Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A Epístola de Tiago - Willian Carey Taylor PDF
A Epístola de Tiago - Willian Carey Taylor PDF
TRADUÇÃO E COMENTÁRIO
A EPÍSTOLA DE TIAGO
TRADUÇÃO E COMENTÁRIO
W. C. TAYLOR
1942
CASA PUBLICADORA BATISTA
CAIXA 320 – Rio
À Memória de
Minha santa mãe
Crente durante setenta anos
Educadora de minha alma
CAPÍTULO 1
O CARÁTER DE TIAGO
A Bíblia nunca diz que os seus autores foram inspirados, mas que
as Escrituras são inspiradas, que elas, como a alma humana na
primeira criação, são o “fôlego de Deus”. A experiência de seus autores
foi um crescimento gradual na graça e no conhecimento do Senhor
Jesus como nós outros somos santificados. Os apóstolos não foram
mais infalíveis do que os pastores de hoje, pelo contrário, tinham ideias
mais elementares e menos sistemáticas da verdade do que a nossa
geração. Sua missão foi preservar a sagrada história e a interpretação
de seus fatos que foi dada por Cristo e seu Espírito. Mas eles mesmos
foram homens sujeitos às mesmas paixões que nós. A sistematização
e aplicação destes princípios e verdades é a tarefa de cada geração
para si. Porém Jesus, e o Espírito Santo, naquele século miraculoso,
enquanto os fatos da redenção eram novos e seus historiadores
contemporâneos, enquanto sinais, dons, milagres, línguas, curas,
ressurreições, manifestações do Salvador ressuscitado,
transfigurações e visões eram a ordem do dia, dotou a nova religião de
Novas Escrituras, um Novo Testamento cujo autor é o infalível Espírito
de Deus por intermédio de homens falíveis e imperfeitos. Ele não
transformou arbitrariamente os apóstolos em homens incapazes de
errar, mas superintendeu sua produção da biblioteca da nossa religião,
produzindo uma obra perfeita nos seus ensinos. Criou por meio de suas
experiências e seus processos mentais a Palavra escrita e inspirada,
da mesma maneira que criou no ventre de uma virgem santa, mas não
imaculada, o imaculado Verbo de Deus. A Palavra inspirada e a Palavra
encarnada ambas têm uma origem humana falível. Sua infalibilidade é
a obra direta do Espírito Santo, Criador do universo, do corpo humano
do Salvador, da Igreja e da Bíblia.
Ao nosso ver, este fato é de suma importância e torna-se um
grande estímulo ao estudo da experiência dos autores da Bíblia, porque
esta experiência é o molde das verdades eternas. Do mesmo modo que
o menino Jesus crescia, assim gradualmente a Bíblia crescia na
experiência dos apóstolos por todo aquele século que era o século mais
repleto da revelação na história humana. Contemplai, pois, o caráter de
Tiago. As verdades que Tiago escreveu não são meros vocábulos
ditados a uma máquina: são verdades eternas que nasceram pelas
mesmas dores de parto que deram à luz a experiência cristã deste
irmão de Jesus Cristo. Esta verdade e este experiência são gêmeas,
geradas pelo mesmo Espírito.
O eminente intérprete Schofield insiste na distinção entre os
característicos das Escrituras e de seus autores. Cada qual foi
escolhido por ser adaptado a externar revelações de origem divina que
se tinham encarnado na sua vida cristã. O homem Tiago, diz o dr.
Schofield, “foi austero, legal, cerimonial, ascético”. O dr. A. T. Robertson
o chama de um judeu ao fundo, expoente ideal da norma ética do
cristianismo primitivo. Seus contemporâneos o chamaram “o justo”,
compreendendo no termo não mera moralidade, mas uma
conformidade notável com todo o Velho Testamento.
“Quão nobre é o varão que nos fala nesta Epístola! Paciência
profunda e inquebrantável no sofrimento” Grandeza na penúria! Como
ele deseja a ação! Ação, não palavras, não mera crença morta! (Farrar)
James Moffatt compara a Epístola de Tiago aos grandes canhões
de alto calibre de um vaso de guerra.
“nos 108 versículos se pode contar 54 imperativos. Estes se
encontram ao lado com trechos de profunda simpatia, mas de louvor
não há nenhuma sílaba. O autor tem sido chamado de Jeremias do
Novo Testamento, porém, suas afinidades estão mais com o realismo
obstinado e pungente de um profeta como Amós.”
“É o Sermão na Montanha entre as Epístolas”. É o escrito mais
judaico do Novo Testamento, Mateus, Hebreus, Apocalipse e Judas
todos têm mais do elemento distintivamente cristão. Porém, se
eliminarmos duas ou três passagens que se referem a Cristo, a Epístola
inteira tem lugar no Canon do Velho Testamento. Tão bem quanto cabe
no Novo Testamento., quanto à substância de sua doutrina e conteúdo;
não há menção da encarnação, da ressurreição, do Evangelho, da
vinda do Messias, ou da redenção por Ele. a Epístola se ocupa
principalmente com a vida ativa e pública e esta vida que é
representada é a de um judeu informado com o Espírito de Cristo. João
Batista não foi o último profeta da velha dispensação. O escritor desta
Epístola está na extremidade da linha profética, e é maior do que João
Batista. “Hegésipo nos informa que ele era santo desde o ventre de sua
mãe. Ele não bebeu vinho ou bebida forte, não comeu carne. Somente
a ele foi permitido entrar com os sacerdotes no lugar santo e ali podia
ser encontrado muitas vezes implorando o perdão da iniquidade do seu
povo. Seus joelhos se tornaram duros como os do camelo em
consequência de estarem constantemente dobrados na adoração de
Deus e na súplica pelo perdão do seu povo. Este judeu, fiel na
observação de tudo que os judeus consideravam sagrado, e mais
devoto ao culto no templo do que os mais poderosos entre eles, foi
escolha ótima para cabeça da igreja cristã. O sangue de Davi estava
nas suas veias. Tinha todo o orgulho dos judeus nos privilégios
especiais da raça escolhida. Os judeus o respeitavam e os cristãos o
reverenciavam e nenhum homem na população inteira gozou de tão
grande estima quanto Tiago. Tanto judeus como cristãos comentaram
que imediatamente depois de sua morte trágica Vespasiano sitiou
Jerusalém. A epístola é mais um apelo profético do que uma carta
pessoal.” (D. A. Hayes, in International Bible Encyclopedia)
Disse Rui Barbosa (1849-1923): “Os que buscam vincular a Pedro
a soberania do papa começam esquecendo a primeira manifestação
coletiva da igreja cristã, o concílio de Jerusalém, tipo necessário de
todos os outros, no qual a preponderância na definição do ponto
controvertido coube, não ao apelidado príncipe dos apóstolos, mas a
Tiago, bispo da cidade, irmão do Senhor”.
No meu discurso diante da undécima Convenção Batista Brasileira,
reunida em Vitória, disse: “Naquela primeira Convenção em Jerusalém
a voz que predominou não foi a de nenhum missionário, de Paulo, nem
de Pedro ou João. Quem moveu aquela convenção a uma atividade
decisiva foi Tiago, pastor nativo nazareno, a quem Paulo mesmo
chamou uma coluna do cristianismo primitivo, um nome reverenciado
pelo mundo cristão apostólico.” Esta primazia lhe coube, é escusado
adicionar, não porque Tiago se vestia à moda ou se movia entre os
mensageiros com uma politicagem para seus próprios interesses
egoístas, mas por causa de sua capacidade de dar solução aos
problemas contemporâneos à luz das Escrituras, e por motivo de sua
perseverança em oração e santidade de vida.
O imortal Frederico Robertson assim fala do lugar de Tiago no
desenvolvimento da verdade cristã. “Foi dado a São Paulo proclamar o
Cristianismo como a lei espiritual da liberdade e exibir a fé como o
princípio mais ativo dentro do seio humano. Foi missão de São João
declarar que a qualidade mais profunda no seio da deidade é o amor, e
asseverar que a vida de Deus no homem é o amor. Foi o ofício de São
Tiago afirmar a necessidade imperiosa da retidão moral: seu nome
mesmo o marcou peculiarmente o justo, a integridade foi seu
característico supremo. Um homem singularmente honesto, genuíno,
real! Portanto se quiserdes ler esta Epístola inteira, encontrareis nela,
do princípio ao fim, uma vindicação contínua dos princípios
fundamentais da moral contra as formalidades exteriores da religião”.
Ele protestou contra o espírito de censura que se achava ligado
com as pretensões de sentimentos religiosos. “Se alguém entre vós
cuida ser religioso, e não refreia a sua língua, antes engana o seu
coração, a religião do tal é vã”. Protestou contra o fatalismo
sentimental que levou os pecadores a lançar sobre Deus a culpa de
seus crimes e paixões: “Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito
vem do alto, e desce do Pai das luzes, em quem não há mudança
nem sombra de variação.” Protestou contra o espírito que entrara de
soslaio na irmandade cristã, de curvar-se diante dos ricos e desprezar
os pobres: “Porém, se fazeis acepção de pessoas, cometeis
pecado”. Protestou contra a religião artificial de excitamento que
reduziu o zelo da verdadeira religião: “E sede obradores da palavra,
e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos”.
Protestou contra aquela confiança cega na correta doutrina teológica
que ao mesmo tempo menosprezou o cultivo de caráter: “Meus
irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as
obras? Porventura a fé (essa ociosa crença ortodoxa) pode salvá-
lo?” Lede a Epístola de Tiago do princípio ao fim; este é o espírito que
respira através dela toda; toda esta FALA a respeito da religião e da
espiritualidade – palavras, palavras, mero palavrório! Não! Tenhamos
realidades” (Sermões de Robertson)
CAPÍTULO III
TRADUÇÃO E COMENTÁRIO
__________
CAPÍTULO I
A SAUDAÇÃO DA EPÍSTOLA
TRADUÇÃO
1:1. Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze
tribos que estão dispersas, saúde.
__________
PARÁFRASE
Tiago, irmão do Senhor, companheiro de sua vida humana,
convertido por sua ressurreição, primeiro presidente de sua primeira
igreja, herói da Cristandade e do judaísmo primitivo, escritor do primeiro
volume da biblioteca do Novo Testamento, moderador da conferência
pacificadora em Jerusalém, autor da pequena epístola que unificou as
igrejas judaicas, gentias e mistas numa comunhão universal, (Atos 15);
Tiago, primeira das três colunas da comunidade primitiva, (Gálatas
2), mestre de três línguas, recipiente de uma revelação especial do
Senhor ressuscitado, protagonista da santidade evangélica, profeta,
bispo, intercessor e mártir.
Tiago, o Justo, cujo lugar na estima universal de judeus, e cristãos,
é tão seguro que não precisa de argumento, ou defesa, com humildade
evangélica se introduz aos seus leitores como apenas “um servo”,
adorador obediente, de Deus Pai e de Jesus Cristo a quem também
cabe o nome de deidade – Senhor;
Tiago saúda seus irmãos das tribos de Israel, membros das
colônias da Diáspora; desde Babilônia até Roma, e desde Alexandria
até Filipos, enviando cópias desta carta-circular, no ano 45 da era cristã,
talvez pela mão de peregrinos que voltam das festas em Jerusalém, a
muitos destes grupos de israelitas no império romano, mormente em
Antioquia e outras partes da Síria, e admoestando o seu povo sobre sua
vida ética e espiritual, ministrando conselhos práticos às sinagogas, às
novéis igrejas, e aos núcleos informes de judeus crentes que neste
período de transição ainda se congregam nos cultos da sinagoga onde
há também judeus incrédulos nos cultos, a cujos auditórios mistos seria
lida esta epístola do mais eminente judeu cristão da atualidade, herói e
doutor de todos os seus patrícios.
COMENTÁRIO
Esboço de Schofield:
1. Prova da Fé, 1:2 – 2:26.
2. A Vida Íntima Provada pelas declarações da língua, 3:1-18.
3. Repreensão contra o mundanismo, 4:1-18.
4. Os ricos admoestados.5:1-6.
5. Exortações, 5:7-20.
Esboço de A. T. Robertson:
1. Introdução, 1:1.
2. Como tratar provações, 1:2-18.
3. Como tratar a Palavra de Deus, 1:19-27.
4. Como tratar os ricos e os pobres no culto, 2:1-13.
5. Como manifestar a nossa fé. 2:14-26.
6. Cautela contra a ambição de ser mestres, 3.
7. Várias exortações práticas, 4, 5.
COMENTÁRIO
Versículo 18: Esta sentença marca a transição do assunto das
tentações para o da Palavra de Deus, portanto a repetimos neste trecho
da epístola. A resolução divina para nos gerar pela Palavra para a vida
e a salvação é a prova de que Deus não é o autor de nossas tentações.
E agora que o assunto é mencionado, Tiago manifesta o lugar da
Palavra arraigada, acatada e praticada, numa vida religiosa. -W.C.T.
__________
Três figuras da palavra de Deus: Tiago, como seu divino irmão,
era feliz na sua linguagem figurada.
I. A Palavra da Verdade é o gérmen da vida por meio do qual Deus
gera a nova criatura. O Espírito regenera o pecador que crê no
Evangelho, por meio desta mensagem vivificante.
II. A Palavra é uma semente, uma raiz, um enxerto. Sendo vitalmente
ligada com a nossa consciência pelo Espírito de Deus, ela vive em nós,
e com a nossa força e em nossa personalidade produz seus frutos
peculiares e santos, que em nós mesmos nunca teríamos a capacidade
de produzir.
III. A Palavra é um espelho, revelando-nos a nós mesmos para que nos
possamos concertar e purificar segundo seu ensino. – W.C.T.
__________
Ficai certos: Esta sentença cabe melhor no parágrafo anterior.
Tiago dá toda a ênfase à benévola resolução voluntária de Deus para
nos regenerar, em lugar de nos tentar para o mal, como os judeus
dispersos estavam quase dispostos a imaginar. Moulton traduz: “Podeis
ter plena certeza”. – W. C. T.
__________
19:20: Tiago muda de vocábulo ao passar do v. 19 para v. 20.
“Seja todo o homem, todo o gênero humano, pronto para ouvir.”
“porque a ira de um varão não obra o que Deus acha justo”. Por máscula
que seja a defesa da dignidade pessoal, ou por mais varonil que seja a
indignação contra as injusttiças, mesmo esta ira viril não consegue fazer
o bem ou agradar a Deus. – W; C. T.
__________
Justiça de Deus: a justiça que Deus exige. – Thayer.
__________
Tardo para falar: Francisco de Sales, o santo que o papa fez
padroeiro dos escritores católicos, disse uma vez: “Fala pouco e
gentilmente, pouco e bem, pouco e com simplicidade, pouco e
honestamente, pouco e amavelmente.”
__________
Ira de varão: A escolha de varão (enfaticamente masculino) em
lugar de homem (no sentido genérico), nesta conexão foi determinada
provavelmente pelos fatos do caso; os faladores seriam varões, e talvez
pensassem que havia algo de varonil em violência, em contraste com a
virtude da mansidão, estimada como característico feminino. – Mayor.
__________
Justiça de Deus: O que São Tiago entendeu pela frase foi, sem
dúvida, (1) a obediência perfeita à lei da liberdade contida no Sermão
da Montanha, em contraste com as formalidades exteriores que
constituem a justiça aos olhos humanos, e(2) o reconhecimento do fato
de que esta justiça é o dom de Deus, obrada em nós por Sua Palavra
recebida em nossos corações. – Mayor.
__________
21. Despindo toda a imoralidade e restos de malícia: “Pondo
de lado como se despe uma veste”. – Thayer.
Imundícia: a iniquidade, como moralmente manchando”. –
Thayer.
Resto de malícia: a iniquidade que ainda resta no cristão do seu
estado anterior à conversão. – Thayer.
Malícia: O que era considerada indignação santa, não passava
de malícia. – Hort.
Imoralidade: provavelmente significa imundícia no sentido de
impureza e cobiça carnal. – ““Expositor’s Greek Testament””.
Estas palavras deixam a impressão de que os leitores a quem
foram proferidas estas palavras ainda não podiam ser chamados
cristãos. – idem.
Restos: “Os cristãos visados já renunciaram o pecado, porém
este não é inteiramente conquistado neles”. – Mayor.
Despindo: Spitta pensa que se refere ao enfeite que o pecado se
traja. – idém.
Com mansidão: em posição enfática no original. – W.C.T.
__________
A palavra em vós arraigada: A doutrina implantada por vossos
mestres (ou por Deus) recebei como semente em solo bem preparado
– Thayer.
Hort nega que este verbo que traduzimos “arraigados” possa
significar “enxertada”.
Esta “palavra” seria às Escrituras lidas nas sinagogas. –
““Expositor’s Greek Testament””.
Nascida, natural em distinção de implantada ou enxertada de fora.
Moulton e Milligan, argumentando com o uso nos papiros.
A palavra se encontra somente aqui no Novo Testamento. Seu
uso geral significa inata, porém o contexto aqui proíbe esta significação.
Portanto, precisamos tomá-la no sentido da “palavra em vós arraigada”,
isto é, uma palavra cuja natureza é arraigar-se no coração qual
semente. Comparai Mt 13:2-23, especialmente o verso 21, “mas não
tem raiz em si”. – Mayor.
__________
As vossas almas: A alma humana, constituída de tal forma que
pelo uso dos meios que lhe são oferecidos por Deus, pode alcançar
seus fins mais elevados e conseguir a bem-aventurança eterna, a alma
considerada com um ser moral designado para a vida eterna.
__________
22. Tornai-vos: Há uma mudança, no original, nos tempos dosa
verbos que é digna de nota. Tiago diz: Despi, de vez, os restos da
iniquidade da velha vida e, numa decisão definitiva, recebei a Palavra
cuja natureza é arraigar-se em vós e que é poderosa para salvar a alma.
É um mandamento da ordem: “dito e feito”. É a iniciação da obra da
Palavra na vida. Porém o verbo, em seguida, dá atitude contínua e
estável da alma para com a palavra. Sede obradores perpetuamente da
Palavra que recebestes na conversão. Tendes recebido a Palavra uma
vez para sempre no coração e fostes salvos por ela. Agora perseverai
no seu ensino: manifestai sua mensagem santa nos atos; encarnai em
vós a Palavra. São as fases instantâneas, regeneradoras, vivificantes
da Palavra na alma, seguidas pela sua manifestação resultante e
perpétua. – W. C. T.
__________
Tornai-vos: Mostrai-vos cada vez observadores da palavra. –
Mayor.
“Rabi Chananiah costumava dizer: Aquele cujas obras são em
excesso de sua sabedoria, sua sabedoria vinga; porém não vinga a
sabedoria daquele cuja sabedoria está em excesso de suas obras”.
__________
“A religião não consiste em conhecer e crer mesmo a verdade
fundamental, antes em sermos conduzidos para uma certa têmpera e
maneira de viver!. – (Butler), ou como diz São João, “Quem obra justiça
é justo” – A verdadeira prática cristã cresce, é o fruto de progresso – o
“observador|” da Palavra se torna tal por profissão e exercício; a frase
implica um hábito – Os judeus têm um provérbio que diz: “Quem ouve
sem fazer é como o lavrador que semeia e cultiva, mas nunca ceifa”. –
A. Plummer.
__________
Disse o Rabi Shimeon, filho de Gamaliel: “Há quatro caracteres
de discípulos: Pronto para ouvir e pronto a se esquecer – seu ganho é
cancelado pela sua perda. Tardo para ouvir e tardo para esquecer – sua
perda é cancelada pelo seu ganho. Pronto para ouvir e tardo para se
esquecer – este é sábio. Tardo para ouvir e pronto para se esquecer –
sua sorte é má”.
__________
Iludindo-vos a vós mesmos com sofismas: O original sugere
que o homem leva sua própria alma à parte, para uma palestra íntima
e a catequiza com sofismas ao partido do mal e da ilusão. – W. C. T.
__________
23. Outyra vez o vocábulo homem é enfaticamente másculo. É
um homem que estuda suas feições ao espelho. A vaidade não é mais
feminina do que masculina.
O espelho de que Tiago pensa é de metal polido, dando um
reflexo assaz imperfeito, como Paulo disse: “Em enigma”.
O rosto de sua “Gênesis”, ou rosto nativo, ou natural, é a frase de
Tiago. Mayor pensa que se refere a esta existência terrena e
passageira, em contraste com o caráter que se reflete no espelho da
Palavra, caráter que se está moldando para a eternidade. Porém
achamos mais natural traduzir “seu próprio rosto“. – W. C. T.
__________
24. Outra vez Tiago, no original, usa seus verbos vividamente.
Muda o tempo para o “aoristo gnômico”. O dr. A. T. Robertson diz:
“Tiago viu o homem. Foi-se embora”. Um relance para o espelho, partiu
incontinente e não ligou mais import~^anciã. É assim com o ouvinte
esquecido da Palavra. Porém, a figura do cumpridor da Palavra é única.
Este atentou, baixou-se como João e Maria quando olharam para o
túmulo vazio de Jesus – é o mesmo verbo – e assim se estudou ao
espelhjo da Palavra, e se corrigiu. – W. C. T.
__________
25. Uma lei perfeita, que é a da liberdade: “a religião cristã” –
Thayer.
Sua própria frase peculiar, em contraste propositado com a letra
e sua escravatura. Pressupõe a vida nova que a graça de Deus dá ao
pecador, e que encontra seu prazer nas coisas que lhe agradam
segundo são mostradas na Sua Palavra. – W. Kelley.
O ouvinte atento sente que a Palavra da Verdade é, e deve ser,
a lei de sua vida, embora seja uma lei da liberdade: é o ideal em que
seus olhos estão fixos, não um jugo pesado demais para sua cerviz.
Mesmo da lei mosaica o salmista diz que a Lei do Senhor é perfeita,
porém este é meramente rudimentar em comparação com a Lei de
Cristo (Gl 6:2), como é demonstrado no sermão da Montanha e na
Epístola aos Hebreus. Assim, Paulo se descreve como sendo “sob a lei
de Cristo”, (1 Co 9:21), e ainda descreve a nova lei como uma “lei da
fé” (Rm 3:27). É dela que o apóstolo fala, em linguagem que bem pode
servir de comentário sobre este texto de São Tiago: “A lei do Espírito da
vida em Cristo Jesus me livrou do pecado e da morte”. (Rm 8:2).
Jeremias profetizou desta lei (31:32) como uma nova aliança que
haveria de ser escrita no coração. Que induziu São Tiago a chamar o
Evangelho uma lei de liberdade aqui e em 2:12? Claramente porque é
uma lei de que não é forçada pela compulsão exterior, mas livremente
aceita como expressando o desejo e o alvo do súdito dela.
Esta obediência voluntária é até reconhecida no Velho
Testamento (Ex 35:5; Dt 28:47; Sl 1:2; 40:8; 54:6; 119:32-45; 97; 51:21).
Porém a fonte de onde, provavelmente, veio a ideia de Tiago foi sua
memória das palavras de Mt 5:17: “Não penseis que eu vim para
revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogar, mas cumprir”, e de João
8:33: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.
É outro ponto em que São Tiago nos lembra dos Estóicos.
Comparai o paradoxo deles. “Somente o mais sábio é livre,e todo o
néscio é escravo”, sobre o qual Cícero comenta: “Qui est libertas?
Potestas vivendi ut velis”. Comparai com Rabi Gamaliel que
costumava dizer|: “Faze Sua vontade como se fosse tua vontade”. –
Mayor.
__________
O grande lexicógrafo do Novo Testamento Grego, Thayer, assim
fala do vocábulo Lei, na Epístola de Tiago: “Embora os judeus não
fizessem distinção entre os preceitos morais, cerimoniais e civis da Lei,
no entanto, no Novo Testamento a Lei é mencionada, às vezes, de tal
forma que mostra que o escritor tem em mira somente a sua fase ética,
como de importância principal, e de validade perpétua entre cristãos,
porém despreza as partes cerimoniais e civis como sendo escritas
somente para judeus. Gl 5:14; Rm 13:8-10; 2:26; 7:21-25; Mt 5:18 e
assim muitas vezes. Na Epístola de Tiago ‘a Lei’ significa, unicamente,
as partes da Lei ética que foram confirmadas pela religião cristã”
__________
A perfeita lei da liberdade e a “lei real” ambas referem à Lei como
foi aperfeiçoada pelo “Rei dos Judeus” – ““Expositor’s Greek
Testament””.
__________
O cristianismo como o cumprimento ética da Lei. A lei que Tiago
tem em vista sempre é a Lei como foi exemplificada na vida de Jesus,
a qual seus amigos amam e gostam de cumprir. Marcus Dods.
__________
E nela persevera: Ficar ali, e continuar a olhar atentamente até
que todas as manchas sejam lavadas e desapareçam. – Thayer.
A lei de Deus exige contemplação constante e aplicada, não mero
relance passageiro. O ouvinte pode ser iludido por falso raciocínio,
cheio de ignorância opiniática, repleto de uma infalibilidade bem
satisfeita consigo, dado ao dogmatismo, à conversa insistente, no
espírito intemperadamente contencioso, às denunciações de outros, e
no entanto pode considerar-se “religioso” por que se submete a repetir
um bom número de ordenações exteriores. Mas a verdadeira religião
não é um ritual extenso de cerimônias e abluções, as quais podem ser
perfeitamente consistentes com a hipocrisia farisaica fútil e a devoção
própria e, normalmente, tendem a degenerar ao ponto de não ter mais
valor. O ritual, para ter relação íntima com “a religião pura e imaculada”,
deve manifestar-se em obras de amor ativo, em ser “imaculado do
mundo”, livre da contaminação, da mancha do vagaroso contágio do
munod. O único ritual verdadeiro é o amor. – Farrar.
CAPÍTULO IV
IMPARCIALIDADE E DEMOCRIACIA NOS CULTOS
TRADUÇÃO
2:1-13
Meus amados irmãos, deixai de associar deferências a
pessoas gradas com a fé que tendes em nosso Senhor Jesus
Cristo, que é a Glória divinal. Pois se entrar em uma sinagoga
vossa algum varão que tenha anéis de ouro e trajes esplêndidos,
mas entrar também um pobre em roupa suja, e se tratardes com
deferência aquele que vista os trajes luxuosos, e disserdes: “Tu,
assenta-te aqui neste lugar de honra”, e ao pobre disserdes: “Fica
tu para lá em pé, ou senta-te abaixo do estrado dos meus pés”: não
haveis feito distinções entre vós mesmos e não vos tornastes
juízes de pensamentos perversos? Ouvi, meus irmãos amados.
Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres para serem
ricos em fé e herdeiros do reino que ele prometeu aos que o
amam?
Vós, porém, menosprezastes o pobre. Os ricos não vos
tiranizam e não são eles os que vos arrastam perante os tribunais?
Acaso não são eles os que difamam o nobre Nome pelo qual sois
chamados? Se vós, contudo, observais a lei real segundo a
Escritura: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”, fazeis bem;
mas se vos deixais levar por deferências a pessoas gradas,
cometeis um pecado, sendo convencidos pela lei como
transgressores. Pois quem guardar a lei toda, porém em um só
ponto tropeçar, é constituído réu de ter violado todos. Pois aquele
que disse: “Não cometerás adultério”, também disse: “Não
matarás”. Se, porém, não cometeres adultério, mas, és homicida,
estás feito transgressor da lei. Falai de tal sorte e de tal sorte
procedei como homens prestes a serem julgados pela lei da
liberdade. Pois o juízo será sem misericórdia para aquele que não
usou de misericórdia; a misericórdia triunfa sobre o juízo.
__________
PARÁFRASE
Meus irmãos em Cristo, reunidos nas sinagogas da Diáspora,
juntamente com vossos concidadãos das respectivas colônias de Israel,
deixai do costume, tão geral entre vós, de exercitar a fé em nosso
Senhor Jesus Cristo numa atmosfera mundana de respeitos humanos,
deferências prestadas a fidalgos, acompanhados pelo desprezo dos
pobres, atos a atitudes de parcialidade e distinções de classe, o
arbitrário acatamento dos homens pelo que têm e não pelo que são
diante de Deus. Não é assim que a fé em Cristo se transforma em vida.
Ele é nosso Senhor, é a Glória de Deus, é o próprio Jeová manifestado
na carne, como outrora se manifestava nas teofanias da dispensação
mosaica. Pois nós nos reunimos no dia do Senhor para acatar a esta
Glória inefável, e não para prestar homenagem servil às pequenas
distinções arbitrárias que existam, ou que finjam existir por aí entre os
homens. Curvemo-nos unicamente diante de Deus quando estamos na
sua casa, na qual todos são suas criaturas e devem ser seus
adoradores sem distinção.
Pois bem. Suponhamos que entre numa das vossas sinagogas
um homem com os dedos cobertos de anéis, e com a mais luxuosa
roupa, segundo a moda mais elegante, e entre também um pobre
mendigo maltrapilho e sujo. Que fazer? Se nos aproximarmos do rico
com toda a deferência e dissermos: “V. E. tenha a bondade de sentar-
se aqui neste bom lugar, que lhe compete, é um dos primeiros assentos;
muito nos honra a sua visita”, e para o mendigo nos mostrarmos
indiferentes, ou talvez até aborrecidos dizendo: “Vai para lá e te senta
no chão onde não impeças a vista ou o cômodo de alguém” em que
categoria de homens ficamos nós? Esqueçamo-nos do rico, dos anéis,
do luxo, e também dos farrapos e mau cheiro do pobre, e examinemos
nossa própria consciência. Diante de Deusa caímos na categoria de
réu, de transgressores processados, convictos, e confessos, segundo a
Lei que encontramos em nossa Escritura. Salientando os ricos no culto
divino desonramos os pobres, fazemos afronta ao nosso Senhor cuja
glória apaga as insignificantes distinções entre os homens que se
reúnem na sua presença, condenamos a nossa própria alma como
transgressores que somos, e ao mesmo tempo jamais ganhamos o rico,
pois a adulação nunca converte o pecador, antes o confirma no seu
pecado.
Ouvi-me, pois, sobre os ricos. Lá no mundo eles vos tiranizam.
Vêm com a polícia e vos arrastam perante os tribunais. Até na sinagoga
conseguem que às vezes sejais açoitados com bárbara crueldade. E
por toda a parte difamam e injuriam o nome de Cristo que vós tendes
por nobre e divino, e pelo qual sois chamados. Que adiante, pois, vossa
atitude pusilânime nas sinagogas? E vós tratais os pobres como os ricos
vos tratam? Então não sois melhores do que estes. Ai da igreja que
despreze o pobre e se humilhe em adulação do rico e poderoso.
A lei real, suprema, o resumo de toda lei é “Amarás ao teu próximo
como a ti mesmo”. Ambos os que entram na sinagoga – o rico e o
mendigo, o elegante e o sujo – são vossos próximos, portanto ambos
merecem ser tratados como gostaríeis de ser tratados. Não há lugar
para deferências para um e desprezo para no outro. Isto é tornar
negativa a lei real. É esquecer-nos de que todos são nossos próximos.
E o pecado que assim cometestes não é venial. Todo o pecado é
pecado da mesma essência. A lei é uma, há perfeitas solidariedade
entre seus mandamentos. A alma parcial e lisonjeira é transgressora
como é o adúltero e o homicida. A lei se quebra tão realmente com tua
falta de democracia como pelo derramamento de sangue ou a
vergonhosa carnalidade.
Nosso regime é outro. É um reino de liberdade do qual nos
fazemos parte. Sua lei nos liberta, e sendo todos livres não há lugar
para distinções arbitrárias como existem num regime de tiranos e
escravos. Havemos de ser julgados por este regime de liberdade.
Tenhamos misericórdia, pois, daquele maltrapilho e esta misericórdia
mostrará que somos filhos do reino e triunfará sobre o juízo. Mas se
somos duros de coração, não somos do reino de Deus e para nós não
há misericórdia. Atendei, pois, a estes fatos e assim vos orientai em
palavra e em prática.
__________
COMENTÁRIO
V. 1 Este tempo do verbo grego, quando usado com a
partículas negativa quer dizer: “Deixai de fazer o que estais fazendo”.
Evidentemente estas congregações de judeus a quem a epístola foi
enviada estavam mostrando nos seus cultos respeito de pessoas. Tiago
começou sua exortação: “Deixai...” – W. C. T.
__________
1. “Acepção de pessoas”. – A falta daquele que em
galardoar, ou administrar juízo, toma em consideração as
circunstâncias exteriores dos homens e não seus méritos intrínsecos,
assim dando a preferência, como ao mais digno àquele que é rico, de
nobre estirpe, ou poderoso, e desprezando outro que é destituído
destes dotes. – Thayer. Rm 2:11; Ef 6:9; 3:25.
__________
1. “Acepções” de pessoas (plural no grego). Em atos de
acepção de pessoas -Hort – Referem-se às várias ocasiões e maneiras
em que esta falta se manifesta. – Thayer. Todas elas são proibidas pelo
Evangelho.
__________
1. “A fé”. A fé da qual o Senhor é o objeto. – Denny.
__________
1. “A fé”. A frase evidentemente significa a nova religião
que Cristo deu ao mundo. – “Expositor’s Greek Testament”.
__________
1. A fé do Senhor Jesus Cristo tem de ser exercida sem
respeito de pessoas, isto é, a conduta de um crente para com outro tem
de levar em conta os direitos da humanidade comum e de uma salvação
comum, desconsiderando as distinções baseadas na raça, na
nacionalidade, na tribo, na casta, no sexo, nos títulos, nos honras, na
posição social, na riqueza, ou na\ pobreza. (Comparai Lc 22:24-27; At
10:34; Gl 3:28; Cl 3:10,11). – Carroll.
__________
1. “O Senhor”. Jesus como Messias é Senhor, visto que
adquiriu por meio de sua morte um senhorio especial da humanidade e
depois de sua ressurreição foi exaltada a uma posição de sócio da
administração divina. – Thayer.
__________
1. “Senhor”. Este termo significa muito mais aqui do que
significava para os discípulos durante o ministério terrestre de Jesus. –
Hort.
1. “Glória”. Majestade, a excelência absoluta, perfeita,
íntima, pessoal de Cristo. Este fato quando abraçado pela fé, nivela
todos os seres humanos. Como o arauto do monarca ignora todas as
mesquinhas distinções numa vila oriental, assim o primeiro bispo cristão
diante da majestade de seu Soberano considerou insignificantes as
distinções entre os homens. “Pensai magnificamente de Cristo” e
pensareis com mais democracia concernente aos homens. – W. C. T.
__________
1. “Glória”. O Senhor, a Glória. Em aposição. Duas
concepções eram comuns aos Targuns – Palavra e Shekinah (a
manifestação da glória de Jeová entre os querubins sobre a arca no
lugar santíssimo.) Jesus é tanto a Palavra de Deus como a Glória que
outrora se manifestava nas teofanias da velha dispensação. A força do
título aqui é que a fé em Cristo como a Glória estava peculiarmente
contraria a este favoritismo manifestado aos ricos, visto que aquele que
representava a própria Glória dos céus foi notável pela sua humildade
e pobreza. Comparai Fl 2:5-11; 2 Co 8:9. Como Tiago (3:9) condena o
hábito de amaldiçoar os homens que são criados à imagem de Deus,
assim aqui censura o hábito de tratar com desdém os pobres, que são
da mesma classe em que foi encarnado aquele que era a Glória de
Deus. – Hort.
__________
1. “Glória”. Não podemos ter certeza do que o autor quer
dizer pela palavra glória. Pode estar em aposição com “nosso Senhor
Jesus Cristo”, o qual, nesta hipótese, seria Glória, a Majestade de
santidade e do amor de Deus; ou, como a versão inglesa traduz, e como
parece mais provável, pode ser entendida como descrição do Senhor
Jesus Cristo como Senhor da glória. Isto seria referência à sua posição
exaltada revelada no termo Senhor, e tem paralelo exato em 1 Co 2:8.
Seja como for, é importante notar que a relação do crente com o Senhor
Jesus Cristo deve determinar tudo na sua conduta; aquilo que é
incoerente com esta relação – como os respeitos humanos – é em si
mesmo censurável. – Denney.
__________
1. “Glória”. A “Shekinah” significava a visível presença de
Deus habitando entre os homens. Há outras referências do Novo
Testamento a esta ideia, fora desta passagem: Lc 2:9; At 7:2; Rm 9:4;
Hb 9:5. O mesmo pensamento é contido na frase “O resplendor de sua
glória”. Hb 1:3. As palavras são uma declaração da deidade de Jesus
Cristo. – “Expositor’s Greek Testament”.
__________
1. “Glória”, “A Glória” parece ficar em aposição com o nome
“nosso Senhor Jesus Cristo” , dando ainda outra definição de sua
Majestade. Chegamos perto do que está implicado quando lemos de
Jesus ser “Senhor da Glória”, 1 Co 2:8, isto é, aquele a quem pertence
glória como sua característica natural; ou quando ele está descrito como
o “resplendor da glória de Deus”, Hb 1:3. O pensamento do escritor
parece estar fixo naquelas passagens no Velho Testamento nas quais
Jeová está descrito como a “Glória”; “Pois eu, diz Jeová, serei um muro
de fogo ao redor, e serei a glória no meio dele”. Zc 2:5. No Senhor Jesus
Cristo, Tiago vê o cumprimento destas promessas; ele é Jeová que
chegou para habitar com seu povo, e quando peregrinou entre os
mortais viram a sua glória. Ele é, numa palavra, a Glória de Deus, a
“Shekinah”, Deus manifestado aos homens. É assim que Tiago pensava
e falava de seu próprio irmão que morreu uma morte violenta e
vergonhosa, quando ainda na sua mocidade. Certamente temos nisto
um fenômeno que deve despertar investigação. – Benjamin Warfield.
__________
2. “Sinagoga”. O proeminente expositor Hort chegou à
conclusão de que sinagoga nesta epístola quer dizer casa de culto e
igreja a assembleia dos santos que nela se reunia.
__________
2. Por longos anos, um quarto de século, os cristãos não
deixaram de frequentar os cultos do templo. – A. H. Strong.
__________
2. Visto que a Epístola foi enviada às doze tribos da
Dispersão, nenhuma sinagoga especial está na mente do autor, é uma
instrução geral. No Novo Testamento, sinagoga era sempre usada
como um lugar judaico de culto. - "Expositor’s Greek Testament"
__________
2. O escritor menciona que os leitores mantêm culto numa
sinagoga. Isto pode significar que do mesmo modo que os apóstolos
continuaram a assistir os cultos no tempo depois da Ascensão, assim
estes leitores assistem os cultos na sinagoga depois da sua conversão.
Porém ao menos se prova pelo emprego do termo nesta passagem que
o autor continuou a usar uma palavra “sinagoga” que tinha, e continua
a ter, associações distintamente judaicas, em preferência a uma palavra
(igreja) que do princípio do cristianismo foi promovida da sua velha
esfera política para indicar as congregações e a própria natureza da
igreja cristã. A. Plummer.
__________
2. São Tiago em escrever aos cristãos dificilmente falaria de
uma casa de culto judaica como sendo “vossa sinagoga”, nem teria
censurado os crentes pelos costumes de tratarem com várias classes
de pessoas na sinagoga dos judeus. – A. Plummer.
__________
2. Concluímos que Tiago enviou sua epístola às igrejas que
estavam ligadas com as sinagogas, de um modo ou outro. Algumas
estavam ainda reunindo-se nos domingos, pacificamente, e assistindo
os cultos nos sábados sob a direção dos judeus. Outras sinagogas
tinham passado para o lado do cristianismo, aceitando Jesus como
Messias. Em outros casos grupos de crentes e seus amigos na
sinagoga receberiam esta carta, e seriam censurados os males da vida
e culto na sinagoga por Tiago que era um homem universalmente
acatado, mesmo pelos judeus incrédulos. Assim a sinagoga era o velho
lugar judaico de culto, às vezes usado pelas reuniões cristãs e judaicas,
às vezes significando uma igreja formada na Dispersão que ainda se
reunia na sinagoga dos judeus. W. C. T.
__________
2. “Pobre”. O termo sempre possuía um significado mau até
que ficou enobrecido nos Evangelhos. A etimologia é de um verbo que
significa curvar-se, esconder-se com medo. Thayer.
__________
2. “Anel de ouro”. Provavelmente uma porção de anéis. –
Hort.
__________
2. O poeta latino Marcial cinicamente refere a homens no seu
tempo que usavam seis anéis em cada dedos; outros mudavam os
anéis conforme as estações do ano, usando anéis pesados no inverno
e leves no verão. – Ellicott.
__________
3. “Senta-te aqui HONROSAMENTE” – Thayer.
__________
3. Os fariseus no tempo de Jesus gostavam “das primeiras
cadeiras nas sinagogas”. Mt 23:6.
__________
4. “Juízes de maus pensamentos”. Isto é, juízes que
seguem opiniões perversas e repreensíveis. – Thayer.
__________
4. “Não sois divididos entre vós?” Distinções de classe
assim observadas teriam o efeito de gerar ciúmes, contendas e assim
divisões. – “Expositor’s Greek Testament”.
__________
5. “Escolheu”. Separar da multidão ímpia como preciosos
para si e como feitos, pela fé em Cristo, cidadãos no reino messiânico.
– Thayer.
__________
5. “Herdeiros do reino”. Herdeiro me o que recebeu suas
possessões em virtude de ser filho. – Thayer.
__________
5. A referência é devida, provavelmente, à maneira especial
em que Jesus Cristo mesmo pregava aos pobres. O Evangelho não foi
limitado a eles, porém eram os primeiros e principais recipientes, e os
que melhor podiam mostrar seu verdadeiro caráter: “Bem aventurados
os pobres”. É um eco do Sermão do Monte. “Os pobres são
evangelizados” é a prova culminante de que Cristo é o verdadeiro
Messias, Lc 4:17. – Hort.
__________
5. “Ricos” Ricos em virtude de sua fé; sua própria fé os
constituiu tanto poderosos, capazes de remover montanhas, como
ricos, 2 Co 65:8, 10; 8:9; Ap 2:9; 3:18; 1 Pe 1:7. O uso e gozo de
riquezas contêm dois elementos: a coisa gozada e o poder íntimo de
usá-la e gozá-la. Este poder íntimo é tão intensificado e multiplicado por
uma fé forte e simples em Deus, que tira mais da pobreza exterior do
que sem ele se podia tirar de grandes riquezas exteriores. – Hort.
__________
5. “Ricos na fé”. Uma fé mais forte ou, em outras palavras,
maior espiritualidade de mente, nos mostraria o pouco valor das
distinções sociais e terrenas. – Weymouth.
__________
5. “Fé”. Notai os diversos sentidos desta palavra nos diversos
contextos da Epístola. “Aqui significa confiança, em contraste com o seu
uso em 2:1.” – "Expositor's Greek Testament"
__________
5. “Pobres”. A Epístola foi escrita numa época quando
poucos dos judeus mais abastados eram cristãos; os membros das
igrejas vieram das classes pobres, principalmente (2:5), e os ricos estão
descritos como réus de avareza e opressão. Se os ricos de 5:1 não são
cristãos mas sim judeus, e se estes visitantes ao culto cristão entraram
como hóspedes ou expectadores, e não como camaradas no culto,
então esta relação dos crentes judaicos para com a população judaica
é do período quando os cristãos eram ainda uma seita na comunidade
judaica... Ainda o lugar da reunião cristã é a sinagoga, ou a sinagoga
judaica mesmo, ou em todo o caso tão distintamente judaico que seria
natural chamá-lo sinagoga. Os oficiais das igrejas cristãs ainda são
presbíteros e não há menção de um bispo. – Dods.
__________
6. “Tribunais”. Perseguições judiciais. – Hort.
__________
6. “Vós desprezastes aquele mendigo”. Refere-se ao
versículo 2. Blass.
__________
6. “Tribunais”. Parece significar que os judeus incrédulos
processavam seus irmãos cristãos pobres perante o tribunal da
sinagoga do mesmo modo que Paulo tinha feito quando Saulo, o
perseguidor. – Plummer.
__________
6. “Tribunais”. Provavelmente os tribunais judaicos,
frequentemente realizados nas sinagogas. O governo romano deixava
aos judeus o privilégio de consideráveis poderes de jurisdição sobre seu
próprio, tanto na esfera puramente eclesiástica como também nas
coisas civis. A Lei mosaica penetrava em quase todas as relações da
vida e no tocante a esta Lei era para um judeu intolerável ser
processado perante um tribunal gentio. Por isto, os romanos
descobriram que seu domínio sobre os judeus era mais seguro e
provocava menos espírito de rebelião, quando permitiam aos judeus
que tivessem grande medida de governo próprio. Isto se aplicava tanto
à Palestina como a todos os lugares onde havia grandes colônias de
judeus.- A. Plummer. At 9:2; 26:11; 2 Co 11:24;. Leia o incidente de
Gálio e Paulo em Corinto.
__________
7. “Bom nome”. Os de “Cristo”. Um nome é chamado sobre
alguém, isto é, ele é chamado pelo nome, ou declarado ser dedicado a
alguém. – Thayer.
__________
7. “Bom nome”. O Nome sob cuja proteção ficavam e ao qual
pertenciam. Igual ao significado da marca do ferrete em gado. –
"Expositor's Greek Testament".
__________
8. “Lei Real”. “A Lei principal”, Hort e Thayer. “Escritura” é o
Velho Testamento. – Thayer.
__________
8. “Real” Necessariamente se refere a Deus. A Versão
Siríaca (Peshitta) lê “A Lei de Deus”.- "Expositor's Greek Testament".
__________
8. Os dez mandamentos foram duas vezes gravados em
tábuas de pedra por Deus; este fato parece separá-los como princípios
éticos de eterno valor em comparação com o código em geral de muitos
dos elementos do qual eram cerimoniais e temporais, e indicar sua
peculiar obrigação, supremacia e permanência. – A. T. Pierson.
__________
8. “Real”. Deissmann descobriu uma lei do tempo de Trajano
preservada com uma sub-inscrição num monumento em Pérgamo,
dizendo que algum rei de Pérgamo tinha estabelecido uma “lei real”
visando certos fins. Aqui a descrição da Lei como sendo real indica sua
origem divina. – Moulton e Milligan.
__________
9. Se respeitardes as circunstâncias exteriores de um
homem... convictos sois, reputados, envergonhados... réus, violadores
da Lei. – Thayer.
__________
9. A força desta expressão visa lembrar os leitores que serão
réus de pecado deliberado, inteligentemente propositado, se mostraram
respeito de pessoas por causa de sua riqueza. – "Expositor's Greek
Testament".
__________
10. “Tropeça”. Queda incipiente. – Hort.
__________
10. Quebrar uma lei é quebrar toda a lei, pois viola o princípio
de obediência à Lei. Uma roupa está rasgada se for rota apenas num
lugar; a música está desafinada se houver somente uma voz em
desarmonia. – Farrar.
__________
10. “Culpados de todos”. Visto que desrespeita a autoridade
atrás da Lei tão realmente embora não tão intensamente, como se cada
regulamento fosse quebrado. – Robins.
__________
10. Dr. Carroll comenta a solidariedade da Lei. Me uma coisa
em que realmente existe solidariedade, porque não se pode quebrá-la
sem afetar a majestade de todas as suas partes.
__________
10. O universo moral é uno, em virtude de um Legislador,
onipresente, de modo que a=justar-se a ele em parte envolver ajustar-
se a ele em todas as demais partes e em tudo. – Robins.
__________
12. “Lei da Liberdade”, Não a Lei mosaica, mas outra. – Blass.
12. “Lei da Liberdade”. Porque corresponde completamente
aos instintos espontâneos de nossa verdadeira natureza. – Moffatt.
13. Comparai Jo 8:32; Rm 8:21; 1 Co 10:29; 2 Co 3:17; Gl 2:4;
5:1, 13; 1 Pe 2:16.
18. “A misericórdia triunfa do juízo”. Cheia de confiança
alegre, não tem medo do juízo. – Thayer.
CAPÍTULO V
A FÉ-CRENÇA SEM OBRAS VERSUS A FÉ-CONFIANÇA
FRUINDO EM OBRAS
TRADUÇÃO
2:14-26
COMENTÁRIO
14. Fé. A fé aqui significa tão somente a crença na unidade de
Deus. Sendo que a fé é usada no sentido restrito, como uma coisa que
tanto os demônios como os homens possuem, é claro que o assunto é
diferente daqueles que é tratado pelo apóstolo Paulo em a Epístola aos
Romanos. – "Expositor's Greek Testament".
__________
14. Fé. A fé no sentido paulino não podia existir sem produzir o
que Tiago chama de “obras”. A fé, no pensar de Paulo, era um poder,
não meramente uma qualidade ou característico. A fé impulsionava o
homem para agir. A fé governava o homem. “Já não sou que vivo, mas
Cristo vive em mim.” Todo o homem que possui fé verdadeira poderia
dizer por si estas palavras de Paulo. Cristo está vivo e opera. Porém,
era inteiramente possível aplicar as palavras “fé” e “crença” a uma
apreciação puramente intelectual da verdade, ou uma apreciação da
verdade tão fraca na sua qualidade moral que seria impotente para
refazer a natureza humana. Paulo teria recusado a reconhecer como fé
legítima esta qualidade, teria lhe recusado o nome de “fé”. – Sir William
Ramsay.
__________
14. Já tivemos (1:22) o ouvir sem o praticar. Já tivemos uma
religião espúria. A profissão de fé já foi pressuposta em 2:1 onde São
Tiago implica que a verdadeira fé em Cristo estava faltando ou
deficiente. – Hort.
__________
14. “Essa fé”. Essa fé! Uma fé que seja compatível com a
ausência de obras. – Hort.
__________
14.. “Essa fé”. Muito mal tem feito a negligência do notar a
presença do artigo no original. Pode essa fé – essa estéril verbosidade
da profissão, atitude farisaica do ufanar-se de uma crença teoricamente
ortodoxa – pode essa fé salvá-lo? S. Paulo nunca teve a ideia de tal
coisa como “fé” que fosse tão somente fala, e cerimônia, e dogma. S.
Tiago aqui usa a palavra “fé” a respeito de uma profissão estéril: S.
Paulo do princípio íntimo da vida espiritual. Crença sem obras é mera
ortodoxia; obras sem fé, mera justiça legalista. S. Tiago está pensando
nos fariseus dogmáticos e sua oca jactância (preservada no Talmud)
que invariavelmente dependia do monoteísmo, da circuncisão, do
externalismo e da vantagem que sua herança nacion AL lhes deu pelo
suposto favoritismo de Deus, para a salvação. – Farrar.
__________
15. Irmão ou irmã. Há um sentido verdadeiro em que se aplica a
toda a humanidade, mas naqueles dias quando a pequena comunidade
estava cercada de uma população mais ou menos hostil, o sentido
especialmente cristão teve força peculiar.
__________
15. O que está implicado aqui não é uma pobreza por acaso e de
momento, mas pobreza habitual. – Thayer.
__________
15. Pão cotidiano. O pão de cada dia... O caso é da pior e mais
dolorosa necessidade... Talvez uma cena na sua própria experiência
durante a fome predita por Ágabo. – Ellicott.
__________
15. A menção aqui de uma “irmã” é digna de nota. É o único ponto
nesta passagem que indica influência distintamente cristã. Este é o
único lugar na Bíblia onde uma “irmã” é mencionada nesta conexão.
"Expositor's Greek Testament".
__________
16. Aquentai-vos... Saciai-vos. Os tempos no original indicam
que a sugestão é: sempre, permanentemente, agora e para sempre,
adquiri vosso alimento e vestido. – Hort.
__________
16. Passe bem. Sempre conserve-se bem vestido e bem
alimentado. Os tempos do grego implicam mais de um privilégio de
aquecer-se e mais de uma refeição. – Weymouth.
__________
16. Nunca lemos de uma coleta entre os crentes da Dispersão a
favor dos santos pobres da Judéia. Talvez a falta de caridade
denunciada nesta Epístola explique o silêncio do Novo Testamento a
este respeito.
__________
17. Assim também. Que é o ponto de comparação? Que é nos
versículos 15 e 16 que é comparado com a fé sendo igualmente morto?
Aparentemente se comparam essas palavras proferidas ao pobre. Eram
palavras mortas, sem efeito ou resultado. Assim, a fé em
consideração... Não é questão entre fé e obras, mas a questão é se é
realmente fé uma crença que não seja acompanhada de obras. – Hort.
__________
17. Se estar estéril entre as mulheres era considerado uma
maldição em Israel, ficar estéril na família das graças de Deus é a
condenação dessa fé, no cristianismo. – Ellicott.
__________
17. Paulo mostra como o pecador é justificado perante Deus;
Tiago, como o santo é justificado perante os homens. A justificação na
Epístola aos Romanos significa a justiça imputada, reconciliando um
pecador a Deus; a justificação, em Tiago, significa real justiça, retidão,
provando que a fé é genuína, e reconciliando a profissão de fé com a
coerência de conduta. Paulo estava censurando e refutando a justiça
própria e formalismo dos fariseus; Tiago, a licenciosidade anti-moral e
anárquica. Eis na totalidade do testemunho da Escritura é que nós nos
salvamos tanto do perigo do legalismo, de um lado, como da liberdade
que é apenas a licença de pecar, do outro lado. – A. T. Pierson.
__________
18. “Mas alguém dirá”. Todos com quem vos encontrardes farão
o mesmo criticismo e dirão: “Vós tendes fé, eu tenho obras. Eu posso
por minhas obras demonstrar a minha fé. Mas podeis vós me mostrar a
vossa fé sem obras? Eu quero alguma prova da existência da vossa fé.
Preciso de algo que posso ver e apreciar, antes de aceitar vossa fé
como genuína. Não posso aceitá-la fiada, meramente porque falais de
maneira tão fina a respeito dela.” Eis o simples fato da vida. Tal é o rude
bom senso do homem comum. – Sir William Ramsay.
__________
19. Credere illi est credere vera qua esse loquitur; credere illum
credere quod ipse sit Deus; credere in illum est diligere illum. –
Agostinho.
__________
19. Tremem. Tomados do extremo temor, arrepiar, sentir horror.
– Thayer.
__________
19. Até os demônios são teístas ortodoxos, quanto a isto. –
Robins.
__________
19. Tremem. Expressa horror físico, especialmente na maneira
familiar em que afeta o cabelo... Este horror é bastante evidência de
uma sorte de fé, mas pode uma fé desta sorte salva?... Sem cair no erro
de supor que demônios aqui quer dizer endemoninhados, podemos
imaginar quão facilmente alguém que tinha presenciado as cenas
historiadas nos Evangelhos bem podia atribuir aos demônios as
expressões de horror que tinha ouvido nas palavras e visto nos rostos
daqueles que eram possessos de demônios. – A. Plummer.
__________
20. Homem insensato. Homem destituído de riqueza espiritual.
A despeito de sua ufania de sua fé como uma possessão
transcendental, todavia está sem obras, estéril, ociosa, receiando labor
que deve experimentar. – Thayer.
__________
20. Homem insensato. Ignorante. "Expositor's Greek
Testament".
__________
20. Homem vão. Homem vazio, homem de cabeça oca, de mão
vazia, de coração vazio. Homem de cabeça vazia, porque é tão iludido
que pensa que uma fé morta pode salvar; homem de mãos vazias,
porque é destituído das verdadeiras riquezas; homem de coração vazio,
porque não tem amor real para com Deus ou para com os homens... o
epíteto parece com o termo Raca, o vocábulo de desprezo citado por
nosso Senhor como a expressão daquele espírito irascível que é
parente do homicídio (Mt 5:22). Seu emprego por S. Tiago pode servir
para mostrar-nos que os primitivos cristãos entenderam que os
mandamentos do Sermão da Montanha não são regras para ser
literalmente obedecidas, mas são ilustrações de princípios. – A.
Plummer.
__________
20. Ociosa. Quer dizer que a fé é inútil, preguiçosa improdutiva,
(Mt 20:2,6; 1 Tm 5:13; Tito 1:12; 2 Pe 1:8). Aristóteles pergunta porque
cada órgão no corpo de um homem tendo uma função para
desempenhar o mesmo homem esteja sem função, sem propósito na
vida. Teria a natureza produzido semelhante perda e contradição?
Poderiam reproduzir o espírito da pergunta de Tiago nesta forma: “A fé
sem frutos é infrutífera”. – A. Plummer.
__________
21. “E não apareceu Abraão justo à vista de Deus por causa das
suas obras”. Hort.
__________
21. O caso de Abraão, que Paulo usou para provar a inutilidade
de obras de lei em comparação com uma fé viva, é usado também por
Tiago para provar a inutilidade de uma fé morta, sem obras, em
comparação com as obras de amor que são evidência de que existe
atrás delas uma fé viva. Paulo apela para a fé de Abraão quando creu
que teria um filho de Sara. Tendo ele 100 anos e Sara, 90 anos de idade
(Rm 4:19). Tiago apela para a fé de Abraão em oferecer a Deus Isaac
em sacrifício, quando não parecia haver possibilidade da promessa ser
cumprida se Isaac fosse morto. Esta experiência exigia mais fé, e foi
muito mais distintamente um ato de fé, uma obra, uma série de obras,
que nunca teriam sido efetuadas a não ser que uma fé muito vigorosa
existisse para inspirar e sustentar o que as praticava. O resultado foi
que Abraão foi justificado, isto é, foi considerado justo, e o galardão de
sua fé foi lhe prometido ainda com maior solenidade e plenitude do que
na primeira ocasião. (Gn 15:4,6). “Por mim mesmo jurei, diz Jeová,
porque fizeste isto e não me negaste teu filho, que deveras te
abençoarei e multiplicarei a tua descendência como as estrelas do céu
e como a areia que está na praia do mar”... – A, Plummer.
__________
22. “Fé cooperava com obras”... “pelas obras a fé consumada”.
Uma figura audaciosa. Não apela S. Tiago por fé e obras; mas por uma
fé que obra, uma fé operosa, viva, ativa em si, independente de
quaisquer considerações de interesse. Enquanto a fé não estava sendo
exercitada, estava de alguma maneira imperfeita. Ganhou madureza e
perfeição por ser plenamente exercida. As obras receberam a
cooperação de uma fé viva; a fé recebeu a perfeição e o acabamento
manifestadas nas obras em que fruiu. – Hort.
__________
22. Gl 5:6 diz: “Pois em Cristo Jesus nem a circuncisão vale coisa
alguma nem a incircuncisão; mas a fé que opera por amor”. Tiago 2:22
diz: “Vês que fa fé cooperou com as obras e a fé foi consumada.”
Constituem a ponte que atravessa o abismo que parece separar a
linguagem de Paulo da linguagem de Tiago. Ambos afirmam um
princípio de energia ativa, em oposição a uma teoria estéril e passiva.
É evidente que o termo é usado no sentido mais elevado, de uma
possessão dada por Deus, não de mera atitude mental. – "Expositor's
Greek Testament".
__________
24. Ele nunca nega a justificação pela fé, senão essa justificação
teórica, especulativa, sem atos de amor que correspondam. – Ellicott.
__________
24. “Eles (Tiago e Paulo) são como dois homens que se vêem na
dura necessidade de enfrentar dois ladrões, ficam com seus rostos em
direções opostas, cada um tendo diante de si um inimigo diferente.” –
W. M. Taylor.
__________
24. Nunca teria havido controvérsia sobre esta passagem se
Tiago não tivesse usado o vocábulo “justificar” num sentido peculiar, do
mesmo modo que usou o termo “tentação”. “Justificar” pode ter o
significado legal, forense – um termo dos tribunais e advogados. Porém
nosso Senhor usa o termo num sentido muito diferente. Ele diz “por tuas
palavras serás justificado”. Tiago toma em consideração um cristão,
não um pecador, e mostra que as obras cristãs justificam a profissão
cristã. Do mesmo modo nosso Senhor disse: “Os publicanos e as
meretrizes justificaram a Deus sendo batizados, com o batismo de
João.”. isto não quer dizer que livraram de culpa a Deus, porém que
vindicaram a Deus sendo batizados com o batismo de João... Ele
(Abraão) creu em Jeová, e quando creu foi convertido. Quarenta anos
depois, este crente, Abraão, fez o que Deus se agradou de vê-lo fazer
no caso de Isaac, e esta obra o justificou... no sentido de vindicar a
profissão que fizera. Ele diz que 40 anos depois da conversão de
Abraão ele fez o que Deus lhe mandou fazer, e então foi cumprida a
Escritura que diz: “Creu em Deus, isto lhe foi imputado por justiça”.
Todas as vezes na sua vida depois disto quando ele obedeceu a Deus
como um crente ele cumpriu a Escritura que testifica sua conversão. Em
outras palavras, foi a verificação, o cumprimento – como naquela
passagem em Timóteo, onde Paulo diz que Cristo foi justificado no
Espírito Santo – vindicou a profissão de Cristo de que ele era o Filho de
Deus – B. H. Carroll.
__________
Dificuldades da interpretação do Dr. Carroll. É a saída mais
fácil da dificuldade, porém nem sempre a saída mais fácil é a
verdadeira. Os fatos parecem não justificar todos os pontos de Dr.
Carroll, embora há sugestões de valor nas suas notas. 1. Parece
incontestável que em v. 15 se trata de salvação, e não de provas da
realidade de salvação. Pode “essa fé salvá-lo?” 2. Além de Abraão se
cita o caso de Raab, que não tinha longo período de prova de sua fé. O
caso de Raab não se presta tão facilmente para esta interpretação
quanto o caso de Abraão. Nossa teoria tem de satisfazer ambos os
casos, tem de aplicar-se tão facilmente ao caso da meretriz como ao do
patriarca. 3. A Escritura citada por Tiago sobre a justificação é a mesma
citada por Paulo, portanto não é provável que um desse ao vocábulo
justificar significado diferente do outro. 4. Esta teoria parece perder o
ponto de vista de Tiago. O ponto onde ele é diferente de Paulo está na
qualidade de fé que está discutindo – mera crença na existência de um
só Deus. É a palavra fé que tem dois sentidos no caso, não a palavra
justificar.
Acho, pois, que justificar tem a mesmíssima significação nos dois
grupos de passagens. A palavra grega nunca tem no Novo Testamento
a ideia da etimologia latina de justificar, isto é, de tornar justo. Tal
ideia não está no horizonte do Novo Testamento. A doutrina bíblica da
santificação indica esse progresso na moral e na espiritualidade, e a
doutrina da glorificação afinal faz do crente que morre um “justo
aperfeiçoado”.
A palavra justificar, quer nesta Epístola, quer nas Epístolas de
Paulo, significa declarar justo. Ora, é fato que quando declaramos que
Deus é justo, ou que Cristo é justo, nós os vindicamos. Não é
necessário que tivessem sido injustos para serem declarados justos.
Vindicar é, de fato, como diz o dr. Carroll, a ideia resultante de tais
passagens. E é a mesma nas passagens que ensinam a justificação
pelas obras. Estas vindicam a profissão do crente, declaram que ele é
justo e apresentam suas obras, sua vida, sua santidade, sua justiça
moral em evidência. Suas ações “falam mais alto” do que sua
profissão de fé – quando essa fala é dirigida aos seus
contemporâneos aqui no mundo. Demonstram mesmo perante Deus a
realidade da fé. A Abraão, depois do quase-sacrifício de Isaac, Deus
diz: “Agora eu sei”. Pode ser antropomórfica a frase, mas o é neste
sentido da palavra justificar. A submissão de Abraão, e do
perfeitamente disciplinado Isaac, ao mandamento divino, declarou até
aos altos céus: estes homens são justos. Sua fé é demonstrada em uma
obra que seria para os dois o supremo sacrifício, a mais abnegada
devoção.
Assim, igualmente, é o caso de Jó. Provado tão duramente ele
vindicou sua fé tão viva, tão submissa, capaz de jurar: “Ainda que ele
me mate, nele confiarei”. É fé-confiança que anima Jó, fé salvadora.
Deus a prova. Então as boas obras sacrificiais, a fidelidade máxima,
vindicam o crente Jó, “declaram-no justo” de fato, apresentam as
evidências de vida em apoio à profissão de fé. Não é diferente o sentido
do verbo nesses casos – ainda quer dizer declara justo. As obras do
crente falam; quando é provado, dão uma demonstração de sua
natureza regenerada e justificada; dizem em alto e bom som que ele é
um justo perante Deus, um justo que vive pela fé. As obras “declaram
justo” Deus, Cristo, o homem salvo...
O sentido do verbo é o mesmo quando se usa a respeito do início
da salvação, a doutrina do Evangelho e a experiência da graça, que
chamamos a justificação pela fé. A fé-confiança é o meio por Deus
determinado para declarar justo perante sua face aquele que crê
evangelicamente em Jesus crucificado e ressuscitado. Juridicamente,
do ponto de vista forense, o crente que com fia no Redentor levantado
no Calvário é aceito por Deus, declarado justo aos seus olhos, livrado
da condenação da lei divina e arrolado na família de Deus. “Todos vós
sois filhos de Deus mediante a fé”. “Nada de condenação há para os
que estão em Cristo Jesus”.
Assim foi justificado, “declarado justo”, o publicano que batia no
peito e clamava, “Deus seja propício a mim, o pecador”. “O pecador”
desceu para sua casa “declarado justo”, aceito por Deus como justo.
Assim o salteador crucificado no Calvário, e a pecadora a quem
declarou: “A tua fé te salvou”. Assim, Zaqueu a quem Jesus disse: “Hoje
entrou a salvação nesta casa”. Assim o caso de Abraão, Paulo, nós e
os demais salvos. Deus “declara justo” o ímpio, Rm 4:5. Esta fase de
justificação é para “aquele que não trabalha”, Rm 4:5, isto é, aquele que
não tem pretensão de acumular mérito sacramental ou moralista, não
negocia com Deus para comprar a salvação no balcão eclesiástico, e
não confia na justiça própria. É a fase instantânea, de vez, eterna,
jurídica, da salvação. Pela consideração unicamente da obra de Cristo
no Calvário, a qual sua ressurreição demonstrou como aceita por Deus
para os fins eficazes da salvação eterna outorgada ao crente, este
crente é declarado justo de vez e para sempre. Cristo foi feito pecado
em lugar dele na cruz. Agora é feito justiça para ele perante o tribunal
divino. A sentença jurídica divina é: justo, livre de condenação, salvo
pela graça expiatória de Cristo, mediante a fé-confiança salvadora.
A Bíblia nos diz que o crente é justificado, “declarado justo”, pela
graça (Rm 3:24; Ti 3:8); pelo sangue (Rm 5:9), oi sangue do Calvário,
por Cristo (Gl 2:17), pela fé (Rm 3:26, 30; Rm 5:1; At 13:39; Gl 3:24), no
Espírito Santo )1 Co 6:11; Gl 3:1-3) e “pelas obras” (Tiago 2:21, 24, 25).
Temos de considerar, também, para formular a doutrina total
sobre o assunto, que Paulo categoricamente afirma que não somos
justificados pelas obras (Rm 3:28; 4:2; Gl 2:16). Nenhum intérprete
sincero deseja fazer de sua Bíblia um acervo de contradições incríveis.
Logo a afirmação da exclusão de obras e a afirmação do valor das obras
tem de ser interpretadas como não se referindo ao mesmo assunto. É
a solução do caso. Na justificação pela fé, a fase jurídica da salvação,
as obras não entram em conta. A graça divina, concretizada em Cristo
crucificado, é a fonte da justificação. O sangue do Calvário é a base
jurídica, a causa eficaz e objetiva da justificação. O agente da
justificação é Cristo – “por um só homem” (Jesus) e “por um só ato de
justiça” (o Calvário, consumado e demonstrado na ressurreição) “a
graça de Deus e o dom pela graça” vieram “para a justificação da vida”
(Rm 5:15, 18). A parte humana no julgamento, a fé-confiança, é
experimentada “no Espírito Santo” que ao mesmo tempo regenera e
santifica inicialmente o crente – separa-o para ser de Cristo. Todas
essas frases descrevem “o julgamento” forense (Rm 5:18), a salvação
judicial perante Deus, a fase instantânea, eterna, objetiva da salvação.
Categórica e repetidamente a Bíblia nos proíbe de associar obras com
essa fase da salvação.
A outra verdade – e verdade importante é – do crente ser
justificado pelas obras, pois, tem de referir-se à fase progressiva da
salvação, a santificação gradual que torna o homem progressivamente
moral, justo, santo, consagrado. O sentido do verbo é o mesmo. As
obras que vão aparecendo “declaram”, sim, demonstram, que esse
crente professo é crente real, é justo na vida. A árvore se conhece pelo
fruto. O fruto justifica a árvore, vindica seu rótulo aí na horta, demonstra
a realidade da natureza professada e possuída antes de aparecerem os
frutos. Somos salvos sem boas obras por uma fé que produz as boas
obras. Se a “fé” for mera crença ortodoxa e não houver boas obras
então sabemos que é uma fé nati-morta, fé espúria, fé ao par da fé-
crença dos demônios no inferno, um cadáver de fé – destituído, desde
a eternidade e para a eternidade, da vida eterna, da salvação.
Ora, essa interpretação de justificação pelas obras, depois de
uma fé genuína e salvadora, estabelece perfeita harmonia em nossas
Bíblias entre Paulo e Tiago e os demais escritores que concordam com
estes dois e Cristo, nosso Mestre, que concorda com ambos. Preserva
a salvação pela graça e a santidade em boas obras, a justificação e a
santificação, a justiça objetiva e a justiça subjetiva, a vida e o fruto, o
manancial infinito e o rio caudaloso, Deus e o homem unidos, mas
unidos como Deus determinou.
Outrossim, essa interpretação concorda com a experiência tanto
de Abraão como de Raab. A justificação pela fé, unicamente pela fé,
veio no caso de Abraão, antes do nascimento de Isaac. Era fé na graça
sobrenatural de Deus que havia de cumprir a promessa. Igualmente, no
caso de Raab, veio na sua decisão íntima, aliando-se com os
mensageiros do Deus vivo e verdadeiro, recebendo-os, crendo na sua
palavra nua e inverificável. Depois da fé nascer, ainda ela tinha tempo
para entregar os representantes do Deus em que havia crido. Mas as
obras comprovam a fé. Agiu como crente.
A justificação de Abrão pelas obras veio décadas depois da sua
justificação pela fé. Nada de justificação por uma mistura de fé e obras
na mesma ocasião ou numa continuidade rápida. Décadas passam
entre a justificação pela fé e a subsequente justificação cabal por uma
obra tão notável. Isaac nasce e já é homem. Obedece livremente.
Compartilha da fé, da submissão, da obediência, do sacrifício de si
próprio. A justificação inicial, salvador, tendo a graça como a fonte, o
sangue de Jesus como a causa eterna e única, a fé-confiança como seu
meio recipiente, Cristo como Autor e o Espírito como o meio-ambiente,
- essa justificação se deu décadas antes do sacrifício de Isaac. Este
sacrifício, não nenhuma cerimônia, décadas depois da salvação do
patriarca, o “declarou justo”, demonstrando justo, por uma obra tão
maravilhosa que deu também seu “filho unigênito”, na fé viva de que
Deus o ressuscitaria para cumprir a promessa. Essa obra é única com
a fé, é o exterior da santidade da qual a fé é o interior, o âmago. Fé com
obras demonstram a salvação. Mas a fé só (do lado humano), unindo-
nos vital e eternamente ao Calvário, ao Senhor vivo, ao Espírito Santo,
nos justifica perante Deus. Todos os fatores caem em seu lugar e sua
ordem bíblica. Uma Escritura assim não é jogada por exploradores ou
incompetentes contra as demais Escrituras. – W. C. Taylor.
__________
25. “Raab, a meretriz”. Ela foi justificada em virtude de sua fé no
verdadeiro Deus e arriscou tudo nesta fé. – Hort
__________
Porém o contraste entre Abrão e Rahab é tão notável quanto é a
similaridade. Ele é o amigo de Deus, ela é de uma nação pagã e vil, e
é meretriz. O grande ato de fé de Abraão é exercido para com Deus, e
o de Raab para com os homens. O ato dele é o auge de sua experiência
espiritual, o dela é o primeiro sinal de que ela crê. Ele é o santo
encanecido, ela mera congregada. Porém, segundo a luz que possuía
ela “fez o que pode” e foi isto aceito.
Estes contrastes têm o seu lugar no argumento como as
similaridades. Os leitores da Epístola poderiam pensar, “Atos heróicos
eram muito naturais em Abraão, porém nós não somos uns Abraãos, e
temos de contentar-nos em participar de sua crença no verdadeiro
Deus: nem podemos nem carecemos imitar seus atos”. “Porém”, diz S.
Tiago, “lá está o caso de Raab, a pagã, vós podeis imitar a Raab.”. e
para os cristãos dos círculos judaicos de então o argumento teria
bastante força, pelo exemplo dado por esta mulher. Ela recebeu e creu
nos mensageiros, os quais estavam sendo perseguidos por seus
patrícios, e teriam sido mortos. Ela se separou de seu povo incrédulo e
hostil e aliou-se com uma causa desprezada e em nada popular. Ela
salvou os pregadores com uma mensagem desagradável a fim de
cumprir a missão divina com que os mensageiros tinham sido
responsabilizados. Substituamos pelos espias os apóstolos e a mesma
coisa é a verdade a respeito dos judeus crentes naquela época
apostólica. E S. Tiago, como querendo usar do paralelo, não fala dos
moços como Josué (6:23), nem dos espias como Hb 11:31, mas de
mensageiros, termo que se aplicava igualmente aos que foram
enviados por Jesus Cristo ou por Josué. – A. Plummer.
__________
26. “A fé sem obras é morta”. A fé no Senhor Jesus Cristo, a
Glória, é uma coisa morta se estiver separada de obras, ou em outras
palavras, de energia operosa. – Hort.
__________
Uma fé inativa é o cadáver da religião. – Mayor.
__________
Tiago quer santidade moral em contraste com crenças corretas.
– Ellicott.
__________
Se considerarmos o motivo, ele foi justificado pela fé; se
considerarmos o resultado, ele foi justificado pelas obras. – Ellicott.
__________
26. Tiago é contrário à noção de que basta terem os homens
emoções religiosas, falarem linguagem religiosa, possuírem
conhecimentos religiosos e professarem uma crença religiosa, sem a
prática diária de deveres religiosos e da devoção da vida religiosa. –
Ellicott.
__________
Fé o corpo, a soma e substância da vida cristã; obras (obediência)
o movimento e vida desse corpo. – Alford.
__________
O que Tiago chama “obras”, Paulo descreve como “frutos do
Espírito”, Gl 5:22. Para Paulo “obras” são “obras da lei” e ele opõe-lhes
a fé. – Mofatt.
__________
Tiago e Paulo não se entendem ao supormos que um está
atacando o outro. Seu acordo em Jerusalém, e a mão fraternas de
parceria dada ali, proíbe esta suposição. Porém, devem ser
interpretados à luz dos males que estão combatendo, males
inteiramente diferentes: uma fé (crença) ortodoxa, ritualística, estéril,
meramente intelectual versus um sistema legalista, nacionalista,
farisaico e igualmente estéril, de salvação pelas obras, especialmente
pela circuncisão. Tanto Paulo como Tiago são necessários como
antídoto do farisaísmo ou do romanismo. – Ellicott.
__________
Tiago versus Paulo. Ele (Tiago) não negou coisa alguma que
Paulo tivesse afirmado, ou que qualquer discípulo de Paulo teria desejo
de afirmar. Em comparar a linguagem de Paulo com a de Tiago, todas
as expressões distintivas daquele estão ausentes da linguagem deste.
A tese de S. Paulo é que o homem é justificado, não pelas obras da lei
mas pela fé em Jesus Cristo. Tiago fala tão somente de obras sem
nenhuma menção da lei, e fé sem menção de Jesus Cristo. A qualidade
da fé que ele considera consiste meramente na crença de que há um
só Deus. Em outras palavras Tiago está escrevendo, não no interesse
do judaísmo mas da moral. Paulo ensinou que a fé em Jesus Cristo era
poderosa para justificar um homem incircunciso e não observador das
ordenanças mosaicas. Para este ensino Tiago não tem nenhuma
palavra de oposição, como não dá sinal de ter ouvido mesmo da
controvérsia. – Salmon.
__________
Lutero, comentando a Epístola aos Romanos: “Mas a fé é uma
obra divina dentro de nós, que nos transforma e nos regenera da parte
de Deus (João 1:13), e mata o homem velho, tornando-nos inteiramente
outros homens no íntimo, no coração, na coragem, na mente, e na
força, e traz consigo o Espírito Santo. Oh! É uma coisa viva, ativa,
enérgica, e poderosa, está fé, de modo que é impossível que não venha
operar aquilo que é bom sem interrupção. Nem pergunta se deve fazer
boas obras, porém antes de perguntarmos eis que ela já as operou... A
fé uma confiança viva, deliberada na graça de Deus, tão certa e segura
que morreria mil mortes por sua confiança. E tal confiança e experiência
da graça divina tornam um homem hilariante, ousado, e alegre para com
Deus e todas as criaturas... Portanto é impossível separar as obras da
fé; sim tão impossível quanto seria separar do fogo seu brilho e calor.”
– "Expositor's Greek Testament".
CAPÍTULO VI
O DOMÍNIO DA LINGUA
3:1-18
TRADUÇÃO
PARÁFRASE
COMENTÁRIO
1. “Não... muitos... mestres”. Deixai de tronar-vos mestres em
tão grande número. Hoje em dia, queixam-se as igrejas da falta de
pastores. Naquele tempo se queixaram de uma superabundância de
mestres em seu seio. E deste costume, resultava muito pecado da
língua. Pensemos deste parágrafo como tendo principalmente em mira
o ministério, a pluralidade de presbíteros em cada igreja e as lutas entre
os ambiciosos pela honra. – W. C. T.
__________
1. “Mestres”. Aqueles nas assembléias cristãs que se
incumbiram da tarefa do ensino, com a especial do Espírito Santo, 1 Co
12:28; Ef 4:11; At 13:1 – Thayer.
__________
1. ”Mestres”. É pressuposto que para o bem da comunidade
deve haver mestres, desempenhando uma função especial (1 Co 12:29.
Comparai v. 28), e então Tiago deixa subentender que muitos se
propõem a ser mestres sem nenhum sentimento de responsabilidade,
porém de um espírito vaidoso ou censorio. – Hort.
__________
1. Todos nós tropeçamos e caímos debaixo do juízo, porém o
juízo é mais severo se assumimos ares de juízes de outrem. – Hort.
__________
1. “Mestre”. A negligência desta cautela são trouxe perplexidade
sobre a primitiva igreja tanto como sobre as mais recentes (Compare At
15:24; 1 Co 1:12; 14:26; Gl 2:12; 1 Co 3:11-15). – Ellicott
_________
1. “Mestres”. “Não sejais bispos de outros” é a tradução literal
de 1 Pe 4:15 (quem se intromete em negócios alheios). Evitai o espírito
do orgulho doutrinário, de demasiada confiança nas próprias opiniões
de infalibilidade, que sujeita alguém à coceira de ensinar. – Farrar.
__________
1. Irineu atribui a heresia de Taciano ao fato de que ele permitiu
seu orgulho de mestre desenvolver em si uma paixão pelas novidades.
– Moffatt.
__________
1. Não vos apresseis para ocupar o ofício de mestre visto que o
mestre é muito mais estritamente responsabilizado do que o discípulo.
O Dr. Broadus costumava dizer que o ministério exerce uma grande
atração para mentes fracas. E sem dúvida muitas mentalidades fracas
ambicionam exercer o ministério. Tiago deseja que a entrada no
ministério seja um passo cuidadoso, bem meditado em oração,
seriamente pensado. Este capítulo é um dos mais importantes do livro
de Tiago, e mesmo da Bíblia inteira, e seu valor é incalculável a jovens
pregadores. Por sua profissão tornam-se mestres da Palavra de Deus,
por isto nenhum outro capítulo deve ser para eles mais importante de
que este para lhes orientar na sua capacidade oficial.
Era o característico, a falta notável, de um judeu, no seu país ou
no estrangeiro, cobiçar a honra do ofício do mestre mais do que a
eficiência e serviço da carreira. A vaidade e o orgulho o levariam a
entrar onde os próprios anjos receariam penetrar. Quem se sente
movido a entrar no ministério por um espírito de vaidade mais do que
pelo desejo de trabalho perseverante é indigno da posição.
Há homens com uma aptidão natural para ensinar que são muito
ignorantes. E há homens cheios de informações sobre uma multidão de
assuntos que não têm o dom de ensinar coisa alguma. – B. H. Carroll
__________
1. É óbvio que os verdadeiros mestres sempre estarão na minoria.
Há algo de erro grave quando a maioria da comunidade ou mesmo um
número considerável, se apressa para ensinar os outros. Numa
sinagoga judaica, qualquer um que se sentia disposto podia chegar à
frente e ensinar, e S. Tiago escreve numa época quando a mesma
liberdade prevalecia nas congregações cristãs. (1 Co 14:26, 31). Porém
em ambos os casos esta liberdade demasiada fruiu em desordens
sérias. O desejo de ser chamado “Rabi, Rabi” teve sua influência tanto
entre judeus como entre os cristãos, e muitos foram zelosos expositores
que ainda faltavam aprender os rudimentos da verdadeira religião. – A.
Plummer.
__________
1. “Muitos mestres”. Nas “Casas de Aprender” judaicas havia
muito pouca restrição quanto aos que quanto aos que tinham o privilégio
de ensinar. Temos o exemplo disto no caso do nosso Senhor mesmo,
que nenhuma dificuldade encontrou em entrar e ensinas nas sinagogas
(Mt 12:9 em seguida; Mt 13:54; Mc 1:39; Lc 6:6) embora fosse
desagradável às autoridades sua presença ali em várias ocasiões e às
vezes mesmo os ouvintes tivessem inteiramente repudiado seu ensino
(por exemplo Jo 6:59-66). O mesmo se pode dizer de Pedro, João, e,
mais do que tudo, Paulo. “Mestres” tem de ser interpretado à luz do que
tem sido dito. A passagem é interessante em revelar os métodos de
controvérsia nas sinagogas da Diáspora; as paixões ficaram exaltadas,
julgando pelas severas palavras de repreensão que o autor se sente
obrigado a empregar. – "Expositor's Greek Testament".
__________
1. “Muitos mestres”. A introdução de costume da eleição dos
oficiais pela congregação era quase inevitável nas igrejas helenistas.
Nas cidades gregas o método grego de votar era praticado como o
termo grego (At 14:22) indica, embora a tradução esconda a natureza
do processo. A votação livre estimulou interesse público, e sem ela a
vida e o interesse não podiam ter sido conservados numa congregação
helenista. A educação livre helenista tinha esta tendência, por
considerar todos os homens iguais.
Graves perigos, no entanto, estavam envolvidos nesta sorte de
ação. O método implica haver candidato, e havendo candidatos há
rivalidade, e onde há rivalidade há ciúmes e disputas e facções e
divisões. Os candidatos rivais tinham sues amigos e partidários, e a
eleição dos oficiais das igrejas ficava maculada por contendas. Paulo
se refere a estes males e admoesta tanto aos gálatas como aos
coríntios contra os mesmos.
Tiago estava também a par desta fase da vida das igrejas. Porém,
o aspecto do caso que mais lhe desagradava era a paixão dos membros
das congregações do Ocidente pelo privilégio de falar e ensinar
publicamente. Todos queriam ensinar; todos almejavam recomendar-
se ao público. Poucos queriam ser ensinados, poucos almejavam ouvir.
Um número demasiadamente grande ambicionava posição oficial
pública, e estava se preparando para conservar-se perante os olhos do
povo como candidatos. Daí o peso do seu conselho aos leitores para
que sejam prontos para ouvir, tardios para falar (1:19), e agora ele
dedica um parágrafo ponderado a admoestá-los sobre sua falta
predileta. Não deviam ficar cobiçosos pela posição oficial de mestre, e
mesmo não deviam ser ambiciosos para mostrar como leigos sua
capacidade de ensinar. Se o mestre recebe mais respeito e maior
ordenado e goza mais influência, todavia mais se espera dele e será
julgado com juízo mais severo no que faltar. O único dever dos oficiais
da igreja a que Tiago se refere é o de ensinar. A Epístola pertence a um
período muito primitivo, quando o culto da igreja, e a sua doutrina e
serviço eram muito simples e quando o dever de ensinar, tanto para a
conversão dos pagãos como para a instrução dos conversos
inteiramente sobrepujava em importância os outros deveres e funções
dos oficiais das congregações. – Sir William Ramsay.
__________
1. “Mestre”. Aqui, ali, acolá existiam igrejas, muito tempo depois
do primeiro século, que não tinham um só oficial senão presbíteros e
mestres. Dionysius de Alexandria refere à igrejas nas vilas do Egito na
data do meado do terceiro século que estavam assim organizadas.-
Moffat.
__________
2. “Todos”. No original o termo empregado é o mais forte
possível. Absolutamente cada um de nós tropeça em muitas coisas. O
autor dá muita ênfase a esta declaração – A, Plummer. Esta sentença,
se não houvesse outra, acabaria com a teoria egoísta de
perfectibilidade do crente nesta vida. É o homem mais respeitado pela
sua santidade no cristianismo antigo que fala. – W. C. T.
__________
5. “Gaba”, parece significar qualquer espécie de linguagem
soberba, linguagem que fere e provoca aos outros e desperta
contendas. “Gaba” quer dizer no original estirar a cerviz, pavonear-se.
–Thayer.
__________
6. “Fogo”. A língua é chamada um “fogo”, como se estivesse
tanto incendiada como incendiadora de outras coisas, em parte por
causa do espírito fogoso que a governa, em parte pelo espírito
destrutivo que ela manifesta. – Thayer.
__________
6. “Mundo de iniquidade” A soma de todas as iniquidades.
Thayer.
__________
6. “Incendeia” Acende, opera destrutivamente, tem poder
pernicioso; no passivo, aquilo no que estão incendiadas influências
destruidoras. – Thayer.
__________
6. “Curso da vida”. Usado daquilo que segue a origem, a vida, a
existência; a “roda” da vida, isto é, o mecanismo da vida; porém outros
explicam como a roda da origem humana, que logo que o homem nasce
começa a rodar, isto é, o curso da vida. – Thayer.
__________
6. “Contamina”. A ação da língua pode ser considerada como
maculando a ação do corpo inteiro, a conduta total de que o corpo é o
órgão. – Hort.
__________
6. Três tentações para açoitar com a língua são especialmente
poderosas para o mal: como alívio na paixão ou zanga, como a
gratificação de malvados ou ciúme e como vingança. A primeira destas
tentações é experimentada por gente de gênio fogoso; a segunda, pelos
maliciosos; e a terceira se presta para os que estão fracos e sem
defesa. E todos nós nos achamos às vezes em cada uma destras
classes. 1 Pe 2:23, Os 14:2; Sl 109:28, 29. – Ellicott.
__________
6. “A língua... é colocada”, ou melhor, se constitui um mundo de
iniquidade, “a soma de iniquidade”. A língua não foi criada por Deus
para ser uma fonte perpétua de males... é pela sua própria carreira
indisciplinada e anárquica que se torna “mundo do iniquidade”, que se
constitui entre nossos membros aquele que contamina o corpo todo. A
religião pura consiste em refrear aquele membro que contamina o corpo
inteiro. Ora, a língua nos contamina de três maneiras: por sugestionar
em nós e em outros o pecado; por cometer o pecado em tantos casos
de mentira e blasfêmia; e por desculpar ou defender o pecado. – A.
Plummer.
__________
6. “O Curso da vida”. A língua é um centro de onde se irradia
malvadez: é o pensamento principal. Uma roda que pegou fogo no eixo
há de ser totalmente consumida pelo fogo afinal. Assim a sociedade. –
A. Plummer.
__________
7. “Toda a espécie”. Ela combina a ferocidade do tigre com a
frivolidade do macaco e a sutileza e veneno da cobra. – A. Plummer.
__________
8. A ordem no original é enfática. Toda natureza bestial pode ser
domada., tem sido domada e continua a ser domada pela natureza
humana; porém a língua não pode ser domada definitivamente, por
nenhum dos homens. Mas por Cristo pode. O domínio da língua é da
essência da religião de Cristo. Toda a ênfase está sobre a impotência
humana para dominar a língua, a despeito de sua soberania sobre as
demais feras. A situação é longe do desespero. – W. C. T.
__________
8. Quando eu era moço fiquei bastante impressionado pela vasta
soma de males que viesse de falar a má qualidade de fala, e descobri-
me a mim mesmo falando o que não devia, de modo que quando li este
capítulo determinei em mim mesmo descobrir um jeito pelo qual eu
pudesse evitar conversação má, especialmente a ira. Naturalmente sou
impulsivo, fogoso, propenso a sentir ofensa, pronto a ressentir e falar e
vendo em mim esta falta, determinei aprender um modo pelo qual
estando irado pudesse ficar calado. Resolvi não dizer coisa alguma.
Pois bem. Foi a coisa mais dura que jamais procurei fazer em toda a
vida. Porém eu venci. Ouvi minha filha dizer, quando ela tinha 21 anos:
“Papai, nunca te ouvi falar uma só palavra irada na minha vida”. – B. H.
Carroll.
__________
8. “Mal irrequieto”. É surpresa para nós ouvir a língua chamada
um “mal”, em lugar de ser considerada o abuso de um bem... O fato de
ser ela um mal procede de sua independência, isto é, de seu isolamento
da integridade humana. “Um mal desordeiro”. – Hort.
__________
8. “Veneno”. Dito de homens acostumados a vilificar e a caluniar
e injuriar a outros, assim os prejudicando. – Thayer.
__________
9. “Com ela...” Deveras ele está atacando uma falsa qualidade
de religião e não mero vício de língua. Ele está discutindo uma
tendência, de íntimo parentesco com aquela que combateu no fim do
Cap. 1, uma religiosidade sem amor, a combinação de devoção fingida
a Deus e indiferentismo e mesmo ódio aos homens. – Hort.
__________
9. “Criados à imagem de Deus”. O tempo do verbo grego
implica que os homens receberam na primeira criação esta imagem e
ainda a possuem. – Weymouth.
__________
9-12. Ele mostra o caos moral a que o cristão se vê reduzido
quando não tem domínio de sua língua. Ele se tem feito o canal de
influências infernais. Não pode, à vontade, tornar-se outra vez o canal
de influências celestiais, ou tornar-se ofertante de sacrifícios santos. Os
fogos de Pentecostes não descansam sobre um depósito dos fogos de
Geena. – A. Plummer.
__________
Um homem que amaldiçoa seu semelhante e então bendiz a
Deus é semelhante a um homem que professasse todo o respeito pelo
seu soberano, ao mesmo tempo, insultando e injuriando a família real,
jogasse lama sobre o retrato do rei e se mostrasse ostensivamente
desdenhoso da vontade real. – A. Plummer.
__________
Quem não tem visto o estrago que pode ser feito por uma única
palavra de zombaria, de soberba; quanta confusão não se opera pelo
exagero, insinuação ou mentira; quanto sofrimento não se causa por
sugestões e declarações caluniadoras; quantas carreiras de pecado
não se tem começado por meio de histórias impuras e gracejos
imundos?... Narrativas impuras, chistos imundos, sugestões lascivas,
mais do que blasfêmias e maldições, contaminam as almas daqueles
que as proferem e conduzem os ouvintes ao pecado. Tais hábitos
roubam todos quantos neles estão relacionados, quer seus autores,
quer seus ouvintes, roubam-nos de duas coisas que são a principal
proteção da virtude – o temor de Deus e o temor do pecado. Produzem
uma atmosfera na qual os homens pecam com os corações leves,
porque os pecados mais grosseiros parecem atraentes e fáceis, assim
como também engraçados. Não há ato mais diabólico do que o de fazer
acreditar a um ser humano que aquilo que é feio e perigoso em si
mesmo pareça “agradável aos olhos e bom para comer”... A palavra
queixosa que torna tudo motivo para a culpa, que procura mostrar que
quem fala está sempre sendo maltratado; a palavra mordaz, que visa
causar dor; a palavra carrancuda que lança sobre todos que a ouvem
uma nuvem de tristeza; a palavra provocante, que procura despertar a
briga; - de todas estas coisas tendemos a pensar levianamente demais
e necessitamos da severa admoestação de S. Tiago para nos despertar
a sua verdadeira natureza e suas consequências certas. – A. Plummer.
__________
No tocante a outros, tais palavras ferem corações tenros,
aumentam desnecessária e enormemente a infelicidade humana,
transformam a doçura em amargura, estrangulam bons impulsos, criam
e desenvolvem ressentimentos, e afligem toda a roda da vida diária.
No tocante a os mesmos, a indulgência em tal linguagem deturpa
e enfraquece nosso caráter, cega nossa simpatia, e mortifica nosso
amor aos homens, e, portanto, nosso amor a Deus. Foi dito uma vez
em desculpa de um homem que tinha sido criticado e condenado como
imprestável: “Ele é bom em tudo, menos no gênio”. A resposta foi:
“Menos no gênio! Como se o gênio não fosse nove décimos da religião”.
– A. Plummer.
__________
10. “Não convém”. Esta duplicidade no uso da língua é uma
coisa desnatural, monstruosa. – Hort.
__________
10. “Amaldiçoamos”. Esta palavra mostra que o pecado
especial de que aqui se trata não é calúnia, mentira ou injúria , porém
abuso pessoal, cara a cara, como resulta de perder o domínio numa
controvérsia. – "Expositor's Greek Testament".
__________
13. Sabedoria. Este trecho volta para o assunto do v. 1. A
desculpa destes que eram ambiciosos de ser mestres foi que possuíam
sabedoria, e portanto Tiago procede a considerar a verdadeira
sabedoria e a falsa. Em 1:21 a humildade, a mansidão é condição de
receptividade em o ouvinte; aqui é a indispensável condição de se
apresentar perante outros para a sua instrução. – Hort.
14. “Zelo”. Rivalidade ciumenta e contenciosa. – Thayer. Espírito
de contenda. Cobiça de distinção, desejo de mostrar-se e adiantar seus
interesses num sentido partidário que não dispensa métodos baixos, é
facciosidade. Fl 2:3; 1:15-17; 2 Co 12:20; Gl 5:20. – Thayer.
__________
“Glorieis”. Gabar-se, ao prejuízo de outros. – Thayer. Contra a
verdade – contra o que é verdadeiro no caso em consideração (oposto
ao que é fingido, falso). – Thayer.
__________
14. “Espírito de contenda”. Usado por Aristóteles de facções
políticas mordendo-se com táticas de demagogia, “a ambição pessoal
de lideres rivais”, o vício do líder de um partido que foi criado por
considerações do orgulho do dito líder. – Hort.
__________
14. A palavra traduzida “contenda” vem de mercenário, e daí
significa o espírito partidário. – "Expositor's Greek Testament".
__________
15. “Esta sabedoria”. A astúcia de homens ciumentos e
contenciosos. –Thayer.
__________
“Animal”. Governada pela alma, isto é, a natureza sensual,
sujeita aos apetites e paixões, uma sabedoria em harmonia com
desejos corruptos e os afetos que daí nascem. – Thayer.
__________
“Diabólico”. Semelhante a um demônio, procedendo dos
demônios. – Thayer.
__________
15. “Não mintais contra a verdade”. A doutrina implicada é um
paradoxo, mas é amplamente verificada pela experiência. A mera
possessão da verdade não é garantia de que ela será declarada; toda
a conversa tira suas cores e matizes do estado moral e espiritual de
quem fala, de tal modo que a verdade sai dos seus lábios como sendo
falsa à proporção que ele mesmo não está numa condição veraz. A
linguagem correta que ele profere pode levar uma mensagem de
falsidade e mal em virtude da amargura e egoísmo com que ele fala. No
fundo de sua alma tais pregadores só estimam a verdade como uma
possessão para seu próprio uso e defesa. – Hort.
__________
A origem e a esfera da sabedoria espúria é a terra, não o céu; sua
sede no homem é sua alma, não seu espírito; os seres com que ele tem
em comum esta sabedoria são os demônios, não os anjos; assim a
sabedoria que é comum aos homens e aos demônios, 2:19. –Hort.
__________
“Animal”. Não espiritual. Compare-se com Judas 19 –
Weymouth.
__________
15. “A sabedoria que vem de cima”. Argumentos astutos,
distinções sutis, controvérsia engenhosa, métodos da verdade pouco
importam contanto que seja ganha uma vantagem efêmera, discussão
hábil, ironia amarga, tanto mais apreciada quanto mais envenene e
enfureça o seio do adversário – enfim, todas estas tricas do
controversialista profissional, que não são menos dignas de desprezo
por ser bem feitas – isto era uma sabedoria de certa espécie... era
humana (isto é, seu domínio é na esfera onde tudo que é
essencialmente humano tem voga) no sentido de que ministrava ao
respeito próprio. Em nenhum outro versículo se manifesta mais
nitidamente o amplo conhecimento da natureza humana pelo autor. –
"Expositor's Greek Testament".
__________
15-17. O espírito de contenda e o espírito de mansidão, eis os
característicos que principalmente distinguem a sabedoria que vem do
céu e a que vem do inferno. Como nos comportamos em argumento e
em controvérsia? Somos serenos quanto ao resultado, em plena
confiança de que a verdade e o direito hão de prevalecer? Desejamos
que a verdade prevaleça, ainda que isto envolva colocar-nos na posição
de estarmos errados? Somos mansos e corteses para com os que
diferem de nós? Ou perdemos o domínio próprio e ficamos fogosos em
nossa oposição contra os antagonistas? Se for assim, temos razão de
duvidar se nossa sabedoria é da melhor sorte. Quem perde sua cabeça
num argumento já manifestou que pensa mais em si do que na verdade.
– A. Plummer.
__________
16. “Espírito de contenda”. Uma palavra que originalmente
significou trabalhar por salário, especialmente como tecelão, e daí
tornou-se usada para qualquer ocupação ignóbil, especialmente
controvérsia política, intriga, politicagem. Rm 2:8; Fl 1:15; 2:3; Gl 5:20.
– A. Plummer.
__________
Todo o cristianismo, para alguns, consiste tão somente em um
amargurado desdém pelos pecados dos pecadores, num espírito
soberbo e sem caridade, contencioso, lutando com o que se chama de
mundo perverso. – Stier.
__________
Do mesmo modo que há uma fé que é comum aos homens e aos
demônios, e uma língua que é inflamada pelo inferno, assim há uma
sabedoria que é demoníaca na sua atividade. – A. Plummer.
__________
Quando a alma se distingue, tanto da carne como do espírito, ela
representa uma parte de nossa natureza que é muito mais intimamente
ligada com aquela do que com este. “Natural” significa “sensual”. O
homem “natural” embora de uma categoria mais alta do que o homem
carnal, está muito abaixo do nível do homem espiritual, que está sob a
liderança do Espírito Santo. – A. Plummer.
__________
Terrena, feroz, diabólica – Purves.
__________
Foi imediatamente depois de haver uma contenda entre os
apóstolos sobre qual deles seria o maior que todos O abandonaram e
fugiram.
__________
17. “Sabedoria que vem de cima”. Pura. Livre de toda falta
imaculada. 2 Co 7:11; Fl 4:87; 1 Tm 5:22; 1 Pe 3:2. Pacífica. Amante
da paz. Moderada. Disposta à equidade, justa, mansa, Fácil de
conciliar. Tratável, disposta a obedecer. Bons frutos – usado de os
feitos dos homens como expoentes de seus corações. – Thayer.
17. “Fácil de se conciliar”. A sabedoria falsa havia de ser briosa,
imperiosa, dominadora; a verdadeira se manifesta em deferência
voluntária dentro de limites legítimos. – Hort.
__________
17. “Primeiro de tudo pura, então pacífica, cortês, não egoísta,
cheia de compaixão e ações bondosas, livre do favoritismo, e de toda a
insinceridade.” – Tradução de Weymouth.
__________
17. Temos um exemplo nobre deste espírito em algumas
passagens de introdução no tratado de Santo Agostinho contra a
chamada Carta Fundamental dos Maniqueus. Ele assim principia:
“Minha oração ao único verdadeiro Deus é para que, em refutar e
combater a heresia de vós maniqueus, à qual aderis talvez mais por
falta de pensar do que por mau propósito, seja-me dada uma mente
serena e tranquila, e que vise mais a vossa emenda do que a vossa
descompostura... Tem sido nosso esforço, portanto, preferir e escolher
a melhor parte, para que pudéssemos ter oportunidade para vos mudar,
não por contenda e luta e perseguição, mas em consolações
compassivas, afetuosas, exortação e discussão acima: como está
escrito “Ora, o servo do Senhor não deve brigar, mas deve ser
condescendente para com todos, capaz de ensinar, sofrido, que corrija
com mansidão os que se opõem... Que se enfureçam contra vós os que
não sabem com que labor a verdade se encontra, e quão difícil é evitar
erros... Que se enfureçam contra vós os que não sabem com que
grande dificuldade o olho do homem interior se sara, de modo a poder
encarar o Sol... Que se enfureça contra vós os que não sabem com que
gemidos e soluços se torna possível, mesmo num grau pequeno,
compreender a Deus. Afinal que se enfureçam contra vós aqueles que
nunca se viram enganados por um erro como agora vos percebem
enganados... Que nenhum de nós dia ao outro que já achou a verdade.
Que a busquemos como se nos fosse desconhecida. Porque ela pode
ser buscada, tão somente se não houver a pressuposição presunçosa
de que já foi encontrada”. – A. Plummer.
__________
17. “Sem parcialidade”. Purves traduz esta palavra “pensando
sem fingimento”. Das várias significações possíveis perante nós,
podemos com razão escolher “sem dúvidas”. A sabedoria que é de cima
é constante, invariável, de mente singela, não vacilante. – A. Plummer.
__________
18. “Fruto da justiça”. A utilidade, benefício, que consiste em
justiça. – Thayer.
__________
18. Semeada em paz. Uma paz que não é a mera cessação da
luta – tal paz pode ser, no íntimo, a amargura das derrota – mas uma
paz que tem no coração o gozo da vitória, a paz peculiar do seu vitorioso
Senhor. – Robins.
__________
18. “Fruto da justiça” é uma expressão paralela ao penhor do
Espírito 2 Co 1:22 (onde o Espírito é o penhor), “o santuário do seu
corpo”, Jo 2:21 (onde seu corpo é o santuário) Cl 3:24; 1 Ts 5:8. Quer
dizer: “E a paz para os que se esforçam pela paz, é a semente cuja
seara é a justiça”. – Weymouth.
__________
CAPÍTULO VII
COMENTÁRIO
1. “Deleites” Prazeres e desejo de prazeres. – Thayer.
__________
1. Deleites que combatem nosso vosso membros. Representa-se
os prazeres como fazendo uma guerra contra os membros, isto é,
invadindo-lhe o território. –Hort.
__________
1. Estes versículos revelam um estado de depravação e
imoralidade nestas congregações da Diáspora que nos espanta;
contendas, carnalidade, cobiça, homicídio, avareza, adultério, ciúme,
soberba e calúnias são prevalecentes. "Expositor's Greek Testament".
__________
1. “Contendas...” Guerras. Guerras e batalhas. – "Expositor's
Greek Testament".
__________
1. A noção de que as igrejas da época apostólica estavam numa
condição de perfeição ideal é um sonho absolutamente sem
fundamento. – A. Plummer.
__________
1. “Que combatem”. Fala de paixões que inquietam a alma. –
Thayer.
__________
2. “Invejais”. Ser esquentados, ferver de ciúme, zanga, ódios. –
Thayer.
__________
2. “Contendeis”. Fala de contendas que terminam em litígios
perante os tribunais terrenos, sobre propriedades e privilégios. –
Thayer.
__________
2. Matais e vos tornais fanáticos. Sl 106:15; Ez 14:4.
__________
2. Guerras e facções e brigas não têm outra fonte senão o corpo
e suas cobiças. É para ganhar riqueza que todas as guerras surgem e
somos forçados a ganhar riquezas por causa de nossos corpos, de cujo
serviço somos escravos; em consequencia não temos tempo para a
filosofia por causa destas coisas. Já foi provado que se havemos de
gozar puro conhecimento de alguma coisa, temos de nos ver livres do
corpo, e com a alma isolada temos de ver as coisas isoladas, separadas
de sua utilidade para o corpo. Nesta vida nos aproximamos mais da
sabedoria se não tivermos relação alguma com o corpo, além daquilo
que é absolutamente indispensável, e assim não ficamos cheios de sua
natureza, mas permanecemos livres de suas manchas até Deus mesmo
nos livrar. – Platão: Phoedo.
__________
Platão e S. Tiago estão plenamente de acordo em crerem que as
guerras e contendas são causadas pelo corpo... Porém neste ponto o
acordo finda. A conclusão de Platão é que o filósofo precisa, tanto
quanto for possível, negligenciar e excomungar seu corpo, como fonte
intolerável de corrupção, anelando o dia da morte quando se verá livre
do peso de servir este obstáculo e empecilho entre sua alma e a
verdade. Platão não sonhou que o corpo pode ser santificado aqui e
glorificado além da morte. – A. Plummer.
__________
2. Cobiçais e não possuis; portanto matais: e invejais e não podeis
alcançar, portanto contendeis e fazeis guerra.
__________
Esta maneira de agrupar as cláusulas dá perfeita clareza e não
faz violência ao grego do original... Do mesmo modo que o pensamento
lascivo á adultério no coração (Mt 5:28), assim o ódio guardado no
espírito é homicídio no coração. – A. Plummer.
__________
3. “Despenderdes em vossos deleites”. Para gastardes,
dissipardes o que recebeis em luxo e indulgência da carne. – Thayer.
__________
4. “Adúlteras”. O original é feminino. É uma figura que indica
infidelidade a Deus, imundície, apostasia – Thayer. É fino sarcasmo,
baseado na concepção profética do povo como casado com Deus.
__________
4. “O mundo”. Afazeres mundanos, o agregado de bens,
riquezas, vantagens, prazeres, etc, etc., que, embora ocos, vãos e
passageiros, estimulam a cobiça e nos afastam de Deus e constituem
um obstáculo à causa de Cristo. – Thayer.
__________
4. “A amizade do mundo”. A amizade do mundo, (isto é, estando
numa posição de amizade com ele) naqueles dias significava, ou
envolvia, certa conformidade com o padrão de vida pagã. – Hort.
__________
“Deus é o Senhor e o esposo de toda alma que é dele.”
__________
5. Swete sugere que a citação vem de algum escrito cristão: O
Espírito de Cristo anela por nós, mas com ciúme, com um amor que
ressente toda força contrária, como por exemplo, à amizade do mundo.
Sua atitude para com semelhante antagonista não é mero zelo, é ciúme.
Seu direito ao afeto do coração humano não tolera rival. Há um ciúme
justo, que é digno de Deus e até a consequencia necessária da
grandeza do seu amor. A ideia falsa do caráter divino que poderia ser
sugerida à mente humana é evitada por uma outra citação. “Porém ele
dá maior graça”; portanto é dito: “Deus se opõe em oposição ao
valentão, mas ao humilde, dá graça” “É contra os que resistem a Deus
que Deus resiste e tão somente contra eles; os homens de coração
humilde não têm motivo de temer o ciúme divino, porém se verão
crescendo ao favor divino e nos dons do Espírito pelos quais este amor
é manifestado. Assim o sentido geral da passagem parece ser: Os
amigos de Deus não podem ser amigos do mundo também... O Espírito
que Deus implantou no crente anela pela devoção inteira dos corações
nele habitados, com um amor ciumento que não tolerará a invasão de
um rival. Porém este ciúme divino é consistente com uma generosidade
sempre crescente para com aqueles que se submetem ao domínio do
Espírito Santo que está neles. É a grandeza do amor de Deus para
conosco que resiste o pecado que se eleva contra ele e proíbe a
amizade com o mundo por parte de corações nos quais seu Espírito
habita. – Swete,
__________
4. “Adúlteras”. É preciso lembrar que este uso (de adultério
como figura de apostasia) é muito excepcional. De trinta e uma
passagens em que se fala de adultério, somente em cinco está usada
num sentido figurado... O estado depravado de moral a que todo este
trecho testifica deve ter sido pelo menos em parte causado pela
iniquidade e cooperação das mulheres, de sorte que nada há de
estranhar em elas estarem especificamente mencionadas em conexão
com aquela forma de pecado com que seriam mais particularmente
associadas. "Expositor's Greek Testament".
__________
4. É uma adaptação audaciosa da imagem profética aos que
estavam desleais a Deus, - Westcott.
__________
4. O termo (adúlteras) está usado no sentido comum vetero-
testamentário – o de adultério espiritual – infidelidade a Jeová
considerado como o esposo de seu povo. Ez 23:27; Os 2:2; Is 57; Mt
12:39; Mt 16:4; Mc 8:38; A. Plummer 2:22. O sexo da pessoa não afeta
a relação; cada alma que foi casada com Deus e depois transferiu seu
afeto e lealdade a outros seres é uma esposa adúltera. S. Tiago, com a
simplicidade, franqueza e singeleza que lhe caracterizam, indica-lhes o
fato com esta severa frase “Vós, adúlteras” – A. Plummer.
__________
4. “Inimizade contra Deus”. Se uma mulher repudia seu marido
e se casa com outro, comete adultério. Uma esposa que cultiva a
amizade de um homem que lhe procura seduzir torna-se inimiga de seu
marido. Todo o judeu cristão deve saber que a amizade do mundo é
inimizade contra Deus. – A. Plummer.
__________
4. “Mundo”, João nos afirma (e provavelmente as palavras não
são dele, mas sim de Cristo) que Deus amou o mundo (Jo 3:16). Porém
ele nos admoesta para não amarmos o mundo (1 Jo 2:15). E aqui Tiago
nos informa que sermos amigos do mundo é nos tornarmos inimigos de
Deus. Ora é claro que “o mundo” que Deus ama não é “o mundo” que
nós não devemos amar. “Mundo é um termo que tem várias
significações na Escritura, e erraremos se não as distinguirmos
nitidamente. Às vezes significa este planeta (Mt 4:8). Outrossim,
significa os habitantes da terra, como quando se diz que Cristo veio para
tirar o pecado do mundo, Jo 1:10; 1 Jo 4:14. E no último lugar, quer
dizer aqueles que estão alienados de Deus, - incrédulos , judeus e
cristãos apóstatas , especialmente a grande organização pagã de
Roma (Jo 8:23; 12:31). Assim o mundo que originalmente significava a
ordem natural a formosura da criação vem significar a desordem
desnatural e a feiúra das criaturas que se tenham rebelado contra Deus,
seu Criador. O mundo que o Pai ama é toda a raça humana. O mundo
que nós não devemos amar, é o que não nos permite amar ao Pai,
reciprocamente o mundo que é seu rival e seu inimigo. É deste mundo
que o homem verdadeiramente religioso se guarda imaculado (Tg 1:25).
Homens pecadores, com seus desejos iníquos, conservando-se numa
atitude permanente de deslealdade e hostilidade contra Deus, e
passando isto de um a outro, de uma geração a outra, como uma
tradição da vida – é isto que Paulo e Tiago e João consideram “o
mundo”. – A. Plummer.
__________
Do mesmo modo que há um Espírito de Deus, que nos guia em
toda a verdade, assim também há um espírito do mundo, que nos guia,
precisamente, no sentido oposto (1 Co 2:12). Este mundo com suas
concupiscências é passageiro, está perecendo (1 Jo 2:17). Até sua
própria tristeza gera a morte (2 Co 7:10). “O mundo é a natureza
humana, sacrificando o espiritual ao material, o futuro ao presente, o
invisível e eterno ao que satisfaça os sentidos e pereça com o uso. O
mundo é o medonho dilúvio de pensamentos, sentimentos, princípios
de conduta, preconceitos convencionais, desgostos, ódios, afetos, que
se têm acumulado em redor da vida humana, por séculos,
impregnando-a, impelindo-a, amoldando-a, degradando-a”. Liddon – A.
Plummer.
__________
5. “Com zelo anela por nós”. “Até ciúme”. Esta palavra tem
grande ênfase no original. Amizade com o mundo ou qualquer objeto
estranho não pode ser tolerada... Durante a Guerra Civil Norte-
Americana em 1861-1866, numas conferências entre representantes do
Sul e da União, os rebeldes ofereciam cada vez mais atraentes
propostas de quanto território devolveriam à União, contanto que fosse
reconhecida a independência do resto. Cada vez aumentava a parte
que cediam e restringiam a parte que exigiam para ser um país
independente. Afinal o Presidente Lincoln colocou sua mão sobre o
mapa de modo a cobrir todos os Estados do Sul que estavam em revolta
e disse seu ultimatum: “Senhores, este governo há de ser soberano
sobre a totalidade”. A constituição dos Estados Unidos teria terminado
se a mínima parte, por menor que fosse, tivesse sido reconhecida como
independente. Foi um princípio vital, que não admitiu exceções ou
graus. Ou tinha de ser conservado na sua inteireza ou estava
irreparavelmente dissolvido.
É precisamente uma exigência desta natureza que Deus,
operando pelo seu Espírito divino, faz de nós! Ele não consente em
dividir nossos afetos com o mundo por mais que lhe ofereçamos, por
mínima a parte que cedamos ao mundo. Se de alguma forma se admite
um rival a Deus já nos tornamos infiéis e rebeldes. Seu governo exige
a totalidade de nosso ser. – A. Plummer.
__________
5. S. Tiago quer alegar ciúmes de Deus, mas ciúmes no sentido
de que ele vê mal a amizade do seu povo dada ao mundo quando lhe
é devido e somente a ele. – Hort.
__________
5. Estas palavras testificam a verdade de que a terceira Pessoa
da Trindade habita em nossos corações, anelando obter de nós o
mesmo amor que ele nos dispensa. É uma passagem notável, que num
aspecto nos ensina o amor do Espírito, distinto do amor do Pai e do
Filho. Nesta conexão se deve ler Rm 8:26-28; Ef 4:30; 1 Ts 5:19.
CAPÍTULO VIII
A AVAREZA E SUAS CONSEQUENCIAS
4:13-5:6
TRADUÇÃO
COMENTÁRIO
Este trecho foi proferido aos incrédulos; o qaue vem antes deste,
aos crentes. Mais ou menos como os profetas do Velho Testamento às
vezes pareciam desviar-se para profetizar contra Tiro e Sidon e as
demais nações pagãs. – A. Plummer.
__________
13. Os judeus da Dispersão desde o princípio tinham abandonado
a agricultura; visto que congregaram-se principalmente nas cidades.
Era o comércio que mais lhe interessava. O Egito era o principal centro
de atração, e muitos judeus ricos faziam parte da numerosa população
israelita de Alexandria; Filon fala de judeus que eram donos de navios
e negociantes, nesta cidade. Quando tais judeus abraçaram o
cristianismo, certamente não havia motivo de abandonar sua carreira...
Esta secção visava mais os judeus do que os judeus cristãos. –
"Expositor's Greek Testament".
__________
15. Tanto a vida como a ação dependem da vontade de Deus. –
"Expositor's Greek Testament".
__________
15. “Se o Senhor quiser”. Cautela! É fácil entender estas
palavras de tal maneira que se perca o espírito delas. É uma de muitas
passagens da Escritura que se toma segundo a letra, e não segundo o
espírito, sendo a letra de pouco valor. Como em muitos dos ensinos do
Sermão do Monte, temos um princípio anunciado na forma de uma
regra. As regras são para serem observadas literalmente. Princípios
são dados para serem aplicados inteligentemente e observador
segundo seu espírito: Não obedecemos a Cristo quando deixamos o
ladroa que já nos roubou um vestido levar outro também; nem
obedecemos S. Tiago quando dizemos: “Se Deus quiser” ou “Glória a
Deus” em todas as ocasiões... é possível guardar o preceito de Cristo
sem largar o segundo vestido, e de fato não devemos deixar o ladrão
levá-lo. E é também possível guardar o mandamento do irmão de Cristo
sem nunca pronunciar as palavras “Se Deus quiser”, o uso habitual das
quais certamente há de degenerar num formalismo vão e hipócrita em
nós, e igualmente provocaria criticismo desnecessário e zombaria
irreverente em outros. S. Tiago quer dizer que devemos sentir de
momento em momento que estamos absolutamente dependentes de
Deus. – A. Plummer.
__________
16. “Agora, porém”. Com as coisas no estado em que estão. –
"Expositor's Greek Testament" 5:2-3.
As vossas riquezas estão corruptas, as vossas vestes estão
roídas pela traça, o vosso ouro e a vossa prata estão enferrujados.
Temos três qualidades de possessões indicadas nesta passagem.
Primeiro, depósitos de varias sortes de mercadorias. Estas estão
corruptas: tornaram-se pobres e sem valor. Em segundo lugar, vestes
ricas era uma parte considerável da riqueza de um oriental. Têm sido
guardas com muito zelo e com tanto cuidado que os insetos comeram-
nas e ficaram arruinadas. E, em terceiro lugar, metais preciosos. Estes
se enferrujaram e ficaram descorados, por não terem sido usados. Em
todos estes casos a avareza tem sido tanto pecado como loucura.
Fracassou no seu propósito pecaminoso. Foi a ruína de suas
propriedades. Como a ferrugem e as traças comeram seus bens, assim
o fogo do juízo divino lhes comerá a carne. – A. Plummer.
__________
3. “Comerá a vossa carne como um fogo”. Torturar alguém
com as penas eternas. – Thayer.
__________
“Em todo o tempo de nossa riqueza, Bom Deus livra-nos”.
__________
4. “Últimos dias” – O tempo mais perto da volta de Cristo do céu.
– Thayer.
__________
4. “Vossos campos”. Implica terras extensas. Calvino sugere
que é especialmente iníquo que os que nos alimentam pelo seu trabalho
têm de sofrer fome. – A. Plummer.
__________
4. “Senhor dos exércitos”. Exércitos celestiais. – Green.
__________
4. Tanto o maltratar aos pobres como o salário que lhes foi
roubado pelo patrão avaro contrário à Lei misericordiosa (Lv 19:13) que
não permitiu demora alguma nos pagamentos (Jr 22:13; Ml 3:5). –
Ellicott.
__________
4. Demora e desonestidade em pagar salários eram pecados de
uso comum. Lv 19:13; Dt 24:14-15; Jó 24:10; Mq 3:10; Pv 3:26 –
“Expositor’s Greek Testament”.
__________
6. “Orgulhoso” Que se mostra superior a outros a seus próprios
olhos, proeminente, com demasiada estima de si, de seus bens ou de
seu próprio mérito, desprezando outros, até tratando-os com desdém.
– Thayer.
CAPÍTULO IX
A PACIENCIA NA AFLIÇÃO, NA INJUSTIÇA, NA DOENÇA
TRADUÇÃO
5:7-20
COMENTÁRIO
7. “Tende paciência”. Perseverar paciente e corajosamente em
suportar aflições e pobreza. – Thayer.
7. “A vinda do Senhor”. A volta futura, visível, gloriosa de Jesus,
o Messias, para ressuscitar os mortos, presidir o julgamento final e
estabelecer formal e gloriosamente o reino de Deus. – Thayer.
__________
7. “Primeiras e últimas chuvas”. As chuvas de outubro em
seguida, e as de março e abril. – Thayer.
__________
7. Poucas ideias são mais estranháveis e paradoxais do que as
que se combinam nas Escrituras. “O reino e paciência de Jesus Cristo”
em A. Plummer 1:9, por exemplo. Todos os cristãos são súditos de um
reino paciente. - Ellicott.
__________
7. Estes verbos no aoristo imperativo têm a forma de uma
chamada para abandonar um estado degenerado e soam 9 vezes
sucessivamente. – Hort.
__________
8. “Vós de espírito vacilante”. Divididos em interesse, isto é,
entre Deus e o mundo. – Thayer. Vós de coração morno para com Deus
– Weymouth.
__________
9. Deixai de suspirar, de murmurar. – Thayer.
__________
9. “O Juiz”. De Cristo, voltando a inaugurar o dia de juízo. – Hort.
__________
11. “Fim do Senhor”. O resultado, êxito, sorte final, a experiência
última de Jó conforme o propósito de Deus – Thayer.
__________
11. “Paciência de Jó”. Paciência inclui a virtude passiva e ativa,
e significa a persistência e continuação. – Green.
__________
11. “O Senhor é cheio de ternura”. De coração magnânimo. –
A. Plummer.
__________
11. “Faleis mal uns dos outros”. Não PE linguagem violenta ou
caluniadora que é condenada aqui, mas sim o amor de queixas. A
têmpera censória é absolutamente anti-cristã. Revela que demos muito
tempo ao estudo da conduta de outros que teria sido melhor empregado
sobre a nossa. E talvez seja ainda verdade que tenham dado tanta
atenção, não com o propósito de ajudar, porém a fim de criticar. – A.
Plummer.
__________
12. “Um só é o Legislador e o Juiz”. “Há uma e tão somente
uma Fonte de toda a lei e autoridade, e aquela Fonte é o próprio Deus.
Jesus Cristo afirmou a mesma doutrina quando replicou perante o
tribunal de Pilatos. “Não terias sobre mim poder algum, se ele não fosse
dado lá de cima”. João 19:11. Foi a última palavra de Cristo ao
procurador romano, uma declaração da supremacia de Deus no
governo do mundo, e um protesto contra a insinuação: “Eu tenho poder
para te livrar e tenho poder para te crucificar”, - alegação de uma
autoridade irresponsável. – A. Plummer.
__________
12. “Tu, porém, quem és?” “Quem és tu que julgas teu
próximo?” S. Tiago conclui esta breve seção contra o pecado censório
por um forte argumentum ad hominem. Concedamos, para este
argumento, que existem graves males na vida de algusn dos irmãos,
entre os quais viveis. Concedamos que estes males devem ser
corrigidos. És tu precisamente a pessoa melhor qualificada para fazer
isto? Ponto de parte a questão de autoridade, quais são as tuas
qualificações pessoas para o ofício de juiz e censor? Tens aquela vida
imaculada, aquela gravidade de conduta, aquela pureza de motivo,
aquele severo domínio da língua, aquela liberdade de contaminação do
mundo, aquela generosa caridade, que identifica um homem
verdadeiramente religioso? Para tal homem, tratar da falta de um irmão
é puro lucro. – A. Plummer.
__________
12. “Deixai de jurar”. O tempo (presente imperativo) indica que
este hábito prevalecia entre os crentes judaicos a quem esta carta foi
endereçada. – Veja-se Mt 6:31 e Lc 7:13. – Weytmouth.
__________
12. Havia muitas sutilezas e manhas nos juramentos judaicos e o
estrangeiro ingênuo que confiava num juramento que parecia firme e
singelo descobria depois seu engano. – Ellicott.
__________
12. O que acaba de ser dito tornará claro que estes mandamentos
eram bem práticos e necessários, que os apóstolos não guerreavam
contra moinhos de vento, mas contra pecados que com toda a certeza
apareciam nas comunidades cristãs, ou eram até então
imperfeitamente banidos. Os críticos que exageram as fraquezas entre
os conversos de missões modernas no estrangeiro na primeira geração
da obra, podiam também ter condenado os resultados de Paulo com
igual razão. Porem o tempo provou ser o trabalho dele genuíno. –
provará genuína a obra hoje em dia. – Moulton.
__________
12. Tiago não está falando do juramento que se faz num tribunal,
nem de votos a Deus, mas está discutindo a expressão de nossas
emoções quando estamos em aflição ou grande júbilo. Notai quão
comum é para os que estão aflitos o jurar e praguejar. O pensamento
de Tiago é o seguinte: Em grandes emoções que surgem nas
vicissitudes da vida, nunca deixeis que os juramentos frívolos e a
blasfêmia e irreverência sejam a expressão de vossa tristeza. – Carrol.
__________
12. “Sim, seja sim”. Seja veraz vossa afirmação. – Thayer.
__________
14. Há dois verbos gregos para ungir. Um se usa para unção
formal, oficial, de um rei ou sacerdote. Deste verbo vem o vocábulo
Cristo. O outro, que foi usado aqui, se usa para descrever unção em
ocasiões festivas (Lc 7:46), para saúde (Tg 5:14) e para sepultura (Mc
16:1). – Green.
__________
14. Óleo é recomendado como remédio por Fílon, Plínio e Galen.
– Weymouth.
__________
14. Falta de referência ao “bispo” torna provável a conclusão de
que nas igrejas primitivas o bispo era o mesmo que “ancião” ou
“presbítero”. – Weymouth.
__________
14. Doutrina de Extrema Unção? “Nosso Bendito Senhor e
Salvador Jesus Cristo, na sua terna solicitude pelos que remiu por seu
precioso sangue agradou-se em instituir um outro sacramento, para nos
ajudar naquela mais importante hora em que depende a eternidade - a
hora da morte. Este Sacramento se chama Extrema Unção, a última
unção. O sacerdote em ministrar este sacramento unge os cinco
principais sentidos do corpo – os olhos, os ouvidos, as narinas, os
lábios, as mãos e os pés – porque têm sido empregados durante a vida
em ofender a Deus. Em cada unção ele pronuncia as palavras: - “Que
o Senhor te perdoe todo o pecado quanto tenhas cometido pela vista,
pelo ouvido, etc...” Citado por Ellicott de um manual católico de devoção
– “The Crown of Jesus”.
__________
14. Quando o poder milagroso cessou na igreja é natural que a
unção cessasse também. – Ellicott.
__________
14. O óleo era um remédio comum no oriente (Is 1:6, Mc 6:13, Lc
10:34). Foi somente no século XIII que a extrema unção foi considerada
um sacramento. – Farrar.
__________
14. A unção com óleo não visava fazer do ministério médicos,
portanto seu uso foi simbólico. – Carroll.
__________
14. Cuidadosamente notai estas Escrituras: Atos 11:30, que é
antes do tempo da carta de Tiago, ATOS 14:23; 15:2, 6, 22; 16:4; 21:18.
Ninguém pode ler essas passagens a respeito dos presbíteros sem
notar que há uma distinção entre um leigo e um presbítero – este tem
um ofício, ocupa uma posição representativa. Bons comentadores
notam esta instrução que quando os presbíteros respondem a este
convite vêm numa capacidade oficial. É como se a própria igreja se
reunisse para orar a favor do homem doente... A única diferença eu vejo
entre as igrejas do Novo Testamento e as igrejas batistas de hoje em
dia neste respeito é que as igrejas batistas de hoje não prestam a
mínima consideração a um presbítero na igreja a não ser que ele seja
o pastor da referida igreja. Nas igrejas do Novo Testamento, os
presbíteros da igreja, seus membros que tinham sido consagrados ao
ministério de Deus, embora somente um fosse presidente do rebanho,
todos foram estimados como oficiais das igrejas de Deus e dignos de
consideração. – Carroll.
__________
14. Mc 16:10, 13. É evidentemente uma atestação milagrosa e
divina dos que operam o milagre. Tiago vive e escreve no meio da
época apostólica. É o primeiro escritor do Novo Testamento. Neste
tempo os apóstolos eram vivos e tinham a comissão de seu Senhor para
curar os doentes, e aquela comissão pelos apóstolos cabia à igreja.
Minha opinião é que Tiago fala de um sinal para atestar que a igreja é
de divina origem, e uma vez provado isto, creio que o sinal acabou.
Nunca senti a mínima obrigação sobre mim como presbítero de ir aos
doentes e ungi-los com óleo na esperança de que seriam
milagrosamente curados. – Carroll.
__________
14. Ele (o clero) inventa um sacramento para os moribundos:
Tiago ensina um mandamneto que visa o doente recupere sua saúde.
– Carroll.
__________
14. “Os presbíteros da igreja”. Prova a existência de uma
organização desenvolvida. – "Expositor's Greek Testament".
__________
14. No princípio encontramos com instruções sempre para cuidar
dos doentes, 1 Ts 5:14... Na oração da igreja, preservada na primeira
epístola de Clemente, há súplicas especialmente oferecidas pelos que
estão doentes em corpo ou alma. – Harnack.
__________
14. O antagonista de Lutero, o Cardeal Cajetan, no seu
comentário sobre este versículo negoui que tinha referência alguma ao
Sacramento da Extrema Unção: Textus non dicit “Infirmatur quis ad
mortem?” sed absolute “Infirmatur quis?” et effectum dicit infirmis
alleviationem, et de remissione peccatorum non nisi
conditionaliter loquitur.
Practer hoc quod Jacobus a ad unum aegrum multos
presbyteros Tum orantes Tum ungentes mandat vocari, quod ab
extrema unctione alienum est. – Mayor.
__________
14-20. O fim desta passagem é estimular os auxílios espirituais
mútuos dos cristãos como um dos grandes propósitos e privilégios da
instituição da igreja. O corpo devia sentir a sorte de seus membros. Se
um homem estava aflito, devia orar; se alegre, devia cantar hinos; em
nenhum dos dois casos fala o apóstolo da oração ou cântico
particulares, porém da parte da congregação cristã. Ali todo cristão
poderia encontrar o melhor alívio de suas tristezas, e a mais viva
compreensão da sua alegria. Porém se um homem estava doente e não
podia ir à congregação, todavia não era obrigado a perder o beneficio
de sua comunhão cristã com a mesma: poderia pedir-lhes que o
visitassem; e como a congregação inteira não podia ir, os presbíteros
haviam de comparecer como representantes da mesma e suas orações
estariam em lugar das orações da igreja toda... Ora, este mui divino
sistema de uma igreja viva, na qual cada um havia de ajudar aos outros,
na qual cada um podia desvelar seu coração a seu vizinho e receber o
auxílio de suas orações, na qual toda oração fervorosa que fosse
oferecida em nome de Cristo tinha grande promessa de benção – este
sistema divino já foi quase destruído pela noção de um sacerdócio que
exige que os homens confessem seus pecados ao clero, e a este não
como aos seus irmãos, mas como aos vigários de Deus; e limitando a
prometida benção de oração aos sacerdotes, na sua capacidade
sacerdotal, não na sua categoria de cristãos, nem como representantes
da igreja, este sacerdotalismo transformou a simpatia fraternal de uma
sociedade cristã no domínio de um clero e numa mistura de
indiferentismo e superstição entre os leigos. – Dr. Arnold.
__________
15. “Restabelecerá.” Isto é, de sua doença (Atos 9:34). Porém,
a despeito destas palavras, a “extrema unção” é proibida senão em
casos onde não há esperança de recuperar a saúde. Do mesmo modo
que não há necessidade em nossa terra de lavar os pés uns dos outros
(João 13:14) assim também não há conveniência para nós no costume
oriental de usar óleo na cabeça.
As coisas praticadas por Cristo e seus apóstolos são de obrigação
perpétua tão somente quando continuam a ser uteis para os propósitos
perpétuos que são uma necessidade perpétua. – Farrar.
__________
15. A oração da fé é o principal – a unção com óleo é incidental,
uma formalidade simbólica e subordinada. Quão diferente seria o
significado desta passagem se mudasse a ordem e dissesse: “Ungi-lo
com óleo, fazendo oração sobre ele” – A. T. Pierson.
__________
16. A oração e a confissão são mútuas. – Weymouth.
__________
16. Hooker, um católico inglês, disse: “Não era da doutrina e fé da
Igreja de Deus, como é do Papado atualmente – (1) que o único remédio
pelo pecado depois do batismo é a penitência sacramental. (2) Que
confissão auricular é parte essencial dela. (3) Que nem o próprio Deus
pode perdoar pecados sem um sacerdote. (4) Que devido à
necessidade do perdão concedido pelo sacerdote proceder da
confissão do pecador portanto a confissão a ele é de tal necessidade
que, não sendo feita, é excluído o pecador forçosamente de todo o
perdão, esta confissão é exigida e mandada nas Escrituras, embora
subentendida, em todos os lugares onde qualquer promessa de perdão
é feita. Não! Não! Estas opiniões têm o vigor da juventude nas suas
feições; a antiguidade nunca as conheceu, nem com elas sonhou”.
__________
16. O que Tiago quer dizer ´s isto: Se eu praticar uma injustiça
contra um irmão, devo confessar a ofensa. Se ele me ofende, deve por
sua vez confessar sua falta a mim. Se eu tiver ofendido a Deus devo
confessar isto a Deus. Pois bem. A confissão deve ser feita à pessoa
contra a qual a ofensa foi praticada. Às vezes um homem prejudica ou
injuria uma igreja. É réu de uma ofensa tão grave e pública que uma
confissão é devida à igreja. Como bebedice, por exemplo. Porém
suponhamos que eu somente tive pensamentos pecaminosos na minha
mente. Devo confessá-los à igreja? Confessai este mal a Deus, não à
igreja. – Carroll.
__________
16. Confessor estranho! Seu nome é: “Uns aos outros”. Lutero,
citado por D’Aubgné em “A Reforma”.
__________
20. Pecador. Proeminentemente pecaminoso, especialmente
iniquo. – Thayer.
__________
Morto. A morte eterna. – Thayer.
__________
20. Tiago não fala de errar em doutrina. Tiago não discute
doutrina, no sentido dogmático. Errar da verdade consiste em andar
desgarrado de Deus na religião prática. Carroll. Cobrir multidão de
pecados. – Salmo 32 e Romanos 4.
__________
20. “Pecados”. Em a Epístola de Tiago, 5:20, a expressão
parece ser usada a respeito dos pecados de outrem, porém no sentido
de sepultá-los da vista de Deus, apagando-os pelo arrependimento do
pecado. – Lightfoot.
__________
19-20. os “irmãos” deste trecho são os mesmos a quem a Epístola
é endereçada – os irmãos de Tiago “das doze tribos de Israel”, seus
irmãos na “Diáspora”, não em Cristo; seus irmãos perdidos, não salvos;
seus irmãos que jazem na “morte”, não irmãos que gozam a vida eterna;
seus irmãos “pecadores”, irmãos que necessitam de “conversão” para
“salvar suas almas”, irmãos cujos pecados ainda não foram “cobertos”.
Seu “desvio da verdade” é igual ao “erro do seu caminho”. A
verdade é prática, é um caminho de vida, revelado por Deus em Jesus
Cristo. Não se trata de dogma estabelecido por autoridades
eclesiásticas, mas sim, da revelação dada no Velho Testamento e
realizada em Jesus. Estes israelitas todos crêem, intelectualmente, no
Messias prometido aos seus pais. Seu perigo é desviar-se daquele que
é caminho e verdade, não reconhecendo em Jesus o Messias enviado
por Deus, e assim ficar sendo uma Dispersão, desiludida e
desesperada, “as ovelhas perdidas na Casa de Israel”.
A conversão contemplada é que um judeu que é crente ganhe seu
irmão judeu que não é crente, para a fé em Jesus como o Messias.
Os pecados a serem cobertos são daquele que fica convertido a
Jesus pelo esforço de seu irmão que já era crente em Jesus – pecados
do perdido, não do evangelizador. A linguagem é do Velho Testamento,
do ritual levítico, dos sacrifícios pelos quais o pecado do povo foi
expiado. Trata-se, inegavelmente, da remoção do pecado pelo sangue
de expiação derramado pelo sacrifício de Jesus Cristo na cruz, não do
acúmulo de méritos transferíveis dos santos. Tiago finda sua epístola
com a mesma grande ideia evangélica que Paulo cita dos salmos, na
Epístola aos Romanos: “Bem aventurados aqueles cujas iniquidades
são perdoadas, e cujos pecados são cobertos”. – W.C.T.
COMO USAR ESTE LIVRO EM AULAS
__________