Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Este livro é a história de uma nação cuja igreja esqueceu seu cham ado
principal e descobriu sua falha tarde demais.
Vida
www.editoravida.com.br Categoria: História da igreja
Vida
S u p e r v is ã o d e p r o d u ç ã o
S a n d r a L e it e
Editora filiad a a
G e r ê n c ia f in a n c e ir a
C âm ara B r a s il e ir a do L iv r o
S é r g io L im a
A ss o c ia ç ã o B r a s ii .kira
de E d it o r e s C r is t ã o s G e rê n c ia de c o m u n ic a ç ã o e m a r k e t i
A s s o c ia ç ã o N a c io n a l S é r g io P ava rin i
de L iv r a r ia s
G e r ê n c ia e d i t o r ia l
A ss o c ia ç ã o N a c io n a l d e
L iv r a r ia s E v a n g é l ic a s F a b ia n i M e d e ir o s
A s s o c ia ç ã o B r a s il e ir a
S u p e r v is ã o e d i t o r ia l
de M a r k e t in g D ir e t o
A ld o M en ezes
Editorias
BÍBLIAS
Pelo m esm o a u to r
■
V encendo a lu ta in terio r
(B e t â n ia )
A prenda a v iv e r b em co m D eus
e com seu s im pulsos sexuais
(Betânia) ©1995, de Erwin W. Lutzer
Título do original ® H itler’s cross
C risto en tre ou tros d euses (c p a d ) edição publicada pela
A serp ern te d o P araíso (Vida) M oody P r e ss
(Illinois, Chicago, eua)
7 razões p a r a co n fia r na B íblia
■
(Vida)
Todos os direitos em língua p ortuguesa reservados p o r
D e P astor p a r a p a sto r (Vida)
E d i t o r a V id a
Um m in u to d ep ois d a m orte
Rua Júlio de Castilhos, 280 © Belenzinho
(Vida) cep 03059-000 » São Paulo, SP
10 m en tira s sob re D eus (Vida) Telefax 0 xx 11 6096 6814
www.editoravida.com.br
■
P r o ib id a a r e p r o d u ç ã o p o r q u a is q u e r m e io s ,
sa lv o e m b r e v e s c it a ç õ e s , c o m in d ic a ç ã o d a f o n t e .
Lutzer, E rw in W . -
A cruz de /Hitler: com o a cruz de C risto foi usada para prom over a ideolo gia
nazista / Erw in W . Lutzer; tradução Jam es M onteiro dos R eis.— São Paulo : E ditora
V ida, 20 0 3 .
792 ______________________________________c d d - 2 6 1 . 7 0 9 4 3
Prefácio 9
Introdução 13
1. A espera de Hider 17
2. Deus e Hider: quem estava no comando? 45
3. A religião do Terceiro Reich, ontem e hoje 71
4. O anti-semitismo do Terceiro Reich 97
5. A igreja é ludibriada 127
6. A igreja é dividida 153
7. A igreja é desmembrada 177
8. Heroísmo no TerceiroReich 197
9. O discipulado no Terceiro Reich 217
10. O encobrimento da cruz em nações cristãs 239
Prefácio
C A P I T U L O UM
'William L. Sh irer, The rise and fa li ofthe Tbird Reich, New York: Simon &
Schuster, 1960, p. 48.
À espera de H itler 19
OS PRIMEIROS MILAGRES j
As informações sobre Hitler enumeravam realizações tão espanto
sas, que muitos cristãos o viam como resposta às suas orações. Con
taram-me que alguns cristãos — sim, eu disse cristãos — substituíram
na parede de suas casas a imagem de Cristo por um retrato de Hitler.
Winston Churchill fez uma análise de Hitler em 1937, e disse que
seus feitos estavam “entre os mais notáveis de toda a história do
mundo”. Eis uma lista parcial do que ele conseguiu realizar, sem os
obstáculos inerentes à democracia:
1. Restaurou a economia falida em menos de cinco anos.
20 A cruz de H itler
*American Civil Liberties Union é a associação de defesa dos direitos civis nos
EUA. (N. do T.)
À espera de H itler 23
*“Venhao teu Reino; seja feita a tua vontade” (M t6.9). (N. doT.)
À espera de H itler 25
argumentava, não deveria ser ju lga d o pelas leis comuns, porq u e suas
responsabilidades iam além dos valores hum anos comuns.
Essa dicotomia — que alguns dizem remontaria à época de
Lutero, que insistia com os camponeses para que obedecessem a
seus líderes, a despeito de quão tirânicos pudessem ser — era
ensinada nas igrejas alemãs. O ensinamento de Paulo de que
devemos nos sujeitar às autoridades políticas era priorizado
(Rm 13.1,2). As leis do Estado deviam ser obedecidas, sem que
fosse requisitado um raciocínio moral do que fora ordenando
fazer. Como disse Bismarck: “Creio obedecer a Deus quando sirvo
meu rei”. O elevado comprometimento com a honra nacional era
dever sagrado.
Os que participaram nas atrocidades do Terceiro Reich apelavam
com freqüência a essa particularidade para defender suas ações.
Quando lhes era perguntado como podiam reconciliar sua brutali
dade com seus valores humanísticos, muitas vezes respondiam:
“Bem, isso é a guerra, e devemos cumprir nosso dever por mais
duro que seja”. Nas palavras do famoso Eichmann: “Eu tinha de
obedecer às leis do meu país e à minha bandeira”.
Bismarck concordava com seu antecessor prussiano, Frederico,
o Grande, que certa vez se gabou: “A salvação é um assunto que
pertence a Deus; todo o resto pertence a mim!”. Esse padrão moral,
com dois pesos e duas medidas, ficou conhecido por as “duas esfe
ras”; assunto ao qual retornaremos quando examinarmos o papel
da igreja na Alemanha nazista. Essa doutrina ainda pode ser verificada
entre os políticos da atualidade, que dizem se opor pessoalmente
ao aborto e à imposição dos direitos dos gays sobre a sociedade,
mas que nao acreditam que sua opinião pessoal deva influenciar sua
atuação na vida pública.
Sob a batuta de Bismarck, formou-se o Reichstag (Parlamento).
Bismarck foi nomeado primeiro-ministro e, mais tarde, chanceler.
Apesar de uma nova constituição ter sido escrita, o Parlamento, na
prática, não possuía nenhum poder, restringindo-se apenas ao debate
de questões políticas. Bismarck e o Kaiser partilhavam o desprezo
À espera de H itler 29
I I
----------------------------- ■ .........................................
O que é ensinado hoje nas aulas de fi
losofia, torna-se a crença do homem
comum de amanhã.
0 TERCEIRO REICH
Considerando o legado militarista — a exaltação do Estado acima
da moral comum — podemos perceber que a Alemanha aguardava
um ditador que a erguesse de sua humilhação. Assim seria importan
te rastrear as raízes da árvore que produziu um fruto tão amargo.
Raízes filosóficas
Algumas pessoas imaginam que os filósofos se sentam em torres de
marfim, onde ficam devaneando por teorias que pouco têm que
ver com a vida do cidadão comum e trabalhador. Porém, na verdade,
os filósofos têm, com freqüência, comandado países inteiros (Karl
Marx é apenas um exemplo). O que é ensinado hoje nas aulas de
filosofia, torna-se a crença do homem comum de amanhã.
À espera de H itler 31
3Citação extraída da obra de S hirer, The rise andfa ll o f the Third Reich, p. 98.
32 A cruz de H itle r
4Frau Forester N IET Z SC H E , The life o f Nietzsche, New York: Sturgis & Walton,
19 2 1, vol. 2, p. 656.
5The gay science, in: Theportable Nietzsche, Walter Kaufman (org.), New York:
Viking, 1954, p. 125.
À espera de H itler 33
('A shattered visage, Brentwood, Tenn.: Wolgemuth & Hyatt, 1990, p. 22.
34 A cruz de H itle r
l,£ ,
------------------------------------------------------------ J - . -----------------------------------------------------------
Raízes teológicas
A Alemanha foi (e ainda é) um manancial da erudição liberal que
tenta privar o cristianismo de seu caráter único. Um influente teó
logo chamado Ludwig Feuerbach teria concordado com os parti
dários da Nova Era da atualidade de que a doutrina de Deus deveria
ser mais adequadamente interpretada como a doutrina do homem.
A encarnação, afirmava, nos ensina que o Ser que era adorado como
sThedoctor and the soul: introduction to logotherapy, New York: Knopf, 1982,
p. xxi; citada na obra de Ravi Zacharias, Pode o homem viver sem Deus? (São Paulo:
Mundo Cristão, 1997), p. 51.
36 A cruz de H itler
Raízes políticas
A Alemanha estava extremamente atormentada por sua derrota e
humilhação após a Primeira Guerra Mundial. O caos político
grassava pelas principais cidades. Em Munique, o partido comunis
ta, encorajado pela bem-sucedida revolução na Rússia em 1918,
tentava tomar o poder. Organizações políticas, tanto de esquerda
quanto de direita, eram criadas. Em Berlim, os distúrbios e a insta
bilidade social forçaram o Parlamento a deixar o Reichstag e mu
dar-se para o Teatro Nacional em Weimar, a fim de formar um
novo governo baseado em princípios e ideais democráticos.
Assim, em 9 de novembro de 1918, foi proclamada a República.
Após seis meses de debates, uma Constituição foi adotada que, pelo
menos no papel, parecia ser capaz de produzir uma democracia está
vel. Ela incorporava idéias da Inglaterra, da França e dos e u a . O povo
foi declarado soberano, e a Constituição afirmava: “... todos os ale
mães são iguais perante a lei”. Uma frase significativa— “Para o povo
alemão” — foi entalhada no Reichstag, onde pode ser vista até hoje.
O esforço democrático poderia ter sido bem-sucedido, não fosse
o Tratado de Versalhes, que havia sido elaborado pelos Aliados. Ele
devolveu a Alsácia e a Lorena à França, bem como os territórios que
Bismarck havia conquistado da Bélgica, da Dinamarca e da Polônia.
Além disso, a Alemanha teve de pagar indenizações de guerra no
montante de 132 bilhões de marcos, ou cerca de 33 bilhões de dóla
res, uma soma impossível de ser paga.
O tratado realmente desarmou a Alemanha. Limitou o exército
a 100 mil homens e proibiu a nação de possuir tanques ou aviões.
A marinha foi reduzida a uma força praticamente simbólica. As
sim, como último ato de humilhação, a Alemanha concordou em
assumir a responsabilidade por ter começado a guerra; e o tratado
exigia que o Kaiser Guilherme li fosse entregue aos Aliados, junta
mente com outros 800 criminosos de guerra.
A Inglaterra avisou que se a Alemanha não assinasse o tratado,
iniciaria um bloqueio em torno do país, o que, na realidade, levaria
(>salemães a ceder pela fome. Os Aliados insistiram em uma resposta
38 A cruz de H itler
Raízes econômicas
A República, a despeito de suas boas intenções, era agora culpada
por ter aceitado os termos injustos do Tratado e pela crise econô
mica que se seguiu. O dinheiro alemão, que já tivera a cotação,
em certa época, de 4 marcos por dólar, caiu para 75 marcos por
dólar, e depois para 400. Em 1923, a taxa de câmbio era de 7 000
marcos por dólar. Quando a Alemanha deixou de cumprir o pa
gamento pelas indenizações de guerra, o presidente francês orde
nou que suas tropas ocupassem a região do Ruhr. Dessa forma, o
coração industrial da Alemanha foi separado do resto do país.
Esse ato desencadeou o estrangulamento final da economia ale
mã, já sufocada. Imediatamente após a ação da França, em janeiro
de 1923, a cotação despencou para 18 000 marcos por dólar, e em
novembro eram necessários 4 bilhões de marcos para comprar um
dólar. Na realidade, o marco havia sido eliminado.
Há uma história, talvez fictícia, de que uma mulher encheu seu
carrinho de mão com marcos alemães, e o deixou do lado de fora
da loja, certa de que n in gu ém se interessaria em roubar o dinheiro.
De fato, no momento de pagar pelas mercadorias, ela saiu e desco
briu que os pacotes de dinheiro haviam ficado pelo chão, mas o car
rinho de mão fora levado! Podemos achar essa história engraçada,
mas os alemães não achavam nenhuma graça nisso. Suas economias
À espera de H itler 39
4«
Raízes constitucionais
Uma mulher que sobreviveu à era nazista me disse: “Meus pais
votaram nele porque a situação estava tão ruim que eles não acredi
tavam que pudesse piorar”. “Eles ponderavam: Por que não lhe dar
uma chance?”. Milhões de alemães concordavam com esse modo
de pensar. E dessa forma, os nazistas surgiram em julho de 1932
como o maior partido alemão, mas sem maioria no congresso. Uma
segunda eleição aconteceu no m esm o ano, porém, devido ao mau
temperamento, os nazistas foram derrotados nessas votações, em
bora ainda representassem o maior número de votos unitários. Os
especialistas vaticinavam que os nazistas já haviam deixado para trás
seu apogeu.
No entanto, o desemprego ainda era alto, e os comunistas uma
ameaça. Existiam diversos partidos, e nenhum tinha a maioria; o
governo estava paralisado. Em desespero, Hindenburg nomeou
À espera de H itler 41
CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS
De modo geral, os alemães ofereceram pouca resistência ao totali
tarismo. Falarei mais sobre a apatia geral da nação quando analisar
mos como Hitler assumiu o controle da igreja. Por enquanto,
leremos o que Gerald Suster escreveu:
Muitas pessoas receberam com prazer a abolição da responsa
bilidade individual por suas ações; para alguns é mais fácil
obedecer que aceitar os riscos da liberdade. Os trabalhadores
L íl,
------------------------------- g p , ------------------------------
Ele [Hitler] tomaria a cruz de Cristo
[...] e a substituiria pela cruz gamada,
que tinha o poder de, novamente,
tornar a Alemanha grandiosa.
\
Deus e Hitler: quem
estava no comando?
2W illia m L. S h ir e r , The rise and fa li ofthe Third Reich, New York: S im o n &
Schuster, 1960, p. 349.
3Ronald L ewin, Hitler s mistakes, New York, Quill: W illiam Morrow, 1948,
p. 15-6.
Deus e Hitler: quem estava no com ando? 47
OS MILAGRES DA PROVIDÊNCIA
Em diversas ocasiões, Hitler deveria ter sido morto; em outros
momentos caiu tão completamente em desgraça que deveria ter
sido proscrito e não adorado como o “F ührer'. Ao examinar sua
vida, você ficará impressionado com o número de vezes em que
somente a providência poderia explicar sua extraordinária carreira.
Seu nascimento
Hitler nasceu em Braunau, Áustria, às 18h30 de 20 de abril de
1889. Era um local de nascimento improvável para um camponês
que acabaria por ser adorado por milhões de alemães que, por natu
reza, eram comedidos e sisudos. Mesmo aqui, percebemos a virada
do destino que decretou que ele sobrevivesse à infância e vivesse
para ter um nome curto e memorável.
50 A cruz de Hitler
6P. 8.
Deus e H itler: quem estava no com ando? 51
0 Putsch
A revolução comunista na Rússia ocorreu em 1918 — no mesmo
ano em que a Alemanha se rendeu, pondo fim à Primeira Guerra
Mundial. O partido comunista na Alemanha estava se fortalecen
do, e preparava-se para tomar o poder. Os soldados que haviam
voltado da guerra eram homens revoltados que não conseguiam
encontrar trabalho; Hitler, posteriormente, os descreveu como ho
mens que apoiavam a revolução para o próprio proveito e “deseja
vam que a revolução se tornasse uma situação permanente”. Já
tivemos a oportunidade de verificar que o governo democrático
organizado em Weimar era desprezado.
Quando Hitler retornou à cidade de Munique, que adotara,
conseguiu emprego no escritório de imprensa e notícias, do departa
mento político do comando distrital do exército. Pediram-lhe que
Deus e H itler: quem estava no com ando? 53
7Ibid., p. 7 7 .
56 A cruz de H itler
As tentativas de assassinato
Em 1944, o destino havia protegido Hitler de pelo menos meia
dúzia de tentativas de assassinato. Uma delas fracassou quando uma
bomba relógio, colocada em seu aviao, não ex plodiu; quando o
mecanismo foi posteriormente examinado, não foi achada nenhu
ma razão para que a bomba não tivesse detonado.
Desapontados, os conspiradores concluíram que não poderiam
falhar na tentativa seguinte. O coronel Gersforff concordou em
participar de uma missão suicida. Esconderia duas bombas em seu
sobretudo, dispararia as espoletas e ficaria o mais próximo possível
sIbid„ p. 1056.
9Ibid., p. 1069
“ Robert G. "Waite,A dolfHitler, the psychopathic god, New York: Basic Books,
19 77, p. 17.
60 A cruz de H itler
-------------------------- -- - ^ j -----------------------------
__________________— __________________
A história da Alemanha nazista é, na
verdade, a história do combate entre
dois salvadores e duas cruzes.
70 A cruz de H itler
'Robert G. W aite, AdolfHitler, the psychopathic god, New York: Basic Books,
1977, p. 2 61.
2Dusty S klar , Gods and beasts-, the nazis and the occult, New York: Dorset,
1977, p. 23.
A re lig iã o do T erceiro Reich- ontem e hoje 73
0 NOVO MESSIAS
“Sigam a Hitler! Ele dançará, mas fui eu que ditei o ritmo! Eu o
introduzi na ‘Doutrina Secreta, abri seus centros de visão e lhe ensi
nei os meios de comunicação com os Poderes. Não lamentem a mi
nha morte: eu influenciei a história mais do que qualquer alemão.”4
Assim falou Dietrich Eckart em seu leito de morte, em 1923.
Eckart foi um dos sete fundadores do partido nazista e um
satanista dedicado, completamente envolvido com a magia negra
e a sociedade ocultistaThule. Eckart procurara um discípulo, al
guém a quem pudesse ensinar sobre as forças espirituais, alguém
que pudesse levar a Alemanha ao vertiginoso ápice da conquista
do mundo. Ele afirmava ter recebido a “anunciação satânica” em
diversas sessões espíritas, de que estava destinado a preparar aque
le que receberia o anticristo, o homem que inspiraria o mundo e
3W illiam L. Sh irer, The rise and fa li ofthe ThirdReich, New York: Simon &
Schuster, 1960, p. 44.
4Trevor R avenscroft, Thespearofdestiny, York Beach, Maine: Weiser, 19 8 2 , p. 9 1 .
74 A cruz de H itler
5Ibid., p. 92.
6Ibid„ p. 176.
A relig iã o do T e rceiro Reich: ontem e hoje 75
9Ibid., p. 29.
A re lig iã o do Terceiro Reich: ontem e hoje 77
para nós que vivemos na época em que essas mesmas idéias florescem
em n osso país, ainda que de forma distinta.
A RELIGIÃO DO NAZISMO
Examinemos esses ensinamentos de forma mais detalhada. Quais
eram as doutrinas da nova religião de Hitler? Elas são similares a
outros pensamentos antigos e contemporâneos.
 transformação da consciência
Na Biblioteca Hofburg, em Viena, existe uma lança que muitos
acreditam ter sido utilizada para perfurar o lado de Cristo. Certo
dia, quando Hitler tinha pouco mais de vinte anos, ouviu por aca
so um guia de turismo apontar para a lança e dizer para seu grupo:
“Esta lança está envolvida em um mistério; aquele que desvendar
seus segredos dominará o mundo”. Mais tarde, Hitler disse que
aquelas palavras mudaram toda a sua vida.
Hitler logo descobriria que muitas outras lanças disputavam a
duvidosa honra de ter sido utilizada para golpear o lado de Jesus.
Mesmo assim, ele se convenceu de que aquela que estava na Biblio
teca Hofburg possuía poderes espantosos, tanto para o bem como
para o mal. Observou que todas as vezes que os reis ou imperadores
a detinham, eram vitoriosos; quando perdiam sua posse, falhavam
na batalha. Em pé, perante a lança, Hitler fez um juramento
irrevogável de seguir Satanás.
Hitler ficou observando aquele objeto durante horas, convidan
do seus poderes ocultos a invadir sua alma. Acreditava que aquela
arma ancestral era uma ponte entre o mundo material e o espiritu
al. Ele tinha a sensação de tê-la segurado em suas mãos em uma
época anterior.
Walter Stein, que era amigo de Hitler naqueles dias, disse que
ele ficou em pé perante a lança,
Como um homem em transe, como alguém que tivesse sido
vitima de um feitiço [...] até mesmo o espaço ao seu redor
80 A cruz de H itler
14Ibid., p. 3.
82 A cru z de H itler
não terá a capacidade de fazer o que fàz, sem o póder que foi
“dado a ele”.
Muitas pessoas que desprezam Hitler hoje em dia, que se orgu
lham de condenar o nazismo, estão na verdade abraçando as mes
mas doutrinas que tornaram o nazismo a poderosa força mundial.
Leitores perspicazes perceberão que o que é hoje popularmente cha
mado movimento Nova Era é, na verdade, o antigo ocultismo; ou
poderíamos chamar doutrinas espirituais do nazismo, com uma
amigável fachada.
Evidentemente, nem todos os que abraçam as doutrinas da trans
formação pessoal se tornam tão perversos quanto Hitler. Aliás, uma
pessoa poderia experimentar uma melhora pessoal, sentir-se mais
completa, mais consciente de si mesma e mais confiante no futuro.
Satanás age de formas distintas com pessoas diferentes. Se você es
tiver em busca de paz, ele tentará dá-la; se você precisa de um con
selho, ele fará o melhor que puder para prever o futuro e lhe dar
informações secretas por meio das estrelas ou de uma cartomante.
Se você precisa de autoconfiança ou mesmo de um milagre, ele
tentará fazê-lo também. No caso de Hitler, ele precisava de poder
para governar, e Satanás o disponibilizou.
A Bíblia proíbe qualquer tipo de contato com o mundo dos espíri
tos por uma boa razão: os demônios se disfarçam de anjos de luz, na
tentativa de enganar tantos quantos puderem. E claro que existem
“mestres”, ou inteligências não-humanas, na expectativa de uma opor
tunidade de entrar em contato com seres humanos. Viabilizar essa trans
formação de consciência é exatamente o que o maligno deseja.
Hitler confidenciou aos que lhe eram próximos que ele estava
sob as ordens de seres superiores, em uma missão especial. “Eu vou
lhe contar um segredo”, disse a Rauschning, “estou fundando uma
ordem [...] o Homem-Deus, aquela esplêndida entidade será obje
to de adoração [...] Porém, existem outros estágios sobre os quais
não posso falar”.18 Podemos apenas especular sobre quem o proi
bia de revelar mais detalhes.
Após ler o ignominioso livro de seu amigo Alfred Rosenberg,
intitulado The m yth o fth e tw entieth Century [O m ito do século xx\,
Hitler declarou: “A criação ainda não chegou ao fim. O homem
está se tornando Deus [...] o homem é deus em formação”.19 Joseph
Goebbels, ministro da propaganda nazista, revela o efeito hipnóti
co que Hitler exerceu sobre ele na primeira vez que se encontraram:
Ele é o instrumento criador do destino e da divindade. Eu
tremo profundamente quando estou ao seu lado [...] eu o re
conheço como meu líder [...] ele é tão profundo e místico como
um profeta da Antiguidade. Com um homem como esse é
possível conquistar o mundo [...] as minhas dúvidas desapare
cem [...] a Alemanha viverá! H e il Hitler!20
Em 1941, o historiador Benoist-Mechin conheceu Hitler e de
clarou espantado: “Seus olhos sao tão estranhos, que a princípio era
tudo o que eu conseguia ver [...] [Ele] tinha uma forma de olhar
para você, que fazia com que sentisse que algo o atraía para ele [...]
você sentia um tipo de vertigem”.21 Milhões de pessoas que o te
miam, ainda assim o admiravam e adoravam.
Assista a alguns documentários sobre Hitler, e verá que a adora
ção das multidões é espantosa. Se o cumprimento “Heil!” foi em
prestado da irmandade secreta de List, a conhecida saudação nazista
I8Gerald S uster, Hitler. the ocult messiah, New York: St. Martins, 1981, p. 7 7 .
19Apud H unt , Peace, prosperity and the coming Holocaust, p. 141.
“ R avenscroft , Spear ofdestiny, p. 188.
21H u n t , Peace, prosperity and the coming Holocaust, p. 1 3 1 .
86 A cruz de H itle r
l r'
Visão global
O que impulsionou Hitler ao poder? A quebra do mercado de
ações de 1929, que provocou as dificuldades econômicas na Ale
manha, foi o agente catalisador. Contudo, sem o desejo de con
quistar o mundo, que ardia em seu peito, o Terceiro R eich jamais
teria acontecido. Ele acreditava que daria início ao Reich, ou impé
rio, de mil anos, que com o tempo se espalharia por todo o mun
do. Uma vez que homens como Karl Haushofer concordavam
com o mito de que os alemães (arianos) pertenciam a uma raça
superior, a nação tinha todo o direito de estender seu império e
dominar o mundo.
Hitler teve a capacidade de acender a faísca do otimismo em
uma nação devastada. Milhões de pessoas foram cativadas pela grande
idéia de um líder, com um plano para tirar a Alemanha de seu
88 A cruz de H itle r
Adolf Hitler deixando uma igreja em 1931. Dois anos mais tarde Hitler
tornou-se chanceler e agiu para controlar as igrejas alemãs. Ele até
distribuiu esta foto, como parte de seus esforços para obter apoio.
A relig ião do T e rce iro Reich: ontem e hoje 93
UM ALERTA À IGREJA
A partir de meus estudos, cheguei à conclusão de que a igreja na
Alemanha estava muito preocupada com os problemas nacionais,
para enxergar o que acontecia diante de seus olhos. A religião do
sangue e do solo havia substituído a religião da humildade e da
oração. Apesar de estar sobrecarregada com o desemprego e as
adversidades materiais de seu povo já abatido, a igreja, em sua
94 A cruz de H itler
“Eu não considero os judeus animais, pois eles estão tão distantes
dos animais como os animais estão dos humanos [...] Por conse
guinte, não é um crime exterminá-los, visto que eles não perten
cem à raça humana.”1
Dessa forma, Adolf Hitler criou as novas leis que despojariam os
judeus de sua condição de seres humanos. Essa declaração de que eles
eram inferiores aos animais foi o aval que Heinrich Himmler neces
sitava para utilizar a ss para exterminá-los. As tropas da ss, portanto,
passaram a ter liberdade para matar sem infringir nenhuma lei; ou
seja, estavam livres para exterminar, sem cometer assassinato. Nin
guém seria julgado por envenenar parasitas, pois toda a imundice da
terra devia ser removida para que ela pudesse ser povoada por quem
possui sangue humano nas veias.
Com esse truque verbal, o homem que matava crianças de fome
dizendo que as estava “pondo sob uma dieta de baixas calorias” assas
sinava agora judeus e chamava essa matança “limpeza da terra poluí
da”. O mesmo acontece no caso dos defensores do aborto, que cha
mam o feto de “produto da concepção”, em que a linguagem é mali
ciosamente manipulada por quem deseja dessensibilizar a consciência
e promover os valores humanistas. Se dissermos que o mal é bom,
então ele se torna bom — pergunte a Adolf Hitler!
2Ibid., p. 29-30.
0 anti-sem itism o do Terceiro Reich 99
3Citação extraída da obra de Kevin A brams, The Lambda Report, Aug. 1994, p. 8.
102 A cruz de H itler
4Ibid., p. 9.
104 A cruz de H itler
O CRISTIANISMO E O JUDAÍSMO
Venha comigo à cidade alemã de Wittenberg, que ficou famosa
devido a Martinho Lutero, o reformador. Ao entrar na cidade, ve
mos a imponente igreja do castelo, onde Lutero pregou suas 95
teses. Ele está sepultado logo abaixo do púlpito, no interior da igre
ja, a cerca de quatro metros e meio de seu amigo, Melâncton.
Quando atravessamos a praça central, chegamos à igreja da cidade
onde Lutero pregava o Evangelho para o povo comum de Wittenberg.
Contudo, se você der a volta, até a parte posterior da igreja, e voltar
seus olhos para o ponto onde o telhado se encontra com a parede,
verá a imagem de um porco em relevo; uma escultura com aproxi
madamente um metro de comprimento por meio metro de altura.
Esse porco, segundo o que aprendi enquanto liderava um grupo
em uma excursão pelos locais da Reforma, é um judensau (um “por
co judeu”) feito para irritar os judeus e comemorar sua expulsão de
Wittenberg em 1305. Há uma inscrição em hebraico na qual se lê:
Rabine Schem Ha M phoras* [sic] que significa “Grande é o nome
daquele que é bendito”. Essa frase era usada pelos judeus para se
referir a Deus, uma vez que acreditavam que o nome divino não
deveria ser pronunciado. Agora, essas palavras são usadas para se
referir a eles com sarcasmo, pois os vinculam depreciativamente a
um porco, o mais profano dos animais, de acordo com os judeus!
Nosso grupo de turismo olhou para cima com desgosto, pois
não concebiam como um símbolo de ódio como aquele fora colo
cado em uma igreja cristã. Nossa tristeza arrefeceu um pouco, quan
do notamos um memorial no chão, datado de 1988, que era, na
verdade, uma retratação pelo que acontecera muitos anos atrás. Uma
cruz repousa contra um fundo preto, para relembrar o triste fato de
que milhões de judeus sofreram sob a cruz que deveria ser símbolo
de perdão e reconciliação. Sua tradução é a seguinte:
O difamado “Schem Ha Mphoras”,
O verdadeiro nome de Deus
Que, mesmo antes do aparecimento do cristianismo,
Os judeus já consideravam indizivelmente sagrado.
Sob o símbolo da cruz,
Este nome morreu com seis milhões de judeus,
Que o carregavam em seu íntimo.
Em Salmos 130.1 podemos ler: “Das profundezas clamo a ti,
S e n h o r ” . E assim, cinqüenta anos após a K ristallnacht (N oite dos
Cristais, assim denominada devido aos vidros estilhaçados, quando
os estabelecimentos comerciais dos judeus foram saqueados por
toda a Alemanha), a igreja humildemente reconheceu que pecou,
ao ridicularizar e perseguir os judeus.
E o que dizer de Lutero? William Shirer, no clássico The rise
a n d fa li o f tbe T hird R eich [Ascensão e queda do Terceiro Reicb\,
denomina o grande reformador um “extremado anti-semita”.
Lutero chamava os judeus de “venenosos”, “vermes amargos” e
“gentalha repugnante”. Em 1543, já próximo da morte, escreveu
três panfletos contra os judeus. Durante quatro séculos, suas pa
lavras foram muitas vezes citadas por judeus para comprovar que
106 A cruz de H itler
0 JUDAÍSMO E 0 NAZISMO
Com o nazismo, o ódio pelos judeus adquiriu novos contornos.
Em vez da perseguição religiosa, surgiu uma nova perseguição,
110 A cru z de H itler
ra Guerra Mundial. O Kaiser lhe disse: “Foi Deus quem enviou seu
livro para o povo alemão e você, em pessoa, para mim”.8
Chamberlain relatou que era guiado por demônios e que a maio
ria de seus textos eram feitos quando estava em transe. Dizia que
nunca sabia quando seu corpo seria tomado pelos espíritos que o
guiavam em seu trabalho. Em alguns momentos tornava-se mé
dium e se comunicava com os mortos, de quem recebia mensa
gens. Aparentemente, não percebia que essas entidades não eram
humanas; e como todos os médiuns, estava em contato com espí
ritos malignos que fingiam ser pessoas falecidas.
Quando a Alemanha foi derrotada na Primeira Guerra Mundial,
Chamberlain ficou pasmado e amargamente desapontado. Afinal,
"Ibid.
112 A cruz de H itler
9I b i d . , p . 1 4 7 .
0 anti-sem itism o do Terceiro R eich 113
0 treinamento da ss
Se existiu alguém mais fascinado pelo hinduísmo que Hitler, essa
pessoa era Heinrich Himmler, o líder das temíveis SS. Ele se comu
nicava regularmente com personalidades do passado e afirmava ser
114 A cruz de H itler
10Dusty Sklar, Gods and beasts: the Nazis and the occult, New York: Dorset,
1977, p. 91.
0 anti-sem itism o do Terceiro Reich 115
" Ib id ., p. 151-3.
116 A cruz de H itler
12The holocaust and the crisis ofhuman behavior, New York: Holmes & Meier,
1 9 8 0 , p. 70 .
0 anti-sem itism o do Terceiro R eich 117
O JUDAÍSMO E O ANTICRISTO
A “Solução Final” de Hitler não foi definitiva. Deus preservou um
remanescente de judeus, estabeleceu Israel como Estado e, hoje,
chama muitos judeus para a fé em Jesus, o Messias do seu povo.
No final, comprovaremos que nenhuma só palavra dita pelos pro
fetas será negligenciada. Seus escolhidos ainda florescerão.
Porém, outro Holocausto está por vir.
Que motivos sinistros se escondem por trás do ódio de Hitler
pelos judeus? Em Apocalipse 12, o mistério do porquê de Jesus
0 JUDAÍSMO E CRISTO
Quando as nações da terra tiverem cercado Jerusalém, dando a
impressão de que estão em via de exterminar a cidade e o povo,
todos os olhos se voltarão para o monte das Oliveiras. Jesus virá
pessoalmente para defender seu povo e sua cidade.
Zacarias retrata a cena:
Naquele dia os seus pés estarão sobre o m onte das Oliveiras, a
leste de Jerusalém, e o m onte se dividirá ao meio, de leste a
oeste, p or um grande vale; m etade do m onte será rem ovido
para o norte, e a outra metade para o sul (14.4).
CAPÍTULO CINCO
1Eberhard B eth g e, Dietrich Bonboeffer, New York: Harper & Row, 1970, p. 191.
2Richard PlERARD, Radical resistance, Christian History 10, n.° 4, 1991, p. 30.
128 A cruz de H itler
: r
......------------- -- I f - ' ---------------------
O ódio contra os judeus, sinto dizer,
também floresceu nas igrejas.
3J. S. C on w ay, The nazipersecution ofthe churches 19 3 3 -19 4 5 , New York: Basic
Books, 1968, p. 48.
A igreja é ludibriada 129
Um altar nazista.
130 A cruz de Hitler
4Robert G. W a ite , Hitler. the psychopathic god, New York: Basic Books,
1977, p. 317.
5Ibid., p. 16.
132 A cruz de H itler
AS CARACTERÍSTICAS DA IGREJA
Que Hitler ludibriou a igreja, já está bastante claro. Contudo, tam
bém devemos lembrar que as igrejas da Alemanha já haviam se
entregado completamente aos temas populares da cultura alemã,
muito antes de Hitler subir ao poder. Elas estavam prontas para ser
enganadas; algumas pessoas diriam até que elas queriam ser ludibria
das. Os enganos não aconteceram todos de uma vez, mas fizeram
parte de uma longa história. As condições em que a igreja se encon
trava antes de Hitler — diz um historiador — são tão culpadas
quanto a oposição de Hitler às igrejas.
Nacionalismo
Não podemos esquecer que a igreja alemã tinha uma longa história
do mais absoluto nacionalismo. Durante a dominação prussiana, o
rei era o líder da igreja e o sacerdócio era subordinado ao líder polí
tico do Estado. Considerando seu vínculo, tão forte e estreito, com
a monarquia germânica, fica fácil compreender o motivo de a igre
ja ter caído na esparrela de abraçar os planos políticos da época.
Eu me pus a contemplar a Igreja Memorial Kaiser Guilherme
em Berlim (que é atualmente um monumento aos horrores da
Segunda Guerra Mundial) e fiquei espantado com os relevos de
Cristo e do Kaiser, como se juntos fossem os salvadores da nação
alemã. As vitórias militares da Prússia são descritas como vitórias
de Cristo e da religião cristã.
134 A cruz de H itler
Liberalismo
A igreja, em sua maior parte, abandonou a fé cristã histórica e op
tou pelo liberalismo teológico; ou seja, liam a Bíblia tentando se
parar o verdadeiro do falso, negando o caráter único de Cristo.
Sem a mensagem clara de arrependimento e de fé unicamente em
Jesus como Filho de Deus, as igrejas substituíram a docilidade e a
humildade de Cristo pelo orgulhoso pendão do nacionalismo
cristianizado.
Martinho Lutero, embora fosse muitas vezes citado, não era
lembrado como o homem que pregara o Cristo divino, que podia
reconciliar completamente os pecadores corrompidos com o Deus
infinitamente santo. A cruz do Cristo de Lutero não combinava de
forma confortável com a suástica. Na presença da cruz anunciada
por Lutero, os homens se humilhavam; já a cruz que se ajustara tão
perfeitamente à suástica, produzia orgulho.
Visto que todas as crianças alemãs eram batizadas na igreja, pou
co se falava sobre a necessidade da conversão individual a Cristo. O
fato de o nome de alguém constar nos registros da igreja, já era
prova suficiente de que esta pessoa era cristã. Tudo o que se espe
rava de bons cristãos era que ajudassem a Alemanha a se tornar
grande.
Logicamente, havia exceções, como veremos nos capítulos sub
seqüentes. Existiam cristãos genuínos dispersos entre as massas;
eram os poucos que afirmavam a enorme diferença entre a cruz e
a suástica. Porém, em sua maioria, a igreja foi tomada pelo espí
rito da época; ela compreendia que seu papel se resumia em auxi
liar a apagar a vergonha do passado e a produzir um futuro me
lhor. Ela se alegrava com a diminuição do desemprego, com a
melhoria dos padrões de vida e na consciente dignidade que havia
restaurado uma nação sitiada.
A igreja é ludibriada 137
Um batismo nazista.
8M y visitto Germany, The Defender n.° ll,S e p t., 1 9 3 6 ,p. 15; citado na obra
de David A. Rausch, A legacy ofhatred (Chicago: Moody, 1984), p. 101.
A igreja é ludibriada 139
As duas esferas
Nós já fomos apresentados à doutrina das “duas esferas”, a qual, se
for interpretada da forma popular, significa que Cristo é o Senhor
da igreja, mas o Kaiser (ou o Führer) é, de certa forma, o senhor da
esfera política. A obediência à esfera política era um dever tão dig
no e honroso quanto a obediência a Deus. E a maior expressão da
obediência a Deus era a obediência ao Estado.
Assim, os valores pessoais de honestidade, temperança e com
paixão não eram transferidos para os valores públicos. A guerra era
glorificada e o bem do Estado estava acima do bem do indivíduo.
E com a ardorosa crença de que a obediência ao Estado produziria
a nova sociedade, os alemães estavam dispostos a fazer qualquer
coisa que o Führer exigisse. Seu dever para com Deus era espiritual;
mas, seu dever para com o Estado era político.
As crianças alemãs eram ensinadas a obedecer, explícita e pronta
mente, aos pais, professores e comandantes militares. O respeito pela
ordnung (ordem) era ensinado ritualisticamente, assim como por
meio da ameaça de punições. Todos deviam manter-se úteis e no
ritmo da nação. Romanos 13.1,2 era muitas vezes citado:
140 A cruz de Hitler
9Março de 1993.
142 A cruz de H itler
As mentiras do Estado
Hitler acreditava em mentiras. Dizia que “a magnitude de uma
mentira sempre contém certo fator de credibilidade, visto que as
grandes massas [...] caem mais facilmente em uma grande menti
ra do que em uma pequena”. Ele moldou a cultura e a religião
alemãs com mentiras, que logo se refletiriam nas leis.
Após ter prestado seu juramento como chanceler, ele homena
geou o cristianismo como “o elemento essencial para a salvaguarda
da alma do povo alemão” e prometeu respeitar os direitos das igre
jas. Declarou desejar a existência de “um acordo pacífico entre a
igreja e o Estado”.10 Também externou ter o propósito de melho
rar o relacionamento com o papa Pio XII.
Ele dizia estar determinado a dar liberdades às igrejas, “desde que
não fizessem nada subversivo e contrário ao Estado”. Logicamente,
10W illiam L. S h ir e r , The rise andfa li ofthe ThirdReich, New York: Simon &
Schuster, 1960, p. 234.
A igreja é ludibriada 143
por trás dessa promessa, Kávià sua definição do que poderia ser sub
versivo. Porém, tanto sua cautelosa promessa como a concordata
com o Vaticano, que garantia a liberdade da Igreja Católica, foram
bem-vindas.
O artigo 24 do programa do partido pedia “liberdade para todas
as denominações religiosas dentro do Estado, desde que não fos
sem perigosas [...] para os sentimentos morais da raça germânica”.
Hitler falava favoravelmente de seu “cristianismo positivo”, que con
tribuiria para o esforço da Alemanha. Ele obteve alguma benevo
lência ao parecer conciliatório; e as igrejas gostavam do uso que
dava à palavra “liberdade”. Aparentemente, esperava que, a princí
pio, as pessoas se sentissem bem a seu respeito, mesmo que mais
tarde já não se sentissem da mesma forma.
No entanto, Hitler, em particular, revelava suas verdadeiras in
tenções. Herman Rauschning testemunhou que logo após sua su
bida ao poder, Hitler advertiu que não havia qualquer futuro nem
para a Igreja Católica nem para o protestantismo. “Entrar em acor
do com a igreja”, ele disse, “não me impedirá de erradicar o cristia
nismo, de ponta a ponta na Alemanha. Ou um indivíduo é cristão,
ou alemão. Não é possível ser ambos.”11
Em 21 de março de 1933, Hitler montou um impressionante
espetáculo para a abertura do novo exercício do Reichstag [Parlamen
to], na Igreja da Guarnição em Potsdam. Com pompa e circunstân
cia, ele procurou garantir à nação que poderia seguir uma tendência
conservadora e, ao mesmo tempo, estar em harmonia com as igrejas.
Dois dias mais tarde, o Reichstag aprovou a suposta “Lei do apoio”,
segundo a qual o poder do Reichstag ficava reduzido ao de um ruidoso
conselho do partido. A maioria necessária à aprovação da lei foi assegura
da pela prisão de alguns parlamentares e pela ameaça a outros. Em julho,
Hider proclamou o partido nazista o único partido da Alemanha.
Porém, naqueles primeiros anos, as palavras “liberdade” e “paz”
eram encontradas em todos os seus discursos. Suas palavras transmitiam
ele disse: “Este novo Reich não dará sua juventude a ninguém, mas a
tomará, dando-lhe sua própria educação e criação”.12
A Juventude Hitlerista competia com o sistema educacional do
Estado. As escolas particulares foram abolidas e, já em 1938, toda a
educação estava unificada sob a ideologia nazista. Os livros escola
res foram reescritos para refletir a visão sobre a aptidão racial, a
lógica da expansão militar e a ênfase na história e na cultura alemãs.
Os que não se adequavam ao programa nazista (leia-se “politica
mente correto”), eram repreendidos, expulsos ou executados. Se os
professores quisessem manter-se empregados, tinham de fazer um
juramento de lealdade a Hitler.
A queima de livros era comum. Quando visitei Berlim, estive
na praça oposta à Universidade de Berlim (agora denominada Uni
versidade Humbolt), onde, na noite de 10 de maio de 1933, uma
manifestação realizada por milhares de estudantes munidos de tochas
queimou aproximadamente vinte mil volumes. Muitos desses li
vros foram escritos por alemães famosos e por outros autores de
renome mundial, como H. G. Wells e o físico judeu Albert Einstein.
Goebbels, o ministro da propaganda de Hitler, discursou aos estu
dantes: “A alma do povo alemão pode mais uma vez se expressar.
Essas chamas não alimentam apenas o fim da era que passou; elas
também iluminam a era que se inicia”.13
De início, havia uma substancial oposição aos planos de Hitler.
Porém, poucos ousavam manifestar-se contra ele, devido ao medo
de represálias. O povo desejava acreditar na ficção de que após Hitler
ter consolidado o poder, ele relaxaria e permitiria maior liberdade.
Outras pessoas aceitavam as novas idéias como um tipo de per
muta pelos benefícios econômicos e políticos que agora desfruta
vam. Quando se deram conta de que esses eram apenas os estágios
iniciais da tomada de poder pelos nazistas, já era muito tarde para
voltar atrás.
As leis do Estado
As leis sempre refletem os valores, os planos e as prioridades de
uma nação. Na Alemanha nazista as leis não se baseavam na visão
teísta, tampouco crista; na verdade, nem mesmo as leis naturais
eram reconhecidas. Quando Hitler conseguiu que o Reichstag lhe
desse o poder de legislar, as leis passaram a ser arbitrárias, traçadas
para cumprir os objetivos do Estado. Os nazistas declaravam; “Hitler
é a lei!”. Como Gõring declarou: “A lei e a vontade do Führer são a
mesma coisa”.14 O certo e o errado eram o que H itler determ inava.
As leis de Nuremberg, de 15 de setembro de 1935, destituíram
os judeus da cidadania alemã, limitando-os à condição de “obje
tos”. Proibiram o casamento entre judeus e arianos, assim como
relações sexuais entre eles. Essas eram as bases de treze leis específi
cas contra os judeus, que os tornariam absolutamente fora da lei.
Muitos foram privados de seu meio de subsistência e acabaram pas
sando fome. Em muitas cidades, eles foram proibidos de comprar
comida ou fazer negócios.
Havia também leis contra a traição. Traição era definida como
qualquer coisa contrária à vontade e aos propósitos do Reich. A
crítica era traição; a liberdade de imprensa era traição; fracassar na
realização dos planos do Reich era traição. Mais uma vez, traição era
tudo o que Hitler assim determinasse.
Em 1936, foi constituído o Tribunal Popular para o julgamento
de atos de traição. Cinco juizes foram nomeados para cada tribunal,
do quais três eram apontados por Hider ou um de seus associados,
“devido ao conhecimento especial sobre defesa contra atividades sub
versivas, ou por estar mais intimamente vinculados às tendências
políticas do país”. As ações judiciais eram secretas, e as punições
l4Ibid., p. 268.
148 A cruz de H itler
0 senhorio do Estado
Hitler começou com suas mentiras; e a seguir elas se refletiram sob a
forma de leis, e por fim evoluíram até se tornar o senhorio. Ele alcan
çou o controle quase absoluto que seu louco coração tanto desejava.
Se nos perguntarmos por que Hitler via o cristianismo (mesmo
o do tipo nacionalizado alemão) como ameaça, um homem, que
Observe que não era suficiente que a suástica ficasse lado a lado
com a cruz; mas que ela deveria ser substituída completamente. A
Bíblia não poderia ser posta ao lado de M inha luta, pois a “bíblia
nazista” tinha que ocupar o altar isoladamente. Em resumo, o Deus
dos céus tinha de ser removido para abrir caminho para o nacional-
socialismo.
I7I b i d . , p. 240.
A igreja é ludibriada 151
18Citação extraída da obra de John Warwick Montgomery, The law above the
law (Menneapolis: Bethany, 1975), p. 25-6.
152 A cruz de H itler
•Eberhard B eth g e, Dietrich Bonhoeffer, New York: Harper & Row, 1970, p. 228.
154 A cruz de H itler
3Geffrey B. K e lly , The life and death o f a Modern Martyr, Christian History
10, n.° 4, 19 9 1. p. 11.
4B e th g e , Dietrich Bonhoeffer, p. 2 3 2 .
A igreja é dividida 157
0 SÍNODO PARDO
Em 5 e 6 de setembro de 1933, o antigo Sínodo Geral Prussiano
reuniu-se em Berlim. Havia delegações de pastores e líderes eclesi
ásticos vestidos com uniformes nazistas e usando a saudação nazis
ta. O sínodo rapidamente tomou a forma de uma demonstração, e
não de uma reunião de debates. Eles confirmaram Ludwig Müller
como bispo e demitiram os superintendentes gerais em exercício, a
fim de substituí-los por indivíduos leais ao programa nacional-so-
cialista. Adotaram o que era conhecido por “cláusula ariana”, que
impedia todos os que tivessem sangue judeu de ocupar um púlpito
na Alemanha. Ali, exigiram que todos os pastores assinassem essa
declaração e dessem “apoio incondicional ao Estado nacional-socia-
lista”. Quando a oposição teve a possibilidade de se expressar, foi
silenciada pelos gritos de seus oponentes.
5Ibid., p. 241.
160 A cruz de H itler
7Peter M atheson , org., The ThirdReich and the Christian Churches, Grand
Rapids: Eerdmans, 19 8 1, p. 39-40.
164 A cruz de H itler
,0Ibid„ p. 97.
168 A cruz de H itler
A Declaração de Barmen
Em maio de 1934, a Igreja Confessante reuniu-se e adotou a De
claração de Barmen, formulada pelo teólogo suíço Karl Barth. Muito
embora Bonhoeffer não estivesse presente na reunião, auxiliou na
preparação do evento por intermédio de contatos com Londres e
visitas à Europa. Sua liderança corajosa ajudou a preparar o cami
nho para sua aceitação.
No livro The church’s confession under H itler [A confissão da igre
j a sob o ju g o d e H itler], Arthur C. Cochrane escreve que a D eclara
ção d e Barm en é “o mais importante documento que surgiu na
igreja desde a Reforma”.11 A igreja teria de escolher entre um Cris
to que era o Senhor de uma “esfera espiritual” diminuta e o Cristo
que é “Senhor de tudo”. Bonhoeffer dissera que a “igreja devia ser a
igreja”. A D eclaração d e Barm en procurou responder à questão so
bre o que a igreja deveria ser.
As divisões dentro da igreja são, logicamente, necessárias e apro
vadas pelas Escrituras. Paulo escreveu aos coríntios carnais: “Pois é
necessário que haja divergências entre vocês, para que sejam conhe
cidos quais dentre vocês são aprovados” (ICo 11.19). Quando a
apostasia é predominante, os que se agarram à verdade devem mar
char sob outra bandeira. Embora não quisessem dividir a igreja, os
que assinaram a confissão sabiam que esse seria o efeito do docu
mento.
Os pastores que assinaram a declaração de fé estavam assumindo
uma posição temerária; escolheram reafirmar a missão da igreja, no
momento em que ela estava sendo redefinida pela cultura político-
religiosa. Eles se reuniram para resistir unanimemente à exaltação do
Estado acima da igreja. Não há dúvidas de que tinham diversos desa
cordos em outras questões teológicas, mas concordavam sobre a
0 apoio em declínio
No terceiro sínodo realizado em Augsburgo, a Igreja Confessante
tratou de evitar as questões mais importantes. Nenhuma palavra
foi dita sobre a necessidade de a igreja possuir liberdade para pregar
e para ensinar o Evangelho. O “cristianismo positivo” de Hitler,
bem como suas implicações, não foram tratadas. Nem uma única
palavra foi dita a favor dos judeus.
CAPÍTULO SETE
presentes nessa reunião, foram mais tarde criticados por suas explo
sões de raiva durante o debate. Essa crítica foi usada por alguns para
desacreditar tudo o que Bonhoeffer disse e defendeu. Ele respondia
às críticas dizendo que essas questões eram insignificantes, diante
da crise vivida pela igreja: “Algo muito sério está em jogo, ou seja,
a necessidade de reconhecermos que só a Palavra de Deus tem auto
ridade”.2
Bonhoeffer não conseguia respeitar os pastores que continua
vam a apoiar os “cristãos alemães”. Ele compreendia a pressão exis
tente para que fizessem concessões, mas instava com quem tinha a
responsabilidade de pregar o Evangelho para que permanecessem
firmes. Relatava que um de seus alunos havia optado por deixar a
Igreja Confessante para se associar à Igreja do Reich. Bonhoeffer
passou horas debatendo com ele, frisando que retroceder seria o
mesmo que voltar suas costas para Cristo. Ele ficou profundamen
te magoado quando o aluno optou por seguir o caminho da aco
modação.
Ele também estava desapontado pelo fato de tão poucos esta
rem dispostos a pagar o preço para serem fiéis ao Evangelho de
Deus. Apesar de sentir-se muito só, ele não se deixava abater, firme
na crença de que a Igreja do R eich tornara-se apóstata. “Devo dizer
que, na minha opinião, qualquer um que se submeta em qualquer
aspecto aos Comitês Eclesiásticos (da Igreja do Reich), não pode
permanecer membro de nossa igreja.”
3Peter M atheSON, org., The Third Reích and the Christian churches, Grand
Rapids: Eerdmans, 19 8 1, p. 58-60.
A igreja é desm em brada 181
A prisão de Niemõller
Em junho de 1937, o dr. Niemõller fez seu último sermão durante o
governo do Terceiro Reich. Ele, em parte, disse:
Como os apóstolos da antiguidade, já não pensamos em usar
as próprias forças para escapar do braço das autoridades. Já não
estamos dispostos a manter silêncio em obediência a homens,
quando Deus nos manda falar. Pois, tanto agora como no futu
ro, devemos obedecer a Deus em vez de ao homem”.
Alguns dias mais tarde, ele foi preso e encarcerado.
Sua congregação o apoiou, tomando conta de sua esposa e
orando por ele. Cultos de oração eram realizados diariamente
em sua igreja desde o dia de sua prisão até o fim da guerra. Em
certa ocasião, quando tinham planejado um culto de maiores
proporções, a Gestapo trancou as portas da igreja. A multidão se
acomodou na frente da igreja, até que, por fim, após formar
grossas fileiras, cantou o antigo hino de Lutero: Castelo fo r te é
nosso Deus.
mas ele jamais viu sua face. Aquele homem jamais saberia o que
aquelas palavras significaram para seu prisioneiro nos dias que se
seguiram.5
6F. Burton N elson , Family, friends & co-conspirators, Christian History 10,
n.° 4, 19 9 1, p. 20.
A igreja é desm em brada 185
7Eberhard B ethge, Dietrich Bonhoeffer, New York: Harper & Row, 1970, p. 504.
A igreja é d e sm em brad a 187
A REAÇÃO DO POVO
O que será que o resto da Alemanha pensou ao ler notícias sobre a
prisão de oitocentos pastores que não aceitaram a nazificação de suas
igrejas? Qual terá sido a reação ao fato de milhares de pastores terem
jurado lealdade pessoal a Hider? O povo ficou apático.
William Shirer, na grande obra The rise a n d fa li o ft h e Third
Reich [Ascensão e queda do Terceiro Reich\, faz uma das análises mais
A igreja é desm em brada 189
10P. 240.
190 A cruz de H itler
CAPÍTULO OITO
3Apud Eberhard B ethge, Bonhoeffer. exile and martyr, New York: Seabury,
1975, p. 155.
4Ibid.
200 A cruz de H itler
5Tim S taffo rd , Campus Chxistians end the new thought police, Christianity
Today, 10/2/1992, p. 19.
202 A cruz de H itler
Dietrich Bonhoeffer.
H eroísm o no Terceiro R eich 203
7I b i d . , p. 177-80.
Heroísm o no Terceiro R eich 205
autor conta como uma bela jovem francesa, Lisa, transportava di
nheiro, documentos ou armas em sua bicicleta para pessoas procu
radas.10 Outra garota se embrenhou na floresta para encontrar ju
deus que pudessem estar escondidos, a fim de que pudessem ser
alimentados. Isaac foi um jovem que passava as noites imprimindo
panfletos com importantes informações para os que sofriam.
Uma mulher corajosa escreveu um resumo da páscoa judaica, de
forma que pudesse ser discretamente cumprido em um campo de
concentração. Em Paris, alguns franceses carregavam lenços amarelos
em seus bolsos, enquanto traziam nas mãos uma estrela de Davi.
Por essa atitude foram enviados a campos de concentração, onde
cada um deles era forçado a usar uma braçadeira onde se lia “Amigo
dos judeus”.
Na Dinamarca, quase todos os judeus foram escondidos e tive
ram a vida poupada. O doutor Gersfelt deu tranqüilizantes às crian
ças para que dormissem enquanto eram transportadas para um lu
gar seguro em barcos de pesca, através de um canal de quase um
quilômetro de extensão. Erin Kiaer, um encadernador, salvou tan
tos judeus em barcos de pesca que foi caçado pelos nazistas. Por
fim, ele foi capturado e torturado, mas jamais revelou informação
alguma. Um motorista de ambulância, ao saber que uma captura
de judeus estava para começar, levou judeus para um hospital, onde
sabia que seriam escondidos em segurança.
Em cada um desses casos, assim como em outros milhares, as
pessoas conceberam formas criativas de se identificar com o pro
blema do povo judeu. Arriscaram sua carreira e até mesmo a vida
para ajudar quem estava necessitado. Quando perguntaram a um
casal o motivo de terem escondido tantos judeus, a esposa respon
deu: “Era como ver a casa do vizinho pegando fogo. Você natural
mente quer ajudá-los”. Como um pastor observou: “Eu preferia
morrer com os judeus a viver com os nazistas”.
10Bea S tadtler , West Orange, N.J.: Behrman House, 1974. Esse livro está
repleto de episódios da resistência; dos quais cito apenas alguns.
Heroísm o no Terceiro R eich 207
fato de os judeus serem iiiVtPfl1'1 i"ni hi~TiliFÍT ICi maior para que os
cristãos estivessem ao lado deles.
Os nao-judeus que arriscaram sua vida e a de suas famílias para
ajudar os judeus a sobreviver são chamados “os gentios justos do
Holocausto”. Eles esconderam os judeus, defenderam-nos e ficaram
ao lado deles nas provações. Como Bonhoeffer ensinou, o judeu
sofredor era o Cristo sofredor; a criança rejeitada era Jesus rejeitado.
Esses gentios piedosos são considerados heróis em Israel e em
todos os lugares onde o Holocausto é lembrado. No Museu e no
Memorial do Holocausto em Jerusalém, milhares de árvores de
folhas perenes foram plantadas no que é chamado “O Jardim dos
Justos”. Cada árvore representa um gentio que se empenhou no
resgate de judeus. Mais de onze mil gentios foram oficialmente
reconhecidos. No entanto, estima-se que na Europa cerca de cem
mil gentios ajudaram os judeus a sobreviver.
Estima-se que, em média, cada um deles ajudou um judeu a
escapar da morte; logo cem mil vidas podem ter sido poupadas por
esses indivíduos. A maioria dessas pessoas afirmava ser cristã. São
muitos os judeus que se perguntam por que os cristãos nem sem
pre honraram aqueles, de nosso meio, que arriscaram a vida pelos
desprezados.
Estudos foram feitos para nos ajudar a traçar o perfil desses
resgatadores. São as pessoas que você gostaria de ter como vizinhos,
se fosse um judeu vivendo na Alemanha nazista. São pessoas que
acreditam que algumas coisas são mais importantes que viver con
fortavelmente, quando estamos cercados pela injustiça.
cristãos que não realizassem os rituais sagrados. Jesus disse que esses
judeus não eram verdadeiros judeus, mas eram “sinagoga de Sata
nás”. Ou seja, embora fossem judeus por nascimento, eram perver
sos em seu procedimento para com os outros.
Quais foram as conseqüências? Primeiro, os cristãos enfrenta
ram a miséria, provavelmente por terem sido relegados aos níveis
mais baixos da sociedade. Sem dúvida, eram por demais honestos,
para auferir os lucros fáceis que os outros comerciantes conseguiam
por meio dos pesos e das medidas desonestas. Os outros não nego
ciavam com eles, por serem cristãos. Provavelmente, alguns tive
ram suas casas saqueadas. A miséria fazia parte do fardo que carre
gavam por seu amor a Cristo.
Em segundo lugar, eram difamados. “Conheço a blasfêmia dos
que se dizem judeus mas não são” (v. 9). Os judeus haviam propa
gado boatos; e suas falsas acusações eram semelhantes aos ataques
do Diabo, cujo nome significa “acusador”. Os cristãos estavam ma
goados pelas ofensas.
Em terceiro lugar, alguns foram lançados nas prisões. “O Diabo
lançará alguns de vocês na prisão.” (v. 10) Citando John Stott: “As
celas de Jerusalém e de Cesaréia, ou de Filipos e de Roma, foram
santificadas pelas orações e pelos louvores dos fiéis cristãos”. As pri
sões de todos os países foram um lar para o povo de Deus.
E por fim, alguns morreriam. “Seja fiel até a morte, e eu lhe
darei a coroa da vida” (v. 10). O martírio era definitivamente uma
possibilidade. Aliás, Policarpo, bispo da igreja de Esmirna, tornou-
se um dos mártires mais conhecidos da história.
O que Cristo promete a seu povo quando há a expectativa de
que sofram por ele? Por que motivo a igreja alemã — e também as
demais igrejas de hoje — deveriam nutrir outro tipo de esperança?
Hoje, Deus mais uma vez nos chama para sofrer. Não o sofri
mento da igreja na Alemanha (embora isso possa algum dia se tor
nar nosso destino), mas o sofrimento que vem quando aceitamos o
senhorio de Cristo sobre toda a nossa vida. Não precisam os passar
p elo Holocausto para sermos heróis. Apenas precisam os ser tudo o que
Deus quer que sejam os a cada dia.
Agora examinaremos mais detalhadamente um dos heróis da
era nazista. Perceberemos que a força de sua fé também pode ser
nossa.
0 discipulado no
Terceiro Reich
CAPITULO NOVE
A VIDA DE BONHOEFFER
Bonhoeffer nasceu em Breslau, no ano de 1906, cinco anos após o
início do Segundo Reich, quando Guilherme I foi coroado Kaiser
no Palácio de Versalhes. Dietrich tinha 12 anos de idade quando a
Alemanha foi humilhada, tendo de admitir sua derrota na Primeira
Guerra Mundial. O Kaiser, você deve recordar, foi forçado a abdi
car, e a República de Weimar foi fundada.
0 primeiro ministério
Como Bonhoeffer não alcançara a idade mínima para ser ordenado
pastor, aceitou o cargo de pastor-assistente na Espanha (1928-1929).
Lá, ele deparou com a miséria pela primeira vez em sua vida, e
ajudou a organizar um programa de auxílio aos necessitados. Ele
desafiava sua igreja: “Deus perambula entre nós na forma humana,
falando conosco por meio dos que cruzam nosso caminho: os es
tranhos, os mendigos, os enfermos, ou, até mesmo, os que estão
mais próximos em nossa vida cotidiana; tornando-se o que Deus
requer de nossa fé”.
Quando voltou para a Alemanha, foi aceito como professor na
Universidade de Berlim. Isto lhe abriu as portas para uma bolsa de
estudos no Union Theological Seminary em Nova York. Nos EUA,
ele se tornou amigo de teólogos do porte de Reinhold Niebuhr,
que desafiava seu raciocínio em questões sociais. Passou incontáveis
horas com estudantes negros, que o ajudaram a compreender a dor
que o racismo causava nos EUA. Freqüentava assiduamente os cultos
realizados pelos negros e levou para a Alemanha gravações de seus
hinos, que tocava para seus alunos. Também se tornou pacifista, pois
acreditava que a guerra era intrinsecamente contrária ao Evangelho.
Cria que na batalha os cristãos se matavam uns aos outros por ideais
políticos mundanos, ocultando o peso mais importante que os fatos
espirituais deveriam ter. Durante o tempo em que esteve nos EUA,
começou a concentrar seus estudos no Sermão do Monte.
3Ibid., p. 109.
4Geffrey B. K e l l y & F. Burton N e l s o n , orgs., A testament to freedom, San
Francisco: Essential Writings o f Dietrich Bonhoeffer, 1990, p. 538.
0 discipulado no T erceiro R eich 225
para que outros pudessem ser alcançados por essa mesma chama.
Nao podemos ler seus escritos sem sentir sua paixão, mente
inquisitiva e dedicação.
presença contínua acabaria por trazer a ira dos nazistas sobre seus
colegas mais íntimos. Porém, com a consciência atormentada,
retornou à Alemanha depois de apenas um mês.
Antes de descrever como sua vida terminou aos 39 anos, deve
mos responder à pergunta: O que Bonhoeffer acreditava ser o
discipulado? E o que ele queria dizer quando disse que Cristo nos
chama para “vir e morrer”?
VIR E MORRER
Se perguntarmos por que Bonhoeffer teve a coragem de ser marti
rizado, poderemos apenas responder que ele morreu várias vezes,
antes de ser enforcado no campo de concentração de Flossenbiirg.
Ele estava absolutamente convencido de que o discipulado signi
ficava a morte — a morte para o próprio conforto, a morte de
nossos planos e, quando necessário, também a morte física. A
cruz de Cristo era o símbolo dessa morte e não deveria jamais ser
confundida com a suástica, que era o símbolo da busca do ho
mem pela vida.
Bonhoeffer concordava com Lutero: somente a graça poderia nos
salvar, mas os que o seguiram adotaram essa doutrina, deixando dé
fora a conseqüente responsabilidade do discipulado. Nós somos sus
tentados em nossos sofrimentos pela percepção de que Deus está
sofrendo neste mundo por intermédio de Jesus Cristo. O próprio
Deus foi rejeitado e hostilizado; o próprio Deus suportou a humi
lhação da cruz. A marca da verdadeira igreja é o sofrimento.
Seguimos Jesus em suas fraquezas, para que possamos ser fortes.
O cristianismo é a religião do sofrimento; um homem se lança nos
braços de Deus e desperta no Getsêmani. Se Jesus morreu pelo que
acreditava, não deveríamos seguir seus passos?
Seguir Cristo nos liberta de todos os dogmas feitos pelo ho
mem, de todo fardo e opressão, de toda ansiedade e tortura que
aflige a consciência. Somente se seguirmos Jesus sem reservas, e de
forma franca e sincera, acharemos seu jugo suave e seu fardo leve.
0 discipulado no Terceiro R eich 229
Felizmente, tudo o que Cristo nos pede para fazer, ele nos dá a
força para realizar.
Eis as cinco mortes que os cristãos devem experimentar— mor
tes que capacitaram Bonhoeffer a realizar o supremo sacrifício, tran
qüilo em seu íntimo, entregando-se com resignação a Deus. Em
alguns exemplos eu cito Bonhoeffer; em outros, faço uma paráfra
se de seus pensamentos.
6D iscipulado, p. 53.
7Ibid., p. 53.
0 discipulado no Terceiro Reich 231
que não queriam dominar seu desejo sexual, mesmo que Jesus lhes
quisesse conceder esse poder. Eles argumentavam que o desejo se
xual é agradável e, considerando-se as pressões desta vida, eles mere
ciam esse bocado de prazer.
Bonhoeffer diria que esses homens não perceberam um ponto
importante: a necessidade ter fé que os caminhos de Deus são
realmente a melhor opção para eles. Quando damos as costas para
Cristo nessa questão, perdemos a capacidade de resistir em outras
áreas.
Eis a análise de Bonhoeffer:
Mesmo o desejo m om entâneo é uma barreira para seguir Je
sus, pois leva o corpo inteiro para o inferno, fazendo-nos ven
der nosso direito de prim ogenitura por um prato de guisado.
Demonstra que nos falta fé em Jesus, que recompensa a m orti
ficação da carne com uma alegria cem vezes maior.
9D iscipulado, p. 148.
0 discipulado no Terceiro Reich 233
0 MARTÍRIO DE BONHOEFFER
Embora Bonhoeffer tivesse inicialmente acreditado que o Sermão
do Monte ensinava o pacifismo, acabou por se juntar a uma cons
piração para assassinar Hitler. Em defesa de suas ações, escreveu aos
companheiros de conspiração:
Pelo menos por uma vez, aprendemos a ver os grandes eventos
da história m undial com um a perspectiva mais baixa: a pers
pectiva dos proscritos, dos suspeitos, dos maltratados, dos im
potentes, dos oprimidos, dos ultrajados — em resumo, a pers
pectiva dos que sofrem .10
Outro disse:
Realmente calmo e normal, perfeitamente à vontade, sua alma
brilhava nas trevas de nossa prisão. Ele aprendeu a abandonar-
se completamente nos braços de Deus, levando seu sofrimento
muito a sério, assim como levava a sério o sofrimento de Deus
no m undo.
n Roger M anvell & Heinrich F raenkel, The men who triedto kill Hitler, New
York: Coward-McCann, 1964, p. 220-1.
0 encobrimento da cruz
em nações cristãs
CAPITULO DEZ
pessoa de seu Filho, o peso total dessa ira justa que eles mereci
am”.1 Deus Filho pagou a dívida de nossos pecados para Deus Pai;
dessa forma, “a Salvação é do Senhor”.
A luta da Reforma não passou da luta pela correta interpretação
da cruz. Quando Lutero finalmente compreendeu que sobre a cruz,
Cristo levou sobre si a iniqüidade de todos nós, e que somente pela
fé os pecadores poderiam se reconciliar com Deus, ele, em suas
palavras, “renasceu e atravessou os portões do paraíso”. Não é de
admirar que, desde aquele momento, a cruz tornou-se o centro do
ensino de Lutero. Na cruz, todo narcisismo chega ao fim; todos os
esforços para impressionar a Deus chegam ao termo; e todo oti
mismo em relação à habilidade humana de construir um mundo
melhor por conta própria desaparece.
O cristão não pode tratar a cruz de forma fria e distante. A cruz
expõe a futilidade do nosso farisaísmo; pois nos relembra que so
mos pecadores, incapazes de viabilizar nossa reconciliação com Deus.
Cristo morreu para salvar os pecadores, para revelar o amor de Deus e
para vencer o mal. Perante sua cruz, podemos apenas contemplar com
a cabeça baixa e com o espírito quebrantado.
E aqui vem o alerta. P. T. Forsythe, ao falar sobre a cruz como o
ponto focal da obra de Deus pelos pecadores, escreveu: “Se tirar
mos a fé desse centro, estaremos malhando o prego no caixão da
igreja. Ela estará condenada à morte, e seu passamento será apenas
uma questão de tempo”.2 A igreja só pode viver e respirar a cruz;
sem ela não há vida nem razão para existir.
Deixe-me repetir o aviso de Forsythe: Sem a cruz, acabamos de
preparar nosso caixão!
OS DOIS PERIGOS
Em nossos momentos de desespero ao longo da história enfrentamos
dois perigos. O primeiro é dizer que devemos recuar em nossas
Visão aérea de Berlim, que mostra a destruição infligida pelos bombardeios aliados.
0 encobrim ento da cruz em nações cristãs 245
4Peter M atheson , org., The Third Reich and the Christian churches, Grand
Rapids: Eerdmans, 19 8 1, p. 94-5.
250 A cruz de H itler
Meneilly disse que esses cristãos eram uma ameaça maior para a
democracia que a antiga ameaça comunista. Na verdade, ele insis
tiu que os cristãos não tinham nenhum direito de expressar o que
pensavam sobre questões políticas e sociais. Se mantivessem para si
suas idéias, isso seria aceitável, mas expressá-las é verboten.*7
Na verdade, os planejadores sociais liberais querem que nos ren
damos, assim como querem que façamos a promessa de fechar a
boca e guardar nossos pontos de vista para nós mesmos. Isso faz
com que lembremos da mulher alemã que estava de pé em meio
aos escombros de sua cidade, já perto do fim da Segunda Guerra
Mundial. Quando um soldado britânico passou por perto, ela dis
se amargamente: “Nada disso precisava ter acontecido se vocês ti
vessem se rendido em 1940!”.
Essas atitudes são apoiadas pela mídia amplamente favorável,
que está decidida a transformar os EUA em um Estado secular. Isso
explica o porquê, de acordo com algumas pesquisas, a metade dos
americanos acreditam que a direita religiosa deve ser temida como
a força que tolherá as liberdades dos EUA. O fato de que a suposta
“direita cristã” está apenas tentando manter algumas das liberdades
desfrutadas no passado da nação é ignorado. Os liberais nunca são
rotulados “esquerda liberal radical”, mas são elogiados como guardiões
das liberdades.
O objetivo de nossos novos “guardiões da liberdade” é garantir
que se o cristianismo sobreviver nos EUA, ele será completamente
desprovido de sua singularidade. Trata-se da versão americana do
“cristianismo positivo” de Hider, que é compatível com diversas outras
religiões e pontos de vista morais. Os que crêem que a cruz de Cristo
exige lealdade absoluta, não poderão praticar livremente sua fé. Richard
Neuhaus observa que isso ocorre porque algumas pessoas acreditam
que o Estado deve ser “despojado da religião, e que a religião deve ser
tolerada somente quando estiver hermeticamente selada na esfera
existe força nos números, mas nao nos números que chegam a di
minuir a pureza da mensagem do Evangelho. Quando os líderes
cristãos da Alemanha pensaram que a cruz poderia ser usada para
apoiar uma ideologia que reformularia sua nação, o Evangelho foi
perdido.
A uniao entre os crentes na defesa do Evangelho é sempre neces
sária, principalmente quando existe pressão para cederem. Quando
o sexto sínodo da Igreja Confessante decidiu que ficaria a cargo de
cada pastor escolher se prestaria, ou não, o juramento de lealdade a
Hitler, ele concedeu uma tremenda vitória ao Führer. Indivíduos
isolados, não im porta sua coragem, não p od em ter o m esmo im pacto
d e milhares, ou milhões, d e pessoas unidas.
Existe ainda outro tipo de união que possui seus riscos e vanta
gens. Há vários anos, os evangélicos cooperam, com uma ampla
gama de grupos religiosos, no combate a flagelos como o aborto, a
pornografia e a imposição de leis especiais a favor dos homossexu
ais. Eles trabalham juntos na formação de centros para o atendi
mento de gestações problemáticas e no fornecimento de alimentos
para os famintos. Esse trabalho é elogiável, uma vez que em uma
democracia, nós devemos juntar forças com todos os que apóiam
os valores familiares, independentemente de seus compromissos
religiosos ou da falta deles.
Podemos organizar uma campanha moral, erguer uma bandeira
e trabalhar com qualquer um que respeite isso. Porém, não sejamos
tão ingênuos a ponto de acreditar que essa é a grande esperança para
a Nação. As trevas só podem ser dissipadas pela luz, e a luz nos vem
pela graça do Evangelho de Deus. Não nos esqueçamos jam ais, que a
m aior necessidade do mundo, sempre, é ver Jesus; com preender p o r
que som ente ele p o d e nos reconciliar com Deus.
Mesmo quando nos empenhamos em batalhas políticas e cultu
rais, o objetivo principal deve ser que o mundo veja Cristo. Sim,
podemos ser gratos por nossas vitórias legais e políticas, mas o que
ganhamos se as pessoas não forem apresentadas ao Salvador que as
reconcilie com Deus? Isso não significa que temos de fazer um sermão
254 A cruz de H itler
Humildade e pureza
Devemos perceber que nossa eficácia pública é amplamente funda
mentada em nosso relacionamento particular com Deus. A igreja
participa de muitos dos pecados do mundo. Nossa paixão por Deus
é sufocada e a nossa visão é deformada. Cristo disse: “Bem-aventura
dos os puros de coração, pois verão a Deus” (Mt 5.8).
Quando chegamos aos pés da cruz, é ali que somos finalmente
quebrantados; é ali que aprendemos a alcançar nosso mundo con
fuso e magoado. A cruz põe por terra as barreiras entre nós e toda a
raça humana. Assim, já não nos veremos lutando contra os que
querem acabar com a influência do cristianismo na sociedade, a
mídia ou os políticos. Devemos nos livrar da mentalidade que diz:
“Se eliminarmos todos eles, tudo ficará bem”. Não é assim. Como
Os Guinness disse, o problema com essa visão é
que não há nenhum problema com a cultura em geral que
você não possa observar em escala ainda maior na igreja crista.
0 encobrim ento da cruz em nações cristãs 259