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COLÉGIO SESI - ABÍLIO RODRIGUES PATTO

ATIVIDADE: Exercício de treinamento DISCIPLINA: LITERATURA PROFESSOR: MÁRCIA LIMA NOTA:

EXERCÍCIOS DE TREINAMENTO – Rotas do Enem


Poesia do Século XX – 3ª Fase do Modernismo e Pós - Modernismo

01. (Enem 2019)

Uma ouriça
Se o de longe esboça lhe chegar perto,
se fecha (convexo integral de esfera),
se eriça (bélica e multiespinhenta):
e, esfera e espinho, se ouriça à espera.
Mas não passiva (como ouriço na loca);
nem só defensiva (como se eriça o gato)
sim agressiva (como jamais o ouriço),
do agressivo capaz de bote, de salto
(não do salto para trás, como o gato):
daquele capaz de salto para o assalto.

Se o de longe lhe chega em (de longe),


de esfera aos espinhos, ela se desouriça.
Reconverte: o metal hermético e armado
na carne de antes (côncava e propícia),
as molas felinas (para o assalto),
nas molas em espiral (para o abraço).

MELO NETO, J. C. A educação pela pedra. Rio de Janeiro; Nova Fronteira, 1997

Com apuro formal, o poema tece um conjunto semântico que metaforiza a atitude feminina de
a) tenacidade transformada em brandura.
b) obstinação traduzida em isolamento.
c) inércia provocada pelo desejo platônico.
d) irreverência cultivada de forma cautelosa.
e) desconfiança consumada pela intolerância.

02. (Unifesp 2019)


A verve social da poesia de João Cabral de Melo Neto mostra-se mais evidente nos versos:

1
a) A cana cortada é uma foice.
Cortada num ângulo agudo,
ganha o gume afiado da foice
que a corta em foice, um dar-se mútuo.
Menino, o gume de uma cana
cortou-me ao quase de cegar-me,
e uma cicatriz, que não guardo,
soube dentro de mim guardar-se.

b) Formas primitivas fecham os olhos


escafandros ocultam luzes frias;
invisíveis na superfície pálpebras
não batem.
Friorentos corremos ao sol gelado
de teu país de mina onde guardas
o alimento a química o enxofre
da noite.

c) No espaço jornal
a sombra come a laranja,
a laranja se atira no rio,
não é um rio, é o mar
que transborda de meu olho.
No espaço jornal
nascendo do relógio
vejo mãos, não palavras,
sonho alta noite a mulher
tenho a mulher e o peixe.

d) Os sonhos cobrem-se de pó.


Um último esforço de concentração
morre no meu peito de homem enforcado.
Tenho no meu quarto manequins corcundas
onde me reproduzo
e me contemplo em silêncio.

e) O mar soprava sinos


os sinos secavam as flores
as flores eram cabeças de santos.
Minha memória cheia de palavras
meus pensamentos procurando fantasmas
meus pesadelos atrasados de muitas noites.

03. (Enem 2019)

Toca a sirene na fábrica,


e o apito como um chicote
bate na manhã nascente
e bate na tua cama
no sono da madrugada.
Ternuras da áspera lona
pelo corpo adolescente.
É o trabalho que te chama.
Às pressas tomas o banho,

2
tomas teu café com pão,
tomas teu lugar no bote
no cais do Capibaribe.
Deixas chorando na esteira
teu filho de mãe solteira.
Levas ao lado a marmita,
contendo a mesma ração
do meio de todo o dia,
a carne-seca e o feijão.
De tudo quanto ele pede
dás só bom-dia ao patrão,
e recomeças a luta
na engrenagem da fiação. (TEU – MOÇA / ELE – PATRÃO)

MOTA, M. Canto ao meio. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964.

Nesse texto, a mobilização do uso padrão das formas verbais e pronominais


a) ajuda a localizar o enredo num ambiente estático.
b) auxilia na caracterização física do personagem principal.
c) acrescenta informações modificadoras às ações dos personagens.
d) alterna os tempos da narrativa, fazendo progredir as ideias do texto.
e) está a serviço do projeto poético, auxiliando na distinção dos referentes.

04. (Enem PPL 2017)

Dois parlamentos

Nestes cemitérios gerais


não há morte pessoal.
Nenhum morto se viu
com modelo seu, especial.
Vão todos com a morte padrão,
em série fabricada.
Morte que não se escolhe
e aqui é fornecida de graça.
Que acaba sempre por se impor
sobre a que já medrasse.
Vence a que, mais pessoal,
alguém já trouxesse na carne.
Mas afinal tem suas vantagens
esta morte em série.
Faz defuntos funcionais,
próprios a uma terra sem vermes.

MELO NETO, J. C. Serial e antes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento).

A lida do sertanejo com suas adversidades constitui um viés temático muito presente em João Cabral de Melo Neto.
No fragmento em destaque, essa abordagem ressalta o(a)
a) inutilidade de divisão social e hierárquica após a morte.
b) aspecto desumano dos cemitérios da população carente.
c) nivelamento do anonimato imposto pela miséria na morte.
d) tom de ironia para com a fragilidade dos corpos e da terra.
e) indiferença do sertanejo com a ausência de seus próximos.

05. (Ufrgs 2017) Leia abaixo o diálogo entre Severino e Mestre Carpina, retirado de Morte e vida Severina, de João

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Cabral de Melo Neto.

— Seu José, mestre carpina, que é cada dia adquirida?


que lhe pergunte permita: espera poder um dia
há muito no lamaçal comprá-la em grandes partidas?
apodrece a sua vida? — Severino, retirante,
e a vida que tem vivido não sei bem o que lhe diga:
foi sempre comprada à vista? não é que espere comprar
— Severino, retirante, em grosso tais partidas,
sou de Nazaré da Mata, mas o que compro a retalho
mas tanto lá como aqui é, de qualquer forma, vida.
jamais me fiaram nada: — Seu José, mestre carpina,
a vida de cada dia que diferença faria
cada dia hei de comprá-la. se em vez de continuar
— Seu José, mestre carpina, tomasse a melhor saída:
e que interesse, me diga, a de saltar, numa noite,
há nessa vida a retalho fora da ponte e da vida?

Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações.

( ) Severino, retirante chegado ao Recife, questiona a vida miserável de Mestre Carpina.


( ) Mestre Carpina defende a necessidade de viver mesmo que em condição precária.
( ) Mestre Carpina nega-se a ouvir os infundados questionamentos de Severino.
( ) Severino, em sua última interrogação, aponta uma hesitação entre viver e morrer.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é


a) V – V – F – V.
b) V – F – F – F.
c) V – F – V – V.
d) F – V – F – V.
e) F – V – V – F.

06. (Espcex (Aman) 2016) Leia os versos a seguir e responda.

“Catar Feijão
Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e o oco, palha eco,”

Alguidar: recipiente de barro, metal ou material plástico, usado para tarefas domésticas

Em Catar feijão, João Cabral de Melo Neto revela


a) o princípio de que a poesia é fruto de inspiração poética, pois resulta de um trabalho emocional.
b) influência do Dadaísmo ao escolher palavras, ao acaso, que nada significam para a construção da poesia.
c) preocupação com a construção de uma poesia racional contrária ao sentimentalismo choroso.
d) valorização do eu lírico, ao extravasar o estado de alma e o sentimento poético.
e) valorização do pormenor mediante jogos de palavras, sobrecarregando a poesia de figura e de linguagem
rebuscada.

07. (Enem 2016)

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Antiode no verso, como as
manhãs no tempo.
Poesia, não será esse
o sentido em que Flor é o salto
ainda te escrevo: da ave para o voo:
o salto fora do sono
flor! (Te escrevo: quando seu tecido
flor! Não uma se rompe; é uma explosão
flor, nem aquela posta a funcionar,
flor-virtude – em como uma máquina,
disfarçados urinóis). uma jarra de flores.

Flor é a palavra MELO NETO, J. C. Psicologia da composição.


flor; verso inscrito Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento).

A poesia é marcada pela recriação do objeto por meio da linguagem, sem necessariamente explicá-lo. Nesse
fragmento de João Cabral de Melo Neto, poeta da geração de 1945, o sujeito lírico propõe a recriação poética de
a) uma palavra, a partir de imagens com as quais ela pode ser comparada, a fim de assumir novos significados.
b) um urinol, em referência às artes visuais ligadas às vanguardas do início do século XX.
c) uma ave, que compõe, com seus movimentos, uma imagem historicamente ligada à palavra poética.
d) uma máquina, levando em consideração a relevância do discurso técnico-científico pós-Revolução Industrial.
e) um tecido, visto que sua composição depende de elementos intrínsecos ao eu lírico.

08. (Upe-ssa 3 2016) João Cabral de Melo Neto, autor pernambucano, celebrizou-se com um Auto de Natal, que
trata de uma das questões mais sérias da sociedade brasileira, a qual está bem representada na charge abaixo.
Relacione a imagem com o fragmento do texto de Morte e Vida Severina.

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– Essa cova em que estás, – É uma cova grande
com palmos medida, para teu pouco defunto,
é a cota menor mas estarás mais ancho
que tiraste em vida. que estavas no mundo.

– É de bom tamanho, – É uma cova grande


nem largo nem fundo, para teu defunto parco,
é a parte que te cabe porém mais que no mundo
neste latifúndio. te sentirás largo.

– Não é cova grande. – É uma cova grande


é cova medida, para tua carne pouca,
é a terra que querias mas a terra dada
ver dividida. não se abre a boca.

João Cabral de Melo Neto

Analise as afirmativas a seguir e coloque V nas Verdadeiras e F nas Falsas.

( ) O poema não tem nenhuma relação com a charge, pois não se pode relacionar dois tipos de linguagem
completamente diferentes: verbal e visual. Além disso, na charge, a mensagem imagética e linguística
apresenta uma crítica ferrenha à desigualdade social, enquanto o poema nega o valor da Reforma Agrária,
uma vez que defende o monopólio da terra.
( ) O poema de João Cabral de Melo Neto desenvolve a temática da desigualdade social à semelhança da
charge, que também aborda a mesma questão. Ambos tomam como ponto de partida a posse da terra. Há,
entre as duas mensagens, uma única preocupação que é a aquisição de bens materiais.
( ) A charge apresenta, tanto quanto o fragmento do texto de João Cabral, uma crítica à condição do lavrador,
que, durante toda vida, trabalha a terra, mas só tem direito a ela quando morre. Na imagem, o lavrador vivo
traz a placa SEM TERRA, enquanto no poema, tal qual na charge, só adquire o direito à terra após a morte,
que representa “a terra que queria ver dividida.”
( ) Diferentemente do texto escrito, a imagem revela um novo tipo de transmissão de mensagem em que se
encontra eliminada a linguagem verbal, ocorrendo exclusivamente um discurso imagético. Nele o homem e a
terra se confundem por ocasião da morte, que iguala todos os seres humanos, e isso fica explícito na antítese
sem terra/com terra.
( ) As duas mensagens tematizam a questão da posse da terra, apresentando um discurso crítico, que enfatiza o
fato de o lavrador não ter direito à terra, razão pela qual é designado como “sem terra”. Essa expressão
atualmente identifica os participantes do movimento social, que lutam pelo reconhecimento do camponês que
continua sem obter o tão desejado torrão.

Assinale a alternativa que contém a sequência CORRETA.


a) F - F - V - F - V
b) F - F - F - F - V
c) V - V - V - V - V
d) F - F - F - V - V
e) V - V - V - F - F

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Observe os dois poemas a seguir para responder à(s) questão(ões).

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09. (Ueg 2015) Considerando o experimentalismo surgido com as vanguardas do século XX, constata-se que os
poemas de Campos e Pontes são respectivamente

a) poema árcade e poesia futurista.


b) poesia concreta e poema processo.
c) poema abstrato e poesia surreal.
d) poesia parnasiana e poema barroco.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


O nada que é

Um canavial tem a extensão


ante a qual todo metro é vão.

Tem o escancarado do mar


que existe para desafiar

que números e seus afins


possam prendê-lo nos seus sins.

Ante um canavial a medida


métrica é de todo esquecida,

porque embora todo povoado


povoa-o o pleno anonimato

que dá esse efeito singular:


de um nada prenhe como o mar.

(João Cabral de Melo Neto. Museu de tudo e depois, 1988.)

10. (Unifesp 2014) Ao comparar o canavial ao mar, a imagem construída pelo eu lírico formaliza-se em
a) uma assimetria entre a ideia de nada e a de anonimato.
b) uma descontinuidade entre a ideia de mar e a de canavial.
c) uma contradição entre a ideia de extensão e a de canavial.
d) um paradoxo entre a ideia de nada e a de imensidão.
e) um eufemismo entre a ideia de metro e a de medida.

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11. (Ita 2011) Considere o poema abaixo, de Ronaldo Azeredo:

Esse texto
I. explora a organização visual das palavras sobre a página.
II. põe ênfase apenas na forma e não no conteúdo da mensagem.
III. pode ser lido não apenas na sequência horizontal das linhas.
IV. não apresenta preocupação social.

Estão corretas
a) I e II.
b) I, II e III.
c) I e III.
d) II e IV.
e) todas.

12. (Ufpr 2011) Leia o texto transcrito abaixo, que pertence ao livro Muitas vozes, de Ferreira Gullar.

MEU PAI

meu pai foi comprados na Ótica


ao Rio se tratar de Fluminense ele
um câncer (que examinou o estojo com
o mataria) mas o nome da loja dobrou
perdeu os óculos a nota de compra guardou-a
na viagem no bolso e falou:
quero ver
quando lhe levei agora qual é o
os óculos novos sacana que vai dizer
que eu nunca estive
no Rio de Janeiro
Assinale a alternativa correta.
a) Em “Meu pai”, por enfatizar logo na abertura uma doença que terminaria por matar um homem, percebe-se uma
crítica velada ao sistema de saúde do Brasil durante o Regime Militar (1964–1985).
b) O caráter narrativo do texto faz com que ele não pertença propriamente ao gênero poético, que se caracteriza por
ser a expressão do eu.
c) Ao tratar de um evento cotidiano, Ferreira Gullar renovou a poesia brasileira, de tendência dominantemente
espiritual, introduzindo nela temas antes considerados menos nobres.
d) “Meu pai” é uma exceção no livro Muitas vozes, já que nele não surge a forte crítica social que domina o livro.
e) Em “Meu pai”, como em outros poemas de Muitas vozes, o poeta lança mão da memória pessoal de fatos
cotidianos para construir uma reflexão sobre a fugacidade da vida.

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13. (Espm 2011)

QUESTÃO DE PONTUAÇÃO

Todo mundo aceita que ao homem


cabe pontuar a própria vida:
que viva em ponto de exclamação
(dizem: tem alma dionisíaca)

viva em ponto de interrogação


(foi filosofia, ora é poesia)
viva equilibrando-se entre vírgulas
e sem pontuação (na política)

O homem só não aceita do homem


que use a só pontuação fatal:
que use, na frase que ele vive
o inevitável ponto final.

(João Cabral de Melo Neto)

Assinale a afirmação inaceitável sobre o poema:


a) A exclamação estaria relacionada a uma vida exuberante, prazerosa, arrebatada.
b) Há um questionamento existencial sob vários pontos de vista humanos.
c) Numa suposta vida atribulada, o homem deve buscar equilíbrio nas pausas.
d) Na política, sugere-se que não há normas, espécie de liberdade total para mandos e desmandos.
e) O “inevitável ponto final” é metáfora da morte, ideia com a qual o homem não se conforma.

14. (Enem 2ª aplicação 2010)

Açúcar

O branco açúcar que adoçará meu café


Nesta manhã de Ipanema
Não foi produzido por mim
Nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
[...]
Em lugares distantes,
Onde não há hospital,
Nem escola, homens que não sabem ler e morrem de fome
Aos 27 anos
Plantaram e colheram a cana
Que viraria açúcar.
Em usinas escuras, homens de vida amarga
E dura
Produziram este açúcar
Branco e puro
Com que adoço meu café esta manhã
Em Ipanema.

GULLAR, F. Toda Poesia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1980 (fragmento).

A Literatura Brasileira desempenha papel importante ao suscitar reflexão sobre desigualdades sociais. No
fragmento, essa reflexão ocorre porque o eu lírico:

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a) descreve as propriedades do açúcar.
b) se revela mero consumidor de açúcar.
c) destaca o modo de produção do açúcar.
d) exalta o trabalho dos cortadores de cana.
e) explicita a exploração dos trabalhadores.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Seu metaléxico
economiopia
desenvolvimentir
utopiada
consumidoidos
patriotários
suicidadãos
José Paulo Paes

15. (Mackenzie 2003) Considere as seguintes afirmações sobre o texto.

I. Recupera a estética do poema-piada, produzido por Oswald de Andrade na primeira fase do Modernismo
brasileiro.
II. Denota influência do movimento concretista brasileiro, iniciado na década de 50.
III. Imita o estilo de João Cabral de Melo Neto, o que se comprova pela busca da síntese poética e pelo
aproveitamento do chiste.

Assinale:
a) se todas as afirmações estiverem corretas.
b) se todas as afirmações estiverem incorretas.
c) se apenas I e II estiverem corretas.
d) se apenas II e III estiverem corretas.
e) se apenas I estiver correta.

16. (Ufes 2001)

POEMA I - "Rios sem discurso"


O curso de um rio, seu discurso-rio,
Quando um rio corta, corta-se de vez chega raramente a se reatar de vez;
o discurso-rio de água que ele fazia; um rio precisa de muito fio de água
cortado, a água se quebra em pedaços para refazer o fio antigo que o faz.
em poços de água, em água paralítica. Salvo a grandiloquência de uma cheia
Em situação de poço, a água equivale lhe impondo interina outra linguagem,
a uma palavra em situação dicionária: um rio precisa de muita água em fios
isolada, estanque no poço dela mesma, para que todos os poços se enfrasem:
e porque assim estanque, estancada; se reatando, de um para outro poço,
e mais: porque assim estancada, muda, em frases curtas, então frase e frase,
e muda porque com nenhuma comunica, até a sentença-rio do discurso único
porque cortou-se a sintaxe desse rio, em que se tem voz a seca ele combate.
o fio de água por que ele discorria.

POEMA II - "Os vazios do homem" Os vazios do homem não sentem ao nada


do vazio qualquer: do do casaco vazio,

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do da saca vazia (que não ficam de pé Os vazios do homem, ainda que sintam
quando vazios, ou o homem com vazios); a uma plenitude (gora mas presença)
os vazios do homem sentem a um cheio contêm nadas, contêm apenas vazios:
de uma coisa que inchasse já inchada; o que a esponja, vazia quando plena;
ou ao que deve sentir, quando cheia, incham do que a esponja, de ar vazio,
uma saca: todavia, não qualquer saca. e dela copiam certamente a estrutura:
Os vazios do homem, esse vazio cheio, toda em grutas ou em gotas de vazio,
não sentem ao que uma saca de tijolos, postas em cachos de bolhas, de não-uva.
uma saca de rebites; nem têm o pulso Esse cheio vazio sente ao que uma saca
que bate numa de sementes, de ovos. mas cheia de esponjas cheias de vazio;
os vazios de homem ou o vazio inchado:
2 ou o vazio que inchou por estar vazio.

1 - A partir dos versos 5 e 17 do poema I, os universos de um rio e o das palavras se encontram nos vocábulos
"poço" e "cheia", relacionando seca e mudez, voz e fluidez das águas.
2 - As estrofes do poema II estão cheias da palavra vazio, corroboradas pelo verso 9 - "Os vazios do homem, esse
vazio cheio" - que repete o título e traz uma antítese, elemento fundamental na composição do poema.
3 - Há na metáfora da "grandiloquência no poema I (verso 17) a afirmação do poeta de que o curso do rio é infinito.
No poema II, os oxímoros comparam o homem a objetos inanimados.

Lendo os poemas anteriores, de João Cabral de Melo Neto, e as proposições referentes a eles, concluímos que
a) apenas as afirmativas 1 e 2 estão corretas.
b) apenas as afirmativas 1 e 3 estão corretas.
c) apenas as afirmativas 2 e 3 estão corretas.
d) apenas a afirmativa 1 está correta.
e) todas as afirmativas estão corretas.

17. (Enem 2019)

Essa lua enlutada, esse desassossego


A convulsão de dentro, ilharga
Dentro da solidão, corpo morrendo
Tudo isso te devo. E eram tão vastas
As coisas planejadas, navios,
Muralhas de marfim, palavras largas
Consentimento sempre. E seria dezembro.
Um cavalo de jade sob as águas
Dupla transparência, fio suspenso
Todas essas coisas na ponta dos teus dedos
E tudo se desfez no pórtico do tempo
Em lívido silêncio. Umas manhãs de vidro
Vento, a alma esvaziada, um sol que não vejo

Também isso te devo.

HILST, H. Júbilo, memória, noviciado da paixão. São Paulo: Cia. Das Letras, 2018.

No poema, o eu lírico faz um inventário de estados passados espelhados no presente. Nesse processo, aflora o
a) cuidado em apagar da memória os restos do amor.
b) amadurecimento revestido de ironia e desapego.
c) mosaico de alegrias formado seletivamente.
d) desejo reprimido convertido em delírio.

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e) arrependimento dos erros cometidos.
18. (Enem 2019)

A viagem Também quem fica


procura
Que coisas devo levar um oriente.
nesta viagem em que partes? Também
As cartas de navegação só servem a quem fica
a quem fica. cabe uma paisagem nova
Com que mapas desvendar e a travessia insone do desconhecido
um continente e a alegria difícil da descoberta.
que falta? O que levas do que fica,
Estrangeira do teu corpo o que, do que levas, retiro?
tão comum
quantas línguas aprender MARQUES, A. M. In: SANT’ANNA, A (Org.). Rua
para calar-me? Aribau. Porto Alegre: Tag, 2018.

A viagem e a ausência remetem a um repertório poético tradicional. No poema, a voz lírica dialoga com essa
tradição, repercutindo a

a) saudade como experiência de apatia.


b) presença da fragmentação da identidade.
c) negação do desejo como expressão de culpa.
d) persistência da memória na valorização do passado.
e) revelação de rumos projetada pela vivência da solidão.

19. (Unicamp 2019) Em 1961, o poeta António Gedeão publica o livro Máquina de Fogo. Um dos poemas é
“Lágrima de Preta”. Musicado por José Niza, foi gravado por Adriano Correia de Oliveira, em 1970, e incluído no seu
álbum “Cantaremos”. A canção foi censurada pelo governo português.

Lágrima de preta Olhei-a de um lado, de todas as vezes


do outro e de frente: deu-me o que é costume:
Encontrei uma preta tinha um ar de gota
que estava a chorar, muito transparente. Nem sinais de negro,
pedi-lhe uma lágrima nem vestígios de ódio.
para a analisar. Mandei vir os ácidos, Água (quase tudo)
as bases e os sais, e cloreto de sódio.
Recolhi a lágrima as drogas usadas
com todo o cuidado em casos que tais. (António Gedeão, Máquina de fogo.
Coimbra: Tipografia da Atlântida,1961, p.
num tubo de ensaio
187.)
bem esterilizado. Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,

Os versos anteriores articulam as linguagens literária e científica com questões de ordem ética e política.
Considerando o contexto de produção e recepção de “Lágrima de Preta” (anos 1960 e 1970, em Portugal), o
propósito artístico desse poema é

a) inadequado quanto à análise social, ao refutar que haja racismo e preconceito na sociedade, e incorreto no
aspecto científico, ao descrever as propriedades químicas de uma lágrima.
b) inadequado quanto à análise social, ao refutar a existência de racismo e preconceito na sociedade, mas correto
no aspecto científico, ao descrever as propriedades químicas de uma lágrima.
c) pertinente quanto à análise social, ao registrar o racismo e a preconceito na sociedade, e correto no aspecto
científico, ao descrever as propriedades químicas de uma lágrima.
d) pertinente quanto à análise social, ao registrar o preconceito e o racismo na sociedade, mas incorreto no aspecto
científico, ao descrever as propriedades químicas de uma lágrima.

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20. (Enem 2018)

Quebranto e entupido com a visão deles


sinto-me a miséria concebida como um eterno
às vezes sou o policial que me suspeito começo
me peço documentos
e mesmo de posse deles fecho-me o cerco
me prendo e me dou porrada sendo o gesto que me nego
a pinga que me bebo e me embebedo
às vezes sou o porteiro o dedo que me aponto
não me deixando entrar em mim mesmo e denuncio
a não ser o ponto em que me entrego.
pela porta de serviço
às vezes!...
[...]
às vezes faço questão de não me ver CUTI. Negroesia. Belo Horizonte: Mazza. 2007 (fragmento).

Na literatura de temática negra produzida no Brasil, é recorrente a presença de elementos que traduzem
experiências históricas de preconceito e violência. No poema, essa vivência revela que o eu lírico

a) incorpora seletivamente o discurso do seu opressor.


b) submete-se à discriminação como meio de fortalecimento.
c) engaja-se na denúncia do passado de opressão e injustiças.
d) sofre uma perda de identidade e de noção de pertencimento.
e) acredita esporadicamente na utopia de uma sociedade igualitária.

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