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Abordagem das Crises Epilépticas


na Emergência Pediátrica

Heber de Souza Maia Filho


Resumo Neuropediatra, Professor Adjunto da
Universidade Federal Fluminense/
Introdução: As crises epilépticas, sejam agudas ou relacionadas à epilepsia, são uma emer- Programa de Pós-graduação em
gência neuropediátrica importante, não somente pela frequência, mas também pela associação Neurologia e Neurociências, Presidente
a situações de alta morbimortalidade e, não menos importante, de impacto psicossocial e do Comitê de Neurologia da SOPERJ
familiar. Objetivo: O presente artigo de revisão buscar trazer, de uma forma sintética, os (2010-2012)
principais conhecimentos necessários para que o pediatra possa diagnosticar, tratar e inves- Endereço de correspondência:
tigar a crise epiléptica em um contexto de emergência. Fontes dos dados: O material Rua 16 de Março, 102 / Sala 203
bibliográfico compõe-se de livros clássicos da área e de revisão bibliográfica de artigos dos Petropolis - CEP: 25620-040
últimos cinco anos no PUBMED, priorizando-se os artigos de revisão. Síntese dos dados: endereço eletrônico:
Objetivando uma abordagem prática, discutiremos cinco situações principais ‑ crise febril; hebersmf@gmail.com
crise epiléptica após traumatismo craniano; crise em uma criança com diagnóstico prévio de
epilepsia; primeira crise afebril; e estado de mal epiléptico. As prioridades no manejo da crise
epiléptica na emergência pediátrica são a interrupção dessa crise (evitar o estado de mal
epiléptico), a prevenção de complicações e sequelas, a investigação da etiologia e o trata-
mento das causas agudas. Por fim, realiza-se o adequado encaminhamento para investigação
e tratamento ambulatorial.

Palavras-chave: crise epiléptica, epilepsia, emergência, criança.

Introduction: Seizures, whether acute or related to epilepsy, are an important neuropedia-


tric emergency, not only by its frequency, but also because of possible morbidity and mortality,
and also family and psychosocial impact. Objective: To summarize the main findings that
pediatricians should know to diagnose, treat and investigate epileptic seizures in the emergency.
Sources: Classic textbooks in the area and a bibliographic review of the last five years in
PUBMED giving priority to review articles. Data synthesis: Aiming a practical approach,
we discuss five main topics: febrile seizure, seizure after head trauma, seizure in a child with a
previous diagnosis of epilepsy, the first afebrile seizure and status epilepticus.The priorities in
the management of seizures in the pediatric emergency are the interruption of the seizure
(avoid status epilepticus), prevention of complications and sequelae and the investigation of
the etiology and treatment of acute causes with and adequate referral to outpatient treatment.

Key-words: seizure, epilepsy, emergency, child

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INTRODUÇÃO vestigação da etiologia e o tratamento de pesquisa incluiu os MeSHTerms


A crise epiléptica é um evento neuro- das causas agudas. Por fim, realiza-se “seizure”, “status epilepticus” e “febri-
lógico paroxístico decorrente de uma o adequado encaminhamento para in- le seizure” e a restrição de faixa etária
disfunção neuronal focal ou generali- vestigação e tratamento ambulatorial. pediátrica. Dados os objetivos de edu-
zada, levando à descarga elétrica anor- O presente artigo de revisão buscar cação continuada deste artigo, optou-se
mal excessiva. A manifestação clínica trazer, de uma forma sintética, os prin- por selecionar apenas artigos de revisão
dependerá da área cortical acometida, cipais conhecimentos necessários para sobre o tema.
podendo ser motora, sensitiva, autonô- que o pediatra possa diagnosticar, tra-
mica ou psicomotora.9 O termo convul- tar e investigar a crise epiléptica em um DIAGNÓSTICO DA CRISE EPILÉPTICA
são, largamente utilizado como sinôni- contexto de emergência. O material bi- Embora não seja difícil a constatação
mo de crise epiléptica, não abrange a bliográfico compõe-se de livros e textos de uma crise epiléptica de natureza tô-
totalidade das manifestações do evento, clássicos da área, bem como de revisão nico-clônica generalizada e haja vista
referindo-se apenas às crises motoras. bibliográfica de artigos dos últimos cin- que o paciente, muitas vezes, chega à
As crises epilépticas provenientes de fa- co anos no PUBMED. A metodologia emergência já fora da crise, o pediatra
tores agudos que promovem essa dis-
função neuronal (febre, anoxia, trauma, Tabela 1 ‑ Diag nóstico diferencial em caso de crise epiléptica
inflamação, distúrbios metabólicos e
Neonatos Mioclonia benigna
eletrolíticos) são chamadas crises epi- Tremores (Jitteriness)
lépticas sintomáticas agudas.9 Quando Cólica
as crises recorrem na ausência de um Apneia
fator agudo desencadeante, caracteriza- Reflexos primitivos
-se a epilepsia, condição que engloba Lactentes Cólica
inúmeras síndromes iniciadas na infân- Perda de fôlego
Calafrio (febre)
cia. Por isso, é uma das doenças neu- Mioclonia do sono
rológicas crônicas mais importantes na Soluço
Neurologia Pediátrica. As epilepsias po- Intoxicação (antieméticos, descongestionantes, anti-histamínicos)
dem ser idiopáticas (quando a etiologia Pré-escolares Síncope
é indefinida) ou sintomáticas (quando Perda de fôlego
uma anormalidade cerebral localizada Outras causas de manobra vagal (constipação, dor)
Concussão
ou difusa é conhecida).3 Parassonias (terror noturno, sonambulismo)
As crises epilépticas, sejam agudas ou Intoxicação (antieméticos, descongestionantes, anti-histamínicos)
relacionadas à epilepsia, são uma emer-
Escolares Síncope
gência neuropediátrica importante, não Arritmias cardíacas
somente pela frequência (1% das crian- Outras causas de manobra vagal (constipação, dor)
ças e dos adolescentes até 14 anos terão, Concussão
Parassonias (sonambulismo)
pelo menos, uma crise epiléptica afebril Quadros psicogênicos
em suas vidas;11 2 a 4% das crianças
apresentarão crises febris), mas tam- Adolescentes Síncope
Arritmias cardíacas
bém pela associação a situações de alta Concussão
morbimortalidade (infecções do sistema Parassonias (sonambulismo)
nervoso e traumatismo craniano, por Quadros psicogênicos (transtorno do pânico, síndrome
conversiva)
exemplo) e, não menos importante, de
Abuso de substâncias
impacto psicossocial e familiar.
As prioridades no manejo da crise epi- Paralisia cerebral Movimentos anormais
Distonia
léptica na emergência pediátrica são: a Coreoatetose
interrupção da crise epiléptica (evitar Dor
o estado de mal epiléptico), a preven- Alterações do exame neurológico (hiperreflexia, clônus e
reflexos primitivos persistentes)
ção de complicações e sequelas; a in-

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limita-se apenas à informação dos res- so e de crise neonatal ou afebril prévia. Quando a criança chega em crise epi-
ponsáveis da criança, que, geralmente Nessa definição, não se exclui a possi- léptica febril à emergência, segue-se o
angustiados com o evento, nem sempre bilidade de uma criança com encefalo- protocolo de tratamento válido para as
conseguem ser claros quanto às mani- patia crônica não progressiva (paralisia demais situações (tabela 2). Uma vez
festações e, principalmente, quanto à cerebral) apresentar crise febril, embora controlada a crise, considera-se a neces-
duração da crise. Inúmeros eventos pa- se leve em conta a possibilidade de ser sidade de investigação e internação.10
roxísticos, de natureza neurológica, ou um quadro de epilepsia sintomática. A A internação será ditada pelo risco de
mesmo não neurológica, podem simu- crise febril ocorre em até 4% de crian- infecção do sistema nervoso central (me-
lar crises e devem entrar no diagnóstico ças antes dos 5 anos18 e é a principal ningoencefalite). Por conseguinte, de-
diferencial (tabela 1). causa de crise epiléptica na emergência vem ser observados e reavaliados, após 4
As crises epilépticas são classificadas pediátrica.17 horas, os menores de 18 meses, aqueles
de acordo com a manifestação clínica A faixa etária em que ocorre a crise que utilizaram antibióticos previamente
e dividem-se em: focais, quando deno- febril varia conforme a referência: de (o que pode mascarar os sinais menín-
tam a disfunção de uma área específica um mês a 5 anos, de acordo com a Liga geos) e aqueles com crise febril comple-
do córtex, e generalizadas, quando é Internacional contra a Epilepsia (ILAE), xa. Já os pacientes com crise febril re-
difusa.5 As crises generalizadas, parti- e de 3 meses a 5 anos, segundo o Natio- corrente devem sempre ser internados.
cularmente as tônicas, as clônicas ou as nal Institute of Health (NIH).2,4 O limite Após um exame neurológico cuidadoso,
tônico-clônicas, são aquelas que mais de tolerância, na prática, é de 6 anos. As decide-se pela necessidade, ou não, de
motivam a busca da emergência. crises febris são classificadas como sim- punção lombar. Afora a situação em que
Objetivando uma abordagem prática, ples quando são generalizadas, duram o exame clínico e a história sugiram me-
discutiremos cinco situações principais: menos de 15 minutos, não se repetem ningoencefalite, avalia-se, seriamente, a
crise febril; crise epiléptica após trauma- nas 24 horas subsequentes e afetam necessidade de punção lombar nos me-
tismo craniano; crise em uma criança crianças neurologicamente normais. nores de 18 meses. No entanto, sempre
com diagnóstico prévio de epilepsia; São complexas quando apresentam iní- se recorre a esse procedimento para os
primeira crise afebril; e estado de mal cio focal, maior duração e repetição ou menores de um ano. Convém ressaltar
epiléptico. acometam crianças com doença neuro- que apenas pouco mais de 1% dos casos
lógica de base.10 Nessas situações, há de crise febril são atribuíveis à meningo-
Crise febril maior risco de recorrência ou evolução encefalite, uma vez que a principal causa
Considera-se crise febril a crise epilépti- para epilepsia; portanto, são maiores os é a infecção de vias respiratórias superio-
ca que ocorre na vigência de febre e na cuidados com a investigação e o trata- res. Em razão disso, 1/3 dos casos perma-
ausência de infecção do sistema nervo- mento. necem sem diagnóstico etiológico.16 Exa-

Tabela 2 ‑ Protocolo de tratamento de crise epiléptica

Primeira ação Suporte de vida (A-B-C)


Acesso venoso / dosar glicemia / bioquímica
Medicações iniciais em Diazepam (0,3 a 0,5 mg/kg EV máximo 1mg/kg/min) ou
sequência até a crise Diazepam (0,5 mg/kg retal) ou
parar Midazolam (0,2 mg/kg EV máximo 4 mg/kg/min)
Fenitoína (20 mg/kg EV diluído 1:20 SF 0,9%, 1 mg/kg/min)
Se crise (10 min)... Diazepam (0,5 mg/kg EV ou retal)
Se crise (10 min)... Fenobarbital (20 mg/Kg EV)
Se crise (10 min)... Midazolam (0,2 mg/Kg EV)
Midazolam contínuo (0,05 mg a 0,4 mg/Kg/hora)
Se crise (10 min)... Tiopental 10 a 120 microgramas/Kg/min ou propofol 3 a 5 mg/Kg/hora
Outras opções: valproato EV
Solicitação de neuroimagem, monitorização EEG, mais exames laboratoriais (screening toxicológico,
pesquisa EIM); gasometria conforme necessidade

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mes complementares, como o hemogra- tismo cranioencefálico (TCE) propria- da biodisponibilidade da medicação,
ma, por exemplo, não ajudam na decisão mente dito, mas a crise epiléptica na desidratação e distúrbios eletrolíticos);
de investigar a meningoencefalite, pois, situação de um trauma na cabeça. O além de outros fatores como, por exem-
além da baixa sensibilidade habitual para risco de crise epiléptica pós-traumática plo, privação de sono e estresse psico-
a doença, comumente ocorre a leuco- em crianças está na faixa de 20 a 40% lógico.
citose após uma crise epiléptica. Além dos casos de trauma craniano, sendo Após a estabilização do quadro, ajus-
desses exames, a neuroimagem também maior em comparação aos adultos, uma ta-se a dose da medicação, quando
não é indicada rotineiramente, exceto vez que elas têm maior sensibilidade a necessário, a fim de mantê-la em fai-
em caso de déficit focal persistente, crise esse tipo de trauma.14 Para afastar a le- xa terapêutica. A internação baseia-se
febril complexa recorrente ou estado de são neurológica, haja vista que podem no estado do paciente e no risco de re-
mal epiléptico. ocorrer crises sem essa lesão (isquemia, corrência de crises até que a nova dose
A crise febril costuma ser um evento contusão, edema, hemorragia ou corpo ajustada surta efeito.6
único na maioria dos casos. Contudo, estranho – ósseo), toda criança em crise
recorre em 1/3 dos pacientes, particu- epiléptica após TCE deve ser submetida Primeira crise afebril
larmente quando menores de 18 meses à neuroimagem (tomografia do crânio). O paciente que apresenta a primeira
e na presença de história familiar po- Aqueles pacientes que evoluírem bem crise febril pode iniciar um quadro de
sitiva para crise febril em temperatura após algumas horas de observação, com epilepsia, o que é impossível de definir
menor de 40ºC ou em crises repetidas imagem e exame neurológicos normais, nesse momento, ou ter outro fator agu-
no mesmo episódio febril.16 Dessa for- em uma situação de acidente que não do desencadeante que não seja a febre.
ma, as orientações para o tratamento sugira a progressão de lesões, podem ser A anamnese deve procurar por fatores
em domicílio restringem-se à detecção liberados sem antiepilépticos.2 A medi- desencadeantes como, por exemplo,
precoce de febre, aos cuidados para bai- cação antiepiléptica profilática somente desidratação e distúrbio metabólico ou
xar a temperatura (banhos e compressas, é indicada em caso de sangramento do eletrolítico (diarreia, cetoacidose, erros
por exemplo) e ao uso de medicação em sistema nervoso central (SNC), espícu- inatos), intoxicação exógena, processo
faixa menor do que o habitual (37,5º C). las ósseas no parênquima, contusão ou expansivo e TCE. Interna-se o paciente
Dificilmente, indica-se qualquer medi- edema.8 para monitorização e investigação nos
da terapêutica em casos de emergência; O tratamento agudo da crise é o con- seguintes casos: crise prolongada; cri-
portanto, ficam a cargo do neuropediatra vencional e será posteriormente discu- ses recorrentes; suspeita de intoxicação
a definição de uso de benzodiazepínico tido (tabela 2). exógena; TCE (em caso de atender a
como profilaxia intermitente (diazepam algum dos critérios supracitados); neo-
retal ou clobazam oral nas primeiras 48 Crise em uma criança com diagnóstico natos e lactentes com exame neuroló-
horas de febre) ou o uso contínuo de prévio de epilepsia gico pós-ictal alterado, suspeita clínica
droga antiepiléptica (fenobarbital ou áci- Após a crise febril, crianças com epilep- de processo expansivo ou erro inato do
do valproico), em raríssimas situações.10 sia são o principal grupo que chega à metabolismo15. Todavia, estando bem,
O risco de epilepsia após um episódio emergência. Cerca de 20% dos quadros a criança pode ser encaminhada para
de crise febril está entre 3 a 12%, maior de epilepsia são refratários aos medica- seguimento ambulatorial após um pe-
do que na população geral16. Mas como mentos instituídos e, geralmente, en- ríodo de poucas horas de observação.
o diagnóstico pressupões a recorrência globam síndromes epilépticas, as quais A investigação será ditada pela clíni-
de crises afebris, também é evolutivo, se associam a diversos tipos de crise em ca, mas recomenda-se a realização de
não sendo uma preocupação no mo- crianças com atraso de desenvolvimen- exames de bioquímica e neuroimagem.
mento da alta. Crianças com atraso de to.3 Além dessa situação, outros fatores Convém ressaltar que, embora a tomo-
desenvolvimento, crises febril comple- contribuem para que uma criança com grafia seja mais fácil na emergência, o
xa e história familiar positiva de epilep- epilepsia saia do controle da doença: ideal, nessa situação, seria a ressonância
sia estão em maior risco. abstinência (a descontinuidade da me- magnética.
dicação); uso de subdoses (crianças que O risco de recorrência de uma crise
Crise epiléptica após traumatismo ganham peso, cujas doses não são rea- epiléptica afebril e de instalação de um
cranioencefálico justadas); febre e quadros infecciosos quadro de epilepsia depende do tipo
Nesta seção, não se discute o trauma- agudos; vômito e diarreia (diminuição de crise e da idade da criança, poden-

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do variar de 14 a 65% nos primeiros a serem tomados diante de uma crise tratáveis que possibilitem a reversão do
dois anos.3 Cabe lembrar os riscos psi- epiléptica. Os tratamentos de primeira quadro. O suporte respiratório e cardio-
cossociais em adolescentes e a situação linha para cessar a crise são os benzo- circulatório, bem como a hidratação e a
rara, porém preocupante, de morte diazepínicos (diazepam ou midazolam monitorização, são essenciais para evi-
súbita associada à epilepsia (SUDEP).12 venoso), com opção de uso retal (dia- tar complicações sistêmicas que promo-
A medicação profilática será instituí- zepam), bucal, nasal ou intramuscular vam morbimortalidade (anóxia, bron-
da na emergência nos seguintes casos: (midazolam) na ausência de acesso ve- coaspiração, falência cardiopulmonar,
grande preocupação médica ou familiar noso. As medicações de segunda linha hipertermia, rabdomiólise, insuficiência
com os riscos descritos anteriormente; são a fenitoína, fenobarbital e valproato renal aguda etc.). O trabalho em equipe,
crise prolongada (configurando estado endovenosos em dose de ataque. Dá- focado em cessar a crise, dar suporte de
de mal epiléptico); crises de ausência -se preferência ao valproato na crise de vida e tratar causas identificáveis, é a
(que não se apresentam de forma iso- ausência, ao fenobarbital em neonatos base do sucesso terapêutico.
lada); quando a crise não foi a primei- e lactentes jovens e à fenitoína em TCE Em todas as situações de crise epilépti-
ra) (fechando diagnóstico de epilep- e meningoencefalite, por interferir me- ca anteriormente citadas, segue-se esse
sia). Além dessas situações, sugere-se nos no sensório e facilitar o seguimento protocolo de ação, que será interrom-
a medicação também a crianças com do paciente. Nos casos refratários, pode pido assim que a crise for controlada.
doença neurológica prévia (paralisia ser necessário o coma induzido (tiopen- Em caso de estado de mal epiléptico,
cerebral). Na dúvida, o pediatra pode tal, propofol), quando o paciente já es- recomenda-se que as medicações utili-
iniciar a medicação que será mantida ou tiver na unidade de terapia intensiva, zadas sejam mantidas até a estabilização
descontinuada após investigação mais monitorizado e com suporte ventila- do paciente e o tratamento da causa de
detalhada pelo especialista. A tabela 3 tório.1 Nessa situação, a monitorização base, com liberação da criança com es-
demonstra as indicações primárias de videoeletroencefalográfica é essencial, quema antiepiléptico posteriormente.
medicamentos antiepilépticos para os pois o parâmetro motor é perdido e
diversos tipos de crise. objetiva-se cessar a atividade epilépti- CONCLUSÃO
ca constatada no monitor. A utilização O adequado manejo da crise epiléptica
Estado de mal epiléptico de outros medicamentos antiepilépti- em atividade diminui os riscos de mor-
Caracteriza-se o estado de mal epilép- cos por cateter nasoentérico pode ser bimortalidade. A definição do contexto
tico (EME) pela atividade epiléptica de necessária. em que a crise ocorre permite uma con-
qualquer tipo ou pela etiologia com du- Paralelamente ao tratamento da cri- dução adequada quanto à necessidade
ração superior a 30 minutos, havendo se, realiza-se uma avaliação laborato- de internação, exames complementares
duas ou mais crises subsequentes sem rial para a identificação de etiologias e profilaxia contínua.
recuperação de consciência entre os
episódios nesse período.1,7 Em razão Tabela 3 - Drogas antiepilépticas para início de tratamento
dos riscos da continuidade de uma cri-
Crise focal Oxcarbazepina ou carbamazepina (20-40 mg/kg/dia)
se epiléptica, admite-se, atualmente,
Fenitoína (4-7 mg/Kg/dia)
que qualquer crise de mais de 5 minu- Fenobarbital (3-6 mg/Kg/dia)
tos é um estado de mal epiléptico em Ácido valproico (30-60 mg/kg/dia)
potencial. Nesse sentido, ao chegar em Crise generalizada Ácido valproico
crise epiléptica à emergência, o pacien- (tônico-clônica, tônica, Fenobarbital
te deve entrar no protocolo de atendi- clônica) Fenitoína
A carbamazepina pode agravar síndromes epilépticas
mento imediatamente, a fim de se inter-
generalizadas e deve ser evitada.
romper a crise o mais breve possível. O
EME decorre de diversas causas agudas, Crise de ausência e mioclônica Ácido valproico
podendo ocorrer em portadores de epi- Neonatos e lactentes Fenobarbital
lepsia ou mesmo ser idiopático. Oxcarbazepina pode ser utilizada em lactentes com
crise focal.
A tabela 2 aponta os passos sucessivos

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Avaliação

25. Em relação ao estado de mal epilép- 27. Em relação à crise epiléptica febril, 29. Marque a correlação correta entre tipo
tico, é correto afirmar: podemos afirmar: de crise epiléptica e medicação antie-
piléptica:
a) Trata-se de condição de crise epiléptica dura- a) Ocorre em menores de 10 anos.
doura associada a casos sintomáticos agudos. a) Ausência – ácido valproico
b) Pode ser dividida em simples e complexa, na
b) É definido como uma crise epiléptica prolon- presença ou na ausência de meningoencefa- b) Ausência – oxcarbazepina
gada ou recorrente por mais de 15 minutos. lite.
c) Tônico-clônica generalizada – carbamazepina
c) Em termos práticos, considera-se qualquer c) A punção lombar é mandatória em menores
crise mais duradoura do que 5 minutos como de 1 ano de idade. d) Mioclônica – fenobarbital
estado de mal em potencial e inicia-se trata-
mento específico para cessá-la. d) O hemograma pode ser útil para definir a
necessidade de punção lombar.
d) Apresenta baixa morbidade em crianças. 30. Escolar de 10 anos apresentou episódio
de crise tônico-clônica generalizada
ao despertar, chegando já acordado à
28. Define-se epilepsia como: emergência. Os exames geral e neuro-
26. Em relação a crises epilépticas em lógico foram normais. A história fami-
situação de trauma craniano, é correto a) Crise única focal em portador de paralisia liar para epilepsia é positiva. O escolar
afirmar: cerebral. ficou em observação por 6 horas, sem
qualquer intercorrência. Qual seria a
a) Todas as crianças devem iniciar droga antiepi- b) Crises recorrentes na ausência de fator agudo conduta mais adequada?
léptica profilática. desencadeante.
b) A radiografia de crânio simples normal em c) Crises recorrentes em associação a eletroence- a) Internação e realização imediata de ressonân-
uma criança com exame neurológico normal falograma alterado. cia de crânio.
prescinde da solicitação da tomografia de b) Liberação para investigação ambulatorial com
d) Crises recorrentes em associação à imagem
crânio. orientação em caso de nova crise.
que afasta tumor cerebral.
c) A ressonância de crânio é o melhor exame a c) Liberação para investigação ambulatorial com
ser realizado nessa situação. prescrição de droga antiepiléptica.
d) Crianças são sensíveis ao trauma craniano e d) Internação e realização imediata de eletroen-
podem apresentar crise epiléptica na ausência
de lesão estrutural. cefalograma.

34 Revista de Pediatria SOPERJ - v. 13, no 2, p29-34 dez 2012

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Ficha de avaliação

A Criança Vítima de Violência..................... 4 Abordagem das Crises Epilépticas na Febre no Lactente........................................ 64


Emergência Pediátrica................................ 29
1. a) M b) M C) M d) M 48. a) M b) M C) M d) M
25. a) M b) M C) M d) M
2. a) M b) M C) M d) M 49. a) M b) M C) M d) M
26. a) M b) M C) M d) M
3. a) M b) M C) M d) M 50. a) M b) M C) M d) M
27. a) M b) M C) M d) M
4. a) M b) M C) M d) M 51. a) M b) M C) M d) M
28. a) M b) M C) M d) M
5. a) M b) M C) M d) M 52. a) M b) M C) M d) M
29. a) M b) M C) M d) M
6. a) M b) M C) M d) M 53. a) M b) M C) M d) M
30. a) M b) M C) M d) M

Reanimação Neonatal................................. 10 Doença Falciforme na Emergência ........... 68


Urgência em Cirurgia Pediátrica................ 35
7. a) M b) M C) M d) M 54. a) M b) M C) M d) M
31. a) M b) M C) M d) M
8. a) M b) M C) M d) M 55. a) M b) M C) M d) M
32. a) M b) M C) M d) M
9. a) M b) M C) M d) M 56. a) M b) M C) M d) M
33. a) M b) M C) M d) M
10. a) M b) M C) M d) M 57. a) M b) M C) M d) M
34. a) M b) M C) M d) M
11. a) M b) M C) M d) M 58. a) M b) M C) M d) M
35. a) M b) M C) M d) M
12. a) M b) M C) M d) M 59. a) M b) M C) M d) M

Asma Aguda na Infância............................. 43


Falência Cardiopulmonar em Paciente Meningite Bacteriana Aguda..................... 72
Pediátrico...................................................... 14 36. a) M b) M C) M d) M e) M
60. a) M b) M C) M d) M
13. a) M b) M C) M d) M 37. a) M b) M C) M d) M e) M
61. a) M b) M C) M d) M
14. a) M b) M C) M d) M 38. a) M b) M C) M d) M e) M
62. a) M b) M C) M d) M
15. a) M b) M C) M d) M 39. a) M b) M C) M d) M e) M
63. a) M b) M C) M d) M
16. a) M b) M C) M d) M 40. a) M b) M C) M d) M e) M
64. a) M b) M C) M d) M
17. a) M b) M C) M d) M 41. a) M b) M C) M d) M e) M
65. a) M b) M C) M d) M
18. a) M b) M C) M d) M

Obstrução Respiratória
Alta em Pediatria......................................... 54 Atualidades na Sepse e Choque Séptico
Anafilaxia...................................................... 24 Pediátrico...................................................... 77
42. a) M b) M C) M d) M
19. a) M b) M C) M d) M 66. a) M b) M C) M d) M e) M
43. a) M b) M C) M d) M
20. a) M b) M C) M d) M 67. a) M b) M C) M d) M e) M
44. a) M b) M C) M d) M
21. a) M b) M C) M d) M 68. a) M b) M C) M d) M e) M
45. a) M b) M C) M d) M
22. a) M b) M C) M d) M 69. a) M b) M C) M d) M e) M
46. a) M b) M C) M d) M
23. a) M b) M C) M d) M
47. a) M b) M C) M d) M
24. a) M b) M C) M d) M

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