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Fiorin Praxis Enunciativa PDF
Fiorin Praxis Enunciativa PDF
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O que (já) é não é (ainda) – eis a surpresa.
O que não é (ainda) (já) é – eis a espera.
Paul Valéry
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Professor associado do Departamento de Linguística da FFLCH da Universidade de São Paulo
(USP).
Coleção Mestrado em Linguística
A norma e o sistema
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diz que nela o falante “se apropria do aparelho formal da língua e enuncia
sua posição de locutor, de um lado, por índices específicos e, de outro,
por meio de processos acessórios” (1974, p. 82). Na verdade, deve-se
compreender a apropriação como a assunção da língua em sua totalidade.
O enunciador escolhe formas e combina-as, como diz Sírio Possenti: “a
língua não contém um aparelho formal de enunciação e, portanto, de
individuação, mas [...] ela é um aparelho de enunciação e de individua-
ção” (2001, p. 73). O sujeito instala-se no discurso por todas as escolhas
e combinações. A terceira é a alocução, em que o enunciador “implanta
o outro diante de si” (1974, p. 82). Isso significa que a enunciação é um
processo intersubjetivo e, por conseguinte, ela exige compartilhamento,
requer um “consenso pragmático”, é uma interação. A quarta operação
é a referenciação, em que se expressa uma determinada relação com o
mundo (1974, p. 82). Denis Bertrand vai distinguir a referenciação, que
é a construção enunciativa do referencial, da referencialização, que são
os procedimentos internos ao discurso que estabelecem uma rede de
referência interna (1985, p. 31-32).
Eric Landowski diz que a enunciação é o “ato pelo qual o sujeito
faz ser o sentido”; o enunciado é “o objeto cujo sentido faz ser o sujeito”
(1989, p. 222). Fazer ser é a própria definição de ato. Observe-se que o
sujeito, que, por um ato, gera o sentido, é criado pelo enunciado. Trata-se,
pois, de uma entidade semiótica. Quando se estabelece uma relação de
implicação biunívoca entre enunciado e enunciação, está-se vendo esta
última como “uma instância linguística, logicamente pressuposta pela
própria existência do enunciado (que comporta seus traços e marcas)”
(GREIMAS; COURTÉS, 1979, p. 126).
A semiótica francesa não busca descrever as unidades lexicais, mas
a produção e a compreensão dos discursos. Para explicar as abstrações
que se faz no ato da leitura, ela concebe a geração do sentido como um
percurso, que vai do mais simples e abstrato ao mais complexo e con-
creto. Esse percurso gerativo do sentido tem o estatuto de um simulacro
metodológico e não um caráter ontológico. Ele apresenta três níveis de
profundidade: as estruturas fundamentais, as narrativas e as discursivas.
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com a gíria. Termos muito utilizados nos anos 60, como prafrentex, boko
moko, pão ou lasanha (para indicar um homem bonito), broto, sair na
night, são completamente desusados atualmente. Quando alguém os
emprega, indica sua faixa etária.
Na resolução, uma forma tem um abaixamento da intensidade e
isso está correlacionado a uma grande extensão de uso. É a operação de
desgaste e cristalização das grandezas linguísticas ou discursivas. É quan-
do já não se percebem todas as implicações do sentido de certas formas.
Observe-se este trecho de uma crônica de Ivan Ângelo, intitulada Modos
de dizer, publicada na revista VejaSP, de 14 de fevereiro de 2007, p. 141:
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DESPACHO:
O pronunciamento fósmeo lançado no instante
correcional não merece remessa ao caruncho do
esquecimento. Urge superar a vesânia e obsessão de
possança, inscrevendo nos fastos da comarca o re-
proche do saber, pois descabe ao sufete capiau con-
tar a palinódia. Agiu impulsionado por sentimento
de prebeligerância, incompatível com o carácter
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REFERÊNCIAS
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