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ESCOAMENTO VISCOSO -

TEORIA DA CAMADA LIMITE E


ESCOAMENTO EXTERNO
INTRODUÇÃO

Escoamentos externos são identificados em várias situações:

• escoamento através de um leito de partículas


• no estudo da sedimentação de suspensões,
• estudo de gotas pulverizadas;
• escoamento em torno de acessórios como medidores de vazão
inseridos na tubulação;
• sedimentações em lagoas e rios;
• escoamento de um fluido em torno das pás de turbinas;
• escoamento em válvulas;
• em engenharia aeronáutica, na análise do escoamento de ar ao
redor de uma aeronave;
• ao redor de automóveis, edifícios, pilares de pontes, submarinos,
em chaminés industriais;
• no fluxo sanguíneo através dos glóbulos vermelhos do sangue, etc.
Escoamento em
meios porosos

sedimentação escoamento em torno de medidores de vazão


INTRODUÇÃO

• Da aula passada: Todos os fluidos são viscosos, mas em certas situações e


sob certas condições um fluido pode ser considerado ideal ou invíscido.

•Objetivo deste tópico: estudar o escoamento de fluidos e analisar o efeito


da viscosidade no escoamento

•Interesse particular: estudar o escoamento através de corpos sólidos


analisando a interferência da superfície do corpo no escoamento do fluido.

Invíscido (ideal) Viscoso (real)


ESCOAMENTO VISCOSO: laminar e turbulento

Escoamento laminar (predomina em vazões baixas): camadas de fluidos


escoam umas sobre as outras, sem invadir a camada vizinha. Há transporte de
momento de uma camada para a outra.
Problemas de escoamento laminar: tratados pelas equações de Navier-Stokes
(ou pela equações do movimento).
Escoamento turbulento (predomina em vazões altas): as camadas são
destruídas pelos turbilhões, que se movem em todas as direções (não apenas na
direção do escoamento)  significativo transporte de momento devido aos
turbilhões.
Problemas de escoamento turbulento: não podem ser tratados pelas equações de
Navier-Stokes.

laminar turbulento
Experimento de Reynolds (1883)

Engenheiro inglês
1842-1912

em baixas velocidades: a tinta move-se em uma linha reta, indicando


escoamento laminar (não há mistura entre as camadas)
com o aumento da velocidade: a linha torna-se mais fina e e começa a se
mover como uma onda, em movimento sinuoso
em altas velocidades: a linha é quebrada pelos turbilhões, formando inúmeros
segmentos que se dispersam.
NÚMERO DE REYNOLDS
Através desses estudos experimentais, Reynolds mostrou que o número adimensional
(denominado número de Reynolds) pode ser usado para prever a transição entre
escoamento laminar e turbulento:

Forças viscosas: associadas à resistência de um líquido em mudar sua forma


Forças inerciais: associadas à resistência de um “corpo” em mudar seu estado de
movimento (inércia: associada à massa do “corpo”)
A natureza do escoamento varia significativamente se Re  (equação de Navier-
Stokes se transforma na equação de Euler) ou se Re << 1 (equação de Navier-
Stokes se transforma na equação do escoamento lento, ou de Stokes ou creeping
flow).
Dv
 Para o escoamento em tubulações: Re  (1)

onde D = diâmetro da tubulação, v = velocidade do fluido = vazão/área de


escoamento,  e  densidade e viscosidade do fluido.

Re > 2100  regime turbulento


Re < 2100  regime laminar
xv
 Para escoamento sobre placas planas: Re  (2)

onde x = distância a partir do início da placa.

Re > 5.105  regime turbulento


Re < 5.105  regime laminar
A- Escoamentos com baixos números de Reynolds (Re < 5)
• lubrificação
• escoamentos em meios porosos
• em torno de glóbulos vermelhos do sangue
• em torno de gotículas de pulverização

B- Escoamentos com altos números de Reynolds (Re > 1000)


1. escoamentos imersos incompressíveis, exemplos.: automóveis, helicópteros,
submarinos, aeronaves durante a decolagem e pouso.
2. Escoamentos de líquidos que envolvem uma superfície livre. Exemplos: navios
ou pilar de uma ponte.
3. Escoamentos compressíveis, exemplos: aviões, mísseis e projéteis.
4. Escoamento em certas tubulações de processos

EESC-USP - Prof. Oscar M. H. Rodriguez


Voltando à equação de Euler e a de Navier-Stokes: qual a diferença entre elas?

Histórico:

• 1800: Navier-Stokes era conhecida mas não podia ser resolvida, com exceção de
escoamentos muito simples (geometria simples)
• Matemáticos conseguem resolver a equação de Euler para geometrias complexas,
mas a maioria sem significado físico por conta de não se poder usar a condição de
não escorregamento numa superfície sólida.
• única opção: estudar o escoamento de forma empírica.
• 1904: Prandtl introduz o conceito de camada limite
• a idéia era dividir o escoamento em duas partes: uma região de escoamento
invíscido e/ou irrotacional, e uma região fina, próxima a uma superfície sólida
denominada camada limite, onde as forças viscosas e a rotacionalidade devem
ser consideradas.
 Na região invíscida o campo de velocidade é obtido pela resolução das
equações da continuidade e de Euler. Se o escoamento for irrotacional pode-se
utilizar as técnicas de solução de escoamento potencial (por exemplo,
superposição)
 na camada limite, resolvem-se as equações correspondentes à camada limite
(apresentadas na sequência) que se baseiam nas equações de Navier-Stokes.
Durante grande parte do século XX: conceito de camada limite foi o carro chefe
da mecânica dos fluidos, pois corrigiu a principal limitação da equação de Euler,
impondo a condição de não escorregamento.

Atualmente: softwares de dinâmica dos fluidos (CFD) resolvem o conjunto de


equações (da continuidade e de Navier-Stokes) através de todo o campo de
escoamento.
Alteração da camada limite com o número de Reynolds.

 O segredo da aplicação com sucesso do conceito de camada limite está na hipótese


dela ser muito fina, isto é, para escoamentos com elevado número de Reynolds.

Região onde
predominan os
efeitos viscosos
CAMADA LIMITE PARA ESCOAMENTOS
EM PAREDES PLANAS E TUBOS

Consideremos o escoamento sobre uma placa plana: da mesma forma que


observado para o escoamento através de corpos, o escoamento em placa ou tubo
também gera a formação de uma camada limite devido à velocidade na parede ser
sempre nula (princípio do não escorregamento).
A camada limite formada pode ser totalmente laminar ou se tornar turbulenta, vai
depender do comprimento da placa, já que Re = xv/.

= v = vcl

Camada limite laminar

• Em muitas situações de escoamento real, uma camada limite se desenvolve sobre


uma superfície longa e plana: cascos de navios e submarinos, asas de aviões, terrenos
planos, etc.
Escoamento
potencial

Camada limite turbulenta

• Assim, camada limite é a camada de fluido que “percebe”a presença da placa na


camada limite: v < 0,99 v (onde vcl = v é a velocidade na corrente livre)
 a primeira camada de fluido que atinge a placa fica “agarrada” (não há
escorregamento em uma fronteira)  v = 0.
• As camadas seguintes são freadas pela primeira: grande transferência de momento
em y = 0 (borda frontal): y=0    tensão máxima (dv/dx máxima): na 1a
camada v = 0 e na 2a camada v = v (essa camada ainda não enxergou a placa).

Sendo  a espessura da camada limite, então, na região laminar:


em y = 0   = 0 e     tensão muito alta, sem turbilhões
com o aumento de y,  e   regime turbulento inicia-se na camada limite
• Na região de camada limite turbulenta: a tensão aumenta (maiores gradientes de
velocidade na superfície)  análise do perfil de velocidade

• A camada limite sempre vai existir.


Turbilhões:
rugosidade pode
promover a
formação de
turbilhões
Um exemplo de formação de turbilhões causada pelo aumento da
rugosidade da superfície (paisagem urbana). Image by A. Watts, adapted
from MIT’s Velocity Profiles and Turbulence Open Courseware, 2002.
 Escoamento em tubos:

Camada limite: se forma como numa placa, mas agora o escoamento está envolvido
em paredes  a camada limite aumenta de espessura até tomar todo o tubo.
Região de entrada:
 comprimento de entrada: distância entre o início do tubo e o encontro das
camadas limites.
Após o encontro das camadas limites, o escoamento é considerado
completamente desenvolvido.

• é preciso um ajuste na velocidade do fluido, v, na região de entrada para que a


vazão seja mantida constante.
• se a camada limite for laminar em toda a região de entrada, o escoamento na
região desenvolvida também será laminar.
• se há desenvolvimento de turbulência na camada limite, o restante do tubo
também opera em regime turbulento.
• tensão máxima na parede em x = 0, que diminui até atingir um valor mínimo em
x = Le, que se mantém no escoamento completamente desenvolvido.
SOLUÇÃO DA CAMADA LIMITE DE PRANDTL/BLASIUS

Escoamentos viscosos e incompressíveis sobre corpos podem ser tratados


bidimensionalmente e obtidos pela resolução das equações de movimento associadas
à da continuidade.
Considerando escoamento bidimensional de um fluido newtoniano incompressível
sobre uma placa plana, em regime permanente e desprezando o efeito da gravidade
pode-se aplicar as equações de Navier-Stokes:
v x v x 1 P  2vx 2vx  onde    / 
vx  vy    2  
x y  x  x y 2 
v y v y 1 P   v y  v y 
2 2

vx  vy    2
x y  y  x 2 y 

 E a equação da continuidade: v x v y
 0
x y
 As condições de contorno são: em y = 0  vx = 0
em y    vx = v (vcl ou u0 ou U etc.)

 Apesar de bem especificado, esse problema ainda não foi resolvido de forma
exata. Uso de soluções numéricas.
 Prandtl: usou os conceitos de camada limite e simplificou as equações que
descrevem os escoamentos
 Blasius: aluno de Prandtl, resolveu essas equações simplificadas para o caso da
camada limite sobre uma placa plana paralela ao escoamento (1908):

1883-1970
Admite-se escoamento incompressível e forças de campo desprezíveis.
Simplificações adotadas: v x v y
 0
 vx >> vy  o escoamento é paralelo à x y
placa
v x v x 1 P  2vx 2vx 
 vy    2  
     a camada limite é fina  vx
x y  x  x y 2 
x y as variações em y são muito
v y v y 1 P   v y  v y 
2 2
mais significativas do que em
x (camada limite fina: y é v x x  v y y    y   x 2  y 2 
muito pequeno em relação a x)  

OBS.: observe a distorção de uma partícula fluida enquanto escoa em uma


camada limite.
 Aplicando essas hipóteses nas equações que descrevem o escoamento ficamos com:
v x v y
 0 (3) (a eq. da continuidade não se altera)
x y
v x v x 2vx
vx  vy  (4)
x y y 2
As condições de contorno para a camada limite ficam:
em y = 0  vx = vy = 0
em y    vx = v (tb chamado vcl ou u0 ou U etc.)

 A solução das equações diferenciais parciais não lineares é alcançada usando uma
adequada mudança de variáveis. Adimensionalização: vx /v
A espessura da camada limite foi escolhida para adimensionalizar y. Assim,   y / 
 Assim, Blasius imaginou que o perfil de velocidade (vx /v) deveria ser similar para todos
os “x”, quando traçado como função da distância da parede adimensional (), ou seja,
v x / v   g()
Mas δ varia ao longo de x. Assim, com base na solução de Stokes (On the effect of the
internal friction of fluids on the motion of Pendulums), Blasius interpretou que   x / v

onde x é a distância em relação ao início da placa e    /  , e estabeleceu que

y v

2 x
 
 Introduzindo a função corrente: vx  e vy  
y x
a equação da continuidade (eq. 3) é satisfeita. Substituindo essas expressões na eq. 4:

                
         
y x  y  x y  y  y  y  y  
  2    2   3
  3
y xy x  2 y  y

 Em seguida, ele transformou essas equações num conjunto de equações diferenciais ordinárias
usando mudança de variáveis: x e y em  e as variáveis dependentes de (x,y) para f(), onde:

 ( x , y) y v
f ()  e 
v  x 2 x
Fazendo a mudança de variáveis proposta, para cada termo das equações que descrevem o
escoamento, ficamos com:
vx vx  v
   1 v v     f ''
vx    v x f ' (  )  f ' ( ) x  x 4x
y  y 2 x 2
vx v y  v  v 
1/ 2

  f f v   f  f v      f ''


vy     v x    
   x  v x  
  y  y 4  x 
x   x 2 x   2 x  2
 vx    vx   v v
1  v 
1/ 2
    f '''
 vy    (  f '  f ) y 2
  y    y  8  x
2 x 
d 3f d 2f
 Substituindo esses termos nas equações de escoamento: f 2  0
d3 d
ou, de forma mais simplificada, f ' ' 'ff ' '  0 , uma equação diferencial ordinária, não
linear de 3ª ordem.
 Com as condições de contorno:
f=f ’= 0 em  = 0, pois em y=0 vx=vy=0 e
v
vx  f ' ()
2
1  v 
1/ 2
y v
vy     (f 'f ) 
2 x  2 x
f ’ = 2 em   (pois y e vx  v)
 Observe que a eq. diferencial obtida,
apesar de ordinária, é não linear e não é
possível resolvê-la de forma exata.
 Ela foi resolvida primeiramente por
Blasius que usou uma expansão em
série para expressar a função f(), cujos
resultados foram obtidos com maior
precisão, usando métodos numéricos,
por Howarth.
 A Tabela ao lado apresenta os
resultados numéricos e a figura em
sequência, traz o gráfico desses valores:

f ()  0,16603  2  4,5943 .10 4 5  2,4972 .10 6 8  1,4277 .10 8 11  ....
v
v

y v 

2 x

Os resultados importantes vindos do trabalho de Blasius são:


 Cálculo da espessura da camada limite:
- pela tabela ou pelo gráfico, temos vx/v = 0,99 em  = 2,5. Assim, como y = 
então:
1/ 2  5
  v  x 
( x, y)      2,5    5 ou ainda : x Rex
2  x  v
 Cálculo da tensão de cisalhamento na placa:
vx vx  v
    f ''
- o gradiente de velocidade na superfície  xpela equação
x é dado 4x vista anteriormente:
v vx v y  v  v 
1/ 2
0   x     f ''
y y 0 y  y 4  x 
 2 vx    vx   v v
 v  
1/ 2     f '''
v x v  2
    
 para y = 0,  = 0  f ’’ = 1,32824
   f ' ' (0) y y
mas, pela tabela, y 8 x
y y 0
4  x 
1/ 2
 v 
1/ 2
v x  v 
  0,332 v     , então 0  0,332v    
y y 0  x   x 
 Cálculo do coeficiente de atrito na placa:
0 Fx
O coeficiente de atrito local é obtido pela C fx  Cx 
1 2 1
expressão: v  v 2 A
2 2
assim: v 
0,332v 
x 
Cfx   0,664
1
v 
2 v  x
2
0,664
C fx  onde Cfx é o coeficiente de atrito local para um dado
ou seja Rex valor de x.
1
A A
Obtendo o coeficiente de atrito médio: CfL  Cfx dA

Considerando A = W.L, onde W é a largura da placa e L o seu comprimento,

 
L L L
1 1 1
WL 0 L 0 L 0
CfL  C Wdx  C dx  0,664 dx  1,328
v  x v  x
fx fx

1,328
ou seja, CfL  Escoamento laminar e placa plana
ReL
que se aplica para escoamento laminar em placa plana (Re < 5.105) e para valores de x
(ou L) elevados (não se deve usar para os valores iniciais de x, onde a camada limite é
muito fina).
Quando o escoamento é turbulento, o perfil de velocidade (lei de potência) sendo
usado leva a :
0,0742
CfL  Escoamento turbulento e placa plana
Re1L/ 5
A força de arraste pode ser obtida por:
0 FD
C fL   u 2 A
1 2
v
1 2
v A FD  CfL
2 2 2
OBS.:

• Blasius  escoamento laminar

• Resultados para escoamento turbulento  extensão dessa teoria usando


correlações empíricas (conforme será apresentado na aula de turbulência).
ESCOAMENTO ATRAVÉS DE CORPOS SÓLIDOS

Inicialmente, vamos analisar uma das aplicações consistentes da teoria de fluidos ideais:
consideremos um cilindro de comprimento infinito, através do qual escoa um fluido ideal.
Analisaremos o problema sob a ótica bidimensional. O fluido se divide e escoa em volta do
cilindro, deslizando na superfície, uma vez que não existem tensões de cisalhamento em um
fluido ideal.

 Posição das linhas de corrente: obtida a partir de cálculos baseados em um tipo


de escoamento de fluido ideal  escoamento irrotacional ou potencial.

 A equação de Bernoulli se aplica.


 Para encontrar a distribuição de pressão no fluido aplica-se Bernoulli em um ponto afastado
do cilindro e em um ponto qualquer na superfície (s) do cilindro:
2 2
v0 P v P
 gz 0  0  s  gz s  s
2  2 
mas, com base na função corrente () que representa o escoamento ao redor de um cilindro
vs  2v0sen
(observa-se que a maior velocidade ocorre em  = /2).
Assim:
P0 4v0 sen 2 Ps v
2 2 2
v0
    Ps  P0  0 (1  4sen 2)
2  2  2
v
2
Pressão no ponto de estagnação ( = 0 e maior P): Ps  P0  0
2

Pontos B e D: maior velocidade e menor P (linhas de corrente próximas).


Essa teoria se aplica para escoamentos distantes da superfície do corpo, ou seja,
a hipótese de fluido ideal no estudo do fenômeno distante da superfície do corpo
leva a resultados próximos aos reais. No entanto, próximo da superfície, o
comportamento muda.
ESCOAMENTOS REAIS: efeitos viscosos e de pressão.

Analisando a pressão na região distante da placa (fora da camada limite):


0
reg perm vy =0
v x v x v x 1 P   2 v x  2 v x  vx 1 P
 vx  vy    2  2   vx 
t x y  x  x y  x  x
P
vx  v  0
x
Escoamentos externos (fluido real e incompressível) com alto número de
Reynolds
Objeto rombudo (ou bojudo) Diferente do escoamento ideal
ao redor de um cilindro

Na placa tínhamos atrito de superfície e nesse objeto?

 Atrito de superfície

 Atrito de forma
Escoamento na proximidade de superfícies: resistência ao escoamento  velocidade
diminuída na região próxima ao objeto e descolamento da camada limite  resultados de
escoamento potencial são inadequados.
Observe que na passagem de laminar para turbulento: aumento na vazão diminui o arraste.
Observa-se que a distribuição de
pressão até o ponto de descolamento
da camada limite é aproximadamente
semelhante à obtida considerando-se
fluido ideal.

Atrito de forma: menor quando o


escoamento for turbulento  a
turbulência aumenta as tensões na
superfície (pois o gradiente de
Re = 105 velocidade aumenta) 
Re = 6.105 descolamento da camada limite é
retardado  menor área de
turbilhões  menores perdas
ARRASTE E CAMADA LIMITE PARA ESCOAMENTOS
ATRAVÉS DE CORPOS BOJUDOS

• Escoamento através de um corpo bojudo (esfera, cilindro, etc.): ambos os arrastes


são importantes (o CD do gráfico abaixo já engloba ambas as contribuições). O
coeficiente de arraste para esses corpos é uma função de Reynolds
 Regime I: Re < 1
O escoamento é totalmente laminar: as forças viscosas predominam sobre as inerciais.
O escoamento adere ao corpo e as linhas de fluxo não apresentam oscilações.
Escoamento chamado creeping flow. Stokes mostrou que para essa região, uma esfera
de diâmetro d, movendo-se com velocidade V através de um fluido de viscosidade µ,
a força de arraste e o coeficiente de arraste são:
FD  3Vd 24
e CD 
Re
 Regime II: 1 < Re < 1000 (para Re=1000, arraste de pressão aumenta)
Acima do número de Reynolds = 1, o coeficiente de arraste por atrito cai
continuamente até um número de Reynolds em torno de 1000, mas não tão
rapidamente como previsto por Stokes que não considerou a esteira turbulenta que
desenvolve-se e cresce na parte traseira da esfera. Essa esteira está a uma pressão
relativamente baixa, causando um grande arraste de pressão.
 Regime III: 103 < Re < 3.105
Para Re = 1000, aproximadamente 95% do arraste total deve-se à pressão. De 1000
a 3.105, o coeficiente de arraste é praticamente constante. Nessa faixa, uma esteira
turbulenta de baixa pressão ocupa toda a parte de trás da esfera e a maior parte do
arraste é causada pela diferença de pressão entre a parte frontal e a parte de trás.
Observe que:
Para CD  1/Re, FD  V (laminar) ; para CD  constante, FD  V2, indicando um
crescimento muito rápido no arraste!
Regime IV: 3.105 < Re < 5.106
 Re = 3.105 : a camada de fluido na porção frontal da esfera torna-se turbulenta, com
a transição do laminar para o turbulento logo após o ponto de estagnação. Isso faz com
que o ponto de descolamento da camada limite se mova em direção à parte de trás do
cilindro  o tamanho da esteira diminui  a força de pressão sobre a esfera diminui
 diminuição abrupta do coeficiente de arraste.

Devido à turbulência, o transporte de quantidade de movimento é facilitado  maior


penetração do escoamento ao redor do cilindro.
 assim, em geral, o escoamento turbulento resiste mais ao descolamento da camada
limite que o escoamento laminar. Neste caso as forças inerciais predominam sobre as
forças viscosas. Para Re próximo a 5.105, o coeficiente de arraste repentinamente
diminui de modo significativo. Isso é explicado uma vez que no escoamento sobre um
cilindro, o arraste é causado pela diferença de pressão entre as superfícies dianteira e
traseira do cilindro (resistência de forma), a resistência sendo diminuída devido ao
aumento da velocidade que provoca variação da camada limite de laminar para
turbulenta. Aumentos posteriores do número de Reynolds, entretanto, irão causar um
aumento na força de resistência, ou seja, no arraste.
A crise do arrasto é a redução abrupta que a resistência do ar sofre
quando a velocidade da bola aumenta além de um certo limite.

A crise do arrasto ocorre


quando a camada limite torna-
se turbulenta. A turbulência
permite que a camada resista
melhor à tendência de
separação, e com isso o ponto
de descolamento move-se mais
para trás da esfera, diminuindo
a área da esteira.

A tensão de cisalhamento é maior


quando o escoamento é
turbulento. Essas tensões altas
“prendem” a camada limite na
superfície por mais tempo.

C.E. Aguiar; G. Rubini, Rev. Bras. Ens. Fis. v.26 n.4, 2004.
Rugosidade na promoção da turbulência

A rugosidade da superfície também afeta o descolamento da camada limite.


A rugosidade precipita a turbulência na camada limite e, conseqüentemente,
diminui a resistência do ar a altas velocidades. Parece estranho, mas uma
bola áspera oferece menos resistência ao ar que uma lisa. É por isso que as
bolas de golfe têm buracos escavados por toda a sua superfície — assim elas
vão mais longe.

C.E. Aguiar; G. Rubini, Rev. Bras. Ens. Fis. v.26 n.4, 2004.
Descolamento da camada limite e esteira formada para uma bola de boliche de
21,6 cm de diâmetro penetrando na água a 7,6 m/s.
(a) Bola lisa, camada limite laminar
(b) Bola com rugosidade (areia na superfície), escoamento turbulento induzido
pela rugosidade

Ref.: Mecânica dos Fluidos - 6.ed.


Frank M. White
Jabulani Bola lisa

Brazuca

Mais lisa  descolamento da


camada limite ocorre antes 
maior resistência

Mais rugosa  promoção da


turbulência  camada limite se
descola tardiamente  menor
resistência
Coeficiente de arrasto para bolas com vários graus de aspereza.

C.E. Aguiar; G. Rubini, Rev. Bras. Ens. Fis. v.26 n.4, 2004.
ARRASTE E SUSTENTAÇÃO

• Corpo se movendo através de um fluido: forças atuam na interface fluido-corpo.


• Forças: - tensão de cisalhamento na parede provocada pelos efeitos viscosos
- tensão normal associada à pressão

Forças de pressão

Forças viscosas

Força resultante:

arraste + sustentação
• Define-se arraste (ou arraste de atrito) como a componente da força resultante que
atua na direção do escoamento (FD = drag)
• Define-se sustentação (ou arraste de pressão) como a componente da força
resultante que atua na direção normal ao escoamento (FL = lift)
• O arraste e a sustentação podem ser obtidos pela integração das tensões de
cisalhamento e normais ao corpo que está sendo estudado.
• Considere a situação mais geral: um fluido escoando sobre uma superfície
apresentando uma inclinação qualquer:
O arraste e a sustentação podem
ser obtidos pela integração das
tensões de cisalhamento e normais
ao corpo. Os componentes x e y da
força que atua num pequeno
elemento de área dA são:
dFx  (pdA) cos   ( p dA)sen
dFy  (pdA)sen  ( p dA) cos 

D   dFx   p cosdA   psendA


(3)
L   dFy    psendA   p cosdA
Assim, para obter D e L precisa-se conhecer o formato do corpo (saber como  varia ao longo
do corpo) e as distribuições de p e p ao longo do corpo. Essas distribuições são, normalmente,
muito difíceis de obter, teórica ou experimentalmente, principalmente a distribuição de p .

Portanto, tanto a tensão de cisalhamento quanto a pressão contribuem para ambos, a sustentação
e o arraste, pois o ângulo  normalmente não é nulo ou igual a 90 ao longo de todo o corpo.
Ex.:
(a) Sustentação nula (pois  = 90º
na parte superior e  = 270 na
parte inferior da placa)
Arraste por atrito

(b) Sustentação nula (pois  = 0º


na parte anterior e  = 180 na
parte posterior da placa)

Arraste de pressão

(c) Sustentação  0
(  0 ou de múltiplos de /2)

Arraste de atrito e pressão


CONCLUSÃO:
Existem duas contribuições para o arraste:
• A contribuição referente às tensões de cisalhamento presentes na superfície da placa
e que pode ser associada ao atrito do material ((a) e (c)).
• A contribuição das forças de pressão ((b) e (c)). No caso do (b), o arraste é totalmente
provocado pela diferença dos perfis de pressão nas faces da placa.
As equações (3) se aplicam para qualquer corpo imerso, mas sua utilização é
limitada pela complexidade de determinação dos perfis de tensão e pressão.
Uma opção, muito utilizada é definir coeficientes adimensionais de arraste e
sustentação e determinar seus valores de forma mais simplificada, seja experimental,
teórica ou numérica:

FL FD
CL  CD 
1 1 (4)
v  A v  A
2 2

2 2

onde A é a área característica do objeto (normalmente, A é a área frontal do corpo,


ou seja, a área projetada vista por um observador que acompanha o escoamento) e
v é a velocidade paralela ao escoamento e distante do objeto.
O efeito da forma e do ângulo de ataque
OBTENÇÃO DO CD

 para Re < 1: camada limite laminar  efeitos viscosos importante


 Re até 105: camada limite com parte laminar e parte turbulenta
 Re acima de 105: camada limite totalmente turbulenta: efeitos acelerativos são
predominantes  CD = constante (que depende da forma do objeto).
A tabela abaixo apresenta esses valores de CD constantes e o limite de aplicação dos
mesmos em termos do limite inferior do número de Re que eles podem ser usados.

CD

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