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CARTA

DENÚNCIA DE OCORRÊNCIA DE RACISMO NO DEPARTAMENTO DE


ANTROPOLOGIA DA USP

É meus camaradas, viva as voltas que o mundo deu, viva as voltas que o mundo
dá! É neste momento de fulgor e desmascaramento do nível de racismo de nossa
sociedade, que aproveito para informar, que fui expulsa(!) do Programa de Antropologia
Social pelo meu próprio suposto Professor Orientador João Felipe Gonçalves.
Ingressei no início do ano de 2019 e permaneci todo o ano sem bolsa de estudos,
pelo que, organizei minha sobrevivência material para cursar o mestrado trabalhando
no mercado corporativo abrindo minha própria empresa de produção cultural.
O professor alegou que tive “comportamento acadêmico insatisfatório” e
mesmo com minhas justificativas e comprovantes das necessidades das minhas
ausências me reprovou em sua disciplina. Além disso, no decorrer do semestre, negou-
se ao diálogo sobre meu projeto porque eu queria incluir a capoeira como objeto
empírico da minha pesquisa.
Como estava cursando apenas a sua disciplina, por sua PRÓPRIA ORIENTAÇÃO,
pois, por possuir rixa com professora do próprio departamento ministrante de matéria
obrigatória, me fez cancelar a matrícula na disciplina e ficar somente com a dele.
Deste modo, após ter me reprovado, além de ter ficado sem créditos para
qualificar agora em março, perdi a bolsa que saiu em dezembro de 2019, após ficar o
ano inteiro preocupada, e logo perdi em janeiro de 2020 por conta de sua reprovação.
Tal professor, se negou inteiramente a me ouvir, em abrir diálogo, em
compreender as dinâmicas peculiares de existência de uma MULHER NEGRA
TRABALHADORA E ACADÊMICA nascida e criada na periferia, com mãe e irmão com
transtorno de saúde mental, avó de 85 anos e tia deficiente física. Comparou-me com
os demais colegas brancos cuja grande maioria são membros da classe média e elite
econômica, política e cultural de nosso país, alegando que “não possui capacidade em
acompanhar”.
Indagada a Coordenadora do Departamento, Professora Ana, nada me disse que
nada poderia fazer, sendo totalmente negligente com o meu caso. Procurei o Professor
John Dowser, para mudar de orientação, contudo, negou-se em ser meu orientador
alegando que não tinha competência na bibliografia caribenha que era minha base
teórica de pesquisa. Sem orientador, não pude fazer o pedido de prorrogação do prazo
para a qualificação!
No fim, acabei sem Mestrado, sem bolsa, totalmente desamparada, sem apoio e
sem canal diálogo com qualquer via institucional. Não houve qualquer preocupação com
meu estado emocional e material. Lembrando que, TOD@S @s Professores deste
Departamento são pessoas brancas, exceto Professora Silvana. Lembrando que o
racismo institucional é feito desta forma, maioria de pessoas brancas pertencentes aos
cargos de poder que invisibilizam, dificultam e preterem estudantes negros, indígenas,
periféricos, trans, fora do padrão hetornormativo e/ou ocidental.
Assim, me despeço, e peço licença aos colegas, pedindo para publicizar o
ocorrido. Desejo a todes melhor sorte e esperteza nas estratégias que as minhas neste
ambiente colonizado hostil, racista, homofóbico e elitista que é a Universidade.
Haydée Paixão Fiorino
Mulher negra, trabalhadora e acadêmica, que honra suas raízes com felicidade!
“Não confunda a violência do opressor com a reação do oprimido!” Malcom X

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