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CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

PROF. HEGILDO HOLANDA GONÇALVES

JOSÉ AIRTON FERNANDES DE FARIAS

RESUMO: O QUE É CIÊNCIA AFINAL?

CAJAZEIRAS – PB
JANEIRO – 2014
RESUMO: O QUE É CIÊNCIA AFINAL?
CHALMERS, Alan F. O que é Ciência Afinal?. Tradução: Raul Filker. Editora Brasiliense. 1993.

Cap. I – Indutivismo: Cie ncia como conhecimento derivado dos dados da


experie ncia

Para dar vida à ideia de Indutivismo como uma ciência, o Autor subdivide esse primeiro
capítulo de sua aclamada obra em cinco partes. A primeira enuncia uma concepção de senso comum
da ciência plausivelmente aceita. Plausivelmente porque a ciência em si é citada como não-
especulativa e não-subjetiva. Se tomarmos o conhecimento científico como um conhecimento
provado objetivamente, encontraremos neste certeza e consistência.

O raciocínio indutivo se caracteriza como principal tema desse capítulo, e sendo esse o
principal, seu antagonista seria o indutivismo ingênuo, a segunda subdivisão do capítulo. Em termos
gerais, a definição de indutivista ingênuo criada pelo autor remete ao raciocínio indutivo, que o
mesmo cita ser em sua maioria, enquanto ciência, “completamente equivocada e mesmo
perigosamente enganadora” (CHALMERS, 1993, p. 25). Para ele, o indutivista ingênuo tende a iniciar
sua prática científica pela observação, sendo os dados a fonte essencial para constituir-se uma teoria.

Ao coletarmos certas proposições como afirmações para levantarmos algum dado,


podemos nos deparar com dois tipos de Afirmações, as singulares e as universais. As afirmações
singulares reportam-se a uma ocorrência, estado ou lugar específico de alguma coisa num tempo
específico, o que o estudioso não crê ser interessante em citar. As afirmações universais declaram
atestações de um ou alguns comportamento(s) de eventos de um tipo específico a todos os lugares e
tempos, sem distinção e que devam respeitar a generalidade, a variedade de condições e não devam
conflitar com a lei universal da qual derivam, nos levando do particular para o todo. Todo esse
aparato para justificar uma afirmação universal é que o estudioso denomina de raciocínio indutivo, e
o processo, a indução.

Para contrapor a indução, Chalmers apoia-se no raciocínio dedutivo para delinear


explicações advindas da disciplina da lógica, firmando a terceira parte desse capítulo. Certificando-se
desse fato ao exemplificar certas premissas que, se apoiadas na verdade, então a conclusão deve ser
verdadeira, porém a obtenção da verdade dar-se-á por um recurso investigativo, que demarca a 4ª
parte, onde a previsão e a explicação dos relatos indutivistas, que bem como a pesquisa dedutiva,
são derivadas através de, primeiramente, leis e teorias, associadas às condições iniciais, culminando
nessas previsões e explicações científicas.

A última parte deste capítulo trata da objetividade da ciência indutivista, que é advinda
principalmente das observações e do raciocínio indutivo. O reforço dos ideais indutivistas parte da
afirmação dos defensores dessa modalidade no que concerne as suas teorias, que afirmam sempre
“estarem apoiadas indutivamente em alguma base mais ou menos segura fornecida pela
experiência.” (CHALMERS, 1993, p. 36).

Cap. II – O problema da Induça o

O criador da obra começa, neste capítulo, a ilustrar uma justificativa para porque
proceder com a indução e até onde ela leva o indutivista ingênuo. Como já foi mencionado
anteriormente, o apelo à lógica é o principal fator, mas se você se questionar como a dedução lógica
pode justificar a indução, podemos ainda recorremos a outro recurso que é a base das abordagens
científicas, a experiência.

Ministrando alguns exemplos de uso da lógica atentando para o fato de que não seria
esse recurso suficiente para se colocar em prática, por não se poder “usar a indução para justificar a
indução” (CHALMERS, 1993, p. 40), o autor se depara mais uma vez com o mesmo problema.

Já percebendo que as generalizações não são a base para uma afirmação segura, o
mesmo ressalva a opção da probabilidade: o conhecimento científico representa o conhecimento
provavelmente verdadeiro. Apesar desse recuo à provável resposta ao problema da indução, pode-se
enxergar de longe que a probabilidade não se transfigura em conhecimento sólido. O fato de haver
várias possíveis respostas para a justificativa da indução poderia prolongar o estudo para outras
ramificações. Por exemplo, há a explicação cética – onde se assume que a ciência se baseia na
indução e ponto final – ou o enfraquecimento da exigência indutivista de que todo conhecimento
não lógico derive da experiência, ou até mesmo a negação de que a ciência se baseie em indução.
Cap. III – A depende ncia que a Observaça o tem da Teoria

O que é a observação? Conforme o escritor do livro, para o indutivista o sentido da visão


é o principal instrumento de acesso à observação. Ressaltando esse fato, vale salientar dois recursos
essenciais adquiridos através do sentido da visão: o primeiro é a existência de fatores e propriedades
do mundo externo que serão registrados pelo cérebro, o segundo é que dois observadores normais
também registrarão a mesma visão e também registrarão em seus cérebros essas informações.

Para refutar tal premissa, Chalmers (1993, p. 49) cita “N. R. Hanson, ‘Há mais coisas no
ato de enxergar que o que chega aos olhos’”, e anda utiliza uma figura de caráter geométrico, dentre
outros exemplos, para demonstrar ao leitor que mais de um observador normal não tem
necessariamente a mesma experiência visual.

As proposições de observação pressupõem a formação de teorias. Afirmações e


experiências perceptivas vão moldando o raciocínio tanto indutivo como dedutivo. Uma vez que o
indutivista desenvolve teorias de vários graus de generalidade e sofisticação, sua atenção é voltada
para as proposições observadas, que por sua vez, são feitas a partir de uma linguagem simples e de
alguma forma teórica. Porém, Chalmers avalia as proposições de observação como tão sujeitas à
falha quanto as teorias que elas pressupões, tornando-as assim uma base não segura para
construção de leis e teorias científicas. Para defender esse ponto de vista, ele se alicerça de
numerosos exemplos, a saber. Todavia, ele afirma que essas proposições ainda têm importância para
a ciência, o que está incorreto é o papel que o indutivista assume para elas.

Segue-se que experimentos e observações servem para lançar luz sobre alguma teoria e
apenas as consideradas de caráter relevante devem ser registradas, contanto que à medida que estas
teorias sejam falíveis e/ou incompletas, devemos nos resguardar com a relevância destas, para nossa
investigação não se inferida como enganosa.

Essa dependência que possuem observação e teoria chega a derrubar a afirmação


indutivista de que a ciência começa por observações. Pode-se até, de forma alternativa, reescrever
essa máxima, de acordo com o que foi estudado até então, para “a ciência pode começar a partir de
observações livres de preconceito e ilegitimidades”. Como a teoria está intimamente ligada às
circunstancias as quais surge, o autor chega a se adiantar e sugerir o abandono do indutivismo,
inclusive citando Lakatos para afirmar que tal indutivismo é degenerativo.
Cap. IV – Apresentando o Falsificacionismo

A doutrina da falsificabilidade1 afirma que a observação pressupõe a teoria e que, como


a ciência é concebida por tentativa e erro, apenas teorias legitimamente adaptadas, ou até mesmo as
menos errôneas, é que sobrevivem. Sendo assim, o falsificacionismo apoia-se em considerar
métodos dedutivos lógicos para checar a falsidade de leis e teorias universais. A partir do momento
que uma premissa é afirmada e a conclusão negada, encontramos uma contradição.

Trabalhar em cima de contradições, como esboça o estudioso, pode chegar a facilitar o


direcionamento da teoria, ou até mesmo sua aplicabilidade, pois é nesse momento que o
falsificacionista pode explorar essa vertente peculiar da lógica. Se tomarmos esse critério como
condição fundamental, economizamos até mesmo certo tempo, em caso da teoria não ser
legitimada.

Como podemos observar na obra, “Uma hipótese é falsificável se existe uma proposição
de observação ou um conjunto delas logicamente possíveis que são inconsistentes com ela, isto é,
que, se estabelecidas como verdadeiras, falsificariam a hipótese.” (CHALMERS, 1993, p. 67). De um
modo geral ele explica a necessidade da hipótese ser falsificável para que seja sólida e aceita.

O mesmo ainda afirma que para o falsificacionista, o grau de falsificabilidade infere


numa teoria melhorada, pois ele afirma ser uma teoria muito boa aquela que faz afirmações
bastante amplas, é falsificável e ainda resista à falsificação toda vez que for testada. Através de
exemplos, ele explana que teorias menos falsificáveis podem ser preteridas às altamente falsificáveis,
por essas últimas se mostrarem com potencial mais amplo a serem desmentidas.

A compensação da falsificabilidade é, em resumo, o que deixa a teoria mais atrativa e


mais claramente afirmativa. Analogamente, Chalmers nos convence de que, quanto mais
precisamente uma teoria for articulada, mais falsificável ela será. O que torna essa afirmação infalível
são os exemplos citados em seu trabalho - a saber, e ainda mais quando menciona que “As
exigências intimamente associadas de precisão e clareza de expressão seguem-se, naturalmente, da
explicação falsificacionista da ciência” (CHALMERS, 1993, p. 73).

1
Falsificabilidade, falseabilidade ou refutabilidade é um conceito importante na filosofia da ciência (epistemologia),
proposto por Karl Popper nos anos 1930, como solução para o chamado problema da indução. Para uma asserção ser
refutável ou falseável, em princípio será possível fazer uma observação ou fazer uma experiência física que tente mostrar
que essa asserção é falsa. (Fonte: Cyclopaedia.net. Disponível em: <http://pt.cyclopaedia.net/wiki/Falsificabilidade>).
O falsificacionismo segue uma progressão hierárquica e que pode ser bastante
demorada: como a ciência começa com problemas, depois temos as hipóteses e conjecturas, logo
após essas hipóteses são testadas, sendo que algumas podem ser eliminadas imediatamente, outras
perduram, e devem ser submetidas a críticas e testes ainda mais rigorosos. Depois da hipótese ter
sido altamente falsificada, surge então como resultado, um novo problema. Este será tratado com
críticas e testes de novo aspecto, e assim o processo continua. Só abrindo o parêntese que nenhuma
teoria pode-se afirmar como absolutamente verdadeira, mesmo ela tendo passado por esse processo
incontáveis vezes.

Cap. V – Falsificacionismo Sofisticado, novas previso es e o crescimento


da Cie ncia

A explicação falsificacionista sofisticada da ciência, se focarmos no crescimento desta,


ficamos sujeitos a desviar a atenção dos méritos de uma teoria isolada para teorias concorrentes. Em
termos gerais, o que o autor aponta é que se uma teoria nova for mais falsificável que sua rival e for
digna de consideração dos cientistas, ela será aceita, inclusive se prever fenômenos nunca dantes
tocado pela teoria rival.

Conforme a ciência progride, as teorias vão ficando cada vez mais falsificáveis e mais
informativas. Uma modificação em uma teoria qualquer, como o acréscimo de um postulado ou
modificação de um que já é utilizado, e que não traga consequências é chamada de modificação ad
hoc2. Após testes, se a hipótese modificada resistir à falsificação, então se conclui que algo novo foi
aprendido e que haverá progresso nesta teoria. Para dar credibilidade:

Se um desses tipos de conjectura não consegue passar por um teste de observação ou


experimento ele será falsificado, enquanto se ele passar por tal teste diremos que está
confirmado. Serão assinalados avanços significativos pela confirmação de conjecturas
audaciosas ou pela falsificação de conjecturas cautelosas. Casos do primeiro tipo serão
informativos, e constituirão uma importante contribuição ao conhecimento científico,

2
Expressão latina que significa “para esta finalidade” ou “com este objetivo”. Porém, nesse caso assume o sentido que uma
modificação do tipo ad hoc não valida uma teoria falsificada.
simplesmente porque assinalam a descoberta de algo que era previamente
desconhecido ou considerado improvável. (3)

O que podemos extrair no que tange a essas conjecturas audaciosas, se suas afirmações
forem improváveis à luz dos conhecimentos prévios da época em que se pesquisa esse conhecimento
prévio é relevante, quando admitimos suas referências e previsões de algum fenômeno a serem
julgadas na forma de considerar as novas proposições audaciosas ou não, e o conhecimento
científico, juntamente com a falsificação das conjecturas cautelosas, se torna crescente.

Uma vez dado toda essa ênfase ao falsificacionista, o estudioso tende a comparar as
visões deste com o indutivista, pois para o falsificacionista, o crescimento da ciência se dá de forma
mais significativa, o que tende a dar uma melhor explicação ao processo de confirmação de teorias.
Essa significância é avaliada de acordo com a confirmação de improbabilidade à luz do conhecimento
prévio da época.

Cap. VI – As limitaço es do Falsificacionismo

Teorias podem ser falsificadas com provas disponíveis, enquanto não podem ser ditas
como verdade, a aceitação da teoria sempre é uma tentativa e sua rejeição, decisiva. Porém,
segundo Chalmers (1993, p. 91) “Se são dadas proposições de observação verdadeiras, então é
possível deduzir logicamente a falsidade de certas proposições de observação, enquanto não é
possível deduzir a verdade de qualquer proposição de observação”. O que o estudioso tenta nos
transmitir é essa questão falível do falsificacionismo, essa limitação, herdada da lógica, onde o
mesmo apoia-se no colega Karl Popper para realçar a elucidação desse problema.

Se o próprio Popper afirma que a aceitabilidade das proposições de observação é


avaliada pela sua sobrevivência a testes, então podemos apontar que aquelas que falham, logo serão
descartadas, enquanto as que sobrevivem a todos os testes são mantidas.

O que pode resumir bem essa etapa da obra é o aparato histórico levantado pelo autor.
Teorias citadas como a de Newton e a lei da gravidade quase refutada pelo mau comportamento da
órbita do planeta Urano, de Maxwell e a teoria cinética dos gazes, de Nicolau Copérnico (e em

3
CHALMERS, 1993, p. 84. Citação e grifos de K. M. Popper, “The Aim of Science”, In Objective Knowledge (Oxford: Oxford
University Press, 1972) p. 70.
seguida Galileu) e sua conjectura sobre a órbita do Sol, tudo serve para esboçar que nem os
falsificacionista nem os indutivistas dão um relato compatível com o que a ciência realmente é. Essas
teorias, principalmente a de Copérnico, foram mantidas, perseveradas e desenvolvidas apesar de
aparentes falsificações, só com os séculos e o trabalho intelectual de muitos cientistas, para obter
resultados satisfatórios de observação e experimentos. Nenhuma explicação da ciência pode ser
admitida como satisfatória.

Cap. VII – Teorias como estruturas: Programas de Pesquisa

Após a apresentação e assimilação de todos esses termos, é chegada a hora em que o


criador da obra adequa seus ideais voltados ao ponto de vista em que a geração de teorias científicas
se dá de forma complexa, apresentando-as como espécies de estruturas. Ele se resguarda no estudo
histórico da ciência para corroborar sua teoria, pois o mesmo afirma que “O estudo histórico revela
que a evolução e o progresso das principais ciências mostram uma estrutura que não é captada pelos
relatos indutivista ou falsificacionista.” (CHALMERS, 1993, p. 110). Todavia ele ressalta o fato de
haver ainda outra base, menos histórica e mais filosófica, que está fortemente ligada ao atrelamento
que a observação tem da teoria.

Para ver as teorias como estruturas organizadas, além do fator histórico que demonstra
isso e o fato que, apenas com uma teoria relativamente estruturada, é que os conceitos assumem
um sentido conciso, há ainda um terceiro fator, que tem origem na necessidade do crescimento da
ciência, é que essas estruturas devem ser constituídas abertamente a oferecer programas de
pesquisa.

Nosso autor se embasa em Imre Lakatos4 para exibir que a estrutura organizada na
ciência é uma tentativa de superar o falsificacionismo popperiano. A ideia de Lakatos é fornecer
orientação para a pesquisa em duas vertentes, que ele chama de heurística5 negativa: o núcleo
primário (ou suposições primarias), não deve ser rejeitado ou modificado, tendo que estar protegido
da falsificação por um cinturão de hipóteses auxiliares, condições e pré-requisitos, etc. E a heurística
positiva: que é uma visão geral de como o programa de pesquisa deve ser desenvolvido,

4
Artigo de I. Lakatos, “Falsificação e a Metodologia dos Programas de Pesquisa Científica”. In A Crítica e o Crescimento do
Conhecimento (nossa tradução) de Lakatos e Musgrave (Cambridge: Cambridge University Press, 1974).
5
Adj. Conjunto de regras e métodos que visam à descoberta, à invenção ou à resolução de problemas. (Dicionário Mini
Aurélio - Versão eletrônica).
suplementando o núcleo irredutível (a característica teórica que define o programa) com conjecturas
adicionais para explicar fatos com antecipação ou prever novos acontecimentos.

Ainda nessa linha de pensamento, podemos dividir os programas de pesquisa em dois


tipos de méritos: progressivo ou degenerescente, essa definição depende do sucesso ou fracasso do
programa, no que concerne a novos fenômenos. Além disso, ele afirma que o programa de pesquisa
deve obter mérito, não apenas em descobrir novos fatos, mas também deve possuir um estado de
coerência que envolva uma definição aceitável para a pesquisa posterior.

Atentando ao fato da metodologia em um programa de pesquisa poder ter dois pontos


de vista, nosso autor ainda se apoia na visão de Lakatos: o primeiro é relativo ao trabalho a ser
realizado dentro de um único programa de pesquisa, que envolve expansão e/ou adição de várias
hipóteses no seu cinturão protetor, contanto que não seja ad hoc, além de articulação e testes
independentes dessas hipóteses.

O segundo ponto é relativo à comparação dos métodos de programas de pesquisa


competitivos, onde serão julgados os méritos ligados aos programas à medida que eles estejam
progredindo ou degenerando, no caso do último acontecer, esse programa dará espaço para o
competidor mais progressista. Com uma ressalva, ainda podem ser analisados as contribuições do
programa degenerescente, rever seus critérios de coerência ou até mesmo redefini-los.

Cap. VIII – Teorias como estruturas: Os paradigmas de Kuhn

Para angariar um novo ideal Chalmers envereda pela teoria da ciência de Thomas Kuhn
para dar suporte ao entendimento das teorias científicas como estruturas complexas. Apesar de
Kuhn preceder a Lakatos, nosso autor escolhe essa cronologia para o melhor entendimento do leitor.
O modo que Kuhn vê a progressão da ciência se dá essencialmente através de fatores sociológicos.

Ele propõe um esquema substancial de como a ciência progride:

 Pré-ciência: atividade diversificada e até mesmo desorganizada que precede a formação da


ciência, tornando-se ocasionalmente estruturada e guiada pela comunidade científica para a
proposição de um único paradigma;
 Ciência normal: são os trabalhos dirigidos por tal paradigma - com suas próprias suposições
teóricas, padrões, leis e técnicas de aplicação - onde os cientistas normais desenvolverão o
paradigma na tentativa de explicar aspectos proeminentes através de resultados de
experiências;
 Crise-revolução: ao passarem pelas citadas experiências, obterão dificuldades e toparão com
falsificações, se esses tipos de dificuldades se mostrarem aparentemente insuperáveis e
saírem do controle, os cientistas experimentarão um estado de crise, que só será
solucionado quando um novo paradigma emergir para refutar seu antecessor, atraindo um
número crescente de cientistas, por uma série de motivos, até que o paradigma
problemático seja abandonado pela comunidade científica, culminando na aceitação do
novo, constituindo uma revolução científica;
 Nova ciência normal: esta é orientada pelo paradigma rival, visivelmente promissor, que
demonstre superioridade segundo os méritos científicos, com novas maneiras-padrão de
aplicação de leis fundamentais em uma nova variedade de tipos de situação;
 Nova crise: a nova ciência normal perdurará, até que também sejam encontrados problemas
sérios e que tenham como resultado outra revolução científica.

Para uma melhor explanação, tomei a liberdade de esboçar um organograma funcional


da teoria de Kuhn, não por ela ser simplista, mas para nível de entendimento:

Figura 1: Organograma da teoria de progressão da ciência de Kuhn.


Nosso autor, ainda envergado na teoria de Kuhn, nos oferece uma explanação sobre
esse modo de “fazer” ciência e como esta conflita com o que ele chama de não-ciência (ou
pseudociência6), passando por Lakatos e Popper, que também construíram análises à esse respeito.
Nos mostra ainda como Kuhn define seu relato, não como meramente uma descrição do trabalho do
cientista, mas como uma teoria da ciência, pois inclui a explicação da função de seus vários
elementos. A definição de cada funcionalidade - como paradigma, ciência normal, revolução, etc. -
descritas acima, nos encaminhará ao melhor compreensão quando forem confrontados esses ideais
posteriormente.

Cap. IX – Racionalismo versus Relativismo

Para poder conflitar os pontos de vista em relação às questões de avaliação dos méritos
de teorias rivais e diferenciar as ciências das não-ciências, comecemos com o esboço do que são
racionalismo e relativismo. Como um indutivista tem o critério de avaliação baseado no grau de
indução que sua teoria recebe dos fatos e o falsificacionista se baseia no grau de falsificabilidade de
teorias não falsificadas, o racionalista afirma que o critério que se deve seguir é a universalidade e o
caráter não-histórico da teoria.

Os que seguem a corrente racionalista dizem ser fácil distinguir a ciência da não-ciência,
para estes, as teorias científicas devem ser capazes de ser avaliadas em termos do critério universal e
no caso de escolher entre duas teorias rivais, ele escolherá a que melhor corresponder a esse
critério, sendo exaltadas aquelas relacionadas com a verdade e a racionalidade.

Já o relativista nega a existência de um modelo de racionalidade universal não-histórico,


para estes, o status da teoria será guiada dependendo do valor atribuído pelo indivíduo ou pela
comunidade, ou seja, “O objetivo da busca do conhecimento dependerá do que é importante ou
daquilo que é valorizado pelo indivíduo ou comunidade em questão.” (CHALMERS, 1993, p. 140).
Neste caso, a relação de ciência e não-ciência para o relativista torna-se menos considerável do que
para o racionalista.

6
“a pseudociência é algo que pretende ser ciência, mas que a comunidade científica estabelecida não aceita como tal.”
(definição de T. Kuhn, retirado do artigo de Rigler, F.H & R.H. Peters. 1995. Science and Limnology. Ecology Institute,
Alemanha) Tradução por Adriano S. Melo (Ecologia UFG, abril 2010).
Chalmers aponta Lakatos como possível racionalista, ao fundamentar-se em seus
escritos, apontando que o mesmo tome uma posição adversa ao que ele chamou de relativismo
(versão qual atribuída a Kuhn) e defende posições semelhantes ao que ele chamou de racionalismo,
onde o próprio Lakatos (1974, p. 93)7 afirma que o importante são “os valores intelectuais centrais”.
Para Lakatos, o critério universal para avaliação de teorias científicas parte do preceito que "a
metodologia dos programas de pesquisa científica é mais adequada para a aproximação da verdade
em nosso universo real que qualquer outra metodologia" (8).

Alguns dos comentários de Lakatos citados no texto sugerem orientação na escolha de


teorias através da eliminação de programas de pesquisa e opondo-se à poluição intelectual. Porém,
ele não fornece conselhos aos cientistas de como devam proceder, apesar de usarem uma
metodologia onde se adotam programas progressivos e abandonam os degenerescentes, mas sugere
que procurem, sempre que possível, reabilitar um programa desses.

No caso de Thomas Kuhn, mesmo ele negando ser um relativista, mensura em sua obra
critérios que podem ser usados para avaliar se uma teoria é melhor que a sua concorrente. São esses
critérios: previsão de ocorrências (principalmente as quantitativas), equilíbrio entre assuntos,
número de problemas solucionados, simplicidade, escopo e compatibilidade com outras
especialidades. Esses critérios, além de agregar valor junto a comunidade científica, ajudam a
especificar se os meios empregados nesses méritos são de caráter psicológico ou sociológico.

Segundo alguns comentários de Kuhn, assegurando que a ciência progride em algum


sentido, ele nega que ela possa progredir em direção a uma verdade bem definida. Para ele, um
campo de estudo para ser considerado ou não uma ciência, depende da concordância ou não com
seu relato oferecido na Estrutura das Revoluções Científicas9. Mas ele chega a adiantar o principal
ideal da diferenciação ser a extensão de sustentabilidade da tradição científica normal. E mesmo
sendo criticado por Popper (por causa da evidência excessiva ao papel da crítica na ciência), por
Lakatos, Feyerabend, entre outros, Kuhn não argumenta que a ciência é superior a outros campos de
indagação, mas supõe que o seja.

7
Citação encontrada em: I. Lakatos e A. Musgrave, eds., Criticism and the Growth of Knowledge (Cambridge: Cambridge
University Press, 1974), In CHALMERS, 1993, p. 141.
8
Idem, ibidem, p. 142.
9
Relato esse, a saber, encontrado no livro de T. S. Kuhn (The Sttructure of Scientific Revolutions. Chicago: University of
Chicago Press, 1970).
Cap. X – Objetivismo

Para apresentar uma noção de objetivismo, o literato primeiramente ressalta o que ele
considera seu oposto, o individualismo. O ponto de vista individualista destacado por ele revela que
o conhecimento deve ser entendido como um conjunto de crenças especiais residentes na mente do
indivíduo, algo que ele possa propor baseado no que guarda em seu cérebro, onde alguma
informação que deva ser validada deva recorrer então a outras justificativas anteriores para dar base
à justificativa seguinte, entrando assim no que o autor chamou de “regresso infinito”.

Diferentemente, o ponto de vista objetivista dá preferência ao confronto do


conhecimento entre o indivíduo e o corpo de conhecimento do objeto de estudo, independente da
crença do indivíduo, no que tange ao status de alguma teoria ou programa de pesquisa. Ele enfatiza
que “o conhecimento é tratado como algo exterior, antes que interior, às mentes ou cérebros dos
indivíduos” (CHALMERS, 1993, p. 155) e que as proposições devam possuir propriedades objetivas.

Um ponto forte do trato objetivista são as consequências que podem ter ao se conflitar
os proponentes originais, como a previsão de algum novo tipo de fenômeno ou alguma discordância
de ideias inesperada com outras áreas. Esses acontecimentos todos podem ocorrer como um leque
de propriedades a serem investigadas como forma de ciência adicional, o que nos leva a uma singela
conclusão de que a posição objetivista defende que as teorias devem ser expressas claramente em
conjecturas verbais ou lógicas.

Se tomarmos esses pressupostos objetivistas para tentarmos articular a ciência como


uma prática social, veremos como Chalmers cita, que:

Uma ciência, em algum estágio de seu desenvolvimento, envolverá um conjunto de


técnicas para articular, aplicar e testar as teorias das quais é formada. [...] Como disse J.
R. Ravetz, “o conhecimento científico é realizado por um esforço social complexo, e é
obtido do trabalho de muitos artífices em sua interação muito especial com o mundo da
natureza”. (RAVETZ, 1971, p.81) Uma caracterização completa da ciência incluiria a
caracterização das habilidades e técnicas que ela implica. (10)

A ciência, por si só, implica em experiências, e essa experiência envolve uma influência
planejada na natureza, orientada pelas teorias. Algum experimentador, individualmente de início,

10
CHALMERS, 1993, p. 159. Citação de J. R. Ravetz, Scientific Knowledge and its Social Problems (Oxford: Oxford University
Press, 1971).
utilizará do aparato profissional para realizar experiências. Os resultados devem ser capazes de
resistir a outros procedimentos e testes adicionais administrados por colegas de trabalho, por
exemplo. Se a estrutura social da ciência for aceita pelos periódicos e seus resultados ainda
resistirem e forem publicados, enfim estará aberto à adequação num domínio mais vasto.

Após se embasar em citações de autores para reafirma o entendimento do autor da


obra sobre objetivismo, ele menciona Popper (que aponta ser o propagador principal), Lakatos (que
apoiara e tentara aprimorar os ideais objetivistas de Popper) e Marx (que já assinalara características
objetivistas em suas obras).

Cap. XI – Um relato objetivista das mudanças teo ricas na Física

Depois de se fundamentar inúmeras vezes com exemplos da física (principalmente


newtoniana, dentre outras), é chegada a hora em que o escritor confrontará algumas de suas ideias
com a de outros estudiosos e cientistas. A começar por Lakatos e sua metodologia dos programas de
pesquisas científica, a qual o autor cita ter limitações e sugere mesmo uma fraqueza nessa teoria.

Ao tempo que Lakatos prega a metodologia de concepção de um núcleo irredutível para


uma teoria e usar da heurística positiva (aquela que oferece uma visão geral do programa de
pesquisa e como suplementá-lo), o mesmo admite o abismo temporal que separa sua metodologia
da dos pais da física. Também não era seu objetivo dar conselhos aos cientistas, além de ainda
defender o relato de qualquer mudança na teoria depender da comunidade científica.

Chalmers então começa a supor, em generalização, como um cientista deve se


comportar na sociedade em que se pratica a física. Ele supõe que haja situações de análise objetivista
para criação de técnicas teóricas ou experimentos; que haja o desenvolvimento de um programa de
pesquisa e que haja aproveitamento por um grupo de cientistas; que esse hipotético programa
obtenha um alto gral de fertilidade para sobrepujar algum eventual concorrente com grau de
fertilidade menor; esse programa ainda deverá ter sucesso em previsões e possuir um núcleo
irredutível coerente, para que sua fertilidade possa aumentar, procurando aproveitar todas as
oportunidades para não fracassar por algum motivo.

O estudioso, na sua tentativa de proteger seu relato objetivista da mudança de teoria na


física para a progressão da teoria, interpreta que esse “relato de mudança de teoria não dependa das
decisões metodológicas dos cientistas.” (CHALMERS, 1993, p. 173) e sugere que, reconhecendo que a
ciência progride por si só, as oportunidades objetivas de um programa da física devem ser
aproveitadas.

Ele ainda procura diferenciar esse relato de mudança de teoria do problema da escolha
da teoria, que acontece de forma primal, mas que pode brotar como uma possível forma de
mudança. Para ele, o caso da suposição sociológica nunca será preenchido de modo completo, por
haver a distinção ao encarar o progresso da física a curto ou a longo prazo. Todavia, o mesmo ainda
afirma a possibilidade de adaptar a escala temporal de acordo com seu relato objetivista para
distinguir o prazo curto do longo.

Cap. XII – A teoria anarquista do conhecimento de Feyerabend

Para este capítulo, Alan Chalmers separa as características-chave da posição de Paul


Feyerabend a respeito da avaliação do status e da natureza da ciência. Este defende que a maioria
das metodologias aplicadas na ciência fracassou em fornecer regras apropriadas na orientação das
atividades dos cientistas, essa incompatibilidade ele deve, não tão somente, aos exemplos
encontrados na história da física, e argumenta, principalmente, contra o indutivismo e o
falsificacionismo.

Feyerabend considera inadmissível esperar que a ciência seja explicada com base em
algumas simples regras metodológicas. Não somente ele, mas diversos estudiosos se opõem a
validação de uma regra universal, apoiando que todas as metodologias possuem limitações e que o
único princípio a ser seguido é o “vale-tudo”11. E Chalmers ressalta esse ideal quando explica que:

Se as metodologias da ciência forem compreendidas em termos de regras para a


orientação das escolhas e das decisões dos cientistas, então me parece que a posição
de Feyerabend é correta. Dada a complexidade de qualquer situação realista dentro da
ciência e a impossibilidade de previsão do futuro naquilo que se refere ao
desenvolvimento da ciência, não é razoável esperar unia metodologia que dita que,
dada uma situação, um cientista deve adotar a teoria A, rejeitar a teoria B ou preferira
teoria A à teoria B. (CHALMERS, 1993, p. 176)

11
Expressão utilizada por Paul Feyerabend em seu artigo “Outtine of na Anarchistic Theory of Knowledge” In Against
Method (Londres: New Left Books, 1975)
É essa anarquia contra os métodos que aproxima Feyerabend de Lakatos, pois a
metodologia desse último não fornece padrões para a teoria ou escolha de programas. E como
Feyerabend argumenta contra o método notoriamente, ainda é válido ressalvar que o vale-tudo na
ciência exige conhecimento aprofundado da teoria que se estuda, apenas aceita o valer tudo no que
diz respeito aos métodos para se chegar aos resultados esperados.

Já ao se aproximar dos ideais de Kuhn, Feyerabend conceitua a incomensurabilidade


como componente importante na análise da ciência. Isso acontece quando duas teorias rivais não
compartilham interpretações de conceitos, ou mesmo proposições, tornando impossível comparar
logicamente tais teorias e suas possíveis deduções, chegando às vezes a serem radicalmente
contrárias em questões de princípios fundamentais. Contudo, isso não quer dizer que elas não
possam ser categoricamente comparadas, já que se pode comparar situações em que cada teoria é
compatível em seus próprios termos ou considerando-as como lineares ou não-lineares, coerentes
ou incoerentes, se suas aproximações são ousadas ou sólidas, etc.

Outra perspectiva que podemos realçar sobre Feyerabend tem a ver com seu ponto de
vista de que a ciência (inclusive a física) não é superior a outras áreas de conhecimento, pois este não
aceita que haja predomínio da ciência, partindo da sua tese de incomensurabilidade, sendo que não
há argumento decisivo da ciência sobre outras formas de conhecimento não comensuráveis a ela.

Mesmo assim, Feyerabend é a favor do que ele mesmo chama de “atitude humanitária”,
onde cada indivíduo é livre e possui liberdade de decisão. Essa atitude fortalece ainda mais a posição
deste estudioso como anarquista da ciência, pois ele aumenta a liberdade do pesquisador,
encorajando-o a se sobrepor frente às restrições dos métodos, ao passo que ele encoraja os
indivíduos a terem a liberdade de escolherem entre a ciência e outras formas de conhecimento.

Cap. XIII – Realismo, Instrumentalismo e Verdade

Nesse penúltimo capítulo, nosso autor tenta enxugar suas ideias e levantar premissas
conclusivas a respeito de como as teorias científicas se comportam e como aplica-las em um mundo
inflexível. Para descrever e corroborar uma resposta, ele se firma num termo que chamará de
realismo, para caracterizar posições que adotam a noção de verdade, por exemplo, se alguma “teoria
que descreve corretamente algum aspecto do mundo e seu modo de comportamento é verdadeira,
ao passo que uma teoria que descreve algum aspecto do mundo e seu modo de comportamento de
forma incorreta é falsa.” (CHALMERS, 1993, p. 190).

Já o instrumentalismo é um ponto de vista alternativo para descrever teorias como


instrumentos projetados para relacionar um conjunto de elementos observáveis com outros. O
instrumentalismo também se apoia na noção de verdade, porém de forma mais restrita, oferecendo
uma distinção clara entre conceitos teóricos e situações aplicáveis. O instrumento é o aparato que
possivelmente seja verdade, pois o instrumentalista deve admitir que existam coisas no mundo além
das observáveis.

A noção de verdade que o autor quer transmitir, para corresponder inclusive com as
exigências realistas, depende da correspondência. Em termos gerais, podemos afirmar que uma
sentença é verdadeira se corresponder aos fatos, ou seja, se as coisas forem como a sentença diz.

Parece logicamente fácil aclamar a verdade. Entretanto, o escritor salienta que há


dificuldades em trabalhar com a verdade, pois a facilidade do seu uso pode levar a paradoxos12 e até
mesmo a contradições, dependendo do tipo de linguagem que for utilizada. Ele sugere, mencionando
Alfred Tarski, que a linguagem ideal para se referir à verdade em relação às sentenças, é a
metalinguagem, “em que possamos nos referir tanto às sentenças da linguagem objeto e aos fatos
com que se tenciona que aquelas sentenças da linguagem objeto correspondam.” (CHALMERS, 1993,
p. 196).

Ao encabeçarmos na teoria de correspondência da verdade, temos que prestar atenção


nas referências das sentenças aos fatos, para que não haja tendência ao erro. É essa descrição que
nos faz perceber cada vez mais a aproximação da descrição de um fato com o que realmente ele é no
mundo. Chalmers apresenta mais uma vez a física como instrumento nítido de exemplificação para
este fato específico, dado a existência de formulações alternativas que implicam na diferenciação da
teoria original.

É nessa aproximação que Popper teve sucesso, segundo Chalmers, ao interpretar a


ciência como uma busca da verdade, o que ele chamava de verossimilhança. No caso de estarmos
analisando duas teorias concorrentes, para Popper: a que se alavancar mais próxima da verdade é a
que deve ser aclamada.

12
Conceito que é ou parece contrário ao senso comum. (Dicionário Mini Aurélio - Versão eletrônica).
Cap. XIV – O Realismo na o-representativo

O realismo não-representativo defendido por Chalmers se caracteriza nos limites de


aplicabilidade de uma teoria no mundo físico atual, num determinado grau de aproximação e
variedade de ocorrências mais amplas. Ele afirma ter esse realismo dois sentidos: o primeiro envolve
a interpretação de o mundo físico ser o que é, independente do que o indivíduo ou grupos de
indivíduas pensem dele. O segundo sentido afirma ser essa teoria realista por envolver suposições de
que, à medida que teorias são aplicadas ao mundo, são aplicáveis dentro e fora de circunstâncias
experimentais.

O realista não-representativo realiza suas suposições rejeitando a verdade como


correspondência dos fatos, evitando assim dificuldades ocasionadas pelas posições típicas do
realismo. O realismo não-representativo ainda se difere do realismo no que diz respeito ao fato de
suas teorias serem produtos sociais sujeitos à mudanças radicais.

Ao plicar o realismo não-representativo para tentar divagar sobre como responder à


questão-chave do livro “o que é ciência, afinal?”, Alan Chalmers enfim aceita que esse seu
questionamento é presunçoso e arrogante, na medida em que a substancialidade da pergunta, por si
só, já é fator evidente e incontestável. As generalizações universais em torno desta indagação não a
explicam, mas advertem que não se pode encarar ciência como único campo de conhecimento, pois
como ele mesmo ressalta “Cada área do conhecimento pode ser analisada por aquilo que é *...+ Não
se segue disso que nenhuma área do conhecimento possa ser criticada.” (CHALMERS, 1993, p. 212).

Ao afirmar que não podemos criticar as áreas de conhecimento, ressalta que podemos
sim criticar seus objetos e métodos, confrontando-as com meios alternativos e/ou superiores para
atingirmos os mesmos objetivos. O autor beira a conclusão do livro fazendo um retrospecto da cada
cadeia de ideias descritas em sua obra. Todavia, antes de finalizar, enfatiza seu ponto com uma nova
pergunta: “por que se incomodar em executar investigações usando o que foi descrito em seu
livro?”.

O estudioso rebate a própria pergunta quando, ao ressaltar sua investigação, afirma que
o ponto-alto do seu livro é acabar com o uso ilegítimo dos conceitos de ciência e de verdade,
geralmente empregados de forma dúbia. Pelo seu próprio ponto de vista, o mesmo admite a não
existência de um conceito atemporal e universal de ciência ou do método científico.

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