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Uma ouriça
Se o de longe esboça lhe chegar perto,
se fecha (convexo integral de esfera),
se eriça (bélica e multiespinhenta):
e, esfera e espinho, se ouriça à espera.
Mas não passiva (como ouriço na loca);
nem só defensiva (como se eriça o gato)
sim agressiva (como jamais o ouriço),
do agressivo capaz de bote, de salto
(não do salto para trás, como o gato):
daquele capaz de salto para o assalto.
MELO NETO, J. C. A educação pela pedra. Rio de Janeiro; Nova Fronteira, 1997
Com apuro formal, o poema tece um conjunto semântico que metaforiza a atitude feminina de
a) tenacidade transformada em brandura.
b) obstinação traduzida em isolamento.
c) inércia provocada pelo desejo platônico.
d) irreverência cultivada de forma cautelosa.
e) desconfiança consumada pela intolerância.
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a) A cana cortada é uma foice.
Cortada num ângulo agudo,
ganha o gume afiado da foice
que a corta em foice, um dar-se mútuo.
Menino, o gume de uma cana
cortou-me ao quase de cegar-me,
e uma cicatriz, que não guardo,
soube dentro de mim guardar-se.
c) No espaço jornal
a sombra come a laranja,
a laranja se atira no rio,
não é um rio, é o mar
que transborda de meu olho.
No espaço jornal
nascendo do relógio
vejo mãos, não palavras,
sonho alta noite a mulher
tenho a mulher e o peixe.
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tomas teu café com pão,
tomas teu lugar no bote
no cais do Capibaribe.
Deixas chorando na esteira
teu filho de mãe solteira.
Levas ao lado a marmita,
contendo a mesma ração
do meio de todo o dia,
a carne-seca e o feijão.
De tudo quanto ele pede
dás só bom-dia ao patrão,
e recomeças a luta
na engrenagem da fiação. (TEU – MOÇA / ELE – PATRÃO)
Dois parlamentos
MELO NETO, J. C. Serial e antes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento).
A lida do sertanejo com suas adversidades constitui um viés temático muito presente em João Cabral de Melo Neto.
No fragmento em destaque, essa abordagem ressalta o(a)
a) inutilidade de divisão social e hierárquica após a morte.
b) aspecto desumano dos cemitérios da população carente.
c) nivelamento do anonimato imposto pela miséria na morte.
d) tom de ironia para com a fragilidade dos corpos e da terra.
e) indiferença do sertanejo com a ausência de seus próximos.
05. (Ufrgs 2017) Leia abaixo o diálogo entre Severino e Mestre Carpina, retirado de Morte e vida Severina, de João
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Cabral de Melo Neto.
“Catar Feijão
Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e o oco, palha eco,”
Alguidar: recipiente de barro, metal ou material plástico, usado para tarefas domésticas
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Antiode no verso, como as
manhãs no tempo.
Poesia, não será esse
o sentido em que Flor é o salto
ainda te escrevo: da ave para o voo:
o salto fora do sono
flor! (Te escrevo: quando seu tecido
flor! Não uma se rompe; é uma explosão
flor, nem aquela posta a funcionar,
flor-virtude – em como uma máquina,
disfarçados urinóis). uma jarra de flores.
A poesia é marcada pela recriação do objeto por meio da linguagem, sem necessariamente explicá-lo. Nesse
fragmento de João Cabral de Melo Neto, poeta da geração de 1945, o sujeito lírico propõe a recriação poética de
a) uma palavra, a partir de imagens com as quais ela pode ser comparada, a fim de assumir novos significados.
b) um urinol, em referência às artes visuais ligadas às vanguardas do início do século XX.
c) uma ave, que compõe, com seus movimentos, uma imagem historicamente ligada à palavra poética.
d) uma máquina, levando em consideração a relevância do discurso técnico-científico pós-Revolução Industrial.
e) um tecido, visto que sua composição depende de elementos intrínsecos ao eu lírico.
08. (Upe-ssa 3 2016) João Cabral de Melo Neto, autor pernambucano, celebrizou-se com um Auto de Natal, que
trata de uma das questões mais sérias da sociedade brasileira, a qual está bem representada na charge abaixo.
Relacione a imagem com o fragmento do texto de Morte e Vida Severina.
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– Essa cova em que estás, – É uma cova grande
com palmos medida, para teu pouco defunto,
é a cota menor mas estarás mais ancho
que tiraste em vida. que estavas no mundo.
( ) O poema não tem nenhuma relação com a charge, pois não se pode relacionar dois tipos de linguagem
completamente diferentes: verbal e visual. Além disso, na charge, a mensagem imagética e linguística
apresenta uma crítica ferrenha à desigualdade social, enquanto o poema nega o valor da Reforma Agrária,
uma vez que defende o monopólio da terra.
( ) O poema de João Cabral de Melo Neto desenvolve a temática da desigualdade social à semelhança da
charge, que também aborda a mesma questão. Ambos tomam como ponto de partida a posse da terra. Há,
entre as duas mensagens, uma única preocupação que é a aquisição de bens materiais.
( ) A charge apresenta, tanto quanto o fragmento do texto de João Cabral, uma crítica à condição do lavrador,
que, durante toda vida, trabalha a terra, mas só tem direito a ela quando morre. Na imagem, o lavrador vivo
traz a placa SEM TERRA, enquanto no poema, tal qual na charge, só adquire o direito à terra após a morte,
que representa “a terra que queria ver dividida.”
( ) Diferentemente do texto escrito, a imagem revela um novo tipo de transmissão de mensagem em que se
encontra eliminada a linguagem verbal, ocorrendo exclusivamente um discurso imagético. Nele o homem e a
terra se confundem por ocasião da morte, que iguala todos os seres humanos, e isso fica explícito na antítese
sem terra/com terra.
( ) As duas mensagens tematizam a questão da posse da terra, apresentando um discurso crítico, que enfatiza o
fato de o lavrador não ter direito à terra, razão pela qual é designado como “sem terra”. Essa expressão
atualmente identifica os participantes do movimento social, que lutam pelo reconhecimento do camponês que
continua sem obter o tão desejado torrão.
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09. (Ueg 2015) Considerando o experimentalismo surgido com as vanguardas do século XX, constata-se que os
poemas de Campos e Pontes são respectivamente
10. (Unifesp 2014) Ao comparar o canavial ao mar, a imagem construída pelo eu lírico formaliza-se em
a) uma assimetria entre a ideia de nada e a de anonimato.
b) uma descontinuidade entre a ideia de mar e a de canavial.
c) uma contradição entre a ideia de extensão e a de canavial.
d) um paradoxo entre a ideia de nada e a de imensidão.
e) um eufemismo entre a ideia de metro e a de medida.
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11. (Ita 2011) Considere o poema abaixo, de Ronaldo Azeredo:
Esse texto
I. explora a organização visual das palavras sobre a página.
II. põe ênfase apenas na forma e não no conteúdo da mensagem.
III. pode ser lido não apenas na sequência horizontal das linhas.
IV. não apresenta preocupação social.
Estão corretas
a) I e II.
b) I, II e III.
c) I e III.
d) II e IV.
e) todas.
12. (Ufpr 2011) Leia o texto transcrito abaixo, que pertence ao livro Muitas vozes, de Ferreira Gullar.
MEU PAI
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13. (Espm 2011)
QUESTÃO DE PONTUAÇÃO
Açúcar
A Literatura Brasileira desempenha papel importante ao suscitar reflexão sobre desigualdades sociais. No
fragmento, essa reflexão ocorre porque o eu lírico:
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a) descreve as propriedades do açúcar.
b) se revela mero consumidor de açúcar.
c) destaca o modo de produção do açúcar.
d) exalta o trabalho dos cortadores de cana.
e) explicita a exploração dos trabalhadores.
I. Recupera a estética do poema-piada, produzido por Oswald de Andrade na primeira fase do Modernismo
brasileiro.
II. Denota influência do movimento concretista brasileiro, iniciado na década de 50.
III. Imita o estilo de João Cabral de Melo Neto, o que se comprova pela busca da síntese poética e pelo
aproveitamento do chiste.
Assinale:
a) se todas as afirmações estiverem corretas.
b) se todas as afirmações estiverem incorretas.
c) se apenas I e II estiverem corretas.
d) se apenas II e III estiverem corretas.
e) se apenas I estiver correta.
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do da saca vazia (que não ficam de pé Os vazios do homem, ainda que sintam
quando vazios, ou o homem com vazios); a uma plenitude (gora mas presença)
os vazios do homem sentem a um cheio contêm nadas, contêm apenas vazios:
de uma coisa que inchasse já inchada; o que a esponja, vazia quando plena;
ou ao que deve sentir, quando cheia, incham do que a esponja, de ar vazio,
uma saca: todavia, não qualquer saca. e dela copiam certamente a estrutura:
Os vazios do homem, esse vazio cheio, toda em grutas ou em gotas de vazio,
não sentem ao que uma saca de tijolos, postas em cachos de bolhas, de não-uva.
uma saca de rebites; nem têm o pulso Esse cheio vazio sente ao que uma saca
que bate numa de sementes, de ovos. mas cheia de esponjas cheias de vazio;
os vazios de homem ou o vazio inchado:
2 ou o vazio que inchou por estar vazio.
1 - A partir dos versos 5 e 17 do poema I, os universos de um rio e o das palavras se encontram nos vocábulos
"poço" e "cheia", relacionando seca e mudez, voz e fluidez das águas.
2 - As estrofes do poema II estão cheias da palavra vazio, corroboradas pelo verso 9 - "Os vazios do homem, esse
vazio cheio" - que repete o título e traz uma antítese, elemento fundamental na composição do poema.
3 - Há na metáfora da "grandiloquência no poema I (verso 17) a afirmação do poeta de que o curso do rio é infinito.
No poema II, os oxímoros comparam o homem a objetos inanimados.
Lendo os poemas anteriores, de João Cabral de Melo Neto, e as proposições referentes a eles, concluímos que
a) apenas as afirmativas 1 e 2 estão corretas.
b) apenas as afirmativas 1 e 3 estão corretas.
c) apenas as afirmativas 2 e 3 estão corretas.
d) apenas a afirmativa 1 está correta.
e) todas as afirmativas estão corretas.
HILST, H. Júbilo, memória, noviciado da paixão. São Paulo: Cia. Das Letras, 2018.
No poema, o eu lírico faz um inventário de estados passados espelhados no presente. Nesse processo, aflora o
a) cuidado em apagar da memória os restos do amor.
b) amadurecimento revestido de ironia e desapego.
c) mosaico de alegrias formado seletivamente.
d) desejo reprimido convertido em delírio.
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e) arrependimento dos erros cometidos.
18. (Enem 2019)
A viagem e a ausência remetem a um repertório poético tradicional. No poema, a voz lírica dialoga com essa
tradição, repercutindo a
19. (Unicamp 2019) Em 1961, o poeta António Gedeão publica o livro Máquina de Fogo. Um dos poemas é
“Lágrima de Preta”. Musicado por José Niza, foi gravado por Adriano Correia de Oliveira, em 1970, e incluído no seu
álbum “Cantaremos”. A canção foi censurada pelo governo português.
Os versos anteriores articulam as linguagens literária e científica com questões de ordem ética e política.
Considerando o contexto de produção e recepção de “Lágrima de Preta” (anos 1960 e 1970, em Portugal), o
propósito artístico desse poema é
a) inadequado quanto à análise social, ao refutar que haja racismo e preconceito na sociedade, e incorreto no
aspecto científico, ao descrever as propriedades químicas de uma lágrima.
b) inadequado quanto à análise social, ao refutar a existência de racismo e preconceito na sociedade, mas correto
no aspecto científico, ao descrever as propriedades químicas de uma lágrima.
c) pertinente quanto à análise social, ao registrar o racismo e a preconceito na sociedade, e correto no aspecto
científico, ao descrever as propriedades químicas de uma lágrima.
d) pertinente quanto à análise social, ao registrar o preconceito e o racismo na sociedade, mas incorreto no aspecto
científico, ao descrever as propriedades químicas de uma lágrima.
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20. (Enem 2018)
Na literatura de temática negra produzida no Brasil, é recorrente a presença de elementos que traduzem
experiências históricas de preconceito e violência. No poema, essa vivência revela que o eu lírico
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