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CONVULSÃO FEBRIL

DEFINIÇÃO

Crise epiléptica que ocorre entre 6 meses e 6 anos de idade, associada à doença febril, na ausência de
infecção do SNC, alterações metabólicas e crises afebris prévias.
Temperatura > 38°C
OBS.: A convulsão febril não é considerada uma forma de epilepsia.

FISIOPATOLOGIA

Fatores que se combinam e justificam a CF ser um fenômeno da primeira infância:

• Baixo limiar convulsivo do córtex em desenvolvimento: o cérebro imaturo apresenta >


susceptibilidade a convulsões, por uma combinação de excitação aumentada e inibição
diminuída.
• Susceptibilidade da criança a infecções
• Propensão a ter febre alta
• Componente genético

OBS.: A velocidade de elevação da temperatura é fator mais importante que a temperatura final atingida.

EPIDEMIOLOGIA

• 2-5% de crianças < 5 anos apresentarão um ep de CF


• A 1ª CF ocorre entre 6 meses e 3 anos de idade em 90% dos casos
• Pico de incidência: 20 meses
• Mais frequente em meninos

FATORES DE RISCO PARA 1ª CF

O risco da ocorrência de CF é de 30% em crianças com dois desses fatores:

• HF de CF em parentes de 1º e 2º graus
• Internação hospitalar no período neonatal
• Atraso no desenvolvimento neuropsicomotor
• Atendimento frequente em hospital-dia

CLASSIFICAÇÃO/QUADRO CLÍNICO

Em geral, a crise febril acontece no 1º dia de doença, estando a temperatura acima de 39°C na maioria
dos casos, apesar de que em 25% está entre 38 e 39°C.

SIMPLES

• Mais comum: 75% dos casos.


• Crises generalizadas tônico-clônicas
• Duração < 15min
• Sem recorrências dentro de 24h

1 Giovana Melo Faria


• Período pós-ictal curto/normal (sonolência/confusão mental após a crise)

OBS.: Os pais podem referir hipotonia, mas, geralmente, há uma fase clônica rápida que pode passar
despercebida.

COMPLEXAS/COMPLICADAS

• Menos comum: 25% dos casos


• Início focal
• Duração > 15min
• Recorrência em menos de 24h

OBS.: Apresentando apenas um dos três sintomas acima, já é classificada como complexa, apesar de
geralmente ocorrerem de forma associada (as crises focais tendem a ser prolongadas).

• Período pós-ictal com permanência de sinais neurológicos focais

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico de CF é essencialmente clínico!

AVALIAÇÃO INICIAL

• História clínica compativel sem alterações focais no exame físico: diagnóstico sem exames
complementares.
o Dados a serem colhidos na história: duração da CF, início focal ou generalizado,
histórico vacinal, histórico de crise convulsiva (febril ou afebril), alt.
neurológicas/atraso no desenvolvimento.
• Exame físico: alterações que levantam outras supeitas
o Alteração do nível de consciência
o Sinais de meningismo
o Fontanela tensa ou abaulada (infecção SNC)
o Sinais focais

OBS.: O exame físico deve incluir a pesquisa de possíves focos infecciosos e o exame neurológico
completo deve ser realizado sempre que possível

EXAMES COMPLEMENTARES

PUNÇÃO LOMBAR

• Indicações
o 1º CF < 6 meses
o Sintomatologia de infecção do SNC (ex.:
letargia importante, sinais de irritação
meníngea, fontanela abaulada, vômitos
incoercíveis).
o Recuperação lenta ou alteração neurológica
pós-ictal
o Uso prévio de ATB (mascara sinais meníngeos).

2 Giovana Melo Faria


• Considerar
o Lactentes de até 1 ano, já que esses sinais clínicos podem estar ausentes.
o 1º CF entre 6-12 meses com calendário vacinal incompleto para Haemophilus
influenzae B ou Streptococcus pneumoniae.

EXAMES LABORATORIAIS

Não fazem parte da investigação rotineira de CF simples ou complexa.

• Hemograma completo, dosagem de eletrólitos, função renal e hepática, EAS e glicemia


devem ser feitos apenas como parte da avaliação do quadro infeccioso.

OBS.: Atente-se para crianças com vômitos de repetição, baixa ingesta e sinais de desidratação.

ELETROENCEFALOGRAMA

• Não indicado na 1ª CF simples em crianças neurologicamente saudáveis


• Indicações: crises febris complexas ou exame neurológico anormal (suspeita de doença
cerebral subjacente, atraso do desenvolvimento neuropsciomotor e déficit neurológico).

EXAMES DE NEUROIMAGEM

• TC e RNM não são indicados de rotina, sobretudo em paciente com CF simples.


• Podem ser benéficos em pacientes com exame neurológico alterado (crises focais
prolongadas e atraso no desenvolvimento).

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

• Infecções do SNC (meninigite é o principal)


• Calafrios
• Epilepsia generalizada com crises febril plus: crises febris e afebris em crianças > 6 anos.
• Síndrome de Dravet (epilepsia mioclônica grave da infância): crise febril complexa no 1º ano
com desenvolvimento normal antes do início das crises → gene envoolvido: SCN1A.
• Vacinação: segundo evento médico mais associado à crise febril e pode ser fator
desencadeante em 1/3 das crianças com sx. de Dravet.

PROGNÓSTICO

• Favorável para a maioria das crianças.


• Não há relatos de óbitos ou sequelas neuropsicomotoras.
• Déficits cognitivos foram observados apenas em crianças que já tinham comprometimento
neurológico prévio.

COMPLICAÇÕES

RECORRÊNCIA

• 1/3 das crianças terão 2ª CF


• Apenas 9% terá > 3 episódios

Logo, não há necessidade de tratamento na maioria das crianças com crise febril.

3 Giovana Melo Faria


Os fatores de risco mais importantes são:

• Idade precoce da 1ª CF: crianças abaixo de 15-18 meses apresentam maior


risco. No caso de 3
o 1ª CF < 1 ano: 50% das crianças terão recorrência. fatores, a
• HF de CF: considerada positiva se os parentes de 1º grau são afetados. chance de
recorrência
• Duração do período febril (< 1h): quanto menor a duração da febre, maior
pode chegar a
a chance de recorrência.
100%.
• Grau de elevação da temperatura (38-39°C): o risco de recorrência é
inversamente proporcional ao grau da temperatura

OBS.: Menor duração correlaciona-se com menor aumento da temperatura.

EPILEPSIA

O risco de epilepsia posteriormente a uma CF é baixo.

• Nenhum fator de risco: 1%


• 1 fator de risco: 2%
• 2 fatores de risco: 17%
• 3 fatores de risco: 50%

Os fatores de risco são:

• HF de epilepsia
• CF complexa
• Alteração do exame neurológico

TRATAMENTO

FASE AGUDA

Deve levar em conta cuidados gerais, como abertura de vias aéreas, oxigenoterapia, antitérmicos e
ATB, quando necessário, seguidos do uso de anticonvulsivantes (diazepam, um benzodiazepínico,
como primeira escolha).

• Após o controle da crise, deve-se manter o tratamento sintomático de acordo com a


necessidade, tendo ciência de que os antitérmicos não interferem no risco de recorrência da
convulsão febril.

OBS.: o tratamento medicamentoso é indicado em crises com duração > 5min.

PROFILAXIA DA RECORRÊNCIA

• Visa a prevenção da recidiva da CF, mas não há tratamento para prevenir epilepsia futura.
• Tratamento profilático se aplica em casos onde há 1 ou mais fatores de risco para recorrência
ou recorrência de CF.

Profilaxia intermitente com HÁ DUAS OPÇÕES Profilaxia contínua com


benzodiazepínicos TERAPÊUTICAS fenobarbital ou ác. valpróico

4 Giovana Melo Faria


• Profilaxia intermitente com benzodiazepínico
o Preferível, para evitar o uso diário de fármacos antieplépticos
o Clobazam e diazepam podem ser usados em doses semelhantes: 0,5 a 1mg/kd/dia,
sendo essa dose dividida em 2 tomadas diárias.
o Medicação iniciado ao 1º sinal de febre e interrompida 24h após o último pico febril.
• Profilaxia contínua com fenobarbital ou ácido valpróico
o Indicada caso haja ineficácia do tratamento intermitente, sendo mantida por 1 ano.
o Fármacos: fenobarbital (3 a 5mg/kg/dia) ou valproato (15 a 60mg/kg/dia).
▪ Fenobarbital possui efeitos colaterais em 40% dos pacientes: hiperatividade,
irritabilidade, distúrbio do sono e decréscimo no QI.
▪ Valproato: risco de hepatite fulminante (raro) que limita seu uso, sobretudo
em crianças com idade < 2 anos (idade pico de ocorrências de CF).

ORIENTAÇÃO FAMILIAR

• CF tem caráter benigno.


• Controle rigoroso da febre: antitérmicos/banhos típicos > compressas frias.
• Risco de recorrência: baixo, mas existente.
• Manejo inicial na crise:
o Proteger a criança sem restringir seus movimentos.
o Posicioná-la numa superfície confortável em decúbito lateral direito: previne o
acúmulo de saliva e broncoaspiração.
o Não introduzir nada na boca, nem tentar respiração boca a boca/massagem cardíaca
em casa.
o Não administrar medicação/líquidos até a criança estar bem desperta.
• CF > 5min = Dirigir-se à emergência.

5 Giovana Melo Faria

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