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Frutas do Brasil, 39 Maçã Pós-colheita 67

8 ARMAZENAMENTO
EM ATMOSFERA
CONTROLADA
Auri Brackmann

INTRODUÇÃO • Limitação da abertura das câmaras


para remoção de lotes de frutas.
O armazenamento em atmosfera con- • Dificuldade de consorciação de culti-
trolada (AC) baseia-se no princípio da vares de maçãs numa mesma câmara, em
modificação da concentração de gases na virtude de diferentes exigências da compo-
atmosfera natural, ou seja, a concentração sição da atmosfera.
de CO2 é aumentada e a de O2 é reduzida, • Maior necessidade de mão-de-obra
podendo-se ainda eliminar o etileno pro- qualificada para o acompanhamento diário
duzido naturalmente pelas frutas. das câmaras.
• Longos períodos de armazenamento
VANTAGENS DA podem diminuir a capacidade de produção
ATMOSFERA CONTROLADA de aroma.

O armazenamento em atmosfera con- FORMAS DE ATMOSFERA


trolada prolonga em 50% a 70% o período
CONTROLADA
de conservação de maçãs e mantém uma
superior qualidade das frutas por meio de:
A atmosfera controlada pode ser clas-
• Retardamento do amadurecimento.
sificada quanto aos regimes, que dizem
• Redução de ocorrência de podri-
respeito às concentrações de gases e à
dões e distúrbios fisiológicos.
forma de instalação da atmosfera, em:
• Diminuição da perda de peso e • Atmosfera controlada convencio-
murchamento de frutas. nal – armazenamento com uma concentra-
• Aumento a vida de prateleira das ção de O2 entre 2% a 3% e CO2 de 1% a
frutas. 3%. Essa condição ainda hoje é bastante
• Viabilização de uma colheita num utilizada em algumas cultivares de maçãs
estado mais avançado de maturação, quan- exploradas na Europa.
do as frutas apresentam melhor qualidade. • Baixo oxigênio (LO – Low oxygen) –
condição com uma concentração de O2 em
DESVANTAGENS DA torno de 1,5%. O conceito varia conforme
ATMOSFERA CONTROLADA diferentes autores.
• Ultra-baixo oxigênio (ULO – Ultra
Como inconvenientes do armazena- low oxygen) – condição com uma concen-
mento em AC podem ser considerados: tração de O2 em torno de 1%. O ultra-
• Investimento mais elevado na insta- baixo oxigênio mantém a firmeza de polpa,
lação da câmara. os níveis de sólidos solúveis totais e acidez
• Possibilidade de ocorrência de dis- e reduz a escaldadura e a degenerescência
túr-bios fisiológicos conseqüentes de da- interna, podendo reduzir a sensibilidade
nos pelo baixo O2 e alto CO2. ao CO2. Necessita, porém, boa estanquei-
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dade da câmara, controle automático da utilizada. No caso da maçã ‘Fuji’, muito


concentração de gases, “pulmão” na câ- afetada por pingo-de-mel, talvez o retar-
mara, um adequado empilhamento da câ- damento pudesse diminuir a ocorrência de
mara e um ∆T baixo. degenerescência, embora isso ainda não te-
• Hiper low oxygen – usado para con- nha sido comprovado pela pesquisa.
• Concentrações dinâmicas de gases –
centrações abaixo de 1% de O2.
técnica que prevê uma variação da con-
• Baixo oxigênio inicial (ILO – Initial centração de O2 e CO2 durante o período
low oxygen) – condição em que a maçã fica de armazenamento, com base no princípio
exposta a concentrações de oxigênio abai- de que algumas cultivares podem ser sen-
xo de 1% por um período de 1 a 4 semanas, síveis ao baixo O2 ou ao alto CO2 no início
ou pouco mais. Não se tem notícias de sua ou no final do armazenamento. Na prática,
aplicação na prática do armazenamento de essa técnica é pouco utilizada.
maçãs.
• Atmosfera controlada rápida (RCA DIMENSIONAMENTO E
– Rapid CA) – compreende uma rápida COMPONENTES DE
instalação da atmosfera controlada na câ-
CÂMARAS FRIGORÍFICAS DE
mara. Tem excelentes resultados na maçã
‘Gala’. Esse método prescreve a instala- ATMOSFERA CONTROLADA
ção da atmosfera no máximo após 3 a 4
dias do início do carregamento da câmara. Dimensionamento
• Alto CO2 inicial (High CO2) – também
conhecido como choque de CO2, é uma Na projeção de uma câmara ou um de
técnica bastante estudada no Canadá, onde bloco de câmaras de AC, sempre surge a
dúvida sobre o tamanho adequado. Para o
apresentou bons resultados na conservação
armazenamento de maçãs em grandes
da maçã ‘Golden Delicious’. Segundo esses
empresas no Brasil, já se tornaram tradici-
trabalhos, um tratamento com concentra- onais as câmaras com capacidades entre
ções de 10% a 20% de CO2 durante os 10 a 500 e 600 t, com um volume de 1500 a
20 dias iniciais apresenta resultados positi- 1800 m3. Câmaras grandes têm um custo
vos na inibição da síntese de etileno, na de construção e manutenção mais baixo
manutenção da firmeza, na acidez e da na cor por unidade de fruta armazenada; se muito
verde da epiderme e na redução de podri- grandes, porém, podem apresentar grande
dões. Trabalhos feitos com maçã brasileira desuniformidade quanto à temperatura e à
não comprovaram vantagens da utilização umidade relativa, principalmente quando
do choque inicial com CO2. Além disso, a muito compridas ou excessivamente altas.
técnica praticamente não é usada em ne- Já as câmaras muito pequenas têm a des-
vantagem de geralmente apresentar umi-
nhum país.
dade relativa baixa, em virtude de uma alta
• Atmosfera controlada retardada –
relação superfície/volume. A grande su-
neste caso, a atmosfera é instalada com um perfície permite maior entrada de calor,
atraso de uma a mais semanas após o fecha- que exige maior tempo de funcionamento
mento da câmara. Alguns pesquisadores dos forçadores de ar, que, por sua vez,
verificaram que determinadas cultivares de aumentam o movimento de ar na câmara,
maçã são mais sensíveis ao baixo O2 e ao alto a desidratação da fruta e a condensação da
CO2 na fase inicial do armazenamento. Des- água no evaporador.
sa forma, a maçã adapta-se à baixa tempera- No dimensionamento de uma câma-
tura e, depois, é instalada a atmosfera. ra, deve-se levar em consideração os se-
O inconveniente dessa técnica é que a maçã guintes aspectos:
amadurece muito no período em que fica • Número de cultivares de maçãs que
armazenada apenas sob baixa temperatura. serão armazenadas e as condições ambien-
Por tal razão, essa técnica é muito pouco tais exigidas.
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• Possibilidade de uso da câmara para co, podem ser revestidos, numa ou nas
outras espécies de frutas. duas faces, por lâminas metálicas. O efeito
• Tempo necessário para comercia- isolante do poliuretano é maior, ou seja,
lizar o conteúdo de uma câmara. ele tem uma menor condutividade térmica
• Existência de mais câmaras frigorí- (0,020-0,035) do que o poliestireno (0,025-
ficas na empresa. 0,040). Um painel de 100 mm de poliure-
Após a abertura da câmara de AC, a tano apresenta um isolamento semelhante
maçã, para manter uma boa qualidade para ao de um painel de 120 mm de poliestire-
consumo, deve ser classificada, embalada no, apresentando, este último, geralmen-
e comercializada em 5 a 7 dias, devendo te, um custo menor.
chegar ao consumidor até o 10º dia. O

Foto: C. L. Girardi
carregamento da câmara também não deve
ir além de 2 a 3 dias, embora, no Brasil,
esse prazo seja geralmente ultrapassado,
pela falta de capacidade de geração de frio
para resfriamento das maçãs, as quais,
muitas vezes, vêm do pomar com tempe-
raturas acima de 25°C, e pela falta de infra-
estrutura de colheita e transporte das fru-
tas, principalmente em médias e pequenas
empresas. Na maçã ‘Gala’, é muito impor-
tante o rápido resfriamento e instalação da
atmosfera na câmara.
Fig.1. Montagem de câmara fria com pai-
néis.
Isolamento térmico e bar-
reira de vapor e gases As lâminas metálicas, além de darem
estabilidade aos painéis, servem como
Na construção de câmara frigorífica barreira de vapor e de gases. Sem esta
de AC, o isolamento térmico deve ser barreira de vapor, haveria uma entrada de
associado a uma barreira de vapor e a uma umidade do ar externo, com alta pressão
barreira para gases. Para o isolamento tér- de vapor, para o isolante térmico, que,
mico, os materiais mais utilizados são o com a condensação da água, encharcaria e
poliestireno e o poliuretano expandidos. perderia a capacidade isolante.
Em câmaras mais antigas, esses materiais Para uma perfeita vedação de uma
eram aplicados sobre parede de tijolos, no câmara de AC, os painéis são unidos entre
lado interno da câmara. Modernamente, si por um sistema de engate (lock) ou por
esse tipo de construção vem cedendo es- um tirante de aço. Esse tirante atravessa
paço para o uso de painéis metálicos, sis- todos os painéis de uma parede, e, na
tema também conhecido por sanduíche. ponta, com uma porca, comprime os pai-
Nos EUA, ainda é comum a construção de néis uns contra os outros, para evitar o seu
câmaras com paredes de tijolo ou madeira afastamento quando a câmara entra em
e com isolante térmico de poliuretano ex- pressão ou depressão (vácuo). Outro sis-
pandido in loco, e com uma camada de tema de encaixe de painéis, com uma cha-
revestimento de um material anti-infla- veta de poliestireno, pela sua facilidade de
mável. Na Europa e no Brasil, difundiu-se montagem e boa vedação, também vem
a construção de câmaras com painéis sendo muito usado. Após a fixação dos
(Fig. 1). Esses painéis, contendo poliesti- painéis, é feita a aplicação de massa de
reno ou poliuretano como isolante térmi- silicone para a vedação das fendas entre os
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painéis. Outra forma de vedação da emen- de calor que atravessa o isolamento térmi-
da dos painéis é a injeção de poliuretano co da parede, ocasionando aumento da
num canal deixado na união de dois pai- temperatura e redução da umidade relati-
néis. Se houver vazamento ou dificulda- va.
des de vedação com cola de silicone, o que
é comum em câmaras antigas, que foram Vedação
construídas com tecnologia ainda pouco
avançada, poderão se aplicar tiras de véu Tendo em vista que a atmosfera con-
de superfície sobre a emenda dos painéis. trolada utiliza concentrações de gases di-
Essas tiras são coladas e vedadas com ferentes das da atmosfera natural, é neces-
resina acrílica antimofo. Na base dos pai- sária uma vedação quase completa da câ-
néis, é construído um rodapé de concreto, mara frigorífica. Antigamente, a vedação
também chamado de mureta, de 40 a 50 da câmara era um dos grandes empecilhos
cm de altura para facilitar a fixação e a de armazenamento em AC, porém, atual-
vedação do painel com o piso, e para servir mente, com a utilização de painéis do tipo
de proteção contra batidas de empilhadei- sanduíche e o desenvolvimento de uma
ras nos painéis, além de, ao mesmo tempo, série de produtos adesivos e vedantes,
delimitar o local de colocação dos bins. esse problema praticamente deixou de exis-
Essa proteção dos painéis pode ser um tir. A câmara de AC deve passar, a cada
guard-rail. Esse sistema facilita o acesso à período de armazenamento, por um teste
emenda dos painéis com o piso em caso de de estanqueidade, para evitar a entrada de
vazamento da câmara.O rodapé de con- ar durante o período de armazenamento.
creto tem a vantagem de proteger a base A vedação entre os painéis pode ser
dos painéis contra água e produtos corro- feita com injeção de poliuretano líquido,
sivos, que geralmente são utilizados para a num canal deixado entre os painéis, ou
limpeza da câmara. com vedantes à base de silicone. Para uma
No Brasil, em comparação com melhor vedação, ainda pode ser aplicada
países europeus e os Estados Unidos, ge- uma resina de polyacryl sobre a junção dos
ralmente é utilizado um maior afastamen- painéis, e, para uma melhor vedação de
to dos bins da parede (25 a 40 cm), por fendas no piso, podem ser aplicados pro-
conta de uma maior neces-sidade de ven- dutos à base de resina de epoxy e de
tilação para remover o calor, próprio dos silicone, em locais sujeitos à dilatação.
trópicos, que entra pelas paredes da câma- A câmara de AC deve dispor de uma
ra. Num bloco de câmaras, pode ser proje- válvula equalizadora de pressão e, de pre-
tado um afastamento maior dos bins da ferência, de um “pulmão”. Quando ocor-
parede somente para as paredes externas, rem modificações internas de pressão na
enquanto, nas paredes divisórias (entre as câmara, decorrentes do acionamento ou
câmaras), pela menor penetração de calor, da interrupção dos forçadores do evapora-
os bins podem ser colocados mais próxi- dor, há contração e expansão da atmosfe-
mos à parede, ou seja, em torno de ra, respectivamente, que, por sua vez, pro-
20 cm. Essa diminuição da distância au- voca uma entrada de ar e uma saída de
menta a circulação do ar entre os bins. gases da câmara.
É importante salientar que, quando os bins
são colocados muito próximos à parede Piso
que recebe o sol da tarde, ocorre um maior
murchamento das frutas que estão daque- A sustentação do piso de uma câmara
le lado da câmara. Isso é devido a uma frigorífica de AC é de fundamental impor-
deficiente circulação da atmosfera naque- tância para a vedação da câmara. Depois
le lado para remoção da grande quantidade do carregamento de uma câmara, existe
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um grande peso por área de piso, princi- pressioná-la contra o anel de borracha, para
palmente em câmaras grandes, que po- prover uma adequada estanqueidade à câ-
dem ter uma altura de 6 a 8 m. Quando mara. Da mesma forma, as janelas da câmara
o solo não é muito estável, o piso cede e devem ter um anel de borracha para veda-
ocorre uma ruptura dos painéis da pare- ção. A janela geralmente é colocada na estru-
de com o piso. Por isso, recomenda-se o tura da porta, para permitir a visualização das
estaqueamento do piso, principalmente maçãs e a entrada de uma pessoa para a
em locais aterrados. coleta de amostra de frutas para avaliação da
O isolamento térmico do piso dimi- qualidade, o que evita a abertura da porta e
nui o consumo de energia elétrica e dimi- a perda da atmosfera da câmara. Em câmaras
nui a perda de peso de frutas em cerca de grandes, também costuma-se colocar uma
1%, num período de 6 meses de armazena- ou mais janelas na parte superior (Fig. 3),
mento. No entanto, o custo do isolamento atrás dos evaporadores, para verificar a for-
não compensa o investimento, motivo pelo mação excessiva de gelo no evaporador, o
qual poucas câmaras apresentam isola- entupimento de bicos de nebulização e o
mento térmico do piso. A falta de isola- acompanhamento do estado da fruta. Para
mento permite a entrada de calor, que permitir uma boa transparência, a janela
aquece o ar junto ao piso e diminui a sua deve ter duas ou três camadas de vidro ou um
umidade relativa, e, por conseqüência, sistema de aquecimento para evitar a con-
causa o murchamento das maçãs nos bins densação externa de água. Por uma questão
junto ao piso, provocando também a redu- de segurança, é necessário que a porta e as
ção do volume das frutas. Essa perda de janelas tenham um dispositivo que permita a
peso por desidratação pode ser evitada colocação de um cadeado, para evitar a
com a manutenção permanente de uma entrada de pessoas estranhas ao ambiente,
fina lâmina de água sobre toda a extensão protegendo-as do perigo de entrar numa
do piso da câmara. É importante, nesse câmara de AC, fato que já fez muitas vítimas
caso, que o piso seja plano para evitar fatais.
“ilhas” secas, onde o problema persiste.
Foto: L. Couto

A lâmina de água sobre o piso também


pode auxiliar na vedação do piso quanto à
entrada de oxigênio pelo concreto, princi-
palmente em câmaras sem uma perfeita
vedação para gases. No entanto, a água no
piso da câmara apresenta o incômodo da
sujeira decorrente do movimento das em-
pilhadeiras; além disso, a infiltração de
água no piso aumenta a sua condutividade
térmica, aumentando, conseqüentemen-
te, o consumo de energia elétrica. Para
evitar o problema, existem empresas mon-
tadoras de câmaras que usam mantas as-
fálticas para a formação de uma barreira de
vapor.

Porta e janelas

A porta de uma câmara de AC (Fig. 2)


deve apresentar um anel de borracha para
vedação e um dispositivo que permita Fig. 2. Porta para câmara de AC.
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Evaporador

Foto: C. L. Girardi O evaporador de uma câmara de AC,


em comparação com uma simples câmara
frigorífica, exige uma grande superfície de
troca de calor que permita trabalhar com
um ∆T baixo, para evitar grandes altera-
ções de temperatura e variações de pres-
são, o que causaria entrada excessiva de ar
e aumento do nível de O2 acima do dese-
jado. Com um alto ∆T, ocorrem rápidas e
grandes variações de pressão na câmara,
quando os forçadores do evaporador são
acionados, e freqüentes degelos, causando
freqüentes depressões na câmara e a entra-
da de ar pela válvula equalizadora de pres-
são. Além disso, um alto ∆T diminui a
umidade relativa da atmosfera pela con-
densação de água no evaporador, causan-
do desidratação das frutas.
A tubulação de drenagem da água do
Fig. 3. Janela de uma câmaras de AC. degelo do evaporador deve dispor de um
sifão para evitar a entrada de ar na câmara.

Sistema de refrigeração Válvula equalizadora


de pressão
O sistema de refrigeração deve ser
projetado para funcionar com uma peque- A pressão interna de uma câmara de AC
na diferença de temperatura entre a atmos- sofre uma contínua variação, em decorrên-
fera da câmara e a superfície do evapora- cia de acionamento e parada da refrigeração
dor, diferença essa conhecida como ∆T, e do absorvedor de CO2. A câmara frigorífi-
para manter uma alta umidade relativa e ca, mesmo carregada com frutas, apresenta
pouca variação de pressão na câmara. Isso um grande volume de ar que se contrai e se
se consegue graças à pouca condensação expande quando é ligada e desligada a refri-
de água no evaporador, que, por isso, geração, comandada pelo termostato.
necessitará poucos degelos, que são os A variação da temperatura em 1°C provoca
responsáveis pela variação da pressão da a variação de 1/273 do volume de ar, corres-
câmara e a entrada de ar externo. A refri- pondendo a uma variação de pressão de 37,7
geração indireta atende bem a essa condi- mm da coluna de água (0,37Pa). Assim, sem
ção, porém, esse sistema é pouco usado no a abertura da válvula equalizadora de pres-
Brasil. Na prática, são muito usados os são, poderia ocorrer danos à parede da câma-
sistemas inundados de amônia e R-22 para ra. Pode também haver depressão na câmara
câmaras de grande capacidade. Em câma- quando o CO2 é removido pelo absorvedor.
ras menores, geralmente é usado o sistema A eliminação de 0,5% de CO2 de uma câma-
de expansão direta do líquido refrigerante ra de 500 t significa a remoção de aproxima-
R-22. Em poucos anos, atendendo ao pro- damente 4500 L de CO2, ou seja, o volume
tocolo de Montreal, os refrigerantes à base de gás diminui 4,5 m3. Essas variações de
de fluor-cloro-metano serão substituídos pressão devem ser rapidamente compensa-
por outros gases. das para evitar danos à estrutura da câmara
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provocados por dispositivos chamados equa-

Foto: C. L. Girardi
lizadores de pressão.
A válvula equalizadora de pressão
(Fig. 4), também conhecida como válvula
de segurança, é acionada pela própria pres-
são e pela depressão da câmara. Ela deve
abrir tanto sob pressão como sob depres-
são de 5 a 10 mm de coluna de água. Como
essas válvulas dispõem de anéis de borra-
cha para vedação, pode haver colamento
da tampa da válvula, impedindo que ela se
abra na pressão indicada. Para evitar da-
nos à câmara, em virtude do mau funcio-
namento, é recomendável uma vistoria
semanal ou com maior freqüência dessas
válvulas.
Um segundo tipo de válvula equaliza-
Foto: C. L. Girardi

Fig. 5. Válvula equalizadora de pressão tipo


sifão com água.

deve responder a uma pressão ou depres-


são de 5 a 7 mm de coluna da água, ou 10
Fig. 4. Válvula equalizadora de pressão.
mm de coluna da água, quando existe a
dora de pressão é o sifão com água (Fig. 5). presença de um “pulmão” na câmara. Pres-
Nesse caso, a extremidade do duto que sões ou depressões acima de 30 mm de
vem da câmara é mergulhada numa pro- coluna de água podem causar o rompimen-
fundidade de 10 mm na água contida num to das paredes laterais ou do teto da câma-
recipiente. Diariamente, o nível da água ra frigorífica. Quanto mais alta for a câma-
deve ser revisado, evitando a falta ou um ra, maior será a flexão dos painéis e maior
nível que exceda 15 mm. É importante que a possibilidade de haver ruptura da veda-
o duto procedente da câmara não seja ção.
longo e que tenha um grande diâmetro As válvulas equalizadoras de pressão
(maior que 15 cm) para facilitar a entrada devem ser munidas de um manômetro de
ou a saída de gases, quando for necessário. uma coluna de água inclinada, com coran-
O recipiente contendo água deve ser am- te na água para facilitar a visualização.
plo, de modo que a superfície que rodeia o
duto seja igual ou maior que a superfície de “Pulmão” ou saco de
secção do duto. Em regiões com clima compensação de pressão
muito frio, é recomendável a adição de um
produto anticongelante à água do sifão. O “pulmão”, como é vulgarmente
A válvula de equalizadora de pressão conhecido, é um saco insuflável de filme
74 Maçã Pós-colheita Frutas do Brasil, 39

emborrachado, impermeável a gases, que degelar, momento em que geralmente a


é conectado à câmara de AC (Fig. 6). válvula de equalizadora de pressão abre
O volume desse depósito deve ser de 0,5% para dar entrada ao ar externo ou saída ao
a 1%, conforme a empresa David Bishop gás da câmara. A redução da velocidade
da Inglaterra; no entanto, a empresa Isol- dos forçadores pode reduzir as oscilações
cell, da Itália, recomenda um volume equi- bruscas de pressão na câmara. A maior
valente a 2% do volume da câmara, para
depressão da câmara acontece durante o
permitir a utilização de concentrações ul-
período de refrigeração da fruta, pois a
trabaixas de O2. É importante que a tubu-
lação entre a câmara e o “pulmão” seja de temperatura decrescente causa contração
grande diâmetro e o mais curta possível, da atmosfera da câmara, que provoca a
para que haja um fluxo rápido de gases abertura da válvula equalizadora de pres-
quando a câmara for exposta à pressão ou são, deixando entrar ar. Também um dege-
depressão. Se o pulmão não reagir a tem- lo mais rápido diminui o aumento da tem-
po, os gases deverão fluir pela válvula peratura do ar e, com isso, o aumento da
equalizadora de pressão para evitar danos pressão e a saída de gás da câmara, que é
à estrutura da câmara. Em alguns países, reposto com ar exterior, quando o evapo-
como na Holanda, é comum manter o rador volta a refrigerar a câmara. A presen-
pulmão sempre inflado, por meio de inje- ça do “pulmão” na câmara permite a utili-
ção de nitrogênio na câmara, de modo que zação de concentrações ultrabaixas de O2,
a câmara sempre permaneça sob pressão em torno de 1%.
evitando a entrada de ar.
EQUIPAMENTOS PARA
Foto: O. R. C. Filho

CÂMARAS DE ATMOSFERA
CONTROLADA

Analisadores de gases

A técnica de análise de gases em câma-


ras de AC evoluiu muito nas duas últimas
décadas. Nos anos 80, ainda era utilizada a
medição de gases pelo princípio da reação
química. O Orsat, usando uma solução de
hidróxido de potássio e de pyrrogallol, deter-
mina o CO2 e o O2. O procedimento em
média demandava 5 minutos por análise e
não tinha uma precisão muito boa. Já o
aparelho chamado Fyrite, também usando
o princípio da reação química, permite
uma análise mais rápida, mas também com
Fig. 6. Saco de compensação de pressão
baixa precisão, principalmente quando se
instalado sobre uma câmara de AC. trata de armazenamento em concentra-
ções ultrabaixas de O2. Atualmente, os
Geralmente, ocorre grande varia- dois métodos são pouco usados, principal-
ção de pressão na câmara quando a refrige- mente em empresas que dispõem de diver-
ração, os forçadores do evaporador ou o sas câmaras de AC.
adsorvedor de CO2 entram em funciona- Para análise da concentração de O2 e
mento e quando o evaporador começa a CO2 utilizam-se atualmente analisadores
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eletrônicos de fluxo contínuo de diferen-


tes fabricantes, procedentes dos Estados
Unidos, da Itália, da Alemanha, da Inglaterra
e do Japão. Esses analisadores, além da
rapidez na leitura que, dependendo da dis-
tância da câmara até o equipamento, deman-
da 1 a 2 minutos, têm a vantagem de dispor
de uma saída elétrica que permite a sua
conexão com controladores automáticos da
concentração de gases das câmaras de AC.
Os analisadores de O2 utilizam basicamente Fig. 7. Analisadores de oxigênio e gás carbô-
dois princípios de medição: o paramagnético nico da empresa Isolcell.
e o eletro-químico. A precisão do princípio Fonte: Isocell

paramagnético geralmente é maior. Os ana-


No mercado, existem kits de tubos com
lisadores com princípios eletroquímicos ne-
cessitam de uma renovação periódica da reagentes químicos que mudam de cor de
célula, que tem uma durabilidade de 3 a 8 acordo com a concentração de etileno
anos, dependendo do número de horas de numa amostra de gás que é succionado por
uso diário e da concentração de O2 medida. eles. Esse método fornece uma leitura
Quanto maior a concentração de O2, menor aproximada da concentração de etileno,
a vida útil da célula. O analisador com célula mas não é muito preciso.
eletroquímica (Oxicontrol, Oxitest), por sua
vez, tem um preço mais acessível, principal- Equipamentos para
mente os modelos portáteis. eliminação do
A maioria dos analisadores de CO2 oxigênio da câmara
utilizados em câmaras de AC utiliza o prin-
cípio da luz infravermelha, e, por isso, são A eliminação do O2 de câmaras de AC
também conhecidos por Irga (Infra-red gas é feita após o enchimento e o fechamento
analyser), e o princípio de captação sonora. hermético da câmara ou, excepcionalmente,
Esse princípio baseia-se na absorção seletiva durante o período de armazenamento, em
da radiação modulada de raios infraverme- caso de falta de estanqueidade da câmara.
lhos, que provoca uma vibração da molécula
Ao longo da evolução da tecnologia para
do CO2, com a conseqüente estimulação de
atmosfera controlada, diversos métodos e
colisões moleculares, e o som produzido é
equipamentos foram desenvolvidos para tal
medido com um microfone de alta sensibili-
fim, como se segue.
dade. Os analisadores com esse segundo
princípio são menos utilizados em câmaras
de AC. Geradores de nitrogênio
No mercado brasileiro, existem repre-
sentantes das diversas empresas internacio- Nos geradores de nitrogênio, também
nais que fabricam e montam analisadores de conhecidos como geradores de atmosfera,
O2 e CO2, como Agridatalog, Bishop instru- o oxigênio do ar da câmara é queimado de
ments, Hartmann & Braun, Horiba, Isolcell, forma catalítica, sem chama, utilizando-se
Junkalor, Kronenberger, Leybold Heraeus, propano, butano ou hexano como com-
Maihak, Servomex, Siemens e Taylor bustível. O calor gerado pela combustão
(Fig. 7). Recentemente a empresa Climasul deve ser extraído do ambiente da câmara,
iniciou a produção nacional de analisadores. bem como o CO2 produzido por adsorve-
A análise precisa de etileno somente dores de gás carbônico. A queima do O2
pode ser feita por meio de cromatografia inicialmente era feita em equipamentos com
gasosa, o que exige instrumentação cara. chama. A evolução do processo levou à
76 Maçã Pós-colheita Frutas do Brasil, 39

queima catalítica na temperatura de 650°C. empresas de maçãs no Brasil realizam a


Esses dois tipos de equipamentos come- varredura da câmara quase exclusivamente
çaram a entrar em desuso na década de 80, com nitrogênio líquido por conta do baixo
com o surgimento do PSA e da membrana preço do gás e por dispensarem grandes
separadora de nitrogênio. Para a elimina- investimentos em equipamentos.
ção do O2 de uma câmara geralmente eram

Foto: O. R. C. Filho
necessários alguns dias de funcionamento
do equipamento.
Os queimadores podem ser de
ciclo aberto ou fechado. Os de ciclo
aberto, conhecidos como Tectrol (Total
Environment Control), queimam o
combus-tível mais o ar atmosférico, e os
gases são introduzidos na câmara, após
passarem por um adsorvedor de CO2.
O gerador de ciclo fechado, conhecido
como sistema Arcagen (Atlantic Research Fig. 8. Abastecimento de nitrogênio líquido.
Cooperation), queima o O2 do ar aspirado
da câmara. Esse sistema, embora menos

Foto: C. L. Girardi
utilizado, permitia a instalação mais rápida
da atmosfera (algumas horas) e por um
custo menor. O uso de queimadores
catalíticos de O2 foi, atualmente, quase
totalmente abandonado, em virtude do
desenvolvimento de tecnologias mais
avançadas e eficientes.

Nitrogênio líquido

Na instalação da atmosfera, logo após


o fechamento da câmara, a eliminação do
O2 é feita com um fluxo de nitrogênio (N2),
em forma de gás, obtido a partir da
evaporação de N2 líquido. Esse nitrogênio
é produzido em plataformas de empresas
produtoras de gases, transportado até o
local da câmara (Fig. 8), onde é expandido
através da passagem, por um trocador de
calor. Empresas de maçãs de maior porte
possuem um reservatório isolado termi-
camente, que permite a estocagem do gás Fig. 9. Trocador de calor para nitrogênio
líquido.
por algum tempo (Fig. 9). A vantagem do
depósito é a disponibilidade de nitrogênio
a qualquer hora, para a varredura de PSA
câmaras, e permite que se faça a varredura (Pressure Swing Adsorption)
de uma câmara que possa eventualmente
apresentar algum problema de vedação ou Este método utiliza um fluxo de N2,
entrada involuntária de oxigênio (ar). As produzido por um equipamento PSA, que
Frutas do Brasil, 39 Maçã Pós-colheita 77

dilui o O2 do ar da câmara. O PSA é um baixo custo de produção do gás, que pode ter
processo de adsorção, pela alternância de um custo de produção 30% a 50% mais
pressão numa peneira molecular de carbo- baixo que o do N2 produzido por uma mem-
no que produz nitrogênio a partir do ar brana separadora. Uma nova geração de
atmosférico, cujo esquema de funciona- sistemas PSA está sendo desenvolvida, os
mento pode ser visto na Fig. 10. O efeito quais funcionam com baixa pressão e permi-
de separação da peneira molecular de car- tem eliminar, além do O2, o CO2 da atmos-
bono baseia-se na diferença cinética de fera da câmara.
adsorção de oxigênio e nitrogênio. Para
uma atividade continuada do equipamen- Membrana separadora
to, são necessários dois recipientes de fun-
cionamento alternado. Enquanto um reci- Nesta técnica, o ar é comprimido e
piente produz nitrogênio, o outro é regene- secado por filtros sob alta pressão (9 a 12
rado. A alternância de pressão é feita de bares). O ar é gerado por um compressor
forma cíclica, com tempo fixo. O tempo de alta potência e é comprimido através
total de um ciclo de absorção e regenera- das fibras capilares de polisulfone ou por
ção é aproximadamente duas vezes a cada outro material, as quais estão arranjadas
60 segundos. O ar ambiente é succionado paralelamente, aos milhares, em forma de
pelo compressor e comprimido em um um maço, designadas de membranas. Cada
depósito. Esse ar comprimido de seis a gás possui uma habilidade diferente de se
nove bares, é conduzido pela peneira mo- dissolver e se difundir pela membrana,
lecular de carbono, constituída de um car- permeando-a com velocidades diferentes,
vão ativado especial. A coluna da peneira o que torna possível a sua separação dos
adsorve o vapor de água, CO2, CO e O2 do demais gases. Essa característica permite
ar, deixando fluir na outra extremidade, uma que os gases “rápidos”, como o O2, o vapor
mistura enriquecida com nitrogênio (99,5% de água e o CO2, sejam separados dos
N2 e 0,5% O2). Se desejado, pode-se obter gases “lentos”, como o nitrogênio. A por-
uma mistura com concentração maior de O2. ção remanescente dentro da membrana,
Essa mistura de gases é utilizada na remoção enriquecida com N2, sai na outra extremi-
do O2 ou do CO2 da atmosfera de câmaras de dade da mesma, e é utilizada para injeção
AC. nas câmaras de AC (Fig. 11 e 12). À
Desenvolvido pela Bergbau-For-schun- medida que se exige N2 com maior pureza,
gs-GmbH Essen (Alemanha), o PSA é o cai drasticamente a produtividade da mem-
equipamento mais utilizado na Europa para brana. O uso da membrana não está se
a geração de N2 para câmaras de AC, pelo difundindo tão rapidamente, como o do

Fig. 10. Sistema PSA (Pressure Swing Adsorption) para geração de nitrogênio.
Fonte: Brackmann, 1990.
78 Maçã Pós-colheita Frutas do Brasil, 39

PSA, em razão de suspeitas de duração A produção de N2 por membrana é


limitada da membrana e do alto custo da largamente utilizada nos Estados Unidos.
energia para a geração de nitrogênio. Nos estados do oeste dos EUA, em virtu-
de do baixo preço da energia elétrica, uti-
liza-se o fluxo de N2 para a eliminação do
CO2 das câmaras de AC, o que caracteriza
a atmosfera controlada dinâmica. A AC
dinâmica apresenta a vantagem de permi-
tir que o fluxo de nitrogênio elimine tam-
bém, em grande parte, o etileno do ambi-
ente da câmara. No Brasil e na maioria dos
demais países, utiliza-se a atmosfera con-
trolada estática, com a remoção de CO2
com adsorvedores de carvão ativado ou
cal hidratada.
Fig. 11. Estrutura da fibra capilar da membrana separadora O uso comercial de equipamentos
Prism Separator (Air Product). PSA e de membranas separadoras de nitro-
Fonte: Air Product.
gênio está em franca expansão, tendo em
vista que a produção de N2 por esses
métodos, para a eliminação do O2 da câ-
mara de AC, tem as seguintes vantagens:
• Ausência de combustão (propano,
metano, amônia).
• Elimina refrigeração para remoção
do calor produzido por combustão.
• Ausência de CO2 e CO no gás
produzido.
• Não forma produtos tóxicos do
resíduo de enxofre e óleos minerais no
A
propano.
• Não há risco de explosão.
• Simples funcionamento.

Equipamentos para
a eliminação de CO2

O CO2 produzido pelas frutas em câ-


maras de AC pode ser eliminado por meio
de métodos baseados em princípios quími-
cos e físicos. Entre os métodos químicos,
podem ser citados: o uso de cal hidratada,
de potassa (K2CO3), de etanolamina e de
soda cáustica (NaOH). Entre os métodos
físicos, podem ser mencionados: o adsor-
B vedor de carvão ativado, a peneira mole-
Fig. 12. Membranas separadoras das cular e a membrana separadora.
empresas Isolcell (A) e Fruit Control (B). Desde os anos 60, estão sendo produ-
Fonte: Isocell e Fruit Control. zidos diversos modelos de adsorvedores
Frutas do Brasil, 39 Maçã Pós-colheita 79

de CO2, também chamados de scrubbers. A Absorvedor de potassa


descrição dos métodos químicos, a seguir,
obedece a uma seqüência cronológica de Funciona pelo princípio da reação
uso comercial. No absorvedor de cal hi- química, segundo a reação:
dratada, a cal é colocada num pequeno
ambiente dentro ou fora da câmara, que, K2CO3 + CO2+ H2O → 2 KHCO2
dotado de um ventilador, faz circular os
gases da câmara entre os sacos com cal. Com o auxílio de ar, a potassa pode
Esse método ainda hoje é utilizado por ser regenerada. Por causa de problema de
pequenos produtores na Holanda, na In- corrosão, o método não teve grande apli-
glaterra e no norte da Alemanha. A absor- cação prática.
ção do CO2 com cal hidratada (hidróxido
de cálcio) geralmente é utilizada no arma- Absorvedor de etanolamina
zenamento de produtos que não toleram
concentrações de CO 2 acima de 1%. Adsorve o CO2 pela transformação
A presença da cal dentro da câmara geral- do monoetanol em di- ou trietanolamina.
mente mantém a concentração do CO2 Esse método também não logrou êxito,
próximo a zero. No Brasil, a absorção de por causa da corrosão e da alta necessida-
CO2 com cal é amplamente utilizada no de de energia.
armazenamento da maçã ‘Fuji’, que não
tolera concentrações acima de 1%. A ab- Absorvedor de soda cáustica
sorção de CO2 pela cal se dá conforme a
equação: A soda (NaOH) reage com o CO2
formando Na2CO3. São necessários 25 kg
Ca(OH)2 + CO2 → CaCO3 + H2O de soda por tonelada de maçã. A reação dá
origem a um sal que precipita e pode obs-
O calcário resultante da reação pode truir a tubulação do absorvedor. Também
ser utilizado, após a trituração, como cor- por causa da corrosão o método não foi
retivo do pH do solo. muito difundido.
É importante salientar que existem
enormes diferenças entre as procedências Adsorvedor de água
do cais oferecidos no comércio. Pesquisas
realizadas na Universidade Federal de Santa Pela lavagem da atmosfera da câmara
Maria – UFSM –, constataram que a cal numa torre com água, o CO2 é adsorvido.
calcítica, procedente de Minas Gerais, tem Externamente, a água é regenerada com a
uma capacidade maior de absorver CO2 lavagem com ar fresco, porém com este
que a cal dolomítica, oriunda de diferentes método não é possível reduzir o teor do
locais do Sul do País. Baseada na eficiên- CO2 da câmara abaixo de 2,5%. Por causa
cia da cal calcítica, é necessário 1 kg de cal da baixa capacidade de adsorsão e dos
para 35 a 50 kg de maçãs ‘Fuji’ para um altos custos para funcionamento, o méto-
período de 8 meses de armazenamento. do não é empregado.
Já para a cal dolomítica, são necessários
50% a 100% a mais de quantidade. Peneira molecular de zeolitos de
A quantidade de cal necessária, também silicatos de sódio e alumínio
varia em função da temperatura e da con-
centração de O2 utilizados, pois estes dois A peneira com cristais com poros de
fatores têm grande influência na e a respi- 4 ângstrons adsorve somente moléculas
ração das maçãs. pequenas, que penetram nos poros, adsor-
80 Maçã Pós-colheita Frutas do Brasil, 39

vendo CO2, etileno e outras substâncias. lavagem do carvão com ar da câmara, após
Com o aquecimento ou o estabelecimento a regeneração com ar atmosférico, para
de vácuo, a peneira é regenerada. Atual- reduzir a quantidade de O2, que fica retido
mente, esses equipamentos não são mais no carvão e que é introduzido na câmara
usados pela dificuldade de obtenção de em cada ciclo das torres de adsorção. Para
vácuo durante o funcionamento contínuo que a câmara não entre em depressão, é
necessário injetar a primeira porção do gás da
do equipamento.
lavagem do carvão para dentro da câmara,
Adsorvedor de carvão ativado

É o equipamento mais utilizado em


todo o mundo para eliminação de CO2 e
funciona pelo princípio PSA (Pressure Swing
Adsorption), porém com pressões menores
daquelas usadas no equipamento utilizado
para a geração de nitrogênio a partir do ar
atmosférico. Geralmente, os equipamen-
tos dispõem de duas torres: enquanto uma
está adsorvendo CO2, a outra está regene-
rando, o que permite um funcionamento
contínuo, conforme exposto nas Fig. 13 e
14. O gás da câmara é pressurizado duran-
te um período de 3 a 5 minutos, sobre o
carvão ativado de uma torre de adsorção
do equipamento, até sua saturação com
CO2. Automaticamente, o ar da câmara
agora é canalizado para uma segunda torre
de adsorção, enquanto é regenerado o car-
vão da primeira torre, pela “lavagem” com
ar externo, que elimina o CO2 do carvão,
tornando-o apto para nova adsorção. Os
adsorvedores mais modernos realizam uma
A

Fig. 14. Adsorvedores de carvão ativado


Fig. 13. Princípio do funcionamento de um adsorvedor de para CO2 das empresas Fruit Control (A) e
carvão ativado para CO2 (Stal-Astra). Agri-Datalog (B).
Fonte: Stal-Astra Fonte: Fruit Control e Agri Datalog
Frutas do Brasil, 39 Maçã Pós-colheita 81

criando uma sobrepressão, que é aproveita- Equipamento para


da na próxima lavagem da outra torre. Na eliminação de etileno
Inglaterra, existem equipamentos que usam
nitrogênio para fazer essa lavagem do car- Para eliminação de etileno do ambi-
vão, após a regeneração com ar. A elimina- ente da câmara existem diferentes técni-
ção de parte do O2 retido no carvão é impor- cas, embora nem todas tenham viabilidade
tante em câmaras com concentrações ultra- técnica e econômica para uso comercial.
baixas de O2. A oxidação do etileno com ozônio e a
O carvão ativado é produzido a partir eliminação através de luz ultravioleta não
de carvão mineral ou vegetal, que, por um são muito utilizadas comercialmente. Já a
aquecimento de 800°C a 900oC, é trans- conversão catalítica e a oxidação com per-
formado para uma estrutura cristalina de manganato de potássio têm larga aplicação
carbono rica em poros. Posteriormente, no armazenamento e no transporte de frutas,
através de impregnação, o carvão é ativa- hortaliças e flores.
do para gases especiais. O adsorvedor de O permanganato de potássio impreg-
carvão ativado também tem a capacidade nado sobre um substrato sólido de óxido de
de reduzir a concentração de etileno de alumínio ou minerais de argila é comercia-
1000 ppm para o nível de 60 ppm. lizado em forma de peletes a granel ou pele-
O carvão ativado deve ser trocado a tes em sachês. Para absorção do etileno, os
cada 3 a 8 anos, dependendo da intensida- peletes devem ser colocados num equipa-
de de uso. A eficiência diminui conforme mento absorvedor, que conduz o ar da câma-
a absorção de ácidos graxos liberados pe- ra por uma camada do substrato absorvente.
las maçãs. Para se testar a eficiência do O permanganato, após a reação com o etile-
adsorvedor pode-se medir a concentração no, transforma-se de violeta para marrom,
do CO2 do fluxo de entrada e saída do indicando que os peletes devem ser substitu-
equipamento. O período quente e seco do ídos. A absorção com peletes de permanga-
verão deve ser aproveitado para secar o nato de potássio é uma técnica que exige
carvão ativado, por meio de um prolonga- poucos investimentos e é apropriada para
do fluxo de ar. pequenas e médias câmaras frigoríficas e
Para uma máxima eficiência do equipa- para o transporte em caminhões e contêine-
mento, é importante uma adequada regula- res.
gem do tempo de adsorção e do tempo de A conversão catalítica do etileno é
desorção do CO2 do carvão ativado, a qual é um dos métodos mais utilizados em gran-
feita com uma corrente de ar. des ambientes. O catalisador opera a uma
A eliminação do CO2 com fluxo de temperatura de 240°C e é instalado no
nitrogênio, gerado por PSA ou membrana, centro do equipamento (Fig. 15 e 16).
conhecida como atmosfera controlada di- As porções terminais do catalisador são
nâmica, é outra técnica utilizada em al- constituídas de material inerte que tem
guns países da Europa e nos Estados Uni- uma alta capacidade térmica. O equipa-
dos, para a eliminação do CO2 da câmara. mento funciona com ciclos alternados de
No Brasil, porém, em virtude do elevado fluxo de ar. O ciclo tem a duração de
custo de aquisição do equipamento e do 3 minutos. O ar flui num sentido, durante
custo da energia elétrica, praticamente não esse período e, com isso, a parte terminal
é utilizada. Esta técnica de eliminação de do catalisador sofre um aumento de tem-
CO2 apresenta duas vantagens: as câmaras peratura, provocando um aquecimento
com problemas de estanqueidade podem excessivo do ar efluente do equipamento,
ser utilizadas para o armazenamento em que retorna ao ambiente da câmara. En-
AC e, além disso, permite a eliminação tão, é acionado um sistema de inversão de
parcial do etileno. fluxo, que faz fluir o ar da câmara do lado
82 Maçã Pós-colheita Frutas do Brasil, 39

mais quente do equipamento para o lado da câmara, é recomendável a instalação de


mais frio. O ar efluente do catalisador tem um sistema de medição e alarme de vaza-
a temperatura de 6°C a 7°C. O equipa- mento de amônia. Pequenos vazamentos em
mento pode catalisar de 50 a 500 m3/h, câmaras lacradas de AC podem passar des-
dependendo do modelo, com uma efi- percebidos e causar grandes danos às maçãs,
ciência de 92% a 95%, para a concentração que mudam da coloração vermelha para
azul, além de apresentarem escurecimento
de 1 ppm de etileno. A desvantagem dessa
de tecido. Recomenda-se utilizar um detec-
técnica é o alto custo do equipamento.
tor com sensibilidade de 10 ppm.

Controle automático
das camadas de
atmosfera controlada

Para o sucesso do armazenamento


em AC, é fundamental dispor de um ade-
quado e eficiente equipamento de medi-
ção das condições de temperatura e con-
centração de gases (O2, CO2) dentro da
câmara. A correção das condições pode
Fig. 15. Princípio de funcionamento da conversão catalítica ser feita de forma manual, semi-automáti-
de etileno (Swing Therm BS). ca, com o uso de temporizadores (timer), e
Fonte: Fruit Control
de forma totalmente automática.
Um sistema automático computado-
rizado é capaz de processar os dados cole-
tados dos analisadores de gases e sensores
eletrônicos de temperatura, e executar ta-
refas para manter as condições ambien-
tais, conforme as condições previamente
fornecidas ao computador para cada câ-
mara. O sistema de controle automático,
por meio de circuitos elétricos, aciona
compressores e forçadores de ar, quando a
temperatura da câmara se eleva acima da
temperatura programada. Da mesma for-
ma, aciona válvulas solenóides e o adsor-
vedor de CO2 para baixar o nível desse gás
na câmara e aciona forçadores de ar ou
bombas para injeção de ar na câmara,
quando o nível de O2 está abaixo do pré-
estabelecido. Em caso de elevação do
nível do O2, por falta de estanqueidade, o
sistema pode ainda injetar N2 na câmara.
Fig. 16. Conversor catalítico de etileno da Além de gerar arquivos de dados com a
empresa Fruit Control. elaboração de gráficos da evolução das
Fonte: Fruit Control condições de cada câmara (temperatura,
CO2 e O2), os sistemas de controle mais
Detector de amônia modernos ainda permitem, via fax-modem
e rede telefônica, o acesso ao sistema de
Para câmaras de AC que usam a evapo- qualquer lugar do planeta. Muitos desses
ração direta da amônia no evaporador dentro equipamentos já estão em funcionamento
Frutas do Brasil, 39 Maçã Pós-colheita 83

no Brasil, o que demonstra a modernidade de diversas correções durante o dia e, além


das câmaras de AC instaladas no País. O disso, é difícil precisar a concentração dese-
número de câmaras controladas por um jada dos gases usando o controle manual.
equipamento varia conforme a necessida-
de da empresa, podendo chegar a MANEJO DA CÂMARA DE
50 câmaras ou mais. Os equipamentos em ATMOSFERA CONTROLADA
funcionamento no Brasil são de procedên-
cia italiana (Agri-Datalog, Isolcell) e ale- Teste de estanqueidade
mã (Kronenberger) (Fig. 17) e de produ-
ção nacional da empresa Climasul. Tendo em vista que uma câmara fri-
No armazenamento de maçãs em con- gorífica de AC fica exposta permanente-
dições de ultrabaixo oxigênio (ULO), é qua- mente à pressão e à depressão, em virtude
se imprescindível um sistema automático da expansão e da contração dos gases,
para o controle dos gases. Como, nesse caso, como conseqüência do acionamento e da
a concentração de O2 não pode baixar muito interrupção da refrigeração, as paredes e o
além do valor estabelecido, há necessidade teto da câmara movimentam-se, o que, ao

A B

Fig. 17. Equipamentos eletrônicos para controle automático de câmaras de atmosfera


controlada das empresas Isolcell (A) e Kronenberger (B).
Fonte: Climasul e Isocell.
84 Maçã Pós-colheita Frutas do Brasil, 39

longo do tempo, afeta a sua estanqueida- câmara tem condições de ser usada com
de. Por isso, é recomendável, a cada início concentrações ultrabaixas de O2 (1%).
de um período de armazenamento, realizar Outro método baseia-se nas curvas da
um teste de estanqueidade. Nesse teste, a Fig. 19, em que a câmara é exposta a uma
porta e a janela da câmara devem ser bem pressão inicial de 25 mm CA, durante
vedadas, e todas as saídas da câmara de- 30 minutos. Se a pressão baixar somente
vem ser fechadas, não se esquecendo de até 15 mm CA nesse período, significa que
fechar o dreno do evaporador, o sifão podem ser usadas condições de ultrabaixo
equalizador de pressão e a tubulação que O2. Se baixar até 8 mm de CA, então serve
liga ao “pulmão”, caso a câmara disponha para baixas concentrações de O2 (1,5%), e
desse acessório. Em seguida, a câmara é se baixar para 0,5 mm CA, serve apenas
submetida a uma pressão de 12 a 15 mm de para AC convencional. Durante o teste de
coluna de água (Fig. 18). Deve-se ter o estanqueidade, a refrigeração deve perma-
cuidado de não elevar demais a pressão, necer desligada.
porque pressões acima de 25 a 30 mm de
coluna de água (CA) podem causar danos
à estrutura da câmara. A tolerância a mai-
ores ou menores pressões depende da ida-
de da câmara e do tipo de encaixe dos
painéis. Pressões ou depressões excessiva-
mente altas provocam estalos freqüentes e
fortes dos painéis durante a injeção de ar.
Foto: L. Couto

Fig. 19. Teste de estanqueidade para


câmara de atmosfera controlada (Isocell).

Fig.18. Vacuômetro. Para identificar o local de vazamento


da câmara, o método mais simples e práti-
Essa pressão pode ser obtida por um co requer a cooperação de uma pessoa,
simples compressor de ar ou forçador de ar que ficará dentro da câmara hermética e
apropriado, ou, ainda, pelos forçadores do submetida a uma pequena depressão, com
adsorvedor de CO2. Depois de atingida a o auxílio de uma bomba. Dependendo da
pressão, deve-se suspender a injeção de ar intensidade do vazamento, a pessoa pode-
e acompanhar a perda de pressão. Existem rá ouvir o assobio do ar entrando. Se o
diferentes métodos para avaliar a perda de vazamento, porém, for pequeno, necessi-
pressão ao longo do tempo. Geralmente, ta-se percorrer as emendas dos painéis
cada empresa construtora de câmaras de com uma vela acesa. No local do vaza-
AC tem seu próprio método. Um dos mé- mento, a inclinação da chama da vela
todos utilizados é o seguinte: a câmara é indicará o local de entrada de ar. Outra
pressurizada a 12 mm de coluna de água alternativa é a aplicação de espuma de
(CA); espera-se até a pressão estabilizar sabão sobre as emendas dos painéis, onde
em 10 mm CA, quando então começa a se suspeita haver entrada de ar.
contagem do tempo. Se, em 20 minutos, a A ocorrência de vazamentos é mais
pressão ainda for superior a 6 mm CA, essa provável na porta, no marco da porta, na
Frutas do Brasil, 39 Maçã Pós-colheita 85

janela, na emenda do piso com os painéis até a parede. Se a distância entre a parede
das paredes laterais, na emenda dos pai- e a pilha de bins for de 10 cm o volume de
néis da parede e do teto e junto a tubula- ar circulado por dentro das pilhas será de
ções do líquido refrigerante, da água para 16% do total. No entanto, se o espaço
umidificação e saída para o adsorvedor de aumentar para 25 cm, a circulação de ar se
CO2. A porta e a janela geralmente são os reduzirá para 8%. Também deve ser man-
locais onde ocorrem, com mais freqüên- tida, no mínimo, uma distância de
cia, vazamentos. Normalmente, a borra- 50 cm entre o último bin e o teto da câmara,
cha de vedação da porta e da janela não dá para permitir que a corrente de ar gerada
uma vedação suficiente, sendo necessário pelos forçadores do evaporador atinja o
o uso de vaselina em pasta. Deve ser fundo da câmara, promovendo uma
alertado que uma avaria ou a falta de homogeneização a temperatura e a con-
lubrificação da válvula equalizadora de centração de gases.
pressão também pode ser a origem da
entrada de ar. Também podem ocorrer Colocação de cal
avarias em válvulas solenóides que conec-
tam a câmara com o sistema de adsorção Para se obter maior eficiência da cal,
de CO2 ou injeção de nitrogênio, provo- ela deve ser colocada sobre estrados ou
cando entrada de ar ou depressão na câma- dentro de bins, de forma que a quase tota-
ra. Se houver uma depressão, é compensa- lidade da superfície externa das embala-
da pela válvula compensadora de pressão, gens comerciais de 20 Kg, fique exposta à
que deixa entrar muito ar (O2) na câmara. atmosfera da câmara. No caso de empilha-
Além do uso de um “pulmão”, outra medi- mento dos sacos em forma de palete, de-
da que pode atenuar a variação de pressão vem ser colocados separadores (sarrafos,
e a conseqüente entrada de ar, é a interli- taquara) entre os sacos, para melhorar a
gação de câmaras com a mesma concen- ventilação. Deixando-se a cal empilhada
tração de gases, localizadas próximas. sobre o palete conforme vem de fábrica,
Quando uma câmara está sob refrigeração sem espaçadores, o aproveitamento é infe-
(depressão), as outras poderão estar no rior a 50%. Também não deve ser adquiri-
intervalo da refrigeração ou em degelo (sob da cal acondicionada em sacos de polieti-
pressão), permitindo, assim, um fluxo cons- leno.
tante de gases de uma câmara para outra. Quanto à posição mais adequada de
Em períodos de variações bruscas da colocação da cal dentro da câmara, exis-
pressão atmosférica, em virtude de ocor- tem duas alternativas. Acondicionamento
rência de temporais, pode ocorrer uma dos sacos dentro de bins empilhados junto
entrada de oxigênio acima do normal, à porta e empilhamento de sacos sobre
mesmo em câmaras com vedação adequada. estrados colocados sobre a última camada
de bins, no fundo da câmara (lado oposto
Empilhamento do evaporador). A colocação da cal junto
à porta tem a vantagem de permitir a troca
No empilhamento de bins ou caixas, em caso de saturação antes do momento
suas aberturas laterais devem ser orienta- desejado, embora a atmosfera, nessa ope-
das, de modo que a corrente de ar, gerada ração, seja parcialmente desfeita.
pelos forçadores do evaporador, seja for- A colocação da cal em cima dos bins permi-
çada a ultrapassar as embalagens para reti- te um melhor aproveitamento da câmara e
rada do calor e homogeneização da con- uma melhor ventilação da cal, porém deve
centração dos gases em torno do produto. ser dada atenção para a possibilidade de
No carregamento da câmara também molhamento da cal pelos bicos de umidifi-
deve ser respeitada uma distância dos bins cação da câmara. O molhamento da cal
86 Maçã Pós-colheita Frutas do Brasil, 39

reduz a sua eficiência para menos de 50%. brana separadora, dependendo da capaci-
Uma cobertura com lona plástica pode dade do equipamento, o tempo geralmen-
evitar o problema, mas deve ser mantida te é maior.
uma boa ventilação por baixo da lona. Se A instalação da atmosfera consiste na
a concentração de CO2 se elevar, o que varredura da câmara com um fluxo de
ocorre no final do período de armazena- nitrogênio que arrasta consigo o oxigênio
mento, pode-se aumentar o tempo de aci- da câmara. Outrora, antes do desenvolvi-
onamento dos forçadores de ar, para me- mento dos queimadores de O2 com uso de
lhorar a absorção de CO2. propano, não era feita a instalação da
atmosfera em câmaras de AC, e o O2 da
Instalação da atmosfera câmara era consumido pela respiração das
maçãs. Atualmente, esse método ainda é
O momento adequado de instalação bastante praticado na Inglaterra, nas culti-
da atmosfera na câmara varia conforme a vares Cox Orange e Bramley, que têm uma
cultivar de maçã. De modo geral, quanto alta taxa respiratória. Em 7 a 10 dias,
mais rápido o resfriamento da fruta e a baixam o O2 ao nível desejado. No caso
instalação da atmosfera, melhor será a das cultivares brasileiras Gala e Fuji, pro-
conservação das maçãs. O tempo de carre- vavelmente, será necessário um período
gamento e resfriamento de uma câmara de 2 a 3 semanas, dependendo do estado
depende do tamanho da câmara e da capa- de maturação e temperatura da câmara.
cidade de geração de frio. Uma vez resfri- Nesse período, no entanto, ocorre um
ado, pelo menos parcialmente, pode-se amadurecimento mais acelerado e uma
iniciar a instalação da atmosfera. Geral- conseqüente perda da qualidade, e redu-
mente, o tempo necessário do início do ção do período de armazenamento das
carregamento até o início da instalação da frutas.
atmosfera varia de 4 a 10 dias. O tempo No Brasil, a instalação da atmosfera é
necessário para a instalação depende do feita quase exclusivamente com nitrogê-
fluxo de nitrogênio que é injetado na câ- nio líquido, produzido por plantas indus-
mara, conforme pode ser visto na triais, que utilizam o processo de destila-
Fig. 20. Esse fluxo, por sua vez, depende ção criogênica. O nitrogênio é transporta-
da origem do nitrogênio. Se proveniente do em caminhões-tanque, com isolamento
de um depósito de N2 líquido, a instalação térmico até o local de utilização, podendo
pode ser concluída em menos de 5 horas. ou não ser armazenado em tanques térmi-
No entanto, se o nitrogênio for gerado por cos. Para sua transformação, em forma
uma peneira molecular (PSA) ou pela mem- gasosa, o nitrogênio é aquecido numa ser-
pentina (Fig. 9) e, posteriormente,
introduzido na câmara de atmosfera con-
trolada. Para que não se eleve a pressão da
câmara durante a injeção de nitrogênio, é
necessário abrir um orifício (janela, porta)
no lado oposto de injeção na câmara, para
que o fluxo atravesse toda a câmara, arras-
tando consigo o O2. São necessários aproxi-
madamente 1800 m3 para a varredura de
uma câmara de 500 t. de frutas, para diluir o
O2 até o nível de 5% a 6%. Ou seja, é
necessário 1,2 m3 de nitrogênio por metro
Fig. 20. Tempo para instalação da atmosfera em função do cúbico de câmara - 1 m3 de nitrogênio gasoso
fluxo de nitrogênio (Bishop, 1996). corresponde a 1,6 L de nitrogênio líquido.
Frutas do Brasil, 39 Maçã Pós-colheita 87

A redução do O2 remanescente, até os níveis 0,3 m/s na superfície dos bins. A ventila-
desejados de 1% a 2%, ocorre em alguns ção deve ser suficiente para uniformar a
dias, graças ao processo respiratório das temperatura e a concentração dos gases.
frutas. Com deficiente ventilação, forma-se um
Durante a instalação da atmosfera gradiente de temperatura na câmara, pois
recomendada-se um umedecimento mais o ar frio desce e o ar quente sobe.
intenso da câmara, tendo em vista que o Um gradiente de 0,1oC/m de altura pode
nitrogênio injetado tem uma umidade rela-
ser tolerado. Uma ventilação excessiva
tiva abaixo de 5%, o que aumenta a desi-
causa desidratação das frutas, além de
dratação das maçãs. Além disso, deve ser
considerado que, em muitos casos, a insta- aumentar o consumo de energia.
lação da atmosfera é feita quando as frutas
ainda não foram totalmente resfriadas, o Umidificação da câmara
que significa que a perda de calor intensi-
fica a transpiração. A umidificação é uma prática quase
Nos EUA e na Europa, o nitrogênio, indispensável na maioria das câmaras fri-
em grande parte, é produzido por gerado- goríficas de AC. Tendo em vista que, em
res de peneira moleculares (PSA) e mem- câmaras de AC, o acesso de pessoas é
branas separadoras instalados nas empre- bastante restrito, em virtude do risco que
sas de maçãs. No Brasil, essa técnica, por representa à vida e da necessidade de uso
exigir maior investimento, ainda não teve de máscaras com ar comprimido ou oxigê-
boa aceitação. nio, deve-se instalar um sistema de umifi-
Com relação ao momento adequado cação que não seja suscetível ao entupi-
para iniciar a instalação da atmosfera, exis- mento dos bicos e ao congelamento da
tem opiniões conflitantes. Alguns autores água em dutos e bicos. Com o uso de água
consideram que a maçã deve estar total- dura, com alto de teor de cálcio, corre-se o
mente resfriada para se iniciar a elimina- risco de um freqüente entupimento dos
ção do O2 da câmara. Afirmam que a bicos, necessitando-se assim proceder à
restrição de O2 em frutas com temperatura descalcificação da água. Para evitar o con-
mais elevada poderá causar respiração gelamento da água na tubulação, pode-se
anaeróbica, com produção de etanol e drená-la da tubulação, com o auxílio de
aldeído acético, que poderão causar dano. uma válvula solenóide de três vias, após a
Em maçã da cultivar ‘Gala’, a instalação conclusão de cada nebulização.
da atmosfera com uma temperatura de Para a umidificação, podem ser usados
12oC não causou degenerescência e con- diversos métodos, como a geração de vapor
trolou parcialmente as podridões, confor- com aquecimento de água, bicos de aspersão
me resultados de pesquisa da UFSM. sob alta pressão, bicos com lâminas rotativas
Quanto mais rápida a redução da con- centrífugas e bicos de aspersão de água e ar
centração de O2, menor será a atividade
comprimidos. O vapor de água é o método
respiratória das frutas e, conseqüente-men-
mais eficiente, porém o mais caro. Por
te, maior o período de conservação. Con-
motivos econômicos e práticos, a aspersão
forme estudos feitos com as cultivares
de água sob alta pressão é o método mais
Gala e Fuji, a instalação rápida da atmos-
utilizado. A utilização de uma corrente de ar
fera num período de 1 hora não causa
comprimido, misturada à água, diminui o
danos às frutas.
tamanho da gota e reduz sua precipitação.
Importante, nesse método, é a necessidade
Movimentação da utilização do gás da própria câmara para
da atmosfera aspersão da água, pois o uso de ar externo
pode elevar demasiadamente a concentra-
Em câmaras de AC recomenda-se ção de O2, principalmente quando se traba-
uma velocidade de circulação de 0,1 a lha com concentrações ultrabaixas de O2.
88 Maçã Pós-colheita Frutas do Brasil, 39

Degelo vezes é dificultada, quando ocorrem gran-


des oscilações de temperatura no interior
O degelo do evaporador, que pode ser da câmara, que provocam oscilações de
controlado manual ou automaticamente, pressão, que, por sua vez, causam a entra-
deve ser feito uma ou mais vezes, durante o da de ar na câmara. Em razão dos interva-
dia. O número de degelos varia conforme los de refrigeração de câmaras, que são
o tipo de evaporador, a temperatura da controlados pelo sistema automático de
câmara, a temperatura externa, a espessu- controle da temperatura, ocorre, para uma
ra do material isolante da parede, a umida- variação de 1oC, uma oscilação de 32 Pa
de relativa da câmara e o diferencial de (33 mm de coluna de água), o que pode
temperatura entre a evaporação do líquido afetar a estrutura das paredes da câmara,
refrigerante (amônia, R-22) e a temperatu- principalmente quando a válvula equali-
ra da câmara (∆T). Quanto mais freqüen- zadora de pressão não funcionar adequa-
tes forem os degelos, maior será o número damente.
de períodos em que a câmara estará sob Para evitar grandes oscilações de tem-
pressão e, conseqüentemente, maior será a peratura, recomenda-se usar termostatos
entrada de ar quando a refrigeração voltar eletrônicos de precisão, que permitam uma
a funcionar após o degelo. Por isso, o regulagem de uma pequena histerese (dife-
degelo em câmara de AC deve ser feito rença entre a temperatura de ligar e a de
somente quando necessário. Degelos mui- desligar a refrigeração). Quanto menor his-
to freqüentes podem indicar grande perda terese da temperatura, menores serão as
de água por transpiração das frutas e, por oscilações de pressão da câmara, porém
isso, deve ser feita uma análise dos fatores haverá partidas mais freqüentes dos força-
acima citados, para se encontrar a causa do dores do evaporador, o que compromete
excesso de condensação de água no eva- a sua vida útil e causa um maior consumo
porador. de energia elétrica. Uma histerese de
Durante a realização do degelo, os +-0,2oC deve ser a meta para uma câmara
forçadores da câmara deverão ficar desli- de AC. Quando uma câmara não tem pro-
gados. Normalmente, o esquema elétrico blema de estanqueidade e, principalmen-
da câmara já prevê o bloqueio automático te, quando é utilizada uma concentração
dos forçadores durante o degelo. O funci- maior de O2, uma histerese maior que
onamento dos forçadores transferirá o ca- 0,2°C pode ser recomendada, em virtude
lor usado para provocar o degelo do eva- da economia de energia elétrica.
porador para o ar da câmara, que sofrerá Também deve ser considerado que
uma rápida expansão, geralmente superior grandes oscilações de temperatura causam
à capacidade de saída pela válvula equali- oscilações de umidade relativa, o que po-
zadora de pressão, e para o “pulmão”, o derá trazer perdas por transpiração das
que poderá causar o rompimento das pare- frutas. Câmaras de AC de grande porte,
des ou do teto da câmara. Por isso, é que possuem controle da temperatura e
aconselhável que a câmara disponha de concentrações automatizadas, geralmente
um bloqueio, via circuito elétrico, do acio- dispõem de diversos sensores de tempera-
namento manual dos forçadores de ar do tura. Isso permite que o sistema detecte a
evaporador durante o degelo. formação de um gradiente de temperatura,
acionando apenas os forçadores de ar, sem
Controle da temperatura acionar a refrigeração, para uniformizar a
temperatura da câmara. Essa movimenta-
Em câmaras de AC que não apresen- ção de ar também é importante para uni-
tam uma estanqueidade adequada, a utili- formizar a umidade relativa e a concentra-
zação de baixas concentrações de O2 às ção de gases, especialmente o CO2, que é
Frutas do Brasil, 39 Maçã Pós-colheita 89

mais pesado que o nitrogênio e o oxigênio ras. Facilmente podem ser cometidos erros
e que, por isso, pode-se acumular mais por conta de falhas no sistema de leitura.
próximo do piso quando, no período de As falhas mais freqüentes são as seguintes.
inverno em regiões muito frias, a refrigera- Falta de aferição dos analisadores:
ção é pouco acionada. é recomendável uma aferição dos analisa-
dores a cada semana ou a cada momento
Monitoramento e controle que se verificar uma mudança brusca na
da concentração de gases concentração de gases em todas as câma-
ras. Para aferição deve-se usar um gás
Medição de gases padrão com uma concentração de O2 entre
2% e 3% e entre 4% e 5% de CO2. Para se
Em virtude da respiração constante proceder à aferição dos analisadores, inje-
das frutas na câmara, o O2 é consumido e ta-se primeiro nitrogênio puro e regula-se
o CO2 é produzido, havendo conseqüente- o valor zero dos dois analisadores. No
mente uma alteração dos níveis pré-esta- analisador de CO2 o valor zero também
belecidos e considerados adequados para pode ser obtido com a passagem de ar pelo
cada produto. Para se manter constante a aparelho. Depois, injeta-se o gás padrão e
concentração dos gases, necessita-se uma afere-se novamente o analisador. É muito
a duas análises diárias da concentração do importante que durante a aferição o fluxo
O2 e do CO2, com o auxílio de analisadores de gás e a pressão interna dos analisadores
(ver Analisadores de gases), por meio dos sejam iguais àqueles que o analisador apre-
quais é conduzida uma amostra do gás de senta durante a leitura das câmaras. Mui-
cada câmara de AC. tos analisadores alteram o valor da leitura
Esta amostra de gás deve ser limpa e conforme a variação de fluxo e a pressão
livre de gotículas de água e óleo, bem de entrada dos gases.
como ser representativa da atmosfera da Mangueiras de gases não-veda-
câmara. Para evitar danos aos analisado- das: as mangueiras de plástico, principal-
res, a amostra de gás deve passar por um mente de materiais mais rígidos, tornam-
filtro, antes de entrar nos equipamentos. se quebradiças e porosas com o passar do
Na entrada da tubulação, dentro da câma-
tempo, permitindo a entrada de ar na tubu-
ra, é conveniente colocar um filtro para
lação que liga a câmara aos analisa-dores.
evitar a entrada de insetos ou sujeira. Po-
Conexões mal vedadas também podem ter
rém, quando se trabalha com temperaturas
entrada de ar. Se houver variação do valor
abaixo de 0oC, não é aconselhável colocar
esse filtro, porque a água de condensação, de leitura do O2, quando a câmara passa de
que pode retornar da mangueira para den- uma situação de pressão para depressão ou
tro da câmara, pode congelar, bloqueando vice-versa, significa que pode estar haven-
o filtro. A tubulação para os gases deve ter do entrada de ar na tubulação.
um diâmetro de 6 mm para evitar obstru- Pouco tempo de bombeamento da
ção por água, que pode condensar, princi- amostra de gás da câmara: dependendo
palmente no inverno em locais muito frios. da distância do analisador à câmara, do
diâmetro da tubulação e da vazão da bom-
Para evitar acúmulo de água nas manguei- ba de sucção, necessita-se de 1 a 5 minutos
ras, pode-se colocar os analisadores num até o valor da leitura estabilizar.
lugar mais elevado e as mangueiras com Fortes variações da voltagem
declive dos analisadores de câmaras. da corrente elétrica que alimenta os ana-
Para um adequado manejo das con- lisadores: dependendo do princípio de fun-
centrações dos gases, é primordial uma leitu- cionamento e do fabricante, a variação da
ra precisa de suas concentrações nas câma- voltagem pode interferir na leitura dos gases.
90 Maçã Pós-colheita Frutas do Brasil, 39

Fechamento deficiente de uma câmara de AC, é fundamental evitar gran-


válvula solenóide: quando é usado um des variações de pressão interna, o que
controle automatizado da concentração pode ser conseguido com uma temperatu-
de gases, o não-fechamento perfeito de ra bastante constante do ar. Para isso, é
uma válvula solenóide de uma câmara fará necessário que o termostato da câmara
com que um fluxo de gases dessa câmara se seja de alta sensibilidade, tendo uma histe-
misture com o fluxo proveniente das de- rese máxima de 0,5°C. Uma câmara com
mais câmaras, mascarando assim o valor 100 t de maçãs necessita 1 m3/h de ar, o
da leitura de O2 e CO2. Por isso, é impor- que corresponde a 0,3% do volume da
tante fazer periodicamente uma leitura da câmara vazia por hora.
concentração de O2 com um analisador Em virtude da respiração das frutas,
portátil junto à porta ou à janela de cada há uma contínua modificação da concen-
câmara. tração de O2 e CO2 na câmara. Quando o
monitoramento das câmaras é feito manu-
Correção da almente, sugere-se que sejam feitas uma a
concentração dos gases duas medições e correções das concentra-
ções dos gases por dia. Oscilações de +-
Se a concentração de CO2 estiver 0,3% de O2 e de +-0,5% de CO2 são
acima dos níveis desejados, será necessá- admitidas. Ocorrências ocasionais de va-
ria a sua eliminação, que pode ser feita por riações maiores não chegam a prejudicar a
meio de adsorvedores de carvão ativado, qualidade da maçã armazenada; no entan-
pela colocação de cal hidratada dentro da to, deve-se evitar que ocorram freqüente-
câmara, ou, ainda, por um fluxo de nitrogê- mente.
nio, que dilui o CO2 da atmosfera da câma-
ra. Esse nitrogênio pode ser produzido por Monitoramento automático
equipamento PSA ou por uma membrana da atmosfera
separadora de nitrogênio. No Brasil, nor-
malmente é utilizado absorvedor de car- O monitoramento e o controle das
vão ativado e cal hidratada. A redução da concentrações de gases nas câmaras em
concentração de O2 na câmara, que ocorre AC podem ser feitos manualmente ou atra-
em razão do processo respiratório, é com- vés de equipamentos parcial ou totalmen-
pensada com a injeção de ar na câmara, te automatizados. Esses equipamentos
através da abertura de tubulações da câ- podem ser programados para a análise
mara ou via adsorvedor de CO2, ou ainda, contínua, durante as 24 horas do dia, das
através de forçadores de ar. Em câmaras
concentrações de gases (O2 e CO2) e de-
pequenas, a reposição do oxigênio pode
vem realizar automaticamente sua corre-
ser feita manualmente ou com ajuda de
ção. No Brasil, algumas empresas produ-
temporizadores. Em empresas com mui-
tas câmaras, o ajuste do O2 geralmente é toras de maçãs já utilizam o sistema auto-
feito pelo sistema de controle automático, matizado para o monitoramento e o con-
que comanda válvulas solenóides. Se hou- trole dos gases em suas câmaras de AC.
ver aumento de O2, em virtude da falta de
estanqueidade da câmara, será necessária CONDIÇÕES DE
uma nova injeção de nitrogênio, visando à ARMAZENAMENTO
diluição do O2. Esse fato deve ocorrer
excepcionalmente e não se tornar rotina, A condição mais adequada para o arma-
pois a aquisição freqüente do nitrogênio zenamento de uma determinada cultivar de
aumenta os custos do armazenamento. maçã varia conforme o local e o ano de
Para impedir a entrada de oxigênio na produção, o manejo do pomar e o ponto de
Frutas do Brasil, 39 Maçã Pós-colheita 91

maturação na colheita. Na Tabela 1 são senta, em relação a outras cultivares, uma


apresentadas recomendações de condições maior predisposição à desidratação, o que
de armazenamento para as principais cul- está relacionado com a incidência de russe-
tivares de maçã de valor comercial no ting, geralmente presente na maçã brasilei-
Brasil. Verifica-se que as condições de ra. Em virtude disso, deve ser conservada
armazenamento variam de um país para
com U.R. acima de 94%. Essa cultivar
outro. Para as cultivares Golden Deli-
cious, Gala e Fuji, já se dispõe de bastante pode apresentar escurecimento da polpa
informação sobre frutas produzidas no quando armazenada em AC, com tempe-
Brasil, enquanto, para as cultivares Brae- ratura abaixo de 0,5 C.
burn e Pink Lady, as informações são
incipientes. Cultivar Gala

Cultivar Golden Delicious Esta maçã, por conta do seu alto meta-
bolismo, característica de cultivares preco-
Esta cultivar é de fácil conservação, ces, apresenta uma maturação muito rápida
apresentando boa qualidade após 8 a quando não manejada adequadamente após
10 meses de armazenamento em AC. Apre- a colheita. Para manter uma boa qualidade

Tabela 1. Condições de armazenamento de cultivares de maçãs segundo recomendações e resultados


de pesquisa de diferentes países.

Cultivar Temperatu- O2 (kPa) CO2 (kPa) País Fonte


ra
Braeburn 0,5 2–3 1–2 NZ Kupfermann, 1997
1–3 1,5 – 2,5 <0,5 USA Kupfermann, 1997
0 1–2 1–2 CAN Meheriuk, 1998
0–1 1 3 BRA Brackmann & Waclawovsky, 2000
Fuji 1 1 1-3 USA Kupfermann, 1997
0 2-2,5 2 AUS Kupfermann, 1997
-0,5 1,5 <0,5 BRA Brackmann et al., 1998
0,5 1 <0,5 BRA Brackmann et al., 1998
0,5 1,5 <0,5 BRA Brackmann et al., 1999
Gala 0,5 2 2 NZ Kupfermann, 1997
0–2 1-2 1-2 USA Kupfermann, 1997
0,5 1 3 BRA Brackmann & Saquet, 1995
1 1 2-3 BRA Saquet & Brackmann, 1997
0 1 2 BRA Saquet & Brackmann, 1997
Golden Delicious 1 1 3-6 ALE Streif, 1985
0 0,9-1,4 1,3-1,7 CAN Kupfermann, 1997
0,5 0,75-1,0 3 BRA Argenta & Brackmann, 1996
0,5 1 4 BRA Brackmann et al., 1998
1 1,5 4 BRA Oster & Brackmann, 1999
Jonagold 2 1,5 3 POL Skrzynski, 1989
0,8 – 1 1-2 2-3 BEL Kupfermann, 1997
1 1,5 <5 EUA Meheriuk, 1989
0,5 – 2 1,25-2,5 1-3 EUA Meheriuk, 1990
0-1 1 2-3 BRA Brackmann & Lunardi, 1999
Melrose 0-3 2-3 3-5 FRA Kupfermann, 1997
0 3 5 POL Kupfermann, 1997
Royal Gala 0 2 1 AUS Kupfermann, 1997
0-1 1,5-2 1-2 USA Kupfermann, 1997
-0,5 – 0,5 1 2-3 BRA Mello & Brackmann, 1998
Pink Lady 0 1-5 1 AUS Kupfermann, 1997
92 Maçã Pós-colheita Frutas do Brasil, 39

após um prolongado período de armazena- Considerações gerais


mento, é necessário: colheita da fruta na fase
pré-climatérica; rápido resfriamento (<24h); Concentrações de O2 abaixo de 0,5%
instalação rápida da atmosfera (4 a 5 dias) e por até 10 dias geralmente não causam
absorção de etileno. A absorção de etileno danos sensíveis às maçãs. Da mesma for-
poderá, em parte, ser complementada ou ma o aumento de CO2 de até 2% acima da
substituída pela aplicação do Retain (AVG) concentração indicada para uma deter-
no pomar ou do Smart fresh (1-MCP) em minada cultivar de maçã por um período
pós-colheita, tão logo esse produto tenha
de 2 a 4 semanas, geralmente não causa
registro do Ministério da Agricultura, Pecu-
perdas. O efeito nocivo do O2 baixo e CO2
ária e Abastecimento para uso em maçã.
alto sempre tem relação com a temperatu-
O período de armazenamento da maçã
ra de armazenamento, sendo maior em
‘Gala’ pode alcançar 6 a 9 meses em AC,
dependendo das condições de armazena- temperaturas muito baixas. Além disso,
mento e do ponto de colheita. A longevidade esse efeito está relacionado com o mo-
dessa maçã geralmente é limitada pela baixa mento de ocorrência, lembrando que, no
firmeza, pelo amarelecimento, pela ocorrên- início do período de armazenamento, al-
cia de degenerescência senescente da polpa, gumas cultivares são mais sensíveis a con-
pela polpa farinácea, pela rachadura nas centrações extremas de gases e, em alguns
frutas e pelas podridões. casos, maçãs muito maduras ficam sensí-
veis no período final de um armazenamen-
Cultivar Fuji to prolongado.
Deve ser considerado que a aplica-
Esta cultivar, pela sua baixa produção ção de cêras ou envolvimento de maçãs
de etileno e respiração logo após a colheita, em filmes de polietileno ou PVC provo-
não necessita de um armazenamento muito cam acúmulo interno de CO2 e restrição do
apressado. Some-se que o armazenamento O2 no interior da fruta. Se essa fruta for
em AC por curtos períodos (3 a 4 meses) submetida a uma atmosfera controlada,
geralmente não apresenta grande vantagem com as concentrações de gases normal-
sobre a refrigeração convencional. É impor- mente usadas, poderá haver danos decor-
tante, nessa cultivar, manter a concentração
rentes de uma inibição excessiva da respi-
de CO2 abaixo de 0,8%, para evitar a mani-
festação de degenerescência da polpa. A ração.
sensibilidade ao CO2 varia conforme o local Concentração ultra-baixa de O 2
e o ano de produção. Em alguns trabalhos de (0,7%) nos dois meses iniciais de armaze-
pesquisa, verificou-se que, em determinados namento em AC, seguido de armazena-
anos, a maçã tolera concentrações de 2% ou mento em 1,5% de O2 e 0,5% de CO2 a 1oC
mais, enquanto, em outros anos, pode haver aumenta a degenerescência interna, a es-
distúrbios numa concentração de 0,5%. caldadura e a ocorrência de podridões.
Geralmente, frutas de locais mais frios apre- Baixa umidade relativa (92%) em ‘Fuji’
sentam polpa mais compacta e maior dificul- armazenada em AC com 1,5% de O2 e
dade de difusão de CO2, aumentando a sua 0,5% de CO2 diminui a ocorrência de
sensibilidade a esse gás, como é o caso de São
podridões e a degenerescência.
Joaquim, SC.
Como esta cultivar torna-se muito sen-
sível à podridão-de-Penicillium quando ama- AVALIAÇÃO DA QUALIDADE
durece na câmara, é recomendável não usar DA MAÇÃ ARMAZENADA
uma U.R. muito alta, principalmente no final
do período de armazenamento. Essa U.R. O controle periódico da qualidade da
não deveria ultrapassar os 95%. maçã, pela observação visual dos bins e por
Frutas do Brasil, 39 Maçã Pós-colheita 93

análises laboratoriais de amostra de frutas, mente apresenta grandes variações entre


tem por objetivo: repetições e, por isso, muitas vezes não é
• Prognosticar o potencial e a dura- muito confiável. Para uma determinação
ção do período de armazenamento. mais acurada da perda de peso em câmaras
• Avaliar a evolução de problemas de de AC, devem ser usadas amostras de no
qualidade observados no início do arma- mínimo 20 kg.
zenamento, como por exemplo bitter bit ou
danos mecânicos. Características
• Avaliar a reação das frutas às condi- para definir a qualidade
ções de AC a que estão submetidas.
• Verificar o comportamento das di- As características de qualidade que
ferentes cultivares ou lotes em relação às limitam o tempo de armazenamento de
características externas de maturação (cor, maçãs variam conforme a cultivar.
murchamento, podridão). A cultivar Gala normalmente tem o perío-
• Determinação da qualidade interna do de armazenamento limitado pela perda
e externa das frutas através de análises excessiva da firmeza da polpa, pelo ama-
laboratoriais (firmeza, acidez, etc.). relecimento da fruta, pela ocorrência de
polpa farinácea, de bitter pit, de dege-neres-
Coleta da amostra cência da polpa e de podridões.
A cultivar Fuji, no entanto, não sofre
Tendo em vista que o acesso às frutas grande variação da firmeza da polpa, e a
em câmaras de AC é dificultado, é reco- perda de acidez e a ocorrência de degene-
mendável a coleta de amostras de todos ou rescência interna, de escaldadura e de po-
dos principais lotes de maçãs da câmara e dridões são fatores que normalmente limi-
colocá-las em redes de plástico, que de- tam o seu período de conservação.
vem ser acondicionadas num bin próximo
a uma janela da câmara. Essas amostras ABERTURA DAS CÂMARAS
devem ser cobertas por outras frutas, para
não ficarem muito expostas à corrente de A abertura das câmaras de AC geral-
ar, pois, assim, sofrerão uma desidratação mente é estabelecida de acordo com a
maior e não representarão os lotes que lhe demanda e o preço da maçã no mercado.
deram origem. Os critérios para a seleção de uma câmara
O número de frutas por amostra para se proceder à abertura também devem
varia conforme o parâmetro a ser avaliado. levar em consideração a qualidade da maçã,
Para características físico-químicas, como sempre deixando as câmaras com as frutas
firmeza de polpa, cor, acidez e sólidos menos maduras ou com menos distúrbios
solúveis, amostras de 10 a 20 frutas são fisiológicos ou podridões por último.
suficientes. Porém, para determinação de Os critérios, em ordem decrescente de im-
distúrbios fisiológicos (bitter bit, dege-ne- portância, para a abertura de uma câmara
rescência, escaldadura) e de podridões, são:
devem ser tomadas amostras de, no míni-
• Ocorrência de podridões (de 2% até
mo, 50 frutas. Quando ocorre alta fre-
o máximo 5%).
qüência de algum distúrbio ou podridão,
• Ocorrência de distúrbios fisiológi-
deve-se coletar mais amostras, ou, até
cos (de 5% até o máximo de10%).
mesmo com o auxílio de máscara de oxigê-
nio, coletar amostras do lote original. A • Aumento da perda de peso (no má-
pesagem das amostras de frutas no início ximo 5% e frutas visivelmente murchas).
do armazenamento e no momento da reti- • Evolução da maturação, avaliada
rada permite obter alguma informação so- pela perda de firmeza (11 lb para a ‘Gala’)
bre a perda de peso, mas tal valor geral- e da acidez (4 meq/100 ml para a cv. Gala
94 Maçã Pós-colheita Frutas do Brasil, 39

e 3,5 meq./100 ml para cv. Fuji). Esses pré-colheita, como adubação, controle fi-
parâmetros podem variar um pouco de um tossanitário, poda, porta-enxerto e ponto
ano para outro, conforme as condições de colheita, sobre o comportamento da
climáticas. A firmeza da polpa não é um qualidade da maçã em pós-colheita.
bom parâmetro para medir o grau de matu-
ração da maçã ‘Fuji’. SEGURANÇA NO MANEJO
Antes de iniciar a remoção das maçãs DE CÂMARAS DE
da câmara de AC, essa deve ser aberta com
antecedência, para permitir uma boa ven-
ATMOSFERA CONTROLADA
tilação, e assim evitar a intoxicação do
pessoal que trabalha na retirada das frutas. Tendo em vista o alto risco de vida,
Dependendo do potencial de renovação uma pessoa nunca deve entrar sozinha em
de ar, pode-se entrar na câmara em poucas uma câmara de AC nem abri-la ou inclinar-
horas. Pode-se medir a concentração dos se para dentro dela, pois a falta de O2 e a
gases com os analisadores ou fazer um alta concentração de CO2 causam tontura
teste com uma vela acesa. Se ela apagar em poucos segundos e morte em poucos
dentro da câmara, é porque a concentra- minutos. Também não se deve freqüentar
ção de oxigênio está muito baixa e neces- ambientes com concentração inferior a
sita de mais renovação de ar. Para se 18% de O2. Em concentrações de O2 abai-
manter o efeito da AC sobre o processo de xo de 6% a pessoa perde a memória em 30
amadurecimento após a abertura da a 45 segundos, bem como a capacidade de
câmara, pode-se reduzir a temperatura da se movimentar. Além disso, uma pessoa
câmara mais 0,5°C a 1°C, durante o perío- não tolera concentrações superiores a 1,5%
do de descarga, evitando-se sempre o au- CO2 por mais de 15 minutos. Para entrar
mento da temperatura, que também au- numa câmara de AC, o operador necessita
menta a desidratação da maçã, principal- de uma máscara com suprimento de ar
mente quando o volume de frutas é muito armazenado em cilindros de alta pressão
pequeno em relação à capacidade da câ- ou de um compressor. Esse compressor,
mara. situado fora da câmara, provido de duas
Em cultivares de maçã sensíveis a longas mangueiras, fornece ar para duas
danos mecânicos, durante a seleção e a pessoas, que devem entrar simultanea-
classificação, como a ‘Golden Delicious’, mente numa câmara. Em caso de qualquer
é recomendável o aumento da ventilação e imprevisto, a segunda pessoa tem condi-
uma rápida redução da umidade relativa, ções de salvar a vida da primeira. É neces-
para reduzir um pouco a turgescência da sário que o compressor tenha um depósito
fruta.
de ar que permita que as pessoas saiam da
Para uma avaliação do comporta-
câmara na falta de energia elétrica. Uma
mento da qualidade da maçã armazenada
lanterna a pilha não deve ser esquecida
em AC durante a comercialização, reco-
numa entrada de câmara.
menda-se a exposição de frutas à tempera-
tura ambiente, num período de Também deve ser dada atenção ao
7 dias ou mais. Danos decorrentes de acúmulo de CO2 durante o carregamento
condições inadequadas de AC, às vezes, da câmara, por conta dos gases liberados
só se manifestam durante o período de pelas empilhadeiras movidas a gás propa-
comercialização. A avaliação da qualida- no. A pessoa não deve ficar exposta a 0,5%
de das maçãs na saída da câmara e após a de CO2 por mais de 8 horas. Os sintomas
exposição à temperatura ambiente (25ºC) de excesso de CO2 e falta de oxigênio, que
permite a criação de um arquivo de infor- geralmente se manifestam em câmaras
mações, que, ao longo dos anos, poderá ser comerciais sem boa renovação de ar, são:
útil no diagnóstico do efeito de fatores aceleração da respiração e dos batimentos
Frutas do Brasil, 39 Maçã Pós-colheita 95

cardíacos, dor de cabeça, dificuldade de ar. Conversores catalíticos para o monóxido


movimentação e mal-estar. A empilhadeira a de carbono podem eliminar mais de 90% do
gás também gera o monóxido de carbono que gás produzido pelas empilhadeiras.
é altamente tóxico, causando a morte em Após a instalação da atmosfera, as
uma hora na concentração 0,15%. Por isso, câmaras de AC devem ser fechadas com
é recomendado o uso de empilhadeiras elé- cadeado e devem apresentar uma placa
tricas em câmaras com pouca renovação de bem visível, alertando para o risco de vida.

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