A carta denuncia um caso de racismo institucional no Departamento de Antropologia da USP. Uma estudante negra relata ter sido expulsa do mestrado por seu orientador, que a reprovou injustamente e se negou a dialogar sobre sua pesquisa, que incluía a capoeira. Sem orientador e créditos, ela perdeu a vaga no mestrado e a bolsa de estudos, ficando desamparada sem apoio da coordenação ou de outros professores, todos brancos exceto uma.
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Título original
CARTA DENÚNCIA DE RACISMO NO DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA DA USP (1)
A carta denuncia um caso de racismo institucional no Departamento de Antropologia da USP. Uma estudante negra relata ter sido expulsa do mestrado por seu orientador, que a reprovou injustamente e se negou a dialogar sobre sua pesquisa, que incluía a capoeira. Sem orientador e créditos, ela perdeu a vaga no mestrado e a bolsa de estudos, ficando desamparada sem apoio da coordenação ou de outros professores, todos brancos exceto uma.
A carta denuncia um caso de racismo institucional no Departamento de Antropologia da USP. Uma estudante negra relata ter sido expulsa do mestrado por seu orientador, que a reprovou injustamente e se negou a dialogar sobre sua pesquisa, que incluía a capoeira. Sem orientador e créditos, ela perdeu a vaga no mestrado e a bolsa de estudos, ficando desamparada sem apoio da coordenação ou de outros professores, todos brancos exceto uma.
DENÚNCIA DE OCORRÊNCIA DE RACISMO NO DEPARTAMENTO DE
ANTROPOLOGIA DA USP
É meus camaradas, viva as voltas que o mundo deu, viva as voltas que o mundo dá! É neste momento de fulgor e desmascaramento do nível de racismo de nossa sociedade, que aproveito para informar, que fui expulsa(!) do Programa de Antropologia Social pelo meu próprio suposto Professor Orientador João Felipe Gonçalves. Ingressei no início do ano de 2019 e permaneci todo o ano sem bolsa de estudos, pelo que, organizei minha sobrevivência material para cursar o mestrado trabalhando no mercado corporativo abrindo minha própria empresa de produção cultural. O professor alegou que tive “comportamento acadêmico insatisfatório” e mesmo com minhas justificativas e comprovantes das necessidades das minhas ausências me reprovou em sua disciplina. Além disso, no decorrer do semestre, negou- se ao diálogo sobre meu projeto porque eu queria incluir a capoeira como objeto empírico da minha pesquisa. Como estava cursando apenas a sua disciplina, por sua PRÓPRIA ORIENTAÇÃO, pois, por possuir rixa com professora do próprio departamento ministrante de matéria obrigatória, me fez cancelar a matrícula na disciplina e ficar somente com a dele. Deste modo, após ter me reprovado, além de ter ficado sem créditos para qualificar agora em março, perdi a bolsa que saiu em dezembro de 2019, após ficar o ano inteiro preocupada, e logo perdi em janeiro de 2020 por conta de sua reprovação. Tal professor, se negou inteiramente a me ouvir, em abrir diálogo, em compreender as dinâmicas peculiares de existência de uma MULHER NEGRA TRABALHADORA E ACADÊMICA nascida e criada na periferia, com mãe e irmão com transtorno de saúde mental, avó de 85 anos e tia deficiente física. Comparou-me com os demais colegas brancos cuja grande maioria são membros da classe média e elite econômica, política e cultural de nosso país, alegando que “não possui capacidade em acompanhar”. Indagada a Coordenadora do Departamento, Professora Ana, nada me disse que nada poderia fazer, sendo totalmente negligente com o meu caso. Procurei o Professor John Dowser, para mudar de orientação, contudo, negou-se em ser meu orientador alegando que não tinha competência na bibliografia caribenha que era minha base teórica de pesquisa. Sem orientador, não pude fazer o pedido de prorrogação do prazo para a qualificação! No fim, acabei sem Mestrado, sem bolsa, totalmente desamparada, sem apoio e sem canal diálogo com qualquer via institucional. Não houve qualquer preocupação com meu estado emocional e material. Lembrando que, TOD@S @s Professores deste Departamento são pessoas brancas, exceto Professora Silvana. Lembrando que o racismo institucional é feito desta forma, maioria de pessoas brancas pertencentes aos cargos de poder que invisibilizam, dificultam e preterem estudantes negros, indígenas, periféricos, trans, fora do padrão hetornormativo e/ou ocidental. Assim, me despeço, e peço licença aos colegas, pedindo para publicizar o ocorrido. Desejo a todes melhor sorte e esperteza nas estratégias que as minhas neste ambiente colonizado hostil, racista, homofóbico e elitista que é a Universidade. Haydée Paixão Fiorino Mulher negra, trabalhadora e acadêmica, que honra suas raízes com felicidade! “Não confunda a violência do opressor com a reação do oprimido!” Malcom X