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Allyson A. Wesselovicz
SEMIOLOGIA MÉDICA – Introdução:
Inspeção;
Palpação;
Percussão;
Ausculta.
Análise de um sintoma:
DOR:
Aguda X crônica;
Tipos de dor:
Semiologia da dor:
Localização;
Irradiação;
Qualidade/tipo:
o Dor evocada: alodinia (sensibilidade tátil dolorosa aos mínimos estímulos), hiperpatia
(estimulação nóxica dolorosa) e hiperalgesia (primária ou secundária);
o Dor espontânea: constante e intermitente;
o Crônica;
o Aguda.
Intensidade;
Duração;
Evolução;
Funções orgânicas relacionadas:
o Fatores de piora;
o Fatores de melhora.
Manifestações concomitantes.
A DISPNEIA:
Duração;
Evolução;
Estado geral:
Bom (BEG);
Regular;
Ruim.
Nível de consciência:
Estado de vigília:
o Alerta e orientado alopsiquicamente: em relação ao mundo externo;
o Alerta e orientado eupsiquicamente: em relação ao próprio ser.
Obnubilação:
o Confuso;
o Sonolento.
Fatores para análise da consciência: perceptividade, reatividade, deglutição e reflexos;
Coma: varia do grau I até o IV.
Biotipo:
Brevilíneo:
o Charpy > 90º;
o Tórax alargado e membros curtos.
Normolíneo:
o Charpy = 90º;
o Equilíbrio entre tórax e membros.
Longilíneo:
o Charpy < 90º;
o Tórax afilado e membros longos.
Postura:
Boa;
Sofrível:
o A cabeça permanece inclinada para frente e o tórax é achatado.
Má:
o Cifose: corresponde ao corcunda;
o Lordose: é a concavidade posterior na região lombar ou cervical;
o Escoliose: é o desvio lateral da coluna.
Atitude no leito:
Fácies:
Fala:
Mucosas:
Musculatura:
Quanto à tonicidade, a musculatura pode ser eutônica, hipotônica (flácida) ou hipertônica (rígida);
Quanto à troficidade, a musculatura pode ser eutrófica, hipotrófica ou hipertrófica.
Pele:
Linfonodos:
Edema:
Pulso radial:
o Em EFG, analisa-se a lateralidade, as paredes (lisas X irregulares), a ritmicidade, a
intensidade (amplo X filiforme) e a simetria em relação ao pulso contralateral.
Em EFG, os pulsos pediosos e os tibiais posteriores são relatados em relação à redução ou ausência.
Caso estejam ausentes, é necessário verificar os pulsos poplíteos;
Perfusão periférica:
o Satisfatória;
o Lentificada.
Movimentos involuntários:
Tremores:
o São movimentos alternantes, rápidos e de pequena amplitude;
o Em repouso, ocorrem no parkinsonismo;
o Em posição ortostática, ocorrem na doença de Wilson;
o Em ação, ocorrem em doenças cerebelares;
o Vibratório ocorre no hipertireoidismo e etilismo.
Coreicos:
o São amplos, desordenados, inesperados e multiformes.
Atetósicos:
o Ocorrem nas extremidades, são lentos e lembram o movimento de um polvo.
Hemibalismo:
o São abruptos, violentos, rápidos e de grande amplitude.
Mioclonias:
o São breves, rítmicos e acometem grupos musculares específicos.
Mioquinias:
o São contrações ondulatórias, lembrando o movimento de um polvo.
Asterix (ou flapping):
o Ocorrem nas extremidades e são rápidos;
o Ocorre na insuficiência hepática e no coma urêmico.
Tiques:
o São movimentos em determinados grupos musculares, de maneira repetida e domináveis
pela vontade;
o Classificam-se em motores e vocais.
Convulsões:
o Movimentos súbitos, incoordenados e paroxísticos;
o Ocorre na epilepsia, tétano, hipoglicemia, intoxicação, meningite, febre alta em crianças etc.
Tetania:
o São crises tônicas nas extremidades dos membros;
o Ocorre por hipocalcemia, alcalose respiratória e tétano.
Fasciculações:
o São movimentos breves e rítmicos.
Discinesias orofaciais:
o São movimentos rítmicos e bizarros que acometem a face.
Distonias:
o Movimentos que acometem grandes grupos musculares, resultando em posturas contorcidas.
Circulação colateral:
Em EFG, a circulação colateral é descrita com base na localização, direção do fluxo sanguíneo e
presença de frêmito ou sopro.
Temperatura corpórea:
A mensuração da temperatura é dada em diversos locais: axilar, oral, retal, timpânica, arterial
pulmonar, esofágica e vesical.
Febre:
o Há febre (pirexia) quando a temperatura axilar é maior que 37ºC;
o Os agentes pirogênicos compreendem substâncias tóxicas, infecções, lesões, inflamações,
neoplasias e toxinas;
o A febre é sempre um sinal de alerta do organismo;
o Sintomas associados à febre incluem: calafrios, sudorese, mal-estar, cefaleia, fotofobia e
indisposição;
o Semiologia da febre:
Início: súbito X insidioso;
Intensidade: leve (até 37,5º), moderada (até 38,5º) ou alta;
Duração;
Evolução:
Contínua:
o Sempre acima do normal, não havendo oscilações;
o Ocorre em endocardite e pneumonia.
Irregular (ou séptica):
o Ocorre com períodos de febre intercalados por apirexia;
o Ocorre em sepse e tuberculose.
Remitente:
o Sempre há febre, variando a sua intensidade ao longo do tempo;
o Ocorre em sepse, pneumonia e tuberculose.
Intermitente:
o Febre interrompida por longos períodos de apirexia;
o Ocorre na malária.
Recorrente:
o Há um grande período de apirexia e pequenos espaços de tempo
com febre;
o Ocorre nos linfomas.
Término:
Em crise: súbito;
Em lise: gradual.
OS SINAIS VITAIS:
Classicamente, são considerados como sinais vitais o pulso, a pressão arterial, o ritmo e a frequência
respiratórios e a temperatura. Esses dados são obtidos durante o exame físico geral e listados no tópico
“sinais vitais e dados antropométricos”, juntamente da massa, altura, IMC, circunferência abdominal, dentre
outros itens.
Análise do pulso:
Para aferir a PA, utiliza-se do esfigmomanômetro, instrumento que verifica a pressão na artéria
braquial, no nível do coração;
Ao aferir, alguns erros podem ocorrer, tais como: colocação do manguito por cima de roupas do
paciente, posição inadequada do manguito e do receptor do estetoscópio, inadequação do manguito
à circunferência do membro e não calibração do esfigmomanômetro;
Os valores normais máximos aceitos são de 140 mmHg para pressão sistólica e 90 mmHg para a
diastólica;
Alterações da pressão arterial compreendem a HAS, hipotensão arterial, choque e hipotensão
postural (ou ortostática).
Análise da temperatura:
A temperatura do interior do corpo normalmente é constante, podendo ser aferida em regiões axilar,
bucal e oral, principalmente;
Os valores normais para a temperatura axilar variam no intervalo de 35,5 a 37º C;
Alterações da temperatura compreendem a hipotermia, febre e hipertermia.
A oximetria de pulso fornece dados de saturação de oxigênio (SpO 2), percentual de hemoglobina ligada ao
oxigênio, através do uso do oxímetro, aparelho eletrônico inserido na ponta do dedo ou no lobo da orelha.
Valores normais de SpO2 ficam próximos de 95%. Alterações desse valor decorrem principalmente de
insuficiência respiratória e/ou cardíaca e hipotensão arterial.
Por fim, a avaliação do nível de consciência depende dos sinais vitais do paciente.
Linhas torácicas:
o Mediastinal, esternais, hemiclaviculares, axilar anterior (LAA), axilar posterior (LAP), axilar
média (LAM), medioespinal, escapulares;
Regiões torácicas:
o Supraclavicular, clavicular, infraclavicular, mamária, Inframamária, supraesternal, esternal
superior, esternal inferior, axilar, infra-axilar, supraescapular, supraespinhosa, Infraescapular,
Interescapulovertebral e infraespinhosa.
Efeito da
Fase do ciclo Áreas em que
Tipo Efeito da tosse posição do
respiratório predominam
paciente
Estertores finos Final da Modificam-se ou Bases
Não se alteram
(ou crepitantes) inspiração desaparecem pulmonares
Estertores Início da
Não se Todas as áreas
grossos (ou inspiração e toda Alteram-se
modificam do tórax
bolhosos) a expiração
Tabela 2. Sons anormais descontínuos, os estertores
Síndromes brônquicas:
Palpação
Síndrome Inspeção Percussão Ausculta Causas
(FTV)
Estertores finos
Pneumonia,
(ou
Expansibilidade Macicez ou infarto
Consolidação Aumentado crepitantes),
diminuída submacicez pulmonar e
broncofonia e
tuberculose
pectorilóquia
Murmúrio
Retração dos
vesicular Neoplasia e
espaços Diminuído ou Macicez ou
Atelectasia substituído por corpo
intercostais e ausente submacicez
respiração estranho
tiragem
broncovesicular
Hiperaeração Murmúrio
Expansibilidade Enfisema
(enfisema Diminuído Hipersonoridade vesicular
diminuída pulmonar
pulmonar) diminuído
Estertores finos
Sonoridade Insuficiência
Congestão Expansibilidade (ou crepitantes)
Normal normal ou ventricular
pulmonar normal em base
submacicez esquerda
pulmonar
Tabela 3. Síndromes pulmonares
Síndromes Palpação
Inspeção Percussão Ausculta Causas
pleurais (FTV)
Expansibilidade
Pleurite diminuída e
Diminuído Submacicez Atrito pleural Pleurite aguda
aguda retração
torácica
Murmúrio
Pleurite Expansibilidade Macicez ou Espessamento
Diminuído vesicular
crônica diminuída submacicez da pleura
diminuído
Macicez e
Ausência do
Derrame Expansibilidade ressonância Derrame
Diminuído murmúrio
pleural diminuída Skódica acima líquido
vesicular
do derrame
Abaulamento Hipersonoridade Murmúrio Presença de
Pneumotórax dos espaços Diminuído ou som vesicular ar no espaço
intercostais timpânico diminuído pleural
Tabela 4. Síndromes pleurais
Pleurite:
o A inflamação dos folhetos pleurais ocorre na tuberculose, pneumonia, neoplasias e doença
reumática;
o A pleurite pode ser aguda ou crônica, no caso da pleurite seca, ou então pode ser
“líquida”, no caso do derrame pleural.
Derrame pleural:
o Os derrames pleurais ocorrem nas pleurites, pneumonias, neoplasias e insuficiência
cardíaca;
o Inspeção: normal;
o Palpação: expansibilidade reduzida e FVT ausente;
o Percussão: macicez e ressonância Skódica;
o Ausculta: murmúrio vesicular ausente.
Pneumotórax:
o É o acúmulo de ar no espaço pleural e decorre de lesões traumáticas, ruptura de bolhas
subpleurais, tuberculose e neoplasias. Nesse processo, há desvio do mediastino;
o Inspeção: normal;
o Palpação: expansibilidade reduzida e FTV reduzido;
o Percussão: hipersonoridade ou som timpânico;
o Ausculta: murmúrio vesicular reduzido.
Insuficiência respiratória:
o É uma síndrome de causas multifatoriais;
o O fluxo de ar é dado pela pressão transpulmonar, diferença entre as pressões alveolar e
pleural;
o Centro respiratório:
Inspiração: dada pela porção dorsal do bulbo;
Expiração: dada pela porção ventral do bulbo.
o Ventilação: é o processo de entrada e saída de ar;
Em condições fisiológicas, semente de 3 a 5% da energia corpórea total é gasta na
ventilação;
Músculos associados: diafragma, intercostais, esternocleidomastóideo,
sarráteis anteriores e escalenos;
Insuficiência respiratória ventilatória decorre do funcionamento inadequado dos
centros nervosos e do aparelho muscular, de obstrução das vias respiratórias e da
impossibilidade de o parênquima pulmonar se distender.
o Difusão gasosa (hematose): é o processo de passagem de oxigênio e de CO 2 pela
membrana alveolar;
o Perfusão: é o processo de passagem de sangue pelos capilares alveolares, a fim de haver
trocas gasosas (hematose);
Insuficiência respiratória alveolocapilar (ou hipoxêmica) decorre da proporção
inadequada entre ventilação e perfusão ou da redução da permeabilidade da área
alveolar.
o Afetando o parênquima pulmonar, as doenças podem reduzir a complacência pulmonar,
aumentando o esforço respiratório e o drive respiratório (FR), havendo hipoxemia (queda do
O2) e hipercapnia (aumento do CO2), o que termina em dor, astenia, fatigabilidade, fenômeno
de Raynaud (cianose nas extremidades) e secura das mucosas;
o A síndrome da angústia respiratória do adulto (SARA) é um tipo de insuficiência respiratória
caracterizada por ser progressiva, ocorrência de edema pulmonar intersticial e redução da
complacência pulmonar.
Artrite reumatoide:
o Ocorre pleurite;
o No ambiente intrapulmonar, surgem nódulos reumatoides.
Lúpus eritematoso sistêmico:
o Ocorre pleurite;
o Há surgimento de atelectasias.
Cifoescoliose;
Miastenia gravis:
o Doença neuromuscular que causa astenia e fatigabilidade em grupos musculares
esqueléticos.
Síndrome de Guilain-Barré:
o Doença autoimune de ataque ao SNP, com posterior comprometimento da musculatura
respiratória, especialmente do diafragma.
Derrames pleurais;
Traumas.
O coração está situado no mediastino médio e é dividido em metades direita e esquerda por um eixo orientado
obliquamente. A base do coração situa-se no 2º espaço intercostal direito e esquerdo, atrás do esterno, e é
formada pelos átrios direito e esquerdo. O AE é a estrutura mais posterior do coração, sendo o AD pouco
mais anterior, formando a borda direita do coração. Os vasos da base são constituídos pela artéria pulmonar,
que se bifurca em dois segmentos, e a aorta, formada inicialmente pelo arco aórtico. O VD ocupa a maior
parte da superfície anterior do coração, ao passo que o VE constitui a margem lateral esquerda cardíaca. O
ictus cordis corresponde ao ápice cardíaco, sendo normalmente palpável no 5º espaço intercostal ao
interceptar a linha hemiclavicular.
Edema relacionado às cardiopatias deriva de aumento da retenção de sódio sérico, aumento da pressão
hidrostática, diminuição da pressão oncótica, aumento da permeabilidade capilar e distúrbios da drenagem
linfática. Pode ser generalizado, constituindo o anasarca, ou local, como o edema pulmonar ou de MMII.
Generalizado é decorrente de insuficiência cardíaca congestiva descompensada. Pulmonar, por sua vez, é
decorrente de estenose mitral, SARA (síndrome da angústia respiratória aguda) e variações da pressão
atmosférica.
Inicialmente, no exame físico cardiovascular, analisa-se a turgência jugular, se está presente ou não,
indicando possível insuficiência ventricular direita. Em seguida, analisa-se o precórdio.
Ausculta cardíaca:
Ciclo cardíaco:
1. Repouso elétrico e mecânico do coração;
2. Terço final da diástole;
3. Semiabertura da valva mitral e pouco fluxo de sangue ao VE, uma vez que a diferença de
pressão entre o átrio e o ventrículo é pequena. Esse é o período de enchimento ventricular
lento;
4. O nodo sinusal emite estímulos que ativam os átrios, havendo sístole atrial e fluxo sanguíneo
aos ventrículos. No atriograma, esse é o momento correspondente à onda A, participando de
20 a 30% do volume diastólico final ventricular;
5. A elevação da pressão atrial é seguida de aumento da pressão ventricular (PD2);
6. O estímulo sinusal, após atingir todo o átrio, distribui-se pelo feixe de His e pela rede de
Purkinje, excitando a musculatura ventricular. Ao haver despolarização, inicia-se a sístole
ventricular;
7. O gradiente de pressão se inverte e a valva mitral é fechada;
8. O leve abaulamento da valva mitral para dentro do AE gera a onda C do atriograma;
9. O período de contração isovolumétrico corresponde ao breve momento em que as valvas
mitral e aórtica estão fechadas, havendo aumento da pressão intraventricular;
10. Ao superar a pressão intra-aórtica, a pressão intraventricular promove a abertura da valva
aórtica, havendo ejeção ventricular;
11. Durante a ejeção ventricular, há plena comunicação entre o VE e a aorta, fluindo sangue ao
arco aórtico por gradiente de pressão;
12. A redução do gradiente de pressão acarreta no fechamento da valva aórtica;
13. O período de relaxamento isovolumétrico corresponde ao breve momento em que as valvas
mitral e aórtica estão fechadas, havendo redução da pressão intraventricular;
14. Durante a diástole ventricular, o afluxo de sangue para o AE procede dos pulmões, havendo
aumento da pressão intra-atrial, o que corresponde à onda V do atriograma;
15. A abertura da valva mitral é favorecida pelo gradiente de pressão sanguínea para o VE,
iniciando o esvaziamento do AE. Esse fenômeno é passivo, sendo que cerca de 75% do
volume diastólico ventricular ocorre de maneira rápida, com sangue diretamente das veias
pulmonares.
Bulhas cardíacas:
o Primeira bulha (B1):
Ocorre pelo fechamento das valvas mitral e tricúspide (atrioventriculares);
O componente mitral antecede o tricúspide (imagem 21);
O desdobramento de B1 não é relacionado a patologias e não está associado à
respiração, como ocorre em B2;
Coincide com o ictus cordis e com o pulso carotídeo;
Possui timbre grave e longa duração, em relação à B2;
Apresenta maior intensidade em foco mitral;
“TUM-TA”.
Imagem 21. Em A, primeira bulha única, apesar do componente mitral (M) anteceder o tricúspide (T). Em B,
desdobramento da primeira bulha, com um intervalo de tempo entre os componentes M e T
Imagem 22. Em A, fase expiratória, não há desdobramento de B2 e, como consequência, ouve-se apenas
um som. Em B, todavia, a fase inspiratória, há desdobramento da segunda bulha, sendo o componente
aórtico (A) anterior ao pulmonar (P)
A intensidade de B1 é analisada nos focos mitral e tricúspide, uma vez que é o som do fechamento
dessas valvas;
o Fatores que influem na intensidade de B1: posição das válvulas no início de seu fechamento,
níveis das pressões nas cavidades cardíacas, velocidade de subida da pressão
intraventricular, condições anatômicas das válvulas e força de contração do miocárdio. Mas
o principal fator que interfere na intensidade de B1 é o posicionamento das válvulas
no momento anterior à sístole ventricular;
o Relação do intervalo PR do ECG com a intensidade de B1:
PR curto implica B1 intensa;
PR prolongado implica B1 de baixa intensidade.
o Hiperfonese de B1:
Intervalo PR curto;
Estenose mitral;
Taquicardia;
Hipertireoidismo;
Extrassístoles (contrações prematuras).
o Hipofonese de B1:
Intervalo PR prolongado;
Estenose mitral avançada;
Miocardiopatia crônica;
Insuficiência cardíaca;
DPOC;
Obesidade;
Uso de betabloqueadores;
Derrame pericárdico.
Na fibrilação atrial, a intensidade de B1 varia, ora é hiperfonética, ora é hipofonética. Isso ocorre
porque a contração atrial está desregulada, não acompanhando o enchimento ventricular. Com isso,
em certas diástoles, o ventrículo é totalmente enchido, em outras, porém, é parcialmente preenchido
de sangue, o que altera o nível de abertura das valvas no momento imediatamente anterior à sístole.
Esse processo é denominado de delirium cordis;
O timbre normal de B1 pode ser alterado na estenose mitral por fibrose, sofrendo enrijecimento e
alterando o som auscultado, que passa a ser mais agudo e metálico;
Em condições normais, B1 pode sofrer desdobramento devido à discreta assincronia entre os
ventrículos. Quando o desdobramento é muito amplo, pode-se suspeitar de bloqueio de ramo
direito, exibindo som “TLUM-TA”.
Sopros sistólicos de regurgitação podem iniciar com B1 e mascará-la.
Alterações de B3 e B4:
B3 fisiológica pode ocorrer até próximo dos 40 anos, sob quaisquer circunstâncias. B4, por sua vez,
pode também ser fisiológica, sobretudo em crianças;
B3 patológica:
o Insuficiência mitral;
o Miocardite;
o Shunt da esquerda para a direita (comunicação interatrial ou interventricular);
o Persistência do canal arterial;
o Dilatação miocárdica → aumento da complacência → coração “mole”.
B4 patológica:
o HAS;
o Insuficiência coronariana;
o Miocardiopatia hipertrófica → redução da complacência → coração “duro”.
Cliques e estalidos:
Estalidos diastólicos:
o A estenose mitral gera, na abertura das válvulas, um ruído seco, agudo e de curta duração.
Diferentemente do desdobramento de B2, os estalidos são percebidos no 3º ou 4º espaços
intercostais esquerdos, na área mitral, além de serem mais agudos e secos do que B2. Além
disso, diferentemente de B3, os estalidos são agudos e metálicos;
o A estenose de tricúspide é audível nas bordas esternais esquerda e direita, assemelhando-
se muito com o estalido de estenose mitral.
Estalidos protossistólicos:
o São ruídos de ejeção e indicam súbita ejeção de sangue para os vasos da base. A origem é
vascular e decorrem, portanto, da vibração da aorta e da artéria pulmonar;
o Os estalidos protossistólicos são de alta frequência, agudos e intensos, indicando lesão
valvar aórtica, coarctação da aorta, aneurisma da aorta, dilatação aórtica e estenose
pulmonar;
o Estalido protossistólico pulmonar é audível em área pulmonar, sendo mais agudo que o
desdobramento de B1. Em contrapartida, estalido protossistólico aórtico é audível em área
mitral.
Estalidos mesossistólicos e telessistólicos:
o O clique sistólico ocorre entre B1 e B2 e tem origem de prolapso da valva mitral ou brida
pericárdica ou pleuropericárdica;
o É um som de alta frequência, seco e agudo, ocorrendo no final da sístole.
Sopros:
Sopros ocorrem por vibrações decorrentes de alterações do fluxo sanguíneo. Essas alterações
correspondem ao fluxo turbulento produzido em determinado local; sendo que, em contrapartida, o
fluxo normal é de maneira laminar, havendo um perfil parabólico;
Causas de sopros:
o Aumento da velocidade da corrente sanguínea, como ocorre após exercício físico, presença
de anemia por redução do hematócrito, hipertireoidismo e síndrome febril;
o Diminuição da viscosidade sanguínea, como em portadores de anemia por redução do
hematócrito;
o Passagem de sangue por um estreitamento, como em valvas insuficientes ou estenosadas e
persistência de comunicações entre as câmaras cardíacas;
o Passagem de sangue por uma área dilatada, como em defeitos valvares e aneurismas.
Situação no ciclo cardíaco:
o Sopros sistólicos:
São classificados em sistólicos de ejeção e sistólicos de regurgitação;
Sopros sistólicos de ejeção ocorrem por estenose da valva aórtica ou pulmonar e
se originam durante o período de ejeção ventricular;
Ocorrem logo após B1, terminando antes de B2;
Característica de crescer e, posteriormente, decrescer (sopro em diamante).
Sopros sistólicos de regurgitação ocorrem por regurgitação de sangue do
ventrículo para o átrio, revelando insuficiência mitral ou tricúspide;
Ocorrem junto de B1, mascarando-a. Logo, trata-se de um sopro
holossistólico.
o Sopros diastólicos:
Ocorrem em dois grupos de afecções: estenoses atrioventriculares e insuficiências
valvares pulmonar e aórtica;
O sopro diastólico das estenoses atrioventriculares ocupa a parte média da
diástole (mesodiastólico), momento do enchimento rápido dos ventrículos. Esse
ruído ocorre após B2, possui baixa frequência e caráter de ruflar (ou vibrar);
O sopro diastólico nas insuficiências valvares pulmonar e aórtica ocorre
quando essas valvas não se fecham completamente (protodiástole). Esse ruído
ocorre após B2, possui alta frequência e carácter aspirativo. Surgem pelo refluxo
sanguíneo das artérias para os ventrículos.
o Sopros contínuos:
Sopros que mascaram B1 e B2, simultaneamente;
Ocorrem em fístulas arteriovenosas, persistência do canal arterial e anomalias dos
septos aortopulmonares.
Localização;
o A localização se relaciona ao local de ausculta hiperfonética, quando comparado aos outros
focos;
o Não implica, necessariamente, que o sopro surge no local de melhor ausculta.
Irradiação;
o Um sopro pode se irradiar para o pescoço, por exemplo, como na estenose aórtica; ou para
a axila, por exemplo, como na insuficiência mitral.
Intensidade:
o Escala de cruzes de 1 até 4.
Timbre e tom:
o Suave, rude, musical, em jato, granular, ruflar (ou vibrar) e aspirativo;
o Ruflar (ou vibrar): sopro diastólico da estenose atrioventricular;
o Aspirativo: sopro diastólico da insuficiência pulmonar e aórtica.
Relação do sopro com a fase da respiração;
o A manobra de Rivero-Carvalho tem como objetivo a distinção entre o sopro da insuficiência
tricúspide do sopro da insuficiência mitral. Nessa manobra, o paciente permanece em
decúbito dorsal, realizando uma inspiração profunda e prolongada. Durante a inspiração,
verifica-se, em foco tricúspide, o que acontece. Caso o sopro permaneça inalterado ou sofra
redução (Rivero-Carvalho negativo), esse sopro é oriundo de valva mitral. Porém, caso haja
aumento do sopro (Rivero-Carvalho positivo) em foco tricúspide, durante a inspiração, esse
mesmo sopro certamente é decorrente de valva tricúspide.
Relação do sopro com a posição do paciente:
o Em posição sentada, com o tórax fletido para frente, sopro de insuficiência aórtica se torna
mais visível;
o Em decúbito lateral esquerdo, o sopro diastólico da estenose mitral se torna mais visível;
o Em posição ortostática, o rumor venoso se torna evidente.
Relação do sopro com o exercício físico.
Atrito pericárdico:
Ocorre pelo roçar dos folhetos pericárdicos, sendo a pericardite a causa mais comum;
O atrito pericárdico não coincide com nenhuma fase do ciclo cardíaco, podendo ser auscultado em
qualquer momento;
A ausculta do atrito pericárdico se dá na ponta do coração e na borda esternal esquerda;
O diferencial do atrito pericárdico é a mutabilidade do ruído em questão de horas ou dias.
Ocorre pela distensão do pericárdio enrijecido, ou seja, está presente durante a diástole ventricular;
O ruído é restrito às áreas mitral e tricúspide.
Rumor venoso:
Estenose mitral:
o Decorre de anomalia congênita, doença reumática ou calcificação;
o B1: hiperfonética, metálica e seca;
o B2: hiperfonética em foco pulmonar, sendo decorrente de hipertensão pulmonar;
o A abertura da valva mitral determina um ruído agudo, o estalido de abertura mitral após B2;
o Sopro mesodiastólico com reforço pré-sistólico em foco mitral.
Insuficiência mitral:
o Decorre da falha do fechamento dos folhetos mitrais devido à defeitos orgânicos (doença
reumática, prolapso mitral ou endocardite) ou funcionais (cardiomiopatias, miocardites ou
IAM);
o Sopro sistólico de regurgitação em foco mitral, mascarando B1, com irradiação para a
axila.
Estenose aórtica:
o Decorre de anomalia congênita (fusão das válvulas, dando origem à valva aórtica bicúspide)
ou doença reumática;
o O término ocorre antes de B2;
o Possível presença do pulso parvus et tardus;
o Sopro sistólico de ejeção, cuja intensidade máxima é dada em foco aórtico, com
irradiação para o pescoço.
Insuficiência aórtica:
o Decorre de doença reumática, endocardite infecciosa e dissecção da aorta;
o Há refluxo sanguíneo para o ventrículo durante a diástole;
o Sopro diastólico após B2, em área aórtica, de caráter aspirativo.
Insuficiência tricúspide:
o Decorre da dilatação do anel valvar, comum em insuficiência funcional valvar;
o Há refluxo sanguíneo ventricular para o AD;
o Apresenta Rivero-Carvalho positivo;
o Sopro sistólico de regurgitação em foco tricúspide.
Estenose pulmonar:
o Decorre de anomalia congênita, como ocorre na tetralogia de Fallot (doença cianótica);
o B2 se apresenta hipofonética e com desdobramento.
Insuficiência pulmonar:
o Decorre de dilatação do anel valvar por hipertensão pulmonar, como ocorre na síndrome de
Marfan;
o Sopro diastólico e desdobramento de B2 em foco pulmonar.
Comunicação interatrial:
o Sopro sistólico de ejeção em foco pulmonar.
Comunicação interventricular:
o Sopro sistólico no endoápex ou mesocárdio.
Persistência do canal arterial:
o Sopro contínuo.
Insuficiência cardíaca:
o É uma grave e prevalente síndrome mundial;
o Pode ser sistólica ou diastólica;
o Diversas são as causas, como infecções miocárdicas, isquemia tecidual muscular,
valvulopatias, HAS crônica, terapia com quimioterápicos etc;
o No processo, observa-se desproporção entre a carga hemodinâmica e a capacidade
miocárdica. Inicialmente, o coração se adapta, hipertrofiando-se. Além disso, mecanismos de
aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial regulam a carga hemodinâmica.
Todavia, esse mecanismo se esgota, não havendo mais a compensação do débito cardíaco,
o que dá origem à síndrome da insuficiência cardíaca;
o IVE:
Dispneia (de esforço, de decúbito, paroxística e de Cheyne-Stokes);
Congestão pulmonar;
Tosse produtiva;
Estertores finos (ou crepitantes);
Fatigabilidade e astenia;
Ritmo de galope.
o IVD:
Ingurgitamento jugular;
Edema generalizado (apresenta sinal de cacifo positivo);
Fatigabilidade e astenia;
Dor no hipocôndrio direito por hepatomegalia;
Ascite;
Ritmo de galope.
Sistematização da ausculta:
Pulso radial:
No pulso radial, analisa-se o estado da parede, o ritmo, a frequência cardíaca, a amplitude, a tensão
e a comparação com o pulso contralateral (ou homólogo);
O enrijecimento da artéria radial pode ser indício de aterosclerose, mas pode ser comumente
confundido com mediosclerose de Mönckeberg;
A manobra de Osler consiste na palpação da artéria radial após insuflação do manguito do
esfigmomanômetro acima dos valores da pressão sistólica do paciente. Essa manobra será positiva
caso a artéria continue palpável, mesmo sem pulso. Isso ocorre normalmente em idosos, sendo uma
evidência de possível HAS;
Bradisfigmia é sinônimo de bradicardia, enquanto que taquisfigmia é um termo pouco utilizado para
taquicardia. Quando o pulso não corresponde aos batimentos cardíacos, tem-se um déficit de pulso,
sendo decorrente de extrassistolia ventricular ou fibrilação atrial;
A tensão de um pulso não deve ser confundida com enrijecimento da parede arterial. Um pulso duro
indica hipertensão arterial por elevação da pressão diastólica; enquanto que pulso mole indica
hipotensão arterial;
Tipos anormais de onda:
o Pulso célere (ou em martelo d’água) se caracteriza por surgir e desaparecer rapidamente,
sendo comum na insuficiência aórtica, nas fistulas arteriovenosas e nas anemias;
o Pulso pequeno (ou parvus) se caracteriza pela tensão reduzida, sendo fraco e de ascensão
lenta e prolongada. É comum na estenose aórtica grave, na insuficiência cardíaca e em casos
de hipovolemia;
o Pulso alternante se caracteriza por uma onda ampla seguida de outra mais fraca, sendo
comum na insuficiência ventricular esquerda.
Comparativamente ao pulso contralateral, analisa-se as amplitudes das pulsações. A desigualdade
pode indicar oclusões parciais de origem congênita ou adquirida.
Em relação aos pulsos periféricos, analisa-se o carotídeo, temporal superficial, subclávio, axilar, braquial,
cubital, radial, aórtico abdominal, ilíaco, femoral, poplíteo, tibial anterior, tibial posterior e pedioso.
Ao se examinar o pescoço, deve-se atentar ao estado de turgência das veias jugulares externas e a presença
de frêmito ou sopro nos vasos do pescoço. Em condições normais, as jugulares tornam-se túrgidas
apenas quando o paciente se encontra em decúbito. Caso ainda exista turgidez na posição
semissentada ou sentada, caracteriza-se o processo denominado de turgência (ou ingurgitamento)
jugular, indício de possível compressão de veia cava superior ou insuficiência ventricular direita.
A GASOMETRIA ARTERIAL:
A análise do sangue arterial permite avaliar se o pulmão está realizando sua função primordial. À medida que
o oxigênio é consumido, a análise sanguínea pode dar orientação sobre o balanço oferta/consumo nos
tecidos.
Baixa concentração de gás oxigênio inspirado, decorrente de queda da pressão parcial de oxigênio
ou da pressão atmosférica como um todo;
Hipoventilação, decorrente de obstrução das vias respiratórias, depressão do comando central ou
doenças parenquimatosas em fase avançada;
Distúrbios de difusão, decorrente de deficiência da perfusão alveolar ou espessamento da parede
alveolar;
Distúrbios da relação ventilação-perfusão (V/Q), sendo a principal causa a hipóxia em pacientes
portadores síndrome de insuficiência respiratória;
Shunt da direita para a esquerda, decorrente de doenças que que causam congestão nos alvéolos,
como SARA e fístulas arteriovenosas.
Em relação ao pH, um distúrbio se classifica em acidose (acima de 7,40) ou alcalose (abaixo de 7,40).
Especificando essas alterações, também pode ser respiratório ou metabólico. Os distúrbios respiratórios
primários afetam a acidez do sangue mudando a pressão parcial de gás carbônico, enquanto que os distúrbios
metabólicos primários são causados por alteração na concentração de bicarbonato.
Os distúrbios primários são em geral compensados, mas a compensação nunca é completa, mesmo nas
situações crônicas. A compensação depende da atuação de um mecanismo que visa a regulação do pH
arterial. Por exemplo, uma acidose metabólica é compensada por uma alcalose respiratória através da
respiração de Kussmaul. A presença de um distúrbio misto caracteriza-se por existir mais de um executando
sua compensação.
Certos fatores podem interferir nos resultados da gasometria arterial, como a ansiedade em realizar a punção
arterial, levando o paciente a hiperventilar; presença de heparina, que é ácida e pode influenciar no resultado
do pH sanguíneo; presença de leucocitose e grande quantidade de plaquetas, gerando falsa impressão de
hipóxia; resfriamento, aumentando o pH e a saturação de oxigênio (sem elevar a pressão parcial de oxigênio);
e presença de halotano, que aumenta a saturação de oxigênio (sem elevar a pressão parcial de oxigênio).
Tipos de distúrbios:
A RADIOGRAFIA DO TÓRAX:
Embora métodos mais avançados do ponto de vista tecnológico tenham surgido, a radiografia de tórax
continua indispensável, pois, frequentemente, é suficiente para confirmar o diagnóstico. Além disso, trata-se
de um exame de baixo custo, fácil manutenção, amplo acesso à população e não invasivo.
A formação das imagens tem como princípio as diferenças de resistência dos planos teciduais à penetração
dos raios X. A imagem final representa a projeção uniplanar referente ao somatório do conjunto exposto no
filme radiológico. Posto isso, deve ser lembrado que, ao avaliar uma incidência isoladamente, não é possível
assegurar a localização exata de determinada anormalidade.
Incidências possivelmente solicitadas no raio X de tórax:
Todos os parâmetros para diferenciação entre normal e anormal nas respectivas incidências dependem das
qualidades técnicas da radiografia. Por isso, existem certas recomendações:
Na imagem radiológica, a diferenciação entre as estruturas é dada com base nas cores branca e preta.
Regiões brancas são hipotransparentes, enquanto que as pretas são hipertransparentes.
No estudo das partes ósseas, avaliam-se as clavículas, escápulas e costelas, assim como os componentes
ósseos da coluna. Esse tópico tem especial importância no contexto de trauma torácico. Observam-se ainda
as partes moles, dando especial atenção às sombras mamárias. Além disso, analisa-se a pele e o tecido
subcutâneo.
Os seios costofrênicos representam a interface da parede torácica com o diafragma, e sua configuração
habitual se dá em ângulo agudo. Perda deste padrão, com obliteração ou rombosidade destes recessos,
frequentemente está relacionada com derrames pleurais. Em caso de dúvida, a incidência em decúbito lateral
com raios horizontais pode ser útil para a confirmação de um derrame pleural. Analisa-se, em diafragma, a
forma, presença de abaulamentos e elevações diagramáticas.
O que analisar em radiografia de tórax? Caixa torácica – partes ósseas e moles do tórax; diafragma – seios
costofrênicos e cúpulas diafragmáticas; pulmões – campos pulmonares, hilos pulmonares, traqueia e
brônquios-fonte; e mediastino – seios cardiofrênicos, coração e vasos da base.
Na incidência PA, a avaliação dos campos pulmonares é fundamentalmente comparativa. A princípio, avalia-
se a simetria dos volumes pulmonares, geralmente semelhantes. Na sequência, a transparência pulmonar é
analisada de maneira comparativa em cada hemitórax, buscando alterações sutis de atenuação ou
acentuação do parênquima. Os diagnósticos diferenciais são estabelecidos com base nos seguintes padrões
(tabela 5): opacidades alveolares, infiltrados reticulares, infiltrados reticulonodulares, padrão nodular e padrão
de escavação. Outro ponto importante é o estudo do padrão de vascularização, em geral mais acentuado nas
bases pulmonares que nos ápices. Em estados congestivos pulmonares, frequentemente há equalização da
trama pulmonar ou mesmo inversão deste padrão. O aumento do padrão vascular pulmonar ocorre na
hipertensão pulmonar. Pacientes com DPOC, por sua vez, mostram sinais de hiperinsuflação pulmonar,
caracterizados por retificação das cúpulas diafragmáticas, aumento dos espaços intercostais, acentuação dos
espaços retroesternal e retrocardíaco, bem como aumento no diâmetro anteroposterior do tórax.
A seguir, imagens 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36 e 37 com respectivas observações e
diagnósticos.
Imagem 23. Incidência PA indicando consolidação alveolar direita de lobo médio em um paciente com
pneumonia
Imagem 24. Incidência PA indicando infiltrado reticular difuso, além de proeminência e equalização da
vascularização pulmonar, em um paciente com edema pulmonar
Imagem 25. Incidência PA indicando nódulos difusos predominantes em campos pulmonares superiores em
um paciente com silicose
Imagem 26. Consolidações com escavações no campo pulmonar superior esquerdo e nos campos
pulmonares médio e inferior à direita em um paciente com tuberculose, cuja doença se encontra em
atividade, havendo disseminação broncogênica. Além disso, observa-se obliteração do seio costofrênico
direito, caracterizando leve derrame pleural
Imagem 27. Em A, esquema representando a avaliação do índice cardiotorácico, em que a soma de X e Y
deve ser inferior à metade do diâmetro da caixa torácica (ideal: X+Y < Z/2). Em B, cardiomegalia com
padrão de aumento de câmaras esquerdas, havendo infradesnivelamento do ápice cardíaco em um
paciente hipertenso. Em C, padrão de aumento de câmaras direitas em uma criança operada para correção
de cardiopatia congênita
Como descrever alterações pulmonares vistas à radiografia de tórax?
1. Localização da alteração;
a. A alteração atinge o hemitórax esquerdo, hemitórax direito ou é bilateral?
b. A alteração atinge o terço superior, terço médio ou terço inferior?
2. Tonalidade;
a. A alteração é homogênea ou heterogênea?
3. Contornos:
a. A alteração apresenta contornos nítidos ou difusos (ou imprecisos)?
4. Hipotransparências:
a. Broncopneumonia: imagem de caráter infiltrativo, sendo heterogênea;
b. Derrame pleural: imagem com desvio de mediastino para lado contralateral,
alargamento dos espaços intercostais e contorno superior parabólico (parábola de
Demoiseau), sendo homogênea;
c. Atelectasia: imagem com desvio de mediastino para lado ipsilateral e estreitamento
dos espaços intercostais, apresentando-se homogênea.
5. Hipertransparências:
a. Pneumotórax: imagem unilateral;
b. Enfisema pulmonar: imagem bilateral e com extensão craniocaudal.
Imagem 31. Consolidação pulmonar em lobo superior direito. A seta indica broncograma aéreo, indício de
afecção pulmonar. No broncograma aéreo, é possível visualizar o trajeto bronquiolar, uma vez que a
densidade do parênquima pulmonar está alterada por consolidação
Imagem 32. Áreas de infarto pulmonar em lobo superior esquerdo. O formato triangular com base voltada à
pleura é sugestivo de TEP
Imagem 33. Extensa consolidação pulmonar heterogênea bilateral, com broncograma aéreo. A
cardiomegalia evidente e o padrão intersticial pulmonar sugerem causas cardíacas para a alteração
Imagem 34. Padrão intersticial reticular, sobretudo nas bases pulmonares. A área cardíaca está aumentada,
havendo leve derrame pleural à esquerda, com velamento do seio costofrênico ipsilateral. A presença das
linhas de B de Kerley são sugestivas de edema cardiogênico. Observação: linhas A ocorrem em lobos
superiores, linhas B estão presentes em seios costofrênicos e as C ocorrem nas bases
Imagem 37. Pneumotórax em hemitórax esquerdo. Percebe-se o pulmão colabado e a ausência de trama
vascular esquerda
Sinal de silhueta: é a perda da visibilidade dos limites de duas estruturas em função da alteração na
densidade radiográfica;
Sinal de broncograma aéreo: é a visualização excessiva dos brônquios aerados em função da
alteração da densidade radiográfica do parênquima pulmonar;
Sinal da asa de borboleta: é a redução da transparência pulmonar peri-hilar de maneira simétrica,
poupando as periferias;
Sinal do duplo contorno: visível em área cardíaca, indica hipertrofia de AE.
O ECG NORMAL:
O eletrocardiograma é um exame útil no diagnóstico das arritmias, das sobrecargas das câmaras cardíacas
e das lesões isquêmicas do miocárdio. Além disso, esse exame também é válido para processos inflamatórios
e distúrbios eletrolíticos. As bases eletrocardiográficas consistem no registro de vetores de despolarização e
repolarização de células miocárdicas. Em outras palavras, o coração pode ser considerado uma fonte elétrica
situada no centro de um triângulo equilátero, definido no plano frontal do corpo pela união dos membros
superiores e da sínfise púbica. A soma das forças elétricas nele geradas tem magnitude, direção e sentido
em um determinado instante e pode ser representada por vetores, que são representados por uma linha reta
que nasce no centro do triângulo e se dirige ao sentido dado pela soma das forças que os constituem a cada
instante. O eixo elétrico médio da despolarização do coração é a soma dos eixos elétricos instantâneos.
Derivações eletrocardiográficas, por sua vez, compreendem as bipolares dos membros, as unipolares dos
membros e as precordiais (imagens 38 e 39).
Imagem 40. Onda P, complexo QRS e onda T de um ECG normal. Destaca-se, também, os segmentos
isoelétricos PR e ST
Imagem 41. Esquema com derivações D1, D2, D3, aVR, aVL e aVF para análise de eixo do ECG. Uma
derivação é positiva quando a despolarização/repolarização apresenta trajeto em direção ao eletrodo. Caso
esse potencial se propague em sentido contrário, tem-se uma derivação de traçado negativo. O eixo
normalmente se encontra entre -30 e +90º. O resultado é obtido com base na intersecção dos vetores do
complexo QRS (positivo ou negativo) de no mínimo duas derivações frontais
Eletrodos e derivações:
A altura (ou amplitude) desse complexo sofre várias influências cardíacas, pulmonares, superficiais
etc;
Duração entre 0,06 e 0,11 segundo;
Onda Q normalmente negativa, R normalmente positiva e S normalmente negativa;
Eixo entre -30 e +90º;
A frequência cardíaca pode ser analisada mais facilmente pela distância entre um complexo QRS e
outro subsequente. Uma frequência normal está entre 50 e 100 bpm. Abaixo disso, há uma
bradicardia sinusal; enquanto que acima, uma taquicardia sinusal.
Em um ECG normal, o ritmo é sinusal, caracterizando a despolarização iniciada no nodo sinoatrial, a qual se
propaga através dos átrios para todo o miocárdio. Ao exame, o ritmo será sinusal caso a onda P se
apresente positiva em D1, D2 e aVF; o complexo QRS sempre esteja após o segmento PR em D1, D2
e aVF; e o intervalo RR (espaço entre duas ondas R do complexo QRS) seja sempre constante em
duração (imagem 42).
Imagem 42. ECG normal em que a onda P das derivações D1, D2 e aVF se apresenta positiva. Além disso,
verifica-se sempre o QRS, nessas derivações, ocorrendo após onda P e de caráter homogêneo, isto é, com
intervalo RR constante
A frequência cardíaca é um dos aspectos básicos observados no ECG normal. Ao realizar o exame, a folha
quadriculada percorre o eletrocardiógrafo sob uma velocidade de 25 milímetros por segundo. Em outras
palavras, o quadrado menor tem duração de 0,04 segundo durante o trajeto do eletrocardiógrafo, enquanto
que o quadrado maior leva 0,2 segundo para ser percorrido.
Assim como ritmo e frequência cardíaca, o eixo é outra característica básica analisada em um ECG. Ele
representa um vetor médio da direção da despolarização miocárdica, sendo, desse modo, dependente da
massa muscular em despolarização em certo momento e da posição do coração no precórdio.
Em condições normais, o ECG indica eixo entre -30 e +90º, sendo esse valor baseado em derivações
frontais (D1, D2, D3, aVR, aVL e aVF);
O perfil do eixo depende da rosa-dos-ventos (figura 10) das derivações frontais, sempre analisando
se o traçado do complexo QRS é positivo ou negativo. O resultado obtido se dá pela intersecção de
no mínimo duas derivações;
Eixo normal é aquele em que o QRS é positivo em D1 e aVF; eixo desviado para a esquerda é
aquele em que o QRS é positivo em D1 e em D2 e negativo em aVF; eixo desviado para a direita
é aquele em que o QRS é positivo em aVF e negativo em D1; e eixo desviado ao extremo (ou
indeterminado) é aquele em que o QRS é negativo em D1 e aVF.
RESUMÃO DE SEMIOLOGIA – parte II
Allyson A. Wesselovicz
O EXAME DO ABDOME – Sinais e sintomas:
Em relação ao sistema digestivo, a localização de uma possível dor pode ter relação com órgãos específicos,
indicando várias doenças (tabela 6).
Disfagia corresponde à dificuldade de deglutir, apresentando duas possíveis fases: orofaríngea (ou
alta) e esofágica (ou baixa). Quando a disfagia tem longa duração, de anos, trata-se, certamente, de
doença benigna. Todavia, quando o sintoma surge subitamente e com forte intensidade, trata-se,
possivelmente, de doença maligna, sobretudo acima dos 40 anos de idade;
Odinofagia corresponde à dor que surge com a ingestão de alimentos. Pode ocorrer isoladamente,
mas costuma estar relacionada com disfagia. A odinofagia ocorre por afecções que alteram a mucosa
esofágica e também por distúrbios motores desse músculo;
Pirose corresponde à azia, sintoma patognomônico de refluxo gastroesofágico. É relatado como forte
queimação em epigástrio e região retroesternal, podendo ser acompanhada de regurgitação de
líquido de sabor azedo ou amargo;
Sialose (ou ptialismo) corresponde à produção excessiva de saliva, sendo comum no megaesôfago
chagásico em decorrência do reflexo esôfago-salivar de Roger;
Hematêmese corresponde ao vômito com sangue, caracterizando hemorragia digestiva alta. Ocorre
normalmente em pacientes portadores de varizes esofagianas e câncer de esôfago;
Regurgitação corresponde ao retorno do alimento no esôfago ou estômago para a cavidade bucal.
As causas de regurgitação esofágica podem ser mecânicas ou motoras. Mecânicas envolvem
estenoses, neoplasias, divertículo faringoesofágico e obstrução da luz esofágica por alimento.
Motoras, por sua vez, envolvem megaesôfago chagásico, acalisia idiopática e espasmo difuso do
esôfago. Além disso, a regurgitação de conteúdo gástrico ao esôfago pode ocorrer por hérnia hiatal
por deslizamento, doença péptica ulcerosa, hipotonia do esfíncter inferior do esôfago, alterações
posturais (decúbito) e aumento da pressão intragástrica;
Dor esofágica independente de alimentação pode indicar alterações de pH gástrico por doença do
refluxo gastroesofágico, atividade motora anormal, processos inflamatórios e neoplasias em curso;
Eructação decorre comumente da elevada ingestão de ar durante as refeições. Ela se encontra
acentuada em pacientes que sofrem de ansiedade;
Soluço corresponde a contrações espasmódicas do diafragma, podendo ser causado por doenças
do sistema nervoso central, irritação do nervo frênico, estimulação reflexa e doenças do mediastino.
A relação possível de ser estabelecida com o esôfago se dá na hérnia hiatal e no megaesôfago.
O sintoma mais frequente das doenças do estômago é a dor epigástrica, caracterizando úlcera
péptica, gastrite aguda, câncer gástrico, doenças inflamatórias e razões psicogênicas;
Dispepsia corresponde ao conjunto de sintomas relacionados com a parte alta do abdome. A
síndrome dispéptica compõe-se de dor ou desconforto epigástrico, empanzinamento, sensação de
distensão abdominal, pirose, saciedade precoce, náuseas, eructações e intolerância a alimentos
gordurosos;
o Dispepsia tipo refluxo: caracterizada por pirose retroesternal;
o Dispepsia tipo úlcera: caracterizada por dor epigástrica;
o Dispepsia tipo dismotilidade: caracterizada pela sensação de plenitude gástrica.
Náuseas e vômitos são manifestações comuns de doenças do estômago e duodeno.
Frequentemente são associadas à dor por úlcera gástrica ou gastrite. Várias são as outras causas de
vômitos: síndrome dispéptica, gastrite, úlcera péptica, câncer gástrico, obstrução pilórica, hepatite,
cólica biliar, obstrução intestinal, peritonite, labirintopatia, enxaqueca, hipertensão craniana, gravidez,
intoxicação alcoólica, origem psicogênica e reação a medicamentos;
Pirose, ou azia, é uma sensação de queimação que pode decorrer de inflamação ou irritação da
mucosa esofágica por doença do refluxo gastroesofágico.
A diarreia é definida como o aumento do teor de líquido das fezes e da quantidade de evacuações
por dia. Essa anormalidade do intestino delgado leva o nome de diarreia alta, caracterizada por
dejeção de grande volume contendo restos alimentares, teor líquido aparente e frequência
moderadamente aumentada. A diarreia baixa, por sua vez, indica alterações do intestino grosso,
diferenciando da alta por maior número de evacuações, pequeno volume fecal, presença de muco ou
pus e sintomatologia de puxo, urgência retal e tenesmo. Além disso, deve-se diferenciar diarreia
aguda de crônica, uma vez que possuem causas completamente distintas;
o Diarreia osmótica ocorre por aumento da pressão osmótica do conteúdo intraluminal.
Em casos de acúmulo de substâncias não absorvíveis no lúmen intestinal, como
laxativos ou em decorrência de má absorção, a água e eletrólitos adentram a mucosa
muito lentamente, o que possibilita o acúmulo de líquidos nas fezes;
o Diarreia secretora ocorre por aumento da secreção de água e eletrólitos pela mucosa
intestinal. Enterotoxinas bacterianas e certos medicamentos (prostaglandinas) podem
resultar em aumento do AMP cíclico, uma substância de transdução de sinais
celulares. Isso resulta em secreção ativa de água e eletrólitos ao lúmen intestinal;
o Diarreia motora ocorre por alterações da motilidade do intestino delgado. A aceleração
da motilidade vista no hipertireoidismo e nos distúrbios psicogênicos gera má
digestão e, consequentemente, diarreia;
o Diarreia exsudativa ocorre pela ruptura da integridade da mucosa intestinal, liberando
material exsudativo em resposta a uma inflamação. Em consequência, espera-se um
quadro diarreico com muco, sangue e perda proteica. Nesse meio, grande quantidade
de líquido é perdida e pouco material nutritivo é absorvido pela mucosa, uma vez que
o processo inflamatório deflagra grande prejuízo à atividade digestiva e absortiva.
De maneira resumida, as causas de diarreia aguda se baseiam em infecções (bacterianas,
parasitárias, por vírus e fúngicas), ingestão de alimentos contaminados, uso de certas medicações,
ingestão de açúcares não absorvíveis, isquemia intestinal, impactação fecal e inflamação pélvica. Por
outro lado, a diarreia crônica ocorre por síndrome do intestino irritável, doenças inflamatórias
intestinais, infecções crônicas, parasitoses, micoses, enterite por radiação, síndrome de má absorção,
uso de certos medicamentos a longo prazo, etilismo, adenoma viloso, diverticulite, alergia, cirurgias
intestinais prévias, impactação fecal, envenenamento por metais pesados, abuso de laxativos, colite
e amiloidose;
Esteatorreia corresponde ao aumento da quantidade de gordura excretada nas fezes, que se tornam
volumosas, amareladas, fétidas e espumosas. Vários são os mecanismos promotores de
Esteatorreia: lipólise alterada, como na pancreatite crônica, gastrectomia, vagotomia e síndrome de
Zollinger-Ellison; solubilização intraluminal alterada, como na cirrose hepática, colestase e
proliferação bacteriana; e absorção intestinal alterada, como na doença celíaca;
Dor abdominal é um sintoma comum nas doenças do intestino delgado. Sem que haja
comprometimento peritoneal, a dor se torna imprecisa. Vários são os mecanismos promotores de dor
abdominal relacionada ao intestino delgado: distensão das paredes do intestino delgado, aumento da
tensão muscular das paredes do intestino, alterações inflamatórias ou congestivas do intestino
delgado, isquemia intestinal e alterações inflamatórias do peritônio;
Em grande parte das doenças do intestino delgado, sobretudo naquelas em que há má absorção,
pode haver o surgimento de sintomas indicativos do aumento do teor gasoso. Nesses casos, verifica-
se distensão abdominal, flatulências e dispepsia;
Hemorragia digestiva corresponde à passagem de sangue intravascular para o lúmen
gastrointestinal, sendo eliminado pelo vômito (hematêmese) ou por defecação (enterorragia e
melena). Várias são as causas de hemorragia digestiva: afecções inflamatórias, como doença de
Crohn, tuberculose intestinal e paracoccidioidomicose; tumores, como pólipos, tumores benignos e
tumores malignos; afecções vasculares, como hemangiomas, angiodisplasias, telangiectasias,
fístulas e vasculites; anomalias congênitas, como divertículo de Meckel; doenças sistêmicas, como
púrpuras e leucemias; e ação de medicamentos. Por fim, a melena é um forte indício de hemorragia
a nível de intestino delgado, visto a digestão de sangue e eliminação de fezes enegrecidas.
o Hematêmese: eliminação de sangue pela boca;
o Melena: eliminação de sangue pela evacuação, conferindo aspecto enegrecido às fezes,
além de fetidez, uma vez que houve digestão;
o Enterorragia: eliminação de sangue em grande quantidade por meio de evacuação,
conferindo aspecto vermelho;
o Hematoquezia: eliminação de sangue em pequena quantidade por meio de evacuação,
conferindo aspecto vermelho.
Dor abdominal é um sintoma comum nas doenças do cólon (intestino grosso), reto e ânus. Dor
perineal envolve processos de trombose hemorroidária, abscessos e fissuras. Além disso, o tenesmo
pode envolver a região perineal, sintoma caracterizado por dor acompanhada de desejo imperioso de
defecar. O paciente sente dor intensa, espasmódica, e tem a impressão de que a defecação será
abundante, mas elimina pouco conteúdo fecal ou muco. Já a dor abdominal decorrente de distúrbios
do cólon pode ser esquematizada da seguinte maneira:
o Dor em quadrante superior direito: impactação fecal e obstipação grave;
o Dor em quadrante inferior direito: apendicite, câncer de ceco, doenças inflamatórias,
invaginação e oclusão por lesões benignas ou malignas;
o Dor em quadrante superior esquerdo: diverticulite, impactação fecal e obstipação intestinal
crônica;
o Dor em quadrante inferior esquerdo: doença diverticular do cólon, obstipação crônica e
irritação da mucosa intestinal.
Disenteria é uma síndrome na qual, além de diarreia, observam-se cólicas intensas e fezes
mucossanguinolentas. Além disso, ao final de cada evacuação é evidenciado o fenômeno do
tenesmo. Essa síndrome tem origem amebiana ou bacilar;
A diarreia baixa é característica do intestino grosso, podendo ser subdividida em aguda e crônica. A
diarreia aguda decorre de retocolite ulcerativa, colite amebiana, doença de Crohn e câncer no cólon
(somente nos estágios iniciais);
Obstipação (ou constipação) caracteriza-se pela não evacuação dentre o período de 48 horas. As
causas dessa anormalidade são diversas:
o Relacionada com alimentação inadequada (dieta pobre em fibras);
o Mecânica, através de alterações que impedem a correta contração intestinal;
o Neurogênica, através do comprometimento da inervação intestinal, como ocorre na doença
de Hirschprung, na doença do megacólon chagásico e na paraplegia;
o Metabólico-hormonal, incluindo hiper e hipotireoidismo;
o Medicamentosa, incluindo o uso de antiácidos;
o Psicogênica.
Sangramento anal (ou enterorragia) normalmente é causado por hemorroidas. Além disso, pode
ocorrer por doença diverticular, pólipos e colites. A diferença de sangramento entre segmentos altos
e baixos do sistema digestivo consiste que quando a origem se dá nas partes altas (estômago e
intestino delgado), as fezes se apresentam enegrecidas, caracterizando a melena; enquanto que o
sangramento baixo resulta em fezes com sangue vivo, avermelhado;
Prurido anal ocorre por má higiene, enterobiose, fissuras, eczemas, dermatites e DM;
Distensão abdominal corresponde ao aumento do volume ventral, sendo relacionada a várias
condições, como ascite, meteorismo, fecaloma e neoplasias. Associando ao cólon, a distensão
depende do trânsito intestinal. A causa mais comum desse sinal é o vólvulo do sigmoide, uma torção
do cólon sigmoide sobre seu próprio eixo. Ela decorre principalmente de megacólon chagásico, com
formação de fecalomas. Outra causa de distensão é o câncer de intestino em estágios avançados, o
que leva ao acúmulo de gases e fezes a montante da neoplasia;
Em oclusões do intestino grosso, vômitos surgem à medida que o quadro clínico se torna grave.
Após determinado tempo, os vômitos se tornam fecaloides;
Anemia e emagrecimento relacionados ao cólon podem ter origem de neoplasias do cólon direito,
visto que essa estrutura é responsável por absorção de ferro.
A dor originária no fígado, na vesícula e nas vias biliares localiza-se no quadrante superior direito do
abdome e apresenta diferentes características, conforme a afecção que a provoca;
o O parênquima hepático é indolor, mas a cápsula de Glisson, quando distendida, ocasiona dor
contínua em hipocôndrio direito. Esse sintoma pode decorrer de congestão passiva hepática,
uma manifestação da insuficiência ventricular direita; hepatite aguda viral; e hepatite
alcoólica;
o A dor originada nas vias biliares apresenta-se de duas maneiras:
Cólica biliar tem início súbito, forte intensidade, localização em hipocôndrio direito e
duração de horas, deixando o paciente inquieto e nauseado. A causa mais frequente
é a colelitíase, podendo causar também icterícia;
Colecistite aguda apresenta-se com dor contínua e localização em hipocôndrio
direito, com irradiação para o ombro direito. Comprova-se colecistite por palpação
local durante inspiração profunda, despertando dor. Esse é o sinal de Murphy.
Icterícia consiste em uma coloração amarelada da pele e das mucosas em decorrência de
impregnação de pigmentos biliares. A icterícia se torna visível quando níveis de bilirrubina são
maiores que 2 mg/dL. As causas mais comuns de icterícia se dão por afecções hepáticas, das vias
biliares, pancreáticas, anemias hemolíticas, doenças infecciosas e parasitárias e uso de certos
medicamentos (tabela 7).
A dor é um sintoma comum nas doenças do pâncreas, sobretudo nas inflamações, caracterizando
as pancreatites. Geralmente a dor se apresenta lancinante, tendo a intensidade variando de acordo
com a extensão da lesão;
Náuseas e vômitos são comuns em portadores de pancreatite;
Icterícia relacionada ao pâncreas decorre de obstrução do colédoco terminal e edema do tecido
pancreático, o que também gera obstrução do colédoco;
Diarreia e esteatorreia decorrem de insuficiência pancreática, sendo evidenciadas fezes pastosas,
brilhantes, de odor rançoso e com coloração pálida;
Em situações de deficiência das enzimas pancreáticas, síndromes de má absorção são deflagradas.
Em condições normais e em clima ameno, uma pessoa adulta elimina entre 800 e 2.500 mL de
urina ao dia. A capacidade de armazenagem da bexiga é de 400 a 600 mL, o que resulta entre
duas a quatro micções diárias. Alterações miccionais envolvem as alterações do jato urinário,
retenção urinária e incontinência urinária;
o Em recém-nascidos, o jato urinário fraco, lento e fino em meninos pode indicar fimose,
estenose do meato uretral e válvula da uretra posterior;
o Na mulher, as alterações perineais, decorrentes de lesões ocorridas durante o parto,
interferem com os mecanismos de contenção de urina, fazendo com que após esforços, risos
ou choro haja eliminação involuntária de urina;
o Na avaliação da mulher idosa com incontinência urinária deve-se ter em mente a
possibilidade de incontinência de esforço por relaxamento excessivo da musculatura do
assoalho pélvico; enquanto que no homem idoso, a incontinência por transbordamento pode
ocorrer em consequência de hipertrofia prostática;
o Hesitação (demora para iniciar a micção), esforço para urinar e redução da força e do calibre
do jato urinário são as manifestações mais comuns de uropatias obstrutivas infravesicais;
o Retenção urinária corresponde à incapacidade da bexiga em esvaziar, parcial com
completamente. Diferentemente da anúria, na retenção urinária há formação de urina, o que
não é visto na anúria, uma vez que há insuficiência renal;
O globo vesical é palpável durante a retenção urinária, isto é, a bexiga é percebida
na região suprapúbica;
A retenção pode ser completa, quando o paciente não elimina urina, apresentando,
desse modo, intensa dor, ansiedade, palidez, sudorese profunda e acentuado desejo
de urinar; ou incompleta, apresentando a bexiga sempre semipreenchida por urina,
sendo quase sempre um quadro crônico;
Em crianças, a retenção urinária ocorre por cálculo vesical impactado no colo da
bexiga, estenose da uretra, fimose acompanhada de balanopostite, válvula da uretra
posterior e disfunção neurovesical. Em jovens e adultos jovens, essa alteração se dá
por inflamação da glândula de Cowper por etiologia blenorrágica, prostatite, abscesso
prostático, polirradiculoneurite e traumatismos uretrais. Já em pacientes mais velhos,
a retenção pode ocorrer por hiperplasia prostática e uso de medicamentos
anticolinérgicos, anti-histamínicos e ansiolíticos;
Bexiga neurogênica corresponde à retenção de urina consequente da incapacidade
da musculatura vesical em contrair-se com força adequada para que haja micção.
Isso ocorre por lesões de neurônio motor superior ou de nervos sacrais que inervam
a bexiga.
o Incontinência urinária ocorre, por exemplo, em casos de obstrução de vias urinárias
inferiores, não havendo, desse modo, eliminação completa do conteúdo vesical. Assim, o
paciente apresenta polaciúria e noctúria, principalmente. A urina que permanece na bexiga
após a micção torna o meio favorável à proliferação bacteriana, acarretando em dor à micção,
urina turva e odor desagradável.
Alterações do volume e ritmo urinário incluem a oligúria, anúria, poliúria, disúria, urgência, polaciúria
e a noctúria;
o Oligúria corresponde à diurese inferior a 400 mL ao dia, ocorrendo por insuficiência renal
aguda, insuficiência cardíaca ou glomerulonefrite;
o Anúria corresponde à diurese inferior a 100 mL ao dia, ocorrendo por oclusão das duas
artérias renais, obstrução de ambos os ureteres e necrose cortical bilateral;
o Poliúria corresponde à diurese acima de 2.500 mL ao dia, sendo verificado, desse modo,
mais de quatro micções diárias (polaciúria). Isso ocorre por diurese osmótica, isto é, maior
eliminação de solutos e, consequentemente, de água; ou por incapacidade de concentração
urinária, como ocorre no DM insípido e na hipopotassemia;
o Disúria corresponde à sensação de dor, queimor ou desconforto durante a micção. É comum
na cistite, prostatite e uretrite;
o Urgência corresponde à necessidade súbita e imperiosa de urinar, podendo haver até o
esvaziamento involuntário da bexiga;
o Quando a necessidade de urinar ocorre repetidas vezes, sobretudo acima de quatro vezes
ao dia, mesmo sem haver concomitante aumento do volume urinário (poliúria), diz-se que o
paciente apresenta polaciúria. Desse modo, pode-se afirmar que todo paciente que
apresenta poliúria possui polaciúria, mas nem todo aquele que possui polaciúria apresenta
também a poliúria;
o Urgência e polaciúria ocorrem por redução da capacidade de armazenamento da bexiga e
dor à distensão vesical, sendo comum em infecções, presença de cálculos, tumores,
hiperplasia prostática e alterações neurológicas;
o Noctúria corresponde à alteração no ritmo circadiano da diurese. É comum em insuficiência
cardíaca e insuficiência renal, uma vez que nessas patologias o indivíduo retém líquidos
durante o dia, sobretudo em membros inferiores. Além disso, a noctúria ocorre na síndrome
nefrótica e em hiperplasia prostática.
A urina normal é transparente, variando do amarelo-claro para o amarelo-escuro. Algumas alterações
da urina ocorrem por pigmentos e medicamentos. Todavia, várias alterações da cor da urina podem
incluir ainda a hematúria, hemoglobinúria, mioglobinúria, porfinúria e a urina turva;
o Hematúria corresponde à eliminação de sangue pela urina, podendo ser micro ou
macroscópica e persistente ou intermitente;
Hematúria acompanhada de febre, calafrios e disúria indica infecção urinária;
enquanto que hematúria acompanhada de cólica renal sugere litíase;
É importante determinar se a hematúria é total, inicial ou terminal, pois isso permite
presumir o local de origem do sangramento. Hematúria total geralmente depende
de lesões situadas acima do colo da bexiga, isto é, nos rins e ureteres.
Glomerulonefrite aguda, hipertensão arterial maligna, necrose tubular aguda, rins
policísticos, infarto renal, leptospirose, malária, tuberculose renal, síndrome de
coagulação vascular disseminada, neoplasias e cálculos podem proporcionar
hematúria total. A inicial, por sua vez, pode decorrer de alterações prostática ou
uretral. Por fim, a hematúria terminal geralmente é consequente de rompimento de
telangiectasias, vesicais ou prostáticas, quando o paciente portador de hiperplasia
prostática faz esforço para urinar. Também pode ocorrer em neoplasias.
o Hemoglobinúria corresponde à presença de hemoglobina livre na urina, condição que
acompanha crises de hemólise intravascular, comum em malária, leptospirose, transfusão de
sangue incompatível e icterícia hemolítica;
o Mioglobinúria corresponde à eliminação de proteínas tipicamente musculares em
consequência de destruição de músculos por traumatismo ou queimaduras;
o Porfinúria corresponde à eliminação de porfirinas ou um de seus precursores;
o Urina turva corresponde à alteração da transparência da urina, tendo causas diversas.
Urina turva, formando depósitos esbranquiçados e com odor desagradável pode ser
indício de infecção (cistite, pielonefrite e abscesso renal, perirrenal, uretral ou
prostático);
Urina cor de Coca-Cola é comum em pacientes ictéricos.
A urina apresenta odor característico pela liberação de amônia. Pequenas alterações da
concentração desse composto podem afetar o cheiro normal. Medicamentos e infecções são as
causas mais comuns de urina fétida;
Dor lombar e no flanco:
o O parênquima renal é indolor, mas a cápsula renal, quando distendida, gera dor lombar e no
flanco. É comum na síndrome nefrótica, glomerulonefrite aguda, nefrite intersticial e
pielonefrite aguda;
o Em obstruções urinárias agudas por cálculo na pelve renal ou ureter, a dor lombar se torna
intensa;
o Rins policísticos podem gerar dor lombar, sobretudo com o rompimento de cistos;
o Inflamação perinefrética gera irritação da cápsula renal, acarretando em dor de forte
intensidade em região lombar, piorando aos esforços.
Cólica renal:
o A cólica renal corresponde à dor decorrente de obstrução do trato urinário alto, com súbita
dilatação da pelve renal ou do ureter, acompanhada de contrações da musculatura lisa local;
o A cólica renal normalmente é acompanhada de mal-estar geral, inquietude, sudorese,
náuseas e vômitos;
o A dor inicia no ângulo costovertebral, irradiando à região ilíaca e pênis e escroto, no homem,
e grande lábio, na mulher.
Dor vesical:
o Dor suprapúbica normalmente se localiza em região suprapúbica.
Estrangúria (ou tenesmo vesical):
o Inflamações vesicais intensas podem provocar emissão lenta e dolorosa da urina, sendo
decorrente de espasmos da musculatura do trígono e colo vesical.
Dor perineal:
o Infecções agudas prostáticas podem causar forte dor perineal, sendo relatada pelo paciente
como dor no sacro ou retal.
Edema que surge por doença renal resulta de diferentes mecanismos patogênicos, conferindo
características semiológicas próprias;
o Semiologicamente, um edema é evidenciado pelo sinal de cacifo positivo;
o Glomerulonefrite causa edema generalizado, sendo predominante na região periorbitária pela
manhã; e nos membros inferiores durante o fim do dia. Esse edema decorre da retenção
de sal e água por lesões glomerulares;
o Síndrome nefrótica causa edema generalizado de grande intensidade, chegando à anasarca,
sobretudo em crianças e jovens. Esse edema decorre da redução da pressão oncótica
através de hipoalbuminemia, havendo, desse modo, atenuação do volume plasmático
pela passagem de líquido ao interstício;
o Insuficiência renal aguda gera edema por hiper-hidratação, enquanto que a insuficiência renal
crônica causa o edema por diversas causas, sendo a intensidade variada;
o Pielonefrite causa leve edema, sobretudo pela manhã, atingindo a região periorbitária.
Febre e calafrios relacionados aos rins e vias urinárias são decorrentes de infecções no local.
A divisão do abdome pode ser dada por duas maneiras: em quadrantes ou em nove regiões. A divisão em
quadrantes se baseia em duas linhas, uma vertical e outra horizontal, que se cruzam na cicatriz umbilical.
Desse modo, são estabelecidos os quadrantes superior direito e esquerdo, e inferior direito e esquerdo. Em
outra divisão, nove três regiões pares e três ímpares são obtidas (imagem 44).
Ausculta do abdome:
Palpação do abdome:
É realizada com o paciente em decúbito dorsal, utilizando a mão espalmada. Essa manobra é tem
como objetivo avaliar o estado da parede abdominal, explorar a sensibilidade e reconhecer as
condições anatômicas das vísceras abdominais do paciente;
Em condições normais, não se consegue distinguir, pela palpação, todos os órgãos intrabdominais.
A palpação sistemática do abdome envolve algumas etapas: palpação superficial, palpação profunda,
palpação do fígado, palpação da vesícula biliar, palpação do baço, palpação do cólon, palpação dos
rins e manobras especiais, caso haja necessidade;
Palpação superficial:
o À palpação superficial do abdome, investiga-se sensibilidade, resistência da parede,
continuidade da parede abdominal, pulsações e reflexo cutâneo-abdominal;
o A avaliação da sensibilidade consiste em palpar levemente a parede abdominal. Caso essa
manobra desperte dor é porque há hiperestesia cutânea;
o Os principais pontos dolorosos abdominais são: pontos gástricos, ponto cístico (ou biliar),
ponto apendicular, ponto esplênico e pontos ureterais;
Pontos gástricos compreendem o ponto xifoidiano e o ponto epigástrico, podendo
indicar cólica biliar, afecções do esôfago, úlcera gástrica e gastrite;
Ponto cístico (ou biliar) situa-se no rebordo costal direito, podendo indicar
colecistite, sobretudo quando a manobra cuja inspiração profunda acompanhada de
palpação local proporcione dor, caracterizando o sinal de Murphy. Ainda em relação
ao ponto cístico, palpação positiva da vesícula biliar, com ausência de dor, em
paciente ictérico é sugestiva de obstrução do colédoco ou neoplasia da cabeça de
pâncreas, caracterizando o sinal de Courvoisier;
Ponto apendicular situa-se no abdome direito, na linha que une a espinha ilíaca
anterossuperior ao umbigo. Esse local também é chamado de ponto de McBurney.
Dor nessa região pode indicar apendicite aguda, sobretudo quando a descompressão
súbita da área gera dor intensa, o que constitui o sinal de Blumberg. A manobra de
Rovsing consiste na palpação da fossa ilíaca esquerda. Caso surja dor na fossa
ilíaca contralateral, isto é, na FID, a manobra é positiva, havendo suspeita de
apendicite aguda. Além disso, a manobra do obturador consiste na rotação interna
da coxa direita. Caso haja dor na FID, suspeita-se, também, de inflamação do
apêndice vermiforme;
Ponto esplênico situa-se no rebordo costal esquerdo, sendo comum a dor por infarto
esplênico;
Pontos ureterais situam-se nos bordos laterais dos músculos retos do abdome,
sendo comum a dor por cólica renal quando o cálculo está em fase de migração por
essas vias;
Vale ainda lembrar que é comum a dor referida na colecistite (ombro direito),
cólica renal e apendicite (região escrotal), apendicite (mesogástrio) e IAM
(epigástrio).
o Em condições normais, a resistência da parede abdominal é a de um músculo relaxado.
Quando a musculatura, todavia, está em contração, deve-se analisar, em primeiro lugar, se
a causa é voluntária ou involuntária;
A contratura involuntária da parede abdominal tem origem de reflexos
visceromotores, cujos estímulos se originam de peritônio inflamado (peritonite).
o Diástase de músculos retos do abdome consiste na separação desses músculos, podendo
ocorrer abaixo ou acima da cicatriz umbilical. Quando o paciente se encontra em posição
ortostática e realiza esforço, uma porção do intestino penetra pela abertura. Diferentemente
das hérnias, a diástase não apresenta saco herniário, nem anel palpável;
o Hérnias são alterações da parede abdominal caracterizadas por haver uma solução de
continuidade por onde penetram uma ou mais estruturas viscerais. À palpação, consegue-se
reconhecer o orifício ou área da parede abdominal. Pedindo ao paciente que realize tosse
forçada, pode ser visualizada a protrusão da hérnia. Além disso, pode-se realizar a manobra
de Valsalva para fins de comprovação;
o Pulsações podem ser palpadas na parede abdominal, sendo normalmente decorrentes de
insuficiência ventricular direita, quando a pulsação ocorre em epigástrio.
Palpação profunda:
o À palpação profunda, investiga-se eventuais massas palpáveis. Caso seja percebida alguma
massa anormal, deve-se localizá-la, indicar seu volume e formato, informar a sensibilidade
do paciente à palpação, verificar pulsatilidade e ainda verificar a mobilidade;
o Manobra do rechaço é útil na identificação de órgãos aumentados ou tumorações quando
há concomitante ascite. Realiza-se compressão da área suspeita, com pequena
descompressão. Caso haja impacto de massa na polpa digital, o sinal é positivo para órgão
aumentado ou tumoração.
Palpação do fígado:
o Em decúbito dorsal, o paciente deve relaxar toda a parede abdominal, tornando a palpação
do fígado viável. O procedimento consiste em palpar o hipocôndrio direito, o flanco direito e
o epigástrio, partindo do umbigo até o rebordo costal direito. Durante a inspiração profunda
do paciente, deve-se buscar a borda hepática;
o Lemos-Torres corresponde à manobra na qual a mão invade o espaço subcostal na tentativa
de palpar a borda hepática com as polpas digitais. Mathieu, por sua vez, corresponde à
manobra em mão-em-garra para a palpação hepática;
o Quanto à borda hepática, deve-se analisar a distância até o rebordo costal. Quando há
alterações dessa distância, deve classificar a hepatomegalia em pequena, média ou grande.
Ainda sobre a borda, deve-se analisar a espessura (fina ou rombosa), a superfície (lisa ou
nodular), a consistência (reduzida, normal ou aumentada) e a sensibilidade (indolor ou
dolorosa);
o Causas comuns de hepatomegalia são: insuficiência ventricular direita, colestase extra-
hepática, cirrose, fibrose, hepatite, esteatose, neoplasia e linfoma.
Palpação da vesícula biliar:
o Em condições normais, a vesícula não é identificada por palpação. A obstrução do ducto
cístico quase sempre é de natureza calculosa ou inflamatória, e a vesícula, impalpável,
distende-se por acúmulo de sua própria secreção, podendo tornar-se palpável, com forte
sensação dolorosa;
o A obstrução do colédoco pode ter natureza calculosa ou tumoral, sobretudo em idosos, e
pode tornar a vesícula facilmente palpável;
o Vesícula biliar palpável em paciente sem dor, acompanhada de icterícia, é sugestiva de
neoplasia pancreática, caracterizando o sinal de Courvoisier;
o Na colelitíase e na colecistite aguda é comum o paciente acusar dor quando se faz
compressão sobre o rebordo costal direito enquanto realiza inspiração, achado denominado
de sinal de Murphy.
Palpação do baço:
o O baço, em condições normais, não é palpável. A percepção desse órgão indica
esplenomegalia;
o Manobra de Schuster facilita a palpação do baço com em suspeita de esplenomegalia.
Nesse caso, o paciente se encontra em decúbito lateral direito, colocando o membro superior
esquerdo sobre a região occipital da cabeça. Em seguida, palpa-se, estando posicionado
atrás do paciente, a região subcostal, tanto com mão-em-garra, quanto com as polpas
digitais;
o Causas comuns de esplenomegalias são: hipertensão portal, mononucleose infecciosa,
hepatite viral, febre tifoide, malária, calazar, doença de Chagas, esquistossomose, anemias
hemolíticas, leucemia mieloide e linfoide, trombocitemia, mielofibrose, linfoma de Hodgkin e
não Hodgkin, doenças de depósito, artrite reumatoide, lúpus eritematoso disseminado, cistos
e amiloidose.
Palpação do cólon:
o O ceco pode ser reconhecido facilmente na fossa ilíaca direita. Ao alcançar a borda do ceco,
percebe-se súbita elevação, com produção de borborigmos. Processos inflamatórios ou
tumores do ceco podem ser suspeitados pela sensibilidade aumentada e presença de
massas palpáveis no local;
o O cólon transverso é mais facilmente reconhecido em indivíduos magros e através do
deslizamento para cima e para baixo no mesogástrio;
o A alça sigmoide é o local mais facilmente palpável ao exame físico de abdome. Pode indicar
presença de fezes ou então megassigmoide.
Palpação dos rins:
o Em indivíduos magros os rins podem ser palpáveis, havendo várias manobras para o
procedimento;
o Relacionado aos rins, o sinal de Giordano, quando positivo, indica afecções renais. Essa
manobra se baseia na percussão da região lombar, lateralmente.
Ao exame físico:
o Palpação superficial: presença ou ausência de dor ou resistência à palpação;
o Palpação profunda: presença ou ausência de dor ou resistência à palpação, presença
ou ausência de massas abdominais (com respectivas caracterizações de volume,
consistência, mobilidade e localização) e manobras realizadas.
Percussão do abdome:
Inspeção estática: forma e volume do abdome, cicatriz umbilical normal ou com protrusão, presença
ou ausência de abaulamentos ou retrações, presença ou ausência de veias superficiais e possíveis
cicatrizes da parede abdominal;
Inspeção dinâmica: presença ou ausência de movimentos (respiratórios, pulsações e peristaltismo) e
análise de possíveis hérnia e diástase de músculos;
Ausculta: possíveis presença ou ausência e aumento ou redução de ruídos hidroaéreos e presença
ou ausência de sopros;
Palpação superficial: presença ou ausência de dor ou resistência à palpação;
Palpação profunda: presença ou ausência de dor ou resistência à palpação, presença ou ausência
de massas abdominais (com respectivas caracterizações de volume, consistência, mobilidade e
localização) e manobras realizadas;
Percussão: presença de sons timpânicos, submaciços ou maciços.
Esôfago:
Disfagia odinofagia; pirose; regurgitação; eructação; soluço; sialose (ou ptialismo); hematêmese;
doença do refluxo gastroesofágico; hérnia hiatal; esofagite de refluxo; câncer de esôfago;
megaesôfago chagásico; acalasia idiopática; espasmo difuso; esclerose sistêmica progressiva;
esofagite cáustica; divertículos; membrana esofágica cervical; anel esofágico inferior; e malformações
congênitas.
Estômago e duodeno:
Dor; náuseas e vômitos; dispepsia; pirose; úlcera péptica; câncer gástrico; gastrite; síndrome
hiperestênica, sendo decorrente do esvaziamento gástrico rápido, comum em inflamações por
irritação esofágica; e síndrome hipoestênica, sendo decorrente de esvaziamento gástrico lento,
comum em distensão da parede estomacal.
Intestino delgado:
Dor; diarreia; esteatorreia; distensão abdominal; flatulência; dispepsia; hemorragia digestiva; febre;
perda de peso; anemia; edema; manifestações de carências nutricionais específicas; insuficiência
endócrina; anormalidades do desenvolvimento: atresia, estenose, íleo meconial, divertículo de
Meckel, hamartomas e anomalias de posição; distúrbios mecânicos: síndrome de obstrução intestinal
e síndrome de pseudo-obstrução intestinal; doenças inflamatórias: infecções virais e bacterianas,
enterites parasitárias, tuberculose entérica, paracoccidiodomicose, doença de Crohn, doença de
Whipple e enterite por irradiação ionizante; síndrome de má absorção: doença celíaca, proliferação
bacteriana excessiva, linfangiectasias intestinais e deficiência primária de lactase do adulto;
anormalidades vasculares e neoplasias.
Cólon, reto e ânus:
Dor: dor difusa, dor em quadrante superior direito, dor em quadrante inferior direito, dor em quadrante
superior esquerdo e dor em quadrante inferior esquerdo; diarreia; disenteria; mudança do ritmo
intestinal; obstipação; sangramento anal; prurido anal; distensão abdominal; náuseas e vômitos;
anemia; emagrecimento; síndrome do intestino irritável; colites: colite amebiana, colite actinomicótica,
colite tuberculosa, colite granulomatosa (ou doença de Crohn), retocolite ulcerativa e colite isquêmica;
divertículo isolado; doença diverticular difusa dos cólons; doença diverticular espástica do sigmoide;
diverticulite; megacólon chagásico; neoplasias; doença hemorroidária; fissuras; abscessos; fístulas
anorretais; prolapso retal; e apendicite aguda.
Pâncreas:
Dor: comum em pancreatites, dura até horas, podendo irradiar para a região retroesternal e lombar,
e piorando com alimentação; náuseas e vômitos: comum em pancreatites; emagrecimento: comum
em pancreatite crônica; anorexia: comum em neoplasias pancreáticas; astenia: comum em doenças
pancreáticas. Quando é associada à anorexia e emagrecimento, é sugestiva de neoplasia; icterícia:
comum por obstrução do colédoco; diarreia: comum em insuficiência pancreática, gerando
esteatorreia; má absorção: representada clinicamente por esteatorreia e creatorreia (teor proteico
elevado nas fezes); diabetes: afecção da porção endócrina do pâncreas; hemorragias: comum na
pancreatite aguda em consequência da ruptura dos vasos sanguíneos por ação de enzimas
pancreáticas ativadas; antecedentes pessoais: afecções pancreáticas podem ser secundárias de
outras doenças, isto é, podem manifestar-se como complicações; afecções biliares: litíase biliar pode
gerar pancreatite aguda; traumatismos abdominais; afecções respiratórias crônicas: comum em
fibrose cística, acometendo órgãos portadores de vias; hiperparatireoidismo: pode gerar pancreatite
crônica; úlcera péptica: quando penetrante, úlceras gástricas geram pancreatite aguda; desnutrição:
pancreatite crônica pode provocar Kwashiorkor, deficiência proteica grave; medicamentos:
furosemida pode gerar pancreatite aguda; antecedentes familiares: fibrose cística é uma doença
hereditária que afeta o pâncreas; hepatomegalia: comum em pacientes etilistas, acarretando também
em pancreatite crônica; esplenomegalia: pode ocorrer em pancreatite crônica; ascite: quando o líquido
tem alto teor de amilase, indica pancreatite aguda ou crônica agudizada; derrame pleural: quando o
líquido tem alto teor de amilase, indica pancreatite aguda; sinal de Courvoisier: corresponde à
vesícula biliar palpável em paciente ictérico. Isso indica obstrução do colédoco ou neoplasia de
cabeça do pâncreas; amilase: principal exame requisitado para verificação de pancreatite aguda.
Essa enzima se apresenta, em casos de pancreatite, acima do valor referencial; amilase, lipase,
tripsina e cálcio são importantes dados de exames complementares para fins diagnósticos e
prognósticos de pancreatite aguda; síndrome de insuficiência pancreática: engloba afecções crônicas
do pâncreas, dor, perda de peso, icterícia, má absorção e diabetes; neoplasias; e fibrose cística (ou
mucoviscidose): é uma afecção genética sistêmica, atingindo, inclusive, o pâncreas. Ela acarreta em
obstrução de ductos pancreáticos, levando à insuficiência pancreática endócrina e exócrina;
Pancreatite aguda:
o A principal causa é a coledocolitíase;
o Dor contínua em hipocôndrio esquerdo, com irradiação para o dorso, durando de horas a
dias, acompanhada de náuseas e vômitos;
o Fácies de sofrimento, hipotensão, taquicardia, sudorese e palidez;
o Pode haver abdome agudo (ou peritonite);
o Sinal de Cullen e sinal de Grey-Turner: manchas azuladas em região periumbilical e
flancos, respectivamente;
o Pode ocorrer derrame pleural e peritoneal;
o Para fins diagnósticos, pode-se realizar hemograma, teste de amilase, radiografia de abdome
e de tórax, ultrassonografia e TC.
Pancreatite crônica:
o A principal causa é o etilismo;
o Acarreta em insuficiência endócrina do órgão;
o Ocorre sob duas formas básicas:
Pancreatite crônica calcificante, havendo calcificação da glândula;
Pancreatite crônica obstrutiva, havendo obstrução das vias pancreáticas e
inflamação à montante.
o Dor, emagrecimento e icterícia, podendo acarretar em diabetes (ou DM).
Fígado, vias biliares e baço:
Dor: localizada em quadrante superior direito, varia as características conforme a causa; a cápsula
de Glisson corresponde ao revestimento fibroso do fígado, apresentando forte sensação dolorosa
com distensão; hepatomegalia: ocorre em IVD, obstrução supra-hepática, pericardite constritiva,
colestase, infecções, doenças parasitárias, alterações metabólicas, neoplasias, cirrose e hepatite;
cólica biliar; colelitíase; colecistite; icterícia; náuseas e vômitos; dosagens de aspartato
aminotransferase (AST ou TGO), alanina aminotransferase (ALT ou TGP) e gamaglutamil transferase
(GGT) são importantes marcadores da função hepática. Elas são liberadas em caso de necrose
tecidual, indicativo de doença hepática (TGO pode indicar lesão hepática, muscular e miocárdica;
TGP pode indicar lesão hepática, hepatite e intoxicação; e GGT pode indicar colestase e intoxicação);
sinal de Murphy: dor à palpação em área hepática durante inspiração profunda, indicando colecistite
ou colelitíase; colestase: alteração da secreção biliar; esplenomegalia; síndrome de Budd-Chiari:
caracterizada por icterícia, ascite, hematêmese, dor em hipocôndrio direito e circulação colateral,
sendo causada por obstrução da veia hepática em decorrência de problemas coagulativos, neoplasias
e doenças autoimunes; e hepatomegalias decorrem de congestão (IVD, pericardite constritiva e
síndrome de Budd-Chiari), infecções (abscessos bacterianos e infecções virais, como em hepatites),
doenças parasitárias (amebianas, esquistossomoses, malária e hidatidose), alterações metabólicas
(esteatose) e neoplasias;
Icterícia é uma síndrome caracterizada pelo aumento da bilirrubina sérica (valores acima de 2 mg/dL),
manifestando com cor amarelada em conjuntivas, mucosas, pele e líquidos orgânicos. Ao exame
físico, verifica-se principalmente escleróticas e frênulo lingual amarelados. A impregnação dos tecidos
pela bilirrubina depende da concentração e do tipo do pigmento. A bilirrubina conjugada, por ser
hidrossolúvel, tem maior afinidade pelos tecidos e, em consequência, a icterícia é mais acentuada do
que aquela determinada por bilirrubina não conjugada. Desse modo, nas hiperbilirrubinemias não
conjugadas, a icterícia é discreta, percebida apenas nas conjuntivas. Além disso, a bilirrubina não
conjugada não é filtrada via renal, não havendo, portanto, colúria;
o Hiperbilirrubinemia conjugada:
Origem hepatocelular, com defeito congênito ou adquirido (hepatite, cirrose e
infecções) no mecanismo de excreção;
Origem canalicular, através de uso prolongado de certas medicações ou cirrose biliar;
Origem benigna, através de colecistite, coledocolitíase e atresia de vias biliares;
Origem maligna, através de câncer de vesícula biliar, do colédoco e do pâncreas.
o Hiperbilirrubinemia não conjugada:
Origem por produção excessiva de bilirrubina, consequente de hemólise e alterações
da eritropoiese;
Origem por defeito de transporte, comum em recém-nascidos;
Origem por defeito de captação, comum em recém-nascidos;
Origem por defeito de conjugação, como na síndrome de Gilbert.
o O diagnóstico de icterícia é feito pela dosagem das bilirrubinas. À beira do leito, o ato de
agitar a urina em frasco pode diferenciar os dois tipos de hiperbilirrubinemias. Somente
bilirrubina direta é excretada via renal, sendo evidenciada por espuma (proteinúria) na urina
do paciente;
o Sinais observados em paciente ictérico:
Aranhas vasculares: ocorrem em doenças hepáticas, como cirrose;
Equimoses: ocorrem em insuficiência hepática;
Eritema palmar: as manchas avermelhadas nas mãos ocorrem na cirrose;
Dedos em baqueta de tambor: ocorrem na cirrose e DPOC;
Distribuição de pelos: insuficiência hepática crônica pode gerar escassez de pelos;
Ginecomastia: ocorre em formas avançadas de cirrose hepática.
Hipertensão portal corresponde ao aumento da pressão da veia porta em decorrência de um
obstáculo ao livre fluxo do sangue. De acordo com esse obstáculo, a síndrome de hipertensão portal
pode ser classificada em: pré-hepática: trombose da veia porta; intra-hepática pré-sinusoidal: fibrose
hepática e esquistossomose; intra-hepática sinusoidal ou pós-sinusoidal: cirrose hepática e doença
venooclusiva do fígado; e pós-hepática: síndrome de Budd-Chiari (obstrução de veias supra-
hepáticas), IVD e pericardite constritiva;
o O sangue represado na veia porta inverte o sentido do fluxo sanguíneo quando a pressão
contra o fluxo normal supera a pressão do sangue corrente. Com isso, caminhos alternativos
do sangue são estabelecidos: através da veia gástrica direita e das veias gástricas curtas, o
sangue chega nas esofágicas, terminando na ázigos. Por conta disso, há o desenvolvimento
de varizes esofágicas; através das veias paraumbilicais, o sangue chega nas epigástricas
superiores e superficiais do abdome, acarretando em circulação superficial visível; e, além
disso, a estase que ocorre na veia mesentérica inferior lentifica o fluxo nas veias retais. Em
consequência disso, os plexos hemorroidários tornam-se evidentes, podendo sangrar. Dessa
forma, resumidamente, a circulação colateral pode ser dada por tipo cava superior, com
varizes esofágicas; e tipo cava inferior, com cabeça de medusa e hemorroidas;
o Em consequência da circulação colateral profunda e superficial, na hipertensão portal, há o
desenvolvimento de varizes esofágicas (pois são veias alternativas à veia cava),
esplenomegalia (pois há estase na veia esplênica), ascite, aparecimento da cabeça de
medusa (fenômeno de dilatação excessiva das veias paraumbilicais) e hemorroidas (visto a
estase das veias retais).
Ascite (imagem 45) é o acúmulo de líquido na cavidade abdominal. É mais comum por causas
hepáticas (cirrose e fibrose, já que há hipertensão portal), cardiocirculatórias (insuficiência ventricular
direita e trombose venosa), renais (síndrome nefrótica, uma vez que há hipoalbuminemia),
inflamatórias (tuberculose) e neoplásicas (tumores de fígado, ovário, estômago e carcinomatose).
Ascite isolada, isto é, sem que haja edema de outras regiões do corpo, ocorre normalmente por
causas hepáticas e inflamatórias;
Ascite; hérnias: inguinal, femoral (ou crural), umbilical, epigástrica e incisional; encarceramento de
hérnia é a oclusão do trânsito e o comprometimento da alça intestinal contida no interior do saco
herniário. Por outro lado, o estrangulamento corresponde à complicação da hérnia por deficiência
do suprimento sanguíneo, havendo isquemia; diástase; abdome agudo é o termo que caracteriza
um conjunto de processos abdominais que, após início súbito, apresenta evolução e deterioração do
estado geral, classificando essa síndrome como urgência clínica e cirúrgica. Possui várias formas:
abdome agudo inflamatório, abdome agudo obstrutivo e abdome agudo hemorrágico; peritonite;
tuberculose mesentérica; neoplasias de mesentério; mesenterite retrátil; oclusão vascular
mesentérica; torção do grande epíploo; e massas abdominais palpáveis.
Alterações da micção e do volume urinário: oligúria; anúria; poliúria; disúria; urgência; polaciúria; hesitação;
noctúria; retenção urinária; e incontinência urinária. Alterações da cor e aspecto da urina: urina avermelhada;
urina turva; urina espumosa; e mau cheiro. Dor: lombar e no flanco; cólica renal; dor hipogástrica (ou vesical);
estrangúria (ou tenesmo vesical); e dor perineal. Febre e calafrios: ocorrem em infecções, como pielonefrite,
cistite e prostatite.
Edema:
Edema é uma manifestação comum em pacientes portadores de doença renal. As patologias
envolvidas no mecanismo de edema englobam glomerulonefrite aguda, síndrome nefrótica,
insuficiência renal aguda (IRA) e insuficiência renal crônica;
Inicialmente, analisa-se a presença de edema pelo sinal de cacifo. Havendo positividade ao teste,
caracteriza-se pelo grau de extensão:
o 1+/4+: edema até tornozelo;
o 2+/4+: edema até joelho;
o 3+/4+: edema até região inguinal;
o 4+/4+: edema sacro;
o Anasarca: edema generalizado.
Glomerulonefrite aguda:
o Edema generalizado, sendo mais evidente na região periorbitária, sobretudo pela manhã. Ao
fim do dia, o edema se torna mais intenso em membros inferiores.
Síndrome nefrótica:
o Edema generalizado, podendo chegar à anasarca. Comum intenso edema facial, ascite e
inchaço intenso dos membros inferiores ao longo do dia;
o A síndrome nefrótica leva à redução da pressão oncótica por hipoalbuminemia, reduzindo o
volume plasmático e aumentando o intersticial (imagem 46).
Insuficiência renal:
o Aguda (IRA): o edema presente decorre normalmente por hiper-hidratação;
o Crônica: o edema tem grau variado.
Densidade urinária: varia de 1,001 a 1,04 g/mL. Valores abaixo do referencial sugerem necrose
tubular aguda; enquanto que acima disso, insuficiência pré-renal. Além disso, urinas
hiperconcentradas podem decorrer de desidratação;
Análise do pH: varia de 4,5 a 8. Valores acima do referencial sugerem infecção ou alcalose
sistêmica. Acima do referencial, por sua vez, pode-se pensar em doença tubular, diarreia
aguda, uso de diuréticos e acidose sistêmica;
Proteínas: proteinúria normalmente ocorre até 150 mg/dia. Valores acima do referencial
sugerem doenças renais e das vias urinárias. Porém, pode ocorrer em diversas situações
fisiológicas, como febre, atividade física intensa, desidratação e alterações emocionais. Por
fim, microalbuminúria é um teste de proteínas útil para detecção de diabetes em
desenvolvimento. Ao exame, a proteinúria é quantificada em cruzes, variando de uma (1+) até
quatro (4+);
Glicose: glicosúria é um achado comum em DM tipo II, glicosúria renal e Síndrome de Fanconi;
Cetonas: corpos cetônicos na urina é um achado de paciente diabéticos com descompensação
metabólica grave;
Urobilinogênio: presente na urina em quadros de icterícia, exceto na icterícia obstrutiva;
Nitrito: nitrito positivo indica presença de bactérias GRAM-;
Sedimento urinário: sedimentação é indício de células, cilindros e bactérias;
Eritrócitos: quando presentes, podem ser evidenciados por hematúria macroscópica, havendo
alteração da cor da amostra; e por hematúria microscópica, aquela não visível ao olho nu, mas
presente em exame microscópico, podendo decorrer de lesão glomerular ou de outra parte do
trato urinário. Nesse caso, deve ser realizada a pesquisa de dismorfismo eritrocitário,
processo de alteração morfológica dessas células em decorrência de glomerulonefrite
Leucócitos: o aumento da série branca pode ser um forte indício de infecção do trato urinário;
Células epiteliais: decorrem de descamação das vias urinárias;
Bactérias e fungos: em geral, não é encontrado microrganismos na urina, exceto por infecção
ou contaminação do material analisado;
Cristais: é normal e formação de cristais, exceto cristais de cistina, decorrentes de doença
metabólica, e de estruvita, comuns em litíase renal;
Cilindros: são corpos proteicos de origem no parênquima renal. Podem indicar doença tubular
ou glomerular, doença renal crônica, necrose tubular aguda, glomerulonefrite aguda,
pielonefrite e insuficiência renal aguda. Cilindros leucocitários podem indicar pielonefrite,
cilindros hemáticos indicam glomerulonefrite, cilindros epiteliais indicam lesão tubular e
cilindros gordurosos indicam proteinúria.
Dosagem de creatinina e ureia séricas: a creatinina varia de 0,6 a 1,2 mg/dL (para homens),
enquanto que ureia varia de 18 a 45 mg/dL. Esses valores indicam a taxa de filtração glomerular
(TFG), índice confiável para análise da função renal;
Clearance de creatinina: o índice de filtração glomerular pode ser medido pela depuração (ou
clearance) de determinadas substâncias pelos rins.
→ Síndrome nefrótica:
→ Síndrome nefrítica:
Insuficiência (ou lesão) renal aguda é uma síndrome caracterizada pelo rápido declínio da taxa de
filtração glomerular, resultando em acúmulo de substratos do metabolismo de aminoácidos e outros
compostos na corrente circulatória. Desse modo, verifica-se hiperconcentração de ureia e creatinina
plasmáticas, perda do equilíbrio acidobásico e alteração de diurese;
Classifica-se a IRA (ou LRA) de acordo com a creatinina sérica e a taxa de diurese do indivíduo
doente:
o IRA grau I: creatinina até 200% acima do valor basal e diurese menor que 0,5 mL/kg por
hora, há mais de 6 horas;
o IRA grau II: creatinina entre 200 e 300% acima do valor basal e diurese menor que 0,5 mL/kg
por hora, há mais de 12 horas;
o IRA grau III: creatinina acima de 300% do valor basal e diurese menor que 0,3 mg/kg por
hora, há mais de 24 horas, ou então anúria.
Quanto à etiologia, a IRA pode ser classificada em pré-renal, renal e pós-renal (tabela 9).
→ Infecção urinária:
Pielonefrite é um termo que indica infecção bacteriana do trato urinário superior (rins e pelve renal).
A pielonefrite pode ser crônica, quando há ataques recorrentes de infecção, havendo decréscimo da
função renal.
→ Tuberculose renal:
Sempre secundária à tuberculose pulmonar, causa lesão glomerular e medular dos rins;
Promove granulomatose, necrose caseosa, disúria, hematúria e dor em flanco.
→ Litíase urinária:
80% dos casos ocorre por oxalato de cálcio, sendo o restante em decorrência de ácido úrico e cistina;
Ao exame, verifica-se cólica renal, hematúria, inquietação, náuseas e vômitos. A intensidade desses
sintomas varia com a localização, tamanho e formato dos cálculos.
→ Tumores renais:
→ Uropatia obstrutiva:
Obstrução de vias urinárias pode ter origem congênita ou então ser gerada por próprias afecções
renais e de vias urinárias.
SEMIOLOGIA OTORRINOLARINGOLÓGICA:
Dor; otorreia é a secreção de líquido pelo ouvido, podendo ser claro, seroso, mucoso, purulento e
sanguinolento; otorragia é a perda de sangue pelo canal auditivo; prurido do canal auditivo ocorre por
eczema; disacusias são distúrbios da audição, podendo ser moderada (hipoacusia), acentuada
(surdez) ou total (anacusia [ou cofose]); zumbido é um fenômeno auditivo de várias causas: tampão
de cerume, corpo estranho, otite externa, inflamações agudas do ouvido médio, esclerose de tímpano,
otosclerose, obstrução tubária, afecções do ouvido interno, otosclerose coclear, HAS, estase
sanguínea encefálica e hipertireoidismo; a doença de Ménière é caracterizada por zumbidos
acompanhados de perda auditiva e vertigem; e tontura e vertigem não são sinônimos. Desse modo,
tontura é caracterizada por sensação de vazio na cabeça ou de desequilíbrio, com iminente sensação
de desmaio. Vertigem, por sua vez, compreende a típica sensação de objetos girando em torno de si,
ou do indivíduo girando em torno do meio.
Dor de garganta é uma queixa comum, podendo ser espontânea ou relacionada à deglutição
(odinofagia). Decorre de inflamações, normalmente; dispneia relacionada à faringe decorre
principalmente de hipertrofia das amígdalas; disfagia é a dificuldade de deglutir, sendo associada à
inflamações, neoplasias e crises de ansiedade; tosse pode ser desencadeada por hipertrofia de
amígdala; halitose pode surgir por alterações anatômicas das amígdalas, que passam a depositar
restos alimentares; surdez por causas faríngicas ocorrem por obstrução da tuba auditiva, comum em
hipertrofia de adenoides e neoplasias; e ronco é comum em pacientes portadores de apneia do sono.
Dor; dispneia relacionada à laringe inclui processos infeciosos, paralisia de músculos dilatadores da
glote e presença de corpos estranhos; disfonias são alterações da voz; tosse pode ocorrer por
laringite, havendo comprometimento das cordas vocais; disfagia é comum em neoplasias da laringe;
e pigarro corresponde à hipersecreção de muco, o qual se adere à parede da laringe e nas cordas
vocais.
Exame do nariz:
A coloração normal dos lábios é avermelhada, podendo haver alterações, como palidez e cianose;
fenda labial é a anomalia congênita mais comum dos lábios; e analisar edema, herpes, ulcerações e
tumorações.
A mucosa oral normal é rósea-avermelhada e hidratada, podendo haver alterações desses aspectos;
a afecção mais comum da cavidade oral é a estomatite, termo que engloba processos inflamatórios
bucais. O mais comum é a afta; manchas de Koplik indicam sarampo, eclodindo na mucosa da
bochecha, em frente aos molares; deficiência de vitaminas do complexo B geram queilite; a língua
normal é rósea-avermelhada, úmida e com superfície rugosa, podendo haver alterações desses
aspectos: língua saburrosa ocorre em estado de higiene precária, febre, tabagismo a longo prazo,
desidratação e pela manhã, ao despertar, língua seca ocorre em situações de desidratação, língua
lisa ocorre em consequência de atrofia de papilas gustativas, língua pilosa consiste em papilas
alongadas, língua de framboesa consiste em vermelhidão brilhante em superfície lingual; língua
geográfica consiste em esbranquiçamento de áreas específicas, língua escrotal apresenta
irregularidades, sendo decorrente de carência de vitaminas do complexo B, macroglossia
corresponde ao aumento global da língua, língua trêmula ocorre em hipertireoidismo, etilismo e
parkinsonismo, desvio da língua da linha mediana ocorre por hemiplegia ou lesão de nervo hipoglosso
e glossite consiste em inflamação generalizada da língua; gengivas normais têm coloração rósea;
gengivas amareladas ocorrem na icterícia; gengivas hipertróficas são comuns em leucemias;
gengivite é uma inflamação que torna essas estruturas avermelhadas, edemaciadas e facilmente
sangráveis; petéquias em palato ocorrem comumente em leucoses e endocardites infecciosas; torus
palatinus corresponde à exotose, crescimento ósseo benigno; anomalias dentárias importantes
incluem dentes cariados, hipoplasia do esmalte e dentes de Hutchinson; e glândulas salivares não
são visíveis, sob condições normais. Em inflamações e obstruções de canais salivares, as glândulas
se tornam intumescidas e dolorosas.
Exame otorrinolaringológico:
Orofaringoscopia;
Rinoscopia;
Otoscopia (imagens 47 e 48);
Imagem 47. Otoscopia evidenciando ouvido médio saudável, com preservação da membrana timpânica
Laringoscopia.
Ao exame otorrinolaringológico, associado à história do paciente, podem estar presentes algumas
doenças, tais como: amigdalite aguda, rinite catarral aguda, sinusite aguda, otite média aguda, rolha
ceruminosa, laringite, câncer de laringe e presença de corpos estranhos.
O SISTEMA HEMATOPOIETICO:
O sangue pode ser considerado um verdadeiro tecido semilíquido em circulação, uma vez que é constituído
por parte sólida (45%) e parte líquida (55%). Quanto à parte líquida, ou plasmática, cerca de 92% é água,
sendo o restante proteínas, sais e outros compostos. As células normais circulantes englobam os eritrócitos,
leucócitos e plaquetas. A medula óssea, órgão mieloide, constitui-se de três sistemas de células:
eritroblástica, granulocitopoética e plaquetária. Para um adulto normal, considera-se que o volume sanguíneo
total é em torno de 5 L, sendo 3 L o volume plasmático e o restante compreendendo o volume globular.
Hematopoiese corresponde à formação das células do sangue. Compreende o processo pelo qual células
precursoras hematopoiéticas pluripotentes se autorrenovam e diferenciam-se em todas as células do sangue
circulante, incluindo eritrócitos, leucócitos e plaquetas (imagem 49).
Hemostasia compreende uma série complexa de fenômenos biológicos que ocorre em resposta à lesão de
um vaso sanguíneo, visando deter a hemorragia. O mecanismo hemostático envolve três processos:
hemostasia primária, coagulação e fibrinólise. Esses processos têm em conjunto a finalidade de manter a
fluidez necessária do sangue, sem haver extravasamento pelos vasos, muito menos a obstrução do fluxo pela
presença de trombos.
Os sinais e sintomas das hemopatias são variados, desde inespecíficos e gerais, até específicos e
característicos de afecções hematológicas, conforme destaca a tabela 10. Os sintomas ainda podem ser
agrupados em síndromes hematológicas, que são elas: síndrome anêmica, síndrome hemorrágica e síndrome
proliferativa.
Imagem 49. Hematopoiese, processo de origem de células de várias linhagens, partindo-se de apenas um
progenitor comum às distintas e diversas células
Astenia (ou fraqueza): pode ter aparecimento súbito ou insidioso e progressivo, podendo ser
acompanhada de pré-síncope (ou lipotimia). Quando acompanhada de febre e perda de peso,
suspeitar de hemopatias malignas;
Hemorragia: quando cutâneas, aparecem como petéquias (manchas pequenas) ou equimoses
(manchas maiores que 1 cm); hemartroses são coleções sanguíneas em articulações; hematomas
são coleções sanguíneas subcutâneas ou intramusculares; capilaropatia decorre do extravasamento
de sangue capilar; plaquetopenia (ou trombocitopenia) ou plaquetopatia: pode gerar gengivorragia,
metrorragia, enterorragia, hematúria, epistaxe, petéquia, equimose ou hematoma; e púrpura
plaquetária é o nome dado à doença decorrente de alteração plaquetária;
Febre: comum em pacientes com neutropenia, carência de neutrófilos, acompanhada de infecção.
Todavia, pacientes extremamente deprimidos ou em uso de corticosteroides podem não apresentar
quadro febril. Pode haver febre também em leucemias, linfomas e anemias aplásicas;
Icterícia: sinal comum em crises hemolíticas. Nas anemias hemolíticas, a icterícia é permanente. A
dosagem de bilirrubinas séricas orienta o diagnóstico diferencial de icterícia hemolítica e
parenquimatosa. Dosagem de transaminases, gamaglutamil transferase, fosfatase alcalina e
urobilinogênio urinário podem testar a função hepática, estimando o diagnóstico diferencial de
icterícias;
Adenomegalia, esplenomegalia e hepatomegalia: o crescimento de estruturas anatômicas
específicas é frequente em processos linfoproliferativos. Comum em leucemias, linfomas e
hemoglobinopatias;
Alterações da pele e fâneros: petéquias (manchas hemorrágicas com menos de 1 cm) e equimoses
(manchas hemorrágicas com mais de 1 cm); eritemas, edema, máculas, pápulas, bolhas e
pústulas; e herpes-zóster é uma afecção viral caracterizada por surgimento de inúmeras lesões
cutâneas, sobretudo em pacientes imunodeprimidos por linfomas e leucemias;
Outros sintomas incluem os osteoarticulares, musculoesqueléticos, cardiorrespiratórios,
gastrintestinais, geniturinários e neurológicos.
Hemograma:
É o exame do sangue periférico no qual vem expressa a quantificação dos elementos figurados, bem
como a qualificação. Ele pode ser dividido em eritrograma (série eritrocitária, reticulócitos, VCM,
CHCM, HCM, RDW, hemoglobina, hematócrito e hemossedimentação [ou VHS]), leucograma
(células granulocíticas e agranulocíticas) e plaquetograma (quantificação das plaquetas);
Série eritrocitária:
o Níveis normais circulantes de eritrócitos se encontram entre 4.500.000 e 5.000.000
unidades/mm3;
o Exame qualitativo de eritrócitos é feito por técnica de esfregaço, havendo forma de
disco bicôncavo. Alterações do formato eritrocitário incluem: macrocitose,
microcitose, esferocitose, ovalocitose, eritrócitos sem alvo, eritrócitos em lágrima,
eritrócitos crenados, corpúsculos de Howell-Jolly, corpúsculos de Heinz, eritrócitos
com pontilhado basófilo, anel de Cabot, acantócitos, esquizócitos e hipocromia.
Presença de megaloblastos indica alteração da produção e amadurecimento de células
vermelhas por carência de certos fatores, como vitamina B12.
Reticulócitos:
o Níveis normais circulantes de reticulócitos se encontram entre 1 e 1,5% dos eritrócitos.
Outras bibliografias, no entanto, estabelecem o limítrofe para reticulócitos como 2,5%;
o São células jovens, aparecendo aumentadas geralmente por hemorragias crônicas e
hemólise como mecanismo compensatório da medula óssea.
Índices hematimétricos:
o Volume corpuscular médio (VCM) avalia o tamanho médio dos eritrócitos, sendo
normal entre 80 e 100 fL;
o Concentração da hemoglobina corpuscular média (CHCM) avalia o grau de saturação
de hemoglobina no eritrócito, sendo normal entre 31 e 36 g/dL. Esse valor indica o teor
crômico do sangue. Desse modo, valores abaixo do referencial indicam possível
anemia hipocrômica, enquanto que acima de 36 g/dL sugere-se anemia hipercrômica;
o Hemoglobina corpuscular média (HCM) avalia a média de hemoglobina por eritrócito,
sendo normal entre 26 e 35 pg;
o Red cell distribution width (RDW) avalia a anisocitose, isto é, verifica a variação do
tamanho eritrocitário, sendo normal entre 11 e 14%.
Dosagem de hemoglobina:
o Níveis normais de hemoglobina se encontram entre 14 e 18 g/dL, para homens, e entre
12 e 16 g/dL, para mulheres.
Hematócrito:
o O hematócrito indica o volume total de eritrócitos em relação a certo volume de sangue
total. Níveis normais de hematócrito se encontram entre 41 e 51%, para homens, e entre
37 e 47%, para mulheres.
Hemossedimentação (ou VHS):
o A sedimentação mais ou menos rápida da coluna de células vermelhas do sangue
depende do volume dessas células e da composição química do plasma;
o Em anemias, a hemossedimentação costuma ser acelerada, uma vez que o hematócrito
é reduzido. Em quadros de poliglobulia, por sua vez, a sedimentação eritrocitária
costuma ser retardada;
o A hemossedimentação em mulheres costuma ser mais acelerada que em homens.
Série leucocitária:
o Os percentuais normais da série leucocitária são listados a seguir: neutrófilos: 60 a
65%; linfócitos: 20 a 30%; monócitos: 4 a 8%; eosinófilos: 2 a 4%; basófilos: 0 a 1%; e
plasmócitos: 0 a 1%;
o Níveis normais da série leucocitária no sangue se encontram entre 4.000 e 10.000
unidades/mm3. Desse modo, leucocitose é o aumento de leucócitos, enquanto que
leucopenia é a redução desses elementos;
o Leucocitose decorre de infecções e processos malignos. Infecções causam desvio à
esquerda, processo caracterizado pela presença leucócitos ainda imaturos na corrente
circulatória;
o Leucopenia decorre normalmente de neutropenia (ou neutrocitopenia).
Série plaquetária:
o Níveis normais de plaquetas no sangue se encontram entre 200.000 e 400.000
unidades/mm3;
o Plaquetopenia (ou trombocitopenia) é o termo referente à carência de plaquetas.
O diagnóstico de anemia deve ser pautado em certos aspectos. Basicamente, deve-se analisar,
após observação da hemoglobina, a base fisiopatológica desse processo, isto é, se a anemia
é hiperproliferativa ou hipoproliferativa. Além disso deve-se analisar o tamanho eritrocitário, o
qual é observado pela interpretação do volume corpuscular médio (ou VCM);
o Anemia hipoproliferativa ocorre por deficiência nutritiva, disfunção renal (por redução
das taxas de eritropoetina), doença aplásica da medula óssea, supressão medular por
quimioterapia e presença de doença crônica em evolução;
o Anemia hiperproliferativa ocorre por hemólise, alterações morfológicas eritrocitárias
(como anemia falciforme) e processos de coagulação intravascular disseminada;
o Quanto ao tamanho eritrocitário, a anemia pode ser microcítica, normocítica ou
macrocítica. Para isso, analisa-se o volume corpuscular médio (ou VCM) do
hemograma.
Hemograma completo, partindo-se da análise dos reticulócitos. Um índice de reticulócitos
abaixo de 2,5% indica anemia hipoproliferativa, isto é, há carência de elementos essenciais,
como ferro e vitamina B12, ou então o paciente apresenta um defeito a nível medular, como
aplasia. Um índice acima desse percentual, por sua vez, indica anemia hiperproliferativa,
comum em hemólise e hemorragia. Posteriormente, analisa-se a hemoglobina que, quando
ocorre abaixo do referencial, indica sempre anemia;
Dosagem de ferro, siderofilina (ou transferrina) e ferritina:
o Níveis normais de ferro se encontram em torno de 50 mg/kg de peso corpóreo, para
homens, e aproximadamente 35 mg/kg de peso corpóreo, para mulheres que
menstruam;
o Siderofilina (ou transferrina) é uma proteína responsável pelo transporte de ferro do
plasma até células medulares, a fim de que haja síntese de hemoglobina;
o A degradação fisiológica dos eritrócitos promove liberação de ferro, o qual é
incorporado à ferritina, principal forma de depósito de ferro, sobretudo no fígado. Parte
do ferro liberado, todavia, é transportado pela siderofilina (ou transferrina) à medula,
novamente;
o O ferro não é excretado. Logo, a dosagem de transferrina e ferritina, aliada à dosagem
de ferro sérico, é útil na determinação de carências ou excessos desse íon;
o Níveis normais de ferritina se encontram entre 12 e 100 ng/mL. Valores abaixo do
referencial indicam ferropenia, carência de ferro no organismo.
Dosagem de vitamina B12 e folatos séricos:
o Níveis normais:
Vitamina B12: entre 200 e 900 ng/L;
Ácido fólico: entre 2 e 6 ng/mL.
o Carência desses compostos serve como diagnóstico de anemia carencial tipo
macrocítica e megaloblástica.
Dosagem de bilirrubinas:
o Prevalência de bilirrubina indireta sobre a direta é comum na anemia hemolítica.
Exame de urina:
o Presença de urobilinogênio aumentado é comum na anemia hemolítica.
Exame de fezes:
o Parasitoses costumam causar anemia hemorrágica;
o Presença de urobilinogênio aumentado é comum na anemia hemolítica.
Anemias:
Constituem frequentes doenças do sangue caracterizadas pela queda da taxa normal de oxigenação
dos tecidos. Anemias são classificadas por dois critérios: morfológicos e cinéticos (ou
fisiopatológicos) (tabelas 11 e 12). Por critério morfológico, anemias podem ser:
o Macrocíticas: presença de eritrócitos de grande volume, podendo caracterizar anemia
megaloblástica, em decorrência de carência de vitamina B 12 e folatos;
o Normocíticas: eritrócitos de volume normal, podendo caracterizar anemias hemolíticas e
aplásicas medulares;
o Microcíticas: presença de eritrócitos de pequeno volume, podendo caracterizar anemia
ferropriva e síndromes talassêmicas.
Anemia ferropriva é classificada como o estado mais avançado da deficiência de ferro. É causada
principalmente por sangramentos (uterino, gastrintestinal, pulmonar e renal), má absorção e ingesta
deficiente. O portador apresenta astenia, lipotimia, anorexia e alterações tróficas da pele e dos
fâneros, além de glossite atrófica, geofagia e estomatite. Quando o organismo está em balanço
negativo de ferro, o primeiro evento é a depleção de ferro, que é mobilizado para a produção de
hemoglobina. A absorção de ferro pelo intestino é aumentada. Além disso, a ferritina já se encontra
reduzida. E eritropoiese em paciente com deficiência de ferro resulta em células com conteúdo
reduzido de hemoglobina, traduzindo-se em eritrócitos hipocrômicos e microcíticos, dado
evidenciando pela redução do VCM e do CHCM;
o Diagnóstico: VCM < 80 fL, CHCM < 31 g/dL, HCM < 26 pg, Hb < 14 g/dL (homens) ou 12
g/dL (mulheres), hematócrito < 41% (homens) ou 37% (mulheres) e ferritina < 12 ng/mL.
Anemias megaloblásticas correspondem a um grupo de doenças caracterizadas pela presença de
alterações morfológicas distintas dos eritroblastos em desenvolvimento na medula óssea. A causa
mais comum dessa anemia é a carência de vitamina B12 (cianocobalamina) e ácido fólico por má
absorção intestinal. Clinicamente, os pacientes apresentam anorexia, emagrecimento, diarreia ou
obstipação, glossite, queilite, icterícia, hiperpigmentação da pele e sinal de Babinski positivo. Anemia
perniciosa é comum em idades avançadas, sendo caracterizada por ser autoimune, havendo, desse
modo, ataque de anticorpos contra células parietais do estômago, o que gera atrofia da mucosa e
reduz, desse modo, a absorção de vitamina B12. Nessa afecção, verifica-se grande comprometimento
da função neurológica. Anemia megaloblástica por deficiência de ácido fólico ocorre por má
absorção ou dieta deficiente;
o Diagnóstico: reticulocitose, VCM > 100 fL, leucopenia, plaquetopenia, megaloblastose
(células de Tempka-Braun) e redução da cobalamina.
Anemia aplásica (ou AA) é uma síndrome de falência medular. A anemia de Fanconi constitui uma
doença genética rara, autossômica recessiva, havendo predisposição para leucemia mieloide aguda
(ou LMA);
o Diagnóstico: caráter normocítico e normocrômico, neutropenia e plaquetopenia.
Anemias hemolíticas decorrem de destruição acelerada de eritrócitos. Quando a sobrevida das
células vermelhas está reduzida (menor que 80 a 120 dias), a medula óssea aumenta o número de
precursores, a fim de compensar a hemólise acelerada. A anemia só ocorre quando a hiperprodução
medular não consegue igualar ao ritmo de destruição. Nessa tentativa, a medula óssea pode entrar
em falência, quadro clínico denominado de crise aplásica da anemia hemolítica. Observa-se icterícia,
colúria, fezes escurecidas e esplenomegalia;
o Diagnóstico: reticulocitose, VCM > 100 fL, hiperbilirrubinemia indireta, Hb < 14 g/dL
(homens) ou 12 g/dL (mulheres) e leucocitose.
Anemias por alteração da hemoglobina (ou hemoglobinopatias) decorrem de mutações
genéticas em genes das cadeias globínicas (partes proteicas da hemoglobina), havendo,
consequentemente, redução da síntese da hemoglobina (talassemias) e alterações qualitativas nesse
processo de síntese (hemoglobinas variantes). Doença falciforme (ou hemoglobinopatia SS)
acarreta em eritrócitos com formato em foice, havendo pouca adesão à oxigênio – ulcera malar
(trombose). Talassemias acarretam em tradução reduzida de cadeias globínicas, havendo carência
de transportadores de oxigênio;
Anemias hemolíticas adquiridas incluem: reações imunológicas, infecções por plasmódio (malária)
e causas mecânicas (válvulas cardíacas artificiais, microangiopatias e coagulação intravascular
disseminada;
Anemia sideroblástica corresponde a um conjunto de situações em que há anemia de tipos
hipocrômico microcítico, com depósito de ferro no interior dos eritroblastos da medula óssea. Esse
acúmulo de ferro é devido à alteração de síntese do grupamento heme e à síntese deficiente de
hemoglobina;
Conceitos fundamentais no estudo das anemias:
o Anemia implica reduzida taxa de hemoglobina (menor que 14 g/dL em homens ou
menor que 12 g/dL em mulheres), culminando em hipóxia, aumento da função renal na
tentativa de aumentar as taxas de eritropoetina e aumento do débito cardíaco na
tentativa de melhorar a perfusão sanguínea;
o Anemia aguda ocorre por perda súbita de volume sanguíneo. A anemia crônica, por
sua vez, não ocorre por redução de volemia, mas pela carência, insidiosa, de
hemoglobina;
o Etiologicamente, a anemia pode ocorrer por déficit de produção (carência de ferro,
vitamina B12 e ácido fólico), hemorragias agudas, doenças crônicas (insuficiência
renal, com redução de eritropoetina, e insuficiência hepática), doenças da medula
óssea (aplasia e leucemias), alterações genéticas (anemia falciforme, talassemia e
esferocitose, gerando, todas, anemia hemolítica) e por outras causas (malária e
autoimunidade, gerando, todas, anemia hemolítica);
o A hemólise, por diversas causas, pode acarretar em icterícia por aumento da bilirrubina
sérica indireta;
o O VCM referencial está situado entre 80 e 100 fL;
VCM < 80 fL é sugestivo de anemia microcítica;
VCM referencial, com suspeita de anemia, é sugestivo de anemia normocítica;
VCM > 100 fL é sugestivo de anemia macrocítica.
o O HCM referencial está situado entre 26 e 35 pg;
HCM < 26 pg é sugestivo de anemia hipocrômica;
HCM referencial, com suspeita de anemia, é sugestivo de anemia
normocrômica.
o A contagem referencial de reticulócitos situa-se entre 1 e 1,5%;
Reticulócitos < 1% é sugestivo de anemia hipoproliferativa, com déficit de
produção medular de células vermelhas;
Reticulócitos > 1,5% é sugestivo de anemia hiperproliferativa, com desvio à
esquerda, isto é, elevada taxa de liberação de células ainda imaturas. É comum
em anemia hemolítica ou hemorragia extensa.
o Reação leucemoide é a presença de células granulocíticas precursoras na circulação,
havendo, desse modo, intenso desvio à esquerda. Diferentemente da leucemia, as
células em excesso, na reação leucemoide, não são anômalas;
o Reação leucoeritroblástica é a presença de eritroblastose e leucocitose, acarretando
em intenso desvio à esquerda. Geralmente são concomitantes à fibrose medular.
Alterações leucocitárias:
Linfadenopatias:
Doenças hemorrágicas:
SEMIOLOGIA GERIÁTRICA:
A OMS, com base em fatores socioeconômicos, considera idoso todo indivíduo com 65 anos ou mais; porém,
essa classificação pode ser dada a partir dos 60 anos em países subdesenvolvidos, como o Brasil. Em
relação à nação brasileira, espera-se que até 2015 cerca de 15% da população seja idosa, classificando como
o 6º país mais velho em quantidade de idosos. Todos esses dados afirmam a importância da geriatria,
atualmente. No Brasil, os idosos podem classificados em:
A anamnese do idoso, assim como de qualquer paciente, segue todas as informações fundamentais. No
entanto, algumas particularidades devem ser consideradas.
O paciente idoso costuma informar pouco sobre a evolução das doenças, sinais e sintomas atuais;
O paciente idoso costuma ser mais lento, tanto por razões neurológicas, quanto por aspectos
emocionais. Por isso, a pressa normal do médico em realizar o exame clínico pode culminar me
adversidades na relação médico-paciente;
O paciente idoso costuma negar doenças, esconder sintomas e recusar exames complementares,
bem como internações;
O limiar de dor em idosos pode ser reduzido, podendo gerar maior resistência ao IAM, abdome agudo
e fraturas ósseas, por exemplo. Isso pode retardar o diagnóstico de patologias, agravando o quadro
clínico do paciente;
Certas doenças podem se apresentar de modo atípico, inclusive em condições agudas. Isso inclui
infecções, intoxicações medicamentosas e doenças cardiovasculares agudas;
Compreender todas as patologias do idoso é muito importante, visto que normalmente apresentam
doenças crônicas e múltiplas, com diversas consequências, o que torna a atenção ao paciente uma
atitude fundamental;
Pacientes idosos geralmente fazem uso de polifarmácias, isto é, utilizam inúmeros fármacos para as
diversas condições patológicas às quais são expostos. Desse modo, o teste da sacola de
medicamento é muito importante, visando criar um inventário de todos os fármacos em uso, bem
como suas respectivas posologias.
A anamnese do idoso deve ser realizada pesquisando todos os sistemas orgânicos, como previsto para um
adulto jovem. Enfatizam-se, porém, os seguintes aspectos: deficiência de memória imediata, recente e
remota; deficiência auditiva; deficiência visual; transtornos de comportamento; alterações da marcha;
alterações da mobilidade, flexibilidade e força muscular; tontura e vertigem; síncope; quedas; traumatismos;
alteração do nível de consciência; afecções da cavidade oral; distúrbios alimentares; necessidade de dietas
especiais; variação do peso; alterações do sono; fatigabilidade; disfunções sexuais; incontinência urinária;
depressão; ansiedade; e úlceras de pressão (ou escaras).
Para compreender os dados do exame físico, não se pode desconhecer as modificações decorrentes do
envelhecimento.
A pele torna-se flácida, formando pregas nos braços, nas coxas e no abdome. Na nuca pode ficar
mais evidente o quadriculado normal da pele, alteração denominada de cútis romboidal. Em virtude
da redução do número das glândulas sudoríparas e sebáceas, a pele se torna rugosa e seca;
É comum o aparecimento de manchas hipercrômicas, planas e lisas, sobretudo na face o no dorso
das mãos, alteração denominada de melanose senil;
As unhas passam a crescer mais lentamente do que nos jovens e tornam-se, comumente, mais
espessas, curvas e irregulares, alteração denominada de onicogrifose;
Os ossos, as articulações e os músculos sofrem modificações importantes, incluindo a perda de tecido
ósseo, como ocorre na osteoporose, desgaste dos ossos maxilares e da mandíbula e ancilose das
articulações costocondrais, reduzindo a elasticidade e mobilidade da caixa torácica. Além disso, as
curvaturas da coluna vertebral acentuam-se em virtude da diminuição da espessura dos discos
intervertebrais. Isso normalmente culmina em redução da estatura;
As alterações esqueléticas podem acentuar a curvatura dorsal da coluna torácica, produzindo cifose.
De modo concomitante, ocorre aumento do diâmetro anteroposterior do tórax, alteração denominada
de tórax em tonel;
Os pavilhões auriculares aumentam com a idade, ao passo que a acuidade auditiva é reduzida;
Observa-se, com frequência, hiperpigmentação, edema e ptose das pálpebras superiores. Além
disso, o globo ocular pode afundar, havendo afastamento ou eversão das pálpebras inferiores,
alteração denominada de ectrópio;
As veias e artérias sofrem enrijecimento natural, sem a necessidade de processo aterosclerótico em
curso. Além disso, o ictus cordis pode não ser palpáveis e sopros, como os sistólicos, podem ocorrer
devido à calcificação de valvas;
Alterações genitais são bastante importantes, tais como a queda das mamas, tornando flácidas e
pendulares; atrofia do clitóris e dos lábios; redução do comprimento vaginal; ptose do útero; atrofia
dos testículos com concomitante queda do escroto; e aumento do volume prostático;
O sistema nervoso sofre múltiplas alterações, reduzindo os reflexos e aumentado a intensidade de
tremores.
O exame funcional do idoso tem como objetivos melhorar a precisão diagnóstica; determinar o grau e a
extensão da incapacidade, seja ela motora, mental ou cognitiva; servir de guia para a escolha de medidas
que visam restaurar e preservar a saúde; identificar fatores que predispõem à iatrogenia e estabelecer
medidas para sua preservação; e estabelecer critérios para a indicação de internação e institucionalização.
Desse modo, essa análise tem como objetivo principal a identificação das limitações e incapacidades que o
paciente idoso apresenta. No exame funcional, analisa-se os seguintes aspectos:
Força muscular;
Função cognitiva;
Condições emocionais;
Disponibilidade e adequação de suporte familiar e social;
Condições ambientais;
Capacidade para executar as atividades da vida diária;
Capacidade para executar as atividades instrumentais da vida diária.
A força muscular do idoso é avaliada em cinco graus: ausência completa de movimento (0), esboço da
contração muscular (1), movimento completo que não vence a gravidade (2), movimento completo que vence
a gravidade (3), movimento que vence certa resistência aplicada sobre os membros (4) e movimento com
força normal (5).
O equilíbrio e a mobilidade do idoso são avaliados pelo teste denominado get up and go test, no qual
observa-se possível instabilidade postural, marcha alterada e tempo de execução da manobra. O teste que
ultrapassa 30 segundos sugere incapacidade moderada e alto risco de quedas. Além disso, a prova de
Romberg consiste na avaliação do equilíbrio e mobilidade do paciente.
A função cognitiva do idoso é avaliada através de testes, como o miniexame do estado mental de Folstein.
Resultados normais pontuam mais que 26 pontos. De 24 a 26, o resultado é limítrofe. Pacientes com escores
inferiores a 24 demonstram comprometimento cognitivo, isto é, demência. Além desse teste, o questionário
resumido do estado mental de Pfeiffer pode indicar resultados em quatro níveis: estado mental intacto,
dano intelectual leve, dano intelectual moderado e dando intelectual grave.
As condições emocionais do idoso podem ser avaliadas com base na escala de depressão geriátrica de
Yessavage, qualificando o paciente em três categorias: normal, depressão ou depressão grave.
A disponibilidade e adequação de suporte familiar e social, bem como as condições ambientais correspondem
aos possíveis maus-tratos, situações que sugerem maus-tratos e fatores de risco para maus-tratos em idosos.
A capacidade para executar as atividades da vida diária pode ser avaliada pela escala de Barthel que,
quando resulta em pontuações inferiores a 70, pode indicar necessidade de supervisão constante do idoso,
uma vez que se encontra incapacitado de realizar atividades básicas. De forma complementar, a capacidade
para executar as atividades instrumentais da vida diária pode ser avaliada pela escala de Lawton que,
quando resulta em pontuações inferiores a 8, pode indicar total incapacidade para a realização de atividades
diversas da vida diária.
Os “cinco Is” compreendem as principais afecções que afetam a população idosa. Tais doenças envolvem a
insuficiência cerebral, a incontinência urinária e fecal, a instabilidade postural e quedas, a imobilidade
e a iatrogenia.
A insuficiência cerebral é composta pelos “três Ds”, que incluem o delírio, a demência e a
depressão.
O exame clínico das pacientes com afecções dos órgãos genitais é de fundamental importância. Além da
anamnese e do exame físico geral que seguem a mesma sistematização usada para o exame de qualquer
aparelho, o exame ginecológico tem características especiais. Na anamnese, deve-se relatar a menarca, a
duração do fluxo e o intervalo entre as menstruações. Desse modo, pode-se caracterizar o tipo menstrual,
regular ou irregular. Além disso, deve-se investigar o número de gestações, relatando a quantidade de partos,
os tipos, as idades, as complicações e, não menos importante, os abortamentos. O uso de anticoncepcionais
deve ser abordado na anamnese. Por fim, é importante também considerar as doenças infectocontagiosas,
DM, doenças ginecológicas e terapias diversas.
Climatério é a fase de transição entre a menacme (ou período reprodutivo) e a senectude (ou período não
reprodutivo). A menopausa corresponde à data do último fluxo menstrual, caracterizando, no mínimo, um
ano sem qualquer sangramento que caracterize menstruação, acompanhado de ausência de ovulação e
falência ovariana completa.
Sinais e sintomas:
E exame físico ginecológico consiste em três fases sequenciais: exame das mamas, exame do
abdome e exame da genitália. No momento, vamos atentar somente ao exame da genitália;
A paciente deve ser colocada em posição ginecológica (ou de talha litotômica), visando tornar a
visualização da genitália ampliada;
À inspeção, em repouso, examinam-se a vulva, o períneo e o ânus. Na vulva, observa-se a
pilificação, aspecto da fenda vulvar, umidade, secreções, hiperemia, ulcerações, distrofias,
neoplasias, dermopatias, distopias e malformações. No períneo, observa-se a integridade, cicatrizes
e rupturas. No ânus, observa-se fissuras, plicomas, hemorroidas, prolapso e malformações. Por fim,
deve-se solicitar à paciente que realize força com o intuito de aumentar a pressão local. Essa manobra
evidencia a presença de distopia, isto é, localização anômala de órgãos;
Após inspeção, o exame prossegue com o exame especular, conhecido popularmente como exame
de Papanicolau, que visa coletar o material para exame citológico, bacteriológico, cristalização e
filância do muco cervical. Após a coleta, deve-se caracterizar as secreções observadas, a coloração,
a epitelização e a superfície do colo, bem como a forma do orifício externo, lacerações, ulcerações,
tumorações, pólipos e aspecto das paredes vaginais;
O exame de toque vaginal é baseado no toque unidigital, bidigital ou combinado, analisando o colo
uterino e os fundos de saco vaginais. No colo uterino, verifica-se a orientação, forma, volume,
superfície, consistência, comprimento, sensibilidade, mobilidade e orifício externo. Nos fundos de
saco, verifica-se a distensibilidade, profundidade, sensibilidade e se estão livres ou não.
Exames complementares:
Imagem 50. Representação de colposcopias evidenciando algumas situações. Verifica-se, quatro variações,
do normal ao câncer do colo uterino. As situações intermediárias compreendem lesões pré-cancerosas,
NIC I, NIC II e NIC III
De modo concomitante ao exame clínico ginecológico das genitálias, o exame das mamas tem fundamental
importância. Na anamnese, deve-se relatar a telarca, sendo normal na entre 11 e 12 anos de idade; porém é
comum o início do desenvolvimento das mamas a partir dos 8 anos. A informação de paridade e lactação tem
grande importância quando se relaciona o desenvolvimento de câncer, uma vez que nuligestas, primíparas
“idosas” e grandes multíparas apresentam alto risco de apresentarem tal afecção em dado momento da vida.
A lactação deve ser informada, relatando possíveis mastites puerperais e, ainda, síndrome de galactorreia. O
uso de polifarmácias deve ser informado, visto que inúmeros fármacos podem estar presentes no leite
materno.
Sinais e sintomas:
Nódulo mamário é uma queixa frequente, sendo necessário investigar os seguintes aspectos:
localização, taxa de crescimento, alteração morfológica do nódulo em função do ciclo menstrual,
consistência, mobilidade e sensibilidade;
Dor (ou mastalgia) pode apresentar periodicidade e relação com movimentos;
Secreção papilar é um dado semiológico que deve ser relacionado nos seguintes aspectos:
espontaneidade da secreção, lateralidade, relação com o ciclo menstrual, antecedentes de
amenorreia, antecedentes de traumas e uso de certos fármacos.
E exame físico ginecológico consiste em três fases sequenciais: exame das mamas, exame do
abdome e exame da genitália. No momento, vamos atentar somente ao exame das mamas;
À inspeção, verifica-se, estando a paciente sentada e com os membros superiores dispostos ao
longo do tronco, a integridade da pele, o volume das mamas, a simetria, a pigmentação das aréolas,
as papilas, a circulação venosa, sinais flogísticos e a possível presença de abaulamentos ou
retrações. A seguir, pede-se à paciente que eleve os braços acima da cabeça ou então que pressione
as mãos contra os ossos ilíacos. Essas manobras contribuem para o aparecimento de abaulamentos
ou retrações, comum em carcinomas;
o Aspectos relacionados a malignidades incluem abaulamentos, retrações, desvios,
ulcerações, eritemas e poros anormalmente dilatados, sinal clínico denominado de casca de
laranja.
A palpação das mamas é realizada com a paciente em decúbito dorsal, colocando os membros
superiores na região occipital da cabeça. A palpação é realizada com delicadeza e firmeza, seguindo
pelos quadrantes mamários. Essa técnica tem como objetivo avaliar o volume do panículo adiposo, a
quantidade de parênquima mamário existente, a elasticidade das papilas, a presença de secreções
papilares e a temperatura da pele das mamas.
o No período pré-menstrual, as mamas podem aumentar de tamanho e tornarem-se
hipersensíveis à palpação. Há aumento também da nodularidade, que pode despertar a
atenção da paciente quando faz autoexame;
o As condensações são áreas de consistência mais firme em relação ao parênquima mamário
circunjacente. Os nódulos, por sua vez, são massas palpáveis e melhor definidas;
o Técnica de palpação de Bloodgood: corresponde à palpação mamária utilizando as
polpas digitais, semelhante com o ato de tocar piano;
o Técnica de palpação de Velpeau: corresponde à palpação mamária utilizando a mão
espalmada;
o Expressão papilar: corresponde à palpação delicada, que costuma ser dolorosa, no
nível da aréola e da papila. Qualquer secreção deve ser submetida a exame citológico,
sobretudo para diagnóstico diferencial de neoplasias.
A assistência à saúde da mulher gestante representa uma das tarefas mais importantes da medicina social,
exatamente porque a mulher deve engravidar com menores riscos e dar à luz crianças sadias e sem sequelas,
que representarão os futuros cidadãos de um país. A assistência pré-natal, desse modo, é a medicina
preventiva da obstetrícia e engloba um conjunto de condutas assistenciais à gestante antes do parto com o
objetivo de diminuir a mortalidade e a morbidade perinatal e materna.
É importante que o diagnóstico de gravidez seja feito com segurança devido às suas repercussões sociais,
legais e médicas. A negligência em não pensar em gravidez pode ser extremamente prejudicial para a
gestante e para o feto. Desse modo, a probabilidade de gestação deve estar sempre em pauta nos
atendimentos de uma mulher. Alguns sinais e sintomas de presunção podem sugerir gravidez, são eles:
náuseas, vômitos, sialorreia, “desejos”, pirose, obstipação, palpitações, taquicardia, edema, lipotimia,
dispneia, obstrução nasal, polaciúria, nictúria, dor suprapúbica, lombalgia, deambulação insegura,
ejeção de leite no puerpério e redução do hematócrito. Ainda em relação aos sinais e sintomas
gravídicos, o sinal de Noblé indica o preenchimento dos fundos de saco; o sinal de Hegar indica a
redução da consistência do istmo; o sinal de Goodel indica amolecimento do colo uterino, adquirindo
consistência labial; e o sinal de Kluge indica a alteração da coloração da parede vaginal, passando a
ser violácea. A gestante também passa a apresentar outras alterações, como os tubérculos de
Montgomery nas aréolas; o sinal de Hunter, correspondendo a uma segunda aréola; a linha nigra,
hiperpigmentação da linha alba; o cloasma gravídico, hiperpigmentação da região da face; e o sinal
de Halban, correspondendo ao aumento de pelos macios e delgados na face. Laboratorialmente, por
outro lado, pode-se solicitar dosagens de HCG urinário ou sanguíneo.
À inspeção, atentar para as alterações da pele, sobretudo a presença de melasma, estrias, linha
nigra, edema e aumento exagerado do volume abdominal;
À palpação, realizam-se as manobras de Leopold, visando identificar a estática fetal através das
relações entre o feto e a gestante. Tais manobras consistem em quatro momentos, conforme
demonstra a imagem 51;
Situação é a relação do maior eixo fetal com o maior eixo do organismo materno, isto é, é a
comparação do posicionamento fetal em relação ao sentido craniocaudal da gestante. Apresentação
é a parte do feto que se situa no estreito superior, podendo ser cefálica, pélvica ou córmica. Atitude,
por sua vez, é a relação entre as partes fetais, podendo haver flexão ou extensão. À descrição do
exame físico da gestante, deve-se informar a quantidade de fetos presentes, a situação, o
posicionamento do dorso fetal, a apresentação e, por fim, o encaixe na pelve materna;
A medida da altura uterina (ou AU) consiste na medida da distância entre a borda superior da sínfise
púbica e o ponto em que a fita métrica passa entre os dedos médio e indicador da mão esquerda, a
qual delimita o fundo uterino;
A ausculta fetal é dependente da idade gestacional. Antes da 12ª semana, é realizada somente por
ultrassonografia, enquanto que após essa data pode ser feita através de sonar-Doppler.
Imagem 51. 1º: identificação do polo no fundo uterino. 2º: palpação do dorso e das pequenas partes fetais.
3º: avaliação da mobilidade da apresentação. 4º: confirmação da apresentação fetal
Artrite é um termo relacionado à inflamação articular, tendo como base anatomopatológica a sinovite. Traduz-
se clinicamente por aumento de volume (ou edema), acompanhado de elevação da temperatura local, de dor
e de ruborização, caracterizando os sinais flogísticos. Essa afecção pode ter origem traumática, imunológica,
infecciosa, metabólica e neoplásica. Artralgia, por sua vez, tem significado semiológico apenas de dor
articular.
Dor (ou artralgia) pode se manifestar de modo agudo, na gota, bursite, artrite séptica etc; ou crônica,
na artrite reumatoide etc. A dor pode vir acompanhada de outros sintomas, sobretudo a parestesia;
Rigidez pós-repouso (ou matinal) é comum em doenças inflamatórias, resultando do acúmulo de
metabólitos da reação inflamatória. Costuma ser duradoura na artrite reumatoide e fugaz, na artrose;
Crepitação articular é um sinal característico do comprometimento da cartilagem articular e está
presente em todos os processos de degeneração daquele elemento, como ocorre nas artroses;
As manifestações sistêmicas das artropatias incluem febre, astenia, anorexia e perda de peso;
Em relação à idade, indivíduos jovens apresentam doenças difusas do tecido conjuntivo. Mulheres
adultas comumente sofrem de artrite reumatoide, bem como fibromialgia; já as artropatias
soronegativas são mais frequentes em homens jovens, exceto a artrite psoriática. A osteoartrite é
comum em indivíduos a partir dos 40 anos. A gota é quase que exclusivamente de homens acima
dos 40 anos. Febre reumática é comum em crianças. Por fim, osteoporose é comum de mulheres
idosas;
Número de articulações envolvidas na patologia:
o Monoarticular: gota, infecção e certas osteoartrites;
o Oligoarticular: artropatias soronegativas, osteoartrite e febre reumática;
o Poliarticular: doenças difusas do tecido conjuntivo, osteoartrites e certas artropatias
soronegativas.
Em relação à simetria, observa-se que a afecção simétrica é comum na artrite reumatoide e doenças
difusas do tecido conjuntivo, enquanto que a assimetria pode ocorrer nas artropatias soronegativas e
microcristalinas;
Em relação à duração, os quadros clínicos podem ser agudos, relacionados a traumas, artrites
microcristalinas, artrites infecciosas e reumatismo de partes moles; ou crônicos, relacionados a
inflamações crônicas, isto é, artrite reumatoide, artrites soronegativas e doenças difusas de tecido
conjuntivo;
Em relação aos sinais flogísticos, destacam-se o edema, eritema, calor e derrame articular. Em
relação ao derrame, destaca-se aquele ocorrido no joelho, sendo evidenciado pelo sinal da tecla.
O exame físico das articulações é realizado com base na inspeção, palpação e associação com
diversas manobras específicas. À inspeção, analisa-se aumento de volume, ruborização, atrofia,
desalinhamento articular, deformidades, fístulas e nódulos. Além disso, em posição ortostática, é
possível analisar genu varum, genu valgum, pé plano, pé cavo, cifose, escoliose ou cifoescoliose. À
palpação, por sua vez, é possível analisar a causa do edema, bem como a presença de pontos
hipersensíveis, tumorações e calor local. Dois aspectos são importantes em relação à palpação:
calor, que indica processo inflamatório em curso; e crepitação, que indica comprometimento das
cartilagens, com degeneração articular;
O exame das articulações se fundamenta na análise do formato, volume, posição das estruturas,
alterações das massas musculares, presença de sinais flogísticos, modificações das estruturas
circunjacentes, crepitação, estalidos e movimentação.
As principais enfermidades reumáticas (tabela 13) são a doença reumática (ou febre reumática),
doença reumatoide (ou artrite reumatoide), artrose (ou osteoartrite), gota, reumatismos extra-
articulares, lúpus (ou LES) e colagenoses (ou DDTC);
Febre reumática:
o A febre reumática é uma complicação tardia de infecção por estreptococos, sobretudo
em indivíduos hipersensíveis aos estreptococos β-hemolíticos do grupo A de Lancefield.
Desse modo, as lesões são mediadas por imunocomplexos relacionados ao microrganismo;
o As manifestações clínicas costumam aparecer entre 15 e 20 dias após amigdalite ou
escarlatina, acometendo, mais comumente, os jovens;
o A febre reumática manifesta-se com quadro de poliartrite migratória, podendo comprometer
o miocárdio. Semiologicamente, pode-se evidenciar o sopro de Carey Coombs, decorrente
de estenose mitral por lesão reumática. Eventualmente, há expressão de síndrome
coreica;
o Patologicamente, verifica-se processo inflamatório por exsudato e proliferação
leucocitária. No coração, ocorrem nódulos de Aschoff, vegetações valvares e trombos
aderidos às lesões. Com isso, é comum a fibrose valvar, culminando em insuficiência
e/ou estenose, sendo evidenciadas, semiologicamente, por sopros;
o Nas articulações, há caráter migratório, afetando essas estruturas com o decorrer do tempo.
Não há deformidades após a afecção, isto é, a febre reumática não deixa sequelas;
o Lesões cutâneas podem ocorrer, como os nódulos de Meynet, que se situam no nível do
olécrano, além de eritema;
o O diagnóstico de febre reumática é derivado dos critérios de Jones. A ocorrência de dois
sinais maiores ou um sinal maior, acompanhado de dois menores, é sugestiva de
doença reumática. Os critérios maiores incluem cardite, poliartrite, coreia, eritema
marginatum e nódulos subcutâneos. Os critérios menores, por sua vez, incluem
artralgia, febre, elevação do VHS, elevação da proteína C reativa e prolongamento do
intervalo PR do ECG;
o Laboratorialmente, destacam-se o VHS e a PCR. Além disso, pode-se realizar cultura para
Streptococcus através de material coletado de orofaringe. Por fim, pode-se determinar
os anticorpos antiestreptocócicos.
Artrite reumatoide:
o A artrite reumatoide (ou AR) é uma doença inflamatória crônica que acomete, com maior
predominância, mulheres jovens. Localiza-se nas articulações, que passam a sofrer de
processos inflamatórios, comprometendo até pulmões, coração e nervos periféricos;
o A patogenia mais provável para a afecção é a autoimunidade pelo encontro de
imunocomplexos em leucócitos do líquido sinovial. Com isso, nodulações e lesões
musculares, nervosas e tendinosas são observadas;
o Clinicamente, a doença se manifesta por poliartrite evolutiva, de caráter crônico, não
migratória, havendo deformações e sequelas em articulações. Verifica-se anquilose e
fusão das extremidades epifisárias, desaparecendo a articulação. Todo esse processo
costuma ser bilateral e simétrico, além de ocorrer rigidez matinal superior a 60 minutos,
atrofia muscular, nódulos subcutâneos, febre e perda de peso. É importante destacar
que as articulações geralmente mais afetadas são as falango-falangeanas proximais,
matacarpofalangeanas, metatarsofalangeanas, punho, joelho, cotovelo e tornozelo. No
joelho, é comum o aparecimento dos cistos de Baker;
o Laboratorialmente, verifica-se anemia normocrômica ou hipocrômica, VHS aumentado e
PCR positiva. Na maioria dos pacientes, o fator reumatoide é positivo. À radiografia de mãos
e pés, verifica-se aumento das partes moles justa-articulares, bem como erosões ósseas;
o O diagnóstico de artrite reumatoide deriva da presença de, no mínimo, 4 dos seguintes
achados: rigidez matinal de duração superior a uma hora; artrite em três ou mais
articulações; artrite em articulações matacarpofalangeanas ou interfalangeanas
proximais; artrite simétrica (ou bilateral); nódulos reumatoides subcutâneos;
alterações radiológicas; e presença de fator reumatoide.
Artrose (ou osteoartrite):
o A artrose é uma doença articular do tipo degenerativa, acometendo indivíduos de ambos os
sexos e de idade madura ou, então, avançada; porém, há relatos de início precoce;
o A osteoartrite afeta cartilagens articulares, não havendo fenômenos inflamatórios
sistêmicos, nem comprometimento do estado geral. Desse modo, vários são os agentes
relacionados à patogenia, tais como a obesidade, clima, dieta, traços genéticos e
alterações da mecânica articular;
o As articulações afetadas costumam ser as que suportam mais peso, como as dos joelhos,
seguindo-se pelas interfalangeanas distais, caracterizando os nódulos de Heberden,
interfalangeanas proximais, caracterizando os nódulos de Bouchard,
metatarsofalangeana do primeiro dedo dos pés e primeiras articulações
carpometacarpianas. Quanto aos joelhos, evidencia-se o joelho em varo ou valgo, com
edema;
o Clinicamente, a doença se manifesta por dor que piora aos movimentos, rigidez matinal
e crepitação, o achado mais comum de artrose;
o O diagnóstico é baseado em dados clínicos, subsidiados por imagens radiológicas,
evidenciando redução do espaço articular, proliferação óssea marginal e esclerose do
osso subcondral. Exames laboratoriais se mostram normais.
Gota:
o A gota é um transtorno metabólico caracterizado por hiperuricemia e crises recidivas de
artrite aguda, sendo mais comum em homens. Com o passar do tempo, no entanto,
desenvolve-se caráter crônica com o desenvolvimento de tofos, locais de acúmulo de
monourato de sódio. Nos rins, essa substância pode acarretar em insuficiência desses
órgãos;
o A gota pode ser primária, quando o indivíduo é hiperprodutor ou hipoexcretor de ácido
úrico; ou secundária, decorrendo de insuficiência renal e uso de fármacos, como
diuréticos;
o Clinicamente, a doença se manifesta por episódios de artrite aguda, sobretudo na
articulação metatarsofalangeana do primeiro dedo, caracterizando a podagra. Pode,
também, ocorrer nos joelhos ou punhos;
o Após a primeira crise, passam a surgir crises poliarticulares, sem períodos assintomáticos;
o O diagnóstico é baseado em dados clínicos e a radiografia pode mostrar lesões de
reabsorção osteocartilaginosa.
Reumatismos extra-articulares incluem a fibromialgia, as tendinites, as tenossinovites, as
bursites, as capsulites, as periartrites, as miosites, as fibrosites e as paniculites;
o A fibromialgia é uma síndrome caracterizada por dor musculoesquelética generalizada
associada a rigidez matinal, distúrbio do sono e fadiga, sendo mais frequente em
mulheres de meia-idade.
Lúpus (ou LES):
o O LES é uma afecção autoimune complexa e difusa do tecido conjuntivo, de natureza
inflamatória e que acomete, mais comumente, as mulheres jovens;
o Trata-se primariamente de uma perturbação imunológica, havendo predisposição genética
evidenciada pela ocorrência de fatores antinucleares lúpicos. Além disso, incidências de
radiações ultravioleta e uso de certos fármacos atuam na gênese da doença. Os
mecanismos autoimunes da doença são evidenciados pela presença de imunocomplexos
solúveis e citotóxicos na membrana basal glomerular, em casos de nefrite lúpica. Os
antígenos associados descritos compreendem o HLA-DR2 e o HLA-DR3. A prevalência se
dá no sexo feminino visto a estreita relação com níveis hormonais de estrogênio. Além disso,
infecções por vírus Epstein Barr, parvovírus e retrovírus apresentam possíveis relações
com lúpus;
o Observa-se a presença de corpúsculos hematoxilínicos, lesões em bulbo de cebola, lesões
não verrugosas no endocárdio, febre, emagrecimento, manifestações dermatológicas
variadas, como a lesão em asa de borboleta, e vasculites;
o Laboratorialmente, certos anticorpos apresentam valor diagnóstico, tais como anti-Sm, anti-
DNA de dupla hélice e anti-P. Também, podem ser avaliados os níveis de C3, C4 e CG50.
Para fins de acompanhamento de paciente já diagnosticado com lúpus, pode-se solicitar,
com frequência, provas da função renal e avaliação sistêmica de órgãos;
o O diagnóstico de lúpus deriva da presença de, no mínimo, 4 dos seguintes achados: rash
malar, caracterizando a lesão em asa de borboleta; rash discoide; fotossensibilidade;
ulcerações orais; artrite não erosiva; serosite, sobretudo pleurite e pericardite; proteinúria
elevada, acompanhada de cilindros hemáticos; alterações hematológicas, como anemia
hemolítica; alterações neurológicas, como crises convulsivas e psicose; presença de
anticorpos antinucleares (ou FAN); e exames imunológicos diversos positivos.
Esclerose sistêmica:
o A esclerose sistêmica é multifatorial, tendo fatores genéticos, infecciosos, ambientais e
microquimerismos fetais como causas relacionadas. Essa doença pode ser difusa, com
espessamento cutâneo extenso; ou limitada, sendo as áreas distais de membros afetadas,
somente;
o O quadro clínico é caracterizado por fenômeno de Raynaud, espessamento da pele,
telangiectasias, calcinose, ulcerações de pele, artralgia, rigidez matinal, doença
intersticial pulmonar, hipertensão pulmonar e crise renal esclerodérmica por HAS;
o O diagnóstico é baseado na presença de um critério maior ou dois menos. Os critérios
maiores incluem o espessamento da pele proximal às articulações
matacarpofalangeanas. Já os critérios menores incluem esclerodactilia, cicatrizes em
polpas digitais e fibrose pulmonar.
Polimiosite e dermatomiosite:
o A polimiosite e a dermatomiosite englobam doenças inflamatórias da musculatura
estriada. Enquanto que na polimiosite o infiltrado é endomisial, na dermatomiosite esse
infiltrado é perivascular. Clinicamente, há dificuldade na realização das tarefas diárias em
consequência da acentuada perda da força muscular. Por conta disso, realiza-se exame
físico de graduação dessa capacidade;
Grau 0: nenhum movimento do músculo;
Grau 1: movimento completo quando se elimina a ação gravitacional;
Grau 2: esboço de contração muscular;
Grau 3: movimento capaz de vencer a ação gravitacional;
Grau 4: movimento vence certa resistência;
Grau 5: movimento normal.
o Os critérios de diagnóstico para poli e dermatomiosite se baseia nos achados de Bohan e
Peter. O diagnóstico definitivo de polimiosite depende dos seguintes quatro achados:
fraqueza muscular proximal, elevação de enzimas musculares (como CPK), alterações
miopáticas à eletroneuromiografia e biópsia com achados inflamatórios e necróticos.
O diagnóstico de dermatomiosite, por sua vez, incluem o seguinte achado obrigatório:
lesões de pele com Heliótropo, sinal de Gottron e eritema das superfícies extensoras
de cotovelos ou joelhos. Além disso, devem estar presentes três características das
quatro evidenciadas na polimiosite.
Síndrome de Sjögren:
o Essa síndrome é caracterizada por xeroftalmia, xerostomia, parotidite, dispareunia,
artralgia, artrite e fenômeno de Raynaud, fadiga e febre.
Colagenoses (ou DDTC) correspondem à modificação estrutural primária da substância fundamental
do tecido conjuntivo, como a degeneração por necrose fibrinoide. De modo concomitante, ocorre
infiltração leucocitária. As colagenoses incluem a febre reumática, artrite reumatoide, lúpus (ou
LES), esclerose sistêmica, angiites, polimiosite, dermatomiosite e síndrome de Sjögren.
Dor na coluna vertebral pode estar localizada em um segmento específico, cervical, torácica, lombar
ou sacral; ou ocorrer em toda a extensão. No exame clínico, deve ser caracterizada quanto à
intensidade, duração, localização, irradiação, fatores agravantes, precipitantes e atenuantes, bem
como se a dor é referida. Quanto à intensidade, a dor costuma ser branda em processos
degenerativos, como osteoartrite; e muito intensa em enfermidade compressiva, como hérnia
discal e neoplasias. Quando à localização, o acometimento da região cervical é comum em artrite
reumatoide, enquanto que na espondilite anquilosante há predomínio da dor dorsolombar e
sacroilíaca. A irradiação da dor para os membros, por sua vez, pode ser indício de comprometimento
radicular por degeneração ou compressão. Por fim, temos que a dor referida na coluna pode ocorrer
em pancreatite aguda, úlcera duodenal, nefropatia e afecção ginecológica;
Rigidez pós-repouso (ou matinal) é comum nas diversas afecções da coluna. De origem
inflamatória, costuma ser persistente, durando mais de uma hora após acordar. De origem
degenerativa, no entanto, é mais fugaz, passageira.
Bursite corresponde à inflamação dos tecidos localizados entre duas estruturas que deslizam entre
si. Nessa inflamação, é comum a deposição de cálcio. As bursites mais comuns são as subdeltoides,
subacromiais, olecranianas, trocanterianas, anserinas, da tuberosidade isquiática, do
ileopsoas, do gastrocnêmio, do semimembranoso, do tendão do calcâneo, pré-patelares e da
primeira metatarsofalangeana;
Tendinites são inflamações causadas, mais comumente, por trauma direto ou por pressão anormal
local. Incluem tendinites do ombro, do cotovelo, do punho, da mão e o dedo em gatilho.
A infância pode ser diferentemente analisada tomando como base as várias etapas do desenvolvimento:
recém-nascido, até 28 dias de vida; lactente, entre 29 dias e 2 anos de idade; pré-escolar, entre 2 e 7 anos
de idade; escolar, entre 7 e 10 anos de idade; e adolescência, até os 20 anos. O objetivo da consulta
pediátrica é o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento de um ser, que precisa ser assistido
integralmente e de modo particular, uma vez que o ambiente emocional, físico e social vai interferir na
constituição orgânica e psíquica deste, com repercussões para toda sua vida. Desse modo, além da boa
relação médico-paciente, espera-se do médico uma correta relação médico-família.
Os tipos de consulta médica pediátrica se fundamentam em puericultura e atendimento por queixa específica.
A puericultura é relacionada à pediatria preventiva, tendo como objetivos os seguintes itens: avaliação do
estado nutricional, avaliação da história alimentar, avaliação da curva de crescimento, estado vacinal,
avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor, avaliação do desempenho escolar, avaliação do padrão de
atividades físicas diárias, exame da capacidade visual, avaliação das condições do meio ambiente, avaliação
dos cuidados domiciliares, avaliação do desenvolvimento da sexualidade, avaliação quantitativa e qualitativa
do sono, avaliação da função auditiva e avaliação da saúde bucal.
Ainda em relação ao neonato, a escala de Apgar consiste na avaliação de cinco sinais objetivos no primeiro
e no quinto minuto após o nascimento, atribuindo-se a cada um dos sinais uma pontuação de 0 a 2. Os sinais
avaliados incluem a frequência cardíaca, respiração, tônus muscular, irritabilidade reflexa e cor da pele. Apgar
de 8 a 10 indica recém-nascido sem asfixia, de 5 a 7 indica asfixia leve, 3 ou 4 indica asfixia moderada e 2 ou
menos indica asfixia grave.
Frequência cardíaca: ausente, menor que 100 bpm ou mais que 100 bpm;
Respiração: ausente, irregular (ou bradipneica) ou forte (ou com choro);
Tônus muscular: flácido, flexão de pernas e braços ou movimento ativo;
Cor: cianose central (ou palidez), cianose de extremidades ou rosado;
Irritabilidade reflexa ao catéter nasal: ausente, algum movimento (ou careta) ou espirros (ou choro
intenso).
Certos reflexos são visíveis, normalmente, ao exame físico do recém-nascido. Tais reflexos são denominados
de primitivos, e incluem:
Reflexo de Moro (ou do abraço): perante um barulho ou movimento súbito, o bebê estica as pernas
e os braços, fletindo-os rapidamente;
Reflexo da preensão palmar e plantar: consiste na força intensa realizada para agarrar objetos, ou
mesmo o dedo do examinador. Esse reflexo ocorre nas mãos e pés;
Reflexo cutâneo plantar (ou de Babinski): ao estimular a planta do pé, há dorsiflexão, isto é, os
dedos dos pés se elevam;
Reflexo da sucção: ao colocar um objeto, o próprio dedo ou a mama materna nos lábios do bebê,
há sucção imediata;
Reflexo da marcha: sustentado pelas axilas e com os pés apoiados, o bebê estende as pernas e
exibe pequenos e lentos passos;
Reflexo tônico-cervical assimétrico (ou de Magnus e Kleijn): consiste em rotação da cabeça
enquanto o examinador estabiliza o tronco do bebê. Observa-se extensão do membro superior
ipsilateral à rotação e flexão do contralateral;
Reflexo de Galant: consiste no encurvamento do tronco ipsilateral a um estímulo tátil na lateral do
tronco;
Reflexo de colocação (ou de Placing): consiste na elevação dos pés, como se o bebê estivesse
subindo um degrau de escada. Decorre de estímulo tátil no dorso do pé, estando o bebê suspenso
pelas axilas.
A anamnese do lactente deve ser fundamentada nos seguintes aspectos: grau de desenvolvimento físico,
primeiras infecções da criança, primeiros distúrbios patológicos adquiridos, estado do desenvolvimento
neuropsicomotor (ou DNPM) e hábitos do dia-a-dia da criança. A anamnese do pré-escolar e escolar, por
sua vez, deve ser fundamentada nos seguintes aspectos: desenvolvimento da linguagem, atividade motora,
aquisição de habilidades, capacidade de aprendizagem, alimentação, recusa de alimentos, cuidados
dentários, ansiedade, negativismo, socialização no ambiente escolar e rivalidade.
A adolescência é classicamente definida como a transição entre infância e vida adulta. Enquanto que
puberdade é um termo que se referente exclusivamente às transformações biológicas dessa fase, a
adolescência é caracterizada por transformações fisiológicas e psicossociais. O início dessa fase coincide
com a puberdade, mas seu fim é difícil de ser delimitado, não havendo um marco específico para o início da
vida adulta. Biologicamente, há maturação sexual e estirão.
Nos meninos, o primeiro sinal de maturação sexual é o aumento dos testículos, que ocorre ao final
dos 10 anos de idade, seguido pelo aparecimento dos pelos pubianos, que surgem ao final dos 11.
Pelos axilares e faciais surgem na faixa dos 12 e 14 anos. Nas meninas, a maturação sexual é
marcada pelo aparecimento dos brotos mamários, sendo comum entre 8 e 13 anos de idade, seguido
da menarca, que pode ocorrer entre os 9 e 16 anos, sendo mais comum aos 12;
O estirão é uma característica importante da adolescência, tendo início com a puberdade, para as
meninas, e mais tardiamente, para os meninos;
Psicologicamente, o adolescente apresenta grandes contradições. Ao mesmo tempo que indica
grande maturidade por determinadas atitudes, ainda há infantilidade em relação a outros aspectos.
O refúgio em seu mundo interior, a busca de um grupo de semelhantes, a intelectualização e o
ascetismo são algumas características comuns na busca da superação de suas ansiedades.
A anamnese do adolescente é complexa e exige relação exclusiva médico-paciente, uma vez que situações
de constrangimento podem surgir caso os familiares estejam presentes. Deve-se questionar antecedentes
familiares, bem como os pessoais fisiológicos e patológicos, imunizações, qualidade da alimentação, prática
de atividade física, uso de drogas diversas, vida escolar, relação com os pais, educação sexual e trabalho.
Ao exame físico, cabeça e abdome são analisados do mesmo modo como se faz em adultos. Certas
particularidades, no entanto, ocorrem em relação ao pescoço, que sempre é recomendado o exame de
palpação de tireoide; tórax, observando o desenvolvimento das mamas; e genitais, determinando a maturação
sexual, sendo necessários questionamentos acerca da atividade sexual, vulvovaginites, amenorreia,
hirsutismo, galactorreia, dismenorreia, ausência de menarca até os 16 anos de idade e dor abdominal ou
pélvica. Além disso, deve-se analisar o sistema nervoso com base em comportamento, atenção, humor e
capacidade de verbalização.
SEMIOLOGIA DERMATOLÓGICA:
As condições fundamentais para o exame da pele incluem a iluminação adequada, desnudamento das partes
a serem examinadas e conhecimento prévio dos procedimentos semiotécnicos específicos. Os elementos
investigados consistem em coloração, continuidade e integridade, umidade, textura, espessura, temperatura,
elasticidade e mobilidade, turgor, sensibilidade e lesões elementares.
Palidez, caracterizada por atenuação ou desaparecimento da cor rósea da pele. Ela pode ser dividida
em dois tipos fundamentais:
o Palidez generalizada, ocorrendo em toda a pele e revelando redução dos eritrócitos
circulantes na microcirculação. Isso pode ocorrer por vasoconstrição generalizada em
consequência de grandes emoções, sustos, crises dolorosas excruciantes, náusea intensa,
crise de feocromocitoma e estados de pré-síncope; ou por redução real dos eritrócitos em
consequência de anemia;
o Palidez localizada, ocorrendo normalmente por isquemia de determinada área do corpo.
Eritrose (ou vermelhidão), caracterizada por exagero na coloração rósea da pele e indica aumento
da quantidade de sangue na rede vascular cutânea, podendo decorrer de vasodilatação. Aqui se inclui
o eritema palpar, comum em cirrose, e a acrocianose, caracterizada por frialdade e cianose
persistente em extremidades. A acrocianose difere do fenômeno de Raynaud pela grande
persistência. Vale ainda destacar que o rubor é um dos sinais flogísticos normais. A eritrose pode ser
dividida em dois tipos fundamentais:
o Generalizada, ocorrendo em pacientes febris, indivíduos expostos ao sol, estados de
policitemia, escarlatina e psoríase;
o Localizada, ocorrendo momentaneamente por fatores emocionais, normalmente.
Cianose, caracterizada pela coloração azulada da pele e mucosas. Essa alteração é manifestada
quando a hemoglobina reduzida (aquela que não carreia oxigênio) alcança níveis superiores a 5 g/100
mL de sangue;
o Quanto à localização, a cianose pode ser generalizada, observada em toda a pele, ou
localizada, decorrendo de obstrução local;
o Após análise da localização, define-se o tipo de cianose em questão, sendo quatro os tipos
fundamentais:
Cianose central, caracterizada por insaturação arterial central excessiva,
decorrendo de redução da tensão de oxigênio (PO 2), como ocorre em elevadas
altitudes; hipoventilação pulmonar, decorrendo de atelectasia, pneumotórax, redução
da expansibilidade torácica, taquipneia ou obstrução das vias aéreas superiores; ou
shunt, um curto circuito venoarterial, como ocorre na tetralogia de Fallot;
Cianose periférica, caracterizada por perda exagerada de oxigênio na rede capilar
em consequência de estase venosa ou redução funcional do calibre dos vasos da
microcirculação;
Cianose mista, caracterizada pela união dos fatores central e periférico, sendo
comum em insuficiência cardíaca congestiva grave, havendo congestão pulmonar;
Cianose por alteração de hemoglobina, caracterizada por impedimento da fixação
do oxigênio por alterações bioquímicas, sendo comum em intoxicações por
compostos diversos.
Icterícia, caracterizada pela coloração amarelada da pele, mucosas e esclerótica, resultando do
acúmulo de bilirrubina no sangue. A icterícia deve ser diferenciada de certas condições que alteram
a coloração da pele, mas não das mucosas. Desse modo, carotenos e quinacrina são substâncias
que deixam a pele amarelada, mas não afetam mucosas. As principais causas de icterícia incluem
hepatite infecciosa, hepatopatia alcoólica, hepatopatia por medicamentos, leptospirose, malária,
septicemias, litíase biliar, câncer da cabeça do pâncreas e anemia hemolítica;
Albinismo, caracterizado pela coloração branco-leite da pele em decorrência da ausência de
melanina, podendo afetar olhos, pele e pelos;
Bronzeamento, caracterizado por ação dos raios solares em substâncias químicas bronzeadoras, ou
então em certas situações patológicas, como doença de Addison ou hemocromatose por transtornos
endócrinos que alteram o metabolismo da melanina;
Dermatografismo (ou urticária factícia), caracterizado pelo aparecimento de linhas vermelhas e
elevadas após o atrito com objetos. Trata-se de uma reação vasomotora;
Fenômeno de Raynaud, caracterizado por uma alteração cutânea dependente de arteríolas das
extremidades, resultando em modificações da coloração. O fenômeno se dá inicialmente por palidez
com alteração gradativa da cor, que passa a ser cianótica. Por fim, observa-se vermelhidão da área.
A umidade pode ser normal, sendo observada em indivíduos hígidos; reduzida, caracterizando a pele seca,
alteração comum em idosos, esclerodermia, mixedema, insuficiência renal crônica, desidratação e
avitaminose A; ou aumentada, como ocorre em estados febris, ansiedade, hipertireoidismo e neoplasias.
A textura pode ser normal, sendo observada em indivíduos hígidos; lisa ou delgada, sendo observada em
idosos ou portadores de hipertireoidismo; áspera, comum em locais onde há intenso atrito devido às tarefas
diárias ou condições de trabalho; ou enrugada, comum em idosos ou em áreas com redução rápida de
edema.
A espessura é avaliada por pinçamento da área, podendo ser normal, atrófica ou hipertrófica.
A temperatura da pele é avaliada por palpação da com a face dorsal da mão ou dos dedos, podendo ser
normal, quente ou fria. Em relação ao aumento da temperatura, pode-se observar de modo sistêmico,
decorrendo de febre, ou local, sendo normalmente uma consequência de processo inflamatório. Já a frialdade,
por sua vez, é evidenciada em transtornos de ansiedade.
O turgor reduzido é analisado pela sensação de pele murcha, sendo um indício de desidratação.
A sensibilidade da pele pode ser analisada por sensação álgica, tátil e térmica.
As lesões elementares são modificações do tegumento cutâneo causadas por processos inflamatórios,
degenerativos, circulatórios, neoplásicos, transtornos do metabolismo ou por defeito de formação. Essas
alterações incluem:
Alterações de cor;
Elevações edematosas;
Formações sólidas;
Coleções líquidas;
Alterações da espessura;
Perdas e reparações teciduais.
As alterações de cor, que incluem máculas e manchas, correspondem a áreas circunscritas de coloração
diferente da pele normal, no mesmo plano do tegumento e sem alterações na superfície. A diferença entre
mácula e mancha é dado pelo tamanho, sendo as máculas de tamanho reduzido. Elas se dividem em:
As elevações edematosas são causadas por edema na derme ou hipoderme. Enquadra-se a lesão urticada
ou tipo urticária, que corresponde a formações sólidas, uniformes, de formato variável, em geral eritematosas,
e quase sempre pruriginosas, resultando de um edema dérmico circunscrito. A causa mais comum é a urticária
Pápulas são elevações sólidas da pele, de pequeno tamanho, superficiais, bem delimitadas, com
bordas facilmente percebidas quando se desliza a polpa digital sobre a lesão. Podem ser puntiformes,
um pouco maiores ou lenticuladas, planas ou acuminadas, isoladas ou coalescentes, da cor da pele
normal ou de cor rósea, castanha ou arroxeada. Essas lesões apresentam inúmeras causas, sendo
algumas típicas decorrentes de picada de inseto, leishmaniose, blastomicose, verruga, erupções
medicamentosas, acne e hanseníase;
Tubérculos são elevações sólidas circunscritas, de diâmetro maior que 1 cm, situadas na derme. A
consistência pode ser mole ou firme. A pele circunjacente tem cor normal ou pode estar eritematosa,
acastanhada ou amarelada. Geralmente há formação de cicatriz. São comuns na sífilis, tuberculose,
hanseníase, esporotricose, sarcoidose e tumores;
Nódulos, nodosidades e gomas são formações sólidas localizadas na hipoderme, mais perceptíveis
pela palpação do que pela inspeção. Quando de pequeno tamanho, são nódulos. Se mais volumosas,
são nodosidades, Gomas são nodosidades que tendem ao amolecimento e ulceração, com liberação
de substância semissólida. Os limites são imprecisos e a consistência é variada. Pode haver dor local
e a pele circundante pode ser normal, eritematosa ou arroxeada. Os exemplos típicos incluem
furúnculos, eritema nodoso, hanseníase, cistos, epiteliomas, sífilis, bouba e cisticercose;
Vegetações são lesões sólidas, salientes, lobuladas, filiformes ou em couve-flor, de consistência
mole e agrupadas em maior ou menor quantidade. Muitas dermatoses se caracterizam por
vegetações, tais como as rugas, bouba, sífilis, leishmaniose, blastomicose, condiloma acuminado,
tuberculose, granuloma venéreo, neoplasias e dermatites medicamentosas. As verrucosidades
ocorrem na camada córnea, sendo mais espessas.
Vesículas são elevações circunscritas da pele e que contêm líquido em seu interior, sendo o diâmetro
limitado até 1 cm. A diferença fundamental entre vesícula e pápula é que esta é uma lesão sólida,
enquanto que aquela consiste na coleção de líquido em seu compartimento interior. A punção local
pode diferenciar essas duas lesões. É comum na varicela, herpes-zóster, queimaduras eczema e
pênfigo foliáceo;
Bolhas são elevações da pele contendo substância líquida em seu interior. Diferencia-se da vesícula
pelo maior tamanho, isto é, apresentam diâmetro maior que 1 cm. É comum em queimaduras, pênfigo
foliáceo, piodermites e alergias medicamentosas. As bolhas podem ser claras, turvas, amareladas,
esverdeadas ou vermelhas (ou hemorrágicas);
Pústulas são vesículas de conteúdo purulento. São observadas na varicela, herpes-zóster,
queimaduras, piodermites e acne pustulosa;
Abscessos são coleções purulentas, mais ou menos proeminentes e circunscritas, de proporções
variáveis, flutuantes, de localização dermo-hipodérmica ou subcutânea. Quando há sinais flogísticos,
são chamados de abscessos quentes. A ausência da inflamação, portanto, caracteriza um abscesso
frio. Os exemplos incluem furunculose, hidradenite, blastomicose e abscesso tuberculoso;
Hematomas são formações circunscritas, de tamanhos variados, decorrentes de derrame de sangue
na pele ou nos tecidos subjacentes.
As alterações da espessura incluem queratose, espessamento (ou infiltração), liquenificação, esclerose,
edema e atrofias.
Queratose consiste na modificação circunscrita ou difusa da espessura da pele, que se torna mais
consistente, dura e inelástica, em consequência de espessamento da camada córnea. A queratose é
observada em calo, queratose senil, queratodermia palmoplantar e ictiose;
Espessamento (ou infiltração) consiste em aumento da consistência e da espessura da pele que
se mantém depressível, menor evidência dos sulcos da pele e limites imprecisos. É comum na
hanseníase virchowiana;
Liquenificação é o espessamento da pele, com acentuação das estrias, resultando em um
quadriculado em rede como se a pele estivesse sendo vista através de uma lupa. A pele se torna
castanho-escuro. É observada em eczemas ou áreas de coçaduras constantes;
Esclerose é o aumento da consistência da pele, que se torna mais firme, aderente aos planos
profundos e difícil de ser pregueada entre os dedos. É comum na esclerodermia;
Edema é o acúmulo de líquido intersticial, tornando a pele lisa e brilhante;
Atrofias são adelgaçamentos da pele, tornando-a fina, lisa, translúcida e pregueada.
Fisiologicamente, podem ocorrer como atrofia senil. As estrias são linhas de atrofia de cor
acinzentada ou róseo-avermelhada, podendo aparecer em qualquer parte do corpo, sobretudo no
abdome gravídico ou que esteve distendido por ascite ou obesidade.
As perdas e reparações teciduais incluem escama, erosão (ou exulceração), úlcera (ou ulceração), fissura
(ou rágade), crosta, escara e cicatriz.
Escamas são lâminas epidérmicas secas que tendem a se desprender da superfície cutânea. Podem
ser furfuráceas, quando o aspecto é de farelo, ou laminares, quando em tiras. Ocorrem na caspa,
pitiríase versicolor, psoríase a queimadura solar da pele;
Erosão (ou exulceração) consiste no desaparecimento da parte mais superficial da pele, atingindo
apenas a epiderme. Pode se traumática, recebendo a nomenclatura de escoriação. Essas lesões não
deixam cicatrizes;
Úlcera (ou ulceração) consiste na perda das estruturas que constituem a pele, atingindo a derme.
Diferencia-se da escoriação pela maior profundidade. Essas lesões deixam cicatrizes;
Fissura ou (rágade) consiste na perda de substância linear, superficial ou profunda não causada por
instrumento cortante. Compromete principalmente as dobras cutâneas ao redor de orifícios naturais;
Crosta é uma formação proveniente do ressecamento de secreção serosa, sanguínea, purulenta ou
mista que recobre área cutânea previamente lesada. São observadas em processos de cicatrização,
impetigo, pênfigo foliáceo e eczemas;
Escara é uma porção de tecido cutâneo necrosado, resultante de pressão isolada ou combinada com
fricções ou cisalhamento. A área mortificada torna-se insensível, tem cor escura e é separada do
tecido sadio por um sulco. O tamanho é variável e a prevalência é dada em idosos e pacientes
acamados ou imobilizados;
Cicatriz é uma reposição de tecido destruído pela proliferação do tecido fibroso circunjacente. Os
tamanhos e os formatos das cicatrizes são variados. As cicatrizes podem ser róseo-claras,
avermelhadas ou então adquirir pigmentação mais escura que a pele normal. Podem ser deprimidas
em relação ao relevo normal da pele ou então exuberante, que se dividem em cicatrizes hipertróficas
e queloides. O queloide é uma formação fibrosa rica em colágeno e saliente, firme, róseo-
avermelhada, com bordas nítidas e com ramificações curtas.
A acne vulgar, popularmente designada de espinha, é muito comum na adolescência e consiste em lesões
elementares associadas, com presença de alterações eritematopapulares e eritematopustulosas.
As mucosas são analisadas através do exame das conjuntivas oculares e mucosas labiobucal, lingual e
gengival. Em relação à coloração, as mucosas podem ser normocoradas, hipocoradas, hipercoradas,
cianóticas, ictéricas ou leucoplásicas. Em relação à umidade, as mucosas podem ser normo-hidratadas ou
secas.
O cabelo deve ser analisado em relação ao tipo de implantação, distribuição, quantidade, coloração
e outras características, tais como brilho, espessura e consistência;
Os pelos ocorrem de modo diferenciado entre os sexos. A hipertricose é uma alteração que consiste
no aumento da quantidade de pelos, sem relação com o sexo ou área específica da superfície
corporal. O hirsutismo, por outro lado, consiste no aumento exagerado da pilificação sexual masculina
na mulher, podendo ser constitucional, idiopática ou androgênica. A virilização é uma associação de
hirsutismo, aprofundamento da voz e aumento do clitóris;
As alterações das unhas incluem: hipocratismo digital, palidez, cianose, superfície irregular, variação
da espessura, desaparecimento do brilho, manchas brancas (ou leuconiquias), unhas de Plummer
(ou onicólise por hipertireoidismo), unhas distróficas e coiloníquia (ou unha em colher). Algumas
alterações especiais incluem: unhas de vidro de relógio, linhas de Beau, faixas de Mee, unhas de
Plummer, unhas de Lindsay e unhas de Terry.
SEMIOLOGIA DA VISÃO:
Os olhos não devem ser examinados como órgãos isolados, como se nada tivessem a ver om o restante do
organismo. Doenças oculares podem refletir-se em outros setores, da mesma maneira que as de outros
sistemas podem ter importantes manifestações nos olhos. Os principais sinais e sintomas dos olhos incluem:
Sensação de corpo estranho: desagradável e normalmente acompanhada de dor, cujas causas são
corpo estranho na córnea, na conjuntiva bulbar ou na conjuntiva palpebral, cílios virados para dentro,
inflamação corneana superficial e abrasão corneana, bem como conjuntivite;
Queimação (ou ardência): desagradável e que faz o paciente lavar os olhos para obter sensação de
alívio. Decorre de erro refratário, conjuntivite, queratite, sono insuficiente, exposição à fumaça, poeira
e síndrome de Sjögren;
Prurido: é sinal de alergia ou vício de erro refratário;
Sensação de olho seco: comum na síndrome de Sjögren por xeroftalmia, mas também ocorre na
conjuntivite crônica, na exposição da conjuntiva por mau posicionamento da pálpebra e quanto há
dificuldade para fechar corretamente as pálpebras, como ocorre na paralisia facial;
Lacrimejamento (ou epífora): ocorre por inflamação da conjuntiva ou córnea, obstrução da via
lacrimal excretora, aumento da secreção por emoções, hipertireoidismo, dor ocular, presença de
corpo estranho na córnea e glaucoma;
Dor ocular: decorre de inflamação palpebral, dacrioadenite, celulite orbitária, abscesso, periostite,
conjuntivite aguda, esclerite, episclerite, presença de corpo estranho na córnea, uveíte anterior e
sinusite;
Fotofobia: decorre de inflamação da córnea, afacia (ou ausência de cristalino), irite e albinismo
ocular. Além disso, cloroquina e acetazolamida são substâncias que podem aumentar a sensibilidade
à luz;
Cefaleia: de origem ocular, a cefaleia é geralmente frontal e se manifesta ao fim do dia, sobretudo
em atividades em que a visão é muito requisitada. Pode indicar vícios de erro refratário, bem como
inflamações ou glaucoma;
Hemeralopia e nictalopia: decorrem de adaptação visual deficiente. A hemeralopia é a cegueira
diurna, caracterizada por deficiência dos cones. A nictalopia, por sua vez, é a cegueira noturna,
caracterizada por deficiência dos bastonetes. A nictalopia decorre de retinopatia pigmentar, miopia
maligna, glaucoma e avitaminose A por etilismo ou síndrome de má absorção intestinal;
Xantopsia, iantopsia e cloropsia: xantopsia é a visão amarelada, iantopsia é a visão violeta e
cloropsia é a visão esverdeada. Essas alterações normalmente decorrem do uso de certos fármacos,
sendo que a xantopsia pode ocorrer em icterícia grave;
Alucinações visuais: normalmente a origem se dá por doença do lobo occipital, mas também é
comum por desordens psiquiátricas, bem como o abuso de drogas;
Diplopia: consiste na visão dupla. O estrabismo convergente (ou esotropia) fornece imagens nasais,
sendo a interpretação como origem temporal. O estrabismo divergente (ou exotropia), por outro lado,
fornece imagens temporais, sendo a interpretação como origem nasal. Sendo assim, o objetivo é visto
em dois locais do campo de visão, independentemente do tipo de estrabismo;
o Diplopia monocular: cristalino subluxado (comum na síndrome da Marfan), catarata nuclear,
coloboma da íris e deslocamento da retina;
o Diplopia binocular: paralisia de músculos extraoculares, restrição mecânica e centralização
imprópria dos óculos.
Escotoma: consiste em uma área de cegueira parcial ou completa, dentro de um campo visual normal
ou relativamente normal. Nesse ponto, a visão é reduzida apreciavelmente em relação à parte que o
circunda. Um escotoma fisiológico é o ponto cego situado a 15º para fora do ponto de fixação, que
corresponde à entrada do nervo óptico na retina;
o Quanto à posição, o escotoma pode ser central, periférico ou paracentral;
o Quanto à forma, o escotoma pode ser circular (em lesão focal da retina e coroide), oval (em
lesão do feixe papilomacular, como ocorre na neurite retrobulbar), arciforme (em glaucoma),
cuneiforme (em atrofia óptica ou afecções coroidianas), anular (em lesão macular, glaucoma
ou degeneração pigmentar da retina), pericecal (em glaucoma, edema da papila ou neurite
óptica) ou hemianóptico (em lesão quiasmática).
Nistagmo: consistem em movimentos repetitivos e rítmicos dos olhos. É provocado por impulsos
motores irregulares para os músculos extraoculares por desordens oculares, como estrabismo,
catarata ou coriorretinite; ou por desordens neurológicas.
o Dismetria ocular é um conjunto de movimentos conjugados e pedunculados, de amplitude
decrescente e que ocorrem durante a mudança de fixação;
o Flutter é um movimento ocular conjugado, involuntário e em salvas intercaladas por períodos
de imobilidade;
o Opsoclônus consiste em mioclonias por encefalite que atinge o tronco cerebral;
o Bobbing consiste em movimentos conjugados verticais do tipo vaivém, sendo comum em
pacientes comatosos que sofrem de paralisia do olhar horizontal.
O exame físico dos olhos se baseia na análise do globo ocular e cavidade orbitária, aparelho lacrimal,
pálpebras, conjuntiva e esclera, córnea, pupila e cristalino. A acuidade visual permite esclarecer se a queixa
de perda ou diminuição da visão procede ou não. O método mais utilizado é o da carta (ou quadro) de
Snellen, no qual o paciente fica sentado a aproximadamente 6 metros (ou 20 pés) da distância. Nessa carta
há letras de diversos tamanhos, sendo analisada a acuidade visual do paciente, que normalmente é 20/20. A
perda da visão (ou amaurose), por sua vez, apresenta várias causas. A perda de visão unilateral pode
ocorrer por obstrução ou embolia da artéria central da retina, hemorragia vítrea ou retiniana, neurite óptica,
papilite neurite retrobulbar, deslocamento da retina envolvendo a mácula, amaurose urêmica, ambliopia
tóxica, endoftalmite embólica, trombose da artéria carótida interna e lesões traumáticas do nervo óptico. A
perda de visão bilateral pode ocorrer por neurite óptica, amaurose urêmica, ambliopia tóxica, traumatismo
craniano, histeria e enxaqueca oftálmica. A perda gradual da visão, por sua vez, ocorre em vícios de refração,
afecções das córneas, afecções da úvea, glaucoma, afecções do vítreo, afecções da retina e lesões do nervo
óptico. Por fim, antes do exame neuroftalmológico, deve-se investigar a visão das cores. Esse exame é
realizado com base no anomaloscópio de Nagel, nos testes de Farnsworth e nas tábuas pseudoisocromáticas,
sendo as mais comumente utilizadas as de Ishihara. O exame neuroftalmológico apresentam certas
particularidades. Avalia-se as pupilas e o campo visual, principalmente. Em relação às pupilas, deve-se
atentar aos seguintes termos semiológicos:
Isocoria, sendo a igualdade de diâmetro pupilar; anisocoria, sendo a assimetria das pupilas
contralaterais; midríase, sendo o aumento da pupila; e miose, sendo a redução da pupila;
Midríase unilateral indica hematoma extradural, midríase bilateral indica comoção grave, maior
midríase indica o lado lesado, miose bilateral indica hemorragia parenquimatosa progressiva e
rigidez pupilar indica êxito letal;
Quando se lança um feixe de luz, deve-se observar o reflexo fotomotor direto, bem como o
consensual.
A análise do campo visual permite a localização de possíveis lesões ópticas, bem como o nível dessas
lesões nervosas. Essas anopsias são descritas na imagem 80.
Imagem 80. A: cegueira monocular D, lesão do nervo óptico. B: hemianopsia bitemporal, lesão do quiasma.
C: hemianopsia lateral homônima D, lesão do trato óptico. D: hemianopsia lateral homônima D, lesão das
radiações ópticas. E: quadronopsia inferior D, lesão das radiações parietais. F: quadronopsia superior D,
lesão das radiações temporais. G: hemianopsia lateral homônima, lesão calcarina
A oftalmoscopia (ou fundoscopia) (imagem 81) consiste no exame do fundo do olho, visando ao diagnóstico
de inúmeras afecções que envolvem a parte intimamente relacionada ao sentido da visão. O fundo de olho
normal é visto como um reflexo vermelho, denominado de clarão pupilar. Os locais a serem observados
consistem em: disco óptico, vasos sanguíneos, área macular e periferia retiniana. Os principais achados da
fundoscopia se caracterizam por hemorragias, exsudatos, focos de coriorretinite, edema de papila, atrofia de
papila, neurite óptica, melanoma de coroide e descolamento de retina.
Imagem 81. Em A, fundoscopia normal. Em B, retinopatia hipertensiva. Em C, retinopatia diabética. Em D,
hemorragia
Glaucoma é a denominação dada a uma neuropatia óptica isquêmica progressiva que cursa com perda do
campo visual, alteração fundoscópica e, em geral, pressão intraocular elevada.
Glaucoma crônico simples é caracterizado por pressão intraocular elevada, ângulo aberto,
escavação glaucomatosa e perda do campo visual;
Glaucoma primário de ângulo fechado é uma condição na qual a obstrução ao fluxo do humor
aquoso ocorre por fechamento angular pela periferia da íris. Na fase aguda, observa-se redução da
acuidade visual, dor local, congestão do olho, náuseas, vômitos, pressão intraocular superior a 50
mmHg, edema corneano, câmara anterior rasa, turvação do humor aquoso e vasos sanguíneos locais
congestos;
Glaucomas secundários podem ter origem inflamatória, neovasculares, pigmentários,
pseudoesfoliativos, facolíticos, facomorfos e tumorais.
Pacientes diabéticos podem desenvolver diversas manifestações oculares, tais como retinopatia diabética,
catarata, blefarite de repetição, paralisias oculares e, ainda, doenças neurológicas. A retinopatia diabética
é uma microangiopatia que afeta as arteríolas pré-capilares, capilares e vênulas retinianas. A patogênese da
oclusão da microvasculatura inclui espessamento da membrana basal dos capilares, danos e proliferação das
células endoteliais dos capilares, alterações dos eritrócitos e aumento na adesividade e agregação das
plaquetas. Desse modo, essa afecção é uma importante causa do comprometimento visual e cegueira.
Retinopatia diabética não proliferativa pode ser leve, com microaneurismas e pequenas
hemorragias; moderada, com microaneurismas, pequenas hemorragias, mínimas alterações venosas
e alterações microvasculares intrarretinianas; ou grave, com agravamento da isquemia retiniana. A
lesão observada segue a regra 4-2-1, de acordo com os quadrantes acometidos. Essa regra é
explicada da seguinte forma: 4 quadrantes com microaneurismas, 2 ou mais quadrantes com
alterações venosas e 1 ou mais quadrantes com alterações microvasculares intrarretinianas;
Retinopatia diabética proliferativa pode ser recente, com neovasos sem neovascularização de
disco óptico; ou de alto risco, com neovasos espessos e próximos ou no próprio disco óptico, com ou
sem hemorragia.
As conjuntivites são inflamações da conjuntiva, caracterizando-se por dilatação vascular, infiltração celular
e exsudação. Sua causa pode ser bacteriana, por clamídeas, viral ou, então, alérgica.
Conjuntivite bacteriana pode ser aguda ou crônica. A fase aguda se caracteriza por ingurgitamento
vascular e secreção mucopurulenta, associados a irritação e sensação de corpo estranho. Ela pode
ser causada por S. epidermidis, S. aureus, Haemophilus sp ou Streptococcus sp. A fase crônica é
normalmente relacionada a clamídeas, uma vez que a persistência da infecção exibe resistência a
antibióticos;
Conjuntivite viral apresenta uma reação folicular na conjuntiva. A melhora é espontânea após 10 a
20 dias. Ela é causada por adenovírus que causa queratite superficial;
Conjuntivite alérgica é comum em pacientes com histórico familiar de alergias. Nesse caso, pode
haver edema e hipertrofia papilar difusa da conjuntiva, acompanhada de prurido e secreção aquosa.
As conjuntivites devem ser analisadas, além de isoladamente, de modo sistemático, visando à detecção da
síndrome de Reiter, por exemplo, a qual se caracteriza por conjuntivite, uretrite de artrite. Além disso, deve-
se sempre pensar em doenças reumatológica associadas, como a síndrome de Sjögren.
A blefaroptose é a queda da pálpebra superior, podendo ser de origem congênita ou adquirida. Epicanto
consiste em uma dobra na pele que começa na pálpebra superior e projeta-se medialmente, cobrindo o canto
interno do olho. Entrópio é a reversão palpebral, podendo ser de origem congênita, espasmódica ou
cicatricial. Ectrópio, por outro lado, é a eversão palpebral, podendo ser senil, cicatricial, espasmódico ou
paralítico. A lagoftalmia é um defeito de fechamento das pálpebras, cujas bordas não se encontram.
Blefarites, por sua vez, são infecciosas ou seborreicas. As blefarites infecciosas são estafilocócicas e causam
eritema palpebral e ulcerações ao longo das bordas. A forma seborreica, por outro lado, associa-se à
dermatite seborreica do couro cabeludo, das sobrancelhas e da pele atrás das orelhas. O calázio constitui a
causa mais comum de tumoração palpebral. Consiste em uma inflamação granulomatosa crônica da glândula
meibomiana, por causas desconhecidas. Hordéolo consiste em uma infecção estafilocócicas das glândulas
palpebrais caracterizada por dor, hiperemia e edema. O hordéolo é, na verdade, um abscesso, uma vez que
há acúmulo de pus nas glândulas afetadas. O hordéolo interno corresponde à infecção das glândulas
meibomianas, com aumento considerável de volume. O externo, por outro lado, é menor e mais superficial
sendo resultado da infecção das glândulas de Zeis (ou Moll). Xantelasmas são placas amareladas e
localizadas no canto interno das pálpebras superiores, sendo constituídas por depósitos lipídicos. Queratites
podem ser microbianas, virais, micóticas ou por Acanthamoeba. Pterígio é uma afecção que compromete a
córnea, tendo como ponto de partida a conjuntiva. A dacrioadenite consiste em um processo inflamatório da
glândula lacrimal. Pode ser viral, bacteriano ou micótico. A dacriocistite é uma inflamação do saco lacrimal
que pode ser aguda ou crônica.
As ametropias são também chamadas de vícios de refração e incluem a hipermetropia, miopia, astigmatismo
e presbiopia.
A pupila normal é circular, de contorno regular, do mesmo tamanho em ambos os olhos, isto é, apresenta-se
com isocoria, e, também, sofre reações frente aos estímulos luminosos. As alterações da pupila incluem:
Pupila tóxica, relacionada às alterações de diâmetro por uso de fármacos ou drogas diversas;
Pupila de Adie, relacionada à alteração unilateral, com midríase, visão turva e ausência de resposta
à luz;
Pupila paralítica, relacionada à lesão do nervo oculomotor;
Pupila de Claude Bernard-Horner, relacionada à interrupção da via papilomotora simpática;
Pupila de Marcus-Gunn, relacionada ao defeito da via aferente pupilar;
Pupila de Argyll-Robertson, relacionada por miose e reflexos fotomotores reduzidos ou ausentes.
Exoftalmia consiste na protrusão anormal do globo ocular, podendo ser uni ou bilateral. As principais causas
incluem hipertireoidismo, inflamação local e neoplasias. No hipertireoidismo, há relação com a doença da
Graves.
Celulite orbital pode decorrer de infecção por S. pneumoniae, S. aureus, S. pyogenes e Haemophilus
influenzae. Os achados clínicos consistem em quemose unilateral, dor local, edema palpebral e redução dos
movimentos oculares.
SEMIOLOGIA NEUROLÓGICA:
Para melhor entendermos a semiologia neurológicas, devemos conhecer termos especiais que referem aos
sinais e sintomas do sistema nervoso, seja ele central ou periférico.
Dor neuropática, que pode ser alodinia, dor por estímulo tátil leve ou variações de temperatura;
hiperalgesia, dor mais intensa que o normal a um estímulo doloroso; causalgia, dor contínua com
características de queimadura e que piora com o estímulo tátil; e cãibras, dor associada a contrações
musculares involuntárias;
Alterações da sensibilidade incluem anestesia ou hipoestesia, hiperestesia, parestesia e
disestesia;
Movimentos involuntários incluem tremores, fasciculações, mioquinias e pseudoatetoses;
Ataxia sensorial refere-se à incapacidade de coordenar movimentos voluntários e que não estão
relacionados com deficiências motoras.
O exame neurológico executado por funções sequencialmente demanda numerosas mudanças de posição,
o que torna o exame entediante e cansativo. Em contrapartida, quando se faz o exame neurológico em três
etapas sucessivas, isto é, nas posições deitada, sentada e de pé, ele se torna mais rápido e mais lógico.
Assim, pesquisam-se todos os itens mais facilmente analisados com o paciente deitado; depois, sentado; e
finalmente, em pé.
Em relação à anamnese do paciente com distúrbios neurológicos, deve-se questionar a data de início da
doença, o modo de instalação, a evolução cronológica, os exames previamente realizados, bem como os
tratamentos, e o estado atual do enfermo. Já em relação ao interrogatório sintomatológico, questionar os
seguintes sinais e sintomas é muito importante para a definição de inúmeras doenças:
Em relação aos antecedentes pessoais relacionados aos possíveis consequentes distúrbios neurológicos,
deve-se atentar às condições pré-natais, condições do nascimento, condições do desenvolvimento
psicomotor, vacinações e outras doenças anteriores, tais como viroses, meningite, traumas diversos,
tuberculose, doenças venéreas, tripanossomíase e etilismo.
A consciência é avaliada com base em: escala de Glasgow, FOUR, MEEM, escolaridade e alteração da
linguagem. A escala de Glasgow é baseada em abertura ocular, melhor resposta verbal e melhor resposta
motora, variando de 3 (coma profundo) a 15 (normal, sem alterações). FOUR, por sua vez, é também uma
escala de coma, que se fundamenta em abertura ocular, melhor resposta motora, reflexos de tronco encefálico
e padrão respiratório. O MEEM é o miniexame do estado mental, que se baseia na orientação, memória
imediata, atenção e cálculo, evocação e linguagem.
A motricidade se fundamenta em tônus muscular, força e trofismo muscular, reflexos superficiais, reflexos
profundos e modulação do movimento.
O tônus muscular deve ser avaliado com base no estado dos quatro membros;
A Força e trofismo muscular é avaliada com base no estado dos quatro membros, avaliando-se os
diversos grupos musculares;
Os reflexos superficiais se baseiam em cutâneo-abdominal, sinal de Hoffmann e cutâneo-plantar
(ou sinal de Babinski);
Os reflexos profundos devem ser avaliados nos membros, sendo o bicipital, estilorradial e tricipital
os reflexos dos MMSS, avaliando as raízes C5, C6 e C7, respectivamente; e o patelar e aquileu os
reflexos dos MMII, avaliando as raízes L4 e S1, respectivamente;
A modulação do movimento é avaliada com base em bradicinesia, hipercinesia, tremores e
instabilidade postural.
A sensibilidade pode ser avaliada superficialmente por tato grosseiro, pressão, sensibilidade térmica e
dolorosa; e profundamente por tato epicrítico e sensibilidade vibratória. Além disso, avalia-se a estereognosia,
propriocepção consciente e sinal de Romberg.
A marcha e equilíbrio pode ser atípica (ou eubásica) ou então pode caracterizar uma afecção neurológica.
Avalia-se, nesse caso, o equilíbrio estático e a deambulação, podendo haver ataxia, marcha na ponta dos
pés, marcha nos calcanhares ou, então, marcha típica de afecções diversas.
Por fim, os sinais meníngeos consistem em rigidez de nuca, sinal de Kernig, sinal de Lasègue e sinal de
Brudzinski.
SEMIOLOGIA ENDÓCRINA:
As manifestações das doenças endócrinas quase sempre afetam o organismo como um todo. Por isso, são
inevitáveis as repetições de vários sinais e sintomas comuns em outros sistemas.
Bócio consiste no aumento de volume glandular, tornando a tireoide visível ou palpável. Bócio difuso
é o aumento global e uniforme, enquanto que bócio nodular consiste na palpação de nódulos
tireoidianos;
Dor de origem tireoidiana é local piora com palpação e deglutição e, por vezes, irradia para a
mandíbula e ouvidos;
Dispneia, disfagia e rouquidão decorrentes da compressão da traqueia, esôfago ou nervo laríngeo
podem decorrer de bócio;
Hipertireoidismo decorre da doença de Graves, doença de Plummer e doença multinodular tóxico;
Hipotireoidismo pode ser congênito ou da vida adulta.
Hiperparatireoidismo;
Hipoparatireoidismo.
Diabetes;
Síndrome hipoglicêmica;
Desnutrição;
Hipovitaminoses;
Erros inatos do metabolismo proteico, como a fenilcetonúria, alcaptonúria e albinismo;
Gota;
Síndrome de desidratação;
Porfirias;
Dislipidemias;
Hemocromatose.
RESUMÃO DE SEMIOLOGIA – parte III
Allyson A. Wesselovicz
ROTEIRO DE ANAMNESE E EXAME FÍSICO:
Identificação:
Queixa principal:
Revisão de sistemas:
Sistema respiratório:
o Inspeção estática:
o Inspeção dinâmica:
o Palpação:
o Percussão:
o Ausculta:
Sistema cardíaco:
o Avaliação do sistema venoso:
o Inspeção:
o Palpação:
o Ausculta:
Inspeção estática:
Inspeção dinâmica:
Ausculta:
Palpação superficial:
Palpação profunda:
Percussão:
Diagnóstico:
Sindrômico:
Anatômico:
Funcional:
Etiológico:
Exames complementares: