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7/25/2008
Outra formiga, a tucandeira, tem uma ferroada tão dolorosa que não
dá nem para explicar. Mas havia também uma razão mítica pra temê-
la. Meu tio Pedro Mendes, que durante muito tempo conviveu com os
índios do Alto Madeira, dizia que as tucandeiras viravam cipó de ambé.
Se morresse uma na copa da árvore, o corpo virava a planta e as
pernas viravam os cipós. Quando se era mordido de tucandeira, a
primeira coisa a fazer era procurar um cipó de ambé, cortar e beber a
água porque ela era o antídoto. Não sei se era mesmo, mas ajudava a
aliviar a dor.
Meu tio ensinava coisas em que a gente acreditava profundamente. Ele
dizia que se a gente se perdesse e visse uma borboleta azul, era só
segui-la que ela nos levaria para a clareira mais próxima e de lá
acharíamos o caminho de casa. Essa borboleta é linda, enorme, quase
do tamanho da mão. Nunca vi um azul igual. Que, aliás, é marrom. Os
pesquisadores do INPA descobriram que ela tem uma engenharia de
disposição das escamas das asas que faz com que, na incidência de
luz, se tornem azuis.
Depois entendi porque nos levava para casa. Porque gosta de pousar
em frutas como banana e mamão maduros, já bicadas pelo passarinho
pipira. Quando sente fome, procura a primeira clareira onde haja um
roçado de frutas. E lá perto, certamente haverá uma casa. São coisas
que parecem crendice, mas há conhecimento científico associado,
obtido pelo mesmo princípio do método acadêmico: observação
sistemática dos fenômenos.