Você está na página 1de 12

Artigo inédito

Efeito de diferentes protocolos de limpeza


pós-condicionamento na resistência de união ao
microcisalhamento de uma cerâmica reforçada
por dissilicato de lítio, e avaliação em MEV
Effect of different post-etching cleaning protocols on microshear bond strength of a lithium
disilicate-reinforced ceramic, and SEM evaluation

Luiz Fernando Ortega1, André Figueiredo Reis2, José Augusto Rodrigues2, Rose Yakushijin Kumagai3,
José Carlos Romanini-Junior3, Caroline Ely4
1) Aluno do programa de mestrado em Odontologia, área de Dentística, Centro de Pós-graduação e Pesquisa, Universidade Guarulhos. 2) Professor dos programas de mestrado
e doutorado em Odontologia, área de Dentística, Centro de Pós-graduação e Pesquisa, Universidade Guarulhos. 3) Aluno do programa de doutorado em Odontologia, área de
Dentística, Centro de Pós-graduação e Pesquisa, Universidade Guarulhos. 4) Pós-doutoranda, área de Dentística, Centro de Pós-graduação e Pesquisa, Universidade Guarulhos.

Objetivo: o objetivo deste estudo foi avaliar o US (cuba ultrassônica com álcool) e AL (aplicação AL apresentou os menores valores de RU, quando
efeito de diferentes protocolos de limpeza pós-con- ativa de álcool). Os procedimentos restauradores comparado com o grupo H3PO4 (p < 0,05), mas não
dicionamento (PL) na resistência de união ao mi- foram realizados utilizando o adesivo XP Bond foi diferente dos grupos controle e US (p > 0,05).
crocisalhamento (RU) de uma cerâmica reforçada seguido por uma resina composta de baixa visco- Um elevado número de falhas adesivas foi obser-
por dissilicato de lítio e caracterizar a morfologia sidade. Quatro cilindros de resina foram confeccio- vado. As imagens em MEV mostraram uma maior
da superfície após PL por meio de microscopia nados em cada disco de cerâmica (n = 5). O teste quantidade de subprodutos para o grupo AL.
eletrônica de varredura (MEV). Métodos: 20 dis- de RU foi realizado e o padrão de fratura avaliado. Conclusões: todos os PL testados apresentaram
cos de cerâmica reforçada por dissilicato de lítio Os valores de RU foram submetidos ao ANOVA 1 valores de RU semelhantes aos do grupo controle.
(IPS e.max Press, Ivoclar Vivadent) foram polidos, fator e teste de Tukey ( = 5%). A caracterização da Em relação à análise em MEV, apenas o protocolo
condicionados com ácido fluorídrico a 10% por 20s superfície cerâmica foi realizada por MEV. Resul- AL apresentou uma maior quantidade de resíduos
e distribuídos aleatoriamente em quatro grupos tados: o grupo H3PO4 apresentou os maiores valo- na superfície cerâmica. Palavras-chave: Cerâmi-
de acordo com o PL: controle (spray ar/ água); res de RU, mas não apresentou diferença em rela- cas. Microcisalhamento. Ácido hidrofluorídrico.
H3PO4 (aplicação ativa de ácido fosfórico a 37%); ção aos grupos controle e US (p > 0,05). O grupo Microscopia eletrônica de varredura.

Objective: The aim of this study was to evaluate 37% phosphoric acid); UBA (ultrasonic bath in alco- groups (p > 0.05). The BA group presented lower
the effect of different post-etching cleaning (PEC) hol) and BA (brushing with alcohol). The restorative SBS values when compared to the H3PO4 group
protocols on the microshear bond strength (SBS) of procedures were performed with an adhesive system (p < 0.05), but it was not significantly different from
a lithium disilicate-reinforced ceramic and to char- (XP Bond) followed by a low-viscosity composite res- control and UBA groups (p > 0.05). A high num-
acterize the PEC surface morphology by scanning in (SDR Flow). Four resin cylinders were bonded per ber of adhesive failure was observed. SEM images
electron microscopy (SEM). Methods: Twenty lith- ceramic disk (n = 5). The SBS test was performed showed a higher amount of debris for the BA group.
ium disilicate-reinforced ceramic disks (IPS e.max and the failure pattern was evaluated by means of Conclusions: All tested PEC presented SBS values
Press, Ivoclar Vivadent) were used. Ceramic disks a stereomicroscope. SBS values were submitted to similar to the control group. As regards SEM anal-
were serially wet-polished with SiC paper, etched ANOVA and Tukey test ( = 5%). Ceramic surface ysis, only the BA protocol presented a high amount
with 10% hydrofluoric acid for 20 seconds and ran- characterization was performed by SEM. Results: of debris on the ceramic surface. Keywords: Ceram-
domly assigned into four groups according to the The H3PO4 group showed the highest SBS values, ics. Microshear bond strength. Hydrofluoric acid.
PEC: control (air-water spray); H3PO4 (brushing with but it was not different from the control and UBA Scanning electron microscopy.

Como citar este artigo: Ortega LF, Reis AF, Rodrigues JA, Kumagai RY, Romanini-Junior JC, Ely C. Effect of different post-etching cleaning pro- Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais,
tocols on microshear bond strength of a lithium disilicate-reinforced ceramic, and SEM evaluation. J Clin Dent Res. 2016 Apr-June;13(2):38-48. de propriedade ou financeiros que representem conflito de interes-
se nos produtos e companhias descritos nesse artigo.
DOI: http://dx.doi.org/10.14436/​2447-911x.13.2.038-048.oar

Enviado em: 08/04/2016 - Revisado e aceito: 25/05/2016.

Endereço para correspondência: André Figueiredo Reis


CEPPE, Universidade Guarulhos – UnG - Praça Tereza Cristina, 229 - Guarulhos / SP - CEP: 07.023-070 - E-mail: reisandre@yahoo.com

- 38 - ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2016 Apr-June;13(2):38-48


Efeito de diferentes protocolos de limpeza pós-condicionamento na resistência de união ao microcisalhamento de uma cerâmica reforçada por dissilicato de lítio, e avaliação em MEV

adesão9. Os materiais cerâmicos que contêm


matriz vítrea são sensíveis ao condiciona-
Introdução mento com ácido fluorídrico, que promove a
dissolução da fase vítrea e/ou cristalina, re-
As cerâmicas odontológicas são amplamente sultando em uma superfície retentiva capaz
utilizadas para a reabilitação dentária . A in- 1-4
de promover uma interação micromecânica
dicação desse tipo de material está diretamente com o agente de união10.
relacionada a algumas propriedades fundamen-
tais para o sucesso do procedimento restaura- No entanto, o condicionamento da superfície
dor, tais como alta resistência à compressão, varia de acordo com a composição de cada
estabilidade química e excelente estética . 5
material11. Além de exigirem menor tempo de
condicionamento, devido à menor quantidade
As cerâmicas atualmente disponíveis para de sílica e menor tamanho de cristais — quando
uso odontológico podem ser classificadas em comparadas com as cerâmicas reforçadas por
três grupos principais: cerâmicas de matriz leucita11,12 —, as cerâmicas reforçadas por dissi-
vítrea, cerâmicas policristalinas, e cerâmicas licato de lítio apresentam valores de resistência
de matriz resinosa. Entre essas, as cerâmicas de união mais elevados aos materiais resinosos,
de matriz vítrea são as de primeira escolha em quando comparadas às cerâmicas com alto teor
relação ao aspecto estético, uma vez que a fase de sílica12. Assim, diferentes padrões de deposi-
vítrea permite a passagem de luz, o que con- ção de subprodutos podem ser esperados para
fere translucidez apropriada para esse tipo de diferentes cerâmicas, uma vez que diferentes
material6. No entanto, além das características tempos de condicionamento são utilizados,
estéticas, a adequada resistência conferida ao além de possuírem diferentes composições.
material pela fase cristalina é fundamental5.
Assim, as cerâmicas reforçadas por dissilicato
de lítio, que pertencem à classe das cerâmicas
de matriz vítrea, são comumente usadas ​​para
procedimentos restauradores indiretos, tais
“Um princípio importante para a adesão
como onlays, inlays e coroas1,7.
consiste na presença de uma superfície
Um aspecto fundamental em relação aos
altamente reativa, obtida por meio
procedimentos restauradores consiste na de um agente de condicionamento
necessidade de adesão entre os diferentes de superfície com uma concentração
substratos e/ou materiais utilizados8. Uma específica e utilizado por um tempo de
superfície retentiva é obtida por meio de al- aplicação adequado”.
gum tipo de tratamento de superfície (abra-
são, condicionamento ácido, asperização, ja-
teamento ou a combinações desses métodos)
que aumente a energia superficial do subs-
trato, e o seu molhamento é essencial para a

©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2016 Apr-June;13(2):38-48 - 39 -


Ortega LF, Reis AF, Rodrigues JA, Kumagai RY, Romanini-Junior JC, Ely C

A camada de subprodutos depositada sobre a jateados com partículas de óxido de alumínio


superfície condicionada, derivada da dissolu- de 50µm, a uma pressão de 2 bar. As super-
ção do substrato durante a reação, ocasiona fícies dos discos de cerâmica foram polidas
a obliteração das microporosidades previa- com lixas de carbeto de silício de granula-
mente formadas pelo condicionamento ácido, ções decrescentes (#320, #400, #600, #800
prejudicando a resistência de união . Esses 14
e #1200) e limpas em cuba ultrassônica com
sais insolúveis formados podem permanecer água destilada por 5 min.
aderidos à superfície cerâmica mesmo após a
limpeza pós-condicionamento12. Protocolos de Tratamento de superfície e grupos
limpeza pós-condicionamento (PL) descritos experimentais
como eficazes para remover esses resíduos
são baseados em limpeza com cuba ultrassô- As superfícies dos discos cerâmicos foram
nica e/ou ácido fosfórico 12,14,15,17
. No entanto, condicionadas com ácido fluorídrico a 10%
esse ainda é um tema controverso para as (Condac Porcelana, FGM, Joinville, SC, Brasil)
cerâmicas reforçadas por dissilicato de lítio, durante 20s, lavadas com spray ar/água du-
e requer mais estudos para que se estabeleça rante 10s e secas com ar por 10 s. Os materiais
um protocolo padrão-ouro. utilizados nesse estudo e as suas composições
estão apresentados na Tabela 1.
Assim, o objetivo do presente estudo foi ava-
liar o efeito do PL na resistência de união ao Os discos foram, então, distribuídos aleato-
microcisalhamento (RU) de uma cerâmica riamente em quatro grupos de acordo com os
reforçada por dissilicato de lítio, bem como a protocolos de limpeza pós-condicionamento:
morfologia superficial após os diferentes PL,
por meio de microscopia eletrônica de varre- » Grupo 1 (controle): depois do condicionamento
dura (MEV). A hipótese nula testada foi a de com ácido HF, somente spray ar/água foi utiliza-
que os diferentes PL não influenciariam nos do, de acordo com as instruções do fabricante.
valores de resistência de união.
» Grupo 2 (H3PO4): as superfícies cerâmicas fo-
Material e Métodos ram limpas com ácido fosfórico a 37% em gel
(Condac 37, FGM, Joinville, SC, Brasil), usando
Obtenção do substrato cerâmico microbrush, durante 10 s.

Vinte discos cerâmicos à base de dissilicato » Grupo 3 (US): as amostras de cerâmica foram
de lítio (IPS e.max Press, Ivoclar Vivadent AG, imersas em álcool (Sigma-Aldrich Brasil Ltda,
Schaan, Liechtenstein) medindo 13mm de diâ- São Paulo, SP, Brasil) em cuba ultrassônica,
metro e 5mm de espessura foram obtidos por durante 5 min.
meio da técnica da cera perdida e técnica de
prensagem, de acordo com as instruções do » Grupo 4 (AL): as superfícies cerâmicas foram
fabricante. Após resfriamento, os discos fo- limpas ativamente com álcool, usando micro-
ram removidos do material de revestimento e brush, durante 10 s.

- 40 - ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2016 Apr-June;13(2):38-48


Efeito de diferentes protocolos de limpeza pós-condicionamento na resistência de união ao microcisalhamento de uma cerâmica reforçada por dissilicato de lítio, e avaliação em MEV

Tabela 1: Materiais utilizados no estudo.

Tipo Fabricante Composição

IPS e.max Press (Ivoclar Vivadent AG, SiO2, Li2O, K2O, P2O5, ZrO2, ZnO, outros óxidos e
Cerâmica reforçada com dissilicato de líto
Schaan, Liechtenstein) pigmentos cerâmicos

Ácido hidrofluorídrico Condac Porcelana (FGM, Joinville, Brasil) Ácido hidrofluorídrico 10%

Ácido fosfórico Condac 37 (FGM, Joinville, Brazil) Gel à base de água, com 37% de ácido fosfórico

Absolute ethanol (Sigma-Aldrich Brasil


Etanol Álcool etílico
Ltda, São Paulo, Brasil)

RelyXTM Ceramic Primer (3M ESPE,


Silano Álcool etílico, água, metacriloxipropiltrimetoxisilano
St. Paul, EUA)

Adesivo universal monocomponente de XP BondTM (Dentsply DeTrey, Konstanz, TCB resin, PENTA, UDMA, TEGDMA, HEMA, BHT, EDAB,
condicionamento total Alemanha) CQ, sílica amorfa funcionalizada; t-butanol.

Vidro de bário-alumínio-flúor- borosilicato, vidro de


estrôncio alumínio-flúor- silicato, resina modificada de
Resina composta de baixa viscosidade SureFil SDR Flow (Dentsply Caulk,
dimetacrilato
dimetacrilato
etoxilado,
trietilenglicol, CQ,
para incremento único Milford, EUA)
estabilizador UV, dióxido de titânio, pigmentos de óxido
de ferro.

Legenda: SiO2: dióxido de silício; Li2O: óxido de líto; K2O: óxido de potássio; P2O5: pentóxido de fósforo; ZrO2: óxido de zircônia; ZnO: óxido de zinco; TCB resina: dimetacrilato de
ácido carboxílico modificado; PENTA: ácido fosfórico modificado por resina acrílica; UDMA: uretano dimetacrilato; TEGDMA: dimetacrilato de trietilenoglicol; HEMA: 2- hidroxietil-
metacrilato; BHT: hidroxibutiltolueno; EDAB: etil-4-dimetilaminobenzoato; CQ: canforoquinona; EBPADMA: bisfenol A dimetacrilato etoxilado.

Após os procedimentos de limpeza pós-con- anteriormente, um silano (RelyXTM Ceramic


dicionamento (exceto para o grupo controle, Primer, 3M ESPE, St. Paul, MN, EUA) foi
em que o PL foi o próprio jato de ar/água), as aplicado à superfície de cada disco de ce-
amostras foram lavadas com spray de ar/água râmica, e esses foram secos completamen-
durante 10s e secas com ar durante 10s. te com ar. Em seguida, uma camada de XP
BondTM (Dentsply De Trey, Konstanz, Alema-
Procedimento restaurador nha) foi aplicada na superfície da cerâmica
pré-tratada e seca com ar, a fim de evaporar
Após ser realizada a limpeza da superfície o solvente. O adesivo não foi fotoativado an-
de acordo com os procedimentos descritos tes do procedimento restaurador.

©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2016 Apr-June;13(2):38-48 - 41 -


Ortega LF, Reis AF, Rodrigues JA, Kumagai RY, Romanini-Junior JC, Ely C

Sobre a camada de adesivo não fotopolime-


rizado, uma resina composta de baixa visco-
sidade (SureFil SDR Flow, Dentsply Caulk,
Milford, DE, EUA) foi aplicada usando uma Avaliação em MEV após os protocolos de
matriz cilíndrica tipo Tygon (3mm de altu- limpeza pós-condicionamento
ra e 1mm de diâmetro interno). Em segui-
da, a fotopolimerização foi realizada usando Dois discos adicionais de cada protocolo de
um diodo emissor de luz (Radii Plus®, SDI, limpeza pós-condicionamento foram prepara-
Victoria, Austrália) com uma irradiância dos para análise em MEV. Todas as amostras
de 1.500mW/cm2 durante 40s. Após a poli- foram secas e armazenadas em um desseca-
merização, os tubos Tygon foram cortados dor com sílica gel durante 24 horas. Depois,
com uma lâmina de bisturi e descartados. os discos cerâmicos foram montados em stubs
As amostras restauradas foram armazenadas de alumínio, cobertos com carbono (MED 010,
em água destilada a 37°C durante 24 horas. BAL-TEC AG, Balzers Union) e observados em
Quatro cilindros de resina foram confecciona- MEV (LEO 435 VP, LEO Electron Microsco-
dos com disco de cerâmica (n = 5). py Ltd.). Fotomicrografias foram tiradas com
ampliações originais de 5000X.
Teste de resistência de união ao
microcisalhamento Análise estatística

Após o período de armazenamento, as amos- Os valores de resistência de união foram sub-


tras foram posicionadas em um dispositivo da metidos ao ANOVA segundo um critério (fator
máquina de ensaios universal (EZ Test, Shima- “protocolo de limpeza pós-condicionamento”),
dzu Corp, Kyoto, Japão) equipada com um fio seguido pelo teste de Tukey ( = 5%) (SAS for
ortodôntico, a uma velocidade de 1mm/min, Windows V8; SAS Institute, Inc, Cary, EUA).
até ocorrer a fratura. A carga máxima de tração Os valores de resistência de união dos quatro
foi dividida pela área de seção transversal da cilindros de resina contidos em cada disco de
amostra, para se obter os resultados em MPa. cerâmica foram avaliados e a média foi calcu-
lada. Essa média foi considerada como o valor
O padrão de fratura foi observado por meio de RU para cada disco (n = 5).
de um estereomicroscópio, na ampliação
de 50x (Pantec, Panambra Ind. e Técnica).
O modo de fratura na interface foi classifica-
do em: CC (coesiva na cerâmica), AD (falha
adesiva entre cerâmica e resina) ou CR (fa-
lha coesiva na resina composta). O percen-
tual da área de cada tipo de falha em cada
amostra foi registrado16.

- 42 - ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2016 Apr-June;13(2):38-48


Efeito de diferentes protocolos de limpeza pós-condicionamento na resistência de união ao microcisalhamento de uma cerâmica reforçada por dissilicato de lítio, e avaliação em MEV

Tabela 2: Valores médios de resistência de união ao microcisalhamento (MPa) e desvio-padrão produzido pelos diferentes protocolos de limpeza pós-con-
dicionamento em uma cerâmica reforçada por dissilicato de lítio.

Protocolo de limpeza Resistência de união ao microcisalhamento (MPa) Tukey

Controle 41,54 ± 3,52 AB

H3PO4 42,05 ± 3,63 A

US 38,59 ± 2,65 AB

AL 34,97 ± 5,30 B

Médias seguidas por letras diferentes representam diferença estatística pelo teste de Tukey ( =5%). Legenda: controle (somente spray de ar e água); H3PO4 (aplicação ativa de gel
de ácido fosfórico a 37% durante 10s); US (limpeza em ultrassom com etanol absoluto, durante 5min); AL (limpeza ativa com etanol absoluto durante 10s).

Resultados

Resistência de união ao
microcisalhamento (RU)

Os resultados do teste ANOVA segundo um


critério estão apresentados na Tabela 2. Fo- Cuba ultrassônica
ram detectadas diferenças significativas para
o fator “protocolo de limpeza pós-condiciona- Esfregaço com álcool

mento”. Embora o grupo H3PO4 tenha apre-


sentado os maiores valores RU, não houve Ácido fosfórico 37%

diferença estatisticamente significativa em


relação aos grupos controle e US (p > 0,05). Controle
O grupo AL apresentou os menores valores
de RU; no entanto, foi estatisticamente simi-
lar aos grupos controle e US (p > 0,05). O  va- Adesiva Coesiva em resina Coesiva em cerâmica

lor de RU do grupo AL foi estatisticamente


Figura 1: Distribuição do padrão de fratura nos grupos experimentais (%).
diferente do grupo H3PO4 (p < 0,05).

Os dados descritivos da análise do modo de


falha (Fig. 1) mostraram uma maior percen-
tagem de falhas adesivas entre a cerâmica e a
resina, para todos os grupos.

©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2016 Apr-June;13(2):38-48 - 43 -


Ortega LF, Reis AF, Rodrigues JA, Kumagai RY, Romanini-Junior JC, Ely C

2 3

Observações em MEV

Foi possível observar que o condicionamento No grupo em que o protocolo de limpeza pós-
com HF foi capaz de dissolver a matriz vítrea, -condicionamento foi realizado com H3PO4,
expondo os cristais de dissilicato de lítio e também foi possível observar uma pequena
criando uma topografia altamente retentiva. quantidade de resíduos sobre a superfície
A Figura 2 mostra a imagem em MEV para o cerâmica (Fig. 3), bem como para o grupo US
grupo de controle. Além do padrão de condi- (Fig. 4), no qual os resíduos estão quase ausen-
cionamento criado pelo HF, é possível obser- tes. Finalmente, o grupo AL (Fig. 5) foi o que
var uma pequena quantidade de subprodutos apresentou a maior quantidade de resíduos
na superfície cerâmica, em que apenas foi em relação aos outros três grupos avaliados.
realizado o protocolo de limpeza pós-condicio-
namento com spray de ar/água.

- 44 - ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2016 Apr-June;13(2):38-48


Efeito de diferentes protocolos de limpeza pós-condicionamento na resistência de união ao microcisalhamento de uma cerâmica reforçada por dissilicato de lítio e avaliação em MEV

4 5

Figura 2: Aspecto da superfície cerâmica após con-


dicionamento com ácido fluorídrico (protocolo de
limpeza spray de ar/água). Imagem obtida por mi-
croscopia eletrônica de varredura em ampliação de
5.000x.

Figura 3: Aspecto da superfície cerâmica após con-


dicionamento com ácido fluorídrico e protocolo de
limpeza pós-condicionamento com ácido fosfórico a
37% (10s). Imagem obtida por microscopia eletrônica
de varredura em ampliação de 5.000x.

Figura 4: Aspecto da superfície cerâmica após o


condicionamento com ácido fluorídrico e limpeza em
cuba ultrassônica com etanol absoluto (5 min). Ima-
gem obtida por microscopia eletrônica de varredura
em ampliação de 5.000x.

Figura 5: Aspecto da superfície cerâmica após o con-


dicionamento ácido fluorídrico e aplicação ativa de
etanol absoluto (10s). Imagem obtida por microsco-
pia eletrônica de varredura em ampliação de 5.000x.

©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2016 Apr-June;13(2):38-48 - 45 -


Ortega LF, Reis AF, Rodrigues JA, Kumagai RY, Romanini-Junior JC, Ely C

Discussão O condicionamento da superfície cerâmica foi


realizado de acordo com o protocolo recomen-
A remoção de subprodutos do processo de dado pelo fabricante (HF 10% por 20s). Na Fi-
condicionamento da superfície cerâmica é con- gura 2 (grupo controle, PL spray de ar/água, tal
siderada um passo importante para garantir como recomendado pelo fabricante), é possível
um bom desempenho de adesão ao substrato observar que o HF 10% foi capaz de dissolver a
cerâmico . Apesar de nenhum dos PL reali-
12,14,17
fase vítrea, expondo os cristais de dissilicato de
zados ter apresentado melhor desempenho em lítio e criando um padrão de condicionamento
relação à RU, quando comparados ao controle, superficial favorável para a infiltração do adesi-
diferenças em relação aos valores de RU foram vo nos espaços inter-cristalinos20. Um princípio
observadas entre os grupos. Sendo assim, a hi- importante para a adesão consiste na presen-
pótese nula desse estudo foi rejeitada. ça de uma superfície altamente reativa, obtida
com o uso de um agente de condicionamento
O ensaio de resistência de união ao microcisa- de superfície com concentração específica e uti-
lhamento consiste em um importante método lizado por um tempo de aplicação adequado9.
utilizado para avaliar a resistência de união a Esse aumento da energia de superfície favorece
materiais frágeis, como as cerâmicas odonto- a formação de um baixo ângulo de contato entre
lógicas . As amostras não precisam ser seg-
18
o agente de união e o substrato, permitindo um
mentadas e, consequentemente, os defeitos adequado molhamento da superfície9.
e a formação de microtrincas são reduzidos.
Além disso, os testes que utilizam amostras No entanto, após o condicionamento com o HF
de tamanho “micro” são preferíveis em com- ocorre a formação de subprodutos que se pre-
paração com o “macro”, uma vez que menos cipitam na superfície cerâmica, prejudicando
defeitos na interface adesiva são observados a interface adesiva12,14. A composição desses
no preparo da amostra, reduzindo a possibili- subprodutos depende tanto do agente de con-
dade de falhas coesivas19. dicionamento quanto do tipo de cerâmica21.
A fim de reduzir a quantidade de resíduos
As cerâmicas odontológicas podem ser di- depositados sobre a superfície cerâmica após
vididas em três grupos principais: de ma- o condicionamento com HF, diversos protoco-
triz vítrea, policristalinas e cerâmicas com los de limpeza têm sido sugeridos (spray de
matriz resinosa1. Nas cerâmicas de matriz ar/água, ácido fosfórico, uso de cuba ultrassô-
vítrea, encontra-se o subgrupo sintético, ao nica e combinações entre eles)12,14,15,17. Alguns
qual pertencem as cerâmicas reforçadas por estudos já têm avaliado a eficácia desses mé-
dissilicato de lítio. Essa classe de cerâmica todos, mas, em relação à cerâmica reforçada
sintética é menos dependente das variações por dissilicato de lítio, poucos resultados são
na composição, uma vez que sua composi- descritos na literatura.
ção é controlada pelo fabricante. As cerâ-
micas reforçadas por dissilicato de lítio são Diversos métodos de limpeza pós-condiciona-
amplamente utilizadas devido às suas boas mento já foram testados para cerâmicas felds-
propriedades mecânicas e estéticas . 1,7
páticas17,22,23. Entre eles, a limpeza em cuba

- 46 - ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2016 Apr-June;13(2):38-48


Efeito de diferentes protocolos de limpeza pós-condicionamento na resistência de união ao microcisalhamento de uma cerâmica reforçada por dissilicato de lítio, e avaliação em MEV

ultrassônica demonstrou-se eficaz na remoção


de subprodutos gerados a partir do condicio-
namento da cerâmica15,17,23. No entanto, o tem-
po recomendado de imersão em cuba ultrassô-
nica é de 4 a 5 minutos. O objetivo do presente
estudo foi verificar se outros métodos de lim-
peza pós-condicionamento, mais simples e
rápidos, seriam eficazes para o tratamento de
superfícies condicionadas de cerâmicas refor-
çadas por dissilicato de lítio.

Nesse estudo, observou-se que a deposição esse tipo de material podem estar relacionados
de resíduos na superfície do substrato cerâ- com a menor formação de resíduos13,24.
mico reforçado por dissilicato de lítio afetou
negativamente os resultados de resistência de Conclusões
união. Esse achado é diferente do observado
por Belli et al.12, que avaliaram que a presen- Com base nos resultados do presente estudo, foi
ça de resíduos não reduziu significativamente possível concluir que os valores de RU produzi-
a resistência de união entre resina composta dos pelos diferentes PL pós-condicionamento
e IPS Empress 2. Os grupos controle (Fig. 2), em uma cerâmica reforçada por dissilicato de
H3PO4 (Fig. 3) e US (Fig. 4) não mostraram dife- lítio não foram estatisticamente diferentes do
rença na RU e apresentaram pouca deposição grupo controle. No entanto, o grupo AL apre-
de resíduos. No entanto, o grupo AL (Fig. 5) sentou os menores valores de RU e a avaliação
apresentou os menores valores de RU quando em MEV revelou maior quantidade de deposi-
comparado ao grupo H3PO4 (p < 0,05) além de ção de subprodutos na superfície cerâmica.
uma grande deposição de subprodutos em sua
superfície, apesar de não haver diferença na
RU em relação ao controle (p > 0,05).

Belli et al.12 mostraram que, para a cerâmica re-


forçada por dissilicato de lítio, os diferentes pro-
tocolos de limpeza pós-condicionamento testados
não apresentaram tanta diferença significativa
na resistência de união quanto para a cerâmica
reforçada com leucita12. Esses dados corroboram
os achados do presente estudo, uma vez que não
houve diferença significativa na RU entre os di-
ferentes PL testados e o grupo controle. A quan-
tidade reduzida de matriz vítrea e o tempo de
condicionamento curto (20s) recomendado para

©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2016 Apr-June;13(2):38-48 - 47 -


Ortega LF, Reis AF, Rodrigues JA, Kumagai RY, Romanini-Junior JC, Ely C

Referências:

1. Gracis S, Thompson VP, Ferencz JL, Silva NR, Bonfante EA. A new 14. Peumans M, Van Meerbeek B, Yoshida Y, Lambrechts P, Vanherle G.
classification system for all-ceramic and ceramic-like restorative Porcelain veneers bonded to tooth structure: an ultra-morphological
materials. Int J Prosthodont. 2015 May-Jun;28(3):227-35. FE-SEM examination of the adhesive interface. Dent Mater. 1999
2. Li RW, Chow TW, Matinlinna JP. Ceramic dental biomaterials and Mar;15(2):105-19.
CAD/CAM technology: state of the art. J Prosthodont Res. 2014 15. Canay S, Hersek N, Ertan A. Effect of different acid treatments on a
Oct;58(4):208-16.  porcelain surface. J Oral Rehabil. 2001 Jan;28(1):95-101.
3. Della Bona A, Kelly JR. The clinical success of all-ceramic 16. Kasaz AC, Pena CE, Alexandre RS, Viotti RG, Santana VB, Arrais CA,
restorations. J Am Dent Assoc. 2008 Sept;139 Suppl:8S-13S. et al. Effects of a peripheral enamel margin on the long-term bond
4. Lawson NC, Burgess JO. Dental ceramics: a current review. strength and nanoleakage of composite/dentin interfaces produced
Compend Contin Educ Dent. 2014 Mar;35(3):161-6; quiz 168. by self-adhesive and conventional resin cements. J Adhes Dent. 2012
5. Kelly JR, Benetti P. Ceramic materials in dentistry: historical Jun;14(3):251-63. 
evolution and current practice. Aust Dent J. 2011 Jun;56 Suppl 17. Magne P, Cascione D. Influence of post-etching cleaning and
1:84-96. connecting porcelain on the microtensile bond strength of composite
6. Della Bona A, Nogueira AD, Pecho OE. Optical properties of resin to feldspathic porcelain. J Prosthet Dent. 2006 Nov;96(5):354-61.
CAD-CAM ceramic systems. J Dent. 2014 Sept;42(9):1202-9.  18. Armstrong S, Geraldeli S, Maia R, Raposo LH, Soares CJ, Yamagawa J.
7. Simeone P, Gracis S. Eleven-year retrospective survival study of Adhesion to tooth structure: a critical review of “micro” bond strength
275 veneered lithium disilicate single crowns. Int J Periodontics test methods. Dent Mater. 2010 Feb;26(2):e50-62.
Restorative Dent. 2015 Sept-Oct;35(5):685-94. 19. Otani A, Amaral M, May LG, Cesar PF, Valandro LF. A critical
8. Mante FK, Ozer F, Walter R, Atlas AM, Saleh N, Dietschi D, evaluation of bond strength tests for the assessment of bonding to
et al. The current state of adhesive dentistry: a guide for Y-TZP. Dent Mater. 2015 Jun;31(6):648-56.
clinical practice. Compend Contin Educ Dent. 2013 Nov-Dec;34 20. Luo X-P, Silikas N, Allaf M, Wilson NHF, Watts DC. AFM and SEM
Spec 9:2-8. study of the effects of etching on IPS-Empress 2TM dental ceramic.
9. Blatz MB, Sadan A, Kern M. Resin-ceramic bonding: a review of Surf Sci. 2001 Oct;491(3):388-94.
the literature. J Prosthet Dent. 2003 Mar;89(3):268-74. 21. Della Bona A, van Noort R. Ceramic surface preparations for resin
10. Marshall SJ, Bayne SC, Baier R, Tomsia AP, Marshall GW. A review bonding. Am J Dent. 1998 Dec;11(6):276-80.
of adhesion science. Dent Mater. 2010 Feb;26(2):e11-6. 22. Steinhauser HC, Turssi CP, França FM, Amaral FL, Basting RT. Micro-
11. Della Bona A, Anusavice KJ, Mecholsky JJ Jr. Post-etching cleaning shear bond strength and surface micromorphology of a feldspathic
and resin/ceramic bonding: microtensile bond strength and EDX ceramic treated with different cleaning methods after hydrofluoric
analysis. Dent Mater. 2003 Dec;19(8):693-9. acid etching. J Appl Oral Sci. 2014 Apr;22(2):85-90.
12. Belli R, Guimarães JC, Martins Filho AM, Vieira LC. Post-etching 23. Martins ME, Leite FP, Queiroz JR, Vanderlei AD, Reskalla
cleaning and resin/ceramic bonding: microtensile bond strength HN, Ozcan M. Does the ultrasonic cleaning medium affect the
and EDX analysis. J Adhes Dent. 2010 Aug;12(4):295-303. adhesion of resin cement to feldspathic ceramic? J Adhes Dent. 2012
13. Della Bona A, Anusavice KJ, Shen C. Microtensile strength of Dec;14(6):507-9. 
composite bonded to hot-pressed ceramics. J Adhes Dent. 2000 24. Della Bona A, Anusavice KJ, Mecholsky JJ Jr. Apparent interfacial
Winter;2(4):305-13. fracture toughness of resin/ceramic systems. J Dent Res. 2006
Nov;85(11):1037-41.

- 48 - ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2016 Apr-June;13(2):38-48


Copyright of Journal of Clinical Dentistry & Research is the property of Dental Press
International and its content may not be copied or emailed to multiple sites or posted to a
listserv without the copyright holder's express written permission. However, users may print,
download, or email articles for individual use.

Você também pode gostar