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RESUMO
A paralisia facial periférica (PFP) resulta da lesão neuronal periférica do nervo facial (NF). Pode
ser primária (Paralisia de Bell) ou secundária. Além do quadro clínico clássico, que tipicamente
envolve os dois andares da hemiface afectada, pode apresentar-se com outros sintomas acompa-
nhantes (ex. xeroftalmia, hiperacúsia, alteração da fonação e deglutição), que importa pesquisar.
A avaliação clínica inclui a aferição rigorosa do tónus muscular e da sensibilidade do território
do NF. Alguns instrumentos permitem maior objectividade na avaliação dos doentes (Sistema
de House-Brackmann, Sistema de Graduação Facial, Avaliação Funcional). Há critérios claros
de referenciação à especialidade de Medicina Física e de Reabilitação. O tratamento da Paralisia
de Bell pode englobar a terapêutica farmacológica, a reeducação neuromuscular (RNM), os
métodos físicos e a cirurgia. Dentro da RNM, sistematizam-se as várias técnicas de tratamento.
As estratégias do plano terapêutico devem ser orientadas por problemas e ajustadas aos sintomas
e sinais do doente. Revê-se o papel dos métodos físicos. Cerca de 15-20% dos doentes fica com
sequelas permanentes após três meses de evolução. A PFP é uma condição frequentemente plu-
ridisciplinar, importando conhecer as estratégias disponibilizadas pela Medicina de Reabilitação.
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fraqueza muscular ou quando há hipertonia e sincinésias8. parética o doente faz massagem em direcção oposta
Os músculos faciais têm uma capacidade limitada ao repuxamento muscular; na região malar, geniana e
de proporcionar feedback, pois têm poucos receptores perioral o polegar é introduzido na cavidade oral e usado
intrínsecos que possam facultar informação proprioceptiva em oponência aos segundos e terceiros dedos localizados
ao Sistema Nervoso Central1. A reeducação neuromuscular no exterior1; os movimentos devem ser lentos e suaves. O
assistida pelo feedback do espelho ou pelo electromiograma fisioterapeuta também pode fazer massagem endobucal,
(EMG) de superfície está associado a melhores resultados usando o segundo dedo no interior da cavidade oral e o
do que o tratamento tradicional (repetições de expressões polegar no exterior mantendo os músculos em posição de
faciais comuns, massagem suave e electroterapia)8. estiramento1.
2) Exercícios de contracção-relaxamento (Jacobsen)
3.1. Técnicas de Tratamento - contração mantida (3-5 seg) de músculos faciais
específicos, seguida de relaxamento completo.
• Técnicas de Estimulação – vibrações curtas e mantidas 3) Palmopercussões sobre a hemiface afectada.
sobre a massa do músculo efectuada com as polpas digitais; • Técnica de Alongamento Passivo – usadas nos músculos
percussões curtas com as polpas digitais e com cubo de orais ou periorais, agarrando o músculo alvo na sua origem
gelo (envolto em toalha protectora). e manter tracção durante 30 segundos.
• Técnica de Suporte Passivo – fazer o movimento • Técnicas de Controlo de Sincinésias – é feito o
desejado usando um a três dedos, que depois são retirados, movimento desejado lentamente e com pequena amplitude,
enquanto o doente tenta manter a contracção. enquanto se previne ou liberta da contracção sincinética
• Treino da Mímica Facial - treino do uso e controlo não desejada. Quando conseguido, o movimento é treinado
de um músculo ou grupo muscular isoladamente. Dá-se a com maior velocidade e força. Exemplos: Exercícios
instrução ao doente para praticar o movimento desejado Olho-Boca (fechar os olhos enquanto mantém a bochecha
enquanto olha para o espelho ou é usado o EMG de estirada com pressão digital dos primeiros três dedos) e
superfície (Biofeedback) – vidé quadro 6. Inicialmente o Exercícios Boca-Olho (fechar a boca, enquanto mantem
doente deve treinar o movimento desejado bilateralmente, pressão digital sobre o sulco nasogeniano com o indicador
observando a hemiface não afectada. A inscrição de e tenta controlar o olho homolateral).
pequenas marcas/ pontos na pele podem ser boas pistas • Facilitação Neuromuscular (FNM) – usa os princípios
visuais. Com o treino vão sendo sugeridas variações de do reflexo do estiramento e da resistência para promover
velocidade, força, número de repetições e intervalos de a actividade e aumentar a força muscular dos músculos
descanso. Depois quando os exercícios já estão rotinados, da face. A pressão e resistência adequadas têm em vista
é aconselhado alternar o uso do espelho com a realização facilitar o movimento. Alguns dos princípios gerais no
dos mesmos exercícios sem espelho, para evitar a tratamento da face são 12: os movimentos faciais são
sobredependência do mesmo8. exercitados com tarefas funcionais (faça-se surpreendido);
• Técnica de Controlo do Reflexo de Bell - Focar existem duas áreas faciais gerais (os olhos e fronte e a boca
um objecto a 30 cm colocado em frente e abaixo (tentar e a mandíbula; o nariz trabalha em ambas as áreas); a face
encerrar os olhos) e em cima (tentar levantar a pápebra deve ser tratada bilateralmente (primeiramente pretende-
superior) se simetria); os músculos faciais devem trabalhar contra
• Exercícios de Fortalecimento Muscular – exercícios gravidade (este aspecto deve ser tido em conta quando se
repetidos e de maior amplitude dos músculos afectados. escolhe uma posição para o tratamento); o espelho pode
Nos exercícios resistidos é aplicada resistência manual em ajudar o doente a controlar os movimentos. Na FNM é
direcção oposta ao movimento pretendido. efectuada uma resistência e um estiramento prévio ao
• Técnicas de relaxamento muscular: movimento muscular que se pretende que o doente faça
1) Automassagem - com a mão contralateral à hemiface e dá-se, de seguida, ordem para o movimento que se
pretende, ao mesmo tempo que se liberta a resistência no
Quadro 7 - Estratégias de Tratamento por Problemas sentido do mesmo.
Diminuição da Técnicas de estimulação (ex. vibração, cubo
Força Muscular de gelo)
Técnica de suporte passivo
3. 2. Estratégias de Tratamento por Problemas
Exercícios de Fortalecimento
Perda de Controlo Treino de mímica facial com espelho ou Há estratégias de tratamento específicas para os
Motor Isolado biofeedback diferentes problemas8: a) diminuição da força muscular;
Educação do doente b) perda de controlo motor isolado; c) tensão muscular e
Hipertonia Alongamento passivo
Auto-massagem
hipertonia; d) sincinésias (vidé Quadro 7).
Exercícios de contração-relaxamento (Jacobsen)
Sincinesias Técnicas de controlo de sincinésias
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Schwann adjacentes, induzindo o metabolismo do tecido graves21. Aos seis meses torna-se mais claro quais os
nervoso danificado a produzir proteínas associadas com o doentes que ficarão com sequelas moderadas a graves5.
crescimento do nervo, ou lançando um factor de trofismo São considerados factores de mau prognóstico: paralisia
causando um crescimento dos nervos adjacentes não completa, idade superior a 60 anos, Síndrome de Ramsay-
lesados18. Hunt, PFP de causa secundária e ausência de recuperação
São poucos os trabalhos publicados sobre a utilização aos três meses5. São exemplos de sequelas a fraqueza
da laserterapia na PFP. Para aumentar a efectividade da muscular permanente, as contraturas, os espasmos faciais,
LASERterapia, marcam-se na face do doente o trajecto as sincinésias, a xeroftalmia, a presença de lágrimas de
dos cinco ramos principais do nervo facial e alguns pontos crocodilo e os efeitos psicológicos.
correspondentes às inserções dos músculos afectados
pela paralisia. Alguns autores propõem como protocolo Conclusão
a aplicação em quatro sessões (a cada 48horas) de laser
vermelho 2 J/cm2 (HeNe, 635 nm, 50 nW, 72 Hz) nos A PFP constitui uma patologia maioritariamente de
pontos musculares e laser infravermelho 2 J/cm2 (GaAlAs, etiologia primária, mas que pode ter várias etiologias
830 nm, 50 nw, 72Hz) nos ramos principais do nervo secundárias potenciais que importa relembrar. O quadro
facial18. Porém, são necessários estudos controlados e clínico deve ser rigorosamente avaliado para uma correcta
randomizados que sustentem a eficácia da LASERterapia monitorização. Há critérios definidos de referenciação para
na PFP, bem como do protocolo a utilizar. a Medicina Física e de Reabilitação. Uma percentagem
significativa (15-20%) de doentes mantém sequelas
4.7. Toxina Botulínica permanentes após três meses de evolução. Várias são
As injecções subcutâneas ou intramusculares de toxina as estratégias terapêuticas para além da farmacoterapia
botulínica podem ser usadas para controlar temporariamente que estão envolvidas na Reabilitação deste quadro
sincinésias nas PFP 5. O espasmo hemifacial ocorre clínico. Importa, portanto, procurar ter uma abordagem
ocasionalmente na PB e o blefarospamo pode ocorrer em sistematizada desta entidade clínica.
casos raros. Ambos podem ser controlados com injecções
de toxina botulínica20. A hiperlacrimação secundária a uma Conflito de interesses:
Os autores declaram não ter nenhum conflito de interesses relativamente
regeneração aberrante do VII par também pode ocorrer na ao presente artigo.
PB e a injecção de toxina botulínica também tem sido usada
nestes doentes20. No entanto, a aplicação de injecções de Fontes de financiamento:
toxina botulínica ainda não é consensual, sendo que para Não existiram fontes externas de financiamento para a realização deste
artigo.
alguns autores as injecções de toxina botulínica devem
apenas ser usadas excepcionalmente num ou dois músculos
para os manter em hibernação, enquanto se permite a
recuperação dos antagonistas1. REFERÊNCIAS
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