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Sd JurisAdvogando

Sandra Mara Dobjenski

CONFLITO APARENTE DE NORMAS

O conflito aparente de normas penais ocorre quando, para um mesmo fato, se


verifica a possibilidade de aplicar (ao menos em tese) mais de uma disposição da lei
penal. Ocorre que um mesmo fato concreto não pode estar enquadrado em várias
figuras típicas, sob pena de se possibilitar uma dupla e indevida punição ao réu (o
vedado bis in idem).
Assim, em tais casos, é necessário decifrar qual será a única norma aplicável à
hipótese fática. E para isso, existe uma série de critérios que orientarão o juiz na
resolução do conflito:
a) Princípio da Especialidade: quando se verifica um conflito entre duas
normas, sendo uma delas geral (genérica) e a outra específica (norma
especial), deve prevalecer a norma específica.
b) Princípio da Subsidiariedade: quando se verifica a impossibilidade de
aplicação de uma norma principal, mais grave, permite-se a aplicação de uma
norma penal menos grave que lhe é subsidiária (a qual funciona, pois, quase
que como uma “norma de reserva”).
c) Princípio da consunção (absorção): quando se verifica o conflito entre uma
conduta mais e outra menos grave, deve prevalecer a mais grave, que acaba
abarcando (englobando) a menos grave.
Súmula 17 STJ - Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade
lesiva, é por este absorvido.
A súmula decorre da aplicação do princípio da consunção, no qual o crime-meio é
absorvido pelo crime-fim. Trata-se de uma das modalidades de solução do chamado
“conflito a parente de normas”. E, apesar dos questionamentos, em especial
quanto à gravidade do crime de falsificação ser maior quando comparada ao
estelionato tendo em vista as penas aplicadas, a súmula continua válida e
aplicável.
Perceba que parcela da doutrina advoga a tese de que somente haveria de se falar
em consunção quando o crime meio se revelar de menor ou igual gravidade em
relação ao crime fim. Do contrário, haveria um concurso material. Atenção! Esse
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Sandra Mara Dobjenski

entendimento não prevalece no STJ, pois em recentes e sucessivas decisões a


Corte admite a aplicação da consunção entre o estelionato (crime fim com pena
abstrata menor) e o uso de documento falso (crime meio com pena abstrata
maior). Nesse ponto, destaca-se o precedente em que se asseverou literalmente
que “conforme o enunciado da Súmula 17 do Superior Tribunal de Justiça, Quando o
falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido.
Se o Tribunal de origem, soberano na análise das provas dos autos, concluiu que,
no caso, o crime de uso de documento falso foi praticado com a finalidade de
possibilitar um único crime de estelionato, bem como que não há indícios de que o
agente tenha utilizado ou pretendia utilizar o documento falso em outras
oportunidades, o exame da pretensão em sentido contrário encontra óbice na
Súmula 7/STJ (AgInt no AREsp 738.842/DF, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA
TURMA, julgado em 13 /12/2016, DJe 19/12/2016)”.

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