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8 ARMAZENAMENTO
EM ATMOSFERA
CONTROLADA
Auri Brackmann
• Possibilidade de uso da câmara para co, podem ser revestidos, numa ou nas
outras espécies de frutas. duas faces, por lâminas metálicas. O efeito
• Tempo necessário para comercia- isolante do poliuretano é maior, ou seja,
lizar o conteúdo de uma câmara. ele tem uma menor condutividade térmica
• Existência de mais câmaras frigorí- (0,020-0,035) do que o poliestireno (0,025-
ficas na empresa. 0,040). Um painel de 100 mm de poliure-
Após a abertura da câmara de AC, a tano apresenta um isolamento semelhante
maçã, para manter uma boa qualidade para ao de um painel de 120 mm de poliestire-
consumo, deve ser classificada, embalada no, apresentando, este último, geralmen-
e comercializada em 5 a 7 dias, devendo te, um custo menor.
chegar ao consumidor até o 10º dia. O
Foto: C. L. Girardi
carregamento da câmara também não deve
ir além de 2 a 3 dias, embora, no Brasil,
esse prazo seja geralmente ultrapassado,
pela falta de capacidade de geração de frio
para resfriamento das maçãs, as quais,
muitas vezes, vêm do pomar com tempe-
raturas acima de 25°C, e pela falta de infra-
estrutura de colheita e transporte das fru-
tas, principalmente em médias e pequenas
empresas. Na maçã ‘Gala’, é muito impor-
tante o rápido resfriamento e instalação da
atmosfera na câmara.
Fig.1. Montagem de câmara fria com pai-
néis.
Isolamento térmico e bar-
reira de vapor e gases As lâminas metálicas, além de darem
estabilidade aos painéis, servem como
Na construção de câmara frigorífica barreira de vapor e de gases. Sem esta
de AC, o isolamento térmico deve ser barreira de vapor, haveria uma entrada de
associado a uma barreira de vapor e a uma umidade do ar externo, com alta pressão
barreira para gases. Para o isolamento tér- de vapor, para o isolante térmico, que,
mico, os materiais mais utilizados são o com a condensação da água, encharcaria e
poliestireno e o poliuretano expandidos. perderia a capacidade isolante.
Em câmaras mais antigas, esses materiais Para uma perfeita vedação de uma
eram aplicados sobre parede de tijolos, no câmara de AC, os painéis são unidos entre
lado interno da câmara. Modernamente, si por um sistema de engate (lock) ou por
esse tipo de construção vem cedendo es- um tirante de aço. Esse tirante atravessa
paço para o uso de painéis metálicos, sis- todos os painéis de uma parede, e, na
tema também conhecido por sanduíche. ponta, com uma porca, comprime os pai-
Nos EUA, ainda é comum a construção de néis uns contra os outros, para evitar o seu
câmaras com paredes de tijolo ou madeira afastamento quando a câmara entra em
e com isolante térmico de poliuretano ex- pressão ou depressão (vácuo). Outro sis-
pandido in loco, e com uma camada de tema de encaixe de painéis, com uma cha-
revestimento de um material anti-infla- veta de poliestireno, pela sua facilidade de
mável. Na Europa e no Brasil, difundiu-se montagem e boa vedação, também vem
a construção de câmaras com painéis sendo muito usado. Após a fixação dos
(Fig. 1). Esses painéis, contendo poliesti- painéis, é feita a aplicação de massa de
reno ou poliuretano como isolante térmi- silicone para a vedação das fendas entre os
70 Maçã Pós-colheita Frutas do Brasil, 39
painéis. Outra forma de vedação da emen- de calor que atravessa o isolamento térmi-
da dos painéis é a injeção de poliuretano co da parede, ocasionando aumento da
num canal deixado na união de dois pai- temperatura e redução da umidade relati-
néis. Se houver vazamento ou dificulda- va.
des de vedação com cola de silicone, o que
é comum em câmaras antigas, que foram Vedação
construídas com tecnologia ainda pouco
avançada, poderão se aplicar tiras de véu Tendo em vista que a atmosfera con-
de superfície sobre a emenda dos painéis. trolada utiliza concentrações de gases di-
Essas tiras são coladas e vedadas com ferentes das da atmosfera natural, é neces-
resina acrílica antimofo. Na base dos pai- sária uma vedação quase completa da câ-
néis, é construído um rodapé de concreto, mara frigorífica. Antigamente, a vedação
também chamado de mureta, de 40 a 50 da câmara era um dos grandes empecilhos
cm de altura para facilitar a fixação e a de armazenamento em AC, porém, atual-
vedação do painel com o piso, e para servir mente, com a utilização de painéis do tipo
de proteção contra batidas de empilhadei- sanduíche e o desenvolvimento de uma
ras nos painéis, além de, ao mesmo tempo, série de produtos adesivos e vedantes,
delimitar o local de colocação dos bins. esse problema praticamente deixou de exis-
Essa proteção dos painéis pode ser um tir. A câmara de AC deve passar, a cada
guard-rail. Esse sistema facilita o acesso à período de armazenamento, por um teste
emenda dos painéis com o piso em caso de de estanqueidade, para evitar a entrada de
vazamento da câmara.O rodapé de con- ar durante o período de armazenamento.
creto tem a vantagem de proteger a base A vedação entre os painéis pode ser
dos painéis contra água e produtos corro- feita com injeção de poliuretano líquido,
sivos, que geralmente são utilizados para a num canal deixado entre os painéis, ou
limpeza da câmara. com vedantes à base de silicone. Para uma
No Brasil, em comparação com melhor vedação, ainda pode ser aplicada
países europeus e os Estados Unidos, ge- uma resina de polyacryl sobre a junção dos
ralmente é utilizado um maior afastamen- painéis, e, para uma melhor vedação de
to dos bins da parede (25 a 40 cm), por fendas no piso, podem ser aplicados pro-
conta de uma maior neces-sidade de ven- dutos à base de resina de epoxy e de
tilação para remover o calor, próprio dos silicone, em locais sujeitos à dilatação.
trópicos, que entra pelas paredes da câma- A câmara de AC deve dispor de uma
ra. Num bloco de câmaras, pode ser proje- válvula equalizadora de pressão e, de pre-
tado um afastamento maior dos bins da ferência, de um “pulmão”. Quando ocor-
parede somente para as paredes externas, rem modificações internas de pressão na
enquanto, nas paredes divisórias (entre as câmara, decorrentes do acionamento ou
câmaras), pela menor penetração de calor, da interrupção dos forçadores do evapora-
os bins podem ser colocados mais próxi- dor, há contração e expansão da atmosfe-
mos à parede, ou seja, em torno de ra, respectivamente, que, por sua vez, pro-
20 cm. Essa diminuição da distância au- voca uma entrada de ar e uma saída de
menta a circulação do ar entre os bins. gases da câmara.
É importante salientar que, quando os bins
são colocados muito próximos à parede Piso
que recebe o sol da tarde, ocorre um maior
murchamento das frutas que estão daque- A sustentação do piso de uma câmara
le lado da câmara. Isso é devido a uma frigorífica de AC é de fundamental impor-
deficiente circulação da atmosfera naque- tância para a vedação da câmara. Depois
le lado para remoção da grande quantidade do carregamento de uma câmara, existe
Frutas do Brasil, 39 Maçã Pós-colheita 71
um grande peso por área de piso, princi- pressioná-la contra o anel de borracha, para
palmente em câmaras grandes, que po- prover uma adequada estanqueidade à câ-
dem ter uma altura de 6 a 8 m. Quando mara. Da mesma forma, as janelas da câmara
o solo não é muito estável, o piso cede e devem ter um anel de borracha para veda-
ocorre uma ruptura dos painéis da pare- ção. A janela geralmente é colocada na estru-
de com o piso. Por isso, recomenda-se o tura da porta, para permitir a visualização das
estaqueamento do piso, principalmente maçãs e a entrada de uma pessoa para a
em locais aterrados. coleta de amostra de frutas para avaliação da
O isolamento térmico do piso dimi- qualidade, o que evita a abertura da porta e
nui o consumo de energia elétrica e dimi- a perda da atmosfera da câmara. Em câmaras
nui a perda de peso de frutas em cerca de grandes, também costuma-se colocar uma
1%, num período de 6 meses de armazena- ou mais janelas na parte superior (Fig. 3),
mento. No entanto, o custo do isolamento atrás dos evaporadores, para verificar a for-
não compensa o investimento, motivo pelo mação excessiva de gelo no evaporador, o
qual poucas câmaras apresentam isola- entupimento de bicos de nebulização e o
mento térmico do piso. A falta de isola- acompanhamento do estado da fruta. Para
mento permite a entrada de calor, que permitir uma boa transparência, a janela
aquece o ar junto ao piso e diminui a sua deve ter duas ou três camadas de vidro ou um
umidade relativa, e, por conseqüência, sistema de aquecimento para evitar a con-
causa o murchamento das maçãs nos bins densação externa de água. Por uma questão
junto ao piso, provocando também a redu- de segurança, é necessário que a porta e as
ção do volume das frutas. Essa perda de janelas tenham um dispositivo que permita a
peso por desidratação pode ser evitada colocação de um cadeado, para evitar a
com a manutenção permanente de uma entrada de pessoas estranhas ao ambiente,
fina lâmina de água sobre toda a extensão protegendo-as do perigo de entrar numa
do piso da câmara. É importante, nesse câmara de AC, fato que já fez muitas vítimas
caso, que o piso seja plano para evitar fatais.
“ilhas” secas, onde o problema persiste.
Foto: L. Couto
Porta e janelas
Evaporador
Foto: C. L. Girardi
lizadores de pressão.
A válvula equalizadora de pressão
(Fig. 4), também conhecida como válvula
de segurança, é acionada pela própria pres-
são e pela depressão da câmara. Ela deve
abrir tanto sob pressão como sob depres-
são de 5 a 10 mm de coluna de água. Como
essas válvulas dispõem de anéis de borra-
cha para vedação, pode haver colamento
da tampa da válvula, impedindo que ela se
abra na pressão indicada. Para evitar da-
nos à câmara, em virtude do mau funcio-
namento, é recomendável uma vistoria
semanal ou com maior freqüência dessas
válvulas.
Um segundo tipo de válvula equaliza-
Foto: C. L. Girardi
CÂMARAS DE ATMOSFERA
CONTROLADA
Analisadores de gases
Foto: O. R. C. Filho
necessários alguns dias de funcionamento
do equipamento.
Os queimadores podem ser de
ciclo aberto ou fechado. Os de ciclo
aberto, conhecidos como Tectrol (Total
Environment Control), queimam o
combus-tível mais o ar atmosférico, e os
gases são introduzidos na câmara, após
passarem por um adsorvedor de CO2.
O gerador de ciclo fechado, conhecido
como sistema Arcagen (Atlantic Research Fig. 8. Abastecimento de nitrogênio líquido.
Cooperation), queima o O2 do ar aspirado
da câmara. Esse sistema, embora menos
Foto: C. L. Girardi
utilizado, permitia a instalação mais rápida
da atmosfera (algumas horas) e por um
custo menor. O uso de queimadores
catalíticos de O2 foi, atualmente, quase
totalmente abandonado, em virtude do
desenvolvimento de tecnologias mais
avançadas e eficientes.
Nitrogênio líquido
dilui o O2 do ar da câmara. O PSA é um baixo custo de produção do gás, que pode ter
processo de adsorção, pela alternância de um custo de produção 30% a 50% mais
pressão numa peneira molecular de carbo- baixo que o do N2 produzido por uma mem-
no que produz nitrogênio a partir do ar brana separadora. Uma nova geração de
atmosférico, cujo esquema de funciona- sistemas PSA está sendo desenvolvida, os
mento pode ser visto na Fig. 10. O efeito quais funcionam com baixa pressão e permi-
de separação da peneira molecular de car- tem eliminar, além do O2, o CO2 da atmos-
bono baseia-se na diferença cinética de fera da câmara.
adsorção de oxigênio e nitrogênio. Para
uma atividade continuada do equipamen- Membrana separadora
to, são necessários dois recipientes de fun-
cionamento alternado. Enquanto um reci- Nesta técnica, o ar é comprimido e
piente produz nitrogênio, o outro é regene- secado por filtros sob alta pressão (9 a 12
rado. A alternância de pressão é feita de bares). O ar é gerado por um compressor
forma cíclica, com tempo fixo. O tempo de alta potência e é comprimido através
total de um ciclo de absorção e regenera- das fibras capilares de polisulfone ou por
ção é aproximadamente duas vezes a cada outro material, as quais estão arranjadas
60 segundos. O ar ambiente é succionado paralelamente, aos milhares, em forma de
pelo compressor e comprimido em um um maço, designadas de membranas. Cada
depósito. Esse ar comprimido de seis a gás possui uma habilidade diferente de se
nove bares, é conduzido pela peneira mo- dissolver e se difundir pela membrana,
lecular de carbono, constituída de um car- permeando-a com velocidades diferentes,
vão ativado especial. A coluna da peneira o que torna possível a sua separação dos
adsorve o vapor de água, CO2, CO e O2 do demais gases. Essa característica permite
ar, deixando fluir na outra extremidade, uma que os gases “rápidos”, como o O2, o vapor
mistura enriquecida com nitrogênio (99,5% de água e o CO2, sejam separados dos
N2 e 0,5% O2). Se desejado, pode-se obter gases “lentos”, como o nitrogênio. A por-
uma mistura com concentração maior de O2. ção remanescente dentro da membrana,
Essa mistura de gases é utilizada na remoção enriquecida com N2, sai na outra extremi-
do O2 ou do CO2 da atmosfera de câmaras de dade da mesma, e é utilizada para injeção
AC. nas câmaras de AC (Fig. 11 e 12). À
Desenvolvido pela Bergbau-For-schun- medida que se exige N2 com maior pureza,
gs-GmbH Essen (Alemanha), o PSA é o cai drasticamente a produtividade da mem-
equipamento mais utilizado na Europa para brana. O uso da membrana não está se
a geração de N2 para câmaras de AC, pelo difundindo tão rapidamente, como o do
Fig. 10. Sistema PSA (Pressure Swing Adsorption) para geração de nitrogênio.
Fonte: Brackmann, 1990.
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Equipamentos para
a eliminação de CO2
vendo CO2, etileno e outras substâncias. lavagem do carvão com ar da câmara, após
Com o aquecimento ou o estabelecimento a regeneração com ar atmosférico, para
de vácuo, a peneira é regenerada. Atual- reduzir a quantidade de O2, que fica retido
mente, esses equipamentos não são mais no carvão e que é introduzido na câmara
usados pela dificuldade de obtenção de em cada ciclo das torres de adsorção. Para
vácuo durante o funcionamento contínuo que a câmara não entre em depressão, é
necessário injetar a primeira porção do gás da
do equipamento.
lavagem do carvão para dentro da câmara,
Adsorvedor de carvão ativado
Controle automático
das camadas de
atmosfera controlada
A B
longo do tempo, afeta a sua estanqueida- câmara tem condições de ser usada com
de. Por isso, é recomendável, a cada início concentrações ultrabaixas de O2 (1%).
de um período de armazenamento, realizar Outro método baseia-se nas curvas da
um teste de estanqueidade. Nesse teste, a Fig. 19, em que a câmara é exposta a uma
porta e a janela da câmara devem ser bem pressão inicial de 25 mm CA, durante
vedadas, e todas as saídas da câmara de- 30 minutos. Se a pressão baixar somente
vem ser fechadas, não se esquecendo de até 15 mm CA nesse período, significa que
fechar o dreno do evaporador, o sifão podem ser usadas condições de ultrabaixo
equalizador de pressão e a tubulação que O2. Se baixar até 8 mm de CA, então serve
liga ao “pulmão”, caso a câmara disponha para baixas concentrações de O2 (1,5%), e
desse acessório. Em seguida, a câmara é se baixar para 0,5 mm CA, serve apenas
submetida a uma pressão de 12 a 15 mm de para AC convencional. Durante o teste de
coluna de água (Fig. 18). Deve-se ter o estanqueidade, a refrigeração deve perma-
cuidado de não elevar demais a pressão, necer desligada.
porque pressões acima de 25 a 30 mm de
coluna de água (CA) podem causar danos
à estrutura da câmara. A tolerância a mai-
ores ou menores pressões depende da ida-
de da câmara e do tipo de encaixe dos
painéis. Pressões ou depressões excessiva-
mente altas provocam estalos freqüentes e
fortes dos painéis durante a injeção de ar.
Foto: L. Couto
janela, na emenda do piso com os painéis até a parede. Se a distância entre a parede
das paredes laterais, na emenda dos pai- e a pilha de bins for de 10 cm o volume de
néis da parede e do teto e junto a tubula- ar circulado por dentro das pilhas será de
ções do líquido refrigerante, da água para 16% do total. No entanto, se o espaço
umidificação e saída para o adsorvedor de aumentar para 25 cm, a circulação de ar se
CO2. A porta e a janela geralmente são os reduzirá para 8%. Também deve ser man-
locais onde ocorrem, com mais freqüên- tida, no mínimo, uma distância de
cia, vazamentos. Normalmente, a borra- 50 cm entre o último bin e o teto da câmara,
cha de vedação da porta e da janela não dá para permitir que a corrente de ar gerada
uma vedação suficiente, sendo necessário pelos forçadores do evaporador atinja o
o uso de vaselina em pasta. Deve ser fundo da câmara, promovendo uma
alertado que uma avaria ou a falta de homogeneização a temperatura e a con-
lubrificação da válvula equalizadora de centração de gases.
pressão também pode ser a origem da
entrada de ar. Também podem ocorrer Colocação de cal
avarias em válvulas solenóides que conec-
tam a câmara com o sistema de adsorção Para se obter maior eficiência da cal,
de CO2 ou injeção de nitrogênio, provo- ela deve ser colocada sobre estrados ou
cando entrada de ar ou depressão na câma- dentro de bins, de forma que a quase tota-
ra. Se houver uma depressão, é compensa- lidade da superfície externa das embala-
da pela válvula compensadora de pressão, gens comerciais de 20 Kg, fique exposta à
que deixa entrar muito ar (O2) na câmara. atmosfera da câmara. No caso de empilha-
Além do uso de um “pulmão”, outra medi- mento dos sacos em forma de palete, de-
da que pode atenuar a variação de pressão vem ser colocados separadores (sarrafos,
e a conseqüente entrada de ar, é a interli- taquara) entre os sacos, para melhorar a
gação de câmaras com a mesma concen- ventilação. Deixando-se a cal empilhada
tração de gases, localizadas próximas. sobre o palete conforme vem de fábrica,
Quando uma câmara está sob refrigeração sem espaçadores, o aproveitamento é infe-
(depressão), as outras poderão estar no rior a 50%. Também não deve ser adquiri-
intervalo da refrigeração ou em degelo (sob da cal acondicionada em sacos de polieti-
pressão), permitindo, assim, um fluxo cons- leno.
tante de gases de uma câmara para outra. Quanto à posição mais adequada de
Em períodos de variações bruscas da colocação da cal dentro da câmara, exis-
pressão atmosférica, em virtude de ocor- tem duas alternativas. Acondicionamento
rência de temporais, pode ocorrer uma dos sacos dentro de bins empilhados junto
entrada de oxigênio acima do normal, à porta e empilhamento de sacos sobre
mesmo em câmaras com vedação adequada. estrados colocados sobre a última camada
de bins, no fundo da câmara (lado oposto
Empilhamento do evaporador). A colocação da cal junto
à porta tem a vantagem de permitir a troca
No empilhamento de bins ou caixas, em caso de saturação antes do momento
suas aberturas laterais devem ser orienta- desejado, embora a atmosfera, nessa ope-
das, de modo que a corrente de ar, gerada ração, seja parcialmente desfeita.
pelos forçadores do evaporador, seja for- A colocação da cal em cima dos bins permi-
çada a ultrapassar as embalagens para reti- te um melhor aproveitamento da câmara e
rada do calor e homogeneização da con- uma melhor ventilação da cal, porém deve
centração dos gases em torno do produto. ser dada atenção para a possibilidade de
No carregamento da câmara também molhamento da cal pelos bicos de umidifi-
deve ser respeitada uma distância dos bins cação da câmara. O molhamento da cal
86 Maçã Pós-colheita Frutas do Brasil, 39
reduz a sua eficiência para menos de 50%. brana separadora, dependendo da capaci-
Uma cobertura com lona plástica pode dade do equipamento, o tempo geralmen-
evitar o problema, mas deve ser mantida te é maior.
uma boa ventilação por baixo da lona. Se A instalação da atmosfera consiste na
a concentração de CO2 se elevar, o que varredura da câmara com um fluxo de
ocorre no final do período de armazena- nitrogênio que arrasta consigo o oxigênio
mento, pode-se aumentar o tempo de aci- da câmara. Outrora, antes do desenvolvi-
onamento dos forçadores de ar, para me- mento dos queimadores de O2 com uso de
lhorar a absorção de CO2. propano, não era feita a instalação da
atmosfera em câmaras de AC, e o O2 da
Instalação da atmosfera câmara era consumido pela respiração das
maçãs. Atualmente, esse método ainda é
O momento adequado de instalação bastante praticado na Inglaterra, nas culti-
da atmosfera na câmara varia conforme a vares Cox Orange e Bramley, que têm uma
cultivar de maçã. De modo geral, quanto alta taxa respiratória. Em 7 a 10 dias,
mais rápido o resfriamento da fruta e a baixam o O2 ao nível desejado. No caso
instalação da atmosfera, melhor será a das cultivares brasileiras Gala e Fuji, pro-
conservação das maçãs. O tempo de carre- vavelmente, será necessário um período
gamento e resfriamento de uma câmara de 2 a 3 semanas, dependendo do estado
depende do tamanho da câmara e da capa- de maturação e temperatura da câmara.
cidade de geração de frio. Uma vez resfri- Nesse período, no entanto, ocorre um
ado, pelo menos parcialmente, pode-se amadurecimento mais acelerado e uma
iniciar a instalação da atmosfera. Geral- conseqüente perda da qualidade, e redu-
mente, o tempo necessário do início do ção do período de armazenamento das
carregamento até o início da instalação da frutas.
atmosfera varia de 4 a 10 dias. O tempo No Brasil, a instalação da atmosfera é
necessário para a instalação depende do feita quase exclusivamente com nitrogê-
fluxo de nitrogênio que é injetado na câ- nio líquido, produzido por plantas indus-
mara, conforme pode ser visto na triais, que utilizam o processo de destila-
Fig. 20. Esse fluxo, por sua vez, depende ção criogênica. O nitrogênio é transporta-
da origem do nitrogênio. Se proveniente do em caminhões-tanque, com isolamento
de um depósito de N2 líquido, a instalação térmico até o local de utilização, podendo
pode ser concluída em menos de 5 horas. ou não ser armazenado em tanques térmi-
No entanto, se o nitrogênio for gerado por cos. Para sua transformação, em forma
uma peneira molecular (PSA) ou pela mem- gasosa, o nitrogênio é aquecido numa ser-
pentina (Fig. 9) e, posteriormente,
introduzido na câmara de atmosfera con-
trolada. Para que não se eleve a pressão da
câmara durante a injeção de nitrogênio, é
necessário abrir um orifício (janela, porta)
no lado oposto de injeção na câmara, para
que o fluxo atravesse toda a câmara, arras-
tando consigo o O2. São necessários aproxi-
madamente 1800 m3 para a varredura de
uma câmara de 500 t. de frutas, para diluir o
O2 até o nível de 5% a 6%. Ou seja, é
necessário 1,2 m3 de nitrogênio por metro
Fig. 20. Tempo para instalação da atmosfera em função do cúbico de câmara - 1 m3 de nitrogênio gasoso
fluxo de nitrogênio (Bishop, 1996). corresponde a 1,6 L de nitrogênio líquido.
Frutas do Brasil, 39 Maçã Pós-colheita 87
A redução do O2 remanescente, até os níveis 0,3 m/s na superfície dos bins. A ventila-
desejados de 1% a 2%, ocorre em alguns ção deve ser suficiente para uniformar a
dias, graças ao processo respiratório das temperatura e a concentração dos gases.
frutas. Com deficiente ventilação, forma-se um
Durante a instalação da atmosfera gradiente de temperatura na câmara, pois
recomendada-se um umedecimento mais o ar frio desce e o ar quente sobe.
intenso da câmara, tendo em vista que o Um gradiente de 0,1oC/m de altura pode
nitrogênio injetado tem uma umidade rela-
ser tolerado. Uma ventilação excessiva
tiva abaixo de 5%, o que aumenta a desi-
causa desidratação das frutas, além de
dratação das maçãs. Além disso, deve ser
considerado que, em muitos casos, a insta- aumentar o consumo de energia.
lação da atmosfera é feita quando as frutas
ainda não foram totalmente resfriadas, o Umidificação da câmara
que significa que a perda de calor intensi-
fica a transpiração. A umidificação é uma prática quase
Nos EUA e na Europa, o nitrogênio, indispensável na maioria das câmaras fri-
em grande parte, é produzido por gerado- goríficas de AC. Tendo em vista que, em
res de peneira moleculares (PSA) e mem- câmaras de AC, o acesso de pessoas é
branas separadoras instalados nas empre- bastante restrito, em virtude do risco que
sas de maçãs. No Brasil, essa técnica, por representa à vida e da necessidade de uso
exigir maior investimento, ainda não teve de máscaras com ar comprimido ou oxigê-
boa aceitação. nio, deve-se instalar um sistema de umifi-
Com relação ao momento adequado cação que não seja suscetível ao entupi-
para iniciar a instalação da atmosfera, exis- mento dos bicos e ao congelamento da
tem opiniões conflitantes. Alguns autores água em dutos e bicos. Com o uso de água
consideram que a maçã deve estar total- dura, com alto de teor de cálcio, corre-se o
mente resfriada para se iniciar a elimina- risco de um freqüente entupimento dos
ção do O2 da câmara. Afirmam que a bicos, necessitando-se assim proceder à
restrição de O2 em frutas com temperatura descalcificação da água. Para evitar o con-
mais elevada poderá causar respiração gelamento da água na tubulação, pode-se
anaeróbica, com produção de etanol e drená-la da tubulação, com o auxílio de
aldeído acético, que poderão causar dano. uma válvula solenóide de três vias, após a
Em maçã da cultivar ‘Gala’, a instalação conclusão de cada nebulização.
da atmosfera com uma temperatura de Para a umidificação, podem ser usados
12oC não causou degenerescência e con- diversos métodos, como a geração de vapor
trolou parcialmente as podridões, confor- com aquecimento de água, bicos de aspersão
me resultados de pesquisa da UFSM. sob alta pressão, bicos com lâminas rotativas
Quanto mais rápida a redução da con- centrífugas e bicos de aspersão de água e ar
centração de O2, menor será a atividade
comprimidos. O vapor de água é o método
respiratória das frutas e, conseqüente-men-
mais eficiente, porém o mais caro. Por
te, maior o período de conservação. Con-
motivos econômicos e práticos, a aspersão
forme estudos feitos com as cultivares
de água sob alta pressão é o método mais
Gala e Fuji, a instalação rápida da atmos-
utilizado. A utilização de uma corrente de ar
fera num período de 1 hora não causa
comprimido, misturada à água, diminui o
danos às frutas.
tamanho da gota e reduz sua precipitação.
Importante, nesse método, é a necessidade
Movimentação da utilização do gás da própria câmara para
da atmosfera aspersão da água, pois o uso de ar externo
pode elevar demasiadamente a concentra-
Em câmaras de AC recomenda-se ção de O2, principalmente quando se traba-
uma velocidade de circulação de 0,1 a lha com concentrações ultrabaixas de O2.
88 Maçã Pós-colheita Frutas do Brasil, 39
mais pesado que o nitrogênio e o oxigênio ras. Facilmente podem ser cometidos erros
e que, por isso, pode-se acumular mais por conta de falhas no sistema de leitura.
próximo do piso quando, no período de As falhas mais freqüentes são as seguintes.
inverno em regiões muito frias, a refrigera- Falta de aferição dos analisadores:
ção é pouco acionada. é recomendável uma aferição dos analisa-
dores a cada semana ou a cada momento
Monitoramento e controle que se verificar uma mudança brusca na
da concentração de gases concentração de gases em todas as câma-
ras. Para aferição deve-se usar um gás
Medição de gases padrão com uma concentração de O2 entre
2% e 3% e entre 4% e 5% de CO2. Para se
Em virtude da respiração constante proceder à aferição dos analisadores, inje-
das frutas na câmara, o O2 é consumido e ta-se primeiro nitrogênio puro e regula-se
o CO2 é produzido, havendo conseqüente- o valor zero dos dois analisadores. No
mente uma alteração dos níveis pré-esta- analisador de CO2 o valor zero também
belecidos e considerados adequados para pode ser obtido com a passagem de ar pelo
cada produto. Para se manter constante a aparelho. Depois, injeta-se o gás padrão e
concentração dos gases, necessita-se uma afere-se novamente o analisador. É muito
a duas análises diárias da concentração do importante que durante a aferição o fluxo
O2 e do CO2, com o auxílio de analisadores de gás e a pressão interna dos analisadores
(ver Analisadores de gases), por meio dos sejam iguais àqueles que o analisador apre-
quais é conduzida uma amostra do gás de senta durante a leitura das câmaras. Mui-
cada câmara de AC. tos analisadores alteram o valor da leitura
Esta amostra de gás deve ser limpa e conforme a variação de fluxo e a pressão
livre de gotículas de água e óleo, bem de entrada dos gases.
como ser representativa da atmosfera da Mangueiras de gases não-veda-
câmara. Para evitar danos aos analisado- das: as mangueiras de plástico, principal-
res, a amostra de gás deve passar por um mente de materiais mais rígidos, tornam-
filtro, antes de entrar nos equipamentos. se quebradiças e porosas com o passar do
Na entrada da tubulação, dentro da câma-
tempo, permitindo a entrada de ar na tubu-
ra, é conveniente colocar um filtro para
lação que liga a câmara aos analisa-dores.
evitar a entrada de insetos ou sujeira. Po-
Conexões mal vedadas também podem ter
rém, quando se trabalha com temperaturas
entrada de ar. Se houver variação do valor
abaixo de 0oC, não é aconselhável colocar
esse filtro, porque a água de condensação, de leitura do O2, quando a câmara passa de
que pode retornar da mangueira para den- uma situação de pressão para depressão ou
tro da câmara, pode congelar, bloqueando vice-versa, significa que pode estar haven-
o filtro. A tubulação para os gases deve ter do entrada de ar na tubulação.
um diâmetro de 6 mm para evitar obstru- Pouco tempo de bombeamento da
ção por água, que pode condensar, princi- amostra de gás da câmara: dependendo
palmente no inverno em locais muito frios. da distância do analisador à câmara, do
diâmetro da tubulação e da vazão da bom-
Para evitar acúmulo de água nas manguei- ba de sucção, necessita-se de 1 a 5 minutos
ras, pode-se colocar os analisadores num até o valor da leitura estabilizar.
lugar mais elevado e as mangueiras com Fortes variações da voltagem
declive dos analisadores de câmaras. da corrente elétrica que alimenta os ana-
Para um adequado manejo das con- lisadores: dependendo do princípio de fun-
centrações dos gases, é primordial uma leitu- cionamento e do fabricante, a variação da
ra precisa de suas concentrações nas câma- voltagem pode interferir na leitura dos gases.
90 Maçã Pós-colheita Frutas do Brasil, 39
Cultivar Golden Delicious Esta maçã, por conta do seu alto meta-
bolismo, característica de cultivares preco-
Esta cultivar é de fácil conservação, ces, apresenta uma maturação muito rápida
apresentando boa qualidade após 8 a quando não manejada adequadamente após
10 meses de armazenamento em AC. Apre- a colheita. Para manter uma boa qualidade
e 3,5 meq./100 ml para cv. Fuji). Esses pré-colheita, como adubação, controle fi-
parâmetros podem variar um pouco de um tossanitário, poda, porta-enxerto e ponto
ano para outro, conforme as condições de colheita, sobre o comportamento da
climáticas. A firmeza da polpa não é um qualidade da maçã em pós-colheita.
bom parâmetro para medir o grau de matu-
ração da maçã ‘Fuji’. SEGURANÇA NO MANEJO
Antes de iniciar a remoção das maçãs DE CÂMARAS DE
da câmara de AC, essa deve ser aberta com
antecedência, para permitir uma boa ven-
ATMOSFERA CONTROLADA
tilação, e assim evitar a intoxicação do
pessoal que trabalha na retirada das frutas. Tendo em vista o alto risco de vida,
Dependendo do potencial de renovação uma pessoa nunca deve entrar sozinha em
de ar, pode-se entrar na câmara em poucas uma câmara de AC nem abri-la ou inclinar-
horas. Pode-se medir a concentração dos se para dentro dela, pois a falta de O2 e a
gases com os analisadores ou fazer um alta concentração de CO2 causam tontura
teste com uma vela acesa. Se ela apagar em poucos segundos e morte em poucos
dentro da câmara, é porque a concentra- minutos. Também não se deve freqüentar
ção de oxigênio está muito baixa e neces- ambientes com concentração inferior a
sita de mais renovação de ar. Para se 18% de O2. Em concentrações de O2 abai-
manter o efeito da AC sobre o processo de xo de 6% a pessoa perde a memória em 30
amadurecimento após a abertura da a 45 segundos, bem como a capacidade de
câmara, pode-se reduzir a temperatura da se movimentar. Além disso, uma pessoa
câmara mais 0,5°C a 1°C, durante o perío- não tolera concentrações superiores a 1,5%
do de descarga, evitando-se sempre o au- CO2 por mais de 15 minutos. Para entrar
mento da temperatura, que também au- numa câmara de AC, o operador necessita
menta a desidratação da maçã, principal- de uma máscara com suprimento de ar
mente quando o volume de frutas é muito armazenado em cilindros de alta pressão
pequeno em relação à capacidade da câ- ou de um compressor. Esse compressor,
mara. situado fora da câmara, provido de duas
Em cultivares de maçã sensíveis a longas mangueiras, fornece ar para duas
danos mecânicos, durante a seleção e a pessoas, que devem entrar simultanea-
classificação, como a ‘Golden Delicious’, mente numa câmara. Em caso de qualquer
é recomendável o aumento da ventilação e imprevisto, a segunda pessoa tem condi-
uma rápida redução da umidade relativa, ções de salvar a vida da primeira. É neces-
para reduzir um pouco a turgescência da sário que o compressor tenha um depósito
fruta.
de ar que permita que as pessoas saiam da
Para uma avaliação do comporta-
câmara na falta de energia elétrica. Uma
mento da qualidade da maçã armazenada
lanterna a pilha não deve ser esquecida
em AC durante a comercialização, reco-
numa entrada de câmara.
menda-se a exposição de frutas à tempera-
tura ambiente, num período de Também deve ser dada atenção ao
7 dias ou mais. Danos decorrentes de acúmulo de CO2 durante o carregamento
condições inadequadas de AC, às vezes, da câmara, por conta dos gases liberados
só se manifestam durante o período de pelas empilhadeiras movidas a gás propa-
comercialização. A avaliação da qualida- no. A pessoa não deve ficar exposta a 0,5%
de das maçãs na saída da câmara e após a de CO2 por mais de 8 horas. Os sintomas
exposição à temperatura ambiente (25ºC) de excesso de CO2 e falta de oxigênio, que
permite a criação de um arquivo de infor- geralmente se manifestam em câmaras
mações, que, ao longo dos anos, poderá ser comerciais sem boa renovação de ar, são:
útil no diagnóstico do efeito de fatores aceleração da respiração e dos batimentos
Frutas do Brasil, 39 Maçã Pós-colheita 95