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VIVER
É
MORRER
Como se preparar para
o morrer, a morte e além
Viver é morrer
Como se preparar
para o morrer, a morte e além
ISBN 978-65-81724-00-9
Coordenação
Siddharta’s Intent Brasil
Tradução
Flávia Pellanda
Revisão Técnica
Ana Cristina Lopes
Revisão
Letícia Braga
Gabriela dos Reis Sampaio
Bruna Polachini
Diagramação
Carla Irusta
Ilustração da capa:
Painel Fantasmas Famintos, Kyoto National Museum, Japão
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Não-
Comercial-SemDerivações 4.0 Internacional. (CC BY-NC-ND 4.0)
Para ver uma cópia desta licença, visite:
http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/
Pode ser copiada, distribuída ou impressa para uso justo, apenas com
atribuição total e não para fins comerciais ou compensação pessoal.
Para detalhes completos, consulte a licença Creative Commons.
Sumário
Prefácio 7
Eu vou morrer? 11
Preparação para a morte e além 31
Práticas simples de preparação para a morte 51
Como os budistas se preparam para a morte 57
Prática de aspiração 65
O doloroso bardo da morte 79
Perguntas sobre a morte 103
Como acompanhar quem está morrendo 111
O que dizer para quem está morrendo 123
As instruções sobre o bardo 133
Cuidados com pessoas que estão morrendo ou mortas 153
O que fazer após a morte 169
Perguntas sobre as práticas para os mortos 181
Perguntas sobre outros aspectos da morte 185
Para os tântrikas 197
Preces e práticas 203
Como praticar o tonglen 202
Chutor: Oferenda de água 207
Prática para longa vida e prosperidade: Um método para salvar vidas 211
Tagdrol:“Liberação pelo vestir” 223
Como fazer tsa-tsas 229
Ilustrações 237
Notas 243
Prefácio
∑
Para quem se importa com detalhes desse tipo, devo dizer algumas
palavras sobre o uso inconsistente da ortografia e dos diacríticos sâns-
critos neste livro. Em geral, quando o sânscrito aparece em caracteres
romanos em lugar da escrita devanāgarī, são empregados diacríticos
para ajudar o leitor a pronunciar as palavras de modo correto. Hoje
em dia, porém, o estudo do sânscrito é relativamente raro, cada vez
menos pessoas conseguem ler os diacríticos e, para alguns, a mera
visão daqueles rabiscos e pontinhos só serve para acrescentar mais um
nível de confusão. Os diacríticos, portanto, não foram aplicados aos
termos sânscritos que aparecem no corpo do texto, tampouco aos no-
mes das deidades, bodisatvas etc., mas alguns foram mantidos nas ci-
tações de textos. Do mesmo modo, quando os textos citados incluíam
palavras do sânscrito escritas no estilo tibetano, como, por exemplo,
hung em vez de hum, elas foram mantidas como no original.
Embora nos últimos tempos eu esteja sempre muito ocupado, por
ironia, no íntimo sou excepcionalmente preguiçoso. Tentar equilibrar
esses dois extremos exige algum malabarismo, e foi por isso que aca-
bei escrevendo boa parte deste livro em um aplicativo de mídia social.
PREFÁCIO 9
Se o meu inglês está pelo menos legível é graças a Janine Schulz, Sarah
K. C. Wilkinson, Chimé Metok, Pema Maya e Sarah A. Wilkinson.
O conteúdo deste livro foi criado para responder a uma lista de
cerca de cem excelentes perguntas sobre a morte que foram reuni-
das por vários amigos meus. Gostaria de agradecer em particular às
minhas amigas chinesas Jennifer Qi, Jane W. e Dolly V. T.; a Philip
Philippou e à equipe do Spiritual Care de Sukhavati, em Bad Saarow,
Alemanha; a Chris Whiteside e à equipe do Spiritual Care de Dzog-
chen Beara; à Miriam Pokora, do Bodhicharya Hospice de Berlim; e a
todos os que assistiram o ensinamento em Schloss Langenburg.
Também gostaria de agradecer a Orgyen Tobgyal Rinpoche, Pema
Chödrön, Khenpo Sonam Tashi, Khenpo Sonam Phuntsok, Thang-
tong Tulku e Yann Devorsine, que contribuíram com o seu conhe-
cimento; a Adam Pearcey, Erik Pema Kunsang, John Canti e Larry
Mermelstein, por disponibilizarem generosamente as suas traduções;
a Jane W., Chou Su-ching e Vera Ho, Florence Koh, Kris Yao, Paravi
Wongchirachai, Seiko Sakuragi e Rui Faro Saraiva, por sua ajuda e
sugestões; a Cecile Hohenlohe e sua família, a Veer Singh e todos os
demais da Vana, por sua hospitalidade gentil e generosa; a Andreas
Schulz pelo projeto gráfico e diagramação do Living is Dying; e aos
artistas Arjun Kaicker e Tara di Gesu, por terem contribuído com as
suas belas ilustrações.
Eu vou morrer?
∑
nas maiores e mais fofas, para, então, passarem horas, às vezes dias,
contemplando aquela beleza. É esse tipo de atividade que domina a
vida dos deuses, e eles consideram que isso é muito mais interessante
do que perguntar “Eu vou morrer?”. Duvido que tal ideia passe pela
cabeça deles.
Os seres humanos, por outro lado, são capazes de fazer conjec-
turas, ainda que a inexorabilidade da morte raramente lhes ocorra.
Quando nos acontece de pensar na morte? Quando passamos por um
sofrimento terrível? Não. Em meio a uma felicidade extasiante? De
novo, não. Somos inteligentes e conscientes e, portanto, desfrutamos
das condições que podem nos levar a formular tal pergunta, mas, ain-
da assim, empregamos todo o nosso tempo e energia para consolidar a
autoilusão de que nunca vamos morrer. Nos entorpecemos para fugir
à dor da realidade inescapável, ocupando e entretendo a mente, ou
inventado planos detalhados para o futuro. De certo modo, é jus-
tamente isso que torna a nossa condição humana tão maravilhosa,
mas o problema é que isso cria um falso sentimento de segurança.
Esquecemos que tanto a nossa morte quanto a morte daqueles que
conhecemos e amamos são inescapáveis.
Pense nisto: quando cada um de nós tiver vivido um quarto de
século, terá perdido pelo menos um amigo próximo ou um membro
da família. Um dia você está almoçando com seus pais, no outro eles
estão mortos e você nunca mais poderá estar com eles. Esse tipo de
experiência nos força a enfrentar a verdade da morte; para alguns, é
uma verdade muito amarga e aterradora.
Medo da morte
Temer a morte, senhores, não é nada mais do que pensar que se é
sábio quando não se é; pensar que se sabe o que não se sabe. Nin-
guém sabe se a morte não é a maior das bênçãos para o homem;
ainda assim, os homens a temem como se soubessem que ela é o
maior dos males. E, com certeza, a mais censurável das ignorâncias é
acreditar saber o que não se sabe.2
Sócrates
EU VOU MORRER? 15
Certa vez eu, Zhuang Zhou, sonhei que era uma borboleta, e era feliz
como borboleta. Tinha consciência de estar muito contente comigo
mesmo, mas não sabia que era Zhou. Acordei de repente e lá estava
16 VIVER É MORRER
eu, visivelmente Zhou. De fato, não sei se eu era Zhou sonhando que
era uma borboleta, ou uma borboleta sonhando que era Zhou. Com
certeza, existe alguma diferença entre Zhou e uma borboleta. Isso se
chama a transformação das coisas.3
Belisque-se
Belisque-se, com força ou gentileza, como quiser, e se pergunte:
Quem está beliscando? Quem está sentindo o beliscão?
Caso se sinta tomado pelo medo da morte, apenas olhe para aquilo.
Não pense sobre o que você pensa que deveria estar fazendo, nem
sobre como você pensa que deveria estar fazendo.
20 VIVER É MORRER
Viver é morrer
Uma vez que nasci,
Devo morrer,
Portanto...4
Kisei
Natureza búdica
De acordo com o Buddhadharma, a morte nos ensina uma verdade
extremamente positiva: que a natureza da mente de cada ser huma-
no é o Buda; que a natureza da minha mente e a natureza da sua
mente é o Buda.
A natureza búdica não é uma teoria new age exótica nem um fenô-
meno ocultista. Como você tem a natureza búdica, seja lá o que você
fizer, esteja onde estiver, a essência da sua mente é o Buda.
Sinta a textura do livro ou do dispositivo que está segurando, es-
cute o que está acontecendo ao seu redor, sinta a maciez da almofada
sob o seu traseiro ou o peso do corpo sobre a sola dos pés. Pense nas
palavras que está lendo: a essência da sua mente é o Buda.
A mente que faz tudo que acabei de mencionar, a sua mera mente
comum, é o Buda. Não apenas a sua mente é o Buda, mas a mente
comum de todo ser senciente que sabe, lê, vê, ouve, degusta e assim
por diante também é o Buda.
EU VOU MORRER? 25
Quer você saiba que tem apenas alguns meses de vida ou pense
que tem a vida inteira pela frente, a morte é uma realidade que terá de
ser enfrentada mais cedo ou mais tarde. Do ponto de vista dos ensina-
mentos budistas, quanto mais cedo enfrentá-la, melhor.
foram inteiramente sem sentido. Agora, porém, vou garantir que esta
morte seja significativa!”8
Dilgo Khyentse Rinpoche
bens materiais. Não é irônico que tudo o que fazemos para ter confor-
to e tranquilidade acabe sendo a fonte de ansiedade e dores de cabeça
intermináveis?
Se você tem dinheiro e propriedades, decida como devem ser
usados depois da sua morte; ponha em ordem as questões materiais
e faça um testamento. Talvez você queira deixar a sua casa e bens
materiais para os seus filhos, primos ou sobrinhas? Ou para uma
fundação de proteção aos leopardos? Ou para a pesquisa sobre a cura
do câncer?
Procure agir mais conscientemente. Pense antes de comprar as
coisas. Pare de comprar e acumular objetos inúteis: não seja um acu-
mulador. Se planeja fazer um investimento de longo prazo, faça-o
consciente de que pode morrer antes de usufruí-lo.
Laços familiares
Para muitos, as relações familiares são a principal causa de proble-
mas, especialmente quando a morte se aproxima. Em lugares como
a China, a família continua a ser uma célula social muito poderosa.
Até hoje, ideias tradicionais sobre o papel de cada membro da família
perpetuam expectativas culturais e sociais rígidas e, muitas vezes, re-
pressivas. Os pais sempre devem cumprir o papel de pais chineses que
sempre cumpriram, e as crianças sempre devem viver como as crianças
chinesas sempre viveram, para agradar os pais. Mas seria esse tipo de
envolvimento familiar realmente benéfico?
Espera-se que os pais sustentem os filhos, por mais difícil que seja.
Mas seria essa devoção obsessiva dos pais em relação aos filhos, de fato,
o que os filhos precisam? Isso faria bem às crianças? Após dedicarem
pelo menos duas décadas para criar os filhos, muitos pais chineses pre-
cisam lidar com outro nível de envolvimento familiar quando os netos
começam a chegar. Não deveria haver uma data de validade para essas
relações familiares exaustivas?
As crianças chinesas sofrem tanta pressão quanto os seus pais, no
sentido de corresponder às expectativas sociais, incluindo a responsa-
PREPARAÇÃO PARA A MORTE E ALÉM 35
que a vida e a morte são ilusões ou, em outras palavras, que os bar-
dos da vida e da morte são meras projeções. Imaginamos que tudo
que vemos e sentimos é verdadeiramente existente; depois, interpre-
tamos erroneamente as nossas percepções e, como resultado, sofre-
mos. As seis sílabas do mantra om mani padme hum estão direta-
mente conectadas com as “seis portas da projeção”, e é através dessas
seis portas que criamos as projeções que criam as ilusões da vida, da
morte e dos bardos.
O que é o “bardo”?
“Bardo” é uma palavra tibetana que significa “entre” e, às vezes,
é traduzida como “estado intermediário”. Para simplificar, o bardo
é tudo que fica entre duas linhas imaginárias. Por exemplo, este mo-
mento está situado entre o passado e o futuro; ou, em outras palavras,
o dia de hoje está entre o ontem e o amanhã. Ao mesmo tempo, de-
vemos sempre lembrar que tudo é uma ilusão, inclusive os bardos, de
modo que não existem fronteiras verdadeiras separando o passado do
presente ou o presente do futuro. Isso é importante.
Um dos bardos mais significativos e profundos situa-se entre o
início do período em que desconhecemos completamente a nossa na-
tureza búdica inerente e o momento em que despertamos para ela, o
que os budistas descrevem como “iluminação”. Em outras palavras,
tudo o que acontece entre “não reconhecer” e “reconhecer” a natureza
búdica é chamado “bardo”. Dentro deste vasto bardo há miríades de
bardos menores, incluindo o “bardo desta vida”. Este bardo é de im-
portância crucial para pessoas comuns como nós, porque é nele que
temos a melhor oportunidade para escolher uma direção, ou mudá-la.
As seis portas de projeção criam a nossa experiência de cada um
dos seis reinos.10 As projeções e experiências causadas por desejo e ne-
cessidade levam ao reino humano; o orgulho leva ao reino dos deuses;
a inveja ou o ciúme levam ao reino dos assuras; a confusão e a falta de
consciência levam ao reino dos animais; a avareza e a ganância levam
ao reino dos pretas, ou reino dos “fantasmas famintos”; e a raiva leva
PREPARAÇÃO PARA A MORTE E ALÉM 37
aos reinos dos infernos. Enquanto estamos vivos, nós, seres humanos,
experienciamos continuamente cada uma dessas projeções, portanto,
não precisamos imaginar como seria renascer nos outros reinos.
Tomar refúgio
Se você sente uma inclinação espiritual pelo budismo, um método ex-
tremamente efetivo e importante de preparação para a morte é tomar
refúgio no Buda, no Darma e na Sangha; o ideal é tomar refúgio de
agora até atingir a iluminação.
Às vezes, as pessoas perguntam se precisam ir a Índia ou ao Hima-
laia para encontrar um guru para tomar refúgio da forma apropriada.
Não, não é necessário.
38 VIVER É MORRER
Caso se ajoelhar dessa maneira seja uma afronta à cultura em que foi
criado ou se simplesmente não quiser fazê-lo, não se ajoelhe.
Se desejar fazer um ritual mais elaborado, ofereça uma flor ou quei-
me incenso. Mais uma vez, essas oferendas são inteiramente opcionais.
Eu tomo refúgio no Buda, para não cair no reino dos seres dos
infernos.
Eu tomo refúgio no Darma, para não cair no reino dos fantasmas
famintos.
Eu tomo refúgio na Sangha, para não cair no reino dos animais.
OM
Faço surgir a boditchita da “decisão de alcançar a iluminação”.
NAMO
Até que eu e todos os seres tenhamos alcançado a iluminação,
Tomo refúgio nas Três Raízes.
Para alcançar o estado búdico para benefício dos outros,
Faço surgir as boditchitas da aspiração, da ação e a absoluta.
O voto do bodisatva
Se você decidiu que deseja tomar refúgio, por que não aproveitar
melhor a oportunidade e fazer também o voto do bodisatva? Um
bodisatva é alguém que deseja, conscientemente, levar todos os seres
à iluminação e à felicidade últimas e dedica a vida a transformar em
realidade essa meta de longo prazo. Todos os grandes bodisatvas do
passado fizeram o voto do bodisatva, que é uma preparação ainda me-
lhor para a morte do que apenas tomar refúgio. Com o compromisso
de guiar todos os seres sencientes até a iluminação, você passa a ser
uma pessoa que participa ativamente da maior das visões espirituais.
44 VIVER É MORRER
O voto de bodisatva
Assim como os budas do passado
Manifestaram a mente desperta
E, passo a passo, cultivaram e treinaram
Nos preceitos dos bodisatvas,
Do mesmo modo, em benefício dos seres,
Eu gerarei a mente desperta,
PREPARAÇÃO PARA A MORTE E ALÉM 45
De fato, uma vez que a vasta maioria dos seres sencientes está abso-
lutamente aterrorizada com a ideia de que vai morrer, por que não
transformar o seu próprio medo de morrer em um caminho?
Pense consigo mesmo:
Eu sou um bodisatva.
Eu sou um filho do Buda.
Assim como todos os seres sencientes
Eu tenho a natureza búdica;
A diferença é que eu sei que tenho a natureza búdica,
Enquanto a maioria dos demais seres sencientes não sabe.
O voto do bodisatva
A essência do voto do bodisatva é incitar a aspiração da boditchita suprema.
O princípio da boditchita é:
Dedicação
Aspiração
Pense grande
Do ponto de vista budista, a melhor maneira de se preparar para a
morte é ingressar na imensa visão da boditchita e pensar grande. Des-
se modo, o poder da sua prática irá crescer exponencialmente.
Um dos maiores problemas do nosso modo de ver a vida e a morte
é que não pensamos grande. Muitas pessoas, inclusive budistas, têm
uma mentalidade estreita e mesquinha. Quando fazemos surgir e apli-
camos a boditchita, a nossa visão limitada do mundo e de tudo que ele
contém se torna muito mais ampla. As pessoas mesquinhas só pensam
nelas mesmas, nesta vida e no ambiente ao seu redor. Nas poucas
ocasiões em que pensam em algo além de si mesmas, raramente conse-
guem ir além da própria família. Apenas quando a morte se aproxima
elas começam a se dar conta do quanto as suas vidas foram limitadas e
PREPARAÇÃO PARA A MORTE E ALÉM 49
Para infelicidade do Woody Allen, é bem possível que ele esteja mais
“lá” na hora da morte do que nunca antes na vida. Então, o que eu
diria para alguém como Woody Allen sobre a maneira de se preparar
para a morte?
Se ele estivesse aberto a isto, eu mencionaria a grande visão da
boditchita sobre o amor, a compaixão e o desejo de iluminar todos os
seres sencientes. Eu também lhe diria que tudo que nós vemos, ouvi-
mos, tocamos e assim por diante, inclusive o nascimento e a morte, é
uma projeção criada pela nossa própria mente.
Depois, o levaria passo a passo por uma prática de atenção plena,
para que ele se acostumasse com a ideia de que tudo é uma ilusão
projetada pela mente.
52 VIVER É MORRER
O Buda reclinado
Prática no sono
Seja qual for a sua crença ou prática espiritual, sempre aspire reconhe-
cer que os seus sonhos são apenas sonhos. Saiba, enquanto sonha, que
está sonhando. O nosso grande erro, em todas as nossas muitas vidas, é
imaginar que todas as experiências são reais. Pare de cometer esse erro!
Quando estiver adormecendo, simule o momento da morte for-
çando-se a acreditar que está quase morrendo. Se quiser, tente o se-
guinte método, que se baseia na prática da aspiração.
Para os budistas
Se desejar, siga uma antiga tradição budista e imagine que todos
os budas e bodisatvas estão reunidos no seu travesseiro. Então, antes
de deitar, ofereça uma prostração a eles. Se desejar emular a famosa
posição reclinada do Buda, deite-se sobre o seu lado esquerdo para
dormir.
Pense:
Estou morrendo.
A minha consciência dos sentidos está se dissolvendo.
56 VIVER É MORRER
Ao acordar, pense:
Eu renasci.
Espero fazer bom uso desta vida efêmera
Para beneficiar a mim e aos outros.
Para os tântrikas
Aspire perceber e experienciar a luminosidade do simples saber.
Uma vez que o processo de adormecer oferece uma oportunidade ex-
celente de reconhecer essa luminosidade, faça a forte aspiração de sim-
plesmente “saber”. Na morte, todos os seus mecanismos sensórios se
dissolverão, o que significa que esse “simples saber” não será de modo
algum perturbado pelos seus sentidos e pela sua reação aos objetos dos
sentidos. Tudo o que restará será a sua mente.
Assim, trazendo à mente a prática do sono que foi descrita, visuali-
ze um lótus no chacra do coração, no qual o seu guru, a corporificação
de todos os budas, está sentado. Então, enquanto adormece, apenas
pense no guru.
Como os budistas se
preparam para a morte
∑
vai dar certo só serve para botar lenha na fogueira da decepção. Lem-
bre-se disso, é um ponto importante. A maior parte dos problemas
mais sérios da humanidade surgem da esperança cega e de suposições
irracionais.
À medida que a morte se aproximar, tente deixar de lado as preo-
cupações mundanas. Pare de se preocupar com a família. Pare de fazer
planos. Pare de pensar em tudo que não conseguiu fazer e em todos os
compromissos anotados na agenda.
Se tiver a bravura e a coragem, e se a sua situação permitir que faça
escolhas, em geral é melhor não contar a todo o seu círculo de ami-
gos e conhecidos que está perto da morte. É muito importante que
as pessoas espiritualizadas se distanciem das preocupações mundanas
desnecessárias que possam trazer ansiedade no momento da morte.
Os tântrikas podem, é claro, contar para o guru e para os amigos es-
pirituais mais próximos que tenham condições de oferecer ajuda espi-
ritual e apoio durante o processo de morte e além. Mas procure evitar
os amigos mundanos e a família. É improvável que filhos, irmãos e
irmãs, mães e pais que não sejam budistas saibam apreciar o aspecto
espiritual da sua morte, e a dor e o pesar que eles sentem podem, com
facilidade, deixá-lo distraído e preocupado.
Os ensinamentos budistas nos recomendam seguir o exemplo de
um veado ferido que se retira para um lugar solitário quando a morte
se aproxima. Mas, no mundo atual, é pouco provável que alguém
consiga morrer sozinho. Imagine a indignação pública incitada pela
mídia, as teorias conspiratórias e as ações judiciais que se seguiriam à
descoberta de um cadáver em decomposição, semanas após a morte! A
solidão completa ao morrer é impossível para quase todos nós; o que
podemos controlar é quem deve e quem não deve ficar sabendo da
nossa morte iminente.
Confesse
Rememore e confesse todas as suas ações e os seus pensamentos vergo-
nhosos, egoístas e negativos. Se você é um tântrika, também procure
COMO OS BUDISTAS SE PREPARAM PARA A MORTE 61
Boditchita absoluta
Será difícil pensar sobre a boditchita absoluta enquanto estiver mor-
rendo e no momento da morte, então, pense sobre o assunto enquan-
to você ainda está vivo.
Pense:
• Uma tradução para o inglês da prática de Kusali pode ser encontrada no texto
curto do Longchen Nyingtik Ngöndro, disponível para download em: https://
www.lotsawahouse.org/tibetan-masters/dodrupchen-I/longchen-nyingtik “6.
The Accumulation of the Kusulu: Chö”.
• A versão mais longa, The Loud Laugh of the Dakini, traduzida por Karen Liljen-
berg, está disponível para download em: www.zangthal.co.uk/files/Chod%20
2.1.pdf
O Buda Amitabha
Nesta última noite das noites
os arbustos sussurram
“Buda, Buda...”23
Ranseki
Dharani de Amitabha
tadyathā amite amitod bhave amita sambhave amita
vikrānta gāmini gagana kīrti kari sarva kleśa kṣayaṃ
kari svāhā
• Uma tradução em inglês dessa prece, por Saljay Rinpoche e Jens Hanse, inti-
tulada The Aspiration of Sukhavati, the Pure Realm of Great Bliss está disponível
para download em: www.nic.fi/~laan/sukha.htm
• Traduções para o inglês de muitas outras belas preces de aspiração estão dis-
poníveis para download no site da Lotsawa House: www.lotsawahouse.org/
topics/amitabha-sukhavati/
O velho carpinteiro
O poder da prática de aspiração é frequentemente ilustrada por uma
história tradicional sobre um velho carpinteiro.
70 VIVER É MORRER
Guru Rinpoche
Se você se sentir mais conectado a Guru Rinpoche, Padmasambhava,
aspire renascer em Zangdokpalri, a Gloriosa Montanha Cor de Cobre.
A Montanha Cor de Cobre, que fica a sudoeste, é cercada por
oceanos de sangue, montes de caveiras, pilhas de ouro e demônios
chifrudos comedores de humanos, cujas presas pingam com sangue
fresco. Coroando o alto da montanha está um palácio de cristal, lá-
pis-lazúli, rubi e esmeralda. No centro do palácio, em um trono de
pedras preciosas e discos de sol e lua, encontra-se Guru Rinpoche,
Padmasambhava; belo, brilhante, majestoso, glorioso, vitorioso e
magnífico. Incontáveis raios de luz de arco-íris emanam do seu corpo
e ele transpira amor e compaixão imensuráveis e incondicionais por
todos os seres. Mandarava, que não é outra se não Guru Rinpoche em
forma feminina, senta-se ao lado direito dele; Yeshe Tsogyal senta-se
ao esquerdo, e os grandes mestres budistas do passado estão sentados
por toda a montanha, como uma coberta de neve.
74 VIVER É MORRER
Arya Tara
Aqueles que amam Arya Tara podem olhar na direção da Terra das
Folhas de Turquesa, situada ao norte.
No reino búdico de Arya Tara todos os seres vivos são femininos:
os bodisatvas, as aves, os tigres, todos os seres. Arya Tara está no cen-
tro de um palácio magnífico e transparente, feito de lápis-lazúli. Ela é
veloz, pacífica e resplandecente e está cercada por budas, bodisatvas e
centenas de milhares de dakinis, cujas mentes de sabedoria transbor-
dam com grande amor e compaixão.
• A tradução para o inglês da prece de aspiração de Sera Khandro Burgeoning
Benefit and Happiness: An Aspiration to be Reborn in the Land of Turquoise Leaves
está disponível para download em: www.lotsawahouse.org/tibetan-masters/se-
ra-khandro/tara-pureland-aspiration
Tara Verde
76 VIVER É MORRER
Possa eu ser uma ilha para aqueles que anseiam por terra firme,
Uma lamparina para aqueles que desejam luz,
Para todos que precisam de um lugar de descanso, um leito;
Para aqueles que precisam de um servo, possa eu ser um escravo.
de do seu carma como você vai morrer. Se o carma for bom, você não
vai ficar resistindo ao processo de morrer nem criar qualquer drama;
você enfrentará a morte com calma e sensatez.
Então, o que é “bom” carma e “mau” carma? Depende do seu pon-
to de vista. Uma pessoa pode pensar que bom carma é morrer cercada
pela família e amigos, enquanto para outra pessoa bom carma signi-
fica morrer sozinha no meio da floresta, sem lágrimas nem confusão.
Outros, podem pensar que bom carma é ter alguém ao lado deles na
hora da morte, para lembrá-los o que devem fazer nos bardos ou para
recitar o nome dos budas e bodisatvas.
O carma irá influenciá-lo até o fim: durante todo o processo da
morte e até a dissolução final. O detalhe mais crucial é que o seu úl-
timo pensamento, no instante que precede a morte, será o fio que o
levará aos bardos, impregnando a sua experiência do bardo com sabor
e continuidade particulares.
Assim como a qualidade das sementes que um jardineiro semeia
afeta a qualidade e quantidade daquilo que ele vai colher, as boas e
más ações do passado também determinam aonde renasceremos. Se o
jardineiro plantar sementes mofadas ou quebradas, nada brotará e o
resultado será ruim. Se ele semear boas sementes, elas darão flores e o
resultado será bom.
Os seis reinos
Se você foi uma pessoa raivosa e agressiva durante a vida, e se as suas
ações foram motivadas pela raiva, continuará sendo raivosa na pró-
xima vida. É difícil contentar uma pessoa que sente raiva, então é
provável que você não goste do lugar onde vive. Por mais brancas e
limpas que estejam as suas toalhas recém-lavadas, você sempre encon-
trará uma mancha. Para você, um jardim de rosas sempre será apenas
um canteiro de arbustos espinhentos. Por mais macio que seja o sofá,
você nunca se sentirá confortável. Por mais glorioso que seja o dia,
sempre será muito frio ou muito quente. De fato, seja onde estiver,
você nunca se sentirá bem e sempre estará reclamando de alguma coi-
sa. Há, ainda, grande probabilidade de você ser queimado, assaltado
ou esfaqueado na rua. Tudo isso é o que os budistas descrevem como
reino dos infernos.
Os avarentos gananciosos, motivados apenas por mesquinhez e
avareza, carregam os seus hábitos de pão-duros para a vida seguinte.
Como todo grande avarento, você não apenas é sovina em relação aos
85
Inferno
86 VIVER É MORRER
outros, mas também consigo mesmo. Por mais coisas que possua –
três carros, duas casas, armários cheios de utensílios de cozinha, joias
e assim por diante –, nunca faz uso delas, muito menos pensa em
dividi-las com quem não tem nada. Se algum dia resolver esbanjar
comprando uma jaqueta cara, é provável que morra antes de remover
a etiqueta de preço. Você é muito mão de vaca para comer em res-
taurantes bons, portanto, jamais lhe ocorreria pagar um almoço para
outra pessoa. Por mais que tenha, nunca é o bastante e, quando você
morrer, vai se torturar sabendo que os seus parentes imprestáveis e
malandros irão torrar sem a menor consideração a sua fortuna acumu-
lada a duras penas. É assim que os budistas descrevem os habitantes
do reino dos fantasmas famintos.
Algumas pessoas são basicamente ignorantes sobre tudo que acon-
tece ao seu redor. Chegam a decidir, deliberadamente, não ver o so-
frimento dos outros. Se você é esse tipo de indivíduo, faz de tudo
para evitar de ser simpático com qualquer pessoa, apoia ativamente
a estupidez, a ignorância e a falta de solidariedade, e sente orgulho
de ser absolutamente indiferente ao sofrimento da tartaruga ou da
lagosta que está sendo mergulhada viva em água fervente para lhe
servir de almoço. Você aprende a ser casca-grossa, para não sentir nada
O fim do avarento
O DOLOROSO BARDO DA MORTE 87
Espíritos guerreiros
O DOLOROSO BARDO DA MORTE 89
Contemplando nuvens
Dia do julgamento
Muitas religiões advertem os seus seguidores dizendo que, após a mor-
te, encontrarão um juiz que pesará as suas boas e más ações e depois
mandará para o céu os que fizeram mais boas ações do que más, e para
o inferno os que fizeram mais más ações do que boas. O budismo,
por outro lado, ensina que o único juiz que você vai enfrentar é a sua
própria mente.
Imagine que você roubou algo de um amigo, mas se safou dessa.
Embora tenha evitado a punição, você ainda tem de viver consigo
mesmo, e por muitos anos a sua consciência vai atormentá-lo. Do
mesmo modo, quando morrer, a sua consciência culpada vai obrigá-
-lo a se lembrar de todas as coisas nocivas e desagradáveis que disse
e fez durante a vida, e essas memórias o farão sofrer. Mas, afora você
O DOLOROSO BARDO DA MORTE 91
O juízo final
mesmo, não haverá uma entidade na sua frente para julgá-lo; nenhum
ser poderoso e onipotente vai pesar na balança os seus feitos bons ou
maus nem anotar em um enorme livro de registros tudo que você fez.
Não haverá um julgamento externo das suas ações durante a vida.
Os budistas acreditam que as causas e condições que cada um de
nós reuniu e que não foram sujeitas a obstáculos nem amadureceram
em um resultado não se dissipam por si mesmas. Independentemen-
te da intenção subjacente a tudo que você já pensou, disse ou fez,
quer fosse uma intenção gentil e virtuosa ou má, grosseira e vingati-
va, se o carma correspondente não tiver sido purificado, você colherá
os resultados. É claro que isso pode ser interpretado como um tipo
92 VIVER É MORRER
A geada na grama:
Uma forma fugaz
É e não é!27
Zaishiki
94 VIVER É MORRER
Alaya
A memória não é a nossa única característica com o potencial de ser
levada para os bardos e a próxima vida.
Os budistas acreditam que os efeitos do carma ficam armazenados
naquilo que chamamos de “alaya” e, após a morte, esse alaya é levado
para a vida seguinte. O alaya não é como o conceito cristão de alma.
Disseram-me que os cristãos creem que a alma que você tem agora é
exatamente a mesma alma que irá para o céu – ou para o inferno. Se
entendi corretamente, os cristãos acreditam em uma alma que é per-
manente, verdadeiramente existente e única. Os budistas não pensam
assim; os budistas acreditam em um continuum. Talvez pudéssemos
aceitar a ideia de uma alma se ela fosse sinônimo de alaya, mas não é.
O alaya deste momento não é o mesmo alaya de amanhã, mas tam-
pouco são entidades totalmente separadas. Os budistas acreditam na
continuidade do alaya, assim como Tom, Dick e Harry acreditam ser
hoje os mesmos homens que eram ontem. Ao mesmo tempo, como o
budismo mahayana ensina que tudo que é levado adiante neste conti-
nuum é ilusório, o alaya nada mais é do que uma ilusão.
Você pode pensar que isso soa ilógico, mas, para os budistas, todos
os conceitos são ilógicos. Conceitos como “direção”, “tudo”, “geral” e,
em especial, conceitos como “continuidade” e “tempo” são completa-
mente arbitrários. No entanto, uma ideia não deixa de ser poderosa
apenas por ser arbitrária. E todos esses conceitos são extremamente
poderosos.
O que é “tempo”? Depende. Você está perguntando como um filó-
sofo, um cientista ou o recepcionista de um médico? O recepcionista
está mais interessado no tempo que é medido pelo relógio, porque ele
quer saber se o paciente vai chegar a “tempo”. Para o cientista, “tempo
é o que a variável de tempo t denota nas melhores teorias da ciência
fundamental”28, ao passo que os filósofos não se preocupam muito
com uma definição precisa da palavra “tempo”, mas estão muito inte-
ressados nas suas características.
100 VIVER É MORRER
Renascimento
Hoje em dia, há um grande ceticismo quanto à reencarnação ou ao
renascimento, a ponto de os novos budistas se perguntarem se irão
renascer depois de morrer.
Todos os dias pensamos que, com certeza, haverá um amanhã,
mas, na verdade, estamos fazendo uma suposição grosseira, o tipo de
suposição que os filósofos chamam de “projeção imputada”. Ainda
assim, apenas porque o amanhã é uma suposição não significa que
o amanhã não exista. O mesmo é válido para tudo mais no mundo
relativo. Tudo existe porque fazemos suposições; mesmo assim, cada
elemento do mundo relativo é uma ilusão, um sonho. Embora seres
sencientes como eu e você acreditem que essas ilusões sejam reais,
estamos, de fato, completamente deludidos! Enquanto continuarmos
O DOLOROSO BARDO DA MORTE 101
próxima vez. Nesse contexto, “melhor” não quer dizer mais rico, mais
saudável ou mais bonito. “Melhor” significa não ser ganancioso e ser
sensato, amável, gentil, honesto e suscetível à verdade. Em outras pa-
lavras, “melhor” significa ter a oportunidade de conhecer melhor o
Darma na próxima vida.
Perguntas sobre a morte
∑
Alguém que não seja budista pode renascer em uma “terra pura”?
Se a família e os amigos de uma pessoa não budista fizerem boas ações
PERGUNTAS SOBRE A MORTE 105
Nangsa Obum era uma jovem muito bonita e gentil, cujo úni-
co desejo era praticar o Darma. Certo dia, um homem muito rico,
encantado com a sua beleza, logrou, por artimanhas, que ela casasse
com o filho dele. Pouco tempo depois do casamento, Nangsa Obum
recebeu as chaves da despensa da família e o encargo de administrar a
casa. A sua cunhada ficou furiosa! Por ciúme e raiva, ela foi levada a
bater selvagemente em Nangsa Obum e ainda acusou-a de ter um caso.
Furioso, o marido de Nangsa Obum bateu na esposa até a morte.
Depois de morta, Nangsa Obum viu os reinos bem-aventurados,
onde os virtuosos renascem, e os 18 infernos reservados para os não
virtuosos. De repente, ela se encontrou frente a frente com o Senhor
da Morte e ficou muito nervosa, mas estava claro para o Senhor da
Morte que Nangsa Obum era uma grande dakini, totalmente pura e
inocente. Sabendo que ela traria grande benefício para os vivos, man-
dou-a de volta para o corpo, que havia sido colocado um uma caverna
na montanha a conselho do astrólogo da região.
Dentro de pouco tempo, Nangsa Obum foi encontrada pelos ser-
vos da família do marido e levada de volta para casa. Todos ficaram
encantados e pediram sinceras desculpas pelo tratamento que lhe ha-
viam dispensado. Ela ficou com eles um tempo, mas, como ninguém
naquela família tinha um interesse genuíno pelo Darma, ela implorou
que a deixassem voltar para a casa dos pais. Relutantes, o marido e a
sua família deram consentimento.
Chegando em casa, Nangsa Obum contou aos pais o que acontece-
ra. Eles a receberam de volta e tudo parecia correr bem, até que a mãe
se deu conta de que Nangsa nunca escutaria os seus conselhos sobre a
vida familiar e filhos. Em um ataque de raiva, jogou a filha na rua.
Longe de se incomodar, Nangsa percebeu que aquela era a oportu-
nidade que estava esperando para devotar todo o seu tempo ao Darma.
Chegou até o monastério do local e insistiu em ser aceita. No início,
o lama recusou, mas, quando ela ameaçou se matar se fosse mandada
embora, o lama permitiu que ela ficasse e fosse iniciada no caminho do
tantra. Após três meses de retiro ela alcançou a iluminação.
PERGUNTAS SOBRE A MORTE 107
O que podemos fazer pelas pessoas amadas que estão morrendo, espe-
cialmente se elas não são ou não eram espiritualizadas e muito menos
budistas? Encorajar a pessoa que está morrendo ou morta a tomar
refúgio e fazer surgir a boditchita realmente ajuda? Uma pessoa que
não é budista poderia compreender os ensinamentos sobre o bardo?
Essas são ótimas perguntas.
Confiança e motivação
Antes de tudo, o fato de você querer ajudar a pessoa que está morrendo
– ou simplesmente estar pensando nela – indica que há uma conexão
espiritual ou cármica entre vocês.
Quantas pessoas, animais ou insetos estão morrendo neste exato
momento? Estamos pensando em todos eles? Não. Como bons bo-
disatvas, espera-se que cuidemos de todos os seres sencientes, mas, na
prática, raras vezes isso acontece. Em geral, só pensamos nas pessoas
mais próximas.
112 VIVER É MORRER
Por mais difícil que seja ouvir a verdade, sempre é melhor ser ho-
nesto com quem está morrendo. A maioria de nós preferiria não ter de
dizer à pessoa amada que ela está morrendo, mesmo quando é óbvio
e evidente. Muitas vezes, mentimos, porque não queremos admitir
para nós mesmos que alguém que amamos está prestes a nos deixar. A
esperança nos leva a esconder os fatos tanto de nós mesmos como da
pessoa amada.
Às vezes, as pessoas que nunca tiveram uma vida espiritual imagi-
nam que são as únicas que já passaram pelo sofrimento da morte. É
óbvio que isso não é verdade; então, lembre-as de que ninguém nesta
Terra tem escolha: todos vamos morrer, inclusive elas próprias. Tam-
bém é bom lembrar que não há como saber qual de vocês vai morrer
primeiro. O seu amado pode estar no meio do processo de morrer,
mas os acidentes acontecem, e como ninguém sabe quando e como
vai morrer, nada garante que você não morra antes dele.
ses supostos materialistas cansa da vida social, ele tem muito mais
chances de se tornar uma pessoa de fato espiritualizada do que muitos
autoproclamados budistas, cristãos ou hindus. Muitas vezes, pessoas
que se gabam da sua “espiritualidade” são pouco mais do que mate-
rialistas espirituais, que passam a vida enganando a si mesmos e aos
outros. E eles são as pessoas mais difíceis de se lidar quando se trata de
discutir a morte ou qualquer forma de prática espiritual genuína.
Embora os seus amigos e familiares digam que não acreditam em
nada, se eles gostam de se distrair com passatempos mágicos e mís-
ticos, como a poesia e a filosofia, e são suficientemente sentimentais
e românticos para assistir ao pôr do sol imaginando que aquele pode
ser o último desta vida, é bem provável que sejam capazes de ouvir a
verdade. Assim, tente lhes oferecer alguma informação sobre o Dar-
ma, mas não vá afogá-los! O presente mais precioso que você pode
dar para a sua família, filhos e amigos é o Darma. Procure instilar o
Darma aos poucos no ouvido deles, mas não exagere. E jamais use
um argumento do Darma para corrigir um comportamento. É muito
melhor esperar que alguém faça algo admirável, motivado pelo al-
truísmo, para, então, apresentar um aspecto do Darma compatível
com aquilo, como forma de concordar com a pessoa e incentivá-la.
Jamais imponha as suas crenças – não vai ajudar.
pertences da pessoa que morreu, nem separe as peças das suas cole-
ções, pelo maior tempo possível.
Sentimento de culpa
Às vezes, as pessoas que estão morrendo sentem uma culpa devasta-
dora pelas coisas terríveis que fizeram durante a vida. Se você estiver
acompanhando um budista que sinta a consciência pesada pelo seu
comportamento no passado, sugira que ele se liberte dessa culpa to-
mando para si a culpa de todos os seres sencientes por meio da prática
de tonglen, ver página 203: “Possa a culpa de todos os seres sencien-
tes vir para mim.” Com isso, ele pode não apenas se desvencilhar da
consciência de culpa, mas também sentir-se bem por ter praticado um
tremendo ato heroico e acumulado um enorme mérito. Esse mérito
pode, então, ser dedicado à iluminação de todos os seres sencientes,
o que trará ainda mais mérito, que pode ser dedicado a um melhor
renascimento de todos, incluindo o da própria pessoa.
Se achar que isso pode ajudar, diga para quem está morrendo que,
de acordo com o Buda, a culpa que ele sente foi criada pela sua pró-
pria mente, portanto, a culpa é apenas mais uma das suas autoproje-
ções. Ele não deve, de modo algum, permitir-se ficar obcecado pela
sua própria criação.
Você também pode sugerir que essa pessoa visualize todos os bu-
das e bodisatvas no céu à sua frente e confesse, do fundo do coração,
todas as suas culpas.
Para o tântrika que está morrendo, sugira que ele recite o mantra
de Akshobhya ou o Mantra de Cem Sílabas de Vajrasattva.
121
Buda Akshobya
Dharani de Akshobya
namo ratna trayaya om kamkani kamkani rocani rocani trotani
trotani trasani trasani pratihana pratihana sarva karma
paramparani me sarva sattvananca svaha
122 VIVER É MORRER
Vajrasattva
sem filtros. Nossos olhos não são câmeras que meramente capturam
imagens de qualquer coisa que esteja na nossa frente, porque são guia-
dos por nossa mente. A mente escolhe quais imagens vai registrar e
como vai interpretá-las, baseada no nosso condicionamento cultural,
nossas neuroses, nos livros que lemos, no café que bebemos, nas pes-
soas com quem convivemos e assim por diante. Então, é na mente que
o espectador, o ato de assistir e tudo que nos influencia é filtrado, e é
na mente que nossas interpretações se reúnem para criar os fenômenos
de esperança, medo, incompreensão e assim por diante.
A mente de todas as pessoas se separa do corpo exatamente da
mesma maneira, sejam elas budistas ou não. Os sentidos e os objetos
dos sentidos também se desintegram exatamente da mesma maneira.
Sem os filtros, os olhos não podem ver, os ouvidos não podem ouvir, a
língua não pode degustar e assim por diante. Imagine que uma manhã
de primavera comece fria, mas, como está previsto que a temperatura
vai subir mais tarde, você veste seis camadas de roupas. A desintegra-
ção dos sentidos é como se livrar dessas seis camadas, à medida que a
temperatura sobe. Aos poucos, os seus sentidos são deixados para trás,
até que, pela primeira vez na vida, a sua mente fica completamente
nua. Para a maioria de nós, o efeito é avassalador.
Durante a vida, quando você olha uma parede, você vê aquela
parede como parte de uma casa, devido à influência da sua cultura e
hábitos. À medida que os seus hábitos perdem a intensidade, a parede
começa a parecer menos com uma parede e mais como uma pilha de
tijolos. E, quando os hábitos se dissiparem por completo, por mais
que olhe para a parede, você, simplesmente, não saberá mais o que
está vendo. Após a morte do corpo tudo que a sua mente nua expe-
rienciar não será algo filtrado, e todos os fenômenos sutis, como os
sons, gostos, cheiros e assim por diante, serão estranhos e aterrori-
zantes. No entanto, se você receber as informações corretas na hora
certa, a nudez da mente permitirá que você veja e entenda o que está
acontecendo muito mais rápido do que durante a vida. Os budistas
descrevem essa mente nua como “mente búdica”.
O QUE DIZER PARA QUEM ESTÁ MORRENDO 125
O poder do “Buda”
Não se preocupe em saber se a pessoa morta sabe algo sobre o Buda
ou o budismo. Os seres do bardo são cem vezes mais lúcidos do que
eram quando estavam vivos, porque a percepção deles deixou de ser
filtrada. E é justamente porque os mortos são mais conscientes que é
tão importante que os vivos os encorajem a tomar refúgio e lhes apre-
sentem os ensinamentos sobre o bardo.
A noção de “buda” é extremamente profunda. Quando você fala
sobre “buda” para um ser do bardo, está lhe apresentando a noção de
que o Buda é a natureza da própria mente dele. Por vários motivos,
esse é o momento perfeito para tanto, porque é possível que os seres
do bardo estejam mais perto da natureza da mente do que qualquer
outro ser senciente.
O momento da morte
Procure expor para a pessoa está morrendo, com amor e compaixão, o
que está acontecendo com ela.
128 VIVER É MORRER
Homenagem ao Buda,
Homenagem ao Darma,
Homenagem à Sangha.
om ye dharma hetu prabhawa
hetun teshan tathagato hyavadat teshan tsa yo nirodha
ewam vade mahashramanah soha
Seja quem for que você esteja ajudando, sempre repita os ensina-
mentos e instruções tantas vezes quanto puder. Na verdade, há um
bom argumento para continuar repetindo tudo por várias semanas:
se você não é onisciente, não tem como saber se a pessoa que morreu
ouviu e compreendeu o que você falou ou não.
É claro que se o morto descobrir que não existe nada como uma
“próxima vida”, nada do que for dito fará a mínima diferença para ele.
Se, entretanto, ele acordar e descobrir que tudo que está descrito nos
ensinamentos sobre o bardo é verdade, as informações que você vai
lhe dar serão o melhor conselho que ele jamais terá ouvido.
As instruções sobre o bardo
∑
A dissolução do elemento ar
Causa a desintegração do elemento terra.
A sua cabeça está muito pesada
Para que possa ser sustentada pelo pescoço.
Cada movimento requer grande esforço e
Você está fraco demais até para segurar uma colher.
Você se sente engasgado, como se algo o sufocasse;
Você se debate contra algo
Que parece querer esmagá-lo.
Talvez veja uma luz bruxuleante, como uma miragem.
om mani padme hum
As próximas linhas são uma maneira gentil de dizer para a pessoa que
ela está morrendo.
O que você dirá neste ponto vai depender dos ensinamentos que
a pessoa que está morrendo recebeu. Se ela foi apresentada aos três
kayas da tradição mahasandhi, em vez de dizer “a expressão da sua
mente”, diga “a expressão dos três kayas”. Se ela não foi apresentada
138 VIVER É MORRER
aos três kayas, porém, não vá confundi-la com palavras que ela não
conhece. Em vez disso, diga apenas “a sua mente”.
As infinitas cores como as do arco-íris
E as formas que o cercam agora
Não se parecem com nada que tenha visto antes.
O tom de azul,
O tom de verde,
O tom de vermelho
São incrivelmente intensos e vivos.
Como você não está mais limitado
Pelo filtro dos seus olhos,
Você percebe todas as cores que nem nome têm
E eram invisíveis enquanto você estava vivo.
om mani padme hum
Você pode ver algumas formas familiares,
Como quadrados, triângulos e semicírculos,
Mas a maioria é completamente desconhecida;
Você nunca imaginou
Que pudessem existir formas como essas.
om mani padme hum
Tudo parece intenso e brutal,
Porque a percepção não se dá mais por meio
Dos filtros dos órgãos dos sentidos
Ou da sua imaginação.
Não há nada entre você e o objeto que está experienciando.
om mani padme hum
Não tenha medo das cores e das formas,
Ou da intensidade com que são percebidas.
Elas são apenas a expressão da sua mente (dos três kayas).
Nada do que você vê ou experiencia está “lá fora”,
Tudo isto é a manifestação radiante da sua mente.
AS INSTRUÇÕES SOBRE O BARDO 139
Para nós que ainda estamos vivos, os assim chamados “seres vivos”,
esse estado é rotulado como “o momento da morte”. No reino huma-
no, a pessoa que estava morrendo agora é considerada como morta.
Enquanto lê essas instruções para o seu amigo ou amado que está
morrendo, talvez ele não aparente o que você esperava ver. Mas, como
é improvável que possa identificar o estágio da morte pelo qual a pes-
soa esta passando – talvez os lábios não estejam secos, não esteja páli-
do e assim por diante –, não tente analisar nem prever em que ponto
do processo ele se encontra: você não vai conseguir, a não ser que seja
onisciente.
A melhor coisa que você pode fazer é seguir as instruções, que, defini-
tivamente, ajudarão. Repita o texto por uma, duas, três horas, a noite
inteira, ou por 24 horas. Se estiver em grupo, faça um revezamento,
para que sempre tenha alguém ao lado da pessoa que está morrendo
ou que morreu ao longo das 24 horas. Alterne entre entoar om mani
padme hum cem ou mil vezes e a leitura das instruções.
Sempre procure lembrar de falar com carinho, com a voz partindo
de um coração compassivo e transbordante de boditchita.
Se você conhece a prática de se considerar como uma deidade, te-
nha confiança de que você é Vajrasattva, Samantabhadra, Guru Rinpo-
che, Padmasambhava ou Amitabha enquanto lê as instruções.
qualquer outro lugar. Se isso também não for possível, sente-se perto
de algum objeto que ela gostava. E, se nada disso for possível, apenas
chame a pessoa pelo nome.
Para os budistas, o corpo é apenas um receptáculo para a mente
– como uma xícara – então, se puder, continue a recitar as instruções
mesmo depois que o corpo tenha sido cremado.
onisciente, não tem como saber em qual dos estágios o ser do bardo
está. O melhor a fazer é oferecer todas as informações que você pos-
sui, tão rápido e tantas vezes quanto possível, na esperança de que ao
menos um pouco do que está falando seja útil. A repetição contínua
é um tipo de apólice de seguro: quanto mais você repetir as instruções,
maior a chance de que o ser do bardo as ouça, nem que seja uma vez.
Oferenda de sur
O “sur” é um ritual tradicional para os mortos. Cerca de três dias após
a morte, os amigos e familiares da pessoa que morreu queimam comi-
da vegetariana como oferenda de sur. Os tibetanos queimam cevada
tostada, mas você pode queimar qualquer tipo de comida vegetariana
que preferir, pode ser simplesmente um biscoito.
Visualize a fumaça da oferenda de sur como abundantes nuvens
de riqueza, comida, bebida, moradia, transporte e assim por dian-
te. Multiplique e abençoe as oferendas e depois dedique o mérito ao
bem-estar da pessoa que morreu e de todos os seres sencientes.
Idealmente, visualize-se como Avalokiteshvara ou qualquer deida-
de pacífica da sua preferência. O ser do bardo está abalado, nervoso
e com medo, então, visualize-se como uma deidade pacífica e muito
compassiva, para criar uma atmosfera tranquilizadora. Recite om ah
hum algumas vezes e abençoe as oferendas borrifando água sobre elas.
Quando fizer a prática, se por algum motivo não puder ler o texto
em voz alta, faça a leitura em silêncio.
O Buda Amitabha
O Buda Amitabha fez algumas aspirações extremamente poderosas nas
suas vidas anteriores como bodisatva. Ele desejou e aspirou que, apenas
por pensar nele ou recitar o seu nome, possamos todos renascer no
seu reino no instante em que morrermos; tudo que precisamos fazer
é pensar nele ou recitar o seu nome. Por isso, continue lembrando ao
ser do bardo o nome do Buda Amitabha.
Ó Filho ou Filha de Nobre Família,
[nome da pessoa morta],
Para invocar o Buda Amitabha, recite:
namo amitabha
ou
om ami dheva hri
Reze com entusiasmo para o Buda Amitabha,
Reze para Avalokiteshvara e Guru Rinpoche, Pema Jungne.
Cultive uma devoção intensa por eles,
Sem nenhuma dúvida.
Deseje, de novo e de novo,
O mesmo estado búdico que eles alcançaram;
Almeje renascer no estado búdico perfeito.
Pelas suas preces sinceras e ardentes,
Você renascerá no reino do Buda Amitabha.
Alegre-se,
Não entre em pânico,
Relaxe,
Tenha confiança
E intensifique uma devoção inabalável.
Depois:
“Espere!”―
e na pausa,
“Buda, tenha compaixão!”35
Shayo
Qual seria a maneira mais hábil de lidar com uma pessoa idosa
que não é praticante do Darma e que todos os dias expressa o
desejo de morrer?
É provável que seja melhor não contrariar esse tipo de pessoa nem
discutir com ela. Tente recitar ou cantar om mani padme hum sem-
pre que puder, mas casualmente, como se estivesse cantarolando ou
assobiando uma música. Não se dirija à pessoa idosa enquanto canta.
Deixe parecer que ela ouviu por acaso. No fim das contas, não vai
fazer diferença se ela se aborrecer com isso ou não. O fato de que ela
tenha ouvido o som do mantra significa que foi feita uma conexão
com o Darma, e essa conexão será útil. Se ela gostar da sua música,
também é bom. De qualquer modo, ambas as reações, “gostar” e “não
gostar”, são um sinal de que houve uma conexão. Diga para a pessoa
154 VIVER É MORRER
O que devo fazer se a pessoa que está morrendo tem uma grande
vontade de viver e não quer se entregar no momento da morte?
Por mais que a pessoa queira viver, nada pode evitar a morte. O desejo
de continuar viva, ou uma “grande vontade de viver”, é um sinal de
que ela não aceitou a morte, o que pode intensificar o seu sofrimen-
to. Por outro lado, se as causas e condições conspiraram para deixar
alguém à beira da morte, mas a força vital daquela pessoa está intacta
e sem danos, o desejo intenso de viver pode trazer a pessoa de volta à
vida. Em outras palavras, é possível que a força vital da pessoa esteja
intacta. É por isso que é sempre bom fazer rituais de fortalecimento e
práticas de longa vida que, nas circunstâncias favoráveis, têm o poder
de trazer a pessoa de novo à vida.
PERGUNTAS SOBRE CUIDADOS COM PESSOAS QUE ESTÃOMORRENDO OU MORTAS 155
Como posso dar apoio a uma pessoa que está em choque porque
a morte chegou de repente e tudo está acontecendo muito rapi-
damente?
Se a pessoa for budista, lembre-a do Buda, Darma e Sangha e leia
todas as instruções sobre o bardo em voz alta, especialmente se ela for
praticante do tantra.
Se ela não for budista, apenas ofereça carinho, cuidados e atenção
total. Você terá bastante tempo para ler as instruções sobre o bardo
depois da morte, quando, então, também poderá acumular méritos
por realizar boas ações em nome da pessoa falecida.
156 VIVER É MORRER
A Virgem Maria
158 VIVER É MORRER
Como posso ajudar uma pessoa que está morrendo se ela estiver
muito medicada, usando morfina, por exemplo?
Leia as instruções sobre o bardo contidas neste livro, principalmente
depois que a pessoa morrer. A morfina realmente só afeta o corpo,
portanto, uma vez que o corpo tenha morrido, afetará muito menos
a mente.
O Buda Shakyamuni
PERGUNTAS SOBRE CUIDADOS COM PESSOAS QUE ESTÃOMORRENDO OU MORTAS 163
Manuseio do cadáver
Tagdrol
“Tagdrol” é o método de “liberação pelo toque”36. Muitas vezes é
praticado pelos vivos e muitas pessoas sempre usam um tagdrol como
proteção, mas ele também pode ser colocado no corpo dos mortos.
Você não precisa estar morto para usar um tagdrol.
Se você estiver interessado em aplicar esse método, encontrará
toda a informação necessária na página 223. A imagem de um chacra
de tagdrol, que você pode fotocopiar e consagrar, está na página 222.
A colocação de um tagdrol no cadáver funciona bem se você tiver
devoção e fé genuína no método. No entanto, mesmo que o morto
não acreditasse nisso, ou fosse agressivamente antiespiritual, o efeito
será benéfico, desde que a pessoa que colocar o tagdrol no cadáver o
faça motivada por amor, compaixão e boditchita.
vida após a morte, céu e inferno ou estados do bardo? Ler em voz alta
as instruções tradicionais sobre o bardo ainda faria alguma diferença?
Durante a vida, nenhum de nós pode provar de maneira científica
ou definitiva que teremos a experiência dos bardos quando morrer-
mos. Mas também não podemos provar que não. Imagine o que acon-
teceria se uma pessoa que estava convencida de que não há vida após
a morte acordasse depois de morta rodeada pelas visões aterradoras
descritas neste livro. Será que não seria bem-vinda uma dica, por me-
nor que seja, sobre onde ela se encontra e o que deveria estar fazendo?
Independentemente do que acreditava ou deixava de acreditar, a pes-
soa que morreu não tem nada a perder e tudo a ganhar ao ouvir essas
instruções.
Seja lá como você morra (pacífica ou violentamente), onde mor-
ra (no hospital, em casa ou na rua) e quando morra (com 19 ou 90
anos), algo dessas instruções para a morte, o morrer e além será útil;
se uma parte não ajudar, outra ajudará. É por isso que lemos as ins-
truções muitas e muitas vezes. Talvez a pessoa que está morrendo não
entenda da primeira ou segunda vez, mas, por fim, entenderá. E, a
não ser que você seja um ser iluminado que sabe exatamente o que
fazer e quando fazê-lo, seres comuns, como nós, só podem contar com
esses conselhos gerais para nos guiar.
Phowa
Normalmente, os tibetanos pedem a um lama ou monge para que faça
phowa para a pessoa recém-falecida. No entanto, o ritual de phowa
ajudaria alguém que não tivesse inclinação espiritual?
Os ensinamentos vajrayana afirmam que o método tântrico de
phowa é útil, independentemente de a pessoa que morreu ter sido
espiritualizada ou não, mas terá mais poder quando a pessoa que or-
ganiza o ritual tem uma convicção forte e confia na prática. Se você
é budista, o fato de estar preocupado com o bem-estar espiritual da
pessoa que morreu e desejar organizar rituais e práticas para ela de-
monstra que a pessoa tinha uma conexão com esse caminho. Então,
use essa conexão.
O QUE FAZER APÓS A MORTE 173
Oferenda de sur
Tradicionalmente, a prática de sur é realizada todos os dias durante
três dias após a morte, ou durante uma semana ou, no melhor dos
casos, 49 dias (veja página 147).
vivos da morte certa. Você pode, por exemplo, comprar um peixe vivo,
que foi recém-pescado, e jogá-lo de volta ao mar ou rio; ou comprar
todos os perus que serão abatidos para o Dia de Ação de Graças. É dito
que salvar a vida desses seres acumula o tipo mais supremo de mérito
impuro.
O salvamento de vidas é praticado em toda a Ásia e foram de-
senvolvidos vários rituais para acompanhar o processo, por exemplo,
Prática para longa vida e prosperidade: Um método para salvar vidas, de
Jamyang Khyentse Wangpo (veja página 211).
No entanto, você não precisa necessariamente realizar o ritual em
si nem ler o texto. Basta, simplesmente, salvar a vida de seres que estão
na iminência de serem mortos e dedicar o mérito para todos os seres
sencientes.
Faça tsa-tsas
Tsa-tsas são pequenas imagens de budas e estupas feitas de argila, ge-
ralmente reproduzidas por meio de moldes; muitas vezes, podem ser
encontradas espalhadas ao redor de antigas estupas. De fato, as estupas
são a versão ampliada das tsa-tsas e também são preenchidas, entre
outras coisas, com muitas tsa-tsas menores. Antigamente, a prática de
moldar tsa-tsas com as cinzas dos corpos cremados era muito encora-
jada na Índia e no Tibete. Assim como o tagdrol, essa prática funciona
melhor se a pessoa que faz os moldes sente devoção pelo método. E,
mais uma vez, esse método é uma sugestão, mas não é indispensável.
A tsa-tsa é uma representação da mente do Buda, ou ushnisha, e a
prática de fazer tsa-tsas, o processo de amassar a argila, encher os mol-
des, queimar as peças no forno, pintá-las e assim por diante, acumula
méritos. Basicamente, embora fazer tsa-tsas não esteja no topo da lista
da maior parte dos praticantes modernos, o esforço despendido em
moldar tsa-tsas é uma prática espiritual genuína. Hoje em dia, quando
os praticantes fazem tsa-tsas, tendem a usar tecnologias que poupam
mão-de-obra, em vez de preencher os moldes manualmente, o que, eu
suponho, é melhor do que não fazer tsa-tsa nenhuma.
O QUE FAZER APÓS A MORTE 175
Uma das muitas razões pelas quais fazer tsa-tsas é uma prática tão
boa é que não é fácil se gabar disso. Outra, é que as tsa-tsas não podem
ser usadas para aumentar o seu próprio conforto, satisfação ou lucro.
É muito menos provável que você caia na armadilha do materialismo
espiritual fazendo tsa-tsas do que construindo templos. Infelizmente,
os templos têm muitos usos práticos. Os templos oferecem abrigo da
chuva e do sol forte e são, frequentemente, usados como hotéis ou
locais turísticos - essa pode, muito bem, ser a mais elevada forma
de materialismo espiritual. Mas, uma vez que as tsa-tsas tenham sido
criadas, não há muito que possa ser feito com elas. Você não pode
lucrar com elas, morar nelas, comê-las ou exibi-las; as tsa-tsas não têm
uso prático e não despertam nosso orgulho, nem deixam os outros
com inveja ou vontade de competir. O mesmo acontece com as ofe-
rendas de água. Ninguém fica com inveja quando você oferece uma
tigela de água, mas oferecer uma bolsa cheia de ouro ou prata pode
causar inveja em alguém. Instruções para moldar tsa-tsas são encon-
tradas na página 229.
Hoje em dia é raro alguém se alegrar com a oferenda dos outros.
É mais frequente que as oferendas generosas sejam alvo de todo tipo
de críticas. As pessoas que fazem tais oferendas são muitas vezes criti-
cadas e até mesmo satirizadas, porque é muito fácil para os ricos, que
possuem tanto, doarem muito. E as pessoas competitivas sempre que-
rem que as suas oferendas superem todas as demais. Os seres humanos
podem ser muito mesquinhos e limitados.
Homenagens póstumas
A maior parte das culturas ocidentais desenvolveu tradições para ho-
menagear e relembrar os mortos. Em quase toda a Europa, por exem-
plo, eles são sepultados em belos cemitérios, sob lápides ornamentadas,
que a família e os amigos podem visitar, quando querem pensar sobre
as pessoas amadas, e levar flores. Eu soube que alguns guardam as cin-
zas dos entes queridos em casa, numa urna. O Taj Mahal, na Índia, é
um dos mais famosos mausoléus, construído por um imperador mogol
como homenagem póstuma para sua amada primeira esposa.
176 VIVER É MORRER
Taj Mahal
2 N. do Tradutor: Papéis impressos com desenhos de todo tipo, desde algo que
agradaria às deidades, como mantras, até coisas que seriam úteis para os mortos,
como notas de dinheiro falso, roupa, comida e assim por diante. Esses papéis são
queimados em cerimônias tradicionais chinesas de culto a deidades ou a antepassa-
dos, bem como em funerais tradicionais chineses.
PERGUNTAS SOBRE AS PRÁTICAS PARA OS MORTOS 183
for que você ofereça aos mortos, jamais se preocupe, ou mesmo espe-
cule, se foi recebido ou não. Apenas acredite que a oferenda alcançou
a pessoa para quem foi oferecida.
Você pode aumentar o benefício de queimar papéis joss fazendo a
sua oferenda no contexto de um ritual de sur, que inclui uma visuali-
zação específica, motivada pelo desejo de liberar os mortos de todo o
sofrimento.
O que nunca pode acontecer é você fazer oferendas porque não
quer o fantasma de uma pessoa morta por perto, perturbando a fa-
mília. O propósito do sur não é meramente o de espantar um ser do
bardo.
Luto e perda
A pessoa que eu mais amava na vida acaba de morrer. Qual é a
melhor coisa que posso fazer por ele?
Nós sempre queremos fazer o melhor pelas pessoas que amamos.
Queremos lhes dar tudo que sempre desejaram e muitas vezes nos
dispomos a sacrificar tudo que valorizamos no seu benefício. No en-
tanto, o que é o “melhor”? Comprar uma cama de ouro para o seu
pai teria evitado que ele morresse? Ou um vaso sanitário de turquesa
esculpido? Uma passagem de Paris para Hong Kong pela rota transi-
beriana? Uma noite na Casa Branca? Por um ou dois momentos vocês
poderiam ficar emocionados com qualquer desses presentes extraordi-
nários, mas nenhum deles teria valor duradouro. Então, por que não
fazer, em nome da pessoa amada, algo que realmente a ajude, como
patrocinar atividades filantrópicas que beneficiem os seres sencientes
e o meio ambiente?
Em última análise, a melhor coisa que você pode fazer para as
pessoas que ama é lhes oferecer o Darma e ajudá-las a compreendê-lo.
186 VIVER É MORRER
Como posso ajudar e apoiar alguém cujo luto é tão intenso que
não consegue seguir em frente?
Depende da gravidade da situação. Se essa dor está deixando a pes-
soa doente, pode ser necessário pedir ajuda profissional. Quando ela
melhorar, fale sobre a verdade da impermanência, sobre o inabalável
refúgio do Darma, Buda, Sangha; diga que agora, mais do que nunca,
ela deveria trabalhar em benefício de todos os seres sencientes. Sugira
que ela prometa assumir essa grande tarefa.
O que devo dizer para os meus filhos sobre a morte? Como pre-
pará-los para a morte da mãe?
O conselho que os budistas dão para as crianças é praticamente o
mesmo que é dado para os adultos. É importante ser sincero e dizer
para os seus filhos o que acontece na morte, a não ser que esse tipo
de sinceridade se oponha ao que é culturalmente aceitável pela sua
sociedade. A mente dos jovens é capaz de aceitar verdades difíceis,
verdades sobre as quais muitos adultos não conseguem sequer pensar.
Contudo, sempre leve em consideração o caráter de cada criança e
explique o que vai acontecer com bondade e simplicidade.
Pense a longo prazo, principalmente quando se trata de crianças.
Se você não disser a verdade aos seus filhos, eles podem pensar que a
mãe queria abandoná-los quando morreu. Claro, depois de adultos,
eles entenderão que a mãe não teve escolha. Mas emoções fortes plan-
tadas em mentes jovens são difíceis de ser eliminadas na idade adulta;
PERGUNTAS SOBRE OUTROS ASPECTOS DA MORTE 187
portanto, deixe claro para os seus filhos que a mãe deles não teve ab-
solutamente escolha sobre a morte.
Que tipo de apoio devo oferecer para uma criança que perdeu
os pais?
Depende da situação. Muitas e muitas crianças perdem os pais. Do
ponto de vista budista, as crianças e os seus pais compartilham um
carma muito forte. Obviamente, você deve oferecer amor incondi-
cional, cuidado e orientações à criança. O mais importante, porém,
é que tudo o que você oferecer para ela e fizer por ela nasça da boa
motivação da boditchita.
188 VIVER É MORRER
O que posso fazer para ter certeza de que o meu bebê seja budis-
ta? Existe alguma coisa que eu possa fazer para garantir que o
meu bebê seja a reencarnação de uma pessoa que pode beneficiar
os seres sencientes?
É dito que Assanga e seu meio-irmão, Vassubhandu, duas das mais
famosas e celebradas autoridades budistas do século IV na Índia, nas-
ceram como resultado das aspirações extremamente puras da sua mãe,
Prassannashila.
Embora Prassannashila tenha nascido na casta dos brâmanes, ela
estava tão preocupada com o rápido declínio do budismo e com a falta
de professores qualificados, que decidiu remediar a situação dando à
luz a dois filhos. Depois de fazer muitas aspirações puras e poderosas,
ela concebeu duas vezes: uma, de um brâmane, que foi o pai de Vassu-
bandhu; outra, de um príncipe real, que foi o pai de Assanga. Quando
os meninos cresceram e perguntaram sobre a casta dos seus pais, Pras-
sanashila respondeu: “Vocês não nasceram para seguir os passos dos
seus pais! Nasceram para treinar as suas mentes como o Buda ensinou
e, depois, divulgar o Darma por toda parte.” E assim eles fizeram,
como resultado das poderosas aspirações da sua mãe.
Por que não seguir o exemplo de Prassannashila? Faça preces de
aspiração para que os seus filhos tenham a habilidade de ajudar os
outros. Você pode até aspirar atrair homens que também tenham a
PERGUNTAS SOBRE OUTROS ASPECTOS DA MORTE 189
Aborto
Jizo Bosatsu
Suicídio
A morte assistida por médicos foi legalizada em vários países
ocidentais. Apesar de receberem os melhores cuidados médicos,
alguns poucos budistas com doenças crônicas indicaram que gos-
tariam de ter essa opção. Como um centro budista de cuidados
paliativos deveria lidar com alguém que procura uma morte as-
sistida? E qual seria a melhor forma de participarmos na discus-
são pública sobre esse tema delicado?
As oportunidades espirituais disponíveis no bardo natural desta vida
fazem com que o fato de se estar vivo seja muito precioso. Enquanto
você vive, pode praticar sendo consciente, cuidadoso, amoroso, com-
passivo e virtuoso. Mas, se optar por uma morte assistida para morrer
sem dor, estará correndo um enorme risco.
Se o seu cabelo pegasse fogo, você correria para tentar apagá-lo. Do
mesmo modo, no momento em que um budista se dá conta de estar
adquirindo um mau hábito novo, a sua resposta imediata deve ser in-
terromper esse hábito. Os budistas desencorajam energicamente todos
os hábitos, bons ou maus, porque os hábitos são perigosos, ainda mais
os hábitos que causam dor e sofrimento para nós e para os outros.
O suicídio é um hábito muito fácil de ser adquirido e extrema-
mente difícil de ser abandonado. É como ser viciado em álcool e inca-
paz de dizer não à bebida. Os hábitos têm um papel muito importante
na definição de nossos renascimentos futuros. Uma vez que tenha for-
mado o hábito de acabar com a vida quando as coisas ficam difíceis,
nas vidas futuras você recorrerá ao suicídio cada vez mais rápido. Os
budistas que estudaram os ensinamentos sobre carma e reencarnação
deveriam saber disso.
É claro que esse argumento não funciona se você não é budista e
não acredita em reencarnação. Também não funciona se você pensa
que a morte é o fim de tudo.
Para os tântrikas, acabar com a própria vida é simplesmente im-
pensável. O tantra considera os cinco agregados como as mandalas
PERGUNTAS SOBRE OUTROS ASPECTOS DA MORTE 193
Quando eu morrer,
Enterrem-me numa taverna,
Sob um barril de vinho.
Com sorte,
O barril vazará.
Moriya Sen’an38
Preces e práticas
∑
Pema Chödrön
2. Comece a visualização
Trabalhe com a textura. Inspire sensações de calor, escuridão e peso-
um sentimento de claustrofobia- e expire sensações de frescura, cla-
ridade e luz- um sentimento de frescor. Inspire completamente, fa-
zendo entrar a energia negativa por todos os poros do corpo. Quando
expirar, irradie a energia positiva completamente, por todos os poros
do corpo. Faça isso até que a visualização fique sincronizada com o
inspirar e o expirar.
que passam pelo mesmo tipo de sofrimento. Por exemplo, se você está
se sentindo incompetente, inspire esse sentimento para si mesmo e
para todos que estão no mesmo barco, e envie confiança, competência
e alívio, da forma que desejar.
Chutor:
Oferenda de água
Chokgyur Lingpa
om ah hung
Na vacuidade, da sílaba dhrung,
Aparece um vasto recipiente
No qual o meu corpo se dissolve em forma de luz.
E se torna um oceano de tormas e néctar
Consagre com
om ah hung
A minha mente na forma de Khassarpani
Serve a todos os convidados com oferendas e dádivas.
PRECES E PRÁTICAS 209
Sinos Tingshag
PRECES E PRÁTICAS 211
Apenas por fazer isso, quando dedicar as raízes de virtude e fizer aspi-
rações para o benefício deles, você terá cumprido o presente propósi-
to, sendo admissível, portanto, que não faça nenhuma outra cerimô-
nia específica.
Se preferir realizar uma versão ligeiramente mais elaborada, de
acordo com o lugar, a ocasião e o grau de detalhe, então pode fazê-lo
como encontrado em muitas instruções da escola da Tradução Anti-
ga, como as que fazem [do animal] um suporte para um protetor do
Darma, e assim por diante. Ou, se você desejar realizar versões mais
detalhadas das palavras de auspiciosidade, da dedicação e da aspira-
ção, será excelente se puder combiná-las com um momento especial,
como o Mês Milagroso (o primeiro mês), o oitavo dia ou as luas nova
ou cheia.
Se o motivo principal for prolongar a vida de alguém, então faça a
prática ao nascer do sol, na hora propícia do “planeta da vida ascendente”.
De qualquer modo, coloque aqueles cujas vidas deseja salvar na
sua frente e diga três vezes:
om namo bhagavate
aparimita ayurjnana subinishchai tatejo rajaya
tathāgataya
arhate samyak sambuddhaya
tadyata
om punye punye mahapunye aparirmita punye
aprimita punye jñana sambharo pachite
om sarva samskara pari shuddha dharma tegagana
samudgate svabhava vishuddhe mahanaya parivare svaha.
Então, diga:
Para o meu próprio benefício e o de outros, isso foi escrito por Jamyang
Khyentse Wangpo, alguém que se devota à Bodisatva Pitaka, motivado
por puras intenções. Possa isso ser uma causa para que a vida dos sublimes
PRECES E PRÁTICAS 221
detentores dos ensinamentos dure uma centena de éons e para que todos os
seres sencientes sejam liberados do medo da morte extemporânea e atinjam
rapidamente o estado do Buda da Vida Ilimitada.
Sarva mangalam.
Tagdrol:
“Liberação pelo vestir”
Chacra de Padma Shitro
As deidades pacíficas e
iradas da família Padma
O que fazer com o chacra que a pessoa usava quando ela morrer?
Se a pessoa que morreu era um iogue ou uma ioguine, coloque o cha-
cra no chacra do coração e queime junto com o corpo.
A dissolução dos elementos não estará completa antes de 84 ho-
ras após a morte; durante esse tempo, a consciência da pessoa morta
ainda permanece no coração. É por isso que é melhor não mover ou
cremar o corpo por, pelo menos, 84 horas após a morte. Pelo mesmo
motivo, é importante: fazer as práticas que purificam as ações negati-
vas; apresentar as manifestações pacíficas e iradas e os sons e luzes do
bardo, como sendo nada além de projeções da própria mente; e fazer
a prática de phowa (transferência da consciência).
Tsa-tsas
PRECES E PRÁTICAS 229
Thangtong Tulku
Balança
A balança ajuda a calcular as quantidades corretas de gesso e água,
que variam dependendo da qualidade do gesso. As instruções estão
impressas na embalagem ou em uma folha de instruções.
Misturador de gesso
Um misturador de gesso é uma máquina especial para misturar o ges-
so seco e a água. Se preferir, você pode adaptar uma furadeira, se con-
seguir a extensão correta.
PRECES E PRÁTICAS 231
Bioetanol ou acetona
O bioetanol ou a acetona muitas vezes são borrifados no molde antes
de enchê-lo de gesso para diminuir a tensão entre o gesso e o silicone,
evitando o surgimento de bolhas.
Borrifador
Você precisará de um borrifador para borrifar no molde o bioetanol
ou a acetona.
Pincéis
Um pincel redondo macio é necessário para retirar as bolhas que sur-
gem no gesso recém-colocado no molde.
Tinta
Recomendamos a tinta acrílica para pintar as tsa-tsas, por ser solúvel
em água e de fácil aplicação.
Desumidificador
Se você tem um jardim ou terraço, pode colocar as tsa-tsas ao ar livre
para secar. Se não for possível, coloque-as em um local com um desu-
midificador a fim de se assegurar de que ficarão bem secas.
Lembre-se:
Se a tsa-tsa representa uma deidade, o mantra deve ser colocado na
altura do coração; se a tsa-tsa tem o feitio de estupa, o mantra deve ser
colocado no centro.
Dica: depois de posicionar o rolo de mantras, cuide para que ele não
volte à superfície.
Deixe secar
Deixe a tsa-tsa secando por cerca de 30 minutos antes de fazer qual-
quer retoque.
234 VIVER É MORRER
Ilustrações
Página
Great Wisdom Sutra from the Chū sonji Temple Sutra Collection
(Chūsonjikyō), ca 1175, The Metropolitan Museum of Art, New
York. Disponível em: https://www.metmuseum.org/art/collec-
tion/%20search/36104?sortBy=Relevance&ft=great+wisdom+-
sutra&offset=0&rpp=20&pos=2 . Acesso em: 28 abril.
2020.
46 Bodisatva Avalokiteshvara
Gude, A., The Bodhisattva Avalokiteshvara, Asian Art Museum of
San Francisco. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/
File:The_Bodhisattva_Avalokiteshvara.jpg . Acesso em: 28 abril. 2020.
46 Esquilo
Toivanen, T.; Toppila, T., A little European squirrel (Sciurus vulgaris)
sitting on bench, 2006. Wikimedia Commons. Disponível em: https://
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54 O Buda reclinado
Arps, P., Reclining Buddha on Phnom Pros Hill. Kompong Cham,
Cambodia, 2011. Flickr. Disponível em: https://www.flickr.com/pho-
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75 Tara Verde
Anônimo, Old Green Tara, século XIII. Wikimedia Commons. Dis-
ponível em: https://nl.wikipedia.org/wiki/Bestand:Old_Green_Tara.
JPG Acesso em: 28 abril. 2020.
85 Inferno
Herrad von Hohenburg, Hortus Deliciarum – Hell, 1180. Wikimedia
Commons. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Hell#/media/
File:Hortus_Deliciarum_-_Hell.jpg Acesso em: 28 abril. 2020.
240 VIVER É MORRER
86 O fim do avarento
Rowlandson, T. The Miser’s End, 1815. Wikimedia Commons.
Disponível em: https://www.flickr.com/photos/biomedical_
scraps/6860258310/in/album-72157629643695941/ Acesso em:
28 abril. 2020.
88 Espíritos guerreiros
Kazunobu, K., The Six Realms, Warring Spirits, em Five Hundred
Arhats, painéis 31 & 32, Arthur M. Sackler Gallery, the Smithsonian
Institution, Washington. Wikimedia Commons. Disponível em:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Six_Realms,_War-
ring_Spirits,_Five_Hundred_Arhats,_Scrolls_31_%26_32.jpg Acesso
em: 28 abril. 2020.
89 Contemplando nuvens
Kaicker, A., Cloud Gazing, 2016, reproduzido com a gentil permissão
do artista. Disponível em: https://www.saatchiart.com/art/Paint-
ing-Cloud-Gazing/805996/2910167/view Acesso em: 28 abril. 2020.
91 O juízo final
122 Vajrasattva
Vajrasattva (Buddhist Deity), c. 1700 - 1799, Himalayan Art Resourc-
es. Disponível em: https://www.himalayanart.org/items/838 Acesso
em: 28 abril. 2020.
228 Tsa-tsas
Fotografia cedida por cortesia de Sonam Peljore, YANA Travel.
243
Notas