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Étnico-Cultural
Material Teórico
Natureza da Cultura
Revisão Técnica:
Profa. Dra. Vivian Fiori
Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Natureza da Cultura
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Tratar das características da cultura;
· Definir alguns conceitos para cultura;
· Evidenciar a relação homem-natureza e a cultura;
· Tratar da obra de alguns autores sobre população, sociedade e cultura.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Natureza da Cultura
Isso, por si só, permite-nos empreender uma série de reflexões; vamos realizá-
-las, então, conjuntamente, após observarmos atentamente a Figura abaixo:
Antecipação do Futuro
Experiência
Figura 1
Podemos começar percebendo que o pensar humano se distingue do pensar
de outros seres em natureza exatamente por seu grau de consciência, ou seja, o
homem é consciente de que suas ações têm resultados, ou seja, o ser humano tem
plena capacidade de consciência de que aquilo que fizer trará consequências.
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Figura 2
Fonte: iStock/Getty Images
No caso de nosso personagem, como vimos, evitou molhar-se e isso foi per-
cebido por ele como algo bom. Esse valor positivo é deslocado pelo indivíduo, do
resultado para a própria ação, dando-lhe, então, um significado de acordo com
a qualidade do resultado, ou seja, tendo sido bom o resultado, aquela foi uma
boa ação.
Tais valores, significados e sentidos, por sua vez, passam a compor a identidade
do próprio indivíduo, ou seja, nesse caso, um homem esperto. No campo da
valoração, identidades podem ser determinadas das formas mais diversas: o
homem bom, mau, mentiroso, verdadeiro, justo, injusto etc. Identidades sociais
são, portanto, determinadas por repertórios de valores, significados e sentidos.
Ocorre que, quem determina o que é bom ou ruim para os resultados de uma
ação? Poderíamos estar em uma sociedade na qual a chuva fosse entendida como
uma dádiva dos deuses e que, portanto, não se deve evitá-la. Poderíamos estar em
uma sociedade para a qual a chuva tem um valor higiênico, de modo que aqueles
que fogem à chuva são entendidos como anti-higiênicos.
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UNIDADE Natureza da Cultura
Perceba que valores e morais – tudo aquilo que determina o certo e o errado,
o bom e o ruim, até mesmo o justo do injusto –, sejam quais forem, são relativos
no tempo e no espaço, ou seja, o que é bom e ruim para mim, ou moral e imoral,
pode ter sido entendido de forma completamente diferente por meus antepassados,
o que prova que valores e morais mudam de acordo com o tempo. Logo, tais
condições variam ao longo da história e não são iguais em todas as sociedades,
nem em todos os lugares.
O que é certo e errado para mim, muda também em relação a indivíduos que
vivam em outra parte do mundo, em outra cultura. Para várias sociedades ocidentais,
por exemplo, é natural ingerir carne bovina, inclusive de vaca; enquanto na Índia
esse animal é considerado sagrado; provando que valores e morais também estão
em transformação no espaço. Enfim, morais e valores estão em movimento no
tempo e no espaço.
Mas o que isso tem a ver com cultura? Tudo! Isso porque moral, valores, sentidos,
significados e identidades compõem aquilo que chamamos de sistema cultural.
Como todos os itens acima são relativos no tempo e no espaço, não se pode dizer
que haja uma só cultura; mas complexos de distintos sistemas culturais.
Se todos esses itens são relativos, portanto, todas as culturas também são relativas,
ou seja, não há culturas superiores ou inferiores; mas sim diferentes. Mais do que
isso, se esse pensar é inerente ao humano e a consciência um potencial de todos
os indivíduos – o que ativa todas as relações que identificamos e qualificamos acima
–, logo, não existe indivíduo sem cultura, todos possuem uma cultura: a sua cultura.
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Por isso, não apenas inexistem indivíduos sem cultura; mas inexistem sociedades
sem cultura; da mesma forma como não existem também sociedades mais ou menos
avançadas que outras em termos culturais, mas sim sociedades distintas entre si.
Temos de pensar também que esses valores podem ser gerados pelo indivíduo
ou grupo – e nem sempre podem coincidir. Por exemplo, segundo a moral e os
valores do grupo, a ação que cometi é errada, ou seja, atenta contra a moral do
grupo, portanto, sou alguém imoral para esse grupo. Ocorre que, para mim, a
ação que empreendi pode ser plenamente aceitável segundo os meus valores, o
que me permite perceber-me como alguém pleno de moral. Pelo fato de haver
uma moral dominante e uma moral do indivíduo, é possível que existam duas ou até
mais identidades sociais para o mesmo indivíduo. Ou seja, para o grupo sou alguém
imoral; para mim mesmo, sou um indivíduo moral.
Figura 4
Fonte: iStock/Getty Images
Após essa breve análise, podemos então compreender que a condição existencial
humana é cultural. Isso porque o homem atribui sentidos às suas ações, constrói
símbolos, cumula experiência e a transmite por meio da linguagem – oralidade,
iconografia e escrita. A atribuição de significados às ações coloca as experiências em
movimento, podendo ser partilhadas e compor um repertório cultural coletivo. Já a
situação existencial animal está condicionada ao mundo dos fenômenos; obedece a
uma programação biológica, instintiva, na qual a experiência se esgota em si.
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UNIDADE Natureza da Cultura
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A Cultura como Ação Transformadora do
Meio e do Homem
Outra forma de se compreender a constituição cultural das sociedades é a
partir de sua função transformadora do meio ambiente, do meio social e do
próprio homem. Para isso, mais uma vez, analisaremos e refletiremos sobre o
seguinte esquema:
Solução =
Ação Transformadora
Homem Meio Ambiente
Desenvolvimento necessário:
meios materiais + técnicas
Problema = sobrevivência
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UNIDADE Natureza da Cultura
Contudo, todas essas relações acabam determinando outro aspecto da vida social:
a cultura. O desenvolvimento da agricultura, que aqui mencionamos, implica em
um desenvolvimento cultural, nesse caso, da “cultura da enxada”. Não é por acaso
que o termo “cultura” foi utilizado pela primeira vez para se referir a atividades
econômicas na lavoura, isso porque, ainda segundo Marx, por meio do trabalho, o
homem altera não apenas o meio ambiente, mas a si. E como isso ocorre?
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Figura 10 – Escravos em plantação de algodão (Ilustração)
Fonte: iStock/Getty images
Não dissemos, citando Spencer, que o homem não existe solto no espaço, que
existe no meio geográfico? Assim, sua identidade social se constrói na interação do
indivíduo com o seu entorno, com a natureza, e como esse entorno foi modificado
pelo próprio homem.
Nesse sentido, o homem alterou a si, por conseguinte, alterou suas necessidades
e, sendo novas necessidades, a mesma forma de trabalho não poderia mais dar
conta das quais, de modo que se tornaram necessárias novas ações transformadoras
para atender a esse novo homem e suas novas necessidades.
Por sua vez, o meio foi alterado novamente, criando um novo homem, portador
de inéditas necessidades, formas de trabalho e, essencialmente, sistemas culturais.
É por isso que não existem sociedades estacionadas, todas estão fadadas à
transformação. Mas isso dito, parece que estamos, então, contradizendo Malthus
– citado no início da análise do quadro em questão. Isso porque, tendo alterado o
meio ambiente, o homem teria resolvido o descompasso entre suas necessidades e
aquilo que o meio ambiente poderia lhe oferecer, isso porque suas necessidades não
mais seriam maiores em relação ao que o meio poderia, transformado, fornecer.
Assim, por que, então, as sociedades mudam, se o problema do descompasso teria
deixado de existir?
Desse modo, um novo meio – alterado pela ação humana – traria novos problemas
à existência também humana, demandando sempre novos tipos de soluções, novas
ações transformadoras, de modo que novos sistemas culturais vão se formando daí.
Cabe uma pergunta: faltam alimentos ou estes são mal distribuídos? É preciso
relativizar o discurso de Malthus, considerando de onde veio e da época na qual viveu.
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UNIDADE Natureza da Cultura
Explor
Thomas Robert Malthus nasceu na Inglaterra, em 1766, filho de uma família abastada
e proprietária de terras. É considerado um economista e estudioso de demografia,
bem como foi pastor da igreja anglicana. Publicou sua obra, intitulada Ensaio sobre
população, em 1798, pela qual se tornou conhecido por definir que a população crescia
geometricamente, enquanto os alimentos aumentavam em uma proporção aritmética, o
que levaria à escassez dos recursos. Os adeptos de suas teorias ficaram conhecidos como
teóricos do malthusionismo.
Por que sistemas culturais teriam, então, segundo a visão marxista, uma deter-
minação decorrente das relações de produção? Ora, para Marx a infraestrutura
econômica das sociedades, ou seja, sua base econômica, determinaria a superes-
trutura política e ideológica, sendo a cultura a somatória dessas relações, pois se
inscreveria no modus vivendi das sociedades.
juntos algumas obras, entre as quais, O capital e o Manifesto do Partido Comunista. Suas
teorias sobre a sociedade e economia política influenciaram várias áreas do conhecimento,
evidenciando a luta de classes entre a burguesia e o proletariado, a relação entre capital e
trabalho, bem como a exploração do trabalhador. Conceitos como mais-valia, valor de uso
e de troca, mercadoria, produção e circulação, divisão social do trabalho, entre outros, são
usados por esses teóricos, cujo conjunto e pensamento ficaram conhecidos como marxismo.
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O Homem, a Natureza e o Meio
Assim, tendemos a nos distanciar cada vez mais das relações primordiais
geradoras de cultura, para assumir repertórios culturais gerados, em essência,
pela indústria de consumo de massa, conforme identificaram autores da chamada
Escola de Frankfurt, primordialmente Theodor Adorno, no conceito de indústria
cultural, publicado em 1947 no livro Dialética do iluminismo, que escreveu junto
de Max Horkheimer (SANTOS, 2014; PAIXÃO, 2012).
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UNIDADE Natureza da Cultura
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Esse processo foi brilhantemente mapeado
pelo renomado antropólogo brasileiro, Antônio
Cândido, em sua tese de Doutoramento, intitu-
lada Parceiros do Rio Bonito, na qual estudou
as mudanças culturais da, então chamada, “cul-
tura rústica”, a “cultura do caipira”, em relação
às transformações que estavam em curso e que
acabaram por reduzi-lo à condição de boia-fria,
como dito.
Figura 13 - Antônio Cândido
Devemos rever o conceito de relação do Fonte: Divulgação
homem para com o meio ambiente, que haja integração – e não domínio. Implica
em perceber que o Planeta é um sistema fechado e que o consumo desenfreado
– que é o combustível de um capitalismo aprofundado sobre si e sob a fachada de
socialmente responsável – é a causa da quase inviabilidade da existência humana
sobre a Terra, em uma perspectiva de muito pouco tempo.
Segundo o que vimos até aqui, conseguimos entender que coisas se refiram
aos materiais fabricados pelo homem para atender às suas necessidades de
sobrevivência, isso porque já sabemos que o homem é portador de necessidades
biológicas. Mas, e as ideias? A qual tipo de necessidades se referem?!
O que é cultura?
Explor
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UNIDADE Natureza da Cultura
Material e imaterial:
Explor
Depois de refletir ao longo dessas páginas sobre a cultura, podemos concluir que:
·· É universal na experiência do homem; entretanto, cada manifestação
local ou regional da cultura é única;
·· É estável e, não obstante, igualmente dinâmica, evidenciando contínua e
constante mudança;
·· Inclui e condiciona amplamente o curso de nossas vidas e, no entanto,
raramente interfere no pensamento consciente.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Antropologia Cultural
REIS, Nicoli Isabel dos. Resenha de: BOAS, Franz. Antropologia cultural. Org. Celso
Castro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. 109 p. Horizontes Antropológicos, Porto
Alegre, RS, v. 10, n. 22, jul./dez. 2004.
https://goo.gl/flaZVF
Livros
Antropologia Social e Cultural
CHICARINO, Tathiana. Antropologia social e cultural. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2014.
Cultura e Diversidade
CORRÊA, Rosa Lydia Teixeira. Cultura e diversidade. Curitiba, PR: Intersaberes, 2012.
Antropologia
GOMES, Mércio Pereira. Antropologia. São Paulo: Contexto, 2014.
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UNIDADE Natureza da Cultura
Referências
CHILDE, V. G. A evolução cultural do homem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1966.
ROCHA, E. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1988. (Col. Pri-
meiros passos).
SANTOS, Tamires Dias dos. Theodor Adorno: uma crítica à indústria cultural.
Revista Trágica: estudos de filosofia da imanência – 2º quadrimestre, v. 7 – nº 2,
2014, p. 25-36.
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Diversidade
Étnico-Cultural
Material Teórico
Teorias sobre Cultura
Revisão Técnica:
Profa. Dra. Vivian Fiori
Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Teorias sobre Cultura
• Introdução
• Teorias Antropológicas da Cultura
• Evolucionismo Cultural
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Analisar algumas teorias sobre cultura.
· Discutir alguns teóricos e suas obras sobre cultura.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Teorias sobre Cultura
Introdução
O que explicam as diferenças culturais? Ou seja, por que indivíduos demonstram
serem portadores de sistemas culturais sutis ou completamente distintos uns dos
outros, dependendo do lugar ou do tempo de sua existência?
Para complicar ainda mais essas questões, imagine a seguinte situação: um casal
de franceses tem dois filhos gêmeos idênticos, ocorre que o parto acontece na
Guatemala. Semanas depois, os irmãos são separados dos pais. Um dos quais é
criado por uma tribo na Namíbia, o outro é criado em Tóquio.
Por terem nascido na Guatemala, mesmo que tenham sido transportados para
localidades distintas, terão a mesma cultura por conta de uma origem geográfica
comum? Ou teriam culturas completamente distintas? Um dos quais completamente
inserido em uma cultura tribal africana; outro na complexa sociedade urbana e
cosmopolita de Tóquio?
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Os diferentes tipos de organização social, desde os considerados primitivos
até os mais complexos, estão intimamente relacionados às características cul-
turais ali predominantes, para as quais as teorias da cultura servem de instru-
mento compreensivo.
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UNIDADE Teorias sobre Cultura
Evolucionismo Cultural
Com o incremento das navegações no
século XVIII, resultado do avanço do comércio
ultramarino, o transporte de produtos agrícolas
e riquezas minerais entre territórios coloniais na
América, África, Ásia e Europa, a civilização
europeia pôde ter maior contato com povos que
até então desconhecia; pôde saber de práticas
religiosas, hábitos cotidianos e comportamentos
sociais completamente diversos dos seus.
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Já a poligenia, que não descartava a concepção da evolução, defendia que as
diferenças provinham essencialmente da existência de distintos centros de criação,
onde os homens teriam, portanto, diferentes origens, o que explicaria não apenas
diferenças físicas, mas também prometia elucidar as diferenças morais entre os quais.
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UNIDADE Teorias sobre Cultura
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Difusionismo
Trocando ideias...Importante!
“Cultura é o todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes
ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de
uma sociedade” (TYLOR, 1871).
Data do início do século XX a comunicação das posturas mais radicais dessa corrente.
O primeiro teórico a se engajar na resistência contra o evolucionismo foi o médico,
psicólogo e antropólogo britânico William Halse Rivers Rivers (1864-1922), cujos
discípulos – William James Perry (1887-1949) e Grafton Elliot Smith (1871-1937) –
deram continuidade à sua obra.
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UNIDADE Teorias sobre Cultura
Ainda que tenha sido desmontada, em termos teóricos, a tese de que a diversidade
cultural seria resultado da difusão de características provenientes de um único
centro fez com que o difusionismo tenha cumprido um relevante papel ao oferecer,
no início do século XX, uma alternativa explicativa à questão da diversidade cultural,
tendo sido a primeira a se defrontar com o vigente evolucionismo.
Não que estudos comparativos não pudessem ser feitos entre distintas culturas,
ou mesmo que não se pudesse identificar uma origem comum para ambas.
O que Boas propunha era um processo indutivo que identificasse as relações
que possibilitariam a comparação, para o então estabelecimento das conexões
históricas pertinentes.
Para Boas o mesmo fenômeno tem sentidos variados em cada cultura. Assim,
o fato de ocorrências semelhantes serem identificadas em distintas culturas não
constitui prova de uma origem comum.
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Consequentemente, não havendo uma única origem cultural, não se pode
mencionar cultura no singular, senão culturas. Ou seja, cada cultura teria sua própria
história; não uma cultura humana universal e originária – como pressupunham os
evolucionistas e até mesmo parte dos difusionistas. Sendo então autônomas, todas
as culturas seriam também dinâmicas em suas transformações ao longo do tempo.
Funcionalismo
Uma das mudanças mais significativas para a determinação do fracasso
explicativo do evolucionismo foi o abandono dos relatos de cronistas viajantes e
congêneres como base informativa para estudos antropológicos e a adoção de
métodos de pesquisa de campo.
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UNIDADE Teorias sobre Cultura
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Assim, o método proposto por Malinowski consiste em três etapas/tarefas:
1. Observar todos os costumes dos nativos;
2. Apreender suas narrativas orais;
3. Utilizar métodos estatísticos.
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UNIDADE Teorias sobre Cultura
Figura 10 – Engraving by Theodor de Bry after a weroans or great lord of Virginia by John White
Fonte: Wikimedia/Commons
Problemas do Relativismo
Comparativamente ao evolucionismo, o funcionalismo permitiu a adoção de
uma postura diversa daquela de superioridade entre o estudioso e a cultura estudada.
O desdobramento dessa postura consiste no relativismo que, por sua vez,
distancia o investigador dos questionamentos valorativos sobre os nativos, que
passam a ser meros comunicadores de suas práticas culturais.
Normas e valores, para os relativistas, não devem ser objeto de nenhuma ordem
de questionamento e a postura do antropólogo em campo, portanto, é a de mero
coletor e analista de informações.
O relativismo é radicalmente contrário à tendência universalista do evolucio-
nismo; ou seja, contra seu ímpeto de estender um mesmo repertório cultural – o
europeu, entendido como civilizado – à totalidade das sociedades, taxadas como
inferiores – bárbaras.
Nada a universalizar, tudo a relativizar!
Ocorre que, assim, ao tratar de costumes como o do apedrejamento de
mulheres adúlteras no Irã; o estupro aceito e legalizado no âmbito do matrimônio
no Afeganistão; a condenação à morte de homossexuais em Uganda; a prática da
excisão – mutilação do clitóris e dos pequenos lábios do órgão sexual feminino
– em Djibuti, Etiópia, Somália, Sudão, Egito e Quênia; o racismo desvelado no
Sul dos Estados Unidos; o machismo na sociedade brasileira; a pena de morte
atualmente praticada em diversos países no mundo; não poderiam ser criticados
por cientistas, isso porque valores como a liberdade, igualdade, o direito à vida e à
inviolabilidade do corpo não poderiam ser universalizados.
Ainda hoje essa postura consiste em um problema: parte dos cientistas defende
que se tratam, as práticas de violência acima descritas, de práticas culturais, de
modo que qualquer tentativa de universalização de valores – incluindo a liberdade,
igualdade, o direito à vida e à inviolabilidade do corpo – seria um atentado contra
a autonomia cultural. Outra parte significativa defende que alguns valores devem
ser universalizados.
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Ocorre que, da mesma forma, sociedades que historicamente foram
compreendidas como civilizadas, são também portadoras de culturas violentas
e que atentam contra direitos básicos. Vide o histórico de guerras religiosas,
intolerância, torturas, execuções em fogueiras e enforcamentos que atravessa a
história do cristianismo na Europa. Vide a violência com que negros são tratados
pela polícia nos Estados Unidos de hoje. Para não nos demorarmos nas incontáveis
possibilidades de exemplos que demonstram que culturas de ódio e intolerância são
também fenômenos universais.
Estruturalismo
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UNIDADE Teorias sobre Cultura
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
O Nascimento da Antropologia Americana e o Difusionismo: “Franz Boas como Protagonista.”
O nascimento da Antropologia americana e o difusionismo: Franz Boas como
protagonista, do site Nações do Mundo
https://goo.gl/eEZUZU
Difusionismo e Evolucionismo
Difusionismo e evolucionismo, de Dilaze Mirela Fonseca e Marina Rute Pacheco, no
site ant1mcc
https://goo.gl/uD3quY
História e Etnologia. Lévi-Strauss e os embates em região de fronteira
História e Etnologia. Lévi-Strauss e os embates em região de fronteira, de Lilia K.
Moritz Schwarcz, no portal Scielo
https://goo.gl/zPTfMa
Filmes
Brincando nos campos do Senhor
Brincando nos campos do Senhor. Dir. Héctor Babenco, Estados Unidos, drama,
colorido, 1991.
Dança com lobos
Dança com lobos. Dir. Kevin Costner. Estados Unidos, drama, colorido, 1990.
O último dos moicanos
O último dos moicanos. Dir. Michael Mann, Estados Unidos, drama, colorido, 1992.
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UNIDADE Teorias sobre Cultura
Referências
CHICARINO, Tathiana. Antropologia social e cultural. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2014. (e-book).
REIS, Nicoli Isabel dos. [Resenha de] BOAS, Franz. Antropologia cultural. Org. Celso
Castro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. 109 p. Horizontes Antropológicos,
Porto Alegre, RS, v. 10, n. 22, jul./dec. 2004. Disponível em: <http://www.
scielo.br/scielo.php?pid=S0104-71832004000200015&script=sci_arttext>.
Acesso em: 15 jan. 2017.
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Diversidade
Étnico-Cultural
Material Teórico
Diversidade Étnico-cultural
Revisão Técnica:
Profa. Dra. Vivian Fiori
Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Diversidade Étnico-cultural
• Diversidade Cultural
• Explicações para as Diferenças Étnico-Culturais
• Contracultura
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Tratar da diversidade cultural e algumas teorias sobre o assunto.
· Explicar a visão etnocêntrica.
· Evidenciar as formas de contracultura.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
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colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
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as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Diversidade Étnico-cultural
Diversidade Cultural
Registros históricos e artefatos possibilitaram aos arqueólogos encontrar
evidências de que os diversos grupos humanos, em sua relação com a natureza e com
o meio no qual viviam, criaram e produziram modos de vida que os diferenciavam
dos demais.
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mulheres coletores, pescadores e caçadores, que tinham grande grau de dependência
da natureza e cujas técnicas eram rudimentares e locais, o ser humano passou a
domesticar animais e plantas, de forma sistemática e em escala mais ampla, no que
viria a ser chamado de agricultura e de pecuária.
Daí vem a palavra agricultura, que era, de fato, uma expressão da cultura dos
povos que, ao domesticarem plantas, em sua relação com a natureza, criaram as
diversas culturas alimentares que distinguem um povo dos outros, mesmo hoje
em dia. Quando mencionamos, por exemplo, culinária italiana, indiana, japonesa,
mineira etc., estamos tratando dessa dimensão da cultura alimentar. Logo, a
palavra cultura foi usada primeiramente com o termo agricultura – como prática
do campo –, tais como cultura do trigo, do milho e assim usada no sentido dessa
prática primordial.
Foi o caso da batata e do tomate, por exemplo, que são oriundos do Continente
americano e foram levados à Europa mediante o processo de colonização.
Sua cultura foi tão bem absorvida pelos europeus, que é impossível hoje pensar
na culinária italiana sem considerar o molho de tomate, ou na portuguesa sem o
bacalhau com batatas.
E hoje, com uma cultura mais globalizada, vemos alguns hábitos alimentares
tornarem-se hegemônicos, devido à estandardização – padronização – dos
costumes, veiculados pela propaganda, pela mídia em geral, pelas redes sociais e
pela indústria de alimentos.
Portanto, não existe uma só cultura, mas uma diversidade de culturas pelo
mundo, que vão sempre mudando ao longo do tempo, considerando as mediações
da família, da sociedade de cada época, da natureza, da escola, entre outras
interações, as quais acabam por alterar os modos de vida, as formas de existência
e, assim, a própria cultura.
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UNIDADE Diversidade Étnico-cultural
Do mesmo modo que a cultura não passa sempre por uma transformação total,
por isso é dialética, há sempre um pouco do passado em tudo que fazemos, ao
mesmo tempo em que também vamos inovando. Vejamos um exemplo: as formas
de nos expressar na língua portuguesa não são as mesmas desde o século XIX,
pois isto foi sendo modificado; mas, ao mesmo tempo, não é uma linguagem
inteiramente nova, por isso incorporamos novidades a nossa linguagem, mas
também outras normas da língua permanecem. Ou seja, há sempre permanências
e tradições na cultura, ao mesmo tempo em que esta é constantemente recriada.
As bases materiais e técnicas vão também mudando e isso faz com que a cultura
também se altere. O nosso modo de vida urbano, por exemplo, trouxe aos homens
e mulheres novas formas de sobreviver, mas os que vivem na cidade perderam a
cultura do campo, das formas de plantar, de modo que se você pergunta para uma
criança que vive em meio urbano de onde vem uma fruta, é comum que responda:
“Do supermercado”, que é a visão imediata da cultura que cada um possui.
Assim, afirmamos que a cultura tem relação com o tempo histórico, produzido
pelos grupos, povos e sociedade de cada época, como também tem relação com
o espaço e meio geográfico, porque é diferente e diversa nos distintos lugares
do mundo.
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Explicações para as Diferenças
Étnico-Culturais
Ao tratar do tema das diferenças étnico-culturais, é fundamental conceituar etnia.
Trata-se de um termo que deriva de ethos, palavra grega, e pode ser definido como
um grupo biológico e culturalmente mais homogêneo, que tem o mesmo ethos,
ou seja, costumes, religião, crenças, língua, hábitos, entre outras características
comuns. Dito de outra forma, partilhando certos costumes, tradições, técnicas,
comportamentos em comum.
Que se entende por crenças animistas aquelas que acreditam na força espiritual de
objetos, tais como pedras, plantas, animais etc., atribuindo-lhes poder espiritual, ou
como amuletos?
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UNIDADE Diversidade Étnico-cultural
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Figura 1 – Mapa mundi de Mercator (1578)
Fonte: worldmapsonline.com
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UNIDADE Diversidade Étnico-cultural
quem dizia que as espécies passavam por um processo de seleção natural, no qual os mais
fortes sobreviviam –, esta concepção naturalista de Darwin foi utilizada como padrão de
interpretação da sociedade, por cientistas como Hebert Spencer, originando o darwinismo
social. A partir desta teoria, a explicação era de que a sociedade evoluiria em etapas,
igualmente às diversas espécies, tendo sociedades e grupos sociais que estariam mais aptos
a vencer os obstáculos do meio e a evoluírem, enquanto outros seriam mais fracos. Desse
modo, a sociedade tinha um cunho biológico, natural.
Alguns chegavam a afirmar que o caráter dos grupos humanos seria definido
pelas condições do meio. A concepção de que a tropicalidade fazia com que as
pessoas fossem mais indolentes, tornando os povos desses lugares mais atrasados,
sendo a pobreza uma condição que se explicava pelas condições do meio.
Que, no começo do século XX, os Estados Unidos ocuparam alguns países da América
Central, caso da Nicarágua, Cuba, entre outros, e os chamaram de protetorados norte-
-americanos, dizendo que buscavam protegê-los dos europeus?
Nos livros produzidos na época, muitos estudiosos diziam que os povos da América
Central eram atrasados, preguiçosos e, por isso, a missão civilizatória norte-americana
era fundamental para trazer os povos desses lugares a uma melhor condição.
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cultural – seja pela religião, crenças, formas de se alimentar, de se vestir, pelos
códigos de moral, formas de agir, dos gestos, das expressões.
Enfim, a dificuldade de algumas pessoas ou povos em aceitar o “outro”, em
aceitar a diferença cultural e racial levou a verdadeiros genocídios ao longo da
história humana.
Apartheid foi institucionalizado na África do Sul como uma Lei étnica-racial, que segregava
Explor
negros, mestiços e asiáticos que moravam no País a viverem separados nas cidades, em
áreas conhecidas como townships. Além destas áreas nas cidades, os povos negros nativos
de diversas etnias deveriam viver em bantustões, territórios que foram declarados livres
e independentes pelo governo sul-africano para tornar a África do Sul somente branca.
Nesse regime, o negro não tinha direito a voto, nem poderia andar livremente pelas áreas
declaradas brancas, exceto se tivesse um passe para isso. Tal regime racial e étnico durou de
1948 até 1994, quando Nelson Mandela tornou-se presidente eleito.
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UNIDADE Diversidade Étnico-cultural
Contracultura
Alguns movimentos socioculturais são de oposição ao modo dominante de vida,
ao modo hegemônico, que se contrapõem à cultura vigente em uma época, em um
lugar ou de forma mais universal.
Esse ideário da contracultura levou milhares de estudantes à luta por uma melhor
educação e por outros motivos de melhor vida, fosse no Brasil, nos Estados Unidos,
16
na França e em outros países. Assim como a formas de música e de um jeito de
viver que se contrapunham ao modo de vida cheio de normas e regras advindas de
uma sociedade hierárquica patriarcal, buscaram uma vida alternativa, como dizia a
música de Raul Seixas: “Viva a sociedade alternativa”.
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UNIDADE Diversidade Étnico-cultural
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Um olhar sobre a diferença: interação, trabalho e cidadania
BIANCHETTI, L.; FREIRE, I. M. (Org.). Um olhar sobre a diferença: interação, trabalho
e cidadania. Campinas, SP: Papirus, 1998.
Antropologia Social e Cultural
CHICARINO, T. Antropologia Social e Cultural. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2014.
Reflexos da globalização na cultura alimentar: considerações sobre as mudanças na alimentação urbana
GARCIA, R. W. D. Reflexos da globalização na cultura alimentar: considerações sobre
as mudanças na alimentação urbana. Rev. Nutrição, Campinas, SP, v. 16, n. 4, p.
483-492, out./dez. 2003.
Educar para a diversidade: entrelaçando redes, saberes e identidade
PAULA, C. R. Educar para a diversidade: entrelaçando redes, saberes e identidade.
Curitiba, PR: Intersaberes, 2013.
O que é contracultura?
PEREIRA, C. A. M. O que é contracultura? São Paulo: Nova Cultural; Brasiliense, 1986.
18
Referências
BOAS, F. Antropologia Cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
RISÉRIO, A. Duas ou três coisas sobre a contracultura no Brasil. In: Anos 70:
trajetórias. São Paulo: Itaú Cultural, 2005.
Sites Visitados
https://www.significados.com.br/genocidio
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Diverdidade
Étnico-Cultural
Material Teórico
Cultura Urbana, Rural e as Comunidades Tradicionais
Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Cultura Urbana, Rural e as
Comunidades Tradicionais
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Analisar alguns aspectos da cultura urbana, rural e das comunidades
tradicionais, principalmente no Brasil.
· Discutir sobre os povos indígenas e quilombolas.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Cultura Urbana, Rural e as Comunidades Tradicionais
A cultura tem relação com o homem, com o tempo, com o ambiente no qual vive
e sua comunidade ou grupo. Como explicam os pesquisadores, usando informações
de Paulo Bernardi (1974, p. 55) sobre a interação entre esses elementos, temos que
[...] o anthropos, ou seja, o homem na sua realidade individual e pessoal;
o ethnos, comunidade ou povo entendido como associação estruturada de
indivíduos; o oikos, o ambiente natural e cósmico dentro do qual o homem
se encontra a atuar; o chronos, o tempo, condição ao longo do qual, em
continuidade de sucessão, se desenvolve a atividade humana. Acrescenta
que um fator por si só não constitui a cultura, mas a ação dos quatro fatores
é uma constante no processo cultural. Cada ação do indivíduo único,
mesmo sendo novo, original ou importante, estaria destinada a perder-se
ou apagar-se se não fosse apropriada pela coletividade, articulada num
conjunto orgânico e transmitida como parte do patrimônio comum.
8
Não se trata de ser melhor ou pior, de valorizar essa ou aquela forma de cultura,
por exemplo, se da cultura popular ou da elite, mas há condições ou características
bem díspares entre as quais.
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UNIDADE Cultura Urbana, Rural e as Comunidades Tradicionais
Cultura(s) Urbana
Compreende-se por cultura(s) urbana as formas de manifestação cultural,
artística, esportiva, de expressão típicas das áreas urbanas.
Alguns autores denominam tribos urbanas – termo este cunhado pelo sociólogo
francês Michel Maffesoli – para os microgrupos que têm como premissa a interação
social entre amigos e/ou de grupos com o mesmo gosto musical, de pensamento,
formas de se vestir, preferência artística em comum, entre outros aspectos. Assim,
teríamos como exemplo os grupos de hip hop.
Outros definem que o termo tribo urbana não é adequado, pois o conceito de
tribo deve estar associado aos povos tradicionais que vivem de maneira tribal, caso
de alguns povos indígenas e de nativos africanos, por exemplo.
Para o antropólogo Magnani (1996) o termo tribo urbana é uma metáfora – e
não um conceito –, porque emprestado das sociedades indígenas e outras não cabe
usá-lo para as identidades socioculturais existentes no espaço urbano.
Identidades urbanas, como roqueiros e góticos, criam espaços de convivência
e modos de se vestir que são peculiares ao grupo, formulando uma identidade
cultural tipicamente urbana.
Trocando ideias...Importante!
Tribo versus tribo urbana?
[...] pode-se dizer que tribo constitui uma forma de organização mais ampla
que vai além das divisões de clã ou linhagem (parentesco) de um lado e da
aldeia de outro. Trata-se de um pacto que aciona lealdades para além dos
particularismos de grupos domésticos locais. E o que vem à mente quando se
fala em“tribos urbanas”? Exatamente o contrário dessa acepção: pensa-se logo
em pequenos grupos bem delimitados, com regras e costumes particulares
em contraste com o caráter homogêneo e massificado que comumente se
atribui ao estilo de vida nas grandes cidades (MAGNANI, 1996, p. 49-50).
10
Importante ressaltar que um adepto de estilo gótico, por exemplo, pode se
expressar como tal, por meio de sua vestimenta, forma de pensamento, hábitos,
gosto musical etc.; de outro, no cotidiano, não se relaciona somente com góticos,
pois pode trabalhar em uma empresa com diferentes pessoas, as quais com gostos
e interesses culturais específicos e distintos entre si.
Nas metrópoles, caso de São Paulo, Nova Iorque, Londres e Tóquio, percebe-se
que existem vários grupos ou microgrupos que têm identidades urbanas próprias,
caso dos adeptos do punk, do funk, do hip hop, da arte de rua, do samba, entre
tantas outras manifestações.
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UNIDADE Cultura Urbana, Rural e as Comunidades Tradicionais
O grafite está entre as formas de arte urbana que vem se disseminando nas
grandes cidades, ganhando status nos últimos anos como arte de vanguarda e
tendo, inclusive, apoio de iniciativas públicas e privadas para grafitar paredes
também públicas e privadas, como forma de expressão de arte de rua.
12
Nos Estados Unidos, os modos de vida dos negros e da cultura norte-americana
dos afrodescendentes deu origem a um estilo de vida que se contrapõe ao dos
norte-americanos brancos e com melhor condição socioeconômica. Há preconceito
racial e cultural, daí a expressão de guetos urbanos para esses bairros em Chicago,
cidade do Meio-Norte dos Estados Unidos.
Nas últimas décadas do século XX, o capitalismo tem adentrado cada vez mais
no campo e vem alterando alguns costumes, formas de trabalho, tempo, lazer
e modos de cultura. Logo, a ideia de vida mais simples, de um tempo para a
realização da vida mais lenta no campo nem sempre é verdadeira no mundo atual.
Apesar disso, ainda temos, por exemplo, o modo de vida caipira, em alguns
Estados brasileiros das regiões Sul e Sudeste. Tal cultura caipira foi produzida no
período colonial, mediante miscigenações de grupos indígenas – principalmente
Tupi-Guarani com brancos descendentes de europeus, o que originou o chama-
do caboclo.
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UNIDADE Cultura Urbana, Rural e as Comunidades Tradicionais
Cultura que se formou com o ir e vir dos tropeiros pelo território nacional ainda
no período colonial, do charque, do sotaque típico caipira de parte de São Paulo e
Paraná, da música que retratava o cotidiano da roça.
Já nos finais do século XIX, havia alguns estereótipos sobre o que seria o
caipira, envolvendo certo preconceito daqueles que passaram a ser a elite com o
processo de industrialização e urbanização pelo qual passaram algumas cidades
paulistas – preconceito em relação ao sotaque, com o som da letra erre puxado,
em relação ao modo de vida no campo, da vida mais simples, da “moda de viola”,
entre outras características.
Mais recentemente, nas últimas décadas do século XX, a antiga música caipira,
da moda de viola, passou a ser chamada de sertaneja, sob influência de novos
vieses musicais e uso de inéditos equipamentos, melodias e letras.
Contudo, não é somente no Estado de São Paulo que há esse modo de vivência
e cultura atrelado à vida no campo e cujo estilo vem se alterando. No sertão do
Nordeste há hábitos comuns seculares – de formas de se alimentar, expressões,
vestimentas, por exemplo, do vaqueiro e do sertanejo agricultor (que vive ainda
da agricultura de subsistência), com sua religiosidade católica – que também vem
sendo alterados nos últimos anos.
14
Explor
Comunidades tradicionais:
Povos e comunidades tradicionais: grupos culturalmente diferenciados e
que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização
social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição
para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica,
utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos
pela tradição. [...] A Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos
Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT) foi instituída, em 2007, por
meio do Decreto n.º 6.040. A Política é uma ação do governo federal que
busca promover o desenvolvimento sustentável dos povos e comunidades
tradicionais, com ênfase no reconhecimento, fortalecimento e garantia dos
seus direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos e culturais, com
respeito e valorização à sua identidade, suas formas de organização e suas
instituições (Decreto Federal n.º 6.040/2000).
O que une a comunidade tradicional é seu traço de ser mais comunal, de viver
em comunidade, de ser menos influenciada pelo modo capitalista de produção –
com sua cultura globalizada. Em geral, o que caracteriza a comunidade tradicional
é ter um modo de vida mais atrelado à natureza, mais voltado ao mundo rural. Este
é o caso dos ribeirinhos na Amazônia, que são povos descendentes de europeus e
mestiços, que mantêm uma relação muito peculiar com o ambiente, como retratam
os pesquisadores:
Na Amazônia os povos tradicionais não indígenas possuem um modo de
vida baseado na atividade extrativista, seja ela aquática ou florestal, vivendo
grande parte nas margens de rios, igarapés, várzeas e lagos. São povos
que aprenderam por meio do uso dos recursos naturais e das relações
sociais a conviver com o rio, a floresta, fazendo destes, elementos de
representações de sua própria vida, as identidades coletivas. O ribeirinho
também está inserido entre os povos tradicionais da Amazônia, cujo
termo refere-se àquele que anda pelos rios. O rio constitui a base de
sobrevivência dos ribeirinhos, fonte de alimento e via de transporte, graças,
sobretudo, às terras mais férteis de suas margens. Esses povos possuem
estreita relação com os rios nos quais tem muito mais que o alimento,
tem todo um complexo cultural forjado nas suas múltiplas relações que
com ele estabeleceram ao longo da ocupação de suas margens como
localização estratégica e da consolidação das comunidades como forma
de organização social (NASCIMENTO et al., 2013).
Os ribeirinhos mantêm uma relação estreita com o meio no qual vivem, buscando
ter uma interação com a natureza dos rios por meio das atividades praticadas pelos
quais – agricultura, pesca e extrativismo vegetal. Em geral, as casas sobre palafitas,
15
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UNIDADE Cultura Urbana, Rural e as Comunidades Tradicionais
reconhecendo a subida e descida das águas, sendo o rio usado como meio de
transporte de pessoas e mercadorias e para outras atividades econômicas, bem
como símbolo da cultura dos ribeirinhos amazônidas.
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promover políticas de delimitação, demarcação e regularização dos diferentes tipos
de terras indígenas, bem como de elaborar políticas públicas de proteção a povos
indígenas isolados.
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UNIDADE Cultura Urbana, Rural e as Comunidades Tradicionais
Muitas vezes eram territórios móveis, pois à medida que tais espaços eram
descobertos, eram buscados novos locais para se viver. O mais conhecido desses
quilombos no Brasil foi o de Palmares, situado na região de Alagoas. Contudo, o
termo quilombola, expressão usada para terras onde negros oriundos de antigas
famílias de escravos ainda vivem atualmente, não tem relação direta somente com
as antigas localidades de fugas de escravos do passado.
Há também casos de terras onde esses se situam e que foram desapropriadas dos
antigos jesuítas, por doação ou concessão de terras de antigos proprietários rurais,
e até mesmo atividades que ficaram enfraquecidas em um determinado período e
cujos proprietários as abandonaram parcialmente, situações comuns, por exemplo,
com a produção do algodão no sertão nordestino (CARVALHO; LIMA, 2013).
18
Há diversas territorialidades quilombolas, em condições muito distintas, social e
culturalmente, o que nos permite afirmar que se trata de uma “multiterritorialidade
quilombola” no Brasil, pois o que as definem são o fato de serem espaços de
antigos escravos, mesmo que culturalmente tais espaços possam ser muito distintos
entre si.
Em geral, não se caracterizam por uma ocupação por lotes individuais, mas de
uso comum, obedecendo às características existentes nas formas e modos de vida
e produção, seja agrícola, extrativista ou outro meio de sobrevivência. O modo de
vida e as relações socioculturais se baseiam principalmente em laços de vizinhança
e parentesco.
1 Fonte: <http://www.cpisp.org.br/comunidades/html/i_brasil_ma.html>.
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UNIDADE Cultura Urbana, Rural e as Comunidades Tradicionais
Desse modo, ainda que muitos dos territórios quilombolas não tenham sido
reconhecidos formalmente, houve avanços em relação ao reconhecimento dos
quais, por meio da Lei.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Leitura
Quilombos: espaço de resistência de homens e mulheres negros
BRASIL. Ministério da Educação. Quilombos: espaço de resistência de homens e mulheres
negros. Brasília, DF: Rede de Desenvolvimento Humano; Unesco; MEC, 2005.
https://goo.gl/gqU5bC
Diretrizes curriculares nacionais para a educação escolar quilombola: algumas informações
Conselho Nacional de Educação. Diretrizes curriculares nacionais para a educação
escolar quilombola: algumas informações. Brasília, DF, 2011.
https://goo.gl/rmHUSo
De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana
MAGNANI, José Guilherme Cantor. De perto e de dentro: notas para uma etnografia
urbana. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 17, n. 49, jun. 2002.
https://goo.gl/IXI4mq
21
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UNIDADE Cultura Urbana, Rural e as Comunidades Tradicionais
Referências
BERNARDI, B. Introdução aos estudos etno-antropológicos: perspectivas do
homem. São Paulo: 70, 1974. p. 50-61.
BLASS, L. M. da S.; PAIS, J. M. (Org.). Tribos urbanas: produção artística e
identidades. São Paulo: Annablume, 2007.
BORJA, C. dos A. Territorialidade quilombola: o direito étnico sobre a terra
na comunidade de Rincão dos Martimianos, RS. 2008. Dissertação (Mestrado) -
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2008.
BRASIL. Decreto n.º 4.887, de 20 de novembro de 2003. Brasília, DF, 2003.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2003/d4887.
htm>. Acesso em: 7 maio 2015.
______. Ministério da Educação. Diretrizes curriculares gerais para Educação
Básica. Brasília, DF, 2010.
CÂNDIDO, A. Os parceiros do Rio Bonito. São Paulo: Livraria Duas Cidades; 34, 2001.
CARVALHO, R. M. A.; LIMA, G. F. da C. Comunidades quilombolas, territorialidade
e a legislação no Brasil: uma análise histórica. Política & Trabalho, Revista de
Ciências Sociais, n. 39, p. 329-346, out. 2013.
FRUGOLI JR., H. O urbano em questão na Antropologia: interfaces com a Sociologia.
Rev. Antropologia, São Paulo, v. 48, n. 1, jan./jun. 2005.
LIMA, C. M. G. de. Pesquisa etnográfica: iniciando sua compreensão. Rev. Latino-
Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, v. 4, n. 1, p. 21-30, jan. 1996.
MAGNANI, J. G. C. Tribos urbanas: metáfora ou categoria? Cadernos de
Campo, v. 2, n. 2, p. 48-51, 1996. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/
cadernosdecampo/article/view/40303>. Acesso em: 16 jan. 2017.
NASCIMENTO, D. G. et al. Mudança e resistência nos modos de vida
em comunidades rurais: um estudo da comunidade de Vila Manaus, no
Município de Parintins, AM, Brasil. Contribuciones a las Ciencias Sociales,
ago. 2013. Disponível em: <http://www.eumed.net/rev/cccss/25/resistencia.
html>. Acesso em: 16 jan. 2017.
REIS, H. Fronteiras, territórios e espaços interculturais. Texto, n. 10, 2004. Disponível
em: <http://www.intexto.ufrgs.br/n10/a-n10a9.html>. Acesso em: 19 ago. 2007.
ROCHA; E. do P.; MARTINS, R. de S. Terra e território faxinalense no Paraná:
notas sobre a busca de reconhecimento. Campos: Revista de Antropologia Social,
Curitiba, PR, v. 8, n. 1, p. 209-212, 2007.
SANTOS, M. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico
informacional. São Paulo: Hucitec, 1994.
VAINFAS, R. História indígena: 500 anos de despovoamento. In: INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Centro de Documentação e
Disseminação de Informações. Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro,
2007. p. 35-60. Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/
liv6687.pdf>. Acesso em: 16 jan. 2017.
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Diversidade
Étnico-Cultural
Material Teórico
Pluralidade Cultural, Educação e Políticas Públicas no Brasil
Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Pluralidade Cultural, Educação e Políticas
Públicas no Brasil
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Evidenciar alguns aspectos da cultura brasileira.
· Tratar das influências multiculturais do Brasil.
· Discutir a questão da educação e das políticas em relação à pluralidade
cultural no Brasil.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Pluralidade Cultural, Educação e Políticas Públicas no Brasil
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O povo brasileiro, desde o período colonial, é formado pela miscigenação
de diferentes grupos humanos, sob distintas influências culturais que foram se
mesclando, ou que se sobrepuseram às demais formas de identidades culturais.
De forma resumida, delinearemos três questões que, em geral, são tratadas nos
livros da Educação Básica e no mundo acadêmico, a saber: os grupos indígenas,
os negros e sua diversidade cultural e, por fim, as imigrações europeia e japonesa.
É fato, também, que há traços mais comuns e que nos distinguem como brasileiros
quando somos comparados a outros povos. A maioria tem na língua portuguesa
seu principal idioma, alguns hábitos e crenças comuns, do conhecimento da cultura
esportiva atrelada ao futebol, da religiosidade, entre outros aspectos, os quais tidos
como importantes referências culturais.
9
9
UNIDADE Pluralidade Cultural, Educação e Políticas Públicas no Brasil
Povos Indígenas
Quando os portugueses e outros migraram para este território – onde atualmente
chamamos de Brasil – havia inúmeras tribos indígenas falando várias línguas.
10
Por meio dele, a Coroa planejava, com o auxílio dos novos vassalos,
preservar as fronteiras, incrementar e diversificar a agricultura e converter
os índios em mão-de-obra disciplinada para as frentes de expansão colonial,
sobretudo na região amazônica. Cada povoação teria o seu diretor,
nomeado pelo governador e capitão-geral do Estado. A língua portuguesa
tornava-se obrigatória, os ritos e crenças indígenas considerados práticas
condenáveis, a bigamia perseguida e os casamentos mistos incentivados.
Os índios seriam incluídos na “civilização” por intermédio da agricultura,
comercialização de produtos agrícolas e pagamento de tributos.
Complementarmente, o Alvará de 4 de abril de 1755 estabeleceu que os
portugueses que se casassem com índias não perderiam seus privilégios,
nem cairiam em infâmia, antes seriam preferidos nas terras onde se
estabelecessem com a família.
Nas décadas de 1940 e 1950, com as pesquisas dos irmãos Villas Bôas e com o
interesse dos governos em ocupar a Amazônia, instituiu-se a criação do Parque do
Xingu, com várias etnias em uma reserva indígena delimitada formalmente.
11
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UNIDADE Pluralidade Cultural, Educação e Políticas Públicas no Brasil
Entre essa população trazida da África, havia aqueles que tinham crenças
animistas, outros fetichistas, e ainda grupos que seguiam a religião islâmica.
Aqui, vieram para trabalhar na cana-de-açúcar da zona da mata nordestina e,
posteriormente, grandes grupos foram para as minas – nas cidades mineiras – e
para o Vale do Paraíba – em São Paulo – e Rio de Janeiro para o trabalho com
o café.
12
da igreja católica, como forma de disfarçar suas crenças, o que posteriormente
originaria o candomblé e a umbanda, religiões brasileiras.
Em relação à escravidão, algumas poesias e obras dos séculos XVIII e XIX foram
contra tal condição, caso de Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, na qual
retrata uma escrava de cor de pele branca, mas de ascendência negra, que sofre
as consequências da origem negra de sua mãe escrava. Bernardo Guimarães criou
a personagem Isaura como escrava branca buscando evidenciar que qualquer um
pode ser submetido à escravidão. Trouxe à tona tal discussão, mas, ainda assim,
com uma escrava branca – e não negra.
Nesse período houve negros e mulatos que tiveram grande importância para
a sociedade brasileira, caso dos irmãos Rebouças, engenheiros que construíram
importantes redes ferroviárias no Brasil; Machado de Assis, atualmente reconhecido
como um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos; Teodoro Sampaio,
geógrafo, historiador e engenheiro, entre outros, como afirma Reis (2007, p. 88):
Nas cidades ela ocupava vários importantes setores da estrutura de
trabalho, era a mão-de-obra qualificada — os chamados “oficiais
mecânicos” — e aos poucos forçou sua entrada em ambientes que
constituíam espaços exclusivamente brancos, como eram as profissões
liberais. Muitos foram os mulatos que ao longo do século XIX alçaram
posições de médicos, professores, advogados, engenheiros, periodistas,
escritores, alguns ocupando também funções políticas e administrativas
no Legislativo e no Executivo. Mesmo que não exibissem e defendessem
causas sociais ligadas aos de sua cor — gente como os abolicionistas
negros Luiz Gama, José do Patrocínio e o pardo André Rebouças —,
muitas vezes brilhavam em círculos quase inteiramente brancos, como
foi o caso de Machado de Assis no mundo das letras. Todos, no entanto,
enfrentaram preconceitos raciais que certamente barraram a maioria de
também ascender socialmente, de ir além das ocupações manuais.
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UNIDADE Pluralidade Cultural, Educação e Políticas Públicas no Brasil
14
discurso da época, ao mesmo tempo em que ilustra o branqueamento do mulato
por meio da mestiçagem entre brancos e negros como algo positivo.
15
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UNIDADE Pluralidade Cultural, Educação e Políticas Públicas no Brasil
Outro grupo bastante comum em São Paulo e no Sul foram os italianos. Em São
Paulo, vieram para trabalhar na produção do café e no Sul, tornaram-se colonos,
por exemplo, na serra gaúcha, em cidades como Flores da Cunha, Caxias do Sul
e Bento Gonçalves.
Figura 5
Fonte: Wikimedia/Commons
16
Já no Vale do Itajaí, SC, em Blumenau e Joinville prevalece a ocupação dos
descendentes de alemães, com as casas e construções que remetem às antigas
edificações aos moldes germânicos, bem como a Oktoberfest, que se tornou
conhecida nacionalmente.
Não podemos dizer que é cultura brasileira, mas que é cultura japonesa inserida
em território brasileiro, ressignificada. Essa influência nipônica se deu também nas
filosofias de vida e na religião, caso da seicho-no-ie ou do budismo, muito praticado
em países do Extremo Oriente – Leste da Ásia.
Em 1948, foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) a Declaração
dos Direitos Humanos como um marco importante no entendimento da busca da
cidadania, da igualdade e da fraternidade no mundo, embora concretamente ainda
há muito a ser feito em diversos países.
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UNIDADE Pluralidade Cultural, Educação e Políticas Públicas no Brasil
Em 1951, elaboraram no Brasil uma Lei que ficou conhecida como Lei Afonso
Arinos, promulgada no governo Vargas e que proíbe a discriminação racial ou por
cor da pele no País, cuja punição ocorre somente por meio de flagrante.
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A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), de 1996, trouxe
novas preocupações relativas à pluralidade e respeito às diferenças. E nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) surgiu a pluralidade cultural como tema
transversal. Contudo, em um modelo de ensino ainda muito tradicional, reproduz-
se a ideia das três raças, sem discutir questões como racismo, intolerância religiosa
e cultural, bem como os preconceitos de todo o tipo, que ainda faltam ser melhor
debatidos na Educação Básica e nas universidades.
Não buscando uma essencialidade, pois sabemos que não existe nem raça, nem
cultura “pura”, há sempre transformações, assimilações de costumes de um ou
outro povo; mas que isso possa ocorrer dentro de princípios éticos, democráticos
– e não por meio da imposição de uma cultura sobre a outra.
Nos PCN há um tema transversal – temas que devem ser tratados de maneira
transdisciplinar – denominado pluralidade cultural, objetivando a valorização
das diferentes características étnico-culturais dos diversos grupos existentes em
território brasileiro. Como afirma esse documento, nas escolas brasileiras ainda há
muitas formas de discriminação e preconceitos produzidos por alunos, professores,
diretores, funcionários e também por familiares dos alunos, que ocorrem de forma
consciente ou não.
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UNIDADE Pluralidade Cultural, Educação e Políticas Públicas no Brasil
Figura 6
Fonte: Istock/Getty Images
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O etnocentrismo e o sociocentrismo nutrem xenofobias e racismos e po-
dem até mesmo despojar o estrangeiro da qualidade de ser humano. Por
isso, a verdadeira luta contra os racismos se operaria mais contra suas raí-
zes ego-sócio-cêntricas do que contra seus sintomas. As idéias preconcebi-
das, as racionalizações com base em premissas arbitrárias, a autojustifica-
ção frenética, a incapacidade de se autocriticar, os raciocínios paranóicos,
a arrogância, a recusa, o desprezo, a fabricação e a condenação de culpa-
dos são as causas e as conseqüências das piores incompreensões, oriundas
tanto do egocentrismo quanto do etnocentrismo (MORIN, 2000, p. 98).
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UNIDADE Pluralidade Cultural, Educação e Políticas Públicas no Brasil
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
Parque do Xingu. Dir. Paula Saldanha. [20--]. 25min28. (Série Expedições).
https://goo.gl/GXWdbu
Filmes
Xingu
Xingu. Dir. Cao Hamburger, 2011.
Leitura
Brasil: 500 anos de povoamento
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Centro de Documen-
tação e Disseminação de Informações. Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Ja-
neiro, 2007.
https://goo.gl/WRCkH5
Pertencimento étnico e territorialidade: italianos na região central do Rio Grande do Sul (Brasil)
ZANINI, Maria Catarina Chitolina. Pertencimento étnico e territorialidade: italianos na
região central do Rio Grande do Sul (Brasil). Redes, Santa Cruz do Sul, RS, v. 13, n.
3, p. 140-163, set./dez. 2008.
https://goo.gl/Tsj7eW
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Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
curriculares nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual. Brasília, DF, 1997.
CORRÊA, Rosa Lydia Teixeira. Cultura e diversidade. Curitiba, PR: Intersaberes, 2012.
FIORIN, José Luiz. Identidade nacional e exclusão racial. In: LARA, Gláucia Muniz
Proença; LIMBERTI, Rita de Cássia Pacheco (Org.). Representações do outro:
discurso, (des)igualdade e exclusão. Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2016. p. 13-24.
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Diversidade
Étnico Cultural
Material Teórico
Condição Humana e Diversidade das Culturas
em Tempos de Globalização
Revisão Técnica
Profa. Ms. Vivian Fiori
Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Condição Humana e Diversidade das Culturas
em Tempos De Globalização
• Individualismo e globalização;
• Globalização tecnológica;
• Globalização e política;
• Globalização e diversidade cultural;
• Dimensão econômica da globalização;
• Globalização e sociedade;
• A mais dura crítica à globalização;
• Intolerância em sociedades globais.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Evidenciar as formas de globalização no mundo atual.
· Destacar as influências na cultura a partir da globalização.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Condição Humana e Diversidade das Culturas
Individualismo e Globalização
O historiador inglês Eric Hobsbawm (1917-
2012) afirmava que, com a globalização, surgiu
uma espécie de dissolidarização de classes,
constituída pelo que classificou como “valores
de um individualismo associal absoluto”. Com
isso, Hobsbawm (1995) problematizou um novo
ciclo sistêmico do capitalismo, caracterizado
pelo fenômeno da circulação global de capital,
de modo a lançar luzes em seus sintomas sociais,
na forma de indivíduos egocentrados.
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retórica sobre globalização do cotidiano de uma sociedade que privilegia o
consumo de massa de tudo o que é amoedável pelo capital, incluindo desejos,
pessoas, ideias e sentimentos?
Globalização Tecnológica
Sintetizando a metodologia de Fredric Jameson no estudo Globalização e
estratégia política, o autor elege, como dissemos, cinco níveis a partir dos quais
discorre sobre os resultados de sua análise.
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UNIDADE Condição Humana e Diversidade das Culturas
Globalização e Política
Da tecnologia para a política, Jameson dedica parte de seu estudo ao papel
desempenhado pelo Estado-nação que, segundo alguns teóricos, teria dado
lugar às corporações transnacionais – conhecidas na década de 1970 apenas
como multinacionais.
O neoliberalismo – ou a doutrina de livre mercado – defendido para que referidas
corporações pudessem operar circulando capitais em âmbito global, ilusoriamente
faz pensar em um distanciamento do Estado nas medidas econômicas para a
autorregulação do mercado.
Por outro lado, o Estado passou a ser um agente fundamental nesse sistema,
a partir da instituição de mecanismos legais e medidas intervencionistas que
contraditoriamente garantem a “autogestão” das economias, requerendo, para
tanto, uma efetiva intervenção governamental e um Estado centralizador.
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Na Alemanha, os neonazistas do Nationaldemokratische Partei Deutschlands
(NPD), liderados por Peter Marx – jurista e secretário geral do grupo parlamentar
do NPD –, conquistaram doze cadeiras no Parlamento Regional do Estado da
Saxônia, o Landtag, em Dresden, denunciando a assustadora aceitação de
9,2% dos eleitores, ou seja, 19.087 almas, aos preceitos da causa nazista que se
pensava adormecidos.
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UNIDADE Condição Humana e Diversidade das Culturas
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Dimensão Econômica da Globalização
Para tratarmos da dimensão econômica da globalização, segundo Fredric
Jameson (2001), temos que retomar o princípio de que não houve o desapa-
recimento dos Estados-nações diante das corporações transnacionais, afinal: o
autor nos mostra que há uma notória cumplicidade entre ambos e os discursos
em torno de sua inexistência mascaram seus interesses individuais, com o uso
da fantasia criada pela ideia da globalização que, grosso modo, pode ser de-
finida como um novo ciclo sistêmico no modo de produção vigente, no qual
há necessidades de circulação global de capital, cuja acumulação primitiva tem
novo lugar nas megacorporações.
O Estado tem o papel de garantir a quebra de barreiras para seu livre fluxo. Não
se trata de um movimento natural: há um grande interesse das corporações em se
estabelecer em países pobres, alimentando-se de miseráveis e desesperados como
mão de obra barata e semiescrava, de isenções fiscais e concessões de governos
corruptos e de multidões de desempregados nos locais de onde migraram. O mesmo
ciclo se desencadearia novamente quando as mesmas corporações abandonassem
esses novos locais, já não mais tão pobres com a criação de um mercado consumidor
a partir da instituição de mão de obra assalariada, seguindo em busca de novos
miseráveis que aceitassem uma espécie de “escravidão voluntária”.
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UNIDADE Condição Humana e Diversidade das Culturas
Globalização e Sociedade
Figura 5
Fonte: iStock/Getty Images
A afirmação parece dura pelas adjetivações que traz; porém, sintetiza os inte-
resses que levaram à formação de um grupo político a serviço das megacorpora-
ções, que teria conduzido o poder da nação economicamente mais desenvolvida
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e que se pretenderia a “polícia do mundo”, nos dizeres de Jameson, dando o
tom de uma globalização extremadamente violenta, na defesa de um modelo de
mundo, o que possibilitaria dizer de uma espécie de “globalitarismo”.
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UNIDADE Condição Humana e Diversidade das Culturas
Figura 7
Fonte: Wikimedia Commons
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Os nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial, ao perpetrarem o abominável:
o Holocausto; os conflitos étnico-nacionalistas na África; as sistemáticas tentativas
de “limpeza étnica” nos Bálcãs; e o “barril de pólvora” que se tornou o Oriente
Médio, entre tantos outros exemplos.
Temos graves questões humanitárias em jogo, que não devem ser preteridas em
relação às ideologias, convicções religiosas ou pertenças étnicas. O homem universal e
seus direitos inalienáveis devem ser o cerne das reflexões sobre a política, não apenas
um dos elementos componentes de um sistema mecânico-funcionalista.
Figura 8
Fonte: freepalestinemovement.org
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UNIDADE Condição Humana e Diversidade das Culturas
Figura 9
Fonte: memoriasdaditadura.org.br
A América Latina é complexa, apaixonante e pode ter ainda muito que ensinar
aos povos da Terra em termos de multiculturalismo, hibridismo, aceitação das
diferenças e consecutivas superações operadas pelos “de baixo” que tantas vezes
“assaltaram o céu”, termo muito adequado, embora originalmente utilizado em
outro contexto, do filósofo alemão Karl Marx (1818-1883), referindo-se ao efêmero
– mas significativo – sucesso da Comuna de Paris, em 1871.
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Seria preciso, portanto, para os novos tempos de circulação mundializada do
capital, ou como queira, de globalização, repensar o homem na adversidade e
frente os desafios a serem superados pelas novas/velhas sociedades.
Seria preciso repensar o indivíduo de forma plena, exatamente como aquele que
deve tomar as rédeas do destino em suas mãos, o agente de sua própria história –
e não aquele que anula a si, as suas particularidades, aquilo que o constitui como
único, em nome de uma ideologia que uniformize corações e mentes e que o torne
estupidamente obediente, como gado.
Figura 10
Fonte: memoriasdaditadura.org.br
Essa obediência não se manifesta apenas em relação aos Estados; mas à própria
sociedade de consumo de massa na difusão de seus valores. Podemos utilizar,
para a análise desse aspecto, o conceito de globalitarismo, cunhado pelo geógrafo
brasileiro Milton Santos (1926-2001), quem entendia o consumo de massa como
o “fundamentalismo” dos novos tempos. Não seriam as ideologias políticas os
controladores desse “não admirável mundo novo”: o que nos uniformiza, padroniza
e nos torna subservientes seriam os valores partilhados por essa sociedade
materialista, difundidos pelas megacorporações, que nos submeteriam à ditadura
da aparência, que entenderiam indivíduos, valorizando-os e lhes atribuindo a
própria existência social em relação ao repertório de bens tridimensionais que
conseguissem concentrar no tempo efêmero de sua existência.
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UNIDADE Condição Humana e Diversidade das Culturas
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Mundialização e Cultura
ORTIZ, Renato. Mundialização e cultura. São Paulo: Brasiliense, 1996.
Filmes
Encontro com Milton Santos
Encontro com Milton Santos, ou o mundo global visto do lado de cá (89 min., 2007). Documen-
tário feito a partir da entrevista de Milton Santos sobre a globalização.
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Referências
ARRIGHI, G.; SILVER, B. J. Caos e governabilidade no moderno sistema
mundial. Rio de Janeiro: Contraponto; UFRJ, [20--?].
HOBSBAWM, E. Era dos extremos: o breve século XX, 1914-1991. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.
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