Você está na página 1de 13

SEXO E SEXUALIDADE NO PROCESSO

artigo de revisão
DE ENVELHECIMENTO
Valeria Alves da Silva Nery*
Tatiane Dias Casimiro Valença**

RESUMO
Muitos idosos ainda encaram o envelhecer como
sinônimo de decadência e isolamento, doenças e peso
social, sendo que a sociedade impõe aos idosos, tabus,
privando-lhe de re-pensar a sexualidade, o corpo, o
prazer, a prática do sexo, levando-os a enfrentar várias
dificuldades de adaptação a esse estágio da vida. O
objetivo geral deste estudo foi Analisar as
modificações que ocorrem no campo de sexo e
sexualidade entre idosos em seu processo de
envelhecimento. Quanto aos objetivos específicos,
busca-se: averiguar se os idosos continuam tendo vida
sexual ativa; identificar a ocorrência de nmodificações
na sexualidade e nas praticas sexuais em idosos.
Método: trata-se de uma revisão integrativa da literatura
realizado on-line nas bases de dados: Literatura Latino-
Americana em Ciências da Saúde (LILACS), Medical
LiteratureendRetrieval System Online (Medline) e
Scientific Eletronic Library Online (SciElo), utilizando
como decritores: Sexualidade; Sexo; Envelhecimento,
Processo e envelhecimento. Notamos uma
heterogeneidade de pesquisas relacionadas à
compreensão da sexualidade, que foi revelada através
de sentimentos como amor, respeito, carinho, união,
amizade ou algo que vai além do ato sexual. Embora
existam tabus acerca da sexualidade na velhice, os
*Doutoranda do Programa de Pós-
participantes explanam que sexualidade é um conjunto graduação em Memória: Linguagem
de atitudes e sentimentos para com o parceiro: e Sociedade (PPGMLS- UESB).
expressão de carinho, beijo, abraço, toque, olhar, ouvir Mestre em Enfermagem e Saúde.
Bacharel em Enfermagem. Docente
e compreender o que o outro fala. Assim, que a do Departamento de Saúde da
sexualidade é inerente a vida do ser humano, faz parte UESB. E-mail: valalves04@yahoo.
do seu ciclo biológico de vida e que no envelhecimento, com.br.
**Doutoranda do Programa de Pós-
também é possível ter uma vida sexualmente ativa e graduação em Memória: Linguagem
prazerosa, levando em consideração características e Sociedade (PPGMLS- UESB).
Mestre em Enfermagem e Saúde.
próprias do processo de envelhecimento. Bacharel em Fisioterapia. Docente
do Departamento de Saúde da
Palavras-chave: Sexualidade. Sexo. Envelhecimento. UESB. E-mail: tatidcv@ig.com.br.

1 INTRODUÇÃO número de pessoas idosas. Mesmo


estado em pleno século XXI, muitos
Nos dias atuais discute-se muito
idosos ainda encaram o envelhecer como
sobre o envelhecer, devido ao crescente
sinônimo de decadência e isolamento,

20 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.20-32, jul./dez. 2014
Valeria Alves da Silva Nery, Tatiane Dias Casimiro Valença

doenças e peso social, sendo que a interesse dos profissionais de saúde


sociedade impõe aos idosos, tabus, sobre a temática, ampliando o
privando-lhe de re-pensar a sexualidade, conhecimento e propondo intervenções
o corpo, o prazer, a prática do sexo, junto a este contingente populacional.
levando-os a enfrentar várias dificuldades Contudo, embora a sexualidade
de adaptação a esse estágio da vida. seja algo inerente à vida e à saúde,
Esse estudo justifica-se pela manifestada desde o nascimento do ser
necessidade de investigar a humano até a morte, este é um assunto
representação da sexualidade do idoso, cheio de discriminação e preconceitos,
visando analisar como o idoso percebe a principalmente, quanto à sexualidade do
prática sexual, o corpo, o desejo, a libido, idoso. Ao longo dos séculos XIX a XX, as
os preconceitos e tabus. Essa análise classificações das fases da vida e a
surgiu em decorrência do contato com percepção das diferentes e singulares
idosos do Grupo de Terceira Idade Jesus idades se dão no contexto da ideologia
Mediador e com idosos da Fundação Leur individualista. Baseada nesta ideologia e
Brito, localizados no município de Jequié, na interpretação construtiva entre dois
fomentando a percepção da necessidade momentos do ciclo vital – a juventude e a
dos mesmos quanto à orientação sobre a velhice, é que se desenvolve a polaridade
sexualidade. entre um e outro instante da vida,
A sexualidade é um elemento estabelecendo um valor referente a cada
fundamental para uma boa qualidade de um.
vida dos idosos, porém se faz necessário Para Minayo (1994, p.17) ”[...] nada
conhecimento de como eles a percebem e pode ser intelectualmente um problema se
a vivenciam, permitindo a obtenção de não tiver sido em primeiro lugar, um
informações relativas ao tema que problema na vida prática”. Daí, toda
poderão subsidiar os profissionais de investigação se iniciar um problema com
saúde, com vistas ao planejamento de uma questão, dúvida ou pergunta,
ações específicas e objetivando a atenção articuladas a conhecimentos anteriores,
integral. Além disso, ao buscar conhecer o podendo também demandar a criação de
que os idosos pensam acerca da novos referenciais.
sexualidade na velhice, considera-se que Assim, este estudo teve como
esse resultado possa despertar o objetivo geral Analisar as modificações

C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.20-32, jul./dez. 2014 21
Sexo e sexualidade no processo de envelhecimento

que ocorrem no campo de sexo e conhecimento de um determinado


sexualidade entre idosos em seu assunto, além de apontar lacunas, que
processo de envelhecimento. Quanto aos precisam ser preenchidas com a
objetivos específicos, buscou-se: realização de novos estudos.
averiguar se os idosos continuam tendo Para o desenvolvimento da
vida sexual ativa; identificar a ocorrência presente revisão inicialmente foram
modificações na sexualidade e nas percorridas as seguintes etapas:
praticas sexuais em idosos. estabelecimento da questão norteadora;
A relevância social dessa pesquisa seleção dos artigos e critérios de inclusão;
consiste em subsidiar educadores, extração dos artigos incluídos na revisão;
profissionais de saúde, sacerdotes e avaliação dos estudos incluídos;
outras pessoas que estejam interpretações dos resultados, e
compromissadas em trabalhar a questão apresentação da revisão integrativa.
do preconceito referente à sexualidade do Assim, identificamos um
idoso, para que este os vença, passando questionamento comum que surgiu
a usufruir uma vida saudável e mais feliz. durante nossas leituras sobre a temática,
Abordar a sexualidade do idoso trata-se que é: de que maneira a sexualidade e a
de uma temática emergente, polêmica e prática do sexo são vistas por sujeitos
cercada de preconceitos, inclusive, por idosos e como orientá-los a repensar sua
parte de jovens e até mesmo por sexualidade?
profissionais de saúde. A partir desta questão, iniciamos a
coleta de dados, que ocorreu durante os
2 METODOLOGIA meses de abril a junho de 2014, sendo
utilizadas na seleção dos artigos, as
Trata-se de um estudo descritivo seguintes bases de dados eletrônicos:
com abordagem qualitativa, realizado a Literatura Latino-Americana em Ciências
partir de pesquisa bibliográfica integrativa. da Saúde (LILACS), Medical Literature
Esta, procura explicar um problema com and Retrieval SystemOnline (Medline) e
base em referências teóricas já Scientific Eletronic Library Online (SciElo).
publicadas. A revisão integrativa da Empregaram-se os descritores em
literatura é considerada um método de ciências da saúde (DeCS): Sexualidade;
estudo que possibilita a síntese do Sexo; Envelhecimento, Processo de

22 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.20-32, jul./dez. 2014
Valeria Alves da Silva Nery, Tatiane Dias Casimiro Valença

envelhecimento; disponíveis nos ma a análise dos estudos.


Descritores em Ciências da Saúde
(DECS), resultando no total de 56 artigos. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ainda nesta etapa, foi realizada
leitura criteriosa dos títulos e resumos a Sabemos que o envelhecimento é
fim de verificar a adequação aos um processo fisiológico e natural pelo qual
seguintes critérios de inclusão: artigos todos os seres vivos passam e é uma fase
originais, disponibilizados em texto do desenvolvimento humano que está se
completo disponível online, publicados em prolongando devido aos avanços da
periódicos classificados pelo Qualis de ciência. Nascemos, crescemos e
extrato A e B da Coordenação de amadurecemos e, desse momento até a
Aperfeiçoamento de Pessoal em Nível nossa morte, passamos a vida toda
Superior (CAPES), disponíveis desde envelhecendo. Nessa fase, várias
2008 a 2013, dos quais, os resumos alterações fisiológicas ocorrerão de modo
descrevessem práticas de educativas mais ou menos acentuado e com
desenvolvidas para os indivíduos com velocidades variáveis entre as diferentes
hipertensão, e cujos dados fossem pessoas, geralmente, relacionadas às
coletados no Brasil, objetivando uma variáveis individuais.
análise ajustada à nossa realidade. Podemos perceber que o
Descartaram-se artigos envelhecer não constitui um processo
bibliográficos; capítulos de livros, teses e biológico limitador, mas uma fase da vida
dissertações, artigos que avaliavam que se caracteriza por situações de
apenas o conhecimento dos indivíduos declínio bio/fisiológico resultante do
com hipertensão e teses. Ao final, foram transcorrer dos anos da vida até a morte.
pré-selecionados 18 artigos, lidos na O envelhecer de repente vai ocorrendo
íntegra.Estes foram organizados em um gradualmente, individualmente, porém
quadro sinóptico contendo: identificação não de forma universal, sendo de muito
do estudo; autores; ano e periódico de significado para a compreensão do ciclo
publicação; objetivos; Qualis do periódico; vital humano.
sujeitos da pesquisa; tipo de estudo; Os homens geralmente continuam
método/técnica de coleta de dados e os sentindo o desejo sexual e insistem para
principais resultados, facilitando desta for- que suas esposas permitam a prática,

C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.20-32, jul./dez. 2014 23
Sexo e sexualidade no processo de envelhecimento

porém muitos não conseguem efetivar ou expressar sua sexualidade. Assim,


concluir o ato devido à dificuldade erétil e remeteu-se em diversas falas que, com a
de ejaculação. Alguns homens relatam maturidade, o intercurso sexual se torna
não praticar sexo devido a problemas menos freqüente, porém tem a mesma
físicos e de saúde. intensidade e atende às expectativas para
Algumas mulheres associam sexo o período de vida que estão vivenciando.
e sexualidade como respeito mútuo do Lopes e Cabral (2004) mostram
casal, sair juntos, ser prestativo um ao que o aumento dos distúrbios sexuais
outro, demonstrar carinho, afetividade, nessa etapa da vida se deve,
interesse na manutenção do casamento e fisiologicamente, à diminuição na
fidelidade. produção hormonal, ao desgaste da
Entendem o sexo como uma condição social, a manifestações
necessidade, sente falta, relatam que depressivas e a problemas na relação
gostaria que fosse como na juventude, conjugal. Afirmam também que
como nos primeiros anos após o aproximadamente 50% das mulheres
casamento, porém demonstraram não classificam a disfunção sexual como um
discutir essa temática em seu cotidiano. O dos mais graves problemas nesse período
medo da represália familiar, social e até da vida.
do próprio cônjuge parece ser o motivo da Perry e Potter (2005) vêm ao
não abordagem acerca do assunto. encontro desses dados ao mencionar que
Hillman (2001) corrobora ao afirmar entre a população idosa a libido não
que na velhice é importante as pessoas diminui, mas há redução na freqüência da
contarem com um companheiro, terem atividade sexual. Além dessas alterações,
liberdade e contato com a natureza. Os muitos idosos podem fazer uso de
vínculos configuram-se de diferentes medicações que deprimem a atividade
formas, duração e intensidade, porém são sexual, como os anti-hipertensivos,
fundamentais a fidelidade e o próprio antidepressivos sedativos, tranqüilizantes
desejo. Embora o mais importante para os ou hipnóticos.
idosos sejam as carícias, a atenção, os Segundo Perry e Potter (2005),
olhares, o companheirismo, o ficar junto, existem muitos mitos comuns e
eles também mantêm o exercício da concepções errôneas sobre sexo e
relação sexual como uma forma de envelhecimento, como pensar que sexo

24 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.20-32, jul./dez. 2014
Valeria Alves da Silva Nery, Tatiane Dias Casimiro Valença

não tem importância na velhice, que os cas do envelhecimento variam de


últimos anos deveriam ser assexuados, indivíduo para indivíduo (dentro de
que é anormal os idosos terem interesse determinado grupo social), mesmo que
por sexo e normal que os homens idosos expostos às mesmas variáveis
procurem por mulheres mais jovens. ambientais.
Esses mitos prejudicam, sobretudo, as Muitos autores, tais como Perry e
mulheres idosas, que, freqüentemente, ao Potter (2005), Barbosa (2004) e Monteiro
atingirem a terceira idade já se sentem (2002), apontam que a prática sexual faz
incapazes de manter um bom parte da sexualidade, mas que, para a
relacionamento sexual Interessantes que maioria dos idosos, vai além disso. A
as mulheres não querem perder o sexualidade na velhice é simples e, ao
companheirismo dos esposos submetem- mesmo tempo, complexa, afinal o corpo
se a uma relação unilateral (apenas para envelhece, a anatomia e a fisiologia
“servir” o esposo), mas sentem muita falta sexual se modificam, mas a capacidade
da afetividade, do toque, dentre outras de amar, de beijar, de abraçar continua
formas de satisfação. intacta até o final da vida. Um olhar e o
De acordo com Goldfarb (1998) as companheirismo têm muito mais
limitações corporais e a consciência da significado do que o ato sexual
temporalidade passam a ser problemáti- propriamente dito.
cas fundamentais na velhice e no Zimerman (2000) entende que
processo do envelhecimento humano, e envelhecer pressupõe alterações não
aparecem de forma reiterada no discurso apenas físicas como também psicológicas
dos idosos, embora possam adquirir e sociais em cada indivíduo
diferentes nuances e intensidades particularmente. Tais alterações são
dependendo da sua situação social e da naturais e gradativas e avançam
própria estrutura psíquica. precocemente ou não de acordo com as
Sant'anna (2003) coloca que o características genéticas e o modo de
envelhecimento é um conceito multidi- vida de cada um. O envelhecimento sob o
mensional que, embora geralmente aspecto psicológico, pode-se afirmar que
identificado com a questão cronológica, as relações sociais para o idoso são umas
envolve aspectos biológicos, psicológicos válvulas de escape e esperanças de vida
e sociológicos. Além disso, as característi- plena.

C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.20-32, jul./dez. 2014 25
Sexo e sexualidade no processo de envelhecimento

Em relação à relevante sexualidade que possuíam o desejo, mas não teriam a


as modificações e mudanças também permissão de exercê-lo. Esse aspecto
ocorrem. A sexualidade, reação física e retrata algumas formas de preconceito
emocional ou psicológica ao estímulo visto ainda hoje (RISMAN, 2005).
sexual, está além do impulso e do ato A sexualidade na velhice é um
sexual. Para muitos idosos oferece a tema comumente negligenciado pela
oportunidade não apenas de expressar medicina, pouco conhecido e menos
paixão, mas afeto estima e lealdade. A entendido pela sociedade, pelos próprios
sexualidade da mulher é menos atingida idosos e pelos profissionais da saúde
que a do homem, e esta possui uma (STEINKE, 1997).
estabilidade sexual maior e usufrui melhor Segundo Risman (2005) a falta de
das preliminares, enquanto o homem informações sobre o processo de
deseja a ereção para ter prazer. A mulher envelhecimento, assim como as mudan-
é menos sensível à aparência de seu ças da sexualidade na velhice, tem
parceiro, e o envelhecimento deste, pouco contribuído para manutenção de precon-
interfere na vida sexual (BEAUVOIR, ceitos e, consequentemente trouxeram
1990). muitas estagnações das atividades
De acordo com Oliveira (2000) o sexuais.
que se observa é que, de alguma forma, A sexualidade não se restringe aos
havia razões para tal proposição, mas que impulsos sexuais, nemaos órgãos
por outro lado, apresentava-se sexuais, ou ao mero ato sexual, portanto,
preconceituosa e discriminatória em trata da interação harmoniosa, da
relação ao idoso, uma vez que nessa genitalidade, da afetividade e da relação
sociedade ele era valorizado porque, ao interpessoal, motivo pelo qual não é um
possuir experiência e sabedoria, meio de prazer apenas, é uma linguagem
transmitia as tradições para os mais do ser humano, do corpo (VIDAL, 2002).
jovens. Fraiman (1994) comenta que as
Em um contexto cultural, a mudanças que ocorrem na vida sexual
sexualidade era permitida apenas para a durante o amadurecimento e o
procriação, e os indivíduos mais velhos envelhecimento são em muitos aspectos,
que não poderiam mais desenvolver a sua como o social e psicológico positivas. Isso
prole eram tidos como sofredores, visto não quer dizer que a vida sexual de uma

26 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.20-32, jul./dez. 2014
Valeria Alves da Silva Nery, Tatiane Dias Casimiro Valença

pessoa idosa seja melhor do que de uma doença, viuvez e morte, enfatizando essa
pessoa jovem, mas significa que a vida fase de vida como uma condição
sexual deste idoso é melhor em muitos desfavorável, muitas vezes indesejada
aspectos do que quando ele era jovem. (LIMA, 2001).
Segundo Garcia e Galvão (2005) a A sexualidade na velhice é um
sexualidade na terceira idade está tema comumente negligenciado pelas
intimamente relacionada a uma boa diversas áreas da saúde, pouco
qualidade de vida. A sexualidade é um conhecido e tampouco compreendido pela
fator que ocorre naturalmente na vida do sociedade, pelos próprios idosos e pelos
ser humano, é um elemento básico da profissionais da saúde (STEINKE, 1997).
personalidade que determina no individuo Segundo Neri (1993) a imagem do
um modo particular e individual de ser idoso na sociedade tem vários elementos
uma forma de expressão que se adquire e que são apontados como determinantes
se aperfeiçoa durante a vida inteira. ou indicadores de bem-estar na velhice:
A idéia de uma visão mais positiva longevidade; saúde biológica; saúde
e produtiva para o envelhecimento mental; satisfação; controle cognitivo;
começa a ganhar força nos dias atuais e é competência social; produtividade;
resultado de diversos fatores, dentre os atividade; eficácia cognitiva; status social;
quais se destaca o crescimento do renda; continuidade de papéis familiares e
número de idosos no mundo inteiro. Ainda ocupacionais, e continuidade de relações
há a necessidade de uma educação da informais em grupos primários.
sociedade neste sentido, porque do Alferes (1996) afirma que a
contrário, somente quando as outras sexualidade é tida, simultaneamente,
gerações entrarem para a velhice elas como um dos principais elementos da
provavelmente passam a reivindicar para interação humana e também como um
si mesmas o direito à sexualidade na dos principais vetores na estruturação das
meia-idade e na velhice. relações íntimas.
A sociedade e o estado não podem De acordo com Butler e Lewis
mais ignorar o idoso, que se tornou ator (1985) para quem se fecha incapaz de se
na cena política e social, redefinindo transformar ou evoluir, restam apenas à
imagens estereotipadas nas qual a solidão e o vazio. Mesmo pessoas que
velhice aparece associada à solidão, nunca se casaram, ou nunca tiveram uma

C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.20-32, jul./dez. 2014 27
Sexo e sexualidade no processo de envelhecimento

vida sexual plena, podem e devem Contudo, é necessário que haja


procurar parceiros para iniciar uma interesse da sociedade em se informar
relação, pois "amor e sexo sempre estão sobre essetema, e uma mudança de
presentes para serem redescobertos, consciência dos familiares, dos idosos e
intensificados ou mesmo apreciados pela de muitosprofissionais da saúde. Espera-
primeira vez, não importando a idade que se uma melhor aceitação da sexualidade
se tenha". na terceiraidade, principalmente com
Dessa forma, inúmeras ações maior naturalidade, uma vez que faz parte
devem atender também à família do da saúde e bemestar do idoso.Não se
idoso, pois nem sempre o grupo familiar pode ignorar uma realidade, os idosos
tem o discernimento de como pode possuem desejo sexual e tem odireito de
contribuir para a harmonia e a presença praticar a sexualidade da forma que
cada vez mais consolidada do idoso no quiserem e a sociedade tem o dever
seu cotidiano. A Organização Mundial de derespeitar as diferenças seja no âmbito
Saúde prevê que, lá pelo ano 2025, pela da sexualidade ou em qualquer outra
primeira vez na história da humanidade, área.
teremos mais idosos do que crianças no
Planeta. 4 CONCLUSÃO
A consciência dessa nova
realidade que se delineia rapidamente Ao analisarmos as modificações
entre nós deve desencadear estratégias que ocorrem no campo de sexo e
de ações de educação e saúde pública sexualidade entre idosos em seu
que contribuirão para a melhoria da processo de envelhecimento, percebemos
qualidade de vida dessas pessoas e, que apesar da existência de tabus em
certamente, para a redução do custo torno da sexualidade na velhice, percebe-
social.O aumento da faixa populacional se que os participantes deste estudo
considerada idosa tem exigido das revelam entendimento a respeito desta
sociedades e do poder público um novo e temática ao expressar que sexualidade é
sensível olhar sob a forma de um conjunto de atitudes e sentimentos em
investimento em políticas sociais que relação ao parceiro, como as expressões
contemplem o idoso em suas de carinho, beijo, abraço, toque, olhar,
necessidades biopsicossociais. ouvir e compreender o outro, mesmo sem

28 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.20-32, jul./dez. 2014
Valeria Alves da Silva Nery, Tatiane Dias Casimiro Valença

o uso da palavra. estão vivendo esta etapa natural da vida,


Sexualidade significa também a precisa fazer-se cumprir o que preconiza
relação sexual, pois continuam tendo a Política Nacional do Idoso, este tratando
desejos semelhantes aos de quando eram da questão sexualidade o maior desafio é
jovens, porém, agora, têm maiores o rompimento do preconceito de que o
limitações em razão das alterações velho é “assexuado”e de que não mais
fisiológicas e, por vezes, patológicas, que exercita o prazer e satisfação sexual,o
dificultam um relacionamento mais íntimo. qual consideramos ser a força que
Entretanto, eles descobrem outros impulsiona o processo da existência
prazeres, adaptam-se a sua condição, humana.
conseguem encontrar para cada problema Entende-se que a sexualidade
um novo modo de viver. apesar de suas mudanças nos aspectos
Estudar o idoso é sempre sociais e psicológicos, é o processo do
interessante, pois adentra-se num mundo nosso ser onde expressamos através das
de quem não tem pressa de viver e conta nossas manifestações de ser homem ou
com uma vasta experiência. Ao mergulhar mulher, masculino ou feminino; é a forma
na história, para amplia-se a compre- como pensamos, sentimos e expressa-
ensão de como se deu a construção da mos a cerca do nosso género, dos nossos
sexualidade, percebe-se que seu órgãos sexuais, do nosso corpo, das
significado vai modificando-se nos nossas auto-imagens e das nossas
diversos contextos históricos. Ora preferências.
apresentava-se carregada de repressão, Concluímos assim, que a
preconceitos, mitos e tabus, ora com sexualidade é inerente a vida do ser
liberdade sexual (LOPES; MAIA, 2000). humano, faz parte do seu ciclo biológico
Refletimos que o crescente de vida e que processo de
aumento da população idosa em nosso envelhecimento, também é possível ter
país é um fenômeno novo, que emergiu uma vida sexualmente ativa e prazerosa.
de uma realidade diferenciada em relação O sexo no envelhecimento precisa ser
aos países desenvolvidos e que os deixado de ser visto como um tabu, para
governantes, organizações não ser esclarecido para que as pessoas
governamentais, sociedades civis idosas possam m ter suas necessidades
organizadas e todas as pessoas que sexuais totalmente satisfeitas.

C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.20-32, jul./dez. 2014 29
Sexo e sexualidade no processo de envelhecimento

SEX AND SEXUALITY IN THE AGING PROCESS

ABSTRACT
Many seniors still face the stale as synonymous with decadence and
isolation, disease and social burden, and that society imposes on elderly,
taboos, depriving him of re-thinking sexuality, the body, the pleasure, the
act of sex, leading them to face various difficulties in adapting to this stage
of life. The aim of this study was to analyze the changes that occur in the
field of sex and sexuality among the elderly in the aging process. As for
specific goals, we seek to: ascertain whether the elderly continue to have
an active sex life; identify the occurrence of nmodificações on sexuality
and sexual practices in the elderly. Method: This is an integrative literature
review conducted online in databases: Latin American Literature on Health
Sciences (LILACS), Medical LiteratureendRetrieval System Online
(Medline) and Scientific Electronic Library Online (SciELO), using as
following descriptors: Sexuality; sex; Aging process and aging. We noted
heterogeneity of research related to the understanding of sexuality, which
was revealed through feelings such as love, respect, affection, marriage,
friendship or something that goes beyond the sexual act. Although there
are taboos about sexuality in old age, participants explanam that sexuality
is a set of attitudes and feelings towards the partner: expression of
affection, kiss, hug, touch, look, listen and understand what the other says.
So that sexuality is inherent in human life, is part of its biological life cycle
and aging, it is also possible to have a sexually active and enjoyable life,
taking into account characteristics of the aging process.

Keywords: Sexuality. Sex. Aging.

REFERÊNCIAS

ANDREWS, M. Agefulans orgulhoso. digno para o cidadão do futuro. 3. ed.


Envelhecimento e Sociedade, v.20, n.6, [S.l.: S.n.], 1995.
p.791-795, 2000.
DAMROSCH, S. P.; FISCHMAN, C.
ALFERES V. R. Atração Interpessoal, Atitudes de Susan H. estudante de
Sexualidade e Relações Íntimas. In: VALA, Medicina em relação à vida sexualmente
J.; MONTEIRO, M. B. Psicologia social. ativa idosos. Jour. Am. Sociedade de
Lisboa: CalousteGulbenkian, 1996. Geriatria, v.33, p. 852-855, 1985.

BIRMAN, J. Futuro de Todos Nós; PEIXOTO, C. E. Histórias de mais de 60


Temporalidade, Memória e 3a Idade na anos. [S.l.]: Dossiê Gênero e Velhice,
Psicanálise. In: VERAS, R. P. (Org) 2008.
Terceira Idade: um envelhecimento

30 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.20-32, jul./dez. 2014
Sexo e sexualidade no processo de envelhecimento

BARROS, A. J. P.; LEHFELD, N. A. S. LÊNIN, W. Cahiers philosophiques. In:


Projeto de pesquisa: propostas MINAYO, M.C.S. et al. Pesquisa social:
metodológicas. 5. ed. Petrópolis. Rio de teoria, método e criatividade. 21. ed.
Janeiro: Vozes, 1990. Petrópolis: Vozes, 2001.

BUTLER RN, L. M. Sexo e amor na LIMA, M. A. A Gestão da Experiência de


terceira idade. São Paulo: Summus, Envelhecer em um Programa para a
1985. Terceira Idade: A UnATI /UERJ. Rio de
Janeiro: UERJ, 2001.
ERBOLATO, R. M. P. L. Relações sociais
na velhice. In: FREITAS, E. V. et al. LOPES, G.; MAIA, M. Sexualidade
Tratado de geriatria e gerontologia. Rio Humana. 2 ed. Rio de Janeiro: Medsi,
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. 1994.

FRAIMAN, A. P. Sexo e Afeto na MINAYO, M. C. S. et al. Pesquisa social:


Terceira Idade. São Paulo: Gente, 1994 teoria, método e criatividade. 21. ed.
Petrópolis: Vozes,1994.
GORGA, C. F. A. Disfunção erétil. In:
CARVALHO FILHO, E. T.; PAPALÉO MINAYO, M. C. S. O desafio do
NETTO, M. Geriatria: fundamentos, conhecimento: pesquisa qualitativa em
clínica e terapêutica. 2. ed. São Paulo: saúde. In: NERI, A. L. Palavras-chave em
Atheneu, 2005. Gerontologia. Campinas: Alínea, 2005

GARCIA, S. M. S.; GALVÃO, G. T. M. MONTEIRO, D. M. R. Afetividade,


Aspectos da Sexualidade entre Portadores Intimidade e Sexualidade no
de Hipertensão Arterial. Rev. Nursing, Envelhecimento. In: FREITAS, E. V. et al.
São Paulo, v.101, n.9, p.1045-1049, out. Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio
2006. de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

GOLDFARB, D. C. Corpo, Tempo e OLIVEIRA, P. E. O Ocidente e a Terceira


Envelhecimento. São Paulo: Casa do Idade: uma visão histórica. In: BAKKER
Psicólogo, 1998. FILHO, J. P. É permitido colher flores?
Reflexões sobre o envelhecimento.
GIL, A.C. Como elaborar projetos de Curitiba: Champagnat, 2000.
pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1994.
OMS - Grupo Científico de la OMS.
HILMANN, J. A força do caráter: e a Aplicaciones de la epidemiologia al
poética de uma vida longa. Rio de Janeiro: estudio de los ancianos. Genebra: OMS,
Objetiva, 2001. 1984.

KUNH, T. Estrutura das revoluções PERRY, A. G.; POTTER, P. A. Grande


científicas. In: MINAYO, M. C. S. et al. tratado de enfermagem prática: clínica e
Pesquisa social: Teoria, método e prática hospitalar. 3. ed. São Paulo:
criatividade. 21. ed. Petrópolis: Vozes, Santos Livraria, 2005.
2001.

C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.20-32, jul./dez. 2014 31
Valeria Alves da Silva Nery, Tatiane Dias Casimiro Valença

REIS, A M. Terceira idade “a gente não SNOEK, J. A sexualidade humana:


quer só comer, a gente quer comer, ensaio da ética sexual. São Paulo:
quer fazer amor...” [S.l.: S.n.], 2000. Edições, Paulinas, 1981.
Disponível em: < http://www.jfservice.com.
br/arquivo/mulher/eles/2000/10/23 – Ter- STEINKE, E. E. Sexualidade no
ceira Idade/>. Acesso em: set. 2009. envelhecimento: implicações para a
equipe da unidade de enfermagem.
RISMAN A. Sexualidade e terceira Idade: Revista de Educação Continua em
uma visão histórico-cultural. Textos Enfermagem, v. 28, n. 2, p. 59-63, 1997.
Envelhecimento, v.8, n.1, p. 89-117,
2005. VASCONCELLOS, D. et al. A sexualidade
no processo do envelhecimento: novas
RODRIGUES, N. C.; RAUTH, J. Os perspectivas: comparação transcultural.
desafios do envelhecimento no Brasil. In: Estudos de Psicologia, v. 9, n. 3, p. 413-
FREITAS, E.V. et al. Tratado de Geriatria 419, 2004.
e Gerontologia. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2006. VERAS, R. P. Pais jovens com cabelos
brancos: a saúde do idoso no Brasil.
MONTEIRO, P. P. Envelhecer. Histórias, Rio de Janeiro: Campus,1994.
encontros, transformações. Belo
Horizonte: Autêntica, 2001. VIDAL, M. Ética da sexualidade. São
Paulo: Edições Loyola, 2002.
SAAD, P. M. CAMARGO, A. B. M. O
envelhecimento populacional e suas ZIMERMAN, G. I. Velhice, Aspectos
conseqüências. São Paulo em Biopsicosociais. Porto Alegre: Artmed,
Perspectiva, São Paulo, v. 24,n. 3, p.3- 2000.
10,2001.

SANT'ANNA, R. M.; CÂMARA, P.;


BRAGA, M. C. Mobilidade na Terceira
Idade:como planejar o futuro?Textos
sobre Envelhecimento, Rio de Janeiro,
v.6 n.2, 2003.

32 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.2, p.20-32, jul./dez. 2014

Você também pode gostar