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Alterações do Estado de Consciência

Quem são as alterações? Abordagem difícil: inúmeras causas,


ausência de história apropriada na maioria
Agudas: coma e situações relacionadas
dos casos, curto período antes que haja
(sonolência, hipersonia, obnubilação);
dano neurológico irreversível.
abulia; síndrome afetiva cognitiva
cerebelar; estados confusionais agudos.

Subagudas ou crônicas: estado vegetativo


persistente e situações correlatas (mutismo
acinético); estado minimamente
consciente; morte encefálica.

Falsas alterações de nível de consciência:


retirada psíquica; estado deeferentado ou Situações que podem levar a coma:
locked-in; catatonia. hematomas subdural e epidural (mais
rápida deterioração).
Consciência: estado de conhecimento de si
mesmo e do ambiente que dá significado Etiologias do coma:
aos estímulos do ambiente interno e
externo. Lesões supratentoriais:

- Conteúdo: qualitativo (funções cognitivas - Lesões destrutivas subcorticais e


e afetivas) -> córtex cerebral. rinencefálicas: infarto talâmico.

- Nível: interação (grau de alerta) -> - Lesões expansivas supratentoriais:


sistema reticular ativador ascendente hemorragias, infartos, tumores, abscessos,
(SRAA) e sua interação com o córtex. Vigil, trauma craniano.
sonolento, torporoso e coma -> Glasgow 3. Lesões infratentoriais:
Alteração do nível de consciência é um - Lesões isquêmicas ou destrutivas:
rebaixamento, sendo possíveis por: lesão hemorragia pontinha, infarto de TE,
ou disfunção de FRAA; lesão ou disfunção enxaqueca vertebrobasilar, desmielinização
do córtex; ambos. de TE, tumores de TE, abscessos e
granulomas de TE.

- Lesões compressivas: hemorragia


cerebelar, infarto cerebelar, tumor
cerebelar, abscesso cerebelar, hemorragia
subdural ou extradural de fossa posterior,
aneurisma basilar, tumores de fossa
posterior extratronco encefálico.

Disfunção encefálica difusa, multifocal


e/ou metabólica: falta de O2, substrato ou
Coma e situações relacionadas cofatores; doenças de outros órgãos: não
(sonolência, hipersonia e obnubilação): endócrinos, endócrinos e outras doenças
coma é a clínica da falência de mecanismos sistêmicas; intoxicação exógena; distúrbios
de manutenção da consciência. hidroeletrolíticos e ácido-básicos;
alterações da regulação térmica; infecções
e inflamações do SNC; doenças gliais e
neuronais primárias; outras- crises - Pupilas e fundo de olho: intoxicações por
convulsivas, estados delirantes agudos, etc. atropina (dilatadas e sem reflexo
fotomotor), por opiáceos (miose intensa e
Condutas imediatas: avaliar se houve
reflexo fotomotor presente), hipotermia
traumatismo; oxigenação; verificar
(pupilas fixas), barbitúrica severa (pupilas
circulação e acesso venoso; colher exames
fixas) e encefalopatia anóxica (midríase
laboratoriais e ECG; tiamina (se alcoolismo
fixa).
e desnutrição); glicose hipertônica (se
hipoglicemia); considerar antídotos; tratar Pupilas mióticas com reflexo fotomotor
convulsões; proteger os olhos; diminui PIC; presente (encefalopatia metabólica e
tratar infecções; manter equilíbrio ácido- disfunção diencefálica bilateral); pupila da
básico e hidroeletrolítico; controlar a sd. de Claude Bernar-Horner (anisocoria);
agitação; considerar uso de sondas vesical pupilas médias e fixas (lesão em porção
e nasogástrica; não deixar paciente isolado; ventral do mesencéfalo); pupila tectal (leve
evitar complicações decorrentes da dilatação e reflexo fotomotor negativo);
imobilidade. pupilas pontinhas (miose intensa com
reflexo fotomotor); pupila uncal ou do NC
Avaliação do paciente em coma: anamnese
III (midríase extrema e reflexo fotomotor
(não liberar acompanhantes até obter o
negativo – paralela a lesão).
máximo de informações possíveis); exame
clínico; exame neurológico. - Padrão respiratório: paciente em coma
quase sempre apresenta distúrbios
Exame neurológico:
pulmonares.
- Nível de consciência: escala de coma de
Apneia pós-hiperventilação – alteração
Glasgow.
telencefálica difusa; ritmo de Cheyne-
Stokes- disfunção diencefálica;
hiperventilação neurogênica central- lesões
mesencefálicas e outras causas: edema
pulmonar, acidose, etc.; respiração
apnêustica- lesão em nível pontino baixo;
respiração periódica de ciclo curto- HIP,
lesões pontinas baixas e lesões na fossa
posterior; respiração atáxica- sugere lesão
do bulbo; apneia- lesão estrutural grave do
bulbo, intoxicação por drogas sedativas ou
lesão de vias motoras associadas.

- Movimentação ocular extrínseca: análise


de MOE: observar movimentos oculares
espontâneos; manobra dos olhos de
boneca; manobra oculovestibular, no coma:

Limitações: resposta comprometida em


pacientes que receberam BNM ou
portadores de doenças neuromusculares;
lesões agudas que acometem a linguagem;
avaliador-dependente.
;
Reflexo corneopalpebral; observação das MS com flacidez ou resposta flexora fraca
pálpebras (coma com olhos abertos- lesão no MI- lesão no nível do tegmento pontino;
aguda de ponte; déficit de fechamento de flacidez e ausência de resposta – lesão
pálpebras – sugere lesão de NC VII; periférica associada ou lesão pontinha
semiptose- lesão simpática; ptose completa baixa e bulbar.
– lesão do NC III).
- Reflexos de tronco (pares cranianos).
Se movimentos oculares preservados:
Deve-se tentar topografar onde é a lesão.
lesões supratentoriais (infarto, tumor,
hemorragia) que não interferem na função Diagnóstico clínico e tratamento dos
das páreas do TE relacionadas com MOE, comas:
causas metabólicas (coma hepático, anóxia
leve, hipoglicemia, etc.) e tóxicas (etanol, Causas supratentoriais: lesões destrutivas
opiáceos, atropina) que não deprimem subcorticais e rinencefálicas (infartos e
essas estruturas. hemorragias no tálamo, compromete a
FRAA); lesões expansivas supratentoriais
Se movimentos oculares ausentes: lesões (para coma necessita promover hérnias).
estruturais infratentoriais (lesão de TE) que
destroem áreas de controle da MOE e - Hérnia central: diencéfalo empurrado
tóxicas (drogas hipnótico-sedativas, curare, para baixo, passa o limite anatômico que é
succinilcolina). forame da tenda do cerebelo.

- Padrão de resposta motora: sinais - Hérnia lateral: uncus (porção medial e


motores focais sugere patologia estrutural, anterior do lobo temporal) se insinua entre
com raras exceções (hipoglicemia, a borda livre da tenda e o mesencéfalo.
encefalopatia hepática, encefalopatia Inicia com a compressão do NC III
urêmica). Avaliação: observação da ipsilateral a massa – intensa midríase,
movimentação espontânea do paciente; ptose palpebral e déficit de adução.
pesquisa de reflexos (presença e simetria, Depois, ocorre compressão direta do
presença de sinais patológicos – Babinski e diencéfalo, alterando a consciência. Pode
reflexo patológico de preensão palmar); ter hemiplegia ipsilateral a lesão por
pesquisa do tono muscular; observação dos compressão do pedúnculo cerebral oposto
movimentos à estimulação dolorosa. contra a borda da tenda do cerebelo. A
partir disso, a evolução é similar a hérnia
Padrões de resposta e topografia: central.
hemiparesia com comprometimento facial
– hemisfério contralateral; hemiparesia Etapa uncal pode ser lenta (horas), mas, ao
com prometimento facial e paratonia- atingir a etapa seguinte, tem evolução
hemisfério contralateral com herniação fulminante.
central ou afecção frontal; sinergismo *Não fazer punção liquórica pode causar
postural flexor (decorticação)- adução, progressão rápida.
flexão do cotovelo, flexão do punho e
dedos, do MS, e hiperextensão, flexão Tratamento: diagnóstico (TC, RM e
plantar e rotação interna do MI – disfunção arteriografia cerebral) e considerar cirurgia.
supratentorial; sinergismo postural - Diminuir a PIC: decúbito em 30 graus e
extensor (descerebração)- adução, cabeça retifica (se não hipotenso); preferir
extensão, hiperpronação do MS e soluções isotônicas; controle de
extensão, flexão plantar do MI, muitas temperatura (paracetamol e compressas
vezes opistótono e fechamento de frias); prevenção de crises convulsivas
mandíbula; resposta extensora anormal no
(crises levam a aumento de PIC); Aspectos fundamentais: distúrbio de
dexametasona (se suspeita de edema vigilância e aumento do nível de distração;
vasogênico – neoplasia e abscesso incapacidade de manter coerência de
cerebral); hiperventilação (pCO2 para 26 a pensamento; incapacidade em executar
30 mmHg); manitol (se necessário); uma série de movimentos com objetivo
sedação com barbitúricos; hipotermia definido.
sistêmica (32/ 33°C pode reduzir PIC em
Vigília – sonolento e se altera
casos refratários).
hipervigilância, orientação – estado
Tenta evitar herniação por 4 a 8 horas confusional, atenção – desatento, memória
enquanto medidas cirúrgicas vão sendo – confusa, fluxo de pensamento sem
estabelecidas. coerência.

Causas infratentoriais: lesões isquêmicas Pode ter: distúrbios de percepção – ilusão


ou destrutivas (vascular) e lesões ou alucinação, desorientação, déficit de
compressivas (compressão direta, memória, discreta anomia, disgrafia,
herniação transtentorial ascendente, discalculia, déficits de construção, falha de
herniação para o forame magno – julgamento, apatia ou agitação.
comprime bulbo, colapso cárdio-
Pode ser hiperativo ou hipoativo.
circulatório-respiratório).
Há fatores predisponentes e fatores
Diagnóstico: TC, RM e angiografia arterial e
agravantes (ex: cirurgia de grande porte):
venosa por RM e pela angiotomografia.
alteração do padrão de sono, alterações do
Causas difusas, multifocais e/ou ambiente, colocação de sonda e ITU, etc.
metabólicas: hipóxia, intoxicação por
Causas comuns de paciente internado:
anticolinérgicos, por drogas narcóticas,
infecção, desidratação, baixo débito
hipotermia, intoxicação por glutetimida.
cardíaco, etc.
Diagnóstico: anamnese, exame físico e
Encefalopatias tóxico-metabólicas; doenças
exames subsidiários/laboratoriais –
cerebrais multifocais (meningites, anóxia,
glicemia, HMG, lactato, eletrólitos, Ur e CR,
encefalites, vasculites, etc.); trauma
osmolaridade sérica, etc.
craniano; epilepsia; massas expansivas;
Dificuldades diagnósticas no coma: lesões lesões focais.
na fossa posterior; hematomas subdurais
Diagnósticos diferenciais: psicose de
crônicos isodensos bilaterais; encefalite
Korsakoff; afasia de Wernicke; depressão;
herpética; AVCi extensos em território de
demência; psicose aguda (esquizofrenia ou
A. cerebral média nas primeiras 8h.
mania).
- RM pode ser útil quando possível realiza-
Estado vegetativo ou estado vegetativo
la.
persistente (EPV): estado de vigília, sem
Delirium/estado confusional agudo: percepção do ambiente.
agudo, flutuante e alteração do foco.
Olhos abertos e podem se fechar a amaeça,
Alteração no estado mental, no qual o mas não ficam orientados a um estímulo,
déficit mais saliente é o atencional. embora possam, às vezes, simular
Elementos que mantêm a atenção: FRAA e seguimento.
elementos rostrais do neocórtex.
Postura descerebrada, pode dar lugar a
respostas flexoras, mas lentas e distônicas.
Reflexo de preensão palmas intenso, Avaliar os pacientes com consistência e
mastigação e deglutição podem aparecer. fidedignidade a partir de: comunicação
funcional e utilização funcional de objetos.
Sons ininteligíveis podem ocorrer se
estímulos dolorosos, mas sem vocalização. Deve-se afastar déficits neurológicos:
afasia, apraxia, agnosia e alterações
Diagnóstico é clínico.
sensitivomotoras, além de transtornos do
Critérios para definir: nível de consciência.

Seguir os passos para o diagnóstico


correto:

Normalmente, os que possuem EVP não se


recuperam.

Mutismo acinético possui correlação


anatomopatológica: ciclo sono-vigília
preservado, explora o campo visual com os
olhos, mas é incapaz de realizar
movimentos, vocalizar e ter reação Crianças < 3 anos deve ser feita de forma
faciovocal à dor. criteriosa, devido a menor
Estado minimamente consciente: mínimas desenvolvimento cognitivo.
evidências de autorreconhecimento ou Retirada psíquica (coma psicogênico):
reconhecimento ambiental. alterações psíquicas involuntárias ou
10x mais comum que o EVP em voluntárias (ganho secundário associado).
seguimentos a longo prazo. Diferencia-se de lesões estruturais por:
Características: consciência parcial; ciclo tono muscular normal; posturas não
sono-vigília presente; função motora usuais; alterações na postura quando
relativamente preservada (localiza sozinho; resistência a movimentos passivos
estímulos dolorosos, atinge objetos, agarra de membros; reflexos patológicos
ou toca objetos com indicativos de que ausentes; resistência a abertura palpebral;
reconhece tamanho e forma, movimentos olhos forçadamente fechados; queda da
automáticos- coçar); certa função auditiva pálpebra rápida após abertura forçada (no
(localiza sons, resposta inconsistente aos coma é lenta); resistência a manobras
estímulos sonoros); certa função visual oculoecefálicas e respostas imprevisíveis;
(fixação visual mantida e seguimento nistagmo nas manobras oculovestibulares;
visual); comunicação (vocalização pupilar normais ou dilatadas (uso de
contingente, verbalização inconsistente, cicloplégicos).
mas ininteligível); reações emocionais Se dúvida, faz EEG – no caso é normal.
(sorriso ou choro).
Síndrome do cativeiro (Locked in; Estado
de deferentação): lesão da parte anterior/
ventral da ponte.

Lesão de fibras motoras provenientes do


córtex (não move lábios e língua, pois a
fibras que se dirigem aos núcleos dos NC),
mas permanecem conscientes (porção
onde está a FRAA está íntegra). Déficit de
movimentos horizontais dos olhos, mas
consegue elevar e abaixar.

Tem nível de consciência e sabe o que está


acontecendo, mas não manifesta de forma
motora.

Catatonia: é uma síndrome, erroneamente


considerada manifestação psiquiátrica.

Quadro clínico: motor (distúrbios de


posturas, rigidez cérea); retirada
psicossocial (mutismo negativismo);
excitação (agressividade, impulsividade);
comportamento bizarro e repetitivo
(estereotipias, maneirismos, ecolalia,
ecopraxia, automatismos).

Diagnósticos diferenciais: distúrbios


psiquiátricos (esquizofrenia, distúrbios
afetivos, neuroses); distúrbios
neurológicos; patologias metabólicas;
patologias tóxicas (etanol, mescalina,
cocaína, fenciclidina, anfetamina); agentes
farmacológicos (AAS, ACTH, neurolépticos).

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