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Dicionario de Mistica PDF
Dicionario de Mistica PDF
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taaçâc '-if; (CArr-ara EiMsiioi'/* no I -wn .If1 ;í/íts'i)
Dicionário dt* mit&ca/dií«gado pcf L Borne 10. E. Caruana. M R. Dc-I Gênio. N. Suífí. - São Pauto :
PaukíS : Eüções LoyJa. 2Í-C3 (Dicionários)
Título oririginal
Dicionário dt MtsUca õ 1998 Ljbfena
Ediirice Vaticana - 00120 Città dei Vaticano
ISBN 88-209-2482-X
Direção editorial
Paulo BazagUa
Coordenação de tradução
Luis Miguel
Duarte Honöno
Dalbosco
Tradução
Bcnõni Lemos José
Maria de Almeida Silva
Debetto Cabral Reis
Ubenai Lacerda Fieuri
Editoração
PAULUS
Impressão e acabamento
PAULUS
'ISBN 85-349-1904-5
çào é puro dom da > graça divina. O pensa - mas que nem no céu será plenamente
mento místico de Orígenes é caracterizado compreendido. 10 Uma das riquezas de
por constante análise do —* amor, seja como algumas —> teologias da libertação é sentido
desejo Uras), seja como dom [ágape). Alem dis- novo do a. de Deus que se manifesta entre as
so, Oi ígenes foi o primeiro a ver um es- pessoas, em particular entre os pobres, 11 em
ponsalfcio místico dos -> sentidos no Cântico sintonia com a redescoberta e com a repre-
dos Cânticos: a —> alma é a esposa da Palavra sentaçào da tradição mística cristã. A posi ção
eterna. O Cântico dos cânticos foi, para os fu- do homem diante do a. constitui o princípio e
turos místicos, fonte constante de inspiração o fundamento plenamente descri tf», se bem
e de argumentação. Com Orígenes o parado xo que brevemente, pelos Exercícios Es*
da transcendência e da imanência já estava piritiuiis de > santo Inácio de Loyola: "O
em ato: o Deus absoluto, queé infinito em homem foi criado para louvar, amare servir só
toda a sua majestade, em seu poder e em sua a Deus, nosso Senhor, e assim salvar-se" (n.
beleza, pode ser procurado e encontrado pela 23). O a. é a verdade correlativa ao criado.
criatura/' Ele é ainda o fundamento de todas as afir-
Deus é oculto, mas se revelou em Jesus mações a respeito de Deus também no caso
Cristo e se revela, de modo singular, a todos cm que lais afirmações apolatieas ou
os que o procuram, confiando nele amorosa- catafáticas sejam inadequadas.
mente. 8 O conl iccimento último de Deus é o
de uma Trindade de Pessoas, o único que NOTAS: 1 L.E. Sullivan, Supre-me Beings, in
Encylo-
aprofunda o sentido de absolutez. Esse pedia of Religion, New York-Loncircs 19S7, 166-
conhecimento não é, pois, fruto de 181: 2 Cf. Tomás de Aquino, STIi I, qq. I -26; 3
compreensão, mas de amor. -> São Joãt > da J. Fin-
Cru/, em seu Cântico espiritual, mostra a inter- kenzelle, // problema di Dio. li mimo capitolo delia
relaçüo entre o amor e o conhecimento, ou teologia Cristiana, Mi ião 1986; * Cf. STh I, q. 6,
aa.
seja, o conhecimento comunicado na 8-9; y A. Louth. The thigins ofthe Christian Mvsti-
contemplação faz nascer o amor, o qual, por cal Tradicion: From Plato to Denys, Oxford 1981;
sua vez, é causa da i nfusão O.
do mais prolundo conhecimento. Clement, Sources, Paris 1982 Tl:e Hoots of
Mas» para aproximar-se de Deus, é Christian \1\siicism, Londres U.U. von
Balthasar, Origenes, Geist und Feuer. Ein
necessária purificação mais profunda. Em —> Aufbau aus seunen Werken, Salzburg 1954 2 ; 7
Platão e em toda a tradição mística existe a Ch.-A. Bernard, Le Dien des mystiques, Paris
convicção de que só os puros podem 1994; 8 Cf. KL Rahner, Ober die Verborgenheit
experimentar o a.9 Gottes, in Id., Schriften zur Theologie, XII,
No Ocidente, uma das mais conhecidas Zürich-Einsiedeln-Köln 1975, 285-305; 9
H.D. Egan, / mistici e la mística. Cidade do
explicações é a de são João da Cruz em seu Vaticano 1995; W. Triísch, Infroduzione afia
díptico: A subida do monte Carmelo c A noite mística; Fontiedocumenti. Cidade do Vaticano
escura da alma. No Oriente, a tradição lala de 1995: ".S/V; I, q. 12, a. 7; K. Rahncr, Fragen
progressão do ascetismo positivo e negativo zur Unbegrieflichkeit Gottes nach Thomas von
Aquin, in Id., Schriften zur Theologie, XII, Zurich-
(praxis) até chegar ao desapego/sobrie-
EinsicdcIn-Köln 1975, 306-319; " G Gutierrez,
dade.'indiferença (apdtheia)eà contemplação // Dio delia vita. Brescia 1992.
(iheoria). Mas a história de todo místico é a de
contínua e profunda purificação, muitas Bise: H.U. von Balthasar, La verità è sinfónica,
vezes passando pela -> doença, pelas contra- Milão Pv74; U.Jltuttu netirammentt». Milãu t l >72;
F. D'Agostino,5 .u, in NDS, 85-96; i 1. de I nlxic,
dições externas ou por outras manifestações //mis-tero dei soprannaturale, Bolonha 1967; X.
da -* cruz, até que tudo o que ê —> egoísmo Pikaza, Experiência religiosa y cristianesimo,
ou impureza seja abolido. As imagens do ca- Salamanca 1981,467$$.; J.J. Sanchez Bemal,
minho, como nas obras de Boaventura Iti- s.w. in Aa.Vv., Dicionário teológico: O Deus cristão.
São Paulo, Paulus. 1998. C. Yannaras,
nerário da mente para Deus e da ascensão, como
Ignoranza e amoscenza di Dio, Milão 1973.
na Vida de Moisés, de —> Gregório de Nissa ou
na —> Devo tio moderna ou ainda na Ascensão ( \ 0'Donmll
espiritual, de G, Zerbolt (t 1398), são expressão
do a. que os homens se esforçam para atingir,
ACÍDIA
L Noção. Comumente considerada um dos
sete pecados capitais, 1 a a. é vista pelos auto-
res espirituais como tédio e desânimo que
tomam conta da alma, tornando-a incapaz de
cumprir seus deveres, para os quais ela deve-
ria estar pronta. 2 Trata-se de uma espécie de
laslio pelo espiritual por causa tios esforços
físicos necessários para o cumprimento ale-
gre dos deveres da vida cristã. É a indolên
cia para as coisas do espírito, a iné rcia em te, e o monge deverá combatê-la lodos os
opor-se ao peso das coisas terrenas e em ele- dias. 16
var-se ao divino. 4 Já na literatura paga a a. Mas também na espiritualidade ocidental
tem uma longa história. Etimologicamente existe uma literatura, graças a -> Gregório
ela nào provém do latino acidas, mas do grego Magno, que fala dela primeiramente como de
a-kedos, ou acudia, com o significado de não- uma tentação, depois como de um —» vício e,
cuidado, negligencia, indolência. Nos autores enfim, como de um vício tentador. Isso por -
pagãos (em Cícero, 5 por exemplo) ela pode que o coração, perdido o bem da alegria inte -
signilicar também tristeza e tédio/' rior, procura as consolações externas. 1 Pare-
ce que são Gregório identifica a a. com a
II. Na tradição eclcsial. Nos LÀÀesse termo tristeza, por causa dessa falta de alegria inte -
aparece várias vezes com o sentido geral de rior. 18 Em totlo caso, foi graças ã tradição
descuido e indiferença (cf. Sl 1 1S,2S; Belo pastoral gregoriana que ãa. foi tirada de seu
29,5; Is 61,3).' Mas ele é usado também para contexto tradicional, de vicio próprio de nu
significar certa indolência nas relações com tuges, e passou a ser vista como um mal-
Deus (Eclo 2,12). H 0 Pastor de Herrnas aplica-o estar interior (possível em todos) que se inani
no sentido de nerdígéneia em fazer o bem e lesta como indolência no desempenho dos
praticar a religião. l * Apesar de suas possíveis deveres religiosos. 19 —> Tomás de Aquino
origens estóicas, lu a psicologia da > tentação conhece a tradição de Cassiano e a de
recebeu ampla atenção dos - > Padres do de- Gregório, e prefere identificara a. com a
serto do século IV, os quais a discutiram no tristeza. Ele a define conn> "o tédit) para
contexto de outros pensamentos maus, como trabalha!' bem e corno a tristeza produzida
o daemon meridiamis ("demônio meridiano") (cf. pelas coisas espirituais" . fcü Praticamente o
Sl 9(),6). u homem acidioso, em vez de encontrar alegria
Parece que foi Evágrio Pôntico, cm 383, o nas coisas espirituais, encontra tristeza e
primeiro a descrever a a.,12 apoiando-se mais desgosto, que entorpecem a alma e tornam a
na experiência. A solidão do eremitério no vida espiritual deprimida e indolente. Para
deserto, o corpo abatido pelo —> jejum e a são Tomás, a a. se opõe à alegria da caridade
mente latigada por longas orações eram li dos e da bondade, e isso pode torná-la matéria de
como latores que podiam causai o tédio ou a pecado grave. 21 Afl. é chamada pecado capital
atividade exterior febril, coisas que eram porque gera outros pecados: malícia, rancor,
chamadas a. Na lista das oito tentações prin- pusilanimidade, desespero, torpor para os
cipais do monge, o lugar da a. é entre a preceitos, más distrações. 22
tristeza e a vanglória. No Ocidente, foi —>
João Cassiano quem descreveu as III. A, e vida espiritual. A maioria dos
características da a., definindo-a como uma comentadores permaneceu fiel à síntese
—> ansiedade ou um tédio do coração* * que tomisia, mas houve na literatura uma tendên -
torna o homem sedentário e inapto para cia que confundia a a. com um de seus efeitos
qualquer trabalho dentro dos muros do externos, isto é, com a preguiça. Alguns,
mosteiro, e ocioso e vazio (Xira os exercícios apoiando-se em —> são João da Cruz, 23
espirituais, de modo que o monge acidioso tentaram "batizar" a a.t tornando-a uma
nunca está satisfeito com suas ocupações espécie de pecado próprio de uma elite
nem com seu mosteiro; além disso, seus espiritual, tratando-se, na verdade, de uma
deveres o cansam, e seus tra- H LI II IOS lhe dificuldade espiritual bastante comum 24 e
causam enfadi *: por isso ele gost:i que pode ter vá rias formas.
ria de mudar de lugar e de ocupação. 14 Antío- A prática da vida espiritual já é bastante
co de São Sabás (início do sée.VIl) acrescenta difícil. Sc, ao estresse da vida cristã se acres -
à descrição de Cassiano que a a. torna o cem arem as muitas formas de evasão que o
monge incapaz de interessar-se por qualquer —> mundo oferece, procurando preencher o
coisa, menos pelas refeições, que espera com "mercado" do tempo livre com o mundo da
grande impaciência, e que o faz perder seu informática, da televisão etc, talvez se possa
tempo cm conversas inúteis, folhear livros rever todo esse discurso numa chave total -
que deveria estudar e não dar atenção aos mente nova, mas sempre com as mesmas ca -
sábios conselhos que o mesmo livro contém. ' s racterísticas oferecidas pela história.
Por isso, segundo a espiritualidade orien tal,
a a. é a eterna companheira do monge NOTAS: Prescindimos aqui da discussão sobre
1
mana, comunica aos homens a qualidade de conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos
filhos de Deus, com iodo o podei que essa de Deus" (Rm 8,14).
filiação significa. .4. é, pois, expressão que deve ser precisa -
No AT Deus revelou a Israel seu amor pa - da. A nossa filiação divina é profundamente
terno: "Israel é meu filho primogénito" (Ex real como filiação participante da filiação
4,22). Essa afirmação assume valor novo com única do Filho encarnado.
a Encarnação: a grande novidade é que o Fi -
lho, em sua natureza humana, como primo- IV. Primeira experiência mística. Paulo
gênito da humanidade, ê gerado pelo Pai por não só nos faz descobrir melhor o grandioso
meio do —> Espírito Santo. plano do Pai na origem da adoção filial, como
O Prólogo ile João põe em evidência a su- também nos transmite a experiência vivida
perioridade do dom divino no Pilho, o qual pelos primeiros cristãos.
vem "cheio de graça e de verdade'. "I)c sua Depois de dizer que "enviou Deus o seu
plenitude lodos nós recebemos maça sobre Filho, nascido de mulher... a fim de que rece-
graça" (lo 1,14.16). bêssemos a adoção filial", afirma: "E porque
Dando-nos o poder de nos tornarmos li sois filhos, enviou Deus aos nossos corações
lhos de Deus, ele faz a graça ser copiosa cm o Espírito do seu Filho, que clama: Abba, Pai!"
nós. E. essa graça é verdade, porque a ((Jl 4,4-6).
filiação divina, que nos ê oferecida, é Esse é o testemunho da experiência místi -
plenamente verdadeira, como participação na ca fundamental, experiência que - segundo a
filiação do Filho unigénito, Somos filhos no constatação de Paulo - é a demonstração da
Filho. filiação divina própria da vida cristã. Essa
filiação divina não só é objeto de fé, mas é
III. Predestinação para a «. —> São Paulo também sentida e vivida na exclamação Abba,
chama nossa atenção para a iniciativa do Pai que vem do Espírito Santo. O Espirito faz os
na instauração dessa filiação divina. Ida é cristãos dizerem a palavra do Filho, aquela
descrita de modo mais particular no hino da que Jesus não cessava de repetir em suas
carta aos Hfcsios: "Bendito seja o Deus e Pai de orações: Abba.
nosso Senhor Jesus Cristo, que nos Na carta aos Romanos, Paulo acena ainda
abençoou com toda a sorte de bênçãos espi - para essa experiência cheia de signifi cado,
rituais nos céus, em Cristo... Ele nos predes - sublinhando que a consciência cia filiação
tinou para sermos seus filhos adotivos por afasta o medo diante de Deus. "Não
Jesus Cristo, conforme o beneplácito de sua recebestes um espírito de escravos, para re-
vontade" (1,3-6). cair no temor, mas recebestes um espírito de
Tudo provêm do "beneplácito" (endoida) tio filhos adotivos, pelo qual clamamos: Abha\
Pai, isto ê, de amor gratuito, anterior à Pai! ü próprio Espírito se une ao nosso
criação, porque ele "nos escolheu antes da espírito para testemunhar que somos fi lhos
criação do mundo". de Deus" (Km 8.15-16).
A vontade de Deus ê soberana, mas ê es- Para os cristãos não se trata somente de
sencialmente vontade paterna, do Pai de repetir a palavra Abba, que caracterizou a
Cristo. A sua bondade se manifesta na revelação da filiação divina de Jesus. Trata-
abundância das bênçãos espirituais. se também de entrar no mistério dessa fi-
O Pai nos predestinou para a adoção filial liação divina c de reproduzir em si, em sua
em Cristo. A adoção indica a diferença entre vida, a experiência de comunhão filial com o
a filiação de Cristo e a nossa. Pai. a qual deu um sentido superior a toda a
Na sociedade civil grega, a adoção tinha vida terrena do Cristo. A exclamação Abba.
um significado jurídico. Mas esse significa do que o Espírito Santo faz brotar para desen -
foi superado: não se trata mais somente de volvei' as disposições filiais de Jesus, expri -
título externo de filho e herdeiro. Essa me o contato místico com o Pai, o impulso de
filiação comporta transformação interior: "O uma alma maravilhada diante do amol do Pai.
Pai nos predestinou a sermos conformes à Com efeito, é Cri Mo que, por meio de seu
imagem de seu Filho, a fim de ser ele o Espírito, nos abre "o acesso ao Pai" (Ef 2,18).
primogênito entre muitos irmãos" (Km 8,29).
Ele nos concede a participação na vida divi na V. Doutrina da divinização e perspecti-
de Cristo por meio do Espírito. O papel do va filial. A dt iLilrina enunciada por — > são
Espírito Santo consiste em elevar-nos ao es- João
tado de f ilfios no Filho: "Todos os que são e são Paulo é a origem da teologia tia divi -
Material com direitos autorais
ADIVINHAÇÃO ADOÇÃO DIVINA 24
nização, a qual se desenvolveu na época pa - Figlio, in DTB, 350-354; P. van Imschoot, Figlio di
trística, especialmente entre os ■■> Padres Dio. Figliolanzja
divina, in DR. 367-369: II.M Ogcr, Thcohde du
gre-
l'adoption, in NRTh 84 (1962), 495-516; A. Royo
gos. Baste-nos citar —> santo Ireneu: "O Marin, Somos hijos de Dios, Madri 1977; M. Ruiz
Verbo Azúcar, Dios és Padre, Madri 1968.
ADOÇÃO DIVINA ADORAÇÃO
J . Calo!
de Deus se fez homem, e o Filho de Deus se 16
tez filho do homem; para que o homem, uni -
do ao Verbo, recebesse a adoção e se tornasse ADORAÇÃO
filho de Deus../'.'* E, no pleno
desenvolvimento dessa doutrina, —> são I. O termo a. exprime respeito, reconheci-
Cirilo de Alexandria escreve: "Como o Verbo de mento, submissão, veneração, temor reveren -
Deus habita em nós por meio do Espírito, ciai para com uma pessoa ou uma realidade
somos elevados à dignidade da adoção filial, considerada superior à pessí >a adi >i ante.
tendo em nós o próprio Filho, ao qual fomos Muitas vezes, mas não sempre, esse termo é
tornados conformes, pela participação em usado paia designar a atitude fundamental
seu Espírito e, subindo a nível igual de da criatura para com seu Criador, sendo
liberdade, ousamos dizer 'Abba, Pai"'.5 reservado, por isso, espontaneamente para as
É importante voltarmos constantemente à relações do homem para com Deus. Como acon-
doutrina da Escritura, a fim de apreciarmos tece frequentemente, também neste caso essa
melhor o quadro no qual se realiza essa di- palavra deriva etimologicamente de um gesto
vinização. E o quadro das relações filiais com o concreto, exteriorizado, o qual mostra a rela-
Pai. A experiência mística primitiva teve em ção: o ad os ("aos lábios") dos romanos se reteria
Jesus e nos primeiros cristãos uma caracte- ao gesto secular de levar os dedos aos lábios e,
rísitica essencialmente liiial, a qual se expri - com os mesmos dedos, mandar uma sauda-
mia na palavra Abba. ção ou um beijo à pessoa venerada. Gestos de a.
Essa perspectiva filial foi suficientemen te são muito diversificados nas várias cultu ras;
mantida e desenvolvida na tradição mística? eles podem ser ajoelhar-se, prostrar-se» inclinar
Pode-se suscitar essa pergunta, especialmente a cabeça, beijar o chão, ou até fazer danças
porque muitas vezes as experiências místicas rituais, sacrifícios propiciatórios etc.
são expressas em termos de conta tos mais A parte exterior era sempre executada em
com Deus do que com o Pai. Não parece que a função de outra, mais importante, a interior.
figura do Pai tenha recebido toda a atenção Fundamentalmente a a. é o ato pelo qual a
que merece. Ela não foi reconhecida em todo pessoa toda, corpo e alma, reconhece sua de-
o valor de seu papel paterno. Dcsejar-se-ia que pendência total de Deus. Diante da
a experiência da filiação divina pusesse mais imensidão, da grandeza e da santidade
em evidência o rosto daquele que Cristo nos incomparável de Deus, a criatura humana só
ensinou a chamar de "Pai". pode manifestar sua pequenez, e seu
reconhecimento por todos os benefícios
NOTAS: 1 Cf. J. Jeremias, Théologie du Nouveau recebidos de seu Criador. Das raízes do ser
Testament, Paris 1973, 82; W. Marchei, Abba Père! humano surge a necessidade de reconhecer,
La prière du Christ et des chrétiens, Roma 1963.
132-138;2 "O vosso Pai"; Mt 6.3.15: 10 ,20.29; valorizar e usar bem todos os dons recebidos,
23,9; Le 6,36; 12,30.32; Jo 8,42; 10,17; "O vosso oferecendo-os de modo integral a Deus e
Pai que está nos céus": Mt 5,16 .45.48; demonstrando-lhe reverência c amor.
6,1.14.26.32; 7,11; Mc 11,25; Lc 11,13; "O Pai Aa. se inclui na categoria do culto denomi-
deles": Ml 13,43; "O teu Pai": Mt 6.4.6.18;3 A nado latria, isto é, do culto que compete só a
respeito do singular no v. 13 como versão
autêntica: ci. J. Galot, Etre né de Dieu, Jean Deus, e a nenhum outro ser, como é confirma-
1,13, Roma 1969; Egli non fit generato dai sangui do no primeiro mandamento do decálogo. Esse
(Gv 1,13), in Asprenas, 27 ( 1980). 153-160; culto é especificamente diferente da veneração
Maternità verginale di Maria e paternità divina, in prestada a outros, como, por exemplo, aos
CivCat 139 (1988)3,209-222; R. Robert, La leçon
santos, a qual comumente é chamada diãia. A
christologique en Jean 1,13, in RevTltom 87 (1937);
4 Ireneu, Adv. Haer III, 19,1: SC 211,374; 5 Cirilo veneração particular à —> Virgem Maria se
de Alexandria, Thesaurus 33: PG 75, 569cd. chama hiperdulia. A —> eucaristia é ato de
culto divino que perpetua o sacrifício perene
BIBL.: Ch. Baumgartner, Grâce. I. Sens du mot;
II, Mystère de la filiation divine, in DSAM VI, 701- de —> Cristo ao —> Pai em favor dos homens.
726; I. Blinder. Fk'Jiolanzfl, in DTB, 538-551 ; A. Quando a eucaristia é celebrada em honra de
De Sutlcr - M. Caprioli, s. v., in DES 1, 32-35; G. algum santo, é sempre ao Pai que são
Gennari, Figli di Dio, in NDS, 655-674: R Grelot. oferecidos toda honra e todo o amor por meio
Matenal com direitos autorais
de Cristo, o qual, também em seus membros, rante a celebração eucarísitica, não se omita
fez dom perene de si a Deus e continua a o "Santo" como conclusão do Prefáci o, no
fazê-lo na liturgia celeste. qual são indicadas as razões particulares do
A a. é, pois, reservada a Deus e, para os louvor e da a. O canto do "Santo" tem a in-
seguidores de Cristo, às três Pessoas da San- tenção de unificar toda a assembléia num ato
tíssima Trindade. Essa a. se estende à pessoa de de reconhecimento a Deus. A doxolocia
Jesus Cristo e também à sua natureza hu - maior, de encerramento da oração eucarís-
mana. A Igreja tem reivindicado constante- tica, tem justamente a finalidade de reeonhe
mente esta verdade: uma vez que a natureza cer a gloriosa obra da —> redenção e santifi-
17 cação, a qual só pode ser apreciada quando o
fiel é tomado de admiração, de humilde re -
humanado Jesus existe pela subsistê ncia ADORAÇÃO
eterna do Verbo, segunda Pessoa da
Santíssima Trindade, na admirável e união conhecimento e de a. mística. Os diversos
chamada hi-pos tática, esta requer que a espaços de —> silêncio previstos pela liturgia
mesma a. seja prestada á natureza divina e à completam a intensa rt. devida a Deus por si
humana de Cristo. Kste é um dos mesmo e pelos abundantes benefícios conce-
argumentos mais válidos da Igreja para didos.
reafirmara imutável divindade da pessoa do A liturgia das floras é bastante rica de ele-
Verbo encarnado: se a humanidade de Jesus mentos que conduzem à<;. ou que fazem sur -
não tosse hipostaticamente unida ao Verbo, gir nos participantes sentimentos que estão
seríamos idólatras quando adorássemos o na base dela. O salmo invitatório, que procu -
Menino Jesus no presépio ou Jesus cui- ra dar o tom a todo o oficio, é explícito no
cificado. Por outro lado, a Igreja sempre in - apelo à a. —> Santa Maria Madalena de Pazzi
sistiu que a a. latréutica (osse estendida a caía em profunda a. quando se cantava o
todos os estados da vida humana de Jesus, à "Glória ao Pai" no fim dos salmos. > Santa
sua presença real sobas espécies Teresa Margarida Redi era arrebatada durante
eucarísticas e até à sua cruz. a proclamação litúrgica "Deus é amor". Hoje
a liturgia das horas tem como finalidade
II. Na liturgia. A a. c parte essencial da -> principal estender aos momentos de nossa
liturgia. A assembléia dos fiéis não se reúne jornada o hino de bênção, de louvor e de a. a
só para receber a abundância dos benefícios Deus, que enche toda a nossa vida.
divinos (movimento descendente), mas
também para olerecer a Deus o culto c o III. Na vida cristã. Na vida dos santos nota-
amor devidos a ele (movimento ascendente). se um aprolundarnento do sentido dart,
Eni nenhum momento os lieis podem dar correspondente à sua ascensão espiritual.
testemunho mais evidente de sua pertença a Quanto mais o homem se aproxima do Senhor
Cristo do que quando estão reunidos em e quanto mais intensa se torna sua relação
torno da mesa do Senhor: por Cristo, com com ele tanto mais radical, viva e necessária
Cristo, em Cristo, na unidade do ■■> Espirito se torna sua necessidade de a. Quanto mais
Santo eles oferecem o sacrifício da nova —> alguém aprecia a.s maravilhas do Senht »r em
aliança, sacrifício no qual estão contidas toda sua vida intratrinitária, em sua perfeição,
a honra e toda a ufória devidas a Deus. Eles nas missões divinas em nosso favor, em sua
são ajudados a entrar nesse espírito por meio intervenção na criação, em sua providência e
de orações, cantos, gestos e funções que subli- na salvação oferecida a nos, tanto mais sente
nham a oferta de cada um e de toda a assem - a necessidade de adi irar aquele que tanto
bléia, feita com coração contrito e humilde, nos amou e tantos benefícios nos concedeu.
confessando a própria pequenez, mas com o Para oferecermos um só exemplo de vida
mesmo coração exultando de alegria, reverên- santa permeada do sentimento de adoração,
cia, devoção, gratidão e dom de si pelo ines- baste-nos citar a bem-aventurada — > Isabel
timável dom que Deus concede em seu Filho da Trindade. Em sua célebre elevação à
e, nele, o dom de todas as outras coisas. Trindade, ela exprime o sentimento autenti -
Uma vez que os .« salmos testemunham camente católico da a. Confirmam-no já as
essa realidade, muitas vezes são usados na primeiras palavras: "Meu Deus, Trindade que
liturgia. No Glória, a assembléia exulta, ape- adoro". Para Isabel, Deus Trindade não era
sar de sua indignidade: em Cristo e por ele, problema, porque as três Pessoas divinas es-
ela dá graças a Deus por sua imensa glória. tão perenemente inseridas nas vicissitudes
Para encarnar a atitude de a., a Igreja sabia- históricas da humanidade. Diante de seus
mente recomenda que. quando se canta du - "Três' ela nutria, primeiro, sentimentos de a.t
Material com direitos autorais
ADIVINHAÇÃO ADOÇÃO DIVINA 26
depois, de reparação e de petição. Conhecei"
Deus em espírito e verdade significa adorá-lo,
louvá-lo e honrá-lo pelo que ele é em si
mesmo. A sua bondade pode ser mais apre -
ciada quando é vista refletida nas criaturas:
"Parece-me que a a. pode set definida como AFABILIDADE
êxtase do amor. Do amor suscitado pela bele-
za, pela força e pela grandeza imensa" de I. Noção. Esse termo indica um modo de
Deus.1 Jesus é o primeiro que adora em espírito lalar e agir muito agradável ao interlocutor,
e verdade; é ele que nos ensina a autênti ca a. que se sente bem acolhido. A a. é qualidade
A a. não é um ato estudado, formalista, aplicada a quem se comporta com o próximo
diante do mistério, mas a atitude que proce de de modo sereno, cortês e agradável. Sua a. é
espontaneamente da apreciação da "rnui -Io proverbial, diz-se de uma pessoa que, mediante
grande" ágape ("amor") dc Deus por nós. a escuta paciente dos problemas do outro,
Mesmo no -» sofrimento atroz, a imensa ágape consegue manter diálogo aberto e cordial. À
de Deus torna a alma ainda mais con victa da capacidade natural de inspirar confiança cor-
necessiade da a. O reino de Deus está dentro responde uma serie de conselhos que dão no-
de nós. Ele é expressão do grande amor de vamente paz e coragem a quem pede ajuda.
Deus para conosco. A vocação cristã A n. é parte integrante da -> justiça porque
consiste, portanto, em agradecer, louvar e dá ao próximo o respeito devido e trata a
adorar esse amor tão gratuito e fiel. todos, em qualquer situação, com suma deli-
A a. é valor constante na ascensão para a cadeza. Difere, porém, da justiça porque não
—» perfeição cristã. Ela sublinha o falo fun- é obrigação de lei nem efeito de pura grati -
damental de que toda realidade autêntica é dão. Segundo —> santo Tomás,1' a a. é atitude
dom gratuito do alio. Expressa com diver sas de abertura para com o próximo, especial -
nuanças, segundo as diversas abordagens da mente para com os que se sentem "margina-
santidade, a Í*. é também uma característica lizados", esquecidos ou desprezados pela so-
comum que torna evidente uma via au têntica ciedade na qual vivem. Assim, toda pessoa,
do —> seguimento de Cristo. Os beneditinos a sem distinção de raça ou de religião, é aco -
encarnam na celebração litúrgica; os lhida com sincera alegria e amada pelo que é
franciscanos dão voz de a. a todas as criaturas (cr. GS 24), e se torna sujeito de amizade re-
de Deus; os dominicanos exercem a a. tanto ciproca.
nos ofícios divinos como no obséquio da mente
humana; os jesuítas adoram procurando dar II. Fundamento das relações sociais. A
glória a Deus em todas as coisas; a escola a. reforça os vínculos de fraternidade e —» so-
francesa adora identificando-se com os lidariedade, os quais constituem as normas
estados de alma de Jesus. Essas nuanças principais da convivência humana. Assim,
realçam a riqueza da «.cristã, que se realiza cada pessoa não só goza de dignidade inalie-
numa pessoa extasiada com a imensa nável, mas também experimenta, da parte dc
bondade c grandeza dc Deus, dons que ele lodos, sentimentos de compreensão, de gran -
oferece aos seus amigos com gesto dc amor de estima e de amor fraterno. Como resposta
demasiadamente grande para ser apreciado a uma exigência do coração humano, a a. re-
devidamente e ao qual a pessoa responde com nova a regra de ouro das relações sociais:
gestos c com atitudes interiores de reconhe - que cada um fale e se comporte com os outros
cimento, louvor, submissão e amor reve - como gostaria de ser tratado (cf. Mt7,12). Os
renciai. Em última análise, a Igreja exprime, pobres, os marginalizados e os refugiados
pelai/., o recôndito desejo de intimida de com merecem dose extraordinária àea. Aquele que
o Salvador que caracteriza sua vida mais tem profundo interesse e sincera solidarieda -
verdadeira. 2 de com os problemas dos outros sabe apreciar
a pessoa pelo que ela é, e não só pela
NOTAS: 1Ultimo ritiro. 8o giorno;2 Cf. Pio XII,
sinceridade das manifestações da consciên cia
Me-diatorDei, n. 109.
ou pelas qualidades humanas. Além disso, é
BIBL.: D.P. Auvray, Ladoration, Paris 1973; G. de bem pouca utilidade uma compaixão
Bove, s.v, in DTE, 17-18; I. Hausherr, Adorer le (como chorar com alguém seus infortúnios)
Père en esprit ei en verité, Paris 1967; A. Molicn, que não inclua remédio eficaz. A a. é ajuda
s.v, in DSAM I, 210-222; R. Moretti, s.v., in DES
I. 28-32; B. Neunheuser, s.v.. in NCEI. 141-142. positiva porque se baseia, à parte a eficácia
do amor de Deus, na confiança na pessoa,
R. Aí. Valabek capaz de renovação interior c de solução dos
da ação dc Deus no homem. Na união passiva, Ruponi, Sum' Alfonso de Liguori, maestro delia vita
Deus invade a alma, toma posse dela to- cri s tia na, in Aa.Vv., Le grandi scuole di
spiritualità Cristiana, Roma 1986, ò21-651; Tb.
talmente e mantém presas a si todas as facul- Rev-Mermet, // Santo dei secolo dei lumi. Alfonso
dades sensíveis e espirituais; mas essa união de'Liguori. Roma 1983; V. Ricci, s.v., in DUS I,
é de breve duração, ao passo que a união ativa 64-69; A.M. Tann oi a, Delta vita cd I st it ut o del
pode ser muito longa. A. não esconde sua ven.
preterêiicía pela união ativa, a qual produz a Servo di Dio A.M. de 'Liguori, 3 voll., Napoli 1798-
1802; G. Velocci, Sant' Alfonso de' Liguori. Un
perfeita uniformidade com a vontade de Deus: maestro delia vita Cristiana, Cinisello Halsamo
a santidade. 1994.
NOTAS; Modo de conversar continuamente e fami-
1
G. Velocci
liarmente com Deus: é título de um opúsculo de
santo Afonso; : Afonso de Ligo rio. Dissertações
teo~ lógico-m ora is sohre a vida eterna, Mon/a
1831, 179; 1 "A frequência de suas
contemplações, a fervor das suas aspirações,
o alongamento do lern pu que nelas emprega
demonstram muito que o Senhor lhe revela os
mistérios de sua sabedoria, atira a sí doce-
mente o seu espírito e o rd orça na unção AGILIDADE
suavíssima da caridade eterna substancial...
Quando se põe a orar, lui na-se logo extático I. Noção. Fenômeno físico excepcional pelo
tão grande é a veemência cum que o seu
espírito imerge na contemplação tias coisas qual um corpo aparece transportado de um
divinas ' (C. Berruli, O espirito de S. A. M. de lugar paia outro, instantaneamente ou quase,
Ligório, Prato 1896, 308);J Alonso de Ligório, lora do espaço. Esse tipo de movimento é
Prática da confessor, Frigetilo 1987, 179; s conatural a um sei* puramente espiritual,
"Quem ama verdadeira me ate Jesus Cristo como o anjo, uma vez que um ser puramente
perde o aleto a todos os bens da leiTa e procura
despojar-se de tudo para estar unido a Jesus espiritual é localizável através de sua Iunção;
Cristo. Para Jesus são lodos os seus desejos, onde ele está presente, dá-se esse fenômeno.
pensa sempre em Jesus, suspira sempre por Embora esse tipo de movimento seja fisica-
Jesus e somente a Jesus, em lodo tempo, em mente impossível para um ser material, al-
lodo lugar, em toda ocasião procura agradar.
guns teólogos atribuem coniumenie ti dom da
Mas paia chegai a isso Ja/-se necessário
lender' continuamente a esvaziar o coração a. a um corpo glorificado, e fenômenos desse
de lodo afeto que não é para Deus", escreve tipo são mencionados na Sagrada Fs-critura
santo A ton so em Prática de amar Jesus Cristo. (cf. Dn 14,33-39; At 8,39-40) e na vida de
Obras ascéticas. I. Roma 1933, 141 142; alguns santos, como, por exemplo, nas de —>
*Ibid., 38; 7 Afonso de Ligório, Aios para a santa
comunhão, cm: Ohms ascética*. IV. Roma 1939.
são Filipe Neri, santo António de Fádua e são
399; * C. Bei ruti. O espirito.,., o .e.. 144; s Afonso Pedro de Alcântara.
de Ligório, Conformidade à vontade de Deu*, em:
Obras ascéticas, 1, 286; 1,1 Altui-su de Linórío. II. Explicação do fenômeno. Esses leiió-
Práticas do coiifessor, 177-206; " /hid., 183; 12 rnenos não devem ser confundidos com os
Ibid.. 187.
teleciné ticos, que dizem respeito ao movimento
BIBI.: A. Raziclich.La spiritualité dis. AlfonsoMa- de um objeto material sem auxílio de meio
ria de' Liguori. Studio stortco -tcologico, in Spici- externo e segundo a vontade da pessoa agen-
leniam //istoricum C.SS.R., 31 (1983), todo o te. Existem muitos casos de telecinesia na
número; (i. Caccialore, Sant'Alfonso e il
hagiogralia. Por exemplo, em várias ocasiões
giansenismo, Florença 1944; Id., I M spiritualità
di Sam' Al fan-so, in Aii.V'v. I A ' senate cattoliche di a Hóstia consagrada foi vista sair da ãmbula
spiritualità, Milão 1944, 279-327; L. Calm, ou da patena como se estivesse em seu poder
Alphonse de* Liguori. deslocar-se do recipiente até a boca do co-
Doctrine spirituelle, II, Mulhouse 1971; VA. mungai! tc. K claro que é fisicamente impos -
Decham, Si Alphorns considéré dans sa vie, ses
vérins et sa doctrine spirituelle, Malines 1840: R. sível para um corpo deslocar-se de um lugar
Ganigou-Lagramie, hi spiritualité de St. Atnhonse para outro lora do espaço. C) lenómeno da a.
de'Liguori, in VSpS b (1927), 189-210; C. se verifica por uma causa preternatural ou
Men/e, s.v., in RS I, 837-859; L Kanncngicrser, sobrenatural.
s.v., in DTC I, 906-920; K. Keusch, I M dattiinü Se o fenômeno da a. for causado por poder
spirituale di Saut' Al/ouso, Milão 1931; A.
L'Arcu. Saut' Alfonso arnica del popolo. Ruma diabólico, essa a. será instantânea só apa-
1982; G. Liévin. Alphonse de' Liguori, in DSAM I, rentemente. Um corpo não pode deslocar-se de
385-389; Id., La route vers Dieu. Jalons d 'une um lugar paia outro lora do espaç o entre os
spiritualité alphonsienne, Frihurgo-Paris 1963; dois lugares, mas o movimento pode ser tão
A. Palmieri, s.v., in DIIGE II, 715-735; S.
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veloz que escape ao olho humano. Se maniqueísmo- o que já começara em Roma -,
acontecer isso, e o transporte parecer real - superou o ceticismo em relação à pesquisa e se
mente instantâneo, tratar-se-á certamente de converteu ao cristianismo da Igreja ca tólica,
obra de anjo bom, como aconteceu com conversão que amadurecera durante o
Habacuc (et- Dn 14,33-39), ou de intervenção semestre transcorrido em Cassiciaco, na casa de
divina, como no caso do diácono Filipe (cf. At Verecundo. Alegando motivos de saúde, o
8,39-40), motivo pelo qual o corpo pode passar jovem retórico deixou o ensino. Voltou a Mi-
através do espaço com a velocidade da luz ou lão somente para inscrever-se, com o nome de
da eletricidade. Como em todos os autênticos Agostinho, entre os batizandos da Páscoa
fenômenos místicos extraordinários, a a. deve seguinte e para receber o batismo das mãos tio
ser considerada uma grada grátis ilüia ("graça bispo Ambrósio (vigília pascal de 24 de abril
dada de graça"); segundo alguns teólogos, ela de 3S7). Logo depois partiu para a Africa, mas
é antecipação da a. dos corpos glorificados, deteve-se por um ano em Ostia, á espera de
sinal da santidade da pessoa. oportunidade para embarcar. Nesse ínterim
faleceu Mônica, sua mãe. Era o ano de 388, e
Bini..: V. Marc<i/.*/i, Fenotnem panmonfuái e dono A., com a idade de 33 anos, voltou para
mistici, Milão 1990, 73; I. Rodriguez, s.v, in DI:S
Tagaste, onde permaneceu até 391. Lá, com
1,46; A. ROYO Marin, Teologia delia perfezione
Cristiana, Roma, 19656, 1109-1 til. alguns amigos e o filho Adeodato, viveu sua
primeira experiência cristã, á maneira de
J. Atunann filósofo cristão - que depois se foi transfigu-
rando em monge -, dedicando-se ao estudo das
Sagradas Escrituras e inserindo -se mais
ativamente na realidade da Igreja africana.
Em 391 foi chamado por Valério, bispo de
Hipona, para trabalharia como presbítero. A
nova situação influenci* >u pn fundamente
AGOSTINHO (santo) seu diálogo com a vida, fazendo amadurecer
nele especialmente a estima pelos valores
I. Vida e obras. A vida e os escritos de cristãos
Aurélio Agostinho formam uma só coisa com tias pessoas comuns. Depois A. se tornou bis-
sua herança espiritual, transmitida por três po, e o foi por 35 anos, primeiro como auxiliar,
fontes principais: as Confissões (autobiografia entre 395 e 396, e depois de 397 (data da da
de A., dos anos 397-401); as Retractationes morte de Valério) como titular. Deixou
(revisão de suas obras, tios anos 420-427); L- então seu mosteiro de leitios, "os sei vos de
a Vida de Agostinho, com o famoso Indiculitm ou Deus", que construíra em Hipona, e, para
pequeno índice de seus escritos (registra poder oferecer mais hospitalidade, especial-
1.030 obras), escrita pelo amigo e discípulo mente aos bispos que passavam pela cidade,
Possídio, entre 431 e 439, com o uso de re- mudou-se para a residência episcopal e a
cordações pessoais c de escritos conservados transformou em mosteiro de clérigos. O tempo
na biblioteca de Hipona. depois de 396 foi o da maior atividade de A.
Aurélio A. nasceu em 354, em Ta gaste (a land» c<min bispo quanto ctmio escritor. A
aluai Souk-Ahkras, na Argélia), na Numídia esse período pertencem, enire outras obras,
da África proconsular; o pai. Patrício, era suas famosas Confissões. Os outros escritos,
"curial" (recebedor de impostos) e pagão; a divididos geralmente em três blocos mais
mãe, Mónica (i .387), era cristã. Ele começou importantes, ligam-se a três fatores principais:
seu curriculum escolar em Tagaste, continuou em à sua conversão (em particular os Diálogos de
Madaurus c terminou, com a retórica, cm Cassiciaco e as Confissões); ao ministério
Cartago. Passou cinco anos na Itália (384- presbiteral e episcopal na Igreja de Hipona
388), os quais mudaram sua vida. Em Roma (tempo das controvérsias maníquéia - esta
fora precedido pelo amigo Alípio (cf. Conf. começada já antes de sua conversão -donatista
6,8,13). Na ex-capital do Império começou a e pelagiana), ligado estreitamente ao
ensinar retórica (cf. ibid. 5,12,22), conti- ininisiério da pregação (Tratado sobre João,
nuando a freqüentar os maníqueus, aos quais Comentários aos salmos, Sermões - mais de
aderira em Cartago (cf. ibid. 5,10,18). Üs quinhentos); e a questões particulares apro-
maniqueus, com o prefeito de Roma, aju- fundadas por ele. Dentre as obras relativas a
daram-no a obter a cadeira do ensino de re- essas últimas, recordemos as principais. A
tórica em Milão (cf. ibid. 5,13,23), onde deu Trindade, na qual .-\. propõe a categoria das
orientação diferente à sua vida. Com efeito, lá relações para falar do mistério trinitário; a
se desencantou definitivamente com o propriedade pessoal do —> Espírito Santo
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como > amor", dom, comunhão, ã diferença diálogo corno método para procurar Deus.
do —> Verbo, que é imagem; a relação entre o Nesse contexto escreve seus famosos Diálogos
mistério trinitário e a vida da -4 graça, baseada (Contra os acadêmicos, sobre a possibilidade da
em ser o homem formado á imagem e procura da verdade; A vida feliz, sobre o objeto
semelhança trinitária, em particular, em sua dos desejos do homem, o qual é Deus como
dimensão espiritual Ele sintetiza essa relação seu sumo bem, portanto, como sua felicidade;
em algumas trilogias, que se tornaram A ordem, sobre o sentido da história humana e
patrimônio comum, mente-conhecimento- a cultura da liberdade, que ela deve promover).
atnor e memária-irueligência-vontade etc. A cidade Depois quis experimentaras tentativas
de Deus (vinte e dois livros escritos entre 413 teóricas eascéticas neoplatónicas para chegara
e 426-427 e publicados com intervalos de Deus. Isso coincide com o abandono, num pri -
tempo) trata da história temporal e eterna da meiro momento, do método dialógico na pro -
humanidade (as duas cidades). "Dois amores cura de Deus, para seguir as forças do indi-
- escreve ele - dão oriizem a duas cidades: a víduo. Nesse sentido, osSolUóquios registram
cidade terrena, cujo amor a si chega ao duas tentativas suas de procura de Deus: por
desprezo de Deus, e a cidade celeste, cujo meio da > virtude (o primeiro livrt >), o que o
amor a Deus chega ao desprezo de si." Da levou ao desencorajamento total, tanto que
doutrina cristã trata da chave de leitura das quis abandonar a pesquisa, e por meio da
Sagradas Escrituras, chave que é o amora razão, o que o encorajou a continuar procu-
Deus e ao próximo. rando (o segundo livro). Essas duas tentativas
frustradas da procura de Deus levaram A. a
II. Herança espiritual. Propor o problema da renuncias mais profundas a fim de continuar
espiritualidade de A. é querer captai' o lillro procurando-o, para atingir talvez aquele
unificador de seus escritos e de sua vivência momento extático diante de Deus, ex-
cristã. Verifica-se que é difícil isolar nele perimentado por -» Plotino. Renuncia primeiro à
alguns aspectos espirituais, perguntan -do-se, caneíra profissional (cursus honorum, carreira
por exemplo, se ele loi místico ou não etc. De das honras); depois, ao matrimônio, escolhendo
nossa parle, percorrendo seus escri tos e sua o celibato. Desposa a continência, como
atividade em ordem histórico-gené-tica, tinham leito alguns soldados, que se tinham
tentaremos reunir as coordenadas que retirado da corte imperial, confor me ele refere
constituem o tecido espiritual de seus escri- no oitavo livro das Confissões. Aquele rapto
tos, os quais são uma das principais chaves extático tão sonhado e procurado não
de leitura de sua obra. Nele devem ser distin- constitui, todavia, um indicador de sua
guidas, em ordem cronológica, ao menos espiritualidade, embora, nas Confissões
duas lases concernentes à sua espiritualida - (9,10,23-26) fale de momento de êxtase tido
de: 1. da conversão à ordenação prcsbiteral em Ostia junto com sua mãe. Mas essa re-
(386-391); 2. da sagração episcopal à morte ferência, no modo da narração, decalca o es-
(397-430). Os cinco anos de presbiterado quema neoplatônico dos sete graus da ati -
(391-395/6) podem ser considerados como de vidade da alma em torno de três objetos que
transição entre os dois períodos. formam a totalidade da vida: o —► corpo, a —
> alma e Deus. As atividades ligadas ao corpo
1. Fase 38o-.191 (da conversão ao presbite- dizem respeito ao conhecimento experimental
rado). As atividades da alma. Nos anos 386-391 tia animação, da sensação e da arte; as
A. amadureceu duas coordenadas uni- ligadas á alma são a virtude (o empenho
ficadoras: a primeira, a respeito de Deus; a moral) e a tranqüilidade ou a posse segura da
segunda, a respeito da autoridade da Igreja virtude; as ligadas a Deus (o ingressas, o
católica, que é digna de fé ern tudo o que aí ingresso) são a —> meditação e a —> contem-
irmã (Deus, Cristo, os evangelhos etc). Nessa plação ou visão intelectual da verdade. Ma is
ótica ele escreve, por exemplo, os costumes da tarde, na caria a Proba sobre a > oração
Igreja católica e os costumes dos mani-quetis. No (/■'/>. 130, a. 413, tempo da polémica
diálogo com o inundo da cultura de então e antipelagiana), lembrando a passagem do
com as contraposições maniquéias entre -> fé êxtase do apóstolo —> Paulo, ele o considera
e razão, A. propõe que sejam considerados Iruto das > virtudes teologais, sem mais detei-
iguais os dois caminhos possíveis de procura sc nas atividades da alma. Em 391 escreve A
da verdade: a auctoritas (autoridade) e a ratio verdadeira religião, e, falando do renascimento
(razão). Quanto ao primado de Deus, ele interior e do progresso espiritual, descreve-a
constituí a incessante procura e paixão de A. ainda segundo o esquema setenário de
durante toda a sua vida. Do ponto de vista atividade da alma, se bem que desta vez faça
metodológico, considera a espiri tualidade do referência ao esquema clássico das sele
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idades do ho mem. A primeira idade, da
infância, se nutre do leite do qual fala o
Apóstolo (cf. ICor 3,2)
e de exemplos; a segunda idade, a da puber- é feito por Minúcio Félix (í séc. 111) e por
dade, olha para o divino com a razão; a ter- Lactando (t c. de 325). Neste último, o ver-
ceira idade, a da juventude (juventus), leva a dadeiro culto corresponde à —> justiça, que
alma sensitiva a unir-se à —> menle, seja se identifica com a píf ias (piedade). Em A.
submetendo a ela a —> tendência carnal, seja esse culto de instância neoplatônica está pre-
sentindo gosto em vivei honestamente, sente e exprime o verdadeiro culto, o qual é
portanto, sem ser a isso obrigado; a quarta prestado a Deus pela mente tornada santuá -
idade é a do crescimento adulto do —* rio quando, pela procura e pela —> oração,
homem interior, que supera as dificuldades e ela o conhece, O conhecimento passa a ser en-
as perseguições; a quinta idade é a da fase da tão virtude da alma, a qual, exercilando -se
—> paz e da serenidade do espírito, a da > em procurar a Deus, se assemelha a ele, tor-
sabedoria; a sexta idade é a do esquecimento nando o ser piedoso "'desde já divino". A. lira
da vida temporal, vivendo o homem l\ essa espiritualidade dos Ornados filosóficos de
imagem e semelhança de Deus; a sétima Porfírio, citados por ele em A cidade de Deus
idade é a da vida fora do tempo c de qualquer (19,23). Em Cot tira os acadêmicos (2,2,3) e em
idade, isto é, a da felicidade eterna, a qual, O mestre (1,2), o sábio neoplatõnico, que
com a morte física, marca o fim do homem procura a Deus e ora a ele, e, assim fazendo,
velho e dá início á vida eterna do homem o adora tio mais imbuo da mente, é, segundo
novo. O êxtase de A. em Ostia provavelmente A., o homem interior, no qual habita o Espírito
se situa na sexta idade (cl. Conf . 9,10,24). de Deus, Cristo, o mestre interior A ex -
Depois da morte de sua mãe, A. voltou para a pressão bíblica,"Espírito de Deus, Cristo", em
casa paterna e se dedicou, com os amigos, ao A verdadeira religião, toma uma forma arti-
otiitm (ócio) filosófico da procura de Deus, culada, mas ainda é empregada em contexto
numa solidão que tinha algo de monaquismo. neoplatõnico. Com efeito, escreve: "Não saias
Ele apreciava esse gênero de vida e envolveu fora de ti; entra cm ti mesmo, porque a ver-
nele alguns a mi cos. Temen-do ser afastado dade habita no homem interior" (39.72; cf.
dele - como ele mesmo conta - e evitava também 26,48-49 e 41,77). E na obra anti-
visitar cidades cujos bispos tinham falecido. maniquéia. Contra ep. ...fundamenti (36), lê a
Dentro do esquema das atividades da alma que redenção de Cristo nos seguintes termos: "(O
quer subir a Deus, A. programou em Tagaste a Verbo) se fez exterior na carne para chamai*»
vida do otiwn sanctinn (ócio santo) de 38S em nos da exterioridade para a interioridade,
diante. A carta a Nebrídio (Ep. 10) c, por assim porque só ele é o verdadeiro mestre interior,
dizer, a teorização desse modo de vida. Nessa sendo ele mesmo a verdade". A visão do ho -
carta delineia a necessidade de o sábio viver mem espiritual bíhlicn. também no i< icanle
longe do mundo, exerci-tando-se nas virtudes, a
a fim de tornar-se semelhante a Deus, linguagem, se inicia em A. com O sertnão do
situação essa que explica como deificari in otio Senhor na montanha, escrito cm 393. Nele a
("deificar-se no ócio"). A. explica essa atividade ascensão da alma passa também por sete
de prestar a Deus —* culto interior dotado de graus, mas se refere não mais à atividade da
securitas (segurança) e alma segundo o esquema neoplatõnico ou
de tranqidllilas (tranqüilidade), desci eveudo-o segundo o das sete idades do homem exterior,
como —> "adoração de Deus no mais íntimo e sim às —> bem-aventuranças evangélicas e
da mente" (Ep. 10,3). Esse modo de expressar- aos - > dons do Espírito Santo. O primeiro
se, como foi notado (Folliet), traduz a tradição grau da ascensão da alma é o temor do Senhor
cstóico-neoplatônica, em particular de ou a - • humildade, à qual seguem a —>
Porfírio (f cerca de 305), o filósofo neopla- escuta da Sagrada Escritura, o conhecimento
tónieoque lala da mente como templo no qual de si com a oração, a fortaleza, o exercício da
o sábio adora a Deus. —> caridade, a -> purificação do coração até a
Na tradição hermética existe a mesma con- posse tranqüila da sabedoria ou da paz. Na
cepção. De fato, ela liga o culto a Deus ao primeira fase da espiritualidade agostiniana
conhecimento da menle e à piedade. No âm - está presente, por meio do neoplatonismo,
bito cristão latino, o verdadeiro culto a Deus, todo o fascínio grego do espírito, da mente ou
o que lhe é prestado no santuário d o espírito, da alma que procura ou contempla a Deus e
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AGOSTINHO (santo) 35
as coisas além do sensível, iasemio que tem da caridade para com Deus e o próximo
correspondência expe-ricncial nas atividades (sendo esse também o motivo pelo qual se
da alma do cristão na linha do sábio grego. entra no mosteiro); a espiritualidade eclesial
como comunhão entre os balizados não só em
2. Fase 391-430 (do presbiterado à morte). A nível sacramental e das Escrituras divinas
espiritualidade do amor. As obras de passagem comuns, mas lambem em nível de condivisão
para a segunda fase do amadurecimento do cotidiana da herança cristã no viver a
pensamento espiritual de A. são A verdadeira unidade e a paz da Igreja. Do contrário,
religião, de 391. c a Ep. 10 (a Nebrídio), tratar-se-ia só de apropriação de uma parte,
relativas às atividades da alma; O sermão do como no caso de hereges e cismáticos, e a
Senhor na montanha eAf éeas obras, de 393, falta da caridade privaria de eleito salutar
relativas ao Espirito Santo, princípio da vida qualquer realidade cristã. Os próprios mos-
espiritual, A insistência nas atividades da teiros de A. eram estabelecidos não tanto sobre
alma, antes em versão neoplatônica, depois os esforços ascéticos do corpo quanto sobre a
em versão cristã do Espírito Santo como prin- —> ascética continuativa da dilectio (amor) de
cípio que santifica e pacifica a alma, tem Deus e do próximo. A. estende o princípio da
como interlocutores primeiro os maniqueus, caridade até o social; é sua a expressão amor
depois os donatistas. Se os primeiros prati- socialis (amor social), a qual em seus Sermões,
camente anulam as atividades da alma, os no Comentaria aos salmos
segundos no Espírito Santo corno sanlifi- e na Cidade de Deus tem vasta aplicação. Do
cador, excluindo qualquer outra mediação. Na dom da caridade, difundido no coração pelo
polémica com os donatistas, A. reafirma o Espírito Santo, A. compreende aos poucos
dom do Espírito Santo santilicador não co mo todo o alcance na vida do homem remido. De
princípio em si, mas como dom do único fato, sendo princípio de todo bem no ho mem,
mediador, Jesus Cristo, causa e media ção de ela é principio também de seu ser espi ritual.
toda santificação e de vida espiritual. E faz O homem espiritual está, todavia, em
uma aplicação peculiar dessa doutrina à redenção contínua, por isso o Espírito Santo o
administração dos —> sacramentos, que são santifica, mas não ao ponto de eliminar nele,
do Senhor quanto à potestas (poder), compe- durante o tempo da história, Ioda a carna-
lindo àqueles que os administram só o minis- lidade da qual lala o apóstolo Paulo. Nessa
teriam. ótica, Agostiulio, no início de seu episcopado
A., ordenado presbítero em 391, percebe a (397), atribui a afirmação do Apóstolo, a l.jei
inadequação da ação pastoral sacramental éespiritual, mas eu sou carnal (Rm 7,14), não só
dos donatistas, a qual, amparada numa insu- ao homem sujeito à lei mosaica, mas tam bém
ficiente teologia do Espírito Santo, dividiu a ao homem remido pela graça de Cristo.
Igreja africana em donatistas e católicos. A polêmica pelagiana, que levou ao auge,
Começa então a compreender de rnodo di- como fator principal do progresso espiritual,
ferente a Bíblia como fonte da fé e da es- as atividades da alma, até a possibilidade
piritualidade cristã. Identifica a mensagem real de o homem nunca poder pecai", tez A,
essencial dela e adapta a ela sua visão espiri- refletir em prolundidade sobre a concepção
tual, nova em relação à de seus escritos da cristã do homem espiritual. Dedicou a esse
primeira fase (até 391). A, entende a substân- argumento a obra A perfeição da justiça do
cia evangélica da —> revelação bíblica como homem, na qual, ao lado de outras obras do
caridade para com Deus e o próximo. Portanto mesmo período sobre a relação da graça com a
- conclui - ela deve ser procurada na Bíblia liberdade, explicita um conceito fundamental.
como: revelação divina, dom do Espírito Santo O homem espiritual é o homem remido, o
difundido no coração dos crentes, chave qual, não obstante, continua sempre sujeito
hermenêutica das Escrituras, compromisso a à lei da concupiscência, devendo, por isso,
ser vivido em qualquer estado de vida, invocar* todos os dias a ajuda divina e o
também no mosteiro, e substância de todo perdão, segundo o ensinamento da oração do
progresso espiritual. A espiritualidade da pr< Senhor, que pede para todos "perdoa-nos as
>-cura de Deus como atividade progressiva da nossas dívidas" (Ml 6,12). O domínio absoluto
alma é, pois, repensada por ele como amor do espírito sobre a carne se verificará só rui
(caridade) nos três âmbitos da vida do crente: ressurreição, quando o corpo corruptível lor
pessoal, cclesial e social. Assim, une a revestido cia imortalidade. A vida espiritual
espiritualidade pessoal ao exercício constante tem início no iierme de vida divina recebida
/:. Dc Cea
Cruz) a li nua que no homem, juntamente com realidades irreconciliáveis, são complementares
o amor-ódio, existem quatro outras - > entre si (cf.: Mt 5,11-12; 13,20-21; Jo 16,20-
paixões, ou sentimentos fundamentais: a., —> 22; IPd 1,6-9; 4,12-14). Deve-se, além disso,
esperança, dor e temor. afirmar que não apenas existe uma divina a.
A a. de Deus ou a —> fruitio Dei é uma das humana, que nasce da negação de todas as
metas fundamentais que a fé cristã propõe coisas e de si mesmo por Deus e pelo
para o homem, não somente para o além-vida evangelho, mas também que a«. suprema para
(escatolo»ia), mas também para a vida pre- o cristão surge como conseqüência de ele ter
sente (caminho ascético-místico). Deus é o merecido poder participar plenamente com
supremo bem e a riqueza do homem, por este Cristo em sua morte (por exemplo: do
motivo é nele que o In unem deve sentir e pôr martírio lísico à morte mística), para ser com
sua a., acima de qualquer outro bem. A Sa- ele glorificado. No primeiro caso, a
grada Escritura deixa claro este ensinamento experiência da a. pode vir a ser acompanhada
em repetidas ocasiões (cf. os Salmos e os livros pela da renúncia, negação e sofrimento com
Sapicnciais). Cristo por causa do evangelho. 1 No segundo
Tanto no AT como no NT é possível encontrar caso, o sentimento de a. costuma ser posterior
a a. e o regozijo que, em etapas e momentos somente ao da angústia da tribulação e morte
distintos da história da salvação, provocam a interior. 4 Tudo isto pode e deve ser entendido
experiência da proximidade e da ação salvífica não somente em sentido individual e pessoal,
cie Deus em relação a seu povo. No NT este mas também comunitário e eclesial.5 À luz do
sentimento de a. è ressaltado, de modo que foi dito, pode-se compreender porque, para
particular, no aconlecimento-Cristo, que se a fó cristã, a a. é, como dirá —> s. Paulo, uma
manifesta como Deus conosco, reino de Deus, das características fundamentais (frutos) do —
Messias e Salvador.1 > homem espiritual, daquele homem que
renasceu em Deus pela força do Espírito (cf. Gl
II. Na vida cristã. Pela fé cristã, Jesus, o 5,22-26).
Cristo, não só é o objeto supremo de toda a.
NOTAS: Cf. Os evangelhos da infância e as
verdadeira, mas sobretudo é, em si mesmo, narrativas das aparições do Ressuscitado; além
causa e origem de a. plena para todos os ho- de outras referências à vida da comunidade
mens (cf. GS 45). A Igreja está sempre mani- primitiva em outros textos não-evangé li cos
festando esta fc na sua —> liturgia, e de modo do NT: " Cl. Subida do Monte Carmelo; * Cí.
particular nos tempos do Advento, do Natal e Trechos escolhidos de são Francisco, VIII: como
são Francisco ensinou a frei Leão a alegria
da Páscoa. De outro lado, a partir de uma perfeita;4 Cf. Jão da Cruz, Noite escura e Cântico
perspectiva de esforço élico-espiritual, também espiritual;5 Cf. o testemunho das antas paulinas
no NT os cristãos são convidados, como c GS 1.
conseqüência de sua fé, a viver na expectativa
BIBL.: R Agaéssc,Abnéeationet joie,
de serem sempre alegres c jubilosos no inC/ír9(l*>56), 81-92; H.U. von Baltnasar, La joie
Senhor, mesmo em meio às preocupações e aos et la croix, in Con 39 (1968), 77-87; E. Beyreuther
cansaços desta vida (cl. Fl 4.4-7). Trata se de - G. Finkenrath, s.v., in DC7] 772-783, L.
esforço pessoal porque, de fato, a experiência Borriello, La joie de vivre en chrétien, in Carmet, 44
(1986), 271-283; F. Bussini. s.v. in DSAM VIII, 1
da realidade nos mostra que o homem, por
2 36-1256; J.M. Cabndevilla, Eatiam:
causa de sua aluai condição de pecador, não possdide Falharia?, Módena 1962; J. Galot, //
só não considera Deus como a fonte suprema Cristiano e la jgioia, Roma 198ó; Paulo VI,
de toda a. verdadeira, c comi » um bem em si Exortação apostólica Gaudete in Domi no "de 9 de
mesmo, mas sobretudo, esquecido de Deus, maio 1975; J.M. Perrin. // messaggiodelia do
ia, Roma 1955: G.G. Pesent.ir>\v., in Dizumario
tende a pôr seu coração e sua a. em outros di Spiritualità dei laici. I., Milão 1981. 313-316:
bens criados (cf. a parábola do semeador). Por To irias de Aquino, ST/:. III, eq 2? * 4; ií.
este motivo, místicos como —» João da Cruz Vulk. N .u, in
insistem na necessidade de purificar o coração D7V, 715-722.
de qualquer outra a. que possa dificultar ao
J. D. Gaitan
homem manter pura a própria a. em Deus.2 Ao
contrário do que poderia ser concluído a partir
de uma perspectiva puramente humana, a. e
renúncia evangélica, longe de serem
Material com direitos autorais
ALEGRIA ALEMANHA 42
refletem o pensamento e a mentalidade do
tempo, Ê importante notar que a literatura
ALEMANHA mística da Idade Média alem:» reflete o novo
conceito de — > santidade que brotou da mu-
Prólogo* Foi no século XIX que se começou a dança histórica radical que foi a descoberta
falar da mística alemã (MA). O termo remonta a do indivíduo. Esse conceito abriu o horizonte
Karl Rosenkranz (1831), c inicialmente para uma nova concepção do amor como força
indicava a mística especulativa de —> Eck-hart determinante da existência humana; do amor
e, posteriormente, a literatura espiritual cortês dos trovadores chegou-se ao amor
nórdica do século XIV. Na Alemanha nazista o místico ou esponsal. O Minne (= amor cortês),
conceito sofreu graves deformações (A. Ro- tornado o gerador da história, continuou seu
senberg, 1993), motivo pelo qual os estudiosos caminho na Gnadenvita (= narrativa biográfica
substituíram-no pelo de mística renario- da graça), gênero literário empregado em
flamenga, numa referência à região geográ fica quase Iodas as biogral ias dos místicos do
(centro-norte européia). Este termo ainda hoje norte, escritas em latim e depois em
é usado na literatura ílalo-f rancesa. embora vernáculo, para expor a vida do protagonista a
haja a preocupação de se distinguir a M A da partir de experiências interiores e —> fe-
flamenga. Tal distinção não deve, porém, nômenos extraordinários. Outros gêneros
propiciar o esquecimento de que na Idade literários, usados para exprimir a mística es-
Média não havia conflitos lingüísticos en tre as ponsal são o diálogo, o diário, a carta (verda-
zonas do alio e do baixo Reno e que a deira ou fictícia), a poesia (canto religioso),
integração recíproca dos escritos espirituais algumas vezes também a lenda e a narração
era coisa pretendida pela iniciativa comum de miraculosa. O novo conceito de santidade ou
criar uma literatura em líiuiua vulgar. da mística esponsal daí nascido orientou, de
Hoje volta-se a lalar de M A principalmente certa maneira, as exposições da mística
quando se refere ao grande llorescimento da especulativa alemã. Nos tratados de Eckhart
mística especulativa (Wcsentnysiik) e a letiva e nas pregações de Tauler (e de outros escri-
(Brautmystik) do séc. XIV na Alemanha que, tores da época) encontram-se convites ascéticos
especificamente no âmbito da escola do- (intensificação da penitência, abnegação mais
minicana, forneceu numerosos e significati vos radical, prática da pobreza e da humildade)
expoentes à história da espiritualidade alemã. que têm a finalidade específica de conduzir o
Todavia a A/A çt >tnpi eende um espaço de homem nos caminhos que levam ã -> união
vários séculos, englobando a literatura essencial e existencial com Deus. O homem,
mística escrita em língua latina, a partir do criado à "imagem e semelhança" de Deus (Gn
séc. XII, e incluindo o ressurgimento da mística 1,26) percorre, na fé, o longo caminho das "três
na idade do barroco, marcado pelo es-lorço de vias", para retornar a Deus como criatura
alcançar maior interiorização a lu/ de uma nova. Este caminho, exposto à luz da teologia
consciente imitação dos místicos medievais e de João e de Paulo, mas livre de esquemas
de sua doutrina. Os primeiros estudos sobre a preconcebidos, está longe de qualquer forma de
M A remontam ao romantismo alemão, época idealização ou de mistificação.
em que renascia o interesse pela mística Com a decadência geral da baixa Idade
medieval c manifestavam-se lambem novas Média, fecha-se também a grande estação da
formas visionárias. MA. Instrumentos para a transmissão de seu
A M A medieval insere-se na grande cor- rico patrimônio foram as grandes bibliotecas
rente agostiniana e neoplatônica, com base monásticas e as fortes tendências do séc. XVI
bíblica e concepção histórica da vida que de publicar os escritos antigos. Como principal
tende a unir doutrina c santidade. Todavia, centro do desejo de tornar acessíveis ao mundo
uát > deixou de fornecer contribuição original moderno as antigas temáticas espirituais,
aos conteúdos doutrinais. Basta pensar cm surge na Alemanha a Cartuxa de Colônia.
Eckhart e —> Tauler, nos quais predomina o Ouu-os centros, por exemplo, Basiléia,
esforço de exprimir, com conceitos c termos Estrasburgo c Mogúncia, assumem o mesmo
novos, a mais alta experiência de união com encargo de divulgar a herança espiritual, con-
Deus, e nas vidas dos místicos, muitas vezes frontando-a com a nova cultura e a sensibili-
narradas à luz dos ideais hagiogra! icus me- dade do humanismo, mas sobretudo para
dievais da perfeição cristã. Mas onde se en- enfrentar as novas doutrinas do protestantismo,
contram aspectos originais, eles estão estrei- combatendo-as com as respostas válidas dos
tamente ligados ao tempo c ao ambiente e mestres. A história da M A muito deve ao
Material com direitos autorais
ALEGRIA ALEMANHA 43
incansável trabalho do cartuxo Lourenço Sú-rio
(t 1578), que se dedicou ao relançamento dos
místicos medievais. Suas edições de Tauler, —»
Suso, —> Gertrudes, a Grande, com repetidas
reedições, alimentaram a piedade católica da
Contra-Reforma. Foi importante o trabalho do
abade beneditino João Trilêmio (í 1516) ao
compilar as biografias usando gênero literário
novo, que se impõe, não obstante os
insuficientes critérios metodológicos e os
conhecimentos incertos na matéria.
o de José. Os escritos dos franciscanos Davi vivida e ensinada à luz do amor cavalheires co e
de Augusta (f 1271) e de Bertoldo de Ratis - da Minne cortês. Em seus escritos continua o
bona (I 1272) e as numerosas obras ascético- tipo de visão além-túmulo, mas ao mesmo tempo
espirituais do dominicano > Alberto Magno o indivíduo e o seu mundo são vistos com novos
não fazem parte da A/A, ainda que suas di- olhos; a existência do homem é limitada em
gressões sobre a —> contemplação, como co- relação ao tempo (introdução ao Relógio) e propõe
nhecimento sobrenatural, de certa maneira a reflexão sobre a morte. De fato, sobretudo no
tenham preparado a especulação mística de séc. XV, aumenta a literatura sobre a a rs
Eckhart. moriendi, com algum reflexo sobre a iconografia.
Sob a influência da escola mística domi-
II. O grande período da MA, O séc. XIV, nicana, começam a se manifestar, no mundo
chamado também de "a escola mística alemã", leigo, correntes espirituais abertas à mística.
apresenta seus maiores expoentes na tríade Os Amigos de Deus (Gottesfreunde) formam um
dominicana Eckhart, Taulere Suso. O gênio movimento de interiorização, iniciado em
de Eckhart manifestou-se em obras (latim e Estrasburgo, seguido por Tauler, e especial-
alemão) de mística prevalentemente mente por Rulman Merswin (t 1382), comer-
intelectuais (Mesenmystik), fundamentada no ciante e escritor do S!cuu-I'clsctt-Huch (Livro
platonismo e marcada pelo esforço de aguda das nove pedras), que foi erroneamente atri-
penetração do mistério de Deus por meio da t f buído a Suso. Ainda que orientado para a
teologia negationis. A atenção que seu século piedade, com sua espera do Amigo que vem do
dedicou ao homem o impulsionou a ques- céu, Rulman projeta-se no mundo ultra-t erre
tionar metafisicamente o relacionamento no com todo o cenário da Traumvision (visões
entre criatura e Criador e a demonstrar como sonhadas), por exemplo, o Bouch von der
a criatura (o homem), posta diante da inex- geistlichen hiter (Livro da escada espiritual).
primível grandeza de Deus e dele totalmente Amigos de Deus eram também sacerdotes como
dependente, pode realizar-se existencialmente. Henrique de Nórdlingen (séc. XIV). Seu nome
O homem pode "retornar a Deus, sua origem está ligado à intensa troca epistolar com a
eterna, porque existe na alma tensão mística dominicana Margarida Ebner (I
transcendente inata (a 'centelha da alma') 1351), que também deve ser arrolada entre os
que cria relacionamento imediato com o Ser Amigos de Deus. Aceitando o convite de
divino". Neste "retorno" metafísico estabelece- Henrique, ela escreveu, em forma de diá rio,
se a união essencial descrita por Eckhart com suas experiências interiores, denomina das
nova linguagem, muitas vezes não com- impropriamente Revelações. Trata-se, na
preendida, para particularizar a fenomenologia realidade, da participação tia paixão de Cris -
da experiência mística. O pensamento de to, vivida por Margarida até ao extremo do
Eckhart coniinua-o J. Tauler, no sentido de desgaste físico.
uma doutrina de vida (I^bcnslchre). 0 co- E neste grande período da AÍA que se de-
nhecimento metafísico de Deus pressupõe ca- senvolve o género Vitae Sororum, coleções de
minho de introversão, porque é no mais ín- breves biografias de religiosas dominicanas que
timo da —> alma que o homem entra em narram quase que exclusivamente as aventuras
relação com o Ser divino e se reconhece real- místicas de numerosas mulheres carismáticas.
mente "deus" cm Deus, se bem que, como Por*exemplo, em Ade-Ihausen, Ana von
criatura, permaneça sempre distinto. O in - Munzingen (t séc. XIV) escreveu uma Crônica com
fluxo de Tauler toi determinante para a pro- trinta e quatro vidas, em Engeltf h)al, Cristina
dução literária subseqüente (as chamadas Ebnerin (t 1356) compôs o Büchlein von der gena-
Instituições tauleriauas, O livro da pobreza den üherlast i[Opúsculo sobre a graça muito
espiritual, ambas estas obras a ele atribuídas, a grande), com cinqüenta vidas e, já anterior-
Theologia Dcutsch, escrita por volta de 1400 mente, em Unlerlinden, Catarina von Ge-
por anônimo, denominado o Frankfurter). bersweiler (t 133045» havia recolhido, na obra
No terceiro da tríade dominicana. II. Suso, Schxvesternhuch, numerosas vidas. Ou- " tros
a influência de Eckhart, por ele defendida, centros foram Tõss, com Elsbelh Slagel (t c.
manilesta-se nas relativamente poucas pági- 1360) iTõsscr Schwesicmhuch), Kireh-berg, onde foi
nas sobre a mística especulativa. Suso, o "ca - escrita uma Irmegard Vita por Elisabeth (?) (séc.
valeiro da Eterna Sabedoria", é. por natureza, XIV); Katharinenthal com Dies s enhofet ter
mais afetivo e movimenta-se em uma Schwestei 11huclv, Oe tenbach, Weilcr, e outros.
dimensão mais psicológica da mística, que Ao lado das Vitae Sororum
nele é, em grande parte, mística da paixão,
ALEMANHA 34
encontram-se também vidas de mulheres situa além da compreensão mística. Por este
místicas que tiveram revelações, como Luit- motivo foi acusado de panteísmo.
gard von Wittichen (t 1348), Adelheid Lang- No período barroco assiste-se a discreto des-
man (t 1375), Elisabeth von Oyc (t 1340), pertar da MA, católica e protestante. —> An-
acrescidas de relações autobiográficas. Em gelus Silesius, convertido, poeta místico, re-
geral, nos mosteiros femininos era quase nor- toma as temáticas da espiritualidade medieval,
mal o fenômeno da experiência mística, que expondo-as com originalidade por meio de
diminui apenas com o declínio da Idade Média. dísticos e rimas (Viajante querub(nico) sem
O que restou foram numerosas composições desenvolver doutrina própria. Em seu pen-
poéticas, em parte destinadas à dança, ou samento teosófico percebe-se a influência de —>
então ao uso paralitúrgico, razão por que são Jacob Böhme e, através dele, as influências da
musicadas com melodias populares ou cosmosofia de Paracelso (Teofrasto de
inspiradas na melodia gregoriana. Um Hohenheim) (t 1541). Böhme e, antes dele,
anônimo, contemporâneo de Eckhart, compôs Valentim Weigel (t 1588), são os expoentes mais
a música Granum sinapis (Canto do grão de importantes da mística especulativa pro-
mostarda), no início do séc. XIV, que traz um testante. Com João Arndt (t 1601) inicia-se a
convite à total —» abnegação, para entrar no mudança para a nova piedade, o que será cha-
mistério de Deus. mado pietismo, cujo representante místico é —*
Gerhard Tersteegen. Com sua tentativa de
III. A Idade Moderna. A A/A do séc. XV defender experiências místicas vitais do pas-
prossegue a literatura hagiogrãfica, mas com sado para torná-las acessíveis à piedade, surge
menos freqüência, pouca originalidade sem um conceito de MA que não se enquadra mais
inspiração. Nos tratados teológicos podem ser nos esquemas tradicionais. A reação católica
vistas algumas páginas de mística nos bene- faz surgir, na Ordem dos Capuchinhos, novos
ditinos: João de Kastl (t c. 1410), autor de De impulsos de experiências místicas, por
adhaerendo Deo ( A adesão a Deus), Bernardo exemplo, A escada da perfeição, do pregador
deWaging(t 1472), Bernardo Mayer (t 1477), no tirolês —> Tomás de Bergamo e Vida de Cristo, de
abade João Tritêmio, ou no ambiente das Martinho de Cochem (t 1712), que defendem a
cartuxas, com Henrique Egger de Kalkar (t tradicional busca da união com Deus.
1408), Nicolau Kempf de Estrasburgo (t 1497), As opiniões dividem-se ao se definir o ro-
autor de um comentário ao Cântico dos cânticos mantismo como o último período da M A , ainda
e do Büchlein von der Hebe Gottes (Opúsculo sobre que formas de mística visionária se mani-
o amor de Deus), ou então no franciscano João festem em -> Ana Catarina Emmerick,
Brugmann de Kcmpen (t 1473). Não se trata, recolhidas e escritas por Clemente Brentano (t
porém, de experiência mística no sentido da 1842). A época empolgante da Idade Média
MA precedente. O racionalismo e o alemã tem o mérito de ter redescoberto obras e
humanismo estão presentes e impedem o figuras insignes, iluminando seu significado
surgimento de arroubos interiores. Um exemplo para a literatura alemã (primeiras reedições
disso oferece-o o Sep-tililium (Sete tratados sobre a com introduções sintéticas, centro de
vida espiritual), segundo as revelações de Heidelberg, com J. von Görrcs).
Dorotéia de Mon-tau (t 1397), mulher casada, No século XX foi iniciado um estudo crítico
depois enclausurada. A obra foi escrita pelo seu sobre a M A com numerosas publicações.
confessor, João de Marienwcrdcr (t c. 1400),
depois de sua morte. BIBI..: Aa. Vv.. La mystique rhénane, colloque de
Strasbourg 16-19 mai 1962. Paris 1963: G.
No limiar da Idade Moderna o pensamento Franling,s.v.. in WMy. 105-109; L.Gnädinger,
teológico-filosófico de —> Nicolau de Cusa merece Deutsche Mystik, Zürich 1989; A.M. Haas,
ser lembrado, porque se coloca na ira-dição Deutsche Mystik, in R. Ncwald -H. de Boor,
neoplatônica-cckhartiana e porque escreveu a Geschichte der Deutsche Literatur, III/2: Die
obra De docta ignorantia, sua obra-prima, Deutsche Uteraturin Späten Mittelalter, München
1987, 234-305; K. Ruh, Geschichte der abendlän-
depois que tivera profunda iluminação dischen Mystik, II: Frauenmystik und
interior. Para ele, é possível aproximar-se da Franziskanische
Verdade e "tocar" o Infinito por meio de Mystik der Frilhzeit, München 1993; F. Vernet.s.v., in
incomprehensibiliter inquirere intelectual, que se DSAM I, 314-351; D. Wehr, Deutsche Mystik,
Münich
Material com direitos autorai
1988. Para a Idade Média: L. Cognct, deles representa a si mesmo c a ioda a
Introduzioneai comunidade, beneficiária, por meio deles, das
mistici renano-jiamminghi, Ciniscllo Bálsamo 1991;
O. Davies, Neil incontro con Dio. La mística nella tra- hénç;"n JS divinas.
dizione nord-europea, Roma 1991; J. Lewis, Biblio- Uma </. recíproca entre Israel e Deus (Ex
graphie zur deutschen Frauenmystik des 19,5: "Se ouvirdes a minha voz e guardardes a
Mittelaltus, minha ÍÍ., sereis para mim uma propriedade
Berlim 1989; F. Vandenbroucke, La spiritualità dei peculiar entre todos os povos") é ratificada
Medioevo, IV/b, Bologna 1991. Para uma exposição
e no monte Sinai. Trata-se de um acoí d< »
apreciação mais completa: F.-W. Wentzlaff- escrito (cl. Ex 31.IS), diferente da promessa
Eggeocrt, verbal feita a Noé, Abraão e Davi. A sua
Deutsche Mystik zwischen Mittelalter und Neuzeit, estrutura
Berlim 1969\ lormal é semelhante à de outros tratados da
Idade do Bronze Recente e se compõe como
Giovanna delia Croce
35 segue: 1. Identificação tle Deus: E\ 20.2; 2.
Prólogo de caráter histórico: Ex 20.2; 3. Esti-
ALIANÇA AI.IANÇA
mas são correlatas de maneira mais vital com o divina que se antecipa c da resposta humana
corpo, a cujo condicionamento estão sujeitas. que acolhe e colabora, aü. pode libertar-se
Aristóteles (t 322 a.C.) considera a a. princípio afetivamente dos bens naturais (sexuais,
único, vital, indispensável ao corpo, com o sensitivos, inlelectivos etc.) e progredir
qual (à semelhança da forma e da matéria, mediante a ajuda dos > sacramentos, da > as-
que compõem a substância de uma realidade) cese e da —> oração até amar a Deus sobre todas
compõe o vivente humano, uno e indivisível. as coisas. Assim a a. é situada no estado de
No composto vivente humano, a ÍÍ. é o vida contemplativa, no qual, por meio de
princípio de todas as funções: racionais, Cristo e sob a direção do —> Espírito Santo,
sensitivas e vegetativas. une-se a Deus. tendo na leira uma vida entre
A teologia cristã ocidental, promovida por o natural e o paradisíaco.
ilustres personalidades, entre as quais —> santo
Agostinho de Ilipona e —> santo Tornas de III, No plano místico. A experiência da a.,
Aquino, mediante terminologias e categorias nupcialmente transformada em Deus, pode
tiradas do platonismo e do arislotelismo, afir- concretizar-se no conhecimento beatificante
ma que a a. é uma realidade dinâmica, ima- das verdades divinas, na embriaguez de amor
terial ou espiritual, imortal, individual, criada pelas Pessoas da Santíssima Trindade e na
por Deus e infundida no ser humano quando dedicação total à causa do reino de Deus na
este é constituído como sistema biológico novo e terra. O estado místico da a. pode também
autônomo, com a disposição de potenciar a aparecer externamente em -> fenômenos de
atividade dela, em desenvolvimento progressivo exceção, como cochilos da pessoa, estado de
de funções vegetativas, sensitivas e racionais. alegria, —> visões, - êxtases, -> levitações
Portanto, na pessoa humana, a CL é fonte de etc.
crescimento biológico, de tendências, de As poucas pessoas que tiveram capacidade,
emoções, de sentimentos, de recordações, de preceito cie obediência e luz do alio paia
afetos, de pensamento, de intuições, de esco- descrever a história de sua a., que vivia a ex-
lhas responsáveis, de volições e de toda expe- periência religiosa em termos excepcional-
riência íenomênica superior Na atuação de seu mente místicos, usaram palavras e frases da
potencial, ela é condicionada pelo corpo, mais linguagem profana, atribuindo a elas signifi -
ou menos perfeito, e sujeita, no contínuo cado diferente. Todos esses escritores místicos
processo vital, â interferência de elementos rejeitam a cultura literária e teológica da
internos e externos nem sempre positivos. tradição católica e, em particular, seguem os
paradigmas da psicologia escolástica. Faltam
II. A teologia católica, atenta às indicações da até agora escritores místicos que usem os
revelação contidas no AT c no NT, afirma que a dados das ciências humanas modernas.
a. de toda pessoa humana é afetada por Nos escritos dos místicos encontram-se
desordem moral (pecado original e indicações detalhadas sobre a a.: há nela uma
consequências de enfraquecimento da psique parte inferior, chamada também sensitiva,
e do corpo) e conturbada por tendências con- sensual ou corpórea, a qual compreende os
fusas para o bem-estar e a sobrevivência. Não órgãos e as potências da vida vegetativa, os
obstante, a a. permanece perfectível e capaz cinco sentidos externos, os quatro sentidos
de receber valores sobrenaturais. Com eleito, internos (sentido comum, fantasia, estima tiva
segundo um plano salvífico eterno de Deus, — e memória) e os —» apetites irascível e
> Cristo, —> Verbo encarnado, pelo - > batis- concupiscível. Há a parte superior, chamada
mo olerece: o perdão dos pecados, a —> liberta- também inteleetiva ou espiritual, a qual con-
ção da servidão satânica, a -> graça santi- tém as faculdades do —* intelecto, da —> von-
ficante, a qual se desdobra ern —> virtudes tade e da -> memória (esta, às vezes, confun-
infusas —> teóloga is e morais, as graças dida com a memória sensitiva). Essas partes
atirais, têm dignidade diferente, influência recípro ca
—> carismas etc, de modo a tornai a pessoa e subordinação da corpórea à espiritual. A
apta para uma relação religiosa renovada com parte inferior influi mais negativamente na
Deus-Tiindade (relação de liliaçáo, de superior, a não ser que o aparelho sensitivo
fraternidade, de esponsal idade). Nessa relação tenha sido purificado por uma forte —* ascese
a pessoa percebe a capacidade de experimentar cristã e subordinado â parte superior tia a .
uma nova aproximação do mistério trinilário, Esta, sob a cooperação da graça divina, influi
uma vez que Deus quer glorificar toda ti* na parte interior, recompondo a unidade
remida por Cristo. Na troca recíproca da graça psíquica de todas as funções e coordenando
Material com direitos autorais
as para a recepção da luz e do amor que Deus
infunde na parte superior. I. Vida e obras. Não sabemos quase nada da
Nesta os místicos identificam um fundo, um vida desse franciscano espanhol, a não ser que
ápice, um centro e uma boca. Esses ter- nasceu em Madri, provavelmente entre 1480 e
AI VIA AI 0\S0 ) ) ] [ MADRI 1485, tomou o hábito na província de Toledo
ou na província de são Tiago da Oh3S
mos indicam a ubicação espiritual do ponto
mais consciente c mais expressivo da expe- serváncia Regular, viveu por alguns anos em
riência amorosa da a. que vive a —» união ín- Salamanca (1529-1533?) e morreu por volta de
tima com Deus. 1535.
À vida contemplativa em geral opõem-se, Seu livro, Arte para servir a Deus (1521),
segundo a tradição ascética, os inimigas da tornou-se um clássico de ressonância européia
tdma: carne, mundo, demônio. O primeiro é a junto com outro, Bspelho de pessoas ilustres
corporeidade da pessoa humana, que o peca- (1524), que é uma aplicação concreta da
do (original e atual) enfraqueceu, seja re- doutrina da Ar/e. Das duas obras existem edi-
duzindo seu potencial, seja desordenando a ções em espanhol, latim, francês, flamengo,
coordenação das necessidades naturais de português, inglês, alemão e italiano. 1 O Espelho
fundo dos instintos, das tendências, dos sen- de pessoas ilustres, quase sempre anexado à arte
timentos, de modo que tudo isso inclina mais nas publicações, é ensaio de espiritualidade
para a satisfação das partes do que para a para leigos pertencentes à nobreza, segundo
perfeição do todo. O mundo, isto é, as reali- a concepção do tempo. Ele apresenta as
dades visíveis que cercam a pessoa, tem, em motivações, úteis principalmente para os
seus valores que aparecem, forte capacidade grandes deste mundo, para se cultivar a vida
de sedução, desviand<»a a. da referência ime- interior, ensina como dirigir a própria família
diata a Deus, autor dessas realidades, e ilu- em sentido cristão, como santificar as
dindo-a, como se fossem a fonte da felicidade preocupações e ocupações, as diversões, o
perene. O terceiro inimigo da a. que está em repouso e os dias de festa, e propõe o exercício
amizade com Deus é o demônio, porque, da —» oração e da —> contemplação, a prática
mediante subtilezas em apresentar-lhe valores das —> virtudes e a utilidade da meditação
carnais e mundanos, pode enfastiar ou sobre a morte.
afrouxar a relação entre ela e Deus e, no pior
dos casos, fazê-la interromper essa relação, 11. Ensinamento espiritual. A finalidade da
induzindo-a ao pecado mortal. Ele é, todavia, arte, que —> Teresa de Avila elogiou muito, 2 é
inimigo de armas fracas para n u . que vive a de fornecer ajuda "para aprender a traduzir em
em amizade com Cristo, que venceu Satanás ato as grandes coisas que a Escritura nos
para si e para seus amigos. ensina; também a vida espiritual tem
necessidade de uma arte". Na primeira parte, A.
Buiu: Aa.Vv. L'anima dcWuomo, Milão 1971; M.
Bergamo, Lanatomia deü anima, Bolonha I99I;B. sustenta que todos são chamados à —>
Dictschc, Der Seelengrund nach den deutschen und santidade, principalmene os religiosos. "A
lateinischen Predigten, in Id., Meister Ecldiart der verdadeira santidade consiste em ser o mesmo
Prediger, Freiburg in Br. 1960. 200-258; A. espírito e o mesmo querer que Deus." É
Gardcil. IM strueture de t a r n e et l'experience necessário, por isso, agir sempre com a in-
mystique, Paris 1927; U. Kern, Gründende Tiefe
und off ene Weite, in Freihurger Zeitschrift für tenção de fazer o que Deus quer e porque
Philosophie und Tlieologie, 27 (1980), 352-382; H. Deus o quer: "Não somente com amor, mas com
Klinisch. Das Wort "Grund" in der Sprache der amor e por amor". Foi assim que —> Cristo fez a
deutschen Mystik des 14 und 15. Jahrunaerts, vontade do -» Pai.
Osnabrück 1929; J. Marechal, Eludes O —> pecado perturbou a harmonia da
surtapsychologiedes mystiques, 2 vol., Paris 1937;
G.G. Pesenti, s.v., in DES'l, 142-146; L. Rcypens, alma. Para reparar o dano causado pelo pe-
Arne (Stmcturesdaprèsles mystiques), in cado e para chegar ao puto amor de Deus
DSAM1,433-469; R. Zavalloni, l£ strutture foram-nos dados vários instrumentos, espe-
antropologiche e l'espe-rienza religiosa dell'uomo, in cialmente a —> vontade, "o mais nobre ins-
La mistica \, 41-72.
trumento da alma".
G. G. Pesenti Na segunda parte, a arte fala de "alguns
exercícios para a reparação do dano da alma",
efeito do pecado. Esses exercícios são: a. a
contrição; b. o ódio a si (o aborrecimento de si,
isto é , a recusa de tudo o que contenha
alguma satisfação egoísta e que não seja "de
Deus ou para Deus"); c. a oração, especialmente
ALONSO DE MADRI
Material com direitos autorais
a oração de súplica como manifestação das (1958), 306-331; 31 (1961), 218-229.645-655; Id.. En
próprias necessidades a Deus; d. a prática das tornoa la biografia de Fray Alonso de Madrid, in
Estúdios Franciscanos, 63 (1962), 335-352; Id.,
virtudes, não num exercício múltiplo das Fray Alonso de Madrid, educador de la voluntad y
várias viritudes, porque o que importa é docior dei puro amor, in Aa.
"aprendê-las todas do livro da vida. que é Je- Vv., Corrientes espirituales en la Espaüa delsigto
sus Cristo, especialmente de sua paixão". XVI, Barcelona 1963, 283-296; J. Goyens, s.v., in
A terceira parle da arte ê mais con- DSAM 1,389-391; E. Pacho, s.v., in DES1,99-100;
M.Tictz, SM, in H'Vfv\ 12.
templativa e tem como tema o amor: o amor a
Deus é a ocupação mais nobre de ioda cria - T Janscti
tura.
A. dedica parágrafos inflamados ao tema
do amor a Deus, distinguindo nele vários
graus. O primeiro grau ê amar a Deus como
benfeitor doce, saboroso e comunicável. Esse
amor é bom, mas não perfeito. Os princi-
piantes devem exercitar-se nele, mas não ALUCINAÇÃO
pensar que a doçura e a suavidade que se
saboreiam na contemplação da bondade de I. Definição. A palavra a. pode ser defini-
Deus sejam o verdadeiro amor: "Esse amor è da como "percepção sem objeto", isto é, como
traço, porque é amor ao amado por interesse e percepção falsa, que tem as características
por doçura própria". Não obstante, ele é físicas da percepção, mas que surge sem
indispensável para que a pessoa se desapegue estimulação sensorial adequada. Essa percep-
das coisas vãs e se disponha para os atos de um ção não é reconhecida como falsa nem em
amor' mais elevado. O verdadeiro amor, como relação a um raciocínio crítico, nem cm rela -
o vemos no evangelho, é ção à evidência.
"uma obra ou um ato que a vontade la/, ou O termo a. vem do latim, hallucinatio, "va-
produz, amando e querendo muito, às vezes gabundagem da mente". No significado cor-
com grande doçura, que Deus seja o que e e rente foi introduzido, cm 1817, por Esqui rol
lenha glória, domínio e soberania sobre lo -dos (autor do tratado Des maladies mentales, de
nós e s< >hre todas as coisas, e por si mesmo; 1837), embora a primeira citação nesse sen-tido
e que tudo o que existe e pode existir o ame e seja atribuída a Fernel (1574). Mas esses
o sirva e lhe dê glória só pela sua bondade e fenômenos psicossensoriais já eram conhecidos
diunidade infinitas". dos gregos e dos latinos, se bem que narrados
O amor ao próxin» > é a manifestação con- de modo elementar.
creta do amor a Deus. Devemos amar o
próximo como o Redentor nos amou. Nin guém II. Descrição do fenômeno. Do ponto de
deve ser excluído de nosso amor, nem os maus, vista descritivo, o primeiro elemento a consi-
porque nosso Pai c Senhor ama a todos. derar é o aspecto da fisicidade" da percep-
O amor a nós deve ser entendido como ção alucinatória. Isso significa que a a. tem
empenho em amarmos tudo o que há de bom características físicas que podem ser sobre-
em nós como dom de Deus, agradecendo-lhe por postas às da percepção normal, as quais, jun-
esses dons. Amar a si mesmo significa empregar to com a estruturação muitas vezes elevada
os dons recebidos para o benefício e o proveito da experiência alucinatória (pensemos, por
próprios, não pondo o eu no centro, mas exemplo, nas —> vozes ou nas visões de pes-
ordenando tudo para a glória de Deus. soas), dão ha. os traços de realidade cuja exis-
A. permanece no caminho da tradição, tência não é possível pôr em dúvida. Essa falsa
apresentando sua doutrina de forma eficaz e experiência não è corrigívcl pela critica e c
penetrante. Seu caráter metódico explica por que vivida como verdade incontestável. É freqüen-
foi apreciado por autores místicos e espirituais te que o conteúdo e o significado da a. se re-
dos séculos XVI e XVII. firam ao próprio paciente.
NOTAS: 1 Arte di setvire a Dio; Specchio deite persone
iltustri, Veneza 1558;2 Teresa de Ávila, Vida 13. III. Formas de a. As a. podem dizer
respeito a vários órgãos sensoriais. As mais
BIBU: Obras: Edição crítica di J.B. Gomis, Místi-
cos franciscanos espanoles, I. Madri 1948, n. comuns são as a. auditivas, representadas
38,83-211. Estudos: I >< maio I >e Monleras, por "vozes", muitas vezes cochichadas ou
Dios, ethombre v et mundo en Alonso de Madrid v sussurradas, mais raramente manifestadas
Diego de Estella, ín Collectanea Franciscana, 27 com voz clara. Em geral os tons são alusivos,
(1957), 233-281,345-384; 28 (1958), Bibliographie ofensivos ou ameaçadores. Só raramente as-
dAlonso de Madrid, in Collectanea Franciscana, 28
sumem conotações "positivas" no sentido de
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guia e conselho à pessoa. No caso das a. vi-
suais, trata-se frequentemente de imagens de
tipo primitivo. Outros tipos dea. são os táteis,
ALIX INAÇÃO
cinestésicas, olf ativas, gustativas cie. Os con- narram visões sobrenaturais ou palavras
teúdos se referem, na sua grande maioria, a divinas ouvidas, porque essas coisas são
temáticas de natureza persecutória, a idéias causadas pela fantasia delas.
de grandeza, a temáticas de culpa ou sexu ais. No campo religioso, as a. podem, mas ra-
Essas características se encontram em muitas ramente, aparecer na forma de cenas celestiais,
doenças psíquicas (esquizofrenia, distúrbios como rostos de santos ou de Deus (a. emotivas),
do humor, uso de substâncias psi -coativas, ou ser representadas por vozes de santos,
distúrbios orgânicos etc). englobadas em delírio místico. Em outros
Asa. podem, todavia, ser observadas também em casos, as a. podem ter uma fenomenologia
distúrbios "não-psieóticos", prevalentemente cinestésica, representada no contexto de um
histéricos, com fenômenos tanto visuais como "delírio de demonopatia interna": os pacientes
auditivos, geralmente bem organizados e percebem que o demónio está se movendo em
freqüentemente de conteúdo fantástico. seu interior, causando percepções de dor. A sua
Em alguns casos podem-se verificar epi- descrição se insere num delírio articulado de
sódios de 'percepção sem objeto", mesmo em culpa e de perseguição do — > demônio ou de
pessoas não afetadas por nenhum distúrbio castigo divino. Quando as a, são olfativas, a
psíquico. Acontecimentos desse tipo podem pessoa poderá ter a percepção de perdîmes ou
dar-se em circunstâncias particulares de pri- de odores nauseabundos; estes, em sua mente,
vação de sono, em situações anormais de fa - serão expressões do inferno. São Irequentes as
diga ou estresse (entre as quais, por exemplo, a. de natureza sexual, nas quais mulheres e
as "a. causadas por susto" durante a guerra ou moças têm a sensação de terem sido
as "a. provocadas por luto", depois da morte violentadas por demónios ou por seus adeptos.
do cônjuge). Todavia, tais a. aparecem geralmente nas
doenças psíquicas mencionadas atrás. A. cm
IV. Distinção entre a. e ilusões. É impor- pessoas não-doentes podem ser observadas
tante distinguir entre a. e ■> ilusões; nestas, principalmente nas sociedades nãt ( -oci-
ao lado de um objeto real externo, verifica-se dentais, em reuniões coletivas, durante ma-
dislorsão da percepção com completamento nifestações particulares de caráter mágico ou
irreal do fenômeno perceptivo, completamen- em algumas celebrações de natureza religiosa.
to devido â experiência subjetiva da pessoa. Mas civilizações ocidentais, a verificação de a.
Tais fenômenos podem aparecer quando o rituais ou de massa deve ser considerada
objeto a ser percebido não está adequadamente simplesmente como excepcional. Às vezes
estruturado ou é falho em alguns pontos. Uma podem verificar-se fenômenos de "ilusões
tipologia particular de ilusões é a relativa às afetivas" (como, por exemplo, quando se vê um
"ilusões holotímicas ou afetivas", que apare- crucifixo na mancha de uma parede).
cem em conexão com ai terações das situações
emocionais de lundo. A base disso é uma RIIÏL.: American Psychiatrie Association,
estmturação emotiva particular, a qual con- Diagnostic a i ul Sti i zi > / j ( a l \ ta > ;ual of
diciona a expectativa perceptiva (por Mental Disorders, Wash i ng -ton 1994*; C.
Andrade - S. Strinath - A.C. Andrade, The
exemplo, Hallucinations in Non-psychotic Suites, in G«-
jovens assustados, ao passarem por um cemi- nadian Journal uf Psychiatry, 34 (1989), 7U4-
tério à noite, podem ver a figura de uma árvo- 706; K. Asaad - B. S lia piro, Hallucinations;
re como uma figura humana ameaçadora). Theore tical and clinn ai Ovvrvie\\\ a i American
Journal o f Psvi hiatry, !43 (1986), 1U8.S-1097;
H . Babkoff- H. C. Siiiget Al., Pcrceptual Distot'iions
V. A. e mística. A a . tem destaque particu- and Hallucinations Reported Dur ira* the Course
lar no âmbito da mística, por causa da neces- ofSleep Deprivation, in Perccptual and Motor Skiti.
sidade de distinguir entre fenômenos de na- 6S Í1989). 7S7-79S: L. Bini -T. Baz/i. Trattiito di
tureza espiritual, como visões. ■-> locuções, psichiatria. Milâo 1971/74**; E. Hoganelli, Corpo
e spirito, Roma I951;G.B. Cassano-A. D'En-
—> revelações, e fenômenos de natureza psi- rieoel Al.. Trunato h aliam > di Psichiatrîa. Milão
copatológica, como as a. 1993; A. Farges, Lespliénoménes mystiques, II.
No Castelo interior (Sextas mansões, 3) —> Paris 1923, 42-107; A. Freedman et Al.. Tra ttûto
santa Teresa de Ávila, escrevendo sobre pessoas di psicf jiairia. Padova 1984; I. Gagey,
de equilíbrio frágil ou de intensa melancolia, fítáiomáiesmystiques, inDSAAÍ XII/1, 1259-1274; M.
Geldcn - D. Ôath-R. Mavou (org. por), Oxford
diz que não se deve acreditar nelas quando
Material com direitos autorais
Texthook of Psychiatry, Oxford 1989; A. Jaffe, típico da piedade e, tomado nesse sentido, o
Apjxiritions, Fantômes, rêves et mythes, Paris 1983; Dr. G. Mara nó n o diagnostica como 'câncer
K. Jaspers, Psicopatologia générale. Il pensiero
sciemifico, Roma 1964; 1. Modai-P. Sirola et AL, da mística", e M. Mir o considera fenômeno
Conversive Hallucination, in Journal ofNervous and autóctone ou próprio da Espanha.
Mental Disease, 168 (1990), 564-565; P. Quercy, Seguindo a historiografia e por dever de
IMS hallucinations. Philosophes e mystiques, Paris clareza, tomá-lo-emos aqui no sentido de
1930; G.C. Rcda, Psichiatria, Turim 1993 2 ; I. desvio das fortes correntes espirituais, ou,
Rodriguez, s.u, inDES 1,98-99; I.M. Sutter. S M , in
A. Porot. Dizionario di psichiatria, Roma 1962, 49- sucintamente, no sentido de heresia mística,
52; J. Tonquedec, Les maladies nerveuses ou fenômeno que, pela sua obscuridade, con-
mentales et les manifestations diaboliques, Paris trasta com a luminosa beleza do misticismo
1938,5-6. genuíno.
II. Os grupos. Seja como for, o fenômeno
G. l \ Paolucci dos ÍÍ. é uma realidade histórica importante.
ALUMBRADOS Podem e devem ser distinguidos seis grupos,
prescindindo-se dos casos isolados que, vez
I. O fenômeno. A palavra a. é de origem
por ou tia, surgem aqui e ali.
espanhola e teve mais difusão do que precisão.
Esses grupos são: I. O do Reino de Toledo (c.
De falo, quase lodos os dicionários e en-
1510-1530), no centro geográfico da Es-
ciclopédias, manuais e obras especializados
panha; coincide com o poderoso despertar da
empregam esse termo, geralmente sem de finir
Espanha mística, é guiado prevalentemente
seu núcleo central e seu contorno, até pondo
por leigos, homens e mulheres, e quanto ao
cm d vívida a existência histórica dos a .
conteúdo doutrinal, é o de maior pureza; 2.
Assim, por exemplo, H. Bremond chegou a
0 de Estremadura (1570-1590), retomada
dizer que eles são uma espécie de "fantasma"
poderosa e híbrida de um renascimento reli-
historiográfico, porque todos falam deles,
gioso promovido por pregadores itinerantes,
mas ninguém procura sabei o que são. R.
de moralidade duvidosa, favorecido pelas
Knox, seguindo Bremond, diz mais ou menos
condições climáticas e demográficas da re-
a mesma coisa. Outros autores, ao contrário,
gião; 3. O da Alta Andaluzia (1575-1590),
ali miam que são um fenômeno importante da
muito próximo do precedente quanto à ori-
Espanha mística, embora,
eem, bastante sensível às instâncias da bru-
historiograiicaincnle falando, sem traços
\aria de Montilla, atingiu desenvolvimento
definidos: "Existe na Espanha uma seita
carismático em Baeza, â sombra da Univer-
misteriosa, cujo nome volta constantemente
sidade, e se difundiu cm Jaén, sob a direçã o
nos textos, a dos iluminados ou a . O próprio
de Gaspar Lucas e Maria Romera; 4. O do
falo da existência dessa seita tem grande
Peru (1570-1580), de tom tipicamente crioulo
importância histórica para compreender a
(cm seu significado exato), de pouca extensão,
alma espanhola". 1
mas de raízes ideológicas muito pro-
E oportuno, por isso, fazer algumas obser-
1 undas, metade angelisla (do anjo de Maria
vações como ponto de partida: 1. A palavra ÍÍ.
Pizarro) e metade hheracionista, porque pro-
equivale, filológica ou semanticamente, a ilu-
pugnava a libertação ou independência em
minados, raiz léxica latina (illuminati); 2. Em
relação ao poder temporal (Espanha) e ao
sua acepção original e em sentido positivo,
poder eclesiástico (Roma), defendendo uma
ela foi usada pelos próprios a.: "O bispo
"nova Igreja", sem rugas de tempo e sem
Ca/alla e sua irmã, Maria de Ca/alla," a apli-
manchas cie corrupção; 5. C) do Mcxix o {\
cavam aos que se reuniam para exercícios de
580-1605), com epicentros em Puebla dos
piedade; em tais assembléias ou reuniões 'Ta
Anjos e Cidade do México, de poucos adeptos,
avam da luz que foi dada a —> são Paulo" e
de trama fraca, mas com suas eslumaiuras de
sustentavam "que todos podiam ser ilumi -
"céus e terra novos' Icf. Ap 21,5), com seu
nados (...), e os que se reuniam para isso se
fervor apocalíptico e com seu milenarismo
chamavam iluminados (= ÍÍ. )";: 3. O povo deu a
inspirado ideologicamente em Joaquim de
esse nome ou palavra e aos que o encar navam
Fiore (t 1202) e praticamente de paixões
sentido negativo, o qual foi assumido pela
muito humanas; e ó. Ü de Sevilha (1605-
Inquisição, para a qual ele passou a equivaler
1630). que foi o mais numeroso e o mais
a heresia mística: "Por causa de nossos —>
folclórico, orquestrado pelo "mestre" João de
pecados, já há entre os homens quem considere
Villapando, ex-carmelita, e pela "madre"
ultraje (...) falar a Deus, porque as pessoas
Catarina de Jesus, oriunda de Bae/a.
chamam dehipôcritas, A. e homens maus aos
Como se vê, trata-se de grupos históricos,
que lalam a Dcu.s";5 4. Conseqüentemente o
não de fanstasmas historiográficos.
nome ou a palavra a. designa uru subproduto
Material com direitos autorais
57 Al 0\S(> ])!■: MAORI \l I ClNAÇÂO
III. A doutrina. Para uma abordagem da impecabilidade - alimentava urna eondula
mensagem mística do alumbiadisnío espa - desenfreada.
nhol há uma fonte primordial: os processos Se bem que a Inquisição, por razões
instruídos pelo Santo Olício. Cirande núme - metodológicas, associasse a heresia dos a. à
ro desses processos está conservado, princi- luterana, e embora tenha pretendido ligarão
palmente no arquivo histórico nacional de erasmismo a ideologia de Pedro Ruiz de
Madri e no arquivo geral da nação, no Méxi - Alcaraz e de Maria de Cazalla, difusores dessa
co. Ex ísiem, além disso, os Editos contra os a., tese, hoje ninguém se deixa influenciar por
que eram Sílahos ou sumários dos presu- essas afirmações. Eles não eram e nem podiam
míveis erros da seita, que os oficiais do San- ser luteranos e muito menos erasmia-nos, dada
to Oficio compilavam meticulosame nte, par- sua escassa bagagem cultural, o que não
tindo dos depoimentos das testemunhas e impede de reconhecer que se tratava de uma
dos próprios réus. São muito ricos de dados heresia radical e de consequências tremendas.
também os Memoriais de finei Alonso de la Fuente O Édito de 1574 tentou circunscrever a
(t 1592), que foi o descobridor do fenômeno pululante seita dos a. da Extremadura. Esse
alumbradista da Extremadura e da Alta édito é breve, e suas cláusulas ou pi oposições,
Andaluzia e que se empenhou em debelá-lo. enraizadas no húmus dos a. toledanos, su-
Considerando-se só os Editos, os principais são põem um florescimento de sinal "sensual",
três: o primeiro é o de 1525, promulgado pelo niiiiiiiuli j-seesse qualilicativi) em sua acepção
inquisidor geral, Dom Alonso Manrique; o ampla, isto é, designativa dos —» sentidos e de
segundo é o de 1 574, promulgado pelo seus mecanismos biológicos ou passionais. A
inquisitor geral, Dom Caspar de Ouiroua.com proposição décima condensa esse édito; se
algumas cláusulas ou acres-cimos posteriores; recorrermos às glosas de Alonso de la Fuente,
esse Edito foi juntado ao Edito geral, que era teremos uma interpretação correta dele.
repetido todos os anos na quaresma, para ser De maior interesse são as variantes dos a.
atualizado ou não ser esquecido; ele foi crioulos, com suas antecipações prematuras
praticamente o texto básico dos Editos que se da -> teologia da libertação e com suas projeções
liam nos distritos de Lima e do México; o milenaristas ou escatológicas, assuntos esses
terceiro é o de 1623, promulgado pelo que vão além dos limites desta vida, hic et
inquisidor geral, Dom Andrés Pacheco, nunc.
diretamente contra os a. de Sevilha, e Quanto ao Édito de 1623, que é o mais
preparado pelos teólogos daquele tribunal com famoso e o mais conhecido, devemos dizer que
base nos processos em curso; à promulgação contém poucas novidades em relação aos
desse E.aito luram juntados os Editos de 1525 precedentes: completa-os - os que o prepararam
e de 1 574. tiveram presentes os éditos de 1525
O Edito de 1525 contém quarenta e oito e de 1574 - e lhes acrescenta grandeza e
proposições, tiradas, em sua maioria, das de- espetacularidade. Ele contém setenta e seis
clarações das testemunhas e dos réus; por proposições, distribuídas em dezessete blocos
esse motivo, algumas têm iormulaçãoou re- ou seções temáticas; 1. oração; 2. obe* diência;
dação obscura ou são repetidas, chegando até 3. confissão; 4. comunhão; 5. —> perfeição; 6. —»
a parecer contraditórias. A minuciosa e amor a Deus; 7. —> união com Deus; 8. ->
laboriosa análise de M. Ortega identificou o luxúria; 9. excomunhão; 10. -»arrebatamentos
autor, a testemunha, o tempo e o lugar de (êxtases); 11. purgatório; 12. água benta; 13.
quase todas as proposições. O núcleo central imagens; 14. reuniões ou conventículos; 15.
do alumbradismo toledano - o mais puro e o matrimônio; 16. -> estigmas ou chagas; 17.
mais herético - se encontra na proposição teólogos ou pregadores. É conjunto
nona, que pode ser dividida em quatro partes dogmático-moral que compreende quase todos
ou teses; 1. "o amor de Deus no homem é os aspectos da vida sociorreligio.su. A
Deus"; 2. é necessário entregar-se ou vastidão da temática é paralela à vastidão do
abandonar-se a esse amor; 3. esse amor manda a. sevilhano, que chegou a contaminar mais
no homem, tornando-o impecável; 4. "chegando- cie cem vilarejos e cidades, e teve milhares de
se a esse estado", não há senão mérito. adeptos. Foi um a, que se difundiu muito
Como se vê, os a. do Reino de Toledo pre- entre o povo simples, o qual, na Andaluzia,
conizavam a —> união entre Deus e o homem apreciava sempre a espetaculosidade ou as
como identidade total e essencial ("é"); a manifestações exteriores. Foi suspeita de a. a
eliminação de toda mediação (de Cristo, da Congregação do Granado, tipicamente sevilhana,
Igreja, dos sacramentos, das estruturas) era que se caracterizou não por exteriorização,
consequência grave, se bem que lógica; e a mas por sigilo, isto é, pelo mistério que a en -
queda de todas as barreiras éticas - a volvia.
Material com direitos autorais
IV. "Auto-de-fé". Os a. logo preocuparam a
Inquisição. Eles tinham doutrina e prática
que, pela extensão e pela intensidade, era pe-
rigosa como epidemia. OsÉditos revelam seu
nísio Arcopagita, Clímaco (t c. 650), —> Cas- caminhos para conduzir à perfeição e à
siano, —» sào Bernardo, os Vitorinos, —> Dio- santificação. Às vezes ele dá a contemplação a
nísio canusiano, > Gerson, -> Luís Blois alguns que ainda não são perfeitos para
(Blosius), Kempis (t 1471), —> llerp e -> Tau- ajudá-los a serem mais solícitos na vitória
ler. A sua obra poderia ser comparada ao estilo sobre si mesmos; mas geralmente a contem -
herreriano: ampla, de austera gravidade, plação é dom concedido aos que já adquiriram
sóbria, proporcionada, inspirada. tal paz de espírito e que podem fixar o olhar em
Deus. A causa próxima da contemplação é o
II. Seu ensinamento místico sobre a > con- dom da —» sabedoria.
templação e a vida mística está em sua última O homem pode dispor-se, com a graça or-
obra, Dc inquisitione pacis sive Studio orationis dinária, para o dom da contemplação, supe -
(Da indagação sobre a paz ou da aplicação na rando os impedi mentos a virtude autêntica,
oração). A —> meditação tende à aderindo continuamente ao Senhor com o
contemplação, e esta, na obra de A., é prece- intelecto e o afeto e insistindo assiduamente
dida de ampla exposição da oração alctiva. na oração. Pode pedir e desejar ardentemen te
Nesta distingue três graus: no primeiro ain da que o Senhor lha conceda, mas não deve procurar
se insiste em vários e repetidos afetos na consegui-la por si mesmo, porque ela é dom de
oração; no segundo há um só ato de amor, Deus.
exercido durante algum tempo sem interrup- A. distingue entre contemplação inicial e
ção, com esforço pessoal ajudado pela —> graça contemplação perfeita. O homem já purificado
divina; no terceiro, a pessoa, sem esforço e com dos afetos desordenados, virtuoso e exer-
grande suavidade, permanece num só ato de citado na meditação pode obter a primeira e
amor, que se estende mais longamente. Disso ver humildemente se é admitido a ela, quando,
alguns quiseram ver em sua oração afetiva uma deixados todos os discursos e as considerações,
espécie de "a mtemplação adquirida", posto na presença de —» Cristo ou da
resultado da simplificação à qual se chega, Santíssima Trindade, aplica-se ao amor. A
como hábito adquirido, com a ajuda da graça contemplação perfeita pode ser definida em
ordinária no exercício da oração. Ou sua substância como simples conhecimento
contemplação iniciada como conclusão da de Deus. nascida do dom da sabedoria, a qual
oração. Ele alude também a dons especiais eleva a alma ao seio de Deus e a enche de
ou repentinos concedidos por Deus a alguns admiração e de deleite puríssimo. O homem
espirituais (cf. VI, 320b). pode preparar-se para ela. como dissemos
A. distingue entre saber escolástico e saber antes. Pode notá-la graças aos —> fenômenos
místico, como entre schola intellectus e schola que às vezes a acompanham (êxtases, arre-
affectus (escola do intelecto e escola do afeto). batamentos, aparições, visões etc), os quais
Aquele é adquirido pelo -» intelecto, este tem não devem ser desejados nem pedidos; se se
necessidade da pureza de vida, de desejos, verificam, é necessário que a pessoa seja
suspiros, petições e exercícios de -> virtudes. muito prudente e peça a Deus humildemente
A contemplação é intuição certa, perspicaz e que a conduza pelo caminho normal.
livre de Deus e das coisas celestes, comporia
admiração, traz o amor e procede do amor. Ela III. Os graus da contemplação. Segundo A.,
reside no intelecto e influi na —> vontade. Não os graus da contemplação são quinze, os quais,
pode ser mantida durante muito tempo só com ordenados da menor para a maior perfeição,
os auxílios da graça ordinária, sendo intensidade e plenitude, são: 1. in-tuitio
necessária também a ajuda especial de Deus. veritatis, 2. secessus viriitm animae ad interiora, 3.
As vezes a contemplação é retirada dos que a silentium, A.quies, 5. todo, 6.au-ditio loquelae
receberam; isso é feito por Deus, para maior Dei, 7. somnus spirititalis, 8. ex-tasis, 9. raptus, 10.
proveito deles. Nesse período de tempo, a alma apparitio corporalis, 11. ap-parilio imaginaria, 12.
deve exercitar-se com a graça ordinária nas inspecíio spiritualis, \ 3. divina caligo, 14.
considerações e afetos como se exercitava manifestatio Dei, 15. visio intuitiva Dei ("intuição
quando estava no estado dos que meditam. da verdade", "retirada das forças da alma para
A contemplação não é dom necessário para a o interior", "silêncio", "repouso", "união",
salvação, e não pode ser obtido por justiça, "escuta da fala de Deus", "sono espiritual",
mas pode ser impetrado da misericórdia e li- "êxtase", "rapto", "aparição corporal", "aparição
beralidade divina com gemidos e ações Nem imaginária", "olhar espiritual", "escuridão
lodos, porém, que chegaram à pei leição che- divina", "manifestação de Deus", "visão
gam à perfeita contemplação. Deus tem outros intuitiva de Deus").
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AI.VARRZ DA ]>AZ AMBROSIO DK Mil-AO { s u i x u , } 62
45 Al.VARHZ DA I'AZ
Para ele, a união contemplativa com Deus tendemos. Os santos que, como —> Agostinho,
é dom precioso pelo qual Deus se mostra no —> Bento, —> Inácioe outros, chegaram ao
íntimo da alma, presente nela, olhando -a e décimo quarto grau de contemplação,
amando-a com extrema ternura (cf. VI, 562b). contemplaram Deus por luz sobrenatural e
Por laqueia Dei A. entende as locuções di- por espécie infusa. As análises de A. sobre a
vinas. Nela, Deus, por si mesmo ou por meio possível diversidade dos fenômenos
da criação submetida a ele, forma palavras místicos são pormenorizados, inteligentes e
na alma do contemplativo para instruí-lo a baseadas na realidade ou numa literatura
respeito de alguma coisa atinente ã sua sal- mística seria. A sua posição diante da ne -
vação ou ao proveito do próximo, e o move a cessidade ou não de, no estado de contem-
grande reverência e obediência, ou a outros plação, deixar lodo o sensível e inteligível é
santos atetos. A laqueia pode ser exterior ou pessoal e indefinida. Ele não se inclina a ad-
interior, imaginativa ou intelectual. mitir essa necessidade, porque, segundo ele,
Por sono espiritual ele entende uma espécie t> intelecto humano não depende da imagi-
de êxtase começado, no qual, às vezes, a nação e do "fantasma" (cf. VI, 550b). Deus, que
alma perde o uso dos sentidos externos (mes- é o doador da contemplação, pode exercitar
mo que não plenamente) e se comporta em muito mais eficazmente o intelecto, in-
relação ás coisas sensíveis de modo semelhante troduzindo nele sua luz, e, adormecendo a
a quem começa a dormir. Ou, mais pro- imaginação, induzir nele a verdade que ele
priamente, esse sono é um grau tão veemente contempla. Para sustentar sua teoria, ele alude
de amor que nele a alma não percebe o ao modo de conhecer da alma separada e ao
exercício de seu intelecto, modo de conhecer de certas almas, às quais
Quanto às aparições, A. ensina a não de- Deus concede que atinjam subi unida des
sejá-las nem pedi-las, antes, a temê-las quando espirituais com a cooperação dos —> sentidos e do
vêm. O importante é reverenciar o divino e o -> corpo. Antes (cf. 550a) ele se referira à teoria
santo que pode estar na aparição presente de santo Tomás, segundo a qual Deus concede
(esse ato humano de reverência deve sei" ciência in]usa a algumas almas santas, para
dirigido a Deus). Mas, para não enganar -se, é que possam usá-la sem a cooperação dos
necessário esperar para verse seu eleito é sentidos, ou introduz nelas, quasi per transitam
bom, coutar com a ajuda do diretor espiritual (como que de passagem),
e verificar se tudo está de acordo com a —> espécies infusas,-' talvez mais
Palavra de Deus e se conduz à —» humildade freqüentemente
e à virtude. A. admite um tipo de apa rição do que pensamos nós, inexperientes. Além disso,
corpórea que acontece não porque diante dos A. se refere a Dionísio cartusiano,3 que sustenta
olhos do vidente se forme realidade corpórea, a possibilidade de que Deus eleve o intelecto
mas pela mudança operada na potência humano, com uma luz especial, no uso das
visiva, percebida à semelhança do que deve imagens recebidas dos sentidos, sem que
ser visto (cf. V. I Ü,593a-b). A visão nenhum sentido interior coopere na con-
puramente intelectual não contém »ilu sões. templação.
Mas como não é fácil saber quando não há Resumindo, o que não falta a nenhum
nela algumas mistura de imaginação, todas contemplativo autêntico é o entender com
as aparições devem ser tratadas com simplicidade e sem discurso, é o amar mais,
precaução e submetidas à discrição do diretor que, comumente, é ter o santo afeto do temor
espiritual. Na visio in caligine (visão na ou o desejo das virtudes (cf. VI, 551a).
escuridão) (décimo terceiro grau da contem
[ilação), a pessoa não vê nada, mas tem NOTAS: 1 cf. ARSL Peru, L/u. Gener. 1584-1618,
consciência de que ela é tudo, e de que fora carta
cli- 24 de iVwjvim 1 5S7 ao P. Juan de Alien/.a; : Sth
dela nao existe nada, percebe-a como IM1, q. 17, a. 10; De veritate, q. 13, a. 2 and 9;
verdadeira e a abraça com amor. E como *De mystica theologia, a 8.
olhar e não ver, porque ela percebe como que
BIBL.: Obras: De vita spirituati eiusqueperfections
uma espécie de escuridão e nevoeiro
Lugduni 160S: De exterminatione mali et pro-t;;
encobrindo toda a luz (cf. VI, 606). Quanto à o! u I i i e be mi, La igd 11 n i 1613; / ")e 1r iq: < is
visão clara de Deus, A. adere à opin ião dos — 1111».'<' p a • cis sive studio orationis, Lugduni lot7,
> Padres e à multidão de doutores escolás- colecionadas in Opera lacobi Alvarez de Paz, 6
ticos, segundo os quais deve-se negar que voll., Paris I S75-1 87c Estudos: A. Astrain, A l<i
memorie, de! grau asceta Diego Alvarez de Paz en
seja hábito ser ela concedida ao ser humano, et tercer centena tio de su muerte, in Gre.j> 1
lila é própria da vida eterna, para a qual (1920). 394-424; I. De la Torre Monge, La llamada
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universal a la contenwkiciôn eu Alvarez de Paz. segundo a influência das fontes usadas por
Santander 1959; E. Hernandez, s.v., in DSAM i, ele.
407-409; E. Lopez Azpiiarle, La oración
contemplativa. Evoluciôn y senndo en Alvarez de Segundo a subdivisão por gênero e temas: -
Paz S.L, Granada 1966; T.G. Obras exegélicas: Hexaemeron (Hexamerão), De
O'Callaghan, A/varez de Paz and the Nature of paradiso (Sobre o paraíso), De Cain et Abel (Sobre
Perfect Contemplation, Rmna [950; A. Peltier, Le Caim e Abel), De Noe (Sobre Noé), De Abraham (
P. Louis lidltintint et les grands spirituels de son Sobre Abraão), De Isaac et anima (Sobre Isaac e
temps, I. Paris 1927, 298-339; A. Poulain, s. v.,
inDTCl, 928- a alma), De bano mortis (Sobre o bem da morte).
930. De f uga saeculi (Sobre a fuga das coisas
mundanas), De Jacob et vita beata (Sobre Jacó e a
U. Ruiz, .lunula vida feliz). De Joseph (Sobre José), Depattiarchis
(Sobre os patriarcas), De Ucha et jejumo (Sobre
i iélia eo jejum),
De Nabuthae historia (Sobre a historia de Na-
bote), De Tobia (Sobre Tobias), De interpella-tione
Job et David (Sobre a interpelação de Jó e Davi),
De apologia prophetae David (Sobre a apologia do
AMBROSIO DE MILÃO (santo) profeta Davi), Enarrattones in X I I psahnos
davidicos (Exposição sobre XI I salmos
I. Vida e obras. As fontes principais da davidicos), Expositio psalmii CXV/If (Exposição
vida de Ambrósio são a Vita Ambrosii (Vida de sobre o Salmo 118), Expositio Evangelii seci i » uit
Ambrósio), escrita pelo diácono Paulino, em t m Luca m ( Ex posição sobre o evangelho
422, por sugestão de —> Agostinho, c seu segundo Lucas), Expositio Isaiae prophetae
epistolário. Aurélio A. nasceu em Treveros, em (Exposição sobre o profeta Isaías) (fragmentos em
334 ou 337 (a diferença é devida à dife rente CCL, 14,403-408), Tituli (Títulos) (21) como
interpretação da Ep. 59,4 sobre os movimentos didascálias de episódios do AT e do NT para a
migratórios de então); seu pai, Ambrósio, basílica ambrosiana (de autenticidade
nobre romano, era funcionário tia prefeitura discutida). 1 - Obras ascético-morais De
impei ial das Gálias; sua mãe (de nome offtciis ministrorum (Sobre os ofícios dos
ignorado) quase certamente era da gens Aurélia ministros), De virginibus ad \lar-ccllinam (Sobre
(estirpe Aurélia); ele era o irmão mais novo de as vit gens para Marcelina), De viduis (Sobre
Marcelina c Sátiro. Após o estudo de retórica as viúvas), De virginitate (Sobre a virgindade), De
em Roma (para onde foi antes de 352/354 - institulione virginis et de s. Mariae virginitate
período de consagração de sua irmã perpetua (Sobre a instituição da virgem e sobre
Marcelina como virgem - com a mãe e os a virgindade perpétua de santa Maria),
irmãos, depois da morte prematura do pai), Exhortatio viriginitatis (Exortação à virgindade).
iniciou a carreira (curstts hono-rum) na - Obras teológicas e litúrgicas: De fide ad
prefeitura da Itália, da llíria e da Africa, Gratianum (Sobre a fé para Graciano). De Spiritu
transferindo-se para Sírmio com o irmão Saneio (Sobre o Espírito Santo), De incarnationis
Sátiro. Em 370 A. começou a fazer parte do dominicae sacramento (Sobre o sacramento da
Senado Romano como consularis (consular) e encarnação do Senhor), Explanatio sym-boli ad
recebeu o título de clarissimus (ilustríssimo). initiandos (Explanção sobre o símbolo para os
Em 374, ainda catecúmeno, foi escolhido por iniciandos), Explanatio fidei (Explanação sobre
aclamação popular para bispo de Milão, depois do a fé) (citado por Teodoreto em PG 83, 181-188),
falecimento do bispo ariano Au-xéneio (374). De mysteriis (Sobre os mistérios), De sacramentis
Batizado em 30 de novembro, foi sagrado bispo (Sobre os sacramentos) (autoria discutida), De
em 7 de dezembro de 374 (segundo outros, em poenitentia (Sobre a penitencia), De sacramento
1 " de dezembn > de 373). regenera-tionis sive de phitosophia (Sobre o
Daí em diante A. se dedicou à sua ativi- sacramento da regeneração ou sobre a filosofia)
dade pastoral e ao estudo da -■> Bíblia, de —> (fragmentos). Hinos ( 18; considerados
Fílon, de —> Piotino e dos —> Padres gregos. autênticos: 4)- Discursos: De excessu fratris
Sua atividade de pastor era dominada (Sobre a partida do irmão), De obitu Valentiniani
principalmente pelo problema ariano, o qual (Sobre a morte de Valentiniano), De obitu
incidiu profundamente em sua compreensão de Theodosii (Sobre a morte de Teodósio), Senno
suas relações episcopais com o Império e em contra Au-xentium de basilicis tradendis (Sermão
sua teologia espiritual, que tem acentuada contra Auxêncio sobre a entrega das
dimensão crislológica. basílicas). - Cartas (91; a 23 não é
Os escritos de A. são divididos geralmente considerada autêntica). Três epígrafes em
segundo dois critérios: por gêneros e temas, e dísticos.2
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A subdivisão dos escritos de A. relativa-
mente a influência das tontes abrange dois
blocos; os escritos iuvenis. que vão até 385/ ambrosiana é testemunha de um an-
3S7, de intluência iiloniana e neoplatônica, e tiarianismo declarado. Com efeito, ele desen -
os escritos da maturidade, posteriores a volve um forte cr istocentrismo relativo à pes -
385/387, de inspiração basiliana. A passagem soa de .» Cristí >: encarnação, uascimenn * vir-
do primeiro para o segundo período se carac- ginal, ênfase na humanidade e divindade e.
teriza por três latores: a abertura de A. para conseqüentemente, na mariologia. em parti-
—* Origenes, a descoberta do valor espiritual do cular no que se refere à virgindade e materni -
—* Cântico dos cânticos e a comparação com o dade. A liturgia conserva sempre, no período de
neoplatonismo. Com a base hermenêutica de sua formação tilo século IV ao século X ) e
três sentidos nas Escrituras (literário, ético e na passagem cultural da fase romano-itálica
espiritual), A. usa a alegoria pata tirar dela para a barbai» i -longobarda, a centralidade do
principal mente o sen lido an tropo lógico ou mistério do Cristo criador e salvador do cos -
moral. Ele não la/ comentário sistemático da mo e do homem, dada a ele por A. Em 4 de
Escritura, e, prescindindo-se do evangelho de abril, sábado santo de 397, A. morreu.
Lucas, em geral comenta fatos e pessoas do AT Ele foi bispo consciente do dever de gerir a
segundo o modelo liloniano de tratar u m Igreja católica como responsável pela reli gião.
argumento, isto é, partindo do mundo Por isso, defendeu-a com todos os meios
bíblico. Os próprios títulos tios trata dos de A. disponívieis contra quem quer que fosse, até
se inspiram principalmente em pessoas da contra o Imperador, Apoiou incondicional -
Sagrada Escritura. mente os príncipes lavoráveis à Igreja e pós os
Para a compreensão de seus escritos e, fundamentos dos direitos que deviam ser
portanto, de sua herança espiritual, deve-se reconhecidos à religião cristã pelas instituições
ter presente também a situação sociopolítica civis. Ao morrer, deu uma famosa resposta, que
na qual ele viveu.* ecoou em Agostinho: "Não vivi no meio de vós de
A atividade pastoral de A. abrangia os ho- modo a envergonhar-me de continuar a viver,
mens eminentes de seu tempo como todo o mas também não temo morrer, porque temos
povo de Deus bern além da área milanesa. um Senhor bom" t Vita Ambrosiit 45).
Caim efeito, ele presenciou a entrada de Pau-
lino (t 431) como bispo em Nola e a criação de II. A herança teológica e ascético-es-
novas sedes episcopais no Noite da Itália, e piritual de A. deveria ser posta, para os es-
participou da escolha de seus bispos (a Ep. tudiosos, no âmbito de três orientações do
63, ã Igreja de Verceilas, é um pequeno trata - século IV: a tendência social da —> ascese evan-
do sobre as escolhas episcopais). Sua diocese gélica, a tendência monástica eudenionfslico-
era o mundo ou o saccnlnm (segundo a individual e a tendência iilosólica de caráter
acepção agostiniana em De civitate Dei [ A ci- natural-inslinliva. 4
dade de Deus 1); por isso se incumbiu de ia/er Na realidade, a espiritualidade anibn israna
a exigência evangélica fermentar no coração faz uma grandesinte.se das idealidades do
de um bispo colega (o caso cie Paulino de seu tempo, desenvolvendo na linha do hom em
Nola, Ep. 58), do Imperador (Teodósio foi sábio a -> sapientia corno fundamento das
convidado a entrar* no lugar público dos pe- virtudes, e a --> caritas como sua plenitude
nitentes, Ep. 51), como também das categorias (plciijtudo). Mas, na visão antropológica de A.,
dos simples cristãos (por exemplo, /:/;. 63, à sendo o homem sempre endividado com Deus,
Igreja de Verceilas). é somente graças à —» humildade que ele pode
A. teve relacionamento particular com o entrar na ação misteriosa de Cristo como
povo de Deus, do qual aproveitava toda a ca- causa de sua salvação, mas não pode confiar
pacidade de reunir-se em assembléia, parti- em suas obras (mérito). A humildade é
cularmente em reuniões litúrgicas. Desenvol- entendida pelo bispo milanês não tanto como
veu notavelmente o teor dessas reuniões, uma virtude entrei nitras virtudes, mas como
criando um conjunto de ritos, lormulários e condição da alma diante de Deus.
hinos denominado liturgia ambrosiana. Foi São três, portanto, os pólos de articulação
ele quem introduziu antiphonae, hynnü ac da espiritualidade ambrosiana: a virtude (en -
vigiliae e o canto litúrgico alternado (Paulino, tre ética e ascética), a caridade e Cristo. 1.
Vita Ambrosii in PI. 14 , 3 1 ) . Graças também ao Para A. existe uma ascese do espírito, radicada no
trabalho de Simpliciano (que sucedeu a A. no próprio espírito, de derivação estóica da ética
bispado) e a Eusébio de Verceilas (449-452) ciceroniana e de influência origeniana quanto ã
lormou-se u m corpus litúrgico que é único na relação entre a alma e o Verbo. Ela abrange o
história do Ocidente cristão. A liturgia silêncio ou a moderação no lalar ícl. Off.
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AI.VARRZ DA ]>AZ AMBROSIO DK Mil-AO { s u i x u , } 66
1,18 ,67). A humildade é a forma de ascese do pensamento cristão no tocante ao dogma, á
espiritual contra a —> soberba, na esteira de moral e ã prática da vida. Alfíu-ruas
Cristo humilde (cl. ibid., 3,5,6). Se para correntes cristãs co tempo atacavam a carne
Cícero (t 43 a.C.) foi mais lácil escrever sobre (caro), lendo-a na ótica do sexo até identificá-
a glória, admirando-a em si mesma e por la com ele. s Consequentemente o prazer sexual
causa do bem que ela impele o homem a fazer, era considerado um mal: a alma poderia
com o cristianismo e principalmente com .4. a perder o domínio de sua parte racional. Nessa
humildade passa a fazer parte, além da esteta ótica A. identifica o instinto sexual com a
tia consciência individual, também da —» serpente do paraíso (cf. Sen 49; Ep. 63,14).
formação pratica da vida. Por isso, o homem Segundo ele, a —> sexualidade não
justo, mesmo em caso de ofensas, ca-fando-se, compreende o homem todo, mas só a parle
conserva a humildade, seguindo o humilde física relativa ao ventre, porque a alma é sem
Senhor (cf. ibid., 1.6,21). A plenitude das sexo (cf. Lc 2,28; Fid. 4,3,28). O que se concede à
virtudes, se não incluir a humildade, que é sexualidade é. portanto, uma concessão ao
capa/ de suprir as virtudes que faltam (cf. ventre, isto é, às necessidades instintivas do
ExpL Ps. 118,20,4), é estéril. Se ela não tem homem. Todavia, por impostação mental e
muito espaço no De of íiciis, tem-no, todavia, prática, A. é levado a avaliar concretamente as
nos comentários aos salmos, especial-mengte ao possibilidades humanas de seguir o evan gelho.
salmo 118, que se inspira no Cântico dos Evitando, por isso, posições radicais, atém-se
cânticos e no evangelho de Lucas, sempre ao possível (cf. ExpL Ps. 118s. 5,18). 3. O
escritos mais afastados cie modelos hlosóli- —> seguimento de Cristo: A. enfatizava não
cos. Deve-se notar ainda que, com Dc of íiciis tanto a procura da virtude em si quanto a
ministrai-um, A., passa da ética estóica para a imitação de Cristo. No último parágrafo do De
cristã. Isso se encontra na definição diferente Isaac, por exemplo, atrás da descrição do
do summutn bonum, na qual ele distingue sumo bem ele faz resplandecer o rosto de Deus
entre vida feliz {osummum bonum imanente do e de Cristo. Unir-se a Deus é a heatitude, é
estoicismo) e a vida eterna (o summum hou volúpias (Isaac 8,78), e a "fonte dessa vida para
um transcendente da fé cristã) (cf. Off . 2,5.18). todos é Cristo" (Ibid., 8,79). Essa
2. Os exercícios de ascese corporal são motivados espiritualidade é possível a todo cristão, porque
em A. pela destinação eterna do homem. Os dias Cristo nasce no coração de cada um, mediado
judaicos de —» jejum (segundas c quintas- pelo processo descendente da encarnação, que,
feiras) são mudados pelos cristãos para do coração de —» Deus Pai chega ao coração da
quartas e sextas-feiras. Para sua —> virgem Maria e ao do crente (ExpL Ps. 118s.
compreensão do jejum A. usa principalmente 6,6; Isaac 4,31). onde é depositada a semente da
duas homilias de Basílio: lu chtiosos { H o r n , divinização do homem (cf. Expl. ps 1 J8s. 12,16).
14) e a Exhortatoria ad sanction baptisma (cf. Falando da Encarnação de Cristo no coração
Horn. 13). do crente, A. explicita a forma que ela assume.
Ele dedica muitos discursos à -> castidade, É a do Servo sofredor, do Cristo da paixão e da
que considera não um privilégio das virgens, morte na cruz, raiz de todas as virtudes do
mas um devei 1 de lodos os fiéis. Para ele, cristão e de seu crescimento espiritual (cf. ibid.
diferente é só o modo de praticar a castidade 6,33; 12,16), participando ele dos sofrimentos-
em cada estado de vida. "A virtude da energia do Crucilicado (cl.
castidade é tríplice: matrimonial, das viúvas e Ex. Lc 7,176-186). "A Igreja - escreve ele -
virginal... cada uma é válida em seu estado. ...depois de ter dado à luz o Verbo e de tê-lo
Nisso está a riqueza da tradição da Igreja: A. semeado no corpo e na alma dos homens por
prega a virgindade, mas não rejeita o matri- meto da fé na cruz e na sepultura do corpo do
mônio" (Vid. 4,23). A virgindade é vista antes Senhor, escolhe por ordem de Deus a so-
de tudo como hábito mental exigido de lo -dos. ciedade do povo mais jovem" (Ibid., 10,134).
"O virgem - escreve ele -, procura, pois. a Assim ele religa toda a relação do crente e da
Deus; antes, procuremo-lo todos nós" (V?rg. Igreja com Cristo á fonte iniciática que c Cris -
15,93). A vida virginal não se limita à conser- to crucificado e sepultado, sublinhando sem -
vação da castidade, mas compreende toda a pre sua estreita interdependência. "Cristo,
lista das obras virtuosas (cf. ibid., 10.54). A sintetiza ele, é a fé que todos tem; a Igreja é,
virgindade da carne (virginitas carnis), só por si, por assim dizer, a norma da justiça, o direito
ainda não é mérito; deve-se acrescentar a ela comum de todos; de lalo, ela ora junto, age
uma mente casta (integritas mentis) (cf. ibid., junto, 4 provada junto" (Off. 1.142). Essa
4,15). A virgindade se tornou possível na terra só explicitação traduz, em teoria espiritual o con
depois da vinda de Cristo (cl., ibid., 1,3,1 1).
No século IV, a castidade era um ponto central
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49 AMBRÓSIO Dli MILÃO (santo)
ceito de iniciação cristã nos mistérios, ã qual istoé, a Igreja é o húmus da alma cristã e não
A. dedica grande parte de sua atividade lite- é nunca uma entidade abstrata, porque vive
rária (cf. De mysteriis, De sacrametitis) e pas- nas almas.
toral. Além disso, o bispo de Milão deve ser A. delineia em De Isaac vcl a n i m a a
considerado, por justo título, o fundador da espiritualidade da alma na relação Verbum-
espiritualidade litúrgica no Ocidente. Com anima. A alma, mais que em sua diferença do
efeito, para ele, os —> sacramentos são a liga- corpus e da mens, é indicada corno sinônimo
ção com a vida cristã, tila consiste no cresci- de homem que crê. Ele fala da alma porque
mento de Cristo no crente, e a vida é a expli- então o progresso espiritual eia pro duzido,
citação do rito celebrado, o qual. por sua vez, em chave platônica (plotiniana/ porlii iana),
dá ao rito litúrgico ou ao sacramento a possi - pela atividade da alma. Aplicando os três
bilidade de crescimento, evitando abortar modos de ler as Escrituras (natural, moral e
Cristo. místico) aos livros de Salomão (Provérbios -
O seguimento do Senhor, segundo A., se sabedoria moral, Eclesiastes = sabedoria natural,
póe fundamentalmente no -> amor como Cântico - sabedoria mística: cf. Ex. Lc. prol 2;
Cristo no evangelho o procurava, A propósi to ExpL Ps. I I S , 1,3; Isaac 4,23), A. indica com
da mulher que ungiu os pés de Jesus com essa divisão contida no Cântico - os graus do
perfume, ele comenta; "O Senhor não procu- conhecimento da alma em seu referir-se
rou o perfume (daquela mulher), mas amou progressivo ao Verbo (cf. Isaac 4,14; 4,27;
seu amor" (cf. Exp. U \ 6,28). Nessa perspec- 8,68). O sensus moralis é o esforço do homem
tiva o bispo de Milão evita ler o seguimento para ser virtuoso; o sensus naturalis é o ->
evangélico como nova lei a observar na linha desapego das coisas terrenas, o abandono dos
da obseivância mosaica. visihilia esensibitia (cf. ibid., 4,11; Expl. Ps. I18 t
Comentando o Sl 118, observa que o sal- 8,18 e 14,38); o "sentido místico" é a
mista acrescenta dilexi (amei) ao custodiei completude no amor (cf. Isaac 4,24-26}; três
(guardei) da lei, paia mostrar que a obser- sensus que correspondem á ascensão da alma
vância não provém do temor, mas da exigência para Deus através da insti-tutio, do processas e
do amor. Em síntese, a herança espiritual da perfectio. Em geral A. distingue no processus
ainbrosiana se inscreve na compreensão do animae quatro graus ascendentes (cf. Ex. I s .
Verbo encarnado segundo a f é nicena, ex- 6,50): o desejo do Verbo, a procura do Verbo, a
plicitada como antiariana no plano teológi co, superação da concupiscência carnal "mediante
como cristológica no plano litúrgico, e, no os esforços da virtude" (Isaac 4,16) e o
plano da vivência na caridade, como sua ple - seguimento de Cristo, quando a alma,
nitude. respirando o perfume da fé (cf. ibid., 4,37),
Na espiritualidade de A. ocupa lugar par- produz frutos de caridade (ci. ibid., 5,47). O
ticular o Cântico dos cânticos. Se. em De Isaac ele Verbo encontrado pela alma põe esta na
delineia uma espiritualidade individual tensão de ajudar outras almas (cf. ibid., 4,11;
inspirada ern Jesus, em Cântico dos cânticos, 6,53). E a pci leição do amor, que
junto com De Isaac, a Expositio psahni I I H e corresponde ao dom de Deus que é o próprio
De virginitate (obras dos anos 387-390), põe em Cristo.
relação Cristo, a Igreja e o cristão. Se a Costuma-se distinguir em A. uma espiri-
equação de Orígenes Verbum-anima levava a tualidade inspirada em Jesus (a espirituali -
uma espiritualidade individual, em A. ela dade ética do seguimento) e uma espirituali -
emerge no binômio Cristo-lgreja. una, ecle- dade inspirada em Cristo, a qual lende para o
sial, sacramental. Com eleito, no aposento Kvrios glorificado/' o que coincide com a
nupcial, Cristo entregou a sua Igreja as cha- distinção feita ern seu tempo por E. Bòm -
ves para que ela possa abrir os tesouros cia mirighaus (Jes11 s Frommigkeit...).
scientiae sacramentaram (cf. ExpL Ps. 11$, Quanto à questão de uma mística ain -
1,16), a fim de encontrar os sacramenta brosiana, deve-se observar que ela não deve
haptismaíis (cf. ibid., 2,29). De fato, a Igreja ser equiparada aos - > fenômenos místicos de
tem dois olhos: um, mais penetrante (acutior), acepção semântica moderna, mas deve ser lida
vê as mística (as coisas místicas); o outro, no âmbito da tradição origeniana do sen tido
menos agudo (dulcior), vê as mora tia (as coisas místico e da união da alma com o Verbo. O
morais) (cf. ibid., 1 1,7 c 16,20). O que nos sentido místico (sensus tnysticns) da Es-
escritos dogmáticos de A. é apresentado como critura consiste em perceber o sentido espi-
fruto cia ação redentora de Cristo, no âmbito ritual da > Palavra de Deus, além do sentido
do Cântico dos cânticos se transforma ern literal e moral, penetrando-se nos secreta
espiritualidade cclesial: Ecclesia vcl anima, mysteriu, por exemplo, no amor de Jesus por
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AMBRÓSIO I)H Ml [.AO Kar.k.) SO
seu povo. Descrevendo a união da alma com o pela controversa questão da estátua da
Verbo, A. fala, todavia, de uma mors myslica Vitória reintroduzida no Senado, de onde foi
todavia removida em 382 e talvez não é estranho
(morte mística) c de vários graus da alma que à recrudescência das leis antipagãs. Sob
ai tuia nesta terra já abandona os vínculos com Valentiniano II, ao qual Agostinho dedica seu dis-
o coipo c foge deles. Mas isso ele o diz em curso oficial, A. faz ocupar pelos fiéis, por ocasião
sentido ético. Ele se exprime nos seguintes da Páscoa de 386, a basílica porciana desejada
lermos: "Foge do corpo, completamente - diz pelo bispo ariano Auxêncio. A corte imperial, que
proclama a liberdade de culto para os arianos,
Cristo à alma - não podes estar junto de mim sc comina a pena de morte a quem a impugne. A.,
antes não emigrares do corpo, porque aquele fechando-se com os fiéis na basílica porciana
que se encontra na carne está distanciado do que é assediada pelas tropas imperiais, força
reino de Deus" (Isaac 5,47). Caro e corpus, mundus Valentiniano II a revogar a provisão. A subversão
dc Tcssalônica de 390 leva A. a abandonar
e terra são para ele realidades não só biológicas
Milão para não se encontrar com Teodósio c
e espaciais, mas também éticas e teológicas. O escreve-lhe uma carta reservada convidando-o à
crente opera o transgressus ex terris (a passagem penitência pública. O Imperador, tendo
da terra para...) por meio da fé e das obras (cf. emanado primeiro em Verona uma lei sobre a
Isaac 5,47; Expl. Ps. 118, 8,18). À meta estóica da condenação a morte a não ser executada antes de
trinta dias da sua publicação, volta a Milão e
luta ética, a imperturbabilidade, correspondem pede. por meio do magisterofficiorum Ruüno, a
em A. a chama do amor. a qual une a alma ao penitência pública, que cumpre no Natal de
Verbo, e a morte mística do morrer ao pecado, a 390. O ano 391 marca, com uma série de leis
qual se traduz no com-moirer com Cristo, emanadas por Teodósio, o iim oficial do
participando-se de sua paixão e de sua morte. paganismo: proibição de todo culto exterior
pagão, fechamento dos teniph is. destruição do
O Esposo divino, na linha do Cântico dos Set apeu de Alexandria, emanação de leis contra
cânticos, não manda, mas atrai, e a alma não os apóstatas da fé cristã. No ano seguinte são
teme, mas anseia. proibidas também as formas privadas do culto
Em A., a ligação da alma com o Verbo é pagão; 4 E. Bickel. Das asketische Ideal bei
claramente referida ã compreensão das Ambrosius, Hieronymus und Augustin, in Neue
Jahrbucher f.d., klass. Altertum, Geschichte u.
Sagradas Escrituras: "Bebe primeiro o Antigo deutsche Literatur und Paedagogie, 19 (1916), 455;
Testamento, para depois beberes o Novo... 11 W. Chubart, Religion und Eros, München 1944;"
Aqueles que beberam no modelo ficaram sa- in K . Baus, Das Gebet z u Christus beim hl.
ciados; aqueles que beberam na verdade fi- Ambrosius, Tréveros 1952, 128ss.
caram inebriados. Uma boa ebriedade, que
B IBL .: Aa.Vv., Cento anni di bibliografia
infundiu alegria e não trouxe nenhuma con- ambrosiana (1874-1974), Milão 1981; G. Bardy,
fusão. Uma boa ebriedade, que fortaleceu o s.u. inDSAAf I, 425-428; K. Baus, Das Gebet zu
passo do espírito sóbrio" (Expl. Ps. 118, 1,33). A. Christus beim Iii. Ambrosius, Tréveros 1952; E.
plasmou a estrutura espiritual da Igreja Bickel. Das asketische Ideal bei Ambrosius,
Hieronymus und Augustin, in Neue Jahrbucher f.d.
milanesa no nível de cada crente e da
Klass, Altertum, Geschichte u. deutsche Literatur
comunidade dos fiéis, chamada então para und Paedagogie, 19(1916), 437-474; Id., Das
novos encargos de guia moral e espiritual da Nachwirken des Origenes in der Christus-
sociedade. Frömmigkeit des hedigen Ambrosius, in Römische
Quartalschrift, 49 (1954), 21-57; c. Bömminghaus,
NOTAS: 1Ed. S. Merke, in Römische Quartalschrift, lesus Frömmigkeit oder Christusfrömmigkeit, in
10 (1986), 185-222; 2 Apresentamos todos os Zeitschrif t fin Askese und Mystik. I (1925).
títulos dos escritos ambrosianos porque têm a 252-2^5; P. Borella, Ii rito ambrosiana, Brescia
presença de duas componentes: o problema 1964; P. Courcelle, Plotin et St. Ambroise, in Revue
ariano e o da vida moral dos cristãos;5 Sob de Philologie, 76 (1950), 29-56; E. Dassmann, La
Valentianiano I prevalece a política da não- sobria ebbrezza dellospirito. La spiritualità
intervenção, portanto uma liberalidade recíproca disant'Ambrogio vescovo di Milano. Milao 1975; V.
entre os vários grupos religiosos. Através dos povos Grossi, La verginitn negli scritti dei Padri. La sintesidi
invasores das instituições romanas, apoiados pelo S. Ambrogio: Gli aspetti cristologicir antropologici,
Imperador do Oriente, o arianismo é veiculado ecclesiali, in Aa.Vv., Celibato per il regno, Milão
no Ocidente. A ação de A. diante da penetração 1977, 131*164; J. Huhn, Das Geheimnis der
do arianismo no Ocidente é contínua e de Jungfrau-Mutter Maria nach dem Kirchensvater
grandes consequências para a futura aceitação Ambrosius, Würzburg 1954; H. Lewy, Sobria
recíproca entre Igreja e Império. Em 379 o ebrietas. Untersuchungen zur geschichte der antiken
imperador Teodósio é conquistado inteiramente Mystik, Giessen 1929; A. Madeo, La dottrim
à causa católica, um dado que leva ao édito spiriiutdc di sunt' Ambrogio. Roma 1941; A.
anti-herético de 22 de abril de 380 e ao édito Parcdi. S. Ambrogio e la sua età, Milão 19333; B.
de Tcssalônica cunctos populos, que estabelece a Parodi, s.v., in BS I. 985-989; C. Sorsoli - L.
religião católica como uma religião pública do Dattrino, s.v., in DES I, 106-109; A.M. Triacca.
Império. A. consegue a restituição aos católicos Ambrosiana (liturgia), in DPCA I, 152-156.
de uma basílica ocupada pelos arianos e faz
sentir sua intervenção junto do Imperador por V. Grossi
ocasião dos Concílios de Aquiléia de 381 e de
Roma de 382 e, sobretudo junto a Graciano,
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51 A MI'.RI CAM SM
d
-em geral bem selecionados - nos quais vêem "nesse amor (Deus) tornou-a (a alma) amável
características, também físicas, semelhantes e agradável a si" p e assim "a torna bela e a
às próprias. exalta, fazendo-a participante da própria
divindade".' Urna vez que é Deus quem ama e
Bun~: K..E. Davies, Amici tia e amare a confronto,
ir» Psicologia contemporânea, 1 3 (1986). I ü-25; L. que nele esse alo é extensivo ao seu ser, "ele
Fes-tínger - H. Kelley, Chanyjng Altitude through não ama nenhum ser menos que a si mesmo...
Social Contacts, Michigan 1951; A. Maslow. portanto, quando Deus ama uma alma, ele,
Motivazione epersonalità, Roma 1973; A. Riva, de certo modo, a põe dentro de si e a toma iyjial
Amu izia, íntegra-zione deWesperienza umana,
a si"* João da Cruz já notara as qualidades do
Milão 1975; P. Secord - F. Backman, Psicologia
sociale, Bolonha 1964. amor de Deus, que ama antes de ser amuo1 o, e
da pessoa amada, que é amada antes de amar,
G. Ftoggio ao escrever; "O único desejo de Deus é o de
exaltar a alma... já que não existe outra coisa
B. Premissa. A a. é uma realidade divina e na qual a possa exaltar senão tornando-a igual
humana mui lo importante. Deus "fala aos ho- a si..."; igualdade deamor.''
mens como a amigos e relaciona-se com eles Que significa essa "igualdade dc amor" ? A
para convidá-los e admiti-los à comunhão con- máxima comunhão de vida e a mais alta
sigo" (DV 2). O viver do homem é um conviver, e personalização e distinção dos protagonistas
a convivência se dá na relação. A pessoa é o que da ÍÍ. João da Cruz explica mais seu pensa-
é sua relação com os outros, na - > acolhida mento; na união translormaiite "os bens de
generosa e na doação desinteressada e total. A Deus se tornam bens da alma esposa, porque
a. é por excelência a amabilidade e a ele os comunica a ela... com graça e em abun-
concordância que assinalam e definem a vida dância";^ assim a alma - a pessoa - "parece
humana. Deus mesmo e possui o que Deus mesmo
No âmbito cristão reinam, todavia, silêncio possui".11 "Ambos são uma só coisa pela trans-
e desconfiança, enquanto rui vida e na lite - formação de amor", "um é o outro".12 Enfim,
ratura dominam reticências em relação à a . com as palavras da teologia escolástica, diz
"As amizades particulares" eram considera das que "são duas naturezas num único espirito e
legiões de - > demônios, que atacavam os amor",13 "Embora cada um (Deus e a pessoa)
cristãos neólitos, especialmente os con- consei-ve o próprio ser, cada um deles parece
sagrados na vida religiosa; era necessário Deus". 1 *
combatê-los "com torça igual. Dizia-se que Essa máxima comunhão de amor e essa
"entre santo e santa erguia-se uma parede de profundíssima personalização do homem
pedra", mas temos também uma herança implicam que ele receba, em sumo grau, a
validíssima, um tesouro escondido em tempos vida, isto é, "os bens" de Deus e, ao mesmo
longínquos ou em nossa história mais recente; tempo, dê tais bens, isto é, seja passivo e ativo
os místicos. Refiro-me a eles e, de modo ou passivamente ativo. "De certo modo a pessoa
particular, a —> Teresa de Jesus e a —> João da é Deus por participação" e, tendo-se
Cruz para propor algumas reflexões sobre a a. tornado 50í»/jr« dc Deus por meio dessa trans-
espiritual. H conhecido de todos que Teresa formação substancial, ela faz, em Deus (no
deliniu a —> oração como "relação de a/', J e mistério intrati initário) e por Deus (por causa
que João da Cruz escreveu; "Deus se comu- da graça da liliaçào recebida) aquilo que (o
nica... com amor tão verdadeiro que não há... próprio Senhor) faz por si nela para si mesmo .1=1
amor de amigo que possa igualar-se a ele'.* Depois o doutor espanhol sublinha com
temeridade e audácia de místico c com
I. Todo amor vem de Deus (cl. Uo 3,17). segurança de teólogo: a alma "dá a Deus o
Sem essa fonte, não há corrente de água que próprio Deus em Deus";1" "dá o que recebe dele",
irrigue nossos campos, nem (erra que ali mente estendendo essa doação para "tora" do
nossas raízes, Para aproximar-se das pessoas, o mistério de Deus, comunidade de pessoas,
místico começa sempre por Deus.3 Por isso ele com esta pincelada genial: "A alma vê... que,
nos oferece a possibilidade e os elementos que como coisa sua, pode dá-lo e comunicá-lo a
caracterizam o amor: a benevolência, a ajuda quem quiser". 17 Partindo dessa realidade,
e a confiança, como diz um grande humanista podemos penetrar agora naa. "espiritual" dos
espanhol. 4 O amor que Deus é e que procede místicos, isto é, de lodos aqueles nos quais a
dele cria a bondade na pessoa amada, graça da liliaçào adotiva atingiu um cres-
tornando-a amável, digna de amor, cheia de cimento notável. Portanto, é da vertente da
amabilidade. "O olhar de Deus é amor","1 filiação adotiva que se deve contemplar, gozar'
primogénito "por essência", goza "dos mesmos essencial e determinante, significa assumir a
bens",11- como filho adotivo por graça. "graça" de estar em relação, o que para os que,
Basta uma só palavra que se refira direta- em Cristo, crêem no Deus e -4 Pai de Jesus
mente ao ser da pessoa criada e remida*, sirvo- Cristo tem o alicerce, o coroamento e a força
me para isso de uma afirmação precisa e motriz para alcançá-lo.
maravilhosamente rica de João da Cruz: "A Mas é necessário dizer que a opção por
alma pede a igualdade de amor com Deus, Deus será autêntica também na afirmação e no
igualdade que sempre desejou em nível natu- desenvolvimento de tudo o que é humano,
ral e sobrenatural, porque quem ama não pode particularmente na relação de a , com o outro,
estar contente se não sabe amar o quanto é para fins de verdade, na maior harmonia e
amado"/'** e conclui o próprio João da Cru/, aproximação possível: é isso que "define" o
no parágrafo seguinte: "Enquanto a alma não homem novo, primogênito da nova humani-
alinge essa meta não está contente". O motivo é dade: "divino e humano ao mesmo tempo". 21
que não atingiu seu centro, o "centro mais Nada do humano pode ser imolado sobre o
profundo", "ao qual podem chegar seu ser, stta altar do divino, mas toda a pessoa é assumida e
virtude e a torça de sua ação e de seu recriada. :~ Deus não anula, não exige
movimento": 20 "igualdade de amor". 2 1 I-sia sacrifício de coisa alguma; todas as coisas foram
consiste na plena manifestação, no ápice da criadas para ele. Na pessoa "não" falta nada do
verdade de Deus e da verdade da pessoa numa que constitui o homem por natureza, "mas
gravitação de amor recíproca. seus atos incômodos e desordenados", diz João
da Cruz,25devem ser controlados,26 "perdem sua
I I . Aa. espiritual. Ela é comunicação fun - imperfeição natural e se transformam em
damental entre Deus e o homem por meio da divinos". 27
qual este é natural e sobrenaturalmente tor- Isso deve ser sublinhado quando se trata da
nado capaz de recebê-la e de concedê-la a a. entre pessoas, realidade suprema, ma-
qualquer tu, isto é, a Deus e a (outra) pessoa. ximamente reveladora de todo o desenvolvi-
Amar alguém significa amá-lo lambem porque mento pessoal. O que Deus "exige" é "estar no
Deus está nele e porque ele está imerso em centro"como ponto e razão de encontro, graça
Deus e participa de sua vida. Tudo isso abre essa que torna possível e "define" esse encontro.
dois caminhos naturais de acesso, ambos "Entre nós cinco que agora em Cristo nos
essenciais e indissociáveis. Caminho negativo: amamos", escrevia santa Teresa.28 E santo —>
estimular no outro, envolvendo-se com ele nessa Agostinho, nas Confissões: "A verda deira a.
tarefa, a > purificação de "tudo o que não é existe somente entre aqueles que tu (Senhor)
Deus", segundo a conhecida fórmula de João da unes entre si por meio da -> caridade".29
Cruz. Por isso, "aquilo que não é Deus", de um Experiência que Teresa converte em conselho
modo ou de outro, seca as fontes do amor no para todos: "Aconselho a todos que se dedicam
homem e, ao mesmo tempo, impede -t > de à oração... que procurem a. e conversação com
descobrir o bem ou o que é "amável" no outro. pessoas que praticam o mesmo exercício". 0
Caminho positivo: ativar c acompanhai", no Esse conselho nasce de sua experiência no
dinamismo crescente da gratuidade, o campo das relações de a., algumas das quais
desenvolvimento daquilo que é Deus no outro "prejudicavam tudo".31 Um dia Teresa ouviu
e em si mesmo. A esse respeito escreve santa estas palavras: "Não quero mais que converses
Teresa: "É bastante raro que essas grandes com os homens, mas somente com os —>
amizades sejam ordenadas a inflamar-se anjos".32 E esclarece imediatamente o sig-
reciprocamente no amor de Deus...; quando o nificado, acrescentando: "Essas palavras se
amor tende ao serviço de sua Majestade, isso é cumpriram com exatidão, porque desde então
visto claramente (= se muestra) porque a não pude mais ter consolação, a. e amor
vontade, em vez de deixar-se dominar pela —> especial senão com pessoas que eu via que
paixão, procura todos os meios para vencer as amavam c serviam a Deus".33 E assinala o efeito
paixões. Eu gostaria que houvesse muitas dessas rápido, instanlàneo: "O Senhor me ajudou,
amizades nos mosteiros".22 "Servir à Sua dando-me tanta força e —» liberdade que me fez
Majestade" significa desenvolver e afirmar a romper toda ligação".34 Os verdadeiros amigos e
própria vocação; a "primeira" é a de tornar-se "os melhores parentes (são) aqueles que Sua
pessoa; a "segunda" se refere à dimensão Majestade vos enviar", "os que vos amam só por
humana, social e religiosa, na qual a pessoa se Deus";""' amigos na liberdade e pela liberdade.
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É essa a nota característica da a. com o padre
Graciano: "Dá liberdade". 36
Quando, como educadora de suas irmãs, si ao outro", como diz João da Cruz.43 Mas a
santa Teresa tala do "-> anu >r puro espiritual", dificuldade e a dureza nas pessoas chamadas ã
que "e bom e lícito e que devemos ler uns com a. servem de incentivo para a consecução
os outros"," escreve: "Felizes as almas que são daquilo que pela graça é possível.
objeto do amor delas! Afortunado o dia em NOTAS: 1 Vida 8 ,5;2 Cântico espiritual 27,1 ; 3
que se conheceram 1 O meu Senhor, não me Habitualmente os teólogos expõem esse tema
concederias a graça de encontrar muitas através de movimento ascendente. Assim, p. ex.,
almas capazes de amar-me assim?", e, S. De Guidi. Amore e amicizia. in 1)11. 319-34 ];";
Cí. I*. Lain Kn-tralco, S<.ihre la ami st ml. Madri
dirigindo-se às suas monjas: "Amai também o
19S6, ! 57-171; 1 Cântico espiritual 31,8;r' Ihui.
quanto quiserdes tais pessoas.,.". E prossegue 2;7 thai, 4; s Ibid, 32,0: ■' Ihui, 28 .1; '" Ibid.,
nesse tom, respondendo às upiniòes contrárias: 14.29; " Subida ao Monte Carmelo II, 5.7; I:
"Ad.rnitindo-.se que alguém chegue à —> Cântico espiritual 12,7; 13 IhiJ., 22,3: 14 Ibid.,
perfeição, logo vos dirão que para ele esse 5;15 Chama viva de amor 3.78; k * Ibid.; 17 Ibid.;18
Cântico espiritual 36,5; 39,5-6; 19 Ibid., 38 ,3;
recurso não é necessário, porque lhe basta ter Chania viva de amor I, 1 1 ; '"' Cântico cs piri
Deus. Mas o fato é que para ter Deus é um ma!, 28,1; : J I h id., 4.6-7: 21 Teresa de Avila,
ótimo subsídio freqüentar setis amigos". Castelo interior. Sete moradas, 7.9;24 No final do
E importante que o encontro amigável se Cântico espi* rima! (4(1,1.5-6), <> Doutor místico
realize "no Cristo"; é ele que torna possível a a. oferece uma idéia inspiradora acerca da
participação de trufa a per sonalidade na festa
e o dom que se oferecem mutuamente os da amizade com Deus, também com anüf.os.
amigos e que reciprocamente descobrem como Kla é a ampliação de princípio anho p« >lógico:
motivo determinante de sua a . Assim ensina "Visto que... antes dois elementos [sensitivo e
santa Teresa às suas monjas na relação com o espiritual 1 formam o mesmo sujei lo, ;mihos
confessor: "Religiosas que devem estar ocu- participam do que o outro recebe, cada um à
sua maneira" (Noite escura I, 4 ,2); *s Cântico
padas na oração contínua, para as quais a a. espiritual 20 ,7;26 Ibid., 4 27 Ibid., 3;28 Vida 16 ,7;29
com Deus é o motivo de sua vida, não se ape- Livro IV, c. 4 ,7'30 Vida 7,20; í ; Ibid, 23,5;32 Ibid.,
guem a um confessor que não seja grande ser- 24 ,5;31 Ibid., b; 3- Ibid., 7; ^ s Caminho de
vo de Deus..., sendo como deveria; se vêem que perf eição y,4; "' Ninguém poderá romper essa
amizade (et. Carta de 28 de agosto de 1575).
o confessor não compreende sua linguagem e
Cristo "o mediador de matrimônios" [Carta de 9
não é levado a falar de Deus, não podem alei- de janeiro 1577); 37 Caminho de perfeição 6,1; 38
çoar-se a ele, porque não é como elas".-4 Le- Ibid., (red. Kl Escoriai) 11,4. Sobre as vibrações e
vando ao extremo sua afirmação, acrescenta: niixJulaçõe* humanas do amor cf. M. Herráiz, Sólo
"É impossível continuar amá-la" (a pessoa) "se Dios basta. Madri 1992, 306-340; 39 Caminho de
perfeição 4 ,15; 40 Ibid., 6 ,8; 41 Noite escura 1,4 ,8;42
ela não tiver em si bens celestes e grande Ibid., 1 2, 8;43 Cântico espiritual 26, 14
amor a Deus. Sem isso, repito, não podem
amá-la, mesmo que essa pessoa as obrigue à BiBL.: T. Alvarez5.v., in DES 1,112-117; L. Bordello.
Amore, amicizia e Dio in S. Teresa, in EphCartn 32
lorça cie sacrifícios, morra de amor por elas e (1981), 35-90; S. Galilea, Lamicizia di Dio. I I
reúna em si todas as graças possíveis".'1. cristiattesimo, come amicizia, Cinisello Bálsamo
Expressãoe "sacramento" diva. intratrini- I *S9; 'I". Colli, s.w, in PS, 1-19; N.M. Loss, Amore
lária e da que se dá entre Deus e a pessoa, damicizia nel Nuovo Testamento, in Sal 39 (1977),
meio para o aperfeiçoamento humano e ao 3-55; A. Riva, Amicizia. Integrazione
delVesperienzxi umana, Milão 1975; C. Sclu.it/. -
mesmo tempo finalização do movimento da R. Sarach, 1,'uom.o conte persona, in Mysterium
pessoa para .ser na harmoniosa direção para salmis IV, orgs. J. Feiner c M. Lohrer. Brescia
Deus e para o próximo, a a., como toda pes- 1970, 308-332; G. Vans teen he r-ghe, s.v., in
soa humana, tem necessidade de cuidado, de DSAM1, 500-529; T. Vinas, s.v., in Dicionário Teológico
da vida consagrada, Sao Paulo 1993
ser cultivada generosamente e de uma pro -
funda purificação. O caminho do homem para Ai. Herráiz
Deus é —> "noite escura", diz repetidamente
João da Cruz. É caminho de humanização. O
santo escreve que "a noite escura purifica todos
esses amores".41 E isso porque póe o homem
diante da verdade radical de si mesmo, "aqui
nasce o amor ao próximo",42 amor sem
nenhuma vantagem, o qual tem presente só o AMOR
bem do outro. Amor gratuito, desinteressado,
fruto da noite purificadora. I. "Deus é a." (Uo 4,8): essa afirmação,
Aprender a amar é o mais lento, o mais simples e absoluta, leva logo ao âmago dessa
duro e o mais longo aprendizado, já que se altíssima palavra e também indica uma via
trata de amar com gratuidade, "passando de paru pesquisa e um método para aprofun-
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damento. Se OH . é Deus mesmo, conhecimento oração, Deus-Amor responde, mostrando seu
autêntico do a. só pode nascer da escuta de rosto rnais secreto e oculto, o da fidelida 56
Deus, só pode ser fruto de revelação dele.
AMOR de misericordiosa. Eesse.de lato. o Nome de
Deus, revelado a Moisés na teofania do Sinai:
É necessário, portanto, es lar alento a Deus. "O Senhor desceu na nuvem e ali esteve junto
Corno se manifesta ele? Que coisa diz ele do dele. Ele invocou o nome do Senhor. O Senhor
a . por seu ser e seu agir? A quem abre a -> passou diante dele, e ele exclamou: Senhor,
Bíblia ele se apresenta, em primeiro lugar, Senhor, Deus de compaixão e de piedade, lento
corno aquele que criou e que tem alegria em para a cólera e cheio de a. e fidelidade' "(Ex
contemplar suas criaturas. No princípio é a 34,5-6).
harmonia, como que o diálogo silencioso e Na relação com o povo eleito Deus exige
amoroso entre o olhar do Senhor, que vê a correspondência ao seu a.; é o pacto da aliança,
bondade da obra de suas mãos, e a criação o qual não deve ser traído: "Amarás o Senhor
inteira respondendo ao seu chamado e ale- teu Deus com todo o teu coração, com toda a
grando-sc naquele que a criou {cl. Gn 1; Br tua alma e com todas as tuas torças" (Dt 6,5).
3,32-38; Pr 8,22-36; Jó 38-39; SI 8; 103; Dn 3,52- A Sagrada Escritura multiplica ao infinito
90, passim). as imagens que guiam para o conhecimento
O ci. é a vida e a fonte da vida: é a vida de Deus-Amor. Ele é o pastor que procura
inexaurível. Suas características peculiares suas ovelhas nos despenhadeiros, que enfaixa
são a gratuidade e o dom: ( O bem ê dif usivo de a ferida e cura a doente (cf. Sl 23; Is 40,11; Ez
s i ) o a., por sua nature/a, se difunde, afirma 34,11 -31, passim); é o vinhateiro, que planta
a teologia escolástica, e. ditundindo-se. gera sua vinha com cuidado, que a guarda, a irri -
cm torno de si outro a,: o a. não se contem a ga, a poda e espera ansiosoameme seus frutos
com amar, mas torna outros capazes de (cf. Is 5; 27,2-n; Sl 80; Jo 15,1-8, passim): é o
amar. Ele estabelece com os homens uma rea- mercador que vende todos os seus haveres para
lidade de paz, de benevolência recíproca e de adquirir a pérola preciosa (cl. Mt 13,45ss); é o
comunhão. Todavia, depois "daquele pai que castiga o filho que ele ama, para
misterioso —> pecado de origem" - como diz João corrigi-lo (cf. Pr 23,13); é a mãe que não se
Paulo II na Encíclicia Yeriiatis splendor o esquece de seu til f i o (cf. Is 49,15), porque tem
homem é permanentemente tentado a di rigir o vísceras de misericórdia (cf. Jr 3 1,20);
coração para outro lugar, para longe de Deus; sobretudo c o Esposo apaixonado que procura
è tentado a separar-se do "d. fontnl". A incansavelmente sua esposa. í i á um fio
unidade se rompe, e se inicia a história da condutor que percorre todos os livros bíblicos,
divisai». Junto com o a., que é Vida, e em luta segundo o qual o a. entre o homem e a
obstinada contra ele, aparece a morte. mulher é imagem da relação entre Deus e a
Rompida a —» aliança originária, a criação se humanidade, entre > Cristo e a > Igreja, corno
precipita numa situação dilacerante, trágica. dizendo que, paia compreendermos a
concretude e a ternura desse amor, não temos
I I . Toda a Bíblia, em particular o livro dos imagem mais penetrante do que o a. do
Salmos, é atravessada pelo grilo lancinante do homem para com a mulher. Essas núpcias,
homem, que aspira à vida, mas experimenta que se consumarão na eternidade, começam
continuamente a própria finitude ontológica. longe, naquele momento da história no qual
A imagem de Deus, que ele traz esculpida no Deus, chegada a plenitude dos tempos, no
coração, antes causa de —» alegria, agora é coração da noite, das trevas e da luta. se re-
fonte de instiprimível saudade do bem que ele vela, desce na e< mdiçát > humana e repele
perdeu e que lhe é sempre necessário para sua Palavra de a. ao coração da humanidade,
sentir-se feliz. A realidade concreta na qual o como canta uma belíssima antílona ureuo-
homem se encontra imerso parece falar -lhe só riana do tempo de Natal, Dum médium si-
de sombras fugazes, de vaidades e de leuf ium: enquanto um profundo silêncio en-
coiTuptibitidade: "Para qual vazio criaste os volvia todas as coisas, e a noite estava na
filhos de Adão?" (SI 89,48), interroga o metade de seu curso, lua palavra onipotente
salmista. E pergunta novamente: "Que desceu do céu, de teu trono real... (cf. Sb
ganhas com minha morte, com minha descida 18,14-15). "E o Verbo se fez carne e habitou
à cova? Acaso poderá louvar-te o pó e proclamar entre nós" (Jo 1,14). E Cristo, que "sai como
lua fidelidade no amor?" (Sl 30,10). "Deus um esposo dos aposentos nupciais (Sl 19,6).
esqueceu-se de ter piedade ou fechou as Muito significativamente nas Vésperas da
entranhas com ira?" (Sl 77,10). Impossí vel. Epifania, o canto áoMagniiicat é acompanha-
Melhor, ainda antes que a distância em do de uma antílona que revela o mistério do
relação ao a. se torne no homem —> desejo e —> Natal em chave de manifestação doa. de Deus
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57 AMOR - ASORKAS1 OSAN NA
nas núpcias do Verbo encarnado com a Igreja. 0<7. é esse rio, que, perenemente unido à sua
Por isso, antigamente a festa da Epifania era fonte, corre até os confins da terra, levando
escolhida de preferência para a celebração da vida ao —* deserto. Como canta uma Ode de
profissão monástica e para a consagração das Salomão: "Uni regalo brotou e se tornou tor-
virgens. rente... inundou o universo e o transportou
para o templo. Obstáculos e diques não pu-
III. No nascimento d e Cristo, Deus der- deram detê-lo..." {Ode 6). É essa a missão da
rama sobre o mundo imenso u., que se revela Igreja, peregrina no tempo para a Jerusalém
agora também como autentica "paixão", ou seja, celeste, onde, na comunhão dos santos, o A.
como capacidade de sofrer. Toda a vida de Jesus será tudo em todos. A santidade não é senão a
nào é senão progressiva e crescente plena realização do a. na relação com Deus e
manifestação de a., a qual culmina em sua com o próximo. Por isso, os maiores místicos
paixão, documento autêntico de uma. inequi- são aqueles que, conloi mando-se a Cristo,
vocável, generoso até o derramamento do consumaram-se no a.
sangue; de um a. feito de paciência, de mag-
nanimidade, de absoluta gratuidade e obla - BIUL.: H.U. von Ballha&ar, Soto l a more è credibile.
Turim 1965; \i. Bianchi - L. Manicardi, hi carita
tividade: "Antes da festa da Páscoa, sabendo ncüa Chiesa, Magna no 1990; T. Federici, I A'!
Jesus que chegara a sua hora de passar deste fure bibliclwsidla carita. Roma 197Ü,C. Gennah,\.u,
mundo para o - > Pai, tendo amado os seus in DES l , 117-120: A. Kygien,Eroseagafx;, IM
que estavam no mundo, amou-os até o fim" nozione Cristiana delVamore e k• sue trasfonnaziom,
Bolonha 1971; A. [*cnna. Vamore nella Bibbia,
(Jo 13,1). Por a. Jesus se ofereceu ao Pai; —>
Brescia 1972; G. Quell - E. Staííer, Agapao, in
vítima inocente, expiou voluntariamente o GLNT I, 57-146; C. Spicq, Agapè dans le Nouveau
pecado do mundo: "O castigo que havia de Testumeut, Paris, 1966*.
trazer-nos a paz caiu sobre ele" (Is 53,5). E,
dando sua vida, não só reabriu as portas do Beneditinas da ilha de São Júlio
céu, mas também deu um "mandamento novo":
"Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis
uns aos outros; como eu vos amei, amai-vos
também uns aos outros" {João 13,34). Aquele
mandamento que já compendiava toda a Lei e,
em certo sentido, a fazia ir além de si mesma,
é doado agora ao homem para que, praticando- ANDREASI OSANNA
o, possa reencontrar sua plena felicidade, a
semelhança com Deus. "Jesus pede que nos I. Vida e obras. Nascida em Mãntua a 17
insiramos no movimento de sua doação total, de janeiro de 1449, primogénita do nobre
que imitemos e revivamos o a. daquele que Nicolau Andreasi e de Inês Gonzaga, Osanna
amou até o fim". Todavia, "imitar e reviver o a. veste, aos quinze anos, o hábito das terceiras
de Cristo não é possível ao homem só com suas dominicanas paia secundar sua inclinação
foiças. Ele se torna capaz desse a. somente em ascética natural, conseguindo superar a re-
virtude de um dom recebido. Como o Senhor solução lirme de seu pai, que desejaria vê-la
Jesus recebeu o a. do Pai, assim ele, por sua casada.
vez, o comunica gratuitamente aos dis cípulos" A existência de A. é inteiramente consagra-
(\'S 20-2J). Esse dom é o —> EspíriUi da à contínua e intensa atividade caritativa
Santo. Depois da ressurreição, Jesus apareceu em favor dos pobres e dos necessitados. Sua
aos Doze no cenáculo, "soprou sobre eles e atenção c seus cuidados dirigem -se também
lhes disse: 'Recebei o Espírito Santo' (Jo aos membros da família real Gonzaga. Em
20,22). E somente tornando-se criaturas novas 1478 o marquês Frederico I (t 1484), antes de
no Espírito que é possível responder com a. partir para a guerra contra os suíços pelo
ao a. de Deus, porque é só por meio do Espírito ducado de Milão, confia-lhe a própria mulher
Santo que a > caridade é derrama da no Margarida de Baviera e os lilbos, aos quais ela
coração dos homens (cl. Rm 5,5). São dispensa seus cuidados espirituais e hu -
significativas, a esse respeito, as palavras di- manos, especialmente após a morte da macem
las por Jesus no último dia da lesta das len- 1479. Ocupa-se de negócios públicos jtinto à
das: "Se alguém tem sede, que ele venha a mim marquesa Isabel de Este, regente do Es tado
e que cie beba, aquele que cré em mim; mantuano para o consorte Francisco II ("f 1519),
conforme as palavras da Escritura: De seu seio que em 1498 passou ao serviço de Luís XII, na
jorrarão rios de água viva" (Jo 7,37-38). França.
tal, pode-se tentar unia síntese a partir do I I I . Mística franciscana. Em qual relação
Sujeito que sempre foi sua motivação. com a mensagem evangélica se põe a expe-
Temos assim a experiência t ri ni t ária riência de A., a qual tem suas raízes na tradi-
("Parece-me estar e permanecer no meio ção franciscana? Ao menos aquela que é des-
daquela crita no Memorial, primeira parte do dossiê, está
Trindade que vejo entre tantas trevas", trad. em plena correspondência com o evangelho.
De S. Andreoli, p, 139), e em especial a do Com eleito, no Prólogo se lê: "A experiência
—» Pai ("Depois contempla Deus numas tre vas, dos que são verdadeiramente fiéis prova,
porque ele é bem maior do que se possa confirma c ilustra, em relação ao Verbo da
pensar..", p. 136), a do -» Filho ("Vi e senti que vida. que se fez homem, estas palavras do
Cristo abraçava em mim a alma com aquele evangelho: Se alguém me ama, guardará mi-
braço que tinha sido pregado na nha palavra, e o meu Pai o amará, e a ele vi-
cru/...", p. 102} e a do > Espírito Santo remos e nele estabeleceremos morada (Jo
("Não me é possível avaliar quão granaes luram 14,23). Quem me ama... eu me manifestarei a
a —> alegria e a doçura que senti, sobretudo ele (Jo 14,21b)". O autor do documento, frei A.
quando ele alirmou: Eu sou o Espí rito Santo e comenta: "Deus mesmo faz com que seus tiéis
estou dentro de ti", p. 62). tenham de nu >d* > pleno essa experiência e
Outras experiências místicas fazem refe- desenvolvam a reflexão sobre ela. Também
rência a —> Maria ("Uma vez imprevistamente recentemente isso permitiu que urna de suas
minha alma foi arrebatada... e contem plei a fiéis manifestasse de alguma maneira tal ex-
bem-aventurada Virgem na glória", p. 114), periência e reflexão para devoção dos seus...".
aos anjos ("Então os próprios santíssimos — A chave de leitura da parte principal do
anjos, pioporcionando-me um prazer Livro, sugerida pelo próprio redator, é, pois,
maravilhoso, me disseram: O toda agra dável e evangélica; consequentemente as passagens —
aceita a Deus, cisque o Deuse 1 íomem te foi trinta, condensa-las por Irei A. em vinte e seis
trazido e o tens aqui. Ele te foi dado, também - da primeira fase da experiência de A.,
para que possas mostrá-lo e oferecê-lo aos iniciada com o mal-estar interior pela situação
outros", p. 243) e a —> Francisco de Assis de pecado, desenvolvida na conversão, por volta
("Naquela circunstância foram-me dirigidas de 1285, e levada ao auge com os
estas palavras: Eu sou Francisco, fui mandado acontecimentos místicos excepcionais, devem ser
por Deus. A paz do Altíssimo esteja convosco", lidas como confirmação das promessas
p. 146). de Jesus.
Diga-se também que a experiência mística Parece-nos que se pode dizer a mesma coisa
de A. teve desenvolvimento sitmilicativo e que dos desenvolvimentos da mesma experiência,
de vários modos ela chegou â certeza da —> documentados por textos muito densos da
presença de Deus nela. segunda parte do dossiê, redigidos pelos
A respeito dessa forma de experiência (que discípulos de A.
não foi a mais alta e intensa desde a conver-
te), dep< us lie 1er são até 4 de janeiro de IV. A atualidade da experiência mística e
su des 1 iuadas à i 1309, dia de sua mor- A., realizada em tempos difíceis, marca-os pela
net abi )erado muitas dilicuum- heresia do Espirito de liberdade e por inflamadas
idade do contato místico com Deus, ela afirma: polêmicas entre os franciscanos sobre a —>
"Ainda de muitos outros modos, dos quais não pobreza, é incontestável.
se pode duvidar, a alma compreende que Deus Antes de tudo porque ela se mostra capaz de
está nela. O primeiro é a unção... O outro despertai aquela consciência do chama do
modo., é seu abraço. Não se pode pensar que universal para a —+ comunhão intima com
uma mãe aperte o filho contra o peito ou que Deus, da qual fala o Catecismo da Igreja Católica
uma pessoa deste mundo abrace outra com o (n. 2014); ao longo dos séculos ela se esquecera,
mesmo amor com que Deus abraça mas agora se vem robustecendo, também por
indizivelmenle a alma' (p. 120). Pouco antes A. meio da influenciadas lulgin antes contissóes
mencionara e descrevera outros quatro; dos grandes místicos.
concluindo, porém, seu discurso, "...observou Além disso, essa experiência revela todo (i
que os modos pelos quais a alma compreende seu fascínio de dom admirável de Deus.
que, sem dúvida, Deus está nela são tão independentemente dos esforços ou artifícios
numerosos que de nenhuma maneira humanos, e de prova convincente da
poderíamos indicá-los todos" (p. 122). incessante e surpreendente ação divina no
homem.
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Enfim, associada à doutrina exposta em mática cristã da promoção humana lidada à —
alguns documentos do Livro, posteriores ao > evangelização.
Memorial (redigidos por irei A. e outros), a rica I. O termo na Escritura. O a. é expressão
experiência de A., "verdadeira mestra de vida hiperbólica que designa atos ou estados da
espiritual'' (João Paulo II, 20 de junho de vida espiritual e é principalmente tema
1993), pode contribuir para dar um sabor novo cristológico. O crente se conforma a - > Cristo
ã —> teologia, hoje mais atenta aos à medida que experimenta em sua inte-
testemunhos dos místicos, e estimular a re- rioridade o a. (kénosis) de Cristo, cuja reali-
flexão dos homens de cultura, cm particular, zação histórica foi o evento da —> cruz.
dos interessados nos problemas da linguagem. O significado dvkenós c dcke)iôo se encontra
no NT1 e fora dele. Kenós c kenóo são usados só
BLÍÍI..: Prescindindo do que íoi publicado antes por —> são Paulo. O valor literário do pri meiro
da edição critica do dossier angolano (L. Thier -
A. CaluteUi, I I libro delia beata A. da Foligno, F.d. se encontra na parábola dos vinhateiros (cf. Mc
Colle- 12,3 c par.); sentido mais profundo dele, se
ci s. Bonavcnturae ad Claras Aquas, Grottafei bem que ainda veleroteslarnentário, se acha
rata [RM] 1985), sem com isso subvaloriza-lhes no Magnificai (cf. Lc 1,53). Em sentido cristão
a importância, assinalamos as traduções feitas ele se encontra em Tg 2,20 (cf. Mt 5,3ss.; Lc
com base nesta; il libro delia beata A. da Foligno,
Intr. tracl. e notas di S. Andreoli, Cinisello 6,20ss.; 1 Cor 1,26; 2Cor 6,10; Tg 2,5). Não é o
Bálsamo 19967; Angela of Foligno, Complete uso lingüístico que é cristão, mas o conteúdo
Works, translatcd, with and inlnxluction by P. conceituai do termo. l2 usado por são Paulo
Lachancc, prelaee byR. Guarnieri, Nova York- no negativo, no sentido de inutilidade, para
Mahwah 1993; Le livre d'Angèle de Foligno, tr. J.-F. dizer que seu apostolado não é inútil, nem
Gudct, prés. P. Lachancc et Ih, Matura,
Grenoble 1995; Angela de Foligno, Libro de la vida, tr. vazio, como não o são também a ■-> graça
T.H. Martin, Salamanca 1991 e uma versão divina e o kérigma. O verbo kenóo destaca a
parcial (Angela da Foligno, // libro deWespe- privação de um conteúdo ou de uma posse. No
rienza, org. por G. Pozzi, Milão 1992), baseada passivo, tem o significado de ser reduzido a
no ms 324 de Assis (PG). Para os estudos
nada. Nesse sentido ocorre só em Fl 2,6-1 1:
limitamo-nos a elencar os volumes dc
especialista (P. Lachancc, // percorso spirituate, Cristo se privou voluntariamente do seu modo
di A. da Foligno, tr. it., Milão 1991; A. Calufetti, A. de ser divino c preexistente (v. 6), assumiu o
da Foligno mística modo de ser humano e terreno (v. 7) e tornou-
deW "Ugtübene", Milão 1992; D. Alfonsi, IM ftglia se humilde c obediente até a morte de cru/, (v.
delVestasi, Biografia spirituale delia beata Angela da 8). Isso foi possível não só pela onipotência
Foligno, Pádua 1995; S. Andreoli, Angela da Foligno,
maestra spirtuate, Roma 1996'; L. Radi, Angela da divina, mas também pela "renúncia" livre do
Foligno e lUmbna mística dei secolo XIII, Pádua Verbo de Deus, cujo a. (kénosis) o levou â
1996) e as atas dos encontros internacionais (C. morte na cruz. O Deus de Israel não temeu, do
Schmitt [org.], Vita e spiritualità delia beata A. da ponto de vista bistóri-co-salvíf ico, provocar o
Foligno, Pemgia 1987; E. Mencslò [org.l Angela da grande escândalo da "entrega" do próprio
Foligno terziaria francescana, Spolelo|PG) 1992),
remetendo às nossas bibliografias publicadas Filho à morte, num infinito ato de amor.
por L'italia Francescana 60 (1985), 75-92; 63 São Paulo descreve esse evento usando
(1988), 185-200, e às organizadas pelas duas cadeias de Ires conceitos, que se cor-
revistas especializadas (Bibliografia Storica respondem de modo paralelo: Deus-homem-
Nazionale, Internacional Medieval Bibliography,
morte e Senhor-escravo-cruz, porque o homem
Bibliographia Franciscana, Bibliograf ia UmbraJ.
traz consigo a morte, e O escravo a cruz.* Em
S, Andreoli Cristo o i i . conduz à cruz; paia aquele que crê
nele não há itinerário diferente, ü que lhe é
pedido não é uma cruz cruenta, mas a
eliminação do eu humano, ã medida
que se opõe a Deus, em todos os elementos
irredutíveis à perfeição interior. Trata-se de
esforço, isto é, de tf. ativo, constituído princi-
ANIQUILAMENTO palmente por —* humildade autêntica e pela —
> abnegação de si, que c renúncia perfeita à
Premissa. Aniquilar-se tem geralmente um vontade própria, seja como criatura, seja como
impacto auditivo desagradável também nos pecador. Assim o cristão se torna parti cipante
ambientes religiosos. Mesmo sendo estado de do a. dc Cristo em tudo: no nível dos bens
vida espiritual indispensável para a -> materiais, no da própria sensibilidade e no
perfeição, percebem-se suas dificuldades dos dons espirituais. É só semelhante a. que
intrínsecas, causadas pelos estímulos pro-\ permite avançar no caminho estreito, no qual
enientes da sociedade e também da proble- há lugar só para a renúncia e a cruz. 3
plexas, mas depois são iluminadas de um Parece que por "anjo do Senhor" se possa
sentido e de um signitiçado coerente num entender em sentido amplo toda manifesta ção
sonho ou logo depois do despertar. ou aparição divina (cl. Kx 3,2). Além disso, o
Aquilo que, na solução dos problemas, se anjo "aparece", mas dos textos sagrados não
chama "intuição" nem sempre é um proces so se deduz claramente e sempre quando se é
cognitivo do tipo lógico-racional. Muitas vezes visto como um objeto fem sentido psicológico)
é um insighl resultante de ou ajudado por perceptível pelos órgãos dos sentidos ou se é
processos e predisposições inconscientes. Por percebido como uma "visão"; por exemplo, no
isso nos sonhos podem ser lidas mensa gens caso de Gedeão (cf. Jz 6,11-12; 22); Elias (cf.
da consciência moral paia a pessoa in teira. IRs 12,5.7).
Podem dar-se sonhos que mostrem perigos O anjo aparece como "guarda e protetor"
morais e situações espirituais que durante o (cf. Ex 23,20; Dt 32,8; 2Mc 10,29-31; SI 91,1
estado de vigília não são percebidos, pelo 1-12; Dn 10,13; Mt 18,10); como "intérprete,
menos não com certa clareza de detalhes. mediador e intercessor" (cf. 1 Cr 21,15-17; Jó
Outras vezes a consciência moral, através 33,23; Ez 40,3; Gl 3,19). O anjo intervém em
dos sonhos, pode impelir a sério exame de relação a uma gravidez: ã futura mãe de
alguma situação, com mais objetividade e Sansão (cf. Jz 13,3), a Zacarias, anuncian do
com uma autocrítica mais séria do que se a maternidade de Isabel (cf. Lc 1,13), a ->
possa lazer em estado despeito, quando é Maria, anunciando sua maternidade (cf. Lc
mais fácil racionalizar os erros. Os sonhos 1,26-38).
podem apresentar problemáticas morais não A função especificamente moral do anjo
aceitas em estado consciente. Nesses casos a (ou o anjo corno metáfora da consciência
moral inconsciente tem todo o direito de sei moral) aparece mais claramente na capaci -
tomada em consideração. dade de distinguir o bem do mal (cf. 2Srn
Mas que tem a ver com os a. tudo isso? 14,17.20), quando confia uma tarefa ou um
Trata-se mais uma vez de tomar em consi- encargo (2Rs 2,3) e quando indica uma ca-
deração o papel e a junção do anjo. Parece minho a seguir (Jó 33,23-24).
novamente que ele seria uma metáfora da Com essa premissa sobre as funções dos a.
moral inconsciente, a qual se exprime de vá - pode-se considerar melhoro aspecto mais
rios modos; um dos modos privilegiados é o específico da função e do significado do anjo
dos sonhos que contêm uma mensagem para nos sonhos mencionados nos evangelhos.
a pessoa em sua globalidade. Os sonhos que Antes de tudo, esse aspecto específico mos-
contêm uma advertência, uma autocensura, tra-o só Mateus, em quatro ocasiões:
uma "iluminação" sobre uma escolha a lazer 1. Mt 1,19-20: "José, seu esposo, sendo
ou sobre um problema a resolver, ou sobre o justo e não querendo denunciá-la
significado a dar a uma situação particular publicamente, resolveu repudiá-la ein
têm uma semelhança ou analogia surpreen - segredo. Enquanto assim decidia, eis que o
dente com as funções do (ou atribuídas ao) anjo do Senhor manifestou-se a ele em sonho,
anjo. dizendo: 'José, filho de Davi, não temas
Para concluir, podemos afirmar sintetica- receber Maria, tua
mente que o anjo representaria uma intuição mulher, pois...' ".
da antiga sabedoria da religiosidade popular: Desperta curiosidade a conexão "enquan to
ele seria uma parte dt i homem que a psicolo assim decidia - manifestou-se em sonho".
gia simplesmente rectiquetou com novos to - Parece que —> José, enquanto pensava numa
mos como "moral inconsciente" ou como sín - solução para seu problema, adormeceu, e
tese do ligo, do Superego e do ligo Ideal. então é o que dissemos acima: o insight
Freud e Frankl disseram alguma coisa nova cognitivo, a iluminação ou o clarão de gênio,
ou analisaram os papéis sintetizados na me - a heureka ou a "descoberta certa" aparecem
táfora do anjo? Alem disso, se o anjo tem I un- como solução de um problema num estado no
ção análoga à do sonho que mostra uma qual as defesas lógico-racionais estão abai-
moral inconsciente, pode haver uma relação xadas e se pode observar o problema de ou tro
entre o anjo e o sonho? ângulo.
demovi, in DTI 1, 351-364; M. Mc Ken na, são" (Ibid., 5). O "mistério pascal" de Jesus
AngeÜ, Ciniselo Bálsamo 1997; K. Rahiicr, ou o "mistério dos mistérios", que é a síntese
Angeli, in Id. (org.), Sacramentam mimtli \, de todos os acontecimentos da vida histórica
Brescia, I 974, 11 D-119; J. Ri es - H. Limei,
Anges et demons. Louvai n-Ia-Neuve 19S9; P.L. de Jesus, ocupa o lugar central no mistério
Wilson, I-ngel, Stuttgart 1981. de Cristo.- E celebrado de modo especial uma
vez por semana no dia chamado do Senhor, o
A. Pacciolla domingo," e de mtxlo ainda mais especial uma
vez ao ano, na glande solenidade da Páscoa
(cf. ibid., 102). A celebração do mistério
pascal está, pois, no centro da "memória" que
a Igreja faz de seu Senhor. Édado de fato que
no primeiro período da Igreja a Páscoa era o
único centro da pregação, da celebração e da
vida cristã.
ANO LITÚRGICO O mistério pascal resume, assim, toda a
história da salvação: a que precede a Encar-
I. Natureza, ü Concílio Vaticano 11 afir-
nação e a que segue à ascensão até a vinda
ma que a —> liturgia "c a fonte primeira e in-
definitiva de Cristo; por isso, o mistério pas -
dispensável da qual os lieis podem haurir o
cal, mesmo sendo uno durante o tf., la/,
genuíno espírito cristão" (SC 14). Essa afir -
reviver em cada uma de suas partes
mação tem eco quando o Concílio tala doa.'.
sucessivamente cada um dos mistérios da
"No ciclo anual a Igreja apresenta tt ido o
vida de Jesus. Nenhum desses mistérios é
mis-
independente, mas todos participam do único
tério de Cristo: da —* (Incarnação e do nasci-
mistério. Assim, por exemplo, o nascimento
mento à ascensão, ao dia de pentecostes e ã
do Senhor recebe seu significado salvifico do
expectativa da bem-aventurada esperança
mistério pascal, a Encarnação do Filho de
e do retorno do Senhor" (Ibid., 102). Con-
Deus remete ã paixão eà-> redenção. Todos os
sequentemente o a. é o memorial do mistérh >
mistérios e todos ( is acontecimenu ts da \ ida
do Senhor em toda a sua complexidade e ri -
de Jesus lembrados durante o a. recebem
queza. Na realidade, é o ano do Senhor, o ano
plenitude de significado da Páscoa/
de Cristo, o ano que vive de Cristo, recordan -
do e tornando presente o poder de cada um
dos latos salvíficos tia vida do Senhor, da III. A eucaristia c o centro e a síntese do
Enea inação do Verbo até a última vinda de mistério pascal. Depois de ter afirmado a
instituição divina do sacrifício eucarístico, o
Jesus Juiz. Por isso o a. se apresenta como a
n. 47 da Sacrosanctton Conciliam recorda os
síntese da vida litúrgica e tia espiritualidade
escopos de sua instituição. Primeiro esco po:
da Igreja, a qual entra em contato vivo com o
Jesus quis perpetuar pelos séculos, até sua
mistério do -> Cristo na riqueza das múltiplas
volta, o sacrilicio da cruz: "Nosso Salvador na
celebrações sacramentais e eucoli igicas/ ü
última Ceia... instituiu osacrifícioeucarístico
mistério de Cristo constitui o objeto pri mário,
de seu corpo e de seu sangue, a fim de
mas não o único, da celebração do a. Além de
perpetuar pelos séculos, até sua volta, o sa-
celebrar os mistérios do Cristo, o u. celebra
crifício da cru/....". De falo, Jesus Cristo
também o mistério de Maria, de suas lestas e
"está presente no sacrifício da missa, seja na
de suas memórias (cf. ibid., 103) e as lestas
pessoa do ministro, 'Ele que, tendo -se
dos santos (cf. ibid., 104). A celebração dos
oferecido uma vez na cruz, se oferece ainda a
santos é* subordinada à celebração dos
si mesmo pelo ministério dos sacerdotes', seja
mistérios de Cristo, mas a mesma luz que ilu -
principalmente sob as espécies eucarísticas" í
mina os mistérios de Cristo se reflete na cele -
Ibid., 7). Alem disso, "todas as vezes que esse
bração das festas dos santos, parle integrante
sacrifício é oferecido realiza-se a obra de
do mistério de Cristo, que continua no tempo
nossa redenção" (Ibid., 2). O segundo escopo
(cf. ibid.). 2
da instituição eucarística é sublinhado no
II. O mistério pascal, centro do a. O > mis mesmo número com as palavras "...para
lério pascal éo fundamento doa. O mistério de conliai assim à sua dileta esposa, a —>
Cristo é essencialmente pascal porque seu Igreja, o memorial de sua morte e de sua
centro é a Páscoa de Cristo, ou melhor, o ressurreição". Assim o sacrifício eucarístico é
"mistério pascal tle sua bem-aventurada pai- a viva conii nuação do mistério pascal de
xão, ressurreição da morte e gloriosa ascen - Cristo. 6 Ele é o "banquete pascal, no qual se
recebe Cristo" (Ibid., 47). Instituído por Cristo
Material com direitos autorais
para perpetuar o sacrifício da cruz, o volta à casa do Pai. 9 A celebração dos misté-
sacrifício eucarístico é memorial da morte e rios da vida de Cristo, distribuídos pelo curso
ressurreição, presença sacramental e perene do a. t portanto, presentes e operantes na
daquele sacrifício liturgia (cf. SC 7; 102), contribui para a re-
ANO LITÚRGICO produção da vida de Cristo nos fiéis, Nos si68
e banquete escatológico. A —> eucaristia pro- nais e nos -» símbolos da liturgia, portanto,
clama todo o mistério pascal c Ioda a econo- durante o a.. Cristo se torna presente com o
mia da salvação num só ato, num só sinal.' podei' salvífico de todos e de cada um dos
mistérios que a Igreja comemora e torna atual
IV. A espiritualidade do a.* O primeiro na eucaristia, nos sacramentos, nas festas e
aspecto do a. destacado no n. 102 da Sa- nos tempos litúrgicos. A historia da salvação,
crosancíum Conciliam é o de ser desenvolvi- renovada para a humanidade princi palmente
mento, comemoração e sagrada recordação do nas ações litúrgicas, é um realizar-se nela,
mistério de Cristo no decorrer do ano. Mas o corno movimento aberto c ascensional para a
mesmo número acrescenta o segundo as - plenitude do mistério de Cristo (cl. Ef 4,13-
peclo, quando alirma: "Recordando desse 15). No curso doa., Cristo nasce, é ungi do,
modo os mistérios da redenção, ela (a Igreja) sofre, morre e ressuscita nos membros de seu
alue aos iiéis as fique/as das ações salvíficas —* Corpo místico. Assim o a. se torna como
e dos méritos de seu Senhor, de modo a dá - que a expressão da resposta da —> conversão
los como dádivas a todos os tempos, para que e da fé dada pelos t iéis ao amor imenso de
os Iiéis possam entrar em contato com eles e Deus pelo homem. Em outras palavras, o a. é
ser repletos da graça da salvação". Esse se - itinerário na realidade sacramental que
gundo aspecto indica a abertura das riquezas alimenta a vida cristã e torna os homens ver -
da salvação e a presença redentora do poder dadeiramente filhos de Deus e herdeiros da
de Cristo na celebração, para que o homem vida eterna (cl. Gl 4,6-7). Com > Paulo, o cris-
possa entrar em contato com os aconteci- tão pode afirmar que completa em seu corpo
mentos comemorados e receber as riquezas a paixão de Cristo (cf. Cl 1,24) e que não é
da salvação. Não se trata de simples recor - mais ele que vive, mas é Cristo que vive nele
dação histórica dos acontecimentos do mis - (cf. Gl 2,20). 10
tério de Cristo. Eles são reapresentados e re -
novados cultual e ritualmente. A Igreja os V. Dimensão mística do a. Dos conceitos
revive e se eoniorma a eles, e, portanto, a expostos acima e seguindo o ensinamento do
Cristo. Podemos dizei que o a. é o próprio Concilio Vaticano II, 11 vê-se que o a. é a re-
mistério da salvação revelado cordação sagrada, em determinados dias do
progressivamente ao mundo por Cristo, para ano, da obra salvífica de Cristo. E claro que
que o homem possa entrar em contato com a não se trata só de recordação, mas também
pessoa do Verbo. Todo o a. e cada um de seus de celebração. O domingo, as festas e os ou-
tempos são memorial do mistério de Cristo, tros tempos litúrgicos não são aniversários
isto é. recordação litúrgica de toda a riqueza dos acontecimentos da vida histórica de Je -
de seus aspectos mediante a Palavra sus, mas presença redentora de sua obra sa 1
proclamada, as orações e os ritos, mas v í í i c a. L Pi o XII, na e n c íc I i c a Media í o
também mediante a presen ça mistérica de r l )c i, falando da presença, nas celebrações
Cristo e de seus mistérios. litúrgicas, dos acontecimentos comi)
Os conceitos mencionados acima mostram realidades de salvação, exclui que eles sejam
que o a. é verdadeiramente meio e ocasião "a fria e inerte representação dos latos que
paia imitarmos o Senhor, contemplando os pertencem ao passado". Fie atribui aos
mistérios de sua vida, comemorados e revivi - mistéri< >s de Cristo celebrados durante o a.
dos. A contemplação dos mistérios da vida de permanência quanto ao eleito e enquanto
Jesus no decorrer do a. incita-nos a revi- causa de nossa salvação, "mistérios que são
vermos inteiramente as atitudes e os senti- exemplos ilustres de perfeição cristã e fonte
mentos de fidelidade c obediência do Filho ao de graça divina pelos méritos e pela
-> Pai (cf. Fl 2,5-8; Hb 5,8). Essa confor- intercessão do Redentor, e por» que perduram
mação ou assimilação a Jesus Cristo (cl. Rm em nós com seu efeito, sendo cada um deles,
8,29; Fl 3,10.21), imagem da glória do Pai (cf. no modo consentâneo com a índole própria, a
ICor 11,7; 2Cor4,4; Cl 1,15), começa com os causa de nossa salvação". 13
sacramentos da iniciação cristã, desenvolve- Pode-se dizer que o a. não é só meditação
se mediante a > penitencia e a participação sobre os mistérios da vida de Cristo e partici -
na eucaristia, com o acréscimo de outros sa- pação espiritual neles, o que causaria união
cramentos e sacramentais, e termina com a moral com o Senhor, mas que tem valência
Material com direitos autorais
mais profunda porque produz união mística,
substancial, com o Cristo, sendo o kairós (a
ocasião de graça) para entrarmos em con tato
vivo com o mistério de Cristo, chamado a
transformar nossa vida. Esse é o aspecto
L luwatistia, sacramento dei mistero pasquale. essas reflexões com um colóquio direto com
Ritma IVt>9'; J. Lopez Martin, Lanno litúrgico, Deus; assim, nos dois últimos capítulos do
storia e teologia, Cinisello Bálsamo 1987; S. Ma- Prosloyjoji, dedicados à bern-aventurança,
grassi, Cristo teri, oggi, sempre, La pedagogia delia
Chiesa-Madre nellanno litúrgico, Bari 1978; S. compôs algumas orações que estão entre as
Marsili, // tempo litúrgico, attuazione delia storia mais belas escritas por ele. Nelas já encon -
delia salvezza, in RL 57 (1970), 207-235; Id., tramos alguns aspectos fundamentais de sua
Teologia litúrgica, III: Anno litúrgico, Roma 1972; doutrina mística: "Peco-te, Senhor", faze que
B. Neunheuser, // mistero pasquale, ctdmen et
eu te conheça e te ame para alegrar-me em
fons delTanno litúrgico, in RL 62 (1975). 151-
174; M. Rhihetti, Lanno litúrgico iiclh: storia. ti", e p< nico depois: "Progrida aqui em mim o
ricÜa Messa, neiTufficio, Milão 1969 3 . conhecimento de ti c lá se torne pleno; cres ça
teu amor e lá seja pleno; para que minha
/■:*. Caruana alegria aqui seja grande na —> esperança, e
lá seja plena na realidade" (cap. 26).
(lamente alguma coisa, a fim de ler certeza, sono e aos comportamentos de evilamento de
por exemplo, de ler fechado portas, janelas, tudo o que possa ser associado ao acon-
torneiras etc. Esse comportamento pode ser tecimento traumático. Tudo isso limita a qua -
acompanhado de uma atitude de suspeita ou lidade de vida da pessoa. O distúrbio por a.
de uma sensação de estar sendo perseguido; generalizada é urna preocupação irracional
mas é em personalidade paranóica que isso com acontecimentos realisticamente impro-
acontece. O cleaning é a tendência exasperada váveis, ou objetivamente proporcionada á
e irracional para a limpe/a e a higiene por possibilidade real ou tipo tie dano temido.
causa do medo de contaminação por germes Trata-se de insegurança quanto à capacida de
ou por outras impurezas. O doubting é a ru- própria de gerir uma emergência ou uni
minação quase constante de dúvidas, pelas ataque de pânico.
quais a pessoa se sente assaltada ou perse- A a. pode ser causada também por algumas
guida; quanto mais ela deseja não lei" tais condições médicas gerais, pode ser induzida
dúvidas tanto mais lhe parece que não pode por alguns remédios e pode assumir
deixar de questionar-se sobre a exatidão do configuração clínica não específica.
que fez. A pessoa não se estima muito, mas
tem pretensões perfeccionistas. Deseja ter IV. Remédios. Para avaliação clínica mais
cem por cento de certeza e quer estar sempre completa, a a. deverá sei - considerada tam-
certa de não perdei o controle de si e da si - bém em outros contextos específicos, como o
tuação. Por exemplo, uma pessoa religiosa po - de uma personalidade histérica, ou de es -
deria ser levada a repetir as mesmas palavras trutura psicótica (esquizofrenia, paranóia,
ou gestos com modalidades e expectativas depressão endógena), nos distúrbios sexuais,
mais mágicas que propriamente religiosas; nas síndromes neurológicas (tumores cere-
isso pode ser acompanhado de grande au- brais, traumas cránio-cerebrais, encefalites,
mento de a - , case» a pessoa seja impossibili- epilepsia). Outros contextos específicos nos
tada de realizar tal rito ou caso não lhe seja quais avaliar a a. são as condições subjetivas
possível agir segundo a modalidade deseja da. pessoais, como a u. em crianças e adolescen-
Parece epie a pessoa não é capaz de omil ir tes, na senescência e na gravidez, nas com-
esses cerimoniais, e, se os omite, sente a. e petições esportivas e escolares. Atualmente a
culpa, e prevê catástrofes iminentes. Também terapia farmacológica da a. vê com esperança
o cleaning é um conceito distorcido de limpeza as pesquisas de neuro-endocrinologia e as
e poderia ser usado por uma pessoa reli idosa relativas aos processos de somatização. Pa -
como simbolismo ineonscien-te, isto é, para rece, porém, que nos casos ordinários o me -
lavar-se ou purificar-se. por meio dessas lhor tratamento da a. seja uma psicoterapia
cerimônias, das culpas pelas quais se sente sustentada por várias técnicas como o bin-
contaminada, a fim de nã< J contaminar-se feedback f o training autõgeno e principalmente a
novamente. hipnose, com o objetivo de que ela se torne
O doubting é típico da pessoa escrupulosa "auto-hipnose", de modo que a pessoa apren-
que, de um modo mais ou menos consciente, da a gerir autonomamente o controle de sua
liga sua insegurança ã morte, ao inferno ou ã a . O que mantém associadas todas essas téc -
salvação. Nesses casos o —> sacramento da nicas (e também algumas menos conhecidas,
confissão tem a função de ansíolílico, podendo como a "meditação profunda", a "meditação
seguir-se um estado de dependência ou crise transcendental" e outras) é a —> sugestão que
de consciência, caso a confissão não seja tern em mira o controle do sistema nervoso
possível. O distúrbio causado poi estresse parassimpático e as várias manifestações
pós-traumático c o mal-estar ou a a. que con- paroxísticas.
tinua ainda depois de já ter passado o acon- Atualmente a a. é diagnosticada por meio
tecimento traumático. A pessoa, mesmo de - de vários reativos como o Rorschach, o TAT
pois do perigo, continua a percebei* ameaça (Thematic Test Analysis) e o Crown-Crisp no
para sua incolumidade e para a dos que lhe contexto da estrutura psíquica geral. O IPAT
são caros. Ela é levada a acionar seus meca - {Initial Paiu Assessment Tend) diagnostica a a.,
nismos de alerta quase constantemente e com mas só em seus traços essenciais (falta de
modalidades exageradas, lendo como resul- autocontrole, instabilidade emotiva, descon-
tado recordações e comportamentos angus - fiança, apreensão e tensão) latentes e mani -
tiantes, recorrentes e invasivos, como se o festos. Outros sinais específicos da u. são. no
acontecimento traumático estivesse pata re - CBA (Certified Hchnviour Analysis): a . de estado
petir-se. Os distúrbios podem estender-se ao (inicial), A . de traço (habitual) ea . de estado
Material com direitos autorais
(final). No MM PI (Inventário Mtdtif ásico Morristown 1976; C. Reycrofi , Angoscia e
Minnesota de Personalidade), além da eslru- nerrosi, Milão 1969; FC. Riehard sc m, Pactor A
na-lysis o f the Test Anxiety Scale and Evidence
ANSIEDADE - ANTÃO ABADE (santo)
Concerning the Components o f the Test Anxiety, i n
./< >u n ml of Consulting and Clinical Psychology, 45
lura psíquica geral, lemos a possibilidade de (1977), 704-705; E. Sanavio, / comportamenti
diagnosticar e quantificar a a . livre, a a . ossessivi elã loroterapia, Florença 1978: R.M.,
somatizada e dois outros indicadore s de ar. a Suinn. The STABS: A Measure of Test Anxiety for
Pui cell e a Mod lio. Behavioral Therapy, in Behaviour Research and
Therapy. 7 (1969), 335-339: S. Trickett - V.
ÍL possível que esses parâmetros dêem Albisetti, L'ansia e la depressions Milão 1997 6 .
indicações diferentes, corno é possível
também que um mesmo remédio ou a mesma A. Pacciolla 74
técnica para o controle da a. dêem resultados
diferentes. ANTÃO ABADE (santo)
Bouyer, Vila di Antonio, Milão 1974; Id., Antonio broek, > Mestre Eckhart e —> Tau ler, tenta
Abate, in L. Dattrino - P. Tamburrino (ortis.),
Í M . spiritiudità dei Padri, 3'H, Bolonha 1986. ram restabelecera unidade entre a teologia e a
25ss; L. Dattrino, // primo monachesino, Roma mística. Com todos os meios que a teo logia
1984, Ifcss; G. Gurittc, latires de S. Antoine. punha á sua disposição procuraram traduzir"
Version georgienne et Iragments captes, Lovaina em lorrna literária o inefável de sua —>
1955; J, Grihoinom, in D I P A , 700-703;
experiência mística. Mas a reação violenta de
Melchiorre di Santa Maria, S A \ , in DES I. 171;
B. Steidle (mii.), Antonius Xlagmts Eremita. > Gerson, chanceler da Universidade de Paris,
Roma 1956. contra a tradução em palavras, projetada por
Ruvsbroek, em seu Die (ihccstelijkc Brulocht,
T. Spidlik da experiência mística da união, mostra que o
conflito entre teologia e mística já era um
dado de lato. 1
Gerson estava convencido de que a terceira
parte do (ihccstelijkc Brulocht "devia ser
desaprovada e rejeitada porque et a comple -
tamente contrária e desviante da sã doutrina
ANTIMISTICISMO dos santos mestres que escreveram sobre a
nossa bem-avenlurança; ela (a terceira par-
I. O fenômeno. Nos primórdios das cor- te..*) não coincide nem com a declaração ex-
rentes anliniíslieas na —> história da mística plicita das Decretais, nas quais se sustenta que
cristã encontra-se um processo de desintegra- nossa betn-aventurança consiste em dois
ção entre - > teologia e > espiriiualidade-rnís- atos: a —> visão e o gozo, portanto, junto com
tica, processo esse que levou a condito e ter - a luz da glória. Se é este. pois, o caso da
minou numa ruptura. 1 plenitude da glória última no além. a saber,
Enquanto para os grandes teólogos do apo - que Deus
geu da escolástica (Tomás de Aquino e Boa - não é nossa visão e clareza essencial..., quan -
ventura) teologia e espiritualidadc-mística to mais tudo isso não será então o caso da
ainda formavam uma unidade existencial, no imperfeita semelhança da bem-aventurança
fim do século XIV nota-se que exercício cada que nos é permitido saborear nesta vida".
vez mais unilateral da dialética na teologia Em sua distinção entre teologia mística
ameaçava produzir alienação entre teologia e prática e teologia mística especulativa {'íheo-
espiritualidade. Slefano Axlers considera a lovja mystica practica e Iheolovja mystica
ruptura entre fé e pensamento como o maior
declarando corno milagres todos os fenôme- Do lado protestante, a mística foi simples -
nos extraordinários e descrevendo todos co mo mente hostilizada com veemência como ele -
exaltações das leis naturais. Desse modo a mento inconciliíivcl com o caráter de revela-
mística foi situada no reino de uma "sobre - ção do cristianismo; foi hostilizada especial -
naturalidade" inumana. mente pelas novas escolas de "teologia evan -
No âmbito teológico, a aguda distinção gélica", a chamada Lttíhcr-vciiüissancii e a
entre teologia mística e ascética se transfor- "teologia dialética . Fm sua crítica e rejeição
mou numa ruptura - e o significado dos ter da mística, essas duas escolas se inspiraram
mos se carrega de controvérsias - na qual os em A. Ritschl {i 1899), neokantiano, que tinha
(autores da teologia ascética tentam mono - retomado a crítica sarcástica de Kant (f 1804)
polizar seu ponto de vista e vice-versa. Até dirigida aos místicos Swedenborg (t 1772) e
depois da retomada do estudo da espiri - Hamman (t 1788). Kant relegara a mística ao
tualidade e da mística, no começo do século campo da superstição e da "charlatanaria".
XX, continuou-se a falar de teologia mística e Ritschl combateu a mística como teoria em
ascética nesse sentido controvertido do ter mo conflito com a doutrina reformada da justif i -
(F. Poulain). cação. Segundo ele, a mística provém do
K necessário sublinhar ainda que a neoplatonismo e pertence á prática monacal
tendência, também de ambientes cristãos, de católica. Em sua opinião, a mística levaria ne -
situar a mística na es lera do "prodigi oso" cessariamente ao —> panteísmo, com conse-
correspondia à orientação do Iluminismo de quente redimensionamento do evangelho e
remeter a mística para o campo do oculto e desvalorização da ética cristã, e ao quie -
do mágico, isto é, do irracional. A mística tismo. 13
caiu na esfera das emoções intensas e da No âmbito da Liither-renaissance foi prin-
experiência genial e excepcional, coisas cipalmente o historiador da Igreja K. Moll que
reservadas a urna elite. combateu a mística como conflitante com a
Esse uso romântico da palavra mística é doutrina da justificação. Em primeiro lugar
muito vivo em ambientes protestantes que negou radicalmente que a reforma de Lutero (f
opõem resistência á mística romântica de 1 546) tivesse acarretado alguma experiência
Schlcícrmacher (t 1834). A aversão que -> mística. A experiência de Lutero não foi a de
Karl Barth e Emil Brunner, por exemplo, um "místico acometido da experiência de
nutrem contra a mística pode ser reduzida, Deus como num atordoamento". 14 Sua con-
em parte, à aversão deles â teologia do cepção da mística foi determinada pelos se -
sentimento de Schlcícrmacher e ao guintes componentes: repressão e negação do
psicologistno decorrente dela. É justamente eu, concepção pauteis la do homem como
esse sentimentalismo que é qualificado de fragmento da Vida Total, portanto, seu ten der
mística por Karl Barth. O que é estranho é para a união com o Infinito e, enfim, a
que as conclusões às quais ele chega são autodeil icação do homem. Esses elementos
aplicadas a toda a mística, também à mística foram tirados da mística do neoplatonismo e
católica. "Em sua opinião, mística é um termo de diversas religiões orientais, corno também
que abrange comple-xivamente e sem da teosofia c da anlroposofia.
distinção; os sulistas, os místicos católicos, Depois dessa qualificação negativa da mís -
os devotos protestantes corno —> Teerstegen, tica, Holl a considera incompatível com a
os crentes e os não-cren-tes sen ti mental doutrina da justif icação e, desse modo, resol -
isias junto com os teólogos do piedoso ve a questão.
sentimento e da necessidade religio sa." 11 A nova reflexão teológica, que pôs em
Mística se acha sob o teimo "Religião". E, movimento a "teologia dialética", incluiu uma
para ele, "religião" é "falta de fé". F.m sua luta ao extremo contra toda "religião subjeti-
opinião, religião e fé são lermos contraditó - va". Isso significou, entre outras coisas, de -
rios. Por isso, em Barth e em seus seguido - claração de guerra à mística. O programa com
res, esse termo tem valência negativa e lem- o qual era necessário vencer a teologia do
bra a idéia de superstição, ou seja, o fim da século XIX dizia: lota com a teologia da ex -
fé. periência de Schleiermacher e volta aos
Sob a influência de Barth e Brunner, a reformadores, á Bíblia e a Paulo. 1 "'Durante o
mística foi tachada de idolatria e posta no período teológico inicial, Karl Barth consi -
mesmo nível da alquimia, do ocultismo e da derava toda forma de experiência religiosa
adivinhação, enfim, como pertencente ao corno impudência inaudita do homem em
domínio da serpente. 12 relação a Deus, o Criador. 1 '*
último momento, rnais de uma pessoa que se so, típica da mística de todos os tempos. Aqui
achava justamente diante da porta da justiça não é Deus, mas a alma humana que ocupa o
divina". centro do interesse. Brunner prega o retorno
A religião é caracterizada por Hat th como ã senhoria da Palavra espiritual objetiva. Fora
"uma audaz temeridade do homem", a qual toda a mística e todas as tentativas de natu -
atenta contra Deus. Para ele, o místico era ralização do espírito! Nenhuma hegemonia do
uma manilestação de religião. Em sua espírito subjetivo sobre a Palavra, mas o reino
Kirchlichc Dogtnatik a aversão à mística da Palavra sobre o espírito! Na "segun da
assumiu uma posição relevante. Ele rejeitou a edição, muito modificada" de seu Die Mystik
religião, e com ela também a mística como und das Wort, Brunner escreve: "Hoje a fé
uma de suas gradações, porque "em si mesma cristã não tem mais outro adversário dig no de
contraditória, empreendimento em si respeito; todavia, a mística continuará sendo
impossível". 17 seti adversário até o fim dos tempos". 1 '' E, em
O que foi mostrado por Karl Bat ih em sua outro lugar: "A mística é a forma mais fina e
Rõmerbricf com um "florilégio de expressões mais sublime da dedicação criatural, do
sarcásticas" contra a mística, foi elaborado paganismo... A mística é uma superação
concretamente por Friederich Gogarten em proibida do limite. Ela ultrapassa o confim
sua obra lhe religiõse fintscheidttng (1921). Ele entre a criatura e o Criador, entre o tempo e a
rejeitou a síntese de Heiler entre mística e lé eternidade, entre o eu c o Tu, entre Deus e a
e combateu a mística ao extremo. Mística e alma... A tendência mais profunda da místi ca
revelação histórica se excluem mutuamente, é a autodeificação". 20
segundo Gogarten, porque a mística pretende De lesto, Friedrich Hertel, em seu Das
conduzir o brunem para a eternidade. A reve- theologische Denken Schleiermachers inter-sucht,
lação histórica, ao contrário, pretende "ser a refuta a critica de Karl Barth e de Emil
tetra santa na qual se encontra o Etern o e na Brunner. Aquilo que Schleiermacher chama
qual está fundado o mundo desde que se deu "piedoso sentimento" não está tão distante do
essa revelação...". 18 A imediatez divina existe uso que, na teologia contemporânea, se faz da
só no homem histórico -> Jesus de Nazaré. palavra "autocompreensãoV
Enquanto a revelação histórica vê a -> revela-
ção de Deus no Jesus histórico, o místico pre- NOTAS: 'Cf. Vandenbrouckc, l£ divorce entre théo-
tende lançar, por si mesmo, uma ponte que vá logie et mystique, in NRTh 72 (1950), 372-389; 1
do homem a Deus. Desse modo a mística se Cf. S. Axtcrs, La spiritualité des Pays-Bas,
Lovaina-Paris 1948; 3 Cf. A. Combes, Essai sur
torna religião. Para Gogarten, a peiversào da la critique de Ruvsbroeck par Gerson, 3 voll..
mística consiste em não reconhecer que jus - Paris 1945-1959; 4 Lautunno dei Medioevo, Roma
tamente no conhecimento negativo de Deus 1992, 258; 5 Cf. Cathalogus librorum qui
não se afirma o ser de Deus, mas o ser do prohibemur mandato lllustrissimi et
Reverendissimi D.D. Ferdinandi de Valdês
homem como pecador. A mística procura lan-
Hispalensis Archiepiscopi. ínquisitionis
çar uma ponte entre homem e Deus porque Generalis Hispaniae.... Pinciae 1559; Tres índices
considera o nada como o ser de Deus, com o expurgatoris de la Inde de la Inquisiciôn espanola en
qual é possível ao homem unir-se á medida el siglo XVt, Madri 1952; 6 Cf. E. Colunga. In-
que se anula. A mística, diz Gogarten, infe - tetectuaiistas y místicos en la teologia espanola dei
siglo XVI, in Ciência tomista, 9 (1914), 209-221
lizmente não vê que o nada é justamente e 337-394; 10 (1914-15), 223-244; 'Melchior
aquilo que constitui o ser do homem. Também Cano, Optra. Pádua ! /2t>, 390; " A Caballero,
Emil Brunner, na linha de Barth, se opõe à dmqueuses ilustres. II, Madri 1871,597;9 Vte, t. III,
teologia da experiência de Schleiermacher em \54y° Ibid., 156; 11 J. Peters, Geloof en mystiek,
seu livro Die Mystik und das Wort (1924). Leuvcn 1957, 229; 12 W. Ouwenhcel, //
domínio dei serpente, manuale Cristiano
SeiHindo Brunner, D erro fundamental do stdl'occidtismo e misticismo. Amsterdam 1978; 13
pensamento psicológico é o de reduzira algo Cf. F.-D. Maass, Mystik in Gespräch. Materialien
puramente pessoal o que é a Palavra pessoal zur Mystik-Diskussion in der Katholischen und
de Deus, a revelação viva do —> Pai. O psi- evangelischen Theologie Deutschlands nach dem
ersten Weltkrieg, Würzburg 1972, 169-170; 14 K.
Material com direitos autorais
Holl, Kleine Schriften [Hrsg. Stnqypench!,
Tübir^cn 1966.73; Ocpkc, Kar! Bank und die
Mystik, Leipzig 1928, 6; 16 K. Barth. Der
Rõmerbnef, Zweiter Abdruck der neuen Bearbeitung,
Zürich J923; 1947, 229; 17 Kirchliche Dogmatik,
V
2, München 1932, 343; »* F. Gogarten, Die ocultar-se "uma antinomia de fundo, ir-
religiöse Entscheidung, Jena 1921, 63; " Die redutível", entre "os valores da natureza c os
Mv^tik und das Wort. Der Gegensatz zwischen valores &á graça":* 1. totalidade do cristianis-
moderner Hcligions-
außassung und christilichen Glauben dargestellt mo e fraqueza do cristão; 2. evolução e cru-
and der Theologie Shleiermachers, Tübingen 1928, cifixão das forças humanas; 3. transforma ção
3SM, do mundo e fuga do mundo; 4. "con templativo
20 Ibid., 2 e 396; 21 Zürich-Siultgari 1965, 3, 2. na ação"; 5. consciência do valor próprio e
humildade; 6. prudentes como serpentes e
Dun..: remetc-se aus textos citudos nas
simples como pombas (com referência, em
N'otas. particular, à prudência e à abertura de alma
em matéria de aparições). A reflexão conduz â
O, St eggt nk alirmação de uma conciliação pos sível, antes,
necessária entre esses aspectos,
aparentemente aiUinõmicos, mas na realidade
complementares, da vida espiritual. Em 1979
Tullo Goffi testemunha uma extensão do
conceito de antinomia espiritual até in cluir os
contrastes, as oposições e os desequilíbrios
ANTINOMIAS ESPIRITUAIS dos quais a vida é entremeada; ele relê,
assim, nos termos de antinomia espiritual
I. O ternio "antinomia" deriva tio grego toda a vida cristã. A antinomia é interpretada
onti (- "contra") e nomos ( = "lei"). Em senti- como "participação ativa no morrei' e
do geral indica a contradição real ou aparen- ressurgir do Senhor", e as antinomias mais
te entre duas leis ou entre dois princípios. especfliças da lê cristã são individuadas nas
No âmbito tílosólico, a rclerência mais tensões entre realidade terrena e reino de
clássica é às antinomias da razão pura elabo - Deus, história e escalologia, salvação e
radas por Immamiel Kant (v 1804). Ele viu na perdição, amor da carne e —> mortificação, —
manifestação de quatro pares de proposi ções * Palavra de Deus e inauistério, escravidão e
reciprocamente exclusivas e contraditórias a liberdade em Cristo. Antinômicas são tam -
prova da impossibilidade de se pensa rem os bém: a vida da —> Igreja (carisma e institui-
fenômenos como coisas em si: 1. o inundo é ção), a experiência espiritual (natureza egra -
limitado no tempo e no espaço - o mundo é ça), as relações "complementares" entre as
ilimitado no tempo e no espaço; 2. no mundo virtudes morais, os estados de vida (o leigo:
tudo é simples - no mundo tudo é composto; entre lé e política; o sacerdote: entre vida
3. O devir é livre - o devir é necessário; 4. secular e dedicação ap<istólica:o monge: entre
Existe um ser necessário - não existe nada de amadurecimento pessoal humanístico e
necessário. 1 renúncia monástica) c o voluntariado (entre
No início do século XX o termo "an tinomia" iniciativa espiritual e prescrição legal
Ioi usado prevalentemente com rclerência às autoritativa). Quanto á vida mística, ela é
antinomias lógicas c linguísticas que entendida como
designam pares de afirmações contraditórias "iniciação à simplicidade da existência divina
lais que lauto sua afirmação como sua trínitária", e, enquanto caminho de simplifi -
negação impliquem contradição (entre as mais cação, lavorecc, em particular, a superação da
famosas estão a do mentiroso, a de Burali - antinomia existente entre as —> virtudes. 5
Forti [ LS97], a de Cantor [1899], a de Russel
[1902], a de Richard [1905], a de Grellinii III. A experiência mística, em lodo caso.
[1908] e a de Lòwenheim-Skolem [1923]). segundo Jan-Hendrix Walgrave, é muito ca-
racterizada por quatro "antinomias" ou "apo-
II. No âmbito da teologia espiritual o rias" ou "polaridades": entre perfeição huma -
uso do termo "antinomia" ê mais recente. Em
na e —* aniquilamento em Deus; entre saber e
1958 Karl Vladimir Truhlar publicou o livro
não-saber; entre — > contemplação interior e
Àntinomiae vitae spiritualis, no qual, com "no-
atividade missionária externa; entre —> sofri-
vidade de intuição", 2 apresenta a "índole apa-
mento e felicidade. Elas não são, como na
rentemente paradoxal e 'antinómica' da vida
visão kantiana, "paradoxos insolúveis à razão
espiritual". 3 Ele propõe seis "aspectos" da vida
teórica", mas, na perspectiva teológica, ele -
cristã nos quais, como ele observa no prela do
mentos derivados do "caráter profundamen-
para a tradução italiana, de 1967, parece
te mistérico da vida mística". 11
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IV. Avaliações e perspectivas. O uso do
termo no âmbito tia te< >logia espiritual é,
portanto, variado e indeterminado. Ele não
indica contradições reais, sendo aplicado, ás
vezes, de maneira indiferenciada, a Iodos os
lamente intata. Fechada numa caixa, foi co - —* filiação divina: "Caro Deus Pai, di/.e a Jesus
ligada ao lado do caixão com o corpo. que estou muito contente por recebê -lo; dize-
Esse fenômeno, junto com —> visões e —> lhe também que quando eu escrever a ele, ele
êxtases constatados, e com a predição precisa sentirá em todas as cartinhas que eu lhe
da morte - "permanecerei no hospital dez quero muito" (21.11.1936); "Caro Deus Pai,
dias, menos alguma coisa" - fazem pensar estou muito contente porque amanhã devo
numa intervenção extraordinária de Deus 1 na confessar-me pela primeira vez, e tu perdoa-
vida dessa menina, a qual representa uma me, caro Deus Pai; estou muito contente e te
verdadeira tipologia de —» experiência místi- agradeço" (28.11.1936); "Caro Deus Pai, que
ca. De lato, em 16 de outubro de 1936, A afir- belo nome: Pai; quero dizê-lo com todo o
mou: "Estou vendo Nossa Senhora, não o respeito, vejo que quando o digo, não o digo
quadro", e em janeiro de 1937: "Às vezes vejo com todo o respeito com que deveria dizé -lo.
Jesus" - perguntou-lhe a mãe: "E como o Caro Deus Pai, eu te peço perdão de todos os
vês?" - A . : "Na cruz". Ern março de 1937: pecados que cometi" (4.2.1937); "Caro Deus
"Ontem vi Jesus ressuscitado". Depois Jesus Pai, minha mãe me disse que amanhã vão
não apareceu mais, c A . escreveu: "Caro reunir-se muitas pessoas que querem chamar-
Jesus, desejo muito ver-te e quereria que se sem Deus; que nome leio! Deus é Deus
todos pudessem ver-te; então, sim, que te também daqueles que não o querem; faze que
quereriam mais" (9.4.1937). essas pessoas se convertam e dá-lhes tua
Em 2 de julho de 1937, depois da última graça"; "Caro Jesus, amanhã vou comungar
comunhão, confiou á mãe: Hoje de manhã, em reparação de todos os pecados dos homens
quando comunguei, eu o vi". Num dia de maio que querem chamar-se sem Deus" (6.2.1937).
de 1937, enquanto dita uma de suas 2. A união3 com Jesus: "Caro Jesus, hoje
cartinhas, A. pára como que por encanto; a recebi a nota "com louvor" e espero recebê -la
mãe a sacode, e quando a pequena volta a si, muitas vezes, porque quero ser a primeira da
diz: "Sabes, vi Jesus no canto do quarto". classe, a fim de agradar a ti e também à Mãe -
Em 2 de outubro de 1942, o Centro Nacio- zinha do céu. Quero agradar também á pro-
nal da Juventude Feminina da Ação Católica fessora, porque lhe quero bem, mas quero
Italiana se constitui promotor da causa de mais a ti" (23.1U. 1936); "Caro Jesus, sei que
beatificação. Depois que a —> heroicidade das sofreste muito na cruz, mas serei bem com -
virtudes foi constatada pelo processo dio- portada para que sintas menos dores" (29.
cesano de beatificação, em 1981 a causa pas- 10.1936); "Caro Jesus... quero ser lua lâmpa-
sou para Roma. da; estarei sempre perlo de ti, não em pessoa,
Chegaram-nos 158 Cai tinhas, das quais mas em pensamento, e pensarei sempre
sete autografas, mas muitas outras — não se sempre em li" (6.12.1936). "Caríssimo Jesus-
sabe quantas - se perderam, porque não se Eucaristia, saudações e carícias, caro Jesus,
dava importância a elas. Elas são feitas de e beijos. Não vejo a hora de receber-te em meu
pensamentos soltos e muitas vezes com er ros coração para amar-te mais'' (23.12.1936);
de gramática como os das crianças. Não "Caro Jesus, amanhã, quando estiveres em
obstante, atrás dessas palavras tão simples, meu coração, la/.e de conta que minha alma c
que revelam um diálogo de amor com as Pes - uma maçã. E, como dentro da maçã estão as
soas divinas, atrás da gramática incorreta e sementes, faze que minha alma seja um
do ditado despojado e elementar, entrevê-se, armariozinho, e, como dentro da casca preta
como em filigrana, a intensidade de uru amor das sementes está a semente branca, assim
que é conhecimento expertencial e que, por- faze que dentro do armariozinho esteja a tua
tanto, faz logo pensar nas palavras de Jesus: graça, que será como a semente branca"
"Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, (10.2.1937), e, à mãe, que lhe perguntava se a
porque ocultaste estas coisas aos sábios e professora lhe tinha mostrado e explicado
doutores e as revelaste aos pequeninos" (Mt uma maçã. respondeu: "A professora não me
11,25), O padre —» Garrigou-Lagrange assim disse isso; eu é que pensei"; "Caro Jesus, en-
se expressou a respeito da experiência místi ca sina-me a fazer antes meu devei", para depois
de A.: "O estudo que liz da vida dessa menina lazer sacrifícios" (10.2.1937); "Caro Jesus,
heróica me levou às mesmas conclusões que quero estar sempre em teu coração, quero
as do padre Gemelli e do padre Pierotti". 2 estar sempre contigo" (14.3.1937J; "Caro Je-
sus, quero fazei' o que tu queres, quero aban-
II. A experiência interior que se pode donar-me em tuas mãos, ó Jesus" (30.3.1937);
deduzir dos poucos escritos de A. mostra al- "Caro Jesus, quero íazer-me santa, ajuda-me,
guns traços característicos: 1, A consciência da porque sem lua ajuda, nüo posso lazer nada"
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ANTONIKTA MliO (NK WOl.IN'A) 112
(14.4.1937); "Caro Jesus, dize a Deus Pai que me mandaste essa doença, que é um meio
quero abandonar-me em seus braços e lam- para que eu chegue ao paraíso. Caro Jesus,
bem nos teus para ir segura para o paraíso" dize a Deus Pai que amo muito também a
(25.7.1937). ele... Caro Jesus, dá-me a força necessária
3. A —* inabitaçâo irinitdria:* "Caro Espírito para suportar as dores que te ofereço pelos
Santo, tu, que és o amor do Pai e do Pilho, pecadores... Caro Jesus, dize à Mãezinha do
ilumina meu coração e minha alma e aben - céu que a amo muito e quero estar com ela no
çoa-me, caro Espírito Santo; eu te quero tanto, calvário, porque quero ser tua vitima de amor,
caro Espírito Santo; quando eu for cris mada, caro Jesus" (2.6.1937).
dá-me os teus sete dons" (29.1.1937); "Caro 0 que A. dizia não eram apenas palavras.
Espírito Santo, tu, que és o Espírito de amor, Dois dias antes de morrer, ela disse ao pai:
inflama meu coração de amor por Jesus" "Durante o dia, às vezes ponho a mão na ferida
(4.2.1937); "Caro Espirito Santo, tu, que és o e aperto para sentir mais dor e oícrecc-la a
Amor que une o Pai ao Filho, une -me à Jesus". Em 12 de junho de 1937 ela disse à
Santíssima Trindade" (26.4.1937). mãe: "No paraíso não me divertirei, quero
4. O papel de Nossa Senhora: "Cara Nossa trabalhar pelas almas" - "Sim - respondeu-lhe
Senhora, eu te quero tanto bem, a ti, que és a mãe - comosanta - 'Teresinha, que prometeu
tão boa, a ti, que és a mãe do mundo e de uma chuva de rosas"... A pequena, com um
todos os homens, bon.se maus" í 15.10.1936); olhar vago, acrescentou: "Eu farei cair
"Caro Jesus, eu gostaria de receber-te das uma chuva de lírios".
mãos de lua cara mãezinha, porque assim eu Na hora dolorosa da medicação: "Hoje vou
seria mais digna de receber-te" (25.10.1936); ser missionária na África". "Caro Jesus, eu te
"Cara Mãezinha do céu, eu te quero muito agradeço porque fizeste cessar a guerra com a
bem, e tu dize a Jesus que me perdoe porque Africa; faze cessar também a guerra na
na igreja não estive muito quieta" (8.12.1936); Espanha" (23.8.1936).
"Cara Mãezinha do céu, amanhã ajuda-me a 6. Senso do —> pecado: "Caro Jesus-Euca-
fazer uma boa confissão e faze que todos os ristia, cu te quero tanto, mas hoje eu disse
pecados me venham à mente" (17.3.1937). uma mentira, e queria ser perdoada, e o peço
5 . -> Oração e - - > sofri mono reparador. Em a ti de todo o coração, porque sinto uma grande
fevereiro de 1936 A. não quis tomar as inje- dor" (6.9.1936); "Caro Jesus, faze-me antes
ções de cálcio. A mãe lhe disse: "Foi o médico morrer do que cometer um pecado mortal,
quem o disse, portanto, não se discute", e assim ao menos estarei no paraíso, na glória
acrescentou: "Tu, que amas tanto a Jesus, se dos anjos e dos santos" (8.11.1936); "Caro
pensasses no quanto ele sofreu quando lhe Jesus menino, arrependo-me de todo o coração
fincaram a coroa de espinhos e os cravos, do capricho que tive e te peço perdão de todo o
suportarias essa dor e a oferecerias a ele". coração, e amanhã farei muitos pequenos
Depois disso, a pequena não chorou mais e, sacrifícios para reparar" (9.12. 1936).
para não chorar, ria e cantava, mas seu canto Um dia ela estava sentada perto da mãe e
era forçado. "Caro Jesus, dá-me almas, eu te disse: "Feio, não quero dar-le ouvidos; você
peço, para que as faças boas, c com as minhas quer que eu desobedeça ã min lia mãe, mas
mortificações eu tarei que elas se tornem eu quero ser obediente" -e a mãe: "Que tens?"
boas" (12.11.1936); "Caro Deus Pai, eu sei que - e ela: "O demônio me disse: vai brincar com a
teu Filho sofreu muito, mas dize-lhe que eu, áüua, mas eu quero obedecer-te e assim cau-
para reparar nossos pecados, farei muitos sar prazer a Jesus e à Mãezinha do céu".
sacrifícios" (23.11.1936); "Caro Jesus, cu sei Poderíamos continuar ao infinito as cita -
que te fazem muitas ofensas; eu quero ções desse gênero, mas basta dizer com o
reparar todas essas ofensas... Caro Jesus, se salmista que pela boca das crianças c dos be -
fosses um homem como nós e te fechasses bês Deus afirma seu poder (Si 8,3). São palavras
dentro de uma casa, não ouvirias as ofensas simples, as de A.t as quais repetem com um
que te fazem e assim poderias vir ao meu co- frescor e uma intensidade únicos verda des
ração e permanecer fechado comigo, e eu fa rei evidentes, mas antigas, como a inabitação
por ti muitos sacrifícios e te direi algu mas de Deus, a filiação divina, a ação da > uraça
palavrinhas para te consolar" (10.2. 1937); no coração do homem, a paz unida à inocên -
"Caro Jesus, ofereço todos os meus sacrifícios cia, o —> sotrimento unido à —> esperança,
em reparação dos pecados que os pecadores em
cometerem" (9.4.1937); "Caro Jesus
crucificado, eu te quero muito bem e te amo
muito, eu quero estar n< > Calvário conti go e
sofro com alegria porque sei que estou no
Calvário. Caro Jesus, eu te agradeço p orque
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85 ANTONIETA MHO (NKNNOLINA)
suma, o ■ > amor, que é confiança cm seu Je- tornardes como as crianças, dc modo algum
sus. São, pois, palavras ternas, as de A., entrareis no Reino dos Céus" (Mt 18,3).
vozes de todas as crianças, que atraem a Em Qumra, um membro da comunidade
atenção do Cristo e manifestam o dote essênia celebrou assim o Senhor: "Exultaste
fundamental delas, o da confiança destinada sobre eles como uma mãe sobre seu filho", 5
a tornar-se emblema dos iilhos de Deus. porque "és Pai para todos os teus iilhos lieis".''
Justamente por esse motivo A. se abandona a Ser criança simples e transparente, como no
—> Deus Pai, vendo-o como lonte de amor, da caso de A., é certamente dom de Deus, mas é
qual ela tirava força vital a fim de crescer no também fruto de procura espiritual para che -
amor e esperar, quando o mal a agredia. gar a Deus, o Simples perfeitíssimo. Foi por
O testemunho luminoso de adesão a Deus isso que a transparência interior de A. lhe
dado por A. abrange a breve duração de sua permitiu individuar o nó de ouro que reúne os
vida: do seio de sua mãe para o seio de Deus, fraiznienti JS de uma vida simples e in si mi il
passagem para a vida eterna no paraíso. Todo i-cante muna harmonia maravilhosa, que é a
o ser de A., como se pode intuir de suas pala- última metade urna forte experiência interior.
vras, loi um jogo de amor, uma dança de ale- Esta se inseriu na experiência histórica da co -
gria junto com seu caro Jesus. Nesse divino munhão com Deus pela graça durante a vida
abraço também sua dor se transfigura e se terrena dessa menina normal. A graça divina
torna um caminho de amor: sua alma se aper- peneirou no mais profundo de sua fragilida de
feiçoa sob o abraço do sofrimento, que é como humana para alimentar aquela centelha de
o oivalho primaveril, que ta/ desabrt>char flo- eternidade que é o diálogo de amor entre Deus
res maravilhosas de mil cores. A dor é como Pai e sua amada criatura. Essa semente
um cadinho que purílica das escórias; é uma divina, cultivada pelo —> Espírito divino na
espécie de libertação que preludia alegrias realidade humana dessa menina, mostra tam -
puras. O —> pecado do qual fala .4. é expres- bém a passagem do Filho encarnado para o
são de um gozo imediato, mas Irágil e passa- interior de sua breve mas intensa vida
geiro; o sofrimento é como que sua *-> expia- terrena, passagem explosiva para manifestar
ção, ou seja, a salvação, a I im de poder que ele é o Deus vivo. Por isso a esperança da
chegar ã paz e ã alegria de Deus. Nessa paz qual fala A. está inserida já no presente, isto
do espírito, mesmo no sofrimento dilacerante, é, na comunhão atual de vida com Deus
A. encontrou a totalidade da —* doação de si Trindade de amor. Espetar significa então,
como —> vítima de amor, ou, com suas pala- para A., confiar-se às mãos de Deus. E é isso
vras, como missionária, para a salvação dos que torna
homens, li isso se deu porque Deus mesmo sua vida uma obra-prima de beleza, apesar da
bebeu aquele cálice amargo e o saboreou por modéstia de sua vida exterior. Ser menina
meio de seu amado Filho. Jus tatu ente porque privilegiada por Deus, mais que exaltar sua
—> Cristo desceu à cria lurai idade débil e pureza, quer sublinhar a dimensão de sua
Irágil de A., o sofrimento dela tira o pecado do confiança sem hesitações em seu amado Se-
mundo. O mistério do sofrimento de A. nhor e Deus. O segredo de A, ou, melhor, sua
continua sendo um mistério; ele se acende vocação foi traduzir esta confiança em fideli -
como um clarão e se estende como um in- dade nas coisas pequenas, fa/endi > de sua
cêndio, benéfico para os outros, mas para vida um contínuo ato de amor.
quem o suporia é como beber até o fundo toda
a amarmira do mundo. NOTAS: "[No caso de Antonieta Meo] é evidente
6
Como o sol ou a água, i\ * simplicidade de que interveio a obra de Deus. Somente assim
e\
A. não conheceu clamores, nem percorreu plicam-sc us frases», os brinquedos, os
caminhos sofisticados, nem desesperou, an - comportamentos tio vicia de w Ncnnolin .iM,
tes, loi alegria e esperança ao mesmo tempo, escreve padre Agostinho Gemellí no Prefácio a R
mas sobretudo loi repouso sereno e tranqüilo ï'iernui, ix- L 'Henni' de Sennolina, Milão 1951,
no seio de Deus, Trindade de amor, como uma ti; ~ R. Garriguii-I.a-grange, Lettera alia
Presidente ( 'eturale delia O.P. di A.C/.. 23.lv W5I; :
criança desmamada nos braços de sua mãe, "K manifestamente extraordinária a graça de
paia amar agora e pela eternidade. A força de uma união transformante (...(concedida desde
.1. consistiu justamente em ter conservado a infância a certos santos, na idade de seis ou
esse espírito de —» infância espiritual, sete anos", escreve R. Gamgou-Lacrange em
Perfeição cristã e contemplação, Turim 1933, 2^7;
exaltado pelo salmista (cf. Si 130,2-3). Não foi A A respeito da inabitaçào ninharia em
sem motivo que Jesus escolheu a criança Nenriolnta, assim se exprime A. Dagnino:
como emblema de seu discípulo: "Se não vos "Para os que ainda não criam a respeito tia
praticabilidade aplica hilidade da doutrina
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ANTONIKTA MliO (NK WOl.IN'A) 114
sublime ]de João da Cruz e a respeito da
inabitaçào de Deus na alma]..., apre sentamos
um documento de grande valor leo'ugico-
místico: tiramo-lo de uma caria de uma
menina de
sois anos [Nennoíina] dirigida à Santíssima —> êxtases e —> visões. Mas é principalmente
Trindade: "Pai!*, escreve, "que talo nome! Quero de seus escritos que transparece seu culto
repe-li-lo: Pai! que belo nome!" i n Ixi vita
Cristiana o ií misturopasqnale, Ciniselo Bálsamo cheio de fé, de ternura e de entusiasmo à —>
1973, 167, nota 4; s I n n i IX. 36: fc Ihiti Eucaristia, ao Menino Jesus, a Jesus
Crucificado, ao Sagrado Coração e á —>
Bi Hi.: G. Bella, s.v., i n BS (Prima Appendice). 903 Virgem Maria.
904; M. Calbucci, Nennoíina; bambina romana. Flo-
rença 1938; L . Ciccone. Un esempio di santità: O desejo do —» martírio, que levou A. a to-
Nennoíina Meo. i n Presenza pastorale, 65 (1995)3, mar um navio para o Marrocos, a vida con -
97-110; A. G. Pia/za, Un hcau li\ briltant, i n Les templativa nos eremitérios de Olivares, Mon-
Annales de Usieux, rnaggiu 1952, 12-17; I*. lcpaolo e Camposampiero, e o zelo ardente
Pierotti, lxy Istterine di Nennoíina, Milão 1951: A. com que se dedicava à pregação pela salvação
Rossi, Antonietta Meo {Nennoíina). Placcncia,
19S6. das almas e em delesa dos oprimidos tes-
temunha em A. uma alma totalmente infla-
L. Botrieüo mada da ■ > caridade divina, li, na hora de
sua morte, seu canto do hino mariano O glo-
riosa Senhora e a exclamação Vejo meu Senhor
são mais uma confirmação da densida de
mística de sua vida. De resto, o modo pelo
qual fala da vida mística em seus escritos faz
pensar que se inspira não só nos autores, mas
ANTONIO DE PÁDUA (santo) também em sua própria experiência de vida.
Em seus escritos sente-se vibrar o místico e
I. Traços biográficos e escritos. Fernando, arder o logo de um desejo, que é o logo do
nascido em Lisboa, em 1 195, da nobre amor ao próximo, com o desejo de arrastá-lo
família tios Bulhões, em 1210 tornou-se para o amor de Deus.
monge entre os cónegos agoslinianos, sendo Seus escritos seguramente autênticos são os
mais tarde ordenado sacerdote, mas em 1 220 Sermões dominicais e os Sermões nas sole-
passou para os Irades menores e tomou o nidades dos santos. Uma edição crítica desses
nome de Antônio. Frustrada a tentativa de \ sermões, com o titulo de Sermões dominicais c
ida missionária no Marrocos, foi para Assis, festivos, foi publicada em Pádua, em
onde assistiu ao capítulo das esteiras (Pente- 1979, por B. Costa, L. Frasson e G. Luisetto,
costes de 1221). Depois de um breve período em três volumes. É duvidosa a atribuição da
de solidão no eremitério de Monlcpaolo (Forli), Exposição sobre os salmos (278 paráfrases e
começou a atividade de pregador, a qual se discussões sobre os 150 salmos).
estendeu a toda a Itália setentrional e ã
França, combatendo energicamente os hereges I I . Teologia mística. Km vão se procuraria
(eátatos, patarinos e albigenses) e me recendo nos Sermões de A. uma exposição sistemática
o título de "martelo dos hereges". de sua doutrina mística; não obstante, é
Futre 1223 e 1224, com a aprovação de > possível encontrar neles dados suficientes
são Francisco, inaugurou o estúdio teoló gico para uma reconstrução orgânica dessa dou -
de Bolonha. Na qualidade de leitor público, trina. Por isso os estudiosos reconhecem ao
ensinou também em Montpellíer, Toulouse e Doutor evangélico também o título de escritor
Puy-Valay (França). Foi guardião em l.itnoges místico.
(França) (1226-1 227) e ministro provincial na Atendendo ao convite de são Francisco, A.
Itália entre 1227 e 1230. Morreu em Areei la, ensinou teologia aos frades, lendo e comen-
na periferia de Pádua, em 13 de junho de tando a —> Bíblia, como era proposta pela —>
1231. Foi canonizado por Gregório IX no ano liturgia, a fim de "consolar e edificar" os frades
seguinte (em 30 de maio de 1 232), e no 'espírito de oração e devoção" e ajudá -los
declarado Doutor universal da Igreja por Pio na pregação aos fiéis; por isso, no espírito de
XII em 16 de janeiro de 194ó. Francisco, fazia uma pregação orientada para
Os biógrafos antigos de A., preocupados a —> "penitência" e para a renovação cia vida
com registrar mais os latos externos de sua cristã.
vida do que as disposições interiores de seu Dentre os vários sentidos espirituais da
espírito, revelam-nos pouca coisa das relações Bíblia, A. se interessava principalmente pelo
místicas de .4. com seu Senhor. Todavia, sonido moral. E a sua totalidade tendente para
mesmo dando precedência às suas atividades a exegese moral tem relação com a tota lidade
de pregador e de taumaturgo, não deixam de que tinha para ele o múnus apostólico e
acenar para sua santidade heróica e para seus
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missionário. A totalidade bíblica dos Sermões caridade. O homem perfeito é o homem ca-
corresponde à totalidade predicante de ridoso... que vive só do f ogo da caridade.
A., o qual, nossc sentido, não podia não ser A perfeição da caridade, por sua vez, de -
franciscano. semboca na —> contemplação como em seu
Em relação ã teologia monástica, A. afirma vértice conatural. Quando A. usa o termo
uma concepção diferente do divino, portanto, "contemplação" em seu .sentido rigoroso para
um modelo diferente de —► santidade: ele indicar o estado místico, entende com ele o
considera a plenitude cristã como reali dade conhecimento simples e amoroso, a —» "sa-
não mais extra-histórica, mas intra-his-tórica. bedoria" ou gustação saborosa de Deus c das
O objeto da consideração bíblica e teológica coisas divinas, produzida por Deus na alma do
de .4. não é mais só Deus (como é a tendência justo.
da cultura monástica), mas também o O objeto da contemplação é o próprio Deus
próximo; Subi para contemplar quão suave e o no mistério da Santíssima Trindade e em suas
Senhor, descei para levantar, para cuidar, porque obras externas e Jesus Cristo em sua santa
dessas coisas o próximo tem necessidade.1 humanidade. A contemplação mística com -
Ü uso que A. faz da Bíblia revela sua origi- preende atos intelectivos e afetivos. Enquanto
nalidade cultural e espiritual: dentro da re- ato da inteligência, ela não é um processo
dução escolástica e clerical, consegue dar voz dialético, mas uma visão repentina, intuição
a novas exigências, a manter um espaço de unitária, simples olhar ou intuição de Deus e
novidade e a cobri-la com seu zelo por Deus e das coisas divinas; e enquanto ato da vonta de,
com sua paixão pelo próximo. Talvez lenha ela é saborosa gustação de Deus e das coisas
sido o primeiro a fazer uma pregação nao- divinas.
rnonáslica tão alta, pregação para a qual a Seguindo —> Ricardo de São Vilor, A. ad-
contemplação consiste em sentir o gosto de mite dois graus principais na contemplação:
Deus, em consolar o próximo e em perder-se elevação da mente que se verifica quando ca-
na —> cruz. Nisso é evidente a influencia de pacidade humana e graça especial concorrem
Francisco de Assis. juntas para lazer que a mente, sem perder
Para A., a leitura moral da Bíblia não é só a totalmente o contato com as coisas presentes,
procura de classil icação dos atos como bons seja transferida para um estado que supera as
ou maus, mas também e principalmente a possibilidades puramente humanas.
formação do —> homem interior. Os termos A alienação da mente é a íorma superior' de
"fornia, informar (dar forma), infoiTna ção" contemplação que se verifica quando, unica-
atravessam com insistência toda a coleção dos mente em virtude da graça divina, o justo
Sermões. perde a atenção das coisas presentes e entra
A forma por excelência que o penitente deve num estado estranho e inacessível á capaci-
assumir é a do —> Cristo; por isso o tema do dade humana: conhecimento e amor que so
Cristo c principalmente da humanidade do mente Deus pode produzir na alma.
Cristo (as suas virtudes) emerge nos Sermões. Embora alirme a gratuidade da contem -
A alma contemplativa é arrebatada pelo plação mística, A. diz. que lodos são chamados
conhecimento da santa humanidade do Cristo, a ela; a sua raridade de lato se deve ao
"urna áurea", na qual ela contempla o "maná despreparo da alma para acolhê-la. A prática
da divindade". Em razão desse conhecimento, das virtudes evangélicas e sobre tudo o amor
a alma se sente inflamada de amor pela pessoa dispõem a pessoa para acolher o dom do
do Cristo. E por movimento convergente que o Senhor. O amor é necessário
penitente assume a forma do Cristo: ele se couro ionte de elevação; a contemplação, por
oferece corno > vítima ao Deus crucificado, e sua vez, leva a seu termo a perfeição moral;
isso marca seu coração com a cruz. 2 Essa mas é a —> graça que completa a trans-
possibilidade de identificação crística é obra formação do homem justo. Da intimidade com
do Espírito de Deus. 5 O cristão é Deus, a alma sai refeita, trazendo ern si os
verdadeiramente outro Cristo, e seu espírito é reflexos da beleza divina. A contemplação
o Espírito de Cristo; assim resplandeça a f ace produz o candor, o aumento das vir tudes e
de nossa alma como o sol, para que o que vemos pela das obras meritórias, a agilidade sempre
f é se esclareça nas obras; e o bem que crescente do espírito e o abandono confiante
distinguimos dentro, pela virtude do discernimento em Deus.
executemos fora, na pureza da ação; e o que O estado de perfeito não se resolve só na
saboreamos na contemplação de Deus se tome ação nem só na contemplação, mas na eonei
ardente de amor ao próximo.4 liação das duas, as quais se influenciam mu-
A essência da —> perfeição cristã é posta tuamente.
por A. no cumprimento dos dois preceitos da
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AVrÔMO DE PA Dl A (sanio) - A\ l O N J U DO líSPlRlTt) SANTO
Antes de -» são João da Cruz, A. fala de urna Portugal. Pedro II, bispo do Congo, nomeação
-> noite da alma, noite não procurada, mas confirmada pela Cúria romana em 14 de
suportada pela alma como preparação para a novembro de 1672. Recebeu a sagração epis-
contemplação. copal em Lisboa, em 8 de janeiro de 1673,
embarcou em 16 de julho do mesmo ano e
NOTAS: Sermones, I. 90; 2 Cf. Ibid, 48, 130, 147,
1
tomou posse da diocese em 11 de dezembro.
154-155;3i&w/.. 328ribid.. 96.
Enfraquecido pelas fadigas da viagem, adoe-
BIBI..: AS Lendas mais antigas tiveiani vái ias ceu e morreu em 12 ou, segundo outros, em
ediçcVs, atualmente podem-se encontrarem 27 de janeiro de 1674.
Ponti agiogra-jiche antoniane, Ir. de V.
A sua produção literária reflete os interes-
Ganibosco, I; Viia prima di S, Antonio o
Assídua; II: Giuliano da Spira: Otjicio ritunco e ses cultivados durante os anos de ensino. Em
v i f a secunda; III: V Í 7 ÍÍ JI*/ Dialogas e lienignitas, 166 l foi publicado em Lião seu Diretório dos
Pádua 1981-1986. Knirc as biografias mais regulares, ao qual se seguiram Consultas várias,
recentes assi nalariw is S. Clasen, Sant 'Antonio, teológicas, jtoidicas e regulares para a instrução
Dottorc evangélico, Pádua I 963; V. Gamboso, I Á I
personalita di v. Antonio di Padova. Pádua 1980; das consciências (Lião, 1671) e o Diretório dos
A . F. Pavancllo, S. Antonio di Padova, Pádua confessores (Lião, 1671). Tomou parte, em
I985 6 ; Estudos: Aa. Vv„ S. Antonio di Padova delesa da tradição da Ordem, na controvérsia
dottore evangélico, Pádua 1946; Aa.Vv, ,S Anuvtio a respeito da paternidade de Elias atribuída
dottore delia Chiesd. Atli delíe settimane ao Carmelo, controvérsia que se agitava
antoniane lenule a Ruma e a Pádua nel 1946.
Città dei Vaticano 1947; Aa.Vv. Le jonti e lã intensamente naqueles anos, e o tez com a
teologia dei sermoni antoniani, Pádua 1982; A. obra Primado ou primazia de Elias, que teve
Blasucci, La teologia misticu di s. duas edições simultâneas, em Lis boa e em
Antonio, in Aa.Vv. -S. Antomo dottore delia Lião, em 1671.
Chiesa, o.c, 195-222; J. rkeriuckk, S. Antonius A obra á qual deve sua lama é o manual de
Patavinas auctnrmvslicus, in Ant 1 (1932).
39-76, 167-200; T. Lombardi, 11 Dottore teologia mística, que começou a escreverem
evangélico, Pádua 1978; L. Meyer, De 1670. por incumbência do Capítulo geral ce -
contemplaiionis m»tione in sermonihus s. Antonii lebrado naquele ano em Pastrana. no âmbito
Patavini, in Ant 6 (1931), 361-380. de uma política tendente a dotar as casas de
estudo cia Ordem de uma série de instrumen-
/?. Barbariza
tos que pudessem servir de textos de relerên -
cia. No fim de 1671 a redação estava ter-
minada e, no início de 1673, a obra estava
pronta para ser impressa, tendo obtido as
necessárias permissões das diversas censuras.
Mas ela foi publicada só em 1676, em Lião,
AXTONIO DO ESPIRITO SAXTO com o título Diretório místico, no qual três
dif icílimas vias, a saber, purificadora, ilumi-
I. Vida e obras. A. nasceu em 20 de junho nativíi e unitiva suo explicadas.
de IMS em Montemor o Velho, diocese de
Coimbra, em Portugal, filho de Jerônimo I I . Doutrina mística. O manual de A. é uma
Soares Carraca e Felipa Gaspar. Vestiu o hábito das principais obras sistemáticas de mística
dos carmelitas descalços no convento de que apareceram na segunda metade do séculí)
Lisboa, em 26 de maio de 1635, e emitiu os XVII. í )s quatro tratados que a c< im põem
votos religiosos em 29 de maio de 1636. Es- desenvolvem as questões relativas à teologia
tudou artes em Figueiró e teologia em mística em geral e às três vias clássicas,
Coimbra. Em 1648 pediu para retirar-se para purificadora, ilurniiiativa e unitiva, que
a solidão de Bussaco, mas foi nomeado pro- correspondem aos graus de principiantes»
fessor de teologia mitral cm Viana do Castelo, adiantados e perlei tos. Suas fontes de inspi-
onde ensinou durante do/e anos. Foi eleito ração são a doutrina de —> Teresa de Jesus e
definidor provincial da província portuguesa e, de -> João da Cruz; usa também os escritos de
ile 1668 a 1670, foi definidor geral da Con - > João de Jesus Maria, de -> Tomás de Jesus
gregação cia Espanha dos carmelitas descal - c de José de Jesus Maria Quiroga (t 1628).
ços. F.in 1670 tornou-se prior do convento de Mostra predileção particular pela Suma de
Lisboa. Em 1672 foi designado pelo rei de Teologia mística, de > Filipe da Santíssima
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Trindade, e pelas obras do domini cano Tomás
de Vallgornera (t 1675).
Com Filipe cia Trindade, A. afirma que a —»
meditação tem como termo e fim intrínseco a —
> contemplação, motivo pelo qual os
principiantes não devem limitar-se a meditar,
mas devem aspirar à contemplação so-
brenatural. No campo espiritual, a pessoa
passa da procura inteleetiva à operação quieta
do juízo prático, isto é, ao olhar de fé sim-
co. A teologia ensina que as a. podem provir de rético e ético. Num mundo que é cosmo, isto é,
causas naturais, diabólicas ou divinas. universo regido por uma ordem necessária e
Segundo o ensinamento teológico, as tf. pro- impessoal, o homem sábio aceita passivamente
venientes do céu pertencem à categoria das os eventos e encontra sua felicidade/
graças concedidas gratuitamente, as quais, liberdade no domínio voluntário de si mes mo.
portanto, prescindem do estado de graça de reprimindo perturbações e emoções, que o
quem as recebe.y tornariam escravo ou, melhor, que lhe re-
Os três tipos de juízo mencionados são velariam sua escravidão radical. E estultice
sintônícos entre si e se influenciam recipro- agitar-se por coisa que não é susceptível de
camente. mudança e jã está certa corno é. Emoções e
paixões são doenças da alma, desordem da
NoiAs: Subida do Monte Carmelo II, 23,3; 1 Contra
1
qual libertar-se e sarar.
Adimantum: PL -12, 171; 3 Htvmologiatum, 1. 7, c.
8, iv 37s.: PI. 82, 286-287; 4 I. q. 93, o, 4in; II-
II, q. 174, II. Na vida espiritual. Do âmbito da filo -
I, 3m; q. 175,3,4m, ecc;5 De Genesi ad litteram, sofia o termo «. passou para a espiritualidade
1. 12, c. 9 c 10: PL 34. 461; 6 Subiih do Monte.., cristã oriental. No Ocidente ele nunca teve
o.c, muita sorte. No passado ele foi contestado por
II, 21; cl. anclie cap. 21, 24 e 25; lu 2am ad autores como Lactando (t c. 325), -> Jerónimo,
Corin-thios cap. 12, lecl. 1; * Deservorum
Deilvatificatione et beatnrutn canonisatione, III, Agostinho eoutros, eme viam nele uma
Bolonha 1737, c. ult.; ' Ct. Síh 11-11, q. 172; negação da natureza do homem, reduzido â
Bento XIV, De servorum..., o .c, III. c. 53. ímpassabilidade da pedra, ou principalmente
a raiz diabólica da —> soberba, que desemboca
Bim. P. Dinzclbachei; s r, in WMy, 147-148; P no individualismo e na procura de uma or-
(íiove-lii, 1 fenomeni deiparanormale, Cinisello
Bálsamo, 172-1KI; A. Mackerv/ie, Apparizioni gulhosa invulnerabilidade e impecabilidade.
e fantasmi. Ruma 1983; R. Ponnet, Jcs Hoje esse vocábulo é anacrónico, estranho.
njiparitions aujourd bui, Chambray-lès-Tnurs Indubitavelmente ele contrasta com as ten -
1988; J. de Tondqucdec, s.v., iriDSAM I, 801- dências mais específicas tia época contempo-
809. rânea, na qual, de um lado, se sublinha a
unidade ps i co física do homem (valorizando-
G. P. Paolucci se em particular justamente a esfera da emo-
tividade), do outro, no campo teológico c reli -
gioso, se dedica viva atenção ao tema do "so-
frimento" de Deus e, sobretudo, existe, por
experiência, uma aguda intuição do valor re -
dentor do —> sofrimento humano como par-
ticipação na paixão-mot te de - > Cristo. A tf.
APATHEIA é vista não só como desumana, mas também
até como contrária ao cristianismo, fundado na
I. O termo. A. é substantivo grego composto
"loucura da —> cruz" e na "estultice" de um
de alfa privativo e de pathos, que indica tanto
Deus que escolheu salvar o homem per-
o evento suportado (geralmente doloroso) como
correndo o caminho da —> pobreza, do des-
os —> sentimentos que ele provoca na alma. A.
prezo e da humilhação. Em Jesus o cristão en-
significa, portanto, "não sentir", "não ser
contra um Deus feito carne, um homem que
atingido" (ou não deixar-se atingir) pelas
se comove, experimenta compaixão e também
realidades externas. Esse termo é traduzido
indignação e que passou pela tristeza e
por impassibilidade e imperturbabilidade, e
angústia até a agonia no Gel sema ni e ao gri-
assim se torna sinônimo de au-
to dilacerante da sexta-feira santa. Diante da
sência/superação das —> paixões, entendidas
arrasadora realidade da paixão, a tf. perde
como totalidade dos estados de ânimo, numa
toda a sua força. Não obstante, no Oriente
ampla gama que compreende —> ira c com-
cristão esse termo foi acolhido com particular
paixão, medo e desejo. > inveja e —> alegria.
benevolência, e não há —> Padre que não se
Não menos importante do que o significai-
tenha detido nele. Para —» Evágrio, ele é o
lo etimológico éa história desse termo. Ele
centro e o fim da vida espiritual. Todavia, o
pertence ao vocabulário íilosótico, mais pre-
pensamento dos Padres não é unitário. É
cisamente ao da filosofia estóica, na qual
grande, por exemplo, a distância entre a apo-
marca o vértice da —> perfeição, o ideal teo-
logia da a. estóica de —» Gregório de Na/.ian/.o e
a concepção de Teodoreto (t 460), o qual vê na «.
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um dom concedido por Deus ao primeiro —>
Adão e perdido com a queda original. Km todo
caso, pode-se dizer minto sinteticamente que
entre os Padres ela não teve o caráter
voluntarista que linha entre os estóicos. Com
efeito, ela se transformou naquele
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APKCÍO m:\u\o APlíTITü I. O termo a. Do ponto de vista psicológi co,
ÍZ.indica a tendência ou a inclinação natural
mu a criança do místico. Do ponto de vista para desejar e procurar a satisfação própria
humano, a psicoterapia ajuda na recuperação num objeto externo, apreendido confusamente
da confiança numa relação sem a qual não se
peia consciência como agradável
p< >de crescer. A mística é uru pn >cesso de
e correspondendo às necessidades vitais da
crescimento global, fundado na recuperação de
pessoa que sente sua falta. A "escolástica" 96
uma relação de confiança com Deus. Nesse
caso, psicologia e mística se integram numa distinguiu o a. em a. natural, que é a
dinâmica de crescimento como superação. A tendência para a própria completude
confiança inicial mãe-filho poderá ser entitaliva, c em a. elf cito, que é a inclinação
superada psicológica para um bem conhecido. Por si,
mediante coul iauça mais madura ("eu-oulros enquanto inclinações naturais, os a. são
no processo psicoterápico; eu-oiUros-Deus no moralmente indiferentes; podem ser sedes de --
processo místico")- lambem a desconfiança > virtudes, se deixam guiar pela —> vontade, ou
inicial mãe-filho poderá - se bem que com de —> vícios, se precedem ou condicionam as
maior dificuldade - ser superada. A dinâmica escolhas da vontade.
da superação é possível também depois de re-
petidas experiências de confiança e de des- II. Com referência u espiritualidade, o
conliança depois de nossa infância. termo a. está presente na teologia escolástica,
Num contexto psicológico e moral, cres cer mas sobretudo é muito usado por—> são João
significa não só que a pessoa seja ela mesma e da Cm/., que fala de dois tipos der;. O prime i-
se torne ela mesma, mas também que supere a ro, "voluntário", é conotado cm decorrência de
si mesma. Aqui psicologia, moral e mística um componente vicioso e indica uma ten -
não mostram incompatibilidade. dência/inclinação desordenada da —> afeli-
vidade, com a participação da vontade. Con-
NOTAS: 1 A.M. Kulka. Observation and Data on
siste em qualquer inclinação que se oponha á
Moihcr-Inf ant Interaction, in Israel Anuais o j
Psvchiatry, 6 (1968), 70-83; * H.K \ larlow c M.K. lei da razão e da fé e que resista á v ida espiri-
Harlow, Learninz to Jjive, in AmericatiScieníist, M tual e se rebele contra ela (ct. Gl 5,16-20).
(1966), 244-272. M.K Ilarlow e SJ. Suo mi, Sature Nesse sentido, fornia urna categoria moral ne-
o j Uive Simplifica, in American Psycholtwst. 25 gativa. O segundo tipo de a. tem uma conotação
(.1970), 161-168; - J.A. Bowlbv, Si-paration
Ànxiciy, in JuteniuiionalJournal o! Psyàhaanahsis, 41 positiva e indica sobretudo "desejo". Na
(1960), 89-113;4 R. C;incstnui.ftic«> ló^ia x^wralc e primeira acepção, para o místico espanhol, a
dello svilupfki, Bolonha 1993, 554;:> R.A. raiz e o húmus de todos os a. são a —> concu-
Minde,U'Relazioniinterjiersonali. Bolonha piscência da carne, a concupiscência dos olhos
1981: MD. Ainsworth S. Bell - D. Stavtoii,
fi
e a soberba da vida fcí. Uo 2,1 6). 1 Na ótica de
Lattaccamento ma-dre-bambino e lo sviluppo
sociale, Milão 1978. João da Cruz, essas inclinações de sordenadas
provocam como que desintegra* ção da vida do
Bim..: J.A. Bowlbv, Separaiion Anxicix, in homem, porque "são como as sanguessugas
Intcniationl Journal of Psychoanalysis, 41 (1960), que sugam continuamente o sangue das
89-113; Id., Lattaccamento e la perditu, 3 voll., veias",2 atrofiando as relações de amor em três
Turim 1989; M.F. Harlow- M.K.
Harlow,LeamingtoLove, m American Scientist. 54 níveis: com Deus, consigo mesmo e com os
(1966). 244-272; H.K Harlou - SJ. Suomi, outros. Ele enuncia do modo seguinte as três
Nature of Love Simplif ied.iw American direções da desordem afetiva: "E coisa
Psychologist, 25 (1970), 161-168; A.M. Kulka, verdadeiramente digna de compaixão
Observation and Data on M> nher-lnjan t
considerara qual estado reduzem a pobre alma
interaction, in Israel Armais of Psychiatry, 6 (1968),
704)3. os a. que nela vivem: quão desagradável é ela
a si mesma, quão árida com o próximo e quão
.4. Pacciolla preguiçosa para as coisas de Deus". 3
Justamente porque eles prejudicam a par te
vital do homem, privando-o "do espírito de
Deus", e ainda "a cansam, atormentam,
obscurecem, sujam, enfraquecem e ferem",4 a
prática ascética do passado insistiu muito na
vigilância, com método e meios apropria dos,
APETITE para a purificação dos a. Nessa perspectiva,
tiveram muita i nfluência os famosos aforismos
de João da Cruz: "Não ao mais fácil, e sim ao
mais difícil, não ao mais saboroso, e sim ao
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mais insípido; ...não à procura do lado melhor
das coisas criadas, e sim ao lado pior, e desejar
-> nudez, privações e pobreza de tudo o que há
no mundo por amor de—> Jesus Cristo.5 No
fundo, trata-se de não se comprazer em nada só
por satisfação pessoal ou só por prazer, e de não
omitir ato bom só porque causa repugnância
ou enfado. Eni ulti-
contato total entre o homem e Deus. O texto Esse contato místico tem sua fórmula:
é insubstituível; "Os alicerces da muralha da parte-se do nível da assembléia litúrgica em
cidade são recamados com todo tipo de pe- momento forte, o domingo, e se realiza num
dras preciosas: o primeiro alicerce c de jaspe, contato com o Espírito, que lera a atingir de
o segundo de safira, o terceiro de calcedõnia, maneira direta Cristo e Detis. O desenvolvi-
o quarto de esmeralda, o quinto de sardóni- mento desse aspecto místico é distribuído
ca, o sexto de cornalina, o sétimo de segundo a estrutura literária do livro: seu
Crisólito, o oitavo de berilo, o nono de ponto de partida é o contato com o Cristo
topázio, o décimo de crisópraso, o décimo ressuscitado da primeira parte (cf. 1,4 -
primeiro de jacinto, o décimo segundo de 3,22); o de chegada é o nível de nupcialidade
ametista. As doze portas sào doze pérolas: da nova Jerusalém (cf. 21,1-8; 21,9-22,5), o
cada uma das portas é feita de uma só qual é atingido gradualmente na segunda
pérola. A praça da cidade é de ouro puro como parte (cf. 4,1 - 22,5). Olhando mais de perlo
um cristal transparente". A abundância e a as modalidades do contato místico, que assim
repetição, segundo a estrutura redundante se realiza, notamos que ele comporta um
do simbolismo, própria deste trecho, notada aspecto cognitivo e um aspecto existencial. O
acima, inculcam repetidamente e lazem aspecto cognitivo é alcançado quando a
apreciar, acima de qualquer formulação experiência mística permite atingir um nível
lógica, a máxima compenetração entre Deus, novo de entendimento com a transcendência,
Cristo-Cordeiro e seu povo. o existencial se verifica quando, no vivo da
Não surpreende, por isso, a ausência de experiência litúrgica que se desenrola,
templo (cf. 21,22), uma vez que Deus e o verifica-se uma translorma-ção no sujeito
Cordeiro desempenham a sua função, inlerpretante. o grupo de escuta. Os dois
estando em comunhão imediata com lodos. A aspectos se entrelaçam, eondicio-nando-se
luz da terra - o sol e a lua - é superada por reciprocamente: a nova experiência cognitiva
essa nova realidade; Deus mesmo ilumina a tende a transformar, e a transfor mação abre
cidade, e a "sua lã/npada é o Cordeiro" para uma nova experiência.
(21,23). A expressão mais sugestiva dessa inter ação
Hnfim, um único fluxo de vida atravessa a progressiva entre as dimensões cognitiva e
cidade: é o "rio de água da vida, brilhante existencial se encontra no "diálogo litúrgico"
como cristal, que sai do trono de Deus e do de conclusão (cl. 22,6-21 ),* r ' nu qual o
Cordeiro" (22,1). Ainda se fala de trono, mas grupo de escuta aparece como a noiva, que
não há mais ninguém sentado nele: o trono - se aproxima do nível da nupcialidade, a qual
o primeiro elemento que João notou no céu se realizará com a presença total de Cristo.
(cf. 4,2) - nessa altura não é mais símbolo dos Entre a meta final da nupcialidade plena e a
impulsos que determinam o desenvolvi mento situação de agora insere-se a vinda, que o A .
da história. Chamado pela primeira vez "trono interpreta como crescimento progressivo dos
de Deus e do Cordeiro" (22,1), ele simboliza o valores, da "novidade" de Cristo na história.
dom do Espírito, que, procedendo do Pai e A Igreja-'noiva" já tem experiência e
do Filho, impregna tudo e todos conhecimento de Cristo; aspirando à vinda
de sua vitalidade. completa, ela se transiorma e se aperfeiçoa,
O grupo de escuta, que já tem comunhão eonieccionando sua veste de esposa (cf. 19,7-
de base com a vida trinitária, e que tem co- 8).
nhecimento disso (1,3-4), H sente ativar-se A vinda de Cristo faz sentir sua capacida -
denlro de si o código de seu "ainda não"/' de de de a I ração: por duas vezes, no diálogo
seu ponto de chegada, nota uma força que o idealizado, ele diz "Vê (idoú), venho em
impele para ele. E realmente o auge da expe- breve!",
riência mística do A. chamando assim a atenção para a vinda que
está cm andamento.
VI. Conclusão. Num olhar de conjunto A Igreja-noiva aceita, e isso a leva a um
para o caminho proposto ao grupo de escuta conhecimento cada vez mais explícito de
nu A., encontramos o aspecto místico - Cristo, que é visto assim como aquele que é
entendido como contato ultraconceitual com a "o Alfa e o Ômega" (22,13), "a brilhante
transcendência e, mais especificamente, com Estrela da manhã" (22,16).
Cristo e com Deus - constantemente Apreciando adequadamente a vinda de
presente. Cristo, a Igreja-noiva, tomando a iniciativa, a
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ARIDKZ ESPIRITUAL mesma pobre/a ajuda a servir a Deus "com
justiça, lorlale/a de ânimo e humildade".
tensões e desgostos, responsabilidade, preo- 108
cupações; c. melancolia e tendência para o
desânimo, estados de ânimo que bloqueiam "Não dar muita imp* >rtáncia a isso, nem
o desenvolvimento da psique. consolar-se ou desencorajar-se muito por
l'ara superar espiritualmente essa situa- Ialiarem esses prazeres e ternuras". Não se
ção, a pessoa deve começar por uma atitude perturbe o ânimo: "Será pior se a pessoa
fundamental de aceitação com —> humildade insistir em forçá-lo, porque então o mal dura
e espírito de pobreza. Não se trata de supor- mais longamente".
tar ou de redimir um mal, mas de dar um Depois empregam-se outros remédios: a
passo à trente na vida de té, * amor e > es- ajuda de um livro, da oração vocal, do olhar
perança, sei vi ndo a Deus em —> nudez de silencioso e inerte. 1
espirito e em total aniquilamento. Depois a
pessoa deve agir de modo apropriado, IV. .4. como passagem para a vida teologal.
aplicando meios naturais e sobrenaturais Com seu estilo peculiar na sistematização da
mais adequados: repouso mental e físico, —> experiência espiritual, —> são João da
mudança de atividade, maior fidelidade á Cruz repõe o lema na base de um esquema
própria vocação com suas exigências, -> anlropolôgico-espiritual. Nessa perspectiva, a
ascese etc. a. representa um estado de "transição" do
sentido para o espírito, do sensível para a
III. Oração de a . Na vida de oração en- vida teologal, e implica um gran de passo à
contramos a manifestação mais frequente e frente na qualidade da vida espiritual. Na
dolorosa da a. Na oração se torna mais passagem do fervor para o amor árido e
explícita e exclusiva a atenção religiosa, e cognitivo, a pessoa, habituada aos —>
mais dolorosa e consciente a incapacidade de sentimentos, se encontra vazia e desorientada.
comunicar-se com Deus. Um exercício mental A consciência não está preparada para
intenso põe em maior evidência para a degustar o sabor fino do -» amor teologal. 'Esse
pessoa a esterilidade do espírito. É uma amor algumas vezes não é compreendido nem
experiência prolongada e penosa, pela qual sentido pela pessoa que o experimenta, porque
passam geralmente todas as pessoas que não reside no sentido com ternura, mas na
perseveram fielmente no caminho da oração.
alma cora fortaleza, e é mais veemente, mais
Traz consigo conseqüências penosas e
corajoso do que antes." 4
dificuldades na procura de soluções ou re-
Nessa perspectiva a a. entra como com-
médios.
ponente e se torna elemento que traz a dina -
Uma série de fatores convergentes torna
hoje particularmente freqüente o fenôme no micidade de caráter teologal: amor a Deus, —
daxi. na oração. Entre eles: ritmo frené tico * conformidade a Cristo, —» purificação da
da vida, fadiga devida a impressões energia sensível e rei orço da energia espiri-
constantes e intensas na sensibilidade, cer tual. A —> fortaleza e a —»liberdade que a pes-
ta frieza no âmbito religioso, escassa educa - soa consegue lhe dão a capacidade de agir
ção pastoral para a oração interior, rotina na com a mesma inteireza em qualquer estado
prática da oração por falta de projeto etc. de ânimo, sem < >s o indiciou a men tos aos
-> Santa Teresa, que sofreu longamente quais
essa tortura, dedica atenção particular ao está sujeito quem se move e se motiva por
tema. Suas descrições c sugestões continuam estados de ânimo e por sentimentos passa-
válidas. No capítulo II de Vida, ela deixou geiros. O amadurecimento alcançado se mos-
ampla descrição do fenômeno, de suas possí- tra nas atividades que requerem dedicação
veis causas e de seus remédios. Põe -no de constante, oração, -» sofrimento, convivência
preferência na primeira etapa do caminho de e apostolado.
oração, mas se repete com regularidade nas
fases seguintes. "Que deve lazer quem há N o i .vs-. ' S. Hcrnaidu. Si-.rmom s:d camu o det
muitos dias não seule senão a., desgosto, in- Cnn-tici, 54;2 João da Cruz, Noite escara I, 9,3;3
sipidez e uma extrema repugnância... e nem Teresa de Jesus, Vida 11, passim;4 João da
pode formular um bom pensamento?' Expli- Cruz, Subida do Monte Carmelo I I , 24.9.
cação e remédio: "Sua Majestade quer con-
BIBL.: E. Ancilli. Lbrazioneelesuediflicoltà, in
duzir por esse caminho paia que compreen-
Aa.Vv., La preghiera, II. Roma 1988.65-78; J.
damos melhor o pouco que somos". Essa Aumann, Teologia smrimale. Roma *9S0. 2S9-
291; Y. Bort. me, v.u, in DES I, 201-203; E.
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Boylan, Difficottà nell'orazio-uementale, Milão
1990; R. Daeschler, s.v., in HSAM l , 845-855; J.
de Guibert, Ttiéologiespirituelle, Roma 1952.239-
241; E. Salman, s.v., in WMy. 502-503.
E Ruiz-Salvador
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ASCESF.-ÀSCÉTICA
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ASCESE-ASCÉTICA Em suma, a ti. representa, por assim
dizer, a procura, ao passo que a mística
pelo Espírito de Cristo. A cooperação do cris - conclui essa procura, verdade essa que pode
tão, além de acolher a ação transformadora ser deduzida 116
do Espírito, tende a lavorecê-la no plano
existencial, para depois testemunhá-la em do símbolo da cru/.. As duas trajetórias dessa
dimensão eclesial. Desse modo o cristão última representam as dimensões do evento
deixa transparecer em toda a sua existência salvífico comunional que se consuma nela.
essa transformação ascétic<>-inística De um lado, está o madeiro fincado na terra,
verificada em seu íntimo, isto é, o lato de se portanto, na história dos homens; do outro
ter verdadeiramente despojado do homem
lado, a outra extremidade do madeiro, di -
velho com suas ações e de se ter revestido do
rigida para o alto, toca idealmente o céu,
homem novo com atos de amor', homem novo
porque sustenta o Crucificado por amor; ele
que se renova sempre, pelo pleno
reúne em si a realidade humana e o infinito
conhecimento, segundo a imagem de seu
Criador (cf.Cl 3,10; 2Cor 5,17). de Deus. A trave transversal da cruz
Nos mais altos vértices da união mística compreende e celebra assim o mistério da
de amor a u. desempenha um papel impor- morte e cia vida. duas faces unidas
tante de vigilância, isto é, de espera com a indissociavelmente, e da<z. e a da mística.
cabeça erguida, espreitando a vinda do Espí -
rito. Essa vigilância é também uma esperan- V. A relação entre a. e psique. A luz do
ça na radiosidade daquela aurora que é vida que licou dito, pode-se delinear a morfologia
divina, também quando a noite da purifica - do asceta: um > homem espiritual que, de
ção envolve a alma e a transforma. E uma um lado, mantém sob controle os elementos
luta contra toda forma de egoísmo, a fim de espirituais e corporais desregulados de sua
que a pessoa possa abandonar-se em total pessoa, e, do outro, por meio do exercício
despojamento á ação divina, atingindo assim ascético, voluntário e equilibrado, tende
a comunhão mística de amor com as Pessoas para o progresso pessoal, isto é, para a
divinas. Em poucas palavras, a vigilância é procura de uma unificação e do absoluto de
celebração do desapego de si e de todas as Deus.
criaturas, celebração da vitória sobre as ten- F.ni poucas palavras, o esforço ascético-
tações, celebração da a . , que se traduz melódico, que tem em mira, por meio da torça
assim em ascensão para Deus. do amor, restabelecer dentro do homem os
Quem está empenhado nas vias do Espíri- laços entre o inundo da carne e do espírito,
to numa profunda \ ida de intimidade di\ entre o homem e os outros homens e en-tre si
ina mesmo e Deus, é sustentado por unia certa
não pode colher o fruto último de seu esforço concepção de homem, 1 - variável segundo as
ascético, porque é graça divina. O Senhor épocas. Por isso, a CL cristã, enquanto
dos dias, como o Esposo do —> Cântico, cos- método, está "a serviço da vida e procurará
tuma esconder de tanto em tanto sua divina conciliar-se com as novas necessidades...".16
presença, em períodos de aparente ausência e Resta o problema de como realizar o equi -
—> aridez desértica do espírito, a fim de que a líbrio entre a vida espiritual em crescimento
esposa, para continuarmos na imagem, se e a psique, que nem sempre se sujeita ao co-
purifique das escórias do egoísmo. A pureza mando do espírito, antes, às vezes reage de
infinita ou santidade do Esposo, justamente forma patológica mais ou menos leve ou gra-
por ser amor, exige esses momentos de puri- ve, Nesses casos de conflito, isto é, quando a
ficação (H.U. von Ballhasar). Mas nesses psique não quer obedecer ao controle da parte
momentos de desconcertante aridez Deus espiritual, a sabedoria da tradição oriental e
revela seu amor. Justamente então ele purifi- ocidental aconselha que se canalize a energia
ca sua amada criatura para conduzi-la, atra- negativa - que se traduz em —> doença, se não
vés da provação interior, â transparência su- for governada - para ações, compromissos e
blime, das trevas à luz. Nesse tempo tão gestos agradáveis, nos quais essa energia é
dilacerante, é oportuno deixar-se guiar pela transformada em positiva, tornando-se,
constância, virtude típica do deserto espiri- portanto, benéfica para o homem espiritual,
tual Só ela é que pode conduzir a criatura empenhado num caminho espiritual sadio e
humana da terra para os cumes altíssimos equilibrado. É nessa luz que é interpretada a
da graça divina, a íim de fazê-la chegar, nos psicologia da a. cristã, entendida não como
últimos tempos, à luz daquele dia sem ocaso. repressão das tendências perniciosas do ho-
mem, mas como esforço metódico, isto é,
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como exercício referente tanto ao desenvol -
vimento das atividades virtuosas quanto á
canalização das tendências desordenadas. 1 '
Segundo J. Marechal, a a. consiste sobretudo
em "se conduzirem positivamente as ativida-
des inferiores para que se ponham em perfei-
apologéticos: Discurso Contra os pagãos, com narrações bíblicas. Ele, não os teólogos e
o qual demonstra a inconsistência do paga - suas escolas, é o porta-voz autorizado da
nismo, e A encarnação do Verbo (337), no qual comunidade: a teologia se integra ao
precisa o porquê da encarnação e seus efei - ministério do bispo. A sua cristologia
tos salvíficos; três Discursos contra os arianos anliariana é plenamente integrada em sua
(339-346): são a obra-prima de A., em defesa meditação pessoal, cm particular, da
da divindade do Verbo; quatro Cartas a Escritura. A. era sobretudo homem de ora -
Serapião de Trnuis sobre a divindade do Espirito ção que conhecia a Escritura de memória.
Santo (362); Tratados sobre os sínodos de Era o homem da Bíblia, e se revelava tal
desde as primeiras manifestações; em sua
Rimini e de Sclciuia (362); Carta encíclica aos
primeira Carta festiva, de 328, ele parece
bispos do Egito e da Líbia (356); b. Históricos
imerso no texto bíblico, decidido a
e apologéticos: Apologia contra os arianos
comunicar aos destinatários sua
(350-355); Carta aos bispos do Egito e da Líbia
contemplação. Entrevê-se nisso uma
(356-357); Apologia em defesa da própria fuga] cristologia quase mística, orienta da para a —
Apologia a Constâncio (362); História dos * oração, para a contemplação da Escritura e
arianos endereçada aos monges (358); c. Pas- paia o exercício das > virtudes. Inclui-se
torais e ascéticos: Cartas festivas, endere- nisso a tipologia, a qual orienta as figuras do
çadas a seus fiéis sobre as solenidades AT para Cristo, realização delas. Nessa carta
pascais; estão conservadas quinze (de 329 a deseja oferecer aos fiéis um ensinamento
348) cm tradução siríaca; dentre os diversos místico todo baseado na contemplação
tratados Sobre a virgindade atribuídos a ele é orante, lendo corno referência uma
autêntico provavelmente aquele que ficou cristologia homílética como lugar no qual
incomplc-to, escrito na língua copta, e, celebrar a —> alegria essencial da té com os
enfim, a obra-prima Vida de Antão (362), mais humildes fiéis, sem nenhum aparato
considerado pai da vida monástica; a obra sofisticado. Por' isso queria educar seu
substancialmente de valor histórico, deseja público para compreensão maior da Bíblia. A
oferecer aos monges um documento de Escritura lida e relida nas assembléias
edificação ascética e espiritual. comunitárias ou aprendida decor pelos
monges, oferecia base magnífica para a luta
IL A mística de A. c guiada por sua expo- literária eficaz contra Ário.
sição teológica a respeito da divindade do A cristologia de A. leni seu centro na en-
Verbo e de sua encarnação. carnação do Verbo. Cristo, Deus também,
/. Os fundamentos crisiológicos. A encarnação participante de nossa condição para salvar-
do Verbo, Em A. a vida espiritual e mística é nos, é o Senhor da história e antecipa em
centrada no mistério de —> Cristo. Deus sua história vivida, com a ressurreição, o fim
confiou o "homem ao Filho", "para que, en - da história humana. Ainda que escrita
carnando-se. renovasse Iodas as coisas'' (So- dentro da tradição alexandrina (Clemente e
bre o dito: "Tudo me foi confiado")] por isso o ürígenes), ela é retamente compreensível, se
agir do Verbo encarnado atinge o homem situada na doutrina da -> Igreja de A.
lodo: "A sua paixão é a nossa Fazendo da Encarnação a chave de abóbada
impassibilidade, a sua morte a nossa de sua cristologia, muda a orientação do
imortalidade, (...) o seu sepulcro a nossa pensamento cristão, tanto mais que
ressurreição" {A encarnação, 5). Foi o considerava a --> revelação divina, ligada à
primeiro bispo e mestre na catequese e autor encarnação do Ijjgos, só à luz de sua
de uma síntese teológica centrada na fé na realização atual no seio da Igreja: ele
encarnação do Verbo, obra que pós a serviço substituí o cosmo de Ürígenes pela
da pastoral. Mesmo concebendo uma experiência atual dos crentes. Entende o pa-
cristologia elaborada por ele, "seus pel do h)gos criador dos seres lógicos feitos á
parâmetros são indubitáveis: a Escri tura sua imagem como antecipação da ação salu-
divina e o ensinamento da Igreja, que na > tar do Verbo encarnado. As recordações da
liturgia e na catequese transmitem lodo um encarnação tendem a atualizai', na
corpo de doutrinas que ele nem por um afirmação crente alexandrina, a verdade das
instante pensaria em rejeitar". 2 Não linha narrações evangélicas. A sua preferência
um projeto de escola como - > Ürígenes e pelo Lagos remonta a ürígenes (e a
Ario ( 7 336), mas fundou a verdade de sua Clemente), e a sua preferência pela
mensagem na experiência crente das divindade é antiariana. O Verbo é divino:
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"Essa manifestação divina, nós a adoramos
com razão, porque 6 divina" (A encarnação,
1,1). O Verbo é o autor imediato, partindo do
nada, da primeira criação (cl. Gn 1-3), e
também dos homens, que "fez á sua Imagem,
dando-lhes o poder do seu próprio Verbo";
tornando-se assim "lógicos", eles podiam
permanecer na bem-aventurança
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AURÉOLAS - AUSÊNCIA DE SONO 13
2
Fatos dessa espécie podem ser facilmente às vigílias prolongadas, as quais, às vezes,
observados entre os animais (vaga-lumes e acompanham um estado de doença.-
peixes dotados de órgãos fluorescentes) e A a. é certamente um fenômeno excepcio-
entre os vegetais (algas e alguns tipos de nal, lambem no caminho da vida cristã, não
fungos). Também reações químicas de corpos só por sei' raro, mas também porque toca as
em decomposição podem produzir fenómenos exigências profundas e necessárias do ho -
desse tipo. A luminosidade que se verifica ãs mem, as quais, se não forem satisfeitas, le-
vezes nas sessões espíritas geralmente é fru - vam à morte. Esse fenômeno não se explica
to de fraudes, mas não se exclui que possa por ascetismos ou patologias, nem por auto -
controles psíquicos; a necessidade de sono
ser causada por —> satanás.
pode ser reduzida a um mínimo, mas não
supressa, se bem que, por si, o que é
II. Na experiência mística. As das Í .\
realmente necessário não é dormir, mas
quais falamos aqui se devem á intervenção
repousar.
divina, como no caso de Moisés (cf. Ex
A a. não pode ser explicada nem supondo-
34,28-35) e no de Jesus no labor (cl. Ml
se estado de > êxtase contínuo, o qual não é
17,2ss). De não poucos santos (Gregório Pala
mas, Francisco de Assis, Ângela de Foligno, sinal de loiça, mas de limite e fraqueza de
Catarina de Sena, Inácio de Loyola, Filipe natureza não perfeitamente purificada nem
Neri, Teresa de Avila) existem testemunhos suficientemente forte para suportar o peso
documentados de esplendores que da irrupção divina. No estado de perfeitos os
emanavam da cabeça, e também cio rosto, êxtases cessam. 1
dos olhos e de todo o corpo, geralmente na Julgamos também que esse fenômeno não
forma de a. ou de raios, de cometa e de cruz. deva ser explicado apelando para contínua e
Uma explicação plausível poderia ser que se miraculosa intervenção de Deus. Referir-se a
tratasse de antecipação da luminosidade do ela significaria justificar, mediante interven -
corpo ressuscitado, graças à — > inabitação ção extraordinária, aquela > comunhão com
do Espírito. Antes de nos pronunciarmos, Deus pela qual o homem foi criado homem.
devemos, contudo, averiguar a natureza ci o Com isso se afirmaria implicitamente que
fato e verificar se a pessoa c psi quicamente Deus determinou para a natureza humana
sã, moralmente honesta e sincera e uma finalidade inadequada. 4
espiritualmente atenta aos valores evan -
gélicos. II. Na experiência mística esse lenôme-no
representa a manifestação de vida que
BIBI ..: Cf. Bento XIV, Deservorum Dei bealifictstione
et beutorum C G f W J Ü s u t u v i e , Holtmha 1737, IV, atingiu a perfeita comunhão com Deus, de
1.26; J. Gagey. Pkdfiomèiies mystiifites, i n DSAM modo a sentir seus efeitos benéficos em todo
XII'1 , 1259-1274; H. Thurston, Fenomeni ftsicidel o ser, também no corpo.
misticismo, Alba 1956. Não se trata, portanto, de alguma coisa
que Deus acrescente à natureza humana,
P. Schiavone nem de suspensão de leis naturais. Trata-se
do amadurecimento de vida que, finalmente
ativa suas disposições e aperfeiçoa suas
capacidades naturais, as quais permitem
que Deus se exprima nela segundo seu
projeto original, o qual, um dia será
realizado plenamente em t< idos os salvos.
AUSÊNCIA DE SONO A criatura que experimenta esse fenômeno
não só já chegou à ■ > santidade entendida
I. O termo. Porei, entendemos o fenómeno como união total c perfeita da -> vontade,
que se prolonga por anos sem que a pessoa mas também está unida a Deus com lodo o
tenha diminuído seu vigor físico, psíquico, ser. É esse o motivo que explica, também
moral, espiritual e nem a atividade exigida psicologicamente, por que tais pessoas se
pelo seu estado de vida. 1 tenham tornado "incapazes de pecar". Na
Não nos referimos, portanto à insónia, lase de relação comunional madura com
devida a estados emotivos particulares, que Deus, o místico se encontra no estado de
deixam a pessoa fatigada e atordoada, nem repouso absoluto, de —> passividade mística
completa, de total —> acolhida a Deus até
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nas fibras mais periféricas. Isso permite
entendera vida eterna como vida do homem.
De falo, Deus não criou um homem para o
tempo, e outro (diferente) para a eternidade.
A unidade formada pelo corpo e pelo espí -
rito na pessoa convence-nos da necessidade
de aperfeiçoar os mecanismos psicofísicos
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HARÜO LUDOVICO - UARIiLLI 14
ARMIDA 0
exercendo uma atividade: fingere. O que 134 (I9,s3'i2, 369-373; A. Pantoni, S.V., in D1P
equivale ao verbo componere, do qual se í, 1044-1047; G. 373; A. Pantoni, 5.v., inD/P
1, 1044-1047: G. Picasso, s.u, in DES I, 270-
encontrará uma expressão derivada 271; I. Tassi, s.v., in BS11, 778-779.
"composição do lugar". Esta palavra é, às
vezes, seguida pelo uso de um dos sentidos ./. Leclercq
corpóreos ou por uma ação: finge nos videre, BARELLI ARMIDA
finge uudire, finge te Mi sen1 ire. Expressão que
é assemelhada ao próprio ato de meditar: I. Dados bibliográficos. Nasceu em Mi-
niedittue et fingere. Isto é maneira de se lão, cm 1° de dezembro de 1882, de família
tornar presente ao mistério contemplado: abastada, de mentalidade liberal, não hostil
Finge te esse praesentein, de nele participar à Igreja mas afastada das práticas religiosas.
como em uma cena, no decorrei* da qual Em 1909, consagrou-se a Deus de forma pri-
entra-se em conversação com o -» Cristo: vada, e no ano seguinte encontrou o padre
Semper finge quod nomiíiet te nomine tuo. Por
Agostinho Gernelli, lato que se constituiu
este motivo, torna-se freqüente o imperativo
co-
do verbo "dizer": dic, ou o seu equivalente,
mo início de ininterrupta c muUilormc cola -
geralmente associado a uma ação ou que
boração. Com ele organizou a consagração
complementa esta, e que comporta muitas
variedades: striuge, tene, rude, arnplecfcre, dos soldados italianos, durante a Primeir a
sequi, proice te, revertere, Guerra Mundial, ao Sagrado Coração de Je -
piora, recedet associa cum... Às vezes o lalar sus. Em 1918, por incumbência do papa
torna-se um grito: clama. É freqüente o Ben-
exercício dos dois sentidos corpóreos, os que to XV, fundou a Juventude Feminina da
criam imagens: o da visão - imagina videre, Ação
vide contcniplure - e o da audição - attdi. To- Católica em todas as dioceses da Itália. Em
das essas fórmulas são equivalentes a outras 1919, tornou realidade uma forma de consa-
que indicam a mesma atividade mental: co- gração, já há tempo idealizada pelo pad re
gita, ante intellectum repraesentari. E o escopo Gernelli, para os leigos: viver uma consagra-
è sempre o de elevar-se, a pari ir do que ção especial a Deus, sem a vida em comum,
existe de belo na criatura - particularmente permanecendo inseridos nas estruturas da
no Verbo cie Deus encarnado em uma criatu - so-
ra humana - ao conhecimento de Deus e de ciedade para animá-las internamente. Do pe-
suas belezas: ut per pulchritudinem creatu- queno núcleo de franciscanas reunidas em
rarum homo specialiter ad Dei cogniiionem Assis, em 1919, haveria de desenvolver-se o
ascenda:, ...vidchritudo deitatis. Instituto Secular das Missionárias da Reale-
Assim, graças a esse procedimento, za de Nosso Senhor Jesus Cristo.
baseado no uso do imaginário, a Em 1921, padre Gernelli fundou a Univer-
contemplação do mistério do próprio Deus sidade do Sagrado Coração e B. foi sua
torna-se, não somente possível, mas fácil, e cofun-dadorae responsável pelas finanças.
alé agradável e acessível a todos, pois todos Ern 1929, com o beneplácito de Pio XI,
- letrados e iletrados - são dotados da inaugurou a Obra da Realeza de Nosso
mesma capacidade de imaginação, de Senhor Jesus Cristo. Vivenciou a
figuração. Com este ensinamento, B. assume necessidade de difundir a espiritualidade
vim lugar na história das relações entre a cristocêntrica e aprofundada catequese
devoção abstrata e a piedade popular. litúrgica. Confiou a direção do Instituo ao
liiuu Obras: 1.. Barbo, Ft'nua c/aiionis t ; padre Gernelli. Na década de 30, organizou a
maiitaüoms, ia H. Wairijiant, Quehpies pt\ Semana da Jovem, para estudantes e
mioteurs de la méditation mè iht clique au XV * trabalhadoras. Tal iniciativa estendeu-se a
tecle. Hn.izhien 1 (í 1 9, 15-28:1. Tassi, Ualovtco
Barbo {1381-1443), Roma 1952 (edição da quase todas as cidades da Itália, tratando de
Fornia orai:.mis nas pp. 143-152 .1. Estudos: problemas vocacionais ou da preparação
.1.1 ivleivq, Ludovico Barba e storia para ávida familiar, para o trabalho, para os
deWitnma^inarío, in Aa.Vv., Ri forma delia deveres profissionais, civis, sociais, políticos,
C/iiesa, ctdtura e espiritualità nel Quattrocento
veneto, Cesena 1984, 385-399, reimpresso in sempre de acordo com a ótica de um
Aa.Vv., Momenti e figure di storia monástica cristianismo atuante. Em 1945, fez a
italiana. Cesena 1993, 529-542, M. Malilei, campanha para que fosse concedido às
s.v, in DSAM I, 1244-1245: C. Meli inato. Di mulheres o direito ao voto, reivindicando
nfonna nionasiica di Ludovico Barbo, in CivCat
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para elas a igualdade dos direitos civis e
políticos. Em 194S, trabalhou intensamente
pela afirmação das loiças de inspiração
crista no campo político. Em 1949, foi
atingida por grave enfermidade que a pri vou
da voz. Morreu em 15 de agosto de 1952.
Somente a divindade de Deus, retamente não seria esta uma boa razão para esquecer
compreendida, engloba sua humanidade e, quanto existe de válido na sua maneira de
posteriormente, revela também a nossa. E fazer teologia. Por exem-pio, conjugando as
esta verdade/descoberta (decisivamente duas analogias de uma forma menos
totalmente diferente: mística?) tornava a opositiva. Também porque, se dentro da
delesa>' crítica barthiana extremamente analogia da lc a analogia do ser não
virulenta, como ele mesmo reconhecia com encontra o seu lugar, a —» revelação que
humildade: às vezes, no debate, comportei- Deus fez de si mesmo não seria mais do que
me de modo "brutalmente desumano" e "perigoso negócio da China" ( como disse
assim "errei, justamente onde linha razão"! Brunner, em urna polêmica com B.).
Ter tudo isso em mente significa pòr-se no
ponto de vista exato para entender B. que, II, Mística barthiana. E assim é chegado o
até ao último momento, apavorava-se com a momento de ressaltar algumas caracterís -
idéia de que "Deus", imperceptivclmente, ticas da "mística" de B., analogicamente en-
ressurgisse nas proximidades da experiência tendida. Lembremos antes de tudo que, ao
religiosa de Schleiermacher ou do pielismo defendera transcendência divina e proclamar
de Zin/endort ou do existencialismo cie —> o "Deus Totalmente Outro", tí. evita tanto o
Kierkcoaard. Por isso B. repete sem se encontrar Deus no puro símbolo da
cansar: o Deus que se revela deve sempre representação - porque a fé não é
permanecer no centro (do homem e da representação conceituai, mas Erlebniss,
história) mas, ao mesmo tempo, permanecer isto é, um contínuo passar do inautêntico
sempre "o totalmente outro" de nossas
(do pecado) para o autêntico (da graça),
categorias. Daí o primado bíblico, ou seja, da
dando ao Dasein zum Tode de Heidegger o
Palavra libertada! Que o homem possa gritar
sentido de decisão por Deus (em Cristo), que
em alta voz que se sente sucumbir sob o
vem do futuro (na té), - como no arroubo
peso de Deus - corno aconteceu com são
Cristóvão - pode, talvez, parecer patético ou espontâneo que, embora emotivamente útil,
interessante, mas teologicamente isso não não se mostra muito adequado ao apelo cio
tem importância. Seria rebaixar a teologia, pacto que Deus (em Cristo) propõe (com
reduzi-la ao papel de monitora da situação certeza realizando suas promessas, mas
humana. muito raramente os nossos
A teologia, de acordo com B., precisa ser desejos). Falando de outra forma, para B.
preservada de uma influência cio demasiado tanto o racionalismo como o irracionalisuio
"Kierkegaardejar". carecem daquela acuidade crítica que os per-
Santo Anselmo lhe mostrara o justo meio. mita colocarem-se no plano da distinção en-
Para o escritor medieval a teologia não é tre forma e conteúdo, linguagem e realidade.
"ciência contemplativa, sem finalidade algu - res et sacramentam, isto é, naquela
ma fora da Igreja". E B. afirma que, para se perspectiva que, somente ela, faz justiça à
tornarem plenamente conscientes disto, os humanidade do homem e à divindade de
verdadeiros teóiogos tiveram também de re- Deus. Sem essa acuidade, tanto a religião
zar. E fizeram-no tanto mais conscientemen- quanto a ética descambam para uma
te quanto mais se deram conta da fragilidade categoria que pode ser caracterizada como de
de seu trabalho, porque, "como teólogos de - gostos e projeções psicológicas. Neste
vemos falar de Deus. Mas nós somos homens sentido, a atitude racionalista, como também
e como tais não podemos falar de Deus". a de falsa mística, provocam os mesmos
Justamente nesta contradição c que devemos danos: o naufrágio do espírito crítico e
procurar n gloria Dei, e também o lugar profético em suaves e consoladoras
onde possa viver o homem que nela satisfações dos instintos reli-
encontrou graça. O caminho de saída não é giosos/existenciais, que fornecem às
fácil, porque a reflexão do crente não se variadas e mais ou menos violências
move exclusivamente de baixo para cima, incônscias os álibis hipócritas da
como também não sobe apenas da evidência benignidade. B, nos oferece, nesse sentido,
natural em direção aos mistérios celestes. um esclarecimento ulterior ao analisar o
Nas origens de qualquer teologia está a "tempo seqüestrado" por Deus. Além do
descida de Deus, que se revelou a si mesmo tempo da criação, desconhecido do homem
aos homens. Partindo deste ponto, B., com pecador - que vive no tempo inautêntico do •
toda a certeza, talvez tenha ido um pouco •> pecado, - existe também o tempo autêntico
além, ao condenar a teologia natural. Mas que Deus reserva para nós, es-tendendo-o da
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BATISMO Páscoa; fundamenta-se na celebração e
expande-se no testemunho da caridade. O
mícias dos que ressuscitaram dos mortos, já valor que importa no mistério cristão é viver
que nele todos os homens morreram e res- a vida que se revelou em 148
suscitaram. Exaustiva contemplação do
acontecimento da cruz permite-nos Cristo, morto e ressuscitado. Esta experiên -
compreender em profundidade o significado cia não é lato estático, mas essencialmente
do/?. — > Paulo recorda-nos esta verdade de dinâmico, pois o dom batismal significa rea-
maneira bastante clica/.: "Pois nele habita lizai', de maneira diuturna, sob a incessante
corporalmente toda a plenitude da divindade ação do Espírito Santo, a transição do
e nele fostes levados á plenitude. Lie é a homem da morte para a vida, e isto se
Cabeça de lodo Principado e de toda realiza na atualização contínua da
Autoridade... Pois morrestes e a vossa vida conversão. A vocação batismal é, de lato,
está escond ida com Cristo cm Deus" (Cl 2.9; acolhimento do dom da conversão, a exem plo
3,3). do modo de vida de Jesus: profunda atenção
Contudo a revelação não pára nesta para com o Pai. seguida pelo abandono das
compreensão do acontecimento batismal. A exigências do homem mergulhado no pecado,
contemplação do Cristo faz-nos mergulhar através da perfeita docilidade à ação do
no mistério do Verbo feito carne, no qual Espírito Santo. A conversão torna-se, em
está a vida. O batizado, de fato, com o gesto Cristo Jesus e no Espírito, ascensão
sacramental afirma que Jesus é o Senhor, e constante ao Calvário, para se tornar,
por isso participa da vida eterna. posteriormente, a assunção à direita do Pai,
Parafraseando as expressões do evangelista reproduzindo o Mestre.
—»João (20,31), assim poderia ser definido o Este itinerário realiza-se na Igreja, com a
mistério batismal: "Este ritual é executado igreja e pela Igreja, pois todo batizado repre -
para que creiais que Jesus é o Cristo, o senta um dom do Espírito ã comunidade
Filho de Deus e cren do tenhais a vida em cristã para que ela reencontre seu frescor e
seu nome". O cristão, por isso, gerado por sua juventude evangélica. Este componente
Deus é chamado para tornar-se filho de ecle-sial constitui elemento particularmente
Deus na aceitação cotidiana do Mestre, para importante para a compreensão do b.
poder atingir a maturidade da fé (cf. Uo 3,1- Um aspecto essencial do dom do batismo
2). é a superação da divisão existente no
homem, por causa do pecado, para crescer'
III. A vida batismal. O />. é acontecimen- na verdadeira comunhão desejada por Jesus:
to que torna o cristão memoria de Jesus, "Eu neles e tu em mim, para que sejam
pois. a partir do momento do encontro perfeitos na unidade e para que o mundo
sacramental ele se torna contemporâneo de reconheça que me enviaste" (Jo 17,23).
Jesus e o próprio Jesus torna-se Semelhante estilo de vida revela-se possí-
contemporâneo dele. A experiência batismal vel no discípulo que, ao acolher a mensa gem
representa contínuo, diuturno e inexaurível pascal da salvação, está consciente de que é
processo de atração que marca o cristão em dom do Pai ao Filho para que este, alraindo-
lodo o seu ser e na globalidade da sua o para si, devolva-o ao Pai, depois de tê-lo
inserção na história hu-rna na. renovado na hora da Páscoa (cf. Jo 17,6), A
O rito batismal assume siunificado mais experiência espiritual do batizado se repro -
profundo do que aquilo que se poderia en - duz em sua consciência profunda de estar
tender. Exprime a unidade de dois compor - nas mãos do Pai para ser moldado pela
tamentos: a obediência pascal de Jesus e a morte-ressurreição do Senhor, através da
ânsia de obedecer dos que ardentemente de - plena docilidade á ação do Espírito Santo.
sejam o encontro sacramental. No b. a Agora ele é filho no Filho e goza da
oblação de Cristo torna-se a obediência do intimidade do Pai. Faz parte deste
discípulo e a oblação do discípulo a expan- acontecimento o inefável processo de
são da obediência de Jesus. Este é o verda - divinização pelo qual o batizado torna-se
deiro sentido da experiência espiritual que participante da natureza divina (cf, 2Pd 1,4),
flui da celebração do Agora o discípulo vive goza de relacionamento vivo com a
somente do que está relacionado com o —> Santíssima Trindade e cresce no contexto da
mistério pascal de Cristo. Toda a sua imortalidade divina, de tal modo que pode
existência é cristã, à medida que vive e perceber a luz interior que o transfor ma, de
assume o mistério crislão que lhe é maneira contínua, e o guia para a ascensão
comunicado pela atualidade perene da da transfiguração plena.
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IV. O desenvolvimento da vida batismal.
A aquisição do conhecimento destes dados
essenciais permite superar leituras
meramente extrínsecas ou parciais do
acontecimento batismal e nos ajuda a
reencontrar as moda-
pela salvação dos outros, especialmente dos em diversas tonalidades, o seu pensamen to
pagãos. A sua teologia espiritual apresenta a sobre a contemplação e a mística. Destaca
maturidade cristã como a perfeição do —> na > Igreja na terra pausas de contempla -
amor, culminando na solicitude pastoral e ção, nas quais escuta a voz do Esposo (Cl
na evangelização missionária. 2,8). que a deleita muito. Dc fato. embora no
momento ainda não seja lícito contemplar o
III. Doutrina ascético-espiritual. Falando seu rosto, todavia é possível degustar a
do cristão investido da dignidade do sa - doçura de suas palavras na Escritura. Para
cerdócio comum dos lieis, a —> purificação alguns, por um dom maior (attiore dono) é
do -> pecado aparece a B. como um pré-re- concedido, elevado o olhar da mente pura
quisito para que o cristão possa oferecer para as coisas celestes (ut subleva to nd
ações santas (cf.: I n Ez/con li: CCL 119, 336: caelcstia purae mentis intuiiu), pregustar
ibid.. III: CCL 119, 388; Km 12,1 e SI 50,19). alguma suavidade da vida futura já agora
A —> penitência dos —> pecados cometidos (cf.: I n Carit. Cantic, I: CCL 119, 218). Para
consiste em oferecer sacrifícios agradáveis a B. a vida contemplativa é bela e é também
Deus ( I n Ezram I : CCL 119. 264). Desta
útil para toda a Igreja. Mas é dom reservado
primeira fase de puril icação deve-se passar
aos cristãos mais perfeitos gozar da visão
para a da aquisição das virtudes, mediante a
interior de Cristo, que apare ce a seus
ascese (mortificações e orações) para
espíritos com a velocidade do cervo ou que
coadjuvar a graça do Espírito (cf.: De tab. III:
CCL 119, 126), mas em particular, para a — se deixa entrever per speculum et in aenigmate,
> imitação e o —> seguimento de Cristo corno que através de grade (cf. ibid., I: CCL
morto e ressuscitado (cf. Expl Apac. I: PL 218,220). E situação que deixa a Igreja
93,145-6). Iodo Hei, portanto, é constrangido trepidante, a qual, também não se negando à
a amaro próximo, à semelhança do Filho de labuta da evangelização, contudo pede que
Deus encarnado, que preferiu a misericórdia Cristo se torne presente mais vezes, ao
ao sacrifício. B. salienta o valor novo que menos para os fiéis mais perfeitos (cf. ibid.,
assumem as expressões da —> caridade para II: CCL 119, 228-9). A ação divina é deter-
com o próximo, à medida que Cristo as minante para isto "porque o esforço huma no
assume como dirigidas a si mesmo (cf.: Horn. não produz a contemplação, mas dispòe para
II, 4; CCL 122, 210). Outra expressão do ela" (F. Vernet) O binômio típico de
sacrifício espiritual é a —> oração intensa, Beda,contemplação-açáo, é aprofundado no
compreendida, ã maneira dos Padres, como comentário ao Cântico das cânticos, como
toda ação realizada por amor de Deus: a vid a na passagem onde se recorda que "a santa
inteira é liturgia ininterrupta (cf.: I n Lc. V: Igreja reconhece neste terreno presente duas
CCL 120, 322). A oração estão relacionados a vidas espirituais, uma ativa, outra
intercessão a Cristo, imitado em sua contemplativa" e a Escritura fala ora da
mediação junto ao —> Pai, e o perdão Ira contemplativa (cf. Ct 2,8), ora da ativa (cf.
terno dos pecados leves. K de se notar, além ibid., 2,15), ora de ambas (cf. ibid., 2,16). O
disso, que B. é testemunha na Igreja anglo- Senhor se compraz tanto da ação externa
saxõnica da —> eucaristia e apóstolo da puta, corno da doce contemplação mais
comunhão quotidiana ou freqüente, sobre interior (dulci interius aeternorum
que fala na Caria a Egberto. conteniplatione), ale que chegue o dia da
Observemos ainda que/4. I az sua a verdadeira luz [diesverae lucis), quando então
divisão tradicional dos cristãos em não nos aladigaremos no cumprimento de
"principiantes", alguma boa ação, e nem os mais perfeitos
proficientes" e "perfeitos", visto que estas contemplarão apenas de relance e per
duas últimas categorias diferenciam-se pelo speculum et in enigtnate as coisas celestes,
critério do grau de amor, entendido em sen - mas toda a Igreja, ao mesmo tempo, verá o
tido integral e que B. denomina de —> com- Rei do céu em pessoa em seu esplendor. Não
punção (cl: De tab. III: CCL 119, 131-2). Exis- obstante isto, a Igreja, em interpelação a
tem outras categorias mais perfeitas de Cristo, implora dele que "a doçura da vida
cristãos, isto é, os "virgens", os "mártires" e imortal, que prometes como recompensa a
os "ministros da Palavra". todos os meus membros, concedas a alguns
contemplar ainda no caminho, pelo menos
IV- Doutrina mística. No comentário ao > de longe" ( I n Cant. Cantic, II: CCL 119, 229-
Cântico dos cânticos B. continua a exprimir,
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30). Observemos que tudo o que foi dito por
B. a respeito da ação-contemplação, deve ser
entendido como válido tanto para a Igreja
corno para a alma. Por sua parte, B. não dei-
xa dc fazer ver sua própria —> experiência
espirilual-místiea. Mas Cristo nem sempre
antecipa no presente a visão que promete
aos que chegam à pátria. Como se vê, a
perfeição
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BELARMINO ROBERTO 15
(santo) 6
Sua obra principal é constituída pelas outro grau de perfeição. A este respeito B.
Dis-putationes de controversiis chrisíianae fidei distingue quatro níveis: o primeiro é exclusi -
adversas huius temporis haereticos, comu- vo das Pessoas Divinas: Diligere Deum quan-
mente conhecida como Controvérsias {em 3 tum est diligibilis, idest infinito amare/ O se-
volumes, 1583-1593), obra na qual B. apre- gundo é próprio dos beatos: Diligere Deum
senta urna sununa das questões doutrinais quantton potest ercatura diligere, ita ut semper
surgidas entre católicos c protestantes, acta de Deo cogitet et sitie interrnissione in eiun
escrevendo o texto ilos cursos lecionados no per affectum feraiur, et ne primus quidem tnotus
Colégio Romano de 1576 a 1588. A cupiditatis sentiat contra Deum. O terceiro grau
influência exercida por estes escritos, na é próprio dos homens que se consagram a
cultura protestante ou não, foi notável, tanto Deus: Diligere Deum quantum potest creatura
que em 1600 foi fundado em Heidelberg o mortalis, quae a sc removit omnia divini amoris
Collegium Anti-bcllarminianum, e por meio impedimenta et totant se Dei obsequio
século a obra de B. esteve no centro da consecravit. Hntre estes B. distingue os
atenção dos teólogos não-católicos. bispos, já detentores de certa perfeição -
Contrariamente à obra dogmático-apo- comprometidos com a perseverança nela e
logética, compacta e solidamente organiza da, com o esforço para fazê-la crescer -, dos reli-
nas Controvérsias, a obra ascética de B. está giosos, que ainda tendem ã sua consecução.
espalhada por muitas tratados e opús culos, Enfim, o quarto grau diz respeito a todos os
que remontam aos anos da maturida de, que põem o amor de Deus em primeiro lugar
surgidos da reflexão bíblica, dos estudos e se esforçam para vivê-lo concretamente:
patrísticos e, finalmente, da experiência de Diligere Deum, ita ut nihil aeque, aut magis
toda uma vida dedicada ao sen iço da Igreja. quam Deum diligat, id est nihil admittat
Pertencem a este grupo, entre outras: De conirarium divinac dilectioni. A pertença aos
ascensione mentis in Dewn per scalas rerum dois primeiros níveis é tanto mais definitiva
creaturum (Roma, 1615); De aetenui felicitate quanto sujeita ao crescimento dos dois
sanctorum (Roma, 1616); De septem verbis a níveis inferiores, pois o homem, enquan to
Christo in Cruce prolatts (Antuérpia, 1618); De vive na terra, oscila entre a tensão para
cognitione Dei (póstuma, Lovaina, 1861). Deus e o distanciamento dele, no que se
parece com o movimento das marés.
II, Doutrina espiritual. O pensamento de Concluindo, B. é exemplo daquela que
B. mergulha suas raízes na espiritualidade pode ser definida como a mística do —>
inaciana, seja pelo seu conteúdo, seja por serviço de Deus. Sua atitude contemplativa
sua tornia, uma vez que ele toma como constante, sustentada por profundo
modelo a linguagem sóbria e concreta dos sentimento da —» filiação divina oferecc-lhe
Exercícios de santo Inácio. Objetivos primários aquela —> paz interior e - > liberdade
de seu ensinamento espiritual são o amor de espiritual, próprias dos místicos, até em
Deus e do próximo, concretamente meio às preocupações mais absorventes.
manifestados no serviço de ambos, c a - )
NOTA : As citações
1 são tornadas de O.
virtude, alcançada mediante o autocontrole e
Marchetti, in
o esforço individual, para progredir no perfeikme Cristiana secando ü s. cardinalc Bellar-
caminho do céu. mino, in (irei; I 1 (1930), 317-335.
A —> perfeição cristã consiste - para B.f
corno também para Inácio - na —> caridade Obras: A primeira edição da Opera
Biiii..:
omnia de Belarmino foi a de Colônia (1617-
compreendida no sentido mais amplo do ter -
1620), seguida da de Paris (16 19», Veneza
mo, porque somente ela permite ao homem (1721-1728), Nápoles (1856-1862) c ainda
chegai até Deus. A caridade é. pois, a perfei - Paris (1870-1874). Para nossa cônsul ia servi
ção do homem. Quanto mais este é rico de > mo-nos da em & volumes, org. por C
graça, tanto mais fortemente recebe e re - Giuliano, Nápoles (1856-1862). A bibliografia
tribui o amor divino, progredindo no cami - belar miniana é muito ampla; limitanio -nos a
nho da perfeição, com sentimento que se citar dois repertório bibliográJicos que
tomeeem orientação ampla e concreta na
torna cada vez mais proiundo e intenso, e matéria: A. Maneia, Bibliografia sistemática e
que se manifesta na vida da Igreja, e em com meu tata degli \iudi sulVopera bellanniniana
toda forma de serviço à humanidade. dal J900 al 1990, in Aa.Vv., Roberto Bcilartnina
De acordo com a maior ou menor intensi - arcivt scovo di Capua. teólogo c pastore deliu
dade do alo de caridade, a pessoa sobe paia Riforma caiíoUca, Cápua 1990, 805-872; L.
Poliiar, Bibliographie sur 1'histoire de la
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Conwagnie de J e s u s . J 9 0 I- I9 S 0 , 111. D>s
Personnes, Dictionnahr A/F. Insútutum
Misloricum Societaiis Jesus. Roma 1990,
234 259. Estudos: G. Galeota, s.v., in DSAM
XIII, 713-720; I. Iparraguirre, s.v., in IliS XI,
247-
2 5 9 ; Id .,i .v., mD E S l , 336-337; E. Riatz vou
Frcnlz. Dieaszeitsrhen Sefirrften des R.
Bdlarmino, in Z11/ 7(1926). 113-150.
A7. G. Eornaci
pois o que lhe foi dito da parte do Senhor aquele que escuta o Cristo (Ap 1,3; 22,7) e se
será cumprido" (cf. Lc 1,45), exclama Isabel conserva vigilante (cf. Ap 16,15), porque é
diante de -* Maria. Nela Deus está particu- convidado para as núpcias do Cordeiro (cf.
larmente presente em seu Filho feito carne e Ap 19,9) pela ressurreição (cf. Ap 20,6). Ainda
nisto ela acreditou, por isso é feliz. "Porque que tenha de entregar a vida como
viste, creste - diz o ressuscitado a Tomé - testemunho, não pode esmorecer: "Felizes os
Felizes os que não viram e creram" (Jo mortos, os que desde agora morrem no
20,29). Sem a fé torna-se impossível Senhor'" (Ap 14,13).
qualquer discurso sobre a b. O fundamento b. Bem-aventuranças. Com as b. Jesus des-
de toda b. é aceitar Deus e a sua palavra ceu ao centro desta nossa humanidade para
salvífica, por isso, àquela mulher que dar sentido a tudo o que atormenta o homem
chamou bem-aventurada a Mãe de Jesus, e o enche de medo. Para que suas palavras não
este respondeu; "Felizes, antes, os que fossem vãs, ele mesmo assumiu a condição de
ouvem a palavra de Deus e a observam" (Lc —> pobreza, fome, dor, perseguição: é o
11,28). O mesmo que fez Maria na itinerário do aniquilamento e do total "es-
anunciação. A b. c experiência viva e a vaziamento" descrito por -> Paulo (cf. Fl
descoberta da presença ativa, amorosa e 2,4ss). As b. t situadas no início do discurso
salvífica de Deus em Cristo Jesus: "Mas feli - inaugural de Jesus, oferecem, de acordo com
zes os vossos olhos porque vêem, e os vossos Mt 5,3-12, o programa da felicidade cristã.
ouvidos, porque ouvem!" (Mt 13,16). É a 6 . Na recensão de Lucas elas são conjugadas
de Pedro (cf. Mt 16,16-17), é somente a gra- com situações de sofrimento, exaltando, de
ça que beatifica. Mas, ainda mais felizes são tal modo, o valor superior de certas condi -
os que crêem sem terem visto (cf. Jo 20,29), ções devida (cf. Lc 6,2(>-2 P). As oito (ou nove)
os que se confiam a Deus mesmo quando na b. de Mateus são catequese de vida nova no ->
-» aridez da vida e no escuro da fé. A b. é Espírito, que ele descreverá nos capítulos 5-7
alguém sentir a vizinhança de Deus, ajudado (sermão da montanha), página que evidencia,
por ele e amparado nas situações limite da seja as atitudes, seja as disposições
vida humana: é sentir-se, corno ele, útil á interiores requeridas pelo evangelho do Rei-
salvação do mundo. Exige esforço pessoal de no. Lucas, pelo contrário, fala de apenas qua-
—> conversão radical e de mudança de men- lio h. em seu "sermão tia planície" (6,20-47),
talidade para que a b. seja entendida e anunciando a felicidade para os que vivem
aceita. Exige pleno acolhimento da vontade em situações particularmente dolorosas. Je-
de Deus, porque a b. é particularmente sus veie» da parte de Deus para pronunciar
exigente no plano pessoal. Jesus declara solene sim às promessas do AT. As h. consti-
felizes os espectadores das maravilhas tuem o sim pronunciado por Deus em Jesus,
divinas operadas no tempo messiânico (cf. o qual se apresenta como o que leva à plena
Mt 11,2-6; 13,16ss), mas sobretudo os realização a aspiração à lelicidade, o Reino
servos fiéis que, quando o Senhor retornar, dos céus está presente nele. Mais ainda, Je-
serão encontrados vigilantes e empenhados sus quis encarnar as 6. vivendo-as perfeita-
no cumprimento de sua vontade (cf. Lc mente, mostrando-se "manso e humilde de
I2,37ss). Estes, de fato, escutam c vivem a coração" (Ml. 1 l ,29). Com Jesus, os bem-aven-
Palavra, por isso são felizes (cf. Lc 11,28). turados deste mundo não são mais os ricos,
Tal felicidade é atingida e experimentada os bem nutridos, os bajulados, mas os que
pelos discípulos de Cristo que se encontram têm fome e que choram, os pobres e os per-
em estado de pobreza e de aflição (cf. Lc seguidos. Esta subversão de valores é possível
6,20ss) c empenham-se seriamente no pela ação daquele que é a síntese de todos os
caminho da paz, da misericórdia e do amor, valores. As b. pretendem ser o retrato do homem
porque se põem em sintonia com as ideal, para o qual devemos tender, que ainda
exigências fundamentais do reino não foi realizado, mas que nós esperamos
messiânico. As pessoas bem-aventuradas e poder realizar cm sua plenitude; elas são a
felizes, segundo o ensinamento do profeta de carteira de identidade do cidadão do Reino de
Nazaré, são as que vivem as exigências do Deus, assim como o sonha Cristo e como
reino, sinteti zadas na pobreza evangélica e quer que nós o encarnemos, p< >r que o
no amor fraterno. A b., de fato, é a —» visão Reino
de Deus na plenitude da —> caridade. de Deus já está em nosso meio!
Somente quem pôs Jesus no centro de sua fé O espírito das b. pode ser sintetizado em
pode ser verdadeiramente feliz. É esta a frase que Mateus põe no fim do sermão da
promessa do último livro da Bíblia: feliz montanha: "Portanto, deveis ser perfeitos,
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como o vosso -> Pai celeste é perfeito" (Mt advento definitivo do Reino de Deus os po-
5,48). A —> perfeição é coisa que não possuí- bres gozarão verdadeira e plenamente dos
mos, é meta a ser atingida, montanha a ser efeitos da solicitude de Deus, que encherá de
escalada, mas, ao mesmo tempo, é algo de bens os famintos e despedirá os ricos com as
dinâmico, que vai se realizando. Este é o nú- mãos vazias (cl. Lc 1,52-53)- Eis porque o
cleo fundamental das b. Elas são o espelho anúncio da iminência do Reino de Deus só
de atitude evangélica radical, não a descri - pode encher de alegria os pobres: Deus mesmo
ção de comportamento de algumas horas ou está prestes a assumir a tutela deles, tor-
de alguns momentos. São o apelo para a per- nando-os o objeto de sua solicitude real.
manência de estrutura fundamental, e que Aquele que possui espírito de pobre, vive sua
deve tudo abarcar. Com as b. e todo o sermão da total adesão a Cristo com estilo de vida
montanha, Jesus nos convida ao "amor humilde: "Se alguém quiser ser o primeiro,
total", orienta-nos para o "espírito", isto é, a que seja o último e aquele que serve a lodos"
raiz do ser. São elas o eco da -> lei do amor ao (Mc 9.35). Ter espírito de pobre significa ter
próximo e ao inimigo, enquanto irmão em a coragem de desdobrar-se com humildade no
Cristo. Dando "carne" às b., a vida cristã —> serviço, a exemplo de Cristo que não veio
torna-se arrojo evangélico inédito, misteriosa para ser sen ido, mas para servir e que "Por
corrente de radicalidade profética em con- causa de vós se fez pobre /embora/ fosse rico,
tínuo diálogo com a transformação dos tem para vos enriquecer com a sua pobreza" (2Cor
pos e o surgi mento de novos desafios. A vida 8,9). Significa, também, tornar-se sacramento
cristã deve reinventar a contestação evangé - da solicitude L i e Deus, sinal eloqüente de
lica e viver a fé com fidelidade dinâmica e esperança para os que vivem na opressão.
criativa, deve sabei" nanar a lidei idade e as b. Felicidade dos aflitos. De acordo com o
maravilhas do Deus-conosco, sabendo reve- texto de Is 61,1-3, o enviado do Senhor vem
lar Deus" e "dizer a fé" em termos inovadores e também para "curar os quebrantados de co-
significativos, íazendo-se arauto de nova ração... a fim de consolar todos os enlutados
cultura da esperança. As/;, são a transparên- de Sião...". Jesus proclama felizes oi pen-
cia de Deus na vida do místico, que se mani- thountes: aqueles que se afligem. Panthein, de
lesta por sinais imediatamente perceptíveis, fato. significa "afligir-se, condoer-se". Este
como a maturidade humana, > solidarieda de verbo, muitas vezes, está relacionado com
efetiva, compaixão e ternura, fraternidade e klatein (chorar) porque a aflição interna cos-
paz, fé que sabe arriscar. O místico, que vive tuma manifestar-se externamente nas lágri-
em plenitude cada tinia tias /;., manifesta a mas. Em Lc 6,21, pode-se ler: "Bem-aventura-
felicidade possível no aqui e agora, possuída dos vós, que agora chorais, porque haveis de
por quem já vive no coração de Deus e o com- rir" e cm Lc 6,25: "Ai de vós, que agora rides,
promisso construtivo a favor de nova huma- porque conhecereis o luto e as lágrimas!".
nidade. No AT a aflição é causada pela participação
nas desgraças dos outros (cf. Gn 23,2; 50,3).
III. O espírito das b. a. Felicidade dos pobres. No SI 35,13ss, é descrita a solidariedade com a
No texto grego de Mateus 5,3 usa-se o termo enfermidade do outro, solidarieda de expressa
ptochõs: mendigo, miserável, incapaz de pela dor comparada ao luto que se carrega
proveras próprias necessidade, para indicar pela morte da própria mãe. A experiência da
quem espera dos outros os meios de sub- impotência humana diante da necessidade e
sistência e não possuí o necessário. Em he - o desejo de ajudar o próximo sofredor
braico temos dois termos quase semelha nles: conduzem à —> oração, ao pedido de ajuda a
'ütü e Vmmv. O primeiro indica quem cede, Deus, pedido reforçado pela —> penitência e
dobra-se, o homem que se rebaixa, curva-se, pelo —> jejum. No rol das obras de
submete-se: é o oprimido. O segundo, quase misericórdia em Hclo 7,31-36, encontramos
sempre usado no plural, indica pessoas mo- igualmente a participação na dor alheia: "Nâo
destas, humildes, dominadas, mansas, cuj a fujas dos que choram, aproxima-te dos afli-
humilde submissão transforma-se esponta- tos" (cf. Rm 12,15). Também o pecado do pró-
neamente em uma atitude de confiante ape - ximo é motivo de aflição (cf. Esd 10,6; Ne 9,1).
go em Deus. Para o hebraico, portanto, o "po- Pois bem, todos os que sabem afligir-se, par-
bre" é o homem sem de lesa. A primeira b. ticipando da dor do próximo, serão consola-
relembra o oráculo de Is 61,1-3. retomado dos por Deus. Pai de toda consolação. São
também por Lucas na pregação inaugural de Paulo usa freqüentemente o verbo consolare. O
Jesus na sinagoga de Nazaré e apresentado texto mais explícito está em 2Cor 1,1-7:
como resposta aos discípulos do Batista: "os "Deus... e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
pobres são evangelizados" (Mt 11,5). Com o o Pai das misericóridas e Deus de toda conso-
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lação! Ele nos consola cm todas as nossas
tribulações, para que possamos consolar os
que
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HKN'10 UL AMAM: isunioj - BENTO Dli CAM-IliU)
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BERINZAGA ISABEL CRISTINA - BERNARDINO DE SI.NA ísanio) 16
8
tou os jesuítas, que a acolheram, mas bem —> vontade passiva de querer o que ele quer;
depressa se mostraram preocupados por substituição da vontade passiva pela vontade
causa de algumas de suas atitudes inspiradas de Deus, para alcançara > identilicaçáo com
e por causa de programas de vida espiri tual ele e a disponibilidade absoluta de ser como
que pareciam se pôr fora do ordinário. O ele quer.
encontro com o > padre Gagliardi, encar- Um ponto saliente na doutrina de B. é a
regado de dirigi-la, despertou em B. novo insistência sobre aquela forma de liberdade da
ímpeto na vida espiritual, ainda mais que o pessoa escolhida por Deus. Deus não a
jesuíta era confessor interessado nos —> invade nem a identifica consigo, anulando a -
fenômenos místicos. Ele pregou para ela os ™> liberdade da criatura, mas dando-lhe
exercícios espirituais e foi obrigada a anotar comportamento que evoca a própria liberdade
suas próprias experiências interiores. Padre divina.
Gagliardi foi testemunha também de alguns Outro tema vivido de forma característica
de seus —> êxtases. Mas, dentro da Ordem, o por B, foi o da sua consagração às três Pes-
padre suscitou perplexidade por sua atitude soas da Santíssima Trindade, às quais se re-
de reformador, pelo que foi chamado a Roma. ferem os três votos: a —> pobreza de espírito diz
B. seguiu-o, mas tanto suas idéias como as do respeito ao —» Pai, a —> castidade física e
padre Gagliardi luram julgadas perigosas. espiritual é relativa ao ■ > Filho e a > obe-
Havia o risco de ambos acabarem no tribunal diência é relativa ao —> Espírito Santo.
do Santo Ofício. O caminho espiritual proposto porB. pode, de
B. (oi abandonada pela ordem dos jesuí- acordo com ela, ser percorrido por todos,
tas, à qual, porém, continuou ligada por uma xiique a experiência de união com Deus é >em
forma particular de obediência e de vida, e real c comum, ao qual todos "chegam
transleriu-se para Milão, onde tornou-se co- infalivelmente", contanto que o busquem. Ê
nhecida e admirada pelo cardeal Borromeu (f caminho ordinário, que B, expôs de forma
1 584). Foi-lhe confiada a direção dos hos- discursiva, com linguagem essencial, acessí -
pitais c a ajuda aos mosteiros necessitados. vel a Iodos.
A peste de 1576 encoulrou-a empenhada em
profícua ação caritativa. Morreu cm 1624. NOTA: 1 P. Vanzan, Per via di annichilazione. Una
Das anotações às margens dos exercícios mística e la sua guida spirituale nella Milano dei
espirituais nasceu o Breve compêndio acerca da Cinquecento, in CivCat 145 (1995)1, 149-156.
perfeição cristã, publicado anonimamente em
BiBL.: Obras: M. Bcndiscioli (org.), Breve
Brescia, em 161 1, e em Vicéncia, em 1612. compendio di perfeúone Cristiana e "Vita di
Antes de ser publicado na Itália, o livro fora Isabella Berinzaga", Florença 1952; M. Gioia,
publicado na França com o título Abrcgc de Per via di annichilazione. Un testo di Isabella
la perfection chrétiènne (Paris, 1596). O futuro Cristina Berinzaga redatto da Achille (JaJianiiSJ.,
cardeal de —> Bérulle, na época muito jovem, Roma-Brescia 1994. Estudos: M. Marcocchi.
Perlastoria delia spiritualitâ in Itália ira ti
mas já interessado pelo estudo da mís tica, Cinquecento e d Sricenio. i n ScuCat 106 (197tS),
revisou-o e o republicou com o título Brcf 4 1 9 -422; 433-439; G. Pozzi - C. Leonardi (orgs.)
discours de Vabnégation intèrieure (1597). Isabella Cristina Berinzaga, in Scrittrici mistiche
A obra anônima loi apreciada também italiane, Gênova 1988. 392-398; P. Vanzan, Per
pc>r -■■> são Francisco de Sales e por — > via di annichilazione. Una mística e la sua guida
spinuale nella Milano dei Cinquecento, \n CivCat
Surin, e foi traduzida em muitas línguas. 1
145 (1995)1, 149-156.
Qualificado como pertencente ao —>
quietismo, o livro foi posto no índice por dois Aí. Tiraboschi
séculos (1703-1899) e somente há pouco
tempo despertou novamente interesse.
II. O caminho espiritual de />. contém, com jamento realizado por Deus no que já sabe
certeza, traços inacianos, mas possui uma que não vale nada: Deus deixa à alma a sua
originalidade que lhe é própria. Sua
orientação de fundo é "o caminho do —* ani-
quilamento" que compreende três etapas su- BERNARDINO DE SENA (santo)
cessivas: o próprio aniquilamento, conquis-
tado mediante o conhecimento de si mesmo I. Vida e obras. B. nasceu em Massa Ma-
e o conseqüente auto-desprezo; o —> despo- rítima, em 8 de outubro dc 1380, da família
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dos Albizeschi, natura! cie Sena. Ainda
criança ficou órfão de pai e mãe, e foi
mandado para Sena, onde fez seus estudos de
Gramática, Filosofia c Direito, dedicando-se
também
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B K KN A KD O DE CLARAVAL (sanlo)
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BÍBLIA relacionamento inextinguível de confiança
(cf. Is 49,15; Sl 131). Assim, "meu pai e
Os lugares onde se pode encontrar' esta minha mãe me abandonaram, mas Javé me
teofania são três. Antes de tudo a história da acolhe" (Sl 176
salvação, como é atestado pelo Credo de
Israel (cf. Dt 26,6-9; Js 24,1-13; SI 1 36) e 27,10) e a parábola do filho pródigo de l.c 15
pela-> Encarnação cristã que, na "carne" de * são testemunho luminoso disto. O amor di -
Cristo vê a presença suprema e o santuário vino tem também todas as características de
perfeito de Deus (cf. Jo 1,14; 2,19-22; 1 Cor afeto nupcial, como é repetidamente celebra-
6,19). Em seguida existe o espaço que revela a do pela teologia dos profetas, a partir de
presença divinas seja no templo cósmico (cf. Oséias lei. 1 3), perpassando muitas outras
SI 19; 104), seja no templo de Sião (cf. lRs 8), páginas (cf. Is 54; 62,1-5; Jr 2,2; Ez 16) até
onde se pode celebrai' o encontro místico alcançar seu ápice na interpretação tradicio -
entre Deus e o homem. E, finalmente, existe nal do Cântico dos cânticos.
a pala\ ra em sua eficácia, que fecunda o Otitra categoria significativa é a da c omu-
terreno árido da existência humana, fazendo-a nhão e do "perrnarieeer"-"habilar" em Deus e
viver e germinar (cf. Is 55,10-11). O Deus em Cristo (menein-mone), categoria exaltada
conosco (= 'immanu-el) exige porém diálogo sobretudo por João. Bastaria apenas perpas-
livre. Ao bater de Cristo deve seguir a sar os discursos da última ceia (cf. Jo 13,17)
"abertura da porta" e a "escuta da voz". E é ou a primeira caria de João (cf. 1,7; 3,16.
esta a segunda grande afirmação bíblica 4,7,11.16. 20-21) para ver o desabrochar deste
sobre a mística. A irrupção divina na história, símbolo em todas as suas dimensões. Que -
no espaço e na existência humana, deve remos apenas relembrar a comunhão que se
corresponder o caminhar da alma para Deus, à realiza pela fé e pela eucaristia, proposta na
graça deve unir-se a fé, ao —> amor doado pelo célebre pregação de Jesus na sinagoga de
salvador deve correspondera inti midade do Cafarnaum (cl. Jo 6 ) e a sugestiva imagem
homem. Emblemáticas neste senti-d*> são da videira, desenvolvida cm Jo 15, em que é
algumas categorias e - > símbolos. Pcn- insistente o apelo a "permanecer" em Cristo
semos, antes de tudo, sohreodgape. Ainda como o galho deve permanecer ligado ao
urna vez é preciso reforçar que o primado é tronco para viver e produzir fruto. Também
divino: "Não fomos nós que amamos a Deus, mas neste caso o "permanecer" místico é duplo:
foi ele quem nos amou... porque ele nos amou "Permanecei em mim, corno eu em vós...
primeiro" (Uo4,10.19; cf. Ef 2,4; Uo 4,8.16). Aquele que permanece em mim e eu nele,
Mas a este promanar do amor divino deve produz muito fruto, porque, sem mim, nada
misturar-se o amor do fiel, amor que tudo podeis fazer" (Jo 15,4-5).
envolve, projetando-se nas duas direções A imatzem do "permanecer-habitar" con-
radicais do ser, a vertical e a horizontal, duz espontaneamente a outra categoria que
como ensina a admoestação de Cristo sobre o é quase extrema e faz com que "Deus seja tudo
resumo da Escritura no amor de Deus e do em lodos" (ICor 15,28). Aludimos à vida co -
próximo (cl. Mt 22,37; Dt 6,5). "O Senhor mum entre Deus e o fiel. Pensamos na "nova
exige... que tu o ames" (Dt 10,12). mas quer aliança" cantada por Jr 31,31-34 e por Ez
também que "vos ameis uns aos outros, como 36.24-27. em que o próprio espírito de Deus
eu vos é infundido na criatura humana que recebe
amei" (Jo 15,12). É por esla reciprocidade também "coração de carne" que pulsa somente
dt» amor, celebrado por Paulo no estupendo para o seu Senhor. Pensamos na declaração do
"hino à caridade" de ICor 13, que se mede a orante no Sl 319,94: "Eu sou teu. Senhor!" e
autêntica experiência mística, que é tensão nas palavras intensíssimas de Paulo: "Pois
para a própria plenitude c perfeição do amor para mim o viver é Cristo... Eu vivo, mas
divino (cf. Mt 5,48). já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive
A categoria do ágape compreende, pois, em mim... Vossa vida está escondida com
toda a rica simbologia paterna, materna e Cristo em Deus" (Fl 1,21; Gl 2,20; Cl 3,3). Pen-
nupcial que perconv todo o texto bíblico e samos tatu bem na eternidade própria da
que obteve grande repercussão na literatura vida mística, porque esta participa da mesma
mística. Por um lado, a figura paterna de Deus qualidade de Deus. Já no AT, o fiel, vivendo
retorna os motivos da solicitude amorosa e na intimidade com Deus "seu bem, acima do
da educação do filho, mesmo que seja por qual nada existe", eslava convencido de que
meio de provas purificadoras (cf. Dt 8,5; Os "não abandonarás minha alma no Xeol, nem
11,1-4). Por outro lado, a simbologia mater- deixarás que teu fiel veja a cova! Ensinar-me-ás
na exprime a intensidade e a ternura de o caminho da vida, cheio de alegrias em tua
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presença, e delícias à tua direita, perpetua
mente" (cf.: Sl 16,10-12; Sl 73,23-28; Sb 3).
O cristão que participou da paixão de
Cristo (cf. Gl 6,17) condivide com ele a gloria
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BONHOT.I T KR ni KT R iC H
urna realidade que modifica radicalmente da graça". Em abril de 193.S fundou e diriiiiu
seu significado. Por isso B. escreve: "A o seminário clandestino da leccin-lun-dada
finalidade da ética cristã não é a de Bekennende Kirchc, em linkenwalde (no
identificar-se com um princípio kantiano Báltico), onde, juntamente com vinte
universalmente reconhecível, mas de agir, de candidatos a pastor, realiza uma síntese de
acordo com o momento e as circunstâncias, à estudo e de vida, fortemente centrada na
maneira de Cristo, formado em nós fcf. 01 radicalidade evangélica: —> pobre/a, correção
4,19), ou seja, refletindo em nós> como num fraterna, —* oração comum, —> liturgia e a
espelho, a glória do Senhor, de tal modo que santa Ceia. São deste período suas obras
sejamos transformados naquela mesma mais "espirituais" [Vida comum csequela)
imagem (cf. 2Cor 4,3ss) e, como ele, também marcadas pela obediência incondicional â >
nós "existamos para os outros" (pp. 249ss). palavra de Deus. Caso contrário toda
Decorre disto a responsabilidade, também pregação tornar-se-ia vã (ensina no curso de
política, de ouvir corretamente a Palavra. horniléiíca, agora reunido no volume A
Notando-se que B> -como poucos então (entre Palavra pregada). Durante três anos aquela
estes a carmelita E. Stein) não tinha dúvidas "casa fraterna", no Báltico, foi também forja
sobre a natureza pagã do regime na/ista, se ecumênica - outra
bem que Hitler houvesse astuciosamente dimensão de B. â qual só podemos acenar -
disfarçado Ioda a operação tanto com o mas, quando a "Igreja que confessa" loi ofi -
resgate nacional das ofensas sofridas em cialmente reconhecida em Genebra, a inexo -
Versailles (1918), como com o generoso rável máquina da Gestapo atingiu também
repúdio do > ateísmo produzido pela Finkenwalde (que loi fechado cru 2$ de se-
Revolução Russa (1917), ao que. em seguida, tembro de 1938 l e, com a obrigação geral do
acrescentou a perseguição aos judeus. Eni abril serviço militar, a maior parte daqueles semi-
de 1933, de fato. a primeira lei sobre os "não- naristas e pastores foi enviada para o
arianos" expulsou os judeus das repartições (renite. A eventualidade do serviço militar fez
públicas e as Igrejas protestantes, então piorar a tensão interior de B. que, diante da
favoráveis à revolução nacionalista dos impossibilidade de conciliar violência e
nazistas de Hitler, encontravam se evangelho, rejeitou a tradição luterana á
comprometidas pelo grupo lilona/.isia dos qual pertencia e afirmou que, acima da
"Cristãos alemães" (Deutschen Chrísiert) com obediência ao Estado, está a obediência a
uma "Igreja unida do Reich", que adotou tal Deus e â "justiça maior" (Mt 5,20). Esta
lei. Foi então que B. descobriu a importância obediência o impeliu a tornar uma decisão
da "questão judaica" também para os cristãos angustiante e não aprovada por sua Igreja:
e chegou à conclusão de que, diante do entrar na resistência clan-destina ao nazismo.
Estado totalitário, a Igreja não tem somente Para refletir sobre passo tão grave, no verão de
a obrigação de chamá-lo aos seus deveres, 1939 aceitou ir para a Inglaterra - onde se
nem de limitar-se a socorrer as vítimas, pelo encontrou com o secretário geral do Conselho
contrário, deve pôr as coisas em seus devidos Ecumênico, Vissert I loott (que tornará a ver.
eixos se e ã medida que o Estado falha em pela última vez. na Suíça, em 194 I. onde B.
seu dever de tutelar a —> justiça e os direitos organizou os grupos contra o regime) - e
fundamentais da pessoa (biblicamente "ima- depois passou dois meses nos USA, onde os
gem de Deus"). B. entrou, assim, no amigos (entre os quais R. Niebhur) queriam
movimento de oposição ativa e, junto com seu que permanecesse como professor visitante,
colega de Berlim, M. Niemoeller, preparou o para evitaras conseqüências de sua negativa
encontro de Barmen (na região cio Ruhr, em ao serviço militar. Mas a
29-31 de maio de 1934). quando ] 38 sua --> lidelidade a Deus e por isso lambem
pastores e leigos rejeitaram o parágrafo às circunstâncias da terra em que ele o havia
ariano e, basca dos no ensinamento do posto e aos irmãos mais necessitados, - de novo
teólogo suíço K. Burth, romperam os laços **a responsabilidade", no sentido de "ca-
seja com a igreja pacidade de responder" a Deus, que o tez
oficial, seja com o nazismo, e fundaram a "existir para os outros" em Cristo (o "alto preço
"Igreja que confessa", graças â qual foi salva da Graça") - fez com que voltasse â pátria.
a honra, na Alemanha, não só do protestan- Era 25 de julho de 1939. Em 23 de agosto foi
tismo, mas dos cristãos simplesmente. Obvia- estipulado o pacto nazi-soviético. Em I o de
mente, teve de abandonar o ensino universi - setembro Hitler invadiu a Polónia, e dois
tário, começando a experimentar "o alto preço
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dias depois a França e a Inglaterra
declararam guerra a Alemanha.
(7. Ravasi
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CÂNTICO DOS CÂNTICOS
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CARIONl li AT IS I A [.)!:. CR HM A - CARISMA
Roma 1978; S. Pczzella. s.u, in DizBiogrXK,
115-118.
cl Vittoria di se stesso. Esta c sua obra-prima
sistemática, inspirada c conduzida com cla - L. Bogliolo 200
reza e vigor. Nos particulares segue santo
Tomás de Aquino. Está dividida em nove li- CARISMA
vros. Filosofia divina o meditazione delia
passionede N. S. Gesü Cristo. Em trinta capí- I. O termo grego chárisma deriva da raiz
tulos desenvolve ardentes e apaixonadas me - char, de onde a palavra chairein (alegrar-se),
ditações sobre a paixão de N.S.J.C., de ou chaire (a saudação grega: salve, alegre -se)
caráter ascético e contemplativo. Specchio ccháris (graça). O sufixo ma designa o resul-
interiorc é a última obra da trilogia e devia tado concreto da ação, ou a manifestação da
formar um só corpo com as precedentes. cluíris. Portanto, chárisma significa uma ma-
Specchio interiorc seria o aspecto místico da nifestação da > alegria e > da graça de Deus,
trilogia. I"i nalmente, deve ser citado que se tornam \ isíveis, agem em e através
também o Libro de senlenzie o Del ti notabili. de uma pessoa. Em sentido literal chúrisma
Todas essas obras foram, por muitos anos, o sig-nilica "dom da graça".
texto de leitura espiritual sobre o qual se A doutrina sobre o c. encontra-se sobretu-
formaram gerações de barnabitas e t calinos. do em são Paulo. Em suas cartas, Paulo, de
uma parte, exorta as jovens Igrejas (Tessa -
lõnica) a ver os c. como meta a ser atingida
II. Doutrina espiritual. C. é ainda hoje com coragem, e recomenda-lhes "não extin-
sumamente edificante. Todo o seu ensi - guir o -* Espírito" (ITs 5.19-22) e. de outra
namento está relacionado com a doutrina do parte, modera as comunidades já exuberan -
—> combate espiritual, muito difundida na tes (Corinto), aconselhando-lhes o discer-
espiritualidade do séc. XVI. O homem deve nimento da autenticidade dos dons espiri -
esforçar-se, em contínua batalha, para su - tuais. Paulo atribui ao termo chârisnia, além
perar tudo que seja contrário ao amor. So - do significado geral de dom gratuito da gra ça
mente o amor, de fato, pode levar à prática divina, também aquele específico de dons
da —> imitação de Cristo, portanto, levar a conferidos para a edificação do —> Corpo de
alma a lornar-se disponível para Deus. Em Cristo. Os c\ são vários e multiformes por-
tal disponibilidade a Deus, a -> alma pode que o Espírito os "distribui" (ICor 12.11)
participar dos —> atributos divinos ao ponto como quer. Paulo enumera mais de vinte
de atingir a > união transformai]te. A - > dons espirituais, ou graças, com relação ao
oração contemplativa, experimentada pela termo chárisma. As listas principais
encontram-se em Riu 12 e ICor 12. Começa
alma neste sublime estágio da vida
pelo c. do apostolado, da —> profecia, do
espiritual, deve ser integrada pelo amor e
ensinamento, até ao dom das curas, das
pela ação a favor do próximo, resultando
obras de misericórdia, do ministério.
disto uma vida mista, em que a oração e a
A vasta gama dos c. arrolados por Paulo
contemplação formam dois aspectos da leva a duas considerações. A primeira é que,
mesma imitação de Cristo. dada sua diversidade, é difícil organizá -los
Contudo, C. passou para nossa história de maneira sistemática. As classificações
como o verdadeiro grande mestre da —» as- que foram tentadas pelos exegetas são
cética do combate espiritual, do qual se tor- sempre um pouco arbitrárias (por exemplo, o
nou eco longínquo o célebre livro do leatino c. da palavra e da ação; o c. da palavra, da fé,
L. Scupoli que são Francisco de Sales trará do ministério; c. intelectuais, de oração, de
consigo, como vade-mécum de leitura espiri- atos miraculosos, de serviços à comunidade
tual, por pelo menos dezesseis anos. Por esse etc). Em segundo lugar, a multiplicidade dos
motivo, em última análise, C. continua sen- c. enumerados por Paulo leva à conclusão d e
do, na história da espiritualidade, uma voz que os c. na -> Igreja possuem número inde-
ardentemente paulina pela renovação da finido. São identificados a partir de dois
vida cristã. princípios: o Espírito Santo, que é o doador, e
a Igreja a ser edificada em sua realidade
BIBI..: D. Abbrescia, s.u, in DES I, 290-291; L. concreta de tempo c lugar ("Mas isso tudo 6
Bogliolo, Battísta da Crema, Nuovi studi sopra ta O único e mesmo Espírito que o realiza,
vita, i suai scritti, la sim dottrina, Turim 1952; I. distribuindo a cada um os seus dons,
Colosio, 5.V., in DSAM II, 153-156; M. conforme lhe apraz", ICor 12,11). Se os c.
Peirocchi, Storia delia spirituatità italiana, II,
existem para a edificação da Igreja, devem
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corresponder às necessidades reais da Igreja
universal e das Igrejas particulares.
Contudo, deve-se levar em consideração
que Paulo, embora falando da pluralidade
dos
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CASSIANO JOÃO longo exercício na vida cenobítica (cf. Confer.
1,10): duas formas diversas de consagração a
postos os remédios opot'(unos. As conferências 208
dos Padres, {Collationes Patrum) constituem
uma obra de vinte e quatro Conferências, Deus, mas ambas abertas para a contempla-
composta em três etapas, aproximadamente ção (cf. Confer. 19,8 e 9).
de 425 a 428. A intenção de C, porem, era b. A-* ascese. A finalidade a ser conseguida
redigir uma obra unitária, com uma visão de pela vida monástica, antes de tudo por meio
conjunto e completa sobre os "ensinamentos da ascese, c o Reino de Deus. A ele se chega
e preceitos dos anciãos" (Confer. 24,1). A pri- por meio da pureza de coração, que é ao mes-
meira coletânea (1-10) é um verdadeiro mini- mo tempo a condição e a contrapartida do
tratado sobre a perfeição, no qual é indicada completo desenvolvimento em nós da cari-
a linalidade do monge, ou seja, o Reino de dade. C exprime com firmeza, até então des-
Deus, e os meios, ou seja, a pureza de cora- conhecida, a convicção de que as renúncias da
ção, a caridade ea-> contemplação assídua. ascese têm por eleito a caridade (cf. Confer.
Faz-se necessária a virtude da > discrição, 1,6-7).
que se pode obter pela abertura do coração e Para C. a vida monástica progride ao ritmo
docilidade para com os anciãos. A perfeição da de três renúncias sucessivas: a renúncia
renúncia, que é a vida monástica (cl. Confer. ascética, a renuncia aos \ ícios e a renúncia
I, 4,1) comporta três graus, através dos a tudo aquilo que não é de Deus. A primeira
quais se eleva, aos poucos, até a intimidade renúncia, que implica o abandono dos bens
divina. As outras duas séries de conferencias materiais e das comodidades, conduz, com a
são de caráter complementar. Existe conexão -» humildade e a paciência, ao abandono dos
entre as duas obras. Na verdade, as Institui' vícios. Neste contexto a paciência, luta
çõesccnohíticas são apresentadas porC. como assídua contra o que nos perturba, conduz à
introdução à doutrina "mais .sublime", paz. E neste terreno que faz germinar a
exposta nas Conferências cenobüicas sucessivas caridade (e a gnose), que mediante a terceira
(cf. Insí. II, 9,3). Se aquelas ensinam a renúncia, lornar -se -á contemplativa, prepa-
maneira ração para progresso indefinido, porque
necessária para vivei- nas comunidades mo- tendente, agora de maneira livre, à perfeição
násticas, estas últimas insistem mesma do Pai. Temos aqui a prova da posi-
especialmente sobre a "disciplina do homem tividade da renúncia em C , que escreveu: "O
interior" e são próprias para os que desejam momento em que se desdenham como cadu-
levar vida de anacoreta. As instituições, além cas as coisas presentes é também aquele em
disso, contêm somente os primeiros que o olhar do espírito está firmemente lixa -
rudimentos da doutrina. "De acordo com a do nas imutáveis e eternas" {Inst. V, 14). E
distinção, herdada de Evágrio Pôntico, que ainda: "Nós queremos expulsar do nosso co-
ele explana na Confer. 14, a theoria ou ração a concupiscência da carne, a fim de li-
contemplação espiritual, à qual somente se berar o lugar imediatamente para as alegrias
chega com a pureza de coração, é privilégio espirituais" {Confer. 12,5). A contemplação é,
dos que se exercitaram longamente na vida portanto, possibilitada pela ascese, não sem
practica (...). Como purificar-se dos próprios que a contemplação anime a própria eleva ção
vícios c como comportar-se pouco a pouco, do espírito. Mas o método de C. não se reduz
de maneira disponível aos dons divinos mais a examinar impiedosamente a si mesmo, a
elevados, eis a finali dade principal das mortificar-se, a combater-se, o seu método é
Instituições cenobüicas."2 mais positivo do que negativo, é místi co,
mais do que ascético.
II. A espiritualidade, a. A vida monástica. O
pensamento de C. é o prolongamento do III. A mística, a. Oração e contemplação. O
pensamento dos mestres precedentes, momento conclusivo do período de -* pu-
baseado na Escritura, na tradição viva dos rilicação (ou praxis) assinala a passagem ã
Padres do deserto; nele se nota o influxo de -> scientia spiritualis de C. e à theoria ou gnosis de
Basílio, de -> Jerônimo, de Crisóstomo e, em Evágrio, fase caracterizada pela liberdade, por
particular, de Evágrio Pôntico. Os monges parte do monge, que se tornou homem de
devem se esforçar para serem cristãos per- Citação, de conversar com Deus. C. lembra as
feitos, favorecidos por sua situação, no viver palavras do abade Isaac "(...), o ponto
na > união com Deus na -> caridade. Quanto culminante da perfeição do coração cons-
à vida cenobítica e anacorética, ele foi in- titui-o a oração perseverante, ininterrupta, é,
térprete da preferência quase unânime pela em suma, a busca de tranqüilidade imóvel,
anacorese, que, porém, exige primeiro um de pureza perpétua, nos limites consentidos
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pela debilidade humana" {Confer. 9,2). "A tua
doutrina fundiu o fim do monge e o cume da
perfeição na 'oração perfeita'" (ibid.. 9,7). A também do próprio Deus. Cumpre notar que
oração perfeita é própria do contemplativo. A a contemplação como estado (ou grau) da
oração, forma da caridade, c, como esta vida espiritual é por ele denominada também
última, o escopo de toda renúncia e ascese: virtus theoretica, scientia
"Se aspiras à oração, renuncia a tudo para (gnosis),tht'oretikc, theoretica, theoria,
ter tudo'' (ibid., 36). b. A oração. Oração ao passo que a contemplação como ato é de -
continua. Ao progresso nas -> virtudes e na signada também como theoria, in tu itu s e
pureza de coração corresponde o progresso obttutus. Ele mostra como é grande a varie-
da oração perfeila, até a união habitual com dade de formas da contemplação de Deus (cf.
Deus. Por trás de tudo transparece a exorta- Confer. 1,15). C , come» —» Gregório de
ção paulina sobre a oração incessante (ct. 1 Nis.su e Evágrio Pònlico, julga que a
Ts 5,17). O objetivo dos monges não é a conti- verdadeira contemplação abranja theoria e
nuidade contraditória nos atos de oração - è praxis. A Escritura nos ensina que a -> gnose
necessário o —> trabalho -, mas também "o deve acompanhar a caridade. Em segundo
estado de oração" [orationis status) lugar, a verdadeira contemplação apreende
(Conjer. 10,4), que produz a situação de diretamente o seu objeto, é intuitiva. Mas a
estabilidade e de paz. A oração contínua visão pertence somente ás almas puras, seja
implica, para o monge, o esforço, e até a luta que se trate de ler o livro da natureza, seja o
contra as distrações e contra o —> demónio da Escritura. E graça de Deus (cf. Confer.
(cf. InstL 2,10). c. Bíblia e oração. Outro 12). A contemplação acontece sob o influxo
aspecto típico da oração monástica em C é divino (cl. ibid., 3,12), c eleito de iluminação
sua vinculação com a Bíblia, na qual o particular do —> Espírito Santo (cl. ibid.,
monge está inteiramente imerso, vivendo 14,9). A alma pura é como pluma leve que
intensa comunhão e diálogo com Deus. A alcança sublimes altitudes quando
oração privilegiada é o saltério, parte estimulada pelo sopro do Espírilo (cf. ibid.,
precípua do ofício canónico do monge. O 8,4). Juntamente com a meditação da
saltério foi a escola de oração do mona-quismo Escritura deve estar também a purificação da
primitivo e toda a vida do monge é salniodia. praxis, pois á primeira o monge não deve
Os latos bíblicos, assimilados pelo monge, renunciar, ainda que tenha atingido a
reproduzem-se, por assim dizer, nele (cf. contemplação. E isto é tanto verdade para C.
Confer. 10,11). Para os monges a —> Icctit que ele não hesita, seguindo as pegadas de
? divina é a fonte primeira da oração. O seu mestre Evágrio, em quase idenlilicar a
monge cotidianamente lê, medita e assimila contemplação" pura (visão infalível e interior
a Bíblia. E claro que, de acordo com a lógica de Deus) e a ciência espiritual (a
da mística dos > Padres, a oração se nutre da compreensão íntima da Escritura) (ibid.,
Escritura. C. penetrou de cheio na forte 14,8). A contemplação chega, igualmente, a
corrente derivada de -> Orígenes, que não estabelecer contato com Deus, não só dos
admitia reconhecer nenhum outro livro a não sentidos, mas também da inteligência, a qual
ser a Bíblia. E de se notar, também, como "sai de si" para se porem contato com Deus. É
em C. à leitura atenta tia Escritura está a mística extática, ou o -> êxtase, que, por um
ligado o elemento luz. Esta transforma a lado, é ignorância (agnosia) ou trevas
alma e a deilica. C. conhece a doutrina da {guôphos), e de outro é "o
iluminação de Paulo (cf. Ef 5,8-9; 2Cor3,18) e, superconhecimento desta ignorância, a
ainda antes desta, a de Jesus (cl. Jo 8,12). d. supcrlununosidade destas trevas".3 Quanto a
A contemplação. C. transpõe para o C, ele muitas vezes recorre a termos
Ocidente o primado do ideal dos comoexcessus mentis, excessus spiritus,
contemplaiivos (thcoretikoi) sobre o dos excessus cordis, embora não explique o
ativos (pr ak tiko i), da contemplação (vita êxtase e nem elabore uma teoria sobre ele.
contemplativa) sobre a ação (vita Pata ele, de ioda maneira, o êxtase é gra ça
acttudis). Para ele a contemplação é o ápice especial, a superação da vida sensitiva,
da perfeição, o bem supremo (Confer. 23,3; caracterizada peia rapidez com que acontece.
1,8). C. foi o primeiro a elaborar no Ocidente É como uma punctura (compunctio) da alma
urna teoria da contemplação para a vida por parte de Deus (Conf er. 9,21). e. O
monástica, mas para ele a coutemplatio lem ápice da contemplação: a oração pura.
diversos significados, entre os quais o Em C. e em outros autores a contemplação é
especilico da visão das coisas divinas e facilmente identificada com a oração.
Material com direitos autorais
Algumas expressões suas comprovam-no: 276; A. Pastorino, / temi spirituali delia vita
"Estar incessantemente ocupado com Deus e monástica in Giovanni Cassiano, in Civiltà Clássica
Cristiana, I í!980), 123-172; c. Tibiletti,
com as coisas celestes" (Confer. 1,8); Giovanni Cassiano. Formazione e dottrina, m A u g
"perseverarem oração incessante" (ibid., 17(1977), 355-380.
9,2). Para ele, a contemplação perfeila
identiiica-se com a oração perfeita, definida O. Pasquato
tanto por C. corno por Evágrio como "oração
pura". As duas realidades estão
estreitamente unidas (cl. Conf er. 9,8;
19,8). Na oração pura "dão-se revelações
CASSIANO JOÃO - CATARINA DE BOLONHA
(santa) CATARINA DE BOLONHA (santa)
sobre os mais santos mistérios, que ate
I. Vida e obras. Nasceu em Bolonha, em 8
agora eram completamente desconhecidos
de setembro de 1413. Educada em Ferrara,
para mim" (ihic!.t 10,10). "O - > feivor intenso,
pôde valer-se, dos onze aos dezenove anos,
observa Columbano, onde isto acontece, é
210
deduzido pela terminologia usada, corno
Togo', flama', 'oração ígnea', que significa da cultura oferecida pela corte dos Estensi.
manifestação viva da caridade." 4 A Isto pode ser demonstrado pela sua intimi -
estupenda Conferência X sobre a oração faz eco dade com Margarida, filha natural de Nicolau
à oração sacerdotal de Jesus, comunicação d'Esté ( f 1496) e pela imensa cultura cristã
aos homens de seu amor, que forma a vida que se manifesta em suas obras, a maior delas
eterna de Deus em si mesmo (cf. Cnv.jer, em latim, chamada Rosariam, que desen-
10,7). Rezar assim é o escopo da volveu em 5.596 versos, sobre os quinze mis-
contemplação: a "oração de logo" térios tio rosário, uma das primeiras vidas
forma conjunto só com a contemplação. E a de Cristo. A segunda. As sete armas espirituais,
"oração de fogo" é, enfim, uma oração acom- que alterna com os preceitos ascéticos, desti-
panhada por —> lágrimas, sinal de intensa e nados às noviças da Observância de São Fran-
inexprimível —> alegria espiritual. cisco, muitas experiências de sua vida de cla-
rissa. A terceira obra, inédita, expõe os Doze
NOTAS: 1Uomini illustri, 62; 2 J.C. Guy, Jean
Cassian, Vie ei doctrine spirituelle, Paris 1961, 10; graus da perfeição, um itinerário para "inician-
3 J. Le-maïtre. Contemplation, in DSAM II, tes, proficieniese perfeitos", flamejante de
1964;4I I mona-chesimodetleorigini, Milão 1990, amor e de lances poéticos, como o Cântico
379-380. bíblico.
BIBL.: Fontes: L. Da Uri no (org.), G. Cassiano, Le Destes escritos e de sua bibliografia escrita
Istitiizioni, \ , V-XII, in ld.. Il primo monachesimo, pela beata Iluminada Bembo (t 1496), con-
Roma 1984: J.C. Guy (org.), Jean Cassien, clui-se que, quanto mais C. avança em idade,
Institutions cénobitiques; SC 109, Paris 1965; O. tanto mais cresce sua —» união com o Senhor.
Lan (org.), G. Cassiano, Conferente spirituali, 3 Na prática da • » obediência, da » humildade
vols., Roma 1965; E. Pichery (org.), Jean
e da —» pobreza soube transformar em
Cassien, Conférences, I-VII: SC 42, Paris 1955;
VH1-XVII: SC 54, Paris 1958; XVIII-XXIV: SC melodia o —» sofrimento e reconduz.ir a ob-
64. Paris 1959. Estudos: L. Bouvcr, La servância conventual á energia c ao rigor das
spiritualità dei Padri ( I I I - V I secola). Monaclwsimo origens. Soube ser educadora "lutando
antico e Padri, nova ed. org. por L. üattrino e P. fortemente contra a própria fragilidade". A
Tamburrino, Bolonha 1986, 247-258; B. Calati, via -> ascética que devem percorrer "os que se
Sapien-za monástica, Saggidi storia, spiritualità e castigam a si mesmos" exige a renúncia às
prohlemi monastici, Roma 1994, 299-314; O.
Chadwick, io/m Cassian, Oxford 19682; L. doçuras c a opção por "carregar a cruz"; "por
Dattrino, Lavoro e ascesi nelle "Institutiones"di isso tanto é o amor como a dor". Mas, já que
Giovanni Cassiano, in S. Felíci (org.), Spiritualità "toda —> virtude torna-se perfeita por meio
dei lavoro nella catechesi dei Padri delIIl-IVsecolo, das que lhe são contrárias" e "o perigo reside
Roma 1986; H.D. Egan, Cassiano, in kl.. / no muito como no pouco", deve-se usar da -»
misticie la mística, Città dei Vaticano 1995, 94- "discrição", "segundo o que disse Antônio de
104; .1 C. Guy, Jean Cassien. Vie et doctrine
spirituelle, Paris 1961 ; J. Leclcrcq, L'unité de la Viena". Morreu em 9 de março de 1463.
prière, in ParL 42 (i960), 277-284; C. Leonardi.
L'esperienza di Dio in Giovanni Cassiano, in Ren II. Doutrina mística. Sua mística tem as
13 (1978), 198-219; S. Marsili, Giovanni características de bemardianas, basta me
Cassiano ed Evagrio Pontico. Dottrina sulla carità e distanciada do pietismo da —> Devo tio moder-
contemplazione, Roma 1936; A. Ménager, La n a , que põe em primeiro plano, ao contrário
doctrine de Jean Cassien, in VieSp 8 (1923), 183-
das teses humanistas, "o desprezo de todas as
212; M. Olphe-Galliard. s.u, in DSAM II, 214-
Material com direitos autorai
coisas terrenas". C. esteve sempre imersa no S. Spano. Pcrunosiudi* > \it santa Catetiiia ila
pensamento de Deus e se esquiva de falar Boloeua. in Studi mediocvali. 2 (1971). 713-759.
sobre suas próprias experiências. Mas não
G. Sgarhi
pôde eximir-se de revelar que contemplou a
Trindade, que penetrou no mistério da —>
Encarnação, como também no da Eucaristia.
Tomaram-se célebres as aparições da —» Virgem,
que coloca em seus braços o Menino, no natal
de 1445. e a visão de —» são Francisco e de
Tomás Becket (t 1170).
Os —> êxtases, as —> profecias e os milagres
CATARINA DE GÊNOVA (santa)
fazem parte da norma dos místicos, aí inclusa
I. Vida e obras. C. nasceu em 1447, em
a —» noite escura, por ela chamada de "fossa da
tristeza que leva à condenação" c as --> Gênova, da nobre família cios Fieschi. Rece-
tentações diabólicas, que duraram cin co beu educação humanista e boa formação re-
anos. De acordo com ela, chega-se à —> per- ligiosa. Aos do/e anos sentiu forte atrativo
feição somente a travessando-se a dor de ler pela oração e pareceu demonstrar grande in-
perdido Deus. De fato, nela muitas vez.es volta clinação para a vida monástica. Os contem-
a lembrança do "Eli, Eli" de Jesus sobre a porâneos diziam que era belíssima, dolada de
cru/. A última das "sete armas" dei ende a forte caráter, mas muito sensível, além de
necessidade do conhecimento e da meditação possuir grande capacidade de inlrospeção.
da Sagrada Escritura. Aos dezesseis anos, em janeiro de 1463, dei -
O Rosarium, prova viva da alta especulação xou-se convencer pela lamília e se casou com
mística da escritora, sem abandonai os Juliano Adorno. Foi um casamento combi-
diversos sentidos bíblicos, alonga-se na ilus- nado para sanar o dissídio político entre os
tração dos aspectos históricos da vida de Je- Fieschi e os Adorno. Juliano era violento, bru-
sus. C. lê os evangelhos com vigilante tal e gastador, e C. passou os primeiros cinco
racionalidade, levando cm consideração os —> anos de vida matrimonial em penosíssima so-
Padres, os santos e os teólogos santos. lidão. Incitaram-na a participar da vida mun-
Conditio, é preciso ressaltar que nela a dana da cidade, para conquistar o afeto do
revelação não se dá em suas formas usuais. A marido, lista etapa acabou, depois de pouco
inspiração não é direta e específica, mas tempo, com um acontecimento que marcou
fortemente intelectualizada. Suas obras estão sua total —> conversão ao Senhor. Em 22 de
cheias de citações dos seus auctores, março de 1473, levada por sua irmã, monja
declaradas ou subentendidas. Uma leitura Limbãnia, para se confessar, teve de interrom-
atenta consegue, porém, demonstrar que em per a confissão porque desmaiou. Depois de
algumas passagens evangélicas houve uma voltar para casa, teve uma -> visão de Cristo
experiência direta. crucificado, que encheu a casa de sangue. No
O verdadeiro motivo que causa maravi lha dia 25 de março, pôde terminara confissão e
é sua capacidade de exegese e sua ex- recebeu a -> Eucaristia.
traordinária competência teológica, além da Iniciou-se, assim, para C. uma ascensão tão
recente descoberta sobre as —> "núpcias es- rápida ao estado de —> união com Deus, que
pirituais", três coisas que dificilmente se en- pareceu queimai- —> etapas, isto é, os pontos
contram juntas em um mesmo autor. Os de parada costumeiros do —> caminho místico.
pontos notáveis são a concepção do homem - Esta ascensão alimentou-se em duas lon-tes,
microcosmo, o —* amor esponsal entre a na- a luta sem trégua contra o amor próprio e
tureza humana e Deus, a grande sinopse da dedicação total aos doentes mais abando -
Encarnação e a doutrina eucarística. C en- nados, como os leprosos e os incuráveis, aos
fim, sustenta a ■> primazia da mulher, na li- desci dados, aos enjeitados e às prostitutas.
nha da —> graça, feminismo teológico, não Foram incessantes sua vida de —> penitência
social. e o ardor da ■> caridade, que consumiram
suas energias impiedosamente.
H:ÜI ,:1. Bembo, Specchin di ii!uminaziont\ Ferrara Em 1479, Juliano Adorno foi tocado pela
1989; R Diotailevi, S M , in EC III, 1142-1143; GD. graça e, juntamente com C , entrou na Ordem
Gordini, s.v., in BS III, 980-982; I. íkvmchx,
Terceira franciscana e, de acordo com ela, fez o
.s.v., in USAM 11, 288-290; A. Matame, s.v., in
DBS I. 477-47S; M. Muccioli, Santa ( 'uterina da voto de castidade, dedicando-se desde então
Bologna, jnislica del Quattrocento, Bolonha 1963; até sua morte, em 1497, ao cuidado dos
kl., La spiriiiudnâ franrescana in santa Caterina sofredores. Durante a terrível peste de 1493, C.
da Bolognü, in Vita Mint »mm, 35 (1964)2,29-.S I; gastou suas forças de maneira heróica com os
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doentes, e contraiu a doença depois de
abraçar uma co-irmã da Ordem Terceira, que
estava à morte. Ficará curada da doença, mas
sua saúde física ficará definitivamente afeta -
da por um mal-estar de origem desconheci-
da, que a consumirá, acabando com qualquer
resíduo de beleza aparente.
Um grupo de admiradores e de colabora -
dores reuniu-se ao redor de C, eram homens
e mulheres, religosos e leigos, nobres e bur -
gueses. Nasceu assim a Companhia do Divi -
no Amor, um dentre os Oratórios" que flo-
resceram na Itália daquele tempo.
Foi a partir destes grupos que surgiu o
Opus Catharinianum, um conjunto de obras
atribuídas a C, mas do qual apenas uma pc-
quena parte foi provável meu te redigida por e do amor transformante: "Tinha esta santa
ela. () Opus Cnthariuianum c composto por: alma tamanha união com seu Deus que mui-
Livro da vida admirável e doutrina santa da beata tas vezes dizia: se eu como, se bebo. se ando,
Catarina de Cie nova; Tratado sobre o purgatório; se paro, se falo, se calo, se durmo, se acordo,
Dialogo espiritual entre a alma e o corpo, o innor se vejo, se cheiro, se penso, se estou na
próprio, o espírito, a h u m a n i dade e o Senhor igreja, em casa ou fora, se estou doente ou
Deus. sã, se morresse ou não morresse, em qual -
A Vida parece ter sido redigida por Ma- quer hora do decurso de minha vida, que ro
rabotto; o Diálogo leria sítio redigido por C, que tudo seja em Deus e para Deus, e para o
próximo por amor a Deus" (IJ. Bonzi, A 27).
em sua primeira parte; o Tratado sobre o pur-
gatório teria sido composto pela recordação BIBL. Obras: U. b< uizi da Gênova, Edizione
viva das palavras de C . e corresponderia, de critica dei manoscriíti cateriniani, II , Gênova I'yó2;
fato, ao seu pensamento e, de certo modo, (i. De Li-
bero, «S\ Catterina da Gênova: le opere, Cinisello
lambem à sua maneira de se expressar. Bálsamo 1956. Estudos: C. Balduzzi, I I
C. morreu na manha de 14 de setembro de sopranna-turale in santa Caterina da Gênova
1510. Em 16 de maio de 1737 foi canonizada patrona degli ospedali, Údine 1992; U. Bonzi da
por Clemente XII (t 1740). Em 15 de setem- Gênova, Teologia mística di s. Caterina da Gênova,
bro de 1943, Pio XII, com o documento Inter Roma 1960; F. Casolini, s.v., in EC III, l 145-
1148; P. Cassiano Carpancto da Langasco,
gravíssimas, declarou santa Catarina de Gê- Sommersa nella fontana dellamore, S. Caterina
nova "Padroeira dos hospitais da Itália". Fieschi Adorno. La vita e le opere, 2 vols., Gênova
1990; P. Costa, Lesperienza delia purificazione
II. O itinerário espiritual de C. tem como nelle opere di santa Caterina da Gênova, Roma
suporte a idéia especulativa do -> aniquila- 1970; l). Del tio, Caterina da Gênova. Vamore e
ilpurgatório, Milão 1978; G.D. Gordini, s.v., in
mento de si mesmo para permitir a total ocu-
BS III, 984-989; P. Lingua, Caterina degli ospedali,
pação do ser por Deus. Esta vontade inspirou- Milão 1986; M. Petrocchi, Storia delia spiritualità
lhe interiormente o —> despojamento de todas italiana, 1, Roma 1978; 164; G. Pozzi eC.
as propriedades do próprio ser e o es- Leonardí (org.), Scrittrici misiiche italiane, Gênova
quecimento até de seu eu sobrenatural e do 1988, 346-362; A. Romero, s.v., in DHS I, 47S-
que Deus opera. Ela se ofereceu, desta ma- 4.S'.); Umilc Bonzi da Gênova, s.v., in DSAM II,
290-325; Valeriano da Finalmarina. Capoiavori
neira, à justiça reparadora sem descanso e
dei Mistici Francescani: S. Caterina da Gênova.
praticou concretamente atos de —> mortifica- Trattato dei Purgatório, Gênova 1992.
ção e de penitência, que atingiram o limite
do humano. A —> nudez de seu ser e de sua A I . Tiraboschi
vida assumiu a atitude interior da alienação
de si e de toda relação com as coisas, à me-
dida que elas podiam inlluenciá-la. O amor-
próprio, para C., é uma forma de anticristo,
que tende a se apoderar da pessoa,
excluindo a -> presença de Deus. O amor
próprio nutre-se, de fato, com alimentos CATARINA DE RICCI (santa)
terrenos e celestes, e é ladrão tão sutil que
rouba até Deus, para si próprio, sem sentir
I. VId» e obras. Nasceu em Florença, em 23
interiormente nenhum estímulo ou
de abril de 1522 e foi batizada com o nome de
repreensão a respeito disso, como se fosse
Alexandra Lucrécia Rômola. Pertenceu à
coisa sua e sem a qual poderia viver" {Vita,
família aristocrática De' Ricci, facção oposta
21).
aos Albizzi cm determinado período da vida
C , teorizando sua própria experiência de
florentina, onde o esplendo]' e a riqueza se
—> purificação pelo amor divino que sempre
mesclavam às agitações das lutas políticas e
mais veementemente invadia seu caminho
às intrigas das grandes famílias. Órfã de mãe
místico, tira disto uma imagem do purgató-
aos quatro anos, encontrou afeto em sua
rio, em que as almas são atormentadas pelo
madrinha Fiammclta Cattani. Aos sele anos
fato de que o ímpeto ardente com que o amor
loi mandada para o Colégio de S. Piero in
de Deus as invade é. bloqueado pelos resí-
Mon-ticelli, junto de uma tia que era monja
duos do pecado que ainda não foram expur-
beneditina. Foi neste mosteiro que, provavel -
gados
mente, nasceu a inspiração que amadurecerá
Na perspectiva desta —> ascese de purifi-
mais tarde, tornando-se o fulcro de seu
cação C. chegou ao ápice da união com Deus
Material com direitos autorais
caminho espiritual Nutria —» devoção parti- precária c os anos destes trabalhos
cular por Jesus Crucificado e, por .seu amor, exuberantes e numerosos relacionamentos
praticava algumas renúncias no âmbito dos farão multiplicar-se os achaques físicos até á
pequenos prazeres de sua idade. morte, que ocorreu em 2 de fevereiro de
Aos onze anos fez. soa escolha vocacional, 1590.
decidindo-se a entrar no mosteiro de São As obras de C , dividem-se em dois grupos:
Vicente, das dominicanas de Prato, comu - as Cartas e os Êxtases. O epistolado é nume-
nidade recém-surgida, abrigada em constru- roso e dirigido ás mais diversas pessoas. C.
ção de modestas proporções, mas de rígida conforta, aconselha, orienta de maneira di-
observância, seguindo a linha espiritual de versa, de acordo com as necessidades e as
Savonarola. Um tio paterno, frei Timóteo, e perguntas de seus correspondentes e apenas
um tio, irmão de sua madrinha, Ângelo de algumas das Cartas apresentam caráter mais
Diacceto, ajudaram-na a superar a oposição íntimo, correspondendo á experiência de sua
do pai e, em 18 de maio de 1535, recebeu o vida pessoal. Muitas das Cartas não são au-
hábito religioso dominicano, com o nome de tografas, mas ditadas. Os 1'xtuscs foram cu-
C.
idados por diversas religiosas, mas particu-
O primeiro período de sua vida religiosa
larmente pela madre superiora, á qual, por
foi caracterizado por—> recolhimento perma-
obediência, antes de se tornai'priora, era
nente na oração, que foi acompanhado por
obrigada a prestar conta destes seus
estados de -> contemplação que a
lenômenos extraordinários.
mantinham tão absorta e distanciada da
comunidade que foi julgada "insensata".
Depois da profissão, em 1536, este anda- II. O caminho espiritual de C. tem como
mento das coisas pareceu piorar, porque pro- centro —> Jesus Calcificado. Em seus—>
vocou um enfraquecimento de sua v italidade, êxtases ela revive prevalentemente os
tanto física como psíquica. De modo momentos da paixão, participando com o
completamente inesperado, porém, C. revi- cotpo e o espírito dos —> sofrimentos de
gorou-se a partir do dia de aniversário da Cristo. O Crucificado é seu —> modelo
cremação de Savonarola (I 1498), pelo qual supremo, como afirmou sua superiora a seu
ela nutria grande admiração e devoção respeito: Era realmente ligada á —> cruz do
espiritual. Eia o ano de 1540. Foi, contudo, Senhor, de modo que quase não pensava em
um reflorescimento que se inanilestou com ■> outra coisa, quase não respirava outra coisa...
lenômenos místicos quase contínuos, cujo . Sua união á paixão não se limitou ao
caráter extraordinário tornou-se conhecido relacionamento de amor pessoal com Cristo,
fora dos muros do convento, e lambem tora mas [oi, também, --> expiação e impeli ação
da Itália. Virão visitá-la numerosas pessoas, pelos outros, pela salvação das almas.
enlre as mais notáveis do tempo, não sem le- O convento de S. Vicente tornou-se, então,
vantar, com a nuvem poeirenta da curiosida- justamente por este motivo, um centro de
de mundana, a suspeita eclesiástica, sobre - devoção à paixão. As procissões com o Cru-
tudo por causa do retorno ã circulação de cifixo, muitas vezes carregado por ela quando
reminiscências de Savonarola. C, contudo, estava em êxtase, tornaram-se urna tradição
era tão simples e Ião desarmada em sua to- do lugar, mesmo depois de sua morte. Tudo
cante —> humildade, que a autoridade ecle- isto constitui o núcleo central da > ex -
siástica acabou reconhecendo nela os sinais periência mística de C, feita de -> aniquila-
de autenticidade. ção, relação esponsal com o Cristo da cruz,
Em 1552 (?. foi eleita priora e depois de participação em seus sofrimentos, sinalizan-
poucos meses iniciou-se para ela um período do um ~» amor forte e veemente, típico dos
de conslniliva fecundidade a favor da comu- grandes místicos.
nidade, onde, por quarenta e dois anos. de- Bmi .: R. Cai.s.v., inDSAM II, 326-327; G. Di
sempenhará encargos de responsabilidade e Agresti. s.w. in DHS 1. 4SÜ-4S2; Id.. Mediazione
por sele vezes o priorado. A seu redor, no en- mariana, uelVEpistolaria di S. Caterina de' Ricci, in
tanto, vai-se fechando, sempre mais ativo, o R tvAX Í 3
(1958) , 243-255; Id., // dono místico dei cam-
círculo dos seguidores de Savonarola, os "cho- biamento dei cuore in S.C. de' Ricci, in MDom 35
rões ", e disto resultou uma abundante cor- (1959), 33-37; hl.. Santa Caterina de' Ricci.
respondência. Bibtio-fira f ia ragioruita cou appendtce
O olhar de C. foi além dos horizontes do savonaroliana, Florença 1973; C. Massaroiti, Le
claustro e se estendeu ã reforma da Igreja, lettere di s. Caterina de Ricci, profilo spiriinale
objeto de discussões com personalidades letterario, in M D n m 27 (1951), 11-37; 104-125,
137-147; G. Pozzi e C. Leonardi (org.) Scrittrici
como s. Carlos Borromeu 1584) e —» são
mistiche italiane. Génova I9SS, 387-391; R.
Filipe Néri. Sua saúde permanecerá sempre Rístoti, s.w, in D tz Ii i u i i r X X U , 359-3 61; G.
Material com direitos autorais
Scalia, G. Savonarola e S. Caterina de' Ricci, te de seu "lúcido e profundo" conhecimento
Florença 19S5. teológico. 1
Ern uma carta a Raimundo de Cápua (t
Al. íirahüschi 1399), seu confessor, ela explicou que os
CATARINA DE SENA (santa) seus escritos são extravasamento de sua ex-
periência mística: "fDeus] me dera e provi -
I. Vida e obras. Catarina Benincasa, co- denciam dar-mea aptidão para escrever, a fim
nhecida por todos corno Catarina de Sena, de que, descendo da altura, tivesse uni
surgiu na história da Igreja como mulher for- pouco com que desafogar o coração, para não
te e zelosa, apaixonadamente confiante no explodir" (Carta 272). Suas obras teológicas
imenso amor de Deus para com a humanida- versam sobre o —> itinerário cristão em
de, manifestado em -> Jesus Cristo. Nasceu
direção a Deus, desde seus primeiros,
em Sena, em 25 de março de 1347, filha de
tímidos e hesitantes passos até sua última
Lapa di Puccio Piagenli e Jacopo Benincasa.
etapa de união translormante.
Ainda muito jovem consagrou-se a Deus com
Durante toda a sua vida C\ foi destinatá-
o voto de - > virgindade. Mais tarde, ajuntou
ria de extraordinárias manifestações do amor
se às '"Veladas", um grupo de leigas do -
de Deus: -» revelações, -» êxtases, -> visões, - >
minicanas que em Sena consagravam sua
permutas de coração, estigmas, união mís-
vida
tica. Contudo, à medida que recebia graças e
à —> oração e à atividade caritativa. Os
bênçãos especiais, insistia na idéia de que a
primei-
comunhão profunda e genuína com Deus
ros três anos corno "Velada" foram transcorri-
está baseada antes de tudo e essencialmente
dos em vida cie oração solitária. Depois deste
em vida de fc, —» esperança e —» caridade.
período de rei iro, mergulhou no apostolado
Sua relação com Deus revela unia condição
em favor do próximo. Muitas crônicas falam
de grande -> simplicidade. Raimundo de
sobre seu alento cuidado para com os pobres
Cápua conta que o Senhor "falava com C. como
e os encarcerados, e de sua atenção solícita
um amigo para outro amigo do coração"
fiara com os enfermos. Muitas vezes agiu como
[Isgcnda Maior, 1, XI. 1 12). De lato, ela foi a
conciliadora entre países em guerra. Encora-
tal ponto consciente da —> presença de Jesus
jou o papa Gregório XI (t 1378) a deixai'
enquanto orava, que "recitavam junta mente
Avinbãoe retornara Roma, apoiando-o iirme-
os > salmos, passeando sozinhos daqui para
menlc. Da mesma maneira agiu com seu su-
lá, nos corredores, como duas irmãs de
cessor, Urbano VI (t 1389), Quando, em 1378.
religião que recitam juntas o ofício" (jhid.). A
loi eleito um antipapa--Clemente Vil (] 1394)
condição experimentada por C. de união
— ela empregou todas as suas forças na oração
(ransíornianlc - dom gratuito de Deus - ê ao
c na luta para que losse resolvido o cisma
mesmo tempo o resultado de uma sempre
interno da Igreja. Por isto transferiu-se para
maior entrega de sua vontade própria. Em O
Roma, onde morreu em 29 de abril de 1380.
diálogo, Jesus lhe diz: "São um ou iro eu. por-
Antes de expirar, ofereceu sua vida pela —>
que perderam e abnegaram sua vontade pró -
Igreja: "O Deus eterno, recebi' o sacrifício de
pria, revestiram-se, uniram-se e identificaram-
minha vida neste corpo místico que é a santa
se com a minha" {D. 1).
Igreja. Nada tenho a oferecer, a não ser o que
C. foi urna mulher capaz ele amar prol lin-
me deste. Aceita, pois, meu coração, c coloca-
damente. Ela, que descreve Deus como "louco
o sobre a lace desta santa esposa" {Caria 371).
de amor" e como "ébrio de amor", foi, por sua
Foi canonizada em 14o 1 e declarada Doutora
vez, uma pessoa "enlouquecida" e "como que
da Igreja por Paulo VI, cm 1970.
inebriada" em seu amor. Em seus escritos
Os escritos de C. são: O diálogo, As cartas c As
explica que é precisamente do fato de que
orações. O diálogo é sua obra principal. Trata-se
foram feitos à imagem de Deus que os seres
de um compêndio de seu ensinamento
humanos tiram sua capacidade de amar. No
teológico e místico. Temos ainda quase qua-
Diálogo Deus diz: "Sem amor não podeis viver,
trocentas Cartas e vinte seis Orações. Estas
porque fostes feitos por mim por amor" (D. 93)
últimas são enraizadas nas grandes verdades
A razão pela qual C. - ou qualquer um de
da • lê cristã e demonstram claramente sua -
nós - pode amara Deus e as outras pessoas é
> união mística com Deus. Em suas orações a
porque Deus nos amou primeiro. Ela não
teologia transforma-se em doxologia.
cansa de surpreender-se com a profundidade e
II. > Experiência mística. Em sua ho- a imensidão do amor divino. Este amor
milia - no ato de proclamação de C. como manifesta-se sobretudo na criação e na—> re-
Doutora da Igreja - Paulo VI fez menção par- denção. Louvando o amor de Deus na criação,
ela o representa como "o amor inestimável com
ticular ao -» "carisma místico" que foi a fon-
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o qual refletiste em ti mesmo a tua criatura e
te apaixonaste por ela, e por
isto a criaste por amor" ( D . 13). Ela ficou si mesma como "ansiada por grandíssimo
ainda mais abismada pela manifestação tio desejo" ( D . 1). —> Desejo de Deus e da salva-
amor divino na > Encarnação. Novamente ela ção do — > mundo. Seu anseio por Deus é um
reza: "O abismo de caridade! Que coração pode desejo profundo de união com o Único que
ser perdoado por não explodir de amor ao ver pode saciar completamente o coração huma -
a sublimidade descerá tamanha vileza, como no. Era ansiosa porque procurava Alguém que
é a nossa humanidade?" (/). 13). ainda não podia ser possuído perfeitamente.
Tentando sondar o amor redentor de Deus, Somente na vida eterna, na > visão cie Deos,
ela exclama: "Tens necessidade de tua a aspiração estará livre de qualquer
criatura? Sim, parece-me. Porque tens jeito inquietação e a possessão será sen» tédio (D.
de que não poderias viver sem ela" ( D . 153). 41). Seu desejo de Deus é expresso com
O amor de C. para com Deus é o amor de eloqüência nas seguintes palavras: "Vós,
uma filha paia com seu pai alcluoso. Ern Trindade eterna, sois um mar profundo, que
muitos trechos de sua obra vemos que se quanto mais procuro, mais encontro, e
comprazia em dirigir-se a Deus como > "Pai quanto mais encontro, mais vos procuro" ( D ,
eterno" e descrever-se como "diletíssima e 167).
caríssima filhinha" de Deus. Ela se referia Ela ensinou que o desejo é a única coisa
também a Deus do mesmo modo como os infinita que a pessoa humana possui: "O vosso
amidos tratam-se uns aos outros. Adotando desejo é infinito... eu que sou o Deus infinito,
a analogia da —> amizade humana, ela expli- quero ser servido por vós com algo infinito, e
ca a amizade com Deus como relação de ter- outra coisa infinita não tendes a não ser o
nura amorosa "porque o amor transforma-se afeto e o desejo da alma" (D. y2). O desejo
na coisa amada". Observa deliciosamente: dilata o coração, de tal modo que nele se
"As coisas secretas são manilestadas ao encontra espaço para Deus e também para
amigo que se tornou uma coisa só com seu ioda a humanidade.
amigo" ( I X 60). A característica de todos os fsto leva a uma ânsia contínua pela salva -
que são amigos de Deus é experimentarem ção do mundo. C. ora: "Senhor meu, volve os
de modo particular" o amor divino. Eles não olhos de tua misericórdia sobre leu povo e
se contentam com amof puramente sobre o corpo místico da santa Igreja... não
intelectual, "mas o degustam, conhecem, me ausentarei de tua presença, até que veja
provam e percebem como sentimento em sua que fizeste misericórdia" ( I ) . 13).
alma" (/). 61). Este amor, Iruto cia Em sua vida mística C. foi uma cristã cujo
experiência, constitui o coração da olhar esteve fixado solidamente e acima de
experiência mística. O itinerário para Deus é tudo em Jesus Cristo crucifiçado, pelo qual
também uma viagem dentro de si mesmo, no nutriu apaixonado amor. Este é seu núcleo
interior do que C. chama de "a —* cela do central, como lambem a inspiração de ioda
conhecimento de si mesmo", onde a pessoa sua oração e ação.
recebe o conhecimento prático da infinita Ao proclamá-la Doutora da Igreja, Paulo VI
bondade de Deus ( I X 1). chamou-a "Mística do Verbo feito carne,
sobretudo de Jesus crucificado".' Comentan-
III. Na doutrina de ('. acentua-se forte- do a resposta de Jesus a Filipe em Jo 14,9, ela
mente que o amor de Deus e o amor do pró- enfaliza que Jesus Cristo é o único em grau
ximo são inseparáveis. Deus o diz: "Eu vos de nos mostrar quem seja Deus. Quando olha
ordeno que me ameis com aquele amor com para Jesus Cristo, vê em primeiro lugar o
que vos amo. Isto não podeis fazer para co- amor e a misericórdia de Deus. Por causa
migo... Porém, eis que pus o próximo a vosso deste amor e misericórdia, Jesus "correu
lado, para que façais a ele o que não podeis como uru apaixonado" em direção à sua mor-
lazer a mim" ( / X 64). Ela encarnou muito le. C. pôde dizer, consequentemente, que não
bem este pensamento, correspondendo ao foram os cravos, mas o amor "que o pregou
amor infinito e vertiginoso de Deus, vivendo na cruz" (Carta 38).
simultaneamente uma vida de —> serviço ao Certa vez, enquanto estava pedindo a Deus
próximo, caridade e cheia de compaixão. Por que lhe concedesse um coração novo, lez a
esta razão, ficou conhecida corno "mística do experiência mística de Jesus extrair lhe o co-
caminho". ração do corpo e substitui-lo com o próprio.
C- foi, muitas vezes, descrita como mulher Daquele momento em diante ela se sentiu
cheia de desejos. Na verdade, ela se refere a capaz de amara Deus e o próximo com o
de estar associada a Jesus em seu sofrer e lo, Caterina scrivo a voi, Gorle (BG) 1995; T.
na sede de salvação do mundo inteiro Piccari, Caterina da Siena, mística illetterata.
(ihicL. II, VI, 194). Ela mesma, firmando-se Milão 199t.
em Jo 14,6, põe em relevo que não existe
M O'Driscoll
outro modo de se chegar a Deus, a não ser o
caminho de Jesus Cristo. Quando se refere a CAUSSADE JEAN PIERRE DE
Cristo como caminho, usa a imagem de
I, Traços bibliográficos e obras. Nasceu
ponte estendida entre Deus e a humanidade.
em 7 de março de 1675, ern Quercv, sudeste
Explica que a estrada entre o céu e a terra
da França. Em 1693 entrou na Companhia de
havia sido destruída pelo -> pecado e, como
Jesus, e depois de alguns anos de docência
conseqüência, os seres humanos tornaram-se
ern Aurillae e Toulouse, a partir de 1715 ini-
incapazes de alcançai o céu, por isso Deus
ciou urna vida de pregador itinerante. A
deu-lhes uma ponte, Jesus Cristo, para
primeira estada na Lorena, de 1729 a 1731,
oferecer-lhes a condição de alcançá-lo: "Eu,
proporcionou-lhe um contato com as
querendo remediar a tantos vossos males,
visitandinas de Nancy, ãs quais se deve a
dei-vos uma ponte, que é meu Filho" [ D . 21).
conservação de sua volumosa
É necessário que atravessemos esta ponte
correspondência e da melhor parle de seu
para chegarmos ã nossa mela. E uma ponte
pensamento. Depois de permanecer no
prodigiosa, 'porque edificada e recoberta
seminário de Albi, como diretor espiritual,
pela misericórdia" ( D . 27). Os homens
retornou a Lorena. De sua presença
dispõem de locais de recuperação durante a
beneficiaram-se largamente as visiiandinas,
caminhada, os -> sacramentos, e em
que tinham corno superioras de suas comu-
particular a Eucaristia, que oíerece
nidades mulheres inteligentes, cultas e de
0 alimento "para que minhas criaturas ca-
profunda vida interior. Foi neste período que
minhantes e peregrinas, cansadas, não des-
estudou, além de —> Francisco de Sales,
faleçam pelo caminho" (D. 27). C. garante que
também a doutrina de—> Fénelon e de —>
a viagem através desta ponte "é tão agradável
Bossuet, para refutar o —» semiquietismo.
para os que por ela passam, que ioda
Das informações biográlicas dedu/.-se o c
amargura torna-se docee todo peso, por maior
uaclro de uma vida movimentada, em níti -c o
que seja, torna-se leve" ( D , 28). Mediante o
contraste com as aspirações tie descanso
percurso pela Ponte-Cristo nós chegamos ao
profundo de C , mas isto ajuda a compreender
fim do itinerário místico, isto é, Deus, "mar
melhorem que se radica sua vida mística e
pacífico" (D. 27).
como se alimenta, também no meio de dif i-
NOTAS: 1 AAS, 62 ( 1970) 10, 675;2 Ibid. culdades e do exercício de cargos, como o de
superior, o qual recusaria com todo prazer.
BIBL. Obras: // Dialogo, Siena 1995; Le orazioni, Sua vida, provada também pela cegueira, ter-
Roma 1978; Le Lettere, Siena 1913-1922. Epis- minou cm Toulouse, em 1751.
tolario, Roma 1940; Raimondo da Cápua, Não se trata de um teólogo de grande fama,
Legenda Major, Paris 1866; Thomas Antonii Dc
Senis, Libellus de Supplemento, Roma 1974. mas seu testemunho merece divulgação pelo
Estudos: G. Cavallini, La dottrina deWamore in fato de que se trata de um homem que viveu
S. Caterina da Siena, in Divus Thomas, 75 (1972), pessoalmente o que transmitiu através de
369-388; T. Deman, La théologie dans la vie de suas obras, das quais as mais admiráveis são
sainte Catherine de Sietine, in VSpS 2 ( 1935), 1 - os itinerários de espiritualidade e vida mística,
24; C. DUrso, Ilgenio di sa y i ta Caterina, Ruina percorridos pelas pessoas que se beneficiaram
1971: H.D. Egan, Caterina da Siena, in Id., /
de sua direção espiritual, particularmente as
mistici e la mística, Città dcl Vaticano 1995.
394-406: R. Garrignu-l.a^rangc, L'unione visitandinas de Nancy, que foram as primeiras
mística in S. Caterina da Siena, Florença 1938; a fazer circular seus escritos e seus en-
Jd., La charité selon sainte Catherine de Sienne, sinamentos, conservados e transcritos tam -
in VieSp 47 (1936), 29-44; Giovanni Paolo II. bém em pequenas coletâneas por argumento.
Amantíssima Providentia. in AAS 72 Í1980). 569- A primeira obra foi publicada em 1741,
581; M.M. Gorce, s.v.. in DSAM U . 327-348; A. corn o título: Instruction spiriluciles cn jontie de
Grion, La dottrina di santa Caterina da Siena,
Brescia 1962; Id., T\\e Mystical Personality of st. dialogues siir les divers ciais ti'orai sot:, suivant la
Catherine of Siena, in Cross and Crown. 2 {1950) doctrine de M. Bossuet, éveque de Meaux.
5, 266-286; C. Kearns, The Wisdom of st. O contato mais vivo com seu pensamento
Catherine, in 4ng 57(1980), 22-3 243: AS. pode-se obter, porém, através de suas Cartas,
Permisa.no, Mystic escritas em particular para as pessoas por ele
1 i f t h e Absurd: Saint Catherine o f Siena, in espiritualmente dirigidas. Respondendo pon -
Religions UfeReview, 97 (I9S2), 201 -214; V. Peri,
Material com direitos autor
to por ponto a Iodas as questões, ev dando in-
dicações para o caminho espiritual, C. trans-
formou-as em pequenos tratados, adaptados
às exigências de cada pessoa.
A obra, pela qual é mais conhecido, éLahan-
don à la Providence divine, publicada pela
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CIPRIANO K,m<.)
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CIRILO DE JERUSALÉM 22
(sAo) 8
bispo em 348, sua eleição episcopal guarda batismo, sobre a crisma, sobre o corpo e o
pontos obscuros. De faio, fora proposto para a sangue de Cristo, sobre a liturgia eucarística.
sé de Jerusalém, provavelmente por Acácio (t II. A —> mistagogia é o ângulo do qual
348), que erroneamente o julgava pertencer à es-
sua ala tiloariana. Mas C. divergia de Acácio tudamos a mística em C. que, como todos os
no terreno doutrinal e sobretudo no jurídico, Padres, por meio da catequese rnistagógica
na questão da autonomia de sua sede valoriza os sinais para introduzir o mistério
perante a de Cesaréia. Depois disto foi depos- celebrado, interpreta os ritos á luz da tipo-
to pelo Concílio de Jerusalém, em 357. Pelo logia bíblica e predispõe ao compromisso
período de mais de vinte anos (357-78), entre cristão c eclesial, expressão da nova vida em
outras muitas vicissitudes, foi exilado por —> Cristo. Por loiça da "disciplina do arcano"
três vezes. Retornando definitivamente para ele explica os ritos apenas para os neófitos.
sua sede, em 378, juntamente com a unidade Valoriza assim o eleito psicológico da surpre-
trouxe também a paz. Participou do Concílio sa e ressalta a eficácia da experiência espiri -
Constantinopolitano I. em 381, e no de 382, tual vivida. Insiste sobre a exigência
no qual os bispos orientais reafirmaram ofi- pastoral
cialmente a ortodoxia e validade da ordena- de fazer com que os neólitos penetrem no
ção episcopal de t\, até então contestada de mistério dos ritos, afastando-os de uma in-
várias maneiras. Morreu em 386, aproxima- terpretação mágica, o que os tomaria "exte-
damente. riores" à sua vida espiritual.
Quanto aos escritos, conservamos dele
vinte e quatro Homilias, correspondentes às III. Simbolismo e mistério. C , como os
célebres vinte e quatro catequeses. A primei - outros Padres da Igreja, linha a pretensão de
ra catequese é introdutória, inserir o simbolismo cristão no quadro do
Protocatechésis. e as dezoito subseqüentes simbolismo "geral" das outras religiões não
{de 2 a 19) são dirigidas aos que, tendo cristãs. Tal simbolismo, que leva a peneirar
passado para a segunda fase do no mistério de Crislo (da mistagogia â místi -
catecurnenalo, os chamados photizómenoi ca), mostra-se sob diversas formas: verbal,
ou illumioaudi, receberiam o batismo na baseado na —> imagem; tipológico, baseado
noite do Sábado Santo. São as catequeses cm fatos ou personagens do AT c do \T, que
(pre-)hatismais. As últimas cinco (de 20 a seriam figuras de Cristo, e ritual, baseado
24), explicam aos neófitos, durante a semana nos gestos corporais. Elemento vivificante do
da Páscoa, o significado dos três sacramentos simbolismo cristão é a fé. O simbolismo é
da iniciação cristã que acabaram de recebei serviço da -> fé e constitui, para C, sinal social
(batismo, crisma. Eucaristia). São as do -> Corpo místico de Cristo porque,
catequeses rnistagógicas . No passado, a mediante tal simbolismo, Crislo manifesta os
autenticidade destas últimas tora seus mistérios, fazendo com que dele
contestada, porque eram atribuídas pelos participem os membros cie seu corpo, tanto
manuscritos ou a C. ou a seu sucessor João II individual como socialmente. A catequese
de Jerusalém (f 417). Recentemente os rnistagógica de C. faz refluir a dimensão
estudiosos propendem, cada vez mais, para doutrinal e a dimensão moral para o presente
atribuí-las a C. A protocatequese e as cate- da —> liturgia, especificamente na celebração
queses batismais loram pregadas no M ar- dos sacramentos tia iniciação cristã. Toda a
tyrium da basílica do Sautu Sepulcro, as catequese de C. desenvolve-se no contexto
catequeses rnistagógicas na cúpula da basí- litúrgico (Protoc. 13-14). Ele justifica para
lica da Anástasis. Do ponto de vista dos os neólitos a catequese rnistagógica no
conteúdos, a protocatequese é do tipo de aco- começo de suas catequeses rnistagógicas.
lhimento; as cinco primeiras das dezoito Enriquecidos pela experiência dos mistérios
catequeses batismais tratam, cada uma res- recebidos na noite de sábado santo, e
pectivamente, das disposições prévias para tornados aptos para serem instruídos, porque
o batismo, da —> conversão, do batismo» das agora já loram batizados, eles estavam nas
dez verdades dogmáticas do Símbolo da lé. melhores das disposições para a catequese
As treze subseqüentes (7-19) constituem uma ( CVÍÍ. M i s f . 1,1). Com lato pastoral ('.
catequese continuada do Símbolo de Jeru- exclama: "Respeita este lugar
salém e as últimas (20-4), rnistagógicas, ver- e deixa-te educar por aquele que está diante
sam por sua vez, cada uma na ordem de de teus olhos" (Protoc. 4).
sucessão, sobre os ritos do batismo, sobre o
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IV. Mística do batismo. O ingresso no
balistério é —> símbolo do paraíso (cf. Protoc.
I 5), é a entrada na Igreja o retorno ao paraí -
so perdido. A decoração do balistério (o Bom
Pastor em jardim), sua forma octogonal (o
número oito é símbolo da ressurreição e da
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C L E M E N T E D E R O M A (santo; 240
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CONFORMIDADE, COM A VONTADE- DE D li 25
US 2
mo, fazem com que a convivência humana sem dias prefixados, antes que um só deles
incidentes, grandes ou pequenos, seja existisse. Quão insondáveis, ó Deus, são para
racionalmente inconcebível; por isso, realística mim teus desígnios" (cf. SI 139,16).
e historicamente tornar-se-ia também ir- II. Na experiência cristã. É cristão, pois,
racional quem presumisse conceber uma vida aquele que tem a graça, dada pelo Espírito
sem incidentes; como também seria irracional, Santo, de "crer", isto c, de entregar-se "todo
e até injusto, pôr Deus como a causa dos inteiro" (cf. DV 5) ao "Deus da esperança" (Rm
nossos males. 15,13), em qualquer circunstância na qual
venha a se encontrar; qualquer acontecimento
que lhe sobrevier poderá fazê-lo sofrei*, mas
II. Noção. Feito esse esclarecimento, diz-
não o perturbará profundamente por muito
se cristão aquele que "cré", ou, paia ser mais
tempo, porque teve a graça do Espírito Santo
preciso, aquele que, iluminado pelo —* Espí-
de entrar em comunhão afetivo-filial (cf. 2Tm
rito, "tem a graça" de crer que, sob o invólu-
2,12). Por isso, em face das vicissitudes,
cro, em geral opaco, de cada acontecimento,
provações, aborrecimentos, aflições (cf. At
grande ou pequeno, triste ou alegre - inclusive
5,41; 14,22; lPd 4,12-16), sabe "muito bem
aquele que o homem, enquanto ser "sem
contentar-me em qualquer situação. Sei passar
inteligência e de coração tardo para crer" (cf.
provações e sei viver em abundância. Para
I.c 24,25), isto é, hipnotizado pelo sensível, é
tudo e por tudo estou iniciado..." (Fl 4,11-12).
tentado, como —> Abraão, a chamar de des-
O cristão, em todos os casos, é confiante,
graça, —> casualidade, > inveja, -> ciúme,
otimista e até alegre, porque cré firmemente
calúnia, mal etc. - se esconde um mistério de
que nada pode acontecer "por acaso", que
fé, ou seja, é o sacramento da vontade de Deus
Deus, seu Pai celeste, jamais se distrai, que ele
(cf. Ef 1,9), presente como artífice supremo na
c artista tão especial que é capaz de escrever
vida dos povos e das pessoas. Deus mesmo
certo por linhas tortas, capaz de ajeitar as
saberá expressar, cedo ou tarde, uma sinfonia
coisas que "parecem" estar indo mal. O cristão
afinadíssima, para ele "possibilíssima" e
tem a graça de crer que sc obtiver a graça do
facílima: "Há alguma coisa impossível para o
Espírito Santo de entrar nos planos de Deus,
Senhor?" (Gn 18,14); a sinfonia da —> san-
tudo nele concorrerá milagrosamente para o
tificação individual ou coletiva, rápida ou len-
bem; aliás, para um "bem maior , porque crê
ta, próxima ou distante, mas certamente urna
firmemente que Deus não vai "empatar" com o
sintonia, tão certa como a existência de Deus.
mal, mas vencê-lo com folga (cl. Rm 8,28; 5,3-
Essa, em síntese, é a tese clássica que nos
5). Disso o cristão está muito seguro, não
foi transmitida pelos Pais na fé, com expres-
porque vê c entende tudo, pois c Deus quem vê
sões cheias de ■ > sabedoria e de poesia. Tese
e entende por ele; 1 como verdadeiro
que se assenta sobre o sólido fundamento
protagonista da história (cf. Dt 32,10-12),
destes três pilares: 1. "Deus é": "não
absolutamente nada escapa a ele, Deus, a
temais... não tenhais medo... E ao Senhor
quem nada é impossível {cf. Gn 18,14; Mt
Todo-pode-roso que deveis... o vosso temor..."
10,27; Lc 1,37), tirará sempre vantagem de
(Is 8,12-13); "Se não crerdes, não
tudo; por isso, a confiança, que é otimismo e
permanecereis* (Is 7,9); "na -> tranqüilidade e
alegria, do cristão não repousa no Irágil fun-
na confiança está a vossa força" (Is 30,1 5). 2.
damento da psicologia (cf. Ez 29,6-8), mas no
"Deus sabe": veja-se o discurso sobre a
solidíssirno e indestrutível fundamento da fé
providência, cujas palavras-chave são: "Não
inlusa pelo —> Espírito.
vos preocupeis", porque "o vosso Pai celeste
São duas, pois, as impostações possíveis
sabe..." (cf. Ml 6,25.28. 31.34). 3. "Deus é
que o homem pode dar á sua vida: 1. A da
pai". " O vosso —» Pai celeste" é outra
palavra-chave do discurso sobre a providência prudência humana t que termina em
confusão política e em embustes de todo tipo,
(cf. Mt 6,30.32) e do sermão da montanha (cf.
os quais, por sua vez, acabam em angústias e
5,16.45.48; 7,7-11).
preocupações, em medos e suspeitas, em
Essa tese propõe uma doutrina fundamen-
temores e esperanças, o que o leva a perder o
tal, mas cheia de mistérios e de discussões, de
sono, porque todas as dores e angústias
dificuldades e crises, de luzes e trevas: o mal
repercutem lambem no corpo. 2. A da f é
sempre foi e será o mistério mais nebuloso,
mais discutido: "Os teus olhos, meu Deus", i n f u s a pelo Espírito, que redunda em bem-
estar místico fundamental, leito de —* coragem
exclama o grande salmo da providência, "já me
viam; foram registrados em leu livro todos os e de otimismo, de entrega e de confiança, de
serenidade c de -> alegria, que se sintetizam
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numa profunda —> paz psicofísica, que o
tranquilizam e lhe permitem descansar num
sono reparador e proiundo: o sono de quem
sente" que
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rOSSOl AÇÃO ESPIRITUAL IV. Natureza e graça. Na c. dá-se um en-
contro íntimo entre a natureza e a graça.
Senhor", É uni verdadeiro crescimento de 260
amor, que pode assumir ora o aspecto de gra-
tidão, ora de arrependimento, ora de partici- Esse fenômeno, seja em sua substância quanto
pação na paixão de Cristo etc. Obviamente, em seus reflexos psicológicos, põe em cena
crescendo no amor, a pessoa se sente satis- vários elementos que têm a ver com o mundo
feita e consolada cm relação ao que mais da graça, mas de graça que se encarna, toma
importa, ou seja, o amora Deus. conta da psique e até da —> corporeidade.
Inácio não deixa de notar que as três vir- A c. envolve as duas faculdades típicas do
tudes leologais se expandem e crescem quando homem, a inteligência e a —> vontade,
Deus consola; de tato, há um "aumento de naturalmente orientadas para o que é ver-
esperança, fé c caridade, e de toda alegria in- dadeiro e bom; e, a partir delas, verte-se, em
terior, o que estimula e atrai para as coisas geral, para o plano físico, provocando doce
celestes e a salvação da alma. dando-lhe calma sentimento de alegria, de paz, de satisfação.
Isso, segundo todas as experiências dos
e paz em seu Senhor e Redentor".
santos, tem valor enorme, que ainda não foi
suficientemente explorado pela psicologia.
III. A c. será verdadeira se for momento de
Considerada, também, do ponto de vista
crescimento. » Santo Agostinho advertiu, a seu
ontológico, a c\ apresenta-se como a emer-
—
I I Girardello
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CONTEMPLAÇÃO
Assis, de fato, vê na natureza a inocência das nenhuma operação: apenas acolhe ativamente o
origens, isto é, tal como ela saiu das mãos do Deus que vem.
Criador, antes do pecado original. Em todo
caso, qualquer seja a mediação que leva o IV. O problema tia relação entre vida
espírito humano àc. de Deus, os místicos não contemplativa c ação, posto desde o início do
se detêm na mediação em si mesma, pois ela é cristianismo, e bastante pi >lêniico. Aeosli-
apenas meio para chegar a Deus. nho, a esse propósito, comentando Lucas 1
Na atividade contemplativa dos místicos (Í.3S-42, assim escreve: "As palavras de nosso
podemos distinguir três formas principais de Senhor Jesus Cristo querem nos recordar que
oração contemplativa: 1. A oração litúrgica,
—»
existe um único ponto de checada ao qual
isto é, a oração feita em nome da Igreja. Tal tendemos, em meio à dureza das várias ocu-
pações deste mundo. Para ele tendemos por-
oração, recitada no curso do —»ano litúrgico,
que ainda somos peregrinos, não gente estável;
permite reviver o conjunto do mistério de
estamos a caminho, ainda não chegamos à
Cristo, desdobrado no tempo c nas situações
pátria; vivemos no anseio, não ainda na sa-
pessoais. 2, A oração contemplativa pessoal,
tisfação... Marta e Maria eram duas irmãs, não
ou mais comumente chamada de —> medita- só no piano da natureza, mas também no da
ção, cujo fundamento é a —> lectio divina. 3. religião; ambas honravam a Deus, ambas
A c. mística, isto é, a atividade que permite serviam ao Senhor presente na carne, cm
captar a realidade espiritual mediante opera- pcrleiia harmonia de sentimentos. Marta o
ção simples do espírito humano, ao termo da acolheu como era costume acolher os pere-
atividade meditativa (c. adquirida), e aquela grinos, mas acolheu o Senhor como serva...
que segue à meditação (c. mística, infusa ou Aliás tu, Marta, deve-se dizer sem querer des-
passiva); esta última é um estado espiritual merecer-te, tu, já abençoada pelo teu elogíavel
de —> passividade cm relação à ação de Deus. serviço, como recompensa queres o repouso.
Embora alguns autores, sobretudo da —* Agora estás mergulhada cm múltiplas ativi-
escola dominicana, não aceitem a legitimidade dades, desejas descanso para os corpos mor-
dac. adquirida, é preciso atribuir a esta valor tais, ainda que santos... Lá em cima não ha-
prático, comprovado pela experiência: a alma verá lugar para isso. Haverá o quê, então? 0
pode realizar operação simples, de tipo in- que Maria escolheu: lá seremos alimentados,
tuitivo-afetivo, enquanto, do outro lado, não há não alimentaremos. Por isso é completo e
como negar que Deus pode agir diretamente na perfeito o que Maria escolheu aqui: daquela
alma. Por isso, os autores místicos distinguem rica mesa recolhia as migalhas da palavra do
dois níveis de atividade da alma: um nível Senhor... (o qual) mandará que seus servos
comum, no qual nascem as operações do sentem-se à mesa e passará a servi-los".13
conhecimento racional e discursivo; e um Marta e Maria são exemplo da unidade radical,
superior, no qual Deus age diretamente na na qual não se opõem vida ativa e vida
alma, tornando-se presente mediante modo contemplativa; juntas representam uma vida
simples de conhecimento, de onde nasce a toda tomada pela escuta contemplativa, so-
adesão pela fé. bretudo quando se é chamado ao empe-
A -* presença de Deus na alma é, pois, viva nhamento nas atividades do mundo.
e eficaz, infunde as -» virtudes teologais da fé, A unidade radical da vida espiritual - por-
da esperança e da caridade. O dom da c.# tanto, a unidade entre c. e ação - se encontra,
oferecido pelo Espírito c, de modo particular, como afirma Teresa de Jesus na Sétima ■
pela caridade (cf. Rm 5,5), consiste no fato de Morada, no ápice da vida mística, na união
que o orante antegoza, aqui e agora, Deus teologal em Deus-Trindade-de-amor. Aí não há
presente e operante nele, de modo sobrena- mais distinção entre apostolado e oração, mas a
tural: as formas e os graus dessa tomada de comunhão mística de amor se faz mística
consciência variam muito. Ela consiste numa apostólica,lh porque a vida teologal é vivida em
espécie de interiorização cada vez mais pro- plenitude tanto pelo contemplativo quanto pelo
funda, que leva ao aposento central do castelo apóstolo.
interior - segundo a imagem usada por —> Para o contemplativo, a vida de fé mantém
Teresa de Jesus -, onde se encontra Deus. É principalmente o caráter de obscuridade na
Deus mesmo quem, por meio da sua —> graça, caminhada para Deus; mas na vida apostólica a
atrai a alma para si e a impele para o co- fé se apresenta como nova luz projetada sobre o
nhecimento-adesão. Tal intervenção livre e mundo a ser transformado, e como princípio de
gratuita de Deus a alma a acolhe numa atitude
passiva, no sentido de que ela não exerce
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CONTEMPLAÇÃO 338
ação. Quanto à esperança, segundo João da
Cruz, aparece como
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CÜWKRSAÜ 27
2
mental para o —> seguimento de Cristo. A des- muito evidentes, a de —> Teresa de Lisieux,
crição da c., que Mateus faz, refere-se direta- dotada de pensamento menos brilhante, é
mente aos discípulos. Converter-se quer dizer menos evidente, mas não menos genuína. Seus
seguir -> Cristo. Segui-lo significa tomar a -> pensamentos giram em torno da realização
cruz, ganhar a própria vida perdendo-a (cf. Mc profunda da paternidade de Deus e comportam
8,35). Responder à mensagem de Jesus Cristo o deslocamento de um estado profundo de ->
implica não só mudança interior, mas também angústia para uma confiança firme na
uma mudança de comportamento, com os providencia de Deus. A partir daí, desenvolve o
frutos das boas obras. O evangelho de Mateus ensinamento da sua "pequena via", da —>
infância espiritual, da qual dão testemunho as
desenvolve esse tema no sermão da montanha
palavras de fechamento da sua autobiografia
e na analogia da árvore
espiritual: "Vou a ele com confiança e amor".3
que produz bons frutos (cf. Mt 5-7; 7,16-20).
Discípulo é quem faz a vontade do —> Pai e
III. Dimensões eclesiais da c. Com o —> ba-
permanece unido a Cristo, a verdadeira videira
tismo, os cristãos são libertados do —> pecado
(cf. Ml 7,21-23; Jo 15,1-17). O evangelho de
e tornam-se membros do -» Corpo místico de
Lucas relaciona a c. com a reconciliação que
Cristo, a --> Igreja. O sacramento da —>
Deus estende aos pecadores. É especialmente penitência reconcilia novamente as pessoas
visível nas parábolas do cap. 15, a mais com Deus e com a Igreja, "que feriram pe-
famosa das quais é a do filho pródigo (cf. Lc cando" (LG 11). Ac. contínua encontra a sua
15,11-32). O filho perdido é reencontrado e se fonte e o seu alimento na —> eucaristia, que é
reconcilia com a misericórdia do Pai. A alimento dos que peregrinam na letra. A re-
misericórdia de Deus, como a do filho pródigo, lação estreita que existe entre os atos externos
se estende a todos os que pretendem mudar de de penitência, a c. interior, a —> oração e os
vida, converter-se radicalmente e abraçar a atos de —> caridade, afirma-se em numerosos
vida de discípulo. textos litúrgicos (cf. Paenitemini, 2).
A atitude do cristão na oração éc, pois o ato
Ií. Histórias típicas de c. Uma das mais de rezar inclui a escolha consciente e explícita
claras descrições do processo de c. podemos de Deus como interlocutor. Dado que dele
encontrá-la nas Confissões de —> Agostinho. recebemos tudo o que pedirmos (cf. 1 Jo 3,22),
Nessa obra de louvor ao amor misericordioso a oração que pede o perdão conduz o cristão à
de Deus, Agostinho narra o seu afastamento mais plena participação na vida de Cristo.
gradual do pecado e da cegueira em relação a Pedir perdão é o requisito fundamental tanto
Deus que "o chama... e cujo fulgor dissipa a da liturgia eucarística quanto da oração feita
cegueira". 1 Essa clássica autobiografia no segredo do coração (cf. Mt 5,6).
espiritual fornece, sobretudo, um premente
apelo à necessidade de transformação de todos IV. C. e responsabilidade social. Para os
os aspectos da vida: intelectual, afetivo, moral, cristãos, a c. tem não só dimensão pessoal,
religioso. mas também dimensão social. A vida cristã é
-» B. Pascal experimentou que a c. é um ato pascal, modelada segundo a morte e ressur-
da -> graça de Deus, mas que o papel do reição salvíficas de Cristo, que trouxe a nova
individuo no processo de c. c também impor- vida mediante a morte. É evidente que os cris-
tante. Ele, por isso, estimula a busca de Deus, lãos, que compartilham a missão da Igreja, são
o que pressupõe uma sincera mudança do chamados a trabalhar para realizar uma
coração. Pascal experimentou a c. cm Cristo transformação tanto individual quanto social,
num momento preciso e num lugar que jamais a serviço do Reino de Deus, como declarou o
esqueceria; de fato, conservou um memorial Sínodo mundial dos bispos de 1971: "A ação a
escrito da sua c, ocorrida em 1654, e manteve- favor da —»justiça e a participação na trans-
o costurado à sua roupa até o dia em que veio formação do mundo surgem plenamente como
a falecer. Talvez a parle mais comovente do dimensão constitutiva da pregação do
seu memorial seja esta singela afirmação: Evangelho".* 1 Enfim, ac. c a experiência con-
"Alegria, alegria, alegria, lágrimas de alegria".2 victa por meio da qual todos nós somos cha-
Esse movimento interior rumo ao êxtase de mados pelo Pai a exercer a mesma missão do
alegria, que é uma das características dac. de Cristo: que o mundo possa se encher da sua
Pascal, é uma experiência comum aos cristãos esperança e ser transformado pelo seu amor.
diante da misericórdia e da bondade de Deus.
Enquanto as c. de Agostinho e de Pascal são
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NOTAG: 1 Libro X, 27,38;2 Pensées, Ballimore
1966. 309;3 Story ofa Soul, Washington 1975,259;4
United
tuati, 207;2 Teresa de Ávila. Vida 11,4;1 Ibid., de dualismo: em particular, deixou para trás
13,2. tanto o positivismo que pensava o ser humano
como organismo biológico, como máquina,
BIBL.: Ch.-A.Bernard, Force, in DSAM V, 685-694; onde a realidade da consciência era totalmente
R. Fabris, IM. virtù deicoraggiu. La "franchezza
"nella Bibbia, Casale Monferrato 1985; RA secundária, quanto o idealismo, que reduzia a
Gauthier, Magnanimité. L'idéal de la grandeur verdade do homem unicamente à consciência,
dans la philosophie païnne et dans la théologie rebaixando o c. a mero objeto de
chrétienne, Paris 1951 ; T. Goffi, s.v., in DES conhecimento. A atual antropologia considera
1,632-634; J. Picper, Stdla fortezza, Bréscia
1956; C. Spicq. Théologie morale du Nouveau a pessoa como uni todo e vê a origina-1 idade
Testament, Paris 1965. do homem na abertura para o mundo da sua
liberdade inteligente, a xveltofjenheit,
U. Occhialiui abertura mediada justamente pelo c. O c.
humano é um modo particular de ser no
mun-d<), totalmente diferente das coisas que o
circundam, que ignoram a si próprias. Ot\
humano é um c. vivido, habitado por
intencionalidade, lugar original da
manifestação e da comunicação da
CORPO interioridade humana com o que está fora, com
a alteridade. No meu agir e no meu viver, cu
I. Status quaestionis. O interesse pelo a, no sou o meu c. Aí, porém, começam a surgir os
mundo de hoje, é um fato comprovado. De problemas. É correto, mas algo apenas formal,
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indicara particularíssima relação do meu c.
com a minha liberdade; abster-se, porém, de
precisar seus conteúdos
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CORPO MÍSTICO qual os aspectos jurídico e caritativo não per-
manecem extrínsecos um ao outro, mas "se
enquanto a união dos lieis com Cristo, nesse completam e se aperfeiçoam mutuamente
único corpo, é diferente de união física ou (como, em nós, o corpo e a alma) e procedem de
moral; ela pertence ao mistério não só do amor um só e idêntico Salvador" (n. 63). A i
eterno com que o Filho do Pai "já antes do mpostação cristológica e pneumatológica da
inicio tio mundo... nos abraçou" (n. 75). mas encíclica é inegável e, embora nela se afirme
também do seu amor "histórico" por nós, com o que "para definir e descrever" a Igreja de Cristo
qual mantém "presentes e ligados a si lodos os não existe nada "mais nobre, grande e divino"
membros da Igreja, de modo muito mais claro do que a expressão "corpo místico de Cristo" (n.
e afetuoso do que aquele com que uma mãe 13), não se quer atribuir a ela (unção
olha seu filho e o segura no colo, e com que exclusivista. Rea^e se contra os que a haviam
um homem conhece e ama a si mesmo" (n. 76). relegado a "estágio pré-teológico", para dar
Lembradas as imagens da união nupcial e preferência à noção de povo de Deus, cujo
dos ramos e da videira, bem como a tensão de fundamento bíblico e patrístico seria muito
iodo o corpo social para um único fim, o mais fundamentado. Claro, a fórmula "C. de
pontífice enfatiza que essa meta é a santi- Cristo" é capaz de remeter-nos ao mistério da
ficação dos membros do mesmo corpo e en- Igreja sem ceder a misticismos ilusórios, por-
contra a sua fonte no mistério trinitário: "0 que Pio XII advertia que o próprio Paulo, "em -
beneplácito do —> Pai eterno, a amável vonta- bora una entre si com admirável fusão Cristo e
de do nosso Salvador e, especialmente, a ins- o Corpo místico, contrapõe um ao outro como
piração interna e o impulso do Espírito Santo" Esposo e Esposa" (n. 85). Não é possível
(n. 68). Numa sociedade visível como a Igreja exprimir o mistério da I t :ieja sem recorrer a
não faltam vínculos de unidade, ditos múltiplas imagens e analogias, que jamais
"vínculos jurídicos", externos, como a profissão conseguirão esgotá-lo e, embora em certos
da única fé, a participação nos mesmos —» períodos históricos alguma delas possa parecer
sacramentos e a observância das leis da Igreja mais compreensiva e idônea para
sob a autoridade do sucessor de Pedro, indicar a missão da Igreja, cada noção deve
e internos, que derivam da fé, da —> esperança necessariamente ser integrada às demais, sem
e da caridade, com as quais nos unimos ao Pai nenhuma oposição.
da maneira mais estreita (cf. nn. 70-73) e a
Cristo, que "está em nós pelo seu Es-
IV. Os movimentos litúrgico, bíblico e
pírilo que nos foi comunicado e por meio do
patrístico muito contribuíram para o progresso
qual age de tal modo em nós que se deve dizer
da compreensão da Igreja, e acabaram
que toda realidade divina que o Espírito opera
desembocando, em grande parte, na consti-
em nós opera-a lambem Cristo" (n.
tuição Lutnen Genlitnn, que pôs em relevo a
77) . Assim, "todos os dons, as -> virtudes e os
dimensão sacramental e comunional da Igreja,
—> carismas que se encontram de modo emi-
o papel dos —> sacramentos, sobretudo da
nente, abundante e eficaz na Cabeça propa-
eucaristia, na sua edificação, a sua natureza
gam-se para lodos os membros da Igreja e neles
divina c humana, a relação entre carisma e
se aperfeiçoam cada dia, segundo o lugar de
ministérios etc. Os contextos históricos da
cada pessoa no C. de Jesus Cristo" (n.
encíclica Mystici Corporis c da Lionett Gen-tittm
78) . A união desse corpo atinge, nesta terra, o
são muito diferentes: a primeira, numa síntese
seu grau mais alto na eucaristia, "que nos dá o
de elementos bíblicos, teológicos e pastorais,
autor mesmo da graça santificante" (n. 83).
apresentou a doutrina da Igreja como C.
Maria, mãe da Cabeça quanto ao corpo, pela
fixando alguns pontos diante do debate em
sua participação na obra redentora tornou-se,
voga, que continuou também nos anos
"quanto ao espírito, mãe de todos os seus
seguintes. Tal doutrina encontrou acolhida
membros" (n. 108). Esses breves acenos
também nos inícios da década de 1960, tanto
permitem-nos constatar que a Mystici Corporis
que a Comissão doutrinária pre-conciliar
sintetizou uni século de reflexão mariológica e,
elaborou uma apresentação da Igreja como
baseando-se na impôs tacão societária da
realidade viva justamente se utilizando da no-
Igreja, equilibra seus traços com a noção bíblica
ção de C. Retirado esse projelo e com o cres-
e teológica do corpo de Cristo. Contra
cente interesse por outra noção bíblica, a de
tendências misticizantes, contínua a sublinhar
Povo de Deus, deu-se à doutrina do C. um lugar
o caráter social e visível da Igreja, e à
de destaque entre as demais figuras e imagens
concepções de tipo racionalista, sociológico ou
da Igreja (LG 7). Contra certas escolhas
quase que exclusivamente institucionais
arbitrárias, recentemente foi lembrado
contrapõe uma visão equilibrada, na 280
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CRISE ESPIRITUAL - CRISÓSTOMO JOÃO profissional de si próprio. A oposição mani-
(santo) festa-se entre o "proteger" e o "dominar" a 2S4
I. Duas formas de vida. Do ponto de vis- criação (cf. Gn 1). A crise, por isso, não é só
ta prático. p* >dem existir duas fornias de psicológica: trata-se de transformação cultural;
vida: uma "religiosa", ou do crente honesto, e nem deve ser vista só em chave negativa ou
outra "interior", ou dos pensadores, dos Ülóso- destrutiva, pois pode conter "produtividade"
íos, dos artistas. A dilcrença está no lato de inquestionável.
que a primeira implica relação de dependência
do Absoluto transcendente e pessoal, ao passo II. Crise cultural e c. espiritual. A crise
que a segunda se desenvolve autonomamente, cultural costuma atrair também a crise do
na imanência da própria vida psíquica. A vida espírito. Esta última pode ajjra\ar-se quando a
espiritual é a integração dessas duas espiritualidade é entendida como ascensus
dimensões, vistas como complementares: (ascensão) para Deus, e não como descensus
essencialmente interior, a vida espiritual é (descida) do Espírito.3 Só nesta acepção é
também vida do homem diante do seu Deus, possível a —> experiência de Deus pela pessoa
ele participa da vida de Deus, espírito do ho- humana. Essa —» inabitação divina, pelo dom
mem posto na escuta do Espírito de Deus.2 do Espírito, possibilita a experiência interior e
A capacidade de oposição, ínsita na natu- espiritual da passagem do estado de morte
reza humana, leva o ser humano também à para o estado de vida. Não é suficiente a
experiência do — > pecado, da sua oposição a catarse moral ou a —> "purificação" (aridez, a
Deus. Essa experiência não muda a essência tu me dos sent idos, a m >iie do espírito);
do ser humano: somente altera a sua -» san- impõe-se catarse ontológica, ou seja, mudança dc
tidade e a sua relação sobrenatural com Deus. todo o ser humano: —> corpo, —* alma e
A experiência do pecado pode bloquear a re- espírito. É a metanôia evangélica, a mudança
alização do sentimento religioso e favorecer a completa de mentalidade e de todo o ser
queda na dúvida, na desconfiança crítica, no humano. Tal -» conversão de vida põe em prática
desinteresse. Isso ocorre especialmente em o ensinamento de que ninguém pode conhecer
pessoas dotadas de emotividade não-ativa. Dois a Deus se antes não se conhece a si mesmo.
fenômenos entram em ação na c: um A superação da c. ocorre mediante revira-
cultural, ligado ao ambiente dc vida; c outro volta (imprevista ou lenta, traumática ou sere-
ligado à —* liberdade pessoal. Este último, na), pela qual a tensão da alma para a —> per-
numa situação de crise, pode levar à atitude feição, para fazer-se acolher por Deus, cede o
vital do tipo individualista, que põe a pessoa posto para a fé, para a pessoa ser perdoada e
em oposição a Deus e ao próximo. acolhida tal como é.
Deus não pode obrigar o homem a amá-lo, e NOTAS: 1Cf. J. Mac Avov. Crises affectives et vie
o homem pode rejeitar Deus, e a partir daí spiri-tuelte, in DSAM II, 2537-2538;2 Cf. P.
construir a própria vida na afirmação plena de Evdokimov, Le età delia vita spirituale, Bolonha
si mesmo. Por mais que essa posição possa 198l2 , 51;5 Cf.
parecer positiva, implica sempre a não- A. Rizzi, Essere nomo spirituale oggi, in T. Goffi -
B. Secondin (orgs.), Problemi e prospettive di spiri'
aceitação da dependência do Absoluto irans- tualità, Brescia 1983, 172, 185.
ceridente e pessoa!. Concretamente, se trata
da perda da síntese cristã que é criadora de liiBL.:Aa.Vv., hiitiation à la pratique de la théologie.
Paris 1983; Aa.Vv.,[Jesistenza Cristiana, Roma
elemento totalmente novo: o Eu divino falou ao
1990; Ch.-A. Bernard, Teologia spirituale, Cinisello
tu humano; a sua palavra o criou, tornou-o Bálsamo 1989*; P. Evdokimov, Ixi novità delia
consciente à sua imagem e continua a criá-lo e Spirito, Milão 1980; Id., U età delia vita spirituale,
a plenificá-lo, guardando-o na comunhão viva Bolonha 198t;T. Goffi - B. Secondin (orgs.)
com a sua Palavra feito canie. Problemi e prospettive di sp ir itu a lit à , Brescia
A situação histórico-cultural freqüen- 1983; J. Mae Avoy, Crises afíectiveset vie
temente se parece com a de "crise" radical. Dá- spirituelte, in DSAM II, 2537-2538; J. Mourmix,
Senso Cristiano delVuomo, Brescia 1948.
se distorção cultural entre o imenso e
explosivo apetite de liberdade e o também C. Morandin
imenso condicionamento imposto pelos co-
nhecimentos técnicos indispensáveis à vida
moderna. Sob esse aspecto, como cada liber-
dade se realiza em situação, a crise atual pa-
rece ocorrer por dissociação entre a exigência
cultural do indivíduo c a sua preparação
tccnico-cicntífica indispensável à afirmação CRISÓSTOMO JOÃO (santo)
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I. Vida e obras - Nasceu1 entre 344 e 354,
em Antioquia. Freqüenta Melécio (t 381), bispo
de Antioquia, é batizado, em 372, e orde-
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CULTO - CULTURA sacrifício espiritual de Cristo. É na eucaristia
que se realiza plenamente o c. espiritual 296
Deus, como também o .seu caráter sacerdotal,
quando, através da própria santificação e da oferecido a Deus pelos fiéis, já que nela se
busca contínua da glória de Deus, consagra-se sacramentali/ani os sentimentos de obediência
a si mesmo a Deus, as próprias coisas e o ao Pai que, ã imitação de Cristo, todo cristão
mundo em que vive. Portanto, o cristão vive na deve alimentar em si mesmo.
união invisível com Cristo, cabeça visível do Por esse motivo, S. Marsili afirmará: "No
seu Corpo sacerdotal que é a Igre-ja-Povo de momento em que os homens tomam consciên-
Deus. De fato, " o c . cristão não consiste no cia da própria inserção em Cristo, realizam cru
cumprimento exalo de certas cerimônias, mas si, segundo formas propriamente cultuais
na transformação da própria vida poi" meio tia (adoração, louvor, ação de graças) manifes-
caridade divina". tadas externamente, aquela mesma totalidade
Segundo > Agostinho, a santidade consiste de serviço a Deus que Cristo prestou ao Pai,
na prática das boas obras, pelas quais nos aceitando plenamente a sua vontade, na
unimos a Deus; portanto, no desenvolvimento escuta constante da sua voz e na perene fide-
das virtudes, na adesão a Deus, realizada lidade à sua aliança".10 Assim, podemos afir-
através do sacrifício de nós mesmos, o qual mar que a mística cristã é a expressão doe. a
reveste-se de aspecto fundamentalmente Deus Pai, em Jesus Cristo, pelo Espírito San-
cultual, pois nasce da consagração inicial to, "em espírito e verdade", realizado em e
através da qual nos oferecemos a Deus.^ E. ato através da própria vida, todos os dias.
de c. (cf. Rm 12,1), ou, melhor dizendo,
sacrifício (cf, Rm 15.16; lPd 2,5), até mesmo — NOTAS: 1Cf. J. Chatillon,Devotio, UíDSAM III, 702-
716; * Ci. X. Basuorko, l-.l culto *• *Í la época dei
> liturgia sacrificai (et. Fl 2,17).16 O sacrifício Nnevo Testamento, in Aa.Vv.. ÍM celehración en la
dos cristãos consiste, pois, numa real (ainda Iglesia, I, Salamanca 1985. 53; 1 Cf. D. Bach,
que interior) união com Cristo, até formar com s.v., in Aa.Vv., Dicionário Enciclopédico de la
ele um só corpo.1' Bíblia, Barcelona 1993, 390; 4 Cl". A. Berram
mi. s.v., in Dicionário de liturgia, Paulus, São
O NT usa termos cultuais para indicar a Paulo. 1992; e * Cf. D Bach, a.c, 390-392: * Cf.
comunidade cristã e a vida de caridade, tanto Ibid., 391; s Ihid.. 390; ,J Cf. A. Bergamini. a.c,
dos fiéis quanto tios apóstolos. Paulo identifica 333ss.; 10 Ibid., 11 Ibid.; 12 Cf. S. Marsili, A liturgia,
o c. cristão com a vida cristã: "Eu vos exorto, momento histórico da salvação, t/m Aa.Vv.
Atianmese J, Paulus, São faulo; : ' Cl, Ibid.. 123;
pois, irmãos, pela misericórdia de 1J A. Vanhoye, Cultoanticoe culto nuovo mdV
Deus, que vos ofereçais em vossos corpos, como Epistola aeji librei, in H L S (1978), 661; '"' Cf. S.
hóstia viva, santa, agradável a Deus. Este é o Agostinho, De Civitate Dei, 1 D, 6: PI. 4], 2S3ss; u'
vosso c. espiritual" (Rm 12,1). O único sacrifício Cf. S. Marsili, a.c, 123; " Cf. Ibid., 124; í8 Cf. A
agradável a Deus é a oferta da vida no Espírito Ber-gaminU.c, 333ss.;19 Cf. S. Marsili. o.c, 124;20
Cf. Id., Culto, i n D T I l , 65Iss.
Santo (cf, Rm 15,15-16). !S
Se a vida mística do cristão consiste na BIBL.: Aa.Vv.. Anamnese I , Paulus, São Paulo;
experiência da "unidade-comunhão-presen-ça", G. Barbaglio. s.v, in NDT, 285-298; A. Carideo,
// culto nuovo di cristo e dei Cristiani come azione
isto é, da intimidade inefável com Deus, unida sacerdotale. Linee di riflessione dal Nuovo Testamen-
à prática da caridade, podemos afirmar que to, in RL 3 (1982), 31 1-336; L. Ccrfaux, li
esse seria o modo excelente de oferecer a Deus Cristiano nella teologia paotina, Roma 1969; Y.
o c. em espírito e verdade, isto é, o c. verdadeiro; Congar, Ilmis-tero dei fó/npío, Turim \ 963; O.
mas, no cristão sobressai não só a sua Cullmann, La feyel culto en la Iglesia primitiva.
individualidade de filho de Deus, mas também Madri 1971; E.J. De Smedt, // sacerdozio dei fedeli,
in G. Baraúna (org.), /*; Chiesa dei Vaticano I I ,
a sua pertença ao corpo de Cristo que é a
Florença 1965, 45 \-464; L. Maldonado,
Igreja. Tanto o aspecto cultual como oeclesial, Secolarizzazione delia liturgia, Roma 1972; S.
que são conaturais à santidade cristã, não Marsili. s.v., in DTl I, 651 -666; í. Ruiz Saiva-dor,
ficam em estado latente, intencional, de Caminos deiEsvíritu, Madri 1978; C. Vagaggini, tt
realidade interior, mas desembocam ine- senso teológico delia liturgia, Roma 1965.
vitavelmente na liturgia,19 concretamente na
celebração da —* eucaristia. h\ \ L Amenos
Km virtude da santidade objetiva (sacra-
mental) e da conseqüente santidade moral da
sua vida, o cristão é "sacrifício espiritual" a
Deus, por meio de Cristo e à semelhança de
Cristo, já que o sacrifício de Cristo foi único c
espiritual, e a eucaristia é o sacramento do
CULTURA
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I. O termo, O termo c. 6 tomado, geral-
mente, em duas acepções. 3 A primeira (acep-
ção humanista-iluminista) faz referência à
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DAMASCENO JOÃO (santo) - DAVJDK O LOURENÇO
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DELHREL MADELEINE 308
preocupada, mas na realidade sua inteligência II. Experiência mística. A chave para en-
se debale em torno dos conceitos de "morte" e tender, na medida do possível, o segredo da
de "absurdo". Nesse período encontra alguns espiritualidade de V/. é a expressão que ela usa
cristãos - militantes e coerentes - que a para indicai a união profunda entre oração e
deixam em crise. Lê —> santo Inácio de Loyola ação: "T action vraiment amoureuse",
e se junta aos escoteiros de sua paróquia. A mergulho de amor divino em cada ação. "Todo
revelação de Deus è, para ela, verdadeiro ato dócil nos leva a receber Deus plenamente, e
"deslumbramento". Gradativamente vai ficando dar Deus plenamente, com grande —>
clara a sua vocação: viver as exigências do liberdade de espírito... Toda ação, por menor
evangelho no -» mundo, numa vida semelhante que seja, é evento importante, no qual
à de todos os outros homens. Algumas amigas recebemos c oferecemos o paraíso... Não im-
unem-se a ela. nascendo pequena comunidade porta o que devemos fazer: passar uma vas-
leiga. Em 1933, elas se transferem para Ivry- soura no chão o L I redigir um texto; falar ou
sur-Seine, vilarejo pobre e descristianizado, calar; costurar uma roupa ou fazer uma con-
importante centro de comunismo de alto nível. ferência; cuidar de um doente ou balei* à
De 1933 a 1946, Aí. engaja-se no serviço social. máquina. Tudo isso não passa de fachada da
Sua casa é aberta a todos. Em setembro de realidade esplêndida: o encontro da alma com
1939, junto com as companheiras, é Deus-..'' ( N A 23).
convocada para a guerra, entregando-se aos O —> silêncio, um silêncio especial, é ca-
serviços sociais. Em 1941, o card. Suhard racterístico do-» itinerário contemplativo de AL;
funda, com a Comissão episcopal francesa, o "Os mosteiros são > lugares de louvor, e locais
seminário da Missão e Aí. é convidada a falar de silêncio, necessário para o louvor. Pelas ruas,
da Mia experiência de Ivrv. em meio à multidão, nós fixamos a.s nossas
Por volta de 1944, .V/. tem uma espécie de almas como grutas de silêncio em que a —>
segunda —* conversão: ficam claras paia ela as Palavra de Deus pode deter-se e repercutir"
relações de —» caridade fraterna entre crentes (/bui. 63-67). Várias vezes M . lala da aluía
e não-erentes, entre marxistas e cristãos, e, de aberta, totalmente aberta, cru disponibilidade,
certa fornia, se ahsolutizam seu empenho no para acolher a Palavra, "o —> Verbo de Deus
anúncio cristão e seu compromisso feito vida humana". "Não se oferece o dnni de
missionário. Aprofunda-se também o seu ca- Deus a não ser pelas mãos da té; nenhum
minho singular de > contemplação de Deus dom de Deus recebe-se senão na vertiginosa
permanecendo nas estradas do mundo. F. profundidade da —> esperança... O Evangelho,
convidada a lalar do seu testemunho nos mais para liberar o seu mistério, não exige um
variados grupos. A.s anotações, minuciosa- cenário nem uma erudição técnica. Exige uma
mente preparadas, das suas intervenções alma prostrada na --♦ adoração e uni coração
constituirão, junto com centenas de cartas, despojado de qualquer confiança no homem"
preciosa documentação sobre o desenvolvimento (//;/(/. 72-80).
do seu pensamento e, sobretudo, da sua Al, corno toda contemplativa, conhece a
caminhada espiritual. oraçào-alegria, mas também a oração-esfor-ço.
Em abril de 1 938 aparece na revista "Re/ar é um trabalho imenso, difícil, que
Etudes Cannclitaines um breve artigo intitulado envolve todo o nosso ser. Estar completamente
Nous autres gens des rues, onde está claramente presente em Deus, ser totalmente receptivos a
presente o núcleo fundamental da espiri- ele, não é algo propriamente repou-sante" (CSE
tualidade de Aí.: a síntese entre —» oração e 156). Aí. fala, com freqüência, da • > cruz, mas
ação. uma ação "plena de amor". adverte contra a --> ascética pela ascética,
Em 1957 vem ã luz um livro que reflete o contra o exercício para sentir-nos fortes; a vida
amadurecimento do seu pensamento em re- com Deus se parece mais com uma "dança",
lação ao marxismo, á missão dos cristãos e à em —> abandono ao seu ritmo { c l NA 81-83).
—» Igreja: Ville marxiste terre de mission (= VM). Falando de .sua conversão. Aí. costumava
Tendo acesso ao copioso material encontrado dizer que ficara "'deslumbrada" com Deus:
depois da sua morte, ocorrida a 13 de outubro termo esse que exprime com precisão toda a
de 1964, os amigos publicam Nous autres, gens sua vida de contemplativa no inundo e para o
des rues (= NA) (1966); La joie de croire (= JC) mundo. Tal contemplação, enraizada na
(1968); Communauté selon l'Évangile ( - CSE) Palavra de Deus, leva à —»imitação de Jesus,
(1973); Ale ide, guide simple pour s i m p l e s exigida lodo dia. em todas as estações do ano;
c h r é t i e n s {= ALC) (1980); Indivisible Amour (= ela nos recorda o que é essencial: o absoluto
IA) (1991). do amor de Deus. o absoluto do amor ao pró
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[3KRRKLIÇÀO DI -:SAPF.GO 31
2
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d. Novos céus e nova terra: salvos, na —>
esperança {cf. Rui 8,24). Incorporado a
Cristo, morto e ressuscitado em Cristo, leito
templo do > Espírito Santo, o homem é ser jã
salvo. Ao mesmo tempo, caminha para
realizar plenamente a própria salvação, que
se manifestará por complet*) na efetivação
dos novos céus e da nova terra. O cristão
participa da —> eternidade, mas a sua vida
se desenrola no tempo. E essa tensão
dialético-existencial entre o eterno e o
temporário é o tempo do
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Dl-VO TIO MODKRNA - DIÁDOCO DK FOTI C Kl A I vândala (486), nasceu a hipótese de que o
santo) bispo de Foticéia morreu na África. D. escreveu
Horasis ("visão de são D., bis324
influência agostiníana, baseada numa --> de-
voção afetiva e na > contemplação da po de Foticéia, no Epiro"), um diálogo com
humanidade de Cristo. Outro nome a recordar Joãí) Batista ocorrido em sonho, que aborda
é o de João Mombaer (t 1501.), que escreveu problemas relativos â —> visão de Deus. bele-
uma obra enciclopédica, o Rosetum za sem forma, no céu. Mas a obra-prima de
esercitiorum spiritualium. I). é o seu Kephalaia praktika ípinscos fkai
A d. acentuava a discrição, a moderação, diakriseos pneuetnaíikcs) Capita coitam de
uma vida regular, baseada em horário racio - perfectione spirituali \et de discretione spiri-
nal que poderia ser seguido por todos. Não tuale), título completado por alguns manus-
apreciava entusiasmos, valorizava os métodos critos, que acrescentam; e o discernimento do
já provados. Por esse motivo, não se in- espírito. Escrito antes do episcopado de D,,
teressava pela mística. Embora não possa ser mostra que a —> espiritualidade está no cen-
considerado precursor do protestantismo, tro do debate eclesial. Uma sua Homilia sobre
nele se pode notar o início de separação entre a Ascensão defende as duas naturezas de —*
- > teologia e espiritualidade, entre —> as- Cristo e apresenta a dedicação como re-
cética e > mística. Nesse sentido, o movimen novação gloriosa do que o —» homem era
■ lo tem abordagem "moderna", comparada desde o início, através da imagem de Deus.
com os esiorços medievais de apresentar toda Uma Catequese transmitida sob o seu nome é
a realidade numa visão e numa síntese atribuída a —> Si meão, o Movo Teólogo, ou a
unitárias. discípulo deste.
NOTA: 1 J. Châtillon, Devotio, in DSAM I I I . 714.
II. Doutrina espiritual. D. discute a > graça
BiBL.: P. Debongnie,
s.w, in DSAM I I I , 727-747; C. em polémica com o messalianismo, seita
Eggcr.s.u, in D/PUI, 456 -40.3; R. Garcia
Villuslada, Rasgos característicos de la "Devotio mística de índole materialista-pragrnática
moderna", in Mamesa, 28(1956). 315-358; A. condenada no Concílio de Éteso dc 431. D.
Hucrca. s.v, in D PS I. 73U-736; E. Persoons. compartilha amplamente o vocabulário do
Recente puimcaties overde Modeme Devotie messalianismo; por exemplo, a insistência
1956-1972, Lcuvcn 1972; G. Picasso,
tJimitazione di Cristo netl evoca delia "Devotio sobre o —> sentimento e sobre o sentido es-
moderna"e rtella sniriuudità delsec. XV in Itália, piritual da alma; mas dele sc alasta, anco -
in Rivista di storia e letteratura religiosa, 4 rando a mística nos —> sacramentos, c não
(1968), 11-32; P. Post, De modeme devotie, apenas na—coração mística. Partindo do fato
Amsterdam 1950. ele que as —> tentações continuam depois do
—* batismo, os messalianos concluem que a
R. M. Valahek
graça coabita com o —> demônio; de lato,
como conseqüência do —> pecado de —> Adão,
em cada alma habita um demônio, que o
batismo não consegue exorcizar, mas só a
oração incessante. Assim como os messalianos
confundem a experiência psicológica cia
DIÁDOCO DE FOTICÉIA (santo) graça com a mística, D. insiste na necessi-
dade do > discernimento espiritual, acon -
I. Vida e obras. D. nasceu no ano 400, selhando a distinção nítida entre as fases
aproximadamente, e morreu por volta de 474 iniciais, inundadas de graça, e as fases avan-
(com certeza, atites de 486). Pouco conhece- çadas, na quais a graça é menos vistosa, mas
mos dele, embora seja um dos maiores mes-tres mais segura.
de espiritualidade do séc. V. Grego, culto e Tiveram influência sobre D. os escritos
bom escritor, é bispo de Foticéia, no antigo antes atribuídos a —> são Macário do Egito
Epiro (hoje, Adonat in Trespontia). Fócio li' mas agora comumente atribuídos a Simeão
895 c.) exalta seu antimonofisismo. Na carta da Mesopotâmia (que atuou entre os anos de
pela qual informa o imperador Leão I (t 461) a 385 e 430'.', autor que muitos acusam de
respeito do linchamento, ocorrido em 457, de messalianismo, mas que outros consideram
são Protério, bispo ortodoxo de Alexandria, próximo dessa corrente apenas por algumas
seu nome aparece entre os signatários, expressões. As Hornilias espirituais pseudo-
podendo até ter sido ele o redator da mesma. maearianas descrevem o coração do homem
A partir do elogio de D. que Vítor de Vita (t como campo de batalha entre Deus e o diabo. A
séc. V) pronuncia na História da perseguição influência de —» Evágrio Pôntico, cujo Tratado
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sobre a oração foi transmitido sob o nome de
são Nilo do Egito, transparece no modo como
D. insiste na índole espiritual da
o uno não só é ela própria unidade patrióticos cf. S. Lílla i a La Mística 1, 365, nota
semelhante - para D. e o neoplatonismo a 26; 2 Cf. Pioli no, V, 3, 14 I 324,6-7 Hemv-
Scwv/er], Porfírio, In Parm. X, 21-24 liadot,
plena realização do ideal platónico da Proclo, In Parm. VI [vi 5.5.4-5
semelhança com Deus consiste justamente Cousin],Clemenle,Strvni V,71,3[ü. 374,14-
nisso-mas se iden-lilica também com o próprio 15Siahlin], Grcuório cie Nissa, C. Euuoni. 11 |i.
uno, pertence totalmente a ele, peide a 396, 10 -13 Jaeger J. Agostinho, De Trin. 8,2
própria identidade e não vive mais vida [CCSL 270,15 -16]; • Ct. Pann. 142a. 1 -6; 4 "A
respeito do silencie»" que desenvolve um
própria: não existem mais dois "unos" papel preeminente em I o d a a tradição platônica
distintos, mas uma única realidade (cf. TeoL e pai ris ti ca, cf. Nomi div. 1, 3 [ 1 1 1,6] e
Mist. I, 3 [ 144,12-14], Nomi div. IV,3[159,3- Koch. Pseudo - D io ? i v.< ius Areopaeita in seinen
8]).15 Bcziehuugen zuni Neoplatonismus und Mvste-
rianvesen'. Mogúncio 1900, 123-134; J . Krolí.
4. A —> purificação do sensível como con- Die Leher des Hermes Trisme.yj st os [Beitrâge zur
dição preliminar da contemplação das reali- Geschichte der Philosophic des Mittelaltes XII, 3-
dades inteligíveis, a superação do conheci- 4] 335-338, O. Casei, De pluiosophorum
mento destas últimas, pela mente humana, o graecorum silentio mvstico {Religiunsiteschichtlichc
Versuche und Vorareileti XVI, 2], Giessen 1919,
silêncio e a ignorância em que a mente cai
W. Wólker, Kontemplaíion und hlkstãsc bei Ps.-
quando aplica o procedimento negativo até Dionysius Areopagita. Wiesbaden 1958, 146-
suas últimas conseqüências, o abandono de 147; R. Moílhev, in JThS 24 (1973}, 197-202 c
toda atividade noética e, enfim, a obtenção S, Lilla, Helikon. 31-32 (1991 -1992), 31 -3 3. -
da união supra-racional com o uno-bem en- Sobre o texlo dessa passagem
cl. S. Lilla in AS\'PClasse di letlere, serie 111,
contram o seu símbolo escriturístico no epi- 10, 1 (1980). 125-127; Aug 31 (1991), 443-444,
sódio da subida de Moisés ao monte Sinai, cf. Fílon, De post, C 15 fii 4 ,6-*) Cohn-Wendland
que D. descreve e interpreta no terceiro pará - ], Clemente. Strom. V, 71.5 [ii. 374,23]; Basílio,
gralo do primeiro capítulo da Teologia místi- Ep 234,2 (ii. 43,12-13 Coiirtoiiiiel], Gregório
ca, levando em conta Fílon e a tradição de Nissa, De vita Mos. II [86,6-7,15-17
Musurillo], Plotino, VI, 9,4 [312 ,1-31; Porfírio,
patrística anterior.15 Não é necessário fazer, Stmt. 25 [ 15.3-4 Lamber/]. In Pann II, 16 -17,
aqui, análise detalhada dessa seção da Teo- Danmá-seio. De prim, princ. 29.1 [i.84,3
logia mística e fixar-nos nas numerosas Westerink]; 6 Aristóteles, De an. I, 407 b, 17-18.
correspondências que ela apresenta com Ato. B 1000 b 5-6, Plotino, 1.8,1 [121,8],
Porfírio
Fílon, -* Clemente, Orígenes e Gregório de Sent. 25 [15,4-5]. Ad Marc. 19 [287,2 Nauck], In
Nis- Parm. IV, 25-26, Proclo, Teol. plat. I, 3 [15,17-18
sa.16 Limitamo-nos a recordar que a nuvem de S a l t i V N Westerink], Exc. Chald. IV [209.12-16
Ex 20,21 é o -» símbolo da ignorância da des Places]; ' Plotino dedica a este problema
um tratado inteiro, o sexto da euinta
mente humana (cf. TeoL Mt>i. 1,3 [ 144,10- enOada; cf. lb. Proclo, In Parm. Ill [Ov. 33,2], VI
] 2], Ep. I [156,6]); e que a —> luz brilhante [vi. 86,3-4] e Ps.D., TeoL mist. V [149.1-2]; *Enn. V.
que invade essa nuvem é o —> símbolo da 5,6 [348,17-20]; 9De Vita Mos. II [87,1-4]; 10 Cf.
iluminação que na união mística suplanta a Plotino. V, 5,6 [348,19-20], VI. 7,35
ignorância, permitindo uma forma de [277,1*2,279,29-30.43-45]; Porfírio, Sent. 25
[15 ,2], In Parm. II. 17, Proclo, TeoL plat. 1.3 [14,8-
"conhecimento" supra-racional (cf. TeoL 9,16.19-20], I. 25 [111,11-12], Exc. Chald. IV
Mist., Ií [145,1-3], Ep. V [162,1-8]). Essa [209.29]; Damascio. De Prim. Princ 27 [r. 73.8],
iluminação, naturalmente, não deve ser 29' [83,10-11,13];" Passagem que depende de
contundida com a iluminação característica Plotino. VI, 7,35 [258.19-22]; cf. Koch, o.c, 158,
reimp. in Hermes 92 (1964), 219-220 e S. Lilla
do conhecimento puramente intelectual. in La Mística I, 39;12 Cf. Exc. Cliald. IV [2 10, 29]. In
Ale. pr. 247,7-11, Westerink, In Parm. VI [vi. 42,
Matena! com direitos autorais
6-10], De prim. Princ. 252 [i. 65,5-6]; 13 Cf.
Plotino, V, 5,7 [350,32], VI, 9,11 [326,8-9];
Proclo. Exc. Chald IV [209,11,25-2<>;. 7io!. rial. I,
3 [15.20-2 1.24-26,16.21-24]: Damascio,
Prim. Princ. 27 [73,8], 29' [83,3-6,11 -12,13] e
também Gregório de Nissa, De An. et Res.: PG
46.0 3 b S - 10. c 6-8; 14 Cf. acima, o final do
ponto 2; l5 Cf. Plotino. VI, 9.10[325.15-
18.326,21], VI.9.11 [326,4-6], Gregório de Nissa,
De an. et res.: PG 46*93 c 9-10;,h Cf. a tal
propósito H.Ch. Puech, La Ténèbre mystique chez le
pseudo-Denys I'Areopagite et dans
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IXRKÇÃU ESPIRITUAL 33
2
mo do interlocutor. O fenômeno da escuta plena do projeto salvíiico de Deus, pelas vias
egocêntrica c indicado com a imagem do "ter- do Espirite».
ceiro ouvido", através do qual o pai espiri -
tual ouviria as próprias reações, prestando BIBL.: Aa.Vv., Direzione spirituale e orien lamento
vocazionate, Milão 1996; Aa.Vv., Direzione
atenção meramente superficial e fragmentá - spirituale, Milão 1996; W.A. Barry-WJ. Connolly,
ria à voz do interlocutor. O dirigistno leva o Pratica delia direzione spirituale, Milão 1990;
acompanhador a tomai nas mãos a condução Ch.-A. Bernard. Laiuto spirttuatcpcrsottalc.
do colóquio, negligenciando as exigências, a Rorna 1978; A. Brusco -S. Marinelli,
fniziazione al diahn:o c alia rehiz.iouc dt aiuto, 2
sensibilidade c as disposições cio indivíduo. vols., Verona 1992 e 1994; B. Giordani, //
A atitude dirigista manifesta-se mediante al- coiloquio psicológico rwlla direzione spirituale,
guns tipos de intervenção, como: propor per- Roma 1992; A Gon/.álcz-Alnrdii,
Acompanattdo el crechnientoespiritual. Lima
guntas que dirigem o discurso; expressar o ls<S6;; A. Mercaiali B. Giordani, Li direzione
próprio julgamento sobre o que foi exposto spirituale conte ineontm di aiuto, Btcscia-
pelo interlocutor; propor (ou impor) linhas Knma 1987 2 ; G. RocloVitcz Melgarejo.
de solução partindo da própria mentalidade; Fortnaciôn y direcciôn espiritual, Bogotá 1986;
J.P Schaller, Dirccüon spotneUe et ivtt:ns
desviar uma conversa que o pai espiritual nuniemes. Paris 197*.
sente
como pouco interessante ou capaz de criar li. Giordani
mal-estar e dilícuIdades; tentar consolar ou
animar recorrendo a t rases convencionais pou- B. Aspectos espirituais
co convincentes; contar fatos semelhantes ao
exposto pelo indivíduo. A tendência a julgar L A noção. D. é expressão que se tornou
revela o critério moralista, que divide as pes- comum na Igreja para indicar a ajuda ofere -
soas em duas categorias: as boas e as más. cida por alguém com experiência a um fiel
Procura-se legitimar o julgamento proclaman- que caminha para a plenitude da vida em —
do a vontade de "condenar o pecado, não o »Cristo e no —* Espirito. Não se trata do tra-
pecador", mas e normal que a pessoa sinta balho pastoral voltado paia toda a comuni -
que a condenação c dirigida a ela, piorando dade cristã, mas daquele prestado a um de
ainda mais a imagem negativa que faz de si. seus membros, chamado, junto com os ou-
No nível psicológico, podemos lembrar os tros, a ser perfeito "como o Pai celeste é per-
eleitos benéficos que nascem de uma aceitação feito" (Mi 5,48), embora percorrendo caminho
benévola e de escuta desprovida de de graça e ■> liberdade único, irrepetível,
julgamentos. incomunicável, correspondente àquela rela -
ção de amor pessoal que todo filho da família
de Deus tem com o —> Pai.
V. Como conduzir o encontro. A condu-
ção de um colóqiiH > de ajuda c ao mesmo II. A prática histórica. A história registra
tempo ciência e arte, pois pressupõe tanto o o costume de apelar ao conselho de guias sá-
conhecimento de princípios de psicologia e de bios e práticos, mesmo entre os pagãos ou rias
mcl< idologia das relações interpessoais religiões não-cristãs. A d. caracteriza-se, porém,
quanto disposições particulares c como prática especificamente cristã,
sensibilidades congênitas, embora expressão e fruto da doutrina e da experiên-
aperfeiçoáveis com o exercício. Os princípios cia da comunidade dos que crêem em Cristo.
psicológicos aqui apresentados são tirados da Embora voltada para individuo, a prática da
psicologia hurnanís-tico-existencial;os d. é e deve ser animada pelo espírito da co-
metodológicos inspiram-se na prática da munhão eclesial, seja no plano imediato,
"terapia centrada na pessoa". como apoio cie um irmão a outro irmão, seja
Os momentos que marcam o encontro inspi- no plano histórico, enquanto verdadeiro di -
rado nesse método são: ouvir, responder, res- retor espiritual tira a sua doutrina daquele
ponsabilizar c estimular o empenho patrimônio inestimável de experiência de san-
concreto. tidade criado pelo Espírito ao longo de toda a
Esse discurso, no plano psicológico, abre vida da Igreja.
necessariamente para visão dilcrente, Não se pode falar, em sentido estrito, de
puramente espiritual, e que se insere na fundamentação bíblica dar/.: ela, como
longa tradição eclesial, visando à realização tantas (nitras práticas, nasce e se afirma na
Igreja, onde a semente evangélica cresce,
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desenvolvendo e manifestando todas as suas
virtualidades.
A necessidade de abrir o coração a irmão
(ou irmã) experiente nas vias de Deus, paia
dele receber luz. e consolo, faz-se sentir de
maneira relevante no —> monaquismo antigo
e especil ieamente no egípcio. Os monges
não se consideravam pessoas privilegiadas,
mas simples cristãos que se retiravam do
mundo para encontrar, na solidão, a via
mais segura tia salvação, entendida como
cura tias culcr-midades causadas pelo ■»
pecado e plenitude
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DONS {do Kspirii«> Sumo* matrimônio. O dom do Espírito é alma
também do carisma dom espiritual gratuito
necessário lembrar que o termo carisma (em 340
grego, charisma) significa dom gratuito e está
em relação íntima corn a raiz de que deriva: c (não se traia de tautologia) concedido ao
ha ris = graça. Todavia, no NT carisma pode cren-te para o cumprimento da sua "missão"
designai o conjunto dos d. de graça que pro- de balizado e conlirmado. Tal missão torna-
vêm de Cristo (cl. Rm 5,15ss) e são dados ao se concreta na vocação de cada liei.
liei pelo Espírito para linalidades típicas, e Entre os carismas que arrastam outros
que sempre desemboca na vida eterna (ct. Rm pode-se elencar o da virgindade consagrada e
6,23). Porém, se a terminologia, de um lado, os das diversas formas de viola consagrada;
é sinônima (carisma é dom), por outro é flu- entre os mais vistosos coutam-se os lidados
tuante (nem lodo dom é carisma). Veja-se ao martírio, à —» profecia, à glossolalia, ao
que em Cristo o fiel ê "agraciado" (Ei 1 ,ó:
dom de fazer milagres etc.
charitou) e a ele ê reservado todo tipo de dom
(cf. Rm 8,32: charizo), entre os quais destaca-
II. Na Escritura - Já na Sagrada Escritu-
se em primeiro lugar a caridade (Rm 5,5;
ra se encontram classificações e enumerações
8,15). Diante do lato de que "ioda dádiva boa
de carismas (cf. ICor !2.Ssse28ss; Rm I2,6ss;
e lodo dom perfeito vem do alto, desce do *
El 4,11; lPd 4,1 1). Em geral eles se relacio -
Pai das luzes'' (Tg 1,17), a pessoa humana
nam com a funcionalidade do ministério (cf.
deve abrir-se ao dom (cf. Mc 10,1 5 e par.) e,
Ef 4,12): dos apóstolos, dos profetas, dos dou-
por sua vez, ser capaz de doar-se (cf. Uo 3,16).
tores, dos evangelistas, cios pastores (cf. ICor
De fato, o dom ê recebido para ser
12,28; Ef 4,11). No entanto, são carismas
transmilido (cf. Jo 15; cl". Mt 13,12); na
tam-
memória dos togion de Cristo, há "maior
bém os ligados aos vários tipos de diaconia,
felicidade em dar do que
de serviço, de ensinamento, de exortação, de
em receber" (At 20,35).
obras cie bem, de palavras de sabedoria, de
Para tratar dos d. do Espírito, diferentes
discernimento dos espíritos (cf. ICor 12,Sss).
dos carismas, seria preciso um longo discurso,
A esse propósito, são importantes as análises
que extrapolaria os limites deste verbete.1
dos seguintes textos: Rm 12,3-16; 1 Pd 4,1-
Podemos, porém, estabelecer uma distinçã o
11;
entre dom e carisma, se por carisma enten-
1 Jo 4,1-6. Deles se podem tirar alguns crité-
dermos aqueles d. particulares que o Espírito
rios (cf. ICor 12-14) para comprovar a auten-
distribui aos fiéis de modo que, ao fazerem
ticidade dos carismas (lTs 5,19ss), como: a
experiência deles, põem á disposição de
dimensão cristalógica, relacionada com a
outros os d. que - de certa maneira - se con-
con-
cretizam em ministérios, serviços, operações
fissão de que Jesus é o Senhor (ICor 12,3;
pessoais e eclesiais. Os carismas são d. "ma-
1 Jo 4,1 -6) e vem de Deus (cf. 1 Jo 4,1 ss); a
nifestados" ■■ "epifanizados" -
isso
"concretizados", de forma que, embora
se chega porque se é animado pelo Espírito
permanecendo distintos dos elementos
Santo; ao contrário, o falso profeta é anima-
institucionalizados presentes na "comunidade
do pelo espírito do anticristo (cl. Uo4,3; ICor
eclesial - povo de Deus" (por sua vez, estes
12,3); a dimensãopneumatológicu, ligada aos
também são "impregnados" de Espírito) -,
frutos do Espírito, permite que se comprove
animam grupos de cristãos, fermentam
tanto a autenticidade dos carismas quanto o
gerações e épocas da história da Igreja. Pode-
discernimenl' > tios espíritos (quem age
se convir que existem carismas eclesiais e
segun-
pessoais; ambos evocam -se mutuamente.
do a caridade está em sintonia com o dom do
Paia além das discussões que se desenvol-
Espírito Santo; cf. ICor 1 2.31-14,1); a dimen-
veram no imediato pós-Conolio a respeito da
são eclesial: é a comprovação da autenticida-
antítese "carisma-instituição", hoje se prefere
de dos carismas.
falar de dom do Espírito como alma da
De fato, a ordem de importância tios ca-
instituição ligada aos ministérios institucio-
rismas não é dada pela sua
nais, fruto tio dom, da presença e da ação do
espetaculosidade. mas por sua
Espírito.
funcionalidade para a edificação
Entre os ministérios deve-se elencar, por
da Igreja (cf. ICor 14,2-25), para o bom an-
excelência, o sacramento da ordem, destinado
damento das assembléias {cl. ICor 14,33),
a ensinar, santificar e governar. A ele pode-se,
sob
de certo modo, aproximar o sacramento do
a guia dos apóstolos (cf. ICor 12,28; Ef 4,11),
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III. Nos textos conciliares. Por esse ca-
minho podem ser lidos os textos conciliares
que sublinham que os carismas são a. do Es-
pírito á Igreja (cf. LG 4.7; AG 4,23), adapta-
dos e úteis às várias necessidades da Igreja
(cf. LG 12), e sempre subordinados à ativida-
de dos apóstolos e seus sucessores (cf. LG 7).
De fato, a autoridade eclesiástica julga a
genuinidade dos carismas (cf. LG 12), mas
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I; ÍRI - M , O SÍRIO (santo)
do fronteira, Nisibi está exposta aos ataques II. Doutrina mística. F. não apenas rejeita
dos persas, sobretudo sob o enérgico Shapur lodos os tipos de racionalismo, mas se alas-
II (f 379); cm Poemas de Nisibi, E. relata três ta até do método da teologia filosófica grega,
invasões de Nisibi (338, 346 e 350). De Nisibi que se utiliza de definições. Ele, por sua vez,
teve de fugir quando os romanos, após a gosta do paradoxo c da -> imagem. Mas um
derrota de Juliano, o Apóstata (t 363), aban- poeta vive em comunhão imediata com a
donam a cidade aos persas. Estabelecendo-se realidade, e as poesias de E. mostram alguém
em Edessa, hoje conhecida como Uria, no apaixonado por Deus, que se expressa atra-
sudeste da Turquia, E. torna-se a glória da vés das criaturas, que são seu reflexo. Em
escola chamada "dos persas", para cuja vez de serem arbitrários, os -> símbolos a que
fundação colaborou. A importância que dá ã recorre para explicar a criação e a história da
—> virgindade levou a se pensar que era salvação localizam-se em —> Cristo de um
monge; mas é mais exato dizer que é asceta modo triádico: o símbolo do cordeiro vem do
celibatário, no estilo dos "filhos do pacto" Egito, mas a experiência correspondente
(bnày tiyama). Diácono nos tempos de Nisibi, pode-se encontrar ainda hoje na —> Igreja,
um ano antes de morrer (a 9 de junho de embora o selo dessa realidade espiritual só
373) é ele quem organiza as providencias de se terá no reino dos céus. Assim como a
socorro durante uma carestia. palavra-chave elremiana razâ (mistério)
/:. é exegeta, pregador, teólogo, poeta. Dei- significa símbolo religioso, tipo ve-
xou discursos em que polemiza com Bar- terotestameniário, sacramento, e, no plural,
desane (t 222 c), com Manes ( j 273 c), com —> eucaristia, os hinos de E. revelam-se uma
Marcião (i 250 c.) ( H in o s contra os hereg e s ) , mina de tesouros místicos. Imacem central é
e especialmente com os arianos (Sermões a virgindade, que antecipa o paraíso, o que
sobre a f é ) , além de cartas (são certamente pressupõe longo tirocínio ascético. —> Aora-
autênticas as dirigidas a Públio e a Ipazio). ção de união corn Deus é como urna virgem
Como autor sírio mais fecundo, suas em seu quarto, protegida pelos eunucos do —
obras, que ainda enquanto era vivo loram t i > silêncio e da —> paz interior. Para rezar
adu/adus paia o grego e o armênio, apre- bem não basta o —* jejum de alimento; c
sentam alguns problemas. As edições do séc. preciso também o —> despojamento total e o
XVIII dos sábios maronitas J. S. e S. E. amor ao próximo; nesse sentido, a virgindade
Assemani (6 vols., Roma. 1732-1746), de B. mesma pode ser considerada como jejum e
Mubarak (Benedetti) e outras edições são abstinência da natureza. E, é um dos
incompletas; corn E. Beck lemos uma edição primeiros autores cristãos a formulara idéia
crítica dos escritos sírios autênticos (1955 - espiritual do —> noivado da alma com
1975), mas o trabalho ainda não foi Cristo. Até a idéia de penthos (compunção) é
concluído. Além cios comentários exegéti-cos posta em relevo, por exemplo na necessidade
ao Gênesis e ao Êxodo, aos Atos dos Apóstolos, da —> penitência c das lágrimas. Não podia
à concordância dos quatro evangelhos ou faltar a devoção a —> Maria como Virgem.
Diafcsseron, e um breve comentários às Considerando a eucaristia como
cartas paulinas, conservado só em armênio, prolongamento da —> Encarnação que
temos fragmentos de numerosos outros começa com ela, /;. põe nos lábios de Maria
comentários bíblicos. As obras poéticas di- um dos mais delicados hinos eucarísticos
videm-se em madrase (poemas com estrofe e ( H in o s sobre o nascimento do Senhor, lr\). Se a
responsório, como os Poemas de N is ib i ) e mística traça a caminhada da alma até Deus,
memre (sermões métricos sem estrofes nem é clara a importância de li. para a — >
responsói io). Segundo E. Beck, os escritos espiritualidade em geral, e para a da união
autênticos referentes á espiritualidade são: em particular. É o maior mestre da
1. Hinos sobre a fé; 2. Hinos contra os hereges*, 3. cristandade síria, o mais importante poeta
Poemas nisibenos; 4, Hinos sobre o nascimento entre os —> Padres, cujos hinos são usados
do Senhor; 5. Hinos sobre a virgindade; 6. Hinos até hoje nas várias liturgias sírias; além disso,
sobre a Igreja; 7 . Hinos sobre o Paraíso; 8. influenciou as kontakie ou hinos bizantinos e
Hinos sobre os ázimos; 9. Hinos sobre a o próprio Romano, o Músico (t séc. VI). Sua
crucificação; 10. Hinos sobre o jejum; 11. descrição das realidades escatológicas,
Sermões sobre a fé; 12. Sermão sobre nosso sobretudo do juízo universal, inspirou Dante (t
Senhor; 13. Comentário sobre o Gênesis. À lista 1321), que talvez seja o único poeta-teólogo
de Beck podem-se acrescentar os chamados que possa ser comparado a E. (R. Murray).
Hinos armênios (ou transmitidos em armênio).
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I; ÍRI - M , O SÍRIO (santo) 438
Com a sua mística do lado traspassado de
Cristo (cf. Jo 19,34), E. estabelece
uma ponte com a devoção ocidental do Sa-
Enfim, 0 muito interessante notar que E. é contragosto dela, tornaram ciumentas as co-
figura muito cara aos judeus, aos cristãos e irmãs, que não deixavam de demonstrar sua
aos muçulmanos ainda hoje. Parece que o antipatia. Na capela, às vezes, eia era
aspecto do profeta E. que mais encanta seja o levantada até a altura de uma moldura da
mistério que envolve a sua vida terrena e o porta e descida ilesa.
modo extraordinário como ele conclui sua Aos vinte e quatro anos, estando em ora-
missão profética. ção na igreja de Coesfeld, pediu a graça de
participar dos sofrimentos da coroação de
B IBL . Aa.Vv,, s.v., in NDTB. 45.S-464; Aa.Vv., £7« le espinhos, e loi atendida imediatamente,
prophète, in ÉtCarm 41 (1956); T .I.. Brodic,
Uma queda a tornou inválida pelo resto da
I.uke the Literary huerpreter. Luke-Acís as a
Systematic Re wt ititi}' and Vpdating o f the vida. Isso toi para ela uma tonte de
Elijah-Elishü Sarra tive in I and 2 Kings, Roma sofrimentos muitos estimados, e conseguiu
19S7; L. Bronner, /lie Stones n j h.li\ah and que fossem aumentados, a fim de aliviar ou
lilisha as Polemics against Baal Worship, I.eiden livrar outros doentes. Em 1811 seu convento
19^S^; G. Fuhrer. Elia, Zürieh 1953; R. I.
Gregory, Hh\ah's Siory under Scrutniy; A J. foi supresso pelo governo francês, eela foi
.iterary-entical Analvsis o f ! Kings 17-19. transferida para casa de uma viúva devota, em
Michigan 1983. K. Hearlv, Profeta di fuoco, Dülmcn.
Roma 1993; J. Jeremias, s.v., in GLNT IV, 930- Em 1812, £. recebeu os -> estigmas, que
943; CM. Martini, // Dio vivente. Riflessioni sul foram verilicadi >s por delegados do bispo,
profeta Elia, Casale Montei ralo 1991; M. por simples curiosos e por médicos crentes e
Masson, Elia 1'appello ãl St-lenzio, Bolonha 1993;
li. Menichelli. Huo modif uo -eo. In tiliroeon Elia,
incrédulos. Além da agonia dos estigmas e
Bolonha 1996; R . H . Murphv --C. Peters, s.v.. in dos sofrimentos morais causados pela visão
DSAM IV/1, 564-572; N. Pavon-cellü, // projeta da paixão de Jesus, sofreu por ser acusada
Elia nella liturgia ehtaica, in RivBib 29(1981), de impostura. A sua fraqueza tísica era tal
393-404; H. Pidyano Gunawan,.foHS the \'e\v que por muito tempo não pôde reter nenhum
Elijab accordine, to the Fourth G *spcl. A hygieal alimento, a não ser a hóstia sagrada e ági ia
Consequenee oj John I : 21, Roma 1990; K.
pura.
Pòirot, filie, archetvve du moine, Abbave de
Bellefontaine 1995; F. Spádafora. s.v., in EC Em 181 S, recebeu a visita de Clemente
V/232 2 v3; A. Wiener, Tfie Prophet Elijah in the Brentano, o qual ficou tão impressionado
Developmcnt / JudaL\m. A Depth'Psychological Study, corn seu estado que decidiu ser seu "secretá-
Londres-Boston 1978. rio". Foi ele que registrou suas visões; mas,
para ela, ele foi ocasião de grandes sofrimen -
//. Picharia tos, porque, apesar da exaustão em que ela
M" 1'iKon t f ;i\ a muitas vezes, cie continuava a
pedir que contasse suas visões. £. morreu
entre sofrimentos atrozes em 9 de fevereiro de
1824.
A sua experiência, descrita nos três livros
de sua autoria - A acerba paixão cie nosso
EMMERICK ANA CATARINA Senhor e Salvador Jesus Cristo (1833), Vida da
santa Wfgem Maria (1852) e Vida de nosso
I. Vida e obras. £. nasceu em 8 de setembro Senhor e Salvador Jesus Cristo (3 vol., 1858-
de 1774. em Flamske, diocese ele Münster, 1860) - influenciou a piedade do povo cris-
na Westlália. Seus pais eram camponeses tão, também U >ra da Alemanha,
pobres, mas muito piedosos. Desde pequena especialmente em relação à paixão de Jesus.
teve Irequentes —> visões de nosso Senhor,
da Virgem e dos santos, e conversava com eles II. Experiência mística. Os estudiosos são
com muita familiaridade. Mais tarde demons- célicos a respeito da autenticidade dos —>
trou —> devoção pari icular à Paixão de - fenômenos sobrenaturais de E , embora es-
»Cristo. Via tudo através do sangue de Jesus tejam de acordo a respeito da sinceridade
e, para exemplar de sua vida espiritual, fundada na
assemelhar-se mais ao Salvador liagelado, —> mortificação cno-4 sofrimento, que ela
habituou-se a andar vestida com uma blusa suportou com espírito autenticamente cristão.
vermelha. A sua vida loi sempre marcada por ligação
Em 1802,£. entrou no convento das agosti- original e dolorosa com a sorte das pessoas de
nianas de Agnetenberg. Os dons singulares dos seu tempo. Gostava de dizer: "Nós todos
quais era favorecida e que eram eviden tes, a carregamos também as dores dos outros". Entre
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os dons místicos com os quais loi lavorecida
recordemos o discernimento das relíquias dos
santos, o jejum total e a união com o coração
dos que sofriam.
£. nunca teve a pretensão de atribuir às
suas visões caráter de verdade histórica, mas
elas ajudaram muitas almas a viver as ce
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ENCARNAC10N1SMO
grande mistério da piedade é o fato de que manifestação, mas também a oferta aos
Cristo "se maniiestou na carne" (ITm 3,16). crentes dessa "glória", isto é, dessa vida divi-
Por isso, "nele habita corporalmente toda a na. Em sua oração ao Pai, Jesus afirma: "Eu
plenitude da divindade" (Cl 2,9). Esse fazer- lhes dei a glória que ine deste para que
se homem, por parte do Filho de Deus. essa sejam um, como nós somos um" (Jo 17,22; cf.
sua vinda ao mundo (cf. Jo 3,13.31; 6,62) 2Cor 3,18; Ef 1,18; 3,16; Cl 1,11). Dessa
constitui um verdadeiro e próprio processo de plenitude de glória os crentes recebem "graça
abaixamento e de humilhação, até o ponto sobre graça" (Jo 1,16). O rico e articulado
do aniquilamento da morte: Jesus Cristo, dado bíblico foi aprofundado e precisado na
embora tendo a "condição divina, não consi - teologia patrística da Encarnação (sârkôsis,
derou o ser igual a Deus como algo a que se encarnação; c j i a j u l v ô p c s is ,
apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mes- humanização;oikaiwmia, economia, e os
mo (...). E, achado em figura de homem, hu- correspondentes termos latinos; os mais
milhou-se e loi obediente até a morte, e morte usados foram incamatio, incor-poratio,
de cruz" (Fl 2,6-8; cf. lPd 3,18). O Filho de in h u m an a ti o , as s u mp tio ) , que enfatizou o
Deus fez-se verdadeiramente "em tudo seme- tema sotei iológico e antropológico, expresso
lhante aos irmãos" (Hb 2,17), "provado em com clareza já no símbolo de Nicéia: "Ele, por
tudo como nós, com exceção do pecado" (I Ib nós homens e pela nossa salvação, desceu e se
4,15). O mistério da Encarnação corresponde encarnou, se fez homem". 0 e. revela não só o
ao mistério da "vinda do reino", de que lalam mistério da vida intra-trinitária de Deus, mas
os evangelhos sinóticos (cf., por ex., Mc também o mistério da participação do
4,11), e que se realiza na pessoa de Jesus homem e do cosmo na glória divina e o
Cristo {eh Ml 16,28; Mc 9.1; Mi 19,29; l.c 22, mistério da Igreja como prolongamento na
29; Mt 21,9; Mc 11,9-10). -> Paulo considera a história da vinda do reino (cf, Mt 13,38; 16,1
Encarnação o mistério por excelên- 8-19; 21,43; 22,1-14; Hb 12.28).
cía, o "mistério escondido desde os séculos e Jesus Cristo é. pois, o lugar pessoal efe
desde as gerações, mas agora manifestado aos encontro e de diálogo entre a divindade e a
seus santos" (Cl 1,26; cf. também Ef 1,9; 3,3- humanidade, entre a transcendência c a
5; 6,19), os quais, radicados e fundados na — imanência, entre o eterno e a história, entre
> caridade, possam finalmente compreender o absoluto e o relativo. O Filho de Deus
"qual é a largura e o comprimento e a altura torna-se homem para que o homem possa
e a profundidade" (Ef 3,18) do desíg nio de recuperar a sua dignidade de filho de Deus. A
salvação e de amor de Deus em Cristo: fecun-didadearfextra de Deus tem a sua
"Quando, porém, chegou a plenitude do tem- manifestação livre e gratuita não só na
po, enviou Deus o seu Filho, nascido de mu- criação, mas também na redenção e na missão
lher, nascido sob a Lei, para remir os que es- do Filho, que estende à humanidade inteira e
tavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a ao cosmo a participação na vida divina. A
—> adoção filial" (Gl 4,4). Desse modo, o —> Encarnação é "como que a flor de uma raiz
Pai nos deu "a conhecer o mistério da sua que
vontade, conforme decisão prévia que lhe tem a sua origem no processo irinitário, como
aprouve tomar para levar o tempo à sua ple- que o desenvolvimento de um germe presente
nitude; a de em Cristo recapitular todas as nele. como que o extravasar de urna corrente
coisas, as que estão nos céus e as que estão na copiosíssima, que flutua na produção
terra" (Ef 1,9-10). Trata-se do mistério da trinitária". 1 Com a Encarnação, a natureza
"insondável riqueza de Cl isto" (Ef 3,8), ama- humana foi assumida pela Pessoa divina do
durecido no seio mesmo da comunhão irini- Verbo (a chamada ttuiíio hipnstd tica), parti-
tária. No Verbo encarnado continua a brilhar a cipando assim da comunhão com Deus, pri-
"glória" divina {doxa) t aquele kebôd JHWH, que meiro aqui na terra e, depois, com a ressur-
é o esplendor da grandeza, da força e da reição de Jesus, na vida eterna.
"transcendência" de Deus (cf., por ex„ Ex
14,18; 16,7; Is 60,1; SI 3,4; 19,2; 24,7; 26,8), a II. Encarnação e seu significado para a
"irradiação" da glória do Pai (Hb 1,3). A ma- vida cristã - Mediante a doutrina da En-
nifestação completa dessa glória divina na carnação, o cristianismo sublinhou a digni-
face do Filho (cf. 2Cor 4,6) dá-se com a res- dade eminente da natureza humana, sua
surreição (cf. At 3,13.15; lPd 1,21), quando colaboração ativa na salvação, sua parti -
Jesus Cristo aparece como "o Senhor da glória" cipação na vida divina trinitária, a eficácia
(ICor 2,8). A Encarnação redentora não só é a do seu trabalho na transformação do mundo e
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ENCARNAC10N1SMO 448
no melhoramento da história. No cristianismo
foi constante a atenção aos valores humanos c
terrenos do mundo criado, vistos não em
contraposição mas em harmonia com os
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EPIFANIA F.REMITISMO
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ESCADA -KSCATOUXiISMO primeiro, escreve G. Frosini: "Percorrendo a
história desse movimento, é táeil ver que com
de violenta, cinco cm —> Bernardino de La- os temas especificamente teológicos se entre -
redo, cm sua Subida de! Moule Sicm, seis em laçaram discussões em torno das ionnas de
Boaventura, em seu Itinerário da mente para vida. tanto individual como eclesial, mais de
D e u s , sete cm sào Bento, ou > Francisco de 364
Assis e seus sete degraus da contemplação, dez
em —* João da^Cruz na Noite escura, ou acordo com a época moderna e mais provei-
vinte e seis em -» Ângela de Foligno - trata-se tosas no plano tio aposlolado (pensemos, por
sempre de subir os degraus das virtudes do exemplo, na espiritualidade do engagement e
Cristo. na superação do conceito de cristandade)".1
O alto dessa e. espiritual, que é o Cristo - Cada um desses dois movimentos se caracteriza
C r is to , nossa e. -, pode ser a humildade, co- pelo modo de entendei' a relação entre
mo em são Bento, o amor supremo, como em • história profana e escatologia em ordem à
■> Ruysbroeck f ou a contemplação perfeita, preparação da parusia.
como em Ricardi i de São Vítor e são João da
Cruz. Em suma, o último degrau é sempre II. Na Igreja primitiva a parusia era con-
Deus ou o Cristo. A e. c meio para siderada como objeto de —> esperança; por
chegarmos até ele, como a cruz é o único isso, se orava para que ela chegasse o
lugar no qual o céu e a terra se unem. Para quanto antes. No NT encontramos traços
chegarem até ele, os cristãos devem estar
desse modo de orar. —> São Paulo escreve aos
unidos ao Cristo, que, em sua ascensão,
coríntios: "Se alguém não ama o Senhor Jesus,
subiu para junto do Pai, de onde voltará
seja anátema" (ICor 16,22). E logo acrescenta
para introduzi-los lá e pô-los ao seu lado.
uma palavra aramaica, inesperada, uma vez
NOTA: 1 Ética nicotnacbea, 1. Ï, c. 5. que escrevia em grego a leitores que falavam a
língua grega: "Marana-íná" ( Senhor nosso,
B IBL .: E. Bertaud - A. Ravez, s.v., in DSAM IV/1, vem). Essa invocação que devia ser conhecida
62-86; G. Clímaco, L'Échelle sainte, Bégrolles-
en-Mauges 1978; G. Penco, Un tema delTascesi dos cristãos de Corinto, procedia provavelmente
monas- da —> liturgia da Igreja-rnãe de Jerusalém;
t ica;lascaladiGiacobbe, in Vita Monástica, do contrário, seria necessário que Paulo a
14(1960), traduzisse. Além disso, essa palavra consta
99-113; R de Surgy, La source de l'échelle d'amour também de outros documentos da piedade
chez saint Jean dela Croix, in RAM 27(1951), 18- cristã primitiva, como a D id a t/ u e : "Venha a
40.
graça, e passe esle mundo ... Marana i h á.
Amém". 2 Palavra semelhante serve de
S. M . Moniain
conclusão ao —> Apocalipse (Ap 22,17.20). A
própria oração dominical, o "pai-nosso", nas
palavras "venha o leu reino", contém a peti -
ção da parusia.
Dois motivos contribuíram para a passagem
cia esperança ao temor com relação à
ESCATOLOGISMO parusia. Em primeiro lugar, uma exegese
muito literal das passagens nas quais Jesus
I. O termo. Com esse termo não queremos fala do fim do mundo, as quais começaram a
indicar aqui - como muitas vezes se faz - a ser vistas não como profecia do triunfo de
interpretação da vida e obra de Jesus pro- Cristo, mas como anúncio de catástrofes cós-
posta por A. Schweizer, segundo o qual o cris- micas. Em segundo lugar, uma evolução da
tianismo (e a Igreja) teria nascido como con- espiritualidade, a qual deixou em segundo
seqüência do retardamento da parusia plano a idéia de Jesus mediador, vendo-o
(Jesus teria sido mero pregador apocalíptico mais como juiz terrível.
e escatológico, convencido da proximidade Em todo caso, nos tempos modernos, re-
iminente da parusia), mas no sem ido de um novou-se o interesse pela parusia junto com a
dos dois vontade de considerá-la de modo positivo.
movimentos teológicos, cada um dos quais Sendo ela vista de novo como desejável, surgiu
com notáveis repercussões também na espiri- a questão de como contribuir para prepará-la.
tualidade, que se opuseram mutuamente, es- Todo teólogo católico deve afirmar que existe
pecialmente na França do primeiro pós-guer- relação entre história profana e vinda do
ra: > encaruacionismo e e . A respeito do Reino. Além disso, deve admitir que o cristão,
com seu trabalho temporal, pode e deve
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desenvolver as —? virtudes especificamente
cristãs. Assim, ao menos por meio do conceito
de "mérito", a história profana é ligada à
preparação do Reino. Tanto o mérito como a ->
oração são valores que pedem o retorno do
Senhor. Negar conexão entre a história
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e-spanha
sificação, podemos tecer uma síntese com põem à prova a —> linguagem e sua capacida-
referências precisas a tempos e lemas de de expressiva. Como se dá em outros cam-
grande conteúdo místico, os quais, pos, as distorsões ou mistificações da reali-
adequadamente coordenados, aproximam- dade autêntica da relação entre Deus e o
nos do verdadeiro rosto da —> experiência homem provocaram reações úteis. De talo, o
mística. problema dos —> "alum brados" e de seus
As características gerais da desvios espirituais levaram ao
espiritualidade espanhola do século XVI esclarecimento dos termos e da linguagem
podem ser assim indicadas: a. vida mística. 16
espiritual intensa; b. importância dada à
oração mental; c. caráter prático e realista; III. Primeiros expoentes da mística.
d. profundeza teológica e atenção devida aos Existe unanimidade em se considerar como
aspectos psicológicos; e, notável aspecto primeiros livros sistemáticos sobre mística,
literário, uma vez que "todos os nossos no século de ouro, o do sacerdote toledano
grandes místicos são poetas, embora Gomez. Garcia (f c. 1500). Carro de dos vi-
escrevam em prosa"; 1 - são, portanto das?1 e o de Garcia de Cisneros (t c. 1510),
"extraordinários em nossa mística o valor F.xercitütôrio, publicado em Montserrat em
formal da exposição e o valor estético do 1500, embora eles recorram a autores prece-
estilo. Essas qualidades expositivas dentes.
contribuíram para a difusão e vulgarização Garcia de Cisneros lamenta o tato de que
de nossa literatura mística". 13 os religiosos não só não vivem a vida espiritual
como deveriam, mas também não entendem a
II. Ponto-chave. Para oferecermos uma linguagem do mundo do espírito, e até
síntese aceitável que leve á coul igu ração da zombam de quem tenha experiências
mística devemos antes de tudo voltar aos superiores e as manifeste ou procure explica-
protagonistas essenciais do caminho las.1'
espiritual: Deus e o homem. Da inter -relação Fala, como autêntico místico, da —> união
entre am-bi is se compreendem as diferentes com Deus e da ação de Deus, que é o sentido
exposições ou a experiência da divina - > sabedoria ofe-
dos autores e a acentuação mais ou menos recida a todos de maneira puramente gratui -
prolunda que eles põem sobre um ou out r o ta.19 Gomez Gar cia avança nas vias da místi-
elemento, como, por exemplo, sobre a —> ca, lalando de imaginação, — * meditação e
ina-bitação de Deus na —> alma, sobre o —> contemplação, mostrando que nesta última é
recolhimento, sobre o -> silêncio, sobre a - * necessário levar em conta a maravilha, sendo
oração, a procura e o encontro, a responsai ela "um agudo, claro c livre olhar da alma
idade, o amor, a ação apostólica decorrente da suspensa com admiração, em obediência à
—» contemplação e sustentada sabedoria".20 Ele examina também os três
constantemente por ela. movimentos segundo os quais se move a al-
Por outro lado, estão se delineando algu- ma.21 Descreve muito bem as relações amorosas
mas idéias basilares ou, melhor, convicções a entre o Esposo e a alma e explica mag-
respeito da gratuidade dc»místico, de sua — nificamente a pedagogia divina no sentido da
*ine-fabilRlade, de seu alto valor etc. Mesmo —> presença e da ausência. "O Esposo atribui
quando se trata de coisas inefáveis, é e dá toda essa graça a quem quer e quando
necessário tratar delas, a fim de se poder quer; não se a obtém por direito de herança."22
explicar alguma coisa dos gêneros de Devemos recordar ainda —> Alonso de Ma-
expressão, como textos e comparações bíblicas, dri, que. em sua Arte para servir a Deus, es-
por exemplo, a —» escada de Jacó, como creve acertadamente sobre o amor puro, que
muitas semelhanças tiradas da natureza, hoje se prefere chamar gratuito. Ele termina
símbolos, a autoridade dos escritos de -» sua obra formulando a seguinte bem-aven-
Dionísio Areopagita, de outros escritores etc. lurança: "Bem-aventurado quem assim ama;
Vai-se chegando imper-ceptivelrnente à —> porque, vivendo, não é ele que vive, mas é
conclusão de Osuna 11 c de santa —> Teresa, Cristo que vive nele, fazendo-o viver vida divina.
que escreve: "Uma coisa é Ele, amando-se, não ama a si mesmo, mas o
receber de Deus a graça, outra é saber que Altíssimo, por cujo amor deseja todo bem!"23
graça é, e outra ainda é saber dizer em que Esse amor gratuito e puro da criatura, que
consiste ela".15 Essas experiências sublimes, assim responde á gratuidade do amor divino
cujo autor é o —> Espírito Santo, são as que e aos dons de Deus, será amor operante e se
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e-spanha 468
chamará amor nu, o qual age "só pelo amor
amical, porque não tem nenhum interesse
pessoal".24 O amor unitivo se dirige, portanto,
para a contemplação quieta, porque se trata
de operação divina que vai além da razão e do
—> intelecto, "com a qual
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ESPIRITUAIS
encarnação viva de Francisco; a procura da Mais adiante no tempo predominou a diver -
exata colocação cronológica da ampla pro- sidade de relação com o ambiente (mais in-
dução historiográfica lianciscaiia do primeiro seridos nele os E. da Provença, menos os E.
século ern torno da pessoa de Francisco da Itália) e de personagens (douto. Olivi; mais
(questão franciscana) e a relação com o mo- homem de ação, Hubertino de Casale [v 1328];
vimento dos E. (questão dos £?.); o dissídio mestre espiritual, Clareno, autor da História
surgido da interpretação da Regra segundo o das sete tribulações, interpretação tendenciosa
espírito do Testamento... (G. Barone). Outro de algumas idéias de Francisco).
elemento de complicação que veio acrescen - Figura central, Pietro di Giovanni Olivi se
tar-se, pela metade do século XIII, loi o pro - empenhou na disputa sobre a pobreza, atrain-
blema da hermenêutica da história de Joa- do ao redor de si numerosos zelosos tia pobreza
quim de Fiore (t 1202), o qual atribuiu à per feita, chamados £., em oposição à
Ordem franciscana uni papel de destaque. O "comunidade da Ordem" (ou maioria da co-
joaquinismo envolveu a Ordem enquanto tal: munidade), empenhada na luta contra os
se extremistas, como Gherardo de Borgo S. abusos, mas considerada a causa deles. An-
Donniiio, foram condenados, o próprio Boa- gelo Clareno, autor da Historia das sete tribu-
ventura se apropriou do núcleo do ideal joa- lações da Ordem dos Menores, com interpre-
quinila. O elo entre > Boaventura e os E. foi o tações tendenciosas de idéias de Francisco,
douto Pietro di Giovanni Olivi (t 1298), aluno encarcerado com outros companheiros no fim
de Boaventura e autor de leitura do Apocalipse. do II Concílio de Lião (1274), libertado
Os franciscanos líeis a Francisco se sentiram depois da eleição de um ministro geral
chamados a opor-se ao desenvolvimento da (12S9) mais favorável aos E. e, por vontade da
Igreja carnal. As origens do movimento podem comunidade, retornado da Armênia, para
ser identificadas, ainda durante a vida de onde tinha sido enviado com outros como
Francisco, na disputa sobre a > pobre/.a missionário, leve momento de glória no breve
perfeita. Aqui predominavam os que, no pontificado de Celestino V (t 1296). Ele
contexto de um enorme desenvolvimento da autorizou os E. a fundar uma nova
Ordem, sob o impulso de urgências congregação, acolhida nos mosteiros dos
pastorais e do estudo nas universidades, Celestinos, se bem que com a obseivância da
acabaram por distanciar-se tia pobreza ver- Regia e do Testamento de Francisco. A eleição
dadeira. Inocêncio IV (I 1492), declarando de Bonifácio VÍIÍ (t 1303) marcou o f i m da
propriedade da Igreja romana os bens móveis congregação. Clareno, de volta da Grécia
e imóveis da Ordem, estabeleceu, em 1247, (1305), paia onde se linha retirado a fim de
os procuradores para cuidarem tios negócios dedicar-se à —> ascese, reapareceu no
dos frades, com base nas disposições deles. As Concílio de Viena (131 1-1.312). Mas, já antes,
reações dentro e fora da Ordem foram Hubertino de Casale, autor de Arvore da vida
vigorosas. Boaventura, ministro geral desde (a qual é uma obra central do espiritualismo
1257, empenhou-se, de um lado, em defender franciscano, ao lado da de Clareno
a pobre/a franciscana "Questão da pobreza" e, supramencionada), sucessor de Olivi na
do outro, em opor-se âs intemperanças dos direção dos /-". e porta-voz dos ideais de
seguidores de Joaquim de Fiore; mas a morte observância da Regra e
de Boaventura em 1274 acelerou o processo da pobre/a ("uso pobre") junto a Clemente V (t
de relaxamento da Ordem. O papa Nicolau 1314) em Avinhão, sentiu-se atendido pelo
III (f 1280), na constituição Saiu o que semeia Concilio de Viena (5.5.1312: bula Exivi de
(1 279) interpretou de modo autêntico a paradiso), que, contra a oposição da comuni-
Regra, na linha de Boaventura, respeitando o dade, decidiu, a favor da corrente mais rígi-
ideal de pobreza e de limitação do uso dos da, porusus pauper das coisas indicadas pela
bens, se bem eme mantendo os conventos e o Regra: foi uma decisão só a respeito do as -
uso de seus bens (E. Iserloh). O pecto prático, considerando-se temerário
descontentamento dos mais ríuidos diante ligá-lo á questão dogmática da pobreza de
desse ideal moderado de pobreza se exaspe- Cristo. Foi justamente em torno dessa
rou, também por causa de uma realidade já questão que João XXII ( v 1334) enfrentou a
distante do ideal. Ordem, guiada então por Miguel de Cesena (t
1342), o qual alirniou que Cristo e os
II. Os acontecimentos e as personagens. apóstolos, individualmente e como
comunidade, não tiveram nenhuma
propriedade. Assim foi envolvido o problema
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ESPIRITUAIS 478
das relações entre poder espiritual e poder
temporal, tão sentido pelos E. e, no lado
oposto, pelos laicistas; interessado direto era o
pontífice, representante de Cristo na terra.
João XXII declarou herética a afirmação de
que Cristo e os apóstolos.
até o estádio de união plena com ele possível cristãos, que são membros do —> Corpo
nesta vida. Nos estádios iniciais, identifica- místico de Cristo e são unidos em torno da
dos com o estádio ascético, o esforço humano mesa eucarística devem, "tornar-se o que
ainda tem grande parte, e as formas da recebem".7
oração são principalmente discursivas. A Assim transformados em Cristt », os
passagem para o estádio místico e seu místicos se tornam espiritualmente fecundos
desenvolvimento são guiados pela ação do —> por-esse desejo de sei vir totalmente a Deus c
Espírito Santo. A vida de oração conduz, a de comunicai* aos outros o que receberam
alma a urna atitude sempre mais simplil como dom. Por isso. se Iornam criativos,
içada e passiva, entendendo-se a dispensam os d< ms com liberalidade e se
passividade como acolhida total do Espírito. interessam totalmente pelos outros. Uma vez
Como o modelo cie um pintor, o místico que experimentaram a morte de seu —*
aprende a permanecer inativo a fim de não egoísmo e estão intimamente unidos a Deus,
impedir o trabalho do artista. 1 levam conforto aonde vão. São cheios de
santo ardor no—> serviço de Deus em
II. Desenvolvimento. Para João da Cruz. qualquer situação. Em seu zelo apostólico, o
o í\ se inicia com a - > noite passiva tios místico, transformado em Deus, se mostra
senti- brando, humilde e paciente com os outros/ Os
dos. Para Teresa, inicia-se com a oração de místicos iluminam a realidade mais
quietude. João da Cru/ recorre ã alegoria do profunda presente em todo cristão. Todos são
caminho purHicaiivo da noite dos sentidos e potencialmente místicos, tocados pela > graça
do espírito, descrevendo o percurso através de Deus e chamados ã —* conversão e á união
do qual a alma desapega-se de tudo o que mística com ele. O e. é simplesmente o
impede a "luz divina da perfeita união com desabrochamento pleno da primeira graça,
Deus".4 Enquanto a — > contemplação infusa recebida no batismo; é vivido nos sulcos da
marca o início da via unitiva, o e. inicia-se —> vida quotidiana e não só se funda na
com a oração de união. A união perfeita do oração fervorosa, mas também se derrama como
e. amor sobre os outros, independentemente da
permanente se verifica quando há -> confor- aparência do sej-viço prestado. Com eleito,
midade total da —> vontade pessoal com a Teresa de Avila observa sabiamente: "O Senhor
vontade divina. Enfim, todo o ser do místico não olha para a grandeza das obras, mas
transforma-se e integra-se pela experiência para o amor com que elas são lei tas".*'
profunda do — > amor de Deus. Essa N OTAS : 'Cf. João da Cruz, Noite escura, 1,10,5;2
transfor- IbicL II, 21 ;5Teresa de Avila, Costelo interior IV,
mação definem-na Teresa e João da Cru/. 2,2;1 João
como —> matrimônio místico. d;j Cr o'/., Subida do Monte ( \ ; o ) u i o , P I \ \ Id.,
IO OLTO
Noite...,o.c, U; \ ,2,bCasteUo...,o.c.,
III. Efeitos do e. Os fenômenos extraor- VII,3,12?S.Agostinho, Sermões57,7.7;d.LG
dinários que acompanham o e., como -> lo- 11,12;SC IO; Cf. Joáo da Cruz, Ditos de luz e de
8
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ESTU.ITAS - ETERNIDADE
siríaci (secc. IV-VI), Milão 1990f 31-49; I. Pena - homem não viverá eternamente (cf. Gn 3,22;
P. Castellana -Jl. Fernandez, Les stvlites syriens, 6,3); seus dias na terra são limitados (et. Sl
Milão 1975; T. Spidlik, s.u, \nDSAM XIV, 1267- 90,10). Não obstante, nos chamados salmos
1275; Teodoreio di Ciro, Historia religiosa: in PC
82. místicos, Israel começa a crer numa imorla-
1 idade dos justos ao lado de Deus: Deus to-
R. D'Antiga mará consigo o justo (o espírito, nefesh, do
justo) depois da morte (cf. Sl 16,49; 73). Essa
fé se prolonga no livro da Sabedoria, com ter-
minologia que pode parecer helenfstica (psy-ché
= alma), mas que é homogênea com as
concepções dos salmos citados (cf. Sb 3,1-12;
5,15). A revelação da ressurreição escatológica,
ETERNIDADE embora com certa superposição entre tempos
messiânicos e tempos finais da história (cf. Dn
I. O conceito de e. se formou lentamente 12,1-3; cf. Is 26,9), traz consigo a promessa da
na história da - > revelação bíblica e da imortalidade também para o corpo que
rclle- morreu.
xão posterior da Igreja. A Escritura não o No NT, o conceito de e. aplicado a Deus
emprega de modo abstraio. Fala dele a res- assume relevo maior. A e. é propriedade es-
peito de Deus, e através de um processo len- sencial de Deus (cf. Rm l .20: 16.26; Fl 4,20. 1
to, de exatidão cada vez maior. Na verdade, foi Tm 1,17 etc). Essa propriedade é atribuída
em conseqüência da revelação de Deus que também ao Filho (cf. Hb 1.8-12; 13,8); esse
Israel se fez uma idéia de e. Assim é certo que lema deve ser ligado ao da e. do Logos (cf. Jo
Israel tinha consciência de que Deus existia 1,1). É característico que o adjetivo "eterno"
antes da criação do mundo (cf. SI 90,9: 102, 25- comece a ser aplicado ao mundo da salvação,
26; Jó 38,4; Gn 1,1) e de que sua existência aos bens escatológicos e também à possível
não terá fim (cf. SI 109,27-28). Deus é assim o condenação escatológica (cf. Mt 25,46).
primeiro c o último, porque abarca toda a Esse uso não deve obscurecer as diferenças
história (cf. Is 41,4; 48,12). Essa superioridade fundamentais em relação ã e, de Deus.
em relação ao tempo permite dizer que para ele Quando esse conceito é aplicado ao homem,
mil anos são como um dia (cf. SI 90,4). Deus é o contexto é sempre ou o de dom gratuito de
chamado 'El olam (cf. Gn 21,33), isto ê, Deus Deus ou, no caso da condenação, o de afir -
eterno ou, talvez. Deus antiquíssimo. No fim mação da vitória eterna de Deus sobre o —» pe-
do período profético chegou-se a afirmar que cado. Além disso, não se deve esquecer que o
Deus é eterno tanto cm relação homem teve começo que, em última análise,
ao passado quanto em relação ao futuro (cf. Is remete à ação criadora de Deus, ao passo que
40,28; 41,4; 44,6). ae. como propriedade essencial de Deus não
A e. de Deus é o fundamento de sua -> fi- teve início e não terá fim. Em todo caso, ae.
delidade (cf. SI 100,5; 146,6). Esta tem sua prometida ao homem é vida sem fim.
expressão suprema no fato de que também sua
-» aliança é eterna ("aliança eterna" como termo III. No pensamento cristão. Ü
técnico: cf. Gn 9,16; 17,7.13; ls 24,5; SI 105,8). pensamento cristão aprofundou o conceito de
Eternos são o Nome de Deus (cf. Ex 3,15; SI e. Como em muitos outros casos, foi Boécio (t
102,13), seu conselho (cf. SI 33.11; Pr 19,21), 524) que ofereceu a noção que prevaleceu no
sua Palavra (cf. Is 40,8; Sl 19,10), seu amor pensamento teológico ocidental. Segundo ele a e.
(cf. Jr 31 ( 3), sua -» graça (cf. Sl 103,17; é interminabilis vitae tola simul et perfecta
106,1), sua justiça (cf. Is 51,6.8); sua realeza possessio ("a posse simultaneamente total e
(cf. Jr 10,10; Sl 10,16). Especialmente miste- perfeita da vida interminável").1 Para Boécio,
riosa é a Sabedoria divina: dela se diz que foi "vida interminável" é vida sem começo e sem
criada desde a e. (cf. Pr 8,22-31) e que per- fim. Além disso, é importante que a posse
manecerá eternamente com Deus (cf. Écio 1,1; dessa vida seja perfeita e que seja total simul-
24,9). Na e. de Deus Israel vê a superioridade taneamente. Os seres criados têm —> perfei-
de IHWH sobre os deuses pagãos. ção limitada e, por isso, podem possuir sua
natureza só por atos sucessivos. E somente o
II. JT. participada: AT. A essas ser de perfeição infinita que pode ter a posse
afirmações total de sua vida. sem nenhuma sucessão. A
sobre Deus o AT opõe a não e. do homem. O necessidade de distinguir a e. participada da
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ESTU.ITAS - ETERNIDADE
que é própria da natureza divina levou a criar
um ternu > para a vida sem fim (mas não
sem começo) e possuída pela pessoa de modo
contínuo; esse termo referido h e . participada
é aevum.
L'Eucarestia come mistero centrale, in Mysterium salutis, Além do seminário de Caen, I indou semi-
dir. di J. Feiner e M. Löliier, VIII. Bréscia nários e colégios em Coutances (1650), Li-
1975. 229-384; Id.. s.w. in K. Rahner (org.), sieux, Rouen (1653), Evreux (1667) e Rennes
Sacra-ment um mundi, VIII, Bréscia 1975, 669-692; (1670).
J. Castellano, s.v., in DES 1,956-974; A. Donghi,
Dioi con noi, Milão 1991; X.L. Dufour, Conaividere il
pane eucarístico secando il Nuovo Testamento, II. Sua doutrina espiritual corresponde à
Leumann 1983; F.X. Durrwell, UEucaristia. Sacra- sua experiência pessoal, é muito coerente e
mento dei mistero pasquale, Roma 1982; E. Galbiati, tipicamente bemliana. Para ele, "a vida cristã é
EEucaristia nella Bibbia, Milão 1968; C. Girando, a continuação e o completamento da vida de
Eucaristia perla Chicsa, Roma-Bréscial989; J.M. —» Jesus Cristo. Quando o cristão ora,
Nouwcn, Ijaforza delia sua presettza, Brescia 19974;
M. Thurian, EEucaristia, memoriale dei Signore, continua e completa a oração que Jesus Cristo
sacrifício di azione di grazie e di intercessions, Roma fez na terra; quando trabalha, continua e
1968; P. Visentin, s.v., in Dicionário de liturgia, completa a vida laboriosa de Jesus... Nós de-
Paulus, São Paulo, 1992. vemos continuar c completar em nós os esta-
dos e os mistérios de Jesus e pedir muitas vezes
A. Donghi a ele que os consuma e complete cm nós e em
toda a sua Igreja, porque os mistérios de Jesus
ainda não estão em sua plena perfeição e
completamento. Embora sejam perfeitos e
completos na pessoa de Jesus, não estão ainda
completos e perfeitos em nós, que somos seus
membros, nem em sua Igreja, que é seu —>
EUDES JOÃO (são)
Corpo místico. Com efeito, o Filho de Deus quer
tornar-nos participantes deles, e estendê-los e
I. Vida e obras. Menos genial do que
continuá-los em nós e em toda a sua Igreja,
Bérullc, menos lírico do que —> J. J. Olicr, E.
mediante as graças que quer comunicar-nos e
foi sem dúvida o mais acessível dos beru-
os efeitos que quer realizar em nós por meio
lianos. Pregador incansável de missões (mais
deles. E por esse meio ele quer completá-los em
de cem) e de retiros, diretor espiritual muito
nós... assim, o Filho de Deus deseja consumar
ouvido, deixou numerosos escritos. O pensa-
e completar em nós todos os seus estados e
mento da escola francesa reaflora em suas
mistérios. Quer consumar em nós o mistério
páginas e também nos livros mais pastorais,
de sua —» Encarnação, de seu nascimento, de
como O bom confessor, O pregador
sua vida oculta, formando-se em nós e
apostólico e O memorial eclesiástico,
nascendo em nossas almas, mediante os santos
editados depois de sua morte.
sacramentos do batismo e da divina
A —> união com Deus por meio "da vida de
eucaristia, e fazendo-nos viver vida espiritual
Jesus em nós" nos leva à graça do batismo,
e interior oculta com ele em Deus".
do qual ele não cessa de falar. Seus livros prin-
Durante toda a sua vida E., segundo suas
cipais são: A vida e o reino de Jesus tias
palavras, "fez profissão de Jesus Cristo". Seu
almas cristãs, várias vezes reeditado a partir
cristocenlrismo místico e apostólico se expri-
de 1637, O contrato da alma com Deus
mia em maravilhosas "orações" aos "corações
mediante o santo batismo (1654) e O
de Jesus e Maria" (Ave Cor) e em "orações antes
coração admirável da santíssima Mãe de
do meio-dia", todas centradas em Jesus, que é
Deus (1680).
adorado nesta ou naquela atitude, que é
Normando, nascido em 1601, viveu alguns
agradecido, ao qual se pede perdão e enfim ao
anos eui Paris; entrou no Oratório em !o23e
qual nos damos inteiramente para que ele viva
loi ordenado sacerdote em 1625; deixou o
em nós. Muito atento à pedagogia, mais ou
Oratório em 1643 para fundar o seminário de
menos como —> Francisco de Sales antes
Caen e a Congregação de Jesus e Maria
dele, e como Montfort depois dele, não esquecia
(eudistas). Antes tinha fundado a Congregação
que "a prática das práticas... a devoção das
de Nossa Senhora da Caridade (cm 1641) para
devoções... é não prender-se a nenhuma
a reabilitação das prostitutas.
prática... mas dar-se ao Santo Espírito de
Depois de ter posto os fundamentos da de-
Jesus". Para ele, a obra das obras era a
voção ao coração de Maria (1648) e ao coração
formação de Jesus em nós (cf. Gl 4,19),
de Jesus (1672), morreu em 1680. É conside-
rado pai de muitas congregações religiosas e "o B IBL .: Escritos: Oeuvres completesdu vénérable Jean
pai", o doutor e o apóstolo do culto litúrgico Eudes, ora. por Ch. Lcbrun - J. Danphin, 12
vols., Vanncs 1905-1911; Lectionnaire propre à la
aos corações de Jesus c Maria (Pio XI).
Material com direitos autorais
congré-gation de Jesus et Marie, Paris 1977; C.
Guillon, En
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I .\AXf Ü J 39
l /AÇÃC > 6
salvação a quem, por razoes várias, ainda É palavra que envia e realiza a comunhão
não a conhece ou ainda não crê", alirmava em entre o homem e Deus (cf. 1.1o 1-3; cf DV 2).
1971 a Renovação da catequese (n. 25) da Igreja 2. Evangelizara proclamar a Palavra de Deus,
italiana (ECEI/I, n. 2442). que é Boa Nova para o homem (cf. Lc 4,18-19).
"A e. é o ato pelo qual a Igreja, sob o impulso É boa nova de salvação (cf. At 13,26), sal-
do —> Espírito Santo, anuncia e efetua a vação de Deus (cf. At 28,28); para os judeus
salvação que o —> Pai, em seu amor infinito, era cumprimento das promessas (cf. At 2,39);
oferece a todos os homens em —> Cristo e por para os pagãos é resposta a pedido feito de
meio de Cristo morto e ressuscitado".2 Mas é na tentativas (cf. At 17,23-27). É boa t u n a de
Evangelli Nuntiatidi, de Paulo VI, que a e. tem reconciliação (cf. 2Cor 5,19): Deus, em Cristo
sua "carta magna", assumida por João Paulo ressuscitado, dá ao homem luz e força para
II conií > incumbência primária da Igreja e eliminar a "divisão" fundamental que sente
levada por todos os caminhos do mundo. Isso em si {cf. GS 10). Cristo recapitula em si todas
porque a t\ è "renovação da humanidade, as coisas (cf. Ef 1,10).
testemunho, anúncio explícito, adesão do E boa nova que anuncia o reino de Deus:
coração, ingresso na —> comuni dade, Jesus começou proclamando o Reino (cf. Mc
acolhimento dos sinais e das iniciativas de 1,15). A pregação é chamada "Palavra do Reino"
apostolado" (EN 24). (Mt 13,19); Paulo sintetiza seu ministério
Essa concepção "global" da e. tem eviden- apostólico como "anúncio do Reino de Deus"
temente sua fonte e sua identidade original (At 20,25; 28,31).
na referência á Palavra: "Evangelizar, para a 3. Evangelizar é proclamar a Palavra de Deus,
Igreja, é levar a Boa Nova a todas as cama - que é Boa Nova para o homem, e que se chama
das da humanidade e, por sua influência, Jesus. A proclamação cie Jesus "Senhor
transformar por dentro e tornar nova a hu- eCristo" (At 236) é o Evangelho! Jesus anun-
manidade: Eis que faço novas todas as coi- ciou o Reino de Deus. Os apóstolos anunciaram
sas" {EN 18). o lato Jesus, porque o Evangelho é ele. Esse
1. Evangelizar é proclamar a Palavra de caminho não é teoria soteriológica, é palavra
Deus. A noção bíblica de "palavra" é bastante que salva.
rica, e a "palavra de Deus" indica a nota dis - Por essas razões, a Palavra é o grande te-
tintiva de Deus em relação aos ídolos (cf. Br souro da Igreja, tesouro que ela sempre ve-
6,7; SI 115,3) e o modo de sua intervenção no nerou e do qual se nutre (cf. DV 21), porque
mundo, desde o começo da criação (cl. Gn 1) foi confiado a ela por Jesus: "Pai... as palavras
até o eschaton, que será a "consumação da que me deste, eu as dei a eles" (Jo 17,4-8).
palavra de Deus" (Cl 1 r25). A Palavra de Deus é Realizar tudo isso significa evangelizar.
ato de Deus, porque Deus age com sua palavra Mas então evangelizar não é fato verbal, não
e fala com sua ação. Por isso ela é palavra é pura transmissão conceituai; não é tanto o
reveladora: ela se faz próxima do homem (cf. Dt dever de mestre quanto obra de testemunhas
30,11-14) e cria entre o homem e Deus uma (cf. EN 41).
relação que se traduz em —> "sabedoria de "Vós sereis minhas testemunhas" (At 1,8): é
Deus" (ICor 1,21-24; 2,6-7) e que o Espírito ordem de Jesus aos apóstolos. E, segundo o NT,
Santo com inuará a sugerir no coração dos o estilo do testemunho caracteriza de modo
discípulos e a recordar continuamente (cf. Jo bastante forte o anúncio. Os apóstolos se
14,26). apresentam como "testemunhas", garan tes
A Palavra de Deus é criadora porque com ela de acontecimento - a morte e a ressurreição
se inicia a história do mundo (cf. Eclo 42,15; de Jesus - do qual fizeram a experiência na
ss.; Pr 8,22ss). E ela entra na história como convivência com ele (cf. At 1,21) e mediante o
energia que sacode e como poder que vivifica, dom do Espírito (cf. At 5.32).
ainda que desça no silêncio plácido da noite "O que era desde o princípio, o que ouvimos,
ou na doçura da chuva fecundante (cf. Sb o que vimos com nossos olhos, o que
18,14-16; Is 55,10-11). contemplamos e o que nossas mão apalparam
Eia é também palavra profética, a qual do Verbo da vida... vo-lo anunciamos" (Uo 1,1-
caminha com o homem (cf. Dt 2t),5-10). pe- 31.
netra nas dobras dos acontecimentos das Anunciar ê empenhar a própria vida no
nações e dos reinos (cf. Jr 1,9-10) e faz história que é anunciado. E ê anúncio autêntico
até inani testar-se em plenitude de graça e quando envolve toda a vida da testemunha e
verdade (cf. Jo 1,14). nasce de experiência do mistério, de modo que
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a voz do arauto é a tradução fiel da palavra de
Deus.
bo se fez carne" (Jo 1,14), e o divino se fez ascensão do homem para a —» união
cósmico. mística com Deus.
Quanio aos Padres latinos, eles usavam Essa doutrina da experiência de Deus
o termo mysterion, traduzido muitas vezes escondido nas trevas atravessou toda a
co-mo sacramentam no sentido paulino ou Idade Média. Nos séculos XVI e XVII, nos
num sentido mais amplo, mas sempre quais prevaleceu a consideração
dependente do sentido paulino. Em suma, psicológica, ao contrário, a atenção se
no âmbito cristão, falava-se de realidade deslocou para as condições subjetivas da
secreta e escondida, isto é, de Deus experiência, em particular, para as
mesmo, que transcende toda coisa; modalidades da contemplação mística e
escondidos e secretos são também os para os fenômenos parapsicológicos que
vários aspectos de Mistério salví-fico, podem verificar-se nela. O uso do termo
conhecidos pela fé, mas só de modo im- como substantivo, isto é, "místico", no
perfeito. século XVII, marca distinção entre
Com Marcelo de Ancira (t c. 374) apare- experimentar o mistério e o mistério em
ceu a expressão teologia mística, a qual, si. A atenção dada à pessoa, o estudo
retomada por —> Dionísio Areopagita, psicológico da experiência (como
teve ampla repercussão. Com essa fenômeno da consciência) e o confronto
expressão Marcelo queria indicar superficial dos conceitos cristãos oci-
conhecimento "inefável e místico" de dentais com os do extremo Oriente,
Deus. diferente do conhecimento comum. depois também algumas experiências
Dionísio Areopagita, em sua Teolo-gia "paroxísticas" (peak-experience =
mística, acrescenta uma precisão de- experiência extrema ou limite) ou alguns
terminante, saber, que esse conhecimento estados inebriantes provocados pela ->
misterioso de Deus é o ápice da droga, reduziram a mística a uma fusão
experiência religiosa 3. Embora o primeiro com o divino, ou a um sentimento su-
uso do termo "mística" aplicado a um blime sem conteúdo ou sem objeto. Assim
modo de conhecera Deus diretamente e a mística é entendida como "conceito-
quase experimentalmente pareça limite e essencial" (J. Seyppel) que
encontrar-se em —> Orígenes, foi, resume o que foi dito acima.
pois, sobretudo Dionísio Areopagita quem Na teologia posterior a 1 900 impôs-se
falou de mística no sentido de com insistência a questão de se a mística
experiência. Em seu tratado sobre os é prolongamento ou intensificação da
Nomes divinos, falando de Hieroteu, experiência da fé (R. Garrigou-Lagrange)
presumivelmente seu mestre, e da ou dom extraordinário e qualitativamente
interpretação das Escrituras, diz que novo de Deus (Foulain). Estreitamente
"arrebatado fora de si em Deus, ele ligada a essa questão pôs-se outra,
participava, de dentro e inteiramente, do igualmente importante, isto
objeto que celebrava". Depois passa para é, se a essência da mística se reduz à
outro tema, retomando um termo do qual mística dos fenômenos extraordinários.
acabara de falar, isto é, de Hieroteu e de Essa questão pode reduzir-se à seguinte
sua experiência espiritual, tà exei pergunta: a mística depende de método
mystiká. É nesse fundo saturado de ou é dom gratuito? A resposta mais
experiência que deve ser enquadrado o adequada parece ser a seguinte: a mística
livrinho Teologia mística, com o qual o cristã, mesmo reconhecendo a utilidade
Areopagita se tornou o teólogo normativo dos métodos, insiste sobretudo nos dons
da mística. O acento decisivo que ele dá à gratuitos do Espírito (J. Maritain). Ae.,
sua vasta obra é este: o ser de Deus é entendida como plenitude da vida cristã,
mistério que não pode ser atingido nem se refere sempre à gratuidade dos dons de
pelo saber nem pela experiência; pode-se Deus, com o qual se entra em união
somente, como Moisés no monte Sinai, íntima de amor no plano experiencial.
entrar na nuvem escura do mistério. O O outro termo com o qual a mística foi
mundo precedente, rico da experiência designada no curso da história é
das múltiplas percepções, abre-se para misticismo, termo esse que em várias
Deus somente se o mistério divino línguas européias tem significado antes
permanente não for desfeito (teologia negativo, de pseudomística, ao passo que
negativa): Dionísio "canta" assim, em inglês e em italiano tem geralmente
servindo-se do símbolo de Moisés, a sentido positivo e é sinônimo de mística.
Mas é verdade também que com esse ter-
mo se indicam a tendência, a aspiração, a
expressão de uma necessidade, a procura,
em suma, certo dinamismo vital. 4
Algumas vezes os autores católicos o
contrapõem à mística para indicarem os
desvios que têm aparências de mística,
como, por exemplo, a teosofia, o
espiritismo, o —> quietismo etc; em lodo
caso, é evidente que "mística" subentende
sempre a idéia de experiência do divino. 5
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K XF KRI ÊM C IA MIS 404
l' ICA
Por outro lado, a mística é principalmente nesse caso, notar que à suma
substancialmente a tomada de consciência atividade ou colaboração do homem com a
dessa experiência do Espírito vivida pelo ação de Deus deve corresponder uma suma —
crente em seu íntimo. Traía-se mais > passividade, que consiste em deixar-se
propriamente de processo de interiorização tio formar por Deus. Enfim, pode-se afirmar
Mistério cristão isto é, da revelação do Filho que a espiritualidade se posiciona no plano
de Deus encarnado no âmbito da Igreja cujas do viver segundo o Espírito, ao passo que a
condições normais de crescimento são a vida de mística se posiciona no plano do ser ou, em
fé e a vida sacramental. Por isso ae. é fruto termos mais apropriados, cio "deixar-.se
da fé.23 Pode-se lalar então de mística formar" por Deus. As duas são a estrada que
experimental.2* O Padre V. Bainvel, na todo batizado deve percorrer ao tender à
introdução à reedição do livro de Poulain, perfeição, a fim de conseguir a comunhão
repropõe sua concepção cie vida mística, mística com Deus Pai, Deus Pilho e Deus
definindo-a assim: "Vida da graça tornada Espírito Santo, comunhão possível já nesta
consciente, conhecida experimentalmente". vida, mas plenamente saboreável na outra
E, explicando seu pensamento, continua: "Com vida. A ação constante do Espírito
isso penso que Deus concede à alma mística santilicadorconduz, portanto, à -> inabitação
alguma coisa como um sentido novo, como a das três Pessoas divinas no íntimo do cristão,
consciência de sua vida em Deus e da vida de sendo a promessa tornada então realidade: "A
Deus nela. Essa consciência vai se ele viremos e nele estabeleceremos morada" i
desenvolvendo pouco a pouco, seguindo a J« > 14.2 V). Essa presença divina não é
evolução da vida mística, do sentimento da somente dado objetivo, mas também experiência
presença de Deus ou de um —> ti >que pessoal da inabitação trinitária.27
amoroso dele na alma até a cooperação divi - Com isso não negamos que o Espírito, so-
na para todos os nossos atos sobrenaturais c beranamente livre, harmonize seu dom caris-
para a união (acidental, mas imediata) entre mático místico com o caráter e a mentalidade
Deus e nós, entre a sua substância e a nossa, da pessoa em questão. Justamente porque
englobando a \ ida de Deus e suas operações essa inabitação divina no místico é dom e
em nós, a nossa vida c as nossas operações não recompensa, ela o faz plenamente
nele. Isso é, ao mesmo tempo, conhecimento e homem, provocando no sim de sua nova
amor, predominando às vezes o conhecimento, personalidade de homem novo a resposta à
às vezes o amor".25 sua vocação ôntica para a união com Deus.
Existem dois modos de tender a essa ex- Essa pura e
periência: um, mediato, o outro, imediato, se nua estrutura da resposta humana é fruto de
bem que os dois sejam dons gratuitos de fé profunda, de —» esperança que é tensão
Deus. C) primeiro é o caminho da perfeição, para a plu na maturidade e de caridade en-
percor- raizada cada vez mais em Deus como em sua
i ido em etapas ou em ■ • graus pelos verdadeira origem. Isso é tão verdadeiro que, por
cristãos, divididos, segundo uma classil meio do Espírito, verifica-se na e. um querer
icacão tradicional, em principiantes, humano tão identificado com o querer divino
adiantados e perfeitos, através de três estágios que dá origem a urna vida nova, isto é, a uma
fundamentais: purificativo, iluminalivo e vida de caridade. Isso significa que o Espírito,
unitivo. O segundo modo, imediato, é cm sua ação transformante e divinizante,
concedido diretamente por Deus a quem ele respeita o homem. Mais ainda. A divinização
quer e quando ele quer, acima de qualquer do homem comporta sua plena humanização,
esquema lógico e cronológico. Em uma e outra numa unificação harmoniosa de todo o seu
modalidade de e. é sempre necessária a ser; cm outros termos, participando da
colaboração do homem, que, nesse ponto de comunhão de vida das Pessoas divinas, ele se
sua vida espiritual, se faz instrumento nas torna plenamente homem e Deus por
mãos de Deus. Trata-se, em termos concretos, participação, no sentido de que
de trabalho de escavação, que o homem deve atinge amadurecimento humano c espiritual
lazer entre as estratificações de seu ser até perfeito. Superando seus limites humanos
chegar à substância do ser, isto é, à forma que para dar atenção de amor só ao Deus de Je-
enforma todas as coisas: a Deus Trindade de sus Cristo, ele é introduzido nas trevas lumi-
amor, fonte primeira, da qual procedem nosas do mistério intrati initário, onde não
homens e coisas. É importante,
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distingue mais entre o conhecer por fé e o
amar por caridade.
Agora ele já está no conhecimento por amor
do qual fala —> Boaventura, quando define a
mística como cognitio Dei speri-mejitalis, isto é,
"conhecimento de Deus fundado na
experiência".28 No auge dessa experiência, o
místico é unido às Pessoas divinas num
profundo intercâmbio divino de conhe
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EXPERIÊNCIA MÍSTICA
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Í.XTAS 41
.I: 2
que quem ama não pertença mais a si mes - podem introduzir-se enos. Martin Buber
mo, mas só ao amado". mostra cm
No realismo típico da Idade Média, as ex- Ich und Du ("Eu e tu") que o esquecimento de si
periências extáticas empiricamente apresen- mesmo no divino pode ser interpretado como
táveis se tornaram cada vez mais irequente e fusão panteísta e não como experiência de
importantes. Não por acaso, o primeiro a amor extático.
receber estigmas físicos foi — > Francisco de A onda do que se verifica na própria psique,
Assisr em 1224; os —* estigmas são feridas provocada pela experiência mística, torna
correspondeu tes âs chagas de Jesus. viva/ a visão inuma do mundo posta na
Anteriormente, segundo Gl o. 17, eles tinham alma ou induzida pela cultura. H assim essa
valor, "somente" como referências espirituais experiência toma corpo ou, melhor, se "torna
aos sofrimentos da paixão. Também outros psíquica" em representações de vários gêne -
lenó-rnenos "extáticos" se tornaram cada vez ros, como, por exemplo, a viagem celeste da
mais freqüentes: —> levitações, desmaios alma através do inferno, murada por Dante
físicos e espirituais, > transes, > visões, (t 1321), em ampliações da consciência, como
ampliação do conhecimento e transmigração relatado pela moderna pesquisa sobre a >
da alma. faculdade de fazer milagres etc. meditação, em sonhos nostálgicos da in -
Grande parte do que acabamos de dizer é fância e no esquecimento de si etc.
confirmada por uma interpretação simbólica, Em pessoas de notável sensibilidade física
mas a tendência paia o realismo se mani festa essa experiência pode c< tncreti/ar-se
também na concretude de tais experiências. — também em fenômenos físicos particulares,
> Eckhart, por exemplo, polemiza tais como: uma espécie de desmaio por causa
expressamente com uma espiritualidade ex- do e. interior naquele que repousa em Deus e
cessivamente realista e exterior de conventos não mais em si mesmo, ou a levitação,
femininos, nos quais o desmaio físico e a au- segundo ;i narração de —> Tereza de Ávila,
sência de consciência eram entendidos como que era bastante sensível, do ponto de vista
dons místicos. No campo que se define como psicossomático. Escreve Rahner, em Visões e
"êxtase" aparece a diferença entre sua inter- profecias, que, para a determinação do
pretação espiritual (Dionísio Areopagita), para a elemento sobrenatural de certos fenômenos, é
qual se inclina -> Tomás de Aquino (ela irrelevante se eles são, por assim dizer,
transporta o amante para fora de si), e os causados diretamente por Deus ou se procedem
estudos empíricos de ausência mental ou de da ação conjunta do contato interior com
eventos miraculosos. Deus e da reação psicossomática
subseqüente.
II. No Âmbito da mística cristã tem valor, Os —> fenômenos extáticos da mística cristã,
sem nenhuma dúvida, como critério de como os de -» Catarina Emmerick, atestam
avaliação, o e. entendido em sentido espiri- uma experiência Lotai de Deus, a qual
tual, no cuia! a pessoa transfere para Deus investe tanto o corpo como a alma, mas a
ou para -» Jesus todas as suas faculdades inte- extraordinariedade deles não pode ser indício
lectivas, sensitivas e volitivas. Esse fenômeno, de causalidade divina imediata Para os
segundo o passado cultural c a iormaçâo estudiosos, trata-se de "fenômenos extraor-
pessoal, pode ser experimentado e definido dinários acompanhados de evento místico",
lambem como "en-stase"; nele, mediante o os quais muitas vezes podem ser reduzidos a
espirito de Jesus, Deus pode tomar a pessoa causas psicossomáticas ou socioculturais.
ao ponto de fazé-Ia dizer "não sou eu que Nos processos de canonização, a Igreja tem
vivo, mas é Cristo que vive em mim" (Gl 2,20). atitude cautelosa e muitas vezes cheia de re-
A fenomenologia desse e. pode ler resultados serva cm relação a esses fenômenos.
diferentes, como o esquecimento total e o Em muitas práticas das religiões encon-
quase aniquilamento do "eu". tra-se o itinerário oposto, o qual consiste em
Mas a dinâmica do cu para o t u divino, querer chegar a estado dee. daalma por meio
inatingível ou completamente transcendente, de exercícios do corpo, entre os quais são
permanece determinante, ainda que o e. de aceitas algumas práticas ascéticas típicas do
amor faça esquecer iodas as diferenciações. cristianismo. É necessário ter presente a to-
Quando essa primitiva —> experiência talidade do homem também em sua expe-
mística do amor, que deve ser entendida riência mística; por isso, é legítimo o princí-
como e., se torna conscientemente refletida, pio segundo o qual a mística, em sua essência,
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é iruio de dom divino livre, e não da capaci
dade humana. Também na prática meditativa
do e. esse dom deve apresentar-se como
experiência de amor que taz a pessoa esque-
cer-se de si no Oulro.
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FANTASIA - FÉNELON FRANÇOIS
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FERRINl CONTARDO visível em toda a sua plenitude somente sob
420
A fama de sua santidade se difundiu rapi -
damente, e em 4 de julho de 1924, foi intro- a luz de sua experiência espiritual. A sua
duzida a causa de sua beatificação. O pro- consciência profissional, até em suas raízes
cesso se encerrou em 14 de abril de 1947, mais profundas, era iluminada c guiada por
quando foi declarado bem-aventurado e urna fé pura e por uma vontade forte de servir
"modelo do católico de nossos dias" por Pio à verdade em todas as suas manifestações,
XII. procurando Deus cm todas as coisas.
Seus escritos religiosos e suas cartas, me-
II. Atividade e obras científicas. Como ditações e pensamentos podem ser considerados
catedrático. F. levou a efeito intensa produ- pequenos tratados espirituais, nos quais se
ção científica. Chegam a perto de duzentos manifesta sua constante união com Deus, A
seus escritos, que vão das obras maiores — sua vida cristã de leh'o consagrado se fun-
revisões críticas de antigos textos jurídicos - dava na eucaristia e no exercício do evanuc -
aos numerosos artigos para revistas especia- lho da caridade, constantemente preocupa do
lizadas e às contribuições para enciclopé- com os pobres.
dias, especialmente de direito. Desses escritos recordemos principalmente
Essa atividade e produção de pesquisador o Regolamento di vita (1888), o Programa di vita
levou o famoso estudioso T. Mommsen a dizer dei giovane Cristiano (1880) e Unpod'Infinito. Sua
que "graças a í ( o primado dos estudos fisionomia espiritual se fundava na leitura
romanísticos está passando da Alemanha assídua dos Padres da Igreja e num
para a Itália". conhecimento particular das obras do jesuíta
L. du Pont.
III. Experiência e escritos espirituais. F. foi o místico da união com Deus, no
No ambiente cultural frio e impregnado do qual ele estava imerso, e ao mesmo tempo,
culto da razão, proclamado pela íilosotia do por assim dizer, o místico do fato e da ação,
Iluminismo, e no despontar do Romantismo, daquela operosidade que não era considera-
com o qual surgiu um novo sentido da histó- da (pelos que desconhecem a ordem divina)
ria c de sua pesquisa em todos os campos, como fim de si mesma e elevada a uma es-
situa-se a figura modesta, dialogante, de ho- pécie de sucedâneo da religião, mas que re-
mem de finas —> cultura, —> política e —> cebia estímulo e força, dignidade e eficácia do
caridade de F. Ele compreendia que o homem Criador e Senhor de toda verdade. Sua vida
é um ente finito que tende para o infinito, que e sua doutrina são uma síntese de fé e
tem uma alma imortal, a qual atravessa o cultura plenamente inculturadas em seu
abismo que divide o mundo material do espi - tempo. Ele foi uma voz quase profética de
ritual, e que, separando-se do corpo, voa para presença discreta do evangelho operante na
as margens da eternidade, para diante do olhar atividade cultural, na politica e na prática
e do juízo de Deus. Para essa alta meta teve solidária como resposta às pobrezas de seu
ele sempre voltados o olhar e o pensa mento mundo.
durante sua caminhada terrena, nu -trindo-se
do saber e da ciência humana histórica e B IBL . Obras: Todos os estudos de Ferrini foram
jurídica, mas tendo como alimento vital e reunidos em E. Alberlario - V, Arancio-Ruiz -
P. Ciapessoni (orgs.). Opere di Contardo Ferrini, 5
substancial de seu espírito a piedade e a —> vols., Milão 1929-1930; A. Codagheng, Pensée et
virtude, hauridas na —> revelação divina, Ekvations, Paris 1930; Mgr. Minoretti(org.) Sctitti
a t i m de identificar-se com Cristo no togo da religiosi di Contardo Ferrini, Milão 1931, 1947; G.
caridade. Pellegrini (org.) Scrítti religiosi di Contardo
Para E , o direito, com sua história e seu Ferrini, Turim 1924, 1926. Estudos: Aa.Vv.,
desenvolvimento, não era objeto isolado de Miscellanea Contardo Ferrini, conferente e studi
nel fausto evento delia sua beatifteazione, Roma
uma pesquisa científica que tivesse sua 1947; G. Anichini, Un astro di santità e di
satisfação em si mesma, mas a aplicação da seienza, Roma 1947; C. Caminada, Vita di
lei eterna e da lei moral divina à realidade da Contardo Ferrini, Roma 1947; C. Castiglioni,
vida humana como uma das colunas firmes s.v, in DSAM V. 199-200; J. Cottino,s.v., in BS V,
que, fundadas em Deus. concorrem para a 656-658; I. Giordani, Contardo FerrinL Un Santo
edificação da sociedade e para o bem universal tranoi, Milão 1949; H.R. Harraro, s.u, in NCE V,
896-897; B. Jarret, Contardo Ferrini, Londres
dos povos.
1933; C. Pellegrini, La vita dei professor Contardo
Em /'.', o —> trabalho profissional e a vida Ferrini, Turim 1928; A. Portaluppi, Vanima
pessoal estavam unidos indissoluvelmente; religiosa di Contardo Ferrini, Al ha 1942; M.
por isso, .sua figura de estudioso se tornou
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Vaussard, Le bienheureiix Contardo Ferrini, in
N R J h 70 (1948), 289-302.
V. Mosca
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FÍLON DH ALEXANDRIA entusiasmo de quem contempla as idéias
eternas a convite da sabedoria divina, a
celas judeus-egípcios, chamados inteligência ou o nous, o 428
therapeutae. que I . opõe aos essenios. Seus
numerosos escritos repropõem a questão da qual, sem bebidas inloxicantes, mas impeli -
unidade do corpus filoniano, por causa de seu do pelo amor de Deus, sai de si mesmo, Por
ecletismo. Procurando um método que não é isso, o êxtase é chamado conhecimento ou
nem estritamente sistemático, nem mera amor. Entre os intérpretes recentes, há quem
compilação u e elementos heterogêneos, F. se (A. J, Festugière, M. Mach) negue q u e se trate
interesse mais pelo episódico, de modo que a de união mística com Deus; outros (J. E.
unidade conseguida é fragmentária. Menard) a admitem. Seja como for, a essência
de Deus permanece estritamente inacessível,
II. Doutrina, A • contemplação leva ã sem nome, inefável e incompreensível; o que
mística? A sua espiritualidade se inspirava o homem pode saber positivamente de Deus é
na fé judaica e no que ela ensina sobre a ima- só que ele existe; F. chama as qualidades de
gem de Deus no homem, li identificada com Deus dynameis (potências). Por causa dessas
seu nous. o intelecto - uma espécie de deus idéias, F. é chamado pai da —»teologia
dentro do homem - o qual contempla as negativa; nos Capadócios ( f i m do século IV).
idéias. As idéias se encontram num mundo as idéias recordam a distinção entre a essência
inteligível, existente antes na mente de Deus. e as energias de Deus, distinção essa que,
E chama esse mundo inteligível de Logos, o embora não provenha dele, teve muita acei -
Nous (mente). Significando "razão" e "palavra", tação no —> hesicasmo ou mística palarnita
o Ixtgos existe como a palavra imanente de (século XIV). Tecnicamente, I. parece ter lido
Deus, antes ainda de existir como e n t e in- uma forma de mística medioplatônica (B,
dependente. O arquétipo do homem perfeito é McGinn, E. Goodenough, D, Winston). Tal vez
o mesmo Logos, que, contemplando as idéias, se possa dizer que em F. —* o ideal místico,
as cria. Essa antropologia espiritual seguia atingido por Moisés no Sinai, e por alguns
hermenêutica íormada, em parte, segundo o patriarcas, seja atingível, na prática, só a t é
modelo da que estava em uso nas certo ponto. Outra reserva relativa à
escolas \\\ eeas para o estudo de Homero e espiritualidade íiloniana vem do ideal plató -
de outras obras literárias. Hm hora nessa nico de libertação da carne, separação tão
exegese espiritual tenha sido precedida por precisa entre espírito e matéria que lhe valeu a
Aristóhu lo (séc. II a.C), F. foi o representante acusação de dualismo.
máximo dessa corrente. Desse modo, conceitos 11. A. Wolfson vê em F. a matriz filosófica
platônicos e estóicos passaram a fazer parte comum do —> judaísmo, do cristianismo e do
do pensamento judaico. Quem apareceu a islamismo. Por causa das circunstâncias, F.
Moisés na sarça ardente loi o Logos, mediador não teve muita aceitação entre os judeus. São
entre Deus e o mundo visível, c do qual o óbvias, por outro lado, suas afinidades com os
sumo sacerdote é imanem. Essa hermencu- —> Padres, por exemplo, o discurso sobre o
tica, que privilegia o sentido espiritual, era Digos, que aparece a Moisés, semente de toda
praticada, pelos rabinos palestinenses, dos as revelações nos pré-nicenos (são Justino, são
quais, porém, ele se distancia. Com efeito, ela Teófilo de Antioquia, santo Ireneu de Lião), como
interpreta o messianismo escatológico em também com a teologia negativa dos
termos de uma -» ascética que, segundo o capadócios. Mas concluir que haja
modelo da emigração de - > Abraão de Ur dependência direta c mais difícil, mas há
dos caldeus e do primeiro êxodo do Egito, possibilidade de fontes comuns. J. Pollard
liberta o espirito da matéria. Essa ascese pensa que o Prólogo de João seria o mesmo,
culmina sem F.,
num êxtase, descrito corno estado de enquanto J. Laporte considera a influência
embriaguez sóbria, sóbria ebríetas ( m e lhe de F. sobre -> Orígenes maior do que se pensa
nephalios); mas, para A. Louth, o que ela habitualmente. As diferenças entre f ! e o
descreve, mais que o êxtase, é o estado de Prólogo do evangelho de João. de um lado, e
quem faz o bem como segunda natureza, sem entre F. e os Padres, do outro, são evidentes.
precisar lutar. A expressão sóbria ebrietas, O primeiro dos santos Padres a citá-lo muitas
cunhada por /-., è, todavia, um oximoro, isto é, vezes e com seu nome foi —> Clemente de
uma exasperação de lermos aparente mente Alexandria, cujo Quem dos ricos se salvara?
opostos. Com eleito, esse modo de se lembra o Quem será o herdeiro das coisas divinas?
expressar é 1 requente em E , por exemplo, de F. Em —> Ambrósio a influência de F. é
em Opificium mundi (70-71), onde significa o direta; ern > santo Agostinho, é direta ou
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indireta. Com —» são Gregório de Nissa, que
escreveu também uma Vida de Moisés sobre a
mística, se vê que E ao menos jã fazia parte
do repertório do intelectual cristão. A in
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FORMAÇÃO MÍSTICA
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FRANÇ 43
A 6
esforços de reforma e renovação foram bem arbítrio. O contato com os exemplos e os
simbolizados pelos movimentos que, inspi - sentimentos de Cristo e as consolações do
rados em Otão ( T 942), tomou o nome de Espírito Santo, no exercício vivo da ca ridade,
Clunv: na espera ardente da segunda vinda levam o homem ao terceiro grau da
do Senhor, ele tendia a recuperai; numa for - humildade, em que o Pai Celeste une a si a
ma de ascese pessoal e comunitária, as ca- alma, a qual, agora purificada, pode ser
racterísticas da Igreja primitiva, que eram a introduzida na contemplação mais plena da
caridade, a comunhão, a oração, a alegria de verdade e tornada participante de comunica -
viver na presença do Senhor, a liberdade da ções mais íntimas com Dei rs. Nessa feliz
vida da graça. Difundiu-se assim também condição, o homem, se bem que em
entre o laicalo nova lorrna de intervalos e tie passagem, experimenta-se
espiritualidade, a qual entendia a vida corno livre da miséria da vida atual e, tornado
caminho espe-cíl ico de salvação; mais semelhante a Deus, antegoza da
difundiram-se as peregrinações e o liberdade da vida ídorio-sa do céu."' Com
cremitismo temporário ou perpétuo como Bernardo (mas devemos lembrai- também ao
prolongamento lógico da vocação para a menos de Guilherme de Champeaux,
solidão com Deus. Toda essa comple xa Guilherme de São Teodorico e Hugo e Ricardo
experiência religiosa e espiritual, domina da de São Vítor), difundiu-se assim uma
pela influência do monaquismo, foi bem espiritualidade (e u n i a mística) feita ile
resumida nos escritos e nos ensinamentos conhecimento e meditação do ruis té rio de
de --> Anselmo. Jesus Cristo (porque a ascese é co-
Em 1098 foi fundada a abadia de Cister. nhecimento e purilreação de si, que não são
Em 1107 ingressou nessa abadia ~~> possíveis fora do mistério dele; ele toma
Bernardo, posteriormente abade de Claraval, posse de nós e nos enche dos dons de seu
Foi o começo de um monaquismo novo. amor até a contemplação) e da —> Virgem
"Deus-Trin-dade, que é amor, por amor Maria (Maria está tão ligada ao mistério do
criou o homem, o qual trazia em seu livre - Filho que não se pode omiti-la na subida de
arbítrio a imagem amor que nos leva a Deus), de adoração da
indestrutível de seu Criador e também urna —* Eucaristia (que é Jesus presente) e de
semelhança especial pela graça, que o ho - caridade fraterna.
mem perdeu quando, negando-se ao amor c
à verdade, desceu os degraus da —> III. Os séculos XIII c XIV mat cam uma
soberba... mas como poderia o homem profunda transformação na vida cristã da /*'
decaído voltar à região na qual a semelhança Aiirmase o desejo de —> imitação de Jesus,
com Deus refulgia em seu rosto? Por si ele que vê r r a escolha da ■> pobreza um
não era capaz disso. Mas Deus veio em seu elemento decisivo. Essa acentuação foi fa -
socorro com sua —* graça. O —* Verbo cilitada depois pela necessidade de reagir
encarnado, tendo-se tornado homem, fê-lo contra a riqueza excessiva da Igreja e con tra
conhecer a miséria cm que tinha caído: era a sua lenta mundanização. Surgiram e se
luz da verdade, era a centelha da caridade, difundiram as ordens mendicantes de Do-mi
que levava o homem ao conhecimento de si e ngos (t 1 221) e de —> Francisco, que, a seu
à —> compunção, fazendo-o subir o primeiro modo, anteciparam a resposta á urgência de
degrau da —> humildade; assim o homem... reforma da —» Igreja, augurada de muitos
readquiriu a liberdade tirada pelo —> lugares. Mas surgiram também fortes movi -
pecado, ou seja, a liberdade dada pela graça, mentos heréticos, que rejeitavam não só os
a qual o tirou da escravidão do pecado. costumes escandalosos do clero, ruas
Interveio, então, o Espírito Santo, que também a disciplina eclesiástica e o dogma
suscitou no coração contrito a compaixão católico (amaurianos, cátaros, valdenses).
para com a miséria do próximo e levou-o às Contra as heresias desenvolveu-se, pela ação
obras de misericórdia, fazendo-o subir o dos pregadores, o princípio segundo o qual
seuundo deerau da humildade. Era uma luz lalar de Deus é falar com Deus. A vida
rrrais abundante de verdade, e era uma espiritual assumiu a lição desse princípio.
força mais viva de caridade, e, desse modo, Pregara —> con-\cisão .significava
foi restaurada no homem a semelhança com experimentar; antes, a penitência, o estudo,
Deus, pela qual todos os atos que ele faz são a --> contemplação. Para que os outros
simultaneamente obra da graça e de seu seguissem Jesus Cristo, era indispensável
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que os discípulos lossern os primeiros a
segui-lo, e seguir o Cristo signil içava
associar-se à sua pobreza. Estabeleceu-se
assim um nexo profundo entre o testemunho
pessoal e o anúncio cio Evangelho. Esse
anúncio requeria por outro lado. a solidez
dos estudos. Assumiram uma função nova
a s universidades (veja-se sua importância
para as Ordens de Alberto e Tomás, de
Boaventura e
linguagem humana é pobre e impotente para chama de divirta Mãe de Deus, Rainha
exprimir a riqueza do que linha visto e ouvi - celeste. Maria é a advogada dos pecadores,
do durante os êxtases, e porque não estava aquela que intercede continuamente diante
em condição de traduzir a inefabilidade da do - H» Pai em favor da humanidade
experiência mística em categorias humana - ameaçada. Por isso, os dois mistérios que
mente inteligíveis. exprimem melhor paia F o papel da Virgem
na economia da salvação são o cia
IL Ensinamento místico. Uma chave de anunciação e o da coroação no céu. Nas
leitura essencial para penetrai no misticismo visões falta uma imagem muito difundi da na
de b, ê sua grande devoção à eucaristia, a piedade temi ni na da baixa Idade Média, a
qual inspirou algumas das páginas mais de Maria mãe dolorosa. Maria € mãe de
belas das visões: via a luís lia como grande misericórdia, vista e pensada como lu/ e
quantidade de neve alvíssima, mas quente vitória, e como glória do mundo. A imagem
como o logo (cl. Visão XIII, 4); o tabernáculo de Cristo se situa, em F , no ponto de
eucarístico lhe aparecia como o coração confluência de vários percursos. Ela aceita a
luminoso e ardente de urna criatura celeste piedade cristocêntrica tio Iranciscanismo,
que descesse do céu à terra (cf. visão VII. 3). mas, ao mesmo tempo, a essência da lição
Dos dois caminhos que levam ã experiên- monástica de Deus como luz, beleza e glória
cia mística, o litúrgico e sacrame ntal, e o de da transcendência. Da mística feminina do
ordem psicológica, a —> contemplação, F. século XIV, de herança franciscana, E
privilegiava o primeiro. A união com Cristo assimilou profundamente a pratica ascética
na —> eucaristia era, para ela, o acesso da recordação dos pecados e contínua
privilegiado aos mistérios da fé (cf. Visões III, memória da paixão de Cristo, que leva ã >
V-VI1, ÍX-XI, XIII, XXXV], I.VI1I, LXI1, compunção do coração e ao — ► dom das
I.XXXIII, LXXXVI). Assim as celebrações lágrimas, e enfim a uma completa identii
litúrgicas escondiam as etapas de uma icação mental e corporal com as dores que
experiência que se concentrava no tema da > Cristo sofreu, tila aceitou e reelaborou
encarnação, da realidade de um Deus- muitos motivos caros ao florilégio do século
homem, que nas- XIV, corolário indispensável a mística da —*
ceu de mulher e viveu no meio de sofrimen- cruz: a devoção ao sangue, aos emblemas da
tos. Ksse lato único, central e decisivo na paixão, á coroa de espinhos, em par ticular,
história da humanidade realiza a ■-> mas sobretudo às chaua.s. Ela mesma
redenção do homem. O -> Cristo, o Filho de era estigmatizada, porque tinha no hido uma
Deus, Verbo leito carne, é, pois, o Salvador; chaga dolorosa, sinal visível de plena confor-
e o cristianismo ê a religião da salvação. midade corporal e espiritual com os
Mas, antes de qualquer outra coisa, ele é o sofrimentos que Jesus suportou ici. Visât/
Rei celeste, o Senhor do mundo. Diante XVI. 100-10). Todavia, por mais autêntica e
desse lato. qualquer outra denominação rigorosa que tosse no plano da concentração
atribuída a cie parece passar para segundo espiritual, essa experiência não era Ião
plano. A idéia muito viva da realeza de importante e característica da mística de E.
Cristo numa mística leiga e de cultura não quanto a da maternidade espiritual, que vivia
elevada como F. - é certo que ela sabia 1er, com grande intensidade. Ferida
mas não que soubesse escrever - é um dado dolorosamente nos —> ale-los humanos. F.
bastante singular. Com eleito, o culto de sublimou misticamente seu sofrimento de
Cristo Rei ainda não era popular e, no fim mãe na condição espiritual de "mãe de
da Idade Média, era vivo principalmente em Jesus". Seu amor especial ao Meni no Jesus
ambientes teológicos qua-lil içados, que se exprimiu cm numerosas e importantes
aprofundavam seu signili-cado sobretudo em visões relativas ao Natal (cf. Visões XVI, XVII,
relação ã crise do Cirande Cisma. Mas essa XIX, XX), mas não só isso. A imagem que
idéia, como a de Maria Rainha, tem raízes mais que qualquer outra revela sua inti -
profundas na tradição cultual e religiosa midade doce e alegre com Jesus é a de F
peculiar da Roma antiga e medieval, à qual F com o Menino Jesus nos braços, ernbalando-
estava intensamente ligada. A mai iologia de o, aquecendo-o e envolvendo-o em seu
F. estava cm relação especular com sua manto, ou brincando com ele (cl. l/sõcs XII,
cristologia, ou seja, era uma emanação XIII, XVI etc). Raramente o tema da
precisa dela. Com eleito, ela insiste na maternidade espiritual, que, não obstante,
missão soteriológiea da —> Virgem, que ela tem raízes antigas nos exórdios da tradição
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FRANCISCO DK ASSIS (sumo) antecipado pelo desejo divino, £ ainda Cristo
que o faz ouvir que o socorrerá. Aquele corpo
Mas teve de voltar com urgência, por cau- já se perde nesses desejos e às vezes 444
sa dos descontentamentos e das críticas de
uma parte da Ordem, que ele renunciou a voa: seu perene andar se torna um transbor-
governar, nomeando Pedro Cattani como seu dar cie corpo e alma naquela solidão toda
substituto. sua, que frei Leão respeitava.
As relações com os frades o obrigavam a Os dias se acumulavam assim, sem que
escrever e a refazer o texto da Regra, que, ele notasse, a não ser' aquele sentir-se
mesmo adaptada assim é um modelo de tornado por Deus, que lhe tornava a
amor e precisão. Ele escreveu ainda aquela sucessão dos dias como palpitação crescente
Carla a um Ministro, na qual ele se diz de — ,• contemplação.
preocupado por causa dele, para que cresça Percebia que eslava para receber um dom
seu amor a Deus, tanto que aquelas coisas supremo, que o assemelharia à glorificação
que lhe são impedimento para amá-lo e toda do Crucificado.
pessoa que lhe seja obstáculo, "sejam frades E naquela festa da Exaltação da Santa
ou outros, mesmo que te cobrissem de Cruz, E , perdido no amor, "voltando o rosto
golpes", tudo isso deve ele considerar uma paia o Oriente, ora" e se encontra com o
graça. E lhe diz: "Ama-o mais que eu por Serafim resplandecente, que voa até ele e lhe
causa disso: que tu possas atraí-lo ao sorri. Sente a alegria daquela beleza e
Senhor" ( F F 234-235). (FF: F<>Í ites daquele sorriso e, ao mesmo tempo, a dor de
Francisc a?tas.) vê-lo na —> cruz. Sente que o ícone que de
E depois as Cartas e suas Saudações, São Damião traz na alma se tornou vivo,
tão concretamente visíveis: a Saudação às tornando solar aquela noite.
virtudes e a Saudação à bem-aventurada Ele está todo em Cristo e lodo acima de
Virgem Maria. E como aqueles finais das si. A noite ofuscante o envolve (cf. F F 1
Laudes e do Cântico. 920).
Falava sempre mais com Deus, e o ditar, Nessa noite feita de luz solar, F. ouve Cris-
mais que qualquer outra coisa, era oração. to dizer-lhe muitas coisas secretas, entre as
Como suas missões contínuas, que se reali - quais a de fazê-lo participante de sua quali-
zam sempre mais de modo vertical, isto é, dade redentora. Quando a visão desaparece,
missões como quaresmas, quaresmas nas sente no corpo os sinais maravilhosos da
quais se entregava à penitência solitária e paixão de Cristo: sente e ainda vê os sinais
que o elevavam em seu realismo místico. dos cravos, "daquele modo que ele tinha
3. O que F. sofreu. Tê-lo atraído para visto no corpo de Jesus Cristo crucificado'.
algumas quaresmas no monte Alverne serviu Cravos que tinham nas mãos e nos pé*s, as
ao Senhor para familiarizar F. com aquele cabeças salientes, de um lado, e, do outro,
lugar', como lhe tinha acontecido por mais as pontas rebitadas e torcidas, e eram da
tempo ern São Damião, e para fazê-lo cor- do ferro.
apreciara beleza da relação entre ele, que Essa. que foi a noite cio primeiro estigma-
continuava a crescer, e aquela montanha, tizado da história, trouxe, pois, em F\, como
que, descendo ao fundo do mar, finalmente já tinha acontecido na fusão de amor, tam -
parou e elevou-se àquela altura, na qual é bém a integridade da dor' causada pela re -
sustentada por sua base argilosa. produção da condição de Cristo na cruz. Os
Agora a identificação do lugar coincide cravos ficaram negros pela dor, como tinham
com a preparação de si que F. efetuou incan- sido para Cristo, e o sangue do lado conti -
savelmente, rnortif ícando-se no corpo, nuou e continua a escorrer sempre vivo e re-
tratan-do-o sempre como irmão huno, e cente.
libcrtando-se no espírito, sempre ecoando Esse F., de corpo ensanguentado e ator-
mais o cântico mentado pelos cravos e pelas enfermidades,
das palavras de Deus e cada vez mais atento que, depois da estigmatização, arrasta infati-
ao mover-se da brisa do —> Espírito. São gável seus dias pata a glória, nos dois anos
duas quaresmas interligadas, a de Santa seguintes de sua vida vê crescer de modo
Maria e a de São Miguel. grandioso o fluxo daqueles que por meio dos
Festejada a mãe, a água dos rochedos e o sinais admiráveis se convertem a Cristo. Nos
pouco pão que irmão Leão lhe leva à gruta, o dois últimos anos unifica todas aquelas ex -
ribombo do trovão e o —> silêncio da solidão pressões vitais que até então lhe tinham sido
da floresta murem R , que os ouve com pres- dadas: vê, ouve, pratica, escreve, sofre, se ale-
sentimento final; seu longo -» desejo agora é gra e canta, sempre amando a maravilha de
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ser crucificado com Cristo, de conhecer
verdadeiramente Cristo pobre e crucificado.
Dois anos de vida para levar seu amor ao
mundo.
in Ibid.. 75 (1996), 237-245; A. Sancireau, Di com que o sujeito moral persegue a constru -
doe trina mística de. S. Francisco* de Sales ção ou a destruição de si mesmo. As inespera-
comparada eon ia doctrina de obras de vida
das combinações que, às vezes, se descobrem
espiritual, in Vida sobrenatural. 14(1927), 86-
96,217-223. Id., L'oraison mvsiiifue d'après .S, entre a saúde física, a segurança psicológica
François de Sales, in VieSp 40 (1928), 1-31. ou sociológica, de um lado, e a /. moral, do
outro, levam-nos a perceber as conexões entre
A. Pedrini os dois momentos: desvantagens pré-mo-rais
não determinam a escolha moral, que é
avaliada exclusivamente pelo envolvimento
individual livre; só esta sabe aceitar o pró-
prio ritmo de crescimento, segundo uma lei
de gradualidade. A/, fenomenologicamente
descrita, a ser superada no limite do
FRAQUEZA possível, não impede, com a sua presença, a
experiência moral e espiritual, mas a
circunscreve e a situa na história,
I. O conceito de j\ atravessa por inteiro a
eonfigurando-a positivamente mais como
estratificação múltipla da realidade unitá ria
possibilidade original e irrepetível de
do homem e dela recebe a sua determinação,
realização moral e espiritual e não tanto
segundo o critério especítico de cada nível
negativamente, como lai ta de oportunidade.
considerado e segundo sua relevância em
A possibilidade de nos tornarmos pessoas, de
relação à coordenação com a globalidade an-
realizar o sentido da própria existência, está
tropológica, com aquele conjunto de inter-
sempre presente em dada situação, que se
ferências típico de todo fato unitário. Descri-
configura plena do apelo e da vocação de
tivamente podemos identificar uma /. física,
Deus, que nos chama pessoalmente à
em sentido próprio, na astenia, e, em
experiência totalisante e radical da sua vida
sentido mais genérico, em tudo o que de
de amor e de luz.
patológico ateta o funcionamento normal do
A —> ié cristã traz a interpretação da/,
corpo do homem, com diferente gravidade e
como conseqüência de história de —* pecado
durabilidade. O adulto cronologicamente
iniciada pelo próprio homem. Dai deriva uma
maduro pode registrar o equilíbrio
constitutiva incapacidade de auto-salvaçào;
psicológico caracterizado pela labilidade e
portanto, constitutiva necessidade de ser sal-
por insuficiências, verdadeiras doenças, corn
vo. O não-reconhecimento desse estado de
grau variado de solubilidade. Cultural e
necessidade salvíiiea põe o homem numa f.
sociologicamente podemos pensar numa série
constitutiva que ameaça tornar-se dispersão
de características e papéis sociais que uma
definitiva de si mesmo.
pessoa possui ou descobre, e considerá-los
vantajosos ou desvantajosos, distingui-los em B I B L .:
Aa.Vv,, L'homme devant l'échec. Paris 1959;
fortes ou fracos, como facilmente pode ser Y. Bclaval, Us conduites d'échec. Paris 195J; M.
ilustrado também corn sumária Chi-va, Débiles normaux débiles path.ologùptes:
exemplificação a respeito do patrimônio de actualité pédagogiques et psychologiaues,
cultura e de educação e da disponibilidade Neuchaiel 1 973 ; T. Goffi, s.v., in DESl, 702 -705.
econômica ou do nível social.
P. Cartoiti
II. Experiência moral c espiritual. To troduz o discurso sobre a /. ou sobre a forta-
davia, as dimensões acima descritas nada leza, e envolve o discurso sobre a imensidade
nos dizem do momento prescritivo da
experiência moral e espiritual enquanto tal,
isto é, cio grau de envolvimento da >
liberdade do homem na busca e na
realização do sen lido da própria
humanidade. Mas, justamente pela relevância FREMI OT DE CHAN TAL JOANA
da problemática moral para a iden-lidade FRANCISCA (santa)
antropológica - a identidade de um homem é
a sua decisão moral, o homem não é I. Traços Joana Francisca
biográficos.
constituído pelo que de lato e, mas pelo que Fremiot de Chantai nasceu cm Dijon (Fran-
decide ser-, exatamente aqui o tema em ques- ça), em 1572; órfã de mãe aos dezoito meses,
tão adquire profunda densidade, porque in -
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foi educada cristãmente. Casada com Cristó-
vão de Chaníal-Rabutin, teve seis filhos. Viú-
va aos vinte e nove anos, dedicou-se a obras de
caridade e, com —» Francisco de Sales, seu
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FUENTE MIGUEL DE LA
dos professos. Não foram só esses que se be- Essa obra pode ser considerada como uma
neficiaram de seu magistério espiritual, mas das primeiras tentativas de sistematiza -
também muitas outras pessoas, seculares e ÇSo, às vezes a melhor, da dutrina espiritual
religiosas. Morreu em 27 de novembro de de -» santa Teresa e de são João da Cruz. Tem
1625. Exerceu também fecundo apostolado, lambem muita afinidade com seu confrade, -
a exemplo do santo mestre, —» João de Avila, > João Sanz, pelo apreço que, como ele, de-
tundando numerosas contrarias e congrega - monstra pelo exercício da —> oração afetiva
ções marianas, entre suas obras devemos re- ou aspirativa. Afirmou-se, com razão, que E
cordar principalmente Ejercicios de oración fez o milagre de fundir num só sistema a
mental, que publicou como apêndice da sua tendência especulativa alemã e a espanhola. A
Regia y modo de vida de los hertnanos terceros y aplicação sistemática das ciências naturais
ao estudo da ciência mística foi, sem dúvida,
beatas de )mestra Seftora dei Carmen (Toledo,
um dos valores primários de sua obra, que lhe
1615), para ensinar a oração mental; 1 essa é
confere caráter de inegável atualidade.
como que o esboço de outra obra sua, Las tres
Segundo o parecer de Menendez y Pelayo,
vidas deihomhre, que publicou em Toledo, em
essa obra é "o melhor tratado de psicologia
1623." mística em língua espanhola".
II. Doutrina mística. Essa obra, à qual NOTAS: 1 Ed. recente de M. Garrido, in Carm 17
está ligada sua lama, c um manual sintético, (1970), 280-309;2 Outras edições: Madri 1710.
mas completo, claro e bem ordenado, de teo- Barcelona 1SS7, Madri 1959.
logia ascética e mística, com a perspectiva
eminentemente psicológica, tão característi - BIBL.: E. Allison Peers, Studies of lhe Spanish Mys-
ca da escola ascética espanhola, que tem nele lies, 1 1 1 , Londres 1951-1960. 5-1 55; M . Andrés,
um dos seus maiores expoentes. Com efeito,
nessa obra ele descreve a vida espiritual como
Los
base da estrutura da alma, analisando com recogidos. Nueva visión de la mística espanola, Madri
1976,657-661; Crisógono de J.S., La escuela mís-
line/.a excepcional o desenvolvimento pro -
titã carmeÜtana. Avila 1930, 175-177; Enrique
gressivo da alma, que sobe para Deus, pri- dei S.C., Influencias de san Juan dela Cruz en el P. Fr.
meiro por meio dos —> sentidos, depois por Miguel de la Fuente, in REsp 8 (1948), 346-360; P.M.
meio da razão e, finalmente, por meio do es- Garrido, Miguel de Ia Fuente escritor místico, in
pirito puro. Para isso ele se serve da termino- Romeu Perea (ore.). Três ensaios sobre Frei Miguel de
logia de origem ncoplatônica, consagrada la fuente, Recife 1976, 47-94; Id.. s.u, in DSAM IX,
66-72; J.B. Gomis, Introdução geral a Místicos
pelos místicos do Norte, relativa aos três níveis
do homem; corporal, racional e espiri tual,
franciscanos espanoles, 3 vols., Madri 1948-1949, 47-
49, 75-76; J. Sanchis Alventosa, La escuela m£s-tica
cada um dos quais teria, segundo ele, "seus alemana v sus relaciones con maestro místicos dei Siglo
exercícios próprios para atingir o fim de Oro, Madri 1946, 204-228; Th.E. Schaer-ier,
desejado, que é a -> união da alma com Deus Miguel de la Fuente: un intento de evalttación dei
por meio de um -> amor puro e perfeito". misticismo espanol dei siglo XVII, in Cuadernos hispano-
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FUENTE MIGUEL DE LA 568
americanos, 58 (1964), 511-528; B. Velasco Bayon,
Miguel de la Fuente...; ensayo crítico sobre su vida y su
obm, Roma 1970 (uma síntese dessa obra ft-la
P.M. Garrido, Miguel de la Fuente... un maestro de
oración, in Cartn 17 (1970), 242-279.
P. Aí. Garrido
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G AL G AN 1 GEMA (santa) GARRIGOU l.AGRANGF. REGINALDO
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CÍNOS 46
I-. Ü
pação mais intensa da felicidade celeste. Com ser reconhecido unanimemente como o teólogo
isto ela contribui para despertar o desejo desta por antonomásia, por toda a tradição cristã
última felicidade, concentrando sobre a pre- de língua grega. As suas cerca de duzentos e
sença divina as aspirações e as esperanças quarenta e nove Cartas, especialmente as que
humanas. trocou com seu amigo Basílio, estão entre os
testemunhos mais preciosos que existem sobre
BIBI .: Aa.Vv.,s.v., in DSAM VI. 701-750. Aa.Vv os primores da amizade que G. mantinha com
. Mística e scient ttmane, Nápoles 1983; A. Beni - seus amigos. Verdadeira c própria novidade, no
G. Bifli, Li grazia di Cristo, Turim 1974; A. De
círculo greeo-cristão de seu tempo, são as
Sultcr -C. LttU-dazi,s.u, in DES H, 1198-1205;
M. Flick-Z. Alsze-iihv, // Vangelo delia wnzia, Carmina, com as quais tenta propor a fé
lloiença 1964; P. hninsen. Di grazia, realtà e vita, cristã com formas suficientemente "nobres ao
Assis 1972; B. Lonergan,6Vííce and Ireedom: ponto de poder cativar o ouvido refinado dos
Operative Grace in the Thoueht of St. Thomas cultores pagãos da literatura clássica e assim
Aquinas, Nova York 1970; H. de Luhac, // chegar a conquistá-los para o cristianismo" (cf.
mistero dei suprannarurale, Bolonha 1967; Or. 4,100: SC 309,248).
J.H. Nicolas, Les profondeurs de la grâce, Paris
1969; G. Philips, L'union personnelle avec le Dieu
vivant. Essai sur I origine et le sens de la grâce créé. II. Doutrina. Poder-se-ia estabelecer como
Lovai na 1989; A. Poulain, Des grâces d'oraison. ponto de partida da visão mística de G. a —>
Traité de théologie mystique, Paris 1931M ; K. contemplação (theoria) da natureza, que
Rahner, Saggi di antropologia sopran na turale, transporta o crente do visível à visão das
Roma 1965; H. Rondet, La grazia di Cristo. Saggio coisas invisíveis (cf. Or. 28,21-31: SC 250.142-
di storia dei dogma e di teologia dogmática, Roma
1966; E. Salmann, s.v, in WMy, 49; TE Walgrave, 74). A leitura das Sagradas Escrituras
Tet 4opa deSa grada edesjxtia 131 mística nclla permite descobrir o espírito através do véu da
tradizione dclLi Chiesacattolica, in J.-M. vanCanvh "letra, graças às lágrimas da —> compunção e
(org.), La mística, Bolonha 1992. 199-226. a constante —> purificação (cathársis) moral
e ao mesmo tempo conceptual" (Or. 32-10: SC
7.Galot 3JS.I04-100; Or. 26,1 V SC 2S4.250-254; Or.
28,31: SC SC 250,170-175), enquanto a práti-
ca ascética revela-se por sua vez como verda-
deira c própria —> "escada" que conduz exa-
tamente à contemplação (cf. Or. 40,37: SC
358,284; Or. 4,113: SC 309,270).
No caminho para a —> "visão de Deus" é
GREGÓRIO DE NAZIANZO (santo) necessária a -» tranqüilidade (hesych(a) da
solidão (anachorésis), que permite ao homem
I. Vida e obras. Nasceu em 329, filho de
experimentar a intimidade com Deus, com-
Gregório Sênior, bispo de Nazianzo desde
preendida como realização de um chamado à
aproximadamente 325, e de Norma. C. tor-
divinização (théosis) inscrita na própria na-
nou-se bispo de Sasima, em 372, por influên-
tureza ontológica do homem criado à imagem
cia de seu amigo —* Basílio. Presidiu a Igreja (kateikóna) de Deus: "Ontem estava cru-
de Nazianzo depois da morte de seu pai, em
cificado com Cristo, hoje estou glorificado com
374 e, por breve espaço de tempo, foi chama-
ele; ontem morria com ele, hoje nasço para a
do para a sede de Constantinopla, da qual se
vida com ele; ontem era sepultado com ele,
afastou por desacordo com a política ecle-
hoje ressuscito juntamente com ele. Fru-
siástica do imperador e dos bispos reunidos no
tifiquemos, portanto, para aquele que morreu e
Concílio de 381. De 383 em diante, depois de
ressuscitou por nós. Talvez pensais que esteja
uma presença de alguns anos em Nazianzo,
me referindo a frutos feitos de ouro, prata ou
levou vida isolada nas propriedades paternas
tecidos e pedras transparentes e preciosas, que
de Arianzo, até cerca de 390, ano de sua
abundam na natureza terrestre e
morte.
permanecem aqui embaixo, cujos possuido res
Característica das obras de G. é sua oca-
são os delinqüentes e os escravos das coisas de
sionalidade. Somente quando se vê de algum
cá e do príncipe deste mundo. Contudo, não.
modo obrigado é que escreve, mas quando
Devemos, na verdade, produzir os frutos que se
escreve revela domínio excepcional da língua
identificam com a nossa pessoa, que é o bem
grega e competência extraordinária da ars
mais precioso diante dos olhos de Deus.
retórica, da qual é, com certeza, um dos sumos
Devemos restituir à imagem o que é próprio
mestres da antigüidade cristã.
da imagem. Reconhecendo a nossa dignidade,
A ele são atribuídos perto de quarenta e
honraremos o nosso modelo e, ao mesmo
quatro Discursos, o suficiente para fazê-lo
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tempo, reconheceremos o poder do mistério e
quem c aquele para o qual
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GREGÓRIO DE NISSA (santo) X I I sobre o Cântico dos cânticos: "Quem não
conhece as 1 arnosas práticas ascéticas de
líbrio na fruição do prazer, que constituía o Moisés, aquela personagem que continua 463
objetivo tia bios tlworrtikc, amplamente do-
cumentada, a partir de Epicuro (f 270 a.C), sempre a maior, e nunca se deteve no cresci-
no mundo ízreco-romano. mento da prática do bem? Desde o inicio ele
De fato, G. identifica na pessoa madura e loi o maior, desde quando considerou mais
equilibrada, eventualmente unida em matri- importante que o reino do Egito o opróbrio
mônio, o agricultor prudente e sábio, que de Cristo e preteriu afligir-se juntamente
trata cautelosamente o seu campo (cf. VIII, 20; com o povo de Deus, em vez de gozai
SC 1 19,360), ao parecer justificar surpreen- momentaneamente o pecado; a segunda vez,
dentemente a escolha da vi ruindade quando um egípcio atormentava um hebreu,
somente quando se experimenta maior e então ele matou o pagão, lutando em
Iraque/a da carne (cf. VIII, 20: SC 119,360- defesa do israelita. Sem dúvida, podes ver
362). nestes acontecimentos qual lenha sido o
Em suma, parece que G. propõe um ideal modo de fazer-se o maior: basta que passes da
de vida cristã não muito distante do ideal h - narração histórica para a interpretação
[osóiico cie alguns de seus contemporâneos, figurada,
como escreve, por exemplo, no seu De vir- Novamente ele foi feito o maior, quando
ginitate (cf. VIII, 36: SC 119,362). isolou a sua vida, sem deixá-la ser
O ideal é, portanto, a symmctria. De lalo. conhecida pelos homens, praticando, durante
porém, o risco de ficar "atolado na lama" é longo tempo, no deserto, a filosofia.
praticamente universal (cf. XI, 1-2: SC 119, Depois recebeu a iluminação do fogo da
380-382). Daí então a necessidade de sarça.
aperfeiçoar a rude/a da percepção humana, Em seguida iam bem sua audição foi ilu-
mudando a direção do movimento que, se minada por obra do Logos, graças aos raios
deixado a si mesmo, levaria a distanciamento da luz. Para que isto acontecesse, descalça os
indefinido do belo, obrigando de qualquer pés de todo revestimento mortal; destrói com a
maneira o homem a correr atrás da carne vara as serpentes tio Egito, a nan ca da
erótica. De outra parte, a estiada de volta é prepotência do faraó o povo consanguíneo
paradoxalmente indicada por aquela ou Ira seu, dirige-o através da nuvem, divide o mat-
estrada que em duas partes, submerge a tirania, faz doces
lot percorrida no distanciamento (cf: XI, 3: as águas dc Mara, com seu bastão fere a
SC 119,384; XI, 3: SC 119,386). rocha, sacia-se com o alimento dos anjos, es-
As conseqüências que G. deduz são pe- cuta as trombetas celestiais, ousa escalar a
remptórias: somente "quem abandona toda montanha envolta em chamas, atinge o cimo,
amargura e todo o mau odor da carne e se penetra na nuvem, mergulha na escuri dão
eleva acima de todas as coisas mesquinhas e em que Deus se encontra, recebe o testamento,
baixas; quem, para di/er melhor, eleva-se torna-se sol, porque de seu rosto faz brilhar a
acima de tudo o que é mundano... está apto luz inacessível diante dos que dele se
para encontrar o único objeto digno de desejo e aproximam...".
de se tornar, também ele, belo, uma vez que Cada uma das palavras poderia ser enten-
se aproximou do belo, tornado resplendente dida, c de fato G. assim o pretendeu, como um
e luminoso nesta beleza, continuará segura - grau específico de —> experiência "mística", no
mente a permanecer participante da verdadeira qual se encontra aquele que "é feito cada vez
luz" (XI, 4; SC 119,388). maior" pela eleição e pela proximidade de Deus.
A pessoa do Verbo leito carne, em sua du- A doutrina dos —» sentidos espirituais,
pla natureza de incriado e criado, de espírito herdada de -> Orígenes, recebeu, nessas
e de carne, de invisível e visível, lorna -se a intuições de G., uma articulação mais
estrada mestra do retorno. Ü termo-chave que apropriada. Mas o que mais impressiona é
define o modo e o método para cumprir este verificar que tudo acontece dentro de uma
itinerário é, sem dúvida, theoría, termo que linguagem que, embora altamente filosófica,
em C. indica, substancialmente, o princípio não deixa de estar profundamente ancorada
básico de todo o seu pensamento teológico e, no conteúdo bíblico hebraico-eristão. Talvez
portanto, místico, isto é, o movimento contí- resida justamente nesta síntese paradoxal
nuo que desemboca naepeklasis. todo o génio "místico", pelo menos na ela bo-
Entre os muitos textos que G. apresenta ração teórica, se não na experiência concreta do
para explicar este singular itinerário místico, grande Padre capadócio.
seria bom ler o seguinte, extraído da Homilia
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G., porém, não pára neste limiar. Prossegue,
de fato, no texto acima citado: "Mas sen do
um homem assim grande, tão sublime que
tinha tido tais experiências e através de tais
graus, havia se elevado até Deus, não tinha
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GkKGÓRJO l'A LA MAS - GREGÓRIO SINAI l'A
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GR0OT1-G K R A R D O - G U A R D I M R O M A N O (exposta em Dc quattuur cctierihns mediiahi-
476
comum". Morreu em 20 dc agosto dc 1384,
provavelmente vítima da grande peste. H u m ) e a assumi-la corno fonte para as Re-
A maioria dos escritos de G. foi dedicada á gras e os estatutos das novas instituições.
renovação da vida religiosa. Contudo, no
BIBU: R.Th.M. van Dijk, s.u, in WMy, 207-208; G.
Epistolaria (Gerardi Magni epistolae, ed. W.
Hpiney-üurgard, Gerard Groote (J340-J384) et
Muider, Antuérpia, 1933) podem-se encontrar les debuts de la devotam modeme, Wiesbaden
também carias endereçadas a leigos, com a 1970; J. Hecke, s.u, in DSAM VI, 265-274; I.
orientação de se dedicarem juntos (em peque- Tolomio, s.u, in DIP IV, 1437-1443; F.
nos grupos), ao serviço de Deus. O seu tratado Vandenbroucke, La spiri-tualità delMedioevo, 3/B,
De paupertate in die Palmarum trata dire- Bolonha 1991, 341ss.
tamente sobre a vida de uma comunidade
religiosa, na qual a —> pobreza é o testemunho Giovanna Della Croce
mais importante da > imitação de Cristo. A
posse de bens conduz ã falência do caminho
comum da —> perfeição. Mas a pobre/a, que G.
equipara à doação generosa de ludo aos
outros, elimina os obstáculos, nutre a
caridade fraterna e conduz à —> paz. Um
lugar importante entre os escritos de G.
GUARDINI ROMANO
ocupa-o <> tratado De quattuor generihus
I . Vida e obras. Nasce em Verona (Itália) a
medi-tahilium, no qual pode-se vera primeira
17 de levereiro de 1890 e morre em Munique
tentativa, na história da espiritualidade
da Baviera (Alemanha) dia 1 cie outubro de
cristã, dc expor as regras de um método de —
1968. Ainda pequeno, migra com toda a
* orarão mental. Para ajudar os irmãos das
família para Mogúncia (Alemanha.). Depois
comunidades da Devo tio moderna, G. compôs
de um breve período de estudos em química e
o livro em 1382-1383, ensinando que é preciso
economia, dedica-se aos estudos teológicos e é
desenvolver, pessoalmente, um corpus dc > me-
ordenado sacerdote em 1910. Ensina teologia
ditação, e não simplesmente repetir medita-
e ciências religiosas na universidade. Ao
ções ja lei tas por outros. Neste empenho pela
mesmo tempo, promove o movimento juvenil
"nova piedade" (a Dcvotio moderna tem aqui o
católico germânico. Sua atividade pasto ral
seu inicio) G. valoriza também a imaginação
torna-o odiado pelos nazistas, e por isso cm
(phantasnuita), mas ao mesmo tempo su-
1939 é demitido de seu cargo rra universi-
blinha seus limites: para chegará plena con-
dade, o qual só lhe será restituído em 1945.
lormação a Cristo, o homem deve libertar-se
Consegue o doutorado em Freibure i. Br. com
das —> imagens. Este é também o último esco-
uma tese sobre a doutrina de redenção dos
po da meditação. Justamente por este motivo
santos (publicada em Düsseldorf em 1921, sob
ela não foi entendida pelos contemporâneos.
o título Die íjrhre des hl. Bouaveniura vou der
Lírlosungi) e em 1922 apresenta uma análise
II. Ensinamento místico. Em G. não falta o
do ensinamento de > Boaventura, por* meio
interesse pela mística, sob a influência de ->
de um sistema coerente, em stia tese de
Agostinho e de —> Bernardo de Claraval,
qualificação. Esses interesses, porém, não im-
interesse que pode ser notado principalmen - pedem a redação e a publicação do seu me-
te nos seus relacionamentos com Ruvsbmeck, lhor trabalho, O espirito da liturgia. Esses pri-
do tmal traduziu para o latim As núpcias es- meiros estudos de G prenunciam os temas e os
pirituais. Mas a sua piedade é antes urna interesses da sua obra posterior, Inilo do
atitude que une vida ativa e contemplativa no ensino em bVrlim, Tübingen e Munique (Ale -
amor duplo: Deus e o próximo. Essencial ê a manha) (1923-1939, 1945-1948. 194S-I962):
pratica de vida erisloccntrica, concretizada Concepção filosófica e católica do universo.
na caridade —> perfeita, na imitação estrita do
Senhor. Paia alimentá-la, G. traduziu para ') II. Ensino teológico-espiritual Par tindo de
vernáculo o Livro das Horas {Getijdenbocck), ampla base cultural, G. põe ■ * homem diante
fazendo dele o livro de oração para uso das de sua constituição individual e em seu
comunidades leigas. Embora não seja ele o contexto social, analisando suas influências
fundador das novas famílias da Devotio mo- culturais recíprocas. Seu fim não é condenar a
derna, elas nasceram soba influência de sua Idade Moderna, mas reconstruir uma visão
espiritualidade, que ajudou a viver a síntese dinâmica da vida cristã, insistindo na neces-
entre > contemplação e ação na vida comum sidade de renovação baseada na Sagrada Es-
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critura, enraizada na experiência e no conhe-
cimento da tradição, seja em seu aspecto
teológico, seja no místico. Para G. é essencial.
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G L I U iEKMK DE SAI NT-THIERRY G L U . I .KR AND AGOSTINHO ( M A X I M O )
II. A doutrina. Abade beneditino ou mon ge divina. A teologia poderá chegar a esses re-
cisterciense, G. é sobretudo diretor de almas sultados se tomar como ponto de pai tida
e místico. Aborda o dogma mais com a não os conceitos filosóficos preconcebidos, mas
contemplação do que com a especulação. A os dados da Escritura. No Spéculum lidei en-
consulta freqüente aos textos bíblicos, na con- contramos este resumo de toda a ascensão
fiança de que encontrará neles a --■> revelação espiritual: "Para entender aquilo em que cre-
de Deus, permite-lhe libertar-se da rigidez do mos é preciso entregar ao —» Espírito Santo todo
agostinismo da época e abrir-se à tradição dos o nosso espírito c toda a nossa inteli gência,
Padres gregos. Devedor de —> Orígenes, dos [para chegar a essa compreensão] não tanto
Padres capadócios e de —► Gregório cie Nissa, com o esforço de razão ambiciosa, mas com a
consegue, numa síntese absolutamente pes- afeição {afícetu) de simples amor". O homem,
soa! entre Oriente e Ocidente, traçar o itine- tomado pelo amor de Deus, adquire na
rário espiritual que permitirá ao homem caí- contemplação o senso da presença de Deus,
do no —* pecado reencontrar a semelhança que é ao mesmo tempo conhecimento místico
com Deus. A imagem de Deus, de falo, não e conhecimento teológico.
pode se perder no homem, porque consiste
Him . Obras: J..M. Déchanet, Oeuvres choisies de
naquela ubiqüidade que, com a alma, o íaz Guillaume de Si. Thieny, Baixelas 1943: E.
estar presente em todo o corpo, como Deus Arborio McUn {avg.),Cort !emplu:jnne, Magnano
está presente em todo o mundo. Todavia, a 1984; C. Fal-cliini (on*.),Dalla médit azione alla
semelhança (perfeição da imagem) pode per- preghiera. Medita-tivae orai tones, Maguari o
der-se, porque consiste na realeza da alma 1987; C. Leonard i (org.) Ixt lettera d'oro, Florença
196"$, Estudos: O. Brooke, The Trinitarian Aspect
sobre o corpo e na sua uberdade em relação a of the Ascení o f the Soul in God in the fheoloyy of
ele. Ora, o pecado destrói tanto essa reale za William o f st. Thierry, in Recherches de Théologie
quanto essa liberdade, enquanto Deus não ancienne et médiévalle, 26 (1959). 85-127; ld.,
pode deixar de ser o Rei do universo nem de William o j 'St. Thierry's Doctrine of the Ascent to God
by Faith, in Ibid. 30 (1963), 181 -204; M.-M.
usufruir, em relação ao mundo, de transcen- Davy. Théologie et mystique de Guillaume de Si.
dente liberdade. A alma, através das —> Thierry, 1, Î M connaissence de Dieu, Paris 1954;
virtudes, com as quais consegue dominar o Ead.. I n connaissance de Dieu d'après Giullaume. in
corpo, eleva-se da vida "animal" à vida RSR28 ( 1938 j. 430-456; JM, Déchaner, su:, in
"racional", passando da simples ubiqüidade à DSAM VI, 1241 -1263; Ici., Aux sources de la
spiritualité de Guillaume de St. Thierry, Bi uges-Pa-
realeza, ao domínio. Tudo isso se realiza na ris 1940; MA. Dimicr, s.v., i n ES Vil, 484 -486;
assimilação da —> fé, através de esforço H.D. Egan. Guglielmo di Saint-Thierry, in Ici-, /
totalmente pessoal, marcado pela inteligência mistici e la mística. Cidade do Vaticano 1995,
e, certamente, estimulado e sustentado pela 182-195; J. Lanezkowski.s.v., in WMy, 521-522;
A.M. Piazzuni, Guejielmo di St. Thierry, Roma
—» graça. Mas a liberdade não se encontrará, 1988.
por sua vez, a não ser na adesão a Deus nos
cumes da vida contemplativa: a "unidade do G\ G af f ttr i n i
espírito". Então a alma, centrada não mais
abaixo de si mesma, em seu corpo, mas
acima, em Deus, participa da liberdade
soberana, que a posiciona acima de tudo, de
toda a c i iação.
G . , antes de ser mero explanador desses e de
outros itinerários, é seu executor: sua ex - GUILLERAND AGOSTINHO
periência espiritual alcançou várias vezes o
ápice da liberdade e da realeza da alma. Des- (MÁXIMO)
sas alturas trouxe, para nós, páginas ilu-
minadas para a compreensão do mistério I. Vida e obras. Nasce em Reugny-de-
eucarístico e a concepção da Trindade muito Dompierre (Nièrve, França), a 26 de novembro
diferente da que se costuma encontrar nos de 1877. Freqüenta o seminário menor de
autores medievais e modernos. Inspirado in - Pignelin de 1887 a 1894, quando ingressa no
teiramente na Bíblia, e!e é fiel ao estilo das seminário maior de Nevers, sendo aí ordenado
orações litúrgicas tradicionais, que mantêm o no dia 22 de dezembro de 1900. Sacerdote
respeito ao mistério e, ao mesmo tempo, secular, é vigário em Corbignv. prefeito e
mostram como a —> Encarnação rios revela professor na Instituição Saint-Cyr, colégio
a Trindade, introduzindo-nos nela, mas sem eclesiástico de Nevers, pároco de Rua-
prejudicar de modo algum a transcendência tzese,enfim.de Limon, entre 1901 e 1916.
Ncs-se último ano é acolhido no convento de
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G L I U iEKMK DE SAI NT-THIERRY G L U . I .KR AND AGOSTINHO ( M A X I M O ) 608
Valsainte (Suíça), onde os padres cartuxos
franceses vivem em exílio, no cantão de
Friburgo; aí faz a profissão solene no dia 6
de outubro de 1921, com o nome religioso de
A. Pedrini
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GUYON JI-ANNI- MARIE BOUVIER DE I A MOTTIi
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HAMMARSKJOI.n DAG 492
ver a crise congolcsa. No mesmo ano é-lhe assombro pelo "incrível estar em suas mãos", e
atribuído o Prêmio Nobel da Pa/., in me- o instante parece-lhe inserido na eternidade
moriam. (SC 124,127). Experimenta forte tensão,
agudo desejo de —> desapego radical de tudo.
II. Itinerário místico. Depois da morte de H. de - > purificação absoluta, quase de
encontrou-se em sua casa em Nova York um aniquilamento, não pelo gosto da
manuscrito intitulado Vágmiirken ("Sinais de autodestruição, mas (nua que Deus preen-
uma caminhada" = SC). E uma espécie de cha o seu vazio e se afirme nele; exprime
diário íntimo, em que sáo anotados pensa - "não um hino ao aniquilamento, mas o
mentos, sinais misteriosos, indicações que o abaixamento que é hino" (SC 108). K possível
guiaram por uma via singularíssima e exem- que aqui
plar, feita de - > ascese severa, até ao encon- H. esteja pensando na figura de são João Ba-
tro face a face com —> Cristo. Abarca o perío- tista e na compreensão que este teve da pró-
do que vai de 1925 a 1961 e apresenta uma pria missão em relação a Jesus Cristo: dimi -
característica diferente, com o passar do tem- nuir-se até desaparecer, até não ser orais que
po: nas primeiras décadas, os pensamentos uma voz que clama, hino no deserto (cf. Jo
revestem-se de uru aspecto psicológico, mo- I, 19; 3,30). Isso lançaria luz particular sobre
ralista, ligados a uma esfera predominante - o tema do aniquilamento, que percorre todo
mente ética; mas em 1953 há uma virada re- o diário. Ü aniquilamento não deve ser bus-
pentina, uma afirmação do dado religioso, cado, mas recebido de Deus; será, então, "um
quase que uma irrupção de Deus na vida de cumprimento" (SC 191).
//. A virada coincide com a sua eleição como //. quer libertar-se de todas as coisas que
secretário tieral da ONU, caruo de mande res- o bloqueiam, que sente como ilusões, porque
ponsabilidade, mas que o deixa tranqüilo a verdadeira realidade é Deus; e também ele
porque sente que Deus está com ele: "Quando será "real no Uno" (SC 184). Pode-se perceber,
Deus intervém em momentos cruciais, como nesse insistente propósito de purificação,
agora, é com severa determinação... aquela fase da ascensão mística chamada
Deus se serve de li, mesmo quando isso não te noite dos sentidos e do espirito, tase
agrada. Deus esmaga o homem no ato mes- necessária antes de chegar à CA pc via ic i i\
mo de erguê-lo" (SC I 16). //. sente em si mes- de Deus. Mas nesses sentimentos não há
mo a presença e a ação de Deus. e por isso sucessão cronológica, e sim alternância e
entreua-se totalmente a ele. Esse sentimento cutrclaçamculu recíproco, segundo os tempos,
não deriva da razão nem de outros fatores as circunstâncias e segundo a economia da —>
terrenos, mas da —> fé, que ele. remetendo- graça. Assim, depois dos momentos da ascese e
se a são —> João da Cruz, define como —> do sofrimento, /-/. manifesta os sentimentos
"união da alma com Deus" (SC 122). A fé não de —> alegria e de conquista: Deus está nele,
é uma série de noções ou de fórmulas, mas porque ele está em Deus. Forte, livre, porque o
uma vida sobrenatural, um contato íntimo, seu eu não existe mais"' (SC 131). É diálogo
"uma experiência do Ser e do homem que ininterrupto com Deus, mas ele se torna mais
participa do Ser". Do místico espanhol, //. intenso nos momentos diliceis da sua - * vida
aceita também o lado obscuro da fé, a —> política, quando deve implementar uma ini -
'noite escura": "A noite da fé, tão escura que ciativa importante. Em junho de 1956, por
não se pode sequer buscar a fé (SC 123). É a exemplo, apresenta ao Conselho de Segu -
dificuldade de crer, que surge da rança da ONU um relatório sobre a crise no
incompreensão dos homens, do silêncio, da Oriente Médio e propõe um caminho para a
experiência do Gelsémani (SC 123). Há, nessa sua eventual solução. H quando se dirige a
visão, a influência da doutrina luterana, que Deus com mais té, virtude que encerra força
mortifica a razão e acentua a theologia crucis; superiora capacidade humana, intuição pro-
ela percorre todo o diário, mas é mitigada por fundamente radicada no Evangelho, no qual
outros elementos mais equilibrados, porque sempre os milagres realizados por Jesus si-
//., além de Lutero (f 1 546), conhecia muito nais da onipotência divina - estão estreita-
bem a —► Bíblia e vários escritores mente ligados, quase que subordinados, à té
espirituais, —> Mestre Eekhart e a Imitação (cf. Mc 6,36; 1 1,23-24). /-/. sente-se humilde
de. Cristo, são João da Cruz e - ■> Pascal, colaborador, que realiza apenas a mínima
Martin Buber e os expoentes do Renoiiveaii parte da obra, ao passo que Deus faz todo o
catholique francês. Imerso na fé, sente Deus resto. Sentimento que experimenta quando,
como outro ele próprio, está cheio de com grande habilidade diplomática, obtém a
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soltura dos aviadores americanos aprisiona-
dos na China e quando convence os israelen-
ses a deixar o Egito, depois da guerra dos seis
dias (cf. SC 147,174). instintivamente, H , se
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uiKn.no m: ROMA tsamo) - HISTERIA 632; A. Zani, ht chstoloeja di Ippolito, Brescia
1984.
alcance dos pobres. H o pobre, então, deve
aproximar-se com sua vasilha de perfume de L. Dal trino
Cristo, para recolhê-lo e, em seguida, derramá-
soo
lo sobre a cabeça do Senhor, a fim de atrair
Cristo para si". 6 A Igreja é conliada a missão
HISTERIA
de fazer nascer Cristo no coração dos crentes,
de formar no próprio coração o Verbo de Deus, I. Síndrome psicopatológica pertencente
princípio de > santidade, de regenera ção no —> ao grupo das neuroses, caracterizada pelo con -
Espírito Santo, para que cada um dos seus junto de sintomas orgânicos e psíquicos. Tra-
membros se torne criatura perfeita e celeste. A ta-se da forma psicopatológica conhecida des-
Cristo cabe a tarefa de reunir todos os homens, de as mais remotas épocas. Deve seu nome a
para reconstituí-los na unidade violada por —> Hipócrates (j c. 377 a.C), o qual retomou uma
Adão, estendendo os braços rra cruz, em sinal teoria já enunciada por Péricles (t 429 a.C),
de abraço. Como um tecelão, ele teceu a para quem a h. devia-se a uma doença do úte-
salvação no alto da cruz, realizando as obras ro (hysf cn)s). Acreditava-se, então, que era
queridas pelo Pai, "sofrendo para penetrar, moléstia própria tias mulheres, e com lundo
com a sua virtude, os nossos corpos de morte, sexual. Na Idade Média, a h . costumava-se
para nos transformar de corruptíveis em um dos sinais da -> possessão diabólica. Tí-
incorruptíveis, de fracos em fortes, para salvar pica, a propósito, foi a afirmação de Bento
o homem que se havia perdido"/ E a Esposa XIV: "A convulsão dos membros é um sinal da
diz ao seu Cristo: "Toma o meu coração, enche- ação demoníaca". As crenças relativas à h .
o do teu Espírito... para que seja uma coisa só como doença tipicamente feminina e com
com a tua carne celeste". lundo sexual, estreitamente ligada ao "sobre -
natural ias histéricas eram consideradas san-
NOTAS : 1 Tal hipótese foi agora recolocada em tas ou bruxas), resistiram até o séc. XVIII. E a
discussão por (iuartlucci, une vê na estátua a partir do iiiial de 17(10 que se descrevem os
figura
de urna mulher (A contribuição de M. primeiros casos de histéricos e começam as
Guarducci é inserida em Naove Ricerche su primeiras observações médicas sobre as pos -
Ippolito (Soa M ) ) , Roma 1989, 6lss). Cumpre síveis causas orgânicas da h.
assinalar a questão hi-
politeia. Depois da reconstrução biográfica do Com os estudos de Charcot e Janet e, de-
século XVIII, tudo foi recolocado em discussão
pois, de Freud c da psicanálise, a h. passa a
pe los estudos ilo P. Nautincm l l )47 1'ócio.
bibl.cod. 48), o mártir romano Hipólito, o bispo ser definida cada vez mais corno síndrome
de unia sede oriental (autor de obras complexa cujas causas sào de natureza psi -
exegéticas e de Contra \ Toeta). A crítica recente cológica. O conceito clássico da doença his -
elimina <• iantasmático Josipoe inverte a térica tende gradualmente a desaparecer, ce-
relação cronológica entre os dois Hipólito: o
romano seria posterior ao oriental, tio qual dendo o lugar a interpretações que põem em
teria conhecido e utilizado a obra; : Philosoph. primeiro plano a personalidade do paciente
10,34; 1 ht Dan I, \7, 4 In Dan 1, 10,1; II, 8,2; histérico e sua relação com o mundo. A per-
IV,6,1; In ( ' t i n t . I, 12; s In Dan I, 17; De A m . U X : * sonalidade histérica é, hoje, descrita essen-
Cam. I, 3-1,4; 7 De Am. III-IV.
cialmente a partir de três características prin -
Hme: O acesso mais cômodo ã bibliografia hipo cipais (De Sane tis. 1982): a. a maneira de se
litêia constituem no os dois vols.: Ricerche su relacionar com a realidade; ou seja. o histérico
Ippolito (Sea 13), Roma 1977 e S'uove rice t e he é cada vez mais vulnerável diante dela,
s u Ippolito (Sea 30), Roma 1939. Estudos: A.
podendo aparecer excessivamente medroso e
Amore. s.y., in BS VII, S6S-S75; G. Bardy, ht
vie spirituelle d'après les Pères des trens premiers tímido ou excessivamente seguro e forte; b. o
siècles, II. Tournai 1968, 177-181; I. estilo que imprime às relações interpessoais,
Bessarione, lu cristologia net Padri delia Chiesa, caracterizado por sugestionabilidade e
Roma 1979; Melchiorre dl Santa Maria - L. volubilidade, as quais manifestam profunda
Dattrino, SA :, in D E S II. 1339-1340; M.
Met/ger, .4 propos des règlements ecclésiastiques imaturidade; c. a relação consigo mesmo,
e t de la prétendue Traditio A pos tó lica, in HS R caracterizada por sentimento de autodesa-
66 (1992). 429-461; M. Richard.' s.v ; . in DSA.M preço.
VII 1, 531-571; C. Savatos, Le v oc a bu la ire
t rin ita ir e d'itippoh'te de Rome e t son contenu II. Os quadros clínicos através dos quais
théologique, in Theologia, 61 (1990). 698-712;
M. Simunctti. Pros-p e ft ive escatologiche délia se manifesta a h . são bastante variados. Por
crtstologia dt Ippolito, Roma 1993; M.S. comodidade, podemos reduzi-los a duas ma-
Troiano. Aicuni a s pe tt i délia datlrina dello nifestações principais: a conversão orgânica e a
Spirita S a nt o in Ippo lito , in Aug 20(1980), 615 conversão psíquica do conflito psíquico básico.
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Na conversão física, evidenciam-se fenômenos
muito semelhantes a verdadeiras doenças
neurológicas, como, por ex., a epilepsia; é
fundamental, por isso, para falar de
uma participação real nas processões faciens (graça que torna agradável"), entre o
trinitárias de conhecimento e de amor, é dom incriado e o criado, entre a presença
tornado termo externo das processões di- das Pessoas divinas e a graça .santificante.
vinas. O sentido dessa distinção, para cuja
Essas doutrinas encontrarão sua versão compreensão remetemos a ■-> antropologia
espiritual no ensinamento sobre o teológica, 20 é o de recordar que a vida
nascimento de Cristo nas almas:'' presente já espiritual não se exaure só com a presença
no Discurso a Diogneto, que recorda que o do Espírito, mas deve lambem abrir -se a
Verbo "se inani lesta novo e antigo, mas todo o seu agir. E competência do Espírito
nasce sempre novo no coração dos santos", 1 " levar-nos a Deus, reve-lando-nos plenamente
a nossa doutrina leve sua formulação plena sua Palavra (tf. Jo 16,13-15; 14,26); é
em -> Orígenes. Ele ligou a doutrina dos três competência do Espírito conduzir o mundo
nascimentos de Cristo à restauração para reconhecer seu nada (cf. Io 16,8-1 1); o
batismal da imagem divina deturpada pelo agir do Espírito não conduz à — > gabação e
pecado, e à lese da inabi-laçào: a renovação à --> auto-exaltação, mas á —> imagem de
da pessoa se dá cm virtude da atração da Cristo, que uniu sua qualidade de Filho â
imagem perfeita do U)gos divino que inabíta qualidade de servo, e nos introduz no sei
em nós e que se torna assim o fundamente) viço de Cristo e de sua obra sal-vifica. Nasce
de nossa vida divinizada. '"Que vantagem assim a consciência de nosso nada, criatural
tem para ti que o Cristo Lenha vindo na e pecaminoso, que exige ã conversão e à
carne, se ele não vier à tua alma? Peçamos purificação, libertação do mal e renúncia a
que sua vinda se verifique em nós lodos os nós mesmos; sobretudo, nasce aquele
dias, de modo a podermos dizer: não sou abandono filial que vê a lé completar -se na
mais eu que vivo, mas Cristo vive em mim." 11 caridade, fazendo a pessoa passar do amor
A partir dessa visão - " é como uma mulher de si á identificação com o amor de Cristo.
grávida a alma que há pouco concebeu o Disso provém uma experiência dinâ mica que
Verbo de Deus" lí - deve-se compreender a > Inácio de Antioquia motiva em sua tensão
insistência sobre os crentes christofórni última: "O meu amor é o crucifi cado, e não
("portadores de Cristo") e em portar? Verbum há mais em mim um togo terreno, e sim uma
("ser portador do Verbo"); á imagem de —> água viva, que murmura em mim e diz
Maria, concebemos Cristo pela té e o fazemos dentro de mim; "Vem para o Pai!', 2I e que —*
crescer em nós até seu pleno Tornas resume esplendidamente na oração
amadurecimento. As imagens do caminho de Tdri se cor meu totum suhjicit ("A ti meu coração
Moisés e do povo até o Sinai, 11 os se submete totalmente"). O espiritual vive,
[4
comentários ao Cântico dos cânticos e a por isso, a meditação da Palavra e a oração
doutrina da visão de Deus ls deram à nossa filial, o testemunho da cai idade e o
tese sua amplitude: a formação, pela ação do empenho pelo reino; experimenta na relação
Espirito, da imagem do Verbo inabitando em com seu Senhor e Mestre urna densidade tal
nos atravessou toda a história da que faz desse acontecimento a fonte
espiritualidade, dos cistercienses lí> a -> inexaurível de sua vida. Ern torno dela se
Eckhart, 17 de -» Berulle' 8 a -> Ballhasar: 19 a estrutura uma personalidade receptiva que
vida nova é Cristo, que toma forma em mim. se aproxima do conceito bíblico de glória; 4 '-
Em suma, o homem espiritual não se explica vivendo, tornamos manifesta a ação daquele
senão com base naquela relação que o supe - Deus que se gloritica nos dons de sua graça.
ra e o transcende, mesmo que ela se coloque Gloria Dei vivens homo CA glória de Deus é o
no centro mais profundo de sua existência; é homem vivo") - escreve -> Irineu - vifa autem
somente nessa comunhão que a pessoa reali - hominis visto Dein ("mas a vida do homem é a
za a necessidade de relação e de verdade que visão de Deus").
lhe é conatural e que se realiza a si mesma.
Disso se segue sua atitude fundamental, que IV. O h.\ a -> linguagem. Trata-se de
é a de agradecimento e de contemplação esclarecer como exprimir essa experiê ncia e
adorante e obediente. Será necessário, além em qual linguagem; com efeito, a linguagem
disso, manter uma distinção entre o Espírito da qual nos servimos não é tinida de um
e seus —> dons: é só assim que se tomará conhecimento direto de Deus, mas cias
em consideração a diversidade e a ligação coisas e de nós mesmos. Deus, porém, é o
que a teologia pòe entre agratia grátis data Todo Ouüo; Deus é mistério. Ora. é legítimo
("graça dada de graça") e a gratia gratum falar de Deus a partir daquilo que lhe é
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H0MHM ESPIRII t'AI. - HI CIO DK HALMA 50
8
delta vocazume Cristiana, Casale Mon ferra ta 1985; referencia na controvérsia sobre a "douta
M. Thurinn, 1,'uomo moderno e la vila spihtuale, ignorância" (cf. Nicolau de Cusa), que durou
Brescia 1966. de 1451 a 1459.
G. Colzxuü
II. Doutrina. A obra começa com uma
passagem da Escritura: "Os caminhos de
Sião
estão de luto, ninguém vem às suas fes tas"
(Lm 1,4). A interpretação do autor é que as
almas descuram edesertam das vias por
HUGO DE BALMA meio
das quais se chega a Jerusalém, isto é, à Sa -
I, Vida c obras. Originário do leste da bedoria, porque ficam presas nas inépcias e
França (Baliney, boje Vicu-d'Izenave, depar- na curiosidade de uma ciência vã. A única
tamento de Ain) c pertencente à antiga famí - ciência verdadeira é a teologia mística, que
lia dos Balmey e Dorehe, //. entrou na aba- o autor define como aspiração da alma à
dia cartusiana de Meyriat ern Brcsse, percepção empírica de Deus, sem
fundada conhecimento prévio ou concomitante que
em 1116 por seu avó Ponze de Balmey, e foi possa provir-lhe do esforço intelectual. A
prior nos anos de 1293-1295 e 1303-1305; finalidade da teologia mística é permitir
morreu provavelmente em 1305. Escreveu que a alma humana responda ao convite de
uma obra denominada Theologia mystica
Deus para entrar na posse dele. Por isso o
ou
abade //. se pòe na esteira do ensinamento
Das três vias ou ainda Os caminhos de
de > Dionísio Areo-pagita, para o qual a
Sião
subida a Deus - em sua forma extrema -
estão de luto (título tirado das primeiras
pa- comporta a nào-intervenção da inteligência e
lavras da obra). Pode ser atribuída ao perío - o primado absoluto da afe-lividade humana.
do de 1289-1297, por causa de referencias Sempre segunde» nosso autor, a alma
internas ao texto; muito provavelmente ela humana recebe o apelo de Deus, o qual
foi escrita como réplica do abade H, às críti- consiste na expressão de amor ilimitado,
cas dos escolásticos à sua pregação, mas sobe a ele mediante a —* caridade e se une
não a ele no colóquio secreto, usando a
é possível ler certeza disso. linguagem dos afetos. A -> experiência
Uma vez que, segundo o costume mística, segundo //., não é privilégio dos
cartusia-no, o autor não pós no livro nem contemplativos, nem dos religiosos; é
data, nem seu nome, mas só a abreviatura possível a todos os que vivem em estado cie
" W " , a obra, na edição de Estrasburgo de —> graça, sendo, portanto, idôneos para
1495, foi incluída entre as de são —> reconhecerem si mesmos o convite divino.
Boaventura de Bagno-regio, por ter sido
//. fala de três fases do caminho da alma,
contundida com o tratado deste último que
fases que, segundo a tradição, c hama de
tem como título De triplici via ad
"vias" (purificativa, iluminativa e unitiva), as
sapientiam. Essa atribuição errónea, quais correspondem às três ordens da
surgida com os incunábulos, permaneceu
hierarquia angélica (tronos, querubins,
alé o século XX, embora a tradição
seratins).
manuscrita fosse unânime em atribuir o
A via purificativa representa a fase
texto a "llugues de Balmey, chai lieux".
penitencial; dispõe a alma para o verdadeiro
A obra trata, em um prólogo e três capítu -
estudo por meio do reconhecimento das pró-
los, das três vias interiores para chegar* à
prias culpas; é via interpretada validamente
Sabedoria e à união divina. Teve grande
pelo estilo de vida cartusiano; //. toma como
difusão rras bibliotecas carlusianas a partir
—> símbolo dessa tase o beijo dos pés, sinal
do século XIV e foi citada por autores
de > humildade e contrição.
contemporâneos e posteriores (Dionísio, o
Seguindo a moção interior da caridade, a
Cartuxo e Guigo du Pont, entre outros), se
alma chega à via iluminativa, que consiste
bem que sem citação do nome do autor,
na meditação diuturna e reiterada da
como era cos-iume. Foi um dos pontos de
Escritura; permite o progresso ulterior a
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Deus. O conhecimento adquirido nessa iase
não é intelectual, mas afetivo, e provém em
parles iguais do empenho empregado pela
alma humana c pelo dom que Deus laz de si
mesmo, revelan-do-se gradualmente. Esse
nível é simbolizado pelo beijo das mãos,
sinal de sujeição e reconhecimento. A última
fase da teologia mística é a via unitiva;
trata-se da fase fusionai, na qual a alma,
mediante a caridade e sob a açã< > divina,
obtém a -> união com Deus, entrando no
número dos bem-aventurados. A ascensão
culmina na sabedoria unitiva, cm virtude da
qual se pode efetuara metamorfose da
pessoa amante no sujeito amado. Essa Iase
extrema tem corno símbolo o —> beijo
mútuo na boca. Segundo //., esse grau de
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IDENTIFICAÇÃO - IGNORÂNCIA
nito, eterno e imutável. È a vicia própria cio de Deus, Cristo, em quem se acham
santo, que já superou toda divisão e conflito escondidos todos os tesouros da sa bedoria e
e se situa agora na harmonia perfeita. Uma do conhecimento" (Cl 2,2-3).
visão unitária da criação levou-o ã Embora levando em consideração o signi -
superação das identificações parciais e à ficado mais experiência! que o termo conhe -
reunificação cios elementos dispersos, raz ão cimento L j t i o s i s ) tem na Inumarem bíblica, é
por que contempla todas as coisas, inclusive indubitável que o crescimento no conheci-
a morte, como o momento transcendental de mento é o ideal e a conclusão da vida cristã,
libertação e de integração ao todo do qual não só no NT, mas também em ioda a tradi-
provém. Atíntriu um estado de sintonia com ção patrística.
os ritmo* da vida cósmica, rico de
concordância interior e de unidade externa. II. Na doutrina tios Padres. Mas é justa-
Como conseqüência, ele é dotado de amor mente na doutrina dos —> Padres,
universal, que propaga altruísmo e sobretudo os orientais, que se desenvolve a
oblatividade. doutrina da —»contemplação de Deus na
obscuridade, daí o tema da contemplação de
NOTA ; 1 Laplanche - J.B. Pontalis,
J. Deus por meio da'V.".
Enciclopédia delia psicanatisi, Roma 1987, 214. É em —> Gregório de Nissa, considerado
por muitos o fundador da teologia mística,
BIBL .: R. Assaggioli, Psicosintesi, Roma 1971;
que o tema da contemplação nas trevas apa -
E.lt Erikson, Gioventü e crisi d'identilà, Roma
1987; S. Freud, Totem e tahü (1912-13), VII, rece. O modelo dessa contemplação é Moisés:
Turim 1977; Id Introduzione al narcisismo "A manifestação de Deus a Moisés dá-se pri-
(1914), VII, Turim 1977; I). Giovannini (org.) meiro por meio da luz, depois falou com ele
ldentità personale: Teoria e ri-cerca, Bolonha em meio à nuvem, e, enfim, quando se tor -
1979; L. c R. Grinberg, ldentità e cambiamento, nou mais perfeito, Moisés contemplou Deus
Roma 1992; J . Laphnche - J . B . Pontalis,
nas trevas. A passagem da escuridão à luz é
Enciclopédia delia psicanatisi, Roma 1987; G.
Morino, // conceito di identificazione, Turim o primeiro alastarnento das idéias falsas e
1980; B.M. Olivetti, Identificazione e proiezione, errôneas a respeito de Deus. A consideração
Bolonha 1976; G. Scarpellini, 5 .u, itiDES II, mais atenta das coisas ocultas, que leva a
1253-1254; W. Toman, s.v., in Aa.Vv.. alma, por meio das Loisas visíveis, às
Dizitmario di psicologia, Roma 1982. 507. realidades invisíveis, é como que uma nuvem
que torna obscuro todo o sensível e habitua
B. Gova a alma com a contemplação daquilo que está
oculto. Enfim, a alma que já percorreu essas
vias turno às coisas superiores, tendo
deixado as coisas terrenas, à medida que
isso é possível á natureza humana, penetra
nos santuários do conhecimento divino
cercada por todos os lados pelas trevas
IGNORÂNCIA divinas". 2
O autor, porém, que deixou a doutrina
I. A noção. 'Deus é conhecido através da mais elaborada da total i. como
essa afirmação, uma das tantas de —» Dio- "conhecimento do princípio superior a todas
nísio Areopagita, 1 teria desconcertado um as coisas cognos-cíveis" (Ep. 1) foi Dionísio
cristão dos tempos apostólicos. A L (agnoia), Areopagita. Ele também se reporta à figura
o não-conhecimentode Deus, é, de fato, uma de Moisés, o qual, afastado das coisas
característica dos "pagãos que não conhecem visíveis, "entra na nuvem do não-
a Deus" (ITs 4,5), os quais vivem "com en- conhecimento verdadeiramente místico, no
tendimento entenebrecido, alienados da vida qual fecha os olhos a todas as compreensões
de Deus pela sua L e pela dureza dos seus gnósticas e alcança algo que é totalmente
corações" (Ef 4,18). Os cristãos são intangível e invisível... unido de um modn
advertidos: "Não consintais em modelar a muito melhor àquele que é incognoscível,
vossa vida de acordo com as paixões de conhecendo para além da inteligência, pelo
outrora, do tempo da vossa i." (lPd 1,14). Ao fato de nada conhecer". 3
contrário, —> Paulo reza para que eles A influência do Areopagita e da sua teolo -
"cheguem à riqueza da plenitude do gia apofática foi muito grande, também no
entendimento e à compreensão do mistério Ocidente (basta ver a freqüência e a venera -
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IDENTIFICAÇÃO - IGNORÂNCIA 648
ção com que é citado por doutores como são
Boaventura ou santo Tomás de Aquino). Para
além das especulações específicas ou cons
truções teológicas, a afirmação de que a
mais alta união com Deus se dá na
escuridão se baseia no princípio da sua (de
Deus) incog-noscibilidade. É esclarecedora a
expressão de -> Agostinho: "Se o entendeste,
quer dizer que
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IMAGKM I VI AG H M JNTHRIOR coração c imprimir-se na alma do leitor,
para submetê-la à operação e ao —> amor
Concílio Ecumênico Niceno II, onde foram divino. A i. sacra, sobretudo a pictórica,
definidos como doutrina de lê a legitimidade desempenha essa função.
e o culto das imagens. 528
II. Xa vida espiritual. A iconologia consi- Tor meio da associação das cores, estimula
dera o objeto de arte como expressão da cul - os nossos sentidos, fala ao coração e procura
tura global que, para se desenvolver, precisa fazer vibrar em nós um sentimento místico
de diversas colaborações, até da mística. que ultrapassa a realidade do sujeito. A
Esta, segundo uma definição do card. -» de preocupação principal da arte sacra
Bérulle. é "ciência não da mente, mas do es- bizantina e russa, antes do seu declínio (see.
pírito, fieitii I não cie estude», mas de —> XVII), era deslocara meditação dos fiéis para
oração". A oração, pois, é elemento o mundo espiritual. Para os orientais, a
indispensável da mística. De sua parte, a i. função da /. sacra é mostrar o mundo da
sacra dá orientação espiritual á vida cristã e glória de Deus, transformar esse mundo em
ã oração. A meditação e a —> contemplação visão. E assim deve ser para toda a Igreja de
encontram na i. apoio importante, porque Cristo, porque, segundo o Vaticano 11, a
fixam nela o espírito, remetem-no à lunçáo da i. é "orientar religiosamente as
realidade simbolizada e concentram-no nela. mentes dos homens para Deus" (SC 122).
A i. sacra pode permitir também comunhão
Bi DL .:J. BcLUidc, La mística, Roma 1992; W.
orante, não substancial mas mística, com o
During s.u, in D 77?, 661-663; P. Evdokímov,
divino. Como -* símbolo, a {, (em grego, Teologia delia hellezzü. Rorrui PJVíf; MT
eikon) implica a união de duas metades: Machejek, s.u, in DES 11, 1270-1271; P.
símbolo e simbolizado. Em nosso caso, as Mariotti, s .u, in Dicionário de es-v ai! nulidade,
duas metades são o homem e Deus, e a sua Saol'.iulo. \l)7 v V. Miguel,.s.v.. inDSAM VU,
comunhão ou união é operada pela /. na I503-Î519; M. Nnuwcn, Behold the Beauty of the
oração. Por isso, —> Gregório de Nissa Lord-Praying with Icons, Notre Dame 1987; M.
Qucnot, L'icona, fmestra sull'Assoluto, Roma
chama a /.-ícone de: "Testemunha visível e
1991; 11. e M. Schmidt, il lini,uay,ejo du
tangível cio lieimmaejni, Roma 19SS; E. Sent 1 1er, L'icona
princípio humano (criado) alcançado pelo immarjne dell'invisibile, Roma 19924.
ser divino imperecível". Depois, o orante
pode experimentar um pouco, já desde esta V. Borg Gusman
vida, ou seja, ver misticamente no coração a
virtude cia presença divina e prelibara
doçura da gló-ria celeste. O homem pode
melhor clispor-se a obter ou a avançar na —
> união mística através da —> humildade. A
oração dos humildes penetra os céus e chega
ao trono de Deus (cf. Sr 35,2 1). Com razão, IMAGEM INTERIOR
então, o citado Bérulle continua a dizer que
a mística é "ciência j feita J não de disputa, I. Noção. A /. de que tratamos se
mas de humildade". As imagens dos —> enquadra
modelos dessa "virtude", especialmente do na série, numerosa e variada, dos fenômenos
Cristo e da Virgem .Maria, ajudam o cristão carismáticos. São formas e cores que apare -
a exercitar-se na humildade quando cem interiormente, por dom de Deus, e seu
contempla o —> aniquilamento do Cristo, significado c profético, isto c, constitui men -
Homem-Deus, e a humildade de Maria, Mãe- sagem, anúncio, para determinada pessoa
scrva do Senhor. A reflexão sobre o autor da ou
i. também ajuda o orante, porque espelha a para assembléia predisposta a escutar Deus.
humildade do artista. Com efeito, no caso
particular do - > ícone, a personalidade do II. Segundo alguns teólogos. —> Santo
autor deve desaparecer diante da Tontas de Aquino insere esse fenómeno no
personagem representada. Ele não pode as - —> carisma da prolceia: "Deus apresenta as
sinar a sua obra e deve submeter a imagens sensíveis à mente do profeta, às ve-
liberdade criativa, bem como a sua zes até exteriormente, por meio dos —> senti-
inspiração, aos cânones estabelecidos pelos dos: t<>í assim que Daniel viu as palavras
Concílios. Os místicos sublinham com escri-
freqüência que suas palavras devem tocar o tas na parede (5,17); ás vezes, o faz
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mediante
imagens fantásticas, impressas diretamente
por ele, sem passar pelos sentidos, como se
na imaginação de um cego de nascença tos -
sem impressas a.s imagens das cores; ou o
faz
servindo-sc de imagens recebidas dos senti -
dos, como no caso de Jeremias, que viu uma
caldeira fervente que aparecia vinda do Norte
(1,13)". 1 Para santo Tomás, a profecia atra-
vés da /. é expressa por quem a interpreta,
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533 ] M V K R FM I ÇA t ) 1 N'A I UTA Ç ÃO
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53 INÁCIO Dt-ANTtOQUA
7
chave anlídocétiea), sua ressurreição, onde despontou a nossa viila por meio dele e
concepção virginal de Maria, eleitos da > da sua morte (...): ele, por meio de cujo
redenção, mistérii > {mvsíeriou ) nos recebemos a fé",
—) batismo, —> Eucaristia, matrimonio l'ara Paulo, como também para /., o sentido
(Polie. 5,2: único exemplo nos Padres último cio mistério salvííieo da —» cruz de
apostólicos), Igreja mística e Igrejas locais, Cristo é a nossa vida ressuscitada com ele. A
hierarquia eclesiástica com 1res graus segunda passagem é El 19,1, primeiro
(bispo, presbíteros, diáconos). A eclesiologia exemple» em que mysterion ê aplicado à
cie /. é de modelo hieráiquico-píramidal, Encarnação, que, por sua vez, inclui outros
tendo à Irente o bispo, centro doutrinário, mistérios: "Foram ocultos ao príncipe deste
disciplinar e litúrgico, segundo a lógica da mundo a virgindade de Maria e o seu parto,
participação. "O bispo está no lugar de como também a morte do Senhor: três
Deus; os presbíteros ocupam o lugar tio mistérios destinados a ser pn>clamados (mys-
senado dos apóstolos; os diáconos são teria kratiges), amadurecidos, no silêncio de
encarregados do serviço de Jesus Cristo " Deus". Embora entre mistérios que consti -
(Magn. 6,1). "O Pai de Jesus Cristo é o bispo tuem a economia salvífica, o horizonte é
universal: quem engana o bispo visível, sempre o paulino, da cruz. O silêncio de
engana o invisível" (Magn. 3,1-2). Deus, em /. como em —» Paulo, refere-se ao
desígnio oculto da salvação, oculto mas que
III. À mística de /. (e dos Padres) tem re- deve ser revelado a todos, diferentemente do
lação com o mistério de Cristo em sentido "silêncio sagrado" do helenismo - caro a
paulino, ou seja, com o caráter salvííieo da certos hereges gnósticos do qual teria
—* cru/, cie Cristo; só assim dá-se a mística emanado a Palavra (logos). L não fala de
cristã. Os melhores historiadores contempo- mistérios pagãos; notamos que Juliano (t
râneos das religiões comparadas atestam 165 aproxim.J é o primeiro escritor cristão a
que o mistério paulino não se explica pela recordar o mistério cristão e, ao mesmo
contaminação dos mistérios pagãos. De sua tempo, os mistérios pagãos; só com —>
parle, > Paulo afirma: "Pois não quis sab er Irineu teremos um encontro entre a
outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo, terminologia do mistério cristão e a de
e Jesus Cristo crucificado" (ICor 2,2). E outros mistérios, não dos pagãos, mas os da
mais: "...c realmente de sabedoria que —* gnose herética. 6
falamos en Ire os perfeitos, sabedoria que
não é deste mundo (...). Ensinamos a IV. A mística da unidade teocentrica,
sabedoria de Deus, misteriosa e oculta, que cristoccntrica, eclesial e eucarística. A /.
Deus, antes dos séculos, de antemão foi "confiada a tarefa da unidade" (Fil 8,1):
destinou para a nossa glória" (Ihiil. 2,6-7). A unidade cie Deus, de Cristo, da ~> Igreja
sabedoria de que lala Paolo, para além de católica (qualilicativo usado pela primeira
todas as sabedorias do mundo, é o desígnio vez nos
de Deus-criador de salvar a humanidade Padres)., da Eucaristia.
decaída, reconciliando a com ele mediante a I. A - > contemplação do mistério de Cris-
cruz de Cristo, que abre para o triunfo final: to conligura-se, em /., antes de tudo como
"Cristo em vós, esperança da glória" (Cl contemplação mística sobre Deus. seu desíg-
1,27). Mas o desígnio sábio de Deus tornou- nio salvífico e sobre Cristo. Contra os judai-
se possível pela Encarnação do seu Eilho, zantes, a contemplação centra-se na unidade
Deus-homem. Ora, /. é o único dentre os -> da economia divina (cf. El 18,2 e 20,1), em
Padres apostólicos a usai" o termo mys* Cristo revelador do Deus único (cf. Magn.
lerian, embora em todos eles ocupe o lugar 8,2). O Deus invisível tornou-se conhecido em
principal a > lé em Cristo morto, ressuscita- Cristo (cf. Polic. 3,2): "O conhecimento (gnosis)
do e vivificador do cristão/ Em /. o tema é de Deus é Jesus Cristo" (Hf 17.2). .Mas o
central e está na base de todos os Cristo é um com o Pai. Jesus Cristo
desenvolvimentos, sobretudo da teologia do - verdadeiramente se encarnou (contra os doce
* martírio e da Eucaristia (cf. Carla aos tas) (cf. Trall 1-2; Sm 1,1-2) A mística de /.
Romanos). A primeira passagem que contém não é mística metafísica, nem um vago
o nosso termo é Magn. 9,1-2, em que /. fala misticismo. "Baseada na fé na paixão e na
dos judeus que não observam mais o ressurreição de Jesus Cristo, ela enraíza -se
sábado, "mas vivem segundo o domingo, no realismo cristão. Esse papel,
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absolutamente primeiro, dado ao mistério do
Cristo encarnado, morto e ressuscitado,
separa a mística autenticamente cristã de
um misticismo gnóstico e platônico".7 A
influência de Paulo é, aqui, decisiva (P.
Meinhold).
Conhecido como "doutor e místico da uni -
dade", 8 ele mesmo se autodefine como "um
homem feito para a unidade" (JPiL 8,1). Uni-
dade, em primeiro lugar, em Deus (cf. Trall.
11.2; F/7. 8,1).
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55 IRA - IRI-NÍ-U OH 1
3 TÄO(s;mio)
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IRLANDA E INGLATKRRA
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ITÁLIA - ITJNKRÁRIO MÍSTICO 57
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JACí >H.)\E DE TODI - JANSE.MSMO
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JOÃO DA CR 17. ís.mu,) - joÃO DII 59
JlíSLS MARIA 0
nar, c não mediante qualquer oulro sentido, Aa.Vv., Vita Cristiana ed e<per:enza mística.
mas somente mediante a —> té, em relação Roma 1982, 2**6-33(1; F. Rui/ Salvador, S.
Giovanni delia Croce, in La Mística I, 547-597.
ao intelecto, a —> esperança, em relação ã
memória e o —> amor, em relação à A. Al Sica ri
vontade*.
As virtudes teologais são o meio propor -
JOÃO DE JESUS MARIA
cional ao fim da união com Deus, porque I. Vida e obras. ./. (João de S. Pedro y
elas nos põem em contato com Deus mesmo Lstarroz) nasceu cm Calahorra, em 1564, em
(cf. 2S 9) e possuem o caráter místico da Rioja. Foi a figura mais representativa da
passividade. Ordem dos Carmelitas Descalços, nos inícios
A mfstica de J . é olhar profundo que atin- de sua Congregação na Itália, da qual
ge o homem, no seu relacionamento neces- tornou-se o terceiro F repôs to Geral, de
sário com Deus, "o centro da alma é Deus" 1611 a 1614. Nas Constituições e na formação
(F 1,11), "a sua salvação é somente o amor de dos noviços (tnsírucíio uovitiorum, Instructio
Deus" (C 11,11), "a sua alma vive mais na magistri noviliorwn) transmitiu Genuinamente
pessoa que ama do que no próprio corpo que o es-piri to de — > Teresa de Jesus.
anima" (C 8,3). Percebendo com agudeza a intuição da
H, também, um discurso sobre Deus que fundadora, de acordo com a qual o espírito
precede e habita o homem de uma forma contemplativo c o espírito missionário não
"incompreensível, não por causa cie sua dis - só não se opõem, mas integram-se
tância, mas sobretudo por sua imanência e necessariamente, como os pre ceitos de amar
intimidade, em sua capacidade de penetrar o a Deus e ao próximo, abriu o Carmelo para
homem por vias que nenhuma criatura e as missões e definiu o objetivo da vocação
nem mesmo o próprio sujeito poderia contemplativa da Ordem como "união
descobrir (cf. 3S 3,6) . 6 mística da alma com Deus". Morreu
Concluindo o Cântico espiritual, o santo piedosamente em Moniecompatri, em 1615.
exclama: '() almas criadas para estas gran - Em 28 de outubro de 1994 foi introduzida a
de/as e a elas destinadas, que coisa fazeis? causa de sua beatificação e canonização, no
Com que coisas vos entretendes? As vossas TVibunal Eclesiástico Diocesano do Vicari
aspirações são trivialidades e os vossos bens ato de Roma.
são miséria. Ó mísera cegueira dos olhos de Escritor muito fecundo, nunca deixou de
vossa alma, por que estais cegos diante de estimular o seuuimcnto da via c escola de
tanta luz e surdos diante de vozes tão pode - Jc-sus Cristo, a aquisição da prudência dos
rosas, sem vos dar conta de que, enquanto justos e a aprendizagem da oração. O seu
buscais grandezas e glórias, continuais apelo contínuo foi dirigido a todos: papas,
miseráveis e vis, desconhecedores e indignos cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos,
de Ião grande bem?" (C 39,7). monjas, leigos, príncipes, tainhas e
imperadores.
NOTAS: 1 Fondazioni 3,17; 2 H.U. von
Balthasar, Cu>vannidelia Croce, in Id., Gloria. Sobressaiu-se nos escritos de caráter
Una estética teologia. Stui laicali. Il l , Milan místico De talo, produziu, juntamente com
1976, 111; 3 Cf. D. Alonso, Ixi poesia di v as Constituições de 1599 e 1605, também as
(aovaim: delia Croce. Roma lYós; *: H.U. von obras Cantici canticorum hitctpretatio {1601) e
Balthasar, Teologia e santita, Id., in Verbum Theologia ntystica (1607). Na primeira obra
Cato, Brescia 1975, 206; 5 Id.. Giovanni delia descreve o relacionamento da esposa com o
Croce.... U.C., 144; ' K Ruiz Salvador. Giovanni
Esposo como o relacionamento tia alma com
delia Croce, in La Mística, I, 567.
Deus, característica da contemplação do
BIBL.: Obras: San Juan de la Cruz, Obras Carmelo teresiano. Na segunda, interpreta a
completas, org. por J.V. Rodriguez e F. Ruiz teologia mística tradicional da Igreja à luz
Salvador, Madri Î988; Giovanni delia Croce, providencial de santa Teresa, "divinamente
Opere, org. por L. Borricllo, Ciniscllo Bálsamo
1988 Estudos: H.U. von Balthasar, Giovanni preparada por Deus para nos instruir neste
delia Croce, in Id., Gloria. Una estética teologia. campo, no tempo presente". Nesta obra ensi -
S'.di laicali, 1 1 1 , Milão 1976, 95-155; na o caminho da santa de Avila para a mís -
Crisógono de J. Sacramentado. Ui e sen ela tica —> união, através da via do —> amor,
místicacannehtana. Madri \ 9 M ) \ P Juan-
Tous,s.v., in \\ \tv. 273-275; Lucien-Marie de ou —> sabedoria unitiva. A fim de que o
S J . , s.v., in DSAM VIII, 408-447; Li. Pacho, admirador de Teresa pudesse seguir a Madre
S. Giovanni delia Croce, místico e teólogo, in pelo mesmo caminho, deixou muitíssimas
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orações anagógicas, brotadas de sua pessoal
experiência de "místico itinerante".
Seus livros espalhai anise por toda parte.
A sua Disciplina ciaustralis, reeditada conti-
nuamente para nutrir o espírito de oraçã o da
família teresiana através dos séculos, supe -
rou cinqüenta edições. Os seus Solilóquios da
alma fiel são talvez o espelho mais perfeito
JUSTINIANO LOURENÇO (santo) cos, seu espírito ioi se apoderando num pro -
cesso de amor. A Sabedoria encarnada, o
I. Vida e obras. Nasceu em Veneza, em Verbo divino, gradativamente se apodera da
1381, e morreu como primeiro Patriarca de inteligência e da vontade daqueles que a ele
Veneza, em 8 de janeiro de 1456, Foi canoni- se abrem e se confiam, e conduz suas almas
zado por Alexandre VIII em 16 de outubro de até à união transtormante.
1690. No cap. 24 do De. disciplina monasticae
Seu caminho espiritual ascético começou cotivcrsationis, assim é descrito o percurso da
na ilha de San Giorgio in Alga, em meio a alma em direção ã união; "Tornada fecunda
uma pequena comunidade de jovens, sacer - peto Verbo de Deus e aderindo a ele,
dotes e leigos, dedicados à —> oração e à -> perceberá com o olhar da inteligência, os
penitência. inescrutáveis mistérios de seu agi]*. Verá
Em 1404, Lourenço fundou a Congregação depois Deus em si mesma e ela mesma em
dos Cónegos Seculares de são Jorge, em Deus e Deus em si../\
Alga. Nesta época já era diácono e foi orde- Aos sacerdotes ensina a sabedoria do "fa-
nado sacerdote, em 1407. zer-se tudo paia todos e assim ganhar todos
Prior de São Jorge, em 1409, continuou para Cristo", 1 ao mesmo tempo em que ele
prior nas eleições sucessivas, até 1419, oca- próprio se deixa "devorar", já que havia
sião em que a Congregação, que se expandi - aprendido o que ensinava, isto é, a "subir e
ra além de Veneza, exigiu um superior geral, descer, conquistar e perder, gozar e cho rar,
cargo que lhe foi confiado.
abandonar e empobrecer, ser superado e
A profunda estima que nutria por Eugênio
vencer". 2
IV (t 1447) mereceu-lhe a ordenação epis-
O seu segredo foi que ele já então via
copal em 5 de setembro de 1433.
Deus nas criaturas e as criaturas em Deus;
Instituído o Patriarcado de Veneza,./. foi
seu primeiro Patriarca, dedicando-se ao car- testemunho disso é seu último escrito, quase
go com todo afinco. Contudo, quando iniciou uma palavra de amor gritada em direção ao
os preparativos para a convocação do Concí- céu, que já lhe estava vizinho.
lio provincial, que deveria sanar os muitos Bua.: Obras: S. Tramontin (org.) Lorenzo
abusos que existiam em sua diocese, foi co - Giusti-riiaiii, Sdíigjo di bibliografta iMurenziana.
ibido pela grave enfermidade que o levou à Apptaita per Io studio deliu vita e dclle opere di s.
morte. Lorenzo Giastmiemi, Vcne ./ii 1960; Sun Lorenzo
Incansável no trabalho apostólico, 7. viveu Giusii niani, Disciplina e perfezione delia vita
a ascética do "servo", solícito em qualquer monástica, Roma 1967. Lsiudos: N. Barbato,
Ascética delForazione in s. L. Giustiniani, a cura
necessidade que se lhe apresentasse em seu di A. Costantini, Veneza 1960; A. Costantini.
ambiente de vida, quer se tratasse da mendi - fntrodu:.ione alie opere di s. L. Giustiniani, primo
cância nas ruas da cidade, como aconteceu patriarca di Veneza, Veneza 1960; F. De Marco,
no início de seu episcopado, quer se tratasse Ricerca bibliográfica sit s. Lorenzp Giustiniani,
do cuidado com os atingidos pela peste, em Roma 1962; G. Di Agresti, s.v., in D ES II,
diversas ocasiões, ou da moralidade dos cos - 1470-1472; Id..s.y., inflSVIII, 150-156; Id., La
Sapienzo, dottrinn di spiritiudila e di apostoluto in
tumes, campo em que demonstrou muita fir-
S. lAvenzo Giustiniani. Roma 1962; S. Giuliani,
meza, seja com as enclausuradas que esta - Vita edomina di s. Lorenzo, Roma 1962: A.
vam sob sua responsabilidade, seja com os Huorga, Presencia de tas Obras de S. Lorenzo
sacerdotes de sua diocese. Esta t irrneza, Giustiniani en la liscuela espanola de la oraciôn,
contudo, era acompanhada de uma profunda Roma 1962; A Niero,s.v„, in DSAM IX, 393-
caridade e mansidão, fruto de um caminho 401; V. Píva.s.u, in£C VII, 1553-1555; N.
interior de grande humildade e -> sabedoria. Ticzza, La dou ri na spintuale di San Lorenzo
Giustiniani, Belluno 1977.
Entre suas obras destacamos: De casto
connubia \ erbi et aniniae (1425); De clisciptina et Aí. Tiraboschi
spitituali perfectione (1425); Fascicultts atnoris
(1426); De trittmphali agone Chrisfi (1426); De
spitituali intevitu anintae (1450); De gradibus
per}ectamis (1455), e seu último trabalho,
verdadeiro e próprio grilo de amor De incêndio
divitti Atnoris (1455).
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613 que estava voltada para o Pai e que nos
apareceu; o que vimos e ouvimos vo-lo
porque o objeto cia sua santíssima operação
anunciamos para que estejais também em
é incompreensível" (c.5). comunhão conosco. E a nossa comunhão é
A Subida de L "é uma das chaves indis- com o Pai e com o seu filho Jesus Cristo" (1
pensáveis para compreendera mística espa - Jo 1,2-3).
nhola" (S. Rodriguez), e foi um dos livros LAREDO BERNARDINO DL - LhCTIO DIVINA
usados por Teresa de Avila. Aliás, a sua
leitura tirou a santa de uma grande A segunda afirmação do Concílio (cf. DV
perplexidade, como ela própria narra: 8) exprime de que modo a —> Igreja, em seu
"Consultando alguns livros, para ver se mistério e instituição, é profundamente liga -
neles encontrava explicação para a oração da à /.: sabe de encontrar na escuta a regra
que eu fazia, em um deles, intitulado A para o seu crescimento na história. "Esta
Tradição, oriunda dos Apóstolos, progride
Subida dei Motite Sión, no lugar em que fala da
na Igreja sob a assistência do -> Espírito
união íntima com Deus, encontrei lodos os
Santo: cresce, com efeito, a compreensão
sinais que experimentava em mim quando
tanto das coisas como das palavras
naquela oração não conseguia pensar em
transmitidas, seja pela contemplação e
mais nada". 1 estudo dos que crêem, os quais as meditam
Atribui-se também a Josepíüna, um opús- em seu coração (cf. Lc 2,19 e 51), seja pela
culo publicado no apêndice àoSalita, que tra- compreensão íntima que desfrutam das
ta da devoção a —> são José, de quem o coisas espirituais, seja pela pregação dos
autor exalta a grandeza. que com a sucessão do episcopado
receberam o carisma seguro da verda de. A
NOTA: 1 Vita XXIII, 12. Igreja, pois, no decorrer dos séculos, tende
BIBI..: Obras: Subida dei Monie Sion, in Místicos continuamente para a plenitude da ver dade
Franciscanos espanoles, org, por (J.B. Gomis, t. divina, até que se cumpram nela as pa lavras
2, Madri 1948, 25-442. Estuei os: J. de Deus".
Aramendia, Las oraciones afectivas v los Em suma, a DV afirma a presença do Es-
grandes maestros espiri-tnales de mtestro siglo de pírito nas Escrituras que, ontem como hoje,
oro. In escuela franciscana. V.ble Bernardino de
deve guiar os que crêem. Mas a Sagrada Es -
Laredo, in /;/ Monte Carmelo. 36 (19.15), 3S7-
395, 435-442; B. Foronda, Fray Bernardino de critura deve ser lida e interpretada com o
Laredo, OFM, su vida, sus escritos y stt doettina mesmo espírito com que foi escrita (cf. DV
teológica ascètico-mistica, \\\ Archivio íheto- 12) para concluir com a afirmação da
Americano, 33 (1930), 213-350, 497Õ16; E. condescendência da providência eterna (cl.
Pacho. s.v, in DES II, 1402-1403; R. Ri ca rd, DV 13).
s.v., in DSAM IX. 277-281; Id., Estúdios de Este ensinamento do Concílio que repro -
literatura religiosa espa-íiola, Madri 1964; F. de
Ros. Un inspirateurde Sainte íhêrèse, le Frete põe urgentemente a saída do secular "exílio
Hemardin de fiiredo, Paris 1948. das Escrituras", marca o retorno da Escri -
tura nas mãos do povo de Deus, como livro
U. Occhialini da -> fé, que alimenta a '—* esperança eé ge-
rado pela —> caridade.
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profética de Israel, em que Jesus se insere
com a sua oferta messiânica como
cumprimento da Palavra, com a sua kcuosis c
a sua Páscoa. A Igreja peregrinante pelo
Reino, onde cada homem e cada mulher
possam alcançara visão do —> Pai, no
aperfeiçoamento do amora Jesus, encerra,
pois, a sua missão messiânica abrindo a
mente dos seus discípulos para a
"inteligência das Escrituras". E é na perseve
sui autêntica dimensão secular" (2 de feve - elemento eclesial", clérigo ou toda vez que
reiro de 1972). Mas as palavras "secular" "os critérios se retiram ao reconhecimento
continuava Lazzati ■- e "secularidade", apli- do valor próprio e autónomo das realidades
cadas na Igreja inteira, não teriam terrestres". 2 *
exatamente o mesmo significado do adjetivo Por sua vez, B. Forte defendia o uso da
"secular" aplicado ao /. na definição feita terminologia e dos conceitos retomados por
pela LG 31. Na constituição sobre a Igreja, Y. Congar: "eclesioli »gia total" e "binômio
porém, indica uma "relação específica com o cornu-nidade-carismas e ministérios" que
mundo", que caracteriza a ação do /. no marcavam a superação do binómio
mundo a fim de reconduzi-lo ao plano do "hierarquia-laicato", enquanto acentuava
Criador". Os leigos de que fala a LG 31 que "a afirmação da laicidade como
"vivem no mundo", não no sentido genérico dimensão da Igreja toda passaria então a ser
como aquele pelo qual todos os cristãos são apresentada como sinônima da co-
"seculares", mas no sentido específico, ou
responsabilidade". A impressão que o debate
seja, "vivem no século em todos e em cada
deixava é que era necessário chegar a uma
um dos olícios e trabalhos do mundo. Vivem
síntese mais clara e avançada entre o
nas condições ordinárias da vida familiar e
Conuar dos Jcdons e o esquema "comunida-
social, pelos quais sua existência é como
que tecida", lazer distinção dos vários de-carismas e ministérios". 24
modos de assumir a "seeularização" segundo Por seu lado, o VII Sínodo dos bispos ao
diversos carismas e ministérios, não acolher o lusoumentum Sabaris fez um balanço
significa separar ministérios e leigos, nem global do magistério a partir do Vati cano II e
negar a "relação vital" entre momentos e di - reforçou as teses de base, porém não aceitou
mensões- ministeriais ou seculares -- da as teses desenvolvidas por numerosos
missão salvílica da Igreja. teólogos sobre a laicidade cie toda a
Foi por essa razão que Lazzati não acei- Igreja e de todos na Igreja. A exortação
tou a afirmação de que a Igreja toda c "lei- apos-tólica pós-sinodal de João Paulo II (30
ga", conforme queria o teólogo S. Diantclv 1 de dezembro de 1988) selou e acolheu o
nem o modo de apresentar o tema da laici - pensamento dos padres sinodais desde as
dade de B. Forte.- 1 Lazzati também contes- primeiras palavras do texto que compunham
tava o uso da expressão "eclesiologia total", o título do documento. De lalo, o papa não
retomada por Y. Congar, e criticava sobretu- se limitava a lalar de ciirisiijidelcs, mas logo
do a afirmação de B, Forte secundo a qual explicava que se tratava de christil ideies laici,
"a redescoberta da eclesiologia total" traz toda vez que o laici especil içasse,
consigo "a exigência de superar não só a qualificasse e distinguisse os fiéis de que
divisão da Igreja ern duas classes, mas tratava. Ou seja, distingue entre os fiéis os
também a conexão especil ica leigos que formam uma parte específica do povo de
secularidade". Deus, com uma índole peculiar definida pela
O ponto essencial da posição de Lazzati secularidade e pelo estar e viver no mundo
está sintetizado nesta passagem: "No como lugar teológico peculiar. Assim,
momento em que, perdendo a especificidade haveria uma continuidade direta com as
do significado pelo qual o fiel é chamado /., primeiras gerações cristãs. A análise dos
atribuo á Igreja, em sua globalidade, a textos levava a refletir como em nenhum
qualificação de "leiga", nada acrescento ao deles eram considerados os "leigos" a
conhecimento da sua natureza e, em vez, comunidade composta pelos membros do
perco o valor da nota que caracteriza na povo de Deus em oposição aos povos pro -
Igreja um momento típico da fanos. Nos textos existe uma oposição cons -
sua ação redentora, aquele pelo qual, por tante: trata-se de categorias dentro do povo
vocação, esperam (deveriam esperar) os fiéis de Deus. (...) Por outro lado, se a palavra /.
que, por essa razão, são chamados leigos'. realmente designasse os membros do povo
Em sua réplica, S. Dianich reconheceu e de Deus em sua globalidade, não se
aceitou a preocupação de Lazzati "de exorci- compreende poi que, então, os sacerdotes
zar o sempre emergente monstro do integris - não são também "leigos, a partir do
mo clerical". Contudo, insistia num aspecto momento que são cristãos. Os textos, porém,
que não era negado por Lazzati: a necessida - opõem constantemente estes àqueles**. 26
de de "levar a sério os critérios da laicidade Contudo, um fato que merece registro é que
e aplicá-los de forma coerente em qualquer depois do Sínodo e da publicação da Christif
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629
circunstâncias e na evolução da idade e dos obrigada pelos adultos (geralmente vividas
atributos pessoais com que se possa ser como proteção interior de sobrevivência).
identificado, no ser ou não limitado pelo Isso ocorre porque quando a pessoa usa a
externo ou pela saúde. sua parte psíquica "sadia", experimenta sen -
Cada pessoa traz em si, seja modo de timentos positivos e negativos aos estímulos,
viver em adaptação ao grupo, seja maneira desejos e necessidades, ou seja, experimenta
de se exprimir e se reconhecer intimamente alegrias e dores, seja ligados ao presente,
e, de vez em quando, pode conhecera seja ao futuro previsto ou projetado, que
"realidade" que a cerca tanto de um quanto invadem todos os níveis psíquicos, com o
envolvimento possível da eslera biológica, de
do outro modo, redefinindo os estímulos
modo bem mais forte de quando se vive na
externos com base nas experiências
identidade de adaptação ao ambiente. Tanto
passadas e nos valores e julgamentos que
os conflitos pulsionais (e respectivas
formou dentro de si mesma. (Romanini,
sublimações e neutralizações), quanto os
Hccles e Popper, Olivetti, Be-lardinelli). conflitos competitivos (com os complexos de
Seja que se reconheça no aspecto da de - superioridade e de inferioridade) ou o mundo
pendência às leis sociais e então do simbolismo, as problemáticas do papel
impossibilitado de escolhas pessoais, seja social, são possíveis momentos conflitantes
que mesmo adequando-se a elas se da adaptação primária necessária ao
reconheça em sua unicidade que o distingue ambiente importante e aos seus valores, de
de qualquer outro, o indivíduo é parte de que permanecem na idade adulta tendências
unia sociedade específica, de que inconscientes e vestígios limitados a alguns
interiorizou os cânones gerais de relação e aspectos da personalidade, ou que ainda
de afirmação pessoal, e a sua /., quando c invadem todo o campo vital (Berne,
tal, é /. na convicção profunda da igualdade Romanini).
de direitos e deveres para todos os seres Pode-se acrescentar, falando só do plano
humanos (Berne 1964, Romanini 1990). psicológico, que em qualquer idade e
Do supra referenciado deriva a necessida - também a partir da gravidade do bloqueio
de de ver a pessoa humana como parte do existencial, a pessoa pode romper os laços
seu ambiente, profundamente inserida ne le da pseudo-segurança de adaptação para
e em sua distinção absoluta de qualquer ou - arriscar a vida na auto-eslima e apego
tra pessoa do seu grupo. O dilema entre paritário, amparada na mudança que parece
individualidade e dependência das opiniões um salto no vazio, por meio do
da comunidade se resolve na /. profunda da enamoramento, através da -> conversái>
pessoa, responsável por seu pensar, agir e religiosa, ou de longos anus de análise;
sentir, uma vez que está consciente de si sempre em relacionamento de apego com
mesma e da possibilidade de reconhecer as outra pessoa dotada de pensamento superior
próprias necessidades, sentimentos e e que se oferece com apego recíproco
desejos, de administrá-los com (Romanini). Assim é que, o pequeno pro -
responsabilidade, dentro do respeito a si e blema de adaptação, último resquício da
ao outro (Romanini). adaptação infantil ainda não revisto, ou o
Assim, desde a concepção e durante toda fracasso completo psíquico (loucura), exigem
a vida terrena, o ser humano ê "torna r-se a mesma coragem e comprometimento
com". afetivo-cognitivo para serem superados,
A pessoa psiquicamente sadia tem possi- porque em geral o primeiro é vivenciado
bilidade de se autoconhecer até a penetração como conseqüência da segurança pessoal e o
no mais profundo de si mesma, onde a men - outro é carregado de desespero existencial.
te (psique) se eneonlra com o espírito, viven - Hm um e outro casos o risco da mudança
do a tal ponto sentimentos, intuições, é vivido como risco de morte c todas as defe -
pensamentos, significados, numa sas de adaptação formadas pelo sujeito er-
compreensão cognitiva e adesão afetiva cada gueni-.se contra ela.
vez mais ampla. No cotidiano, porém, se A superação das temidas ''colunas de
exprime, ao menos parcialmente, com Hércules" da identidade em adaptação (que,
comportamentos de adaptação à sua cultura positivo ou negativo que sejam, torna o ser
ambiental e vive na limitação afetivo-
humano pessoa) permite nova e mais pode -
cognitiva das decisões de identificação da
rosa capacidade emotivo-intelectiva; não
idade evolutiva, baseadas na dependência
muda a personalidade, contudo, ainda que
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em sua linha constitucional, a torna mais
complexa e flexível.
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urmui .'RA 64
4
resistível o acorrentou, geme c suspira, can - realidade. Eliol relembra que se existe o
ta. Impulso inato fá-lo aprisionar nas pala- reino do pecado, também existe o reino da
vras o seu sorriso e o seu pranto (...). Em si, redenção. A fé o revela, a mística o
fiara de si, no universo, ele vai cm busca de experimenta, a grande /. o intui c traça suas
resposta, pobre mendigo de imagens e de linhas.
palavras, como o enamorado exausto mas Em suma, o sentimento do mistério. Mistério
nunca desiludido de alcançar o seu amor (...). no sentido de coisa arcana, envolta de
Caminha pelos itinerários do universo, bate sacralidade, que sobrepuja e envolve a reali -
às portas, atraído de modo invencível por dade sensível, mas foge aos sentidos e à inte-
um luminoso paraíso. Mas vive sempre ligência. É a terra dos místicos e dos profe-
corno uma criança desconsolada por não ler tas, é a morada de Deus. "Os poetas (...) ou-
alcançado o seu paraíso. O conselheiro vem a Deus, sentem a eternidade no tempo.
divino o impele adiante, o Verbo não-ci iado Os povos os chamam de videntes, como os
lhe delineia toda beleza transitória com a profetas. Enxergam longe. Sentinelas sempre
luz da sua face".1' alerta nas trincheiras entre o visí\ cl eo
A citação esclarece a relação entre invisível". 13 Mística e /. caminham na mesma
mística e poesia. O místico experimenta a estrada, porém não são a mesma coisa. O
realidade de outra mundo; o poeta traduz em místico, porem, também pode ser poeta.
palavras, —> imagens e símbolos tudo que Quando reveste de poesia as experiências, sua
experimentou de outro mundo. "A poesia é palavra adquire beleza e ressonância
moção de retorno da - > contemplação incomparáveis. Basta lembrar os —» profetas
mística", alirma Jean Barirzi' 1 ' a propósito de Israel, os amores do —> hinduísmo, do ■
de —> são João da Cruz. A mística, sem a > budismo, do —> judaísmo, do —»
poesia, é muda; a poesia, sem a mística, islamismo. Com o advento do cristianismo,
perde em valor e fascínio. na /. mística houve um impulso de
qualidade. O Verbo revelou-se, a literatura o
V. Elementos da I. mística. Entre os ele- recebeu e o anunciou e a sua voz assumiu
mentos que inserem a /. na área da mística timbre absolutamente novo: adentra os céus
indicamos três, os mais característicos. e dá aos sonhos e às nostalgias da
Antes de tudo, o sentimento de desconforto e de humanidade significados que assombram
estranheza diante do espetáculo da vida. pela sua beleza. Palavras que possuíam um
Nada satisfaz plenamente, a realidade se sentido vago e ambíguo - Deus, eternidade,
tragrnenta e se dissolve no tempo, as amor, vida, divinização - agora adquirem im-
expectativas se tornam vãs, os caminhos portância e esplendor. A mística vivifica a /. e
terminam no nada. Uma intuição ataca a a /. cobre de luz a mística.
mente: somos homities violares, viajantes que
se dirigem para oulro lugar, estamos no
NOTAS.* C. du Mos, Che cose la letteratura?,
Florença 1949. 15; : A. Blanchet, lu littérature
exílio. I M vrai vie est absente, sugere" Rimbaud, et le spirituel, I, Paris 1959. 1] ;3 D.M. TuiTjldo.no
enquanto Paul Verlaine proclama que neste artigo de G. Milano. Ribeile di Dio. Il testamento
mundo o poeta é exilado, em allée /vers spirituale di Padre Turoldo, in Panorama, !2
d'autrcs cieux, t) d'autrcs amours. fevereiro 1992: 4 Id., () sensimiei, Milão 1990,
354;s A. Rimbaud. Unasta-
São esses nutres cieux e attires amours que gioneallïnfcrnoelettere, Milão 195!, 110; "J.
inspiram as obras mais signil icativas de Rivière, La crise du concept de littérature, in
toda A Nouvelle Revue Française, t'' lévrier 1924; 7 J.
O segundo elemento, semelhante ao pri- Daniélou. Lo scandalo delia verità, (c. Poesia e
verità), Turim 1964, 55; a Centenas de paginas
meiro c sua pleniMeação, é a inquietação du livro secreto de Gabriele D'Annunzio
metafísica ou ontológica. Hia faz intuir que é tentado de morrer, in // Vittoriale degh Italiani,
preciso buscar a plenitude em an t r o lugar 1995, 321;" B. Matteueei. Per una teologia délie
mitológico, ou seja, no Absoluto. Quase toda a lettere. Il divino nell'umano. I, Pisa 19tí0. 271ss;
10 J. Baruzi, Saint Jean de la Croix et le problème
grande /. c inspirada pen essa inquietação.
de l'expérience mystique, Paris 1924, Ï26; :l A.
Entre os autores modernos citam-se T. S. Rimbaud, Una stagione ail'injemo, in I poc'i
Eliot. A sua visão poética é convite a desviar midedetti, org. C. Fusero, Milão 1959, 709; ,: P.
o olhar da Waste Land, da terra desolada, e Verlaine, Art poétique, in Poésie e prose, org. de
volver para os céus do Absoluto dos Four D. Grange Fiori, Milão ! 992,358;13 B. Matteueei.
Per una teologia délie lettere.,., o.c, 276.
Quartets. Só neles a inquietação se aplaca e o
universo dos sonhos n >mân ticos se torna
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BIHÏ..: !.. Borriello, Mistica e umanesimo, in C.
Ti es-montant, La mistica Cristiana e il futuro
deiTuomo, Casale Monferrato 1988; C. du Bos,
Che cos'è la leltcratiaa?, Florença 1949: M.
Carrouges. L'avven-tura mística delia letteratura,
Roma \ 969; J. Daniélou, Poesia e verità, in Id.,
Lo scandalo delia verità, Casale Monlenaio 1964,
J. L- R M.uilain, Sititazione delia roesia. H
réscia 197V; B. Matteueei, Périma teologia
délie lettere, Pisa 19SU; K. Ralmi -t. I J I parola
delia poesia e H Cristiano, in Id., Saggi di
spiritualité, Roma 1966; G. Sommavilla.
Incogniie reUgio.se délia letteratura
coutempottmea. Milan 196 V
F. Castelli
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LOCUÇÕES - LOUCOS KM CRISTO
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1.1 Mn RAIMUNDO - LUMINOS1 DADE - LUXÚRIA 65
6
Sc o pensamento teológico-espirilual de L Platzeck, IM vida eremittea en las obras dei beato
é substancialmente o do agostinismo fran- R. Udho, in RFsp 1 ( t942), 61 -79, 117-143: L.
Sala Milins, IM philosophie de l'amour chez
ciscano, são integralmente dele, porem, o Raymond IMlle, Paris 1974.
procedimento demonstrativo, o ardor místi co
e o colorido romanesco expressos no livro R. Barbariza
Blanqucma (que se pode traduzir como can- LUMINOSIDADE
dura) intitulado com o nome do protagonista.
O gênero literário desse livro é o de um I, Conceituação. Este fenômeno consiste na
romance complexo em que se entrelaçam vá- irradiação de luz de um corpo místico,
rios gêneros literários. Quer apresentar a fi- especialmente durante períodos de oração ou
gura de cristão que, depois de dedicar-se a de —» êxtase. As vezes a /. toma a forma de
servir os outros (como a Marta do Evange- aura ou coroa que circunda a cabeça do mís-
lho), no final, à semelhança de Maria, "esco- tico. Em outros casos, a lace cio indivíduo
lhe a parle melhor, que não lhe será tirada", fica radiante de luz, ou os raios de luz que
ou seja, vive exclusivamente para amar a emanam do místico iluminam por completo o
Deus até a morte. A quinta parte de aposento. O AT narra que Moisés, ao descer do
Blanqucma é composta pelo // libto dcll'Amico e monte Sinai com as tábuas da Lei, tinha o
deli'Amato, apresentadt » como guia da rosto tão resplandecente que teve que cobri -
contemplação, lendo como perspectiva e lo com um véu (cf. Ex 34,29-35), e o NT narra
meta final a perfeição na união mística cia a transfiguração de Jesus (cf. Ml 17,1 -8).
alma com Deus. K livro de meditação em que Muitos santos passaram pela experiência
o amor contemplativo por Deus jorra com desse fenômeno, como santo Inácio de Loyola,
absoluta espontaneidade ao longo de —> são Francisco de Paula (t 1507), são Luís
qualquer plano sistemático e lógico. Fruto Bertran (I 1581), são Francisco de Sales, são
da oração e da contemplação, ofe rece vários Carlos Borromeu (t 1584) e —> são Filipe Néri.
assuntos de forma ciara, divididos em
versículos, u n i paia cada dia do ano. "Cada Explicação do fenômeno. Se o fenômeno é
versículo é suliciente para contemplar a realmente sobrenatural, pode ser inter-
Deus por um dia inteiro, segundo Carte dei pretado como o efeito da união íntima com
libro dicontemvlazione". Os .^66 alorismas são Deus, ou como o esplendor antecipado de um
de grande beleza, vibrantes de paixão místi - corpo gh >i if icadi i.
ca, impregnados de poesia que é oração e Exemplos de /. e de fosforescência foram
desejo de despojar-se de tudo para possuir o registrados seja em reuniões espíritas, seja
Amado. Não são de fácil leitura, exigem a em determinadas plantas e animais.
atenção do amor e o —» silêncio interior. As Conclui-se que as causas do fenômeno de /,
imagens vivas e sugestivas são apelos para a podem depender de vários fatores, ou seja:
—> liiiL r uagem dos grandes místicos de todas naturais, preternalurais (diabólicos) e
as épocas. sobrenaturais.
Em seu estudo fundamental, De Sen-orum
B:IÍI .: Obras: Obras de Ramon Uidl, on'., por M.
Obrador et Al., 2! vols., Maiorca 1906-1950: Dei beatijteatione et beutomm canotiizutiotte,
Rüimundt Lulii. Opera latina, curavit F. Bento XIV admite a causa natural da /. em
Slegmuller, 5 vols.. Pal nuit. Maioricarum
1 algumas pessoas, mas também que o Icnô -
1969-1977; Raimundi Lidli. Opera latina, edidil meno da /. em alíiuns místicos é de oriuein
Aloisius Madre. Turnholti 1984; Libre de sobrenatural. Existe, pois, a possibilidade de
contemplado en Deu, tomi 2, Palma de Maiorca
1987-1989; Il libro deWamico e deli Amato teve que a causa da /. seja também de tipo
várias edições em italiano: em 1 932 em natural ou diabólico. Por essa razão, é
Lancia no cem Gênova, cm 1978 em Reggi o necessário usar a máxima cautela ao
Emília, em 1991 em Roma; L. Orbetello atribuir o fenómeno a causas sobrenaturais.
(org.), Rainiondo Lidlo, ll libro dei Natale
11'lamento delia filosofia, Florença em 1991. BIH;_.: V. Maivo/y .i,
Fenomeni paranormah e doni
Estudos: A. Bonner — C. Lohi; S.V., in DSAAt mistici, Milão 1990; I. Rodriguez, s.v,. in DF.S
XIII. 171 -187; Carsianoda Langasco, .vu, tu BS If, 1474-3475; H. Thurston, Fenomeni fisici dei
VIII. 175-192: J. de Guibert, U méthode des trois misticismo, Roma 1956
puissances et l'Art de la contemplation de R. Lull.
in#AV/6(1925j, 367-378: P. Juan-Tous, s\u. in J. Aumarm
U'A/v, 328-330; A. Llinarcs. Raymond Lulle,
philosophe, de l'action, Grenoble 1963, F.
Longpré, s.v„ in DTC IX. 1072-1141; A.
Matanic. s.v., InDt'S II, 1473-1474; E.W.
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LUXÚRIA
Introdução. O ser humano, criado em
corpo e alma e marcado na parle física pelo
sexo que o plasma e deline, foi redimido por
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MARIA 670
Deus e, ao mesmo tempo, como mulher cren- história da humanidade" ( R M 17-18). Nesse
te em perene contato com o mistério da sal - contexto parece arriscado atribuir a Af.,
vação, personificado em Jesus, seu Filho, O durante sua vida terrena, a ciência infusa e
sensus fidelium sob o influxo do Espírito, a visão bealíl ica. Pode-se, todavia, supor
percebeu no horizonte da fé não só a exem- nela a experiência, chamada "contato
plaridade de AL, mas também sua presença místico", que imerge no mistério da presença
materna ao longo do itinerário que vai do divina c infunde iluminações especiais sobre
batismo à glória. Abandonados os esquemas a identidade e a missão próprias. >! Não se
represem ativos de outras épocas culturais, podem negara Aí. também os carismas
que faziam de Aí. criança adulta em comuns c os extraordinários, entre os quais
miniatura (atribuição da ciência infusa a profecia c a glossolalia, os quais, aliás, se
desde o seio materno) ou que a projetavam na encontravam com freqüência nas primeiras
eternidade (atribuição da visão beatífica), comunidades. Eles coexistiam com a mística
hoje se insiste em algumas orientações e estavam a seu serviço, c. Enlirn, os Méis
fundamentais, a. Na apresentação da figura são convidados a experimentar em seu
de Aí. não se pode omitir sua vida mística em itinerário espiritual a presença exemplar c
seus aspectos de aceitação integral do materna de Aí., compreendida nas fases de
primado de Deus, de comunhão esponsal comunhão mais íntima corn a Trindade.
com ele c de docilidade ao Espírito Santo. Com efeito, "a piedade para com a Mãe do
Deter-se nos aspectos funciona is, por mais Senhor é para o liei ocasião de crescimento
importantes sejam, como a maternidade em na graça divina, escopo último de Ioda ação
relação a Jesus e sua participação na história pasioral, porque é impossível honrar a "cheia
da salvação a serviço de Cristo, único de graça" (Lc 1,28) sem honrar em si mesmo
mediador, seria parar diante da zona o estado de graça, isto é, a amizade com Deus,
misteriosa que constitui o cu prolnndo de a comunhão com ele e a inabítação do
M . e não se penetraria em seu "coração", em Espírito" [ M C 57). O cristão que se aventura,
seu centro pessoal, no qual, pelo poder do não por caminhos novos, mas pelo trilho
Espírito, realizou-se o encontro de amor entre testado pelo amor, encontra em Af. sábia
Deus, cm seu mistério inefável, e Af., em sua misiagoga, a qua! o introduz no mistério de
resposta livre. A mística é uma chave Deus e em suas vias de salvação.58 O místico
hermenêutica indispensável para o conheci- distinguirá em Al, como em prisma
mento ila Mãe do Senhor. Ela abre o mundo luminoso, as notas características de vida
interior, renovado pelo Espírito e santificado superior e simplificada: o sentido da presença
pela presença do Verbo leito homem, que fez de Deus, porque Aí. é o tabernáculo
vibrar de alegria e de espanto muitos santos e escatológico do Emmanuel, que habita nela
fiéis contemplativos. Apesar da perfeição da (cf. Ml 1,23; Lc 1,28); nabandono total nas
vida mística de Aí., ela não parece distante da mãos do Pai, segundo sua palavra (cl. Lc
experiência dos cristãos, uma vez que "todos 1,38); a liberdade filial, que decorre do sentir-
os fiéis, de qualquer estado ou grau, são se amada por Deus e do deixar-se mover pelo
chamados à plenitude da vida cristã c para Espírito (cf. Lc 1,28.30; At 1,14; 2.4}); e a
a pei teiçâo da caridade" ( I X l 40). b. A vida reconciliação cósmica, mediante o amor
mística de Af. deve ser posta oportunamente materno que acolhe e unifica (cf. Jo
dentro do estatuto de fé da Igreja 19,25-27). Aí. é para o cristão amadurecido
peregrinanle. Com efeito, a bem-avenlurança um perene motivo de cloxologia trinilária,
da lé (cf. Lc 1.45) caracteriza a porque Deus uno e trino fez nela "grandes
personalidade religiosa da Vi ruem de coisas" (Lc 1,49): o mistério salvífico da En-
Nazaré: "Revela um conteúdo ma-riológico carnação ilo Vci bo e a gi aça de uma lé
essencial, isto é, a verdade sobre Aí., a qual se exemplar e indefectível. Essa doxologia
tornou realmente presente no mistério de atravessará os limites do tempo para tornar-
Cristo justamente porque creu'" ( RM 12). se louvor unânime ao Deus santo, poderoso e
Ora, se a fé contém o aspecto iluminativo misericordioso, que exalta os humildes (cf. Lc
por ser "conhecimento da verdade" (lTm 2,4; 14,11; 18,14).
2Tm 3,7), ela difere da visão definitiva e
conserva o caráter enigmático: "Agora vemos Nájrvs: : Os dois I H iineiros versículos Jo
em espelho e de maneira confusa, mas, Magnificat apresentam no lugar do simples
depois, veremos face a face" (ICor 13,12). Isso "eu" :is duas expressões "a minha alma... o meu
espirito" (I.e 1,6-47) e que se equivalem,
vale também para Af., que não compreendeu segundo a lei poética do paralelismo. Esse
as palavras do Filho (cf. Lc 2,50) e sofreu significado "toda a minha pessoa com nota tie
"fadiga particular do coração" ou "noite da fé", intensidade e de solenidade (cl. A. Valentini.
melhor, a mais profunda kenosis na lc, na I I M ag n if ic at. Genere let terá riÍ K Struttura.
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677 MARIA MADAL Roma 1974; Id., Santa Maria Maddalena
de'Pazzi; esperienza e dotthna, Roma 1974; A.
de várias fases, num esponsalício com o Vei bixigghe, lhe Image of the Trinity in the Works
divino, mas a história de pessoa arrebatada a of St. Maty Magdalene de' Pazzi, Roma 1984.
reinos místicos, contra a sua —> vontade, e A. Verbrugghe
que chegou ao matrimônio místico ainda LNA DH PAZZI Isanta) MARITAIN JACOUES li RAÍSSA
jovem.
MARITAIN JACQUES E RAÍSSA
III. Ensinamento espiritual. A sua posição
teológica não estava totalmente de acordo I. Vida. Dois jovens de vinte anos,
com a visão teológica de seu tempo. Aí. não Jacques (1882-1973) e Raíssa (1883 -1960), de
conseguiu compreender por que Deus não temperamento e origem bastante diferentes.
poderia induzir urna alma a converter-se. Ela Ele, educado no protestantismo liberal; ela,
afirmava que a alma, no plano de Deus, é judia, de origem russa, nacionalizada
superior ao estado no qual loi criada. Cos- francesa. Nem ele nem ela praticavam sua
tumava representar a pureza corno a fonte religião. Os dois atormentados pelos mesmos
geradora da existência trinitária. Sustentava problemas, aos quais os professores da
que a Trindade foi imperfeita até o momento Sorbona (Paris) não sabiam dar respostas:
da Encarnação, e afirmava que "tinha visto" existe uma verdade objetiva? Qual é a
a unidade da Trindade, a qual se manifesta finalidade da vida? Por que o —» sofrimento
só a poucos seres humanos eleitos. e a injustiça? Jacques, formado em filosofia,
Dizia que o Pai é o artífice da Trindade, freqüenta a faculdade de ciências, onde se
tornando as outras duas Pessoas iguais a si encontra com Raíssa. Logo sc tornam amigos
desde a eternidade, e dava a isso a inseparáveis. Têm o mesmo interesse pela
designação de "união transformante". filosofia, pela arte e pela poesia, os mesmos
Afirmava que as virtudes personificadas ou desejos de justiça, os mesmos tormentos
abstrações como, por exemplo, a sabedoria, a interiores. Um imenso vazio interior toma-os
bondade e o "amor harmônico" de Deus. infelizes. Sua angústia metafísica os leva á
podem ser considerados como guia que beira do desespero. "Se devemos renunciar a
conduz a alma a ele. Por outro lado, encontrar um sentido paia a palavra verdade
algumas de suas idéias não foram e uma distinção entre o bem e o mal... então
plenamente aceitas em seu tempo, como, por não é possível viver corno seres humanos."
exemplo, a da Imaculada Conceição. Recusavam-se a viver nas trevas, procuravam
Não há duvida de que a grande quantidade a luz.
de mensagens, de estudos e de análises que se Queriam-se muito. Aquele amor verdadei-
poderiam fazer de seus > símbolos e de suas ro e profundo, junto com um desejo imenso
referências permanece como patrimônio da verdade, salvou-os do suicídio. Uma con-
riquísisimo para a Igreja de todos os tempos. ferência de H. Bergson, professor no Coltege de
Ft atice, impressiona-os. O conhecido filósofo
Bnu .: Obras: F. Nardoni (org.), Tuttele opere di
desperta neles o senso do absoluto, ao
Santa
Maria Maddalena de' Pazzi. 7 vols. Florença 1960- afirmar que o homem pode conhecei a ver-
66; .../ (piaranta giorni. Trascnção do original coin dade e, mediante a —>intuição, atingir o —*
in Irtxtução c notas de O. Stcggink, Roma 1952. Absoluto. Os dois se sentem tornados de
Conservam, ademais, vinte e sete Cartas e um entusiasmo transbordante: a vida vale a
opúsculo de Instruções e Avisos dados às noviças. pena.
Estudos: E. Ancilli, s.v, in DSAM X, 576-588; Id.,
Santa Maria Maddalena de' Pazzi- I'stasi, Dot trina, Decidem casar-se. Caminharão juntos à
Injlusso, Roma 1967; G. von Brockhusen. S M , in procura da verdade. Batem à porta de L. Bioy,
WMy, 343-344; F Caiidelori, Ihnisterodi Maria neíla famoso escritor católico anticoníormista! Para
vita e itelle opere di aquele "profeta do absoluto'' existe uma só
Santa Maria Maddalena de' Pazzi. Roma 1985; C.
Caiena, Santa Ataria Maddalena de' Pazzi tristeza, a de não ser santo. Por isso ele não
cattuehtana; orienta menti spirituals cã ambiente se põe a discutir sobre os problemas lilo-
in cui visse, Roma 1966; F. Lai kin, A Study sóficos dos dois jovens visitantes, mas
o f f '.estas i cs of the Party Days of St. Maty enfrenta logo o problema essencial: a ■>
Magdalene de' Pazzi, mCarm I (1954), 29-72; P. santidade.
Moscheni -• R. Second in, Maddalena de' Pazzi,
misticadell'amore, Milão 1992; B. Papasogli - B. Põe-se a ler em voz alta algumas páginas de
Se-condin. In parabola delle due sjtose: vita di —> Hildegarda de Bingen, de —> Ângela de
Santa Maria Maddalena de' Pazzi. Torino 1976; Foliimo e do místico —> Ruvsbroeck.
G. Pozzi. Maria Maddalena de'Pazzi- Le. parole As obras-primas de humanidade e de >
dcll'estasi, Milão 1984; B. Secontlin, GesU
Cristo-Chiesa-Vita Religiosa: esperienza e dotttina graça que são os santos comovem L. Bioy.
di Santa Maria Maddalena de' Pazzi f t 566-1607), Chora de alegria. A fé viva do escritor ancião
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MATRIMÔNIO ESPIRITUAL MÁXIMO, O CONFESSOR feanlo)
perfeição 16, 10; ^Castelo interior M l , 1,3; ]-lbid.,
685 1,5:,f! fbid.;17 Ihid., 1,8;
1 * João da Cruz, Cântico espiritual B, 20,1; ,g
Joã da Cruz fala dc "trrandc Teresa de Jesus, Castelo interior VII, 2,3; ~ ü João
estabilidade da alma nesse estado", e da Cruz, Cântico... o.c, 22,3;:I Teresa de Jesus,
nãoo teme afirmar que, por esse motivo, ela Castelo interior'VII, 2,3; cf. J. de Guibert.
tem "um ensaio dc vida eterna...", porque "o Theologia spiritualis ascética et mysiica, Roma
espírito e o sentido, tornados vivos em Deus, 1946, 363; " João da Cruz, Chama viva de
amor II, ^4; :A ihid.. Prologo, 3; Ihid.;2- lhid.,JU,
o saboreiam vivamente. Isso equivale a 24; - Teresa de Jesus, Castelo interior VII, 1,6;
saborear o Deus vivo, istoé, a vida de Deus ou 27 Ihid., 2.4; :* João da Cruz, Cita-ma..., o.c, III,
a vida eterna".' 1 Essa estabilidade permite a 24;29 Id., Cântico..., o.c, 26, 11; cf. E. Pacho, Temi
ele dizer também que "esse estado não se foudamentali i n san Giovanni delta Croce, Roma
verilica sem que a alma seja confirmada em 1989, 341; w João da Cru/.. Cântico.... o.c.,
graça".12 Teresa de Jesus lala com alguma 20.10; 31 Id.. Chama..., o.c, 1,6; 32 Id.( Cântico...,
o.c. 22,3; Teresa de Jesus, Castelo interior VII,
hesitação da segurança da vida eterna. "Essa
2,9: u João da Cru/, ( antico..o.c, 22,3; w Id.,
segurança - escreve ela -deve ser entendida Chama.... o.c. Prólogo. 3; fbid.; ■ ' Teresa de
no sentido de que Deus seguia a alma pela Jesus, Castelo interior VII, 2,1.
mão, e enquanto ela não o ofende". 1 - São
João da Cruz, continuando sobre esse tema, BiBL.: P. Adnès. 5.u, in DSAM X, 388-408;T.
afirma que o m. é o grau mais sublime "ao Alvarez, SA'., in DES II, 1542-1547; S. Bernaldo,
Sermones in Canticum, Sermo 82 e 12: Cirilo de
qual a alma pode chegar nesta terra"; 34 em Jerusalém, Cate-chesis de baptismo: PG XVI B;
outras palavras, nesta vida não se dá grau J. Daniélou. Bibbia e liturgia. Di teologia bíblica
mais elevado do que a transformação em dei sacramenti e delle feste seconda i Padri delia
Deus. O santo precisa, porém, esse conceito, Cbiesa, Milão 1958; P. Din* zelbacher,
afirmando que o caminho do amor não se Btuntmystik, in U'Àfv. 71-72; J. de Gui* bert,
detém nesse grau, porque "com o tempo e o Theologia spiritualis ascética e! mystica, Roma
Î946;Greuú]íoili Nissa,In Canina Camicorum: MG
exercício, ele pode muito bem tornar-se mais
785; A.M. Magno! ti, I*: Chie sa s p o s a di Cristo,
sublime e aprofundado no amor".* ? O amor in Aa.Vv., IM Chie s a nel suo m i s tem, Roma
da esposa deve unir-se ao amor do Esposo, e a 1983; Ongenes, IlomiUae i n Genesim, Horn. X:
distância da terra ao céu é infinita; portanto, MG 88 L); R. Penna, // mvsterian paotino,
a alma, atraída por Deus, pode crescer sempre Brescia 197S; A. Royo Marin, Teologia delia
mais no amor a ele até que se una a ele na perteziotie C r is tian a, Roma 19656, 897-912: A.
—> visão beatífica. Tanquercy, Compendio di teologia a:'ceuca e
mística, Roma 1932; Terlulliano, De anima: ML
O santo tenta fazer compreender esse t. II. c. 41 BC.
crescimento com um exemplo: com a alma
"acontece o que acontece com a madeira, a S. Pnssanzòú
qual. embora tomada pelo fogo, quanto mais
areie, tanto mais inflamada e incandescente
se tor-
» .16
na A essa realidade alude também
santa Teresa com poucas, mas
significativas palavras: "Esse divino e MÁXIMO, O CONFESSOR (santo)
espiritual matrimônio, creio que aqui
embaixo não pode efetuar-se em toda a sua I. Traços biográficos. Ao que tudo indica,
perfeição".v; nasceu em uma pequena vila de Golan, por
NOT*S: 1M. Magnolfi, íji Chiesa sposa di Cristo, volta de 58Ü. Órfão desde muito cedo, foi
in Aa.YV, Í M Chiesa nel suo misiero, Roma 1983, confiado ao mosieiro palestineuse, que o for-
136; * Cf. R. Penna, //mvsterionpaotino, Roma mou no pensamento de —> Orígenes e na
1978, 76; x Tertulliann, De anima: ML I. II, c. espiritualidade de Evágrio. Em 614
41 BC; 4 Oríge-nes, ffomiliae in Genesim: MG, encontramo-lo monge no mosteiro de
Dom. X, 88 D; * Cirilo de Jerusalém, Caieehesis
de baptismo: MG XVI H; 0 J. Paniélou, Bibbia e Crisópolis, nos arredores de Constantinopla.
liturgia. Di teologia bíblica dei sacra menti e delle Alguns anos mais tarde, depois das invasões
teste secando i Padri delia Cliiesa, Milão 1958, persas, é exilado em Cartago, no mosteiro de
255;7 Gregório di Nissa, I n Can-tica Canticorum: Eucratas, onde se tornou discípulo do futuro
MG 44, 765 A; cf. P. Âdnés, 5 .v., in DSAM X, patriarca de Jerusalém Sofrônio (t 638), o
392; H S. Bernardo. Sennones in Camicum. Sermo qual influirá sobre o defensor da ortodoxia,
83,3 e 6; * Id., Sermo 22,11; 10 P. Adnès,
Manam. „t a.c. 392; T. Alvarez, sv. in DES II, fazendo-lhe conhecer a espiritualidade de
1543-1544; *1 Teresa de Jesus, Castelo interior Macário. Entrementes, o Império, contanto
VI, 4.4; u Ihid., VII, 1,3. 13 Id., Caminho de que possa salvar a unidade, aproxima-se dos
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MATRIMÔNIO ESPIRITUAL MÁXIMO, O CONFESSOR feanlo)
seguidores do monotisismo, chegando a
compromissos doutrinais como o
reconhecimento de uma só operação
(monoergelismo) ou de uma só vontade
(monotelismo) em —> Cristo. Vi. procura apoio
em Roma, pedindo ao papa Martinho I (t
655) que convocasse um concílio. Isso
realizou-se em 649, com o Concílio Romano,
que sancionou as duas vontades de Cristo, o
qual "queria e realizava a nossa salvação
Na Bíblia grega, o termo m. tem presença Vida 18,2; & S. João da Cruz, Subida do Monte
irrelevante; na Vulgata latina, esse termo Cannelo II, 14,11; III, 13,6;7UI. 19,3.
(mens) ocorre cerca de vinte vezes, com B IBI ..: G. Bateson, Mente e natura, Milão 1984;
J .S. Bruner, I J X mente a piit dimension!t Bari
acepções da fala popular (cf. Mt 22,37: 1988; L, Ehrcndried, Dall'educazione all'equilibrio
diliges... Deum... tolo carde,., m. lua; 2Tm 3,8: eleito spirito, Milão 1985; H. Gardener. I M nuova
Homens de m. corrupta, réprobos relativamente scienza delia mente. Milão 1988; Id., Formae
à fé). A irrelevância conceituai bíblica continua mentis. Saggio sullapluralitàdellintelligenza, Milão
nos Padres apostólicos. A — > teologia cristã 1987; J . A. Kárhy- J .B. Biges, Cognition,
deu logo ao termo m. também notas divinas: o Development and Instntction, Nova York 1980;
G.G. Pesenti, s.u, in DISS II, 1580; H. Puttnarn,
próprio Deus é a m . eterna. Também - > Minds and Machines in Philosophical Papers, Cam
Cristo, Filho de Deus, é wm. (naus), a Palavra bridge-Nova York 1975.
(Logos) do Pai. A m. humana, que é à imagem
de Deus, quando 6 puta do pecado, torna-se O. G. Pesenti
receptiva da força divina para penetrar a
verdade das coisas e possui a filosofia amor da
sabedoria para crer e contemplai* as verdades
de Deus.
> Agostinho usa o vocábulo m. para designar
o Verbo divino {Logos), no qual estão as razões
estáveis e imutáveis das coisas, ] e para indicar MERTON THOMAS
também a parte superior da alma humana,
além da sensitiva e orgânica. 3 Como sinónimos L Vida e obras. Aí. nasceu em 31 de janeiro
de m, ele emprega os termos espírito e ânimo. de 1915, em (Vades (Pirinéus orientais,
Depois dele, outros escritores sacros dão à França) de pai neozelandês e de mãe ameri-
palavra m., além do significado divino, cana. Morreu em 10 de dezembro de 1968 ern
conteúdos genéricos, próprios ou figurados, ou Bangkok (Tailândia), onde se encontrava para
de harmonioso sistema teológico {mens divi participar de um encontro inter-religioso entre
Auguslini). Em seguida, m. está por alma católicos e budistas. E está sepultado no
humana; assim pensam Tomás de Aquino,3 cemitério do mosteiro de Nossa Senhora do
muitos escolásticos e outros (Campanella, Getsêmani no Kentucki (USA).
Descartes, Spinoza, empiristas ingleses). Seus pais são artistas sempre â procura da
beleza. Do pai, Thomas herda a inclinação à
II. Na teologia mística, —> Boaventura usa pintura, que não cultiva nunca com seriedade.
o termo w. como sinônimo de alma, em sua Sua juventude ó exuberante, generosa, sem
obra f ilosófico-teoiógico-místiea. Itinerário da hipocrisia e sobretudo rica de vitalidade
m. para Deus, na qual diz: "Todas as criaturas transbordante. Adolescente, professa-se ateu,
deste mundo sensível levam para o Deus vivendo sem muito escrúpulo pelos princípios
eterno a alma do filósofo e a do contem- morais, porém uma série de eventos o conduz
plativo".4 —> Teresa de Ávila, ern todas as gradualmente a Deus.
suas obras, tem um só texto com a palavra m.: Inicia os estudos em liceu francês c se es-
" A teologia mística fala da —> união com pecializa em literatura inglesa. Prossegue os
Deus (com Detis na oração contemplativa), estudos em Cambridge (Inglaterra) onde leva
mas eu não conheço seus lermos e nem sei o vida desordenada e dissoluta. Muitos contem-
que seja a m., nem a diferença entre a alma c porâneos consideram-no "suspeito" por causa
o espírito";" sao-lhe mais familiares os termos de suas idéias consideradas subversivas. Por
inteligência e pensamento. —> João da Cruz esse motivo é forçado a se transferir para Nova
emprega o vocábulo wi. cerca de vinte vezes York, na Coiumbia Uníversity. Os encontros
com o significado de potência cognitiva ou de que tem com o corpo docente dessa
alma, e afirma que elas podem elevar-se a Universidade, particularmente com o católico
Deus no estado de —> contemplação no qual Dan Walsh, levam-no a interessar-se pelo
são iniciadas,* ou podem tornar-se obtusas, cristianismo e o fazem descobrir que tal reli-
quando recuam para os prazeres das realida- gião se volta para os pequenos, os humildes,
des terrenas.7 os perseguidos. Esta descoberta dá maior sig-
nificado á sua abertura social, ao seu esIorço
NOTAS: 1 S. Agostino, /Jfc divinis auaestionibus,
83,46;: Id.. De Trinitate, 1,15,7; 1 Cf. STii I, q. 16, de viver o evangelho para além de toda dis-
a. 6. ad 1;4 S. Bonaventura,Itinerarium... criminação social. Quando chega ao douto-
(editiominor) 1,2,309-310; 5 Teresa dc Ávila, ramento, já é católico.
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MÉTODOS DE ORAÇÃO Deus). postulação ou pedido, deprecação ou
invocação da misericórdia e do socorro
dilação, radicada, aliás, na tradição mística, divinos, e ação de graças.12 Posteriormente
foi aplanada pelos estudos de K. Tílmann nos foram propostas outras 698
anos sessenta e vem assumindo a qualificação
de oração profunda. definições: oração mental (para indicar a di-
Nesse âmbito, como dissemos, houve to- mensão interior); oração de simplicidade,
mada de consciência maior da exigência de de repouso, de silêncio, de fé, de
enraizar a oração em Iodas as dimensões da presença; oração de união', oração do
pessoa, que è espírito, psique e corpo, e em coração ou de Jesus (com referência ao
todos os seus dinamismos. Daqui veio desen- hesicasmo do Oriente cristão) etc. Foi
volvendo-se sempre mais claramente o dis- sublinhado também que a oração entendida
curso, clássico, aliás, sobre os —> sentidos assim transborda do tempo consagrado
espirituais, e o discurso, sob certos aspectos expressamente a ela e se traduz em um
mais novos, mas não inédito, sobre órgãos estado, o estado de oração ou de oração
psico-físicos chamados também centros continua, segundo o convite insistente que
subtis ou vitais." Além disso, foi possível nos vem da Escritura para rezarmos sem in-
constatar a influência da oração profunda terrupção (cf. Lc 18,1; lTs 5,17).
sobre o plano psicossomático c\ por reilexo,
sobre o espiritual, seja harmonizando-.se a VI. Métodos de contemplação e importância
esfera corpórea, emocional e mental, seja da "ação". O ponto de chegada de todas as
reequilibrando-se os dois hemislérios experiências de oração é a —> contemplação,
cerebrais: o racional (anonas) c o intuitivo ensttítica ou extática, segundo as tradições
{anima). Tais êxitos serão procurados espirituais. Sabe-se que em âmbito teísta
explicitamente pelo que se aplica à meditação prevalece a segunda, a qual, por sua vez, pode
como prática por si mesma (meditação ser vivida em momentos "raros e fugazes" de
sapiencial), mas não faltarão no que se dedica iluminação interior, ou no silêncio e na
à oração interior, orientando-a para a escuridão que geralmente envolvem nossa
contemplação catafática ou apofática de Deus relação com Deus. No tocante a essa relação,
(meditação religiosa pmpriamcincdka). os místicos preferem geralmente a via
Com referência i\ meditação, tcgislrou se apofática ou inefável e nos advertem que que-
principalmente o encontro entre as metodo- rer captar os traços fulgurantes do rosto divi-
logias elaboradas em âmbito ocidental e as no é como tentar reter o ar "cerrando o pu-
praxes meditativas asiáticas, havendo não nho". 11 Essa experiência indica-se como
poucos ponn >s comuns (reconhecidos princi- coroamento da prática espiritual pelo Cate-
palmente entre o zazen e os ensinamentos do cismo da Igreja católica, que reconhece o
autor anônimo da Nuvem do não- vértice da oração na "atenção" silenciosa e
conhecimen-to) e as contribuições recíprocas. amorosa a Deus, sendo a "atenção a ele
Feitas as devidas reservas com relação aos renúncia aoeu" (n. 2715). Eoque em anos
princípios inspiradores antropocêntricos, recentes foi proposto com a expressão
monistas ou atefstas subjacentes a não "procura orante do nada".14
poucas tradições biduístas e budistas, a Não causa maravilha, sendo antes aspecto
incuhuração de tais passagens em âmbito confortante da comunhão radical entre os
cristão é fenómeno carregado de promessas homens, notar que para esse cimo podem
para o despertar da espiritualidade no velho convergir tanto os arrebatamentos contem-
mundo e também para a causa da —> plativos de sinal teísta como os percursos
evangelização. introspectivos dos que imergem no silêncio
existencial diante do Mistério. O qual se apre-
V. Métodos de oração. Se levarmos em senta como nada do lado do homem, mas, à
conta o deslocamento da fase introspectiva luz da revelação, constitui o tudo do lado de
para a unitiva, ou da lase reilexiva para a Deus, e é o próprio Deus. Trata-se da dialética
afetiva, compreenderemos que nesse ponto das bem conhecida da literatura mística universal,
metodologias da prece se passa para a oração. a qual, às vezes, usa o termo vazio, em lugar
Define-se com pitu alidade de termos, aptos de nada, e nota que nesse "vazio das
para mostrar todas os seus possíveis aspectos. potências... Deus é perceptível", que ele é "sa-
Baseando-se no texto bíblico, os autores boreado secreta e eficazmente". 15
antigos dividiam a oração em quatro fases: A contemplação não é experiência separada
oração (entendida como diálogo ou da vida, mas anda ao lado da ação, entendida,
confahulatto spirítualis com esta última, como sua premissa indispensável
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e como seu êxito necessário. Expliquemo-nos.
Alguns autores espirituais inserem a ação
entre a oração e a contemplação, e atribuem-
lhe o sentido tradicional de ► ascese, quando
se traia do trabalho inte
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MÍSTICA (notas históricas)
Eckhart e a João da Cruz) numa atitude espi- desejo do homem de viver só em Deus, e
ritual na qual as obras da justiça brotem de também o desejo de Deus de libertar seu povo
vida interior profunda. e dar-lhe aquela liberdade social, política e
O mesmo esforço se encontra em M. Delbrel econômica que constitui um dos objetivos da
e sobretudo em Dorothy Day, que representa mística tia ação. Na linha da atenção ao mun-
melhor o ideal cristão do amor em ação e da do leminino, Rosemary Radford Ruether, na
união entre vida interior e serviço ao obra Sexo c dialogo com Deus (1983), formulou
pr"óxinií». uma teologia sistemática, na perspectiva das
As novas experiências místicas receberam mulheres, tendendo ã avaliação positiva do
de alguns teólogos sua sistematização. Entre corpo humano como "espaço de salvação"
os mais importantes devemos mencionar —> (Porcile Santiso) e como lugar de comunhão
K. Rahner, para o qual todos os seres hu- com Deus.
manos, em todas as suas ações, são positiva- Consideradas todas essas experiências e
mente orientados para o mistério de Deus. doutrinas contemporâneas, somos convidados
Restabelecendo os ensinamentos dos Padres a superara dicotomia sutil entre o —> sa-
gregos, insistiu no conceito segundo o qual a grado e o prol an o, em lavor da espiritualida-
graça não é só realidade para conseguir a fe- de de encarnação, na esteira da Encarnação
licidade futura, mas também, e mais ainda, a mística mais completa: a do Cristo redentor.
comunicação gratuita de si da parte de Deus, Enfim, o século XX viu o aparecimento da
que diviniza o homem em lodos os aspectos cie mística comparada, que o Concilio Vaticano II
seu ser. Toda a história humana e todas as d encorajou com estas palavras: "Desde os
tmensões da existência humana são circun- tempos mais antigos até hoje encontra -se em
dadas dessa graça: por isso, todas as coisas vários povos certa sensibilidade àquela força
potencialmente revelam o mistério de Deus, e arcana que está presente no curso das coisas
todo esforço humano autêntico pode apro- e dos acontecimentos da vida humana e, as
ximar o homem de Deus e contribuir para a vezes, é reconhecimento da Divindade supre-
dilusão de seu reino. A Igreja, por meio da ma ou mesmo do Pai. Sensibilidade e conhe-
Escritura, da liturgia e do ensinamento, ajuda cimento que penetram sua vida de prol undo
os cristãos a tomar consciência de sua ex- senso religioso" (NAE 2 , ) . Restabelecer essa
periência de graça. sensibilidade foi, portanto, o dever primário da
Pelo mesmo tempo, B. Lonergan elaborou assim chamada "mística comparada", que teve
um método sistemático que, partindo da —> um primeiro tempo de sucesso com as
conversão pessoal, promove o crescimento conferências de R. Otto, em 1V24, noOberlin
espiritual até a união com Deus, à qual se College, em Ohio, reunidas depois no livro
chega mediante um processo enformado e Mística oriental, mística ocidental. Nessa obra ele
guiado pelo amor de Deus e pelo Espirito propõe a comparação entre Eckhart e o mestre
Santo, que opera no íntimo do homem. tibetano Sankara (artífice do renascimento do
Por isso os católicos podem ver com sim- bramanismo na India, no século VIII d.C). As
patia os psicólogos e os meios próprios da conclusões introduzem ao debate seguinte,
ciência psicológica, como os que foram pro- sobre a unidade ou a multiplicidade da
postos por W. James sobre a experiência reli- mística.
giosa; por E. tirikson sobre a formação da Entretanto, H. Le Saux fazia a experiência
identidade; por A. Maslow sobre a atualização viva do contato com a mística oriental.
do si-mesmo; e por C. Jung sobre o processo Ainda na primeira metade do século XX,
de individuação. Com efeito, os psicólogos Robert C. Zaehner (Mysticism Sacred and Profan)
podem contribuir para reconhecera —> traçou a distinção entre religiões proféticas -
patologia religiosa e para compreenderem os cujo paradigma é o judaísmo antig< i - mas
mecanismos de desenvolvimento da fé nos incluindo, além do cristianismo, lambem o
quais se insere a graça. zoroastrismo c o islã, e outras religiões, cujo
A teologia mística do século XX recebeu paradigma é a experiência hindu, considerada
uma notável contribuição também de A. Stolz, como o monismo substancial. Para ele existem
de —► R. Garrigou-Lagrange, de H. Urs von três formas de mística: a teísta, a monista e a
Fialthasare de H. de Lubac. do "um-no-todo". A ele se opôs, primeiro, o
Na América Latina, G. Gutierrez c outros — filósofo William T. Stace íinicio i!os anos
> teólogos da libertação, como L. Boff e J. sessenta!, o qual distinguiu a mística além do
Sobrino, releram as Escrituras do ponto de tempo, do espaço e das relações da mística
vista dos oprimidos e encontraram no Êxodo o menos elevada. Depois opôs-se a ele N.
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MÍSTICA (notas históricas) 712
(Ninian) Smart, para o qual,
fenomenologicamente, o misticismo é o mes-
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MÍSTICA JUDAICA célebres melodias em honra do Eterno. Os
cantos e as melodias compostos pelos Mes 734
energias espirituais, afastando dele o entu-
siasmo dinâmico próprio da religiosidade. "O 1res do has.sidi.smo se tornaram célebres entre
homem deprimido se fecha em si mesmo e não os judeus da Europa oriental. O R. Nachman
é solicitado e mo vicio a tornar o caminho que de Breslau dizia aos seus ouvintes: "Reparais
leva ao culto di\ ino. O homem deprimido, como orais? E possível servir a Deus só com
fechado em si mesmo, perde sua força vital e palavras? Vinde, ensinar-vos ei um modo novo
não se inflama de entusiasmo espiritual" de orar. não com palavras, mas mediante o
(Nachrnan de Breslau). O homem deve agir canto. Nos cantamos e ele, o Santo Bendito tio
sempre para seu Criador, deve, portan to, alto, compreenderá o nosso canto. O meio
proceder de modo que dê prazer e satisfa ção ao principal de comunhão com o Um, Bendito seja
Santo Bendito. O homem deve agir vivendo sua ele, pode ser empregado por esse mundo baixo
religiosidade de modo ativo e direto, a fim de mediante a melodia e a música... ". R.
causar prazer a Deus, porque esse é o fim Pinechas di Korelz costumava dizer: "Senhor
divino para o homem, isto é, que ele viva do mundo, se eu losse músico, não te
viva/mente a vital idade divina. A alegria permitiria viver* lá ern cima, mas te forçaria a
constitui, portanto, a entrada, a aproximação vir para baixo e ficar conosco*. O canto e a
mais apropriada para alguém avizinhar-se de melodia se tornaram parle integrante do
Deus, a aproximação do litt-Sof (do Infinito"), ensinamento hassídico, de tal sorte que em
que está no Ente. Obviamente a alegria não é a toda corte de Rebbe havia músicos e coros
dos tolos e dos sensuais, mas o entusiasmo prontos a registrar todo tom novo e a di-fundi-
dinâmico que desperta o fundamento divino lo entre seus adeptos, a fim de tornar mais
que está no homem. Essa concepção da alegria receptivos e mais vitais sua fé eseu entusiasmo
como processo dirigido para o culto divino é o pela vida. No ensinamento lubavitch -
foco do pensamento hassídico. Recordemos que movimento hassídico moderno alirma-se que a
esse conceito de aleu.ria tem precedentes no voz estimula a kavaná: "A língua, dizia R.
ensinamento rabí-nico (T. B. Shabat 30b). Sheneur Zalman, pode ser comparada à pena
Narra-se que Rabbá, do coração, o canto á pena da alma". R. 1 lillel
antes de começar o estudo, contava coisas en - de Pareiz dizia; "Aquele que não tem o
graçadas, c Rashi diz que o coração dos Mes- senriîiiciilo musical não pode compreender
tres se abria ao estudo da Toni por causa da o valor do hassidismo". O bassidismo teve e tem
alegria que estava neles. Os Mcsi res julgavam um grande sucesso no mundo hebraico de
que é somente a alegria que permite notar ontem e de hoje. Digamos, ern todo caso, que o
aquela elevação e aquela aplicação que são bassidismo não modificou substancialmente as
necessárias para o estudo. Enquanto o cora ção formas tradicionais mediante as quais o
do homem for insensível, e seu espírito, judaísmo se exprimia, isto é, não modificou
pesado, não pode resplandecei" (acender-se) nem a Toni, nem o modo de viver e praticar o
nele a luz divina. Essa alegria é a alegria de judaísmo mediante as mitzxot (normas da vida
mitzvd. Entre < is váru >s expedientes ã dispo judaica). O bassidismo loi e é u m movimento
sição do liassidismo para chegar ao coração de místico que tentou introduzir um modo de
seus seguidores e para entusiasmá-los es- sentir a relação com a divindade não como um
tavam a música, o cântico e a melodia. Graças fenómeno elitista, isto é. pró] nrio de algumas
à melodia, os Rebbehn conseguiam sacudir as pessoas, mas como um processo humano
fibras interiores de seus ouvintes. Graças à envolvente e coletivo. Aos judeus das aldeias
melodia, eles tendiam não a enfraquecer ou a ucranianas ele levou o conforto e a alegria de
distrair o interesse de seus discípulos, mas a lazer parte de uma comunidade humana
purificar seus corações. Devemos recordar que aberta, ã qual era ensinado que tudo é divino,
esse sistema de envolvimento se encontra que Deus está próximo daqueles que o
também em muitos textos clássicos do procuram, e, por tanto, que todo hebreu que
hebraísmo, primeiro entre todos na Bíblia, nos quisesse, podia ser um bus si d.
Cânticos de Moisés e de Débora e no cântico
do Rei Salmista (SI 103,35), que foram Rim ... S, Bahout-G. I.iinentani (org.J. Nachman
retomados pelo Tabnud. Conta-se que havia di Rrcstav: ! M Principessa smanita, Milão 1981; R.
Banjil, I Á Í cultura, c/r ehraisti e il mola delia
uma harpa suspensa à cabeceira do rei
Kahaíà, in Aa.Vv., (di ehrei in Itália nellepoca dei
Davi e que, à meia-noite, quando o vento so- Renascimento, i loi cava 1990. 127-154; M.
prava, fazendo vibraras cordas do instrumento, Buber. U i le\i-íieitda dei f í a a l Shent, Ploicnca I
o rei cantor despertava e compunha suas 925, Id-, / raccanti dei chassidim, Milão 1962;
J. Dan, The fíasidic Tale (em hebr.) Jerusalém
1975; Id., The Anciem A h s - ttctsm ( i n tiebr.). Tel
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Aviv 1989; íd., K a b a f à Cristiana e ticerca sulla
Kalxdâ (em hebi), Jerusalém 28.2.1997; A. Di
Sola, Cabala e mística yjtulaica, Roma 1984;
Berdjaev: cada cristão deve "suportar os so- Essas formas são ião diferentes que o ser
frimentos como a penetração de luz, como humano moderno deixa a cada uma seu campo
alguma coisa que possui sentido no âmbito do específico. Elas não se comunicam entre si,
nosso destino". como, então, harmonizá-las? Soloviev não se
contentou com uma justaposição "enciclo-
V. A necessidade do conheci mento es- pédica" das várias noções, mas se deu conta
piritual. Todos os seres humanos buscam a da insuficiência de uma summa metafísica,
verdade, porem, para encontrá-la, seguem pois a verdade é metalógica. Assim, Soloviev
caminhos dilerenles, disso dão testemunho decidiu-se por outro ponto de partida: a bele-
os próprios termos lingüísticos. A aleíheia za. A visão estética não é a evidência de uma
grega significa "descoberta", o emes hebraico é "idéia clara e distinta da outra", como dizia
a aceitação de uma palavra dita. O eslavo Descartes. Ao contrário, é a visão "de um no
istina não só exprime "o que existe" (cf. o la- outro". Paia ilustrar, Soloviev cita uni exemplo
tim est e o alemão ist) mas também "o que concreto. Do ponto de vista químico, o carvão e
respira" (cf. asmi, asíi, do sânscrito e atmen o diamante são iguais. Por que, então, o
do alemão). Conhecer a istina é, pois, entrar carvão é considerado feio e o diamente um
em contato com realidade viva, concreta e tesouro de beleza? No primeiro só se vê o
dinâmica. Por isso, os russos estão firmemente carvão, enquanto no diamante vê-se refletida a
convictos de que a verdade está além das luz do céu. O ser humano, pois, torna-se capaz
noções racionais. Ã semelhança da vida, ela é de enxergar o mundo como belo quando
antinômica, misteriosa, mctalógica. Leão amplia progressivamente o seu horizonte e
Sestov prega o ideal de conhecimento abso- adquire a arte de ver um no outro. No início,
luto, supcríógico, em seu livro Atenas e Jeru- essa visão é obscura e limitada, mas se
salém. 1 Opõe o pensamento racional, que re- ilumina até ver um no todo e o todo no outro,
monta à filosofia grega, e a percepção bíblica a Beleza da Santíssima Trindade nas coisas
do mundo, que desmente o princípio da con- criadas que, segundo os Padres, é o vértice da
tradição através da onipotência divina. Isso —> contemplação espiritual. São numerosas as
não significa que a verdade c irracional, iló- aplicações concretas desse princípio.
gica, e sim que é metalógica, ultrapassa as A beleza suprema é o Cristo encarnado, pois
noções racionais. É pois, intuitiva e mística e, ele é o esplendor do Pai: "Quem me vê, vê o
para nós, cristãos, essencialmente eclesial. Pai" (Jo 14,9). Na marioiogia celebra-se a
Berdjaev afirma: "O amor é considerado como beleza da Thcoíoko*. pois ela é a "que mais
o princípio do conhecimento da verdade... A se assemelha a Cristo". Na iconografia, a dia-
comunhão através do amor, a conciliação, é fanidade dos ícones favorece a elevação do
critério oposto ao cogito ergo sum cartesiano. espírito do tipo (imagem material) ao protótipo
"Eu sozinho" não pensa, "nós" pensamos, nós (o santo representado) até o arquétipo (o Pai, a
significa a comunhão no amor. Não é o quem deve subir toda oração). Em seus rituais,
pensamento que prova a existência, e sim a a -> Igreja deve aparecer como um "céu sobre
vontade e o amor". Este mesmo princípio foi a terra". 2 O belo, pois, identi-lica-se com o —»
assim resumido por P. Florenski j: "O sagrado e então, segundo a expressão de
conhecimento efetivo da verdade esta no amor Dostoïevski, "a beleza salvara o mundo". Se
e só concebível no amor. Ao contrário, o tais considerações parecem novas,
conhecimento da Verdade se manifesta como correspondem à antiga tradição dos ícones
amor". É pela força desse amor que toda a russos.
realidade aparece como tudunidade
(vseetlinstvo). VII. O esplendor dos ícones. O —» ícone
ocupa lugar privilegiado na espiritualidade
VI. A mística da beleza. O amor é força russa. Nãosignifica, porém, que lodos os pin-
unitiva. Se ele constitui o fundamento do co- tores tivessem plena consciência da teologia
nhecimento, resulta eme tudo o que sabemos dos ícones da maneira como foi elaborada
deve ser unido. Os russos usam a palavra pelos teólogos mais recentes. Contudo, pode-
vseedinstvo que, sobretudo a partir de Solo- mos afirmar que concepçãx > mística está
viev, exerce sobre eles uma hipnose que en- sempre presente na pintura dos ícones.
canta e conquista os espíritos. Para ele, o pro- Ficaram célebres, nos séculos XI e XII, os
blema fundamental era reunir as três formas centros iconográficos de Kiev, Novgorod e
de conhecimento que encontramos na cultu- Jaroslav. Os artistas da escola de Vladimir e
ra européia: empírica, metafísica e mística. de Suzdal trabalharam sobretudo nos séculos
XII eXllI, eo ícone russo alcançou o seu
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desenvolvimento mais alto e a sua idade de
ouro no final do
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MÍSTICA RUSSA
mico" do coração, porque o homern é o que fez antologia Conversações sobre a oração de Jesus
ontem, o que faz hoje e o que fará amanhã. (Serdolxd 1938). Contudo, autores rerio-mados
Não somos capazes de um ato que dure para a como Inácio BrjancarnnoveTeófanes,
eternidade, afirmava —> Bossuet. Contudo, o 0 Recluso, pedem prudência ao recomendar
ideal dos cristãos do Oriente sempre foi "o essa prática. A oração do coração loí muito
estado da oração", a kaíastasis, ou seja, a associada à chamada oração de Jesus, à in-
disposição habitual que de algum modo vocação: Senho] Jesus Cristo, Filho de Deus,
mereça o nome da oração por si mesma, fora tem piedade de mim, pecador". Recentemente
dos atos que produz, mais ou menos com fre- ela ficou conhecida no Ocidente através das
qüência. Esse estado de oração é ao mesmo numerosas traduções do tarnoso Peregrino
tempo o estado de toda a vida espiritual, a russo,1*cm que há também a proposta de certo
disposição estável tio coração. Ter o coração método físico. Eis como o Peregrino o propõe:
voltado de modo estável para o Senhor sempre "Imagina o teu coração, abaixa os olhos corno
foi o ideal dos ascetas russos. Isso, porém, se olhasses através do peito, o mais profundo
exige muita atenção, que também tem dois que puderes, e escuta, ouvido atento, como
aspectos: primeiro é negativa, e em seguida, teu coração bate, um bali mento após outro...
positiva. A guarda do coração negativa Ao primeiro batimento, dirás ou perv saras
consiste no esforço contínuo de rejeitar todo Sendor'; ao segundo, Jesus ; ao terceiro, 'tem
pensamento maligno (logismos) que vem do piedade'; ao quarto, de mim'. Para exprimir-se,
exterior. É a arte de conservar o paraíso do a oração vocal utiliza uma palavra como
coração no estado da inocência. É exercício símbolo, que poder':» ser' substituída por um
tradicional retomado pelos ascetas russos e gesto e, pelas leis da associação, conexo a um
sistematicamente exposto na —» Regra de são pensamento. Ora, se essa oração estiver ligada
Nilo Sorskij (t 1508), que foi redescoberta aos batimentos do coração e à respiração,
pelos síartzy provenientes do movimento 'gesto primordial', a oração torna-se
filocálico. O coração que não é mais vulnerável inseparável da vida, e então torna-se a 'oração
às impressões externas torna-se fonte de do coração'
inspiração sob a forma de pensamentos
interiores. A atenção positiva se concentra em Xlll. A sofiología. I loí enskij observa que a
agarrar esses pensamentos que vêm "de idéia da Sabedoria divina "toca a consciência
dentro", porque certamente vem de Deus. religiosa russa nas próprias fontes e nos
Saber escutar essas inspirações do Espírito fundamentos profundos da sua originalidade".
chama-se "a oração do coração". P. Evdo- Di/er "a RLissin" e os "russos" sem a Sofia,
kimov faz a seguinte descrição: "O intelecto seria uma contradição em termos. A so-
associado ao coração c reduzido ã sua nudez 1 iologia russa se apresenta como a síntese
pré-conceitual supera a razão discursiva (dia* de cosmologia, antropologia c teologia.
un ia) , abandona a harmonia dos iulüamcn Enquanto tal, ela remonta a Soloviev. Em
tos (método escolástico) e postula a superva- seguida foi elaborada e desenvolvida por
lorização de si mesmo em níveis cada vez mais Florenskij, Bulgakov, V. Zen'kovskij c V. I.
profundos até tornar-se o lugar de Deus". Ern. Grandes poetas como V. Ivanov, entre
Saboreia unicamente a —> presença de Deus outros, dedicaram-se a seguir os caminhos da
no coração. Contudo, a consciência humana sofiología e a descobriras bases do seu
está, necessariamente, ligada a algum símbo- simbolismo. Os fundamentos escritos a que se
lo. O batimento do coração material não pode remete são os seguintes: Pr 8.22-31; Sb 7.25-
tornar-se sinal eloqüente dessa presença do 28; SI 104,24. Segundo Evdokimov, a
Salvador no ser humano e do esforço humano sofiología é oriunda diretamente do
de harmonizar a sua vida com ele? A tradição palamilismo: "De são Basílio a —> são
bi/aiitina conhece a "atenção física" ao Gregorio Pal a mas, a tradição é unânime e
coração, está ligada aos exercícios que se as- imutável: distingue entre a transcen-dência
semelham à yoga. lala-se de certos "suportes radical de Deus em si e a imanência das suas
exteriores" da oração: a cela escura, posição manifestações no mundo". A sofiología russa
humilde do corpo, a fixação da atenção ao loi objeto de numerosos estudos,
coração material, ao seu batimento, o controle o resultado, porém, talvez tenha sido deplo-
da respiração. Seguem-se determinados rável, e não poderia ser diferente, porque de
fenômenos físicos: a sensação de calor, as lu- sejava-se encerrai' ein noções racionais o que
zes etc. Essas práticas eram conhecidas tam- deve permanecer como visão espiritual intui-
bém nos mosteiros russos, conforme atesta a tiva de "tudunidade". Com efeito, à Sofia se
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MÍSTICA RUSSA 75U
interligam as experiências místicas cie Solo-
viev, de Bulgakov e dos demais. A visão da
juventude foi decisiva para Soloviev: "Tudo
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MOU NOS, M [(il kl. DH
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MORAI. 764
Ics que sejam expressas e vem em auxilio nes- Human Values and Christian Morality, Dublin
sa parte. Tal tipo de amor não depende da 1970; Id., // Verbo si fa came: Teologia morale,
reciprocidade, mas começa com o amor pelos Casale
Monferrato 1989; 11 Cf. B. I latine, I.theri e fcdeli
que nos amam (como o amor dos malvados e
m Cristo, 3 vols., Alba 1980-1981; uCf. J.L.
dos que não conhecem a Deus: cf. Ml 5 ,4ós), Lorda,As-cética v mística de la liberta d, in
depois passa pelo amor aos inimigos e aos que Scripta Tl teológica, 28 (1996), 869-884; 15 Cf. G.
nos odeiam. Aqui se conserva a relação Moioli, Mística cristã in Dicionário de
dialógica enquanto o cristão compreende que espiritualidade. São Paulo, 1989; lr 'Cí. João
também o inimigo é digno do amor de Deus, Paulo II, encíclica Veritatis Splendor; tin. 65-
ou seja, do próprio amor. Finalmente, o ágape 6S;K. Demrner, A opção fundamental in
Dicionário de moral. São Paulo, 1998; Cf. B.
é sacrificai (cf. Jo 15, 16), não tanto no plano Hating, Santificação e perfeição, in ibid.: '* Cf. S.
raro do martírio quanto, em vez, no cie Baslianel, Con-versão, in /hid.; J" L. Bon iello,
assumir atitudes sacrificais de disponibilidade Prefazinue al libro di L. Ceccarini, I a morale
com o próximo, sem reservas e sem limites. come Chiesa, Nápoles 1980, XVII; D.
Este ponto está diretamente interligado com Tcllaniaii/i, Culto, in Dizionario Enciclopédico di
Teologia Morale, diriüido pot L. Rossi e A.
o de ser vítima: a adoração e o ágape são os
Valsecchi, Roma 1973, ISO; : R H. SC: 2! Cf. F.. Rut-
dois eixos da vida cristã, da mística e da m. fini. Celebração litúrgica, in DE;24 Cf. S. Tomás
Tornar-se vítima junto com Jesus é expresso de Aquino, S7h III, q. 63, aa. I -6; ?- Cf. M. Sbafl
fora do âmbito estreitamente eucarístico com o i, Caridade, em DE; 26 C. Spicq. Agape dans D'
ágape sacrificai. Tornar-se vítima na oblação Nouvcau Testament, Paris 1958-1959; A. Nvgren,
da missa significa vivenciar isso nas relações Agape and Eros, Londres 1953; T Barosse, The
interpessoais. E verdade que às vezes o amor* Unity of the Two Charities in Greek Patristic
Exegesis, in Theological Studies. 1 5 (1954), 355-
pelo próximo é seriamente ameaçado porque 388; G. Gilleman, The Primacy of Charity in
pretendemos reciprocidade de forma e nível da Moral Tfieologx, Westminster 1959; M.
maneira como os projetamos no outro. Quando Williamson, A Return to imv, Nova York 1992; 27
a esperada reciprocidade não chega, a relação Cf. H. Hendrix, Getting the U n e You Want,
interpessoal pode Neve York 1990; Id., Keeping the Dne You Find,
degenerar - em luta de poder que poderá ferir e Nova Yur*k 1993; 2* Cf. P. Teilhard de Chardin,
// fenómeno umano, Milão 1968.
destruir em vez cie enriquecer e construir o
outro.-7 B UM .; Aa.Vv., Toward Vatica>t I I I : The Work
that Needs to he Done, D. Tracv-H. Kung-J.B.
Met/, (org.), Dublin 1978; Aa.Vv., Mystique, I n
Conclusão, Hoje, a tn. assume o seu ponto DSAM X; E. Ancilli, Santità, in AA.Vv.,
de partida do centro do Cristo e da impor- Dizionario di Spiritualitã dei htici, I I , Milão 1981,
tância da pessoa, imagem de Deus e, então, 247-268; T. Barosse. 7'hc Uni/y o f the Two
Charities or Greek Patristic Exegesis, in
diuna da liberdade de filha de Deus. A mísli-ca Theological Studies, 15 (1954), 355-388; S.
laz o mesmo. Juntas, conduzem ao conceito do Baslianel, Conversão in D I M : PL. Boracco,
Cristo cósmico, curador de todas as Ascese e disciplina, in Dicionário de teologia
fragmentações humanas, tornando lodo ser moral, São Paulo, 1 998; J. Castellano, M i f t ale
e spiritualitã, in DES 11,1670-1676; G. Celente,
humano são e completo nessa mesma imagem Trends 2000, Nova York 1997; S. Consoli.
divina."s Religião e moral, in Dicionário de tet dogia mor (d.
São Paulo, 1998; K. Demrner, Opção
N OTAS : 1 B Honmiís, Morale, in DES II, 1667; 1 fundamental, in Dicionário de teologia moral.
Cl G. Celente, Trends 2000, Nova York 1997; ' J. São Paulo, 1998; J. Fuchs, Human Values and
Rcdfield. The Ceies tine vision: Li vine the New Christian Morality. Dublin. 1970; Id., // verbo si
Spiritual Awareness, Nova York 1997, XVII; 1 Cf. ja carne: 'Teologia morale, Casale Monferato
P. Valadier. Morale et viespuituclle. in DSAM X. 1989; G. Gilleman. Il prtmato delia carita in
169«-1717; 5 Cf. .]. Castellano, Monde e teologia morale, Brescia 1959; T. Got'li.
spirilualitã, in DI'S II, 1 h70-1 676: 6 Cf., por Eticospirituale: Dissonante nell'unitaria
exemplo, o estudo sobre teólogos individuais annonia, Bolonha, 1984, B. J taring, Tiberi e
de T. Liotti, lítica spirituale: dissonante neli runit fedeli in Cristo, Alba vol. 1 e 2: 1980; voL 3: 1981;
aria annonia, Bolonha 1984; ' Para anipla bi- Id., Sttntificação e perfeição, in Dicionário de
teologia mouil. São Paulo, I99S; H. Hendrix,
bliografia, cf. Aa.Vv., Mystique, in DSAM X, Getting, the Lwc vou Want. Ni ova York, 1990;
1889-19W; • Cf. LG 5,40; cf. E. Ancilli, Santità, in Id.. Keeping the Love You Find, Nova York 1993;
Aa.Vv. Dizionario di Spiritualitã dei Unci. II, B. Honings, Morale, in DES I I . 1666-1670; I I .
Milão 1981, 247-26*;*O". CR. Vnpn\\. tnduismo, Kung, Essere Cristiani, Milão 1976; J.L. I .orda,
m D f í S U , 1301-1308; 11 Cf. T Spidltk, Oriente Ascética v mist a. a de la lifter tad. in Scripta
Cristiano (spiritualita dell), in D E S U , 1777 1787; Iheo-loçica, 28 ( ) 9 Í ) 6 ) , 869-884; G. Moioli,
: 1 A. Soliiinac. Mystique, Introduction, in DSAM
Esaerienza Cristiana, in Dicionário de
X, 1889-1893; 52 Cf. lí.Kung, On Being a espiritualidade. São Paulo, 1989; Id., Mística
Christian. Londres 1978, c. I, 4; J. Fuchs, Cristiana, in NDS, 985-1001; D. Mongillo,
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Virtude, in Dicionário de teologia moral, São
Paulo, 1998, N v u t c n , Agape and Eros. i<a nozjone
crisliana dcliamorc e le sue manifestation!,
Bolonha 1 9 7 1 ; G. Piana, Iniciação crista, in
Dicionário de teologia moral, Sãn Paulo, 1998; S.
Privilera, Experiência moral, in Dicionário de
teologia moral, São Paulo, 199S, 149 354, J.
Redficld. The Celes'ine Vision: Living the New
Spiritual Awareness, Nova York, 1997; K.
Ruffini, Celebrationis litúrgica, in Dicionário de
espiritualidade, São Paulo. 1989. 1 5 4 - 1 7 6 ; M.
Shaiii. Carita, in Dicio
força extraordinária durante a vida inteira; a presente na Igreja, na história, em cada fiel,
providência, porque mais que artigo de fé, para guiar seus destinos. Aliás, Deus se
tornou-se para ele fato de experiência encontra em plenitude só na Igreja, "o único
[Ibidem, }34). .V. era consciente do seu * santo e católico corpo em que habita a pre-
estado místico, porém também sabia que não sença de Deus" iParocbial Scrmons VI, 172).
era conquista sua mas dom do alto. Entre Talvez ninguém mais que \. enxergou com
esses dois pólos, o valor da —> contemplação e tamanha lucidez e sol revi paixão mais sofrida
a incapacidade do estorce» humano para a necessidade da Igreja para encontrar' a
alcançá-la, prostrou-se diante de Deus com — Deus, loi o seu drama: "Ou a Igreja católica,
> oração insistente. O sentimento dos OU O ateísmo" (Apologia, 271). Encontramos a
encontros do passado deixara nele doçura Deus por meio de Cristo, chefe e razão de ser
inefável e nostalgia profunda, então rezava da igreja, que anima e santifica com seu ser e
para que se renovassem: "Senhor, torna-me com a sua ação: desse fato nasce a união com
capaz de crer como se te visse, laze que a Igreja (Sermons o f th e Subjects o f the
sempre lenha a ti diante dos olhos como se Day, Londres 1S73, 354). Nessa perspectiva
estivesses corporal e sensivelmente presente. ela apresenta-se como a revelação de Deus,
Faze que sempre esteja em comunhão contigo, como o seu representante na terra. Assim N. a
meu Deus vivo e escondido. Tu estás no mais viu, especialmente nos momentos decisivos da
profundo do meu coração (in my innennos sua vida, como no inicio do Movimento de
lieari i" (Ibidem, 276). Notável no texto a Oxjord, quando escreveu: "Somos responsá-
expressão Tu estás no mais prolundo do meu veis somente diante de Deirs e da Igreja"; "Se-
coração" que evoca a - > linguagem dos guiremos o nosso caminho segundo a luz dada
místicos, para quem o encontro com Deus se por Deus e pela Igreja". 1
dá no fundas animae. Além que da Desses dois textos emerge o seu pensamen-
Eragilidade humana, a dificuldade da to místico: para ele Deus e a Igreja ocupam o
contemplação deriva da transcendência de mesmo plano, possuem a mesma sabedoria e
Deus, porém diminui á medida da elevação do autoridade; são inseparáveis, parecem iden-
ser humano e da sua transformação nele, é tificar-se. Nessa luz. resolveu o problema ini-
essa a graça que N. suplica com insistência; cial da Igreja visível e invisível, carismática e
"Ensina-me, ó Deus, a contemplar-te de institucional. Deus é personificado pelos bis-
maneira a tornar-me como tu, e a amar-te com pos que a governam em seu nome; verdade
simplicidade e sinceridade como me amaste. aceita e vivida profundamente por N., que a
Que o meu coração possa fundir-se e extraiu de —> Inácio de Antioquia. Com eleito,
conformar-se com o leu coração" (Ibidem, este ao comentar os casos de desobediência á
24]). autoridade eclesiástica escreveu: "Não se
3. Sentire Izcclesiam. Para.V. a engana o bispo a quem se vê, mas o bispo
experiência mística realiza-se na Igreja, é invisível, logo a questão não é com a carne,
nessa comunidade viva. humana e divina que mas com Deus, que conhece os segredos dos
ele sente e percebe a Deus. Raramente a vida corações". ;V. alirmou: Desejava porem prática
espiritual do homem foi marcada pelo sentido esse princípio ao pé da letra, e posso dizer
místico da Igreja como a deN. Paia ele, ela era com toda segurança que nunca o transgredi
tudo, representava o valor* supremo, o objeto conscientemente. Gostava de agir com a
das suas aspirações e buscas, da sua lê e do sensação de que o íazia sob o olhar do meu
seu amor, não menos que os penetrantes bispo, como se fosse o olhar de Deus" (Apo-
avanços do seu espírito. Sentia a Igreja com a l o g i a, ! ] ) . Este sentimento autenticamente
mesma intensidade com que sentia a Cristo, e místico sempre esteve vivo em ;V,, seja no pe-
a contemplava unida íntima e necessaria- ríodo anglicano como no católico. Assim,
mente a ele, como o "seu —> Corpo místico". quando se converteu em Roma e escreveu ao
Eis a grande realidade na qual ;V. estava Vigário Apostólico, Wiseman, para comunicar-
imerso, tanto que fora dela nada se poderia lhe o fato, "não encontrou nada melhor para
conceber nem explicar. Foi membro muito dizer-lhe que havia obedecido ao papa
ativo, animado pelo Espírito Santo, unido de do mesmo modo como havia obedecido ao
modo indissolúvel ã cabeça. Cristo, em comu- bispo da Igreja anglicana" (Ibidem,1 2 ) . É
nhão com os outros membros. Sua experiência verdade que a conversão marcou o final da
mística licaria empobrecida se permanecesse sua busca inquieta, mas também assinalou o
limitada a uma perspectiva individual, fora do início dos seus sofrimentos mais profundos,
horizonte eclesial. Deus não está presente só quando foi incompreendido durante longo
na alma, e sim e ao mesmo tempo está
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tempo. Não perdeu a coragem, porque sabia
qual é o destino que Deus reserva aos santos,
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789 \ OI VA D O H Si* [RITUAL
não se verifica o èxlasc místico, mas uma Iodas as coisas da terra, exceto daquelas que
imitação puramente externa; a alienação dos servem de ajuda no serviço de tão grande
sentidos externos se dá por causa da fraque- Senhor". 1* A alma goza, portanto, de —> "paz e
za da alma, que ainda não está em condição tranqüilidade, que deve ser entendida somente
de suportar o enorme peso da contemplação segundo a parte superior, porque a parte
infusa.10 sensitiva, até o —> matrimônio espiritual, não
Nessa suspensão, a alma experimenta uma termina de libertar-se cie seus defeitos", Ví Na
profunda escuridão; mas, ao despertar, diz —> linguagem simbólica, as graças são
Teresa, tem a certeza cie 1er estado em Deus designadas como visitas do Amado c, em
e de Ler adquirido riquezas divinas, porque terminologia mais técnica, como — > "toques
"conserva o uso de suas faculdades internas, de união, uniões" e "comunicações",
não estando aqui como num estado cie des- consideradas por João da Cruz corno
sobrenaturais ou místicas. 2" A duração do tt.
maio e paroxismo, no qual não se tem per-
espiritual não pode ser determinada, mas é
cepção de nada, nem interna, nem externa;
uma passagem obrigatória para o matrimônio;
todavia, ela não sabe dizer nada".11
essa passagem se verifica quando a alma tem
Não obstante, nem a santa sabe dar urna
todas as disposições para a união perfeita.
explicação desses > fenômenos extraordiná- Segundo o doutor místico, "se bem que a alma
rios: "Pelo que posso compreender, a alma esteja muito purificada de todo afeto da
nunca esteve tão desperta para as coisas de natureza (porque o esponsalício não se efetua
Deus, nem com tanta luz e conhecimento de a não ser sob essa condição), ela tem
sua Majestade como nesse caso. Parecerá necessidade de outras disposições positivas da
coisa impossível... E um segredo que eu não parte de Deus, de suas visitas e de seus dons,
compreendo, oculto talvez a toda criatura e mediante os quais ela é tornada mais pura,
conhecido só do Criador". 12 mais bela e mais delicada, portanto,
convenientemente disposta para união ião
III. Natureza do tu Embora se dê no âmbito sublime". 21 Por isso, o santo julga que "se re-
do êxtase, o n. consiste substancialmente na quer tempo, para uns mais, para outros me-
qualidade superior da união com Deus, união nos, para que Deus realize seu trabalho,
não só afetiva, mas também quase real, a qual adaptando-se à natureza da alma", blindando-
se verifica quando Cristo se une à —> alma, se no exemplo, que ele aduz, das doze servas
não ao centro dela, mas à sua parte superior, de Assuero, ele parece aludir a um ano." Santa
não como hábito, mas como ato.13 "No Teresa, examinando seu próprio caminho, fala
arrebatamento dos esponsais não há somente de mais anos,23 que o padre Maria Eugénio
um contato que enriquece, mas também uma reduz a doze, acrescentando: "Não se pode
verdadeira união com Deus, Mais: a escuridão dizer que o prolongamento seja devido à
da união mística é substituída por uma luz infidelidade da santa, uma vez que estamos
ofuscante. A alma se une a Deus com os olhos nos anos que incluíam os trabalhos de
abertos. Ela tem consciência de sua união e fundação de seus mosteiros". 24 Por isso o
descobre profundos segredos divinos".14 A mencionado padre conclui: "O n. espiritual não
veemência com a qual Deus transporta a alma é um encontro destinado a fixar as condições
é irresistível; e a luz que ilumina essa torça de união definitiva muito próxima. Ele inicia
leva a alma "por inteiro para uma região muito um período de preparação positiva, que as
diferente da nossa, na qual, numa luz que não experiências do matrimônio tornarão ge-
tem comparação com a nossa, sáo-lbe ralmente mais longo; período não de simples
mostradas coisas lao grandes que, por si espera, uma vez que os lavores extraordinários
mesma, ela não poderia imaginai, mesmo que c a fecundidade sobrenatural o tornam já
trabalhasse em torno delas por toda a vida".13 irradiante por causa das retrações dos fulgores
Nesse estado, a alma recebe "grandes e dos cumes".
numerosas comunicações, muitas visitas, dons
N OTAS : 1 Teresa di Ges ti. Castelo interior V, 3,3; 2
e jóias do Esposo, como uma noiva, à medida li. Baecetti, // Cântico dei Cantici uella tradizione
que se aperleíçoa no amor a ele". 16 Mas o dom monástica, i n C. Vagaggini — G. Penco, Btbhia espi-
maior é o próprio Deus, isto é, "o alto estado ritualità, Roma 1967, 391; 'T. Alvarez, Matrimonio
de união de amor no qual, depois de um longo spirituale, in D ES II, 1544; 4 Teresa de Jesus. Vida,
exercício espiritual. Deus coloca a alma".17 14-17; 1(1., Pensamento sobre o amor de Deus, 3 5; cf. J.
Além disso, Deus lhe dá "o conhecimento de de Guibert, Theologia spiritualis ascética et mystica, Roma
1946, 415-416; - Teresa de Jesus, Castelo interior
sua grandeza..., a —> humildade e o
conhecimento de nós mesmos..-, o desprezo de
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789 \ OI VA D O H Si* [RITUAL
V, 4,4; Vida, 20-21;* Id.. Castelo interior V I . 4.2,
5,8; Vida, 20,2-3; João da Cruz, Càn
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82 l'Ai
5
te aí que o termo "mística" revela toda a sua (2Cor 4,10). No texto de Cl 1,24 até se lê:
ambigüidade. Se R o entendesse em sentido "Completo na minha carne o que falta aos
pleno, deveria concebei" e experimentar unia sofrimentos de Cristo"; essa tradução poderia
espécie de despersonalização, que poderia ter a seguinte variação: "Completo o que falta
chegara desresponsabilizar a sua humanidade aos sofrimentos de Cristo na minha carne". A
(um pouco como, na história das heresias diferença não é pequena; de fato, se P. percebe
crislológicas, o apolinarismo, que sustentava a uma falha, ela não está na paixão de Cristo,
inserção do Verbo divino no lugar da alma cuja eficácia é plena, tendo até ressonâncias
racional de Jesus). Alguns enveredaram por cósmicas (cf. Cl 1,20); o déficit é na
essa via (cl. A. Deissmann), apoiando se na participação pessoal do próprio P. ("na minha
locução paulina freqüente "em Cristo (cl., carne") naquela paixão em si mesma su-
porex., Gl 3,28: Todos vós sois um só em Cris- ficiente. É esse o objetivo de seus cansaços,
to Jesus"), entendida até mesmo em sentido prisões, humilhações, naufrágios, fome e sede,
local. Mas a preposição local "em" é indicativa frio e nudez, perigos de todo tipo (cf. 2Cor
mais de metáfora, assim como, em correspon- 11.23 28). que ele enfrenta, como se todas
dência antitética, o homem tora de Cristo vive essas provações, paradoxalmente, nada mais
"na carne" (Rm 7.5) ou "no —> pecado" (Rm fossem que a concessão de uma graça: a de
6,1-2). Então, viver "em Cristo" não tem outro sofrer por Cristo (cf. Fl 1,29).
significado senão o expresso em Fl 3,8-9, em O Apóstolo, que não vê razão de orgulho
que P, declara que agora considera tudo "como nem de força na experiência de arrebatamento
esterco, para ganhar a Cristo e ser achado ao terceiro céu, mencionada quase que de
nele". Cristo tornou-se a razão de ser, o âm- passagem (cf. 2Cor 12,2-3), sente, por sua vez,
bito vital, a expressão da sua identidade cris- o peso de "um espinho na carne", que o Se-
tã: não pela troca, mas pelo distanciamento de nhor lhe destinou (cf. 2Cor 12,7); essa expres-
papéis pessoais, como se dá com o servo em são é identificada pelos estudiosos ou com al-
relação ao seu Senhor (cf. Rm 1 , 1 ; 7,4), ou guma doença ou, melhor ainda, com a
com beneficiário em relação ao seu benfeitor oposição obstinada dos seus adversários
(cf. Rm 8,31-39), em que os respectivos papéis judaizantes (e não mais, como se pensava na
não só não se confundem, como até são época patrística, com desejos sexuais indecen-
enfatizados em sua diversidade. tes). Mas a seu pedido de ficar livre disso, o
Há dois fatores que previnem P de cair na Senhor mesmo lhe responde: "Basta-te a mi-
armadilha da "mística" patià. Um é o conceito nha graça; de tato, LI minha força manifesta-se
de fé (cf. Gl 2,20b: "Vivo na fé do Filho de plenamente na fraqueza" (2Cor 12,9). É por
Deus..."; El 3,9b: "...com a justiça que deriva isso que ele pode se gloriar dos próprios sofri-
da lé em Cristo"), que mantém as distâncias e mentos: "Quando sou fraco, então é que sou
não permite que os dois pólos (Crislo-cristão) forte" (2Cor 12,10), p< >i que "tudo posso
se confundam; a fé, de falo, implica necessa- naquele que me dá força" (Fl 4,13). Como que
riamente um face-a-face que põe cada um no para dizei': em mini se repele o duplo
seu devido lugar, sem perigosas misturas: movimento do —> mistério pascal. A
"Amou-me e se entregou por mim" (Gl 2,20J! O experiência cotidiana da morte(cf. ICor 15,31)
outro é a reserva escatológica, pela qual a passa a ter significação a partir de dois fatos:
experiência histórica atual é considerada só do fato de se assemelhar à experiência de
uma parle Ináo ainda perfeita) do que carac- Cristo e do fato cie, como a de Cristo,
terizara * > luturo (cl. I'l >, I 2.1 3.20: "\a< > destinar-se ao triunfo da vida: "Na verdade, ele
que foi crucificado pela sua fraqueza, mas vive
eu já tenha conquistado o prémio ou chegado pela força de Deus; e também nós somos
à perfeição; ainda me esforço por conquistá- fracos nele, mas viveremos com cie pela lorça
lo... Esqueço o passado e volto-me para o fu- de Deus" (2Cor 13,4). Os diversos
turo, corro em direção ã meta... De lá espera- complementos pronominais "nele" e "com ele"
mos como salvador o Senhor Jesus Cristo"). expressam bem os dois diferentes estágios da
Em todo caso, a relação de P. com Cristo é relação pessoal com Cristo: respectivamente,
estreitíssima e sem comparações. Isso se vê agora na história, na qual a vida cristã é a
sobretudo na experiência dos seus sofrimentos imersão oculta em Cristo (cf. Cl 2,12), e, de-
apostólicos. Ele chega a falar dos "sofrimentos pois, no éschaton, quando Cristo será mais cla-
de Cristo cm nós" (2Cor 1,5), com a ramente companheiro de glória (cf. lTs 4.17).
consciência de "carregar sempre e por toda De qualquer modo, as vidas do Apóstolo c
parte, em nosso corpo, a morte de Jesus" dos cristãos são marcadas pelo amor do pró-
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863 A p . , dom do Espirito, não deve ser consi-
derada utopia. Ela floresce, porém, no terre-
augurar por isso mesmo se torna fórmula da PAZ - PECADO
saudação, densa de prohmdidade religiosa. É
sinónimo de "bem-estar", ielteidadc, > justiça. no do amor autêntico, aquele que não se de-
K bênção, glória, vida. Numa palavra, é o tém sequer diante do ódio ou da injustiça.
próprio Nome do Messias; Príncipe da p. (cf. Is Fruto da paixão de Cristo, a p. só pode ser
9,5; SI 71). Por isso, é dom de Deus e conservada com a compaixão, com o sacrifício
.sinal da sua presença, que atinge cada pes- de si, até ao martírio, porque nesta terra o seu
soa no abismo do seu coração e, ao mesmo crescimento é continuamente vigiado e
tempo, junta o povo no abraço da frater- ameaçado pelo mal e pel< > -> pecado. Não
nidade. O indivíduo c a multidão coincidem na são.
experiência de Deus. "Misericórdia e verdade talvez, os santos, os amigos de Deus, os que
se encontrarão, justiça e p. se beijarão" (SI oferecem à humanidade as imagens mais belas
84,11): eis aí a perspectiva social; eis aí da p., eles que alcançaram as alturas sublimes
também o momento das núpcias, do encontro da comunhão com Deus, em quem, por assim
místico: "Assim são, aos seus olhos, como dizer, goza?n do verdadeiro repouso, em Deus
aquela que encontrou a p." (Ct S,1U). O en- Trindade, harmonia perfeita? Olhando o
contro com o esposo é a perfeição do -* amor, exemplo deles, é possível avançar mais
que, na —> união mística, traz harmonia e p. expeditamente no caminho até a Jerusalém
A espera do Messias torna-se realidade
celeste, que é visão de p., na comunhão plena
concreta em —* Jesus, dom perfeito do —>
e universal, que é o cumprimento do desúznio
Pai. Ele é a R , ou melhor: "Ele é a nossa p." (Ef
salvífico de Deus.
2,14). Toda a sua vida, da gruta de Belém á
ascensão ao céu, é marcada pela p. Seu nas- BIBI ..: Aa.Vv., pace, dono e profezia, Magnano
ÍM
cimento é acompanhado pelo canto do coro 1985; Aa.Vv.. // contributo culturate dei cattolici
angélico: "Glória a Deus no mais alto dos céus (d problema delia pace nel secolo XX, Milão 1986;
ep. na terra aos homens que ele ama". Não é R. Coste-HJ. Sieben, s.v., in DSAM XII/1 40-73;
só hino de louvor, e sim, mais profundamente, W.W. Foerstcr. s.u, mGLNTUl, 191-
243:C.Gennaro,s.u, in DESIII, I8O1-I802; F.
é o anúncio de realidade que se real i/ou: a Gioia, La fona deliapazienza. I I cammino delia
salvação desceu; uma semente de p. foi de- pace interiore, Cinisello Bálsamo 1995; II. H.
positada - e escondida - no coração mesmo da Schmid, Shalom. l<a pace neWantico Oriente e
humanidade e agora crescerá "esponta- neWAntico Testamento, Brescia 1977.
neamente", sem se deixar sufocar por espi-
nhos e abrolhos. Sobre a árvore da —*> cruz Beneditinos do iihti dv São Júlio
se tornará fruto maduro, pronto para se ofere-
cer em dom no dia da ressurreição: " R a vós"
(Jo 20,19.21.26): palavras inseparáveis da do-
ce e fone promessa com a qual se encerra o
evangelho segundo Mateus: "Eis que estou
convosco todos os dias até a consumação dos
séculos!" (Mt 28,20). PECADO
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homem à sua imagem e semelhança e lhe
entrega o domínio da terra (cf. Gn 1,27-28),
para que livremente, em diálogo com seu
Criador, construa no amor a sua vida. O ho-
mem, por sua vez, deve dar prova de —> fide-
lidade a Deus, de confiança nele, cumprindo
desmascara o mal paia poder eliminá-lo. social, como se pode encontrar sobretudo nas
Quando a — > santidade divina ilumina os Escrituras Judaicas. O papel da não é es-
olhos de uma criatura, a faz grilar como tranho à história da —> Igreja, pois ela pró-
Pedro: "Afasta-te de mim, que sou pecador" (Lc pria representa a presença permanente da
5,8). palavra do insuperável profeta —* Jesus Cris-
A misteriosidade intensíssima do ser de to. A p. está ligada à natureza carismática da
Deus entre os homens (causada não só à vida na fé e está sujeita ao controle eclesial,
alteridade divina suprema, mas também pela enquanto revelação privada. O Vaticano II. em
cegueira do homem viajante, ainda não ha- sua Constituição dogmática sobre a Igreja (cf.
bilitado ã relação direta com ele e gravemente LC 12), lala do povo de Deus que compartilha
vulnerado pelo pecado) e a vontade cons- o papel profético de Cristo, especialmente
trutiva e redentora do Pai, que justifica o fato mediante a vida de fé e de caridade. A Iunção
de mandar o Filho "para habitai" no meio de do profeta é vista como —» serviço em vista de
nós" (Jo 1,14), são motivo de eslorço, retifi- nova vida e de futuro mais transparente,
cação e > purificação: por esse motivo, a p. no voltado para o reino de Deus.
cerne da história é também crucificante, não
leva à "ciência saborosa" dos próprios BIBI..: I). Bertani. Prophcey, in Aa .Vv.. The New
lYictiofiary i»/ Cath<'lie $piritiailiíy, Minnesota 782-
segredos sem impulsionar, mediante as "noi-
784; A. Feuillet, Laca«)tplisseniei1 1 de* praphe-ties.
tes" (são João da Cruz), para o —> deserto dos Paris 1991; R. Laureiilin. Catholic Pen tecos
sentidos e do espírito. talisni. Nova York, 1977: (I. Montague. 71 :e
Spirit and Mis Cifts: lhe Bihliad Background o f Spirit-
H.JU .: M. Dupuy, s.u. in DSAXÍ XI1/2, 2107-213ó: Baptism. Toniiac-Speakimí an d Provhecy, Nova
F. Giardini, Alfa presenzadi Dio, Milão 1965; G. York 1974; A. Royo Marin, Teologia delia
Goz-/elino, A I cospetmdi Dio, Leumann 1989; A. perfezione Cristiana, Roma 1965*, 1045-1047; S.
Royo Marin, Teologia delia perfezione Cristiana, Tomás, STh 11-11. i \ . 171-174.
Roma 1965* 914-918.
G. Gozzelino /. Russell
PROFECIA PROFETISMO
I. O termo p. refere-se, fundamentalmen- I. O conceito. O p. de Israel é fenómeno
te, à expressão humana feita por meio de pa- extraordinário e fascinante na historia do
lavras, sinais ou modos de viver, que têm javismo. Sua história remonta ao séc. XI a.C,
sua raiz numa fonte transcendente ou divi- isto é. ao final do período dos juízes. De fato,
na. Ap. pode-se encontrar nas tradições de os primeiros protelas aparecem durante o
Israel, no cristianismo, no - > islamismo e em governo de Samuel, o último juiz; aliás, sob
outras religiões. sua direção eles formam uma comunidade de
profetas (cf. 1 Sm 10,5ss; I9,l8ss). As vezes,
II. Na vida da Igreja contemporânea, a são investidos do Espírito do Senhor e, con-
p. emerge sob dupla forma: 1. As profecias seqüentemente, são tomados pelo êxtase, que
ocorrem durante encontros de —> oração do pode contagiar até as pessoas próximas a eles.
movimento carismático, através de afirma V. verdade que a história docomeça na época
ções breves que procuram dar à assembléia de Samuel, mas é diurio de nota oue o ter-mo
consciência da -> presença de Deus. As vezes, "prolela" já é atribuído a diversas personagens
a palavra profética tem a função de comunicar que vivem muiti > antes, por exemplo, ->
uma luz interior que o membro da assembléia Abraão (cf. Gn 20,7), Maria (cf. Ex 15,20),
declara ter recebido. O perigo do subjetivismo Aarão (cf. Ex 7,1) e Moisés, o profeta por ex-
ou do iluminismo tende a ser neutralizado pelo celência (cf. Nm 12,1-8; Dt 1 d. 15-IS).
discernimento da própria comunidade carisma! É preciso registrar que também em Nm 1
ica. 2. A dimensão profética da —> fé também l,24ss há êxtase coletivo, algo semelhante ao
foi identificada, recentemente, com os que é relatado em ISm 10: os setenta as-
movimentos de —> justiça, —> libertação e sistentes de Moisés, sob a influência do Es-
paz entre os fiéis. Esse juízo é baseado na pírito do Senhor, começam a profetizar. E
tradição profética de criticismo verdade que esses textos bíblicos são anacrô-
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Q
QUIETISMO tâncias produzcnv.se os mesmos fenómenos,
sem necessidade de influencia direta c ime-
I. O fenômeno costuma eslat relaeinna- diata. Em algumas das opiniões, salienta-se
do com a mística, embora sem muita preci- que oq. não é movimento primário e original,
são, na maioria dos autores. Até recenlemen que traz algo radicalmente novo; é simples-
te, a exposição ou apresentação do q. em mente a reedição de fórmulas e propostas an-
tratados e dicionários lazia-se no contexto de teriores, com algumas modificações próprias
movimentos e ienõinenos espirituais dos pri- da época e dos lugares nos quais floresceu.
meiros tempos do cristianismo, até o séc. Mais do que a algum dos "iluminismos"
XVII. Dois motivos complementares justifi- anteriores, o q . aparece habitualmente ligado,
cavam esse procedimento: em primeiro lugar, na historiografia e na crença geral, à
o fato de que, nas intervenções oficiais sobre corrupção moral; como se se tratasse de sis-
o q., costumava-se repetir que ele coincide tema ou proposta espiritual que conduz ine-
com o ensinamento dos —> "alumbrados", vitavelmente à degradação no âmbito da moral
como estes coincidem com os "cálaros" e sexual. O exame de alguns casos concretos,
outros iluminismos, até se chegar pelo me- nos processos chamados quietistas, levou a
nos ao séc. XIII. A comparação entre esses estabelecer a correlação necessária entre
movimentos confirma a exatidão das referên- prática e doutrina, como se esta nada mais
cias. Falando em geral da espiritualidade cris- fosse que simples cobertura ou simulação de
tã, o q . é unia tendência espiritual que se ma- condutas imorais. Uma opinião muito difusa,
nifesta em expressões semelhantes ou muito até mesmo entre os estudiosos, reduz oq. a
parecidas ao longo da história; coincide subs- epifenômenos marginais e o esvazia totalmente
tancial mente com a que se desenvolveu na de conteúdo. A história trágica do q. foi muito
segunda metade do séc. XVII e passou para a mais que a miséria moral de algumas figuras
história como " q " . Nenhuma daquelas ex- de segundo plano e de categoria inferior.
pressões afins recebera, antes, tal nome. Por Muitos livros e muitos mestres condenados
isso, é ambíguo indicar com tal palavra to- como quietistas nada têm que ver com esses
dos os movimentos anteriores, conhecidos clichês ou estereótipos. Nenhum de seus
habitualmente com outros nomes próprios. nomes mais destacados mereceu a condenação
Atualmente, parece superado o equívoco ou de sua vida pessoal. Basta recordar MalavKf
a ambiguidade, se se adotar como deno- 1719), Falconi (t 1638), Pctrucci (t 1701), —>
minação genérica a de "iluminismo místico ou Fénelon e outros, ou tantos autores que
espiritual", precisando-sc logo a peculiaridade circularam com aplauso geral antes que se
de cada um dos grupos e movimentos, com desencadeasse a lula quietisla. O fenômeno da
sua denominação própria. Q. é o mais moderno conduta pecaminosa coberta por
de todos. aparências de alta espiritualidade é de todas
as épocas e de todos os lugares; não é um q.
II. A origem. Assim entendido e designa- exigido por ensinamentos especiais místicos.
do, circunscreve-se à segunda parte do séc. Também não é possível seguir a fisionomia
XVII e primeira parte do séc. XVIII. Sua pro- autêntica do q. baseando-nos nas condenações
ximidade cronológica ao movimento dos (livros, autores), embora isso ajude. As teses
"alumhrados", na Espanha (sécs. XVI-XVII), ou proposições que foram duramente
e seu parentesco com ele e com outros ante- qualificadas raras vezes aparecem ipsis liiterís
riores nos obrigam a formular a questão ini- nos chamados escritos quietistas; elas corres-
cial relativa à sua origem. É sabido que, a esse pondem mais ao contexto e ao clima geral e
propósito, circulam duas teses fundamentais: têm o caráter de síntese, e suas doutrinas ou
a que sustenta a dependência direta, como opiniões loram expressas de forma extremada
cie causa e efeito, entre as diversas manifes- para servir de norma nos processos ou para
tações históricas do "iluminismo místico", e a evitar perigos de contágio. A imagem definitiva
que prefere reportar-se a uma constante his- do q. emerge principalmente dos textos
tórica, segundo a qual em idênticas circuns- originais e não dos escritos "antiquietistas",
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que em geral foram compostos a partir das
condenações.
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RECOLHIMENTO
virtudes, leva os —> sentidos para dentro do - como dinamismo da existência e como via
■> coração, recolhe as faculdades na —»cons- pedagógica para a -> oração.
ciência, na qual está impressa a imagem de Vejamos suas passagens principais.
Deus, e faz que a clareza divina se comunique 1 . O dinamismo da existência. "A viagem mais
à alma/A espiritualidade clássica distingue o r. longa é a viagem para o interior", escreveu —>
ativo do passivo: no r. ativo o que domina é o D. Hammarskjõld em seu diário.8 É a viagem
exercício ascético; 3 no r. passivo, é a iniciativa para o ccntrol no qual a pessoa descobre a
gratuita de Deus. 4 Uma vez que o r. tem como fonte de suas relações com o outro, com o —>
finalidade não a si mesmo, mas a descoberta mundo e com as coisas, e no qual encontra
da —> presença de Deus no "fundo" da —> sua vida unificada e divinizada -enquanto
alma, a maioria dos autores espirituais o templo do Espírito Santo - na presença
considera uma das vias privilegiadas para a silenciosa de Deus Trindade, naquele que é o
contemplação do Mistério: "A 'oração de r.' "Centro do centro", a fonte, a raiz c a
chama-se assim porque nela a alma recolhe plenitude do ser.9 No encontro silencioso com
suas potências e se retira em si mesma com Deus Trindade, o fiel que dilatou sua alma
seu Deus. Aí seu Mestre divino se manifesta para acolhera ação transformadora do Espí-
mais depressa e a prepara mais prontamente rito' ' abre o caminho da interioridade para o
para entrar na oração de repouso".5 valor da receptividade como dimensão
2. A espiritualidade contemporânea, embora constitutiva de sua pessoa e de seu ser no
use os princípios da teologia clássica, conduz mundo, para a realidade da comunhão eclesial
a reflexão segundo paradigmas de pensamento como experiência de salvação com os irmãos
diferentes. Ela considera o r. fundamental- na fé e para o valor da universalidade como
mente dentro da dimensão de interioridade, vista diálogo construtivo com todo itinerário sa-
no horizonte da visão antropológica unitária, picncial autêntico para a contemplação do
dinâmica e inculturada. Levando em conta a Mistério.
situação cultural de nossa época, dominada 2. Pedagogia da —» oração. Toda a tradição
pela tecnologia e pela subjetividade, e espiritual atesta que a oração é um dos meios
solicitada por forte necessidade de sentido, a privilegiados para a descoberta da interio-
espiritualidade contemporânea dispõe a ridade. Para chegar a ela, indicam-se alguns
interioridade e o r. para discernir o perigo, instrumentos pedagógicos: a atenção ao si-
sempre subjacente, de "privatização" da fé e, lencio, à escuta e à posição do corpo; a repe-
ao mesmo tempo, para favorecera integração tição do nome de Jesus segundo o ritmo da
autêntica da identidade da pessoa como ser respiração, a contemplação dos ícones e a
aberto à irrupção do Mistério c como "scr- percepção da presença de Deus nos irmãos e
para-o-outro", isto é, como capaz de estabe- nos acontecimentos. No fundo está a convic-
lecer relação verdadeira com a história, com ção de que "não se aprende nada sem um
o mundo e com as coisas. pouco de fadiga. (...) O Senhor, querendo,
Disso emerge nova sensibilidade. Se a visão pode elevar-vos a grandes coisas, já que, en-
clássica de r. segue o movimento de "cs- contrando-vos próximos dele, descobrirá em
lrunheamento para a introversão", 6 a visão vós a disposição apropriada". 11
atual não a rejeita totalmente c a completa Em todos os tempos, o apelo para a in-
com o movimento inverso, de "interiorização terioridade e para o r. soa como exigência vital
para a extroversão", no qual também a história de interiorização dos valores da fé e para a
e o mundo, enquanto valores teológicos, se experiência pessoal autêntica de Deus. "O
tornam objeto de interioridade ou do olhar de fé cristão do futuro - dizia profeticamente -> K.
que sabe captar, na ambigüidade dos Rahner - ou será místico ou simplesmente não
acontecimentos, os caminhos imprevisíveis do existirá".
—> Espírito: "fundados no centro de nosso ser,
encontramos um mundo no qual todas as NOTAS: Cf. Gregorio Magno, Moralia, XXXI, 19;
1
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RHPARAÇÀt) • RKPOï 'Só NO I- S P 1 R I I O
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RICARDO DF. SÃO VfTOR 75B), R. parece transcrever grande riqueza de
experiências contemplativas. Define a con922
RICARDO DE SÃO VÍTOR
templação como "olhar livre e penetrante da >
I. Vida e obras. R. nasceu na Ilhas Britâ- mente, arrebatado pelo esplendor, sobre as
nicas, provavelmente na Escócia. Pode ter manifestações da sabedoria" (De gratia cont. 1.4,
chegado à abadia parisiense dos cónegos re- PL 196, 67D). A definição é muito genérica.
gulares de São Vítor antes da morte de Hugo Aqui, seguindo Hugo de São Vítor, R. distingue
de São Vítor, cuja teologia mística o influen- a contemplado ("contemplação") do
ciou profundamente. De I iugo disse ele: "Um "'pensamento" (cogitado: que é igualmente
grande teólogo de nossos tempos" ( D e prae- espontânea, mas não focalizada em nada) e a
paratione 1,4: PL 196. 67D). Em 1159«, era meditação (que c focalizada, mas requer esforço
subprior em São Vítor, e em 1162, prior, cargo para concentração, não sendo "livre",
que ocupou até a morte, em 1173. Ensinou, portanto). O interesse de R. é, em primeiro
pregou e escreveu muito. Seus escritos lugar, a graça cristã da contemplação, "que é
incluem um bom número de cartas teológicas, espécie de promessa de amor dada pelo Se-
que contem respostas a perguntas e pedidos nhor aos que o amam" (Nonntdiae allcgoriae tab.
de seus correspondentes; breves tratados foed., PL 196, 193B). No De gratia cota* (Libri l-
devocionais e uma obra importantíssima. De IV),/ií. distingue seis tipos de contemplação e
Trinitate, na qual, como cm seu De quaütior os dispõe hierarquicamente segundo as
gradibus violentae caritutis, expõe suas idéias potências da —> alma envolvidas (pela e/ou na
sobre o amor divino e humano; comentários imaginação, razão e compreensão) e os objetos:
bíblicos; sermões e um comentário à Regra cie l. os objetos sensíveis, 2. as causas e o
santo —> Agostinho. Ele foi um dos primeiros significado dos objetos sensíveis, 3. as ima-
teólogos a escrever estudo sistemático sobre a gens da imaginação de coisas invisíveis, 4. rea-
contemplação e sobre a —» experiência l idades criadas invisíveis como imagens de
mística, principalmente em duas de suas Deus, 5. as coisas de Deus que superam a
obras: De praeparaiione animi ad centempla- posse pela razão, mas não parecem contra-
í i f n i e n t ( B e t i j a m i i t t menor, PL 196. 1-64) e De dizê-la, 6. As coisas de Deus (Trindade, Euca-
gratia contemplaiionis (ou De arca mystica ou ristia) que superam a razão e parecem con-
Benjamim maior, PL 196. 63-192). tradizé-la. Esse esquema e tanto um tiaballio
de detalhe, visto à luz de análise superficial,
IL Experiência e doutrina mística. R. como celebração da imaginação, da razão e da
tinha o dom magistral para a imagem viva e compreensão, não como simples vetores da
para os vários tipos de esquemas e diagramas. criatividade humana e do conhecimento, mas
Estava convencido de que a experiência é a como espelhos do poder infinito do Criador.
melhor mestra. Era dotado de estilo latino e de No Livro V do De gratia cont., R. dirige sua
mestria para todas as interpretações alegóricas atenção para os gêneros da contemplação.
da Bíblia. Em seus escritos mais profundos Nestes ele fala das três causas do —> êxtase
esses dons lhe foram de grande ajuda. Por (excessus mentis): a dilatação do espírito (uma
exemplo, A preparação da alma para a ampliação Lia visão mental, a qual provavel-
contemplação (Benjamim menor) é alegoria mente tem afinidade com o escopo da repre-
elaborada baseada nos filhos de Jacó. Os sentação da arca de Noé, de Hugo de São
filhos e a filha de Jacó têm como finalidade o Vítor), a elevação do espírito acima de suas
desenvolvimento das —» virtudes por meio das capacidades normais e a alienação do espírito
quais a alma se prepara pain a —> contempla- (excessus mentis), que é o resultado de intensa
ção. O processo de preparação é um esforço —> devoção, admiração ou —> alegria. Os
para recuperar a imagem (racionalidade) e a quatro graus da violenta caridade descrevem as
semelhança (afetividade) de Deus, com as causas do excessus mentis com os mesmos
quais a humanidade foi criada, e que foram termos. Nos quatro graus a alma conformada
corrompidas pelo-* pecado. O processo inicia ao amor a Cristo reserva-se para o serviço ao
com a —> conversão, e usa a leitura cn-í me- próximo. Essa conquista das mais altas
ditação, a —> oração e as obras boas para pu- formas de contemplação, com a transformação
rificar a alma e levá-la ao limiar da contem- por e no amor dado por Cristo, é uma
plação. Embora negue algumas vezes toda característica significativa da escola de são
experiência particular na contemplação ou na Vítor do século XII.
oração mística (p. ex., em Serm. cent. 72, PL Os escritos de R. exerceram forte influên cia
177. 1131 H; De praeparaiione 1. 10, PL 196. em toda a Idade Média, influência que atingiu
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também o autor da Nuvem do não-conhecimento,
embora este trate mais do que
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931 SACRAMENTOS
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94 SAN"lO-SANTIDAÍ>K
1
Por isso, a vocação do cristão para a s. afirmação de que a vida de união com Cristo,
pode sor considerada como convite ao isto é, a .s. de todos os fiéis, é una.
heroísmo; com efeito, o sacramento de nossa Não só do ponto de vista estritamente teo-
incorporação a Cristo nos obriga a estarmos lógico, mas também do da vida pastoral, é
prontos, em todo instante, para o sacrifício sumamente importante entender e propor toda
mais sublime da —> caridade, o da imolação a doutrina das. dos cristãos na perspectiva de
incruenta por amor a Cristo e à sua Igreja. sua união com Cristo na Igreja, insistindo,
Compreende-se então que a vocação à s., nesse contexto, no falo de que as. dos cristãos
decorrente da incorporação a Cristo, é tão é una. De fato, é claro: a insistência nas
exigente que todo cristão, por ser cristão, é dimensões cristocêntricas, pneumáticas e
chamado a ser santo no sentido mais estrito eclesiais da vida e da s. cristãs, comuns a
da palavra. todos os fiéis, confere a todo o ensinamento
E justamente disso que trata o n. 40 da teórico e prático sobre a tendência dos cristãos
Lúmen gemiam, ao qual foi dado - se bem que para a s. a orientação sadia e fértil, porque
não oficialmente - o subtítulo de "Vocação apoiada em princípios dogmáticos firmes e
universal â s." O último parágrafo desse profundos, enquanto elimina os perigos muito
número da Constituição diz explicitamente: "li reais tia separação entre teologia e vida
claro, portanto, a todos que todos os fiéis de espiritual que, como a história mostra am-
qualquer estado ou condição são chamados ã plamente., implica sempre o empobrecimento,
plenitude da vida cristã e ã perfeição da se não propriamente a esterilidade de ambos
caridade: por essa s. foi promovido, também esses setores.
na sociedade terrena, um teor de vida mais Depois de ter esclarecido e sublinhado o
humano. Para chegar a essa —> perfeição, os falo de que a s. cristã, justamente por ser
fiéis devem usar as loiças recebidas de acordo "união com Cristo", é fundamentalmente una,
com a medida segundo a qual Cristo quis dá- é necessário talar também de suas diversifi-
las, a fim de que, seguindo o exemplo dele e cações. Isso deve ser salientado, e com f iimeza,
tornados conformes â sua imagem, obedientes seja do ponto de vista leológico-dogmático,
em tudo à vontade do Pai, dediquem-se com seja do da pastoral e da espiritualidade. Com
plena generosidade à glória de Deus e ao - > eleito, enfatizar exageradamente - como às
serviço ao próximo" ( L G 40). vezes se fez - a "unidade" fundamental da
Poderia quase parecer que, tendo o Concilio união com Cristo, com prejuízo das diversiii-
apresentado com tanta clareza o que foi cações, é erro teológico enorme, o qual com-
exposto até aqui, não haveria mais nada a porta conseqüências desastrosas tanto em
acrescentar. Mas foi oferecida nova luz sobre relação â intensidade da união do cristão com
dois pontos de grande importância para a Cristo como em relação à riqueza do corpo de
pastoral e para a espiritualidade. Isso pode ser Cristo, que é a Igreja. É justamente nela e por
dito do modo seguinte. meio de seus membros que ele deseja
completar a perfeição de sua humanidade,
III. A 5, c una, mas deve ser cultivada daquilo que através dela age no tempo e no
segundo a vocação própria de cada um. espaço e da própria glorificação que. por meio
Dizer que a s. cristã é "una" equivale a dizer dela, oferece ao Pai eterno.
que a vida de união com Cristo é una. Isso Em vista disso, o Concílio, para evitar in-
significa que tudo o que pode e deve ser dito terpretações perniciosas que eram difundidas
sobre a função do Espírito Santo, sobre a erroneamente, e talvez ainda o sejam, quis de-
natureza e os eleitos da graça e sobre seu liberadamente suprimir o adjetivo que fora
dinamismo, sobre o batismo, a crisma e a —> acrescentado à afirmação da una sauditas]
Eucaristia, sobre o —> culto litúrgico e a > referimo-nos ao termo eadem. Mais ainda; o
oração privada, sobre a > fé, a -> esperança, a Concílio quis opor a isso o ensinamento das
■- > caridade e sobre todo o conjunto orgânico diversificações e diferenciações da s. cristã. De
das —> virtudes, como também sobre as falo, as palavras acrescentadas imediatamente
dimensões escatológicas e eclesiais de nossa depois da parte da frase na qual se encontram
vida cristã, em suma, tudo o que pode ser as palavras una sauttttts sublinham que a s.
proposto como essência da vida cristã en- cristã, radicalmente una enquanto união a
quanto tal ou como propriedade, qualidade e Cristo, se diferencia "segundo os dons e as
características típicas dos que, movidos pelo funções de cada uni".
Espírito Santo, vivem sua união com Cristo na O ensinamento da Sagrada Escritura sobre
Igreja, explica e aprofunda o sentido da a liberdade soberana e liberalidade de Deus na
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distribuição de suas "graças" e de seus —>
"dons", dados a nós segundo a medida da
doação de Cristo, é inequivocamente
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974
SIM no Luvas noite (Cn 1,3-5)... O bem- mas cura dos quatro cismas originários - de
aventurado hagiógrafo, mediante a Deus, de nós mesmos, dos outros e do cosmo
linguagem hagio-gráfica, viu que Deus - cisma tanto condicionante quanto
misericordioso se fez condescendente com a "conatural". O mito platônico do andrógino
pouquidão da capacidade humana... De falo, inicial iluminou alguma coisa em nível an -
para a pouquidão dos que o ouviam, o tropológico: "Cada um de nós 6 s. do homem
Espírito Santo inspirava a linguagem do todo porque de urn que ele era foi dividido
hagiográfica de modo que ele narrasse todas em dois. Por isso cada um de nós está sem -
as coisas adequando-se a elas P a i a pre à procura do outro, s. de si mesmo". 11
Far-lhe-á eco o discípulo de Aristóteles (f
compreendermos a benignidade inefável de
322 a.C), afirmando que o homem ea mulher
Deus e qual condescendência usou ele em
são "s." um do outro. Para nós, cristãos, a
seu falar, solícito e providente com nossa
solução para todos os níveis se encontra
natureza humana, vejamos como o filho do
entrando no sistema simbólico universal de
trovão (cl. Ale 3,17) não se move com os Deus. sistema que é círculo virtual de toda
mesmos passos, mas - uma vez que o gênero vicarie-dade de presença, cismática e santa,
humano tinha progredido em sua capacidade eidética, ética, estética, imperfeita e
- conduz os que o ouvem a conhecimento perfeita, intra-mundana e teândrica: o
mais sublime. Diz ele: 'No prin cípio era o homem, ele mesmo» 5. de Deus.
Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo
era Deus' (Jo 1,1), e acrescenta: 'O Verbo III. O .s, mistérico cristão é glória de
era a luz verdadeira, que ilumina todo imanência. A dinâmica simbólica do mistério
homem; ela vinha ao mundo' (Jo 1,9). De não é um optional; na verdade, ele atinge a
fato, como pela Palavra de Deus foi criada a biologia cristã em seu próprio coração sa-
luz sensível, e as trevas visíveis foram afu - cramentai. Se um 5. qualquer remeteà ordem
gentadas, assim a luz inteligível fixa as tre - de uma transcendência, nosso s, mistérico
vas do erro e guia os errantes para a verda - leva à ordem da imanência cristã, a qual não
de (cf. Jo 1,14). Com suma gratidão re - é a sólita polaridade exclusiva da transcen -
cebamos, pois, as divinas Escrituras...". 9 Por dência, mas a atitude autônoma caracterís -
isso, por tal descida divina até os homens, tica da transcendência na economia sacra-
os s. mistéricos cristãos, cada um em sua mental divina. (.) próprio termo Cao
ordem, são infalivelmente eficazes do alto; contrário de irans/scatidere, "subir,
subir/além", que é de matrizes religiosas e
não são magia ou pretensa manipulação do
não religiosas comuns) in/manere,
divino, aprisionado à vontade embaixo. Com
"permanecer, morar, estar em", é de matriz
suma gratidão recebamos, portanto, toda a
bíblica neotestamentâi ia (cf. Jo 14,15-
condescendência de Deus misericordioso
17.19-20.23; Uo 4,12-13.15-160. A
pela qual seu Espírito Santo adapta e imanência de nosso divino Transcendente é
adequa para nós cada palavra. "O Espírito para nós experiência mistérica e permanên -
do Senhor enche o universo e, abraçan do cia sacramental do Emanuel, "Deus-conosco"
todas as coisas, conhece todas as pala - (cf. Is 7,14; Mt 1,23). Por isso a nossa dinâ -
** IA mica simbólica não é metodologia científica,
vras. 10 mas a "poiétíca" de experiência da presença
Evidentemente é epifania do alto; mas é de Deus mediada esteticamente; e isso, mes -
aparecer da santidade. Istoé, aparecer, mo que, na biologia cristã, para buscar a
repitamo-lo, da relação interpessoal de Deus vida divina e seu infinito de Bondade, de
uno e trino a nós e de nós ao nosso Deus Verdade e de Beleza, se realize uma sinergia
(isso é o saneiam), e precisemos: epifania de entre simbolização e conceitualização, que
santidade, não de sacralidade, porque esta, não se elidem, mas se postulam
sendo uma transcendência separada, posta mutuamente; como a conceitualização tem
de lado (isso é o sacrum), não entrará na seu modo assim a simh( tlização tem sua
concate-nação simbólica, e os modos de sua quulil t cação específica segundo o modo de
presença não suscitarão problemas procedimento "poiético"-estético: glória de
hermenêuticos adicionais, embora Imanência, isto é, epifania em beleza de
infelizmente não seja infreqüente a Deus-conosco.
substituição da santidade por formas de Poietiké é derivação de "formar com arte,
sacralidade. A ascese do imaginário sensível dar o ser dando à luz, suscitar celebrando,
e a laboriosa crítica do fantasma não são realizar freqüentando'7"mandar fazer criati -
renúnca estóica nem subida neoplatô-nica, vamente para si"; e aisthetiké é derivação de
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974
"perceber, contemplar, apreender sensivel -
mente". São variações harmônicas e lumino-
sas do fazer/mandar fazer esteticamente
para si, no qual se realiza o s. mistérico
cristão. Variações convenientes à densidade
variegada
uma vez que, para chegar ao ápice da união religião, em suas origens, é experiência do
míslica. são percorridas, pelos que a experi- radicalmente Outro em relação ao homem, de
mentaram, vias ativas, justamente ascéticas, Potência que aparece na iluminação mística
com técnicas particulares de —> meditação ou como o la rol que orienta o sentido da vida e
de exercício progressivo de —> desapego dos permite adquirir visão unitária do mundo e do
condicionamentos terrenos, como se dá, por cosmo. Por isso, enquanto a prática religiosa
exemplo, no —> hinduísmo e no —> budismo ou a adesão a uma Igreja pode declinar em
com a ioga. Tròeltsch, por sua vez, concentra a sociedades secuhu izada.s como as nossas, a
procura de experiência míslica tende a persistir
análise sobretudo no cristianismo e insere sua
e, segundo algumas pesquisas empíricas, a
reflexão sobre a mística numa tipologia
mostrar sinais de retomada na população
soeioneligiosa que prevê, ao lado do tipo/Igre -
européia. As razões que habitualmente aduzem
ja, de um lado, eclo tipo/seita, do outro,
os estudiosos citados para explicar a
terceiro tipo: o tipo mística. Trocltsch, em
persistência da procura da experiência mística
primeiro lugar, define a mística como são duas: a. A necessidade do ser humano de
experiência religiosa direta, imediata, pessoal, chegar à experiência da —> união com Deus ou
que realiza o contato com Deus, experiência com uma Força superior está inscrita no
que, portanto, por definição, não tem códiiio uenélico e liuada. de um lado, ã
necessidade nem de ritos nem de dogmas nem necessidade do indivíduo de satisfazer o desejo
de institui-ções para ser atingida. Isso não de imortalidade (superação do medo da morte),
signilica, para Trocltsch, que a míslica se e, do outro, ao desejo de amar e ser amado
oponha a uma religião institucional: a mística, (que encontra no Absoluto plena satisfação); b.
segundo ele, é antes via particular que pode a modernidade perene da experiência míslica:
existir dentro de uma Igreja ou de uma seita. sendo ela uma via subjetiva, livrée pessoal, de
Em segundo lugar, julga ■- e aqui está o alcançar estados de intensa união com Deus,
aspecto mais interessante de sua reflexão adapiar-se-ia melhor à cultura eà
sociológica - que a mística possa dar origem a sensibilidade modernas, que exaltam a
uma íorma de agregação religiosa particular, centralidade do indivíduo.
diferente tanto do tipo/Igreja quanto do
NOTA: 1 Economia e società, II, 233.
tipo/seita. Com eleito, ele pensa que em torno
da ligura do místico tende a desenvolver-se um BIBL.: S.S. Acquaviva, L'eclissi dei sacra netla
civiltà indu sinale, Milão 1961; Id., Eros, morte ed
complexo sutil de ligações, uma rede quase
espe-rienza religiosa, Bari 1990; S.S.
invisível de comunicação religiosa, círculos Acqiiaviva-H. Pace. Sncioloiíia deite retiniam,
íntimos de edificação e de meditação Roma 1992; G AV. Allpori. The Individual and
comunitária, que desempenharam, algumas His Religion. Nova York 19v>: R. Bastide,
vezes, na história do cristianismo, função St/cioh/gia e psicologia dei misticismo. Roma
1975; S. Burgalassi, I A I situaZ I O iie deli'espe
socioireligiosa importante, alimentando rienz .il te.ligi.osa net le soc ici à oceidentali, in
correntes de reforma interna na Igreja católica Aa.Vv.. lA -sperienza religiosa ogpj, Milão 1986.
ou propondo vias de edificação espiritual ou 24 b2: P. I L i v r.xplorint' Inner Space, Londres
modelos de vida ascética exemplares, que 1987: Id.. Religi- >ÍÍS Expérience Today, Londres
contribuíram para a mudança de estilos de 1990; EX. Kaufmann, Sociologia c teologia.
Rapportieconjlitti, Brescia 1974; G. Le Bras.
espiritualidade. Studi d; socioh/gia religiosa, Milão 1 969; E.
Pace, Ascetie mistici in una società secolarizzata,
II. A experiência mística. Se são essas as Veneza 1983; 1). Pi/ziiii. I M spiritnedtta e le
abordagens clássicas do tema da mística clás- pics-pettive dei sociólogo, i n Aa.Vv., Vesistenzfl
sica, na s. contemporânea veio se firmando u n i Cristiana, Roma 1990, 79-104; E. Troettsch, Le
novo li Ião de estudos e de pesquisas re-
dot trine sociali dette chiese e dei yruppi Cristiani,
Florença 1 94 ] i u >l I), 1960 (vol. I J j ; A.
presentados por estudiosos como Davi Hav na Vergoie, Psicologia religiosa, Roma 1979; M.
Inglaterra e Sabino Acquaviva na Itália. Os Weber, Economia e società, Milão
estudos deles destacam que, para além das 1961; Ici.. Sociologia deliu tvtiyjtme, Turim 1976.
formas visíveis da religião, existe um núcleo
fundamental perene no fenómeno religioso, o & Pace
qual é representado pela > experiência mística.
Nesse sentido, a religião não é saber nem agir,
mas substancialmente —> sentimento forte, o
qual, só no segundo tempo é que se mostra
capaz de dar origem ao saber e ao agir. A
Matenal com direitos autorais
SOFRER
I, Descrição do fenômeno. Desde sempre os
discípulos de Cristo procuraram seguir seu
Mestre carregando a ~> cruz. Nos primeiros
séculos, cristãos fervorosos q u e r i a m i m i -
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SUGESTÃO comunicação, e - seguindo o mesmo critério
- uma comunicação é tanto mais sugestiva
mental ou cie caráter. O grau de sugestiona-
quanto mais consegue modificar uma
bilidade varia com a idade e com as circuns -
pessoa, 990
tâncias; muita coisa depende do estado de
consciência da pessoa e da cslmtura da pode-se afirmar também que o -> transe é
situação. A sugestionabilidade atinge os condição global da pessoa no qual os proces -
níveis máximos no —> transe profundo. Mas sos ideaíivos são tão fortes, vivos e pre -
isso nem sempre se verifica. 1 A ponderantes que modificam os processos
sugestionabilidade pode aumentar com a neuro-fisiológicos. Quanto maiores são as
repetição da mesma mensagem ou com modificações dos processos orgânicos tanto
mensagens diferentes, mas convergentes, de mais sugestivos são os processos ideativos.
uma mesma idéia. A sugestionabilidade Uma idéia ou imaginação é sugestiva à medi -
aumenta com linguagem figurada da que modifica. Essa idéia pode ser comu -
apropriada: com comunicação metafórica nicada por outra pessoa, e então se fala de
sintonizada com o inconsciente da hetero-5.; pode-se falar de auto-s. quando
pessoa (comunicação metafórica). 2 uma modificação (ou um fenômeno) se dá
Pode se lalar de sugestionabilidade incons- sob o estímulo de uma idéia ou sensação
\ -
ciente nos casos nos quais, em nível cons - própria, não sugerida nem comunicada por
ciente, a pessoa não pareça sugestionada, outros; a
mas depois se comporta como foi única dilcrença c que, na auto-s., a mesma
condicionada. Esse é o caso das sugest ões pessoa é a fonte e o destinatário da mensa-
recebidas durante uma fase particular do gem sugestiva. Antes, podemos dizer que io -
sono ou durante a anestesia total. A s., da hetero-v. é eticaz a medida que se torna
indireta é a que, apesar de não ser percebida auto -5.
pela consciência da pessoa, conserva sua É difícil prever o poder da s.; ele pode ser
eficácia. conhecido só posí fadam ("depois de leito" ou
A 5. pode chegar ao ponto de induzir uma verificado); como no caso de um terremo to,
tipologia de sonhos, de condicionar e modi- seu poder pode ser aferido só considerando-
ficar reflexos, de modular sensações de pra - se o que ela produziu. Desse ponto de vis ta,
zer e de dor, de alterar a percepção através a avaliação da s. pode ser feita a partir do
dos sentidos externos e internos e de modi - esquema juuguiano quadripartido: sentimen -
ficar, dentro de certos limites, as funções \ to - emoção - intelecto - vontade. A emoção
isect ais e endócrinas. Em ou Iras palavras, é eficaz ò medida que modifica a intensida-
a 5. nos revela a unidade psicossomática do de, as articulações c os efeitos de sentimen -
ser humano. tos, emoções, idéias e vontade. As manifesta -
Existem provas de sugestionabilidade que ções psico-neuro-endócrino-imunológicas
indicam o grau de aceitação de estímulos tem estreita correlação com esse esquema
imaginados e a propensão paia o auto- quadri partido.
matismo psicomotor. Não se pode lalar de Os funcionamentos fisiológicos gerais e os
provas objetivas de sugestionabilidade; uma específicos de um aparelho podem ser modi-
das melhores indicações pode ser deduzida ficados indistintamente por efeito tanto de
seguindo o critério pragmático: um estimulo hetero -5. como de auto-s. O que aciona as
é tanto mais "sugestivo" quanto mais modifi - modificações não é tanto a fonte de informa -
ca a pessoa; as pessoas mais sugestionáveis ção enquanto tal quanto a intensidade cios
são as que se modificam mais facilmente e processos ideativos: quanto mais sugeridos
mais espontaneamente. Os órgãos que se eles forem tanto mais sugestionáveis serão
modificam mais em resposta a um estímulo os processos fisiológicos. Além disso, os
[iodem ser considerados como "órgãos mais processos fisiológicos mais sugestionáveis
sugestionáveis", e essa sugestionabilidade de são os mais diretamente correlatos com os
órgão varia com a estrutura psicofísica da processos ideativos mais ativos.
pessoa e da situação sistêmica. A sugestionabilidade constitucional de
"A 5. se revela assim como processo psí- aparelho corresponde ao grau de permeabi-
quico de caráter irracional e em grande parte lidade constitucional entre psique e
inconsciente em conseqüência de relação e aparelho.
rnot ivo-afe t i va p a r l i c u I ar". 3 Em toda pessoa há um aparelho (cardio-
Seguindo o critério pragmático segundo o vascular, muscular, sensitivo, digestivo,
tegu-mentário etc.) mais sensível e
qual uma pessoa é tão mais sugestionável
permeável do que a idcoplasia hipnótica, do
quanto mais se modifica por causa de uma
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mesmo modo que em toda pessoa há um
canal constitucional preferencial com o qual
ela se relaciona com o mundo, e, por isso,
há pessoas tendencialmente visivas ou
prevalentemente auditivas ou mais
acentuadamente cinestéticas, ou outra
coisa.
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100 TEMOR £H-
1 DEES
dadeiro -> culto c pertence à expressão da — Também —> Pai do e —» João insistem
» adoração e da reverência paia com o Deus nesse tema. O Apóstolo das gentes, sentindo
infinito e santo. Deus certamente e —> Pai, toda a alegria e gratidão pela obra de ->
mas ê sempre o totalmente outro, acima de Cristo, que renovou toda a história do
todo mérito e de toda capacidade do homem mundo, percebe que com a —> redenção
de estai dignamente diante dele. passamos de regime de tutela, de servidão e
Para a revelação, Deus é santíssimo e jus - corno que de menoridade para regime de
tíssimo, e, ao mesmo tempo, misericordio- idade madura e de > liberdade filial. As
síssimo e cheio de piedade. Essa verdade conseqüências mais evidentes são que
obriga o homem a rejeitar a angústia ou o entramos na era da —> graça mais
pânico que os pagãos tinham em relação à abundante possível, de modo que não existe
divindade. mais nenhuma condenação para quem é de
Cristo. Mas - como o Apóstolo explica, em
II. Na Escritura. Qual é a relação entre particular na Carlo nos Romanos - o cristão
temor e amor? Em não exclui o outro? San to não pode voltai" a viver segundo a carne,
—> Agostinho não teria exagerado quan do porque contristaria o —> Espírito, que está
disse: "É esta, de forma muito breve c clara nele, e obviamente recairia na escravidão e
a diferença entre os dois Testamentos: o no pior temor. Se o Espírito significa
temor (no Antigo) e o amor (no Novo)"? O AT liberdade eamor autêntico, o pecado
privilegia realmente um temor tão grande significa para o homem a queda no temor
que não combine com o amor? A Eei do Sinai odioso e aviltante, se não na indiferença.
foi dada por Deus só pata ter súditos São João, em sua primeira carta, quer que
obedientes e temerosos, ou antes para criar 0 crente se confesse pecador, porque essa é
filhos amorosos? —> Os profetas que vieram loiína primeira e basilar de verdade e liber-
antes de Cristo anunciaram talvez o Deus da dade, mas não admite que ele cultive o peca -
cólera, insinuando um temor angustiante? do, porque ele deve viver em Cristo. Viver em
Ou pregaram que os "direitos" de Deus Cristo é viver no amor verdadeiro; e "o amor
correspondem ao direito principal que ele se expulsa o temor", tornando Jesus e o crente
reserva, o de ver os homens afeiçoados a ele cada vez mais íntimos entre si. Certamen te,
e seguros de seu amor? Se ele punia seu como diria santo Agostinho, "ã medida que
povo, fazia-o simplesmente para vingar sua permanece em Cristo, o homem não peca";
honra ou também para corrigir mas ninguém pode considerar-se protegido
desveladamente, embora de forma se vera, contra toda —> fraqueza, como Paulo também
como faria um pai que ama e quer ser ensinava.
amado?
lissas perguntas levam a respostas que III. Ao longo da história da teologia volta
não permitem depreciar o AT, antes, ajudam muitas vezes o tema do /. sadio e realista. É
a ver que o "cumprimento ' realizado no NT visto tanto do lado da fraqueza humana
éamore temor bem harmonizados. \fa nova quanto do da atenção escrupulosa a Deus,
aliança não é abolido nem um iola da pre - que, mesmo tendo compreensão com as fra -
gação fundamental tios profetas, que prepa - quezas, não aceita que a pessoa se acomode
raram a vinda de Cristo e cuja pregação so- nelas.
bre o /. é a que dissemos no começo. Nos Santo Agostinho lala de temor filial, que é
Evangelhos Jesus insiste com sabedoria aquele de quem se esforça para progredir
nova sobre Deus, aprcsenlando-o como continuamente a fim de chegará meta; mas
extremamente bom, mas nunca como Pai que há um temor servil, que é o daquele que,
não seja santamente exigente tanto a ainda não totalmente educado para o amor,
respeito das obras a fazer, como a respeito evita o mal por indistinto, mas útil
das intenções e projetos e também quanto sentimento de medo do que o mal pode
aos —> sentimentos e ale tos. Jesus quer causar-lhe aqui embaixo e principalmente no
que vivamos com confiança extrema no Pai, tribunal de Deus. O magistéi io da Igreja
mas pede também vigilância severa, sempre sempre sustentou que certo t. é sina! de
vontade decidida daquele que luta para não
para honrarmos o Pai. Isso significa que
ser vencido pelo mal e que, temendo as
devemos ter o equilibrado /.
insídias da natureza, pede ao Pai que o livre
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das —> tentações. O /. é. pois, princípio de -
> sabedoria (cl. SI
1 10,10) e, como dom do Espírito, é o hábito
sobrenatural pelo qual o ciente adquire uma
> docilidade especial para submeter-se à
vontade divina e para percorrer, como ver -
dadeiro filho de Deus, o —> itinerário místico
que o leva à comunhão com as Pessoas
divinas.
todas as outras coisas; c ele é inominado jus- Filho" (Strômata. V, XI, 71, 1-5,Paris,
tamente porque nós não sabemos dizer nada 1981,142-145). O homem não pode conhecer
sobre ele, mas somente tentamos, como po- Deus, porque é invisível e indizível; segundo
demos, dar alguma indicação em torno dele, Clemente, nesse ponto estão de acordo
MJ para uso nosso, entre nós".' lambem os filósofos, entre os quais -> Platão.
Assim todos os nomes que atribuímos a Deus
III. Nos -> Padres. 1. Entre os apologistas são impróprios.
gregos, devemos recordar Justino (t 1 65), —* Orígenes pensa que nós não podemos
que se ressente da influência da filosofia conhecer Deus cm sua substância, mas só por
platônica. Em seus escritos em defesa da fé, ele meio do lx>gos, isto é, do Cristo, "figura ex-
sublinha a noção de Deus único e presso suhsunUiaeei suhsisterttioe Dei" ("figura
transcendente. Deus é sem origem, por isso expressa da substância e da subsistência de
não pode ser nomeado: "O Criador do universo Deus"), e, além disso, por meio das criaturas.
não tem nome, porque não é gerado. Receber Escreve ele: "Às vezes nossos olhos não
um nome pressupõe alguém mais \elho que podem olhar a natureza da luz, isto é, a
dê esse nome. As palavras —> Pai, Deus, substância do sol; mas observando seu
Criador, Senhor e Dono não sào nomes, mas esplendor e os raios que se difundem nas
indicativos motivados por seus benefícios e janelas ou em pequenos ambientes aptos para
por suas ações. A palavra "Deus" não é nome, receber a luz, podemos deduzir quão grandes
mas aproximação natural ao homem para são o princípio e a fonte da luz material.
designar uma coisa inexplicável" (II Apologia Analogamente as obras da providência divina
6,1, Paris, 1987, 204-205). e a mestria que se revela em nosso universo
Teófilo (t e. 180), bispo de Antioquia da são, por assim dizer, os raios de Deus cm
Síria, nos (rês livros Ad AuiolyciuH, nos quais comparação com sua natureza e com sua
defende o cristianismo contra as objeções do substância. Portanto, já que a nossa —» mente
pagão Autólico, escreve: "O aspecto de Deus com suas forças não pode conhecer Deus como
é inefável, inexprimível e invisível aos olhos ele é, pela beleza de suas obras e pela
carnais. A sua glória 6 sem limites, a sua maguilicencia de suas criaturas ela o
grandeza sem confins, a sua altura reconhece como pai do
universo" (De Principiis, I, 1, 6, 132-133). 2. Os
inacessível, a sua força incomensurável, a
capadócios: —> Basílio defende a dou
sua sabedoria
trina de Nice" ia contra os partidos arianos.
inigualável, a sua bondade inimitável, a sua Ele professa sua fé em Deus que é um só ser
caridade indizível" (Ad Autohcum I, 3, Paris, divino (ousia) nas três Pessoas (hipóstases) do
1948, 62-63). Pai, do Filho e do —> Espírito Santo. Na
—> Clemente de Alexandria diz que para polêmica contra Eunômio ( f 395). formula
chegar a Deus é necessária purificação em uma teoria que une a negação e a afirmação:
nível intelectivo, a qual se obtém mediante a "Entre as palavras ditas de Deus, algumas
análise: "Nós obtemos o modo catárlico pela indicam aquilo que está presente nele,
confissão, e o modo epóptico pela via da aná - outras, ao contrário, o que não está presente.
lise, progredindo para a inteligência primeira... A partir dessas duas séries, imprime-se em
Se, portanto, depois de termos tirado todos os nós uma espécie de marca de Deus,
atributos do corpo e os que são chamados proveniente tanto da negação dos -?
incorpóreos, nós nos lançássemos para a atributos que não convém
grande/a do -> Cristo e de lá avançássemos
como da confissão dos que existem". Nós o
por meio da —» santidade para o abismo, nos
chamamos incorruptível, invisível, imutável,
aproximaríamos, de algum modo, da
não-gerado. Cada uma dessas designações
intelecçáodo Onipotente, reconhecendo não
nos ensina a não cairmos na impropriedade
que ele é, mas que ele não é... A causa pri-
das noções quando refletimos sobre Deus*
meira não é lugar; ela está acima do lugar,
(Adversas Eunouiium, 1, 10, Paris, 1982, 204-
do tempo, do nome, da intelecção. Por isso
205).
Moisés diz: "Mostra-te a mim"; de modo niais
-» Gregório de Nissa é considerado o fun-
claro, isso significa que Deus não pode ser
dador da mística cristã. Ele usa as fontes
ensinado, nem dito entre os homens, mas
clássicas: Platão, os neoplatônicos e os
que pode somente ser conhecido por meio do
estóicos. O centro de sua especulação mística
efeito do poder que vem dele, porque o objeto
forma-o a doutrina da imagem de Deus no
da procura ê sem forma e invisível, e a graça
homem. Ela auxilia a razão, a qual, enquanto
do conhecimento verti de Deus por meio do
limitada, não consegue apreender a essência de
Matena! com direitos autorais
Deus. Escreve Gregório: "A natureza divina,
naquilo que ela é segundo sua essência, su-
pera toda a capacidade do pensamento, já
que é inacessível e inatingível > penetração
da
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I Í .X10S MÍSTICOS - THKOI .OG1A DIU) I SCI I 102
4
tan do o homem cm Deus, aniquilando o âm- entusiasmo foi diminuindo até tornar-se hos-
bito seguro do humano e reestruturando a tilidade aberta, mas a obra já tinha adquirido
consciência espiritual em torno do centro de grande notoriedade, que foi mantida muito
seu Ser. A leitura é processo dinâmico no qual viva por homens como Sebastian Franck (t
a forma lóuica da linuuauem humana é 1342), Mans I)enck( 1-1527) eValentin Wei-
"trans-formada" em dinâmica de amor. Os gel (t 1588).
verbos delineiam muitas vezes a passagem. O No século XVI o livro teve vinte e seis edi-
texto místico não expõe uma realidade, mas ções alemãs, quatro traduções latinas, duas
cria o espaço no qual a realidade divina se trancesas, uma flamenga e, nos séculos se-
guintes, numerosas outras edições - alemãs,
numa operativa. Conseqüentemente o
inglesas, francesas etc. -, de modo que se tor-
verdadeiro leitor não pode mais proteger-se
nou seguramente o texto mais conhecido e
do confronto, arrastado que é ao mundo
representativo da mística alemã assim cha-
desconhecido, caminhando nele como
mada especulativa.
peregrino no deserto. Não sabemos onde Lutero o encontrou, e
BIBL.: Aa.Vv., Ani del Congresso Internationale di não conhecemos os manuscritos usados por
Semeiotica dei lesto Místico. L'Aquila 1995; ele. Os primeiros testemunhos em nosso po-
Ch.-A. Bernard, hi percevtion mystique der remontam ã secunda metade do século
visionaire. in Studies in Spirituality, 6 (1996), 168- XV. O nome do autor é desconhecido; as ten-
193; H. Blomrnes-tijn - F. Maas, Kruispunten in tativas para identificar o "sacerdote da
de mystieke traditie, I .'A\a 1990; M. tie Ordem Teutõnica, porteiro do convento de
Ccrteiui. Poética è mística. Oues-tu mi di suma
religiosa, Milão 197;*; hl., hi Fabula mística, Franek-turt", ao qual o livro é atribuído no
Bolonha 1987; J. Dan, In Quest of a Historical manuscrito de Bronnbach (1497), não
Definition oi Mysticism, in Studies in Spiri- chegaram a resultados satisfatórios;
tuality, 3 (1993), 53-90; Id., Pie l/mguage of devemos, por isso, limitar-nos a indicá-lo
Mystical Prayer, m Studies in Spirituality, 5 como "der Franckfur-ler", o Anônimo de
(1995), 40-60; M. Huol tie Longchamp, Saint Francklurt.
Jean de la Croix; pour lire le Docteur mystique,
Paris 1991; K. Waaijnum, De mystieke rttimte O título verdadeiro da obra, como se pode
van de Karmel, Gent-Kampcn 1995; Id.. A deduzir da tradição manuscrita, antes que
Hermcneuiic o f Spirituality, in Studies in Lutero a intitulasse "Teologia alemã", por
Spirituality, 5 (1995), 5-39. causa das exigências de sua polêmica anti -
romana, é Büchlein vom vollkommenen
IL Blommestijn /.A'beti. A data da redação deve ser posta no
I itn tio século XIV. F certo, em lodo caso,
que ela, se insere na corrente espiritual que
parte de —> Fckhart e continua com —>
Suso e Tauler, autoridade citada no livro.
As poucas linhas introdutórias do manus-
crito de Bronnbach dão, em síntese, o con-
THEOLOGIA DEUTSCH teúdo do Livrinho. Ele "ensina muitas dou-t r i
nas preciosas sobre a verdade divina", mas
I. Origem e difusão. "Uma teologia alemã" sobretudo ensina a "distirmuir os verdadei-
ê o título L'( )in o qual Lutero (t t 546). cm ros amigos de Deus" dos falsos "espíritos li-
1518, em VVitlemberg, publicou de novo, cm vres". Com efeito, no essencial, o Livrinho repete
edição ampliada e remanejada, um escrito em o ensinamento eckhartiano sobre a verdade
alemão que ele já tinha editado dois anos divina, sublinhando, porém, seu
antes, sempre em Wittemherg, corno "nobre distanciamento das passagens heréticas, que
e espiritual livrinho", redigido segundo os tinham suscitado as suspeitas da autoridade
ensinamentos do "iluminado doutor > Tauler, eclesiástica. No Livrinho é muito forte a preo-
da Ordem dos Pregadores". Naqueles anos cupação de distinguir entre a —> liberdade
Lutero teve por essa obra uma estima muito absoluta de espírito, da qual goza o cristão
grande, igual ã que linha por Tauler, tanto enquanto —> "homem espiritual" (cf. ICor
que escreveu, no Prefacio de 1518, que nela, 2,15) e aquela espécie de imoralismo libertino
"logo depois da —» Bíblia e de —> Agostinho, no qual caíram alguns grupos (begardos,
ele tinha aprendido mais do que em qualquer Irmãos do Espírito Livre etc).
outro livro o que são Deus, -> Cristo e todas É possível que a obra se tenha originado
as outras coisas". Com o passar do tempo seu como coleção de instruções espirituais dadas
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por um religioso em algum convento de freiras
dependente da Ordem Teutõnica em Fran-
ckfurt (Sachsenhansen).
Isso explicaria o tom de literatura de edi-
ficação típico da "direção das monjas" justa-
mente como tinha sido exercida por Eckhart,
Escada de perfciçàa (ire/e [ralados); III, Di- in Santi e santità nelTOrdine cappuccino. [. org.
versos tratados (seis) sobre o verdadeiro, reto, Mariano d'Alatri, Roma 1980, 245-263; Id., s.v.,
in BS, Prima Appendice, 7-12; Cianmaria da
poro, filial, unitivo ou transformante amor, com
Spira.no. fra Tom maso da Olera, laico
um apêndice de vinte e três cartas; IV. cappneino {1 só i- /6111, in Misceilaneu
Conceitos morais et»iira os hereges, obra apo- Adrumo ttcrnarc^iii, org. L. Cortesi. Bér naino ]
logética escrita cm Viena em 1620. 631-760; Isidoro di Villa-padierna, 5 .v., in
DSA\t XV, 865-867.
II. Ensinamento espiritual. Sc bem que
/: Jcnisen
as três primeiras partes, na intenção do
ordenador e editor, Pc. Juvenal, sejam desti-
nadas respectivamente à instrução dos prin-
cipiantes, dos adiantados e dos perfeitos, não
loi mam verdadeiro e pn iprio matutai ou d
a-lado de ascética-rmstica, elaborado
segundo o método tradicional das três vias.
T. não era teórico, nem leitor de autores
TOMAS DE JESUS
espirituais. Ele mesmo escreve: "Nunca li uma
sílaba dos livros, mas me afadigo bastante 1. Vida e obras. Tomás de Jesus, no século
lendo o apaixonado Cristo", A finalidade de Diaz Sanchez Dá\ ila, nasceu ern Baeza (na
seus escritos era fazer arder de amor: "Que Andaluzia, Espanha), em 1 564, filho de Bal-
esses meus escritos - auspicia ele - 1 iram 11 tasar Sanchez e de Teresa Herrera. Freqüentou
a >racâo de quem os 1er; para que eu e eles os cursos de iilosolia e teologia na Uni-
(chagados e feridos desse amor divino) versidade de Baeza. Em 1583 estudou direito
possamos... louvar, adorai; bendizer, amai e na célebre Universidade de Salamanca. Lá o
contemplar esse Deus. digníssimo de todo Mestre Baltasar Céspedes, célebre humanis -
bem". ta, fê-lo conhecer os escritos de —» Teresa de
Nui]-ido da espiritualidade afetiva e cristo- Avila. Diaz leu a autobiografia de Teresa e fi-
cêntrica tradicional da Ordem, viveu e des- cou fascinado não só pelo estilo, mas também
creveu o puro —> amor a Deus como tema e principalmente pelas formas de oração
fundamental cie sua ascética e mística tratadas na obra, e em abril de 1586
vívidas na —» cotidianidade de sua vida de decidiu-se a entrar na Ordem dos carmelitas
esmoler contemplativo. Ensinava a todos descalços, na qual tomou o nome de T. de
aquela "alta sabedoria do amor" que "se Jesus, em sinal de devoção a santo —> Tomás
aprende nas claras chagas de Cristo"; exortava de Aquino. Leitor (professor) de teologia no
os outros a considerar-se "felizes no sofrimento" colégio de Santo Ângelo de Sevilha, pelo fim de
porque "o amor se conhece no sofrimento", e 1591 transferiu-se para Alcala de Henares,
insistia: "Desejo que sejais totalmente amor, onde continuou a ensinar teologia. Nesses
fogo e chamas. O amor verdadeiro não vê anos T. se dedicou ao estudo da Regra da Or-
prêmio, vê só o premiador, que é Deus". dem e pensou qu.c seria ütil fundar desertos,
Precedendo de uns cinqüenta anos santa —> nos quais os religiosos pudessem dedicar-se
Margarida Maria Alacoque, escreveu páginas ao menos por algum tempo à —> contempla-
ardentes sobre o Coração de Jesus, cujas dores ção. Manifestou sua intenção ao Vigário-Ge-
e amor contemplou, a cujo serviço, por uma ral, Nicolau de Jesus Maria (Doria). Foi só
vida de amor, dedicou-se e para o qual em 1592 que o P. Doria deu a permissão paia
convidou os outros. Ilindar um deserto. Assim o primeiro deserto
da Reforma foi fundado em Bolarque e
NOTAS: Editado em agosto 1682; reeditado em
1
madurado cm 24 de junho de 1593. Em
Nápoles 1683; nova edição modernizada org. 1607, Paulo V (t 1621) enviou um Breve que
por Fernando da Riese Pio X, Pádua 1986. obrigava o Padre T , em nome da obediência, a
BiiiL.: Obras: Fra Tommaso da Bergamo, Fuoco ir a Roma. Lá o P. T projetou íundar uni
d'amore mandato da Cristo in terra peresserc acceso, instituto exclusivamente missionário, que ele
org. por Fernando da Riese Pio X, com a denominou "Congregação de São Paulo". Apre-
colaboração de Giacomo Carminati, Pádua sentou as finalidades da o n\iirelação ao
1986. Antologia também de «umos textos, com papa, que deu a aprovação em 22 de julho de
introduções / l'raîi Cappuccini. Documenti e
iestimonianze dei primo secolo, org. por Costanzo
1608. 1*01" causa cie vozes contrárias, sui
Cargnoni, III/1, Perugia 1991,1452-1558. s*idas dentro da Ordem, o papa decidiu
Estudos: Fernando da Riese Pio X, Un suprimira nova Congregação só cinco anos
contemplativo per le strade. Tommaso Acerbis da Olera, mais tarde.
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Em 1610, o papa enviou o padre T. com
alguns companheiros a França e ã Bélgica "a
fim de erigir alguns mosteiros para ajudar os
fiéis e para reconduzir os hereges à fé". O
padre T. partiu com seus religiosos no dia 14
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TRANSE de modo a não poderem ser diferenciadas a
natureza e a motivação dos três fenômenos.
estados de consciência. Enfim, mesmo que 1034
estivéssemos seguros de que um /. é de na-
tureza mística, isso não poderia depor nem a Do ponto de vista psicodinârnico, a regres-
favor nem contra a santidade da pessoa em são a fases evolutivas anteriores diferencia a
questão. Os sinais de —> santidade não de- alucinação psicótica da alucinação hipnóti ca
veriam ser baseados numa fenomenologia e da alucinação no t. místico.
dissociativa mais ou menos maravilhosa, e Em certos casos alguns parâmetros podem
sim na adesão da vida interior e relacionai à diferenciar-se entre si, mas são tão sutis e tão
mensagem de Cristo. discutíveis que, ao menos por enquanto, não
podem ser generalizados, também porque o
III. Na psicologia da religião, a reflexão que foi dito valeria só paia os parâmetros
mais importante é a relativa ao signi ficado neurofisiológicos, cuja mensurabilidade é
do evento, que é da competência da -» relativamente lácil em comparação com a
teologia. O fato de haver semelhança mensurabilidade dos processos cognitivos
fenomênica não pode levar a reducionismo conscientes e principalmente inconscientes.
simplista, pelo qual um fenômeno seria re- A esses parâmetros seria necessário acrescentar
duzido a outro fenômeno sõ porque aparen- os parâmetros personológicos; nesse ponto,
temente é semelhante a ele. A -> psicologia da como se poderá observar, a complexidade é tal
religião poderá estudara estrutura psíquica da que não será fácil reduzir um estado de
pessoa que está em t. junto com as consciência a outro. Mesmo assim é certo que
psicodinâmicas subjetivas e culturais e com muitos traços são comuns a /. diferentes.
todas as correlações sistêmicas implicadas no Nesses casos, o cientista não pode ter certeza
fenômeno, mas nenhum psicólogo poderá sobre se um êxtase é só um dos muitos
traçar o diagnóstic< > da santidade. Isso não estados de consciência alterados; e o teólogo
é da competência nem do teólogo. O psicólogo não pode saber com certeza se se trata de san-
clínico poderá perceber eventuais patologias t idade.
pessoais, familiares e de relação, mas
nenhuma —» patologia poderá excluir a possi- NOTAS: 1G. Lapassade. Saggio suite trance, Milão
bilidade de santidade. 1980; C.T. Tart, Stati di coscienza, Roma 1975;
A respeito disso pode ajudar-nos a antro- M.S.
Gazzaniga, Stati delia niente e stato dei cervello,
pologia ontológica de V. E. Frankl, que trata Florença 1990; 2 Bento XIV, De Servurum Dei betai-
justamente do significado de evento místico ficatione et Beatortun canonizjitione, in Opera omnia,
em psicologia: qual é a diferença entre a —> 1747-51 ;3 A. lmbcrt-Gourheyre, I JX stigmatisation,
visão de uma mística, como Bernadette de l'extase divine et les miracles de Lourdes: response aux
Soubirou (t 1879), e a - ) alucinação de um libres jyenseurs, Clcrmont F. 1873; Outros estudos
psicótico? Se considerarmos só a fe - deste período: F. Lcfcbvrc. Louise Lateau de Bois-
d'Haibe: sa vie, ses extases, ses stigmates; étude mé-
nomenologia externa, isto é, os epifenôme-nos, dicale, Louvain 1873; M. Warlomont, Louise
deveremos constatar semelhança estreita; Lateau: Rapport médicale sur la stigmatisée de Bois-
mas o significado pode ser diferente. Três d'Haine, in Bld. Soc. Rov. Mëd. de Belgique, 15 (1875),
pessoas que choram podem manifestar na 144-314; 4 W.N. Pafinke, Psichiatria clinica e
mecânica da lacrimação semelhança notável, religione, E. Mansell Pcitison (org.), Milão 1973;5
mas é possível que uma chore de alegria, F. Granone, lïattato di ipnosi, I, Turim 1989, 88.
136, 251 ;6 LM.. Lewis. Ecstatic Religion,
outra de dor e a terceira, porque está
Harmondsworth 1978,38; I.P. Couliano,
cortando cebola. Esperienze dell'estasi dall'ellenismo al Mediœvo, Bari
P a i a explicar isso, Frankl recorre também 1984, 1-17;7 Cf. V.E. Frankl. Dio neW inconscio,
a projeções ortogonais: uma esfera, um cone e Bréscia 1990; 8 M. Margnelli e G. Gagliardi,
um cilindro que tenham o mesmo diâmetro, Ij£ apjxirizioni delta Madonna. Da lourdes a
projetam num plano um circulo, um triân- Medjugotje, i n Riza Scienze, 16(1987); v A.
gulo e um retângulo; e no outro plano proje- Pacciolla, Ipnosi, Cinisello Balsamo 1994. 224-
239; 10 F. Granone, Trattato... o.c, 289.
tam três círculos perfeitamente idênticos, de
modo que não se poderá dizer qual deles foi B(BL.: Aa.Vv., Extase, in DSAMIV/2,2045-2189; I.P.
projetado pela esfera, qual pelo cone e qual Couliano, Esperienze dell'estasi dall'ellenismo al
pelo cilindro. Analogamente, uma alucinação Mediœvo, Bari 1984; M.S. Gazzaniga, Stati délia
psicótica, uma alucinação cm l hipnótico e mente e stato dei cervello, Florença 1990; F. Gra-
uma visão mística, no plano psiquiátrico, po- none, Trattato di ipnosi, I, Turim 1989,88, 136,
deriam apresentar analogias surpreendentes, 251 : A. Imbert-Gourbeyre, La stigmatisation,
Texsfase divine et les miracles de lourdes: response aux
libres penseurs, Clermont F. 1873; G. Lapassade,
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Saggio suite trance, Milão 1980; F. Lefebvre, Louise
Lateau de Bois-d'Haine: sa vie, ses extases, ses
stigmates; étude médicale, Louvain 1873; I.M.
Lewis, Ecstatic Religion, Harmondsworth 1978,
38; A. Pacciolla, Ipnosi f Ciniscllo Balsamo
1994: V. Satura, Ekstase, in WMy, 132-134; C.T.
Tait, Stati di coscienza, Ron .:i
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VIDA irou H i Al.
LOS e nos critérios interpretativos que as Espírito..."; os "sacramentos... fazem a Igreja,
orientam, tentaram harmonizar esse conjunto, enquanto manifestam e comunicam aos
mas cias nunca são completas c todas as eras homens, sobretudo na —» Eucaristia, o
da história da Igreja devem caminhar com a Mistério tia comunhão do Deus Amor, Uno
Palavra para captar' suas exigências. Muitas em três Pessoas" (Ibid. n. 1119). "A igreja, em
teologias concordam em considerar que a sua doutrina, em sua vida e em seu culto,
contemplação é a operação das virtudes teo- perpetua e transmite a todas as gerações o
logais aperfeiçoadas pelos dons, isto é, pelas que ela é, o que ela crê...; as rique/as ida
potencialidades que o Espírito reali/a em tradição) suo transplantadas para a prática e
nós, para nos fazer convergir na Igreja, com para a vida da Igreja, que crê e que reza...; a
espírito unificado, em Deus fim último de comunicação que o l'ai fez de si mediante o
cada um de nós, da humanidade, da criação. seu Verbo no Espírito Santo permanece
Hs-ses dons iniciam a pessoa na vida presente e atuante na Igreja...; por meio (dela)
trinitária, no corpo de Cristo, na criação introduz os crentes em toda a verdade e faz
renovada. com que resida abundantemente, neles, a
O Espírito Santo infunde-os em nós e nas palavra de Cristo" (DV 8, citado nos nn. 78-79).
pessoas dóceis à sua ação, e mediante eles Essa pericorese entre vida eclesial e vida
permite superar as imperfeições que acompa- pessoal não tira nada da riqueza desta última,
nham os atos de cada virlude. Todos os dons pelo fato de que a multiplica, a gera, na força c
são ordenados a essa perfeição, que tem a sua na luz que vem da Cabeça da qual c o corpo,
expressão na atividade da -* sabedoria. do l-.spiri o » que a vivifica, do amor do Pai de
Os graus de perfeição das virtudes u -t do- onde brota e que a beatifica em sua
gais são os mesmos da vida cristã, eles passam plenitude. No concreto da existência, essa
do estado incipiente, proficiente e chegam ao participação é luminosa, alegre e, ao mesmo
perfeito, isto é, à unificação do conhecimento, tempo, sofrida. O risco e a coragem de querer-
dos desejos, no amor de comunhão com as se sempre, no tempo bom e nas tempestades,
Pessoas divinas e na conformidade imersos na comunhão do Corpo místico, que
com a sua vontade. conta com pessoas santas e pecadoras, que
3. Vem, Senhor Jesus. APáscoa-Pcntecostes, aspiram à luz e tateiam
o nascimento da Igreja, corpo de Cristo, povo na noite; o perseverar na fidelidade com ati-
de Deus, templo do Espírito, torna crístico- tude de partilha, não de seleiividade; tudo
eclesial o dinamismo da t>. nos "cristos" do Pai isso faz com que a caridade, sedenta de luz,
conduzidos pelo Espírito. A vida em graça, da se abra ã contemplação. Infelizmente, as
qual derivam as virtudes teologais e que é tendências individualistas e autonomistas,
reforçada por estas, é participação na paixão da alimentadas pela "vida fútil que herdastes dos
Igreja, que leva à realização da obra do Cristo vossos pais" (lPd 1,19), tornam árduo esse
(cf. Cl 1,24), para a plena manifestação da enraizamento eclesial. Elas são o fogo que
glória do Pai. A fonte e o cume da v. é prova o valor da fé e são também elas que
trinitária, por isso pascal e eclesial, porque no fazem com que retornem para "louvor, glória e
corpo de Cristo é que se derrama a vida do Pai e honra" dos crentes, na manifestação de Jesus
nele a humanidade conhece o Pai, obedece- Cristo, amado sem ser visto e crido sem vê-lo
lhe, ama-o e glorifica-o. A vida da e na Igreja é (cf. 1 Pd ],7s$). A Dei Verbum expressa a
a fonte, o contexto, a forma da vida tcologal, e profissão eclesial sobre a natureza, a gênese-
a vida da Igreja nasce da Páscoa do Cristo. O crescimento c o objeto dessa fé, tine habilita a
Mistério anunciado, celebrado, vivido, ver na luz que brota da sua fonte. Como lodo
contemplado na Igreja é a chave hermenêutica conhecimento humano parte do sensível,
e o contexto existencial da teologalidade. De assim todo conhecimento de fé nasce da
cada uma das virtudes se pode dizer o que o palavra e enraíza-se nela,16 numa compreensão
CIC diz da fé: "...Éato pessoal... mas não um que não se afasta do texto mas também não se
ato isolado. Ninguém pode crer sozinho..., detém nele, se deixa at rair e levar, a part ir
ninguém recebeu a fé de si mesmo, assim dele. paia o mundo do Mistério, de onde vem,
como ninguém recebe a vida de si próprio. O de que fala, rumo ao qual caminha (cf. Is
crente recebeu a fé de outros, e a outros deve 55,11), ao qual acompanha os eleitos,
transmiti-la" (n. 166). "A fé da Igreja precede a estrangeiros e peregrinos (cf. lPd 1,23; 2,1 1 ),
fé do crente, que é convidado a aderir a ela" Em sua caminhada, se fortalece com a força
(Ibid. n. 1124). "A Igreja é o sacramento da ação de Deus que, através dela, protege para a
de Cristo, que opera nela graças à missão do salvação o povo regenerado na ressurreição de
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VIDA irou H i Al. 1054
Cristo e vivo na esperança, na herança
conservada nos céus e próxima a revelar-se nos
últimos tempos (cf. lPd 1,3-5). Em dois
milênios de his
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1061 VIRTUDES CARDEAIS
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106 VUVIADK
9
apoiados no seu exemplo e na sua -> graça e amor a Deus c às coisas em Deus, intuição
(cf. Mt 7,21; 12.50). c avidez dessas realidades, iluminação e
Na teologia, a v. é tida como que "atenuada embriaguez de \\ nelas. A relação homem-
pelo -> pecado",1 tendo em vista seu valor Deus simplifica-se cada vez mais, até desco-
precípuo de liberdade; só com a graça do —> brir que as funções distintas (intelectiva,
Cristo é habilitada a conseguir os bens so- volitiva e memoraiiva) são superadas c que o
brenaturais. Us teólogos medievais, reconhe- espirito, em sua existencial unidade,
cendo que tanto a inteligência quanto a v. mergulha no divino, que c a l u z intelectual
haviam sido recuperadas pela graça, plena de amor.
Teresa de Avila dizia que a livre v. huma-
discutiram a respeito do primado de uma
na, se quiser progredir na experiência místi -
sobre a outra. Alguns (Alberto Mau no,
ca, deve submeter-se a uma lorte ascese
Tomás de Aquino), seguindo Aristóteles,
para salvaguardai" a própria liberdade das
davam o primado à inteligência, que conhece
seduções terrenas - e doar-se completamente
a essência do bem, embora atribuindo à tf a
a Deus, sem se preocupar com a atividade
função indispensável na consecução do bem
intelectiva. especialmente na oração de quie-
concreto. Acabaram concordando em conceder
tude. A linalidade da oração é a conformida-
certo primado à tf, porquanto o objeto da
de da V. humana com a de Deus.*
inteligência è Deus, superior à capacidade
—> João da Cruz escrevia: "Altzuns ai
intelectual do homem, e por isso c melhor o
irmam que a v. só ama aquilo que antes loi
amor a Deus do que o conhecimento dele.
apreendido pela inteligência, mas isso deve
Pata Tomás de Aquino, as duas faculdades,
ser entendido em sentido natural..,;
em sua dinâmica, evocam-se
sobrenaturalmente* Deus pode m u i t o bem
reciprocamente.
i n f u n d i r e aumentar o amor sem i n f u n d i r e
Outros (Hugo de São Vítor", Henrique de
aumentar o conhecimento distinto". 4
Gand, Duns liscoto), exaltando na u a fun-
Acrescentava que, sendo Deus luz e amor,
ção amorosa que tende ao bem, ou a ativida-
comunicava-se com a pessoa humana de vários
de1 da v. que domina o objeto da potência
modos: "Às vezes, percebe-se mais conhecimento
intelectiva e é autônoma, davam o primado à
do que amor; outras, mais amor do que
e. (voluntarismo). A v. livre de Deus constituiu
inteligência..., ou só conhecimento e nada de
o universo sem nenhuma predisposição
amor..., ou só a m o r sem nenhuma
intelectiva. Assim, o crente aceitaria a verda -
itilormaçào"." Para o doutor místico, u m ato
de revelada só pela lê, e a teologia ofereceria
de tf l e i t o com amor d i v irio vale m u i t o
sobretudo preceitos a observar.
mais do que todas as —> visões e
Pensadores modernos (Berkeley, I.eibniz)
comunicações celestes. A caminhada rumo ã ->
consideram a v. fundamento da psique hu-
perfeição ou à u n i ã o com Deus avança com a
mana e lhe atribuem um valor prático (Kant),
purificação ( n o i t e ) da v., med i a n t e o exercício
isto c, predominância sobre a razão teórica.
da —* caridade d i v i n a , q u e afasta a pessoa
Muitas outras nuanças sobre o primado da u
dos afetos terrenos, das > paixões naturais,
lorarn olerecidas por outros pensadores; in-
das obras inclusive sobrenaturais, para
clusive se contrapôs ao cartesiano "cogito,
endereçar-se para a posse da u de Deus, até
ergas um" o "m/o, eigosum" (Mainede Biran). Só
a m a r a Detis com a força do —> Esp í r i t o
os idealistas (Croce. Gentile) procuraram
Santo. 7 É este quem move a tf para a m a r a
anular o voluntarismo e o intelectualismo,
Deus,8 até u n i f i c a r a s duas vontades. 9
identificando v. e conhecimento,
Somente assim av. humana é
autoconsciência e processo volilivo.
verdadeirament e l i v r e e generosa.10
II. Na experiência mística. Os místicos
cristãos, na experiência mais elevada da >
N OTAS: 1 DS 792;2 Cf. Cammino di perfezione 10, 1;3
V i. Carteia ulterior; II, ] ,S;A ( an:it o espiritual
oração contemplativa e da —> união amorosa B, 2c\8; • Chama viva iie anu >r. 3,49;r Suhida do
com Deus, não levam em conta as preo- Monte Carmelo II, 22, 19; 7 Noite escura II, 4.2; 8
cupações filosóficas e teológicas do primado Cântico espiritual 17.4;* Ibid.. 38,3; Chama.... o.c.t
da v. sobre a inteligência, ou vice-versa, mas 1,28; l0/but, 3.78.
só aquele misterioso devir do espírito humano
BiHJ..: Aa.Vv., !xdueazi"ne delia volontà, Brescia
que, se tornando íntimo do sobrenatural, 1986; R. Assagioíi, I.atto di volontà, Roma 1977;
experimenta ao mesmo tempo conhecimento R Chuu-ehard. Domíniodt sesiesso. Psico
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fisiologia delia volontà. Roma 1988; LM. Fabci;
Psicopatologia delia volontà. Turim 1973; M.
Gibbas, Come rafjorzare la volontà persu}X'tare
o^ni ostaeoh >, Pádua 1981; T. Goffi, A^v.sv in
Dicionário dt'espiritualidade, Sào Paulo, 19^8; A.
Lipari. s.v.t in D ES I I I , 2677-2683; A M
Maslow. Motivazione e petsimahta, Roma 1978;
V. Ricoeur. filosofia delia volontà, Gênova 1990; P
Rahner, s.v., i n Id. (org.). Sacramentum mundi,
VIII, Brescia 1977, 380-682; L Seei/o, lulucazione
delia volontà, Bréseia 1983; A. Solignac. s.v., in
DSAM XVI. 1220-1248.
(7. G. Pcsenti
Guyon J.-Marie Bouvier de la Motte, leiga, 1717 (Pedrini Arnaldo), 487 Hábito
Macário do Egito, monge, 390 aprox. (Spidlík Tommaso), 658 Mager Alois-Auguste, OSB.
1946 (Micheletti Daniele), 658 Margarida de Oingt, cart., 1310 (Gioia Giuseppe), 659
Margarida Maria Alacoque, visit., santa, 1690 (Baldassarre Enrico), 661 Maria (De Fiores
Stefano), 662
Maria da Encarnação, religiosa, 1672 (Egan Harvey D.), 671
Maria de Jesus, OCD, 1640 (Velasco Balbino), 673
Maria de Jesus de Ágreda, f. cone. desc, 1665 (Zovalto Pietro), 674
Maria Madalena de'Pazzi, carm., 1607 (Verbrugghe Albert), 675
Maritain Jacques, filós., 1973 - Raissa, leiga, 1960 (Huber Maria Teresa), 622
Marmion Columba, OSB, 1923 (Mc Culloch Benedict), 678
Mártir (Rava Eva Carlotta), 680
Matilde de Hackeborn (Termolen Rosei), 681
Matilde de Magdeburgo, santa, 1282/94 (Termolen Rosei), 682
Matrimônio espiritual (Possanzini Stefano), 683
Máximo o Confessor, monge, santo, 662 (Dattrino Lorenzo), 687
Meditação (Herraiz Maximiliano), 691
Memória (Pesenti Giuseppe Graziano), 692
Mente (Pesente Giuseppe Graziano), 693
Merton Thomas, eist., 1968 (Cilia Antonio), 623
Metapsíquica (Goya Benito), 695
Métodos de oração (Gentili Antonio M.), 696
Michele de S. Agostinho, o. carm., 1682 (Garrido Pablo M.), 699
Michele dos Santos, trin. desc, 1625 (Pujana Juan), 700
ÍNDICE DOS VERBETES IPSO
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