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CARLOS ALBERTO DE LIMA

PREVENÇÃO DE INCÊNDIOS NAS EDIFICAÇÕES


ESTRUTURAS E SISTEMAS ATIVOS E PASSIVOS

Santo André
2020
CARLOS ALBERTO DE LIMA

PREVENÇÃO DE INCÊNDIOS NAS EDIFICAÇÕES


ESTRUTURAS E SISTEMAS ATIVOS E PASSIVOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Engenharia Civil da Instituição
Centro Universitário Anhanguera de Santo
André – Campus II, como requisito parcial para
a obtenção do título de Graduado em
Engenharia Civil.
Orientador: Lincoln Almeida

Santo André,
2020
CARLOS ALBERTO DE LIMA

PREVENÇÃO DE INCÊNDIOS NAS EDIFICAÇÕES

ESTRUTURAS E SISTEMAS ATIVOS E PASSIVOS

Projeto apresentado ao Curso de Engenharia


Civil da Instituição Centro Universitário
Anhanguera de Santo André – Campus II, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Graduado em Engenharia Civil.

BANCA EXAMINADORA

Prof.(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof.(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof.(a). Titulação Nome do Professor(a)

Santo André, 20 de abril de 2020


Dedico este trabalho à minha esposa.
AGRADECIMENTOS

Sentar-me nos bancos de uma universidade aos cinquenta anos, tendo colegas
de classe que poderiam ser, muitos deles, meus filhos, é uma prova adicional. Em
conjunto com esta graduação, conduzi vários projetos, os quais me trouxeram uma
sensação que beirou a exaustão.
Somente por meio da fé, então já agradeço e serei sempre grato a Deus por ter
me mostrado os caminhos e ter colocado força e disposição em minhas mãos, e
abaixo Dele, agradeço à minha esposa, Rita Faustino, por ter demonstrado uma
paciência e sapiência inigualável, muitas vezes se vendo substituída pelos livros, pelo
curso virtual ou até mesmo por estudos em grupo nos momentos em que ela esperava
ter um marido em casa. Também sou grato aos colegas jovens, aos professores, nem
tão jovens e a empresa onde trabalho, que me propiciou expediente com horário
normal enquanto meus colegas executivos alongavam jornadas diárias na busca de
suas metas.
LIMA, Carlos Alberto. Prevenção de incêndios nas edificações: Estruturas e
sistemas ativos e passivos. 2020. 35 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação em Engenharia Civil) – Anhanguera, Santo André, 2020.

RESUMO

Uma perspectiva preventiva na abordagem de situações de risco e incêndio em


edificações, é uma oportunidade, na maioria das vezes única de salvar vidas,
prioritariamente, também de salvar patrimônios, como objetivo ainda que secundário,
mas de significativa importância. O tema não se limita ao nosso país, mas sim é uma
preocupação da esfera mundial, na qual diversas entidades, organizações normativas
e poderes públicos têm buscado criar, aprimorar ou simplesmente copiar
metodologias, equipamentos, procedimentos e normas que intentam cercar e tornar
as edificações à prova de fogo. É de desatacada relevância a forma passiva ou ativa
por meio das qual estes equipamentos e metodologias são aplicados, ressaltando que
para a edificação, independentemente de serem concebidas sob medida passiva, ou
seja, preventivas, tais quais a separação de edificações, barreiras físicas, estruturas
antichamas, definição de rotas de fuga, dentre outros, ou ainda se forem aplicadas
como medidas ativas, pós sinistro, como sistemas de extinção de incêndio, iluminação
de emergência, sistema de comunicação de emergência, ambas sistemáticas têm
caráter decisivo para as consequências de um incêndio e foram aprofundadas aqui
neste trabalho.

Palavras-chave: Incêndio; Passivo; Ativo; Prevenção de Incêndios; Bombeiros.


Lima, Carlos Alberto. Fire Prevention in Buildings: Active and passive structures and
systems. 35 pages. Final course assignment (Degree on Civil Engineering –
Anhanguera, Santo André, 2020.

ABSTRACT

A preventive perspective toward fire risk and emergency approach in buildings, is an


opportunity, most of the time, unique to save lives, primarily, also to save assets, as a
secondary objective, but significantly important too. The matter is not limited to a local
context, but it is a worldwide concern, in which several entities, normative organizations
and public authorities have sought to create, improve or simply copy methodologies,
equipment, procedures and standards that attempt to surround and make buildings
fireproof. Relevant is the, either passive or active way in which these equipment and
methodologies are applied, emphasizing that for the building, regardless of whether
they are designed in a passive way, that means, preventive, such as the separation of
buildings, physical barriers, flame retardant structures, definition of escape routes,
among others, or even if they are applied as active ones, post-incident measures, such
as fire extinguishing systems, emergency lighting, emergency communication
systems, both systems are decisive for the consequences of a fire and were deepened
discussed here in this work.

Keywords: Building fire; Passive; Active; Fire Prevention; Fireman


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Sistema de mangotinho .......................................................................... 15


Figura 2 – Incêndio causado por pane no ar condicionado ..................................... 16
Figura 3 – Incêndio no edifício Joelma .................................................................... 16
Figura 4 – Triângulo do fogo.................................................................................... 17
Figura 5 – Propagação por condução ..................................................................... 18
Figura 6 – Propagação por convecção .................................................................... 18
Figura 7 – Propagação por irradiação ..................................................................... 19
Figura 8 – Compartimentação horizontal ................................................................. 28
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Grupos de ocupação/uso – “A” até “C” .................................................. 23


Tabela 2 – Grupos de ocupação/uso – “F” .............................................................. 24
Tabela 2 – Seleção do agente extintor segundo a classificação do fogo ................. 33
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas


ART Anotação de Responsabilidade Técnica
AVCB Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros
CBPMESP Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo
CLCB Certificado de Licença do Corpo de Bombeiros
CLT Consolidação das Leis do Trabalho
IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano
IT Instrução Técnica
NBR Norma Brasileira
NFPA National Fire Protection Agency
PT Projeto Técnico
PTS Projeto Técnico Simplificado
SCI Segurança Contra Incêndio
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 13

2. EXPERIÊNCIAS DE INCÊNDIOS, DEFINIÇÕES E CARACTERÍSTICAS.......... 15


2.1 FOGO...................................................................................................................17
2.2 PROPAGAÇÃO POR CONDUÇÃO......................................................................18
2.3 PROPAGAÇÃO POR CONVECÇÃO....................................................................18
2.4 PROPAGAÇÃO POR IRRADIAÇÃO....................................................................19

3. LEGISLAÇÃO E NORMALIZAÇÃO APLICÁVEIS .............................................. 20


3.1 PRIMÓRDIOS DA LEGISLAÇÃO CONTRA INCÊNDIO EM SÃO PAULO......................20
3.2 EVOLUÇÃO DOS DECRETOS ESTADUAIS DE SÃO PAULO........................................21
3.3 O DECRETO ESTADUAL 63911........................................................................................22

4. PRÁTICAS E EQUIPAMENTOS ATIVOS E PASSIVOS NA PREVENÇÃO E


COMBATE A INCENDIOS ........................................................................................ 25
4.1 MEDIDAS APLICÁVEIS........................................................................................25
4.2 MEDIDAS E EQUIPAMENTOS PASSIVOS.........................................................27
4.2.1 Compartimentação Horizontal...........................................................................27
4.2.2 Compartimentação Vertical................................................................................28
4.2.3 Saídas de Emergência.......................................................................................28
4.2.4 Projeto e construção das escadas de segurança..............................................29
4.2.5 Resistência ao fogo dos elementos estruturais..................................................29
4.2.6 Controle de fumaça............................................................................................30
4.3 MEDIDAS E EQUIPAMENTOS ATIVOS..............................................................30
4.3.1 Sistemas de Detecção e Alarme........................................................................31
4.3.2 Sinalização de emergência................................................................................31
4.3.3 Extintores portáteis de incêndio.........................................................................32
4.3.4 Sistema de hidrantes.........................................................................................33
4.3.5 Sistema de Chuveiros Automáticos...................................................................34

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................35
REFERÊNCIAS....................................................................................................... 366
13

1. INTRODUÇÃO

O Brasil apresenta um crescimento desordenado e não planejado de cidades,


as quais desenvolvem atividades econômicas, culturais, de laser, e outras,
construindo ou utilizando edificações existentes para o estabelecimento destes
negócios, ou até mesmo para moradia multifamiliar em condomínios e edifícios de
apartamentos. Estas ocupações das edificações caracterizam por graus variados de
risco de ocorrência de incêndios. Os graus de riscos têm relação direta com o perfil
de atividade, aglomeração de pessoas, planta desfavorável às condições de
segurança para os ocupantes das edificações e predominantemente pelas medidas
de prevenção e combate a incêndio previstas e implementadas nestas edificações.
As medidas de prevenção e combate caracterizam-se por ter atuação antes do
incêndio, denominadas como passivas ou por atuarem durante o incêndio,
denominadas como ativas. Há uma grande heterogeneidade na condução de medidas
que possam prevenir ou atenuar os perigos envolvidos para a população.
Desde o ano de 2011, o Estado de São Paulo possui uma legislação que pode
ser considerada referência, porém esta legislação deve ser compreendida e aplicada,
especialmente por Arquitetos e Engenheiros Civis, que têm a responsabilidade de
desenvolver a cultura de prevenção de incêndios nas edificações desde a seleção do
terreno para a edificação, na elaboração de seus projetos, até a execução das obras,
seguindo procedimentos padrão.
Estruturas e sistemas que previnam e atenuem os efeitos de incêndios são
vitais para edificações civis, pela oportunidade de se atuar mesmo antes de estas
estarem em construção. Consolidar os requisitos e tecnologias disponíveis permite
uma visão global do cumprimento eficaz dos projetos e condução de obras em
engenharia civil. A massificação do conhecimento acerca da legislação, bem como
das práticas a serem adotadas como prevenção, tem grande potencial de reduzir as
consequências de incêndios em setores como o comércio, indústria, serviços,
condomínios e nos mais variados locais de reunião de pessoas como escolas,
hospitais, teatros, cinemas, restaurantes, igrejas e outros.
A Engenharia Civil contemporânea é desafiada a promover edificações com
propósitos ambientais, com foco em sustentabilidade e preservação dos recursos,
porém algo que tem despontado de maneira significante no tocante a sua importância,
14

embora sem o mesmo teor de divulgação é a integridade dos usuários e a prevenção


de incêndios, para os quais normas tem sido criadas e atualizadas. Qual o
entendimento comum das normas, metodologias, padronizações e tecnologias de
construção civil, ativas e passivas que estão disponíveis e são aplicáveis,
mandatoriamente ou não, no estado de São Paulo hoje?
Este trabalho tem como objetivo consolidar as práticas e normalizações
aplicáveis a projetos de engenharia civil, nos quais está compreendida a prevenção e
combate a incêndios ativa e passiva em edificações no Estado de São Paulo,
apresentando definições, características e experiência de incêndios, discorrendo
sobre legislação e normalização aplicável e vigente, finalmente sumarizando as
práticas ativas e passivas na prevenção e combate a incêndios, cuja metodologia está
embasada na leitura do Decreto Estatual 63911 de 2019 a das instruções técnicas
derivadas do mesmo decreto.
O tipo de pesquisa realizado neste trabalho, foi uma Revisão de Literaturas e
Legislação, na qual foi realizada uma consulta a livros, artigos científicos,
dissertações, legislação selecionados através de busca nas seguintes bases de
dados, Decretos Estaduais, Instruções Técnica do Corpo de Bombeiros do Estado de
São Paulo e bibliografia específica de Prevenção e Combate a Incêndios. O período
de pesquisa foram os trabalhos publicados de 1998 até 2018. As palavras chaves
utilizadas na busca foram: Prevenção Ativa, Prevenção Passiva, Combate a incêndios
e Bombeiros.
15

2. EXPERIÊNCIAS DE INCÊNDIOS, DEFINIÇÕES E CARACTERÍSTICAS

As edificações são projetadas e planejadas conforme sua aplicação e


utilização. Todo usuário ou proprietário da edificação espera encontrar conforto,
funcionalidade, mas nem todos tem uma preocupação específica com segurança. A
Figura 1 apresenta um sistema de mangotinho, que é uma forma mais simplificada de
combate a incêndio do que um hidrante. Em situações de alta demanda de extinção
de incêndio, este método pode não ser suficiente e o fogo pode controlar a edificação
rapidamente, sendo que a escolha do equipamento adequado pode definir o resultado
da operação de combate (CAMILLO, 2013).

Figura 1 – Sistema de mangotinho

Fonte: Grupo Segura (2019)

É como se fosse algo intrínseco, que ocupar ou conviver em um espaço seja


uma ação despreocupada. Entretanto, edificações são sujeitas a eventos não
agradáveis e por que não dizer, trágicos, como incêndios. Observando os
acontecimentos através da história, as causas são inúmeras, como distração, falta de
conhecimento, excesso de confiança, precariedade de manutenção, falta de vistoria,
dentre outros, o que é demonstrado por Cunha & Cesar (1982) “fatores que podem
culminar em incêndios são: falhas nas instalações elétricas; sistemas de ar
condicionados mal instalados; poços de elevadores; lixeiras, suprimento de gás”.
Estas falhas em instalações causam panes, como é visto na Figura 2, um incêndio
causado por pane no ar condicionado.
16

Figura 2 – Incêndio causado por pane no ar condicionado

Fonte: Web Ar Condicionado (2019)

Entretanto, a ocorrência de incêndios das edificações é uma preocupação que


não é mais somente dos proprietários, síndicos, administradores e usuários das
edificações, mas saiu do âmbito civil e agora alcança os poderes públicos, de acordo
com Seito (2008), “A legislação e os códigos de Segurança Contra Incêndio (SCI) vêm
sendo substituídos para as edificações mais complexas pela engenharia de SCI, outra
área também em expansão internacionalmente”.
Após os incêndios trágicos, desde a década de 70, mencionados por Silva “na
primeira metade da década de 1970, quando ocorreram dois incêndios de grandes
proporções na cidade de São Paulo e de repercussão internacional: o Edifício Andraus
e no Edifício Joelma” (SILVA, VARGAS, ONO; 2010), até incêndios nos anos 2000,
como da Boate Kiss, que deixou duzentos e quarenta e dois mortos (VEJA, 2018),
houve grande progresso nas práticas de SCI. A Figura 3 mostra uma fotografia do
incêndio no Edifício Joelma.
.
Figura 3 – Incêndio no edifício Joelma

Fonte: Agência O Globo (2020)


17

As características dos incêndios são tipicamente o tempo de propagação, que


normalmente excedem às condições de reação à sua extinção e a forma de
propagação, na qual destacam-se as formas de propagação por condução, convecção
e irradiação, “deve-se levar em conta o mecanismo de transmissão da energia, ou
seja, condução do calor, convecção do calor e radiação de energia. Cada modo de
transmissão da energia irá influenciar na manutenção e no crescimento do fogo”
(GOMES, 1998).

2.1 FOGO
A definição de um incêndio, de acordo com Seito, “quando o fogo aparece de
forma involuntária, acidental e fora de controle, um elemento destruidor de vidas e
patrimônios, sendo uma preocupação constante desde a antiguidade e certamente
continuará a ser também no futuro” (SEITO, 2008).
Então sob esta ótica, o incêndio fica caracterizado como um fogo sem controle,
algo que não podemos controlar muitas vezes, mas que na maioria delas poderíamos
evitar. Mas há circunstâncias que influenciam o incêndio, segundo Seito, “forma
geométrica e dimensões da sala ou local, superfície específica dos materiais
combustíveis envolvidos, distribuição dos materiais combustíveis no local” (2008. P.
43/44) e outros. O fogo definido como processo de combustão caracterizado pela
emissão de calor e luz, conforme Associação Brasileira de Normas Técnica (NBR
13860, 1997) e este fogo é formado pela junção de três elementos compõe um
conhecido triângulo do fogo e sem a presença de um deles o fogo já não existe, como
ilustrado na Figura 4.

Figura 4 – Triângulo do fogo

Fonte: Seito (2008, p. 5)


18

O triângulo de incêndio também é conhecido como tetraedro do fogo, uma vez


que o fogo pode despertar por si próprio uma reação em cadeia, conforme abordou
Seito (SEITO, 2008).

2.2 PROPAGAÇÃO POR CONDUÇÃO


A transferência de calor ocorre no interior de um corpo ou através de corpos
que estejam necessariamente em contato entre si e esta transferência, molécula a
molécula, dispensa transporte de matéria (FLORES, 2016). Em um edifício, a
propagação do incêndio é exemplificada pelo pela condução do calor que ocorre em
estruturas metálicas, vigas, beirais, até atingirem outros corpos ou pessoas, ilustrado
na propagação de calor por condução em uma barra aço, na Figura 5.

Figura 5 – Propagação por condução

Fonte: Flores (2016, p. 13)

2.3 PROPAGAÇÃO POR CONVECÇÃO


A transferência do calor ocorre de um lugar até outro, por meio de fluídos,
líquidos ou gases, sendo que os líquidos tendem a propagar para baixo e os gases
propagam por convecção em maneira ascendente, ou seja, para cima (FLORES,
2016), conforme mostra a Figura 6.

Figura 6 – Propagação por convecção

Fonte: Flores (2016, p. 13)


19

2.4 PROPAGAÇÃO POR IRRADIAÇÃO


Trata-se da emissão contínua de calor por meio de ondas caloríficas. Esta
radiação é propagável em todos os sentidos e direções ao redor da fonte, a exemplo
da convecção, também dispensa o contato entre os corpos sendo que quão menor for
a distância entre eles, maior a radiação incorrida, porém influenciada também pela
intensidade de energia da fonte (FLORES, 2016), ilustrado na Figura 7.

Figura 7 – Propagação por irradiação

Fonte: Flores (2016, p. 14)

A intervenção humana e as considerações feitas no projeto e construção das


edificações têm contribuição vital na dinâmica do fogo. Ao combinar materiais
combustíveis diversos, sólidos (papel, madeira, tecido), líquidos (solventes,
inflamáveis, gás liquefeito de petróleo, com oxigênio, mais o calor tem-se a
consumação da reação química térmica, distinguindo da situação de incêndio por
continuidade ou propagação da chama já existente. O fato de haver ocorrência de
focos em posições distintas e distanciados ente si, são oriundos da propagação peça
condução, convecção e irradiação (LUZ NETO, 1995).
20

3. LEGISLAÇÃO E NORMALIZAÇÃO APLICÁVEIS


O estudo e conhecimento da legislação, expressa por leis, decretos, portarias,
resoluções e instruções técnicas, é crucial para o prover segurança na prevenção de incêndios
e tornar mais simples e menos arriscada para a atuação dos bombeiros no seu combate e
devem ser dominados por profissionais relacionados a definição, projeto e construção de
edificações. Ressalta-se que somente a legislação por si não será a solução de proteção
definitiva nas vidas das pessoas, é necessário que a forma de pensar e agir das pessoas seja
modificada com a conscientização para as consequências para a segurança e convívio em
espaços sujeitos a situação de incêndio (MITIDIERI, 2008).

3.1 PRIMÓRDIOS DA LEGISLAÇÃO CONTRA INCÊNDIO EM SÃO PAULO


Grandes incêndios ocorridos no Brasil, acabaram sendo o fator motivacional para que
se fosse desenvolvido legislações mais técnicas e focadas em melhorar a segurança dos
edifícios, o que se desencadeou em vários estados brasileiros e estenderam ao contexto
nacional. No estado de São Paulo, na então Província de São Paulo em 1852, o brigadeiro
Machado de Oliveira submeteu projeto de lei à Assembleia Provincial, com o propósito de se
ter aprovado um Código de Prevenção e Extinção de Incêndios, logo após um incêndio ter
acontecido na Rua do Rosário, em 1851. Tal código pressupunha que a população
participasse auxiliando a polícia no combate aos incêndios (SEITO, 2008).
Entretanto, a responsabilidade dos serviços de bombeiros iniciou-se em 1841,
legalmente falando, com o com a promulgação da Lei no. 13, definindo o Corpo Municipal
Permanente, sendo que estas atribuições cumulavam-se com as responsabilidades policiais,
de captura de indivíduos, escolta, patrulhamento e socorro aos cidadãos e constituem os
documentos mais antigos sobre composição legal dos bombeiros, encontrados na Assembleia
Legislativa do Estado de São Paulo (CORPO DE BOMBEIROS DE SÃO PAULO, 2020).
Dado um período sem ocorrência de incêndios, e também pelo fato de não haver até
então muitos edifícios ou edifícios não tão elevados, este tema era tratado exclusivamente
como responsabilidade dos bombeiros, até que a partir da década doa anos 70 sérios
incêndios acometeram a cidade de São Paulo de muita preocupação com o assunto. Após os
incêndios dos edifícios Andraus, em 1972 e Joelma em 1974, a legislação saiu das
regulamentações, relativamente superficiais dos bombeiros e dos códigos de obras não
técnicos dos municípios e alcançou o âmbito das leis estaduais e federais (SEITO, 2008).
21

Manifestações se destacaram, no sentido de aprimorar a legislação e o suporte técnico


para a normalização das práticas de segurança contra incêndios, ou prevenção e combate
ativos e passivos, como o Decreto Municipal número 10.878 de São Paulo, em 1974, duas
semanas após o incêndio no edifício Joelma, no qual foram instituídas normas especiais para
a segurança dos edifícios a serem observadas na elaboração do projeto, na execução, bem
como nos equipamentos, em caráter prioritário, o que culminou em 1975 com o novo código
de obras da cidade de São Paulo. Em período quase concomitante, de 18 a 21 de março de
1974 ocorreu o Simpósio de Segurança Contra Incêndio, realizado pelo clube de Engenharia
do Rio de Janeiro, como objetivo principal abordar formas de evitar, combater e minimizar os
efeitos dos incêndios (SEITO, 2008).
Em 1974, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) editou regulamentação
para saídas de emergências para edificações altas, por meio do seu comitê da Construção
Civil e esta regulamentação, a NB208 foi fundamental para o desencadeamento de outras
normas que se sucederam, com decisiva participação da criação do Comando Estadual do
Corpo de Bombeiros em São Paulo, o qual acatou recomendações advindas da parceria com
a National Fire Protection Agency (NFPA).
Outro ato importante quando em 1978 o Ministério do Trabalho editou a Norma
Regulamentadora 23 (NR23), intitulada como Proteção Contra Incêndios, onde foram
dispostas as regulamentações de proteção contra incêndio estabelecendo de maneira clara a
relação entre empregado e empregador, como parte da reestruturação de todo o sistema de
segurança do trabalho, que hora estava sob revisão e trouxe obrigatoriedade de cumprimento
do seu conteúdo às empresas regidas peça Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

3.2 EVOLUÇÃO DOS DECRETOS ESTADUAIS DE SÃO PAULO


No Estado de São Paulo, cenário de grandes tragédias de incêndios, o processo
evolutivo da reação da legislação atingiu um nível de segurança comparável a países
desenvolvidos, porém o despertar foi moroso. A primeira especificação para instalações e
proteção de incêndio foi editada em 1961. Em 1983 o primeiro Decreto Estadual foi editado
(Decreto nº 20.811/83), precedido de mais um grande incêndio, ocorrido em fevereiro de 1983
no Edifício Grande Avenida. Por este decreto, esta especificação passou a exigir sistema de
alarme de incêndio e detecção de calor e fumaça, sistemas de chuveiros automáticos, sistema
de iluminação de emergência, compartimentação vertical e horizontal, escadas de segurança,
isolamento de risco, sistemas fixos de espuma e outras proteções a serem vistas no capítulo
22

posterior. Em 1993 houve uma nova revisão da regulamentação, passando a vigorar o Decreto
Estadual nº 38.069, com grande crescimento técnico, mas com revisões operacionais
não tão significativas, porém em 2001 começou a vigorar o Decreto Estadual nº 46.076
juntamente com 38 Instruções Técnicas do Corpo de Bombeiros (IT 02 CBESP 2019).
As 38 Instruções Técnicas do Corpo de Bombeiros foram revisadas em 2004 e em
2011, a legislação foi aprimorada com a publicação do Decreto Estadual nº 56.819,
além da atualização das Instruções Técnicas atuais e acréscimo de outras, totalizando
44 Instruções Técnicas.

3.3 O DECRETO ESTADUAL 63911


O Decreto Nº 63.911, de 10 de dezembro de 2018 Institui o Regulamento de
Segurança Contra Incêndios das edificações e áreas de risco no Estado de São Paulo
e dá providências correlatas, decretado pelo Ilmo. Governador Márcio França, o qual
vem como atualização à Lei Complementar número 1257, de 6 de janeiro de 2015.
Nesta legislação, ficam notórios os seus objetivos, listados em seu Artigo
Segundo, como a proteção prioritária à vida da população da edificação, a restrição
ao aparecimento de incêndio, bem como evitar que eles ressurjam nas situações
emergenciais e de incêndio, lançando mão de definições de projetos e utilização de
materiais se possível, incombustíveis, caso não seja possível, utilizar materiais de
baixa inflamabilidade e como resultado, reduzindo a fatalidade e exponencial danos
ao meio ambiente a ao patrimônio. Também assegurar e disponibilizar os recursos
mínimos requeridos para controlar e extinguir o fogo, além de que a propagação do
incêndio, levando-o para outros pontos da edificação seja evitada.
Outros aspectos relevantes destacados no mesmo Artigo Segundo, são a
viabilização de operações de atendimento de emergência, permitir que a edificação
tenha continuidade em sua atividade econômica ou social, e disseminar um
pensamento e cultura prevencionista, que vai muito além das exigências legais e têm
o caráter de salvar vidas e reduzir os danos (Lei Complementar número 1257, de 6 de
janeiro de 2015).

Os objetivos são intencionados a serem atingidos pela aplicação de medidas


de segurança contra incêndio das edificações nas áreas de risco.
23

Estas áreas de risco foram mapeadas, classificadas e divididas conforme uso,


chamados de grupos, que vão de “A” até “M”, conforme ocupação (Decreto Estadual
63911;2018) e caracterizados como exemplos na Tabela 1 e Tabela 2, grupos de
ocupação e uso:

✓ A – Residencial;
✓ B – Serviço de Hospedagem;
✓ C – Comercial;
✓ D – Serviço Profissional;
✓ E – Educacional;
✓ F – Local de Reunião Pública;
✓ G – Serviços Automotivos;
✓ H – Serviços de Saúde;
✓ I – Indústria;
✓ J – Depósito;
✓ K – Energia
✓ L – Explosivo;
✓ M – Especial.

Tabela 1 – Grupos de ocupação/uso – “A” até “C”

Fonte: Decreto 63911 (2018)

Nesta classificação primária de risco da edificação, por exemplo, a utilização


como residência unifamiliar do grupo A, tem um risco mais reduzido do que a utilização
de uma edificação para uma sala de cinema do grupo F, da Tabela 2, pois fatores
como lotação e aglomeração de pessoas, rotas de fuga, dimensionamento das saídas
24

em função da vazão requerida da população do recinto, dentre outros fatores,


contribuem para a demanda de medidas de maior rigor e efeito preventivo.
Tabela 2 – Grupo de ocupação/uso – “F”

Fonte: Decreto 63911 (2018)

Além de serem classificadas por utilização, as edificações também são


classificadas em função de outros aspectos como área construída, altura da
edificação, classe de incêndio, lotação e outros, assim como as medidas de prevenção
e combate são aplicadas de acordo com o conjunto destas classificações, visto no
capítulo seguinte.
25

4. PRÁTICAS E EQUIPAMENTOS ATIVOS E PASSIVOS NA PREVENÇÃO E


COMBATE A INCENDIOS
As medidas de proteção são classificadas de modo a permitir o grau de
confiabilidade e segurança para a população de uma edificação, sendo que as
medidas ativas têm caráter de correção ou seja, se combate e extinção à emergência
de incêndio, bem como preservação a vida e atendimento de emergência de primeiros
socorros, ao passo que as medidas passivas constituem maior segurança aos
usuários pois são medidas constituídas no projeto e construção da edificação
(FLORES, 2016).

4.1 MEDIDAS APLICÁVEIS


As medidas de prevenção e combate a incêndio, listadas no Decreto 63911,
2018 são suficientemente capazes de contemplar toda fonte de risco e mitigar
situações de pânico e emergência oriundas de um incêndio, bem como assegurar os
objetivos estabelecidos pelo Decreto. Estas medidas têm caráter passivo, quando
estão instaladas e possuem as propriedades de projeto de evitar um incêndio, as quais
estão incorporadas no projeto, obra física ou no ambiente, sem a necessidade de
serem humanamente acionadas e compreendem as demandas dos usuários para
determinada edificação.
Um sistema de segurança contra incêndio é composto de um conjunto de meios
ativos (sistemas de detecção e alarme de incêndio, de extintores, de hidrantes e
mangotinhos, de chuveiros automáticos, outros) e passivos de proteção (rotas de
fuga, compartimentação, resistência ao fogo das estruturas, outros). O nível esperado
de segurança contra incêndio pode ser obtido pela integração dos sistemas de
proteção ativa e passiva no projeto da edificação (SILVA; VARGAS; ONO, 2010).
A aplicabilidade das medidas de segurança se dá em função das características
da edificação ou área de risco, sendo classificadas primariamente e apresentadas
como Projeto Técnico (PT) ou Projeto Técnico Simplificado (PTS), em função da área
da edificação, que quando superior a 750 m2 e, ou tiver a altura da edificação superior
a três pavimentos, caracterizam-se como PT, para o qual após o processo de
adequação da edificação e vistoria, é emitido o Auto de Vistoria do Corpo de
Bombeiros (AVCB), que é mais completo do que o PTS.
26

O segundo projeto, PTS, recebe um Certificado de Licença do Corpo de


Bombeiros (CLCB), após vistoria e esta classificação independe do tipo de ocupação,
sendo que a única ressalva, é o caso das pequenas edificações, com área inferior a
100 m2 e com um só pavimento, a qual fica dispensada da elaboração e submissão
de ART, previsto na instrução técnica 01 (CBPMESP, 2019).
As submissão destes projetos, são requeridos, via upload no sitio do
CMPMESP, com assinatura digital, o formulário de segurança contra incêndio (Anexo
A), Anotação de Responsabilidade técnica (ART) emitida pelo responsável técnico e
todos os laudos conforme, itens solicitados pré-determinados em função do tipo de
ocupação, documento de comprovação da existência a edificação, como fotos e folha
de rosto do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). No caso de PT, é apresentado
também a planta de incêndio da edificação (CBPMESP, 2019).
São as exigências de equipamento e práticas demandadas, conforme áreas de
risco expressas no Decreto 63911:
➢ Acesso a viatura na edificação;
➢ Segurança estrutural contra incêndio;
➢ Compartimentação vertical;
➢ Compartimentação horizontal;
➢ Controle de material de acabamento;
➢ Saídas de emergência;
➢ Projeto e construção de escadas de emergência;
➢ Gerenciamento de risco de incêndio;
➢ Projeto urbanístico;
➢ Brigada de incêndio;
➢ Iluminação de emergência;
➢ Alarme de incêndio;
➢ Detecção de incêndio;
➢ Sinalização de emergência;
➢ Extintores;
➢ Hidrantes e mangotinhos;
➢ Sistemas fixos de gás carbônico;
➢ Chuveiros automáticos;
➢ Controle de fumaça.
27

Todas estas medidas quando aplicáveis devem ser implementadas antes da


solicitação de vistoria. As medias devem ser previamente documentadas no Projeto
Técnico, ou no Projeto Técnico Simplificado (Decreto 63911, São Paulo, 2018).

4.2 MEDIDAS E EQUIPAMENTOS PASSIVOS


As medias e práticas passivas são aquelas que já são constituídas no ambiente,
na edificação, no projeto ou nas estruturas desta edificação e por esta natureza, são
independentes da ação do homem e se manifestam de maneira antecipada às
catástrofes de incêndios, ou de maneira automática (SILVA, VARGAS, ONO; 2010).

4.2.1 Compartimentação Horizontal


Os propósitos da compartimentação são a contenção do fogo no ponto onde se
originou, a não ocorrência de incêndio nas rotas de fuga e tornar mais simples para
os para o resgate de e combate contra o fogo. A compartimentação horizontal, cuja
função é impedir propriamente dito o avanço lateral da chama dentro do mesmo
espaço e pode ser empregada com a aplicação dos seguintes dispositivos ou medidas
de proteção descritas na Instrução Técnica 2 (CMPMSP, 2019):
➢ Paredes corta-fogo;
➢ Porta corta-fogo;
➢ Vedadores corta-fogo;
➢ Registros corta-fogo;
➢ Selos corta-fogo;
➢ Dispositivos automáticos de enrolar corta-fogo;
➢ Afastamento horizontal entre aberturas.
Há mecanismos e práticas de aplicação destes dispositivos e medidas, onde já
é definido em projeto a barreira que é criada entre os ambientes, o que causa uma
diminuição das áreas de risco. Estes dispositivos são elementos normatizados e
devem seguir padrões de fabricação e construção sendo que seus elementos devem
atingir altos graus de resistência ao fogo, chegando a 120 minutos de exposição ao
fogo sem ser consumido pelo mesmo, no caso de uma porta corta-fogo e outros
métodos, como mostra a Figura 8, ressaltando a parede divisória, porta corta-fogo,
distanciamento entre as janelas também necessitam validação técnica e detalhados
na Instrução técnica 09 (CBPMESP, 2019):
28

Figura 8 – Compartimentação horizontal

>
.

Fonte: CBPMESP IT 09 (2019)

Os materiais empregados na construção destes equipamentos podem ser


definidos a critério do engenheiro, desde que atenda aos requisitos mencionados na
Instrução Técnica 02 (CBPMESP, 2019):
“Elemento corta-fogo é aquele que apresenta, por um período determinado
de tempo, as seguintes propriedades: integridade mecânica a impactos;
impede a passagem das chamas e da fumaça (estanqueidade); e impede a
passagem de caloria” (CBPMESP IT2, 2019; p2).

4.2.2 Compartimentação Vertical


Tem o propósito de evitar o avanço do incêndio no sentido vertical, entre os
andares da edificação (CBPMESP, 2019).
São os seguintes os elementos construtivos e medidas protetivas:
➢ Entrepiso corta-fogo;
➢ Enclausuramento de escadas;
➢ Selos corta-fogo;
➢ Elementos construtivos corta-fogo, de separação vertical;
➢ Selagem perimetral corta-fogo;
➢ Dispositivos automáticos de enrolar corta-fogo

4.2.3 Saídas de Emergência


Um dos itens fundamentais no projeto de segurança passiva, define os
requisitos mínimos no dimensionamento de equipamentos visando o abandono pelos
ocupantes de uma edificação, preservando a integridade física das pessoas e
assegurar acesso aos bombeiros para o resgate e combate ao incêndio descrito na
29

instrução técnica 11 (CMPMESP, 2019). As saídas de emergência consideram portas,


acessos, corredores, rotas de fuga, escadas, rampas, descarga e elevadores de
emergência e levam em consideração a população, ou lotação do ambiente e tipo de
utilização da edificação, os quais são fundamentais para determinar número de
saídas, dimensão de cada passagem, distância entre as saídas, caminhamento
máximo até as saídas.
Portas e rotas de fuga são chave para o abandono seguro a não podem ser
trancadas, e sua abertura deve ser de dentro para fora, compondo um sistema anti-
pânico, permanecendo fechadas, porém com fácil acesso para saída. Portas de correr
são proibidas como acesso de saída de emergência de uma edificação (Associação
Brasileira de Normas Técnicas, 2001).

4.2.4 Projeto e construção das escadas de segurança


Os edifícios com múltiplos pavimentos empregam escadas de uso comum e
classificam-se em escadas abertas, enclausuradas, enclausuradas com antecâmara,
enclausurada com aberturas de ventilação e pressurizadas. Necessitam ter a
propriedade de resistência ao fogo e atuarem associadas a portas corta-fogo, onde
internamente um sistema de exaustão de uma via impede a dispersão da fumaça na
sua clausura. Quando pressurizada, um sistema mecânico provê ar positivo dentro da
câmara.
O dimensionamento das escadas segue o modelo das saídas de emergência,
sendo que a largura mínima de uma escada pra edificações novas é de 1,2 m,
conforme cálculo das unidades de passagens que baseia-se na população do
ambiente e também nas características e natureza de ocupação, com destaque para
locais de reunião (ABNT NBR 9077; 2001).
.
4.2.5 Resistência ao fogo dos elementos estruturais
A concepção do projeto, tanto arquitetônico, quanto estrutural e executivo de
uma edificação deve ser alinhada com os requisitos de segurança e prevenção de
incêndios e os materiais empregados, dimensionamento e construção devem atender
aos requisitos de resistência ao fogo, de maneira a propiciar uma maior durabilidade
dos elementos, ainda que sob condição de temperatura e chamas (CBPMESP, 2019).
30

O tempo disponível para abandono da edificação, atuação dos bombeiros no


combate ao incêndio e resgate de vítimas deve ser maximizado mesmo para que a
edificação venha a colapsar, porém em tempo mais retardado: “resistência ao fogo de
elementos estruturais a capacidade de suportar, por um dado período, os intensos
fluxos de energia térmica que ocorrem durante um estabelecido incêndio” (SILVA,
VARGAS, ONO; 2010).

4.2.6 Controle de fumaça


As características particulares de um incêndio, conforme Flores (2016)
“Ambiente ocupado por uma fumaça densa, devido ao aumento de pressão interna,
os gases saem por todas as aberturas em forma de lufadas Calor intenso, que faz
com que os combustíveis liberem vapores combustíveis”.
Um dos maiores riscos em ocasião de um a incêndios é a inalação de fumaça
e gases tóxicos, tanto para os combatentes, quanto principalmente para as vítimas,
por esta razão. O seu controle previamente ao incêndio torna-se uma medida
preventiva significante (FLORES, 2016).
Como diretriz para os projetos de controle de fumaça, os objetivos a serem
atingidos som este sistema passivo são:
a. manutenção de um ambiente seguro nas edificações, durante o tempo
necessário para abandono do local sinistrado, evitando os perigos da
intoxicação e falta de visibilidade pela fumaça;
b. o controle e a redução da propagação de gases quentes e fumaça entre a
área incendiada e áreas adjacentes, diminuindo a temperatura interna e
limitando a propagação do incêndio;
c. prever condições dentro e fora da área incendiada que irão auxiliar nas
operações de busca e resgate de pessoas, localização e controle do incêndio
(CBPMESP, IT 15-P1, 2019, p 8).

O controle eficiente de fumaça, engloba as seguintes condições:


Divisão ou compartimentação dos volumes de fumaça;
Adequada extração da fumaça, cem crias de zonas mortas onde a fumaça de
potencial acúmulo de fumaça;
Haver um diferencial de pressão, atuando-se nas aberturas de extração de
fumaça e cerre das aberturas de extração de fumaça das áreas próximas ao
incêndio (CBPMESP, IT15-P1, 2019, p 16).

4.3 MEDIDAS E EQUIPAMENTOS ATIVOS


Medidas ativas são aquelas que entram em operação no caso da ocorrência do
sinistro do incêndio, ou seja, que são ministradas somente após a ocorrência de uma
emergência de incêndio e a partir do comando de pessoas, por esta ração elas não
31

são automáticas, mas sempre vão depender a ação de indivíduos treinados e


qualificados para a intervenção do incêndio (SILVA, VARGAS, ONO; 2010).

4.3.1 Sistemas de Detecção e Alarme


A detecção de um incêndio e a comunicação por sistema de alarme, deve
ocorrer no menor tempo possível, e um projeto destes sistemas de detecção e alarme
de incêndio deve abranger todos os elementos que assegurem seu funcionamento. O
método de acionamento destes sistemas de detecção e alarme pode ser manual ou
automático (ABNT NBR 17240, 2010).
Um completo sistema de detecção e alarme compreende um dispositivo
sensível ao aumento de temperatura, presença de fumaça, gás ou chama, um
acionador manual ou botoeira, uma unidade central de gerenciamento que recebe o
sinal, identifica a origem ou botoeira que o disparou, avisador da situação de perigo,
que pode ser uma sirene sonora, emissão de luzes ou mensagens e por uma fonte de
alimentação elétrica independente, suportada por baterias elétricas. A sua instalação
é determinada em situações nas quais o início do incêndio não possa ser
imediatamente notado de qualquer parte da edificação, a população ocupante da
edificação é elevada, há alto risco de início e propagação de incêndio ou situações
especiais em que ocupantes possa estar dormindo ou com saúde debilidade, em
hotéis ou hospitais e possam estar em situação (SILVA, VARGAS, ONO; 2010).

4.3.2 Sinalização de emergência


Para a população de uma edificação, é comum atribuir as rotas de fuga como
as sinalizações mais importantes e familiares, entretanto, equipamentos de prevenção
e combate, como botoeiras de bomba de incêndio e alarme, extintores, hidrantes além
de outros equipamentos necessitam ser identificados e contribuem para reduzir
perdas e danos em situações de incêndios (SEITO, 2008).
As funções do sistema de sinalização de emergência são a de diminuir a
probabilidade de que se ocorra os incêndios, alertando problemas e direcionando
ações de prevenção e a segunda função é no caso de incêndios, já como atuação
ativa, indicar quais e onde se encontram os e equipamentos de combate e apontar
as rotas de fuga e abandono (SILVA, VARGAS, ONO; 2010).
32

Os padrões visuais, conteúdo, dimensões e requisitos de desempenho, como


por exemplo a fotoluminescência de seus pictogramas são aspectos regulamentados
e considerados em vistorias para obtenção de AVCB informado na instrução técnica
20 (CBPMESP, 2019).

4.3.3. Extintores portáteis de incêndio


O extintor de incêndio faz parte do sistema básico de segurança contra incêndio
e é um equipamento de combate de ação ativa que deve ser empregado apenas para
situações de princípio de incêndio e normalmente é utilizado pela equipe de
brigadistas internas, ou por pessoal treinado disponível na ocupação nos casos de
emergência de incêndio. A origem do incêndio pode ser em uma linha elétrica, em
objetos sólidos, produtos inflamáveis ou químicos ou outros materiais, o que requer
uma substância específica para cada caso, que é chamada de agente extintor, para
promover a extinção do fogo, e por esta razão são estabelecidas classes de incêndio
conforme material em combustão (SEITO, 2008).
Os materiais combustíveis sólidos, tais quais papel, madeira, tecido, ao
sofrerem ação do calor em presença do oxigênio vaporizam gases e estes gases se
inflamam. Esta categoria classe de material é denominada classe A. Já no caso dos
combustíveis líquidos, há uma pré-classificação entre inflamáveis e não inflamáveis,
dependendo do ponto de fulgor. A NFPA definiu que o ponto de fulgor inferior a 37,8º
Celsius caracteriza um material inflamável. Há também a classificação dos
combustíveis gasosos que apresentam alto risco de inflamabilidade, dependendo de
sua concentração. A classe de incêndios em ambos materiais combustíveis líquidos e
gasosos é denominada classe B. A terceira classe de incêndio mais comum é que
ocorre em equipamentos energizados, painéis elétricos e fiação elétrica (FLORES,
2016).
A Tabela 3 apresenta os tipos de agentes extintores aplicáveis a cada classe
de incêndio:
33

Tabela 3 - Seleção do agente extintor segundo a classificação do fogo

AGENTE EXTINTOR
Classe de
fogo Pó
Espuma Dióxido de Carbono Pó Químico
Água (co2) Químico
Mecânica BC
ABC
A (A) (A) (NR) (NR) (A)
B (P) (A) (A) (A) (A)
C (P) (P) (A) (A) (A)
(A) apropriado à classe de fogo (NR) não recomendado à classe de fogo (P) proibido à classe de fogo

Fonte: Seito (2008, p. 249)


A escolha do tipo de extintor e treinamento para o uso são fundamentais,
conforme destacou Seito (2008), “extintores impróprios poderá, além de não conseguir
extinguir o fogo, colocar em risco a vida de quem for utilizá-los, o meio ambiente e o
patrimônio. Na maioria das vezes, o operador não tem o treinamento específico”.

4.3.4 Sistema de hidrantes


As edificações cujas características de ocupação, altura ou número de
pavimentos e área construída apresentam risco, devem possuir o recurso do sistema
preventivo fixo de combate a incêndios, denominado hidrante, pois os recursos de
extinção portáteis e básicos não apresentam capacidade suficiente para dominar o
fogo (Decreto Estadual 63911; São Paulo, 2018).
A composição do sistema de proteção e combate por hidrantes é constituída
basicamente de um reservatório de água, com volume calculado e separado
exclusivamente para a reserva técnica de incêndio, uma fonte de abastecimento de
água, com bombeamento mecânico utilizando-se uma bomba de incêndio hidráulica
cujo vazão e pressão são calculadas para as características da edificação, rede de
dutos de tubulação de abastecimento por onde fluirá a água e fará a distribuição na
edificação e os hidrantes propriamente ditos, constituídos de esguicho, registro, bico,
chave e a mangueira (SILVA, VARGAS, ONO; 2010).
As unidades de hidrantes devem estar presentes em todos pavimentos e
atender uma distância mínima entre si, de acordo com a classe de incêndio da
edificação. Exceção para a necessidade de bomba hidráulica de recalque para a
tubulação se dá quando o reservatório se encontra em altura manométrica e pressão
suficiente para a distribuição por gravidade (CBPMESP, 2019).
34

4.3.5 Sistema de Chuveiros Automáticos


Visa, de maneira automática, combater o incêndio exatamente nos primeiros
segundos, obtendo com isto redução nos danos materiais em uma certa área. É
constituído de um sistema hidráulico de reservatório, bombeamento, e tubulações
semelhante ao sistema de hidrantes quando o agente extintor é a água, porém com
seu despejo sendo efetuado via aérea, lateral e em alguns casos inferior, por meio de
bicos e difusores acoplados a sensores térmicos dispostos sobre uma tubulação
secundária. Há casos em o agente de extinção necessita ser limpo, ou o meio
apresenta equipamentos energizados, ou a classe de incêndio não aceita água como
agente extintor, é utilizado gás carbônico (CO2) ou outros gases inertes. A composição
deste sistema é de uma bateria de do gás inerte, tubulação fixa de distribuição dos
aspersores e um mecanismo que detecta o incêndio e opera a soltura do gás, sem
intervenção humana (SILVA, VARGAS, ONO; 2010).
De acordo com Roter (2020), para atingir todos resultados esperados no
combate por este sistema, os chuveiros são testados de maneira aprofundada, sendo
que os 19 ensaios previstos na norma técnica ABNT (2001), são classificados em 3
grupos separados, os quais são denominados grupos de afinidade, em função do
objetivo que se propõem, sendo eles os ensaios de resistência dos materiais, ensaios
de avaliação de montagem e vazamento e por fim o ensaio de funcionalidade.

35

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As engenharia civil segue tendo papel de absoluta importância no contexto
prevencionista da atuação em emergências de incêndio e seus limites estão sendo
alargados a cada dia. Dado o histórico de ocorrência de incêndios no país, o assunto
prevenção de incêndios também está tomando importante papel na agenda das
entidades governamentais o que pode ser considerado a receita do sucesso sob a
ótica prevencionista.
A legislação tem evoluído e estreitado as exigências, de maneira aliada às
abordagem e fiscalização do Corpo de Bombeiros sendo que este se posiciona na
busca das melhores práticas e técnicas operacionais e recursos de tecnologia e
equipamentos, disponíveis fora do país.
Tendo em vista a proteção à vida, em primeiro plano e ao patrimônio, atuar de
maneira pragmática com a visão passiva, com tecnologia e estudos de engenharia ou
atuar de maneira ativa, como recursos de extinção de incêndio e treinamento às
equipes de combate de incêndio e a população das edificações, conduzir-se à uma
realidade onda as estatísticas reduzirão seus indicadores de maneira significativa.
Este trabalho expões o que tem sido feito e demonstrou claramente os recursos
e legislação disponíveis bem como a velocidade a dinamismo que ele melhora com o
tempo e os próximos passos para seu aprimoramento são a comunização legislativa
plena, com requisitos e exigências também padronizados nos comandos dos
bombeiros. Soma-se a estes esforços, a alocação de recursos por parte da federação
e estados e uma política de conscientização da população, a ser aplicada já nos
ensinos fundamentais das escolas.

.
36

REFERÊNCIAS

ABNT. NBR 13860: Glossário de termos relacionados com a segurança contra


incêndio. Rio de Janeiro, 1997.

ABNT. NBR 9077: Saídas de emergência em edifícios. Rio de Janeiro, 2001.

ABNT. NBR 17240: Sistemas de detecção e alarme de incêndio. Rio de Janeiro, 2010.

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Joelma, em São Paulo, que deixou 187 mortos, há 45 anos. Disponível em:<
https://blogs.oglobo.globo.com/blog-do-acervo/post/relembre-o-incendio-do-edificio-
joelma-uma-das-maiores-tragedias-do-pais-completa-45-anos.html>. Acesso em 08
mai. 2020.

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Editora SENAC, 2013

CBPMESP. Instrução Técnica 01: Procedimentos administrativos. São Paulo, 2019.

CBPMESP. Instrução Técnica 02: Conceitos básicos de segurança contra incêndio.


São Paulo, 2019.

CBPMESP. Instrução Técnica 09: Compartimentação horizontal e


compartimentação vertical. São Paulo, 2019.

CBPMESP. Instrução Técnica 15: Controle de fumaça. São Paulo, 2019.

CBPMESP. Instrução Técnica 20: Sinalização de Emergência. São Paulo, 2019.

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< http://www.corpodebombeiros.sp.gov.br/portalcb/_institucional/#5>. Acesso em 12
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FLORES, Bráulio Cançado; ORNELAS, Éliton Ataíde; DIAS, Leônidas Eduardo.


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Militar do Estado de Goiás. Goiânia: 2016

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37

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de 30 de setembro de 1975 e estabelece outras providências. São Paulo, 2011.

SÃO PAULO. Decreto Nº 63.911, de 10 de dezembro de 2018 Institui o Regulamento


de Segurança Contra Incêndios das edificações e áreas de risco no Estado de São
Paulo e dá providências correlatas. São Paulo, 2018.

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