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COOPERATIVISMO RURAL

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Olá! Meu nome é Rodrigo Marcello de Barros Videira Benedini.


Possuo Graduação em Administração Geral (1996), Pós-graduação
em Gestão Empresarial (Faculdade Municipal de Franca) e
Graduação em Direito, na Faculdade de Direito de Franca (2002).
Atualmente, trabalho como gestor e advogado do Sindicato Rural
de Batatais-SP e presto assessoria nas áreas de Direito Ambiental
e Sustentabilidade. Sou presidente da Comissão de Direito
Urbanístico, Meio Ambiente e Imobiliário da 51ª Subseção da OAB/
SP, membro do Conselho Municipal do Meio Ambiente e membro
do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural. Fui professor na
ETEC Antônio de Pádua Cardoso.

Olá! Meu nome é Agostinho Fernando Adami. Sou graduado


em Administração Geral (2000), pós-graduado em Agronegócios
(Universidade Federal de Lavras) e mestre em Agroecologia e
Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal de São Carlos.
Atualmente, sou professor e coordenador do curso de Pós-
graduação em Agronegócio do Claretiano – Centro Universitário de
Batatais. Tenho experiência em planejamento estratégico, atuando,
principalmente, nas áreas de Comunicação e Ética Empresarial
(responsabilidade social e sustentabilidade) no Agronegócio.
Agostinho Fernando Adami

Rodrigo Marcello de Barros Videira Benedini

COOPERATIVISMO RURAL

Batatais
Claretiano
2015
© Ação Educacional Claretiana, 2015 – Batatais (SP)
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma
e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o
arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação
Educacional Claretiana.

CORPO TÉCNICO EDITORIAL DO MATERIAL DIDÁTICO MEDIACIONAL


Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves
Preparação: Aline de Fátima Guedes • Camila Maria Nardi Matos • Carolina de Andrade Baviera • Cátia
Aparecida Ribeiro • Dandara Louise Vieira Matavelli • Elaine Aparecida de Lima Moraes • Josiane Marchiori
Martins • Lidiane Maria Magalini • Luciana A. Mani Adami • Luciana dos Santos Sançana de Melo • Patrícia
Alves Veronez Montera • Raquel Baptista Meneses Frata • Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli • Simone
Rodrigues de Oliveira
Revisão: Cecília Beatriz Alves Teixeira • Eduardo Henrique Marinheiro • Felipe Aleixo • Filipi Andrade de Deus
Silveira • Juliana Biggi • Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz • Rafael Antonio Morotti • Rodrigo Ferreira Daverni
• Sônia Galindo Melo • Talita Cristina Bartolomeu • Vanessa Vergani Machado
Projeto gráfico, diagramação e capa: Eduardo de Oliveira Azevedo • Joice Cristina Micai • Lúcia Maria de
Sousa Ferrão • Luis Antônio Guimarães Toloi • Raphael Fantacini de Oliveira • Tamires Botta Murakami de
Souza • Wagner Segato dos Santos
Videoaula: José Lucas Viccari de Oliveira • Marilene Baviera • Renan de Omote Cardoso
Bibliotecária: Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

334 A174c

Adami, Agostinho Fernando


Cooperativismo rural / Agostinho Fernando Adami, Rodrigo Marcello de Barros
Videira Benedini – Batatais, SP : Claretiano, 2015.
105 p.

ISBN: 978-85-8377-439-6

1. Cooperativismo. 2. Organizações. 3. Desenvolvimento rural. 4. Associativismo.


5. Lógica capitalista. I. Benedini, Rodrigo Marcello de Barros Videira. II. Cooperativismo
rural.

CDD 334

INFORMAÇÕES GERAIS
Cursos: Graduação
Título: Cooperativismo Rural
Versão: fev./2015
Formato: 15x21 cm
Páginas: 105 páginas
SUMÁRIO

CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 9
2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS............................................................................. 10
3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE................................................................ 12
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 13
5. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 14

Unidade 1 – ORGANIZAÇÕES
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 17
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 17
2.1. ORGANIZAÇÕES........................................................................................ 18
2.2. A IMPORTÂNCIA DAS ORGANIZAÇÕES NO MEIO RURAL..................... 21
2.3. UM BREVE HISTÓRICO SOBRE AS COOPERATIVAS................................ 27
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 32
3.1. ORGANIZAÇÕES........................................................................................ 32
3.2. COOPERATIVAS......................................................................................... 33
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 34
5. CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 36
6. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 36
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 37

Unidade 2 – O BRASIL E OS MODELOS DE COOPERATIVAS


1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 41
1.1. O BRASIL E OS MODELOS DE COOPERATIVAS........................................ 41
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 42
2.1. OS PRINCÍPIOS COOPERATIVISTAS......................................................... 43
2.2. PRINCIPAIS MODELOS DE COOPERATIVAS EXISTENTES NO BRASIL.... 48
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 51
3.1. O COOPERATIVISMO NO BRASIL............................................................. 51
3.2. PRINCÍPIOS E DOUTRINAS COOPERATIVISTAS...................................... 52
3.3. COOPERATIVAS NO SETOR AGROPECUÁRIO......................................... 53
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 54
5. CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 57
6. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 57
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 58

Unidade 3 – GESTÃO E COOPERATIVAS


1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 63
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 64
2.1. ALGUMAS PECULIARIDADES DAS COOPERATIVAS............................... 64
2.2. GESTÃO DE COOPERATIVAS..................................................................... 68
2.3. QUALIFICAÇÃO DOS COOPERADOS PARA OCUPAR CARGOS
DE GESTÃO E LIDERANÇA........................................................................ 72
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 74
3.1. ALGUMAS PECULIARIDADES DAS COOPERATIVAS................................ 75
3.2. GESTÃO DE COOPERATIVAS..................................................................... 75
3.3. QUALIFICAÇÃO DOS COOPERADOS PARA OCUPAR CARGOS
DE GESTÃO E LIDERANÇA........................................................................ 76
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 76
5. CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 78
6. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 79
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 79

Unidade 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS


1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 83
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 83
2.1. LEGISLAÇÃO QUE ABARCA AS COOPERATIVAS NO BRASIL.................. 83
2.2. PROCEDIMENTOS PARA CONSTITUIÇÃO DA COOPERATIVA................ 88
2.3. TIPOS DE ASSEMBLEIAS EXISTENTES EM UMA COOPERATIVA E OS
DIREITOS E DEVERES DOS COOPERADOS............................................... 90
2.4. DIREITOS E DEVERES DOS COOPERADOS.............................................. 92
2.5. CONSELHO FISCAL.................................................................................... 92
2.6. CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO OU DIRETORIA.................................. 93
2.7. QUADROS COMPARATIVOS ENTRE ASSOCIAÇÃO, COOPERATIVA E
SINDICATO................................................................................................. 94
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 98
3.1. FORMAÇÃO DAS COOPERATIVAS............................................................ 98
3.2. CARACTERÍSTICAS DA SOCIEDADE COOPERATIVA............................... 99
3.3. TIPOS DE ASSEMBLEIAS REALIZADAS PELAS COOPERATIVAS.............. 100
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 101
5. CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 103
6. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 104
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 105
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Conteúdo
Histórico e importância do Cooperativismo. Cooperativas, sindicatos e asso-
ciações. Associativismo no Agronegócio: modelos de organização e gestão.
Legislação sobre cooperativas: implantação e administração de cooperativas.

Bibliografia Básica
CRÚZIO, H. O. Como organizar e administrar uma cooperativa: uma alternativa para o
desemprego. 4. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2005.
GONH, M. G. (Org.). Movimentos sociais no início do século XXI: antigos e novos atores
sociais. 4. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2010.
OLIVEIRA, D. P. R. Manual de gestão das cooperativas: uma abordagem prática. 3. ed.
São Paulo: Atlas, 2006.

Bibliografia Complementar
BACHA, C. J. C. Economia e política agrícola no Brasil. São Paulo: Atlas, 2004.
BECHO, R. L. Elementos de direito cooperativo: de acordo com o novo Código Civil. São
Paulo: Dialética, 2002.
CAVALCANTI, M. (Org.). Gestão social, estratégias e parcerias: redescobrindo a
essência da Administração brasileira de comunidades para o terceiro setor. São Paulo:
Saraiva, 2005.
TRAGTENBERG, M. Administração, poder e ideologia. 3. ed. São Paulo: Universidade
Estadual Paulista, 2005.
RECH, D. Cooperativas: uma alternativa de organização popular. Rio de Janeiro: DP&A,
2000.

7
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

É importante saber
Esta obra está dividida, para fins didáticos, em duas partes:
Conteúdo Básico de Referência (CBR): é o referencial teórico e prático que deverá
ser assimilado para aquisição das competências, habilidades e atitudes necessárias
à prática profissional. Portanto, no CBR, estão condensados os principais conceitos,
os princípios, os postulados, as teses, as regras, os procedimentos e o fundamento
ontológico (o que é?) e etiológico (qual sua origem?) referentes a um campo de
saber.
Conteúdo Digital Integrador (CDI): são conteúdos preexistentes, previamente sele-
cionados nas Bibliotecas Virtuais Universitárias conveniadas ou disponibilizados em
sites acadêmicos confiáveis. São chamados "Conteúdos Digitais Integradores" por-
que são imprescindíveis para o aprofundamento do Conteúdo Básico de Referên-
cia. Juntos, não apenas privilegiam a convergência de mídias (vídeos complementa-
res) e a leitura de "navegação" (hipertexto), como também garantem a abrangência,
a densidade e a profundidade dos temas estudados. Portanto, são conteúdos de
estudo obrigatórios, para efeito de avaliação.

8 © COOPERATIVISMO RURAL
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

1. INTRODUÇÃO
Prezado aluno, seja bem-vindo!
Iniciaremos o estudo de Cooperativismo Rural. A preten-
são desta obra não é esgotar os conhecimentos sobre o Coopera-
tivismo no meio rural, mas, sim, servir como um ponto de parti-
da para que o leitor crie subsídios para buscar novas informações
sobre o assunto e, consequentemente, com o auxílio das teorias
aqui apresentadas, transformar essas informações em conheci-
mento crítico.
O conteúdo apresentado nesta obra lhe proporcionará uma
base teórica capaz de despertar uma visão sistêmica sobre o Co-
operativismo, o surgimento das organizações no meio rural e os
motivos socioeconômicos que levam as pessoas a se associarem
por meio de organizações cooperativistas. O contexto histórico
do Cooperativismo está diretamente relacionado ao surgimento
de organizações. Nunca, em nenhuma outra época da história
da humanidade, o ser humano foi tão dependente das organiza-
ções; dependemos delas cada vez mais.
No entanto, em um sistema capitalista, no qual a compe-
tição é muito acirrada, assim como os bens e os serviços são
escassos, nem todos os seres humanos têm acesso a eles e as
organizações também podem não ter condições de competição
ou acesso a tudo que necessitam para se manter no mercado.
Então, os seres humanos agrupam-se e organizam-se para, jun-
tos, terem forças diante do sistema e, consequentemente darem
forças às suas organizações.
Este é o tema da nossa primeira unidade: as organizações.
Na Unidade 2, vamos estudar alguns modelos de cooperativas
que se desenvolveram no Brasil e analisar os princípios coopera-

© COOPERATIVISMO RURAL 9
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

tivistas. Para tanto, será preciso conhecer a história das coopera-


tivas no mundo e, posteriormente, no Brasil. Na Unidade 3, es-
tudaremos a gestão das cooperativas, mas ressaltamos que não
é interesse dessa unidade tratar de técnicas de gestão, mesmo
porque, em seus estudos no decorrer do curso de Tecnologia em
Agronegócio, você terá condições de aplicar essas técnicas estu-
dadas. O interesse da Unidade 3 é mostrar as peculiaridades que
cercam as cooperativas e que impactam diretamente na gestão
dessas organizações e nas decisões do gestor. Enfim, com os es-
tudos da Unidade 4, veremos os procedimentos legais necessá-
rios para que uma cooperativa inicie, legal e formalmente, suas
atividades no mercado.
Desejamos a você uma boa leitura e esperamos que este
material, além dos estudos, sirva para lhe despertar uma visão
sistêmica e crítica sobre as organizações como um todo, sobre
o mercado e, principalmente, sobre os anseios e necessidades
humanas por bens, serviços e liberdade.

2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS
O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida e
precisa das definições conceituais, possibilitando um bom domí-
nio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conheci-
mento dos temas tratados.
1) Atores sociais: são indivíduos e organizações que reali-
zam ou desempenham atividades e participam do jogo
social.
2) Cenário estratégico: é a análise que visa prever e pre-
parar uma instituição para o futuro.

10 © COOPERATIVISMO RURAL
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

3) Cidadania: a partir dos preceitos liberais, a cidadania é


um conceito legal que determina os direitos de liber-
dade e igualdade entre os sujeitos. Porém, ao estudar-
mos a comunicação pública, veremos que este concei-
to se expande com a interação entre os atores sociais e
a reformulação do espaço público.
4) Clima organizacional: é a atmosfera percebida pelo
indivíduo em uma organização, que influencia em seu
comportamento.
5) Comunicação: comunicar é o processo de interação
humana que pressupõe a transmissão de uma infor-
mação, por meio de um canal, que será decodificada
pelo receptor. A história da comunicação reflete a pró-
pria evolução da civilização, pois é ela que permite a
organização social de forma lógica.
6) Cultura organizacional: é o conjunto de crenças, va-
lores e expectativas dos executivos e funcionários da
cooperativa.
7) Decisão: habilidade para resolver determinado assun-
to, tendo vários caminhos possíveis.
8) Gestão: é o processo de desenvolver e aperfeiçoar, de
forma proativa, as atividades de planejamento, organi-
zação, direção e avaliação dos resultados da cooperati-
va (OLIVEIRA, 2006).
9) Liderança: é a arte de comandar pessoas, atraindo
seguidores e influenciando mentalidades e comporta-
mentos de forma positiva.
10) Marketing: é o conjunto de técnicas e métodos desti-
nados ao desenvolvimento das vendas da cooperativa,

© COOPERATIVISMO RURAL 11
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

mediante quatro pilares básicos: preço, distribuição,


comunicação e produto.
11) Missão: é o motivo que leva à existência da cooperati-
va, aquilo pelo qual ela busca.
12) Planejamento: é a capacidade de entender e analisar
situações atuais e futuras, além de articular objetivos
de forma integrada aos da cooperativa e de delinear
estratégias, inclusive alternativas, para alcançar esses
objetivos, visando à sobrevivência e sustentação da
cooperativa (OLIVEIRA, 2006).
13) Resultado: é o produto final do sistema de decisão,
devendo ser quantificável e avaliável, em que os coo-
perados perceberão se o empreendimento está sendo
bem gerido ou se precisa de mudança de rotas (OLI-
VEIRA, 2006).

3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE


O esquema a seguir possibilita uma visão geral dos concei-
tos mais importantes deste estudo.
Ao segui-lo, você poderá transitar entre um e outro concei-
to e descobrir o caminho para construir o seu conhecimento. Por
exemplo, observe, no esquema, que o quadro "Cooperativismo
Rural" está no centro e, ao lado dele, existem dois quadros, que
apontam as setas diretamente para ele. Do lado esquerdo, estão
os aspectos legais, e, do lado direito, as peculiaridades das coo-
perativas. Esses dois quadros (aspectos legais e peculiaridades)
dão sustentação ao tema do cooperativismo rural nesta obra.
Continuando a análise do esquema, quando olhamos para
o lado direto, podemos notar que o quadro "Gestão" está iso-

12 © COOPERATIVISMO RURAL
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

lado, ligado apenas às peculiaridades, o que nos indica que a


gestão das cooperativas está intimamente atrelada às caracte-
rísticas desse tipo de organização. No entanto, os conceitos que
envolvem a gestão e a administração são iguais para todas as
organizações, sendo estas cooperativas ou firmas. Finalizando
nossa análise, observe que, do quadro “Cooperativismo Rural”,
saem três setas, apontando para a legislação, as organizações e
o histórico do Cooperativismo, que são os estudos contidos nas
unidades.

 
 
Peculiaridades  das 
Aspectos  Cooperativismo  cooperativas 
legais 
Rural 

Breve  histórico 
 

Legislação  que  rege  as  do  Gestão 


cooperativas  cooperativismo 
no Brasil 

Organizações 

 
Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave de Cooperativismo Rural.
 
 
 
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 
 
BENATO,
  J. V. A. Cooperativas e sua administração. São Paulo: Ocesp, 1992.
 
 
 
 
 
© COOPERATIVISMO RURAL 13
 
 
 
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

FULTON, M. A nova geração de cooperativas: respondendo às mudanças na agricultura.


Revista Preços Agrícolas, n. 150, abr. 1999. p. 6-7.
OLIVEIRA, N. B. Cooperativismo: guia prático. São Paulo: Pioneira, 1982.

5. E-REFERÊNCIAS
BRASIL COOPERATIVO. Disponível em: <http://www.brasilcooperativo.coop.br/site/
brasil_cooperativo/index.asp>. Acesso em: 14 jan. 2015.
DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS. Disponível em: <www.dicio.com.br>. Acesso
em: 14 jan. 2015.

14 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 1
ORGANIZAÇÕES

Objetivos
• Analisar como o cooperativismo auxilia os agricultores.
• Compreender por que surgem as organizações cooperativistas.
• Conhecer os princípios que fundamentam uma organização
cooperativista.
• Identificar a evolução histórica das organizações cooperativistas.

Conteúdos
• As organizações em um contexto rural.
• Os tipos de organizações e suas características.
• Concorrência em um sistema econômico de livre empresa.
• A expansão do cooperativismo e dos modelos de cooperativas.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Procure analisar os conteúdos deste material de forma integrada, ou seja,


observe que cada unidade é parte da outra e todas se complementam;
portanto, o estudo isolado de uma só unidade não servirá para que você
construa um conhecimento crítico e analítico sobre o assunto.

2) Pesquise em livros e sites assuntos que não foram aprofundados no mate-


rial, pois nosso propósito é justamente não esgotar o assunto e dar subsí-
dios para que você pesquise e conheça o que está pesquisando.

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© COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 1 – ORGANIZAÇÕES

1. INTRODUÇÃO
Nesta unidade, vamos estudar as organizações no meio
rural e, também, um breve histórico do cooperativismo. É im-
portante que você compreenda que as organizações cooperati-
vistas nascem por idealizações de pessoas que têm objetivos em
comum e buscam, de certa forma, suprir algumas necessidades
que, no mercado, ou mesmo no governo, não encontram. Essas
necessidades, portanto, podem ser produtos ou serviços vindos
da iniciativa privada ou não. É importante salientar que, além de
produtos ou serviços, esse tipo de organização busca, também,
uma forma de liberdade com relação ao seu trabalho e ao mer-
cado. No decorrer da unidade, quando você ler sobre o histórico
do cooperativismo, poderá observar que essa liberdade ou essa
necessidade descrita anteriormente está presente nos anseios
dos fundadores das cooperativas.

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma su-
cinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão
integral, estudaremos, neste momento, as organizações, ou seja,
pessoas que se unem para formar um grupo organizado. Vere-
mos sobre os tipos de governo que as organizações podem ado-
tar, analisaremos a importância das organizações no meio rural
e, finalmente, teremos a oportunidade de ler sobre o contexto
histórico das cooperativas, ainda que brevemente.

© COOPERATIVISMO RURAL 17
UNIDADE 1 – ORGANIZAÇÕES

2.1. ORGANIZAÇÕES

As organizações fazem parte do cotidiano das pessoas e es-


tão presentes na sociedade nas mais variadas formas, tornando-
-se essenciais para o ser humano realizar suas atividades diárias,
como comer, vestir-se, trabalhar, votar etc. A pluralidade que
permeia as organizações permite que elas assumam diversas
formas, porém, segundo Chiavenato (2005), não existem duas
organizações iguais, por assumirem características únicas e pró-
prias. Morgan (2009), por exemplo, cita, em seu livro Imagens
da organização, a autocracia e a democracia para descrever a
organização e traçar um paralelo destas com os sistemas polí-
ticos, da mesma forma que utiliza a burocracia e a tecnocracia
para elencar um sistema particular de regras intrínsecas de cada
organização, ou seja, o modo como a organização impõe seu go-
verno e sua característica de governar. Ainda segundo o autor,
as formas de governar politicamente são comumente percebidas
nas organizações, conforme ilustra o Quadro 1.

Quadro 1 Tipos de organizações e suas características de governo.


TIPOS DE CARACTERÍSTICAS
ORGANIZAÇÕES
As organizações autocráticas são caracterizadas por um
governo absoluto, em que o poder é baseado nas decisões
de um único indivíduo ou em um pequeno grupo, que tem
o controle dos recursos críticos da organização. São também
Autocrática características desse tipo de organização o direito de
propriedade, a tradição, o carisma e outras razões para que
haja privilégios pessoais.

18 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 1 – ORGANIZAÇÕES

TIPOS DE
CARACTERÍSTICAS
ORGANIZAÇÕES
As organizações burocráticas são gerenciadas por meio de
regras, que geralmente são exercidas por registros escritos.
É também característica das organizações burocráticas
Burocrática demonstrarem autoridade racional legal, ou seja, seu
governo estabelece-se pela lei.

O uso do conhecimento, das habilidades e especializações


Tecnocracia torna-se primordial na formulação de regras e resoluções de
problemas.
Forma de governo na qual as partes opostas entram em
Cogestão consenso para, juntas, alcançarem interesses comuns.
A regra é exercida por meio da eleição dos membros, que,
mediante seus mandatos, exercem o poder ou elaboram as
Democracia regras em nome dos que representam. Na indústria, isso é
Representativa percebido pelas empresas, cujo controle está nas mãos de
trabalhadores ou acionistas; já na política, essa característica
ocorre em governos do tipo parlamentar.
Na democracia direta, cada integrante da organização tem o
mesmo direito de governar. Dessa forma, todos fazem parte
Democracia Direta das decisões. Essa característica é notada em organizações
cooperativistas e se refere a um governo auto-organizacional.
Fonte: adaptado de Morgan (2009).

É comum uma organização exercer as várias características


descritas no quadro anterior; também é comum direcionar seu
governo para uma característica específica, mais burocrática ou
autocrática, por exemplo. No entanto, vale ressaltar que tanto as
organizações burocráticas, autocráticas ou tecnocráticas como
aquelas cujos trabalhadores têm o controle e dominam seus
governos (democráticas) possuem seus significados e suas na-
turezas políticas, diferenciando-se, apenas, nos princípios e nas
legitimidades. A razão de ser da organização é servir a esses prin-
cípios e legitimidades, intencionalmente se estruturando para
isso, sob uma perspectiva de serem construídas e reconstruídas
ao passar dos tempos. Nessa perspectiva de se construir e se
reconstruir, Drucker (1997) vincula o conceito de organização ao
conhecimento e entende que o conhecimento é a base para que

© COOPERATIVISMO RURAL 19
UNIDADE 1 – ORGANIZAÇÕES

a organização possa definir as funções e as tarefas, transforman-


do conhecimento em conhecimento produtivo, ou seja, tornan-
do os processos produtivos inteligíveis, competitivos, especiali-
zados e atuais.
Em outra análise sobre a existência da organização, Bar-
ney e Hesterly (2009) ressaltam que as teorias clássica e neo-
clássica da Economia, começando por Adam Smith, demonstram
que existe uma incrível habilidade dos mercados em controlar a
produção econômica com grande eficiência, ao efetuarem tran-
sações a baixo custo sem a intervenção do governo, ou seja, a
economia poderia ser coordenada por um sistema descentraliza-
do de preços. No entanto, conforme os autores, o mercado não
é tão eficiente a ponto de coordenar todas as ações da firma.
Nesse sentido, Coase (1937) relata, em seus estudos conhecidos
como a “Teoria da Firma”, que a razão da existência das organi-
zações pode ser atribuída ao fato de que o custo de gerenciar
transações econômicas por meio de mercados é maior do que
o custo de gerenciar transações econômicas nos limites da or-
ganização. A partir dessa visão, na qual se gerencia transações
no âmbito organizacional, Zawislak (2004) relata que a Teoria da
Firma deixa como contribuição o papel da gestão, o desenvolvi-
mento de alternativas tecnológicas, as relações interfirmas, as
estratégias competitivas, conforme descritas a seguir:
• O desenvolvimento tecnológico: para Nelson e Winter
(1982), a geração e o desenvolvimento de novas tec-
nologias ocorreriam no interior das firmas, sendo que
cada firma seria capaz, tecnologicamente, de garantir
sua competitividade tecnológica, de se adaptar e sobre-
viver no mercado competitivo.
• As relações interfirmas: devido aos elevados custos e
altos riscos de entrada em mercados extremamente

20 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 1 – ORGANIZAÇÕES

competitivos, as firmas viabilizam seus investimentos


em capacitação e tecnologias, buscando estratégias de
cooperação (ZAWISLAK, 2004).
• Estratégia empresarial: segundo Zawislak (2004), é fato
que as empresas têm poder de decisão sobre o que fa-
zer, que detêm o conhecimento tecnológico e que in-
fluenciam o mercado. No entanto, também são total-
mente influenciadas pelas outras firmas existentes e
pelo mercado. Assim, a partir de uma análise ambiental
em face às suas competências internas, a firma se posi-
cionará estrategicamente diante do mercado.

2.2. A IMPORTÂNCIA DAS ORGANIZAÇÕES NO MEIO RURAL

Normalmente, o que motiva o ser humano a se organizar


é a necessidade de enfrentar desafios, e, quando diversas unida-
des econômicas da mesma natureza de produção chegam à con-
clusão de que suas ações tomadas individualmente se tornam
mais difíceis, essas unidades se unem, formando uma comunida-
de dotada de organização administrativa, para a qual são trans-
feridas as ações coletivas que antes eram efetivadas de forma
individual. Assim, o surgimento da organização social no campo
está diretamente relacionado às dificuldades individuais de cada
unidade econômica ou firma em se desenvolver e se manter no
mercado (BATALHA, 2008).
Assim como em outros setores, os produtores rurais tam-
bém estão inseridos em um ambiente de constantes mudanças.
Porém, a concorrência nesse segmento apresenta algumas pe-
culiaridades que, por vezes, prejudicam sua instalação e perma-
nência no mercado até atingirem o ponto de maturidade e esta-

© COOPERATIVISMO RURAL 21
UNIDADE 1 – ORGANIZAÇÕES

bilidade. A união dos produtores, no sentido de se organizarem,


representa uma importante opção estratégica para enfrenta-
rem juntos as dificuldades que lhes são impostas pelo ambiente
institucional.

Os agricultores estão inseridos em um mercado de con-


corrência perfeita, que é assim caracterizado quando cada
agente econômico é tão pequeno em relação ao mercado que
não pode exercer influência perceptível na formação do pre-
ço. Os agricultores encaixam-se nesse segmento, pelo fato de
cada um deles ser tão pequeno diante do mercado que sua
entrada ou saída não altera a oferta e a demanda do produto
nem mesmo o preço. Outra característica desse mercado é a
homogeneidade do produto, ou seja, todo produto agrícola,
em seu segmento, é basicamente igual e pode ser facilmente
substituído. Isso ocorre por causa da existência de vários simi-
lares e substitutos, além de uma grande mobilidade de todos
os recursos, incluindo a livre entrada e saída de empresas e o
fácil acesso a esse tipo de mercado. Outros fatores econômicos
evidenciam a fragilidade dos agricultores, como, por exemplo,
o fato de eles fazerem parte de um mercado de concorrência
perfeita, apesar de negociarem com grandes oligopólios (ADA-
MI; LIMA, 2013).

Dessa forma, para os pequenos produtores, parece ser


impossível obter os ganhos típicos dos grandes produtores que
produzem em maior escala. Se a lógica de mercado é inviável
para os pequenos produtores, a cooperação surge como forma
estratégica de superarem essas dificuldades.

22 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 1 – ORGANIZAÇÕES

Conforme Saes (2005) apud Olson (1965), as organizações


podem ser consideradas como grupos de indivíduos que têm in-
teresses comuns a elas e, ao mesmo tempo, interesses particu-
lares. O fato de esses grupos de indivíduos julgarem que suas
ações individuais desorganizadas são menos eficientes que a
ação coletiva organizada os fazem atuar de maneira coordenada
e conjunta, a fim de atingirem não só os interesses coletivos (or-
ganizacionais), mas também os particulares.
Para tanto, os objetivos que dão origem às organizações
devem contemplar os interesses coletivos e também individu-
ais, pois as organizações são possíveis e necessárias porque, sob
certas circunstâncias, os mercados falham na alocação dos recur-
sos, e é fato que indivíduos possuem interesses particulares que,
caso não sejam atendidos, pelo menos em parte, pelas organi-
zações, é provável que a harmonia interna da organização seja
enfraquecida (SAES, 2000).
Esse grupo de indivíduos citado por Saes (2000), para Hes-
panhol apud Lisboa (2001), forma um sistema de relações sociais
que permite a intermediação entre os atores sociais representa-
dos pelo estado, pela iniciativa privada e pelo mercado, sendo
propulsoras de oportunidades como a possibilidade da existên-
cia e de sua consolidação no mercado, de participação na forma-
ção de políticas públicas, visando à conquista da cidadania e ao
acesso a serviços públicos de interesses comuns e individuais.
Nesse sentido, essas relações sociais que dão origem às organi-
zações, segundo Olson (1965), podem ser distintas, notando-se
dois extremos: em um, pode-se encontrar a firma, e, no outro
extremo, têm-se as agências governamentais que detêm o poder
legal de autoridade, e, dessa forma, existe a força de coesão. De
um extremo para outro, aparecem as associações de interesse
privado, cuja principal característica é o voluntarismo, em que

© COOPERATIVISMO RURAL 23
UNIDADE 1 – ORGANIZAÇÕES

a união dos associados é devida a interesses comuns e que vi-


sam simultaneamente atender aos interesses particulares dos
associados.
A Figura 1 evidencia o poder das agências governamentais
de estabelecer regras para a firma e, também, para as associações
de interesse privado.

Figura 1 Poder de coesão das agências governamentais.

Saes (2000) destaca que o surgimento das organizações


pode ser motivado por vários fatores, como prover bens pú-
blicos ou coletivos, prover bens de clube, minimizar custos de
transação, alterar as regras de mercado em benefício de seus
associados, modificar alocações alcançadas espontaneamente
pelo mercado, propiciar ganhos de escala e solucionar conflitos,
e pode contribuir para que elas alcancem ou acessem interesses
comuns por meio da provisão de bens e/ou serviços públicos.

24 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 1 – ORGANIZAÇÕES

Os bens públicos típicos podem ser os não exclusivos e


os não rivais, sendo a característica da não exclusividade repre-
sentada por bens dos quais não se pode excluir ninguém de seu
consumo, e um bem é dito não rival quando o seu consumo não
reduz sua quantidade disponível para os demais consumidores.
De acordo com Hoppe (2010), os bens públicos podem não
ser providos pelo Estado. No entanto, sua intervenção faz-se ne-
cessária para que a população se sinta confortável com relação
à oferta desse bem. Como o mercado competitivo não produz as
quantidades ótimas desses bens, a formação de relações sociais
representadas por organizações pode facilitar o acesso individu-
al ao bem em questão, o que não aconteceria caso os indivíduos
agissem independentemente uns dos outros. Para exemplificar o
surgimento de alguns tipos de organizações e os motivos desse
surgimento, Saes (2000) cita:
1) Os bens de clube são organizações cujos indivíduos
têm preferências semelhantes entre si, assim como a
expectativa de consumo; porém, essas preferências di-
ferem das preferências da maioria da população. Pelo
fato de não terem conseguido obter de um governo
democrático a quantidade desejada do bem, tais indi-
víduos optam por formar uma organização com o in-
tuito de providenciá-los, desde que somente os mem-
bros do clube tenham acesso a ele. Vale salientar que
apenas os membros do clube arcam com seu custo de
produção.
2) A existência de custos de transação no mercado. A ven-
da direta ao consumidor é um fator que diminui custos
de transações no mercado e incentiva os grupos a se
organizarem e venderem seus produtos diretamente
ao consumidor final.

© COOPERATIVISMO RURAL 25
UNIDADE 1 – ORGANIZAÇÕES

3) A possibilidade de alterar as regras formais ou infor-


mais em um mercado ou segmento favorecendo um
determinado grupo também pode fomentar o sur-
gimento de organizações. Mudar pontos de vista da
maioria da população ou dos indivíduos dotados do
poder de criar regras tem sido uma das mais importan-
tes motivações para a formação de uma organização
de interesse privado, particularmente em sociedades
de forte centralização econômica. Esses sistemas de
relações sociais visam à implementação de políticas de
subsídios diretos à produção, controle sobre a entrada
de novas firmas, políticas que afetam as indústrias de
bens substitutos e complementares, controle adminis-
trativo de preços etc.
4) O fato de os preços de mercado nem sempre corres-
ponderem corretamente ao valor esperado pelo pro-
dutor pode dar origem a ações organizadas com o in-
tuito de modificar a alocação obtida por intermédio do
mecanismo de mercado.
5) A existência de economia de escala também incentiva
o aparecimento de organizações. A título de exemplo,
pode-se usar como referência as cooperativas de co-
mercialização, formadas por pequenos ou médios pro-
dutores agrícolas, artesanais, coletores de recicláveis
etc., que vendem a produção dos sócios e compram
para eles equipamentos, matérias-primas etc. (SIN-
GER, 1999).
Podemos então observar que vários fatores influenciam o
surgimento das organizações. Nesse contexto, destacam-se as
cooperativas, principalmente no ambiente rural, que é cercado
por várias peculiaridades que fomentam o surgimento dessa for-

26 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 1 – ORGANIZAÇÕES

ma de organização. Entre essas peculiaridades, podemos desta-


car a questão agrária no Brasil, que, historicamente, gerou uma
desigualdade na distribuição de terras. Tal desigualdade veio
acompanhada de problemas sociais no campo, que, com o neoli-
beralismo, se agravaram, principalmente pela questão de acesso
e uso de tecnologias voltadas à produção agrícola.

2.3. UM BREVE HISTÓRICO SOBRE AS COOPERATIVAS

Com o desenvolvimento das organizações em seus mais


variados aspectos, as relações humanas foram sendo alteradas,
diante da necessidade, cada vez mais iminente, de buscar o aper-
feiçoamento, melhorias de vida para as pessoas e a acumulação
de benefícios e riquezas para toda a comunidade. Com isso, sur-
gem, de forma mais forte e organizada, as primeiras cooperati-
vas, no final do século 18, na França, Alemanha e Inglaterra.
O exemplo clássico do surgimento do cooperativismo foi
idealizado por vários operários e aconteceu no dia 21 de dezem-
bro de 1844, quando 28 tecelões do bairro de Rochdale, na ci-
dade de Manchester (Inglaterra), criaram uma associação, que,
mais tarde, seria chamada de “cooperativa”, denominada Socie-
dade dos Probos Pioneiros de Rochdale. A finalidade da criação
dessa organização era melhorar as precárias condições econômi-
cas e de trabalho da época.
Não obtendo dos patrões aquilo que consideravam jus-
to, os funcionários reuniram-se para encontrar uma maneira
de ter seus objetivos, anseios e necessidades atendidos. Com
essa união, os Probos Pioneiros de Rochdale criaram os próprios
meios de ação e trabalho, mediante o auxílio mútuo, concreti-
zado pela abertura de um armazém cooperativo, onde eram

© COOPERATIVISMO RURAL 27
UNIDADE 1 – ORGANIZAÇÕES

comercializados, a preços muito inferiores aos praticados pelo


mercado local, os alimentos considerados essenciais para a so-
brevivência do grupo, como manteiga, farinha de trigo, açúcar e
aveia. Para formalizarem a organização, elaboraram o Estatuto
da Sociedade, registrando na história os princípios que norteiam
o cooperativismo até os dias atuais. Esses princípios, ao longo
dos últimos 200 anos, tiveram algumas mudanças; no entanto,
permaneceram como idealismo cooperativista.
Nesse sentido, o que se busca com o cooperativismo é a
participação de todos os envolvidos, com os mesmos direitos e
obrigações, que, aliados a uma mesma perspectiva ou visão de
mundo, desenvolvem atividades conjuntas, com o objetivo claro
de melhorar a sua situação de vida e de toda a comunidade en-
volvida naquela organização.
De modo geral, podemos afirmar que o funcionamento
das cooperativas costuma ser semelhante em todo o planeta;
todavia, encontramos, de forma clara, duas vertentes de pensa-
mentos cooperativistas um tanto quanto divergentes, que são:
• A cooperativa com o foco de desenvolvimento na forma
socialista.
• A cooperativa com o foco de desenvolvimento na forma
capitalista.
Os grandes representantes da visão socialista do coope-
rativismo fazem parte da extinta União Soviética e também da
China. Segundo Daniel Rech (2000, p. 10), essencialmente, “os
socialistas viam na cooperativa um embrião de uma nova so-
ciedade, onde as pessoas poderiam trabalhar conjuntamente,
libertando-os do jugo do capital e suprindo interesses pessoais e
coletivos”. No entanto, com o passar do tempo, percebe-se que
as propostas socialistas eram utópicas, de difícil implantação na

28 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 1 – ORGANIZAÇÕES

prática, pelo fato de que esse tipo de cooperativa acabava tra-


zendo benefícios somente para os dirigentes. Esse processo de
benefícios para classes dirigentes foi chamado, na época, de O
Partido.
Essa conduta acabou frustrando a classe operária e os cam-
poneses, que nutriam muitas esperanças nesse sistema e acre-
ditavam que ele pudesse lhes dar melhores condições de vida.
De modo geral, as cooperativas com essa filosofia serviram tão
somente para suprir as deficiências do Estado, desvirtuando-se,
assim, da sua essência.
É importante ressaltar que o país que melhor conseguiu
desenvolver a ideologia da forma socialista em suas cooperativas
foi Israel, que tem toda a sua economia voltada para o capitalis-
mo; entretanto, de forma objetiva e eficaz, implantou o kibutz,
que nada mais é do que uma espécie de cooperativa comunitária
de produção agrícola. Lá se encontra um dos melhores exemplos
de atividade econômica e social coletiva em nível comunitário.
Quanto à visão capitalista desenvolvida no cooperativismo,
temos como principal protagonista o continente europeu, que,
até os dias atuais, tem forte presença e participação da popula-
ção nesse modelo. Esse sistema também apresentou imperfei-
ções, pois o que acabava acontecendo era que a concentração da
riqueza e do poder acabava ficando com um pequeno grupo, em
detrimento da grande maioria dos cooperados. Com o passar das
décadas, diversas teorias sobre a forma capitalista de cooperati-
vas foram surgindo, o que proporcionou um determinado desen-
volvimento a esse tipo de sistema. Um exemplo desse desenvol-
vimento é a comercialização de parte dos gêneros alimentícios
no continente europeu, que se encontra nas mãos das grandes
cooperativas.

© COOPERATIVISMO RURAL 29
UNIDADE 1 – ORGANIZAÇÕES

No Brasil, as primeiras cooperativas datam do início do sé-


culo passado; entretanto, por questões culturais ou mesmo pela
forma de colonização do país, esse sistema continua sendo inci-
piente, com a participação de reduzidíssima parcela da popula-
ção. A região do país onde houve uma melhor acolhida ao siste-
ma cooperativo é a do Sul, onde hoje se encontra uma parcela
considerável das maiores cooperativas.
A partir dos anos 1980, a organização de sistemas de rela-
ções sociais tornou-se um referencial na dinâmica e na interação
entre atores. Neto (2000) destaca quatro momentos históricos
importantes, que indicam que as transformações econômicas
fazem que as organizações, especificamente as cooperativas, en-
frentem novos desafios, passando por frequentes processos de
adaptação.
1) O Congresso Brasileiro de Cooperativismo foi o pri-
meiro momento histórico citado por Neto (2000), e a
pauta da discussão desse congresso foi a autogestão
do sistema cooperativista. Desde então, com a publica-
ção da Constituição, em 1988, o sistema cooperativis-
ta, que é uma forma de organização, não depende da
ação ou intervenção do Estado. É importante salientar
que a autogestão com a ausência de autorregulação
torna essa forma de organização mais sujeita a gestões
oportunistas.
2) No fim da década de 1980, houve o processo de aber-
tura comercial do Brasil, o que muda os padrões de
eficiência das empresas e fortalece o surgimento de
organizações como as cooperativas e também ocasio-
na períodos de mudanças e adaptações, sendo esse o
segundo momento histórico citado pelo autor.

30 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 1 – ORGANIZAÇÕES

3) O terceiro momento trata, entre outros assuntos, da


responsabilidade social e econômica do cooperativis-
mo diante da sociedade, estabelecendo as diferenças
entre as empresas cooperativas e não cooperativas,
reafirmando a estrutura doutrinária e, também, os li-
mites para uma nova abordagem da estrutura de capi-
tal dessas organizações cooperativistas.
4) Por fim, o autor destaca, como quarto momento, a au-
sência do Estado na economia, as transformações da
política pública, as mudanças e reformas do Estado que
possibilitam, para o cooperativismo, o surgimento de
um sistema financeiro próprio, fazendo que essas or-
ganizações possam estabelecer seus bancos, atenden-
do às necessidades específicas de seus cooperados.
Geralmente, em alguns setores mais carentes da socieda-
de – e aqui se enquadra parte da agricultura familiar –, a coope-
rativa surge para atender algumas demandas sociais. No entan-
to, a maioria dessas cooperativas nasce sem uma infraestrutura
adequada; seus idealizadores geralmente são trabalhadores sem
disponibilidade de recursos financeiros para investir na organiza-
ção e os meios de produção necessários para a operacionaliza-
ção e divulgação de suas ações são incipientes, enfim, são várias
as necessidades dessas organizações, o que influencia, direta-
mente, sua atuação no mercado e, também, o nível de assistên-
cia e benefícios que ela garante a seus cooperados (PORTAL DO
COOPERATIVISMO POPULAR, 2014). Nesse sentido, as políticas
públicas voltadas às pequenas cooperativas podem ser um auxí-
lio que produza um efeito em cadeia, ou seja, beneficie desde os
agricultores até os consumidores finais.

© COOPERATIVISMO RURAL 31
UNIDADE 1 – ORGANIZAÇÕES

3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


1) LALANE, F. L. D. A essência e a conduta do cooperativis-
mo no modo de produção capitalista. Disponível em:
<http://www.fearp.usp.br/cooperativismo/_up_ar-
qarqu/lalane,_fabiana_l._d._a_essencia_e_a_condu-
ta_do_cooperativismo.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2015.
2) PORTAL DO COOPERATIVISMO POPULAR. Crédito para
cooperativas. Disponível em: <http://www.coopera-
tivismopopular.ufrj.br/cred_ccoo_leia.php>. Acesso
em: 12 jan. 2015.
3) REZENDE, D. C. Organizações rurais & agroindustriais.
Revista de Administração da UFLA, Lavras, v. 16, n. 4
(edição especial), p. 417-434, dez. 2014. Disponível
em: <http://revista.dae.ufla.br/index.php/ora/index>.
Acesso em: 12 jan. 2015.
4) TEREOS INTERNACIONAL. Visão geral. Disponível em:
<http://www.tereosinternacional.com.br/show.aspa
?idCanal=mrTJryNKvhzcBpCMdwIh+g==>. Acesso em:
12 jan. 2015.
O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição
necessária e indispensável para você compreender integralmen-
te os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. ORGANIZAÇÕES

As organizações surgem como uma forma de indivíduos


com os mesmos objetivos se unirem e, de forma integrada, siste-
matizada e organizada, conseguirem alcançá-los. É comum, em
nosso país, vermos diversos grupos que, por diversos motivos,

32 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 1 – ORGANIZAÇÕES

se juntam e se organizam. Nesse sentido, é importante que você


leia as indicações a seguir, para compreender as dificuldades e
necessidades dos cidadãos que os levam a formar e a montar
cooperativas.
• PORTAL DO COOPERATIVISMO POPULAR.
Perguntas frequentes. Disponível em: <http://www.
cooperativismopopular.ufrj.br/perguntas.php>. Acesso
em: 12 jan. 2015.
• SECRETARIA-GERAL. Presidência da República. Marco
Regulatório das Organizações da Sociedade Civil é
discutido em seminário. Disponível em: <http://www.
secretariageral.gov.br/noticias/2014/novembro/27-
11-2014-marco-regulatorio-das-organizacoes-da-
sociedade-civil-e-discutido-em-seminario>. Acesso em:
12 jan. 2015.
• SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Terra para Rose. Brasil,
1987. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=3JMXpZmcA-I>. Acesso em: 12 jan. 2015.

3.2. COOPERATIVAS

As cooperativas são organizações que, desde sua funda-


ção, evidenciam a preocupação de seus idealizadores em pro-
porcionar aos cooperados bem-estar, liberdade e acesso a bens
e serviços. É importante que você acesse os sites indicados a se-
guir para conhecê-las melhor.
• MINISTÉRIO DA AGRICULTURA. Associativismo rural.
Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/
cooperativismo-associativismo/associativismo-rural>.
Acesso em: 12 jan. 2015.

© COOPERATIVISMO RURAL 33
UNIDADE 1 – ORGANIZAÇÕES

• ONOFRE, G. R.; YOKOO, S. C. Cooperativismo rural.


Disponível em: <http://www.fecilcam.br/revista/index.
php/geomag/article/viewFile/43/pdf_21>. Acesso em:
12 jan. 2015.
• UFERSA – UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-
ÁRIDO. Associativismo e cooperativismo. Disponível
em: <http://www2.ufersa.edu.br/portal/view/uploads/
setores/241/Cartilha%20de%20Associativismo%20
e%20Cooperativismo.PET-PROEX.pdf>. Acesso em: 5
dez. 2014.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteú-
dos estudados para sanar as suas dúvidas.
1) As organizações burocráticas são:
a) Gerenciadas por meio de regras, que geralmente são exercidas por re-
gistros escritos. É também característica das organizações burocráticas
demonstrar autoridade racional legal, ou seja, seu governo estabelece-
-se pela lei.
b) Caracterizadas por um governo absoluto, sendo o poder desse tipo de
organização baseado nas decisões de um único indivíduo ou em um pe-
queno grupo, que tem o controle dos recursos críticos da organização.
c) Organizações nas quais a regra é exercida por meio da eleição dos
membros, que, mediante seus mandatos, exercem o poder ou elabo-
ram as regras em nome dos que representam.
d) Organizações em que todos têm o mesmo direito de governar. Des-
sa forma, todos fazem parte das decisões. Essa característica é no-
tada em organizações cooperativistas e se trata de um governo
auto-organizacional.

34 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 1 – ORGANIZAÇÕES

2) Neto (2000) destaca quatro momentos históricos importantes que indi-


cam que as transformações econômicas fazem que as organizações, espe-
cificadamente as cooperativas, enfrentem novos desafios, passando por
frequentes processos de adaptação. Escolha a alternativa que contenha
um desses momentos citado pelo autor.
a) A inserção das questões ambientais no contexto organizacional.
b) A abertura dos mercados nacionais no fim da década de 1980.
c) A exploração de novas áreas agricultáveis, o que fez os agricultores se
organizarem para alcançar seus objetivos.
d) A profissionalização da gestão no agronegócio.

3) De modo geral, podemos afirmar que o funcionamento das cooperativas


costuma ser semelhante em todo o planeta. Todavia, encontramos, de for-
ma clara, duas vertentes de pensamentos cooperativistas um tanto quan-
to divergentes. Quais são essas duas vertentes?
É importante ressaltar que o país que melhor conseguiu desenvolver a
ideologia da forma socialista em suas cooperativas foi:
a) Brasil.
b) Espanha.
c) Portugal.
d) Israel.

4) Com relação à visão capitalista desenvolvida no cooperativismo, é correto


afirmar que:
a) Temos como principal protagonista o continente europeu.
b) Trata-se de uma utopia, visto que a autogestão proporciona fraudes no
sistema cooperativista.
c) O capitalismo não proporciona competitividade às organizações
cooperativistas.
d) Todas as alternativas estão corretas.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:

© COOPERATIVISMO RURAL 35
UNIDADE 1 – ORGANIZAÇÕES

1) a.

2) b.

3) A cooperativa com o foco de desenvolvimento na forma socialista e a coo-


perativa com o foco de desenvolvimento na forma capitalista.

4) d.

5) a.

5. CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final da primeira unidade, na qual você teve
a oportunidade de compreender por que surgem as organiza-
ções e o que motiva os indivíduos a se unirem e se organizarem.
Vimos que as cooperativas são organizações que, de acordo com
seus princípios, primam pelos cooperados, garantindo-lhes, por
intermédio da cooperativa, que seus objetivos sejam alcançados.
Assim, o cooperativismo tem como meta atender a todos os co-
operados, garantindo a eles os mesmos direitos, participações e
obrigações, com o intuito de melhorar suas vidas.
Agora, na Unidade 2, trataremos das cooperativas no Brasil
e o que motiva os brasileiros a se unirem organizadamente em
cooperativas.

6. E-REFERÊNCIAS
LALANE, F. L. D. A essência e a conduta do cooperativismo no modo de produção
capitalista. Disponível em: <http://tcc.bu.ufsc.br/Economia293727>. Acesso em: 12
jan. 2014.
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA. Associativismo rural. Disponível em: <http://www.
agricultura.gov.br/cooperativismo-associativismo/associativismo-rural>. Acesso em:
12 jan. 2015.

36 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 1 – ORGANIZAÇÕES

ONOFRE, G. R.; YOKOO, S. C. Cooperativismo rural. Disponível em: <http://www.


fecilcam.br/revista/index.php/geomae/article/viewFile/43/pdf_21>. Acesso em: 12
jan. 2014.
PORTAL DO COOPERATIVISMO POPULAR. Crédito para cooperativas. Disponível em:
<http://www.cooperativismopopular.ufrj.br/cred_coop_leia.php>. Acesso em: 12 jan.
2015.
______. Perguntas frequentes. Disponível em: <http://www.cooperativismopopular.
ufrj.br/perguntas.php>. Acesso em: 12 jan. 2014.
REZENDE, D. C. Organizações rurais & agroindustriais. Revista de Administração
da UFLA, Lavras, v. 16, n. 4 (edição especial), p. 417-434, dez. 2014. Disponível em:
<http://revista.dae.ufla.br/index.php/ora/index>. Acesso em: 12 jan. 2015.
SECRETARIA-GERAL. Presidência da República. Marco Regulatório das Organizações da
Sociedade Civil é discutido em seminário. Disponível em: <http://www.secretariageral.
gov.br/noticias/2014/novembro/27-11-2014-marco-regulatorio-das-organizacoes-da-
sociedade-civil-e-discutido-em-seminario>. Acesso em: 12 jan. 2015.
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Terra para Rose. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=3JMXpZmcA-I>. Acesso em: 12 jan. 2014.
TEREOS INTERNACIONAL. Visão geral. Disponível em: <http://www.tereosinternacional.
com.br/show.aspx?idCanal=mrTJryNKvhzcBpCMdwIh+g==>. Acesso em: 12 jan. 2014.
UFERSA – UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO. Associativismo e
cooperativismo. Disponível em: <http://www2.ufersa.edu.br/portal/view/uploads/
setores/241/Cartilha%20de%20Associativismo%20e%20Cooperativismo.PET-PROEX.
pdf>. Acesso em: 9 dez. 2014.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARNEY, J. B.; HESTERLY, W. S. Administração estratégica e vantagem competitiva. São
Paulo: Prentice Hall, 2008.
BECHO, R. L. Elementos de Direito Cooperativo. São Paulo: Dialética, 2002.
CHIAVENATO, I. Comportamento organizacional: a dinâmica do sucesso das
organizações. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
COASE, R. H. The nature of the firm. Econômica, v. 4, p. 386-405, 1937.
CRÚZIO, H. O. Como organizar e administrar uma cooperativa. 3. ed. Rio de Janeiro:
FGV, 2002.

© COOPERATIVISMO RURAL 37
UNIDADE 1 – ORGANIZAÇÕES

DRUCKER, P. F. Fator humano e desempenho: o melhor de Peter F. Drucker sobre


Administração. Trad. Carlos A. Malferrari. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.
HOPPE, H. H. Uma teoria sobre o socialismo e o capitalismo. São Paulo: Instituto
Ludwig von Mises Brasil, 2010.
MORGAN, G. Imagens da organização. São Paulo: Atlas, 2007.
NELSON, R.; WINTER, S. An evolutionary theory of economic change. Cambridge:
Harvard University Press, 1982.
PERRENOUD, P. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens, entre duas
lógicas. Porto Alegre: Artmed, 1999.
RECH, D. Cooperativas: uma alternativa de organização popular. Rio de Janeiro: DP&A,
2000.
SAES, M. S. M. Organizações e instituições. In: ZYLBERSZTAJN; NEVES. Economia e
Gestão dos Negócios Agroalimentares: indústria de alimentos, indústria de insumos,
produção agropecuária, distribuição. São Paulo: Pioneira, 2005, p. 165-186. Capítulo 8.
ZAWISLAK, P. V. Economia das organizações e a base para o pensamento estratégico.
In: CLEGG, S. R. et. al. (Orgs.). Handbook de Estudos Organizacionais. São Paulo: Atlas,
2004. p. 180-185.

38 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 2
O BRASIL E OS MODELOS DE
COOPERATIVAS

Objetivos
• Conhecer os principais modelos de cooperativas existentes no Brasil.
• Analisar a relação dos princípios cooperativistas com os modelos de
cooperativas existentes no Brasil.
• Compreender por que surgem as organizações cooperativistas de
acordo com o contexto histórico das cooperativas no país.

Conteúdos
• Os princípios cooperativistas.
• As doutrinas cooperativistas.
• Principais modelos de cooperativas existentes no Brasil.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) É importante, ao ler a unidade, observar que as cooperativas existentes


em nosso país apresentam uma profunda ligação com a própria história e
o modelo de desenvolvimento brasileiro.

2) Faça pesquisas sobre as lutas camponesas em nosso país e observe que o


Cooperativismo foi uma solução encontrada para essa classe social alcan-
çar dignidade e competitividade.

39
UNIDADE 2 – O BRASIL E OS MODELOS DE COOPERATIVAS

3) Leia com atenção os itens descritos no Conteúdo Digital Integrador e pro-


cure respostas para suas dúvidas nos textos e vídeos indicados nesses
itens.

40 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 2 – O BRASIL E OS MODELOS DE COOPERATIVAS

1. INTRODUÇÃO
No estudo desta unidade, vamos ter contato com os prin-
cipais modelos de cooperativas que se destacaram no Brasil. Po-
deremos notar que não é por acaso que esses modelos se des-
tacaram. O contexto histórico do Brasil, no que diz respeito ao
seu desenvolvimento, suas lutas e os anseios de seu povo, deu
origem a organizações cooperativas que se enraizaram na socie-
dade e proporcionaram ao povo brasileiro o direito de sonhar,
ter acesso a determinados bens e finalmente competir em um
mercado de livre empresa e, por vezes, neoliberal.

1.1. O BRASIL E OS MODELOS DE COOPERATIVAS

O Cooperativismo teve uma rápida expansão pelo mundo,


tornando-se um modelo social de organização e a esperança de
melhores possibilidades e oportunidades para seus associados
diante do mercado. Nesse contexto, relata-se que:
Desde tempos remotos, a arte diária da sobrevivência compro-
va: o homem é um ser social. Juntos, os indivíduos têm mais
chance de sobreviver e de evoluir. Disso já sabiam os egípcios,
os gregos, os romanos, os maias, os astecas… Não é à toa que
eles viviam em comunidades e se uniam para caçar, pescar,
construir e cultivar. Foi nesses exemplos e em teorias que de-
fendiam a associação de pessoas como solução para problemas
sociais – de pensadores como Roberto Owen (1771-1858) e
Charles Fourier (1772-1837) – que os pioneiros do cooperati-
vismo buscaram inspiração para garantir o bem-estar de suas
famílias em meio a uma crise. (BRASIL, 2006, p. 10).

Assim, teremos agora a oportunidade de estudar os prin-


cípios em que as cooperativas se fundamentam e os principais
modelos de cooperativas desenvolvidos no Brasil. Esses modelos

© COOPERATIVISMO RURAL 41
UNIDADE 2 – O BRASIL E OS MODELOS DE COOPERATIVAS

não são únicos ou exclusivos do país, porém, por questões empí-


ricas (sociais, culturais e históricas), os modelos de associações
cooperativistas que mais se destacaram no Brasil serão aborda-
dos nesta unidade. É importante também salientar que:
Com a rápida expansão do cooperativismo pelo mundo, 51 anos
depois da criação da primeira cooperativa foi fundada uma en-
tidade com representação mundial. A Aliança Cooperativa In-
ternacional (ACI) nasceu em 1895, na Inglaterra, com a missão
de representar, congregar e defender o movimento, divulgar a
doutrina e preservar seus valores e princípios [...]. O Brasil é
filiado à ACI desde 1989. Em 1992, o País começou a participar
da direção da entidade, quando o então presidente da Organi-
zação das Cooperativas Brasileiras (OCB), Roberto Rodrigues foi
eleito presidente da ACI Américas, o que lhe conferia automa-
ticamente o cargo de vice-presidente. Em 1997, Rodrigues foi o
primeiro não-europeu a assumir o cargo de presidente mundial
da ACI, ocupando a função até 2001. Rodrigues é também autor
do sétimo princípio do cooperativismo, que prega o “interesse
pela comunidade” (BRASIL, 2006, p. 12).

Dessa forma, é importante salientar que o Brasil é envol-


vido e reconhecido internacionalmente pela força de suas coo-
perativas, seja no caráter mercadológico, seja no caráter social
dessas organizações, com destaque para as cooperativas do
agronegócio.

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma su-
cinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão
integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo do Conteú-
do Digital Integrador.

42 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 2 – O BRASIL E OS MODELOS DE COOPERATIVAS

2.1. OS PRINCÍPIOS COOPERATIVISTAS

É importante ressaltar que, apesar de o Brasil contemplar


diferentes modelos cooperativos, os princípios e as doutrinas
que norteiam uma cooperativa são os mesmos. Esses princípios
são:
1) Adesão voluntária e livre: as cooperativas surgem pela
iniciativa voluntária de pessoas; portanto, são organi-
zações voluntárias e devem ser abertas e receber todas
as pessoas que necessitam utilizar os seus serviços. Em
contrapartida, essas pessoas devem estar dispostas a
assumir as responsabilidades como membros da orga-
nização. No Cooperativismo, não deve haver discrimi-
nações com relação ao sexo, posição social, raça, credo
e políticas.
2) Gestão democrática e livre: como vimos na unidade
anterior, existem várias formas de a organização im-
por sua forma de governar. Nos princípios do Coope-
rativismo, o segundo princípio faz menção à forma de
governo das cooperativas e destaca que esse governo
deve ser de forma democrática livre. Assim, as orga-
nizações cooperativistas são democráticas e devem
ser controladas pelos membros, que fundamentam e
planejam as políticas na tomada de decisões da coope-
rativa e participam delas. Tanto os homens quanto as
mulheres que são eleitos para serem representantes
dos demais membros da cooperativa são responsáveis
por eles.
3) Participação econômica dos membros: se houver, os
membros receberão uma remuneração limitada ao ca-
pital integralizado no ato de sua adesão, ou seja, uma

© COOPERATIVISMO RURAL 43
UNIDADE 2 – O BRASIL E OS MODELOS DE COOPERATIVAS

remuneração baseada no investimento que fez na or-


ganização. Assim, os integrantes contribuem equitati-
vamente para o capital da organização (cooperativa) e
o controlam democraticamente. Normalmente, parte
desse capital é propriedade comum da cooperativa, e
os excedentes são destinados às seguintes finalidades:
a) Desenvolvimento da(s) cooperativa(s) por meio da
criação de reservas.
b) Benefício aos membros na proporção das suas
transações com a cooperativa.
c) Apoio e desenvolvimento de outras atividades
aprovadas pelos membros.
4) Autonomia e independência: as cooperativas têm
como características serem a) organizações autôno-
mas; b) de ajuda mútua; e c) controladas pelos seus
membros. Essas características fazem que, caso as co-
operativas firmem contratos ou acordos com outras
organizações (instituições públicas, por exemplo) ou
tomem capital de terceiros, não comprometam as ca-
racterísticas destacadas anteriormente. Assim, as tran-
sações realizadas com outras organizações devem ser
feitas em condições de segurança, para que o controle
democrático seja mantido, assim como os membros
que o compõem (gestores), com o intuito de mante-
rem a autonomia da cooperativa.
5) Educação, formação e informação: o desenvolvimen-
to das cooperativas deve ser respaldado pela educa-
ção; dessa forma, essas organizações devem promover
a formação de seus membros, de seus representantes
eleitos e, também, de seus trabalhadores, com a fina-

44 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 2 – O BRASIL E OS MODELOS DE COOPERATIVAS

lidade de desenvolvê-los e, consequentemente, alcan-


çar um nível de desenvolvimento organizacional.
6) Intercooperação: "As cooperativas servem de forma
mais eficaz os seus membros e dão mais força ao movi-
mento cooperativo, trabalhando em conjunto, através
das estruturas locais, regionais, nacionais e internacio-
nais" (BRASIL, 2006, p. 14).
7) Interesse pela comunidade: "As cooperativas traba-
lham para o desenvolvimento sustentado das suas co-
munidades através de políticas aprovadas pelos mem-
bros" (BRASIL, 2006, p. 14).
Com relação às doutrinas cooperativistas, Gonçalves e Ve-
gro (1994) destacam que:
As cooperativas agropecuárias estão inseridas na Doutrina Coo-
perativista, movimento originado em Rochdale na Inglaterra do
século XIX. Sua concepção pretende ser mais ampla que mera
organização de mercado, pois é uma resposta ao individualis-
mo liberal. O cooperativismo pretende realizar uma reforma do
capitalismo por intermédio da cooperação e, com isso, reduzir
os impactos sociais decorrentes da excludência gerada no pro-
cesso de avanço da acumulação capitalista. As empresas coope-
rativas guardam, desse modo, a peculiaridade de um universo
doutrinário que implica em relações contratuais diferenciadas
com os agricultores (GONÇALVES; VEGRO, 1994, p. 61).

Atualmente, o Cooperativismo é uma realidade mundial-


mente reconhecida e, com seus 162 anos, é considerado um
movimento ou uma organização social de pessoas que buscam,
além de algum produto ou serviço, uma convivência equilibrada
entre o econômico e o social. O desafio desse setor, no Brasil,
é mostrar à sociedade que, por meio da ajuda mútua e da soli-
dariedade, ele é capaz de implantar um modelo sustentável de

© COOPERATIVISMO RURAL 45
UNIDADE 2 – O BRASIL E OS MODELOS DE COOPERATIVAS

gestão e produção, capaz de promover o desenvolvimento eco-


nômico e a divisão de riquezas (BRASIL, 2006).
Em 1844, surgem, no Brasil, os primeiros movimentos co-
operativistas. No ano de 1889, com a formalização da Sociedade
Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Pre-
to, no Estado de Minas Gerais, surge a primeira cooperativa bra-
sileira. Com as mesmas características dos tecelões de Rochdale,
os funcionários públicos de Ouro Preto criaram uma organiza-
ção que garantisse uma forma de consumo acessível, forman-
do, assim, uma Sociedade Cooperativa de Consumo que oferecia
produtos diversificados, que variavam de produtos alimentícios
a residências e crédito. Logo o exemplo mineiro instigou o surgi-
mento de outras cooperativas no Brasil, que eram formadas, em
sua maioria, por funcionários públicos, militares, profissionais
liberais e operários, que perceberam que suas ações conjuntas
atenderiam melhor às suas necessidades. As organizações que
se tornaram destaque no Brasil, as cooperativas agropecuárias,
surgiram ainda no século 19, e o primeiro registro de movimen-
tos sociais dessa natureza foi em 1892, na região de Veranápolis,
no Estado do Rio Grande do Sul, com o surgimento da Società
Cooperativa Delle Convenzioni Agricoli (BRASIL, 2006).
Apesar dos evidentes benefícios que as cooperativas tra-
zem para as regiões onde se instalam, no Brasil, esse tipo de or-
ganização sempre encontrou dificuldades para se desenvolver.
Um exemplo dessa dificuldade é a legislação, baseada, ainda, em
leis restritivas, elaboradas no início da década de 1930 do sécu-
lo passado, o que faz que o Brasil tenha adotado um arcabouço
jurídico complexo, verificado ao longo dos anos, dificultando a
expansão desse tipo de organização (BACHA, 2004).

46 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 2 – O BRASIL E OS MODELOS DE COOPERATIVAS

Ainda com relação às dificuldades, é importante salientar


que elas podem não representar o mesmo impacto ou a mesma
dimensão no agronegócio, ou seja, o Brasil compreende diferen-
tes realidades rurais, conforme pode ser analisado no Quadro
1, em que se pode perceber os impactos, e isso pode variar, por
exemplo, de acordo com sua capacidade produtiva, gerencial,
tecnológica etc.

Quadro 1 Agricultores no Brasil.

Fonte: Waquil, Miele e Schultz (2010, p. 13).

Quando analisamos o quadro, podemos observar que o


contexto rural no Brasil, em se tratando de agricultores, é bem
diversificado, o que pode representar para o país a necessida-
de de elaborar políticas públicas direcionadas para cada tipo de
agricultor, com o intuito de que cada grupo possa alcançar um
nível de desenvolvimento desejado. Caso contrário, nosso país
pode bater consecutivos recordes de produção e ter um agrone-
gócio muito desenvolvido para alguns grupos, mas, ao mesmo
tempo, enfrentar, nesse mesmo segmento, a pobreza, o êxodo
rural e a falta de recursos para outros grupos.

© COOPERATIVISMO RURAL 47
UNIDADE 2 – O BRASIL E OS MODELOS DE COOPERATIVAS

2.2. PRINCIPAIS MODELOS DE COOPERATIVAS EXISTENTES NO


BRASIL

O Quadro 2 procura evidenciar alguns dos principais mo-


delos de cooperativas existentes no país e suas respectivas
características.

Quadro 2 Principais modelos de cooperativas existentes no


Brasil.

PRINCIPAIS MODELOS CARACTERÍSTICAS


Segundo Rech (2000, p. 38), “as
cooperativas de consumo são as que
Cooperativas de consumo
se ocupam em distribuir produtos ou
serviços aos seus sócios, buscando as
melhores condições, os melhores preços
e a melhor qualidade”.
No início do século 21, as cooperativas de
crédito apresentaram forte crescimento,
penetrando áreas antes ocupadas pelos
bancos tradicionais. Essas organizações
buscam realizar empréstimos para os
cooperados e trabalham com tarifas
reduzidas. Outra característica é que
Cooperativas de crédito
parte do lucro, após a realização da
Assembleia Geral Ordinária, é distribuído
para os vinculados ao sistema, por
meio de depósito na conta. Nas demais
modalidades, normalmente, se houver
sobras (lucro), elas são depositadas no
capital social do cooperado. Sua presença
é mais forte no Sul e Sudeste do Brasil
(BACHA, 2004).

48 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 2 – O BRASIL E OS MODELOS DE COOPERATIVAS

PRINCIPAIS MODELOS CARACTERÍSTICAS


As cooperativas de trabalho agrupam
trabalhadores de diversas áreas
(técnicos, profissionais liberais,
trabalhadores rurais etc.), tendo como
função a alocação da mão de obra
oferecida por eles e proporcionando
Cooperativas de trabalho
o desenvolvimento das atividades
realizadas por esses profissionais. Um
exemplo de sucesso desse tipo de
organização são as UNIMEDs. No meio
rural, esse tipo de cooperativa não se
desenvolveu, e, geralmente, o que se
difunde no meio rural é a terceirização
da mão de obra (BACHA, 2004).

As cooperativas agrícolas e pecuárias


são as mais comuns no Brasil, estando
presentes em todas as regiões do país.
Essas cooperativas buscam organizar as
Cooperativas agrícolas e pecuárias atividades dos seus sócios, garantindo-
lhes maior eficiência e competitividade,
seja armazenando, vendendo ou
transformando os seus produtos
agrícolas, seja intermediando a compra
de insumos dos produtores rurais (RECH,
2000).

Fonte: adaptado de Rech (2000) e Bacha (2004).

Observa-se, com a análise do quadro, que o Cooperativis-


mo não é uma especificidade apenas do agronegócio, mas, sim,
de diversos segmentos do mercado. Com relação ao agronegó-
cio, estima-se que existam mais de 1.561 cooperativas desse
segmento em todo o Brasil, abrangendo mais de 1.000.000 de
cooperados, gerando quase 165.000 empregos diretos e respon-
dendo por 48% da produção agropecuária nacional, conforme
relatório da Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB do

© COOPERATIVISMO RURAL 49
UNIDADE 2 – O BRASIL E OS MODELOS DE COOPERATIVAS

ano de 2012. No entanto, existem diversos tipos de modelos e


classificações de cooperativas adotados no país. Visando tornar
dinâmico e objetivo nosso estudo, vamos elencar, tão somente,
os mais conhecidos e adotados no país.
As cooperativas agrícolas passaram por uma forte expan-
são no Brasil a partir da década de 1980. Essa expansão se dá,
principalmente, pelo desenvolvimento de novas tecnologias,
como, por exemplo, novas variedades de sementes, nas áreas
de fronteira agrícola do Brasil (principalmente nas terras de cer-
rado do Centro-Oeste brasileiro), e, também, pelo fato de que
as organizações cooperativistas tiveram de acompanhar a mo-
dernização das empresas em geral e profissionalizaram suas for-
mas de gestão. Por outro lado, diversas cooperativas que não se
atualizaram administrativamente acabaram perdendo competi-
tividade e, consequentemente, perderam seu lugar no mercado,
deixando diversos problemas para seus diretores e cooperados,
tais como:
• Indisponibilidade do patrimônio da cooperativa e de
seus dirigentes, que avalizaram os empréstimos.
• Falta de recolhimento dos encargos sociais dos
colaboradores.
• Dívidas tributárias com os entes governamentais.
Outro problema que afeta muitas cooperativas é a perda
de foco, ou seja, a criatura (cooperativa) acaba engolindo o seu
criador (pessoas com interesses comuns que idealizam o proje-
to), ou, em outras palavras, ela deixa de olhar os cooperados,
que são sua razão de ser, de sua existência, e passam a focar
exclusivamente o mercado e o lucro, chegando até a explorar
aqueles que deveria proteger (BACHA, 2004).

50 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 2 – O BRASIL E OS MODELOS DE COOPERATIVAS

Vídeo complementar–––––––––––––––––––––––––––––––––
Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar.
• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique no ícone
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de seu curso (Graduação), a categoria (Disciplina) e o tipo de vídeo
(Complementar). Por fim, clique no nome da disciplina para abrir a
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e selecione: O Brasil e os modelos de cooperativas – Vídeos
Complementares – Complementar 1.
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3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR

3.1. O COOPERATIVISMO NO BRASIL

A cooperação e a cultura cooperativista são amplamente


concebidas no Brasil e, de acordo com a OCD (2014), existem
desde a colonização portuguesa. Conforme estudamos, em
1844, surgem, no Brasil, os primeiros movimentos cooperativis-
tas. No ano de 1889, com a formalização da Sociedade Coopera-
tiva Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto, no Es-
tado de Minas Gerais, surge a primeira cooperativa brasileira. É
notório que o processo de Cooperativismo ocorre desde tempos
remotos, confirmando que o homem é um ser social e tem mais
chance de sobreviver e de evoluir em conjunto (BRASIL, 2014).
• BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. Evolução do cooperativismo no
Brasil: DENACOOP em ação/Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento. Brasília: MAPA, 2006. 124
p. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/arq_
editor/file/CooCooperativi%20e%20Associativismo/

© COOPERATIVISMO RURAL 51
UNIDADE 2 – O BRASIL E OS MODELOS DE COOPERATIVAS

Publica%C3%A7%C3%B5es%20e%20M%C3%ADdias/
Evolu%C3%A7%C3%A3o%20do%20Cooperativismo%20
no%20BrasBr%20Denacoop%20em.pdf>. Acesso em:
13 jan. 2015.
• BRASIL COOPERATIVO. Relatório da gerência de
monitoramento: panorama do cooperativismo
brasileiro – ano 2011. Disponível em: <http://www.
brasilcooperativo.coop.br/gerenciador/ba/arquivos/
panorama_do_cooperativismo_brasileiro___2011.
pdf>. Acesso em: 6 dez. 2014.
• OCB. Evolução no Brasil: movimento livre da influência
do Estado. Disponível em: <http://www.ocb.org.br/
site/cooperativismo/evolucao_no_brasil.asp>. Acesso
em: 13 jan. 2015.
• PROGRAMA COOPERAÇÃO. História do cooperativismo.
Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=G3MoKS0YyzY>. Acesso em: 8 dez. 2014.

3.2. PRINCÍPIOS E DOUTRINAS COOPERATIVISTAS

O Cooperativismo pode ser visto ou compreendido como


um movimento social, baseado e alicerçado em princípios e dou-
trinas cooperativistas. Tais princípios e doutrinas vão servir de
parâmetros e regras para os atos e ações dos cooperados. É im-
portante salientar que as atitudes individuais ou coletivas dos se-
res humanos podem ser morais, imorais e amorais. Tais atitudes
definem o comportamento ético do indivíduo ou de um grupo;
dessa forma, nem os princípios nem as doutrinas poderão repri-
mir atitudes imorais se o indivíduo ou o grupo assim quiser agir.

52 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 2 – O BRASIL E OS MODELOS DE COOPERATIVAS

• COSTA, A. H. Ética e comportamento organizacional


nas cooperativas. Disponível em: <http://www.
centropaulasouza.sp.gov.br/pos-graduacao/workshop-
de-pos-graduacao-e-pesquisa/007-workshop-2012/
workshop/trabalhos/gestneg/etica-e-comportamento.
pdf>. Acesso em: 13 jan. 2015.
• SESCOOP/PE. Doutrina cooperativista. Disponível em:
<http://www.pecooperativo.coop.br/index.php/ocb-
pe/doutrina>. Acesso em: 13 jan. 2015.
• SILVA, P.; ABRANTES, R.; OLIVEIRA, A. C. Doutrina
e princípios cooperativistas: um estudo de caso na
cooperativa Maxi Mundi. Disponível em: <http://www.
itpac.br/arquivos/Revista/53/6.pdf>. Acesso em: 13
jan. 2015.

3.3. COOPERATIVAS NO SETOR AGROPECUÁRIO

Conforme estudamos anteriormente, os seres humanos,


ao perceberem que suas ações coletivas têm maiores resultados
do que as individuais, se unem e se organizam a fim de atingi-
rem objetivos. Nesse ínterim, os agricultores, principalmente os
pequenos, têm a necessidade de se unir para, de certa forma,
conseguir sobreviver dentro da lógica capitalista vigente no mer-
cado. Dessa forma, o número de cooperativas nesse segmento
do agronegócio vem aumentando. No entanto, o fato de quase
sempre essas cooperativas serem abertas sem capital de giro e
em precárias condições físicas e gerenciais fazem que seu ciclo
de vida seja breve e elas acabem, na sua maioria, paralisando
suas atividades em pouco tempo (ADAMI, 2013).

© COOPERATIVISMO RURAL 53
UNIDADE 2 – O BRASIL E OS MODELOS DE COOPERATIVAS

• PIRES, M. L. L. S. O cooperativismo agrícola como uma


forma de neutralizar as desvantagens competitivas da
agricultura familiar. Em análise a Coopercaju. Intercom:
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da
Comunicação. XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências
da Comunicação – Caxias do Sul, RS – 2 a 6 de setembro
de 2010. Disponível em: <http://www.intercom.org.
br/papers/nacionais/2012/resumos/r5-2786-1.pdf>.
Acesso em: 13 jan. 2015.
• RIBEIRO, K. Á.; NASCIMENTO, D. C.; SILVA, J. F. B. A.
Importância das cooperativas agropecuárias para
o fortalecimento da agricultura familiar: o caso da
Associação de Produtores Rurais do Núcleo VI –
Petrolina/PE. Disponível em: <http://www.fearp.usp.
br/cooperativismo/_up_imagens/%28ok%29_ii_ebcp_
avila_ribeiro.pdf>. Acesso em: 6 dez. 2014.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteú-
dos estudados para sanar as suas dúvidas.
1) Assinale a alternativa falsa.
Diversas cooperativas que não se atualizaram administrativamente acaba-
ram perdendo competitividade e, consequentemente, perderam seu lugar
no mercado, deixando diversos problemas para seus diretores e coopera-
dos, tais como:
a) Indisponibilidade do patrimônio da cooperativa e de seus dirigentes,
que avalizaram os empréstimos.
b) Falta de recolhimento dos encargos sociais dos colaboradores.

54 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 2 – O BRASIL E OS MODELOS DE COOPERATIVAS

c) Dívidas tributárias com os entes governamentais.


d) Disponibilidade de capital de giro para aplicações financeiras.

2) Quais são os principais modelos de cooperativas que foram estudados na


Unidade 2? Quais são as características de cada modelo?

3) Descreva os primeiros movimentos cooperativistas e o contexto histórico


desses movimentos no Brasil.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) d.

2) Resposta:
PRINCIPAIS MODELOS CARACTERÍSTICAS
Segundo Rech (2000, p. 38), "as
Cooperativas de consumo cooperativas de consumo são as que
se ocupam em distribuir produtos ou
serviços aos seus sócios, buscando as
melhores condições, os melhores preços
e a melhor qualidade".
No início do século 21, as cooperativas de
crédito apresentaram forte crescimento,
penetrando áreas antes ocupadas pelos
bancos tradicionais. Essas organizações
buscam realizar empréstimos para os
cooperados e trabalham com tarifas
Cooperativas de crédito reduzidas. Outra característica é que
parte do lucro, após a realização da
Assembleia Geral Ordinária, é distribuído
para os vinculados ao sistema, por
meio de depósito na conta. Nas demais
modalidades, normalmente, se houver
sobras (lucro), elas são depositadas no
capital social do cooperado. Sua presença
é mais forte no Sul e Sudeste do Brasil
(BACHA, 2004).

© COOPERATIVISMO RURAL 55
UNIDADE 2 – O BRASIL E OS MODELOS DE COOPERATIVAS

PRINCIPAIS MODELOS CARACTERÍSTICAS


As cooperativas de trabalho agrupam
trabalhadores de diversas áreas (técnicos,
profissionais liberais, trabalhadores rurais
etc.), tendo como função a alocação
da mão de obra oferecida por eles e
proporcionando o desenvolvimento
Cooperativas de trabalho
das atividades realizadas por esses
profissionais. Um exemplo de sucesso
desse tipo de organização são as
UNIMEDs. No meio rural, esse tipo de
cooperativa não se desenvolveu, e,
geralmente, o que se difunde no meio
rural é a terceirização da mão de obra
(BACHA, 2004).
As cooperativas agrícolas e pecuárias
são as mais comuns no Brasil, estando
presentes em todas as regiões do país.
Essas cooperativas buscam organizar as
Cooperativas agrícolas e pecuárias atividades dos seus sócios, garantindo-
lhes maior eficiência e competitividade,
seja armazenando, vendendo ou
transformando os seus produtos
agrícolas, seja intermediando a compra
de insumos dos produtores rurais (RECH,
2000).

3) Resposta:
Em 1844, surgem no Brasil os primeiros movimentos cooperativistas. No
ano de 1889, com a formalização da Sociedade Cooperativa Econômica
dos Funcionários Públicos de Ouro Preto, no Estado de Minas Gerais, sur-
ge então a primeira cooperativa brasileira. Com as mesmas características
dos tecelões de Rochdale, os funcionários públicos de Ouro Preto criaram
uma organização que garantisse uma forma de consumo acessível, for-
mando assim uma Sociedade Cooperativa de Consumo, que os oferecia
produtos diversificados que variavam de produtos alimentícios até resi-
dências e crédito. Logo o exemplo mineiro instigou o surgimento de outras
cooperativas no Brasil, que eram formadas em sua maioria por funcioná-
rios públicos, militares, profissionais liberais e operários, que perceberam
que suas ações conjuntas atenderiam melhor às suas necessidades. As
organizações que se tornaram destaque no Brasil, as cooperativas agrope-

56 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 2 – O BRASIL E OS MODELOS DE COOPERATIVAS

cuárias, surgiram ainda no século 19, e o primeiro registro de movimentos


sociais dessa natureza foi em 1892, na região de Veranápolis no Estado do
Rio Grande do Sul, com o surgimento da Società Cooperativa Delle Con-
venzioni Agricoli (BRASIL, 2006).

5. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, tivemos a oportunidade de estudar os mo-
vimentos cooperativistas e as primeiras cooperativas organiza-
das no Brasil. Observamos que a motivação dos brasileiros em se
organizarem são as mesmas que motivaram os precursores des-
se tipo de movimento, ou seja, necessidades em se obter algum
tipo de bem ou mesmo necessidade de liberdade.
Na Unidade 3, estudaremos sobre a gestão das coopera-
tivas. No entanto, a ênfase da unidade será nas peculiaridades
dessas organizações, que, consequentemente, refletem nas
ações administrativas dos gestores.

6. E-REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Evolução do cooperativismo
no Brasil: DENACOOP em ação/Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Brasília: MAPA, 2006. 124 p. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/arq_
editor/file/Cooperativismo%20e%20AssociativismA/Publica%C3%A7%C3%B5es%20
e%20M%C3%ADdias/Evolu%C3%A7%C3%A3o%20do%20Cooperativismo%20no%20
Brasil%20Denacoop%20em.pdf>. Acesso em: 13 jan. 2015.
BRASIL COOPERATIVO. Relatório da gerência de monitoramento: panorama do
cooperativismo brasileiro – ano 2011. Disponível em: <http://www.brasilcooperativo.
coop.br/gerenciador/ba/arquivos/panorama_do_cooperativismo_brasileiro___2011.
pdf>. Acesso em: 6 dez. 2014.
COSTA, A. H. Ética e comportamento organizacional nas cooperativas. Disponível
em: <http://www.centropaulasouza.sp.gov.br/pos-graduacao/workshop-de-pos-
graduacao-e-pesquisa/007-workshop-2012/workshop/trabalhos/gestneg/etica-e-
comportamento.pdf>. Acesso em: 13 jan. 2015.

© COOPERATIVISMO RURAL 57
UNIDADE 2 – O BRASIL E OS MODELOS DE COOPERATIVAS

GONÇALVES, J. S.; VEGRO, C. L. R. Crise econômica e cooperativismo agrícola: uma


discussão sobre os condicionantes das dificuldades financeiras da cooperativa agrícola
de Cotia (CAC). Agricultura em São Paulo, v. 41, n. 2. p. 57-87, 1994. Disponível em:
<ftp://ftp.sp.gov.br/ftpiea/asp4-0294.pdf>. Acesso em: 6 de out. 2014.
OCB. Cresce número de pessoas ligadas ao cooperativismo. Disponível em: <http://
www.ocb.org.br/site/ramos/estatisticas.asp>. Acesso em: 13 jan. 2015.
OCB. Evolução no Brasil: movimento livre da influência do Estado. Disponível em:
<http://www.ocb.org.br/site/cooperativismo/evolucao_no_brasil.asp>. Acesso em:
13 jan. 2015.
PIRES, M. L. L. S. O cooperativismo agrícola como uma forma de neutralizar as
desvantagens competitivas da agricultura familiar. Em análise a Coopercaju. Intercom:
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XXXIII Congresso
Brasileiro de Ciências da Comunicação – Caxias do Sul, RS – 2 a 6 de setembro de
2010. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2010/resumos/
r5-2786-1.pdf>. Acesso em: 13 jan. 2015.
RIBEIRO, K. Á.; NASCIMENTO, D. C.; SILVA, J. F. B. A importância das cooperativas
agropecuárias para o fortalecimento da agricultura familiar: o caso da Associação de
Produtores Rurais do Núcleo VI – Petrolina/PE. Disponível em: <http://www.fearp.usp.
br/cooperativismo/_up_imagens/%28ok%29_ii_ebcp_avila_ribribe.pdf>. Acesso em:
6 de dez. de 2014.
SESCOOP/PE – SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM DO COOPERATIVISMO NO
ESTADO DE PERNAMBUCO. Doutrina cooperativista. Disponível em: <http://www.
pecooperativo.coop.br/index.php/ocb-pe/doutrina>. Acesso em: 13 jan. 2015.
SILVA, P.; ABRANTES, R.; OLIVEIRA, A. C. Doutrina e princípios cooperativistas: um
estudo de caso na cooperativa Maxi Mundi. Disponível em: <http://www.itpac.br/
arquivos/Revista/53/6.pdf>. Acesso em: 13 jan. 2015.
WAQUIL, P. D.; MIELE, M.; SCHULTZ, G. Mercados e comercialização de produtos
agrícolas. Universidade Aberta do Brasil – UAB/UFR-GS e Curso de Graduação
Tecnológica – Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural da SEAD/
UFRGS [Coords.]. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2010. (Série Educação a Distância).
Disponível em: <http://www.ufrgs.br/cursopgdr/downloadsSerie/derad016.pdf>.
Acesso em: 13 jan. 2015.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BACHA, C. J. C. Economia e política agrícola no Brasil. São Paulo: Atlas, 2004. 226 p.

58 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 2 – O BRASIL E OS MODELOS DE COOPERATIVAS

RECH, D. Cooperativas: uma alternativa de organização popular. Rio de Janeiro: DP&A,


2000. 192 p.

© COOPERATIVISMO RURAL 59
© COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 3
GESTÃO E COOPERATIVAS

Objetivos
• Compreender que a gestão das cooperativas difere da gestão de em-
presas privadas pelo fato de as cooperativas terem princípios e dou-
trinas peculiares.
• Entender que as ferramentas de gestão de uma cooperativa podem
ser as mesmas ferramentas utilizadas por uma empresa privada.
• Conhecer a forma de gestão das novas gerações de cooperativas.
• Aplicar a gestão nas cooperativas, primando pela preservação dos
princípios e doutrinas cooperativistas.

Conteúdos
• Peculiaridades das cooperativas.
• O sistema cooperativista no Brasil.
• Comparação entre empresa privada (firma de capital) e empresa
cooperativista.
• Nova geração de cooperativas.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Saiba que o gestor que trabalha em cooperativas deve ser um profissional


comprometido com o desenvolvimento social e econômico e, além disso,
deve colocar esse comprometimento acima de seus interesses pessoais.
Tal gestor necessita de qualificação constante, a fim de compreender o
papel social das cooperativas, bem como seu nível de competitividade,
sempre respeitando valores éticos, morais, culturais, sociais e ambientais.

61
UNIDADE 3 – GESTÃO E COOPERATIVAS

2) O sucesso de uma cooperativa, assim como de qualquer empresa, depen-


de de como ela é gerida. As cooperativas, por serem organizações dife-
rentes de uma empresa comum, devem ser pensadas e geridas de acordo
com suas peculiaridades. Por exemplo, em uma cooperativa, o cooperado
é o cliente, o gestor e o próprio dono dela. Dessa forma, pensar a gestão
de uma cooperativa compreende pensar em uma gestão que atenda aos
interesses comuns de seus cooperados e aos interesses da organização
cooperativista.

62 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 3 – GESTÃO E COOPERATIVAS

1. INTRODUÇÃO
Nesta unidade, vamos analisar alguns pontos importantes
com relação à gestão de cooperativas. Por isso, é importante nos
lembrarmos dos princípios e das diretrizes que fundamentam
a cooperativa, para que possamos entender as estratégias e o
desenho organizacional das cooperativas. É importante salien-
tar que, em termos de mercado, esse tipo de organização (co-
operativa) concorre com firmas, que têm princípios e diretrizes
diferentes e se especializam em seu segmento de mercado, com-
petindo fortemente para diminuir o poder da concorrência. Por-
tanto, vale relembrar que as cooperativas têm como base de sua
gestão e fortalecimento diante do mercado a união de seus coo-
perados, seja para captar, distribuir ou investir recursos. Assim, o
cooperado torna-se, além de sócio da organização, seu principal
usuário ou cliente.
Segundo Bialoskorski Neto (2001), grande parte das coope-
rativas (cerca de dois terços) são ligadas ao agronegócio. Isso por-
que esse tipo de organização se desenvolve com mais ênfase no
setor primário da economia, setor esse ao qual a agricultura faz
parte. É importante também salientar que a agricultura concorre
com grandes oligopólios. Nesse sentido, é preciso destacar que,
em um sistema econômico, os agricultores se encaixam em uma
economia de mercado, enquanto seus principais fornecedores
são grandes oligopólios e seus compradores, grandes oligopsô-
nios. Portanto, as ações isoladas dos agricultores não oferecerão
a eles condições de competirem em igualdade no mercado, o
que, de certa forma, os leva a criar organizações cooperativas,
com o intuito de fortalecerem seus negócios
Como exemplo, imagine um grupo de agricultores que têm,
em suas propriedades, a produção de peixes. Esses agricultores

© COOPERATIVISMO RURAL 63
UNIDADE 3 – GESTÃO E COOPERATIVAS

podem vender seus produtos de várias maneiras; no entanto, no


mercado, já existem grandes empresas de pescados que proces-
sam, embalam os peixes e têm um sistema logístico. Portanto,
um agricultor, isoladamente, não fará frente à concorrência da
empresa de pescados. Já um grupo de agricultores com os mes-
mos objetivos pode dar início a uma organização cooperativa,
abrir um frigorífico e aumentar a capacidade de concorrência
dos diversos agricultores associados.

Neste momento, faça uma breve parada em sua leitura e


assista ao vídeo SC RURAL, disponível no Conteúdo Digital In-
tegrador. Observe como o Cooperativismo pode ser a solução
para o problema destacado no texto.

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma su-
cinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão
integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo do Conteú-
do Digital Integrador.

2.1. ALGUMAS PECULIARIDADES DAS COOPERATIVAS

Conforme vimos na história das cooperativas, a primei-


ra surgiu em Rochdale e tinha, em seu estatuto, os seguintes
princípios:

64 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 3 – GESTÃO E COOPERATIVAS

Quadro 1 Princípios da cooperativa de Rochdale.


Associação entre pessoas que têm objetivos em
Associativismo
comum.
Pode ser entendido como retorno proporcional.
Retorno pro rata Proporcionalmente dando (ou recebendo), a cada
um, a parte que lhe toca (MICHAELIS, 2014).
A democracia pode ser de forma direta ou
Gestão democrática representativa. Para relembrar esses conceitos,
releia a Unidade 1.
É importante ressaltar que, nesse princípio, os
Neutralidade política e
ideais políticos e religiosos dos cooperados não
religiosa
podem se sobrepor aos objetivos da organização.
A cooperação em serviços ou assuntos da
Cooperação voluntária cooperativa deve acontecer de forma voluntária
por parte do cooperado.
A pessoa tem livre acesso para se tornar
cooperado, que, por sua vez, tem livre saída ou
Livre entrada e saída
desligamento da cooperativa, ou seja, o cooperado
opta por ficar ou não na cooperativa.
Os cooperados devem conhecer e aprender
Educação cooperativa os princípios e as doutrinas que norteiam a
cooperativa.
Fonte: adaptado de Bialoskorski Neto (2001).

Os princípios doutrinários da cooperativa Rochdale eram:


1) Solidariedade.
2) Igualdade.
3) Liberdade.
4) Fraternidade.
Quando analisamos esses princípios e doutrinas, podemos
observar que esse tipo de empresa pauta neles a construção de
sua visão e de sua missão. Dessa forma, a visão e a missão des-
sa organização direcionará seus objetivos, suas ações e, conse-
quentemente, suas estratégias gerenciais por caminhos que con-
virjam com tais princípios. Nesse sentido, quando comparamos

© COOPERATIVISMO RURAL 65
UNIDADE 3 – GESTÃO E COOPERATIVAS

uma firma de capital e uma empresa cooperativa, encontramos


as seguintes diferenças:

Quadro 2 Comparação entre empresa privada (firma de capital)


e empresa cooperativista.
EMPRESA PRIVADA (FIRMA DE CAPITAL)
Apropriação (obter posse
Objetivo Gestão
de parte dos lucros)
A remuneração do capital
O acionista tem poder de
Obtenção de lucros se dá na proporção do
voto na proporção de suas
(aumento de capital). número de ações do
ações (Ação = 1 voto).
investidor.
EMPRESA COOPERATIVISTA
Objetivo Gestão Apropriação
Trabalho proporcional à
Baseada nos votos atividade (distribuição
Trabalho (prestação de
dos associados, cada proporcional de sobras
serviços aos associados,
associado tem direito a 1 ou lucros de acordo com
por exemplo).
voto (gestão democrática). o trabalho e operação de
cada um).
Fonte: adaptado de Bialoskorski Neto (2001).

Ao analisar o quadro, observa-se a divergência entre os


objetivos de uma empresa privada de capital e da empresa coo-
perativista. Enquanto a primeira preza pela obtenção de lucros,
a segunda privilegia a prestação de serviços ao cooperado. Com
relação à gestão, na empresa privada, os acionistas decidem as
estratégias gerenciais, os objetivos e as decisões da empresa de
acordo com a quantidade de ações, enquanto a empresa coo-
perativista prima pela gestão democrática, definida por meio do
voto de cada cooperado.
Quando se analisa a apropriação, ou melhor, a divisão ou
distribuição dos lucros, a firma ou empresa privada remunera
seu investidor conforme a quantidade de ações, enquanto a

66 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 3 – GESTÃO E COOPERATIVAS

cooperativa remunera de acordo com a intensidade de uso ou


operação dessa cooperativa pelo seu associado. Dessa forma,
entende-se que, quanto mais envolvido com a cooperativa es-
tiver o cooperado, maiores serão as vantagens e apropriações
dele pela cooperativa.
É importante relembrar que as cooperativas são classifi-
cadas conforme seus objetivos, ou seja, a cooperativa pode ter
como objetivo o consumo, pode ser uma cooperativa de traba-
lho, de crédito ou mesmo uma cooperativa agropecuária. Dessa
forma, os objetivos de cada cooperativa se tornam diferentes.
Observe o Quadro 3.

Quadro 3 Classificação das cooperativas conforme seus objetivos.


CLASSIFICAÇÃO OBJETIVO
Como exemplo, podemos citar os clubes de compra,
que são associações de pessoas com os mesmos
interesses em comprar determinados produtos. Essa
Cooperativa de Consumo
cooperativa compra produtos em determinadas
quantidades e depois repassa a seus associados com
preços mais acessíveis.
Um exemplo de sucesso desse tipo de associação é a
Cooperativas de Trabalho UNIMED. Esse tipo de cooperativa tem como objetivo
alocar profissionais para que prestem seus serviços.
Um exemplo desse tipo de cooperativa são os bancos
de créditos, que visam levar créditos com custos mais
Cooperativas de Crédito
baixos aos associados, além de captar poupança
destes.
Fonte: adaptado de Bialoskorski Neto (2001).

Com relação à estrutura das cooperativas, podemos classi-


ficá-las da seguinte maneira:
• Singulares: são cooperativas compostas por associados.

© COOPERATIVISMO RURAL 67
UNIDADE 3 – GESTÃO E COOPERATIVAS

• Centrais: podem ser chamadas ou entendidas como


“federações” e não são compostas por associados, mas
por uma série de singulares.
• Confederações: são compostas por diversas centrais.

Figura 1 Estrutura das cooperativas.

O sistema cooperativista no Brasil é representado por ní-


veis e pode ser dividido da seguinte forma, conforme o Quadro
4:

Quadro 4 Sistema cooperativista.


Nível Estadual Organizações das Cooperativas Estaduais (OCEs)
Nível Nacional Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB)
No nível internacional, a OCB é filiada à Organização
Nível Internacional das Cooperativas Americanas (OCA), que, por sua vez,
está filiada à Aliança Cooperativa Internacional (AIC).
Fonte: adaptado de Bialoskorski Neto (2001).

2.2. GESTÃO DE COOPERATIVAS

Historicamente, a gestão nasce como uma forma científi-


ca de analisar e resolver problemas. Durante a Revolução Indus-

68 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 3 – GESTÃO E COOPERATIVAS

trial, vários estudos sobre a administração são desenvolvidos,


como os de Taylor e de Fayol (estudos esses que não entrare-
mos em detalhes por não fazerem parte do contexto de nossa
obra). Como vimos nas peculiaridades das cooperativas, é fato
que estas concorrem com firmas. Nesse sentido, existe uma nova
geração de cooperativas (NGC’s), que realiza sua gestão basea-
da no estímulo da eficiência econômica, porém mantendo seus
princípios e doutrinas.
De acordo com Bialoskorski Neto (2014, p. 16):
Harris, Stefanson e Fulton (1997) definem a Nova Geração de
Cooperativas – NGC’s como uma forma organizacional que
mantém os princípios doutrinários do cooperativismo, como a
cada associado um único voto – igualitarismo – e a participação
nos resultados de acordo com as atividades de cada um com a
sua empresa – pro rata, mas que edifica uma nova arquitetura
organizacional, que traz modificações nos direitos de proprie-
dades e induzem a organização cooperativa a um nível maior
de eficiência econômica. Essas organizações são formadas por
agricultores selecionados, com o objetivo claro de se estabele-
cer uma planta de processamento para a agregação de valor às
commodities agropecuárias. O objetivo inicial é aquele do mer-
cado e não os dos produtores, desse modo essa organização é
orientada para o mercado e não apenas orientada para o produ-
tor como é comum no processo de formação de cooperativas.
Na constituição das NGC’s, ocorre a obrigatória capitalização
do novo empreendimento pelo próprio cooperado, proporcio-
nalmente à produção a ser entregue no futuro, podendo haver
financiamento por parte de agentes financeiros diretamente
aos produtores interessados. Desse modo, tem-se uma quota
de participação que dá o direito ao associado de transacionar
com sua cooperativa certa quantidade pré-estipulada de pro-
duto com uma determinada qualidade também pré-estipulada
chamada nos EUA de “delivery right” “direito de entrega”.

© COOPERATIVISMO RURAL 69
UNIDADE 3 – GESTÃO E COOPERATIVAS

Vejamos algumas características dessa nova geração de


cooperativas:
1) Mantém os princípios do Cooperativismo.
2) Preza pelo igualitarismo: cada associado tem direito a
um voto.
3) Divisão dos lucros pro rata, porém com modificações
no direto de propriedade, incentivando a eficiência da
cooperativa.
4) A visão e os objetivos da cooperativa são orientados
para o mercado, e não para os produtores.
Portanto, podemos considerar essa nova geração de coo-
perativas uma adaptação das cooperativas tradicionais ao mer-
cado, primando pela competitividade.

De acordo com Casagrande e Mundo Neto (2012, s.p.),


a nova geração de cooperativas é representada por organiza-
ções dinâmicas e com características empresariais evoluídas.
Trata-se, em linhas gerais, de uma verdadeira evolução do con-
ceito e do pensamento cooperativista. A NGC caracteriza-se
por investir de forma contínua na formação dos tomadores de
decisões, tendo como objetivo alcançar uma mentalidade em-
presarial avançada.

É importante salientar, também, que as NGC's levam em


consideração o grau de participação de cada cooperado, com o
intuito de que as decisões tomadas pelos gestores da coopera-
tiva sejam em prol dos cooperados mais ligados a ela, pois estes
são os que mais utilizam seus serviços e produtos e demonstram
maior fidelidade. Nesse sentido, Casagrande e Mundo Neto
(2014, s.p.) destacam que:

70 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 3 – GESTÃO E COOPERATIVAS

A fidelização por parte dos cooperados é outro mecanismo vá-


lido para o sucesso das cooperativas. Para implantá-lo, é essen-
cial o estabelecimento de uma relação contratual entre coope-
rativas e cooperados. Desta forma, determinadas cooperativas
acabam por questionar o princípio da adesão livre. Algumas
medidas podem ser seguidas neste sentido, tais como, a im-
posição de critérios mínimos de produção aos cooperados e o
pagamento proporcional aos mesmos de acordo com o volume
e a qualidade das matérias-primas ofertadas.

Com relação à gestão de cooperativas, existem outras fer-


ramentas administrativas, além da fidelização discutida anterior-
mente, que não são especificidades das cooperativas, mas tam-
bém são usadas por qualquer empresa. Dessa forma, os modelos
de gestão adotados pelas cooperativas devem acompanhar a
modernidade administrativa e gerencial usada no mercado, para
que, dessa forma, se tornem competitivas e não percam sua es-
sência. A formação adequada dos gestores é também uma ferra-
menta fundamental para o sucesso da cooperativa.

Neste momento, faça uma breve parada em sua leitu-


ra e assista ao vídeo Gestão de Cooperativas – Ocepar – Pri-
mato, indicado no Tópico 3. 1. do Conteúdo Digital Integra-
dor. Observe que as cooperativas podem obter recursos e
informações administrativas em suas centrais ou mesmo nas
confederações.

© COOPERATIVISMO RURAL 71
UNIDADE 3 – GESTÃO E COOPERATIVAS

2.3. QUALIFICAÇÃO DOS COOPERADOS PARA OCUPAR CAR�


GOS DE GESTÃO E LIDERANÇA

Oliveira (2006) cita, como problema de gestão em muitas


cooperativas, o fato de elas não possuírem lideranças consolida-
das e formadas. Segundo o autor, esse fato acaba provocando
sérios problemas de gestão e de distanciamento da organização
com o modelo adotado pela nova geração de cooperativas. O
modelo de liderança, segundo o autor, deve ser fundamentado
nas aspirações (esperanças) que o grupo tem; em outras pala-
vras, podemos dizer que o líder aparece como sendo um tipo de
“guru” para o grupo, atuando como fonte de levantamento das
necessidades e expectativas gerais. (OLIVEIRA, 2006).
Segundo Benato (1992), o processo que leva à seleção e
escolha do líder não obedece a raciocínios lógicos, mas está dire-
tamente relacionado com a comunicação existente entre os lide-
rados e aqueles a quem foi conferida a liderança, isto é, forma-se
uma simbiose entre os componentes da cooperativa. Portanto,
podemos elencar seis fatores que influenciam, ou pelo menos
deveriam influenciar, a escolha da liderança em uma cooperati-
va, conforme mostra o Quadro 5.

Quadro 5 Fatores que devem influenciar na escolha de um líder


gestor.
FATORES CARACTERÍSTICA DO FATOR
Uma liderança motivada acaba
sendo um forte fator de estímulo
Motivação
e alavancagem do desempenho da
cooperativa (CRÚZIO, 2004).

72 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 3 – GESTÃO E COOPERATIVAS

FATORES CARACTERÍSTICA DO FATOR


A comunicação faz-se quando o líder
consegue fazer que seus subordinados,
os cooperados em geral ou mesmo
Comunicação
a comunidade, compreendam as
informações por ele passadas e as
assimilem (OLIVEIRA, 2006).
Trata da capacidade da liderança em
acompanhar e orientar sua equipe
Supervisão
nos planos e metas estabelecidos pela
cúpula (CRÚZIO, 2004).
Para Crúzio (2004), o comprometimento
é um dos fatores preponderantes
para o sucesso ou fracasso do
empreendimento. Esse fator é o
elemento que possibilita ao líder
Comprometimento
ou gestor, de acordo com seu nível
de comprometimento, ter mais
ou menos parâmetros de análise,
acompanhamento e avaliação dos
resultados esperados.
Nas cooperativas, a gestão deve ser
democrática. Nesse sentido, faz-se
necessário ouvir o que os cooperados
Gestão
têm a dizer sobre determinado tema
e não fugir dos princípios básicos da
criação da cooperativa (OLIVEIRA, 2006).
O treinamento, para Oliveira
(2006), pode ser entendido como a
oportunidade ou aprendizagem em que
Treinamento
as lideranças ou os gestores conheçam
algumas ferramentas e instrumentos
administrativos.
Fonte: adaptado de Oliveira (2006) e Crúzio (2004).

© COOPERATIVISMO RURAL 73
UNIDADE 3 – GESTÃO E COOPERATIVAS

Seguindo esses critérios, teremos a oportunidade de ele-


ger pessoas capacitadas para administrar e liderar as cooperati-
vas, além de alavancar um grande potencial de desenvolvimento
do empreendimento e da comunidade local.

3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


• BIALOSKORSKI NETO, S. A nova geração de cooperativas
e a coordenação de sistemas agroindustriais. Disponível
em: <http://www.fundace.org.br/cooperativismo/
artigar_bialoskorski_workshop_ges_sist_
agroalimagroaag_1999.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2015.
• CASAGRANDE, D. J.; MUNDO NETO, M. Administração
em cooperativas agroindustriais: uma análise das
ferramentas organizacionais da COPERSUCAR e da
COAMO. Revista Espaço de Diálogo e Desconexão,
Araraquara, v. 4, n. 2, jan./jul. 2012. Disponível
em: <http://seer.fclar.unesp.br/redd/article/
viewFile/5188/4253>. Acesso em: 8 dez. 2014.
• COOPERATIVA PRIMATO. Gestão de cooperativas –
Ocepar – Primato. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=8dm6sBxX8mA>. Acesso em: 14
jan. 2015.
• EPAGRI GMC. SC Rural. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=s4Wd5cOQg5M>. Acesso em:
14 jan. 2015.
• PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DA GESTÃO DAS
COOPERATIVAS (PDGC). Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=ku88uLoShrw>. Acesso em: 8
de dez. de 2014.

74 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 3 – GESTÃO E COOPERATIVAS

3.1. ALGUMAS PECULIARIDADES DAS COOPERATIVAS

Como vimos anteriormente, as cooperativas apresentam


algumas peculiaridades que causam impacto nas decisões e no
planejamento dessas empresas. Isso não significa que as ciências
administrativas devam ser pensadas diferentemente para essas
organizações, mas os gestores das cooperativas devem ter carac-
terísticas específicas para utilizar com precisão as ferramentas
de gestão existentes nesse tipo de organização e tomar decisões
pautadas no idealismo cooperativista. Para contextualizar o que
foi dito anteriormente, assista ao vídeo a seguir.
• COOPERATIVA PRIMATO. Gestão de cooperativas –
Ocepar – Primato. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=8dm6sBxX8mA>. Acesso em: 14
jan. 2015.

3.2. GESTÃO DE COOPERATIVAS

As cooperativas podem buscar programas de gestão que


auxiliem seus gestores e líderes nas tomadas de decisões, no pla-
nejamento estratégico e nas áreas de gestão de recursos. Geral-
mente, as centrais e as confederações dão o suporte necessário
para a cooperativa aprimorar seus programas de gestão. Assista
ao vídeo, leia os textos a seguir e observe o programa de gestão
de cooperativas em destaque:
• PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DA GESTÃO DAS
COOPERATIVAS (PDGC). Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=ku88uLoShrw>. Acesso em: 8
de dez. de 2014.

© COOPERATIVISMO RURAL 75
UNIDADE 3 – GESTÃO E COOPERATIVAS

3.3. QUALIFICAÇÃO DOS COOPERADOS PARA OCUPAR CAR�


GOS DE GESTÃO E LIDERANÇA

Tivemos a oportunidade de estudar, nesta unidade, a im-


portância do líder e do gestor nas cooperativas. Além disso, vi-
mos que é fundamental para o sucesso da organização coopera-
tivista que esse profissional esteja preparado para administrar
de acordo com a nova geração de cooperativas. Nesse sentido,
para complementar seus estudos, não deixe de ler o texto indica-
do a seguir, que trata dessa nova geração de cooperativas:
• BIALOSKORSKI NETO, S. A nova geração de cooperativas
e a coordenação de sistemas agroindustriais. Disponível
em: <http://www.fundace.org.br/cooperativismo/
artigar_bialoskorski_workshop_ges_sist_
agroalimagroaag_1999.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2015.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteú-
dos estudados para sanar as suas dúvidas.
1) Quais são os fatores que devem ser levados em consideração na escolha
de um líder gestor em uma cooperativa? Descreva a característica de cada
fator elencado.

2) No decorrer de nossos estudos, tivemos a oportunidade de conhecer e


estudar sobre a nova geração cooperativista. Fale sobre ela.

76 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 3 – GESTÃO E COOPERATIVAS

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) Para responder à questão 1, podemos transcrever o quadro “Fatores que
devem influenciar na escolha de um líder”. Observe os fatores e as carac-
terísticas descritas no quadro.
FATORES CARACTERÍSTICA DO FATOR
Uma liderança motivada acaba
sendo um forte fator de estímulo
Motivação
e alavancagem do desempenho da
cooperativa (CRÚZIO, 2004).
A comunicação faz-se quando o líder
consegue fazer que seus subordinados,
os cooperados em geral ou mesmo
Comunicação
a comunidade, compreendam as
informações por ele passadas e as
assimilem (OLIVEIRA, 2006).
Trata da capacidade da liderança em
acompanhar e orientar sua equipe
Supervisão
nos planos e metas estabelecidos pela
cúpula (CRÚZIO, 2004).
Para Crúzio (2004), o comprometimento
é um dos fatores preponderantes
para o sucesso ou fracasso do
empreendimento. Esse fator é o
elemento que possibilita ao líder
Comprometimento
ou gestor, de acordo com seu nível
de comprometimento, ter mais
ou menos parâmetros de análise,
acompanhamento e avaliação dos
resultados esperados.

© COOPERATIVISMO RURAL 77
UNIDADE 3 – GESTÃO E COOPERATIVAS

FATORES CARACTERÍSTICA DO FATOR


Nas cooperativas, a gestão deve ser
democrática. Nesse sentido, faz-se
necessário ouvir o que os cooperados
Gestão
têm a dizer sobre determinado tema
e não fugir dos princípios básicos da
criação da cooperativa (OLIVEIRA, 2006).
O treinamento, para Oliveira
(2006), pode ser entendido como a
oportunidade ou aprendizagem em que
Treinamento
as lideranças ou os gestores conheçam
algumas ferramentas e instrumentos
administrativos.

2) Com relação à segunda questão, a resposta pode ser obtida através da


definição de Casagrande e Mundo Neto (2012, s.p.). Observe:
A Nova Geração de Cooperativas é representada por organiza-
ções dinâmicas e com características empresariais evoluídas.
Trata-se, em linhas gerais, de uma verdadeira evolução do con-
ceito e do pensamento cooperativista. A NGC caracteriza-se
por investir de forma contínua na formação dos tomadores de
decisões, tendo como objetivo alcançar uma mentalidade em-
presarial avançada.

5. CONSIDERAÇÕES
Na Unidade 3, tivemos a oportunidade de compreender
a importância de a cooperativa estar atualizada em relação às
técnicas de gestão e também ao mercado. Portanto, podemos
perceber que uma nova denominação de cooperativas emerge,
justamente pela importância dessa atualização constante. Essa
denominação, que é a “nova geração de cooperativas”, tem
como foco de gestão o mercado; no entanto, não abre mão de
que se faça cumprir os princípios e diretrizes cooperativistas.

78 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 3 – GESTÃO E COOPERATIVAS

Novos líderes e gestores de cooperativas devem ser


formados com o intuito de quebrar paradigmas nesse segmento
e livrar essas organizações de práticas indesejáveis de gestão.
Na próxima unidade, estudaremos as questões legais que
envolvem uma cooperativa e, além disso, compreenderemos al-
gumas diferenças e similaridades entre os termos “cooperativa”,
“sindicato” e “associação".

6. E-REFERÊNCIAS
BIALOSKORSKI NETO, S. A nova geração de cooperativas e a coordenação de sistemas
agroindustriais. Disponível em: <http://www.fundace.org.br/cooperativismo/artigar_
bialoskorski_workshop_ges_sist_agroalimagroaag_1999.pdf>. Acesso em: 14 jan.
2015.
CASAGRANDE, D. J.; MUNDO NETO, M. Administração em cooperativas agroindustriais:
uma análise das ferramentas organizacionais da COPERSUCAR e da COAMO. Revista
Espaço de Diálogo e Desconexão, Araraquara, v. 4, n. 2, jan./jul. 2012. Disponível
em: <http://seer.fclar.unesp.br/redd/article/viewFile/5188/4253>. Acesso em: 8 dez.
2014.
DICIONÁRIO de Português Online. Pro rata. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.
br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=pro%20
rata>. Acesso em: 14 jan. 2015.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENATO, J. V. A. Custos: um enfoque cooperativista. São Paulo: Ocesp, 1992.
BIALOSKORSKI NETO, S. Agronegócio Cooperativo. In: BATALHA, M. O. (Org.). Gestão
Agroindustrial. São Paulo: Atlas, 2001. p. 600-630.
CRÚZIO, H. O. Como organizar e administrar uma cooperativa: uma alternativa para o
desemprego. 4. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2005.
OLIVEIRA, D. P. R. Manual de gestão das cooperativas: uma abordagem prática. 3. ed.
São Paulo: Atlas, 2006.

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© COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 4
A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS
COOPERATIVAS

Objetivos
• Conhecer o emaranhado de leis que precisam ser respeitadas para a
formação de uma cooperativa.
• Analisar os procedimentos necessários que devem ser adotados para
o regular exercício das atividades da cooperativa.
• Aprender as características da sociedade cooperativa nos moldes da
lei.
• Delimitar a função que cada cooperado terá na formação do corpo
diretivo da organização.

Conteúdos
• A legislação que regula a matéria, principalmente a Lei n. 5.764/71, a
Constituição Federal e o Novo Código Civil.
• O passo a passo para a fundação de uma nova cooperativa.
• As características de uma sociedade cooperativa.
• A diferenciação entre cooperativa, associação e sindicato.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Chegamos à última unidade desta obra. Vamos agora falar sobre as leis
que deverão ser respeitadas para que se possa constituir uma cooperativa;
entretanto, para uma melhor compreensão do conteúdo programático, é
muito importante que você faça uma releitura das unidades anteriores.

81
UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

2) Recomendamos que o aluno acesse o conteúdo virtual, visando aprimorar


os ensinamentos que serão repassados nesta unidade, lembrando que o
objetivo principal é passar o conteúdo básico, mas sem a pretensão de
esgotar a matéria.

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UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

1. INTRODUÇÃO
Nesta unidade, teremos a oportunidade de estudar a legis-
lação que regulamenta e traça as diretrizes do sistema cooperati-
vo no país. Nesse sentido, poderemos compreender a legislação
que envolve o Cooperativismo, os procedimentos para se cons-
tituir uma cooperativa, e, no final, vamos analisar e comparar as
diferenças entre associação, cooperativa e sindicato.

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma su-
cinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão
integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo do Conteú-
do Digital Integrador.

2.1. LEGISLAÇÃO QUE ABARCA AS COOPERATIVAS NO BRASIL

A Lei n. 5.764/71 é considerada a precursora do desen-


volvimento do Cooperativismo no país. Não era a primeira lei
que tratava da questão; no entanto, ela trouxe a definição da
Política Nacional de Cooperativismo, além de instituir o regime
jurídico das sociedades cooperativas com forte intervenção do
governo. Com o advento da Constituição Federal de 1988, ocor-
reu um novo alento ao Cooperativismo, pois, a partir dessa data,
foi “permitida a soltura de amarras” com o Poder Público, no-
tadamente derrubando a interferência excessiva do Estado nas
cooperativas.

© COOPERATIVISMO RURAL 83
UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

O Estado podia determinar quais cooperativas poderiam


ser formadas ou não, haja vista que colocava uma série de obs-
táculos para a sua constituição. Ademais, caso a cooperativa
que se pretendia formar pudesse representar qualquer tipo de
ameaça para o grupo que estava no poder, sua regularização
(criação) era postergada para o maior tempo possível.

Com a entrada em vigor do Novo Código Civil em 2002 (Lei


n. 10.406/2002), que tratou, nos Artigos de 1.093 a 1.096, so-
bre a sociedade cooperativa, houve um novo avanço no sistema
cooperativista, modernizando-o. Para Becho (2002), o principal
artigo do Código Civil que trata do tema é o Artigo n. 1.094, pois,
nele, estão as principais inovações na matéria, sendo a fonte de
várias revogações da Lei n. 5.764/71, além de oferecer todo o
substrato jurídico que possa permitir novo avanço do sistema.
Pela importância do Código Civil em nosso estudo, pedimos que
o leia no destaque a seguir.

84 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

Leia a seguir o Código Civil, Artigo n. 1.094:


Art. 1.094. São características da Sociedade Cooperativa:
I – variabilidade, ou dispensa do capital social;
II – concurso de sócios em número mínimo necessário a
compor a administração da sociedade, sem limitação de nú-
mero máximo;
III – limitação do valor da soma de quotas do capital social
que cada sócio poderá tomar;
IV – intransferibilidade das quotas do capital a terceiros es-
tranhos à sociedade, ainda que por herança;
V – quorum, para a assembleia geral funcionar e deliberar,
fundado no número de sócios presentes à reunião, e não no
capital social representado;
VI – direito de cada sócio a um só voto nas deliberações, te-
nha ou não capital a sociedade, e qualquer que seja o valor
de sua participação;
VII – distribuição dos resultados, proporcionalmente ao valor
das operações efetuadas pelo sócio com a sociedade, poden-
do ser atribuído juro fixo ao capital realizado;
VIII – indivisibilidade do fundo de reserva entre os sócios,
ainda que em caso de dissolução da sociedade.

Agora se faz necessário interpretarmos o referido artigo do


Código Civil e aprender sobre suas características. Observe, a se-
guir, a explicação de cada item do artigo segundo Becho (2002).

© COOPERATIVISMO RURAL 85
UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

Quadro 1 Características da sociedade cooperativa.


I. Variabilidade, ou dispensa do capital social: as cooperativas
são tradicionalmente sociedades de capital variável. Isso é uma
decorrência do princípio das portas abertas, que regem essas
sociedades desde Rochdale, Inglaterra, em 1844. Para Crúzio (2002),
por esse princípio ser seguido em todos os países que compõem a
ACI, todas as pessoas em condições de participar de uma cooperativa
têm o direito de nelas ingressar. Como decorrência, o capital social
não pode ser fixo, como é a regra nas sociedades que possuem
capital social.
II. Concurso de sócios em número mínimo necessário a compor a
administração da sociedade, sem limitação de número máximo:
não existe mais o número de 20 pessoas para compor e ou fundar
a cooperativa, tendo o conceito mudado para o número mínimo
necessário para sua administração.
III. Limitação do valor da soma de quotas do capital social que cada sócio
poderá tomar: quanto à limitação de detenção de capital, a prática
da cooperação não admite a diferença entre seus partícipes. Como
bem lembrado por Becho (2002), os princípios do cooperativismo
mundial proclamam pela democratização das suas decisões, visando
a uma verdadeira igualdade entre seus membros, sem privilégios
adquiridos por motivos não naturais, que podem ser válidos e até
úteis para as sociedades comerciais que perseguem o lucro, sendo
que quem detém a maioria do capital social, neste caso, passa a ser
considerado acionista controlador, mas que não auxiliam naquelas
que prezam o trabalho e a mutualidade.

86 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

IV. Intransferibilidade das quotas do capital a terceiros estranhos à


sociedade, ainda que por herança: outra característica apontada no
Artigo n. 1.094 é a intransferibilidade das quotas a terceiros. Segundo
Becho (2002), há um argumento lógico para vetar, nas cooperativas, a
transmissão de quotas a terceiros estranhos ao quadro social. É que,
nessas sociedades, há uma natural e inafastável união de pessoas
com algum traço comum. Batalha (2009) acrescenta que, por isso,
transferir cotas a quem não participa do mesmo grupo pode ir contra
a própria estrutura social da organização. Por exemplo, imagine-
se um produtor de látex adquirindo cotas de uma cooperativa de
médicos.
V. Quorum, para a assembleia geral funcionar e deliberar, fundado
no número de sócios presentes à reunião, e não no capital social
representado. Como mais um traço da natureza pessoal das
sociedades cooperativas, determina o referido Código Civil que o
quorum para instalação e deliberação das assembleias seja fundado
no número de associados presentes, e não na quantidade de capital
social representado. Essa norma é imprescindível para garantir a
aplicação do princípio da administração democrática, de significação
mundial no cooperativismo.
VI. Direito de cada sócio a um só voto nas deliberações, tenha ou não
capital a sociedade, e qualquer que seja o valor de sua participação:
no que tange ao direito a um só voto, o que se buscou foi separar
o poder econômico da administração, ou seja, não importa que o
cooperado detenha o máximo de capital social possível, ou ainda, o
seu mínimo determinado no Estatuto, a tomada de decisão será per
capita (por cabeça), e não pelo capital.

© COOPERATIVISMO RURAL 87
UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

VII. Distribuição dos resultados proporcionalmente ao valor das


operações efetuadas pelo sócio com a sociedade, podendo ser
atribuído juro fixo ao capital realizado: a respeito da distribuição
dos resultados e atribuição de juros ao capital, percebemos que
o legislador usou a terminologia “resultado”, e não “lucro”. Isso
ocorreu porque as cooperativas não são constituídas para ter lucro.
Assim, se o resultado do exercício for positivo, ela distribuirá as
sobras; no caso contrário, haverá o rateio do prejuízo. Na segunda
parte do dispositivo (atribuição de juros), o que se busca é atualizar
o valor do capital, mantendo o seu valor real.
VIII. Indivisibilidade do fundo de reserva entre os sócios, ainda que em
caso de dissolução da sociedade: a última das características firmadas
pelo legislador do referido Código Civil, no Artigo n. 1.094, estipula
a indivisibilidade do fundo de reservas, o que, de acordo com Becho
(2002), significa dizer que o capital existente na conta contábil (fundo
de reservas) só pode ser gasto nas hipóteses ou circunstâncias
previstas em Lei. Essa consideração se aplica, também, a outros
fundos cooperativos, como o de assistência técnica, educacional e
social.
Fonte: adaptado de Becho (2002).

2.2. PROCEDIMENTOS PARA CONSTITUIÇÃO DA COOPERATI�


VA

Agora que já conhecemos a legislação básica que faz a es-


truturação legal para a composição de uma cooperativa, vamos
estudar os passos necessários para a sua implantação, de acordo
com o que acabamos de aprender. O primeiro passo para a cons-
tituição de uma cooperativa dá-se com a reunião de trabalha-
dores ou profissionais interessados em montar uma cooperativa
com o quadro mínimo para a administração desta, não sendo

88 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

mais necessário o limite mínimo de 20 pessoas, que vigorou por


muitas décadas e acabou sendo um dos fatores limitadores da
criação de muitas cooperativas. O segundo passo trata da con-
vocação para assembleia dos trabalhadores ou profissionais in-
teressados na formação da cooperativa, por meio de edital. No
dia escolhido para a realização da assembleia de fundação da
cooperativa, é necessário que os fundadores façam a leitura e
a discussão de item por item do que vai formar o Estatuto So-
cial da cooperativa. Crúzio (2002) relata que, no estatuto, deverá
constar a missão, os objetivos, a política de produção, a área de
atuação, os direitos e os deveres dos cooperados, as condições
de admissão, demissão e exclusão dos cooperados, normas ge-
rais para a administração, valor mínimo do capital social, proce-
dimentos de como serão efetuadas as devoluções das sobras ou
rateados os prejuízos do exercício que está sendo encerrado.

Nesse momento, é importante que você acesse o site


descrito no Conteúdo Digital Integrador e analise o “Modelo
de Estatuto” disponível.

Após serem discutidos e aprovados os itens do primeiro e


principal instrumento da formação da cooperativa, isto é, o Esta-
tuto Social, o terceiro passo será lavrar uma ata sobre a reunião
de discussão e resolução do estatuto, colher a assinatura na ata
dos fundadores e de um advogado, que deverá assessorá-los, e
levar os documentos para registro em Cartório de Registro de
Imóveis, Títulos e Documentos.

© COOPERATIVISMO RURAL 89
UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

O cartório deverá estar localizado onde será a sede da


cooperativa. O registro é fundamental, pois dá publicidade ao
ato praticado (fundação) e, também, porque somente após
isso é que efetivamente a cooperativa poderá funcionar.

Finalmente, o quarto passo é o cadastro da cooperativa na


Junta Comercial e obtenção do CNPJ – Cadastro Nacional da Pes-
soa Jurídica, além da inscrição no Ministério da Fazenda e do Tra-
balho, com o intuito de demonstrar a existência da cooperativa e
sua regular documentação para funcionamento.
Seguindo os passos citados anteriormente, já temos a for-
malização jurídica de nossa cooperativa, estando apta para exer-
cer suas funções.

Neste momento, é importante que você acesse o site


descrito no Conteúdo Digital Integrador e assista ao vídeo O
Guia para constituição de cooperativas, que indicará como
constituir uma cooperativa.

2.3. TIPOS DE ASSEMBLEIAS EXISTENTES EM UMA COOPERA�


TIVA E OS DIREITOS E DEVERES DOS COOPERADOS

Assembleia Geral dos Sócios ou da Fundação


Nessa assembleia, que acontece apenas uma vez, os fun-
dadores terão de discutir e tomar a decisão sobre os objetivos,
principalmente no que se refere ao que produzir, comercializar.
Terão que elaborar ou formatar o tipo de profissional que poderá
ingressar na cooperativa e quais serão os critérios objetivos a se-

90 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

guir. Outra questão importante é o modelo que será adotado nas


eleições e quantos membros comporão a diretoria, o conselho
administrativo, o conselho fiscal, além de fixar os seus salários.
Deverão também decidir sobre os percentuais para a constitui-
ção do fundo de reserva e do fundo de assistência técnica, edu-
cacional e social (FATES), que visa trazer aperfeiçoamento pro-
fissional para os cooperados e funcionários da empresa, sempre
respeitando os limites mínimos estabelecidos na legislação. Os
cooperados eleitos deverão implantar o Comitê Educativo, bus-
cando trazer treinamento para a melhor gestão da cooperativa.

Assembleia Geral Ordinária


Segundo Rech (2000), essa assembleia tem por objetivo
reunir-se pelo menos uma vez por ano, após o término do exer-
cício social e financeiro de cada ano, para deliberar sobre a apro-
vação das contas apresentadas pela diretoria, com o respectivo
parecer dos conselheiros fiscais, decidindo pela distribuição ou
reinvestimento das sobras líquidas, ou considerando como pro-
ceder diante de perdas financeiras; no período da eleição, eleger
os membros que comandarão a cooperativa pelos próximos anos
e decidir sobre a justa remuneração deles e eventuais gratifica-
ções por desempenho alcançado.

Assembleia Geral Extraordinária


Este tipo de reunião poderá ser convocada a qualquer
momento, pela diretoria ou por um grupo de cooperados, sem-
pre para tratar exclusivamente do tema da pauta da convoca-
ção. Como leciona Crúzio (2002), o seu campo de abrangência é
enorme, pois pode desde propor mudanças no Estatuto Social,
passando por decidir sobre fusão ou incorporação com outras

© COOPERATIVISMO RURAL 91
UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

cooperativas, chegando até decidir sobre o encerramento das


operações da cooperativa ou destituição dos membros da dire-
ção que praticaram irregularidades.

2.4. DIREITOS E DEVERES DOS COOPERADOS

Os cooperados têm o direito de tomar parte nas assem-


bleias, propor e cobrar dos órgãos diretivos esclarecimentos, vo-
tar e ser votado, discutir e dar opinião sobre todos os assuntos
relacionados com os objetivos da empresa. Quanto aos deveres,
os cooperados devem participar das reuniões, acatar as delibe-
rações tomadas pela maioria, cumprir as diretrizes estipuladas,
devendo ser feita uma ressalva, que grande parte dos problemas
enfrentados pelas cooperativas advém da omissão ou do distan-
ciamento dos seus cooperados, exatamente por faltar às reuni-
ões e não ter a oportunidade de apresentar a sua opinião ou
discordância com eventual medida tomada. O requisito básico
para a admissão de um cooperado é ser apresentado por outro
e aguardar o resultado da assembleia. Sendo aprovado, deverá
subscrever a cota parte do capital social, previamente estabele-
cido na assembleia ordinária.

2.5. CONSELHO FISCAL

Os cooperados que se tornam conselheiros fiscais exercem


uma função crucial dentro da organização, pois são eles que va-
lidam, ou seja, dão a palavra final de que o demonstrativo do
resultado do exercício e o balanço patrimonial da empresa estão
em ordem. Caso não exerçam a função de fiscalização com dili-
gência, podem, inclusive, ser responsabilizados por irregularida-
des cometidas pelos diretores. Pela responsabilidade e impor-

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UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

tância dentro do organograma, recomenda-se que tenham pelo


menos noções básicas de Contabilidade e Administração, ou, na
dúvida, que contratem uma assessoria contábil para auxiliá-los
na difícil tarefa de interpretação dos números apresentados. Eles
têm autonomia para, a qualquer indício de irregularidade desco-
berta ou dúvida sobre o procedimento executado, solicitar escla-
recimentos para o corpo diretivo da cooperativa.

2.6. CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO OU DIRETORIA

São os cooperados eleitos para realizar a gestão da coope-


rativa. O sucesso ou fracasso da instituição estão diretamente
relacionados ao grau de comprometimento desses profissionais
com as atividades do dia a dia da cooperativa. Normalmente, a
diretoria tem, no mínimo, três integrantes, o presidente, o tesou-
reiro e o secretário, além de um suplente para cada cargo. Suas
funções são variadas, pois devem intermediar matérias-primas
para a cooperativa, comercializar produtos ou serviços, levan-
tar o inventário da unidade, convocar assembleias, prestar con-
tas dos resultados obtidos no ano fiscal, convênios com outras
empresas ou cooperativas, detectar o grau de satisfação do co-
operado, com sua cooperativa, analisar propostas de admissão
e demissão de cooperados, relacionar-se com o cliente externo
(outras empresas, instituições públicas), entre outras funções.
Crúzio (2002) traz à baila informações de que pesquisas
efetuadas nas cooperativas agropecuárias e agroindustriais bra-
sileiras têm constatado inúmeros problemas na formação dos
órgãos básicos da cooperativa, como já havíamos mencionado
anteriormente. Todavia, vai mais além, informando que o não
comprometimento dos cooperados dificulta a alternância de po-
der, ficando os cargos diretivos sob o mando de um determina-

© COOPERATIVISMO RURAL 93
UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

do grupo de cooperados, que vão se revezando nos cargos do


conselho de Administração e no conselho fiscal da cooperativa,
impedindo a entrada de novas ideias e metodologias.

2.7. QUADROS COMPARATIVOS ENTRE ASSOCIAÇÃO, COOPE�


RATIVA E SINDICATO

Com as ponderações apresentadas anteriormente, já te-


mos uma grande noção do funcionamento de uma cooperativa
e da legislação que a regulamenta. Todavia, ainda podem restar
algumas dúvidas sobre as diferenças entre uma cooperativa, um
sindicato e uma associação, haja vista que as três instituições
têm a mesma origem para se formar. Para sanar essas questões,
agora apresentaremos, em alguns quadros, as principais caracte-
rísticas de cada uma, em diversos campos, que vão desde a de-
finição legal até o destino dado aos recursos financeiros dessas
organizações.
Devemos reforçar que o objetivo dos quadros a seguir é
trazer breves diferenciações dos três tipos jurídicos menciona-
dos anteriormente, sem qualquer pretensão de esgotar a maté-
ria, o que fugiria da nossa finalidade de estudo.

Quadro 2 Definição legal de associação, cooperativa e sindicato.


DEFINIÇÃO LEGAL
Associação Sociedade civil sem fins lucrativos.
Cooperativa Sociedade civil/comercial sem fins lucrativos.
Sindicato Sociedade civil/sindical sem fins lucrativos.
Fonte: adaptado de Becho (2002) e Rech (2000).

94 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

Quadro 3 Os objetivos da associação, da cooperativa e do


sindicato.
OBJETIVOS
Associação Fortalecer e defender os interesses dos associados.
Desenvolver a atividade dos seus cooperados, fortalecendo a
Cooperativa comunidade local em que está inserida; armazenar, comercializar,
transformar bens e produtos dos seus integrantes.
Atividade de representação, coordenação e defesa de classe,
Sindicato participando e firmando acordos coletivos ou defendendo seus
membros nos dissídios coletivos de trabalho.
Fonte: adaptado de Becho (2002) e Rech (2000).

Quadro 4 O amparo legal da associação, da cooperativa e do


sindicato.
AMPARO LEGAL
Associação Constituição Federal e Código Civil.
Cooperativa Lei 5.764/71, Constituição Federal e Código Civil.
Sindicato CLT, Constituição Federal e Código Civil.
Fonte: adaptado de Becho (2002) e Rech (2000).

Quadro 5 O número mínimo de pessoas necessárias para se


constituir uma associação, uma cooperativa e um sindicato.
NÚMERO MÍNIMO DE PESSOAS
Associação Mínimo de duas pessoas.
Antigamente, para se constituir uma cooperativa, era
necessário, no mínimo, 20 pessoas. De acordo com a nova
Cooperativa legislação, o número de pessoas necessárias para constituir
uma cooperativa passou a ser o número ideal que componha o
quadro administrativo dessa organização.
Número suficiente para preenchimento dos cargos de diretoria –
Sindicato
normalmente, seis pessoas.
Fonte: adaptado de Becho (2002) e Rech (2000).

© COOPERATIVISMO RURAL 95
UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

Quadro 6 Pontos essenciais nos estatutos das associações, das


cooperativas e dos sindicados.
PONTOS ESSENCIAIS NOS ESTATUTOS
Nome e finalidade. Em caso de dissolução, para quem vai o
Associação
patrimônio.
Área de atuação. Formação, distribuição e retirada do capital
Cooperativa social. Distribuição das sobras e rateio dos prejuízos. Destino do
patrimônio na dissolução.
Área de atuação e base territorial. Destino do patrimônio no
Sindicato
caso de encerramento da atividade.
Fonte: adaptado de Becho (2002) e Rech (2000).

Quadro 7 Formação de patrimônio das associações, das coope-


rativas e dos sindicatos.
FORMAÇÃO DE PATRIMÔNIO
Associação Através de doações, fundos e reservas, não possui capital social.
Cooperativa Possui capital social constituído por aporte dos cooperados.
Sindicato Contribuição sindical e associativa.
Fonte: adaptado de Becho (2002) e Rech (2000).

Quadro 8 Representação legal das associações, das cooperativas


e dos sindicatos.
REPRESENTAÇÃO LEGAL
Associação Pode representar os associados em ações coletivas.
Cooperativa Pode representar os cooperados em ações coletivas.
Sindicato Representa toda a categoria, inclusive os não sindicalizados.
Fonte: adaptado de Becho (2002) e Rech (2000).

Quadro 9 Responsabilidade dos sócios das associações, das coo-


perativas e dos sindicatos.
RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS
Associação Administradores são responsáveis.
Cooperativa Cooperados têm responsabilidade limitada até sua quota-parte.
Sindicato Administradores são responsáveis.
Fonte: adaptado de Becho (2002) e Rech (2000).

96 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

Quadro 10 Remuneração dos dirigentes das associações, das co-


operativas e dos sindicatos.
REMUNERAÇÃO DOS DIRIGENTES
Associação Não são remunerados.
Cooperativa São remunerados, com vencimentos definidos em assembleia.
Sindicato Normalmente não são remunerados.
Fonte: adaptado de Becho (2002) e Rech (2000).

Quadro 11 Atividades mercantis das associações, das cooperati-


vas e dos sindicatos.
ATIVIDADES MERCANTIS
Associação Pode ou não comercializar.
Cooperativa Realiza atividades de comércio diretamente.
Sindicato CLT proíbe a atividade econômica.
Fonte: adaptado de Becho (2002) e Rech (2000).

Quadro 12 Forma de escrituração contábil das associações, das


cooperativas e dos sindicatos.
ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL
Associação Simplificada e objetiva
Específica, tendo a necessidade de controlar a conta capital de
Cooperativa
cada cooperado.
Sindicato Simplificada e objetiva.
Fonte: adaptado de Becho (2002) e Rech (2000).

Quadro 13 Destino do resultado financeiro das associações, das


cooperativas e dos sindicatos.
DESTINO DO RESULTADO FINANCEIRO
Não há rateio de sobras das operações financeiras entre os
Associação
sócios.
Há rateio das sobras obtidas no exercício financeiro, devendo
antes a assembleia destinar parte aos fundos de reserva
Cooperativa e educacional. As demais podem ser direcionadas para os
cooperados, de acordo com a quantidade de operações que
cada um realizou, ou a capitalização da própria cooperativa.

© COOPERATIVISMO RURAL 97
UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

DESTINO DO RESULTADO FINANCEIRO


O superávit eventualmente demonstrado no balanço servirá
Sindicato para custeio das atividades sindicais. Não há rateio entre os
sindicalizados.
Fonte: adaptado de Becho (2002) e Rech (2000).

Devemos reforçar que trouxemos 12 características prin-


cipais da forma de atuação dessas três formas de personalidade
jurídica. Todavia, se fôssemos nos aprofundar no estudo, pode-
ríamos relacionar diversas outras similitudes e outras diferenças
no seu modelo de existência.

3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


• MODELO DE ESTATUTO. Cooperativa agropecuária.
Disponível em: <http://www.economia.esalq.usp.br/
intranet/uploadfiles/1782.pdf>. Acesso em: 9 de dez.
de 2014.
• SISTEMA OCEPAR. O guia para constituição de
cooperativas. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=wZRGQThunHE>. Acesso em: 15 jan.
2015.
O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição
necessária e indispensável para você compreender integralmen-
te os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. FORMAÇÃO DAS COOPERATIVAS

Conforme pudemos aprender nesta unidade, as coopera-


tivas enfrentaram fortes amarras para poder desenvolver o seu

98 © COOPERATIVISMO RURAL
UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

potencial e, por muito tempo, a legislação não favoreceu a sua


criação, tendo o próprio Governo como um fator limitador da
sua expansão. A partir da Constituição Federal de 1988, a situa-
ção melhorou, e, mais recentemente, o Código Civil de 2002 deu
novo impulso, trazendo autonomia e facilitando a constituição
de novas cooperativas. Para reforçar o conteúdo explanado, veja
os trabalhos a seguir:
• DENACOOP. Evolução do Cooperativismo no Brasil.
• Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/arq_
editor/file/Cooperativismo%20e%20Associativismo/
Publica%C3%A7%C3%B5es%20e%20M%C3%ADdias/
Evolu%C3%A7%C3%A3o%20do%20Cooperativismo%20
no%20Brasil%20Denacoop%20em.pdf>. Acesso em: 15
jan. 2015.
• MINISTÉRIO DA AGRICULTURA. Mapa contribui com
programas para evolução das cooperativas. Disponível
em: <http://www.agricultura.gov.br/comunicacao/
noticias/2014/07/mapa-contribui-com-programas-
para-evolucao-das-cooperativas>. Acesso em: 15 jan.
2015.
• OCB. Movimento livre da influência do Estado. Disponível
em: <http://www.ocb.org.br/site/cooperativismo/
evolucao_no_brasil.asp>. Acesso em: 15 jan. 2015.

3.2. CARACTERÍSTICAS DA SOCIEDADE COOPERATIVA

Outro tópico importante abordado nesta unidade diz res-


peito às características da sociedade cooperativa. Aprendemos
que o Artigo n. 1.094 destaca oito elementos que toda coope-
rativa deve seguir. Também foi explicado que, nos últimos anos,

© COOPERATIVISMO RURAL 99
UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

houve uma melhora significativa na legislação que regulamenta


a matéria. Para melhor compreensão da matéria, leia os textos
a seguir:
• FECOOPAR – OCEPAR – SESCOOP/PR. Sistema Ocepar. Dis-
ponível em: <http://www.paranacooperativo.com.br/
ppc/index.php/sistema-ocepar/2011-12-05-11-29-42/
interpretacoes-da-legislacao-cooperativista/90604-
-entendendo-o-conceito-de-sociedade-cooperativa>.
Acesso em: 15 jan. 2015.
• OLIVEIRA, K. C. P.; COSTA, M. M. C.; PINHEIRO, E. P. A.
Principais características das Sociedades Cooperativas
de acordo com a legislação brasileira. Disponível em:
<http://www.faceca.br/revista/index.php/congresso/
article/view/294>. Acesso em: 15 jan. 2015.
• RECEITA FEDERAL. Capítulo XVII – Sociedades Coope-
rativas 2013. Natureza e requisitos. Disponível em:
<http://www.receita.fazenda.gov.br/publico/pergu-
perg/dipj2013/Capitulo_XVII_SociedadesCooperativ-
So_2013.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2015.

3.3. TIPOS DE ASSEMBLEIAS REALIZADAS PELAS COOPERATI�


VAS

Vimos, na Unidade 4, que, nas cooperativas, a criação, a


tomada de decisões e a prestação de contas são dadas por meio
das Assembleias Gerais convocadas para as finalidades específi-
cas (fundação, balanço patrimonial, tomada de decisão que im-
pactará a empresa etc.). Para aperfeiçoar o conteúdo repassado,
acesse:

100 © COOPERATIVISMO RURAL


UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

• FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA. Como funciona


uma cooperativa. Disponível em: <http://fdr.com.br/
formacao/2013/associativismo/ccom-funciona-uma-
cooperativa/>. Acesso em: 15 jan. 2015.
• OCB. Eficiente sistema de controle interno. Disponível
em: <http://www.ocb.org.br/site/cooperativismo/por_
dentro_da_cooperativa.asp>. Acesso em: 15 jan. 2015.
• OCESP. Portal do cooperativismo. Série assembleias.
Disponível em: <http://ocesp.org.br/default.
php?p=texto.php&c=sseri_assembleias_>. Acesso em:
15 jan. 2015.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteú-
dos estudados para sanar as suas dúvidas.
1) Responda qual alternativa está correta no que tange à formação do patri-
mônio da cooperativa.
a) O patrimônio advém, exclusivamente, da contribuição sindical dos
cooperados.
b) Possui capital social constituído por aporte dos cooperados.
c) Não possui capital social. O patrimônio forma-se por meio de doações,
fundos e reservas.
d) Nenhuma das anteriores.

2) Qual o ato necessário para se dar publicidade sobre a existência e o fun-


cionamento da cooperativa?
a) Encaminhar um e-mail para as outras cooperativas daquela região.

© COOPERATIVISMO RURAL 101


UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

b) Registrar a ata da fundação da cooperativa no Cartório de Regis-


tro de Imóveis, Títulos e Documentos na cidade onde fica a sede da
instituição.
c) Fazer uma grande festa, convidando todas as autoridades locais.
d) Nenhuma das anteriores.

3) Relacione oito características das sociedades cooperativas.

4) Qual a função do Conselho Fiscal?


a) É responsável pela administração e gestão da cooperativa.
b) É responsável pela elaboração do inventário da cooperativa.
c) É responsável pela validação do balanço patrimonial e demonstrativo
do resultado da cooperativa.
d) Nenhuma das anteriores.

5) Indique qual(is) motivo(s) impediu(ram) a evolução do sistema cooperati-


vo no Brasil nos últimos 70 anos.
a) Legislação altamente restritiva, aperfeiçoada somente nos últimos 20
anos.
b) Burocracia estatal, que não enxergava com bons olhos a formação de
cooperativas.
c) Antigamente, havia uma obrigação de ser necessário reunir 20 pessoas
para a constituição da cooperativa.
d) Todas as anteriores.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) b.

2) b.

3) As oito características são:


I - variabilidade, ou dispensa do capital social;

102 © COOPERATIVISMO RURAL


UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

II - concurso de sócios em número mínimo necessário a compor a admi-


nistração da sociedade, sem limitação de número máximo;
III - limitação do valor da soma de quotas do capital social que cada sócio
poderá tomar;
IV - intransferibilidade das quotas do capital a terceiros estranhos à socie-
dade, ainda que por herança;
V - quorum, para a assembleia geral funcionar e deliberar, fundado
no número de sócios presentes à reunião, e não no capital social
representado;
VI - direito de cada sócio a um só voto nas deliberações, tenha ou não
capital a sociedade, e qualquer que seja o valor de sua participação;
VII - distribuição dos resultados, proporcionalmente ao valor das opera-
ções efetuadas pelo sócio com a sociedade, podendo ser atribuído
juro fixo ao capital realizado;
VIII - indivisibilidade do fundo de reserva entre os sócios, ainda que em
caso de dissolução da sociedade.

4) c.

5) d.

5. CONSIDERAÇÕES
Acabamos de aprender como funciona a legislação básica
necessária para se fundar uma cooperativa, todos os departa-
mentos que precisam existir para o seu pleno andamento, o car-
go e a função que cada cooperado da diretoria deverá ocupar,
seus direitos e suas obrigações com os demais cooperados e com
a comunidade local em que o empreendimento esteja inserido.
Esperamos, com isso, ter passado para você as noções básicas do
cooperativismo rural, sua importância e a força que ela terá pe-
rante as outras empresas se for bem administrada. Dessa forma,
encerramos nossa unidade e a obra Cooperativismo Rural.

© COOPERATIVISMO RURAL 103


UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

6. E-REFERÊNCIAS
BRASIL. Presidência da República. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 15
jan. 2015.
DENACOOP. Evolução do Cooperativismo no Brasil. Disponível em: <http://
www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/Cooperativismo%20e%20
Associativismo/Publica%C3%A7%C3%B5es%20e%20M%C3%ADdias/
Evolu%C3%A7%C3%A3o%20do%20Cooperativismo%20no%20Brasil%20
Denacoop%20em.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2015.
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA. Como funciona uma cooperativa. Disponível
em: <http://fdr.com.br/formacao/2013/associativismo/ccom-funciona-uma-
cooperativa/>. Acesso em: 15 jan. 2015.
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA. Mapa contribui com programas para evolução das
cooperativas. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/comunicacao/
noticias/2014/07/mapa-contribui-com-programas-para-evolucao-das-
cooperativas>. Acesso em: 15 jan. 2015.
OLIVEIRA, K. C. P.; COSTA, M. M. C.; PINHEIRO, E. P. A. Principais características
das Sociedades Cooperativas de acordo com a legislação brasileira. Disponível
em: <http://www.faceca.br/revista/index.php/congresso/article/view/294>. Acesso
em: 15 jan. 2015.
OCB. Eficiente sistema de controle interno. Disponível em: <http://www.ocb.org.br/
site/cooperativismo/por_dentro_da_cooperativa.asp>. Acesso em: 15 jan. 2015.
______. Movimento livre da influência do Estado. Disponível em: <http://www.ocb.
org.br/site/cooperativismo/evolucao_no_brasil.asp>. Acesso em: 15 jan. 2015.
OCESP. Portal do cooperativismo. Série Assembleias. Disponível em: <http://ocesp.org.
br/default.php?p=texto.php&c=sseri_assembleias_>. Acesso em: 15 jan. 2015.
FECOOPAR – OCEPAR – SESCOOP/PR. Sistema Ocepar. Disponível em: <http://www.
paranacooperativo.com.br/ppc/index.php/sistema-ocepar/2011-12-05-11-29-42/
interpretacoes-da-legislacao-cooperativista/90604-entendendo-o-conceito-de-
sociedade-cooperativa>. Acesso em: 15 jan. 2015.
RECEITA FEDERAL. Capítulo XVII – Sociedades Cooperativas 2013. Natureza e requisitos.
Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/publico/perguperg/dipj2013/
Capitulo_XVII_SociedadesCooperativSo_2013.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2015.

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UNIDADE 4 – A LEGISLAÇÃO QUE REGE AS COOPERATIVAS

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BIALOSKORSKI, S. Gestão Agroindustrial – Capítulo 12. Agronegócio Cooperativo.
Mário Otávio Batalha [Coord.]. São Paulo: Atlas, 2009.
BECHO, R. L. Elementos de Direito Cooperativo (de acordo com o Novo Código Civil).
São Paulo: Dialética: 2002.
CRÚZIO, H. O. Como organizar e administrar uma cooperativa. Rio de Janeiro: FGV,
2002.
OCB. Orientação para Constituição de Cooperativas. Brasília: Organização das
Cooperativas Brasileiras, 1991.
GONÇALVES, J. S.; VEGRO, C. L. R. Crise econômica e cooperativismo agrícola: uma
discussão sobre os condicionantes das dificuldades financeiras da Cooperativa Agrícola
de Cotia (CAC). Disponível em: <ftp://ftp.sp.gov.br/ftpiea/asp4-0294.pdf>. Acesso em:
06 out. 2014.
WAQUIL, P. D.; MIELE, M.; SCHULTZ, G: Mercados e comercialização de produtos
agrícolas. Coordenado pela Universidade Aberta do Brasil – UAB/UFR- GS e pelo Curso
de Graduação Tecnológica – Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural da
SEAD/UFRGS. – Porto Alegre: UFRGS, 2010. 71 p.

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