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O jogo que larga cem participantes de paraquedas numa ilha com o objetivo de se
eliminarem até à vitória final já tem mais de 200 milhões de jogadores. Está classificado
para maiores de 16 anos, mas é jogado por crianças bastante mais novas e algumas
acabam por ultrapassar os limites daquilo que é saudável e por desenvolver sintomas de
dependência.
Durante meses, o filho viveu obcecado. Aos fins de semana acordava às sete da manhã
para jogar e, se ninguém o parasse, lá ficava até às dez da noite. Não queria comer e fazia birra
para ir tomar banho porque não queria sair do computador.
Não falava de mais nada: quem jogava, quem não jogava, como tinha corrido o último
jogo, o miúdo X que tinha conhecido online, o Y que tinha comprado as “skins” que ele também
queria comprar. Na escola, passava os intervalos no YouTube a ver vídeos de outros jogadores.
As notas desceram.
Encontrar alguém disposto a confessar que tem ou teve filhos viciados em Fornite, como
Liliana, é encontrar alguém disposto a dar o corpo às balas. “Admitir o vício dos filhos em jogos
online é ainda um tabu”, defende Ivone Patrão, psicóloga clínica, docente e investigadora no
ISPA – Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida.“O problema não é
alheio a uma certa permissividade dos pais e a poucas regras no uso de dispositivos. Exporem
o vício dos filhos, em certa medida, é exporem que estiveram pouco atentos”, considera a autora,
entre outros, dos livros “Geração Cordão – A geração que não desliga” e “Dependências Online.”
Na investigação que desenvolveu, um dos dados diz respeito à idade com a qual, hoje, as
crianças começam a navegar online sem supervisão parental, oito anos.
“O Fortnite é um jogo para maiores de 16 anos, será que os pais sabem isso?” questiona
Ivone Pavão. A verdade é esta: o Fortnite, como todos os outros videojogos, é pensado para
viciar. Mas o fenómeno também não pode ser olhado apenas à luz das características e
mecânicas do jogo em si. A explicação para a adesão massiva que o jogo tem tido, defende a
psicóloga Ivone Patrão, deve ser enquadrada com outros dados independentes do jogo,
nomeadamente os estilos parentais mais permissivos e o uso das tecnologias como forma de
manter as crianças entretidas em casa.
Como muitos pais, Liliana Silva sente-se esmagada pela corrente diária: o trabalho, os
transportes, a casa, os compromissos. “Saio de casa às sete da manhã e só regresso às sete da
noite. Com esta vida acabamos por não perceber de imediato certas coisas.” No seu caso, só
percebeu verdadeiramente o que se passava quando começam a surgir sinais de alarme em
Afonso, como não comer, não tomar banho e a descida das notas. Apesar disso, admite que
antes houve outros sinais, menos expressivos, mas evidentes: não querer sair de casa para ir
jogar à bola, faltar a festas de amigos para ficar a jogar e o próprio comportamento que exibia
durante as sessões contínuas do jogo. “Vivia aquilo muito intensamente, sofria, ficava ansioso,
transpirava e cheguei a apanhá-lo a chorar quando os jogos não corriam como queria. Perdia
completamente a noção de tudo e parecia que estava noutro mundo, diferente do nosso”, relata
a mãe.
2.3 Ambas as mães que testemunha, as atitudes e os comportamentos dos filhos revelam
a) Despreocupação face às mesmas.
b) Incompreensão perante as mesmas.
c) Entusiasmo quanto às mesmas.
d) Indiferença em relação às mesmas.