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O termo coma deriva da palavra grega “koma”, que significa sono profundo, e descreve
uma situação clínica de inconsciência com extrema irresponsividade, durante a qual o
paciente é incapaz de reagir ao ambiente.
O estado de coma é o comprometimento mais grave da consciência. A consciência tem
dois componentes principais: conteúdo e despertar. Eles têm substratos anatômicos
diferentes, o conteúdo localizado difusamente no córtex cerebral e o despertar
dependente dos neurônios da substância reticular ativadora ascendente (SRAA),
localizada no tronco cerebral.
As causas que podem levar um paciente ao coma podem ser classificadas como
metabólicas, supratentoriais e infratentoriais. As causas metabólicas levam ao coma por
causar uma disfunção ou injúria neuronal cortical difusa. A maioria destas causas pode
ser reversível ou não dependendo da intensidade da disfunção ou da injúria neurológica
acarretada. As causas supratentoriais e infratentoriais que causam coma são
praticamente as mesmas. As lesões infratentoriais causam coma por acarretarem
distúrbio direto no funcionamento dos neurônios da SRAA, seja por lesão direta ou por
compressão e isquemia. As lesões supratentoriais só levam ao estado de coma se
produzirem um comprometimento difuso dos dois hemisférios cerebrais. Em geral, este
comprometimento pelas lesões supratentoriais decorre de 2 mecanismos: aumento da
pressão intracraniana e/ou herniação cerebral.
c) Pupilas: uma resposta pupilar normal à luz indica que o nervo óptico e as vias
simpáticas e parassimpáticas que governam a atividade pupilar estão intactas. Em
geral, as condições metabólicas não alteram a função pupilar até estágios muito
avançados. Algumas exceções são pupilas puntiformes e reativas nas intoxicações
opióides e pupilas dilatadas e fixas nas intoxicações anticolinérgicas (p.ex. atropina).
Uma lesão do III par (n. óculo-motor) acarreta dilatação pupilar não reativa à luz. Este é
um sinal importante nas lesões supratentoriais porque indica uma provável hérnia
temporal com compressão do III par ipsilateral. As lesões mesencefálicas podem
apresentar pupilas na posição média e não reativas à luz. As lesões pontinas bilaterais
acarretam pupilas puntiformes.
d) Movimento dos olhos: o movimento dos olhos pode ser observado com a rotação
rápida da cabeça para um lado e para o outro, e o movimento da cabeça para cima e
para baixo. No paciente comatoso os olhos devem se mover para o lado oposto ao do
movimento da cabeça (reflexo óculo-cefálico). Quando a cabeça é mantida na posição
neutra, os olhos devem rapidamente retornar à posição de repouso.
Desvios conjugados dos olhos ocorrem por lesões do SNC. Nas lesões destrutivas
hemisféricas os olhos são desviados para o lado da lesão (contrário à hemiplegia).
Lesões hemisféricas irritativas desviam os olhos para o hemisfério cerebral sadio. As
lesões destrutivas do tronco cerebral podem desviar os olhos para o lado contrário da
lesão e para o lado da hemiparesia. Desvio conjugado para baixo e persistente pode
aparecer nas lesões mesencefálicas.
Informações adicionais a respeito do movimento dos olhos podem ser obtidas com o
teste calórico. Nos pacientes inconscientes, o estímulo com água gelada é seguido pelo
desvio tônico dos olhos para o lado irrigado, desde que a função do tronco cerebral
esteja íntegra (reflexo óculo-vestibular). O reflexo óculo-vestibular é pesquisado
injetando 5 a 10 ml de água gelada no canal auditivo externo (o qual deve estar
desobstruído) com o paciente na posição supina e a cabeça fletida a 30o.
e) Resposta motora: a resposta motora deve ser estimulada com dor no paciente em
coma (beliscão na região cervical, roçar das articulações interfalangeanas no osso
esterno ou estímulo doloroso nos membros). Toda a resposta motora pode estar inibida
no coma profundo. Nos comas mais superficiais, qualquer resposta deve ser observada
e anotada. Se um lado do corpo não se move ou se move nitidamente menos, uma
hemiparesia é diagnosticada. Uma flexão dos membros superiores acompanhada de
extensão dos membros inferiores é característica da atitude de decorticação e é
indicativa de lesões no nível mesencefálico. E uma resposta com extensão dos
membros superiores e inferiores é característica da atitude de descerebração e é um
sinal de lesões pontinas.
Desde que a causa do coma pode rapidamente levar à lesão cerebral grave e
irreversível (p.ex. hipoglicemia, hipertensão intracraniana, herniação cerebral,
meningite, etc.), as abordagens diagnósticas e terapêuticas iniciais devem ser
realizadas concomitantemente!
A abertura e proteção das vias aéreas nos pacientes em coma geralmente exigem uma
intubação orotraqueal. Aspiração brônquica é um problema comum nestes pacientes e
é uma razão para a proteção das vias aéreas. Além disso, estes pacientes devem ter
um controle da PaCO2, já que hipercapnia causa vasodilatação cerebral e pode
aumentar perigosamente a PIC e a hipocapnia causa vasoconstrição, podendo
acarretar isquemia cerebral global ou em áreas susceptíveis.
Os exames iniciais propostos para pacientes em coma sem uma causa definida são:
hemograma, glicemia, uréia e creatinina, eletrólitos e gasometria arterial.
Posteriormente, e somente quando houver suspeita clínica, avaliação da função
hepática e da tireóide, coleta de culturas, exame do líquor, coagulograma, exames
toxicológicos, etc. devem ser solicitados na dependência de cada caso.
O exame físico geral deve focar nas alterações vitais e na procura de sinais clínicos de
doença sistêmica (doença hepática ou endócrina, infecção, trauma, etc.). E o exame
neurológico deve enfatizar os elementos já descritos: nível de consciência através da
escala de Glasgow, padrão respiratório, exame das pupilas, reflexos de tronco e a
resposta motora à dor. Embora estes 5 elementos sejam fundamentais para a análise
inicial da causa do coma, vários outros elementos do exame neurológico também são
importantes, como a avaliação dos reflexos e a busca de sinais meningoradiculares (ver
exame neurológico nos apêndices).
Herniações
A presença de uma síndrome de herniação num paciente em coma torna esta situação
de extrema emergência clínica. Poucos minutos podem ser suficientes para deixar um
paciente com uma herniação cerebral com sequela neurológica grave ou levá-lo ao
óbito. Portanto, as síndromes de herniações devem ser prontamente suspeitadas e
reconhecidas clinicamente.
Tão logo uma síndrome de herniação cerebral seja reconhecida, 3 condutas
simultâneas devem ser tomadas:
DOCUMENTAÇÃO