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Sem Mistério
Entenda de vinhos de forma
simples, prática e descomplicada
Rafael Roseira
2a edição
Rio de Janeiro
2017
Copyright © 2017 Rafael Roseira / www.terroirs.com.br
Revisão
Maria Inez Fernandes da Paz
Dados de Catalogação
Roseira, Rafael
Creative Commons
Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual
Sumário
PREFÁCIO 9
2 - DECIFRANDO RÓTULOS 30
Uva vs. propriedade 32
Terroir, Indicação Geográfica e Classificações de Qualidade 35
Bordeaux 44
Borgonha 45
Champagne 46
Saint-Émilion 47
Vale do Rhône 48
Beaujolais 49
Alsace 50
Graves 51
Provence 52
Espanha 53
Itália 55
3 - DEGUSTAÇÃO 58
Cheira rolha 60
Pode servir? 62
Exame visual 66
Exame olfativo 73
Exame gustativo 78
4 - ENOCHATICES 88
Rolhas 90
Taxa de rolha 97
A taça certa para cada vinho 101
Taças para vinho branco 104
Taças para vinho tinto 106
Taças para espumantes e vinhos de sobremesa 108
É defeito ou não? 110
Vinho com moderação 118
BIBLIOGRAFIA 124
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Vinhos sem mistérios
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Prefácio
O blog Terroirs foi criado em 2014 com o intuito
de consolidar e compartilhar informações sobre vinhos
de forma simples, prática e estruturada, tanto para aqueles
enófilos* já iniciados, quanto para os amantes de vinhos
que ainda dão seus primeiros passos neste universo en-
cantador. Logo o blog ganhou forma e conteúdo, disponi-
bilizando avaliações de vinhos, artigos sobre degustação,
dicas para boas compras e, inclusive, tópicos mais técni-
cos, os quais não deixam de povoar a mente dos novos
desbravadores.
É neste contexto que nasce Vinhos Sem Mistério,
uma compilação dos principais artigos do blog Terroirs.
O seu intuito é servir como mais uma frente para o com-
partilhamento de conceitos e práticas simples, capazes de
transformar o consumidor de vinhos que se sente perdido
na hora da compra e consumo, se não em um especialista,
pelo menos em um bom navegante destes mares tortuo-
sos.
As coisas não eram para ser assim. Temos um forte
relacionamento com Portugal e Itália, países com grande
tradição vinícola. Somos vizinhos do Chile e Argentina,
países que hoje prossuem uma forte indústria do vinho,
produzindo vinhos com excelente custo-benefício. Mes-
mo assim, até hoje o vinho é visto como uma bebida es-
nobe, hábito apenas de pessoas sofisticadas. Basta levar um
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Notas:
ENÓFILO: apreciador de vinhos.
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1 - Como escolher
vinhos de forma
prática
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Como escolher
vinhos pontuados
Provavelmente, a melhor forma de acertar na esco-
lha do vinho é optar pelos vinhos pontuados por especia-
listas ou publicações especializadas.
Atualmente, as principais referências são: as revis-
tas Wine Spectator (muitas vezes identificada pela sigla
WS), Wine Enthusiast (WE) e Decanter (DE), o crítico Ro-
bert Parker (RP) e o Guia Descorchados (GD, que cobre
vinhos argentinos, chilenos e uruguaios). As avaliações
realizadas pontuam os vinhos em uma escala de 50 a 100
pontos, onde quanto maior a nota, melhor o vinho. Você
pode encontrar nas respectivas publicações e websites
uma descrição de cada faixa de pontuação, mas, em linhas
gerais, não é preciso mergulhar nas descrições e detalhes
técnicos para realizar uma boa escolha. Para isso, algumas
dicas podem ser úteis na hora da escolha:
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Notas:
COMPONENTES: neste ponto inicial do livro, não é espera-
do que você esteja familiarizado com os componentes
do vinho, termos como equilíbrio, complexidade, potência,
persistência e taninos. Não se preocupe! Eles serão detalha-
dos mais à frente no capítulo “Degustação”. Por enquanto,
tente apenas se ambientar com eles, atentando para o fato
de que mais componentes em níveis mais elevados geram
vinhos de melhor qualidade.
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Como fugir de
“roubadas”
• Algumas vinícolas chilenas e argentinas possuem
rótulos “Reservado”. O termo é puramente marke-
ting e não representa nada além da intenção de
dar ao vinho um caráter mais sofisticado. Na Es-
panha, as regras de Classificações de Qualidade
especificam critérios rígidos para os vinhos osten-
tarem os rótulos Reserva e Gran Reserva, os quais
representam um vinho de qualidade superior (leia
mais no capítulo “Terroir, Denominações de Ori-
gem e Classificações de Qualidade”). Já aqui, na
América do Sul, o “Reservado” representa apenas
uma mera menção às classificações espanholas.
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2 - Decifrando
rótulos
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A explicação é:
No Novo Mundo, bebemos a casta.
No Velho, bebemos o terroir, a região, a propriedade.
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Notas:
NOVO MUNDO: No mundo dos vinhos, os novos países
produtores de vinhos são também referenciados como países
do Novo Mundo, como, por exemplo, Argentina, Chile, Áfri-
ca do Sul, Austrália, Estados Unidos e Brasil.
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Terroir, Indicação
Geográfica e Classifi-
cações de Qualidade
TERROIR
INDICAÇÃO GEOGRÁFICA
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FRANÇA
• AOP – Appellation d’Origine Protégée
• IGP – Indication Géographique Protégée
• Vin de France
A partir da legislação europeia que controla as
Indicações Geográficas, atualizada em 2012, os
tradicionais termos franceses Appellation d’Origine
Contrôlée (AOC), Vin Délimité de Qualité Supé-
rieure (VDQS), Vin de Pays e Vin de Table foram
substituídos pelos três novos termos acima. Porém,
a legislação não obriga o uso destes novos termos.
Ou seja, ainda iremos encontrar os antigos termos
nos rótulos franceses por algum tempo.
ITÁLIA
• DOCG – Denominazione di Origine Controllata
e Garantita
• DOC – Denominazione di Origine Controllata
• IGT – Indicazione Geografica Tipica
• VDT – Vino da Tavola
ALEMANHA
• QmP – Qualitatswein mit Pradikat, que se divide
em seis níveis, dependendo da quantidade de açú-
car residual:
* Kabinett
* Spatlese
* Auslese
* Beerenauslese
* Trockenbeerenauslese
* Eiswein
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ESPANHA
• DOC – Denominación de Origen Calificada
• DO – Denominación de Origen
PORTUGAL
• Vino de Mesa Portugal
• DOC – Denominação de Origem Controlada
• IPR – Indicação de Proveniência Regulamentada
• Vinho de Mesa
HUNGRIA
• Kulonleges Minoségu bor
• Minoségi bor
• Asztali bor
GRÉCIA
• OPE – Onomasia Proeléfseos Eleghomeni
• OPAP – Onomasia Proeléfseos Anotréras Piotitos
• Epitrapezios inos
ÁUSTRIA
• Vinea Wachau, cujos melhores vinhos têm suas
próprias distinções de maturidade e qualidade:
* Steinfeder
* Federspiel
* Smaragd
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CLASSIFICAÇÕES DE QUALIDADE
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Bordeaux
Grand Cru Cru Bordeaux Bordeaux
Classé Bourgeois Supérieur (regional)
Fruto da Um degrau Possui 0,5 Utiliza-se a Indi-
classificação abaixo dos grau de álcool cação Geográfica,
de 1855, Grand Cru acima do no caso, Appel-
requisitada Classé, os Cru nível definido lation Bordeaux
por Napoleão Bourgeois como padrão Contrôlée,
Bonaparte. são vinhos para uma para
Engloba que ficaram determinada identificar
vinhos do de fora da safra. os vinhos
Médoc e classificação Necessita ser genéricos da
Sauternes. de 1855. envelhecido região. Podem
Ainda de alta doze meses ser produzidos
qualidade, antes de ser com cortes
alguns comercializado. (mesclas)
especialistas de uvas
consideram provenientes
que podem ser de toda a
comparados e região.
até melhores
do que alguns
Grand Cru
Classé.
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Borgonha
Grand Cru Premier Cru Comunal ou Borgonha
village (regional)
Maior Vinhos Vinhos Corte de uvas
distinção dos de ótima produzidos de diferentes
vinhos da qualidade, com uvas villages da
Borgonha, mas que não de um ou região da
representa atingem o diferentes Borgonha.
entre 1,5% patamar de vinhedos não Sob a Indicação
e 2% da excelência dos classificados Geográfica
produção. Grand Cru. (Grand Cru genérica,
Diferente dos Os rótulos ou Premier é possível
Châteaux de usualmente Cru) de um encontrar
Bordeaux, apresentam mesmo village, vinhos rosé,
quem recebe o nome do transmitindo espumantes
a Classificação village (cidade) as características e vinhos
de Qualidade de origem e particulares de produzidos
na Borgonha do vinhedo. seu terroir. com uvas
é um vinhedo, diferentes da
que pode ter Chardonnay e
mais de um Pinot Noir.
proprietário.
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Champagne
Grand Cru Premier Cru Champagne
(regional)
A classificação de Há 41 villages que A inutilidade do
Champagne, chamada possuem seus vi- sistema de classifi-
de échelle dês crus nhedos categorizados cação de Champagne
(escada dos crus), fun- como Premier Cru e para os consumidores
ciona mais para os pro- comercializavam suas é demonstrada pelo
dutores e comerciantes uvas com uma taxa fato de que os grandes
do que para os consu- de 90-99% do preço rótulos são produzi-
midores. Estabelecida das uvas oriundas de dos por corte de uvas
em 1919, aponta hoje 17 villages Grand Cru. de diversos villages,
villages cujos vinhedos muitas oriundas de
são classificados como vinhedos Grand
Grand Crus. Crus ou Premier
Até o começo do Crus, mas não
século, as uvas de necessariamente
tais villages eram oriundas apenas de tais
comercializadas vinhedos.
pelo preço “cheio”
(100%) estabelecido
para a safra. Hoje o
preço é negociado
entre os produtores e
comerciantes, apesar
da classificação ainda
ser utilizada em alguns
casos.
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Saint-Émilion
Premier Grand Grand Cru Grand Cru Saint-
Cru Classé Classé Émilion
(regional)
A primeira classifi- Atualmente, Os Grand Cru, A Indicação
cação desta subre- 64 proprie- sem o termo Geográ-
gião de Bordeaux dades são Classé, totali- fica genérica é
ocorreu em 1955 e é classificadas zam centenas utilizada para
atualizada a cada dé- como Grand de rótulos e os vinhos mais
cada. A lista original Cru Classé. merecem simples da
continha 12 Premier Década após atenção no região
Grand Cru Classé e, década, elas se momento da
a mais atual, de 2012, esforçam para compra, visto
possui 18. Destes, serem promo- que facilmente
quatro recebem vidas à catego- são confundi-
classificação ria Premier, de dos com os de
Premier Grand Cru maior excelên- maior prestígio.
Classé A: cia.
Cheval Blanc,
Ausone, Angeles e
Pavie. As demais são
categorizadas
como Premier
Grand Cru
Classé B.
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Vale do Rhône
(Côtes du Rhône)
Cru Côtes du Côtes du Saint-
Rhône- Rhône- Émilion
-Villages -Villages (regional)
+ nome da
commune
As 16 melhores São 18 melhores Classificação Indicação Ge-
Indicações Geo- Côtes du Rhône- que demanda ográfica gené-
gráficas da região Villages elegíveis algumas rica da região,
apresentam ape- a apresentarem regras mais cobrindo 171
nas o seu nome o nome da com- rígidas communes no
no rótulo e mune (cidade) no quanto à norte e sul do
não Côtes du rótulo. maturação da Rhône.
Rhône. uva quando
As Denominações comparada à
mais famosas são classificação
Hermitage, genérica Côtes
Crozes- du Rhône.
Hermitage, Aplicável a 95
Côte-Rôtie e communes.
Châteauneuf-du-
-Pape.
Em alguns rótulos
pode-se encontrar
inclusive o nome
do vinhedo,
quando este atin-
ge prestígio
diferenciado.
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Beaujolais
Cru Comunal ou Beaujolais
Villages (regional)
Classificação de Classificação intermedi- A Indicação Geográfica
qualidade mais ária, compreendendo 39 Beaujolais é usualmente
elevada, elegível a villages ao norte da utilizada nos rótulos
apenas 10 villages: região. Se as uvas dos 96 villages mais
Saint-Amour, vierem de um único simples da região.
Juliénas, Chénas, village, é permitido
Moulin-à-Vent, apresentar seu nome
Fleurie, Chiroubles, no rótulo. Mas como
Morgon, Régnié, nenhum dos 39 villages
Brouilly e Côte de possui reconhecimento
Brouilly. Muitas internacional, muitos
vezes, o nome da produtores preferem
região Beaujolais apresentar apenas o ter-
não é apresentado mo Beaujolais-Villages.
no rótulo, em uma
tentativa de separá-los
dos demais vinhos
com menor prestígio.
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Alsace
Grand Cru Alsace (regional)
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Graves
Cru Classé Graves (regional)
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Provence
Cru Classé Provence (regional)
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Espanha
Gran Reserva Reserva Crianza Joven
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Itália
Riserva Classico Genérico
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3 - Degustação
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Cheira rolha
Você provavelmente já deve ter ouvido alguma
piada sobre pessoas que cheiram a rolha do vinho, não é
verdade? A prática pode parecer sem sentido, mas, de fato,
possui um fundamento válido. Não se faz isso para apre-
ciar os aromas do vinho, afinal, ele estará em sua taça em
alguns segundos, onde será possível apreciá-los de forma
muito mais eficaz e prazerosa. O ato de cheirar a rolha
é feito para se identificar se o vinho está comprometido
devido à contaminação por uma substância química cha-
mada tricloroanisol, ou TCA.
Explico melhor: a rolha tradicional é feita de
cortiça natural, ou seja, madeira, mais especificamen-
te a casca de uma árvore chamada sobreiro. Sendo
um elemento orgânico, a cortiça é suscetível a fun-
gos, responsáveis por reações químicas que geram o
TCA. Estima-se que até 5% das rolhas de cortiça se-
jam contaminadas pelo TCA. Quando isto acontece, esta
substância é repassada ao vinho, que passa a ter uma cor
envelhecida e cheiro de mofo. Chama-se o vinho conta-
minado por TCA de bouchonné, termo em francês oriun-
do da palavra bouchon (rolha). Portanto, o ato de cheirar a
rolha é realizado para identificar se o vinho está saudável
ou contaminado antes de se ter a desagradável experiên-
cia de ficar sabendo do infortúnio só na boca.
É bem verdade que a rolha não é a única fonte do
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Pode servir?
Você está em um restaurante, colocou em práti-
ca todo o conhecimento que adquiriu e tem certeza que
fez uma boa escolha do vinho da noite. O garçom traz o
vinho, abre, lhe apresenta a rolha e serve uma pequena
quantidade em sua taça. E agora? Pode servir?
Antes de dar sinal verde, é importante realizar uma
rápida* avaliação para conferir se o vinho está adequado
para ser degustado. O processo é simples:
• Faça um rápido exame visual para identificar
se o vinho não possui algum defeito, ou seja, se o
vinho branco não está escuro demais ou se o vinho
tinto não está alaranjado demais.
• Em seguida, faça o exame olfativo, também
de forma simples e rápida. Lembre-se que o
objetivo neste momento é apenas identificar
falhas no vinho. Leve a taça ao nariz e perceba
se ele possui cheiro de mofo ou “pano molhado”,
o que representa sinais de que está bouchonné.
• Por fim, faça um rápido exame gustativo.
Prove um pouco do vinho e confirme se ele está
agradável. Verifique também a sua temperatura.
Com o tempo, pegamos o “feeling” da temperatura
ideal dos vinhos espumante, branco, rosé e tinto.
Com um pouco de experiência, não precisamos
ter um termômetro à mão para identificar se o
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Notas:
No momento em que o vinho está prestes a ser servido,
devemos realizar apenas análises RÁPIDAS, de forma a
se identificar possíveis falhas.
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Exame visual
O primeiro dos três exames realizados na degus-
tação de vinhos é o exame visual. Com ele, é possível
identificar diversas características particulares do vinho.
A primeira conclusão que se tira, por exemplo, de tão ób-
via, passa até despercebida: você está prestes a degustar
um vinho branco, espumante, rosé ou tinto?
Conclusões explícitas à parte, uma primeira análise
muito interessante a ser realizada diz respeito à idade do
vinho. Com o passar dos anos, os vinhos tintos se tor-
nam mais claros, menos opacos e assumem uma coloração
alaranjada.
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TONALIDADE
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Brancos
Rosés
Tintos
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INTENSIDADE
• Claro
• Médio
• Escuro
REFLEXOS
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• Esverdeado
• Dourado
• Âmbar
• Castanho
• Violáceo
• Granada
• Alaranjado
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Exame olfativo
O exame olfativo é sem dúvida o mais curioso de
todos. Para os enófilos iniciantes, ouvir que um vinho
possui aroma de carvalho, maracujá ou frutas do bosque
pode parecer, no mínimo, cômico. De fato, a coisa é por aí
mesmo. Mas não é complicado explicar o motivo.
Quantas vezes usamos nossa visão durante o dia?
Praticamente todo o dia, correto? E quantas vezes usamos
nosso paladar para identificar texturas, sabores e sensa-
ções? No mínimo, três vezes ao dia (sem contar os lanchi-
nhos). E quantas vezes nos atentamos ao aroma das coi-
sas? Poucas vezes! Praticamente, apenas quando trata-se
de aromas fortes, intensos, ou demasiadamente agradáveis
ou desagradáveis. Ou seja, o olfato é um dos nossos cinco
sentidos menos exercitados. E quando chega a hora de
identificar os aromas delicados e sutis do vinho, a tarefa
não é fácil.
Infelizmente, não é possível ¨treinar o nariz¨ para
identificar os aromas dos vinhos apenas lendo livros. É
fundamental começar a meter o nariz por aí: nas feiras
livres, casas de temperos, na cozinha e, principalmen-
te, nas taças de vinho. Com o exercício simples de nos
atentarmos para os aromas, alcançamos rapidamente uma
consciência olfativa amadurecida, capaz de nos auxiliar a
identificar os principais aromas dos vinhos.
E para ajudar no processo, algumas técnicas sim-
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AROMAS FRAGRANTES
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OXIGENAÇÃO
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Exame gustativo
Após os exames visual e olfativo, chega a hora do
melhor e mais importante de todos: o exame gustativo.
É aqui que vamos corroborar as suspeitas levantadas nos
exames anteriores e, naturalmente, sentir como é o vinho
na boca. É, exatamente, na boca que identificamos a maior
quantidade de características marcantes do vinho. É no
exame gustativo, então, que o maior número de aspectos
serão notados e identificados, como sua estrutura, estilo,
intensidade, persistência e complexidade.
Comecemos por um conceito bem interessante,
que explica uma tendência facilmente notada: por que a
maioria das pessoas preferem vinhos tintos aos brancos?
A resposta aponta para as suas dimensões.
Os vinhos brancos são bidimensionais, ou seja, sua
estrutura é formada pela acidez e maciez (álcool e açúcar).
Já os tintos são tridimensionais: são compostos pela aci-
dez, maciez e taninos. Portanto, os vinhos tintos são, em
sua estrutura, mais complexos que os brancos, caracterís-
tica que acaba gerando a preferência de muitos.
Para realizarmos o exame gustativo, levamos uma
pequena quantidade de vinho à boca e realizamos movi-
mentos para que ele se espalhe da forma mais ampla pos-
sível. Vale bochechar ou apenas deixar que o vinho dance
suavemente pela boca. A ideia é levar o vinho à toda ex-
tensão da língua (visto que diferentes áreas da língua são
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AÇÚCAR
• seco
• meio doce
• doce
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ACIDEZ
ÁLCOOL
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TANINOS
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CORPO
Tecnicamente falando, o corpo do vinho é tudo o
que sobra quando o álcool e a água são retirados. No exa-
me gustativo, identificamos o corpo do vinho pela sensa-
ção de estrutura, de volume que o vinho apresenta. Note
que vinhos brancos e alguns tintos, como os produzidos
da uva Pinot Noir, por exemplo, são delicados, sutis e pos-
suem pouca presença na boca. Outros, como os Cabernet
Sauvignon e Malbec, são corpulentos e parecem que pre-
enchem a boca.
Para tanto, utilizamos uma escala como a abaixo
para pontuar o corpo dos vinhos:
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• leve
• médio corpo
• encorpado ou muito corpo
EQUILÍBRIO
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• desequilibrado
• razoavelmente equilibrado
• equilibrado
INTENSIDADE
• ligeiro ou sutil
• razoavelmente intenso ou média intensidade
• intenso ou intensidade pronunciada
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PERSISTÊNCIA
• curto
• razoavelmente persistente ou média persistência
• persistente ou longo
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4 - Enochatices
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Rolhas
Este capítulo se inicia respondendo a uma pergunta
corriqueira:
TAMPA DE ROSCA DE METAL É SINÔNIMO DE
VINHO RUIM?
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A ROLHA DE CORTIÇA
ROLHA NATURAL
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ROLHA DE ESPUMANTE
ROLHA T
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MICRO-OXIGENAÇÃO
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Taxa de rolha
Nos últimos anos, discute-se muito, no ambiente
corporativo, os prós e contras do BYOD, sigla em inglês
para Traga Seu Próprio Dispositivo. O conceito é simples:
com a consumerização, ou seja, a popularização de dispo-
sitivos cada vez mais tecnológicos, modernos e cada vez
a preços mais baixos, nasce a pressão dos funcionários
para utilizar seus próprios smartphones, tablets e até no-
tebooks no ambiente corporativo.
No escritório, a discussão é nova. Já no restaurante,
é antiga. A polêmica sobre o BYOB, Traga Sua Própria
Garrafa, e a tradicional Taxa de Rolha sempre foi acalora-
da, pois toca em pontos distintos, alguns pró estabeleci-
mento, alguns, pró cliente.
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Apesar de estarem presentes em nossas taças com
menor frequência, os espumantes e vinhos de sobremesa,
em especial o vinho do Porto, são tão peculiares e espe-
ciais que demandam protocolos próprios.
Iniciando pelo espumante, temos então a tradicio-
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É defeito ou não?
Espero que nunca tenha acontecido com você, mas
é possível que, eventualmente, tenhamos a má experiên-
cia de comprar uma garrafa de vinho com defeito.
Defeito é ruim e ponto final. Até aí tudo bem.
Acontece que algumas características dos vinhos
podem ser consideradas como defeito, caso sejam en-
contradas de forma demasiada, mas podem também ser
consideradas peculiaridade, excentricidade, complexidade,
tipicidade, caso sejam encontradas na medida certa.
BOUCHONNÉ
O QUE É?
O capítulo Cheira Rolha descreve em detalhes o
vinho bouchonné, mas, de forma resumida, trata-se da
contaminação do vinho por uma substância química cha-
mada tricloroanisol, ou TCA, oriunda de fungos que ata-
cam a rolha do vinho e elementos de madeira utilizados
na produção do vinho, como as barricas de carvalho, por
exemplo.
COMO IDENTIFICAR?
Rolha e vinho apresentam cheiro de mofo, pano ou
papelão molhado, além de uma cor envelhecida.
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É DEFEITO OU NÃO?
Sim, é um defeito.
REFERMENTAÇÃO
O QUE É?
É a fermentação do açúcar residual ocorrida na
garrafa de vinhos tranquilos, ou seja, vinhos que não se-
jam espumantes ou frisantes.
COMO IDENTIFICAR?
Pequena quantidade de borbulhas no vinho. Ocor-
re principalmente em vinhos brancos e leves, como o Vi-
nho Verde português e Rieslings jovens.
É DEFEITO OU NÃO?
Sim, é um defeito. Vinhos tranquilos não devem
possuir borbulhas.
OXIDAÇÃO
O QUE É?
A relação do vinho com o oxigênio é de fato pa-
radoxal. Enquanto o oxigênio é fundamental para que
o vinho se desenvolva, ganhando maturidade, comple-
xidade, se tornando mais redondo e menos agressivo
na hora da degustação, oxigênio demais resulta em sua
Oxidação, ou seja, processo em que o oxigênio atua como
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Vinhos sem mistério
COMO IDENTIFICAR?
De forma geral, a Oxidação pode ser notada visual-
mente por dar aos vinhos brancos tonalidades acastanha-
das e douradas muito intensas e, aos tintos, tons alaranja-
dos e âmbar.
Porém, durante o processo de Oxidação, uma série
de substâncias podem se formar e cada uma delas gerar
características particulares. São elas:
É DEFEITO OU NÃO?
Naturalmente, odores de vinagre e acetona não é o
que buscamos nos vinhos. Portanto, em grande quantida-
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REDUÇÃO
O QUE É?
Em poucas palavras, Redução é o oposto da
Oxidação, ou seja, reações químicas que se desenvolvem
em ambientes com a ausência de oxigênio, onde compos-
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Vinhos sem mistério
COMO IDENTIFICAR?
A característica mais marcante dos vinhos reduzi-
dos são os aromas de ovo cozido, eventualmente até ovo
podre, e repolho cozido. Outros aromas também podem
ser percebidos, como gás de cozinha, alho, borracha e
borracha queimada. Quando a Redução ocorre de forma
mais sutil, aromas específicos como os já citados podem
não se desenvolver, mas pode ser percebida a perda de
expressão e de aromas frescos do vinho.
Vinhos vedados com screw cap e que passam por
um longo período em contato com leveduras durante seu
amadurecimento são mais suscetíveis à Redução. No pri-
meiro caso, a redução ocorre pois a screw cap não per-
mite a micro-oxigenação, como no caso das rolhas de
cortiça. Já as leveduras auxiliam na Redução devido ao seu
potente efeito antioxidante.
Uma boa notícia é que os vinhos podem ser recu-
perados da Redução, bastando apenas que sejam aerados
utilizando-se um decanter.
É DEFEITO OU NÃO?
Da mesma forma que a Oxidação, níveis eleva-
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BRETTANOMYCES
O QUE É?
Brett, como a brettanomyces é apelidada, é uma le-
vedura intrusa que ataca vinhos com elevado pH (baixo
nível de acidez), portanto, dificilmente a encontramos em
vinhos brancos. Os vinhos são particularmente vulnerá-
veis à Brett na fase final da fermentação, quando toda a le-
vedura natural das uvas, Saccharomyces cerevisiae, morre
antes que a fermentação tenha chegado ao fim. Mas nada
impede que a Brett também se manifeste durante a fase
de amadurecimento, especialmente quando o dióxido de
enxofre for utilizado parcamente.
COMO IDENTIFICAR?
Tão logo a Brett se estabelece no vinho, uma série
de reações químicas começa a ser desencadeada, produ-
zindo inúmeros compostos aromáticos que remetem a ce-
leiro, matéria em decomposição, fezes, couro, esparadra-
po, cravo, bacon e suor.
Em níveis elevados, estes compostos, além de mas-
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Vinhos sem mistério
É DEFEITO OU NÃO?
Muitos argumentam que traços de Brett são
responsáveis por dar novas camadas de complexidade ao
vinho, particularmente quando a ênfase dos compostos
aromáticos se situa em torno dos aromas de especiarias,
couro e bacon.
Nuances de Brett podem tornar vinhos pouco
doces e rústicos mais interessantes, ou ainda fazer par-
te do DNA de vinhos ícones, como é o caso de muitos
vinhos do Rhône, incluindo o famoso Châteauneuf-du-
Pape.
O QUE É?
Pequenos cristais que se formam no vinho, chama-
dos de Bitartarato de Potássio, Cremor Tártaro ou ainda
Creme de Tártaro, são sais ácidos de potássio provenientes
do ácido tartárico.
Já as Borras são sedimentos formados pela agluti-
nação de micropartículas de pigmentos, portanto, apare-
cem apenas em vinhos tintos. Com a guarda do vinho,
estas micropartículas se juntam umas às outras formando
partículas maiores. As Borras podem também ser identifi-
cadas em vinhos jovens, quando estes não passaram pelo
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COMO IDENTIFICAR?
O Bitartarato de Potássio se manifesta na forma de
pequenos cristais e pode ser identificado tanto em barris,
durante a fermentação, quanto nas laterais ou fundo das
garrafas.
Visualmente, a Borra pode ser encontrada na forma
de sedimentos no fundo das garrafas ou diluída no vinho,
tornando-o turvo. Na boca, as Borras podem gerar uma
sensação desagradável de resíduo ou ainda poeira.
É DEFEITO OU NÃO?
Tanto o Bitartarato de Potássio quanto as Borras
não são defeitos. Mas se, mesmo assim, você quiser se
livrar deles, basta evitar movimentar bruscamente a gar-
rafa, para manter os sedimentos em seu fundo, e utilizar
um decanter.
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Fonte: www.globalrph.com/bac.cgi
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CONSUMO RESPONSÁVEL
Alguns exemplos:
• Uma taça de 150ml de vinho com gradução 14%
= 0,15 x 14 = 2,1 unidades
• Uma garrafa de 750ml de vinho com
gradução 12% = 0,75 x 12 = 9 unidades
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Bibliografia
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