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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

MOÇAMBICANA

1. Evolução Histórica
Os Portugueses chegaram a Moçambique nos finais do século XV (1498),
chefiados por Vasco da Gama a procura de ouro e marfim. Desembarcaram pela
primeira vez no rio Inharrime (Inhambane), Quelimane e Ilha de Moçambique.
A primeira forma de ocupação foi a fundação de feitorias quer para a pratica do
comercio, quer para a defesa de ataques árabes e dos chefes locais rebeldes, em
Sena (1530, Tete. 1537 e Quelimane, 1544. No século XVI tiveram contactos
com os chefes dos impérios de Mutapa e Marave. Assim, a colonização de
Moçambique foi feita em tres fases distintas:
a) Periodo do Ouro: XIV-XVII

Os portugueses fixaram-se no litoral de Moçambique, primeiro como


mercadores e depois como colonizadores efectivos. A fixação fez-se primeiro
no litoral: Sofala em 1505, na Ilha de Moçambique em 1507. Em 1530 e 1537
penetraram no vale do Zambeze e fundaram Sena e Tete respectivamente e em
1544 fundaram Quelimane. Em 1607 obtiveram do muenemutapa reinante a
concessão de todas as minas de ouro do Estado vigente na altura.

b) Periodo do Marfim: XVII-XIX

Com as revoltas ocorridas em 1693 foi gradualmente abandonada a produção do


ouro e os mercadores passaram a interessar-se mais pelo marfim.

c) Periodo dos escravos: XVII-XIX

De 1750-60 até 1836 a procura de escravos superou a procura de ouro e


marfim. Os escravos eram vendidos aos franceses para as plantações de cana do
açucar e café nas ilhas Mascarenhas no Indico e numa segunda fase começaram
a ser enviados para o Brasil, S. Tomé, Cuba, América do Norte, Comores e
Madagáscar.
A penetração colonial na maior parte do território de Moçambique foi feita
através de Companhias as quais ocupavam cera de 2/3 do território. Portugal
não conseguiu ocupar, dominar e administrar sózinho o país. Assim, a
administração do território foi atribuida em 1892 à Companhia de Moçambique
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que compreendia uma área de 134.822 km2 limitada entre o rio Zambeze (norte
e noroeste) e o paralelo 22º (sul) e entre o Indico (este) e a Rodésia do Sul
(oeste). Esta concessão durou cerca de 45 anos (1897-1942).
A companhia tinha o direito de explorar os territórios e a população que
estavam no seu domínio, praticar o monopólio do comércio, fazer concessões
mineiras e de pesca costeira, colectar taxas e impostos de palhota e de capitação
(mussoco), exploração de mão de obra para os paises vizinhos, construir e
explorar vias de comunicação, stradas, portos, pontes, caminhos de ferro,
conceder terras a terceiros emitir moedas e selos.
Como dever a companhia tinha o dever de pagar 10% dos dividendos
distribuidos e 7,5% dos lucros liquidos totais, manter a sua sede em Lisboa,
manter o estatuto de companhia portuguesa e entregar os territórios ocupados no
fim do contrato.
Em 1891 surge a Companhia do Niassa (2ª companhia majestática), com
privilégios de ocupação, administração e exploração da área ocupada. 25% do
território na zona norte entre os rios Rovuma (norte) e Lúrio (sul), o oceano
Indico (este) e Lago Niassa (oeste).
Em 1892 surge a Companhia da Zambézia (3ª companhia majestática), que
ocupava as áreas de Chire, limite com a Niassalandia, Zumbo e Luenha,
fronteira com a Rodesia do Norte. Esta companhia não tinha privilégios porque
era concessionária.
A estrutura administrativa colonial foi assegurada efectivamente em toda a
extensão do territorio a partir do estabelecimento de contratos de concessão
pelo governo portugues de zonas do território a grandes companhias que
tinham interesses em Moçambique para desenvolverem actividades económicas
e assegurarem igualmente o exercício delegado da autoridade administrativa nos
territórios concessionados à excepção da zona sul do país que foi considerada
reserva de mão de obra para as minas de ouro na vizinha Africa do Sul.
A zona sul do País foi administrada de forma directa pelos portugueses e serviu
como reserva de mão de obra para as plantações de cana do açucar e exploração
mineira na vizinha Africa do Sul.
Com o Golpe de Estado ocorrido em Maio de 1926 em Portugal, nasceu o
Estado Novo, o qual ganhou vulto a partir de 1930 e consolidou-se em 1932,
com o desenvolvimento do Nacionalismo Económico.

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2. Delimitação do Território e Administração Pública Colonial em
Moçambique

O Governo de Portugal iniciou o processo de delimitação do território de


Moçambique depois da realização da Conferência de Berlim que decorreu no
periodo de 15 de Novembro de 1884 a 26 de Fevereiro de 1885. A partir deste
periodo tiveram lugar conversações entre Portugal e outras potencias coloniais
interessadas na colonização do continente africano as quais só terminaram a 29
de Julho de 1869 com a delimitação das actuais fronteiras de Moçambique
iniciando desta forma a ocupação efectiva do território sob a forma de
colónia.
Após a delimitação das fronteiras a organização administrativa da colonia
acomodou duas estruturas de administração territorial, nomeadamnete a
estrutura administrativa colonial e a estrutura de administração tradicional.
A administração tradicional implicou o estabelecimento de regras de submissão
à autoridade colonial mantendo-se contudo a natureza matriarcal ou patriarcal
na respectiva linhagem conforme os usos e costumes das regiões do País.
No período que decorreu desde o inicio da ocupação efectiva até aos anos 60
Moçambique era designado por colônia de Moçambique. A partir deste período
passou a designar-se província de Moçambique e nos anos 70 passou a
designar-se por Estado de Moçambique. Em todas as fases o governo colonial
Português caracterizou-se por uma postura centralizadora do processo decisório
e as relações com as designadas províncias ultramarinas eram estabelecidas
através do Ministério das Colónias e mais tarde Ministério do Ultramar.
No processo de organização da administração pública Portuguesa podem
distinguir-se quatro fases que influenciaram a administração pública em
Moçambique no período anterior à independência nacional:

a) Até 1820, vigorava a Administração da Monarquia tradicional caracterizada


por indiferença entre a administração e a justiça. Assim, havia concentração no
monarca das funções de administração e de justiça, fraca intervenção da
administração na vida económica, cultural e social da nação e atribuição de
grande importância à administração municipal, forte carácter discricionário na
actuação da administração, o que caracterizava uma Administração Pública
Centralizada.
b) O período de 1820 a 1926, que incluiu as fases da Monarquia Liberal e da 1ª.
República caracterizou-se por uma administração liberal, pois ocorreu o
processo de separação entre a administração e a justiça, o reforço das garantias
dos cidadãos consagradas nas sucessivas constituições e cartas constitucionais,

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na criação do Conselho do Estado em 1845 e do Supremo Tribunal
Administrativo em 1870, na extensão da administração municipal e no
abstencionismo do Estado e da Administração em matérias económicas,
culturais e sociais. Neste período deu- se mais ênfase na descentralização da
Administração Pública.
c) Entre 1926 e 1974, na fase do Estado Novo, Portugal adoptou a
Administração Corporativa caracterizada pela separação entre a administração e
a justiça, o reforço da administração central em detrimento da administração
municipal, intervenção crescente da administração na vida económica e social,
diminuição das garantias dos particulares em todas as matérias, por imperativos
ideológicos, políticos e econômicos, e o incremento do autoritarismo político-
ideológico do Estado. Neste deu-se primazia à centralização da administração
pública.
Em Dezembro de 1933, o governo colonial Português introduziu através do
Decreto nº 23.229/33, de 15 de Novembro de 1933, uma reforma administrativa
para as colónias, que ficou conhecida por Reforma Administrativa Ultramarina
(RAU). A RAU tinha por objectivo a regulação e controle da organização e
funcionamento da administração pública nas colónias.
d) Com o golpe de Estado ocorrido a 25 de Abril de 1974, inicia a 2ª.
República, caracterizada administração social e econômica. O Estado nesta fase
é caracterizado pela separação das funções administrativa e jurisdicional, pelo
reforço da administração local, pelo incremento do poder intervencionista do
Estado na economia e pelo restabelecimento dos direitos, liberdades e garantias
dos cidadãos na constituição. Neste período foi incrementada a descentralização
da Administração Pública.

3. A Administração Pública depois da Independência

Com a proclamação da independência nacional a 25 de Junho de 1975, nasceu a


República Popular de Moçambique, e entrou em vigor a nova Constituição da
República Popular de Moçambique (RPM). Esta definia Moçambique como um
Estado de Democracia Popular, onde o Poder pertencia aos operários e
camponeses unidos e dirigidos pela FRELIMO.
O Artigo 3 da Constituição definia que “A FRELIMO traça a orientação política
básica do Estado e dirige e supervisa a acção dos órgãos estatais a fim de
assegurar a conformidade da política do Estado com os interesses do povo”

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O Artigo 4 estabelecia que a nova administração pública a instalar tinha por
objectivos “a eliminação das estruturas de opressão e exploração coloniais e
tradicionais e da mentalidade que lhes está subjacente”.
O Conselho de Ministros da República Popular de Moçambique, na sua 1ª.
Sessão após a proclamação da independência (de 9-25 de Julho de 1975),
analizou e identificou as características do Estado colonial implantado em
Moçambique e concluiu que o mesmo estava orientado para as cidades e para a
população das zonas urbanas. Para inverter esta situação, revolucionarizar o
aparelho de Estado era uma das tarefas fundamentais do Governo o que
impunha uma mudança radical que pusesse o Estado ao serviço das massas
operárias e camponesas.
Para este objectivo, era necessário empreender uma profunda transformação dos
métodos de trabalho e de estruturação do aparelho do Estado, a fim de
proporcionar a criação de novos esquemas mentais e regras de funcionamento.
A administração pública devia ser “um instrumento para a destruição de todos
os vestígios do colonialismo e do imperialismo, para a eliminação do sistema de
exploração do homem pelo homem, e para a edificação da base política,
material, ideológica, cultural e social da nova sociedade”.

Em matéria de organização do Estado era necessária a criação dos Governos


Provinciais e a criação das Assembleias do Povo. Para reflectir sobre a
organização das cidades foi realizada uma Reunião Nacional sobre Cidades e
Bairros Comunais e para reflectir sobre as acções que deveriam ser levadas a
cabo no quadro da edificação da Administração Pública foi realizada uma
Reunião Nacional da Função Pública que ficou como mais conhecida como
Seminário de escangalhamento do aparelho do Estado colonial.
Para assumir o controlo das empresas abandonadas pelos proprietários foram
criadas Unidades de Direcção e Conselhos de Produção nas empresas.

A Constituição da República Popular de Moçambique estabelecia que os órgãos


do Estado se subdividiam em órgãos Centrais (Assembleia Popular, a Comissão
Permanente da Assembleia Popular, o Presidente da República e o Conselho de
Ministros) e órgãos Locais (Assembleias Provinciais, Governador Provincial e
Governo Provincial).
O primeiro instrumento normativo aprovado para organizar a Administração
Pública foi o Decreto nº. 1/75, de 27 de Julho, para o Aparelho de Estado
Central que definia as principais funções e tarefas de cada Ministério na
realização do Programa Geral de actividades do Conselho de Ministros, bem

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como delimitar as competências de cada Ministério, estabelecendo a relação
hierárquica dos diferentes serviços existentes ou a criar.
Para, regulamentar as funções, tarefas, composição e funcionamento dos
governos provinciais foi aprovada a Lei nº. 5/78, de 22 de Abril. O Governo
Provincial era definido como um órgão de direcção estatal com funções de
execução, decisão e controlo no escalão provincial. O Aparelho de Estado ao
nível provincial era constituído pelos seguintes órgãos:

a) Gabinete do Governador Provincial;

b) Direcção Provincial de Apoio e Controlo;

c) Direcções Provinciais e Comissões Provinciais, órgãos estes que


observam o princípio de dupla subordinação no seu funcionamento.

A Lei nº. 7/78, de 22 de Abril, criava os Conselhos Executivos das Assembleias


Distritais e Conselhos Executivos das Assembleias de Cidade com funções de
execução, decisão e controlo, exercendo as suas actividades mandatados pelas
respectivas Assembleias do Povo.
Para assegurar o papel directivo e centralizador do Estado, foi aprovado o
Decreto nº. 4/81, de 10 de Junho, o qual passou a designar-se por Normas de
Organização e Direcção do Aparelho de Estado Central (NODAEC). Este
Decreto definia os órgãos centrais do Aparelho de Estado como instrumento
unitário do poder para a direcção, planificação e controlo da acção
governamental. Eles subordinavam-se à Assembleia Popular e eram dirigidos
pelo Presidente da República e pelo Conselho de Ministros.
Os princípios de orientação do Aparelho de Estado foram derivados dos
Estatutos da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), dos quais o
Centralismo Democrático era o princípio de organização e funcionamento mais
importante. Assim, com base no centralismo democrático, os órgãos centrais do
Aparelho de Estado deveriam aplicar os seguintes princípios:

1. Unidade e concentração da direcção política, económica, técnica e


administrativa no dirigente e sua responsabilização individual, combinada com
a participação colectiva dos trabalhadores na tomada, execução e controlo de
decisões;

2. Direcção e planificação unitárias da economia e da actividade social do


Estado;
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3. Desenvolvimento, protecção e plena utilização da propriedade estatal;
4. Orientação e apoio ao desenvolvimento planificado do sector cooperativo em
recursos humanos, técnicos e materiais;

5. Integração e controlo da actividade do sector privado no quadro da política


de desenvolvimento do País;

6. Observância permanente da legalidade;

7. Participação organizada das massas nas tarefas estatais;

8. Participação na preparação, execução e controlo das decisões da Assembleia


Popular, bem como no trabalho das suas comissões;

9. Promoção da crítica e auto-crítica, da aplicação de estímulos materiais e de


avanços tecnológicos como instrumentos de melhoria da organização, estilo
e métodos de direcção e trabalho, bem como de elevação da produção e da
produtividade;

10. Dupla subordinação dos órgãos locais do Aparelho de Estado e promoção da


iniciativa local do aparelho estatal e instituições subordinadas, elevando-se a
sua responsabilidade e disponibilidade em meios para a realização de tarefas
estatais;

11. Participação nas tarefas de defesa e segurança e vigilância popular; e

12. Manter relações económicas, científicas, técnicas e culturais internacionais


como implementação dos princípios definidos na Constituição, das decisões
do Partido FRELIMO e dos órgãos superiores do Estado.
Como forma de garantir uma direcção centralizada, as NODAEC definiam
como competência exclusiva dos órgãos centrais do Aparelho de Estado a
definição de princípios, objectivos, normas, metodologias e procedimentos
fundamentais nas seguintes áreas:

1. Planificação, finanças, actividades bancária e seguradora, salários e preços;

2. Formação, colocação e gestão de quadros dirigentes, especialistas e técnicos,


de acordo com o quadro classificativo de funções;

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3. Investigação e experimentação científica;

4. Estatística e contabilidade nacional;

5. Inspecção e controlo;

6. Defesa e segurança;

7. Relações internacionais

Antecedentes da Reforma do Estado em Moçambique


Com a proclamação da independência, em 25 de Junho de 1975 e a adopção do
modelo socialista, a Aministração Pública teve que se adequar para responder a
necessidade de uma máquina administrativa que se ajustasse aos interesses
nacionais no quadro do cumprimento dos objectivos de desenvolvimento e para
o cumprimento das Directivas Económicas e Sociais do III Congresso da
Frelimo, realizado em Fevereiro de 1977.
Como consequência da fuga de um número significativo de colonos, o Governo
da República Popular de Moçambique teve que tomar medidas rápidas e
profundas para manter a organização e funcionamento do Estado aos vários
níveis. Assim, foram recrutados muitos Moçambicanos para integrarem o
Aparelho do Estado e outros para gerirem empresas que haviam sido
intervencionadas devido ao abandono das mesmas pelos respectivos
proprietários.
A falta de condições de realizar acções de formação fez com que os novos
funcionários aprendessem a gerir gerindo no próprio processo de trabalho.
Nesta fase os Grupos Dinamizadores criados e em funcionamento nos locais de
trabalho e de residência transformaram-se em verdadeiros centros de formação
político-ideológico, mas também em instituições de extensão do aparelho do
Estado.
Um movimento similar de transformações seguiu-se nos anos 80, a partir da
realização do IV Congresso da Frelimo, em Abril de 1983, que constituiu um
marco importante para a mudança do sistema político de governação e a
substituição do modelo de desenvolvimento com base na economia planificada
para a economia de mercado em Moçambique.

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Na sequeência das deliberações do IV Congresso, Moçambique foi aceite como
membro do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM)
em 1984. Em 1986 foi adoptado e iniciada a implementação do Plano de Acção
Económica (PAE), para em 1987, implementar-se o Programa de Reabilitação
Económica (PRE). A situação prevalecente no País na época permitiu que estes
programas fossem elaborados debaixo das condicionalidades das instituições de
Bretton Woods.
A revisão da Constituição
A Constituição da República de 1990 veio consagrar muitas das mudanças
políticas e económicas até aí experimentadas, nomeadamente o abandono do
sistema de economia centralmente planificado e a introdução do pluralismo
político e da economia do mercado em Moçambique.
Com efeito, várias reformas foram implementadas dentre as quais a privatização
das empresas estatais, que contrariamente ao que era esperado teve algum
impacto negativo na economia devido à paralização e encerramento de muitas
das empresas, por falta de capacidade técnico-financeira do novo empresariado
ou por falta de um ambiente institucional propício desigandamente de políticas
públicas apropriadas, acesso a crédito e outros incentivos e falta de fiscalização
e acompanhamento pós-privatizações.
A fraca expressão quantitativa e qualitativa do sector privado, não permitiu o
exercício de uma pressão para adequação da organização e funcionamento do
Estado às mudanças políticas e económicas que se iam operando em
Moçambique.
A baixa qualificação profissional dos funcionários públicos, a fraca capacidade
de gestão de políticas públicas, recursos humanos, financeiros, materiais, a
excessiva burocracia, a morosidade nos procedimentos de licenciamento
comercial e industrial, a falta de mecanismos para garantir a força e efectividade
dos contratos e a falta de mecanismos de garantia de transparência e prestação
de contas e a existência de corrupção são as razões que ditaram o lançamento da
Estratégia Global da Reforma do Sector Público.
A revisão da Constituição levada a cabo e que terminou com a sua aprovação
em 30 de Novembro de 1990 trouxe muitas modificações com implicações na
Administração Pública entre as quais a introdução do multipartidarismo e a
recente revisão pontual para incorporar a existência das autarquias locais.

Após as primeiras eleições gerais e multipartidárias foi aprovado pelo Governo


o 1º. Programa Quinquenal do Governo para dar inicio ao processo de
reconstrução nacional. Naquela época a administração pública foi caracterizada
de alguma forma pelo surgimento de uma dupla administração pois, por força
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do Acordo Geral de Paz as zonas outrora sob controle da Renamo deveriam ser
administradas por funcionarários nomeados pelo Governo sob indicação
daquela organização política.
Em consequência dessa revisão, do Acordo Geral de Paz de Roma de 1992, das
primeiras eleições multipartidárias em 1994, e de toda uma série de mudanças
políticas no contexto da democratização, Moçambique está a caminhar para
uma efectiva implantação de um Estado de Direito.
Na primeira Constituição multipartidária, destaca-se a introdução dos Órgãos de
Soberania, nomeadamente, o Presidente da República, a Assembleia da
República, o Conselho de Ministros, os Tribunais e o Conselho Constitucional
(Artigo 109). Por sua vez, eram definidos como Órgãos Centrais do Estado os
órgãos de soberania, o conjunto dos órgãos governativos e as instituições
centrais a quem cabe garantir a prevalência do interesse nacional e a realização
da política unitária do Estado (Artigo 110). Quanto às competências e formas de
organização do Aparelho do Estado, encontram-se nos Artigos 111, 112 e 113.
A revisão pontual da Constituição realizada em Novembro de 1996 destinada a
introduzir princípios e disposições sobre o Poder Local, não trouxe
modificações quanto à definição dos órgãos locais do Estado.

Por outro lado, a emenda constitucional que levou à introdução do Poder Local
na lei fundamental do País, incorporou uma nova redacção dos artigos 185 e
186, mas não se debruçou sobre os órgãos locais do Estado.
Constata-se uma falta de clareza na definição dos Órgãos Locais do Estado. A
Constituição apenas faz a definição de que o Governador Provincial é o
representante da autoridade central a nível da Província mas não esclarece que
Província é territorialmente nível local. Ao definir que o Governo Provincial é o
órgão encarregado de garantir a execução, ao nível provincial, da política
governamental centralmente definida (Artigo 114), e ao referir que “Nos
diversos escalões territoriais, os órgãos locais do Estado asseguram a
participação e decisão dos cidadãos em matéria de interesse próprio da
respectiva comunidade”, coloca o Governo Provincial numa situação de não ser
nem Órgão Central do Estado nem Órgão Local.
A Administração Pública Moçambique à luz da Constituição de 2004

Da nova Constituição destacam-se alguns aspectos fundamentais com respeito à


organização e funcionamento da Administração Pública em Moçambique
designadamente:
Organização do Poder Político

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De acordo com o Título V, o Presidente da República, a Assembleia da
República, o Governo, os Tribunais e o Conselho Constitucional, são os órgãos
de soberania. Os órgãos de soberania assentam nos princípios de separação e
interdependência de poderes consagrados na Constituição e devem obediência à
esta e às leis (artigos 133 e 134).
Governo da República de Moçambique

O Governo da República de Moçambique é o Conselho de Ministros. O


Conselho de Ministros é composto pelo Presidente da República que a ele
preside, pelo Primeiro-Ministro e pelos Ministros. Podem ser convocados para
participar em reuniões do Conselho de Ministros os Vice-Ministros e os
Secretários de Estado.

Na sua actuação, o Conselho de Ministros observa as decisões do Presidente da


República e as deliberações da Assembleia da República.

A formulação de políticas governamentais pelo Conselho de Ministros é feita


em sessões dirigidas pelo Presidente da República.
O Conselho de Ministros assegura a administração do país, garante a
integridade territorial, vela pela ordem pública e pela segurança e estabilidade
dos cidadãos, promove o desenvolvimento económico, implementa a acção
social do Estado, desenvolve e consolida a legalidade e realiza a política externa
do país.

São competências do Conselho de Ministros (Artigos 203 e 204):

a) garantir o gozo dos direitos e liberdades dos cidadãos;


b) assegurar a ordem pública e a disciplina social;
c) preparar propostas de lei a submeter à Assembleia da República;
d) aprovar decretos-leis mediante autorização legislativa da Assembleia da
República;
e) preparar o Plano Económico e Social e o Orçamento do Estado e
executá-los após aprovação pela Assembleia da República;
f) promover e regulamentar a actividade económica e dos sectores sociais;
g) preparar a celebração de tratados internacionais e celebrar, ratificar,
aderir e denunciar acordos internacionais, em matérias da sua
competência governativa;
h) dirigir a política laboral e de segurança social;
i) dirigir os sectores do Estado, em especial a educação e saúde;

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j) dirigir e promover a política de habitação;
k) garantir a defesa e consolidação do domínio público do Estado e do
património do Estado;
l) dirigir e coordenar as actividades dos ministérios e outros órgãos
subordinados ao Conselho de Ministros;
m) analisar a experiência dos órgãos executivos locais e regulamentar a sua
organização e funcionamento e tutelar, nos termos da lei, os órgãos das
autarquias locais;
n) estimular e apoiar o exercício da actividade empresarial e da iniciativa
privada e proteger os interesses do consumidor e do público em geral;
o) promover o desenvolvimento cooperativo e o apoio à produção familiar.

Administração Pública

A Administração Pública serve o interesse público e na sua actuação respeita os


direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos. Os órgãos da Administração
Pública obedecem à Constituição e à lei e actuam com respeito pelos princípios
da igualdade, da imparcialidade, da ética e da justiça (Artigo 249 da
Constituição da Republica).

A Administração Pública estrutura-se com base no princípio de descentralização


e desconcentração, promovendo a modernização e a eficiência dos seus serviços
sem prejuízo da unidade de acção e dos poderes de direcção do Governo.
A Administração Pública promove a simplificação de procedimentos
administrativos e a aproximação dos serviços aos cidadãos (artigo 250).
O Decreto nº 30/2001 de 15 de Outubro que aprova as Normas de
Funcionamento dos Serviços da Administração Pública estabelece os seguintes
princípios da actuação da Administração Pública:
 Principio da legalidade;

 Principio da prossecução do interesse público e protecção dos direitos e


interesses dos cidadãos;

 Principio da justiça e da imparcialidade;

 Principio da transparência da Administração Pública;

 Principio da colaboração da Administração com os particulares;

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 Principio da participação dos particulares;

 Principio da decisão;

 Principio da celeridade do procedimento administrativo;

 Principio da fundamentação dos actos administrativos;

 Principio da responsabilidade da Administração Pública;

 Principio da igualdade e da proporcionalidade.

O Decreto nº 30/2001 estabelece igualmente no domínio das garantias de


imparcialidade as condições de impedimento, da argüição e declaração do
impedimento, a escusa e suspeição, a competência, a delegação de competência,
a publicidade do acto de delegação ou subdelegação, os poderes do delegante, a
substiuição ou acumulação de funções e a extinção da delegação entre outras
disposições inerentes à organização e procedimentos administrativos.

Órgãos Locais do Estado

Os órgãos locais do Estado conforme os Artigos 262, 263 e 264 da Constituição


da República têm como função a representação do Estado ao nível local para a
administração e o desenvolvimento do respectivo território e contribuem para a
integração e unidade nacionais.

A organização e o funcionamento dos órgãos do Estado a nível local obedecem


aos princípios de descentralização e desconcentração, sem prejuízo da unidade
de acção e dos poderes de direcção do Governo.
No seu funcionamento, os órgãos locais do Estado, promovem a utilização dos
recursos disponíveis e garantem a participação activa dos cidadãos e incentivam
a iniciativa local na solução dos problemas das comunidades. Na sua actuação,
os órgãos locais do Estado respeitam as atribuições, competências e autonomia
das autarquias locais.

Os órgãos locais do Estado garantem, no respectivo território, sem prejuízo da


autonomia das autarquias locais, a realização de tarefas e programas
económicos, culturais e sociais de interesse local e nacional, observando o
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estabelecido na Constituição, nas deliberações da Assembleia da República, do
Conselho de Ministros e dos órgãos do Estado do escalão superior.
Os Órgãos Locais do Estado têm a função de representação do Estado ao nível
local para a administração do desenvolvimento do respectivo território e
contribuem para a unidade e integração nacionais.
A organização e funcionamento dos órgãos locais do Estado obedecem aos
principios da desconcentração e da desburocratização administrativa, visando o
descongestionamento do escalão central e a aproximação dos serviços públicos
as populações, de modo a garantir a celeridade e adequação das decisões às
realidades locais. Os órgãos locais do Estado observam o principio da estrutura
integrada verticalmente hierarquizada. No âmbito da aplicação da Lei dos
órgãos locais do Estado - lei nº8/2003 de 19 e Maio foram criados os governos
distritais, os quais são constituídos pela Secretaria do Governo Distrital e por 4
a 5 Serviços Distritais.
No seu funcionamento, a par das Normas de Funcionamento dos Serviços da
Administração Pública legalmente definidas, observam os princípios da boa
administração, do respeito pelos direitos subjectivos e pelos interesses legítimos
dos administrados, garantem a participação activa dos cidadãos, incentivam a
iniciativa local na solução dos problemas das comunidades, aplicando os
recursos ao seu alcance.
Os órgãos locais do Estado nos termos estabelecidos no Decreto 15/2000 de 20
de Junho articulam com as autoridades comunitárias no processo de auscultação
de opiniões sobre a melhor maneira de mobilizar e organizar a participação das
comunidades locais na concepção e implementação de programas e planos
econômicos, sociais e culturais em prol do desenvolvimento local.
Para assegurar a participação das comunidades na definição das prioridades nas
acções de desenvolvimento econômico local, foi instituído um fundo de
investimento de iniciativa local, que é gerido pelos Governos Distritais. A
utilização deste fundo é concertada pelo Governo Distrital com os Conselhos
Consultivos Locais, que estão em funcionamento nos Distritos, Postos
Administrativos e Localidades.

Poder Local

O Poder Local tem como objectivos organizar a participação dos cidadãos na


solução dos problemas próprios da sua comunidade e promover o
desenvolvimento local, o aprofundamento e a consolidação da democracia no
quadro da unidade do Estado Moçambicano conforme os Artigos 271 e 272 da
Constituição da República.
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O Poder Local apoia-se na iniciativa e na capacidade das populações e actua em
estreita colaboração com as organizações de participação dos cidadãos. O Poder
Local compreende a existência de autarquias locais.
As autarquias locais são pessoas colectivas públicas, dotadas de órgãos
representativos próprios, que visam a prossecução dos interesses das populações
respectivas, sem prejuízo dos interesses nacionais e da participação do Estado.

As autarquias locais estão sujeitas à tutela administrativa do Estado. A tutela


administrativa sobre as autarquias locais consiste na verificação da legalidade
dos actos administrativos dos órgãos autárquicos, nos termos da Lei nº. 7/97, de
31 de Maio. O exercício do poder tutelar pode ser ainda aplicado sobre o mérito
dos actos administrativos, apenas nos casos e nos termos expressamente
previstos na lei.
Os factores que são considerados no processo de decisão para a criação de
novas autarquias são de carácter geográfico, demográfico, económico, social,
cultural e administrativo, os interesses de ordem nacional ou local, as razões de
ordem histórica e cultural e a avaliação da capacidade financeira para a
prossecução das atribuições que lhe estiverem acometidas nos termos da Lei nº.
2/97, de 18 de Fevereiro.
A eleição dos titulares e membros dos órgãos autárquicos, designadamente o
Presidente do Conselho Municipal e os membros da Assembleia Municipal
ocorre de cinco em cinco anos num processo designado por eleições
autárquicas.

Função Pública
Conforme a Constituição da República aprovada em 2004, o acesso à Função
Pública e a Progressão nas Carreiras Profissionais não podem ser prejudicados
em razão da cor, raça, sexo, religião, origem étnica ou social ou opção político-
partidária e obedece estritamente aos requisitos de mérito e capacidade dos
interessados (Artigo 251, CRM).
Os funcionários e demais agentes do Estado, no exercício das suas funções,
devem obediência aos seus superiores hierárquicos (Artigo 252, CRM).
Conforme o censo dos funcionários e agentes do Estado realizado pelo
Ministério da Função Pública no periodo de Fevereiro a Julho de 2007 e
actualizado no periodo de Agosto de 2007 a Agosto de 2008 a Função Pública
moçambicana é constituida por 167.420 funcionários e agentes do Estado, dos
quais 111.732 (66.74%) são homens e 55.688 (33,26%) são mulheres. Destes,
16.202 homens e 9.408 mulheres estão afectos aos orgãos centrais , perfazendo

15
15,3% enquanto 95.530 homens e 55.688 mulheres estão nas provincias,
perfazendo 84,7%, do total. As idades dos funcionários estão no intervalo de 26
e 48 anos num total de 121.525, ou seja 72,58%. Em termos de formação 42%
do contingente tem nível básico, 25% nível elementar e médio e 8% nivel
superior. O homens na função pública ocupam 78,44% com formação superior
e 77.44% com nível elementar enquanto que as mulheres com formação básica
e média ocupam 35,87% e 34,93%, respectivamente.
Em termos de concentração a maior parte dos funcionarios do Estado está
concentrada nos Sectores da Educação - 62.78%, da Saúde - 14.47% e da
Agricultura - 3.56%. Os outros sectores no conjunto ocupam 19.18% do
universo de funcionários e agentes.
Nos termos definidos no Estatuto geral dos funcionários do Estado o ingresso na
Administração Pública é por concurso público. Contudo, o Dirigentes com
competencia para nomear podem designar por escolha um cidadão para exercer
por contrato funções de direcção e chefia na Função Pública, quando não
houver na instituição pessoas com os requisitos necessários para o exercicio da
mesma função.
Formação em Administração Publica
A formação para o fortalecimento da capacidade técnico-profissional dos
funcionários e agentes da Administração Publica em Moçambique sempre
mereceu uma atenção especial para se assegurar a implementação eficiente e
eficaz das politicas de desenvolvimento do País.
A primeira instituição de formação para a Administração Pública foi criada em
1977 e designava-se Centro de Formação de Quadros 1º de Maio e tinha como
vocação a formação de administradores distritais. Este centro funcionou até
1980, altura que foi criada Escola de Estado e Direito.
A Escola de Estado e Direito dedicou-se á formação de directores provinciais,
administradores distritais e iniciou a oferta de cursos de graduação básica e
média em Administração Estatal.
Em 1994, a Escola de Estado e Direito foi transformada em Instituto Médio de
Administração Pública, com responsabilidade de formar técnicos básicos e
médios em Administração Pública.
Em 1994 foi criado o Sistema de Formação em Administração Pública (SIFAP)
mas que só foi possível iniciar a sua operaracionalização a partir de 1998. No
quadro da implementação do SIFAP foram criados os Institutos de Formação
em Aministração Pública e Autárquica (IFAPA), que funcionam nas zonas
Norte, Centro e Sul do País e o Instituto Superior de Administração Pública

16
(ISAP). Estas instituições oferecem cursos de formação quer de graduação, quer
de capacitação de funcionários públicos a vários níveis.
A acção de formação desenvolvida por esta rede de instituições é
complementada pela intervenção de outras instituições de formação,
universidades e institutos superiores que oferecem cursos de graduação e pós
graduação em Administração Pública.
Ao nível da cooperação regional destacam-se os cursos oferecidos iniacialmente
pelo Projecto de Formação em Administração Pública (FAP), que foi
substituido pelos Projectos PIR-PALOP I e PIR-PALOP II voltados para o
fortalecimento das capacidades das Administrações Públicas dos Países
Africanos de Língua Portuguesa (PALOP).

Programa Quinquenal do Governo para 2000-2004 no domínio da


Reforma do Sector Público

Em 1999 tiveram lugar as 2ªs Eleições Gerais e Multipartidárias as quais


contribuíram para a consolidação do clima de paz prevalecente no País e a
aprovação do 2º Programa Quinquenal do Governo.
O Governo prosseguirá o processo de reforma da administração pública dando
ênfase aos sistemas de gestão, a profissionalização da administração, a mudança
de atitudes e comportamentos de agentes e funcionários públicos através dos
seguintes objectivos:

 Melhorar a qualidade da prestação de serviços aos cidadãos,


divulgando os seus direitos e melhorando as condições do seu
atendimento;

 Reforçar o papel da Administração Pública enquanto agente de


transformação da sociedade, criando condições técnicas e
organizacionais para a instituição de uma administração para o
desenvolvimento;

 Alterar a imagem da Administração Pública, através da melhoria


do ambiente de trabalho, da formação contínua dos seus
funcionários e da dignificação do seu papel;

17
 Reduzir os custos administrativos, através da elevação dos níveis
de eficiência e qualidade de serviços;

 Promover a coordenação da construção e reabilitação de infra-


estruturas da administração dos distritos e postos administrativos;

 Consolidar o processo da reforma dos órgãos locais, através da


formação e/ou capacitação dos funcionários das autarquias locais.

A experiência de vários países do mundo na prossecução de estratégias de


desenvolvimento económico revela claramente a centralidade do papel do
Estado neste tipo de processos. A despeito das diversas abordagens inerentes ao
lugar que as instituições estatais ocupam na economia, que vão desde o
intervencionismo quase irrestrito, próprio das economias planificadas, ao
liberalismo económico, próprio das economias de mercado, a questão que é
sempre equacionada é a capacidade do Estado.
A capacidade do Estado torna-se um elemento crucial porque é através dele que
os poderes públicos conseguem cumprir com os seus papéis, política e
institucionalmente definidos.
Assim, nas economias planificadas, de forte intervencionismo estatal e
inspiração socialista, espera-se que o Estado tenha os recursos necessários para
se fazer presente de forma efectiva nas diversas áreas que define como sendo o
seu âmbito de actuação, normalmente nas arenas política, económica e social.
Traço distintivo neste tipo de economias é o papel empresarial do Estado, que
exige do mesmo uma forte capacidade gerencial, nem sempre existente, o que
acaba sendo colmatado pela alocação de recursos para mitigar eventuais
fracassos das empresas estatais, em detrimento da intervenção em outras áreas.
O Estado empresário também cumpre uma forte função social, ao providenciar
emprego a muitos cidadãos, mesmo com qualificações técnico-profissionais
abaixo das que seriam requeridas no mercado.
Por outro lado, nas economias de mercado, de inspiração liberal, o papel do
Estado tende a ser menos intervencionista e mais regulador, deixando para os
agentes privados o papel empresarial. Ademais, cabe ao Estado a criação de
condições para o florescimento do sector privado, através da provisão de
serviços básicos como defesa, segurança, saúde, educação e infra-estruturas.
No entanto, isso não implica que o Estado fica mais fraco; ocorre apenas um
redimensionamento do seu papel, ficando mais voltado a funções de
regulamentação e definição de políticas públicas, muitas vezes deixando o
âmbito de implementação para outros actores, como o sector privado,
18
organizações não governamentais, associações, cooperativas e até mesmo
comunidades locais organizadas.
Portanto, dependendo das estratégias de desenvolvimento económico escolhidas
e/ou definidas politicamente, é fundamental a correspondente definição do papel
do Estado no processo e a identificação das capacidades fundamentais para a
sua prossecução. Isto normalmente requer um exercício de diagnóstico e
redefinição das funções correntes que o Estado até então desempenha, através
de implementação de reformas em maior ou menor grau.
Por conseguinte, a criação de uma capacidade estatal, fundamental à
prossecução do desenvolvimento económico, é indissociável de um processo de
reformas do Estado, em maior ou menor grau. Em maior grau quando envolve,
strictu senso, uma Reforma do Estado, implicando reformas profundas nos
órgãos de soberania (Executivo, Legislativo, Judiciário), no sistema de
representação política (sistema eleitoral e de Governo) e no aparelho de
prestação de serviços em si, a Administração Pública. Por sua vez, em menor
grau não implica que as reformas tenham pouco impacto, mas sim que elas se
restringem ao último aspecto da reforma do Estado: o aparelho de prestação de
serviços, a administração pública. Estas reformas podem ser chamadas, lato
senso, de reformas do sector público ou reformas administrativas que podem ser
alargadas ao sector empresarial do Estado.
No entanto, nem sempre os dois tipos de reformas são estanques,
principalmente a segunda, esta porque sempre envolve algum tipo de reformas
além das de âmbito administrativo.
Estas considerações preliminares, embora aparentemente abstractas, são
importantes para se entender os desafios do Estado em Moçambique.

Os Pressupostos, Determinantes e Objectivos da Modernização


Administrativa no quadro da Reforma do Sector Público
Para a coordenação política da Reforma do Sector Público foi criada uma
Comissão Inter-ministerial da Reforma do Sector Público (CIRESP), que é
apoiada por uma Unidade Técnica da Reforma do Sector Público, unidade
subordinada ao Ministério da Função Pública.
Os pressupostos da modernização da administração pública são a criação de
uma estrutura normativa necessária à adequação da administração ao novo
quadro institucional e o desenvolvimento de acções de formação e selecção com
o objectivo de profissionalizar a Função Pública e de institucionalizar
mecanismos de controlo do méirto técnico-profissional e do cumprimento das
regras éticas e deontológicas por parte dos funcionários;

19
Os determinantes da modernização da administração pública são a
implementação de medidas que assegurem o respeito e a segurança de bens e
pessoas; a clarificação de procedimentos administrativos, através do
estabelecimento e divulgação de um código de procedimentos e da
normalização dos formulários, a fim de permitir a transparência e a eficácia da
actividade administrativa; a desburocratização dos procedimentos da
administração pública e consequente mudança de atitude dos funcionários; a
institucionalização de critérios de transparência no funcionamento do Estado; a
regulamentação dos procedimentos da administração pública; a adopção de
técnicas modernas na realização da actividade administrativa, com o objecvtivo
de tornar mais céleres os processos da sua aplicação e a promoção da
participação dos cidadãos na administração pública através de mecanismos de
consulta e concertação.
Os objectivos da modernização da Administração Pública são:
a) Melhorar os níveis e qualidade de prestação directa de serviços aos
cidadãos passando a considerá-los como clientes, divulgando os seus
direitos e melhorando as condições do seu atendimento;
b) Reforçar o papel da AP enquanto agente da transformação da
sociedade, criando condições técnicas e organizacionais para a
instituição de uma administração para o desenvolvimento;
c) Criar um melhor ambiente na ecologia administrativa, formando
servidores, dignificando o seu papel, promovendo maior justiça
relativa, motivando e mobilizando para o processo de mudança;
d) Contribuir para a melhoria da imagem da Administração Pública e dos
servidores, superando gradualmente a imagem generalizada de que os
funcionários são 'burocratas, desinteressados e incompetentes',
portanto, são obstáculos ao processo de modernização da sociedade;
e) Promover a elevação dos níveis de eficiência e qualidade dos serviços
e assegurar a redução dos custos administrativos, permitindo que se
faça mais e melhor, mas de maneira diferente, com novos processos,
se possível com redução de custos.

Reforma do Sector Público em Moçambique


As crises económicas e orçamentais em muitos países, nos finais dos anos 70 e
nos princípios dos anos 80, pressionaram muitos governos a embarcar em
reformas económicas e sociais na busca de um caminho para a autoestima e

20
confiança nacional e internacionalmente, e na necessidade de restabelecer um
novo contrato entre os governos e as respectivas sociedades.
Os Governos são esperados a prestar um papel fundamental na segurança
alimentar, na protecção dos consumidores e das camadas mais vulneráveis, na
redução dos custos dos cuidados primários de saúde e na promoção de uma
educação universal básica, na protecção do ambiente e na prevenção e combate
de calamidades, na promoção e protecção do sector produtivo e da competição,
entre muitas responsabilidades. Esta lista cresce ainda mais se nos recordarmos
do impacto da globalização da economia, e da disseminação das tecnologias de
informação e comunicação.
Precisamente hoje em que as necessidades das populações são cada vez mais
crescentes em quantidade e qualidade, os governos enfrentam problemas de
escassez de recursos financeiros e de acesso a créditos e investimentos
internacionais. Os constrangimentos financeiros obrigam os Governos a
racionalizar as suas despesas, começando por factores de eficiência interna
como a redução de custos, a produtividade e a qualidade. Cada vez mais fica
consensual para as sociedades que se está perante um cenário em que se exige
que “os Governos façam mais, mas custando menos”.
No caso de Moçambique, a Reforma tem como objectivo a consolidação das
reformas rumo à uma economia de mercado. Isso passa pela criação de um
ambiente institucional que permita o Governo implementar políticas estratégicas
para o desenvolvimento como o PARPA, ao mesmo tempo que se fortalece o
sector privado.
A Estratégia Global da Reforma do Sector Público preconiza a criação e/ou
consolidação de estruturas e procedimentos eficientes e eficazes, sistemas de
gestão adequados e mecanismos de prestação de contas. Com estes elementos, o
sector público estará em melhores condições para oferecer um ambiente
institucional propício ao desenvolvimento do sector privado e
consequentemente, os dois sectores em parcerias inteligentes, promoverão o
desenvolvimento económico que é a aspiração de todos os moçambicanos.

A Estratégia Global da Reforma do Sector Público é um programa do Governo


integrando todas as reformas em curso nos ministérios e governos provinciais.
Com esta nova abordagem, as mudanças que vinham sendo sectoriais e isoladas
passam a ser integradas e interdependentes, com uma única direcção, visando a
melhoria da prestação de serviços públicos ao cidadão e o desenvolvimento de
um ambiente favorável ao crescimento do sector privado.
Para o alcance desses objectivos, estão previstas mudanças profundas na gestão
e capacitação dos recursos humanos, nas estruturas e procedimentos de

21
prestação de serviços, no processo de gestão de políticas públicas e na
programação orçamental e gestão financeira. Estas reformas contribuirão
consideravelmente para a promoção da boa governação e combate à corrupção,
ao aumentar a capacidade de resposta do sector público às demandas dos
cidadãos, através da criação de mecanismos de prestação de contas e
transparência e pela redução de oportunidades de acesso ilícito aos recursos
públicos. A ocasião faz o ladrão. É preciso reduzir senão eliminar os espaços
para a corrupção.
A Estratégia Global da Reforma do Sector Público, é um instrumento essencial
para a consolidação das reformas económicas em curso no país e para a
implementação dos programas do Governo, especialmente o Programa de
Redução da Pobreza Absoluta (PARPA), o Plano Económico e Social (PES),
uma vez que impulsiona a revitalização dos órgãos e instituições do Estado,
melhorando o funcionamento do sector público como um todo. Um sector
público forte e a funcionar bem cria condições para o florescimento e
fortalecimento do sector privado, proporcionando um ambiente para o
desenvolvimento económico do país. Isto pode ser melhor visualizado tendo em
conta as principais acções previstas nas áreas de foco da Reforma: as estruturas
e procedimentos de prestação de serviços, os recursos humanos, as políticas
públicas, a gestão financeira do Estado e o combate à corrupção.

Componentes da Estratégia Geral da Reforma do Sector Público

a) Racionalização e Descentralização de Estruturas e Procedimentos de


Prestação de Serviços
Nesta componente, a Análise Funcional e Reestruturação dos Ministérios é a
principal actividade. Este exercício, permitirá aos ministérios reflectirem sobre
a sua missão e objectivos estratégicos, suas funções e estruturas que melhor
possam permitir o cumprimento da finalidade e razão da sua existência, e sobre
o destino a dar às funções actualmente existentes: se serão mantidas a nível
central ou provincial, se serão abolidas, privatizadas ou transferidas para outros
sectores incluindo agências ou ONG´s. A Análise Funcional é uma
oportunidade para os ministérios alocarem funções e recursos de forma mais
efectiva em prol da criação de uma capacidade maior de resposta às demandas
da sociedade. Ocorrendo isto, a reforma terá um impacto económico evidente,
porque permitirá ao Estado criar as condições necessárias para que os agentes
económicos tenham as suas iniciativas implementadas, de forma eficiente e
eficaz. Por outro lado, a privatização e/ou contratação de algumas funções do
Estado abre espaço a uma maior competitividade na prestação de serviços

22
públicos, com fortes possibilidades de melhoria de sua qualidade e criação de
novas formas de rendimento.
Ademais, a redução do tempo de resposta bem como da burocracia no
funcionamento do sector público e particularmente no licenciamento das
actividades económicas, previstas sob esta componente e já em curso, são
medidas que estimularão consideravelmente os investimentos tanto internos
como externos, com um impacto positivo na economia.
A Estratégia Global da Reforma do Sector Público é um programa do Governo
integrando todas as reformas em curso nos ministérios e governos provinciais.
Com esta nova abordagem, as mudanças que vinham sendo sectoriais e isoladas
passam a ser integradas e interdependentes, com uma única direcção, visando a
melhoria da prestação de serviços públicos ao cidadão e o desenvolvimento de
um ambiente favorável ao crescimento do sector privado.
Para o alcance desses objectivos, estão previstas mudanças profundas na gestão
e capacitação dos recursos humanos, nas estruturas e procedimentos de
prestação de serviços, no processo de gestão de políticas públicas e na
programação orçamental e gestão financeira. Estas reformas contribuirão
consideravelmente para a promoção da boa governação e combate à corrupção,
ao aumentar a capacidade de resposta do sector público às demandas dos
cidadãos, através da criação de mecanismos de prestação de contas e
transparência e pela redução de oportunidades de acesso ilícito aos recursos
públicos. A ocasião faz o ladrão. É preciso reduzir senão eliminar os espaços
para a corrupção.

b) Formulação e Monitoria de Políticas Públicas


A melhoria do processo de gestão de políticas públicas é um dos objectivos
pretendidos com a Análise Funcional e Reestruturação dos Ministérios. A
melhoria da capacidade de formulação, implementação e monitoria de políticas
públicas contribuirá consideravelmente para o crescimento económico, porque
permitirá dar resposta adequada das demandas existentes na sociedade. No caso
da economia, o sector público terá a capacidade para intervir onde a sua
presença se revele necessária para estimular o desenvolvimento, e terá uma
função mais regulatória onde haja perigo de ocorrência de disfunções do
mercado e de desequilíbrios na interacção entre os agentes económicos. Os
processos participativos, previstos na nova lei dos órgãos locais do Estado,
serão um insumo necessário a este tipo de intervenção dos poderes públicos, na
perspectiva de acomodar institucionalmente a governação participativa no
nosso país.
23
Um exemplo de suma importância que está a ser implementado neste sentido é
o “Observatório do PARPA”, através do qual o Governo ausculta a sociedade e
incorpora contribuições que visam melhorar os métodos de trabalho na
formulação e monitoria de políticas públicas. Por outro lado, estão previstos, no
âmbito da Lei dos Órgãos Locais do Estado Fóruns Consultivos aos vários
níveis como um mecanismo de consulta periódico entre o Governo e a
sociedade, na promoção da governação participativa e ampliação da
democracia.

c) Profissionalização dos Funcionários do Sector Público


A melhoria da qualificação dos recursos humanos é fundamental para o sucesso
da Análise Funcional, porque é o garante de que as novas estruturas a serem
criadas serão competente e adequadamente geridas. Por outro lado, no âmbito
do desenvolvimento dos recursos humanos está prevista a adopção de uma nova
política salarial, que ligará a remuneração ao desempenho e/ou gestão por
resultados. Este elemento irá introduzir uma maior competitividade pelos
recursos humanos qualificados entre o sector público e o sector privado, e
reduzirá, em certa medida, a crónica fuga de quadros do primeiro para o
segundo. Como resultado global, o país tenderá a ter um padrão comum de
qualificação dos recursos humanos tanto no sector público como no privado,
que pelos incentivos existentes tenderão a ser, pelos menos nas funções
estratégicas, de um nível alto. A economia poderá se beneficiar disso com a
tendência a uma busca constante de maior qualificação pelos que pretendem
entrar no mercado de trabalho. Este aspecto de formação e desenvolvimento de
recursos humanos nacionais tecnicamente qualificados é que reduzirá
drasticamente o eterno argumento de contratação de mão-de-obra estrangeira
preterindo-se a nacional. Por isso é que a nossa primeira aposta para o sucesso
da reforma está na formação e treinamento profissional porque é um dado
adquirido que “a qualidade e riqueza de um País depende dos seus recursos
humanos”.
Um instrumento importante aprovado pelo Governo e em processo de
implementação é o Sistema de Formação em Administração Pública (SIFAP),
que já é uma realidade no País. Trata-se de um programa compreensivo de
treinamento e formação profissional incorporando métodos formais e não
formais de educação, incluindo o ensino modular e à distância. No presente o
SIFAP é implementado e coordenado através de três Institutos de Formação
Pública e Autárquica (IFAPAs) existentes em Lichinga (para servir as
províncias da zona norte), na Beira (para as províncias da zona centro), e na
Matola (para as províncias da zona sul. Também se encontra já em actividade o
24
Instituto Superior de Administração (ISAP), uma instituição de cariz vocacional
de ensino superior destinado a coordenar cursos formais, cursos de pequena
duração e investigação aplicada sobre a administração pública em Moçambique.
d) Gestão Financeira e Prestação de Contas
A gestão financeira é reconhecidamente um dos aspectos mais críticos do sector
público. Uma má gestão financeira, além de reduzir a capacidade do Estado na
provisão de serviços públicos e de sustento do seu próprio funcionamento,
incorpora em si o fantasma dos déficits públicos, cujas formas de financiamento
quase sempre se revelam nefastas para a economia. Tendencialmente, o
aumento da taxa de juros acaba sendo uma das consequências quase lógicas,
com a sua decorrente retracção de investimentos, aumento do desemprego e
recessão da economia. O quadro acirra-se ainda mais quando levamos em conta
que na situação actual do País os déficits orçamentários, que rondam cerca de
50%, são financiados por fontes externas.
A aprovação da Lei da Administração Financeira do Estado e a sua
regulamentação, bem como as reformas tributárias em curso, são elementos da
Reforma que contribuirão consideravelmente para a melhoria do quadro fiscal.
Além da melhoria na gestão financeira em si, a nova legislação incorpora
também mecanismos de prestação de contas que serão a base para uma maior
transparência e responsabilização. Neste sentido, está para aprovação o
Regulamento de Contratação de Empreitadas de Obras Públicas e de
Fornecimento de Bens e de Prestação de Serviços ao Estado (O Regulamento do
Procurement), como forma de imprimir maior transparência no relacionamento
do Estado com os agentes económicos e outros particulares.
Em suma, uma maior responsabilidade fiscal terá um efeito positivo na
economia, porque eliminará alguns dos elementos que podem prejudicar os
esforços de desenvolvimento económico. No entanto, torna-se necessário
aprofundar de forma participativa o tipo de reforma fiscal que não asfixie o
desenvolvimento do sector empresarial nas grandes e médias empresas e muito
menos prejudicar a emergência e desenvolvimento dos pequenos
empreendedores.
e) Boa Governação e Combate à Corrupção
O fenómeno da corrupção é outro mal que assola o sector público e tem custos
económicos elevados, porque contribui para a retracção dos investimentos. Este
fenómeno consiste no uso ilícito dos recursos públicos para fins privados e é um
fenómeno complexo, porque encerra várias interpretações, conceitos,
percepções e intervenientes.
No entanto, no âmbito do sector público ela floresce onde há falta de
transparência, excessiva burocracia, procedimentos e estruturas demasiado
25
complexas. Por essa razão, o combate à corrupção decorre naturalmente das
mudanças positivas que forem operadas nas estruturas e procedimentos de
prestação de serviços, na profissionalização da Administração Pública, e
modernização na gestão e desenvolvimento de recursos humanos, na gestão de
políticas públicas e na gestão financeira e melhoria de mecanismos de prestação
de contas.
Portanto, o combate à corrupção, é parte integrante da Reforma porque cada
componente da Estratégia Global da Reforma do Sector Público contribui na
redução de oportunidades de acesso ilícito aos recursos públicos. Ao se
melhorar o funcionamento dos elementos acima indicados, reduz-se o espaço
para práticas ilícitas. Desta forma, o combate à corrupção estimula o
desenvolvimento económico porque reduz os custos de transacção dos agentes
económicos e promove o ambiente para uma efectiva boa governação.
Notar que o Governo realizou já uma Pesquisa Nacional sobre a Corrupção no
sentido de compreender a percepção dos cidadãos quanto a este fenómeno. Por
outro lado, a pesquisa serve de instrumento importante que ajuda o Governo a
melhor definir a estratégia para o Combate contra este flagelo.
Em termos de acções levadas a cabo na âmbito da implementação da Estratégia
Global da Reforma do Sector Público são de destacar as seguintes acções:
 Análise Funcional de alguns Órgãos centrais do Estado;
 Elaboração de planos estrtégicos sectoriais (ministérios e principais
programas nacionais);
 Definição de funções próprias para os órgãos locais do Estado e
autarquias;
 Simplificação de Procedimentos administrativos;
 Organização de um fiável Sistema de Informação do Pessoal – SIP;
 Implementação do Sistema de Formação em Administração Pública;
 Aprovação de legislação que moderniza os instrumentos e procedimentos
de Gestão Financeira – SISTAFE;
 Aprovação do novo regulamento de Procurement;
 Aprovação de uma estratégia nacional de combate contra a corrupção;
 Simplificação de procedimentos administrativos e de licenciamento da
actividade industrial e comercial e redução do tempo para criação de
empresas;
 Introdução do Balcões Únicos de Atendimento à nível central e nas
Províncias;
 Aceleração do processo de autorização na emissão de título dos imóveis
do Estado em alienação;

26
 Redução do tempo de espera para contratação de mão-de-obra
estrangeira;
 Introdução do visto de entrada na fronteira;
 Redução do prazo de concessão do Direito de Uso e Aproveitamento da
Terra (DUAT);
 Redução do tempo de emissão de bilhetes de identidade;
 Promoção do registo civil de crianças recem nascidas com recurso a
brigadas móveis;
 Simplificação dos mecanismos de importação de viaturas;
 Implementação de programas de divulgação das realizações no sector
publico no quadro da reforma do sector publico para promoção de uma
nova imagem da Administração Pública.
Reformas Complementares
A par das reformas em curso nos Ministérios e Governos Locais, é notável o
sector da Justiça está empenhado em implementar reformas para assegurar a
aplicação do Direito e reduzir o elevado nível de impunidade que afecta a
sociedade. No quadro da implantação do Estado de Direito é fundamental que
sejam criadas condições para que os contratos e acordos tenham força e sejam
respeitados por todos os intervenientes como forma de criar um ambiente de
responsabilidade e de responsabilização.
Descentralização em Moçambique
A descentralização em Moçambique tem como objectivos o aprofundamento da
democracia, garantir a participação dos cidadãos na solução dos problemas
próprios das comunidades e promover o desenvolvimento local.
A Descentralização em Moçambique assume duas formas: a Desconcentração
administrativa (dos órgãos centrais do Estado para os órgãos locais do Estado )
e a Descentralização propriamente dita ou Descentralização política ou
Devolução (dos órgãos centrais do Estado para as autrarquias locais).
A Descentralização propriamente dita obedece os seguintes princípios:
1. Autonomia administrativa dos municípios (poderes de decisão sem
subordinação aos órgãos centrais;

2. Autonomia financeira (poder de usufruir de receitas próprias e de as


administrar de acordo com os programas orçamentais da sua exclusiva
responsabilidade);

27
3. Autonomia patrimonial dos municípios (o direito de ser titular de bens
patrimoniais próprios gerados de acordo com os seus interesses e
vontade);
4. Eleição dos Dirigentes Municipais (garantia de autonomia de decisão, de
democracia e da participação dos cidadãos nos assuntos que lhes dizem
respeito);
5. Rigorosa garantia da legalidade da actuação dos municípios na gestão do
erário público, através da fiscalização e da harmonização com os
superiores interesses nacionais quando estes estejam em causa;
6. Entrega aos municípios de atribuições e competências que permitam que
se tornem pólos de desenvolvimento e de promoção da melhoria das
condições de vida das comunidades;
7. Desenvolvimento de mecanismos de responsabilização dos funcionários
perante os municípios;
8. Criação de mecanismos de reequilíbrio regional e de solidariedade inter-
municipal;
9. Estabelecimento de mecanismos institucionais de enquadramento das
autoridades tradicionais.

Sustentabilidade da Reforma
A sustentabilidade da reforma impõe que se desenvolvam capacidades nos
Moçambicanos de aprender e construir a partir de acções já realizadas como
forma de estabelecer sinergias entre os vários intervenientes.
O gradualismo é um aspecto importante a ser observado porque as reformas
devm ocorrer a partir de processos endogenos e ajustados as condições do País
com a necessária participação de todos os cidadãos: funcionários, agentes
económicos, sociedade civil, partidos políticos e comunidades em geral.
Conclusão
A necessidade de um maior desempenho Governo na sua missão de coordenar
os esforços de todos os Moçambicanos para a redução da pobreza absoluta que
leve ao arranque do desenvolvimento económico e social do País exige uma
reflexão imediata e consequente sobre o tipo de Estado que queremos implantar
em Moçambique. A reflexão deverá conduzir à definição da(s) estratégia(s) da
reforma que transforme o Estado num órgão orientador e coordenador das

28
reformas económicas e sociais que propiciem a emergência de um Governo
Empreendedor e Catalizador do desenvolvimento.
Um primeiro momento desta reflexão exige a definição de uma visão sobre o
tipo de Estado e de sociedade queremos ser à médio e longo prazo pois, não
bastam as intenções e programas de combate à pobreza absoluta. A Agenda
2025 pode ser um importante instrumento para ajudar a formulação da visão
sobre o Governo e o processo de governação para Moçambique.
As reformas do Sector Público iniciadas em Junho de 2001 sob uma estratégia
global precisam não só de continuidade e revitalização como também de um
maior vigor e determinação.
Medidas devem ser tomadas para que o movimento da reforma seja, em
primeiro lugar, a bandeira dos dirigentes superiores do Estado pois, tal situação
vai certamente transformar-se num elemento mobilizador de todos os
trabalhadores, em particular das chefias intermédias. Cada sector do Aparelho
do Estado deve ser exigido a definir, na mesma altura que se discute a proposta
de plano e orçamento para o ano seguinte, as acções concretas a realizar no
âmbito da reforma do sector público, as metas ou resultados a alcançar, assim
como a identificação dos indicadores de controlo e impacto do respectivo
programa na melhoria de prestação de serviço ao público.
A elaboração do programa global de cada sector deve envolver diferentes fases
de consulta e discussão, sendo etapas prioritárias, o debate colectivo das
propostas entre os funcionários e as chefias intermédias, e entre estas e os
dirigentes dos respectivos sectores.
Seria desejável que este processo fosse complementado pela indicação dos
recursos (internos e externos) disponíveis e dos mobilizáveis.
O desenvolvimento económico é indissociável de um processo de reformas
visando a modernização e melhoria da capacidade do Estado. No entanto, estas
reformas têm que estar em sintonia com o modelo económico que se pretende
seguir, de modo que o Estado seja municiado das capacidades adequadas para
desempenhar o papel que dele se espera.

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Bibliografia:
1) Constituição da República aprovada em 1990
2) Constituição da República aprovada em 2003
3) Normas de Organização e Funcionamento dos Serviços da Administração
Publica
4) Estatuto Geral dos Funcionarios do Estado
5) Lei dos Orgaos locais do Estado – Lei 8/2003 de 19 de Maio
6) Lei das Autarquias locais – Lei 2/97
7) Decreto 15/2000 que estabele as formas de articulação entre os orgaos
locais do Estado e as autoridades comunitarias;
8) Decreto que estabelece as formas de articulação entre os orgaos locais do
Estado e as Autarquias locais
9) Brochura sobre a Estrategia Global De Reforma do Sector Publico
10) Brochura da Estrategia anti-Corrupção
11) Chichava, Prof. Dr. J. A. Conceição, Evolução da Administração
Pública
12) Anuário Estatistico dos Funcionários e Agentes do Estado,
publicado pelo Ministério da Função Publica, 1ª Edição 2008.

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