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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Aplicação da Lei Processual Penal no Espaço e no Tempo


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APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO

Em primeiro lugar, é importante lembrar que existem diferenças entre a aplicação da lei
penal e da lei processual penal no espaço. Isso porque há muitos pontos específicos que são
estudados apenas no âmbito do Direito Penal.
Ou seja, a forma de aplicar uma lei penal no espaço e no tempo é diferente da forma de
aplicar uma lei processual penal no espaço e no tempo. Na realidade, essa forma de aplica-
ção é bem mais simples no Direito Processual Penal.

CPP, Art. 1º O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressal-
vados (...).

Ou seja, a regra é o princípio da territorialidade (locus regit actum). Significa que o


Código de Processo Penal (CPP) é a lei processual penal brasileira e é aplicado em todo
crime que ocorre dentro do território nacional.
No entanto, existem algumas exceções, pois, a depender do crime, não ocorre a aplica-
ção do CPP, mas sim de uma lei mais específica.
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No caso de um crime militar, por exemplo, que será julgado no âmbito da Justiça Militar,
não é o CPP que se aplica, mas sim o Código de Processo Penal Militar (CPPM).
Nesse sentido, é importante compreender os incisos do art. 1º, do CPP, que trazem
essas exceções:

Art. 1º (...) I – os tratados, as convenções e regras de direito internacional;


I – as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos cri-
mes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal,
nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2º, e 100);
II – os processos da competência da Justiça Militar;
III – os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, n. 17);
IV – os processos por crimes de imprensa. (Vide ADPF n. 130)
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos ns. IV e V,
quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso.
ANOTAÇÕES

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APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO

CPP, Art. 2º A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos
realizados sob a vigência da lei anterior.

Diante do comando trazido nesse art. 2º, do CPP, a doutrina debate qual é o sistema ado-
tado no Brasil acerca da aplicação da lei processual penal.
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Existem três sistemas: unidade processual; fases processuais; e do isolamento dos atos
processuais.
No sistema da unidade processual, o processo penal é visto como um só. Assim, se um
determinado processo é iniciado sob a vigência de uma determinada Lei X, contudo, é publi-
cada uma Lei Y, de acordo com o sistema da unidade processual, essa Lei Y não poderá inci-
dir nesse processo, uma vez que ele deve terminar cumprindo o previsto na Lei X, sendo que
a Lei Y somente poderá incidir em novos processos. Esse não é o sistema adotado no Brasil.
O sistema das fases processuais entende o processo como sendo formado pelas fases
de investigação, instrução, julgamento e recursal. Assim, se uma fase é iniciada, com fun-
damento em uma determinada Lei X, essa fase precisará ser encerrada conforme manda
essa Lei X, mesmo que no meio dessa fase tenha surgido uma Lei Y para tratar do assunto.
Somente nas próximas fases é que seria possível adotar essa nova Lei Y. Esse também não
é o sistema adotado no Brasil.
De acordo com o art. 2º, do CPP, no Brasil é adotado o sistema do isolamento dos atos
processuais. Ou seja, o processo é visto como sendo vários atos concatenados, logo, sur-
gindo uma lei nova, ela pode incidir desde logo.
Nesse sentido, mesmo que o fato tenha sido praticado antes da nova lei, ela incide desde
logo no processo penal. Isso também vale nos casos em que a lei é pior para o réu.
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Quando surge uma lei nova no curso de um processo, os atos que já foram praticados
sob a vigência da lei anterior não precisam ser refeitos ou convalidados pelo Juiz.

E no caso das normas processuais penais materiais, mistas ou híbridas?


É possível que surja uma lei com uma redação nova e que possui, ao mesmo tempo, um
caráter de Direito Penal e de Direito Processual Penal. Essa lei é chamada de híbrida, pois
traz um caráter dúplice.
Exemplo: uma lei nova alterou a regra do prazo decadencial, que é um dispositivo pre-
visto no CPP (art. 38). No entanto, como a decadência também é uma extinção de punibili-
dade prevista na parte final da parte geral do Código Penal, essa lei que alterou a decadência
é considerada uma norma mista, que tem o seu caráter processual penal e o seu caráter de
direito material.

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Outro exemplo envolve as normas relacionadas à prisão, pois estão relacionadas com o
princípio da presunção de inocência. Assim, há um caráter material constitucional e um cará-
ter de Direito Processual Penal, pois é dentro do CPP que há um título dispondo sobre prisão.
No caso das normas mistas, uma doutrina minoritária diz que é necessário cindir essa
norma, ou seja, no que for de Direito Processual Penal, a regra será a do art. 2º, do CPP, já
no que for de caráter penal, adota-se as regras e princípios do Direito Penal. No entanto, na
prática, isso é quase que inviável.
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É por isso que a doutrina majoritária considera que, no caso das normas mistas, preva-
lece o critério do Direito Penal. Logo, não se aplica o art. 2º, do CPP, e não se faz neces-
sário cindir a norma.

Art. 3º da Lei de Introdução ao Código de Processo Penal

Esse dispositivo traz uma exceção ao art. 2º do CPP:

Art. 3º O prazo já iniciado, inclusive o estabelecido para a interposição de recurso, será regu-
lado pela lei anterior, se esta não prescrever prazo menor do que o fixado no Código de Pro-
cesso Penal.

Ou seja, quando se tratar de um prazo processual penal em curso, se o da lei anterior for
melhor do que o trazido pela lei nova, o que valerá é esse prazo da lei anterior, pois a parte
não pode ser pega de surpresa.

Ex.: a Lei A, vigente, prevê um prazo de apelação de 10 dias. Uma pessoa é intimada
para interpor apelação da sentença condenatória, no entanto, no terceiro dia desse prazo
surge uma Lei B e muda o prazo de apelação para apenas cinco dias. Nesse caso, a parte
foi pega de surpresa, pois, se antes ela ainda teria seis, sete dias para interpor a apelação,
agora passará a ter menos de dois dias para fazer isso.
É por isso que o art. 3º da Lei de Introdução ao Código de Processo Penal traz essa pos-
sibilidade de aplicação da lei anterior.
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�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pela professora Lorena Alves Ocampos.A presente degravação tem como
objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo ministrado na videoaula. Não reco-
mendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclusiva deste material.

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