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Aula IV

Avaliação de Paciente com Cefaleia

Prof. Gilvano Amorim


Curso Grandes Temas em Medicina Interna
Cefaleia - generalidades
• Uma das topografias mais comuns de dor, ao lado de lombalgia.
• Contexto de “fato normal” no imaginário médico e comum: é normal
ter dor de cabeça.
• Pode representar uma condição grave: atenção à cefaleia inaugural.
Cefaleia - conceito
Experiência sensitiva e emocional desagradável, não adaptável,
frequentemente limitante das potencialidades individuais, apontada
como localizada no polo cefálico, associada a uma lesão tecidual real ou
potencial, ou descrita nos termos de tal lesão.
Conceito de cefaleia adaptado a partir do conceito de Dor da IASP.
Um olhar pelo CID afora e o tamanho do
problemas...
Impacto da Cefaleia
• Sofrimento físico e emocional;
• Pode ser sinal de alerta neurológico;
• Prejuízos sociais;
• Impacto no desempenho laborais;
• Repercussão emocional;
• Relaciona-se a dificuldades de aprendizado, fracasso educacional e
absenteísmo escolar.
Cefaleia - conceitos
➢Cefaleia primária: cefaleia em que o distúrbio se origina
primariamente do segmento cefálico;
➢Cefaleia secundária: cefaleia decorrente de outro distúrbio.
➢Cefaleia trigêmeo-autonômicas: cefaleia decorrente de distúrbios do
nervo trigêmeo.
➢Cefaleia por neuropatias cranianas dolorosas: cefaleia por dor
neuropática de pares cranianos.
➢Cefaleia por lesão tecidual local: traumas.
Cefaleia - classificação
• Cefaleias primárias.
• Cefaleias secundárias.
• Neuropatias cranianas dolorosas.
• Dores faciais não relacionadas a neuropatias.
• Outras cefaleias.
Cefaleias primárias
• Migrânea;
• Cefaleias tensionais;
• Cefaleias trigêmio-autonômicas;
• Outras cefaleias primárias.
Migrânia ou enxaqueca
Síndrome dolorosa manifestada por crise álgica de hemicrania ou
cefaleia holocraniana do tipo pulsátil, limitante, acompanhada de
náuseas, vômitos, fotossensibilidade e fonossensibilidade, auto-
limitada e resolvível com a indução de sono (porém relacionada a
hipnorresistência).
Migrânia – critérios diagnósticos
• A. Ao menos cinco crises preenchendo os critérios de B a D
• B. Crises de cefaleia durando 4-72 horas (sem tratamento ou com tratamento
ineficaz).
• C. A cefaleia possui ao menos duas das seguintes características:
• 1. localização unilateral
• 2. caráter pulsátil
• 3. intensidade da dor moderada ou forte
• 4. exacerbada por ou levando o indivíduo a evitar atividades físicas rotineiras (por
exemplo: caminhar ou subir escadas)
• D. Durante a cefaleia, ao menos um dos seguintes: 1. náusea e/ou vômito 2.
fotofobia e fonofobia
• E. Não melhor explicada por outro diagnóstico.
MIGRÂNiA

• EPIDEMIOLOGIA:
- 10% da população;
- 15% das mulheres;
- 6% dos homens;
- Paciente típico: sexo feminino, 30-50 anos, cujo quadro
iniciou-se na infância ou adolescência, com presença de
história familiar positiva em 60% a 80% dos casos.
Fases Clínicas da Migrânea clássica
Quatro FASES:
Migrânia - variantes
• Migrânea do tronco cerebral: disartria, vertigem, zumbido,
hipoacusia, diplopia, ataxia e variabilidade de sensório.
• Migrânea hemiplégica: migrânea comm déficit motor recuperável.
• Migrânea ocular ou retiniana: Crises repetidas de distúrbio visual
monocular, incluindo cintilações, escotomas ou amaurose, associados
a cefaleia do tipo migrânea.
• Migrânea crônica.
• Estado Migranoso.
• Crise epiléptica desencadeada por aura migranosa: Uma crise
epiléptica relacionada a crise de migrânea com aura.
Migrânia - variantes
Síndrome dos vômitos cíclicos
• Crises episódicas recorrentes de náuseas intensas e vômitos;
• Habitualmente estereotipadas no indivíduo e com episódios de
distribuição temporal previsível;
• As crises podem estar associadas a palidez e letargia.
• Há completo desaparecimento dos sintomas entre as crises.
Migrânia - variantes
• Migrânea abdominal:
• Transtorno idiopático observado principalmente em crianças;
• Se apresenta na forma de crises recorrentes de dor abdominal de
moderada a forte intensidade;
• Dor localizada na linha média e associada a sintomas vasomotores,
náusea e vômitos;
• Dura 2-72 horas, com normalidade entre os episódios;
• Não ocorre cefaleia durante esses episódios;
• Causa de lapatorotomia branca.
Migrânia - variantes
Vertigem Paroxística Benigna:
• Transtorno caracterizado por crises breves recorrentes de vertigem;
• Episódios que ocorrem sem aviso e desaparecem espontaneamente;
• Prevalente em crianças saudáveis.
Migrânia - variantes
Torcicolo Paroxístico Benigno:
• Episódios recorrentes de inclinação da cabeça para um lado, talvez
com leve rotação, que remite espontaneamente.
• Essa condição ocorre em bebês e crianças pequenas, com início no
primeiro ano.
CEFALÉIA TENSIONAL
-Mais frequente das cefaléias
-Primária
-``Cefaléia de fim de expediente``
-Cefaléia de contração muscular prolongada
-Cefelaia não limitante!
Cefaleias trigêmioautonômicas
• cefaleia unilateral associada a manifestações autonômicas
parassimpáticas cranianas ipsilaterais à cefaleia.
• Relacionadas à ativação de um reflexo trigeminoparassimpático, com
sinais clínicos de disfunção simpática craniana.
CEFALEIA EM SALVAS
• Os sintomas autonômicos principais são:
lacrimejamento, rinorréia (parassimpático); miose e
ptose (simpático); congestão nasal, edema da
pálpebra e sudorese da fronte (parassimpático);
Cefaleias em salva
• Crises de dor estritamente unilateral;
• Forte intensidade;
• Localização orbital, supraorbital, temporal ou qualquer combinação
dessas áreas;
• Duração de 15-180 minutos;
• Pode ocorrer em dias alternados até oito vezes por dia;
• Dor associada a injeção conjuntival, lacrimejamento, congestão nasal,
rinorreia, sudorese frontal e facial, miose, ptose e/ ou edema
palpebral, ipsilaterais à dor, e/ou a inquietude ou agitação.
Cefaleia em salvas – critérios diagnósticos
• A. Ao menos cinco crises preenchendo os critérios B-D
• B. Dor forte ou muito forte unilateral, orbital, supraorbital e/ou temporal, durando 15-180
minutos (quando não tratada).
• C. Um dos ou ambos os seguintes:
• 1. ao menos um dos seguintes sintomas ou sinais, ipsilaterais à cefaleia:
• a. injeção conjuntival e/ou lacrimejamento
• b. congestão nasal e/ou rinorreia
• c. edema palpebral
• d. sudorese frontal e facial
• e. miose e/ou ptose
• 2. sensação de inquietude ou de agitação
• D. Ocorrendo com uma frequência entre uma a cada dois dias e oito por dia
• E. Não melhor explicada por outro diagnóstico.
Cefaleia primária da tosse
Cefaleia precipitada por tosse ou outra manobra de Valsalva, mas não
por exercício físico prolongado, na ausência de qualquer transtorno
intracraniano.
Cefaleia primária da tosse – critérios
diagnósticos
▪ A. Ao menos dois episódios de cefaleia preenchendo os critérios B-D.
▪ B. Provocada por e ocorrendo somente em associação com a tosse
e/ou outra manobra de Valsalva1
▪ C. Início repentino.
▪ D. Duração entre um segundo e duas horas.
▪ E. Não melhor explicada por outro diagnóstico.
Cefaleia primária associada a atividade sexual
Cefaleia desencadeada por atividade sexual, geralmente começando
como uma dor bilateral maçante conforme a excitação sexual aumenta
e repentinamente tornando-se intensa no momento do orgasmo, na
ausência de qualquer transtorno intracraniano.
Cefaleia primária associada a atividade sexual
– critérios diagnósticos
A. Ao menos dois episódios de dor cefálica e/ou cervical preenchendo
os critérios B-D B.
B. Provocada por e ocorrendo apenas durante a atividade sexual
C. Um dos dois ou ambos os seguintes:
1. aumento da intensidade paralelo ao aumento da excitação sexual.
2. intensidade explosiva e abrupta logo antes ou no momento do
orgasmo
A. D. Durando de um minuto a 24 horas com intensidade forte e/ou
até 72 horas com intensidade fraca.
Cefaleias secundárias
• Cefaleia atribuída a trauma ou lesão cefálica e/ou cervical.
• Cefaleia atribuída a transtorno vascular craniano e/ou cervical.
• Cefaleia atribuída a transtorno intracraniano não vascular.
• Cefaleia atribuída a uma substância ou à sua supressão.
• Cefaleia atribuída a infecção.
• Cefaleia atribuída a transtorno da homeostase.
• Cefaleia ou dor facial atribuída a transtorno do crânio, pescoço, olhos,
orelhas, nariz, seios paranasais, dentes, boca ou outra estrutura facial ou
cervical.
• Cefaleia atribuída a transtorno psiquiátrico.
Cefaleia secundária
• Questão Magna: HAS provoca cefaleia?

Fuchs, Sandra Costa, et al. "Cefaléia e hipertensão: existe


uma associação?." (2001).
Cefaleia e HAS
• Questão Magna: HAS provoca cefaleia?
• Na maior parte dos casos não há relação entre cefaleia e HAS.
• HAS de início recente e emergências hipertensivas podem provocar
cefaleia.

Fuchs, Sandra Costa, et al. "Cefaléia e hipertensão: existe


uma associação?." (2001).
Doença de Horton
• Arterite de células gigantes da aorta torácica, e ramos
particularmente cervico-cranianos (artéria carótida).
• Polimialgia reumática é comum.
• Cefaleia, distúrbios visuais, sensibilidade na artéria temporal
(alodínia), dor nos músculos mastigatórios quando se
mastiga(claudicação).
• Febre, perda ponderal, mal-estar e fadiga são comuns.
• Velocidade de sedimentação das hemácias e proteína C reativa
encontram-se muito altas.
• O diagnóstico é clínico e anátomo-patológico da artéria temporal.
Doença de Horton
• Cefaleia intensa, comumente latejante;
• Localização temporal, occipital, frontal ou difusa.
• Cefaleia é o sintoma mais comum.
• Observa-se dor no couro cabeludo quando tocado ou ao se pentear o
cabelo.
Doença de Horton
Doença de Horton
Glaucoma agudo
Glaucoma Agudo ...

• Dor ocular intensa unilateral associada a cefaleia.

• Pode ser insidiosa ou súbita


• Acompanha borramento visual e hiperemia ocular

• “TOD dura”
Hipertensão intracraniana idiopática
• Síndrome clínica em que se observa elevação da PIC;
• Sem fatores volumétricos intracranianos ou obstrução ao fluxo
liquórico;
• Provavelmente por obstrução da drenagem venosa;

• A composição do líquido cerebrospinal é normal.


Hipertensão intracraniana idiopática
• Afeta mais mulheres em idade fértil.

• Incidência é de 1/100.000 em mulheres com peso normal e de 20/100.000 em mulheres


obesas.

• A pressão intracraniana apresenta-se extremamente elevada (> 250 mmH2O);

Pressão intracraniana normal:


➢Entre 0 e 15 mmHg;
➢de 15 a 40 mmHg ela está moderadamente elevada;
➢Acima de 40 mmHg muito alta.
➢Flutuações irregulares, entre 15 a 35 mmHg podem ser normais
Hipertensão intracraniana idiopática
• Pode ocorrem em crianças, após suspensão de corticoides ou depois
do uso de hormônios do crescimento.

• Pode ser secundária à administração de tetraciclinas ou grandes


quantidades de vitamina A.
Hipertensão intracraniana idiopática
• Cefaleias generalizadas diariamente;
• Intensidade variável;
• Pode ser acompanhada de náuseas.
• Raramente vômitos em jato;
Hipertensão intracraniana idiopática
• Turvação transitória da visão;
• Diplopia (por disfunção do VI par craniano);
• Zumbido intracraniano pulsátil.
• Campo tubular;
• Papiledema está quase sempre presente.
Cefaleia como sinal de alerta
• Cefaleia inaugural;
• Cefaleia com mudança de padrão;
• Cefaleia com sinais neurológicos associados;
• Cefaleia rebelde ao uso de analgésicos comuns.
• Cuidado com a relação CEFALEIA X ACHADO DE HIPERTENSÃO
ARTERIAL
Avaliação de Paciente com Cefaleia
OBRIGADO!

Prof. Gilvano Amorim


Curso Grandes Temas em Medicina Interna

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