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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina

PJe - Processo Judicial Eletrônico

23/10/2020

Número: 0600052-14.2020.6.24.0019
Classe: RECURSO ELEITORAL
Órgão julgador colegiado: Colegiado do Tribunal Regional Eleitoral
Órgão julgador: Relatoria Juiz Federal
Última distribuição : 17/10/2020
Valor da causa: R$ 0,00
Processo referência: 0600052-14.2020.6.24.0019
Assuntos: Propaganda Política - Propaganda Eleitoral - Rádio, Propaganda Política - Propaganda
Eleitoral - Televisão
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
CIA CATARINENSE DE RADIO E TELEVISAO PAULO BENJAMIN FRAGOSO GALLOTTI (ADVOGADO)
(RECORRENTE) RENATA MANZATTO BALDIN PINHEIRO ALVES
(ADVOGADO)
NERILDE VANZELLA (ADVOGADO)
AGLAE DE OLIVEIRA (ADVOGADO)
MARCELO EDUARDO ECKER (ADVOGADO)
ANA CLAUDIA GOMES LEME DE MEDEIROS (ADVOGADO)
GUSTAVO ANDRE REGIS DUTRA SVENSSON
(ADVOGADO)
DANIELA DE LARA PRAZERES (ADVOGADO)
ALIANÇA POR JOINVILLE (PODE / DEM) (RECORRIDO) MARCELO RAMOS PEREGRINO FERREIRA (ADVOGADO)
RAFAEL MACEDO GOMES (ADVOGADO)
EDNELSON LUIZ MARTINS MINATTI (ADVOGADO)
IVAN PREUSS (ADVOGADO)
ANDRE LUIS PEREIRA RAMOS (ADVOGADO)
PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL - SC (FISCAL DA
LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
67681 22/10/2020 20:22 Acórdão Acórdão
55
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SANTA CATARINA

ACÓRDÃO N. 34634

RECURSO ELEITORAL (11548) N. 0600052-14.2020.6.24.0019 - JOINVILLE

RELATOR: JUIZ CELSO KIPPER

RECURSO ELEITORAL Nº 0600052-14.2020.6.24.0019


RECORRENTE: CIA CATARINENSE DE RADIO E TELEVISAO
ADVOGADO: PAULO BENJAMIN FRAGOSO GALLOTTI - OAB/SC0029050
ADVOGADO: RENATA MANZATTO BALDIN PINHEIRO ALVES - OAB/SP0204350
ADVOGADO: NERILDE VANZELLA - OAB/SC0012032
ADVOGADO: AGLAE DE OLIVEIRA - OAB/SC0017670
ADVOGADO: MARCELO EDUARDO ECKER - OAB/SC0012071
ADVOGADO: ANA CLAUDIA GOMES LEME DE MEDEIROS - OAB/SP0226485
ADVOGADO: GUSTAVO ANDRE REGIS DUTRA SVENSSON - OAB/SP0205237
ADVOGADO: DANIELA DE LARA PRAZERES - OAB/SC0012204
RECORRIDO: ALIANÇA POR JOINVILLE (PODE / DEM)
ADVOGADO: MARCELO RAMOS PEREGRINO FERREIRA - OAB/SC0012309
ADVOGADO: RAFAEL MACEDO GOMES - OAB/SC0036668
ADVOGADO: EDNELSON LUIZ MARTINS MINATTI - OAB/SC0028294
ADVOGADO: IVAN PREUSS - OAB/SC0036278
ADVOGADO: ANDRE LUIS PEREIRA RAMOS - OAB/SC0047406

ELEIÇÕES 2020 – RECURSO ELEITORAL – PROPAGANDA – HORÁRIO


ELEITORAL GRATUITO.

PRELIMINAR – INTERPOSIÇÃO DE RECURSO ORDINÁRIO – ALEGAÇÃO


DE NÃO CABIMENTO DESSA ESPÉCIE RECURSAL NO TRIBUNAL
REGIONAL ELEITORAL, VINCULADO ESPECIFICAMENTE ÀS
IRRESIGNAÇÕES INTERPOSTAS PERANTE O TSE EM HIPÓTESES
RESTRITAS – ART. 121, § 4º, III E V, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA E
ART. 276, II, DO CÓDIGO ELEITORAL – PREVISÃO ESPECÍFICA NO ART. 22
DA RESOLUÇÃO TSE N. 23.608/2019 DE RECURSO ELEITORAL – MERO
EQUÍVOCO NO NOMEN JURIS – TODOS OS PRESSUPOSTOS DE
ADMISSIBILIDADE ATENDIDOS – RECURSO RECEBIDO.

HORÁRIO ELEITORAL GRATUITO – ENTREGAS DAS MÍDIAS DE


PROPAGANDA POR MEIO ELETRÔNICO – POSSIBILIDADE PREVISTA NO
ART. 68, § 1º, DA RESOLUÇÃO TSE N. 23.610/2019 – REQUISITOS –
DELIBERAÇÃO NA REUNIÃO PARA ELABORAÇÃO DO PLANO DE MÍDIA
E OBSERVÂNCIA DO DIREITO DE ACESSO DE TODOS OS PARTIDOS QUE
FAÇAM JUS A TEMPO DE PROPAGANDA GRATUITA EM REDE OU

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INSERÇÕES – EXIGÊNCIA, POR EMISSORA GERADORA, DE QUE AS
MÍDIAS SEJAM ENTREGUES A ELA SOMENTE POR MEIO DE QUATRO
EMPRESAS POR ELA CERTIFICADAS (PLAYERS) – COMUNICAÇÃO NA
REUNIÃO REALIZADA PARA A ELABORAÇÃO DO PLANO DE MÍDIA –
RECLAMAÇÃO DE PARTIDOS E COLIGAÇÕES EM RELAÇÃO AOS
CUSTOS A SEREM POR ELES SUPORTADOS – COBRANÇA DE UM VALOR
PARA A ENTREGA DE CADA MÍDIA – ÔNUS QUE NÃO RESTOU CLARO
NA REUNIÃO DO PLANO DE MÍDIA, SEGUNDO SE DEPREENDE DE SUA
ATA – IMPOSIÇÃO QUE AFETA O DIREITO DE ACESSO DE TODOS OS
CONCORRENTES AO HORÁRIO ELEITORAL GRATUITO – ENTREGAS DAS
MÍDIAS POR MEIO ELETRÔNICO, ATRAVÉS DE LINKS, ÀS DEMAIS
EMISSORAS QUE TRANSMITEM PROPAGANDA DE RÁDIO E TELEVISÃO
EM BLOCO OU INSERÇÕES NO MUNICÍPIO – POSSIBILIDADE, CONFORME
A PRÓPRIA EMISSORA, DE RECEBIMENTO FÍSICO DOS ARQUIVOS –
COMPATIBILIDADE COM AS CONDIÇÕES TÉCNICAS DA EMISSORA – E
ART. 67 DA RESOLUÇÃO TSE N. 23.610/2019 – SENTENÇA QUE
DETERMINOU A APRESENTAÇÃO, PELA EMISSORA, DE FORMATO DE
RECEBIMENTO DAS MÍDIAS GRATUITO, COMO ALTERNATIVA, AO
APRESENTADO EM REUNIÃO – MANUTENÇÃO – RECURSO DESPROVIDO.

ACORDAM os Juízes do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, à unanimidade, em


afastar a preliminar suscitada, conhecer do recurso e, no mérito, a ele negar provimento, nos
termos do voto do Relator.

Florianópolis, 22 de outubro de 2020.

JUIZ CELSO KIPPER, RELATOR

RELATÓRIO

Trata-se de recurso interposto por Companhia Catarinense de Rádio e Televisão em face da sentença
proferida pelo Juízo da 19ª Zona Eleitoral – Joinville, que julgou parcialmente procedente representação
contra ela proposta pela Coligação “Aliança por Joinville”, determinando que fornecesse “meio
alternativo de recebimento das mídias de propaganda eleitoral gratuita, respeitado o disposto no art. 67 da
Resolução 23.610/2019 do Tribunal Superior Eleitoral, em até 1 (um) dia, sob pena de se estabelecer que
as mídias sejam entregues no formato estipulado em ata pelas outras emissoras”.

A recorrente alega, em síntese, que: a) desde o momento da convocação para a reunião de definição do
Plano de Mídia, preparou apresentação a respeito da forma de entrega das mídias, bem como do material
da propaganda eleitoral a ser veiculado, e disponibilizou a todos os Partidos Políticos, também
informando, no dia da reunião, que a forma de recebimento pela NSC seguia o padrão nacional, adotado
desde 2017 e já utilizado nas Eleições de 2018, ou seja, o encaminhamento eletrônico, via WEB
(Internet), através de players certificados e conhecidos no mercado; b) isso está sendo utilizado desde os
primeiros envios, no dia 8 de outubro, em todos os municípios onde há a geração da propaganda eleitoral
gratuita e em todo o Brasil, por afiliadas da Globo e outras emissoras; c) a Res. TSE n. 23.610/2019, em
seu artigo 68, § 1º, permite que, na reunião sobre plano de mídia, seja deliberado a respeito do envio
digital dos arquivos com as propagandas, desde que preenchidos certos requisitos; d) a Ata da Reunião
com Partidos, Coligações e Emissoras sobre o plano de mídia de Joinville demonstra que a forma de
envio do material de propaganda que ficou deliberada para a recorrente foi o digital; e) a flexibilização
das regras previamente ajustadas causa insegurança jurídica; f) o art. 67 da referida resolução assegura o

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direito de as emissoras receberem os arquivos de propaganda em suporte compatível com suas condições
técnicas; g) a previsão de que os partidos políticos e coligações se adaptem à tecnologia das emissoras é
plenamente compatível com o § 3º do art. 15 da Constituição Federal e com o § 2º do art. 7º da Lei n.
9.096/1995, que garantem às agremiações acesso gratuito ao rádio e à televisão; h) a gratuidade da
propaganda eleitoral diz respeito apenas à sua veiculação, não à produção, armazenamento e remessa do
material publicitário, que fica a cargo dos partidos e a eles impõe a prática comum de mercado; i) o
recebimento e armazenamento em nuvem por meio dos players é nacional, desde as eleições de 2018,
constando do art. 11 da Instrução TSE n. 0600920-86.2018.6.00.0000; j) as equipes que criam a
propaganda eleitoral já estão acostumadas com este tipo de entrega porque se trata de plataforma digital
que representa segurança para o andamento do processo eleitoral, conforme demonstra o parecer técnico
que anexa; k) as outras plataformas digitais oferecidas são os We transfers ou assemelhados, que
apresentam risco de fraude, não possuem qualquer garantia da especificação do arquivo enviado, não
garantem a integridade do material e apresentam ameaça à segurança da informação com o risco de enviar
arquivos maliciosos, dentre outros diversos problemas e inadequações para o processo eleitoral; l) a
possibilidade de envio de arquivos maliciosos pelos We transfers pode causar danos irreversíveis ao
sistema de televisão da recorrente e comprometer a qualidade da propaganda eleitoral em prejuízo aos
candidatos, partidos, coligações e ao próprio processo eleitoral; m) a decisão recorrida, que determina à
recorrente providenciar no prazo de um dia meios digitais alternativos, menos onerosos, para recebimento
do material da propaganda eleitoral, além de contrariar a legislação eleitoral, se mostra extremamente
arriscado para a segurança da propaganda eleitoral; n) o envio na forma digital atende às questões
sanitárias e de segurança das equipes, que estão nesse momento trabalhando em home office, de modo que
receber material físico, trabalhar com fila de motoboys e ter o contato físico para a conferência do
material é delicado e não recomendado pelas autoridades de saúde, não parecendo ser a melhor alternativa
retornar ao modelo anterior, de recebimento por meio físico de disco XDCAM, mas um retrocesso no
processo eleitoral; o) no tocante aos valores despendidos pelos candidatos, partidos e coligações para a
contratação dos players, cumpre esclarecer que antes de adotar a entrega digital a emissora recebia os
materiais de propaganda eleitoral de forma física, em disco XDCAM, um material por disco, não havendo
nenhum custo extra; p) a emissora não criou nenhum tipo de custo adicional, pois o custo de
armazenamento e envio sempre foi dos partidos, antes por meio do material XDCAM e, a partir das
eleições de 2018, pelo formato digital através dos players; q) o custo para a adequação técnica do material
sempre existiu, sendo de responsabilidade dos partidos e coligações o valor pago aos players; r) não seria
razoável exigir que as emissoras, sob a alegação de gratuidade da veiculação, ainda fossem obrigadas a se
adaptar, com aporte tecnológico e de pessoal suficientes, às diversas formas de encaminhamento de
mídias pretendidas pelos partidos políticos, pois esse é um ônus que não decorre da Constituição ou da
lei; s) a cada eleição vê-se que os candidatos, partidos e coligações vêm investindo cada vez mais na
qualidade da produção do material da propaganda eleitoral e, se podem gastar dinheiro público para
produzi-las, cabe gastar para a adequação técnica do material para o meio digital; t) no processo de
veiculação de propaganda eleitoral, é preciso garantir que todo o processo - desde o recebimento da mídia
até a sua exibição - cumpra os procedimentos e especificações técnicas que garantam que o conteúdo seja
transmitido conforme proposto, o que é garantido por meio dos players. Citou precedentes que
amparariam sua pretensão. Requereu, ao final, o provimento do recurso, a fim de que seja julgada
totalmente improcedente a ação. Trouxe documento.

A Coligação “Aliança por Joinville” apresentou suas contrarrazões, suscitando, em prefacial, o não
cabimento do “recurso ordinário” interposto pela recorrente, porquanto a Resolução TSE n. 23.608/2009
prevê, em seu art. 22, que o recurso cabível contra decisão proferida por Juiz Eleitoral nas eleições
municipais é o “recurso eleitoral”, citando precedente que beneficiaria sua tese. No mérito, sustenta, em
suma, que: a) a recorrente definiu quatro empresas para operacionalizar a entrega das mídias,
tornando-lhe excessivamente dispendioso veicular a propaganda eleitoral gratuita a que tem direito; b) a
situação toda se resume a uma questão muito simples (...), a instituição de um pedágio para acessar a
emissora; c) a Globo – única emissora que demanda esse tratamento especial – não permite que os
partidos e coligações entreguem diretamente para ela a mídia, mesmo obedecidos todos os seus padrões
técnicos, exigindo a intermediação de uma empresa particular, por meio de um custoso pedágio, para que
os programas eleitorais gratuitos sejam admitidos; d) na decisão recorrida, foi reconhecido que “as outras
emissoras permitiram que as entregas das mídias fossem realizadas de forma mais acessível (via link),
com um custo condizente à realidade financeira da parte representante”; e) ao fazer isso, contra legem,

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com todas as vênias, aumentou severamente os custos da campanha, o que confronta todas as iniciativas
legais e reformas eleitorais que buscam diminuir os valores dispendidos nas campanhas eleitorais”, um
dinheiro público sendo direcionado para um pedágio irregular e que não faz sentido; f) a emissora de
televisão é uma concessionária de serviço público e está impondo a contratação obrigatória de particulares
para os partidos – há somente quatro empresas no mercado –, para transferir uma responsabilidade que é
sua; g) a propaganda eleitoral não é gratuita, decorre de renúncia de tributos, ou seja, a emissora é
remunerada pela campanha e agora exige ainda mais dinheiro público dos fundos eleitorais para cumprir
uma obrigação que sempre foi sua, o que constitui um “descalabro”. Requer o desprovimento do recurso.

A Procuradoria Regional Eleitoral opinou pelo conhecimento e desprovimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O SENHOR JUIZ CELSO KIPPER (Relator):

1. Preliminarmente, advoga a coligação recorrida que a recorrente interpôs equivocadamente recurso


ordinário ao invés do recurso eleitoral, expressamente previsto no art. 22 da Resolução TSE n.
23.608/2019. Sustenta que o Recurso Ordinário só é cabível nas restritas hipóteses previstas no art. 121, §
4º, III e V, da Constituição da República e no art. 276, II, do Código Eleitoral e que o novo Código de
Processo Civil limitou a aplicação do princípio da fungibilidade recursal às hipóteses previstas nos arts.
1.024, 1.032 e 1.033 daquele diploma. Assevera que a doutrina e a jurisprudência exigem, para que seja
aplicada a fungibilidade recursal, a cumulação dos seguintes requisitos: a) dúvida objetiva quanto ao
cabimento do recurso; b) inexistência de erro grosseiro; e c) obediência ao prazo correto para o recurso.
Citou acórdão do TSE no sentido de suas argumentações, cuja ementa transcreveu e eu reproduzo:

ELEIÇÕES 2018. AÇÃO DE DECRETAÇÃO DE PERDA DE CARGO


ELETIVO POR INFIDELIDADE PARTIDÁRIA. AGRAVO INTERNO.
INTERPOSIÇÃO DE RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. DECISÃO REGIONAL
QUE, À LUZ DA LEITURA CONJUNTA DO ART. 121, § 4º, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, DO ART. 276, INCISOS I E II, DO CÓDIGO
ELEITORAL E DA SÚMULA 36 DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL DEVE
SER DESAFIADA POR RECURSO ORDINÁRIO. PRINCÍPIO DA
FUNGIBILIDADE. IMPOSSIBILIDADE. A INTERPRETAÇÃO DO TEXTO
CONSTITUCIONAL, DO CÓDIGO ELEITORAL E DO ENTENDIMENTO
SUMULADO DO TSE AFASTAM A EXISTÊNCIA DE DÚVIDA OBJETIVA E,
QUANDO DESCUMPRIDOS PELA PARTE IMPORTAM EM ERRO
GROSSEIRO. FIXAÇÃO DA COMPREENSÃO DESTA CORTE SUPERIOR.
RECURSO ESPECIAL ELEITORAL NÃO CONHECIDO.

1. O acesso, pela via recursal, ao Tribunal Superior Eleitoral pode se dar por via do
recurso especial eleitoral ou por via do recurso ordinário.

2. A aferição do recurso apropriado a ser manejado deve ser feita à luz da leitura conjunta
do art. 121, § 4º, incisos I a V, da Constituição Federal, do art. 276, inciso I e II, do
Código Eleitoral e da Súmula 36 deste Tribunal Superior Eleitoral.

3. A existência de um sistema normativo específico, complementado por verbete de


entendimento sumulado do Tribunal Superior Eleitoral, confere, aquele conjunto de
hipóteses, certeza, previsibilidade e segurança jurídica quanto à distinção entre recurso
especial eleitoral e recurso ordinário.

4. As decisões judiciais que abarquem as hipóteses previstas no art. 121, § 4º, incisos I e II,
da Constituição Federal desafiam a interposição de recurso especial eleitoral, na forma do
art. 276, inciso I, alínea ‘a’ e ‘b’ do Código Eleitoral.

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5. Quando proferidas decisões judiciais que acarretem os efeitos previstos no art. 121, §
4º, incisos III, IV e V, da Constituição Federal, o recurso correto a ser manejado é o
ordinário, conforme disposição do art. 276, inciso II, alínea ‘b’, do Código Eleitoral e da
Súmula 36 do Tribunal Superior Eleitoral.

6. O princípio da fungibilidade recursal, previsto no art. 810, do Código de Processo Civil


de 1939, não foi repetido nos diplomas processuais civis de 1973 e 2015. Contudo,
continua a ser aplicado pelas Cortes Nacionais, desde que observada a existência de dúvida
objetiva e a inocorrência de erro grosseiro.

7. O sistema normativo específico que disciplina e distingue as hipóteses de recurso


especial eleitoral e de recurso ordinário, na Justiça Eleitoral, extraído da leitura conjunta do
art. 121, § 4º, incisos I a V, da Constituição Federal, do art. 276, incisos I e II, do Código
Eleitoral e da Súmula 36 do TSE, impõe o degredo da dúvida objetiva para as
hipóteses nele contidas e obsta a utilização do princípio da fungibilidade
recursal.

8. A inobservância do mencionado sistema normativo específico que disciplina o


acesso, pela via recursal, ao Tribunal Superior Eleitoral descortina inescusável erro
grosseiro que também obsta a aplicação do princípio da fungibilidade recursal.

9. É inadmissível a interposição de recurso especial eleitoral contra decisão que


produz os efeitos previstos no art. 121, § 4º, inciso IV, da Constituição Federal.

10. Agravo interno conhecido e provido para a finalidade de julgar não conhecido o
recurso especial eleitoral.

(Ag. Reg. no RO n. 0600086-80.2019.6.24.0000, Relator originário Min. Tarcisio Vieira de


Carvalho Neto, julgado em 01/09/2020).

Todavia, entendo que, no caso concreto, trata-se apenas de um erro relacionado ao nome do recurso ou ao
procedimento de escolha no Processo Judicial Eletrônico. Não se aplica, aos recursos interpostos para os
Tribunais Regionais, smj, o julgado do TSE mencionado pela recorrida, porquanto os recursos para aquela
instância em face de decisões que põem fim aos processos podem ser, segundo a Constituição e o Código
Eleitoral, de duas espécies bastante distintas: os recursos ordinários e os especiais. Cada um deles prevê
hipóteses de cabimento e requisitos específicos para sua admissão, razão pela qual a Corte Superior não
admite recurso ordinário quando o recurso previsto para o caso era o especial e vice-versa.

Porém, o mesmo não se pode dizer dos recursos interpostos em face das decisões terminativas proferidas
pelos Juízos Eleitorais, pois, exceto os embargos de declaração, há um único recurso cabível, que não
possui requisitos específicos de admissibilidade, porquanto ainda se trata de instância ordinária. Esse
recurso é chamado de recurso eleitoral, mas, se outro nome lhe der a parte, como ordinário, não significa
que tenha interposto recurso diverso do previsto na legislação, não sendo sequer necessário cogitar da
aplicação do princípio da fungibilidade. Assim, no caso, entendo que o nomen juris dado à irresignação
nada mais representa do que um equívoco sem importância para o recebimento do recurso.

Dito isso, rejeito a preliminar e, porque o recurso é tempestivo e preenche os demais requisitos de
admissibilidade, voto por dele conhecer.

2. No mérito, a Coligação “Aliança por Joinville” ofereceu representação contra a Companhia Catarinense
de Rádio e Televisão em razão da exigência, efetuada pela emissora geradora de propaganda para o
horário eleitoral gratuito no município, de entrega das mídias em formato digital, por meio de “players”,
serviço limitado a quatro empresas, que cobram valor não previsto no orçamento de campanha para a
transmissão de cada arquivo de propaganda. Explicou que “as mídias relativas às inserções e blocos da
propaganda eleitoral gratuita para veiculação na NSC TV serão recebidas digitalmente, ou seja, deverão
ser encaminhadas eletronicamente, via WEB (Internet), a cada emissora, individualmente, através
de players certificados e conhecidos no mercado, que são: ADTOOX, A+V ZARPA, ADSTREAM

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e VATI”. Asseverou que os valores variam de R$ 60,00 a R$ 90,00 por arquivo e que, em razão disso,
terá um custo de R$ 300,00 diários para entregar as mídias. Aduziu que a emissora pretende transferir
seus custos para candidatos, partidos e coligações.

A emissora defendeu a entrega das mídias de forma digital, que, segundo ela, havia sido decidida na
reunião que definiu o plano de mídia. Asseverou que esse é o método mais seguro, inclusive considerando
as normas sanitárias em vigor em razão da pandemia de COVID 19, e que os custos com a produção,
armazenamento e remessa dessas propagandas são do encargo dos candidatos, partidos e coligações,
como sempre foi, inclusive quando a entrega era física. Argumentou que “não seria razoável exigir que as
emissoras, sob a alegação de gratuidade da veiculação, ainda fossem obrigadas a se adaptar, com aporte
tecnológico e de pessoal suficientes, às diversas formas de encaminhamento de mídias pretendidas pelos
partidos políticos”. Por fim, afirmou que “possui condição de retornar ao recebimento físico, da forma
como era feito antes do ano de 2017, recebendo o material por meio de disco XDCAM, de acordo com as
especificações técnicas do arquivo que anexa e que, poderá receber uma peça de propaganda eleitoral por
disco, como determina a resolução.

Após ouvir o Ministério Público Eleitoral, o Juiz da 19ª Zona Eleitoral proferiu a seguinte sentença:

II – Dispõe o art. 68, § 1º, da Lei 9.504/1997: “Os arquivos serão entregues fisicamente, em mídias,
na forma deliberada na reunião para elaboração do plano de mídia, acompanhados do formulário
estabelecido no Anexo IV. § 1º Na reunião a que se refere o caput deste artigo poderá se deliberar
pelo encaminhamento eletrônico dos arquivos com as propagandas, desde que acompanhados de
todas as informações constantes do formulário estabelecido no Anexo IV [...]”.

Na reunião prevista no art. 53 Resolução 23.610/2019, a representada esclareceu que as mídias


deveriam ser fornecidas “no formato HD e através dos players ADTOOX, A+V ZARPA,
ADSTREAM e VATI; TVBE em MPG2” (fl. 4), conforme a ata própria.

Sem prejuízo ao registrado em ata, a parte representada informou a possibilidade de que a entrega
das mídias se dê por meio físico, forma de entrega, porém, dificultada em tempos de pandemia e
que não constou da Resolução 23.615/2020 do Tribunal Superior Eleitoral, que trata da prevenção
ao “contágio pelo Novo Coronavírus (COVID 19)”.

Ocorre que a parte representada, confirmando-o em sua resposta, vinculou o recebimento das mídias
por players e, ainda, definiu quatro empresas para operacionalizar a sua exigência, o que de fato
torna excessivamente dispendioso à parte representante veicular a propaganda eleitoral gratuita a
que faz jus, sem que se demonstre a indispensabilidade desses requisitos.

Além disso, as outras emissoras permitiram que as entregas das mídias fossem realizadas de forma
mais acessível (via link), com um custo condizente à realidade financeira da parte representante,
tanto é que as reclamações partiram em desfavor apenas da parte ora representada, que não se
desincumbiu do ônus lógico-processual de demonstrar a imprescindibilidade de seu proceder, nem
do ponto de vista técnico, nem financeiro.

Dessa feita, há que se oportunizar que a entrega seja apresentada de forma digital, “em meio de
armazenamento compatível com as condições técnicas da emissora” (art. 67 da Resolução
23.610/2019 do Tribunal Superior Eleitoral), porém de forma menos onerosa.

III – Ante o exposto, julgo procedente em parte o pedido formulado, o que faço por força do art.
487, I, do Código de Processo Civil, para determinar que a parte representada forneça meio
alternativo de recebimento das mídias de propaganda eleitoral gratuita, respeitado o disposto no art.
67 da Resolução 23.610/2019 do Tribunal Superior Eleitoral, em até 1 (um) dia, sob pena de se
estabelecer que as mídias sejam entregues no formato estipulado em ata pelas outras emissoras.

Entendo que o decisum não merece reforma.

Com efeito, a Resolução TSE n. 23.610/2019 estabelece, com relação à matéria:

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Art. 67. As mídias apresentadas deverão ser individuais, delas constando apenas uma
peça de propaganda eleitoral, seja ela destinada à propaganda em rede (bloco) ou à
modalidade de inserções, e deverão ser gravadas e apresentadas em meio de
armazenamento compatível com as condições técnicas da emissora.

§ 1º As emissoras deverão informar, por ocasião da realização da reunião do plano de


mídia, os tipos compatíveis de armazenamento aos partidos políticos ou coligações
para veiculação da propaganda.

§ 2º (...)

Art. 68. Os arquivos serão entregues fisicamente, em mídias, na forma deliberada na


reunião para elaboração do plano de mídia, acompanhados do formulário
estabelecido no Anexo IV.

§ 1º Na reunião a que se refere o caput deste artigo poderá se deliberar pelo


encaminhamento eletrônico dos arquivos com as propagandas, desde que
acompanhados de todas as informações constantes do formulário estabelecido no
Anexo IV e observados:

I - meios que assegurem o imediato atesto do recebimento e da boa qualidade técnica do


arquivo e da duração do programa;

II - meios para devolução, ao partido veiculador da propaganda, com o registro das razões
da recusa, quando verificada incompatibilidade, erro ou defeito no arquivo ou inadequação
dos dados com a descrição do arquivo;

III - o direito de acesso de todos os partidos que façam jus a tempo de propaganda
gratuita em rede ou inserções, nos termos do art. 55 desta Resolução; e

IV - os prazos de conservação e de arquivamento das gravações, pelas emissoras, nos


termos do art. 71 desta Resolução.

§ 2º As mídias deverão estar identificadas inequivocamente, de modo que seja possível


associá-las às informações constantes do formulário de entrega e na claquete gravada.

§ 3º No momento do recebimento físico das mídias e na presença do representante


credenciado do partido político ou da coligação, será efetuada a conferência da qualidade
da mídia e da duração do programa, e, constatada a perfeição técnica do material, o
formulário de entrega será protocolado, devendo permanecer uma via no local e a outra ser
devolvida à pessoa autorizada.

§ 4º Caso os arquivos sejam entregues fisicamente, o formulário estabelecido no Anexo IV


deverá constar de duas vias, sendo uma para recibo, e, caso encaminhados eletronicamente,
a emissora deverá confirmar o recebimento, a boa qualidade técnica do arquivo e a duração
do programa pelo mesmo meio eletrônico.

§ 5º Verificada incompatibilidade, erro ou defeito na mídia ou inadequação dos dados com


a descrição constante no formulário de entrega, o material será devolvido ao portador com
o registro das razões da recusa nas duas vias do formulário de entrega, aplicando-se, em
caso de encaminhamento eletrônico do arquivo, o disposto nos §§ 1º e 4º deste artigo.

(...)

Como se vê, a resolução que disciplina a entrega das mídias para a geração das propagandas eleitorais em
bloco e em inserções do horário eleitoral gratuito estipula que a entrega das mídias se dará fisicamente,

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facultando, no entanto, a possibilidade de deliberação pelo encaminhamento eletrônico dos arquivos com
as propagandas, estabelecendo, no entanto, alguns requisitos a serem observados. Um deles é o direito de
acesso de todos os partidos que façam jus a tempo de propaganda gratuita em rede ou inserções.

Houve, em consonância com o que alega a recorrente, na reunião para elaboração do plano de mídia,
discussão acerca da possibilidade de entrega por meio digital das mídias. Constou da respectiva ata, cujo
conteúdo não foi, ao que se sabe, impugnado:

(...)

3. proposta da NSC TV de envio eletrônico das mídias para propaganda em rede, via web,
através de players ADTOOX, A+V ZARPA, ADSTREAM e VATI, sendo gratuito o
cadastramento dos partidos e os custos de envio dos materiais negociados diretamente
entre os partidos/coligações e os players homologados. Foi também apresentada a
proposta da ND TV de envio eletrônico das mídias de propaganda em rede, via link
eleições NDTV. Para o envio das propagandas das inserções para TVBE também foi
apresentada a proposta de envio via link da emissora. Os partidos/coligações acataram as
propostas das emissoras.

(...)

A leitura da ata demonstra que a questão foi, de fato, discutida. Porém, pelo que consta do documento,
parece que a questão dos custos não foi devidamente explicada aos partidos, coligações e candidatos. O
fato de se dizer que o cadastramento seria gratuito pode ter levado a entenderem que não haveria custos
com os players – as únicas tais quatro empresas que estariam autorizadas a encaminhar os arquivos para a
emissora – ou que esses custos não seriam significativos.

Assim, tendo em vista o esforço do país, que apesar das dificuldades de toda ordem, arca com os custos
da propaganda eleitoral no rádio e na televisão – que é gratuita apenas para partidos coligações e
candidatos, mas que onera os cofres públicos e, consequentemente, os bolsos dos cidadãos –, a fim de
privilegiar o direito à informação, de matiz constitucional (art. 5º, XIV), único elemento capaz de tornar a
escolha nas urnas verdadeiramente livre, dando assim, concretude ao princípio constitucional da
democracia (art. 1º da Lei Maior), penso que não se pode permitir que as emissoras de televisão e rádio
causem embaraços maiores a esse direito, lançando mão de expedientes que possam causar empecilho à
divulgação das candidaturas, principalmente às menos privilegiadas com recursos financeiros. Essa foi,
também, uma preocupação do Tribunal Superior Eleitoral ao prever, no art. 68, § 1º, III, da Resolução
TSE n. 23.610/2019, que as mídias poderiam ser entregues por meio eletrônico, se assim deliberassem na
reunião do plano de mídia – o que parece que de fato ocorreu, pela ata, embora não tenha ficado claro se
os candidatos, partidos e coligações foram informados dos custos do procedimento –, desde que fosse
observado o direito de acesso de todos os partidos que façam jus a tempo de propaganda gratuita .

Além disso, verifica-se na ata que as demais emissoras designadas como geradoras dos programas em
bloco e as que transmitem as inserções também vão receber eletronicamente o material de propaganda,
mas por meio de links, que não onerariam os partidos como a contratação dos players.

Transcrevo trecho do excelente parecer exarado pelo Promotor Eleitoral Marcelo Mengarda, que muito
bem encaminha a questão:

A propaganda eleitoral gratuita tem previsão legal (Lei n. 9.504/97) e é destinada à


apresentação, por parte dos candidatos, de suas propostas e objetivos à população, a fim de
proporcionar aos eleitores conhecer os candidatos e efetuar a sua escolha. É, portanto, uma
das formas de democratização do processo eleitoral.

Não por outra razão, a lei estabeleceu que a propaganda eleitoral em rádio e televisão seja
gratuita.

(...)

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Não obstante o formato e a forma de recebimento tenham sido informados na referida
reunião pela emissora representada, pôde-se perceber a irresignação de alguns participantes
da reunião virtual (no próprio chat) quanto à questão do custo exigidos pela representada
no tocante à disponibilização da mídia, porquanto esta teria que ser adaptada por uma
empresa terceirizada.

Ainda que os custos de gravação, armazenamento e envio sejam de responsabilidade dos


partidos políticos e/ou das coligações, a adequação às exigências estabelecidas pela
emissora – que indica terceiros para realizar o recebimento e adequação das mídias –, salvo
melhor juízo, gerou um custo não previsto e extremamente alto, o que pode, em alguns
casos, limitar ou inviabilizar a realização da propagando eleitoral gratuita no período a ela
destinado.

Nesse aspecto, há que se pontuar que a legislação citada destaca que as mídias deverão ser
gravadas e apresentadas em meio compatível com as condições técnicas da emissora.
Contudo, a exigência feita pela representada, no entender deste órgão do Ministério
Público, ultrapassa os limites mínimos de razoabilidade, na medida em que gerou um
custo extremamente oneroso para os partidos/coligações, em especial aos que possuem
menos condições financeiras.

Destaca-se que a emissora não só exigiu que as mídias fossem encaminhadas por
intermédio de players, como também vinculou o recebimento por apenas quatro
empresas. Dessa forma, para acessar a propaganda eleitoral de veiculação gratuita
estariam os partidos/coligações obrigados a contratar uma das empresas
"certificadas" pela emissora ou estariam impossibilitados de veiculação sua
propaganda, o que não pode ser aceito, em especial quando se observa as bases
principiológicas que regem o processo eleitoral no regime democrático.

Há que se ressaltar que é de conhecimento geral e notório que há outros meios de


recebimento e armazenamento, sem custo ou com custo muito inferior àqueles exigidos
pela emissora representada. Destaca-se, inclusive, que as demais emissoras apresentaram a
possibilidade de encaminhamento digital mediante a disponibilização de um link, por
exemplo. Ou seja, é evidente que o ônus gerado aos partidos/coligações pode ser
minimizado.

Obviamente que as emissoras devem estar preparadas com recursos humanos para o
tratamento das questões eleitorais, em especial a propaganda eleitoral gratuita. E, no
caso, nos parece que houve uma terceirização, a custo dos candidatos e partidos, desse
ônus que seria das veiculadoras.

Destaque-se que, salvo melhor juízo, não se pode cindir o conceito de veiculação gratuita
em duas etapas. Ou seja: se a veiculação é gratuita, não pode haver óbices financeiros
elegíveis pela emissora para que os partidos e agremiações apresentem suas
propostas, ainda mais quando outros órgãos de imprensa demonstram que isso é
possível de se realizar sem custos.

Consoante salientou a coligação representante, o ônus gerado pela emissora poderá


inviabilizar a continuidade da veiculação da propaganda eleitoral gratuita, ferindo os
princípios basilares da democracia.

De outro vértice, o recebimento por meio físico, como pretende a coligação


representada, é inviável, notadamente diante da situação de calamidade pública
decorrente da pandemia causada pelo coronavirus. Além disso, como já se disse, há
outros meios de remessa e armazenamento digital que substituíram o mundo físico e
que obviamente podem ser efetivados pelos partidos / coligações sem custo.

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Dessa forma, porque possível e razoável, o Ministério Público Eleitoral manifesta-se
pela procedência parcial da representação, para que a emissora representada seja
instada a apresentar um formato de recebimento das mídias que seja gratuito como
alternativa àquele já existente – sem excluir-se aquele apresentado na reunião –, não
se descurando que caberá aos partidos e coligações observarem os requisitos da
mídia.

No que diz respeito à alegação de que esse modo de entrega das mídias já foi utilizado em 2018, vale
referir que as eleições daquele ano foram realizadas para os cargos de Presidente da República, Senador,
Deputado Federal e Deputado Estadual. Além de se tratar de candidaturas normalmente mais aquinhoadas
com recursos financeiros, havia menos cargos em disputa, o que gera uma maior concentração de verbas.
Nas eleições municipais a quantidade de recursos financeiros por candidatura é bem menor, pois até o
limite de gastos é reduzido, podendo a exigência da emissora impedir a participação de alguns candidatos
no horário eleitoral gratuito, notadamente os candidatos de partidos pequenos e que concorrem
isoladamente. O TSE, ao permitir a entrega das mídias por meio eletrônico, não descuidou da garantia de
participação de todos os partidos e coligações contemplados com espaço no horário eleitoral gratuito.
Tanto é assim que deixou claro na Resolução TSE n. 23.610/2019, editada para as eleições deste ano, a
possibilidade, desde que acordado na reunião do plano de mídia e, mesmo assim, isso não poderia impedir
nenhum dos concorrentes de utilizar o tempo que lhe é garantido por lei. A decisão da Ministra Rosa
Weber (Relatora) na Instrução TSE n. 0600920-86.2018.6.00.0000 citada pela recorrente referia-se à
elaboração da Resolução TSE n. 23.590/2018, que estabeleceu o “plano de mídia do horário eleitoral
gratuito relativo ao Cargo de Presidente da República nas Eleições de 2018”. No voto da Relatora na
Instrução que geraria a mencionada resolução, ela relata, a preocupação manifestada por uma coligação,
na audiência pública que precedeu a deliberação plenária, a respeito dos custos do formato da entrega das
mídias previsto no art. 11 da minuta, que, para as inserções em televisão, seria o eletrônico através de
players. Contudo, a redação do artigo foi mantida, destacando a Ministra as qualidades técnicas do
envio/recebimento efetuado dessa forma, apontando que apenas uma coligação se insurgiu e que não
demonstrou a elevação dos custos. Mas um argumento importante utilizado pela Ministra para não acolher
a manifestação da coligação foi que a formação do grupo único de emissoras (pool) atende à pretensão do
partido, pois, em vez de enviarem as mídias para todas as emissoras, a agremiação fará o envio apenas
para o pool”. Isso, naquele caso, fazia com que não houvesse aumento significativo de gastos com a
contratação dos players. Ademais, tratando-se da eleição presidencial, onde, via de regra, os competidores
possuem mais recursos para aplicar em campanha, a solução técnica apresentada pela Ministra era, me
parece, viável, ao contrário de uma eleição municipal.

Quanto ao direito assegurado no art. 67 da Resolução TSE n. 23.610/2019, de as emissoras receberem os


arquivos de propaganda em suporte compatível com suas condições técnicas, tudo o que foi dito nestes
autos, inclusive a informação de que outras emissoras também receberiam as mídias por meio eletrônico,
disponibilizando, para tanto, um link, nos leva a crer que a coligação não está pleiteando a entrega das
mídias gravadas e apresentadas em meio incompatível com as condições técnicas da emissora,
insurgindo-se apenas quanto à forma de entrega. Os riscos para o processo eleitoral alegados pela
recorrente, assim como a qualidade da propaganda, são ônus que já decorrem da entrega das mídias de
outras formas às demais emissoras, devendo, portanto, ser suportados por coligações, partidos e
candidatos.

No que pertine ao risco no recebimento das mídias fisicamente, em razão da pandemia, permitiu o Juiz
Eleitoral que a empresa indique outros meios para a entrega digital, considerando que isso está ocorrendo,
até o momento aparentemente sem nenhum contratempo, em outras emissoras que transmitem propaganda
eleitoral gratuita no município de Joinville.

Vale lembrar que as emissoras, embora sejam colaboradoras do processo democrático, não estão
prestando favores aos partidos, coligações e candidatos. Elas são pagas pelos cofres públicos para
transmitir a propaganda do horário eleitoral gratuito. Às agremiações incumbe gravar as mídias e
apresentá-las em “meio de armazenamento compatível com as condições da emissora”, de acordo com o
art. 67, caput, da Resolução TSE n. 23.610/2019, não parecendo haver controvérsia quanto a esse ponto.
Compete a elas, ainda, a entrega das mídias e, para tanto, considerando que a eleição é municipal e que há

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determinação na norma regulamentadora para que todos os que possuem direito à transmissão de
propaganda eleitoral gratuita possam entregar suas mídias sem embaraço, a exigência da emissora,
conquanto compreensível, me parece indevida, mormente se considerarmos que há outras possibilidades.

Muito embora a recorrente tenha apresentado decisões da Justiça Eleitoral de outros Estados favoráveis ao
seu pleito, destaco que não se trata de decisões proferidas pelos colegiados dos Tribunais Regionais
Eleitorais. Na Representação n. 0600036-81.2020.6.21.0136, da 136ª Zona Eleitoral de Caxias do Sul/RS
foi proferida sentença pelo Juiz, ainda não julgado o recurso pelo TRE-RS; nos Mandados de Segurança
n. 0600119-75.2020.6.01.0000 do TRE-AC e n. 0600445-18.2020.6.16.0000 do TRE-PR, trata-se de
decisão prolatada em sede de liminar; na Representação n. 0600049-05.2020.6.26.0407, trata-se de
decisão administrativa do Juiz da 407ª Zona Eleitoral de Taubaté, que alterou o “termo de ajuste original”
(pano de mídia).

De outro lado, o recorrido também apresentou decisões que favoreceriam sua tese, notadamente as
decisões monocráticas do Juízo da 410ª Zona Eleitoral de São Carlos/ SP (Representação n.
0600175-46.2020.6.26.0410) e a notícia de uma decisão monocrática da Juíza Tereza Maia Diógenes, de
Natal/RN (não há referência à numeração), ambas em sede de liminar.

Encontrei, na jurisprudência do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte, os únicos três
precedentes sobre a matéria, que são relativos às eleições de 2018. Como as ementas são idênticas,
reproduzo apenas a mais recente:

DIREITO ELEITORAL. ELEIÇÕES 2018. PROPAGANDA ELEITORAL GRATUITA.


COBRANÇA PECUNIÁRIA POR PARTE DE EMISSORA DE TELEVISÃO.
VALORES NÃO ACORDADOS EM REUNIÃO PRÉVIA. ÓBICE AO DIREITO
SUBJETIVO DOS CANDIDATOS E AO DIREITO COLETIVO DOS ELEITORES.
NOVA REUNIÃO. TERMOS QUE VINCULAM APENAS OS SUBSCRITORES.
RECURSO DESPROVIDO.

1. A gratuidade do horário eleitoral é axioma constitucional, inteligência do art. 17, C F / 8


8;

2. A cobrança de valores para a recepção das mídias contendo propaganda a ser veiculada
no horário eleitoral gratuito, sem que tenha sido acordada com candidatos e coligações,
configura verdadeiro obstáculo ao exercício do direito subjetivo dos candidatos em
apresentar seu conteúdo programático, bem como ao direito coletivo do eleitorado em
conhecer as propostas daqueles.

3. Realizada nova reunião que resultou em novos termos ao acordo inicial, as diretrizes ali
definidas vinculam apenas os subscritores.

4. Recurso ao qual se nega provimento.

(TRE-RN. RECURSO NA REPRESENTAÇÃO n 060089955, ACÓRDÃO n 060089955


de 04/10/2018, Relator(a) ALMIRO JOSÉ DA ROCHA LEMOS, Publicação: PSESS -
Publicado em Sessão).

Os outros dois julgados mencionados são o Recurso na Representação n 060089433, Acórdão n


060089433 de 02/10/2018, Relator(a) ADRIANA CAVALCANTI MAGALHÃES, Publicação: psess -
Publicado em Sessão; e Recurso aa Representação n 060088134, Acórdão n 060088134 de 20/09/2018,
Relator(a) ALMIRO JOSÉ DA ROCHA LEMOS, Publicação: psess - Publicado em Sessão.

Penso, portanto, que é um problema atual que a Justiça Eleitoral precisa equalizar, não havendo, ainda,
uma posição consolidada, merecendo a questão a apreciação dos Tribunais Regionais Eleitorais, quiçá até
mesmo da Corte Superior.

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Por fim, destaco que a recorrente trouxe aos autos um parecer técnico sobre as plataformas digitais de
entrega de conteúdo, comparando a utilização de players ao We Transfer e apontado as muitas vantagens
do primeiro em relação ao segundo. Contudo, ante tudo o que foi dito, é necessário encontrar uma
alternativa para que essa entrega aconteça sem onerar os participantes do pleito eleitoral, o que facultou o
Magistrado à emissora na sentença recorrida.

Portanto, neste momento, a minha compreensão da matéria é a que dá o maior alcance ao princípio
democrático e ao direito a informação, valores, como já dito, de ordem constitucional, garantindo que
partidos, coligações e candidatos que tenham menos recurso possam usufruir do espaço a eles destinado
no horário eleitoral gratuito.

Entendo que a sentença deve ser integralmente mantida, inclusive porque possibilitou à recorrente a
indicação do meio alternativo de recebimento das mídias de propaganda eleitoral gratuita. Isso, na minha
opinião, afasta a possibilidade de a empresa ter que receber as mídias por meio que coloque em risco seus
equipamentos.

Ante o exposto, voto por rejeitar a preliminar suscitada pela recorrida e conhecer do recurso e, no mérito,
por negar-lhe provimento.

É como voto.

EXTRATO DE ATA

RECURSO ELEITORAL (11548) N. 0600052-14.2020.6.24.0019 - JOINVILLE - SANTA


CATARINA
RELATOR: JUIZ CELSO KIPPER

RECORRENTE :CIA CATARINENSE DE RADIO E TELEVISAO


ADVOGADO :PAULO BENJAMIN FRAGOSO GALLOTTI - OAB/SC0029050
ADVOGADO :RENATA MANZATTO BALDIN PINHEIRO ALVES - OAB/SP0204350
ADVOGADO :NERILDE VANZELLA - OAB/SC0012032
ADVOGADO :AGLAE DE OLIVEIRA - OAB/SC0017670
ADVOGADO :MARCELO EDUARDO ECKER - OAB/SC0012071
ADVOGADO :ANA CLAUDIA GOMES LEME DE MEDEIROS - OAB/SP0226485
ADVOGADO :GUSTAVO ANDRE REGIS DUTRA SVENSSON - OAB/SP0205237
ADVOGADO :DANIELA DE LARA PRAZERES - OAB/SC0012204
RECORRIDO :ALIANÇA POR JOINVILLE (PODE / DEM)
ADVOGADO :MARCELO RAMOS PEREGRINO FERREIRA - OAB/SC0012309
ADVOGADO :RAFAEL MACEDO GOMES - OAB/SC0036668
ADVOGADO :EDNELSON LUIZ MARTINS MINATTI - OAB/SC0028294
ADVOGADO :IVAN PREUSS - OAB/SC0036278
ADVOGADO :ANDRE LUIS PEREIRA RAMOS - OAB/SC0047406

Decisão: ACORDAM os Juízes do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, à


unanimidade, em afastar a preliminar suscitada, conhecer do recurso e, no mérito, a ele negar
provimento, nos termos do voto do Relator.

A Advogada Daniela de Lara Prazeres apresentou sustentação oral no ambiente virtual de


transmissão da sessão.

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Foi assinado e publicado em sessão, com a intimação pessoal do Procurador Regional
Eleitoral, o Acórdão n. 34634.

Participaram do julgamento por videoconferência os Juízes Jaime Ramos (Presidente),


Fernando Carioni, Wilson Pereira Junior, Jaime Pedro Bunn, Celso Kipper, Rodrigo Fernandes
e Luís Francisco Delpizzo Miranda.

Presente o Procurador Regional Eleitoral André Stefani Bertuol.

Processo julgado na sessão de 22/10/2020.

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