifesta o Senhor res- "consolador" (Is 51,12). Com as acentuações
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impressas na terminologia pneumalológica
também por meio da literatura
intertestamentária (cf. Enoc; 4Esd etc), a —>
revelação ensina que o £ é a potência divina
mediante a qual são concedidos o
conhecimento das verdades divinas (cf. Sb
9,17) e a compreensão das realidades

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ESPIRITUAIS
encarnação viva de Francisco; a procura da Mais adiante no tempo predominou a diver -
exata colocação cronológica da ampla pro- sidade de relação com o ambiente (mais in-
dução historiográfica lianciscaiia do primeiro seridos nele os E. da Provença, menos os E.
século ern torno da pessoa de Francisco da Itália) e de personagens (douto. Olivi; mais
(questão franciscana) e a relação com o mo- homem de ação, Hubertino de Casale [v 1328];
vimento dos E. (questão dos £?.); o dissídio mestre espiritual, Clareno, autor da História
surgido da interpretação da Regra segundo o das sete tribulações, interpretação tendenciosa
espírito do Testamento... (G. Barone). Outro de algumas idéias de Francisco).
elemento de complicação que veio acrescen - Figura central, Pietro di Giovanni Olivi se
tar-se, pela metade do século XIII, loi o pro - empenhou na disputa sobre a pobreza, atrain-
blema da hermenêutica da história de Joa- do ao redor de si numerosos zelosos tia pobreza
quim de Fiore (t 1202), o qual atribuiu à per feita, chamados £., em oposição à
Ordem franciscana uni papel de destaque. O "comunidade da Ordem" (ou maioria da co-
joaquinismo envolveu a Ordem enquanto tal: munidade), empenhada na luta contra os
se extremistas, como Gherardo de Borgo S. abusos, mas considerada a causa deles. An-
Donniiio, foram condenados, o próprio Boa- gelo Clareno, autor da Historia das sete tribu-
ventura se apropriou do núcleo do ideal joa- lações da Ordem dos Menores, com interpre-
quinila. O elo entre > Boaventura e os E. foi o tações tendenciosas de idéias de Francisco,
douto Pietro di Giovanni Olivi (t 1298), aluno encarcerado com outros companheiros no fim
de Boaventura e autor de leitura do Apocalipse. do II Concílio de Lião (1274), libertado
Os franciscanos líeis a Francisco se sentiram depois da eleição de um ministro geral
chamados a opor-se ao desenvolvimento da (12S9) mais favorável aos E. e, por vontade da
Igreja carnal. As origens do movimento podem comunidade, retornado da Armênia, para
ser identificadas, ainda durante a vida de onde tinha sido enviado com outros como
Francisco, na disputa sobre a > pobre/.a missionário, leve momento de glória no breve
perfeita. Aqui predominavam os que, no pontificado de Celestino V (t 1296). Ele
contexto de um enorme desenvolvimento da autorizou os E. a fundar uma nova
Ordem, sob o impulso de urgências congregação, acolhida nos mosteiros dos
pastorais e do estudo nas universidades, Celestinos, se bem que com a obseivância da
acabaram por distanciar-se tia pobreza ver- Regia e do Testamento de Francisco. A eleição
dadeira. Inocêncio IV (I 1492), declarando de Bonifácio VÍIÍ (t 1303) marcou o f i m da
propriedade da Igreja romana os bens móveis congregação. Clareno, de volta da Grécia
e imóveis da Ordem, estabeleceu, em 1247, (1305), paia onde se linha retirado a fim de
os procuradores para cuidarem tios negócios dedicar-se à —> ascese, reapareceu no
dos frades, com base nas disposições deles. As Concílio de Viena (131 1-1.312). Mas, já antes,
reações dentro e fora da Ordem foram Hubertino de Casale, autor de Arvore da vida
vigorosas. Boaventura, ministro geral desde (a qual é uma obra central do espiritualismo
1257, empenhou-se, de um lado, em defender franciscano, ao lado da de Clareno
a pobre/a franciscana "Questão da pobreza" e, supramencionada), sucessor de Olivi na
do outro, em opor-se âs intemperanças dos direção dos /-". e porta-voz dos ideais de
seguidores de Joaquim de Fiore; mas a morte observância da Regra e
de Boaventura em 1274 acelerou o processo da pobre/a ("uso pobre") junto a Clemente V (t
de relaxamento da Ordem. O papa Nicolau 1314) em Avinhão, sentiu-se atendido pelo
III (f 1280), na constituição Saiu o que semeia Concilio de Viena (5.5.1312: bula Exivi de
(1 279) interpretou de modo autêntico a paradiso), que, contra a oposição da comuni-
Regra, na linha de Boaventura, respeitando o dade, decidiu, a favor da corrente mais rígi-
ideal de pobreza e de limitação do uso dos da, porusus pauper das coisas indicadas pela
bens, se bem eme mantendo os conventos e o Regra: foi uma decisão só a respeito do as -
uso de seus bens (E. Iserloh). O pecto prático, considerando-se temerário
descontentamento dos mais ríuidos diante ligá-lo á questão dogmática da pobreza de
desse ideal moderado de pobreza se exaspe- Cristo. Foi justamente em torno dessa
rou, também por causa de uma realidade já questão que João XXII ( v 1334) enfrentou a
distante do ideal. Ordem, guiada então por Miguel de Cesena (t
1342), o qual alirniou que Cristo e os
II. Os acontecimentos e as personagens. apóstolos, individualmente e como
comunidade, não tiveram nenhuma
propriedade. Assim foi envolvido o problema
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ESPIRITUAIS 478
das relações entre poder espiritual e poder
temporal, tão sentido pelos E. e, no lado
oposto, pelos laicistas; interessado direto era o
pontífice, representante de Cristo na terra.
João XXII declarou herética a afirmação de
que Cristo e os apóstolos.

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KSTAMO MÏS[ 1KO - hSTl'TK A 384

até o estádio de união plena com ele possível cristãos, que são membros do —> Corpo
nesta vida. Nos estádios iniciais, identifica- místico de Cristo e são unidos em torno da
dos com o estádio ascético, o esforço humano mesa eucarística devem, "tornar-se o que
ainda tem grande parte, e as formas da recebem".7
oração são principalmente discursivas. A Assim transformados em Cristt », os
passagem para o estádio místico e seu místicos se tornam espiritualmente fecundos
desenvolvimento são guiados pela ação do —> por-esse desejo de sei vir totalmente a Deus c
Espírito Santo. A vida de oração conduz, a de comunicai* aos outros o que receberam
alma a urna atitude sempre mais simplil como dom. Por isso. se Iornam criativos,
içada e passiva, entendendo-se a dispensam os d< ms com liberalidade e se
passividade como acolhida total do Espírito. interessam totalmente pelos outros. Uma vez
Como o modelo cie um pintor, o místico que experimentaram a morte de seu —*
aprende a permanecer inativo a fim de não egoísmo e estão intimamente unidos a Deus,
impedir o trabalho do artista. 1 levam conforto aonde vão. São cheios de
santo ardor no—> serviço de Deus em
II. Desenvolvimento. Para João da Cruz. qualquer situação. Em seu zelo apostólico, o
o í\ se inicia com a - > noite passiva tios místico, transformado em Deus, se mostra
senti- brando, humilde e paciente com os outros/ Os
dos. Para Teresa, inicia-se com a oração de místicos iluminam a realidade mais
quietude. João da Cru/ recorre ã alegoria do profunda presente em todo cristão. Todos são
caminho purHicaiivo da noite dos sentidos e potencialmente místicos, tocados pela > graça
do espírito, descrevendo o percurso através de Deus e chamados ã —* conversão e á união
do qual a alma desapega-se de tudo o que mística com ele. O e. é simplesmente o
impede a "luz divina da perfeita união com desabrochamento pleno da primeira graça,
Deus".4 Enquanto a — > contemplação infusa recebida no batismo; é vivido nos sulcos da
marca o início da via unitiva, o e. inicia-se —> vida quotidiana e não só se funda na
com a oração de união. A união perfeita do oração fervorosa, mas também se derrama como
e. amor sobre os outros, independentemente da
permanente se verifica quando há -> confor- aparência do sej-viço prestado. Com eleito,
midade total da —> vontade pessoal com a Teresa de Avila observa sabiamente: "O Senhor
vontade divina. Enfim, todo o ser do místico não olha para a grandeza das obras, mas
transforma-se e integra-se pela experiência para o amor com que elas são lei tas".*'
profunda do — > amor de Deus. Essa N OTAS : 'Cf. João da Cruz, Noite escura, 1,10,5;2
transfor- IbicL II, 21 ;5Teresa de Avila, Costelo interior IV,
mação definem-na Teresa e João da Cru/. 2,2;1 João
como —> matrimônio místico. d;j Cr o'/., Subida do Monte ( \ ; o ) u i o , P I \ \ Id.,
IO OLTO

Noite...,o.c, U; \ ,2,bCasteUo...,o.c.,
III. Efeitos do e. Os fenômenos extraor- VII,3,12?S.Agostinho, Sermões57,7.7;d.LG
dinários que acompanham o e., como -> lo- 11,12;SC IO; Cf. Joáo da Cruz, Ditos de luz e de
8

amor, 27;9 Teresa de Ávila. Castelo.,., o.c, VII, 4.


cuções, —> visões e arrebatamentos, são se- 15.
cundários e diferentes da essência, que
consiste na união de amor com Deus. A paz e Breu: Aa.Vv., Vita Cristiana ed esperienza mística,
Roma, 1982; Aa.Vv., La mística e le mistiche, Ci-
quietude permanente no centro da alma são nisello Balsamo, 1996; P. Agaessc - M. Sales,
as características da plena realização do «\ Mystique, in DSAM X , 1939-1984; Ch.-A. Bernard,
Nesse ponto, o equilíbrio do corpo recons- Teologia spirituale, Cinisello Balsamo 19893; B.
titui-se e todos os le nome nos extraordiná- Calati, western Mysticism, in Downside Review. 98 (
rios5 desaparecem ou se manifestam rara- 1980), 201-213; D. De Pablo Maroto, Oraciôn y
experiência deDios, in REsp 36(1977), 147-179;
mente e com menor evidência. 6 J.cR. Maritaiii, Vitadipreghiera, Turim 1961 ; J.
O verdadeiro místico vive a dimensão Moltmann, Tliéologie de l'expérience mystique, in
ecle-sial e è firmemente radicado na Revue d'Histoire et dephilosophie religieuses,
doutrina da Igreja e na vida litúrgica e 59(1979), l-18;C.Trcsmontant, La mística
Cristiana e il futuro dell'uomo, Casale Monferrato
sacramental. Em virtude da incorporação na 1988.
comunidade cristã pelo —> batismo, o místico
potencial corresponde ao chamamento de B. Mari n i a n
Deus para a vida de união em seu amor. ü
mistério de —> Cristo presente na —>
eucaristia alimenta e medeia a experiência
completamente transformai!tc doe. Os
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ESTÉTICA

I. Noção. O termo "estética", em seu sig-


nificado moderno, remonta a Alexander
Baumgarten (t 1762), que o pôs como título de
uma obra sua ( A e s t h e t i c a . Traiesti eis

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ESTU.ITAS - ETERNIDADE
siríaci (secc. IV-VI), Milão 1990f 31-49; I. Pena - homem não viverá eternamente (cf. Gn 3,22;
P. Castellana -Jl. Fernandez, Les stvlites syriens, 6,3); seus dias na terra são limitados (et. Sl
Milão 1975; T. Spidlik, s.u, \nDSAM XIV, 1267- 90,10). Não obstante, nos chamados salmos
1275; Teodoreio di Ciro, Historia religiosa: in PC
82. místicos, Israel começa a crer numa imorla-
1 idade dos justos ao lado de Deus: Deus to-
R. D'Antiga mará consigo o justo (o espírito, nefesh, do
justo) depois da morte (cf. Sl 16,49; 73). Essa
fé se prolonga no livro da Sabedoria, com ter-
minologia que pode parecer helenfstica (psy-ché
= alma), mas que é homogênea com as
concepções dos salmos citados (cf. Sb 3,1-12;
5,15). A revelação da ressurreição escatológica,
ETERNIDADE embora com certa superposição entre tempos
messiânicos e tempos finais da história (cf. Dn
I. O conceito de e. se formou lentamente 12,1-3; cf. Is 26,9), traz consigo a promessa da
na história da - > revelação bíblica e da imortalidade também para o corpo que
rclle- morreu.
xão posterior da Igreja. A Escritura não o No NT, o conceito de e. aplicado a Deus
emprega de modo abstraio. Fala dele a res- assume relevo maior. A e. é propriedade es-
peito de Deus, e através de um processo len- sencial de Deus (cf. Rm l .20: 16.26; Fl 4,20. 1
to, de exatidão cada vez maior. Na verdade, foi Tm 1,17 etc). Essa propriedade é atribuída
em conseqüência da revelação de Deus que também ao Filho (cf. Hb 1.8-12; 13,8); esse
Israel se fez uma idéia de e. Assim é certo que lema deve ser ligado ao da e. do Logos (cf. Jo
Israel tinha consciência de que Deus existia 1,1). É característico que o adjetivo "eterno"
antes da criação do mundo (cf. SI 90,9: 102, 25- comece a ser aplicado ao mundo da salvação,
26; Jó 38,4; Gn 1,1) e de que sua existência aos bens escatológicos e também à possível
não terá fim (cf. SI 109,27-28). Deus é assim o condenação escatológica (cf. Mt 25,46).
primeiro c o último, porque abarca toda a Esse uso não deve obscurecer as diferenças
história (cf. Is 41,4; 48,12). Essa superioridade fundamentais em relação ã e, de Deus.
em relação ao tempo permite dizer que para ele Quando esse conceito é aplicado ao homem,
mil anos são como um dia (cf. SI 90,4). Deus é o contexto é sempre ou o de dom gratuito de
chamado 'El olam (cf. Gn 21,33), isto ê, Deus Deus ou, no caso da condenação, o de afir -
eterno ou, talvez. Deus antiquíssimo. No fim mação da vitória eterna de Deus sobre o —» pe-
do período profético chegou-se a afirmar que cado. Além disso, não se deve esquecer que o
Deus é eterno tanto cm relação homem teve começo que, em última análise,
ao passado quanto em relação ao futuro (cf. Is remete à ação criadora de Deus, ao passo que
40,28; 41,4; 44,6). ae. como propriedade essencial de Deus não
A e. de Deus é o fundamento de sua -> fi- teve início e não terá fim. Em todo caso, ae.
delidade (cf. SI 100,5; 146,6). Esta tem sua prometida ao homem é vida sem fim.
expressão suprema no fato de que também sua
-» aliança é eterna ("aliança eterna" como termo III. No pensamento cristão. Ü
técnico: cf. Gn 9,16; 17,7.13; ls 24,5; SI 105,8). pensamento cristão aprofundou o conceito de
Eternos são o Nome de Deus (cf. Ex 3,15; SI e. Como em muitos outros casos, foi Boécio (t
102,13), seu conselho (cf. SI 33.11; Pr 19,21), 524) que ofereceu a noção que prevaleceu no
sua Palavra (cf. Is 40,8; Sl 19,10), seu amor pensamento teológico ocidental. Segundo ele a e.
(cf. Jr 31 ( 3), sua -» graça (cf. Sl 103,17; é interminabilis vitae tola simul et perfecta
106,1), sua justiça (cf. Is 51,6.8); sua realeza possessio ("a posse simultaneamente total e
(cf. Jr 10,10; Sl 10,16). Especialmente miste- perfeita da vida interminável").1 Para Boécio,
riosa é a Sabedoria divina: dela se diz que foi "vida interminável" é vida sem começo e sem
criada desde a e. (cf. Pr 8,22-31) e que per- fim. Além disso, é importante que a posse
manecerá eternamente com Deus (cf. Écio 1,1; dessa vida seja perfeita e que seja total simul-
24,9). Na e. de Deus Israel vê a superioridade taneamente. Os seres criados têm —> perfei-
de IHWH sobre os deuses pagãos. ção limitada e, por isso, podem possuir sua
natureza só por atos sucessivos. E somente o
II. JT. participada: AT. A essas ser de perfeição infinita que pode ter a posse
afirmações total de sua vida. sem nenhuma sucessão. A
sobre Deus o AT opõe a não e. do homem. O necessidade de distinguir a e. participada da
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ESTU.ITAS - ETERNIDADE
que é própria da natureza divina levou a criar
um ternu > para a vida sem fim (mas não
sem começo) e possuída pela pessoa de modo
contínuo; esse termo referido h e . participada
é aevum.

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EUCARISTIA - EUDES JOÃO (s;ïo) 39
2

L'Eucarestia come mistero centrale, in Mysterium salutis, Além do seminário de Caen, I indou semi-
dir. di J. Feiner e M. Löliier, VIII. Bréscia nários e colégios em Coutances (1650), Li-
1975. 229-384; Id.. s.w. in K. Rahner (org.), sieux, Rouen (1653), Evreux (1667) e Rennes
Sacra-ment um mundi, VIII, Bréscia 1975, 669-692; (1670).
J. Castellano, s.v., in DES 1,956-974; A. Donghi,
Dioi con noi, Milão 1991; X.L. Dufour, Conaividere il
pane eucarístico secando il Nuovo Testamento, II. Sua doutrina espiritual corresponde à
Leumann 1983; F.X. Durrwell, UEucaristia. Sacra- sua experiência pessoal, é muito coerente e
mento dei mistero pasquale, Roma 1982; E. Galbiati, tipicamente bemliana. Para ele, "a vida cristã é
EEucaristia nella Bibbia, Milão 1968; C. Girando, a continuação e o completamento da vida de
Eucaristia perla Chicsa, Roma-Bréscial989; J.M. —» Jesus Cristo. Quando o cristão ora,
Nouwcn, Ijaforza delia sua presettza, Brescia 19974;
M. Thurian, EEucaristia, memoriale dei Signore, continua e completa a oração que Jesus Cristo
sacrifício di azione di grazie e di intercessions, Roma fez na terra; quando trabalha, continua e
1968; P. Visentin, s.v., in Dicionário de liturgia, completa a vida laboriosa de Jesus... Nós de-
Paulus, São Paulo, 1992. vemos continuar c completar em nós os esta-
dos e os mistérios de Jesus e pedir muitas vezes
A. Donghi a ele que os consuma e complete cm nós e em
toda a sua Igreja, porque os mistérios de Jesus
ainda não estão em sua plena perfeição e
completamento. Embora sejam perfeitos e
completos na pessoa de Jesus, não estão ainda
completos e perfeitos em nós, que somos seus
membros, nem em sua Igreja, que é seu —>
EUDES JOÃO (são)
Corpo místico. Com efeito, o Filho de Deus quer
tornar-nos participantes deles, e estendê-los e
I. Vida e obras. Menos genial do que
continuá-los em nós e em toda a sua Igreja,
Bérullc, menos lírico do que —> J. J. Olicr, E.
mediante as graças que quer comunicar-nos e
foi sem dúvida o mais acessível dos beru-
os efeitos que quer realizar em nós por meio
lianos. Pregador incansável de missões (mais
deles. E por esse meio ele quer completá-los em
de cem) e de retiros, diretor espiritual muito
nós... assim, o Filho de Deus deseja consumar
ouvido, deixou numerosos escritos. O pensa-
e completar em nós todos os seus estados e
mento da escola francesa reaflora em suas
mistérios. Quer consumar em nós o mistério
páginas e também nos livros mais pastorais,
de sua —» Encarnação, de seu nascimento, de
como O bom confessor, O pregador
sua vida oculta, formando-se em nós e
apostólico e O memorial eclesiástico,
nascendo em nossas almas, mediante os santos
editados depois de sua morte.
sacramentos do batismo e da divina
A —> união com Deus por meio "da vida de
eucaristia, e fazendo-nos viver vida espiritual
Jesus em nós" nos leva à graça do batismo,
e interior oculta com ele em Deus".
do qual ele não cessa de falar. Seus livros prin-
Durante toda a sua vida E., segundo suas
cipais são: A vida e o reino de Jesus tias
palavras, "fez profissão de Jesus Cristo". Seu
almas cristãs, várias vezes reeditado a partir
cristocenlrismo místico e apostólico se expri-
de 1637, O contrato da alma com Deus
mia em maravilhosas "orações" aos "corações
mediante o santo batismo (1654) e O
de Jesus e Maria" (Ave Cor) e em "orações antes
coração admirável da santíssima Mãe de
do meio-dia", todas centradas em Jesus, que é
Deus (1680).
adorado nesta ou naquela atitude, que é
Normando, nascido em 1601, viveu alguns
agradecido, ao qual se pede perdão e enfim ao
anos eui Paris; entrou no Oratório em !o23e
qual nos damos inteiramente para que ele viva
loi ordenado sacerdote em 1625; deixou o
em nós. Muito atento à pedagogia, mais ou
Oratório em 1643 para fundar o seminário de
menos como —> Francisco de Sales antes
Caen e a Congregação de Jesus e Maria
dele, e como Montfort depois dele, não esquecia
(eudistas). Antes tinha fundado a Congregação
que "a prática das práticas... a devoção das
de Nossa Senhora da Caridade (cm 1641) para
devoções... é não prender-se a nenhuma
a reabilitação das prostitutas.
prática... mas dar-se ao Santo Espírito de
Depois de ter posto os fundamentos da de-
Jesus". Para ele, a obra das obras era a
voção ao coração de Maria (1648) e ao coração
formação de Jesus em nós (cf. Gl 4,19),
de Jesus (1672), morreu em 1680. É conside-
rado pai de muitas congregações religiosas e "o B IBL .: Escritos: Oeuvres completesdu vénérable Jean
pai", o doutor e o apóstolo do culto litúrgico Eudes, ora. por Ch. Lcbrun - J. Danphin, 12
vols., Vanncs 1905-1911; Lectionnaire propre à la
aos corações de Jesus c Maria (Pio XI).
Material com direitos autorais
congré-gation de Jesus et Marie, Paris 1977; C.
Guillon, En

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I .\AXf Ü J 39
l /AÇÃC > 6

salvação a quem, por razoes várias, ainda É palavra que envia e realiza a comunhão
não a conhece ou ainda não crê", alirmava em entre o homem e Deus (cf. 1.1o 1-3; cf DV 2).
1971 a Renovação da catequese (n. 25) da Igreja 2. Evangelizara proclamar a Palavra de Deus,
italiana (ECEI/I, n. 2442). que é Boa Nova para o homem (cf. Lc 4,18-19).
"A e. é o ato pelo qual a Igreja, sob o impulso É boa nova de salvação (cf. At 13,26), sal-
do —> Espírito Santo, anuncia e efetua a vação de Deus (cf. At 28,28); para os judeus
salvação que o —> Pai, em seu amor infinito, era cumprimento das promessas (cf. At 2,39);
oferece a todos os homens em —> Cristo e por para os pagãos é resposta a pedido feito de
meio de Cristo morto e ressuscitado".2 Mas é na tentativas (cf. At 17,23-27). É boa t u n a de
Evangelli Nuntiatidi, de Paulo VI, que a e. tem reconciliação (cf. 2Cor 5,19): Deus, em Cristo
sua "carta magna", assumida por João Paulo ressuscitado, dá ao homem luz e força para
II conií > incumbência primária da Igreja e eliminar a "divisão" fundamental que sente
levada por todos os caminhos do mundo. Isso em si {cf. GS 10). Cristo recapitula em si todas
porque a t\ è "renovação da humanidade, as coisas (cf. Ef 1,10).
testemunho, anúncio explícito, adesão do E boa nova que anuncia o reino de Deus:
coração, ingresso na —> comuni dade, Jesus começou proclamando o Reino (cf. Mc
acolhimento dos sinais e das iniciativas de 1,15). A pregação é chamada "Palavra do Reino"
apostolado" (EN 24). (Mt 13,19); Paulo sintetiza seu ministério
Essa concepção "global" da e. tem eviden- apostólico como "anúncio do Reino de Deus"
temente sua fonte e sua identidade original (At 20,25; 28,31).
na referência á Palavra: "Evangelizar, para a 3. Evangelizar é proclamar a Palavra de Deus,
Igreja, é levar a Boa Nova a todas as cama - que é Boa Nova para o homem, e que se chama
das da humanidade e, por sua influência, Jesus. A proclamação cie Jesus "Senhor
transformar por dentro e tornar nova a hu- eCristo" (At 236) é o Evangelho! Jesus anun-
manidade: Eis que faço novas todas as coi- ciou o Reino de Deus. Os apóstolos anunciaram
sas" {EN 18). o lato Jesus, porque o Evangelho é ele. Esse
1. Evangelizar é proclamar a Palavra de caminho não é teoria soteriológica, é palavra
Deus. A noção bíblica de "palavra" é bastante que salva.
rica, e a "palavra de Deus" indica a nota dis - Por essas razões, a Palavra é o grande te-
tintiva de Deus em relação aos ídolos (cf. Br souro da Igreja, tesouro que ela sempre ve-
6,7; SI 115,3) e o modo de sua intervenção no nerou e do qual se nutre (cf. DV 21), porque
mundo, desde o começo da criação (cl. Gn 1) foi confiado a ela por Jesus: "Pai... as palavras
até o eschaton, que será a "consumação da que me deste, eu as dei a eles" (Jo 17,4-8).
palavra de Deus" (Cl 1 r25). A Palavra de Deus é Realizar tudo isso significa evangelizar.
ato de Deus, porque Deus age com sua palavra Mas então evangelizar não é fato verbal, não
e fala com sua ação. Por isso ela é palavra é pura transmissão conceituai; não é tanto o
reveladora: ela se faz próxima do homem (cf. Dt dever de mestre quanto obra de testemunhas
30,11-14) e cria entre o homem e Deus uma (cf. EN 41).
relação que se traduz em —> "sabedoria de "Vós sereis minhas testemunhas" (At 1,8): é
Deus" (ICor 1,21-24; 2,6-7) e que o Espírito ordem de Jesus aos apóstolos. E, segundo o NT,
Santo com inuará a sugerir no coração dos o estilo do testemunho caracteriza de modo
discípulos e a recordar continuamente (cf. Jo bastante forte o anúncio. Os apóstolos se
14,26). apresentam como "testemunhas", garan tes
A Palavra de Deus é criadora porque com ela de acontecimento - a morte e a ressurreição
se inicia a história do mundo (cf. Eclo 42,15; de Jesus - do qual fizeram a experiência na
ss.; Pr 8,22ss). E ela entra na história como convivência com ele (cf. At 1,21) e mediante o
energia que sacode e como poder que vivifica, dom do Espírito (cf. At 5.32).
ainda que desça no silêncio plácido da noite "O que era desde o princípio, o que ouvimos,
ou na doçura da chuva fecundante (cf. Sb o que vimos com nossos olhos, o que
18,14-16; Is 55,10-11). contemplamos e o que nossas mão apalparam
Eia é também palavra profética, a qual do Verbo da vida... vo-lo anunciamos" (Uo 1,1-
caminha com o homem (cf. Dt 2t),5-10). pe- 31.
netra nas dobras dos acontecimentos das Anunciar ê empenhar a própria vida no
nações e dos reinos (cf. Jr 1,9-10) e faz história que é anunciado. E ê anúncio autêntico
até inani testar-se em plenitude de graça e quando envolve toda a vida da testemunha e
verdade (cf. Jo 1,14). nasce de experiência do mistério, de modo que
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a voz do arauto é a tradução fiel da palavra de
Deus.

II. Um horizonte novo. Essas rápidas con-


siderações abrem horizonte novo, o da místi-

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EXPÜRIÊXCIA MÍSTICA 400

bo se fez carne" (Jo 1,14), e o divino se fez ascensão do homem para a —» união
cósmico. mística com Deus.
Quanio aos Padres latinos, eles usavam Essa doutrina da experiência de Deus
o termo mysterion, traduzido muitas vezes escondido nas trevas atravessou toda a
co-mo sacramentam no sentido paulino ou Idade Média. Nos séculos XVI e XVII, nos
num sentido mais amplo, mas sempre quais prevaleceu a consideração
dependente do sentido paulino. Em suma, psicológica, ao contrário, a atenção se
no âmbito cristão, falava-se de realidade deslocou para as condições subjetivas da
secreta e escondida, isto é, de Deus experiência, em particular, para as
mesmo, que transcende toda coisa; modalidades da contemplação mística e
escondidos e secretos são também os para os fenômenos parapsicológicos que
vários aspectos de Mistério salví-fico, podem verificar-se nela. O uso do termo
conhecidos pela fé, mas só de modo im- como substantivo, isto é, "místico", no
perfeito. século XVII, marca distinção entre
Com Marcelo de Ancira (t c. 374) apare- experimentar o mistério e o mistério em
ceu a expressão teologia mística, a qual, si. A atenção dada à pessoa, o estudo
retomada por —> Dionísio Areopagita, psicológico da experiência (como
teve ampla repercussão. Com essa fenômeno da consciência) e o confronto
expressão Marcelo queria indicar superficial dos conceitos cristãos oci-
conhecimento "inefável e místico" de dentais com os do extremo Oriente,
Deus. diferente do conhecimento comum. depois também algumas experiências
Dionísio Areopagita, em sua Teolo-gia "paroxísticas" (peak-experience =
mística, acrescenta uma precisão de- experiência extrema ou limite) ou alguns
terminante, saber, que esse conhecimento estados inebriantes provocados pela ->
misterioso de Deus é o ápice da droga, reduziram a mística a uma fusão
experiência religiosa 3. Embora o primeiro com o divino, ou a um sentimento su-
uso do termo "mística" aplicado a um blime sem conteúdo ou sem objeto. Assim
modo de conhecera Deus diretamente e a mística é entendida como "conceito-
quase experimentalmente pareça limite e essencial" (J. Seyppel) que
encontrar-se em —> Orígenes, foi, resume o que foi dito acima.
pois, sobretudo Dionísio Areopagita quem Na teologia posterior a 1 900 impôs-se
falou de mística no sentido de com insistência a questão de se a mística
experiência. Em seu tratado sobre os é prolongamento ou intensificação da
Nomes divinos, falando de Hieroteu, experiência da fé (R. Garrigou-Lagrange)
presumivelmente seu mestre, e da ou dom extraordinário e qualitativamente
interpretação das Escrituras, diz que novo de Deus (Foulain). Estreitamente
"arrebatado fora de si em Deus, ele ligada a essa questão pôs-se outra,
participava, de dentro e inteiramente, do igualmente importante, isto
objeto que celebrava". Depois passa para é, se a essência da mística se reduz à
outro tema, retomando um termo do qual mística dos fenômenos extraordinários.
acabara de falar, isto é, de Hieroteu e de Essa questão pode reduzir-se à seguinte
sua experiência espiritual, tà exei pergunta: a mística depende de método
mystiká. É nesse fundo saturado de ou é dom gratuito? A resposta mais
experiência que deve ser enquadrado o adequada parece ser a seguinte: a mística
livrinho Teologia mística, com o qual o cristã, mesmo reconhecendo a utilidade
Areopagita se tornou o teólogo normativo dos métodos, insiste sobretudo nos dons
da mística. O acento decisivo que ele dá à gratuitos do Espírito (J. Maritain). Ae.,
sua vasta obra é este: o ser de Deus é entendida como plenitude da vida cristã,
mistério que não pode ser atingido nem se refere sempre à gratuidade dos dons de
pelo saber nem pela experiência; pode-se Deus, com o qual se entra em união
somente, como Moisés no monte Sinai, íntima de amor no plano experiencial.
entrar na nuvem escura do mistério. O O outro termo com o qual a mística foi
mundo precedente, rico da experiência designada no curso da história é
das múltiplas percepções, abre-se para misticismo, termo esse que em várias
Deus somente se o mistério divino línguas européias tem significado antes
permanente não for desfeito (teologia negativo, de pseudomística, ao passo que
negativa): Dionísio "canta" assim, em inglês e em italiano tem geralmente
servindo-se do símbolo de Moisés, a sentido positivo e é sinônimo de mística.
Mas é verdade também que com esse ter-
mo se indicam a tendência, a aspiração, a
expressão de uma necessidade, a procura,
em suma, certo dinamismo vital. 4
Algumas vezes os autores católicos o
contrapõem à mística para indicarem os
desvios que têm aparências de mística,
como, por exemplo, a teosofia, o
espiritismo, o —> quietismo etc; em lodo
caso, é evidente que "mística" subentende
sempre a idéia de experiência do divino. 5

II Experiência religiosa e experiência


cristã. É necessário precisar o conceito de

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K XF KRI ÊM C IA MIS 404
l' ICA

Por outro lado, a mística é principalmente nesse caso, notar que à suma
substancialmente a tomada de consciência atividade ou colaboração do homem com a
dessa experiência do Espírito vivida pelo ação de Deus deve corresponder uma suma —
crente em seu íntimo. Traía-se mais > passividade, que consiste em deixar-se
propriamente de processo de interiorização tio formar por Deus. Enfim, pode-se afirmar
Mistério cristão isto é, da revelação do Filho que a espiritualidade se posiciona no plano
de Deus encarnado no âmbito da Igreja cujas do viver segundo o Espírito, ao passo que a
condições normais de crescimento são a vida de mística se posiciona no plano do ser ou, em
fé e a vida sacramental. Por isso ae. é fruto termos mais apropriados, cio "deixar-.se
da fé.23 Pode-se lalar então de mística formar" por Deus. As duas são a estrada que
experimental.2* O Padre V. Bainvel, na todo batizado deve percorrer ao tender à
introdução à reedição do livro de Poulain, perfeição, a fim de conseguir a comunhão
repropõe sua concepção cie vida mística, mística com Deus Pai, Deus Pilho e Deus
definindo-a assim: "Vida da graça tornada Espírito Santo, comunhão possível já nesta
consciente, conhecida experimentalmente". vida, mas plenamente saboreável na outra
E, explicando seu pensamento, continua: "Com vida. A ação constante do Espírito
isso penso que Deus concede à alma mística santilicadorconduz, portanto, à -> inabitação
alguma coisa como um sentido novo, como a das três Pessoas divinas no íntimo do cristão,
consciência de sua vida em Deus e da vida de sendo a promessa tornada então realidade: "A
Deus nela. Essa consciência vai se ele viremos e nele estabeleceremos morada" i
desenvolvendo pouco a pouco, seguindo a J« > 14.2 V). Essa presença divina não é
evolução da vida mística, do sentimento da somente dado objetivo, mas também experiência
presença de Deus ou de um —> ti >que pessoal da inabitação trinitária.27
amoroso dele na alma até a cooperação divi - Com isso não negamos que o Espírito, so-
na para todos os nossos atos sobrenaturais c beranamente livre, harmonize seu dom caris-
para a união (acidental, mas imediata) entre mático místico com o caráter e a mentalidade
Deus e nós, entre a sua substância e a nossa, da pessoa em questão. Justamente porque
englobando a \ ida de Deus e suas operações essa inabitação divina no místico é dom e
em nós, a nossa vida c as nossas operações não recompensa, ela o faz plenamente
nele. Isso é, ao mesmo tempo, conhecimento e homem, provocando no sim de sua nova
amor, predominando às vezes o conhecimento, personalidade de homem novo a resposta à
às vezes o amor".25 sua vocação ôntica para a união com Deus.
Existem dois modos de tender a essa ex- Essa pura e
periência: um, mediato, o outro, imediato, se nua estrutura da resposta humana é fruto de
bem que os dois sejam dons gratuitos de fé profunda, de —» esperança que é tensão
Deus. C) primeiro é o caminho da perfeição, para a plu na maturidade e de caridade en-
percor- raizada cada vez mais em Deus como em sua
i ido em etapas ou em ■ • graus pelos verdadeira origem. Isso é tão verdadeiro que, por
cristãos, divididos, segundo uma classil meio do Espírito, verifica-se na e. um querer
icacão tradicional, em principiantes, humano tão identificado com o querer divino
adiantados e perfeitos, através de três estágios que dá origem a urna vida nova, isto é, a uma
fundamentais: purificativo, iluminalivo e vida de caridade. Isso significa que o Espírito,
unitivo. O segundo modo, imediato, é cm sua ação transformante e divinizante,
concedido diretamente por Deus a quem ele respeita o homem. Mais ainda. A divinização
quer e quando ele quer, acima de qualquer do homem comporta sua plena humanização,
esquema lógico e cronológico. Em uma e outra numa unificação harmoniosa de todo o seu
modalidade de e. é sempre necessária a ser; cm outros termos, participando da
colaboração do homem, que, nesse ponto de comunhão de vida das Pessoas divinas, ele se
sua vida espiritual, se faz instrumento nas torna plenamente homem e Deus por
mãos de Deus. Trata-se, em termos concretos, participação, no sentido de que
de trabalho de escavação, que o homem deve atinge amadurecimento humano c espiritual
lazer entre as estratificações de seu ser até perfeito. Superando seus limites humanos
chegar à substância do ser, isto é, à forma que para dar atenção de amor só ao Deus de Je-
enforma todas as coisas: a Deus Trindade de sus Cristo, ele é introduzido nas trevas lumi-
amor, fonte primeira, da qual procedem nosas do mistério intrati initário, onde não
homens e coisas. É importante,
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distingue mais entre o conhecer por fé e o
amar por caridade.
Agora ele já está no conhecimento por amor
do qual fala —> Boaventura, quando define a
mística como cognitio Dei speri-mejitalis, isto é,
"conhecimento de Deus fundado na
experiência".28 No auge dessa experiência, o
místico é unido às Pessoas divinas num
profundo intercâmbio divino de conhe

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EXPERIÊNCIA MÍSTICA 4US
gar à comunhão-transfoimação cm Deus, ainda Somente Tu, ainda Tu, sempre Tu. Céu
não definitiva. Tu.
A —» mística da luz consiste na iluminação Tu terra, Tu. Para onde quer que eu me volte,
da escuridão do não-conhecimcnlo mediante a para onde quer que eu olhe. Tu, Tu, Tu!"47
luz divina, que se mostra e se deixa expe- NOTAS: 1 Cf. L. Bouver, "Mystique". Essai sur
rimentar em raios de luz. Na Escritura, espe- l'histoire dun m o t . in VSpS 3 (1943), 3-23;2 Cf. a
cialmente no AT, Deus é representado como esse respeito Hugo Rahner, Mysterion. Il mistero
luz, e suas epifanias se dão na forma de ilu- Cristiano e i misteripagani, Brescia 1952;3 Cf.
Dionísio Areopa-eita, in Ia.., Teologia mística,
minações, visões e fulgurações. É principal- Tuite le opere, Milão 1931. 406-407;4 Cf. R.
mente na Igreja ortodoxa que se insiste na Moretti, Mística e misticismo oggi, in Aa.Vv.,
mística da luz, por meio da qual é possível Mística e misticismo oggi, Roma 1979, 28-41.3 No
receber a visão da Luz incriada (por exemplo, início de sua obra intitulada Teologia delia
no hesicasmo), fim último da vida espiritual. mística, traduzida em italiano com o título La
scala del paradiso. Teologia delia mística, Brescia
A mística contemplativa, enfim, é vivência 1979\ A. Stolz, por exemplo, faz notar como
espiritual que se propõe no termo da expe- todos, atualmente, estão de acordo em
riência espiritual de oração. De fato, a oração reconhecer que este termo subentende uma
se inicia de modo discursivo e, na fase experiência do divino. Veja-se a esse respeito B.
Callati, Teologia deliu mística, in Id., Sapienza
contemplativa, se reduz a ato simples, como
monástica, Roma 1994, 141-172; cf. também A.
conclusão do processo de pneumalização, da Bertuletti, IIconcetto di "es-perienza" nel dibattito
parte do Espírito. Assim o místico, que em fondamentale delia teologia contemporânea, cm
tudo é "renovado e movido por Deus"4* e nele é Teologia, 5 (1980), 283-341; G. Moioli,
totalmente recolhido, é como que arrastado e Dimensione esperienziale delia spiritualité, in
Aa.Vv., Spiritualità: fisionomia e compiti, Roma
absorvido dentro do turbilhão da vida 1981, 45-62; 6 Cf. L. Duch, La experiência
t t iniiat ia. religiosa en el contexto de la cultura
contemporânea, Barcelona 1979, 39; veja-se
VIII. Peregrino do Absoluto nas estra- sobretudo A. Godin, Psicologia delle esperienze
religiose. Il desiderio e Ia realtà, Brescia 1983; 7
das <lo mumlo. Á e. até aqui descrita não é Expérience chrétienne et communication de la foi. in
realidade desligada da história, mas é situa- Con 9 ( 1973), 74-75;* J.-R. Ârmo-gathe,
da, por meio do místico, no coração da história Experienz/2 dello spirito e tradizione cristiana, in
como testemunho concreto do Deus de Jesus Can 30 (1977), 18; v Assim escreve s. Boaventura
Cristo. O místico não é, portanto, espírito a
esse respeito: "O conhecimento experimental da
satisfeito consigo mesmo, fechado em si para doçura divina aumenta o conhecimento
luizir do convívio humano c permanecer em especulativo da verdade divina, porque Deus
solidão estéril. Ao contrário, ele é aberto aos revela seus segredos aos seus amigos e aos seus
outros pela comunicação do amor; antes, ele íntimos" (in IVSent., LUI, dist. 34, a. 2, q. 2,
2m); ,0"Éoportuno insistir sobre o fato que a
vive em —> solidariedde com os outros, parti- experiência do Espírito não é experiência da
cipando das aspirações, das alegrias e das graça, isto é, de ordem mística: isso levaria a
dores deles, para edificar com eles a cidade conceber a experiência cristã como experiência
celeste e narrar, aqui e agora, as maravilhas mística em nível inferior. É a tentação
que Deus vai realizando nele (cl. IJo 1,1 o ) e quietista (ou pietista) de não admitir a
experiência senão como só teologia - portanto
na história dos homens. Nas estradas do para reservar a alguns a experiência cristã...
mundo, o místico, como o Ressuscitado cm O homem religioso faz experiénea ativa, mas o
Emaús, se faz companheiro de viagem dos teólogo que se humilha, usufrui também da
homens, a fim de fazer de sua vida mística experiência do conhecimento", J.-R. Armogathe,
Esperienza..., a.c, 22-23; 11 Cf. a este propósito H.
humilde serviço de co-redenção e mediação de Lubac. Mística e mistero Cristiano, Milão 1979,
entre o Salvador e a humanidade. sobretudo na p. 7 na qual o conhecido teólogo
O místico, justamente porque não é espí- afirma; "Se é necessário entender por 'mística'
rito desencarnado, está todo empenhado na certa perfeição alcançada na vida espiritual,
colaboração e no completamento da obra certa união afetiva à Divindade, então, para
um cristão, não se pode tratar de outra coisa
criadora dos primeiros dias e em tornar novas do que a união com o Deus Tri-pessoal da
todas as coisas, segundo a ação salvífica do revelação cristã, união realizada por Jesus
Cristo (cf. Ef 1,10; Rm 8,22). A sua e. é, em Cristo c por meio da sua graça; dom 'infuso' de
conclusão, fragmento da eternidade de Deus contemplação 'passiva' "; *2 "Deus não é ente
entre os outros, como os que se encontram no
na história vivida de cada pessoa, a fim de mundo e são percebidos pelos sentidos humanos
cantai* com sua vida a Canção "Tu" do ra-bino e com os critérios espirituais com uma
hassúlico de Berditschev. do séc. XVIII, na experiência [experimentar significa literalmente:
Europa central: "'Para onde quer que eu vá. 'verificar viajando, transpotando-sc para o lugar'.
Tu; onde quer que eu me detenha, Tu. E o próprio 'viajar' deriva da mesma raiz 'para'
(imergir nalguma coisa, peneirar alguma coisa,
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viajar através), como o latim per = através, ex-
per-ientia = experiência adquirida fazendo ten-
tativas; em grego peira = experiência, peiro = pe-
netrar, periao = tentar, privar, conhecer] que
enriquece no curso da vida. Por isso, deve-se
esperar.;

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EXPERIÊNCIA MÍSTICA
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Í.XTAS 41
.I: 2

que quem ama não pertença mais a si mes - podem introduzir-se enos. Martin Buber
mo, mas só ao amado". mostra cm
No realismo típico da Idade Média, as ex- Ich und Du ("Eu e tu") que o esquecimento de si
periências extáticas empiricamente apresen- mesmo no divino pode ser interpretado como
táveis se tornaram cada vez mais irequente e fusão panteísta e não como experiência de
importantes. Não por acaso, o primeiro a amor extático.
receber estigmas físicos foi — > Francisco de A onda do que se verifica na própria psique,
Assisr em 1224; os —* estigmas são feridas provocada pela experiência mística, torna
correspondeu tes âs chagas de Jesus. viva/ a visão inuma do mundo posta na
Anteriormente, segundo Gl o. 17, eles tinham alma ou induzida pela cultura. H assim essa
valor, "somente" como referências espirituais experiência toma corpo ou, melhor, se "torna
aos sofrimentos da paixão. Também outros psíquica" em representações de vários gêne -
lenó-rnenos "extáticos" se tornaram cada vez ros, como, por exemplo, a viagem celeste da
mais freqüentes: —> levitações, desmaios alma através do inferno, murada por Dante
físicos e espirituais, > transes, > visões, (t 1321), em ampliações da consciência, como
ampliação do conhecimento e transmigração relatado pela moderna pesquisa sobre a >
da alma. faculdade de fazer milagres etc. meditação, em sonhos nostálgicos da in -
Grande parte do que acabamos de dizer é fância e no esquecimento de si etc.
confirmada por uma interpretação simbólica, Em pessoas de notável sensibilidade física
mas a tendência paia o realismo se mani festa essa experiência pode c< tncreti/ar-se
também na concretude de tais experiências. — também em fenômenos físicos particulares,
> Eckhart, por exemplo, polemiza tais como: uma espécie de desmaio por causa
expressamente com uma espiritualidade ex- do e. interior naquele que repousa em Deus e
cessivamente realista e exterior de conventos não mais em si mesmo, ou a levitação,
femininos, nos quais o desmaio físico e a au- segundo ;i narração de —> Tereza de Ávila,
sência de consciência eram entendidos como que era bastante sensível, do ponto de vista
dons místicos. No campo que se define como psicossomático. Escreve Rahner, em Visões e
"êxtase" aparece a diferença entre sua inter- profecias, que, para a determinação do
pretação espiritual (Dionísio Areopagita), para a elemento sobrenatural de certos fenômenos, é
qual se inclina -> Tomás de Aquino (ela irrelevante se eles são, por assim dizer,
transporta o amante para fora de si), e os causados diretamente por Deus ou se procedem
estudos empíricos de ausência mental ou de da ação conjunta do contato interior com
eventos miraculosos. Deus e da reação psicossomática
subseqüente.
II. No Âmbito da mística cristã tem valor, Os —> fenômenos extáticos da mística cristã,
sem nenhuma dúvida, como critério de como os de -» Catarina Emmerick, atestam
avaliação, o e. entendido em sentido espiri- uma experiência Lotai de Deus, a qual
tual, no cuia! a pessoa transfere para Deus investe tanto o corpo como a alma, mas a
ou para -» Jesus todas as suas faculdades inte- extraordinariedade deles não pode ser indício
lectivas, sensitivas e volitivas. Esse fenômeno, de causalidade divina imediata Para os
segundo o passado cultural c a iormaçâo estudiosos, trata-se de "fenômenos extraor-
pessoal, pode ser experimentado e definido dinários acompanhados de evento místico",
lambem como "en-stase"; nele, mediante o os quais muitas vezes podem ser reduzidos a
espirito de Jesus, Deus pode tomar a pessoa causas psicossomáticas ou socioculturais.
ao ponto de fazé-Ia dizer "não sou eu que Nos processos de canonização, a Igreja tem
vivo, mas é Cristo que vive em mim" (Gl 2,20). atitude cautelosa e muitas vezes cheia de re-
A fenomenologia desse e. pode ler resultados serva cm relação a esses fenômenos.
diferentes, como o esquecimento total e o Em muitas práticas das religiões encon-
quase aniquilamento do "eu". tra-se o itinerário oposto, o qual consiste em
Mas a dinâmica do cu para o t u divino, querer chegar a estado dee. daalma por meio
inatingível ou completamente transcendente, de exercícios do corpo, entre os quais são
permanece determinante, ainda que o e. de aceitas algumas práticas ascéticas típicas do
amor faça esquecer iodas as diferenciações. cristianismo. É necessário ter presente a to-
Quando essa primitiva —> experiência talidade do homem também em sua expe-
mística do amor, que deve ser entendida riência mística; por isso, é legítimo o princí-
como e., se torna conscientemente refletida, pio segundo o qual a mística, em sua essência,
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é iruio de dom divino livre, e não da capaci
dade humana. Também na prática meditativa
do e. esse dom deve apresentar-se como
experiência de amor que taz a pessoa esque-
cer-se de si no Oulro.

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FANTASIA - FÉNELON FRANÇOIS 522
tem sensibilidade para ouvir. Os —> em missão a Poitou e Saintonge, por
salmos estão cheios da ressonância desse indicação de —» Bossuet. Em 1688, E
cântico das criaturas que louvam a seu conheceu —» M.me Guyon, mística que
modo o Senhor; b. com a ajuda da imaginação, pregava a -* oração interior e professava ->
podem ser compreendidos melhor os quietismo moderado. Os escritos de M.me
mistérios do —> Cristo feito homem. —> Guyon foram submetidos a Godet de
São Bernardo diz que Cristo desceu até o Marais (t 1709) e a Bossuet, que a
inimaginável. O mistério de Cristo se obrigaram a retratar-se. Por insistência
desdobra nos mistérios da vida, paixão, dela, foi constituída uma comissão,
morte e ressurreição. A f. pode representar formada porTronson, Noail-les e pelo
esses mistérios através da contemplação. próprio Bossuet, com a participação
Assim também Cristo se faz via do homem indireta de F. Com os Articles de Issy, a
contemplativo; c. a f. não ultrapassa a maté- Comissão procurou codificar numa "suma"
ria, embora chegue à abstração do de trinta e quatro artigos toda a doutrina
segundo grau, como nas figuras abstratas. mística. Justamente por causa desses
Por isso, é necessário deixara/! na —> artigos, a polêmica, em vez de encerrar-
contemplação dos mistérios profundos de se, aumentou. Enquanto Bossuet
Deus, porque ela não pode ser usada pelo preparava uma notável Instruction sur les
intelecto metafísico, antes, pode états doraison (1697), F. antecipou-se de
perturbar a paz da contemplação mística, alguns meses com as Maxi-mes de Saints
na qual a alma, guiada pelo Espírito, (1697).
entra na profundeza do mistério de Deus. Nessa obra são desenvolvidos quatro
pontos fundamentais, aos quais podem
N OTA : 1 Aristóteles. De anima, II, 431.20.
ser reduzidas todas as "máximas" dos
B IBL .: C. Cornoldi, Memoria e immaginazione, santos, isto é, seu ensinamento a respeito
Pádua 1976; P. Fossi, Fantasia e onnipotenza, da vida interior. As teses sobre o —> amor
Turim 1981; G.G. Pesenti. 5.V.. in DESII puro se concentram também em quatro
988-990: V. Rodriguez, Los sentidos internos,
Barcelona 1993; J.T. Shaffcr, Tlw Potentialof pontos: I. todas as vias interiores que
Fantasyand Imagination, Nova York 1979; levam à —> perfeição tendem ao amor
Tomás de Aquino. S 77T I, q. 78, a. 4; Id., puro e desinteressado; 2. as provas
De anima, art. 13. encontradas na via para a —> santidade
A. Lobato têm como objetivo a purificação do amor;
3. a —> contemplação, também na fase
mais elevada, nào é senão o exercício
suave desse amor puro e desinteressado;
4. o estado mais
elevado da perfeição, aquele que é
chamado "via unitiva" ou "estado
FÉNELON FRANÇOIS passivo", é a plenitude desse amor ou
estado habitual desse amor.
I. Vida e obras. François de Salignac de O Breve (1699) contendo vinte e quatro
la Mothe nasceu em 1651, no castelo de proposições de R , tiradas das Maximes des
Fé-nelon, no seio de família nobre, e Saints - omitida a expressão herética ou pró-
morreu em 1715. Seu pai era o segundo xima de heresia - condenou o estado do puro
filho de Salignac e senhor de Ponz de amor, mas não se pronunciou a respeito
Salignac. Educado na juventude de da natureza do puro —> amor ou da
maneira simples, sólida e cristã, caridade desinteressada, que podem,
freqüentou a Universidade do Cahors, portanto, ser considerados como
onde terminou sua formação humanística semiquietistas. A essência do puro amor
e os estudos filosóficos. No seminário de consiste no seguinte: a caridade é amor a
São Sulpício, em Paris, conheceu —> Deus por ele mesmo, independentemente
Olier, do qual recebeu influência benéfica. da bem-aventurança que se encontra nele.
Depois da ordenação sacerdotal, em 1676- Nessa situação procura-se a relação entre
1677, iniciou sua atividade de pregador. caridade e —> esperança, uma vez que
O arcebispo de Paris, tendo conhecimento justamente pela virtude teologal da
de sua fama de pregador, nomeou-o esperança se tem a bem-aventurança de
superior das Nouvelles Catholiques. Depois da Deus, que parece excluir o desinteresse.
revogação do Édito de Nantes, foi enviado
O bispo Godet de Marais, teólogo
místico de rara fineza, assim se exprime
em sua carta pastoral sobre as Maximes des
Saints: "Trata-se de saber se existe um
estado justo na terra, independente da
esperança cristão como motivo; se a vida
beatificante de Deus não aumenta em
mais nada o amor puro no estado de
perfeição; se a esperança pode ser
conservada sem ser exercida tendo como
motivo a recompensa eterna; se a
verdadeira purificação das almas consiste
em sacrificar esse motivo de interesse
supremo para a nossa salvação".

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FANTASIA - FÉNELON FRANÇOIS
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FERRINl CONTARDO visível em toda a sua plenitude somente sob
420
A fama de sua santidade se difundiu rapi -
damente, e em 4 de julho de 1924, foi intro- a luz de sua experiência espiritual. A sua
duzida a causa de sua beatificação. O pro- consciência profissional, até em suas raízes
cesso se encerrou em 14 de abril de 1947, mais profundas, era iluminada c guiada por
quando foi declarado bem-aventurado e urna fé pura e por uma vontade forte de servir
"modelo do católico de nossos dias" por Pio à verdade em todas as suas manifestações,
XII. procurando Deus cm todas as coisas.
Seus escritos religiosos e suas cartas, me-
II. Atividade e obras científicas. Como ditações e pensamentos podem ser considerados
catedrático. F. levou a efeito intensa produ- pequenos tratados espirituais, nos quais se
ção científica. Chegam a perto de duzentos manifesta sua constante união com Deus, A
seus escritos, que vão das obras maiores — sua vida cristã de leh'o consagrado se fun-
revisões críticas de antigos textos jurídicos - dava na eucaristia e no exercício do evanuc -
aos numerosos artigos para revistas especia- lho da caridade, constantemente preocupa do
lizadas e às contribuições para enciclopé- com os pobres.
dias, especialmente de direito. Desses escritos recordemos principalmente
Essa atividade e produção de pesquisador o Regolamento di vita (1888), o Programa di vita
levou o famoso estudioso T. Mommsen a dizer dei giovane Cristiano (1880) e Unpod'Infinito. Sua
que "graças a í ( o primado dos estudos fisionomia espiritual se fundava na leitura
romanísticos está passando da Alemanha assídua dos Padres da Igreja e num
para a Itália". conhecimento particular das obras do jesuíta
L. du Pont.
III. Experiência e escritos espirituais. F. foi o místico da união com Deus, no
No ambiente cultural frio e impregnado do qual ele estava imerso, e ao mesmo tempo,
culto da razão, proclamado pela íilosotia do por assim dizer, o místico do fato e da ação,
Iluminismo, e no despontar do Romantismo, daquela operosidade que não era considera-
com o qual surgiu um novo sentido da histó- da (pelos que desconhecem a ordem divina)
ria c de sua pesquisa em todos os campos, como fim de si mesma e elevada a uma es-
situa-se a figura modesta, dialogante, de ho- pécie de sucedâneo da religião, mas que re-
mem de finas —> cultura, —> política e —> cebia estímulo e força, dignidade e eficácia do
caridade de F. Ele compreendia que o homem Criador e Senhor de toda verdade. Sua vida
é um ente finito que tende para o infinito, que e sua doutrina são uma síntese de fé e
tem uma alma imortal, a qual atravessa o cultura plenamente inculturadas em seu
abismo que divide o mundo material do espi - tempo. Ele foi uma voz quase profética de
ritual, e que, separando-se do corpo, voa para presença discreta do evangelho operante na
as margens da eternidade, para diante do olhar atividade cultural, na politica e na prática
e do juízo de Deus. Para essa alta meta teve solidária como resposta às pobrezas de seu
ele sempre voltados o olhar e o pensa mento mundo.
durante sua caminhada terrena, nu -trindo-se
do saber e da ciência humana histórica e B IBL . Obras: Todos os estudos de Ferrini foram
jurídica, mas tendo como alimento vital e reunidos em E. Alberlario - V, Arancio-Ruiz -
P. Ciapessoni (orgs.). Opere di Contardo Ferrini, 5
substancial de seu espírito a piedade e a —> vols., Milão 1929-1930; A. Codagheng, Pensée et
virtude, hauridas na —> revelação divina, Ekvations, Paris 1930; Mgr. Minoretti(org.) Sctitti
a t i m de identificar-se com Cristo no togo da religiosi di Contardo Ferrini, Milão 1931, 1947; G.
caridade. Pellegrini (org.) Scrítti religiosi di Contardo
Para E , o direito, com sua história e seu Ferrini, Turim 1924, 1926. Estudos: Aa.Vv.,
desenvolvimento, não era objeto isolado de Miscellanea Contardo Ferrini, conferente e studi
nel fausto evento delia sua beatifteazione, Roma
uma pesquisa científica que tivesse sua 1947; G. Anichini, Un astro di santità e di
satisfação em si mesma, mas a aplicação da seienza, Roma 1947; C. Caminada, Vita di
lei eterna e da lei moral divina à realidade da Contardo Ferrini, Roma 1947; C. Castiglioni,
vida humana como uma das colunas firmes s.v, in DSAM V. 199-200; J. Cottino,s.v., in BS V,
que, fundadas em Deus. concorrem para a 656-658; I. Giordani, Contardo FerrinL Un Santo
edificação da sociedade e para o bem universal tranoi, Milão 1949; H.R. Harraro, s.u, in NCE V,
896-897; B. Jarret, Contardo Ferrini, Londres
dos povos.
1933; C. Pellegrini, La vita dei professor Contardo
Em /'.', o —> trabalho profissional e a vida Ferrini, Turim 1928; A. Portaluppi, Vanima
pessoal estavam unidos indissoluvelmente; religiosa di Contardo Ferrini, Al ha 1942; M.
por isso, .sua figura de estudioso se tornou
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Vaussard, Le bienheureiix Contardo Ferrini, in
N R J h 70 (1948), 289-302.

V. Mosca

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FIDBUJMDK - FIO URA MÍSTICA 42
4

vados (cf. Mb 2.18). a humanidade inteira é A eternidade do amor de Deus.


revestida da f. de Deus e diz seu "amém'' (cf. cnconlran-do-se com a história concreta de
2Cor 1,19-21). cada pessoa, naquela hora e naquele lugar, faz
Da parte da pessoa, a f. se exprime na ade- surgir outra eternidade: ele chama a pessoa
são plena ao amor de Deus, que se manifesta para estar com ele estavelmente, para
em sua vontade: quem observa os manda- sempre. Desde sempre, em seu grande amor.
mentos de Jesus permanece em seu amor Deus nos escolheu em Cristo para sermos,
como ele. tendo obsenado os mandamentos para sempre, santos e imaculados em sua
do —+ Pai, permanece em seu amor (cf- Jo presença (cf. El 1,4). Ele desde sempre, nós
15,10). A f. consiste em seguir total e cons- paia sempre. O seu "desde sempre" nos
tantemente toda inspiração interior em res- arrasta para um sempre. Alcançada pelo
posta aos convites do Espírito, que fala ao amor de Deus, a pessoa é envolvida num
coração do homem. A /. nas "coisas pequenas" processo de amor que não tem fim e avança
significadas pela vontade de Deus no mo- para a ► eternidade, envolta no infinito. Da
mento presente dispõe a pessoa para o aban- parte de Deus. a nossa história não têrn
dono confiante e para deixai se conduzir pelo princípio, porque é "desde toda a eternidade".
Espírito: "Quem é ticl nas coisas mínimas é De nossa parte, ela se inicia com o chamado
fiel também no muito" (Lc I 6,10). pessoal de cada um de nós, mas sente o
sabor da eternidade, porque não lerá fim.
II. Na vida cristã. Assim a em sua rea- E claro então que o amor, paia ser verda-
lidade dinâmica e criativa, se mostra como deiro, não pode ler limites de tempo. O amor,
adesão a um desígnio de amor que se desdo- para ir às profundezas, tem necessidade de
bra dia após dia em modalidades inéditas, duração. Requer tempo para alguém apren-
desígnio procurado com obstinação, apesar dos der a conhecer-se plenamente. Ê só com o
obstáculos e dos erros eventuais. A decisão de tempo que se atinge a intimidade verdadeira.
amar não é tomada uma vez por todas; é Uma relação autêntica e profunda é fruto de
renovada continuamente. É aventura na qual uma vida.
se descobre a novidade perene do amor de
B IBI ..; P. Adnès, s.tt, i n DSAM V, 307-332; H.U. von
Deus. Nota-se que é ele que guia. trabalha, B ;illh:isar. Duw ha il sim >iiií<> ftuhdtà, i n Cmn ^ (1976)
purifica e faz crescer. E cie que, por .seu 26, 5-20. A. De Sutter- M Caprioli, s.v., in D ES
Espírito, vem a nós para responder aos sempre II, 998-1000; A. Gelin, Fidelaâ de Dieu fideldé à Dieu, in
novos chamados que assinalam o caminho da Biblee: Vie < htêtienne. I s (1956); (_. Spicq, Ui fideliíê
dans la Bible, in VteSp 98 (1958), 311-327.
vida. Daqui a dimensão ativa e ao mesmo
tempo passiva da f.: a nossa tensão, sempre E Cia rdi
renovada, para renegarmos tudo o que não c
de Deus e para dar-lhe completamente
coração, mente e loiças; a ação de Deus, que
vem ao encontro de nossa fraqueza e toma a
iniciativa de nossa —> purificação, de nossa
- > doação e do > itinerário de nossa vida
espiritual. FIGURA MÍSTICA
A /. se torna relação viva e dinâmica,
colóquio no qual se dizem .sempre as mesmas I. Verdadeiro e falso místico. Damos aqui
coisas, mas leitas sempre novas pelo amor as características que distinguem o
Como toda relação, também essa tem verdadeiro do falso místico. Nesse contexto, o
história, caminho, crescimento, com místico é aquele que entra em contato
momentos belos, com diliculdades, perdas, imediato com
noites, novos i m pulsos, lu/, paz, Deus, seja enquanto favorecido com -> visões,
intimidade... E diálogo no qual se tece um -> revelações ou outros lavores extraordiná-
vínculo cada vez mais profundo, pelo qual o rios, seja enquanto pessoa santa, dotada da
homem se realiza plenamente, num clássica —> contemplação infusa, chamada
crescimento continuo, que o leva a tornar -se também —* união mística. No primeiro caso.,
a obra-prima que Deus pensou desde sempre o contato com Deus se dá através da —» fé, em
quando nos pensou no Verbo: nunca se fenômenos carismáticos que pertencem à esfera
termina de conhecer e amar O amoré sempre da sensibilidade. Por outro lado, a união
novo: é a renovação permanente. mística é transformação espiritual pro-iunda
tle todo o ser humano por meio da l é e do
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amor. É só essa última que pode ser chamada
de mística no verdadeiro sentido da palavra.

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FÍLON DH ALEXANDRIA entusiasmo de quem contempla as idéias
eternas a convite da sabedoria divina, a
celas judeus-egípcios, chamados inteligência ou o nous, o 428
therapeutae. que I . opõe aos essenios. Seus
numerosos escritos repropõem a questão da qual, sem bebidas inloxicantes, mas impeli -
unidade do corpus filoniano, por causa de seu do pelo amor de Deus, sai de si mesmo, Por
ecletismo. Procurando um método que não é isso, o êxtase é chamado conhecimento ou
nem estritamente sistemático, nem mera amor. Entre os intérpretes recentes, há quem
compilação u e elementos heterogêneos, F. se (A. J, Festugière, M. Mach) negue q u e se trate
interesse mais pelo episódico, de modo que a de união mística com Deus; outros (J. E.
unidade conseguida é fragmentária. Menard) a admitem. Seja como for, a essência
de Deus permanece estritamente inacessível,
II. Doutrina, A • contemplação leva ã sem nome, inefável e incompreensível; o que
mística? A sua espiritualidade se inspirava o homem pode saber positivamente de Deus é
na fé judaica e no que ela ensina sobre a ima- só que ele existe; F. chama as qualidades de
gem de Deus no homem, li identificada com Deus dynameis (potências). Por causa dessas
seu nous. o intelecto - uma espécie de deus idéias, F. é chamado pai da —»teologia
dentro do homem - o qual contempla as negativa; nos Capadócios ( f i m do século IV).
idéias. As idéias se encontram num mundo as idéias recordam a distinção entre a essência
inteligível, existente antes na mente de Deus. e as energias de Deus, distinção essa que,
E chama esse mundo inteligível de Logos, o embora não provenha dele, teve muita acei -
Nous (mente). Significando "razão" e "palavra", tação no —> hesicasmo ou mística palarnita
o Ixtgos existe como a palavra imanente de (século XIV). Tecnicamente, I. parece ter lido
Deus, antes ainda de existir como e n t e in- uma forma de mística medioplatônica (B,
dependente. O arquétipo do homem perfeito é McGinn, E. Goodenough, D, Winston). Tal vez
o mesmo Logos, que, contemplando as idéias, se possa dizer que em F. —* o ideal místico,
as cria. Essa antropologia espiritual seguia atingido por Moisés no Sinai, e por alguns
hermenêutica íormada, em parte, segundo o patriarcas, seja atingível, na prática, só a t é
modelo da que estava em uso nas certo ponto. Outra reserva relativa à
escolas \\\ eeas para o estudo de Homero e espiritualidade íiloniana vem do ideal plató -
de outras obras literárias. Hm hora nessa nico de libertação da carne, separação tão
exegese espiritual tenha sido precedida por precisa entre espírito e matéria que lhe valeu a
Aristóhu lo (séc. II a.C), F. foi o representante acusação de dualismo.
máximo dessa corrente. Desse modo, conceitos 11. A. Wolfson vê em F. a matriz filosófica
platônicos e estóicos passaram a fazer parte comum do —> judaísmo, do cristianismo e do
do pensamento judaico. Quem apareceu a islamismo. Por causa das circunstâncias, F.
Moisés na sarça ardente loi o Logos, mediador não teve muita aceitação entre os judeus. São
entre Deus e o mundo visível, c do qual o óbvias, por outro lado, suas afinidades com os
sumo sacerdote é imanem. Essa hermencu- —> Padres, por exemplo, o discurso sobre o
tica, que privilegia o sentido espiritual, era Digos, que aparece a Moisés, semente de toda
praticada, pelos rabinos palestinenses, dos as revelações nos pré-nicenos (são Justino, são
quais, porém, ele se distancia. Com efeito, ela Teófilo de Antioquia, santo Ireneu de Lião), como
interpreta o messianismo escatológico em também com a teologia negativa dos
termos de uma -» ascética que, segundo o capadócios. Mas concluir que haja
modelo da emigração de - > Abraão de Ur dependência direta c mais difícil, mas há
dos caldeus e do primeiro êxodo do Egito, possibilidade de fontes comuns. J. Pollard
liberta o espirito da matéria. Essa ascese pensa que o Prólogo de João seria o mesmo,
culmina sem F.,
num êxtase, descrito corno estado de enquanto J. Laporte considera a influência
embriaguez sóbria, sóbria ebríetas ( m e lhe de F. sobre -> Orígenes maior do que se pensa
nephalios); mas, para A. Louth, o que ela habitualmente. As diferenças entre f ! e o
descreve, mais que o êxtase, é o estado de Prólogo do evangelho de João. de um lado, e
quem faz o bem como segunda natureza, sem entre F. e os Padres, do outro, são evidentes.
precisar lutar. A expressão sóbria ebrietas, O primeiro dos santos Padres a citá-lo muitas
cunhada por /-., è, todavia, um oximoro, isto é, vezes e com seu nome foi —> Clemente de
uma exasperação de lermos aparente mente Alexandria, cujo Quem dos ricos se salvara?
opostos. Com eleito, esse modo de se lembra o Quem será o herdeiro das coisas divinas?
expressar é 1 requente em E , por exemplo, de F. Em —> Ambrósio a influência de F. é
em Opificium mundi (70-71), onde significa o direta; ern > santo Agostinho, é direta ou
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indireta. Com —» são Gregório de Nissa, que
escreveu também uma Vida de Moisés sobre a
mística, se vê que E ao menos jã fazia parte
do repertório do intelectual cristão. A in

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FORMAÇÃO MÍSTICA 542
conhecimento externa e superficial, mas consequências profundas do encontro com
também tem em mira transformação profunda Deus, dando-se completamente ao poder
do modo de vida do leitor. A leitura e a com- imenso de Deus. A f. pode a j u d a r a pessoa a
preensão dos textos místicos se orientam, por suportar a ansiedade causada pelo processo
si, para o encontro pessoal e transformador irresistível de descentração total de si mes-
com Deus Amor, que se exprime e se apreende mo e de concentração em Deus Amor. Os tex
no nível orante e contemplativo da leitura. tos podem levar o leitor pela mão na expe-
riência de Deus, mostrando-lhe o caminho a
III. Superação tia preparação intelec- partir das experiências vividas por outros .
tual. A (., que supera a preparação intelec- Muitas vezes os textos visam a essa direção
tual, se define como iniciação pessoal no pro- espiritual daquele que é inexperiente na vida
cesso "misticamente' descrito pelos textos. mística e que lacilmentc poderia perder-se ou
Então essa formação parte do pressuposto de confundir-se nesse caminho novo, porque fora
que o leitor autêntico fica inevitavelmente do contexto e acima das capacidades hu -
im- manas. Em todo caso nesse campo da /. seria
plicado no processo descrito no texto. Ela necessário propor a questão fundamental, a
não saber, se os místicos podem ser formados e se
significa que deva acreditar-se místico, reco- pode existir* uma escola de místicos. Nin-
nhecendo no texto a descrição literária de sua guém pode escolher nem decidir empreendei
própria experiência. Ao contrário, descobre o itinerário místico. Se alguém o pretendesse,
no texto um modelo de vida espiritual e certamente não seria místico!
místi-
ca e uma linguagem adaptada que o ajudam V. A iniciativa é de Deus. De fato, parece
a compreender o significado de sua experiên impossível q u e u m t e x t o literário ou uru
c i a de encontro de amor, a qual transforma mes-
em Deus. O texto místico "revela" o que há tre místico vivo, portanto, meios ou instru-
tempos vive, oferecendo-lhe palavras para mentos criados, possam induzir o leitor ou o
compreender a si mesmo. Sem acrescentar o discípulo ao encontro com Deus. A
conhecimento de realidade nova "mais pro- iniciativa
funda" ou de graça extraordinária, o texto do encontro poderá vir só de Deus, o qual,
simplesmente lhe dá acesso à sua realidade, cf uno Criador, não pode ser reduzido ã reali-
vivida intensamente na relação existencial dade criada. Não podemos encontrar Deus
com Deus, portanto, o f a z saber o que já sa- com nosso esforço pessoal, porque o deus
bia. De falo, a falta de linguagem adequada assim encontrado não seria nada mais que
impede-o de compreender a experiência nós mesmos, u m projete» nosso e feito à nos-
irresistível que vive, enquanto a descoberta sa imagem. Visto que é .somente Deus que
dessa linguagem, através da leitura de será
textos o verdadeiro diretor espiritual, não existe
que exprimem uma tradição experimental e outro formador místico a não ser Deus mes-
autorizada, torna-o capaz de estruturar e tor- mo. Livre e gratuitamente ele toma a pessoa
nar inteligível o que, por si. é incompreensí - humana pela mão e a introduz em sua i n t i -
vel: o Amor incondicionado, que cria e ama midade, inatingível às forças humanas, ine-
gratuitamente. f á v e l paia a linguagem humana, irreal
segundo a lógica racional. Nenhum meio
IV. Função da formação. Esses textos e a humano poderá provocar ou ensinar
formação para a leitura proveitosa podem ter experiências de tipo místico, porque o Outro -
a função de —> direção espiritual, ajudando em sentido absoluto - por definição, está
tanto a iniciação na experiência extática do além. Deus não pertence à realidade criada
mistério do amor incondicionado de Deus, do homem, porque ele é o Real por excelência,
como a já crescente consciência dos proces- o Ser de nosso ser.
sos de discernimento, ligados ao progresso
de experiência subseqüente. Tendo palavras VI. Preparação para o encontro. O ho-
e instrumentos de discernimento por causa mem poderá prepai ar-se p a t a o encontro
da experiência vivida sob o instinto do com
imedia- Deus somente deixando para trás projeções,
t ismo, a pessoa se toma capa/ de transcendendo seus desejos e necessidades,
interiort/.ar, numa abertura total, e entrando na solidão,
articular e desenvolver progressivamente as no —* silêncio, no —» deserto ou na pobreza
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t o t a l , n a q u a l Deus poderá ser acolhido em
sua alteridade total e irredutível. Mas,
depois de ler leito tudo o que l h e f o i
possível a f i m
de preparar-se, o homem encontrará soment e a
s i mesmo e contemplará somente os sin a i s
de seu próprio rosto. Ele permanecerá
necessariamente aprisionado no mundo fe-
chado do criado, no q u a l não encontrará se-
não o reflexo de s i mesmo. No âmbito da na-
tureza humana, a formação também a
assim

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FORMAÇÃO MÍSTICA
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FRANÇ 43
A 6
esforços de reforma e renovação foram bem arbítrio. O contato com os exemplos e os
simbolizados pelos movimentos que, inspi - sentimentos de Cristo e as consolações do
rados em Otão ( T 942), tomou o nome de Espírito Santo, no exercício vivo da ca ridade,
Clunv: na espera ardente da segunda vinda levam o homem ao terceiro grau da
do Senhor, ele tendia a recuperai; numa for - humildade, em que o Pai Celeste une a si a
ma de ascese pessoal e comunitária, as ca- alma, a qual, agora purificada, pode ser
racterísticas da Igreja primitiva, que eram a introduzida na contemplação mais plena da
caridade, a comunhão, a oração, a alegria de verdade e tornada participante de comunica -
viver na presença do Senhor, a liberdade da ções mais íntimas com Dei rs. Nessa feliz
vida da graça. Difundiu-se assim também condição, o homem, se bem que em
entre o laicalo nova lorrna de intervalos e tie passagem, experimenta-se
espiritualidade, a qual entendia a vida corno livre da miséria da vida atual e, tornado
caminho espe-cíl ico de salvação; mais semelhante a Deus, antegoza da
difundiram-se as peregrinações e o liberdade da vida ídorio-sa do céu."' Com
cremitismo temporário ou perpétuo como Bernardo (mas devemos lembrai- também ao
prolongamento lógico da vocação para a menos de Guilherme de Champeaux,
solidão com Deus. Toda essa comple xa Guilherme de São Teodorico e Hugo e Ricardo
experiência religiosa e espiritual, domina da de São Vítor), difundiu-se assim uma
pela influência do monaquismo, foi bem espiritualidade (e u n i a mística) feita ile
resumida nos escritos e nos ensinamentos conhecimento e meditação do ruis té rio de
de --> Anselmo. Jesus Cristo (porque a ascese é co-
Em 1098 foi fundada a abadia de Cister. nhecimento e purilreação de si, que não são
Em 1107 ingressou nessa abadia ~~> possíveis fora do mistério dele; ele toma
Bernardo, posteriormente abade de Claraval, posse de nós e nos enche dos dons de seu
Foi o começo de um monaquismo novo. amor até a contemplação) e da —> Virgem
"Deus-Trin-dade, que é amor, por amor Maria (Maria está tão ligada ao mistério do
criou o homem, o qual trazia em seu livre - Filho que não se pode omiti-la na subida de
arbítrio a imagem amor que nos leva a Deus), de adoração da
indestrutível de seu Criador e também urna —* Eucaristia (que é Jesus presente) e de
semelhança especial pela graça, que o ho - caridade fraterna.
mem perdeu quando, negando-se ao amor c
à verdade, desceu os degraus da —> III. Os séculos XIII c XIV mat cam uma
soberba... mas como poderia o homem profunda transformação na vida cristã da /*'
decaído voltar à região na qual a semelhança Aiirmase o desejo de —> imitação de Jesus,
com Deus refulgia em seu rosto? Por si ele que vê r r a escolha da ■> pobreza um
não era capaz disso. Mas Deus veio em seu elemento decisivo. Essa acentuação foi fa -
socorro com sua —* graça. O —* Verbo cilitada depois pela necessidade de reagir
encarnado, tendo-se tornado homem, fê-lo contra a riqueza excessiva da Igreja e con tra
conhecer a miséria cm que tinha caído: era a sua lenta mundanização. Surgiram e se
luz da verdade, era a centelha da caridade, difundiram as ordens mendicantes de Do-mi
que levava o homem ao conhecimento de si e ngos (t 1 221) e de —> Francisco, que, a seu
à —> compunção, fazendo-o subir o primeiro modo, anteciparam a resposta á urgência de
degrau da —> humildade; assim o homem... reforma da —» Igreja, augurada de muitos
readquiriu a liberdade tirada pelo —> lugares. Mas surgiram também fortes movi -
pecado, ou seja, a liberdade dada pela graça, mentos heréticos, que rejeitavam não só os
a qual o tirou da escravidão do pecado. costumes escandalosos do clero, ruas
Interveio, então, o Espírito Santo, que também a disciplina eclesiástica e o dogma
suscitou no coração contrito a compaixão católico (amaurianos, cátaros, valdenses).
para com a miséria do próximo e levou-o às Contra as heresias desenvolveu-se, pela ação
obras de misericórdia, fazendo-o subir o dos pregadores, o princípio segundo o qual
seuundo deerau da humildade. Era uma luz lalar de Deus é falar com Deus. A vida
rrrais abundante de verdade, e era uma espiritual assumiu a lição desse princípio.
força mais viva de caridade, e, desse modo, Pregara —> con-\cisão .significava
foi restaurada no homem a semelhança com experimentar; antes, a penitência, o estudo,
Deus, pela qual todos os atos que ele faz são a --> contemplação. Para que os outros
simultaneamente obra da graça e de seu seguissem Jesus Cristo, era indispensável

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que os discípulos lossern os primeiros a
segui-lo, e seguir o Cristo signil içava
associar-se à sua pobreza. Estabeleceu-se
assim um nexo profundo entre o testemunho
pessoal e o anúncio cio Evangelho. Esse
anúncio requeria por outro lado. a solidez
dos estudos. Assumiram uma função nova
a s universidades (veja-se sua importância
para as Ordens de Alberto e Tomás, de
Boaventura e

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FRANCISCA ROMANA < sarna) 44
0

linguagem humana é pobre e impotente para chama de divirta Mãe de Deus, Rainha
exprimir a riqueza do que linha visto e ouvi - celeste. Maria é a advogada dos pecadores,
do durante os êxtases, e porque não estava aquela que intercede continuamente diante
em condição de traduzir a inefabilidade da do - H» Pai em favor da humanidade
experiência mística em categorias humana - ameaçada. Por isso, os dois mistérios que
mente inteligíveis. exprimem melhor paia F o papel da Virgem
na economia da salvação são o cia
IL Ensinamento místico. Uma chave de anunciação e o da coroação no céu. Nas
leitura essencial para penetrai no misticismo visões falta uma imagem muito difundi da na
de b, ê sua grande devoção à eucaristia, a piedade temi ni na da baixa Idade Média, a
qual inspirou algumas das páginas mais de Maria mãe dolorosa. Maria € mãe de
belas das visões: via a luís lia como grande misericórdia, vista e pensada como lu/ e
quantidade de neve alvíssima, mas quente vitória, e como glória do mundo. A imagem
como o logo (cl. Visão XIII, 4); o tabernáculo de Cristo se situa, em F , no ponto de
eucarístico lhe aparecia como o coração confluência de vários percursos. Ela aceita a
luminoso e ardente de urna criatura celeste piedade cristocêntrica tio Iranciscanismo,
que descesse do céu à terra (cf. visão VII. 3). mas, ao mesmo tempo, a essência da lição
Dos dois caminhos que levam ã experiên- monástica de Deus como luz, beleza e glória
cia mística, o litúrgico e sacrame ntal, e o de da transcendência. Da mística feminina do
ordem psicológica, a —> contemplação, F. século XIV, de herança franciscana, E
privilegiava o primeiro. A união com Cristo assimilou profundamente a pratica ascética
na —> eucaristia era, para ela, o acesso da recordação dos pecados e contínua
privilegiado aos mistérios da fé (cf. Visões III, memória da paixão de Cristo, que leva ã >
V-VI1, ÍX-XI, XIII, XXXV], I.VI1I, LXI1, compunção do coração e ao — ► dom das
I.XXXIII, LXXXVI). Assim as celebrações lágrimas, e enfim a uma completa identii
litúrgicas escondiam as etapas de uma icação mental e corporal com as dores que
experiência que se concentrava no tema da > Cristo sofreu, tila aceitou e reelaborou
encarnação, da realidade de um Deus- muitos motivos caros ao florilégio do século
homem, que nas- XIV, corolário indispensável a mística da —*
ceu de mulher e viveu no meio de sofrimen- cruz: a devoção ao sangue, aos emblemas da
tos. Ksse lato único, central e decisivo na paixão, á coroa de espinhos, em par ticular,
história da humanidade realiza a ■-> mas sobretudo às chaua.s. Ela mesma
redenção do homem. O -> Cristo, o Filho de era estigmatizada, porque tinha no hido uma
Deus, Verbo leito carne, é, pois, o Salvador; chaga dolorosa, sinal visível de plena confor-
e o cristianismo ê a religião da salvação. midade corporal e espiritual com os
Mas, antes de qualquer outra coisa, ele é o sofrimentos que Jesus suportou ici. Visât/
Rei celeste, o Senhor do mundo. Diante XVI. 100-10). Todavia, por mais autêntica e
desse lato. qualquer outra denominação rigorosa que tosse no plano da concentração
atribuída a cie parece passar para segundo espiritual, essa experiência não era Ião
plano. A idéia muito viva da realeza de importante e característica da mística de E.
Cristo numa mística leiga e de cultura não quanto a da maternidade espiritual, que vivia
elevada como F. - é certo que ela sabia 1er, com grande intensidade. Ferida
mas não que soubesse escrever - é um dado dolorosamente nos —> ale-los humanos. F.
bastante singular. Com eleito, o culto de sublimou misticamente seu sofrimento de
Cristo Rei ainda não era popular e, no fim mãe na condição espiritual de "mãe de
da Idade Média, era vivo principalmente em Jesus". Seu amor especial ao Meni no Jesus
ambientes teológicos qua-lil içados, que se exprimiu cm numerosas e importantes
aprofundavam seu signili-cado sobretudo em visões relativas ao Natal (cf. Visões XVI, XVII,
relação ã crise do Cirande Cisma. Mas essa XIX, XX), mas não só isso. A imagem que
idéia, como a de Maria Rainha, tem raízes mais que qualquer outra revela sua inti -
profundas na tradição cultual e religiosa midade doce e alegre com Jesus é a de F
peculiar da Roma antiga e medieval, à qual F com o Menino Jesus nos braços, ernbalando-
estava intensamente ligada. A mai iologia de o, aquecendo-o e envolvendo-o em seu
F. estava cm relação especular com sua manto, ou brincando com ele (cl. l/sõcs XII,
cristologia, ou seja, era uma emanação XIII, XVI etc). Raramente o tema da
precisa dela. Com eleito, ela insiste na maternidade espiritual, que, não obstante,
missão soteriológiea da —> Virgem, que ela tem raízes antigas nos exórdios da tradição

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beguina, encontrou uma intensidade de
acentos e uma expressão mais completa e
tocante do que nas visões cie F.
Além disso, é notável na santa a
capacidade, de penetrar em profundidade na
mística do mundo angélico, do qual ela sabia
colher múltiplas dimensões e funções. Nas
visões

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FRANCISCO DK ASSIS (sumo) antecipado pelo desejo divino, £ ainda Cristo
que o faz ouvir que o socorrerá. Aquele corpo
Mas teve de voltar com urgência, por cau- já se perde nesses desejos e às vezes 444
sa dos descontentamentos e das críticas de
uma parte da Ordem, que ele renunciou a voa: seu perene andar se torna um transbor-
governar, nomeando Pedro Cattani como seu dar cie corpo e alma naquela solidão toda
substituto. sua, que frei Leão respeitava.
As relações com os frades o obrigavam a Os dias se acumulavam assim, sem que
escrever e a refazer o texto da Regra, que, ele notasse, a não ser' aquele sentir-se
mesmo adaptada assim é um modelo de tornado por Deus, que lhe tornava a
amor e precisão. Ele escreveu ainda aquela sucessão dos dias como palpitação crescente
Carla a um Ministro, na qual ele se diz de — ,• contemplação.
preocupado por causa dele, para que cresça Percebia que eslava para receber um dom
seu amor a Deus, tanto que aquelas coisas supremo, que o assemelharia à glorificação
que lhe são impedimento para amá-lo e toda do Crucificado.
pessoa que lhe seja obstáculo, "sejam frades E naquela festa da Exaltação da Santa
ou outros, mesmo que te cobrissem de Cruz, E , perdido no amor, "voltando o rosto
golpes", tudo isso deve ele considerar uma paia o Oriente, ora" e se encontra com o
graça. E lhe diz: "Ama-o mais que eu por Serafim resplandecente, que voa até ele e lhe
causa disso: que tu possas atraí-lo ao sorri. Sente a alegria daquela beleza e
Senhor" ( F F 234-235). (FF: F<>Í ites daquele sorriso e, ao mesmo tempo, a dor de
Francisc a?tas.) vê-lo na —> cruz. Sente que o ícone que de
E depois as Cartas e suas Saudações, São Damião traz na alma se tornou vivo,
tão concretamente visíveis: a Saudação às tornando solar aquela noite.
virtudes e a Saudação à bem-aventurada Ele está todo em Cristo e lodo acima de
Virgem Maria. E como aqueles finais das si. A noite ofuscante o envolve (cf. F F 1
Laudes e do Cântico. 920).
Falava sempre mais com Deus, e o ditar, Nessa noite feita de luz solar, F. ouve Cris-
mais que qualquer outra coisa, era oração. to dizer-lhe muitas coisas secretas, entre as
Como suas missões contínuas, que se reali - quais a de fazê-lo participante de sua quali-
zam sempre mais de modo vertical, isto é, dade redentora. Quando a visão desaparece,
missões como quaresmas, quaresmas nas sente no corpo os sinais maravilhosos da
quais se entregava à penitência solitária e paixão de Cristo: sente e ainda vê os sinais
que o elevavam em seu realismo místico. dos cravos, "daquele modo que ele tinha
3. O que F. sofreu. Tê-lo atraído para visto no corpo de Jesus Cristo crucificado'.
algumas quaresmas no monte Alverne serviu Cravos que tinham nas mãos e nos pé*s, as
ao Senhor para familiarizar F. com aquele cabeças salientes, de um lado, e, do outro,
lugar', como lhe tinha acontecido por mais as pontas rebitadas e torcidas, e eram da
tempo ern São Damião, e para fazê-lo cor- do ferro.
apreciara beleza da relação entre ele, que Essa. que foi a noite cio primeiro estigma-
continuava a crescer, e aquela montanha, tizado da história, trouxe, pois, em F\, como
que, descendo ao fundo do mar, finalmente já tinha acontecido na fusão de amor, tam -
parou e elevou-se àquela altura, na qual é bém a integridade da dor' causada pela re -
sustentada por sua base argilosa. produção da condição de Cristo na cruz. Os
Agora a identificação do lugar coincide cravos ficaram negros pela dor, como tinham
com a preparação de si que F. efetuou incan- sido para Cristo, e o sangue do lado conti -
savelmente, rnortif ícando-se no corpo, nuou e continua a escorrer sempre vivo e re-
tratan-do-o sempre como irmão huno, e cente.
libcrtando-se no espírito, sempre ecoando Esse F., de corpo ensanguentado e ator-
mais o cântico mentado pelos cravos e pelas enfermidades,
das palavras de Deus e cada vez mais atento que, depois da estigmatização, arrasta infati-
ao mover-se da brisa do —> Espírito. São gável seus dias pata a glória, nos dois anos
duas quaresmas interligadas, a de Santa seguintes de sua vida vê crescer de modo
Maria e a de São Miguel. grandioso o fluxo daqueles que por meio dos
Festejada a mãe, a água dos rochedos e o sinais admiráveis se convertem a Cristo. Nos
pouco pão que irmão Leão lhe leva à gruta, o dois últimos anos unifica todas aquelas ex -
ribombo do trovão e o —> silêncio da solidão pressões vitais que até então lhe tinham sido
da floresta murem R , que os ouve com pres- dadas: vê, ouve, pratica, escreve, sofre, se ale-
sentimento final; seu longo -» desejo agora é gra e canta, sempre amando a maravilha de
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ser crucificado com Cristo, de conhecer
verdadeiramente Cristo pobre e crucificado.
Dois anos de vida para levar seu amor ao
mundo.

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FRANCISCO HI-: SAI.FS < santo) - FRAQUEZA - I kl-MIOT DL CMAN'IAL JÜAN A 448
FRANCISCA 'santa)

in Ibid.. 75 (1996), 237-245; A. Sancireau, Di com que o sujeito moral persegue a constru -
doe trina mística de. S. Francisco* de Sales ção ou a destruição de si mesmo. As inespera-
comparada eon ia doctrina de obras de vida
das combinações que, às vezes, se descobrem
espiritual, in Vida sobrenatural. 14(1927), 86-
96,217-223. Id., L'oraison mvsiiifue d'après .S, entre a saúde física, a segurança psicológica
François de Sales, in VieSp 40 (1928), 1-31. ou sociológica, de um lado, e a /. moral, do
outro, levam-nos a perceber as conexões entre
A. Pedrini os dois momentos: desvantagens pré-mo-rais
não determinam a escolha moral, que é
avaliada exclusivamente pelo envolvimento
individual livre; só esta sabe aceitar o pró-
prio ritmo de crescimento, segundo uma lei
de gradualidade. A/, fenomenologicamente
descrita, a ser superada no limite do
FRAQUEZA possível, não impede, com a sua presença, a
experiência moral e espiritual, mas a
circunscreve e a situa na história,
I. O conceito de j\ atravessa por inteiro a
eonfigurando-a positivamente mais como
estratificação múltipla da realidade unitá ria
possibilidade original e irrepetível de
do homem e dela recebe a sua determinação,
realização moral e espiritual e não tanto
segundo o critério especítico de cada nível
negativamente, como lai ta de oportunidade.
considerado e segundo sua relevância em
A possibilidade de nos tornarmos pessoas, de
relação à coordenação com a globalidade an-
realizar o sentido da própria existência, está
tropológica, com aquele conjunto de inter-
sempre presente em dada situação, que se
ferências típico de todo fato unitário. Descri-
configura plena do apelo e da vocação de
tivamente podemos identificar uma /. física,
Deus, que nos chama pessoalmente à
em sentido próprio, na astenia, e, em
experiência totalisante e radical da sua vida
sentido mais genérico, em tudo o que de
de amor e de luz.
patológico ateta o funcionamento normal do
A —> ié cristã traz a interpretação da/,
corpo do homem, com diferente gravidade e
como conseqüência de história de —* pecado
durabilidade. O adulto cronologicamente
iniciada pelo próprio homem. Dai deriva uma
maduro pode registrar o equilíbrio
constitutiva incapacidade de auto-salvaçào;
psicológico caracterizado pela labilidade e
portanto, constitutiva necessidade de ser sal-
por insuficiências, verdadeiras doenças, corn
vo. O não-reconhecimento desse estado de
grau variado de solubilidade. Cultural e
necessidade salvíiiea põe o homem numa f.
sociologicamente podemos pensar numa série
constitutiva que ameaça tornar-se dispersão
de características e papéis sociais que uma
definitiva de si mesmo.
pessoa possui ou descobre, e considerá-los
vantajosos ou desvantajosos, distingui-los em B I B L .:
Aa.Vv,, L'homme devant l'échec. Paris 1959;
fortes ou fracos, como facilmente pode ser Y. Bclaval, Us conduites d'échec. Paris 195J; M.
ilustrado também corn sumária Chi-va, Débiles normaux débiles path.ologùptes:
exemplificação a respeito do patrimônio de actualité pédagogiques et psychologiaues,
cultura e de educação e da disponibilidade Neuchaiel 1 973 ; T. Goffi, s.v., in DESl, 702 -705.
econômica ou do nível social.
P. Cartoiti
II. Experiência moral c espiritual. To troduz o discurso sobre a /. ou sobre a forta-
davia, as dimensões acima descritas nada leza, e envolve o discurso sobre a imensidade
nos dizem do momento prescritivo da
experiência moral e espiritual enquanto tal,
isto é, cio grau de envolvimento da >
liberdade do homem na busca e na
realização do sen lido da própria
humanidade. Mas, justamente pela relevância FREMI OT DE CHAN TAL JOANA
da problemática moral para a iden-lidade FRANCISCA (santa)
antropológica - a identidade de um homem é
a sua decisão moral, o homem não é I. Traços Joana Francisca
biográficos.
constituído pelo que de lato e, mas pelo que Fremiot de Chantai nasceu cm Dijon (Fran-
decide ser-, exatamente aqui o tema em ques- ça), em 1572; órfã de mãe aos dezoito meses,
tão adquire profunda densidade, porque in -
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foi educada cristãmente. Casada com Cristó-
vão de Chaníal-Rabutin, teve seis filhos. Viú-
va aos vinte e nove anos, dedicou-se a obras de
caridade e, com —» Francisco de Sales, seu

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FUENTE MIGUEL DE LA
dos professos. Não foram só esses que se be- Essa obra pode ser considerada como uma
neficiaram de seu magistério espiritual, mas das primeiras tentativas de sistematiza -
também muitas outras pessoas, seculares e ÇSo, às vezes a melhor, da dutrina espiritual
religiosas. Morreu em 27 de novembro de de -» santa Teresa e de são João da Cruz. Tem
1625. Exerceu também fecundo apostolado, lambem muita afinidade com seu confrade, -
a exemplo do santo mestre, —» João de Avila, > João Sanz, pelo apreço que, como ele, de-
tundando numerosas contrarias e congrega - monstra pelo exercício da —> oração afetiva
ções marianas, entre suas obras devemos re- ou aspirativa. Afirmou-se, com razão, que E
cordar principalmente Ejercicios de oración fez o milagre de fundir num só sistema a
mental, que publicou como apêndice da sua tendência especulativa alemã e a espanhola. A
Regia y modo de vida de los hertnanos terceros y aplicação sistemática das ciências naturais
ao estudo da ciência mística foi, sem dúvida,
beatas de )mestra Seftora dei Carmen (Toledo,
um dos valores primários de sua obra, que lhe
1615), para ensinar a oração mental; 1 essa é
confere caráter de inegável atualidade.
como que o esboço de outra obra sua, Las tres
Segundo o parecer de Menendez y Pelayo,
vidas deihomhre, que publicou em Toledo, em
essa obra é "o melhor tratado de psicologia
1623." mística em língua espanhola".

II. Doutrina mística. Essa obra, à qual NOTAS: 1 Ed. recente de M. Garrido, in Carm 17
está ligada sua lama, c um manual sintético, (1970), 280-309;2 Outras edições: Madri 1710.
mas completo, claro e bem ordenado, de teo- Barcelona 1SS7, Madri 1959.
logia ascética e mística, com a perspectiva
eminentemente psicológica, tão característi - BIBL.: E. Allison Peers, Studies of lhe Spanish Mys-
ca da escola ascética espanhola, que tem nele lies, 1 1 1 , Londres 1951-1960. 5-1 55; M . Andrés,
um dos seus maiores expoentes. Com efeito,
nessa obra ele descreve a vida espiritual como
Los
base da estrutura da alma, analisando com recogidos. Nueva visión de la mística espanola, Madri
1976,657-661; Crisógono de J.S., La escuela mís-
line/.a excepcional o desenvolvimento pro -
titã carmeÜtana. Avila 1930, 175-177; Enrique
gressivo da alma, que sobe para Deus, pri- dei S.C., Influencias de san Juan dela Cruz en el P. Fr.
meiro por meio dos —> sentidos, depois por Miguel de la Fuente, in REsp 8 (1948), 346-360; P.M.
meio da razão e, finalmente, por meio do es- Garrido, Miguel de Ia Fuente escritor místico, in
pirito puro. Para isso ele se serve da termino- Romeu Perea (ore.). Três ensaios sobre Frei Miguel de
logia de origem ncoplatônica, consagrada la fuente, Recife 1976, 47-94; Id.. s.u, in DSAM IX,
66-72; J.B. Gomis, Introdução geral a Místicos
pelos místicos do Norte, relativa aos três níveis
do homem; corporal, racional e espiri tual,
franciscanos espanoles, 3 vols., Madri 1948-1949, 47-
49, 75-76; J. Sanchis Alventosa, La escuela m£s-tica
cada um dos quais teria, segundo ele, "seus alemana v sus relaciones con maestro místicos dei Siglo
exercícios próprios para atingir o fim de Oro, Madri 1946, 204-228; Th.E. Schaer-ier,
desejado, que é a -> união da alma com Deus Miguel de la Fuente: un intento de evalttación dei
por meio de um -> amor puro e perfeito". misticismo espanol dei siglo XVII, in Cuadernos hispano-
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FUENTE MIGUEL DE LA 568
americanos, 58 (1964), 511-528; B. Velasco Bayon,
Miguel de la Fuente...; ensayo crítico sobre su vida y su
obm, Roma 1970 (uma síntese dessa obra ft-la
P.M. Garrido, Miguel de la Fuente... un maestro de
oración, in Cartn 17 (1970), 242-279.
P. Aí. Garrido

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G AL G AN 1 GEMA (santa) GARRIGOU l.AGRANGF. REGINALDO 572
intercessão, tantas criaturas, como eia "ex- estudante de medicina, sofreu a influência
propriadas" de tudo por acúmulo de desgraças de uma forte experiência religiosa que o deixou
e desventuras, e marginalizadas social- inteiramente convencido da verdade perene
mente. Estudiosos e pastores concordam no da fé católica. Sua decisão conseqüente de
considerar a atualidade da mensagem pela tornar-se dominicano, onde experimentou a
qual G. torna perene a presença da cruz de direção genial do padre Ambroise Gardeil, pólo
Jesus, relembrando, com sua experiência ex- em contato com as figuras mais importantes
traordinária, que o Evangelho não pode ser da vida intelectual católica francesa dos
vivido 'seriamente" sem que se construa uma primeiros anos do século XX. Depois de fre-
história de - > sofrimento, transfigurada, po- qüentar por breve tempo a Sorbonne, onde
rém, pelo viver em participação com a pai- não agradaram ao jovem estudante as pro-
xão. E isto pode ser realizado levando -se em posições sobre os estudos literários no curso
consideração os caminhos providenciais nos de filosofia, frei Reginaldo, como então era
quais cada um é dirigido pelo - > Espírito. O chamado, continuou seus estudos filosóficos
"Evangelho do sofrimento" é o único que per- e teológicos na Urdem Dominicana. Ordena-
mite que alguém se mantenha sob a luz da — do sacerdote, trabalhou por pouco tempo na
f esperança, em um mundo que, do contrário, França (Le Saulchoir), porque foi chamado a
pode parecer irrecuperável, em meio aos la Is Roma em 1909, para iniciar a carreira de
os esplendi ires das riquezas terrestres e da prolessor na Pontifícia Universidade de santo
escuridão desesperada em que afunda a Tomás de Aquino (Angelieum). A não ser nos
maior parte da humanidade deserdada. E es ta períodos de verão, nos quais escrevia seus
humanidade que é chamada a participar da tratados e proferia conferências,
glória do Ressuscitado, portanto, à vida especialmente na Europa de língua francesa,
nova, contanto que passe pelo sofrimento re- G. dedicou sua longa carreira ao serviço cia
dentor. É esta a grande lição de G. sobre o Igreja, sempre em Roma onde. depois de ter
valor místico do sofrimento. suportado pacientemente uma longa e
debilitante enfermidade, morreu em 1 5 de
B I B L . Obras: Lettere di santa Gemma Galgani, fevereiro de 1964.
Po-íliilaziíjne GencTítlo dei Passionisti. Além de seus numerosos escritos, por sinal
Roma 1 9-11: lis t a s i. d i a rio. ai<r>>b i c *g
ra I i a, s c ri (ti \ 'a ri, Pos-tula/.ione Generale muito apreciados, e de sua carreira de
dei Passionisti, Roma 1979". Estudos; G. docente, G. trabalhou como consultor de vá-
Agresti, Gemma Galgam. Ritrattro di ttn rias e importantes Congregações Romanas.
"espropiiata", Roma 198ò:; G. von Brockhuscn, Um necrológio, na imprensa leiga lranccsa,
s.u, in WMy, 182-183; H.D. Egan, Gemma disse que G. brilhou pelo seu prestígio, por-
Galgani, in Id., / misticiela mística. Cidade do que foi tanto teólogo como homem de gran de
Vaticano 1995, 57S-593; R-de-t ico
delfAddoIorata. s.v.. ir./J.SA.W VI, 183-187; P. lé, homem que havia ensinado mais com o
Germano di S. Stamslao, S. Gemma Galgani, testemunho de sua vida do que com o de suas
vergine luechese, Roma 1983; G. Pozzi - C. Leo- palavras.
nardi (org.), Gemma Galgani, in Id., Scrittrici
mis-tit he italiane, Génova 1988,637-648; J.-F. II. Obras e doutrina. Desde sua fundação,
Villepelée. La folha delia croce. Gemma Galgani, em 1215, a Ordem Dominicana produziu
Roma I9882; E. Zoffoli, 5 .V., in BS VI, 106-108;
muitas e importantes correntes místicas.
Id., La povera Gemma. Saggi critici storico-teologici,
Roma 1957. Como verdadeiro contemplativo, intelectual
e apóstolo, G. situou-se na esteira desta tra-
C. Brovetto dição mfslico-dominicana. que, em suas fi-
leiras da baixa Idade Média, enumera mís-
ticos como —> Eckhart, —» Suso e —> Tau ler.
Esta tradição prossegue com o movimento es-
piritual italiano iniciado por -> Catarina de
Sena e continuado por Savonarola (f 1498) e
-* Catarina de" Ricci, para, depois, desembocar
no Renascimento espanhol, tipificado por —*
Luís de Granada e a obscura experiência de
GARRIGOU-LAGRANGE REGINALDO Paris, representada por L. Chardon (t 1651) e -
» A. Piny. A exemplo de Catarina de Sena, G.
I. Dados biográficos. Marie-Aubin-Gon-tran desenvolve ensinamento místico dentro dos
Garrigou-Lagrange nasceu em Auch, França, quadros de lervorosa e consciente devoção
em 21 de fevereiro de 1877. Em 1897, para com a Igreja. Muitas vezes cita Henri-
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Dominiquc Lacordaire (í 1861), que, no
século XIX, inspirou a renovação da Ordem
Dominicana na Europa: Deus iusti-

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G AL G AN 1 GEMA (santa) GARRIGOU l.AGRANGF. REGINALDO
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CÍNOS 46
I-. Ü

GNOSE O único recurso que o homem tem para se


redimir e sair desta condição é o de libertar
I. O termo c a origem. Do grego, gftosis. dos vínculos da matéria a fagulha espiritual
conhecimento. Corrente espiritual e filosófi- que existe nele e que é um resíduo do mundo
ca que atingiu seu máximo desenvolvimento superior, de sua condição original de nobreza
e pureza. Isto pode ser obtido através do
e sistematização nos sé cs. 1 1 - 111. c que
conhecimento. Este conhecimento não pode ser
afirmava que o instrumento supremo da — *
entendido no sentido de um processo comum
perfeição e da salvação é o conhecimento de si
do conhecimento intelectual, mas éum
mesmo, da própria origem e do próprio
conhecimento revelado, ou por uma pessoa ou
destino.
por uma entidade externa.
A origem da g. remonta ao séc. I, numa
mistura sincrética de elementos próprios A eleva o homem, libertando-o deste
tias culturas judaica, persa, babilónica e mundo e do corpo, entidades totalmente
helenís-tica, das quais, para poder se execráveis, anulando as potências negativas e
comunicar e expandir, assumiu a fazendo prevalecer as positivas, ambas pre-
terminologia, os mitos e as imagens próprios sentes nele, e assim o reintegrando na sua
dos ambientes locais, sofrendo influência condição primeva, por um processo de rege-
também das filosofias platónica e pitagóriea. neração, de renascimento em Deus e de
Parece, contudo, que a matriz da g. tenha reconstituição de sua essência original, na
sido de preferencia judaica, inspirandij-.se luz superior.
principalmente no Pen-tateuco e, de modo O conhecimento de si. enquanto ser divi -
particular, no livro do Génesise nos textos no, isto é, partícipe do mundo espiritual su -
apócrifos, notadamente os apocalípticos. perior, redime do mal e leva a uma —* união
mística com Deus, à contemplação pura da
II. Na base da concepção dag. existe uni majestade arcana no reino da luz, além de
dualismo cósmico (Deus-matéria), moral sondaras profundezas do Ser, o que coincide
(bem-mal) e antropológico (espírito-corpo). com a redenção perfeita.
Deus não é cognoscível, é transcendente, in- A este processo cognitivo o homem deve
teiramente estranho ao mundo material. Kri juntar a ~> ascese, um desencarnar-se para
tre ele e a matéria se interpõe um mundo in- atingir a visão gnóstica da própria existência
termediário, chamado Pleroma, habitado que lhe permite conhecer profundamente o
pelos éons; reino luminoso, próprio do espí- caráter ilusório deste mundo dos sentidos, e
rito, que derivou de Deus por emanação e assim poder evitá-lo.
progressiva degradação. O grau supremo desta ascese gnóstica é
O mundo originou -se de uma desordem descrito como um estado de descanso, de re-
entre os éons e da contaminação do espírito pouso, de êxtase e de beatitude, de ausência
pela matéria. É obra de um demiurgo, um dos de —> paixões, que corresponde â situação
éons. que costuma ser identificado com o diametralmente oposta do estado de paixão
Deus do AT, que plasmou a matéria. O mun- dos éons, o qual determinou a queda do
do, portanto, não é obra do Deus supremo, mas espírito na matéria.
de um ser inferior a ele, por isto é o reino das Na sua prática a g. faz. uso abundante do
trevas e do erro, totalmente negativo* mito, por meio do qual explica a origem da-
O homem foi plasmado da 'ena, n i a s nele quele senso de precariedade, angústia e ten -
está presente um elemento espiritual, embo - tação de que o homem sofre, e que satisfaz
ra escondido e silencioso, divino. Ao bulo e no seu desejo instintivo de conhecimento.
meio destes elementos, existe u m terceiro, o Ai;, e a conseqüente redenção e perfeição
psíquico, que é inferior ao espiritual, O são reservadas para poucos, aos homens es-
homem, no mundo, encontra-se na situação pirituais {pneumatikôi), excluindo-se os psí-
de alguém estranho e encarcerado, situação quicos, ligados ao inundo da psique (psithe,
que nas fontes é comparada ao estado de elemento superior à matéria, mas não divino)
embriague/., de sopor. de esquecimento, de e dos ligados à tetra, ou hílicos (hyle é como se
inconsciência. Na g., portanto, está presente chama em grego a matéria). A g. é superior à fc,
uma concepção pessimista do mundo e da que é uma prerrogativa da psique e é própria
condição do homem, bem diversa da visão dos indoutos, não sendo suficiente para
substancialmente otimista, própria da filoso - proporcionar a salvação, como também não o
fia grega. são as boas obras.
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Sob o periil ético, o mal não é obra de uma
vontade livre inclinada ao —> pecado, mas é
um princípio metafísico autónomo e
substancial, ínsito à matéria, e contraposto
ao espíri-

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GRAÇA - GREGÓRIO DE NAZIANZO (sanío) 464

pação mais intensa da felicidade celeste. Com ser reconhecido unanimemente como o teólogo
isto ela contribui para despertar o desejo desta por antonomásia, por toda a tradição cristã
última felicidade, concentrando sobre a pre- de língua grega. As suas cerca de duzentos e
sença divina as aspirações e as esperanças quarenta e nove Cartas, especialmente as que
humanas. trocou com seu amigo Basílio, estão entre os
testemunhos mais preciosos que existem sobre
BIBI .: Aa.Vv.,s.v., in DSAM VI. 701-750. Aa.Vv os primores da amizade que G. mantinha com
. Mística e scient ttmane, Nápoles 1983; A. Beni - seus amigos. Verdadeira c própria novidade, no
G. Bifli, Li grazia di Cristo, Turim 1974; A. De
círculo greeo-cristão de seu tempo, são as
Sultcr -C. LttU-dazi,s.u, in DES H, 1198-1205;
M. Flick-Z. Alsze-iihv, // Vangelo delia wnzia, Carmina, com as quais tenta propor a fé
lloiença 1964; P. hninsen. Di grazia, realtà e vita, cristã com formas suficientemente "nobres ao
Assis 1972; B. Lonergan,6Vííce and Ireedom: ponto de poder cativar o ouvido refinado dos
Operative Grace in the Thoueht of St. Thomas cultores pagãos da literatura clássica e assim
Aquinas, Nova York 1970; H. de Luhac, // chegar a conquistá-los para o cristianismo" (cf.
mistero dei suprannarurale, Bolonha 1967; Or. 4,100: SC 309,248).
J.H. Nicolas, Les profondeurs de la grâce, Paris
1969; G. Philips, L'union personnelle avec le Dieu
vivant. Essai sur I origine et le sens de la grâce créé. II. Doutrina. Poder-se-ia estabelecer como
Lovai na 1989; A. Poulain, Des grâces d'oraison. ponto de partida da visão mística de G. a —>
Traité de théologie mystique, Paris 1931M ; K. contemplação (theoria) da natureza, que
Rahner, Saggi di antropologia sopran na turale, transporta o crente do visível à visão das
Roma 1965; H. Rondet, La grazia di Cristo. Saggio coisas invisíveis (cf. Or. 28,21-31: SC 250.142-
di storia dei dogma e di teologia dogmática, Roma
1966; E. Salmann, s.v, in WMy, 49; TE Walgrave, 74). A leitura das Sagradas Escrituras
Tet 4opa deSa grada edesjxtia 131 mística nclla permite descobrir o espírito através do véu da
tradizione dclLi Chiesacattolica, in J.-M. vanCanvh "letra, graças às lágrimas da —> compunção e
(org.), La mística, Bolonha 1992. 199-226. a constante —> purificação (cathársis) moral
e ao mesmo tempo conceptual" (Or. 32-10: SC
7.Galot 3JS.I04-100; Or. 26,1 V SC 2S4.250-254; Or.
28,31: SC SC 250,170-175), enquanto a práti-
ca ascética revela-se por sua vez como verda-
deira c própria —> "escada" que conduz exa-
tamente à contemplação (cf. Or. 40,37: SC
358,284; Or. 4,113: SC 309,270).
No caminho para a —> "visão de Deus" é
GREGÓRIO DE NAZIANZO (santo) necessária a -» tranqüilidade (hesych(a) da
solidão (anachorésis), que permite ao homem
I. Vida e obras. Nasceu em 329, filho de
experimentar a intimidade com Deus, com-
Gregório Sênior, bispo de Nazianzo desde
preendida como realização de um chamado à
aproximadamente 325, e de Norma. C. tor-
divinização (théosis) inscrita na própria na-
nou-se bispo de Sasima, em 372, por influên-
tureza ontológica do homem criado à imagem
cia de seu amigo —* Basílio. Presidiu a Igreja (kateikóna) de Deus: "Ontem estava cru-
de Nazianzo depois da morte de seu pai, em
cificado com Cristo, hoje estou glorificado com
374 e, por breve espaço de tempo, foi chama-
ele; ontem morria com ele, hoje nasço para a
do para a sede de Constantinopla, da qual se
vida com ele; ontem era sepultado com ele,
afastou por desacordo com a política ecle-
hoje ressuscito juntamente com ele. Fru-
siástica do imperador e dos bispos reunidos no
tifiquemos, portanto, para aquele que morreu e
Concílio de 381. De 383 em diante, depois de
ressuscitou por nós. Talvez pensais que esteja
uma presença de alguns anos em Nazianzo,
me referindo a frutos feitos de ouro, prata ou
levou vida isolada nas propriedades paternas
tecidos e pedras transparentes e preciosas, que
de Arianzo, até cerca de 390, ano de sua
abundam na natureza terrestre e
morte.
permanecem aqui embaixo, cujos possuido res
Característica das obras de G. é sua oca-
são os delinqüentes e os escravos das coisas de
sionalidade. Somente quando se vê de algum
cá e do príncipe deste mundo. Contudo, não.
modo obrigado é que escreve, mas quando
Devemos, na verdade, produzir os frutos que se
escreve revela domínio excepcional da língua
identificam com a nossa pessoa, que é o bem
grega e competência extraordinária da ars
mais precioso diante dos olhos de Deus.
retórica, da qual é, com certeza, um dos sumos
Devemos restituir à imagem o que é próprio
mestres da antigüidade cristã.
da imagem. Reconhecendo a nossa dignidade,
A ele são atribuídos perto de quarenta e
honraremos o nosso modelo e, ao mesmo
quatro Discursos, o suficiente para fazê-lo
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tempo, reconheceremos o poder do mistério e
quem c aquele para o qual

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GREGÓRIO DE NISSA (santo) X I I sobre o Cântico dos cânticos: "Quem não
conhece as 1 arnosas práticas ascéticas de
líbrio na fruição do prazer, que constituía o Moisés, aquela personagem que continua 463
objetivo tia bios tlworrtikc, amplamente do-
cumentada, a partir de Epicuro (f 270 a.C), sempre a maior, e nunca se deteve no cresci-
no mundo ízreco-romano. mento da prática do bem? Desde o inicio ele
De fato, G. identifica na pessoa madura e loi o maior, desde quando considerou mais
equilibrada, eventualmente unida em matri- importante que o reino do Egito o opróbrio
mônio, o agricultor prudente e sábio, que de Cristo e preteriu afligir-se juntamente
trata cautelosamente o seu campo (cf. VIII, 20; com o povo de Deus, em vez de gozai
SC 1 19,360), ao parecer justificar surpreen- momentaneamente o pecado; a segunda vez,
dentemente a escolha da vi ruindade quando um egípcio atormentava um hebreu,
somente quando se experimenta maior e então ele matou o pagão, lutando em
Iraque/a da carne (cf. VIII, 20: SC 119,360- defesa do israelita. Sem dúvida, podes ver
362). nestes acontecimentos qual lenha sido o
Em suma, parece que G. propõe um ideal modo de fazer-se o maior: basta que passes da
de vida cristã não muito distante do ideal h - narração histórica para a interpretação
[osóiico cie alguns de seus contemporâneos, figurada,
como escreve, por exemplo, no seu De vir- Novamente ele foi feito o maior, quando
ginitate (cf. VIII, 36: SC 119,362). isolou a sua vida, sem deixá-la ser
O ideal é, portanto, a symmctria. De lalo. conhecida pelos homens, praticando, durante
porém, o risco de ficar "atolado na lama" é longo tempo, no deserto, a filosofia.
praticamente universal (cf. XI, 1-2: SC 119, Depois recebeu a iluminação do fogo da
380-382). Daí então a necessidade de sarça.
aperfeiçoar a rude/a da percepção humana, Em seguida iam bem sua audição foi ilu-
mudando a direção do movimento que, se minada por obra do Logos, graças aos raios
deixado a si mesmo, levaria a distanciamento da luz. Para que isto acontecesse, descalça os
indefinido do belo, obrigando de qualquer pés de todo revestimento mortal; destrói com a
maneira o homem a correr atrás da carne vara as serpentes tio Egito, a nan ca da
erótica. De outra parte, a estiada de volta é prepotência do faraó o povo consanguíneo
paradoxalmente indicada por aquela ou Ira seu, dirige-o através da nuvem, divide o mat-
estrada que em duas partes, submerge a tirania, faz doces
lot percorrida no distanciamento (cf: XI, 3: as águas dc Mara, com seu bastão fere a
SC 119,384; XI, 3: SC 119,386). rocha, sacia-se com o alimento dos anjos, es-
As conseqüências que G. deduz são pe- cuta as trombetas celestiais, ousa escalar a
remptórias: somente "quem abandona toda montanha envolta em chamas, atinge o cimo,
amargura e todo o mau odor da carne e se penetra na nuvem, mergulha na escuri dão
eleva acima de todas as coisas mesquinhas e em que Deus se encontra, recebe o testamento,
baixas; quem, para di/er melhor, eleva-se torna-se sol, porque de seu rosto faz brilhar a
acima de tudo o que é mundano... está apto luz inacessível diante dos que dele se
para encontrar o único objeto digno de desejo e aproximam...".
de se tornar, também ele, belo, uma vez que Cada uma das palavras poderia ser enten-
se aproximou do belo, tornado resplendente dida, c de fato G. assim o pretendeu, como um
e luminoso nesta beleza, continuará segura - grau específico de —> experiência "mística", no
mente a permanecer participante da verdadeira qual se encontra aquele que "é feito cada vez
luz" (XI, 4; SC 119,388). maior" pela eleição e pela proximidade de Deus.
A pessoa do Verbo leito carne, em sua du- A doutrina dos —» sentidos espirituais,
pla natureza de incriado e criado, de espírito herdada de -> Orígenes, recebeu, nessas
e de carne, de invisível e visível, lorna -se a intuições de G., uma articulação mais
estrada mestra do retorno. Ü termo-chave que apropriada. Mas o que mais impressiona é
define o modo e o método para cumprir este verificar que tudo acontece dentro de uma
itinerário é, sem dúvida, theoría, termo que linguagem que, embora altamente filosófica,
em C. indica, substancialmente, o princípio não deixa de estar profundamente ancorada
básico de todo o seu pensamento teológico e, no conteúdo bíblico hebraico-eristão. Talvez
portanto, místico, isto é, o movimento contí- resida justamente nesta síntese paradoxal
nuo que desemboca naepeklasis. todo o génio "místico", pelo menos na ela bo-
Entre os muitos textos que G. apresenta ração teórica, se não na experiência concreta do
para explicar este singular itinerário místico, grande Padre capadócio.
seria bom ler o seguinte, extraído da Homilia
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G., porém, não pára neste limiar. Prossegue,
de fato, no texto acima citado: "Mas sen do
um homem assim grande, tão sublime que
tinha tido tais experiências e através de tais
graus, havia se elevado até Deus, não tinha

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GkKGÓRJO l'A LA MAS - GREGÓRIO SINAI l'A 592
II. Doutrina espiritual. Nra
polêmica sus- restaurado pelo vulto resplendente do
tentada contra Barlaam e os humanistas do Cristo ressuscitado, revestido de glória,
tempo, G*. ressalta a insuficiência da razão manitestando-o ao mundo como um -» ícone
humana, expressa pela —* filosofia profana, (eikon) da divindade.
no escrutar e contemplar o mistério da B I B I ..: Algumas obras de Gregório Palamas,
salvação. Ela, de fato, é incapaz de elevar-se foram publicadas in Fiíocalia IV, Turim 1987, 3-
até Deus, porque a sua atividade 146; G. Palamas, Difesa dei sumi esicasti, Pádua
1989. Estudos: K. I) Antiga, Gregorio Palamas e
especulativa permanece limitada ã Fesicasmo, Milão 1992; H.IX Egan, Gregorio
contemplação dos seres e das suas razões Palamas. in hl., / mistici e la mis!icei, Cidade do
(logoi). Vaticano 1995, 347->5S; J. Kuhimunn,
De acordo com o autor, a inutilidade de tal Gtegnríu Palamas, in G. Ruhbach - J. Sudbrack
sabedoria, nitidamente humana, deve-se ao ínre,], Grandi mistu i II. Bolonha 1987, 9-26; J.
tato cie que ela não loi regenerada pela —> Meyendfirff, 5.V., in DSAM XII/I, 81-107; Id.,
Introduction à I etude de Gregoire Palamas, Paris
graça, não tendo sido submetida ao renasci-
1959; Id., San Gregorio Palamas e la mística orto-
mento espiritual, realizado pelo mistério da dossa, Turim 1976, Milão 1997: M. Paparozzi,
—> Encarnação, ponto de partida para reali- Gregorio Palamas, in La Mística I, 419-460; Y.
zar qualquer experiência autenticamente Spileris, Palamas: la gratia e Vesperienza, Roma
cristã, graças à qual o homem, em sua 1996.
totalidade, alma e corpo, chega ã consecução
da > santidade. Todo cristão, para alcançar R. D'Antiga
tal condição escatológica em seu vir-a-ser
existencial depois do -> batismo, deve
alimentar incessantemente o próprio dia-a-
dia com a prática sacramental e ascética, e
estar assim, perenemente, em comunhão
com Cristo. O itinerário místico deve ser o
percurso de Ioda vida cristã, tendo em vista GREGÓRIO SINAÍTA
que, graças a ela, chega-se à divina —>
visão, istoé, à —» contemplação [t h e o iín ) d ; i L Vida e obras. G. nasceu em 1255, em
In/ incriada, a mesma que Clazomenes, na Asta Menor. Depois de uma
loi contemplada pelos apóstolos sobre o mon- estada no mosteiro sinaítico de Santa Cata -
te Tabor. A percepção de semelhante luz, afir- rina, transferiu-se para Creta, onde foi ini-
ma G., torna o Imparticipãvel participável, ciado na vida hesicasta pelo anacoreta Arsê-
acessível o Inacessível e cognoscível o Incog - nio. Daí loi para o monto Atos, ondo vi\ cu
noscível. Ela, de falo, é a energia (enérgeia) no
divina comunicada ao que contempla a Es- eremitério de Magula com alguns discípulos,
sência (austa) supra-essencial. até 1 325, mais ou menos, ano em que loi
De acordo com o douto hesicasta, em con- constrangido a ir embora, por causa das
formidade com a patrística oriental, a luz cia frequentes incursões dos turcos. Refugiou-se
visão divina que se manifesta à alma em Paroria, na Bulgária, lugar de onde os
dedicada é a energia divina incriada, não a seus discípulos, depois de sua morte, ocorrida
essência da divindade. Ele, na verdade, em 27 de novembro de 1346, dilundiram o —
distingue nitidamente uma da outra, > he-sicasmo nos países eslavos ortodoxos.
relutando qualquer categoria essencialista Numerosos são os escritos que G. dedica à —
própria da filosofia helénica: a primeira > oração em suas diversas práticas, entre as
|wtence em medida igual às três Pessoas da quais deve ser mencionada também a psi-
Trindade e torna Deus perceptível á alma, em colísica (hesicasmo) que ele defende, condi -
forma sensível, enquanto a segunda, a vidindo os escritos do Pseudo-Simeão e de
ousia, permanece na transcendência Nicéforo de Atos (f c. 1350), sem contudo
absoluta. Tal distinção entre essência e absolutizã-la, aconselhando-a em particular
enerkiia divina encontra fundamenta-ção no aos principiantes que ainda não tenham mes-
caráter puramente cristológico ou tre espiritual. G., embora nunca apareça na
sacramental da deificaçáo (theosis), fim últi- candente controvérsia palamita, é,
mo da Encarnação que, em seu processo de juntamente com —> Gregório Palamas o
realização, aos poucos vai libertando o maior representante do hesicasmo do séc. XIV,
homem do —> pecado e da morte. Por isto, o e por este motivo é denominado o "doutor cia
homem dedicado revela a estrutura icônica, hesiquia" (hesychia).
similitu-dinal, do seu ser {cf. Gn 1,26)
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II. Ensinamento espiritual. G\, seguindo
a tradição hesicasta precedente, aponta ci
uno objetivo principal do asceta o alcance
da dedicação (théosis), que se obtém por
meio da oração pura ikatharã presenché),
também chamada monológica ou oração de
Jesus. Em seu tratado Capíttdos em acros-

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GkKGÓRJO l'A LA MAS - GREGÓRIO SINAI l'A
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GR0OT1-G K R A R D O - G U A R D I M R O M A N O (exposta em Dc quattuur cctierihns mediiahi-
476
comum". Morreu em 20 dc agosto dc 1384,
provavelmente vítima da grande peste. H u m ) e a assumi-la corno fonte para as Re-
A maioria dos escritos de G. foi dedicada á gras e os estatutos das novas instituições.
renovação da vida religiosa. Contudo, no
BIBU: R.Th.M. van Dijk, s.u, in WMy, 207-208; G.
Epistolaria (Gerardi Magni epistolae, ed. W.
Hpiney-üurgard, Gerard Groote (J340-J384) et
Muider, Antuérpia, 1933) podem-se encontrar les debuts de la devotam modeme, Wiesbaden
também carias endereçadas a leigos, com a 1970; J. Hecke, s.u, in DSAM VI, 265-274; I.
orientação de se dedicarem juntos (em peque- Tolomio, s.u, in DIP IV, 1437-1443; F.
nos grupos), ao serviço de Deus. O seu tratado Vandenbroucke, La spiri-tualità delMedioevo, 3/B,
De paupertate in die Palmarum trata dire- Bolonha 1991, 341ss.
tamente sobre a vida de uma comunidade
religiosa, na qual a —> pobreza é o testemunho Giovanna Della Croce
mais importante da > imitação de Cristo. A
posse de bens conduz ã falência do caminho
comum da —> perfeição. Mas a pobre/a, que G.
equipara à doação generosa de ludo aos
outros, elimina os obstáculos, nutre a
caridade fraterna e conduz à —> paz. Um
lugar importante entre os escritos de G.
GUARDINI ROMANO
ocupa-o <> tratado De quattuor generihus
I . Vida e obras. Nasce em Verona (Itália) a
medi-tahilium, no qual pode-se vera primeira
17 de levereiro de 1890 e morre em Munique
tentativa, na história da espiritualidade
da Baviera (Alemanha) dia 1 cie outubro de
cristã, dc expor as regras de um método de —
1968. Ainda pequeno, migra com toda a
* orarão mental. Para ajudar os irmãos das
família para Mogúncia (Alemanha.). Depois
comunidades da Devo tio moderna, G. compôs
de um breve período de estudos em química e
o livro em 1382-1383, ensinando que é preciso
economia, dedica-se aos estudos teológicos e é
desenvolver, pessoalmente, um corpus dc > me-
ordenado sacerdote em 1910. Ensina teologia
ditação, e não simplesmente repetir medita-
e ciências religiosas na universidade. Ao
ções ja lei tas por outros. Neste empenho pela
mesmo tempo, promove o movimento juvenil
"nova piedade" (a Dcvotio moderna tem aqui o
católico germânico. Sua atividade pasto ral
seu inicio) G. valoriza também a imaginação
torna-o odiado pelos nazistas, e por isso cm
(phantasnuita), mas ao mesmo tempo su-
1939 é demitido de seu cargo rra universi-
blinha seus limites: para chegará plena con-
dade, o qual só lhe será restituído em 1945.
lormação a Cristo, o homem deve libertar-se
Consegue o doutorado em Freibure i. Br. com
das —> imagens. Este é também o último esco-
uma tese sobre a doutrina de redenção dos
po da meditação. Justamente por este motivo
santos (publicada em Düsseldorf em 1921, sob
ela não foi entendida pelos contemporâneos.
o título Die íjrhre des hl. Bouaveniura vou der
Lírlosungi) e em 1922 apresenta uma análise
II. Ensinamento místico. Em G. não falta o
do ensinamento de > Boaventura, por* meio
interesse pela mística, sob a influência de ->
de um sistema coerente, em stia tese de
Agostinho e de —> Bernardo de Claraval,
qualificação. Esses interesses, porém, não im-
interesse que pode ser notado principalmen - pedem a redação e a publicação do seu me-
te nos seus relacionamentos com Ruvsbmeck, lhor trabalho, O espirito da liturgia. Esses pri-
do tmal traduziu para o latim As núpcias es- meiros estudos de G prenunciam os temas e os
pirituais. Mas a sua piedade é antes urna interesses da sua obra posterior, Inilo do
atitude que une vida ativa e contemplativa no ensino em bVrlim, Tübingen e Munique (Ale -
amor duplo: Deus e o próximo. Essencial ê a manha) (1923-1939, 1945-1948. 194S-I962):
pratica de vida erisloccntrica, concretizada Concepção filosófica e católica do universo.
na caridade —> perfeita, na imitação estrita do
Senhor. Paia alimentá-la, G. traduziu para ') II. Ensino teológico-espiritual Par tindo de
vernáculo o Livro das Horas {Getijdenbocck), ampla base cultural, G. põe ■ * homem diante
fazendo dele o livro de oração para uso das de sua constituição individual e em seu
comunidades leigas. Embora não seja ele o contexto social, analisando suas influências
fundador das novas famílias da Devotio mo- culturais recíprocas. Seu fim não é condenar a
derna, elas nasceram soba influência de sua Idade Moderna, mas reconstruir uma visão
espiritualidade, que ajudou a viver a síntese dinâmica da vida cristã, insistindo na neces-
entre > contemplação e ação na vida comum sidade de renovação baseada na Sagrada Es-
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critura, enraizada na experiência e no conhe-
cimento da tradição, seja em seu aspecto
teológico, seja no místico. Para G. é essencial.

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GUERRICO D'IGNY - GUI BERT JOSEF l)E Espiritualidade da Companhia de Jesus, uma
história e uma interpretação dã espirituali-
am -it-fine et médiévale, 24 (1975), 15-26. dade dos jesuítas.
Estudos: J. Boiler, D' b. Guenic disciple de s.
Bernardet second abbe du mtmastère de 480
Notred)ame d'/gny, Reims 1890; B. Bctlo,
Guenic*) d'/gny e i suoi sermoni. Btesscodi Outro livro seu importante, o manual de
Tenlo 1988: M. Costêllu. The Meaning of Theologia spiritualis, ascética et m í s t i c a, pu-
Redemption in the Senntms of (.iuerric of I guy, in blicado pela primeira vez em latim e depois
Citeaux. 17 (1966), 281-3QS; MA. Diniier, !s.u. traduzido, ao menos em parte, para várias
in BS VII, 454-456; P. Miquel, Vexpérience de Dieu línguas, obteve quatro edições. Escreveu
scion Guerric d'lgny, in Collectanea O/dinis
outros dois manuais de teologia em latim, De.
Cistt'rcensium rejonnatorum, .32 (197ÍH, 325-
328; I, Morson - M, Costello, s.v., in DSAM VI, Christi Ecclesia, um curso sobre a Igreja, e
1113-1121; J. Weismayer, s.u, in WMy, 209- Documenta ecclesiastica ch ri st ia \ iae perfec-
210. t i o n i S y uma síntese e um sumário de alguns
documentos da Igreja referentes à espiritua -
G. G ajf ur ini lidade.
Eludes de íhéologic mystique, de 1930, re-
colhe muitos dos artigos do jesuíta já publi-
cados in Urcgo/iartum ou in Fievue
dascétüfue et de mvstiíptc. Seu Saini Ignace
mvstique ainda é um dos melhores
comentários e uma das mais bem-sucedidas
GUIBERT JOSEF DE interpretações do Diário espiritual de > Inácio
de Loyola. Além de ensinar e de escrever, G.
I. Vida e obras. Nascido cm Monlégut se empenhou num significativo trabalho
(Alta Carona, França) em 1877, G. ingressa pastoral: retiros na França e na Itália e
na Companhia de Jesus em 1895. Como je- direção espiritual sobretudo em Roma.
suíta, estuda letras em Tolosa (França), filo-
sofia em Vals-pres-Le Puy (França) e teologia 11. Ensinamento místico. A N principais
em Enghien (Bélgica), onde é ordenado contribuições de G. â espiritualidade relerem-
sacerdote em 1906. Durante o período dos se a três aspectos; a —> oração
seus estudos na Companhia, oblém a licen - contemplativa, os —» dons do Espírito Santo e
ciatura em letras na Universidade de Paris e, a espiritualidade inaciana. Escreve de maneira
em seguida, aí mesmo estuda história por dois clái ;i sobre mística e considera a oração
anos. Ensina teologia no seminário regional de contemplativa uma parte da mística.
Lecce (Itália) (1908-1910 ) 0 , depois de com- Distingue entre a > contemplação adqui-
pletar - um terceiro ano no teologadodos jesuí- rida e a infusa. Define a —> contemplação
tas em Enghien, passa o período da Primeira mais como ato do que como estado, e a
Guerra Mundial no exército i rances corno descreve não tanto em termos de > graça
riã< >-combatente. Depois da guerra, funda a passiva recebida, quanto como uma ação sob
Revista de ascética e mística em Tolosa. Em se- a inspiração da graça, que tem em vista uma
guida, vai a Roma, onde ensina teologia -'■> simplicidade cada vez maior. Os dons do
espiritual e teologia lundaniental na Espírito são considerados não tanto princípios
Pontifícia Universidade Gregoriana. Dirme de atividade, mas —> hábitos, capacidade
também urn passiva ou capacidades a serem recebidas c
Cv
executadas sob a inspiração e a ação do —
curso sobre o método de pesquisa, por quase
Espírito Santo. Isso é verdade também para a
vinte anos, até à morte, ocorrida em março de
contemplação infusa.
1942. A cátedra de espiritualidade, que lhe
Os escritos de G. no âmbito da espiritua-
loi entregue, é a ocasião para dar
lidade dos jesuítas são históricos e interpreta-
conferências visando à iormação contínua do
tivos. Considera a mística de Inácio de Loyola (e
clero romano. Em 1938, com outros jesuítas
também a espiritualidade da Companhia) uma
franceses, funda o Dictionuaire de Spiritualitc.
mística eucarística, trinitária, toda voltada para
Nos últimos de/ anos da sua vida é nomeado
o exercício do amor, em união com -> Jesus
consultor* da Congregação dos Ritos e, nos
Cristo. Prescinde da idéia de que a oração dos
últimos dois anos, conselheiro pessoal de Pio
Exercícios espirituais de Inácio ile Loyola
XII para as questões francesas.
limita-se ao uso da —» memória, da —>
G. exerceu profunda influência no campo da
inteligência e da —* vontade, isto é, de que é
teologia espiritual, através do seu magistério
oração necessariamente meditativa e discursiva.
e dos seus escritos. No momento da morte,
G. esclarece o papel da oração contemplativa
havia quase terminado o rascunho da
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nos Exercíciosea importância cio —>
discernimento dos espíritos para descobrir a
vontade de Deus. Por todos esses motivos,

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G L I U iEKMK DE SAI NT-THIERRY G L U . I .KR AND AGOSTINHO ( M A X I M O )
II. A doutrina. Abade beneditino ou mon ge divina. A teologia poderá chegar a esses re-
cisterciense, G. é sobretudo diretor de almas sultados se tomar como ponto de pai tida
e místico. Aborda o dogma mais com a não os conceitos filosóficos preconcebidos, mas
contemplação do que com a especulação. A os dados da Escritura. No Spéculum lidei en-
consulta freqüente aos textos bíblicos, na con- contramos este resumo de toda a ascensão
fiança de que encontrará neles a --■> revelação espiritual: "Para entender aquilo em que cre-
de Deus, permite-lhe libertar-se da rigidez do mos é preciso entregar ao —» Espírito Santo todo
agostinismo da época e abrir-se à tradição dos o nosso espírito c toda a nossa inteli gência,
Padres gregos. Devedor de —> Orígenes, dos [para chegar a essa compreensão] não tanto
Padres capadócios e de —► Gregório cie Nissa, com o esforço de razão ambiciosa, mas com a
consegue, numa síntese absolutamente pes- afeição {afícetu) de simples amor". O homem,
soa! entre Oriente e Ocidente, traçar o itine- tomado pelo amor de Deus, adquire na
rário espiritual que permitirá ao homem caí- contemplação o senso da presença de Deus,
do no —* pecado reencontrar a semelhança que é ao mesmo tempo conhecimento místico
com Deus. A imagem de Deus, de falo, não e conhecimento teológico.
pode se perder no homem, porque consiste
Him . Obras: J..M. Déchanet, Oeuvres choisies de
naquela ubiqüidade que, com a alma, o íaz Guillaume de Si. Thieny, Baixelas 1943: E.
estar presente em todo o corpo, como Deus Arborio McUn {avg.),Cort !emplu:jnne, Magnano
está presente em todo o mundo. Todavia, a 1984; C. Fal-cliini (on*.),Dalla médit azione alla
semelhança (perfeição da imagem) pode per- preghiera. Medita-tivae orai tones, Maguari o
der-se, porque consiste na realeza da alma 1987; C. Leonard i (org.) Ixt lettera d'oro, Florença
196"$, Estudos: O. Brooke, The Trinitarian Aspect
sobre o corpo e na sua uberdade em relação a of the Ascení o f the Soul in God in the fheoloyy of
ele. Ora, o pecado destrói tanto essa reale za William o f st. Thierry, in Recherches de Théologie
quanto essa liberdade, enquanto Deus não ancienne et médiévalle, 26 (1959). 85-127; ld.,
pode deixar de ser o Rei do universo nem de William o j 'St. Thierry's Doctrine of the Ascent to God
by Faith, in Ibid. 30 (1963), 181 -204; M.-M.
usufruir, em relação ao mundo, de transcen- Davy. Théologie et mystique de Guillaume de Si.
dente liberdade. A alma, através das —> Thierry, 1, Î M connaissence de Dieu, Paris 1954;
virtudes, com as quais consegue dominar o Ead.. I n connaissance de Dieu d'après Giullaume. in
corpo, eleva-se da vida "animal" à vida RSR28 ( 1938 j. 430-456; JM, Déchaner, su:, in
"racional", passando da simples ubiqüidade à DSAM VI, 1241 -1263; Ici., Aux sources de la
spiritualité de Guillaume de St. Thierry, Bi uges-Pa-
realeza, ao domínio. Tudo isso se realiza na ris 1940; MA. Dimicr, s.v., i n ES Vil, 484 -486;
assimilação da —> fé, através de esforço H.D. Egan. Guglielmo di Saint-Thierry, in Ici-, /
totalmente pessoal, marcado pela inteligência mistici e la mística. Cidade do Vaticano 1995,
e, certamente, estimulado e sustentado pela 182-195; J. Lanezkowski.s.v., in WMy, 521-522;
A.M. Piazzuni, Guejielmo di St. Thierry, Roma
—» graça. Mas a liberdade não se encontrará, 1988.
por sua vez, a não ser na adesão a Deus nos
cumes da vida contemplativa: a "unidade do G\ G af f ttr i n i
espírito". Então a alma, centrada não mais
abaixo de si mesma, em seu corpo, mas
acima, em Deus, participa da liberdade
soberana, que a posiciona acima de tudo, de
toda a c i iação.
G . , antes de ser mero explanador desses e de
outros itinerários, é seu executor: sua ex - GUILLERAND AGOSTINHO
periência espiritual alcançou várias vezes o
ápice da liberdade e da realeza da alma. Des- (MÁXIMO)
sas alturas trouxe, para nós, páginas ilu-
minadas para a compreensão do mistério I. Vida e obras. Nasce em Reugny-de-
eucarístico e a concepção da Trindade muito Dompierre (Nièrve, França), a 26 de novembro
diferente da que se costuma encontrar nos de 1877. Freqüenta o seminário menor de
autores medievais e modernos. Inspirado in - Pignelin de 1887 a 1894, quando ingressa no
teiramente na Bíblia, e!e é fiel ao estilo das seminário maior de Nevers, sendo aí ordenado
orações litúrgicas tradicionais, que mantêm o no dia 22 de dezembro de 1900. Sacerdote
respeito ao mistério e, ao mesmo tempo, secular, é vigário em Corbignv. prefeito e
mostram como a —> Encarnação rios revela professor na Instituição Saint-Cyr, colégio
a Trindade, introduzindo-nos nela, mas sem eclesiástico de Nevers, pároco de Rua-
prejudicar de modo algum a transcendência tzese,enfim.de Limon, entre 1901 e 1916.
Ncs-se último ano é acolhido no convento de
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G L I U iEKMK DE SAI NT-THIERRY G L U . I .KR AND AGOSTINHO ( M A X I M O ) 608
Valsainte (Suíça), onde os padres cartuxos
franceses vivem em exílio, no cantão de
Friburgo; aí faz a profissão solene no dia 6
de outubro de 1921, com o nome religioso de

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GUYON JI-ANNI- MARIE BOUVIER DE I A MOTTIi 612
luosa" (M. G. Gondal), com os típicos aspec- a - dúbias interpretações seja quanto à
tos da —> infância espiritual (A. Sambicr). ortodoxia, seja em relação à sua linguagem.
Guerrier, em sua obra fundamental, faz dela A -> experiência mística, sem excessivos fe-
uma apologia verdadeira e entusiasmada: nômenos extáticos ou aparências exaltadas,
obra-prima de introspecção psicológica. com o tempo vai alcançando valor
O chamado "enigma guyoniano" vem, em indubitável e efeitos benéficos inegáveis.
parte, de vida levada de maneira um tanto Ousada na defesa das próprias teorias,
insólita e de problemática de pensamento aceitou humilhações e incríveis calúnias,
bastante complexa. Abandonada pela mãe, viveu no cárcere com indomável coragem e
ela própria abandonará seus tilhos: errante com serena disposição de espírito: virtudes e
inquieta, estará sempre à procura da própria méritos que, com o passar do tempo e extinto
identidade; além disso, teve variadas inlluéu- o calor da polémica, não deixaram de dar
cias espirituais, que foram se sobrepondo e sentido de veracidade e de confirmar a sua
nem sempre passaram por uma necessária e mensagem de testemunho cristão.
pacata decantação, num espírito marcado Dos seus restos mortais sobreviveram às
por múltiplas facetas. vicissitudes do tempo o cérebro e o coração: o
Não hesitou em entregar-se à causa de coração como sede do amor puro; o cérebro
Deus, como que impelida por uma força in- como instrumento de busca da verdade na
terior, mas sempre guiada por diversos e ex- união com Deus!
celentes pais espirituais. Sentiu em si mes-
ma, ou, segundo outros, presumiu estar de BIBL. Obras: ML. Gondal (org.), La passion de croire.
Textes choisis et présentés par M.L. Gondal,
posse de missão a ser desenvolvida no contexto Taris 1990: P. Poirel {org.). S i min me Guy on,
cia sociedade; pensou, mesmo, que devia Oeuvres et
assumir uma atitude de "maternidade Opuscules spirituels. Colônia 1720; Jeanne
espiritual" no ârnbilo da Igreja. A vida de —» Guyon, Cutnntcntii tnisneoa! Cântico dt i
oração e de prática penitencial soube unir e Cantici, org. por L. Ginzburg, Gênova 1977;
Ead., Metodo semphee per iorazione, org. nor
realizar diversas obras de apostolado com A.M. Galiano de Acevedo, Milão 1998. Estuaos:
notável sucesso; bem aceita nos ambientes E. Aegerter, M.me Guyon, une aventurière
protestantes, dedicou-se a favorecer o clima mystique, Paris 1941; L. Cognet, s.v., in DS.WÎ VI.
ecumênico no território de Gex e de Genebra. 13ÍJ6-133Ó; ld.. D ; <:<in!tiatilè a 'r M . me
Guyon, in XVIIsiècle, 12/14 (1952), 269-275. A. De
Sua feminilidade fascinante e sua fantasia la Gorcc, Madame Guyon à Btois, in Etudes, 130
exuberante criaram em torno dela fortes (1961 ),
simpatias, produziram fáceis entusiasmos e até 182-196; Joana da Cruz, s.v., in DESII, 1233-
proselitismo no campo místico, que de- 1235; MX. Gondal, L'acte mystique. Témoignage
sembocaram em - ou melhor, deram pretexto spirituel de Madame Guyon, Lião 1985; Id., La
prière de repos, prière du coeur selon M.me Guyon,
in VieSp 76(1988), 191-204; Id., Un nouveau
Material com direitos autorais
visage, Paris 1989; G. Guerrier, M.me Guyon: sa
vie, sa doctrine, et son influence d'après les écrits
originaux et des documents inédits. Genebra 1971;
J.F Mnllet, Jo;.»me-Marie Guyon, Paris 1978; F.J.
Schweitzer, s.v., in WMy, 212.

A. Pedrini

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GUYON JI-ANNI- MARIE BOUVIER DE I A MOTTIi
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HAMMARSKJOI.n DAG 492

ver a crise congolcsa. No mesmo ano é-lhe assombro pelo "incrível estar em suas mãos", e
atribuído o Prêmio Nobel da Pa/., in me- o instante parece-lhe inserido na eternidade
moriam. (SC 124,127). Experimenta forte tensão,
agudo desejo de —> desapego radical de tudo.
II. Itinerário místico. Depois da morte de H. de - > purificação absoluta, quase de
encontrou-se em sua casa em Nova York um aniquilamento, não pelo gosto da
manuscrito intitulado Vágmiirken ("Sinais de autodestruição, mas (nua que Deus preen-
uma caminhada" = SC). E uma espécie de cha o seu vazio e se afirme nele; exprime
diário íntimo, em que sáo anotados pensa - "não um hino ao aniquilamento, mas o
mentos, sinais misteriosos, indicações que o abaixamento que é hino" (SC 108). K possível
guiaram por uma via singularíssima e exem- que aqui
plar, feita de - > ascese severa, até ao encon- H. esteja pensando na figura de são João Ba-
tro face a face com —> Cristo. Abarca o perío- tista e na compreensão que este teve da pró-
do que vai de 1925 a 1961 e apresenta uma pria missão em relação a Jesus Cristo: dimi -
característica diferente, com o passar do tem- nuir-se até desaparecer, até não ser orais que
po: nas primeiras décadas, os pensamentos uma voz que clama, hino no deserto (cf. Jo
revestem-se de uru aspecto psicológico, mo- I, 19; 3,30). Isso lançaria luz particular sobre
ralista, ligados a uma esfera predominante - o tema do aniquilamento, que percorre todo
mente ética; mas em 1953 há uma virada re- o diário. Ü aniquilamento não deve ser bus-
pentina, uma afirmação do dado religioso, cado, mas recebido de Deus; será, então, "um
quase que uma irrupção de Deus na vida de cumprimento" (SC 191).
//. A virada coincide com a sua eleição como //. quer libertar-se de todas as coisas que
secretário tieral da ONU, caruo de mande res- o bloqueiam, que sente como ilusões, porque
ponsabilidade, mas que o deixa tranqüilo a verdadeira realidade é Deus; e também ele
porque sente que Deus está com ele: "Quando será "real no Uno" (SC 184). Pode-se perceber,
Deus intervém em momentos cruciais, como nesse insistente propósito de purificação,
agora, é com severa determinação... aquela fase da ascensão mística chamada
Deus se serve de li, mesmo quando isso não te noite dos sentidos e do espirito, tase
agrada. Deus esmaga o homem no ato mes- necessária antes de chegar à CA pc via ic i i\
mo de erguê-lo" (SC I 16). //. sente em si mes- de Deus. Mas nesses sentimentos não há
mo a presença e a ação de Deus. e por isso sucessão cronológica, e sim alternância e
entreua-se totalmente a ele. Esse sentimento cutrclaçamculu recíproco, segundo os tempos,
não deriva da razão nem de outros fatores as circunstâncias e segundo a economia da —>
terrenos, mas da —> fé, que ele. remetendo- graça. Assim, depois dos momentos da ascese e
se a são —> João da Cruz, define como —> do sofrimento, /-/. manifesta os sentimentos
"união da alma com Deus" (SC 122). A fé não de —> alegria e de conquista: Deus está nele,
é uma série de noções ou de fórmulas, mas porque ele está em Deus. Forte, livre, porque o
uma vida sobrenatural, um contato íntimo, seu eu não existe mais"' (SC 131). É diálogo
"uma experiência do Ser e do homem que ininterrupto com Deus, mas ele se torna mais
participa do Ser". Do místico espanhol, //. intenso nos momentos diliceis da sua - * vida
aceita também o lado obscuro da fé, a —> política, quando deve implementar uma ini -
'noite escura": "A noite da fé, tão escura que ciativa importante. Em junho de 1956, por
não se pode sequer buscar a fé (SC 123). É a exemplo, apresenta ao Conselho de Segu -
dificuldade de crer, que surge da rança da ONU um relatório sobre a crise no
incompreensão dos homens, do silêncio, da Oriente Médio e propõe um caminho para a
experiência do Gelsémani (SC 123). Há, nessa sua eventual solução. H quando se dirige a
visão, a influência da doutrina luterana, que Deus com mais té, virtude que encerra força
mortifica a razão e acentua a theologia crucis; superiora capacidade humana, intuição pro-
ela percorre todo o diário, mas é mitigada por fundamente radicada no Evangelho, no qual
outros elementos mais equilibrados, porque sempre os milagres realizados por Jesus si-
//., além de Lutero (f 1 546), conhecia muito nais da onipotência divina - estão estreita-
bem a —► Bíblia e vários escritores mente ligados, quase que subordinados, à té
espirituais, —> Mestre Eekhart e a Imitação (cf. Mc 6,36; 1 1,23-24). /-/. sente-se humilde
de. Cristo, são João da Cruz e - ■> Pascal, colaborador, que realiza apenas a mínima
Martin Buber e os expoentes do Renoiiveaii parte da obra, ao passo que Deus faz todo o
catholique francês. Imerso na fé, sente Deus resto. Sentimento que experimenta quando,
como outro ele próprio, está cheio de com grande habilidade diplomática, obtém a

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soltura dos aviadores americanos aprisiona-
dos na China e quando convence os israelen-
ses a deixar o Egito, depois da guerra dos seis
dias (cf. SC 147,174). instintivamente, H , se

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HESICASMO IIIEROGNOSH 49
6

mosteiros ortodoxos, em particular nos do secando l'esicasmo, Brescia 1978: Y Meyen-


monte Athos, mas também entre os leigos, dorff, introduction à l'étude de Grégoire Palamas,
sua difusão no Ocidente é fruto da diáspora Paris 1959; A. R'iy.o. Ktonaci esicasti e monaci
bogo-mili, Florença 1989; T. Spidlik, s.v., in
russa, depois da revolução bolchevista. DES 11,918-920; Ul-, IM preghiera esicastiea, in
AaA'v., //* preghiera. Bibbia, teologia, esperienze
II. //. e mística. O coração vivificado] do storiche, I, Roma 1988, 261-275; Un monaco
//. é a Oração a Jesus ou / ti vocação do Nome, délia Chiesa d'Orienté, La pregfnem di Ce su,
cuja fórmula mais comum soa assim; Kyrie Brescia 1964; C. Wrmenaar, s.v., in WAÎy,
Jesoû Christé, //v/c ton Theoû, eleison me ton 228-229.
hamartolôn! ("Senhor Jesus Cristo, Filho de
Deus, tem piedade île mim, pecador"). As
R. D'Antiga
raízes dessa prática mística estão na espiri -
tualidade do deserto egípcio: —> Evágrio Poli-
tico, —> Macário, o Grande, —» Cassiano e
outros, e do deserto sinaítico. Desse último
a figura mais relevante é a do Abade do mos-
teiro de Santa Catarina, > João Clímaco, o HIEROGNOSE
qual em seu escrito A escada do paraíso, ree-
labora e harmoniza a tradição precedente à I, O termo, etimologicamente, significa
luz de sua —» experiência ascética pessoal. "conhecimento do sagrado". Usa-se para in-
Nessa obra, aconselha seus discípulos a unir dicar a faculdade de alguns santos, especial -
à respiração a recordação de Jesus (27,7), a mente em —» êxtase, de reconhecer as coisas
fim de, depois de terem aberto as portas do sagradas - partículas, rosários, escapulários
—> coração, perscrutarem em si mesmos lu- - daquelas não-bentas ou não-eonsagradas.
minosamente o divino sol do —> intelecto. Citemos alguns exemplos. Distinguiram a
Para adquirir a > contemplação [theoria) e a par-
iluminação divina, uma vez debeladas as —> tícula consagrada da não-consagi ada
paixões carnais, manifestadas pela ima - pessoas
ginação desviante, produzida pelo pensa- como a bem-aventurada Sibilina de Pavia
mento errante, o asceta deve abandonar, na (f 1367), a bem-aventurada Margarida de
oração, todo elemento discursivo (logismoí), Castello (I" 1320), a > bem-aventurada Cata-
istoé, racional, e chegar ao silêncio comple to rina de Sena, santa Liduína (i 1433). -> san-
da mente por meio da oração monológica ta Francisca Romana, o bem-aventurado
{nionoloyja). Para o hesicasla dotado de Umile de Bisignano (t 1637), são Francisco
conhecimento, essa oração é parte integran - de Bórgia (t 1572), a bem-aventurada Ana
te e sensível de sua interioridade, antes, ela Maria Faiei (t 1837), —> Catarina Emmerick
o possui "porque ele é iluminado sobre seus e outros. Esta última tinha o dom de reco-
atos por aquilo que as palavras significam" nhecer as relíquias verdadeiras das falsas.
(27,3). Hm alguns casos, o reconhecimento é
Aquele que chegou hhesychia vive na con- leito porque um anjo avisa a pessoa; ou,
dição deificada (theosis) isto é, no esplendor quando o objeto não é sagrado, porque o
da imagem divina (cf. Gn 1,26), restituída à sujeito não sente um perfume especial ou
beleza primitiva pela luz da ressurreição de não é despertada nele experiência espiritual
Cristo e circunscreve o incorpóreo numa mo- particular.
rada corporal (27,7). Assim, o anacoreta, que Como se explica esse conhecimento? Al -
passa seus dias imerso na hesychia, é trans- guns recorrem à clarividência ou à telepa tia.
formado em templo do —* Espírito, porque A —> clarividência, quando o sacerdote, no
participa da vida divina e testemunha a har - caso da —» Eucaristia, acha que no vaso
monia interior, alcançada mediante a —> sagrado não há partículas consagra das, mas
contemplação e a pacificação psicofísica. na verdade existe um fragmento, que o
AaA'v. / padn esicasti. Lamore delia quiete,
Bjiii..: comungante percebe. Recorre-se, de outro
Magliano 1993; P. Adnòs, s.v.. in USAM VII. lado, á telepatia nos casos em que o
381-399; \d., Jesus (prière à). in Ibid . 1 126- sacerdote sabe o que f a z e o comungante lê
1150; H. Behr-Sigel, il iluogo del cuore, o seu pensamento. Este caso é. mais frequen-
Cinisellu Balsamo 1993. R. D'Anliga, Gregorio te. Mas há situações em que não se pode
Palamas el'esicasmo, Cinisello Balsamo 1992;
apelar para tais explicações; são aquelas nas
Id., L'esicasmo russo, Cinisellu Balsamo 19^6;
I. Hausherr, Salitudine e vita contemplativa quais o anjo avisa, ou se percebe o per fume,

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ou são despeitadas experiências espi rituais
especiais.

II. Grafia grátis data. O padre —>


Arintero
explica essa faculdade como uma espécie de
simpatia ou conatural idade com a realidade

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uiKn.no m: ROMA tsamo) - HISTERIA 632; A. Zani, ht chstoloeja di Ippolito, Brescia
1984.
alcance dos pobres. H o pobre, então, deve
aproximar-se com sua vasilha de perfume de L. Dal trino
Cristo, para recolhê-lo e, em seguida, derramá-
soo
lo sobre a cabeça do Senhor, a fim de atrair
Cristo para si". 6 A Igreja é conliada a missão
HISTERIA
de fazer nascer Cristo no coração dos crentes,
de formar no próprio coração o Verbo de Deus, I. Síndrome psicopatológica pertencente
princípio de > santidade, de regenera ção no —> ao grupo das neuroses, caracterizada pelo con -
Espírito Santo, para que cada um dos seus junto de sintomas orgânicos e psíquicos. Tra-
membros se torne criatura perfeita e celeste. A ta-se da forma psicopatológica conhecida des-
Cristo cabe a tarefa de reunir todos os homens, de as mais remotas épocas. Deve seu nome a
para reconstituí-los na unidade violada por —> Hipócrates (j c. 377 a.C), o qual retomou uma
Adão, estendendo os braços rra cruz, em sinal teoria já enunciada por Péricles (t 429 a.C),
de abraço. Como um tecelão, ele teceu a para quem a h. devia-se a uma doença do úte-
salvação no alto da cruz, realizando as obras ro (hysf cn)s). Acreditava-se, então, que era
queridas pelo Pai, "sofrendo para penetrar, moléstia própria tias mulheres, e com lundo
com a sua virtude, os nossos corpos de morte, sexual. Na Idade Média, a h . costumava-se
para nos transformar de corruptíveis em um dos sinais da -> possessão diabólica. Tí-
incorruptíveis, de fracos em fortes, para salvar pica, a propósito, foi a afirmação de Bento
o homem que se havia perdido"/ E a Esposa XIV: "A convulsão dos membros é um sinal da
diz ao seu Cristo: "Toma o meu coração, enche- ação demoníaca". As crenças relativas à h .
o do teu Espírito... para que seja uma coisa só como doença tipicamente feminina e com
com a tua carne celeste". lundo sexual, estreitamente ligada ao "sobre -
natural ias histéricas eram consideradas san-
NOTAS : 1 Tal hipótese foi agora recolocada em tas ou bruxas), resistiram até o séc. XVIII. E a
discussão por (iuartlucci, une vê na estátua a partir do iiiial de 17(10 que se descrevem os
figura
de urna mulher (A contribuição de M. primeiros casos de histéricos e começam as
Guarducci é inserida em Naove Ricerche su primeiras observações médicas sobre as pos -
Ippolito (Soa M ) ) , Roma 1989, 6lss). Cumpre síveis causas orgânicas da h.
assinalar a questão hi-
politeia. Depois da reconstrução biográfica do Com os estudos de Charcot e Janet e, de-
século XVIII, tudo foi recolocado em discussão
pois, de Freud c da psicanálise, a h. passa a
pe los estudos ilo P. Nautincm l l )47 1'ócio.
bibl.cod. 48), o mártir romano Hipólito, o bispo ser definida cada vez mais corno síndrome
de unia sede oriental (autor de obras complexa cujas causas sào de natureza psi -
exegéticas e de Contra \ Toeta). A crítica recente cológica. O conceito clássico da doença his -
elimina <• iantasmático Josipoe inverte a térica tende gradualmente a desaparecer, ce-
relação cronológica entre os dois Hipólito: o
romano seria posterior ao oriental, tio qual dendo o lugar a interpretações que põem em
teria conhecido e utilizado a obra; : Philosoph. primeiro plano a personalidade do paciente
10,34; 1 ht Dan I, \7, 4 In Dan 1, 10,1; II, 8,2; histérico e sua relação com o mundo. A per-
IV,6,1; In ( ' t i n t . I, 12; s In Dan I, 17; De A m . U X : * sonalidade histérica é, hoje, descrita essen-
Cam. I, 3-1,4; 7 De Am. III-IV.
cialmente a partir de três características prin -
Hme: O acesso mais cômodo ã bibliografia hipo cipais (De Sane tis. 1982): a. a maneira de se
litêia constituem no os dois vols.: Ricerche su relacionar com a realidade; ou seja. o histérico
Ippolito (Sea 13), Roma 1977 e S'uove rice t e he é cada vez mais vulnerável diante dela,
s u Ippolito (Sea 30), Roma 1939. Estudos: A.
podendo aparecer excessivamente medroso e
Amore. s.y., in BS VII, S6S-S75; G. Bardy, ht
vie spirituelle d'après les Pères des trens premiers tímido ou excessivamente seguro e forte; b. o
siècles, II. Tournai 1968, 177-181; I. estilo que imprime às relações interpessoais,
Bessarione, lu cristologia net Padri delia Chiesa, caracterizado por sugestionabilidade e
Roma 1979; Melchiorre dl Santa Maria - L. volubilidade, as quais manifestam profunda
Dattrino, SA :, in D E S II. 1339-1340; M.
Met/ger, .4 propos des règlements ecclésiastiques imaturidade; c. a relação consigo mesmo,
e t de la prétendue Traditio A pos tó lica, in HS R caracterizada por sentimento de autodesa-
66 (1992). 429-461; M. Richard.' s.v ; . in DSA.M preço.
VII 1, 531-571; C. Savatos, Le v oc a bu la ire
t rin ita ir e d'itippoh'te de Rome e t son contenu II. Os quadros clínicos através dos quais
théologique, in Theologia, 61 (1990). 698-712;
M. Simunctti. Pros-p e ft ive escatologiche délia se manifesta a h . são bastante variados. Por
crtstologia dt Ippolito, Roma 1993; M.S. comodidade, podemos reduzi-los a duas ma-
Troiano. Aicuni a s pe tt i délia datlrina dello nifestações principais: a conversão orgânica e a
Spirita S a nt o in Ippo lito , in Aug 20(1980), 615 conversão psíquica do conflito psíquico básico.
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Na conversão física, evidenciam-se fenômenos
muito semelhantes a verdadeiras doenças
neurológicas, como, por ex., a epilepsia; é
fundamental, por isso, para falar de

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HO.VU-.M r.SPIRITl'AI. 50
4

uma participação real nas processões faciens (graça que torna agradável"), entre o
trinitárias de conhecimento e de amor, é dom incriado e o criado, entre a presença
tornado termo externo das processões di- das Pessoas divinas e a graça .santificante.
vinas. O sentido dessa distinção, para cuja
Essas doutrinas encontrarão sua versão compreensão remetemos a ■-> antropologia
espiritual no ensinamento sobre o teológica, 20 é o de recordar que a vida
nascimento de Cristo nas almas:'' presente já espiritual não se exaure só com a presença
no Discurso a Diogneto, que recorda que o do Espírito, mas deve lambem abrir -se a
Verbo "se inani lesta novo e antigo, mas todo o seu agir. E competência do Espírito
nasce sempre novo no coração dos santos", 1 " levar-nos a Deus, reve-lando-nos plenamente
a nossa doutrina leve sua formulação plena sua Palavra (tf. Jo 16,13-15; 14,26); é
em -> Orígenes. Ele ligou a doutrina dos três competência do Espírito conduzir o mundo
nascimentos de Cristo à restauração para reconhecer seu nada (cf. Io 16,8-1 1); o
batismal da imagem divina deturpada pelo agir do Espírito não conduz à — > gabação e
pecado, e à lese da inabi-laçào: a renovação à --> auto-exaltação, mas á —> imagem de
da pessoa se dá cm virtude da atração da Cristo, que uniu sua qualidade de Filho â
imagem perfeita do U)gos divino que inabíta qualidade de servo, e nos introduz no sei
em nós e que se torna assim o fundamente) viço de Cristo e de sua obra sal-vifica. Nasce
de nossa vida divinizada. '"Que vantagem assim a consciência de nosso nada, criatural
tem para ti que o Cristo Lenha vindo na e pecaminoso, que exige ã conversão e à
carne, se ele não vier à tua alma? Peçamos purificação, libertação do mal e renúncia a
que sua vinda se verifique em nós lodos os nós mesmos; sobretudo, nasce aquele
dias, de modo a podermos dizer: não sou abandono filial que vê a lé completar -se na
mais eu que vivo, mas Cristo vive em mim." 11 caridade, fazendo a pessoa passar do amor
A partir dessa visão - " é como uma mulher de si á identificação com o amor de Cristo.
grávida a alma que há pouco concebeu o Disso provém uma experiência dinâ mica que
Verbo de Deus" lí - deve-se compreender a > Inácio de Antioquia motiva em sua tensão
insistência sobre os crentes christofórni última: "O meu amor é o crucifi cado, e não
("portadores de Cristo") e em portar? Verbum há mais em mim um togo terreno, e sim uma
("ser portador do Verbo"); á imagem de —> água viva, que murmura em mim e diz
Maria, concebemos Cristo pela té e o fazemos dentro de mim; "Vem para o Pai!', 2I e que —*
crescer em nós até seu pleno Tornas resume esplendidamente na oração
amadurecimento. As imagens do caminho de Tdri se cor meu totum suhjicit ("A ti meu coração
Moisés e do povo até o Sinai, 11 os se submete totalmente"). O espiritual vive,
[4
comentários ao Cântico dos cânticos e a por isso, a meditação da Palavra e a oração
doutrina da visão de Deus ls deram à nossa filial, o testemunho da cai idade e o
tese sua amplitude: a formação, pela ação do empenho pelo reino; experimenta na relação
Espirito, da imagem do Verbo inabitando em com seu Senhor e Mestre urna densidade tal
nos atravessou toda a história da que faz desse acontecimento a fonte
espiritualidade, dos cistercienses lí> a -> inexaurível de sua vida. Ern torno dela se
Eckhart, 17 de -» Berulle' 8 a -> Ballhasar: 19 a estrutura uma personalidade receptiva que
vida nova é Cristo, que toma forma em mim. se aproxima do conceito bíblico de glória; 4 '-
Em suma, o homem espiritual não se explica vivendo, tornamos manifesta a ação daquele
senão com base naquela relação que o supe - Deus que se gloritica nos dons de sua graça.
ra e o transcende, mesmo que ela se coloque Gloria Dei vivens homo CA glória de Deus é o
no centro mais profundo de sua existência; é homem vivo") - escreve -> Irineu - vifa autem
somente nessa comunhão que a pessoa reali - hominis visto Dein ("mas a vida do homem é a
za a necessidade de relação e de verdade que visão de Deus").
lhe é conatural e que se realiza a si mesma.
Disso se segue sua atitude fundamental, que IV. O h.\ a -> linguagem. Trata-se de
é a de agradecimento e de contemplação esclarecer como exprimir essa experiê ncia e
adorante e obediente. Será necessário, além em qual linguagem; com efeito, a linguagem
disso, manter uma distinção entre o Espírito da qual nos servimos não é tinida de um
e seus —> dons: é só assim que se tomará conhecimento direto de Deus, mas cias
em consideração a diversidade e a ligação coisas e de nós mesmos. Deus, porém, é o
que a teologia pòe entre agratia grátis data Todo Ouüo; Deus é mistério. Ora. é legítimo
("graça dada de graça") e a gratia gratum falar de Deus a partir daquilo que lhe é

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irremediavelmente distante? Provavelmente—
» Dionísio Areopagí ta e > Agostinho podem
sertomados como os autores que, nesse pro -
blema, se colocam nos antípodas.
Dionísio, em suas obras Nomes divinos e
Teologia mística, lembra que a linguagem

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H0MHM ESPIRII t'AI. - HI CIO DK HALMA 50
8
delta vocazume Cristiana, Casale Mon ferra ta 1985; referencia na controvérsia sobre a "douta
M. Thurinn, 1,'uomo moderno e la vila spihtuale, ignorância" (cf. Nicolau de Cusa), que durou
Brescia 1966. de 1451 a 1459.
G. Colzxuü
II. Doutrina. A obra começa com uma
passagem da Escritura: "Os caminhos de
Sião
estão de luto, ninguém vem às suas fes tas"
(Lm 1,4). A interpretação do autor é que as
almas descuram edesertam das vias por
HUGO DE BALMA meio
das quais se chega a Jerusalém, isto é, à Sa -
I, Vida c obras. Originário do leste da bedoria, porque ficam presas nas inépcias e
França (Baliney, boje Vicu-d'Izenave, depar- na curiosidade de uma ciência vã. A única
tamento de Ain) c pertencente à antiga famí - ciência verdadeira é a teologia mística, que
lia dos Balmey e Dorehe, //. entrou na aba- o autor define como aspiração da alma à
dia cartusiana de Meyriat ern Brcsse, percepção empírica de Deus, sem
fundada conhecimento prévio ou concomitante que
em 1116 por seu avó Ponze de Balmey, e foi possa provir-lhe do esforço intelectual. A
prior nos anos de 1293-1295 e 1303-1305; finalidade da teologia mística é permitir
morreu provavelmente em 1305. Escreveu que a alma humana responda ao convite de
uma obra denominada Theologia mystica
Deus para entrar na posse dele. Por isso o
ou
abade //. se pòe na esteira do ensinamento
Das três vias ou ainda Os caminhos de
de > Dionísio Areo-pagita, para o qual a
Sião
subida a Deus - em sua forma extrema -
estão de luto (título tirado das primeiras
pa- comporta a nào-intervenção da inteligência e
lavras da obra). Pode ser atribuída ao perío - o primado absoluto da afe-lividade humana.
do de 1289-1297, por causa de referencias Sempre segunde» nosso autor, a alma
internas ao texto; muito provavelmente ela humana recebe o apelo de Deus, o qual
foi escrita como réplica do abade H, às críti- consiste na expressão de amor ilimitado,
cas dos escolásticos à sua pregação, mas sobe a ele mediante a —* caridade e se une
não a ele no colóquio secreto, usando a
é possível ler certeza disso. linguagem dos afetos. A -> experiência
Uma vez que, segundo o costume mística, segundo //., não é privilégio dos
cartusia-no, o autor não pós no livro nem contemplativos, nem dos religiosos; é
data, nem seu nome, mas só a abreviatura possível a todos os que vivem em estado cie
" W " , a obra, na edição de Estrasburgo de —> graça, sendo, portanto, idôneos para
1495, foi incluída entre as de são —> reconhecerem si mesmos o convite divino.
Boaventura de Bagno-regio, por ter sido
//. fala de três fases do caminho da alma,
contundida com o tratado deste último que
fases que, segundo a tradição, c hama de
tem como título De triplici via ad
"vias" (purificativa, iluminativa e unitiva), as
sapientiam. Essa atribuição errónea, quais correspondem às três ordens da
surgida com os incunábulos, permaneceu
hierarquia angélica (tronos, querubins,
alé o século XX, embora a tradição
seratins).
manuscrita fosse unânime em atribuir o
A via purificativa representa a fase
texto a "llugues de Balmey, chai lieux".
penitencial; dispõe a alma para o verdadeiro
A obra trata, em um prólogo e três capítu -
estudo por meio do reconhecimento das pró-
los, das três vias interiores para chegar* à
prias culpas; é via interpretada validamente
Sabedoria e à união divina. Teve grande
pelo estilo de vida cartusiano; //. toma como
difusão rras bibliotecas carlusianas a partir
—> símbolo dessa tase o beijo dos pés, sinal
do século XIV e foi citada por autores
de > humildade e contrição.
contemporâneos e posteriores (Dionísio, o
Seguindo a moção interior da caridade, a
Cartuxo e Guigo du Pont, entre outros), se
alma chega à via iluminativa, que consiste
bem que sem citação do nome do autor,
na meditação diuturna e reiterada da
como era cos-iume. Foi um dos pontos de
Escritura; permite o progresso ulterior a
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Deus. O conhecimento adquirido nessa iase
não é intelectual, mas afetivo, e provém em
parles iguais do empenho empregado pela
alma humana c pelo dom que Deus laz de si
mesmo, revelan-do-se gradualmente. Esse
nível é simbolizado pelo beijo das mãos,
sinal de sujeição e reconhecimento. A última
fase da teologia mística é a via unitiva;
trata-se da fase fusionai, na qual a alma,
mediante a caridade e sob a açã< > divina,
obtém a -> união com Deus, entrando no
número dos bem-aventurados. A ascensão
culmina na sabedoria unitiva, cm virtude da
qual se pode efetuara metamorfose da
pessoa amante no sujeito amado. Essa Iase
extrema tem corno símbolo o —> beijo
mútuo na boca. Segundo //., esse grau de

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HUMANISMO DKVOTO - HUMILDADE atitude tão contrária ao movimento instinti -
vo do orgulho? De toda a Bíblia vem a res -
felicidade. O amor puro é sempre só uma as - posta convergente: o homem se torna humil -
piração do cristão que pensa poder vivê -lo de pondo-se diante de Deus.
no presente, visto que será praticado 512
existencialmente de forma real só na vida
futura. O próprio santo Agostinho formulava A h. nasce do -> senso de Deus. e pode
somente um puro desejo de amor puro ler o senso de Deus só quem se põe em
quando orava: "Meu Deus, que eu te conheça relação pessoal com cie. É necessário abrir
e me conheça, para que ame a ti e odeie a os olhos para a sua glória. Então acontecem
mim!" três coisas: 1. Antes de tudo sente-se o
próprio nada.
NOTAS : 1Em 1915. iniciada a guerra, Henri
Bremond publica o primeiro volume da Histoire Não se trata de negaro bem que há cru nós.
littéraire du sentiment religieux e)i France depuis A h. é verdade, não hipocrisia. Trata-se de
la fin des guerres de religion, 13 vols., Paris referir esse bem ao seu verdadeiro Autor:
1915-19.16, imitulado Humanisme Dévot (1580- "Todo dom vem do alto e desce do Pai das
1660); - J. De Guibert. Bremond (Henri), in luzes" (Tg 1,17). "E, se recebeste, porque
DSAM I, 1936.
haverias de te ensoberbecer como se não o
BIBL.: Aa.Vv., H. Bremond (1865-1933). Actes du tivesses recebido?", acrescenta são —>
colloque d'Aix, 19-20 mars 1960, Aix-en-Provencc Pardo (ICor 4,7). Descobre-se que Deus ê a
1967; A. Au tin, //. Bremond, Paris 19-16; H. fonte única do bem, e que o homem é a mão
Hordaux, Bremond, Paris 1924; I. Colosio, // vazia estendida para ele, a f i m de que ele a
mistem di H. Bremond. inRivAM 42 (1960). 190-
206; G. De ï.uca-H. Bremond, De "l'His!oire encha. Por nós mesmos não lemos nada. Por
littéraire du sentsnwm religieux en France"a V isso, o orgulho é uma forma prática de >
"Archivio italiano per la storia délia pietà" d'après ateísmo. 2. Em segundo lugar, diante do
des documents inédits, Roma I9(>5; I - Goichot, Santo, o homem se descobre "vendido ao —»
Henri Bremond- Historien du sentiment religieux.
Genèse et stratégie d'une entreprise littéraire, pecado". Foi assim que reagiu Isaías ao
Paris 1982; J. de Guibert, Bremond (Henri), in canto dos seralins que louvavam o Deus três
DSAM 1. 192S-1938; F. Hermans, L'humanisme vezes santo: "Ai de mim... sou homem de
religieuse de l'Abbé il. Bremond. Essai d'analyse lábios impuros... e os meus olhos viram o
doctrinale. Paris 1965; 11. Hogarth, Henry Deus vivo" (Is 6,5). Do mesmo modo reagiu
Bremond. The L if e and Work ot a Devoia Humanisi,
Londres 1950; H.B. Maître, Théocentrisme et antro- Pedro diante tio poder de —> Jesus, revelado
poeerurisme chez I I. Bremond, i n R A M 40 il964), na pesca miraculosa: "Afasta-te de mim,
314-318. Senhor, porque sou homem pecador" (Lc
5,S). A glória de Deus não
T. Goffi revela só o seu rosto, mas lambem a impure -
za do olhar humano que o contempla. 3.
Nasce então a atitude de confiança total ern
Deus, e só em Deus, atitude que se torna
abertura para a —> graça. Nesse ponto Deus
mobiliza seu poder para o humilde, não para
o orgulhoso, porque este atribuiria a si
HUMILDADE mesmo as "maravilhas" que Deus realiza
nele. obscurecendo assim a glória do
Premissa. Muitas vezes a h. é a —>
Senhor.
virtude menos conhecida e menos apreciada.
Seu oposto, o —> orgulho, parece ser o
II. Expressões da h. O humilde exalta a
soberano deste mundo, com domínio quase
Deus, que age em seu coração. A encarnação
incon-trastado. Contra ele está, porém, a
mais luminosa dessa atitude é a - ) Virgem
palavra do Senhor, cortante como uma
Maria. Ela se sentiu a "pobre serva", um va-
espada: "Todo aquele que se exalta será
zio à espeta de ser enchido. Então Deus foi
humilhado, e quem se humilha será
ao seu encontro e a cumulou de graças. Com
exaltado" (Lc 14,11). É principio geral que
o olhar elevou-a de seu nada e a tornou tão
apresenta coordenadas ao inverso. O AT [á
giande que "todas as gerações a chamarão
tivera a intuição disso: "Quanto mais
bem-aventurada". O Magnificai è o poema da
importante fores, tanto mais humilha-te"
h. (cf. Lc 1,46-55).
(Eclo 3,18).
Maria, por sua vez, é a ponta de diamante
de urn filão áureo que atravessa toda a Bí -
I. Fundamento da h. Mais explicitamente:
blia: o dos anawim, "os pobres de Iahweh".
como fazer criar raízes no coração essa
Eles não têm nada, e o sabem. Não têm nin -
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guém com quem conta.'; e então se abrem a
Deus, tornando-se "clientes do Altíssimo". E
Deus os cumula de seus dons. "Descansa no
Senhor e nele espera" (SI 36,7). Esse
versículo áureo do salmo esculpe em poucas
palavras a atitude fundamental do "pobre de
Iahweh". Como em Cristo, a h. , antes de ser
—»virtude,

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IDENTIFICAÇÃO - IGNORÂNCIA
nito, eterno e imutável. È a vicia própria cio de Deus, Cristo, em quem se acham
santo, que já superou toda divisão e conflito escondidos todos os tesouros da sa bedoria e
e se situa agora na harmonia perfeita. Uma do conhecimento" (Cl 2,2-3).
visão unitária da criação levou-o ã Embora levando em consideração o signi -
superação das identificações parciais e à ficado mais experiência! que o termo conhe -
reunificação cios elementos dispersos, raz ão cimento L j t i o s i s ) tem na Inumarem bíblica, é
por que contempla todas as coisas, inclusive indubitável que o crescimento no conheci-
a morte, como o momento transcendental de mento é o ideal e a conclusão da vida cristã,
libertação e de integração ao todo do qual não só no NT, mas também em ioda a tradi-
provém. Atíntriu um estado de sintonia com ção patrística.
os ritmo* da vida cósmica, rico de
concordância interior e de unidade externa. II. Na doutrina tios Padres. Mas é justa-
Como conseqüência, ele é dotado de amor mente na doutrina dos —> Padres,
universal, que propaga altruísmo e sobretudo os orientais, que se desenvolve a
oblatividade. doutrina da —»contemplação de Deus na
obscuridade, daí o tema da contemplação de
NOTA ; 1 Laplanche - J.B. Pontalis,
J. Deus por meio da'V.".
Enciclopédia delia psicanatisi, Roma 1987, 214. É em —> Gregório de Nissa, considerado
por muitos o fundador da teologia mística,
BIBL .: R. Assaggioli, Psicosintesi, Roma 1971;
que o tema da contemplação nas trevas apa -
E.lt Erikson, Gioventü e crisi d'identilà, Roma
1987; S. Freud, Totem e tahü (1912-13), VII, rece. O modelo dessa contemplação é Moisés:
Turim 1977; Id Introduzione al narcisismo "A manifestação de Deus a Moisés dá-se pri-
(1914), VII, Turim 1977; I). Giovannini (org.) meiro por meio da luz, depois falou com ele
ldentità personale: Teoria e ri-cerca, Bolonha em meio à nuvem, e, enfim, quando se tor -
1979; L. c R. Grinberg, ldentità e cambiamento, nou mais perfeito, Moisés contemplou Deus
Roma 1992; J . Laphnche - J . B . Pontalis,
nas trevas. A passagem da escuridão à luz é
Enciclopédia delia psicanatisi, Roma 1987; G.
Morino, // conceito di identificazione, Turim o primeiro alastarnento das idéias falsas e
1980; B.M. Olivetti, Identificazione e proiezione, errôneas a respeito de Deus. A consideração
Bolonha 1976; G. Scarpellini, 5 .u, itiDES II, mais atenta das coisas ocultas, que leva a
1253-1254; W. Toman, s.v., in Aa.Vv.. alma, por meio das Loisas visíveis, às
Dizitmario di psicologia, Roma 1982. 507. realidades invisíveis, é como que uma nuvem
que torna obscuro todo o sensível e habitua
B. Gova a alma com a contemplação daquilo que está
oculto. Enfim, a alma que já percorreu essas
vias turno às coisas superiores, tendo
deixado as coisas terrenas, à medida que
isso é possível á natureza humana, penetra
nos santuários do conhecimento divino
cercada por todos os lados pelas trevas
IGNORÂNCIA divinas". 2
O autor, porém, que deixou a doutrina
I. A noção. 'Deus é conhecido através da mais elaborada da total i. como
essa afirmação, uma das tantas de —» Dio- "conhecimento do princípio superior a todas
nísio Areopagita, 1 teria desconcertado um as coisas cognos-cíveis" (Ep. 1) foi Dionísio
cristão dos tempos apostólicos. A L (agnoia), Areopagita. Ele também se reporta à figura
o não-conhecimentode Deus, é, de fato, uma de Moisés, o qual, afastado das coisas
característica dos "pagãos que não conhecem visíveis, "entra na nuvem do não-
a Deus" (ITs 4,5), os quais vivem "com en- conhecimento verdadeiramente místico, no
tendimento entenebrecido, alienados da vida qual fecha os olhos a todas as compreensões
de Deus pela sua L e pela dureza dos seus gnósticas e alcança algo que é totalmente
corações" (Ef 4,18). Os cristãos são intangível e invisível... unido de um modn
advertidos: "Não consintais em modelar a muito melhor àquele que é incognoscível,
vossa vida de acordo com as paixões de conhecendo para além da inteligência, pelo
outrora, do tempo da vossa i." (lPd 1,14). Ao fato de nada conhecer". 3
contrário, —> Paulo reza para que eles A influência do Areopagita e da sua teolo -
"cheguem à riqueza da plenitude do gia apofática foi muito grande, também no
entendimento e à compreensão do mistério Ocidente (basta ver a freqüência e a venera -
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IDENTIFICAÇÃO - IGNORÂNCIA 648
ção com que é citado por doutores como são
Boaventura ou santo Tomás de Aquino). Para
além das especulações específicas ou cons
truções teológicas, a afirmação de que a
mais alta união com Deus se dá na
escuridão se baseia no princípio da sua (de
Deus) incog-noscibilidade. É esclarecedora a
expressão de -> Agostinho: "Se o entendeste,
quer dizer que

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IGREJA uma aquisição eclesiológica que não só
assinala para a reflexão teológica uma
meu Corpo, este é o meu Sangue; eu te bati* direção para caminhar, das mais felizes,
/o; eu te absolvo". O caráter paradoxal de tal mas também 520
realidade está fora de discussão, ela é asso -
ciarão cie homens, não de anjos, tem suas descortina luminosas perspectivas de vida e
leis c seus institutos, mas não se identifica de crescimento na fé. Incrementa, na reali -
com eles nem com aquilo que deles decorre. dade, sensibilidade autenticamente ecumê -
Sua verdade está além (j)ará) de seu próprio nica que valoriza a eficácia do -> batismo,
fenômeno (doxa). li invisível na sua para a edificação da /., e a vocação
visibilidade, carismática em sua autoridade, universal para a salvação. A doutrina já está
pertence ao —> Espírito do —> Pai e do presente, pelo menos in nuce, no quarto
Filho em sua temporalidade. E mistério, evangelho e posteriormente foi aprofundada
Keali/a em si aquele mistério no qual o pelo apóstolo Paulo. Mt 10,40 e Lc 10,16,
apóstolo Paulo vê o plano da salvação junlamente com
universal, concebido ah aetemo pelo Pai, At 9,4-5, expõem-na como a identificação
realizado pelo Filho no Espírito e consignado mística de Cristo com seus seguidores. Jo
á /. Por mais reservas que se faça à I 5,16 apresenla-a como imanência mútua
Mysterientheologie de -> O. Casei, a ele deve de um nos outros (cf.: Jo 17,21-24). O
ser atribuído o mérito de ter reconstruído o apóstolo Pedro, por sua vez, (cl.: 1 Pd 2,4-5)
binômio /. - mistério, como continuação da discerne nesta imanência a razão pela qual
missão do Verbo. Na verdade, pela analogia tanto Cristo quanto os cristãos são "pedras
da concepção que assimila a /. a Cristo, a vivas" do "edilíeio espiritual", isto é, a /.
ela cabe a dimensão mistérica e Mas a verdadeira aplicação da idéia de corpo
instrumental que é própria da natureza à /., e sua análise teológica, são obra de
humana de Cristo e que continua sua Paulo. Em suas grandes cartas e nas cartas
missão salvífica. A /., portanto, é como a do cativeiro, a idéia de corpo serve-lhe para
humanidade de Cristo a serviço da salvação, destacar a participação vital e a condição
é o seu instrumento. O ser mistério dos cristãos de serem membros de Cristo. É
não é um fato estático, mas um compromis - este o conteúdo de ICor 12,27, em cujas
so. Justamente porque é mistério, a /. é sa- pegadas se movem Rm 12,5 e Gl 3,28, em
cramento, isto é t sinal e instrumento da salvação direção a mesma meta: "Todos vós sois um
mesma. Realiza-se nela, assim aquele (= um corpo só) em Cristo Jesus...". Na base
transvasamento que O. Casei e H. de Lubac deste eniembramenlo. Km 6,3-11 coloca a
descobriram na semântica do conceito de participação sacramental no Cristo morto c
mistério, isto é, que mais ou menos no séc. ressuscitado, graças ao qual lodo cristão se
IV todo o conteúdo de mistério transmigrmi transforma sínfitos, enxerto, broto, alguém
para o conceito de sacramento. Unidade de "conaturalizado" ou consanguíneo de Cristo.
conteúdo, portanto, embora mistério e Chega-se, assim, á determinação de
sacramento se especifiquem no plano formal: comunhão ao mesmo tempo vertical e
o mistério é dom, é -> graça, o sacramento é horizontal: uma faz dos cristãos uma só
o gesto, o rito, a palavra que o exprime e o entidade cm Cristo (eis este en Christo
realiza. O mistério é, o sacramento acontece. lesou,<mde se deve ressaltar o masculino
Por isso o Vaticano II, ao reafirmar a /. - eis),
mistério, proclama sua sacramentalidade , ao qual eles foram conformados pelo batis -
porque feita "sinal e instrumento", "grande mo, de tal modo que sua individualização
sacramento", grande mediação de salvação não mais está sujeita aos critérios do discer -
no caminho em direção ao reino. O discurso nimento puramente humano, mas a seu mís -
sobre a /.-mistério o outro, puramente tico identificar-se com o Senhor Jesus (cf.:
apologético, Gl 3,27-28). A outra surge deste ideiitilicar-
de uma eclesiologia alenta mais às manifes - se c se manifesta como gloriosa
tações exteriores do que à interioridade da incoi*poração: uns são membros dos outros
/., sendo, acima de tudo, ato de fé no (cf.: Rm 15,5; ICor 12,27) e cada um
mistério de Cristo, captando seu aspecto de concorre para o bem do organismo inteiro
prolongamento sacramental e proclamando a (cf.: ICor 12,16-30; Rm 12,4). As cartas do
"identidade" sacramental entre Cristo e a /. cativeiro acrescentam a esta análise a idéia
2. Por isso ela é seu Corpo —» místico. Quer se de pléroma, a plenitude, ou totalidade (pan
trate de definição ou de metáfora, uma coisa tòplcroma)ík\ vida divina que o Pai se
é certa: aqui se está diante de uma das compraz com difundirem Cristo (cf.: Cl 1,19)
verdades cristãs mais profundas, além de e que este derrama sobre os membros do seu

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Corpo que é a /. (cf.: Cl 2,9-10; El 1,23;
3,19). Devido a esta participação vital em
Cristo a /. translorma-se em sujeito e objeto
da plenitude anunciada. Cristo a plenifica de
si mesmo e ela, por sua vez, ple-nifica com
cie os cristãos. Aqui se pode verificar,
verdadeiramente, aquela plenitude ou

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IMAGKM I VI AG H M JNTHRIOR coração c imprimir-se na alma do leitor,
para submetê-la à operação e ao —> amor
Concílio Ecumênico Niceno II, onde foram divino. A i. sacra, sobretudo a pictórica,
definidos como doutrina de lê a legitimidade desempenha essa função.
e o culto das imagens. 528

II. Xa vida espiritual. A iconologia consi- Tor meio da associação das cores, estimula
dera o objeto de arte como expressão da cul - os nossos sentidos, fala ao coração e procura
tura global que, para se desenvolver, precisa fazer vibrar em nós um sentimento místico
de diversas colaborações, até da mística. que ultrapassa a realidade do sujeito. A
Esta, segundo uma definição do card. -» de preocupação principal da arte sacra
Bérulle. é "ciência não da mente, mas do es- bizantina e russa, antes do seu declínio (see.
pírito, fieitii I não cie estude», mas de —> XVII), era deslocara meditação dos fiéis para
oração". A oração, pois, é elemento o mundo espiritual. Para os orientais, a
indispensável da mística. De sua parte, a i. função da /. sacra é mostrar o mundo da
sacra dá orientação espiritual á vida cristã e glória de Deus, transformar esse mundo em
ã oração. A meditação e a —> contemplação visão. E assim deve ser para toda a Igreja de
encontram na i. apoio importante, porque Cristo, porque, segundo o Vaticano 11, a
fixam nela o espírito, remetem-no à lunçáo da i. é "orientar religiosamente as
realidade simbolizada e concentram-no nela. mentes dos homens para Deus" (SC 122).
A i. sacra pode permitir também comunhão
Bi DL .:J. BcLUidc, La mística, Roma 1992; W.
orante, não substancial mas mística, com o
During s.u, in D 77?, 661-663; P. Evdokímov,
divino. Como -* símbolo, a {, (em grego, Teologia delia hellezzü. Rorrui PJVíf; MT
eikon) implica a união de duas metades: Machejek, s.u, in DES 11, 1270-1271; P.
símbolo e simbolizado. Em nosso caso, as Mariotti, s .u, in Dicionário de es-v ai! nulidade,
duas metades são o homem e Deus, e a sua Saol'.iulo. \l)7 v V. Miguel,.s.v.. inDSAM VU,
comunhão ou união é operada pela /. na I503-Î519; M. Nnuwcn, Behold the Beauty of the
oração. Por isso, —> Gregório de Nissa Lord-Praying with Icons, Notre Dame 1987; M.
Qucnot, L'icona, fmestra sull'Assoluto, Roma
chama a /.-ícone de: "Testemunha visível e
1991; 11. e M. Schmidt, il lini,uay,ejo du
tangível cio lieimmaejni, Roma 19SS; E. Sent 1 1er, L'icona
princípio humano (criado) alcançado pelo immarjne dell'invisibile, Roma 19924.
ser divino imperecível". Depois, o orante
pode experimentar um pouco, já desde esta V. Borg Gusman
vida, ou seja, ver misticamente no coração a
virtude cia presença divina e prelibara
doçura da gló-ria celeste. O homem pode
melhor clispor-se a obter ou a avançar na —
> união mística através da —> humildade. A
oração dos humildes penetra os céus e chega
ao trono de Deus (cf. Sr 35,2 1). Com razão, IMAGEM INTERIOR
então, o citado Bérulle continua a dizer que
a mística é "ciência j feita J não de disputa, I. Noção. A /. de que tratamos se
mas de humildade". As imagens dos —> enquadra
modelos dessa "virtude", especialmente do na série, numerosa e variada, dos fenômenos
Cristo e da Virgem .Maria, ajudam o cristão carismáticos. São formas e cores que apare -
a exercitar-se na humildade quando cem interiormente, por dom de Deus, e seu
contempla o —> aniquilamento do Cristo, significado c profético, isto c, constitui men -
Homem-Deus, e a humildade de Maria, Mãe- sagem, anúncio, para determinada pessoa
scrva do Senhor. A reflexão sobre o autor da ou
i. também ajuda o orante, porque espelha a para assembléia predisposta a escutar Deus.
humildade do artista. Com efeito, no caso
particular do - > ícone, a personalidade do II. Segundo alguns teólogos. —> Santo
autor deve desaparecer diante da Tontas de Aquino insere esse fenómeno no
personagem representada. Ele não pode as - —> carisma da prolceia: "Deus apresenta as
sinar a sua obra e deve submeter a imagens sensíveis à mente do profeta, às ve-
liberdade criativa, bem como a sua zes até exteriormente, por meio dos —> senti-
inspiração, aos cânones estabelecidos pelos dos: t<>í assim que Daniel viu as palavras
Concílios. Os místicos sublinham com escri-
freqüência que suas palavras devem tocar o tas na parede (5,17); ás vezes, o faz
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mediante
imagens fantásticas, impressas diretamente
por ele, sem passar pelos sentidos, como se
na imaginação de um cego de nascença tos -
sem impressas a.s imagens das cores; ou o
faz
servindo-sc de imagens recebidas dos senti -
dos, como no caso de Jeremias, que viu uma
caldeira fervente que aparecia vinda do Norte
(1,13)". 1 Para santo Tomás, a profecia atra-
vés da /. é expressa por quem a interpreta,

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533 ] M V K R FM I ÇA t )1 N'A I UTA Ç ÃO
6 (1961), 87-I l 4; C.V. Truhlar. Imperfezione importante compreender que Deus habita em
positiva e carità, in Ibid., 204-213; H. nós e que nós devemos lazer-lhe companhia
/.omparelli, s. v., in DSAM VII. 1620-1630; em nós mesmos"; 5 "Todo o problema deriva
Id., s.u. in DES 11,1276-1280; Id., //problema
dell'imperfezione morale e l'incontro personate con do não se compreendei* que Deus está
Dio, Roma 1970. presente em nós. Nós, em geral, pensamos
que ele está muito distante..."/ 1 "...Acreditai,
B. Zotrtpareil i minhas amigas, convencer-nos dessa
verdade é de capital importância...".' E
idêntico o pensamento de João da Cruz: na
primeira estrofe do Cântico, ensina a alma a
buscar Deus e diz: *Deve-se notar que o Verbo
Filho de Deus, junto com o Espírito San to,
está essencialmente presente, mas oculto,
INABITAÇÃO no íntimo da alma... O que queres mais..., o
que buscas de mais Iorte, quando de ntro de
1. Importância do assunto - 1. Com o sa- ti contas com as riquezas dele..., a sua
cramento do > batismo, a Trindade passa a abundância e o seu reino?... Já que o tens
habitar no intimo do cristão ( i.), razão pela tão perto, ama-o aí, deseja-o aí, adora-o
qual, desse momento em diante, se pode la - aí...". 8 A i. é, então, o núcleo ideal em torno
lar de "nós místico" que aproxima o homem do qual gira lodo o sistema doutrinal de
da vida intratrinilária. Até o serviço ao pró - João da Cru/:
ximo, a partir desse momento, não pode se "Quem poderá exprimir - exclama o Doutor
dar sem o estímulo de relação mais intensa místico - o que o Espírito Santo revela às al-
com Deus; não um Deus ausente, distante e mas nas quais habita?..."; 9 "...Não é de admi-
fora de nós, mas presente dentro de nós, rar que Deus conceda graças tão elevadas...
"ina-bilante". Ele mesmo disse que o Pai, o Filho e o Espí -
À medida que a alma se purifica, 1 auto- rito Santo viriam àquele que o amasse, e
maticamente se faz cada vez mais sensível e nele faiiam morada...". 10
se une, aos poucos, e de maneira crescente, Também para —> Francisco de Sales os
aquela delicada mas iorte influencia do —* graus do amor correspondem aos graus de —
Espírito inabitante, que, para usaras pa- > união com o Deus presente na alma. 1 '* O
lavras de —> João da Cruz, "é cbama viva de Vaticano II ratifica esse clássico tema de
amor, que consuma mas não faz mal". - Hm teologia bíblica sugerindo, na formação ao
outras palavras, a presença do Espírito San - sacerdócio, uma fórmula belamente
to se torna cada vez mais intensa e trinitária: "...Os alunos aprendam a viver em
prolunda: as três clássicas passagens da via íntima comunhão e familiaridade com o Pai,
purilicaliva à iluminativa e unitiva se por meio do seu Filho Jesus Cristo, no
consumam "dentro", no Hspírito e com o Espírito Santo" (OT 8a).
Espírito. "...As três Pessoas divinas - afirma Dir-se-ia que hoje, mais do que nunca, a
explicitamente João da Cruz - é que realizam doutrina sobre a i. é particularmente impor-
na alma essa união divina". 1 tante, sendo verdade que o mundo moderno
2. Não é de admirar, pois, que os maiores é sumamente tentado a fazer a experiência
mestres do amor considerem a í. do Espírito de —> Agostinho: "Mandei os meus sentidos
Santo como a verdade basilar da sua doutri - para fora de mim, ó Deus, a buscar-te, mas
na mística. Assim, por exemplo, não te encontraram, porque te procuravam
—» Teresa de Avila, explicando as palavras erradamente. Vejo, ó Luz da minha alma e
do pai-nosso "que estais rio céu", pelo menos meu Deus, que te procurava errado, porque
cinco vezes insiste na importância de saber [ora de mim te buscava, e tu eslás dento» ..
que Deus não está longe, mas dentro de nos.
"Credes que pouco importa - diz ela às suas II. A i. cm > são Paulo c em * são João
monjas - saber... onde se deve buscar o A teologia paulina ressalta de maneira espe -
nosso adorabilíssimo Pai? Para almas cial a atividade do Espírito Santo, chamado
sujeitas a distrações import a muito, na pelo apóstolo de "Espirito de Cristo" (cf. Km
minha opinião, não só crer que Deus está 8,8-9) e "Espírito do Filho" (cf. Cil 4,6).
presente em nós, mas é preciso também ü Espírito Santo habita cm nos como
lazer de tudo para conhecê-lo pela via da dispensador da -> caridade infusa, pata nos
experiência, sendo esse meio excelente para ajudar a conservar o bom deposito da té (cf.
recolher o espírito".* 1 "E, pois, muito 2Tni 1,14); como num templo de seu domínio
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absoluto, que não pode ser violado sem
provocara cólera de Deus (cl. ! Cor h, 19;
3,16), a quem, por isso. se deve dar glória no
nosso

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533 ] M V K R FM I ÇA t ) 1 N'A I UTA Ç ÃO
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53 INÁCIO Dt-ANTtOQUA
7

chave anlídocétiea), sua ressurreição, onde despontou a nossa viila por meio dele e
concepção virginal de Maria, eleitos da > da sua morte (...): ele, por meio de cujo
redenção, mistérii > {mvsíeriou ) nos recebemos a fé",
—) batismo, —> Eucaristia, matrimonio l'ara Paulo, como também para /., o sentido
(Polie. 5,2: único exemplo nos Padres último cio mistério salvííieo da —» cruz de
apostólicos), Igreja mística e Igrejas locais, Cristo é a nossa vida ressuscitada com ele. A
hierarquia eclesiástica com 1res graus segunda passagem é El 19,1, primeiro
(bispo, presbíteros, diáconos). A eclesiologia exemple» em que mysterion ê aplicado à
cie /. é de modelo hieráiquico-píramidal, Encarnação, que, por sua vez, inclui outros
tendo à Irente o bispo, centro doutrinário, mistérios: "Foram ocultos ao príncipe deste
disciplinar e litúrgico, segundo a lógica da mundo a virgindade de Maria e o seu parto,
participação. "O bispo está no lugar de como também a morte do Senhor: três
Deus; os presbíteros ocupam o lugar tio mistérios destinados a ser pn>clamados (mys-
senado dos apóstolos; os diáconos são teria kratiges), amadurecidos, no silêncio de
encarregados do serviço de Jesus Cristo " Deus". Embora entre mistérios que consti -
(Magn. 6,1). "O Pai de Jesus Cristo é o bispo tuem a economia salvífica, o horizonte é
universal: quem engana o bispo visível, sempre o paulino, da cruz. O silêncio de
engana o invisível" (Magn. 3,1-2). Deus, em /. como em —» Paulo, refere-se ao
desígnio oculto da salvação, oculto mas que
III. À mística de /. (e dos Padres) tem re- deve ser revelado a todos, diferentemente do
lação com o mistério de Cristo em sentido "silêncio sagrado" do helenismo - caro a
paulino, ou seja, com o caráter salvííieo da certos hereges gnósticos do qual teria
—* cru/, cie Cristo; só assim dá-se a mística emanado a Palavra (logos). L não fala de
cristã. Os melhores historiadores contempo- mistérios pagãos; notamos que Juliano (t
râneos das religiões comparadas atestam 165 aproxim.J é o primeiro escritor cristão a
que o mistério paulino não se explica pela recordar o mistério cristão e, ao mesmo
contaminação dos mistérios pagãos. De sua tempo, os mistérios pagãos; só com —>
parle, > Paulo afirma: "Pois não quis sab er Irineu teremos um encontro entre a
outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo, terminologia do mistério cristão e a de
e Jesus Cristo crucificado" (ICor 2,2). E outros mistérios, não dos pagãos, mas os da
mais: "...c realmente de sabedoria que —* gnose herética. 6
falamos en Ire os perfeitos, sabedoria que
não é deste mundo (...). Ensinamos a IV. A mística da unidade teocentrica,
sabedoria de Deus, misteriosa e oculta, que cristoccntrica, eclesial e eucarística. A /.
Deus, antes dos séculos, de antemão foi "confiada a tarefa da unidade" (Fil 8,1):
destinou para a nossa glória" (Ihiil. 2,6-7). A unidade cie Deus, de Cristo, da ~> Igreja
sabedoria de que lala Paolo, para além de católica (qualilicativo usado pela primeira
todas as sabedorias do mundo, é o desígnio vez nos
de Deus-criador de salvar a humanidade Padres)., da Eucaristia.
decaída, reconciliando a com ele mediante a I. A - > contemplação do mistério de Cris-
cruz de Cristo, que abre para o triunfo final: to conligura-se, em /., antes de tudo como
"Cristo em vós, esperança da glória" (Cl contemplação mística sobre Deus. seu desíg-
1,27). Mas o desígnio sábio de Deus tornou- nio salvífico e sobre Cristo. Contra os judai-
se possível pela Encarnação do seu Eilho, zantes, a contemplação centra-se na unidade
Deus-homem. Ora, /. é o único dentre os -> da economia divina (cf. El 18,2 e 20,1), em
Padres apostólicos a usai" o termo mys* Cristo revelador do Deus único (cf. Magn.
lerian, embora em todos eles ocupe o lugar 8,2). O Deus invisível tornou-se conhecido em
principal a > lé em Cristo morto, ressuscita- Cristo (cf. Polic. 3,2): "O conhecimento (gnosis)
do e vivificador do cristão/ Em /. o tema é de Deus é Jesus Cristo" (Hf 17.2). .Mas o
central e está na base de todos os Cristo é um com o Pai. Jesus Cristo
desenvolvimentos, sobretudo da teologia do - verdadeiramente se encarnou (contra os doce
* martírio e da Eucaristia (cf. Carla aos tas) (cf. Trall 1-2; Sm 1,1-2) A mística de /.
Romanos). A primeira passagem que contém não é mística metafísica, nem um vago
o nosso termo é Magn. 9,1-2, em que /. fala misticismo. "Baseada na fé na paixão e na
dos judeus que não observam mais o ressurreição de Jesus Cristo, ela enraíza -se
sábado, "mas vivem segundo o domingo, no realismo cristão. Esse papel,

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absolutamente primeiro, dado ao mistério do
Cristo encarnado, morto e ressuscitado,
separa a mística autenticamente cristã de
um misticismo gnóstico e platônico".7 A
influência de Paulo é, aqui, decisiva (P.
Meinhold).
Conhecido como "doutor e místico da uni -
dade", 8 ele mesmo se autodefine como "um
homem feito para a unidade" (JPiL 8,1). Uni-
dade, em primeiro lugar, em Deus (cf. Trall.
11.2; F/7. 8,1).

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INANIÇÃO - iNCHNDIÜ Dl- AMOR INXOMBL.SIIIJII.IDADK 5 4 2

INANIÇÃO INCÊNDIO DE AMOR

I. A noção. Termo lexicamente derivado BIBL .: Cf. remitências no Texto.


do latim iiuunre, ou seja, esvaziar, é usado
mais na liiitruaeem médica, significando o C. G. Pesem i
eslado de desnutrição por Ialta de alimento. I, Descrição do fenômeno. Trata-se de
Nos escritos de alguns místicos, designa logo espiritual que arde com violência por
uma Deus, que consuma e translorma. Tal violên-
operação divina no espírito de quem se en- cia de amor pode se manifestar externamen -
tregou totalmente â vontade de Deus, [nua te, inclusive como fogo que aquece e queima
que ele amorosamente a esvazie de todo resí- materialmente a carne e as vestes próximas
duo de —> pecado e das — > imperfeições ao coração, algo não explicável do ponto
que de vista natural, porque o organismo hu -
mano não pode suportar uma temperatura
possam comprometera sua presença de amor
superior aos 43 graus C. Como o logo trans -
e de glória.
forma tudo o que se encontra em seu raio de
A!. pode ter identidade e estreita analo gia
ação, assim o amor divino transforma em
com outros lermos dos escritores místi -cos: >
Deus a criatura que se submete a ele. Desse
aniquilamento, — > desapego, libertação, ~> modo, a alma se purifica para ser receptácu-
nudez, fome, negação, renúncia, lo daquele que é pureza infinita e assim
aridez, —> solidão, treva interior. O que pre- rece-
valece no conceito de i. e a operação de Deus ber o seu abraço.
na pessoa. Como cada pessoa tem o seu
mundo interior, singular, o —> Espírito II. \a experiência mística. Essas mani-
Santo tem, certamente, particulares atenções festações de amor podem ser, sobretudo, de
pela alma que se entrega livremente ã sua três graus: calor interior: o fogo divino invade
ação. ilã, porém, urna modalidade de o coração ao ponto de dilatá-lo extraordina-
intervenção que aparece com constância. riamente, difundiudo-se depois por todo o
organismo; ardor intensíssimo: são calores
II. Na —> experiência mística. A pessoa emocionais, porque a alma, aproximando -se
que tende à perfeição da -» caridade deve, cada vez mais do amor ardoroso de Deus,
antes de tudo, promover urna —> ascese de manilesta aceleração do sangue com o con-
mortificação de tudo o que possa ser agra- sequente incremento do calor. Mesmo nesse
dável à própria —> sensualidade e —> afeti- caso a temperatura corporal supera em mui -
vidade, tanto em referência às realidades to a gradação normal, mas sem nenhum dano
naturais quanto às sobrenaturais que não para o organismo;queimadura material. é o L
sejam diretamente Deus-Trindade e os seus em sentido estrito, pois o logo de amor chega
—> atributos. Motivo único dessa ascese é o a provocar incandescência e queimadura
—> amor de Deus em —* Jesus Cristo. Com o ma-
progressivo exercício das —> virtudes tco- terial. Quando o fenómeno é autêntico, como
logais, que invadem cada vez mais a vida da no caso de —> Brígida, de —> Paulo da Cruz
pessoa, a *. vai se operando com a substitui- ou de —► Gema Galgani, há a intervenção so-
ção dos valores humanos próprios tias fa- brenatural de Deus, cujo intenso amor trans-
culdades superiores pelos divinos. De fato, forma em si a pessoa que a cie se submete.
quanto mais diminuem, no plano intelectual
BIBL .: Francisco dc Sales, l& Filocalia, IV, Turim
as certezas racionais, no plano afetivo e voli - 1987, 230; I. Rodriguez,s.v„ ínDESl, 122; A.Royo
tivo as tendências aos bens terrenos, no Marin, Teologia delia perfezione Cristiana, Roma
mnemónico as lembranças agradáveis 19656, 1089-1092.
naturais, tanto mais se amplia o espaço para
a invasão do Espírito Santo. Sua presença S. Giungato
pode tornar-se operante em progressão, a
medida que aumenta a L , enraizando a alma
na —> humildade, paciência e sacrifício, ou,
depois de uma sofrida L , mais ou menos
longa, preenchendo-a de luz e de amor, de
modo que í ica certa do amor de Deus e da
sua infinita c amável providência. INCOMBUSTIBILIDADE

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I. Noção. Trata-se de um fenômeno extraor-
dinário pelo qual o corpo de uma pessoa ou dc
algum objeto ligado a pessoas não queima
nem sofre dano algum quando é posto em
contato com chamas ou com objetos incan

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55 IRA - IRI-NÍ-U OH 1
3 TÄO(s;mio)

sivídade, que termine por desembocar na in- IRINEU DE LIÃO (santo)


diferença e na indolência.
I. Dados biográficos. /. nasce provavel-
III. As emoções próprias da r. tem raízes
mente por volta do ano 130, na Ásia Menor,
profundas na dimensão corpórea da pessoa
forma-se na escola de Policarpo (f 155), bispo
humana; elas mobilizam seus dinamismos
de Esmirna, que conheceu os discípulos do
biopsíquicos e desencadeiam perturbações Senhor e sofreu o martírio por volta do ano
orgânicas claramente perceptíveis, até exter - 160. Ele próprio faz menção a isso em suas
namente, mais até do que outras paixões. K obras;1 Eusébio (| 339) também o confirma.-
a prova de quão facilmente a i obscurece a Ern 177 é ordenado presbítero por Polino (t
capacidade de avaliar a realidade de 177), bispo c mártir da cidade,-entre os
maneira objetiva, impede o uso da razão e irmãos de Vienne, em Lião. na Gália, num
esmaga a liberdade; por isso, seus excessos período de dura perseguição. Quando o bispo
vêm freqüentemente acompanhados de ceita Polino morre de inanição na prisão, /. assume
diminuição da responsabilidade moral e da seu lugar como bispo da cidade: ele
culpabilidade.'* Mas as possíveis e graves desenvolve intensa atividade missionária en -
conseqüências da L devem servir paia frear tre as populações do interior' e combale
aqueles que, por temperamento, são mais corajosamente os hereges, os quais, naquela
inclinados a ela. épo ca, faziam intensa propaganda. Vai duas
vezes a Ri ima, encarregado de delinir, junto
IV. Contrária ao vício da i. é a mansidão, com o papa Eleutério (f 1 89), a data da
virtude que pertence ao campo da —» tempe- celebração tia Páscoa.4 Uma lenda tardia
rança e controla e reprime os movimentos coloca-o entre os mártires: morre, talvez,
desordenados da paixão da i. 5 Virtude tipica- durante a perseguição de Septímio Severo (i
mente evangélica, à qual está ligada a pro- 211), nos anos 202-203.
messa da bem-aventurança da posse da terra,
ela se expressa através do perdão das II. Obras e doutrina. /. não é filósofo, mas
ofensas e do amor aos inimigos, mas não pastore homem de igreja, embora nele se con-
tem nada a ver com aquela aquiescência que juguem de maneira muito feliz boa formação
é característica da fraqueza e da ausência de retórica, secundo a melhor tradição hele-
virilidade e de coragem: é, antes, o modo mais nista, e sólida formação cristã. E autor de
verdadeiro de ser forte, de uma força ilumi - dogmática relativamente completa; os únicos
nada pela > íé, que é capaz de vencer até a livros que chegaram até nós, em tradução la-
violência mais feroz, para tender com todo o tina, dentre os muitos escritos por- ele. são o
seu ser ã comunhão com Deus e com os Adversas haereses ("Contra as heresias. De-
irmãos. núncia e refutação da falsa gnose") e a De-
A via para a conquista da mansidão passa monstra tio praeduatiimis apostaiicae ("Expo-
pela educação ao autocontrole, pelo cresci- sição da pregação apostólica"). Sc este último
mento na —> humildade, pela lupa das oca- livro foi escrito paia o amigo Marciano e ê,
siões e, naturalmente, por meio daquela - » segundo diz o título, uma breve exposição
fortaleza interior que só pode vir da fé e da (uma espécie de "catecismo" para adultos) da
intimidade com Deus. verdade sobre Deus e sobre o destino hu -
mano, o primeiro objetivo de /. ao compor o
NOTAS : STh Ii-II, q. 46. a. 3; 2 STh III, q. 24, a.l;
1
3 S7ViH-II.q. 158, a, S ; 4 STh MI. q. 47. a. \ Adversas haereses loi desmascarar o—> gnos-
y S T h 11-11, q. 157, a. 3. ticísmo e pôr em plena evidência os seus vá-
rios sistemas. Ele já havia reconhecido seu
Bi HL .: G. Blanc, s.v., in DTC II, 355-361; D.
Milella. s.v„ in DBS II, 1340-1341; H.D.Noble, perigo quando passara por Roma; quando,
s .u, iriAS.LW porém, o contágio alcança as regiões da Gá-
II, 1053-1068. lia, /. põe toda a sua preocupação pastoral e
Ioda a energia no combate a esses erros, não
G. Gatti censurando tanto os adversários por tender à
-» gnose, mas por tender a ela caminhando
tora da justa via. /. ensina que se consegue a
salvação não por força do conhecimento
(gnose), mas graças ao fato histórico da --> En-
carnação.
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Se os dois primeiros livros formam siste ma
apologético completo (exposição e refutação
dos sistemas gnósticos), a outra parle da obra
compreende uma exposição das grandes leses
teológicas sobre as quais se baseia todo o
edifício da —> fé cristã, isto é, as Escrituras e
a tradição, alem da unidade do plano

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IRLANDA E INGLATKRRA S58
(ou dez vezes e a Inglaterra começou a se de um eremita que vivia exilado em Leceeto,
inserir na vida européia. A dominação perto de Sena. Citeaux - para cuja fundação
normanda marcou virtualmente o fim das o inglês santo Estêvão Harding (t 1 134)
tradições litúrgicas espirituais na Irlanda, exerceu papel decisivo - foi representado na
Escócia, Gales e Cornualha. Ao mesmo Inglaterra sobretudo por Aclredo (t 1167),
tempo, grandes figuras, como a de Anselmo abade de Rievaulx. Aelredo é lembrado
de Canter-bury. provocaram novo vigor na vida especialmente por sua abordagem do papel
espiritual inglesa. Anselmo de Aosta - depois espiritual que pode ser exercido pela —>
de amizade na aproximação dos cristãos a Deus,
Hec e de Canlerbury (de 1033 a 1109) -, em- e desse modo reforçou a corrente afetiva na
bora não sendo de sangue inglês, foi teólogo espiritualidade inglesa. Ksta se tornou,
e filósofo religioso, dotado e original, que depois, extravagante prática exterior, que pou-
deixou atras de si muitos tratados importan - co tinha a ver com o goslo inglês. Com isso
tes que marcaram o início de uma era no não se quer negar uma forte e persistente
pensamento escolástico. Uma notável tendência afetiva, que vai de Beda até a
característica, entre os líderes mais destruição da cristandade católica na I ng la
convictos da Igreja inglesa - até que ela foi terra, e que foi reforçada por personagens
virtualmente cancelada pela instalação do como Anselmo.
cisma e do —» protestantismo , loi o papel Outras figuras de menor importância tam-
ocupado pelo —> eremita, pelo enclaustrado bém ocupavam a cena. Entre estas havia o
e pelo peregrino, sobretudo na vasta diocese interessante Adão de Dryburgh (t 1212), pri-
de York. Testemunho literário disso é a meiramente premonstralcnse e, depois, car-
grande obra, em inglês medieval, Aucrene tuxo, que produziu muitos escritos, entre os
Riwle ou Ancrene Wisse, que teve notável quais explícito tratado místico, o De triplicigê-
influência. Na verdade, havia também nero conternplatknús. Os problemas gerais cia
algumas personagens eminentes da vida Igreja do Ocidente e da insularidade, além
monástica e no seio do episcopado, das influências heterodoxas de João Wyclilf (t
sobretudo no esplêndido séc. XIII, que 1384) e dos seus seguidores, enfraqueceram
conheceu três excelentes bispos: Ricardo de a Igreja inglesa, mas o reinado de Henrique V
Chi- (t 1422) foi caracterizado por renascimento,
chesicr ( 1 1253), Edmundo de Abin L»dou (t promovido pelo rei com a limdação, nos
1240) e Tomás Cantelupe (t 1282), canonizados arredores de Londres, tia Cartuxa de Sheen e
logo depois da morte (respectivamente em de uni mosteiro brigidiuuo, a abadia de Svon.
1262, 1246 e 1320); destaque-se também a Estes firmaram-se como centros vivos de in-
explosão de vitalidade representada pela tegridade espiritual, até ao fim do catolicis -
chegada dos frades mendicantes. De mo na Inglaterra, tendo contribuído signili-
qualquer modo, muitos parecem ligados à calivameiilc pai a a difusão da influência da
vida eremílica ou anacoréliea, até que. no mística medieval no seio da vida espiritual
séc. XIV, vieram à cena com uma literatura inglesa. Quando, no (inal de 1558, Isabel l
explicitamente mística e, ao mesmo tempo, Tudor (t 1603) subiu ao trono, a Igreja cató -
fecunda, -sadia e de qualidade literária lica inglesa perdeu tudo. Uma geração antes,
relativamente alta, tanto na língua latina os hábitos da vida mística medieval já ti-
quanto em vernáculo. Os nomes de Ricardo nham sido sistemática e deliberadamente
Rolle, do anónimo autor da Nuvem do não- extirpados. Agora, porém, pequenos grupos de
conhecimen-to, de Walter Hilton, de Juliana de católicos continuavam a existir no norte,
Norwich, indicam vigorosos divulgadores de principalmente reagrupados ern torno de se-
intensa e sol ist içada seriedade espiritual, nhores nobres. A população foi ameaçada e
não aletada pela heterodoxia. Além disso, perseguida durante o protestantismo. Como
eles e a estranha mística Margorv Kempe conseqüência, a história da Igreja inglesa foi
estão fora de qualquer sistema de vida feita por religiosos e padres exilados no
religiosa organizada, como a monástica ou a continente e por magníficos atos heróicos,
das Ordens mendicantes. De lato, as embot a espasmódicos, praticados em seu
correntes de espiritualidade associadas às ministério pelo clero clandestino enviado do
novas Ordens religiosas tiveram pouco exterior. Uma das últimas figuras que
impacto na Inglaterra, com a exceção intervém na história da mística inulesa é -->
discutível de Cileaux. Quando encontramos Auostinho Baker, que nem todos consideram
um místico como William ílete (t I 382) numa místico, mas que seguramente contribuiu
Ordem mendicante, é na anômala situação para difundir interesse renovado pelos
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místicos ingleses, rena-nos e espanhóis, numa
Igreja católica inglesa
já agora lançada no dilema do exílio conti-
nental ou na clandestinidade interna. En -
quanto a autêntica tradição da
espiritualidade irlandesa continuou, mesmo
em tempos

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IRLANDA E INGLATKRRA
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ITÁLIA - ITJNKRÁRIO MÍSTICO 57
4

a cm instrumento dc apostolado, para o bem Guerra, destaca-se pela qualidade a


do próximo. No campo do solrímento c dos abundante produção do padre Divo Barsoiti,
estigmas sobressai a figura do capuchinho que, sem dúvida, deve ser considerado o
padre Pio de Pietralema, em torno do qual mais importante
nasce lodo um movimento de vida e de pie - autor* italiano do século XX.
dade cristã. BEBI..: Aa.Vv., s.v., in DSAM VW2, 2206-2273;
Olhando os citados (e outros mais) desen - Aa.Vv., Chiesa e spiritualità nelTOltocento
volvimentos que a espiritualidade leve, na italiano, Verona, 1 9 7 1 : M. Ailrúmi, Itália
Itália, durante o períod* > compreendido o.osrrc,:. Pu.; do storico deliu spiritualità italiana.
entre as duas guerras mundiais e aquele Roma 1968; G. von Brockhu-sen.-s.u, in U'.Uv, 258
261 ; C. Cargnoni, Storia dtdta spiritualità italiana
que seguiu à última, pode-se dizer que e tet trait ura spirituale francês-cana, in
houve novo impulso e nova visão otimista Collectanea Prancesctaia, 51 ( 1981 ). 293-32-4; [.
quanto ao relacionamento lgreja-mundo, Colosio, / tttisîici itaiiani dalla fine del {'récentn ai
atenção e desenvolvimento da oração, priait del Seieento, in Aa.Vv., Cirande Antologia l-
tlo-snjira. IX. Milano 1974, 2137-2328; F..
alimentado por iniciativas oportunas e Gcbha'rt. Introduction à l histoire du sentiment
grupos eclesiais, crescimento do senso religieux en Italie. Paris 1S84; kl., L'/talia mis'tca.
comunitário, como conseqüência do Storia del rinasci-ntento religioso nel Medioevo,
movimento litúrgico e do aprofundamento Roma-IJari 1983; G. Getto, f a let terni ura use et
ecicsiolúgico, uma maior consciência do sa- ic< » - m isttca in Italia uclTetà del Concilio dt
Trento e délia Controrijorma, Florença. OuadeiTiî di
cerdócio universal dos fiéis e da índole secu - Bclfagor, 1948. n. 1, 57-77; 1*1., l*-tte-ratura
lar dos leigos, com conseqüências concretas /eligiosa dal Due al S'oveceufa, Florença 1967; A.
no campo do empenho social, e superação Lcvasti, Xtistici del Duecento e del Trecento,
da piedade individualista que predominava Milano-Roma 194S'; M. Marcocclii, Perla storia
délia spiritualità in Italia Ira il Cinquecento e il
no período anterior. Certamente, nesse Seicento: Rasseejia di stndi e prospettree di
processo de amadurecimento não faltaram e ricetea, i n Ait Vv. Prohlemi di Storia délia Chiesa
não faltam resistências e indiferenças. nei sciait XV-XVII, Nápoles 1979. 223-265; A.
Amadureciam ainda urna renovada busca de Maurilio, L'Ita-lui mística, Roma 1968; G. Miccoli, IM
contato storia religiosa, in Aa.Vv.. Sioria d'Italia, t. Il, 1.
Turim 1975, 43 I -73-1; (ï. Moioli, Fennenti di
com as fontes e os grandes problemas da spiritualità neU'ltalia seitentrionalepostunitaha,
vida \nScuCat 5 (1978), 446-4o0; li. Pap.isogli, Gli
espiritual, bem como a atenção à releitura spirttnali itaiiani e il "granel siècle ', Roma 1983;
das experiências espirituais do passado. O Ci, l'enco, Storia délia Chiesa in Italia. I vols.,
Milão 1977-1978; M. Petrucchi, L'es tas i délie
apelo de Rómulo Murri ao clero, no sentido mistiche itahane délia Rijonna cattolica, Nápoles
de que prestasse mais atenção aos estudos 1958; ld.. Su ma délia spiritual:lã italiana, 3 vols..
de teologia ascética, encontrou, com o Roma I97S (cil. anastatica, Ihid. 1984); A.
tempo, uma Vauchez, ta spiritualità delTOccidente médiévale.
resposta que levou não sé» a introduzir tal \1il;'k> 1978; A. Vecchi, Conentt religiosenelSei-
Settecento Veneto, Vcne/.ia-Roma 1962: C.
matéria nos cursos seminarísticos, mas esti - Violante, Sludisidla cristia-nità médiévale. Six.
mulou também obras de divulgação de auto - uta, istittizioni, spiritualità. Mille 19752.
res místicos, como foi a atividade editorial de
estudiosos como Pedro Misctattelli e Artigo li. Boaga
Levasti. que gravitavam na órbita do con-
vertido Papini, em Florença, e aquela já
clássica realizada pelo padre José De Luca.
Entre os maiores escritos espirituais do
nosso tempo, na Itália, [iodemos recordar os
Colihfiiios, do convertido Josué Borsi. os
diários pessoais da irmã Bertília, de d. ITINERÁRIO MÍSTICO
Adriano Bcrnareggi, do padre José Canovai
e, sobretudo, o Giornaíe dclTanima, de João Premissa. Quando se lala da via mística
XXIII, os pensamentos espirituais de Vico ou do /. se indica, em geral, o caminho ou o
Neechi, do caiu 1 . Rafael Rossi, e os últimos desenvolvimento da experiência. A vida do
escritos místico se expressa através da metáfora da
do card. Shuster. Um lugar especial cabe estrada que é percoi i ida ou tia montanha
aos escritos do padre Primo Mazzwlarj e do que é escalada. Assim são representadas as
card. Júlio Bevilacqua; depois da Segunda dificuldades e as resistências de uma via
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que não se pode percorrer sozinho, sem o
auxílio da
sn aça divina, hnagiini-se um progresso
que supera as forças humanas, de uni lado,
mas cuja responsabilidade, de outro, cabe
ao homem. O progresso é constituído pela
evolução da experiência e pelo seu
aproiunda-menío, que são imaginados como
pontos intermediái ios entre o estágio do
principiante c o ponto lie chegada do homem
per lei lo. Certamente, o i. nos permite
pensar a vida
mística segundo eslágios, graus ou passos
que se sucedem gradualmente, superand o se
as-

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JACí >H.)\E DE TODI - JANSE.MSMO 578
Assim, J , assumiu de maneira positiva a I. O fenômeno. Uma convicção muito
"matéria" c a nào mais vazia temática lírica generalizada apresenta o/. como visão
do amor, enfim, decadente. Qual autêntico rigorista da vida cristã, na qual mal existe
Doctor mysticus, expoente original e criativo lugar para a mística, entendida como a
daquele renascimento cultural profundo do experiência profunda e amorosa de Deus. De
século XIII, foi cantor terno e forte do amor. outra parle, citam-se pessoas e fatos ligados
Na —» encarnação e na cruci Fixão de ao /. com manifestações típicas de —*
Cristo, J. exprimiu a loucura do amor divino. fenomenologia mística, como as —>
Alirmou: "Por amor ao ser humano, parece aparições e as —> visões do cemitério de são
ter-se tornado louco!... Jesus não pode
Meilardo. A realidade do/, é muito complexa,
curar-se a si mesmo do amor, ficou fora de
pelo que não se pode chegar paci-licamente
si" (Ixiuda 86), E responde a esse amor:
a visão compartilhada por todos.
"Amor. tu me conduzes ã loucLi !'a "(//)/í/.).
O primeiro problema, discutido e discutí -
"Amor amor-Jesus", tor nou -se o seu
vel, consiste em compreender se o;., na sua
freqüente estribilho. A alrna mergulha no
realidade histórica, corresponde a
amor extático de Deus como "uma gola de
interpretação unitária e global da vida cristã
vinho" (Lauda 9 2 ) , imersa no mar. Quando a
em seus diversos aspectos: dogmático,
alma é absorvida pelo amor, "dois tornam -se
moral, pastoral, espiritual e disciplinar,
uni" em uma "união que não admite
incluído aí o político. Ou mais precisamente,
divisões* (ibid.). Assim, o amor se transforma
se se deve falar de diversos jansenismos,
na força motriz de todas as suas Uuides, até
não-compalíveis entre si e nem em
das mais ásperas que exaltam a anulação de
dependência direta e lógica de um para com
si mesmo, a pobreza radical ou exprimem o
o outro, por exemplo, teológico, /. moral, /.
aspecto aterrador do seu pecado e a incapa -
espiritual, /. disciplinar e reformador, /.
cidade de amar do mesnn) modo como se
filosófico, /. polílic<«-religioso etc. Na
sente amado p< ir Deus. A criação inteira
primeira hipótese, os diversos aspectos do/,
grita este amor, e apesar da dramatr cidade,
possuem relação mais direta com a -■>
sua mística tornou-se mística da alegria
espiritualidade e a mística, porém mais
vivida no mundo.
distante e indireto parece tal vínculo na se -
A fineza e a profundidade da obra de J. se
gunda interpretação.
tornaram pontos de referência, sobretudo
No interior do fenómeno global que se
para os grandes autores místicos, que
costuma chamar de jansenismo é preciso
procuraram conscientizar-se da descoberta,
distinguir algumas etapas ou momentos
da confirmação c do compromisso de não
cronológicos, que viriam corresponderão
fugir da necessidade urgente de viver. Viver
predomínio de determinados aspectos ou
compreendendo e explicando o desejo e a
tipologias. U /. dogmático e moral tem o seu
paixão, o amor transformador e o sofrimen to
momento peculiar na segunda metade do
que deforma, a vida e a morte.
séc. XVII» quando foi denunciado na
BIBL.: Obras: F. Agcno (org.), Landi, Trattato e Encíclica Unige-nitus, de 1717. A tendência
Detti, Florença 1953; F. Mancini (org.), Laude, reformista c disciplinar desenvolveu-se
Bari 1974. Estudos: Aa.Vv., lacopone e d suo
tempo, Todi 1959; R Ageno, s.v., in DizBiogr, sobretudo na segunda parte do séc. XVI 11,
VIII, 267-276; G. Barone, SM, in WMy, 262; tendo como principal ponto de referência o
A. Cacciotti, Amor sacro e amor profano in Concílio de IMstóia e a Auctorem fidei (1794).
Jacopone da Todi, Roma 1989;E. Menes-tò O /. político-religioso e jurisdicionalista
(003.). Le vite antiche di lacopone da Todi, Spolcto prolongou-se até a metade do séc. XIX.
1991; Id.» (org.), Atti dei Convegno storico
iacoponico, Spolcto 1992; M. Poli (003.), Evidenlcmente aqui nos interessa
lacopone da Todi, un francescano scomodo ma unicamente a variante espiritual, e mais
attuale. Atti delia XV giornatadelVosservanzjti, concretamente, naquilo que diz respeito à
Bolonha 1977; G. Sabatclh. s.v.. inDSAAÍ mística.
VIII, 20-26.
A Cacciotti II. Doutrina, Prescindindo da velha polê-
mica sobre "a verdadeira ou fictícia e falsa
heresia", falar sobre a vida espiritual e o j.
significa necessariamente referir-se a
sistema teológico que procura aprofundar e
esclarecer a relação entre a —> graça divina
JAXSEMSMO e a —> liberdade humana, ou, mais
genericamente, entre a transcendência de
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Deus e a condição humana. Deste problema
basilar e radica! deriva concepção da vida
cristã caracterizada por certo pessimismo
que conduz a propostas marcadamente
rigoristas para o com-poi tamento do cristão.
Alem disso, parece ser traço fundamental da
visão jansenista o pre-

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JACí >H.)\E DE TODI - JANSE.MSMO
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JOÃO DA CR 17. ís.mu,) - joÃO DII 59
JlíSLS MARIA 0

nar, c não mediante qualquer oulro sentido, Aa.Vv., Vita Cristiana ed e<per:enza mística.
mas somente mediante a —> té, em relação Roma 1982, 2**6-33(1; F. Rui/ Salvador, S.
Giovanni delia Croce, in La Mística I, 547-597.
ao intelecto, a —> esperança, em relação ã
memória e o —> amor, em relação à A. Al Sica ri
vontade*.
As virtudes teologais são o meio propor -
JOÃO DE JESUS MARIA
cional ao fim da união com Deus, porque I. Vida e obras. ./. (João de S. Pedro y
elas nos põem em contato com Deus mesmo Lstarroz) nasceu cm Calahorra, em 1564, em
(cf. 2S 9) e possuem o caráter místico da Rioja. Foi a figura mais representativa da
passividade. Ordem dos Carmelitas Descalços, nos inícios
A mfstica de J . é olhar profundo que atin- de sua Congregação na Itália, da qual
ge o homem, no seu relacionamento neces- tornou-se o terceiro F repôs to Geral, de
sário com Deus, "o centro da alma é Deus" 1611 a 1614. Nas Constituições e na formação
(F 1,11), "a sua salvação é somente o amor de dos noviços (tnsírucíio uovitiorum, Instructio
Deus" (C 11,11), "a sua alma vive mais na magistri noviliorwn) transmitiu Genuinamente
pessoa que ama do que no próprio corpo que o es-piri to de — > Teresa de Jesus.
anima" (C 8,3). Percebendo com agudeza a intuição da
H, também, um discurso sobre Deus que fundadora, de acordo com a qual o espírito
precede e habita o homem de uma forma contemplativo c o espírito missionário não
"incompreensível, não por causa cie sua dis - só não se opõem, mas integram-se
tância, mas sobretudo por sua imanência e necessariamente, como os pre ceitos de amar
intimidade, em sua capacidade de penetrar o a Deus e ao próximo, abriu o Carmelo para
homem por vias que nenhuma criatura e as missões e definiu o objetivo da vocação
nem mesmo o próprio sujeito poderia contemplativa da Ordem como "união
descobrir (cf. 3S 3,6) . 6 mística da alma com Deus". Morreu
Concluindo o Cântico espiritual, o santo piedosamente em Moniecompatri, em 1615.
exclama: '() almas criadas para estas gran - Em 28 de outubro de 1994 foi introduzida a
de/as e a elas destinadas, que coisa fazeis? causa de sua beatificação e canonização, no
Com que coisas vos entretendes? As vossas TVibunal Eclesiástico Diocesano do Vicari
aspirações são trivialidades e os vossos bens ato de Roma.
são miséria. Ó mísera cegueira dos olhos de Escritor muito fecundo, nunca deixou de
vossa alma, por que estais cegos diante de estimular o seuuimcnto da via c escola de
tanta luz e surdos diante de vozes tão pode - Jc-sus Cristo, a aquisição da prudência dos
rosas, sem vos dar conta de que, enquanto justos e a aprendizagem da oração. O seu
buscais grandezas e glórias, continuais apelo contínuo foi dirigido a todos: papas,
miseráveis e vis, desconhecedores e indignos cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos,
de Ião grande bem?" (C 39,7). monjas, leigos, príncipes, tainhas e
imperadores.
NOTAS: 1 Fondazioni 3,17; 2 H.U. von
Balthasar, Cu>vannidelia Croce, in Id., Gloria. Sobressaiu-se nos escritos de caráter
Una estética teologia. Stui laicali. Il l , Milan místico De talo, produziu, juntamente com
1976, 111; 3 Cf. D. Alonso, Ixi poesia di v as Constituições de 1599 e 1605, também as
(aovaim: delia Croce. Roma lYós; *: H.U. von obras Cantici canticorum hitctpretatio {1601) e
Balthasar, Teologia e santita, Id., in Verbum Theologia ntystica (1607). Na primeira obra
Cato, Brescia 1975, 206; 5 Id.. Giovanni delia descreve o relacionamento da esposa com o
Croce.... U.C., 144; ' K Ruiz Salvador. Giovanni
Esposo como o relacionamento tia alma com
delia Croce, in La Mística, I, 567.
Deus, característica da contemplação do
BIBL.: Obras: San Juan de la Cruz, Obras Carmelo teresiano. Na segunda, interpreta a
completas, org. por J.V. Rodriguez e F. Ruiz teologia mística tradicional da Igreja à luz
Salvador, Madri Î988; Giovanni delia Croce, providencial de santa Teresa, "divinamente
Opere, org. por L. Borricllo, Ciniscllo Bálsamo
1988 Estudos: H.U. von Balthasar, Giovanni preparada por Deus para nos instruir neste
delia Croce, in Id., Gloria. Una estética teologia. campo, no tempo presente". Nesta obra ensi -
S'.di laicali, 1 1 1 , Milão 1976, 95-155; na o caminho da santa de Avila para a mís -
Crisógono de J. Sacramentado. Ui e sen ela tica —> união, através da via do —> amor,
místicacannehtana. Madri \ 9 M ) \ P Juan-
Tous,s.v., in \\ \tv. 273-275; Lucien-Marie de ou —> sabedoria unitiva. A fim de que o
S J . , s.v., in DSAM VIII, 408-447; Li. Pacho, admirador de Teresa pudesse seguir a Madre
S. Giovanni delia Croce, místico e teólogo, in pelo mesmo caminho, deixou muitíssimas
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orações anagógicas, brotadas de sua pessoal
experiência de "místico itinerante".
Seus livros espalhai anise por toda parte.
A sua Disciplina ciaustralis, reeditada conti-
nuamente para nutrir o espírito de oraçã o da
família teresiana através dos séculos, supe -
rou cinqüenta edições. Os seus Solilóquios da
alma fiel são talvez o espelho mais perfeito

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60 JUSTINIANO LOURENÇO (santo) - JUSTINIANO
3 PAULO

JUSTINIANO LOURENÇO (santo) cos, seu espírito ioi se apoderando num pro -
cesso de amor. A Sabedoria encarnada, o
I. Vida e obras. Nasceu em Veneza, em Verbo divino, gradativamente se apodera da
1381, e morreu como primeiro Patriarca de inteligência e da vontade daqueles que a ele
Veneza, em 8 de janeiro de 1456, Foi canoni- se abrem e se confiam, e conduz suas almas
zado por Alexandre VIII em 16 de outubro de até à união transtormante.
1690. No cap. 24 do De. disciplina monasticae
Seu caminho espiritual ascético começou cotivcrsationis, assim é descrito o percurso da
na ilha de San Giorgio in Alga, em meio a alma em direção ã união; "Tornada fecunda
uma pequena comunidade de jovens, sacer - peto Verbo de Deus e aderindo a ele,
dotes e leigos, dedicados à —> oração e à -> perceberá com o olhar da inteligência, os
penitência. inescrutáveis mistérios de seu agi]*. Verá
Em 1404, Lourenço fundou a Congregação depois Deus em si mesma e ela mesma em
dos Cónegos Seculares de são Jorge, em Deus e Deus em si../\
Alga. Nesta época já era diácono e foi orde- Aos sacerdotes ensina a sabedoria do "fa-
nado sacerdote, em 1407. zer-se tudo paia todos e assim ganhar todos
Prior de São Jorge, em 1409, continuou para Cristo", 1 ao mesmo tempo em que ele
prior nas eleições sucessivas, até 1419, oca- próprio se deixa "devorar", já que havia
sião em que a Congregação, que se expandi - aprendido o que ensinava, isto é, a "subir e
ra além de Veneza, exigiu um superior geral, descer, conquistar e perder, gozar e cho rar,
cargo que lhe foi confiado.
abandonar e empobrecer, ser superado e
A profunda estima que nutria por Eugênio
vencer". 2
IV (t 1447) mereceu-lhe a ordenação epis-
O seu segredo foi que ele já então via
copal em 5 de setembro de 1433.
Deus nas criaturas e as criaturas em Deus;
Instituído o Patriarcado de Veneza,./. foi
seu primeiro Patriarca, dedicando-se ao car- testemunho disso é seu último escrito, quase
go com todo afinco. Contudo, quando iniciou uma palavra de amor gritada em direção ao
os preparativos para a convocação do Concí- céu, que já lhe estava vizinho.
lio provincial, que deveria sanar os muitos Bua.: Obras: S. Tramontin (org.) Lorenzo
abusos que existiam em sua diocese, foi co - Giusti-riiaiii, Sdíigjo di bibliografta iMurenziana.
ibido pela grave enfermidade que o levou à Apptaita per Io studio deliu vita e dclle opere di s.
morte. Lorenzo Giastmiemi, Vcne ./ii 1960; Sun Lorenzo
Incansável no trabalho apostólico, 7. viveu Giusii niani, Disciplina e perfezione delia vita
a ascética do "servo", solícito em qualquer monástica, Roma 1967. Lsiudos: N. Barbato,
Ascética delForazione in s. L. Giustiniani, a cura
necessidade que se lhe apresentasse em seu di A. Costantini, Veneza 1960; A. Costantini.
ambiente de vida, quer se tratasse da mendi - fntrodu:.ione alie opere di s. L. Giustiniani, primo
cância nas ruas da cidade, como aconteceu patriarca di Veneza, Veneza 1960; F. De Marco,
no início de seu episcopado, quer se tratasse Ricerca bibliográfica sit s. Lorenzp Giustiniani,
do cuidado com os atingidos pela peste, em Roma 1962; G. Di Agresti, s.v., in D ES II,
diversas ocasiões, ou da moralidade dos cos - 1470-1472; Id..s.y., inflSVIII, 150-156; Id., La
Sapienzo, dottrinn di spiritiudila e di apostoluto in
tumes, campo em que demonstrou muita fir-
S. lAvenzo Giustiniani. Roma 1962; S. Giuliani,
meza, seja com as enclausuradas que esta - Vita edomina di s. Lorenzo, Roma 1962: A.
vam sob sua responsabilidade, seja com os Huorga, Presencia de tas Obras de S. Lorenzo
sacerdotes de sua diocese. Esta t irrneza, Giustiniani en la liscuela espanola de la oraciôn,
contudo, era acompanhada de uma profunda Roma 1962; A Niero,s.v„, in DSAM IX, 393-
caridade e mansidão, fruto de um caminho 401; V. Píva.s.u, in£C VII, 1553-1555; N.
interior de grande humildade e -> sabedoria. Ticzza, La dou ri na spintuale di San Lorenzo
Giustiniani, Belluno 1977.
Entre suas obras destacamos: De casto
connubia \ erbi et aniniae (1425); De clisciptina et Aí. Tiraboschi
spitituali perfectione (1425); Fascicultts atnoris
(1426); De trittmphali agone Chrisfi (1426); De
spitituali intevitu anintae (1450); De gradibus
per}ectamis (1455), e seu último trabalho,
verdadeiro e próprio grilo de amor De incêndio
divitti Atnoris (1455).

II. A doutrina mística dei. tem como seu


JUSTINIANO PAULO
apoio a Sabedoria eterna da qual, aos pou -
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I. Vida e obras. Nasceu cm Veneza, em
1476. Aos dezoito anos já freqüentava a Uni-
versidade para estudar filosofia e aos vinte e
dois anos, também como conseqüência de
uma enfermidade, toma consciência de si

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613 que estava voltada para o Pai e que nos
apareceu; o que vimos e ouvimos vo-lo
porque o objeto cia sua santíssima operação
anunciamos para que estejais também em
é incompreensível" (c.5). comunhão conosco. E a nossa comunhão é
A Subida de L "é uma das chaves indis- com o Pai e com o seu filho Jesus Cristo" (1
pensáveis para compreendera mística espa - Jo 1,2-3).
nhola" (S. Rodriguez), e foi um dos livros LAREDO BERNARDINO DL - LhCTIO DIVINA
usados por Teresa de Avila. Aliás, a sua
leitura tirou a santa de uma grande A segunda afirmação do Concílio (cf. DV
perplexidade, como ela própria narra: 8) exprime de que modo a —> Igreja, em seu
"Consultando alguns livros, para ver se mistério e instituição, é profundamente liga -
neles encontrava explicação para a oração da à /.: sabe de encontrar na escuta a regra
que eu fazia, em um deles, intitulado A para o seu crescimento na história. "Esta
Tradição, oriunda dos Apóstolos, progride
Subida dei Motite Sión, no lugar em que fala da
na Igreja sob a assistência do -> Espírito
união íntima com Deus, encontrei lodos os
Santo: cresce, com efeito, a compreensão
sinais que experimentava em mim quando
tanto das coisas como das palavras
naquela oração não conseguia pensar em
transmitidas, seja pela contemplação e
mais nada". 1 estudo dos que crêem, os quais as meditam
Atribui-se também a Josepíüna, um opús- em seu coração (cf. Lc 2,19 e 51), seja pela
culo publicado no apêndice àoSalita, que tra- compreensão íntima que desfrutam das
ta da devoção a —> são José, de quem o coisas espirituais, seja pela pregação dos
autor exalta a grandeza. que com a sucessão do episcopado
receberam o carisma seguro da verda de. A
NOTA: 1 Vita XXIII, 12. Igreja, pois, no decorrer dos séculos, tende
BIBI..: Obras: Subida dei Monie Sion, in Místicos continuamente para a plenitude da ver dade
Franciscanos espanoles, org, por (J.B. Gomis, t. divina, até que se cumpram nela as pa lavras
2, Madri 1948, 25-442. Estuei os: J. de Deus".
Aramendia, Las oraciones afectivas v los Em suma, a DV afirma a presença do Es-
grandes maestros espiri-tnales de mtestro siglo de pírito nas Escrituras que, ontem como hoje,
oro. In escuela franciscana. V.ble Bernardino de
deve guiar os que crêem. Mas a Sagrada Es -
Laredo, in /;/ Monte Carmelo. 36 (19.15), 3S7-
395, 435-442; B. Foronda, Fray Bernardino de critura deve ser lida e interpretada com o
Laredo, OFM, su vida, sus escritos y stt doettina mesmo espírito com que foi escrita (cf. DV
teológica ascètico-mistica, \\\ Archivio íheto- 12) para concluir com a afirmação da
Americano, 33 (1930), 213-350, 497Õ16; E. condescendência da providência eterna (cl.
Pacho. s.v, in DES II, 1402-1403; R. Ri ca rd, DV 13).
s.v., in DSAM IX. 277-281; Id., Estúdios de Este ensinamento do Concílio que repro -
literatura religiosa espa-íiola, Madri 1964; F. de
Ros. Un inspirateurde Sainte íhêrèse, le Frete põe urgentemente a saída do secular "exílio
Hemardin de fiiredo, Paris 1948. das Escrituras", marca o retorno da Escri -
tura nas mãos do povo de Deus, como livro
U. Occhialini da -> fé, que alimenta a '—* esperança eé ge-
rado pela —> caridade.

I. A tradição dos — > Padres até o século


XIII está compendiada nas seguintes afirma -
ções: a /. se propõe como o método por exce -
lência da espiritualidade eclesial na escuta
LECTIO DIVINA da tradição profética do povo de Deus que,
sobretudo depois do exílio, encontrou a sua
Introdução. A /. repropõe aquele método oferenda profética do caminho de fé na his -
de vida espiritual que na DV (1) do Concilio tória. ► Jesus inseriu sua manifestação
Vaticano II encontra lortc apelo ao primado messiânica nesse contexto de /. (cf. Lc 4.16-
da escuta da Palavra de Deus. Em religiosa 19). Contudo, esta não conduz a experiência
—> escuta da —> Palavra de Deus, cristã a uma religião do í.ivro Sa prado; na
proclaman-do-a com firme confiança, o melhor herança profética do primeiro Testa-
sagrado Concílio adere às palavras de são mento, o cristianismo se propõe como fé na
João que afirma: "...Porque a Vida —> aliança que Deus realizou com os
manifestou-se: nós a vimos e lhes damos homens e as mulheres de todos os tempos,
testemunho e vos anunciamos a Vida eterna, de cada raça e cultura, através da pedagogia

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profética de Israel, em que Jesus se insere
com a sua oferta messiânica como
cumprimento da Palavra, com a sua kcuosis c
a sua Páscoa. A Igreja peregrinante pelo
Reino, onde cada homem e cada mulher
possam alcançara visão do —> Pai, no
aperfeiçoamento do amora Jesus, encerra,
pois, a sua missão messiânica abrindo a
mente dos seus discípulos para a
"inteligência das Escrituras". E é na perseve

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61 IJ-
9 .IGO

sui autêntica dimensão secular" (2 de feve - elemento eclesial", clérigo ou toda vez que
reiro de 1972). Mas as palavras "secular" "os critérios se retiram ao reconhecimento
continuava Lazzati ■- e "secularidade", apli- do valor próprio e autónomo das realidades
cadas na Igreja inteira, não teriam terrestres". 2 *
exatamente o mesmo significado do adjetivo Por sua vez, B. Forte defendia o uso da
"secular" aplicado ao /. na definição feita terminologia e dos conceitos retomados por
pela LG 31. Na constituição sobre a Igreja, Y. Congar: "eclesioli »gia total" e "binômio
porém, indica uma "relação específica com o cornu-nidade-carismas e ministérios" que
mundo", que caracteriza a ação do /. no marcavam a superação do binómio
mundo a fim de reconduzi-lo ao plano do "hierarquia-laicato", enquanto acentuava
Criador". Os leigos de que fala a LG 31 que "a afirmação da laicidade como
"vivem no mundo", não no sentido genérico dimensão da Igreja toda passaria então a ser
como aquele pelo qual todos os cristãos são apresentada como sinônima da co-
"seculares", mas no sentido específico, ou
responsabilidade". A impressão que o debate
seja, "vivem no século em todos e em cada
deixava é que era necessário chegar a uma
um dos olícios e trabalhos do mundo. Vivem
síntese mais clara e avançada entre o
nas condições ordinárias da vida familiar e
Conuar dos Jcdons e o esquema "comunida-
social, pelos quais sua existência é como
que tecida", lazer distinção dos vários de-carismas e ministérios". 24
modos de assumir a "seeularização" segundo Por seu lado, o VII Sínodo dos bispos ao
diversos carismas e ministérios, não acolher o lusoumentum Sabaris fez um balanço
significa separar ministérios e leigos, nem global do magistério a partir do Vati cano II e
negar a "relação vital" entre momentos e di - reforçou as teses de base, porém não aceitou
mensões- ministeriais ou seculares -- da as teses desenvolvidas por numerosos
missão salvílica da Igreja. teólogos sobre a laicidade cie toda a
Foi por essa razão que Lazzati não acei- Igreja e de todos na Igreja. A exortação
tou a afirmação de que a Igreja toda c "lei- apos-tólica pós-sinodal de João Paulo II (30
ga", conforme queria o teólogo S. Diantclv 1 de dezembro de 1988) selou e acolheu o
nem o modo de apresentar o tema da laici - pensamento dos padres sinodais desde as
dade de B. Forte.- 1 Lazzati também contes- primeiras palavras do texto que compunham
tava o uso da expressão "eclesiologia total", o título do documento. De lalo, o papa não
retomada por Y. Congar, e criticava sobretu- se limitava a lalar de ciirisiijidelcs, mas logo
do a afirmação de B, Forte secundo a qual explicava que se tratava de christil ideies laici,
"a redescoberta da eclesiologia total" traz toda vez que o laici especil içasse,
consigo "a exigência de superar não só a qualificasse e distinguisse os fiéis de que
divisão da Igreja ern duas classes, mas tratava. Ou seja, distingue entre os fiéis os
também a conexão especil ica leigos que formam uma parte específica do povo de
secularidade". Deus, com uma índole peculiar definida pela
O ponto essencial da posição de Lazzati secularidade e pelo estar e viver no mundo
está sintetizado nesta passagem: "No como lugar teológico peculiar. Assim,
momento em que, perdendo a especificidade haveria uma continuidade direta com as
do significado pelo qual o fiel é chamado /., primeiras gerações cristãs. A análise dos
atribuo á Igreja, em sua globalidade, a textos levava a refletir como em nenhum
qualificação de "leiga", nada acrescento ao deles eram considerados os "leigos" a
conhecimento da sua natureza e, em vez, comunidade composta pelos membros do
perco o valor da nota que caracteriza na povo de Deus em oposição aos povos pro -
Igreja um momento típico da fanos. Nos textos existe uma oposição cons -
sua ação redentora, aquele pelo qual, por tante: trata-se de categorias dentro do povo
vocação, esperam (deveriam esperar) os fiéis de Deus. (...) Por outro lado, se a palavra /.
que, por essa razão, são chamados leigos'. realmente designasse os membros do povo
Em sua réplica, S. Dianich reconheceu e de Deus em sua globalidade, não se
aceitou a preocupação de Lazzati "de exorci- compreende poi que, então, os sacerdotes
zar o sempre emergente monstro do integris - não são também "leigos, a partir do
mo clerical". Contudo, insistia num aspecto momento que são cristãos. Os textos, porém,
que não era negado por Lazzati: a necessida - opõem constantemente estes àqueles**. 26
de de "levar a sério os critérios da laicidade Contudo, um fato que merece registro é que
e aplicá-los de forma coerente em qualquer depois do Sínodo e da publicação da Christif

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ideies laici, a pesquisa sobre/, novamente
lazia uma parada, enquanto particularmente
na região germânica cresciam novos
ministérios laicais, caracterizados pela
suplência do clero em serviços nas
comunidades cristãs. Mas, como os serviços
exigiam praticamente disponibilidade de
tempo integral e proviam a sustentação
econômica dos que os exerciam, terminaram
pon

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629
circunstâncias e na evolução da idade e dos obrigada pelos adultos (geralmente vividas
atributos pessoais com que se possa ser como proteção interior de sobrevivência).
identificado, no ser ou não limitado pelo Isso ocorre porque quando a pessoa usa a
externo ou pela saúde. sua parte psíquica "sadia", experimenta sen -
Cada pessoa traz em si, seja modo de timentos positivos e negativos aos estímulos,
viver em adaptação ao grupo, seja maneira desejos e necessidades, ou seja, experimenta
de se exprimir e se reconhecer intimamente alegrias e dores, seja ligados ao presente,
e, de vez em quando, pode conhecera seja ao futuro previsto ou projetado, que
"realidade" que a cerca tanto de um quanto invadem todos os níveis psíquicos, com o
envolvimento possível da eslera biológica, de
do outro modo, redefinindo os estímulos
modo bem mais forte de quando se vive na
externos com base nas experiências
identidade de adaptação ao ambiente. Tanto
passadas e nos valores e julgamentos que
os conflitos pulsionais (e respectivas
formou dentro de si mesma. (Romanini,
sublimações e neutralizações), quanto os
Hccles e Popper, Olivetti, Be-lardinelli). conflitos competitivos (com os complexos de
Seja que se reconheça no aspecto da de - superioridade e de inferioridade) ou o mundo
pendência às leis sociais e então do simbolismo, as problemáticas do papel
impossibilitado de escolhas pessoais, seja social, são possíveis momentos conflitantes
que mesmo adequando-se a elas se da adaptação primária necessária ao
reconheça em sua unicidade que o distingue ambiente importante e aos seus valores, de
de qualquer outro, o indivíduo é parte de que permanecem na idade adulta tendências
unia sociedade específica, de que inconscientes e vestígios limitados a alguns
interiorizou os cânones gerais de relação e aspectos da personalidade, ou que ainda
de afirmação pessoal, e a sua /., quando c invadem todo o campo vital (Berne,
tal, é /. na convicção profunda da igualdade Romanini).
de direitos e deveres para todos os seres Pode-se acrescentar, falando só do plano
humanos (Berne 1964, Romanini 1990). psicológico, que em qualquer idade e
Do supra referenciado deriva a necessida - também a partir da gravidade do bloqueio
de de ver a pessoa humana como parte do existencial, a pessoa pode romper os laços
seu ambiente, profundamente inserida ne le da pseudo-segurança de adaptação para
e em sua distinção absoluta de qualquer ou - arriscar a vida na auto-eslima e apego
tra pessoa do seu grupo. O dilema entre paritário, amparada na mudança que parece
individualidade e dependência das opiniões um salto no vazio, por meio do
da comunidade se resolve na /. profunda da enamoramento, através da -> conversái>
pessoa, responsável por seu pensar, agir e religiosa, ou de longos anus de análise;
sentir, uma vez que está consciente de si sempre em relacionamento de apego com
mesma e da possibilidade de reconhecer as outra pessoa dotada de pensamento superior
próprias necessidades, sentimentos e e que se oferece com apego recíproco
desejos, de administrá-los com (Romanini). Assim é que, o pequeno pro -
responsabilidade, dentro do respeito a si e blema de adaptação, último resquício da
ao outro (Romanini). adaptação infantil ainda não revisto, ou o
Assim, desde a concepção e durante toda fracasso completo psíquico (loucura), exigem
a vida terrena, o ser humano ê "torna r-se a mesma coragem e comprometimento
com". afetivo-cognitivo para serem superados,
A pessoa psiquicamente sadia tem possi- porque em geral o primeiro é vivenciado
bilidade de se autoconhecer até a penetração como conseqüência da segurança pessoal e o
no mais profundo de si mesma, onde a men - outro é carregado de desespero existencial.
te (psique) se eneonlra com o espírito, viven - Hm um e outro casos o risco da mudança
do a tal ponto sentimentos, intuições, é vivido como risco de morte c todas as defe -
pensamentos, significados, numa sas de adaptação formadas pelo sujeito er-
compreensão cognitiva e adesão afetiva cada gueni-.se contra ela.
vez mais ampla. No cotidiano, porém, se A superação das temidas ''colunas de
exprime, ao menos parcialmente, com Hércules" da identidade em adaptação (que,
comportamentos de adaptação à sua cultura positivo ou negativo que sejam, torna o ser
ambiental e vive na limitação afetivo-
humano pessoa) permite nova e mais pode -
cognitiva das decisões de identificação da
rosa capacidade emotivo-intelectiva; não
idade evolutiva, baseadas na dependência
muda a personalidade, contudo, ainda que

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629
em sua linha constitucional, a torna mais
complexa e flexível.

I. O ser humano é um todo único es-


truturado em diferentes entidades, firme -
mente coordenadas entre si e reciprocamen -
te influentes: a entidade biológica (soma ou

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LINGUAGEM METAFÓRICA atordoá-la. Do mesmo modo como os vapores
escurecem o ar e impedem que o sol res-
metafórica do místico significa aproximar-se
plandeça, como o espelho embaçado não
o mais possível da sua imagem mental e das
pode relletii* com lii! ide/ nossa Ince ou
suas sensações e emoções mais
como 638
inexprimíveis. Pode-se f a/cr uma tentativa
com —> são João da Cru/ e —> santa Teresa não pode ver sua imagem refletida quem se
de Avila, sabendo-se, porem, que um estudo espelha na água turva, assim a alma,.. Todas
mais completo só podo ser feito através de as vezes que a alma se deixa guiar pelo
pesquisa mais ampla e aprofundada sobre a apetite fica cega, porque é como se se
personalidade do místico. deixasse conduzir por alguém que não vê, ou
Na tentativa de evidenciar quatro seja. é como se ambos lossem cegos", d. "O
aspectos dos males causados pelos apetites, quarto ilano que os apetites ( i azem ã alma é
- > são João da Cruz se exprime usando a manchá-la e sujá-la... Como se despejássemos
linguagem figurada: a. "Os apetites esgot am pixe
e cansam a em cima do ouro e do diamante, deixando-os
alma, porque são como crianças inquietas o feios e empastados por causa do calor que o
difíceis de contentar, que pedem continua - aqueceu e liquefez, assim a alma... Corno os
mente à mãe ora uma, ora outra coisa e sinais da fuligem marcam e estragam um be-
nunca se satisfazem. Do mesmo modo como lo rosto perfeito, da mesma forma... os ape-
se cansa quem escava, impelido pela tites...".5
ambição Acrescentamos este trecho que justifica
do tesouro, assim se cansa e se e sgota a porque João da Cru/, recoi re ã linguagem
alma para alcançar o que seus apetites li-gurada: "Pata que fique bem
exigem... Deixando-se vencer pelos apetites, compreensível, recorro às comparações..."6
a alma se cansa e se esforça, porque é como "Cornpreender-se-á melhor por meio dessa
doente com febre, que não se sente bem comparação..."7 Assim, o recurso às metáloras
porque ela não o deixa em paz, então sente é jusliticado pela melhor compreensão; os
aumentar a sede a psicolingüis-tas diriam: por uma
cada minuto... A alma que deseja salislazê- comunicação mais eficaz.
los Los apetites] é como aquele que, tendo Uma relerência breve, agora, à comunica -
fome, abre a boca para comer mas seca cada ção metafórica de santa Teresa de Ávila, que
vez mais, porque o alimento não é adequado para explicar os quatro graus da oração faz
para ele... Do mesmo modo como se esforça e uma comparação que não é sua: "Ouem co-
se cansa o apaixonado quando vê ruir os meça, deve lazer de conta que, para agradar
seus planos justamente no dia em que espe- ao Senhor, vai cultivar um jardim num
rava realizá-los, assim se esforça e se cansa terreno pouco fecundo, cheio de ervas
a alma que se deixa arrastar pelos seus daninhas. Sua Majestade arranca as ervas
apetites... O apetite é semelhante ao fogo, nocivas e planta as boas. Ora, suponhamos
que cresce quando é alimentado pelo que isso já tenha sido leito pela alma que
combustível, mas precisa n ec essa ri ame n optou pela oração e já começou a praticá-la;
L e apagar-se depois que o consumiu", b. "O com a ajuda de Deus, como bons jardineiros,
segundo aspecto do dano positivo que os é preciso fazer de tudo para que aquelas
apetites causam à alma é o tormento e a plantas cresçam, regá-las pata que não
aflição, à semelhança de quem é morram e produzam lloies perfumadas, para
atormentado porque solre a condenação da agradar ao Senhor, para que venha sempre
tortura da corda, em que é amarrado num comprazer-se nesse jardim, a fim de alegrar-
ponto de apoio e só se liberta do sofrimento se com as flores das virtudes. Vejamos,
depois que for desamarrado... Do mesmo então, de que modo regar um jardim, para
modo que atormenta a si mesmo aquele que, compreender o que se deve fazer, se o esforço
nu, deita-se numa cama de espinhos e que custar o empenho for maior que o ganiu
lâminas atiadas... Como o agricultor, i e quanto tempo vai durar. Parece-me que se
estimulado pelo desejo da boa colheita ator - pode regar um jardim de quatro maneiras: ir
menta o boi no arado, assim a concupiscên - pegar agua num poço, o que demanda muito
cia aflige a alma tomada pelo apetite paia estorço; pegar água com a bomba e os
conseguir o que deseja... Da mesma fornia canos, girando a manivela (já fiz isso
como é atormentado quem cai nas mãos dos algumas vezes), exige menos esforço que a
inimigos, assim também a alma que se deixa primeira opção e obtém-se mais água;
arrastar pelos apetites", c. "O terceiro efeito canalizando a água do rio ou do riacho, com
produzido pelos apetites na alma é cegá-la e este sistema a terra será mais e melhor
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irrigada, com menos esforço, porque fica sempre
impregnada de água, sem precisar regá -la e
o jardineiro não se cansa; por ultimo, pela
chuva abundamc, em que é o Senhor quern
a rega, sem nenhum esIorço da nossa parte,
sistema sem dúvida mejht ir que i *s outros
ires que citei". 8

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urmui .'RA 64
4
resistível o acorrentou, geme c suspira, can - realidade. Eliol relembra que se existe o
ta. Impulso inato fá-lo aprisionar nas pala- reino do pecado, também existe o reino da
vras o seu sorriso e o seu pranto (...). Em si, redenção. A fé o revela, a mística o
fiara de si, no universo, ele vai cm busca de experimenta, a grande /. o intui c traça suas
resposta, pobre mendigo de imagens e de linhas.
palavras, como o enamorado exausto mas Em suma, o sentimento do mistério. Mistério
nunca desiludido de alcançar o seu amor (...). no sentido de coisa arcana, envolta de
Caminha pelos itinerários do universo, bate sacralidade, que sobrepuja e envolve a reali -
às portas, atraído de modo invencível por dade sensível, mas foge aos sentidos e à inte-
um luminoso paraíso. Mas vive sempre ligência. É a terra dos místicos e dos profe-
corno uma criança desconsolada por não ler tas, é a morada de Deus. "Os poetas (...) ou-
alcançado o seu paraíso. O conselheiro vem a Deus, sentem a eternidade no tempo.
divino o impele adiante, o Verbo não-ci iado Os povos os chamam de videntes, como os
lhe delineia toda beleza transitória com a profetas. Enxergam longe. Sentinelas sempre
luz da sua face".1' alerta nas trincheiras entre o visí\ cl eo
A citação esclarece a relação entre invisível". 13 Mística e /. caminham na mesma
mística e poesia. O místico experimenta a estrada, porém não são a mesma coisa. O
realidade de outra mundo; o poeta traduz em místico, porem, também pode ser poeta.
palavras, —> imagens e símbolos tudo que Quando reveste de poesia as experiências, sua
experimentou de outro mundo. "A poesia é palavra adquire beleza e ressonância
moção de retorno da - > contemplação incomparáveis. Basta lembrar os —» profetas
mística", alirma Jean Barirzi' 1 ' a propósito de Israel, os amores do —> hinduísmo, do ■
de —> são João da Cruz. A mística, sem a > budismo, do —> judaísmo, do —»
poesia, é muda; a poesia, sem a mística, islamismo. Com o advento do cristianismo,
perde em valor e fascínio. na /. mística houve um impulso de
qualidade. O Verbo revelou-se, a literatura o
V. Elementos da I. mística. Entre os ele- recebeu e o anunciou e a sua voz assumiu
mentos que inserem a /. na área da mística timbre absolutamente novo: adentra os céus
indicamos três, os mais característicos. e dá aos sonhos e às nostalgias da
Antes de tudo, o sentimento de desconforto e de humanidade significados que assombram
estranheza diante do espetáculo da vida. pela sua beleza. Palavras que possuíam um
Nada satisfaz plenamente, a realidade se sentido vago e ambíguo - Deus, eternidade,
tragrnenta e se dissolve no tempo, as amor, vida, divinização - agora adquirem im-
expectativas se tornam vãs, os caminhos portância e esplendor. A mística vivifica a /. e
terminam no nada. Uma intuição ataca a a /. cobre de luz a mística.
mente: somos homities violares, viajantes que
se dirigem para oulro lugar, estamos no
NOTAS.* C. du Mos, Che cose la letteratura?,
Florença 1949. 15; : A. Blanchet, lu littérature
exílio. I M vrai vie est absente, sugere" Rimbaud, et le spirituel, I, Paris 1959. 1] ;3 D.M. TuiTjldo.no
enquanto Paul Verlaine proclama que neste artigo de G. Milano. Ribeile di Dio. Il testamento
mundo o poeta é exilado, em allée /vers spirituale di Padre Turoldo, in Panorama, !2
d'autrcs cieux, t) d'autrcs amours. fevereiro 1992: 4 Id., () sensimiei, Milão 1990,
354;s A. Rimbaud. Unasta-
São esses nutres cieux e attires amours que gioneallïnfcrnoelettere, Milão 195!, 110; "J.
inspiram as obras mais signil icativas de Rivière, La crise du concept de littérature, in
toda A Nouvelle Revue Française, t'' lévrier 1924; 7 J.
O segundo elemento, semelhante ao pri- Daniélou. Lo scandalo delia verità, (c. Poesia e
verità), Turim 1964, 55; a Centenas de paginas
meiro c sua pleniMeação, é a inquietação du livro secreto de Gabriele D'Annunzio
metafísica ou ontológica. Hia faz intuir que é tentado de morrer, in // Vittoriale degh Italiani,
preciso buscar a plenitude em an t r o lugar 1995, 321;" B. Matteueei. Per una teologia délie
mitológico, ou seja, no Absoluto. Quase toda a lettere. Il divino nell'umano. I, Pisa 19tí0. 271ss;
10 J. Baruzi, Saint Jean de la Croix et le problème
grande /. c inspirada pen essa inquietação.
de l'expérience mystique, Paris 1924, Ï26; :l A.
Entre os autores modernos citam-se T. S. Rimbaud, Una stagione ail'injemo, in I poc'i
Eliot. A sua visão poética é convite a desviar midedetti, org. C. Fusero, Milão 1959, 709; ,: P.
o olhar da Waste Land, da terra desolada, e Verlaine, Art poétique, in Poésie e prose, org. de
volver para os céus do Absoluto dos Four D. Grange Fiori, Milão ! 992,358;13 B. Matteueei.
Per una teologia délie lettere.,., o.c, 276.
Quartets. Só neles a inquietação se aplaca e o
universo dos sonhos n >mân ticos se torna

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BIHÏ..: !.. Borriello, Mistica e umanesimo, in C.
Ti es-montant, La mistica Cristiana e il futuro
deiTuomo, Casale Monferrato 1988; C. du Bos,
Che cos'è la leltcratiaa?, Florença 1949: M.
Carrouges. L'avven-tura mística delia letteratura,
Roma \ 969; J. Daniélou, Poesia e verità, in Id.,
Lo scandalo delia verità, Casale Monlenaio 1964,
J. L- R M.uilain, Sititazione delia roesia. H
réscia 197V; B. Matteueei, Périma teologia
délie lettere, Pisa 19SU; K. Ralmi -t. I J I parola
delia poesia e H Cristiano, in Id., Saggi di
spiritualité, Roma 1966; G. Sommavilla.
Incogniie reUgio.se délia letteratura
coutempottmea. Milan 196 V

F. Castelli

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LOCUÇÕES - LOUCOS KM CRISTO 650
Tais palavras não são escutadas pelos ouvidos que se chama "loucura" por amor de
do corpo mas com muito mais clareza do que Cristo. Eles não só renunciavam voluutaria -
se fossem captadas por eles. 4 -> Inácio de mente as comodidades e aos bens familiares
Loyola concorda com —» Teresa de Ávila: "O corno também aceitavam ser" considerados
Sen hor fala no interior da alma sem nenhum como loucos, como pessoas que não admi-
ruído de palavras, a eleva toda ao seu amor tiam as leis da convivência e do pudor e que
divino, sem que seja possível, ain da que se se permitiam ações escandalosas. Tais asce-
queira, resistirão seu sentimento". 5 Outras tas não tinham medo de dizer a verdade aos
qualidades das /.; são claras e distintas;^ poderosos deste inundo e de acusar os que se
uma única palavra laz entender mais coisas tinham esquecido da justiça de Deus. Por
do que a inteligência alcance, e em bre ve outro lado, consolavam aqueles cuja piedade
espaço de tempo, produzem substancial- se baseava no —> temor de Deus.
mente na alma o que dizem e, tornam a pes -
soa boa, fazem com que ame, retirando todo o II. Um fenômeno difuso, mas não tipica-
medo. mente russo. Tipos desse gênero apareceram
já entre os primeiros monges do Egito.- S.
II. Objetivo. São um meio de que Deus se Simeão de Emesa (t c. 550) tornou-se famo-
serve para o nosso bem. Contudo, um simples so por causa de sua biografia escrita por Le-
ato de amor é mais precioso que todas as —> ôncio de Chipre (i 543).' No século X veio da
visões e comunicações. Assim, escreve —> Síria para Constantinopla santo André Salos
são João da Cruz: "Não há razão para in- (t século X). A uma visão sua está ligada a
terrogar a Deus... Pois que ao nos dar... o seu testa bizantina da Proteção dn Virgem (em
divino Filho, que é a sua única palavra... nos eslavo. Pocrov, em 1 de outubro). Na Rússia
disse tudo,... então nada mais tem para nos eles eram numerosos. Contam-se mais de trinta
dizer". 9 e seis os jurodivye venerados como santos, se
bem que o número deva ser maior, uma vez
NOTAS: 1 Cf. João da Cruz Subida do Monte que quase todas as cidades veneram algum
Cannelo II. 28,2:1 Cf. Ibid.;3 Cf. Ibid., 30,1; 1
Teresa de Ávila. Vida 25,1;5 Carla de 18 junho de deles entre seus patronos locais. Moscou
1536;6 Cf. Teresa de Avila, Castelo interior, VI, conserva as relíquias de seu patrono local,
3,13; 7 Cf. Ibid., 15;* Cf. Ibid., 5 ; Subida...,o.c., Basílio, o Bem-aventurado (t 1550), e a
11,31,1; 9 Subida..., Ibid., 22,3. catedral da Praça Vermelha, onde ele está
BIBL.: A. Derville, Paroles intérieures, in DSAM sepultado, tem hoje seu nome. Entre os santos
XII/ I, 252-257; V. Macca-M. Caprioli, canonizados durante o recente milénio da
Comunicaziom nüstiche. in DES I, 576-581; A. Igreja russa (198S) figura também Xênia,
Royo Marin. Teologia delia perfezione Cristiana, que viveu em são Petersburgo, no século
Roma 19656,1070-1074. XVIII.
P. Schiavone
I I I . Quem eram os /. A aparência exter-
na de loucura encobria o desejo ardente de
liberdade de espírito. Quando as leis escritas
tiveram o predomínio na sociedade eclesiás-
tico-estatal, quando tudo o que Deus tinha a
dizer ã alma se tornou como que monopólio
LOUCOS EM CRISTO da autoridade, externa, apareceram os que
se
I. O termo. As palavras do Apóstolo: "Nós deram conta de que a primeira base de uma
somos loucos por causa de Cristo" (1 Cor 4,10) ação verdadeiramente boa éa consciência
serviram de fundamento c justificação para iluminada por Deus. Os jurodivye
esse tipo de -> sant idade. A versão siríaca do condenavam sem piedade todas as hipocrisias
grego moros neste texto ésakla, e daqui vem das pessoas consideradas honestas. Não
a denominação salos. reservada em grego a excetuavam nem os monges, nem os
tais ascetas. Em russo se usa jorodivyj, lite- eclesiásticos, especialmente por causa do
ralmente, "abortivo". Mas a origem filológica apego aos bens terrenos e da sensibilidade às
foi esquecida. honras e à veneração.
A enciclopédia nissa de Bartolomeu 1 deli- Seguindo a voz da consciência, rejeitavam
ne essa maneira de viver como atitude dos que, qualquer outra instrução, especialmente a
impelidos pelo amor de Deus e do próximo, erudição dos livros. E para provar que esse
adotaram a forma ascética de piedade cristã
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caminho lhes tinha sido indicado pela > gra-
ça. Deus muitas vezes recompensava a re -
núncia deles à sabedoria d*) mundo com
uma ciência superior infundida no coração.
Prediziam acontecimentos futuros ou
distantes

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LOCUÇÕES - LOUCOS KM CRISTO
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1.1 Mn RAIMUNDO - LUMINOS1 DADE - LUXÚRIA 65
6
Sc o pensamento teológico-espirilual de L Platzeck, IM vida eremittea en las obras dei beato
é substancialmente o do agostinismo fran- R. Udho, in RFsp 1 ( t942), 61 -79, 117-143: L.
Sala Milins, IM philosophie de l'amour chez
ciscano, são integralmente dele, porem, o Raymond IMlle, Paris 1974.
procedimento demonstrativo, o ardor místi co
e o colorido romanesco expressos no livro R. Barbariza
Blanqucma (que se pode traduzir como can- LUMINOSIDADE
dura) intitulado com o nome do protagonista.
O gênero literário desse livro é o de um I, Conceituação. Este fenômeno consiste na
romance complexo em que se entrelaçam vá- irradiação de luz de um corpo místico,
rios gêneros literários. Quer apresentar a fi- especialmente durante períodos de oração ou
gura de cristão que, depois de dedicar-se a de —» êxtase. As vezes a /. toma a forma de
servir os outros (como a Marta do Evange- aura ou coroa que circunda a cabeça do mís-
lho), no final, à semelhança de Maria, "esco- tico. Em outros casos, a lace cio indivíduo
lhe a parle melhor, que não lhe será tirada", fica radiante de luz, ou os raios de luz que
ou seja, vive exclusivamente para amar a emanam do místico iluminam por completo o
Deus até a morte. A quinta parte de aposento. O AT narra que Moisés, ao descer do
Blanqucma é composta pelo // libto dcll'Amico e monte Sinai com as tábuas da Lei, tinha o
deli'Amato, apresentadt » como guia da rosto tão resplandecente que teve que cobri -
contemplação, lendo como perspectiva e lo com um véu (cf. Ex 34,29-35), e o NT narra
meta final a perfeição na união mística cia a transfiguração de Jesus (cf. Ml 17,1 -8).
alma com Deus. K livro de meditação em que Muitos santos passaram pela experiência
o amor contemplativo por Deus jorra com desse fenômeno, como santo Inácio de Loyola,
absoluta espontaneidade ao longo de —> são Francisco de Paula (t 1507), são Luís
qualquer plano sistemático e lógico. Fruto Bertran (I 1581), são Francisco de Sales, são
da oração e da contemplação, ofe rece vários Carlos Borromeu (t 1584) e —> são Filipe Néri.
assuntos de forma ciara, divididos em
versículos, u n i paia cada dia do ano. "Cada Explicação do fenômeno. Se o fenômeno é
versículo é suliciente para contemplar a realmente sobrenatural, pode ser inter-
Deus por um dia inteiro, segundo Carte dei pretado como o efeito da união íntima com
libro dicontemvlazione". Os .^66 alorismas são Deus, ou como o esplendor antecipado de um
de grande beleza, vibrantes de paixão místi - corpo gh >i if icadi i.
ca, impregnados de poesia que é oração e Exemplos de /. e de fosforescência foram
desejo de despojar-se de tudo para possuir o registrados seja em reuniões espíritas, seja
Amado. Não são de fácil leitura, exigem a em determinadas plantas e animais.
atenção do amor e o —» silêncio interior. As Conclui-se que as causas do fenômeno de /,
imagens vivas e sugestivas são apelos para a podem depender de vários fatores, ou seja:
—> liiiL r uagem dos grandes místicos de todas naturais, preternalurais (diabólicos) e
as épocas. sobrenaturais.
Em seu estudo fundamental, De Sen-orum
B:IÍI .: Obras: Obras de Ramon Uidl, on'., por M.
Obrador et Al., 2! vols., Maiorca 1906-1950: Dei beatijteatione et beutomm canotiizutiotte,
Rüimundt Lulii. Opera latina, curavit F. Bento XIV admite a causa natural da /. em
Slegmuller, 5 vols.. Pal nuit. Maioricarum
1 algumas pessoas, mas também que o Icnô -
1969-1977; Raimundi Lidli. Opera latina, edidil meno da /. em alíiuns místicos é de oriuein
Aloisius Madre. Turnholti 1984; Libre de sobrenatural. Existe, pois, a possibilidade de
contemplado en Deu, tomi 2, Palma de Maiorca
1987-1989; Il libro deWamico e deli Amato teve que a causa da /. seja também de tipo
várias edições em italiano: em 1 932 em natural ou diabólico. Por essa razão, é
Lancia no cem Gênova, cm 1978 em Reggi o necessário usar a máxima cautela ao
Emília, em 1991 em Roma; L. Orbetello atribuir o fenómeno a causas sobrenaturais.
(org.), Rainiondo Lidlo, ll libro dei Natale
11'lamento delia filosofia, Florença em 1991. BIH;_.: V. Maivo/y .i,
Fenomeni paranormah e doni
Estudos: A. Bonner — C. Lohi; S.V., in DSAAt mistici, Milão 1990; I. Rodriguez, s.v,. in DF.S
XIII. 171 -187; Carsianoda Langasco, .vu, tu BS If, 1474-3475; H. Thurston, Fenomeni fisici dei
VIII. 175-192: J. de Guibert, U méthode des trois misticismo, Roma 1956
puissances et l'Art de la contemplation de R. Lull.
in#AV/6(1925j, 367-378: P. Juan-Tous, s\u. in J. Aumarm
U'A/v, 328-330; A. Llinarcs. Raymond Lulle,
philosophe, de l'action, Grenoble 1963, F.
Longpré, s.v„ in DTC IX. 1072-1141; A.
Matanic. s.v., InDt'S II, 1473-1474; E.W.
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LUXÚRIA
Introdução. O ser humano, criado em
corpo e alma e marcado na parle física pelo
sexo que o plasma e deline, foi redimido por

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MARIA 664
"por obra do Espírito Santo" (cf. Mt 1,18), batismo no Espírito (cf. At 1.5), na oração
Segundo Lucas, o Espírito antecipou para Al. coletiva de louvor e em lalar em lím;uas
o Pentecostes da Igreja nascente: encontra- estrangeiras "as maravilhas de Deus" (At
mos nele o mesmo binômio {Espirito Santo- 2,11). Verificou-se nela também o carisma
poder), a mesma expressão ( v ir sobre) e a das -> visões e das - > profecias, segundo a
mesma dinâmica (vinda do Espírito, partida predição de Joel: "Até sobre os escravos c
para a missão, efusões carismáticas). O Espírito, sobre as escravas, naqueles dias, derramarei
que a tradição hebraica acreditava extinto o meu Espírito" (Jl 3.2; cl. At 2,18). O
depois dos últimos profetas,* rompeu o Pentecostes foi também para ela, como paia
silêncio, e sua ação oculta desceu sobre Aí. e a os apóstolos, a máxima iluminação sobre a
cobriu com sua sombra (cf. Lc 1,35). Na identidade de Cristo. Aí. compreendeu então,
Virgem da Na/a ré deu-se o protopen/ecostes: com maior clareza, que seu Filho era o filho
o Espírito produziu nela dois eleitos maravi - do Altíssimo, que havia ressuscitado, como
lhosos. O primeiro foi a concepção virginal do linha predito (cl. Mt 16,21; Mc 8,31; Lc
Filho de Deus segundo a natureza huma na, 9,22), eque enviara o Espírito, como
motivo pelo qual "o que nela foi gerado vem do prometera (cf. At 1,8). Ela proclamou "sob a
Espírito Santo" (Mt 1,20). O Magnif ic ai ação do Espírito" (lCor 12,3) com a —> Igreja
traduziu essa experiência de Aí. de sua primitiva: "Jesus é o Senhor" (Fl 2,1 1 ). A
maternidade virginal com a expressão "gran- outra grande obra do Espírito cm Aí. loi a
des coisas" - realizadas nela pelo Poderoso transformação de seu corpo mortal ã
(Lc 1,49), com alusão ao "podei* do Altíssimo imagem de Cristo ressuscitado. Isso se deu na
(Lc l ,35). Aí. sentiu-se lugar santo da ação assunção da Virgem ao céu. segundo o
do Espírito e, ao mesmo tempo, sua esquema bíblico válido para todos os cristãos
colaboradora, porque Jesus toi formado nela (cl. ICor 15,22) e antecipado para ela. O cor-
e por ela, e c verdadeiramente seu filho. O po de Al. adquiriu as características de corpo
Espírito e Aí. agiram em sinergia: da ação ressuscitado: tornou-se "incorruptível..,, glo-
comum dele e dela procedeu a obra -prima da rioso..., cheio de torça..., espiritual" (ICor
história da salvação, Jesus Cristo, 15,42-44). Tratando-se de corpo "pneumáti-
verdadeiramente homem e verdadeiramente co", também o corpo da Mãe de Jesus, como
Deus. Por isso - como sublinha a tradição o do Filho, esiá livre das leis da matéria, isto
ortodoxa - a Virgem se tornou pneumatófora e é, do tempo c cio espaço (cf. Jo 20.19.26) e
pneumatiforme'. é portadora do Espírito e se tornou "espirito que dá a vida" (ICor
ícone que o revela."4 O segundo eleito do 15,45). Isso significa que Aí., transformada
protopenleeostes loí o consentimento pelo Espírito Santo, pode exercer sua
exemplar expresso por Al. ao anjo (cf. Lc maternidade espiritual em relação aos
1,38), consentimento que Isabel interpretou discípulos amados de Jesus (cf. Jo 19,25 -27)
como ato cie lé perfeito: "Feliz aquela que e estai' presente de modo não circunscritível
creu, pois o que lhe foi dito da parle do nos vários lugares e tempos nos quais os
Senhor será cumprido" (Lc 1,45). Ora, sabe-se cristãos se encontrem. Portanto, no céu, "se
que só o Espírito é força capaz bem que absorta na contemplação jubilosa
de renovar interiormente o homem para que da bem-aventurada Trindade, continua a
ele possa dar o consentimento de fé, o sim da estar presente espiritualmente a todos os
aliança a Deus, que se revela. s Por* isso, em filhos da redenção, sempre estimulada ao
Al. a lé é obra do Espírito. Provavelmente o seu nobilíssimo ofício pelo Amor incriado,
Paráclito não agiu de modo intermitente na alma do corpo místico e seu inspirador
Mãe de Jesus, mas a acompanhou em todo o supremo". 0
seu caminho através do tempo. Na vida de
Aí. dislinguem-se principalmente dois II. Aí. na vida mística segundo a tradição
encontros importantes com o Espírito. O eclesial. Embora não faltem estudos par -
primeiro é o de Pentecostes, ao qual ela ciais, 7 devemos constatar que ainda deve ser
esteve presente* para testemunhar, de modo feita pesquisa exaustiva no campo dos teste-
vivo e silencioso, a consistência humana do munhos cristãos acerca das experiências
Cristo ressuscitado e para receber ainda o místicas de Aí. As que mencionamos aqui
Espírito, que já a tinha envolvido com sua são, todavia, sulicientes para dar-nos a idéia
sombra. Aí. íazia parte daqueles "lodos" que do interesse da tradição eclesial a respeito
receberam o Espírito e lalaram em línguas da presença e dos muitos papéis da Mãe de
(cf. At 2,1.4). A experiência espiritual de Al Jesus na vida mística.
consistiu na renovação interior realizada pelo 1. Época patrística. O primeiro autor que
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tratou da espiritualidade da Virgem e de sua
disponibilidade mística á ação de Deus foi —
> O ri genes. Ternos um fragmento duvidoso

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MARIA 670
Deus e, ao mesmo tempo, como mulher cren- história da humanidade" ( R M 17-18). Nesse
te em perene contato com o mistério da sal - contexto parece arriscado atribuir a Af.,
vação, personificado em Jesus, seu Filho, O durante sua vida terrena, a ciência infusa e
sensus fidelium sob o influxo do Espírito, a visão bealíl ica. Pode-se, todavia, supor
percebeu no horizonte da fé não só a exem- nela a experiência, chamada "contato
plaridade de AL, mas também sua presença místico", que imerge no mistério da presença
materna ao longo do itinerário que vai do divina c infunde iluminações especiais sobre
batismo à glória. Abandonados os esquemas a identidade e a missão próprias. >! Não se
represem ativos de outras épocas culturais, podem negara Aí. também os carismas
que faziam de Aí. criança adulta em comuns c os extraordinários, entre os quais
miniatura (atribuição da ciência infusa a profecia c a glossolalia, os quais, aliás, se
desde o seio materno) ou que a projetavam na encontravam com freqüência nas primeiras
eternidade (atribuição da visão beatífica), comunidades. Eles coexistiam com a mística
hoje se insiste em algumas orientações e estavam a seu serviço, c. Enlirn, os Méis
fundamentais, a. Na apresentação da figura são convidados a experimentar em seu
de Aí. não se pode omitir sua vida mística em itinerário espiritual a presença exemplar c
seus aspectos de aceitação integral do materna de Aí., compreendida nas fases de
primado de Deus, de comunhão esponsal comunhão mais íntima corn a Trindade.
com ele c de docilidade ao Espírito Santo. Com efeito, "a piedade para com a Mãe do
Deter-se nos aspectos funciona is, por mais Senhor é para o liei ocasião de crescimento
importantes sejam, como a maternidade em na graça divina, escopo último de Ioda ação
relação a Jesus e sua participação na história pasioral, porque é impossível honrar a "cheia
da salvação a serviço de Cristo, único de graça" (Lc 1,28) sem honrar em si mesmo
mediador, seria parar diante da zona o estado de graça, isto é, a amizade com Deus,
misteriosa que constitui o cu prolnndo de a comunhão com ele e a inabítação do
M . e não se penetraria em seu "coração", em Espírito" [ M C 57). O cristão que se aventura,
seu centro pessoal, no qual, pelo poder do não por caminhos novos, mas pelo trilho
Espírito, realizou-se o encontro de amor entre testado pelo amor, encontra em Af. sábia
Deus, cm seu mistério inefável, e Af., em sua misiagoga, a qua! o introduz no mistério de
resposta livre. A mística é uma chave Deus e em suas vias de salvação.58 O místico
hermenêutica indispensável para o conheci- distinguirá em Al, como em prisma
mento ila Mãe do Senhor. Ela abre o mundo luminoso, as notas características de vida
interior, renovado pelo Espírito e santificado superior e simplificada: o sentido da presença
pela presença do Verbo leito homem, que fez de Deus, porque Aí. é o tabernáculo
vibrar de alegria e de espanto muitos santos e escatológico do Emmanuel, que habita nela
fiéis contemplativos. Apesar da perfeição da (cf. Ml 1,23; Lc 1,28); nabandono total nas
vida mística de Aí., ela não parece distante da mãos do Pai, segundo sua palavra (cl. Lc
experiência dos cristãos, uma vez que "todos 1,38); a liberdade filial, que decorre do sentir-
os fiéis, de qualquer estado ou grau, são se amada por Deus e do deixar-se mover pelo
chamados à plenitude da vida cristã c para Espírito (cf. Lc 1,28.30; At 1,14; 2.4}); e a
a pei teiçâo da caridade" ( I X l 40). b. A vida reconciliação cósmica, mediante o amor
mística de Af. deve ser posta oportunamente materno que acolhe e unifica (cf. Jo
dentro do estatuto de fé da Igreja 19,25-27). Aí. é para o cristão amadurecido
peregrinanle. Com efeito, a bem-avenlurança um perene motivo de cloxologia trinilária,
da lé (cf. Lc 1.45) caracteriza a porque Deus uno e trino fez nela "grandes
personalidade religiosa da Vi ruem de coisas" (Lc 1,49): o mistério salvífico da En-
Nazaré: "Revela um conteúdo ma-riológico carnação ilo Vci bo e a gi aça de uma lé
essencial, isto é, a verdade sobre Aí., a qual se exemplar e indefectível. Essa doxologia
tornou realmente presente no mistério de atravessará os limites do tempo para tornar-
Cristo justamente porque creu'" ( RM 12). se louvor unânime ao Deus santo, poderoso e
Ora, se a fé contém o aspecto iluminativo misericordioso, que exalta os humildes (cf. Lc
por ser "conhecimento da verdade" (lTm 2,4; 14,11; 18,14).
2Tm 3,7), ela difere da visão definitiva e
conserva o caráter enigmático: "Agora vemos Nájrvs: : Os dois I H iineiros versículos Jo
em espelho e de maneira confusa, mas, Magnificat apresentam no lugar do simples
depois, veremos face a face" (ICor 13,12). Isso "eu" :is duas expressões "a minha alma... o meu
espirito" (I.e 1,6-47) e que se equivalem,
vale também para Af., que não compreendeu segundo a lei poética do paralelismo. Esse
as palavras do Filho (cf. Lc 2,50) e sofreu significado "toda a minha pessoa com nota tie
"fadiga particular do coração" ou "noite da fé", intensidade e de solenidade (cl. A. Valentini.
melhor, a mais profunda kenosis na lc, na I I M ag n if ic at. Genere let terá riÍ K Struttura.
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677 MARIA MADAL Roma 1974; Id., Santa Maria Maddalena
de'Pazzi; esperienza e dotthna, Roma 1974; A.
de várias fases, num esponsalício com o Vei bixigghe, lhe Image of the Trinity in the Works
divino, mas a história de pessoa arrebatada a of St. Maty Magdalene de' Pazzi, Roma 1984.
reinos místicos, contra a sua —> vontade, e A. Verbrugghe
que chegou ao matrimônio místico ainda LNA DH PAZZI Isanta) MARITAIN JACOUES li RAÍSSA
jovem.
MARITAIN JACQUES E RAÍSSA
III. Ensinamento espiritual. A sua posição
teológica não estava totalmente de acordo I. Vida. Dois jovens de vinte anos,
com a visão teológica de seu tempo. Aí. não Jacques (1882-1973) e Raíssa (1883 -1960), de
conseguiu compreender por que Deus não temperamento e origem bastante diferentes.
poderia induzir urna alma a converter-se. Ela Ele, educado no protestantismo liberal; ela,
afirmava que a alma, no plano de Deus, é judia, de origem russa, nacionalizada
superior ao estado no qual loi criada. Cos- francesa. Nem ele nem ela praticavam sua
tumava representar a pureza corno a fonte religião. Os dois atormentados pelos mesmos
geradora da existência trinitária. Sustentava problemas, aos quais os professores da
que a Trindade foi imperfeita até o momento Sorbona (Paris) não sabiam dar respostas:
da Encarnação, e afirmava que "tinha visto" existe uma verdade objetiva? Qual é a
a unidade da Trindade, a qual se manifesta finalidade da vida? Por que o —» sofrimento
só a poucos seres humanos eleitos. e a injustiça? Jacques, formado em filosofia,
Dizia que o Pai é o artífice da Trindade, freqüenta a faculdade de ciências, onde se
tornando as outras duas Pessoas iguais a si encontra com Raíssa. Logo sc tornam amigos
desde a eternidade, e dava a isso a inseparáveis. Têm o mesmo interesse pela
designação de "união transformante". filosofia, pela arte e pela poesia, os mesmos
Afirmava que as virtudes personificadas ou desejos de justiça, os mesmos tormentos
abstrações como, por exemplo, a sabedoria, a interiores. Um imenso vazio interior toma-os
bondade e o "amor harmônico" de Deus. infelizes. Sua angústia metafísica os leva á
podem ser considerados como guia que beira do desespero. "Se devemos renunciar a
conduz a alma a ele. Por outro lado, encontrar um sentido paia a palavra verdade
algumas de suas idéias não foram e uma distinção entre o bem e o mal... então
plenamente aceitas em seu tempo, como, por não é possível viver corno seres humanos."
exemplo, a da Imaculada Conceição. Recusavam-se a viver nas trevas, procuravam
Não há duvida de que a grande quantidade a luz.
de mensagens, de estudos e de análises que se Queriam-se muito. Aquele amor verdadei-
poderiam fazer de seus > símbolos e de suas ro e profundo, junto com um desejo imenso
referências permanece como patrimônio da verdade, salvou-os do suicídio. Uma con-
riquísisimo para a Igreja de todos os tempos. ferência de H. Bergson, professor no Coltege de
Ft atice, impressiona-os. O conhecido filósofo
Bnu .: Obras: F. Nardoni (org.), Tuttele opere di
desperta neles o senso do absoluto, ao
Santa
Maria Maddalena de' Pazzi. 7 vols. Florença 1960- afirmar que o homem pode conhecei a ver-
66; .../ (piaranta giorni. Trascnção do original coin dade e, mediante a —>intuição, atingir o —*
in Irtxtução c notas de O. Stcggink, Roma 1952. Absoluto. Os dois se sentem tornados de
Conservam, ademais, vinte e sete Cartas e um entusiasmo transbordante: a vida vale a
opúsculo de Instruções e Avisos dados às noviças. pena.
Estudos: E. Ancilli, s.v, in DSAM X, 576-588; Id.,
Santa Maria Maddalena de' Pazzi- I'stasi, Dot trina, Decidem casar-se. Caminharão juntos à
Injlusso, Roma 1967; G. von Brockhusen. S M , in procura da verdade. Batem à porta de L. Bioy,
WMy, 343-344; F Caiidelori, Ihnisterodi Maria neíla famoso escritor católico anticoníormista! Para
vita e itelle opere di aquele "profeta do absoluto'' existe uma só
Santa Maria Maddalena de' Pazzi. Roma 1985; C.
Caiena, Santa Ataria Maddalena de' Pazzi tristeza, a de não ser santo. Por isso ele não
cattuehtana; orienta menti spirituals cã ambiente se põe a discutir sobre os problemas lilo-
in cui visse, Roma 1966; F. Lai kin, A Study sóficos dos dois jovens visitantes, mas
o f f '.estas i cs of the Party Days of St. Maty enfrenta logo o problema essencial: a ■>
Magdalene de' Pazzi, mCarm I (1954), 29-72; P. santidade.
Moscheni -• R. Second in, Maddalena de' Pazzi,
misticadell'amore, Milão 1992; B. Papasogli - B. Põe-se a ler em voz alta algumas páginas de
Se-condin. In parabola delle due sjtose: vita di —> Hildegarda de Bingen, de —> Ângela de
Santa Maria Maddalena de' Pazzi. Torino 1976; Foliimo e do místico —> Ruvsbroeck.
G. Pozzi. Maria Maddalena de'Pazzi- Le. parole As obras-primas de humanidade e de >
dcll'estasi, Milão 1984; B. Secontlin, GesU
Cristo-Chiesa-Vita Religiosa: esperienza e dotttina graça que são os santos comovem L. Bioy.
di Santa Maria Maddalena de' Pazzi f t 566-1607), Chora de alegria. A fé viva do escritor ancião

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impressiona profundamente os dois jovens ag-
nósticos. "Para nós, disseram mais tarde, a
santidade dos santos foi o argumento deter-
minante/'
Pedem paia entrar para a Igreja católica. A
graça do —> batismo se torna para eles o início
de caminho de fé rápido e íngreme. Encontros
com místicos e contemplativos -

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MATRIMÔNIO ESPIRITUAL MÁXIMO, O CONFESSOR feanlo)
perfeição 16, 10; ^Castelo interior M l , 1,3; ]-lbid.,
685 1,5:,f! fbid.;17 Ihid., 1,8;
1 * João da Cruz, Cântico espiritual B, 20,1; ,g
Joã da Cruz fala dc "trrandc Teresa de Jesus, Castelo interior VII, 2,3; ~ ü João
estabilidade da alma nesse estado", e da Cruz, Cântico... o.c, 22,3;:I Teresa de Jesus,
nãoo teme afirmar que, por esse motivo, ela Castelo interior'VII, 2,3; cf. J. de Guibert.
tem "um ensaio dc vida eterna...", porque "o Theologia spiritualis ascética et mysiica, Roma
espírito e o sentido, tornados vivos em Deus, 1946, 363; " João da Cruz, Chama viva de
amor II, ^4; :A ihid.. Prologo, 3; Ihid.;2- lhid.,JU,
o saboreiam vivamente. Isso equivale a 24; - Teresa de Jesus, Castelo interior VII, 1,6;
saborear o Deus vivo, istoé, a vida de Deus ou 27 Ihid., 2.4; :* João da Cruz, Cita-ma..., o.c, III,
a vida eterna".' 1 Essa estabilidade permite a 24;29 Id., Cântico..., o.c, 26, 11; cf. E. Pacho, Temi
ele dizer também que "esse estado não se foudamentali i n san Giovanni delta Croce, Roma
verilica sem que a alma seja confirmada em 1989, 341; w João da Cru/.. Cântico.... o.c.,
graça".12 Teresa de Jesus lala com alguma 20.10; 31 Id.. Chama..., o.c, 1,6; 32 Id.( Cântico...,
o.c. 22,3; Teresa de Jesus, Castelo interior VII,
hesitação da segurança da vida eterna. "Essa
2,9: u João da Cru/, ( antico..o.c, 22,3; w Id.,
segurança - escreve ela -deve ser entendida Chama.... o.c. Prólogo. 3; fbid.; ■ ' Teresa de
no sentido de que Deus seguia a alma pela Jesus, Castelo interior VII, 2,1.
mão, e enquanto ela não o ofende". 1 - São
João da Cruz, continuando sobre esse tema, BiBL.: P. Adnès. 5.u, in DSAM X, 388-408;T.
afirma que o m. é o grau mais sublime "ao Alvarez, SA'., in DES II, 1542-1547; S. Bernaldo,
Sermones in Canticum, Sermo 82 e 12: Cirilo de
qual a alma pode chegar nesta terra"; 34 em Jerusalém, Cate-chesis de baptismo: PG XVI B;
outras palavras, nesta vida não se dá grau J. Daniélou. Bibbia e liturgia. Di teologia bíblica
mais elevado do que a transformação em dei sacramenti e delle feste seconda i Padri delia
Deus. O santo precisa, porém, esse conceito, Cbiesa, Milão 1958; P. Din* zelbacher,
afirmando que o caminho do amor não se Btuntmystik, in U'Àfv. 71-72; J. de Gui* bert,
detém nesse grau, porque "com o tempo e o Theologia spiritualis ascética e! mystica, Roma
Î946;Greuú]íoili Nissa,In Canina Camicorum: MG
exercício, ele pode muito bem tornar-se mais
785; A.M. Magno! ti, I*: Chie sa s p o s a di Cristo,
sublime e aprofundado no amor".* ? O amor in Aa.Vv., IM Chie s a nel suo m i s tem, Roma
da esposa deve unir-se ao amor do Esposo, e a 1983; Ongenes, IlomiUae i n Genesim, Horn. X:
distância da terra ao céu é infinita; portanto, MG 88 L); R. Penna, // mvsterian paotino,
a alma, atraída por Deus, pode crescer sempre Brescia 197S; A. Royo Marin, Teologia delia
mais no amor a ele até que se una a ele na perteziotie C r is tian a, Roma 19656, 897-912: A.
—> visão beatífica. Tanquercy, Compendio di teologia a:'ceuca e
mística, Roma 1932; Terlulliano, De anima: ML
O santo tenta fazer compreender esse t. II. c. 41 BC.
crescimento com um exemplo: com a alma
"acontece o que acontece com a madeira, a S. Pnssanzòú
qual. embora tomada pelo fogo, quanto mais
areie, tanto mais inflamada e incandescente
se tor-
» .16
na A essa realidade alude também
santa Teresa com poucas, mas
significativas palavras: "Esse divino e MÁXIMO, O CONFESSOR (santo)
espiritual matrimônio, creio que aqui
embaixo não pode efetuar-se em toda a sua I. Traços biográficos. Ao que tudo indica,
perfeição".v; nasceu em uma pequena vila de Golan, por
NOT*S: 1M. Magnolfi, íji Chiesa sposa di Cristo, volta de 58Ü. Órfão desde muito cedo, foi
in Aa.YV, Í M Chiesa nel suo misiero, Roma 1983, confiado ao mosieiro palestineuse, que o for-
136; * Cf. R. Penna, //mvsterionpaotino, Roma mou no pensamento de —> Orígenes e na
1978, 76; x Tertulliann, De anima: ML I. II, c. espiritualidade de Evágrio. Em 614
41 BC; 4 Oríge-nes, ffomiliae in Genesim: MG, encontramo-lo monge no mosteiro de
Dom. X, 88 D; * Cirilo de Jerusalém, Caieehesis
de baptismo: MG XVI H; 0 J. Paniélou, Bibbia e Crisópolis, nos arredores de Constantinopla.
liturgia. Di teologia bíblica dei sacra menti e delle Alguns anos mais tarde, depois das invasões
teste secando i Padri delia Cliiesa, Milão 1958, persas, é exilado em Cartago, no mosteiro de
255;7 Gregório di Nissa, I n Can-tica Canticorum: Eucratas, onde se tornou discípulo do futuro
MG 44, 765 A; cf. P. Âdnés, 5 .v., in DSAM X, patriarca de Jerusalém Sofrônio (t 638), o
392; H S. Bernardo. Sennones in Camicum. Sermo qual influirá sobre o defensor da ortodoxia,
83,3 e 6; * Id., Sermo 22,11; 10 P. Adnès,
Manam. „t a.c. 392; T. Alvarez, sv. in DES II, fazendo-lhe conhecer a espiritualidade de
1543-1544; *1 Teresa de Jesus, Castelo interior Macário. Entrementes, o Império, contanto
VI, 4.4; u Ihid., VII, 1,3. 13 Id., Caminho de que possa salvar a unidade, aproxima-se dos
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MATRIMÔNIO ESPIRITUAL MÁXIMO, O CONFESSOR feanlo)
seguidores do monotisismo, chegando a
compromissos doutrinais como o
reconhecimento de uma só operação
(monoergelismo) ou de uma só vontade
(monotelismo) em —> Cristo. Vi. procura apoio
em Roma, pedindo ao papa Martinho I (t
655) que convocasse um concílio. Isso
realizou-se em 649, com o Concílio Romano,
que sancionou as duas vontades de Cristo, o
qual "queria e realizava a nossa salvação

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693 MENTE-MERTON THOMAS

Na Bíblia grega, o termo m. tem presença Vida 18,2; & S. João da Cruz, Subida do Monte
irrelevante; na Vulgata latina, esse termo Cannelo II, 14,11; III, 13,6;7UI. 19,3.
(mens) ocorre cerca de vinte vezes, com B IBI ..: G. Bateson, Mente e natura, Milão 1984;
J .S. Bruner, I J X mente a piit dimension!t Bari
acepções da fala popular (cf. Mt 22,37: 1988; L, Ehrcndried, Dall'educazione all'equilibrio
diliges... Deum... tolo carde,., m. lua; 2Tm 3,8: eleito spirito, Milão 1985; H. Gardener. I M nuova
Homens de m. corrupta, réprobos relativamente scienza delia mente. Milão 1988; Id., Formae
à fé). A irrelevância conceituai bíblica continua mentis. Saggio sullapluralitàdellintelligenza, Milão
nos Padres apostólicos. A — > teologia cristã 1987; J . A. Kárhy- J .B. Biges, Cognition,
deu logo ao termo m. também notas divinas: o Development and Instntction, Nova York 1980;
G.G. Pesenti, s.u, in DISS II, 1580; H. Puttnarn,
próprio Deus é a m . eterna. Também - > Minds and Machines in Philosophical Papers, Cam
Cristo, Filho de Deus, é wm. (naus), a Palavra bridge-Nova York 1975.
(Logos) do Pai. A m. humana, que é à imagem
de Deus, quando 6 puta do pecado, torna-se O. G. Pesenti
receptiva da força divina para penetrar a
verdade das coisas e possui a filosofia amor da
sabedoria para crer e contemplai* as verdades
de Deus.
> Agostinho usa o vocábulo m. para designar
o Verbo divino {Logos), no qual estão as razões
estáveis e imutáveis das coisas, ] e para indicar MERTON THOMAS
também a parte superior da alma humana,
além da sensitiva e orgânica. 3 Como sinónimos L Vida e obras. Aí. nasceu em 31 de janeiro
de m, ele emprega os termos espírito e ânimo. de 1915, em (Vades (Pirinéus orientais,
Depois dele, outros escritores sacros dão à França) de pai neozelandês e de mãe ameri-
palavra m., além do significado divino, cana. Morreu em 10 de dezembro de 1968 ern
conteúdos genéricos, próprios ou figurados, ou Bangkok (Tailândia), onde se encontrava para
de harmonioso sistema teológico {mens divi participar de um encontro inter-religioso entre
Auguslini). Em seguida, m. está por alma católicos e budistas. E está sepultado no
humana; assim pensam Tomás de Aquino,3 cemitério do mosteiro de Nossa Senhora do
muitos escolásticos e outros (Campanella, Getsêmani no Kentucki (USA).
Descartes, Spinoza, empiristas ingleses). Seus pais são artistas sempre â procura da
beleza. Do pai, Thomas herda a inclinação à
II. Na teologia mística, —> Boaventura usa pintura, que não cultiva nunca com seriedade.
o termo w. como sinônimo de alma, em sua Sua juventude ó exuberante, generosa, sem
obra f ilosófico-teoiógico-místiea. Itinerário da hipocrisia e sobretudo rica de vitalidade
m. para Deus, na qual diz: "Todas as criaturas transbordante. Adolescente, professa-se ateu,
deste mundo sensível levam para o Deus vivendo sem muito escrúpulo pelos princípios
eterno a alma do filósofo e a do contem- morais, porém uma série de eventos o conduz
plativo".4 —> Teresa de Ávila, ern todas as gradualmente a Deus.
suas obras, tem um só texto com a palavra m.: Inicia os estudos em liceu francês c se es-
" A teologia mística fala da —> união com pecializa em literatura inglesa. Prossegue os
Deus (com Detis na oração contemplativa), estudos em Cambridge (Inglaterra) onde leva
mas eu não conheço seus lermos e nem sei o vida desordenada e dissoluta. Muitos contem-
que seja a m., nem a diferença entre a alma c porâneos consideram-no "suspeito" por causa
o espírito";" sao-lhe mais familiares os termos de suas idéias consideradas subversivas. Por
inteligência e pensamento. —> João da Cruz esse motivo é forçado a se transferir para Nova
emprega o vocábulo wi. cerca de vinte vezes York, na Coiumbia Uníversity. Os encontros
com o significado de potência cognitiva ou de que tem com o corpo docente dessa
alma, e afirma que elas podem elevar-se a Universidade, particularmente com o católico
Deus no estado de —> contemplação no qual Dan Walsh, levam-no a interessar-se pelo
são iniciadas,* ou podem tornar-se obtusas, cristianismo e o fazem descobrir que tal reli-
quando recuam para os prazeres das realida- gião se volta para os pequenos, os humildes,
des terrenas.7 os perseguidos. Esta descoberta dá maior sig-
nificado á sua abertura social, ao seu esIorço
NOTAS: 1 S. Agostino, /Jfc divinis auaestionibus,
83,46;: Id.. De Trinitate, 1,15,7; 1 Cf. STii I, q. 16, de viver o evangelho para além de toda dis-
a. 6. ad 1;4 S. Bonaventura,Itinerarium... criminação social. Quando chega ao douto-
(editiominor) 1,2,309-310; 5 Teresa dc Ávila, ramento, já é católico.

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Na Coiumbia Uníversity obtém em 1938 o
título de Bachelor o) Arts e no ano seguinte o
título de Master a f Arts. Por curto tempo
ensina na mesma universidade e depois

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MÉTODOS DE ORAÇÃO Deus). postulação ou pedido, deprecação ou
invocação da misericórdia e do socorro
dilação, radicada, aliás, na tradição mística, divinos, e ação de graças.12 Posteriormente
foi aplanada pelos estudos de K. Tílmann nos foram propostas outras 698
anos sessenta e vem assumindo a qualificação
de oração profunda. definições: oração mental (para indicar a di-
Nesse âmbito, como dissemos, houve to- mensão interior); oração de simplicidade,
mada de consciência maior da exigência de de repouso, de silêncio, de fé, de
enraizar a oração em Iodas as dimensões da presença; oração de união', oração do
pessoa, que è espírito, psique e corpo, e em coração ou de Jesus (com referência ao
todos os seus dinamismos. Daqui veio desen- hesicasmo do Oriente cristão) etc. Foi
volvendo-se sempre mais claramente o dis- sublinhado também que a oração entendida
curso, clássico, aliás, sobre os —> sentidos assim transborda do tempo consagrado
espirituais, e o discurso, sob certos aspectos expressamente a ela e se traduz em um
mais novos, mas não inédito, sobre órgãos estado, o estado de oração ou de oração
psico-físicos chamados também centros continua, segundo o convite insistente que
subtis ou vitais." Além disso, foi possível nos vem da Escritura para rezarmos sem in-
constatar a influência da oração profunda terrupção (cf. Lc 18,1; lTs 5,17).
sobre o plano psicossomático c\ por reilexo,
sobre o espiritual, seja harmonizando-.se a VI. Métodos de contemplação e importância
esfera corpórea, emocional e mental, seja da "ação". O ponto de chegada de todas as
reequilibrando-se os dois hemislérios experiências de oração é a —> contemplação,
cerebrais: o racional (anonas) c o intuitivo ensttítica ou extática, segundo as tradições
{anima). Tais êxitos serão procurados espirituais. Sabe-se que em âmbito teísta
explicitamente pelo que se aplica à meditação prevalece a segunda, a qual, por sua vez, pode
como prática por si mesma (meditação ser vivida em momentos "raros e fugazes" de
sapiencial), mas não faltarão no que se dedica iluminação interior, ou no silêncio e na
à oração interior, orientando-a para a escuridão que geralmente envolvem nossa
contemplação catafática ou apofática de Deus relação com Deus. No tocante a essa relação,
(meditação religiosa pmpriamcincdka). os místicos preferem geralmente a via
Com referência i\ meditação, tcgislrou se apofática ou inefável e nos advertem que que-
principalmente o encontro entre as metodo- rer captar os traços fulgurantes do rosto divi-
logias elaboradas em âmbito ocidental e as no é como tentar reter o ar "cerrando o pu-
praxes meditativas asiáticas, havendo não nho". 11 Essa experiência indica-se como
poucos ponn >s comuns (reconhecidos princi- coroamento da prática espiritual pelo Cate-
palmente entre o zazen e os ensinamentos do cismo da Igreja católica, que reconhece o
autor anônimo da Nuvem do não- vértice da oração na "atenção" silenciosa e
conhecimen-to) e as contribuições recíprocas. amorosa a Deus, sendo a "atenção a ele
Feitas as devidas reservas com relação aos renúncia aoeu" (n. 2715). Eoque em anos
princípios inspiradores antropocêntricos, recentes foi proposto com a expressão
monistas ou atefstas subjacentes a não "procura orante do nada".14
poucas tradições biduístas e budistas, a Não causa maravilha, sendo antes aspecto
incuhuração de tais passagens em âmbito confortante da comunhão radical entre os
cristão é fenómeno carregado de promessas homens, notar que para esse cimo podem
para o despertar da espiritualidade no velho convergir tanto os arrebatamentos contem-
mundo e também para a causa da —> plativos de sinal teísta como os percursos
evangelização. introspectivos dos que imergem no silêncio
existencial diante do Mistério. O qual se apre-
V. Métodos de oração. Se levarmos em senta como nada do lado do homem, mas, à
conta o deslocamento da fase introspectiva luz da revelação, constitui o tudo do lado de
para a unitiva, ou da lase reilexiva para a Deus, e é o próprio Deus. Trata-se da dialética
afetiva, compreenderemos que nesse ponto das bem conhecida da literatura mística universal,
metodologias da prece se passa para a oração. a qual, às vezes, usa o termo vazio, em lugar
Define-se com pitu alidade de termos, aptos de nada, e nota que nesse "vazio das
para mostrar todas os seus possíveis aspectos. potências... Deus é perceptível", que ele é "sa-
Baseando-se no texto bíblico, os autores boreado secreta e eficazmente". 15
antigos dividiam a oração em quatro fases: A contemplação não é experiência separada
oração (entendida como diálogo ou da vida, mas anda ao lado da ação, entendida,
confahulatto spirítualis com esta última, como sua premissa indispensável
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e como seu êxito necessário. Expliquemo-nos.
Alguns autores espirituais inserem a ação
entre a oração e a contemplação, e atribuem-
lhe o sentido tradicional de ► ascese, quando
se traia do trabalho inte

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70 MÍSTICA i ru .ias hisicíncas}
7
cias se rompe com a compreensão perlei la cio no ápeiron (infinito) e sustentou a unificação
Eu universal, do qual participa o eu pessoal; cie todos os seres (coisas). Em todo caso,
outros julgam que o mecanismo é de natureza Platão foi o primeiro a falar de mundo
material e que se pode romper só com hipenirânio, na esteira das doutrinas esoté
disíciplina válida e com técnicas de libertação. ricas tanto dos órficos, que, no século VII a.C,
No fim, a libertação das paixões obtém a difundiram a idéia de que o corpo era uma
entrada no nirwma, uma espécie de nada prisão, como dos pitagóricos. Estes elaboraram
luminoso. No âmbito dessa experiência uma espécie de mística do número, a qual
religiosa surgiu, tios anos imediatamente an le prefigurava a kahhcdã do judaísmo.
ri ores á era cristã, um movimento reformador
chamado nutaiana, o qual sustenta que a II. O AT. O termo "místico" não aparece
salvação pode ser alcançada por todos, e não na —> Bíblia, mas todos os livros do AT mani-
só pelo monge, e por isso abrange também os festam com clareza o sentido da transcen-
leigos. Espera-se o futuro Buda, herói que dência infinitia de IAHWEII e de sua presen-
sacrificara sua lelicidade lulura, retai-dando-a ça na história do povo, presença que não
até que todos os seres sejam conduzidos ã podia ser vista pelo homem (cl. Gn 3,8). Nin-
salvação. Essa crença se desenvolveu nos guém podia verIAIIVVEH sem morrei (cf. Ex
séculos seguintes. 33,20). Isso valia para o simples fiel, mas tam-
3. Taoísmo (séc. VI a.C). Esse movimento tem bém para Moisés, que, quando descobriu que
dois termos paia indicai- a alma: huen e p'o. O Deus estava presente na sarça ardente, cobriu
primeiro indica a alma superior, i > segundo, a 0 rosto (cf. Ex 3,5-6). O próprio IAHWEH lhe
inferior, vegetativa. A alma superior sobe para disseque não poderia ver sua lace e continuar
o céu depois da morte, e a inferior, ligada ao vivendo (cf. Ex 33,20). Essa afirmação foi re-
corpo, desce para a sepultura. Na origem de petida para o povo (cf. Ex 19,18-22; 20,18-21),
tudo há uma únicia energia vital, o (ao, a qual que temeu o encontro direto com Deus (cf. Ex
se mamlesta em duas modalidades 20, ] 9). Mas Moisés, > Elias e os grandes
complementares, duas energias: uma vem da profetas gozaram de certa intimidade pessoal
terra, a outra do céu. A isso se acrescenta com IAHWEH; — > Abraão lalou e esteve com
uma categoria fundamental para a descrição ele (cf. Gn 12,1-7; 13,14: 18.1). Moisés
dos mundos: cinco elementos, que, no ho conversava "face a face" com IAHWEH (cf. Ex
mern. correspondem às cinco vísceras e cujo 33,11); Elias esteve na presença do Deus vivo e
equilíbrio é lonte não só de saúde tísica, mas esperou sua passagem (cf. 1 Rs
também de salvação moral. A santidade é o 1 7,1 ; 19,9-14). Essas experiências indicam
esladode equilíbrio da pessoa, no qual a alma que entre Deus e o homem pode haver relações
faz seu aparecimento no coração pacificado. A típicas de amor (cf. Is 6,3; Ez 1,4-8; S I 42-4.3.
alma pura não é separada do princípio su- 63.73 I 39), as quais têm seu complemento na
premo. O santo é vazio de toda impureza e Encarnação cio Pilho de Deus, o —> Cristo.
cheio do sopro vital, que coincide com o prin-
cípio da vida; por isso a sua pessoa irradia III. Da antiguidade cristã até a Idade
benefícios. Essa purificação desemboca no Média. No NT Jesus tinha com o —> Pai ati-
êxtase, o qual proporciona alegria celeste. tude de intimidade constante. Dialogava com
4. Xamanismo. Com esse termo indicam-se ele tanto na solidão como no templo, Não o
todos os movimentos, também antiquíssimos, temia como os fiéis do AT. Estava com ele tan-
que, em lodo o mundo, abrangem os que se to no Tabor (cf. Le 9,28-29) como no Horto
sentem próximos das torças cia natureza. cias Oliveiras c na cruz. Por isso ele 0 pata o
Todos os indivíduos particularmente dotados cristão o paradigma da intimidade ct mi o l'ai.
servem cie intermediários entre o mundo do Mas ele é também "imauetn do Deus invisi-
homem normal e o outro mundo, feito de vcl" (Cl 1,15; 2,9), "resplendor' de gloria e ex-
espíritos, de loiças misteriosas e de magia, pressão do ser" do Pai (Hb 1,3). Por isso ele é
mediante ritos que murtas vezes levam ao —» a única via de acesso ao Pai ( c f . . Io 14,2; El
transe por meio de poderes inexplicáveis pela 2.1S )
ciência. Tudo isso para realizar ou restaurar' a e aquele no qual se contempla o rosto divino
relação eu-Oulro. (cl. 2Cor4,6). Por isso, Cristo, sua humanida-
5. ü Ocidente tirou sua experiência mística de e os mistérios de sua morte e ressurreição
principalmente do mundo grego. Com efeito, a são o fundamento da mística cristã; e - > J t tão
filosofia de Anaximandro (f 546 a.C.) pode ser convida a tender para a união com Cristo e a
considerada a primeira forma de mística "permanecer nele" (6,56; 15,4-16), porque a
porque colocou o princípio de todas as coisas
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essência da vida eterna é "que eles conheçam
a ti. Pai, e aquele que enviaste" (17,3).

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MÍSTICA (notas históricas)
Eckhart e a João da Cruz) numa atitude espi- desejo do homem de viver só em Deus, e
ritual na qual as obras da justiça brotem de também o desejo de Deus de libertar seu povo
vida interior profunda. e dar-lhe aquela liberdade social, política e
O mesmo esforço se encontra em M. Delbrel econômica que constitui um dos objetivos da
e sobretudo em Dorothy Day, que representa mística tia ação. Na linha da atenção ao mun-
melhor o ideal cristão do amor em ação e da do leminino, Rosemary Radford Ruether, na
união entre vida interior e serviço ao obra Sexo c dialogo com Deus (1983), formulou
pr"óxinií». uma teologia sistemática, na perspectiva das
As novas experiências místicas receberam mulheres, tendendo ã avaliação positiva do
de alguns teólogos sua sistematização. Entre corpo humano como "espaço de salvação"
os mais importantes devemos mencionar —> (Porcile Santiso) e como lugar de comunhão
K. Rahner, para o qual todos os seres hu- com Deus.
manos, em todas as suas ações, são positiva- Consideradas todas essas experiências e
mente orientados para o mistério de Deus. doutrinas contemporâneas, somos convidados
Restabelecendo os ensinamentos dos Padres a superara dicotomia sutil entre o —> sa-
gregos, insistiu no conceito segundo o qual a grado e o prol an o, em lavor da espiritualida-
graça não é só realidade para conseguir a fe- de de encarnação, na esteira da Encarnação
licidade futura, mas também, e mais ainda, a mística mais completa: a do Cristo redentor.
comunicação gratuita de si da parte de Deus, Enfim, o século XX viu o aparecimento da
que diviniza o homem em lodos os aspectos cie mística comparada, que o Concilio Vaticano II
seu ser. Toda a história humana e todas as d encorajou com estas palavras: "Desde os
tmensões da existência humana são circun- tempos mais antigos até hoje encontra -se em
dadas dessa graça: por isso, todas as coisas vários povos certa sensibilidade àquela força
potencialmente revelam o mistério de Deus, e arcana que está presente no curso das coisas
todo esforço humano autêntico pode apro- e dos acontecimentos da vida humana e, as
ximar o homem de Deus e contribuir para a vezes, é reconhecimento da Divindade supre-
dilusão de seu reino. A Igreja, por meio da ma ou mesmo do Pai. Sensibilidade e conhe-
Escritura, da liturgia e do ensinamento, ajuda cimento que penetram sua vida de prol undo
os cristãos a tomar consciência de sua ex- senso religioso" (NAE 2 , ) . Restabelecer essa
periência de graça. sensibilidade foi, portanto, o dever primário da
Pelo mesmo tempo, B. Lonergan elaborou assim chamada "mística comparada", que teve
um método sistemático que, partindo da —> um primeiro tempo de sucesso com as
conversão pessoal, promove o crescimento conferências de R. Otto, em 1V24, noOberlin
espiritual até a união com Deus, à qual se College, em Ohio, reunidas depois no livro
chega mediante um processo enformado e Mística oriental, mística ocidental. Nessa obra ele
guiado pelo amor de Deus e pelo Espirito propõe a comparação entre Eckhart e o mestre
Santo, que opera no íntimo do homem. tibetano Sankara (artífice do renascimento do
Por isso os católicos podem ver com sim- bramanismo na India, no século VIII d.C). As
patia os psicólogos e os meios próprios da conclusões introduzem ao debate seguinte,
ciência psicológica, como os que foram pro- sobre a unidade ou a multiplicidade da
postos por W. James sobre a experiência reli- mística.
giosa; por E. tirikson sobre a formação da Entretanto, H. Le Saux fazia a experiência
identidade; por A. Maslow sobre a atualização viva do contato com a mística oriental.
do si-mesmo; e por C. Jung sobre o processo Ainda na primeira metade do século XX,
de individuação. Com efeito, os psicólogos Robert C. Zaehner (Mysticism Sacred and Profan)
podem contribuir para reconhecera —> traçou a distinção entre religiões proféticas -
patologia religiosa e para compreenderem os cujo paradigma é o judaísmo antig< i - mas
mecanismos de desenvolvimento da fé nos incluindo, além do cristianismo, lambem o
quais se insere a graça. zoroastrismo c o islã, e outras religiões, cujo
A teologia mística do século XX recebeu paradigma é a experiência hindu, considerada
uma notável contribuição também de A. Stolz, como o monismo substancial. Para ele existem
de —► R. Garrigou-Lagrange, de H. Urs von três formas de mística: a teísta, a monista e a
Fialthasare de H. de Lubac. do "um-no-todo". A ele se opôs, primeiro, o
Na América Latina, G. Gutierrez c outros — filósofo William T. Stace íinicio i!os anos
> teólogos da libertação, como L. Boff e J. sessenta!, o qual distinguiu a mística além do
Sobrino, releram as Escrituras do ponto de tempo, do espaço e das relações da mística
vista dos oprimidos e encontraram no Êxodo o menos elevada. Depois opôs-se a ele N.
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MÍSTICA (notas históricas) 712
(Ninian) Smart, para o qual,
fenomenologicamente, o misticismo é o mes-

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MÍSTICA CRHCO -Hlil .KNlsnCA antigo tardio, das mais militaristas, de tipo
722
"misticismo cósmico" tão agudamente anali-
sada por Festugiêre. francamente mágico, às que se querem mais
especificadamente religiosas e orientadas para
III. De > Plotino a Proclo (t 485): as- a elevação gradual aos próprios inteligíveis.
pectos da mística neoplatônica Forte di- Assim um Porlírio pôde aceitar tais técnicas,
mensão religiosa caracteriza o vasto e denso ao menos no período pré-plotiniano de sua
horizonte inteleclual construído por Plotino no experiência cultural e religiosa ou, depois de
terreno de tradição platônica. O componente longos anos de contato com o mestre, con-
"místico" dela foi claramente classificado e siderá-las como aspecto propedêutico para a
peculiarmente quaiitiçado por seus verdadeira purificação e elevação do intelecto
fundamentos lógico-racionaís e por seu ob- humano para o Um, enquanto aptas para
jetivo em sentido "unitivo". A alma inteligente, "purificar" a alma interior, irracional.
alaslando se da multiplicidade na qual caiu Jámblico (f 330), sem renunciar aos mé-
por causa da ruptura primordial da unidade todos de indagação racional no processo
original, move-se num processo gradual salvíMco que concerne à alma inteligente, pri-
cognitivo e f ao mesmo tempo, catártico - para vilegiou fortemente as instâncias religiosas,
o Um, o princípio primeiro de toda a realidade. seja em relação às especulações teológicas,
Esse objetivo, bastante difícil de conseguir, seja na prática da arte teúrgica. No tratado
chega ao êxtase que implica o contato só a só sobre os mistérios ou Carta a Abammon, cuja
com o Um, uma contemplação desse princípio paternidade agora lhe é reconhecida, Jámblico
supra-racional, possível quando a alma se indica na teurgia, como conhecimento e
toma "ioda inteligência". A união da alma ao realização das práticas rituais que permitem o
Um, no movimento unitivo-intui-tivo, é, aliás, contato com as variais realidades divinas, o
acontecimento excepcional que, segundo o terreno no qual se realiza o processo de
testemunho de Porfírio (t c. 305), o próprio "assimilação a Deus", indicado por Platão
Plotino teria experimentado somente quatro como objetivo supremo do homem. A "união
vezes. Note-se que essa experiência teúrgica", obtida ali aves do cumprimento de
excepcional e beatificante, Plotino a narrou em "ações meláveis", e a manipulação das subs-
termos tipicamente mtslêricos quando, para tancieis materiais às quais se reconhece valor
exprimira inefahi(idade da união mística de "símbolos" da realidade divina, ainda que
realizada na contemplação, a equipara à "mudos", configuram-se no "divino" Jámblico
obrigação cio silêncio, imposta nos mistérios: corno o objetivo supremo da experiência mís-
Na verdade, é porque o divino não pode ser tica de elevação e contato com o divino (De
revelado que existe a recusa de mostrá-lo a myst. II, 11, 96).
quem não teve a felicidade de vê-lo pessoal- Também Proclo viu na arte hierática a for-
mente" ( L t t n . VI. 9,1 1). Segue disso que o ma suprema de realização da união mística.
peculiar arrlwtort ("indizível") dos mistérios é Espírito profundamente religioso, o terceiro
((miado como lisura da incomunicabilidade da escol arca da renascida escola platónica de
experiência unitiva com o divino, mantendo, Alenas, realizou osmose profunda entre o
contudo, todo o seu sentido forte de evento exercício dialético do pensamento racional e o
iudi/ivcl, que não pode ser comunicado a impulso místico, unindo o ideal platônico de
quem não o tiver experimentado em concreto ascensão do intelecto para a união con-
no processo "místico". templativa com a divindade e a prática teúr-
Como se sabe, a tradição neoplatônica, gica. Esta é considerada instrumento eficaz de
enquanto, por um lado, persiste na via da purificação do "corpo pneumático", tomado da
mística" perseguida através do esforço de alma em sua descida à matéria cósmica e
elevação intelectual, simultaneamente cog- corpórea, habituando-a ao contato com os
nitiva e catártica, por outro lado, se abre, cm deuses e ã consecução de uma condição de
medida diferente, segundo os casos, as expe- imaterialidade. Proclo demonstra grande
riências religiosas de tipo "operativo", que devoção para com os deuses tradicionais dos
pretendem realizai a comunhão do homem diversos politeísmos, considerando-os, aliás,
com os níveis divinos, até o mais alto, me- expressões diferentes da única essência divi-
diante a manipulação de substâncias mate- na, que tem origem e fundamento no Um ine-
riais, na base cia noção de "simpatia", subsis- fável e incognoscível. A esse primeiro princípio
tente entre os diversos graus do ser. Essas o homem deve aderir com uma lé "unitiva",
técnicas operativas são redutíveis à arte leúr- que transcende a pura razão, mas admite a
gica, que teve diversas aplicações no mundo prática teúrgica, ao passo que a manipulação

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dos elementos materiais se funda na noção cia
"simpatia" universal e das

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MÍSTICA JUDAICA célebres melodias em honra do Eterno. Os
cantos e as melodias compostos pelos Mes 734
energias espirituais, afastando dele o entu-
siasmo dinâmico próprio da religiosidade. "O 1res do has.sidi.smo se tornaram célebres entre
homem deprimido se fecha em si mesmo e não os judeus da Europa oriental. O R. Nachman
é solicitado e mo vicio a tornar o caminho que de Breslau dizia aos seus ouvintes: "Reparais
leva ao culto di\ ino. O homem deprimido, como orais? E possível servir a Deus só com
fechado em si mesmo, perde sua força vital e palavras? Vinde, ensinar-vos ei um modo novo
não se inflama de entusiasmo espiritual" de orar. não com palavras, mas mediante o
(Nachrnan de Breslau). O homem deve agir canto. Nos cantamos e ele, o Santo Bendito tio
sempre para seu Criador, deve, portan to, alto, compreenderá o nosso canto. O meio
proceder de modo que dê prazer e satisfa ção ao principal de comunhão com o Um, Bendito seja
Santo Bendito. O homem deve agir vivendo sua ele, pode ser empregado por esse mundo baixo
religiosidade de modo ativo e direto, a fim de mediante a melodia e a música... ". R.
causar prazer a Deus, porque esse é o fim Pinechas di Korelz costumava dizer: "Senhor
divino para o homem, isto é, que ele viva do mundo, se eu losse músico, não te
viva/mente a vital idade divina. A alegria permitiria viver* lá ern cima, mas te forçaria a
constitui, portanto, a entrada, a aproximação vir para baixo e ficar conosco*. O canto e a
mais apropriada para alguém avizinhar-se de melodia se tornaram parle integrante do
Deus, a aproximação do litt-Sof (do Infinito"), ensinamento hassídico, de tal sorte que em
que está no Ente. Obviamente a alegria não é a toda corte de Rebbe havia músicos e coros
dos tolos e dos sensuais, mas o entusiasmo prontos a registrar todo tom novo e a di-fundi-
dinâmico que desperta o fundamento divino lo entre seus adeptos, a fim de tornar mais
que está no homem. Essa concepção da alegria receptivos e mais vitais sua fé eseu entusiasmo
como processo dirigido para o culto divino é o pela vida. No ensinamento lubavitch -
foco do pensamento hassídico. Recordemos que movimento hassídico moderno alirma-se que a
esse conceito de aleu.ria tem precedentes no voz estimula a kavaná: "A língua, dizia R.
ensinamento rabí-nico (T. B. Shabat 30b). Sheneur Zalman, pode ser comparada à pena
Narra-se que Rabbá, do coração, o canto á pena da alma". R. 1 lillel
antes de começar o estudo, contava coisas en - de Pareiz dizia; "Aquele que não tem o
graçadas, c Rashi diz que o coração dos Mes- senriîiiciilo musical não pode compreender
tres se abria ao estudo da Toni por causa da o valor do hassidismo". O bassidismo teve e tem
alegria que estava neles. Os Mcsi res julgavam um grande sucesso no mundo hebraico de
que é somente a alegria que permite notar ontem e de hoje. Digamos, ern todo caso, que o
aquela elevação e aquela aplicação que são bassidismo não modificou substancialmente as
necessárias para o estudo. Enquanto o cora ção formas tradicionais mediante as quais o
do homem for insensível, e seu espírito, judaísmo se exprimia, isto é, não modificou
pesado, não pode resplandecei" (acender-se) nem a Toni, nem o modo de viver e praticar o
nele a luz divina. Essa alegria é a alegria de judaísmo mediante as mitzxot (normas da vida
mitzvd. Entre < is váru >s expedientes ã dispo judaica). O bassidismo loi e é u m movimento
sição do liassidismo para chegar ao coração de místico que tentou introduzir um modo de
seus seguidores e para entusiasmá-los es- sentir a relação com a divindade não como um
tavam a música, o cântico e a melodia. Graças fenómeno elitista, isto é. pró] nrio de algumas
à melodia, os Rebbehn conseguiam sacudir as pessoas, mas como um processo humano
fibras interiores de seus ouvintes. Graças à envolvente e coletivo. Aos judeus das aldeias
melodia, eles tendiam não a enfraquecer ou a ucranianas ele levou o conforto e a alegria de
distrair o interesse de seus discípulos, mas a lazer parte de uma comunidade humana
purificar seus corações. Devemos recordar que aberta, ã qual era ensinado que tudo é divino,
esse sistema de envolvimento se encontra que Deus está próximo daqueles que o
também em muitos textos clássicos do procuram, e, por tanto, que todo hebreu que
hebraísmo, primeiro entre todos na Bíblia, nos quisesse, podia ser um bus si d.
Cânticos de Moisés e de Débora e no cântico
do Rei Salmista (SI 103,35), que foram Rim ... S, Bahout-G. I.iinentani (org.J. Nachman
retomados pelo Tabnud. Conta-se que havia di Rrcstav: ! M Principessa smanita, Milão 1981; R.
Banjil, I Á Í cultura, c/r ehraisti e il mola delia
uma harpa suspensa à cabeceira do rei
Kahaíà, in Aa.Vv., (di ehrei in Itália nellepoca dei
Davi e que, à meia-noite, quando o vento so- Renascimento, i loi cava 1990. 127-154; M.
prava, fazendo vibraras cordas do instrumento, Buber. U i le\i-íieitda dei f í a a l Shent, Ploicnca I
o rei cantor despertava e compunha suas 925, Id-, / raccanti dei chassidim, Milão 1962;
J. Dan, The fíasidic Tale (em hebr.) Jerusalém
1975; Id., The Anciem A h s - ttctsm ( i n tiebr.). Tel
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Aviv 1989; íd., K a b a f à Cristiana e ticerca sulla
Kalxdâ (em hebi), Jerusalém 28.2.1997; A. Di
Sola, Cabala e mística yjtulaica, Roma 1984;

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MÍSTICA 74
RUSSA 6

Berdjaev: cada cristão deve "suportar os so- Essas formas são ião diferentes que o ser
frimentos como a penetração de luz, como humano moderno deixa a cada uma seu campo
alguma coisa que possui sentido no âmbito do específico. Elas não se comunicam entre si,
nosso destino". como, então, harmonizá-las? Soloviev não se
contentou com uma justaposição "enciclo-
V. A necessidade do conheci mento es- pédica" das várias noções, mas se deu conta
piritual. Todos os seres humanos buscam a da insuficiência de uma summa metafísica,
verdade, porem, para encontrá-la, seguem pois a verdade é metalógica. Assim, Soloviev
caminhos dilerenles, disso dão testemunho decidiu-se por outro ponto de partida: a bele-
os próprios termos lingüísticos. A aleíheia za. A visão estética não é a evidência de uma
grega significa "descoberta", o emes hebraico é "idéia clara e distinta da outra", como dizia
a aceitação de uma palavra dita. O eslavo Descartes. Ao contrário, é a visão "de um no
istina não só exprime "o que existe" (cf. o la- outro". Paia ilustrar, Soloviev cita uni exemplo
tim est e o alemão ist) mas também "o que concreto. Do ponto de vista químico, o carvão e
respira" (cf. asmi, asíi, do sânscrito e atmen o diamante são iguais. Por que, então, o
do alemão). Conhecer a istina é, pois, entrar carvão é considerado feio e o diamente um
em contato com realidade viva, concreta e tesouro de beleza? No primeiro só se vê o
dinâmica. Por isso, os russos estão firmemente carvão, enquanto no diamante vê-se refletida a
convictos de que a verdade está além das luz do céu. O ser humano, pois, torna-se capaz
noções racionais. Ã semelhança da vida, ela é de enxergar o mundo como belo quando
antinômica, misteriosa, mctalógica. Leão amplia progressivamente o seu horizonte e
Sestov prega o ideal de conhecimento abso- adquire a arte de ver um no outro. No início,
luto, supcríógico, em seu livro Atenas e Jeru- essa visão é obscura e limitada, mas se
salém. 1 Opõe o pensamento racional, que re- ilumina até ver um no todo e o todo no outro,
monta à filosofia grega, e a percepção bíblica a Beleza da Santíssima Trindade nas coisas
do mundo, que desmente o princípio da con- criadas que, segundo os Padres, é o vértice da
tradição através da onipotência divina. Isso —> contemplação espiritual. São numerosas as
não significa que a verdade c irracional, iló- aplicações concretas desse princípio.
gica, e sim que é metalógica, ultrapassa as A beleza suprema é o Cristo encarnado, pois
noções racionais. É pois, intuitiva e mística e, ele é o esplendor do Pai: "Quem me vê, vê o
para nós, cristãos, essencialmente eclesial. Pai" (Jo 14,9). Na marioiogia celebra-se a
Berdjaev afirma: "O amor é considerado como beleza da Thcoíoko*. pois ela é a "que mais
o princípio do conhecimento da verdade... A se assemelha a Cristo". Na iconografia, a dia-
comunhão através do amor, a conciliação, é fanidade dos ícones favorece a elevação do
critério oposto ao cogito ergo sum cartesiano. espírito do tipo (imagem material) ao protótipo
"Eu sozinho" não pensa, "nós" pensamos, nós (o santo representado) até o arquétipo (o Pai, a
significa a comunhão no amor. Não é o quem deve subir toda oração). Em seus rituais,
pensamento que prova a existência, e sim a a -> Igreja deve aparecer como um "céu sobre
vontade e o amor". Este mesmo princípio foi a terra". 2 O belo, pois, identi-lica-se com o —»
assim resumido por P. Florenski j: "O sagrado e então, segundo a expressão de
conhecimento efetivo da verdade esta no amor Dostoïevski, "a beleza salvara o mundo". Se
e só concebível no amor. Ao contrário, o tais considerações parecem novas,
conhecimento da Verdade se manifesta como correspondem à antiga tradição dos ícones
amor". É pela força desse amor que toda a russos.
realidade aparece como tudunidade
(vseetlinstvo). VII. O esplendor dos ícones. O —» ícone
ocupa lugar privilegiado na espiritualidade
VI. A mística da beleza. O amor é força russa. Nãosignifica, porém, que lodos os pin-
unitiva. Se ele constitui o fundamento do co- tores tivessem plena consciência da teologia
nhecimento, resulta eme tudo o que sabemos dos ícones da maneira como foi elaborada
deve ser unido. Os russos usam a palavra pelos teólogos mais recentes. Contudo, pode-
vseedinstvo que, sobretudo a partir de Solo- mos afirmar que concepçãx > mística está
viev, exerce sobre eles uma hipnose que en- sempre presente na pintura dos ícones.
canta e conquista os espíritos. Para ele, o pro- Ficaram célebres, nos séculos XI e XII, os
blema fundamental era reunir as três formas centros iconográficos de Kiev, Novgorod e
de conhecimento que encontramos na cultu- Jaroslav. Os artistas da escola de Vladimir e
ra européia: empírica, metafísica e mística. de Suzdal trabalharam sobretudo nos séculos
XII eXllI, eo ícone russo alcançou o seu
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desenvolvimento mais alto e a sua idade de
ouro no final do

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MÍSTICA RUSSA
mico" do coração, porque o homern é o que fez antologia Conversações sobre a oração de Jesus
ontem, o que faz hoje e o que fará amanhã. (Serdolxd 1938). Contudo, autores rerio-mados
Não somos capazes de um ato que dure para a como Inácio BrjancarnnoveTeófanes,
eternidade, afirmava —> Bossuet. Contudo, o 0 Recluso, pedem prudência ao recomendar
ideal dos cristãos do Oriente sempre foi "o essa prática. A oração do coração loí muito
estado da oração", a kaíastasis, ou seja, a associada à chamada oração de Jesus, à in-
disposição habitual que de algum modo vocação: Senho] Jesus Cristo, Filho de Deus,
mereça o nome da oração por si mesma, fora tem piedade de mim, pecador". Recentemente
dos atos que produz, mais ou menos com fre- ela ficou conhecida no Ocidente através das
qüência. Esse estado de oração é ao mesmo numerosas traduções do tarnoso Peregrino
tempo o estado de toda a vida espiritual, a russo,1*cm que há também a proposta de certo
disposição estável tio coração. Ter o coração método físico. Eis como o Peregrino o propõe:
voltado de modo estável para o Senhor sempre "Imagina o teu coração, abaixa os olhos corno
foi o ideal dos ascetas russos. Isso, porém, se olhasses através do peito, o mais profundo
exige muita atenção, que também tem dois que puderes, e escuta, ouvido atento, como
aspectos: primeiro é negativa, e em seguida, teu coração bate, um bali mento após outro...
positiva. A guarda do coração negativa Ao primeiro batimento, dirás ou perv saras
consiste no esforço contínuo de rejeitar todo Sendor'; ao segundo, Jesus ; ao terceiro, 'tem
pensamento maligno (logismos) que vem do piedade'; ao quarto, de mim'. Para exprimir-se,
exterior. É a arte de conservar o paraíso do a oração vocal utiliza uma palavra como
coração no estado da inocência. É exercício símbolo, que poder':» ser' substituída por um
tradicional retomado pelos ascetas russos e gesto e, pelas leis da associação, conexo a um
sistematicamente exposto na —» Regra de são pensamento. Ora, se essa oração estiver ligada
Nilo Sorskij (t 1508), que foi redescoberta aos batimentos do coração e à respiração,
pelos síartzy provenientes do movimento 'gesto primordial', a oração torna-se
filocálico. O coração que não é mais vulnerável inseparável da vida, e então torna-se a 'oração
às impressões externas torna-se fonte de do coração'
inspiração sob a forma de pensamentos
interiores. A atenção positiva se concentra em Xlll. A sofiología. I loí enskij observa que a
agarrar esses pensamentos que vêm "de idéia da Sabedoria divina "toca a consciência
dentro", porque certamente vem de Deus. religiosa russa nas próprias fontes e nos
Saber escutar essas inspirações do Espírito fundamentos profundos da sua originalidade".
chama-se "a oração do coração". P. Evdo- Di/er "a RLissin" e os "russos" sem a Sofia,
kimov faz a seguinte descrição: "O intelecto seria uma contradição em termos. A so-
associado ao coração c reduzido ã sua nudez 1 iologia russa se apresenta como a síntese
pré-conceitual supera a razão discursiva (dia* de cosmologia, antropologia c teologia.
un ia) , abandona a harmonia dos iulüamcn Enquanto tal, ela remonta a Soloviev. Em
tos (método escolástico) e postula a superva- seguida foi elaborada e desenvolvida por
lorização de si mesmo em níveis cada vez mais Florenskij, Bulgakov, V. Zen'kovskij c V. I.
profundos até tornar-se o lugar de Deus". Ern. Grandes poetas como V. Ivanov, entre
Saboreia unicamente a —> presença de Deus outros, dedicaram-se a seguir os caminhos da
no coração. Contudo, a consciência humana sofiología e a descobriras bases do seu
está, necessariamente, ligada a algum símbo- simbolismo. Os fundamentos escritos a que se
lo. O batimento do coração material não pode remete são os seguintes: Pr 8.22-31; Sb 7.25-
tornar-se sinal eloqüente dessa presença do 28; SI 104,24. Segundo Evdokimov, a
Salvador no ser humano e do esforço humano sofiología é oriunda diretamente do
de harmonizar a sua vida com ele? A tradição palamilismo: "De são Basílio a —> são
bi/aiitina conhece a "atenção física" ao Gregorio Pal a mas, a tradição é unânime e
coração, está ligada aos exercícios que se as- imutável: distingue entre a transcen-dência
semelham à yoga. lala-se de certos "suportes radical de Deus em si e a imanência das suas
exteriores" da oração: a cela escura, posição manifestações no mundo". A sofiología russa
humilde do corpo, a fixação da atenção ao loi objeto de numerosos estudos,
coração material, ao seu batimento, o controle o resultado, porém, talvez tenha sido deplo-
da respiração. Seguem-se determinados rável, e não poderia ser diferente, porque de
fenômenos físicos: a sensação de calor, as lu- sejava-se encerrai' ein noções racionais o que
zes etc. Essas práticas eram conhecidas tam- deve permanecer como visão espiritual intui-
bém nos mosteiros russos, conforme atesta a tiva de "tudunidade". Com efeito, à Sofia se
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MÍSTICA RUSSA 75U
interligam as experiências místicas cie Solo-
viev, de Bulgakov e dos demais. A visão da
juventude foi decisiva para Soloviev: "Tudo

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MOU NOS, M [(il kl. DH 758
trou o seu ensinamento na —> "contempla- época, a "mística" não é simples experiência
ção", como chave do progresso na vida espi- para todos os cristãos. Só pode ser conside-
ritual. Nenhum otnro caminho é Ião seguro, rada como tal a que alcança determinados
rápido e eficaz para este progresso quanto o graus ou níveis, isto é, a experiência particu-
cio > "recolhimento interior", do —> "silêncio larmente qualificada. Neste sentido deve ser
interior", "da paz segura" e da "contemplação". impostado o misticismo de Aí.
Dai o empenho em ensinar aos mestres Não se lhe atribuem experiências típicas
espirituais a fim de que assim pudessem in- como as da fenomenologia mística, nem es-
troduzir e guiar as almas. Penetra-se no ca- creveu páginas de caráter narrativo ou des-
minho interior do recolhimento ou no do "si- critivo em que se percebem vestígios auto-
lêncio interno e místico pela —> meditação, biográficos inconfundíveis. Apenas surge a
porem é necessário superar o mais cedo pos- suspeita nos casos em que relembra expe-
sível esta etapa para avançai' na via contem- riências como a de Gregório Lopez (cl. Guia
plativa, que por sua vez compreende duas 1.17. p. 197-198). Não há também declarações
etapas ou formas: uma ativa ou adquirida e explicativas sobre a sua vida mística da parte
outra infusa ou passiva; a primeira é possível das testemunhas chamadas a depor na
a todos, porém é imperfeita; a segunda, é dom condenação, ainda que deixassem a suposição
gratuito de Deus e é concedida aos que se dis- de que ele possuía dons especiais na direção
põem de modo conveniente. É ponto-chave espiritual e era "guia fiel e luminoso" {Ibiã. 89-
para a interpretação de M. a distinção dessa 92). Não resta dúvida de que A/, transbordava
dupla contemplação, porém carece absoluta- do "misticismo" ambiental que o cercava
mente de originalidade. Fora difundida prin- através dos livros e dos contatos com outros
cipalmente pelos autores da escola leiesiana, e mestres espirituais.
se converteu em lugar cornum, também na Insistia repetidamente na distinção entre
escola dominicana, conforme atesta João de livros e mestres místicos e uào-misiieos, po-
Santo Tomás (í 1644). rém, segundo ele, "místico/a" é adjetivo que
Um requisito indispensável para alcançar a qualifica a teologia, a doutrina, a sabedoria
contemplação tranqüila e pacífica é a negação etc. e equivale à contemplação c outros sinô-
do gosto sensível e do amor próprio. Por sua nimos. Não chega à formulação da realidade
vez. Deus purifica os que deseja unir a si por ou conteúdo com o simples nome de "mística",
meio de terríveis "martírios espirituais". Para aplica o adjetivo tanto á teoria quanto à
M.t o diretor espiritual joga com carta prática, mas só esta merece tal qualificação:
importante neste caminho, porque precisa não "A ciência mística não é do talento, mas da
só da ciência mas também da experiência e da experiência; não é inventada, mas experimen-
"vocação divina". Nas orientações do diretor, tada; não lida, mas recebida e assim muito
ou mestre espiritual, ele separa o que deve segura e eiicaz, de grande auxílio e pleno fin-
aconselhar em matéria de -■■> penitencias to. A ciência mística não entra na alma pela
exteriores e corporais, mas, sobretudo, quel* escuta nem pela leitura contínua dos livros,
que se dê impulso às almas para o caminho mas pela infusão livre do lispíiito divino...
interior da contemplação no momento Lista não é ciência teórica, mas prática, e su-
oportuno. As almas devem prestar-lhe obe- pera com enorme vantagem as mais conhe-
diência "simples e pronta". cidas e propagadas especulações" (Ibidem,
Nesses pressupostos se apoia a doutrina Pfocmio, 103-104). A/, não oferece exposição
mística de M. Não é fácil determinar se pro- organizada ou sistemática da mística, só as-
cede também da experiência pessoal. Contudo, pectos e traços dispersos, sempre partindo da
seria contra-senso se fosse considerada a idéia repetida de que se trata de experiência
visão imoral da sua vida, tal como aparece no íntima enriquecedora, que os "dotes pura-
processo, seria a negação radical de toda a mente especulativos" não alcançam. O cami-
mística cristã. Em contrapartida, o apelo para nho da mística é d ire to para chegará —>
uma experiência no caminho do recolhimento união com Deus e são muitas as almas
íntimo, do silêncio interior e místico é chamadas a ele, porém não conseguem chegar
permanente em seus escritos. Nunca con- se elas se contentam apenas com a meditação
fessou ter tido pessoalmente uma experiência ou se detém nela. "Nenhum dos que seguem
mística, deixa, porém, entrever claramente este caminho, que chamam escolástica,
que não se pode nem talar nem escrever de chegam por meio dele ã via mística, nem à
modo conveniente, com "autoridade moral" excelência da união, (tansloimação,
sobre estes temas sem experiência. Para M., simplicidade, luz,
como também para os escritores clássicos da
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paz, tranqüilidade e amor, como consegue
experimentar quem é conduzido pela graça

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MORAI. 764

Ics que sejam expressas e vem em auxilio nes- Human Values and Christian Morality, Dublin
sa parte. Tal tipo de amor não depende da 1970; Id., // Verbo si fa came: Teologia morale,
reciprocidade, mas começa com o amor pelos Casale
Monferrato 1989; 11 Cf. B. I latine, I.theri e fcdeli
que nos amam (como o amor dos malvados e
m Cristo, 3 vols., Alba 1980-1981; uCf. J.L.
dos que não conhecem a Deus: cf. Ml 5 ,4ós), Lorda,As-cética v mística de la liberta d, in
depois passa pelo amor aos inimigos e aos que Scripta Tl teológica, 28 (1996), 869-884; 15 Cf. G.
nos odeiam. Aqui se conserva a relação Moioli, Mística cristã in Dicionário de
dialógica enquanto o cristão compreende que espiritualidade. São Paulo, 1989; lr 'Cí. João
também o inimigo é digno do amor de Deus, Paulo II, encíclica Veritatis Splendor; tin. 65-
ou seja, do próprio amor. Finalmente, o ágape 6S;K. Demrner, A opção fundamental in
Dicionário de moral. São Paulo, 1998; Cf. B.
é sacrificai (cf. Jo 15, 16), não tanto no plano Hating, Santificação e perfeição, in ibid.: '* Cf. S.
raro do martírio quanto, em vez, no cie Baslianel, Con-versão, in /hid.; J" L. Bon iello,
assumir atitudes sacrificais de disponibilidade Prefazinue al libro di L. Ceccarini, I a morale
com o próximo, sem reservas e sem limites. come Chiesa, Nápoles 1980, XVII; D.
Este ponto está diretamente interligado com Tcllaniaii/i, Culto, in Dizionario Enciclopédico di
Teologia Morale, diriüido pot L. Rossi e A.
o de ser vítima: a adoração e o ágape são os
Valsecchi, Roma 1973, ISO; : R H. SC: 2! Cf. F.. Rut-
dois eixos da vida cristã, da mística e da m. fini. Celebração litúrgica, in DE;24 Cf. S. Tomás
Tornar-se vítima junto com Jesus é expresso de Aquino, S7h III, q. 63, aa. I -6; ?- Cf. M. Sbafl
fora do âmbito estreitamente eucarístico com o i, Caridade, em DE; 26 C. Spicq. Agape dans D'
ágape sacrificai. Tornar-se vítima na oblação Nouvcau Testament, Paris 1958-1959; A. Nvgren,
da missa significa vivenciar isso nas relações Agape and Eros, Londres 1953; T Barosse, The
interpessoais. E verdade que às vezes o amor* Unity of the Two Charities in Greek Patristic
Exegesis, in Theological Studies. 1 5 (1954), 355-
pelo próximo é seriamente ameaçado porque 388; G. Gilleman, The Primacy of Charity in
pretendemos reciprocidade de forma e nível da Moral Tfieologx, Westminster 1959; M.
maneira como os projetamos no outro. Quando Williamson, A Return to imv, Nova York 1992; 27
a esperada reciprocidade não chega, a relação Cf. H. Hendrix, Getting the U n e You Want,
interpessoal pode Neve York 1990; Id., Keeping the Dne You Find,
degenerar - em luta de poder que poderá ferir e Nova Yur*k 1993; 2* Cf. P. Teilhard de Chardin,
// fenómeno umano, Milão 1968.
destruir em vez cie enriquecer e construir o
outro.-7 B UM .; Aa.Vv., Toward Vatica>t I I I : The Work
that Needs to he Done, D. Tracv-H. Kung-J.B.
Met/, (org.), Dublin 1978; Aa.Vv., Mystique, I n
Conclusão, Hoje, a tn. assume o seu ponto DSAM X; E. Ancilli, Santità, in AA.Vv.,
de partida do centro do Cristo e da impor- Dizionario di Spiritualitã dei htici, I I , Milão 1981,
tância da pessoa, imagem de Deus e, então, 247-268; T. Barosse. 7'hc Uni/y o f the Two
Charities or Greek Patristic Exegesis, in
diuna da liberdade de filha de Deus. A mísli-ca Theological Studies, 15 (1954), 355-388; S.
laz o mesmo. Juntas, conduzem ao conceito do Baslianel, Conversão in D I M : PL. Boracco,
Cristo cósmico, curador de todas as Ascese e disciplina, in Dicionário de teologia
fragmentações humanas, tornando lodo ser moral, São Paulo, 1 998; J. Castellano, M i f t ale
e spiritualitã, in DES 11,1670-1676; G. Celente,
humano são e completo nessa mesma imagem Trends 2000, Nova York 1997; S. Consoli.
divina."s Religião e moral, in Dicionário de tet dogia mor (d.
São Paulo, 1998; K. Demrner, Opção
N OTAS : 1 B Honmiís, Morale, in DES II, 1667; 1 fundamental, in Dicionário de teologia moral.
Cl G. Celente, Trends 2000, Nova York 1997; ' J. São Paulo, 1998; J. Fuchs, Human Values and
Rcdfield. The Ceies tine vision: Li vine the New Christian Morality. Dublin. 1970; Id., // verbo si
Spiritual Awareness, Nova York 1997, XVII; 1 Cf. ja carne: 'Teologia morale, Casale Monferato
P. Valadier. Morale et viespuituclle. in DSAM X. 1989; G. Gilleman. Il prtmato delia carita in
169«-1717; 5 Cf. .]. Castellano, Monde e teologia morale, Brescia 1959; T. Got'li.
spirilualitã, in DI'S II, 1 h70-1 676: 6 Cf., por Eticospirituale: Dissonante nell'unitaria
exemplo, o estudo sobre teólogos individuais annonia, Bolonha, 1984, B. J taring, Tiberi e
de T. Liotti, lítica spirituale: dissonante neli runit fedeli in Cristo, Alba vol. 1 e 2: 1980; voL 3: 1981;
aria annonia, Bolonha 1984; ' Para anipla bi- Id., Sttntificação e perfeição, in Dicionário de
teologia mouil. São Paulo, I99S; H. Hendrix,
bliografia, cf. Aa.Vv., Mystique, in DSAM X, Getting, the Lwc vou Want. Ni ova York, 1990;
1889-19W; • Cf. LG 5,40; cf. E. Ancilli, Santità, in Id.. Keeping the Love You Find, Nova York 1993;
Aa.Vv. Dizionario di Spiritualitã dei Unci. II, B. Honings, Morale, in DES I I . 1666-1670; I I .
Milão 1981, 247-26*;*O". CR. Vnpn\\. tnduismo, Kung, Essere Cristiani, Milão 1976; J.L. I .orda,
m D f í S U , 1301-1308; 11 Cf. T Spidltk, Oriente Ascética v mist a. a de la lifter tad. in Scripta
Cristiano (spiritualita dell), in D E S U , 1777 1787; Iheo-loçica, 28 ( ) 9 Í ) 6 ) , 869-884; G. Moioli,
: 1 A. Soliiinac. Mystique, Introduction, in DSAM
Esaerienza Cristiana, in Dicionário de
X, 1889-1893; 52 Cf. lí.Kung, On Being a espiritualidade. São Paulo, 1989; Id., Mística
Christian. Londres 1978, c. I, 4; J. Fuchs, Cristiana, in NDS, 985-1001; D. Mongillo,
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Virtude, in Dicionário de teologia moral, São
Paulo, 1998, N v u t c n , Agape and Eros. i<a nozjone
crisliana dcliamorc e le sue manifestation!,
Bolonha 1 9 7 1 ; G. Piana, Iniciação crista, in
Dicionário de teologia moral, Sãn Paulo, 1998; S.
Privilera, Experiência moral, in Dicionário de
teologia moral, São Paulo, 199S, 149 354, J.
Redficld. The Celes'ine Vision: Living the New
Spiritual Awareness, Nova York, 1997; K.
Ruffini, Celebrationis litúrgica, in Dicionário de
espiritualidade, São Paulo. 1989. 1 5 4 - 1 7 6 ; M.
Shaiii. Carita, in Dicio

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78 NEWMAN JOHN HliNKY
1

força extraordinária durante a vida inteira; a presente na Igreja, na história, em cada fiel,
providência, porque mais que artigo de fé, para guiar seus destinos. Aliás, Deus se
tornou-se para ele fato de experiência encontra em plenitude só na Igreja, "o único
[Ibidem, }34). .V. era consciente do seu * santo e católico corpo em que habita a pre-
estado místico, porém também sabia que não sença de Deus" iParocbial Scrmons VI, 172).
era conquista sua mas dom do alto. Entre Talvez ninguém mais que \. enxergou com
esses dois pólos, o valor da —> contemplação e tamanha lucidez e sol revi paixão mais sofrida
a incapacidade do estorce» humano para a necessidade da Igreja para encontrar' a
alcançá-la, prostrou-se diante de Deus com — Deus, loi o seu drama: "Ou a Igreja católica,
> oração insistente. O sentimento dos OU O ateísmo" (Apologia, 271). Encontramos a
encontros do passado deixara nele doçura Deus por meio de Cristo, chefe e razão de ser
inefável e nostalgia profunda, então rezava da igreja, que anima e santifica com seu ser e
para que se renovassem: "Senhor, torna-me com a sua ação: desse fato nasce a união com
capaz de crer como se te visse, laze que a Igreja (Sermons o f th e Subjects o f the
sempre lenha a ti diante dos olhos como se Day, Londres 1S73, 354). Nessa perspectiva
estivesses corporal e sensivelmente presente. ela apresenta-se como a revelação de Deus,
Faze que sempre esteja em comunhão contigo, como o seu representante na terra. Assim N. a
meu Deus vivo e escondido. Tu estás no mais viu, especialmente nos momentos decisivos da
profundo do meu coração (in my innennos sua vida, como no inicio do Movimento de
lieari i" (Ibidem, 276). Notável no texto a Oxjord, quando escreveu: "Somos responsá-
expressão Tu estás no mais prolundo do meu veis somente diante de Deirs e da Igreja"; "Se-
coração" que evoca a - > linguagem dos guiremos o nosso caminho segundo a luz dada
místicos, para quem o encontro com Deus se por Deus e pela Igreja". 1
dá no fundas animae. Além que da Desses dois textos emerge o seu pensamen-
Eragilidade humana, a dificuldade da to místico: para ele Deus e a Igreja ocupam o
contemplação deriva da transcendência de mesmo plano, possuem a mesma sabedoria e
Deus, porém diminui á medida da elevação do autoridade; são inseparáveis, parecem iden-
ser humano e da sua transformação nele, é tificar-se. Nessa luz. resolveu o problema ini-
essa a graça que N. suplica com insistência; cial da Igreja visível e invisível, carismática e
"Ensina-me, ó Deus, a contemplar-te de institucional. Deus é personificado pelos bis-
maneira a tornar-me como tu, e a amar-te com pos que a governam em seu nome; verdade
simplicidade e sinceridade como me amaste. aceita e vivida profundamente por N., que a
Que o meu coração possa fundir-se e extraiu de —> Inácio de Antioquia. Com eleito,
conformar-se com o leu coração" (Ibidem, este ao comentar os casos de desobediência á
24]). autoridade eclesiástica escreveu: "Não se
3. Sentire Izcclesiam. Para.V. a engana o bispo a quem se vê, mas o bispo
experiência mística realiza-se na Igreja, é invisível, logo a questão não é com a carne,
nessa comunidade viva. humana e divina que mas com Deus, que conhece os segredos dos
ele sente e percebe a Deus. Raramente a vida corações". ;V. alirmou: Desejava porem prática
espiritual do homem foi marcada pelo sentido esse princípio ao pé da letra, e posso dizer
místico da Igreja como a deN. Paia ele, ela era com toda segurança que nunca o transgredi
tudo, representava o valor* supremo, o objeto conscientemente. Gostava de agir com a
das suas aspirações e buscas, da sua lê e do sensação de que o íazia sob o olhar do meu
seu amor, não menos que os penetrantes bispo, como se fosse o olhar de Deus" (Apo-
avanços do seu espírito. Sentia a Igreja com a l o g i a, ! ] ) . Este sentimento autenticamente
mesma intensidade com que sentia a Cristo, e místico sempre esteve vivo em ;V,, seja no pe-
a contemplava unida íntima e necessaria- ríodo anglicano como no católico. Assim,
mente a ele, como o "seu —> Corpo místico". quando se converteu em Roma e escreveu ao
Eis a grande realidade na qual ;V. estava Vigário Apostólico, Wiseman, para comunicar-
imerso, tanto que fora dela nada se poderia lhe o fato, "não encontrou nada melhor para
conceber nem explicar. Foi membro muito dizer-lhe que havia obedecido ao papa
ativo, animado pelo Espírito Santo, unido de do mesmo modo como havia obedecido ao
modo indissolúvel ã cabeça. Cristo, em comu- bispo da Igreja anglicana" (Ibidem,1 2 ) . É
nhão com os outros membros. Sua experiência verdade que a conversão marcou o final da
mística licaria empobrecida se permanecesse sua busca inquieta, mas também assinalou o
limitada a uma perspectiva individual, fora do início dos seus sofrimentos mais profundos,
horizonte eclesial. Deus não está presente só quando foi incompreendido durante longo
na alma, e sim e ao mesmo tempo está
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tempo. Não perdeu a coragem, porque sabia
qual é o destino que Deus reserva aos santos,

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789 \ OI VA D O H Si* [RITUAL
não se verifica o èxlasc místico, mas uma Iodas as coisas da terra, exceto daquelas que
imitação puramente externa; a alienação dos servem de ajuda no serviço de tão grande
sentidos externos se dá por causa da fraque- Senhor". 1* A alma goza, portanto, de —> "paz e
za da alma, que ainda não está em condição tranqüilidade, que deve ser entendida somente
de suportar o enorme peso da contemplação segundo a parte superior, porque a parte
infusa.10 sensitiva, até o —> matrimônio espiritual, não
Nessa suspensão, a alma experimenta uma termina de libertar-se cie seus defeitos", Ví Na
profunda escuridão; mas, ao despertar, diz —> linguagem simbólica, as graças são
Teresa, tem a certeza cie 1er estado em Deus designadas como visitas do Amado c, em
e de Ler adquirido riquezas divinas, porque terminologia mais técnica, como — > "toques
"conserva o uso de suas faculdades internas, de união, uniões" e "comunicações",
não estando aqui como num estado cie des- consideradas por João da Cruz corno
sobrenaturais ou místicas. 2" A duração do tt.
maio e paroxismo, no qual não se tem per-
espiritual não pode ser determinada, mas é
cepção de nada, nem interna, nem externa;
uma passagem obrigatória para o matrimônio;
todavia, ela não sabe dizer nada".11
essa passagem se verifica quando a alma tem
Não obstante, nem a santa sabe dar urna
todas as disposições para a união perfeita.
explicação desses > fenômenos extraordiná- Segundo o doutor místico, "se bem que a alma
rios: "Pelo que posso compreender, a alma esteja muito purificada de todo afeto da
nunca esteve tão desperta para as coisas de natureza (porque o esponsalício não se efetua
Deus, nem com tanta luz e conhecimento de a não ser sob essa condição), ela tem
sua Majestade como nesse caso. Parecerá necessidade de outras disposições positivas da
coisa impossível... E um segredo que eu não parte de Deus, de suas visitas e de seus dons,
compreendo, oculto talvez a toda criatura e mediante os quais ela é tornada mais pura,
conhecido só do Criador". 12 mais bela e mais delicada, portanto,
convenientemente disposta para união ião
III. Natureza do tu Embora se dê no âmbito sublime". 21 Por isso, o santo julga que "se re-
do êxtase, o n. consiste substancialmente na quer tempo, para uns mais, para outros me-
qualidade superior da união com Deus, união nos, para que Deus realize seu trabalho,
não só afetiva, mas também quase real, a qual adaptando-se à natureza da alma", blindando-
se verifica quando Cristo se une à —> alma, se no exemplo, que ele aduz, das doze servas
não ao centro dela, mas à sua parte superior, de Assuero, ele parece aludir a um ano." Santa
não como hábito, mas como ato.13 "No Teresa, examinando seu próprio caminho, fala
arrebatamento dos esponsais não há somente de mais anos,23 que o padre Maria Eugénio
um contato que enriquece, mas também uma reduz a doze, acrescentando: "Não se pode
verdadeira união com Deus, Mais: a escuridão dizer que o prolongamento seja devido à
da união mística é substituída por uma luz infidelidade da santa, uma vez que estamos
ofuscante. A alma se une a Deus com os olhos nos anos que incluíam os trabalhos de
abertos. Ela tem consciência de sua união e fundação de seus mosteiros". 24 Por isso o
descobre profundos segredos divinos".14 A mencionado padre conclui: "O n. espiritual não
veemência com a qual Deus transporta a alma é um encontro destinado a fixar as condições
é irresistível; e a luz que ilumina essa torça de união definitiva muito próxima. Ele inicia
leva a alma "por inteiro para uma região muito um período de preparação positiva, que as
diferente da nossa, na qual, numa luz que não experiências do matrimônio tornarão ge-
tem comparação com a nossa, sáo-lbe ralmente mais longo; período não de simples
mostradas coisas lao grandes que, por si espera, uma vez que os lavores extraordinários
mesma, ela não poderia imaginai, mesmo que c a fecundidade sobrenatural o tornam já
trabalhasse em torno delas por toda a vida".13 irradiante por causa das retrações dos fulgores
Nesse estado, a alma recebe "grandes e dos cumes".
numerosas comunicações, muitas visitas, dons
N OTAS : 1 Teresa di Ges ti. Castelo interior V, 3,3; 2
e jóias do Esposo, como uma noiva, à medida li. Baecetti, // Cântico dei Cantici uella tradizione
que se aperleíçoa no amor a ele". 16 Mas o dom monástica, i n C. Vagaggini — G. Penco, Btbhia espi-
maior é o próprio Deus, isto é, "o alto estado ritualità, Roma 1967, 391; 'T. Alvarez, Matrimonio
de união de amor no qual, depois de um longo spirituale, in D ES II, 1544; 4 Teresa de Jesus. Vida,
exercício espiritual. Deus coloca a alma".17 14-17; 1(1., Pensamento sobre o amor de Deus, 3 5; cf. J.
Além disso, Deus lhe dá "o conhecimento de de Guibert, Theologia spiritualis ascética et mystica, Roma
1946, 415-416; - Teresa de Jesus, Castelo interior
sua grandeza..., a —> humildade e o
conhecimento de nós mesmos..-, o desprezo de
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789 \ OI VA D O H Si* [RITUAL
V, 4,4; Vida, 20-21;* Id.. Castelo interior V I . 4.2,
5,8; Vida, 20,2-3; João da Cruz, Càn

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ORAÇÃO 804
mente à mente os exilados do profeta Ezequiel, com perspectivas messiânicas, não con-
aos quais Javé promete: "Dar-lhcs-ci um formes ao anúncio de Jesus.
coração novo e meterei dentro deles um es- A intervenção do viajante Jesus apelava
pírito novo; tirarei de seu peito o coração de para o núcleo bíblico dos cantos de» Servo
pedra e lhes darei um coração de carne, para sofredor. E Jesus, depois de ter aceito o con-
que sigam os meus decretos e observem as vite para passar a noite com eles, revela-se no
minhas leis e as ponham em prática; serão o ato de partir o pão; logo em seguida, porém,
meu povo e eu serei o seu Deus. Mas aqueles some da vista deles. O regime de Té é a
cujo coração segue seus ídolos e suas abomi- estrada-mestra cio nosso comentário. O co-
nações conhecerão a paga pelas suas obras, mentário dos dois discípulos é importante
diz o Senhor Deus" (11,19-21) e "vos darei um para fazer emergir a o. e a escuta da Palavra
coração novo, porei dentro de vós um espírito corno alimento espiritual paia a caminhada da
novo, tirarei de vós o coração de pedra e vos conversão evangélica humana. "E, uma vez á
darei um coração de carne. Porei o meu mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o,
espírito dentro de vós e vos farei viver segundo depois partiu-o e distribuiu-o a cies. Então
os meus preceitos e vos farei observar e seus olhos se abriram e o reconheceram; ele,
praticar as minhas leis. Habitarei na terra que porém, licou invisível para eles. E disseram
dei aos vossos pais; vós sereis o meu povo e um ao outro: Não ardia o tiosso coração quando
eu serei o vosso Deus" (36,26-28). ele nos jatava pelo caminho, quando nos
explicava as Escrituras? Naquela mesma hora,
II, Jesus e a o. - Nesse clima de o., a men- levantaram-se e voltaram para Jerusalém.
sagem evangélica de Jesus encontra um grau Acharam aí reunidos os Onze e seus compa-
de expressão singular. nheiros" (Lc 24,30-33).
Ao. é característica fundamental de Jesus, Jesus Ressuscitado apresenta-se como cha-
o qual revela-se, por isso, intérprete do ho- ve hermenêutica para o entendimento das
mem de fé, da tradição dos dois Testamentos. Escrituras e para fazer* delas o método pri-
Lucas, em seu evangelho, c< mio o la/em tam- meiro da o., tal é o sentido do texto lucano, á
bém os outros evangelistas, insiste de modo miisa de texto conclusivo do evangelho de
especial na figura do Jesus-que-reza: qualquer Lucas. Então, abriu-se a mente deles (dos
ação determinante para a missão de Jesus apóstolos, no cenáculo) para compreenderem
precede-a a o. (cf. I.c 3,2 lss; 6,12; 9,1o etc). as Escrituras. A comunidade de ié pascal de-
O ensinamento lucano destaca fortemente verá ser perseverante nessa acolhida da Pala-
ao. No capítulo 2, o evangelista está parti- vra, por isso deve permitir que Cristo lhe abra
cularmente atento a esse processo de lé que a mente, pata poder compreender as Escri-
chamamos o. A insistência (até à inoportu- turas.
nidade) na importância tia o. parece lema caro Não por acaso a tradição cristã, desde a
a Lucas. A o., em Lucas, expressa-se através origem, herdou esse método de o. profunda-
da pobreza do coração, nas parábolas do juiz mente ligado á escuta da Palavra. Nascerá,
iníquo e da viúva importuna (cf. Lc 18). assim, a experiência de o. expressa através da
Os sínóticos, unanimemente, fazem emergir lectio, da meditaiio, da oratio, da conlem-
o momento decisional da o. na narrativa da p t a f i o , da evangeliz/itio.
agonia de Jesus (cf. Mc I4,22ss; Mt 26,36ss;
Lc 22,39ss). Lucas, em especial, está atento à III. Homens que se fizeram que alcançaram
relação entre Palavra de Deus, sua escuta, o., os cumes da mística. É esse um aspecto paia o
e caridade perfeita, que mais adiante será qual a caminhada eclesial parece
chamada experiência mística aberta à evan particularmente voltada. É preciso evocar o
gelização e ao testemunho. A experiência dos Além, o acolá da instituição eclesiástica,
dois discípulos no caminho de Emaús, ás vés- reassumindo a pedagogia da fé, que continua
peras da Páscoa, parece particularmente em- sendo sempre vínculo de ascese da própria cai
blemática como proposta para a espiritua- idade, que orienta a o,
lidade pascal na caminhada de fé. Dois São Romualdo (1027) - segundo as fontes
discípulos caminham conversando sobre tudo históricas camaldolenses - é um desses exem-
o que havia acontecido. Lucas nota que os plos de pessoas que alcançaram a unidade
olhos deles eram incapazes de reconhecer entre Palavra de Deus, o. e experiência mística:
Jesus, que se juntara a eles na caminhada "Entra na cela como num paraíso. Esquece e
como viajante qualquer. A conversação é nar- deixa para trás o mundo lodo, atento aos
rada como uma crônica sobre os aconteci- pensamentos como um bom pescador está
mentos ocorridos em Jerusalém naqueles dias, atento aos peixes. Única via. o saltério. Se tu.
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p
PACÔMIO (são) e 4,32. Ela comporta vários aspectos: a. a
unidade num espaço físico recluso; o porteiro,
I. Vida e obras. Nasceu no nomo de encarregado Lia admissão das pessoas, tem a
Esneah (Tebaida superior), de família pagã do função parecida com a de mestre de noviços;
sul do Egito. Converte-se depois de obser-var b. a vida é organizada de acordo com uma
a caridade dos cristãos em relação aos Regra comum; é, pois, uniforme; c. os mem-
recrutas imperiais. Ingressou na escola do bros de grande família espiritual têm nome
eremita Palamão (t 320 aprox.), mas logo comum, a mesma veste e, salvo algumas ex-
decide organizar uma "aldeia cristã", reunindo ceções, vigora a comunidade da mesa e a
monges de vida comum disciplinados como um uniformidade dos alimentos; d. comunidade na
corpo único. Muitos o seguem, e por isso —» liturgia: os confrades se reúnem todo dia
reúne, em vários mosteiros - especialmente em para um "recolhimento"; e. comunidade no —>
Tabennesi e Pebow militares de irmãos e trabalho; f. a vida é "comum" também no
também irmãs. Pouco antes de sua morte — sentido de que é suportável para todos, pois se
ocon ida em 9 de maio de 346, ou, talvez mais evitava o excessivo rigor dos solitários. Leigo
precisamente (segundo as íon-tes coptas), piedoso, P. não desfrutou de formação teórica,
nessa mesma data cm 347 -, por causa de embora possuísse sólidas noções de —>
uma epidemia que eclodiu entre os seus teologia e de ascética, extraídas da -> Bíblia.
monges, é submetido ao julgamento de um Em suas Catequeses está bem presente a
Sínodo de bispos locais, em LalópoHs, mas a figura de —> Cristo "pastor- das ovelhas
firmeza dos seus discípulos salva-o da perdidas", que oferece a sua vida em —> sacril
condenação. iVi<». É Cristo, Verbo eterno, quem liberta a
Dentre seus seguidores, Teodoro é o que descendência de Eva da escravidão
conserva as recordações mais vivas dele em do — > diabo. A vida monástica oferece ao
Vidas coplas e em Vita prima, em grego (re- monge, através da —> oração, do —* jejum, da
digida, talvez, antes do texto copla). As outras -» vigília, da humildade, da -> caridade, meios
vidas em grego e a vida em latim, que dessas válidos para lutar contra o demônio e o —>
obras dependem, afasta-se já da autenticidade pecado. Em relação, pois, ao ascetismo
segura dos documentos antigos. anacorético, P. enfatiza sobretudo o valor in-
Quanto às Regras, é difícil saber se foram Lerior da —* renúncia, realizada na koinonia
escritas antes da morte do fundador. Na tra- ou no compromisso com a vida fraterna.
dução de —> Jerónimo, apresentam-se em Homem de Deus, R é a figura do monge per-
quatro coleções nào-concordanles. Em copla, feito, do taumaturgo, do visionário, em resu-
encontraram-se apenas fragmentos delas; em mo, do homem que através de dura ascese,
grego, há só reproduções. praticada sobretudo na vida fraterna, chega à -
R é também o autor de cartas cm linguagem > união mística com Deus. Por esse motivo,
críptica, traduzidas por Jerônimo, descobertas com razão os coptas, em dois hinos, o louvam
recentemente em copta e em grego. Foram como "a ürande ámtki" (CSCO 107, 140, 142).
encontradas também algumas catequeses Mais tarde, seu ideal será retomado por são
coptas. Basílio, na Capadócia, e se tornará a forma
As Vidas fazem de R adversário de Orí-genes; tradicional do monaquismo da Igreja.
contudo, parece certo que na comunidade
foram reunidos livros "gnósticos", encontrados B IBL .: Obras: L. Th. Lefort, Les vies coptes de s.
Pa-chôme, Lovaina 1943, 1966; Id., Oeuvres de s.
em Nag Hammadi, que talvez lotam escondidos Pa-chôme et de ses disciples, CSCO 159-160,
ali por ocasião de alguma visita canónica. Lovaina I95 Õ : F. Moscatelli. Vita conta di S.
Pacomio, Pádua 1981; Pacomio e i suoi discepoli.
II. Doutrina mística. Na história da es- Re gole e scritti. Inirod., trad. c note di L
piritualidade cristã. é considerado o fun- Cremaschi. Magnan» 1 lJS8. Estudos: li.
dador do tipo monástico de "vida comum" Bacht.s.v., in DSAM XII/I, 7-15; Mo-c, ache s i
(koinos b i o s ) , que tem corno ideal a comuni mo e Chicsa. Studio sulla spiritualità di
Pacomio, in J. Daniélou-M. Vorgrimler, Sen tire
dade ikomonia) perfeita descrita em At 2,33 cccle-siam. L:> c i -scioiza delia Chtesa come for*\a
Material com direitos autorais
plas-matrice deita pietà, Roma 1964, l 93 -224;
M. Caprio

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82 l'Ai
5

II. Ma reflexão teológica. I. Antes do Concílio U P , fonte da divindade, é superior ao Filho,


de Nicéia (325). A primeira elaboração teológica porque é autotheós. Sua bondade leva-o a
a respeito de Deus-/? foi desenvolvida no séc. comunicar-se. Por isso, gera livremente, sob o
II pela guose heterodoxa. Em sua eternidade, impulso do amor; o Verbo, imagem do seu
Deus, imerso na contemplação do seu próprio pensamento, paia nele podei* revelar-se e co-
pensamento, ainda não era P , mas apenas municar-se aos homens. Por meio da Encar-
Deus. Começou a ser P. quando, livremente, nação, o homem Jesus é Filho de Deus. Os
gerou o Unigénito do seu próprio pensamento, homens recebem a —> filiação adotiva como
para criar, por meio dele, o mundo e participação na filiação divina do Verbo feito
comunicar assim aos homens a sua vida carne.
divina. Essa interpretação da paternidade 2. Os Padres orientais do séc. IV até o séc.
divina excluía, porém, o caráter divino do VI (particularmente Gregório Naz.ianz.eno,
Unigénito, porque, na realidade, designar* a Gregório de Nissa, Basílio Magno. Cirilo de
Deus como P. significava afirmar que ele é Alexandria. Máximo, o Confessor) desenvol-
Criador e Senhor de tudo (=pautocrator). Em veram muito a teologia da Trindade. Eles con-
resumo, Deus é chamado P. porque domina tinuaram a afirmar a perfeita consubstancial
todos os seres com a sua onipotência criadora. idade das pessoas divinas e sublinharam a
Esse é o sentido da fórmula "creio em Deus hierarquia intradivina. A unidade da Trindade
Pai onipotente" (DS 2,6,9,13,15,54), com a tem o seu fundamento na unidade do seu
qual começam as mais antigas profissões de fé. princípio interior, que é o P , cujo caráter
Os apologistas dos sécs, II e III testemu- pessoal é o fato de não ter sido gerado
nham a lé da Igreja em Deus, P. de Cristo, seu (aghennesia). Corno é "princípio sem princi-
Filho divino, mas a sua teologia da paterni- pio", o P. gera eternamente o seu Verbo, e do P.
dade divina é fortemente impregnada de e do Filho procede o Espírito Santo. O P. é P.
subordinacionismo, por causa da influência da porque não procede de nenhum outro e porque
especulação gnóstica: Deus não era P. desde dele se originam as outras Pessoas divinas. O
toda a eternidade; livremente e antes do tempo R é, também, a fonte última da participação da
ele gerou a sua Palavra como pessoa distinta criatura humana na vida divina. De lato, o
dele. A geração do Unigénito, por Deus, visava Filho de Deus fez-se homem para transformar
à criação do mundo e devia manifestar" Deus os homens em filhos de Deus. Assim, tornando-
aos homens por* meio da sua Palavra. se P. cio homem Jesus, Deus tornou-se /' de
Ireneu confirma que o Verbo não é criado, lodos os homens. A Encarnação comporta,
mas não esclarece o modo como foi gerado, pois, a elevação da criatura humana à filiação
Parece, de* qualquer forma, que ele considera adotiva, isto é, à participação na v ida divina:
a geração do Filho mais como livre e pré-tem- esla começa com a ié em Cristo e termina na
poral do que eterna. O Unigénito possui a vi- visão beatífica do P, Desse modo, chega-se á
são direta do /!. por isso revela o P. aos ho- concepção profunda da paternidade divina: o
mens. Deus é P. por causa do amor com que se P, princípio sem principio, c também o
manifesta em seu Filho encarnado, morto e princípio último da divinização do homem por
ressuscitado por amor- aos homens. Deus /', meio do Cristo, no Espírito. Tal divinização
Amor amante, introduz, o crente nas pro- rcali/.ar-se-a dc-linitivamente quando o
funde/as do mistério salvífieo comunional. O homem ior elevado por mero de Cristo, no
—> mistério pascal é, pois, o sinal da vida di- Espírito, ao encontro direto com Deus P. Mais
vina, que se revelou na história da cru/, e da precisamente, a divinização do homem
ressurreição corno história do amor" trini- responde â lógica interna da "humanização",
tário/ Por meio da —> fé, esse amor do P., re- encarnação de Deus:"5 trata-se de intercâmbio
velado no Filho encarnado, permite aos cren- misterioso em que "cada um faz. st ias as
tes o conhecimento adequado aos filhos propriedades do outro". 5 A ação do Espírito
adotivos, para levá-los à direta contemplação Santo, presente no íntimo do crente, assume-o,
dele e (orná-los, pois, participantes da comu- pois, em comunhão viva com Jesus e com o P.
nhão intrati initár ia, em que a visão do P. —* Inácio de Antioquia recorda que os cren-
constituirá a total divinização do homem. tes são "portadores de Deus" (tlieophóroi)?
Muito mais claramente, —> Origeues afirma "plenos de Deus" Uheou gémete) 7 etc. Mas é —
que Deus é P. desde a eternidade, porque ele > Clemente de Alexandria quem dá a essa
gera o seu Verbo pessoal na eternidade, doutrina clareza e precisão, recorrendo ao
participando-lhe a própria substância divina. conceito de divinização: "O Verbo de Deus se
fez. homem a fim de que Lu aprendas de
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PAI Só é possível comunicar-se com o divino
Transcendente através de urna via: "O Verbo,
todo o desígnio tio P. cm sua realização his- 830
tórica. Quando, na cruz, o Cristo disse: "Tudo
junto com o P. e o Espírito Santo, está essen-
está consumado" (Jo 1 9,20), kt cumpria todas
cialmente oculto no centro íntimo da alma"."0
as preparações do AT. Aliás, o evento pascal já
Torna-se. pois, necessário voltar para a inte-
continha o conjunto do mistério da recapi-
rioridade e buscara união essencial de amor. 0
lulação: o que ocorreu corn o Cristo ocorre,
santo explicará, em seus escritos, que o amor é
no presente, com a Igreja, que é o seu -» Corpo
capaz, de superar a distância infinita, segundo
místico: "A tua beleza será minha. Eis a adoção
a afirmação de Paulo: "O amor de Cristo cure
dos filhos de Deus, os quais na verdade dirão o
excede a lodo conhecimento, para que sejais
que o Filho dizia cru são João: Omnia inca
pleniliçados com toda a plenitude de Deus" (El
tua s u m c t tua nica sunt (Jo 17,10), o que
3,19); por isso, a alma, através de -->
quer dizer: 'P., tudo o que é meu é teu, c tudo o
purificação radical, deve sair da srra condição
que é teu é meu'. Ele, por essência, sendo
baixa, criatura), imperfeita, para encontrar
Filho por' natureza; nós, por participação,
Deus de modo adequado: "Saí de mim mesmo,
sendo filhos adotivos; ele, pois, lalou não
isto é, do meu modo baixo de entender e da
apenas por si; como era a cabeça, lalou por todo
minha capacidade frágil de amar e da minha
o seu corpo místico que é a Igreja".37 Todo o
maneira pobre e mesquinha de experimentar
mistério da fé, da criação no Verbo até a
Deus". 41 A alma deve, pois, sair de si mesma
entrega do reino do P , última
por meio do exercício das virtudes teologais-
condição para que Deus seja tudo em lodos
que —> purificam e urrem - para encontrar o
(cf. ICor 15,24-28), se realiza, por isso, no
Deus de Jesus Cristo.
Cristo, em quem habita corporalmente a ple-
A dialética joanina de confronto e de opção
nitude da divindade (cf. Cl 2,29).38
entre o tudo de Deus e o nada da criatura
É importante notar que a finalidade própria
encontra a sua conclusão na união trans-
da busca humana da lace de Deus/?, para
lormante da alma em Deus, por amor e pela -
João da Cruz, não se situa no nível cia união
> graça,42 O homem, que possui "o ser so-
mística, mas no da vida eterna, que é visão e
brenatural a partir' do > batismo, permanece
posse. Diante do tudo de Deus - Tudo - a criatura
elevadt» a um nível supei 101, i n > qual p< >de
humana { n a d a ) deseja ardentemente ver a
se comunicar com Deus até chegar a inserir-se
essência divina e possuir Deus P., o
em sua vida inlralrinitária. 1 4
Transcendente divino. Esse Deus desejado nâo
Se no plano natural é impossível o encontro
é, pois. Deus abstrato, mas o Deus na Trindade
por- meio do conhecimento e tio amor* li-
das Pessoas. Comentando o versículo do
mitados ao âmbito finito e imperfeito, a pre-
Cântico dos ah nicos "Dize-me onde pastas,
sença da graça possibilita o desvelamento
onde repousas ao meio-dia?" (1,7), João da
autêntico de Deus, tal como ele é. A alma pode
Cruz diz que o entende como a pergunta
"vê-lo em seu ser divino e em sua beleza"/5
dirigida ao P : Perguntar-lhe onde pastava era
pode ver* o seu rosto de f \
pedir-lhe que mostrasse a essência do Verbo
Uma descrição da comunhão inlratrinr-
divino, porque o P. não se glorifica nem pasta em
lária cm si mesma encontramo-la também em -
ou iro a não ser' no Verbo, o seu único Filho; e
> Inácio de Loyola. "No Tc igitur lemos em seu
perguntai-lhe onde repousa ao meio-dia era
Diário espiritual ouvindo e vendo de modo não
pedir-lhe a mesma coisa, porque o P rrão
obscuro, irras luminoso, muito luminoso, o
repousa nem está em outro lugar a não ser no
ser mesmo ou a essência divina cm forma
Filho, no qual repousa, comunicando-Ihe toda a
esférica, um pouco maior do que o sol
sua essência ao
aparente, e dessa essência parecia que saía
meio-dia, isto é, na eternidade, na qual sempre
ou derivava o P , de modo que ao pronunciar
o gera".39 Eis por que, embora sendo fácil
o Tc, isto é, Pater, a essência divina apresen-
distinguir nas experiências místicas a que está
tava-se a mim atiles do P \ e nessa
centrada na noção de essência e a que destaca
representação e visão do ser* da Santíssima
a relação esponsal, é claro que, para o doutor
Trindade, sem distinção ou sem visão das
místico, tal distinção não pode caracterizai a
outras Pessoas, tanta dev<>çâoá coisa
experiência concreta: o Filho de Deus,
representada, com muitas moções e e/usâes de
consubstancial ao/?, éo Esp< vsoda alma; para
lagrimas; continuei assim durante a Missa a o
esta, desejai" possuir o Esposo e ver a Essência
msiderar, a lembrar-me, e outras vezes a ver a
divina pertencem ao mesmo movimento que a
mesma coisa, com muita elusao de lágrimas,
leva até Deus.
com amor intensíssimo pelo ser* tia Sanlrssima
Trindade, sem ver nem distinguir* as Pessoas,
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mas vendo daí sair ou derivar o /!, corno
disse".1'1

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PANTEÍSMO III. Negatividade do p. É fácil constatar
que o/?, contém negatividades muito graves. E
convincentes argumentos, os quais, cada vez contagiado pela avareza mental, ao negar a
que sobre eles refletimos, mais admiração variedade e a multiplicidade do criado sensí-
provocam, terminando por nos oferecer do vel, ao pôr no mesmo plano Deus e o mundo
homem uma idéia bem mais grandiosa e sensível. Claro, por causa da preguiça da men-
ampla do que qualquer especulação estranha te humana, o modo de pensar panteísta é
ao cristianismo. Há muitos temas que levam muito mais cômodo. O princípio agostiniano
direto a uma estupenda ideia da parte melhor acima recordado põe-nos diante não só do
do homem, que é justamente o espírito, abismo infinito que existe entre Deus e a cria-
fundamento primeiro de grandiosa doutrina ção, mas também entre a realidade espiritual
espiritual humana c cristã. humana e a realidade material. O mundo em
Procedamos por pinceladas sobre um ar- que vivemos não manifesta apenas uma
gumento que mereceria desenvolvimento muito grande variedade de seres em sentido
mais amplos. horizontal; temos também experiência coti-
2. —> Santo Agostinho, sobretudo no trata- diana da realidade sensível cm linha vertical,
do De Trinitate, com um dos seus costumeiros que ocorre tanto na escala dos elementos quí-
lampejos de gênio, enuncia grande princípio, micos nào-vivos quanto na escala biológica dos
assumido mais tarde por —> santo Tomás de vivos: do vegetal ao homem, cuja mente
Aquino: quando não se trata de grandeza em ultrapassa o mundo material. Toda a criação
sentido material (de massa corpórea), dizer sensível mostra admirável variedade de seres,
melhor é o mesmo que dizer maior. Ou seja: nas duas direções: vertical e horizontal.
nas coisas que não são grandes (no sentido da A filosofia moderna, além disso, quase sem
extensão), melhor e maior coincidem. exceção unívocizou os vocábulos imanência-
Para a nossa mente, habituada aos cálculos transcendência. E mais: em vez de coordená-
próprios da extensão, em sentido quantitativo los dialeticamente, como dita a experiência
(realidade espácio-temporal), passar da ordem imediata, colocou-os em oposição recíproca.
extensiva para a ordem intensiva é difícil, mas Tudo se reduz á imanência, de um lado, e à
frutuoso. A grandeza do espírito humano transcendência, do outro. A linha vertical da
situa-se claramente no plano intensivo. Do própria realidade material obriga-nos a reco-
princípio acima referido, Tomás (na nhecer que sempre que um ser é superior a
I, q. 76, a. 3) tira logo as conseqüências: "Se a outro-como, por exemplo, no ser vivo animal
alma é melhor do que o corpo, é também cm relação ao ser vivo vegetal -, sempre o ser
maior do que o corpo". Por isso, " é melhor superior transcende o inferior. E o transcende
dizer que o corpo está na alma, do que a alma não por exclusão e oposição, mas por presença
no corpo". É mais exato e mais forte. e inclusão mais concentrada. Nenhum ser vivo
Não se trata de uma superioridade incha poderia dizer-se superior a outro se não con-
da, vazia de conteúdo. É superioridade onto- tivesse - de modo superior, diferente e emi-
lógica, feita de riqueza de ser. Há mais riqueza nente - lodos os valores do ser vivo inferior.
de ser na superior, simples e intensíssima Mas quando se passa de um ente material a
realidade espiritual da alma do que em qual- um ente espiritual, o citado princípio agos-
quer massa extensivo-corporal. O universo tiniano reveste-sc de toda a sua grandeza. A
físico, com suas vertiginosas dimensões quan- superioridade ontológica de ordem espiritual
titativas, está todo espiritualmente contido na contém, para além de qualquer comparação,
intensidade e na profundidade relativamente todos os valores de ser dos entes materiais.
infinitas do espírito humano. O próprio Aqui Assim, como todos os valores de ser estão em
na te não hesita em afirmar, por conse- Deus de modo divino c criador, superior,
qüência, que o homem é todas as coisas. É a diferente, eminente, assim também,
totalidade do ser. analogamente, todos os valores do mundo
A alma humana, pois, não é apenas "forma material estão eminentemente presentes na
do corpo", ao qual comunica o ser, a unidade, essência espiritual da alma.
a atividade. É também espírito, com operações Diante desse fato, o p . manifesta todas as
claramente superiores ao espaço e ao tempo. suas fraquezas e deficiências, c é golpeado cm
Esse modo superior de ser, constituído por suas próprias raízes. As reflexões que fizemos
um tipo de existência interior e intensíssimo, encontram a sua plenitude no conceito cristão
ignora-o e suprime-o em todas as formas de p., de pessoa, no qual superam as fragilidades
que nivela a realidade espiritual com a dessa filosofia monótona que é o p . É
material. fortemente pessoal - aliás, tripessoal
842

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85 PAULO
7 (sào)

te aí que o termo "mística" revela toda a sua (2Cor 4,10). No texto de Cl 1,24 até se lê:
ambigüidade. Se R o entendesse em sentido "Completo na minha carne o que falta aos
pleno, deveria concebei" e experimentar unia sofrimentos de Cristo"; essa tradução poderia
espécie de despersonalização, que poderia ter a seguinte variação: "Completo o que falta
chegara desresponsabilizar a sua humanidade aos sofrimentos de Cristo na minha carne". A
(um pouco como, na história das heresias diferença não é pequena; de fato, se P. percebe
crislológicas, o apolinarismo, que sustentava a uma falha, ela não está na paixão de Cristo,
inserção do Verbo divino no lugar da alma cuja eficácia é plena, tendo até ressonâncias
racional de Jesus). Alguns enveredaram por cósmicas (cf. Cl 1,20); o déficit é na
essa via (cl. A. Deissmann), apoiando se na participação pessoal do próprio P. ("na minha
locução paulina freqüente "em Cristo (cl., carne") naquela paixão em si mesma su-
porex., Gl 3,28: Todos vós sois um só em Cris- ficiente. É esse o objetivo de seus cansaços,
to Jesus"), entendida até mesmo em sentido prisões, humilhações, naufrágios, fome e sede,
local. Mas a preposição local "em" é indicativa frio e nudez, perigos de todo tipo (cf. 2Cor
mais de metáfora, assim como, em correspon- 11.23 28). que ele enfrenta, como se todas
dência antitética, o homem tora de Cristo vive essas provações, paradoxalmente, nada mais
"na carne" (Rm 7.5) ou "no —> pecado" (Rm fossem que a concessão de uma graça: a de
6,1-2). Então, viver "em Cristo" não tem outro sofrer por Cristo (cf. Fl 1,29).
significado senão o expresso em Fl 3,8-9, em O Apóstolo, que não vê razão de orgulho
que P, declara que agora considera tudo "como nem de força na experiência de arrebatamento
esterco, para ganhar a Cristo e ser achado ao terceiro céu, mencionada quase que de
nele". Cristo tornou-se a razão de ser, o âm- passagem (cf. 2Cor 12,2-3), sente, por sua vez,
bito vital, a expressão da sua identidade cris- o peso de "um espinho na carne", que o Se-
tã: não pela troca, mas pelo distanciamento de nhor lhe destinou (cf. 2Cor 12,7); essa expres-
papéis pessoais, como se dá com o servo em são é identificada pelos estudiosos ou com al-
relação ao seu Senhor (cf. Rm 1 , 1 ; 7,4), ou guma doença ou, melhor ainda, com a
com beneficiário em relação ao seu benfeitor oposição obstinada dos seus adversários
(cf. Rm 8,31-39), em que os respectivos papéis judaizantes (e não mais, como se pensava na
não só não se confundem, como até são época patrística, com desejos sexuais indecen-
enfatizados em sua diversidade. tes). Mas a seu pedido de ficar livre disso, o
Há dois fatores que previnem P de cair na Senhor mesmo lhe responde: "Basta-te a mi-
armadilha da "mística" patià. Um é o conceito nha graça; de tato, LI minha força manifesta-se
de fé (cf. Gl 2,20b: "Vivo na fé do Filho de plenamente na fraqueza" (2Cor 12,9). É por
Deus..."; El 3,9b: "...com a justiça que deriva isso que ele pode se gloriar dos próprios sofri-
da lé em Cristo"), que mantém as distâncias e mentos: "Quando sou fraco, então é que sou
não permite que os dois pólos (Crislo-cristão) forte" (2Cor 12,10), p< >i que "tudo posso
se confundam; a fé, de falo, implica necessa- naquele que me dá força" (Fl 4,13). Como que
riamente um face-a-face que põe cada um no para dizei': em mini se repele o duplo
seu devido lugar, sem perigosas misturas: movimento do —> mistério pascal. A
"Amou-me e se entregou por mim" (Gl 2,20J! O experiência cotidiana da morte(cf. ICor 15,31)
outro é a reserva escatológica, pela qual a passa a ter significação a partir de dois fatos:
experiência histórica atual é considerada só do fato de se assemelhar à experiência de
uma parle Ináo ainda perfeita) do que carac- Cristo e do fato cie, como a de Cristo,
terizara * > luturo (cl. I'l >, I 2.1 3.20: "\a< > destinar-se ao triunfo da vida: "Na verdade, ele
que foi crucificado pela sua fraqueza, mas vive
eu já tenha conquistado o prémio ou chegado pela força de Deus; e também nós somos
à perfeição; ainda me esforço por conquistá- fracos nele, mas viveremos com cie pela lorça
lo... Esqueço o passado e volto-me para o fu- de Deus" (2Cor 13,4). Os diversos
turo, corro em direção ã meta... De lá espera- complementos pronominais "nele" e "com ele"
mos como salvador o Senhor Jesus Cristo"). expressam bem os dois diferentes estágios da
Em todo caso, a relação de P. com Cristo é relação pessoal com Cristo: respectivamente,
estreitíssima e sem comparações. Isso se vê agora na história, na qual a vida cristã é a
sobretudo na experiência dos seus sofrimentos imersão oculta em Cristo (cf. Cl 2,12), e, de-
apostólicos. Ele chega a falar dos "sofrimentos pois, no éschaton, quando Cristo será mais cla-
de Cristo cm nós" (2Cor 1,5), com a ramente companheiro de glória (cf. lTs 4.17).
consciência de "carregar sempre e por toda De qualquer modo, as vidas do Apóstolo c
parte, em nosso corpo, a morte de Jesus" dos cristãos são marcadas pelo amor do pró-

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prio Cristo, que não só "nos compele" (2Cor
5,14) mas, segundo o verbo grego synéchei,
"nos possui, nos estreita, nos segura com as
mãos" e não permite que nenhuma outra força

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863 A p . , dom do Espirito, não deve ser consi-
derada utopia. Ela floresce, porém, no terre-
augurar por isso mesmo se torna fórmula da PAZ - PECADO
saudação, densa de prohmdidade religiosa. É
sinónimo de "bem-estar", ielteidadc, > justiça. no do amor autêntico, aquele que não se de-
K bênção, glória, vida. Numa palavra, é o tém sequer diante do ódio ou da injustiça.
próprio Nome do Messias; Príncipe da p. (cf. Is Fruto da paixão de Cristo, a p. só pode ser
9,5; SI 71). Por isso, é dom de Deus e conservada com a compaixão, com o sacrifício
.sinal da sua presença, que atinge cada pes- de si, até ao martírio, porque nesta terra o seu
soa no abismo do seu coração e, ao mesmo crescimento é continuamente vigiado e
tempo, junta o povo no abraço da frater- ameaçado pelo mal e pel< > -> pecado. Não
nidade. O indivíduo c a multidão coincidem na são.
experiência de Deus. "Misericórdia e verdade talvez, os santos, os amigos de Deus, os que
se encontrarão, justiça e p. se beijarão" (SI oferecem à humanidade as imagens mais belas
84,11): eis aí a perspectiva social; eis aí da p., eles que alcançaram as alturas sublimes
também o momento das núpcias, do encontro da comunhão com Deus, em quem, por assim
místico: "Assim são, aos seus olhos, como dizer, goza?n do verdadeiro repouso, em Deus
aquela que encontrou a p." (Ct S,1U). O en- Trindade, harmonia perfeita? Olhando o
contro com o esposo é a perfeição do -* amor, exemplo deles, é possível avançar mais
que, na —> união mística, traz harmonia e p. expeditamente no caminho até a Jerusalém
A espera do Messias torna-se realidade
celeste, que é visão de p., na comunhão plena
concreta em —* Jesus, dom perfeito do —>
e universal, que é o cumprimento do desúznio
Pai. Ele é a R , ou melhor: "Ele é a nossa p." (Ef
salvífico de Deus.
2,14). Toda a sua vida, da gruta de Belém á
ascensão ao céu, é marcada pela p. Seu nas- BIBI ..: Aa.Vv., pace, dono e profezia, Magnano
ÍM
cimento é acompanhado pelo canto do coro 1985; Aa.Vv.. // contributo culturate dei cattolici
angélico: "Glória a Deus no mais alto dos céus (d problema delia pace nel secolo XX, Milão 1986;
ep. na terra aos homens que ele ama". Não é R. Coste-HJ. Sieben, s.v., in DSAM XII/1 40-73;
só hino de louvor, e sim, mais profundamente, W.W. Foerstcr. s.u, mGLNTUl, 191-
243:C.Gennaro,s.u, in DESIII, I8O1-I802; F.
é o anúncio de realidade que se real i/ou: a Gioia, La fona deliapazienza. I I cammino delia
salvação desceu; uma semente de p. foi de- pace interiore, Cinisello Bálsamo 1995; II. H.
positada - e escondida - no coração mesmo da Schmid, Shalom. l<a pace neWantico Oriente e
humanidade e agora crescerá "esponta- neWAntico Testamento, Brescia 1977.
neamente", sem se deixar sufocar por espi-
nhos e abrolhos. Sobre a árvore da —*> cruz Beneditinos do iihti dv São Júlio
se tornará fruto maduro, pronto para se ofere-
cer em dom no dia da ressurreição: " R a vós"
(Jo 20,19.21.26): palavras inseparáveis da do-
ce e fone promessa com a qual se encerra o
evangelho segundo Mateus: "Eis que estou
convosco todos os dias até a consumação dos
séculos!" (Mt 28,20). PECADO

III. P. como fruto da consciência I. A noção de p. como ato iníquo, gerador


mística. Habitados pela p., os cristãos são de culpa, é dado comum à consciência hu-
convidados pelo próprio Jesus a se tornarem mana, ainda que possa ser errônea ou rígida
cons-truiores da />., se verdadei i ai nente demais. Todavia, para ter conceito amplo e
querem ser íilhos de Deus: "Bem-aventurados aprofundado de é preciso recorrer à revelação
os que promovem a /;., porque serão judaico-cristã. Do fala-se praticamente em
chamados filhos toda a —» Bíblia. Ela não oferece a definição
de Deus" (Mt 5,9). Não se trata de compro- de p.t mas denuncia sua presença constante na
misso simplesmente ético, nem de esforço história humana, destaca sua malícia, atribui-
puramente humano, mas de viver na verdade lhe conseqüências devastadoras para a
o —> batismo, deixando que aja livremente, existência do homem.
sem contristá-lo, o -> Espírito que foi der-
ramado nos corações dos crentes: "Mas o truto II. Na Sagrada Escritura. Para compreen-
do Espirito é amor, > alevria,,"., longa- der os elementos essenciais da doutrina bí-
nimidade, benignidade, bondade, —> fidelida- blica do/;, é preciso tomarem conta seu con-
de, mansidão, autodomínio" (Gl 5,22). texto teológico e antropológico. Deus cria o

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homem à sua imagem e semelhança e lhe
entrega o domínio da terra (cf. Gn 1,27-28),
para que livremente, em diálogo com seu
Criador, construa no amor a sua vida. O ho-
mem, por sua vez, deve dar prova de —> fide-
lidade a Deus, de confiança nele, cumprindo

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PliNTECOSTALISMO - PEREGRINAÇÃO
21), no qual Deus é adorado em espírito e
O dom da oração c do canto em línguas não verdade (cf. Jo 4,23). Agora, é a vida mesma
é monopólio só da Renovação carismática; do cristão que se torna uma p. na fé (cf. LG
pertence ao património da Igreja e existia já 58), uma caminhada para o Senhor Jesus (cf.
nos tempos do AT. Além disso, não é carisma Hb 2,10). A própria Igreja, "emp. sobre a terra"
propriamente dito, pois o carisma é dado a (C/C 675), assume e favorece essas realidades
alguns, não a todos, ao passo que o dom das para dar aos crentes a possibilidade de
línguas, que é dom contemplativo da oração, comungar na fé e na oração com o —> misté-
contemplação vocalizada, é comum na rio pascal do —> Cristo Senhor e Pastor.
Renovação carismática. As viagens para os lugares santos (Jerusa-
lém. Roma, Compostela) ou para os lugares de
BIBL .: R. Cantalamessa, Riwtovarsi nello Spirito,
Roma 1984; J, Castellano, Carismático (movimen- aparição da Virgem Maria (Medalha Milagrosa
to), in DES I, 430-433; R. Laurcntin, // movimento [1830], La Salctte [1846], Issoudun [1857],
carismático nella Chiesa cattolica. Rischied Lourdes [ 1858], Pontmain [1871], Fá-tima
awemre, Brescia 1977'; K. Mc Donnell, Ravvivare [1917], Beauraing [1932] e Banneux [1933],
ta fiamma dettoSpirito, Roma 1992; F.A. Sullivan, Goli-Toulia [Camarões], Dassa-Zoumé í
S A \ , in DSAM XII/1, 1036-1052; Id., Carismi e
Dahomey]), ou para Paray-lc-Monial c Mont-
rinnovamento carismático, Milão 1982.
martre, ou, enfim, para lugares ligados a um
santo (Ars, Ávila, Donrémy, Lisieux, Nevers,
R. Faricv
Montreal etc), não esgotam o sentido da pa-
lavra p. Ela pode evocar também disposições
interiores e espirituais.
Partir para longe implica sc afastar da pá-
tria, distanciar-se voluntariamente do próprio
ambiente, a exemplo de —» Abraão (cf. Gn
PEREGRINAÇÃO 12,1), que caminha para a terra desconhecida
que Deus lhe destina. "É, pois, ajusto título
que, deixando toda a sua família terrena, ele
I. A origem e o significado. Sua origem
seguia o Verbo de Deus fazendo-se estrangeiro
remonta a antes da antiguidade cristã, e ainda
(jyeregtinans) com o Verbo para se tornar
hoje a mantém todo o seu valor. O lugar de p.
concidadão do Verbo". 1 A atitude do pai dos
está ligado tanto a personagens reais ou
crentes leva à percepção da vida terrena como
lendários quanto a acontecimentos históricos e
exílio "longe do Senhor", 2 uma longa marcha
a manifestações divinas. O termo peregrinação,
para a terra prometida, a Jerusalém celeste
que significa "percorrer", "ir longe" (peragere),
(cf. Hb 13; 14; Ap23).
dá origem a peregrino, para indicar quem parle
para outro território; depois, por extensão,
II. Tipos dep. A "p. interior", desenvolvida
passou a significar também "estrangeiro".
entre os sécs. XI e XII1. tem como objetivo
O AT relata as viagens dos crentes para al-
pregar a penitência e a conversão. No séc. XIV,
gum lugar consagrado por uma epifania, a fim
sucede-lhe um novo gênero, dividido em dois
de aí elevar sua —> oração e apresentar sua
tipos: 1. As "peregrinações em espírito" aos
oferta. A multiplicidade dos lugares de/;,
lugares santos, que são peregrinações suple-
ficará reduzida, com a reforma de Josias, ace-
tivas (a vida monástica é uma delas). 2. As
nada por Ezequias (cf. 2Rs 18,4-22; 2Cor 29-
"peregrinações da vida humana", que derivam
31), unicamente ao templo de Jemsalém, para
daperegnnatio como caminho para a Jerusalém
a celebração da Páscoa (cf. 2Rs 23; 2Cor 35) e
celeste. 3
para as demais festas das Semanas e dos
Pode-se enquadrar as Mediiationes vitae
Tabernáculos (cf. Dl 16,1-17). A experiência do
Christi, do Pseudo-Boaventura, e a Vila Chris-t i ,
povo de Deus que sobe a Jerusalém (cl. Sl
de Ludolfoda Saxônia (t 1378), na categoria
120-134) numa mesma comunhão de fé dá à
das "peregrinações cm espírito". No primeiro
esperança escatológica nova expressão. O dia
texto, com a —> meditação da vida do Cristo a
do Senhor é considerado ap. definitiva do povo
alma é levada a certa familiaridade com ele.
de Deus, junto com os pagãos (cf. Is 2,2-5; 60;
Numa série de quadros, o autor compõe a cena
66,18-21; Mq 7,12; Zc 14,16-19; Tb 13,11).
(sobretudo da paixão) e leva a alma a fixar-se
O NT não muda essa visão. Jesus sobe a
num tema de meditação: "Observa, contempla
Jerusalém com seus pais (cf. Lc 2,41-50) e
todos os detalhes, não te canses de meditar;
repele o gesto durante toda a sua missão, até
acompanha tudo o que se diz, tudo o que se
à cruz. Sua ressurreição gloriosa orienta o
faz" (c. 4). Com a "aplicação
culto dos fiéis para o novo templo (cf. Jo 2,19-
S70
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PERSONAL! DAI) E teologia - que ajudem a evidenciar a autenti-
$76
lar interior. Toda a vida, pois, terá por fim a
manutenção da consonância interna eap. será cidade real religiosa ou o equilíbrio real psicol
o fruto dessa tendência. Também esse modelo fsi Co.
tem duas expressões diferentes: a. da dis- Um desses critérios pode ser o da integra-
sonância cognitiva, segundo a qual o aspecto ção. Trata-se da capacidade de reconhecer
principal da p. reside na natureza cognoscitiva vários elementos em si mesmos e mantê-los
da realidade: pode haver dissonância entre un idos num todo harmonioso e funcional, em
duas cognições ou convicções pessoais, ou torno de um núcleo (dito também "centro do
entre a cognição, a expectativa de um fato, e a eu") no qual a pessoa é única, original e irre-
sua realidade; b. da tensão, em que a con- petível. Os vários elementos (aspectos ou
sonância ou a dissonância estão relacionadas dimensões) que compõem a pessoa devem ter,
a diferentes graus de tensão física. en Ire si, uma interdependência dinâmica na
qual cada um é indispensável ao outro e todos
G. Froggio são necessários à realização global da pessoa.
O critério da integração aplica-se e verifica-
III. A > psicologia da religião, ultimamente, se com a capacidade real de —» adaptação
se aproximou muito mais da psicologia da p. dinâmica ao ambiente: assimilar e fornecer
Além dos aspectos estruturais, evolutivos e elementos de utilidade recíproca ao próprio
dinâmicos, a psicologia da religião tem muito crescimento. Esse intercâmbio permite enri-
interesse em ver como se harmoniza o todo quecimento recíproco e também permite re-
com o aspecto sobrenatural. duzir as possibilidades de ameaça mútua.
Um exemplo pode ser o da —» graça, que, A integração intrapsíquica e aquela com o
como qualquer outro dom sobrenatural, ne- ambiente são, em geral, correlatas: as pessoas
cessita de base natural para se concretizar de com elementos não-reconhecidos e não-in-
modo operativo, e é importante ficar clara a tegrados em si com frequência projetam essa
integração entre a estrutura dap. e a —> virtu- sua não-integração (chamada também de
de como dom; as estruturas cognitivas e cisão) no próprio ambiente social. Nesse senti-
volitivas estão, ordinariamente, na base de do, a conflitividade interpessoal é, em geral, a
uma graça; só extraordinariamente essa base extensão da conflitividade intrapsíquica. A
natural poderia não ser prevista. De fato, Deus dissociação intrapsíquica manifesta-se também
pode servir-se tanto dos fracos e dos frágeis por meio da dissociação sociorrela-cional.
como dos fortes e sadios para a realização dos Entre tantos elementos, há um que nos
seus projetos (cf. ICor 12,9-10). permite - nesse contexto - aproximar a psi-
Esse mesmo exemplo pode ser válido para o cologia da p. da mística: o domínio de si.
aspecto evolutivo da p. Ordinariamente, a A integração da ;>. -como acenamos-parte
trajetória de amadurecimento do corpo dá-se do reconhecimento, em si, de vários elementos,
mais ou menos em paralelo com o da psique, e mas o que permite mantê-los unidos de modo
a esses dois aspectos indissociáveis é desejável funcional, harmônico e dinâmico, é justamente
que se una uma terceira dimensão o domínio que a pessoa aprende a ter sobre os
especificamente humana - a espiritual - que, elementos constitutivos da própria p. O
entre suas várias formas de realização, pode se domínio de si, em psicodinâmica, alcança-se
concretizar também através de opções par- com o "reforço do Ego" em relação às pulsões
ticulares de forma de vida religiosa. do Id e às normas do Superego. O domínio de
Outra aplicação da psicologia da p., no si sempre foi uma das etapas da —» ascese
campo da psicologia da religião, é a relativa à - cristã (como também de muitas outras
* santidade, em geral, c ao místico, em confissões religiosas), entendendo-se com esse
particular. O aprofundamento desse estudo é termo a capacidade de auto-orien-tação de
importante, entre muitos motivos, lambem toda a pessoa para o que dá sentido à própria
para saber identificar o modelo autêntico a existência.
propor a si mesmo e aos outros. Do ponto de vista da psicologia da religião,
Um conceito nocivo de santidade e de mis- o asceta autêntico é o que procura crescer na
ticismo não raramente era aplicado, no pas- capacidade de controlar as pulsões e os dita-
sado, a pessoas de ego frágil, pessoas maso- mes internos, sem ser controlado por eles, de
quistas, depressivas, fóbico-obsessivas ou modo a dirigir a própria vida para objetivo
histéricas. considerado válido, para dar significado pes-
Tão importante quanto difícil é encontrar soal à própria existência.
critérios válidos - seja cm psicologia, seja em A medida que, através da autodisciplina, o
asceta consegue assumir o controle de si
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887 ritualidade. São Paulo. 1989; G. Jossa, s.v., in
NDTB, 117 t-1189; G. La Pira, Premesse delia
go humano e religioso com lanüliaivs e amigos. politica, Florença 19786; G. Lazzati, Azione
De Gasperi nos deixou o esplêndido tes- cattolica e aiione
politica, Vicência 1962; L. Lorenzetti, s.v., in DTí
temunho no Epistolário com a sua filha, irmã 11, 719-741; M. Spczzi Bottiani, Scuole di
Lúcia; de Moro conhecemos a freqüência à spirituatità perpolitici, Casale Monfei raio 1996.
comunhão eucarística e à "liturgia" dos en-
contros de lamília; de Zaccagnini, todo um A. Moníicouc
círculo de amigos, sacerdotes e leigos, expe-
rimentou a sua bondade, fruto de escolhas
profundas.

II. Testemunhos. Seria longo c difícil


enumerar as figuras dos que dirigiram e ser-
viram as comunidades locais, ou realizaran i PORETE MARGARIDA
obra política na administração do listado ã luz
da sabedoria cristã e corno profetas do
I. Notícias biográficas. Nasce em 1750/
Evangelho numa sociedade secularizada. Mas
60, na fronteira do Hainaut, provavelmente na
é bom recordar pelo menos duas dessas
capital, Valenciennes, então diocese de
liguras, que são verdadeiros exemplos místicos
Cambrai, no nordeste da França. É —> be-
do nosso tempo: de novo G. La Pira, prefeito
guina, e por volta de 1290 escreve Le miroir des
de Florença e embaixador da paz no mundo, e
simples ames, provavelmente em picardo. Mas
V. Bachelet, contemplativo e mártir civil da
ela é logo acusada de —> panteísmo e per-
justiça. O primeiro, no início dos anos 50,
seguida, porque, ao falar da relação da —> al-
deixou o parlamento c se dedicou à sua cidade
ma com Deus como uma relação que ultra-
adotiva, Florença, fazendo as mais ousadas
passa todas as mediações, estaria pondo em
opções no campo social a partir de motivações
segundo plano a Escritura e a Igreja.
evangélicas e mantendo uma estrita lógica
É condenada pelo bispo de Cambrai, que
política. Amou a capital toscana, pela sua
ordena a destruição do seu livro c proíbe sua
beleza, cultura, arte, por seu povo, mas a
divulgação, mas como o livro foi traduzido para
amou com os olhos de Deus, não hesitando em
o latim e divulgado, apesar da interdição, em
proclarná-Io e vivê-lo através de uma vida
1307 ela é levada perante o Grande Inquisidor
contemplativa no meio do mundo. Do mesmo
de Paris, o dominicano Guilherme Humbert de
mudo, pregou L I paz, la-zendo-se peregrino
Paris (f antes de 1314). Julgada apro convicta et
junto aos poderosos e indo aos lugares mais
confessa et pro lapsa in heresim", é excomungada.
difíceis (Moscou, Vietnã), lalando de Deus com
Em 1 1 de abril de 1309, vinte um teólogos
todos e falando de lodos com Deus,
consideram herético o livro e decretam a sua
especialmente dos pobres. V. Bachelet - que
destruição, enquanto à autora é concedida,
havia presidido por quase uma década (de 64
como era do regulamento, a pena de passar
a 7 3 ) a maior associação católica italiana, a
um ano na prisão a fim de se arrepender. Re-
Ação Católica, imprimindo nela a marca clara
conhecida como "relapsa" pelo inquisidor e por
de empenho eclesial através de uma escolha
uma comissão de canonistas, no dia 1" de
religiosa precisa -, tornou-se, em 1 9 7 6 , chele
junho de 1310 é queimada viva junto com seu
da magis-Untura nacional e levou para essa
livro, na Place de Greve de Paris.
função o mesmo estilo e o mesmo espírito de
serviço cio antie.o dirigente du movimento ca-
II. A sua obra — O livro, escrito em for-
lólico. Assim, acabou indo ao encontro da
ma alegórica, nasce da —* experiência místi
morte, pelas mãos de uma cega violência,
ca da autora, mas se desenvolve segundo o
como doce testemunha de uma vida segundo o
gênero literário da época, muito comum, dos
> Espírito, consagrada ao serviço dos irmãos
chamados espelhos, tratados com forle cará-
no exercício da alia responsabilidade da p.
ter didútico-informativo. Compõe-se de 139
BIBL.: Aa.Vv., Comunità Cristiana c comunità capítulos, talvez escritos em duas épocas di-
politica, Milão I VnS ; Aa.Vv., La responsabiliza ferentes. A primeira parte, de fato, até apro-
politica delia Caiena, Milão \\W\ II.t:. w j i i ximadamente o cap. 1 21, é mais descritiva e
lialibnsar, l,'impegtu> politico dei Cristiano, Milão termina com um triunfal hino à alegria; a
I <J70; G. Campanini, S.V., in Aa.Vv, Di:J. mario
d: sptriiucdità dei iaici, II. Mila*. 19S1, 144-153; segunda compreende um apêndice, constituí-
M. De Cerleau, Politica e mística. Milão 1975; R. do por algumas considerações da alma que
Coste, Vangelo e politica, Bolonha 1970; A. já alcançou a vida do espírito, as quais cor-
Giordano, s.v., in Dicionário de espi1 *1)1 (TlCA -
POR! TI: MARGARIDA

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PRESENÇA DE DEUS - PROFECIA - PROFETISMO S92

desmascara o mal paia poder eliminá-lo. social, como se pode encontrar sobretudo nas
Quando a — > santidade divina ilumina os Escrituras Judaicas. O papel da não é es-
olhos de uma criatura, a faz grilar como tranho à história da —> Igreja, pois ela pró-
Pedro: "Afasta-te de mim, que sou pecador" (Lc pria representa a presença permanente da
5,8). palavra do insuperável profeta —* Jesus Cris-
A misteriosidade intensíssima do ser de to. A p. está ligada à natureza carismática da
Deus entre os homens (causada não só à vida na fé e está sujeita ao controle eclesial,
alteridade divina suprema, mas também pela enquanto revelação privada. O Vaticano II. em
cegueira do homem viajante, ainda não ha- sua Constituição dogmática sobre a Igreja (cf.
bilitado ã relação direta com ele e gravemente LC 12), lala do povo de Deus que compartilha
vulnerado pelo pecado) e a vontade cons- o papel profético de Cristo, especialmente
trutiva e redentora do Pai, que justifica o fato mediante a vida de fé e de caridade. A Iunção
de mandar o Filho "para habitai" no meio de do profeta é vista como —» serviço em vista de
nós" (Jo 1,14), são motivo de eslorço, retifi- nova vida e de futuro mais transparente,
cação e > purificação: por esse motivo, a p. no voltado para o reino de Deus.
cerne da história é também crucificante, não
leva à "ciência saborosa" dos próprios BIBI..: I). Bertani. Prophcey, in Aa .Vv.. The New
lYictiofiary i»/ Cath<'lie $piritiailiíy, Minnesota 782-
segredos sem impulsionar, mediante as "noi-
784; A. Feuillet, Laca«)tplisseniei1 1 de* praphe-ties.
tes" (são João da Cruz), para o —> deserto dos Paris 1991; R. Laureiilin. Catholic Pen tecos
sentidos e do espírito. talisni. Nova York, 1977: (I. Montague. 71 :e
Spirit and Mis Cifts: lhe Bihliad Background o f Spirit-
H.JU .: M. Dupuy, s.u. in DSAXÍ XI1/2, 2107-213ó: Baptism. Toniiac-Speakimí an d Provhecy, Nova
F. Giardini, Alfa presenzadi Dio, Milão 1965; G. York 1974; A. Royo Marin, Teologia delia
Goz-/elino, A I cospetmdi Dio, Leumann 1989; A. perfezione Cristiana, Roma 1965*, 1045-1047; S.
Royo Marin, Teologia delia perfezione Cristiana, Tomás, STh 11-11. i \ . 171-174.
Roma 1965* 914-918.
G. Gozzelino /. Russell

PROFECIA PROFETISMO
I. O termo p. refere-se, fundamentalmen- I. O conceito. O p. de Israel é fenómeno
te, à expressão humana feita por meio de pa- extraordinário e fascinante na historia do
lavras, sinais ou modos de viver, que têm javismo. Sua história remonta ao séc. XI a.C,
sua raiz numa fonte transcendente ou divi- isto é. ao final do período dos juízes. De fato,
na. Ap. pode-se encontrar nas tradições de os primeiros protelas aparecem durante o
Israel, no cristianismo, no - > islamismo e em governo de Samuel, o último juiz; aliás, sob
outras religiões. sua direção eles formam uma comunidade de
profetas (cf. 1 Sm 10,5ss; I9,l8ss). As vezes,
II. Na vida da Igreja contemporânea, a são investidos do Espírito do Senhor e, con-
p. emerge sob dupla forma: 1. As profecias seqüentemente, são tomados pelo êxtase, que
ocorrem durante encontros de —> oração do pode contagiar até as pessoas próximas a eles.
movimento carismático, através de afirma V. verdade que a história docomeça na época
ções breves que procuram dar à assembléia de Samuel, mas é diurio de nota oue o ter-mo
consciência da -> presença de Deus. As vezes, "prolela" já é atribuído a diversas personagens
a palavra profética tem a função de comunicar que vivem muiti > antes, por exemplo, ->
uma luz interior que o membro da assembléia Abraão (cf. Gn 20,7), Maria (cf. Ex 15,20),
declara ter recebido. O perigo do subjetivismo Aarão (cf. Ex 7,1) e Moisés, o profeta por ex-
ou do iluminismo tende a ser neutralizado pelo celência (cf. Nm 12,1-8; Dt 1 d. 15-IS).
discernimento da própria comunidade carisma! É preciso registrar que também em Nm 1
ica. 2. A dimensão profética da —> fé também l,24ss há êxtase coletivo, algo semelhante ao
foi identificada, recentemente, com os que é relatado em ISm 10: os setenta as-
movimentos de —> justiça, —> libertação e sistentes de Moisés, sob a influência do Es-
paz entre os fiéis. Esse juízo é baseado na pírito do Senhor, começam a profetizar. E
tradição profética de criticismo verdade que esses textos bíblicos são anacrô-
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Q
QUIETISMO tâncias produzcnv.se os mesmos fenómenos,
sem necessidade de influencia direta c ime-
I. O fenômeno costuma eslat relaeinna- diata. Em algumas das opiniões, salienta-se
do com a mística, embora sem muita preci- que oq. não é movimento primário e original,
são, na maioria dos autores. Até recenlemen que traz algo radicalmente novo; é simples-
te, a exposição ou apresentação do q. em mente a reedição de fórmulas e propostas an-
tratados e dicionários lazia-se no contexto de teriores, com algumas modificações próprias
movimentos e ienõinenos espirituais dos pri- da época e dos lugares nos quais floresceu.
meiros tempos do cristianismo, até o séc. Mais do que a algum dos "iluminismos"
XVII. Dois motivos complementares justifi- anteriores, o q . aparece habitualmente ligado,
cavam esse procedimento: em primeiro lugar, na historiografia e na crença geral, à
o fato de que, nas intervenções oficiais sobre corrupção moral; como se se tratasse de sis-
o q., costumava-se repetir que ele coincide tema ou proposta espiritual que conduz ine-
com o ensinamento dos —> "alumbrados", vitavelmente à degradação no âmbito da moral
como estes coincidem com os "cálaros" e sexual. O exame de alguns casos concretos,
outros iluminismos, até se chegar pelo me- nos processos chamados quietistas, levou a
nos ao séc. XIII. A comparação entre esses estabelecer a correlação necessária entre
movimentos confirma a exatidão das referên- prática e doutrina, como se esta nada mais
cias. Falando em geral da espiritualidade cris- fosse que simples cobertura ou simulação de
tã, o q . é unia tendência espiritual que se ma- condutas imorais. Uma opinião muito difusa,
nifesta em expressões semelhantes ou muito até mesmo entre os estudiosos, reduz oq. a
parecidas ao longo da história; coincide subs- epifenômenos marginais e o esvazia totalmente
tancial mente com a que se desenvolveu na de conteúdo. A história trágica do q. foi muito
segunda metade do séc. XVII e passou para a mais que a miséria moral de algumas figuras
história como " q " . Nenhuma daquelas ex- de segundo plano e de categoria inferior.
pressões afins recebera, antes, tal nome. Por Muitos livros e muitos mestres condenados
isso, é ambíguo indicar com tal palavra to- como quietistas nada têm que ver com esses
dos os movimentos anteriores, conhecidos clichês ou estereótipos. Nenhum de seus
habitualmente com outros nomes próprios. nomes mais destacados mereceu a condenação
Atualmente, parece superado o equívoco ou de sua vida pessoal. Basta recordar MalavKf
a ambiguidade, se se adotar como deno- 1719), Falconi (t 1638), Pctrucci (t 1701), —>
minação genérica a de "iluminismo místico ou Fénelon e outros, ou tantos autores que
espiritual", precisando-sc logo a peculiaridade circularam com aplauso geral antes que se
de cada um dos grupos e movimentos, com desencadeasse a lula quietisla. O fenômeno da
sua denominação própria. Q. é o mais moderno conduta pecaminosa coberta por
de todos. aparências de alta espiritualidade é de todas
as épocas e de todos os lugares; não é um q.
II. A origem. Assim entendido e designa- exigido por ensinamentos especiais místicos.
do, circunscreve-se à segunda parte do séc. Também não é possível seguir a fisionomia
XVII e primeira parte do séc. XVIII. Sua pro- autêntica do q. baseando-nos nas condenações
ximidade cronológica ao movimento dos (livros, autores), embora isso ajude. As teses
"alumhrados", na Espanha (sécs. XVI-XVII), ou proposições que foram duramente
e seu parentesco com ele e com outros ante- qualificadas raras vezes aparecem ipsis liiterís
riores nos obrigam a formular a questão ini- nos chamados escritos quietistas; elas corres-
cial relativa à sua origem. É sabido que, a esse pondem mais ao contexto e ao clima geral e
propósito, circulam duas teses fundamentais: têm o caráter de síntese, e suas doutrinas ou
a que sustenta a dependência direta, como opiniões loram expressas de forma extremada
cie causa e efeito, entre as diversas manifes- para servir de norma nos processos ou para
tações históricas do "iluminismo místico", e a evitar perigos de contágio. A imagem definitiva
que prefere reportar-se a uma constante his- do q. emerge principalmente dos textos
tórica, segundo a qual em idênticas circuns- originais e não dos escritos "antiquietistas",
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que em geral foram compostos a partir das
condenações.

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RECOLHIMENTO
virtudes, leva os —> sentidos para dentro do - como dinamismo da existência e como via
■> coração, recolhe as faculdades na —»cons- pedagógica para a -> oração.
ciência, na qual está impressa a imagem de Vejamos suas passagens principais.
Deus, e faz que a clareza divina se comunique 1 . O dinamismo da existência. "A viagem mais
à alma/A espiritualidade clássica distingue o r. longa é a viagem para o interior", escreveu —>
ativo do passivo: no r. ativo o que domina é o D. Hammarskjõld em seu diário.8 É a viagem
exercício ascético; 3 no r. passivo, é a iniciativa para o ccntrol no qual a pessoa descobre a
gratuita de Deus. 4 Uma vez que o r. tem como fonte de suas relações com o outro, com o —>
finalidade não a si mesmo, mas a descoberta mundo e com as coisas, e no qual encontra
da —> presença de Deus no "fundo" da —> sua vida unificada e divinizada -enquanto
alma, a maioria dos autores espirituais o templo do Espírito Santo - na presença
considera uma das vias privilegiadas para a silenciosa de Deus Trindade, naquele que é o
contemplação do Mistério: "A 'oração de r.' "Centro do centro", a fonte, a raiz c a
chama-se assim porque nela a alma recolhe plenitude do ser.9 No encontro silencioso com
suas potências e se retira em si mesma com Deus Trindade, o fiel que dilatou sua alma
seu Deus. Aí seu Mestre divino se manifesta para acolhera ação transformadora do Espí-
mais depressa e a prepara mais prontamente rito' ' abre o caminho da interioridade para o
para entrar na oração de repouso".5 valor da receptividade como dimensão
2. A espiritualidade contemporânea, embora constitutiva de sua pessoa e de seu ser no
use os princípios da teologia clássica, conduz mundo, para a realidade da comunhão eclesial
a reflexão segundo paradigmas de pensamento como experiência de salvação com os irmãos
diferentes. Ela considera o r. fundamental- na fé e para o valor da universalidade como
mente dentro da dimensão de interioridade, vista diálogo construtivo com todo itinerário sa-
no horizonte da visão antropológica unitária, picncial autêntico para a contemplação do
dinâmica e inculturada. Levando em conta a Mistério.
situação cultural de nossa época, dominada 2. Pedagogia da —» oração. Toda a tradição
pela tecnologia e pela subjetividade, e espiritual atesta que a oração é um dos meios
solicitada por forte necessidade de sentido, a privilegiados para a descoberta da interio-
espiritualidade contemporânea dispõe a ridade. Para chegar a ela, indicam-se alguns
interioridade e o r. para discernir o perigo, instrumentos pedagógicos: a atenção ao si-
sempre subjacente, de "privatização" da fé e, lencio, à escuta e à posição do corpo; a repe-
ao mesmo tempo, para favorecera integração tição do nome de Jesus segundo o ritmo da
autêntica da identidade da pessoa como ser respiração, a contemplação dos ícones e a
aberto à irrupção do Mistério c como "scr- percepção da presença de Deus nos irmãos e
para-o-outro", isto é, como capaz de estabe- nos acontecimentos. No fundo está a convic-
lecer relação verdadeira com a história, com ção de que "não se aprende nada sem um
o mundo e com as coisas. pouco de fadiga. (...) O Senhor, querendo,
Disso emerge nova sensibilidade. Se a visão pode elevar-vos a grandes coisas, já que, en-
clássica de r. segue o movimento de "cs- contrando-vos próximos dele, descobrirá em
lrunheamento para a introversão", 6 a visão vós a disposição apropriada". 11
atual não a rejeita totalmente c a completa Em todos os tempos, o apelo para a in-
com o movimento inverso, de "interiorização terioridade e para o r. soa como exigência vital
para a extroversão", no qual também a história de interiorização dos valores da fé e para a
e o mundo, enquanto valores teológicos, se experiência pessoal autêntica de Deus. "O
tornam objeto de interioridade ou do olhar de fé cristão do futuro - dizia profeticamente -> K.
que sabe captar, na ambigüidade dos Rahner - ou será místico ou simplesmente não
acontecimentos, os caminhos imprevisíveis do existirá".
—> Espírito: "fundados no centro de nosso ser,
encontramos um mundo no qual todas as NOTAS: Cf. Gregorio Magno, Moralia, XXXI, 19;
1

coisas se fundam também em si mesmas. A XXÍI. Cf. S. López Santidrián, Recueillement.


6;:
II Duas la spiritualité classique espagnole, in
árvore se torna mistério, a nuvem revelação, o DSAM XIII. 256; Id., IM nozione di raccoglimento in
ser humano um universo cuja riqueza Osuna, in Ch.-A. Bernard (org.), [/antropologia
apreendemos só fragmentariamente". 7 dei maestri smrituali, Ciniscllo Bálsamo 1991,
195;3 Cf. Teresa de Jesus, Caminho de perfeição
28-29; 4 Cf. Ead., Castelo interior IV, 3,2; Caminho
II. Modalidades. Do ponto de vista ex-
de perfeição 30-31; 5 Ibid., 28,4; 6 Cf. João da Cruz,
periencial, a lematização do r. entende-se Subida do Monte Cannelo II, 12;7 D.
prevalentemente segundo duas modalidades: Hammarskjõld, Tracce dicam-mino, Magnano
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RECOLHIMENTO 910
1992, 209; cf. Ch.-A. Bernard, Teologia spirituale,
Ciniscllo Bálsamo 1982,380-381;H TYacce...,

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RHPARAÇÀt) • RKPOï 'Só NO I- S P 1 R I I O 9 1S
ca tomar sobre si o pecado tít> mundo, na ati- tal, mas somente de comunhão fraterna,
tude de profunda comunhão c de —» solidarie- que recorda antiga tradição da Igreja, partindo
dade com o Reparador, esquecido e ultrajado dos Aios dos apóstolos. í) fenômeno, não li-
pelos que ele beneliciou, e com a generosa e gado ã "imposição das mãos*', se manifesta de
onerosa disposição de transformar o mundo modo independente também em pessoas que
no reino do Pai, para cuja vinda c afirmação o participam talvez pela primeira vez da oração
Coração do Salvador ansiou e anseia ainda (ile do grupo e que nada ou pouco conhecem da
outra forma) ardentemente (cf. Le 12,49; experiência carismática, sendo, por isso,
22,15). Que nos baste recordar aqui, por todas anônimas no meio da multidão orante.
as exemplificações possíveis, a missão de —> O fenômeno consiste na "queda" de uma
Faustina Kowalska, cuja mensagem de r. se pessoa, cru geral suave, para trás até locar o
fudamenta no amor misericordioso do Cristo pavimento e em estender-se nele numa posi-
Salvador do mundo. ção de repouso, como se estivesse dormindo.
Na realidade, não se trata de sono, nem de
BIBI ..: Aa.Vv., Suiritualitàohlativa riparatrice, transe: o corpo não tem rigidez e parece cla-
Bolonha 1989; A. Chapelle, L'adoration
eucharistique et la réparation, in Vie Consacrée, 46 ramente em estado de profundo repouso. Esse
(1974), 338-354; G. Costa, La ríparazione, estado pode durar um minuto, dez minutos e
fatttasia o realtà, Roma 1981 ; R. Flores, até mais; em casos raros, uma hora ou mais.
Spiritualità riparatrice, in Dehonia-na, 68 ( 1968), O "despertar" é suave, como a queda, e de
95-130; E. Glotin,s.v., inDSAM XIII, 369-413; forma totalmente natural, e a pessoa se mos-
G. Manzoni, Ríparazione: rnistero di espia-zione e tra contente, às vezes com o rosto radiante, e
di riconciliazione, Bolonha 1978; kl., Di nostra
ríparazione in Cristo, in Aa.Vv., La spiritualità dei diz que "está se sentindo bem", que está em
Cuorv di Cristo, Bolonha 1990, 151-163; A. Pellin, grande paz. A experiência mais comum é a
Vida de reparación, Madri 1966; LPh. Ricard, do estado de paz, mas às vezes se trata de
Réparation et logique de l'amour, in Prière et vie, verdadeira "cura interior'' de distúrbios psi-
142(1967), 2 1 ? 22-\. F. Seriara. G;'/ss -Lr « cológicos ou de perturbações morais e espi-
Cr:.>!o. Madri ll'7(); A. Tessarolo. s.u, in DES III. rituais profundas, ou de cura física. Pode
2175-2177.
acontecer que uma pessoa, encontrando-se por
G. lammammc acaso no grupo de oração, receba no —> re-
pouso a luz da fé e a própria —> "conversão".
Nos grupos de oração maduros, o fenô-
meno não provoca sobressalto, muitas vezes é
notado só pelas pessoas que estão perto, as
quais sabem que devem respeitar quem está
passando por essa experiência, toda pessoal e
REPOUSO NO ESPIRITO íntima.
Quando acontece que, em assembléias de
I. O fenômeno e seu contexto. O fenômeno - oração de muitas centenas ou milhares de
chamado também, na experiência de alguns participantes, o estado de "repouso" de uma
grupos de língua anglo-saxônica, "slaying in pessoa que caiu por terra se prolonga, põem-
lhe Spirit", "falling in the Spirit", "being na fora de olhares indiscretos e acomodam-na
overcome in the Spirit" - se tornou manifesto, cm um dos lugares destinados ao pronto
nos últimos decênios, em diversos grupos da socorro dos doentes. Nesses lugares a pessoa
Renovação carismática católica. pode ser "controlada' pelos médicos e psicó-
O fenômeno, antes já presente nos grupos logos que estão lá à disposição para todo tipo
do —> Pentccostalismo protestante, era aceito de mal-estar.
como manifestação do —> Espírito Santo no Esse fenômeno foi descrito e estudado por
âmbito dos —» carismas. alguns autores que se puseram o problema
Esse fenômeno costuma verificar-se no cli- da autenticidade deles, seja partindo de ampla
ma de oração —:* de um grupo carismático casuística procedente de diierentes lugares e
durante o anúncio da —> Palavra de Deus, contextos de oração, seja procurando
muitas vezes na atmosfera de —> fervor da analogias na tradição bíblica, teológica e
celebração eucarística. Quase sempre a pessoa mística.
que passa por essa experiência recebe oração Os numerosos e diferentes casos reunidos e
pessoal com a "imposição das mãos" dos examinados por E MaeNuit e K. De Grand is
irmãos aos quais ela se dirigiu por causa de mostrariam que se trata de fenômeno seme-
alguma necessidade. Trata-se de oração lhante ao "arrebatamento em Deus", pela in-
fraterna, simples, sem implicação sacramen- tervenção improvisa e forte do Espírito Santo.
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Os testemunhos reunidos por pessoas que
fizeram essa experiência falam de estado de

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RHPARAÇÀt) • RKPOï 'Só NO I- S P 1 R I I O
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RICARDO DF. SÃO VfTOR 75B), R. parece transcrever grande riqueza de
experiências contemplativas. Define a con922
RICARDO DE SÃO VÍTOR
templação como "olhar livre e penetrante da >
I. Vida e obras. R. nasceu na Ilhas Britâ- mente, arrebatado pelo esplendor, sobre as
nicas, provavelmente na Escócia. Pode ter manifestações da sabedoria" (De gratia cont. 1.4,
chegado à abadia parisiense dos cónegos re- PL 196, 67D). A definição é muito genérica.
gulares de São Vítor antes da morte de Hugo Aqui, seguindo Hugo de São Vítor, R. distingue
de São Vítor, cuja teologia mística o influen- a contemplado ("contemplação") do
ciou profundamente. De I iugo disse ele: "Um "'pensamento" (cogitado: que é igualmente
grande teólogo de nossos tempos" ( D e prae- espontânea, mas não focalizada em nada) e a
paratione 1,4: PL 196. 67D). Em 1159«, era meditação (que c focalizada, mas requer esforço
subprior em São Vítor, e em 1162, prior, cargo para concentração, não sendo "livre",
que ocupou até a morte, em 1173. Ensinou, portanto). O interesse de R. é, em primeiro
pregou e escreveu muito. Seus escritos lugar, a graça cristã da contemplação, "que é
incluem um bom número de cartas teológicas, espécie de promessa de amor dada pelo Se-
que contem respostas a perguntas e pedidos nhor aos que o amam" (Nonntdiae allcgoriae tab.
de seus correspondentes; breves tratados foed., PL 196, 193B). No De gratia cota* (Libri l-
devocionais e uma obra importantíssima. De IV),/ií. distingue seis tipos de contemplação e
Trinitate, na qual, como cm seu De quaütior os dispõe hierarquicamente segundo as
gradibus violentae caritutis, expõe suas idéias potências da —> alma envolvidas (pela e/ou na
sobre o amor divino e humano; comentários imaginação, razão e compreensão) e os objetos:
bíblicos; sermões e um comentário à Regra cie l. os objetos sensíveis, 2. as causas e o
santo —> Agostinho. Ele foi um dos primeiros significado dos objetos sensíveis, 3. as ima-
teólogos a escrever estudo sistemático sobre a gens da imaginação de coisas invisíveis, 4. rea-
contemplação e sobre a —» experiência l idades criadas invisíveis como imagens de
mística, principalmente em duas de suas Deus, 5. as coisas de Deus que superam a
obras: De praeparaiione animi ad centempla- posse pela razão, mas não parecem contra-
í i f n i e n t ( B e t i j a m i i t t menor, PL 196. 1-64) e De dizê-la, 6. As coisas de Deus (Trindade, Euca-
gratia contemplaiionis (ou De arca mystica ou ristia) que superam a razão e parecem con-
Benjamim maior, PL 196. 63-192). tradizé-la. Esse esquema e tanto um tiaballio
de detalhe, visto à luz de análise superficial,
IL Experiência e doutrina mística. R. como celebração da imaginação, da razão e da
tinha o dom magistral para a imagem viva e compreensão, não como simples vetores da
para os vários tipos de esquemas e diagramas. criatividade humana e do conhecimento, mas
Estava convencido de que a experiência é a como espelhos do poder infinito do Criador.
melhor mestra. Era dotado de estilo latino e de No Livro V do De gratia cont., R. dirige sua
mestria para todas as interpretações alegóricas atenção para os gêneros da contemplação.
da Bíblia. Em seus escritos mais profundos Nestes ele fala das três causas do —> êxtase
esses dons lhe foram de grande ajuda. Por (excessus mentis): a dilatação do espírito (uma
exemplo, A preparação da alma para a ampliação Lia visão mental, a qual provavel-
contemplação (Benjamim menor) é alegoria mente tem afinidade com o escopo da repre-
elaborada baseada nos filhos de Jacó. Os sentação da arca de Noé, de Hugo de São
filhos e a filha de Jacó têm como finalidade o Vítor), a elevação do espírito acima de suas
desenvolvimento das —» virtudes por meio das capacidades normais e a alienação do espírito
quais a alma se prepara pain a —> contempla- (excessus mentis), que é o resultado de intensa
ção. O processo de preparação é um esforço —> devoção, admiração ou —> alegria. Os
para recuperar a imagem (racionalidade) e a quatro graus da violenta caridade descrevem as
semelhança (afetividade) de Deus, com as causas do excessus mentis com os mesmos
quais a humanidade foi criada, e que foram termos. Nos quatro graus a alma conformada
corrompidas pelo-* pecado. O processo inicia ao amor a Cristo reserva-se para o serviço ao
com a —> conversão, e usa a leitura cn-í me- próximo. Essa conquista das mais altas
ditação, a —> oração e as obras boas para pu- formas de contemplação, com a transformação
rificar a alma e levá-la ao limiar da contem- por e no amor dado por Cristo, é uma
plação. Embora negue algumas vezes toda característica significativa da escola de são
experiência particular na contemplação ou na Vítor do século XII.
oração mística (p. ex., em Serm. cent. 72, PL Os escritos de R. exerceram forte influên cia
177. 1131 H; De praeparaiione 1. 10, PL 196. em toda a Idade Média, influência que atingiu

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também o autor da Nuvem do não-conhecimento,
embora este trate mais do que

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931 SACRAMENTOS

SACRAMENTOS ritualização do mistério consumado na —>


cruz, a —■> Igreja começou a prolongar em
Premissa. Com a realização tio Concílio todos os tempos c lugares o evento único e
irrepetível que dá sentido ao —> mistério pas-
ecumênico Vaticano 11 abriu-se novo capítulo
cal, antes, que é sua essência, anunciando-o
na história e nos conteúdos da mística. Ele se
e celebrando-o.
junt< ni ao que veio amadurecendo durante
\ . Culto cm Espírito e verdade. As experiên-
vinte séculos, a partir das primeiras
cias religiosas do homem bíblico, sem dúvida,
experiências, fortes e essenciais, do mistério
são complexas; revelam o caminho de
feitas pelas co-munidades cristãs primitivas
educação progressiva para a relação com o
até as mais divet silicadas que a história da
Deus que se fez história na história de um
espiritualidade e da mística submetem à
povo. E caminho experiência!, que veio deli-
atenção do crente e que o interpelam em sua
neando-se ao longo das vicissitudes humano-
procura de ah.soluLo. divinas narradas no AT; experiência na qual o
O acontecimento "espiritual do Vaticano II "conhecimento" se realiza e se manifesta
marca uma etapa miliar nesse rio majestoso também nas formas cultuais.
da experiência cristã que parte sempre da Mas é justamente observando a reação dos
celebração e volta continuamente a esse locus profetas diante das formas cultuais (rito) "va-
("lugar") da experiência de Deus c com Deus, zias" que se percebe a especificação progres-
depois de ter atravessado a vida. O título de siva do sentido do culto visto como experiência
uma preciosa contribuição de L. Bouyer, religiosa integral; o —» culto não tem sentido se
Mysterion. Do mistério à mística,1 não é só intuição não for garantido e acompanhado por escolhas
recente, mas também o esclarecimento de um de vida pessoais e de grupo marcadas pelas
dado de lato constante na vida cristã: a mais diversas formas de justiça. A crítica não
mística é o ápice da experiência do mistério é dirigida à linguagem ritual sic et simpliciter,
que parte da vida, encontra-se com ele na ce- mas à linguagem que não ritualiza uma
lebração e volta para a vida, sempre mislérica, escolha de vida, porque essa escolha não
isto é, sob a influência e como prolongamento existe.
do mistério "celebrado". Assim a -> revelação elabora e confirma
O ponto essencial é determinado pela ex- verdadeira revolução sacrificial. O sacrifício -
periência pessoal e comunitária do mistério do cruento ou incruento - cumprirá sua ver-
Cristo, porque nele "Deus não só fala ao dadeira função de saerttm facere, isto é , de
homem, mas também o procura";2 paralela- reconduzir para a —> santidade de sua origem
mente é por ele que o homem procura e en- o que o homem tem de mais precioso - sua
contra Deus em seu mistério trinitário. Essa vida quando não for um gesto vazio ou
experiência, que se torna limiar obrigatório automático, mas um sinal real de urna vida
do encontro interpessoal com o mistério de vivida realmente na óptica da —> aliança, que
o rito formaliza.
Deus, o cristão a inicia, a continua e a desen-
O exemplo e o ensinamento de Cristo são o
volve no contexto do sacramento. É possível,
termo último dc referência para ver a dimensão
portanto-ou seja, necessário-aproximar-se dos
cultual como a experiência mislérica de uma
,s\ como locus imprescindível para a realização
relação totalizanle - se bem que na limitação
da mística cristã. da linguagem simbólica - com a Trindade
santíssima.
I. "Para celebrarmos os sagrados mis-
2.0 culto da Igreja. Desde os inícios a Igreja
térios..." Uma das primeiras 1 rases que o liei
amadureceu progressivamente - não sem di-
encontra no começo de toda celebração
ficuldades e incertezas, inevitáveis - o aban-
memorial da Páscoa na —? Eucaristia é: "Para
dono de uma mentalidade veterotestamen-
celebrarmos os savrados mistérios..." Essa
tária. A tríade "fé-sacramentos-ohras" veio
expressão dá início a experiência Iriuitaria
caracterizar, numa perspectiva de síntese, a
única em seu uênero, a qual remete ao que foi
superação de fragmentação. Para o cristão, a
anunciado por —■» Paulo, quando trata da
experiência religiosa não será acontecimento
"dispensação do mistério oculto desde os sé-
entre tantos da vida, mas o acontecimento no
culos em Deus'* (Ef 3,9). Não se trata só de
qual as escolhas de fé e de vida encontrarão
mistério "revelado . Cristo mesmo o cumpriu
sua síntese e sua concretização.
em sua Páscoa e o confiou à sua Igreja como
A —> escuta de uma Palavra de salvação
realidade a prolongar, atualizando-o, na
lerá plena realização na celebração dos Hs. da
celebração: "Fazei isto em memória de mim"
fé" e numa vida moral marcada pelo
(ICor 11,24-25). Partindo da última Ceia,
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compromisso e pela justiça, e inspirada na
caridade sacrificial do Cristo.

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931 SACRAMENTOS
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94 SAN"lO-SANTIDAÍ>K
1
Por isso, a vocação do cristão para a s. afirmação de que a vida de união com Cristo,
pode sor considerada como convite ao isto é, a .s. de todos os fiéis, é una.
heroísmo; com efeito, o sacramento de nossa Não só do ponto de vista estritamente teo-
incorporação a Cristo nos obriga a estarmos lógico, mas também do da vida pastoral, é
prontos, em todo instante, para o sacrifício sumamente importante entender e propor toda
mais sublime da —> caridade, o da imolação a doutrina das. dos cristãos na perspectiva de
incruenta por amor a Cristo e à sua Igreja. sua união com Cristo na Igreja, insistindo,
Compreende-se então que a vocação à s., nesse contexto, no falo de que as. dos cristãos
decorrente da incorporação a Cristo, é tão é una. De fato, é claro: a insistência nas
exigente que todo cristão, por ser cristão, é dimensões cristocêntricas, pneumáticas e
chamado a ser santo no sentido mais estrito eclesiais da vida e da s. cristãs, comuns a
da palavra. todos os fiéis, confere a todo o ensinamento
E justamente disso que trata o n. 40 da teórico e prático sobre a tendência dos cristãos
Lúmen gemiam, ao qual foi dado - se bem que para a s. a orientação sadia e fértil, porque
não oficialmente - o subtítulo de "Vocação apoiada em princípios dogmáticos firmes e
universal â s." O último parágrafo desse profundos, enquanto elimina os perigos muito
número da Constituição diz explicitamente: "li reais tia separação entre teologia e vida
claro, portanto, a todos que todos os fiéis de espiritual que, como a história mostra am-
qualquer estado ou condição são chamados ã plamente., implica sempre o empobrecimento,
plenitude da vida cristã e ã perfeição da se não propriamente a esterilidade de ambos
caridade: por essa s. foi promovido, também esses setores.
na sociedade terrena, um teor de vida mais Depois de ter esclarecido e sublinhado o
humano. Para chegar a essa —> perfeição, os falo de que a s. cristã, justamente por ser
fiéis devem usar as loiças recebidas de acordo "união com Cristo", é fundamentalmente una,
com a medida segundo a qual Cristo quis dá- é necessário talar também de suas diversifi-
las, a fim de que, seguindo o exemplo dele e cações. Isso deve ser salientado, e com f iimeza,
tornados conformes â sua imagem, obedientes seja do ponto de vista leológico-dogmático,
em tudo à vontade do Pai, dediquem-se com seja do da pastoral e da espiritualidade. Com
plena generosidade à glória de Deus e ao - > eleito, enfatizar exageradamente - como às
serviço ao próximo" ( L G 40). vezes se fez - a "unidade" fundamental da
Poderia quase parecer que, tendo o Concilio união com Cristo, com prejuízo das diversiii-
apresentado com tanta clareza o que foi cações, é erro teológico enorme, o qual com-
exposto até aqui, não haveria mais nada a porta conseqüências desastrosas tanto em
acrescentar. Mas foi oferecida nova luz sobre relação â intensidade da união do cristão com
dois pontos de grande importância para a Cristo como em relação à riqueza do corpo de
pastoral e para a espiritualidade. Isso pode ser Cristo, que é a Igreja. É justamente nela e por
dito do modo seguinte. meio de seus membros que ele deseja
completar a perfeição de sua humanidade,
III. A 5, c una, mas deve ser cultivada daquilo que através dela age no tempo e no
segundo a vocação própria de cada um. espaço e da própria glorificação que. por meio
Dizer que a s. cristã é "una" equivale a dizer dela, oferece ao Pai eterno.
que a vida de união com Cristo é una. Isso Em vista disso, o Concílio, para evitar in-
significa que tudo o que pode e deve ser dito terpretações perniciosas que eram difundidas
sobre a função do Espírito Santo, sobre a erroneamente, e talvez ainda o sejam, quis de-
natureza e os eleitos da graça e sobre seu liberadamente suprimir o adjetivo que fora
dinamismo, sobre o batismo, a crisma e a —> acrescentado à afirmação da una sauditas]
Eucaristia, sobre o —> culto litúrgico e a > referimo-nos ao termo eadem. Mais ainda; o
oração privada, sobre a > fé, a -> esperança, a Concílio quis opor a isso o ensinamento das
■- > caridade e sobre todo o conjunto orgânico diversificações e diferenciações da s. cristã. De
das —> virtudes, como também sobre as falo, as palavras acrescentadas imediatamente
dimensões escatológicas e eclesiais de nossa depois da parte da frase na qual se encontram
vida cristã, em suma, tudo o que pode ser as palavras una sauttttts sublinham que a s.
proposto como essência da vida cristã en- cristã, radicalmente una enquanto união a
quanto tal ou como propriedade, qualidade e Cristo, se diferencia "segundo os dons e as
características típicas dos que, movidos pelo funções de cada uni".
Espírito Santo, vivem sua união com Cristo na O ensinamento da Sagrada Escritura sobre
Igreja, explica e aprofunda o sentido da a liberdade soberana e liberalidade de Deus na
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distribuição de suas "graças" e de seus —>
"dons", dados a nós segundo a medida da
doação de Cristo, é inequivocamente

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SCARAMELLI JOÃO BATISTA - SCUPOLI LOURENÇO go Alvarez da Paz, mas sublinha sempre que a
união mística consiste num conhecimento de
ano de retórica, começou o ensino, primeiro
Deus todo experimental e cheio de amor. É essa
em Ragusa, por Ires anos, e depois em Loreto, por
dois anos. Estudou arqueologia c se tornou a opinião dos santos -» Padres e dos teólogos
mestre suplente no Colégio germânico. Depois místicos mais experimentados, opinião que S.
da ordenação sacerdotal, começou aquele que conserva íntegra cm seu ensinamento, mas a
seria, por toda a sua vida, seu trabalho experiência o convenceu da importância da
apostólico característico: as missões direção espiritual para quem deseja avançar na
populares, prolongadas durante trinta longos via espiritual e chegar ã união com Deus.
anos, nos Estados Pontifícios e os retiros es- tornando-se ela preocupação constante de seu
pirituais ao clero. Nos poucos momentos livres, ensinamento.
em Maccrata, dedicava-se ao estudo da
BIBL.: C. Becker, SM , in WMy, 451-452; H.
espiritualidade e à redação de suas obras. De
Bleicns-tein.J.B. Scaramelli undsein
todas, somente uma, A vida da Irmã Maria "Führeraufden Wegen derMystik", in ZAM 15
Crucificada Saíellico (Veneza, 1750) apareceu (1940). 124-135; S. Conte. La pratica delia
durante sua vida e, depois de quatro edições, fui direzione spirituale nello Scaramelli, in ScuCat 72
posta no índice dos livros proibidos, em 1769, (1944),40-57,111-127; LA Hogue,5.u, in D7TXIV/1,
talvez por se ter o autor pronunciado muito 1259-1263; O. Marchetti. Unopera inédita...
claramente sobre a santidade da religiosa, sem attribuita al R Scaramelli, InAHSI 2 (1933), 230-
257; G. .Vlellinato.s.v., in DSAM XIV, 395-402;
que tivesse havido antes um juízo oficial da D. Mondronc, 5.v., in DES III, 2262-2265.
Igreja. Excluídas algumas afirmações
categóricas, o livro foi liberado e reeditado em J. Collantes
1819. As outras obras de S. apareceram depois
de sua morte: O discernimento dos espíritos para o
reto governo das ações próprias e dos outros
(Veneza. 1 755) c Diretório ascético (Veneza,
1754), que teve uma difusão muito grande.
Essa obra teve quatorze edições em menos de
cinqüenta anos depois de seu aparecimento. SCUPOLI LOURENÇO
Outra obra de S. é A doutrina de são João da
Cruz (um resumo de suas obras; Veneza, 1815; I. Vida e obras. S. nasceu em Otranto em
Lucca, 1860; Nápoles, 1892). Há ainda uma obra cerca de 1530 e foi batizado com o nome de
incompleta, que alguns (O. Marchetti) Francisco. Em 1569 foi aceito entre os leatinos
atribuem a S.: Vida da setva de Deus Ângela de Nápoles, onde, em 25 de janeiro de 1 571, fez
Cospari, fundadora das senhoras mestras pias no a profissão com o nome de Lourenço, Ordenado
Borgo do Santo Sepulcro. Esta obra ficou sacerdote em 1577, exerceu o ministério em
incompleta por causa da morte de S., em 11 de Placência e Milão junto com santo André
janeiro de 1752. Avelino (t 1608), seu mestre de noviciado. Em
1581 foi destinado para a casa de Gênova.
11. Ensinamento espiritual. A obra talvez Acusado falsamente de grave culpa,
mais original e importante de S. é O diretório desconhecida, foi condenado ao cárcere por um
místico (Veneza, 1754). Contém cinco partes, ano e suspenso a divinis pelo Capitulo Geral de
dedicadas aos "diretores daquelas almas que sua Ordem em 1585. S. se submeteu de modo
Deus dirige pela via da contemplação" (p. 532): tão exemplar à dura pena que adquiriu grande
1. noções preliminares de teologia e psicologia; fama de —> virtude singular. Foi plenamente
2. sobre a contemplação em geral: natureza, reabilitado só em 1610. Em 1588 foi
propriedade, efeitos, disposições necessárias transferido para a casa de Veneza. Lá, em 1589,
etc; 3. os do/e graus da contemplação que saiu a primeira edição, anônima, de seu livro
procedem de atos não diferentes dela como a Combate espiritual atribui do a "um servo de
oração de recolhimento, o silêncio espiritual, a Deus", com vinte e quatro capítulos. No mesmo
união fruiliva de amor, a união extática, o ano, ainda em Veneza, apareceu a segunda
arrebatamento etc; 4. os graus de contemplação edição, com trinta e três capítulos. Outro
que procedem de atos diferentes dela: visões, aumento, de vinte e sete capítulos, se encontra
locuções interiores, revelações etc; 5. A na edição de Nápoles, de 1599. O anonimato
purificação passiva tanto dos —> sentidos como cessou depois de mais de cinquenta edições,
do espírito. corri a edição de B< >lonha.
Quando S. descreve os diversos graus de con- de 1610, que saiu com o nome do autor, Lou-
templação se inspira, sem dúvida, em —» Die- renço Scupoli, logo depois de sua morte, em
946 Nápoles, no d i a 28 de novembro do mesmo
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s r v n n u s - MM IDOS r s i - i u r i i \ i s <>6
2

Xhdioevo. IIcontributo di Bonaventura, in Id., 7èo-


togia delVespcrienza dello Spirito, Roma 1978, 165- II. Testemunhos. Iniciando por —> Orige-
208; R Zavalloni, le strutture untane delia vita nes, o tema dos s. ocorre na doutrina de
spirituale, Brescia 1971. mui-
G. Colzani tos mestres. Devendo exprimir a relação do
homem com Deus, a doutrina varia necessa
riamente segundo a antropologia, o pensa -
mento teológico e místico e a experiência dos
autores. Limitar-nos-emos a mencionar al-
guns testemunhos significativos deles. O pri -
meiro é o de Orígencs, para o qual o homem,
além dos sentidos corporais, tem cinco
chamados também sentidos divinos, sentidos
SENTIDOS ESPIRITUAIS da —> alma ou do —> coração, sentidos do
homem interior. A doutrina de Orígencs tem
I. O problema. O cristão é chamado a vi-
como pressuposto sua antropologia, mas
ver com o —► Pai e o Filho, no —> Espírito,
procura o fundamento na Escritura.
a relação de conhecimento e de amor cada
vez mais intenso e a encontrar sua felicidade Sentindo a antropologia origeniana. uma
nessa comunhão de vida. O conhecimento e parle das almas - criadas todas iguais e
a experiência de amor são realidade que o livres - por causa do grau de seu —> pecado
cristão deve perceber e exprimir, não estan - foram revestidas dos corpos e colocadas no
do, porém, em condição de fazer isso por mundo material para serem submetidas à
meio dos processos naturais normais de per - prova. Existem, pois, em cada um de nós um
cepção c de comunicação. Não obstante, ele homem exterior, carnal, e um homem
não pode deixar de tomar em consideração interior, espiritual, os quais têm,
esses processos porque é o homem, com to- respectivamente, membros e sentidos
das as suas faculdades, que deve viver essa corporais e espirituais. Os sentidos carnais
experiência. Põe-se nesse contexto o proble- servem para fazer-nos conhecer as
ma da função da atividade sensível na expe - realidades materiais; os espirituais nos per -
riência espiritual. Existe certamente um a mitem perceber as realidades espirituais, in -
participação dos —> sentidos na vida espiri- visíveis, eternas, divinas. Como se dá com
tual, na qual "o espiritual e o corporal estão t<idas as verdades, a justificação da existên -
integrados juntos na economia da —» En- cia dos 5. deve ser encontrada na —» Bíblia:
carnação". 1 É o que se dá na —> liturgia c "Aquele que examina com mais profundidade
na as coisas, dirá que existe um sentido gené -
contemplação dos —> ícones. É também rico divino, como o chamou a Escritura. É só
aconselhado, principalmente por -* Inácio de o bem-aventurado que sabei ã ene* inl rá-](
Loyola, o uso imaginário dos sentidos na t, como está dito em Salomão: 'Encontrarás
—> meditação. 2 Que dizer, porém, da expe- o sentido divino' (Pr 2,5). Existem várias
riência contemplativa da qual os sentidos espécies desse sentido: uma vista para
cor- contemplar os objetos supracorporais, como
porais não participam nem imediatamente, é manifesto no c aso dos querubins c dos
nem mediante a imaginação, mas aos quais, serafins; um ouvido capaz de distinguir
na tradição cristã, se alude de mane ira não vozes que não ressoam no ar, um paladar
facilmente definível? É a interrogação de paia saborear o pão vivo descido do céu para
-> Agostinho: "Que amo quando amo a ti? dar a vida ao mundo, e um olfato que
Não a beleza dos corpos, nem a harmonia do percebe as realidades que levaram -> Paulo a
tempo, nem o candor dessa luz tão amiga dizer-se bom odor de Cristo; e um tato como
dos o de -» João, que, segundo diz, tocou com
olhos humanos, nem as doces melodias dos suas mãos o Verbo da vida".'* Os 5. não são
vários cânticos... Não obstante, amo c erta propriedade estável, podendo ser perdidos
luz, pelo pecado e obscurecidos pelos -> vícios.
certa voz, certo odor, certo alimento e certo Para alguém readquiri-los, é necessário que
amplexo quando amo meu Deus, luz, voz, mortifique os sentidos corporais e se exercite
odor, alimento amplexo do homem interior nos espirituais, os quais são possuídos
que está em mim..." 3 Com essa interrogação perfeitamente só pelos perfeitos. Quem
entramos na problemática dos s. oferece luz aos olhos da alma e dá o bom uso
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aos outros ,v. é o Logos. E quem se voltar
para Cristo "se deliciará não só no sentido
do comer e do saborear, mas também nos do
ouvido, da vista, do tato e do olfato. Correrá
ao odor de seu perfume: assim aquele que
chegar ao máximo de perfeição e de bem-
aventurança se deliciará, segundo todos os
seus sentidos, no Verbo de Deus". 5 A
doutrina dos 5. tem papel importante na

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974
SIM no Luvas noite (Cn 1,3-5)... O bem- mas cura dos quatro cismas originários - de
aventurado hagiógrafo, mediante a Deus, de nós mesmos, dos outros e do cosmo
linguagem hagio-gráfica, viu que Deus - cisma tanto condicionante quanto
misericordioso se fez condescendente com a "conatural". O mito platônico do andrógino
pouquidão da capacidade humana... De falo, inicial iluminou alguma coisa em nível an -
para a pouquidão dos que o ouviam, o tropológico: "Cada um de nós 6 s. do homem
Espírito Santo inspirava a linguagem do todo porque de urn que ele era foi dividido
hagiográfica de modo que ele narrasse todas em dois. Por isso cada um de nós está sem -
as coisas adequando-se a elas P a i a pre à procura do outro, s. de si mesmo". 11
Far-lhe-á eco o discípulo de Aristóteles (f
compreendermos a benignidade inefável de
322 a.C), afirmando que o homem ea mulher
Deus e qual condescendência usou ele em
são "s." um do outro. Para nós, cristãos, a
seu falar, solícito e providente com nossa
solução para todos os níveis se encontra
natureza humana, vejamos como o filho do
entrando no sistema simbólico universal de
trovão (cl. Ale 3,17) não se move com os Deus. sistema que é círculo virtual de toda
mesmos passos, mas - uma vez que o gênero vicarie-dade de presença, cismática e santa,
humano tinha progredido em sua capacidade eidética, ética, estética, imperfeita e
- conduz os que o ouvem a conhecimento perfeita, intra-mundana e teândrica: o
mais sublime. Diz ele: 'No prin cípio era o homem, ele mesmo» 5. de Deus.
Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo
era Deus' (Jo 1,1), e acrescenta: 'O Verbo III. O .s, mistérico cristão é glória de
era a luz verdadeira, que ilumina todo imanência. A dinâmica simbólica do mistério
homem; ela vinha ao mundo' (Jo 1,9). De não é um optional; na verdade, ele atinge a
fato, como pela Palavra de Deus foi criada a biologia cristã em seu próprio coração sa-
luz sensível, e as trevas visíveis foram afu - cramentai. Se um 5. qualquer remeteà ordem
gentadas, assim a luz inteligível fixa as tre - de uma transcendência, nosso s, mistérico
vas do erro e guia os errantes para a verda - leva à ordem da imanência cristã, a qual não
de (cf. Jo 1,14). Com suma gratidão re - é a sólita polaridade exclusiva da transcen -
cebamos, pois, as divinas Escrituras...". 9 Por dência, mas a atitude autônoma caracterís -
isso, por tal descida divina até os homens, tica da transcendência na economia sacra-
os s. mistéricos cristãos, cada um em sua mental divina. (.) próprio termo Cao
ordem, são infalivelmente eficazes do alto; contrário de irans/scatidere, "subir,
subir/além", que é de matrizes religiosas e
não são magia ou pretensa manipulação do
não religiosas comuns) in/manere,
divino, aprisionado à vontade embaixo. Com
"permanecer, morar, estar em", é de matriz
suma gratidão recebamos, portanto, toda a
bíblica neotestamentâi ia (cf. Jo 14,15-
condescendência de Deus misericordioso
17.19-20.23; Uo 4,12-13.15-160. A
pela qual seu Espírito Santo adapta e imanência de nosso divino Transcendente é
adequa para nós cada palavra. "O Espírito para nós experiência mistérica e permanên -
do Senhor enche o universo e, abraçan do cia sacramental do Emanuel, "Deus-conosco"
todas as coisas, conhece todas as pala - (cf. Is 7,14; Mt 1,23). Por isso a nossa dinâ -
** IA mica simbólica não é metodologia científica,
vras. 10 mas a "poiétíca" de experiência da presença
Evidentemente é epifania do alto; mas é de Deus mediada esteticamente; e isso, mes -
aparecer da santidade. Istoé, aparecer, mo que, na biologia cristã, para buscar a
repitamo-lo, da relação interpessoal de Deus vida divina e seu infinito de Bondade, de
uno e trino a nós e de nós ao nosso Deus Verdade e de Beleza, se realize uma sinergia
(isso é o saneiam), e precisemos: epifania de entre simbolização e conceitualização, que
santidade, não de sacralidade, porque esta, não se elidem, mas se postulam
sendo uma transcendência separada, posta mutuamente; como a conceitualização tem
de lado (isso é o sacrum), não entrará na seu modo assim a simh( tlização tem sua
concate-nação simbólica, e os modos de sua quulil t cação específica segundo o modo de
presença não suscitarão problemas procedimento "poiético"-estético: glória de
hermenêuticos adicionais, embora Imanência, isto é, epifania em beleza de
infelizmente não seja infreqüente a Deus-conosco.
substituição da santidade por formas de Poietiké é derivação de "formar com arte,
sacralidade. A ascese do imaginário sensível dar o ser dando à luz, suscitar celebrando,
e a laboriosa crítica do fantasma não são realizar freqüentando'7"mandar fazer criati -
renúnca estóica nem subida neoplatô-nica, vamente para si"; e aisthetiké é derivação de
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974
"perceber, contemplar, apreender sensivel -
mente". São variações harmônicas e lumino-
sas do fazer/mandar fazer esteticamente
para si, no qual se realiza o s. mistérico
cristão. Variações convenientes à densidade
variegada

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98 SOCK) I.Or, I A SOÏ-R1
1 R

uma vez que, para chegar ao ápice da união religião, em suas origens, é experiência do
míslica. são percorridas, pelos que a experi- radicalmente Outro em relação ao homem, de
mentaram, vias ativas, justamente ascéticas, Potência que aparece na iluminação mística
com técnicas particulares de —> meditação ou como o la rol que orienta o sentido da vida e
de exercício progressivo de —> desapego dos permite adquirir visão unitária do mundo e do
condicionamentos terrenos, como se dá, por cosmo. Por isso, enquanto a prática religiosa
exemplo, no —> hinduísmo e no —> budismo ou a adesão a uma Igreja pode declinar em
com a ioga. Tròeltsch, por sua vez, concentra a sociedades secuhu izada.s como as nossas, a
procura de experiência míslica tende a persistir
análise sobretudo no cristianismo e insere sua
e, segundo algumas pesquisas empíricas, a
reflexão sobre a mística numa tipologia
mostrar sinais de retomada na população
soeioneligiosa que prevê, ao lado do tipo/Igre -
européia. As razões que habitualmente aduzem
ja, de um lado, eclo tipo/seita, do outro,
os estudiosos citados para explicar a
terceiro tipo: o tipo mística. Trocltsch, em
persistência da procura da experiência mística
primeiro lugar, define a mística como são duas: a. A necessidade do ser humano de
experiência religiosa direta, imediata, pessoal, chegar à experiência da —> união com Deus ou
que realiza o contato com Deus, experiência com uma Força superior está inscrita no
que, portanto, por definição, não tem códiiio uenélico e liuada. de um lado, ã
necessidade nem de ritos nem de dogmas nem necessidade do indivíduo de satisfazer o desejo
de institui-ções para ser atingida. Isso não de imortalidade (superação do medo da morte),
signilica, para Trocltsch, que a míslica se e, do outro, ao desejo de amar e ser amado
oponha a uma religião institucional: a mística, (que encontra no Absoluto plena satisfação); b.
segundo ele, é antes via particular que pode a modernidade perene da experiência míslica:
existir dentro de uma Igreja ou de uma seita. sendo ela uma via subjetiva, livrée pessoal, de
Em segundo lugar, julga ■- e aqui está o alcançar estados de intensa união com Deus,
aspecto mais interessante de sua reflexão adapiar-se-ia melhor à cultura eà
sociológica - que a mística possa dar origem a sensibilidade modernas, que exaltam a
uma íorma de agregação religiosa particular, centralidade do indivíduo.
diferente tanto do tipo/Igreja quanto do
NOTA: 1 Economia e società, II, 233.
tipo/seita. Com eleito, ele pensa que em torno
da ligura do místico tende a desenvolver-se um BIBL.: S.S. Acquaviva, L'eclissi dei sacra netla
civiltà indu sinale, Milão 1961; Id., Eros, morte ed
complexo sutil de ligações, uma rede quase
espe-rienza religiosa, Bari 1990; S.S.
invisível de comunicação religiosa, círculos Acqiiaviva-H. Pace. Sncioloiíia deite retiniam,
íntimos de edificação e de meditação Roma 1992; G AV. Allpori. The Individual and
comunitária, que desempenharam, algumas His Religion. Nova York 19v>: R. Bastide,
vezes, na história do cristianismo, função St/cioh/gia e psicologia dei misticismo. Roma
1975; S. Burgalassi, I A I situaZ I O iie deli'espe
socioireligiosa importante, alimentando rienz .il te.ligi.osa net le soc ici à oceidentali, in
correntes de reforma interna na Igreja católica Aa.Vv.. lA -sperienza religiosa ogpj, Milão 1986.
ou propondo vias de edificação espiritual ou 24 b2: P. I L i v r.xplorint' Inner Space, Londres
modelos de vida ascética exemplares, que 1987: Id.. Religi- >ÍÍS Expérience Today, Londres
contribuíram para a mudança de estilos de 1990; EX. Kaufmann, Sociologia c teologia.
Rapportieconjlitti, Brescia 1974; G. Le Bras.
espiritualidade. Studi d; socioh/gia religiosa, Milão 1 969; E.
Pace, Ascetie mistici in una società secolarizzata,
II. A experiência mística. Se são essas as Veneza 1983; 1). Pi/ziiii. I M spiritnedtta e le
abordagens clássicas do tema da mística clás- pics-pettive dei sociólogo, i n Aa.Vv., Vesistenzfl
sica, na s. contemporânea veio se firmando u n i Cristiana, Roma 1990, 79-104; E. Troettsch, Le
novo li Ião de estudos e de pesquisas re-
dot trine sociali dette chiese e dei yruppi Cristiani,
Florença 1 94 ] i u >l I), 1960 (vol. I J j ; A.
presentados por estudiosos como Davi Hav na Vergoie, Psicologia religiosa, Roma 1979; M.
Inglaterra e Sabino Acquaviva na Itália. Os Weber, Economia e società, Milão
estudos deles destacam que, para além das 1961; Ici.. Sociologia deliu tvtiyjtme, Turim 1976.
formas visíveis da religião, existe um núcleo
fundamental perene no fenómeno religioso, o & Pace
qual é representado pela > experiência mística.
Nesse sentido, a religião não é saber nem agir,
mas substancialmente —> sentimento forte, o
qual, só no segundo tempo é que se mostra
capaz de dar origem ao saber e ao agir. A
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SOFRER
I, Descrição do fenômeno. Desde sempre os
discípulos de Cristo procuraram seguir seu
Mestre carregando a ~> cruz. Nos primeiros
séculos, cristãos fervorosos q u e r i a m i m i -

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SUGESTÃO comunicação, e - seguindo o mesmo critério
- uma comunicação é tanto mais sugestiva
mental ou cie caráter. O grau de sugestiona-
quanto mais consegue modificar uma
bilidade varia com a idade e com as circuns -
pessoa, 990
tâncias; muita coisa depende do estado de
consciência da pessoa e da cslmtura da pode-se afirmar também que o -> transe é
situação. A sugestionabilidade atinge os condição global da pessoa no qual os proces -
níveis máximos no —> transe profundo. Mas sos ideaíivos são tão fortes, vivos e pre -
isso nem sempre se verifica. 1 A ponderantes que modificam os processos
sugestionabilidade pode aumentar com a neuro-fisiológicos. Quanto maiores são as
repetição da mesma mensagem ou com modificações dos processos orgânicos tanto
mensagens diferentes, mas convergentes, de mais sugestivos são os processos ideativos.
uma mesma idéia. A sugestionabilidade Uma idéia ou imaginação é sugestiva à medi -
aumenta com linguagem figurada da que modifica. Essa idéia pode ser comu -
apropriada: com comunicação metafórica nicada por outra pessoa, e então se fala de
sintonizada com o inconsciente da hetero-5.; pode-se falar de auto-s. quando
pessoa (comunicação metafórica). 2 uma modificação (ou um fenômeno) se dá
Pode se lalar de sugestionabilidade incons- sob o estímulo de uma idéia ou sensação
\ -

ciente nos casos nos quais, em nível cons - própria, não sugerida nem comunicada por
ciente, a pessoa não pareça sugestionada, outros; a
mas depois se comporta como foi única dilcrença c que, na auto-s., a mesma
condicionada. Esse é o caso das sugest ões pessoa é a fonte e o destinatário da mensa-
recebidas durante uma fase particular do gem sugestiva. Antes, podemos dizer que io -
sono ou durante a anestesia total. A s., da hetero-v. é eticaz a medida que se torna
indireta é a que, apesar de não ser percebida auto -5.
pela consciência da pessoa, conserva sua É difícil prever o poder da s.; ele pode ser
eficácia. conhecido só posí fadam ("depois de leito" ou
A 5. pode chegar ao ponto de induzir uma verificado); como no caso de um terremo to,
tipologia de sonhos, de condicionar e modi- seu poder pode ser aferido só considerando-
ficar reflexos, de modular sensações de pra - se o que ela produziu. Desse ponto de vis ta,
zer e de dor, de alterar a percepção através a avaliação da s. pode ser feita a partir do
dos sentidos externos e internos e de modi - esquema juuguiano quadripartido: sentimen -
ficar, dentro de certos limites, as funções \ to - emoção - intelecto - vontade. A emoção
isect ais e endócrinas. Em ou Iras palavras, é eficaz ò medida que modifica a intensida-
a 5. nos revela a unidade psicossomática do de, as articulações c os efeitos de sentimen -
ser humano. tos, emoções, idéias e vontade. As manifesta -
Existem provas de sugestionabilidade que ções psico-neuro-endócrino-imunológicas
indicam o grau de aceitação de estímulos tem estreita correlação com esse esquema
imaginados e a propensão paia o auto- quadri partido.
matismo psicomotor. Não se pode lalar de Os funcionamentos fisiológicos gerais e os
provas objetivas de sugestionabilidade; uma específicos de um aparelho podem ser modi-
das melhores indicações pode ser deduzida ficados indistintamente por efeito tanto de
seguindo o critério pragmático: um estimulo hetero -5. como de auto-s. O que aciona as
é tanto mais "sugestivo" quanto mais modifi - modificações não é tanto a fonte de informa -
ca a pessoa; as pessoas mais sugestionáveis ção enquanto tal quanto a intensidade cios
são as que se modificam mais facilmente e processos ideativos: quanto mais sugeridos
mais espontaneamente. Os órgãos que se eles forem tanto mais sugestionáveis serão
modificam mais em resposta a um estímulo os processos fisiológicos. Além disso, os
[iodem ser considerados como "órgãos mais processos fisiológicos mais sugestionáveis
sugestionáveis", e essa sugestionabilidade de são os mais diretamente correlatos com os
órgão varia com a estrutura psicofísica da processos ideativos mais ativos.
pessoa e da situação sistêmica. A sugestionabilidade constitucional de
"A 5. se revela assim como processo psí- aparelho corresponde ao grau de permeabi-
quico de caráter irracional e em grande parte lidade constitucional entre psique e
inconsciente em conseqüência de relação e aparelho.
rnot ivo-afe t i va p a r l i c u I ar". 3 Em toda pessoa há um aparelho (cardio-
Seguindo o critério pragmático segundo o vascular, muscular, sensitivo, digestivo,
tegu-mentário etc.) mais sensível e
qual uma pessoa é tão mais sugestionável
permeável do que a idcoplasia hipnótica, do
quanto mais se modifica por causa de uma
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mesmo modo que em toda pessoa há um
canal constitucional preferencial com o qual
ela se relaciona com o mundo, e, por isso,
há pessoas tendencialmente visivas ou
prevalentemente auditivas ou mais
acentuadamente cinestéticas, ou outra
coisa.

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SUSOHKNktQUK rcnauo-fianiminghi, Ciuisello Bálsamo 1991;
O. Davies, \e!i incontrocon Dio. I n mística neila
Bnu.: Obras: K . Bihlrncyer, Heinrich Seuse. tradizionenotd-emojva, Roma 1991; H.l). Kgan.
Deutsche Schnften, ed. crítica Frankfurt a M. Enrico Suso, in Id.. I misiicie la misiica, Cidade
1961 (rcimpr. de 1907); L. Surius, Ilenriei do 996
Susonis Opera..., vers. Jat., Colnniae
1555s.s.; B. I*-. Suso, Opere spiritttali. oni. Vaticano 1995. 370-381: E. I ilthaut (oig.).
por B. De Blasio, Alba 1971; li. Suso, Líhreito Heimich Sense. Studien zuni 600. Todestat].
delfEtema Sapienza. a cuia di Giovanna delia Köln 1966; Giovanna delia Croce, s.v., in DES
Croce, Milão 1992; I~\nrico Suso. // lihretta III, 2432-2436; Id., Ii Cristo neila dottrina e
Jeil 'amare e altri scritti, org. porT. Giuggía. M uella csperien'.a reliyjo-sa di Enrico Susone. in
ilau 1997. Estudos: J.-A. Bi/et. s.v, in DSAM ScnCat 95 (1967). 124-145; A M . Haas, Sermo
VII/1, 234-257; J. Buhlmann, Christuslvhrc Mystycus: Studien zur Theologie und Spruche ihr
mui Christusmysiik des Heinrich St'ti se, Lu/ern Deutschen Mystik, Freihuri: i. Br. 1979; Id.,
1942; L. Cornet, Introau-zione ai nustici Kunst rechter Gelassenheit, Bern-Berlin-Fra n k
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furt/.\! - N< > va Y< >rk- Pa ris-Vi ena 1995;
W. N igii, Das mystiche Drei^estirn. EcUiari,
Tauler, -Sense. Zu-rique-Mimiquc 1988; F.
Ochsenbein, s.v., in HA/v, 459-461: F.
Vandenbroucke, Di spiruualità del Medioevo,
4/B, Bolonha 1991, 283-287.

(Havanna delia Croce

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100 TEMOR £H-
1 DEES

dadeiro -> culto c pertence à expressão da — Também —> Pai do e —» João insistem
» adoração e da reverência paia com o Deus nesse tema. O Apóstolo das gentes, sentindo
infinito e santo. Deus certamente e —> Pai, toda a alegria e gratidão pela obra de ->
mas ê sempre o totalmente outro, acima de Cristo, que renovou toda a história do
todo mérito e de toda capacidade do homem mundo, percebe que com a —> redenção
de estai dignamente diante dele. passamos de regime de tutela, de servidão e
Para a revelação, Deus é santíssimo e jus - corno que de menoridade para regime de
tíssimo, e, ao mesmo tempo, misericordio- idade madura e de > liberdade filial. As
síssimo e cheio de piedade. Essa verdade conseqüências mais evidentes são que
obriga o homem a rejeitar a angústia ou o entramos na era da —> graça mais
pânico que os pagãos tinham em relação à abundante possível, de modo que não existe
divindade. mais nenhuma condenação para quem é de
Cristo. Mas - como o Apóstolo explica, em
II. Na Escritura. Qual é a relação entre particular na Carlo nos Romanos - o cristão
temor e amor? Em não exclui o outro? San to não pode voltai" a viver segundo a carne,
—> Agostinho não teria exagerado quan do porque contristaria o —> Espírito, que está
disse: "É esta, de forma muito breve c clara nele, e obviamente recairia na escravidão e
a diferença entre os dois Testamentos: o no pior temor. Se o Espírito significa
temor (no Antigo) e o amor (no Novo)"? O AT liberdade eamor autêntico, o pecado
privilegia realmente um temor tão grande significa para o homem a queda no temor
que não combine com o amor? A Eei do Sinai odioso e aviltante, se não na indiferença.
foi dada por Deus só pata ter súditos São João, em sua primeira carta, quer que
obedientes e temerosos, ou antes para criar 0 crente se confesse pecador, porque essa é
filhos amorosos? —> Os profetas que vieram loiína primeira e basilar de verdade e liber-
antes de Cristo anunciaram talvez o Deus da dade, mas não admite que ele cultive o peca -
cólera, insinuando um temor angustiante? do, porque ele deve viver em Cristo. Viver em
Ou pregaram que os "direitos" de Deus Cristo é viver no amor verdadeiro; e "o amor
correspondem ao direito principal que ele se expulsa o temor", tornando Jesus e o crente
reserva, o de ver os homens afeiçoados a ele cada vez mais íntimos entre si. Certamen te,
e seguros de seu amor? Se ele punia seu como diria santo Agostinho, "ã medida que
povo, fazia-o simplesmente para vingar sua permanece em Cristo, o homem não peca";
honra ou também para corrigir mas ninguém pode considerar-se protegido
desveladamente, embora de forma se vera, contra toda —> fraqueza, como Paulo também
como faria um pai que ama e quer ser ensinava.
amado?
lissas perguntas levam a respostas que III. Ao longo da história da teologia volta
não permitem depreciar o AT, antes, ajudam muitas vezes o tema do /. sadio e realista. É
a ver que o "cumprimento ' realizado no NT visto tanto do lado da fraqueza humana
éamore temor bem harmonizados. \fa nova quanto do da atenção escrupulosa a Deus,
aliança não é abolido nem um iola da pre - que, mesmo tendo compreensão com as fra -
gação fundamental tios profetas, que prepa - quezas, não aceita que a pessoa se acomode
raram a vinda de Cristo e cuja pregação so- nelas.
bre o /. é a que dissemos no começo. Nos Santo Agostinho lala de temor filial, que é
Evangelhos Jesus insiste com sabedoria aquele de quem se esforça para progredir
nova sobre Deus, aprcsenlando-o como continuamente a fim de chegará meta; mas
extremamente bom, mas nunca como Pai que há um temor servil, que é o daquele que,
não seja santamente exigente tanto a ainda não totalmente educado para o amor,
respeito das obras a fazer, como a respeito evita o mal por indistinto, mas útil
das intenções e projetos e também quanto sentimento de medo do que o mal pode
aos —> sentimentos e ale tos. Jesus quer causar-lhe aqui embaixo e principalmente no
que vivamos com confiança extrema no Pai, tribunal de Deus. O magistéi io da Igreja
mas pede também vigilância severa, sempre sempre sustentou que certo t. é sina! de
vontade decidida daquele que luta para não
para honrarmos o Pai. Isso significa que
ser vencido pelo mal e que, temendo as
devemos ter o equilibrado /.
insídias da natureza, pede ao Pai que o livre
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das —> tentações. O /. é. pois, princípio de -
> sabedoria (cl. SI
1 10,10) e, como dom do Espírito, é o hábito
sobrenatural pelo qual o ciente adquire uma
> docilidade especial para submeter-se à
vontade divina e para percorrer, como ver -
dadeiro filho de Deus, o —> itinerário místico
que o leva à comunhão com as Pessoas
divinas.

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TKOl.OCilA NEGATIVA 1
008

todas as outras coisas; c ele é inominado jus- Filho" (Strômata. V, XI, 71, 1-5,Paris,
tamente porque nós não sabemos dizer nada 1981,142-145). O homem não pode conhecer
sobre ele, mas somente tentamos, como po- Deus, porque é invisível e indizível; segundo
demos, dar alguma indicação em torno dele, Clemente, nesse ponto estão de acordo
MJ para uso nosso, entre nós".' lambem os filósofos, entre os quais -> Platão.
Assim todos os nomes que atribuímos a Deus
III. Nos -> Padres. 1. Entre os apologistas são impróprios.
gregos, devemos recordar Justino (t 1 65), —* Orígenes pensa que nós não podemos
que se ressente da influência da filosofia conhecer Deus cm sua substância, mas só por
platônica. Em seus escritos em defesa da fé, ele meio do lx>gos, isto é, do Cristo, "figura ex-
sublinha a noção de Deus único e presso suhsunUiaeei suhsisterttioe Dei" ("figura
transcendente. Deus é sem origem, por isso expressa da substância e da subsistência de
não pode ser nomeado: "O Criador do universo Deus"), e, além disso, por meio das criaturas.
não tem nome, porque não é gerado. Receber Escreve ele: "Às vezes nossos olhos não
um nome pressupõe alguém mais \elho que podem olhar a natureza da luz, isto é, a
dê esse nome. As palavras —> Pai, Deus, substância do sol; mas observando seu
Criador, Senhor e Dono não sào nomes, mas esplendor e os raios que se difundem nas
indicativos motivados por seus benefícios e janelas ou em pequenos ambientes aptos para
por suas ações. A palavra "Deus" não é nome, receber a luz, podemos deduzir quão grandes
mas aproximação natural ao homem para são o princípio e a fonte da luz material.
designar uma coisa inexplicável" (II Apologia Analogamente as obras da providência divina
6,1, Paris, 1987, 204-205). e a mestria que se revela em nosso universo
Teófilo (t e. 180), bispo de Antioquia da são, por assim dizer, os raios de Deus cm
Síria, nos (rês livros Ad AuiolyciuH, nos quais comparação com sua natureza e com sua
defende o cristianismo contra as objeções do substância. Portanto, já que a nossa —» mente
pagão Autólico, escreve: "O aspecto de Deus com suas forças não pode conhecer Deus como
é inefável, inexprimível e invisível aos olhos ele é, pela beleza de suas obras e pela
carnais. A sua glória 6 sem limites, a sua maguilicencia de suas criaturas ela o
grandeza sem confins, a sua altura reconhece como pai do
universo" (De Principiis, I, 1, 6, 132-133). 2. Os
inacessível, a sua força incomensurável, a
capadócios: —> Basílio defende a dou
sua sabedoria
trina de Nice" ia contra os partidos arianos.
inigualável, a sua bondade inimitável, a sua Ele professa sua fé em Deus que é um só ser
caridade indizível" (Ad Autohcum I, 3, Paris, divino (ousia) nas três Pessoas (hipóstases) do
1948, 62-63). Pai, do Filho e do —> Espírito Santo. Na
—> Clemente de Alexandria diz que para polêmica contra Eunômio ( f 395). formula
chegar a Deus é necessária purificação em uma teoria que une a negação e a afirmação:
nível intelectivo, a qual se obtém mediante a "Entre as palavras ditas de Deus, algumas
análise: "Nós obtemos o modo catárlico pela indicam aquilo que está presente nele,
confissão, e o modo epóptico pela via da aná - outras, ao contrário, o que não está presente.
lise, progredindo para a inteligência primeira... A partir dessas duas séries, imprime-se em
Se, portanto, depois de termos tirado todos os nós uma espécie de marca de Deus,
atributos do corpo e os que são chamados proveniente tanto da negação dos -?
incorpóreos, nós nos lançássemos para a atributos que não convém
grande/a do -> Cristo e de lá avançássemos
como da confissão dos que existem". Nós o
por meio da —» santidade para o abismo, nos
chamamos incorruptível, invisível, imutável,
aproximaríamos, de algum modo, da
não-gerado. Cada uma dessas designações
intelecçáodo Onipotente, reconhecendo não
nos ensina a não cairmos na impropriedade
que ele é, mas que ele não é... A causa pri-
das noções quando refletimos sobre Deus*
meira não é lugar; ela está acima do lugar,
(Adversas Eunouiium, 1, 10, Paris, 1982, 204-
do tempo, do nome, da intelecção. Por isso
205).
Moisés diz: "Mostra-te a mim"; de modo niais
-» Gregório de Nissa é considerado o fun-
claro, isso significa que Deus não pode ser
dador da mística cristã. Ele usa as fontes
ensinado, nem dito entre os homens, mas
clássicas: Platão, os neoplatônicos e os
que pode somente ser conhecido por meio do
estóicos. O centro de sua especulação mística
efeito do poder que vem dele, porque o objeto
forma-o a doutrina da imagem de Deus no
da procura ê sem forma e invisível, e a graça
homem. Ela auxilia a razão, a qual, enquanto
do conhecimento verti de Deus por meio do
limitada, não consegue apreender a essência de
Matena! com direitos autorais
Deus. Escreve Gregório: "A natureza divina,
naquilo que ela é segundo sua essência, su-
pera toda a capacidade do pensamento, já
que é inacessível e inatingível > penetração
da

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I Í .X10S MÍSTICOS - THKOI .OG1A DIU) I SCI I 102
4
tan do o homem cm Deus, aniquilando o âm- entusiasmo foi diminuindo até tornar-se hos-
bito seguro do humano e reestruturando a tilidade aberta, mas a obra já tinha adquirido
consciência espiritual em torno do centro de grande notoriedade, que foi mantida muito
seu Ser. A leitura é processo dinâmico no qual viva por homens como Sebastian Franck (t
a forma lóuica da linuuauem humana é 1342), Mans I)enck( 1-1527) eValentin Wei-
"trans-formada" em dinâmica de amor. Os gel (t 1588).
verbos delineiam muitas vezes a passagem. O No século XVI o livro teve vinte e seis edi-
texto místico não expõe uma realidade, mas ções alemãs, quatro traduções latinas, duas
cria o espaço no qual a realidade divina se trancesas, uma flamenga e, nos séculos se-
guintes, numerosas outras edições - alemãs,
numa operativa. Conseqüentemente o
inglesas, francesas etc. -, de modo que se tor-
verdadeiro leitor não pode mais proteger-se
nou seguramente o texto mais conhecido e
do confronto, arrastado que é ao mundo
representativo da mística alemã assim cha-
desconhecido, caminhando nele como
mada especulativa.
peregrino no deserto. Não sabemos onde Lutero o encontrou, e
BIBL.: Aa.Vv., Ani del Congresso Internationale di não conhecemos os manuscritos usados por
Semeiotica dei lesto Místico. L'Aquila 1995; ele. Os primeiros testemunhos em nosso po-
Ch.-A. Bernard, hi percevtion mystique der remontam ã secunda metade do século
visionaire. in Studies in Spirituality, 6 (1996), 168- XV. O nome do autor é desconhecido; as ten-
193; H. Blomrnes-tijn - F. Maas, Kruispunten in tativas para identificar o "sacerdote da
de mystieke traditie, I .'A\a 1990; M. tie Ordem Teutõnica, porteiro do convento de
Ccrteiui. Poética è mística. Oues-tu mi di suma
religiosa, Milão 197;*; hl., hi Fabula mística, Franek-turt", ao qual o livro é atribuído no
Bolonha 1987; J. Dan, In Quest of a Historical manuscrito de Bronnbach (1497), não
Definition oi Mysticism, in Studies in Spiri- chegaram a resultados satisfatórios;
tuality, 3 (1993), 53-90; Id., Pie l/mguage of devemos, por isso, limitar-nos a indicá-lo
Mystical Prayer, m Studies in Spirituality, 5 como "der Franckfur-ler", o Anônimo de
(1995), 40-60; M. Huol tie Longchamp, Saint Francklurt.
Jean de la Croix; pour lire le Docteur mystique,
Paris 1991; K. Waaijnum, De mystieke rttimte O título verdadeiro da obra, como se pode
van de Karmel, Gent-Kampcn 1995; Id.. A deduzir da tradição manuscrita, antes que
Hermcneuiic o f Spirituality, in Studies in Lutero a intitulasse "Teologia alemã", por
Spirituality, 5 (1995), 5-39. causa das exigências de sua polêmica anti -
romana, é Büchlein vom vollkommenen
IL Blommestijn /.A'beti. A data da redação deve ser posta no
I itn tio século XIV. F certo, em lodo caso,
que ela, se insere na corrente espiritual que
parte de —> Fckhart e continua com —>
Suso e Tauler, autoridade citada no livro.
As poucas linhas introdutórias do manus-
crito de Bronnbach dão, em síntese, o con-
THEOLOGIA DEUTSCH teúdo do Livrinho. Ele "ensina muitas dou-t r i
nas preciosas sobre a verdade divina", mas
I. Origem e difusão. "Uma teologia alemã" sobretudo ensina a "distirmuir os verdadei-
ê o título L'( )in o qual Lutero (t t 546). cm ros amigos de Deus" dos falsos "espíritos li-
1518, em VVitlemberg, publicou de novo, cm vres". Com efeito, no essencial, o Livrinho repete
edição ampliada e remanejada, um escrito em o ensinamento eckhartiano sobre a verdade
alemão que ele já tinha editado dois anos divina, sublinhando, porém, seu
antes, sempre em Wittemherg, corno "nobre distanciamento das passagens heréticas, que
e espiritual livrinho", redigido segundo os tinham suscitado as suspeitas da autoridade
ensinamentos do "iluminado doutor > Tauler, eclesiástica. No Livrinho é muito forte a preo-
da Ordem dos Pregadores". Naqueles anos cupação de distinguir entre a —> liberdade
Lutero teve por essa obra uma estima muito absoluta de espírito, da qual goza o cristão
grande, igual ã que linha por Tauler, tanto enquanto —> "homem espiritual" (cf. ICor
que escreveu, no Prefacio de 1518, que nela, 2,15) e aquela espécie de imoralismo libertino
"logo depois da —» Bíblia e de —> Agostinho, no qual caíram alguns grupos (begardos,
ele tinha aprendido mais do que em qualquer Irmãos do Espírito Livre etc).
outro livro o que são Deus, -> Cristo e todas É possível que a obra se tenha originado
as outras coisas". Com o passar do tempo seu como coleção de instruções espirituais dadas
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por um religioso em algum convento de freiras
dependente da Ordem Teutõnica em Fran-
ckfurt (Sachsenhansen).
Isso explicaria o tom de literatura de edi-
ficação típico da "direção das monjas" justa-
mente como tinha sido exercida por Eckhart,

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TOMAS DE BERGAMO ■ COMAS DE 102
JESUS 8

Escada de perfciçàa (ire/e [ralados); III, Di- in Santi e santità nelTOrdine cappuccino. [. org.
versos tratados (seis) sobre o verdadeiro, reto, Mariano d'Alatri, Roma 1980, 245-263; Id., s.v.,
in BS, Prima Appendice, 7-12; Cianmaria da
poro, filial, unitivo ou transformante amor, com
Spira.no. fra Tom maso da Olera, laico
um apêndice de vinte e três cartas; IV. cappneino {1 só i- /6111, in Misceilaneu
Conceitos morais et»iira os hereges, obra apo- Adrumo ttcrnarc^iii, org. L. Cortesi. Bér naino ]
logética escrita cm Viena em 1620. 631-760; Isidoro di Villa-padierna, 5 .v., in
DSA\t XV, 865-867.
II. Ensinamento espiritual. Sc bem que
/: Jcnisen
as três primeiras partes, na intenção do
ordenador e editor, Pc. Juvenal, sejam desti-
nadas respectivamente à instrução dos prin-
cipiantes, dos adiantados e dos perfeitos, não
loi mam verdadeiro e pn iprio matutai ou d
a-lado de ascética-rmstica, elaborado
segundo o método tradicional das três vias.
T. não era teórico, nem leitor de autores
TOMAS DE JESUS
espirituais. Ele mesmo escreve: "Nunca li uma
sílaba dos livros, mas me afadigo bastante 1. Vida e obras. Tomás de Jesus, no século
lendo o apaixonado Cristo", A finalidade de Diaz Sanchez Dá\ ila, nasceu ern Baeza (na
seus escritos era fazer arder de amor: "Que Andaluzia, Espanha), em 1 564, filho de Bal-
esses meus escritos - auspicia ele - 1 iram 11 tasar Sanchez e de Teresa Herrera. Freqüentou
a >racâo de quem os 1er; para que eu e eles os cursos de iilosolia e teologia na Uni-
(chagados e feridos desse amor divino) versidade de Baeza. Em 1583 estudou direito
possamos... louvar, adorai; bendizer, amai e na célebre Universidade de Salamanca. Lá o
contemplar esse Deus. digníssimo de todo Mestre Baltasar Céspedes, célebre humanis -
bem". ta, fê-lo conhecer os escritos de —» Teresa de
Nui]-ido da espiritualidade afetiva e cristo- Avila. Diaz leu a autobiografia de Teresa e fi-
cêntrica tradicional da Ordem, viveu e des- cou fascinado não só pelo estilo, mas também
creveu o puro —> amor a Deus como tema e principalmente pelas formas de oração
fundamental cie sua ascética e mística tratadas na obra, e em abril de 1586
vívidas na —» cotidianidade de sua vida de decidiu-se a entrar na Ordem dos carmelitas
esmoler contemplativo. Ensinava a todos descalços, na qual tomou o nome de T. de
aquela "alta sabedoria do amor" que "se Jesus, em sinal de devoção a santo —> Tomás
aprende nas claras chagas de Cristo"; exortava de Aquino. Leitor (professor) de teologia no
os outros a considerar-se "felizes no sofrimento" colégio de Santo Ângelo de Sevilha, pelo fim de
porque "o amor se conhece no sofrimento", e 1591 transferiu-se para Alcala de Henares,
insistia: "Desejo que sejais totalmente amor, onde continuou a ensinar teologia. Nesses
fogo e chamas. O amor verdadeiro não vê anos T. se dedicou ao estudo da Regra da Or-
prêmio, vê só o premiador, que é Deus". dem e pensou qu.c seria ütil fundar desertos,
Precedendo de uns cinqüenta anos santa —> nos quais os religiosos pudessem dedicar-se
Margarida Maria Alacoque, escreveu páginas ao menos por algum tempo à —> contempla-
ardentes sobre o Coração de Jesus, cujas dores ção. Manifestou sua intenção ao Vigário-Ge-
e amor contemplou, a cujo serviço, por uma ral, Nicolau de Jesus Maria (Doria). Foi só
vida de amor, dedicou-se e para o qual em 1592 que o P. Doria deu a permissão paia
convidou os outros. Ilindar um deserto. Assim o primeiro deserto
da Reforma foi fundado em Bolarque e
NOTAS: Editado em agosto 1682; reeditado em
1
madurado cm 24 de junho de 1593. Em
Nápoles 1683; nova edição modernizada org. 1607, Paulo V (t 1621) enviou um Breve que
por Fernando da Riese Pio X, Pádua 1986. obrigava o Padre T , em nome da obediência, a
BiiiL.: Obras: Fra Tommaso da Bergamo, Fuoco ir a Roma. Lá o P. T projetou íundar uni
d'amore mandato da Cristo in terra peresserc acceso, instituto exclusivamente missionário, que ele
org. por Fernando da Riese Pio X, com a denominou "Congregação de São Paulo". Apre-
colaboração de Giacomo Carminati, Pádua sentou as finalidades da o n\iirelação ao
1986. Antologia também de «umos textos, com papa, que deu a aprovação em 22 de julho de
introduções / l'raîi Cappuccini. Documenti e
iestimonianze dei primo secolo, org. por Costanzo
1608. 1*01" causa cie vozes contrárias, sui
Cargnoni, III/1, Perugia 1991,1452-1558. s*idas dentro da Ordem, o papa decidiu
Estudos: Fernando da Riese Pio X, Un suprimira nova Congregação só cinco anos
contemplativo per le strade. Tommaso Acerbis da Olera, mais tarde.
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Em 1610, o papa enviou o padre T. com
alguns companheiros a França e ã Bélgica "a
fim de erigir alguns mosteiros para ajudar os
fiéis e para reconduzir os hereges à fé". O
padre T. partiu com seus religiosos no dia 14

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TRANSE de modo a não poderem ser diferenciadas a
natureza e a motivação dos três fenômenos.
estados de consciência. Enfim, mesmo que 1034
estivéssemos seguros de que um /. é de na-
tureza mística, isso não poderia depor nem a Do ponto de vista psicodinârnico, a regres-
favor nem contra a santidade da pessoa em são a fases evolutivas anteriores diferencia a
questão. Os sinais de —> santidade não de- alucinação psicótica da alucinação hipnóti ca
veriam ser baseados numa fenomenologia e da alucinação no t. místico.
dissociativa mais ou menos maravilhosa, e Em certos casos alguns parâmetros podem
sim na adesão da vida interior e relacionai à diferenciar-se entre si, mas são tão sutis e tão
mensagem de Cristo. discutíveis que, ao menos por enquanto, não
podem ser generalizados, também porque o
III. Na psicologia da religião, a reflexão que foi dito valeria só paia os parâmetros
mais importante é a relativa ao signi ficado neurofisiológicos, cuja mensurabilidade é
do evento, que é da competência da -» relativamente lácil em comparação com a
teologia. O fato de haver semelhança mensurabilidade dos processos cognitivos
fenomênica não pode levar a reducionismo conscientes e principalmente inconscientes.
simplista, pelo qual um fenômeno seria re- A esses parâmetros seria necessário acrescentar
duzido a outro fenômeno sõ porque aparen- os parâmetros personológicos; nesse ponto,
temente é semelhante a ele. A -> psicologia da como se poderá observar, a complexidade é tal
religião poderá estudara estrutura psíquica da que não será fácil reduzir um estado de
pessoa que está em t. junto com as consciência a outro. Mesmo assim é certo que
psicodinâmicas subjetivas e culturais e com muitos traços são comuns a /. diferentes.
todas as correlações sistêmicas implicadas no Nesses casos, o cientista não pode ter certeza
fenômeno, mas nenhum psicólogo poderá sobre se um êxtase é só um dos muitos
traçar o diagnóstic< > da santidade. Isso não estados de consciência alterados; e o teólogo
é da competência nem do teólogo. O psicólogo não pode saber com certeza se se trata de san-
clínico poderá perceber eventuais patologias t idade.
pessoais, familiares e de relação, mas
nenhuma —» patologia poderá excluir a possi- NOTAS: 1G. Lapassade. Saggio suite trance, Milão
bilidade de santidade. 1980; C.T. Tart, Stati di coscienza, Roma 1975;
A respeito disso pode ajudar-nos a antro- M.S.
Gazzaniga, Stati delia niente e stato dei cervello,
pologia ontológica de V. E. Frankl, que trata Florença 1990; 2 Bento XIV, De Servurum Dei betai-
justamente do significado de evento místico ficatione et Beatortun canonizjitione, in Opera omnia,
em psicologia: qual é a diferença entre a —> 1747-51 ;3 A. lmbcrt-Gourheyre, I JX stigmatisation,
visão de uma mística, como Bernadette de l'extase divine et les miracles de Lourdes: response aux
Soubirou (t 1879), e a - ) alucinação de um libres jyenseurs, Clcrmont F. 1873; Outros estudos
psicótico? Se considerarmos só a fe - deste período: F. Lcfcbvrc. Louise Lateau de Bois-
d'Haibe: sa vie, ses extases, ses stigmates; étude mé-
nomenologia externa, isto é, os epifenôme-nos, dicale, Louvain 1873; M. Warlomont, Louise
deveremos constatar semelhança estreita; Lateau: Rapport médicale sur la stigmatisée de Bois-
mas o significado pode ser diferente. Três d'Haine, in Bld. Soc. Rov. Mëd. de Belgique, 15 (1875),
pessoas que choram podem manifestar na 144-314; 4 W.N. Pafinke, Psichiatria clinica e
mecânica da lacrimação semelhança notável, religione, E. Mansell Pcitison (org.), Milão 1973;5
mas é possível que uma chore de alegria, F. Granone, lïattato di ipnosi, I, Turim 1989, 88.
136, 251 ;6 LM.. Lewis. Ecstatic Religion,
outra de dor e a terceira, porque está
Harmondsworth 1978,38; I.P. Couliano,
cortando cebola. Esperienze dell'estasi dall'ellenismo al Mediœvo, Bari
P a i a explicar isso, Frankl recorre também 1984, 1-17;7 Cf. V.E. Frankl. Dio neW inconscio,
a projeções ortogonais: uma esfera, um cone e Bréscia 1990; 8 M. Margnelli e G. Gagliardi,
um cilindro que tenham o mesmo diâmetro, Ij£ apjxirizioni delta Madonna. Da lourdes a
projetam num plano um circulo, um triân- Medjugotje, i n Riza Scienze, 16(1987); v A.
gulo e um retângulo; e no outro plano proje- Pacciolla, Ipnosi, Cinisello Balsamo 1994. 224-
239; 10 F. Granone, Trattato... o.c, 289.
tam três círculos perfeitamente idênticos, de
modo que não se poderá dizer qual deles foi B(BL.: Aa.Vv., Extase, in DSAMIV/2,2045-2189; I.P.
projetado pela esfera, qual pelo cone e qual Couliano, Esperienze dell'estasi dall'ellenismo al
pelo cilindro. Analogamente, uma alucinação Mediœvo, Bari 1984; M.S. Gazzaniga, Stati délia
psicótica, uma alucinação cm l hipnótico e mente e stato dei cervello, Florença 1990; F. Gra-
uma visão mística, no plano psiquiátrico, po- none, Trattato di ipnosi, I, Turim 1989,88, 136,
deriam apresentar analogias surpreendentes, 251 : A. Imbert-Gourbeyre, La stigmatisation,
Texsfase divine et les miracles de lourdes: response aux
libres penseurs, Clermont F. 1873; G. Lapassade,
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Saggio suite trance, Milão 1980; F. Lefebvre, Louise
Lateau de Bois-d'Haine: sa vie, ses extases, ses
stigmates; étude médicale, Louvain 1873; I.M.
Lewis, Ecstatic Religion, Harmondsworth 1978,
38; A. Pacciolla, Ipnosi f Ciniscllo Balsamo
1994: V. Satura, Ekstase, in WMy, 132-134; C.T.
Tait, Stati di coscienza, Ron .:i

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VL-RNA/ZA BATISTINA 1042
As irmãs Cateta e Genebra Ion iam-se mon- preparar para te receber em sacramento,
jas e Batistina, com apenas 13 anos, decide sent i várias vezes dentro de mim a tua
seguir o exemplo delas, ingressando no mos- majestade me chamando, dizendo; "Vem que te
Iciro de Nossa Senhora das Graças das cò- quero devorar inteira " (Ibid. 16).
negas regulares lateranenses. A identificação com Cristo crucificado es-
Sua vida de religiosa transcorre aparente- pecifica-se na > profecia que lhe anuncia
mente uniforme, entre os muros do mosteiro, que ela também, quando morrer, terá seu
sem repercussão externa; ali exercerá por duas peito aberto para que dele saia água e san -
vezes o cargo de priora: de 1547 a 1553, e de gue: "Quando morreres, abrirei leu peito e
1577 a 1581. Morre em maio de 1587. dele sairão sangue e água, e lodos beberão"
O —> silêncio é a característica profunda {Ibid. 9).
dos longos dias que V. passa na clausura. Sua A interpretação é que se trata do alimento
experiência interior amadurece, inicialmente fecundo dos seus escritos, que será oferecido a
acompanhada pela reflexão sobre os proble- todos os homens que queiram se
mas que o seu relacionamento com Deus vai alimentar espiritualmente. Os estados de
propondo. Nascem, assim, nesse período, as -> êxtase e a suavidade dos colóquios com
46 Dúvidas sobre o estado de -> união, que Deus não poupam, porém, V. do assalto da
ela submete à análise de um teólogo. Trata-se dúvida: o que ouve não seria uma ilusão?
de uma forma de reflexão que mostra a sua Anota apressadamente, logo depois de ouvir a
preparação conceituai, mas que já indica a voz, aquilo que lhe é dito, e quando fica cm
premente necessidade, que lhe vem do fundo da dúvida se uma palavra lhe foi mesmo
alma, de se entregar à sedução de Deus. comunicada, anota também essa perplexi -
Os Colóquios - organizados em pequenos dade. Isso, porém, não a perturba, mas con-
tratados sobre a —> contemplação - marcam tribui para simplificar e paia tornar cada vez
a passagem paia um avanço progressivo nos mais transparente a sua entrega à essen-
meandros da vida unitiva. cialidade de Deus: "Essas coisas eu as encon-
Entre os seus escritos devemos cilar as trei anotadas em diversos bilhetinhos, os
composições poéticas, as cartas e uma auto- quais
biografia, redigida em obediência ao seu di- eram escritos às pressas, depois de receber a
retor espiritual. santa Comunhão, a fim de chegar em tempo
para rezar o ofício com as demais, ficando de
completá-los depois. Mas, seja por es-
11. Experiência mística. A caminhada es-
quecimento, seja porque não linha eerie/a se
piritual de K, que rapidamente evolui paia a
eram da tua majestade, ficaram assim
contemplação, é marcada por episódio inicial
imperfeitos; e agora, juntando-os, não alterei
importante: pela primeira vez percebe,
suas palavras, deixando-os francos como
durante a oração, Lima voz que lhe comunica
eram..." (Ibid. 23).
uma mensagem, como resposta ao seu pedido
Quando V. morrei', ficará confirmada a
de querer morrer em Cristo, segundo a palavra
verdade da palavra que caracteriza sua ca-
de —> Paulo: "Mon estes c a vossa vida está
minhada: "Ocultar-le-ei de lai forma em mim
escondida com Cristo em Deus" (Cl 3,3). Essa
que não mais encontrarás a li mesma..."
voz logo se tornará, em sua percepção, um
(Ibid. 22).
diálogo entre terceira pessoa e o "tu" divino, a
quem ela própria se dirige. Compreenderá, BiBL.: Obras: D. Dionísio da Piacenza (org.).
depois, que esse "tu" coincide com a terceira Opere spirititali delia reverenda et devotíssima
voz, enquanto, gradativamente, como refere vergine di Cristo Donna Battistina da Gênova
canónica Regolare Lateranense, 3 vols., Veneza
nos Colóquios, conseguirá passar da oração
1588. Estudos: CA. Boeri, Una gloria di Gênova ossia
ativa à oração passiva e abrir o coração à contpendio delia vita delia Ven, Battistina Vernazza,
disponibilidade pura (cf. Gênova 1906; U. Bonzi da Gênova, La vénérable
colóquios 15-20). Battistina Vernazza, in RAM 16 (1935), 147-179;
Sua vida é marcada cada vez mais pelo si- Cassiano da L a m í a s c o , s.v.. iriRSXII. 1040
1042; J . HeeniiLkx. s.v.. in DSAM I, 1240-1242;
lêncio, porque o tipo de contemplação au- D. Mondrone, Donna Battista Vernazza mística e
ditiva que a alimenta exige esse estado de —> umanista dei Cin-quecento, in CivCat 119(1968),
escuta t ot al. Seu ser profundo é feito de 253-260; N. Pet roc-chi, Sloria delia spiritualità
imobilidade e silêncio, em escuta permanente; italiana, II, Roma 197S; G. Pozzi e C Lconardi
(org.), Scrittrici mistiche italiane, Génova 1988,
é cu que se anula, e nesse —> aniquilamento 363-381; G. Scatena, s.v., in EC XII, 1286-1287.
místico o "tu" de Deus torna-se "boca" que lhe
propõe "devorá-la". "E assim, naquele mesmo Al. Tirahnschi
dia bendito (festa da Epifania), ao me
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VIDA UiOLOGAl. 104
8
da literatura neoteslamentária. O Espírito de de convicções e experiências a que a Igreja
Jesus Cristo é o sujeito primeiro das ativida- faz referência em sua missão de guia na
des âs quais damos o nosso assentimento, carni-nhada de sequela e obediência ao
mediante as operações. Essa comunhão de Espírito. Essas três coisas foram consideradas
reciprocidade é descrita com diferentes acen- como que o aspecto central do consenso para
tos nos textos do NT. Lidos na perspectiva da impedir o esvaziamento da reconciliação em
leitura unificada da —> Palavra feita por Je- Cristo (cf. 2Cor 5 f 19s). Os -* Padres e os au-
sus no encontro com os discípulos de Emaús tores espirituais insistiram na importância
(cf. Lc 24,27). dessas três prerrogativas. A —» teologia não
As iniciativas que a teologalidade habilita a reconheceu de imediato o caráter unitário e
pessoa a viver são próprias de alguém que é virtuoso e teologal da santa tríade. O cami -
membro do Corpo de Cristo, vivificado pelo nho para essa síntese foi longo e progressivo.
Espírito. As pessoas que as realizam são o Pedro Lombardo (t 1160), no início do segundo
sujeito próximo (não o primeiro nem o único) milênio, considerava a caridade atividade
da sua atividade; trata-se de operações que que o Espírito Santo desperta nos fiéis.
Cristo realiza em sua —> Igreja, e que esta vive Achava que a pessoa humana poderia crer e
naquele a quem seu Espírito nos une. esperar em Deus, não porém amá-lo.
A v., em sua unidade de vida na caridade, Admitia a distinção entre fé, esperança e
é a vida do povo de Deus, agrupado em Cristo caridade. Pela sublime dignidade desta últi -
e que nele experimenta a misericórdia (1 Pd ma, considerava que o Espírito Santo amava
2,10). Cristo fundou-o na possibilidade de em nós, mas não mediante a nós, como na fé
dizer, no Espírito, "Abhá Pai", e lhe deu tam- e na esperança, -> Tomás de Aquino deu a
bém a possibilidade de participar do seu co- última contribuição a esse processo reconhe-
nhecimento de Pai, conhecimento que só cendo que seria desconhecer a obra do Espí-
através dele pode se irradiarão mundo, rito - e não sublimá-la - considerar que a ca-
mediante a —> graça que lhe será dada ridade não se realiza mediante nós.
quando ele se revelar (cf. 1 Pd 1,13). Essa experiência e essa reflexão
O anúncio de que a Encarnação do Verbo convergem para a síntese àaSumma
constitui o tempo pleno, de que em Jesus Cris- Thcoloyjac,' na qual
to fomos adotados como filhos adotivos (cf. (il as mais luminosas intuições da ir:idi\:ão são
4,4), de que Jesus ressuscitado derramou retomadas e inseridas numa vigorosa visão da
sobre nós o Espírito, de que este vivifica a -> vida segundo o Espírito. Aí o Aquinate es-
fgreja, através da qual nos une ao Cristo que clarece o sentido da denominação de vir-
revela o mistério do Pai, orienta as pessoas tudes teologais, com a qual alguns autores
que o acolhem para um dinamismo de precedentes já haviam designado esses dina-
relação divina. mismos; ele as considera as mais altas ma-
A vida de Deus em Cristo e no Espírito foi nifestações da vida em Cristo. São teologais
derramada no seio da humanidade, gerando porque "têm Deus por objeto: por meio delas
um conhecimento que suscita o desejo de somos ordenados retamente para Deus, e
uma relação mais autêntica com as Pessoas elas são infundidas em nós somente por
divinas e a expectativa de se concentrar na Deus, e, enfim, porque são transmitidas na
plena manifestação da glória. Escritura só por revelação divina". 1 Essa
O estatuto teologal da vida em Cristo e uo concentração teológica é rica de
Espírito foi preparado pela economia do AT. conseqüências.
toda voltada para anunciar a vinda de Cristo Afirmar que as três são —» virtudes signifi-
redentor do universo e do seu reino messiâ - ca reconhecer que as operações que elas pos-
nico, e testemunha permanente de uma pe- sibilitam realizar enquadram-se no exercício
dagogia divina que em Cristo alcança sua das potencialidades humanas elevadas pela
meta (cf. DV 5, citado por TMA 6). Cristo não graça, investindo-se as pessoas na responsa-
fala em nome de Deus; nele, Deus mesmo é bilidade de serem sujeitos das ações nas
quem íala no seu Verbo eterno. quais se relacionam, em reciprocidade de
2. Das "/rés coisas"às ires virtudes teologais: relação, com o Deus que se revela verdade
a. Os primeiros doze séculos {1 Cor 13,13). Ain- lontal, amor que ama por primeiro (cf. Uo
da que através de acontecimentos variados, 4,8.19: 5,1,5,10), força e sustento do seu povo
jamais se deixou de focalizar a busca da co- (cl. 1 Pd 5,7). Ele chama as pessoas a
munidade crente. Essa pesquisa, atenta e viverem para sempre na comunhão
perseverante, desembocou num património irinitária. A pessoa é o verdadeiro sujeito das

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operações intelectuais e afetivas com que se
relaciona com Deus,
mas o é em e com o Espírito do Cristo pre-
sente nela. Os —> dons do Espírito
distinguem-se, mas nào se separam dele, que
é a sua fon

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VIDA irou H i Al.
LOS e nos critérios interpretativos que as Espírito..."; os "sacramentos... fazem a Igreja,
orientam, tentaram harmonizar esse conjunto, enquanto manifestam e comunicam aos
mas cias nunca são completas c todas as eras homens, sobretudo na —» Eucaristia, o
da história da Igreja devem caminhar com a Mistério tia comunhão do Deus Amor, Uno
Palavra para captar' suas exigências. Muitas em três Pessoas" (Ibid. n. 1119). "A igreja, em
teologias concordam em considerar que a sua doutrina, em sua vida e em seu culto,
contemplação é a operação das virtudes teo- perpetua e transmite a todas as gerações o
logais aperfeiçoadas pelos dons, isto é, pelas que ela é, o que ela crê...; as rique/as ida
potencialidades que o Espírito reali/a em tradição) suo transplantadas para a prática e
nós, para nos fazer convergir na Igreja, com para a vida da Igreja, que crê e que reza...; a
espírito unificado, em Deus fim último de comunicação que o l'ai fez de si mediante o
cada um de nós, da humanidade, da criação. seu Verbo no Espírito Santo permanece
Hs-ses dons iniciam a pessoa na vida presente e atuante na Igreja...; por meio (dela)
trinitária, no corpo de Cristo, na criação introduz os crentes em toda a verdade e faz
renovada. com que resida abundantemente, neles, a
O Espírito Santo infunde-os em nós e nas palavra de Cristo" (DV 8, citado nos nn. 78-79).
pessoas dóceis à sua ação, e mediante eles Essa pericorese entre vida eclesial e vida
permite superar as imperfeições que acompa- pessoal não tira nada da riqueza desta última,
nham os atos de cada virlude. Todos os dons pelo fato de que a multiplica, a gera, na força c
são ordenados a essa perfeição, que tem a sua na luz que vem da Cabeça da qual c o corpo,
expressão na atividade da -* sabedoria. do l-.spiri o » que a vivifica, do amor do Pai de
Os graus de perfeição das virtudes u -t do- onde brota e que a beatifica em sua
gais são os mesmos da vida cristã, eles passam plenitude. No concreto da existência, essa
do estado incipiente, proficiente e chegam ao participação é luminosa, alegre e, ao mesmo
perfeito, isto é, à unificação do conhecimento, tempo, sofrida. O risco e a coragem de querer-
dos desejos, no amor de comunhão com as se sempre, no tempo bom e nas tempestades,
Pessoas divinas e na conformidade imersos na comunhão do Corpo místico, que
com a sua vontade. conta com pessoas santas e pecadoras, que
3. Vem, Senhor Jesus. APáscoa-Pcntecostes, aspiram à luz e tateiam
o nascimento da Igreja, corpo de Cristo, povo na noite; o perseverar na fidelidade com ati-
de Deus, templo do Espírito, torna crístico- tude de partilha, não de seleiividade; tudo
eclesial o dinamismo da t>. nos "cristos" do Pai isso faz com que a caridade, sedenta de luz,
conduzidos pelo Espírito. A vida em graça, da se abra ã contemplação. Infelizmente, as
qual derivam as virtudes teologais e que é tendências individualistas e autonomistas,
reforçada por estas, é participação na paixão da alimentadas pela "vida fútil que herdastes dos
Igreja, que leva à realização da obra do Cristo vossos pais" (lPd 1,19), tornam árduo esse
(cf. Cl 1,24), para a plena manifestação da enraizamento eclesial. Elas são o fogo que
glória do Pai. A fonte e o cume da v. é prova o valor da fé e são também elas que
trinitária, por isso pascal e eclesial, porque no fazem com que retornem para "louvor, glória e
corpo de Cristo é que se derrama a vida do Pai e honra" dos crentes, na manifestação de Jesus
nele a humanidade conhece o Pai, obedece- Cristo, amado sem ser visto e crido sem vê-lo
lhe, ama-o e glorifica-o. A vida da e na Igreja é (cf. 1 Pd ],7s$). A Dei Verbum expressa a
a fonte, o contexto, a forma da vida tcologal, e profissão eclesial sobre a natureza, a gênese-
a vida da Igreja nasce da Páscoa do Cristo. O crescimento c o objeto dessa fé, tine habilita a
Mistério anunciado, celebrado, vivido, ver na luz que brota da sua fonte. Como lodo
contemplado na Igreja é a chave hermenêutica conhecimento humano parte do sensível,
e o contexto existencial da teologalidade. De assim todo conhecimento de fé nasce da
cada uma das virtudes se pode dizer o que o palavra e enraíza-se nela,16 numa compreensão
CIC diz da fé: "...Éato pessoal... mas não um que não se afasta do texto mas também não se
ato isolado. Ninguém pode crer sozinho..., detém nele, se deixa at rair e levar, a part ir
ninguém recebeu a fé de si mesmo, assim dele. paia o mundo do Mistério, de onde vem,
como ninguém recebe a vida de si próprio. O de que fala, rumo ao qual caminha (cf. Is
crente recebeu a fé de outros, e a outros deve 55,11), ao qual acompanha os eleitos,
transmiti-la" (n. 166). "A fé da Igreja precede a estrangeiros e peregrinos (cf. lPd 1,23; 2,1 1 ),
fé do crente, que é convidado a aderir a ela" Em sua caminhada, se fortalece com a força
(Ibid. n. 1124). "A Igreja é o sacramento da ação de Deus que, através dela, protege para a
de Cristo, que opera nela graças à missão do salvação o povo regenerado na ressurreição de

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VIDA irou H i Al. 1054
Cristo e vivo na esperança, na herança
conservada nos céus e próxima a revelar-se nos
últimos tempos (cf. lPd 1,3-5). Em dois
milênios de his

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1061 VIRTUDES CARDEAIS
menta a nova luz (iluminação) em suas capa- munho de vida. O místico experimenta a
cidades cognoscitivas para formar um juízo ação de Deus no grau superior da /.,
verdadeiro e reto, que dá nova energia (ins- enquanto atualiza já, aqui e agora, a tarefa
piração e moção) à vontade e à aietividade, a fundamental de todo homem: retornara Deus
fim de realizar escolha justa e reta, induzindo seguindo a estrada indicada a nós tanto pela
à sua realização, C) cristão encontra ajuda natureza quanto pela graça redentora e pelos
para a vida prudente também nas graças sa - dons do Espírito Santo. 2, Na Escritura, a
cramentais, sobretudo na reconciliação e na começar" pelo Gênesis (defesa da vida),
—> Eucaristia. A />., guiada pela caridade passando pelo Êxodo, até os profetas, sempre
derramada em nossos corações pelo Espírito são dei elididos os pobres, as viúvas, o
Santo (ct. Rm 5,5), torna-se assim a —> sabe- estrangeiro, o prisioneiro, o doente, o nu e o
doria do místico. Este não apenas sabe ler os faminto. O reino de Deus anunciado por
sinais dos tempos, lazer as escolhas justas e Jesus, fundado no amor de Deus e do
realizá-las, junto com os outros e para os ou- próximo, evoca a /. de Deus. 0 mandamento
tros, estimulado pelo amor-dom, mas se deixa do amor contém toda a /. Não pode haver
também transformare fecundar totalment e amor sem /., e vice-versa. O amor "supera" a
pelo amor do Senhor e pelos dons do /., mas ao mesmo tempo encontra nela a sua
Espírito Santo. Além da p. adquirida há a p. comprovação. "Bem-aventurados os que têm
infusa (divina) de todos os que "caminham lorne e sede de /., porque serão saciados" (Ml
para a semelhança com Deus: estes dizemos 5,6). Jesus pregou a/, que supera a dos
que estão se purificando. E então a p. tem a escribas e dos fariseus (ct. Mt 5,20). Por meio
função de desprezar todas as coisas mundanas de Cristo, podemos nos tornar de Deus" (2Cor
pela contemplação das coisas de Deus e de 5.21), então ele é a "; mesma de Deus";
endereçar todos os pensamentos da alma "...quem o leme e pratica a /. lhe é agradável"
somente para estas últimas (...). A outra é a p. (At 10,35). A/, bíblica nada mais é que a •->
dos que chamamos purificados, isto é, que já santidade, como é o caso de são —> José.
alcançaram a semelhança com Deus. E que é chamado homem justo. A perfeita/,
então a /;. está na contemplação somente das cristã é j . infusa, que deriva da união íntima
coisas divinas", 1 Esta é a/;, heróica, que mui- com Deus e cumpre todos os deveres para com
tas vezes se manifesta aos olhos dos homens os outros - lanulia, comunidade religiosa,
como atos imprudentes, mas que, na realida- Igreja e Estado - e, enfim, para com Deus.
de, são de prudência superior, pelos resultados Segundo o magistério, "a/. é a virtude moral
obtidos. A do místico dá testemunho do que consiste na vontade constante e firme de
influxo do Espírito Santo, caminho e dom do clara Deuse ao próximo o que lhes é devido. A
conselho. "Os sele dons do Espírito Santo são /. para com Deus chama-se virtude da
a sabedoria, a inteligência, o conselho, a - > religião. A;. em relação aos homens leva a
fortaleza, a ciência, a > piedade e o * > te mor respeitar os direitos de cada um e a estabele-
de Deus. Eles pertencem, em sua plenitude, a cer nas relações humanas a harmonia que
Cristo, Filho de Davi. Eles completam e promove a equidade em relação às pessoas e
levam à perfeição as virtudes daqueles que ao bem comum' ( C IC 1807). O bem comum
os recebem. Tornam os lieis dóceis, dispostos a orienta-se para uma ordem pessoal que tem
obedecer com prontidão às inspirações como fundamento a verdade, edifica-se na /.
divinas" ( C IC 1831). Deus dirige o homem por e é vivificada pelo amor. A/ dos homens que
meio do conselho e não por meio do juízo e estão sob a influência da graça transiormanle
do preceito. dá testemunho da/', divina. 3. \ j éconsidera-
da virtude que dá a cada um "o que lhe é de-
II. JUSTIÇA. 1, O homem, consciente de ter vido". O que é "devido" funda-se na sua dig-
sido criado à imagem e semelhança de Deus nidade de filho de Deus, destinado à > visão
e salvo por Cristo, não se limita a reivindicar beatífica, em união com Deus e com os ir-
os seus direitos, mas reconhece também os mãos no céu, a qual começa já agora e no
próprios deveres em relação aos outros, à grau mais alto da virtude da /. mística, guia-
família, à sociedade, à Igreja, ao Estado e a da pelo dom da piedade.
Deus. A f é e o amor a Deus são o fermento Na como nas demais virtudes, há diversos
interior para a vida de/. dos cristãos. A fome graus, a começar pelo dos principiantes,
de /. pode abrir o homem para Deus, que c "a passando pelo dos proficientes, até chegar ao
própria /." O cristão tem consciência de que do místico unitivo, da /. heróica. No centro
Deus, "o único justo", age no mundo e na Igreja deste último mau encontra-se o Deus-Trin-
para manifestar a sua /. através do teste-
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dade. que, com sua presença gratuita e ínti-
ma, transforma o ser do místico e se mani

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1061 VIRTUDES CARDEAIS
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106 VUVIADK
9

apoiados no seu exemplo e na sua -> graça e amor a Deus c às coisas em Deus, intuição
(cf. Mt 7,21; 12.50). c avidez dessas realidades, iluminação e
Na teologia, a v. é tida como que "atenuada embriaguez de \\ nelas. A relação homem-
pelo -> pecado",1 tendo em vista seu valor Deus simplifica-se cada vez mais, até desco-
precípuo de liberdade; só com a graça do —> brir que as funções distintas (intelectiva,
Cristo é habilitada a conseguir os bens so- volitiva e memoraiiva) são superadas c que o
brenaturais. Us teólogos medievais, reconhe- espirito, em sua existencial unidade,
cendo que tanto a inteligência quanto a v. mergulha no divino, que c a l u z intelectual
haviam sido recuperadas pela graça, plena de amor.
Teresa de Avila dizia que a livre v. huma-
discutiram a respeito do primado de uma
na, se quiser progredir na experiência místi -
sobre a outra. Alguns (Alberto Mau no,
ca, deve submeter-se a uma lorte ascese
Tomás de Aquino), seguindo Aristóteles,
para salvaguardai" a própria liberdade das
davam o primado à inteligência, que conhece
seduções terrenas - e doar-se completamente
a essência do bem, embora atribuindo à tf a
a Deus, sem se preocupar com a atividade
função indispensável na consecução do bem
intelectiva. especialmente na oração de quie-
concreto. Acabaram concordando em conceder
tude. A linalidade da oração é a conformida-
certo primado à tf, porquanto o objeto da
de da V. humana com a de Deus.*
inteligência è Deus, superior à capacidade
—> João da Cruz escrevia: "Altzuns ai
intelectual do homem, e por isso c melhor o
irmam que a v. só ama aquilo que antes loi
amor a Deus do que o conhecimento dele.
apreendido pela inteligência, mas isso deve
Pata Tomás de Aquino, as duas faculdades,
ser entendido em sentido natural..,;
em sua dinâmica, evocam-se
sobrenaturalmente* Deus pode m u i t o bem
reciprocamente.
i n f u n d i r e aumentar o amor sem i n f u n d i r e
Outros (Hugo de São Vítor", Henrique de
aumentar o conhecimento distinto". 4
Gand, Duns liscoto), exaltando na u a fun-
Acrescentava que, sendo Deus luz e amor,
ção amorosa que tende ao bem, ou a ativida-
comunicava-se com a pessoa humana de vários
de1 da v. que domina o objeto da potência
modos: "Às vezes, percebe-se mais conhecimento
intelectiva e é autônoma, davam o primado à
do que amor; outras, mais amor do que
e. (voluntarismo). A v. livre de Deus constituiu
inteligência..., ou só conhecimento e nada de
o universo sem nenhuma predisposição
amor..., ou só a m o r sem nenhuma
intelectiva. Assim, o crente aceitaria a verda -
itilormaçào"." Para o doutor místico, u m ato
de revelada só pela lê, e a teologia ofereceria
de tf l e i t o com amor d i v irio vale m u i t o
sobretudo preceitos a observar.
mais do que todas as —> visões e
Pensadores modernos (Berkeley, I.eibniz)
comunicações celestes. A caminhada rumo ã ->
consideram a v. fundamento da psique hu-
perfeição ou à u n i ã o com Deus avança com a
mana e lhe atribuem um valor prático (Kant),
purificação ( n o i t e ) da v., med i a n t e o exercício
isto c, predominância sobre a razão teórica.
da —* caridade d i v i n a , q u e afasta a pessoa
Muitas outras nuanças sobre o primado da u
dos afetos terrenos, das > paixões naturais,
lorarn olerecidas por outros pensadores; in-
das obras inclusive sobrenaturais, para
clusive se contrapôs ao cartesiano "cogito,
endereçar-se para a posse da u de Deus, até
ergas um" o "m/o, eigosum" (Mainede Biran). Só
a m a r a Detis com a força do —> Esp í r i t o
os idealistas (Croce. Gentile) procuraram
Santo. 7 É este quem move a tf para a m a r a
anular o voluntarismo e o intelectualismo,
Deus,8 até u n i f i c a r a s duas vontades. 9
identificando v. e conhecimento,
Somente assim av. humana é
autoconsciência e processo volilivo.
verdadeirament e l i v r e e generosa.10
II. Na experiência mística. Os místicos
cristãos, na experiência mais elevada da >
N OTAS: 1 DS 792;2 Cf. Cammino di perfezione 10, 1;3
V i. Carteia ulterior; II, ] ,S;A ( an:it o espiritual
oração contemplativa e da —> união amorosa B, 2c\8; • Chama viva iie anu >r. 3,49;r Suhida do
com Deus, não levam em conta as preo- Monte Carmelo II, 22, 19; 7 Noite escura II, 4.2; 8
cupações filosóficas e teológicas do primado Cântico espiritual 17.4;* Ibid.. 38,3; Chama.... o.c.t
da v. sobre a inteligência, ou vice-versa, mas 1,28; l0/but, 3.78.
só aquele misterioso devir do espírito humano
BiHJ..: Aa.Vv., !xdueazi"ne delia volontà, Brescia
que, se tornando íntimo do sobrenatural, 1986; R. Assagioíi, I.atto di volontà, Roma 1977;
experimenta ao mesmo tempo conhecimento R Chuu-ehard. Domíniodt sesiesso. Psico
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fisiologia delia volontà. Roma 1988; LM. Fabci;
Psicopatologia delia volontà. Turim 1973; M.
Gibbas, Come rafjorzare la volontà persu}X'tare
o^ni ostaeoh >, Pádua 1981; T. Goffi, A^v.sv in
Dicionário dt'espiritualidade, Sào Paulo, 19^8; A.
Lipari. s.v.t in D ES I I I , 2677-2683; A M
Maslow. Motivazione e petsimahta, Roma 1978;
V. Ricoeur. filosofia delia volontà, Gênova 1990; P
Rahner, s.v., i n Id. (org.). Sacramentum mundi,
VIII, Brescia 1977, 380-682; L Seei/o, lulucazione
delia volontà, Bréseia 1983; A. Solignac. s.v., in
DSAM XVI. 1220-1248.
(7. G. Pcsenti

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ÍNDICES DOS VERBETES

Abandono (Micheletli Daniele), 1


Abnegação (Morandin Carlo), 2
Abraão (Murphy Roland E.), 3
Absoluto de Deus (0'DonneIl Christopher), 5
Acídia (Attard Mark), 6
Acolhimento (Magrassi Mariano A.), 8
Adão (Vella Alessandro), 11
Adaptação (Froggio Giacinto - Pacciolla Aureliano), 13
Adivinhação (Marcozzi Vittorio), 13 Adoção divina (Galot Jean),
14 Adoração (Valabek Redento M.), 16 Afabilidade (De Cea
Emetério), IS
Afonso M. de Ligorio, bispo e santo, 1787 (Velocci Giovanni), 15
Agilidade (Aumann Jordan), 21
Agostinho, santo, 430 (Grossi Vittorino), 22
Alberto Magno, OP santo, 1280 (De Cea Emetério), 28
Alegria (Gaitan José Damian), 22
Alemanha (Giovanna delia Croce), 30
Aliança (Morrison Graig), 35
Alma (G. G. Pesenti), 36
Alonso de Madri, OFM 1535 aprox. (Jansen Theo), 38
Alucinação (Paolucci Gian Pio), 33
Alumbrados (Huerga Álvaro), á2
Alvarez da Paz, SJ 1620 (Ruiz Jurado Manuel), 43
Ambrósio de Milão, bispo e santo, 397 (Grossi Vittorino), 46
Americanismo (Pacho Eulógio), 51
Amizade (Herráiz Maximiliano - Froggio Giacinto), 52
Amor (Beneditinas da ilha de São Júlio), 55
Andreasi Osanna, terc. domincana, 1505 (Del Re Niccolò), 52
Ângela de Foligno, santa, 1309 (Andreoli Sergio), 58
Aniquilamento (Morandin Carlo), 6Q
Anjos (Pacciolla Aureliano), íú
Ano litúrgico (Caruana Edmondo), 6Z
Anselmo de Aosta, bispo e santo, 1109 (Picasso Giorgio), 1109
Ansiedade (Pacciolla Aureliano), 71
Antão Abade, monge, 355 aprox. (Spidlík Tommaso), 24
Antimisticismo (Steggink Otgcr), 25
Antinomias espirituais (Stercal Cláudio), 81
Antonieta Meo, leiga, 1937 (Borriello Luigi), 82
Antônio de Pádua, OFM, santo, 1231 (Barbariga Rocco), 86
Antônio do Espírito Santo, OCD 1674 (Giordano Silvano), 8Ü
Antropocentrismo - antropomorfismo (Goffi Tullo), 89
Aparições (Paolucci Gian Pio), 91
Apatheia (Beneditinas da Ilha de São Júlio), 92
Apego humano (Paolucci Gian Pio e Pacciolla Aureliano), 32
Apetite (Neglia Alberto), 96
Aplicação dos sentidos (Neglia Alberto), 97
Apocalipse (Vanni Ugo), 98
Aptidão (Froggio e Giacinto Pacciolla Aureliano), 106
Aridez espiritual (Ruiz-Salvador Federico), 107 Arintero
João, OP, 1928 (Huerga Álvaro), 109 Arte (Frugoni
Chiara), 110
102 ÍNDIO; D OSVHR BK TKS
5
Ascese-ascética (Borriello Luigi), 111
Assimilação divina (Amato Angelo), 118
Atanásio de Alexandria, bispo e santo, 373 (Pasquaio Ottorino), 123
Ateu-ateísmo (Bogliolo Luigi), 126
Atitude (Froggio Giacinto - Pacciolla Aureliano), 102
Atividade humana (Millán Romeral Fernando), 128
Atributos de Deus (O'Donnel Christopher), 130
Auréolas (Schiavone Pietro), 131
Ausência de sono (Zorzin Contardo), 132
Avareza (Paolucci Gian Pio e Pacciolla Aureliano), 133

Baker Augustine David, OSB, 1641 (Ward Anthony), 136


Balthasar Hans-Urs von, sac, 1988 (Sequeri Pierangelo), 137
Barbo Ludovico, OSB, bispo, 1443 (Leclercq Jean), 139 Barelli
Armida, leiga, 1952 (Miceli Alda), 140 Barth Karl, teólogo, 1968
(Vanzan Piersandro), 141 Basílio Magno, bispo e santo, 379
(Russo Roberto M.), 146 Batismo (Donghi Antonio), 147 Beatriz
de Nazaré, eist., 1268 (Cantore Stefania), 149 Beda o Venerável,
santo, 735 (Pasquato Ottorino), 150 Begardos e beguinas
(Giovanna delia Croce), 153 Beijo (Pesenti Giuseppe Graziano),
155
Belarmino Roberto, SJ, card. c santo, 1621 (Fornaci Maria Gina), 155
Bem-aventuranças (Russotto Mario), 157
Bento de Aniane, OSB, santo, 821 aprox. (De Vogüé Adalbert), 162
Bento de Canficld, OFMcap., 1610 (Quaglia Armando), 164 Bento de
Núrcia, santo, 560 aprox. (De Vogüé Adalbert), 165 Berinzaga Isabel
Cristina, leiga, 1624 (Tiraboschi Marisa), 167 Bernardino de Sena,
OFM santo, 1444 (Barbariga Rocco), 168 Bernardo de Claraval, eist.,
santo, 1153 (Leclercq Jean), 171 Bérulle Pierre de, oratoriano, card.,
1629 (Deville Raymond), 175 Bíblia (Ravasi Gianfranco), 177
Bilocação (Aumann Jordan), 177
Blois Francisco J. Luís, OSB, 1566 (Pedrini Arnaldo), 177
Boaventura OFM santo, 1274 (Pompci Alfonso), 178 Böhme Jacob,
teólogo luterano, 1624 (Bertalot Renzo), 180 Bona João, cisterc.,
card., 1674 (Del Re Niccolò), 181 Bonhoeffer Dietrich, pastor luter.,
1945 (Vanzan Piersandro), 182 Bosco João, fund. dos sales., santo,
1888 (Pedrini Arnaldo), 186 Bossuet Jacques, bispo, 1704 (Zovatto
Pietro), 188 Brandsma Tito, carmel., 1942 (Boaga Emanuelle), 189
Brígida da Suécia, santa, 1373 (Piltz Anders), 191 Broeckoven
Egídio van, SJ, 1967 (Vanzan Piersandro), 192

Cântico dos cânticos (Ravasi Gianfranco), 195


Canto (De Risi Domenico), 197
Carioni Batista de Crema, OP, 1534 (Bogliolo Luigi), 199
Carisma (Barruffo Antonio), 200
Carisma de fé (Tiraboschi Marisa), 202
Carismáticos (Barruffo Antonio), 202
Carlos de Sezze, OFM, santo, 1670 (Quaglia Armando), 205
Casei Odo, OSB, 1948 (Neunheuser Burcardo), 206
Cassiano João, monge, santo, 435 aprox. (Pasquato Ottorino), 207
Catarina de Bolonha. OFM, santa, 1463 (Sgarbi Gilberto), 21fl
Catarina de Gênova (santa), 1447 (Tiraboschi Marisa), 211
Catarina de Ricci, OSB, santa, 1590 (Tiraboschi Marisa), 212
Catarina de Sena, OP, santa, 1380 (0'Driscoll Mary), 214
Caussade Jean Pierre de, SJ, 1751 (Oberto Gemma), 216
Cavalca Domênico, OP, 1342 (Del Re Niccolò), 218 Caverna - cela (Pesenti Giuseppe
Graziano), 219 Cegueira espiritual (Faricy Robert), 220 Cesário de Aries, bispo e santo,
542 (Dattrino Lorenzo), 221 Cipriano de Cartago, bispo e santo, 258 (Grossi Vittorino),
223 Cirilo de Alexandria, bispo e santo, 444 (Porcellato M. Michela), 226 Cirilo de
Jerusalém, bispo e santo, 386 aprox. (Pasquato Ottorino), 227 Ciúme (Gatti Guido), 231
Clara de Assis, OFM, santa, 1253 (Perugini M. Antonella). 232 Clara de Montefalco, OSA,
santa, 1308 (Sala Rosario), 234 Clarividência (Marcozzi Vittorio), 235
Cláudio De La Colombièrc, SJ, santo, 1682 (Collantes Justo), 235
Clemente de Alexandria, monge, antes de 215 (Pasquato Ottorino), 236
Clemente de Roma, papa e santo, 101 aprox. (Dattrino Lorenzo), 239
Colombini João, fundad. dos Jesuatos, 1367 (Leclercq Jean), 241
Columbano, monge e santo, 616 (Ward Anthony), 242
Combate espiritual (Dagnino Amato), 243
Compunção (Posada Maria Esther), 244
Comunidade (Bianchi Enzo), 245
Concupiscência (Marra Bruno), 246
Condren Charles de, orat., 1641 (Deville Raymond), 247
Confiança (Pigna Arnaldo), 248
Confirmação (Donghi Antonio), 249
Conformidade com a vontade de Deus (Dagnino Amato), 251
Consagração (Rovira José), 253
Consciência (Stercal Cláudio), 255
Consecratio mundi (Oberti Armando), 256 Consolação espiritual
(Girardello Rodolfo), 258
Contemplação (Borriello Luigi - Hcrraiz Maximiliano), 261
Contenson Vicente Guilherme de, OP, 1674 (Abbrescia Domênico), 269
Controvérsia De auxdiis (Boaga Emanuelle), 270
Conversão (Merriman Angela), 271
Coração (Pompei Alfonso), 273
Coragem (Occhialini Umberto), 275
Corpo (Colzani Gianni), 226
Corpo místico (Marranzini Alfredo), 278
Corpos (Aumann Jordan), 283
Crise espiritual (Morandin Carlo), 283
Crisóstomo João, bispo e santo, 407 (Ruiz Antonio), 284
Cristina de Markyate, reclusa, 1155 (Ward Anthony), 287
Cristo-cristocentrismo (Bordoni Marcello), 288
Cruz (Brovetto Costante), 293
Culto (Amenos Felipe M.), 295
Cultura (Cumer Dario), 226

Damasceno João, bispo e santo, 750 aprox. (Dattrino Lorenzo), 302


Davídico Lourenço, sac, 1574 (Gentili Antonio M.), 304
Defeito (Zomparelli Bruno), 305
Delbrêl Joseph, SJ, 1927 (Egan Harvey D.), 307
Delbrêl Madeleine, leiga, 1964 (Tiraboschi Marisa), 307
Depressão (Froggio Giacinto - Pacciolla Aureliano), 309
Derrelição (Pesenti Giuseppe Graziano), 311
Desapego (Zomparelli Bruno), 312
Desejo (Occhialini Umberto), 313
Deserto (Kawanaugh Kieran), 314
Desolação mística (Girardello Rodolfo), 316
Despertar divino (D'Urso Giacinto), 317
Despojamento (Strus Józef). 317
Dessecularização - Ressacralização (Vanzan Piersandro), 32Q
Devoção (Valabek Redento M.), 321
Devotio moderna (Valabek Redento M.), 323
Diadoco de Foticea, bispo, 474 aprox. (Farrugia Edward G.), 324
Dídimo de Alexandria, leigo, 398 (Farrugia Edward G.), 326
Dionísio Areopagita, séc. V (?) (Lilla Salvatore), 326
Dionísio o Cartuxo, 1402 (Peri Vittorio), 329
Direção espiritual (Giordani Bruno - Occhialini Umberto), 330
Discernimento dos espíritos (Marcozzi Vittorio), 334
Discrição (Giuliano Giuseppe), 335
Docilidade (Giuliano Giuseppe), 336
Doença (Basadonna Giorgio), 337
Dom de si (Giuliano Giuseppe), 338
Dons do Espírito Santo (Triacca Achille), 339
Drogas (Pacciolla Aureliano), 341

Eckhart Meister. OP, 1327/8 (Sudbrack Joeph),


3áá Ecumenismo (Thurian Max), 345
Efrém o Sírio, diácono e santo, 373 (Farrugia Edward G.), 347
Egoísmo (Giuliano Giuseppe), 349 Elias (Pidyarto Henricus), 350
Emmerick Ana Catarina, OSA, 1824 (Noja Vincenzo), 352
Encarnação (Marchesi Giovanni), 353
Encarnacionismo (Amato Angelo), 355
Engolfar-se (Pesenti Giuseppe Graziano), 357
Entusiasmo (Palumbo Egidio), 357
Epifania (Sodi Manlio), 358
Eremitismo (De Candido Luigi), 360
Escada (Morgain Stephane M.)# 363
Escatologismo (Pozo Candido), 364
Escolas de espiritualidade (Quaglia Armando), 365
Escuta (Giabbani Anselmo), 370
Espanha (Rodriguez José Vicente), 371
Espírito Santo (TViacca Achille), 376
Espirituais (Pasquato Ottorino), 379
Espiritualidade (Larkin Ernest), 381
Estado místico (Merriman Angela), 383
Estética (Spidlík Tommaso), 384
Estigmas (Aumann Jordan), 386
Estilitas (D'Antiga Renato), 387
Eternidade (Pozo Candido), 3&8
Eucaristia (Donghi Antonio), 389
Eudes João, santo, 1680 (Deville Raymond), 322
Evágrio Pontico, monge, 399 (Russo Roberto M.), 393
Evangelismo (Bertalot Renzo), 394
Evangelização (Chiarinelli Lorenzo), 395
Exorcismo (Huber Giorgio), 3985
Experiência mística (Borriello Luigi), 399
Expiação (Iammarrone Giovanni), 410
Êxtase (Sudbrack Joseph), 412
Ezquerra Pablo, carm., 1696 (Velasco Balbino), 413

Fabro Pedro, SJ, 1546 (Ruiz Jurado Manuel), 414


Fantasia (Lobato Abelardo), 414
Fénelon Francisco, bispo, 1715 (Zovatto Pietro), 416
Fenômenos místicos (Malley John), 417
Ferida de amor (Giungato Silvana), 419
Ferrini Contardo, leigo, 1902 (Mosca Vincenzo), 419
ÍNDICE DOS VERBETES
Fervor (Girardello Rodolfo), 421
Festa (Gaitan José Damian), 422
Fidelidade (Ciardi Fabio), 423
Figura mística (Larkin Ernest E.), 424
Filipe da Trindade, OCD, 1671 (Smet Gioacchino), 425
Filipe Néri, fundador dos orat., santo, 1595 (Venturoli Alberto), 426
Fílon de Alexandria, filósofo, 45 aprox. (Farrugia Edward G.), 427
Filosofia (Ales Bello Angela), 429
Formação mística (Blommestijn Hein)f 431
Foucauld Charles de, sacer., 1916 (Massa Cesare), 433
França (Micheletti Daniele), 434
Francisca Romana, OSB, santa, 1440 (Bartolomei Romagnoli Alessandra), 439
Francisco de Assis, santo, 1226 (Battaglioli Vittorio), 441 Francisco de Sales, bispo
e santo, 1622 (Pedrini Arnaldo), 446 Fraqueza (Carlotti Paolo), 40fi
Fremiot de Chantal G.F., santa, 1641 (Pedrini Arnaldo), 448
Fruição (Moretti Roberto), 450
Fuente Miguel De La, carme!., 1625 (Garrido Pablo M.), 451

Gabriel de S.M.M., OCD, 1953 (Pigna Arnaldo), 453


Gagliardi Achille, SJ, 1607 (Collantes Justo), 454
Galgani Gema, santa, 1903 (Brovetto Costante), 455
Garrigou-Lagrange Reginald, OP, 1964 (Cessario Romanus), 456
Gerson João, chanceler, 1429 (Vannini Marco), 457
Gertrudes de Helfta, OSB, santa, 1 301/2 (Noja Vincenzo), 459
Gnose (Ruggeri Fausto), 460
Gnosticismo (Ruggeri Fausto), 461
Graça (Galol Jean), 462
Gregório de Nazianzo, bispo e santo, 390 aprox. (Gargano Innoccnzo), 464
Gregório de Nissa, bispo e santo, depois de 394 (Gargano Innoccnzo), 466
Gregório Magno, santo, 604 (Fornaci Maria Gina), 469
Gregório Palamas, monge atónita, bispo, 1359 (D'Antiga Renato), 471
Gregório Sinaíta, monge hesicasta, 1346 (D'Antiga Renato), 472
Grignion de Montfort L.M., santo, 1716 (De Fiores Stcfano), 473
Groote Gerardo, sac. fund. da Devolto moderna, 1384 (Giovanna delia Croce), 475
Guardini Romano, sac, 1968 (Ward Anthony), 476
Guéranger Prosper, OSB, 1875 (Johnson Cuthberl), 477
Guerrico dTgny, monge, 1157 (Gaffurini Giuscppe), 479
Guibert Joseph de, SJ, 1942 (Faricy Robert). 4&Ü
Guigues L cart., 1136 (Peri Vittorio), 486
Guigues II, cart., 1188 (Peri Vittorio), 458
Guilherme de St. Thierry, cist., 1148 (Gaffurini Giuseppc), 483
Guillcrand Augustin, cart., 1945 (Peri Vittorio), 484 Gula (Gatti
Guido), 485

Guyon J.-Marie Bouvier de la Motte, leiga, 1717 (Pedrini Arnaldo), 487 Hábito

(Daza Valverde Francisco), 489


Hadewijch de Antuérpia, míst. fiam., beguina, séc. XIII (Giovanna delia Croce), 490
Hammarskjold Dag. leigo, 1961 (Velocci Giovanni), 491
Hematidrose (Aumann Jordan), 493
Herp Henrique, OFM, 1477 (Quaglia Armando), 494
Hesicasmo (D'Antiga Renato), 495
Hierognosc (Marcozzi Vittorio), 496
Hildegarda de Bingen, OSB, santa, 1179 (Termolen Rosei), 497
Hilton Walter, 1396 (Ward Anthony), 497 Hipólito de Roma,
santo, 235 aprox. (Dattrino Lorenzo), 498 Histeria (Froggio
Giacinto - Pacciolla Aureliano), 500 Homem espiritual (Colzani
Gianni), 502
ÍNDICE DOS VERBETES
Hugo de Balma, cart. 1305 (?) (Fornaci Maria Gina), 508
Hugo de São Vítor, monge, 1141 (Feiss Robert), 509
Humanismo devoto (Goffi Tullo), 510 Humildade (Magrassi
Mariano), 512
ícone (Borg Gusman V.), 514 Identificação
(Goya Benito), 515 Ignorância (Occhialini
Umberto), 516 Igreja (Gherardini Brunero), 518
Iluminismo místico (Huerga Alvaro), 524
Ilusões (Occhialini Umberto), 526 Imagem
(Borg Gusman), 527 Imagem interior
(Tiraboschi Marisa), 528 Imitação de Cristo
(Battaglia Vincenzo), 529 Imolação
(Iammarrone Giovanni), 531 Imperfeição
(Zomparelli Bruno), 532 Inabitação (Dagnino
Amato), 5Í3
Inácio de Antioquia, bispo e santo, 107 aprox. (Pasquato Ottorino), 532
Inácio de Loyola, fund. SJ, santo, 1556 (Ruiz Jurado Manuel), 539
Inanição (Pesenti Giuseppe Graziano), 542
Incêndio de amor (Giungato Silvana), 542
Incombustibilidade (Aumann Jordan), 54?
Indiferença (Beneditinas da Ilha de S. Júlio), 543
Inédia (Zorzin Contardo), 544
Inefabilidade (Baldini Massimo), 544
Infância espiritual (De Meester Conrad), 545
Instase (Pesenti Giuseppe Graziano), 547
Inteligência (Pesenti Giuseppe Graziano), 548
Intuição (Stercal Claudio), 549
Inveja (Gatti Guido), 550
Invisibilidade (Marcozzi Vittorio), 551
Ira (Gatti Guido), 552
Ireneu de Lião, bispo e santo, 202/203 aprox. (Dattrino Lorenzo), 553
Irlanda e Inglaterra (Ward Anthony), 555
Irmãos do Espírito Livre (Giovanna delia Croce), 559
Isaac da Estrela, eist., 1178 aprox. (Gaffurini Giuseppe), 560
Isabel da Trindade, OCD, 1906 (Sicari Antonio M.), 561
Isabel de Schönau, OSB, 1164/65 (Giovanna delia Croce), 562
Itália (Boaga Emmanuele), 563
Itinerário místico (Blommestijn Hein), 575

Jacopone de Todi, OFM, 1306 (Cacciotti Alvaro), 577


Jansenismo (Pacho Eulógio), 578 Jejum (Strus Jó), 580
Jerônimo, santo, 419/20 (Zerafa John), 581 João
B. da Concepção, 1613 (Pujana Juan), 583
João da Cruz, OCD, santo, 1591 (Sicari Antonio M.), 587
João de Ávila, sac. e santo, 1569 (Huerga Alvaro), 586
João de Jesus Maria, OCD, 1615 (Tomás Fernandez Simeone), 590
João de S. Sansâo, carme!., 1636 (Blommestijn Hein), 591
João dos Anjos, OFM, 1609 (Occhialini Umberto), 593
João evangelista, santo (TVagan Pius), 594
João Scotus (Eriúgena), teól., K70 aprox. (Del Génio Maria Rosaria),
José, santo (Stramare Tarcísio),
José do Espírito Santo, OCD, andaluz, 1736 (Boaga Emanuelle), 599 José
do Espírito Santo. OCD, português, 1674 (Boaga Emanuelle), 601 Juliana
de Norwich, reclusa, 1420 aprox. (Cilia Antonio), 602 Justiniano
Lourenço, cart., 1556 aprox. (Tiraboschi Marisa), 603 Justiniano Paulo,
OSBcarm., 1528 (Giabbani Anselmo), ^603
ÍNDICE DOS VERBETES
Kempe Margery, visionária inglesa, 1439 (Ward Anthonv),
606 Kierkgaard Soren, filós., 1855 (Fabro Cornélio), 607
Kowalska Faustina, santa, 1938 (Mackeyek Michele), 608

Lágrimas (Borriello Luigi), 609 Lágrimas de


sangue (Aumann Jordan), 609 Lallemant
Louis, SJ, 1635 (Collantes Justo), 609
Lanspérgio, cart., 1539 (Gioia Giuseppe), 610
Laredo Bernardino de, OFM, 1540 aprox. (Occhialini Umberto), 611
Lectio divina (Calati Benedetto), 6_L3
Lei nova evangélica (Goffi Tullo), 621
Leigo (Oberti Armando), 615
Leitura dos corações (Giungato Silvana), 622
Leonardo de Porto Maurício, OFM, santo, 1751 (Baldassarre M Rosa), 622 Le Saux Henri,
OSB, 1973 (Nocent Adrien), 623 Leseur Pauline-Elisabeth, leiga, 1914 (Vanzan Piersandro),
624 Levitação (Aumann Jordan), 626
Liberdade (Lobato Abelardo - Romanini Maria Teresa),
628 Liberdade espiritual (Lafont Ghislain), 632
Libertação (teologia-espiritualidade e mística da) (Foralosso Mariano), 633
Linguagem metafórica (Pacciolla Aureliano), 636
Linguagem mística (Baldini Massimo), 640
Literatura (Castelli Fernando), 642
Liturgia (Caruana Edmondo), 645
Locuções (Schiavone Pietro), 649
Loucos em Cristo (Spidlík Tommaso), 65Q
Lourenço da Ressurreição, OCD, 1691 (De Meester Conrad), 651
Lourenço de Brindisi, OFMcap., santo, 1619 (Baldassarre M. Rosa), 652
Lugares místicos (Giovanna delia Croce), 652
Luís de Granada, OP, 1588 (Huerga Alvaro), 653
Lullo Raimundo, terc. franc, 1316 (Barbariga Rocco), 655
Luminosidade (Aumann Jordan), 656
Luxúria (Girardello Rodolfo), 656

Macário do Egito, monge, 390 aprox. (Spidlík Tommaso), 658 Mager Alois-Auguste, OSB.
1946 (Micheletti Daniele), 658 Margarida de Oingt, cart., 1310 (Gioia Giuseppe), 659
Margarida Maria Alacoque, visit., santa, 1690 (Baldassarre Enrico), 661 Maria (De Fiores
Stefano), 662
Maria da Encarnação, religiosa, 1672 (Egan Harvey D.), 671
Maria de Jesus, OCD, 1640 (Velasco Balbino), 673
Maria de Jesus de Ágreda, f. cone. desc, 1665 (Zovalto Pietro), 674
Maria Madalena de'Pazzi, carm., 1607 (Verbrugghe Albert), 675
Maritain Jacques, filós., 1973 - Raissa, leiga, 1960 (Huber Maria Teresa), 622
Marmion Columba, OSB, 1923 (Mc Culloch Benedict), 678
Mártir (Rava Eva Carlotta), 680
Matilde de Hackeborn (Termolen Rosei), 681
Matilde de Magdeburgo, santa, 1282/94 (Termolen Rosei), 682
Matrimônio espiritual (Possanzini Stefano), 683
Máximo o Confessor, monge, santo, 662 (Dattrino Lorenzo), 687
Meditação (Herraiz Maximiliano), 691
Memória (Pesenti Giuseppe Graziano), 692
Mente (Pesente Giuseppe Graziano), 693
Merton Thomas, eist., 1968 (Cilia Antonio), 623
Metapsíquica (Goya Benito), 695
Métodos de oração (Gentili Antonio M.), 696
Michele de S. Agostinho, o. carm., 1682 (Garrido Pablo M.), 699
Michele dos Santos, trin. desc, 1625 (Pujana Juan), 700
ÍNDICE DOS VERBETES IPSO
iVlcUtíieil L-UI Ulf Gl tO S dUlOrdlS
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