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Multiculturalismo, a diversidade nos espaços públicos

Igualdade de direitos, direito à diferença.

As culturas, na sua riqueza e diversidade, representam maneiras de agir e de pensar


que a humanidade criou de modo a satisfazer as suas necessidades e de se adaptar às
condições naturais onde vive. Assim como defendemos a diversidade das múltiplas
formas de vida, defendemos também a diversidade cultural. Parece que não se
encontram grandes obstáculos à presença de práticas culturais diferentes quando
estas dizem respeito à satisfação de necessidades de sobrevivência e de segurança,
mas no que diz respeito às necessidades de poder, de estima e de autorrealização, as
culturas minoritárias têm dificuldades em ser reconhecidas. Os problemas que se
colocam dizem respeito à possibilidade de integração política, ao acesso a bens e
serviços, à participação nos espaços de decisão, ou seja, de coexistência num espaço
onde há uma forte identidade cultural maioritária.
A História mostra que as minorias, sejam religiosas, étnicas, sexuais, culturais, têm sido
perseguidas e impedidas de concretizar os seus projetos de vida. Mas mostra também
a luta de povos e indivíduos que reivindicam a igualdade de direitos, recusando que a
sua pertença a um grupo/minoria, com modos de vida diferentes considerados
marginais ou mesmo não naturais pelas maiorias sociais, os impeça de serem tratados
como os outros cidadãos. Veja-se, em nome do reconhecimento identitário, a luta das
minorias nacionais e culturais pelos direitos linguísticos, educativos e territoriais. Veja-
se a luta contra o racismo e sexismo que exclui pessoas de certas posições sociais,
culturalmente reservadas aos membros das maiorias que são poupados de muitas
injustiças que permanecem invisíveis para eles pelo facto de pertencerem à maioria.
Esta luta pela igualdade de direitos não é apenas um combate para obter um direito à
diferença em nome de um respeito incondicional pela identidade de grupo, mas uma
luta contra as discriminações, fundada na universalidade dos direitos do homem que
garante e assegura que cada pessoa será tratada da mesma maneira quaisquer que
sejam as suas diferenças de cultura, origem, sexo, estatuto. Para as minorias culturais,
a afirmação da sua identidade, as suas reivindicações identitárias não são um valor em
si, mas um instrumento de sobrevivência moral, valorizando precisamente aquilo que a
maioria cultural tende a denegrir, o direito à diferença. Graças à sua tenacidade, a sua
acção sobre o conjunto da sociedade tem permitido a consciencialização que cada um
de nós se sente devedor de um direito à diferença.
Como defensores do multiculturalismo, contra qualquer posição reducionista
etnocêntrica de uniformização de modos de vida dominantes, pensamos que é
necessário partilhar os significados das experiências culturais de uma comunidade.
Deste modo, propomos um conjunto de medidas que visam dar voz e visibilidade a
todas as culturas que convivam no mesmo espaço e tempo, que favoreçam e cultivem
a diferença intrínseca de cada ser humano, que permitam comparar diferentes
interpretações da realidade e das suas práticas. As nossas medidas procuram
aproximar as diferentes culturas de modo a promover o conhecimento recíproco e a
mudança de atitudes e comportamentos. Há algum limite?
A nossa proposta desafia, tendo em conta a evolução da própria humanidade, todas as
culturas a abandonarem os valores e princípios que não são universalizáveis e que são
inconsistentes com os ideais da liberdade e da igualdade.
Assim propomos, no currículo escolar, uma educação que permita a formação de uma
consciência ética que se orienta por práticas e valores baseados em princípios
universais, livremente escolhidos. Assim, se compreenderia e ultrapassaria
estereótipos e preconceitos, se compreenderia o outro e a sua visão do mundo.
Propomos ainda a criação de dias culturais com festivais de música e gastronomia,
assim como a colocação de placas indicativas da localização de instituições de todas as
culturas presentes numa comunidade.
A dignidade humana não se define unicamente pelo reconhecimento daquilo que é
comum, pela pertença à Humanidade, mas supõe que respeitemos a sua diferença,
condição do reconhecimento desse Universal pelo qual somos idênticos. A
representação diferenciada da Universalidade deve levar ao estabelecimento de uma
cidadania diferenciada, concedendo aos diferentes grupos culturais direitos que
protejam a identidade do próprio grupo. A pertença cultural é condição de liberdade, a
escolha pela minoria deve ser protegida.

Carlos Machado

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