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A ELITE DO DINHEIRO E SEUS MOTIVOS

1. Jessé Souza inicia seu argumento para compreender como atua a elite do
dinheiro no Brasil, a partir dos interesses envolvidos no “golpimpeachment” de
2016;

2. Para isso, o autor, adentra num percurso histórico de como se construiu a nova
dominância do capital financeiro sobre as outras frações do capital;

3. O primeiro marco histórico destacado pelo sociólogo é o entre décadas de 1945


a 1975. Momento no qual vicejou no mundo desenvolvido a ideia do Estado de
Bem-Estar Social;

4. Como um pacto de reconstrução no pós-segunda guerra, o Capitalismo teve a


necessidade de assumir compromissos com a classe trabalhadora;

5. Outra característica do período acima destacado foi a crescente e real construção


de uma sociedade igualitária operada pela União Soviética. Nesse sentido, o
capital necessitou fazer frente ao ideal Comunista bancando as benesses do
Estado de Bem-Estar Social. Entenda-se: redistribuição de renda, acesso à
educação e acesso ao consumo;

6. E como é próprio do pacto social-democrata, houve uma inédita participação


política dos sindicatos e dos partidos da classe trabalhadora;

7. Ainda dentro desta perspectiva do “Capital Solidário”, assinala Jessé Souza, que
pela primeira vez na história a capacidade produtiva do Capitalismo tinha sido
posta a serviço da sociedade;

8. Jessé Souza exemplifica sua narrativa a partir do relato pessoal do período em


que passou na Alemanha, por ocasião de seu doutoramento, durante a década de
1980, quando lá existia o capital regulado;

9. O sociólogo estabelece como contrapartida desse período de relativa bonança


dos trabalhadores, as décadas subsequentes de 1980 e 1990;

10. Com a Queda do Muro de Berlim, em 1989, os capitalistas mais vorazes


começaram a estimular seus correligionários a substituir o pacto social pela
perseguição da máxima margem de lucro;

11. Iniciava-se então o jogo ideológico do chamado Neoliberalismo através das


premissas do enfraquecimento dos trabalhadores (deslegitimação dos sindicatos
e congelamento dos salários) assim como o desemprego estrutural (barateamento
da força de trabalho);

12. Jogo ideológico alavancado pelo discurso do expressivismo e da liberdade


individual: a retomada da ideia de “Self Made Man”;

13. Por outro lado, destaca Jessé Souza, houve a construção de toda uma semântica
que associava o trabalho super-explorado as ideias de empreendedorismo,
liberdade e criatividade;

14. O autor vai exemplificar essa redefinição da relação capital-trabalho, a partir da


transformação da relação de trabalho estabelecida no Fordismo (Capital
Regulado) para o Toyotismo (Capital Flexível);

15. No âmbito do Estado e da política, também vai existir um intenso processo de


colonização das ideias. E o primeiro objeto de ataque será a lógica distributiva
do Estado de Bem-Estar Social, onde quem ganha mais paga mais;

16. A partir desse momento em sua argumentação, Jessé Souza, começa a encaixar
todo esse processo de redefinição da relação capital/trabalho posto acima em tela
à realidade brasileira;

17. Com a dominância crescente do Capitalismo Financeiro, todo esquema do


Estado fiscal redistributivo cai por terra: chantagem do Estado e da política e os
mais ricos passam a pagar menos impostos ou simplesmente sonegar;

18. Com o Estado impossibilitado de forçar o pagamento dos tributos dos mais
ricos, ele passa então a “pedir emprestado” aquilo que ele não pode mais exigir;

19. Segundo, Jessé Souza, é aqui que mora a tragédia brasileira: a passagem do
Estado Fiscal para o Estado Devedor;

20. Desse momento em diante, opera-se a captura do Estado e da política pelo


Capital Financeiro;

21. A crise fiscal brasileira é, portanto, uma crise de receita e não de despesa como
nos faz acreditar a mídia venal.

A elite do dinheiro e seus motivos. In: A elite do atraso: da escravidão a Bolsonaro.


Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2019, p. 165-175.

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