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limita-se apenas à informação dos res- so e de crise neonatal ou afebril prévia. Quando a criança chega em crise epi-
ponsáveis da criança, que, geralmente Nessa definição, não se exclui a possi- léptica febril à emergência, segue-se o
angustiados com o evento, nem sempre bilidade de uma criança com encefalo- protocolo de tratamento válido para as
conseguem ser claros quanto às mani- patia crônica não progressiva (paralisia demais situações (tabela 2). Uma vez
festações e, principalmente, quanto à cerebral) apresentar crise febril, embora controlada a crise, considera-se a neces-
duração da crise. Inúmeros eventos pa- se leve em conta a possibilidade de ser sidade de investigação e internação.10
roxísticos, de natureza neurológica, ou um quadro de epilepsia sintomática. A A internação será ditada pelo risco de
mesmo não neurológica, podem simu- crise febril ocorre em até 4% de crian- infecção do sistema nervoso central (me-
lar crises e devem entrar no diagnóstico ças antes dos 5 anos18 e é a principal ningoencefalite). Por conseguinte, de-
diferencial (tabela 1). causa de crise epiléptica na emergência vem ser observados e reavaliados, após 4
As crises epilépticas são classificadas pediátrica.17 horas, os menores de 18 meses, aqueles
de acordo com a manifestação clínica A faixa etária em que ocorre a crise que utilizaram antibióticos previamente
e dividem-se em: focais, quando deno- febril varia conforme a referência: de (o que pode mascarar os sinais menín-
tam a disfunção de uma área específica um mês a 5 anos, de acordo com a Liga geos) e aqueles com crise febril comple-
do córtex, e generalizadas, quando é Internacional contra a Epilepsia (ILAE), xa. Já os pacientes com crise febril re-
difusa.5 As crises generalizadas, parti- e de 3 meses a 5 anos, segundo o Natio- corrente devem sempre ser internados.
cularmente as tônicas, as clônicas ou as nal Institute of Health (NIH).2,4 O limite Após um exame neurológico cuidadoso,
tônico-clônicas, são aquelas que mais de tolerância, na prática, é de 6 anos. As decide-se pela necessidade, ou não, de
motivam a busca da emergência. crises febris são classificadas como sim- punção lombar. Afora a situação em que
Objetivando uma abordagem prática, ples quando são generalizadas, duram o exame clínico e a história sugiram me-
discutiremos cinco situações principais: menos de 15 minutos, não se repetem ningoencefalite, avalia-se, seriamente, a
crise febril; crise epiléptica após trauma- nas 24 horas subsequentes e afetam necessidade de punção lombar nos me-
tismo craniano; crise em uma criança crianças neurologicamente normais. nores de 18 meses. No entanto, sempre
com diagnóstico prévio de epilepsia; São complexas quando apresentam iní- se recorre a esse procedimento para os
primeira crise afebril; e estado de mal cio focal, maior duração e repetição ou menores de um ano. Convém ressaltar
epiléptico. acometam crianças com doença neuro- que apenas pouco mais de 1% dos casos
lógica de base.10 Nessas situações, há de crise febril são atribuíveis à meningo-
Crise febril maior risco de recorrência ou evolução encefalite, uma vez que a principal causa
Considera-se crise febril a crise epilépti- para epilepsia; portanto, são maiores os é a infecção de vias respiratórias superio-
ca que ocorre na vigência de febre e na cuidados com a investigação e o trata- res. Em razão disso, 1/3 dos casos perma-
ausência de infecção do sistema nervo- mento. necem sem diagnóstico etiológico.16 Exa-
mes complementares, como o hemogra- tismo cranioencefálico (TCE) propria- da biodisponibilidade da medicação,
ma, por exemplo, não ajudam na decisão mente dito, mas a crise epiléptica na desidratação e distúrbios eletrolíticos);
de investigar a meningoencefalite, pois, situação de um trauma na cabeça. O além de outros fatores como, por exem-
além da baixa sensibilidade habitual para risco de crise epiléptica pós-traumática plo, privação de sono e estresse psico-
a doença, comumente ocorre a leuco- em crianças está na faixa de 20 a 40% lógico.
citose após uma crise epiléptica. Além dos casos de trauma craniano, sendo Após a estabilização do quadro, ajus-
desses exames, a neuroimagem também maior em comparação aos adultos, uma ta-se a dose da medicação, quando
não é indicada rotineiramente, exceto vez que elas têm maior sensibilidade a necessário, a fim de mantê-la em fai-
em caso de déficit focal persistente, crise esse tipo de trauma.14 Para afastar a le- xa terapêutica. A internação baseia-se
febril complexa recorrente ou estado de são neurológica, haja vista que podem no estado do paciente e no risco de re-
mal epiléptico. ocorrer crises sem essa lesão (isquemia, corrência de crises até que a nova dose
A crise febril costuma ser um evento contusão, edema, hemorragia ou corpo ajustada surta efeito.6
único na maioria dos casos. Contudo, estranho – ósseo), toda criança em crise
recorre em 1/3 dos pacientes, particu- epiléptica após TCE deve ser submetida Primeira crise afebril
larmente quando menores de 18 meses à neuroimagem (tomografia do crânio). O paciente que apresenta a primeira
e na presença de história familiar po- Aqueles pacientes que evoluírem bem crise febril pode iniciar um quadro de
sitiva para crise febril em temperatura após algumas horas de observação, com epilepsia, o que é impossível de definir
menor de 40ºC ou em crises repetidas imagem e exame neurológicos normais, nesse momento, ou ter outro fator agu-
no mesmo episódio febril.16 Dessa for- em uma situação de acidente que não do desencadeante que não seja a febre.
ma, as orientações para o tratamento sugira a progressão de lesões, podem ser A anamnese deve procurar por fatores
em domicílio restringem-se à detecção liberados sem antiepilépticos.2 A medi- desencadeantes como, por exemplo,
precoce de febre, aos cuidados para bai- cação antiepiléptica profilática somente desidratação e distúrbio metabólico ou
xar a temperatura (banhos e compressas, é indicada em caso de sangramento do eletrolítico (diarreia, cetoacidose, erros
por exemplo) e ao uso de medicação em sistema nervoso central (SNC), espícu- inatos), intoxicação exógena, processo
faixa menor do que o habitual (37,5º C). las ósseas no parênquima, contusão ou expansivo e TCE. Interna-se o paciente
Dificilmente, indica-se qualquer medi- edema.8 para monitorização e investigação nos
da terapêutica em casos de emergência; O tratamento agudo da crise é o con- seguintes casos: crise prolongada; cri-
portanto, ficam a cargo do neuropediatra vencional e será posteriormente discu- ses recorrentes; suspeita de intoxicação
a definição de uso de benzodiazepínico tido (tabela 2). exógena; TCE (em caso de atender a
como profilaxia intermitente (diazepam algum dos critérios supracitados); neo-
retal ou clobazam oral nas primeiras 48 Crise em uma criança com diagnóstico natos e lactentes com exame neuroló-
horas de febre) ou o uso contínuo de prévio de epilepsia gico pós-ictal alterado, suspeita clínica
droga antiepiléptica (fenobarbital ou áci- Após a crise febril, crianças com epilep- de processo expansivo ou erro inato do
do valproico), em raríssimas situações.10 sia são o principal grupo que chega à metabolismo15. Todavia, estando bem,
O risco de epilepsia após um episódio emergência. Cerca de 20% dos quadros a criança pode ser encaminhada para
de crise febril está entre 3 a 12%, maior de epilepsia são refratários aos medica- seguimento ambulatorial após um pe-
do que na população geral16. Mas como mentos instituídos e, geralmente, en- ríodo de poucas horas de observação.
o diagnóstico pressupões a recorrência globam síndromes epilépticas, as quais A investigação será ditada pela clíni-
de crises afebris, também é evolutivo, se associam a diversos tipos de crise em ca, mas recomenda-se a realização de
não sendo uma preocupação no mo- crianças com atraso de desenvolvimen- exames de bioquímica e neuroimagem.
mento da alta. Crianças com atraso de to.3 Além dessa situação, outros fatores Convém ressaltar que, embora a tomo-
desenvolvimento, crises febril comple- contribuem para que uma criança com grafia seja mais fácil na emergência, o
xa e história familiar positiva de epilep- epilepsia saia do controle da doença: ideal, nessa situação, seria a ressonância
sia estão em maior risco. abstinência (a descontinuidade da me- magnética.
dicação); uso de subdoses (crianças que O risco de recorrência de uma crise
Crise epiléptica após traumatismo ganham peso, cujas doses não são rea- epiléptica afebril e de instalação de um
cranioencefálico justadas); febre e quadros infecciosos quadro de epilepsia depende do tipo
Nesta seção, não se discute o trauma- agudos; vômito e diarreia (diminuição de crise e da idade da criança, poden-
do variar de 14 a 65% nos primeiros a serem tomados diante de uma crise tratáveis que possibilitem a reversão do
dois anos.3 Cabe lembrar os riscos psi- epiléptica. Os tratamentos de primeira quadro. O suporte respiratório e cardio-
cossociais em adolescentes e a situação linha para cessar a crise são os benzo- circulatório, bem como a hidratação e a
rara, porém preocupante, de morte diazepínicos (diazepam ou midazolam monitorização, são essenciais para evi-
súbita associada à epilepsia (SUDEP).12 venoso), com opção de uso retal (dia- tar complicações sistêmicas que promo-
A medicação profilática será instituí- zepam), bucal, nasal ou intramuscular vam morbimortalidade (anóxia, bron-
da na emergência nos seguintes casos: (midazolam) na ausência de acesso ve- coaspiração, falência cardiopulmonar,
grande preocupação médica ou familiar noso. As medicações de segunda linha hipertermia, rabdomiólise, insuficiência
com os riscos descritos anteriormente; são a fenitoína, fenobarbital e valproato renal aguda etc.). O trabalho em equipe,
crise prolongada (configurando estado endovenosos em dose de ataque. Dá- focado em cessar a crise, dar suporte de
de mal epiléptico); crises de ausência -se preferência ao valproato na crise de vida e tratar causas identificáveis, é a
(que não se apresentam de forma iso- ausência, ao fenobarbital em neonatos base do sucesso terapêutico.
lada); quando a crise não foi a primei- e lactentes jovens e à fenitoína em TCE Em todas as situações de crise epilépti-
ra) (fechando diagnóstico de epilep- e meningoencefalite, por interferir me- ca anteriormente citadas, segue-se esse
sia). Além dessas situações, sugere-se nos no sensório e facilitar o seguimento protocolo de ação, que será interrom-
a medicação também a crianças com do paciente. Nos casos refratários, pode pido assim que a crise for controlada.
doença neurológica prévia (paralisia ser necessário o coma induzido (tiopen- Em caso de estado de mal epiléptico,
cerebral). Na dúvida, o pediatra pode tal, propofol), quando o paciente já es- recomenda-se que as medicações utili-
iniciar a medicação que será mantida ou tiver na unidade de terapia intensiva, zadas sejam mantidas até a estabilização
descontinuada após investigação mais monitorizado e com suporte ventila- do paciente e o tratamento da causa de
detalhada pelo especialista. A tabela 3 tório.1 Nessa situação, a monitorização base, com liberação da criança com es-
demonstra as indicações primárias de videoeletroencefalográfica é essencial, quema antiepiléptico posteriormente.
medicamentos antiepilépticos para os pois o parâmetro motor é perdido e
diversos tipos de crise. objetiva-se cessar a atividade epilépti- CONCLUSÃO
ca constatada no monitor. A utilização O adequado manejo da crise epiléptica
Estado de mal epiléptico de outros medicamentos antiepilépti- em atividade diminui os riscos de mor-
Caracteriza-se o estado de mal epilép- cos por cateter nasoentérico pode ser bimortalidade. A definição do contexto
tico (EME) pela atividade epiléptica de necessária. em que a crise ocorre permite uma con-
qualquer tipo ou pela etiologia com du- Paralelamente ao tratamento da cri- dução adequada quanto à necessidade
ração superior a 30 minutos, havendo se, realiza-se uma avaliação laborato- de internação, exames complementares
duas ou mais crises subsequentes sem rial para a identificação de etiologias e profilaxia contínua.
recuperação de consciência entre os
episódios nesse período.1,7 Em razão Tabela 3 - Drogas antiepilépticas para início de tratamento
dos riscos da continuidade de uma cri-
Crise focal Oxcarbazepina ou carbamazepina (20-40 mg/kg/dia)
se epiléptica, admite-se, atualmente,
Fenitoína (4-7 mg/Kg/dia)
que qualquer crise de mais de 5 minu- Fenobarbital (3-6 mg/Kg/dia)
tos é um estado de mal epiléptico em Ácido valproico (30-60 mg/kg/dia)
potencial. Nesse sentido, ao chegar em Crise generalizada Ácido valproico
crise epiléptica à emergência, o pacien- (tônico-clônica, tônica, Fenobarbital
te deve entrar no protocolo de atendi- clônica) Fenitoína
A carbamazepina pode agravar síndromes epilépticas
mento imediatamente, a fim de se inter-
generalizadas e deve ser evitada.
romper a crise o mais breve possível. O
EME decorre de diversas causas agudas, Crise de ausência e mioclônica Ácido valproico
podendo ocorrer em portadores de epi- Neonatos e lactentes Fenobarbital
lepsia ou mesmo ser idiopático. Oxcarbazepina pode ser utilizada em lactentes com
crise focal.
A tabela 2 aponta os passos sucessivos
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Avaliação
25. Em relação ao estado de mal epilép- 27. Em relação à crise epiléptica febril, 29. Marque a correlação correta entre tipo
tico, é correto afirmar: podemos afirmar: de crise epiléptica e medicação antie-
piléptica:
a) Trata-se de condição de crise epiléptica dura- a) Ocorre em menores de 10 anos.
doura associada a casos sintomáticos agudos. a) Ausência – ácido valproico
b) Pode ser dividida em simples e complexa, na
b) É definido como uma crise epiléptica prolon- presença ou na ausência de meningoencefa- b) Ausência – oxcarbazepina
gada ou recorrente por mais de 15 minutos. lite.
c) Tônico-clônica generalizada – carbamazepina
c) Em termos práticos, considera-se qualquer c) A punção lombar é mandatória em menores
crise mais duradoura do que 5 minutos como de 1 ano de idade. d) Mioclônica – fenobarbital
estado de mal em potencial e inicia-se trata-
mento específico para cessá-la. d) O hemograma pode ser útil para definir a
necessidade de punção lombar.
d) Apresenta baixa morbidade em crianças. 30. Escolar de 10 anos apresentou episódio
de crise tônico-clônica generalizada
ao despertar, chegando já acordado à
28. Define-se epilepsia como: emergência. Os exames geral e neuro-
26. Em relação a crises epilépticas em lógico foram normais. A história fami-
situação de trauma craniano, é correto a) Crise única focal em portador de paralisia liar para epilepsia é positiva. O escolar
afirmar: cerebral. ficou em observação por 6 horas, sem
qualquer intercorrência. Qual seria a
a) Todas as crianças devem iniciar droga antiepi- b) Crises recorrentes na ausência de fator agudo conduta mais adequada?
léptica profilática. desencadeante.
b) A radiografia de crânio simples normal em c) Crises recorrentes em associação a eletroence- a) Internação e realização imediata de ressonân-
uma criança com exame neurológico normal falograma alterado. cia de crânio.
prescinde da solicitação da tomografia de b) Liberação para investigação ambulatorial com
d) Crises recorrentes em associação à imagem
crânio. orientação em caso de nova crise.
que afasta tumor cerebral.
c) A ressonância de crânio é o melhor exame a c) Liberação para investigação ambulatorial com
ser realizado nessa situação. prescrição de droga antiepiléptica.
d) Crianças são sensíveis ao trauma craniano e d) Internação e realização imediata de eletroen-
podem apresentar crise epiléptica na ausência
de lesão estrutural. cefalograma.
Ficha de avaliação
Obstrução Respiratória
Alta em Pediatria......................................... 54 Atualidades na Sepse e Choque Séptico
Anafilaxia...................................................... 24 Pediátrico...................................................... 77
42. a) M b) M C) M d) M
19. a) M b) M C) M d) M 66. a) M b) M C) M d) M e) M
43. a) M b) M C) M d) M
20. a) M b) M C) M d) M 67. a) M b) M C) M d) M e) M
44. a) M b) M C) M d) M
21. a) M b) M C) M d) M 68. a) M b) M C) M d) M e) M
45. a) M b) M C) M d) M
22. a) M b) M C) M d) M 69. a) M b) M C) M d) M e) M
46. a) M b) M C) M d) M
23. a) M b) M C) M d) M
47. a) M b) M C) M d) M
24. a) M b) M C) M d) M