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A História do Boutique Hotel Poejo****

A reutilização de espaços, de materiais e até de estruturas é um facto constatado ao longo da história das
civilizações. Independentemente da sua razão, económica ou cultural.

O edifício da unidade hoteleira é apenas um edifício comum, sem valor inestimável


reconhecido. No entanto, ele é um marco na aldeia de Santo António das Areias pois representa
um quotidiano de algumas gerações: os seus modos de vida, as suas tradições, os processos
construtivos. Faz parte da história do desenvolvimento económico do concelho de Marvão. Assim,
pode e deve ser preservada, revitalizada, reciclada.

1º momento – A História

O edifício da Albergaria O Poejo Boutique Hotel é a primeira unidade hoteleira de Marvão


e Castelo de Vide, remontando a construção do edifício ao ano 1919.

Apesar do turismo ainda ser incipiente na região, Santo António das Areias encontrava-se
em pleno desenvolvimento industrial. João Nunes Sequeira, fundador da Nunes Sequeira, S.A.,
construiu o edifício, com o propósito único de instalar uma Pensão (6 quartos, 2 pisos) doando-o
seguidamente á Junta de Freguesia – Abril, 1920 - para exploração: Pensão Ribeiro.

O edifício localiza-se na esquina da Rua da Padaria com a Avenida 25 de Abril, próximo da


sede das fábricas, centro das transacções comerciais.

No piso térreo instalou-se um Lagar, solução utilizada para o escoamento da azeitona de


segunda escolha não aproveitada na fabrica de conserva. No pátio exterior realizava-se a
recepção e pesagem das azeitonas carregadas em carroças, sendo depositadas nas tulhas -
parcialmente assinaladas no muro existente - até á sua prensagem. O edifício pertence assim a
um período histórico e arquitectónico de grande relevância: o início do desenvolvimento
económico, demográfico e social desta pequena aldeia. Santo António das Areias crescia
tornando-se urbano, com apogeu nos anos 50 e 60. Nos campos circundantes construem-se
avenidas, bairros sociais, urbanizam-se lotes para alojar a nova população que trabalhava nas
duas novas fábricas, cria-se uma comissão de moradores, inédita no tempo, que irá construir as
infra -estruturas recreativas - centro de espectáculos para teatro e cinema, bailes de temporada e
a maior discoteca do Distrito, centro desportivo, Praça de Touros.
A Pensão Ribeiro manteve as portas abertas durante décadas e, como o passar dos anos ,
sofreu o desgaste do tempo, o uso , a falta de atualização e as exigências da vida moderna. Nos
anos oitenta , fechou em avançado estado de degradação. O Lagar já não existia , sendo o espaço
utilizado em armazéns de calçado.

2º momento – A Reconstrução

Em 1990, três accionistas da Nunes Sequeira, S.A. decidem adquirir o edifício, criando a
empresa Grácio, Boto e Casa-Nova, Lda., com o objectivo de reabrir a unidade hoteleira -
programa simples, pensão residencial. Pretendia colmatar a procura turística crescente do
concelho – a vila de Marvão possuía uma pousada (16 quartos), uma pensão residencial (8
quartos ), algumas casas de turismo de habitação – e atingir o mercado corporate, através das
empresas de Santo António das Areias.

O trabalho de reconstrução / reabilitação foi entregue aos arquitectos José M.


Coelho/Ana Pestana, a engenharia a José Brazão, a arquitectura de interiores/ Lígia Casanova
Boto. Mantendo-se a traça alentejana original, conservando-se a fachada e aumentando o pé
direito ao nível do sótão ampliou-se o nº de quartos. É inaugurada em 1994 (13 quartos, 3 pisos)
com a designação Pensão Residencial O Poejo*** , nome da erva aromática tão importante na
cozinha alentejana.

O promotor rapidamente se apercebe das carências na oferta: iniciando um processo


contínuo de formação de colaboradores, desenvolvendo serviços e actividades em animação - a
única na região a oferecer pacotes culturais em permanência.

3º momento – A Revitalização

O projecto de Reclassificação e Ampliação iniciado em 1998 foi lento, as novas


intervenções cuidadosamente estudadas: projecta-se o Pólo de Artesanato do Castanheiro, com a
preocupação de preservar o artesanato da cestaria de Marvão, já em extinção, obtendo-se a
Declaração de Interesse para o Turismo.

Como alguns promotores são comuns ás fábricas de Santo António das Areias, estuda-se a
inserção parcial do Espólio Industrial da Nunes Sequeira, S.A., iniciando-se a classificação,
recuperação e restauro das peças a integrar no futuro.

As obras de Reclassificação/Remodelação iniciam-se em Dezembro 2005, sendo


concluídas em Dezembro de 2006. Em Janeiro de 2007, reabre com o nome Albergaria O Poejo
Boutique Hotel****, responsabilidade de António Realinho - projecto de arquitectura, Manuela
Murteira - paisagismo, Lígia Casanova Boto - arquitectura de interiores.

Esta nova reabertura teve como máxima a qualidade, não sofrendo ampliações em nº de
alojamentos, mas sim em aumento de serviços e a sua valorização, com um conceito invulgar em
Portugal “ Boutique Hotel”: especial, imaginativo para ser distinto, actual em tecnologias para ser
eficiente. Ser pequeno, para focalizar cada cliente de forma especial e oferecer uma
experiência única.

Tanto a Reconstrução como a Revitalização deste edifício baseia - se nos princípios de


sustentabilidade. A primeira reinseriu-o na estrutura urbana, vitalizando – a e anulando a sua
degradação, contribui para o não alargamento da área construída no Parque Natural de S.
Mamede. A segunda intervenção era inevitável, reforça-o: introduzindo factores ecológicos
interagindo com o meio natural.

O desenvolvimento do novo conceito da unidade hoteleira baseia-se nestes princípios,


aumentando a qualidade e da vontade do promotor de lhe dar continuidade: prolongando o seu
ciclo de vida e função, valorizando a sua memória , preservando através da conservação de
características originais – fachada, vãos, reintegração do pátio. A sua colaboração originou um
grupo de trabalho onde a interdisciplinaridade foi essencial para o planeamento eficiente do
edifício, considerando o seu ciclo de vida e o elevado desgaste na actividade.

O objectivo é a melhoria de qualidade da oferta e competitividade, aumentar os serviços


prestados, implantando um restaurante, factores vitais para o desenvolvimento dos produtos
estratégicos, Touring, Gastronomia e Vinhos, Turismo Natureza, tendo em conta o potencial do
Norte Alentejo: Parque Nat. de S. Mamede (valor paisagístico, faunístico, florístico, científico),
património histórico-cultural (arqueologia, arquitectura, etnografia), nível de preservação e
genuidade elevadas:

Adquirindo o edifício devoluto e implantando uma unidade hoteleira, resgatou-se a


história. O compromisso manteve-se preservando-a com a opção de reclassificação: restaurar,
recuperar e manter. Minimizou-se o impacto ambiental, reduziu-se o tempo e custos de obra,
contribuiu-se para a valorização urbana e não a sua degradação, preservando os valores
arquitectónicos e paisagísticos, melhorando a qualidade devida da comunidade. Ampliou-se a sua
vida útil, contribuindo no meio ecológico: reduzindo recursos naturais (energia e matéria), área
urbana construída, de aterros sanitários devido ás demolições e respectivas contaminações,
produção de novas matérias de construção civil, reutilização e reciclagem de elementos de
construção do projecto. Tendo em conta que esta aldeia tem a maior densidade populacional
jovem, invulgar no Alentejo, o maior leque de serviços disponíveis (CTT, supermercados, farmácia,
banco, lojas varias, posto de combustíveis, escolas, bares cafés, mercado, etc.), também contribui
para o desenvolvimento local, para a articulação de oferta e complementaridade de serviços,
fixando pessoas. A inserção de Sto. António das Areias/ Beirã no roteiro turístico Marvão / Castelo
de Vide, que de outro modo não visitava o lado Norte do concelho, potenciando tradições: alguns
dos nossos hóspedes visitam o mercado da aldeia, o único do concelho que se realiza aos
Sábados/ manhã, comprando produtos das hortas em redor.

Lígia Lima Casa-Nova Boto, 2008

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