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8º Teste Mar Me Quer
8º Teste Mar Me Quer
5 Não sei por que Dona Luarmina chorou, quando lhe contei a história de meu velho. Se
foi ela que me pediu! Eu lhe tinha avisado da tristeza dessa memória, mas ela insistiu. Foi só
por isso que desatei as lembranças.
Meu pai se chamava Agualberto Salvo-Erro. Em tudo ele seria pessoa. Só um senão
atrapalhava sua humanidade: meu velho tinha olhos de tubarão. Não que fossem olhos de
10nascença. Aconteceu-se quando, certa vez, ele saltou do barco para salvar sua amada. Era uma
moça muito nova que ele encontrara em outras terras. Trazia-a sempre no barco, em companhia
das pescas. Fim do dia, antes de trazer o peixe à praia, meu pai encaminhava o barco para além
do horizonte para ir deixar a moça. Quem seria tal rapariga, de onde era? Mistério que ficou e
há de ficar com Agualberto.
15 Nessa tarde, meu pai pescava próximo da nossa praia. O tempo estava encabrinhado 1.
Eu apurava as vistas, tentando espreitar a figura dessa que acompanhava meu pai. Minha mãe
virava as costas ao oceano.
- Já viu o pai, lá?
Minha mãe nada não respondia. Estava ocupada nas lenhas, no fogo, no jantar. Fiquei
20assim na berma da praia, olhando o concho 2 alternando-se com o mar, visão e desaparência. Até
que, de repente, notei um vulto tombando no mar. Era a moça. Meu pai, em aflição, saltou em
socorro dela. Mergulhou na fundura das águas e ficou dentro do mar mais tempo que um peito
autoriza. Saíram os restantes barcos, em salvação. Contaram-se segundos, minutos, lágrimas,
suspiros. Só ao fim do dia, meu velho reapareceu na superfície. Já ninguém esperava que ele
25ressurgisse. Mas, para espantação e reza, meu pai golfinhou-se 3 entre as ondas e gritou como se
o céu inteiro lhe entrasse no peito. O povo clamava:
- Está vivo! Está vivo!
Os pescadores acorreram a recolher o ressurgido companheiro. Festejaram, dançando e
cantando enquanto os barcos se faziam à praia. As mulheres xiculunguelavam 4. Minha mãe
30avançou e se perfilou perante o homem. Que se passaria por detrás daquela aparência dela?
Afinal, essa mulher que meu pai tentara salvar era uma outra, rival e ilegítima. Mesmo assim ela
enfrentou meu velho. Seus olhos subiram do chão até se fixarem no rosto dele. Foi quando ela
gritou, tapando o rosto com as mãos. Os restantes se aproximaram de meu pai e um rumor se
espalhou como nuvem fria.
35 - Os olhos dele!
Sim, os olhos de Agualberto não eram os mesmos. Ninguém conseguia olhar meu pai de
frente. Porque aqueles olhos dele estavam da mesma cor do mar: azuis, de transparência
marinham. Sua humanidade estava lavada a modos de peixe.
Mia Couto, Mar me quer, Lisboa, Caminho, 2000
Vocabulário: mau; 2 barco; 3 apareceu, surgiu; 4 festejavam
Agora, responde às seguintes questões de forma clara e completa.
401. Identifica o narrador, justificando a tua resposta com elementos fornecidos pelo texto.
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504. Explica o sentido das seguintes expressões, referindo o que significa no contexto da história. Fá-lo
por palavras tuas, de modo correto e completo.
a) “Fiquei assim na berma da praia, olhando o concho alternando-se com o mar, visão e
desaparência.” (ll. 16-17)
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605. Atenta na frase: “(…) gritou como se o céu inteiro lhe entrasse no peito.” (ll. 22-23).
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6. Indica e explica como Agualberto Salvo-Erro adquiriu uma característica que o distinguia dos
65outros seres humanos.
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70
Texto B
. L ê a e n tr e v i sta .
Lê a entrevista com atenção.
Tex to B
E n c o n tro e m Á fric a
A p e s a r d e le v a r a s p e r - H o u ve u m m o m e n to d e la s . A i n d a h o j e f u i a l m o ç a r
g u n t a s e s c r it a s , B e a t r iz n ã o e s p e c ífic o e m q u e d e c id iu 75 e p e rg u n te i s e o p ra to n u n c a
c o n s e g u ia d is f a r ç a r o s n e r - s e r e s c r ito r ? m a i s s a ía , o e m p r e g a d o r e s -
v o s . A té o e n tre v is ta d o , o 40 A o s 1 4 a n o s e s c re v i u m p o n d e u - m e q u e já t in h a d it o
5 e s c r ito r m o ç a m b ic a n o M ia p o e m a p a r a o m e u p a i e e le p a r a s e «d e p r e s s a r e m » n a
C o u to , lh e p e r g u n t o u s e e s t a - e n tre g o u -o a u m a s e n h o ra c o z in h a . Es t a p a l a v r a n ã o e xis -
v a b e m . A s s im q u e c o m e ç a - q u e d e c la m a v a p o e s ia . U m 80 te e m p o r tu g u ê s . P e rc e b e m o s
ra m a c o n v e rs a r, o s n e rv o s d ia , e l a d e c i d i u l e r o p o e m a o s i g n i f ic a d o , m a s é u m e r r o .
f o r a m p a s s a n d o e B e a t r iz a t é 45 e m p ú b l i c o . Fiq u e i a t r a p a l h a - À s v e z e s o s e r r o s s ã o b o n it o s
10 s e e s q u e c e u q u e e s ta v a a d o p o rq u e a s p e s s o a s e s ta - e v a l e a p e n a a p r o v e it a r .
fa la r c o m u m d o s e s c r ito r e s v a m t o d a s a o lh a r p a r a m im ,
d e l ín g u a p o r t u g u e s a m a i s m a s n o f im f u i m u it o a p la u d i- Q u al é a sen sação de
im p o r t a n t e s , p u b lic a d o e m d o . N e s s e m o m e n to , p e rc e b i 85 te r liv ro s p u b lic a d o s e m
m a i s d e 2 0 p a ís e s . 50 q u e p o d ia d iz e r a lg u m a c o is a ta n to s p a ís e s ?
às p esso as. É c o m o s e e u tiv e s s e
15 A a v ó m a t e r n a d e B e a t r iz m u it o s filh o s , q u e t iv e s s e m
é v iz in h a d e M ia C o u t o , e m O q u e o in s p iro u a s a íd o d e c a s a , e d e r e p e n t e
M o ç a m b iq u e , p o r is s o , n ã o e s c r e v e r o s e u p r im e ir o 90 e l e s c o m e ç a m a f a l a r e m l ín -
f o i d i f íc i l a g e n d a r o e n c o n t r o . liv r o in fa n til O g a to e o g u a s q u e e u n e m s a b ia q u e
A e n t r e v is t a a c o n t e c e u n o 55 e s c u r o (2 0 0 1 )? e xis t ia m .
20 e s c r it ó r io d o a u t o r. A r e p ó r t e r Es c r e v i- o q u a s e s e m q u e -
fic o u a s a b e r q u e M ia g o s ta r e r. N ã o a c h o q u e u m e s c r it o r É d ifíc il te r id e ia s p a r a
d e t e r u m la d o d e c r ia n ç a . e s c r e v a p a r a c r ia n ç a s , q u a n d o e s c r e v e r u m liv r o ?
T a lv e z s e ja p o r is s o q u e o s e s c r e v e tra n s fo rm a -s e e le 95 É p r e c is o e s t a r a t e n t o a o s
s e u s liv r o s a g r a d a m a ta n ta 60 p r ó p r i o n u m a c r i a n ç a . Es s e o u tr o s , o u v ir o s o u tr o s . A s
25 g e n te . r e g r e s s o à in f â n c ia é q u e f a z p e s s o a s e s t ã o c h e ia s d e h is -
c o m q u e o e s c r ito r t e n h a tó r ia s , a s p e s s o a s s ã o , e la s
M ia C o u to é a lc u n h a v o n t a d e d e c o n t a r h is t ó r ia s . p r ó p r ia s , u m a h is t ó r ia .
o u n o m e v e r d a d e ir o ?
É m e io v e r d a d e ir o , f o i o 65 Com o é qu e consegue 100 Ta m b é m s e s e n te p o r-
n o m e q u e d e i a m im p r ó p r io , i n v e n t a r p a l a v r a s e f a ze r tu g u ê s ?
30 q u a n d o t in h a 2 a n o s . D is s e c o m q u e e la s f iq u e m u m À s v e z e s s in t o q u e s o u
a o s m e u s p a is q u e q u e ir a p o u c o e s q u is ita s ? u m a m is tu r a , u m a e s p é c ie
c h a m a r - m e M ia , p o r c a u s a N ã o in v e n to p a la v ra s . d e m u la t o . D e n a c io n a lid a d e
d o s g a t o s . A p a r t ir d a í f ic o u o 70 D e s c u b r o - a s , o q u e é d if e r e n - 105 s o u m o ç a m b ic a n o , m a s t a m -
m e u n o m e . N o B .I . c h a m o - te . É c o m o s e a s p a la v r a s já b é m te n h o a m in h a p a r te
35 - m e A n t ó n i o Em íl i o L e i t e e s t iv e s s e m lá , e e u s ó t i r a s s e p o rtu g u e s a .
V i s ã o Jú n io r , n .o 8 8
C o u to . a p o e ir a q u e e s tá e m c im a s e te m b ro d e 2 0 1 1
8. Por que motivo o escritor diz que o nome Mia Couto «é meio verdadeiro»?
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80
9. Faz a correspondência.
c. As palavras que usa não são inventadas, 3. tem vontade de contar histórias.
Grupo II
95Não sei por que Dona Luarmina chorou, quando lhe contei a história de meu velho. Se foi ela que me
pediu! Eu lhe tinha avisado da tristeza dessa memória, mas ela insistiu. Foi só por isso que desatei as
lembranças. Meu pai se chamava Agualberto Salvo-Erro. Em tudo ele seria pessoa. Só um senão
atrapalhava sua humanidade: meu velho tinha olhos de tubarão. […]
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105a) Dona Luarmina chorou, quando lhe contei a história do meu velho.
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b) Fim do dia, antes de trazer o peixe à praia, meu pai encaminhava o barco para além do horizonte
para ir deixar a moça.
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c) Mas, para espantação e reza, meu pai golfinhou-se entre as ondas e gritou como se o céu inteiro
lhe entrasse no peito.
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115 Nome:_______________________ Turma_____
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5. Completa cada uma das frases seguintes com a forma adequada do verbo entre parênteses.
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A. Espero que ele _____________ (saber) que tem uma imaginação prodigiosa.
B. Se o Pedro não ___________ (ter) este sonho desde pequeno, não faria tantos sacrifícios.
140C. Ainda que _____________ (haver) pessoas que pensem o contrário, devemos seguir os nossos sonhos.
145 FIM