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Anatomorfofisiologia

do Sistema
Cardiorrespiratório
e Nervoso
Prof.ª Sara Cristiane Barauna

Indaial – 2019
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019

Elaboração:
Prof.ª Sara Cristiane Barauna

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

B227a

Barauna, Sara Cristiane


Anatomorfofisiologia do sistema cardiorrespiratório e nervoso. / Sara
Cristiane Barauna. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.
186 p.; il.
ISBN 978-85-515-0369-0
1. Sistema cardiorrespiratório. – Brasil. 2. Sistema nervoso. – Brasil.
II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 612

Impresso por:
Apresentação
Prezado acadêmico, iniciaremos o estudo dos sistemas
cardiorrespiratório e nervoso, associando conceitos teóricos ao dia a dia.
Você estará preparado para ingressar nessa proposta e, ao final deste livro
didático, terá um amplo conhecimento, o qual é fundamental para a sua vida
como profissional da saúde.

Neste livro, você aprenderá os conceitos sobre os sistemas


cardiovascular, respiratório e nervoso, os quais serão de extrema importância
para o tratamento de seus futuros pacientes, sendo que as decisões que serão
tomadas, enquanto um profissional da saúde, poderão ser vivenciadas através
de todos os conhecimentos abordados neste livro didático, envolvendo
anatomia, embriologia, farmacologia, fisiologia, histologia e patologia dos
sistemas cardiorrespiratório e nervoso.

Na Unidade 1 serão abordados os temas relacionados ao sistema


cardiovascular, abrangendo o estudo do sangue, dos vasos sanguíneos, da
circulação sanguínea e do coração. Além disso, nessa unidade você ainda
estudará os conceitos e a organização do sistema respiratório.

Na Unidade 2 trabalharemos o sistema nervoso central, desde sua


organização anatômica, constituição histológica e funções de cada região
desse sistema tão complexo.

E, por fim, na Unidade 3 abordaremos o estudo do sistema nervoso


periférico, bem como o desenvolvimento embrionário de todo o sistema
nervoso.

Nos deparamos com várias situações no nosso dia a dia, relacionadas


de alguma forma com o corpo humano. Após completar o estudo deste livro,
você será capaz de entender diversas situações relacionadas aos sistemas
cardiorrespiratório e nervoso vivenciadas no cotidiano.

Bom estudo!

Prof.ª Sara Cristiane Barauna

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto


para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO..................................................................... 1

TÓPICO 1 – SISTEMA CARDIOVASCULAR: SANGUE................................................................ 3


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 3
2 ERITRÓCITOS....................................................................................................................................... 5
3 LEUCÓCITOS........................................................................................................................................ 8
4 PLAQUETAS........................................................................................................................................... 10
5 HEMOCITOPOESE............................................................................................................................... 12
5.1 ERITROPOESE.................................................................................................................................. 13
5.2 GRANULOCITOPOESE.................................................................................................................. 14
5.3 LINFOCITOPOESE........................................................................................................................... 15
5.4 MONOCITOPOESE.......................................................................................................................... 15
5.5 MEGACARIOCITOPOESE.............................................................................................................. 15
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 16
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 17

TÓPICO 2 – SISTEMA CARDIOVASCULAR: CORAÇÃO............................................................ 19


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 19
2 LOCALIZAÇÃO E CAMADAS DO CORAÇÃO............................................................................ 20
3 CAVIDADES DO CORAÇÃO............................................................................................................ 21
4 VASOS DA BASE DO CORAÇÃO.................................................................................................... 23
5 VALVAS CARDÍACAS......................................................................................................................... 24
6 CIRCULAÇÃO SANGUÍNEA............................................................................................................. 27
7 IRRIGAÇÃO E DRENAGEM DO CORAÇÃO............................................................................... 28
8 COMPLEXO ESTIMULANTE DO CORAÇÃO............................................................................... 30
9 CICLO CARDÍACO.............................................................................................................................. 34
10 BULHAS CARDÍACAS...................................................................................................................... 35
11 DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO DO CORAÇÃO........................................................ 35
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 36
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 37

TÓPICO 3 – SISTEMA CARDIOVASCULAR: VASOS SANGUÍNEOS...................................... 39


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 39
2 ARTÉRIAS............................................................................................................................................... 40
3 CAPILARES............................................................................................................................................ 41
4 VEIAS....................................................................................................................................................... 43
5 PRINCIPAIS ARTÉRIAS DO CORPO HUMANO......................................................................... 44
6 PRINCIPAIS VEIAS DO CORPO HUMANO................................................................................. 45
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 47
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 48

VII
TÓPICO 4 – SISTEMA RESPIRATÓRIO............................................................................................ 51
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 51
2 PORÇÃO DE CONDUÇÃO E PORÇÃO DE RESPIRAÇÃO....................................................... 51
3 NARIZ...................................................................................................................................................... 53
4 FARINGE................................................................................................................................................. 54
5 LARINGE................................................................................................................................................ 55
6 TRAQUEIA............................................................................................................................................. 55
7 BRÔNQUIOS E BRONQUÍOLOS..................................................................................................... 56
8 PULMÕES............................................................................................................................................... 56
9 ALVÉOLOS E SEPTO INTERALVEOLAR....................................................................................... 59
10 MECÂNICA DA VENTILAÇÃO PULMONAR............................................................................ 61
11 TRANSPORTE DE GASES ............................................................................................................... 63
12 DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO DO SISTEMA RESPIRATÓRIO........................... 63
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 66
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 67
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 68

UNIDADE 2 – SISTEMA NERVOSO CENTRAL.............................................................................. 71

TÓPICO 1 – TECIDO NERVOSO......................................................................................................... 73


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 73
2 HISTOLOGIA DO TECIDO NERVOSO.......................................................................................... 74
2.1 NEURÔNIOS..................................................................................................................................... 75
2.2 NEURÓGLIA..................................................................................................................................... 77
3 POTENCIAL DE AÇÃO....................................................................................................................... 79
4 SINAPSE.................................................................................................................................................. 83
5 NEUROTRANSMISSORES ................................................................................................................ 84
6 MENINGES............................................................................................................................................. 86
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 90
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 92

TÓPICO 2 – MEDULA ESPINAL.......................................................................................................... 95


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 95
2 REGIÕES INTERNAS DA MEDULA ESPINAL............................................................................. 98
3 FUNÇÕES DA MEDULA ESPINAL.................................................................................................. 99
4 REFLEXOS E A MEDULA ESPINAL............................................................................................... 100
RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................... 104
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 105

TÓPICO 3 – ENCÉFALO....................................................................................................................... 107


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 107
2 TRONCO ENCEFÁLICO................................................................................................................... 108
2.1 BULBO.............................................................................................................................................. 109
2.2 PONTE.............................................................................................................................................. 110
2.3 MESENCÉFALO............................................................................................................................. 111
3 CEREBELO............................................................................................................................................ 112
4 DIENCÉFALO....................................................................................................................................... 114
4.1 TÁLAMO......................................................................................................................................... 114
4.2 HIPOTÁLAMO............................................................................................................................... 115
4.3 EPITÁLAMO................................................................................................................................... 116

VIII
5 TELENCÉFALO.................................................................................................................................... 116
5.1 SUBSTÂNCIA BRANCA CENTRAL........................................................................................... 119
5.2 NÚCLEOS DA BASE...................................................................................................................... 120
5.3 SISTEMA LÍMBICO........................................................................................................................ 122
5.4 VENTRÍCULOS............................................................................................................................... 123
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 125
RESUMO DO TÓPICO 3...................................................................................................................... 126
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 128

UNIDADE 3 – SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO....................................................................... 131

TÓPICO 1 – SISTEMA NERVOSO SOMÁTICO............................................................................. 133


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 133
2 NERVOS................................................................................................................................................ 133
2.1 NERVOS ESPINHAIS.................................................................................................................... 135
2.2 NERVOS CRANIANOS................................................................................................................. 138
3 GÂNGLIOS........................................................................................................................................... 143
4 TERMINAÇÕES NERVOSAS........................................................................................................... 144
RESUMO DO TÓPICO 1...................................................................................................................... 145
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 147

TÓPICO 2 – SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO.......................................................................... 149


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 149
2 SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO................................................................................................ 151
3 SISTEMA NERVOSO PARASSIMPÁTICO.................................................................................. 154
RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................... 159
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 161

TÓPICO 3 – SENTIDOS GERAIS E ESPECIAIS............................................................................. 163


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 163
2 SENTIDOS GERAIS........................................................................................................................... 163
3 SENTIDOS ESPECIAIS...................................................................................................................... 165
3.1 VISÃO............................................................................................................................................... 165
3.2 OLFATO........................................................................................................................................... 168
3.3 GUSTAÇÃO..................................................................................................................................... 169
3.4 AUDIÇÃO E EQUILÍBRIO............................................................................................................ 171
RESUMO DO TÓPICO 3...................................................................................................................... 174
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 176

TÓPICO 4 – DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO DO SISTEMA NERVOSO................. 179


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 179
2 DESENVOLVIMENTO INICIAL DO SISTEMA NERVOSO.................................................... 179
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 182
RESUMO DO TÓPICO 4...................................................................................................................... 183
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 184

REFERÊNCIAS........................................................................................................................................ 185

IX
X
UNIDADE 1

SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender a organização dos sistemas cardiovascular e respiratório;

• associar as funções dos sistemas cardiovascular e respiratório com os


órgãos que constituem cada sistema;

• conhecer a estrutura morfofuncional do sistema cardiovascular e


respiratório;

• entender como ocorre o desenvolvimento embrionário dos sistemas


cardiovascular e respiratório.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – SISTEMA CARDIOVASCULAR: SANGUE

TÓPICO 2 – SISTEMA CARDIOVASCULAR: CORAÇÃO

TÓPICO 3 – SISTEMA CARDIOVASCULAR: VASOS SANGUÍNEOS

TÓPICO 4 – SISTEMA RESPIRATÓRIO

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

SISTEMA CARDIOVASCULAR: SANGUE

1 INTRODUÇÃO
O sistema cardiovascular é formado por vasos sanguíneos, sangue e
coração. Funcionalmente, esses órgãos devem levar material nutritivo e oxigênio
às células; transportar os produtos residuais do metabolismo celular, desde os
locais onde foram produzidos até os órgãos encarregados de eliminá-los.

O sangue está contido em um sistema fechado, nominado como “Sistema


Circulatório”, que permite a sua circulação no interior dos vasos sanguíneos,
os quais são representados pelas veias, capilares e artérias (Figura 1). O sistema
circulatório tem função de transporte de gases, nutrientes, produtos metabólicos
e hormônios para todo o corpo.

FIGURA 1 – ESQUEMA DA CIRCULAÇÃO DO SANGUE

Sistema Fechado

Sangue

Vasos Sanguíneos

FONTE: A autora

3
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

O sangue é um tecido conjuntivo viscoso e denso com uma temperatura


aproximada de 38 oC e um pH que varia entre 7,35 a 7,45. O sangue está
constituído por uma parte líquida denominada plasma (55%) e uma parte celular,
os elementos figurados (45%). O plasma é a parte acelular do sangue constituído
por 90% de água, 8% de proteínas, 1% de sais inorgânicos e o restante formado por
compostos orgânicos diversos. A parte celular do sangue, os elementos figurados,
é formada por hemácias, leucócitos (neutrófilos, linfócitos, monócitos, eosinófilos
e basófilos) e plaquetas, que são restos celulares, os quais se encontram dispostos
no quadro a seguir (TORTORA; DERRICKSON, 2017).

QUADRO 1 – CONSTITUIÇÃO DO SANGUE

PLASMA ELEMENTOS FIGURADOS


• Água
• Proteínas (albumina, globulinas, fibrinogênio)
• Sais • Eritrócitos
• Íons • Plaquetas
• Bicarbonato • Neutrófilos
• Glicose • Eosinófilos
• Hormônios • Basófilos
• Enzimas • Monócitos
• Gases • Linfócitos
• Aminoácidos
• Vitaminas

FONTE: A autora

Referente ao Hematócrito, esta é uma técnica na qual o sangue, após ser


centrifugado, separa-se em diversas camadas, sendo o plasma a porção fluida
e de coloração amarelada que fica acima da camada celular (Figura 2). A parte
celular forma duas regiões, uma inferior, de coloração avermelhada, composta
pelos eritrócitos (35 a 50% do volume total) e uma fina camada acinzentada logo
acima dos eritrócitos, a qual está constituída pelos leucócitos (1% do volume de
sangue). As plaquetas formam uma camada delgada sobre os leucócitos, não
sendo visível a olho nu (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2018).

Através do hematócrito é possível estabelecer o volume que os eritrócitos


ocupam no sangue, o qual espera-se que este se encontre entre 30 a 49% para
mulheres e 40 a 54% nos homens. A redução do volume de eritrócitos no sangue
é conhecida popularmente como anemia.

4
TÓPICO 1 | SISTEMA CARDIOVASCULAR: SANGUE

FIGURA 2 – TÉCNICA DE HEMATÓCRITO

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

DICAS

FIQUE LIGADO!!!

Anemia é definida como uma diminuição na capacidade do transporte de oxigênio pelo


sangue e pode ter várias causas, sendo todas caracterizadas pela diminuição da hemoglobina
no sangue ou pela contagem reduzida de eritrócitos. Para saber mais sobre anemias,
sugerimos a leitura do artigo a seguir, que está disponível no link:
http://www.me.ufrj.br/images/pdfs/protocolos/obstetricia/anemias.pdf.

2 ERITRÓCITOS
Os eritrócitos – ou hemácias – caracterizam-se como sendo a maior
população de células do sangue, correspondendo a um total de 4,8 – 5,4 milhões/
µl, contém uma proteína que transporta gases denominada de hemoglobina, está
constituída por uma cadeia polipeptídica, a porção globina e um grupamento
ligado ao ferro, denominado porção heme. Estas células têm origem dos
eritroblastos na medula óssea, os quais perdem suas organelas e passam a ser
constituídos apenas por uma membrana plasmática, citosol e hemoglobina.
Quando chegam ao sangue, originam os eritrócitos, que sobrevivem cerca de
120 dias e depois são fagocitados por macrófagos do fígado, baço e medula
óssea. Durante a fagocitose, ocorre a separação das porções heme e globina da
hemoglobina. O ferro é dissociado da porção heme e liga-se à transferrina, uma
proteína transportadora de ferro que circula no sangue. O ferro ligado à transferrina

5
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

chega até a medula óssea onde é utilizado para síntese de hemoglobina. A região
heme sem o ferro ligado é convertida em biliverdina, um pigmento esverdeado,
e depois em bilirrubina, um pigmento amarelo-alaranjado, que é transportado
até o fígado, onde é lançado na bile. A bile é secretada no intestino delgado,
chega ao intestino grosso, onde a bilirrubina é convertida em urobilinogênio,
que em parte é reabsorvido pelo intestino grosso, volta ao sangue, onde origina
um pigmento amarelo denominado urobilina, que é excretado pela urina. O
restante do urobilinogênio origina um pigmento marrom, a estercobilina, que é
eliminada pelas fezes e dá a elas a sua coloração característica. O referido evento
metabólico está disposto a seguir, em forma de fluxo, para que você possa melhor
compreender o seu processo (TORTORA; DERRICKSON, 2017).

FIGURA 3 – DEGRADAÇÃO DOS ERITRÓCITOS

HEME
MACRÓFAGOS
(fígado,baço e HEMOGLOBINA FERRO+
medula óssea) TRANSFERRINA
GLOBINA
BILIRRUBINA BILE

FONTE: A autora

Os eritrócitos (Figura 4) são células bicôncavas que se apresentam


anucleadas com um halo no interior da célula. Sua membrana é constituída por
uma quantidade maior de lipídios que o necessário para envolver seu conteúdo,
dando à hemácia fluidez ótima para penetrar e se distorcer em espaços menores
que seu tamanho, levando assim nutrientes para todas as partes do corpo
(JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2018).

Existem diferentes tipos sanguíneos, sendo estes classificados em A, B, AB


e O, os quais são determinados por glicoproteínas presentes na membrana dos
eritrócitos. Essas glicoproteínas são antígenos de superfície ou aglutinógenos,
determinados geneticamente. Assim, indivíduos com sangue tipo A apresentam
antígeno A; com sangue tipo B, antígeno B; tipo AB apresentam os antígenos
A e B e, ainda, tipo O, que é nulo, ou seja, não apresenta nenhum antígeno de
superfície.

Ao fazer o registro do tipo sanguíneo, além de especificar o tipo de antígeno


presente, deve-se fazer referência à presença ou ausência do antígeno D (fator
Rh), sendo determinado como Rh-positivo ou Rh-negativo. Esta determinação
deve-se à presença ou ausência do antígeno D no sangue.

6
TÓPICO 1 | SISTEMA CARDIOVASCULAR: SANGUE

NOTA

VOCÊ SABIA? Que seu tipo sanguíneo precisa ser verificado ao receber uma
transfusão sanguínea?

Os antígenos de superfície são ignorados pelo seu sistema imunológico.


Entretanto, seu plasma contém anticorpos (imunoglobulinas)
programados para atacar antígenos de superfície “estranhos” ao
corpo. Esses anticorpos são conhecidos como aglutininas. Indivíduos
de sangue tipo A, tipo B ou tipo O sempre contêm anticorpos que
reagirão a antígenos estranhos. Por exemplo, em um indivíduo de
sangue tipo A, o plasma circulante contém anticorpos anti-B que
atacarão eritrócitos tipo B. Já em um indivíduo de sangue tipo B, o
plasma circulante contém anticorpos anti-A que atacarão eritrócitos
tipo A. Indivíduos de sangue tipo O não apresentam antígenos A e
B, e o plasma contém anticorpos anti-A e anti-B. No outro exemplo,
o plasma de indivíduos tipo AB não contém anticorpos anti-A nem
anti-B (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009, p. 537).

FIGURA 4 – ELEMENTOS FIGURADOS DO SANGUE

1. Eritrócito; 2. Plaquetas; 3. Neutrófilo; 4. Eosinófilo; 5. Basófilo; 6. Linfócito; 7. Monócito.


FONTE: A autora

7
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

3 LEUCÓCITOS
Os leucócitos ou glóbulos brancos são as células responsáveis pela
defesa do organismo. Essas células não desempenham sua função no sangue,
sendo este apenas um meio pelo qual elas podem se locomover. Por um processo
denominado diapedese, essas células migram por entre as células endoteliais que
revestem a parede dos vasos sanguíneos e chegam ao tecido alvo (JUNQUEIRA;
CARNEIRO, 2018).

Diferente dos eritrócitos, os leucócitos são nucleados e podem ou não


apresentar grânulos, sendo classificados em granulócitos (neutrófilos, eosinófilos
e basófilos) e agranulócitos (monócitos e linfócitos). Os granulócitos possuem
grânulos contendo substâncias químicas específicas que podem ser visualizados
pelo microscópio óptico quando realizada a técnica de esfregaço sanguíneo.
Esta é uma técnica utilizada para visualizar as células sanguíneas através do
microscópio. Para realizar o esfregaço, uma gota de sangue deve ser colocada
na extremidade de uma lâmina de vidro limpa e seca e, então, com o auxílio de
uma lâmina extensora, a gota deve ser espalhada sobre a lâmina e então corada
(JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2018).

FIGURA 5 – TÉCNICA DO ESFREGAÇO SANGUÍNEO

FONTE: <http://www.vidrariadelaboratorio.com.br/wp-content/uploads/2014/10/tecnica-de-
esfrega%C3%A7o-03-1024x1024.jpg>. Acesso em: 21 ago. 2019.

Os neutrófilos são polimorfos nucleares, com núcleo lobulado com dois


a cinco lóbulos unidos por um filamento de cromatina (Figura 4 – célula 3). São
os mais numerosos dos leucócitos. Pertencem à classe dos granulócitos e seus
grânulos específicos possuem coloração salmão. Essas células são rapidamente
recrutadas para sítios de inflamação, em que sua principal função é combater
bactérias e certos fungos por meio de fagocitose e liberação dos grânulos para
o meio extracelular. Em alguns momentos, a liberação dos grânulos pelos
8
TÓPICO 1 | SISTEMA CARDIOVASCULAR: SANGUE

neutrófilos também pode ser prejudicial para o hospedeiro, quando danifica


tecidos saudáveis (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2018).

Outro tipo de granulócitos são os eosinófilos, que possuem grânulos


específicos maiores que os dos neutrófilos, dispostos por todo o citoplasma. O
núcleo possui dois lóbulos em forma de “fone de ouvido”, por isso são também
chamados de polimorfonucleados (Figura 4 – célula 4). Realizam defesa seletiva,
estão associados a infecções parasitárias e alergias. Podem fazer fagocitose,
mas seu principal modo de agir é através da degranulação e da liberação de
mediadores químicos presentes em seus grânulos.

Em menor quantidade entre os leucócitos encontramos os basófilos, que


são células granulócitas, arredondadas, podendo ser pleomórficas, com núcleo
em forma de “S”, frequentemente mascarados pelos grânulos específicos de
seu citoplasma que são negros ou roxos, metacromáticos (Figura 4 – célula 5).
Tais grânulos possuem histamina e heparina. Sua membrana plasmática é rica
em receptores para IgE, responsáveis pela ativação celular em casos de alergia
(JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2018).

O segundo tipo mais comum de leucócito no sangue são os linfócitos,


células que fazem parte da resposta imune adaptativa. São células arredondadas
com núcleo denso, também arredondado, que ocupa praticamente toda a célula
(Figura 4 – célula 6).

Os linfócitos B – agranulócitos – realizam defesa em nível humoral


diferenciando-se em plasmócitos, enquanto os linfócitos T realizam defesa
em nível celular. São muito importantes na defesa contra vírus. No esfregaço
sanguíneo corado pelo Giemsa, não é possível diferenciar os tipos de linfócitos.
Os monócitos são as maiores células circulantes com núcleo em forma de rim e
excêntrico. São agranulócitos e seu citoplasma é levemente basófilo. A cromatina
dos monócitos apresenta-se vacuolizada (Figura 4 – célula 7). Fazem parte do
sistema mononuclear fagocitário, se diferenciando em macrófagos quando
migram para o tecido conjuntivo, onde podem permanecer durante meses. Eles
são umas das principais células da resposta imune inata, onde atuam modulando
o processo inflamatório e combatendo patógenos. Uma função muito importante
dos macrófagos é interligar a resposta inata com a adquirida, isso porque são
células especializadas em apresentar antígenos para os linfócitos T (JUNQUEIRA;
CARNEIRO, 2018).

Em condições normais, o volume de leucócitos no sangue é de 5.000 a


10.000/µL, sendo que sua duração é de poucos dias e em casos de infecções por
vírus ou bactérias, seu tempo de vida pode reduzir para apenas algumas horas.
Um aumento na contagem de leucócitos no sangue, a leucocitose, pode ocorrer
como uma resposta a certos micróbios invasores, anestesia ou ainda cirurgia,
indicando uma inflamação ou infecção. Por outro lado, uma redução na contagem
de leucócitos no sangue, uma leucopenia, pode ser provocada por exposição à
radiação ou agentes quimioterápicos ou um quadro de choque hipovolêmico
(TORTORA; DERRICKSON, 2017).
9
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

4 PLAQUETAS
As plaquetas ou trombócitos ajudam a parar o sangramento proveniente
de vasos sanguíneos danificados, unindo-se para formar um tampão de plaquetas
que preenche o espaço na parede do vaso sanguíneo, onde sobrevivem cerca de
cinco a nove dias. São pequenos fragmentos de células anucleadas em forma de
disco que se originam dos megacariócitos presentes na medula óssea (Figura
4 – número 2). Possuem funções na hemostasia, envolvendo a coagulação
sanguínea e manutenção do endotélio vascular. Possuem sistemas de túbulos
e vesículas, bem como grânulos de glicogênio no seu interior (JUNQUEIRA;
CARNEIRO, 2018).

A hemostasia é uma sequência de respostas que tem como função parar


o sangramento após lesão da parede de um vaso sanguíneo e, quando bem-
sucedida, impede a hemorragia (grande perda de sangue). O espasmo vascular,
a formação do tampão plaquetário e a coagulação do sangue são os mecanismos
que atuam para impedir a perda de sangue, ou seja, agem como mecanismo de
compensação (TORTORA; DERRICKSON, 2017).

Logo após a lesão de um vaso sanguíneo, ocorre a ativação e consequente


contração da musculatura lisa da parede do vaso, reduzindo a perda de sangue
durante minutos a horas, tempo suficiente para que os outros mecanismos
hemostáticos comecem a atuar. Quando um vaso sanguíneo é lesado, as
plaquetas mudam suas características e se associam para formar um tampão. O
tampão plaquetário ajuda a fechar a parede do vaso lesionado, temporariamente
(Figura 6).

FIGURA 6 – FORMAÇÃO DO TAMPÃO PLAQUETÁRIO

Lesão da Parede Adesão Ativação Liberação de


Vascular Plaquetária Plaquetária Substâncias Químicas

Tampão Agregação
Plaquetário Plaquetária

FONTE: A autora

Caso a lesão vascular seja acentuada, ocorre um processo mais demorado


denominado coagulação sanguínea. É o processo de formação de um coágulo,
o qual é dependente da ativação dos fatores de coagulação (cálcio, enzimas e
substâncias associadas a plaquetas). Existem duas vias de coagulação sanguínea:
a via extrínseca e a via intrínseca. Na via extrínseca, considerada como a mais
rápida, ocorre a liberação no sangue de uma substância denominada fator tissular,
que é convertido em protrombinase, uma enzima que converte a protrombina
(proteína plasmática formada no fígado) em trombina (Figura 7). Após formada,
a trombina converte o fibrinogênio (outra proteína plasmática sintetizada no

10
TÓPICO 1 | SISTEMA CARDIOVASCULAR: SANGUE

fígado) em fibrina, a qual “amarra” o tampão plaquetário, formando o coágulo


sanguíneo. Quanto à via intrínseca, esta é mais complexa e, consequentemente,
ocorre de maneira mais demorada. Essa via é ativada quando as células que
revestem a parede dos vasos (células endoteliais) são danificadas (Figura 8). Nesse
caso, o contato do sangue com o tecido conjuntivo abaixo das células endoteliais
ativa os fatores de coagulação que, na presença de Ca++, levam a formação da
protrombinase e então a trombina é formada (TORTORA; DERRICKSON, 2017).

FIGURA 7 – VIA EXTRÍNSECA DA COAGULAÇÃO

FONTE: A autora

FIGURA 8 – VIA INTRÍNSECA DA COAGULAÇÃO

FONTE: A autora
11
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

Alguns coágulos sanguíneos podem se formar na parede de um vaso


sanguíneo que não possui lesão, nesse caso, se tem uma trombose e o coágulo
é chamado de trombo. Muito comum em pacientes hospitalizados, a Trombose
Venosa Profunda (TVP), como o próprio nome já se refere, caracteriza-se pela
formação de trombos no interior de veias localizadas profundamente. Uma outra
complicação grave relacionada a essa coagulação excessiva refere-se à embolia
pulmonar, quando houve o desprendimento do trombo da parede do vaso, agora
chamado de êmbolo, o qual chega até os pulmões realizando a obstrução da
passagem do sangue para o referido órgão, podendo resultar em Insuficiência
Respiratória Aguda (IRA), Insuficiência Ventricular Direita (IVD) e morte
(TORTORA; DERRICKSON, 2017).

Nesses casos, a administração de substâncias denominadas anticoagulantes


é essencial. Anticoagulantes são substâncias que retardam ou evitam a coagulação
sanguínea. Um exemplo clássico de anticoagulante é a heparina. Essa substância
inibe a conversão da protrombina em trombina. Já os agentes trombolíticos
(estreptoquinase) são substâncias injetadas na circulação sanguínea para destruir
um coágulo já formado.

5 HEMOCITOPOESE
Hemocitopoese é o nome dado ao processo de formação das células
sanguíneas, as quais devem ser renovadas constantemente, pois possuem um
curto tempo de vida. A formação de células sanguíneas se inicia durante o período
embrionário por volta do 19° dia de gestação, em uma estrutura denominada saco
vitelino. Após, o fígado assume a função de formação das células sanguíneas,
bem como o baço, timo e linfonodos. Nos últimos três meses antes do nascimento
e por toda a vida pós-natal, essa função é realizada pela medula óssea vermelha.

Na medula óssea vermelha, através da participação de vários fatores


de crescimento e diferenciação, células tronco dão origem aos eritrócitos
(eritropoese), os granulócitos (granulocitopoese), os linfócitos (linfocitopoese), os
monócitos (monocitopoese) e as plaquetas (megacariocitopoese) (JUNQUEIRA;
CARNEIRO, 2018). A medula óssea é um tecido conjuntivo localizado no canal
medular dos ossos longos e nas cavidades dos ossos esponjosos. Nos recém-
nascidos, toda a medula óssea é do tipo vermelha. Já em adultos, a maior parte da
medula óssea vermelha é convertida em medula óssea amarela, rica em adipócitos
e inativa na produção de células sanguíneas.

12
TÓPICO 1 | SISTEMA CARDIOVASCULAR: SANGUE

5.1 ERITROPOESE
Os eritrócitos se originam a partir de um processo de maturação de
células eritrocíticas. Conforme amadurecem, essas células são chamadas de
proeritroblastos, eritroblastos basófilos, eritroblastos policromáticos, eritroblastos
ortocromáticos, reticulócitos e eritrócitos. As mudanças são a diminuição do
volume e do núcleo da célula, sua cromatina torna-se altamente condensada até
que o núcleo é expulso da célula. Os polirribossomos, as mitocôndrias e outras
organelas diminuem e aumenta a quantidade de hemoglobina no citoplasma
(Figura 9) (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2018).

FIGURA 9 – ERITROPOESE

FONTE: Adaptada de Junqueira e Carneiro (2018)

13
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

5.2 GRANULOCITOPOESE
Os granulócitos, neutrófilos, eosinófilos e basófilos se formam a partir
de um processo chamado granulocitopoese. Durante a maturação dessas
células ocorre a produção de grânulos que se acumulam no citoplasma. Esses
grânulos armazenam proteínas, que são sintetizadas no retículo endoplasmático
rugoso e empacotadas no complexo de Golgi. Os três tipos de granulócito
tem sua origem proveniente de uma célula comum, o mieloblasto. Conforme
amadurece, o mieloblasto se diferencia em promielócito neutrófilo, eosinófilo ou
basófilo, mielócito, metamielócito, granulócito com núcleo em bastão e, por fim,
granulócito maduro (neutrófilo, eosinófilo e basófilo) (Figura 10) (JUNQUEIRA;
CARNEIRO, 2018).

FIGURA 10 – GRANULOCITOPOESE, MONOCITOPOESE E LINFOCITOPOESE


Células-tronco Hemocitoblasto

Célula progenitora mieloide Célula progenitora linfoide

Células Mieloblasto Mieloblasto Mieloblasto Linfoblasto


Comprometidas

Vias de Promielócito Promielócito Promielócito Promonócito Prolinfócito


desenvolvimento

Mielócito Mielócito Mielócito


eosinofílico basofílico neutrofílico

Bastão Bastão Bastão


eosinofílico basofílico neutrofílico

Eosinófilos Basófilos Neutrófilos Monócitos Linfócitos


(a) (b) (c) (d) (e)

Alguns
se
Leucócitos agranulares tornam
Leucócitos granulares Alguns se tornam
Macrófagos (teciduais) Plasmócitos

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)


14
TÓPICO 1 | SISTEMA CARDIOVASCULAR: SANGUE

5.3 LINFOCITOPOESE
A célula precursora dos linfócitos é o linfoblasto que, conforme vai
amadurecendo, origina o prolinfócito, que dará origem aos linfócitos (Figura
10). Os linfócitos B já saem maduros da medula óssea, enquanto os linfócitos T
adquirem sua imunocompetência no timo, onde se tornam maduros e então
chegam à circulação sistêmica. Ao atingir os tecidos, os linfócitos B se diferenciam
em plasmócitos.

5.4 MONOCITOPOESE
O promonócito, originário do mieloblasto, é a célula mais jovem que dará
origem aos monócitos. Os monócitos, ao atingirem os tecidos, amadurem em
macrófagos (Figura 10).

5.5 MEGACARIOCITOPOESE
As plaquetas são fragmentos de grandes células da medula óssea vermelha
denominadas megacariócitos, os quais amadurecem de uma célula precursora,
o megacarioblasto (Figura 11). Os megacariócitos são células grandes, com
citoplasma repleto de granulações (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2018).

FIGURA 11 – MEGACARIOCITOPOESE

Célula-tronco Rota do desenvolvimento

Hemocitoblasto Megacarioblasto Promegacariócito Megacariócito Plaquetas

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

15
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O sangue é um tecido formado por uma parte líquida, denominada plasma e


os elementos figurados que são os eritrócitos, os leucócitos e as plaquetas.

• O hematócrito é uma técnica utilizada para separar o plasma dos elementos


figurados do sangue.

• Os eritrócitos são as células mais abundantes no sangue, têm formato de disco


bicôncavo, são anucleadas e responsáveis pelo transporte de gases.

• Os tipos sanguíneos A, B, AB e O são determinados por glicoproteínas presentes


na membrana dos eritrócitos.

• As células de defesa do sangue são os leucócitos, que compreendem um


grande grupo formado por granulócitos (neutrófilos, eosinófilos e basófilos) e
agranulócitos (monócitos e linfócitos).

• Os neutrófilos são os leucócitos mais numerosos e formam a primeira linha de


defesa, combatendo bactérias e certos fungos por meio de fagocitose.

• Os eosinófilos atuam na defesa seletiva contra parasitas e alergias.

• Os leucócitos menos numerosos no sangue são os basófilos, responsáveis pela


ativação celular em casos de alergias.

• Os linfócitos são células que participam da defesa imune, são arredondados


com núcleo grande e citoplasma escasso.

• As maiores células circulantes no sangue são os monócitos, que ao migrarem


para o tecido conjuntivo originam os macrófagos.

• As plaquetas são fragmentos de megacariócitos e participam do processo de


coagulação sanguínea.

• Quando a parede de um vaso sanguíneo é lesionada, ocorre uma série de


eventos para estancar o sangramento, impedindo assim uma hemorragia.

• Os elementos figurados do sangue têm origem de células tronco da medula


óssea vermelha, através de um processo denominado hemocitopoese.

16
AUTOATIVIDADE

1 Os glóbulos brancos do sangue, tidos como primeira linha de defesa, ou seja,


aquelas células que primeiro entram em combate com agentes agressores e
que representam mais da metade de todos os glóbulos brancos são os:

a) ( ) Eosinófilos.
b) ( ) Basófilos.
c) ( ) Neutrófilos.
d) ( ) Linfócitos.
e) ( ) Fibrócitos.

2 No plasma sanguíneo podemos encontrar:

a) ( ) Água.
b) ( ) Hormônios.
c) ( ) Proteínas.
d) ( ) Bicarbonato.
e) ( ) Todas as alternativas estão corretas.

3 Transporte de oxigênio, fagocitose de microrganismos e liberação de


substâncias relacionadas a reações alérgicas são funções desempenhadas,
respectivamente, pelas seguintes células sanguíneas:

a) ( ) Eritrócitos, basófilos, neutrófilos.


b) ( ) Basófilos, neutrófilos, monócitos.
c) ( ) Eritrócitos, neutrófilos, basófilos.
d) ( ) Eosinófilos, monócitos, linfócitos.
e) ( ) Eritrócitos, linfócitos, eosinófilos.

4 São leucócitos agranulócitos:

a) ( ) Linfócitos e monócitos.
b) ( ) Eosinófilos e basófilos.
c) ( ) Neutrófilos e eosinófilos.
d) ( ) Basófilos e linfócitos.
e) ( ) Monócitos e neutrófilos.

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18
UNIDADE 1
TÓPICO 2

SISTEMA CARDIOVASCULAR: CORAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
O coração é o órgão central do sistema cardiovascular responsável pelo
bombeamento de todo o sangue pelo corpo. Pesa em média 250 g nas mulheres e
300 g nos homens.

O coração lembra o aspecto de um cone, sendo que a porção pontiaguda está


voltada inferiormente e à esquerda, sendo denominada de ápice. Do lado oposto
ao ápice encontramos a base, onde chegam e saem os grandes vasos do coração,
denominados vasos da base. O coração possui duas faces: a face esternocostal,
localizada posteriormente ao esterno e às costelas; e a face diafragmática,
representada pela parte do coração que repousa sobre o diafragma. Além disso,
o coração possui duas margens: a margem direita, voltada para o pulmão direito
e a margem esquerda, voltada para o pulmão esquerdo (TORTORA, 2007).

FIGURA 12 – MARGENS E FACES DO CORAÇÃO

FONTE: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 552)

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UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

2 LOCALIZAÇÃO E CAMADAS DO CORAÇÃO


É um órgão muscular, oco, que funciona como uma bomba contrátil-
propulsora, situado na cavidade torácica, posteriormente ao osso esterno,
superior ao músculo diafragma, no espaço compreendido entre os dois pulmões
e a pleura, denominado mediastino.

Três camadas constituem o coração: o endocárdio, o miocárdio e o epicárdio


(Figura 13). O endocárdio é a camada mais interna do coração, é contínuo com a
camada íntima dos vasos que chegam ou saem do coração. Ele é formado por uma
camada de tecido epitelial apoiado sobre uma fina camada de tecido conjuntivo
(JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2018).

A camada média do coração, o miocárdio, é formado por tecido muscular


estriado cardíaco, o qual forma a massa principal do coração e é responsável
por realizar a sua contração. O tecido muscular estriado cardíaco é formado por
células cilíndricas alongadas, denominadas fibras. Essas células possuem um ou
dois núcleos centrais, suas fibras podem apresentar ramificações e estão presentes
estrias transversas devido à presença de sarcômeros nestas células. Além disso,
estão presentes os discos intercalares, estruturas celulares formadas por junções
comunicantes, que permitem a propagação do estímulo nervoso através dessas
células. Os discos intercalares também possuem estruturas que realizam a adesão
entre as células musculares, mantendo-as unidas, de modo que não se separem.
Externamente ao miocárdio encontramos a terceira camada, o epicárdio, que é a
membrana serosa que reveste o coração (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2018).

O pericárdio é um saco fibro-seroso que envolve o coração e o separa


dos outros órgãos do mediastino e limita a sua expansão durante a diástole
ventricular. É formado por dois folhetos, um externo e fibroso, o pericárdio fibroso
e o outro interno e seroso, denominado pericárdio seroso. Duas camadas formam
o pericárdio seroso, a lâmina parietal (externa) e a lâmina visceral (interna),
também denominada epicárdio. Entre as lâminas parietal e visceral do pericárdio
seroso existe um espaço, a cavidade do pericárdio, que contém uma fina camada
de líquido pericárdico que funciona como um fluido lubrificante, evitando o
atrito entre as lâminas durante os movimentos do coração (TORTORA, 2007).

20
TÓPICO 2 | SISTEMA CARDIOVASCULAR: CORAÇÃO

FIGURA 13 – AS CAMADAS DO CORAÇÃO

Pericárdio fibroso
Pericárdio Lâmina pariental do
pericárdio seroso
Miocárdio
Cavidade
pericárdica

Lâmina visceral
do pericárdio
seroso
(epicárdio) Parede
cardíaca
Miocárdio
Endocárdio

Câmara cardíaca

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

E
IMPORTANT

FIQUE LIGADO!!!

Quando ocorre a inflamação da membrana do pericárdio temos uma pericardite, que pode
levar a uma diminuição da quantidade de líquido pericárdico, gerando atrito entre as lâminas
do pericárdio e dor. Algumas vezes pode ocorrer um acúmulo de líquido na cavidade
pericárdica, comprimindo o coração. Esta condição é conhecida como tamponamento
cardíaco e pode ser uma ameaça à vida, uma vez que reduz a quantidade de sangue do
ventrículo e diminui o débito cardíaco (TORTORA, 2007).

3 CAVIDADES DO CORAÇÃO
O coração contém quatro câmaras e está dividido da seguinte forma: em
duas câmaras superiores – átrio direito e esquerdo, e em duas câmaras inferiores
– ventrículo direito e esquerdo. Separando os dois átrios, existe uma parede
denominada septo interatrial, onde encontramos o forame oval, resquício da
fossa oval, uma estrutura embrionária que desvia o sangue do átrio direito para
o átrio esquerdo, uma vez que os pulmões fetais ainda não são funcionais. Entre
os ventrículos encontramos o septo interventricular. Estruturas denominadas
aurículas, estando localizadas na parede anterior de cada átrio, com a finalidade
de aumentar a capacidade de armazenamento sanguíneo dos átrios.

Os átrios formam as cavidades que recebem o sangue que chega no coração


pelas veias, enquanto os ventrículos enviam o sangue para fora do coração através
de artérias. A parede posterior dos átrios é lisa, enquanto a parede anterior é
rugosa, formada por cristas musculares denominadas músculos pectíneos.

21
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

Formando a margem direita do coração, temos o átrio direito que recebe o sangue
proveniente do corpo e da parede do coração pelas Veia Cava Superior (VCS) e
Veia Cava Inferior (VCI) e pelo seio coronário, respectivamente. O sangue contido
no átrio direito é lançado ao ventrículo direito através da valva atrioventricular
direita (valva tricúspide), sendo esta melhor descrita adiante. O átrio esquerdo
forma a maior parte da base do coração e recebe o sangue dos pulmões através das
quatro veias pulmonares. O sangue contido no átrio esquerdo passa através da
valva atrioventricular esquerda (valva mitral) e segue até o ventrículo esquerdo.
Os ventrículos possuem uma parede rugosa, formada pelas trabéculas cárneas.
Algumas trabéculas cárneas emitem projeções denominadas músculos pectíneos,
que fixam as valvas através das cordas tendíneas (explicado adiante). O ventrículo
direito recebe o sangue do átrio direito e envia para os pulmões através do tronco
pulmonar. Já o sangue contido no ventrículo esquerdo é lançado para todo o
corpo através da artéria aorta.

FIGURA 14 – CAVIDADES DO CORAÇÃO

FONTE: Adaptada de Netter (2011)

NOTA

VOCÊ SABIA?

Que a espessura do miocárdio é variável nas quatro câmaras cardíacas?

A espessura do miocárdio varia de acordo com a função de cada uma das


câmaras. Como os átrios recebem o sangue proveniente do corpo e dos pulmões,
seu miocárdio não é tão espesso quanto nos ventrículos, uma vez que não precisa

22
TÓPICO 2 | SISTEMA CARDIOVASCULAR: CORAÇÃO

realizar a contração para ejetar o sangue do coração. Em contrapartida, nos


ventrículos, o miocárdio é mais espesso. O ventrículo esquerdo, por precisar de
uma força maior de contração para ejetar o sangue para todo o corpo, é a região
do coração em que o miocárdio é mais espesso.

4 VASOS DA BASE DO CORAÇÃO


A base do coração possui os grandes vasos que entram e saem do coração.
Os vasos da base do coração são a veia cava superior, a veia cava inferior, o tronco
pulmonar, as artérias pulmonares, as veias pulmonares e a aorta (Figura 15).

A VEIA CAVA SUPERIOR chega ao átrio direito do coração trazendo o


sangue venoso das regiões superiores do corpo, localizadas acima do coração,
enquanto a VEIA CAVA INFERIOR leva o sangue proveniente das regiões
inferiores do corpo para o átrio direito.

As VEIAS PULMONARES são em número de quatro e transportam o


sangue arterial, rico em oxigênio, proveniente dos pulmões para o átrio esquerdo
do coração. Saindo do ventrículo direito, temos o tronco pulmonar, que se ramifica
nas artérias pulmonares esquerda e direita.

As ARTÉRIAS PULMONARES levam o sangue venoso para os pulmões,


onde ele será oxigenado. Por fim, a artéria aorta, o maior vaso sanguíneo do
corpo, transporta o sangue arterial do ventrículo esquerdo para todas as células
do corpo. Lembrando que os vasos que chegam no coração são as veias, e as
artérias são vasos de paredes mais calibrosas e saem do coração.

FIGURA 15 – VASOS DA BASE DO CORAÇÃO

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UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

FONTE: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 553)

5 VALVAS CARDÍACAS
Para direcionar a circulação sanguínea no coração existem dois pares de
valvas ou válvulas situadas na entrada e saída dos ventrículos. Cada uma dessas
estruturas ajuda assegurar o fluxo unidirecional do sangue, abrindo-se para
deixar passar o sangue e fechando-se para evitar seu refluxo. As valvas cardíacas
são lâminas de tecido conjuntivo recobertas em ambas as faces pelo endocárdio
que apresentam subdivisões, as quais recebem o nome de válvulas ou cúspides
(Figura 16) (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009).

As valvas atrioventriculares direita e esquerda, como seu nome sugere,


estão localizadas entre os átrios e os ventrículos. Enquanto os átrios e ventrículos
estão relaxados (em diástole), essas valvas permanecem abertas e o sangue
contido nos átrios flui em direção aos ventrículos. Quando os ventrículos se
contraem (sístole ventricular), essas valvas se fecham e impedem que o sangue
retorne aos átrios, direcionando, assim, o sangue contido nos ventrículos para o
tronco pulmonar e a aorta.

A valva atrioventricular direita é também chamada de valva tricúspide,


pois apresenta três válvulas ou cúpides, enquanto a valva atrioventricular
esquerda é chamada de mitral ou bicúspide por apresentar apenas duas válvulas
(Figura 16).

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TÓPICO 2 | SISTEMA CARDIOVASCULAR: CORAÇÃO

FIGURA 16 – VALVAS CARDÍACAS

FONTE: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 557)

Estruturas semelhantes a tendões – denominadas cordas tendíneas – se


fixam na parte inferior das valvas atrioventriculares e, pela outra extremidade,
estão presas a projeções musculares da parede dos ventrículos, os músculos
papilares (Figura 16). No momento da contração ventricular, os músculos
papilares também se contraem, encurtando seu comprimento e colocando em
tensão as cordas tendíneas, o que impede a eversão (virar ao contrário) das
válvulas das valvas (TORTORA, 2007).

25
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

Além das valvas atrioventriculares, outras duas valvas constituídas cada


uma por três cúspides estão localizadas na entrada do tronco pulmonar, a valva
do tronco pulmonar, e na entrada da aorta, a chamada valva da aorta. Essas
valvas impedem o refluxo do sangue contido no tronco pulmonar e na aorta para
os ventrículos direito e esquerdo, respectivamente, durante a contração (sístole)
ventricular.

NOTA

VOCÊ SABIA?

Que as valvas cardíacas podem apresentar problemas?

As valvas cardíacas podem apresentar problemas denominados estenose


ou insuficiência valvar. A estenose (estreitamento) ocorre quando a valva não se
abre completamente ou se apresenta com estreitamento, dificultando a passagem
(fluxo) do sangue do átrio em direção ao ventrículo. Já a insuficiência é quando
a valva não se fecha completamente, permitindo assim o refluxo de sangue do
ventrículo para o átrio.

O prolapso da valva atrioventricular esquerda é a forma mais comum de


insuficiência valvar, acometendo até 30% da população e sendo mais comum
em indivíduos do sexo feminino. Nessa condição, uma ou as duas válvulas
(folhetos) da valva átrio ventricular esquerda são projetadas em direção ao átrio
esquerdo durante a contração do ventrículo esquerdo, permitindo que ocorra um
refluxo de parte do sangue contido no ventrículo esquerdo em direção ao átrio
esquerdo. Essa condição pode ser decorrente de um dano na válvula ou devido
ao rompimento das cordas tendíneas.

A febre reumática é uma infecção sistêmica aguda, que geralmente ocorre
após uma infecção estreptocócica da garganta. Os anticorpos produzidos para
combater esta infecção chegam aos tecidos conjuntivos do coração e outros
órgãos causando uma inflamação, danificando as valvas cardíacas, sendo que
as mais frequentemente acometidas são as valvas atrioventricular esquerda e da
aorta (TORTORA, 2007).

26
TÓPICO 2 | SISTEMA CARDIOVASCULAR: CORAÇÃO

6 CIRCULAÇÃO SANGUÍNEA
A circulação sanguínea é a passagem do sangue através do coração
e dos vasos e está dividida em dois grandes sistemas: circulação sistêmica e
circulação pulmonar.

FIGURA 17 – CIRCULAÇÃO SANGUÍNEA

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

27
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

Na circulação sistêmica, o ventrículo esquerdo funciona como uma bomba


propulsora, permitindo que o sangue chegue a todas as células do corpo. Durante
a contração do ventrículo esquerdo, o sangue é lançado em direção à aorta, que sai
do coração e se ramifica em artérias menores até chegar nas arteríolas presentes no
interior dos tecidos. As arteríolas terminam nos capilares, local em que o oxigênio
do sangue passa para as células e o gás carbônico produzido pelas células retorna
ao sangue. O sangue dos capilares, agora venoso, segue em direção às vênulas
e, destas, para as veias, até chegar às veias cavas superior e inferior, as quais
desembocam no átrio direito do coração.

O ventrículo direito é a bomba que vai lançar o sangue em direção aos


pulmões, dando início à circulação pulmonar. Durante a contração do ventrículo
direito, o sangue é lançado ao tronco pulmonar e deste segue para as artérias
pulmonares direita e esquerda, as quais levam o sangue venoso, com pouca
concentração de oxigênio, para os pulmões direito e esquerdo, respectivamente.
No interior dos pulmões ocorre a respiração pulmonar, na qual o oxigênio contido
no interior dos alvéolos passa, por difusão, para o sangue e o gás carbônico do
sangue segue para os alvéolos. Após, o sangue agora arterial, presente no interior
dos capilares, é lançado para pequenas veias e destas para as veias pulmonares,
as quais saem dos pulmões e chegam ao átrio esquerdo do coração.

ATENCAO

FIQUE LIGADO!

Nem todas as veias transportam sangue venoso e nem todas as artérias contêm sangue
arterial. As artérias pulmonares saem do coração levando o sangue venoso para os pulmões,
onde, após ser oxigenado, o sangue, agora arterial, retorna para o coração através das
veias pulmonares. Além destes vasos, no cordão umbilical, as artérias umbilicais também
transportam o sangue venoso do feto para a mãe, enquanto a veia umbilical retorna para o
feto trazendo sangue arterial.

7 IRRIGAÇÃO E DRENAGEM DO CORAÇÃO


As artérias coronárias direita e esquerda são ramos da parte ascendente da
artéria aorta que enviam sangue oxigenado para irrigar a parede do coração.
Após se originar, a artéria coronária direita segue pela direita no interior do sulco
coronário. Seus ramos suprem o átrio direito, parte do átrio esquerdo, o septo
interatrial, todo o ventrículo direito, uma parte do ventrículo esquerdo e o terço
póstero-inferior do septo interventricular. Seus ramos estão ilustrados na Figura
18 (TORTORA, 2007).

28
TÓPICO 2 | SISTEMA CARDIOVASCULAR: CORAÇÃO

A artéria coronária esquerda supre grande parte do ventrículo esquerdo,


uma pequena região do ventrículo direito, a maior parte do átrio esquerdo e dois
terços anteriores do septo interventricular. Quando chega à face esternocostal
do coração, dá origem aos ramos circunflexo e interventricular anterior. O ramo
circunflexo curva à esquerda e segue no interior do sulco coronário, enquanto o
ramo atrioventricular anterior segue no sulco de mesmo nome (TORTORA, 2007).

Todo o sangue venoso, coletado das pequenas veias cardíacas, é drenado


através das veias cardíaca magna e cardíaca média, ao seio coronário, uma grande
veia localizada na região posterior do sulco coronário. Inferiormente ao óstio da
veia cava inferior, no átrio direito, o seio coronário se abre. Seus ramos estão
ilustrados a seguir.

FIGURA 18 – IRRIGAÇÃO E DRENAGEM DO CORAÇÃO

FONTE: Adaptada de Netter (2011)

29
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

ATENCAO

A obstrução parcial das artérias coronarianas pode ocasionar uma redução


do fluxo de sangue para o músculo miocárdico (suas células), gerando um evento clínico
conhecido como isquemia cardíaca, levando à diminuição do suprimento tanto de glicose
quanto de oxigênio para as respectivas estruturas ligadas a estes segmentos arteriais. A
isquemia pode ser acompanhada de angina pectoris, uma forte dor descrita como uma
sensação de aperto no peito, frequentemente referida ao pescoço e irradiando-se para
outras regiões do corpo, como cervical, dorso (nas costas), epigástrica (sobre o estômago),
braço esquerdo e/ou cotovelo. Caso ocorra uma obstrução completa do fluxo de sangue em
uma artéria coronária, pode ocorrer um Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), conhecido como
ataque cardíaco. Devido à falta de oxigênio para as regiões do miocárdio que ficaram sem
sangue, ocorre morte das células e substituição por um tecido fibroso cicatricial, ocasionando
a perda da função desta região do coração.

8 COMPLEXO ESTIMULANTE DO CORAÇÃO


Durante o desenvolvimento embrionário, aproximadamente 1% das
fibras musculares cardíacas se torna células auto-rítmicas, isto é,
células que geram potenciais de ação rítmica e repetitivamente. As
células auto-rítmicas atuam como um marcapasso, ajustando o ritmo
para a contração e todo o coração, e formam o complexo estimulante
do coração, a via de propagação dos potenciais de ação para todo o
músculo do coração. O complexo estimulante do coração assegura
que as câmaras do coração sejam estimuladas a se contrair de forma
coordenada, o que torna o coração uma bomba eficiente (TORTORA,
2007, p. 463).

O tecido muscular cardíaco apresenta a característica de possuir atividade


contrátil independente de estímulo nervoso ou hormonal. Isso é possível graças
às células autoexcitáveis, denominadas células nodais e fibras condutoras
(MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009). O ritmo da contração cardíaca é
dado pelas células nodais e as fibras condutoras distribuem o estímulo por todo o
tecido cardíaco. Assim, os potenciais de ação das células cardíacas propagam-se
da seguinte maneira (Figura 19):

1. Nó Sinoatrial (NSA):

• região especial do coração que controla a frequência cardíaca;


• localizado próximo à junção entre o átrio direito e a veia cava superior;
• inicia e controla os impulsos para contração, sendo considerado o marcapasso
do coração ou marcapasso fisiológico;
• os potenciais de ação gerados no nó sinoatrial propagam-se pelos dois átrios
através das junções comunicantes presentes nos discos intercalares das fibras
musculares cardíacas fazendo com que ocorra a contração dos átrios.

30
TÓPICO 2 | SISTEMA CARDIOVASCULAR: CORAÇÃO

2. Nó Atrioventricular (NAV):

• localizado no septo entre os dois átrios;


• recebe o estímulo proveniente das células dos átrios;
• diminui o potencial de ação permitindo que os átrios descarreguem sangue
nos ventrículos.

3. Fascículo Atrioventricular:

• localizado na porção inicial do septo interventricular, próximo aos átrios;


• momento no qual os potenciais de ação passam dos átrios para os ventrículos.

4. Ramos direito e esquerdo do fascículo atrioventricular:

• são ramos do fascículo atrioventricular;


• seguem pelo septo interventricular conduzindo os potenciais de ação em
direção ao ápice do coração.

5. Fibras de Purkinje:

• são ramos subendocárdicos, calibrosos;


• conduzem o potencial de ação de maneira rápida, permitindo a contração dos
ventrículos (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009).

FIGURA 19 – COMPLEXO ESTIMULANTE DO CORAÇÃO

Veia cava Átrio direito


superior

1 Nó sinoatrial
(SA)
Átrio esquerdo
Feixe
internodal

2 Nó
atrioventricular
Ramos
3 Fascículo subendo-
atrioventricular cárdicos
(AV) (feixe de His)

4 Ramos do
fascículo AV

Septo
interventricular
5 Ramos
subendocárdicos
(fibras de Purkinje)

(a)

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

31
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

O ritmo para a contração do coração é definido pelo nó sinoatrial, que


gera potenciais de ação entre 90 a 100 vezes por minuto. Caso ocorra uma lesão
e morte das células do nó sinoatrial, o nó atrioventricular assume a função de
marcapasso fisiológico, porém sua frequência de contração é menor, gerando,
em média, 40 a 60 batimentos por minuto. Caso o nó atrioventricular também
perca a sua capacidade de gerar potenciais de ação, o fascículo atrioventricular
assume a função, gerando potenciais mais lentamente, em torno de 20 a 35 vezes
por minuto. Todavia, nesse caso, como o batimento cardíaco fica muito lento, o
ritmo deve ser restaurado através do implante de um marcapasso artificial. Este
marcapasso é um dispositivo eletrônico que estimula as contrações do coração
para manter o débito cardíaco adequado (TORTORA, 2007).

A velocidade de disparo de potenciais de ação pelo nó sinoatrial, pode


ser controlada por hormônios e alguns neurotransmissores. Quando estamos
em repouso, a liberação de acetilcolina pelo sistema nervoso parassimpático
geralmente leva a uma diminuição da frequência do nó sinoatrial para,
aproximadamente, 75 batimentos por minuto (TORTORA, 2007).

É possível detectar, através de um equipamento eletrônico, a transmissão


dos potenciais de ação pelo complexo estimulante do coração, uma vez que
estes geram uma corrente elétrica. O registro dessas correntes é chamado
eletrocardiograma (ECG) e permite a identificação de três ondas em cada ciclo de
contração do coração: a onda P, o complexo Q, R, S e a onda T. A onda P marca
a propagação do potencial de ação do nó sinoatrial pelos dois átrios, e logo em
seguida os átrios se contraem. O complexo QRS marca a propagação do estímulo
pelos ventrículos, os quais se contraem em seguida. A última onda, denominada
onda T, marca o momento de relaxamento dos ventrículos (Figura 20).

FIGURA 20 – ELETROCARDIOGRAMA

32
TÓPICO 2 | SISTEMA CARDIOVASCULAR: CORAÇÃO

Registro rítmico do ECG

Onda T
O ventrículo retorna
ao estado de repouso

Complexo QRS
Onda P
O impulso dissemina-se
O impulso dissemina-se pelos ventrículos,
pelos átrios, deflagrando deflagrando as
as contrações atriais contrações ventriculares

FONTE: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 567)

O registro das ondas de um ECG é muito importante para acompanhar a


evolução de pacientes que sofreram uma parada cardíaca e/ou que apresentaram
algum sinal de injúria ou isquemia (diminuição de nutrição e oxigenação no
músculo cardíaco). Variações no tamanho e na duração das ondas são úteis no
diagnóstico de ritmos cardíacos e padrões de condução anormais.

O ritmo habitual de batimentos cardíacos, estabelecido pelo nó
sinoatrial, é chamado de ritmo sinusal normal. O termo arritmia ou
disritmia se refere a um ritmo anormal resultante de um defeito no
complexo estimulante do coração. O coração pode bater irregularmente,
de forma muito acelerada ou muito lenta. São sintomas esperados
dessa irregularidade: dor torácica, falta de ar, tontura, vertigem e
síncopes (desmaios). As arritmias podem ser provocadas por fatores
que estimulam o coração, como estresse, cafeína, álcool, nicotina,
cocaína e determinadas substâncias que contenham cafeína ou outros
estimulantes. As arritmias também podem ser provocadas por defeito
congênito, doença arterial coronariana, infarto, hipertensão, valvas
cardíacas defeituosas, doença reumática cardíaca, hipertireoidismo e
deficiência de potássio (TORTORA; DERRICKSON, 2017, p. 386).

33
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

9 CICLO CARDÍACO
É o período compreendido entre o início de dois batimentos cardíacos
consecutivos. Este ciclo, que envolve períodos de contração alternados por
períodos de relaxamento do coração, ocorre, em média, 70 vezes por minuto
(Figura 21). O ciclo cardíaco compreende três fases, de acordo com Tortora (2007):

1. Fase de relaxamento: período em que as quatro câmaras cardíacas estão em


relaxamento.
2. Sístole Atrial: ocorre a contração dos átrios e o sangue é enviado em direção
aos ventrículos.
3. Sístole Ventricular: os ventrículos contraem e encaminham o sangue para a
artéria aorta e para o tronco pulmonar.

FIGURA 21 – CICLO CARDÍACO

FONTE: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 562)

34
TÓPICO 2 | SISTEMA CARDIOVASCULAR: CORAÇÃO

10 BULHAS CARDÍACAS
Bulhas cardíacas se referem aos sons provocados pelo coração, que
podem ser ouvidos através de uma auscultação realizada com o auxílio de um
estetoscópio. Em um coração saudável existem quatro bulhas durante um ciclo
cardíaco, porém, podemos auscultar apenas duas bulhas cardíacas. A primeira
bulha (B1) lembra o som de “tum”, ela é mais alta e longa do que a segunda bulha
(B2). A B1 é decorrente do fechamento das valvas atrioventriculares, que ocorre
logo após o início da sístole ventricular. Já a segunda bulha (B2) é mais baixa e
curta que a B1, lembra um som de “tac” e é produzida devido ao fechamento das
valvas da aorta e do tronco pulmonar, no início da diástole ventricular.

Muitas vezes, durante uma ausculta cardíaca, podem ser detectados


sons anormais entre ou após as duas bulhas normais. Esses sons anormais são
denominados sopros cardíacos e indicam ou sugerem, na maioria das vezes, algum
distúrbio das valvas, como uma estenose ou uma insuficiência.

11 DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO DO CORAÇÃO


O coração tem origem do mesoderma extraembrionário a partir da
terceira semana de desenvolvimento e é o primeiro órgão a se tornar funcional.
Isso é extremamente necessário, pois o embrião está em pleno crescimento e
suas células apresentam uma alta taxa metabólica, necessitando de oxigênio e
nutrientes provenientes do sangue.

Na extremidade cefálica do embrião, um grupo de células do mesoderma


extraembrionário começa a se diferenciar, formando a área cardiogênica. As
células desta região dão origem aos cordões angioblásticos, dois tubos alongados
que mais tarde originarão os tubos endocárdicos. Logo depois, os dois tubos
endocárdicos se fundem em um tubo único, o tubo cardíaco primitivo. Por volta
do 22º dia após a fertilização, o tubo cardíaco primitivo se divide em cinco regiões
e começa a bombear o sangue:

1. Seio venoso: origina parte do átrio direito, do seio coronário e do nó sinoatrial.


2. Átrio: origina parte dos átrios direito e esquerdo.
3. Ventrículo: dará origem ao ventrículo esquerdo.
4. Bulbo cardíaco: desenvolve-se em ventrículo direito.
5. Tronco arterial: origina parte da aorta e o tronco pulmonar.

35
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O coração é um órgão muscular, constituído por três camadas: endocárdio,


miocárdio e epicárdio.

• Os átrios são as cavidades superiores do coração e recebem o sangue proveniente


do corpo e dos pulmões, enquanto os ventrículos se localizam inferiormente e
bombeiam o sangue para as células do corpo e para os pulmões.

• Os vasos da base do coração são as veias pulmonares, as artérias pulmonares,


o tronco pulmonar, as veias cavas superior e inferior e a aorta.

• Quatro valvas, dois atrioventriculares, uma da aorta e outra do tronco pulmonar


tornam o fluxo do sangue unidirecional.

• A circulação sistêmica é aquela que o sangue circula entre o ventrículo esquerdo,


corpo e átrio direito.

• A circulação pulmonar ocorre entre o ventrículo direito, os pulmões e o átrio


esquerdo.

• As artérias coronárias direita e esquerda são ramos da parte ascendente da


aorta e fazem a irrigação das células da parede do coração.

• Algumas células do miocárdio são autocontráteis e enviam sinais para a


contração do coração.

• O complexo estimulante do coração é formado pelo nó sinoatrial, nó


atrioventricular, fascículo atrioventricular, ramos direito e esquerdo e pelas
fibras de Purkinje.

• Um ciclo cardíaco é o período compreendido entre o início de dois batimentos


cardíacos consecutivos e compreende as fases de relaxamento, sístole atrial e
sístole ventricular.

• Bulhas cardíacas se referem aos sons provocados pelo coração, que podem ser
ouvidos através de uma auscultação realizada com o auxílio de um estetoscópio.

• O coração tem origem embrionária do mesoderma extraembrionário a partir da


terceira semana de desenvolvimento e é o primeiro órgão a se tornar funcional.

36
AUTOATIVIDADE

1 O ciclo cardíaco é o ciclo completo de um batimento cardíaco; por definição


são os eventos cardíacos que ocorrem desde o início de um batimento até o
batimento seguinte. Esses eventos envolvem contração e relaxamento das
cavidades cardíacas. Consiste nos movimentos de sístole e diástole. Em
relação a estes mecanismos, leia as alternativas a seguir com muita atenção
e depois assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O sangue passa dos átrios para os ventrículos durante o período


denominado sístole ventricular.
b) ( ) A fase de relaxamento, quando os átrios e ventrículos estão em diástole,
marca o início de um novo ciclo. As valvas atrioventriculares estão
fechadas enquanto o sangue flui para os ventrículos.
c) ( ) Durante a sístole ventricular, as valvas atrioventriculares abrem-
se, enquanto as valvas da aorta e do tronco pulmonar permanecem
fechadas, permitindo que o sangue flua dos ventrículos para as artérias.
d) ( ) A primeira fase que marca o início de um novo ciclo é denominada
sístole ventricular, quando o sangue flui dos átrios em direção aos
ventrículos.
e) ( ) No período da sístole atrial, as valvas atrioventriculares estão abertas
para que o sangue flua dos átrios para os ventrículos.

2 Levando em consideração a anatomia interna do coração e sabendo que


a circulação do sangue depende diretamente deste órgão central, o qual
se conecta a inúmeros vasos sanguíneos, observe as alternativas a seguir e
escolha aquela que contenha as respostas para as seguintes perguntas:

1- Como se chama(m) a(s) estrutura(s) que traz(em) sangue para o átrio direito
do coração?
2- Como se chama(m) a(s) estrutura(s) que faz(em) a comunicação entre o
átrio direito e o ventrículo direito?
3- Por qual(s) vaso(s) o sangue proveniente dos pulmões retorna ao coração?

a) ( ) 1- artérias pulmonares; 2- endocárdio; 3- veias cavas.


b) ( ) 1- veias cavas; 2- valva atrioventricular direita; 3- veias pulmonares.
c) ( ) 1- veias pulmonares; 2- valva bicúspide; 3-artéria aorta.
d) ( ) 1- artérias coronárias; 2- valva da aorta; 3- veias coronárias.
e) ( ) 1- veias cavas; 2- valva mitral; 3- artérias pulmonares.

3 A contração da musculatura cardíaca é essencial para que o coração


desempenhe sua função de bomba. A ativação elétrica ordenada do
coração se dá pela propagação, em sequência, de potenciais de ação
despolarizantes através das estruturas anatômicas deste órgão. O batimento

37
cardíaco tem início no ___________, com um potencial de ação gerado de
maneira espontânea. Em seguida, essa onda de ativação converge para
uma conexão elétrica existente entre o miocárdio atrial e o miocárdio
ventricular:___________, diminuindo a frequência do potencial de ação
entre ambos. Após, essa onda de ativação atinge o___________ e passa por
ele até chegar às fibras de Purkinje, que são responsáveis por conduzir
rapidamente o potencial de ação até o ápice do miocárdio ventricular.
Deste modo, a onda de despolarização – o impulso cardíaco – é distribuída
a todo o miocárdio dos ventrículos direito e esquerdo, determinando a
contração___________.

Assinale a alternativa que preenche CORRETAMENTE as lacunas:


a) ( ) Nó atrioventricular, nó sinoatrial, fascículo atrioventricular, atrial.
b) ( ) Nó sinoatrial, nó atrioventricular, fascículo atrioventricular, ventricular.
c) ( ) Feixe de His, nó sinoatrial, nó atrioventricular, ventricular.
d) ( ) Nó sinoatrial, nó atrioventricular, fibras de Purkinje, atrial.
e) ( ) Nó atrioventricular, nó sinoatrial, fascículo atrioventricular, ventricular.

38
UNIDADE 1
TÓPICO 3

SISTEMA CARDIOVASCULAR: VASOS SANGUÍNEOS

1 INTRODUÇÃO
Os vasos sanguíneos constituem uma rede fechada de tubos ou canais,
pelos quais circula o sangue graças à contração rítmica do coração. Incluem:
artérias, capilares e veias.

De maneira geral, os vasos sanguíneos são formados por três túnicas:

1. Túnica íntima: é a mais interna e está em contato direto com o sague. Duas
camadas de tecido formam a túnica íntima, o endotélio e o subendotélio.
O endotélio é o tecido epitelial pavimentoso simples e suas células são
denominadas células endoteliais. Inferiormente ao endotélio, uma faixa delgada
de tecido conjuntivo frouxo constitui o subendotélio. Nas artérias encontramos
uma faixa de fibras elásticas logo após o subendotélio denominada limitante
elástica interna.
2. Túnica média: é formada por uma faixa de tecido muscular liso no qual as
células estão dispostas concentricamente circundando a luz do vaso. Nas
artérias, externamente ao músculo liso, encontramos a limitante elástica
externa, uma faixa de fibras elásticas. A musculatura lisa da túnica média pode
contrair, fazendo uma vasoconstrição (diminuição do diâmetro da luz do vaso)
ou relaxar, neste caso, fazendo uma vasodilatação (aumento do diâmetro da
luz do vaso) em resposta a diversos fatores, regulando assim o fluxo sanguíneo
e a pressão arterial.
3. Túnica adventícia: está localizada externamente à túnica média e é constituída
por tecido conjuntivo frouxo. Esta camada tende a ser mais desenvolvida nas
veias do que nas artérias.

A estrutura em camadas das paredes confere considerável resistência


às artérias e veias. A combinação de componentes elásticos e
musculares permite alterações controladas no diâmetro dos vasos
conforme ocorrem variações da pressão ou do volume sanguíneos.
As paredes dos vasos são espessas demais para permitir difusão
entre a corrente sanguínea e os tecidos circundantes, ou mesmo
entre o sangue e os tecidos do próprio vaso. Assim, as paredes dos
vasos maiores contêm pequenas artérias e veias suprem as fibras

39
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

musculares lisas, os fibroblastos e os fibrócitos da túnica média e da


túnica adventícia. Estes vasos são denominados vasa vasorum (vasos
dos vasos) (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009, p. 572, grifo
do original).

FIGURA 22 – ORGANIZAÇÃO HISTOLÓGICA DAS VEIAS E ARTÉRIAS

FONTE: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 572)

Quando comparamos a parede de uma artéria com a de uma veia,


percebemos que, de maneira geral, a parede das artérias é mais espessa do que das
veias. A túnica média das artérias possui maior quantidade de células musculares
e fibras elásticas do que das veias, o que garante uma maior resistência à pressão
provocada pelo sangue no seu interior. Além disso, a quantidade de tecido
conjuntivo na túnica adventícia das veias é maior, tornando esta túnica mais
espessa nas veias em relação às artérias.

2 ARTÉRIAS
As artérias são vasos sanguíneos que transportam o sangue do coração
em direção à periferia do corpo. Conforme saem do coração e se aproximam dos
tecidos, sua parede vai se tornando mais fina até terminarem nos capilares. De
acordo com o seu tamanho, as artérias são classificadas em:

• Artérias elásticas: são as maiores artérias do corpo, com diâmetro de até 2,5
cm. Os grandes vasos que saem do coração, como a aorta e o tronco pulmonar
são as maiores artérias elásticas. Além destas, as artérias pulmonares, ilíacas
comum, subclávias e carótidas comuns, também são exemplos de artérias
elásticas. A túnica média desses vasos possui grande quantidade de fibras
elásticas formando membranas fenestradas para suportar a pressão do sangue
que sai do coração.

40
TÓPICO 3 | SISTEMA CARDIOVASCULAR: VASOS SANGUÍNEOS

• Artérias musculares: são artérias de médio calibre, com diâmetro aproximado


de 0,4 cm, as quais levam o sangue aos músculos esqueléticos e aos órgãos do
corpo. Sua túnica média é bem desenvolvida e apresenta grande quantidade de
fibras musculares lisas. As artérias braquial, femoral, radial, ulnar, mesentéricas
e tibiais são exemplos de artérias musculares.
• Arteríolas: são pequenas artérias com diâmetro aproximado de 30 µm que se
localizam no interior dos tecidos. Estímulos nervosos provenientes do sistema
nervoso autônomo e endócrinos podem controlar o diâmetro desses vasos,
permitindo assim a regulação do fluxo sanguíneo para cada órgão de maneira
independente (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2018).

DICAS

VOCÊ SABIA?

Que arteriosclerose é diferente de aterosclerose?

A arteriosclerose ocorre quando a parede das artérias se torna mais espessa e rígida. Já a
aterosclerose é uma forma de arteriosclerose que ocorre devido a uma lesão do endotélio e
acúmulo de lipídio na túnica média das artérias. Para saber mais sobre o assunto, leia o artigo
disponível no seguinte link: http://repositorio-racs.famerp.br/racs_ol/vol-14-1/ID205.pdf.

3 CAPILARES
Os capilares são vasos sanguíneos responsáveis pelas trocas entre o
sangue e os tecidos, formados por uma única camada de células endoteliais que
se apoiam em uma lâmina basal e se prendem por zônulas de oclusão, as quais
regulam a permeabilidade do capilar. Podem ser divididos em três tipos:

• Contínuo ou somático: presente em tecidos musculares, conjuntivos, glândulas


exócrinas e tecido nervoso. Esse capilar não possui fenestras (poros) em sua
parede.
• Fenestrado ou visceral: encontrado em tecidos em que a troca ocorre de forma
rápida, como rim e intestino. Esses capilares constituem-se por células que
possuem poros em sua parede, obstruído por um diafragma.
• Sinusoide: presentes principalmente no fígado e tecido hemocitopoiético, esse
tipo de capilar possui células endoteliais com poros em sua parede, desprovidos
de diafragma, com uma lâmina basal fina ou ausente, permite, portanto, a
passagem de hemácias e outros elementos sanguíneos entre o capilar e o tecido
irrigado (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2018).

41
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

FIGURA 23 – CAPILARES SANGUÍNEOS


Pericito

Eritrócito
no lúmen

Fenda
intercelular
Célula
endotelial

Membrana
basal
Junção oclusiva Vesículas
Núcleo pinocíticas
endotelial
(a)

Pericito
Vesícula
pinocítica

Eritrócito
no lúmen

Fenestrações
(poros)

Núcleo Fenda
endotelial intercelular
Membrana basal
Célula
Junção oclusiva endotelial
(b)

Pericito

Célula
endotelial

Eritrócito
no lúmen

Fenda
intercelular
grande

Junção oclusiva
Membrana Núcleo
basal da célula
incompleta endotelial

(c)

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

42
TÓPICO 3 | SISTEMA CARDIOVASCULAR: VASOS SANGUÍNEOS

4 VEIAS
As veias recebem o sangue dos capilares e chegam até os átrios do coração.
A maioria das veias é de pequeno e médio calibre, sendo a túnica adventícia a
camada mais desenvolvida e composta por colágeno. A túnica íntima é constituída
pelo endotélio e por uma camada subendotelial fina que por vezes pode estar
ausente. A túnica média é composta por células musculares lisas e escassas fibras
elásticas. As médias e as grandes veias possuem válvulas que são dobras da túnica
íntima em formato de meia-lua que permitem o retorno do sangue ao coração. As
veias são classificadas, de acordo com o seu tamanho, em:

• Vênulas: são as menores veias que recebem o sangue proveniente dos capilares
sanguíneos. Sua estrutura é semelhante à dos capilares.
• Veias de médio calibre: essas veias possuem um diâmetro que varia entre 2 e
9 mm. Possuem uma túnica média fina com poucas fibras musculares. A túnica
adventícia é a mais espessa nesses vasos.
• Veias de grande calibre: são as maiores veias do corpo, sendo os principais
exemplos as veias cavas superior e inferior. Possuem todas as três túnicas mais
espessas quando comparadas com as veias de médio calibre.

FIGURA 24 – CLASSIFICAÇÃO DAS VEIAS E ARTÉRIAS

FONTE: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 573)


43
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

ATENCAO

FIQUE LIGADO!

As varizes são veias dilatadas ou deformadas que se formam devido ao mau funcionamento das
válvulas venosas. Essas válvulas são localizadas no interior de algumas veias, principalmente
nos membros inferiores e auxiliam no retorno do sangue para o coração. Quando as válvulas
não funcionam adequadamente, ocorre um refluxo e acúmulo do sangue no interior das
veias, o que causa a sua dilatação e inflamação, gerando dor (TORTORA, 2007).

5 PRINCIPAIS ARTÉRIAS DO CORPO HUMANO


A aorta, ao deixar o coração, é denominada parte ascendente da aorta, que
se curva para baixo e para trás do coração e passa a se chamar arco da aorta. Ao
descer, o arco recebe o nome de parte descendente da aorta, que é formado pela
aorta torácica, que vai até o músculo diafragma e pela aorta abdominal que, ao
chegar na quarta vértebra lombar, se ramifica nas artérias ilíacas comuns.

O arco da aorta emite três ramos: o tronco braquiocefálico, a artéria carótida


comum esquerda e a artéria subclávia esquerda. O tronco braquiocefálico se ramifica
nas artérias carótida comum direita e subclávia direita (Figura 25). As artérias
carótidas comuns levam o sangue para a cabeça, enquanto as artérias subclávias
irrigam os membros superiores, a parede do tórax, os ombros, o dorso, o encéfalo
e a medula espinal.

A parte torácica da aorta segue pela parede posterior do tórax, a esquerda


da coluna vertebral e conduz o sangue para os órgãos e músculos do tórax, o
diafragma e a porção torácica da medula espinal.

FIGURA 25 – RAMOS DA AORTA

FONTE: Adaptada de Netter (2011)

44
TÓPICO 3 | SISTEMA CARDIOVASCULAR: VASOS SANGUÍNEOS

Imediatamente abaixo do diafragma inicia a parte abdominal da aorta


(Figura 26), que segue à esquerda da coluna vertebral suprindo todos os órgãos
abdominais. O primeiro ramo da parte abdominal da aorta é o tronco celíaco, que
supre o fígado, estômago, esôfago, duodeno, pâncreas, baço e a vesícula biliar.
Cerca de 2,5 cm abaixo do tronco celíaco surge a artéria mesentérica superior, que
vai irrigar o pâncreas e o duodeno. Logo abaixo da artéria mesentérica superior
temos as artérias renais, uma de cada lado, que suprem os rins. Inferiormente,
encontramos a artéria mesentérica inferior que leva o sangue ao intestino grosso
(TORTORA, 2007).

FIGURA 26 – PARTE ABDOMINAL DA AORTA E ARTÉRIAS ILÍACAS

FONTE: Adaptada de Netter (2011)

Os membros inferiores são irrigados pela artéria ilíaca externa, um ramo da


artéria ilíaca comum. Outro ramo da artéria ilíaca comum é a artéria ilíaca interna,
que penetra na cavidade pélvica para irrigar a bexiga, as paredes da pelve, os
órgãos genitais e a região medial da coxa.

6 PRINCIPAIS VEIAS DO CORPO HUMANO


A Veia Cava Superior (VCS) recebe o sangue da cabeça, pescoço, tórax,
ombros e membros superiores. A veia subclávia se encontra localizada próximo
à primeira costela, que traz o sangue do membro superior, se funde com as veias
jugular interna e externa, que estão trazendo o sangue da cabeça, formando a veia
braquiocefálica. As veias braquiocefálicas direita e esquerda se unem para formar
a veia cava superior (TORTORA, 2007).

45
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

FIGURA 27 – FORMAÇÃO DA VEIA CAVA SUPERIOR

FONTE: Adaptada de Netter (2011)

A Veia Cava Inferior (VCI) recebe o sangue dos órgãos localizados


inferiormente ao diafragma. O sangue da região dos pés é drenado por veias
profundas dos membros inferiores e pelas veias safena parva e safena magna, a
veia mais longa do corpo. A veia safena magna desemboca na feia femoral, a qual
forma a veia ilíaca externa, que recebe o sangue da pelve, dos membros inferiores
e parte inferior do abdome. A veia ilíaca externa recebe o sangue da veia ilíaca
interna originando a veia ilíaca comum. As veias ilíacas comuns direita e esquerda
se unem na região anterior da quinta vértebra lombar originando a veia cava
inferior. Além de receber o sangue dos membros inferiores, a veia cava inferior
drena o sangue proveniente da parede abdominal, das gônadas, do fígado, dos
rins e do diafragma (TORTORA, 2007)

FIGURA 28 – FORMAÇÃO DA VEIA CAVA INFERIOR

FONTE: Adaptada de Netter (2011)

46
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os vasos sanguíneos são formados pelas artérias, veias e capilares.

• Três camadas de tecido, denominadas túnicas, formam a parede dos vasos


sanguíneos: a túnica íntima, a túnica média e a túnica adventícia.

• A parede das artérias é mais espessa do que a parede das veias.

• As artérias transportam o sangue do coração para a periferia do corpo.

• Existem três tipos diferentes de artérias: as artérias elásticas, as musculares e as


arteríolas.

• As veias trazem o sangue das células dos tecidos em direção ao coração.

• As veias são classificadas, de acordo com o seu tamanho, em veias de grande


calibre, veias de médio calibre e vênulas.

• Os capilares são os menores vasos sanguíneos e é neles que ocorrem as trocas


de nutrientes e gases com os tecidos.

• De acordo com a sua característica, os capilares podem ser contínuos,


fenestrados ou sinusoides.

47
AUTOATIVIDADE

1 Descreva as diferenças observadas entre veias, artérias e capilares:

QUADRO – DIFERENÇAS OBSERVADAS ENTRE VEIAS, ARTÉRIAS E CAPILARES

HISTOLOGIA FUNÇÃO

ARTÉRIA

VEIA

CAPILAR

FONTE: A autora

2 Ao analisarmos as artérias, de um modo geral, podemos dizer que elas:

a) ( ) Retiram sangue dos pulmões, suas paredes são grossas e a pressão em


seu interior é igual à das veias.
b) ( ) Distribuem-se por todo o corpo, entrando e saindo do coração e dos
pulmões.
c) ( ) Retiram sangue do coração, suas paredes são grossas e a pressão em seu
interior é maior que nas veias.
d) ( ) Levam sangue ao coração, suas paredes são grossas e a pressão em seu
interior é menor que nas veias.
e) ( ) Retiram sangue do coração, suas paredes são mais finas e a pressão em
seu interior é maior que nas veias.

3 Considerando as veias do corpo humano, de um modo geral, podemos dizer


que elas:

a) ( ) Possuem paredes mais grossas e aparecem em maior número que as


artérias.
b) ( ) Levam o sangue para fora do coração e suas paredes são mais finas que
as paredes das artérias.

48
c) ( ) A pressão em seu interior, normalmente, é maior que nas artérias.
d) ( ) Distribuem-se por todo o corpo, entrando e saindo do coração.
e) ( ) Levam o sangue para dentro do coração e suas paredes são mais finas
que as paredes das artérias.

4 Assinale a alternativa que possui a resposta para a seguinte pergunta: Três


artérias são provenientes do ARCO DA AORTA. Quais são elas?

a) ( ) Artéria coronária direita, artéria coronária esquerda e carótida comum.


b) ( ) Tronco braquiocefálico direito, carótida comum esquerda e subclávia
esquerda.
c) ( ) Tronco braquiocefálico direito, subclávia direita e carótida externa
esquerda.
d) ( ) Tronco braquiocefálico esquerdo, carótida comum direita e subclávia
direita.
e) ( ) Artéria carótida comum direita, subclávia direita e carótida interna
esquerda.

49
50
UNIDADE 1
TÓPICO 4

SISTEMA RESPIRATÓRIO

1 INTRODUÇÃO
O sistema respiratório é formado por um conjunto de órgãos responsáveis
pela absorção de oxigênio e a eliminação do gás carbônico ou dióxido de carbono,
resultante de oxidações celulares. O sistema respiratório pode ser dividido em
duas partes, que serão apresentadas a seguir.

A primeira parte do sistema respiratório é formada pelos órgãos que


conduzem o ar até os alvéolos pulmonares, realizando o aquecimento, a filtração
e a umidificação do ar inspirado. A segunda parte é representada pelos locais de
trocas gasosas, especificamente os alvéolos pulmonares.

2 PORÇÃO DE CONDUÇÃO E PORÇÃO DE RESPIRAÇÃO


A porção de condução está formada por órgãos tubulares, cuja função é
levar o ar inspirado até a porção respiratória e conduzir o ar expirado eliminando
o CO2. Além disso, essa região realiza a limpeza (filtração), umidificação e
aquecimento do ar. Constituída por: nariz, faringe, laringe, traqueia e brônquios.

Representada pelos pulmões, é o local onde ocorrem as trocas gasosas


(hematose).

51
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

FIGURA 29 – SISTEMA RESPIRATÓRIO

Cavidade nasal

Narinas
Faringe
Cavidade oral
Traqueia

Laringe
Carina da
Traqueia
Brônquio
principal
(primário)
direito
Brônquio
Pulmão principal
direito (primário)
esquerdo

Pulmão esquerdo

Diafragma

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

Os órgãos que compõem o sistema respiratório são revestidos por um


tecido epitelial pseudoestratificado cilíndrico ciliado com células caliciformes,
e também pode ser conhecido por epitélio respiratório (Figura 30). Entretanto,
cabe destacar que algumas regiões não possuem o mesmo revestimento.
Podemos distinguir neste epitélio cinco tipos de células: as colunares ciliadas, as
caliciformes, as células em escova, as basais e as células do sistema neuroendócrino
difuso (DNES). A célula colunar ciliada, em sua superfície apical, apresenta cílios
apoiados em numerosas mitocôndrias que fornecem ATP para o seu batimento. As
caliciformes são células produtoras de muco composto de glicoproteínas. As células
em escova possuem, em seu ápice, numerosas microvilosidades e são consideradas
receptores sensoriais, pois em sua base estão presentes terminações nervosas.
As células basais, que estão na base do epitélio, são pequenas, indiferenciadas,
pluripotentes e sofrem mitose. As células do DNES possuem numerosos grânulos
de secreção contendo hormônios de ação parácrina e endócrina. Esses grânulos
localizam-se na região basal das células (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2018).

52
TÓPICO 4 | SISTEMA RESPIRATÓRIO

FIGURA 30 – EPITÉLIO RESPIRATÓRIO

FONTE: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009)

DICAS

VOCÊ SABIA?

Que o cigarro destrói os cílios das células do sistema respiratório?

As substâncias presentes no cigarro promovem uma metaplasia, ou seja, uma mudança


no epitélio das vias respiratórias. Ocorre um aumento no número e tamanho das células
caliciformes, levando a uma maior produção de muco. Além disso, ocorre morte das células
ciliadas. Essas alterações promovem um acúmulo de muco nas vias respiratórias de fumantes,
favorecendo a proliferação de bactérias e vírus, o que torna estes indivíduos mais susceptíveis
à problemas respiratórios. Para saber mais sobre o assunto leia o artigo disponível no link a
seguir: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-86942009000600022.

3 NARIZ
No estudo do nariz incluem-se: nariz externo, cavidade nasal e seios
paranasais. Essas estruturas permitem a passagem do ar e trabalham em conjunto
com o objetivo de aquecer, umidificar e filtrar o ar inspirado, além de receber as
lágrimas, secreções da mucosa nasal e paranasal. O nariz também é um órgão
importante, pois apresenta células especializadas que participam do sentido da
olfação.

A cavidade nasal inicia nas narinas e vai até as coánas, local em que inicia a
parte nasal da faringe. Essa cavidade está dividida em direita e esquerda por uma
peça formada de cartilagem e osso (vômer e lâmina perpendicular do etmoide),
o septo nasal.

53
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

O vestíbulo, a parte respiratória e a parte olfatória são as regiões da cavidade


nasal (Figura 31). O vestíbulo é o local próximo das narinas e apresenta pelos
responsáveis pela filtração do ar inspirado. Na parte respiratória encontramos
três prateleiras (camadas) formadas por osso, as conchas nasais superior, média
e inferior. Nesta região o ar é aquecido e umidificado. Na concha nasal superior
encontramos um neuroepitélio denominado epitélio olfatório, onde existem
células que participam na percepção do odor. Esta região é denominada área
olfatória. O espaço presente entre as conchas nasais é denominado meato nasal
(MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009).

FIGURA 31 – CAVIDADE NASAL

FONTE: Adaptada de Netter (2011)

4 FARINGE
É um tubo localizado posteriormente à cavidade nasal e cavidade oral, que
inicia nas coanas e continua inferiormente com o esôfago. A faringe, conhecida
popularmente como garganta, permite a passagem de ar até a laringe e alimentos
sólidos e líquidos até o esôfago. Está dividida, anatomicamente, em três partes:

• Parte Nasal da Faringe: esta porção se inicia nas coánas e segue até o palato
mole. Nesta região encontramos as tonsilas faríngeas e duas aberturas, os ostios
faríngeos da tuba auditiva, que permitem uma comunicação da tuba auditiva
com a faringe a fim de igualar as pressões interna e externa.
• Parte Oral da Faringe: segue do palato mole até o nível do osso hioide e se
comunica com a cavidade oral pelas fauces (local de comunicação entre a boca
e a garganta). Nesta região observamos a tonsila palatina, na fossa tonsilar,
localizada entre os arcos palatoglosso e palatofaríngeo.
• Parte Laríngea da Faringe: é a região que se comunica com a laringe e está
situada desde o osso hioide até a porção inicial do esôfago (TORTORA, 2007).

54
TÓPICO 4 | SISTEMA RESPIRATÓRIO

FIGURA 32 – REGIÕES DA FARINGE

FONTE: Adaptada de Netter (2011)

5 LARINGE
É um cilindro formado por nove anéis cartilaginosos que conduzem
a passagem do ar inalado até a traqueia. Tem início em nível de C IV (quarta
vértebra cervical) e se estende até C VII (sétima vértebra cervical), sendo uma
estrutura pequena localizada entre a boca e a traqueia (MARTINI; TIMMONS;
TALLITSCH, 2009). Suas cartilagens se apresentam em três pares (aritenoidea,
corniculada e cuneiforme) e três ímpares (epligótica, cricoidea e tireoidea).

A laringe apresenta um par de pregas, denominadas pregas vocais, que são


as estruturas responsáveis pela produção do som. Essas pregas são formadas por
um ligamento elástico, o ligamento vocal, que está revestido pela túnica mucosa.
Superiormente às pregas vocais encontramos outro par de pregas, as pregas
vestibulares, que não participam durante a produção do som e são constituídas
pelas pregas vestibulares e a túnica mucosa (Figura 32) (TORTORA, 2007).

6 TRAQUEIA
Localizada anteriormente ao esôfago, desde a laringe até a quinta vértebra
torácica, onde se divide para originar os dois brônquios principais direito e
esquerdo (Figura 32). É formada por 16 a 20 anéis de cartilagem hialina em forma
de “C” e é responsável pela condução do ar.

55
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

O epitélio ciliado que reveste a luz da traqueia fornece proteção contra


partículas de poeira presentes no ar. Os cílios movem o muco e as partículas
de poeira aprisionadas em direção à faringe, de onde podem ser removidas
(deglutidas ou expelidas) do trato respiratório.

7 BRÔNQUIOS E BRONQUÍOLOS
Originam-se a partir da ramificação da traqueia em brônquio principal
direito e esquerdo, que segue em direção ao pulmão direito e esquerdo. Ao
penetrar no pulmão, o brônquio principal direito se ramifica em três brônquios
lobares, um para cada lobo pulmonar e o brônquio principal esquerdo origina dois
brônquios lobares, uma vez que o pulmão esquerdo apresenta apenas dois lobos.
Os brônquios lobares se ramificam conforme penetram nos pulmões, originando
os brônquios segmentares, que originam os bronquíolos terminais (Figura 33).
Estes, ao se ramificarem, dão origem aos bronquíolos respiratórios que, enfim,
chegam até os alvéolos pulmonares (unidades funcionais dos pulmões) através
dos ductos alveolares. Os alvéolos são pequenas bolsas de células epiteliais
achatadas que possuem capilares sanguíneos. É o local onde ocorre o encontro
entre o ar atmosférico e o sangue circulante.

Durante uma crise de asma, o músculo liso bronquiolar entra em


espasmo. Como não há cartilagem de sustentação, os espasmos
fecham as vias respiratórias. O movimento do ar pelos bronquíolos
contraídos torna a respiração mais difícil. A parte parassimpática
da divisão autônoma do sistema nervoso (SNA) e os mediadores de
reações alérgicas, como a histamina, também provocam estreitamento
dos bronquíolos (broncoconstrição), em virtude da contração do
músculo liso bronquiolar (TORTORA; DERRICKSON, 2017, p. 454).

8 PULMÕES
Os pulmões são órgãos esponjosos, localizados na cavidade torácica,
lateralmente ao coração (Figura 34). Eles se estendem desde a região superior das
clavículas até o diafragma. Cada pulmão se encontra envolvido por uma dupla
membrana, a pleura. O folheto externo, aderido à parede da cavidade torácica, é
denominado pleura parietal e o outro folheto aderido ao pulmão chama-se pleura
visceral. Entre a pleura parietal e a visceral existe uma cavidade, a cavidade pleural,
que está preenchida pelo líquido pleural. Este líquido permite os movimentos
dos pulmões durante a inspiração e a expiração e impede que as duas pleuras
entrem em contato (colapso).

56
TÓPICO 4 | SISTEMA RESPIRATÓRIO

Os dois pulmões apresentam um ápice, que é a parte superior em forma


de cone e uma base localizada inferiormente.

FIGURA 33 – RAMIFICAÇÃO DA ÁRVORE BRÔNQUICA

FONTE: Adaptada de Netter (2011)

Em cada pulmão identificamos uma face costal que está em contato com
as costelas na sua região anterior e com os corpos vertebrais posteriormente. Uma
face mediastinal (região medial) esta voltada para o mediastino, contendo o hilo
(local onde chegam e saem os vasos sanguíneos e os brônquios) e, por fim, uma
face diafragmática côncava, que forma a base do pulmão.

O pulmão direito é maior e mais pesado que o esquerdo, porém é mais


curto, devido à presença do fígado inferiormente. O pulmão esquerdo, apesar de
ser menor que o direito, é mais longo, porém é mais estreito, uma vez que o
ápice do coração está voltado à esquerda. No pulmão direito identificamos três
lobos, separados por duas fissuras, sendo a fissura oblíqua e a fissura horizontal.
O pulmão esquerdo apresenta apenas dois lobos separados pela fissura oblíqua.

57
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

FIGURA 34 – PULMÕES

Limite entre as
cavidades pleurais
direita e esquerda
Lobo
superior PULMÃO
PULMÃO ESQUERDO
DIREITO
Lobo superior

Fissura horizontal Fissura oblíqua

Lobo médio Pericárdio fibroso


Fissura oblíqua
VISTA Lobo inferior
ANTERIOR Lobo inferior Ligamento
falciforme
do fígado
Margem do
Fígado, diafragma,
Fígado, seccionada
lobo direito lobo esquerdo
(a) Cavidade torácica, vista anterior

FACES COSTAIS
Ápice do pulmão

Lobo
superior
Lobo superior
Fissura
horizontal
Lobo
médio Incisura
Lobo cardíaca
inferior
Fissura oblíqua Lobo
inferior
Base do pulmão
PULMÃO DIREITO PULMÃO ESQUERDO

FACES MEDIASTINAIS
Ápice do pulmão
Brônquio lobar superior
Lobo Lobo
superior Artéria pulmonar
superior
Brônquio lobar Impressão
médio aórtica
Brônquio lobar
Veias superior Veias
pulmonares pulmonares
Brônquio lobar
Fissura inferior
horizontal Impressão
Lobo Hilo do cardíaca
médio pulmão Lobo
Fissura Lobo Fissura
oblíqua inferior inferior oblíqua
Impressão Face
esofágica Base do pulmão diafragmática

PULMÃO DIREITO PULMÃO ESQUERDO


(b) Pulmões direito e esquerdo

FONTE: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 639)

58
TÓPICO 4 | SISTEMA RESPIRATÓRIO

9 ALVÉOLOS E SEPTO INTERALVEOLAR


Os alvéolos são estruturas que se assemelham a bolsas repletas de ar. Um
conjunto de alvéolos recebe o nome de saco alveolar. As paredes dos alvéolos
são revestidas por uma única camada de células pavimentosas, denominadas
pneumócito I ou célula alveolar tipo I. Entre os pneumócitos I encontramos células
arredondadas, os pneumócitos II ou célula alveolar tipo II, que são responsáveis
pela produção do surfactante, um fluido tenso ativo constituído por fosfolipídeos
e lipoproteínas que diminui a tendência dos alvéolos sofrerem colapso (se
fecharem). Na parede ou muitas vezes localizados no interior dos alvéolos,
encontramos macrófagos, denominados células de poeira, devido a sua função
de fagocitar e eliminar possíveis partículas sólidas presentes no ar que chega aos
alvéolos (Figura 35). Estima-se que os pulmões sejam formados por um total de
300 milhões de alvéolos (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2018).

59
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

FIGURA 35 – ALVÉOLOS E A MEMBRANA RESPIRATÓRIA

Bronquíolo respiratório
Dúctulo alveolar
Músculo liso Alvéolos
Alvéolo
Sáculo alveolar
Fibras elásticas Sáculo alveolar

Dúctulo alveolar
Vasos
capilares
(b) MEV dos alvéolos pulmonares
(a) Organização alveolar

Pneumócito Pneumócito
tipo II tipo I

Macrófago Glóbulo vermelho (hemácia)


alveolar

Fibras Cavidade (luz)


elásticas do vaso capilar
Núcleo da
célula endotelial
Endotélio
0,5 μm

Macrófago alveolar
Lâminas Epitélio Surfactante
basais alveolar
Vaso fundidas
capilar
Espaço aéreo alveolar
Célula (cavidade do alvéolo)
endotelial (d) Membrana respiratória (alveolocapilar)
de capilar

(c) Alvéolos, vista de uma secção

FONTE: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 645)

Entre a parede de um alvéolo e outro encontramos o septo interalveolar.


Essa região está constituída por um tecido conjuntivo frouxo, delicado e rico
em fibras reticulares e elásticas, que permitem o pulmão expandir durante os
movimentos respiratórios. O septo interalveolar possui grande quantidade de vasos
sanguíneos, sendo o tecido conjuntivo mais vascularizado do corpo. Essa grande
quantidade de vasos é extremamente importante para que ocorra a respiração
pulmonar, que é a troca de gases entre o sangue e os alvéolos.

Entre o sangue e a luz dos alvéolos, existe uma membrana que mede cerca
de 0,5 µm de espessura, a membrana respiratória (Figura 34). Esta membrana é
formada por quatro camadas:
60
TÓPICO 4 | SISTEMA RESPIRATÓRIO

• Pneumócito I: forma a parede do alvéolo.


• Membrana basal do pneumócito I: uma camada de proteínas localizada abaixo
do pneumócito I.
• Membrana basal da célula endotelial: camada adjacente à membrana basal do
pneumócito I e de igual constituição.
• Célula endotelial: célula epitelial pavimentosa, que forma a parede de
revestimento dos capilares sanguíneos.

Essa membrana permite a difusão dos gases. O O2, ao se difundir do


interior dos alvéolos em direção ao sangue, atravessa o pneumócito I, a membrana
basal do pneumócito I, a membrana basal da célula endotelial e, por fim, a célula
endotelial. Já o CO2 fará o caminho contrário, pois se difunde do sangue em
direção aos alvéolos.

10 MECÂNICA DA VENTILAÇÃO PULMONAR


Respiração é a troca de gases entre a atmosfera, o sangue e as células do
corpo, ocorrendo em três estágios:

1. Ventilação Pulmonar: é a entrada (inspiração) e saída do ar (expiração).


2. Respiração Pulmonar: é a troca de gases entre os alvéolos e o sangue nos
capilares pulmonares. O sangue recebe O2 conforme flui através dos capilares
pulmonares e elimina CO2. Uma doença, como o enfisema pulmonar, no
qual a área para troca gasosa está alterada (diminuída) dificulta a respiração
pulmonar. A pressão e O2 (PO2) no interior dos alvéolos pulmonares é de 105
mmHg, enquanto nos capilares pulmonares é de 40 mmHg. Como a pressão de
oxigênio alveolar é maior, o oxigênio flui através da membrana respiratória em
direção aos capilares sanguíneos até que as duas pressões sejam igualadas.
3. Respiração Tecidual: é a troca gasosa entre o sangue dos capilares sistêmicos e
as células teciduais. O sangue perde O2 e recebe CO2.

A ventilação ocorre devido a uma diferença na pressão do ar. Quando


a pressão interna (dentro dos pulmões) é menor que a pressão externa (do ar
atmosférico) nós inspiramos, e quando a pressão interna é maior que a externa,
ocorre a expiração. Esta diferença nas pressões do ar dentro e fora dos pulmões é
criada pela contração dos músculos da respiração.

A contração do músculo diafragma e intercostais externos promovem


uma expansão da cavidade torácica, tornando a pressão interna menor que
a externa e promovendo a entrada do ar nos pulmões, a inspiração. Uma
inspiração forçada depende da contração de músculos respiratórios acessórios:
esternocleidomastoideo, escalenos e peitoral menor.

Durante a expiração ocorre o relaxamento do diafragma e dos músculos


intercostais externos. Durante a expiração forçada ocorre a contração dos músculos

61
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

intercostais internos, oblíquos internos e externos do abdome, transverso do


abdome e reto do abdome.

A pressão na cavidade pleural, em condições normais, é em torno de 4


mmHg menor que a pressão atmosférica. Isto é vital, pois impede o colabamento
(fechamento) dos alvéolos pulmonares durante a expiração. Se, em decorrência
de um acidente ou uma incisão cirúrgica, ocorre a entrada de ar na cavidade
pleural, resulta em uma condição denominada pneumotórax. Neste caso, a
pressão interna se eleva e se iguala à pressão fora dos pulmões, o que desencadeia
o colabamento dos alvéolos pulmonares. Essa perda de volume pulmonar é
denominada atelectasia (colabamento).

Durante uma inspiração e expiração, cerca de 500 ml de ar são


movimentados. Este volume de ar que entra e sai dos pulmões é denominado
volume de ar corrente. Um adulto saudável respira, em média, 12 vezes por minuto.
Cerca de 30% (150 ml) do volume de ar corrente não chega até os pulmões. Este
volume permanece nas vias aéreas superiores (espaço morto anatômico).

O espirômetro é um aparelho que mede a frequência respiratória e a


capacidade (quantidade) de ar inspirado e expirado durante a respiração. Através
do espirômetro podemos definir os volumes de ar inspirado:

• Volume de Reserva Inspiratório: é o volume de ar inalado durante uma


inspiração forçada. Pode chegar a até 3100 ml de ar.
• Volume de Reserva Expiratório: é o volume de ar expirado durante uma
expiração forçada. São eliminados até 1200 ml de ar, além dos 500 ml já
eliminados durante a expiração normal.
• Volume Residual: é o volume de ar que não é eliminado dos pulmões, mesmo
após uma expiração forçada. Corresponde a cerca de 1200 ml (TORTORA,
2007).

A combinação de volumes de ar específicos é denominada capacidades


pulmonares:

• Capacidade Inspiratória: volume de ar corrente (500 ml) + volume de reserva


inspiratório (3100 ml) = 3600 ml.
• Capacidade Residual Funcional: volume residual (1200 ml) + volume de
reserva expiratório (1200 ml) = 2400 ml.
• Capacidade Vital: volume de reserva inspiratório (3100 ml) + volume corrente
(500 ml) + volume de reserva expiratório (1200 ml) = 4800 ml.
• Capacidade Pulmonar Total: é a soma de todos os volumes = 6000 ml.

62
TÓPICO 4 | SISTEMA RESPIRATÓRIO

11 TRANSPORTE DE GASES
O oxigênio é transportado no sangue ligado à hemoglobina das hemácias.
A hemoglobina é uma proteína tetramérica que apresenta quatro grupos HEME,
cada um contém um átomo de ferro, que se liga a uma molécula de oxigênio.

PO2  Hemoglobina SE LIGA AO O2  OXIHEMOGLOBINA

PO2  Hemoglobina LIBERA O2  DESOXIHEMOGLOBINA

Alguns fatores como o aumento da temperatura corporal, a diminuição


do pH sanguíneo (produção de ácido lático) e o aumento da PCO2 estimulam a
liberação do O2 pela hemoglobina.

O gás carbônico é transportado através do sangue por meio de três maneiras


distintas:

1. DISSOLVIDO NO PLASMA (9%).


2. LIGADO A AMINOÁCIDOS (13%): o monóxido de carbono ligado
a aminoácidos é transportado associado à hemoglobina, formando a
CARBAMINOHEMOGLOBINA. Quando a PCO2 é alta, a carbaminohemoglobina
é formada.
3. NA FORMA DE BICARBONATO (78%): o CO2 se associa à água no interior
das hemácias e origina o ácido carbônico (H2CO3) através da ação da enzima
anidrase carbônica presente no citosol das hemácias. O ácido carbônico se
decompõe em H+ e HCO3-. O bicarbonato é enviado para o plasma sanguíneo,
maneira pela qual é transportado. No interior dos capilares pulmonares, onde a
PCO2 é mais baixa, os íons bicarbonato (HCO3-) entram novamente nas hemácias
e se ligam ao H+ para formar H2CO3, que se dissocia em H2O e CO2. O CO2 sai
das hemácias e se difunde até o interior dos alvéolos pulmonares de onde é
expirado (TORTORA, 2007).

12 DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO DO SISTEMA


RESPIRATÓRIO
O sistema respiratório não realiza suas funções durante o período
embrionário e fetal, mas precisa se desenvolver para que, após o nascimento,
possa desempenhar sua função. O seu desenvolvimento inicia na quarta semana,
a partir de uma projeção na região ventral do intestino primitivo, denominada
divertículo respiratório (Figura 36). O endoderma do divertículo originará o
revestimento epitelial e as glândulas da traqueia, brônquios e alvéolos. O tecido
conjuntivo, cartilaginoso e muscular liso formam essas estruturas, as quais
possuem sua origem proveniente do mesoderma esplâncnico que circunda o
divertículo.

63
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

Conforme segue o desenvolvimento, o divertículo respiratório se


alonga, dando origem ao divertículo laringotraqueal, o qual formará a traqueia.
A extremidade do divertículo laringotraqueal se dilata e origina dois brotos
broncopulmonares, os quais sofrem sucessivas ramificações originando os
brônquios e bronquíolos.

Os alvéolos, os bronquíolos respiratórios e os ductos alveolares se


desenvolvem a partir da 16a semana, sendo que a produção de surfactante tem
início por volta da 20a semana. Alvéolos maduros só se desenvolvem a partir da 30ª
semana, sendo que apenas 1/6 do total de alvéolos termine seu desenvolvimento
até o nascimento. Grande parte dos alvéolos termina de se desenvolver após o
nascimento (MOORE; PERSAUD, TORCHIA, 2016).

Durante o desenvolvimento, os movimentos respiratórios do feto


provocam a aspiração de líquido pelos pulmões, o qual é uma mistura
de líquido amniótico, muco proveniente das glândulas brônquicas
e surfactante. Ao nascimento, os pulmões estão parcialmente cheios
de líquido, mas assim que a respiração começa grande parte dele é
rapidamente reabsorvida pelo sangue e pelos capilares linfáticos, e
uma pequena quantidade é expelida pelo nariz e pela boca durante o
parto (TORTORA, 2007, p. 803).

FIGURA 36 – DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA RESPIRATÓRIO

FONTE: Adaptada de Tortora (2007)

64
TÓPICO 4 | SISTEMA RESPIRATÓRIO

DICAS

FIQUE LIGADO!

Bebês que nascem antes da 28ª semana de desenvolvimento podem apresentar a Síndrome
do Desconforto Respiratório (SDR). Nesta síndrome ocorre um colabamento (fechamento)
dos alvéolos na expiração devido à falta de surfactante, que começa a ser produzido na 20a
semana, mas atinge seu pico por volta da 35ª semana. Para saber mais sobre o assunto, leia
o artigo disponível neste link:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_saude_recem_nascido_profissionais_v3.pdf>.

65
UNIDADE 1 | SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO

LEITURA COMPLEMENTAR

HERITROBLASTOSE FETAL: QUANDO A MÃE PRODUZ


ANTICORPOS CONTRA O FETO!

A eritroblastose fetal ou doença hemolítica do recém-nascido é uma condição


na qual a mãe produz anticorpos contra o próprio feto, sendo causada por uma
incompatibilidade entre o fator Rh+ e o Rh-. Nesta doença ocorre a destruição dos
eritrócitos fetais por uma resposta imune desencadeada pela mãe.

Na maioria dos casos, a mãe apresenta Rh- e o pai Rh+ e o bebê herda o
caráter do pai, sendo Rh+ e gerando uma incompatibilidade com o Rh materno. Na
primeira gestação em que o feto é Rh+, a mãe é sensibilizada e produz anticorpos
contra o antígeno D, não acarretando problemas para o feto. Em uma segunda
gestação na qual a criança seja Rh+, os anticorpos atravessam a membrana
placentária e se ligam aos eritrócitos fetais, iniciando o processo hemolítico. O
grau de hemólise vai depender da quantidade de anticorpos produzidos pela
mãe. Essa hemólise fetal gera patologias como edema generalizado, paralisia
cerebral, alterações hepáticas, anemias, icterícia, podendo levar à morte durante
ou após o nascimento (DA SILVA et al., 2016).

A prevenção e diagnóstico da doença devem ser realizadas em consultas


pré-natal ou após o nascimento do feto, através do histórico materno, testes de
Coombs, realização da tipagem sanguínea da mãe, amniocentese, ultrassonografia
e através da coleta das vilosidades coriônicas. Pode ser realizado um tratamento
de sensibilização materna através da administração de imunoglobulinas anti-D,
que irão destruir as células Rh D positivas presentes na circulação materna,
prevenindo assim a produção de anticorpos anti D pelas células maternas (DA
SILVA et al., 2016).

FONTE: DA SILVA et al., 2016. Disponível em:


https://www.researchgate.net/profile/Hugo_Soares_Melo/publication/309781502_ERITROBLAS
TOSE_FETAL_diagnostico_e_aspectos_imunologicos/links/5823388908aeb45b5889475b/ERI
TROBLASTOSE-FETAL-diagnostico-e-aspectos-imunologicos.pdf. Acesso em: 19 maio 2019.

66
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• O sistema respiratório é formado pelo nariz, faringe, laringe, traqueia,


brônquios, bronquíolos e pulmões.

• Os órgãos do sistema respiratório são, em sua maioria, revestidos por um


epitélio pseudoestratificado cilíndrico ciliado com células caliciformes,
denominado epitélio respiratório.

• O nariz está constituído pelo nariz externo, cavidade nasal e seios paranasais.

• A faringe é dividida em três regiões: parte nasal da faringe, parte oral da faringe
e parte laríngea da faringe.

• Um conjunto de nove cartilagens formam a laringe, que além de conduzir o ar


até a traqueia, tem uma importante função na produção do som.

• Localizada anteriormente ao esôfago encontramos a traqueia, que se ramifica


em dois brônquios.

• Os pulmões, localizados um de cada lado do coração, são órgãos esponjosos


repletos de cavidades que contêm ar e realizam as trocas gasosas, denominadas
alvéolos.

• Entre o sangue e a luz dos alvéolos existe uma membrana, a membrana


respiratória, que permite a passagem dos gases durante a troca gasosa.

• A respiração é a troca de gases entre a atmosfera, o sangue e as células do


corpo e ocorre em três estágios: ventilação pulmonar, respiração pulmonar e
respiração tecidual.

• A frequência respiratória, bem como a quantidade de ar inspirado e expirado


podem ser medidos através de um aparelho denominado espirômetro.

• O oxigênio é transportado no plasma ligado à hemoglobina.

• O gás carbônico é transportado de três maneiras: dissolvido no plasma, ligado


a aminoácidos e na forma de bicarbonato.

• O sistema respiratório tem origem a partir da quarta semana de desenvolvimento,


a partir de uma projeção na região ventral do intestino primitivo denominada
divertículo respiratório.

67
AUTOATIVIDADE

1 A respiração é a troca de gases do organismo com o ambiente. Nela o ar


entra e sai dos pulmões graças à contração do diafragma. Neste contexto,
considere as seguintes etapas do processo respiratório no homem.

I- Durante a inspiração, o diafragma se contrai e desce aumentando o


volume da caixa torácica.
II- Quando a pressão interna na caixa torácica diminui e se torna menor que
a pressão do ar atmosférico, o ar penetra nos pulmões.
III- Durante a expiração, o volume torácico aumenta e a pressão interna se
torna menor que a pressão do ar atmosférico.
IV- Quando o diafragma relaxa, ele reduz o volume torácico e empurra o ar
usado para fora dos pulmões.

Assinale a alternativa que indica as assertivas CORRETAS:


a) ( ) I e II estão corretas.
b) ( ) II, III e IV estão corretas.
c) ( ) I, II e III estão corretas.
d) ( ) I, II e IV estão corretas.
e) ( ) Todas as sentenças estão corretas.

2 Assinale a alternativa que contenha, respectivamente, o nome das estruturas


responsáveis por: 1- fechar a laringe para que não entre alimentos no sistema
respiratório; 2- contrair e relaxar para movimentar os pulmões; 3- armazenar
O2 ou CO2; 4- conter as cordas vocais.

a) ( ) 1- epiglote; 2- músculo diafragma; 3- alvéolos; 4- laringe.


b) ( ) 1- proeminência laríngea; 2- músculo cardíaco; 3- bronquíolos; 4- laringe.
c) ( ) 1- laringofaringe; 2- músculo diafragma; 3- alvéolos; 4- faringe.
d) ( ) 1- epiglote; 2- músculos peitorais; 3- brônquios; 4- faringe.
e) ( ) 1- nasofaringe; 2- músculo diafragma; 3- bronquíolos; 4- faringe.

3 Dados da Organização Mundial de Saúde indicam que crianças, filhas de


mães fumantes, têm, ao nascer, peso médio inferior ao de crianças filhas
de mães não fumantes.  Sobre esse fato, um estudante fez as seguintes
afirmações: 

I- O cigarro provoca maior concentração de monóxido de carbono (CO) no


sangue e provoca constrição dos vasos sanguíneos da fumante. 
II- O CO se associa à hemoglobina formando a carboxihemoglobina, um
composto quimicamente estável que favorece a ligação da hemoglobina ao
oxigênio. 

68
III- O oxigênio, ligado à hemoglobina, fica indisponível para as células e desse
modo o sangue materno chega à placenta com taxas reduzidas de oxigênio. 
IV- A constrição dos vasos sanguíneos maternos diminui o aporte de sangue à
placenta, e desse modo se reduz a quantidade de oxigênio e nutrientes que
chegam ao feto. 
V- Com menos oxigênio e menos nutrientes, o desenvolvimento do feto é mais
lento e a criança chegará ao final da gestação com peso abaixo do normal.

Sabendo que a afirmação I está correta, então podemos afirmar que:

a) ( ) A afirmação II também está correta, mas esta não tem por consequência
o contido na afirmação III. 
b) ( ) As afirmações II e III também estão corretas, e ambas têm por
consequência o contido na afirmação V. 
c) ( ) A afirmação III também está correta, mas esta não tem por consequência
o contido na afirmação V. 
d) ( ) A afirmação IV também está correta e tem por consequência o contido
na afirmação V. 
e) ( ) As afirmações II, III e IV estão corretas e têm por consequência o contido
na afirmação V.

4 Qual das seguintes estruturas não pertence à porção condutora do sistema


respiratório?

a) ( ) Brônquio.
b) ( ) Bronquíolo.
c) ( ) Traqueia.
d) ( ) Alvéolos.
e) ( ) Laringe.

69
70
UNIDADE 2

SISTEMA NERVOSO CENTRAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer a constituição do tecido nervoso;

• identificar e localizar as regiões que constituem o sistema nervoso central;

• associar as funções de cada região do sistema nervoso central;

• compreender algumas patologias que acometem o sistema nervoso.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – TECIDO NERVOSO

TÓPICO 2 – MEDULA ESPINAL

TÓPICO 3 – ENCÉFALO

71
72
UNIDADE 2
TÓPICO 1

TECIDO NERVOSO

1 INTRODUÇÃO
O sistema nervoso é constituído por bilhões de neurônios e possui
inúmeras atribuições, dentre elas: capacitar o organismo a perceber as variações
entre o meio (interno e externo); difundir as modificações que essas variações
produzem e executar as respostas adequadas para que seja mantido o equilíbrio
interno do corpo (homeostase). Está envolvido na coordenação e regulação das
funções corporais. O sistema nervoso está organizado em Sistema Nervoso
Central e Sistema Nervoso Periférico. O Sistema Nervoso Central (SNC) é aquele
que se localiza dentro da cavidade craniana (que contém o encéfalo) e do canal
vertebral (que contém a medula espinal). Essa estrutura recebe, analisa, integra
informações e, além disso, é responsável pela tomada de decisões e o envio de
comandos (ordens). Já o Sistema Nervoso Periférico (SNP) envolve todo o tecido
nervoso localizado fora do SNC. Está constituído por nervos, gânglios e raízes
nervosas. Os nervos são estruturas constituídas por axônios de neurônios e
envoltórios de tecido conjuntivo, podendo ser cranianos ou espinhais. Os nervos
cranianos são compostos de 12 pares conectados no tronco encefálico, enquanto 31
pares de nervos espinhais estão conectados na medula espinal e são responsáveis
por fazer a conexão da periferia do corpo com o SNC. Os gânglios, por sua vez,
são aglomerados de neurônios envoltos por uma cápsula de tecido conjuntivo,
localizados fora do SNC. As terminações nervosas monitoram alterações no
ambiente externo ou interno (TORTORA; DERRICKSON, 2017).

73
UNIDADE 2 | SISTEMA NERVOSO CENTRAL

FIGURA 1 – ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO

FONTE: A autora

2 HISTOLOGIA DO TECIDO NERVOSO


O tecido nervoso é formado por até um trilhão de neurônios e um grupo
de células especializadas denominadas neuroglia (células da glia). Tanto os
neurônios quanto a neuroglia possuem origem embrionária a partir do ectoderma
(JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2018).

FIGURA 2 – TECIDO NERVOSO

1. Corpos de Nissl; 2. Neurônio (pericário); 3. Neuróglia.

FONTE: A autora

74
TÓPICO 1 | TECIDO NERVOSO

2.1 NEURÔNIOS
Como as células musculares, os neurônios (células nervosas) possuem
excitabilidade elétrica, a capacidade de responder a estímulos e
convertê-los em um potencial de ação. Um estímulo é qualquer mudança
no ambiente forte o suficiente para iniciar um potencial de ação. Um
potencial de ação ou impulso nervoso é um sinal elétrico que se propaga
(viaja) ao longo da superfície da membrana de um neurônio ou de uma
fibra muscular (TORTORA; DERRICKSON, 2017, p. 238).

Os neurônios são as unidades básicas do processamento das informações,


sendo responsáveis pela condução do estímulo nervoso. Estão constituídos, na
maioria das vezes, de um corpo celular (pericário), dendritos e um axônio. O
corpo celular é a região que contém grande parte das organelas celulares. Ainda,
encontramos o núcleo celular, que se apresenta grande e pouco corado. Uma
característica do corpo celular é a presença de granulações basófilas, denominadas
corpos de Nissl. Essas estruturas são porções do retículo endoplasmático
rugoso associado a polirribossomos, importante local de síntese de proteínas
(JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2018).

Do corpo celular parte um único e longo prolongamento, o axônio, estrutura


especializada na transmissão dos estímulos nervosos para outro neurônio, célula
muscular ou glândula. O axônio se une ao corpo celular em uma região que tem
a forma de um cone e é denominado cone de implantação. A terminação axonal
(telodendro) é porção terminal de um axônio e pode apresentar ramificações.
Vários prolongamentos menores e ramificados também se originam do corpo
celular, os dendritos, responsáveis por receber os estímulos.

FIGURA 3 – ESTRUTURA DE UM NEURÔNIO


Dendritos Corpo celular (centro Corpo celular neuronal
(regiões biossintético e região
receptoras) receptora)

Núcleo

(a) Espinho
Axônio (região dendrítico
Nucléolo geradora e condutora Direção do
de impulsos) impulso
Corpúsculos Nó de Ranvier
de Nissl
Terminais axonais
Cone axônico Célula de (componente de secretor)
Schwann
Neurilema (um internodo)
(bainha de
(b) Schwann) Ramificações
terminais (telodendro)

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

75
UNIDADE 2 | SISTEMA NERVOSO CENTRAL

Os neurônios podem ser classificados de acordo com suas funções na


condução dos impulsos e de acordo com a sua morfologia. De acordo com Tortora
(2007), funcionalmente, os neurônios podem ser:
 
1. Neurônios sensitivos (aferentes): recebem estímulos sensoriais e conduzem o
impulso nervoso ao sistema nervoso central.
2. Neurônios motores (eferentes): transmitem os impulsos ao órgão efetuador –
músculo ou glândula (respostas ao estímulo).
3. Neurônios de associação ou interneurônios: estabelecem conexões entre os
neurônios sensitivos e os neurônios motores.

Estruturalmente, os neurônios são classificados em:

a) Neurônios multipolares: são formados por um corpo celular, um axônio e


vários dendritos. São encontrados na medula espinal e no encéfalo.
b) Neurônios bipolares: possuem apenas dois prolongamentos, partindo do
corpo celular, um axônio e um dendrito. Estão presentes na retina, na orelha e
na área olfatória.
c) Neurônios pseudounipolares: apresentam um corpo celular do qual parte um
único prolongamento que se ramifica em dois, sendo um axônio e um dendrito.
Seu dendrito funciona como um receptor sensorial, recebendo estímulos como
tato, dor, pressão e temperatura.

FIGURA 4 – CLASSIFICAÇÃO ESTRUTURAL DOS NEURÔNIOS

FONTE: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009)

76
TÓPICO 1 | TECIDO NERVOSO

2.2 NEURÓGLIA
A neuróglia constitui o conjunto de células do tecido nervoso, exceto os
neurônios, representando aproximadamente metade do volume celular do SNC.
Os primeiros histologistas acreditavam que a neuróglia funcionava como uma
cola que mantinha o tecido nervoso coeso, daí o seu nome glia = cola (grego).
Atualmente, sabe-se que a neuróglia é um conjunto de células que desempenha
funções importantíssimas para o tecido nervoso, sendo menores, porém muito
mais numerosas do que os neurônios. A neuróglia não conduz estímulos nervosos
e possui capacidade de se dividir após o nascimento. Em situações de dano ao
tecido nervoso, o local antes ocupado por neurônios passa a ser substituído por
células da glia, que se proliferam na região em que houve a lesão, uma maneira
de “cicatrizar” o tecido. Além disso, dá suporte físico, nutricional aos neurônios e
realiza a sua proteção (TORTORA; DERRICKSON, 2017).

FIGURA 5 – NEURÓGLIA

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

O grupo de neuróglia está constituído pelas seguintes células, de acordo


com Junqueira e Carneiro (2018):

77
UNIDADE 2 | SISTEMA NERVOSO CENTRAL

• Astrócitos: são as maiores células da neuróglia. Possuem um corpo celular que


contém as organelas e do qual partem pequenos prolongamentos ramificados.
Estão distribuídos pelo SNC e realizam o suporte físico e nutricional aos
neurônios. Quando em contato com capilares sanguíneos, formam a barreira
hematoencefálica (BHE), estrutura responsável por impedir a passagem de
algumas substâncias para o tecido nervoso.
• Oligodendrócitos: são células menores que os astrócitos e possuem poucos
prolongamentos ligados ao seu corpo celular. São encontrados apenas no SNC
e lá participam da formação da bainha de mielina dos neurônios (será explicado
adiante).
• Micróglia: são as menores células da glia, possuem um corpo celular do
qual partem vários prolongamentos que se ramificam. Essas células são
os macrófagos do tecido nervoso, responsáveis por realizar a fagocitose,
promovendo a limpeza e defesa do tecido, protegendo contra bactérias, vírus e
o desenvolvimento de tumores.
• Células Ependimárias (ependimócitos): são células cilíndricas alongadas com
cílios na sua porção apical. Realizam o revestimento dos ventrículos cerebrais
e do canal central da medula espinal. Seus cílios auxiliam a movimentação
do líquido cérebro-espinhal. Participam na formação dos plexos corioides,
estruturas responsáveis pela formação do líquido cérebro-espinhal.
• Células de Schwann: localizadas apenas no SNP, são células achatadas,
responsáveis por formar a bainha de mielina nos axônios do SNP.

Os oligodendrócitos e as células de Schwann são responsáveis por formar


uma estrutura lipídica que envolve os axônios da maioria dos neurônios no SNC
e SNP, respectivamente. Essa estrutura recebe o nome de bainha de mielina e
é importante para aumentar a velocidade de condução do estímulo nervoso
através dos axônios, funcionando como um isolante elétrico. Lacunas presentes
na bainha de mielina recebem o nome de nódulos de Ranvier.

NOTA

VOCÊ SABIA?

Que a bainha de mielina pode ser destruída?

Na esclerose múltipla ocorre a desmielinização dos axônios dos neurônios, devido a


uma resposta autoimune. Os pacientes apresentam perda da sensibilidade dos membros,
disfunções de coordenação e equilíbrio, alteração no controle dos esfíncteres e disfunções
cognitivo-comportamentais, eventos nominados de surtos agudos. A doença acomete mais
mulheres na faixa dos 20 aos 40 anos de idade.

FONTE: <https://www.einstein.br/doencas-sintomas/esclerose-multipla>. Acesso em: 26


ago. 2019.

78
TÓPICO 1 | TECIDO NERVOSO

O tecido do SNC está organizado de maneira a formar duas regiões


distintas: a substância branca e a substância cinzenta. Quando observado a
olho nu, o cérebro apresenta uma região periférica mais escura, a “substância
cinzenta”, enquanto sua região central se apresenta esbranquiçada, por isso
denominada “substância branca”. Na medula espinal, a substância branca é
periférica e a substância cinzenta se encontra no centro, formando uma estrutura
que lembra a letra “H”, por isso chamada de H medular. A substância branca é
constituída por axônios mielínicos e células da neuroglia, que possuem muitos
prolongamentos e preenchem os espaços entre as células nervosas. A substância
cinzenta é constituída por corpos neuronais, células da neuróglia e alguns axônios
amielínicos.

FIGURA 6 – SUBSTÂNCIA BRANCA

1. Axônio; 2. Bainha de mielina; 3. Neuróglia.

FONTE: A autora

3 POTENCIAL DE AÇÃO
Os potenciais de ação são o meio de comunicação e transmissão da
informação entre os neurônios. A membrana plasmática dos neurônios é
polarizada, ou seja, ela apresenta uma diferença de carga do meio externo e
interno. Em repouso, o lado interno da membrana apresenta um potencial de
-70 mV, esse potencial é denominado potencial de membrana de repouso e surge
porque a concentração de íons sódio, que tem carga positiva, é maior no meio
extracelular. A concentração de potássio (carga positiva), íons fosfato (carga
negativa) e aminoácidos (carga negativa) é maior no meio intracelular (MARTINI;
TIMMONS; TALLITSCH, 2009).

79
UNIDADE 2 | SISTEMA NERVOSO CENTRAL

Na membrana plasmática, existem canais que funcionam como poros para


a passagem de íons, por isso são denominados canais iônicos. Esses canais podem
estar abertos ou fechados, sendo que, quando abertos, permitem o fluxo de íons
do local de maior concentração para o de menor. Existem canais específicos para
o transporte de sódio e de potássio. Como a concentração de potássio é maior no
meio interno da célula, esse íon tende a sair, enquanto o sódio, mais concentrado
fora da célula, tende a entrar. A quantidade de sódio que entra é menor que a
quantidade de potássio que sai da célula, pois a membrana plasmática apresenta
uma maior densidade (quantidade) de canais de potássio. Para manter o potencial
de membrana de repouso de -70 mV, os íons sódio e potássio são bombeados
contra o seu gradiente de concentração para fora e para dentro, respectivamente,
da célula através da bomba de Na+/K+ ATPase (TORTORA; DERRICKSON, 2017).

Um potencial de ação ou impulso nervoso é uma sequência de eventos


ocorrendo rapidamente, que diminui e inverte o potencial de membrana
e, em seguida, finalmente o restaura ao estado de repouso. Se um
estímulo provoca a despolarização da membrana a um nível crítico,
chamado limiar (em geral, em torno de -55 mV), em seguida surge
um potencial de ação. Um potencial de ação tem duas fases principais:
uma fase despolarizante (despolarização) e uma fase repolarizante
(repolarização) (TORTORA; DERRICKSON, 2017, p. 245).

O potencial de ação é gerado pela alteração do potencial de repouso.


Quando um estímulo tem força suficiente para despolarizar a membrana até -55
mV, ocorrerá o potencial de ação. Quando o limiar é atingido ou ultrapassa -55
mV, abrem-se canais de sódio dependentes de voltagem que permitem o influxo
de grande quantidade de íons sódio, caracterizando a fase de despolarização do
potencial de ação. Esse influxo de sódio leva o potencial de membrana para +30
mV. Nesse momento, canais de potássio dependentes de voltagem se abrem e o
potássio flui para o meio extracelular e ocorre o fechamento dos canais de sódio,
levando a fase de repolarização do potencial de ação. O efluxo de potássio causa
uma diminuição do potencial de membrana, causando uma hiperpolarização, ou
seja, se torna mais negativo do que o potencial de membrana de repouso. O valor
de -70 mV do potencial de repouso é restabelecido quando ocorre o fechamento
dos canais de potássio.

80
TÓPICO 1 | TECIDO NERVOSO

FIGURA 7 – GERAÇÃO DE UM POTENCIAL DE AÇÃO

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

A geração dos potenciais de ação obedece ao princípio do tudo ou nada.


Se um estímulo tiver força suficiente para gerar um potencial de ação, ele ocorrerá
devido à abertura dos canais de sódio e potássio controlados por voltagem. Se o
estímulo for mais forte, o potencial de ação gerado será o mesmo, pois não existe
potencial mais ou menos forte. Quando um estímulo não tiver força suficiente
para despolarizar a membrana a ponto de abrir os canais de sódio e potássio, o
potencial de ação não ocorrerá (TORTORA; DERRICKSON, 2017).

Os neurônios se comunicam com outras células através dos impulsos


nervosos. Os impulsos gerados nos neurônios trafegam através do axônio até o
terminal axonal, são enviados para outro neurônio, uma célula muscular ou uma

81
UNIDADE 2 | SISTEMA NERVOSO CENTRAL

célula glandular, e dessa forma a informação é propagada. A despolarização de


uma região específica do neurônio faz com que ocorra a abertura dos canais de
sódio dependentes de voltagem na região em que a membrana foi despolarizada
e então o sódio entra na célula neste local (TORTORA; DERRICKSON, 2017).

O influxo de sódio faz com que a membrana à frente sofra uma modificação
na sua voltagem, ocasionando a abertura de outros canais de sódio e, assim,
sucessivamente, permitindo que o estímulo se propague por todo o axônio
até chegar ao terminal axonal. Nos axônios amielínicos, o estímulo se propaga
de forma contínua, como descrito anteriormente. Já nos axônios mielínicos, a
propagação dos estímulos é saltatória. A despolarização da membrana ocorre nos
nodos de Ranvier, regiões do axônio em que não há bainha de mielina, tornando a
propagação do estímulo mais rápida (TORTORA; DERRICKSON, 2017).

FIGURA 8 – PROPAGAÇÃO DO ESTÍMULO NERVOSO EM AXÔNIOS MIELÍNICOS

Nó de Ranvier

Corpo celular Bainha


de mielina
Axônio
distal

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

ATENCAO

“Anestésicos locais são fármacos que bloqueiam a dor. Exemplos incluem a


procaína (Novocaína®) e a lidocaína, que podem ser usadas para produzir anestesia na pele,
durante a sutura de um corte na boca, por exemplo, durante um procedimento dentário
ou na parte inferior do corpo, durante o parto, dentre outros locais. Esses fármacos agem
bloqueando a abertura dos canais de Na+ controlados por voltagem. Impulsos nervosos não
atravessam a região bloqueada, portanto, sinais de dor não chegam até o SNC” (TORTORA;
DERRICKSON, p. 247, 2017).

82
TÓPICO 1 | TECIDO NERVOSO

4 SINAPSE
É uma junção especializada, em que um terminal axonal faz contato com
outro neurônio ou tipo celular. As sinapses podem ser elétricas ou químicas,
sendo que grande parte das sinapses são químicas, nas quais ocorre a liberação
de moléculas denominadas neurotransmissores.

Toda sinapse possui um neurônio pré-sináptico, que envia o impulso


nervoso, e um neurônio pós-sináptico, que recebe o impulso. Entre os neurônios
pré e pós-sináptico existe um pequeno espaço, a fenda sináptica.

As sinapses elétricas permitem a transferência direta da corrente iônica


de uma célula para outra e dependem de junções intercelulares denominadas
junções gap ou junções comunicantes. A distância entre as membranas pré-
sinápticas (do axônio – transmissor do impulso nervoso) e pós-sinápticas (do
dendrito ou corpo celular – receptoras do impulso nervoso) é muito pequena. As
junções gap formam estruturas semelhantes a túneis na membrana dos neurônios
pré e pós-sinápticos, permitindo a passagem dos íons através delas, realizando a
transmissão do impulso nervoso. Esse tipo de sinapse é encontrado em algumas
regiões, como no músculo liso da parede das vísceras, músculo cardíaco e em
regiões do encéfalo (TORTORA; DERRICKSON, 2017).

Em uma sinapse química, os neurônios pré-sináptico e pós-sináptico estão


mais afastados do que na sinapse elétrica. Para que a sinapse química ocorra
é necessária a liberação pelo neurônio pré-sináptico, de moléculas químicas
denominadas neurotransmissores (descrito adiante).

Quando um impulso nervoso atinge o terminal axonal do neurônio


pré-sináptico ocorre a abertura de canais de cálcio dependentes de voltagem.
O influxo de cálcio promove a fusão à membrana das vesículas contendo os
neurotransmissores com a membrana plasmática do terminal axonal. Essa fusão
permite a liberação do conteúdo das vesículas na fenda sináptica e a possível
ligação dos neurotransmissores com receptores específicos na membrana do
neurônio pós-sináptico. Essa ligação abre canais iônicos dependentes de ligante e
ocorre o influxo de íons para o neurônio pós-sináptico, alterando o potencial de
membrana nesta célula (TORTORA; DERRICKSON, 2017).

O efeito do neurotransmissor sobre o neurônio pós-sináptico só


permanecerá enquanto ele estiver ligado ao seu receptor. Os neurotransmissores,
após se ligarem aos receptores, podem ser eliminados da fenda sináptica através
de sua recaptação pelo neurônio pré-sináptico para que seja reutilizado em uma
nova sinapse, através da sua degradação por enzimas específicas ou pela sua
difusão para fora da fenda sináptica (TORTORA; DERRICKSON, 2017).

83
UNIDADE 2 | SISTEMA NERVOSO CENTRAL

FIGURA 9 – SINAPSE QUÍMICA

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

5 NEUROTRANSMISSORES
Os neurotransmissores são substâncias químicas que atuam como
mensageiros da comunicação entre os neurônios. A maioria dos neurotransmissores
é produzido pelos neurônios no corpo celular e então são empacotados em
vesículas e encaminhados até o terminal axonal, no qual ficam armazenados até
chegar um estímulo nervoso.

Existem diferentes tipos de moléculas que atuam como neurotransmissores,


como a Acetilcolina (ACh); alguns aminoácidos, dentre eles: o glutamato, aspartato,
Ácido Gama-Aminobutírico (GABA) e glicina. Aminoácidos modificados também
atuam como neurotransmissores, como exemplos temos: a Noradrenalina (NA),
Dopamina (DOPA), Serotonina (5-hidroxitriptamina, 5-HT). Os neuropeptídeos
são peptídeos que atuam como neurotransmissores, é o caso das endorfinas. O
óxido nítrico é um gás que atua como neurotransmissor e parece estar envolvido
na memória e aprendizado (TORTORA, 2007).

Alguns neurotransmissores atuam estimulando outras células, sendo,


portanto, denominados excitatórios, como é o caso da AD, glutamato, aspartato.
Já o GABA e a glicina são neurotransmissores inibitórios.

A ACh foi o primeiro neurotransmissor descoberto e atua tanto no


sistema nervoso central quanto no sistema nervoso periférico. Os neurônios
colinérgicos são os que sintetizam e secretam a ACh. A contração dos músculos
estriados esqueléticos só ocorre através da liberação de ACh pelo terminal axonal
dos neurônios motores na junção neuromuscular. Quando liberada pelo sistema
nervoso parassimpático, atua de maneira inibitória, reduzindo a frequência
cardíaca, por exemplo (TORTORA, 2007).

84
TÓPICO 1 | TECIDO NERVOSO

O glutamato é o principal neurotransmissor excitatório do encéfalo, atuando


na memória e aprendizado, sendo que o GABA é o principal neurotransmissor
inibitório, o qual é sintetizado a partir do glutamato. Disfunções nos mecanismos
do glutamato e GABA parecem estar envolvidos com o desenvolvimento de
ansiedade (TORTORA, 2007).

A NA é secretada por neurônios adrenérgicos e é o principal


neurotransmissor do sistema nervoso autônomo. Quando secretada por neurônios
do sistema nervoso simpático, em situações de luta e fuga, promove aumento da
frequência cardíaca e respiratória, entre outros (TORTORA, 2007).

A DOPA atua como um neurotransmissor inibitório e é produzida por


neurônios dopaminérgicos, os quais estão localizados em algumas regiões do
encéfalo e na medula espinal. Está relacionada com a sensação de prazer e atua
no controle dos movimentos. Na doença de Parkinson ocorre uma degeneração
dos neurônios dopaminérgicos em uma região do encéfalo denominada
substância negra, causando uma diminuição na liberação de DOPA. Já o excesso
de DOPA está envolvido com o desenvolvimento de esquizofrenia, levando a
uma estimulação excessiva do lobo frontal do cérebro (TORTORA, 2007).

A 5-HT possui ação excitatória e inibitória, dependendo da região em que


é secretada. Ela possui uma ação ampla sobre o sistema nervoso central, uma vez
que vários neurônios possuem receptores para a 5-HT, apesar de sua produção
ser restrita a alguns neurônios serotoninérgicos. A deficiência de 5-HT, em certas
regiões do cérebro, tem sido relacionada ao desenvolvimento de distúrbios do
humor, como a depressão e ansiedade (TORTORA, 2007).

ATENCAO

FIQUE LIGADO!!!

“Antidepressivos são drogas que aliviam os sintomas de depressão. Há dois grupos


principais de antidepressivos – os antigos antidepressivos ‘tricíclicos’ e os mais recentes, os
‘inibidores seletivos da recaptação de serotonina’ (ISRS). Ambos atuam alterando a forma
como determinados neurotransmissores funcionam no encéfalo. Na depressão, alguns
dos sistemas de neurotransmissores especialmente aqueles envolvendo a serotonina e a
noradrenalina, não parecem funcionar adequadamente. Acredita-se que os antidepressivos
funcionem aumentado a atividade desses agentes químicos no encéfalo. Os antidepressivos
tricíclicos são tão eficientes quanto os inibidores seletivos da recaptação de serotonina,
mas, no conjunto, os ISRS apresentam efeitos colaterais menores. Uma vantagem principal
dos inibidores seletivos é que uma overdose não é perigosa, enquanto uma overdose dos
inibidores tricíclicos é extremamente perigosa e apresenta uma alta taxa de mortalidade”
(TORTORA, 2007, p. 573).

85
UNIDADE 2 | SISTEMA NERVOSO CENTRAL

6 MENINGES
As meninges são três envoltórios de tecido conjuntivo que envolvem o
encéfalo e a medula espinal, sendo denominadas pia-máter, aracnoide e dura-
máter. Essas membranas são extremamente importantes, uma vez que conferem
proteção, estabilidade e absorção de impactos aos órgãos do sistema nervoso
central (TORTORA, 2007).

A dura-máter é a mais externa e está constituída por tecido conjuntivo


fibroso, sendo a mais espessa e resistente das três. Na medula espinal, existe um
espaço entre a dura-máter e as vértebras, o espaço epidural, o qual é preenchido
por tecido adiposo. Já a dura-máter encefálica consiste em duas camadas, a lâmina
endóstea, a qual é mais externa e está conectada diretamente ao periósteo do
crânio, e a lâmina meníngea, mais interna. No crânio não há um espaço epidural
como na medula espinal, entretanto, no encéfalo, a lâmina meníngea da dura-
máter apresenta quatro pregas (TORTORA; DERRICKSON, 2017):

1. Foice do cérebro: localizada entre os hemisférios cerebrais, na fissura


longitudinal.
2. Tentório do cerebelo: localizada entre o cerebelo e os hemisférios cerebrais.
3. Foice do cerebelo: localiza-se inferiormente ao tentório do cerebelo, entre os
hemisférios cerebelares.
4. Diafragma da sela: reveste a sela turca do osso esfenoide, formando uma
bainha para a glândula hipófise.

A aracnoide (aranha) está localizada entre a dura-máter e a pia-máter.


Sua membrana está em contato com a dura-máter e emite prolongamentos
em direção à pia-máter que lembram a teia de uma aranha, as trabéculas
aracnoideas. O espaço ocupado pelas trabéculas aracnoideas é denominado
espaço subaracnoideo e está preenchido pelo líquido cerebrospinal (discutido
adiante). A aracnoide forma uma série de projeções em direção aos seios venosos
da dura-máter, as granulações aracnoideas, as quais têm como função reabsorver
o líquido cerebrospinal (TORTORA; DERRICKSON, 2017).

86
TÓPICO 1 | TECIDO NERVOSO

FIGURA 10 – MENINGES ESPINHAIS


Substância
Substância branca cinzenta
Medula espinal
Raiz anterior
Fissura mediana Nervo espinal
anterior
Raiz posterior Gânglio sensitivo
Pia-máter de nervo espinal
Pia-máter
Aracnoide-máter

Ligamento Dura-máter
denticulado

Aracnoide-máter
(rebatida)
Dura-máter
(rebatida) (c) Vista posterior

Vasos sanguíneos
espinais Dura-máter
ANTERIOR Aracnoide-máter
Raiz posterior Espaço
do sexto nervo Corpo
vertebral subaracnoideo
cervical
Pia-máter Gânglio visceral
Raiz anterior (simpático)
do sexto Raiz
nervo cervical anterior
Ramos de nervo
comunicantes espinal
(a) Vista anterior
Ramo
anterior
Medula Ramo
espinal posterior
Medula espinal
Tecido adiposo Gânglio
no espaço epidural Ligamento sensitivo de
denticulado nervo espinal

POSTERIOR
Parte pial do
filamento terminal (d) Vista seccional
Espaço subaracnoideo
contendo líquido cerebrospinal
Vértebra L V e raízes de nervos espinais
Parte dural do
filamento terminal

Vértebra S II
(b) RM, vista seccional

FONTE: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 364)

87
UNIDADE 2 | SISTEMA NERVOSO CENTRAL

FIGURA 11 – MENINGES ENCEFÁLICAS

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

A mais interna das três meninges, a pia-máter, é uma membrana delicada


de tecido conjuntivo que está em contato íntimo com o encéfalo e a medula espinal.
O líquido cerebrospinal, um exsudato do plasma sanguíneo, é produzido nos
ventrículos cerebrais (ventrículos laterais, terceiro ventrículo e quarto ventrículo),
em regiões especializadas denominadas plexos corioides. Essas estruturas
são formadas por capilares sanguíneos fenestrados, revestidos por células
ependimárias (visto anteriormente). A composição do líquido cerebrospinal
é diferente do plasma sanguíneo em relação à concentração de proteínas, sais,
íons, aminoácidos, lipídios e resíduos do metabolismo. Sua produção é constante,
sendo que é reabsorvido pelas granulações aracnoideas. O líquido cerebrospinal
circula entre os ventrículos cerebrais, o canal central da medula espinal e o espaço
subaracnoideo.

88
TÓPICO 1 | TECIDO NERVOSO

O acúmulo do líquido cerebrospinal (anteriormente conhecido como


líquido cefalorraquidiano – LCR), pode ser decorrente de uma falha na sua
reabsorção ou devido à formação de tumores, causando um aumento da
Pressão Intracraniana (PIC) e cefaleia (dor de cabeça). A hidrocefalia é uma
dilatação do crânio que ocorre pelo acúmulo de LCR, que leva ao aumento dos
ventrículos cerebrais, trazendo o significado popular de “água na cabeça”.
Essa síndrome clínica é observada em crianças. Como os ossos do crânio
ainda apresentam grande quantidade de tecido conjuntivo nas suturas, o
crânio expande para acomodar o volume aumentado de líquido (MARTINI;
TIMMONS; TALLITSCH, 2009).

FIGURA 12 – PACIENTE COM HIDROCEFALIA

FONTE: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 398)

89
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O sistema nervoso está organizado em sistema nervoso central e sistema


nervoso periférico.

• O sistema nervoso central é formado pelo encéfalo e pela medula espinal.

• Toda parte do sistema nervoso que está localizada fora do sistema nervoso
central, constitui o sistema nervoso periférico.

• O tecido nervoso, que forma todo o sistema nervoso, é constituído pelos


neurônios e pelas células da neuroglia.

• A neuroglia envolve um grupo de cinco células: astrócitos, oligodendrócitos,


células de Schwann, células ependimárias e micróglia.

• Os neurônios são formados por um corpo celular do qual partem pequenos


prolongamentos denominados dendritos (local de entrada dos estímulos
nervosos) e um único e longo prolongamento, o axônio, responsável por
transmitir o estímulo nervoso para outro neurônio, uma célula muscular ou
uma glândula.

• Existem diferentes tipos de neurônios, os quais são classificados, de acordo


com a sua função, em sensitivos, motores ou de associação. Eles ainda podem
ser classificados, de acordo com a sua forma, em multipolares, bipolares ou
pseudounipolares.

• O tecido nervoso, no sistema nervoso central, está organizado em duas regiões


distintas: a substância branca e a substância cinzenta.

• Os neurônios se comunicam através da geração de potenciais de ação.

• A junção de um neurônio com outro ou com uma célula especializada é


denominada sinapse.

• As sinapses podem ser químicas, quando a informação é transmitida através da


passagem do estímulo de uma célula para a outra ou podem ser elétricas, quando
há a participação de moléculas químicas denominadas neurotransmissores.

• Os neurotransmissores são substâncias químicas que atuam como mensageiros


da comunicação entre os neurônios.

90
• Acetilcolina, noradrenalina, serotonina, glutamato, óxido nítrico, ácido gama-
aminobutírico e glicina são alguns exemplos de neurotransmissores.

• O encéfalo e a medula espinal estão envolvidos por membranas conjuntivas


denominadas meninges.

• As meninges são em número de três: pia-máter, aracnoide e dura-máter.

91
AUTOATIVIDADE

1 Qual das alternativas a seguir contém estruturas que são componentes


do Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP),
respectivamente?

a) ( ) Nervos cranianos e periféricos, gânglios e terminações nervosas /


encéfalo e medula espinal.
b) ( ) Encéfalo e medula óssea / medula espinal e gânglios nervosos.
c) ( ) Medula espinal e encéfalo / nervos cranianos e periféricos, gânglios e
terminações nervosas.
d) ( ) Cérebro e tronco encefálico / medula espinal e nervos cranianos.
e) ( ) Nervos cranianos e cérebro / medula óssea e nervos periféricos.

2 Examine a seguinte lista de eventos que ocorrem durante a propagação de


um impulso nervoso:

I- Neurotransmissores atingem os dendritos.


II- Neurotransmissores são liberados pelas extremidades do axônio.
III- O impulso se propaga pelo axônio.
IV- O impulso se propaga pelos dendritos.
V- O impulso chega ao corpo celular do neurônio.

Que alternativa apresenta a sequência temporal correta desses eventos?


a) ( ) V – III – I – IV – II.
b) ( ) I – IV – V – III – II.
c) ( ) I – IV – III – II – V.
d) ( ) II – I – IV – III – V.
e) ( ) II – III – I – IV – V.

3 As meninges são estruturas que auxiliam imensamente o processo de


proteção do sistema nervoso. A seguir estão algumas alternativas, leia e
escolha a que contenha informação CORRETA em relação às meninges:

a) ( ) São três camadas que protegem o SNA.


b) ( ) A meninge superficial é a pia-máter.
c) ( ) O liquor circula abaixo da aracnoide.
d) ( ) Envolvem somente o encéfalo.
e) ( ) A meninge profunda é a aracnoide.

4 O principal componente do sistema nervoso é o neurônio, um tipo de célula


altamente especializada em receber, conduzir e transmitir mensagens a outras
células. A região entre dois neurônios é chamada de sinapse: as substâncias
químicas que transmitem as mensagens de um neurônio para o outro são
chamadas de mediadores, mensageiros químicos ou neurotransmissores.

92
Os cientistas descobriram que em muitas doenças do sistema nervoso
a quantidade desses neurotransmissores pode estar alterada. Dadas as
afirmações sobre o assunto, analise as seguintes sentenças.

I- Quando o neurônio é devidamente estimulado, ocorre uma onda de


alterações elétricas em sua membrana, sempre dos dendritos em direção
ao axônio.
II- As sinapses nervosas ocorrem, em geral, entre o axônio de um neurônio
e o dendrito de outro, mas também pode haver sinapses entre um axônio
e um corpo celular, entre dois axônios, ou entre um axônio e uma célula
muscular, neste caso, chamada sinapse neuromuscular.
III- Dentre outras substâncias que atuam como neurotransmissores, podemos
citar a dopamina.

Está(ão) correta(s):
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) II, apenas.
c) ( ) III, apenas.
d) ( ) I e III.
e) ( ) I, II e III.

93
94
UNIDADE 2 TÓPICO 2

MEDULA ESPINAL

1 INTRODUÇÃO
Localizada no interior do canal vertebral, a medula espinal é responsável
por receber os estímulos provenientes da periferia do corpo e encaminhar às
regiões superiores (encéfalo). Da mesma forma, a medula espinal envia as
respostas elaboradas no encéfalo para as regiões periféricas do corpo.

Medindo cerca de 45 cm nos adultos, a medula espinal vai do forame


magno do osso occipital até o espaço entre a primeira e a segunda vértebras
lombares, no qual termina em uma região cuneiforme denominada cone medular.

Macroscopicamente, a medula espinal tem um formato cilíndrico,


levemente achatada na região anteroposterior. Apresenta duas saliências
denominadas intumescência cervical e intumescência lombossacral. A formação
dessas intumescências se deve à maior quantidade de axônios que entram e
saem destas áreas e são necessários para a inervação dos membros superiores
e inferiores. A intumescência cervical se localiza da quarta vértebra cervical
até a primeira vértebra torácica, enquanto a intumescência lombossacral está
localizada na região torácica inferior, seguindo da nona até a décima segunda
vértebras torácicas. O cone medular está localizado logo abaixo da intumescência
lombossacral e a partir dele forma-se um alongamento da pia-máter, o filamento
terminal, que fixa a medula espinal ao osso cóccix (TORTORA, 2007).

A medula espinal continua a se alargar e se alongar até que o


indivíduo atinja aproximadamente 4 anos de idade. Até essa idade, o
alongamento da medula espinal acompanha o ritmo de crescimento
da coluna vertebral, e os segmentos da medula espinal estão
alinhados com as vértebras correspondentes. As raízes anteriores
e posteriores são curtas e deixam o canal vertebral através dos
forames intervertebrais adjacentes. Após os quatro anos de idade, a
coluna vertebral continua a crescer, mas a medula espinal, não. Este
crescimento da coluna vertebral desloca os gânglios sensitivos de
nervos espinais e os nervos espinais, afastando-os cada vez mais de
sua localização original em relação à medula espinal. Como resultado,
as raízes posteriores e anteriores gradualmente se alongam a medula
espinal de um indivíduo adulto se estende somente até o nível da
primeira ou da segunda vértebra lombar; dessa maneira, o segmento
S2 da medula espinal localiza-se no nível da vértebra LI (MARTINI;
TIMMONS; TALLITSCH, 2009, p. 362).

95
UNIDADE 2 | SISTEMA NERVOSO CENTRAL

FIGURA 13 – MEDULA ESPINAL

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

96
TÓPICO 2 | MEDULA ESPINAL

Como a medula espinal é menor do que a coluna vertebral, as raízes


nervosas (estruturas que irão originar os nervos espinais) não saem no mesmo
nível da coluna vertebral, geralmente saem inferiormente ao segmento da
medula espinal da qual têm origem. Por conta disso, inferiormente ao cone
medular, encontramos um conjunto de raízes nervosas dos segmentos inferiores
da medula espinal que formam uma estrutura semelhante à cauda de um cavalo,
denominada cauda equina (TORTORA, 2007).

NOTA

VOCÊ SABIA???

Que a coleta de líquido cerebrospinal é feita na coluna vertebral?


A técnica é denominada punção lombar e consiste na introdução de uma agulha fina na
região entre a segunda e terceira vértebras lombares. Isso porque a medula espinal termina
na região inferior da primeira vértebra lombar, portanto, o risco de lesionar a medula espinal é
mínimo. O objetivo da punção lombar é realizar a coleta do líquido cerebrospinal para análise
e diagnóstico de doenças, como meningites por exemplo.

FO N T E : < h t t p s : / / w w w. m s d m a n u a l s .c o m / p t- b r / p ro f i s s i o n a l / d i s t % C 3 % B A rb i o s -
neurol%C3%B3gicos/exames-e-procedimentos-neurol%C3%B3gicos/pun%C3%A7%C3%A3o-
lombar-pun%C3%A7%C3%A3o-espinhal>. Acesso em: 28 ago. 2019.

A região anterior da medula espinal é facilmente reconhecível devido


à presença de um sulco profundo localizado centralmente: a fissura mediana
anterior. Além deste, outros sulcos, mais superficiais são encontrados por todo
o comprimento da medula espinal. Posteriormente à fissura mediana anterior
encontramos o sulco mediano posterior. Juntos, a fissura mediana anterior e o
sulco mediano posterior dividem a medula espinal em duas metades, direita
e esquerda. De cada lado da fissura mediana anterior aparece o sulco lateral
anterior, que é o local de saída das fibras motoras, que originam as raízes ventrais.
Lateralmente ao sulco mediano posterior encontramos o sulco lateral posterior,
que é o local de entrada das fibras sensitivas, originando as raízes dorsais.

97
UNIDADE 2 | SISTEMA NERVOSO CENTRAL

FIGURA 14 – ANATOMIA INTERNA DA MEDULA ESPINAL

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

2 REGIÕES INTERNAS DA MEDULA ESPINAL


Quando observada internamente em corte transversal, as substâncias
cinzenta e branca da medula espinal estão subdivididas em regiões, os cornos
medulares e os funículos, respectivamente. O “H medular” (substância cinzenta)
está dividido em três cornos medulares, são eles, de acordo com Tortora (2007):

• Corno anterior: formado pelos corpos celulares dos neurônios motores, os


quais enviam estímulos para a contração dos músculos esqueléticos.
• Corno posterior: contém os núcleos sensitivos dos sistemas nervoso autônomo
e somático.
• Corno lateral: possui os corpos celulares dos neurônios motores do sistema
nervoso autônomo. Está presente apenas nas regiões torácica, lombar (região
superior) e sacral.

Já a substância branca da medula espinal está constituída pelos seguintes


funículos:

• Funículo anterior: localizado entre a fissura mediana anterior e o sulco lateral


anterior.

98
TÓPICO 2 | MEDULA ESPINAL

• Funículo posterior: localizado entre os sulcos lateral posterior e mediano


posterior. O funículo posterior está dividido pelo sulco intermédio posterior,
na região cervical da medula espinal, em dois fascículos: o fascículo grácil e o
fascículo cuneiforme.
• Funículo lateral: localizado entre os sulcos lateral anterior e lateral posterior
(TORTORA, 2007).

3 FUNÇÕES DA MEDULA ESPINAL


A medula espinal é responsável por propagar os impulsos nervosos e
realizar a integração entre a periferia e o sistema nervoso central. Os impulsos
nervosos se propagam na medula espinal através de vias localizadas na substância
branca, denominadas tratos. Já a integração da informação que entra e sai da
medula espinal ocorre na substância cinzenta (TORTORA, 2007).

Os tratos da medula espinal possuem seu nome de acordo com a posição


na substância branca, bem como devido a sua origem e ao destino das suas fibras,
podendo ser ascendentes, quando enviam a informação da medula espinal em
direção a regiões do encéfalo, ou descendentes, quando a informação segue do
encéfalo até a medula espinal.

São tratos ascendentes da medula espinal:

• Trato espinotalâmico anterior: localizado no funículo anterior da substância


branca. Tem origem na medula espinal e termina no tálamo (região do encéfalo).
É responsável por conduzir as informações sensitivas referentes a dor, calor,
frio, coceira, pressão profunda, cócegas e tato.
• Trato espinotalâmico lateral: esse trato, localizado no funículo lateral da
substância branca, possui as mesmas atribuições do trato espinotalâmico
anterior.
• Trato espinocerebelar anterior: localizado no funículo lateral da medula
espinal, está relacionado a conduzir informações referentes ao tônus muscular
e postura dos membros superiores e inferiores (propriocepção inconsciente).
• Trato espinocerebelar posterior: localizado no funículo lateral, é responsável
por conduzir informações referentes à propriocepção inconsciente do tronco e
dos membros inferiores.
• Funículos posteriores: são em número de dois, localizados lado a lado (direito
e esquerdo). São responsáveis por conduzir impulsos nervosos para diferentes
tipos de sensações: tato discriminativo, discriminação de dois pontos, pressão
suave e vibração, propriocepção (TORTORA, 2007).

99
UNIDADE 2 | SISTEMA NERVOSO CENTRAL

FIGURA 15 – TRATOS ASCENDENTES E DESCENDENTES DA MEDULA ESPINAL

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

Os tratos descendentes da medula espinal podem ser vias diretas e vias


indiretas. As vias diretas são formadas pelos tratos corticonuclear, corticospinal
anterior e corticospinal lateral. Essas vias enviam as informações do córtex
cerebral referentes à produção dos movimentos voluntários, aqueles que
executamos a partir da nossa vontade. Já as vias indiretas são formadas pelos tratos
vestibulospinal, tetospinal e rubrospinal. Essas vias conduzem as informações
provenientes de regiões do encéfalo referentes aos movimentos automáticos,
manutenção do tônus muscular, postura e equilíbrio (TORTORA, 2007).

4 REFLEXOS E A MEDULA ESPINAL


Você já percebeu que, ao encostar a mão em uma chapa quente, ela
é retirada rapidamente, sendo que se toma consciência do movimento apenas
depois de executá-lo? Isso é um arco reflexo, e ocorre para que o movimento seja
realizado de maneira súbita (rápida), a fim de evitar maiores danos e diminuir
uma queimadura. Esse movimento também pode ser considerado como um
reflexo de defesa.

O segundo meio pelo qual a medula espinal promove a homeostasia,


é atuando como um centro de integração para alguns reflexos. Um
reflexo é uma sequência rápida, involuntária, previsível, de ações que
ocorrem em resposta a um estímulo específico. Alguns reflexos são
inatos, como afastar a mão de uma superfície quente, antes mesmo
de percebemos que está quente. Outros reflexos são aprendidos ou
adquiridos. Por exemplo, aprendemos muitos reflexos enquanto
adquirimos prática para dirigir. Pisar com força nos freios, em uma
emergência, é um exemplo. Quando a integração ocorre na substância
cinzenta da medula espinal, o reflexo é um reflexo espinal. Um exemplo

100
TÓPICO 2 | MEDULA ESPINAL

é o conhecido reflexo patelar. Em comparação, se a integração ocorre


no tronco encefálico e não na medula espinal, o reflexo é um reflexo
craniano. Um exemplo são os movimentos de acompanhamento dos
olhos, à medida que você lê esta frase. Você, provavelmente, está
bem consciente dos reflexos somáticos, que envolvem a contração
dos músculos esqueléticos. Igualmente importantes, no entanto,
são os reflexos autônomos (viscerais), que não são percebidos
conscientemente. Estes envolvem respostas dos músculos lisos,
cardíaco e das glândulas (TORTORA, 2007, p. 594).

Vários componentes estão envolvidos na geração de um reflexo, os


quais, em conjunto, formam um arco reflexo. Os arcos reflexos podem ser
simples ou complexos. No caso de um arco reflexo simples, temos apenas um
músculo efetor. Já nos arcos reflexos complexos, diversos músculos atuam como
efetores. O reflexo patelar é um exemplo de arco reflexo simples no qual ocorre
estiramento do músculo quadríceps da coxa, devido ao toque do martelo clínico
no tendão patelar, que desencadeia a contração do mesmo músculo. Neste caso,
os dendritos de neurônios localizados no músculo quadríceps funcionam como
receptores sensitivos (Etapa 1), os quais, quando estimulados pelo estiramento
muscular (causado pelo toque do martelo clínico no tendão patelar), enviam a
informação para a medula espinal através de um neurônio sensitivo (Etapa 2).

Ao chegar na substância cinzenta da medula espinal, a informação do


neurônio sensitivo se propaga para interneurônios de associação, atuando como
um centro de integração (Etapa 3), que pode ocorrer de forma simples, através
da formação de uma sinapse entre o neurônio sensitivo e o neurônio motor. A
informação trazida pelo neurônio sensitivo também é enviada para as regiões
superiores, no encéfalo, para que possamos tomar consciência do que está
acontecendo. A informação recebida pelo neurônio motor (Etapa 4) no centro
de integração da medula espinal seguirá, através de seu axônio, até o músculo
quadríceps, que atuará como o efetor (Etapa 5) do arco reflexo e irá contrair em
resposta ao estímulo. Você poderá adquirir melhor entendimento quanto ao
desenvolvimento, condução e geração dos reflexos das etapas citadas observando
o esquema a seguir. Em síntese, os componentes de um arco reflexo são: receptores
sensitivos, neurônio sensitivo, centro de integração, neurônio motor e efetor
(TORTORA, 2007).

101
UNIDADE 2 | SISTEMA NERVOSO CENTRAL

FIGURA 16 – REFLEXO PATELAR

FONTE: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 382)

102
TÓPICO 2 | MEDULA ESPINAL

NOTA

VOCÊ SABIA?

Que os reflexos podem ser utilizados para o diagnóstico de problemas do sistema nervoso?

O exame dos reflexos é parte essencial da avaliação neurológica. O exemplo anterior, do


reflexo patelar, é útil para auxiliar no diagnóstico de lesões nos nervos motores ou sensitivos,
neste caso, o paciente não realizará o movimento após a percussão patelar. O reflexo aquileu
testa a função dos nervos que inervam os músculos da região posterior da perna. Esse
reflexo é realizado através da percussão do tendão calcâneo, o qual leva à flexão plantar. O
dano ou lesão cerebral também pode ser avaliado através do reflexo pupilar. Quando a luz é
direcionada aos olhos, espera-se que as pupilas diminuam de diâmetro (contraiam), caso isso
não ocorra, pode ser indicativo de dano cerebral.

FONTE:<http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1189/propedeutica_neurologica.
htm>. Acesso em: 28 ago. 2019.

103
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A medula espinal está localizada no interior do canal vertebral e tem como


função fazer a comunicação entre a periferia do corpo e o encéfalo.

• Nos adultos, a medula espinal mede cerca de 45 cm, iniciando no forame


magno e seguindo até o espaço entre as duas primeiras vértebras lombares.

• Os locais de saída e entrada dos nervos dos membros superiores e inferiores


recebe o nome de intumescência cervical e intumescência lombossacral,
respectivamente. Essas regiões aparecem como áreas mais espessas na medula
espinal.

• Macroscopicamente, a medula espinal apresenta diversos sulcos que percorrem


o seu comprimento, o sulco mediano posterior, os sulcos laterais posteriores, a
fissura mediana anterior e os sulcos laterais anteriores.

• Internamente, a medula espinal está dividida em uma região central que


possui o formato da letra H, o H medular, formado de substância cinzenta.
Perifericamente ao H medular encontramos uma região constituída de
substância branca.

• O H medular e formado por três regiões: os cornos anterior, posterior e lateral.

• A substância branca da medula espinal é formada pelos funículos anterior,


lateral e posterior.

• Tratos, constituídos de fibras nervosas, sobem e descem pela substância branca


da medula espinal.

• Os tratos ascendentes são o espinotalâmico anterior, espinotalâmico lateral,


espinocerebelar anterior, espinocerebelar posterior e funículos posteriores.

• Já os tratos descendentes, que trazem a informação do encéfalo, são os tratos


corticonuclear, corticospinal anterior, corticospinal lateral, vestibulospinal,
tetospinal e rubrospinal.

• Um reflexo é um movimento involuntário dependente da ação da medula


espinal.

• Um arco reflexo envolve vários elementos responsáveis por desencadear


o reflexo: receptores sensitivos, neurônio sensitivo, centro de integração,
neurônio motor e um efetor.
104
AUTOATIVIDADE

1 Quando uma pessoa encosta a mão em um ferro quente, ela reage


imediatamente por meio de um reflexo. Nesse reflexo, o neurônio eferente
leva o impulso nervoso para:

a) ( ) A medula espinal.
b) ( ) O encéfalo.
c) ( ) Os músculos flexores do braço.
d) ( ) As terminações sensoriais de calor na ponta dos dedos.
e) ( ) As terminações sensoriais de dor na ponta dos dedos.

2 A figura representa um fragmento de medula espinal e alguns neurônios.


Assinale a relação correta entre I, II e III:

FIGURA – FRAGMENTO DE MEDULA ESPINAL

FONTE: A autora

I II III
A Sinapse Neurônio motor Neurônio sensitivo
B Sinapse Neurônio motor Neurônio misto
C Sinapse Neurônio misto Neurônio sensitivo
D Sinapse Neurônio sensitivo Neurônio motor
E Sinapse Neurônio sensitivo Neurônio misto

3 São regiões da substância branca da medula espinal:

a) ( ) Funículo anterior, funículo lateral e funículo posterior.


b) ( ) Fascículo grácil e fascículo cuneiforme.
c) ( ) Corno anterior, corno lateral e corno posterior.
d) ( ) Raiz sensitiva e raiz motora.
e) ( ) Cauda equina e cone medular.

105
4 Macroscopicamente, a medula espinal apresenta diversos sulcos, sendo que
um deles é mais profundo, denominado de:

a) ( ) Sulco mediano posterior.


b) ( ) Sulco intermédio.
c) ( ) Sulco lateral anterior.
d) ( ) Fissura mediana anterior.
e) ( ) Sulco lateral anterior.

106
UNIDADE 2 TÓPICO 3

ENCÉFALO

1 INTRODUÇÃO
O encéfalo, órgão central do sistema nervoso, está localizado na cavidade
craniana, envolto e protegido pelas meninges e pelos ossos do crânio. É no
encéfalo que tomamos consciência dos estímulos provenientes do meio externo,
elaboramos as respostas adequadas para cada estímulo, e é nele, também, que
enxergamos, ouvimos, pensamos, sentimos fome.

Constituído por aproximadamente 100 bilhões de neurônios e pesando, em


média, 1.300 g, o encéfalo é formado pelo tronco encefálico, cerebelo, diencéfalo
e telencéfalo. Juntos, o diencéfalo e o telencéfalo constituem o cérebro, a maior
região do encéfalo. Três regiões formam o tronco cerebral: o bulbo (continuação
da medula espinal), a ponte e o mesencéfalo.

FIGURA 17 – ENCÉFALO

FONTE: Adaptada de Netter (2011)

107
UNIDADE 2 | SISTEMA NERVOSO CENTRAL

2 TRONCO ENCEFÁLICO
O tronco encefálico é a região do encéfalo localizada entre a medula espinal
e o diencéfalo. Situa-se anteriormente ao cerebelo e é responsável pela conexão
entre a medula espinal e as regiões encefálicas superiores. Na substância branca
do tronco encefálico, encontramos os tratos provenientes da medula espinal e
de outras regiões do encéfalo. Além disso, aglomerados de corpos celulares de
neurônios, denominados núcleos, são encontrados no interior da substância
branca e constituem a substância cinzenta do tronco encefálico. Vários núcleos
do tronco encefálico são responsáveis por receber e/ou enviar fibras dos nervos
cranianos, uma vez que dos 12 pares de nervos cranianos, 10 estão conectados aos
núcleos do tronco encefálico (discutido adiante, na próxima unidade).

O bulbo, a ponte e o mesencéfalo formam o tronco encefálico. O bulbo


é a região mais caudal, em continuidade com a medula espinal e o mesencéfalo
forma o limite superior do tronco encefálico, terminando no diencéfalo. A ponte
está localizada entre o bulbo e o mesencéfalo.

FIGURA 18 – TRONCO ENCEFÁLICO

FONTE: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009)

108
TÓPICO 3 | ENCÉFALO

Além dos núcleos bem definidos já descritos, grande parte do tronco


encefálico consiste em pequenos aglomerados de corpos celulares
neuronais (substância cinzenta) entremeados a pequenos feixes de
axônios mielinizados (substância branca). A ampla região na qual
as substâncias cinzenta e branca exibem um arranjo reticulado é
conhecida como formação reticular (L. reticulu = rede). Ela estende-
se a partir da parte superior da medula espinal, por todo o tronco
encefálico, e para a parte inferior do diencéfalo. Os neurônios dentro
da formação reticular possuem tanto funções ascendentes (sensitivas),
quanto descendentes (motoras). Parte da formação reticular, chamada
de sistema de ativação reticular (SAR), consiste em axônios sensitivos
que se projetam em direção ao córtex cerebral. O SAR ajuda a manter
a consciência e está ativo durante o despertar do sono. Por exemplo,
despertamos com o som do despertador, com um lampejo de luz,
ou com um beliscão doloroso, porque a atividade do SAR estimula
o córtex cerebral. A principal função motora da formação reticular é
ajudar a regular o tônus muscular, que é o menor grau de contração
nos músculos em repouso normal (TORTORA, 2007, p. 629).

2.1 BULBO
Também denominado medula oblonga devido a sua continuidade com a
medula espinal, essa região forma a parte inferior do tronco encefálico, medindo
cerca de 3 cm. Na face anterior do bulbo, encontramos saliências denominadas
pirâmides, as quais são formadas pelas fibras motoras provenientes do encéfalo
que cursam em direção à medula espinal. Um pouco acima da junção entre o
bulbo e a medula espinal, 90% das fibras da pirâmide direita cruzam para a
esquerda e vice-versa, em uma região denominada decussação das pirâmides.
Assim, o lado direito do cérebro controla os movimentos do lado esquerdo do
corpo e os movimentos do lado esquerdo são controlados pelo lado direito do
cérebro (TORTORA, 2007).

As fibras sensitivas referentes ao tato, propriocepção, pressão e vibração,


provenientes da medula espinal, seguem pela região posterior do bulbo, através
dos fascículos grácil (medial) e cuneiforme (lateral), terminando nos núcleos
grácil e cuneiforme, respectivamente.

O bulbo contém núcleos responsáveis por controlar a frequência cardíaca,


o ritmo respiratório e reflexos como o vômito. Uma vez que o bulbo controla
funções vitais como a frequência cardíaca e respiratória, uma lesão grave na base
do crânio que atinja o bulbo pode ser fatal (TORTORA, 2007).

109
UNIDADE 2 | SISTEMA NERVOSO CENTRAL

FIGURA 19 – BULBO

FONTE: Adaptada de Netter (2011)

2.2 PONTE
Localizada entre o bulbo e o mesencéfalo, medindo cerca de 2,5 cm, a
ponte possui um importante papel no controle da respiração. Possui uma série de
estrias transversas, as quais são formadas por fibras nervosas. Sua região anterior
apresenta um sulco, o sulco basilar, o qual aloja a artéria basilar. Outro sulco, o
sulco bulbopontino, marca o limite entre a ponte e o bulbo (TORTORA, 2007).

Assim como o bulbo, a ponte é formada por núcleos de substância cinzenta


e tratos de fibras nervosas. Algumas dessas fibras realizam a comunicação entre
os lados direito e esquerdo do cerebelo, enquanto outras são formadas por fibras
sensitivas e motoras.

FIGURA 20 – PONTE

FONTE: Adaptada de Netter (2011)

110
TÓPICO 3 | ENCÉFALO

2.3 MESENCÉFALO
O mesencéfalo (encéfalo médio) mede cerca de 2,5 cm e é a porção
superior do tronco encefálico. Todos os estímulos que chegam e saem do cérebro
passam pelo mesencéfalo. No seu interior passa um estreito canal, o aqueduto do
mesencéfalo, o qual une o terceiro ao quarto ventrículo.

Fibras motoras provenientes do córtex cerebral que seguem em direção à


medula espinal, ponte e bulbo estão localizadas na região anterior do mesencéfalo
e formam dois tratos, os pedúnculos cerebrais. Fibras sensitivas provenientes
do bulbo também seguem pelos pedúnculos cerebrais em direção ao tálamo
(TORTORA, 2007).

Quatro saliências, denominadas colículos superiores e colículos inferiores,


estão localizadas na região posterior do mesencéfalo. Os colículos superiores estão
envolvidos com movimentos reflexos dos olhos, enquanto os colículos inferiores
fazem parte da via auditiva.

Como o bulbo e a ponte, o mesencéfalo também contém vários núcleos


de substância cinzenta. A substância negra é um par de núcleos presente no
mesencéfalo, de coloração escura e tem como função liberar o neurotransmissor
dopamina para os neurônios dos núcleos da base (localizados no cérebro),
participando no controle dos movimentos (TORTORA, 2007).

FIGURA 21 – MESENCÉFALO

FONTE: Adaptada de Netter (2011)

111
UNIDADE 2 | SISTEMA NERVOSO CENTRAL

E
IMPORTANT

FIQUE LIGADO!

A doença de Parkinson é uma doença neurodegenerativa ocasionada pela perda dos


neurônios motores da substância negra do mesencéfalo, responsáveis pela secreção de
dopamina nos núcleos da base. Clinicamente, os pacientes apresentam distúrbios motores
como tremor em repouso, bradicinesia (lentidão para realizar os movimentos), alterações na
postura e rigidez. O tratamento se baseia na administração da levodopa, que é um percursor
da dopamina.

FONTE:<http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2014/abril/02/pcdt-doenca-
parkinson-republicado-livro-2010.pdf>. Acesso em: 28 ago. 2019.

3 CEREBELO
O cerebelo, localizado posteriormente à ponte e ao bulbo, é formado por
dois hemisférios cerebelares. Participa na regulação do tônus muscular e postura,
planejamento de movimentos voluntários e aprendizagem motora. O cerebelo
está separado do cérebro pelo tentório do cerebelo (uma prega da dura-máter)
e pela fissura transversa do cérebro (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009).

Externamente, o cerebelo é formado por duas metades, os hemisférios


cerebelares, os quais estão separados por uma estrutura alongada, o verme do
cerebelo.

Internamente, encontramos uma massa central de substância branca


circundada por substância cinzenta que forma o córtex cerebelar. A substância
branca do cerebelo tem um aspecto que lembra uma árvore, sendo chamada
de árvore da vida. No interior da substância branca, aparecem os núcleos do
cerebelo, que são aglomerados de corpos celulares de neurônios que conduzem
as informações do cerebelo para a medula espinal e diferentes regiões do encéfalo
(MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009).

112
TÓPICO 3 | ENCÉFALO

FIGURA 22 – CEREBELO

FONTE: Adaptada de Netter (2011)

O cerebelo está ligado ao tronco encefálico por três pares de feixes de


fibras, os pedúnculos cerebelares, são eles:

• Pedúnculo cerebelar superior: faz a ligação do cerebelo com o mesencéfalo.


• Pedúnculo cerebelar médio: faz a ligação do cerebelo com a ponte.
• Pedúnculo cerebelar inferior: faz a ligação do cerebelo com a medula espinal
e o bulbo.

Uma vez que o cerebelo está envolvido com o controle dos movimentos,
uma disfunção cerebelar leva à realização de movimentos incoordenados,
denominados ataxia cerebelar. Várias condições podem levar a uma ataxia, como
um traumatismo craniano, um acidente vascular cerebral e até mesmo o consumo
de álcool. Em alguns casos, também é comum os pacientes apresentarem dismetria,
que é a incapacidade de calcular a distância de determinado objeto, passando ou
não alcançando este, sendo que a mão oscila para os lados até que o paciente
consiga encostar o objeto em questão (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009).

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UNIDADE 2 | SISTEMA NERVOSO CENTRAL

4 DIENCÉFALO
Em continuidade com o mesencéfalo temos o diencéfalo, parte do
cérebro que se estende do tronco encefálico até o telencéfalo e circunda o terceiro
ventrículo. Está constituído pelo tálamo, hipotálamo e epitálamo.

FIGURA 23 – DIENCÉFALO

FONTE: Adaptada de Netter (2011)

4.1 TÁLAMO
O tálamo ocupa a maior parte do diencéfalo e está constituído por duas
massas de substância cinzenta formadas por vários núcleos, que funcionam como
uma estação retransmissora que processa os estímulos sensoriais que se projetam
para o córtex cerebral e estímulos motores provenientes do córtex cerebral para o
tronco encefálico e a medula espinal. Dessa maneira, o tálamo filtra a informação
sensitiva e apenas uma pequena parte dessa informação é enviada aos centros
superiores (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009).

Entre o tálamo direito e esquerdo está localizado o terceiro ventrículo


(um dos quatro ventrículos cerebrais, explicado adiante). Uma pequena massa de
substância cinzenta, denominada aderência intertalâmica, une os dois tálamos.

Segundo Martini, Timmons e Tallitsch (2009), o tálamo é formado por uma


série de núcleos de substância cinzenta, sendo que os cinco principais são estes:

• Núcleos anteriores: estão relacionados com as emoções, a memória e


aprendizado. Sua informação é retransmitida para o giro do cíngulo (região
constituída por substância branca, em formato de “C”, que faz parte do sistema
límbico, o qual está envolvido com as emoções).

114
TÓPICO 3 | ENCÉFALO

• Núcleos mediais: as informações sensitivas que chegam aos núcleos mediais


são enviadas aos lobos frontais do cérebro. Além disso, permitem que tenhamos
consciência dos estados emocionais.
• Núcleos ventrais: estão relacionados aos movimentos, uma vez que transmitem
a informação em direção aos núcleos da base e ao córtex cerebral. Os núcleos
ventrais participam da via que é responsável por realizar o planejamento dos
movimentos. Um dos núcleos ventrais, o núcleo ventral posterior, recebe
informações sensitivas de propriocepção, dor, temperatura e tato provenientes
da medula espinal e tronco encefálico e envia essa informação para o lobo
parietal do cérebro.
• Núcleos posteriores: é formado pelo pulvinar e os corpos geniculados medial
e lateral. O pulvinar está relacionado com a projeção de informações sensitivas
para o córtex cerebral. O corpo geniculado medial recebe informações
auditivas e transmite para o córtex auditivo. O corpo geniculado lateral está
envolvido com a visão, recebendo a informação visual a partir do nervo óptico
e retransmitindo essa informação ao córtex visual.
• Núcleos laterais: funcionam como um relé (retransmissor de sinal) das vias
sensitivas, realizando a integração da informação sensitiva.

4.2 HIPOTÁLAMO
O hipotálamo é uma pequena porção do diencéfalo, localizado
inferiormente ao tálamo e acima da glândula hipófise. Este participa na regulação
do sistema nervoso autônomo, da hipófise (ligação entre o sistema nervoso e
o sistema endócrino), da temperatura corporal, da ingestão de alimentos, do
equilíbrio hídrico e do sono. Região envolvida na emoção e no comportamento
sexual, sendo o principal centro integrador das atividades dos órgãos viscerais.
Vários núcleos estão organizados em quatro regiões, conforme destaca Tortora
(2007), os quais formam o hipotálamo, sendo estes:

• Área hipotalâmica posterior: é formada pelos núcleos posteriores e pelos


corpos mamilares, os quais estão relacionados com o olfato.
• Área hipotalâmica intermediária: está formada pelos núcleos dorso-medial,
ventro-medial e arqueado. Contém também o infundíbulo, uma estrutura em
forma de haste que conecta a glândula hipófise ao hipotálamo, e a eminência
mediana, localizada logo acima do infundíbulo.
• Área hipotalâmica rostral (região supra-óptica): região formada pelos núcleos
supra-óptico, paraventricular, anterior do hipotálamo e supraquiasmático.
Os núcleos supra-óptico e paraventricular possuem neurônios secretores de
hormônios, os quais são lançados, através de seus axônios, na neuro-hipófise.
• Área pré-óptica: localizada anteriormente à área hipotalâmica rostral e é
formada pelos núcleos pré-ópticos laterais e mediais.

O hipotálamo realiza o controle do sistema nervoso autônomo, sendo


o principal centro controlador das funções das nossas vísceras. É ainda

115
UNIDADE 2 | SISTEMA NERVOSO CENTRAL

responsável pela produção de hormônios, alguns dos quais controlam a secreção


dos hormônios da parte anterior da glândula hipófise. O hipotálamo também
participa junto ao sistema límbico no controle das nossas emoções. As sensações
de fome, sede, saciedade são provenientes do hipotálamo. Uma diminuição na
ingestão de água promove o aumento na pressão osmótica no líquido intersticial,
o que ativa neurônios hipotalâmicos que promovem a sensação de sede. Quando
a temperatura corporal está elevada, o hipotálamo sinaliza regiões do nosso
corpo a realizarem a perda de calor, estimulando o suor, por exemplo. O núcleo
supraquiasmático do hipotálamo recebe informações da retina e envia essas
informações para a glândula pineal (veremos adiante), para outros núcleos
hipotalâmicos e para a formação reticular, e dessa maneira ocorre o controle do
ritmo circadiano (relógio biológico).

4.3 EPITÁLAMO
A glândula pineal forma grande parte do epitálamo, localizado na região
posterior do terceiro ventrículo. Essa glândula secreta um hormônio, a melatonina,
que participa na regulação do ritmo circadiano (o nosso relógio biológico).

Partes do diencéfalo são chamadas órgãos circunventriculares, porque


se situam nas paredes do terceiro e quarto ventrículos, monitorando
as alterações químicas no sangue, por não possuírem uma barreira
hematoencefálica. Os órgãos circunventriculares incluem parte
do hipotálamo, da glândula pineal, da hipófise e algumas poucas
estruturas próximas. Funcionalmente, essas regiões coordenam as
atividades homeostáticas dos sistemas endócrino e nervoso, como a
regulação da pressão arterial, o equilíbrio hídrico, a fome e a sede.
Os órgãos circunventriculares também são considerados locais de
entrada no encéfalo, do HIV, o vírus que provoca a síndrome da
imunodeficiência adquirida. Uma vez no encéfalo, o HIV pode
provocar demência (deterioração irreversível do estado mental) e
outros distúrbios neurológicos (TORTORA, 2007, p. 634).

5 TELENCÉFALO
O telencéfalo é a maior região do encéfalo e é formado pelo córtex cerebral,
substância branca subjacente e núcleos da base. Contém estruturas associadas às
funções sensoriais e motoras superiores e à consciência. Apresenta uma massa
com cerca de 1,4 kg e 35 bilhões de neurônios. Possui sulcos (depressões rasas)
e giros (pequenas saliências) para permitir que o cérebro esteja suficientemente
compacto para ser acondicionado na calota craniana, que não acompanha o seu
crescimento. O córtex cerebral é responsável por realizar diversas funções, para
tanto necessita de uma grande quantidade de neurônios (TORTORA, 2007).

116
TÓPICO 3 | ENCÉFALO

FIGURA 24 – CÉREBRO

FONTE: Adaptada de Netter (2011)

A fissura longitudinal separa o telencéfalo em dois hemisférios cerebrais


que se conectam internamente pelo corpo caloso, uma faixa de substância branca
em forma de “C”. Cada hemisfério cerebral está dividido em lobos, que recebem
o nome de acordo com os ossos do crânio que fazem contato. De acordo com
Tortora (2007), são eles:

• Lobo frontal: localizado na região anterior do telencéfalo, logo abaixo do osso


frontal, é a região mais evoluída do encéfalo humano, realizando funções
como o raciocínio lógico, motivação, modulação dos comportamentos sociais.
A área motora primária está localizada no lobo frontal, especificamente no giro
pré-central. Esta região é responsável pelo controle voluntário dos músculos
esqueléticos. No lobo frontal, está localizada a área de Broca, uma pequena
região responsável pela fala e pela linguagem.
• Lobo parietal: separado do lobo frontal pelo sulco central, está localizado
posteriormente a este. Contém o córtex somatossensorial primário, região
responsável por receber os estímulos sensitivos de dor, temperatura, tato,
cócegas e propriocepção. A principal tarefa dessa região é definir exatamente o
local de onde veio a dor, por exemplo.
• Lobo temporal: localizado inferiormente aos lobos frontal e parietal, logo abaixo
do sulco lateral. O lobo temporal possui a área auditiva primária, relacionada
com a percepção da audição. A área de Wenicke, uma região do lobo temporal,
está envolvida na tradução dos pensamentos em palavras, permitindo com
que a fala tenha sentido.
• Lobo occipital: está localizado na região póstero-inferior do cérebro e recebe os
estímulos visuais, na área visual primária.
• Lobo da ínsula: localiza-se profundamente ao sulco lateral, podendo ser visto
apenas quando afastamos os lobos temporal e parietal. Essa região parece estar
envolvida com a produção da palavra falada.

117
UNIDADE 2 | SISTEMA NERVOSO CENTRAL

Muito do que sabemos sobre as áreas da linguagem procede de estudos


de pacientes com distúrbios da fala ou da linguagem, resultantes de
lesão encefálica. A área da fala de Broca, a área de associação auditiva
e outras áreas da linguagem estão localizadas no hemisfério cerebral
esquerdo da maioria das pessoas, independentemente de serem destras
ou canhotas. A lesão às áreas da linguagem do córtex cerebral resulta em
afasia, uma incapacidade de usar e de compreender as palavras. Lesão
à área da fala de Broca resulta em afasia motora, uma incapacidade de
articular ou formar palavras adequadamente; pessoas com afasia motora
sabem o que querem dizer, porém, são incapazes de enunciação. Lesão
às áreas de integração comum ou de associação auditiva (áreas 39 e 22)
resulta em afasia sensorial, caracterizada pela compreensão imperfeita
das palavras escritas ou faladas. Uma pessoa que experimenta esse tipo
de afasia pode produzir, de forma fluente, sequências de palavras que
não apresentam significado (“salada de palavras”). O déficit subjacente
pode ser surdez verbal (incapacidade de compreender as palavras
faladas), cegueira verbal (incapacidade de compreender as palavras
escritas), ou ambas (TORTORA, 2007, p. 643).

FIGURA 25 – LOBOS CEREBRAIS

FONTE: Adaptada de Netter (2011)

NOTA

VOCÊ SABIA?

Que existe um “mapa” sensorial do nosso corpo na área somatossensorial primária?

Esta representação, denominada Homúnculo de Penfield, foi descrita por um neurocirurgião


Canadense chamado Wilder Penfield, entre as décadas de 1940 e 1950. As áreas do nosso
corpo com maior sensibilidade, como a língua e a ponta dos dedos, ocupam um espaço
maior na área somatossensorial, uma vez que possuem maior número de receptores e,
consequentemente, maior sensibilidade.

FONTE: <http://www.scielo.br/pdf/physis/v23n1/10.pdf>. Acesso em: 28 ago. 2019.

118
TÓPICO 3 | ENCÉFALO

FIGURA 26 – HOMÚNCULO DE PENFIELD

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

5.1 SUBSTÂNCIA BRANCA CENTRAL


Está localizada no centro do telencéfalo, recoberta pelo córtex cerebral.
A substância branca cerebral é formada por vários feixes de fibras nervosas
mielínicas que cruzam de uma região cerebral para outra, fazendo a conexão
entre diferentes regiões cerebrais. Segundo Martini, Timmons e Tallitsch (2009),
esses feixes são:

• Fibras de associação: realizam comunicação entre regiões do mesmo hemisfério


cerebral.
• Fibras arqueadas: fazem comunicação entre giros de um mesmo lobo cerebral.
• Fascículos longitudinais: realizam conexão entre o lobo frontal e outros lobos
do cérebro.
• Fibras comissurais: conectam os mesmos lobos localizados em hemisférios
cerebrais diferentes.
• Fibras de projeção: fazem conexão do córtex cerebral com a medula espinal, o
tronco encefálico, o cerebelo e o diencéfalo.

119
UNIDADE 2 | SISTEMA NERVOSO CENTRAL

5.2 NÚCLEOS DA BASE


Os núcleos da base são aglomerados de substância cinzenta localizados
no interior da substância branca, em cada hemisfério cerebral inferiormente ao
ventrículo lateral. Estão relacionados com o controle subconsciente dos músculos
estriado esqueléticos, regulação do padrão e ritmo dos movimentos e coordenação
dos movimentos aprendidos. São formados por três pares de núcleos, conforme
destacam Martini, Timmons e Tallitsch (2009):

• Núcleo caudado: formado por uma cabeça e uma cauda que se curva ao longo
da borda do ventrículo lateral.
• Putame: junto ao núcleo caudado realiza o controle dos movimentos dos
membros superiores e inferiores entre o início e o término do movimento.
• Globo pálido: realiza o controle do tônus muscular dos músculos dos
membros superiores e inferiores, com o objetivo de “posicionar” o membro
para a realização de determinada tarefa.

Frequentemente, o putame e o globo pálido são considerados juntamente


como núcleo lentiforme.

Lesão aos núcleos da base resulta em tremor incontrolável, rigidez


muscular e movimentos musculares involuntários. As alterações
dos movimentos voluntários são a marca registrada de distúrbios
como a doença de Parkinson. Nesse distúrbio, os neurônios que se
estendem desde a substância negra até o putame e o núcleo caudado
se degeneram, provocando as alterações (TORTORA, 2007, p. 638).

120
TÓPICO 3 | ENCÉFALO

FIGURA 27 – NÚCLEOS DA BASE

Corpo caloso
Ventrículo lateral
(corno frontal)
Cabeça do
núcleo caudado Septo
pelúcido
Cápsula interna Fórnice
(margem
Putame seccionada)
Tálamo Terceiro
Plexo corióideo ventrículo
Cabeça do Glândula pineal Fórnice
núcleo caudado
Núcleo
lentiforme Ventrículo lateral
(corno occipital)

Cauda do
núcleo caudado

Tálamo

(b) Secção transversal, dissecada


Corpo amigdalóide

(a) Vista lateral

Ventrículo
lateral Corpo caloso
Cabeça do
núcleo caudado Septo pelúcido
Cápsula interna
Claustro
Sulco lateral
Lobo insular

Comissura anterior
Putame
Núcleo
lentiforme Globo
pálido Extremidade do corno
temporal do ventrículo
Corpo amigdalóide lateral
(d) Secção coronal

FONTE: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 402)

121
UNIDADE 2 | SISTEMA NERVOSO CENTRAL

5.3 SISTEMA LÍMBICO


O sistema límbico, o nosso “encéfalo emocional”, constitui um anel de
estruturas localizadas ao redor da região superior do tronco encefálico e está
relacionada com emoções como dor, prazer, raiva, afeto e medo. É formado pelo
lobo límbico (porção cortical) e estruturas subcorticais relacionadas (MARTINI;
TIMMONS; TALLITSCH, 2009).

O lobo límbico, uma margem do córtex cerebral, é formado pelo giro do


cíngulo, giro parahipocampal e hipocampo, enquanto as estruturas subcorticais
incluem o corpo amigdaloide, a área septal, os núcleos mamilares (hipotálamo),
os núcleos anteriores do tálamo e os núcleos habenulares (epitálamo) (MARTINI;
TIMMONS; TALLITSCH, 2009).

FIGURA 28 – SISTEMA LÍMBICO

FONTE: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 404)

122
TÓPICO 3 | ENCÉFALO

A história da neurobiologia mudou por completo após o acidente ocorrido


com Phineas Gage, um operário americano, que teve seu cérebro atravessado
por uma barra de ferro de 1,5 metro de comprimento. Apesar do ocorrido,
Phineas sobreviveu sem apresentar graves sequelas, porém seu comportamento
mudou drasticamente. Após o acidente, Phineas se tornou uma pessoa grosseira,
irreverente, irritada, sua mente havia mudado. Vários estudos, depois do
acidente, confirmaram o envolvimento do lobo frontal do cérebro nas emoções
(MARANHÃO-FILHO, 2014).

5.4 VENTRÍCULOS
Os ventrículos são quatro cavidades localizadas no interior do encéfalo.
Dois ventrículos laterais ocupam a região central de cada hemisfério cerebral.
No diencéfalo estão localizados o terceiro e o quarto ventrículos, os quais
ficam no tronco encefálico, passando pela ponte e pelo bulbo. Um pequeno
canal denominado forame interventricular comunica os ventrículos laterais
com o terceiro ventrículo, o qual, através de um estreito canal que passa pelo
mesencéfalo, o aqueduto do mesencéfalo, se comunica com o quarto ventrículo.
O quarto ventrículo está em continuidade com o canal central da medula espinal.

FIGURA 29 – VENTRÍCULOS

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

Os ventrículos encontram-se preenchidos pelo líquido cerebrospinal (visto


anteriormente). Os plexos corioides, localizados no interior dos ventrículos laterais,
produzem o líquido cerebrospinal, o qual flui através do forame interventricular
para o terceiro ventrículo, no qual mais líquido é produzido e, então, passa pelo
aqueduto do mesencéfalo até chegar ao quarto ventrículo que também produz um

123
UNIDADE 2 | SISTEMA NERVOSO CENTRAL

pouco mais de líquido cerebrospinal. O quarto ventrículo possui três aberturas


que comunicam a sua cavidade com o espaço subaracnoideo, são duas aberturas
laterais e uma abertura mediana. Assim, o líquido cerebrospinal flui para o espaço
subaracnoideo e para o canal central da medula espinal, então é reabsorvido nas
granulações aracnoideas.

NOTA

Acidente Vascular Cerebral

O Acidente Vascular Cerebral (AVC), conhecido popularmente como derrame, é o distúrbio


cerebral mais comum que ocorre devido a um entupimento ou ruptura de um vaso sanguíneo
que leva sangue com nutrientes (oxigênio e glicose) ao tecido cerebral. Sendo mais comum
em homens do que em mulheres, é uma das principais causas de morte e internação em
todo o mundo. No Brasil, o AVC é a principal causa de morte na população adulta. Segundo
dados estatísticos, cerca de 10% dos pacientes que apresentaram um episódio de AVC vão
a óbito nos primeiros 30 dias após o evento, e a maioria dos sobreviventes apresentam
sequelas muitas vezes incapacitantes.

As complicações decorrentes de um AVC são variáveis, dependendo da região cerebral


acometida. Os pacientes podem apresentar:

• Problemas motores: quando afeta a área responsável pelos movimentos.


• Problemas sensitivos: quando há lesão em alguma das áreas envolvidas com a sensibilidade,
o paciente deixa de sentir determinadas regiões do corpo.
• Negligência: o paciente negligencia um lado do corpo, como se aquela região não existisse.
• Afasia: quando o AVC acomete a área da linguagem e o paciente apresentam problemas
com a fala.
• Problemas de memória: quando ocorre dano à região temporal do cérebro. Nesse caso, o
paciente perde a capacidade de lembrar de eventos recentes.

Quanto antes o paciente for atendido, menor será a gravidade e as chances de apresentar
sequelas. O tempo de recuperação de cada paciente é variável e depende de diversos fatores
como: extensão da lesão, idade do paciente, tempo entre a realização do diagnóstico e início
das intervenções, presença de outros problemas de saúde ou comorbidades e tipo de AVC.

Os AVCs podem ser classificados em dois tipos, quando ocorre a obstrução do vaso
sanguíneo, o AVC é denominado isquêmico. Nos casos em que há ruptura do vaso, o AVC é
hemorrágico, sendo que estes representam apenas 10% a 20% do total de AVCs.

Alguns fatores de risco como hipertensão arterial, tabagismo, colesterol elevado, doença
cardíaca, ataques isquêmicos transitórios, obesidade, diabetes e consumo elevado de álcool
podem contribuir para o desencadeamento de um AVC.

FONTE: Adaptado de Oliveira e Andrade (2001)

124
TÓPICO 3 | ENCÉFALO

LEITURA COMPLEMENTAR

MENINGITE

Meningite é um termo que se refere a uma inflamação das membranas


que envolvem o encéfalo e a medula espinal, as meninges. Diversos fatores
podem desencadear uma meningite, como infecção por vírus, bactérias, fungos,
parasitas, utilização de determinados medicamentos, neoplasias. As meningites
virais e bacterianas merecem maior atenção do ponto de vista da saúde pública,
uma vez que podem causar surtos em determinadas regiões. No Brasil, é comum
ocorrerem curtos anuais, sendo, portanto, considerada uma doença endêmica.
Indivíduos de todas as faixas etárias podem ser acometidos, porém é mais comum
em crianças, idosos e indivíduos portadores de doenças crônicas (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2019).

A meningite é uma doença grave, mas tem cura. Os pacientes apresentam


sintomas como febre, dor de cabeça, mal-estar, náuseas, confusão mental, vômito,
aumento da sensibilidade à luz. Dependendo do agente causador, os sintomas
podem variar, como no caso da meningite bacteriana, convulsões, tremor, delírio
e até coma podem estar presentes. Devido à variação nos sintomas, exames
complementares devem ser solicitados pelo médico para fazer o diagnóstico e
identificar o agente causador. O principal exame realizado é através da análise do
líquido cerebrospinal. O líquido normal deve ter um aspecto límpido e incolor,
no caso de infecções, como a meningite, ele torna-se turvo (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2019).

Nem todos os tipos de meningite são transmissíveis, como é o caso das


causadas pelo uso de medicamentos, por fungos ou pela presença de neoplasias. Já
a meningite bacteriana é transmitida através das vias respiratórias, por secreções
provenientes do nariz e da garganta. Algumas pessoas podem ser “portadoras”,
ou seja, possuem a bactéria, mas não apresentam os sintomas da doença, podendo
transmitir para outras pessoas. As meningites virais podem ser transmitidas por
um simples aperto de mãos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019).

Como trata-se de uma doença grave, o tratamento para meningite, na


maioria das vezes, requer a internação do paciente. O tratamento é variável,
dependendo do agente causador, por isso a importância em realizar os exames
e identificar qual a causa da doença. As meningites bacterianas são tratadas com
antibióticos, enquanto nas virais, dependendo do vírus, o tratamento é realizado
através da utilização de medicamentos antivirais ou apenas observacional (sem
utilização de antivirais). Atualmente, a prevenção é realizada através de vacinas.
Existem vacinas para alguns tipos de meningite bacteriana (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2019).

FONTE: Adaptado de <http://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/meningites>. Acesso em: 28 ago. 2019.

125
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O encéfalo está localizado no interior do crânio, envolto pelas meninges e é


formado por 100 bilhões de neurônios.

• As regiões que formam o encéfalo são: tronco encefálico, diencéfalo, cerebelo e


telencéfalo.

• O tronco encefálico é a porção inferior do encéfalo, comunicando este com a


medula espinal.

• O bulbo, a ponte e o mesencéfalo formam o tronco encefálico.

• A região posterior do bulbo apresenta feixes de fibras, os fascículos grácil e


cuneiforme, que transmitem informação sensitiva da medula espinal em
direção ao cérebro.

• O bulbo realiza o controle da frequência cardíaca e do ritmo respiratório.

• A ponte é a região do tronco encefálico localizada entre o bulbo e o mesencéfalo


e está relacionada com o controle da respiração.

• A porção superior do tronco encefálico é o mesencéfalo.

• O cerebelo está localizado posteriormente ao tronco encefálico e participa no


controle dos movimentos.

• O diencéfalo é formado por três regiões: tálamo, hipotálamo e epitálamo.

• O tálamo ocupa a maior parte do diencéfalo e está constituído por duas massas
de substância cinzenta formadas por vários núcleos que funcionam como uma
estação retransmissora de estímulos.

• O hipotálamo é uma pequena porção do diencéfalo localizada inferiormente


ao tálamo e acima da glândula hipófise. Participa na regulação do sistema
nervoso autônomo, da hipófise (ligação entre o sistema nervoso e o sistema
endócrino), da temperatura corporal, da ingestão de alimentos e do equilíbrio
hídrico e do sono.

126
• A maior parte do epitálamo é formado pela glândula pineal, a qual secreta um
hormônio, a melatonina, que participa na regulação do ritmo circadiano.

• O telencéfalo é a maior região do encéfalo e está formado pelo córtex cerebral,


substância branca subjacente e núcleos da base.

• Cinco lobos formam o telencéfalo: lobo frontal, lobo parietal, lobo occipital,
lobo temporal e lobo da ínsula.

• O sistema límbico, o nosso “encéfalo emocional”, constitui um anel de estruturas


localizadas ao redor da região superior do tronco encefálico relacionadas com
emoções como dor, prazer, raiva, afeto e medo.

• No interior do encéfalo existem quatro cavidades preenchidas com líquido


cerebrospinal: os ventrículos cerebrais, os ventrículos laterais, o terceiro
ventrículo e o quarto ventrículo.

127
AUTOATIVIDADE

1 Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta após realizar as


associações entre as colunas:

1. Cerebelo ( ) Controla os movimentos respiratórios.


2. Bulbo ( ) É o local onde sai o nervo troclear.
3. Mesencéfalo ( ) Controla o equilíbrio.
4. Ponte ( ) Ajuda a controlar a respiração e, deste local,
sai o nervo trigêmeo.

a) ( ) 2, 1, 3,4.
b) ( ) 4, 3, 2, 4.
c) ( ) 2, 3, 1, 4.
d) ( ) 2, 4, 1, 3.
e) ( ) 3, 1, 4, 2.

2 Se uma pessoa sofrer lesão no hipotálamo é de se esperar que ela apresente


problemas de:

a) ( ) Memória e inteligência.
b) ( ) Mastigação, deglutição, fonação.
c) ( ) Coordenação motora, postura e equilíbrio.
d) ( ) Visão, audição e olfato.
e) ( ) Temperatura corporal, sono e apetite.

3 Leia atentamente as informações referentes ao sistema nervoso e assinale a


alternativa CORRETA:

I- O mesencéfalo, ponte e bulbo compõem o tronco encefálico. É possível


afirmar que o mesencéfalo fica abaixo do diencéfalo, enquanto a ponte
fica acima do bulbo.
II- Estão localizados no mesencéfalo os corpos geniculados laterais e mediais,
responsáveis pela visão e audição, respectivamente.
III- Os colículos superiores estão relacionados a reações motoras a estímulos
visuais, enquanto os colículos inferiores estão relacionados a reações
motoras a estímulos auditivos.
IV- A ponte ajuda a controlar a respiração e está envolvida no processo de
transmissão de sinais ascendentes/descendentes ao longo do tronco
cerebral.
V- O bulbo é o centro vasomotor e respiratório.

a) ( ) Apenas as alternativas I, III, IV e V estão corretas.


b) ( ) Apenas as alternativas I, II, III e V estão corretas.
c) ( ) Apenas as alternativas II, III, IV e V estão corretas.

128
d) ( ) Apenas as alternativas III, IV e V estão corretas.
e) ( ) Todas as alternativas estão corretas.

4 Um motorista infrator, ao dirigir em alta velocidade, perdeu o controle do


carro numa curva, sofrendo um acidente. Ao chegar ao pronto socorro, foi
diagnosticado um AVC. Neste contexto, analise as sentenças a seguir.

I- O AVC pode ser classificado como hemorrágico ou isquêmico. A placa de


ateroma é uma das causas da obstrução das artérias encefálicas.
II- As artérias carótidas fazem parte da irrigação cerebral, assim como a
basilar.
III- Se a lesão do AVC for no lobo occiptal, possivelmente o indivíduo terá
lesão relacionada à visão.
IV- A isquemia cerebral pode ser causada por um bloqueio da circulação nas
artérias que fornecem sangue ao encéfalo.
V- Se a lesão do AVC for no cerebelo, o indivíduo pode apresentar ataxia.

Agora assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Apenas as alternativas I, III, IV e V estão corretas.
b) ( ) Apenas as alternativas I, II, IV e V estão corretas.
c) ( ) Apenas as alternativas II, III e IV estão corretas.
d) ( ) Apenas as alternativas I, III e IV estão corretas.
e) ( ) Todas as alternativas estão corretas.

5 “Evidências sugerem que a ingestão de nutrientes, assim como o metabolismo


destes nutrientes podem ser controlados ou modulados por estruturas
neurais e por sistemas neuroquímicos e neuroendócrinos específicos.
Alterações nesses sistemas neurais podem estar associadas às mudanças
no comportamento alimentar. Uma região específica do diencéfalo exerce
influência na autosseleção de alimentos, nas respostas a dietas com alto
conteúdo proteico, no desbalanceamento de aminoácidos, na placentofagia,
no estresse alimentar, na textura dietética, na consistência e paladar, na
aprendizagem aversiva, no olfato e nos efeitos de manipulações hormonais”
(CAMBRAIA, 2004, p. 1). O texto citado se refere a uma região do sistema
nervoso central denominada:

a) ( ) Tálamo.
b) ( ) Hipotálamo.
c) ( ) Epitálamo.
d) ( ) Bulbo.
e) ( ) Cerebelo.

6 A melatonina ou N-acetil-5-metoxitriptamina é um hormônio sintetizado


por uma de nossas glândulas endócrinas. Descoberta em 1958 pelo
dermatologista Aaron Lerner, recebeu este nome devido a sua capacidade
de contração dos melanóforos de melanócitos de sapos, resultando em

129
clareamento da pele destes animais. A melatonina é sintetizada a partir da
serotonina na seguinte sequência de reações: conversão do triptofano em
serotonina; conversão da serotonina em N-acetilserotonina; conversão da
N-acetilserotonina em melatonina. Sua secreção ocorre exclusivamente à
noite, iniciando-se cerca de duas horas antes do horário habitual de dormir e
atingindo níveis plasmáticos máximos entre 3 e 4 horas, variando de acordo
com o cronótipo do indivíduo. Depois de secretada, se distribui por vários
tecidos corporais, não é estocada e possui alta solubilidade em lipídios. A
melatonina é produzida naturalmente pela glândula:

a) ( ) Pineal.
b) ( ) Tireoide.
c) ( ) Hipotálamo.
d) ( ) Tálamo.
e) ( ) Hipófise.

130
UNIDADE 3

SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender a organização e a constituição do sistema nervoso periférico;

• diferenciar o sistema nervoso somático e o sistema nervoso autônomo;

• classificar o sistema nervoso autônomo;

• identificar os órgãos dos sentidos;

• compreender a origem embrionária do sistema nervoso.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – SISTEMA NERVOSO SOMÁTICO

TÓPICO 2 – SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO

TÓPICO 3 – SENTIDOS GERAIS E ESPECIAIS

TÓPICO 4 – DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO DO SISTEMA


NERVOSO

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132
UNIDADE 3
TÓPICO 1

SISTEMA NERVOSO SOMÁTICO

1 INTRODUÇÃO
O sistema nervoso somático é responsável pela inervação dos músculos
estriados esqueléticos, sendo que temos controle sobre ele. Por exemplo, quando
queremos pegar um objeto com as mãos, nosso comando para o cérebro faz com
que os neurônios motores do sistema nervoso somático enviem sinais para a
contração dos músculos do membro superior responsável por realizar a ação.
Nesse caso, dizemos que o controle é voluntário, pois depende da nossa vontade.

A parte periférica do sistema nervoso está constituída pelos nervos


cranianos e espinhais, pelos gânglios sensitivos e pelas terminações nervosas.
Neste tópico, estudaremos cada um desses componentes da parte somática do
sistema nervoso periférico.

2 NERVOS
Os nervos são aglomerados de fibras nervosas (axônios de neurônios)
envolvidos por vários revestimentos de tecido conjuntivo. Cada fibra nervosa
é formada por um conjunto de axônios de neurônios envolvidos pelas células
de Schwann (visto anteriormente na Unidade 2). No SNC, as fibras nervosas
(nesse caso envolvidas pelos oligodendrócitos) formam os feixes ou tratos da
substância branca. No SNP, as fibras dão origem aos nervos. Lembrando que
os nervos podem ser mielínicos, quando apresentam bainha de mielina, ou
amielínicos, quando a bainha de mielina está ausente. Devido à bainha de mielina
ter uma constituição lipídica, ela garante o aspecto esbranquiçado dos nervos
(JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2018).

Segundo Junqueira e Carneiro (2018), as túnicas de tecido conjuntivo,


associadas aos nervos, são identificadas da seguinte forma:

133
UNIDADE 3 | SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO

• Endoneuro: é a camada mais interna, constituída por uma fina membrana de


tecido conjuntivo rico em fibras reticulares. O endoneuro envolve cada axônio
externamente à bainha de mielina.
• Perineuro: formado por várias camadas de células achatadas, o perineuro
envolve cada feixe nervoso (conjunto de fibras nervosas).
• Epineuro: é a camada mais externa, envolve todo o nervo externamente
e preenche os espaços entre os feixes nervosos. É formado por um tecido
conjuntivo denso.

FIGURA 1 – NERVO

1. Epineuro; 2. Perineuro; 3. Endoneuro; 4. Axônio (fibra nervosa)

FONTE: A autora

NOTA

VOCÊ SABIA?

Que os nervos se regeneram?

Apesar dos neurônios serem células permanentes, ou seja, que não se


regeneram, seus prolongamentos – como os axônios, por exemplo – podem
realizar tal tarefa. Esse processo é lento, podendo demorar meses para ser
finalizado. Quando ocorre a lesão de um nervo, a porção do axônio que se
mantém conectada ao corpo celular do neurônio (região proximal) é a parte que
irá se regenerar, enquanto a região distal acaba degenerando. Vários filamentos
(prolongamentos) da porção proximal crescem e se ramificam até atingir o órgão
efetor (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2018).

134
TÓPICO 1 | SISTEMA NERVOSO SOMÁTICO

Os nervos têm por função realizar a comunicação entre a periferia (SNP)


e o centro (SNC). Informações sensitivas provenientes de órgãos internos e da
superfície do corpo (pele) chegam até a medula espinal através de fibras sensitivas,
denominadas aferentes. Impulsos provenientes da medula espinal chegam até
os músculos através de fibras motoras, denominadas eferentes. Alguns nervos
são formados apenas por fibras aferentes, sendo denominados nervos sensitivos;
outros possuem apenas fibras eferentes, os nervos motores. A maioria dos nervos
possui tanto fibras aferentes quanto eferentes, sendo denominados nervos mistos
(JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2018).

FIGURA 2 – NERVO MISTO

FONTE: Junqueira e Carneiro (2018, p. 175)

2.1 NERVOS ESPINHAIS


Os nervos espinhais são aqueles que se conectam à medula espinal. Para
tanto, os nervos devem passar através do forame intervertebral. Após atravessar
o forame, um nervo espinhal origina duas raízes: a raiz sensitiva e a raiz motora.
A raiz sensitiva, posterior, é constituída apenas por fibras aferentes (sensitivas)
e chega à medula espinal pela região posterior, exatamente no sulco lateral
posterior. A raiz motora, anterior, está formada por fibras eferentes (motoras) e
sai pela região anterior da medula espinal, no sulco lateral anterior.

Antes de chegar ao forame intervertebral e originar os ramos anterior e


posterior, os nervos se dividem em ramos, conforme nos apresenta Tortora (2007):

• Ramo posterior: inerva a musculatura profunda e a pele do tronco.


• Ramo anterior: inerva as estruturas dos membros inferiores e a pele das regiões
anterior e lateral do tronco.

135
UNIDADE 3 | SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO

• Ramo meníngeo: penetra no forame vertebral e inerva estruturas presentes


no canal vertebral, como as vértebras, os ligamentos vertebrais, os vasos
sanguíneos e as meninges.
• Ramos comunicantes: fazem parte do sistema nervoso autônomo, sendo
responsáveis pela inervação das vísceras (será discutido adiante).

FIGURA 3 – NERVO ESPINHAL

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

Antes de atingir seu órgão-alvo, os ramos anteriores originam redes


que são denominadas de plexos. Apenas os nervos torácicos (de T2 a T12) não
formam plexos a partir de seus ramos anteriores. Os plexos dão origem aos
nervos, os quais podem se ramificar ainda mais até atingirem seu órgão-alvo.
Esses plexos são:

136
TÓPICO 1 | SISTEMA NERVOSO SOMÁTICO

• Plexo cervical: localizado em cada lado do pescoço e formado a partir dos


ramos anteriores de C1 a C4 e uma parte de C5. O plexo cervical origina nervos
que suprem a pele e os músculos da cabeça, do pescoço, dos ombros e do tórax.
O maior nervo desse plexo é o nervo frênico, que inerva o músculo diafragma.
• Plexo braquial: passa acima da primeira costela e está constituído pelos ramos
anteriores de C5 a T1. Seus nervos suprem os ombros e os membros superiores.
Seus principais nervos são o nervo axilar, o nervo musculocutâneo, o nervo
radial, o nervo mediano e o nervo ulnar.
• Plexo lombar: formado pelos ramos anteriores de L1 a L4, o plexo lombar
passa próximo aos músculos iliopsoas e quadrado lombar. É responsável
pela inervação da região anterolateral do abdome, órgãos do sistema genital e
membros inferiores. Seu maior e principal nervo é o nervo femoral.
• Plexo sacral: originado a partir dos ramos anteriores de L4, L5 e S1 a S4, esse
plexo é responsável pela inervação dos glúteos, do períneo e dos membros
inferiores. Está localizado na região anterior do sacro. Seu principal nervo é o
nervo isquiático (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009).

FIGURA 4 – PLEXOS NERVOSOS

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

137
UNIDADE 3 | SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO

Os nervos torácicos (intercostais) não formam plexos e se originam dos


ramos anteriores de T2 a T12. Esses nervos suprem as estruturas localizadas nos
espaços entre as costelas (espaços intercostais).

E
IMPORTANT

“A forma mais comum de dor no dorso é provocada por compressão ou irritação


do nervo isquiático, o maior nervo do corpo humano. Uma lesão ao nervo isquiático e a seus
ramos resulta na dor ciática, quadro doloroso que pode se estender da nádega descendo
pela face posterior e lateral da perna, e pela face lateral do pé. O nervo isquiático pode ser
lesado em razão de um disco herniado, luxação do quadril, osteoartrite das partes lombar e
sacral da medula espinal, pressão do útero durante a gravidez, inflamação, irritação ou uma
injeção intramuscular glútea administrada de forma inadequada” (TORTORA, 2007, p. 607,
grifo do original).

2.2 NERVOS CRANIANOS


Como o nome sugere, esses nervos se originam e/ou chegam a regiões
do encéfalo, especificamente no tronco encefálico, em sua maioria, diferente
do que ocorre com os nervos espinhais, os quais encontram-se conectados à
medula espinal. Os nervos cranianos formam um total de 12 pares, responsáveis
pela inervação, principalmente, de estruturas da cabeça e pescoço. Algarismos
romanos são utilizados para enumerar os nervos cranianos, sendo eles, de acordo
com Martini, Timmons e Tallitsch (2009):

• Nervo olfatório (I): é o primeiro par de nervos cranianos, sendo puramente


sensitivo e responsável pelo sentido do olfato. O nervo olfatório faz conexão
em uma região do encéfalo denominada bulbo olfatório e, então, segue como
trato olfatório.
• Nervo óptico (II): o segundo par de nervos cranianos é também puramente
sensitivo e especializado no sentido da visão. Os nervos ópticos têm origem
na retina e se projetam em direção ao diencéfalo, no qual a metade medial das
suas fibras cruzam para o lado oposto, em uma região denominada quiasma
óptico (quiasma = cruzamento). Após, os axônios originam os tratos ópticos que
seguem em direção ao diencéfalo e deste para o lobo occipital do cérebro, no
córtex visual primário.
• Nervo oculomotor (III): um nervo puramente motor responsável pelos
movimentos oculares. É responsável pelo controle de quatro dos seis músculos
extrínsecos do bulbo do olho.
• Nervo troclear (IV): o quarto par é o menor nervo craniano, sendo um nervo
motor (eferente) responsável pela inervação do músculo oblíquo superior, o
qual é um músculo extrínseco do bulbo do olho.

138
TÓPICO 1 | SISTEMA NERVOSO SOMÁTICO

• Nervo trigêmeo (V): é o maior nervo craniano. É um nervo misto, ou seja, possui
tanto fibras sensitivas (aferentes) quanto motoras (eferentes). Como o próprio
nome diz, o nervo trigêmeo possui três ramos principais: o ramo oftálmico
(puramente sensitivo) inerva as regiões superiores da cabeça (estruturas
da órbita, cavidade nasal, seios paranasais, a pele da testa, sobrancelhas,
pálpebras e nariz); o ramo maxilar (exclusivamente sensitivo) inerva a região
média da cabeça (pálpebra inferior, lábio superior, bochecha e nariz); e o ramo
mandibular (misto) possui fibras motoras responsáveis por inervar os músculos
da mastigação e fibras sensitivas que suprem estruturas da região inferior da
cabeça (pele da região temporal, região lateral da mandíbula, dentes, gengiva,
algumas glândulas salivares e a região anterior da língua).

O tique doloroso afeta 1 indivíduo em cada 25.000. Os pacientes se


queixam de dor intensa, quase totalmente debilitante, desencadeada
por contato com o lábio, a língua ou as gengivas. A dor surge
subitamente, com intensidade cruciante e, então, desaparece. Em
geral, apenas um dos lados da face é afetado. Outro nome para esta
patologia é nevralgia do trigêmeo, porque são os nervos maxilar
e mandibular do nervo trigêmeo que inervam as áreas sensitivas
afetadas. Esta patologia costuma afetar indivíduos acima dos 40 anos
de idade e sua causa é desconhecida. Muitas vezes, a dor pode ser
temporariamente controlada por meio de terapia medicamentosa, mas
intervenções cirúrgicas podem ser necessárias como solução final. O
objetivo da cirurgia é a destruição dos nervos sensitivos que veiculam
as sensações dolorosas. Eles podem ser destruídos por secção nervosa,
um procedimento denominado rizotomia (rhiza, nariz), ou por injeção
de substâncias químicas, como álcool ou fenol, dentro do nervo,
no nível do forame redondo ou oval. As fibras sensitivas também
podem ser destruídas pela inserção de eletrodos e cauterização dos
troncos nervosos sensitivos quando eles deixam o gânglio trigeminal
(MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009, p. 422, grifo do original).

• Nervo abducente (VI): é um nervo puramente motor, que supre o músculo


reto lateral, responsável por realizar os movimentos laterais dos olhos.
• Nervo facial (VII): o sétimo par é um nervo misto. Seus neurônios sensitivos
inervam a face e são responsáveis pela percepção gustativa dos dois terços
anteriores da língua. Suas fibras motoras inervam os músculos da face.

A paralisia de Bell resulta da inflamação do nervo facial, provavelmente


relacionada à infecção viral. O comprometimento do nervo facial pode
ser inferido pelos sintomas de paralisia dos músculos da face, no lado
afetado, e pela perda da sensação do paladar nos dois terços anteriores
da língua. Os indivíduos não exibem deficiências sensitivas relevantes
e a patologia é geralmente indolor. Em muitos casos, a paralisia de Bell
“melhora sozinha” após algumas semanas ou meses, mas este processo
pode ser acelerado com tratamento precoce à base de corticosteroide
e drogas antivirais (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009, p. 423,
grifo original).

• Nervo vestibulococlear (VIII): é um nervo exclusivamente sensitivo,


relacionado à sensação de equilíbrio e à audição.

139
UNIDADE 3 | SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO

• Nervo glossofaríngeo (IX): o nono par de nervos cranianos é misto. Sua porção
sensitiva é responsável por transmitir informações da faringe e do palato mole,
além da percepção gustativa. Já a porção motora controla os músculos da
deglutição localizados na faringe.
• Nervo vago (X): é um nervo misto, sendo que a parte sensitiva inerva parte
da orelha, o músculo diafragma e fornece informação gustativa da faringe.
Porém, grande parte das fibras aferentes do nervo vago fornecem informações
sensoriais de vísceras das vias respiratórias e abdominais. Suas fibras motoras
suprem o músculo do coração, a musculatura lisa e glândulas das vias
respiratórias, do estômago, intestinos e vesícula biliar.
• Nervo acessório (XI): sua função é exclusivamente motora, sendo responsável
por inervar os músculos da deglutição (palato mole e faringe) e a musculatura
intrínseca das cordas vocais (laringe). Além de suprir os músculos
esternocleidomastoideo e trapézio.
• Nervo hipoglosso (XII): é um nervo puramente motor. Suas fibras são
responsáveis por realizar a inervação da musculatura estriada da língua,
realizando o controle voluntário dos movimentos da língua.

FIGURA 5 – NERVOS CRANIANOS


Bulbo olfatório, terminação
do nervo olfatório (N I)
Trato olfatório
Corpo
mamilar Quiasma óptico
Artéria Nervo óptico (N II)
basilar Infundibulo

Nervo oculomotor (N III)

Nervo troclear (N IV)

Nervo trigêmeo (N V)
Nervo abducente (N VI)
Nervo facial (N VII)
Nervo
vestibulococlear (N VIII)
Nervo
glossofaríngeo (N IX)
Ponte Nervo vago (N X)
Artéria
vertebral Nervo hipoglosso (N XII)
Cerebelo
Bulbo
Nervo acessório (N XI)
Medula (a) Vista inferior
espinal
(b) Vista inferior

FONTE: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009)

140
TÓPICO 1 | SISTEMA NERVOSO SOMÁTICO

NOTA

VOCÊ SABIA?

Que a poliomielite destrói os corpos celulares dos neurônios motores da medula espinal e
dos núcleos dos nervos cranianos?

Um vírus chamado poliovírus é o responsável por desencadear a pólio.


Os indivíduos acometidos apresentam febre, rigidez, dor de cabeça intensa,
fraqueza e dor muscular. Com a evolução, a pólio pode levar à paralisia, devido
à destruição dos corpos celulares dos neurônios motores da medula espinal e
dos núcleos dos nervos cranianos, podendo causar insuficiência respiratória e
cardíaca que podem levar à morte. De acordo com o Ministério da Saúde, há 28
anos o Brasil não registra casos de pólio, porém existem grandes chances de a
doença voltar devido à resistência dos pais em vacinar seus filhos (MARTINI;
TIMMONS; TALLITSCH, 2009).

Para facilitar o estudo e a memorização dos 12 pares de nervos cranianos,
apresentamos o seguinte quadro:

QUADRO 1 – NERVOS CRANIANOS

NERVO NOME FIBRAS FUNÇÃO

I Olfatório Sensitivo Olfato.

II Óptico Sensitivo Visão.

III Oculomotor Motor Movimentos oculares.

IV Troclear Motor Movimentos oculares.

Percepção sensitiva de estruturas da cabeça


V Trigêmeo Misto
e inervação dos músculos da mastigação.

VI Abducente Motor Movimentos oculares para a lateral.

Controle dos músculos da face e inervação


VII Facial Misto
dos dois terços anteriores da língua.

VIII Vestibulococlear Sensitivo Percepção do equilíbrio e audição.

141
UNIDADE 3 | SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO

Percepção sensitiva da faringe e do palato


IX Glossofaríngeo Misto mole, audição e controle dos músculos da
deglutição.
Sensibilidade da orelha, do músculo
diafragma e de vísceras das vias respiratórias
e abdominais. Suas fibras motoras suprem
X Vago Misto
o músculo do coração, a musculatura
lisa e glândulas das vias respiratórias, do
estômago, intestinos e vesícula biliar.
Inerva os músculos do palato mole, da
XI Acessório Motor faringe, da laringe e os músculos trapézio e
esternocleidomastoideo.
XII Hipoglosso Motor Inervação da musculatura da língua.

FONTE: A autora

A pele que recobre todo o corpo é inervada por neurônios sensitivos


somáticos, que conduzem impulsos nervosos da pele para o tronco
encefálico e a medula espinal. Do mesmo modo, neurônios motores
somáticos que conduzem impulsos para fora da medula espinal
inervam os músculos esqueléticos subjacentes. Cada nervo espinal
contém neurônios sensitivos que atuam em um segmento específico e
previsível do corpo. O nervo trigêmeo (V) atua na maior parte da pele
da face e do escalpo. A área da pele que fornece influxo sensitivo para
a PCSN, por meio de um par de nervos espinais ou do nervo trigêmeo
(V), é chamada de dermátomo (G.; dérma = pele; g; tomé = corte [pedaço]).
O suprimento nervoso nos dermátomos adjacentes é relativamente
sobreposto. O conhecimento dos segmentos espinais que inervam
cada dermátomo torna possível a localização das regiões lesadas da
medula espinal. Se a pele em uma região específica é estimulada, mas
a sensação não é percebida, os nervos que suprem aquele dermátomo
provavelmente estão lesados. Nas regiões onde há considerável
sobreposição pode ocorrer pouca perda de sensibilidade, se apenas
um dos nervos que supre o dermátomo for lesado. A informação com
relação aos padrões de informação dos nervos espinais também pode
ser usada como propósitos terapêuticos. A seção das raízes posteriores
ou a infusão de anestésicos locais pode bloquear a dor permanente
ou temporariamente. Como os dermátomos se sobrepõem, a produção
deliberada de uma região de anestesia completa, pode exigir que,
pelo menos, três nervos espinais adjacentes sejam seccionados ou
bloqueados por um agente anestésico (TORTORA, 2007, p. 609, grifo
do original).

A figura a seguir ilustra a distribuição dos dermátomos no corpo humano:

142
TÓPICO 1 | SISTEMA NERVOSO SOMÁTICO

FIGURA 6 – DISTRIBUIÇÃO DOS DERMÁTOMOS

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

3 GÂNGLIOS
Os gânglios são pequenos aglomerados de corpos celulares de neurônios
localizados fora do sistema nervoso central. Envolvendo os corpos celulares
encontram-se células de sustentação, as células satélites. Uma cápsula constituída
de tecido conjuntivo denso reveste os gânglios externamente.

FIGURA 7 – GÂNGLIO NERVOSO

FONTE: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 347)

143
UNIDADE 3 | SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO

Aparecendo como pequenas dilatações ao longo da coluna vertebral,


os gânglios podem ser sensitivos, pertencentes ao sistema nervoso somático,
ou gânglios autônomos. Uma vez que as fibras sensitivas são formadas por
neurônios do tipo pseudounipolares (visto anteriormente), seus corpos celulares
aglomeram-se antes de as fibras chegarem à medula espinal, originando os
gânglios sensitivos. Os gânglios somáticos funcionam como locais de sinapse
entre as fibras pré-ganglionares e pós-ganglionares do sistema nervoso autônomo
(será visto adiante, no próximo tópico). Esses gânglios podem pertencer ao
sistema nervoso autônomo parassimpático ou ao sistema nervoso autônomo
simpático. Os gânglios do sistema nervoso parassimpático estão localizados
distante da coluna vertebral, estando próximos das vísceras que serão inervadas.
Já os gânglios simpáticos aparecem próximo à medula espinal.

4 TERMINAÇÕES NERVOSAS
As terminações nervosas estão localizadas na extremidade distal dos
nervos (região distante da medula espinal). Essas estruturas têm por função
receber diferentes tipos de estímulos de órgãos internos e da superfície do corpo.

Dependendo da sua localização, conforme Hall (2017), as terminações


nervosas sensoriais podem ser classificadas em:

• Receptores eletromagnéticos: localizados no bulbo do olho, são especializados


em detectar a luz na retina.
• Mecanorreceptores: são responsáveis pelas sensações táteis da pele, audição,
equilíbrio, pressão arterial e sensibilidade dos tecidos profundos, como o tecido
muscular.
• Termorreceptores: como o próprio nome sugere, esses receptores detectam
calor e frio.
• Quimiorreceptores: são responsáveis por detectar os sentidos da gustação
e olfação. Também detectam a concentração de oxigênio e gás carbônico no
sangue, a osmolaridade do sangue e as concentrações de glicose, aminoácidos
e ácidos graxos sanguíneos.
• Nociceptores: são receptores especializados para detectar estímulos dolorosos.

144
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• O sistema nervoso somático é responsável pela inervação dos músculos


estriados esqueléticos.

• Os nervos são aglomerados de fibras nervosas (axônios de neurônios)


envolvidas por vários revestimentos de tecido conjuntivo.

• As membranas de tecido conjuntivo associadas aos nervos são o endoneuro, o


perineuro e o epineuro.

• Os nervos têm por função realizar a comunicação entre o sistema nervoso


periférico e o sistema nervoso central.

• Os nervos podem ser cranianos ou espinhais, dependendo da sua conexão. Os


cranianos estão associados ao encéfalo, enquanto os espinhais associam-se à
medula espinal.

• Antes de chegar ao forame intervertebral, os nervos se dividem em quatro


ramos: ramo anterior, ramo posterior, ramo meníngeo e ramos comunicantes.

• Os nervos espinhais são formados por uma raiz sensitiva (aferente) e uma raiz
motora (eferente).

• As raízes sensitivas chegam pela região posterior da medula espinal, no sulco


lateral posterior.

• As raízes motoras saem da medula espinal pela região anterior, no sulco lateral
anterior.

• Plexos são redes formadas pelos ramos anteriores dos nervos espinais, sendo
eles: plexo cervical, plexo braquial, plexo lombar e plexo sacral.

• Os nervos cranianos são formados por um total de 12 pares que se conectam a


regiões do encéfalo, principalmente no tronco cencefálico.

• Os 12 pares de nervos cranianos, em ordem, são: nervo olfatório (I), nervo


óptico (II), nervo oculomotor (III), nervo troclear (IV), nervo trigêmeo (V),
nervo abducente (VI), nervo facial (VII), nervo vestibulococlear (VIII), nervo
glossofaríngeo (IX), nervo vago (X), nervo acessório (XI) e nervo hipoglosso
(XII).

145
• Dermátomo é a área da pele que fornece influxo sensitivo para o sistema
nervoso central por meio de um par de nervos espinhais ou do nervo trigêmeo
(V).

• Os gânglios são pequenos aglomerados de corpos celulares de neurônios


localizados fora do sistema nervoso central, são formados por células satélites
e estão envoltos por uma cápsula de tecido conjuntivo denso.

• Os gânglios podem ser sensitivos, pertencentes ao sistema nervoso somático,


ou gânglios autônomos.

• As terminações nervosas estão localizadas na extremidade distal dos nervos


e sua função é receber diferentes tipos de estímulos de órgãos internos e da
superfície do corpo.

• As terminações nervosas podem ser: receptores eletromagnéticos,


termorreceptores, quimiorreceptores e nociceptores.

146
AUTOATIVIDADE

1 O nervo vestibulococlear compõe-se de dois conjuntos de fibras nervosas:


o nervo coclear e o nervo vestibular. A lesão do nervo vestibular deverá
causar perda de:

a) ( ) Audição.
b) ( ) Equilíbrio.
c) ( ) Olfato.
d) ( ) Paladar.
e) ( ) Visão.

2 Quando uma pessoa encosta a mão em um ferro quente, ela reage


imediatamente por meio de um reflexo. Neste reflexo, o neurônio aferente
traz o impulso nervoso a partir:

a) ( ) Da medula espinhal.
b) ( ) Do encéfalo.
c) ( ) Dos músculos flexores do braço
d) ( ) Das terminações sensoriais de frio na ponta dos dedos.
e) ( ) Das terminações sensoriais de calor na ponta dos dedos.

3 Qual das alternativas a seguir contêm estruturas que são componentes do


sistema nervoso periférico (SNP)?

a) ( ) Nervos cranianos, nervos espinhais, gânglios e terminações nervosas.


b) ( ) Encéfalo e medula óssea.
c) ( ) Medula espinal e encéfalo.
d) ( ) Cérebro, tronco encefálico, medula espinhal e nervos.
e) ( ) Nervos cranianos, medula óssea e nervos periféricos.

4 Sobre os nervos cranianos e espinhais, analise as sentenças a seguir:

I- O nervo é revestido por três importantes camadas: endoneuro, perineuro


e epineuro.
II- Os nervos espinhais são caracterizados exclusivamente como motores,
enquanto os nervos cranianos são classificados todos como sensitivos.
III- Os nervos cranianos podem ser sensitivos, motores ou mistos.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:


( ) Apenas as sentenças I e III estão corretas.
( ) Apenas as sentenças I e II estão corretas.
( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
( ) Apenas as sentenças II e III estão corretas.
( ) Nenhuma das alternativas está correta.

147
148
UNIDADE 3
TÓPICO 2

SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO

1 INTRODUÇÃO
O sistema nervoso autônomo faz parte do sistema nervoso periférico e,
como o nome sugere, seu controle é “autônomo”, ou seja, ele se autocontrola
de maneira independente da nossa vontade. É responsável pela inervação da
musculatura lisa visceral, músculo estriado cardíaco e glândulas, realizando
o controle das vísceras. Na maioria das vezes não percebemos as informações
sensitivas provenientes do sistema nervoso autônomo. Em algumas situações,
como no caso de uma lesão a determinado órgão interno, temos a percepção
de dor, que atua como um mecanismo de defesa, informando que algo não
está correto.

Segundo Tortora (2007), a parte autônoma do sistema nervoso está


constituída por:

• Neurônios sensitivos autônomos: localizados na parede das vísceras e dos


vasos sanguíneos, transmitem a informação para o sistema nervoso central.
• Centros de integração: regiões do encéfalo que recebem os estímulos dos
neurônios sensitivos.
• Neurônios motores autônomos: propagam a informação proveniente dos
centros de integração do sistema nervoso central para os tecidos efetores
(músculo liso, músculo cardíaco e glândulas).

Nossos pensamentos conscientes, planos e ações representam apenas


uma pequena fração das atividades do sistema nervoso. Se toda a
consciência fosse eliminada, os processos vitais fisiológicos ainda
continuariam praticamente inalterados – uma noite de sono não
é um evento que ameace a vida. Além disso, profundos estados de
inconsciência não são necessariamente mais perigosos, desde que a
nutrição do organismo seja providenciada. Indivíduos que sofreram
graves traumatismos cranioencefálicos sobreviveram em coma
durante décadas. A sobrevivência nestas circunstâncias é possível
porque os ajustes rotineiros nos sistemas fisiológicos são realizados
pelo sistema nervoso autônomo (SNA), independentemente de
nossa percepção consciente. O SNA regula a temperatura corporal
e coordena as funções cardiovasculares, respiratórias, digestivas,
urinárias e reprodutoras. Assim o fazendo, ajusta a água, os eletrólitos,
os nutrientes e as concentrações de gases dissolvidas nos líquidos
corporais (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009, p. 452).

149
UNIDADE 3 | SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO

Quando estudamos o sistema nervoso periférico, é interessante


realizarmos uma comparação entre a parte somática, que inerva os músculos
estriados esqueléticos e a parte autônoma, que inerva os músculos liso e cardíaco
e as glândulas. Segue um quadro demonstrando tais diferenças, de acordo com
Tortora (2007):

QUADRO 2 – DIFERENÇAS ENTRE OS SISTEMAS NERVOSO SOMÁTICO E AUTÔNOMO

Sistema Nervoso
Características Sistema Nervoso Somático
Autônomo
Conduz a informação das Conduz a informação
Inervação sensitiva terminações nervosas dos das terminações nervosas
sentidos somáticos e especiais. internas (interoceptores).
Regula as atividades
Realiza a contração
viscerais através da
Resposta motora dos músculos estriados
contração dos músculos liso
esqueléticos.
e cardíaco e das glândulas.
Não pode ser controlado de
Controle Seu controle é voluntário.
maneira voluntária.
Um neurônio sensitivo e
Um neurônio sensitivo e um dois neurônios motores,
Constituição
neurônio motor. organizados em série, um
após o outro.
Possui duas partes:
Partes Apenas uma.
simpática e parassimpática.
Acetilcolina (ACh) e
Neurotransmissores Acetilcolina (ACh).
Noradrenalina (NA).

FONTE: Adaptado de Tortora (2007)

Como descrito no quadro, a divisão autônoma do sistema nervoso é


formada por dois neurônios motores organizados em série. O primeiro, que está
conectado à medula espinal, é denominado neurônio pré-ganglionar, e faz sinapse
com o segundo neurônio em um gânglio autônomo (lembrando que gânglios são
aglomerados de corpos de neurônios localizados fora do sistema nervoso central).
Esse segundo neurônio motor é chamado de neurônio pós-ganglionar e seguirá
do gânglio autônomo até o efetuador. Além disso, o sistema nervoso autônomo
é constituído de duas partes: o sistema nervoso simpático e o sistema nervoso
parassimpático. Essas duas partes, na maioria das vezes, exercem funções
antagônicas. Por exemplo, a parte simpática promove o aumento da frequência
cardíaca, enquanto a parte parassimpática realiza sua diminuição. Porém, nem
sempre isso acontece, uma vez que algumas estruturas são inervadas por apenas
uma das partes, ou a simpática ou a parassimpática.

150
TÓPICO 2 | SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO

FIGURA 8 – SISTEMA NERVOSO SOMÁTICO E AUTÔNOMO

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

Agora, analisaremos cada uma das partes do sistema nervoso autônomo


separadamente.

2 SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO


O sistema nervoso simpático predomina em condições de estresse ou
emergência, nas situações de “luta ou fuga”, na qual o corpo se prepara para
lutar ou fugir de determinada ameaça. Vamos imaginar a situação de uma zebra,
bebendo água tranquilamente em um riacho, quando ela avista um leão seguindo
em sua direção. Nesse momento, seu corpo deve se preparar para lutar ou fugir.
Para tanto, o sistema nervoso simpático torna-se ativo.

FIGURA 9 – ATIVAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO

FONTE: <https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2012/04/120419_galeria_bufalosleoes_is>.
Acesso em: 2 set. 2019.

151
UNIDADE 3 | SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO

Os neurônios pré-ganglionares da parte simpática do sistema nervoso


partem das regiões torácica e lombar da medula espinal (entre os segmentos T1
e L2), fazendo sinapse com neurônios pós-ganglionares localizados em gânglios
próximos à medula espinal. Por conta disso, os neurônios pré-ganglionares são
curtos, enquanto os neurônios pós-ganglionares são mais longos. Dizemos que
as fibras motoras do sistema simpático têm origem toracolombar (MARTINI;
TIMMONS; TALLITSCH, 2009).

Os neurônios pré-ganglionares liberam sempre Ach, enquanto os pós-


ganglionares liberam o neurotransmissor NA nas junções com seus efetuadores.
Essas fibras pós-ganglionares inervam os olhos, as glândulas salivares, o coração,
os pulmões, órgãos do sistema digestório, a medula das glândulas adrenais, os
rins, a bexiga urinária, o escroto, o pênis, os ovários, o útero e a pele (MARTINI;
TIMMONS; TALLITSCH, 2009).

FIGURA 10 – EFETORES DAS FIBRAS PÓS-GANGLIONARES DO SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO

FONTE: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 457)

152
TÓPICO 2 | SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO

A liberação de NA pelas fibras pós-ganglionares geralmente promove


a estimulação dos órgãos efetores. Nas situações de “luta e fuga” ocorre uma
ativação geral do sistema nervoso simpático, preparando o corpo para lutar ou
fugir. Nesse caso, ocorre:

• aumento da frequência cardíaca;


• aumento da frequência respiratória;
• elevação da pressão arterial;
• dilatação dos vasos sanguíneos que suprem os músculos estriados esqueléticos
(garantindo um maior aporte de O2 e nutrientes para os músculos);
• relaxamento do músculo liso (parando a atividade do sistema digestório);
• dilatação das pupilas;
• dilatação das vias respiratórias;
• decomposição do glicogênio hepático em glicose (glicogenólise) e decomposição
de triglicerídeos em ácido graxo e glicerol, o que permite um maior suporte
nutricional para a síntese de ATP;
• aumento da glicemia.

E
IMPORTANT

FIQUE LIGADO!

Uma resposta exagerada do sistema nervoso simpático pode ocasionar uma manifestação
clínica chamada de Disreflexia autônoma. Os pacientes com essa condição apresentam
hipertensão arterial, pele ruborizada (vermelha) e quente, ansiedade e hipertensão arterial.
Essa condição pode provocar convulsões, acidente vascular cerebral ou infarto, caso não seja
tratada rapidamente (TORTORA; DERRICKSON, 2017).

Disreflexia autônoma é uma resposta exagerada da parte simpática


do SNA, ocorrendo em aproximadamente 85% dos indivíduos com
lesão na medula espinal no nível de T6 ou acima. A condição ocorre
em decorrência da interrupção do controle de neurônios do SNA pelos
centros superiores. Quando determinados impulsos sensoriais, como
aqueles que resultam da distensão de uma bexiga urinária cheia, são
incapazes de subir até a medula espinal, ocorre estimulação intensa
dos nervos simpáticos abaixo do nível da lesão. Entre os efeitos do
aumento da atividade simpática está uma vasoconstrição grave que
eleva a pressão sanguínea. Em resposta, o centro cardiovascular no
bulbo (1) aumenta o estímulo parassimpático via nervo vago, o que
diminui a frequência cardíaca, e (2) diminui o estímulo simpático
provocando dilatação dos vasos sanguíneos acima do nível da lesão
(TORTORA; DERRICKSON, 2017, p. 291, grifo do original).

As respostas do sistema nervoso simpático duram mais tempo do que


aquelas do parassimpático, pois:

153
UNIDADE 3 | SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO

• A NA secretada pelos neurônios pós-ganglionares simpáticos demora mais


tempo para ser degradada na fenda sináptica do que a ACh secretada pelos
neurônios pós-ganglionares parassimpáticos.
• Ocorre uma maior ativação dos órgãos efetores pelas fibras simpáticas.
• A secreção de NA e AD pela medula da glândula adrenal, quando estimulada
pelo sistema nervoso simpático, atinge a circulação sanguínea e faz com que a
resposta seja disseminada pelo corpo e permaneça por mais tempo.

Na doença de Raynaud os dedos (das mãos e dos pés) tornam-se


isquêmicos (ausência de sangue) após exposição ao frio ou ao estresse
emocional. A condição é resultante do estímulo simpático excessivo de
músculo liso nas arteríolas dos dedos e de uma resposta intensificada
aos estímulos que causam vasoconstrição. Quando as arteríolas nos
dedos sofrem vasoconstrição em resposta ao estímulo simpático, o
fluxo de sangue torna-se muito reduzido. Como resultado, os dedos
podem empalidecer (parecer brancos em virtude do bloqueio do fluxo
de sangue) ou tornarem-se cianóticos (aparência azulada em razão
do sangue desoxigenado nos capilares). Em casos extremos, os dedos
podem ficar necróticos pela falta de oxigênio e nutrientes. Com o
reaquecimento após a exposição ao frio, as arteríolas podem se dilatar,
fazendo os dedos das mãos e dos pés parecerem avermelhados. Muitos
pacientes com a doença de Raynaud apresentam pressão arterial baixa.
Alguns apresentam aumento de receptores α-adrenérgicos. A doença
é mais comum em mulheres jovens e ocorre mais frequentemente
em climas frios. Os pacientes com doença de Raynaud devem
evitar exposição ao frio, usar roupas quentes e manter as mãos e
os pés aquecidos. As drogas usadas para tratar a condição incluem
nifedipina, um bloqueador do canal de cálcio que relaxa o músculo
liso vascular, e prazosina, que relaxa o músculo liso, bloqueando os
receptores alfa. O tabagismo e o uso de bebida alcoólica ou drogas
ilícitas podem exacerbar os sintomas dessa doença (TORTORA, 2007,
p. 685, grifo do original).

3 SISTEMA NERVOSO PARASSIMPÁTICO


Atuando preferencialmente em situações de repouso, as funções do
sistema nervoso parassimpático estão, diferentemente do simpático, relacionadas
a momentos de relaxamento, levando à ativação do sistema digestório para
absorver nutrientes e armazenar energia, causando um aumento generalizado
do conteúdo de nutrientes circulantes pelo corpo. Podemos utilizar o mesmo
exemplo da zebra, mas nesse momento – bebendo água tranquilamente no lago
– ocorre predominância do sistema nervoso parassimpático sobre o simpático.

154
TÓPICO 2 | SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO

FIGURA 11 – ATIVAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO PARASSIMPÁTICO

FONTE: <http://ineuphonious60.rssing.com/chan-41096668/all_p884.html>. Acesso em:


2 set. 2019.

Na divisão parassimpática do sistema nervoso, os neurônios pré-


ganglionares têm origem no tronco encefálico nos seguintes pares de nervos
cranianos: III, VII, IX e X e da região sacral da medula espinal. Por conta disso,
dizemos que o sistema nervoso parassimpático tem origem craniossacral. Esses
neurônios realizam sinapses com neurônios pós-ganglionares localizados em
gânglios distantes da medula espinal, localizados próximo, e algumas vezes até
dentro, das vísceras que serão inervadas. Assim, os neurônios pré-ganglionares
são longos, enquanto os neurônios pós-ganglionares são mais curtos (MARTINI;
TIMMONS; TALLITSCH, 2009).

FIGURA 12 – FIBRAS PRÉ E PÓS-GANGLIONARES DO SISTEMA NERVOSO PARASSIMPÁTICO

FONTE: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009)

155
UNIDADE 3 | SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO

Assim como no sistema nervoso simpático, no parassimpático os


neurônios pré-ganglionares liberam sempre ACh. Da mesma forma, os neurônios
pós-ganglionares parassimpáticos também secretam o neurotransmissor ACh
nas junções com seus efetuadores. Essas fibras pós-ganglionares inervam
os olhos, as glândulas lacrimais e salivares, o coração, os pulmões, órgãos do
sistema digestório, os rins, a bexiga urinária, o escroto, o pênis, os ovários e o
útero (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009).

FIGURA 13 – EFETORES DAS FIBRAS PÓS-GANGLIONARES DO SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO

FONTE: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 462)

156
TÓPICO 2 | SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO

Quando liberada pelas fibras pós-ganglionares parassimpáticas, a ACh


promove efeitos estimulantes ou inibitórios, dependendo do órgão efetor,
promovendo as seguintes manifestações, consoante Martini, Timmons e
Tallitsch (2009):

• diminuição da frequência cardíaca;


• diminuição da frequência respiratória;
• constrição das pupilas;
• ativação do sistema digestório através da estimulação da secreção das glândulas
digestivas;
• estimulação de uma secreção fluida rica em enzimas pelas glândulas salivares;
• estimulação da absorção de nutrientes pelas células dos tecidos;
• inervação da musculatura lisa visceral aumentando sua atividade;
• contração da bexiga urinária para promover a micção;
• estímulo para a defecação;
• estímulo sexual.

E
IMPORTANT

FIQUE LIGADO!

“Um megacolo é um colo do intestino anormalmente grande. No megacolo congênito, os


nervos parassimpáticos para o segmento distal do colo do intestino não se desenvolvem
adequadamente. A perda da função motora no segmento provoca dilatação maciça da parte
proximal do colo do intestino normal. A condição resulta em constipação extrema, distensão
abdominal e, ocasionalmente, vômitos. A remoção cirúrgica do segmento afetado do colo do
intestino corrige o distúrbio” (TORTORA; DERRICKSON, 2017, p. 288).

Para facilitar a memorização das reações simpáticas e parassimpáticas,


podemos analisar o quadro comparativo entre os dois sistemas:

157
UNIDADE 3 | SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO

QUADRO 3 – COMPARAÇÃO ENTRE AS REAÇÕES SIMPÁTICAS E PARASSIMPÁTICAS

SISTEMA
EFETOR SISTEMA SIMPÁTICO
PARASSIMPÁTICO
Glândula lacrimal Ligeira secreção lacrimal Secreção lacrimal
Olhos Dilatação da pupila Contração da pupila
Secreção de uma saliva espessa Secreção de uma saliva
Glândulas salivares
e pobre em enzimas fluida e rica em enzimas
Aumento da frequência Redução da frequência
Coração
cardíaca cardíaca
Pulmões Dilatação das vias aéreas Contração das vias aéreas
Medula da glândula
Secreção de AD e NA Nenhum efeito conhecido
adrenal
Diminuição da função Aumento da atividade
Sistema digestório
digestória digestória
Bexiga Inibe a micção Estímulo para a micção
Pênis Ejaculação Ereção
Estimula a contração em
Útero Mínimo efeito
mulheres grávidas
FONTE: A autora

NOTA

Neuropatia diabética e o sistema nervoso autônomo

Na diabetes mellitus tipo I, o comprometimento do sistema nervoso é bastante comum


e grave, atingindo cerca de 50% dos pacientes diabéticos com o avanço da doença. A
neuropatia diabética acomete grande parte do sistema nervoso periférico, sendo mais
comum a polineuropatia sensitiva diabética, a qual envolve também fibras motoras e do
sistema nervoso autônomo. A taxa de mortalidade aumenta com o acometimento da parte
autônoma do sistema nervoso, na qual as divisões simpática e parassimpática encontram-se
envolvidas (FOSS-FREITAS; JUNIOR; FOSS, 2008).

Não se sabe ao certo qual a causa da neuropatia diabética autônoma, mas acredita-se que
a persistência da hiperglicemia inicia um quadro multifatorial com a presença de distúrbios
do metabolismo, insuficiência neurovascular, alteração autoimune e deficiência do fator de
crescimento neuro-hormonal (FOSS-FREITAS; JUNIOR; FOSS, 2008).

Os pacientes com neuropatia diabética autônoma apresentam acometimento de vários
órgãos inervados pelos sistemas simpático e parassimpático. Complicações cardiovasculares,
como aumento da frequência cardíaca em repouso, intolerância à prática de exercícios,
hipotensão postural (queda da pressão arterial ao levantar-se) podem estar presentes. Além
do sistema cardiovascular, os sistemas digestório, genital e urinário também costumam ser
acometidos. Esses pacientes podem ter outras manifestações como pele seca, anidrose
(redução ou ausência de suor) levando à intolerância ao calor e anormalidades pupilares
ocasionando dificuldade de se adaptar à visão noturna (FOSS-FREITAS; JUNIOR; FOSS, 2008).

158
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• O sistema nervoso autônomo é um dos componentes do sistema nervoso


periférico e seu controle é independente da nossa vontade.

• A inervação do músculo liso das vísceras, do músculo cardíaco e de algumas


glândulas é realizada pelo sistema nervoso autônomo.

• A parte autônoma do sistema nervoso está constituída por neurônios sensitivos


autônomos, um centro de integração da informação e por neurônios motores
autônomos.

• No sistema nervoso autônomo, dois neurônios motores, organizados em série,


realizam a inervação dos efetores. Esses neurônios se comunicam através da
formação de sinapses químicas em um gânglio autônomo, sendo, portanto,
denominados neurônio pré-ganglionar e neurônio pós-ganglionar.

• O sistema nervoso simpático e o sistema nervoso parassimpático formam o


sistema autônomo.

• O simpático torna-se mais ativo em situações de “luta e fuga”, enquanto o


parassimpático atua preferencialmente em condições de repouso.

• A parte simpática do sistema nervoso tem origem toracolombar.

• A origem da parte parassimpática é craniossacral.

• Os neurônios pré-ganglionares secretam sempre o neurotransmissor ACh


tanto do simpático quanto do parassimpático.

• No sistema simpático, os neurônios pós-ganglionares secretam NA em seus


efetores, enquanto no parassimpático ocorre a liberação de ACh pelos neurônios
pós-ganglionares.

• A ativação do sistema nervoso simpático promove: aumento da frequência


cardíaca e respiratória, elevação da pressão arterial, dilatação dos vasos
sanguíneos que suprem os músculos estriados esqueléticos, relaxamento do
músculo liso das vísceras, dilatação das pupilas, dilatação das vias respiratórias
e aumento da glicemia e ejaculação.

159
• Geralmente a ativação do sistema nervoso parassimpático promove reações
antagônicas àquelas do simpático, levando à diminuição da frequência
cardíaca e respiratória, constrição das pupilas, ativação do sistema digestório
através da estimulação da secreção das glândulas digestivas, estimulação de
uma secreção fluida rica em enzimas pelas glândulas salivares, estimulação
da absorção de nutrientes pelas células dos tecidos, inervação da musculatura
lisa visceral aumentando sua atividade, contração da bexiga urinária para
promover a micção, estímulo para a defecação e ereção.

• As respostas do sistema nervoso simpático duram mais tempo do que aquelas


do parassimpático devido à NA demorar mais tempo para ser degradada em
relação à ACh, pode ocorrer uma ativação maior dos órgãos efetores pelas
fibras simpáticas e a secreção de NA e AD pela medula da glândula adrenal faz
com que a resposta seja disseminada pelo corpo e permaneça por mais tempo.

160
AUTOATIVIDADE

1 Sobre as funções do sistema nervoso autônomo simpático e parassimpático,


relacione as colunas:
( ) Dilatação da pupila.
1. Simpático ( ) Dilatação das vias respiratórias.
2. Parassimpático ( ) Luta e fuga.
( ) Digestão.
( ) Contração da pupila.
( ) Ereção.
( ) Ejaculação.
( ) Diminuição da frequência
cardíaca.
( ) Micção.
( ) Secreção de lágrimas.
2 Sobre o sistema nervoso autônomo, preencha as lacunas do texto a seguir
com as palavras corretas:

Sempre que estamos em situação de risco, medo ou estresse, nosso


sistema nervoso ativa um mecanismo muito conhecido: a chamada reação de
luta e fuga. Na presença de estímulos ameaçadores há ativação do sistema
nervoso autônomo,  mais precisamente o sistema nervoso__________,
responsável pela liberação de substâncias importantes para que o organismo
possa escolher entre a luta ou a fuga do estímulo ameaçador. Essa resposta
de estresse, aparentemente ruim e temida pelas pessoas, é responsável pela
manutenção da vida e é extremamente essencial ao nosso organismo. Durante
essa resposta, os neurônios pré-ganglionares liberam um neurotransmissor
denominado__________ e os pós-ganglionares liberam a __________ que
promove ___________ dos batimentos cardíacos e da frequência respiratória e
causa ____________ da pupila, entre outras respostas.

3 O sistema nervoso ____________ é responsável pela inervação do músculo


liso das vísceras e está dividido em_________ e ___________. O primeiro
é ________ e o segundo é ___________. As palavras que preenchem
corretamente as lacunas são:

a) ( ) Autônomo, simpático, parassimpático, toracolombar, craniossacral.


b) ( ) Motor, simpático, parassimpático, toracolombar, craniossacral.
c) ( ) Motor, central, periférico, craniossacral, toracolombar.
d) ( ) Autônomo, simpático, parassimpático, craniossacral, toracolombar.

161
162
UNIDADE 3
TÓPICO 3

SENTIDOS GERAIS E ESPECIAIS

1 INTRODUÇÃO
Os sentidos gerais e especiais são formados por um conjunto de estruturas
que nos permitem interagir com o meio externo, ou seja, sentir, ver e cheirar o
que nos rodeia. Quando falamos em sentidos, nos referimos às sensações que são
percebidas por determinada região do nosso corpo. As sensações são capturadas
na superfície do corpo por estruturas especializadas denominadas receptores ou
terminações nervosas (visto anteriormente) e, então, são enviadas ao córtex cerebral
que realiza a percepção (quando tomamos consciência).

Os sentidos gerais possuem receptores espalhados por todo o corpo


e envolvem as sensações de dor, temperatura, tato, pressão, vibração e
propriocepção (posição do corpo). Já os sentidos especiais são a visão, o olfato,
o paladar e a audição, os quais estão presentes em órgãos especializados: olhos,
nariz, língua e orelhas.

A partir de agora veremos cada um dos sentidos e os órgãos que os


compõem separadamente.

2 SENTIDOS GERAIS
Os termorreceptores, nociceptores, mecanorreceptores e quimiorreceptores,
estudados na Unidade 1, são as terminações nervosas responsáveis por capturar
os sentidos gerais e encontram-se espalhadas por todo o corpo: na pele; na
mucosa da boca, vagina, ânus; nos tendões, músculos e articulações. Para Tortora
e Derrickson (2017), esses receptores capturam estímulos térmicos, de dor, tato e
proprioceptivos:

• Sensações térmicas: são de dois tipos: de frio e calor, sendo capturadas pelos
termorreceptores (terminações nervosas livres), localizados na epiderme (frio)
e na derme (calor).
• Sensações dolorosas: de extrema importância para a nossa sobrevivência,
funcionam como um alerta de que algo não está correto. Essas sensações são
capturadas pelos nociceptores (terminações nervosas livres) que se encontram
espalhados por todo o corpo.

163
UNIDADE 3 | SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO

As sensações de dor, algumas vezes, ocorrem desproporcionalmente


a uma lesão menor, persistem cronicamente em consequência de
uma lesão, ou até mesmo aparecem sem razão aparente, sem aviso
de lesão iminente ou real. Em tais casos, a analgesia (a(n) = negativa;
algesis = dor) ou alívio da dor é necessária. Drogas analgésicas como
a aspirina e o ipuprofeno (por exemplo, Advil ou Motrin) bloqueiam
a formação das prostaglandinas, que estimulam os nociceptores.
Anestésicos locais, como a Novocaína, proporcionam alívio rápido,
bloqueando a condução dos impulsos nervosos ao longo dos axônios
de primeira ordem dos neurônios da dor. Morfina e outras drogas
opiáceas alteram a qualidade da percepção da dor no encéfalo; a
dor ainda é sentida, mas não é mais percebida como sendo nociva.
Muitas clínicas de dor usam medicamentos anticonvulsivantes e
antidepressivos para tratar pacientes que sofrem de dor crônica
(TORTORA, 2007, p. 697, grifo do original).

• Sensações táteis: vários tipos de mecanorreceptores captam estímulos táteis,


os quais incluem as sensações de pressão, toque, vibração, coceira e cócegas.
Os mecanorreceptores incluem: corpúsculos táteis (receptores sensíveis ao
tato, pressão e vibração), discos de Merkel (sensíveis ao tato e à pressão),
corpúsculos de Ruffini (sensíveis ao tato) e corpúsculos lamelares (sensíveis
à pressão e vibração). As sensações de coceira e cócegas são detectadas por
terminações nervosas livres.
• Sensações proprioceptivas: têm origem a partir dos proprioceptores localizados
nos músculos e tendões, os quais nos informam a posição articular e a tensão
exercida sobre os tendões.

FIGURA 14 – RECEPTORES SENSITIVOS DA PELE


Células de
Pêlo Merkel e Corpúsculos Terminação
discos táteis táteis nervosa livre

Corpúsculo de Ruffini
Corpúsculo lamelar
Plexo do folículo piloso

Nervos
Sensitivos

FONTE: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009)

164
TÓPICO 3 | SENTIDOS GERAIS E ESPECIAIS

3 SENTIDOS ESPECIAIS
Os sentidos especiais estão localizados em órgãos complexos e
especializados, sendo responsáveis por capturar os sentidos visuais, olfativos,
gustativos e auditivos.

3.1 VISÃO
A visão nos permite, através dos olhos, enxergar o mundo ao nosso redor.
As pálpebras, os cílios, os supercílios (sobrancelhas), os músculos extrínsecos do
olho (responsáveis por movimentar os olhos) e o aparelho lacrimal (estruturas
responsáveis por produzir, secretar e remover as lágrimas) são consideradas
estruturas oculares acessórias, pois auxiliam a proteção, movimentação e
lubrificação adequada dos olhos, respectivamente. O bulbo do olho é formado
por três túnicas (camadas) (TORTORA; DERRICKSON, 2017):

• Túnica fibrosa: forma o revestimento externo do bulbo do olho. É formada


pela córnea, uma camada fibrosa transparente posicionada sobre a íris (parte
colorida do olho) que ajuda a focar a luz na retina, e pela esclera, o “branco do
olho”.
• Túnica vascular: constitui a camada média do bulbo do olho. Está constituída
pela coroide, pelo corpo ciliar e pela íris. A coroide é uma membrana fina e
delicada que reveste a esclera internamente. O corpo ciliar está em continuidade
com a coroide na região anterior do bulbo do olho e é formado pelo músculo
ciliar e pelos processos ciliares. O músculo ciliar adapta a forma da lente para
focalizar os objetos localizados próximo ou distante dos olhos. Já os processos
ciliares secretam o humor aquoso no interior da câmera vítrea. A íris forma a
parte colorida do olho e contém um orifício central, a pupila, que permite a
passagem dos raios de luz até a retina. Fibras musculares lisas estão localizadas
na íris e permitem a abertura (dilatação) e o fechamento (constrição) da pupila,
aumentando ou diminuindo, respectivamente, a passagem da luz e o campo de
visão.
• Retina: é a mais interna das túnicas e é onde inicia a via visual. A retina é
formada pelo estrato pigmentoso e pelo estrato nervoso. O estrato pigmentoso
está constituído por uma camada de células ricas em melanina que auxiliam
a absorver os raios de luz que se difundem. Já o estrato nervoso é formado
por camadas de células especializadas em capturar os estímulos luminosos,
os fotorreceptores. Os fotorreceptores são de dois tipos: os cones, que nos
garantem uma visão em cores; e os bastonetes, que nos permitem enxergar
tons de cinza, atuando em ambientes com pouca luz.

165
UNIDADE 3 | SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO

FIGURA 15 – TÚNICAS DO BULBO DO OLHO

FONTE: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009)

E
IMPORTANT

FIQUE LIGADO!

A conjuntivite é uma infecção da conjuntiva decorrente da invasão por microrganismos


como bactérias, vírus ou fungos. O principal sintoma que leva os pacientes a procurarem
tratamento médico é a irritação e vermelhidão dos olhos, decorrente da dilatação dos vasos
sanguíneos da túnica conjuntiva. Sendo altamente contagiosa, deve-se evitar contato com a
secreção lacrimal de pacientes infectados (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009).

Uma estrutura importante do bulbo do olho é a lente, localizada entre a


câmara anterior e a câmara posterior. Ela é responsável por focalizar a imagem
na retina através da alteração da sua forma. Com a idade, a lente perde a
transparência e sofre alterações em sua forma, ficando mais achatada e menos
elástica, dificultando assim o ajuste do foco. Essa condição é chamada catarata
e evolui com o passar dos anos, podendo até levar à cegueira. Atualmente, há
cirurgias de substituição da lente por uma artificial, posicionada posteriormente
à íris (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009).

A informação visual, capturada pelos receptores visuais da retina, é


enviada ao encéfalo, através dos nervos ópticos (um em cada olho), os quais
chegam ao quiasma óptico no diencéfalo. Como visto no Tópico 1, no quiasma
óptico ocorre o cruzamento de metade das fibras do nervo óptico do lado direito
para o esquerdo e vice-versa. A partir daí, o trato óptico chega aos corpos
geniculados laterais e deste parte em direção ao córtex visual, localizado no lobo
occipital do cérebro.

166
TÓPICO 3 | SENTIDOS GERAIS E ESPECIAIS

FIGURA 16 – VIAS VISUAIS


Lado Esquerdo Lado Direito

Somente Visão Somente


o olho binocular o olho
esquerdo direito

Nervo óptico (N II)

Quiasma óptico

Outros núcleos
Trato óptico hipotalâmicos,
glândula pineal e
formação reticular
Núcleo
supraquiasmático

Corpo
Corpo geniculado
geniculado lateral
lateral Colículo
superior Fibras de
projeção
(radiação
óptica)

Hemisfério Cerebral Hemisfério Cerebral


Esquerdo Direito
Córtex visual dos
hemisférios cerebrais
(b) Vias visuais

FONTE: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009)

167
UNIDADE 3 | SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO

3.2 OLFATO
As partículas de odor presentes no ar que inspiramos interagem com os
órgãos olfatórios, duas estruturas localizadas na região superior da cavidade
nasal, lateralmente ao septo nasal. Cada órgão olfatório está constituído por um
neuroepitélio formado por receptores olfatórios, células de sustentação e células
basais. Abaixo desse neuroepitélio encontramos uma camada de tecido conjuntivo,
a lâmina própria, a qual contém as glândulas de Bowmann, produtoras de muco.

FIGURA 17 – ÓRGÃO OLFATÓRIO

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

A informação odorífera capturada pelos receptores sensitivos (dendritos


de neurônios bipolares) do neuroepitélio segue através dos seus axônios, os quais
atravessam o osso etmoide (na região da lâmina cribriforme) até o bulbo olfatório.
Lá, a informação é passada através de sinapses, para neurônios de segunda ordem,
que seguem pelo trato olfatório até o córtex olfatório no cérebro. O conjunto de
feixes de axônios que chegam ao bulbo olfatório constituem o primeiro par de
nervos cranianos, o nervo olfatório (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009).

168
TÓPICO 3 | SENTIDOS GERAIS E ESPECIAIS

NOTA

VOCÊ SABIA?

Que metade das pessoas acima dos 65 anos de idade possui uma redução na capacidade
olfatória? Essa condição é chamada hiposmia e pode ser causada por diversos fatores além
do envelhecimento, como fumar, lesões cranianas, doença de Alzheimer ou de Parkinson e
alguns fármacos como anti-histamínicos, analgésicos e esteroides (TORTORA, 2007).

3.3 GUSTAÇÃO
O sentido do paladar envolve a percepção de cinco paladares primários:
salgado, ácido, amargo, doce e umami. Recentemente descoberto por cientistas
japoneses, o umami é descrito com um paladar “carnoso”.

Acredita-se que o umami se origine dos receptores gustativos, que


são estimulados pelo glutamato monossódico (GMS), uma substância
naturalmente presente em muitos alimentos e acrescida a outros como
intensificador do sabor. Todos os outros sabores, como o chocolate, a
pimenta e o café, são combinações dos cinco sabores, mais as sensações
táteis e olfatórias acompanhantes. Os odores dos alimentos passam
para cima, da boca para a cavidade nasal, onde estimulam os receptores
olfatórios. Como a olfação é muito mais sensível do que o paladar,
uma determinada concentração de uma substância alimentícia pode
estimular o sistema olfatório milhares de vezes mais fortemente do
que o sistema gustatório. Quando pessoas com resfriados ou alergias
se queixam de que não sentem o gosto do alimento, estão relatando o
bloqueio da olfação, não do paladar (TORTORA, 2007, p. 716).

Os botões gustativos (calículos gustativos, de acordo com a nomenclatura


anatômica), as estruturas responsáveis por capturar os estímulos do paladar,
estão localizados em estruturas presentes na superfície dorsal (parte de cima) da
língua, as papilas linguais. As papilas linguais variam de acordo com a sua forma
e localização, sendo:

• Papilas filiformes: são as papilas mais abundantes, presentes por toda a língua.
Possuem um formato alongado e pontiagudo que auxiliam a deglutição, porém
essas papilas não participam no sentido da gustação, pois não possuem botões
gustativos.
• Papilas fungiforme: menos abundantes do que as filiformes, também se
encontram por toda a superfície da língua. Seu formato estreito na base e
alongado na superfície lembra um cogumelo, daí o nome fungiforme.
• Papilas foleadas: aparecem em pequena quantidade apenas nas regiões laterais
posteriores da língua. Seu formato lembra uma folha.
• Papilas circunvaladas: tem o aspecto de grandes círculos e se localizam apenas
na região posterior da língua.
169
UNIDADE 3 | SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO

FIGURA 18 – PAPILAS LINGUAIS

FONTE: A autora

Além da língua, os botões gustativos estão localizados também no palato


mole (parte mole do “céu da boca”), na faringe e na epiglote. São estruturas de
aspecto oval, formadas por células de sustentação, células basais e neurônios
bipolares, os quais atuam como receptores sensoriais. Axônios dos neurônios
provenientes dos botões gustativos seguem por três nervos cranianos: o nervo
facial (VII), o nervo glossofaríngeo (IX) e o nervo vago (X). Os impulsos nervosos
seguem dos nervos cranianos até o bulbo, do qual seguem para o sistema límbico,
tálamo e hipotálamo. Do tálamo, a informação gustativa segue para o lobo
temporal do cérebro no qual se localiza a área gustativa primária, local em que
tomamos percepção do sabor (TORTORA, 2007).

170
TÓPICO 3 | SENTIDOS GERAIS E ESPECIAIS

FIGURA 19 – BOTÃO GUSTATIVO

FONTE: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009)

Provavelmente, em virtude de projeções gustatórias para o hipotálamo


e o sistema límbico, exista uma forte ligação entre paladar e emoções
agradáveis e desagradáveis. Alimentos doces evocam reações de
prazer, enquanto os amargos provocam expressões de desgosto,
mesmo em recém-nascidos. Esse fenômeno é a base para a aversão
gustatória, em que as pessoas e os animais rapidamente aprendem
a evitar um alimento se este perturba o sistema digestório. Como
os tratamentos com fármacos e radiação utilizados para combater o
câncer com frequência provocam náuseas e transtorno gastrintestinal.
Independentemente do tipo de alimentos consumidos, os pacientes
com câncer podem perder o apetite porque desenvolvem aversões
gustatórias pela maioria dos alimentos (TORTORA; DERRICKSON,
2017, p. 302, grifo do original).

3.4 AUDIÇÃO E EQUILÍBRIO


A orelha é a estrutura responsável por capturar informações relacionadas
à audição e ao equilíbrio e está dividida em três regiões, conforme destaca
Tortora (2007):

• Orelha externa: responsável por capturar as ondas sonoras, é formada pela


orelha, Meato Acústico Externo (MAE) e membrana timpânica. Localizado
no osso temporal do crânio, o MAE é um canal que conduz as ondas sonoras
capturadas pela orelha e segue até a membrana timpânica. A região mais
externa do MAE contém alguns pelos e glândulas modificadas, denominadas

171
UNIDADE 3 | SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO

glândulas ceruminosas, as quais produzem o cerume (cera do ouvido). Tanto


os pelos quanto o cerume exercem uma função protetora contra a invasão de
microrganismos e insetos pelo MAE.
• Orelha média: região localizada no osso temporal, entre a membrana timpânica
(orelha externa) e os ossos da orelha interna. É uma cavidade repleta de ar que
contém os três menores ossos do corpo humano: martelo, bigorna e estribo. O
osso martelo está ligado à membrana timpânica e se articula com a bigorna
e esta com o estribo, o qual está ligado à janela do vestíbulo, uma pequena
abertura revestida por uma delicada membrana localizada na região óssea da
orelha interna. As articulações entre os três ossículos são do tipo sinovial.
• Orelha interna: essa região é formada por duas divisões: externamente, um
labirinto ósseo; e internamente, um labirinto membranoso, o qual contém
um líquido denominado endolinfa. A perilinfa é um líquido contido entre os
labirintos ósseo e membranoso. O labirinto ósseo é formado por três partes:
canais semicirculares, vestíbulo e cóclea. Os canais semicirculares são uma série
de três canais interligados que contêm os receptores responsáveis por detectar
a posição do corpo no espaço (equilíbrio). O vestíbulo é a região central do
labirinto ósseo, localizado entre os canais semicirculares e a cóclea. Por fim, a
cóclea, que é uma estrutura que lembra um caracol e contém os receptores para
a audição.

FIGURA 20 – ORELHA

FONTE: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 480)

As ondas sonoras capturadas pela orelha passam através do MAE e


causam uma vibração da membrana timpânica. Ao vibrar, a membrana timpânica
movimenta os três ossículos da audição que, através do estribo, conectado à janela
do vestíbulo, promove uma onda na perilinfa, e desta, para a endolinfa. Essa onda
ativa os receptores da audição localizados na cóclea e a informação, através da
parte coclear do oitavo (VIII) par de nervos cranianos, o vestibulococlear, chega à
área auditiva do córtex cerebral.
172
TÓPICO 3 | SENTIDOS GERAIS E ESPECIAIS

Já o equilíbrio é dependente dos movimentos e da posição da cabeça.


Conforme a cabeça se movimenta, a endolinfa também é movimentada, levando
à ativação dos receptores do equilíbrio localizados no interior dos canais
semicirculares e do vestíbulo. Essa informação segue através da parte vestibular
do nervo vestibulococlear (VIII) até o tronco encefálico e o cerebelo.

NOTA

Envelhecimento e os sentidos especiais

Com o avançar da idade, nossos sentidos mudam. Não enxergamos mais, nem ouvimos e
sentimos os cheiros e sabores dos alimentos como quando éramos mais jovens. Mas por que
isso acontece?

Após os 50 anos de idade ocorre uma perda gradativa dos receptores olfatórios e receptores
gustativos, sendo que essas células vão sendo substituídas de maneira mais lenta do que o
habitual, diminuindo sua quantidade e aumentando o número de células de sustentação, que
não possuem receptores para capturar os estímulos.

Nos olhos, outros eventos ocorrem com o envelhecimento. A lente perde a elasticidade, o
que dificulta a focalização dos objetos (presbiopia) e vai tornando-se opaca, dificultando a
passagem da luz (catarata). Além disso, a esclera torna-se mais rígida e adquire uma coloração
amarelada, a íris também sofre alterações pigmentares, podendo desbotar ou apresentar
manchas. As pupilas tornam-se menores e demoram mais para ajustar seu tamanho de
acordo com a intensidade da luz devido ao enfraquecimento dos seus músculos. O acúmulo
do humor aquoso no interior do bulbo do olho pode levar ao glaucoma (aumento da pressão
intraocular que pode levar à cegueira) em pessoas idosas. Os olhos podem se tornar mais
secos devido a uma diminuição na produção das lágrimas.

Uma perda de cerca de 25% da audição ocorre em grande parte das pessoas acima após os
60 anos de idade. Prebiacusia é o nome que se dá a essa perda progressiva da audição em
decorrência da idade. Isso ocorre devido à perda dos receptores sensoriais da cóclea.

FONTE: Adaptado de Tortora (2007)

173
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• A nossa interação com o meio externo é dependente da participação de


estruturas especializadas que formam os sentidos gerais e especiais.

• Os sentidos gerais envolvem as sensações de dor, temperatura, tato, pressão,


vibração e propriocepção (posição do corpo).

• Os sentidos especiais são a visão, o olfato, o paladar e a audição.

• Termorreceptores, nociceptores, mecanorreceptores e quimiorreceptores são as


terminações nervosas responsáveis por capturar os sentidos gerais.

• As sensações térmicas são capturadas por termorreceptores (terminações


nervosas livres) localizados na pele.

• As sensações dolorosas são capturadas pelos nociceptores (terminações


nervosas livres) que se encontram espalhados por todo o corpo.

• Diferentes tipos de mecanorreceptores captam estímulos táteis, os quais


incluem as sensações de pressão, toque, vibração, coceira e cócegas.

• As sensações proprioceptivas têm origem a partir dos proprioceptores


localizados nos músculos e tendões, os quais nos informam a posição articular
e a tensão exercida sobre os tendões.

• As pálpebras, os cílios, os supercílios, os músculos extrínsecos do olho e o


aparelho lacrimal são estruturas oculares acessórias, pois auxiliam a proteção,
movimentação e lubrificação dos olhos.

• O bulbo do olho é formado por três túnicas: túnica fibrosa, túnica vascular e a
retina.

• A túnica fibrosa é a mais externa e está formada pela córnea e pela esclera.

• A túnica vascular é a camada média do bulbo do olho e é constituída pela


coroide, pelo corpo ciliar e pela íris.

• A retina é a túnica mais interna e está formada por dois estratos: o estrato
nervoso e o estrato pigmentoso.

174
• O sentido do olfato é percebido através da captura de partículas odoríferas que
ocorre em uma estrutura da cavidade nasal denominada órgão olfatório.

• O órgão olfatório é formado por um neuroepitélio que possui três tipos de


células: receptores olfatórios, células de sustentação e células basais.

• O sentido do paladar envolve a percepção de cinco paladares primários:


salgado, ácido, amargo, doce e umami.

• Os botões gustativos são as estruturas responsáveis por capturar os estímulos


do paladar e estão localizados nas papilas linguais.

• De acordo com a sua forma, as papilas linguais podem ser filiformes,


fungiformes, foleadas e circunvaladas.

• A audição e o equilíbrio são detectados em estruturas especializadas da orelha.

• A orelha está dividida em orelha externa, orelha média e orelha interna.

• A orelha externa é responsável por capturar as ondas sonoras e é formada pela


orelha, meato acústico externo e membrana timpânica.

• A orelha média se localiza no osso temporal e é uma cavidade repleta de ar que


contém os três menores ossos do corpo humano: martelo, bigorna e estribo.

• A orelha interna é formada por duas divisões: externamente, um labirinto


ósseo, e internamente, um labirinto membranoso.

• Na orelha interna é que se localizam os receptores para o sentido da audição e


para o equilíbrio.

175
AUTOATIVIDADE

1 Uma mulher de 42 anos de idade visita seu oftalmologista queixando-se


de intensa dor no olho esquerdo. Detecta que a pressão do humor aquoso
está anormalmente elevada. É dado o diagnóstico de glaucoma. O humor
aquoso está localizado na:

a) ( ) Câmara anterior do olho.


b) ( ) Túnica vasculosa.
c) ( ) Esclera.
d) ( ) Lente.
e) ( ) Câmara posterior do olho.

2 Uma garota de 11 anos está sofrendo de uma intensa dor no ouvido esquerdo
e de surdez. Seu pediatra dá o diagnóstico de otite média aguda, depois de
examinar a superfície lateral da membrana timpânica com o auxílio de um
otoscópio. Na orelha média encontramos:

a) ( ) A cóclea.
b) ( ) Os canais semicirculares.
c) ( ) O meato acústico externo.
d) ( ) Os ossos martelo, bigorna e estribo.
e) ( ) O vestíbulo.

3 A túnica fibrosa do olho é formada por:

a) ( ) Coroide, corpo ciliar e íris.


b) ( ) Córnea e esclera.
c) ( ) Estrato pigmentoso e estrato nervoso.
d) ( ) Retina e lente.
e) ( ) Câmera anterior e câmera posterior.

4 As papilas linguais mais abundantes com um formato alongado e


pontiagudo e que não participam na percepção do sabor são:

a) ( ) Papilas fungiformes.
b) ( ) Papilas foleadas.
c) ( ) Botões gustativos.
d) ( ) Papilas filiformes.
e) ( ) Papilas circunvaladas.

176
5 A percepção do olfato tem início com a ligação das partículas de odor
em receptores específicos localizados no órgão olfatório, uma estrutura
constituída por diferentes tipos celulares denominadas:

a) ( ) Células de sustentação, células basais e receptores olfatórios.


b) ( ) Células de Schwann, astrócitos e oligodendrócitos.
c) ( ) Neurônios multipolares, neurônios bipolares e células de sustentação.
d) ( ) Células basais, células tronco e células de sustentação.
e) ( ) Receptores olfatórios, células de sustentação e células papilares.

177
178
UNIDADE 3
TÓPICO 4

DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO DO SISTEMA NERVOSO

1 INTRODUÇÃO
O desenvolvimento do sistema nervoso envolve diversos processos
fundamentais, os quais dominam determinados momentos da embriogênese. O
início do desenvolvimento do sistema nervoso é marcado por um espessamento
na região dorsal do ectoderma embrionário, denominado placa neural. Através
da liberação de substâncias indutoras pela notocorda, o ectoderma é estimulado a
proliferar, dando origem à placa neural.

O sistema nervoso inicia seu desenvolvimento no período embrionário,


a partir da terceira semana e continua após o nascimento, durante o período
pós-natal.

2 DESENVOLVIMENTO INICIAL DO SISTEMA NERVOSO


O desenvolvimento do sistema nervoso inicia no fim da terceira semana,
a partir da formação da placa neural, um espessamento da região central do
ectoderma embrionário. A notocorda é o indutor da formação da placa neural.
Conforme a notocorda se desenvolve, sobre ela, o ectoderma se espessa, formando
um neuroepitélio que dará origem à placa neural. Devido à proliferação celular, a
placa neural sofre uma invaginação, originando o sulco neural na sua região central.
As paredes do sulco neural passam a se chamar pregas neurais. De cada lado das
pregas neurais, na junção com o ectoderma que não formou placa neural, aparece
um grupo de células, as cristas neurais. Conforme o desenvolvimento segue, o
sulco neural vai aprofundando, dando origem à goteira neural. Aos poucos, as
bordas das pregas neurais vão se aproximando e se fundem, originando o tubo
neural. Ao mesmo tempo, a crista neural se desprende, formando uma faixa de
células entre o tubo neural e o ectoderma que se funde superiormente. As células
da crista neural se separam em dois grupos, ficando na região superolateral do
tubo neural.

A região rostral (anterior) do tubo neural dará origem ao encéfalo,


enquanto o restante (caudal) formará a medula espinal. As células da crista neural
migram por todo o corpo e originam diversas estruturas como o SNP, neurônios
dos gânglios sensitivos, os melanócitos da epiderme, odontoblastos (células

179
UNIDADE 3 | SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO

formadoras da dentina, nos dentes), células da medula das glândulas adrenais,


leptomeninge (pia-máter e aracnoide), células-satélite presentes nos gânglios,
células de Schwann.

FIGURA 21 – DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA NERVOSO

FONTE: Adaptada de Moore, Persaud e Torchia (2016)

Na quarta semana de desenvolvimento, por volta do 24° dia, ocorre o


fechamento da região anterior do tubo neural, o neuróporo rostral, seguido
pelo fechamento do neuróporo caudal, por volta do 26° dia. Com o fechamento
do neuróporo rostral, na região anterior do tubo neural, aparecem a primeiras
vesículas encefálicas (vesículas encefálicas primárias), o prosencéfalo (encéfalo
anterior), o mesencéfalo (encéfalo médio) e o rombencéfalo (encéfalo posterior).

FIGURA 22 – DESENVOLVIMENTO DAS VESÍCULAS ENCEFÁLICAS

FONTE: Adaptada de Marieb e Hoehn (2009)

180
TÓPICO 4 | DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO DO SISTEMA NERVOSO

Por volta da quinta semana, as três vesículas encefálicas se subdividem,


dando origem a cinco vesículas (vesículas encefálicas secundárias). O prosencéfalo
se subdivide em telencéfalo e diencéfalo, e o rombencéfalo origina o metencéfalo
e o mielencéfalo. Conforme segue o desenvolvimento embrionário, o telencéfalo
aumenta, originando os hemisférios cerebrais, enquanto o diencéfalo dará origem
ao tálamo, hipotálamo, epitálamo e subtálamo. Ao mesmo tempo, o metencéfalo
origina o cerebelo e a ponte e o mielencéfalo formará o bulbo.

E
IMPORTANT

O não fechamento do tubo neural em algum ponto pode levar ao


desenvolvimento de uma má formação embrionária, a espinha bífida. Nessa condição, os
arcos vertebrais não se fecham, ocorrendo o extravasamento de meninges, liquor e/ou
tecido nervoso para fora do canal vertebral. Um dos tipos mais frequentes da doença é a
mielomeningocele, na qual ocorre protrusão e exposição da medula espinal, resultando em
alterações na função da medula espinal (BIZZI; MACHADO, 2012).

Para saber mais sobre espinha bífida, leia o artigo disponível no link a seguir:

http://mielomeningocele.com.br/site/wp-content/uploads/2012/01/MIELO-21-NOV-11.pdf

Conforme ocorre o fechamento do tubo neural, suas células proliferam


e originam um neuroepitélio pseudoestratificado, o qual dará origem às células
progenitoras neurais e às células progenitoras gliais. As células progenitoras
neurais formarão os neuroblastos, enquanto as células progenitoras gliais darão
origem a diferentes tipos de neuroglia; os oligodendrócitos, os astrócitos e as
células ependimárias. A micróglia tem origem a partir dos macrófagos e as células
de Schwann, conforme citado anteriormente, originam-se a partir das células da
crista neural (MOORE; PERSAUD; TORCHIA, 2016).

181
UNIDADE 3 | SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO

LEITURA COMPLEMENTAR

HERPES-ZÓSTER: UMA DOENÇA CAUSADA PELA ATIVAÇÃO DO


VÍRUS DA VARICELA (CATAPORA)

O herpes-zóster é uma doença infecciosa causada pelo vírus da varicela


(catapora). Indivíduos que tiveram varicela permanecem com o vírus varicela-
zóster (causador da varicela) latente no sistema nervoso por toda a vida. Quando
esse vírus é reativado por algum fator, ele causa o herpes-zóster, que afeta os
gânglios e os nervos cranianos. A doença aparece como pequenas erupções na
forma de bolhas dolorosas na superfície da pele. A dor é o sintoma que mais
incomoda o paciente, sendo que ela pode desaparecer em algumas semanas ou
pode permanecer após meses e anos depois da cura da doença. Essa dor crônica
é denominada neralgia pós-herpética, e afeta a qualidade de vida dos pacientes.
Além da dor, os pacientes podem apresentar febre, calafrios, dores de cabeça e
mal-estar (PORTELLA; SOUZA; GOMES, 2013).

FIGURA – ERUPÇÕES NA PELE CAUSADAS PELO HERPES-ZÓSTER

FONTE: <http://www.blog.saude.gov.br/index.php/promocao-da-saude/53674-saiba-o-que-e-
herpes-zoster>. Acesso em: 2 set. 2019.

A doença costuma aparecer em indivíduos com a imunidade


comprometida, como idosos acima dos 55 anos, pacientes com câncer, AIDS. As
lesões na pele podem demorar até três semanas para aparecer, dificultando o
diagnóstico e levando a um atraso para dar início ao tratamento adequado. Após
confirmado o diagnóstico de herpes-zóster, medicamentos antivirais podem ser
utilizados para melhorar as lesões da pele, reduzir a intensidade e a duração da
dor. Além disso, os antivirais também auxiliam a prevenção do desenvolvimento
da neralgia pós-herpética. Após o tratamento, a maioria dos casos evolui bem
para a cura da doença (PORTELLA; SOUZA; GOMES, 2013).

FONTE: Adaptado de Portella, Souza e Gomes (2013)

182
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, você aprendeu que:

• O sistema nervoso tem origem embrionária a partir do desenvolvimento do


ectoderma no final da terceira semana.

• A placa neural marca o início da formação do sistema nervoso.

• A notocorda é o indutor primário para o desenvolvimento do sistema nervoso.

• A partir da proliferação das células da placa neural forma-se o tubo neural.

• O tubo neural dá origem às estruturas do sistema nervoso central.

• A crista neural é um grupo de células localizadas entre a placa neural e o


ectoderma.

• O sistema nervoso periférico tem origem das células da crista neural.

• Na quarta semana de desenvolvimento ocorre o fechamento do tubo neural


e aparecem as primeiras vesículas encefálicas: prosencéfalo, mesencéfalo e
rombencéfalo.

• Na quinta semana, as vesículas encefálicas primárias se dividem e originam


as vesículas encefálicas secundárias. O prosencéfalo origina o telencéfalo
e o diencéfalo, o mesencéfalo não se divide e o rombencéfalo se divide em
metencéfalo e mielencéfalo.

• O telencéfalo dará origem aos hemisférios cerebrais, enquanto o diencéfalo


dará origem ao tálamo, hipotálamo, epitálamo e subtálamo. O metencéfalo
origina o cerebelo e a ponte e o mielencéfalo formará o bulbo.

183
AUTOATIVIDADE

1 A estrutura embrionária responsável pelo desenvolvimento do sistema


nervoso central é:

a) ( ) Notocorda.
b) ( ) Crista neural.
c) ( ) Tubo neural.
d) ( ) Somitos.
e) ( ) Endoderma.

2 As células da crista neural dão origem ao:

a) ( ) Sistema nervoso central.


b) ( ) Tubo neural.
c) ( ) Neuroepitélio.
d) ( ) Sistema nervoso periférico.
e) ( ) Sulco neural.

3 Assinale a alternativa que apresenta a estrutura embrionária que marca o


início da neurulação:

a) ( ) Formação do disco embrionário trilaminar.


b) ( ) Aparecimento da placa neural.
c) ( ) Surgimento da crista neural.
d) ( ) Formação do disco bilaminar.
e) ( ) Gastrulação.

184
REFERÊNCIAS
BIZZI, J. W. J.; MACHADO, A. Mielomeningocele: avanços básicos e conceitos
recentes. J. Bras. Neurocirur., v. 23, n. 2, p. 138-151, 2012.

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