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GRUPO I

A
Lê o texto.

_ Ó fá bricas, ó laborató rios, ó music-halls, ó Luna-Parks1,


_ Ó couraçados2, ó pontes, ó docas flutuantes –
_ Na minha mente turbulenta e encandescida3
_ Possuo-vos como a uma mulher bela,
5 Completamente vos possuo como a uma mulher bela que nã o se ama,
_ Que se encontra casualmente e se acha interessantíssima.

_ Eh-lá -hô fachadas das grandes lojas!


_ Eh-lá -hô elevadores dos grandes edifícios!
_ Eh-lá -hô recomposiçõ es ministeriais4!
10 Parlamentos, políticas, relatores de orçamentos,
_ Orçamentos falsificados!
_ (Um orçamento é tã o natural como uma á rvore
_ E um parlamento tã o belo como uma borboleta.)

_ Eh-lá o interesse por tudo na vida,


15 Porque tudo é a vida, desde os brilhantes5 nas montras
_ Até à noite ponte misteriosa entre os astros
_ E o mar antigo e solene, lavando as costas
_ E sendo misericordiosamente o mesmo
_ Que era quando Platã o era realmente Platã o
20 Na sua presença real e na sua carne com a alma dentro,
E falava com Aristó teles, que havia de nã o ser discípulo dele.

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Fernando Pessoa, Poesia dos outros eus, edição de Richard Zenith, Lisboa, Assírio & Alvim, 2007, pp. 231 e 232.

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1
«Luna-Parks» – parques de diversã o; 2 navios de guerra; 3 rubra de calor; 4 «recomposiçõ es ministeriais» – alteraçõ es na
composiçã o dos governos por mudanças de ministros; 5 diamantes

1. Identifica os dois recursos expressivos presentes nos dois primeiros versos do texto.

2. Explicita a intençã o da inclusã o da informaçã o presente entre parênteses nos versos 12 e 13: «(Um
orçamento é tã o natural como uma á rvore / E um parlamento tã o belo como uma borboleta.)».

3. Apresenta duas marcas de modernidade que sejam cantadas no poema.


B

Lê o texto.

_ Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo1,


_ De vó s nã o conhecido nem sonhado?
_ Da boca dos pequenos2 sei, contudo,
_ Que o louvor sai à s vezes acabado.
5 Nem me falta na vida honesto estudo,
_ Com longa esperiencia misturado,
_ Nem engenho, que aqui vereis presente,
_ Cousas que juntas se acham raramente3.

_ Pera servir-vos, braço à s armas feito;


1 Pera cantar-vos, mente à s Musas dada;
0 Só me falece4 ser a5 vó s aceito6,
_ De7 quem virtude8 deve ser prezada.

[…]
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Luís de Camõ es, Os Lusíadas, organização de Emanuel Paulo Ramos, X, 154 e 155, 3ª edição,
Porto, Porto Editora, 1987, p. 355.

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1
v. 1 – Camõ es exibe a sua origem social, o povo; 2 «dos pequenos» – de pessoas do povo; 3 vv. 5-8: Camõ es apresenta vá rias
qualidades suas: o conhecimento baseado nos livros, o «estudo», o conhecimento facultado pela «experiê ncia» da vida, o
«engenho», isto é , a capacidade poé tica, «aqui» – em Os Lusíadas – concretizada; 4 «só me falece» – só me falta; 5 por;
6
conhecido; 7 por; 8 a capacidade engenhosa que lhe permitiu construir Os Lusíadas

4. Tem em atençã o o conector de natureza adversativa «contudo» presente no verso 3. Explica a sua
funçã o no contexto em que ocorre.

5. Refere as duas características de natureza biográ fica que Camõ es apresenta na segunda estrofe.

GRUPO II

Lê o texto.

_ A Quinta da Alorna, em Almeirim, era e é ainda hoje uma vastíssima e bela propriedade,
_ uma das melhores do país. Pertencera, até meados do século XIX, aos Marqueses da Fronteira
_ e da Alorna e deles tomara o nome. Adquirira-a por essa altura o Visconde da Junqueira,
_ magnate financeiro1 nobilitado pela monarquia liberal2. Ligado à indú stria dos tabacos, tinha
5 o novel titular3 fortuna suficiente para se substituir, na posse das terras, à velha aristocracia
carregada de títulos4 e aligeirada de bens5. […]
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1
«magnate financeiro» – grande capitalista; 2 «nobilitado pela monarquia liberal» – tornado nobre pelo regime moná rquico
liberal; 3 «novel titular» – novo nobre; 4 «carregada de títulos» – cheia de títulos nobiliá rquicos: condes, marqueses, duques…;
5
«aligeirada de bens» – que tinha perdido os bens, empobrecida
_ Pois foi para a Alorna, menina dos meus olhos – tão grande que eles não puderam reter-lhe
_ por muito tempo a imagem –, que partimos em caravana de automó veis, mandados vir de
_ Lisboa, da Companhia das Carruagens, dona dos coupés usados pela família e agora já de
10 alguns desses novos veículos motorizados que ainda eram luxo de espantar pobres e
_ remediados e até ricos pouco afeitos a tais conquistas do progresso.
_ Levava quatro horas a viagem do Linhó até Almeirim, porque as estradas eram de
_ macadame6 ruim, os automó veis de parca velocidade, diminuída ainda pelos cuidados que
_ exigia o transporte de minha avó , entrevada e dorida. No primeiro carro seguiam a avó , a tia
15 Jesuína, minha madrinha, uma criada, o Carlos Eugénio7 e eu. O automó vel tinha a disposição
_ interior do coupé, a mesma carrosserie escura e dois assentos pequenos, por nó s dois
_ ocupados, em frente do banco traseiro. Portinholas altas, com vidraça de correr na metade
_ superior.
_ No segundo automó vel, gémeo do primeiro, seguiam as duas tias Isabéis, a do Linhó , irmã
20 da nossa avó , e a de Lisboa, filha mais nova desta; e também a Maria, neta da falecida Mãe
_ Carlota8, e outra criada.
_ Marchava lentamente a caravana, pelas estradas esburacadas e cheias de pó . Eu falava
_ todo o tempo e o Carlos Eugénio interrompia-me para me dar conselhos de moderação ou
_ para responder, com o seu saber privilegiado, às perguntas da minha curiosidade. Com o
25 aparelho metálico pesado que dava vida precária à sua perna atrofiada pela paralisia infantil,
_ ele sofria sem um queixume os incó modos da longa viagem e dos solavancos frequentes. A
_ nossa avó , que as tias e as criadas tinham trazido ao colo até ao banco do automó vel donde ao
_ fim das longas horas do trajeto a tirariam, era pouco mais do que um molho de ossos minados
_ pelo reumatismo deformante, e a viagem era para ela uma via de sofrimento suportada com o
30 estoicismo da grande alma escondida em corpo tão minguado. Só eu tagarelava o tempo todo,
_ ante o sorriso benevolente da tia Jesuína e a repreensão delicada do Carlos Eugénio.
_ A viagem fazia-se por Santarém, pois muitos anos ainda haviam de decorrer antes de se
_ cons-truir a ponte de Vila Franca. Ao atravessarmos a velha ponte que liga Santarém à margem
_ esquer-da do Tejo, via-se já, a despontar na terra baixa da lezíria9, escassos quilómetros ao sul, o
35 vulto bran-co do palácio da Alorna, meta da nossa expedição. Passávamos por Almeirim e
_ descíamos pela estrada que leva a Benfica do Ribatejo. À direita abria-se, à nossa espera, o
_ grande portão da quin-ta. Os automóveis percorriam uma estreita alameda, torneavam o jardim
_ cuidado. E paravam, pare-cia que exaustos do esforço singular, em frente aos degraus onde o Dr.
_ Mateus Barbosa, adminis-trador das propriedades desde o tempo da Condessa da Junqueira, a
governanta e toda a criadagem esperavam outra condessa que não tinha nem o saber agronómico
nem a autoridade daquela.
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Joaquim Paço D’Arcos, Memórias da minha vida e do meu tempo, Lisboa, Guimarães, 2013, pp. 81, 83 e 84.

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1
v. 1 – Camõ es exibe a sua origem social, o povo; 2 «dos pequenos» – de pessoas do povo; 3 vv. 5-8: Camõ es apresenta vá rias
qualidades suas: o conhecimento baseado nos livros, o «estudo», o conhecimento facultado pela «experiê ncia» da vida, o
«engenho», isto é , a capacidade poé tica, «aqui» – em Os Lusíadas – concretizada; 4 «só me falece» – só me falta; 5 por;
6
conhecido; 7 por; 8 a capacidade engenhosa que lhe permitiu construir Os Lusíadas

1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1 a 1.5, seleciona a ú nica opçã o que permite obter uma
afirmaçã o correta.
1.1 Os pronomes pessoais presentes em «Pertencera, até meados do século XIX, aos Marqueses da
Fronteira e da Alorna e deles tomara o nome. Adquirira-a por essa altura o Visconde da
Junqueira, » (linhas 2 e 3) sã o mecanismos de construçã o da coesã o
(A) interfrá sica. (B) referencial. (C) lexical. (D) temporal.
1.2 Com a frase «– tã o grande que eles nã o puderam reter-lhe por muito tempo a imagem –,» (linhas
7 e 8) o memorialista pretende,
(A) descrever a imagem da quinta.
(B) reforçar a importâ ncia da quinta.
(C) acentuar a dimensã o da quinta.
(D) especificar a localizaçã o da quinta.

1.3 Para justificar a lentidã o da viagem entre Linhó e Almeirim, o autor apresenta
(A) dois motivos. (C) quatro motivos.
(B) três motivos. (D) um só motivo.

1.4 A expressã o «sorriso benevolente» (linha 30) configura uma


(A) comparaçã o. (C) sinestesia.
(B) hipérbole. (D) personificaçã o.

1.5 O texto termina com uma comparaçã o entre duas condessas cuja funçã o é
(A) descrever a imagem da quinta.
(B) reforçar a importâ ncia da quinta.
(C) acentuar a dimensã o da quinta.
(D) especificar a localizaçã o da quinta.

5. O autor estabelece entre esse tempo e o nosso, uma relaçã o de


(A) engrandecer a segunda.
(B) engrandecer a primeira.
(C) enaltecer a segunda.
(D) diminuir a primeira.

2. Responde, de forma correta, aos itens apresentados.


2.1 Refere o valor aspetual presente no verbo levar no enunciado «Levava quatro horas a viagem
do Linhó até Almeirim» (linha 12).
2.2 Identifica a funçã o sintá tica da expressã o destacada em «Marchava lentamente a caravana»
(linha 21).
2.2 Indica o valor da oraçã o subordinada presente na frase complexa «Passá vamos por Almeirim e
descíamos pela estrada que leva a Benfica do Ribatejo.» (linhas 34 e 35).

GRUPO III
As viagens foram e continuam a ser, hoje, principalmente para os jovens, fontes de conhecimento
importantes.
Redige um texto de opiniã o, no qual comproves esta perspetiva, apresentando, pelo menos, dois
argumentos e respetivos exemplos.
O teu texto deve ter entre 200 e 300 palavras e deve estruturar-se em três partes ló gicas.

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