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A EPÍSTOLA DE TIAGO -

TRADUÇÃO E COMENTÁRIO

A EPÍSTOLA DE TIAGO
TRADUÇÃO E COMENTÁRIO

W. C. TAYLOR

1942
CASA PUBLICADORA BATISTA
CAIXA 320 – Rio
À Memória de
Minha santa mãe
Crente durante setenta anos
Educadora de minha alma

Num lar um tanto


parecido com aquele
em que Tiago
foi educado na
Escritura e no temor
de
Deus

Dedico, com gratas


recordações, este
meu primeiro
comentário sobre
a
Escritura
ÍNDICE
Prefácio
Nota da Segunda Edição
Cap. I – A Saudação da Epístola
Cap. II – Sobre as Provas e Tentações
Cap. III – Sobre a Palavra de Deus e a Vida
Cap.IV – Imparcialidade e Democracia nos Cultos
Cap. V – A Fé-crença sem obras versus a Fé-confiança fruindo
em obras.
Cap. VI – O domínio da língua
Cap. VII – Das paixões humanas convertei-vos a Deus.
Cap. VIII – A avareza e suas conseqüências
Cap. IV – A paciência na aflição, na injustiça, na doença.
Como usar este livro em aulas.
PREFÁCIO
A primeira edição deste breve comentário foi preparada e
publicada no Recife, em 1926, para aulas noturnas populares no
“Colégio da Bíblia”, em conexão com o Seminário Teológico Batista do
Norte do Brasil. Daí sua forma resumida e simples e as perguntas no
fim do livro. E daí também o fato de não dar as devidas referências a
uma porção de autoridades citadas, sendo que tais livros estavam
completamente fora do alcance de estudantes de aulas noturnas que
não possuíam bibliotecas ou livros em língua estrangeira. Todavia, na
maioria dos casos, menciono o nome do livro citado e o lugar é fácil de
ser verificado por quem quiser consultá-lo. Preparo esta edição no meio
de múltiplas atividades. Portanto consinto que saia o livro para o uso de
classes e estudantes particulares na forma em que já foi abençoado.
W. C. Taylor.

Rio de Janeiro, 26 de março de 1942.

Nota da Segunda Edição


Nestes trechos da Introdução a palavra “convenção” não deve ser
entendida no sentido de haver em Atos 15 a narrativa de uma
organização no primeiro século cristão de espécie alguma senão as
igrejas. No referido livro dos Atos não há nem concílio nem convenção,
nem sínodo, nem coisa semelhante. Uma igreja livre consultava outra
igreja livre por meio de mensageiros. E todos estes consultam os
apóstolos, órgãos da revelação da verdade, sobre a primeira heresia.
O sentido de convenção no trecho citado é de uma reunião geral
de crentes de várias igrejas mas não de uma organização permanente.
Onde houve segunda reunião? Não houve nenhuma. Logo não era
organização geral nem coisa alguma permanente.
Sobre o fato de Tiago ser chamado alhures “pastor” e “bispo” da
Igreja de Jerusalém devemos nos lembrar que era uma igreja muito
grande. Declaradamente havia ali os doze apóstolos e também
presbíteros (Atos 14:23, 20:17,). Cada presbítero era bispo e pastor,
como se vê em Atos 20:17, 28; Tito 1:5,7, 1 Pedro 5:2-4, Filipenses 1:1.
O ministério dos apóstolos seria cada vez mais geral e estendido e
ficariam com menos trabalho local. Os presbíteros seriam também
bispos, como vemos em Filipenses 1:1 mas seriam de menos
experiência do que os apóstolos e os membros da família do Senhor
Jesus.
A assembleia teria um presidente e é esta a posição que cabia a
Tiago, se bem que em algumas ocasiões qualquer presbítero poderia
presidir. Os apóstolos viajavam muito. É natural que Tiago, pois,
presidisse, em geral, as reuniões e, por isso os séculos sucessivos,
acostumados a chamar tais presidentes “o bispo”, assim apelidaram
Tiago. E nós, acostumados a igrejas pequenas, com um só pastor, da
igreja. A igreja de Jerusalém, a primeira e mais vasta de todas as
igrejas, possuía numeroso ministério com tarefa local e deveres de
obreiros itinerantes. Entre os outros pastores, outros presbíteros, outros
bispos – três nomes bíblicos para um ofício bíblico – Tiago era quem
presidia mais as reuniões e gozava de mais estima no local. Foi o
primeiro a ser movido pelo Espírito e escrever uma epístola inspirada.
E sua orientação profética ia longe entre seus admiradores irmãos e
amigos na Dispersão.
PARTE 1
__________

CAPÍTULO 1

A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA EPÍSTOLA


O propósito da Epístola de Tiago é doutrinar a consciência do povo
de Cristo. Seu ensino não é abstrato, não se faz num vácuo, mas
naturalmente torna-se prático quando de modo inteligente se relaciona
com os pensamentos, os problemas, as aspirações coletivas, os
pecados e as controvérsias do nosso ambiente e da atualidade. “A
controvérsia é a mãe da teologia.” O Novo Testamento, e, quanto a isso
grande parte do Velho Testamento também, é o fruto das controvérsias
sucessivas entre Deus e a humanidade depravada e enganada.
Agradou a Deus instruir a raça por seus próprios membros, inspirando
e iluminando suas mentes por seu Espírito Santo, daí resultando a
Bíblia. Esta rica fonte de educação moral e doutrinária mana livremente
para todos; sues princípios são eternos; porém os problemas e as
controvérsias mudam. Satanás tem um vestuário enorme e
variadíssimo e se transforma em anjo de luz, adornado à moda. Seu
interesse supremo é a religião, a religião contrafeita que visa substituir
a graça e a vontade de Deus. De sorte que as controvérsias religiosas
tornam sempre novo rumo; mudam-se os problemas da vida cristã.
Para doutrinar os crentes da atualidade é preciso desassociar os
princípios eternos da Bíblia das controvérsias mortas e esquecidas que
o diabo levantou nos tempos antigos, e aplicar estas verdades eternas
e imutáveis ao século XX, (e XXI) ao ambiente brasileiro, e aos
problemas atuais.
Embora tenha Satanás vestidura eclesiástica, teológica,
sociológica e filosófica que agrada todos os gostos. É sempre o mesmo
diabo. E a despeito do exterior variegado de suas tentações, há
somente duas questões fundamentais que ele levanta em religião. A
primeira é se o homem se salva a si mesmo ou se Deus é o Salvador.
O Evangelho proclama que Deus na pessoa de Seu Filho salva direta e
eternamente a pessoa do pecador que evangelicamente crê. O
embaixador por excelência desta mensagem foi Paulo. Ele proclamou
que a salvação é pela graça, não uma graça encanada por
sacramentos, ou igrejas, ou sacerdócio, ou mérito humano, com um
mediador falível e pecante, em pé junto à torneira para regular a
corrente conforme seus interesses ditarem ou conforme os pagamentos
do penitente, e para embargar quem lhe aprouver. Esse sistema
multiforme não conhece nem compreende a graça de Deus. Antes é
esta qual rio de vida, acessível, livre e abundante, como o irmão Paulo
diz na sua Epístola aos Romanos – graça que é inteiramente grátis.
Para este papel de educador da mente humana na verdade da graça
salvadora e purificadora de Cristo – pois Paulo também creu nas linhas.
“Tu não somente perdoas
Purificas também, ó Jesus.” –
Deus preparou e enviou o apóstolo e doutor dos gentios, e este
escreveu a metade do Novo Testamento.
Porém, o fenômeno mais estranho da história cristã é o eclipse
quase completo da mensagem distinta de Paulo por quinze séculos.
Parece que a geração logo depois do apóstolo perdeu suas ideias
vagarosamente antes de formar-se a coleção dos escritos do Novo
Testamento, e nunca foram descobertas in totum até os tempos
modernos. Lutero, qual Balboa denodado, descobriu para si a
existência deste oceano de vida, mas nunca soube a vasta extensão de
suas águas. Aliás a graça luterana é mais parecida com a dos papas do
que com a graça de Cristo. Porém, o mundo deve muito a Lutero por
descobrir para a multidão este oceano de verdade no qual navegamos
hoje em dia com segurança e conforto. Desde seus dias Paulo é
restaurado ao seu lugar de doutor dos gentios.
Nossa geração de estudantes da Bíblia amanhece com Paulo,
almoça com Paulo, janta com Paulo e quase desconhece os outros
membros do círculo apostólico. É tempo para a descoberta de João e
Tiago. Eles também tem sua contribuição inspirada para a raça
humana. Há outras doutrinas além da justificação pela fé.
Especialmente desde a Guerra, é mister uma Reforma que se baseie
na Epístola de Tiago. O fracasso parcial da Reforma de Lutero foi por
que ele desprezou a mensagem de Tiago, chamando-a “uma epístola
de palha”. A este primeiro bispo da primeira igreja de Cristo coube
salvaguardar a verdade no tocante à segunda grande questão religiosa.
Pergunta-se em todas as religiões: “Pode um homem ser religioso sem
ser moral?” e a resposta é quase sempre afirmativa. Deus pôs Tiago no
caminho dos peregrinos para ser uma voz que proclama: “Não! A
verdadeira religião e a moral verdadeira são inseparáveis”.
Feliz o povo que saiba responder a ambas estas perguntas do
coração humano, e pela fé apostar sua vidas, seu trabalho e seu destino
na certeza de sua resposta. O homem é salvo na graça de Deus em
Cristo, independentemente de igrejas, sacerdotes, sacramentos,
moralidades ou qualquer outra atividade, virtude, esforço ou progresso
humano. E é igualmente certo e indispensável que o homem assim
salvo há de querer ser moral, fatalmente há de procurar saber e fazer a
vontade de Seu Salvador. Pela graça divina e a natureza regenerada
ele é propositadamente santo, e as Escrituras e o ministério foram
dados por Jesus Cristo para instruir e orientar na vontade de Deus
essas consciências renovadas.
E não há paradoxo nisto, para quem conheça sua Bíblia. O homem
não pode ser espiritualmente moral sem ser primeiramente salvo, nem
pode ser salvo, sem experimentar novas energias morais na sua vida.
A ordem e a inseparabilidade destes fatos é a quintessência do
Evangelho comum de Paulo e Tiago. O que é inseparável, porém, na
experiência é capaz de análise lógica e exame abstrato de suas partes
componentes. Paulo faz esta análise; Tiago insiste na unidade e
totalidade da experiência, a união da fé e moral na vida regenerada.
Paulo insiste em que a experiência de salvação é impossível sem a
graça de Deus e a fé do penitente como causa; Tiago insiste em que a
mesma experiência é uma impossibilidade sem a moral cristã como
resultado. Graça; Salvação; Moral – eis a ordem lógica do Novo
Testamento. Porém, na experiência tudo isto está unido e simultâneo
no seu início, progressivo na sua manifestação. “Porque o pecado não
terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da
graça.” (Romanos 6:14). “Todavia o fundamento de Deus fica firme,
tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que
profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade.” (2 Timóteo 2:19).
“Porque não há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore que dê
bom fruto. Porque cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto; pois
não se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam uvas dos
abrolhos. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e
o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da
abundância do seu coração fala a boca. E por que me chamais,
SENHOR, Senhor, e não fazeis o que eu digo?” (Lucas 6:43-46).
As religiões da humanidade se têm flagelado com dogmas parciais
desta verdade. Um procura ser tão somente salvo; outro ficaria
contente se pudesse ser moral. Um deseja acertar com a árvore,
ignorando a doçura do fruto; outro forceja produzir o fruto sem a árvore.
Ambos sonham quimeras. Ambos ficam desiludidos e pessimistas.
Ambos são enganados e enganadores. “Eu sou a verdadeira videira e
meu Pai é o viticultor. Toda a vara em mim que não dá fruto, ele o corta,
e toda a vara que dá fruto ele a limpa para que dê mais abundante. Vós
já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado. Eu sou a videira;
vós sois as varas. Sem mim nada podeis fazer!” Graça, salvação pela
fé, moralidade conseqüente – videira, varas, fruto obrigatório e
inevitável – é o único Evangelho de Cristo, ao qual seguem unidos
Paulo e Tiago.
Os que conheçam bem os princípios evangélicos e tenham a
experiência que professam, sabem e zelam por ambos estes lados do
evangelho. Atualmente, porém, hás muitos cuja crença não é simétrica,
e é o lado de Tiago que está fraco. Multidões estão se convertendo a
Cristo e seu Evangelho. Há nestas novas multidões de crentes, às
vezes, elemento enganado e espúrio, e sempre quase todos são
crianças em Cristo. Para estas crianças espirituais, seu curso primário
na educação da consciência é o Sermão da Montanha e a Epístola de
Tiago, esta o primeiro escrito da biblioteca que chamamos o Novo
Testamento, aquele que a primeira instrução dada por Jesus Cristo aos
novos discípulos. Paulo e Hebreus e o Apocalipse são os cursos
superiores, carne para os maduros, não leite para os recém nascidos.
Restauraremos à Epístola de Tiago sua primazia na educação da
consciência do crente.
Será nosso alvo expor os problemas e a situação dos leitores e do
autor da Epístola, deduzir daí os princípios inspirados da vida cristã, e
aplicar estes princípios aos mesmos problemas, nas formas modernas.
Seguirão primeiramente alguns estudos introdutórios, depois uma
tradução nova acompanhada por uma paráfrase e os melhores
comentários que conhecemos sobre o texto.
Não há nesta obra que agora iniciamos nada de original.
Estudamos a Epístola no original e em muitas versões, lendo-a muitas
e muitas vezes. Depois passamos ao exame minucioso, palavra por
palavra, frase por frase, à luz das definições dos grandes lexicógrafos
e gramáticos. Lemos ainda, com cuidado e amplas notas, os
comentários e livros de introdução e teologia sobre as referências e
assuntos de que o autor trata. E por muitos meses pregamos
constantemente sobre seus versos. Os comentários que publicamos
consistem na nata destas citações, que procuramos por ao alcance dos
estudantes da Bíblia que só conhecem o português. Não pretendemos
embaraçar o leitor apressado com as citações destas autoridades, pois
escrevemos principalmente para estudantes que não tenham à mão as
obras citadas.
CAPITULO II

O CARÁTER DE TIAGO
A Bíblia nunca diz que os seus autores foram inspirados, mas que
as Escrituras são inspiradas, que elas, como a alma humana na
primeira criação, são o “fôlego de Deus”. A experiência de seus autores
foi um crescimento gradual na graça e no conhecimento do Senhor
Jesus como nós outros somos santificados. Os apóstolos não foram
mais infalíveis do que os pastores de hoje, pelo contrário, tinham ideias
mais elementares e menos sistemáticas da verdade do que a nossa
geração. Sua missão foi preservar a sagrada história e a interpretação
de seus fatos que foi dada por Cristo e seu Espírito. Mas eles mesmos
foram homens sujeitos às mesmas paixões que nós. A sistematização
e aplicação destes princípios e verdades é a tarefa de cada geração
para si. Porém Jesus, e o Espírito Santo, naquele século miraculoso,
enquanto os fatos da redenção eram novos e seus historiadores
contemporâneos, enquanto sinais, dons, milagres, línguas, curas,
ressurreições, manifestações do Salvador ressuscitado,
transfigurações e visões eram a ordem do dia, dotou a nova religião de
Novas Escrituras, um Novo Testamento cujo autor é o infalível Espírito
de Deus por intermédio de homens falíveis e imperfeitos. Ele não
transformou arbitrariamente os apóstolos em homens incapazes de
errar, mas superintendeu sua produção da biblioteca da nossa religião,
produzindo uma obra perfeita nos seus ensinos. Criou por meio de suas
experiências e seus processos mentais a Palavra escrita e inspirada,
da mesma maneira que criou no ventre de uma virgem santa, mas não
imaculada, o imaculado Verbo de Deus. A Palavra inspirada e a Palavra
encarnada ambas têm uma origem humana falível. Sua infalibilidade é
a obra direta do Espírito Santo, Criador do universo, do corpo humano
do Salvador, da Igreja e da Bíblia.
Ao nosso ver, este fato é de suma importância e torna-se um
grande estímulo ao estudo da experiência dos autores da Bíblia, porque
esta experiência é o molde das verdades eternas. Do mesmo modo que
o menino Jesus crescia, assim gradualmente a Bíblia crescia na
experiência dos apóstolos por todo aquele século que era o século mais
repleto da revelação na história humana. Contemplai, pois, o caráter de
Tiago. As verdades que Tiago escreveu não são meros vocábulos
ditados a uma máquina: são verdades eternas que nasceram pelas
mesmas dores de parto que deram à luz a experiência cristã deste
irmão de Jesus Cristo. Esta verdade e este experiência são gêmeas,
geradas pelo mesmo Espírito.
O eminente intérprete Schofield insiste na distinção entre os
característicos das Escrituras e de seus autores. Cada qual foi
escolhido por ser adaptado a externar revelações de origem divina que
se tinham encarnado na sua vida cristã. O homem Tiago, diz o dr.
Schofield, “foi austero, legal, cerimonial, ascético”. O dr. A. T. Robertson
o chama de um judeu ao fundo, expoente ideal da norma ética do
cristianismo primitivo. Seus contemporâneos o chamaram “o justo”,
compreendendo no termo não mera moralidade, mas uma
conformidade notável com todo o Velho Testamento.
“Quão nobre é o varão que nos fala nesta Epístola! Paciência
profunda e inquebrantável no sofrimento” Grandeza na penúria! Como
ele deseja a ação! Ação, não palavras, não mera crença morta! (Farrar)
James Moffatt compara a Epístola de Tiago aos grandes canhões
de alto calibre de um vaso de guerra.
“nos 108 versículos se pode contar 54 imperativos. Estes se
encontram ao lado com trechos de profunda simpatia, mas de louvor
não há nenhuma sílaba. O autor tem sido chamado de Jeremias do
Novo Testamento, porém, suas afinidades estão mais com o realismo
obstinado e pungente de um profeta como Amós.”
“É o Sermão na Montanha entre as Epístolas”. É o escrito mais
judaico do Novo Testamento, Mateus, Hebreus, Apocalipse e Judas
todos têm mais do elemento distintivamente cristão. Porém, se
eliminarmos duas ou três passagens que se referem a Cristo, a Epístola
inteira tem lugar no Canon do Velho Testamento. Tão bem quanto cabe
no Novo Testamento., quanto à substância de sua doutrina e conteúdo;
não há menção da encarnação, da ressurreição, do Evangelho, da
vinda do Messias, ou da redenção por Ele. a Epístola se ocupa
principalmente com a vida ativa e pública e esta vida que é
representada é a de um judeu informado com o Espírito de Cristo. João
Batista não foi o último profeta da velha dispensação. O escritor desta
Epístola está na extremidade da linha profética, e é maior do que João
Batista. “Hegésipo nos informa que ele era santo desde o ventre de sua
mãe. Ele não bebeu vinho ou bebida forte, não comeu carne. Somente
a ele foi permitido entrar com os sacerdotes no lugar santo e ali podia
ser encontrado muitas vezes implorando o perdão da iniquidade do seu
povo. Seus joelhos se tornaram duros como os do camelo em
consequência de estarem constantemente dobrados na adoração de
Deus e na súplica pelo perdão do seu povo. Este judeu, fiel na
observação de tudo que os judeus consideravam sagrado, e mais
devoto ao culto no templo do que os mais poderosos entre eles, foi
escolha ótima para cabeça da igreja cristã. O sangue de Davi estava
nas suas veias. Tinha todo o orgulho dos judeus nos privilégios
especiais da raça escolhida. Os judeus o respeitavam e os cristãos o
reverenciavam e nenhum homem na população inteira gozou de tão
grande estima quanto Tiago. Tanto judeus como cristãos comentaram
que imediatamente depois de sua morte trágica Vespasiano sitiou
Jerusalém. A epístola é mais um apelo profético do que uma carta
pessoal.” (D. A. Hayes, in International Bible Encyclopedia)
Disse Rui Barbosa (1849-1923): “Os que buscam vincular a Pedro
a soberania do papa começam esquecendo a primeira manifestação
coletiva da igreja cristã, o concílio de Jerusalém, tipo necessário de
todos os outros, no qual a preponderância na definição do ponto
controvertido coube, não ao apelidado príncipe dos apóstolos, mas a
Tiago, bispo da cidade, irmão do Senhor”.
No meu discurso diante da undécima Convenção Batista Brasileira,
reunida em Vitória, disse: “Naquela primeira Convenção em Jerusalém
a voz que predominou não foi a de nenhum missionário, de Paulo, nem
de Pedro ou João. Quem moveu aquela convenção a uma atividade
decisiva foi Tiago, pastor nativo nazareno, a quem Paulo mesmo
chamou uma coluna do cristianismo primitivo, um nome reverenciado
pelo mundo cristão apostólico.” Esta primazia lhe coube, é escusado
adicionar, não porque Tiago se vestia à moda ou se movia entre os
mensageiros com uma politicagem para seus próprios interesses
egoístas, mas por causa de sua capacidade de dar solução aos
problemas contemporâneos à luz das Escrituras, e por motivo de sua
perseverança em oração e santidade de vida.
O imortal Frederico Robertson assim fala do lugar de Tiago no
desenvolvimento da verdade cristã. “Foi dado a São Paulo proclamar o
Cristianismo como a lei espiritual da liberdade e exibir a fé como o
princípio mais ativo dentro do seio humano. Foi missão de São João
declarar que a qualidade mais profunda no seio da deidade é o amor, e
asseverar que a vida de Deus no homem é o amor. Foi o ofício de São
Tiago afirmar a necessidade imperiosa da retidão moral: seu nome
mesmo o marcou peculiarmente o justo, a integridade foi seu
característico supremo. Um homem singularmente honesto, genuíno,
real! Portanto se quiserdes ler esta Epístola inteira, encontrareis nela,
do princípio ao fim, uma vindicação contínua dos princípios
fundamentais da moral contra as formalidades exteriores da religião”.
Ele protestou contra o espírito de censura que se achava ligado
com as pretensões de sentimentos religiosos. “Se alguém entre vós
cuida ser religioso, e não refreia a sua língua, antes engana o seu
coração, a religião do tal é vã”. Protestou contra o fatalismo
sentimental que levou os pecadores a lançar sobre Deus a culpa de
seus crimes e paixões: “Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito
vem do alto, e desce do Pai das luzes, em quem não há mudança
nem sombra de variação.” Protestou contra o espírito que entrara de
soslaio na irmandade cristã, de curvar-se diante dos ricos e desprezar
os pobres: “Porém, se fazeis acepção de pessoas, cometeis
pecado”. Protestou contra a religião artificial de excitamento que
reduziu o zelo da verdadeira religião: “E sede obradores da palavra,
e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos”.
Protestou contra aquela confiança cega na correta doutrina teológica
que ao mesmo tempo menosprezou o cultivo de caráter: “Meus
irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as
obras? Porventura a fé (essa ociosa crença ortodoxa) pode salvá-
lo?” Lede a Epístola de Tiago do princípio ao fim; este é o espírito que
respira através dela toda; toda esta FALA a respeito da religião e da
espiritualidade – palavras, palavras, mero palavrório! Não! Tenhamos
realidades” (Sermões de Robertson)
CAPÍTULO III

TIAGO FOI MEIO IRMÃO DE CRISTO


A esta conclusão a erudição quase unânime chegou nas eras
modernas do emprego histórico na interpretação das Escrituras. Para
estudantes sem preconceitos medievais ou racionalistas é a única
hipótese sustentável.
Os fatos são tais que todos podem tirar suas próprias conclusões.
O homem mais ignorante no mundo é tão perito para julgar o que
significa o único testemunho que possuímos quanto é o filósofo ou
teólogo mais sabedor de teorias e tradições pós-apostólicas e
medievais. Citamos para nossos leitores tudo que se sabe pelo Novo
Testamento:
“Chegando à sua terra, ensinava o povo na sinagoga, de modo
que muitos se admiravam e diziam: Donde lhe vem esta sabedoria,
e estes milagres? Não é este o filho do carpinteiro? Sua mãe não
se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e
Judas? Não vivem entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe vem,
pois tudo isso: - Mateus 13:54-56
Vide Marcos 3:31-35 e Lucas 8:9-21
“Tendo Jesus saído dali, foi para a sua terra, e seus discípulos
acompanharam-no. Chegando o sábado, começou a ensinar na
sinagoga; e muitos ao ouvi-lo, se admiravam dizendo: Donde lhe
vêem estas coisas, e que sabedoria é esta que lhe é dada? Que
significavam tais milagres operados pela sua mão? Não é este o
carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, de José, de Judas e de
Simão? e suas irmãs não está aqui entre nós? Ele lhes serviu de
pedra de tropeço. Jesus lhes disse: Um profeta não deixa de
receber honra senão na sua terra, entre os seus parentes e na sua
casa.” – Marcos 6:1-4 (Notai que Jesus incluiu a “sua casa” na lista
de incrédulos.)
“Depois disto desceu a Capernaum, com sua mãe, seus
irmãos, e seus discípulos; e não ficaram ali muitos dias.” – João
2:12 (Notai que os irmãos de Cristo e os discípulos não são as mesmas
pessoas.)
“Ora, a festa dos judeus, que é a dos tabernáculos, estava
próxima. Disseram-lhe então seus irmãos: ‘Sai daqui, e vai para a
Judéia, a fim de que também seus discípulos vejam as obras que
fazes, porque ninguém faz coisa alguma em oculto, quando
procura ser conhecido. Já que fazes estas coisas, manifesta-te ao
mundo. Pois nem seus irmãos criam nele” João 7:2-5
Paulo descrevendo suas visitas a Jerusalém assim falou a Tiago:
“Mas dos apóstolos não vi a nenhum, senão a Tiago, irmão
do Senhor.” - Gálatas 1:19. “E conhecendo a graça que me foi
dada, Tiago, Cefas e João, que pareciam ser colunas, deram a mim
e Barnabé as destras de comunhão, para que nós fôssemos aos
gentios.” – Gálatas 2:9. “Pois antes de chegarem alguns da parte
de Tiago, ele comia com os gentios; mas quando eles vieram,
subtraía-se e separava-se, temendo os que erma da circuncisão. –
Gálatas 2:12. “Porventura não temos o direito de levar conosco
uma crente como esposa, como também os outros apóstolos, e os
irmãos do Senhor, e Cefas?” – 1 Coríntios 9:5. “Depois apareceu a
Tiago” – 1 Coríntios 15:7.
Quem pode ler este testemunho sem voltas ou desvios e crer em
outra hipótese a não ser a de ser Tiago filho do justo José e Maria,
bem-aventurada mãe de Jesus Cristo. Quando este primogênito
nasceu, a virgem nazarena teria talvez 15 anos. A afirmação repetida
do Novo Testamento é que o fruto de sua maternidade santa era a
numerosa família cujos nomes, pelo menos dos homens, são dados
pelos evangelistas inspirados. Que do casamento de José e Maria não
resultaram filhos é uma invenção desnatural de uma época que chegou
a adotar a ideia anti-bíblica do celibato do ministério e da superioridade
moral da virgindade à maternidade. Os ensinos das Escrituras são o
oposto, dizendo-nos o mesmo capítulo que narra o nascimento de
Jesus que o casamento sem filhos era considerado não uma marca de
santidade, mas um castigo divino e um “opróbrio entre os homens” –
Lucas 1:25. O dogma da perpétua virgindade de Maria é mera
superstição, com tendência idólatra, sem um único fato na história para
o substanciar e com o repetido testemunho do Novo Testamento em
contrário.
Pois bem. Este Tiago, o mais velho dos meio-irmãos de Cristo,
era a principal das colunas do cristianismo judaico, o presidente da
conferência em Jerusalém, entre os representantes da Igreja de
Antioquia e a Igreja de Jerusalém, entre os missionários aos gentios.
Era o autor da carta daquela conferência para as igrejas gentias, que
foi o primeiro documento cristão na história, homem que o próprio
Pedro, temia mais do que à própria consciência, Gálatas 2:11-12, e cujo
apoio Paulo considerava de tanto valor que uma vez lhe expôs
particularmente o Evangelho que pregava, “para que de maneira
alguma não corresse ou não tivesse corrido em vão” – Gálatas 2:1-2, e
outra vez, na sua casa, “contou-lhes por miúdo o que por seu ministério
Deus fizera entre os gentios”; e ainda para ter seu apoio entre os
crentes de Jerusalém, raspou a cabeça e entrou no templo e ofereceu
sacrifícios exigidos pela lei levítica. - Atos 21:18-26. Havia conflito
concernente à autoridade de Paulo e Pedro e de João no cristianismo
primitivo. Mas houve um cuja santidade e cuja inspiração todos em toda
a parte aceitaram. E nada mais natural do que fosse este o “irmão do
Senhor”, convertido depois da ressurreição pelo seu irmão glorificado
de quem doravante era o discípulo mais exaltado na estima da
irmandade na Palestina. “Nesta epístola não encontramos nenhuma
ênfase sobre o parentesco ou os privilégios especiais do autor e sim
uma consciência imperturbável do direito a ser ouvido e acatado.
Controvérsia não há sobre o lugar deste no cristianismo apostólico”.
É significativo que a literatura do século sub-apostólico não erra
no seu emprego dos termos de parentesco de Tiago. Diaz Alfred
Plummer (1841-1926) (Expositor’s Bible): “Não há nenhum caso na
literatura grega onde irmão (adelphos) signifique ‘primo’. A língua grega
tem uma palavra para expressar a ideia de primo (anepsios), a qual
achamos em Colossenses 4:10 e é notável que a antiga tradição
preservada por Hegésipo (mais ou menos 170 AD) estabelece uma
distinção entre Tiago, o primeiro bispo da Igreja de Jerusalém, como o
‘irmão’ do Senhor (Eusébio, História Eclesiástica, II 28:1), e seu
sucessor, Simeão, como o ‘primo do Senhor’ (IV 22:4). Podia Hegésipo
ter escrito assim se Tiago fosse realmente primo do Senhor? Além
disso, se um termo vago como parente (suggenes) fosse desejado,
também estava à mão, pois se encontra em Lucas 1:36, 58; 2:44”.
Sendo este primeiro pastor cristão criado no mesmo lar com
Jesus Cristo, o qual depois da morte de José provavelmente se tornou
cabeça da família, seu caráter oferece para nós um estudo proveitoso.
1º Seu conhecimento do Velho Testamento confirma o que o
cântico da virgem Maria mostra, que a família estava saturada com o
espírito e as palavras do Velho Testamento. Nesta breve epístola Mayor
nota 6 referências ao livro de Jó, 10 aos Provérbios, e 20 a a outra
literatura dos provérbios do seu povo. Farrar contou 10 referências ao
Sermão da Montanha, podemos imaginar aquela família de Maria,
Jesus, Tiago, José, Judas e Simão e as irmãs dividindo seu tempo entre
os misteres da sua faina humilde e o estudo do Velho Testamento. É no
molde do concerto antigo, da ética dos profetas, da comunhão com
Deus pelos Salmos que tais caracteres se formam.
2º Devemos elevar nosso pensamento da cultura daquele lar, pois
Tiago escreveu grego com um estilo e vocabulário que poucos dos
apóstolos podiam igualar. Thayer diz: “Na sua perícia em empregar a
língua grega este autor não é inferior a nenhum outro autor do Novo
Testamento”. Deissmann classifica a epístola como “um produto da
literatura popular grega”. E o dr. A. T. Robertson cointa 73 palavras que
não ocorrem no resto do Novo Testamento, sendo alguns vocábulos
eruditos que somente escritores cultos usavam e que evidenciam um
conhecimento da melhor literatura grega do seu tempo. Diz Mayor: “A
Galiléia era cercada de cidades gregas e estava ao alcance de qualquer
galileu adquirir conhecimento da língua grega. Podemos supor que o
autor não teve escrúpulo em tomar vantagem destas oportunidades e
aprender algo da filosofia grega. Isto seria natural, mesmo se
pensarmos em Tiago como impulsionado tão somente pelo desejo de
ganhar sabedoria para si; mas se avaliarmos o fato de ser ele o instrutor
principal dos crentes judaicos, dos quais muitos eram helenistas,
instruídos na sabedoria de Alexandria, então esta oportunidade tomará
o aspecto de um dever sagrado. Tiago será um estudante do grego para
ser o instrutor eficiente do seu próprio povo.” O Espírito Santo escolheu
como primeiro pastor cristão um estudante eminente cujos estudos
foram batizados na intercessão pelo seu povo.
3º A linguagem de Jesus Cristo e Tiago têm o aroma dos campos
e suas figuras e símiles são muito parecidos e testificam a íntima
comunhão com a natureza que os dois irmãos gozaram na sua
mocidade. Paulo é um homem da cidade e suas figuras são do
mercado, do quartel, dos jogos atléticos e da assembleia grega. Mas a
linguagem de Tiago e de Jesus Cristo cheira ao campo.
“Ele usa fenômenos naturais da sua terra para esclarecer seu
pensamento a cada passo: a flor do campo que murcha, 1:10, o
incêndio na floresta que varre a montanha e ilumina a vizinhança toda,
3:5, as fontes doces e salgadas, 3:11, a figueira, a oliveira e a videira,
3:12, a sementeira e a colheita, 3:18, o vapor matutino que tão
rapidamente desaparece, 4:14, as chuvas temporãs e serôdia, 5:7. Há
mais da apreciação da natureza nesta curta epístola do que em todos
os escritos de Paulo.” D. A. Hayes, na obra já citada.
4º O mesmo autor comenta a semelhança entre as palavras de
Tiago e Jesus, estabelecendo no Sermão da Montanha um paralelo
com 18 das sentenças mais características da Epístola de Tiago. “Estas
lembranças dos dizeres do Mestre nos encontram em cada página da
Epístola. Talvez haja muitas outras que nós não discernimos. Porém,
seu número é já bastante grande para nos demonstrar que Tiago é
saturado com as verdades ensinadas por Jesus, e que tanto sua
substância como sua própria fraseologia ficam na memória... Tiago fala
menos a respeito do Mestre do que qualquer outro do Novo Testamento
mas sua linguagem é mais parecida com a do Mestre do que a
linguagem de qualquer um deles. Jesus e Tiago tinham a mesma mãe.
Dela tinham uma herança comum. Até onde reproduziram em si os
característicos da mãe, eram parecidos. Tinham a mesma educação no
lar. É notável nesta conexão que José é chamado no Evangelho “um
homem justo”, e que Tiago chegou a ser conhecido na era primitiva
como Tiago, o justo, e que nesta epístola ele dá este título ao seu irmão,
Jesus. José era justo e Tiago era justo e Jesus era justo. Os irmãos
eram parecidos e estavam como o pai neste sentido. Os dois irmãos
pareciam pensar do mesmo modo e falar da mesma maneira
maravilhosamente. Eles representam o mesmo ambiente doméstico e
humano, a mesma educação religiosa e os mesmos característicos
hereditários. Certamente, pois, tudo que aprendemos concernente a
Tiago nos ajudará a compreender melhor a Jesus”.
5º O fato do autor ser meio-irmão do Senhor enaltece seu
testemunho à sua deidade. O eminente Warfield diz: “Entre as epístolas
um interesse peculiar pertence às de Tiago e Judas por serem escritas
por parentes do Senhor Jesus Cristo segundo a carne, que aliás não
creram nele durante a sua manifestação terrestre, João 5:5; ainda se
adiciona o fato no caso da Epístola de Tiago, de ser esta escrita numa
data muito remota (45), uma data antecedente à de qualquer outro
escrito dos livros canônicos”. Então ele salienta o fato de Tiago se
considerar “Escravo” de Jesus e o colocar na mesma categoria com
Deus. O Pai.
CAPÍTULO IV

PARA QUEM ESCREVEU TIAGO


A epístola que estudamos foi escrita por um judeu intenso, a
judeus da Dispersão. “Tiago – às doze tribos da Dispersão”. Este judeu
era bispo de uma igreja de judeus na capital judaica. Provavelmente
muitos dos leitores tinham sido membros da mesma igreja e,
espalhados pela perseguição, ainda acatavam com afeto e reverência
o pastor cuja santidade lhes inspirara tanto respeito nos primeiros anos
de sua vida cristã, e este, por sua vez, seguiu com suas orações e
conselhos os que tinham sido objetos de sua caridade pastoral.
Portanto a Epístola, seu autor e seus leitores são judeus, e temos de
fazer o milagre intelectual de transformar-nos em judeus da Dispersão
do ano 45 DC, se quisermos, gentios do Ocidente que somos, apreciar
os problemas e a situação que o inspirado autor encarou nesta pastoral
circular.
“As doze tribos da Dispersão”. Diz o preclaro intérprete B. H.
Carrol: “Este povo visitou as grandes festas em Jerusalém. Estava
presente no dia de Pentecostes quando Tiago recebeu o batismo no
Espírito Santo. Ali foram das margens do Eufrates e do Tigre, da
Mesopotâmia, que quer dizer ‘Entre os rios’, e de todos os lugares da
Ásia Menor, do Sul da Grécia e de Roma e do Norte da África. E ali
ficaram até que foram dispersos pela dispersão mencionada em Atos
12. Depois de partires, Tiago lhes escreve. De sorte que minha opinião
do tempo é que foi no ano de 45 DC, correspondendo aos eventos
mencionados em Atos 12. Uma grande tribulação assolava os crentes.
Tiago, o filho de Zebedeu fora morto e Pedro fora preso. Os membros
daquela igreja foram espalhados sobre a terra. Esta tinha
provavelmente 100.000 membros. Podemos ver a ansiedade que ele
sentiria quando foram dispersos. É evidente pela carta que a linha de
demarcação entre os cristãos e os judeus estava muito indistinta. Os
cristãos ainda se reuniam nas sinagogas. Mais tarde se separaram e/ou
alugaram casas de culto ou edificaram templos, ou se reuniram em
casas particulares.”
“A significação da Diáspora é sem ambiguidade e não há motivo
para limitar seu alcance à Dispersão Oriental. Havia uma distinção entre
os judeus da Dispersão e os da Palestina. Estes eram, na sua maioria,
roceiros ou artífices, mas aqueles se congregavam nas cidades e se
ocupavam quase unicamente no comércio. Em ambos os casos havia
um círculo limitado de eruditos”. (“Expositor’s Greek Testament”).
“No tempo em que esta epístola foi escrita havia três principais
divisões da Dispersão – a de Babilônia, à qual foi concedida a primeira
importâncias, a de Síria e a egípcia”. Alfred Plummer. (Expositor’s
Bible).
O mesmo comentador cita o grande judeu Filon num apelo feito
ao imperador Caio por uma embaixada que foi à Roma no ano 40 para
obter isenção de um decreto que obrigava os judeus a adorar a imagem
do imperador: “Jerusalém é a metrópole, não somente do país da
Judéia, mas de quase todos os países, por causa das colônias que tem
enviado, segundo a oportunidade que se oferece, para as terras
vizinhas do Egito, da Fenícia, da Síria e da Coele Síria e países mais
distantes da Panfília e Cilícia, quase toda a Ásia, até Bitínia e os
recantos mais remotos de Pontos; outrossim à Europa, a Tessália, a
Beócia, a Macedônia, a Etólia, Ática, o Argos, o Corinto, juntamente
com as mais partes e as melhores partes da Grécia. E não somente os
continentes estão cheios de colonos judeus mas também as ilhas mais
notáveis – a Eubea, o Chipre, a Creta – para não mencionar as terras
além do Eufrates. Porque todas estas, com a exceção de uma pequena
parte de Babilônia e daquelas satrapias que constituem o terreno
excelente, em redor destas, contém habitantes judeus. De sorte que, se
meu povo obtiver uma parte na vossa clemência não seria uma cidade
que teria os benéficos resultados, mas dez mil outras, situadas em toda
parte do mundo habitado – a Europa, a Ásia, a Líbia, continental e
insular, das terras marítimas e do interior”. O mesmo sábio intérprete
julga que a Epístola foi distribuída principalmente na divisão siríaca da
Diáspora e diz: “A tremenda significação da Dispersão como
preparativa para o Cristianismo não deve ser ignorada. Um reino tornou-
se uma religião”. É para leitores nesta situação que o primeiro livro do
Novo Testamento foi escrito.
CAPÍTULO V

COMO CRENTES GENTIOS PODEM COMPREENDER AS


ESCRITURAS JUDAICAS
A Epístola de Tiago é uma peça de literatura de um hebreu de
hebreus, dirigida “às doze tribos que andam dispersas”. O culto se
efetua na sinagoga e todos os problemas são os da vida social e
comercial das colônias da Dispersão judaica. Para compreendermos o
ensino é preciso que nos coloquemos na situação do autor e dos
leitores, em outras palavras, que pela força de uma imaginação
santificada nos tornemos judeus do primeiro século.
Que diferença haveria em vossa vida religiosa, prezado leitor, se
fosseis um crente do ano 45 DC, membro de uma tribo de Israel
disperso?
1º. - Vosso culto seria efetuado na sinagoga e os presbíteros desta
sinagoga vos poderiam dar quarenta açoites menos um por qualquer
delito. Atos 9:20; 18:8; 19:8; Tiago 2:2; 2 Coríntios 11:24. Nesta
haveríeis de pagar aos apóstolos do sumo sacerdote em Jerusalém os
impostos para o sustento do templo, para onde faríeis romaria, pelo
menos uma vez na vida. Mateus 17:24-27. A vossa igreja teria suas
reuniões na sinagoga no primeiro dia da semana, mas assistiríeis ao
culto judaico no sábado. Atos 13:14, 42-44; 17:2; 18:4; 20:7; 1 Coríntios
16:1.
2º. - A vossa Bíblia seria unicamente o Velho Testamento e o culto judaico
consistiria na sua leitura e aplicação, e o culto cristão seria diferente
apenas na interpretação das passagens messiânicas à luz da vinda de
Cristo e da tradição oral cristã para o governo espiritual dos crentes,
com seus presbíteros e diáconos e os dois ritos do batismo e da ceia.
Em muitos casos a maioria ou a totalidade da colônia aceitaria Jesus
como Messias. Neste caso a sinagoga se transformaria gradualmente
numa igreja cristã. Atos 19:9; 13:5.
3º. – Vossos filhos seriam circuncidados no oitavo dia – pois é engano
que o batismo tivesse vindo em lugar da circuncisão – e vossa família
observaria a Páscoa, Pentecostes, o dia de Expiação e todas as festas
judaicas como os demais judeus, inclusive os sábados e luas novas,
etc. Atos 4:11; 11:2, Romanos 3:12; Gálatas 2:7-10; Colossenses 4:11;
Atos 21:21-26 (notai a isenção dos gentios de tudo isto); Atos 28:17; 1
Coríntios 16:8; Atos 20:16.
4º. – Ainda teríeis um crente gentio por imundo. De fato, na maioria dos
locais ainda não haveria crentes gentios. De modo que, encontrando-
vos com um gentio no mercado e tocando-o, seria necessário tomardes
banho, antes de comer, e cumprirdes toda a exigência levítica. Gálatas
2:12-14.
5º. – Veríeis com espanto o apostolado de Paulo iniciando igualdade
social entre judeus e gentios na fé cristã, e talvez ao princípio, como
Tiago, Pedro e Barnabé, não comeríeis a ceia do Senhor com os irmãos
gentios por medo de contaminação cerimonial.
6º. – Observaríeis as horas de oração do templo, orando como Daniel com
a janela aberta para abanda de Jerusalém, e ensinaríeis aos filhos a
língua da Terra Santa, e em todo o transe vos consideraríeis um colono
de Jerusalém, vossa capital civil e religiosa, e negaríeis estes privilégios
a quaisquer gentios que não se submetessem ao rito de circuncisão.
Atos 2:46; 3:1.
Este estado de coisas continuaria até que Paulo estabelecesse
igrejas separadas das sinagogas, e com a maioria dos membros
gentios, nas sete “províncias” de seus labores, sendo finalmente
abandonado com a queda de Jerusalém no ano 70.
Imaginemos uma situação igual. Se os crentes hoje em dia ainda
assistissem aos cultos e às festas nos templos católicos, tendo também
seu culto evangélico em outras horas nestes mesmos templos, se os
pastores tivessem o mesmo direito que os padres de subir ao púlpito
católico e pregar o evangelho e se o clero católico tivesse poder de
açoitar o crente por qualquer ofensa e se muitas comunidades católicas
aceitassem a nossa fé tornando seus templos casas de cultos
evangélicos, seria um paralelo. Realmente isto se deu nos tempos de
Lutero, Zwinglio, Calvino e Hubmaier. E devemos avaliar que o
cristianismo atravessou um período de transição. Em nossos dias se
um judeu ou um católico se converte ao evangelho, a mudança é quase
instantânea. Mas no princípio a separação era gradual. O próprio
Senhor Jesus fundou a igreja e continuou na sinagoga e no templo toda
a vida. Levou uma geração para os judeus e os romanos descobrirem
que o cristianismo não era mera seita do judaísmo, como os fariseus ou
os essênios. Começou a ser descoberto na Antioquia, mas Paulo,
quando chegou em Roma, ainda tinha entrada franca nos círculos
judaicos os quais, porém, lhe informaram com certa desconfiança que
“esta seita” era por toda a parte impugnada, Atos 28:22.
O motivo de tudo isto é simples. Israel era uma teocracia; e não
havia distinção entre a lei religiosa e a lei civil. Tudo era civil, tudo era
religioso, tudo era o regime mosaico. Se um judeu era um bom cidadoa
tinha de obedecer a lei levítica, pois era o código civil de sua pátria.
Portanto Jesus e Paulo e os demais judeus crentes sempre observaram
os ritos da lei até quando Israel deixou de ser um Estado, no ano 70. O
ponto da Epístola aos Gálatas é que nada disto se impõe na consciência
gentia, e mesmo para o judeu não foi meio de salvação. Mas quando
Tiago escreveu, este problema ainda não tinha surgido. Quase todos os
crentes fora de Palestina ainda eram “das doze tribos da Dispersão”.
PARTE II

TRADUÇÃO E COMENTÁRIO

__________

CAPÍTULO I

A SAUDAÇÃO DA EPÍSTOLA

TRADUÇÃO
1:1. Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze
tribos que estão dispersas, saúde.
__________

PARÁFRASE
Tiago, irmão do Senhor, companheiro de sua vida humana,
convertido por sua ressurreição, primeiro presidente de sua primeira
igreja, herói da Cristandade e do judaísmo primitivo, escritor do primeiro
volume da biblioteca do Novo Testamento, moderador da conferência
pacificadora em Jerusalém, autor da pequena epístola que unificou as
igrejas judaicas, gentias e mistas numa comunhão universal, (Atos 15);
Tiago, primeira das três colunas da comunidade primitiva, (Gálatas
2), mestre de três línguas, recipiente de uma revelação especial do
Senhor ressuscitado, protagonista da santidade evangélica, profeta,
bispo, intercessor e mártir.
Tiago, o Justo, cujo lugar na estima universal de judeus, e cristãos,
é tão seguro que não precisa de argumento, ou defesa, com humildade
evangélica se introduz aos seus leitores como apenas “um servo”,
adorador obediente, de Deus Pai e de Jesus Cristo a quem também
cabe o nome de deidade – Senhor;
Tiago saúda seus irmãos das tribos de Israel, membros das
colônias da Diáspora; desde Babilônia até Roma, e desde Alexandria
até Filipos, enviando cópias desta carta-circular, no ano 45 da era cristã,
talvez pela mão de peregrinos que voltam das festas em Jerusalém, a
muitos destes grupos de israelitas no império romano, mormente em
Antioquia e outras partes da Síria, e admoestando o seu povo sobre sua
vida ética e espiritual, ministrando conselhos práticos às sinagogas, às
novéis igrejas, e aos núcleos informes de judeus crentes que neste
período de transição ainda se congregam nos cultos da sinagoga onde
há também judeus incrédulos nos cultos, a cujos auditórios mistos seria
lida esta epístola do mais eminente judeu cristão da atualidade, herói e
doutor de todos os seus patrícios.

COMENTÁRIO

“O propósito primacial da Epístola”: demonstrar que as obras


são a evidência e a prova da fé, e manifestar sua solicitude pela mais
elevada ética cristã.
O propósito secundário: manter a perfeita igualdade dos irmãos
nas comunidades cristãs, contra uma deferência vulgar e mundana à
riqueza e à posição social.
Versículos chaves: “Assim também a fé, se não tiver as obras,
é morta em si mesma.” 2:17; e “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e
não o faz, comete pecado.” 4:17
Tema: A fé provada e aperfeiçoada pelas obras.
Palavras-chaves: “tentação” – a solicitação ao mal e a
provação pelo sofrimento; “obras” – muito mais do que uma
moralidade negativa; sim, o exercício do caráter Cristão; a paciência,
a fortaleza, a fé, a oração, a humildade, o amor, a benevolência e o
domínio próprio. – Schofield.
__________

Propósito: principalmente o avivamento de um estado religioso


desanimado, um formalismo morno e a correção das tendências
corruptas de uma condição decaída. Caíra a perseguição e não era
suportada com com fortaleza, paciência e fé. Esta palavra se encontra
no princípio da epístola, quase ao fim, e por todo o capítulo 2, e
expressa muito do propósito da epístola inteira. De vários modos São
Tiago trata a maneira de vida que procede de um sentimento de
confiança na presença de Deus, baseada numa compreensão de seu
caráter e propósito. – F. J. A. Hort.
__________

Uma instrução missionária dirigida aos convertidos, visando


também aos não-convertidos. – Lange
Páginas soltas de discursos proféticos de Tiago – Moffatt.
__________
Razões por que a Epístola foi escrita: 1º estes judeus dispersos
estavam sofrendo. 2º Muitos judeus aceitaram Cristo intelectualmente,
mas não foram regenerados. 3º Eram contenciosos. – Carroll.
__________
Uma Epístola que não é missionária ou evangelística, mas
disciplinante. – Denny.
__________
Exceto o autor, menção de qualquer pessoa contemporânea é
omitida, nem há notícia de qualquer evento histórico que acontecera
no próximo passado, nem referência a evento algum na vida do autor
ou dos leitores. Nada indica a residência do autor ou dos leitores.
Theodoro Zahn.
Mesmo sem decidir o exato significado da saudação, é
perfeitamente claro que a carta não foi preparada para uma só igreja,
mas para grande número de igrejas, largamente separadas. – Theodoro
Zahn.
__________
A diferença entre o autor e os leitores é que ele está na Palestina e
estes não, ele parece estar numa posição de autoridade, porém, estes
aparentemente são um povo humilde e sofredor. Há passagens que
visam judeus incrédulos, de soslaio, e talvez algumas que são
proferidas diretamente a eles. – A. Plummer.
__________
A famosa objeção de Lutero que o levou a chamá-la “epístola
de palha”: “A epístola não prega e urge a Cristo. Ela doutrina o povo
cristão, no entanto não menciona a Paixão, a Ressurreição, e o Espírito
de Cristo. O autor menciona Cristo poucas vezes, porém, não doutrina
coisa alguma a seu respeito, mas, fala apenas de uma fé geral em
Deus.” (Lutero enganou-se e contradisse o primeiro versículo quando
escreveu: “Ela doutrina o povo cristão”. É um espírito para auditórios
mistos, de judeus crentes e incrédulos. – W. C. T.)
__________
Lógica e cronologicamente o ensino de Tiago precede o de São
Paulo e São João.chamá-lo retrógrado, quando comparado com um ou
outro destes é chamar à criança retrógrada em comparação com o
homem. Todas as congregações a quem São Tiago endereçou esta
carta deviam estar num primitivo estado de desenvolvimento. Em certos
sentidos até a igreja-mãe em Jerusalém, de onde esta carta foi escrita,
nunca foi além destas primitivas fases de progresso. Antes que pudesse
superá-las, o centro da Cristandade se mudara de Jerusalém para
Antioquia e a Jerusalém nunca voltou. – A. Plummer.
__________
Servo: “adorador” – “não de duas potestades distintas e
coordenadas, como se fosse servo de dois Senhores. Ser servo de
Cristo é impossível sem ser servo de Deus. – Hort.
__________
Servo: Em geral, para o judeu, “servo”, quando usado em
referência a Deus significava “adorador”, e em referência a homens,
“escravo”. Sendo este sentido impossível aqui, “servo” deve ser
entendido como significando “adorador”, e a deidade de nosso Senhor
é distintamente implicada. – ““Expositor’s Greek Testament””.
__________
Servo: não devemos, no entanto, destacar as ideias ignóbeis de
escravatura em nosso modo de pensar moderno; inteira obediência é
tudo que é implicado. – Benjamim Warfield.
__________
Servo: “Expressou a absoluta devoção tanto a Deus como ao
Senhor Jesus Cristo. Era ligado a ambos igualmente, honrava ao Filho
como honrava ao Pai. Afirmou logo no princípio sua sujeição absoluta
a ambos, e era exatamente isto a maior necessidade dos israelitas a
quem escrevia. – W. Kelley.
__________
Dispersão: “Para judeus cristãos da Síria, especialmente na
Antioquia e na Babilônia.” – F. J. A. Hort.
__________
A estes restos da casa de Israel, cuja “rejeição “ (Rm 11:15) havia de
fruir na “reconciliação do mundo”; cuja “queda” foi a ocasião de nossa
“riqueza”; e cujo “abatimento” a fonte das riquezas dos gentios.
“Dispersos”, de verdade! Um “pasmo, por ditado, e por fábula, entre
todos os povos” (Deuteronômio 28:37). Um “espetáculo horrendo para
todos os reinos da terra”, uma “maldição, e um espanto, e um assobio,
e um opróbrio entre todas as nações” (Jeremias 29:18), para onde o
Senhor os tinha lançado. – Ellicott
__________
A significação de diáspora não é ambígua, e não há motivo de
limitá-la à dispersão oriental. – ““Expositor’s Greek Testament””.
__________
Podemos dizer sem hesitação que, quando Tiago fala das “doze
tribos que estão dispersas”, quer dizer os judeus que residem fora da
Palestina e não cristãos longe de sua pátria celestial. A. Plummer.
__________
O emprego do termo “doze tribos” é incompreensível se o escritor
quis dizer todos os crentes sem distinção. Ele não faz referência alguma
a conversos gentios nem tampouco a relação entre judeus e gentios
incorporados num corpo espiritual. – Davison.

Esboço de Schofield:
1. Prova da Fé, 1:2 – 2:26.
2. A Vida Íntima Provada pelas declarações da língua, 3:1-18.
3. Repreensão contra o mundanismo, 4:1-18.
4. Os ricos admoestados.5:1-6.
5. Exortações, 5:7-20.

Esboço de A. T. Robertson:
1. Introdução, 1:1.
2. Como tratar provações, 1:2-18.
3. Como tratar a Palavra de Deus, 1:19-27.
4. Como tratar os ricos e os pobres no culto, 2:1-13.
5. Como manifestar a nossa fé. 2:14-26.
6. Cautela contra a ambição de ser mestres, 3.
7. Várias exortações práticas, 4, 5.

O esboço da Vulgata, segundo Tischendorf:


I. Utile temptari. Sapientiam deum roga. Opes poreunt. Homo
delictgi, Deus boni auctor. Legem Audi ET fac. Linguam doma.
II. Ne posiponas divitibus pauperes. Diligendo proximum Lex tota
expletur. Fides probanda factis. Abraham et Raab.
III. Adversus docendi libidinem. Linguae usu dificilis. De vera
sapientia.
IV. Fugienda vana libido, adversus obtrectationmem et fiduciam sui.
V. Cohortatio ad divites. Patientia piorum. Non iurandum.
Aegrotorum cura, precum vis. De lapsis.
CAPÍTULO II
SOBRE PROVAS E TENTAÇÕES
TRADUÇÃO
1:2-19
“Meus irmãos, tende por motivo de suma alegria quando
fordes assaltados por várias provações, certos de que a prova da
vossa fé obra a constância. Contudo (vigiai) que essa constância
tenha sua obra aperfeiçoada, para que sejais maduros e íntegros,
em nada deficientes.
E se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que
a todos dá liberalmente e não lança em rosto, e ser-lhe-á dada. Mas
peça-a com fé, nada duvidando, porque o que duvida é semelhante
à vaga do mar, agitada e sublevada pelo vento. Não cuide, pois,
esse tal que alcançará do Senhor alguma coisa, homem de alma
vacilante, a cada passo instável.
Porém, o irmão de circunstâncias humildes se glorie na sua
exaltação, e o rico na sua humilhação, porque ele passará como a
flor da erva. Porque o sol rompe, acompanhado de um vento
abrasador, seca a erva, a flor cai, e a gala de seu aspecto perece!
Assim também o rico, no meio de seus afazeres, terá um fim
mísero.
Feliz o varão que sofre com firmeza a provação, porque
quando houver sido provado, receberá a coroa da vida que (Deus)
prometeu aos que o amam.
Ninguém, ao ser tentado, diga: “De Deus sou tentado”,
porque o nosso Deus é imune de tentação pelos males, e, quanto
a ele, a ninguém suscita a pecar. Pelo contrário, cada um é tentado
pela sua própria cobiça, sendo por ela seduzido e engodado.
Então, havendo a Cobiça concebido, dá à luz o Pecado, e o Pecado,
consumado que é, gera a Morte. Meus amados irmãos, não sejais
enganados! Tudo que nos é dado é bom e todos os nossos dotes
são excelentes, vêm de cima, descendo do Pai das luzes, em quem
não há mudança nem sombra de variação. De pura vontade sua é
que nos gerou pela palavra da verdade, afim de que sejamos umas
primícias de suas criaturas. Ficai certos disto, irmãos meus muito
amados.”
__________
PARÁFRASE
Meus irmãos, vítimas de atroz perseguição e ostracismo, longe
de desfalecerdes por causa destas aflições, considerai as multiformes
provações motivo de grande alegria, pois tendes a certeza de que
servem para dar têmpera ao caráter, fortaleza ao ânimo, firmeza ao
espírito, constância à vida cristã e perseverança na santa carreira que
encetastes. Porém, não queirais parar no meio do caminho! Vede que
essa constância de ânimo leve sua obra ao termo, produza um
resultado acabado, tenha seu fruto maduro e com todo o seu sabor,
afim de que chegueis à madureza de caráter e integridade de vida,
possuindo todos os dotes de um homem completo em Cristo, e tendo
estes dons desenvolvidos ao máximo grau de sua possibilidade, sem
defeitos e lacunas em fase alguma de vosso caráter.
Para este santo ideal qual de vós não sente sua insuficiência?
Quanta sabedoria não será precisa para quem deseja alcançar este
alvo? Peça a Deus, nosso generoso Deus, que não cansa de dar e
nunca lança em rosto! Peça a Deus o santo bom sendo, a prática
inteligência espiritual, para viver através deste transe tão agudo, de uma
maneira digna da fé que anima seu coração. Mas peça-a com a
confiança que venha de uma fé viva em Deus, não com dúvidas e
hesitações. Tamanha desconfiança, irresoluta, diante do infinito poder
do Eterno, só desperta em Deus o nojo. Ele contempla o suplicante de
ânimo dobre, indeciso, vacilante como o viajante enjoado encara a vaga
agitada do mar. Melhor não orarmos do que sermos inconstantes na
posição que tomamos perante o mundo na profissão de nossa fé. Não
pense tal suplicante que alcançará coisa alguma de Deus. Às suas
súplicas Deus é surdo!
E esta atitude é independente de circunstâncias. Tanto o pobre
como o rico, sejam firmes pela sabedoria concedida por Deus. O pobre
está no mesmo nível com o rico na comunhão do povo de Deus,
portanto, corajoso nas provações, regozije-se na sua posição exaltada
na irmandade. E o rico despreza suas perdas materiais e sociais,
reconhecendo nesta humilhação social sua exaltação ao maior dos
privilégios, o de membro da comunidade dos santos.
De fato, distinções materiais e sociais são efêmeras, a abastança
de hoje é a miséria de amanhã. Portanto deixai de considerar as coisas
que perecem e contemplai os valores que são eternos. A distinção
suprema, para rico ou pobre, é a coroa da vida, e esta é dada, não aos
que vacilam entre Deus e o mundo porque desejam amar e servir
ambos, mas será recebida por aqueles cuja vida é animada tão somente
pelos sentimentos de amor a Deus,
Longe de vós o fatalismo, a ideia fixa do fariseu! Deus não é o
culpado de vossos impulsos para o mal. Ele é incapaz de sentir o menor
impulso para o mal, portanto, não seria capaz da maior das iniquidades,
o ato de solicitar a outrem a pecar. Pelo contrário, o pecador é o autor
de sua própria tentação. Deus manda ou permite as circunstâncias
exteriores que nos provam, porém, o impulso para ceder e pecar
procede de dentro de nós mesmos. Nossa cobiça carnal é a meretriz
que nos seduz, é o pescador que primeiro nos abstrai do lugar de
segurança e inocência, depois nos engoda e facilmente nos apanha.
Esta tentadora que reside em nós, de sua união ilícita com a nossa
vontade concebe o Pecado. E este filho bastardo e malvado, num
incesto horrível com sua progenitora, gera a Morte, a segunda morte, a
eterna separação de Deus. Não! O impulso a pecar procede de nós
mesmos, não de Deus. A culpa cai unicamente sobre nossa cabeça.
Deus procura a nossa ruína?!? É de Deus que procede tudo que
é bom no universo, e apenas o bom. Todos os impulsos, todos os dotes
que herdamos por natureza são bons. Ele nunca colocou em nós
tendências para o mal. De sua iniciativa criadora e providencial procede
somente o bem. “Viu Deus tudo que fizera e eis que era muito bom”. O
Pai Criador das luzes que brilham em nosso firmamento é luz perfeita
sem mistura de trevas. O sol reveza o dia e a noite, a lua tem suas
fases, o sistema planetário seus eclipses, mas estas mudanças não têm
paralelo em o caráter de Deus. Nele não há variação, nem sombras ou
nuvens. Eternamente é luz inefável, procurando nosso bem. E a prova
suprema deste fato é seu propósito de redenção.. por sua voluntária
iniciativa e bondade nos revelou a Palavra do Evangelho, e por meio
deste gérmen da vida implantou em nós uma nova natureza, capaz,
pela sua graça, de combater o mal em nossa própria carne. Esta
natureza é sua segunda criação, e nela nós somos as primícias de uma
nova raça espiritual, aquela multidão que ninguém poderá contar, de
toda a nação e de todas as tribos, povos e línguas. Ficai cientes desta
suprema manifestação de sua bondade. Gravai-a na memória e na
consciência! Nunca sejais ludibriados pelo fatalismo, que paralisa toda
a atividade da alma! Deus é bom, e tudo no universo, no homem e na
experiência humana que dele procede é unicamente bom e bondoso!
COMENTÁRIO
2. Provações: A prova da fidelidade, inteireza, virtude e
constância. A solicitação para pecar. – Thayer.
__________
A inocência é deveras uma graça, todavia há uma fase mais
elevada da mesma virtude, isto é, a pureza que foi ganha por um conflito
longo e amargo com mil sugestões para o mal que venham de fora,
despertando a impureza natural dentro de nós. – Ellicott.
__________
... a palavra “fordes assaltados”, ou “cairdes”, que se usa
concernente à nossa experiência de provações, implica que aquilo com
que nos encontramos é-nos desagradável, inesperado, e não desejado.
Outrossim, implica que esta calamidade imprevista é bastante larga
para nos cercar e cobrir... o que S. Tiago tem em mira são provações
externas, tais como a pobreza do intelecto (v. 5) ou de bens (v. 9), ou
a perseguição (2:6,7). – A. Plummer.
__________
Razões dadas pelo mesmo autor para nos alegrarmos nas
provações: São oportunidades de praticar a virtude que não se pode
aprender sem exercício, nem se exercita sem oportunidades. (2) Elas
nos ensinam que,l aqui, não temos cidade permanente, pois um mundo
em que tais experiências nos sobrevêm não pode ser considerado
nosso lar para sempre. (3) Elas nos tornam mais parecidos com Cristo.
(4) Temos a certeza da graça divina, e a garantia de que nunca será
posto sobre nós mais do que podemos suportar. (5) Temos a confiança
em compensação abundante aqui e além túmulo.
__________
O apóstolo diz: tentações várias, mas o termo aqui não siginifica as
incitações ao pecado, porém, as aflições com que Deus costuma
experimentar os homens para que mostrem o que são. – Stier.
__________
Toda alegria: Isto não quer dizer a totalidade da alegria, como se
não houvesse alegria em outra coisa a não ser nas provações... Nem
diz S. Tiago que a provação é toda alegria; mas nos exosrta a assim
considerá-la, a contemplá-la do ponto de vista otimista, como sendo
uma experiência que possa ser transformada no mais alto bem para
nós que a suportamos. – Mayor.
__________
Provações: Talvez haja alusão ao massacre dos Judeus da
Diáspora oriental uns dez anos antes desta epístola ser escrita... O Dr.
Hatch, ao que nos parece, restringe demais a palavra uma qualidade
de provações, isto é, a aflição. As riquezas são tão verdadeiras
provação quanto é a pobreza, como se vê em v. 10 e 1 Tm. 6:9; e a
tentação de Cristo no deserto (Lc 4:13) não foi um apelo ao medo mas
sim à esperança e ambição. Até que ponto podemos generalizar estas
“várias provações”? além de dor e tristeza e temor, certamente,
abrangerãotoda a sorte de perplexidades, desapontamentos,
ansiedades e qualquer outra coisa que vos vexa ou perturba... A atitude
certa é considerar todas estas experiências como uma disciplina para o
céu, formando uma parte da cruz que tem de ser levada por todo cristão.
– Mayor.
__________
3. Fé: A confiança que ressalta de uma fé viva em Deus. – Thayer.
__________
S. Tiago interpretou a fé como significando, não somente o mero
reconhecimento ou confissão de Deus, mas confiança nele. – Cremer.
__________
Sabendo, certos: O verbo e o tempo indicam reconhecimento
progressivo e contínuos, pela experiência da vida diária. E isto nos
ensina que as provações não somente trazem à luz, mas criam, a
paciência, a fortaleza... No correr dos anos é muito mais fácil regozijar-
se nas tribulações, e ser grato por elas, do que meramente submeter-
se negativamente e estar resignado pacientemente. – A. Plummer.
__________
Constância: Constância, fortaleza, perseverança no Novo
Testamento é o característico de um homem que não pode ser desviado
do seu propósito e lealdade deliberada à fé e à santidade, mesmo pelas
maiores provações e sofrimentos. – Thayer.
__________
“Estabilidade, firmeza, tenacidade de propósito, um entusiasmo
inapagável”. – Ellicott.
__________
O termo está usado na literatura a respeito de pessoas num
combate, e significa a capacidade de conservar sua posição, sem
perder terreno; denota especialmente a decisão psicológica, a fixidez
da esperança messiânica no meio das contradições desta vida. –
Cremer.
__________
A peculiar clareza psicológica e atitude decidida que a esperança
adquire na economia da graça, em virtude de seu caráter que exclua
toda a vacilação, dúvida, e incerteza, e de conformidade com sua
disposição do asseverar sua fé no meio das contradições deste mundo.
– Cremer.
__________
Usado (1) para significar o ato de ficar firme, e (2) para a têmpera
de durabilidade. – Mayor.
__________
4. Maduros e íntregos: “Obra aperfeiçoada”, - acabada, nada
faltando para ser completa. “Sejais maduros”. De caráter bem
desenvolvido e varonil, tendo chegado à própria altura de virtude e
integridade. “Íntegros” – não faltando parte alguma, sendo tudo são,
sem falta ou mancha. – Thayer.
__________
No homem íntegro nenhuma graça que deve estar no caráter de
um homem cristão está faltando; no homem “maduro” nenhuma graça
está meramente nos seus fracos princípios, porém todas elas chegaram
a uma certa madureza e delicioso sabor. – Trench.
__________
Os maduros são idênticos com os espirituais. – Lightfoot.
__________
Não perfeitos no sentido exato desta palavra, “pois todos nós
tropeçamos em muitas coisas” (3:2), embora sejam todos admoestados
a procurar alcançar a perfeição, Mt 5:48; Ef 3:19; 4:13. O termo usado
é a respeito de animais que cresceram ao seu tamanho natural, e,
portanto, nesta passagem, a respeito de cristãos que chegaram à
madureza de caráter e entendimento. Assim torna-se quase sinônimo
de espiritual e sábio... Em Hb 2:10 é declarado que Cristo foi feito
perfeito, maduro pelo que sofreu. – Mayor.
__________
5. Sabedoria: O conhecimento e prática dos requisitos para uma vida
piedosa e reta. – Thayer.
__________
“Nenhum obreiro é desculpado de praticar asneiras repetidas. Se
lhe falta o bom sendo, peça-o a Deus”. – J. F. Love, no seu primeiro
discurso no Brasil, Rio de Janeiro, 1922.
__________
Sabedoria, o poder íntimo de tirar proveito das provações
exteriores não pode ser suprida pelas provações: pode ser obtida de
Deus gratuitamente por quem pedir: Ele a enviará diretamente ao
coração. – Hort.
__________
São Tiago usa a palavra para indicar a sabedoria prática que
supera o conhecimento intelectual porque não somente sabe a verdade,
mas age de acordo. – Farrar.
__________
O homem mais sábio não é aquele que sabe. A sabedoria é a
aplicação à vida do que se conhece. Saber o que fazer, saber
exatamente fazê-lo, e saber fazê-lo no momento oportuno, eis a
sabedoria... A maior parte das dificuldades que sobrevêm às igrejas
resulta de uma falta de sabedoria por parte do pastor. Não sabe tratar
com a devida delicadeza casos de disciplina na igreja. – Carroll.
__________
Como uma existe uma Mente mais alta do que a nossa, assim
existe um Coração maior do que nosso coração. Há uma vida infinita
de sentimento e afeto em Deus. Ele tem sensibilidade, e num grau
infinito. Porém, este sentimento sozinho não é o amor. O amor implica
tanto em dar como em receber , não somente a emoção mas a
comunicação de si mesmo. Igualmente o amor de Deus se expressa em
dar eternamente – o dar não é mero episódio na sua existência... é da
natureza divina. – Strong.
__________
Sabedoria: as leis do céu para a vida na terra – A. T. Pierson.
__________
8. Alma vacilante: Um homem que tem duas almas uma em conflito com
a outra: Comparai 1 Re 18:21; Sl 12:2. O Sr. Olhando-para-ambos-os-
lados, de Bunyan, e os espíritos neutros encheram o vestíbulo do
Inferno de Danmte. – Farrar.
__________
O homem que não confia em Deus não é digno da confiança dos
homens. – “Expositor’s Greek Testament”.
__________
9. Glorie: Hillel, o grande Rabi, é citado como dizendo: “Minha humildade
é a minha grandeza, e a minha grandeza, minha humilhação”.
__________

... A Palavra “gloriar” é usada por Paulo, geralmente num sentido


bom: o cristão se gloria em Deus (Rm 5:11), em Cristo, Rm 15:17, na
esperança de salvação, Rm 5:2; nos conversos Paulo se gloria, 2 Co
7:14, em aflições, Rm 5:3, em enfermidades, 2 Co 12:9. – Mayor.
__________
A prosperidade é a benção do Velho Testamento e a adversidade
a do Novo Testamento. – Bacon.
__________
As riquezas são sempre uma fonte de tentações. Sem exagerado
amor à mendicância, o irmão do Senhor aprendera que, embora a
riqueza não seja pecado, nem a pobreza uma virtude, no entanto a
pobreza humilde e contente é a verdadeira riqueza, e a riqueza soberba
e indulgente é a verdadeira pobreza. – Farrar.
__________
Coroa de vida: A felicidade eterna que será dada como galardão
aos servos genuínos de Deus e Cristo. – Thayer.
__________
A vida mesma é a coroa... perpetuidade, plenitude, e vividez
implicadas. – Hort.
__________
Vida verdadeira depois da ressurreição... vida real e genuína, “vita
quase sola vita nominanda”, (vida como só a vida é chamada)
(Cícero, De se Nec. 21,77) uma vida ativa, vigorosa, dedicada a Deus,
bem aventurada... é a porção mesmo nesta vida daqueles que confiam
em Cristo, porém depois da ressurreição será consumada por
acréscimo de valor, inclusive um corpo mais perfeito, e perdurará
eternamente. – Thayer.
__________
14. Seduzido: A figura é tirada da caça e da pesca. Como a caça
é aliciada de seu esconderijo, assim o homem é atraído do seu domínio
próprio para pecar. (A linguagem da caça parece ser transferida às
seduções de uma meretriz personificada pela Cobiça.) – Thayer.
__________
Em toda a passagem, São Tiago representa a Cobiça como
tomando parte da mulher de Potifar. – Plummer.
__________
Cobiça, no sentido mais lato do Desejo. – Hort.
__________
15. Morte: ... A perda da vida que vale a pena ser chamada vida, a
miséria da alma que resulta de seu pecado, principalmente na terra e
aumentando depois da morte do corpo. – Thayer.
__________
A morte principia aqui, chega ao seu ponto culminante além do
túmulo. – Strong.
__________
17. Pai das luzes: ... dos astros, dos luminares celestes... Nem dia,
nem noite, nem estações, nem variações na disposição generosa do
Pai e Criador das luzes. – Thayer.
__________
Sombra de variação... dia e noite, as fases obscuras da lua, as
sombras causadas pelas nuvens. – Hort.
__________
18. De pura vontade sua: De sua livre vontade nos gerou, não
sendo de acordo dizer, como dizem alguns, que estão tentados a pecar
por Deus. – Thayer.
__________
Novo Nascimento: A passagem que, do ponto do vista espiritual,
é a mais importante na Epístola, e impregnada da mais profunda
instrução.
__________
As lições mais profundas sobre o novo nascimento são:
(1) Sua causa: Desde que necessitamos de uma nova vida, Deus, por um
ato que resultou do livre propósito de sua própria vontade e escolha,
nô-la deu, por que lhe é natural abençoar. Sua vontade é amorosa, livre
e frutífera no máximo grau.
(2) O Ato: Deus nos deu o novo nascimento. Assim Bengel diz: “Deus é
para nós tanto Pai como mãe”. Deus é doador da nova vida, não o
Destino como diziam os Fariseus, nem nossos próprios esforços, como
diziam os Saduceus.
(3) A instrumentalidade: Como a causa do Novo Nascimento foi o
propósito de Deus, assim a instrumentalidade foi a Palavra da verdade,
a divina revelação de Deus aos homens.
(4) A Maneira: Deus nos gerou implantando, ou enxertando, esta Palavra
da verdade em nós. Pode ser uma referência à parábola do semeador,
na qual a semente semeada é identificada com o coração que a recebe.
(5) O Resultado: Somos umas primícias de suas criaturas. A) Somente
uma espécie de primícias, por assim dizer. Porque Cristo é as eternas
primícias, e depois, nós em Cristo. B) As primícias são o princípio de
uma grande oferta sacrificial. C) O fato de sermos primícias mostra a
esperança da seara daquela multidão que ninguém pode enumerar. D)
A palavra enxertada é a única fonte de segurança e força. É poderosa
para “salvar as nossas almas”.
Assim, numa breve sentença, São Tiago concentra muitas
verdades solenes, e até pelas palavras de sua vontade rejeita o
fatalismo dos Fariseus e a asserção arrogante dos Saduceus de que a
salvação está ao alcance de nosso poder, para efetuá-la. – Farrar
(adaptado).
CAPÍTULO III
SOBRE A PALAVRA DE DEUS E A VIDA
TRADUÇÃO
1:18-27
“De pura vontade sua é que nos gerou pela palavra da verdade,
afim de que sejamos umas primícias das suas criaturas. Ficai
certos disto, irmãos meus muito amados.
Mas seja todo homem pronto para ouvir, tardo para falar, e
custoso de se irar, porque a ira do homem não opera a justiça de
Deus. Pelo que, despindo toda a imoralidade e restos de malícia,
com mansidão acolhei a palavra em vós arraigada, a qual pode
salvar as vossas almas. E tornai-vos observadores da Palavra, e
não ouvintes tão somente, iludindo-vos a vós mesmos com
sofismas. Porque se alguém é ouvinte da palavra, porém não
praticante da mesma, é semelhante a um homem que contempla
ao espelho seu próprio rosto; porque se contemplou, e foi-se
embora, e imediatamente esqueceu-se de que tal era. Mas o que
atentar para uma lei perfeita, que é a da liberdade, e nela
perseverar, de modo algum feito ouvinte esquecido, porém
executor de obra, este será bem aventurado na sua obediência.
Se alguém se considera que é religioso, não refreando sua
língua, mas enganando a seu próprio coração, a religião deste é
fútil. Eis uma religião genuína e sem mácula diante de Deus Pai:
visitar órfãos e viúvas na sua tribulação, e guardar-se livre da
contaminação do mundo”.
__________
PARÁFRASE
Visto que tendes a plena certeza da imutável beneficência e
experimentais a suprema manifestação desta bondade deliberada, isto
é, a regeneração da alma pelo gérmen de vida eterna que é a Palavra
do Evangelho, atentai para esta Palavra com toda a diligência,
assimilando e manifestando na vida toda a verdade que ela contém.
Lembrai-vos de que esta Palavra não existe para a controvérsia e
as discussões e o ódio partidário que são tão comuns em vossas
sinagogas. Aliás estas paixões e ressentimentos mancham a alma e
não põem em execução aquela justiça que Deus exige e só Deus pode
operar na vida humana. Portanto daí lugar ao silêncio, à meditação, à
calma do espírito, ao ouvido atento e bem disposto.
Considerai a Palavra que ouvis uma planta tenra e preciosíssima,
na horta da vida diária, a ser cultivada assiduamente até saboreardes
sues frutos deliciosos e salutares.
Longe de vós, acreditar que a mera assistência aos ritos da vossa
religião, ou mesmo a reverente atenção, no momento de serem lidas as
Escrituras no culto, completam vosso dever para com a Palavra e Seu
divino Autor. Deus é o Deus da semana inteira, e não apenas das
breves horas sabáticas. Um relance neste espelho não basta. É preciso
que atenteis bem ao mal que ele revela em vossa vida e cuideis de ser
limpos. Não sofismeis vossas próprias almas imortais, chamando
escravidão esta obediência à lei de Cristo. É a única liberdade;
conhecereis a verdade e a verdade vos libertará, e encontrareis gozo e
alegria numa vida de obediência.
É bom manter o culto, como fazeis tão assiduamente. Porém, o
domínio da língua é um ato de culto a Deus. O silêncio é, às vezes, o
mais nobre louvor, sacrifício que Deus não despreza. Quem não refreia
sua língua, mas antes deixa-a solta para caluniar, praguejar, e manchar
a memória com anedotas imundas, pode ser um devoto muito fiel ao
ritual da casa de Deus, porém é um iludido, enganando sua própria
alma. Semelhante religião era a dos Fariseus, que devoravam as casas
das viúvas e por pretenso ritualismo faziam orações extensas. Religião
fútil e oca! O verdadeiro culta é uma vida de afeto social que abrange a
sorte da viúva e a do órfão, aliviando suas necessidades, e uma vida
que não segue a maioria mundana, a norma popular, conformando-se
com sua geração, mas renova a mente nas fontes límpidas da Palavra
da vida e prova qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

COMENTÁRIO
Versículo 18: Esta sentença marca a transição do assunto das
tentações para o da Palavra de Deus, portanto a repetimos neste trecho
da epístola. A resolução divina para nos gerar pela Palavra para a vida
e a salvação é a prova de que Deus não é o autor de nossas tentações.
E agora que o assunto é mencionado, Tiago manifesta o lugar da
Palavra arraigada, acatada e praticada, numa vida religiosa. -W.C.T.
__________
Três figuras da palavra de Deus: Tiago, como seu divino irmão,
era feliz na sua linguagem figurada.
I. A Palavra da Verdade é o gérmen da vida por meio do qual Deus
gera a nova criatura. O Espírito regenera o pecador que crê no
Evangelho, por meio desta mensagem vivificante.
II. A Palavra é uma semente, uma raiz, um enxerto. Sendo vitalmente
ligada com a nossa consciência pelo Espírito de Deus, ela vive em nós,
e com a nossa força e em nossa personalidade produz seus frutos
peculiares e santos, que em nós mesmos nunca teríamos a capacidade
de produzir.
III. A Palavra é um espelho, revelando-nos a nós mesmos para que nos
possamos concertar e purificar segundo seu ensino. – W.C.T.
__________
Ficai certos: Esta sentença cabe melhor no parágrafo anterior.
Tiago dá toda a ênfase à benévola resolução voluntária de Deus para
nos regenerar, em lugar de nos tentar para o mal, como os judeus
dispersos estavam quase dispostos a imaginar. Moulton traduz: “Podeis
ter plena certeza”. – W. C. T.
__________
19:20: Tiago muda de vocábulo ao passar do v. 19 para v. 20.
“Seja todo o homem, todo o gênero humano, pronto para ouvir.”
“porque a ira de um varão não obra o que Deus acha justo”. Por máscula
que seja a defesa da dignidade pessoal, ou por mais varonil que seja a
indignação contra as injusttiças, mesmo esta ira viril não consegue fazer
o bem ou agradar a Deus. – W; C. T.
__________
Justiça de Deus: a justiça que Deus exige. – Thayer.
__________
Tardo para falar: Francisco de Sales, o santo que o papa fez
padroeiro dos escritores católicos, disse uma vez: “Fala pouco e
gentilmente, pouco e bem, pouco e com simplicidade, pouco e
honestamente, pouco e amavelmente.”
__________
Ira de varão: A escolha de varão (enfaticamente masculino) em
lugar de homem (no sentido genérico), nesta conexão foi determinada
provavelmente pelos fatos do caso; os faladores seriam varões, e talvez
pensassem que havia algo de varonil em violência, em contraste com a
virtude da mansidão, estimada como característico feminino. – Mayor.
__________
Justiça de Deus: O que São Tiago entendeu pela frase foi, sem
dúvida, (1) a obediência perfeita à lei da liberdade contida no Sermão
da Montanha, em contraste com as formalidades exteriores que
constituem a justiça aos olhos humanos, e(2) o reconhecimento do fato
de que esta justiça é o dom de Deus, obrada em nós por Sua Palavra
recebida em nossos corações. – Mayor.
__________
21. Despindo toda a imoralidade e restos de malícia: “Pondo
de lado como se despe uma veste”. – Thayer.
Imundícia: a iniquidade, como moralmente manchando”. –
Thayer.
Resto de malícia: a iniquidade que ainda resta no cristão do seu
estado anterior à conversão. – Thayer.
Malícia: O que era considerada indignação santa, não passava
de malícia. – Hort.
Imoralidade: provavelmente significa imundícia no sentido de
impureza e cobiça carnal. – ““Expositor’s Greek Testament””.
Estas palavras deixam a impressão de que os leitores a quem
foram proferidas estas palavras ainda não podiam ser chamados
cristãos. – idem.
Restos: “Os cristãos visados já renunciaram o pecado, porém
este não é inteiramente conquistado neles”. – Mayor.
Despindo: Spitta pensa que se refere ao enfeite que o pecado se
traja. – idém.
Com mansidão: em posição enfática no original. – W.C.T.
__________
A palavra em vós arraigada: A doutrina implantada por vossos
mestres (ou por Deus) recebei como semente em solo bem preparado
– Thayer.
Hort nega que este verbo que traduzimos “arraigados” possa
significar “enxertada”.
Esta “palavra” seria às Escrituras lidas nas sinagogas. –
““Expositor’s Greek Testament””.
Nascida, natural em distinção de implantada ou enxertada de fora.
Moulton e Milligan, argumentando com o uso nos papiros.
A palavra se encontra somente aqui no Novo Testamento. Seu
uso geral significa inata, porém o contexto aqui proíbe esta significação.
Portanto, precisamos tomá-la no sentido da “palavra em vós arraigada”,
isto é, uma palavra cuja natureza é arraigar-se no coração qual
semente. Comparai Mt 13:2-23, especialmente o verso 21, “mas não
tem raiz em si”. – Mayor.
__________
As vossas almas: A alma humana, constituída de tal forma que
pelo uso dos meios que lhe são oferecidos por Deus, pode alcançar
seus fins mais elevados e conseguir a bem-aventurança eterna, a alma
considerada com um ser moral designado para a vida eterna.
__________
22. Tornai-vos: Há uma mudança, no original, nos tempos dosa
verbos que é digna de nota. Tiago diz: Despi, de vez, os restos da
iniquidade da velha vida e, numa decisão definitiva, recebei a Palavra
cuja natureza é arraigar-se em vós e que é poderosa para salvar a alma.
É um mandamento da ordem: “dito e feito”. É a iniciação da obra da
Palavra na vida. Porém o verbo, em seguida, dá atitude contínua e
estável da alma para com a palavra. Sede obradores perpetuamente da
Palavra que recebestes na conversão. Tendes recebido a Palavra uma
vez para sempre no coração e fostes salvos por ela. Agora perseverai
no seu ensino: manifestai sua mensagem santa nos atos; encarnai em
vós a Palavra. São as fases instantâneas, regeneradoras, vivificantes
da Palavra na alma, seguidas pela sua manifestação resultante e
perpétua. – W. C. T.
__________
Tornai-vos: Mostrai-vos cada vez observadores da palavra. –
Mayor.
“Rabi Chananiah costumava dizer: Aquele cujas obras são em
excesso de sua sabedoria, sua sabedoria vinga; porém não vinga a
sabedoria daquele cuja sabedoria está em excesso de suas obras”.
__________
“A religião não consiste em conhecer e crer mesmo a verdade
fundamental, antes em sermos conduzidos para uma certa têmpera e
maneira de viver!. – (Butler), ou como diz São João, “Quem obra justiça
é justo” – A verdadeira prática cristã cresce, é o fruto de progresso – o
“observador|” da Palavra se torna tal por profissão e exercício; a frase
implica um hábito – Os judeus têm um provérbio que diz: “Quem ouve
sem fazer é como o lavrador que semeia e cultiva, mas nunca ceifa”. –
A. Plummer.
__________
Disse o Rabi Shimeon, filho de Gamaliel: “Há quatro caracteres
de discípulos: Pronto para ouvir e pronto a se esquecer – seu ganho é
cancelado pela sua perda. Tardo para ouvir e tardo para esquecer – sua
perda é cancelada pelo seu ganho. Pronto para ouvir e tardo para se
esquecer – este é sábio. Tardo para ouvir e pronto para se esquecer –
sua sorte é má”.
__________
Iludindo-vos a vós mesmos com sofismas: O original sugere
que o homem leva sua própria alma à parte, para uma palestra íntima
e a catequiza com sofismas ao partido do mal e da ilusão. – W. C. T.
__________
23. Outyra vez o vocábulo homem é enfaticamente másculo. É
um homem que estuda suas feições ao espelho. A vaidade não é mais
feminina do que masculina.
O espelho de que Tiago pensa é de metal polido, dando um
reflexo assaz imperfeito, como Paulo disse: “Em enigma”.
O rosto de sua “Gênesis”, ou rosto nativo, ou natural, é a frase de
Tiago. Mayor pensa que se refere a esta existência terrena e
passageira, em contraste com o caráter que se reflete no espelho da
Palavra, caráter que se está moldando para a eternidade. Porém
achamos mais natural traduzir “seu próprio rosto“. – W. C. T.
__________
24. Outra vez Tiago, no original, usa seus verbos vividamente.
Muda o tempo para o “aoristo gnômico”. O dr. A. T. Robertson diz:
“Tiago viu o homem. Foi-se embora”. Um relance para o espelho, partiu
incontinente e não ligou mais import~^anciã. É assim com o ouvinte
esquecido da Palavra. Porém, a figura do cumpridor da Palavra é única.
Este atentou, baixou-se como João e Maria quando olharam para o
túmulo vazio de Jesus – é o mesmo verbo – e assim se estudou ao
espelhjo da Palavra, e se corrigiu. – W. C. T.
__________
25. Uma lei perfeita, que é a da liberdade: “a religião cristã” –
Thayer.
Sua própria frase peculiar, em contraste propositado com a letra
e sua escravatura. Pressupõe a vida nova que a graça de Deus dá ao
pecador, e que encontra seu prazer nas coisas que lhe agradam
segundo são mostradas na Sua Palavra. – W. Kelley.
O ouvinte atento sente que a Palavra da Verdade é, e deve ser,
a lei de sua vida, embora seja uma lei da liberdade: é o ideal em que
seus olhos estão fixos, não um jugo pesado demais para sua cerviz.
Mesmo da lei mosaica o salmista diz que a Lei do Senhor é perfeita,
porém este é meramente rudimentar em comparação com a Lei de
Cristo (Gl 6:2), como é demonstrado no sermão da Montanha e na
Epístola aos Hebreus. Assim, Paulo se descreve como sendo “sob a lei
de Cristo”, (1 Co 9:21), e ainda descreve a nova lei como uma “lei da
fé” (Rm 3:27). É dela que o apóstolo fala, em linguagem que bem pode
servir de comentário sobre este texto de São Tiago: “A lei do Espírito da
vida em Cristo Jesus me livrou do pecado e da morte”. (Rm 8:2).
Jeremias profetizou desta lei (31:32) como uma nova aliança que
haveria de ser escrita no coração. Que induziu São Tiago a chamar o
Evangelho uma lei de liberdade aqui e em 2:12? Claramente porque é
uma lei de que não é forçada pela compulsão exterior, mas livremente
aceita como expressando o desejo e o alvo do súdito dela.
Esta obediência voluntária é até reconhecida no Velho
Testamento (Ex 35:5; Dt 28:47; Sl 1:2; 40:8; 54:6; 119:32-45; 97; 51:21).
Porém a fonte de onde, provavelmente, veio a ideia de Tiago foi sua
memória das palavras de Mt 5:17: “Não penseis que eu vim para
revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogar, mas cumprir”, e de João
8:33: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.
É outro ponto em que São Tiago nos lembra dos Estóicos.
Comparai o paradoxo deles. “Somente o mais sábio é livre,e todo o
néscio é escravo”, sobre o qual Cícero comenta: “Qui est libertas?
Potestas vivendi ut velis”. Comparai com Rabi Gamaliel que
costumava dizer|: “Faze Sua vontade como se fosse tua vontade”. –
Mayor.
__________
O grande lexicógrafo do Novo Testamento Grego, Thayer, assim
fala do vocábulo Lei, na Epístola de Tiago: “Embora os judeus não
fizessem distinção entre os preceitos morais, cerimoniais e civis da Lei,
no entanto, no Novo Testamento a Lei é mencionada, às vezes, de tal
forma que mostra que o escritor tem em mira somente a sua fase ética,
como de importância principal, e de validade perpétua entre cristãos,
porém despreza as partes cerimoniais e civis como sendo escritas
somente para judeus. Gl 5:14; Rm 13:8-10; 2:26; 7:21-25; Mt 5:18 e
assim muitas vezes. Na Epístola de Tiago ‘a Lei’ significa, unicamente,
as partes da Lei ética que foram confirmadas pela religião cristã”
__________
A perfeita lei da liberdade e a “lei real” ambas referem à Lei como
foi aperfeiçoada pelo “Rei dos Judeus” – ““Expositor’s Greek
Testament””.
__________
O cristianismo como o cumprimento ética da Lei. A lei que Tiago
tem em vista sempre é a Lei como foi exemplificada na vida de Jesus,
a qual seus amigos amam e gostam de cumprir. Marcus Dods.
__________
E nela persevera: Ficar ali, e continuar a olhar atentamente até
que todas as manchas sejam lavadas e desapareçam. – Thayer.
A lei de Deus exige contemplação constante e aplicada, não mero
relance passageiro. O ouvinte pode ser iludido por falso raciocínio,
cheio de ignorância opiniática, repleto de uma infalibilidade bem
satisfeita consigo, dado ao dogmatismo, à conversa insistente, no
espírito intemperadamente contencioso, às denunciações de outros, e
no entanto pode considerar-se “religioso” por que se submete a repetir
um bom número de ordenações exteriores. Mas a verdadeira religião
não é um ritual extenso de cerimônias e abluções, as quais podem ser
perfeitamente consistentes com a hipocrisia farisaica fútil e a devoção
própria e, normalmente, tendem a degenerar ao ponto de não ter mais
valor. O ritual, para ter relação íntima com “a religião pura e imaculada”,
deve manifestar-se em obras de amor ativo, em ser “imaculado do
mundo”, livre da contaminação, da mancha do vagaroso contágio do
munod. O único ritual verdadeiro é o amor. – Farrar.
CAPÍTULO IV
IMPARCIALIDADE E DEMOCRIACIA NOS CULTOS
TRADUÇÃO
2:1-13
Meus amados irmãos, deixai de associar deferências a
pessoas gradas com a fé que tendes em nosso Senhor Jesus
Cristo, que é a Glória divinal. Pois se entrar em uma sinagoga
vossa algum varão que tenha anéis de ouro e trajes esplêndidos,
mas entrar também um pobre em roupa suja, e se tratardes com
deferência aquele que vista os trajes luxuosos, e disserdes: “Tu,
assenta-te aqui neste lugar de honra”, e ao pobre disserdes: “Fica
tu para lá em pé, ou senta-te abaixo do estrado dos meus pés”: não
haveis feito distinções entre vós mesmos e não vos tornastes
juízes de pensamentos perversos? Ouvi, meus irmãos amados.
Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres para serem
ricos em fé e herdeiros do reino que ele prometeu aos que o
amam?
Vós, porém, menosprezastes o pobre. Os ricos não vos
tiranizam e não são eles os que vos arrastam perante os tribunais?
Acaso não são eles os que difamam o nobre Nome pelo qual sois
chamados? Se vós, contudo, observais a lei real segundo a
Escritura: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”, fazeis bem;
mas se vos deixais levar por deferências a pessoas gradas,
cometeis um pecado, sendo convencidos pela lei como
transgressores. Pois quem guardar a lei toda, porém em um só
ponto tropeçar, é constituído réu de ter violado todos. Pois aquele
que disse: “Não cometerás adultério”, também disse: “Não
matarás”. Se, porém, não cometeres adultério, mas, és homicida,
estás feito transgressor da lei. Falai de tal sorte e de tal sorte
procedei como homens prestes a serem julgados pela lei da
liberdade. Pois o juízo será sem misericórdia para aquele que não
usou de misericórdia; a misericórdia triunfa sobre o juízo.

__________
PARÁFRASE
Meus irmãos em Cristo, reunidos nas sinagogas da Diáspora,
juntamente com vossos concidadãos das respectivas colônias de Israel,
deixai do costume, tão geral entre vós, de exercitar a fé em nosso
Senhor Jesus Cristo numa atmosfera mundana de respeitos humanos,
deferências prestadas a fidalgos, acompanhados pelo desprezo dos
pobres, atos a atitudes de parcialidade e distinções de classe, o
arbitrário acatamento dos homens pelo que têm e não pelo que são
diante de Deus. Não é assim que a fé em Cristo se transforma em vida.
Ele é nosso Senhor, é a Glória de Deus, é o próprio Jeová manifestado
na carne, como outrora se manifestava nas teofanias da dispensação
mosaica. Pois nós nos reunimos no dia do Senhor para acatar a esta
Glória inefável, e não para prestar homenagem servil às pequenas
distinções arbitrárias que existam, ou que finjam existir por aí entre os
homens. Curvemo-nos unicamente diante de Deus quando estamos na
sua casa, na qual todos são suas criaturas e devem ser seus
adoradores sem distinção.
Pois bem. Suponhamos que entre numa das vossas sinagogas
um homem com os dedos cobertos de anéis, e com a mais luxuosa
roupa, segundo a moda mais elegante, e entre também um pobre
mendigo maltrapilho e sujo. Que fazer? Se nos aproximarmos do rico
com toda a deferência e dissermos: “V. E. tenha a bondade de sentar-
se aqui neste bom lugar, que lhe compete, é um dos primeiros assentos;
muito nos honra a sua visita”, e para o mendigo nos mostrarmos
indiferentes, ou talvez até aborrecidos dizendo: “Vai para lá e te senta
no chão onde não impeças a vista ou o cômodo de alguém” em que
categoria de homens ficamos nós? Esqueçamo-nos do rico, dos anéis,
do luxo, e também dos farrapos e mau cheiro do pobre, e examinemos
nossa própria consciência. Diante de Deusa caímos na categoria de
réu, de transgressores processados, convictos, e confessos, segundo a
Lei que encontramos em nossa Escritura. Salientando os ricos no culto
divino desonramos os pobres, fazemos afronta ao nosso Senhor cuja
glória apaga as insignificantes distinções entre os homens que se
reúnem na sua presença, condenamos a nossa própria alma como
transgressores que somos, e ao mesmo tempo jamais ganhamos o rico,
pois a adulação nunca converte o pecador, antes o confirma no seu
pecado.
Ouvi-me, pois, sobre os ricos. Lá no mundo eles vos tiranizam.
Vêm com a polícia e vos arrastam perante os tribunais. Até na sinagoga
conseguem que às vezes sejais açoitados com bárbara crueldade. E
por toda a parte difamam e injuriam o nome de Cristo que vós tendes
por nobre e divino, e pelo qual sois chamados. Que adiante, pois, vossa
atitude pusilânime nas sinagogas? E vós tratais os pobres como os ricos
vos tratam? Então não sois melhores do que estes. Ai da igreja que
despreze o pobre e se humilhe em adulação do rico e poderoso.
A lei real, suprema, o resumo de toda lei é “Amarás ao teu próximo
como a ti mesmo”. Ambos os que entram na sinagoga – o rico e o
mendigo, o elegante e o sujo – são vossos próximos, portanto ambos
merecem ser tratados como gostaríeis de ser tratados. Não há lugar
para deferências para um e desprezo para no outro. Isto é tornar
negativa a lei real. É esquecer-nos de que todos são nossos próximos.
E o pecado que assim cometestes não é venial. Todo o pecado é
pecado da mesma essência. A lei é uma, há perfeitas solidariedade
entre seus mandamentos. A alma parcial e lisonjeira é transgressora
como é o adúltero e o homicida. A lei se quebra tão realmente com tua
falta de democracia como pelo derramamento de sangue ou a
vergonhosa carnalidade.
Nosso regime é outro. É um reino de liberdade do qual nos
fazemos parte. Sua lei nos liberta, e sendo todos livres não há lugar
para distinções arbitrárias como existem num regime de tiranos e
escravos. Havemos de ser julgados por este regime de liberdade.
Tenhamos misericórdia, pois, daquele maltrapilho e esta misericórdia
mostrará que somos filhos do reino e triunfará sobre o juízo. Mas se
somos duros de coração, não somos do reino de Deus e para nós não
há misericórdia. Atendei, pois, a estes fatos e assim vos orientai em
palavra e em prática.
__________
COMENTÁRIO
V. 1 Este tempo do verbo grego, quando usado com a
partículas negativa quer dizer: “Deixai de fazer o que estais fazendo”.
Evidentemente estas congregações de judeus a quem a epístola foi
enviada estavam mostrando nos seus cultos respeito de pessoas. Tiago
começou sua exortação: “Deixai...” – W. C. T.
__________
1. “Acepção de pessoas”. – A falta daquele que em
galardoar, ou administrar juízo, toma em consideração as
circunstâncias exteriores dos homens e não seus méritos intrínsecos,
assim dando a preferência, como ao mais digno àquele que é rico, de
nobre estirpe, ou poderoso, e desprezando outro que é destituído
destes dotes. – Thayer. Rm 2:11; Ef 6:9; 3:25.
__________
1. “Acepções” de pessoas (plural no grego). Em atos de
acepção de pessoas -Hort – Referem-se às várias ocasiões e maneiras
em que esta falta se manifesta. – Thayer. Todas elas são proibidas pelo
Evangelho.
__________
1. “A fé”. A fé da qual o Senhor é o objeto. – Denny.
__________
1. “A fé”. A frase evidentemente significa a nova religião
que Cristo deu ao mundo. – “Expositor’s Greek Testament”.
__________
1. A fé do Senhor Jesus Cristo tem de ser exercida sem
respeito de pessoas, isto é, a conduta de um crente para com outro tem
de levar em conta os direitos da humanidade comum e de uma salvação
comum, desconsiderando as distinções baseadas na raça, na
nacionalidade, na tribo, na casta, no sexo, nos títulos, nos honras, na
posição social, na riqueza, ou na\ pobreza. (Comparai Lc 22:24-27; At
10:34; Gl 3:28; Cl 3:10,11). – Carroll.
__________
1. “O Senhor”. Jesus como Messias é Senhor, visto que
adquiriu por meio de sua morte um senhorio especial da humanidade e
depois de sua ressurreição foi exaltada a uma posição de sócio da
administração divina. – Thayer.
__________
1. “Senhor”. Este termo significa muito mais aqui do que
significava para os discípulos durante o ministério terrestre de Jesus. –
Hort.
1. “Glória”. Majestade, a excelência absoluta, perfeita,
íntima, pessoal de Cristo. Este fato quando abraçado pela fé, nivela
todos os seres humanos. Como o arauto do monarca ignora todas as
mesquinhas distinções numa vila oriental, assim o primeiro bispo cristão
diante da majestade de seu Soberano considerou insignificantes as
distinções entre os homens. “Pensai magnificamente de Cristo” e
pensareis com mais democracia concernente aos homens. – W. C. T.
__________
1. “Glória”. O Senhor, a Glória. Em aposição. Duas
concepções eram comuns aos Targuns – Palavra e Shekinah (a
manifestação da glória de Jeová entre os querubins sobre a arca no
lugar santíssimo.) Jesus é tanto a Palavra de Deus como a Glória que
outrora se manifestava nas teofanias da velha dispensação. A força do
título aqui é que a fé em Cristo como a Glória estava peculiarmente
contraria a este favoritismo manifestado aos ricos, visto que aquele que
representava a própria Glória dos céus foi notável pela sua humildade
e pobreza. Comparai Fl 2:5-11; 2 Co 8:9. Como Tiago (3:9) condena o
hábito de amaldiçoar os homens que são criados à imagem de Deus,
assim aqui censura o hábito de tratar com desdém os pobres, que são
da mesma classe em que foi encarnado aquele que era a Glória de
Deus. – Hort.
__________
1. “Glória”. Não podemos ter certeza do que o autor quer
dizer pela palavra glória. Pode estar em aposição com “nosso Senhor
Jesus Cristo”, o qual, nesta hipótese, seria Glória, a Majestade de
santidade e do amor de Deus; ou, como a versão inglesa traduz, e como
parece mais provável, pode ser entendida como descrição do Senhor
Jesus Cristo como Senhor da glória. Isto seria referência à sua posição
exaltada revelada no termo Senhor, e tem paralelo exato em 1 Co 2:8.
Seja como for, é importante notar que a relação do crente com o Senhor
Jesus Cristo deve determinar tudo na sua conduta; aquilo que é
incoerente com esta relação – como os respeitos humanos – é em si
mesmo censurável. – Denney.
__________
1. “Glória”. A “Shekinah” significava a visível presença de
Deus habitando entre os homens. Há outras referências do Novo
Testamento a esta ideia, fora desta passagem: Lc 2:9; At 7:2; Rm 9:4;
Hb 9:5. O mesmo pensamento é contido na frase “O resplendor de sua
glória”. Hb 1:3. As palavras são uma declaração da deidade de Jesus
Cristo. – “Expositor’s Greek Testament”.
__________
1. “Glória”, “A Glória” parece ficar em aposição com o nome
“nosso Senhor Jesus Cristo” , dando ainda outra definição de sua
Majestade. Chegamos perto do que está implicado quando lemos de
Jesus ser “Senhor da Glória”, 1 Co 2:8, isto é, aquele a quem pertence
glória como sua característica natural; ou quando ele está descrito como
o “resplendor da glória de Deus”, Hb 1:3. O pensamento do escritor
parece estar fixo naquelas passagens no Velho Testamento nas quais
Jeová está descrito como a “Glória”; “Pois eu, diz Jeová, serei um muro
de fogo ao redor, e serei a glória no meio dele”. Zc 2:5. No Senhor Jesus
Cristo, Tiago vê o cumprimento destas promessas; ele é Jeová que
chegou para habitar com seu povo, e quando peregrinou entre os
mortais viram a sua glória. Ele é, numa palavra, a Glória de Deus, a
“Shekinah”, Deus manifestado aos homens. É assim que Tiago pensava
e falava de seu próprio irmão que morreu uma morte violenta e
vergonhosa, quando ainda na sua mocidade. Certamente temos nisto
um fenômeno que deve despertar investigação. – Benjamin Warfield.
__________
2. “Sinagoga”. O proeminente expositor Hort chegou à
conclusão de que sinagoga nesta epístola quer dizer casa de culto e
igreja a assembleia dos santos que nela se reunia.
__________
2. Por longos anos, um quarto de século, os cristãos não
deixaram de frequentar os cultos do templo. – A. H. Strong.
__________
2. Visto que a Epístola foi enviada às doze tribos da
Dispersão, nenhuma sinagoga especial está na mente do autor, é uma
instrução geral. No Novo Testamento, sinagoga era sempre usada
como um lugar judaico de culto. - "Expositor’s Greek Testament"
__________
2. O escritor menciona que os leitores mantêm culto numa
sinagoga. Isto pode significar que do mesmo modo que os apóstolos
continuaram a assistir os cultos no tempo depois da Ascensão, assim
estes leitores assistem os cultos na sinagoga depois da sua conversão.
Porém ao menos se prova pelo emprego do termo nesta passagem que
o autor continuou a usar uma palavra “sinagoga” que tinha, e continua
a ter, associações distintamente judaicas, em preferência a uma palavra
(igreja) que do princípio do cristianismo foi promovida da sua velha
esfera política para indicar as congregações e a própria natureza da
igreja cristã. A. Plummer.
__________
2. São Tiago em escrever aos cristãos dificilmente falaria de
uma casa de culto judaica como sendo “vossa sinagoga”, nem teria
censurado os crentes pelos costumes de tratarem com várias classes
de pessoas na sinagoga dos judeus. – A. Plummer.
__________
2. Concluímos que Tiago enviou sua epístola às igrejas que
estavam ligadas com as sinagogas, de um modo ou outro. Algumas
estavam ainda reunindo-se nos domingos, pacificamente, e assistindo
os cultos nos sábados sob a direção dos judeus. Outras sinagogas
tinham passado para o lado do cristianismo, aceitando Jesus como
Messias. Em outros casos grupos de crentes e seus amigos na
sinagoga receberiam esta carta, e seriam censurados os males da vida
e culto na sinagoga por Tiago que era um homem universalmente
acatado, mesmo pelos judeus incrédulos. Assim a sinagoga era o velho
lugar judaico de culto, às vezes usado pelas reuniões cristãs e judaicas,
às vezes significando uma igreja formada na Dispersão que ainda se
reunia na sinagoga dos judeus. W. C. T.
__________
2. “Pobre”. O termo sempre possuía um significado mau até
que ficou enobrecido nos Evangelhos. A etimologia é de um verbo que
significa curvar-se, esconder-se com medo. Thayer.
__________
2. “Anel de ouro”. Provavelmente uma porção de anéis. –
Hort.
__________
2. O poeta latino Marcial cinicamente refere a homens no seu
tempo que usavam seis anéis em cada dedos; outros mudavam os
anéis conforme as estações do ano, usando anéis pesados no inverno
e leves no verão. – Ellicott.
__________
3. “Senta-te aqui HONROSAMENTE” – Thayer.
__________
3. Os fariseus no tempo de Jesus gostavam “das primeiras
cadeiras nas sinagogas”. Mt 23:6.
__________
4. “Juízes de maus pensamentos”. Isto é, juízes que
seguem opiniões perversas e repreensíveis. – Thayer.
__________
4. “Não sois divididos entre vós?” Distinções de classe
assim observadas teriam o efeito de gerar ciúmes, contendas e assim
divisões. – “Expositor’s Greek Testament”.
__________
5. “Escolheu”. Separar da multidão ímpia como preciosos
para si e como feitos, pela fé em Cristo, cidadãos no reino messiânico.
– Thayer.
__________
5. “Herdeiros do reino”. Herdeiro me o que recebeu suas
possessões em virtude de ser filho. – Thayer.
__________
5. A referência é devida, provavelmente, à maneira especial
em que Jesus Cristo mesmo pregava aos pobres. O Evangelho não foi
limitado a eles, porém eram os primeiros e principais recipientes, e os
que melhor podiam mostrar seu verdadeiro caráter: “Bem aventurados
os pobres”. É um eco do Sermão do Monte. “Os pobres são
evangelizados” é a prova culminante de que Cristo é o verdadeiro
Messias, Lc 4:17. – Hort.
__________
5. “Ricos” Ricos em virtude de sua fé; sua própria fé os
constituiu tanto poderosos, capazes de remover montanhas, como
ricos, 2 Co 65:8, 10; 8:9; Ap 2:9; 3:18; 1 Pe 1:7. O uso e gozo de
riquezas contêm dois elementos: a coisa gozada e o poder íntimo de
usá-la e gozá-la. Este poder íntimo é tão intensificado e multiplicado por
uma fé forte e simples em Deus, que tira mais da pobreza exterior do
que sem ele se podia tirar de grandes riquezas exteriores. – Hort.
__________
5. “Ricos na fé”. Uma fé mais forte ou, em outras palavras,
maior espiritualidade de mente, nos mostraria o pouco valor das
distinções sociais e terrenas. – Weymouth.
__________
5. “Fé”. Notai os diversos sentidos desta palavra nos diversos
contextos da Epístola. “Aqui significa confiança, em contraste com o seu
uso em 2:1.” – "Expositor's Greek Testament"
__________
5. “Pobres”. A Epístola foi escrita numa época quando
poucos dos judeus mais abastados eram cristãos; os membros das
igrejas vieram das classes pobres, principalmente (2:5), e os ricos estão
descritos como réus de avareza e opressão. Se os ricos de 5:1 não são
cristãos mas sim judeus, e se estes visitantes ao culto cristão entraram
como hóspedes ou expectadores, e não como camaradas no culto,
então esta relação dos crentes judaicos para com a população judaica
é do período quando os cristãos eram ainda uma seita na comunidade
judaica... Ainda o lugar da reunião cristã é a sinagoga, ou a sinagoga
judaica mesmo, ou em todo o caso tão distintamente judaico que seria
natural chamá-lo sinagoga. Os oficiais das igrejas cristãs ainda são
presbíteros e não há menção de um bispo. – Dods.
__________
6. “Tribunais”. Perseguições judiciais. – Hort.
__________
6. “Vós desprezastes aquele mendigo”. Refere-se ao
versículo 2. Blass.
__________
6. “Tribunais”. Parece significar que os judeus incrédulos
processavam seus irmãos cristãos pobres perante o tribunal da
sinagoga do mesmo modo que Paulo tinha feito quando Saulo, o
perseguidor. – Plummer.
__________
6. “Tribunais”. Provavelmente os tribunais judaicos,
frequentemente realizados nas sinagogas. O governo romano deixava
aos judeus o privilégio de consideráveis poderes de jurisdição sobre seu
próprio, tanto na esfera puramente eclesiástica como também nas
coisas civis. A Lei mosaica penetrava em quase todas as relações da
vida e no tocante a esta Lei era para um judeu intolerável ser
processado perante um tribunal gentio. Por isto, os romanos
descobriram que seu domínio sobre os judeus era mais seguro e
provocava menos espírito de rebelião, quando permitiam aos judeus
que tivessem grande medida de governo próprio. Isto se aplicava tanto
à Palestina como a todos os lugares onde havia grandes colônias de
judeus.- A. Plummer. At 9:2; 26:11; 2 Co 11:24;. Leia o incidente de
Gálio e Paulo em Corinto.
__________
7. “Bom nome”. Os de “Cristo”. Um nome é chamado sobre
alguém, isto é, ele é chamado pelo nome, ou declarado ser dedicado a
alguém. – Thayer.
__________
7. “Bom nome”. O Nome sob cuja proteção ficavam e ao qual
pertenciam. Igual ao significado da marca do ferrete em gado. –
"Expositor's Greek Testament".
__________
8. “Lei Real”. “A Lei principal”, Hort e Thayer. “Escritura” é o
Velho Testamento. – Thayer.
__________
8. “Real” Necessariamente se refere a Deus. A Versão
Siríaca (Peshitta) lê “A Lei de Deus”.- "Expositor's Greek Testament".
__________
8. Os dez mandamentos foram duas vezes gravados em
tábuas de pedra por Deus; este fato parece separá-los como princípios
éticos de eterno valor em comparação com o código em geral de muitos
dos elementos do qual eram cerimoniais e temporais, e indicar sua
peculiar obrigação, supremacia e permanência. – A. T. Pierson.
__________
8. “Real”. Deissmann descobriu uma lei do tempo de Trajano
preservada com uma sub-inscrição num monumento em Pérgamo,
dizendo que algum rei de Pérgamo tinha estabelecido uma “lei real”
visando certos fins. Aqui a descrição da Lei como sendo real indica sua
origem divina. – Moulton e Milligan.
__________
9. Se respeitardes as circunstâncias exteriores de um
homem... convictos sois, reputados, envergonhados... réus, violadores
da Lei. – Thayer.
__________
9. A força desta expressão visa lembrar os leitores que serão
réus de pecado deliberado, inteligentemente propositado, se mostraram
respeito de pessoas por causa de sua riqueza. – "Expositor's Greek
Testament".
__________
10. “Tropeça”. Queda incipiente. – Hort.
__________
10. Quebrar uma lei é quebrar toda a lei, pois viola o princípio
de obediência à Lei. Uma roupa está rasgada se for rota apenas num
lugar; a música está desafinada se houver somente uma voz em
desarmonia. – Farrar.
__________
10. “Culpados de todos”. Visto que desrespeita a autoridade
atrás da Lei tão realmente embora não tão intensamente, como se cada
regulamento fosse quebrado. – Robins.
__________
10. Dr. Carroll comenta a solidariedade da Lei. Me uma coisa
em que realmente existe solidariedade, porque não se pode quebrá-la
sem afetar a majestade de todas as suas partes.
__________
10. O universo moral é uno, em virtude de um Legislador,
onipresente, de modo que a=justar-se a ele em parte envolver ajustar-
se a ele em todas as demais partes e em tudo. – Robins.
__________
12. “Lei da Liberdade”, Não a Lei mosaica, mas outra. – Blass.
12. “Lei da Liberdade”. Porque corresponde completamente
aos instintos espontâneos de nossa verdadeira natureza. – Moffatt.
13. Comparai Jo 8:32; Rm 8:21; 1 Co 10:29; 2 Co 3:17; Gl 2:4;
5:1, 13; 1 Pe 2:16.
18. “A misericórdia triunfa do juízo”. Cheia de confiança
alegre, não tem medo do juízo. – Thayer.
CAPÍTULO V
A FÉ-CRENÇA SEM OBRAS VERSUS A FÉ-CONFIANÇA
FRUINDO EM OBRAS
TRADUÇÃO
2:14-26

Que proveito há, meus irmãos, se alguém disser que tem fé


mas não tiver obras? Acaso pode essa fé salvá-lo? Se um irmão
ou uma irmã estiverem nus e necessitados do alimento quotidiano,
e lhes disser algum de vós: “Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos”,
porém não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, quão
o proveito? Assim também a fé, se não tiver obras, por si só está
morta.
Todavia alguém dirá: “Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-
me a tua fé em separado das obras, e eu te mostrarei por meio das
minhas obras (o que seja) a fé. Crês tu que Deus é um só? Fazes
bem; os demônios também o crêem e tremem”.
Mas, queres saber, ó homem insensato, que a fé em separado
das obras é ociosa? Abraão, nosso pai, não foi justificado por
obras, oferecendo Isaac, seu filho, sobre o altar? Já vês que a fé
cooperava com as suas obras e por meio das obras a fé foi
consumada, e cumpriu-se a Escritura que diz: “E Abraão creu em
Deus, e foi lhe imputado para justiça, e veio a ser chamado amigo
de Deus”.
Vedes que de obras um homem é justificado, e não de fé
somente.
E da mesma forma também, Raab, a meretriz, não foi
justificada por meio de obras, acolhendo os espias e fazendo-os
partir por outro caminho? Porque assim como o corpo em
separado do espírito está morto, também a fé à parte de obras está
morta.
__________
PARÁFRASE

Já vistes que ouvir sem obedecer é iludir-se a si mesmo. Já


aprendestes que uma religião que consiste tão somente em cerimônias
e palavras, sem o domínio da língua, sem a sociabilidade caridosa e
sem a boa moral, é vã. Outrossim, convençamo-nos agora que, da
mesma forma, uma fé religiosa que consista unicamente de crenças do
intelecto, sem vida santa e ativa que corresponda, é ociosa, insensata,
hipócrita e nenhum valor tem perante Deus para tornar justa à sua vista
essa alma que é tão ortodoxa no seu monoteísmo – tão ortodoxa, haja
vista, quando são ortodoxos os demônios no inferno, e tão longe da
salvação!
Pois, que adianta ter fé, nesse sentido de crença em dogmas, se
não tiver obras de santidade e boa moral? Pode essa fé salvar alguém?
Essa fé é da mesma categoria da caridade de lábios que diz a um irmão
nu e hirto de frio, ou mesmo a uma irmã paupérrima: “Adeus. Passa
bem. Conserva-te sempre bem vestido, bem alimentado, e durante o
inverno rigoroso, aquecido por um bom fogo, numa residência
confortável”; e, no entanto, não lhe dá nem bocado de pão nem carvão
nem capa ou cobertor nem hospitalidade. Igual é a vossa fé que julga
que a mera divisa “Deus é um só” vos abrirá as portas do paraíso. Não.
Essa fé já é universal no inferno. Os demônios tanto crêem nisto como
ficam arrepiados ao pensar no fato porém, como vós, não se convertem
ao Deus em cuja existência e unidade acreditam com temor e tremor.
O homem comum há de desprezar essa tua fé, da qual os
demônios também participam . ele te dirá, rudemente, ao contemplar
tua hipocrisia ortodoxa, “Tu tens fé, hein! Pois eu tenho algo que é mais
sólido. Eu tenho obras. Não é que me falte a fé. Porém, te mostrarei a
força de minha fé pelas obras que ela produz. Agora lanço-te as luvas
para me provar, em separado de obras de bem, que a tua fé existe e é
genuína. Uma fé na terra que não é superior, moralmente mais eficaz,
do que a fé que é comum entre os próprios demônios, não merece o
meu respeito, nem a tua confiança”.
E este critério tem razão, ó insensato alardeador monoteísta! Pois
tu queres ter a certeza de um fato? É isto: a fé em separado de obras é
uma fé vadia, fugitiva de responsabilidade, estéril, preguiçosa.
És judeu e te glorias no fato. Pois, toma o caso de Abraão e te
convence.
A fé de Abraão estava em separado de obras e de obediência e
de sacrifício pelo amor de seu Deus? Basta contemplar o caso de Isaac,
oferecido em Moriá, e verás a obediência, o sacrifício, o amor, a morte
do egoísmo de que a fé de nosso pai Abraão era capaz. Se és filho de
Abraão e pensas em ser justificado pela fé, é esta a qualidade de fé que
justificou a Abraão diante de Deus. Uma fé que cooperava com as obras
e por sua vez se desenvolveu, se amadureceu, se robusteceu pelo
exercício em uma vida de obediência, sacrifício e generosidade. A vida
perante Deus é uma. A fé e a prática não se separam na realidade. O
homem que Deus considera justificado tanto crê como trabalha,
procurando fazer a vontade de Deus. Tudo mais é mortífero, é fatal à
religião e ao Evangelho. Crença sem a vida santa é apenas o cadáver
de religião. A atividade abnegada é a alma da religião.
Mas alguém dirá: “Porém, eu sou prosélito, gentio. Não raça de
Abraão. Essa vida tão exigente, essa fé tão heróica não é para tais
como eu.” Engano teu, irmão. Toma o caso de Raab. Que visão de fé,
que audácia de confiança no Deus de seus inimigos, que discernimento
desse coração gentio, coração crente, que vitória sobre os impulsos
naturais do nacionalismo, que confiança no êxito da promessa de Deus!
Acolheu os mensageiros. Mensageiros de Deus foram, para a sua alma,
para a sua casa. Sua fé saltou para abraçar a verdade, a oportunidade
de servir ao Deus vivo e ao seu povo, e abraçou a salvação. Seja Raab,
salva a despeito de ser meretriz, salva a despeito de ser gentia, salva a
despeito de uma nova religião e repudiar a religião de seus pais, salva
por uma fé heróica, cheia de recursos, enérgica, pronta, seja ela,
juntamente com Abraão, prova e exemplo para vós outros do que seja
a verdadeira fé”.

COMENTÁRIO
14. Fé. A fé aqui significa tão somente a crença na unidade de
Deus. Sendo que a fé é usada no sentido restrito, como uma coisa que
tanto os demônios como os homens possuem, é claro que o assunto é
diferente daqueles que é tratado pelo apóstolo Paulo em a Epístola aos
Romanos. – "Expositor's Greek Testament".
__________
14. Fé. A fé no sentido paulino não podia existir sem produzir o
que Tiago chama de “obras”. A fé, no pensar de Paulo, era um poder,
não meramente uma qualidade ou característico. A fé impulsionava o
homem para agir. A fé governava o homem. “Já não sou que vivo, mas
Cristo vive em mim.” Todo o homem que possui fé verdadeira poderia
dizer por si estas palavras de Paulo. Cristo está vivo e opera. Porém,
era inteiramente possível aplicar as palavras “fé” e “crença” a uma
apreciação puramente intelectual da verdade, ou uma apreciação da
verdade tão fraca na sua qualidade moral que seria impotente para
refazer a natureza humana. Paulo teria recusado a reconhecer como fé
legítima esta qualidade, teria lhe recusado o nome de “fé”. – Sir William
Ramsay.
__________
14. Já tivemos (1:22) o ouvir sem o praticar. Já tivemos uma
religião espúria. A profissão de fé já foi pressuposta em 2:1 onde São
Tiago implica que a verdadeira fé em Cristo estava faltando ou
deficiente. – Hort.
__________
14. “Essa fé”. Essa fé! Uma fé que seja compatível com a
ausência de obras. – Hort.
__________
14.. “Essa fé”. Muito mal tem feito a negligência do notar a
presença do artigo no original. Pode essa fé – essa estéril verbosidade
da profissão, atitude farisaica do ufanar-se de uma crença teoricamente
ortodoxa – pode essa fé salvá-lo? S. Paulo nunca teve a ideia de tal
coisa como “fé” que fosse tão somente fala, e cerimônia, e dogma. S.
Tiago aqui usa a palavra “fé” a respeito de uma profissão estéril: S.
Paulo do princípio íntimo da vida espiritual. Crença sem obras é mera
ortodoxia; obras sem fé, mera justiça legalista. S. Tiago está pensando
nos fariseus dogmáticos e sua oca jactância (preservada no Talmud)
que invariavelmente dependia do monoteísmo, da circuncisão, do
externalismo e da vantagem que sua herança nacion AL lhes deu pelo
suposto favoritismo de Deus, para a salvação. – Farrar.
__________
15. Irmão ou irmã. Há um sentido verdadeiro em que se aplica a
toda a humanidade, mas naqueles dias quando a pequena comunidade
estava cercada de uma população mais ou menos hostil, o sentido
especialmente cristão teve força peculiar.
__________
15. O que está implicado aqui não é uma pobreza por acaso e de
momento, mas pobreza habitual. – Thayer.
__________
15. Pão cotidiano. O pão de cada dia... O caso é da pior e mais
dolorosa necessidade... Talvez uma cena na sua própria experiência
durante a fome predita por Ágabo. – Ellicott.
__________
15. A menção aqui de uma “irmã” é digna de nota. É o único ponto
nesta passagem que indica influência distintamente cristã. Este é o
único lugar na Bíblia onde uma “irmã” é mencionada nesta conexão.
"Expositor's Greek Testament".
__________
16. Aquentai-vos... Saciai-vos. Os tempos no original indicam
que a sugestão é: sempre, permanentemente, agora e para sempre,
adquiri vosso alimento e vestido. – Hort.
__________
16. Passe bem. Sempre conserve-se bem vestido e bem
alimentado. Os tempos do grego implicam mais de um privilégio de
aquecer-se e mais de uma refeição. – Weymouth.
__________
16. Nunca lemos de uma coleta entre os crentes da Dispersão a
favor dos santos pobres da Judéia. Talvez a falta de caridade
denunciada nesta Epístola explique o silêncio do Novo Testamento a
este respeito.
__________
17. Assim também. Que é o ponto de comparação? Que é nos
versículos 15 e 16 que é comparado com a fé sendo igualmente morto?
Aparentemente se comparam essas palavras proferidas ao pobre. Eram
palavras mortas, sem efeito ou resultado. Assim, a fé em
consideração... Não é questão entre fé e obras, mas a questão é se é
realmente fé uma crença que não seja acompanhada de obras. – Hort.
__________
17. Se estar estéril entre as mulheres era considerado uma
maldição em Israel, ficar estéril na família das graças de Deus é a
condenação dessa fé, no cristianismo. – Ellicott.
__________
17. Paulo mostra como o pecador é justificado perante Deus;
Tiago, como o santo é justificado perante os homens. A justificação na
Epístola aos Romanos significa a justiça imputada, reconciliando um
pecador a Deus; a justificação, em Tiago, significa real justiça, retidão,
provando que a fé é genuína, e reconciliando a profissão de fé com a
coerência de conduta. Paulo estava censurando e refutando a justiça
própria e formalismo dos fariseus; Tiago, a licenciosidade anti-moral e
anárquica. Eis na totalidade do testemunho da Escritura é que nós nos
salvamos tanto do perigo do legalismo, de um lado, como da liberdade
que é apenas a licença de pecar, do outro lado. – A. T. Pierson.
__________
18. “Mas alguém dirá”. Todos com quem vos encontrardes farão
o mesmo criticismo e dirão: “Vós tendes fé, eu tenho obras. Eu posso
por minhas obras demonstrar a minha fé. Mas podeis vós me mostrar a
vossa fé sem obras? Eu quero alguma prova da existência da vossa fé.
Preciso de algo que posso ver e apreciar, antes de aceitar vossa fé
como genuína. Não posso aceitá-la fiada, meramente porque falais de
maneira tão fina a respeito dela.” Eis o simples fato da vida. Tal é o rude
bom senso do homem comum. – Sir William Ramsay.
__________
19. Credere illi est credere vera qua esse loquitur; credere illum
credere quod ipse sit Deus; credere in illum est diligere illum. –
Agostinho.
__________
19. Tremem. Tomados do extremo temor, arrepiar, sentir horror.
– Thayer.
__________
19. Até os demônios são teístas ortodoxos, quanto a isto. –
Robins.
__________
19. Tremem. Expressa horror físico, especialmente na maneira
familiar em que afeta o cabelo... Este horror é bastante evidência de
uma sorte de fé, mas pode uma fé desta sorte salva?... Sem cair no erro
de supor que demônios aqui quer dizer endemoninhados, podemos
imaginar quão facilmente alguém que tinha presenciado as cenas
historiadas nos Evangelhos bem podia atribuir aos demônios as
expressões de horror que tinha ouvido nas palavras e visto nos rostos
daqueles que eram possessos de demônios. – A. Plummer.
__________
20. Homem insensato. Homem destituído de riqueza espiritual.
A despeito de sua ufania de sua fé como uma possessão
transcendental, todavia está sem obras, estéril, ociosa, receiando labor
que deve experimentar. – Thayer.
__________
20. Homem insensato. Ignorante. "Expositor's Greek
Testament".
__________
20. Homem vão. Homem vazio, homem de cabeça oca, de mão
vazia, de coração vazio. Homem de cabeça vazia, porque é tão iludido
que pensa que uma fé morta pode salvar; homem de mãos vazias,
porque é destituído das verdadeiras riquezas; homem de coração vazio,
porque não tem amor real para com Deus ou para com os homens... o
epíteto parece com o termo Raca, o vocábulo de desprezo citado por
nosso Senhor como a expressão daquele espírito irascível que é
parente do homicídio (Mt 5:22). Seu emprego por S. Tiago pode servir
para mostrar-nos que os primitivos cristãos entenderam que os
mandamentos do Sermão da Montanha não são regras para ser
literalmente obedecidas, mas são ilustrações de princípios. – A.
Plummer.
__________
20. Ociosa. Quer dizer que a fé é inútil, preguiçosa improdutiva,
(Mt 20:2,6; 1 Tm 5:13; Tito 1:12; 2 Pe 1:8). Aristóteles pergunta porque
cada órgão no corpo de um homem tendo uma função para
desempenhar o mesmo homem esteja sem função, sem propósito na
vida. Teria a natureza produzido semelhante perda e contradição?
Poderiam reproduzir o espírito da pergunta de Tiago nesta forma: “A fé
sem frutos é infrutífera”. – A. Plummer.
__________
21. “E não apareceu Abraão justo à vista de Deus por causa das
suas obras”. Hort.
__________
21. O caso de Abraão, que Paulo usou para provar a inutilidade
de obras de lei em comparação com uma fé viva, é usado também por
Tiago para provar a inutilidade de uma fé morta, sem obras, em
comparação com as obras de amor que são evidência de que existe
atrás delas uma fé viva. Paulo apela para a fé de Abraão quando creu
que teria um filho de Sara. Tendo ele 100 anos e Sara, 90 anos de idade
(Rm 4:19). Tiago apela para a fé de Abraão em oferecer a Deus Isaac
em sacrifício, quando não parecia haver possibilidade da promessa ser
cumprida se Isaac fosse morto. Esta experiência exigia mais fé, e foi
muito mais distintamente um ato de fé, uma obra, uma série de obras,
que nunca teriam sido efetuadas a não ser que uma fé muito vigorosa
existisse para inspirar e sustentar o que as praticava. O resultado foi
que Abraão foi justificado, isto é, foi considerado justo, e o galardão de
sua fé foi lhe prometido ainda com maior solenidade e plenitude do que
na primeira ocasião. (Gn 15:4,6). “Por mim mesmo jurei, diz Jeová,
porque fizeste isto e não me negaste teu filho, que deveras te
abençoarei e multiplicarei a tua descendência como as estrelas do céu
e como a areia que está na praia do mar”... – A, Plummer.
__________
22. “Fé cooperava com obras”... “pelas obras a fé consumada”.
Uma figura audaciosa. Não apela S. Tiago por fé e obras; mas por uma
fé que obra, uma fé operosa, viva, ativa em si, independente de
quaisquer considerações de interesse. Enquanto a fé não estava sendo
exercitada, estava de alguma maneira imperfeita. Ganhou madureza e
perfeição por ser plenamente exercida. As obras receberam a
cooperação de uma fé viva; a fé recebeu a perfeição e o acabamento
manifestadas nas obras em que fruiu. – Hort.
__________
22. Gl 5:6 diz: “Pois em Cristo Jesus nem a circuncisão vale coisa
alguma nem a incircuncisão; mas a fé que opera por amor”. Tiago 2:22
diz: “Vês que fa fé cooperou com as obras e a fé foi consumada.”
Constituem a ponte que atravessa o abismo que parece separar a
linguagem de Paulo da linguagem de Tiago. Ambos afirmam um
princípio de energia ativa, em oposição a uma teoria estéril e passiva.
É evidente que o termo é usado no sentido mais elevado, de uma
possessão dada por Deus, não de mera atitude mental. – "Expositor's
Greek Testament".
__________
24. Ele nunca nega a justificação pela fé, senão essa justificação
teórica, especulativa, sem atos de amor que correspondam. – Ellicott.
__________
24. “Eles (Tiago e Paulo) são como dois homens que se vêem na
dura necessidade de enfrentar dois ladrões, ficam com seus rostos em
direções opostas, cada um tendo diante de si um inimigo diferente.” –
W. M. Taylor.
__________
24. Nunca teria havido controvérsia sobre esta passagem se
Tiago não tivesse usado o vocábulo “justificar” num sentido peculiar, do
mesmo modo que usou o termo “tentação”. “Justificar” pode ter o
significado legal, forense – um termo dos tribunais e advogados. Porém
nosso Senhor usa o termo num sentido muito diferente. Ele diz “por tuas
palavras serás justificado”. Tiago toma em consideração um cristão,
não um pecador, e mostra que as obras cristãs justificam a profissão
cristã. Do mesmo modo nosso Senhor disse: “Os publicanos e as
meretrizes justificaram a Deus sendo batizados, com o batismo de
João.”. isto não quer dizer que livraram de culpa a Deus, porém que
vindicaram a Deus sendo batizados com o batismo de João... Ele
(Abraão) creu em Jeová, e quando creu foi convertido. Quarenta anos
depois, este crente, Abraão, fez o que Deus se agradou de vê-lo fazer
no caso de Isaac, e esta obra o justificou... no sentido de vindicar a
profissão que fizera. Ele diz que 40 anos depois da conversão de
Abraão ele fez o que Deus lhe mandou fazer, e então foi cumprida a
Escritura que diz: “Creu em Deus, isto lhe foi imputado por justiça”.
Todas as vezes na sua vida depois disto quando ele obedeceu a Deus
como um crente ele cumpriu a Escritura que testifica sua conversão. Em
outras palavras, foi a verificação, o cumprimento – como naquela
passagem em Timóteo, onde Paulo diz que Cristo foi justificado no
Espírito Santo – vindicou a profissão de Cristo de que ele era o Filho de
Deus – B. H. Carroll.
__________
Dificuldades da interpretação do Dr. Carroll. É a saída mais
fácil da dificuldade, porém nem sempre a saída mais fácil é a
verdadeira. Os fatos parecem não justificar todos os pontos de Dr.
Carroll, embora há sugestões de valor nas suas notas. 1. Parece
incontestável que em v. 15 se trata de salvação, e não de provas da
realidade de salvação. Pode “essa fé salvá-lo?” 2. Além de Abraão se
cita o caso de Raab, que não tinha longo período de prova de sua fé. O
caso de Raab não se presta tão facilmente para esta interpretação
quanto o caso de Abraão. Nossa teoria tem de satisfazer ambos os
casos, tem de aplicar-se tão facilmente ao caso da meretriz como ao do
patriarca. 3. A Escritura citada por Tiago sobre a justificação é a mesma
citada por Paulo, portanto não é provável que um desse ao vocábulo
justificar significado diferente do outro. 4. Esta teoria parece perder o
ponto de vista de Tiago. O ponto onde ele é diferente de Paulo está na
qualidade de fé que está discutindo – mera crença na existência de um
só Deus. É a palavra fé que tem dois sentidos no caso, não a palavra
justificar.
Acho, pois, que justificar tem a mesmíssima significação nos dois
grupos de passagens. A palavra grega nunca tem no Novo Testamento
a ideia da etimologia latina de justificar, isto é, de tornar justo. Tal
ideia não está no horizonte do Novo Testamento. A doutrina bíblica da
santificação indica esse progresso na moral e na espiritualidade, e a
doutrina da glorificação afinal faz do crente que morre um “justo
aperfeiçoado”.
A palavra justificar, quer nesta Epístola, quer nas Epístolas de
Paulo, significa declarar justo. Ora, é fato que quando declaramos que
Deus é justo, ou que Cristo é justo, nós os vindicamos. Não é
necessário que tivessem sido injustos para serem declarados justos.
Vindicar é, de fato, como diz o dr. Carroll, a ideia resultante de tais
passagens. E é a mesma nas passagens que ensinam a justificação
pelas obras. Estas vindicam a profissão do crente, declaram que ele é
justo e apresentam suas obras, sua vida, sua santidade, sua justiça
moral em evidência. Suas ações “falam mais alto” do que sua
profissão de fé – quando essa fala é dirigida aos seus
contemporâneos aqui no mundo. Demonstram mesmo perante Deus a
realidade da fé. A Abraão, depois do quase-sacrifício de Isaac, Deus
diz: “Agora eu sei”. Pode ser antropomórfica a frase, mas o é neste
sentido da palavra justificar. A submissão de Abraão, e do
perfeitamente disciplinado Isaac, ao mandamento divino, declarou até
aos altos céus: estes homens são justos. Sua fé é demonstrada em uma
obra que seria para os dois o supremo sacrifício, a mais abnegada
devoção.
Assim, igualmente, é o caso de Jó. Provado tão duramente ele
vindicou sua fé tão viva, tão submissa, capaz de jurar: “Ainda que ele
me mate, nele confiarei”. É fé-confiança que anima Jó, fé salvadora.
Deus a prova. Então as boas obras sacrificiais, a fidelidade máxima,
vindicam o crente Jó, “declaram-no justo” de fato, apresentam as
evidências de vida em apoio à profissão de fé. Não é diferente o sentido
do verbo nesses casos – ainda quer dizer declara justo. As obras do
crente falam; quando é provado, dão uma demonstração de sua
natureza regenerada e justificada; dizem em alto e bom som que ele é
um justo perante Deus, um justo que vive pela fé. As obras “declaram
justo” Deus, Cristo, o homem salvo...
O sentido do verbo é o mesmo quando se usa a respeito do início
da salvação, a doutrina do Evangelho e a experiência da graça, que
chamamos a justificação pela fé. A fé-confiança é o meio por Deus
determinado para declarar justo perante sua face aquele que crê
evangelicamente em Jesus crucificado e ressuscitado. Juridicamente,
do ponto de vista forense, o crente que com fia no Redentor levantado
no Calvário é aceito por Deus, declarado justo aos seus olhos, livrado
da condenação da lei divina e arrolado na família de Deus. “Todos vós
sois filhos de Deus mediante a fé”. “Nada de condenação há para os
que estão em Cristo Jesus”.
Assim foi justificado, “declarado justo”, o publicano que batia no
peito e clamava, “Deus seja propício a mim, o pecador”. “O pecador”
desceu para sua casa “declarado justo”, aceito por Deus como justo.
Assim o salteador crucificado no Calvário, e a pecadora a quem
declarou: “A tua fé te salvou”. Assim, Zaqueu a quem Jesus disse: “Hoje
entrou a salvação nesta casa”. Assim o caso de Abraão, Paulo, nós e
os demais salvos. Deus “declara justo” o ímpio, Rm 4:5. Esta fase de
justificação é para “aquele que não trabalha”, Rm 4:5, isto é, aquele que
não tem pretensão de acumular mérito sacramental ou moralista, não
negocia com Deus para comprar a salvação no balcão eclesiástico, e
não confia na justiça própria. É a fase instantânea, de vez, eterna,
jurídica, da salvação. Pela consideração unicamente da obra de Cristo
no Calvário, a qual sua ressurreição demonstrou como aceita por Deus
para os fins eficazes da salvação eterna outorgada ao crente, este
crente é declarado justo de vez e para sempre. Cristo foi feito pecado
em lugar dele na cruz. Agora é feito justiça para ele perante o tribunal
divino. A sentença jurídica divina é: justo, livre de condenação, salvo
pela graça expiatória de Cristo, mediante a fé-confiança salvadora.
A Bíblia nos diz que o crente é justificado, “declarado justo”, pela
graça (Rm 3:24; Ti 3:8); pelo sangue (Rm 5:9), oi sangue do Calvário,
por Cristo (Gl 2:17), pela fé (Rm 3:26, 30; Rm 5:1; At 13:39; Gl 3:24), no
Espírito Santo )1 Co 6:11; Gl 3:1-3) e “pelas obras” (Tiago 2:21, 24, 25).
Temos de considerar, também, para formular a doutrina total
sobre o assunto, que Paulo categoricamente afirma que não somos
justificados pelas obras (Rm 3:28; 4:2; Gl 2:16). Nenhum intérprete
sincero deseja fazer de sua Bíblia um acervo de contradições incríveis.
Logo a afirmação da exclusão de obras e a afirmação do valor das obras
tem de ser interpretadas como não se referindo ao mesmo assunto. É
a solução do caso. Na justificação pela fé, a fase jurídica da salvação,
as obras não entram em conta. A graça divina, concretizada em Cristo
crucificado, é a fonte da justificação. O sangue do Calvário é a base
jurídica, a causa eficaz e objetiva da justificação. O agente da
justificação é Cristo – “por um só homem” (Jesus) e “por um só ato de
justiça” (o Calvário, consumado e demonstrado na ressurreição) “a
graça de Deus e o dom pela graça” vieram “para a justificação da vida”
(Rm 5:15, 18). A parte humana no julgamento, a fé-confiança, é
experimentada “no Espírito Santo” que ao mesmo tempo regenera e
santifica inicialmente o crente – separa-o para ser de Cristo. Todas
essas frases descrevem “o julgamento” forense (Rm 5:18), a salvação
judicial perante Deus, a fase instantânea, eterna, objetiva da salvação.
Categórica e repetidamente a Bíblia nos proíbe de associar obras com
essa fase da salvação.
A outra verdade – e verdade importante é – do crente ser
justificado pelas obras, pois, tem de referir-se à fase progressiva da
salvação, a santificação gradual que torna o homem progressivamente
moral, justo, santo, consagrado. O sentido do verbo é o mesmo. As
obras que vão aparecendo “declaram”, sim, demonstram, que esse
crente professo é crente real, é justo na vida. A árvore se conhece pelo
fruto. O fruto justifica a árvore, vindica seu rótulo aí na horta, demonstra
a realidade da natureza professada e possuída antes de aparecerem os
frutos. Somos salvos sem boas obras por uma fé que produz as boas
obras. Se a “fé” for mera crença ortodoxa e não houver boas obras
então sabemos que é uma fé nati-morta, fé espúria, fé ao par da fé-
crença dos demônios no inferno, um cadáver de fé – destituído, desde
a eternidade e para a eternidade, da vida eterna, da salvação.
Ora, essa interpretação de justificação pelas obras, depois de
uma fé genuína e salvadora, estabelece perfeita harmonia em nossas
Bíblias entre Paulo e Tiago e os demais escritores que concordam com
estes dois e Cristo, nosso Mestre, que concorda com ambos. Preserva
a salvação pela graça e a santidade em boas obras, a justificação e a
santificação, a justiça objetiva e a justiça subjetiva, a vida e o fruto, o
manancial infinito e o rio caudaloso, Deus e o homem unidos, mas
unidos como Deus determinou.
Outrossim, essa interpretação concorda com a experiência tanto
de Abraão como de Raab. A justificação pela fé, unicamente pela fé,
veio no caso de Abraão, antes do nascimento de Isaac. Era fé na graça
sobrenatural de Deus que havia de cumprir a promessa. Igualmente, no
caso de Raab, veio na sua decisão íntima, aliando-se com os
mensageiros do Deus vivo e verdadeiro, recebendo-os, crendo na sua
palavra nua e inverificável. Depois da fé nascer, ainda ela tinha tempo
para entregar os representantes do Deus em que havia crido. Mas as
obras comprovam a fé. Agiu como crente.
A justificação de Abrão pelas obras veio décadas depois da sua
justificação pela fé. Nada de justificação por uma mistura de fé e obras
na mesma ocasião ou numa continuidade rápida. Décadas passam
entre a justificação pela fé e a subsequente justificação cabal por uma
obra tão notável. Isaac nasce e já é homem. Obedece livremente.
Compartilha da fé, da submissão, da obediência, do sacrifício de si
próprio. A justificação inicial, salvador, tendo a graça como a fonte, o
sangue de Jesus como a causa eterna e única, a fé-confiança como seu
meio recipiente, Cristo como Autor e o Espírito como o meio-ambiente,
- essa justificação se deu décadas antes do sacrifício de Isaac. Este
sacrifício, não nenhuma cerimônia, décadas depois da salvação do
patriarca, o “declarou justo”, demonstrando justo, por uma obra tão
maravilhosa que deu também seu “filho unigênito”, na fé viva de que
Deus o ressuscitaria para cumprir a promessa. Essa obra é única com
a fé, é o exterior da santidade da qual a fé é o interior, o âmago. Fé com
obras demonstram a salvação. Mas a fé só (do lado humano), unindo-
nos vital e eternamente ao Calvário, ao Senhor vivo, ao Espírito Santo,
nos justifica perante Deus. Todos os fatores caem em seu lugar e sua
ordem bíblica. Uma Escritura assim não é jogada por exploradores ou
incompetentes contra as demais Escrituras. – W. C. Taylor.
__________
25. “Raab, a meretriz”. Ela foi justificada em virtude de sua fé no
verdadeiro Deus e arriscou tudo nesta fé. – Hort
__________
Porém o contraste entre Abrão e Rahab é tão notável quanto é a
similaridade. Ele é o amigo de Deus, ela é de uma nação pagã e vil, e
é meretriz. O grande ato de fé de Abraão é exercido para com Deus, e
o de Raab para com os homens. O ato dele é o auge de sua experiência
espiritual, o dela é o primeiro sinal de que ela crê. Ele é o santo
encanecido, ela mera congregada. Porém, segundo a luz que possuía
ela “fez o que pode” e foi isto aceito.
Estes contrastes têm o seu lugar no argumento como as
similaridades. Os leitores da Epístola poderiam pensar, “Atos heróicos
eram muito naturais em Abraão, porém nós não somos uns Abraãos, e
temos de contentar-nos em participar de sua crença no verdadeiro
Deus: nem podemos nem carecemos imitar seus atos”. “Porém”, diz S.
Tiago, “lá está o caso de Raab, a pagã, vós podeis imitar a Raab.”. e
para os cristãos dos círculos judaicos de então o argumento teria
bastante força, pelo exemplo dado por esta mulher. Ela recebeu e creu
nos mensageiros, os quais estavam sendo perseguidos por seus
patrícios, e teriam sido mortos. Ela se separou de seu povo incrédulo e
hostil e aliou-se com uma causa desprezada e em nada popular. Ela
salvou os pregadores com uma mensagem desagradável a fim de
cumprir a missão divina com que os mensageiros tinham sido
responsabilizados. Substituamos pelos espias os apóstolos e a mesma
coisa é a verdade a respeito dos judeus crentes naquela época
apostólica. E S. Tiago, como querendo usar do paralelo, não fala dos
moços como Josué (6:23), nem dos espias como Hb 11:31, mas de
mensageiros, termo que se aplicava igualmente aos que foram
enviados por Jesus Cristo ou por Josué. – A. Plummer.
__________
26. “A fé sem obras é morta”. A fé no Senhor Jesus Cristo, a
Glória, é uma coisa morta se estiver separada de obras, ou em outras
palavras, de energia operosa. – Hort.
__________
Uma fé inativa é o cadáver da religião. – Mayor.
__________
Tiago quer santidade moral em contraste com crenças corretas.
– Ellicott.
__________
Se considerarmos o motivo, ele foi justificado pela fé; se
considerarmos o resultado, ele foi justificado pelas obras. – Ellicott.
__________
26. Tiago é contrário à noção de que basta terem os homens
emoções religiosas, falarem linguagem religiosa, possuírem
conhecimentos religiosos e professarem uma crença religiosa, sem a
prática diária de deveres religiosos e da devoção da vida religiosa. –
Ellicott.
__________
Fé o corpo, a soma e substância da vida cristã; obras (obediência)
o movimento e vida desse corpo. – Alford.
__________
O que Tiago chama “obras”, Paulo descreve como “frutos do
Espírito”, Gl 5:22. Para Paulo “obras” são “obras da lei” e ele opõe-lhes
a fé. – Mofatt.
__________
Tiago e Paulo não se entendem ao supormos que um está
atacando o outro. Seu acordo em Jerusalém, e a mão fraternas de
parceria dada ali, proíbe esta suposição. Porém, devem ser
interpretados à luz dos males que estão combatendo, males
inteiramente diferentes: uma fé (crença) ortodoxa, ritualística, estéril,
meramente intelectual versus um sistema legalista, nacionalista,
farisaico e igualmente estéril, de salvação pelas obras, especialmente
pela circuncisão. Tanto Paulo como Tiago são necessários como
antídoto do farisaísmo ou do romanismo. – Ellicott.
__________
Tiago versus Paulo. Ele (Tiago) não negou coisa alguma que
Paulo tivesse afirmado, ou que qualquer discípulo de Paulo teria desejo
de afirmar. Em comparar a linguagem de Paulo com a de Tiago, todas
as expressões distintivas daquele estão ausentes da linguagem deste.
A tese de S. Paulo é que o homem é justificado, não pelas obras da lei
mas pela fé em Jesus Cristo. Tiago fala tão somente de obras sem
nenhuma menção da lei, e fé sem menção de Jesus Cristo. A qualidade
da fé que ele considera consiste meramente na crença de que há um
só Deus. Em outras palavras Tiago está escrevendo, não no interesse
do judaísmo mas da moral. Paulo ensinou que a fé em Jesus Cristo era
poderosa para justificar um homem incircunciso e não observador das
ordenanças mosaicas. Para este ensino Tiago não tem nenhuma
palavra de oposição, como não dá sinal de ter ouvido mesmo da
controvérsia. – Salmon.
__________
Lutero, comentando a Epístola aos Romanos: “Mas a fé é uma
obra divina dentro de nós, que nos transforma e nos regenera da parte
de Deus (João 1:13), e mata o homem velho, tornando-nos inteiramente
outros homens no íntimo, no coração, na coragem, na mente, e na
força, e traz consigo o Espírito Santo. Oh! É uma coisa viva, ativa,
enérgica, e poderosa, está fé, de modo que é impossível que não venha
operar aquilo que é bom sem interrupção. Nem pergunta se deve fazer
boas obras, porém antes de perguntarmos eis que ela já as operou... A
fé uma confiança viva, deliberada na graça de Deus, tão certa e segura
que morreria mil mortes por sua confiança. E tal confiança e experiência
da graça divina tornam um homem hilariante, ousado, e alegre para com
Deus e todas as criaturas... Portanto é impossível separar as obras da
fé; sim tão impossível quanto seria separar do fogo seu brilho e calor.”
– "Expositor's Greek Testament".

CAPÍTULO VI
O DOMÍNIO DA LINGUA
3:1-18
TRADUÇÃO

Meus irmãos, deixai de estar vos tornando, muitos de vós,


mestres, certos de que (nós que somos mestres) seremos
expostos a uma condenação mais severa. Porque em muitos
sentidos todos nós erramos; se alguém não erra por palavra, este
é varão perfeito, poderoso é para também trazer sob freio o corpo
todo.
Com efeito, se pomos os freios na boca dos cavalos, para
que eles nos obedeçam, logo lhes governamos o corpo todo. Eis
que também as naus, embora sejam tão grandes, e levadas de
ventos impetuosos, se viram com um leme bem pequeno para
onde quiser o capricho do piloto. Assim também a língua pequeno
membro é, e se gaba de grandes coisas.
Eis quão pequeno fogo incendeia toa grande bosque! E a
língua é fogo; qual mundo de iniquidade a língua está colocada
entre nossos membros, maculando o corpo todo, pondo em
chamas o círculo da vida e sendo inflamada pelo inferno.
Porque toda espécie tanto de feras como aves e serpentes e
criaturas marinhas se doma, e tem sido domada pela espécie
humana, mas nenhum dos homens pode domar a língua; mal
inquieta, está cheia de veneno mortal. Com ela louvamos nosso
Senhor e Pai: e com amaldiçoamos aos homens, que são feitos à
semelhança de Deus. Da mesma boca saem benção e maldição.
Não convém, meus irmãos, que estas coisas continuem assim.
Porventura uma fonte lança da mesma bica água doce e água
amargosa. Acaso, meus irmãos, pode uma figueira dar azeitonas,
ou uma vide, figos? Nem tão pouco pode (uma nascente de) água
salgada dar água doce.
Quem entre vós é sábio e experiente? Mostre por sua vida
nobre, com a modéstia da sabedoria, as suas obras. Mas se tendes
em vosso coração inveja amargurada e o espírito partidário, deixai
de vos gabar e de mentir contra a verdade. Pois esta não é a
sabedoria que vem lá do alto, mas é terrena, sensual, diabólica.
Pois onde há inveja e espírito partidário, aí há confusão e toda obra
vil. A sabedoria que vem do alto, é, primeiramente, pura, depois
pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e bons frutos,
franca e sem fingimento. E para os que promovem a paz, está
sendo semeada em paz (a semente) cujo fruto é a justiça.
__________

PARÁFRASE

Meus irmãos, membros de igrejas congregacionais, onde


prevalecem a democracia e a eleição popular dos presbíteros das
igrejas, no gozo da democracia vos preveni contra seus perigos. Sua
principal fraqueza é que onde todos têm o direito a ser candidatos para
posição oficial, todos querem a liderança, e fazem campanhas
partidárias a fim de vencer nas urnas. Assim de democratas passareis
a ser demagogos. A cadeira de mestre não é para muitos, e embora a
igreja eleja sues oficiais, é o Espírito Santo que os escolhe, e a igreja
apenas procura descobrir sua divina escolha. Portanto deixai de
candidatar-vos para posição oficial. Se entrardes sem vocação divina
nesta santa carreira, sereis tão somente condenados com tanto mais
severidade quanto foi sacrílega a vossa presunção.
Aliás, a facilidade em falar não é sinal de chamada para o
ministério. Antes é motivo de maior cautela no domínio da língua.
Nenhuma perfectibilidade humana existe nesta vida, mormente no falar.
Pelo contrário eis aí o ponto de maior fraqueza e tentação. Se alguém
pudesse ser perfeito em palavras, os outros elementos de perfeição não
tardariam a manifestar-se nele.
Achai o governo da língua dever insignificante, por ser ela tão
pequena? Olhai o perigo. Freio é coisa pequena, mas sem ele o cavalo
é solto. Leme é pequeno, mas sem ele resulta o naufrágio. A brasa que
principia o incêndio na floresta é pequena, mas quão devastadora! E a
língua é um fogo que começa no eixo da vida e consome toda a roda
da existência.
E que fenômeno monstruoso se vê entre vós. Línguas quais feras
ou répteis. Línguas quais fontes lançando água amarga, água salobra
e água doce da mesma bica. Línguas quais arvores mitológicas
capazes de produzir frutas de qualidades as mais diversas. Homens
celestes que têm línguas inflamadas pela própria Geena de fogo.
Deixai, meus irmãos, desta contradição na vida. Sede mais coerentes,
menos ambiciosos, presunçosos e insinceros.
Julgais que sois sábios? Há duas sabedorias. Uma é a astúcia do
demagogo, do demônio que, na luta sem lei, do inferno procura vencer
seu rival, do candidato mundano na campanha entre o eleitorado. Esta
sabedoria não tem lugar nas igrejas. É carnal, é dos restos da natureza
não-regenerada. É da terra terrena e vil.
Porém a verdadeira sabedoria é sobrenatural, busca a paz, é
franca, e não pratica o fingimento e o dolo.
Se semeardes uma vida pacífica, não temais ser sempre vítimas
de injustiça. Não. Deus governa o mundo. E no fim, quando colhermos
o que temos semeado, aquele que procura a paz terá uma seara de
deliciosos frutos de justiça a fruir. Ele sentirá que sua vida pacífica não
foi em vão.

COMENTÁRIO
1. “Não... muitos... mestres”. Deixai de tronar-vos mestres em
tão grande número. Hoje em dia, queixam-se as igrejas da falta de
pastores. Naquele tempo se queixaram de uma superabundância de
mestres em seu seio. E deste costume, resultava muito pecado da
língua. Pensemos deste parágrafo como tendo principalmente em mira
o ministério, a pluralidade de presbíteros em cada igreja e as lutas entre
os ambiciosos pela honra. – W. C. T.
__________
1. “Mestres”. Aqueles nas assembléias cristãs que se
incumbiram da tarefa do ensino, com a especial do Espírito Santo, 1 Co
12:28; Ef 4:11; At 13:1 – Thayer.
__________
1. ”Mestres”. É pressuposto que para o bem da comunidade
deve haver mestres, desempenhando uma função especial (1 Co 12:29.
Comparai v. 28), e então Tiago deixa subentender que muitos se
propõem a ser mestres sem nenhum sentimento de responsabilidade,
porém de um espírito vaidoso ou censorio. – Hort.
__________
1. Todos nós tropeçamos e caímos debaixo do juízo, porém o
juízo é mais severo se assumimos ares de juízes de outrem. – Hort.
__________
1. “Mestre”. A negligência desta cautela são trouxe perplexidade
sobre a primitiva igreja tanto como sobre as mais recentes (Compare At
15:24; 1 Co 1:12; 14:26; Gl 2:12; 1 Co 3:11-15). – Ellicott
_________
1. “Mestres”. “Não sejais bispos de outros” é a tradução literal
de 1 Pe 4:15 (quem se intromete em negócios alheios). Evitai o espírito
do orgulho doutrinário, de demasiada confiança nas próprias opiniões
de infalibilidade, que sujeita alguém à coceira de ensinar. – Farrar.
__________
1. Irineu atribui a heresia de Taciano ao fato de que ele permitiu
seu orgulho de mestre desenvolver em si uma paixão pelas novidades.
– Moffatt.
__________
1. Não vos apresseis para ocupar o ofício de mestre visto que o
mestre é muito mais estritamente responsabilizado do que o discípulo.
O Dr. Broadus costumava dizer que o ministério exerce uma grande
atração para mentes fracas. E sem dúvida muitas mentalidades fracas
ambicionam exercer o ministério. Tiago deseja que a entrada no
ministério seja um passo cuidadoso, bem meditado em oração,
seriamente pensado. Este capítulo é um dos mais importantes do livro
de Tiago, e mesmo da Bíblia inteira, e seu valor é incalculável a jovens
pregadores. Por sua profissão tornam-se mestres da Palavra de Deus,
por isto nenhum outro capítulo deve ser para eles mais importante de
que este para lhes orientar na sua capacidade oficial.
Era o característico, a falta notável, de um judeu, no seu país ou
no estrangeiro, cobiçar a honra do ofício do mestre mais do que a
eficiência e serviço da carreira. A vaidade e o orgulho o levariam a
entrar onde os próprios anjos receariam penetrar. Quem se sente
movido a entrar no ministério por um espírito de vaidade mais do que
pelo desejo de trabalho perseverante é indigno da posição.
Há homens com uma aptidão natural para ensinar que são muito
ignorantes. E há homens cheios de informações sobre uma multidão de
assuntos que não têm o dom de ensinar coisa alguma. – B. H. Carroll
__________
1. É óbvio que os verdadeiros mestres sempre estarão na minoria.
Há algo de erro grave quando a maioria da comunidade ou mesmo um
número considerável, se apressa para ensinar os outros. Numa
sinagoga judaica, qualquer um que se sentia disposto podia chegar à
frente e ensinar, e S. Tiago escreve numa época quando a mesma
liberdade prevalecia nas congregações cristãs. (1 Co 14:26, 31). Porém
em ambos os casos esta liberdade demasiada fruiu em desordens
sérias. O desejo de ser chamado “Rabi, Rabi” teve sua influência tanto
entre judeus como entre os cristãos, e muitos foram zelosos expositores
que ainda faltavam aprender os rudimentos da verdadeira religião. – A.
Plummer.
__________
1. “Muitos mestres”. Nas “Casas de Aprender” judaicas havia
muito pouca restrição quanto aos que quanto aos que tinham o privilégio
de ensinar. Temos o exemplo disto no caso do nosso Senhor mesmo,
que nenhuma dificuldade encontrou em entrar e ensinas nas sinagogas
(Mt 12:9 em seguida; Mt 13:54; Mc 1:39; Lc 6:6) embora fosse
desagradável às autoridades sua presença ali em várias ocasiões e às
vezes mesmo os ouvintes tivessem inteiramente repudiado seu ensino
(por exemplo Jo 6:59-66). O mesmo se pode dizer de Pedro, João, e,
mais do que tudo, Paulo. “Mestres” tem de ser interpretado à luz do que
tem sido dito. A passagem é interessante em revelar os métodos de
controvérsia nas sinagogas da Diáspora; as paixões ficaram exaltadas,
julgando pelas severas palavras de repreensão que o autor se sente
obrigado a empregar. – "Expositor's Greek Testament".
__________
1. “Muitos mestres”. A introdução de costume da eleição dos
oficiais pela congregação era quase inevitável nas igrejas helenistas.
Nas cidades gregas o método grego de votar era praticado como o
termo grego (At 14:22) indica, embora a tradução esconda a natureza
do processo. A votação livre estimulou interesse público, e sem ela a
vida e o interesse não podiam ter sido conservados numa congregação
helenista. A educação livre helenista tinha esta tendência, por
considerar todos os homens iguais.
Graves perigos, no entanto, estavam envolvidos nesta sorte de
ação. O método implica haver candidato, e havendo candidatos há
rivalidade, e onde há rivalidade há ciúmes e disputas e facções e
divisões. Os candidatos rivais tinham sues amigos e partidários, e a
eleição dos oficiais das igrejas ficava maculada por contendas. Paulo
se refere a estes males e admoesta tanto aos gálatas como aos
coríntios contra os mesmos.
Tiago estava também a par desta fase da vida das igrejas. Porém,
o aspecto do caso que mais lhe desagradava era a paixão dos membros
das congregações do Ocidente pelo privilégio de falar e ensinar
publicamente. Todos queriam ensinar; todos almejavam recomendar-
se ao público. Poucos queriam ser ensinados, poucos almejavam ouvir.
Um número demasiadamente grande ambicionava posição oficial
pública, e estava se preparando para conservar-se perante os olhos do
povo como candidatos. Daí o peso do seu conselho aos leitores para
que sejam prontos para ouvir, tardios para falar (1:19), e agora ele
dedica um parágrafo ponderado a admoestá-los sobre sua falta
predileta. Não deviam ficar cobiçosos pela posição oficial de mestre, e
mesmo não deviam ser ambiciosos para mostrar como leigos sua
capacidade de ensinar. Se o mestre recebe mais respeito e maior
ordenado e goza mais influência, todavia mais se espera dele e será
julgado com juízo mais severo no que faltar. O único dever dos oficiais
da igreja a que Tiago se refere é o de ensinar. A Epístola pertence a um
período muito primitivo, quando o culto da igreja, e a sua doutrina e
serviço eram muito simples e quando o dever de ensinar, tanto para a
conversão dos pagãos como para a instrução dos conversos
inteiramente sobrepujava em importância os outros deveres e funções
dos oficiais das congregações. – Sir William Ramsay.
__________
1. “Mestre”. Aqui, ali, acolá existiam igrejas, muito tempo depois
do primeiro século, que não tinham um só oficial senão presbíteros e
mestres. Dionysius de Alexandria refere à igrejas nas vilas do Egito na
data do meado do terceiro século que estavam assim organizadas.-
Moffat.
__________
2. “Todos”. No original o termo empregado é o mais forte
possível. Absolutamente cada um de nós tropeça em muitas coisas. O
autor dá muita ênfase a esta declaração – A, Plummer. Esta sentença,
se não houvesse outra, acabaria com a teoria egoísta de
perfectibilidade do crente nesta vida. É o homem mais respeitado pela
sua santidade no cristianismo antigo que fala. – W. C. T.
__________
5. “Gaba”, parece significar qualquer espécie de linguagem
soberba, linguagem que fere e provoca aos outros e desperta
contendas. “Gaba” quer dizer no original estirar a cerviz, pavonear-se.
–Thayer.
__________
6. “Fogo”. A língua é chamada um “fogo”, como se estivesse
tanto incendiada como incendiadora de outras coisas, em parte por
causa do espírito fogoso que a governa, em parte pelo espírito
destrutivo que ela manifesta. – Thayer.
__________
6. “Mundo de iniquidade” A soma de todas as iniquidades.
Thayer.
__________
6. “Incendeia” Acende, opera destrutivamente, tem poder
pernicioso; no passivo, aquilo no que estão incendiadas influências
destruidoras. – Thayer.
__________
6. “Curso da vida”. Usado daquilo que segue a origem, a vida, a
existência; a “roda” da vida, isto é, o mecanismo da vida; porém outros
explicam como a roda da origem humana, que logo que o homem nasce
começa a rodar, isto é, o curso da vida. – Thayer.
__________
6. “Contamina”. A ação da língua pode ser considerada como
maculando a ação do corpo inteiro, a conduta total de que o corpo é o
órgão. – Hort.
__________
6. Três tentações para açoitar com a língua são especialmente
poderosas para o mal: como alívio na paixão ou zanga, como a
gratificação de malvados ou ciúme e como vingança. A primeira destas
tentações é experimentada por gente de gênio fogoso; a segunda, pelos
maliciosos; e a terceira se presta para os que estão fracos e sem
defesa. E todos nós nos achamos às vezes em cada uma destras
classes. 1 Pe 2:23, Os 14:2; Sl 109:28, 29. – Ellicott.
__________
6. “A língua... é colocada”, ou melhor, se constitui um mundo de
iniquidade, “a soma de iniquidade”. A língua não foi criada por Deus
para ser uma fonte perpétua de males... é pela sua própria carreira
indisciplinada e anárquica que se torna “mundo do iniquidade”, que se
constitui entre nossos membros aquele que contamina o corpo todo. A
religião pura consiste em refrear aquele membro que contamina o corpo
inteiro. Ora, a língua nos contamina de três maneiras: por sugestionar
em nós e em outros o pecado; por cometer o pecado em tantos casos
de mentira e blasfêmia; e por desculpar ou defender o pecado. – A.
Plummer.
__________
6. “O Curso da vida”. A língua é um centro de onde se irradia
malvadez: é o pensamento principal. Uma roda que pegou fogo no eixo
há de ser totalmente consumida pelo fogo afinal. Assim a sociedade. –
A. Plummer.
__________
7. “Toda a espécie”. Ela combina a ferocidade do tigre com a
frivolidade do macaco e a sutileza e veneno da cobra. – A. Plummer.
__________
8. A ordem no original é enfática. Toda natureza bestial pode ser
domada., tem sido domada e continua a ser domada pela natureza
humana; porém a língua não pode ser domada definitivamente, por
nenhum dos homens. Mas por Cristo pode. O domínio da língua é da
essência da religião de Cristo. Toda a ênfase está sobre a impotência
humana para dominar a língua, a despeito de sua soberania sobre as
demais feras. A situação é longe do desespero. – W. C. T.
__________
8. Quando eu era moço fiquei bastante impressionado pela vasta
soma de males que viesse de falar a má qualidade de fala, e descobri-
me a mim mesmo falando o que não devia, de modo que quando li este
capítulo determinei em mim mesmo descobrir um jeito pelo qual eu
pudesse evitar conversação má, especialmente a ira. Naturalmente sou
impulsivo, fogoso, propenso a sentir ofensa, pronto a ressentir e falar e
vendo em mim esta falta, determinei aprender um modo pelo qual
estando irado pudesse ficar calado. Resolvi não dizer coisa alguma.
Pois bem. Foi a coisa mais dura que jamais procurei fazer em toda a
vida. Porém eu venci. Ouvi minha filha dizer, quando ela tinha 21 anos:
“Papai, nunca te ouvi falar uma só palavra irada na minha vida”. – B. H.
Carroll.
__________
8. “Mal irrequieto”. É surpresa para nós ouvir a língua chamada
um “mal”, em lugar de ser considerada o abuso de um bem... O fato de
ser ela um mal procede de sua independência, isto é, de seu isolamento
da integridade humana. “Um mal desordeiro”. – Hort.
__________
8. “Veneno”. Dito de homens acostumados a vilificar e a caluniar
e injuriar a outros, assim os prejudicando. – Thayer.
__________
9. “Com ela...” Deveras ele está atacando uma falsa qualidade
de religião e não mero vício de língua. Ele está discutindo uma
tendência, de íntimo parentesco com aquela que combateu no fim do
Cap. 1, uma religiosidade sem amor, a combinação de devoção fingida
a Deus e indiferentismo e mesmo ódio aos homens. – Hort.
__________
9. “Criados à imagem de Deus”. O tempo do verbo grego
implica que os homens receberam na primeira criação esta imagem e
ainda a possuem. – Weymouth.
__________
9-12. Ele mostra o caos moral a que o cristão se vê reduzido
quando não tem domínio de sua língua. Ele se tem feito o canal de
influências infernais. Não pode, à vontade, tornar-se outra vez o canal
de influências celestiais, ou tornar-se ofertante de sacrifícios santos. Os
fogos de Pentecostes não descansam sobre um depósito dos fogos de
Geena. – A. Plummer.
__________
Um homem que amaldiçoa seu semelhante e então bendiz a
Deus é semelhante a um homem que professasse todo o respeito pelo
seu soberano, ao mesmo tempo, insultando e injuriando a família real,
jogasse lama sobre o retrato do rei e se mostrasse ostensivamente
desdenhoso da vontade real. – A. Plummer.
__________
Quem não tem visto o estrago que pode ser feito por uma única
palavra de zombaria, de soberba; quanta confusão não se opera pelo
exagero, insinuação ou mentira; quanto sofrimento não se causa por
sugestões e declarações caluniadoras; quantas carreiras de pecado
não se tem começado por meio de histórias impuras e gracejos
imundos?... Narrativas impuras, chistos imundos, sugestões lascivas,
mais do que blasfêmias e maldições, contaminam as almas daqueles
que as proferem e conduzem os ouvintes ao pecado. Tais hábitos
roubam todos quantos neles estão relacionados, quer seus autores,
quer seus ouvintes, roubam-nos de duas coisas que são a principal
proteção da virtude – o temor de Deus e o temor do pecado. Produzem
uma atmosfera na qual os homens pecam com os corações leves,
porque os pecados mais grosseiros parecem atraentes e fáceis, assim
como também engraçados. Não há ato mais diabólico do que o de fazer
acreditar a um ser humano que aquilo que é feio e perigoso em si
mesmo pareça “agradável aos olhos e bom para comer”... A palavra
queixosa que torna tudo motivo para a culpa, que procura mostrar que
quem fala está sempre sendo maltratado; a palavra mordaz, que visa
causar dor; a palavra carrancuda que lança sobre todos que a ouvem
uma nuvem de tristeza; a palavra provocante, que procura despertar a
briga; - de todas estas coisas tendemos a pensar levianamente demais
e necessitamos da severa admoestação de S. Tiago para nos despertar
a sua verdadeira natureza e suas consequências certas. – A. Plummer.
__________
No tocante a outros, tais palavras ferem corações tenros,
aumentam desnecessária e enormemente a infelicidade humana,
transformam a doçura em amargura, estrangulam bons impulsos, criam
e desenvolvem ressentimentos, e afligem toda a roda da vida diária.
No tocante a os mesmos, a indulgência em tal linguagem deturpa
e enfraquece nosso caráter, cega nossa simpatia, e mortifica nosso
amor aos homens, e, portanto, nosso amor a Deus. Foi dito uma vez
em desculpa de um homem que tinha sido criticado e condenado como
imprestável: “Ele é bom em tudo, menos no gênio”. A resposta foi:
“Menos no gênio! Como se o gênio não fosse nove décimos da religião”.
– A. Plummer.
__________
10. “Não convém”. Esta duplicidade no uso da língua é uma
coisa desnatural, monstruosa. – Hort.
__________
10. “Amaldiçoamos”. Esta palavra mostra que o pecado
especial de que aqui se trata não é calúnia, mentira ou injúria , porém
abuso pessoal, cara a cara, como resulta de perder o domínio numa
controvérsia. – "Expositor's Greek Testament".
__________
13. Sabedoria. Este trecho volta para o assunto do v. 1. A
desculpa destes que eram ambiciosos de ser mestres foi que possuíam
sabedoria, e portanto Tiago procede a considerar a verdadeira
sabedoria e a falsa. Em 1:21 a humildade, a mansidão é condição de
receptividade em o ouvinte; aqui é a indispensável condição de se
apresentar perante outros para a sua instrução. – Hort.
14. “Zelo”. Rivalidade ciumenta e contenciosa. – Thayer. Espírito
de contenda. Cobiça de distinção, desejo de mostrar-se e adiantar seus
interesses num sentido partidário que não dispensa métodos baixos, é
facciosidade. Fl 2:3; 1:15-17; 2 Co 12:20; Gl 5:20. – Thayer.
__________
“Glorieis”. Gabar-se, ao prejuízo de outros. – Thayer. Contra a
verdade – contra o que é verdadeiro no caso em consideração (oposto
ao que é fingido, falso). – Thayer.
__________
14. “Espírito de contenda”. Usado por Aristóteles de facções
políticas mordendo-se com táticas de demagogia, “a ambição pessoal
de lideres rivais”, o vício do líder de um partido que foi criado por
considerações do orgulho do dito líder. – Hort.
__________
14. A palavra traduzida “contenda” vem de mercenário, e daí
significa o espírito partidário. – "Expositor's Greek Testament".
__________
15. “Esta sabedoria”. A astúcia de homens ciumentos e
contenciosos. –Thayer.
__________
“Animal”. Governada pela alma, isto é, a natureza sensual,
sujeita aos apetites e paixões, uma sabedoria em harmonia com
desejos corruptos e os afetos que daí nascem. – Thayer.
__________
“Diabólico”. Semelhante a um demônio, procedendo dos
demônios. – Thayer.
__________
15. “Não mintais contra a verdade”. A doutrina implicada é um
paradoxo, mas é amplamente verificada pela experiência. A mera
possessão da verdade não é garantia de que ela será declarada; toda
a conversa tira suas cores e matizes do estado moral e espiritual de
quem fala, de tal modo que a verdade sai dos seus lábios como sendo
falsa à proporção que ele mesmo não está numa condição veraz. A
linguagem correta que ele profere pode levar uma mensagem de
falsidade e mal em virtude da amargura e egoísmo com que ele fala. No
fundo de sua alma tais pregadores só estimam a verdade como uma
possessão para seu próprio uso e defesa. – Hort.
__________
A origem e a esfera da sabedoria espúria é a terra, não o céu; sua
sede no homem é sua alma, não seu espírito; os seres com que ele tem
em comum esta sabedoria são os demônios, não os anjos; assim a
sabedoria que é comum aos homens e aos demônios, 2:19. –Hort.
__________
“Animal”. Não espiritual. Compare-se com Judas 19 –
Weymouth.
__________
15. “A sabedoria que vem de cima”. Argumentos astutos,
distinções sutis, controvérsia engenhosa, métodos da verdade pouco
importam contanto que seja ganha uma vantagem efêmera, discussão
hábil, ironia amarga, tanto mais apreciada quanto mais envenene e
enfureça o seio do adversário – enfim, todas estas tricas do
controversialista profissional, que não são menos dignas de desprezo
por ser bem feitas – isto era uma sabedoria de certa espécie... era
humana (isto é, seu domínio é na esfera onde tudo que é
essencialmente humano tem voga) no sentido de que ministrava ao
respeito próprio. Em nenhum outro versículo se manifesta mais
nitidamente o amplo conhecimento da natureza humana pelo autor. –
"Expositor's Greek Testament".
__________
15-17. O espírito de contenda e o espírito de mansidão, eis os
característicos que principalmente distinguem a sabedoria que vem do
céu e a que vem do inferno. Como nos comportamos em argumento e
em controvérsia? Somos serenos quanto ao resultado, em plena
confiança de que a verdade e o direito hão de prevalecer? Desejamos
que a verdade prevaleça, ainda que isto envolva colocar-nos na posição
de estarmos errados? Somos mansos e corteses para com os que
diferem de nós? Ou perdemos o domínio próprio e ficamos fogosos em
nossa oposição contra os antagonistas? Se for assim, temos razão de
duvidar se nossa sabedoria é da melhor sorte. Quem perde sua cabeça
num argumento já manifestou que pensa mais em si do que na verdade.
– A. Plummer.
__________
16. “Espírito de contenda”. Uma palavra que originalmente
significou trabalhar por salário, especialmente como tecelão, e daí
tornou-se usada para qualquer ocupação ignóbil, especialmente
controvérsia política, intriga, politicagem. Rm 2:8; Fl 1:15; 2:3; Gl 5:20.
– A. Plummer.
__________
Todo o cristianismo, para alguns, consiste tão somente em um
amargurado desdém pelos pecados dos pecadores, num espírito
soberbo e sem caridade, contencioso, lutando com o que se chama de
mundo perverso. – Stier.
__________
Do mesmo modo que há uma fé que é comum aos homens e aos
demônios, e uma língua que é inflamada pelo inferno, assim há uma
sabedoria que é demoníaca na sua atividade. – A. Plummer.
__________
Quando a alma se distingue, tanto da carne como do espírito, ela
representa uma parte de nossa natureza que é muito mais intimamente
ligada com aquela do que com este. “Natural” significa “sensual”. O
homem “natural” embora de uma categoria mais alta do que o homem
carnal, está muito abaixo do nível do homem espiritual, que está sob a
liderança do Espírito Santo. – A. Plummer.
__________
Terrena, feroz, diabólica – Purves.
__________
Foi imediatamente depois de haver uma contenda entre os
apóstolos sobre qual deles seria o maior que todos O abandonaram e
fugiram.
__________
17. “Sabedoria que vem de cima”. Pura. Livre de toda falta
imaculada. 2 Co 7:11; Fl 4:87; 1 Tm 5:22; 1 Pe 3:2. Pacífica. Amante
da paz. Moderada. Disposta à equidade, justa, mansa, Fácil de
conciliar. Tratável, disposta a obedecer. Bons frutos – usado de os
feitos dos homens como expoentes de seus corações. – Thayer.
17. “Fácil de se conciliar”. A sabedoria falsa havia de ser briosa,
imperiosa, dominadora; a verdadeira se manifesta em deferência
voluntária dentro de limites legítimos. – Hort.
__________
17. “Primeiro de tudo pura, então pacífica, cortês, não egoísta,
cheia de compaixão e ações bondosas, livre do favoritismo, e de toda a
insinceridade.” – Tradução de Weymouth.
__________
17. Temos um exemplo nobre deste espírito em algumas
passagens de introdução no tratado de Santo Agostinho contra a
chamada Carta Fundamental dos Maniqueus. Ele assim principia:
“Minha oração ao único verdadeiro Deus é para que, em refutar e
combater a heresia de vós maniqueus, à qual aderis talvez mais por
falta de pensar do que por mau propósito, seja-me dada uma mente
serena e tranquila, e que vise mais a vossa emenda do que a vossa
descompostura... Tem sido nosso esforço, portanto, preferir e escolher
a melhor parte, para que pudéssemos ter oportunidade para vos mudar,
não por contenda e luta e perseguição, mas em consolações
compassivas, afetuosas, exortação e discussão acima: como está
escrito “Ora, o servo do Senhor não deve brigar, mas deve ser
condescendente para com todos, capaz de ensinar, sofrido, que corrija
com mansidão os que se opõem... Que se enfureçam contra vós os que
não sabem com que labor a verdade se encontra, e quão difícil é evitar
erros... Que se enfureçam contra vós os que não sabem com que
grande dificuldade o olho do homem interior se sara, de modo a poder
encarar o Sol... Que se enfureça contra vós os que não sabem com que
gemidos e soluços se torna possível, mesmo num grau pequeno,
compreender a Deus. Afinal que se enfureçam contra vós aqueles que
nunca se viram enganados por um erro como agora vos percebem
enganados... Que nenhum de nós dia ao outro que já achou a verdade.
Que a busquemos como se nos fosse desconhecida. Porque ela pode
ser buscada, tão somente se não houver a pressuposição presunçosa
de que já foi encontrada”. – A. Plummer.
__________
17. “Sem parcialidade”. Purves traduz esta palavra “pensando
sem fingimento”. Das várias significações possíveis perante nós,
podemos com razão escolher “sem dúvidas”. A sabedoria que é de cima
é constante, invariável, de mente singela, não vacilante. – A. Plummer.
__________
18. “Fruto da justiça”. A utilidade, benefício, que consiste em
justiça. – Thayer.
__________
18. Semeada em paz. Uma paz que não é a mera cessação da
luta – tal paz pode ser, no íntimo, a amargura das derrota – mas uma
paz que tem no coração o gozo da vitória, a paz peculiar do seu vitorioso
Senhor. – Robins.
__________
18. “Fruto da justiça” é uma expressão paralela ao penhor do
Espírito 2 Co 1:22 (onde o Espírito é o penhor), “o santuário do seu
corpo”, Jo 2:21 (onde seu corpo é o santuário) Cl 3:24; 1 Ts 5:8. Quer
dizer: “E a paz para os que se esforçam pela paz, é a semente cuja
seara é a justiça”. – Weymouth.
__________
CAPÍTULO VII

DAS PAIXÕES MUNDANAS CONVERTEI-VOS A DEUS


4:1-12
TRADUÇÃO
Donde vêm guerras e donde vem batalhas entre vós? Não
vêm daqui, das vossas paixões pelos prazeres, que guerreiam
entre os vossos membros? Cobiçais, e não tendes; logo matais. E
ferveis com ódio e inveja, e não podeis alcançar vossa aspiração;
logo pleiteais e fazeis guerras.
Não tendes, porque não pedis. Pedis e não recebeis porque
pedis perversamente, a fim de o esbanjar na gratificação de vossas
paixões. Ó (vós que sois quais) esposas adúlteras, não sabeis que
a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Pois quem quiser
ser amigo do mundo, se constitui inimigo de Deus. Ou cuidais vós
que baldadamente a Escritura diz: “Com ciúme anela (por nós) o
Espírito que ele fez habitar em nós?” Todavia, ele dá graça mais
abundante, pelo que também diz: “Deus resiste aos orgulhosos,
mas concede graça aos humildes.”
Portanto, sujeitai-vos a Deus. Mas resisti ao Diabo e ele fugirá
de vós. Chegai-vos para Deus, e ele se chegará para vós. Limpai
as mãos, pecadores! E purificai os corações, ó homens de
espíritos vacilantes! Afligi-vos, lamentai e chorai. O vosso riso
troque-se em pranto e a alegria em tristeza. Humilhai-vos na
presença do Senhor, e ele vos exaltará.
Deixai de falar mal uns contra os outros, irmãos. Aquele que
fala mal de um irmão, ou julga seu irmão, fala contra a Lei e julga a
Lei. Mas se julgas a Lei, não és observador da Lei, mas juiz. Um só
é Legislador e Juiz, o qual pode salvar e destruir. Mas tu quem és,
que julgas o teu próximo?
__________
PARÁFRASE
O estado de partidarismo em Israel, mesmo na Diáspora, chegou
quase à guerra civil. Lutas partidárias se prolongam numa guerrilha de
facções com inúmeras batalhas. Geralmente são batalhas de palavras,
porém às vezes cobiça, o ciúme e os ódios partidários chegam a tal
ponto que resultam no homicídio, e sempre os combates geram mais
combates e a luta parece infinda.
Qual o móvel de tudo isso? São vossas paixões. Quereis
prazeres, e se apetite insaciável sacrifica tudo no altar de seus desejos
carnais. Esquecendo-vos que toda boa dádiva vem de Deus,
abandonais a oração; e mesmo quando orais é com motivos perversos
visando esbanjar os dons na gratificação de vossa ambição de
prazeres.
E Israel se esquece que a nação, mesmo na Diáspora, se fez
Noiva de Jeová. Sim, os profetas casaram a pátria com o seu Deus.
Mas vós sois como esposas adúlteras, infiéis ao vosso divino Esposo e
Senhor. Fostes separados para Deus. Não sabeis que o namoro do
mundo é traição dos vossos votos para com o Senhor? Em lugar da
mais sagrada intimidade com Deus vós procurais colocar-vos na
categoria de seus inimigos. Ó insensata nação! Cuidais que é
baldadamente que a Escritura afirma que Deus é ciumento do amor do
seu povo e não tolera rivais nem corações divididos?
Contudo, como nos tempos dos profetas, Deus é longânimo.
Ainda sua graça é vos oferecida. Ele perdoará sua esposa infiel se tão
somente se converter. Sujeitai-vos, pois, a Deus. Resisti o Diabo, que
vos seduz. Chegai-vos a Deus. Limpai as mãos da corrupção e purificai
os corações desta divisão do afeto entre Deus e o mundo. A situação é
de luto nacional, pois a glória de Israel já se foi. Chorai bem alto.
Lamentai como sói entre vosso povo oriental. Convertei todo riso e
alegria em pranto e vergonhoso pesar. Então com este verdadeiro
arrependimento por vossa parte, Deus se chegará a vós, vos ouvirá,
concederá sua graça e seu perdão, e da vossa humilhação vos
exaltará. Porém o caminho é pela humildade. O orgulhoso só encontra
por parte de Deus uma coisa – resistência, resistência divina,
resistência onipotente, resistência castigadora.
Cortai este mal partidário pelas raízes. Ele começa por falardes
mal uns dos outros. Não sois juízes em Israel. Deixai dessa praxe, tão
destrutiva da fraternidade. É desprezo da Lei para o réu assumir ares e
usurpar funções de juiz. Um Legislador e um Juiz há para o povo de
Deus. Quem és tu que lhe roubas a função? Cuida da tua vida.

COMENTÁRIO
1. “Deleites” Prazeres e desejo de prazeres. – Thayer.
__________
1. Deleites que combatem nosso vosso membros. Representa-se
os prazeres como fazendo uma guerra contra os membros, isto é,
invadindo-lhe o território. –Hort.
__________
1. Estes versículos revelam um estado de depravação e
imoralidade nestas congregações da Diáspora que nos espanta;
contendas, carnalidade, cobiça, homicídio, avareza, adultério, ciúme,
soberba e calúnias são prevalecentes. "Expositor's Greek Testament".
__________
1. “Contendas...” Guerras. Guerras e batalhas. – "Expositor's
Greek Testament".
__________
1. A noção de que as igrejas da época apostólica estavam numa
condição de perfeição ideal é um sonho absolutamente sem
fundamento. – A. Plummer.
__________
1. “Que combatem”. Fala de paixões que inquietam a alma. –
Thayer.
__________
2. “Invejais”. Ser esquentados, ferver de ciúme, zanga, ódios. –
Thayer.
__________
2. “Contendeis”. Fala de contendas que terminam em litígios
perante os tribunais terrenos, sobre propriedades e privilégios. –
Thayer.
__________
2. Matais e vos tornais fanáticos. Sl 106:15; Ez 14:4.
__________
2. Guerras e facções e brigas não têm outra fonte senão o corpo
e suas cobiças. É para ganhar riqueza que todas as guerras surgem e
somos forçados a ganhar riquezas por causa de nossos corpos, de cujo
serviço somos escravos; em consequencia não temos tempo para a
filosofia por causa destas coisas. Já foi provado que se havemos de
gozar puro conhecimento de alguma coisa, temos de nos ver livres do
corpo, e com a alma isolada temos de ver as coisas isoladas, separadas
de sua utilidade para o corpo. Nesta vida nos aproximamos mais da
sabedoria se não tivermos relação alguma com o corpo, além daquilo
que é absolutamente indispensável, e assim não ficamos cheios de sua
natureza, mas permanecemos livres de suas manchas até Deus mesmo
nos livrar. – Platão: Phoedo.
__________
Platão e S. Tiago estão plenamente de acordo em crerem que as
guerras e contendas são causadas pelo corpo... Porém neste ponto o
acordo finda. A conclusão de Platão é que o filósofo precisa, tanto
quanto for possível, negligenciar e excomungar seu corpo, como fonte
intolerável de corrupção, anelando o dia da morte quando se verá livre
do peso de servir este obstáculo e empecilho entre sua alma e a
verdade. Platão não sonhou que o corpo pode ser santificado aqui e
glorificado além da morte. – A. Plummer.
__________
2. Cobiçais e não possuis; portanto matais: e invejais e não podeis
alcançar, portanto contendeis e fazeis guerra.
__________
Esta maneira de agrupar as cláusulas dá perfeita clareza e não
faz violência ao grego do original... Do mesmo modo que o pensamento
lascivo á adultério no coração (Mt 5:28), assim o ódio guardado no
espírito é homicídio no coração. – A. Plummer.
__________
3. “Despenderdes em vossos deleites”. Para gastardes,
dissipardes o que recebeis em luxo e indulgência da carne. – Thayer.
__________
4. “Adúlteras”. O original é feminino. É uma figura que indica
infidelidade a Deus, imundície, apostasia – Thayer. É fino sarcasmo,
baseado na concepção profética do povo como casado com Deus.
__________
4. “O mundo”. Afazeres mundanos, o agregado de bens,
riquezas, vantagens, prazeres, etc, etc., que, embora ocos, vãos e
passageiros, estimulam a cobiça e nos afastam de Deus e constituem
um obstáculo à causa de Cristo. – Thayer.
__________
4. “A amizade do mundo”. A amizade do mundo, (isto é, estando
numa posição de amizade com ele) naqueles dias significava, ou
envolvia, certa conformidade com o padrão de vida pagã. – Hort.
__________
“Deus é o Senhor e o esposo de toda alma que é dele.”
__________
5. Swete sugere que a citação vem de algum escrito cristão: O
Espírito de Cristo anela por nós, mas com ciúme, com um amor que
ressente toda força contrária, como por exemplo, à amizade do mundo.
Sua atitude para com semelhante antagonista não é mero zelo, é ciúme.
Seu direito ao afeto do coração humano não tolera rival. Há um ciúme
justo, que é digno de Deus e até a consequencia necessária da
grandeza do seu amor. A ideia falsa do caráter divino que poderia ser
sugerida à mente humana é evitada por uma outra citação. “Porém ele
dá maior graça”; portanto é dito: “Deus se opõe em oposição ao
valentão, mas ao humilde, dá graça” “É contra os que resistem a Deus
que Deus resiste e tão somente contra eles; os homens de coração
humilde não têm motivo de temer o ciúme divino, porém se verão
crescendo ao favor divino e nos dons do Espírito pelos quais este amor
é manifestado. Assim o sentido geral da passagem parece ser: Os
amigos de Deus não podem ser amigos do mundo também... O Espírito
que Deus implantou no crente anela pela devoção inteira dos corações
nele habitados, com um amor ciumento que não tolerará a invasão de
um rival. Porém este ciúme divino é consistente com uma generosidade
sempre crescente para com aqueles que se submetem ao domínio do
Espírito Santo que está neles. É a grandeza do amor de Deus para
conosco que resiste o pecado que se eleva contra ele e proíbe a
amizade com o mundo por parte de corações nos quais seu Espírito
habita. – Swete,
__________
4. “Adúlteras”. É preciso lembrar que este uso (de adultério
como figura de apostasia) é muito excepcional. De trinta e uma
passagens em que se fala de adultério, somente em cinco está usada
num sentido figurado... O estado depravado de moral a que todo este
trecho testifica deve ter sido pelo menos em parte causado pela
iniquidade e cooperação das mulheres, de sorte que nada há de
estranhar em elas estarem especificamente mencionadas em conexão
com aquela forma de pecado com que seriam mais particularmente
associadas. "Expositor's Greek Testament".
__________
4. É uma adaptação audaciosa da imagem profética aos que
estavam desleais a Deus, - Westcott.
__________
4. O termo (adúlteras) está usado no sentido comum vetero-
testamentário – o de adultério espiritual – infidelidade a Jeová
considerado como o esposo de seu povo. Ez 23:27; Os 2:2; Is 57; Mt
12:39; Mt 16:4; Mc 8:38; A. Plummer 2:22. O sexo da pessoa não afeta
a relação; cada alma que foi casada com Deus e depois transferiu seu
afeto e lealdade a outros seres é uma esposa adúltera. S. Tiago, com a
simplicidade, franqueza e singeleza que lhe caracterizam, indica-lhes o
fato com esta severa frase “Vós, adúlteras” – A. Plummer.
__________
4. “Inimizade contra Deus”. Se uma mulher repudia seu marido
e se casa com outro, comete adultério. Uma esposa que cultiva a
amizade de um homem que lhe procura seduzir torna-se inimiga de seu
marido. Todo o judeu cristão deve saber que a amizade do mundo é
inimizade contra Deus. – A. Plummer.
__________
4. “Mundo”, João nos afirma (e provavelmente as palavras não
são dele, mas sim de Cristo) que Deus amou o mundo (Jo 3:16). Porém
ele nos admoesta para não amarmos o mundo (1 Jo 2:15). E aqui Tiago
nos informa que sermos amigos do mundo é nos tornarmos inimigos de
Deus. Ora é claro que “o mundo” que Deus ama não é “o mundo” que
nós não devemos amar. “Mundo é um termo que tem várias
significações na Escritura, e erraremos se não as distinguirmos
nitidamente. Às vezes significa este planeta (Mt 4:8). Outrossim,
significa os habitantes da terra, como quando se diz que Cristo veio para
tirar o pecado do mundo, Jo 1:10; 1 Jo 4:14. E no último lugar, quer
dizer aqueles que estão alienados de Deus, - incrédulos , judeus e
cristãos apóstatas , especialmente a grande organização pagã de
Roma (Jo 8:23; 12:31). Assim o mundo que originalmente significava a
ordem natural a formosura da criação vem significar a desordem
desnatural e a feiúra das criaturas que se tenham rebelado contra Deus,
seu Criador. O mundo que o Pai ama é toda a raça humana. O mundo
que nós não devemos amar, é o que não nos permite amar ao Pai,
reciprocamente o mundo que é seu rival e seu inimigo. É deste mundo
que o homem verdadeiramente religioso se guarda imaculado (Tg 1:25).
Homens pecadores, com seus desejos iníquos, conservando-se numa
atitude permanente de deslealdade e hostilidade contra Deus, e
passando isto de um a outro, de uma geração a outra, como uma
tradição da vida – é isto que Paulo e Tiago e João consideram “o
mundo”. – A. Plummer.
__________
Do mesmo modo que há um Espírito de Deus, que nos guia em
toda a verdade, assim também há um espírito do mundo, que nos guia,
precisamente, no sentido oposto (1 Co 2:12). Este mundo com suas
concupiscências é passageiro, está perecendo (1 Jo 2:17). Até sua
própria tristeza gera a morte (2 Co 7:10). “O mundo é a natureza
humana, sacrificando o espiritual ao material, o futuro ao presente, o
invisível e eterno ao que satisfaça os sentidos e pereça com o uso. O
mundo é o medonho dilúvio de pensamentos, sentimentos, princípios
de conduta, preconceitos convencionais, desgostos, ódios, afetos, que
se têm acumulado em redor da vida humana, por séculos,
impregnando-a, impelindo-a, amoldando-a, degradando-a”. Liddon – A.
Plummer.
__________
5. “Com zelo anela por nós”. “Até ciúme”. Esta palavra tem
grande ênfase no original. Amizade com o mundo ou qualquer objeto
estranho não pode ser tolerada... Durante a Guerra Civil Norte-
Americana em 1861-1866, numas conferências entre representantes do
Sul e da União, os rebeldes ofereciam cada vez mais atraentes
propostas de quanto território devolveriam à União, contanto que fosse
reconhecida a independência do resto. Cada vez aumentava a parte
que cediam e restringiam a parte que exigiam para ser um país
independente. Afinal o Presidente Lincoln colocou sua mão sobre o
mapa de modo a cobrir todos os Estados do Sul que estavam em revolta
e disse seu ultimatum: “Senhores, este governo há de ser soberano
sobre a totalidade”. A constituição dos Estados Unidos teria terminado
se a mínima parte, por menor que fosse, tivesse sido reconhecida como
independente. Foi um princípio vital, que não admitiu exceções ou
graus. Ou tinha de ser conservado na sua inteireza ou estava
irreparavelmente dissolvido.
É precisamente uma exigência desta natureza que Deus,
operando pelo seu Espírito divino, faz de nós! Ele não consente em
dividir nossos afetos com o mundo por mais que lhe ofereçamos, por
mínima a parte que cedamos ao mundo. Se de alguma forma se admite
um rival a Deus já nos tornamos infiéis e rebeldes. Seu governo exige
a totalidade de nosso ser. – A. Plummer.
__________
5. S. Tiago quer alegar ciúmes de Deus, mas ciúmes no sentido
de que ele vê mal a amizade do seu povo dada ao mundo quando lhe
é devido e somente a ele. – Hort.
__________
5. Estas palavras testificam a verdade de que a terceira Pessoa
da Trindade habita em nossos corações, anelando obter de nós o
mesmo amor que ele nos dispensa. É uma passagem notável, que num
aspecto nos ensina o amor do Espírito, distinto do amor do Pai e do
Filho. Nesta conexão se deve ler Rm 8:26-28; Ef 4:30; 1 Ts 5:19.
CAPÍTULO VIII
A AVAREZA E SUAS CONSEQUENCIAS
4:13-5:6
TRADUÇÃO

Eis agora vós que dizeis: “Hoje, ou amanhã iremos a tal


cidade, e lá passaremos um ano e negociaremos e ganharemos”,
(vós que nem sabeis que sorte de vida será vossa no dia de
amanhã, pois, sois apenas um vapor que aparece por um pouco e
logo se desvanece) em vez de dizerdes: “Se o Senhor quiser, tanto
viveremos como também faremos isto ou aquilo”. Mas agora vos
gabais das vossas presunções. Toda jactância semelhante é ma.
Portanto se alguém sabe fazer o bem e não o faz, é para ele pecado.
Eis agora, vós ricos, chorai bem alto, dando urros pelas
misérias que hão de vir sobre vós. As vossas riquezas estão
apodrecidas, e as vossas vestes estão roídas pela traça, o vosso
ouro e prata estão cobertos de ferrugem, e a sua ferrugem será por
testemunho contra vós e comerá a vossa carne como fogo.
Acumulastes tesouros em dias (que talvez sejam os) últimos (da
dispensação)! Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os
vossos campos, o qual tem sido defraudado por vós, está a clamar;
e as vozes dos ceifeiros têm penetrado até aos ouvidos do Senhor
dos exércitos. Tendes condenado e matado o justo; ele não vos
resiste.
__________
PARÁFRASE
Agora duas palavras aos devotos do dinheiro.
Sois admoestados no Sermão da Montanha contra a ansiedade:
eu vos previno contra demasiada confiança em vossos planos. O futuro
é mais incerto do que julgais. Essa finalidade de decisões e planos para
atividade comercial em outras cidades e pelos anos futuros, sem
consultardes a vontade de Deus e o propósito divino em vossa vida, é
loucura, visto que nem de amanhã tendes a certeza, mas antes a vossa
vida é qual vapor que sobe de um bule e se desvanece no ar.
Longe dessa brusca confiança, que cuida de negócios como se
esta vida fosse uma eternidade a gozar e explorar, nossa atitude deve
ser buscar a vontade de Deus, que é soberano em nosso destino. A
principal hipótese de todos os planos humanos é: “Se Deus assim tiver
proposto, eu continuarei a viver e farei o seguinte...” Não é que a
repetição vã das palavras valha coisa alguma. É a disposição que
procura, primeiramente, o reino Deus e considera tudo mais secundário.
A vida que fizer planos sem essa submissão aos planos divinos é
presunçosa, e seus planos e contratos comerciais são mera jactância
vã. E vós sabeis melhor do que viver assim. Portanto, sois pecadores,
de propósito, pois a essência do pecado é ter conhecimento do bem e
do dever e no entanto praticar o contrário, ou, ao menos, omitir de fazer
o bem cuja obrigação bem entendeis.
Ó colheita terrível e medonha que resulta da avareza! Posso, com
a visão profética, enxergar a vossa ruína. Ressoam em meus ouvidos
o vosso pranto e as estridentes lamentações orientais que hão de ser
ouvidas quando o dia do juízo divino surgir. Esse dia não tarda.
Manifestações dispensacionais do juízo profetizado de Deus
sobre Israel estão à porta. Vosso tesouro – metais preciosos cobertos
de ferrugem, vestes riquíssimas roídas pela traça, por longos anos de
acúmulo – será testemunha contra vossa alma provando que nem
amastes a Deus nem ao próximo.
E, juntamente com esta voz metálica, ouço também os roucos
gritos de protesto, e os gemidos de pobreza, dos ceifeiros que vos
deram pão pelo seu suor, porém, vós lhes defraudastes o pão pela
vossa opressão avara.
O Senhor, que é o General do exército celeste, ouve este
testemunho contra vós. Vê que vos estais cevando em glutonaria e luxo
qual rez na véspera da matança. E as vossas vítimas não vos resistem.
Mas... há quem resista! É Deus.

COMENTÁRIO
Este trecho foi proferido aos incrédulos; o qaue vem antes deste,
aos crentes. Mais ou menos como os profetas do Velho Testamento às
vezes pareciam desviar-se para profetizar contra Tiro e Sidon e as
demais nações pagãs. – A. Plummer.
__________
13. Os judeus da Dispersão desde o princípio tinham abandonado
a agricultura; visto que congregaram-se principalmente nas cidades.
Era o comércio que mais lhe interessava. O Egito era o principal centro
de atração, e muitos judeus ricos faziam parte da numerosa população
israelita de Alexandria; Filon fala de judeus que eram donos de navios
e negociantes, nesta cidade. Quando tais judeus abraçaram o
cristianismo, certamente não havia motivo de abandonar sua carreira...
Esta secção visava mais os judeus do que os judeus cristãos. –
"Expositor's Greek Testament".
__________
15. Tanto a vida como a ação dependem da vontade de Deus. –
"Expositor's Greek Testament".
__________
15. “Se o Senhor quiser”. Cautela! É fácil entender estas
palavras de tal maneira que se perca o espírito delas. É uma de muitas
passagens da Escritura que se toma segundo a letra, e não segundo o
espírito, sendo a letra de pouco valor. Como em muitos dos ensinos do
Sermão do Monte, temos um princípio anunciado na forma de uma
regra. As regras são para serem observadas literalmente. Princípios
são dados para serem aplicados inteligentemente e observador
segundo seu espírito: Não obedecemos a Cristo quando deixamos o
ladroa que já nos roubou um vestido levar outro também; nem
obedecemos S. Tiago quando dizemos: “Se Deus quiser” ou “Glória a
Deus” em todas as ocasiões... é possível guardar o preceito de Cristo
sem largar o segundo vestido, e de fato não devemos deixar o ladrão
levá-lo. E é também possível guardar o mandamento do irmão de Cristo
sem nunca pronunciar as palavras “Se Deus quiser”, o uso habitual das
quais certamente há de degenerar num formalismo vão e hipócrita em
nós, e igualmente provocaria criticismo desnecessário e zombaria
irreverente em outros. S. Tiago quer dizer que devemos sentir de
momento em momento que estamos absolutamente dependentes de
Deus. – A. Plummer.
__________
16. “Agora, porém”. Com as coisas no estado em que estão. –
"Expositor's Greek Testament" 5:2-3.
As vossas riquezas estão corruptas, as vossas vestes estão
roídas pela traça, o vosso ouro e a vossa prata estão enferrujados.
Temos três qualidades de possessões indicadas nesta passagem.
Primeiro, depósitos de varias sortes de mercadorias. Estas estão
corruptas: tornaram-se pobres e sem valor. Em segundo lugar, vestes
ricas era uma parte considerável da riqueza de um oriental. Têm sido
guardas com muito zelo e com tanto cuidado que os insetos comeram-
nas e ficaram arruinadas. E, em terceiro lugar, metais preciosos. Estes
se enferrujaram e ficaram descorados, por não terem sido usados. Em
todos estes casos a avareza tem sido tanto pecado como loucura.
Fracassou no seu propósito pecaminoso. Foi a ruína de suas
propriedades. Como a ferrugem e as traças comeram seus bens, assim
o fogo do juízo divino lhes comerá a carne. – A. Plummer.
__________
3. “Comerá a vossa carne como um fogo”. Torturar alguém
com as penas eternas. – Thayer.
__________
“Em todo o tempo de nossa riqueza, Bom Deus livra-nos”.
__________
4. “Últimos dias” – O tempo mais perto da volta de Cristo do céu.
– Thayer.
__________
4. “Vossos campos”. Implica terras extensas. Calvino sugere
que é especialmente iníquo que os que nos alimentam pelo seu trabalho
têm de sofrer fome. – A. Plummer.
__________
4. “Senhor dos exércitos”. Exércitos celestiais. – Green.
__________
4. Tanto o maltratar aos pobres como o salário que lhes foi
roubado pelo patrão avaro contrário à Lei misericordiosa (Lv 19:13) que
não permitiu demora alguma nos pagamentos (Jr 22:13; Ml 3:5). –
Ellicott.
__________
4. Demora e desonestidade em pagar salários eram pecados de
uso comum. Lv 19:13; Dt 24:14-15; Jó 24:10; Mq 3:10; Pv 3:26 –
“Expositor’s Greek Testament”.
__________
6. “Orgulhoso” Que se mostra superior a outros a seus próprios
olhos, proeminente, com demasiada estima de si, de seus bens ou de
seu próprio mérito, desprezando outros, até tratando-os com desdém.
– Thayer.
CAPÍTULO IX
A PACIENCIA NA AFLIÇÃO, NA INJUSTIÇA, NA DOENÇA
TRADUÇÃO
5:7-20

Sede, pois, pacientes, irmãos, até a vinda do Senhor. Vede


como o lavrador espera pelo precioso fruto da terra, aguardando-
o com paciência, até receber as primeiras e as últimas chuvas.
Sede vós também pacientes, e fortalecei os vossos corações,
porque a vinda do Senhor está próxima.
Deixai de queixar-vos, irmãos, uns contra os outros, para que
não sejais julgados. Olhai que o Juiz aí está diante da porta.
Irmãos, tomai como exemplo do sofrimento e da paciência os
profetas, que falaram em nome do Senhor. Eis que temos por bem
aventurados os que permaneceram firmes. Tendes ouvido da
constância de Jó, e tendes visto o sucesso da providência do
Senhor, que o Senhor é cheio de ternura e compassivo.
Mas sobretudo, meus irmãos, deixai de jurar, quer seja pelo
céu, quer seja pela terra, ou por qualquer juramento. Porém, seja
vossa (palavra) o “Sim, sim” e o “Não, não”, para não incorrerdes
no juízo.
Está aflito alguém entre vós? Ore. Está alguém de bom
ânimo? Cante louvores. Está doente alguém entre vós? Mande
chamar os presbíteros da igreja e dirijam (estes ) uma oração sobre
ele, ungindo-o com óleo em o nome do Senhor. E a oração (ditada)
pela fé há de restabelecer o doente, e o Senhor o levantará. E se
tiver cometido pecados, lhe serão perdoados.
Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros para que
sejais curados. Muito poderosa é a oração do justo se for do íntimo
do coração. Elias era homem de natureza semelhante à nossa, e
ele orou com instância para não haver chuva, e não choveu sobre
a terra durante três anos e seis meses. E de outra vez orou e o céu
deu a chuva, e a terra produziu o seu fruto.
Meus irmãos, se alguém entre vós for desviado da verdade e
alguém o converter, sabei que aquele que converte um pecador do
erro do seu caminho salvará uma alma da morte e cobrirá uma
multidão de pecados.
__________
PARÁFRASE
Suportai as aflições, as injustiças e as doenças com toda a
longanimidade e paciência. Sede quais lavradores que desprezam o
calor do sol e aguardam as chuvas do plantio e da ceifa a seu tempo,
confiantes na sagra. O fim de tudo na luta terrestre é a vinda de Jesus.
Como no caso de Jó, o sucesso operado pela providência de Deus será,
enfim, glorioso. Portanto, imitai as grandes almas pacientes da vossa
história nacional.
Emoções variadas surgem nestes transes. Não os aceiteis com o
praguejar e com palavras blasfemas. Este costume deveis abandonar.
Mas a intercessão e os cânticos são as maneiras lícitas e convenientes
de dar expressão às nossas emoções nas horas críticas da vida. E em
tudo, mantende a simplicidade de falar. Se quiserdes dar ênfase a uma
afirmação, repeti-a, mas sem palavras excessivas. Uma simples
palavra de afirmar, ou negar, tem mais força do que o exagero.
No caso de doença, não estais a sós. Vossa igreja vos ama e vos
cercará de carinho. Avisai vossos pastores e virão orar a Deus e o poder
divino vos curará.
Talvez seja o móvel dessa doença o castigo divino. Examinai-vos
e confessai, penitentes, esse pecado que trouxe sobre vós o castigo de
Deus. E assim a ocasião será duplamente abençoada na cura do corpo
e no perdão da alma. Nunca percais de vista o poder da oração. Elias
não foi excepcional. Nossos orações também, se surgem das veras da
alma justa, são poderosas.
Finalmente, sede evangelizadores. Salvai a Israel. Convertei
vosso povo, as ovelhas perdidas de Cristo, desviando-se como estão
do seu Messias e Pastor. E assim evangelizando conseguireis a
salvação de almas imortais, e os pecados dos convertidos serão
cobertos pelo sangue expiador de Jesus, eternamente expiados e
perdoados.

COMENTÁRIO
7. “Tende paciência”. Perseverar paciente e corajosamente em
suportar aflições e pobreza. – Thayer.
7. “A vinda do Senhor”. A volta futura, visível, gloriosa de Jesus,
o Messias, para ressuscitar os mortos, presidir o julgamento final e
estabelecer formal e gloriosamente o reino de Deus. – Thayer.
__________
7. “Primeiras e últimas chuvas”. As chuvas de outubro em
seguida, e as de março e abril. – Thayer.
__________
7. Poucas ideias são mais estranháveis e paradoxais do que as
que se combinam nas Escrituras. “O reino e paciência de Jesus Cristo”
em A. Plummer 1:9, por exemplo. Todos os cristãos são súditos de um
reino paciente. - Ellicott.
__________
7. Estes verbos no aoristo imperativo têm a forma de uma
chamada para abandonar um estado degenerado e soam 9 vezes
sucessivamente. – Hort.
__________
8. “Vós de espírito vacilante”. Divididos em interesse, isto é,
entre Deus e o mundo. – Thayer. Vós de coração morno para com Deus
– Weymouth.
__________
9. Deixai de suspirar, de murmurar. – Thayer.
__________
9. “O Juiz”. De Cristo, voltando a inaugurar o dia de juízo. – Hort.
__________
11. “Fim do Senhor”. O resultado, êxito, sorte final, a experiência
última de Jó conforme o propósito de Deus – Thayer.
__________
11. “Paciência de Jó”. Paciência inclui a virtude passiva e ativa,
e significa a persistência e continuação. – Green.
__________
11. “O Senhor é cheio de ternura”. De coração magnânimo. –
A. Plummer.
__________
11. “Faleis mal uns dos outros”. Não PE linguagem violenta ou
caluniadora que é condenada aqui, mas sim o amor de queixas. A
têmpera censória é absolutamente anti-cristã. Revela que demos muito
tempo ao estudo da conduta de outros que teria sido melhor empregado
sobre a nossa. E talvez seja ainda verdade que tenham dado tanta
atenção, não com o propósito de ajudar, porém a fim de criticar. – A.
Plummer.
__________
12. “Um só é o Legislador e o Juiz”. “Há uma e tão somente
uma Fonte de toda a lei e autoridade, e aquela Fonte é o próprio Deus.
Jesus Cristo afirmou a mesma doutrina quando replicou perante o
tribunal de Pilatos. “Não terias sobre mim poder algum, se ele não fosse
dado lá de cima”. João 19:11. Foi a última palavra de Cristo ao
procurador romano, uma declaração da supremacia de Deus no
governo do mundo, e um protesto contra a insinuação: “Eu tenho poder
para te livrar e tenho poder para te crucificar”, - alegação de uma
autoridade irresponsável. – A. Plummer.
__________
12. “Tu, porém, quem és?” “Quem és tu que julgas teu
próximo?” S. Tiago conclui esta breve seção contra o pecado censório
por um forte argumentum ad hominem. Concedamos, para este
argumento, que existem graves males na vida de algusn dos irmãos,
entre os quais viveis. Concedamos que estes males devem ser
corrigidos. És tu precisamente a pessoa melhor qualificada para fazer
isto? Ponto de parte a questão de autoridade, quais são as tuas
qualificações pessoas para o ofício de juiz e censor? Tens aquela vida
imaculada, aquela gravidade de conduta, aquela pureza de motivo,
aquele severo domínio da língua, aquela liberdade de contaminação do
mundo, aquela generosa caridade, que identifica um homem
verdadeiramente religioso? Para tal homem, tratar da falta de um irmão
é puro lucro. – A. Plummer.
__________
12. “Deixai de jurar”. O tempo (presente imperativo) indica que
este hábito prevalecia entre os crentes judaicos a quem esta carta foi
endereçada. – Veja-se Mt 6:31 e Lc 7:13. – Weytmouth.
__________
12. Havia muitas sutilezas e manhas nos juramentos judaicos e o
estrangeiro ingênuo que confiava num juramento que parecia firme e
singelo descobria depois seu engano. – Ellicott.
__________
12. O que acaba de ser dito tornará claro que estes mandamentos
eram bem práticos e necessários, que os apóstolos não guerreavam
contra moinhos de vento, mas contra pecados que com toda a certeza
apareciam nas comunidades cristãs, ou eram até então
imperfeitamente banidos. Os críticos que exageram as fraquezas entre
os conversos de missões modernas no estrangeiro na primeira geração
da obra, podiam também ter condenado os resultados de Paulo com
igual razão. Porem o tempo provou ser o trabalho dele genuíno. –
provará genuína a obra hoje em dia. – Moulton.
__________
12. Tiago não está falando do juramento que se faz num tribunal,
nem de votos a Deus, mas está discutindo a expressão de nossas
emoções quando estamos em aflição ou grande júbilo. Notai quão
comum é para os que estão aflitos o jurar e praguejar. O pensamento
de Tiago é o seguinte: Em grandes emoções que surgem nas
vicissitudes da vida, nunca deixeis que os juramentos frívolos e a
blasfêmia e irreverência sejam a expressão de vossa tristeza. – Carrol.
__________
12. “Sim, seja sim”. Seja veraz vossa afirmação. – Thayer.
__________
14. Há dois verbos gregos para ungir. Um se usa para unção
formal, oficial, de um rei ou sacerdote. Deste verbo vem o vocábulo
Cristo. O outro, que foi usado aqui, se usa para descrever unção em
ocasiões festivas (Lc 7:46), para saúde (Tg 5:14) e para sepultura (Mc
16:1). – Green.
__________
14. Óleo é recomendado como remédio por Fílon, Plínio e Galen.
– Weymouth.
__________
14. Falta de referência ao “bispo” torna provável a conclusão de
que nas igrejas primitivas o bispo era o mesmo que “ancião” ou
“presbítero”. – Weymouth.
__________
14. Doutrina de Extrema Unção? “Nosso Bendito Senhor e
Salvador Jesus Cristo, na sua terna solicitude pelos que remiu por seu
precioso sangue agradou-se em instituir um outro sacramento, para nos
ajudar naquela mais importante hora em que depende a eternidade - a
hora da morte. Este Sacramento se chama Extrema Unção, a última
unção. O sacerdote em ministrar este sacramento unge os cinco
principais sentidos do corpo – os olhos, os ouvidos, as narinas, os
lábios, as mãos e os pés – porque têm sido empregados durante a vida
em ofender a Deus. Em cada unção ele pronuncia as palavras: - “Que
o Senhor te perdoe todo o pecado quanto tenhas cometido pela vista,
pelo ouvido, etc...” Citado por Ellicott de um manual católico de devoção
– “The Crown of Jesus”.
__________
14. Quando o poder milagroso cessou na igreja é natural que a
unção cessasse também. – Ellicott.
__________
14. O óleo era um remédio comum no oriente (Is 1:6, Mc 6:13, Lc
10:34). Foi somente no século XIII que a extrema unção foi considerada
um sacramento. – Farrar.
__________
14. A unção com óleo não visava fazer do ministério médicos,
portanto seu uso foi simbólico. – Carroll.
__________
14. Cuidadosamente notai estas Escrituras: Atos 11:30, que é
antes do tempo da carta de Tiago, ATOS 14:23; 15:2, 6, 22; 16:4; 21:18.
Ninguém pode ler essas passagens a respeito dos presbíteros sem
notar que há uma distinção entre um leigo e um presbítero – este tem
um ofício, ocupa uma posição representativa. Bons comentadores
notam esta instrução que quando os presbíteros respondem a este
convite vêm numa capacidade oficial. É como se a própria igreja se
reunisse para orar a favor do homem doente... A única diferença eu vejo
entre as igrejas do Novo Testamento e as igrejas batistas de hoje em
dia neste respeito é que as igrejas batistas de hoje não prestam a
mínima consideração a um presbítero na igreja a não ser que ele seja
o pastor da referida igreja. Nas igrejas do Novo Testamento, os
presbíteros da igreja, seus membros que tinham sido consagrados ao
ministério de Deus, embora somente um fosse presidente do rebanho,
todos foram estimados como oficiais das igrejas de Deus e dignos de
consideração. – Carroll.
__________
14. Mc 16:10, 13. É evidentemente uma atestação milagrosa e
divina dos que operam o milagre. Tiago vive e escreve no meio da
época apostólica. É o primeiro escritor do Novo Testamento. Neste
tempo os apóstolos eram vivos e tinham a comissão de seu Senhor para
curar os doentes, e aquela comissão pelos apóstolos cabia à igreja.
Minha opinião é que Tiago fala de um sinal para atestar que a igreja é
de divina origem, e uma vez provado isto, creio que o sinal acabou.
Nunca senti a mínima obrigação sobre mim como presbítero de ir aos
doentes e ungi-los com óleo na esperança de que seriam
milagrosamente curados. – Carroll.
__________
14. Ele (o clero) inventa um sacramento para os moribundos:
Tiago ensina um mandamneto que visa o doente recupere sua saúde.
– Carroll.
__________
14. “Os presbíteros da igreja”. Prova a existência de uma
organização desenvolvida. – "Expositor's Greek Testament".
__________
14. No princípio encontramos com instruções sempre para cuidar
dos doentes, 1 Ts 5:14... Na oração da igreja, preservada na primeira
epístola de Clemente, há súplicas especialmente oferecidas pelos que
estão doentes em corpo ou alma. – Harnack.
__________
14. O antagonista de Lutero, o Cardeal Cajetan, no seu
comentário sobre este versículo negoui que tinha referência alguma ao
Sacramento da Extrema Unção: Textus non dicit “Infirmatur quis ad
mortem?” sed absolute “Infirmatur quis?” et effectum dicit infirmis
alleviationem, et de remissione peccatorum non nisi
conditionaliter loquitur.
Practer hoc quod Jacobus a ad unum aegrum multos
presbyteros Tum orantes Tum ungentes mandat vocari, quod ab
extrema unctione alienum est. – Mayor.
__________
14-20. O fim desta passagem é estimular os auxílios espirituais
mútuos dos cristãos como um dos grandes propósitos e privilégios da
instituição da igreja. O corpo devia sentir a sorte de seus membros. Se
um homem estava aflito, devia orar; se alegre, devia cantar hinos; em
nenhum dos dois casos fala o apóstolo da oração ou cântico
particulares, porém da parte da congregação cristã. Ali todo cristão
poderia encontrar o melhor alívio de suas tristezas, e a mais viva
compreensão da sua alegria. Porém se um homem estava doente e não
podia ir à congregação, todavia não era obrigado a perder o beneficio
de sua comunhão cristã com a mesma: poderia pedir-lhes que o
visitassem; e como a congregação inteira não podia ir, os presbíteros
haviam de comparecer como representantes da mesma e suas orações
estariam em lugar das orações da igreja toda... Ora, este mui divino
sistema de uma igreja viva, na qual cada um havia de ajudar aos outros,
na qual cada um podia desvelar seu coração a seu vizinho e receber o
auxílio de suas orações, na qual toda oração fervorosa que fosse
oferecida em nome de Cristo tinha grande promessa de benção – este
sistema divino já foi quase destruído pela noção de um sacerdócio que
exige que os homens confessem seus pecados ao clero, e a este não
como aos seus irmãos, mas como aos vigários de Deus; e limitando a
prometida benção de oração aos sacerdotes, na sua capacidade
sacerdotal, não na sua categoria de cristãos, nem como representantes
da igreja, este sacerdotalismo transformou a simpatia fraternal de uma
sociedade cristã no domínio de um clero e numa mistura de
indiferentismo e superstição entre os leigos. – Dr. Arnold.
__________
15. “Restabelecerá.” Isto é, de sua doença (Atos 9:34). Porém,
a despeito destas palavras, a “extrema unção” é proibida senão em
casos onde não há esperança de recuperar a saúde. Do mesmo modo
que não há necessidade em nossa terra de lavar os pés uns dos outros
(João 13:14) assim também não há conveniência para nós no costume
oriental de usar óleo na cabeça.
As coisas praticadas por Cristo e seus apóstolos são de obrigação
perpétua tão somente quando continuam a ser uteis para os propósitos
perpétuos que são uma necessidade perpétua. – Farrar.
__________
15. A oração da fé é o principal – a unção com óleo é incidental,
uma formalidade simbólica e subordinada. Quão diferente seria o
significado desta passagem se mudasse a ordem e dissesse: “Ungi-lo
com óleo, fazendo oração sobre ele” – A. T. Pierson.
__________
16. A oração e a confissão são mútuas. – Weymouth.
__________
16. Hooker, um católico inglês, disse: “Não era da doutrina e fé da
Igreja de Deus, como é do Papado atualmente – (1) que o único remédio
pelo pecado depois do batismo é a penitência sacramental. (2) Que
confissão auricular é parte essencial dela. (3) Que nem o próprio Deus
pode perdoar pecados sem um sacerdote. (4) Que devido à
necessidade do perdão concedido pelo sacerdote proceder da
confissão do pecador portanto a confissão a ele é de tal necessidade
que, não sendo feita, é excluído o pecador forçosamente de todo o
perdão, esta confissão é exigida e mandada nas Escrituras, embora
subentendida, em todos os lugares onde qualquer promessa de perdão
é feita. Não! Não! Estas opiniões têm o vigor da juventude nas suas
feições; a antiguidade nunca as conheceu, nem com elas sonhou”.
__________
16. O que Tiago quer dizer ´s isto: Se eu praticar uma injustiça
contra um irmão, devo confessar a ofensa. Se ele me ofende, deve por
sua vez confessar sua falta a mim. Se eu tiver ofendido a Deus devo
confessar isto a Deus. Pois bem. A confissão deve ser feita à pessoa
contra a qual a ofensa foi praticada. Às vezes um homem prejudica ou
injuria uma igreja. É réu de uma ofensa tão grave e pública que uma
confissão é devida à igreja. Como bebedice, por exemplo. Porém
suponhamos que eu somente tive pensamentos pecaminosos na minha
mente. Devo confessá-los à igreja? Confessai este mal a Deus, não à
igreja. – Carroll.
__________
16. Confessor estranho! Seu nome é: “Uns aos outros”. Lutero,
citado por D’Aubgné em “A Reforma”.
__________
20. Pecador. Proeminentemente pecaminoso, especialmente
iniquo. – Thayer.
__________
Morto. A morte eterna. – Thayer.
__________
20. Tiago não fala de errar em doutrina. Tiago não discute
doutrina, no sentido dogmático. Errar da verdade consiste em andar
desgarrado de Deus na religião prática. Carroll. Cobrir multidão de
pecados. – Salmo 32 e Romanos 4.
__________
20. “Pecados”. Em a Epístola de Tiago, 5:20, a expressão
parece ser usada a respeito dos pecados de outrem, porém no sentido
de sepultá-los da vista de Deus, apagando-os pelo arrependimento do
pecado. – Lightfoot.
__________
19-20. os “irmãos” deste trecho são os mesmos a quem a Epístola
é endereçada – os irmãos de Tiago “das doze tribos de Israel”, seus
irmãos na “Diáspora”, não em Cristo; seus irmãos perdidos, não salvos;
seus irmãos que jazem na “morte”, não irmãos que gozam a vida eterna;
seus irmãos “pecadores”, irmãos que necessitam de “conversão” para
“salvar suas almas”, irmãos cujos pecados ainda não foram “cobertos”.
Seu “desvio da verdade” é igual ao “erro do seu caminho”. A
verdade é prática, é um caminho de vida, revelado por Deus em Jesus
Cristo. Não se trata de dogma estabelecido por autoridades
eclesiásticas, mas sim, da revelação dada no Velho Testamento e
realizada em Jesus. Estes israelitas todos crêem, intelectualmente, no
Messias prometido aos seus pais. Seu perigo é desviar-se daquele que
é caminho e verdade, não reconhecendo em Jesus o Messias enviado
por Deus, e assim ficar sendo uma Dispersão, desiludida e
desesperada, “as ovelhas perdidas na Casa de Israel”.
A conversão contemplada é que um judeu que é crente ganhe seu
irmão judeu que não é crente, para a fé em Jesus como o Messias.
Os pecados a serem cobertos são daquele que fica convertido a
Jesus pelo esforço de seu irmão que já era crente em Jesus – pecados
do perdido, não do evangelizador. A linguagem é do Velho Testamento,
do ritual levítico, dos sacrifícios pelos quais o pecado do povo foi
expiado. Trata-se, inegavelmente, da remoção do pecado pelo sangue
de expiação derramado pelo sacrifício de Jesus Cristo na cruz, não do
acúmulo de méritos transferíveis dos santos. Tiago finda sua epístola
com a mesma grande ideia evangélica que Paulo cita dos salmos, na
Epístola aos Romanos: “Bem aventurados aqueles cujas iniquidades
são perdoadas, e cujos pecados são cobertos”. – W.C.T.
COMO USAR ESTE LIVRO EM AULAS
__________

Este opúsculo é fruto das aulas do antigo Colégio da Bíblia


(Pernambuco) e visa ser usado tanto em estudo particular como em
aulas bíblicas de Colégios, classes bíblicas das igrejas e institutos
bíblicos. A experiência em ensiná-lo nos leva a fazer as seguintes
sugestões:
1. Os estudos da introdução procuram servir de ponto pela qual
estudantes gentios do século XX possam passar, pelo auxílio da
imaginação santificada e refreada, ao ponto de vista de leitores judeus
de uma epístola judaica da primeira metade do século I.
2. Comparai a tradução com as versões Figueiredo, Almeida,
Brasileira e Franciscana, destacando quatro alunos para ler, versículo
por versículo o trecho da lição. Do estudo das versões da Bíblias nasce
luz sobre os problemas da tradução. Esta tradução procura dar o
sentido exato do grego do original, reconhecendo que nem sempre a
tradução mais literal é a mais exata.
3. Feito isto, estudai a paráfrase, que em adição às ideias
expressas no texto, combina os fatos das circunstâncias e os ensinos
já anunciados no contexto ou que são pressuposições comuns ao autor
e aos leitores, mas estranhas ao nosso modo de pensar.
A paráfrase procura dar-nos a impressão total que a epístola
visava fazer na mente, do seu primitivo leitor.
4. Seguem perguntas que estão enumeradas segundo as páginas
para a conveniência dos leitores:

1º. Qual o propósito da Epístola de Tiago?


2º. Como se pode tornar prático o ensino da Epístola?
3º. Citar o provérbio sobre a controvérsia.
4º. Qual a relação entre os escritos da Bíblia e as primitivas
controvérsias religiosas?
5. Como podemos doutrinar, seguramente, os crentes da
atualidade com Escrituras provocadas, em muitos casos por
controvérsias mortas, cuja natureza dificilmente compreendemos?
6. Quais as duas questões fundamentais na religião que surgem
em todas as épocas?
7. Que significa salvação “pela graça”?
8. Quem é o educador, por excelência, da mente humana nesta
verdade preciosa?
9. Descrever o eclipse de Paulo e sua mensagem nos séculos pós-
apostólicos?
10. Pode um homem ser salvo sem ser moral? (Não tema o aluno
em dar uma resposta firme e categórica de “Sim”, pois Cristo veio
buscar e salvar pecadores, homens imorais. A salvação é o primeiro
passo para a verdadeira moral e para a espiritualidade, que consiste em
amar a vontade de Deus).
11. Pode um homem ser cristã mente religioso sem ser moral?
(Também não tema em responder: Não, pois a moral evangélica é da
essência da religião pura. Ninguém é religioso, conforme Tiago, que não
refreie a língua, visite os necessitados, e se guarde da imoralidade e
mundanismo).
12. A que foi devido o fracasso parcial da Reforma?
13. Mostre a relação lógica entre a salvação e a moral.
14. Mostrar que no estudo abstrato de uma doutrina se pode
separar elementos e fatores que na experiência são inseparáveis. Qual
a influência deste fato na harmonia de Paulo e Tiago?
15. Qual a ordem dos grandes elementos da experiência cristã,
segundo Paulo e Tiago?
16. Citar Escrituras que provam que na experiência estes
elementos são unidos e simultâneos no seu início, e progressivos na
sua manifestação, seja qual for a sua ordem lógica.
17. Descrever o efeito sobre as religiões humanas de vistas
parciais destas verdades.
18. Qual o único Evangelho de Cristo, e a ordem evangélica de
seus elementos?
19. Qual destes elementos está fraco, atualmente, nos círculos
evangélicos? Porque?
20. No Novo Testamento quais os estudos do curso primário dos
discípulos de Cristo?
21. Qual a posição que cabe à Epístola de Tiago na educação da
consciência cristã?
22. Na linguagem bíblica são inspirados os autores das Escrituras,
ou as Escrituras mesmas são inspiradas?
23. Foram os autores que tiveram infalibilidade ou foram os escritos
por eles produzidos sob influência especial do Espírito Santo?
24. Comparar a Palavra encarnada e a Palavra inspirada, ambas
imaculadas e infalíveis, porém reveladas ao mundo por uma virgem que
não foi imaculada e por apóstolos que não foram infalíveis.
25. Citar de memória alguns casos onde os apóstolos não
mostraram infalibilidade (Gl 2; 2 Co 12:13; Jo 21:21-23; At 1:7; Tg 3:2;
etc).
26. Foram as Escrituras ditadas aos autores palavra por palavra
como a um taquígrafo ou a uma máquina?
27. Qual a relação entre as Escrituras e a experiência espiritual dos
autores?
28. De que é o Espírito Santo o Criador?
29. Comparar o crescimento do menino Jesus e a compreensão
progressiva da verdade inspirada que temos na Bíblia pela
instrumentalidade da experiência dos seus autores pela obra
sobrenatural do Espírito Santo.
30. Em que sentido são gêmeas a verdade anunciada por Tiago e
sua experiência?
31. Como adaptou o Espírito sua mensagem aos característicos de
cada autor, adaptando em turno cada autor à parte da verdade de cuja
revelação tinha de ser o vaso?
32. Que disse o Dr. Schofield do caráter de Tiago?
33. E o Dr. A. T. Robertson?
34. Analisar os elementos de nobreza no caráter deste varão.
35. Qual a comparação feita por Mofatt?
36. Quantos versículos no livro, e quantos imperativos nos
versículos? Quantas palavras de louvor?
37. Com quais dos profetas se compara Tiago?
38. Entre as Epístolas qual o lugar saliente da de Tiago?
39. Quais os escritos judaicos do Novo Testamento, e qual o mais
judaico?
40. Fazer uma lista dos versículos que, ao seu ver, seria necessário
eliminar para Tiago fazer parte do Canon do Velho Testamento.
41. Enumerar várias doutrinas cristãs fundamentais que não são
mencionadas na Epístola?
42. Comparar Tiago e João Batista como profetas.
43. Que informação obtemos de Hegésipo a respeito de Tiago?
44. Mostrar quão sábia foi a escolha divina deste judeu para sua
posição saliente no Cristianismo primitivo.
45. Que disse Rui Barbosa acerca de Tiago?
46. Compare este simples pastor com os apóstolos na influência
que gozava no chamado “Concílio de Jerusalém”.
47. Como distingue o célebre Frederick Robertson as respectivas
missões de Paulo, João e Tiago no Cristianismo?
48. Citar versículos chaves que constituem protestos contra aquilo
que é oco e hipócrita na religião.
49. Resumir a evidência de que Tiago foi meio irmão de Jesus.
50. Dar os nomes dos outros irmãos de Jesus.
51. Dizer na linguagem bíblica o que teria sido considerada a
“virgindade perpétua” de Maria no seu dia e entre seu povo (Lc 1:25).
52. De onde partiu esta ideia?
53. Descrever a posição de Tiago no Cristianismo primitivo, e o
respeito por sua pessoa manifestado pelos próprios apóstolos de
Cristo?
54. Ler a referências dadas.
55. Mostrar a distinção exata na história primitiva entre o irmão do
Senhor e seus primos que alcançaram posição saliente na Cristandade.
56. Que familiaridade com o Velho Testamento é notada nesta
Epístola, e que nos ensina este fato a respeito do lar em Nazaré.
57. Quantas alusões na Epístola ao Sermão da Montanha?
58. Como é que o estilo de Tiago nos obriga a elevar nosso
pensamento da cultura da família de José e Maria?
59. Que oportunidades para o conhecimento da língua e cultura
grega havia na Galiléia?
60. Que motivos levaria Tiago a aperfeiçoar seus conhecimentos
gregos?
61. Mostrar a similaridade entre as figuras e símiles de Tiago e de
Jesus, em contraste com as de Paulo.
62. Citar algumas destas figuras. Examinai as referências.
63. Que diz Hayes sobre a relação entre Tiago e Jesus, e sua
herança comum?
64. Dizer o valor especial do testemunho de Tiago à deidade de
Jesus.
65. Dizer o destino e a data da Epístola.
66. Que temos de fazer para podermos entender a Epístola?
67. Enumerar os lugares da Dispersão judaica que foram
representados no auditório de Pedro no dia de Pentecostes.
68. Até que número de membros chegou a Igreja de Jerusalém, na
opinião do Dr. Carroll, antes de serem espalhados sobre a terra pela
perseguição?
69. Qual a relação entre os cristãos e os judeus nas sinagogas,
nesta época?
70. Qual a significação de Diáspora, nesta Epístola?
71. Descrever os elementos da sociedade judaica da Diáspora.
72. Quais as principais divisões geográficas da Diáspora?
73. Dar o interessante testemunho de Fílon sobre a Diáspora no
ano 40.
74. Onde provavelmente foi esta Epístola mais distribuída?
75. Dizer a tremenda significação da Diáspora como preparativo
para o Cristianismo.
76. Ler cuidadosamente as referências bíblicas de páginas 14 -15.
(originalmente, no livro, 35-38)
77. Enumerar os pontos de distinção do estado de coisas atual do
Cristianismo e a situação em 45 A.D., antes da separação ser efetuada
entre o cristianismo e o templo e a sinagoga.
78. As transformações religiosas se efetuam repentina ou
gradualmente?
79. Como foi na Reforma?
80. Qual a data NE o evento que cristalizaram a cisão entre os
judeus e os cristãos?
81. Que disse Paulo em sua última visita a Jerusalém, e quando
chegou à Roma e reuniu os íderes dos judeus na sua casa, a respeito
de sua lealdade à Lei e aos ritos do seu povo?
82. Que significa o cristianismo ser chamado “seita” pelos judeus
em Roma? Seita de que?
83. Numa teocracia qual a função civil da lei religiosa? Qual a
obrigação civil de um judeu crente para observar, na palestina, os
sábados, as luas novas e outras ordenanças da lei levítica?
84. Distinguir entre a obrigação nacional dos judeus neste sentido,
a liberdade evangélica dos crentes gentios que nenhuma obrigação
nacional tinham com as ordenanças judaicas.
85. Estas obrigações, mesmo para os judeus da Palestina, foram
obrigações cuja observância era meio de salvação? (At 15:9).
86. O aluno leu as passagens, e avalia para si a tremenda diferença
entre a vida religiosa de Paulo e Tiago no templo e na sinagoga, suas
reais obrigações nacionais sob sua lei nacional, a Lei de Moisés, e a
liberdade que os crentes gentios gozavam, e gozam, deste “jugo” (At
15:10)? Também percebe que, a despeito da diferença na atitude para
com as ordenanças levíticas, o Evangelho e a experiência da salvação
era a mesma e nos mesmos termos para crentes judeus e gentios?
Pode haver idêntica experiência de salvação, e no entanto tremenda
diferença nos costumes religiosos, mesmo hoje em dia.
87. Notar que a paráfrase procura resumir o que o próprio vocábulo
“Tiago” havia de sugerir no pensamento das tribos dispersas de Israel.
Explicar nas próprias palavras o conteúdo da paráfrase.
88. Comparar com estas as outras traduções. Quais as diferenças.
89. Citar a opinião de Schofield e de Hort sobre os propósitos do
autor em escrever esta Epístola.
90. Quais as palavras chaves e sua significação?
91. Citar as opiniões de Lange. Moffatt, Denny e Zahn sobre a
natureza desta Epístola.
92. Que razões apresenta Carroll por que a Epístola foi escrita?
93. Foi enviada a muitas igrejas, ou a uma?
94. Qual a objeção de Lutero à Epístola e a resposta?
95. Comparar o ensino de Tiago com o de Paulo e João.
96. Dar o significado cristão de “servo” quando usado pelos autores
do Novo Testamento a respeito de si.
97. Citar as várias opiniões sobre a “Dispersão” visada neste
versículo.
98. Dos dois esboços dados de qual gosta mais?
99. Traduzir o esboço em latim de Tischendorf.
100. Comparar a versão desta obra entre as demais traduções.
101. Definir provações.
102. Qual é a graça mais nobre, a inocência ou a pureza?
103. Que implica “fordes assaltados” neste texto?
104. Mencionar alguns motivos para nos regozijar nas provações.
105. Que provações tinha havido na Diáspora?
106. Definir bem a “constância”.
107. Definir “maduros”, “íntegros”, “aperfeiçoada”.
108. Qual a diferença entre ser “íntegro” e ser “maduro”?
109. Que é sabedoria?
110. Por que não é desculpado nenhum obreiro cristão se pratica
tolices?
111. Mostrar a relação inevitável entre o amor e o dar.
112. Quais as palavras salientes nas mensagens de Tiago, Paulo,
João e Pedro?
113. Que quer dizer “alma vacilante” Qual a ilustração de Bunyan?
114. Distinguir a benção do Velho Testamento da do Novo.
115. Que quer dizer “coroa da vida”? Concorda com a interpretação
de Hort?
116. Explicar as várias figuras usadas sobre a tentação sedutora,
estudando de novo a Paráfrase sobre isto.
117. Que quer dizer fatalismo? Como tende o fatalismo a
manifestar-se na hora das tentações?
118. Como combateu Tiago o fatalismo?
119. Dar o esboço de Farrar sobre o Novo Nascimento.
120. Que luz sobre a tradução pode ser obtida da Paráfrase?
121. Dizer as três figuras da Palavra de Deus.
122. Que tentação neste contexto é especialmente masculina, e
como Tiago indica este fato?
123. Dar a divisa de Francisco de Sales.
124. Que quer dizer “justiça de Deus”?
125. Definir “imundícia”, “resto de malícia”, “imoralidade”, e dizer se
as pessoas aqui contempladas eram cristãs ou incrédulas, ao seu ver.
126. Como fica a Palavra “arraigada” em nós?
127. Explicar a diferença entre aceitar a Palavra de Deus, de vez,
na alma, e o dever perpétuo de observá-la.
128. Citar os três provérbios que se encontram nesta página,
especialmente sobre as classes de discípulos.
129. Em que consiste a religião?
130. Qual a sugestão na frase: “iludindo-vos a vós mesmos com
sofismas”?
131. É homem ou mulher que manifesta a vaidade de se contemplar
no espelho?
132. Que qualidade de espelhos havia naquele tempo?
133. Que quer dizer “lei da liberdade”? É o Pentateuco ou o
Evangelho? Em que sentido é lei da liberdade?
134. Que distinção tácita existe, conforme Thayer, entre a parte
cerimonial e a parte moral?
135. Distinguir entre religião e ritual.
136. Quais os três elementos de religião genuína que Tiago
menciona? (Refrear a língua, sociabilidade caridosa, boa moral).
137. Dizer a diferença entre a religião e a salvação. (A salvação é
o que Deus fez, e faz, e fará, para o pecador perdido, pela morte
redentora, ressurreição e intercessão de Cristo, e é alcançada mediante
o arrependimento e a fé; a religião do cristão é o que o pecador salvo
faz pelo amor e gratidão a Cristo em lhe adorar, servir e obedecer.)
138. Em que outra passagem do Novo Testamento estão as visitas
consideradas fazendo parte essencial da religião? (Mt 25:36, 43, onde
servem de base do juízo divino).
139. Como é a tradução esclarecida pela paráfrase? (aqui nas
páginas 29 e 30, originalmente, no livro, 67-71).
140. Qual é a natureza da falta censurada em v. 1?
141. Repetir a ilustração do Dr. Carroll sobre a igualdade dos
homens diante de Deus.
142. Que quer dizer “a fé” neste versículo e como pode ser exercida
sem respeitos pessoais?
143. À luz do Velho Testamento, interpretar o termo “gloria” em
conexão com Jesus.
144. Ler as referências nesta página (30, no original, 73)
145. Ler as referências das nesta página (original, página 74, aqui,
31)
146. Explicar “sinagoga” neste contexto.
147. Qual a conclusão a que chega o comentador sobre “a
sinagoga”?
148. Descrever os costumes de então mo uso de anéis.
149. Qual a significação etimológica de “pobre”?
150. Que cômodos havia nas sinagogas para os auditórios?
151. Que é um herdeiro?
152. Ler as referências sobre “ricos”. Em que sentido eram “ricos”?
153. Qual o sentido aqui usado de “fé”?
154. Qual a relação propositada do Evangelho com os pobres?
155. Que tribunais foram estes?
156. Qual o “bom nome” e quando foi chamado sobre eles?
157. Distinguir entre a lei levítica e os dez mandamentos.
158. Como pode o violador de um só preceito da Lei ser
considerado réu de todos os preceitos da Lei.?
159. Explicar a solidariedade da Lei.
160. Que quer dizer a “Lei da Liberdade”?
161. Que dizem as referências nesta página (79, originalmente, 34)
162. Que quer dizer: “A misericórdia triunfa do juízo”?
163. Comparar, trecho por trecho, as versões.
164. Que esclarecimento tira da Paráfrase? Originalmente, página
80 – 84)
165. Que significa “fé” neste contexto?
166. Discutir a tradução “essa fé”. Em que se baseia o que luz
derrama sobre a interpretação desta passagem?
167. Que significação tem aqui a menção de uma “irmã”?
168. Comparar a esterilidade física com a espiritual.
169. Que distinção faz o Dr. Pierson entre os pontos de vista de
Paulo e Tiago?
170. Como devemos interpretar a objeção “Mas alguém dirá”?
Quem é este alguém, e com quem ele fala?
171. Qual a ideia de “tremem”
172. Ler as referências bíblicas nestas páginas. (87 e 88 no original,
aqui. 50 e 51) Que dizem?
173. Descrever os três sentidos em que o homem mencionado é
“vão”.
174. Como pode ser a fé “ociosa”?
175. Estudar bem e narrar nitidamente os dois incidentes históricos
quando Abraão foi justificado pela fé e quando foi justificado pelas
obras. Quanto tempo se passou entre os dois incidentes?
176. Como se pode dizer que a fé coopera com as obras?
177. Explicar a figura dos dois homens enfrentando dois ladrões.
178. Estudar bem e explicar a teoria do Dr. Carroll sobre esta
passagem.
179. Dar as respostas do comentador. Explicar as várias fases da
doutrina da justificação analisadas pelo autor deste comentário.
180. Qual a significação de Raab em provar a justificação pelas
obras?
181. Qual o paralelo entre Raab e os crentes da Dispersão judaica
quanto à oposição nacionalista de seus patrícios?
182. Que é o “cadáver da religião”?
183. Na figura de corpo e espírito, qual dos dois é “fé” e qual
“obras”? Explicar a figura.
184. Provar que Tiago não está atacando a Paulo.
185. Que diz Salmon sobre a harmonia de Paulo e Tiago.
186. Que disse, em resumo, Lutero sobre a energia moral da fé?
187. Ler e comparar as versões, trecho por trecho.
188.+ Quem são os mestres aqui discutidos?
189. Ler as referências no comentário do capítulo VI. Que dizem?
190. Por que exerce o ministério “atração para mentes fracas”?
191. Ler as referências no comentário sobre “Muitos mestres” no
capítulo VI.
192. Como ilumina esta passagem a natureza congregacional das
igrejas primitivas?
193. Mostrar o perigo da liberdade de falar gozada nas sinagogas.
Que freio há para o abuso desta liberdade?
194. Dar o testemunho de Sir William Ramsay sobre a eleição
popular do ministério das igrejas e o costume de haver candidatos.
195. Até quando permaneceu, em alguns lugares, esta organização
primitiva?
196. Que prova há neste trecho contra ideia da perfectibilidade
humana?
197. Porque a língua se chama “um fogo”?
198. Que significa “curso da vida”?
199. Mencionar três tentações para pecar com a língua.
200. Há esperança de dominar a língua? Como?
201. Narrar a experiência do Dr. Carroll em dominar a língua.
202. Os homens ainda possuem em si a imagem de Deus?
203. Citar as ilustrações da língua usada nesta página.
204. Enumerar os estragos feitos pelo mau uso da língua.
205. Mostrar o efeito deste pecado sobre outros e sobre nós
mesmos.
206. Qual a relação do mal aqui condenado com a controvérsia?
207. Ler as referências nesta página. Que luz derramam sobre a
passagem?
208. Definir as palavras discutidas nesta página.
209. Explicar como se pode possuir a verdade e mentir contra ela.
210. Descrever a sabedoria indesejável.
211. Enumerar os elemento discutidos nesta página comentada do
capítulo VI.
212. Mostrar o caminho da sabedoria celeste na controvérsia.
213. Que figura está aqui usada sobre a politicagem? (Tecelão”. A
ideia não é de ser baixo o ofício de tecelão,mas que o politiqueiro tece
uma teia de intrigas como o tecelão os fios de sua fábrica).
214. Que elementos religiosos pode haver de comum entre os
homens e os demônios.
215. Distinguir a alma do espírito. Está sempre respeitada esta
distinção na Bíblia? Nossa natureza é dupla ou tríplice?
216. Citar o caso dos apóstolos como ilustração da sabedoria
terrena e suas consequências.
217. Definir os adjetivos que descrevem a sabedoria louvável e ler
as referências.
218. Dar a substância das palavras de Agostinho aos Maniqueus
sobre seu método de argumentar.
219. Definir os termos discutidos nesta página e dizer o que as
referências adiantam.
220. Comparar as versões e o que a Paráfrase esclarece.
221. Qual o estado moral das congregações na Diáspora revelado
nestes versículos?
222. Que sorte de contendas havia?
223. Que disse Platão sobre a origem das guerras?
224. Como discorda Tiago da ideia de Platão?
225. Discutir “adúlteras”, neste contexto.
226. Que quer dizer “mundo”, neste contexto?
227. Discutir o ciúme do Espírito, e as implicações da frase.
228. Ler as referências e discutir sua aplicação no assunto.
229. Dizer sua opinião se a referência em “adúlteras” é literal ou
figurada, e a que se refere na vida dos leitores.
230. Enumerar os vários sentidos de “mundo” (investigar as
referências).
231. Que quer dizer “espírito do mundo”?
232. Citar a ilustração de Lincoln.
233. Ler as referências e dizer o que ensinam sobre o amor da
Trindade para conosco.
234. Comparar versões e paráfrase do capítulo VIII.
235. Que diz Plummer sobre o destino deste trecho?
236. Descrever a vida comercial dos judeus da Diáspora.
237. Deve-se dizer “Se o Senhor quiser”?
238. Qual a diferença entre “princípio” e “regra”.
239. Mencionar as três classes de riquezas possuídas pelos
leitores.
240. Quantas frases figuradas nestas páginas? Explicar cada uma.
241. Que ensinam as referências?
242. Ler e comparar as versões e a Paráfrase do Capítulo IX?
243. Definir as frases discutidas nesta página.
244. Que virtudes são incluídas na paciência?
245. Que diz Plummer do amor de queixas?
246. Em que sentido podemos dizer que há “Um só Legislador”?
247. Ler as referências.
248. Descrever as manhas do juramento judaico.
249. Todo o juramento é condenado?
250. Comparar os dois verbos traduzidos por “ungir”.
251. Mencionar antigos médicos que recomendaram óleo como
remédio. É este seu intuito na unção recomendada nesta passagem?
252. Que governo das igrejas é indicado pela referência aos seus
oficiais?
253. Qual a doutrina a Igreja Católica Romana da Extrema Unção?
254. Ler as referências. Que informações dão.
255. Há distinção bíblica entre o leigo e o presbítero?
256. Foram estes casos de cura milagrosa?
257. Porque rejeitar a doutrina da Extrema Unção?
258. Citar o testemunho do Cardeal Cajetan.
259. Descrever o espírito de auxílio mútuo nas primitivas igrejas.
260. Quando são obrigatórias para nós as práticas dos apóstolos?
261. Que se pode dizer da confissão e a oração aqui exigida?
262. Citar o testemunho do eminente católica, Hooker.
263. Qual a confissão ensinada por Tiago?
264. A quem se refere o termo “pecador” nesta passagem?
265. Definir “morte” nesta passagem.
266. Qual a natureza dos “pecados” que Tiago tem em mente?
267. Dar a interpretação do comentador sobre esta passagem.
268. À luz destes estudos, lendo esta tradução da Epístola toda e
depois a Paráfrase toda, para ter a impressão cumulativa e total do
escrito.

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