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Universidade Federal do ABC

CECS – Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais


Aplicadas

Fenômenos de Transporte

Prof. João Lameu da Silva Jr.


joao.lameu@ufabc.edu.br
Universidade Federal do ABC
CECS – Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais
Aplicadas

Mecânica dos Fluidos – Aula 06:


Escoamento Viscoso Interno em Regime
Turbulento
Conteúdo da Aula

• Objetivos

• Escoamento turbulento

• Perda de carga contínua

• Rugosidade

• Fator de atrito em regime turbulento

• Fator de atrito: Expressões empíricas e o Diagrama de


Moody
3
• Dutos de seção não circular e o diâmetro hidráulico
Objetivos
✓ Ao final desta aula, o aluno deverá ser capaz de:
▪ Entender as principais características do escoamento em
regime turbulento
▪ Definir relações para o fator de atrito em regime
turbulento.
▪ Entender o conceito de rugosidade relativa.
▪ Entender o que é a perda de carga contínua.
▪ Quantificar o fator de atrito em regime turbulento por
expressões empíricas e pelo diagrama de Moody.
4
▪ Definir o conceito de diâmetro hidráulico.
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CECS – Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais
Aplicadas

Escoamento Interno em Regime Turbulento e


Perda de Carga por Atrito Viscoso
Escoamento Turbulento
• Diferente do escoamento laminar, onde as propriedades do
escoamento são constantes ao longo do tempo em um determinado
ponto (escoamento permanente).
• O escoamento turbulento é marcado pelas flutuações.

6
Regimes de Escoamento
• Regime turbulento: caracterizado por flutuações das propriedades
do escoamento e pelo movimento altamente caótico e
desordenado, promovendo altas taxas de misturação no fluido. Os
vórtices possuem diferentes escalas de tamanho e tempo.

7
Escoamento Turbulento
• Decomposição de Reynolds: válida para qualquer propriedades
transportada

 =  + '
u =U +u'
p = P + p'

8
Escoamento Turbulento
• As flutuações resultam em transporte macroscópico adicional, os
denominados Tensores de Reynolds ou Tensores Turbulentos.

9
Escoamento Turbulento
• As flutuações resultam em transporte macroscópico adicional, os
denominados Tensores de Reynolds ou Tensores Turbulentos.

Elemento fluido que possui uma


velocidade u1 é transportado pela
rotação do vórtice para uma região
de velocidade u2 > u1

Outros elementos fluidos por sua vez,


sofrem movimentação inversa. Esta
troca intensa resulta em altas taxas de
macromistura entre as camadas com
diferentes velocidades, resultando na
flutuação da velocidade local (e 10
outras propriedades).
Escoamento Turbulento
• Desta forma, não há solução analítica para escoamento turbulento,
devido a complexidade do fenômeno.

Abordagens com dados


experimentais em
complementação a
hipóteses teórica são
utilizadas.

11
Escoamento Turbulento em Tubos
• O perfil do escoamento turbulento é fundamentado tanto em análises
teóricas, quanto em medições experimentais, tendo caráter semi-
empírico, com constantes determinadas por dados experimentais.
• Considerando um escoamento turbulento plenamente desenvolvido
em um tubo, quatro regiões são observadas:

Perfil de
escoamento
turbulento e
regiões
características 12
Escoamento Turbulento em Tubos

1. Subcamada viscosa (Laminar, Linear ou da Parede): camada


estreita adjacente a parede, onde os efeitos viscosos dominam o 13
escoamento.
Escoamento Turbulento em Tubos

2. Camada Amortecedora (Buffer Layer): camada onde os efeitos da


turbulência começam a se tornar significantes, mas a viscosidade
14
ainda predomina.
Escoamento Turbulento em Tubos

3. Camada de Superposição (Inercial, Overlap Layer): conhecida também


por subcamada inercial, onde os efeitos turbulentos são mais significativos.
15
Escoamento Turbulento em Tubos

4. Camada turbulenta: região onde os efeitos turbulentos dominam sobre


a viscosidade (região central do escoamento)
16
Perda de Carga Contínua (Atrito Viscoso)
• Relembrando a definição da perda de carga devida ao atrito viscoso:

• Usando a definição do fator de atrito de Darcy, f, a perda de carga


devida ao atrito é dada por:

 L  V 
2
hL = f   
 D  2 g 
• Esta relação é valida para todos os regimes de escoamento!

17
Perda de Carga em Escoamento Turbulento em
Tubos
• Observações experimentais relacionaram a queda de pressão em
regime turbulento a seis variáveis do escoamento:

PL =  ( D, L,V ,  ,  ,  )
Onde: Φ indica “função”;
ε é a rugosidade do tubo
(unidade de comprimento)

• Uma análise dimensional mostra que:

PL  L  
=   Re, ,  Onde:
V 2
 D D ε/D é a rugosidade relativa

Queda de pressão por pressão dinâmica 18


(perda de carga)
Rugosidade, ε
Rugosidade da superfície, ε:

A superfície sólida dos materiais


que constituem os condutos não
são perfeitamente lisas (figura ao
lado), e o atrito viscoso depende

desta propriedade da superfície.

Rugosidade de Tubos Comerciais: a rugosidade de tubos comerciais são


fornecidas em tabelas. Deve-se tomar cuidado no projeto de tubulações,
pois estes valores podem variar com o fabricante e com o tempo de uso
19
dos tubos, devido a corrosão, acúmulo de resíduos e/ou precipitação.
Rugosidade, ε
Tabela de valores recomendados para dutos comerciais (White, 2011)

Estimativa da Rugosidade: Tabelas

20
Perda de Carga em Escoamento Turbulento em
Tubos
• Observações experimentais relacionaram a queda de pressão em
regime turbulento a seis variáveis do escoamento:

PL =  ( D, L,V ,  ,  ,  )
Onde: Φ indica “função”;
ε é a rugosidade do tubo
(unidade de comprimento)

• Uma análise dimensional mostra que:

PL  L  
=   Re, ,  Onde:
V 2
 D D ε/D é a rugosidade relativa

Queda de pressão por pressão dinâmica 21


(perda de carga)
Perda de Carga em Escoamento Turbulento em Tubos
• Outras observações experimentais mostraram que: PL  L  
=   Re, , 
L V 2
 D D
PL 
D
• E, portanto, o fator de atrito de Darcy é função tanto da rugosidade
quanto do regime de escoamento:

  
f =   Re, 
 D
• Além disso, podemos destacar que o fator de atrito depende da forma
da seção transversal do duto, mas isto é facilmente considerando 22
introduzindo o conceito de diâmetro hidráulico a frente.
Fator de Atrito em Regime Turbulento

• Para facilitar então o uso dos dados de fator de atrito em projetos, em


1939, Cyril F. Colebrook combinou diversos dados experimentais para
escoamento em transição e turbulento, em tubos lisos e rugosos,
fornecendo a relação empírica iterativa:

1  D 2 ,51 
= −2 ,0 log  +  Equação de
  Colebrook
f  3,7 ReD f 

• Em 1944, Lewis F. Moody apresentou os dados na forma do famoso


Diagrama de Moody, relacionando o fator de atrito de Darcy com o
23
número de Reynolds e com a rugosidade relativa.
Diagrama de Moody

24
Diagrama de Moody

• O diagrama de Moody é um dos diagramas mais usados na Engenharia.

• Embora tenha sido desenvolvido para tubos circulares, pode ser usado
no projeto de tubos não-circulares, pela substituição do diâmetro pelo
diâmetro hidráulico.

• Deve-se considerar as incertezas do diagrama de Moody e da


correlação de Colebrook, isto é, os resultados obtidos não devem ser
tratados como “exatos”. Em geral no diagrama de Moody, temos uma
incerteza de ± 15%.
25
Diagrama de Moody

Região laminar: Escoamento laminar: f diminui com


f só depende do Re aumento de ReD, e independe de ε/D.

26
Diagrama de Moody

Região de transição:
Dados menos confiáveis, evita-se projetar
tubulações para operar nesta faixa de Re

27
Diagrama de Moody

Região completamente
rugosa: f depende fortemente
da rugosidade relativa e
independe de Reynolds, o valor
de f desta faixa é usado em
chutes iniciais para cálculo do
fator de atrito
(Equação de Colebrook) 28
Região completamente rugosa

• Para ReD muito grandes (à direita da linha tracejada no diagrama), as


curvas de fator de atrito são praticamente horizontais e
correspondentes às curvas de rugosidade relativa, isto é, o fator de
atrito nesta faixa independe de ReD.

• O escoamento é dito completamente rugoso, o atrito deve-se apenas a


rugosidade da superfície sólida, e a contribuição da subcamada viscosa
laminar é desprezível.

29
Fator de Atrito em Regime Turbulento

• Como visto a correlação de Colebrook é implícita em f, isto é, iterações


são necessárias para determinar o fator de atrito. Outras correlações
explicitas foram propostas, com desvios de até 2% dos resultados de
Colebrook:

0 ,316 Equação de Blasius para tubos lisos (ε/D = 0), válida


f = 0 ,25 para 4000 < ReD < 105
ReD

1  6 ,9   D  
1,11
Equação de
= −1,8 log  +   Haaland
f  ReD  3,7   30
Fator de Atrito em Tubos

• Em síntese, temos:

f = f (Re D ) Regime Laminar

  
f = f  Re D ,  Regime Turbulento
 D

 
Regime Turbulento,
f = f  Completamente Rugoso
D (ReD mais altos) 31
Exercícios
2.5. Determine o fator de atrito de Darcy em um tubo de ferro fundido
asfaltado de 152 mm de diâmetro transportando água (ρ = 998 kg/m³; μ
= 1 x 10-3 Pa.s) com uma velocidade média de 1,83 m/s, utilizando:

a) o diagrama de Moody.

b) a correlação iterativa de Colebrook

c) a correlação explícita de Haaland

32
Exercício 2.5 - Solução
DETERMINAR: f ? (por Moody, Colebrook, Haaland)

INFORMAÇÕES: Escoamento de água a uma velocidade média de 1,83


m/s em tubo de ferro fundido asfaltado de diâmetro D = 152 mm.

ANÁLISE: Para problemas de determinação do fator de atrito,


conhecendo-se a vazão (ou velocidade) e o diâmetro e material da
tubulação, sempre deve-se iniciar pelo cálculo do número de Reynolds.

33
Exercício 2.5 - Solução
DETERMINAR: f ? (por Moody, Colebrook, Haaland)

SOLUÇÃO: Propriedades do fluido: Água: ρ = 998 kg/m³; μ = 1 x 10-3 Pa.s

Determinando Re:

 V D 998 1,83  0,152


Re = = = 277603, 68
 110 −3

Como Re > 2300, portanto:


ESCOAMENTO TURBULENTO

Portanto, o fator de atrito dependerá também da rugosidade relativa do tubo:

 0,12 mm Rugosidade do ferro fundido asfaltado (slide


= = 0, 00078931, mostrado novamente a seguir) 34
D 152 mm
Rugosidade, ε
Tabela de valores recomendados para dutos comerciais (White, 2011)

Estimativa da Rugosidade: Tabelas


Exercício 2.5 - Solução
DETERMINAR: f ? (por Moody, Colebrook, Haaland)

SOLUÇÃO: Propriedades do fluido: Água: ρ = 998 kg/m³; μ = 1 x 10-3 Pa.s

Determinando Re:

 V D 998 1,83  0,152


Re = = = 277603, 68
 110 −3

Como Re > 2300, portanto:


ESCOAMENTO TURBULENTO

Portanto, o fator de atrito dependerá também da rugosidade relativa do tubo:

 0,12 mm
= = 0, 000789 36
D 152 mm
Exercício 2.5 - Solução
SOLUÇÃO: a) f por diagrama de Moody

Cruzando os valores de Re com ε/D no diagrama de Moody:

Re = 277603, 68  2,8 105



= 0, 000789
D

37
Exercício 2.5 - Solução


= 0, 000789
D
f  0, 0183

38

Re  2,8 105
Exercício 2.5 - Solução
SOLUÇÃO: a) f por diagrama de Moody

Cruzando os valores de Re com ε/D no diagrama de Moody:

Re = 277603, 68  2,8 105



= 0, 000789
D

Pelo diagrama de Moody:


Note, que para rugosidades relativas
f  0, 0183 que não estão plotadas no diagrama,
há uma maior dificuldade na
estimativa de f (consequentemente
maiores desvios) 39
(item a)
Exercício 2.5 - Solução
SOLUÇÃO: b) f por correlação de Colebrook

1  D 2 ,51 
= −2,0 log + 
 3,7 Re f 
f  D 

Como a correlação é iterativa, isto é, f depende de f, precisamos dar uma


estimativa inicial de f, calcular o valor pela correlação e comparar os dois
valores.

Para uma explicação mais detalhada, veja o arquivo Anexo III 0


40
Colebrook-Iteracoes, fornecido no repositório.
Exercício 2.5 - Solução
SOLUÇÃO: b) f por correlação de Colebrook

1  D 2 ,51 
= −2,0 log + 
 3,7 Re f 
f  D 
A estimativa inicial do fator de atrito deve ser feita com base na região
do escoamento Completamente Rugoso do diagrama de Moody,
considerando-se apenas ε/D.


= 0, 000789  0, 0008 Para usar a linha da rugosidade relativa
fornecida no diagrama
D
41
Exercício 2.5 - Solução


 0, 0008
f  0, 0188
D

42
Exercício 2.5 - Solução
SOLUÇÃO: b) f por correlação de Colebrook
Re = 277603, 68
 D 
1
= −2,0 log  +
2,51  
  = 0, 000789
f  3,7 ReD f  D

1ª iteração: f  0, 0188

1  0, 000789 2,51 
= −2, 0 log  + 
f  3, 7 277603, 68 0, 0188 

f = 0, 0197  0, 0188 (valor de f estimado) 43


Exercício 2.5 - Solução
SOLUÇÃO: b) f por correlação de Colebrook
Re = 277603, 68
 D 
1
= −2,0 log  +
2,51  
  = 0, 000789
f  3,7 ReD f  D

1ª iteração: f  0, 0188

1  0, 000789 2,51 
= −2, 0 log  + 
f  3, 7 277603, 68 0, 0188 

f = 0, 0197  0, 0188 (valor de f estimado) 44

Portanto, outra iteração é necessária!


Exercício 2.5 - Solução
SOLUÇÃO: b) f por correlação de Colebrook
Re = 277603, 68
 D 
1
= −2,0 log  +
2,51  
  = 0, 000789
f  3,7 ReD f  D

2ª iteração: f  0, 0197

1  0, 000789 2,51 
= −2, 0 log  + 
f  3, 7 277603, 68 0, 0197 

f = 0, 0197
f = 0, 0197 = 0, 0197 (valor de f anterior) 45
(item b)
Portanto, a solução convergiu, e este é o valor do fator de atrito!
Exercício 2.5 - Solução
SOLUÇÃO: c) f por correlação de Haaland Re = 277603, 68
1  6 ,9   D  
1,11

= −1,8 log  +   = 0, 000789
f  ReD  3,7   D

Substituindo Re e ε/D:

1  6,9  0, 000789  
1,11

= −1,8log  +  
f  277603, 68  3, 7  

f = 0, 0196 (item c)
46
Exercício 2.5 - Solução
ANÁLISE FINAL:

Comparando os valores de f obtidos:

a) Moody: f  0, 0183
b) Colebrook: f = 0, 0197
c) Haaland:
f = 0, 0196
A equação de Colebrook representa o valor mais preciso. O maior desvio
de f obtido por Moody deve-se ao valor da rugosidade relativa real do
tubo não estar plotada no diagrama. A eq. de Haaland apresenta a
solução mais rápida, com resultado bem próximo ao de Colebrook 47
(desvio de 0,5% neste caso)
Escoamento em Dutos Não-Circulares

• O diagrama de Moody pode ser usado na estimativa do fator de atrito


de Darcy em dutos não-circulares, pela introdução do conceito de
diâmetro hidráulico. Este é definido como:

4 A 4  Área da seção transversal


Dh = =
Pm Perímetro Molhado

Sempre consideramos os tubos e dutos totalmente preenchidos pelo fluido. Dutos 48


onde o preenchimento não é completo são tratados como escoamento com
superfície livre, e não estão no escopo deste curso.
Referências
• ÇENGEL, Y.A., CIMBALA, J.M., Mecânica dos fluidos: fundamentos e aplicações,
São Paulo: McGraw-Hill Interamericana do Brasil, Ltda, 2007.

• MUNSON, B.R. Fundamentos da mecânica dos fluidos. São Paulo, SP: Blücher,
2004.

• WHITE, F.M. Mecânica dos Fluidos. 6. ed. Porto Alegre, RS: AMGH, 2011.

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