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13/07/2019 A Vida de Milarepa – O Poeta do Tibet : Sobre Budismo

S o b re Budism o : B u d ismo, m e d i t a ç ã o ,
s a b edoria e c o m p a i x ã o p a r a o c o t i d i a n o

A Vida de Milarepa – O Poeta do


Tibet
B Y J I G M E WA N G C H U C K ( L E O N A R D O O TA )

Milarepa (tib. Mi la ras pa, 1040-1123), o principal discípulo de Marpa


(1012-1097), é renomado por toda a área cultural tibetana como uma
das maiores figuras do budismo Vajrayana.

Milarepa nasceu em uma rica família de camponeses. Quando ele ainda


era criança, seu pai morreu e as propriedades de sua família foram
roubadas por seu tio. Milarepa, sua mãe e sua irmã ficaram sem nada.

Para se vingar, Milarepa começou a aprender magia negra. Depois de


aprender muitos feitiços destrutivos, ele conjurou um temporal de

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granizo sobre a casa de seu tio, resultando na morte de dezenas de


pessoas. Refletindo sobre as suas ações, Milarepa compreendeu que
seus atos criaram um grande débito de karma negativo e então ele
procurou um mestre que pudesse ajudá-lo a evitar as conseqüências de
seu ato de vingança. O mestre Yungtön aconselhou-o a procurar
Rongtön Lhaga, professor dos ensinamentos da Grande Perfeição (tib.
Dzogchen / rDzogs chen) da escola Nyingma.

Milarepa não conseguiu progredir e Rongtön lhe disse, “Você deve ir ao


eremitério Trowolung em Lhodrak, no sul, onde há um discípulo direto do
mahasiddha indiano Naropa. Ele é o mais excelente dos mestres, o rei
dos tradutores, conhecido como Marpa. Ele é um siddha da nova
tradição e não tem rivais pelos três mundos. Já que, durante suas vidas
passadas, você criou uma ligação kármica com Marpa, vá até ele!”

Só ouvir o nome de Marpa foi suficiente para despertar em Milarepa um


fé extraordinária, das profundezas de seu ser. Ele pensou, “Devo
encontrar este mestre e me tornar seu discípulo, mesmo ao custo de
minha vida.”

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Naquele momento, Marpa e sua esposa, Damema, tiveram sonhos


auspiciosos e sabiam da vinda de Milarepa. Marpa desceu o vale para
esperar a chegada de seu futuro discípulo.

Milarepa primeiro encontrou o filho de Marpa, Darma Dode, que estava


cuidando do rebanho. Continuando um pouco mais, ele viu Marpa, que
estava arando o campo. Ele não sabia que aquele homem era o mestre,
mas no momento em que o viu, Milarepa sentiu uma imensa alegria e
felicidade; por um instante, todos os seus pensamentos comuns
pararam. Milarepa esperava que Marpa fosse um grande santo e
erudito, vestido como um yogi, usando muitos rosários, recitando
mantras e meditando. Entretanto, encontrou-o trabalhando na fazendo,
dirigindo os trabalhaodores e arando sua terra.

Mais tarde, quando Darma Dode levou-o à presença de Marpa,


Milarepa se prostrou aos pés dele e implorou para que lhe ensinasse o
Dharma. Marpa respondeu que a iluminação de Milarepa dependeria
unicamente de sua própria perseverança e determinou uma série de
tarefas difíceis e desencorajadoras a seu novo discípulo, que foram
designadas para purificar o seu karma negativo.

Marpa fez Milarepa construir uma série de torres, uma após a outra, e
após a completa edificação de cada uma delas, ela ordenava a Milarepa
que a derrubasse e colocasse todas as pedras de volta no lugar onde
vieram, para não estragar a paisagem. Cada vez que Marpa mandava
Milarepa desmanchar uma torre, apresentava alguma desculpa absurda,
como alegar que estava bêbado quando ordenara a construção ou
afirmar que absolutamente nunca as encomendara. E Milarepa, cada
vez mais ansioso pelos ensinamentos, colocava a casa abaixo e
recomeçava.

Por fim, Marpa planejou uma torre de nove andares. Milarepa passou
por um tremendo sofrimento para carregar as pedras e construir a casa,
e quando terminou, dirigiu-se a Marpa, e mais uma vez rogou-lhe que o
ensinasse. Porém, Marpa respondeu-lhe, “Você quer que eu lhe ensine,
assim, sem mais nem menos, só porque construiu esta torre para mim?
Pois receio que ainda tenha que me dar um presente como taxa de
iniciação.”

A essa altura, Milarepa não possuía coisa alguma, pois gastou todo o
seu tempo e trabalho construindo torres. Mas Damema, esposa de
Marpa, teve pena dele e lhe disse: “Estas torres que você construiu são
um gesto maravilhoso de devoção e fé. Meu marido certamente não se
incomodará se eu lhe der alguns sacos de cevada e um rolo de tecido
para a sua taxa de iniciação.” Então, Milarepa levou a cevada e o tecido
para o círculo de iniciação em que Marpa estava ensinando e os
ofereceu como gratificação, junto com os presentes dos outros
estudantes. Marpa, porém, ao reconhecer o presente, enfureceu-se e
gritou para Milarepa, “Essas coisas são minhas, seu hipócrita! Você está
tentando me enganar!” E o chutou literalmente, a pontapés, do círculo de
iniciação.

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Nesse ponto, Milarepa perdeu toda e qualquer esperança de conseguir


que Marpa lhe ensinasse. Desesperado, decidiu suicidar-se e já estava
prestes a acabar com sua vida quando Marpa o procurou e declarou que
ele, finalmente, estava pronto para receber os ensinamentos e
iniciações.

Milarepa entrou em retiro, e após meditar em uma caverna por vários


anos, tornou-se iluminado e alcançou todas as realizações comuns e
sublimes do Mahamudra, o Grande Selo. Ele começou a escrever
poemas sobre o Dharma e ensinar discípulos famosos, incluindo
Rechungpa Dorje Dragpa (tib. Ras chung pa rDo rje Grags pa, 1088-
1158) e Gampopa (tib. sGam po pa, 1079-1153). Vários sinais
auspiciosos surgiram ao final de sua vida, quando Milarepa obteve a
liberação completa. Após seu corpo ser cremado, dakinis apareceram e
levaram suas relíquias para o céu.

Referências:
Adaptado de Introduction to Tibetan Buddhism,
de John Powers, Snow Lion Publications, Ithaca – New York, 1995,

de Além do Materialismo Espiritual,

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13/07/2019 A Vida de Milarepa – O Poeta do Tibet : Sobre Budismo

de Chögyam Trungpa Rinpoche, Editora Pensamento, São Paulo –


1996,

e de Words of My Perfect Teacher,


de Patrül Rinpoche, Shambhala Publications, Boston – Massachusetts,
1998

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