Você está na página 1de 19

Beatriz Oliveira Leão

Carneiro

PEDIATRIA
CRISES CONVULSIVAS

TRAUMA
BASES DA MEDICINA

2
Crises convulsivas

O QUE VOCÊ PRECISA SABER?

u A convulsão febril é a ocorrência neurológica mais comum na infância.


u As infecções virais são as causas mais comuns de convulsões febris.
u As convulsões febris podem ser divididas em 2 tipos: febril simples (típica) e febril complexa.
u Toda criança que apresenta uma crise convulsiva febril precisa ser avaliada quanto ao risco de recorrência
de novos episódios e ao risco de epilepsia.
u Quando considerar a punção lombar e os exames de imagem.
u O que é o estado de mal epiléptico.

As crises convulsivas são frequentes nas urgências/


emergências pediátricas e, geralmente, são eventos    BASES DA MEDICINA

que assustam os familiares, sendo o pediatra ou o


médico emergencista, normalmente, o profissio- Estudos clínicos e experimentais demonstram que o
nal que recebe a criança em vigência ou após um cérebro imaturo, do menor de 5 anos, apresenta maior
susceptibilidade a convulsões em vigência de febre. Os
quadro convulsivo. Crises de ausência, ou aquelas
mecanismos fisiopatológicos para a convulsão febril ainda
em que os sintomas são apenas sensitivos, visuais não foram claramente estabelecidos. Acredita-se que a
ou auditivos são denominadas como crises não condição de imaturidade do cérebro, a falta de mielina, a
convulsivas. É essencial que o médico conheça diferença de permeabilidade celular e a atividade elétrica
as diversas formas de apresentação, as prováveis do cérebro da criança são algumas das razões que tornam
causas, os principais diagnósticos diferenciais e o as crianças mais susceptíveis a convulsões febris do que
os adultos. A verificação de que algumas famílias são mais
manejo adequado de cada caso. A família deve ser
suscetíveis a apresentarem convulsão febril é notória, e
tranquilizada e orientada, tendo em vista o medo e já foram descritos os loci cromossômicos de algumas
a ansiedade que as crises convulsivas geram nos delas. Filhos de pais com antecedentes de convulsão
familiares. febril têm um risco 4,4 vezes maior de apresentar crise
febril, e irmãos de pacientes com convulsão febril têm um
risco 3,5 vezes maior do que a população geral. Embora
ainda não exista nenhum modelo de transmissão que
1. CONVULSÃO FEBRIL englobe todos os casos familiares de convulsão febril, a
maioria dos estudos sugere uma herança autossômica
dominante com baixa penetrância e expressão variável.
As crises convulsivas febris são as intercorrências
neurológicas mais comuns da infância, e estima-se
que 2% a 5% das crianças menores de 5 anos de A etiologia do processo infeccioso não parece
idade apresentarão, pelo menos, um episódio de ser determinante para a crise febril. Entretanto,
convulsão em vigência de febre. A convulsão febril a presença de febre é essencial, embora não se
é definida como uma síndrome convulsiva acom- conheça seu mecanismo de ação. Os vírus são
panhada por febre (temperatura maior ou igual a os mais envolvidos com as convulsões febris, por
37,8ºC por qualquer método de medida). Ocorre, serem os principais agentes responsáveis por febre
predominantemente, em crianças com mais de 1 nessa faixa etária. É comum a associação com o
mês de vida, geralmente de 6 a 60 meses, com pico exantema súbito (roséola). Alguns estudos obser-
de incidência entre 14 e 18 meses, sem evidência varam sazonalidade na incidência das convulsões
de infecção ou inflamação do sistema nervoso febris, sendo maior no outono, quando a taxa de
central, alteração metabólica e sem história prévia doenças respiratórias é maior.
de crise convulsiva.

3
Crises convulsivas Pediatria

Quadro 1. Fatores de risco de recorrência


   DIA A DIA MÉDICO e de epilepsia na convulsão febril.

Maior risco de
Quanto à apresentação clínica, a convulsão febril pode Maior risco de epilepsia
recorrência
ser de 2 tipos: simples ou complexa (Tabela 1). Mais de
80% dos casos são de convulsões febris simples, que Convulsão febril complexa Convulsão febril complexa
normalmente ocorrem no começo de doenças febris e Temperatura mais Atraso no
têm curta duração, sendo incomum a chegada do paciente baixa no início da desenvolvimento
ao pronto-socorro ainda em crise convulsiva. É comum, crise convulsiva neuropsicomotor
após a resolução da convulsão, a criança se apresentar
com sonolência de curta duração e não resultando em Idade da 1ª crise Distúrbio neurológico
< 12 meses preexistente
déficits focais.
Antecedente familiar
Antecedente familiar
positivo de convulsão
Tabela 1. Características clínicas das crises positivo de epilepsia
febril ou de epilepsia
convulsivas febris simples e complexas.
Convulsão febril
Sexo masculino
Características Convulsão Convulsão recorrente
clínicas febril simples febril complexa
Fonte: Elaborado pela autora.
Tipo de crise Tônico-clônica
Focal
convulsiva generalizada
1.1. DIAGNÓSTICO
Duração < 15 minutos > 15 minutos

Sonolência O diagnóstico da convulsão febril depende da anam-


persistente
Sonolência
ou presença nese e do exame físico cuidadosos, caracterizando o
Pós-ictal breve, sem tipo de convulsão febril, identificando o possível foco
de déficit
déficit focal
focal (Paresia da febre e afastando infecção do sistema nervoso
de Todd) central e outras crises sintomáticas agudas. Deve-se
Crises repetidas pesquisar intercorrências durante a gestação e o
Sem recorrência em 24 horas ou período neonatal, doenças sistêmicas concomitan-
Recorrência na mesma que recorrem
tes, uso de drogas e traumas. O Quadro 2 sumariza
doença febril na mesma
doença febril os tópicos que devem ser abordados durante o
atendimento a uma criança com crise convulsiva
Risco de
epilepsia
Baixo risco Maior risco febril, seja no contexto da urgência/emergência ou
do acompanhamento ambulatorial. Já o Quadro
Fonte: Elaborada pela autora.
3 mostra como deve ser realizado o exame físico
direcionado para pacientes com história de crise
A maioria das crianças apresenta um único episódio convulsiva na urgência/emergência.
de convulsão febril ao longo da vida, mas o risco
de recorrência pode chegar a 30%, principalmente Quadro 2. Perguntas que devem ser feitas na
nas crianças entre 1 e 2 anos com fatores de risco. história clínica do paciente com crise convulsiva.
O risco de epilepsia em crianças que tiveram convul-
Já apresentou alguma outra crise? Quanto tempo durou?
são febril é baixo, cerca de 2% a 10%, sendo maior
na presença de alguns fatores de risco (Quadro 1). O que a criança estava fazendo imediatamente antes
da crise?

Havia queixa de desconforto epigástrico ou sensação de


medo antes da crise (aura)?

4
Crises convulsivas

Manteve a consciência preservada durante o episódio?


sinais neurológicos claros nessa idade) e naqueles
Desmaiou? Virou os olhos? Teve sialorreia? Vômito? En- que fizeram uso prévio de antibiótico.
dureceu alguma parte do corpo? Apresentou movimentos
rítmicos e repetitivos dos membros? Perdeu o controle
dos esfíncteres?
   DIA A DIA MÉDICO
Como ficou depois da crise? Alguma anormalidade, sono,
dor de cabeça?
Não se recomenda a realização de exames de neuroima-
Apresentou febre em algum momento? Infecção recente? gem de rotina, a não ser na suspeita de doença neuroló-
História de intoxicação? Trauma?
gica, como na presença de crise focal ou com achados
Houve alguma intercorrência pré, peri ou pós-natal? Os focais no pós-ictal, manutenção da alteração do nível de
marcos do desenvolvimento alcançados são compatíveis consciência, micro/macrocefalia, doença neurocutânea
com a idade? Presença de doença neurológica prévia? ou déficits neurológicos preexistentes. A ressonância
nuclear magnética é melhor para a avaliação de anor-
Existe história familiar de epilepsia ou de convulsões
malidades estruturais em comparação à tomografia de
febris?
crânio. Não é necessária avaliação do neurologista ou
Fonte: Elaborado pela autora. realização de Eletroencefalograma (EEG) precoce ainda
na urgência. Nos primeiros 7 dias após uma crise febril,
podem aparecer anormalidades de difícil interpretação
Quadro 3. Exame físico direcionado que
no EEG. Apenas pacientes com crises febris complexas e
deve ser realizado em um paciente com crise
fatores de risco para epilepsia deverão ser encaminhados
convulsiva na urgência/emergência.
após a alta para o neurologista pediátrico.
Avaliação imediata dos sinais vitais e avaliação do nível
de consciência

Medida do perímetro cefálico, estatura/altura, peso e 1.2. TRATAMENTO


avaliação das fontanelas

Presença de hemiparesia, hiperreflexia, Sinal de Babinski Toda criança que chega ao pronto-socorro ainda
ou outros achados no exame neurológico? convulsionando é considerada como estado de
Avaliação dos sinais de irritação meníngea (rigidez de mal epiléptico, devendo ser tomadas medidas para
nuca, Sinal de Kernig e Sinal de Brudzinski) a cessação da crise. O estado de mal epiléptico
Sinais de hipertensão intracraniana?
pode ser definido como uma crise epiléptica pro-
longada, capaz de se tornar uma condição dura-
Exame das pupilas e do fundo de olho doura e suplantar os mecanismos de manutenção
Presença de hepatoesplenomegalia (doença metabólica/ da homeostase clínica do paciente, com risco de
de armazenamento)? complicações graves. Classicamente, ele é definido
Lesões sugestivas de doença neurocutânea? Presença de por uma crise epiléptica com duração superior a 30
malformação congênita? Petéquias? Lesões herpéticas? minutos ou crises reentrantes sem recuperação da
consciência entre elas com duração superior a 30
Fonte: Elaborado pela autora.
minutos. Recomendações recentes consideram
estado de mal epiléptico em potencial as crises que
Se a crise convulsiva febril for simples, não há
duram mais de 5 minutos, pois apresentam maior
necessidade de exames laboratoriais (exceto se
risco de persistência e de complicações sistêmi-
necessários para a pesquisa do foco da febre).
cas. O estado de mal epiléptico é uma emergência
A punção lombar só deve ser feita na suspeita de
médica com elevada morbimortalidade.
infecção de sistema nervoso central pela presença
de sinais clínicos (sinais meníngeos e abaulamento A droga inicial deve ser um benzodiazepínico. No
de fontanela), em lactentes com idade inferior a 6 Brasil, os disponíveis para uso parenteral são o
meses ou na ausência de vacinação contra Haemo- diazepam e o midazolam. A dose pode ser repetida
philus influenzae tipo B, meningococo e pneumo- até 3 vezes para obter a cessação da crise. Se,
coco. A coleta de líquor pode ser considerada em mesmo assim, a crise convulsiva persistir, deve-se
lactentes menores de 1 ano (devido à ausência de realizar dose de ataque de fenitoína endovenosa e,

5
Crises convulsivas Pediatria

se mesmo assim persistir, realizar dose de ataque Fluxograma 1. Condutas na crise convulsiva.
de fenobarbital ou ácido valproico endovenoso.
Caso a crise convulsiva persista, caracteriza-se o Via aérea + O2 alto fluxo
estado de mal epiléptico refratário, definido como Monitorar + acesso IV
Dextro
atividade epiléptica que persiste depois de uma
dose apropriada de benzodiazepínico e de uma 5 minutos
medicação de 2ª linha apropriada. Tem elevada
morbimortalidade, devendo-se considerar o uso Benzodiazepínico até 3 vezes
de anestésicos ou benzodiazepínico de infusão Diazepam IV/VR ou
contínua, sempre com o paciente entubado e em Midazolam IV/IM/IN/B
ambiente de terapia intensiva (Fluxograma 1).

Fenitoína ataque IV
   DIA A DIA MÉDICO

O tratamento da convulsão febril engloba o manejo da Fenobarbital ou ácido


crise convulsiva, as orientações aos familiares e a profi- valproico ataque IV
laxia secundária. O manejo inicial da crise convulsiva, que
pode ser inclusive orientado para os cuidadores, consiste
em colocar a criança em local seguro, mantendo posição
neutra da cabeça com via aérea pérvia, ventilação e cir- Estado de mal epiléptico refratário
culação adequadas. Uma vez no pronto-socorro, deve ser
fornecido oxigênio suplementar, obtido acesso venoso e
realizada glicemia capilar, para permitir a correção rápida
IOT + transferência UTI
da hipoglicemia que se associa com pior prognóstico Midazolan, tiopental ou
neurológico. propofol IV contínuo

O 2 : oxigênio. IV: intravenoso. VR: via retal. IM: intramuscular. IN:


Não existem exames de rotina indicados para todas intranasal. B: bucal. IOT: intubação orotraqueal. UTI: unidade de
as crianças que chegam ao pronto-socorro por crise tratamento intensivo; Dextro: Glicemia capilar.
convulsiva. A necessidade dos exames comple- Fonte: Elaborado pela autora.
mentares será guiada pela história clínica e pelo
exame físico do paciente. Os exames que podem
ser necessários durante uma crise convulsiva NÃO    DIA A DIA MÉDICO
febril estão indicados no Quadro 4.
O material de reanimação deve estar disponível e previa-
mente checado, tendo em vista o potencial de depressão
respiratória que essas medicações apresentam. O fluma-
zenil, antídoto dos benzodiazepínicos, também deve ser
separado para uso, caso seja necessário.

6
Crises convulsivas

Quadro 4. Exames complementares que prevenir aspiração de saliva) e monitorar o tempo


podem ser necessários na investigação de crise.
de uma crise convulsiva não febril.
Em relação ao uso de antitérmicos, por mais pre-
Exame
Indicação
coce e eficaz que seja, não previne a recorrência
complementar das crises. Utilização intensa e rotineira de agentes
Todos os pacientes admitidos em antipiréticos não tem sido mais eficaz na redução
Glicemia capilar
sala de emergência por estado de da incidência de convulsões febris recorrentes do
(dextro)
mal epiléptico
que o uso intermitente dos antipiréticos, quando um
Eletrólitos e
De acordo com suspeita clínica de
episódio febril é percebido. A profilaxia secundária
gasometria com anticonvulsivantes não se justifica nas crises
distúrbios metabólicos
arterial
convulsivas febris simples, devendo ser considerada
Triagem Ausência de causa aparente da crise apenas na convulsão febril complexa e na presença
toxicológica epiléptica de fatores de risco para recorrência e epilepsia.
Amônia sérica A profilaxia secundária pode ser feita de forma
e pesquisa de Suspeita clínica de doença sistêmica contínua ou intermitente.
erros inatos do sem causa aparente
metabolismo

Nível sérico de Crianças em uso contínuo de anti-    DIA A DIA MÉDICO


anticonvulsivantes convulsivantes

Irritação meníngea, toxemia, pós-ic- A profilaxia contínua é a mais utilizada, em geral, com
tal prolongado ou com manutenção
Líquor fenobarbital via oral. Para que a prevenção seja eficaz,
de alteração de consciência e crises
os níveis séricos de fenobarbital devem estar em con-
no período neonatal
centrações terapêuticas, o que muitas vezes se associa
História ou sinais de trauma, doença a uma série de efeitos colaterais, como hiperatividade,
neurocutânea, portadores de deriva- irritabilidade e distúrbio do sono. Há relatos na literatura
ção ventrículo-peritoneal, sinais clí- de risco de decréscimo do Quociente de Inteligência (QI)
nicos de hipertensão intracraniana, com o uso contínuo de fenobarbital. O ácido valproico é
Neuroimagem
crises focais ou achados focais no uma alternativa tão eficaz quanto o Fenobarbital, mas que
pós-ictal, pós-ictal prolongado, ane-
apresenta como efeitos adversos intolerância gástrica,
mia falciforme, síndrome nefrótica,
ganho de peso, toxicidade renal e até hepatite fulminante
hemofilias e doenças hemorrágicas.
(raro). Outros anticonvulsivantes como a fenitoína e a
carbamazepina não se mostraram eficazes na preven-
Fonte: Elaborado pela autora.
ção da convulsão febril. A profilaxia intermitente surgiu
como uma tentativa de reduzir os efeitos adversos do
uso contínuo de anticonvulsivantes.

2. O RIENTAÇÕES AOS FAMILIARES

3. E PILEPSIA
Deve-se, inicialmente, acalmar os familiares e alertar
quanto à benignidade do quadro da crise convul-
siva febril. É importante abordar a possibilidade de A epilepsia é definida como a presença de cri-
recorrência e o risco levemente aumentado de se ses convulsivas recorrentes, que não têm relação
desenvolver epilepsia no futuro, mas sempre com com acometimentos agudos do sistema nervoso
o objetivo de que a criança leve uma vida normal. central. Pode ser idiopática (quando a etiologia é
Durante a ocorrência da crise, algumas medidas indefinida) ou sintomática (quando uma anorma-
devem ser orientadas aos pais: tentar manter a lidade cerebral localizada ou difusa é conhecida).
calma, proteger a criança contra traumas durante As crises epilépticas são classificadas de acordo
o período ictal, impedir que se coloquem objetos com a manifestação clínica e dividem-se em: focais,
na boca da criança, posicioná-la lateralmente (para quando denotam a disfunção de uma área específica

7
Crises convulsivas Pediatria

do córtex, e generalizadas, quando são difusas. As Atualmente, com a facilidade de acesso às mais varia-
crises generalizadas, particularmente as tônicas, das tecnologias, pode-se orientar a família a gravar, em
forma de vídeo, os episódios de crises convulsivas, para
as clônicas ou as tônico-clônicas, são aquelas que
esclarecer melhor as suas características, a duração, os
mais motivam a busca pela emergência. fatores e os sintomas associados.

Após uma clara descrição das crises, o próximo


   BASES DA MEDICINA
passo é classificar os seus tipos. As crises genera-
lizadas são conceituadas como internas, no início,
A epilepsia é definida como uma disfunção cerebral carac-
e rapidamente comprometem as redes bilaterais
terizada por uma predisposição permanente para gerar
crises epilépticas. Uma crise epiléptica é a ocorrência de dentro do cérebro, ao contrário das crises focais,
sinais e/ou sintomas relacionados à atividade neuronal que são classificadas como internas das redes e
anormal, excessiva ou sincrônica. limitadas a apenas um hemisfério. As crises focais
podem progredir e evoluir para crises com carac-
terísticas bilaterais. O Eletroencefalograma (EEG)
A incidência da epilepsia na infância é mais do que
é um exame útil na classificação do tipo de crise,
o dobro da incidência na população adulta. Aproxi-
principalmente em epilepsias focais, já que a ativi-
madamente 10% da população tem a possibilidade
dade epileptiforme pode ajudar a identificar uma
de ter crises epilépticas em algum momento da vida.
localização lobar. O EEG, entretanto, não deve ser
Dessa porcentagem, metade dos casos ocorrerá
usado como exame de diagnóstico de epilepsia,
durante a infância e a adolescência. A incidência
devido ao fato de ter especificidade e sensibilidade
da epilepsia até os 16 anos é de cerca de 40 casos
baixas. Cerca de 1/3 dos pacientes com epilepsia
para cada 100.000 crianças por ano; no primeiro
apresentam EEG normal, ao passo que cerca de
ano de vida, esse número tende a ser 3 vezes maior.
5% das crianças sem epilepsia podem apresentam
A manifestação das síndromes epilépticas pode ter anormalidades epileptiformes francas.
seu início na infância, e esses pacientes precisam ser
Na maioria das epilepsias, a investigação de uma
acompanhados regularmente por um neurologista
etiologia subjacente deve ser realizada, independen-
pediátrico para avaliar o uso adequado de anticon-
temente do diagnóstico da síndrome de epilepsia
vulsivantes. Na emergência, deve ser questionado
que tenha sido feito. Na maior parte dos casos de
sobre o medicamento e se o uso está sendo feito
epilepsia na infância, a neuroimagem está indi-
da forma e na dose correta, conforme orientação
cada com o objetivo de identificar possíveis lesões
do neurologista pediátrico assistente. Para esses
estruturais causais. Lesões compressivas, como
pacientes com diagnóstico de epilepsia, na emer-
neoplasias, podem necessitar de tratamento de
gência não há indicação de investigações laborato-
início imediato, ao contrário de outros achados,
riais e de imagens de rotina ou de forma repetida.
como a displasia cortical focal, que podem ser abor-
Normalmente, eles costumam ser atendidos com
dados cirurgicamente em um momento posterior.
frequência em emergências pediátricas por conta
A ressonância magnética do encéfalo é o exame de
das crises recorrentes.
imagem escolhido para essa investigação diagnós-
tica. Cerca de 40 a 60% das epilepsias na infância
têm etiologia genética, 25% têm etiologia estrutural
   DIA A DIA MÉDICO
e 25% continuam com sua etiologia desconhecida.

Não há uma investigação de diagnóstico definitiva de


epilepsia, e existem diversos diagnósticos diferenciais,
   DIA A DIA MÉDICO
sendo os mais frequentes: crises de ausência não epi-
lépticas, crises psicogênicas não epilépticas, síncope,
distonia e parassonias. Um dos fatores limitantes para o A epilepsia é uma doença que tem um estigma social
diagnóstico é o fato de as crises não serem presenciadas importante e, inicialmente, o médico deve orientar a
pelo médico, para uma melhor caracterização do evento. família e esclarecer as dúvidas existentes antes do início

8
Crises convulsivas

do tratamento. A abordagem terapêutica deve ser indi- Em algumas situações, entretanto, apenas as ações sinér-
vidualizada para cada paciente e sua respectiva família, gicas de mais de uma medicação melhoram o controle
considerando a realidade e as necessidades singulares. das crises epilépticas. Os medicamentos de primeira
A decisão terapêutica deve levar em consideração as escolha para crises convulsivas e epilepsias focais, em
opções de tratamento farmacológico, as indicações de geral, são a oxcarbazepina e a carbamazepina. A Tabela
cada medicação e os seus efeitos colaterais. O acompa- 2 mostra as doses das principais drogas antiepilépticas
nhamento de uma equipe multiprofissional é essencial usadas na faixa etária pediátrica.
para garantir que todas as necessidades relacionadas à
epilepsia sejam atendidas. Essa equipe, idealmente, deve
conter: pediatra, neuropediatra, psicólogos, terapeutas
Outros aspectos devem ser levados em conside-
ocupacionais, fisioterapeutas e fonoaudiólogos, quando
houver indicação. ração na escolha de drogas antiepilépticas, como:
a tolerabilidade, os efeitos adversos, o custo, o
acesso às medicações, as interações medicamen-
Após uma crise única não provocada, aconselha-se tosas, a presença de comorbidades, a história de
que o tratamento não seja iniciado, tendo em vista resposta prévia a drogas antiepilépticas, a como-
as altas chances de não recidiva. Após 2 crises não didade posológica, a possibilidade de monitorar a
provocadas, a probabilidade de uma 3ª é de 60% medicação e ajustar a dose, os perfis teratogênicos
a 90%; portanto, o início da terapia está indicado. e as preferências do paciente e de sua família.
A decisão de iniciar o tratamento, entretanto, deve A interrupção do uso da medicação antiepiléptica
levar em consideração: a idade, o diagnóstico sin- normalmente ocorre quando o paciente faz uso
drômico e a etiologia das convulsões. A presença de por 2 anos e nesse período não apresenta crises.
etiologias estruturais ou metabólicas, por exemplo, Nesses casos, pode-se realizar a tentativa de sus-
apresenta índices elevados de crises recorrentes e, pender a droga antiepiléptica, mesmo que fatores
por isso, o tratamento é indicado. É importante lem- de risco de recidiva estejam presentes, observando
brar que, para a maior parte das famílias, as crises os aspectos individuais de cada paciente e os dife-
epilépticas são assustadoras e envolvem riscos de rentes prognósticos. Em cerca de 30 a 40% dos
complicações, como lesões ou aspirações, além de casos, poderá haver recorrência, e a maior parte
interferir negativamente na educação, no lazer, no dos casos acontece quando o paciente tem déficit
trabalho e na vida social. Em geral, cerca de 60% motor ou cognitivo e EEG alterado.
das crianças ficam completamente livres de crises
a partir do início dos medicamentos antiepilépticos; A epilepsia é considerada refratária quando houver
entretanto, alguns fatores de risco estão associados inadequado controle apesar do uso apropriado de
à refratariedade do tratamento, como: etiologias no mínimo 2 ou 3 drogas antiepilépticas em dose
estruturais ou metabólicas, comprometimento do máxima tolerada, por 18 a 24 meses, ou quando
desenvolvimento e elevada frequência das crises ocorrer controle das crises com inaceitável efeito
antes do início do tratamento. colateral. Algumas crianças serão candidatas à
cirurgia, à estimulação vagal ou à dieta cetogênica.
A indicação cirúrgica requer uma avaliação deta-
lhada para apontar precisamente a zona epileptogê-
   DIA A DIA MÉDICO
nica do cérebro que será o alvo cirúrgico. Já a dieta
cetogênica tem o objetivo de manter a presença de
O sucesso terapêutico depende, dentre outros fatores, corpos cetônicos na circulação sistêmica, já que têm
da escolha de uma medicação de meia-vida longa, com um efeito antiepiléptico cujo mecanismo de ação
cinética linear, com boa tolerabilidade e adequada à ainda não está bem esclarecido. A estimulação do
manifestação epiléptica. Deve-se evitar esquemas com
nervo vago é outra técnica que pode ser usada em
exagerada politerapia e o uso de medicações que produ-
zam grande comprometimento cognitivo. A escolha de epilepsias refratárias, embora somente deva ser
apenas um antiepiléptico é o ideal, devido à maior adesão usada após avaliação cirúrgica abrangente e exclu-
ao tratamento, menos efeitos adversos e menores custos. são da possibilidade de tratamento da lesão alvo.

9
Crises convulsivas Pediatria

informados sobre o quadro clínico e as condutas tomadas


   DIA A DIA MÉDICO durante todo o acompanhamento do paciente. O diag-
nóstico e o manejo adequados previnem complicações
e a evolução para o estado de mal epiléptico. A família
Falar sobre crises convulsivas e epilepsia ainda é algo
e o paciente devem ser acolhidos e orientados por toda
que causa medo, ansiedade e resistência por parte da
a equipe multiprofissional assistente a longo prazo, res-
população de uma forma geral. Devido à angústia causada
peitando sempre as suas particularidades e limitações.
diante das crises convulsivas, deve-se manter os familiares

Tabela 2. Doses das principais drogas antiepilépticas usadas na faixa etária pediátrica.

Medicação Indicação Dose oral de manutenção Dose habitual

Crises parciais e tônico‑clônicas


Carbamazepina 10 – 20 mg/kg/dia 3 ou 4x/dia
generalizadas

Clonazepam Crises de ausência e crises mioclônicas 0,05 – 0,2 mg/kg/dia 2 ou 3x/dia

Oral: 0,25 – 1,5


Crises parciais em todas
Diazepam Endovenoso: 0,01 – 0,25 2 ou 3x/dia
as idades (> 6 meses)
Retal: 0,2 – 0,5 mg/kg

Etossuximida Crises de ausência (> 3 anos) 20 – 30 mg/kg/dia 2 ou 3x/dia

Crises mioclônicas parciais e


Levetiracetam 20 – 40 mg/kg/dia 2 ou 3x/dia
tônico-clônicas (> 4 anos)

Oxcarbazepina Crise parcial (> 2 anos) 20 – 40 mg/kg/dia 2x/dia

Crises mioclônicas, parciais, < 5 anos: 3 – 5


Fenobarbital tônico‑clônicas e estado 1 ou 2x/dia
de mal epiléptico > 5 anos: 2-3 mg/kg/dia

Crises parciais, tônico-clônicas < 3 anos: 8 – 10


Fenitoína 1 ou 3x/dia
e estado de mal epiléptico > 3 anos: 4-7 mg/kg/dia

Crises de ausência, mioclônicas,


Valproato 15 – 40 mg/kg/dia 2 ou 3x/dia
parciais e tônico-clônicas (> 2 anos)
Fonte: Elaborada pela autora.

10
Crises convulsivas

Mapa mental. Crises convulsivas na pediatria

Crises convulsivas na pediatria

Convulsão febril Convulsão afebril

Afastar:
• Pico aos 14-18 meses • Erros inatos do metabolismo
• Ausência de infecção do SNC • Distúrbios hidroeletrolíticos
• Sem alterações metabólicas ou antecedente • Alterações anatômicas
de convulsão • Epilepsia
• Autolimitada • Hipoglicemia
• Etiologia viral na maioria dos casos • Intoxicações
• Trauma

Condutas

Anamnese e exame Punção lombar Drogas iniciais: Monitorizar


físico rápidos apenas se < 6 meses, diazepam ou Ofertar O2
e focados sinais de infecção de midazolam Glicemia Capilar
SNC e imunológico Acesso venoso
desatualizado para
meningococo,
pneumococo e Hib Fenitoína ataque EV

Fenobarbital ou
ácido valproico EV

Transferência
para UTI e IOT

11
Crises convulsivas Pediatria

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Alencar SP. Convulsão febril: aspectos clínicos e terapêuticos.


Artigo de revisão. Rev Med UFC. 2015; 55(1): 38-42.
Brito A, Vasconcelos M, Almeida S. Convulsões: artigo de
revisão. Rev Ped SOPERJ. 2017; 17(1): 56-62.
Campos D Jr, Burns DA, Lopez FA. Tratado de pediatria. 3.
ed. Barueri: Sociedade Brasileira de Pediatria; 2014.
Guerreiro MM. Tratamento das crises febris. J Pediatr. 2002;
78 (Supl 1): S9-13.
Guidelines and Protocols Advisory Committee (CA). Febrile
Seizures. Ann Emerg Med. 2003; 41: 215-22.
Kliegman RM, Behrman RE, Jenson HB. Nelson Tratado de
Pediatria. 20. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018.
Maia H. Abordagem das Crises Epilépticas na Emergência
Pediátrica. Rev Ped SOPERJ. 2012; 13(2): 29-34.
Silva C, Cardoso I, Machado N. Considerações sobre epilepsia.
Bolet Cien Pediatr. 2013; 2(3): 71-6.
Siqueira LF. Atualização no diagnóstico e tratamento das crises
epilépticas febris. Rev Assoc Med Bras. 2010; 56(4): 489-92.
Zuberi S, Symonds J. Update on diagnosis and management
of childhood epilepsies J Pediatr (Rio J). 2015; 91(6 Suppl 1):
S67 – S77.

12
Crises convulsivas

QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1 Questão 2

(REVALIDA NACIONAL – INEP – 2021) Uma lactente do sexo (FACULDADE DE MEDICINA DO ABC – SP – 2021) Manuel, 3 anos
feminino, de 18 meses de idade, chega para atendi- de idade, há 2 dias com febre de 39°C (temperatura
mento em Unidade Básica de Saúde. A mãe informa axilar) associada a rinorreia e tosse. Admitido em
que, há 3 dias, a criança apresentou quadro de con- Pronto-Socorro com relato de crise tônico-clônica
vulsão tônico-clônica generalizada acompanhada generalizada em vigência de febre com duração de
de versão ocular, liberação de esfíncter vesical e 10 minutos há cerca de 2 horas. Evoluiu com sono-
sialorreia, com duração de aproximadamente 10 lência breve após o episódio, mas agora está ativo,
minutos. No momento, apresentava temperatura reativo e sem alterações neurológicas. Trata-se do
axilar de 38° C. Foi levada ao pronto atendimento, primeiro episódio de crise convulsiva. O pai da crian-
onde chegou sem crise e recebeu alta após 4 horas ça apresentou quadros semelhantes na infância.
com diagnóstico de resfriado comum. O episódio Sobre o ocorrido, podemos afirmar que se trata de:
convulsivo não se repetiu e a criança está afebril
há 48 horas. A mãe relata episódio semelhante aos ⮦ Crise de convulsão febril. Tranquilizar os pais e
11 meses de idade. A criança não apresenta outros orientá-los quanto à possibilidade de recorrência
antecedentes pessoais ou familiares relevantes. O em vigência de febre e sinais de alarme.
seu desenvolvimento neuropsicomotor é normal e ⮧ Epilepsia. Prosseguir a investigação com ele-
o exame clínico não apresenta alterações. Consi- troencefalograma e tomografia de crânio, internar
derando os dados clínicos da paciente, essa crian- paciente para observação por 12 horas.
ça apresenta:
⮨ Crise convulsiva febril. Internar, coletar líquor e
⮦ Convulsão febril simples. A mãe deve ser orien- culturas (urina, sangue e líquor e iniciar antibio-
tada quanto à abordagem nos episódios febris ticoterapia empírica de amplo espectro.
e a criança deve manter acompanhamento d ⮩ Epilepsia. Introduzir profilaxia contínua com feno-
⮧ Convulsão febril simples. O médico deve pres- barbital. Internar para observação por 12 horas.
crever benzodiazepínico (diazepam ou nitraze-
pam) para uso durante os episódios febris, com
objetivo de Questão 3

⮨ Convulsão febril complexa. A criança deve realizar (ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO GRANDE DO SUL – RS – 2021) Qual
eletroencefalograma e tomografia computado- das seguintes alternativas é a forma mais comum
rizada de crânio por não ser o primeiro episódio de convulsão infantil?
convulsivo febril apresentado.
⮩ Convulsão febril complexa. Os familiares pre- ⮦ Crises de ausência.
cisam ser alertados sobre a possibilidade de a ⮧ Espasmos infantis.
criança apresentar desempenho escolar fraco
futuramente como sequela dos episódios con- ⮨ Crises febris.
vulsivos. ⮩ Crises parciais simples.

13
Crises convulsivas Pediatria

Questão 4 Questão 6

(PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG – 2021) Lucas, 8 meses (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC – SC – 2021) Lactente, 1
ano e 3 meses, feminino, trazida ao pronto atendi-
de idade, previamente saudável, apresenta, coriza
mento devido a duas crises convulsivas em domi-
cristalina, tosse leve e febre persistente há 36 horas,
cílio há 1 hora. Mãe relata espasmos musculares
de até 38oC. Seu estado geral é bom e a ausculta
em região cervical e posterior generalização com
pulmonar apresenta roncos de transmissão. Oro-
perda de consciência. O episódio durou menos de
faringe com leve hiperemia. Demais aparelhos sem
5 minutos. Ao exame físico apresenta-se sonolen-
alterações. Mãe muito preocupada com a febre que
ta, febril (temperatura axilar 38,3°C), ausência de
não cede mesmo com uso de dipirona, por receio
demais alterações. Ausência de sinais de irritação
de surgir convulsão febril. Em relação à abordagem
meníngea. Em uso de amoxicilina via oral por 24
da febre nesta criança, é correto afirmar:
horas. Nega episódios prévios. Com base nesse
caso, assinale a alternativa que apresenta a con-
⮦ Está indicado usar meios físicos como compres- duta correta em relação a realização do exame do
sas frias e banhos mornos. líquido cefalorraquidiano.
⮧ Drogas antipiréticas previnem convulsões febris ⮦ Realizar, trata-se de uma crise febril simples.
e devem ser usadas com este objetivo.
⮧ Realizar, devido ao uso de antibioticoterapia.
⮨ O uso de antipirético deve ser reservado para ⮨ Realizar, devido tratar-se de menor de 24 meses
crianças com desconforto e/ou com tempera- de idade.
tura axilar acima de 38°C.
⮩ Não realizar, trata-se de uma crise febril simples.
⮩ Prescrever a combinação de dois antitérmicos ⮪ Não realizar, devido ser episódio convulsivo único.
intercalando-os melhora o efeito terapêutico.

Questão 7
Questão 5
(HOSPITAL DE URGÊNCIA DE SERGIPE – SE – 2021) Lactente,
sexo feminino, nove meses, apresentou três episó-
(INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DOS SERVIDORES DO ESTADO DE
dios de choro, seguido de parada da respiração e
MINAS GERAIS – MG – 2021) A convulsão febril é a causa cianose de lábios. Perda da consciência, seguida
mais comum de convulsão na infância. Em relação de abalos clônicos breves de membros superiores
às convulsões na infância, assinale a alternativa e inferiores. Todos os episódios foram precedidos
INCORRETA: por contrariedade, raiva ou medo. Os episódios
são breves, duram no máximo um minuto, e após
⮦ O status convulsivo é a persistência de uma cri- os mesmos, a criança desperta bem e retorna ao
se convulsiva ou a sucessão delas sem recupe- habitual. Segundo a mãe, a lactente engatinha,
ração da consciência, por mais de 30 minutos. senta-se sem apoio, segura alimentos para comer,
balbucia sons polissilábicos, exibe reação de estra-
⮧ O eletroencefalograma é o exame mais impor-
nhamento, responde quando chamada pelo nome.
tante no diagnóstico e para diferenciação do
Esse quadro clínico sugere:
tipo de epilepsia.
⮦ Síncope convulsiva.
⮨ O exame do líquor está indicado em todo quadro
de convulsão. ⮧ Refluxo gastroesofágico.
⮨ Crise de perda de fôlego.
⮩ A escolha da droga anticonvulsivante dependerá
de uma série de fatores como idade, alterações ⮩ Crise convulsiva tônico-clônica generalizada.
no EEG, tipo de crise etc. ⮪ Tumor cerebral.

14
Crises convulsivas

Questão 8 ⮦ Fenitoína.

(SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE RIBEIRÃO PRETO – SP – 2021) ⮧ Tiopental.


Lactente de 2 meses de idade, sexo feminino, chega ⮨ Topiramato.
ao pronto atendimento, apresentando-se hiporrea- ⮩ Fenobarbital.
tivo, com quadro de hipotonia generalizada, palidez ⮪ Benzodiazepínico.
cutânea e sudorese. A mãe informou que a criança
tomou a primeira dose da vacina pentavalente há
cerca de 12 horas e que apresentou febre e choro
contínuo após oito horas da aplicação da vacina. A
mãe refere ter administrado uma dose de dipirona
(4 gotas de uma solução 500 mg/mL). No exame
físico, a criança está eutrófica, hidratada, sem le-
sões aparentes e sem alterações dos dados vitais.
Há hipotonia e sonolência durante o exame. A oxi-
metria revela saturação de O2 de 94%. O diagnósti-
co mais provável é:

⮦ Síndrome hipotônica-hiporresponsiva.
⮧ Síndrome de Münchausen por procuração.
⮨ Intoxicação por dipirona.
⮩ Síndrome de West.
⮪ Convulsão febril.

Questão 9

(SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO – SP – 2021)


Suponha-se que, durante o atendimento inicial, a
paciente tenha apresentado quadro de crise con-
vulsiva tônico-clônica generalizada. Nesse caso,
deverá ser realizado o tratamento imediato com:

⮦ Solução salina hipertônica.


⮧ Manitol.
⮨ Fenitoína.
⮩ Fenobarbital.
⮪ Benzodiazepínico.

Questão 10

(H.U. BETTINA FERRO DE SOUZA/JOÃO BARROS BARRETO – PA –


2021) Guido nasceu de parto normal, mas demorou
para nascer. Não chorou ao nascer. Feito VPP com
Sat.O2 até 80%, sendo intubado na sala de parto,
evoluindo com movimentos repetitivos de MMSS e
piscamento. P= 2200 g. A terapêutica inicial mais
indicada nessa situação é o uso de:

15
Crises convulsivas Pediatria

GABARITO E COMENTÁRIOS

Questão 1 dificuldade:   Nesse caso, como estamos diante de uma convulsão


febril simples, não há necessidade de investigação
Y Dica do professor: A questão traz uma lactente de adicional e nem de medicação profilática, devendo-
18 meses com a história de 2 crises convulsivas em -se apenas orientar os pais quanto a possibilidade de
vigência de febre. Ambos os casos se apresentaram crise convulsiva em um próximo episódio de infec-
como uma convulsão tônico-clônica generalizada, cioso agudo que curse com febre, sendo essencial
com duração de cerca de 10 minutos e chegada ao a pronta medicação dessa febre.
pronto-socorro já fora de crise, ambos os casos de- ✔ resposta: A
sencadeados por infecções virais com febre. Note
que em nenhuma das ocasiões houve recorrência
das crises no mesmo episódio febril e que a crian- Questão 2 dificuldade:  
ça não apresenta antecedentes pessoais ou fami-
Y Dica do professor: O quadro clínico descrito pelo
liares relevantes. Diante desses achados podemos
fechar o diagnóstico de uma convulsão febril, uma enunciado é de crise de convulsão febril. Define-se
das intercorrências neurológicas mais comuns da como crise febril ou convulsão febril toda convulsão
infância e que se apresenta caracteristicamente que ocorre em vigência de doença infecciosa febril,
em crianças de 6 a 60 meses de vida, com pico e com temperatura ≥ 38º C, geralmente otite média
incidência entre 14 e 18 meses e na ausência de in- aguda, amigdalites, laringites ou exantema súbito.
fecção ou inflamação de sistema nervoso central, As principais características clínicas da convulsão
alteração metabólica ou história prévia de convul- febril simples ou típica são: faixa etária entre 6 me-
são sem febre. Ao analisarmos as características ses até 5 anos de idade, sendo a média de idade
dessas crises da paciente vemos que se trata de da primeira crise aos 14-18 meses; a crise é tônico-
uma convulsão febril simples, vamos relembrar as -clônica generalizada com duração < 15 minutos;
características de cada tipo: e período pós-ictal: com uma sonolência breve e o
principal: crise única em 24 horas. Quanto ao tra-
- Convulsão febril simples: tônico-clônica generali- tamento, podemos dizer que o pilar é a orientação
zada, com duração inferior a 15 minutos, pós-ictal e tranquilização dos pais: assegurar que as crises
com sonolência breve e sem déficit focal, e sem febris são benignas, não provocam déficit intelectual
recorrência na mesma doença febril. ou anormalidade neurológica futura, não evoluem
- Convulsão febril complexa: crise focal, com duração para epilepsia na grande maioria dos casos e são
maior que 15 minutos, pós-ictal com sonolência autolimitadas, cessando ao final da fase pré-escolar;
ou déficit focal persistente, crises repetidas em 24 O uso de antitérmicos reduz o mal-estar associado
horas ou que recorrem na mesma doença febril. à febre, mas não impede a ocorrência da crise febril.
Orientar o retorno imediato caso apareça sinais de
A importância de diferenciar o subtipo de convulsão
alarme, tais como: crises recorrentes, duração da
febril reside no fato de que a convulsão febril com-
crise maior do que 15 minutos, mais de uma crise
plexa está associada a maior risco de epilepsia e
em 24 horas ou alteração do nível de consciência.
recorrência, necessitando por vezes de investigação
e de medicação adicional. ✔ resposta: A

16
Crises convulsivas

Questão 3 dificuldade:   calafrios e tremores, além do fato de que podem


aumentar a temperatura corporal.
Y Dica do professor: As crises convulsivas febris são
Alternativa A: INCORRETA. Aborda o uso de com-
frequentes causas de idas às urgências/emergên-
pressas frias que não são orientadas em casos de
cias pediátricas. Correspondem às intercorrências
quadros febris. Além do fato da criança da questão
neurológicas mais comuns da infância, em que cer-
estar em bom estado geral em uso de medidas far-
ca de 2 a 5% das crianças menores de 5 anos terão
macológicas para a cessação da febre, não havendo
ao menos um episódio de crise convulsiva na vida.
necessidade do uso de meios físicos no momento.
O pico de incidência ocorre entre crianças de 14 a
18 meses, sem evidências de infecções ou infla- Alternativa B: INCORRETA. As drogas antipiréticas
mações do Sistema Nervoso Central (SNC), sem (ou antitérmicas), por mais precoces e potentes
alterações metabólicas ou diagnóstico prévio de que sejam, NÃO previnem o aparecimento de cri-
epilepsia. A sua fisiopatologia ainda é incerta, en- ses convulsivas.
tretanto se relaciona com a imaturidade do SNC da
Alternativa C: CORRETA. O uso de antipiréticos deve
criança, principalmente abaixo de 5 anos, associado
ser reservado para crianças que estejam com febre,
à atividade elétrica cerebral e à pouca mielinização.
ou seja, para aquelas que apresentem temperatura
Tem relação com susceptibilidade familiar, sendo
acima de 37,8°C. A questão coloca o valor de 38°C
comum em filhos de pais com história de convulsão
porque é justamente a temperatura que o paciente
febril. As crises de ausência, espasmos infantis e
da questão apresenta no momento (perceba que a
crises parciais simples podem acontecer em crian-
pergunta da questão se refere à abordagem para a
ças, porém não são as mais comuns.
criança da questão).
✔ resposta: C
Alternativa D: INCORRETA. O paciente da questão
apresenta uma temperatura de 38°C que não é uma
temperatura alta para indicarmos o uso de um ou-
Questão 4 dificuldade:  
tro antitérmico. Perceba que mesmo com o quadro
Y Dica do professor: A convulsão febril é a intercor-
de febre, a criança está em bom estado geral; logo,
devemos manter o antitérmico em uso, avaliar se
rência neurológica mais comum da Pediatria. Sua
a dose está adequada e se necessário diminuir o
fisiopatologia ainda é incerta, porém sabe-se que
tempo entre uma dose e outra, em vez de adicionar
está relacionada com a imaturidade do Sistema
uma nova droga antitérmica.
Nervoso Central da criança, associada à baixa mieli-
nização e à intensa atividade elétrica cerebral. Nor- ✔ resposta: C
malmente acomete crianças até os 5 anos de vida,
tem caráter benigno e autolimitado. É uma situação
assustadora para a maioria das famílias e cabe a Questão 5 dificuldade:  
nós, profissionais médicos, darmos o suporte, as
orientações e retirarmos as dúvidas sempre. Vamos Y Dica do professor: Como conceito, a convulsão
para as nossas alternativas? Sabemos que banhos febril é toda convulsão que ocorre em vigência de
mornos de cerca de 10 a 20 minutos, se a criança doença infecciosa febril (excluindo-se as infecções
tiver condições para tal e se gerar conforto para do SNC, como meningites e encefalites e os dese-
ela, podem ser indicados em casos de processos quilíbrios hidroeletrolíticos), com temperatura maior
febris. É importante lembrar que sempre devemos ou igual a 37,8°C (embora a elevação da temperatura
associar medicações antitérmicas, já que medidas possa ocorrer somente após a crise). A crise febril
com meios físicos, como o banho morno, isolada- simples é benigna e não provoca danos neurológi-
mente não têm valor, porque não atuam no centro cos a longo prazo, mesmo que a criança tenha vá-
termorregulador do hipotálamo. Banhos frios NÃO rias crises febris simples. Além disso, a ocorrência
devem ser orientados, já que podem causar um de crise febril simples na infância não aumenta o
grande desconforto para a criança, assim como risco de epilepsia no futuro.

17
Crises convulsivas Pediatria

Alternativa A: CORRETA. Está correta ao trazer o con- Questão 7 dificuldade:   


ceito de status ou mal convulsivo, que ocorre quando
existe a persistência de uma crise convulsiva ou a Y Dica do professor: A crise de perda de fôlego cos-
sucessão dela sem a recuperação da consciência tuma se iniciar entre os 6 e 12 meses, ocorrendo
por mais de 30 minutos. geralmente até os 3 ou 4 anos de idade. O gatilho é
muitas vezes uma situação de contrariedade, medo,
Alternativa B: CORRETA. Diante de uma crise febril
susto ou trauma leve. A criança chora e, no fim da
simples em vigência de uma infecção viral ou bac-
expiração, é incapaz de relaxar, ocorrendo apneia e
teriana bem estabelecida (ex.: otite, laringite, doença
cianose. Há 2 entidades clínicas: a forma cianótica
exantemática), não existe a indicação de Eletroen-
e a pálida. A forma cianótica é a mais comum, e os
cefalograma (EEG) ou exame de imagem do Siste-
episódios sempre ocorrem após um fator desenca-
ma Nervoso Central (SNC). O EEG é importante se
deante emocional: frustração, medo ou raiva. Já
em algum momento houver a suspeita diagnóstica
a forma pálida ocorre de maneira súbita após um
de epilepsia, porém para crises convulsivas febris
estímulo desagradável, por exemplo, um pequeno
simples não há indicação de EEG de rotina.
trauma. Com essa pequena explicação da doença
Alternativa C: INCORRETA. O líquor NÃO está indica- é possível afirmar que o quadro do lactente se en-
do para todos os pacientes com crises convulsivas caixa muito bem.
febris. Só existe a indicação de coleta de líquor se
houver a suspeita de: irritação ou infecção meníngea, Alternativa A: INCORRETA. Síncope é um sintoma
toxemia, pós-ictal prolongado ou com manutenção definido como uma perda transitória da consciên-
de alteração de consciência e crises convulsivas no cia e tônus postural que resulta de uma perfusão
período neonatal. cerebral inadequada. O sintoma prodrômico mais
comumente relatado por crianças e adolescentes
Alternativa D: CORRETA. com síncope é a tontura e, no subtipo convulsivo,
✔ resposta: C abalos convulsivos. É um diagnóstico diferencial da
crise de perda de fôlego; contudo, o caso é muito
mais característico dessa última.
Questão 6 dificuldade:    
Alternativa B: INCORRETA. Manifestações neuroló-
Y Dica do professor: A crise convulsiva febril sim-
gicas não são explicadas por um refluxo gastroe-
sofágico.
ples pode ocorrer dos 3 meses aos 5 anos, é tôni-
co-clônica generalizada, de curta duração, única Alternativa C: CORRETA.
e precoce em uma mesma doença febril e não é
acompanhada de fenômenos pós-crise. A febre Alternativa D: INCORRETA. Crise tônico-clônica ge-
(Tax ≥ 37,8°C) é critério obrigatório e deverá estar neralizada é um tipo de convulsão identificada por
presente no momento da convulsão. A análise do critérios clínicos e eletroencefalográficos específi-
LCR está indicada quando: cos. Clinicamente, esse tipo de convulsão envolve
perda de consciência e um enrijecimento tônico fá-
- Sempre deve ser feita na presença de sinais menín-
sico dos membros (simétrica ou assimetricamente),
geos ou outros comemorativos que indiquem a
seguido por espasmos clônicos repetitivos. Pode
possibilidade de meningite ou infecção do SNC.
ocorrer após a crise de perda de fôlego, contudo,
- Pode ser realizada em pacientes com idade entre não é o diagnóstico principal.
6 e 12 meses com status vacinal contra o pneumo-
coco desconhecido ou não imunizado. Alternativa E: INCORRETA. Apesar de ser um diagnós-
tico diferencial, como a questão pede o diagnóstico
- Pode ser realizada em pacientes em uso de anti-
mais provável, o quadro clínico apresentado é mais
bioticoterapia devido à possibilidade de o antibiótico
compatível com a crise de perda de fôlego.
mascarar os sintomas de uma meningite.
✔ resposta: B ✔ resposta: C

18
Crises convulsivas

Questão 8 dificuldade:  

Y Dica do professor: O quadro clínico descrito é com-


patível com a síndrome hipotônica-hiporresponsiva.
Ela é definida pela instalação nas primeiras 48 horas
depois da aplicação da vacina antipertussis celular,
de hipotonia muscular e diminuição da resposta a
estímulos externos. É uma síndrome rara, benigna
e autolimitada que deve ser considerado como uma
precaução, e não como uma contraindicação para
futuras vacinações. As administrações posterio-
res, quer da vacina implicada quer das restantes,
decorrem sem intercorrências.
✔ resposta: A

Questão 9 dificuldade:   

Y Dica do professor: No caso das crises convulsivas


provocadas pela intoxicação com antidepressivos
tricíclicos, a maioria vai ser generalizada e de curta
duração, ocorrendo nas primeiras 3 horas após a
ingestão. Esses sintomas são mais comuns na in-
gestão de maprotilina e amoxapina. Devemos usar
os benzodiazepínicos como tratamento de escolha.
Caso as crises sejam resistentes a essas drogas
podemos usar os barbitúricos.
✔ resposta: E

Questão 10 dificuldade:   

Y Dica do professor: Devido aos movimentos repe-


titivos de MMSS e piscamento, o RN pode ser ca-
racterizado com convulsão sutil, e o fenobarbital
sódico (Fenocris® - 100 mg/mL) é a droga anticon-
vulsivante de primeira escolha. A dose de ataque é
de 20 mg/kg, endovenosa (EV), em 10 a 15 minutos,
e deve-se repetir doses 5 – 10 mg/Kg EV a cada 15
a 20 minutos, se necessário (dose máxima total =
40 mg/kg). É importante vigiar hipotensão e o pa-
drão respiratório, e a dose de manutenção é de 3 -
4 mg/kg/dia EV ou via oral (VO), dividida a cada 12
horas, iniciada após 12 horas da dose de ataque.
✔ resposta: D

19

Você também pode gostar