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Rebaixamento de Consciência
Prof. Sidartha – Urgência e Emergência 2019.1
Introdução
Epidemiologia
Responde por 10% dos atendimentos nos EUA. Mais de 50% dos pacientes são internados por RNC.
Mortalidade baixa, entre 5 e 10%.
Maior prevalência em idosos.
Etiologia e fisiopatologia
Causas principais
Causas tóxico-metabólicas são as mais comuns. Podemos dividir este grupo em causas tóxicas e causas
metabólicas.
Não são todas as intoxicações que promovem RNC. Todo tóxico que seja agonista de um neurotransmissor
inibitório ou antagonista de um neurotransmissor excitatório vai causar RNC. Intoxicações por agentes
gabaérgicos,
o Ex.: Uso excessivo de benzodiazepínicos. Estes são agonistas do GABA, principal neurotransmissor
inibitório do SNC. Se for inibitório vai causar sonolência, RNC; antídoto: flumazenil. Intoxicação por
opiáceos, morfinomiméticos; antídoto: naloxone; caso comum em pacientes oncológicos que fazem
uso de morfina, esta produz metabólitos ativos de excreção renal – taxa de filtração glomerular
debilitada em cerca de 20% em idosos, levando ao acúmulo e levar ao RNC. Intoxicação por metanol,
etanol, etilenoglicol → depressor do SNC, age no GABA-A.
Causas metabólicas ainda são mais comuns do que as tóxicas. A causa mais comum dentre este grupo são os
processos infecciosos, caracterizando o que chamamos de Delirium hipoativo, quadro mais comum em idosos.
o O Delirium hipoativo é um exemplo de RNC integral, o paciente intercala momentos de rebaixamento
e melhora. O rebaixamento, por exemplo, pode durar 2 a 3 horas e, no dia seguinte, o paciente se
apresentar alerta; depois de um certo período ele volta a estar rebaixado, fazendo ciclos. Este quadro é
útil para fixar uma grande diferença do padrão de RNC das causas estruturais, onde o RNC persiste e
o paciente não apresenta este padrão de piora/melhora/piora/melhora.
o Os processos infecciosos mais comuns que levam ao Delirium hipoativo são (em ordem de
frequência): infecções de pele (ex.: úlcera por pressão em idosos), infecções urinárias, infecções do
TGI e infecções pulmonares. Logicamente, quaisquer infecções podem levar ao quadro de RNC.
Distúrbios hidroeletrolíticos
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*Hipercalcemia da malignidade – alguns tumores realizam extrusão de cálcio. Quadro encontrado em pacientes com
câncer.
RNC + cefaleia intensa súbita prévia + pode ou não ter sinais de irritação meníngea = subaracnoidea
RNC + sinais localizatórios + déficit motor = intraparenquimatoso
Conduta para AVEh é, que nos cabe, solicitar parecer da neurologia. No AVEi fazer trombolítico, entretanto,
não diminui mortalidade, e sim, sintomas e morbidade. Podemos fazer rtPA (alteplase) até 4h30m do evento
(delta T) levando em consideração os critérios de inclusão e exclusão (TCE nos últimos 30 dias, história de
hemofilia, AVEh prévio, etc.). Estreptoquinase pode levar a degeneração hemorrágica. Desta forma, devemos
fazer o trombolítico fibrinoespecífico, a rtPA.
AVEi, maioria é cardioembólica e/ou pode ser aterotrombótico ou criptogênico. Geralmente não rebaixa o
nível de consciência a não ser que seja um AVEi em território da formação reticular (inaudível) descendente
ou um AVEi que gere um edema a montante (ex.: AVEi em tronco de a. cerebral média) e consequente
hipertensão intracraneana, culminando com um RNC.
A diferença entre os quadros citados anteriormente é tomográfica. Claro que devemos levar em consideração a
frequência com que os AVE levam ao RNC, mas lembrar de fazer a TC para confirmar.
Tempo porta-tomo: deve ser preconizado que o paciente esteja realizando TC até 30 minutos da sua entrada
no hospital, pois, o que muda prognóstico é o tempo de diagnóstico/diagnóstico precoce.
Exame inicial
Sinais de trauma a inspeção → sinais de fratura da base de crânio, que podem incluir: equimose periorbital;
edema e descoloramento da mastoide, atrás da orelha; hemotímpano; rinorreia* ou otorreia por perda de LCR.
Sinais de trauma a palpação do crânio → tecidos edemaciados ou depressão do crânio por fraturas.
*A rinorreia causada por perda de liquor pode ser confirmada pela presença de β-2 transferrina (ausente nas
outras causas de rinorreia, por exemplo, rinite alérgica).
Pressão arterial - normal, baixa ou alta (acidente vascular cerebral hemorrágico, por exemplo). PA elevada
pode ser a causa (encefalopatia hipertensiva) ou consequência do coma (hipertensão intracraniana).
o Encefalopatia hipertensiva – paciente tem hipertensão de longa data e frequentemente se apresenta
com valores pressóricos acima de 250 x 150 mmHg.
o Níveis elevados de PA são sugestivos de causa neurológica do rebaixamento do nível de consciência.
Temperatura – normal, baixa ou alta.
o Coma com hipotermia: pode ocorrer nas intoxicações agudas (etanol, drogas sedativas, hipoglicemia,
encefalopatia hepática e mixedema).
o Coma com hipertermia: infecções, estado de mal epiléptico, hipertermia maligna, intermação (heat
stroke), hemorragia pontina, lesões hipotalâmicas e intoxicações agudas (por exemplo,
anticolinérgicos).
Exame neurológico
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Após a estabilização clínica do doente (Tabela 2), deve-se fazer uma avaliação neurológica com a finalidade
de checar em qual subgrupo clínico descrito ele se enquadra, pois esse é o primeiro passo para estabelecer um
diagnóstico etiológico.
Para fins práticos, na urgência, esse exame neurológico pode ser dividido em: nível de consciência; pupilas;
sinais de irritação meníngea, padrão motor/déficit motor.
Nível de consciência
○ Coma → estado em que o indivíduo não demonstra conhecimento de si próprio e do ambiente,
caracterizado pela ausência ou extrema diminuição do alerta comportamental (nível de consciência),
permanecendo não responsivo aos estímulos internos e externos e com os olhos fechados.
○ Causas → lesão ou disfunção da FRAA, do córtex cerebral difusamente ou de ambos.
○ Lesões isoladas focais supratentoriais são insuficientes para levar ao coma, a menos que levem à
compressão de estruturas no hemisfério contralateral ou no compartimento infratentorial, como
ocorre, respectivamente, nas hérnias subfalcinas e transtentoriais.
○ Avalia-se a consciência através da aplicação da escala de coma de Glasgow (Tabela 3). Essa escala
avalia três parâmetros de resposta: abertura ocular, melhor resposta verbal, melhor resposta motora.
Pupilas e fundo de olho
o O fundo de olho pode mostrar evidências de doenças clínicas, como diabetes e hipertensão; podemos
ter inferências da pressão intracraniana; além de doenças oftalmológicas que possam sugerir a
etiologia da alteração de consciência, como achados compatíveis com retinite por citomegalovírus.
o Na semiologia das pupilas observa-se o tamanho/diâmetro das pupilas (medindo-o em milímetros),
verifica-se sua simetria ou assimetria (iso e anisocoria), seu tamanho, assim como os reflexos
fotomotor direto e consensual.
– O reflexo fotomotor é extremamente resistente aos insultos metabólicos e difusos ao SNC. A
alteração das pupilas é forte indício de lesão estrutural.
– Se pupilas anisocóricas, pensar em compressão do III NC (motor-ocular comum) →
hipertensão intracraniana. Se este quadro de anisocoria + hipertensão intracraniana aguda,
lembrar de lesão estrutural do SNC. Importante destacar que pensando anatomicamente,
dentro da calota craniana nós temos o encéfalo, sangue e líquido, e para que a pressão
aumente abruptamente só pode ser por extravasamento sanguíneo, assim, SNVAh.
Tríade da hipertensão intracraniana (Tríade de Cushing) – HAS, bradicardia e
irregularidade respoiratória. Sinais clínicos sugestivos de hipertensão intracraniana –
vômitos em jato, papiledema, sinais de irritação meníngea.
– Se pupilas isocóricas, proceder com análise dos outros aspectos encontrados no exame
neurológico.
o Exceções: Intoxicação por atropina (pupilas dilatadas e sem reflexo fotomotor); intoxicação por
opiáceos (pupilas intensamente mióticas com reflexo fotomotor presente); hipotermia (pode
transcorrer com pupilas fixas); intoxicação barbitúrica severa (pupilas fixas); encefalopatia anóxica
(pupilas midriáticas e fixas).
o Nas encefalopatias difusas ou multifocais as pupilas em geral são normais, salvo as exceções
discriminadas acima.
o Lesões acometendo o diencéfalo ou a ponte comprometem a via simpática preservando a
parassimpática (que se integra no mesencéfalo) e, portanto, levam a miose com reflexo fotomotor
preservado.
o Lesões mesencefálicas comprometem tanto o sistema nervoso simpático quanto o parassimpático, e
geralmente levam a pupilas médias e fixas.
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Exames complementares
Assim que um paciente com alteração de nível de consciência chega ao PS, deve-se imediatamente realizar
uma glicemia capilar (dextro): se houver hipoglicemia, administrar imediatamente 60 a 100 mL de glicose a
50% concomitante à tiamina (100 mg IM/IV). SEMPRE PESQUISAR.
Hiperglicemia e hipoglicemia são duas grandes causas de RNC, principalmente a hipoglicemia.
De uma forma simplificada, os exames complementares são divididos em:
o Exames para causas tóxicas, metabólicas, infecciosas ou sistêmicas. Perfil mínimo inclui: hemograma,
eletrólitos (inclusive cálcio), gasometria arterial (Tabela 4), função renal, função e enzimas hepáticas,
glicemia, exames de coagulação, urina tipo I e eletrocardiografia.
o Poderão ser necessários: hemoculturas, marcadores de necrose miocárdica, exames toxicológicos,
dosagem de anticonvulsivantes em epilépticos, dosagem de hormônios tireoidianos, hormônios
adrenais etc.
Paciente que nunca rebaixou na vida e dá entrada no serviço de emergência neste estado → devemos fazer
exame de neuroimagem.
Exames para investigação de causa primariamente neurológica
o Doentes com encefalopatias focais devem ser submetidos a exame de imagem intracraniano,
geralmente tomografia (TC), eventualmente, ressonância (RMN). Com exceção de casos de
hipoglicemia, encefalopatia hepática e urêmica, o achado de encefalopatia focal se relaciona a causas
estruturais.
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Neuroimagens
Diferenças
Observações
Obs. 1: Paciente em casa, fazendo alguma refeição, cai no chão subitamente e bate a cabeça. Dá entrada no serviço com RNC.
Pensar em duas possibilidades: Ou a SNVA foi uma causa da queda ou consequência da queda.
Obs. 2: Material oriundo da transcrição da aula e algumas informações do livro “Emergências Clínicas: Abordagem prática” (em
cinza).
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