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Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

Departamento de Ciências Musicais

Organologia

Instrumentos Musicais do Barroco ao Classicismo

Cordofones. Aerofones. Idiofones. Membranofones

2017-2018
Panorâmica – da Renascença ao Classicismo

1ª metade ou 3 quartéis do século XVII:


- pouca mudança realizada no instrumentário
Após meados do século XVII:
- mudança profunda no instrumentário, sendo todos os
instrumentos da Renascença alterados naquele período;
- notável a alteração nos instrumentos de sopro, em
morfologia, sonoridade e potencial de execução
Novo período de estabilidade, com poucas mudanças no
instrumentário e poucas mudanças no seu uso
Em finais do século XVIII, nova mudança, com assinaláveis
alterações nos instrumentos de teclado, nas cordas e metais
Marin Mersenne (1588-1648)
Harmonie Universelle (1636-37)
Athanasius Kircher (1601-1680)
Musurgia Universalis (1650)

http://special.lib.gla.a
c.uk/exhibns/month/
nov2002.html
Johann Christoph Weigel (1661-1726),
Musikalisches Theatrum (Nuremberg, c. 1722)
Filippo Bonanni (1658-1723)
Gabinetto armonico (1716)
Aerofones
Sacabuxa (Séc. XVII); Cornetto (Séc. XVII)(Séc. XVIII- progressivo desuso)

Sacabuxa
Inst. de vara, der. tromba da tirarsi

Família das sacabuxas e cornetti (SATBgB)

Cornetto (soprano): (curvo)


Bloco de madeira escavado,
em duas partes, unidas por couro,
c/ bocal hemisférico (pequeno)

Cornetto muto (stille Zink):


bloco único, de bocal cónico

Cornetto recto
Praetorius, Syntagma Musicum
Trompete; Trompa (Séc. XVII)

Trompete (poucas transformações)


Bocal hemisférico
Aumento do âmbito do registo clarino
(12º [fanfarra] 24º [instr. solo])

Jägertrommer [trompete/trompa de caça]

Trompa alpina

[Sistema de roscas e bombas para a


afinação e mudança da tonalidade
das famílias dos metais]

Praetorius, Syntagma Musicum


Musette [Gaita de foles]

Barroco (m. séc XVII-m. séc. XVIII):


Instrumento de aldeões
Hotteterre: musette de cour
dois tubos melódicos com chaves
para os bordões (bloco de madeira ou
marfim com orifícios)
reservatório activado pelo cotovelo

Instrumento construído em diferentes


partes, unidas por juntas:
Adopção deste métier de construção (em fase
anterior ou em simultâneo) à dos demais
instrumentos da família das madeiras
Flauta doce
http://www.youtube.com/watch?v=vQatlvFvGdM

https://www.youtube.com/watch?v=UEgx8La8BNY
Flauta doce
Séc. XVII: Menores mudanças:
Alteração do corpo, para melhoramento da
afinação, em concordância com
temperamento mesotónico
Criação de instrumentos de maior dimensão

De meados do Séc. XVII:


Construção em três ou mais peças,
unidas por juntas
cabeça – embocadura – cilíndrica
corpo cónico – seis orifícios + um de registo
pé cónico – orifício para dedo mínimo
Flûte à neuf trous flûte à bec

Soprano, Treble, Tenor, Bass (c. campânula)


Flauto Piccolo; flauto d’echo;

Construtores: Bressan (Londres); flageolet (madeira ou marfim):


Rottenburgh (Bruxelas); Denner fr.: 4 orifícios+2 registo; ing: 12 orifícios;
(Nuremberga); Hotteterre (Paris) (modelo inglês desenvolvido no séc. XIX)
Flauta travessa
Séc. XVII: Menores mudanças:
Corpo mais estreito
Alteração do corpo, para melhoramento da
afinação, em concordância com
temperamento mesotónico
Construção em buxo, ébano ou marfim

Séc. XVIII:
Novo formato criado em França: construção
em três peças, unidas por juntas
cabeça – embocadura – cilíndrica
corpo cónico – seis orifícios
pé cónico – adição posterior de orifício com
chave: cromática (Eb): Quantz (Eb, D#)

Formato em duas peças: cabeça e corpo


[anéis nas juntas]
Jacques-Martin Hotteterre (1674-1763)
Formato em quatro peças c/ corps de rechange] Principes de la Flute Traversiere ou flute d’Allemagne,
https://www.youtube.com/watch?v=qT8byP8bQ-E de la Flute à Bec ou flute douce, et du Haut-Bois
Flauta travessa

Johann Joachim Quantz (1697-1773)


Versuch einer Anweisung die Flöte traversiere zu spielen
Flauta travessa
As mudanças estilísticas ocorridas desde a segunda metade do século
XVIII, nomeadamente a maior liberdade de modulação/inflexão
harmónica e o uso frequente de cromatismos teve como resultado, bem
como a procura de um som homogéneo no instrumentário:
- Adição de mais chaves para (novos) orifícios:
flauta de quatro chaves: [D#] + F[indicador direito]; G# (mínimo esquerdo); Bb (polegar esquerdo) (meados séc. XVIII)
- Extensão do âmbito: junção de pé mais longo (âmbito grave até C), com duas
chaves abertas: (quando fechadas)C#; C (registo médio) (adop. gen. c.1760-70) flauta de seis chaves
- 1785, Tromlitz: flauta sete chaves (C (pol. esq.), Bb, G#, F, F (longa, ind. esq./dir), D#,Eb (seg. Quantz)
- Adição de + duas chaves (finais séc. XVIII):C agudo, F (longa, para indicador esquerdo/direito [Dülon, 1783])
flauta de oito chaves
- Chaves em estanho (Richard Potter, 1785) e orifícios com bordo de metal
- Aumento do diâmetro no pé (resulta em aumento do volume sonoro)
- Aumento do orifício da embocadura (oval, mais largo) (+ volume sonoro)
- Uso do sistema de rolha movível, na cabeça, para afinação
- Potter, 1785 (rolha movível e junções da cabeça, corpo e pé com linhas assinaladas,
que permitiam ajustar adequadamente a afinação de todo o instrumento)
Flauta travessa

Topo à base (finais séc. XVIII): flauta de 1 chave (Philipps & Co); flauta de 4 chaves (Drouet?); flauta de 6 chaves
(Potter); pé (longo-C) (Potter); flauta de 5 chaves (Milhouse); flauta de 8 chaves (Potter), apud Montagu, 1979: 83
Charamela, Deutsche Schalmei, Hautbois [Waits]
Séc. XVII: Charamela (s. chaves)
Menores mudanças;
Criação de modelos de maior dimensão
Chaves nos modelos maiores

Deutsche Schalmei
Chaves nos modelos maiores
Haka (Amesterdam); Denner (Nuremberga)
Hotteterre (Paris); Bressan (Londres)

Finais do século XVII (Hautbois)


Paris (c. 1670)
Instrumento de corpo cónico, câmpanula mais
estreita, palheta dupla mais longa e mais fina, segura
entre os lábios (som suave) Johann Christoph Denner (1655-1707)
3 chaves (C [aberta], Eb, Eb)
Oboé d’amore
Hautbois (Oboe) [família S; T; antecessor cor anglais], https://www.youtube.com/watch?v=tc4kWmxpZGs
Oboé da caccia
Oboe d’amore [3ª], Oboe da caccia [3ª] [curvo, campânula] http://www.youtube.com/watch?v=YdJr4BfQ1Yw
http://www.youtube.com/watch?v=F3sBCuK1CIQ&feature=PlayList&p=050A3E38840DB9B
6&playnext_from=PL&playnext=1&index=13
Nuremberga
https://www.youtube.com/watch?v=wFhbZzleZEQ
Oboé
Hautbois, Oboé
Séc. XVIII (meados):
Disseminação do modelo francês, de tubo
mais estreito e de palheta longa e estreita
Dispensada a chave (dupla) Eb
Introdução de chaves para cromatismos
reduzida; uso de posições de forquilha até
inícios do século XIX: Oboé de duas chaves
Cor anglais
Tenner hoboy (vox humana) [ENG]:
oboé tenor (5ª inf.), campânula recta, corpo
recto (diferente em sonoridade e timbre)

Desuso dos modelos maiores da família do


oboé – sobretudo o Oboe d’amore e o oboe da
caccia – devido ao sucesso do clarinete
https://www.youtube.com/watch?v=4pK1LJQfg8I
Fagote

https://www.youtube.com/watch?v=ykj
HPZDj9uU
Fagote
Séc. XVII (meados)
Choristfagott [curtal] em diversas peças
Aumento do âmbito do curtal (C–Bb)

Séc. XVIII
Basson
Instrumento em quatro peças;
Palheta, tudel, curva em U,
Seis orifícios, na diagonal
três chaves no tubo maior
Adição de 4ª chave
Double Basson (4ª inferior)
Contrabasson

Construtores: Denner; Stanesby Junior


https://www.youtube.com/watch?v=ykjHPZDj9uU
Fagote

Séc. XVII-1720: fagote de 3 chaves

1720-c.1770: fagote de 4 chaves

c.1770-1º quartel séc. XIX:


Adição de duas chaves:fagote de 6 chaves
[Eb, F# ou E2; F2,Lá3]

Meados séc. XVIII:


- Alterações na câmpanula
- Construção em carvalho

https://www.youtube.com/watch?v=U9RDSKhc7tY
Chalumeau, Clarinete
https://www.youtube.com/watch?v=bYtBQGlQWuw
https://www.youtube.com/watch?v=xfa2I7nvYjY
Chalumeau, Clarinete
Séc. XVII-Séc. XVIII
Chalumeau
Pequena dimensão [flauta doce soprano], com palheta simples
Apto à execução do registo grave, sem uso dos parciais superiores [8ª]

Clarinete
1700: aumento do tamanho e do âmbito do chalumeau
Invenção atribuída a J. C. Denner
Relocalização da chave de registo permitiu a execução no registo agudo
Âmbito clarinete período Barroco (fá2-sol4)
7 orifícios; duplo orifício para o dedo mínimo
Chave(s) [2] para o indicador [lá3; registo]
Chave para o dedo mínimo [mi2-si3]
Adição de orifícios para compensar uso de corpo cilíndrico [tubo fechado]
Aumento do pé e câmpanula (com chave extra no registo grave)
Chalumeau, Clarinete
Séc. XVIII (2ª metade) https://www.youtube.com/watch?v=l3EJqvKhYzY
Clarinete
4ª chave: Ab2-Eb4 ou F#2-C#4 [FR]
Adição de duas chaves (Eb; longa C#, mínimo esquerdo): clarinete 5 chaves
Finais do século XVIII:
Adição de sexta chave: (Cont. europeu: G#3; ENG: trilo Ab-Bb[c. 1790])
Aumento dos orifícios (Stadler, Lotz)
Criação de novos modelos:
Clarinete em Bb (tonalidades c/ bemóis)
Clarinete em C (tonalidade C, F, G)
Clarinete em A (tonalidades c/ sustenidos)
Clarinete em F (agudo)
Clarinette d’amour (Liebefuss) (afinado em G): câmpanula em bolbo
Clarinete em F: basset horn (2ª met. Séc XVIII; inv. atrib. Mayrhofer)
- registo até C (som real F2) (adopção de curvas no tubo)
Clarinete baixo Bb
Trompete
Trompete
Sécs. XVII-XVIII
Construída em afinações diversas:
Principal centro: Nuremberga (Haas)
Invenção (Renascimento) [trp, scbx]:
Aumento do tubo do instrumento e adição
de bombas e roscas de variada dimensão;
fácil adaptação das bombas a um
instrumento de tubo cilíndrico;
[roscas para compensação da afinação]

Barroco: Era do virtuosismo (clarino: 24º h.)


http://www.youtube.com/watch?v
“Flat-trumpet” [tromba da tirarsi] vara sobre =EC1E4_imS0A&feature=related
o ombro, com movimento à retaguarda
Trompete
Séc. XVIII (2ª metade)
Declínio da era virtuosística do “clarino” e consequente restrição da tessitura
Invenções:
c. 1780: M. Wöggel & A. Stein: Inventiontrompette

1777: Stopftrompete (demi-lune FR): adopção da técnica bouché da trompa

1787: William Shaw: trompete com 4 orifícios, para correcção da transposição com rosca

1788, Clagget: “trompete cromática e trompa francesa” : dois instrumentos, afinados à


distância de meio tom, com mecanismo para mudança rápida do bocal para o tubo necessário

c.1770, Nessmann (seg. Kölbel, Amor-Schall): trompete de [4-6] chaves


c. 1793, Anton Weidinger: Organisirte Trompete [para J. F. Riedl]
c. 1810, Haliday (Halary, Schmidt): bugle de chaves [corneta de [5] chaves]
https://www.youtube.com/watch?v=9XkrFxPBLXQ
Trompete

Trompete de chaves

Stopftrompette
Corneta de chaves
Trompa
Sécs XVII-XVIII
Construída em afinações diversas:

Adopção da invenção para o trompete:


Corte no tubo (longo [séc. XVIII: 3,5-4,5m])
do instrumento e adição de bombas e
roscas de variada dimensão; adaptação das
bombas a um instrumento de tubo cónico
Tubo cónico, mais longo, permite a fácil
execução de harmónicos 2-20
Trompa
Trompa
Séc. XVIII (2ª metade)
Mudanças significativas na execução
Anton Hampl [som bouché] (J. W. Stich)
- possibilitou a execução diatónica do registo
entre G2 (harm. 3) a C4 (harm. 16)
- Registo grave: “ficta”

John Werner: Inventions-horn (cor solo FR)


Sistema simplificado de bombas para afinação diversa

F. Kölbel: Amor-Schall (c. 1760)


Trompa de chaves
Trombone (Séc. XVIII)
ATB (S: pouco usado)
- o seu papel havia sido tomado pelo cornetto
ou tromba da tirarsi;
Melhoramentos
Revestimento extra no fim dos tubos
interiores para evitar a perda de ar;
Maior abertura da campânula
Serpentão (Séc. XVIII)
Der. Cornetto
Instrumento de bocal, com orifícios;
Morfologia visa facilitar a execução

Serpent d’église (corpo curvo, sem chaves)

Serpentão com 3-4 chaves, para execução


das notas cromáticas no registo inferior

“Bass Horn” [ou “fagote russo”]


(Frichot, 1790, Londres)
- serpentão em formato de fagote
Serpentão “Bass Horn”

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